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VERA LUCIA DA SILVEIRA
O DISCURSO DA IMPRENSA PARANAENSE SOBRE O LEVANTE DE TERRAS
NO SUDOESTE DO PARANÁ EM 1957
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura e Bacharelado em História, Setor de Ciências, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Luiz Carlos Ribeiro.
CURITIBA
2007
ii
Agradecimentos
A Deus, por sua proteção.
À minha família, em especial ao
meu esposo Joelson e a meus filhos
Alisson e Keity, pela força,
compreensão e carinho.
Ao Professor Luiz Carlos Ribeiro
pelas valiosas orientações, pela
paciência, e por acreditar que eu
conseguiria chegar ao final desta etapa.
iii
As pessoas felizes lembram o passado com gratidão,
alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo.
(Epicuro).
iv
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................... v
LISTA DE QUADROS.............................................................................................. vi
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 6
3 METODOLOGIA ................................................................................................. 14
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................... 18
5 COMENTÁRIOS COMPARATIVOS ................................................................... 32
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 36
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 37
v
RESUMO
A presente monografia tem como objetivo analisar o discurso dos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná sobre o Levante de Terras no Sudoeste do Paraná em 1957, buscando identificar as estratégias utilizadas pela análise do discurso. No primeiro capítulo, após a introdução, realizou-se a revisão de literatura, com base em diversos autores, dentre os quais Wachowicz, Colnaghi e Gomes. Buscou-se centralizar os acontecimentos relacionados ao levante do Sudoeste, no ano de 1957, precedidos por retrospectiva quanto à ocupação da terra na região. Na metodologia, foram mencionados primeiramente as datas e os propósitos da fundação de ambos os jornais. Em seguida, antes de iniciar a análise do discurso, foram citados autores como Falcon, no que diz respeito ao significado de representação, Fairclough, no que se refere à análise do discurso, e Chartier quanto ao contexto da história cultural. No terceiro capítulo, sobre a análise dos dados, destacou-se que ambos os jornais opunham-se às imobiliárias, que mantinham ligações com o governo Lupion, e defendiam os colonos ou posseiros. Relatam-se as estratégias utilizadas pelos jornais para se mostrarem a seu favor e como eles trabalharam recursos, como diagramação, manchetes, subtítulos, intertítulos, tamanho das matérias entre outros.
vi
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – MATÉRIA DE 3 DE AGOSTO .................................................................... 19
QUADRO 2 – MATÉRIA DE 4 DE AGOSTO..................................................................... 19
QUADRO 3 – MATÉRIA DE 9 DE AGOSTO..................................................................... 20
QUADRO 4 – MATÉRIA DE 13 DE AGOSTO................................................................... 20
QUADRO 5 – MATÉRIA DE 18 DE AGOSTO................................................................... 21
QUADRO 6 – MATÉRIA DE 15 SETEMBRO.................................................................... 21
QUADRO 7 – MATÉRIA DE 26 DE SETEMBRO.............................................................. 22
QUADRO 8 – MATÉRIA DE 26 DE SETEMBRO............................................................. 22
QUADRO 9 – MATÉRIA DE 26 DE SETEMBRO............................................................. 24
QUADRO 10 – MATÉRIA DE 6 DE OUTUBRO................................................................. 24
QUADRO 11 – MATÉRIA DE 12 DE OUTUBRO................................................................ 25
QUADRO 12 – MATÉRIA DE 15 DE OUTUBRO............................................................... 25
QUADRO 13 – MATÉRIA DE 23 DE OUTUBRO................................................................ 25
QUADRO 14 – MATÉRIA DE 9 DE AGOSTO.................................................................... 26
QUADRO 15 – MATÉRIA DE 13 DE AGOSTO.................................................................. 27
QUADRO 16 – MATÉRIA DE 19 DE AGOSTO.................................................................. 27
QUADRO 17 – MATÉRIA DE 27 DE AGOSTO................................................................... 28
QUADRO 18 – MATÉRIA DE 28 DE AGOSTO................................................................... 29
QUADRO 19 – MATÉRIA DE 17 DE SETEMBRO.............................................................. 29
QUADRO 20 – MATÉRIA DE 24 DE SETEMBRO.............................................................. 30
QUADRO 21 – MATÉRIA DE 27 DE SETEMBRO.............................................................. 30
QUADRO 22 – MATÉRIA DE 30 DE SETEMBRO.............................................................. 31
1
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os estudos sobre linguagem ou discurso da imprensa
vêm tomando cada vez mais espaço nos trabalhos acadêmicos. “Na década de
1970, ainda era pequeno o número de trabalhos que se valiam de jornais”1 como
fonte de pesquisa para o conhecimento da história. Reconhecia-se a importância
dos impressos, mas havia pouca certeza de que era possível escrever “a História
por meio da imprensa”.2
Essa atitude ocorria porque no decorrer dos séculos XIX e XX se
entendia que o trabalho do historiador deveria utilizar fontes caracterizadas pela
“objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de estarem
suficientemente distanciadas de seu próprio tempo. Estabeleceu-se uma
hierarquia qualitativa dos documentos, para a qual o especialista deveria estar
atento”,3 e os jornais não se incluíam nesse tipo de fontes, pois seus registros
eram considerados fragmentos do presente, por não oferecerem objetividade. E
isso continuou ocorrendo, apesar das críticas realizadas pela Escola dos Annales,
até o final do século XX.
Nas últimas décadas do século XX, a prática historiográfica foi
mudando. Na França surgiram proposições com novas abordagens, envolvendo
temáticas, como “o consciente, o mito, as crianças e as mulheres, aspectos do
cotidiano,enfim uma miríade de questões antes ausente na história”4. Passou a
haver maior preocupação com os movimentos sociais, trazendo para o centro dos
estudos históricos, “as camadas sociais antes ignoradas, inclusive a respeito de
cultura de resistência”5.
A partir dessa nova concepção da história foi possível intensificar o
fortalecimento da história cultural. Segundo Roger Chartier, a história cultural tem
como principal objetivo “identificar o modo como em diferentes lugares e
momentos uma determinada classe social é construída, pensada, dada a ler”.6
1 LUCA, Tânia Regina. História dos, nos e por meio dos Periódicos. In: PINSKY, Carla
Bassanezi (Org.). São Paulo: Contexto, 2005, p. 111. 2 Idem, p. 111. 3 Idem. 4 Idem, p.113. 5 Idem, p.113/4. 6 CHARTIER, Roger. A história cultural: Entre Praticas e Representações. Rio de
Janeiro: Beltrand Brasil, , 1988 p.16.
2
Nesse contexto, Historiadores, como José Honório Rodrigues e Jean
Glénisson, ponderavam, desde a década de 60, que embora fosse possível tomar
o jornal como fonte de informação, os editoriais misturavam o imparcial e o
tendencioso e que seria difícil saber que influências ocultas pressionam um órgão
de informação. Em outras palavras, alertavam para o cuidado com o uso ingênuo
do jornal e de só utilizá-los na falta de outras fontes.7
Na década de 70 surgiram diversos estudos que criticavam aqueles que
utilizavam os periódicos para sua pesquisa, simplesmente endossando-os, sem
críticas rigorosas, como Ana Maria de Almeida Camargo, que escreveu sobre a
imprensa periódica como fonte para a História do Brasil.8 O jornal se tornou objeto
de pesquisa em história para outros pesquisadores, como Maria Helena Capelato
e Maria Ligia Prado (1974), cuja dissertação se tornou o livro O bravo matutino
(1980). Elas utilizaram o Estado de São Paulo como objeto de estudo por
entenderem que a imprensa é instrumento de manipulação de interesses e de
intervenção na vida social, não sendo somente um veículo de informações
neutro.9 As autoras analisaram os editoriais e identificaram representarem os
interesses de setores da classe dominante paulista. Também a História do
movimento operário, que teve destaque nas universidades entre 1970 e 1990,
encontrou na imprensa boa fonte de pesquisa. A imprensa possibilitou também a
realização de pesquisas sobre a imigração, especialmente nas últimas décadas
do século XIX, entre muitos outros estudos.
Ao final dos anos 80, a história via-se com outro desafio, não mais
respectiva a uma crítica dos hábitos da disciplina em nome das inovações das
ciências sociais, mas a uma crítica dos próprios postulados das ciências sociais,10
permitindo dividir as maiores linhas do campo historiográfico, na qual a
historiografia da imprensa brasileira pode enquadrar as mudanças contidas nos
desafios teórico-metodológicos.
7 LUCA, Tânia Regina, op. cit., 116 8 CAMARGO, Ana Maria de Almeida. A imprensa periódica como fonte para a História
do aBrasil, in: PAULA, Eurípiedes Simões de (Org.) Anais do v Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História. São Paulo, Seção Gráfica da FFLCH/USP, 1971, v. II, p. 225-39.
9 CAPELATO, Maria Helena; PRADO, Maria Ligia. O bravo matutino. Imprensa e ideologia no jornal O Estado de São Paulo. São Paulo, Alfa-Omega, 1980.
10 CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Revista das Revistas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v5n11/v5n11a10.pdf> Acesso em: 10 maio 2007.
3
Nas ultimas décadas, os historiadores têm-se interessado “pela idéia da
história dos homens em sociedade”.11 Assim a história cultural e social, a partir
dos anos 90, vem sendo estudada com mais vigor. Graças à história cultural
pode-se dar mais importância aos estudos antes não revistos pela historiografia.
Temas como o Discurso da Imprensa tem passado por profundas modificações
em termos de pesquisa na historiografia brasileira contemporânea.
Atualmente a utilização do jornal como fonte é bastante utilizada, mas
sempre com análise crítica. Segundo Luca, “é importante estar alerta para os
aspectos que envolvem a materialidade dos impressos e seus suportes, que nada
têm de natural. Das letras miúdas comprimidas em muitas colunas às manchetes
coloridas e imateriais nos vídeos dos computadores, há avanços tecnológicos,
mas também práticas diversas de leitura”.12
Se de um lado, a imprensa periódica “seleciona, ordena, estrutura e
narra, de uma determinada forma, aquilo que se elegeu como digno de chegar até
o público, o historiador, de sua parte, dispõe de ferramentas provenientes da
análise do discurso que problematizam a identificação imediata e linear entre a
narração do acontecimento e o próprio acontecimento”.13
A História pode utilizar a análise do discurso para estudar assuntos sob os
mais diversos aspectos políticos, econômicos, sociais, religiosos e muitos outros.
Nesta perspectiva, nesta monografia opta-se por se utiliza a análise do discurso
dos jornais Tribuna do Paraná e O Estado do Paraná sobre o Levante de Terras,
em 1957, ocorrido no Sudoeste paranaense. Justifica-se a escolha deste tema por
se tratar da organização da luta fundiária dos camponeses, na região Sudoeste do
Paraná, região que se projetou nacionalmente, tanto pelo que é específico de sua
colonização e organização produtiva; quanto por ocorrer num espaço disputado
por projetos governamentais e empresariais14 e porque, neste caso, “a história
passou uma rasteira nos poderosos. Os vencedores não foram os representantes
do capital e os seus defensores, mas os colonos que, na sua luta contra a
expropriação, aprenderam que a união, a força, a aliança com outros elementos
11LE GOFF, Jaques. Prefácio. História e memória. Campinas: São Paulo: Unicamp,1990.
p. 8. 12 LUCA, Tânia Regina, op. cit., p. 132. 13 LUCA, Tânia Regina, op. cit., p. 139. 14 BATTISTI, Elir. As disputas pela terra no Sudoeste do Paraná: os conflitos fundiários
dos anos 50 e 80 do século XX. Campo-Território: Revista de Geografia Agrária, v. 1, n. 2, p. 65-91, ago. 2006.
4
que não os de sua classe, mas identificados com seus interesses, era
fundamental”.15
Optou-se por esses dois jornais, pois, como afirma Gomes, “Gazeta do
Povo e Diário do Paraná, jornais da situação, posicionavam-se a favor das
companhias, transformando os colonos em bandidos. Já o jornal O Estado do
Paraná e a Tribuna do Paraná, jornais da oposição, faziam exatamente o
contrário”.16 A pergunta que se faz nesta monografia é esta: Quais as estratégias
que ambos os jornais utilizam em sua redação?
O objetivo é analisar o discurso dos jornais O Estado do Paraná e Tribuna
do Paraná sobre o Levante de Terras no Sudoeste do Paraná em 1957, buscando
identificar as estratégias utilizadas.
O presente trabalho compõe-se, após esta Introdução, de três partes: na
primeira realiza-se a Revisão de Literatura, envolvendo a atualização do tema em
estudo.
Na segunda parte explica-se a metodologia.
Na terceira parte realiza-se o levantamento dos dados, a análise de
conteúdo e apresentam-se os resultados e os comentários, apresentando as
conclusões nas considerações finais.
15 GOMES, Iria Zanoni. 1957: A revolta dos posseiros. Organização e resistência no
Sudoeste do Paraná. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1986.
16 Idem, p. 85.
5
Para o desenvolvimento desta dissertação, os trabalhos de Ruy
Wachowicz17, Maria Cristina Colnaghi 18 e o de Iria Zanoni Gomes, 19 são
tomados, entre outros, como base para a discussão do tema, especialmente
considerando o aspecto que muitos dos moradores do Sudoeste eram posseiros,
colonos e camponeses e estavam diretamente relacionados a questões sociais,
envolvidos na luta e nos vários conflitos existentes na região, pela posse e
propriedade da terra. Na metodologia, é utilizado também o trabalho de Francisco
J. Calazans Falcon, sobre as “representações sociais”20. O conceito de
representação social constitui-se em referência básica nesta pesquisa, ou seja,
procura-se esboçar o discurso pelos jornais Tribuna do Paraná e O Estado do
Paraná acerca do movimento da luta pela terra, em 1957, na região Sudoeste do
Paraná.
17 WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. 10. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do
Paraná, 2002. 18 COLNAGHI, Maria Cristina, op. cit. 19 GOMES, Iria Zanoni, op. cit., 20 FALCON, Francisco J. Calazans. História e representação. In: CARDOSO, Ciro F.,
MALERBA, Jurandir (orgs.).Representações: contribuição a um debate transdisciplinar. SP: Papirus, 2000. p. 41 - 79.
6
2 REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo realiza-se uma revisão de literatura a respeito do Levante
do Sudoeste, em 1957, no âmbito da ocupação da terra no Sudoeste do Paraná,
com o objetivo de situar o leitor sobre como diferentes autores se posicionam. A
importância desta parte está em fundamentar o conteúdo em discussão na
análise do discurso. No capítulo da metodologia serão embasados na literatura os
conceitos de análise do discurso e de representações sociais, entre outros.
Segundo WACHOWICZ21, pode-se dividir a ocupação do Estado em três
áreas histórico-culturais:
a) o Paraná tradicional, cuja ocupação, iniciada no século XVII a partir da
extração do ouro, continuou no século XVIII, com base na pecuária, e
prolonga-se até o século XIX, atingindo desde a região litorânea até
os planaltos internos. As atividades do Paraná tradicional do último
período são extrativas: comércio de mate e de madeira;
b) o Paraná moderno, onde a ocupação tem seu início no século XX,
compreendendo as seguintes regiões:
• Norte: o povoamento é fruto da intensa atividade cafeeira que
ocupou quase todo o Norte do Paraná, região que fora ocupada
por imigrantes europeus e pela migração de paulistas e mineiros
para o Estado;
• Sudoeste e Oeste: a região foi povoada por migrantes gaúchos,
cujas principais ocupações eram o plantio de cereais e a criação
de suínos.
c) a terceira refere-se ao surgimento de uma nova frente pioneira, após
meados da década de 1950. Chegava ao Paraná devido aos
problemas com mão-de-obra agrícola no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina. Este deslocamento populacional é chamado frente sulista e
ocupou a maior parte do sudoeste e parte do oeste paranaense.
21 WACHOWICZ, Ruy, op. cit., p. 281-287
7
Para COLNAGHI22, a História do Paraná resulta de expansões
diferenciadas que constituíram três comunidades: o Paraná Tradicional,
de ocupação antiga e genuinamente paranaense; a região Norte, vista
como um prolongamento da economia paulista; e, por último, a região
Sudoeste, povoada pelo fluxo migratório originado principalmente no Rio
Grande do Sul. Com a criação dos municípios do Sudoeste, visou-se
acima de tudo ocupar-se da política e administrativamente as contagiosas
glebas de terras.23
Nesta monografia interessa o movimento expansionista denominado
Paraná moderno, pois é nesse contexto que ocorreu a ocupação da região
sudoeste paranaense.
General Mário Tourinho, interventor no Paraná, assinou um decreto em
1931 estabelecendo que a gleba de Missões, entre outras, retornasse ao domínio
do Estado do Paraná. Mas, em 1940, o governo federal incluiu a gleba das
Missões como patrimônio da União. Ambos os governos foram à justiça cada qual
defendendo a posse da terra. Enquanto aguardavam o pronunciamento da justiça,
em 1943, Getúlio Vargas estabeleceu uma colônia agrícola dentro da gleba
Missões, chamada Colônia Nacional General Ozório (CANGO), que mais tarde se
tornou a cidade de Francisco Beltrão, mas foi uma criação ilegal porque nem o
Estado nem a União poderiam utilizar a terra sem que a justiça se pronunciasse.24
Com essa atitude, Vargas tinha o objetivo de que ela servisse de atração
de excedente de mão-de-obra agrícola do Rio Grande do Sul para o Sudoeste do
Paraná. Para tanto concedia as seguintes possibilidades:
a) as terras seriam distribuídas gratuitamente; b) a madeira seria dada para a construção de sua casa; c) as ferramentas agrícolas e sementes seriam fornecidas pela colônia; d) os exames médico e odontológico seriam gratuitos, na chegada; e) a produção seria levada aos centros de comercialização por caminhões da própria
colônia.25
22 COLNAGHI, Maria Cristina, op. cit., p. 42. 23 A Lei n.º 790 criava os municípios e dava-lhes patrimônio territorial. 24 WACHOWICZ, Ruy, op. cit., p. 215-216. 25 WACHOWICZ, Ruy, op. cit., p. 219-220.
8
A população cresceu de 467 famílias em 1947 para 2.725 em 1956.26 Segundo COLNAGHI,27
(...) o modelo de colonização da CANGO foi uma tentativa paternalista do Estado em absorver a mão-de-obra liberada nas zonas de colonização antiga, aliviando tensões sociais. Dava ao colono infra-estrutura e assistência e exigia-lhe em troca a produção de mercadorias, através do emprego da força-de-trabalho familiar. No entanto, a CANGO não podia garantir ao colono condição permanente de sua produção e reprodução enquanto camponês, ou seja, a propriedade da terra, dado o caráter litigioso da mesma. No modelo de colonização das companhias a terra tornava-se mercadoria e tinha preço estipulado. Trata-se, portanto de um empreendimento capitalista privado cujo objetivo primeiro é o lucro.
Antes disso, no governo do presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951),
haviam se instalado no Sudoeste dois grupos político-econômicos: A Clevelândia
Industrial e Territorial Limitada (CITLA) e a Pinho Terras, que tinha ligações com
os partidos de oposição: Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e a União
Democrática Nacional (UDN). Na desorganização existente no final do governo
Dutra, eles fizeram “vantajosos negócios na região. Em novembro de 1950, o
governo da União vendeu à CITLA toda a gleba Missões e parte da gleba Chopim.
Poucos dias após vendia à Pinho e Terras 11.500 alqueires da própria gleba
Missões. Vendia também 300.000 pinheiros à Companhia de Madeiras do Alto
Paraná”.28
No entanto, para que a CITLA pudesse adquirir a gleba Missões, que era
feita no âmbito de muitas irregularidades, entrou em cena o governador Moisés
Lupion. Como a CITLA não conseguiu registrar a compra nos cartórios da região,
o governo Lupion achou por bem criar um cartório em Santo Antonio do Sudoeste
e lá registrou a compra e após fazer a escritura foram implantados escritórios da
CITLA em Francisco Beltrão e Santo Antonio do Sudoeste.
Na eleição de 1950, o PSD foi derrotado e a oposição elegeu o governo a
Bento Munhoz da Rocha Neto. Como a questão da gleba estava complicada, o
governo Bento determinou que as coletorias estaduais da região não fornecessem
a Sisa, imposto estadual recolhido durante a escrituração de um imóvel. Fazia isso
para que a CITLA fosse impedida de passar a escritura a quem comprasse suas
terra. E isso deixou a CITLA quase sem ação durante todo o governo de Bento.
26 WACHOWICZ, Ruy, op. cit., p. 220. 27 COLNAGHI, Maria Cristina, op. cit., p. 54. 28 WACHOWICZ, Ruy, op. cit., p. 220.
9
Na verdade, as terras em questão não tinham um proprietário oficial; a
propriedade estava sendo questionada na justiça por empresas que se afirmavam
proprietárias, em confronto com o Estado e com a União. E como as terras
estavam sub-judice, seus moradores não podiam obter o título de propriedade e
nem de posse. Muitos moradores vindos do Rio Grande do Sul haviam chegado à
região encaminhados pela política de colonização do Governo Getulio Vargas.
Esses migrantes tinham recebido terras doadas através do órgão público federal
Colônia Agrícola General Osório (CANGO).
Entretanto, essa região já era parcialmente habitada por outras pessoas,
antes mesmo dessa migração. Não havendo título de propriedade, esses
moradores sentiam-se prejudicados sem ter os direitos que julgavam possuir por
viverem e trabalharem na terra. Eram ameaçados pelos chamados “grileiros” e
“jagunços”, muitos sob o mando da Clevelândia Industrial Territorial Ltda. (CITLA). 29
O “jagunço” tinha a função de fazer ameaças aos colonos e amedrontá-
los para que pagassem pelas terras, que eram vendidas por preços altíssimos, ou
teriam que sair dali. O mais comum era “os jagunços fazerem o serviço calcando
um 30 no peito da vítima. De 30 para cima”.30
Segundo COLNAGHI,
O uso do ‘jagunço’, ao constituir uma força paramilitar, denotava sobreposição do poder privado sobre o poder público. Por outro lado, a tentativa de expulsão dos colonos denotava um quadro clássico de violência expropriadora, uma vez que as companhias, ao expulsarem os colonos de terras já submetidas a exploração, apropriavam-se do resultado de um desenvolvimento social para o qual não contribuíam.
Apesar da terra estar sub judice, a partir de 1956, a situação agravou-se.
Além da CITLA, outras duas Companhias – a Comercial e a Apucarana –
passaram a percorrer a região, forçando os posseiros a comprar-lhes as terras. Os
posseiros resistiram, pois foram alertados da ilegalidade do título da CITLA, e as
referidas empresas passaram a utilizar “jagunços” para amedrontá-los. O conflito
entre “jagunços” e posseiros foi se agravando.31
29 LAZIER, Hermógenes. PARANÁ: Terra de todas as Gentes e de muita História.
Francisco Beltrão: Grafit, 2003. 30 CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1957. 31 LAZIER, Hermógenes, op. cit., p. 150.
10
Em 1955. foi o PSD que venceu na eleição, e Lupion voltou a ser
governador. Ele conseguiu todas as prefeituras do Sudoeste e suspendeu a
proibição do fornecimento da Sisa e ainda incorporou à CITLA duas imobiliárias do
Grupo Lupion: a Companhia Comercial e Agrícola Paraná Ltda. (Comercial) e a
Companhia Colonizadora Apucarana Ltda. (Apucarana). A Comercial recebeu
21.000 alqueires próximos a Verê, e a Apucarana recebeu 6.000 alqueires perto
da Argentina. E nos três anos que faltava para o fim do governo Lupion, a palavra
de ordem era a venda das terras de qualquer maneira e a realização da cobrança
dos colonos. Estes eram chamados aos escritórios das companhias para que isso
se realizasse.32
Mas a oposição se mobilizou para avisar aos colonos que não
assinassem o contrato, pois as companhias, além de exigir que os colonos
assinassem o contrato também exigia que eles assinassem promissórias de
dívida, que eram descontadas em Pato Branco no Banco do Estado. Alguns
colonos acabaram assinando, outros se negavam a fazê-lo, mas estes eram
ameaçados de morte. “Tratores passavam por cima de suas casa, com alegação
de que ali passaria uma estrada. As companhias contrataram ‘jagunços’ e
pistoleiros, muitos retirados das penitenciárias do Estado (...). Os apelos dos
colonos às autoridades estaduais e federais não encontravam acolhida”.33
Principalmente a partir de março de 1957, a situação agravava-se junto
com a insistência das companhias. Os colonos não tinham garantia alguma, pois
ao solicitarem ajuda das polícias locais elas diziam que nada podiam fazer porque
era o Estado que tinha que resolver.
Então ocorreu o início do levante. Os colonos posseiros da região da
fronteira se armaram contra os “jagunços” da Apucarana e também contrataram
pistoleiros, os “farrapos”. Em abril de 1957, ocorreram os primeiros confrontos
entre os dois grupos. Centenas de colonos fugiam para a Argentina ou voltavam
às regiões de onde tinham partido. As companhias ocuparam as estradas. Se um
colono quisesse entrar tinha que, antes, assinar os papéis.34
E como nas delegacias foram colocadas pessoas que obedeciam às
companhias, os colonos perceberam que não podiam confiar neles, porque eles
32 WACHOWICZ, Ruy, op. cit., p. 223 33 Idem, p. 223. 34 Idem, p. 225.
11
defendiam quem perseguia os colonos. Mas estes conseguiram ocupar as sedes
de Capanema e Pérola do Oeste, destacando-se o “farrapo” Pedro Santin. Este,
que vivia foragido na Argentina, era conhecido lá como Pedro Capeletti. Ausentou-
se de Capanema em março e voltou no início de setembro para comandar a ação
contra os “jagunços” juntamente com Otávio Matos e João Lautard. Ele se tornou
o homem mais famoso da região e idolatrado pelos colonos.35
O grupo que detinha o governo do Estado resolveu então retirar a
Apucarana da região para que a calma voltasse entre os colonos e por isso
enviaram o coronel Alcebíades que organizou uma espécie de polícia civil, e foi
encaminhado para Santo Antonio o coronel José Henrique Dias para que
retirassem os homens armados e evitar o confronto direto.36
No entanto, nas regiões de Francisco Beltrão, Verê, Dois Vizinhos,
Jaracatiá, Costa do Iguaçu, entre outros, estava presente a Companhia Comercial.
Os colonos de Verê pediram ao vereador do PTB de Pato Branco que fosse até o
Presidente da República, mas ele foi assassinado por “jagunços”. E, ainda, a
Comercial colocou barreiras na estrada para que os colonos não saíssem da
região. O fórum de Clevelandia foi assaltado e desapareceram os processos
contra a Comercial, mas não houve apuração dos fatos.
No dia 2 de agosto um grupo de colonos armados foi em direção ao
escritório da Cia. Comercial, no distrito de Verê, em Pato Branco, como relata
PECOITS: “Na frente da multidão vinha um colono forte, conhecido como Alemão;
para mostrar o propósito pacífico da marcha e assegurar-se de que não seria
baleado, o Alemão se enrolara numa bandeira do Brasil. Foi assim mesmo que
morreu, atravessado pelas balas dos jagunços (...)”.37
Então ocorreu verdadeira batalha na qual saíram feridos dos dois lados,
com a morte de dois colonos.38
35 COLNAGHI, Maria Cristina, op. cit., p. 119 36 WACHOWICZ, Ruy, op. cit., p. 227. 37 PECOITS, Walter. Paraná-1957; a luta pela terra. Entrevista concedida a Roberto
Gomes. Revista Atenção, Curitiba, n. 3, p. 36, 1978. 38 MADER, Othon. D. C. N. seção II, n. 153, de 28 de outubro de 1957. Gazeta do
Povo, Curitiba, 1 de outubro de 1957.
12
Diante da violência contra os colonos que não queriam assinar os
contratos e as promissórias, os colonos reagiram, organizando-se e atacando os
escritórios da imobiliária. Houve três mortes (dois colonos e um “jagunço”), mas
não houve apuração de inquérito pela polícia de Pato Branco. O que mais revoltou
os colonos foi a chacina da família do “farrapo” João Saldanha, pelo uso de
crueldade. Diante disso os políticos de oposição resolveram provocar a
intervenção federal na região, com destaque para o senador Othon Mäeder e o
advogado Edu Potiguara Bublitz. Um dos pontos decisivos foi o controle de
estações de rádio. O levante começou no dia 9 de outubro em Pato Branco e no
dia 10 em Francisco Beltrão e Santo Antonio, e o fato tinha repercussões
internacionais. Brasileiros às centenas refugiavam-se na Argentina.39
A violência que a luta pela terra assume em determinados momentos históricos apresenta duas faces. De um lado, a violência do capital, principalmente a violência expropriadora, que se manifesta na grilagem e comercialização ilegal da terra. E, de outro, as sucessivas expulsões que o camponês sofre neste processo lhe permitem adquirir a consciência de sua condição no capitalismo. Ou seja, a elaboração da consciência social, que vai impulsionar o homem do campo a se organizar para resistir a um novo processo de expulsão. A elaboração dessa consciência, bem como as formas como ela se expressa, são fundamentais para se entender os movimentos de resistência que têm ocorrido ao longo do processo de expansão da sociedade brasileira.40
No dia 10 de outubro, pela manhã, as lideranças da região reuniram-se e
estabeleceram um plano de ação mobilizando a população através de anúncios no
rádio para que todos os moradores viessem à cidade, armados, para lutar contra
as companhias de terras e os “jagunços”. Em seguida ao aviso na cidade de
Francisco Beltrão começaram a chegar moradores vindos das regiões vizinhas,
ocuparam as empresas e expulsaram os “jagunços”.
Então o Ministro da Guerra, General Teixeira Lott ordenou ao governador
Lupion que fechasse as companhias imobiliárias e acomodasse os colonos ou
haveria intervenção federal na região. O governo afastou as companhias, da
mesma forma que havia feito antes, ou seja, chegou em Pato Branco o major
Reinaldo Machado como delegado que protegeria os colonos contra as
companhias e os “jagunços”. Enquanto isso o Exército estava com suas tropas em
União da Vitória para intervir no Sudoeste. O Grupo Lupion teve que deixar de
39 GOLNAGHI, Maria Cristina. op. cit.151 40 GOMES, Iria Zanoni. 1957, op. cit., p.6
13
lado os interesses econômicos para beneficiar a situação nacional do PSD, porque
se houvesse intervenção no Paraná ele perderia votos em 1960.
Depois de três dias de ocupação na cidade pelos colonos, o Chefe de
Polícia acertou um acordo por meio de troca de rádios e o seu compromisso de
que a Apucarana não voltaria para a região. No dia seguinte os colonos voltaram
para suas casas.
Segundo LAZIER (2003, p. 152/154), com a expulsão dos grileiros e
“jagunços”, a luta continuou para transformar os posseiros em proprietários. Com
a eleição do então Presidente da República Jânio Quadros, que desapropriou
grande parte da área em litígio, através do decreto n.º 50.379, de 27/03/1961, foi
declarada de utilidade pública a gleba das Missões e parte da gleba Chopim, ou
seja, o Sudoeste do Paraná. Ou seja, a situação ainda foi muito difícil desde o
levante de 1957 até a criação do Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do
Paraná (GETSOP) criado por Jânio Quadros. Antes disso ninguém se sentia
proprietário.
14
3 METODOLOGIA
Neste capítulo apresenta-se a Metodologia utilizada nesta monografia,
que é a análise do discurso de dois jornais da capital paranaense, o O Estado do
Paraná e o Tribuna do Paraná, que eram oposicionistas no período do Levante.41
Antes, porém, realiza-se breve contextualização da criação dos dois jornais.
Foi em 1951, por ocasião da inauguração da editora O Estado do Paraná,
que passou a circular o jornal O Estado do Paraná, e em 1956 a editora passou a
publicar também A Tribuna do Paraná.
De acordo com o jornalista João Dedeus Freitas Netto, que trabalhou no
jornal desde o seu nascimento, o jornal O Estado do Paraná surgiu para dar
sustentação política, como relata em entrevista a Elza Aparecida de Oliveira Filha:
(...) O governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha Neto, sofria oposição de todos os jornais que circulavam em Curitiba. ‘O Dia’ era propriedade de seu inimigo político Moysés Lupion, que detinha também 50% do capital da ‘Gazeta do Povo’ enquanto o ‘Dário da Tarde’ era controlado por outro grupo rival. (...) Essa foi a principal justificativa para o surgimento de ‘O Estado do Paraná’, a partir de 17 de julho de 1951. (...) O cunhado do governador, Fernando Camargo, que era advogado da Caixa Econômica Federal, juntou dois empresários amigos, o Aristides Merhy e o José Luiz Guerra Rego para montarem um jornal e dar sustentação ao governo (...) Naquela época, os jornais eram marcados por polêmicas, trocávamos acusações e refletíamos, especialmente nos editoriais, a linha política das publicações.42
Na edição comemorativa dos seus 50 anos, O Estado do Paraná de terça-feira,
17 de julho de 2001, suplemento especial 50 anos, p. 5, diz ter sido “fundado para dar
sustentação política ao governador Bento Munhoz da Rocha Neto” 43 e isso pode ser
constatado no período do Levante.
Atualmente segundo o Grupo Paulo Pimentel, O Estado do Paraná zela
pela segmentação editorial que atende aos interesses de todos os leitores, a
Tribuna do Paraná enfatiza a cobertura do esporte profissional e amador,
especialmente o futebol, o cotidiano da cidade e o noticiário policial. É vendida
somente em bancas.44
41 GOMES, Iria Zanoni, op. cit., p. 41 42 OLIVEIRA FILHA, Elza Aparecida de. Apontamentos sobre a história de dois
jornais curitibanos: “Gazeta do Povo” e “O Estado do Paraná”. Disponível em:< http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/cd3/midia/elzaaparecidadeoliveirafilha.doc> Acesso em: 2 junho 2007.
43 O ESTADO DO PARANÁ, terça-feira, 17 de julho de 2001, suplemento especial 50 anos, p. 5.
44 GGPCOM – Grupo Paulo Pimentel. Dicionário de mídia. Disponível em:< http://www.gppcom.com.br/midia/index.php?id=3> Acesso em: 2 junho 2007.
15
Enfatiza-se a análise do discurso especialmente nos meses de agosto e
setembro. Opta-se por essa modalidade porque, segundo GOMES, 45 foram os
principais momentos no que diz respeito ao Levante.
Quanto ao termo representação, FALCON46 destaca em especial dois
sinônimos: primeiramente como objetivação de algo ausente, como estar presente
em lugar de outra pessoa, substituindo-a. E a representação como prática política,
quando uma ou mais pessoas representam grupos. Neste sentido, o conceito de
representação está cada vez mais presente no pensamento político moderno.
Nesta monografia adota-se o sentido de representação como atividade de
conhecer, “apreender o ‘real’ verdadeiro para além das aparências de um ‘real’
produzido pelo senso comum”.47
Quanto ao termo discurso, entende-se que é fonte de mudança social,
mas também de manutenção da situação em uma comunidade e entende-se
discurso como a utilização da linguagem como forma de prática social. Segundo
FAIRCLOUGH,48 “a prática discursiva é constitutiva tanto de maneira convencional
como criativa: contribui para reproduzir a sociedade (identidades sociais, relações
sociais, sistemas de conhecimento e crença) como é, mas também contribui para
transformá-la”.
Assim, ao trabalhar com fontes de periódicos diários, busca-se: classificar
as diferentes maneiras pelas quais os autores das fontes captam o sentido do
levante e a quem defendem; estabelecer ligações entre as diferentes
manifestações.
45 GOMES, Iria Zanoni. 1957, op. cit., p. 85 46 FALCON, FRANCISCO J. CALAZANS, op. cit., p. 41. 47 Idem, p. 46. 48 FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: UnB, 2001, p. 92.
16
De maneira mais especifica, aborda-se a forma como estes jornais se
reportavam às ações de colonos, posseiros, grileiros, “jagunços” e também às
ações das autoridades locais e estaduais, enfocando a representação que se
construiu sobre esses agentes e sobre o movimento.
Insere-se a análise do discurso dos dois jornais no âmbito denominado
história cultural que é, de acordo com CHARTIER49 a identificação do modo como
em diferentes lugares e momentos uma dada realidade é construída, elaborada e
oferecida para a leitura. Exercita-se, portanto, a atividade de interpretar que, para
o autor, é o alicerce da operação hostoriográfica, pois o historiador realiza um ato
ficcional, não no aspecto de escrever o que não tenha se realizado, mas levando
em consideração o grau de invenção, interpretação e inserção do pesquisador que
compõem a história que é interpretada, pois não existe neutralidade, quando o
tema é a construção das pessoas. Estuda-se a história em fontes jornalísticas
lembrando que os leitores fazem parte desses objetos culturais.
Foram pesquisadas as variáveis: matéria de primeira página em
manchetes, títulos, textos e fotos; a presença nas páginas internas com esses
critérios adicionados de outros, como matéria informativa, editorial, artigo de
opinião, charge, o tamanho da matéria, etc.
Para a análise do discurso, buscou-se o frame dos textos, ou seja, a idéia
central ou organizadora que atribui sentido a eventos, destacando o que está em
causa. “Implica a escolha de um ângulo específico e implica a decisão de abarcar
ou deixar de fora certos aspectos da realidade”. 50 A análise do discurso é um
recurso importante que possibilita desmontar e examinar os textos dos jornais e as
representações ali presentes da questão do Levante, incluindo nas análises os
silêncios. Questiona-se: qual é o enquadramento da notícia, enquanto se analisa
tamanho dos títulos, espaços, etc.
Observam-se os aspectos técnicos da diagramação dos jornais,
lembrando que, como destaca Bahia (1990)51, a diagramação é a consciência dos
elementos gráficos com a estética, a ligação entre a técnica do jornal e a arte de
49 CHARTIER, R. A história cultural, 16. 50 CARVALHO, Anabela. Opções metodológicas em análise do discurso: instrumentos,
pressupostos e implicações. Comunicação e Sociedade 2. Cadernos do Noroeste, Série Comunicação, v. 14, n. 1-2, p,. 143-150, 2000.
51 BAHIA, Juarez - Jornal, história e técnica, S. Paulo, Ática. 1990.
17
apresentação. Ou seja, a diagramação dá o modelo de representação gráfica,
unindo técnica, harmonia e apresentação.
É também o “desenho e cálculo do esquema da distribuição de títulos,
textos, anúncios e ilustrações para cada página de jornal ou revista”.52
52 NOVA CULTURAL. Grande enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova
Cultural, 1998.
18
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A análise deste trabalho se refere às representações manifestadas pelo
discurso dos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná quanto ao levante
de Terras no Sudoeste Paranaense, em 1957. “Uma vez que são os homens que
conferem sentidos às letras articuladas nas páginas dos periódicos, com o sentido
de valores e crenças (...), os jornais informam aos seus leitores uma visão de
mundo presente nas noticias”53, com o objetivo de adequá-la às capacidades de
leitura de seus consumidores a fim de conquistá-los.
Teve-se o cuidado indispensável de analisar o modo como os periódicos
abordaram, não tomando esses discursos como a expressão da verdade, mas
como informações a serem questionadas.
Para a análise do discurso optou-se por matérias veiculadas pelos jornais
nos meses de agosto e setembro, que envolveram as notícias mais intensas
respectivas às manifestações anteriores ao levante; que envolveram
manifestações da união de forças dos colonos para o levante e seus
desmembramentos. Questionou-se que tipo de discurso os jornais expressaram
em seus textos sobre o problema de terras e o levante no Sudoeste do Paraná e
que estratégias utilizaram para convencer o leitor de que estavam a favor dos
colonos. Inicia-se com o O Estado do Paraná, conforme Quadros e comentários
de análise seguintes.
53 DALFRÉ, Liz Andréa. Outras narrativas da nacionalidade: o movimento do
Contestado. Curitiba-PR, 2004, 108 f. Dissertação (Mestrado em História) – Curso de Pós Graduação em História, Universidade Federal do Paraná, 2004.
19
O Estado do Paraná
QUADRO 1 – MATÉRIA DE 3 DE AGOSTO
Jornal O Estado do Paraná Data Tipo de
matéria/Autores Título Posicionamento/diagrama
ção Estratégias
3 de agosto de 1957
Matéria especial de P. Charquetti e fotos de Oswaldo do Jansen
“O drama dos retirantes do sul”.
• Toma parcialmente a página do lado esquerdo;54
• Título: 2cm; • 2 fotos, de 8x5 e de 14
x13 (de um colono falando e de uma senhora preparando refeição).
• Título tamanho grande; • Uso de imagens dos
colonos; • Relato de depoimentos
dos colonos em forma de diário.
• Diversos intertítulos. • Chamada para a
continuidade da matéria.
Comple-mentos:
Os diversos intertítulos utilizados pelo jornal referem-se a doenças, a diminuição das provisões e como os colonos faziam para não desanimar de chegar à “Terra Prometida”, o Eldorado Paranaense.
O Quadro mostra em data de 3 de agosto de 1957 uma reportagem
preocupada em mostrar o lado dos colonos. Dentre as estratégias utilizadas estão
a manchete de matéria especial, as fotos mostrando o relato dos colonos sobre as
dificuldades encontradas, a chamada para a continuidade da matéria e os
diversos intertítulos do jornal com destaque para doenças, falta ou diminuição das
provisões, desânimo e a esperança de chegar à terra que almejam. A matéria
especial chama o leitor para o drama dos retirantes do sul.55
QUADRO 2 – MATÉRIA DE 4 DE AGOSTO
Data Tipo de
matéria/Autores Título Posicionamento/
diagramação Estratégias
4 de agosto de 1957
Matéria especial de P. Charquetti e fotos de Oswaldo do Jansen
“O drama dos retirantes do sul”.
• Toma parcialmente a página do lado esquerdo;56
• Título: 2cm; • 1 foto de 20 x 13 cm.
Por meio do Repórter, o jornal assume posicionamento ao se referir a uma pequena elite que consegue logo suas terras e daqueles que têm dificuldade.
Comple-mentos:
“Cada família a mais que se acerca de sua posse é recebida de braços abertos. Representa a ocorrência de mais dedos no gatilho para o incerto dia do despejo, que ele não quer que amanheça, mas que se surgir será enfrentado com decisão”.
54 Não foi possível identificar o número de pagina no material pesquisado, microfilme na Biblioteca Pública do Paraná, mas situa-se do lado esquerdo da p. 15 do dia 4 de agosto.
55 O ESTADO DO PARANÁ, op.cit., p. 1. 3 ago. 1957. 56 Não foi possível identificar o número de pagina no material pesquisado, microfilme na
Biblioteca Pública do Paraná, mas situa-se do lado esquerdo da capa do dia 3 de agosto.
20 QUADRO 3 – MATÉRIA DE 9 DE AGOSTO
Data Tipo de matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
9 de agosto de 1957
Matéria especial de primeira página assumida pelo jornal.
“Reforços militares para a região de Pato Branco”.
• Toma parcialmente a página do lado da capa.
• Título: 1 1/2cm;
O jornal relata em intertítulos a gravidade da situação em Clevelândia, alto e baixo Verê e confrontos entre a polícia e elementos da Companhia Comercial do Paraná, com fuzis e metralhadoras e os posseiros.
Comple-mentos:
“Desesperados pelas perseguições e pelo desamparo em que se encontram, vivem num regime de violências continuadas e reprimidas, 500 posseiros, que são praticamente assaltados pela Companhia, estariam dispostos a invadir Santo Antonio”.
Em 9 de agosto, em matéria de primeira página, o jornal foca a gravidade
da situação no seu título “Reforços militares para a região de Pato Branco”. Em
intertítulos, vai mostrando os locais de confronto e que a Companhia Comercial
usava armas, como fuzis e metralhadoras. Mostra seu posicionamento ao
descrever a situação dos colonos: “Desesperados pelas perseguições e pelo
desamparo em que se encontram, vivem num regime de violências continuadas e
reprimidas, 500 posseiros, que são praticamente assaltados pela Companhia,
estariam dispostos a invadir Santo Antonio”.57
QUADRO 4 – MATÉRIA DE 13 DE AGOSTO
Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
13 de agosto de 1957.
Matéria especial de primeira página assumida pelo jornal.
“Trégua entre posseiros e demais implicados na região de Pato Branco”.
• Matéria de 15 cm do lado esquerdo superior.
• Título: 1 1/2cm;
O jornal deixa o suspense sobre se a trégua é real ou não.
Comple-mentos:
“(...) Não se sabe o motivo do regresso, nem com precisão o que teriam feito em Francisco Beltrão (...). Não se sabe, entretanto, se essa trégua é real ou se oculta movimentos subterrâneos de ambas as partes do litígio”.
Em 13 de agosto, em matéria de primeira página, embora tenha escrito
no título “Trégua entre posseiros e demais implicados na região de Pato Branco”,
o jornal coloca dúvidas em seu texto: “(...) Não se sabe o motivo do regresso, nem
com precisão o que teriam feito em Francisco Beltrão (...). Não se sabe,
57 O ESTADO DO PARANÁ , op. cit., p. 1. 9 ago. 1957.
21
entretanto, se essa trégua é real ou se oculta movimentos subterrâneos de ambas
as partes do litígio”.58
QUADRO 5 – MATÉRIA DE 18 DE AGOSTO
Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
18 de agosto de 1957
Matéria especial de primeira página assumida pelo jornal.
“Soldados da polícia e ‘jagunços’ espalham terror em Goio-Erê”.
• Matéria de 14 x13 cm sem foto.
• Título: 2 cm;
Enfatiza o despejo dos posseiros nas Glebas 9, 10 e 11 da Costa do Piquiri.
Comple-mentos:
“(...) O juiz manda e o coronel executa trinta famílias escorraçadas de suas posses. O juiz de direito, Senhor de Terras, faz a população viver num clima de intranqüilidade”.
Em matéria de 18 de agosto, também de primeira página, o jornal mostra
seu discurso contra os “jagunços” em seu título: “Soldados da polícia e ‘jagunços’
espalham terror em Goio-Erê”, e na matéria relata o despejo de posseiros, a
execução de 30 famílias escorraçadas de suas posses, ou seja, a população vive
em intranqüilidade devido às ordens de direito, colocando entre vírgulas o termo
“Senhor de Terras”.59
QUADRO 6 – MATÉRIA DE 15 SETEMBRO
Data Tipo de matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
15 de setembro de 1957
Matéria especial60.
“Reconhece o chefe de polícia a gravidade da situação no Sudoeste do Paraná”.
• Matéria de 9 x 13 cm ocupa lado esquerdo superior do jornal.
• Título: 2 cm;
Destaca seis mortes em Santo Antonio e Capanema. Chama para a seqüência da matéria na p. 11, que continua com o mesmo título em intertítulo.
Em 15 de setembro, relata que finalmente o chefe de polícia reconhece
que a situação é grave, mas, posteriormente, se verá que esse reconhecimento
não muda nada.61
58 O ESTADO DO PARANÁ , op. cit., p. 1. 13 ago. 1957. 59 Idem, p. 1. 18 ago. 1957. 60 Página sem numeração, próxima à capa do jornal. 61 O ESTADO DO PARANÁ , op. cit., p. 1. 18 ago. 1957.
22 QUADRO 7 – MATÉRIA DE 26 DE SETEMBRO
Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
26 de setembro de 1957
Matéria especial de primeira página.
“Admite o chefe de polícia as violências da CITLA”.
• Matéria ocupa lado esquerdo do jornal,.
• Título: 2 cm; • Foto de 8x6cm
Descreve a opressão dos colonos e relata entrevistas cm eles, bem como o assassinato de Antonio Borges.
Comple-mentos:
“A calma anunciada pela CITLA é aparente, pois a CITLA e associadas continuam a oprimir os colonos”.
Em 26 de setembro, o jornal destaca a calma aparente da CITLA e
divulga entrevistas com os colonos.62
QUADRO 8 –MATÉRIA DE 26 DE SETEMBRO 1
Data Tipo de matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
26 de setembro de 1957
Matéria da p. 4. “Terra de ninguém”.
• Matéria ocupa lado esquerdo do jornal.
• Título: 1 1/2 cm;
Expressões como “Terra de Ninguém” utilizada nas narrativas jornalísticas chamavam à atenção das pessoas que vinham à região a fim de garantir um pedaço de terra, muitos eram aventureiros.
62 O ESTADO DO PARANÁ , op. cit., p. 1. 26 set. 1957.
23
Comple-mentos: do Quadro 8.
“Os deploráveis acontecimentos do Oeste do Estado, depois que lá se implantou o reinado da anarquia e do banditismo, são um problema que não afeta apenas a autoridade policial, encarregada de retornar a ordem e a tranqüilidade, mas a todo o povo paranaense e a vida nacional pelo reflexo que ai vai se fazer sentir. Desde Porecatú episódios sangrentos do Primeiro Governo Lupionista, o Paraná não era olhado como zona de cangaço, de justiças pelas próprias mãos, não merecia a consideração de quem quer que fosse, pois seus problemas gravitaram à distancia de violência, nasciam e se resolviam em vista de outras circunstâncias, como foi o caso da geada de 53 e 55. hoje retornamos ao regime do bacamarte da disputa de terras a ferro e fogo, com o desconhecimento e a aviltamento da autoridade legitima e o desrespeito às intimas condições de consciência social. Toda a região do Sudoeste do Estado compreendida pela faixa de fronteira transformou-se subitamente numa terra de ninguém, onde mandam os que podem mandar e não os que devem. Já não é de magistrados, mas o jagunço que decide a quem pertence a terra. Já não é a policia mas a quadrilha, a malta de pistoleiros, a confraria de crime e da destruição que estabelece as tréguas na metralha, e impõe à bala a palavra de amedrontamento (...) Mais de 500 famílias, e não apenas pessoas como de início se supunha, vararam as fronteiras argentinas em busca de um pouco de tranqüilidade onde o lazer das crianças e dos velhos e o trabalho dos adultos não tiveram epílogo, mas projétil traiçoeiro e mortífero (...). Centenas de posseiros, deixando as esposas e filhos para escapar da perseguição, refugiaram-se nas metas ribeirinhas do Capanema, vivendo de caça e frutos silvestres, para não estar ao alcance dos longo braços das companhias colonizadoras (...) é familiar o espetáculo de cadáveres juncando a poeira dos caminhos, com faces retorcidas (...) corpos mutilados pela violência ou perfurados em vários pontos pelas balas certeiras que nunca se perdem.”
Em 26 de setembro, o jornal retrata a situação pela manchete: “Terra de
ninguém”. O texto faz um comentário geral da situação. Observa-se o uso de
adjetivos: deploráveis acontecimentos; aviltamento da autoridade legítima,
desrespeito às íntimas condições de consciência social, para expor a situação. E
inverte a ordem: “(...) transformou-se subitamente numa terra de ninguém, onde
mandam os que podem mandar e não os que devem. Já não há magistrados,
mas o ‘jagunço’ que decide a quem pertence a terra. Já não é a polícia, mas a
quadrilha a malta de pistoleiros, a confraria do crime e da destruição quem
estabelece as tréguas na metralha e impõe à bala a palavra de amedrontamento
(...)”.63
O jornal refere-se também à continuidade da opressão dos colonos pela
CITLA e do assassinato de Antônio Borges em Capanema.64
63 O ESTADO DO PARANÁ, op. cit., p. 4. 26 set. 1957. 64 Idem, p. 1, 26 set. 1957.
24
QUADRO 9 – MATÉRIA DE 26 DE SETEMBRO
Data Tipo de matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
28 de setembro de 1957
Matéria especial de primeira página.
“Angustiosa a situação do Sudoeste do Paraná”.
• Matéria ocupa lado esquerdo do jornal,.
• Título: 2 cm;
Descreve a mobilização dos jornais nacionais e internacionais.
Comple-mentos:
A matéria refere-se aos 1.300 refugiados em território argentino e que militares brasileiros chegam na região de conflito e sobre a Nota oficial da Embaixada Brasileira em Buenos Aires.
Em 28 de setembro novamente o jornal se posiciona a favor dos colonos
ao exibir título de matéria especial: “Angustiosa a situação do Sudoeste do
Paraná e mostra que a situação chegou ao ponto de chamar a atenção da
imprensa nacional e internacional.65
QUADRO 10 – MATÉRIA DE 6 DE OUTUBRO
Data Tipo de matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
6 de outubro de 1957
Matéria ao lado da primeira página66.
“Os sangrentos acontecimen-tos que conturbaram o Sudoeste”.
• Texto com duas fotos. Uma de 8x12 cm mostra o pai e quatro crianças encontradas na Argentina após fuga. A outra foto de 13 x 8 mostra relato de um colono.
• Título: 2 cm;
Relato dos depoimentos dos colonos e as legendas das fotos: colono: “agora o pagamento para a CITLA é bala”. E “As crianças foram abandonadas no mato depois do pai sofrer violência”.
Comple-mentos:
“ (...) 23 deputados estaduais e um federal encaminharam ao Presidente da República, ao Ministro da Guerra, ao Secretário Geral de Seguridade Nacional e ao Vice-Presidente da República pedido de envio de forças militares na região de Pato Branco”.
Em 6 de outubro são exibidas fotos de crianças que haviam sido
abandonadas na mata após o pai sofrer violência, fato relatado pelo pai que fugiu
com as crianças para a Argentina, como fizeram muitos outros colonos.67
65 O ESTADO DO PARANÁ , op. cit., p. 1, 6 out. 1957. 66 Página sem numeração, próxima à capa do jornal. 67 O ESTADO DO PARANÁ , op. cit., p. 1, 12 out. 1957.
25
QUADRO 11 – MATÉRIA DE 12 DE OUTUBRO
Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
12 de outubro de 1957
Matéria especial68.
“Solução para o restabeleci-mento da ordem no Sudoeste”.
• Matéria em duas colunas por 9 x 17 cm.
• Título: 1 cm;
Manutenção de informações sobre o fato.
Comple-mentos:
“ (...) 23 deputados estaduais e um federal encaminharam ao Presidente da República, ao Ministro da Guerra, ao Secretário Geral de Seguridade Nacional e ao Vice-Presidente da República pedido de envio de forças militares na região de Pato Branco”.
Em 12 de outubro, o jornal se limita a manter as informações. Na
manchete, o destaque está na primeira palavra: “Solução”. 69
QUADRO 12 – MATÉRIA DE 15 DE OUTUBRO
Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
15 de outubro de 1957
Matéria especial de capa.
“Agitado o Legislativo com os acontecimen-tos do Sudoeste”.
• Matéria de primeira página.
• Título: 2 cm;
Matéria de capa, manutenção de informações.
Comple-mentos:
“ (...) “Sessão acompanhada com as galerias literalmente tomadas pelo povo. Esperança de Paz com a idade das forças do exércitos. (...) Convocada nova sessão”.
Em 15de outubro, a ênfase está nas galerias lotadas e tomadas pelo
povo e na esperança de paz. 70
QUADRO 13 – MATÉRIA DE 23 DE OUTUBRO
Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/ diagramação
Estratégias
23 de outubro de 1957
Matéria especial de capa.
“Continua o mesmo clima de agitação no Sudoeste do Estado”.
• Matéria de primeira página.
• Título: 2 cm;
Manutenção de informações. Responsabilização da colonizadora.
Comple-mentos:
“ (...) Quase nenhuma segurança. Possibilidades de novos conflitos, saques, roubos e furtos diz o juiz de direito de Francisco Beltrão. Violências da colonizadora provoca conflito”
68 Página sem numeração, próxima à capa do jornal. 69 O ESTADO DO PARANÁ, op. cit., p. 4, 26 set. 1957. 70 Idem, p. 1, 15 out. 1957.
26
Em 23 de outubro o jornal relata a presença das tropas no Paraná, bem
como a continuidade do clima de agitação e possibilidade de novos conflitos
evidenciando a violência por parte da colonizadora. 71
Jornal Tribuna do Paraná
QUADRO 14 – MATÉRIA DE 9 DE AGOSTO
Jornal Tribuna do Paraná Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
9 de agosto de 1957
Manchete/ Jornal
“Chacina entre policiais e posseiros no Oeste do Paraná”.
Manchete de 2cm, sem foto. Na 6.a página, colunas de 8 x 13 e/ou 8 x 20 cm, sem foto
Chamada para a 6.a página, na qual retoma título e intertítulos
Comple- Mentos
Intertítulo:”Cenas dantescas entre a gente da CITLA e posseiros, que morrem na defesa das suas terras”. Em Clevelândia: “Centenas de pessoas, atemorizadas pelos desmandos e atrocidades cometidos por elementos da CITLA, aliados a soldados dos destacamentos policiais locais, acorrem, em romaria aos juízes de Direito de suas comarcas, com o fim de pedir garantias, que não são prometidas porque os próprios magistrados vivem na maior falta de segurança, aguardando reforços policiais solicitados e ansiosamente esperados por toda população”.
A Tribuna do Paraná utiliza termos que destacam a situação dos
posseiros: “morrem na defesa de suas terras”; “pessoas atemorizadas” pelos
desmandos e atrocidades”. E ao mesmo tempo responsabiliza as Companhias e a
polícia por atemorizar ou por não dar a assistência devida à população. Observe-
se que o título está em manchete e que faz chamada de matéria para a 6.a
página, chamando duas vezes a atenção dos leitores.72
71 O ESTADO DO PARANÁ , op. cit., p. 1, 23 out. 1957. 72 TRIBUNA DO PARANÁ. Chacina entre policiais e posseiros no Oeste do Paraná.
Curitiba, p. 1e 6. 9 ago. 1957.
27 QUADRO 15 – MATÉRIA DE 13 DE AGOSTO
Jornal Tribuna do Paraná
Data Tipo de matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
13 de agosto de 1957, p. 5
Manchete/ Jornal
“Narrado às autoridades federais o sangrento episódio do Oeste Paranaense”
Manchete de 2cm, sem foto na quinta página. 4 colunas de aproximadamente 7cm no alto da p. 5
Relato do telegrama na íntegra, com introdução do jornal.
Comple- Mentos
Intertítulo: Fatos que atentam contra a segurança do Estado – “Jagunços” portando armamento de guerra conflitam com humildes posseiros – íntegra do telegrama assinado por 23 deputados. Antes do telegrama, entre outros aspectos, o jornal destaca que: “Convém que os deputados signatários do telegrama, denunciadores de um estado de coisas que não pode continuar, estudem essa possibilidade, pois, do contrário, não só dez, mas algumas centenas de humildes agricultores perecerão nas refregas, onde armas de guerra são utilizadas, impunemente, pelos sicários da CITLA, de que o Parlamento Nacional tomou conhecimento através do escândalo de terras em Chopim, Missões e Francisco Beltrão”.
Em 13 de agosto, o jornal utiliza a estratégia de introduzir o relato do
telegrama expondo seu ponto de vista. Observem-se os termos: “centenas de
humildes agricultores perecerão”. Por outro lado, fixa bem a imagem dos
“jagunços” portando armamento de guerra em conflito com os “humildes
posseiros”.73
QUADRO 16 – MATÉRIA DE 19 DE AGOSTO
Jornal Tribuna do Paraná Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
19 de agosto de 1957, p. 7
Manchete/ Jornal
“Dupla de autoridades escorraça posseiros em Goio-Erê”
Manchete de 2cm, sem foto. Matéria de 4 colunas 18 x 18 cm
Box ou caixa74 no início da matéria
Comple- Mentos
Na caixa de texto, ou box, entre outros parágrafos, o jornal destaca: “(...) Trinta famílias ficaram ao relento, escorraçadas, lares que foram incendiados, juntamente com seus paióis, mangueiras e demais pertences. É inacreditável a selvageria com que esses novos hunos, sob o comando feroz de um Átila moderno – o Coronel Alcebíades Rodrigues da Costa – vêm realizando tal destruição. O município de Goio-Erê transformou-se em verdadeiro campo de suplícios. Os posseiros não têm meios materiais para reagir. E os atentados contra suas vidas e seus bens são perpetuado com requintes de violência, causando a mais justa revolta entre a população”.
73 TRIBUNA DO PARANÁ , op. cit., p. 5. 13 ago. 1957. 74 É um Box ou caixa graficamente delimitado (a) que inclui um texto explicativo.
28
Em 19 de agosto o jornal utiliza o recurso do box ou caixa de texto para
chamar a atenção do leitor, mais do que nas outras vezes, pois a gravidade havia
aumentado de tal forma que 30 famílias tiveram seus pertences todos
incendiados. O jornal faz um comparativo do coronel Alcebíades com “um Átila
moderno” responsável pela destruição. E defende os posseiros que não têm
meios materiais para reagir porque a força da violência é maior.75
QUADRO 17 – MATÉRIA DE 27 DE AGOSTO
Jornal Tribuna do Paraná Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
27 de agosto de 1957, p. 1
Manchete/ Jornal
“Ameaçado de morte, Vigário de Guaira”.
Manchete de 2cm, sem foto. Matéria de 4 colunas 18 x 18 cm
Chamada para a p. 9
Comple- Mentos
Intertítulo: Fugiu à paisana perseguido por dois jagunços. Acusado o administrador da Imobiliária Ipiranga. Conselho a 1 colono. Denúncia aos acontecimentos do Oeste do Paraná”. Na página 9 destaca:“Padre Hermogênio, vigário de Guairá no Oeste do Paraná disse que o administrador da imobiliária Ipiranga mandou elimina-lo porque os conselhos e esclarecimentos dados ao colono de Guairá certamente irão influir nos negócios irregulares da companhia, já que servirá de advertência para outras pessoas a quem pretenda ludibriar”.
Em 27 de agosto o jornal relata o fato do padre ter que fugir à paisana por
ter aconselhado um colono a não comprar as terras. Enfatiza o termo: “Negócios
irregulares da Companhia”.76
75 TRIBUNA DO PARANÁ , op. cit., p. 1e 6. 9 ago. 1957. 76 Idem, p. 1. 9 ago. 1957.
29 QUADRO 18 – MATÉRIA DE 28 DE AGOSTO
Jornal Tribuna do Paraná
Data Tipo de matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
28 de agosto de 1957, p. 1
Manchete/ Jornal
“40 posseiros voltaram das portas fechadas”. P. 4: “Famigerada companhia de terras “faz misérias” em Capanema
Manchete de 2cm, sem foto. Na página 4, aproximadamente 4 colunas de 17 x 17.
Chamada para a p. 4. Na p. 4: 2 boxes de 4 colunas.
Comple- mentos
Intertítulo:”.O senhor Hugo Vieira abandonou seu posto, deixando perto de 40 posseiros a esperá-lo – A polícia está fornecendo fichas para que os mesmos se hospedem no albergue”. E explica, entre outros parágrafos: “O Sr. Hugo (...) está fazendo, sem dúvida, o jogo dos grileiros”.
Em 28 de agosto, o termo estratégico do jornal é “(...) está fazendo o jogo
dos grileiros”. Enquanto uma das “famigeradas” companhias faz “misérias”, 40
posseiros encontram as portas fechadas”.77
QUADRO 19 – MATÉRIA DE 17 DE SETEMBRO
Jornal Tribuna do Paraná Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
17 de setembro de 1957, p. 9
Manchete/ Jornal. Comentário à entrevista coletiva do chefe de Polícia do Paraná, Pinheiro Júnior
“Regime de tocaia no Sudoeste do Paraná”.
Manchete de 2cm, sem foto. 3 colunas de aproximadamente 13 x 20 cm.
Uso de reafirmações da frase: “A história se repete” em seu texto.
Comple- mentos
“A história se repete, lembrando o final do primeiro governo Lupion. Perdas de vidas humanas em Porecatu”. Explica que o prestígio dos grileiros leva “à revolta e à ação violenta homens dedicados ao cultivo da terra que há muito se encontravam estabelecidos com direitos líquidos e certos sobre as glebas ocupadas”.
Em 17 de setembro, “o regime de tocaia”. O jornal comenta os fatos e
resgata a memória do primeiro governo de Lupion e ao mesmo tempo destaca
que os colonos são “homens dedicados ao cultivo da terra que há muito se
encontravam estabelecidos com direitos líquidos e certos sobre as glebas
ocupadas”.78
77 TRIBUNA DO PARANÁ , op. cit., p. 1 e 4. 28 ago. 1957. 78 Idem.
30 QUADRO 20 – MATÉRIA DE 24 DE SETEMBRO
Jornal Tribuna do Paraná Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
24 de setembro de 1957, p. 1
Jornal/ manchete
“Tombam ‘jagunços’ na linha de tocaia”.
Manchete de 2 cm e subtítulos de ½ cm. P. 4: 4 colunas de 18 x 6. P. 5: 2 colunas de 10 x 9.
Chamada para a página 4.
Comple- Mentos
Subtítulo: “Reação violenta dos posseiros contra a sanha de seus opressores – Tiros, facadas e cacetadas na ‘batalha’ de Santo Antonio – Incendiado o escritório da Companhia em Guarapuava”. Na p. 4 repetem-se os títulos. É realizada retrospectiva dos fatos: “O massacre: o conflito entre posseiros, que os grileiros chamam de intrusos, e jagunços coadjuvados pela polícia são freqüentes”. P. 5: continua relatando as mortes no confronto.
Em 24 de setembro, são os “jagunços” que tombam na linha de tocaia.
Em matéria extensa relata a reação violenta dos posseiros e destaca rapidamente
que os posseiros são chamados de intrusos pelos grileiros.79
QUADRO 21 – MATÉRIA DE 27 DE SETEMBRO
Jornal Tribuna do Paraná Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
27 de setembro de 1957, p. 6
Jornal/ manchete
“Apontadas as responsabilidades pelas conflagrações do Oeste do Paraná”.
Manchete de 2 cm, colunas de aproximadamente 10 x 13.
Chamada para a 6.a página.
Comple- Mentos
Na 6.a página:”Cabe ao governador Lupion a responsabilidade pela situação no Oeste – As empresas imobiliárias não estão autorizadas a negociar terras a empresas imobiliárias”.
Em 27 de setembro, Lupion é novamente responsabilizado pela situação,
pois as empresas imobiliárias estão agindo fora da lei.80
79 TRIBUNA DO PARANÁ , op. cit., p. 9. 17 set. 1957. 80 TRIBUNA DO PARANÁ. Apontadas as responsabilidades pelas conflagrações do
Oeste do Paraná. Curitiba, p. 6. 27 set. 1957.
31
QUADRO 22 – MATÉRIA DE 30 DE SETEMBRO
Jornal Tribuna do Paraná Data Tipo de
matéria/ Autores
Título Posicionamento/diagramação
Estratégias
30 de setembro de 1957,
Jornal/ manchete
“Prosseguem os escândalos de terras no Oeste do Paraná”.
Manchete de 2 cm, 4 colunas de 17 x 15 aproximadamente..
Chama a atenção para o termo “esbulhando o colono”.
Comple- Mentos
Trata da perda de terras após os colonos as terem pago integralmente.
O colono é “esbulhado”, privado de posses, roubado. Os escândalos
continuam: os colonos perdem terras que já pagaram.81
81 TRIBUNA DO PARANÁ , op. cit., p. 1. 30 set. 1957.
32
5 COMENTÁRIOS COMPARATIVOS
Como os jornais pertencem ao mesmo proprietário, não se esperavam
divergências em seus editoriais, o que realmente não ocorreu. No período em
estudo, ambos os jornais, ou se complementam, publicando matérias em dias
alternados, como acontece com as publicações aqui analisadas, com exceção
para as dos dias 9 e 13 de agosto.
O jornal O Estado do Paraná introduz o tema em estudo desde 3 de
agosto com uma grande matéria especial que continua no dia seguinte, com tema
aprofundado sobre o que denomina “O drama dos retirantes do Sul”. As duas
matérias mostram as inúmeras dificuldades encontradas pelos colonos que
chegavam ao Sudoeste do Paraná e a solidariedade que se fortalecia entre os já
chegados e os que acabavam de chegar.
Feita a contextualização com as duas matérias dos dias 3 e 4 de agosto,
no dia 9 de agosto ambos os jornais divulgam sobre a questão do Sudoeste,
sendo que enquanto o jornal O Estado do Paraná ressalta as armas das
Companhias e o desespero dos 500 posseiros, o jornal Tribuna do Paraná
caracteriza seu texto por termos como “chacina” e “morrem” e “cenas dantescas”.
O termo “cenas dantescas” exigiria do leitor, inclusive, saber, por exemplo que se
refere ao inferno de Dante no primeiro dos três poemas que compõem a Divina
Comédia, que apresenta as características infernais da situação comparada à
situação dos colonos. Mas o jornal se limita ao comparativo. Além disso, o
Tribuna do Paraná mistura termos de cunho religioso, como “romaria”, para
denunciar o medo das pessoas a caminho das comarcas para pedir a proteção
dos juízes de direito e mostrar que todos, inclusive colonos e juízes, não contam
com reforços policiais.
Em 13 de agosto, ambos os jornais complementam-se como se o Tribuna
continuasse a matéria do O Estado. Este destaca: “Trégua entre posseiros e
demais implicados...” O Tribuna destaca a narrativa do “sangrento episódio
paranaense”, em forma de telegrama e seu posicionamento sobre o que os
deputados devem fazer: “estudar a situação”. E explica o motivo: “(...) não só 10
mas algumas centenas de humildes agricultores perecerão (...)”.
33
O jornal O Estado do Paraná volta a destacar a situação do Sudoeste em
18 de agosto: os “soldados da polícia e ‘jagunços’ espalharam terror em Goio-Erê”
e posseiros são despejados, o que é complementado pelo Tribuna do Paraná no
dia seguinte, destacando que “duplas de autoridades escorraça posseiros em
Goio-Erê. Interessante notar que, em caixa de texto ou box, o jornal compara
“selvageria com que esses novos Hunos, sob o comandante feroz de um Átila
moderno - o Coronel Alcebíades Rodrigues da Costa – vem realizando tal
destruição”. Supõe que os leitores conhecem a história das invasões de Roma,
pois Átila foi rei dos Hunos, um dos povos que tomou a cidade de Roma, no ano
451. É o Tribuna do Paraná também que relata a fuga do vigário de Guaira para
não ser eliminado pela imobiliária Ipiranga, em 27 de agosto, e também que 40
posseiros encontram as portas fechadas, em 28 de agosto.
Em 15 de setembro, o O Estado do Paraná destaca as seis mortes em
Capanema e a gravidade da situação o que é continuado pelo Tribuna em 17 de
setembro, que ressalta a revolta dos colonos com a ação violenta dos grileiros,
pois perdem o que já tinham conquistado.
Em 24 de setembro o Tribuna relata a reação violenta dos posseiros,
“tiros, facadas e cacetadas” e as mortes. É a revolta contra os opressores. Só
então O Estado do Paraná publica em 26 de setembro que o chefe de polícia
admite as violências da CITLA e narra depoimentos dos colonos. Enfatiza a calma
aparente anunciada pela CITLA, mas que ela continua oprimindo os colonos. E
enfatiza que é uma “terra de ninguém” em matéria opinativa que faz um balanço
dos fatos, do primeiro e segundo governos de Lupion, da atuação dos ‘jagunços’,
e sobre as mais de 500 famílias que abandonam o país buscando refúgio na
Argentina.
Em 27 de setembro, o Tribuna destaca que Lupion é responsável pela
situação e que as imobiliárias não podem negociar terras. Mesmo assim, como
destaca o O Estado do Paraná em 28 de setembro, a “situação continua
angustiosa no Sudoeste do Paraná. Já são 1.300 refugiados na Argentina. E
descreve a mobilização dos jornais internacionais, uma vez que, como relata o
Tribuna de 30 de setembro, os colonos foram “esbulhados” (espoliados) perdendo
terras após terem pago tudo.
Em 6 de outubro, o O Estado do Paraná mostra relatos de colonos e foto
de crianças que haviam sido abandonadas na mata após o pai sofrer violência.
34
Em 12 de outubro, O Estado anuncia “solução para o restabelecimento da ordem
no Sudoeste pela solicitação do pedido de envio de forças militares”. Três dias
depois, as galerias da sessão de votação estavam lotadas de colonos, como
relata em 15 de outubro. No entanto, em 23 de outubro o O Estado relata que o
clima de agitação continua na violência dos colonizadores.
Mesmo sendo estes os mais expressivos jornais que podiam ser
classificados de oposição, pode-se notar uma diferença quanto ao tratamento da
notícia na narração dos fatos, o que ocorre para atingir grupos de leitores
diferentes. Por exemplo: no jornal Tribuna do Paraná, na edição de 9 de agosto de
1957, p.6, pode-se ler a manchete “Chacina entre policiais e posseiros no oeste do
Paraná”. Sob esta manchete, o desenvolvimento da notícia parece ser tratado de
uma forma direta, relatando os fatos cruamente, sem aprofundar-se em aspectos
periféricos que podiam ter contribuído para o acontecimento, como se essas
notícias fossem dirigidas a um publico de apelo mais popular. Por outro lado, ao se
analisar seu discurso, questiona-se o uso de termos “dantesca” e Átila, rei dos
Hunos, que requer leitores que tenham lido tanto conhecimentos de literatura
quanto de história para ler clássicos, como Dante.
Quanto ao jornal o O Estado do Paraná, as questões do Levante
parecem, ser tratadas de forma a abrandar o impacto direto das noticias, todavia
há informações que tentam enriquecer o relato com abordagens sobre vários
aspectos que compõem e contribuem para o desenrolar dos fatos, provavelmente
dirigido a um publico com mais condições de refletir sobre as noticias. Porém, por
meio da análise do discurso observa-se a utilização de termos de fácil
entendimento. Nessas publicações encontram-se o alerta à população e as
denuncias às autoridades da região, atribuindo-lhes, em parte, a responsabilidade
pela situação da região do Sudoeste e outras regiões passando por processo
semelhante de violência, com perda de vidas, na luta pela posse da Terra, como
na manchete “Tombaram os jagunços na linha de tocaia: reação violenta dos
posseiros contra seus opressores” 82
Segundo COLNAGHI, “nunca como nesse período explorou-se tanto o
aspecto político-partidário. A oposição (PTB e UDN) era sistematicamente
acusada pela imprensa e por políticos situacionistas (PSD) de levar a questão
82 TRIBUNA DO PARANÁ, op. cit., 24 set. de 1957.
35
para o lado político; que tudo era feito para confundir e tumultuar a opinião pública;
a imprensa dava conta de uma outra realidade subordinando os mais altos
interesses do Estado a vantagens de ordem eleitoral”83.
Enquanto os jornais ligados à situação eram favoráveis às empresas que
atuavam na região e tratavam os moradores da região como bandidos, os de
oposição faziam ao contrario, davam apoio aos moradores. Cada um deles
defendia os seus interesses ideológicos, econômicos e políticos. Os
acontecimentos na região passaram a tomar uma amplitude em âmbito nacional e
internacional, “repórteres de vários jornais e revistas de todo o país foram
enviados à região, passando a dar ampla cobertura aos acontecimentos”84,
deixando-a conhecida como uma região violenta através dos discursos veiculados
e construídos por esses meio de comunicação.
De acordo com WACHOWICZ85, quando poderosos interesses do capital
se instalaram no sudoeste paranaense, a violência era quase inevitável. Eram
milhares de colonos e posseiros de um lado e os interesses do capital do outro.
Foram os próprios grupos econômicos que apelaram para a violência.
Para LUCA, o leitor pode consagrar a idéia de que o jornal cumpre a
nobre função de informar o que se passou, respeitando rigorosamente a “verdade
dos fatos”. 86
83 COLNAGHI, Maria Cristina, op. cit., p. 129. 84 GOMES, Iria Zanoni , op. cit., p. 85. 85 WACHOWICZ, Ruy , op. cit 86 LUCA, Tânia , op. cit., p. 118.
36
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta monografia era analisar o discurso dos jornais O Estado
do Paraná e Tribuna do Paraná sobre o Levante de Terras no Sudoeste do Paraná
em 1957, buscando identificar as estratégias utilizadas por meio da análise do
discurso.
Por meio da análise do discurso, observou-se que ambos os jornais
faziam oposição a Lupion e conseqüentemente às imobiliárias, ou seja, defendiam
os colonos. Como salientado no decorrer desta monografia, é possível observar
isso por diversas estratégias utilizadas pelo jornal, como manchetes, caixas de
texto, chamadas para outras páginas.
Além disso, o O Estado do Paraná procurava, possivelmente, aprofundar
a matéria por meio de balanços, retrospectivas, questionamentos,
problematizações, sempre deixando claro seu posicionamento a favor da defesa
dos colonos que, por sua vez, já não tinham segurança alguma de possuir sua
terra no Sudoeste do Estado, tanto por se constituir em terra de disputa judicial
quanto por perderem seus direitos pela violência das companhias.
Da mesma forma procedeu o Tribuna, com textos eventualmente mais
curtos, não raramente fazendo relações dos fatos atuais com outros históricos,
como de Átila, líder dos Hunos, e da situação infernal de Dante, entre outros,
exigindo do leitor atualização de pesquisa para melhor entender a situação.
Enfim, o discurso de ambos os jornais se apresenta preocupado com a
defesa dos colonos a favor de Bento Munhoz da Rocha e contra os dois governos
de Lupion e das imobiliárias.
Apesar dos conflitos existentes pela posse das terras do Sudoeste, e do
sofrimento daqueles colonos (imigrantes) que ali chegaram na esperança de uma
vida melhor, sua luta não foi em vão. Pois souberam como unir suas forças em
busca de seus objetivos, a posse da terra. Na medida que todos souberam unir
seus interesses em um plano comum conseguiram desenvolver ações travando
uma luta de classe entre colonos e políticos capitalistas cujos interesses eram
apenas aumentar seu capital. Porém as pessoas precisavam das terras para
morar e trabalhar para a sua sobrevivência.
37
FONTES
CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1957. O ESTADO DO PARANÁ, 20 de Agosto de 1957. Ano VII _____. Edições de 17 de julho de 1991 e 17 de julho de 2001. _____. Terça-feira, 17 de julho de 2001, suplemento especial 50 anos, p. 5.
_____.. O drama dos retirantes do Sul. Curitiba, p. 1. 3 ago. 1957. _____. Reforços militares para a região de Pato Branco. Curitiba, p. 1. 9 ago. 1957. _____. Trégua entre posseiros e demais implicados na região de Pato Branco. Curitiba, p. 1. 13 ago. 1957. _____. Soldados da polícia e ‘jagunços’ espalham terror em Goio-Erê. Curitiba, p. 1. 18 ago. 1957. _____. Reconhece o chefe de polícia a gravidade da situação no Sudoeste do Paraná. Curitiba, p. 1. 18 ago. 1957. _____. Admite o chefe de polícia as violências da CITLA. Curitiba, p. 1. set. 1957. _____. Terra de ninguém. Curitiba, p. 4. 26 set. 1957. _____. Admite o chefe de polícia as violências da CITLA. Curitiba, p. 1, 26 set. 1957. _____. Os sangrentos acontecimentos que conturbaram o sudoeste. Curitiba, p. 1, 6 out. 1957. _____. Solução para o restabelecimento da ordem no sudoeste. Curitiba, p. 1, 12 out. 1957. _____. Reconhece o chefe de polícia a gravidade da situação no sudoeste do Paraná. Curitiba, p. 4, 26 set. 1957. _____. Solicitada a presença de tropas federais no sudoeste. Curitiba, p. 1, 15 out. 1957. _____. Continua o mesmo clima de agitação no sudoeste do Estado. Curitiba, p. 1, 23 out. 1957. _____. Chacina entre policiais e posseiros no Oeste do Paraná. Curitiba, p. 1e 6. 9 ago. 1957.
38
_____. Narrado às autoridades federais o sangrento episódio do Oeste Paranaense. Curitiba, p. 5. 13 ago. 1957. _____. Dupla de autoridades escorraça posseiros em Goio-Erê. Curitiba, p. 1e 6. 9 ago. 1957. _____. Ameaçado de morte o vigário de Guaira. Curitiba, p. 1. 9 ago. 1957. _____. Regime de tocaia no Sudoeste do Paraná. E: “Famigerada Companhia de terras ‘”faz miséria” em Capanema. Curitiba, p. 1 e 4. 28 ago. 1957. _____. 40 posseiros voltaram das portas fechadas. E: “Famigerada Companhia de terras ‘”faz miséria” em Capanema. Curitiba, p. 1 e 4. 28 ago. 1957. _____. Tombam ‘jagunços’ na linha de tocaia. Curitiba, p. 9. 17 set. 1957 _____. Apontadas as responsabilidades pelas conflagrações do Oeste do Paraná. Curitiba, p. 6. 27 set. 1957. _____. Prosseguem os escândalos de terras no Oeste do Paraná. Curitiba, p. 1. 30 set. 1957. _____. Curitiba, 24 set. de 1957.
39
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