verboimaginário

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VENCEDOR DO PREMIO CULTURAL LOUCOS PELA DIVERSIDADE 2009

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Título:Verboimaginário Autor:Frederico Eymard Ano:2005

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Page 1: Verboimaginário

VENCEDOR DO PREMIO CULTURAL LOUCOS

PELA DIVERSIDADE 2009

Page 2: Verboimaginário

Porquinho do mundo (para Manuel Bandeira)

Premiado no Terceiro Concurso Nacional de Poesia

e Pintura “Arte de Viver” da farmacêutica Janssen Cilag

sempre fui um mau menino

por isso sou um homem bom

antes era um anjo

agora sou um capeta

porquinho do mundo

enchendo de porcarias

as livrarias do mundo

porco-limpo índia Brasil

sou índio de luz

na Pocilga Láctea do universo

homem bom mau menino

capeta-anjo

fogo-luz

capim flor bosta orgasmo

pétala cálice colo dor

mato mastro masturbo a turba

meto a tuba em Ubatuba

Uba! Uba! Fuck-fuck

orgasmo estelar

organograma da grama da grana

ana anagrama amálgama bar

ar fogo terra e ar

resolvo a terra e consigo encontrar

aquilo com que posso brincar

porque tenho a amada

entre a amada das estrelas

e este segredo eu não vou contar

e então sou porquinho do mundo

e muita grama tenho pra cantar

Page 3: Verboimaginário

madrugada em BH

não pretendo espíritos embebidos

com drogas duplicatas cotovelos aprumação social

solicito às horas que me dêem o amor

ninguém quer saber de nada

nem pagar a conta

só morrer no motel

noite cara doura as fezes do coiote escuro

a noite é clara - escura na via Láctea do meu dente

no teu seio rosa claro

vou dormir entre silvícolas luminares

o coração do universo num leito em brasa

o início está no fim

todos querem ler o invisível que transfugo

o leite derramado pelo universo

alimenta mais o mundo

a luz pinga em meu olho

minha escova escova os dentes do depois de amanhã

Page 4: Verboimaginário

gênios

gênios sofrem

como ilhas em mares imbecis

chama-se louco

a quem não segue a regra

da mediocridade egoísta

rotineira mesquinha

os gênios estão mais perto de Deus

porque tem o coração puro

desinteressereiro

solidário

amoroso

são ingênuos

inteligentes como deuses

imprudentes como peixes

felizes como sóis

sozinhos como eles mesmos

não existe o dia de gênio

sindicato

o amparo do Estado

no mais das vezes

um culto após a morte

os gênios são os médiuns

elevados do criador

estrela sozinha

noite sem nuvem

mar de areia

flor sem jardim

voz sem ouvidos

luz sem olhares

heróis sem bandeira

Page 5: Verboimaginário

O dinheiro corre muito por estas ruas

Mas só pára em certas casas

Page 6: Verboimaginário

noite

os grandes poemas em guardanapos de bar

ao som dos cachorros que latem na madrugada

dentro o pulso a vontade de viver

a turba caminha no blue da eternidade

pontas de cigarro tentam fechar feridas

marcas dos cortes de cada dia

meu ser se avulta como um vulcão

e eu olho o passo da mulher ao longe

a noite é um lenço branco em minha mente

os minutos pingam como coro existencial

pássaros me indicam o caminho

caminho sem árvores abandono da vida

também a poesia em gotas homeopáticas

a leveza do desconhecimento me sustenta

se o amor me abandona na curva

vejo estrelas num céu a seguir

mantos e ânimo me abalam

deixo as usadas roupas nos cantos do momento

a poesia homeopática me leva dedo a dedo

deixo as dúvidas e dívidas para amanhã

hoje um potencial enorme me embala azul

Page 7: Verboimaginário

passeando no céu

O fio do orgulho

estrela coberta de sonhos

aldeiola de infinitos campos

nenhum mal se aproxima

Deus alegria das alegrias

cantos espiralam-se em corais

vestes transfiguram-se

olho o que quase não consigo ver

tanta beleza

nuvens de flores

sóis como rodas em profusão

chuvas de pensamentos oceânicos

explosões de licor no colo de nossa mãe

miríade de cores luminares

Page 8: Verboimaginário

microolho

o mar do meu corpo

abrange a esfera pequena

da cidade

o irmão branco

transfunde tudo

em beatitude

o mal foge do gozo

o branco veste a cidade

o microolho deste momento

contemplo a eternidade

Page 9: Verboimaginário

palavroteca

a sombra das palavras

levaram-me a um país lindo

a palavroteca

grotesca

burlesca

dantesca

burguesa

niilista

futurista

livros tomos compêndios gritavam ante meus olhos

a luz da sala emanava de um hiperdicionário

que não explicava

só dava pista de vocábulos

neste país estrangeiro

para todas as línguas

brilhava o mesmo tempo

para um único significado:

coração

Page 10: Verboimaginário

Hospital Dia do Instituto Raul Soares

cara e escarcéu

abri a porta escancarada

de cara pro sol

meu jardim tinha mais uma flor

coloriu o momento

muita pieguice e safadeza

na capital das alterosas

o sangue comprado a moedas

que não enterram cadáveres

tenho outras flores nos livros

diversos livros e motivos

cara e escarcéu

centro e renovação

pilantragem e piranhagem

na capital do novo mundo

Page 11: Verboimaginário

ímpar estrela

estrela solitária

no azul céu infinito

sem planetas luas nuvens

às vezes cometas ilusórios

tangenciam sua órbita feliz

meteoritos miragens

nos copos de bares das ruas

não enchem o coração da estrela

que sobe para a luz do universo

que paira sobre a luz do universo

uma estrela eterna

que empurra a revolução terrena

não tem onde recostar a cabeça

apoiar ombros suados

impar estrela no cosmos

carente de amor e compreensão

sua luz nunca se apaga

mas não tem irmãos para amar

escuta estrela escuta

deus te envia mensagens

esparge teu brilho arrebenta

os mundos carnívoros dos pântanos

grita com o sangue com o sangue da voz

que a felicidade é maior que a morte

ninguém te pode vencer

nem a solidão dos bandidos

banidos dos lares do pai

brilha estrela brilha

inunda o céu de alegria

redobra os teus dons inatos

esquece o breu do universo

mostra aos palhaços luz

a grandeza das mãos do senhor

irriga corpos imundos

fecunda portas fechadas

e deixa na mesa de bar

um beijo pros próximos segundos

Page 12: Verboimaginário

Inês

Inês

Perada

Inês esperava

inesperada

Inês pelada

Veja só

Verso nu

Inês pelada

inesperada

és pêra da minha mente

espera da mente

inesperadamente

Page 13: Verboimaginário

homem-menino

Como o pão com o suor do rosto

Homem-menino nas lições de cada dia

Ex-“ enfant-terrible” estou cauteloso

Ante montanhas e rios cotidianos

Dou um passo no amanhã

Com a fé intacta na alma

Pedregulhos da pedra não me assustam

Pulo de lá pra cá a sorrir

Salto daqui pra lá a poetizar

Encontros e desencontros de cada dia

O coração pulsa qual estrela

Incompreendida na galáxia autófaga

Os amigos me dão a mão

Mensageiros divinos que nunca me deixam

Me deixo levar pela poesia

Espada afiada contra a opressão

Page 14: Verboimaginário

glória terrestre

Rosas brilham no universo

Poças param na cesta de lixo

O brilho do néctar acorda meu olho

O magma corre dentro do meu sangue

Pirilos no róseo da manhã

Jardim de infância de estrelas esperam sua mãe

Micro-células luz dominam universos

Máquina na alma felicidade na hóstia

A estrela brinca sobre a flor menina

Lina montanhas pores do sol

O dedo encostado no outro

Minha mão desvanecida nas rendas do penhasco

Glória luz efervescência

Divina contemplação

Felicidades de felicidades

As borboletas brincam nas estrelas

As crianças brincam nas escolas com deuses sorriso

Perfeito

Minha imundície contempla o perfeito

Universos brilham na rosa em botão

Passarinhos brincam entre pães no chão

O escuro da noite combina com a luz dos meus olhos

Tudo que eu quero é o que eu tenho

Page 15: Verboimaginário

o verso

escrevo porque vejo

almejo alçar vôo

da prisão terrena

escrevo porque veio

a emoção suprema

que supre carência letal

o verso corre no sangue

não morre no mangue

do silêncio suicida

escrevo para matar

a solidão que rói

minha alma noite e dia

escrevo porque a alegria

tece meus tecidos

sentidos e gemidos

escrevo porque procuro

ave azul no céu e porto seguro

escrevo por que sinto

o santo contra o perverso

o sonho dentro do verso

a vida sobre o inverso

minha alma no universo

escrevo e estou feliz

e basta

vivi o que quis

Page 16: Verboimaginário

psique

tudo é psicológico

Page 17: Verboimaginário

casas abertas

sou pulsões impulsões

bolsões de riqueza

minha safadeza

é criar naturalmente

todo o tempo tempo todo

fodam-se os mortos

nasci pra ressuscitar a cada dia

tudo depende de cada ponto

pra viver é preciso fazer desconto

faça de contas que a terra é adiantada

a dor não valerá mais nada

isto é

não tenho que carregar um mundo moribundo

ventríloquos nas arvores

sabem que não sou covarde

sou Frederico Eymard

e quero casas abertas

Page 18: Verboimaginário

ascendência

sou um verso a mais no universo

hieróglifos subindo a montanha

o mar pura castidade

dedos constroem alianças

não caibo em mim de ansiedade

quero os tetos das choupanas

visgo nas vísceras da maldade

deserto escolho o sol pra me acompanhar

a vida rude tempestade de zinco

o poeta chora sobre o mar

acompanhando as folhas em suas quedas

mas o tempo nem sempre vai ser quente

vou dormir com as premissas dos cosmos

se pareço decadente

é que outra flor vai subir

Page 19: Verboimaginário

sangue e pedaços de astros

nada melhor que existir

entre o sulfato de cobre e o enxofre do riso

o rio nasce em meus olhos

enche minha boca

e deságua em teu coração

declaro aberta a concepção

nada melhor que ver o belo

ser o belo

a juba da mata adorna o perfume

a noite me colhe em pesadelo

sou sangue e pedaços de astro

insanidade escrevente que se faz presente

com o verso desato a vida

Page 20: Verboimaginário

Partidas

de mim

de nós

uma parte outra fica

partes constroem-se

destroem-se

recuperam

a arte da vida

na infinita natureza

uma parte vai outra filho

um médico

outra andarilho

enquanto parte

reconstróis

a parte

que te cabe

partidas

partes da vida

voltas

várias idéias

idas

eterna lida

depois da arte divina

de nascer

é parte no todo

sou parte

em total comunhão