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Tecnologia a serviço da humanidadeTRANSCRIPT
tECNOLOGIA A SERVIÇO DA HUMANIDADE
tECNOLOGIA A SERVIÇO DA HUMANIDADE
Universidade veiga de AlmeidaCurso de Comunicação SocialRevista Veiga MaisEdição TecnologiaAno 9 | 2º Semetre de 2010
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carta ao leitor
O MUNDO E A tECNOLOGIAA tecnologia está presente em muitos campos sociais e tem como uma de suas características
facilitar alguns aspectos da vida e agilizar processos. É ela que permite a construção dos efeitos
necessários para que um show musical, uma gravação de CD ou um desfile de carnaval aconteça
com sucesso, por exemplo. Em outros momentos também pode ser notada, como quando está
internalizada em aparelhos de televisão ou é usada como uma maneira de atualizar as normas
da educação em salas de aula, incluindo a novidade da Educação a Distância.
Além disso, os aparatos tecnológicos são vistos no rádio, na divulgação artística, na
arquitetura, no teatro, na telefonia e em muitos outros âmbitos do cotidiano de cada cidadão.
E pode ser decisivo em certos momentos. Em uma partida de tênis, uma câmera pode reverter
a determinação do árbitro a respeito de algum lance ocorrido no jogo que tenha gerado
dúvidas no público.
A tecnologia também minimiza as dificuldades que pessoas com necessidades especiais
encontram no dia-a-dia. Ela pode ser uma perna mecânica, que dá chances a uma criança de
explorar o mundo, ou ainda um aparelho, que permita a alguém que nunca escutou ouvir o
canto de um pássaro. Pode ser também um coração artificial, que faz voltar a bater o músculo
doente ou cansado e que precise de substituição. Na preservação da vida, a tecnologia aparece
ainda em outros setores, como na segurança pública, ajudando no trabalho de policiais que
investigam crimes a partir de imagens feitas por câmeras de bancos e edifícios espalhados
pela cidade, por exemplo.
Mas se há quem necessite dela para melhor viver ou sobreviver, há também quem resista
a essas inovações com veemência e quem dependa da tecnologia para tudo. Pessoas que,
antes, conseguiam sair de casa sem precisar telefonar e receber ligações, mesmo que fossem
por motivos importantes, hoje não se veem sem um celular ou computador, ainda que em
momentos inapropriados. A tecnologia, independentemente de gosto pessoal, interfere na
evolução mundial e é tida como parâmetro para determinar quem está dentro dessa realidade
e aqueles que estão à margem disso. É nesse ponto que a inclusão digital, tão abordada pelos
meios midiáticos, aparece para diminuir as diferenças sociais.
As páginas a seguir tratam justamente sobre como a vida se transformou ao redor e a
partir da tecnologia e mostram de que forma isso introduziu no mundo maneiras de pensar e
agir distintas ao longo dos tempos. Assuntos diversos voltados para diferentes públicos são o
foco da Revista Veiga + desta edição. Boa leitura!
Valeria Castor
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3V+ tECNOLOGIA
ReitorDr. Mario Veiga de Almeida Júnior
Vice-ReitorProf. Tarquínio Prisco Lemos da Silva
Pró-Reitor AcadêmicoArlindo Cadarett Vianna
Pró-Reitor ComunitárioDr. Antônio Augusto de Andrade Magaldi
Diretor Administrativo-FinanceiroMauro Ribeiro Lopes
Diretor do Campus TijucaProf. Abílio Gomes de Carvalho Júnior
Curso de Comunicação Social reconhecido pelo MEC em 07/07/99, parecer CES 694/99
CoordenadorProf. Luís Carlos Bittencourt
Coordenador de PublicidadeProf. Oswaldo Senna
A Revista VEIGA MAIS é um produto da Oficina de Jornalismo com o apoio da AgênciaUVA
Edição e reportagensAlunos da disciplina Jornalismo de Revista
Professores-orientadoresMaristela Fittipaldi e Luiza Cruz
Projeto gráfico e diagramaçãoÉrica Ribeiro
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Redação: Rua Ibituruna 108, Casa da Comunicação, 2º andar.
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Impressão: Gráfica O LanceTiragem: 2.000 exemplares
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
REVISTA VEIGA MAIS
Edição TecnologiaAno 9 | 2o semestre de 2010
sumárioDONAS-DE-CASA HIGH-tECH 4
A tECNOLOGIA AO ALCANCE DE tODOS 5
SItES DIVULGAM A ARtE bRASILEIRA 6
FICÇãO CIENtíFICA NO CINEMA 8
A ONDA DAS wEb RáDIOS 10
MAIS qUE tELEFONE 12
tECNODEPENDÊNCIA 14
SOb VIGILâNCIA 15
ELES NãO SE RENDEM à tECNOLOGIA 16
EM CENA 17
EXAME DE SAMbA 18
DIREItO DE PARtICIPAR 21
tECNOLOGIA GARANtE EStAbILIDADE PARA AtLEtAS 22
A tECNOLOGIA NOS bAStIDORES DE ESPEtáCULOS MUSICAIS 24
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4 V+ tECNOLOGIA
DONAS-DE-CASA HIGH-tECHMulheres à procura de tecnologia e praticidade para o dia-a-diaRachel Lopes de Araujo
A tecnologia tem espaço garantido na vida contemporânea. Nas casas de quem se dispõe a investir tempo e dinheiro, os equipamentos high-tech (de alta
tecnologia) podem estar presentes em todos os cômodos. As televisões, que mais parecem telas de cinema, mudaram a estética das salas; nos quartos, um simples
toque no controle remoto pode acionar o ar condicionado, fechar cortinas e ligar aparelhos. Mas é na cozinha que a tecnologia demonstra que veio mesmo para
facilitar o dia-a-dia. As funções são impressionante. Cada vez mais procurados, os eletrodomésticos ou acessórios de alta tecnologia são sinônimos de praticidade
e de status para essa nova geração de donas-de-casa.
A mulher do século XXI mudou: aquela imagem da mãe e dona-de-casa, que apenas cuidava dos filhos e do marido, há algum tempo ficou para trás. Além
destes afazeres, trabalhar e ainda contribuir nas despesas de casa compõem, atualmente, a rotina de muitas brasileiras. E para facilitar o cotidiano, o mercado
tecnológico investiu em equipamentos ultramodernos e a tecnologia invadiu de vez as residências, acompanhando a exigência do universo feminino. As inovações
concentram esforços para agradar com diversos produtos de design exclusivos.
A procura por aparelhos que ofereçam praticidade e agilidade para o cotidiano é tanta que há quatro anos foi criada a IFA - Feira de Eletrônicos de Consumo
de Eletrodomésticos –, a maior e mais esperada feira de tecnologia caseira do mundo. Anualmente, a IFA reúne em Berlim, na Alemanha, mais de mil expositores
de grandes marcas que mostram todos os lançamentos de ponta para os mais de 200 mil visitantes. Segundo o site da Feira, o mercado varejista de eletrônicos e
eletrodomésticos move mais de três bilhões de euros em encomendas. Mas o apelo do evento não é só high-tech, a figura feminina também está presente durante
os cinco dias de exposição.
Nas vitrines, repletas de inovação, as tecnologias do amanhã são demonstradas pela Miss IFA, que, para os organizadores, representa a nova mulher que
trabalha, é mãe e ainda se mantém bonita. Para o consultor de Tecnologia da Informação(TI), Vinícius Almeida, as mulheres cada vez mais representam um papel
importante na hora da compra. “Por natureza, elas são mais exigentes. Costumam pesquisar bastante e exigem determinadas tarefas do produto que pretendem
comprar”, comenta o também gerente de loja de eletrônicos.
tECNOLOGIA PERSONALIzADA“As lojas de eletrodomésticos foram feitas para os homens”. É assim
que Vera Gonçalves, auxiliar de dentística, define as redes de produtos
tecnológicos. Mas ela não é a única, muitas mulheres reclamaram na hora de
comprar e pesquisar os equipamentos. De acordo com Vera, que recentemente
trocou sua televisão por uma LCD, as informações sobre o produto precisam
estar mais claras. E ela acredita que os vendedores não estão preparados
para atender as mulheres. “Recorri a três vendedores diferentes porque eles
não tinham paciência para explicar o funcionamento do que eu buscava”.
Segundo o gerente Vinícius Almeida, as mulheres procuram obter o máximo
de informações sobre um produto antes de adquiri-lo. Ele aponta alguns
fatores que pesam na hora da compra. “Elas se preocupam com o visual do
produto e preocupam-se em como cada aparelho se adéqua ao estilo de
vida. Além disso, preferem os itens portáteis e mais bonitos”, afirma.
Enquanto os fabricantes se preocupam em atender às exigências das
supermães, as agências publicitárias se esforçam para conquistá-las. “Na hora de
elaborarmos uma campanha, levamos em consideração seu comportamento.
As mulheres são mais exigentes que os homens e por isso buscamos atender
às expectativas delas”, comenta o publicitário Pedro Filipe Matos sobre o
perfil da mulher na hora da compra. Ele explica que a tendência do mercado
é personalizar os objetos para cada tipo de rotina. Mas nem sempre, segundo
ela, a preferência das mulheres foi ouvida ou posta em prática.
ALIADAS RECENtESHistoricamente, a tecnologia sempre foi território masculino. As mulheres
raramente tiveram acesso a esse universo e tinham sua capacidade intelectual
subestimada. Mesmo diante desse histórico, Vinícius Almeida afirma que o que
conta no mercado do século XXI é a competência, e não o gênero. “A mulher
ganhou novos espeços no mercado de trabalho e está investindo seu poder de
compra em equipamentos que facilitam a vida em família”, conta. Apostando
nisso, grandes empresas desenvolvem eletrodomésticos e eletrônicos que
unem estilo, qualidade, praticidade e entretenimento.
SUPER ELEtRODOMéStICOS• Ferrodepassar,nuncamais!:jáimaginoucolocarsuasroupasnamáquina
de lavar e, além de limpas, elas estarem passadas? Isso agora é possível.
A secadora de roupas agora livra o usuário de ter de acionar o ferro de
passar. Utilizando vapor d’água, a máquina realiza a tarefa de passar em
20 minutos. Com o fim do processo, basta pendurar a peça em um cabide
e em pouco tempo está pronta para vestir, sem nenhum amassado.
• Na medida: a colher digital dispõe de uma balança embutida que
mostra o peso exato de seu conteúdo numa pequena tela LCD. Ficou fácil
preparar receitas sem medo de errar a quantidade dos ingredientes.
• Geladeira USB: a USB Fridge promete fazer sucesso neste verão. A
miniatura de uma geladeira foi feita para manter a bebida gelada
enquanto você trabalha. Basta acoplá-la a qualquer saída USB do seu
computador que em minutos a refrigeração começa a funcionar.
• Águailuminada:atemperaturadaáguamedidapelaluz.AGlowFlow
Tap não é apenas um utensílio para iluminar a água que sai de sua
torneira, o sensor também mede a temperatura. Se a luz estiver azul,
significa que você beberá uma água gelada, já a coloração vermelha
indica água quente.
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5V+ tECNOLOGIA
inclusão digital
A tECNOLOGIA AO ALCANCE DE tODOSRichard Hollanda
“Criar meu web site/ Fazer minha home-page/ Com quantos gigabytes/
Se faz uma jangada/ Um barco que veleja/ Que veleje nesse informar”. Quando
Gilberto Gil lançou a música “Pela Internet”, em 1996, os computadores pessoais
eram a grande novidade do momento, sendo acessíveis a poucos. Quase quinze
anos se passaram do lançamento da canção, os aparelhos tiveram seus preços
reduzidos, mas boa parcela da população ainda não sabe o que é um computador
e, muito menos, mexer neles.
No mundo, 79% da população não têm acesso a computadores. Já no Brasil, o
número de indivíduos que possuem computadores em casa chega a apenas 12%,
sendo que somente 8% têm acesso à Internet. O site do Ministério de Ciência e
Tecnologia informa que o estado do Rio de Janeiro apresenta somente 1282 pontos
de inclusão digital, menos que o Maranhão, com 2497 pontos, e São Paulo, com
4314 pontos. Na região Norte do país a situação ainda é mais alarmante: os estados
do Amapá e Roraima dispõem, respectivamente, de 85 e 59 pontos.
Para reverter este quadro de exclusão tecnológica e digital, as esferas
governamentais já estão começando a fazer a sua parte. O governo do Estado
do Rio de Janeiro, por intermédio de sua Secretaria de Ciência e Tecnologia, criou
diversos pólos digitais, que ensinam a população a usar nos computadores e
acessar a internet.
Um projeto interessante é o “Trem Escola”, vinculado à FAETEC Digital, e que
ensina informática, gratuitamente, dentro de um vagão de trem na estação de
Nilópolis. Esta é a primeira iniciativa de educação itinerante sobre trilhos no Rio
de Janeiro. Ele foi criado entre 2004 e 2005, mas somente em outubro de 2009,
devido a problemas burocráticos, foi aberto ao público.
Neste programa, o objetivo principal é fazer com que os estudantes já saiam
dali com a chance de serem empregados. “Nossos alunos já entram no “Trem Escola”
cadastrados no Sistema Nacional de Empregos (SINE), devido a um convênio com
a prefeitura da cidade. Aqui em Nilópolis, o SINE fica em frente à estação de trem.
Muitos já têm emprego garantido”, afirma Roberto William, Coordenador do Trem
Escola. Ele ainda antecipa que, no futuro, o programa pode se expandir e ir para a
Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. “Pretendemos que o “Trem Escola” passe a
chegar a outras estações ferroviárias, principalmente nas estações de Santíssimo,
Senador Câmara e Padre Miguel. A população destas localidades é bem carente e
precisa urgentemente de algo para acrescentar no currículo”.
As aulas no trem começam sempre às sete horas da manhã e diversas turmas
passam por lá até às nove horas da noite. Rosemar do Nascimento, secretária
do Portal do Saber, como é também chamado o trem, conta como é o projeto.
“Começamos a ensinar desde o básico. Ensinamos os alunos a ligarem o computador
até mexerem nos programas mais complexos. À noite, as turmas ficam com 20
alunos”. Rosemar acrescenta que, no futuro, se o programa for em frente, pode ser
que a estação de Nilópolis ganhe mais dois vagões, para que sejam ampliadas as
aulas de informática e seja inaugurada a sala para os cursos de inglês e espanhol.
A professora Jeany Laranjeiras leciona no turno da manhã e diz como é a rotina
diária de aprendizado. “Os estudantes são bastante atenciosos e perguntam
muito. Querem tirar a dúvida sobre tudo. A principal dificuldade que percebi é
com o mouse. É como se todos estivessem aprendendo a escrever”.
A aluna Mariza Barbosa, caixa de supermercado, confirma o que diz a
professora. “Nós perguntamos tudo mesmo e tiramos as dúvidas em tudo.
Desejo mexer em programas ainda mais complexos, como o Photoshop e Excel.
Sairemos daqui prontos para o mercado de trabalho”, diz, orgulhosa.
Mas quem deseja gastar um pouco de dinheiro e quiser aprender informática,
basta ir aos centros de ensino, como o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC) e tantos outros espalhados pelo estado. Conceição da Silva,
que ficou desempregada e enfrentou 15 anos de inatividade, é uma das alunas.
“Estava em casa, sem perspectiva alguma. Um dia ouvi falar sobre o SENAC, fui
até Madureira e descobri quais eram os cursos. Atualmente trabalho em uma
pequena empresa de design e faço logotipos para diversos clientes. Um dia
desejo trabalhar por conta própria”.
As histórias de Conceição e Mariza mostram como é importante a inclusão
digital para o Brasil. Elas perceberam que ficar por dentro da tecnologia é
fundamental para o desenvolvimento intelectual e profissional. Uma proposta
de serviço que demoraria alguns dias pode ser realizada em alguns minutos, sem
precisar fazer esforço. E, com a convergência de todas as mídias, que acontecerá
no decorrer dos próximos anos, saber mexer no computador será fundamental
para tudo na vida. Além disso, vai diminuir a desigualdade social que tanto aflige
o Brasil. Basta apenas um pouco de cada um, seja da sociedade civil ou das
esferas governamentais, para que o país vença esta batalha.
Os programas de inclusão digital permitem que mais pesssoas usem o computador
Fotos: richard hollanda
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6 V+ tECNOLOGIA
SItES DIVULGAM A ARtE bRASILEIRADenise Guerchon Nunes
É natural a arte procurar soluções para aparecer na mídia. Ela está sempre em
busca de um público para que a mensagem ela tenta passar por meio da dança,
da música e da interpretação seja eficiente. Um dos novos canais mais utilizados
para isso é o tecnológico, que, só no meio virtual, por exemplo, abre um campo
extenso para a propagação da cultura de um país. Outro exemplo é o das redes
virtuais de relacionamento, que, sabe-se bem, não nasceram no Brasil. Elas foram
se abrasileirando com o tempo, bem como foram sendo distribuídas para várias
nações. O Facebook, considerado uma versão mais sofisticada do Orkut, tem em sua
página inicial uma escolha de idiomas que o usuário pode fazer antes de participar.
Assim, redes como o Twitter já foram criadas com esse pré-requisito, com o objetivo
de aproximar ainda mais pessoas do mundo todo.
O fato é que essas redes sociais virtuais estão ganhando força e a divulgação
do artista brasileiro tem lançado mão deste caminho para se popularizar. As artes
encontraram um lugar para a sua manifestação e por meio de sites podem conseguir
bons resultados. No país, sem espaço nas mídias impressas de comunicação e com
pouco incentivo nos meios de comunicação que mais interagem com o público – a
TV e o rádio –, as produções artísticas começaram a aproveitar o meio digital que
globaliza os relacionamentos sociais. Por isso, a divulgação artística tem muito o
que comemorar com a chegada dos sites de relacionamento, que vêm ajudando a
conquistar um público cada vez maior, a cada dia.
A arte comemora também a constante evolução tecnológica, que facilita
diversas áreas da sociedade e se tornou um caminho mais barato para a divulgação
artística. Especialistas apostam que ela poderá ser feita inteiramente no meio digital
em um futuro próximo, pois o teatro brasileiro procura um público mais jovem. Este
representa a parte mais ativa da sociedade no meio em que a evolução tecnológica
está mais visível – o virtual. Segundo divulgadores profissionais, a procura por esse
público, portanto, tem obtido resultados. “A necessidade da web para divulgação
surge para todos. A ferramenta barateia todo o processo de divulgação, alcança
o jovem com muita facilidade, movimenta as notícias de forma muito rápida”,
diz Flávia Ayres Loschi, formada em Sociologia e Política pela Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo.
A arte brasileira, desta forma, vence as dificuldades que sempre enfrentou
antes da era digital avançada, utilizando como recursos principais os sites de
relacionamento – atualmente as redes mais usadas por internautas do mundo
inteiro. Eles estão em voga e são muito utilizados por jovens. “O teatro musical,
especialmente o realizado pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, tem por
objetivo formar novas plateias e fazer com que o jovem vá mais ao teatro. Por isso,
pensamos em usar esses sites para criarmos uma comunicação direta com esse
público jovem. Temos que aproveitar todas as mídias existentes para divulgarmos
nossos produtos, e o Site Möeller Botelho não ficou atrás nessa onda mundial”,
afirma Leo Ladeira, jornalista e editor do site da dupla de diretores teatrais.
Assim como esses artistas, outras pessoas dessa área têm intensificado a
procura por um público específico. Segundo Leo, muitas campanhas são feitas
pela web pelo crescente acesso das pessoas à internet. Com isso, os divulgadores
passaram a encontrar no mundo on line uma fórmula eficiente de divulgação
artística. “Todos os grandes filmes lançados têm um site próprio, mas também
abrem contas nas redes sociais. Temos de estar onde o público está. Essa é a premissa
básica. Se o público está no Orkut, no Twitter e no Facebook, nós temos de estar lá
também”. Assim, o jornalista explica que, atualmente, milhares de empresas dentro
e fora do Brasil mantêm perfis nesses sites de relacionamento.
Da mesma forma que produções de espetáculos teatrais, produtoras de filmes
e casas de show, os próprios artistas também têm participado dessas redes para
passar adiante seus trabalhos. A maioria dos atores-cantores de teatro musical
brasileiro, por exemplo, divulga seus produtos nas redes sociais, o que inclui o
lançamento de seus CD´s solos, DVD´s e até a data da apresentação de seus shows.
“As empresas também já se deram conta da importância de alcançar seus públicos-
alvo nesses sites de relacionamento, nos quais a comunicação é direta e objetiva,
sem maiores rodeios ou floreios. No Twitter, então, a comunicação é ultra direta, já
que o número de caracteres por mensagem é limitado”, aponta Leo.
Ele – que utiliza imagens, vídeos, links e áudios para divulgar seu produto –
revela que promoções para o público também são um recurso eficiente, já que o
preço do teatro é, geralmente, fora do alcance da maioria da população brasileira.
“As organizações fazem hoje promoções por meio desses sites”, diz o jornalista.
Como elas são feitas? Muito simples. O editor do site promove um concurso, o
que exige o retorno dos participantes. Estes devem enviar uma arte feita por eles,
e o elenco e os próprios diretores fazem uma votação. O editor também elabora
perguntas – como um quiz –, o que obriga os participantes saberem um pouco
mais sobre a peça teatral e seus criadores, até mesmo sobre os artistas que estão no
elenco. Essa interação com o público, segundo Leo, tem dado o retorno esperado,
pois demonstra o desejo do público de conseguir o prêmio desses concursos, que
são convites para uma sessão do musical.
Também no instituto em que Flávia trabalha não foi muito diferente quando
ela trabalhou em parceria com o Site Möeller Botelho, reforçando a divulgação
do musical “Avenida Q”, em cartaz em São Paulo, após uma temporada no Rio de
Janeiro. “Na última divulgação pela web entramos em contato com alguns blogs
e comunidades do Orkut. Por se tratar de um musical com bonecos, a divulgação
era muito difícil, pois não se tratava de um teatro infantil. Precisávamos chamar a
atenção do público para o conteúdo da obra”, explica a pesquisadora. Ela cumpriu o
trabalho com a seguinte proposta ao público de sua campanha: cada participante
deveria elaborar um texto sobre a peça e postar em um blog. O que divulgasse mais
e conseguisse mais votos ganharia a promoção, recebendo convites para assistir à
peça e um jantar após a sessão.
“Promoções assim também são formas de comunicação e marketing”,
afirma Leo. Segundo ele, o teatro também pode ser encarado como um produto
a ser vendido. “O meio virtual veio somar às já conhecidas formas de publicidade:
anúncios, outdoors, cartazes, displays, entre outras. Em todo planejamento de
publicidade, há inclusão das mídias sociais. Isso já faz parte da realidade”. Ele revela
que o maior objetivo do Site Möeller Botelho é que este seja lido, conhecido e
comentado. Para que a meta seja cumprida, segundo o jornalista, o segredo não
está na divulgação do site em si, mas no seu conteúdo, que deve ser popularizado.
“Para o site ‘bombar’ não é necessário apenas fazer uma bela matéria, é preciso
divulgá-la. Então, nós caçamos o leitor de todas as maneiras. De alguma forma ele
vai saber que aquela postagem foi feita”.
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7V+ tECNOLOGIA
Alguns internautas revelam a credibilidade que passaram a dar para os
produtos artísticos, principalmente aqueles que chegam até eles por meio das redes
sociais e de sites como o em que Leo trabalha. “Sobre o teatro musical brasileiro, todo
meu conhecimento se deve à internet, já que minha cidade não é tão ativa nesse
cenário. Então, por causa do meio virtual e de pessoas informadas sobre o assunto,
com as quais me comunico por meio da rede, posso dizer que teatro musical é uma
das minhas paixões”, afirma Ana David, estudante de Letras da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), que mora em Belo Horizonte e já veio ao Rio de Janeiro para
assistir ao musical “O Despertar da Primavera”. Ao participar de uma das promoções
que ocorrem no site dos produtores da obra, ela ganhou convite para assistir a uma
sessão na semana de um feriado nacional. Foi quando ela aproveitou e viajou para a
cidade carioca para ir ao espetáculo.
“Isso aumenta e muito a visitação do Site MB. Como ele tem postagens diárias,
fazemos essa comunicação diariamente”, diz Leo, que trabalha com todos os sites de
relacionamentos disponíveis no Brasil. Segundo ele, o Orkut era, até então, o mais
antigo e mais bem-sucedido no país. Com o novo musical da dupla de diretores,
a equipe do site ampliou também para o My Space – inicialmente usado para as
inscrições dos jovens que participaram das audições e testes de elenco. Além dele, o
Twitter e o Facebook também continuam fortalecendo a difusão artística. “Também
utilizamos o Youtube, que também pode ser considerado um site de relacionamento,
pois as pessoas podem deixar recados para as outras e postar comentários em seus
vídeos postados”.
Flávia explica que a divulgação virtual pode ocorrer por meio de um link
enviado ao público chave do produto divulgado. Ela dá o exemplo também dos
blogs, que permitem publicações, promoções e votações. “Eu particularmente
acho o Twitter uma grande ferramenta. Possibilita que todo o seu mailing
veja sua divulgação sem que se trate de uma coisa ‘fake’ ou chata, que
incomoda”, diz ela, que também usa o Orkut, apesar de encontrar nele
certa dificuldade. “A movimentação por sites como o Orkut traz efeitos, mas
com maior dificuldade do que a divulgação por meio de blogs e do Twitter. Nos
sites de relacionamentos como este, a internet tem mecanismos que dificultam
a divulgação. Por exemplo, muitas pessoas ignoram os convites, achando que são
falsos. Assim, você acaba precisando de um perfil real, o que, às vezes, pode ser
incômodo, principalmente para aqueles que não curtem mais um perfil pessoal no
Orkut. E isso tem acontecido muito no Brasil”.
Para Leo, todo recurso que promova a interação do público é válido. Até mesmo
quando é preciso utilizar um perfil pessoal de sites como o Orkut. Ele também usa o
Flickr, um site de publicações de foto – como o Picasa, do Google. Ambos dispõem
do mecanismo dos comentários, que o público pode usufruir na hora de opinar e
se comunicar. Esta ferramenta veio dos blogs e foi uma das primeiras a exercitar
a participação do internauta com a pessoa que está publicando algo no meio
virtual. Por isso, sites como o que Leo trabalha também adotaram esta forma de
comunicação. “A participação do internauta é essencial. Sem os comentários dos
leitores, os sites dão a impressão de estarem sem vida”, revela.
Roberta Scavone, que mora em São Paulo, afirma que seu conhecimento era vago
antes das redes sociais. Segundo ela, que nunca havia assistido a uma peça até março
de 2007 e tudo o que conhecia sobre musical era por meio de filme. “Com a internet,
eu tive muito mais acesso a informações. Além disso, é maravilhoso acompanhar todo
o processo – principalmente no Site Moller Botelho –, desde as primeiras audições
até o fim do espetáculo. Acho isso muito legal. E você pode opinar. Ou seja, é um
contato bacana entre o produtor e o público”. Ela, que está prestando vestibular para
Artes Cênicas na Universidade de São Paulo (USP) e na Escola de Comunicações e
Artes (ECA) da USP, revela que a opção por trabalhar na área teatral veio da paixão
adquirida por meio do contato on line que passou a ter com o teatro, após o aumento
na divulgação on line do mesmo. “Nossa, acho que ter me apaixonado totalmente por
essa área foi a maior mudança. Você descobrir como funciona e o que acontece nos
teatros é fascinante, a ponto de você querer participar”.
Com a ajuda das redes sociais, o público no qual Roberta está inserida tem
crescido para o teatro musical, que parece estar chegando perto de cumprir o objetivo
da arte: popularizar-se totalmente. Segundo Ana, isso tem começado a acontecer,
atingindo camadas de diferentes regiões brasileiras, além do eixo São Paulo-Rio de
Janeiro – metrópoles de grande concentração de produções teatrais brasileiras. “Essas
redes me mantêm informada sobre estreias, premiações e críticas. É uma forma de
interação rápida e direta que me torna mais interessada e motivada a procurar mais
sobre o assunto. Por meio desses sites, aprecio cada vez mais obras e artistas do
meio”, afirma a internauta, que conhece mais pessoas, de outros estados, fascinadas
pelo teatro. Roberta, que não pensa diferente dela, observa que o meio virtual só
acrescentou para os dois lados. “Para o pessoal envolvido nas peças, também é legal
saber do que o público está gostando e do que não está, o que pode ser feito ou não. É
uma troca. Eu acho que vale muito a pena para os dois”, completa.
E assim como eles, outras produções estão se utilizando do mesmo recurso
para que a meta de formar públicos mais jovens seja atingida. Um exemplo é a
instituição na qual Flávia trabalha, que está sempre divulgando peças e outros
eventos cênicos e culturais. “Percebemos que quando divulgamos uma postagem
do Site MB, aumentam as visitas e os comentários. Temos gráficos de análise da
participação dos internautas e verificamos que o Twitter é um dos mais eficientes
nesse ponto”, revela Leo, que tem acompanhado, segundo ele, uma boa imagem
para o produto divulgado. Em sua opinião, as redes sociais são o canal do momento
para a divulgação artística, que só tende a aumentar com seu uso. “O número de
internautas aumenta a cada dia”.
Por isso, a busca da arte por um canal mais fácil de popularização tem gerado um
dos maiores resultados positivos, segundo os divulgadores – alcançando seu público
mais facilmente. “O Site MB tem conquistado mais visibilidade e respeito, a cada dia
ganhamos mais e mais seguidores, espontaneamente, e a cada dia ganhamos novos
‘amigos’ também no Facebook e no Orkut. Isso forma uma rede que se amplia cada
vez mais e é totalmente favorável aos nossos objetivos”, revela Leo, que acredita que
a divulgação em sites de relacionamento é uma tendência crescente.
Flávia concorda e acrescenta que a evolução da tecnologia globalizada é
como uma conquista para a arte brasileira. “A web permite que as informações
se espalhem com uma velocidade admirável. Essa é uma vantagem incrível”, diz a
pesquisadora de mercado.
Home do perfil Moeller Botelho no Twitter divulgando musical
reprodução internet - twitter
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8 V+ tECNOLOGIA
FICÇãO CIENtíFICA NO CINEMAgênero é inFluenciado pelo desenvolviMento da tecnologiaAnanda Menali
Os membros de uma nave espacial acordam do hiper-sono para investigar um
sinal que vem de um planeta próximo. Logo descobrem que o sinal era de perigo,
pois o planeta é habitado por uma criatura que matará todos que encontrar pelo
caminho. Em outra cena, uma equipe de astronautas é enviada a Júpiter para
investigar um monolito negro, controlado pelo computador HAL 9000. No meio
da viagem, ele entra em pane e tenta assumir o controle da nave, eliminando
um a um os tripulantes. Novo cenário e, no mar do Japão, barcos pesqueiros
começam a ser atacados por uma criatura monstruosa e desconhecida, que fez
sua morada em Nova York. Enquanto isso, em outra famosa história, alienígenas
invadem a Terra perto do Dia da Independência dos Estados Unidos para destruir
toda a população e absorver os recursos naturais. Em mais um enredo, a Terra
sofre alterações climáticas que modificam drasticamente a vida da humanidade.
Com o norte se resfriando cada vez mais e passando por uma nova era glacial,
milhares de sobreviventes rumam para o sul.
“Alien – o 8º Passageiro”, “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Godzilla”,
“Independence Day” e “O Dia Depois de Amanhã”. Para os fãs de ficção científica,
reconhecer os cinco filmes acima é fácil. O gênero, fortemente influenciado pelas
novas tecnologias, tem feito uso de explosões, invasões e catástrofes para contar
histórias que projetam vários graus de subjetividade. São efeitos baseados na
manipulação de imagens fotografadas ou computação gráfica, como, por
exemplo, as cenas de “Star Trek” mostrando a USS Enterprise voando através
do espaço, ou efeitos obtidos durante filmagens ao vivo, envolvendo adereços,
cenários e pirotecnia. Os robôs R2-D2 e C3PO, em “Star Wars”, são casos assim.
Mas a estreita relação entre a sétima arte e os efeitos ficcionais
permitidos pela tecnologia não vem de hoje. Quando o cinema surgiu,
a ficção científica era um gênero em alta na literatura. A crença na
ciência, os avanços tecnológicos e o surgimento da sociedade
moderna na virada do século 19 para o 20 alimentavam a
imaginação dos escritores. Foi nessa época que o britânico Herbert
George Wells escreveu e lançou obras como “A Máquina do Tempo”, em
1895, e “Guerra dos Mundos”, em
1898, hoje tidos como clássicos
do estilo. Não demorou muito
para que as fantasias futuristas
dos autores contagiassem os
diretores, roteiristas e produtores
da recém inventada Sétima Arte.
No início já havia foguete, mas ele
era de papelão: em 1902, George
Méliès filmou “Viagem à Lua”,
uma produção com 14 minutos
de duração — as películas, até
então, tinham em média dois
minutos. Esse primeiro exemplar
da ficção científica no cinema
Por outro lado, foi justamente o problema com custos que ajudou a
difundir o gênero. Quase duas décadas depois, os “filmes B”, sem grandes
estrelas e com orçamentos menores, viraram objetos de interesse para os
adolescentes — que começavam a se tornar o público favorito dos grandes
estúdios. Um dos destaques da safra é “A Vingança dos Zumbis”, de Steve
Sekely e lançado em 1943, em que um médico fabrica zumbis para o exército
nazista em plena Louisiana (EUA). Mas, apesar do crescimento das produções
cinematográficas desse estilo, foi no final dos anos 70 que começaram a surgir
as superproduções, graças aos avanços tecnológicos que possibilitaram efeitos
especiais cada vez mais sofisticados. Pode-se dizer que o marco da nova fase
foi o lançamento de “Star Wars”, em 1977, por George Lucas.
Foi neste momento que a infra-estrutura da ficção científica começou
a ser vista com outros olhos. George Lucas criou a Industrial, Light & Magic,
empresa responsável por seres, cenários e ambientes dos mais complexos.
Entre suas produções estão todo o visual de “Star Wars”, o alienígena de “E.T.
trazia elementos que se tornariam marcas registradas do gênero nas
telonas: uma espaçonave, alienígenas, efeitos especiais e o desejo do
homem de desbravar novas fronteiras no universo.
Ainda nessa era do cinema mudo seria produzida a primeira obra-
prima da ficção científica cinematográfica: “Metrópolis”, de Fritz Lang, em
1927. Em duas horas de duração, o filme conta a história da opressão que
as máquinas impunham aos homens, em uma sociedade autoritária no
século 21. Foi uma superprodução alemã, que, numa ambientação futurista
e mítica, tinha entre seus personagens centrais um robô, um cientista louco,
um herói humanista e uma heroína pacifista. Todos eles contracenando
em cenários gigantescos, com centenas de figurantes e efeitos especiais
impressionantes para a época. De acordo com Misael Lima, da Associação de
Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, a obra faz parte de um momento
marcado pela qualidade artística das produções alemãs. E deixou Lang em
maus lençóis. “Os gastos com a produção beiraram o absurdo”.
Foto: ananda Menali
Misael Lima indica a ficção científica ‘Metrópolis’, do diretor Fritz Lang como um marco artístico do cinema alemão
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– O Extraterrestre”, a ação de “O Exterminador do Futuro” e os dinossauros de
“Jurassic Park”. A ILM foi responsável pela invenção de uma câmera especial,
assistida por computador, usada na maioria das sequências de luta no espaço
de “Star Wars” e pela criação do primeiro software para edição em ambiente
digital — mais tarde, vendido para a Avid. Para Mauro de Souza, designer
gráfico, foi através dele que o diretor impulsionou o desenvolvimento das
imagens feitas virtualmente, aplicadas à fábrica de personagens 3D. “Todos os
experimentos criados pela equipe que trabalhava lá reverberaram nos filmes
que vieram a seguir. Isso é certeza”.
Alguns destes testes ajudaram a moldar o sistema de classificação dos
efeitos visuais nos dias de hoje: agora, podem ser divididos em ópticos ou
mecânicos, baseados na forma de manipulação na criação. Os primeiros
correspondem, por exemplo, ao filme “De Volta Para o Futuro III”, em que a
atriz Mary Steenburgen está pendurada de cabeça para baixo em um trem
em movimento. Obviamente, não é seguro colocar uma mulher sob essas
condições. Portanto, os produtores fizeram uma montagem das películas de
Mary e do trem, como num chroma key. Já os efeitos mecânicos, por sua
vez, são obtidos durante a filmagem, como os cenários, a pirotecnia, os
adereços e a maquiagem. Em “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, os efeitos
de gravidade zero foram feitos com um cenário que girava como uma imensa
roda gigante, enquanto os atores andavam normalmente. A câmera presa
em um ponto fixo dava a impressão de que os astronautas estavam andando
pelas paredes. Tais soluções têm surgido a depender da necessidade criada
por determinada cena. Em outros casos, são necessárias técnicas como
renderização de camadas, escaneamento em 3D ou captura de movimentos
para expressar o realismo desejado.
Em meio a tantas opções, uma certeza: filhos do aparato cinematográfico,
da fotografia e do ilusionismo, os efeitos visuais são e continuarão sendo uma
alternativa para a exploração técnica no cinema, eternamente em busca da
narrativa coerente que os justifique e dê sentido. Com eles, as possibilidades
vão além de mexer e ordenar a captação, pela câmera, de um objeto pré-
existente. Agora, pode-se colocar diante do espectador uma imagem que não
representa objeto algum, simplesmente porque se trata de algo virtual. E tal
desenvolvimento, ao que parece, é cíclico e ruma para uma realidade ainda
mais palpável: talvez algum dia seja até possível transformar as próprias
cidades em verdadeiros cenários, com naves voando e sabres de luz prontos
para a defesa pessoal.
UMA FICÇãO INDEFINIDA“Star Wars” talvez seja um dos filmes mais controversos em sua classificação
de gênero. Apesar de sempre ser lembrado nas listas, o conceito diz que ficção
científica é um conflito resultante de uma inovação de ordem tecnológica.
Então, ainda que a história se passe no espaço com a luta de seres alienígenas
portando armas de raio laser, a tecnologia ou a ciência não são a prioridade. Os
conflitos entre Darth Vader, Obi-Wan Kenobi, Luke Skywalker, Mestre Yoda e
outros personagens ocorrem em torno de poderes mágicos e duelos de espadas.
O letreiro “Há muito tempo atrás, numa galáxia distante” ambienta o filme
no passado. A obra não se refere, portanto, a qualquer previsão tecnológica a
respeito do futuro do planeta. É uma história de fantasia ambientada no espaço.
Apesar disso, os fãs da série parecem não se importar. Tony Cherem e
Diogo Alves são dois exemplos: eles defendem debates acalorados sobre o
tema. “O filme eleva o modo de contar a ficção científica”, afirma Tony. Já
para Diogo, ele revolucionou o cenário porque usou efeitos que, para a época,
foram de uma ousadia incrível. “Além disso, a tecnologia foi usada em uma
narrativa que envolve romance e conspirações políticas”.
Mas, ainda que isso gere discussões, a realidade é que “Star Wars” envolve
múltiplos apetrechos visuais para contar uma história. Como a infraestrutura
da época não dava grandes possibilidades a George Lucas, o diretor teve de
criar a Industrial Light & Magic, sua própria empresa de efeitos especiais. Daí
vieram os sabres de luz que, na verdade, eram estacas de madeira com cores
variáveis de acordo com a cor de fundo do cenário, podendo ser vermelhos,
azuis ou verdes. Apenas o cabo era real. Nos novos filmes, os efeitos de
iluminação são feitos por computação gráfica. Nos antigos, eram usados
truques, como se os sabres fossem desenhados na própria película do filme.
E não parou por aí. George Lucas ainda desenvolveu programas de
computador que recriavam objetos tridimensionais, montou maquetes
elaboradas e inventou um novo padrão de áudio para o cinema, o THX.
Além disso, transformou a saga de seis filmes em sinônimo de uma franquia
bem-sucedida: até hoje existe um universo de produtos ligados ao tema,
como histórias em quadrinhos, desenhos animados, brinquedos, roupas,
entre outros. Tudo para um público sempre renovado, já que a história, que
começou há 30 anos, continua encantando gerações.
Foto: ananda Menali
Tony Cherem e Diogo Alves com seus ‘sabres de luz
CHROMA KEy E RENDERIzAÇãOWill Smith e Sam Worthington, respectivamente, tiveram de adaptar suas
atuações ao uso do chroma key, já que grande parte das gravações de “Eu Sou
a Lenda” e “Avatar”, respectivamente, foi feita sob esse método. Trata-se de
uma das técnicas mais famosas em gravações de vídeos: quando foi criada,
alguma tecnologia e imaginação eram tudo o que se precisava para criar as
mais diversas situações, a fim de facilitar o trabalho da equipe. Consiste na
remoção da cor de uma imagem, com o objetivo de poder inserir uma outra,
por trás. Habitualmente utilizam-se painéis azuis ou verdes, por serem as cores
cujo espectro está mais afastado do tom de pele dos seres humanos.
Por outro lado, o fundo preto também é bastante utilizado para a
renderização em camadas. Quando o cinema mostra a cena da comemoração
final do filme “Star Wars – A Ameaça Fantasma”, com a cidade de Theed, a tropa
no meio da avenida, o público e os confetes voando, isso significa que tais
elementos não foram feitos ao mesmo tempo. Como uma única junção gastaria
um tempo exagerado, os artistas digitais trabalham com layers (camadas).
Assim, os quatro elementos são criados em separado, sob um painel preto —
a cor facilita na hora da junção —, para serem unidos no computador. Uma
cena em camadas permite modificações separadamente, o que acrescenta na
velocidade da produção. Além disso, por meio de software especializado, é
possível trocar texturas, inserir reflexos, mudar a iluminação e dar flexibilidade
ao tratamento de cada elemento.
ESCANEAMENtO EM 3DEm “O Exterminador do Futuro II”, para construir a cena do vilão T-1000 se
erguendo do chão, após seu derretimento, foi utilizado um efeito criado pela ILM
(Industrial Light & Magic): o escaneamento em 3D. Ele cria uma cópia virtual de
um objeto que existe no mundo real e tem evoluído ao longo dos tempos. Se,
VMais_Tecnologia.indd 9 14/10/2010 10:49:18
10 V+ tECNOLOGIAantigamente, uma das técnicas mais usadas era a digitalização de fatias do objeto — depois reconhecidas pelo computador,
que unia tudo e formava a peça inteira —, hoje os mais comuns são os scanners a laser e os de toque com braço mecânico.
• Laser:utilizadoparaescanearpequenosobjetosouformasgrandes,comocorposdepessoas.Podeserpormeiodeum
scanner a laser 3D de mão, ligado a um braço mecânico e dirigido por uma pessoa, que aponta a região desejada. O
outro modelo é um scanner 3D a laser giratório usado para formas maiores, como as de um corpo humano. Ele permite
capturar a forma e a coloração de tons de pele e pode ser giratório ou em movimento vertical. A atriz Rebecca Romijn-
Stamos passou por tal experiência ao interpretar a personagem Mística, em “X-Men”.
• Toquecombraçomecânico:traçam-selinhasnomodeloeobraçomecânicoémovimentadoemdireçãoaolocalque
será escaneado. Com cliques nos pontos de cruzamento da malha criada, o programa reconhece a posição no espaço
tridimensional e constrói a versão virtual do modelo real. A técnica foi empregada no filme “Godzilla”, na construção do
grande monstro e na de seus bebês, que tinham versões até para closes e cenas de ação.
CAPtURA DE MOVIMENtOPara fazer T-1000 sair do elevador e perseguir os heróis na garagem do hospital, em “O Exterminador do Futuro II”, a
empresa responsável precisava sincronizar a corrida do personagem 3D com a do ator, Robert Patrick. A solução foi recorrer
à rotoscopia. Para isso, a equipe de animação desenhou um quadriculado de cor preta no corpo do ator, que foi orientado
a correr em uma rua, sendo filmado por duas câmeras de vídeo: uma de frente e a outra de lado. No computador, os vídeos
foram escaneados quadro a quadro e os animadores posicionaram o personagem 3D de acordo com as imagens captadas.
Esse sistema de captura se desenvolveu com o tempo e, atualmente, se divide em dois grandes tipos: óptico e mecânico.
• Óptico:omaisusadohojeemdia.Utilizapequenasbolasrefletivasquesãocolocadasnasarticulaçõesdocorpodoator.
Envolve pelo menos três câmeras de vídeo, equipadas com fonte de luz, geralmente infravermelha. O computador
sincroniza a imagem que vem de cada câmera, para calcular a posição dos marcadores. Estes dados animam o esqueleto
3D. Foi utilizado no filme “Alien vs. Predador”.
• Mecânico:umdostiposmaisantigos.Armaçõessãoconectadasentresiusandoumasériedecodificadores,interligados
a um programa que lê todas as informações ao mesmo tempo. Depois, por meio de cálculos, os movimentos do ator
podem ser analisados. Foi utilizado no filme “Jurassic Park”, na forma de um boneco de dinossauro de cerca de 50 cm.
O designer Mauro de Souza acredita o filme “Star Wars” deu o ponta pé inicial para diversas produções que vieram a seguir
Foto: arquivo pessoal de Mauro de souza
A ONDA DAS wEb RáDIOSCarla Delecrode
Um grupo de amigos e uma ideia. Para colocá-la em prática, só era preciso um computador, com boa conexão na
internet, uma mesa de som e alguns microfones. E pronto, mais uma rádio on line na rede, disputando a audiência dos
internautas com as grandes emissoras: a ‘Estação Veiga’, que surgiu em uma ‘onda virtual’. A novidade é a web rádio, estação
que começa na internet e faz a programação apenas para veicular na rede. Hoje, já são mais de 16 mil sites de rádios on line
e web TVs em todo o país.
Exemplo deste novo fenômeno, a Estação Veiga surgiu quando os amigos Pedro Amorim, Diogo Alves e Leandro Lobo,
23, decidiram entrar no ramo a partir da monografia de Pedro, que desejava montar uma rádio para a Universidade Veiga
de Almeida (UVA), na qual cursava Publicidade e Propaganda. O projeto virou realidade em 2007. “Eu sempre gostei de
trabalhar com o conceito de rádio-informação, uma herança da época do AM. O objetivo era voltar-se para a formação da
opinião crítica, com o envolvimento dos alunos”, explica Pedro, o líder do grupo, que, no início, queria montar um canal de
educação, mas, atraído pelas vantagens da internet, mudou para a rádio on line ‘Estação Veiga’, disponível aos internautas.
Até que o plano saísse do papel, o grupo passou três anos trabalhando como rádio interna na UVA. “Não havia espaço
na faculdade para a rádio e tivemos que nos instalar em um antigo estúdio usado como depósito”, lembra Leandro. A
versão virtual da emissora jovem disponibiliza na grade podcast dos programas e spots produzidos pelos próprios alunos.
Hoje, dispõe de um estúdio bem equipado e um grupo de estagiários e colaboradores, sob a supervisão de comunicadores
responsáveis pelo conteúdo. Uma exceção dentro dessa mídia, em que praticamente 90% dos que fazem rádio on line não
são profissionais da área, mas apaixonados pelo veículo e pela música.
É o caso de Rodrigo Carvalho, diretor-geral da Spin FM, que decidiu criar a web rádio por gostar de locução e querer
interagir com o público.“Queremos divertir, mas de forma profissional e prestando serviço aos ouvintes. Eu optei por
gosto, aliás muito gosto”, aponta o empreendedor, que prioriza a qualidade na programação e possui uma equipe de
colaboradores trabalhando em Lisboa e no Brasil. Ele explica que se manter ‘no ar’ não é fácil, já que custear um padrão
exige investimento. Para equilibrar as finanças, a publicidade é a aliada. Muitos sites não contam com grandes marcas,
mas anúncios de parceiros e do estúdio de onde transmitem. “Recebemos pouco pelo que fazemos. A satisfação dos
nossos ouvintes é o melhor do nosso dia-a-dia”, destaca Rodrigo, que, junto com o amigo Miguel Nunes, criou a Spin FM
em sua cidade, Setúbal, em Portugal. O nome do empreendimento já visava o plano de transformar a rádio on line em
local a partir da construção do um estúdio profissional para transmitir sinal digital. “Como qualquer negócio, no início,
temos gastos, mas depois vai crescendo e começa a dar algum lucro”, confirma Miguel, administrador da Spin FM. Por
causa dos menores custos, eles preferiram começar com uma emissora jovem na internet.
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Esta vantagem também fez a diferença para o jornalista Ricardo Souza, que trabalha no on line e no AM em programas
esportivos na Rádio Grande Rio. “Como em uma emissora normal precisa de local e equipamento, resolvi criar um site e nele uma
rádio”. Ele é idealizador do “Vitrine Esportiva”, que transmite ao vivo do Maracanã narração de jogos de futebol. Com uma média de
800 a dois mil ouvintes por transmissão, o site está on line desde 2001. Quanto às dificuldades para obter retorno financeiro, Ricardo
concorda com os colegas da Spin. “Rádio on line é mais por paixão mesmo. Quem quer ter renda com isso vai ganhar pouco”.
Além disso, os locutores on line precisaram se acostumar com a instabilidade da audiência, já que encontrar o público-alvo
na internet é um desafio. “Há um ideal de público, mas, na verdade, o ouvinte é inesperado”, afirma Pedro Amorim, que também
apresenta o programa “Independência ou morte”, na Irádio, a terceira no ranking das mais ouvidas web rádios voltadas para o público
jovem. A média de acessos às terças-feiras, quando ocorre a transmissão ao vivo, é de quatro a dez mil internautas simultâneos.
Apesar de o programa ser para os jovens, ele aprendeu a lidar com um grupo de ouvintes diversificado. “O programa e
a linguagem mudam com o convidado. Já recebemos o Leoni, bandas independentes de rock, evangélicos e até grupos de
música clássica”. A estudante Carina Miranda, 18 anos, é a prova disso. Ela concorda com o locutor e confessa escolher o que
escuta na internet pela música e pelo programa, embora a “Late Night”, da Spin FM, seja seu programa favorito. “A vantagem
da rádio on line é ser mais prática quando se está no PC. Prefiro ouvir os programas ao vivo”.
Estar disponível em qualquer parte do mundo estimula a criação de novas web rádios. Com isso, a tarefa de ‘fisgar’ o público
ficou ainda mais complicada. Investir em qualidade pode ser a melhor opção. “É claro que não há espaço no rádio, nós temos que
criar o nosso espaço”, define Pedro. Outra dica é usar os recursos que a mídia permite, como trabalhar com imagem, texto e vídeo,
além de estar ligado ao que é sucesso de público na internet, como blogs e redes sociais. A saída para outros pode ser produzir
para nichos do mercado. “Segmentar cada vez mais pode atrair o público e fidelizar”, aponta o publicitário Diogo Alves.
Para Rodrigo, porém, os internautas já são fiéis às rádios on line e, quando gostam da programação, são a melhor
propaganda. “Basicamente é sempre assim, amigos dizem para outros que gostam da rádio, passam o site e temos mais
ouvintes”. Além disso, realizar cadastro, oferecer promoções e sorteios são outros meios de fidelizar.
Embora as rádios on line aperfeiçoem seus planos de propaganda, estrutura e pessoal, os profissionais que se dedicam
a esta nova forma de fazer rádio não possuem legislação específica. E mesmo com todo o crescimento das web rádios e do
envolvimento de comunicadores e técnicos da área, essa prática ainda é fruto de uma descoberta diária. “Eu confesso que não
sabia muito sobre rádio, mas fui aprendendo. Então, me organizei com o Rodrigo e abrimos a rádio”, aponta Miguel.
O RáDIO NãO VAI MORRERO rádio se adaptou e está nos bits. Depois de ameaçado pela TV nos anos 50, ele enfrenta um novo concorrente: o
computador, que, com a internet, trouxe uma nova forma de fazer rádio - as web rádios. Em resposta a esse novo contexto,
lançam-se discussões como o dilema dos efeitos da convergência digital sobre a rádio convencional e sua substituição
pelo formato on line, e, por outro lado, o mito de que as web rádios não teriam ‘pegado’ ou virado mania.
Para a pesquisadora sobre a História do Rádio, Lia Calabre, o veículo passa por um momento de transição, no qual as
emissoras tradicionais assimilarão gradativamente a influência digital. “Hoje, os antigos modelos das AMs ainda detêm
público, convivendo com a segmentação musical e a velocidade de informação.” Lia aponta que esse processo já tem alterado
os suportes tradicionais e, a exemplo da fotografia, que migrou definitivamente para versão digital, o aparelho de rádio
também deve desaparecer. “Mas é difícil que ocorra com o ‘formato rádio’ de produzir notícias, veicular músicas e esporte”.
Em resposta à substituição das ondas pelas webs rádios, a equipe da Estação Veiga acredita que a rádio convencional
ainda tem vantagens sobre a versão on line, como a portabilidade e o acesso. Eles apontam que muitos não possuem a
internet banda larga, além de ser mais fácil ouvir as transmissões na forma tradicional por meio do MP3, celular ou no
carro. Outra desvantagem do novo formato, segundo Pedro Amorim, locutor do ‘Independência ou morte’ da Irádio, é a
falta do hábito de ouvir os programas pela internet. “O Rio tem aversão à novidade. Embora eu seja carioca, a maioria dos
meus ouvintes é de outros estados”.
Apesar disso, a ouvinte Carine Miranda encara as rádios on lines como uma ‘moda’ que a cada dia conquista mais
adeptos. “Acho que cada vez mais se ouve web rádio”, aponta a estudante portuguesa de 18 anos, que confirma preferir
ouvir seus programas favoritos pela internet. Nessa nova realidade de bits, porém, o fator tecnológico pode fazer a
diferença, já que há a necessidade de servidores que suportem acessos simultâneos, fruto de investimento nos sites. Seja
nas ondas ou no digital, o rádio tem se adaptado à nova realidade a fim de garantir a atração do público.
A história do rádio demonstra que, diante de novos rumos, o veículo se adaptou, ganhou uma nova programação
e novas bases tecnológicas, além de redefinir a relação com o público. “Podemos dizer que ele ‘fala’ a linguagem de seu
tempo”, assinala Lia Calabre, que considera o veículo versátil, pois adapta a linguagem conforme o contexto e o público.
Por isso, ela acredita que a forma de fazer rádio não terá fim, seja qual for o suporte - ondas ou internet. “Afinal, o rádio
tem se mostrado um meio ágil e ligado em seu próprio tempo”. Está feita a aposta.
COMO MONtAR UMA RáDIO ON LINE?
“Qualquer um pode montar sua rádio on line”, destaca Pedro Amorim,
que criou uma emissora na faculdade com um bom computador, uma mesa
de som e um microfone. Para aqueles que, assim como ele, estão pensando
em montar uma, é preciso computador com, no mínimo, um processador
de boa qualidade com capacidade de 1 Gigabyte e um HD de 1 Terabyte;
software de automação de rádio profissional, que pode ser baixado da
própria internet gratuitamente; outro software para edição de áudio; uma
mesa de som, três microfones e fones profissionais; uma rápida conexão, a
partir de 1 Megabyte; um servidor; capital inicial que pode variar de acordo com
a qualidade de transmissão e produção desejada; criatividade e motivação. Os
elementos básicos podem variar conforme o caso.
“As rádios on line ‘pegam’ desde que a equipe saiba o que fazer e consiga
prender os ouvintes por horas no site”, define Rodrigo Carvalho, que também
criou sua emissora com o amigo Miguel Nunes, em Portugal. A receita deles
foi dinheiro, tempo, comunicabilidade e paciência. Os amigos lembram que,
para se manter ‘no ar’, também é importante conhecer a mídia e entender a
linguagem do veículo. Este desconhecimento, em muitos casos, pode resultar
no fechamento da emissora. “É preciso pensar no que vão fazer antes de abrir a
rádio. Muitas estações boas já não funcionam porque se cansam das novas,
que pensam mandar na concorrência.”
A programação depende da criatividade e do público que se deseja atingir.
Uns visam os segmentos e nichos de mercado para atrair o ouvinte, outros
mantém um padrão semelhante às rádios convencionais. Mas é importante não
confundir rádiowebs com web rádios ou rádios on line. Apesar da semelhança
do nome, elas são diferentes. Enquanto as últimas nasceram na internet, as
rádiowebs começam da forma convencional e migram para a rede como uma
extensão do que se tem nas ondas. Outro perigo, segundo os locutores, é
começar e não parar. “Não entre, pois é uma cachaça. Vicia”, adverte Pedro.
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Como seria a comunicação a distância de forma rápida sem o telefone? Difícil imaginar. Isto mostra a importância desse meio de
ligação na vida das pessoas. Hoje, a maioria delas possui um telefone, seja fixo, móvel ou os dois. Os celulares, que têm várias funções e
oferecem mais interatividade, tornaram possível ao ser humano estar ligado em qualquer lugar do planeta. Mas antes de chegar a esse
ponto, houve um processo de evolução que transformou de forma positiva a sociedade mundial.
Os telefones fixos e os celulares tiveram várias formas e tamanhos desde a sua criação. No início, poucos podiam ter os aparelhos,
pois a quantidade era pouca e o preço, alto. Com o tempo, novas empresas de telefonia chegaram e a concorrência fez diminuir o valor
e crescer a venda. Hoje, a popularidade dessas máquinas é imensa e a tendência é que aumente, pelas facilidades e serviços oferecidos.
“Foi uma das melhores invenções, todo mundo quer ter. Além de poder conversar com as pessoas, ele é um passatempo durante o dia”,
diz Carlos Eduardo, jovem estudante e adepto da tecnologia.
PRIMEIROS PASSOS PELO MUNDOEm uma noite de 2 de junho de 1875, o então professor de surdos-mudos,
Alexander Graham Bell, imigrante escocês que morava nos Estados Unidos, estava
fazendo uma experiência com um telégrafo harmônico quando seu auxiliar,
Thomas Watson, puxou uma corda do transmissor e emitiu um som diferente, que
foi ouvido por Graham Bell do outro lado da linha. Surgia a partir desse momento
uma das maiores criações feitas pelo homem. Mas foi o dia 10 de março de 1876,
na cidade de Massachussetes, em Boston, que entrou para a história mundial.
Data em que o escocês que se encontrava no último andar da hospedaria Exeter
Place falou pela primeira vez, por meio de uma transmissão elétrica, no aparelho
inventado: “Senhor Watson, venha cá. Preciso falar-lhe”. Watson, seu ajudante e
que trabalhava no térreo do prédio, foi quem atendeu a ligação.
A invenção foi apresentada ao mundo em maio do mesmo ano, na Exposição
Internacional comemorativa ao Centenário da Independência Americana na
Filadélfia. No começo, não houve interesse dos juízes que organizavam o evento,
até que, dois meses se passam e o Imperador do Brasil, D. Pedro II, em visita à
Exposição, demonstra entusiasmo com o objeto. Era o momento de Graham Bell
mostrar toda sua genialidade: ele estendeu um fio de um canto a outro da sala,
dirigiu-se ao transmissor, colocou no Imperador que estava do outro lado e falou:
“Ser ou não ser, eis a questão”. Surpreso, D. Pedro II exclamou: “Meu Deus, isto
CHEGADA AO bRASIL No Brasil, o primeiro telefone foi instalado em 1877, no Rio de Janeiro, para D.
Pedro II, no Palácio de São Cristóvão, hoje Museu Nacional, localizado na Quinta da
Boa Vista. Ele foi construído nas oficinas da Western and Brazilian Telegraph Company.
Inicialmente, o aparelho era usado para aproximar a comunicação entre o governo,
os órgãos militares e o corpo de bombeiros. A legislação brasileira colocava o Estado
como proprietário da rede, mas as linhas seriam usadas também pela iniciativa
privada. Um serviço necessário também para o Comércio e Obras Públicas.
Em 1879, outro passo foi dado: o imperador D. Pedro II autorizou uma
concessão para construir e operar redes telefônicas no Rio de Janeiro, em
seus subúrbios e na cidade de Niterói. Pelo decreto número 7589, as linhas
da companhia não seriam instaladas sem a aprovação da Repartição Geral
dos Telégrafos, para não prejudicar as que já tinham na polícia, no corpo de
bombeiros e na corte. Era cobrada apenas uma taxa mensal ou anual, com um
contrato de cinco anos e a concessão válida por dez anos.
Em 13 de outubro de 1880, foi criada a Telephone Company of Brazil, que veio
a ser instalada na Rua da Quitanda, no Rio de Janeiro. Em janeiro de 1881, acabou
sendo a primeira companhia telefônica nacional. Com essas concessões, a cidade
já dispunha, em 1883, de cinco estações de mil assinantes. No mesmo ano, foi
construída a primeira linha interurbana no país, ligando a cidade a Petrópolis.
Com o sucesso, o imperador implantou o método de concessão para todo o Brasil.
Os primeiro lugares liberados para utilizar esse meio foram São Paulo, Campinas,
Florianópolis, Ouro Preto, Curitiba e Fortaleza, no dia 18 de março de 1882.
Com o tempo, alguns conflitos surgiram, como no caso da empresa Companhia
Telefônica do Brasil, em 1883, que não aceitava o governo imperial oferecer maior
fala!”. Ainda no mesmo ano, mais precisamente em 26 de novembro, ele fez a
primeira ligação interurbana, ligando de Boston para Salem, a uma distância de
25 quilômetros.
A partir desses acontecimentos, o telefone ganhou mais confiança entre as
pessoas e a primeira empresa telefônica do mundo, a Bell Telephone Company,
comandada pelo sogro do inventor, Gardner Hubbard, com cerca de 800
aparelhos, foi construída menos de um ano após a exposição. Em poucos anos,
foram instaladas várias redes telefônicas em quase todo o mundo.
Em Barcelona, o engenheiro Narcis Xifra, junto com Tomás Dalmau, por
meio de cabos telegráficos, ligou a cidade a Gerona, em 1877. Na capital inglesa,
Londres, teve início em 1878 a companhia telefônica privada Telephone Company
Ltda. Dois anos depois, surgiu a Edson Telephone Company of London. Elas
viraram concorrentes, mas depois se fundiram para formar uma única empresa, a
United Telephone Company. Em 1879, na cidade de Paris, para fazer a instalação
de redes telefônicas, seria preciso atender às normas exigidas pelo Ministério dos
Correios e Telégrafos da França. No ano seguinte, aconteceu no país o monopólio
das companhias, facilitado pelo surgimento da Societé Génerale de Teléphones
(SGT). Londres e Paris ainda tiveram uma rede ligando as duas cidades em 1891,
considerada uma importante evolução na época.
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vantagem à empresa de Graham Bell. Uma nova constituição foi feita para acabar
totalmente com essas brigas em 1889, quando o país começou a viver uma grande
mudança no regime político, já que era Império e passou a ser República. O governo
federal agora tinha controle dos serviços interurbanos interestaduais. Os governos
estaduais controlavam os interurbanos municipais e estaduais, e o município só a
sua área. O Estado tinha o direito de construir linhas telefônicas.
Foi no estado do Rio Grande do Sul, em 1909, que foi inaugurada a primeira
rede telefônica que funcionava com bateria central. Teve início a construção de cabos
subterrâneos. Como se tratava de um sistema semi-automático, passou a existir a
função de telefonista e Porto Alegre se tornou a quinta cidade no mundo a dispor deste
modelo. Já o primeiro cabo interurbano subterrâneo foi adquirido em 1913, e ligava as
cidades de Santos e São Paulo, com 30 pares em uma distância próxima a 70 km.
A cidade de Porto Alegre apresentou para o Brasil, em 1922, a telefonia
automática, que dispensava a função de telefonista. Na América, só Chicago e
Nova York tinham uma central automática. Estava evidente que os telefones
estavam evoluindo de forma rápida. Novos métodos para poder se comunicar
por meio do aparelho eram feitos. Em 1935 surgiu o telefone público, instalado
pela CTB no Rio de Janeiro, principalmente para quem não tinha condições de
comprar um aparelho. A iniciativa deu certo e, pouco tempo depois, bares,
farmácias, mercearias e pontos públicos como rodoviárias, estações de trem e
praças ganharam o seu.
O período da segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, marcou pelo fato
de, mesmo com muitas dificuldades por que o país estava passando, a CTB ter
instalado cerca de 45 mil novos telefones no Rio de Janeiro. Outra boa novidade
foi o lançamento de aparelhos mais leves e a provas de impactos que os pracinhas
brasileiros que estavam na guerra e estavam integrados a soldados americanos
passaram a utilizar como uma importante ferramenta na hora das batalhas.
Para ampliar o número de linhas telefônicas, foi criada, em setembro de 1965,
a Embratel, Empresa Brasileira de Telecomunicações, com o objetivo de aumentar
a comunicação entre os estados e também com o exterior. No ano seguinte, a CTB
foi comprada pelo governo brasileiro e finalmente nacionalizada. Modernizada,
instalou 522.528 telefones. Em 1972 veio a Telebrás, uma instituição pública que
tinha a missão de observar, controlar e coordenar as empresas de telefonia. Um
pouco antes, mas no mesmo ano, foram feitos os primeiros “orelhões”, um novo
formato de cabine dos telefones públicos. Eles funcionaram com fichas metálicas
até 1992, quando passaram a ser utilizados cartões indutivos.
Uma grande novidade marcou o ano de 1990. Mais precisamente no dia 30 de
dezembro, apareceram no Rio de Janeiro os primeiros celulares, com capacidade
para 10 mil terminais. Mas foi em 1997, após concorrência de empresas nacionais
passo o dia mexendo no meu celular. tiro fotos, gravo vídeos e até já dormi escutando música com o fone ligado
carlos eduardo
Em 1916, três grandes estados brasileiros ficaram ainda mais próximos.
Minas Gerais se juntou a Rio de Janeiro e São Paulo e fizeram uma união entre as
empresas Telephone Interestadoaes e a Rio de Janeiro and São Paulo Telephone
Company, mais conhecida como Companhia Telefônica Brasileira (CTB), já que em
1923 passou a ser chamada assim. A CTB era a maior empresa de telefonia em
território brasileiro.
e estrangeiras, que veio a diminuição dos preços, multiplicando o número de
vendas. O que antes era privilégio da minoria passou a ser um pouco mais
popular. Em 1998, houve a privatização da Telebrás, que dividiu as empresas em
vários grupos por região e a Embratel continuou com seu serviço a longa distância
pelo Brasil todo.
A INtERAtIVIDADE DO SéCULO XXIInteratividade é a palavra de ordem. Novos modelos de celulares chegaram
para revolucionar o mundo das telecomunicações. Essas pequenas máquinas
passaram a ter várias utilidades, que correspondem uma nova era. A era
de uma geração que busca agilidade e meios de se relacionar de várias
maneiras, seja por meio de jogos, internet, câmeras, gravadores, só ligações
ou outros serviços que esses aparelhos oferecem. “Passo o dia mexendo no
meu celular. Tiro fotos, gravo vídeos e até já dormi escutando música com o
fone ligado”, conta Carlos Eduardo.
Toda essa tecnologia é observada nas ruas. Não importa a idade, o
celular está presente e sendo usado em qualquer lugar e circunstância.
Isso mostra que a aceitação é grande e que corresponde às expectativas
dos consumidores. No futuro, o celular vai ficar mais moderno, terá mais
alternativas de interatividade a partir de novas ferramentas e a tendência é
de que seja ainda mais popular. Agora, é esperar e aguardar para saber quais
serão as próximas novidades que ainda podem chegar ao consumidor.
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14 V+ tECNOLOGIA
tECNODEPENDÊNCIAKaren Russo
Passar um fim de semana sem ter acesso à Internet, sem telefone ou qualquer
aparelho tecnológico, completamente “desligado” do mundo, apenas aproveitando
a vida. O que pode ser um sonho para a maioria, para outros tantos vira pesadelo.
Para esta parcela da população, aparelhos e aparatos novos com várias ferramentas
e conexão com a web são itens indispensáveis na hora de viajar. Afinal, em qualquer
lugar em que estejam, eles precisam se comunicar e estar em contato com outras
pessoas. São os dependentes dos avanços tecnológicos, um grupo cada vez mais
numeroso, composto por pessoas que, desde a hora em que acordam até o momento
de dormir, precisam estar plugados com o mundo. A sociedade cobra que o indivíduo
saiba tudo que está acontecendo e que possa ser encontrado em qualquer lugar.
A necessidade por informação e por estar em contato com os outros também vem
aumentando, assim como o sedentarismo e a comodidade.
A função da tecnologia e seus avanços é facilitar a vida das pessoas, mas quando
não são bem usados, podem acabar por prejudicar, o que vem acontecendo com
frequência. Segundo Luís Carlos Bittencourt, coordenador do curso de Comunicação
Social, da Universidade Veiga de Almeida, as pessoas deveriam aprender a usar os
meios tecnológicos. “É preciso uma educação para os meios. Aprender a usá-los
como aprendemos outras coisas na escola. Assim daremos limites e saberemos usar a
tecnologia a nosso serviço, e não ficarmos dependentes dela. A camisa de força nós é
que colocamos quando não sabemos usar os meios. Somos dependentes no sentido
de que a tecnologia chegou para ficar. Só não podemos ser dependentes patológicos”,
avalia Bittencourt.
O hábito de verificar e-mail, estar conectado ao mundo, querendo
saber tudo o que ocorre o tempo todo é uma exigência que pode trazer
muitos prejuízos à qualidade de vida, tanto no aspecto pessoal e
profissional quanto no psicológico. E, na maioria das vezes, a pessoa precisa
adoecer para perceber que não está bem e que a rotina computadorizada e
aparelhada pode estar atrapalhando em vez de ajudar.
Karina Chan não tinha o hábito de usar muitos aparelhos tecnológicos, mas
viu sua vida mudar depois que começou a trabalhar como assessora de imprensa,
profissão que exige estar sempre conectada, disponível e sabendo o que acontece.
“Quando percebi, estava usando três celulares, acordando de madrugada para checar
meus e-mails e trocando mensagens SMS enquanto almoçava”. Depois de parar no
hospital por causa da pressão arterial, Karina decidiu que só ficaria com um celular
e que apenas entraria na internet no trabalho. Foi a maneira que encontrou de não
prejudicar sua saúde. “A médica falou que se eu continuasse com a vida que estava
tendo, logo entraria com um quadro de estresse”.
Pessoas com sintomas de estresse são comuns atualmente, porque muitas não
sabem utilizar os novos aparelhos e a internet adequadamente. O uso excessivo e
sem critério desperta diversos problemas na saúde do corpo e da mente. Muitas
vezes, o ambiente de trabalho dispõe de tantos aparelhos tecnológicos que acaba
assustando ou irritando o funcionário.
EStRESSE NãO é FRESCURAA parte psicológica pode sofrer muito com tanta cobrança do mundo
contemporâneo, o que pode desencadear um caso de estresse. De acordo com
Marco Antônio Alves Brasil, chefe do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Clínica do
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), a pessoa fica mais susceptível
a adquirir doenças somáticas (de causa emocional) ou agravá-las, caso já existam.
“O estresse pode ser fator desencadeante para transtornos emocionais como fobias,
transtorno do pânico, além de depressão”.
Como o estresse é um conjunto de reações do organismo - que tem por objetivo
lidar com agressões inesperadas, de forma física ou psicológica, para liberar certos
tipos de hormônios em maior quantidade para ajudar -, quando há uma situação
persistente, pode gerar muitos problemas, pois a produção contínua de altos níveis
de hormônios como adrenalina e cortisol pode alterar a oxigenação do corpo e
reduzir as defesas do organismo. E ainda pode comprometer o sono, a disposição, o
humor, a libido, o apetite, a concentração e a memória.
Antônio José Carneiro, gastroenterologista do HUCFF, lembra que a doença
pode alterar o trabalho do intestino e, no caso do estômago, possibilita o aumento
da produção do ácido clorídrico. “As doenças mais comuns por causa do estresse são
a síndrome do intestino irritável e as dispepsias (indigestões) não ulcerosas”, explica.
O tratamento é baseado em mudanças comportamentais, orientação nutricional,
conscientização do paciente sobre seu problema e uso de medicações específicas.
A melhor maneira de prevenir é não se expor a situações estressantes, o que nem
sempre é possível na vida urbana e tecnológica. “Diante dessas situações, devemos
procurar evitar que elas se prolonguem. Deve-se sempre procurar contrapor esses
períodos de estresse com atividades físicas, de lazer e tudo aquilo que possa afastar
uma pessoa das preocupações”, indica Marco Brasil. O humor também é afetado pela
angústia. Segundo ele, a pessoa passa ficar mal-humorada sem motivos aparentes, e
quando isso vem acompanhado de outros sintomas, passa ter uma evolução crônica
e pode constituir-se em um transtorno psiquiátrico.
Karina encontrou um equilíbrio para viver bem, mesmo cercada de aparelhos tecnológicos
Foto: Karen russo
E é cada vez mais comum ver grandes empresas com funcionários que
desenvolvem algum problema devido ao estresse. Felipe Vieira, funcionário do setor
de Telecomunicação, conta que às vezes se sente invadido e prisioneiro quando está
trabalhando. “Para entrar na empresa, eu ando em uma passarela toda cimentada,
depois tenho que passar por um detector de metais, colocar meu dedo no aparelho
para ele ler minha digital. Sem contar a quantidade de vezes que passo o crachá
magnético para entrar nas salas e as câmeras”.
A sensação de Felipe é comum a muitas pessoas. Muitas se veem mergulhadas
e prisioneiras da tecnologia por obrigação, já a nova geração não sabe viver sem
ela. Não é difícil encontrar uma criança que passe o dia na frente do computador, da
televisão e que ande com seu celular para todos os cantos. Elas acham que todas as
respostas que precisam encontrar serão dadas por esses meios. O costume de ler um
livro, fazer pesquisas em bibliotecas está distante para essa geração que idolatra a
internet e acredita na “inteligência suprema” dos sistemas de busca.
Essa mudança no comportamento das crianças, em que a dependência
tecnológica, na maioria das vezes, é excessiva, vem preocupando muitos pais.
Márcia Palermo foi chamada na escola de seu filho, Matheus porque ele não
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15V+ tECNOLOGIA
estava escrevendo de forma correta, colocava tudo como se estivesse na internet.
“A professora de português me mostrou a redação que ele escreveu. No lugar da
palavra para ele colocou p/, substituiu você por vc e a palavra também por tbm. O
pior foi quando ela me falou que pediu para ele mudar e ele falou que não lembrava
como era a forma certa”.
Mas não são apenas as crianças que estão ficando presas aos avanços. Os
adultos tentam se enganar e pensar que não dependem de nada, mas é possível
observar que essa necessidade já está presente em seus dias. Antes, era raro um
taxista não saber onde ficava a rua solicitada. Agora, é comum que o motorista não
saiba o local. E os novatos na profissão não procuram gravar as ruas ou conhecer os
lugares como antes. Apenas “jogam” o endereço no GPS e pronto, são guiados para
o destino solicitado.
Arquimedes Souto, taxista há mais de dez anos, não consegue usar o GPS,
prefere gravar as ruas e montar os mapas geográficos mentalmente. “Esses meninos
que começam agora como taxistas não conhecem nada. São escravos do GPS. Eu não
gosto, quando preciso saber de uma rua, pego meu livro guia do Rio”.
A matemática também perde cada vez mais espaço nesse mundo das máquinas.
O costume de se fazer contas de cabeça perdeu espaço para as calculadoras, que
estão por toda parte. O exercício do cérebro com contas e a preocupação em escrever
de forma correta não acontecem com a mesma frequência de antes. São os tempos
modernos. Mas são os melhores tempos?
Nesse mergulho tecnológico é provável que muito seja perdido e esquecido
daqui a pouco tempo, mesmo informações básicas. Um caso fictício, escrito por
Isaac Asimov, no livro “A Sensação do Poder”, narra uma história em que todos usam
computador para tudo, inclusive fazer contas. Com isso, o interesse que as pessoas
tinham em fazer contas se perde. E ninguém mais lembra como se calcula. Um dia,
Myron Aub, um senhor de idade, acaba desenvolvendo o passatempo de passar as
contas da calculadora para o papel. Nas suas brincadeiras, descobre como somar,
dividir, subtrair e dividir. Passa a ser idolatrado pelas pessoas. Myron é chamado
pelos militares para fazer com que as armas tivessem uma lógica por meio das
contas. Vendo que seu invento não estava salvando vidas, Aub se mata.
O avanço tecnológico busca melhorar a vida do homem, mas o problema parece
ser a falta de dosagem. Não há dúvidas quanto às facilidades que a tecnologia
proporcionou ao homem em seu dia-a-dia, porém esse uso exagerado e sem o menor
controle acaba por trazer também malefícios. O certo é que a tecnologia está presente e
já faz parte da sociedade contemporânea. Algumas pessoas usam mais que outras, mas
o importante é saber usar para melhorar a rotina e torná-la mais interessante.
SOb VIGILâNCIAMarcel Pesah
Com o avanço da tecnologia, o nadador paraolímpico Daniel Dias foi beneficiado
e passou a utilizar uma prótese bem mais moderna do que as tradicionais. Conhecida
como C-Leg, a perna computadorizada foi criada pela empresa alemã Otto Bock e
disponibilizada para o atleta. “Sinto como se fosse um homem biônico. Meu joelho é
quase um vídeo game. A regulagem é toda feita por computador, com a tecnologia
Bluetooth”, explica Daniel Dias.
O exemplo do nadador mostra como a tecnologia faz com que barreiras sejam
rompidas muito rapidamente. Outro caso de evolução tecnológica no esporte é o
super-maiô, feito de material poliuretano, que repele a água tornando mais fácil o
deslocamento dos nadadores. Com essa contribuição, muitos atletas melhoraram
suas performances. Tanto que a Federação Internacional de Natação (FINA) já
decidiu que a partir de agora os trajes terão de ser feitos de material têxtil e não mais
de poliuretano. Essa medida busca voltar a fazer com que as disputas sejam mais
intensas e que recordes sejam mais valorizados quando quebrados.
Assim como a natação, outros esportes desfrutam as descobertas tecnológicas.
Entre os esportes de auto-rendimento, não poderia ficar de fora o futebol, praticado
em todo o mundo. As transmissões dos jogos pela Internet e TV por assinatura
contribuíram em grande parte para uma popularização ainda maior do espetáculo.
Mas para que se chegasse a esse nível, as empresas começaram a investir em novos
equipamentos, como modelos de câmeras mais sofisticados. O resultado disso são
imagens de todas as partes. Algumas empresas de TV a cabo ou via satélite
oferecem serviços como possibilitar que o usuário escolha a câmera de
seu agrado, pausar a imagem ao vivo em determinado instante, voltar a
assistir quando quiser e selecionar os melhores momentos.
No jogo em si, lances duvidosos - impedimentos, faltas dentro e fora da área
-acontecem em vários momentos. E um exemplo de como o uso da tecnologia pode
permitir outra percepção das jogadas foi quando o jogador francês Thierry Henry
levou a bola com a mão, que resultou no gol que classificou a seleção francesa para a
Copa do Mundo. “Hoje, com tantas câmeras espalhadas, é mais fácil ver quando um
juiz se equivocou”, afirma o árbitro Cristiano Bernardino. Já para Leonardo Pereira, o
árbitro é um ser humano como qualquer outro, passível de erro. “Temos praticamente
de 4 a 5 segundos para marcar um pênalti, uma falta ou impedimento”.
Uma agressão que aconteça fora do alcance de vista do árbitro e de seus
auxiliares durante o jogo não terá a devida regra aplicada naquele instante, ou seja,
o agressor sairá impune e não receberá o cartão vermelho. Mas, após a partida, o
Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) pode rever o momento e até marcar
uma audiência com o jogador, para que o ato seja julgado pelos procuradores e
assim decidir se irá ou não dar algum tipo de punição.
Um caso bastante conhecido aconteceu com o jogador Ronaldo no jogo em
que o Corinthians enfrentava o Botafogo. O lance se passa no instante em que uma
bola é alçada na área. Ronaldo, tentando se desvencilhar da marcação do jogador
Fahel, acaba puxando o cabelo do adversário. Durante a partida, o fato passou
despercebido pelo árbitro Carlos Eugênio Simon, mas, logo após o ocorrido, o STJD
convocou o jogador do Cortinhians e o suspendeu por uma partida.
A percepção de que as lentes das câmeras podem captar aquilo que os olhos
não veem tem feito com que, durante a transmissão, os equipamentos fotográficos
e de filmagem foquem cada vez mais nos jogadores conhecidos do público e que,
por algum motivo, tenham fama de problemáticos. “Hoje em dia, o STJD está muito
rigoroso com todos os atletas. Tanto com os que têm passado negro como os que
não têm fama de se comportarem mal em campo”, afirma o jogador Diego Panázio.
Já o atleta Daniel de Almeida tem uma opinião um pouco diferente do colega de
profissão. “Acho que os árbitros e as câmeras ficam mais atentos quando esses
jogadores com fama de brigões estão em campo”.
Muitas pessoas ainda são céticas quanto ao uso da tecnologia nos esportes.
Mas, diante dos sucessivos progressos que têm sido feitos, até quando irá essa
resistência? Afinal, ela está se desenvolvendo para proporcionar um maior conforto
para todos que a usufruem.
Montagem: Marcel pesah
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16 V+ tECNOLOGIA
ELES NãO SE RENDEM à tECNOLOGIA Juliana Moreira Alchorne
Para a maioria das pessoas, entrar numa loja de aparelhos eletrônicos e
não desejar ter um é quase impossível. Mesmo com um mercado de variedades
e avanços tecnológicos cada vez mais sofisticados, porém, existe quem ainda
esteja preso aos costumes do passado e, por incrível que pareça, relute em
utilizar celular, computador, internet, máquinas digitais, MP3 e outras
modernidades. Em tempos de comunicação rápida e acessível, esse grupo é
minoria diante de uma sociedade que usa a tecnologia como um recurso vital
no seu dia-a-dia.
A capacidade de reinvenção e aperfeiçoamento da tecnologia está
cada vez mais rápida. Muitas empresas, atentas a isso, atendem aos desejos
dos consumidores, disponibilizando ferramentas que satisfazem a maioria
das suas necessidades. Mas por terem sido criados sem o auxílio dessas
modernidades, muitos adultos acabaram se adaptando a viver com os
hábitos do passado, como é caso do aposentado Roberto Rodrigues, que não
troca por nada sua máquina fotográfica antiga por uma nova digital. “Na
minha família as fotos sempre foram tiradas com máquinas que usam rolo
de filme. Acho que desse jeito é bem melhor, já que as máquinas digitais
dependem de um computador para descarregar as fotos e de um Cd ou um
pen drive para gravá-las e, após isto, serem enviadas a um laboratório para
revelação”. Como gosta de ter suas fotos para mostrar aos amigos, Roberto
não dispensa sua boa e velha companheira.
Essa resistência na utilização dos eletrônicos não se restringe apenas
às pessoas mais velhas. Muitos jovens, mesmo tendo mais facilidade de
aprendizagem e contato com os aparelhos eletrônicos desde criança, também
não se renderam a eles. O estudante de química da Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (Uerj), André Machado diz que de todos os seus conhecidos é o
único que ainda não tem um aparelho de MP3. “Todos os meus amigos dizem
que eu sou antigo porque não tenho um aparelho deste. Não vejo necessidade
de ter um. Além do mais, estou em atividade na faculdade e no trabalho o dia
todo, não tenho nem tempo de ficar ouvindo música”. Ao contrário de muitos
da sua idade, André não se importa em não pertencer à classe hi tech de sua
faixa etária.
A massificação do uso das novas tecnologias no cotidiano é fruto da
dependência que o ser humano desenvolveu. A psicóloga Patrícia da Rocha
explica um dos comportamentos que levam à não interação com a tecnologia.
“O indivíduo que não tem uma grande necessidade de comunicação pode
não ser influenciado, pois entende que esses instrumentos são induzidos
pela sociedade, ou seja, foram criados e adaptados para serem desejados,
mesmo que as pessoas não estejam precisando deles”. A conquista de cada vez
mais espaço pelas máquinas tem como principal combustível exatamente a
dependência que o homem passou a ter delas. Aparatos que, a princípio eram
insignificantes, já que as pessoas antigamente faziam todas as atividades sem
seu auxílio, se tornaram, para muitas delas, indispensáveis.
Uma das grandes invenções tecnológicas que se tornou fundamental
para muita gente é o aparelho celular. Mas, para Lúcia Andrade, isso nunca
foi importante, já que ela nunca quis ter um, pois acha que não se adaptaria a
ele. “Meu filho Sérgio já me deu de presente dois celulares em duas ocasiões
diferentes. O primeiro ficou guardado na minha gaveta por muito tempo e
nunca foi utilizado. A bateria descarregou de vez e não prestou mais para uso.
Também não me adaptei ao outro e acabei doando para minha neta”.
Lúcia resiste a fazer parte das estatísticas da União Internacional de
Telecomunicações (UTI), que apontam que quatro bilhões de pessoas no
mundo usam celular. Por ter variados programas e aplicativos interativos,
o celular é muito usado pelos jovens. O estudante de Educação Física da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rafael Lima diz que integra este
grupo. “Não tenho um aparelho celular porque serviria mais para as pessoas
falarem comigo do que eu com elas. Então, já que só vai servir para ficarem me
controlando e perturbando, prefiro viver livre disso. Se for muito importante, é
só ligarem para o telefone da minha casa”.
A resistência à tecnologia também passa pelas redes sociais. O site de
relacionamento Orkut, que surgiu em 2004, já alcança mais de 25 milhões
de pessoas cadastradas em todo mundo. O MSN, programa de mensagens
instantâneas on line, nasceu em 1994 e tem mais de 263 milhões de usuários
no globo. Mas, apesar dos altos números, ainda se encontra quem não use
e não goste deles. O engenheiro Jorge de Avellar nunca se interessou em
possuir um perfil do Orkut ou uma conta no MSN. “Trabalho com computador
o dia todo e, quando chego em casa, prefiro fazer outras atividades. Não sou
de muitas palavras para ficar mandando recados no Orkut, e também não
gosto que as pessoas saibam da minha vida. Já no caso do MSN, acho a
conversa on line muito fria”.
Jorge não está só, mas especialistas acreditam que aqueles que – por qualquer
razão - resistem à tecnologia, talvez tenham que rever seus conceitos em pouco
tempo. A professora de Novas Tecnologias da Universidade Veiga de Almeida,
Alda Maria de Almeida, diz que a internet é hoje uma ferramenta imprescindível e
que não se pode deixar de usá-la, já que, no futuro, tudo estará interligado e será
feito por meio dela. “Até a casa das pessoas será controlada por um computador
conectado em rede, e funções como ajustar a temperatura ambiente, ligar as
luzes e os eletroeletrônicos e até controlar o estoque de alimentos dependerá da
internet”. Manter antigos hábitos tem, de fato, um charme saudista, mas rejeitar
completamente o que a tecnologia oferece é negar uma parte importante da
realidade. Pode valer a pena tentar uma conciliação.
Por já trabalhar com o computador, Jorge prefre ficar longe dele nos horários de lazer
Foto: Juliana alchorne
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17V+ tECNOLOGIA
EM CENARômulo Simões
As cadeiras do teatro estão lotadas e a expectativa pela abertura das
cortinas é nítida em todos. Existe um boato de que a peça é o maior sucesso do
ano, porém não se sabe o motivo. O terceiro sinal toca e o silêncio é imediato.
O cenário é composto apenas por um telão, revelando um ator num ambiente
completamente diferente. Um segundo personagem entra em cena e interage
com o outro no telão. O que antes parecia um filme gravado, na verdade, é uma
vídeo conferência entre ambos. A medida que o espetáculo se desenvolve, a
plateia é surpreendida por uma nova forma de interação teatral.
Nos últimos 20 anos, o uso da tecnologia aumentou de forma acelerada e
os produtores estão sempre buscando novas possibilidades para diferenciar e
autenticar o trabalho. Em 1984, o primeiro show com o exclusivo propósito de
mostrar tecnologia no roteiro foi no teatro Apollo Victoria, em Londres, com a
estreia do musical “Star Light Express”. O teatro se tornou algo tão complexo que,
como uma engrenagem, os elementos técnicos estavam escritos no roteiro junto
com a fala dos atores, e eram importantíssimos para o sucesso da produção.
Mas de que forma começou essa evolução? No passado, o teatro romano
herdou da Marinha a primeira tecnologia no mundo teatral. Além do velarium
(lustre com dezenas de velas que cobria o público) o siparium era uma
cortina da boca de cena que, em vez de subir no início do espetáculo, descia,
revelando primeiro a cabeça dos atores, indo até abaixo do piso do palco. No
fim do espetáculo, a cortina subia, fazendo desaparecer o ator dos pés para a
cabeça. Este siparium era sustentado por dois mastros laterais à boca de cena.
Era uma vela marítima, acionada por uma manobra de navio.
Mas o uso da tecnologia vai muito além de surpreender o público com a
revelação dos personagens e do elenco. Com o tamanho e a complexidade das
produções, veio a necessidade de se coordenar todas as atividades no palco
de forma mais sistemática. O “Stage Manager” já dominava esta função há
mais tempo, porém seu trabalho, através dos anos, se tornou fundamental
naquilo que ficou chamado de tecnologia de gerenciamento. Este é o principal
elemento no meio da hierarquia no gerenciamento da produção, que afeta
a comunicação central, seja qual for o tamanho. Ele tem a responsabilidade
de manter artística e tecnicamente a integridade e a qualidade do produto
do começo ao fim. Comparativamente, o trabalho dele seria o de organizar,
coordenar e dirigir a produção, como um “Maestro” que dirige a orquestra.
David Bosboom, diretor de produção, diretor técnico, diretor de
iluminação, designer e consultor de projetos, tem 23 anos de experiência em
espetáculos de teatro na Broadway, além de programas de canais de televisão
aberto e a cabo. Especialista em turnês de circuito nacional e internacional,
ele comenta o uso das inovações: “A indústria do entretenimento é cheia de
novas e exóticas tecnologias, que mudam rápido demais. Existem centenas
de equipamentos para iluminação, mas todas seriam mesmo úteis sempre?
Tecnologia sem propósito é apenas um brinquedo nas mãos de quem usa”.
a emoção da plateia do abrir das cortinas até o momento final. Em grandes
shows e bandas de rock, existe algo dinâmico em se usar a tecnologia de
Moving Lights, além de mais opções de cores e projetores de luz, agilidade no
movimento sincronizado com a música.
Já em peças teatrais, essa utilização pode vir a ser uma distração. Assim,
o lighting designer deve fazer um esforço consciente ao criar sua iluminação,
correspondendo à dinâmica da apresentação como um todo. A tecnologia
não está representada apenas por parafernálias modernas, mas também pela
intenção de pessoas e suas técnicas. Tudo isso criado com o propósito de agregar
valores artísticos e técnicos. A valorização do trabalho do lighting designer
surge a partir desse mesmo respeito. Conceitualmente, toda a produção técnica
e artística caminha com o mesmo objetivo: encantar com uma boa história.
Um recurso que também está inovando o mundo teatral é o AirScript, um
acessório que permite traduzir para oito línguas, em tempo real, diálogos de
qualquer espetáculo. Com esta nova tecnologia, os teatros esperam receber
mais turistas estrangeiros, bem como espectadores surdos. Ele emite legendas
em diversas línguas, o Português ainda não. No decorrer da peça, o aparelho
vai legendando os diálogos. Utilizando a tecnologia Wi-Fi, o teatro londrino de
Shaftesbury é o primeiro a oferecer esta facilidade.
Com tantas inovações tecnológicas no segmento teatral, o Brasil estaria pronto
para acompanhar e entender essas novas ferramentas? Pois em São Paulo foi
criado o Instituto Brasileiro de Tecnologia Teatral (IBTT), que organiza fóruns para
os interessados em discutir pontos relevantes do setor. Várias pessoas, de inúmeros
estados brasileiros, que atuam nas atividades cênicas,já se reuniram e, em quatro
meses, foi montado um grande acervo de revistas, livros, teses acadêmicas,
manuais de aparelhos, programas de teatro, apostilas e um respeitável banco de
imagens. O diretor do Instituto, Jamil Dias informa: “Tudo isso é para que possamos
contribuir para a elaboração de um pensamento nacional sobre o tema”.
Diversos diretores e produtores se rendem às novas ferramentas e formas
de linguagem possibilitadas pelas novas mídias e por modernos aparatos
tecnológicos. O diretor de teatro e ator, Bemvindo Sequeira, comenta a
evolução: “O teatro é um espelho da sociedade. Se hoje existem tantas
novidades em cena é porque elas fazem parte do cotidiano das pessoas”. O
mundo está sempre mudando e no teatro não seria diferente. E a prova são as
novidades em diversos segmentos dos espetáculos. Iluminação, projetores e
sonorização dos espetáculos não substituem o talento dos atores ou o enredo
das histórias, mas ajudam e impressionam bastante.
o teatro é um espelho da sociedade. se hoje existem tantas novidades em cena é porque elas fazem parte do cotidiano das
pessoas
Benvindo cerqueira
Milton Bonfante, experiente iluminador paulista, concorda e acrescenta:
“Para um bom resultado artístico, o equipamento considerado top de linha
pode existir, mas não é indispensável. Fundamentais são a sensibilidade e
a criatividade dos artistas, os lightings designers”. O controle da luz afeta
Foto: rômulo simões
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18 V+ tECNOLOGIA
Mestre Odilon acredita que a correira mata a bateria
EXAME DE SAMbAos eFeitos colaterais da tecnologia do MetrÔnoMo na saÚde do carnaval cariocaRafael Menezes
Quem escuta um samba-enredo da década de 1980 e compara com uma
gravação dos dias de hoje percebe nitidamente a tendência que as baterias
adotaram de acelerar o andamento. O batuque carioca se rendeu à cultura da
velocidade. Assim como o homem moderno, o samba não pode parar. O chamado
“coração da escola” está pulsando mais rápido e, por isso, vem despertando
a atenção dos mestres de bateria, que assumiram o papel de enfermeiros do
carnaval. Eles precisam controlar a cadência deste ritmo nacional antes que
ele se torne hipertenso. Esse efeito calmante é função do metrônomo, um item
da tecnologia que se incorporou à tradição sambista. O resultado do check-up
feito por esse equipamento é cada vez mais necessário para evitar sustos na
Marquês de Sapucaí. Mas alguns acreditam que o dispositivo inibe a emoção dos
instrumentos. Por isso, já começam a demonstrar traços de irritabilidade. E, para
agravar esses sintomas, há evidências de que a mídia também anda fazendo um
diagnóstico da percussão. Este é o sinal de que a polêmica chegou à bateria.
Usar ou não usar o metrônomo? Eis a questão. Este aparelho eletrônico
que regula o desempenho dos surdos de marcação e resposta, registrando o
número de batidas por minuto, tem conquistado espaço nas discussões da mídia
especializada em carnaval. Avaliando as opiniões de sambistas nas matérias
publicadas, nota-se que eles demonstram a impressão de que tecnologia e
emoção são antônimos convictos. Ao incorporar uma inovação tecnológica ao
meio de trabalho, alguns mestres de bateria, principalmente os mais jovens, se
sentem seguros para reger suas respectivas orquestras de percussão. Já alguns
veteranos acreditam que o uso do aparelho retira a essência do samba, a
emoção propriamente dita. Embora os ouvidos ainda sejam ferramentas para
regular o andamento da bateria, é inegável a dimensão que uso do metrônomo
ganhou nos últimos desfiles, principalmente do Grupo Especial.
O caso de maior repercussão ocorreu em 2008, durante a apresentação da
escola Imperatriz Leopoldinense. O comentarista da TV Globo Dudu Nobre, que
é cantor e compositor, além de ter sido ritmista da Mocidade Independente de
Padre Miguel, percebeu alterações na bateria da verde e branca de Ramos a partir
de dados fornecidos pelo metrônomo. O aparelho que Dudu tinha em mãos
registrava um ritmo acelerado, o que gerou preocupação durante a transmissão
do desfile. Mas o resultado dos envelopes abertos na Quarta-feira de Cinzas pôs
a precisão do instrumento em xeque. A Imperatriz gabaritou o quesito bateria.
Foram quatro notas dez incontestáveis. Para completar, Mestre Marcone, na
época com 27 anos (o mais novo dos mestres) ganhou o Oscar do carnaval:
faturou o prêmio Estandarte de Ouro concedido pelo jornal O Globo na categoria
revelação do ano. “No momento em que subi ao palco do Canecão, passou um
filme na minha cabeça. Lembrei da minha infância como ritmista”.
Tais memórias se devem ao fato de que, após o desfile da Imperatriz,
numa madrugada de terça, Marcone ficou apreensivo com a repercussão que o
comentário de Dudu Nobre teve, principalmente no bairro onde nasceu, cresceu
e se tornou ritmista: Ramos. “Foram os dois piores dias da minha vida. Estive em
depressão”. Ele diz ainda que sentiu um olhar de desconfiança da comunidade,
já que encarou dois desafios: comandar a bateria e substituir Mestre Jorjão, o
criador da batida funk, que, até então, liderava os músicos da escola, porém,
sem alcançar as notas dez. Além dessas missões, outro item relevante foi o
fato de que muitas pessoas analisaram sua performance à frente da “Swing
da Leopoldina” apenas pelo que foi narrado pelo comentarista da TV Globo. O
mal estar causado pela crítica só foi minimizado no momento da abertura dos
envelopes, na Quarta-feira de Cinzas. Marcone ganhou ainda o troféu Estrela
do Carnaval, concedido pelo portal SRZD Carnavalesco. Parte deste sucesso foi
conseguida graças à autonomia que a escola, mais especificamente o diretor
de carnaval Wagner Araújo, garantiu ao mestre. “Eu me sinto bem à vontade
para desenvolver o trabalho com o Wagner”.
Além do apoio de toda a equipe da escola, Marcone destaca um fator
principal: “A disciplina da bateria é o ponto principal do trabalho”. Esta qualidade MestreÁtiladeolhonometrônomo:paraosambanãodesandar
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é conquistada por meio de ensaios que exigem concentração e trabalham a
criatividade da orquestra de percussão da Leopoldina. Para o mestre, os treinos
ajudam a aumentar o grau de dificuldade dos arranjos musicais e mexem
com a mentalidade musical do ritmista. Ele comenta ainda sobre a percepção
instrumental que passou a ter ao começar a ensaiar os naipes (instrumentos)
separadamente nos fins de semana. “Consigo dar uma atenção maior para o
ritmista, fazer melhores correções e passar a ideia para cada um, consigo passar
a mensagem”. Esta lição começou a ficar implícita na vida de Marcone desde a
época em que desfilava na bateria mirim da escola, em 1992. Devido ao seu
desempenho no repique, que foi avaliado individualmente, no mesmo ano foi
“promovido” à bateria dos adultos. Com isso, a jovialidade ganhava espaço na
bateria da Imperatriz, fato que ocorre até os dias de hoje.
bem escondidas, a bateria da escola de Niterói era comandada na época por
mestre Ciça, um profissional do samba que já declarou não usar e não gostar
do aparelho. Cria da Estácio de Sá e com dez anos dedicados à Vermelha e
Branca de Niterói, ele nunca ganhou um Estandarte de Ouro, fato que até
hoje é questionado pelo mundo do samba. Ciça é considerado por muitos
especialistas da folia um ícone da criatividade. Nesse mesmo ano, buscou na
essência do enredo a novidade que iria mostrar ao público. A partir do “Vira
Bahia – Pura energia” surgiu a ideia de levar para a avenida atabaques, que
eram as bases das paradinhas da escola, ou seja, o cuidado nos ensaios eram
dobrados. Conhecido por não ter medo de arriscar, Ciça tem a seu lado os
números, que comprovam que a segurança vem com a experiência.
Este desempenho foi um atrativo a mais para Antoinette Kuijlaars, formada
pelo Institut d’Estudes Politiques de Strasbourg, Mestre em Ciências Sociais do
Político pelo mesmo instituto e Mestre em Sociologia e Direito pela Universidade
Federal Fluminense. Desde 2005, a francesa realiza pesquisas sobre as baterias de
escola de samba do Rio. Antoinette já visitou a Porto da Pedra, a Acadêmicos do
Cubango e a Mocidade Independente de Padre Miguel. Desfilou nas baterias da
Tijuca e da Viradouro. Com sua experiência nas quadras, ela conclui que os mestres
de bateria são músicos autodidatas que, pouco a pouco, foram se graduando. Em
relação a Mestre Ciça, a socióloga revela suas impressões: “Ele não é nada clássico
em relação ao aprendizado, ele tem um estilo corrido”. Com a saída de Ciça da
O metrônomo controla as emoções como o coração, segundo mestre Marcone
há uma resistência dos ritmistas à cultura rítmica de um novo mestre. os
que têm mais experiência preferem um andamento tranquilo, primando pela
qualidade sonora
antoinette Kuijlaars
O atual rejuvenescimento dos ritmistas se deve ao interesse que as
escolas de samba passaram a despertar nos jovens, seja estimulando as
pessoas da própria comunidade ou pela popularização das oficinas de
percussão promovidas pelos mestres tanto para os brasileiros quanto
para os estrangeiros. Marcone destaca que a presença dos mais novos traz
benefícios ao mundo do samba. “Os jovens têm um sangue novo, energia
nova e um bom preparo físico. Na bateria da Imperatriz, 70% são jovens”.
Esta renovação foi providencial para estabelecer um equilíbrio na bateria da
escola de Ramos, já que várias gerações conseguem conviver em harmonia e
contribuir da melhor forma para o bom desempenho da agremiação durante
todas as apresentações. Ainda assim, Marcone faz uma ressalva: “É difícil
tocar no mesmo compasso durante 80 minutos”. Por essa razão, ele é contra
o uso do metrônomo e justifica dizendo que é preciso respeitar o andamento
de cada bateria. Criado no samba, com a mãe desfilando pela comunidade, o
pai como ritmista e a avó como baiana, o jovem mestre revela o que o conduz
para acertar o andamento do ritmo. “O meu metrônomo é o coração, é o
ouvido. Não desmereço a tecnologia, mas o samba com esse equipamento
fica mecanizado e, com isso, não sentimos a essência”.
Será que essa foi uma das razões pelas quais, em 2009, o metrônomo
sofreu mais um revés? Das doze baterias que passaram pela Marquês de
Sapucaí, a única que conseguiu as quatro notas máximas foi a da Unidos
do Viradouro. Famosa pelas paradinhas, coreografias e surpresas muito
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Viradouro, Antoinette evidencia um fator que dificulta o trabalho dos mestres
de bateria ao entrarem numa nova escola. “Há uma resistência dos ritmistas à
cultura rítmica de um novo mestre. Os que têm mais experiência preferem um
andamento tranquilo, primando pela qualidade sonora”.
Comestepensamento,oveteranoÁtilafoiumdosprimeirosmúsicosausar
o metrônomo. Ele foi apresentado ao equipamento pelo diretor de som da Rede
Globo Jorge André em 2004. Neste ano, o Império Serrano reeditou um samba
antigo, o clássico de 1964 Aquarela Brasileira, de Silas de Oliveira. Na época de
sua primeira apresentação, este exemplar musical era embalado por uma bateria
que nem de longe se assemelha a dos dias atuais. A cadência era mais lenta. Por
isso, foi necessário fazer um trabalho de adaptação para os tempos modernos
dasorquestrasdepercussão aceleradas.MestreÁtila frequentouaté aulasno
Conservatório de Música. Como resultado, os ritmistas da escola garantiram duas
notas 10 e dois 9,9, que, segundo a justificativa dos jurados, se deveram à pouca
criatividade apresentada. Ou seja, não houve problemas de oscilação rítmica. E,
embalados por uma das trilhas sonoras de enredo mais memoráveis do carnaval,
ele e sua turma comemoraram a conquista do prêmio concedido pelo jornal O
Globo, o tão cobiçado Estandarte de Ouro.
Este foi o primeiro grande resultado após a adesão tecnológica feita por
MestreÁtila.EstemúsicoécriadoImpérioSerrano,escolaemquefoimestre
de bateria durante 12 anos. É ritmista há 28. Nos fóruns de carnaval das redes
sociais on line, há quem o chame de “Rei do metrônomo”, atribuindo um
sentido pejorativo ao termo. Mas sua majestade contraria esta interpretação
negativa.ÁtilaganhouoEstandartedeOuroem2007eem2009,alémdeter
conquistado a nota máxima no quesito quando escola da Serrinha desfilou
no Grupo de Acesso em 2008. Mesmo na “categoria de base” do carnaval, a
tecnologia não foi dispensada. Em relação à resistência de alguns mestres ao
uso do aparelho, ele ressalta que isto ocorre apenas com os mais veteranos.
“Os mestres mais antigos são mais saudosistas. Outros, como o Marcone,
Marcão, Thiago Diogo e Jonas, já usam o metrônomo há algum tempo”.
No período em que comandou os ritmistas do Império Serrano, pode
perceber que a regularidade do andamento é produtiva para a evolução
da escola. Apesar da ideia de controle a que ometrônomo remete, Átila
é craque em executar paradinhas longas e ter precisão na retomada das
bossas. Em 2009, realizou aquilo que no jargão musical do carnaval é
chamado de convenção, uma “paradona” de 40 segundos de duração (que
não é necessariamente o cessar dos instrumentos, mas, sim, uma série
de desenhos rítmicos apoiados na melodia do samba enredo). Durante
os ensaios daVila Isabel para o carnaval 2010, Átila treinou os ritmistas
para que executassem convenções com mais de um minuto de duração,
idealizadas especialmente para as apresentações para o público do setor 1,
considerado o termômetro do desfile. As performances variavam de 30 a 55
segundos. Tamanha ousadia pode ser percebida logo no primeiro contato
comÁtila.“Esperasóumpouquinho,precisocomeçaroensaiologo.Estou
com uma bossa na cabeça e, se eu não fizer agora, posso esquecer”.
Memórias à parte, algo que está no “coração da escola” é seu traço
característico: o batuque que não se confunde com o de nenhuma outra
Antoinette Kuijlaars: “É preciso investigar quem faz a polêmica do metrônomo”
agremiação. Considerando esta identidade sonora, Átila reconhece que
comandar outra bateria é um desafio. “Fazemos um trabalho novo de criação.
Outra bateria significa outra cultura rítmica. Durante os ensaios, a gente faz
o trabalho de lapidação dos instrumentos”. Tido como padrinho por Átila,
Mestre Odilon, comandante da bateria da Acadêmicos do Grande Rio durante
11 anos, com quatro décadas dedicadas ao ofício da percussão e passagens
pela União da Ilha (sua escola de coração), Salgueiro e Beija-Flor, afirma que
prima pela qualidade do som. “Gosto de equalizar minha bateria para mostrar
que o tempero é bom. Por isso, a colocação dos instrumentos é primordial”.
Apelidado por Ciça como o “Pelé da bateria”, Odilon acredita que a atual correria
dos instrumentos está “matando a bateria e retirando a harmonia do ritmo”.
Mesmo observando esta tendência, Odilon permanece saudosista. “A moda
é o jeans e eu sou o tergal”. O mestre afirma preferir um andamento mais leve
e cadenciado e explica que o termo cadência não diz respeito apenas ao ritmo,
mas representa um som agradável de ouvir, aquele que não soa estridente aos
ouvidos. Revela ainda que o metrônomo é bom apenas para as gravações em
estúdio, pois garante a qualidade na produção musical. Como na Avenida, a
“correria” dos instrumentos é grande, o mestre revela que a tendência das baterias
em “bater” mais rápido é justificada com o número grande de componentes que
a escola leva para a avenida. Mas ele contradiz essa afirmativa: “Em vez de passar
com cinco mil pessoas correndo, prefiro passar com três mil brincando”. Para que
isso aconteça, é preciso que o comandante dos músicos esteja com os ouvidos
livres e possa exercitar seu metrônomo natural.
Já que a polêmica em torno do aparelho começou na mídia, é hora de
avaliar o papel dos veículos de comunicação quanto à abrangência deste
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DIREItO DE PARtICIPAR tecnologia possiBilita inclusão e Melhoria de vida a portadores de necessidades especiais Daniel Geovani
Certamente, a maioria das pessoas já viveu a emoção de experimentar
algo pela primeira vez. Conquistar um objetivo que tanto queria, ver seu
time de coração campeão e até mesmo o primeiro beijo. São ocasiões bem
diferentes, mas a emoção é a mesma. É isso o que acontece com portadores
de necessidades especiais que conseguem, graças aos avanços tecnológicos,
realizar algo que parecia impossível. Foi assim com o auxiliar de serviços
gerais Marcos Vinícius que só agora conseguiu seu aparelho auditivo. “Foi
emocionante poder escutar o vento, o barulho do mar pela primeira vez”,
cona Marcos, que é fã de praia. “O aparelho é caro, só consegui agora porque
a clínica doou”, completa.
Esse é um dos maiores problemas que os portadores de necessidades
especiais ainda enfrentam. Muitos aparelhos e aparatos tecnológicos disponíveis
ainda têm um custo muito elevado. No caso dos deficientes auditivos – eu
somam mais de quatro milhões de pessoas em todo Brasil.- não é diferente.
As próteses não são nada baratas e muitos não têm acesso a eles. Mas isso
vem mudando aos poucos. “Atualmente contamos com a Política Nacional
de Atenção a Saúde Auditiva, com pólos de alta complexidade (APAC), com
avaliação e diagnóstico da deficiência, doações de próteses auditivas digitais
e reabilitação de deficientes auditivos”, conta a professora e fonoaudióloga da
Clínica Universitária Henry Dunant, no Rio Comprido, Débora Lüders,
Ela explica que a tecnologia trouxe inúmeros benefícios para os deficientes
auditivos. Com os avanços nesta área, é possível contar com aparelhos digitais
modernos, cada vez mais personalizados, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida das pessoas com perda de audição. Hoje, acrescenta, as
próteses auditivas são programadas por meio do computador, utilizando
softwares específicos, que permitem adequar as características de amplificação de
acordo com a perda de audição, as queixas apresentadas e os diversos ambientes
frequentados pelo deficiente auditivo. Existe mais qualidade e conforto. “Por
exemplo, o indivíduo está num ambiente silencioso e passa para um ambiente
ruidoso, ou atende ao telefone. Automaticamente, o aparelho reconhece a
mudança e altera o programa, ou seja, as características de amplificação sonora”.
Segundo Débora, atualmente, as próteses auditivas são realmente bem
menores e com um design muito mais atrativo, incluindo várias possibilidades
de cores também. “A tendência é continuar assim, incorporando ainda detalhes
práticos como próteses à prova d’água, recarregáveis, mais resistentes a
quedas, entre outras vantagens e adaptações. O maior ganho, sem dúvida, foi
na qualidade sonora”, diz.
Os anos de evolução tecnológica na área da audição, por exemplo, tornaram
possível que uma pessoa que tenha grau de perda severa possa escutar novamente.
Aproximadamente 10% das perdas auditivas podem ser ajudadas clinicamente.
Graças aos numerosos avanços tecnológicos atuais, é possível ajudar a quase
totalidade dos 90% restantes com a utilização de aparelhos auditivos. É evidente
que a tecnologia mudou a vida não só dos deficientes auditivos, mas de muitos
que se sentiam excluídos por outras necessidades especiais. Um ganho para a
sociedade e uma importante conquista da tecnologia.
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tema. Colunista do site Galeria do Samba e formado pela Universidade Federal
Fluminense, o jornalista Fábio Fabato afirma que o metrônomo é utilizado pelos
veículos informativos de forma errônea. “A mídia está usando a mesma régua para
as baterias e assim não está respeitando as culturas sonoras distintas”. Segundo
ele, o metrônomo está criando uma classe de comentaristas “pitaqueiros” que,
às vezes, nem ouvem a bateria, mas moldam suas opiniões a partir dos dados
numéricos fornecidos pelo aparelho. “Sou a favor da tecnologia bem incorporada,
sem tirar a essência do samba. Não sou contra o metrônomo, mas, sim, contra a
forma como ele é utilizado pelos analistas”. Para Fábio, é preciso dar valor ao DNA
das baterias e, assim, não padronizá-las, o que não seria benéfico para o mundo
do samba. “Acredito que o carnaval ainda é arte, é emoção”.
Para preservar essas sensações, é dever da mídia especializada trabalhar
para que os profissionais dessa área tenham um verdadeiro conhecimento da
essência do carnaval carioca. A partir disso, o jornalismo pode conscientizar
o público sobre o passado, o presente e antever as perspectivas do assunto
sem, de forma alguma, caminhar para o senso comum e estereotipar ou
reproduzir pensamentos Além disso, esta atitude promoveria um resgate
da história das agremiações e representaria um estímulo para a criação de
novos parâmetros para o carnaval, instigando a criatividade e desafiando
os “caras” da folia a elevarem seu potencial artístico ao máximo. Este é o
resultado do laudo emitido ao longo das histórias desta reportagem. Como
dicas de prevenção de novas polêmicas, os “enfermeiros” recomendam que
os ritmistas pratiquem exercícios frequentemente e que os profissionais de
comunicação não deixem de fazer o Raio-X das variáveis do batuque. Mas
nada de estresse e calmantes, pois o samba não pode parar.
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tECNOLOGIA GARANtE EStAbILIDADE PARA AtLEtASlesão hoJe não é Mais sinÔniMo de FiM de carreiraNathalya Araújo
Até alguns anos atrás, a notícia de uma lesão ocorrida com um atleta
poderia significar o fim de uma carreira. Mas os avanços tecnológicos na
área da reabilitação esportiva mudaram radicalmente este diagnóstico.
Atualmente, novas tecnologias na fisioterapia esportiva tornaram possível
não só recuperar ossos, músculos e articulações, mas se passaram a ser
fundamentais para o processo de reabilitação ser mais rápido. Afinal, o
atleta precisa voltar ao trabalho rapidamente. Novos aparelhos e exercícios
desenvolvidos para cada lesão são testados nos pacientes que perderam
total ou parcialmente seus movimentos ou querem prevenir dores. A
tecnologia promove um crescimento cientifico exponencial nesta área.
O fisioterapeuta dispõe de mais base no seu campo profissional, ou seja,
houve uma reconstrução do seu intelecto, e ele hoje pode ser considerado
um cientista.
A fisioterapia no esporte cresce, principalmente, por meio do estudo
da biomecânica do corpo humano. Em função do estudo da mecânica do
movimento, a abordagem pode ser mais rápida, quase imediata, o que se
tornou fundamental para uma recuperação acelerada, já que, atualmente,
o tempo ideal é de quatro meses e antes de seis a oito meses. As técnicas
já conhecidas se juntam a novos métodos e equipamentos mais modernos.
A Crochetagem, por exemplo, conhecida como técnica do gancho, trabalha
a musculatura, evita e elimina aderências e fibroses. A Corrente Russa,
utilizada na estética, passou a ser empregada com mais frequência no
esporte devido a sua capacidade de auxiliar o trabalho muscular e acelerar
o processo de recuperação.
Nos últimos dez anos, o aparelho isocinético tornou-se um grande
aliado na reabilitação. Por meio dele, é possível quantificar valores absolutos
de torque, trabalho e potência de grupos musculares, que são os de atuação.
O estudo e surgimento das novas tecnologias na área foram importantes
para proporcionar um trabalho mais preciso na reabilitação de atletas como
Diego Panazio, Bernardo Borges e Aline Gonçalves. Esses jovens receberam
um cartão amarelo em suas profissões e, após a fisioterapia, podem voltar a
marcar lindos gols, saques e cortadas.
é localizada no centro dos joelhos, e tem como função a contenção da
translação anterior da tíbia em relação ao fêmur.
A partir dos exames, foi feita uma artroscopia, ou seja, a reconstrução
do LCA. Ela examina e repara tecidos internos da articulação, com o auxílio
de um transmissor de imagem especial, o artroscópio, utilizando o tendão
semi tendinoso, como o novo ligamento do joelho. Este é um dos processos
ortopédicos mais comuns na atualidade. A cirurgia levou cerca de duas horas
e foi realizada no Hospital das Clínicas, em Niterói.
O atleta passou a noite no hospital, após a cirurgia, e no dia seguinte
recebeu alta. Ele permaneceu em repouso por uma semana com o auxílio
de duas muletas, sem sair de casa. Esse tempo é determinado pela equipe
médica. “Todos sabem que a reabilitação deve ter início o mais rápido
possível, para evitar perda de tempo, pois se trata de um atleta, e para
evitar complicações da própria cirurgia”, afirma o fisioterapeuta. “Meu pós
cirúrgico foi o pior momento. Após muito tempo deitado, tive queda de
pressão e fiquei tonto. Tirando esse dia, o resto foi tranquilo”, diz Diego.
A evolução do atleta foi rápida, pois ele voltou a jogar antes do previsto,
com cinco meses. Esta recuperação se deu pela fisioterapia. Durante quatro
meses, foi desenvolvido um trabalho com exercícios para ganhar novamente
o arco de movimento. Segundo o fisioterapeuta, este procedimento foi
adequado, pois é fundamental para fase inicial, principalmente por se tratar
de extensão no joelho. A fase de fortalecimento deve ser realizada antes da
cirurgia, para evitar grandes perdas de massa muscular, é importante e tem
de ser focada durante a reabilitação.
Além disso, também foi feito um trabalho na água. Ele se torna um aliado
em todas as etapas (arco de movimento, fortalecimento e propriocepção).
O jogador de futsal Diego Panazio, de 24 anos, começou a jogar aos 9 no
Grajaú Tênis Clube, na categoria pré-mirim. Com o passar do tempo, atuou
em diversos times, entre eles, o Flamengo, desde 1997. O atleta passou por
todas as categorias até chegar à equipe principal, na qual joga hoje. Após
ficar dois anos seguidos no clube, no início de 2009, foi para o Vasco da
Gama, e em meados de agosto voltou para o Flamengo.
Diego se machucou em um treino, uma semana antes de começar
a Liga de Futsal, o melhor campeonato do esporte no país, no dia 25
de março de 2009. “Me lesionei sozinho. Fiz um movimento em falso
e caí em quadra com muita dor”, afirma ele. E teve a lesão conhecida
como rompimento de LCA (ligamento cruzado anterior). Segundo o
fisioterapeuta Felipe Rodrigues, que trabalha com lesão esportiva, ela
hoje em dia não sinto mais dor. apenas um leve incômodo em dias frios
diego panazio
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O atleta hoje mantém o fortalecimento dos membros inferiores e tem a
consciência de que deverá continuar este trabalho para o resto de sua vida
profissional. “Hoje em dia não sinto mais dor. Apenas um leve incômodo em
dias frios. Parece que o joelho fica travado”, completa o jogador. Segundo a
fisioterapeuta Evelin Albuquerque, esta sensação de Diego ocorre porque o
frio traz menos nutrientes para a articulação, e faz ela ficar mais enrijecida,
por causa do processo de vasoconstricção, que é o fechamento dos vasos. “O
ideal é botar uma bolsa de água quente no local”, afirma ela.
comprometidas que constituiu no controle do processo inflamatório,
fortalecimento de grupamentos musculares paralelos e do próprio, na
liberação da musculatura, em exercícios de alongamento. Tudo isso, com
repouso. A segunda etapa, o atleta retornou as atividades dinâmicas de
forma gradativa, que exigiu de todos os grupamentos musculares. Este
trabalho foi observado, para obter as respostas da fisiologia muscular.
Todos esses processos para a recuperação dependeram da tecnologia.
Na fase inicial foi importante o uso do Ultrason, eletroestimulador
(corrente russa) e o laser para a reconstrução do tecido lesionado. O
laser tem como principal ação à cicatrização do tecido. Além disso, foram
utilizadas técnicas como liberação muscular miofacial e crochetagem. Elas
na atualidade são empregadas com mais freqüência neste tipo de lesão.
Para o tratamento de Bernardo, foi fundamental a evolução da reabilitação
muscular. “A tecnologia sabe aproveitar todas as respostas fisiológicas a
favor do atleta”, afirma o fisioterapeuta. Neste caso, o estudo da fisiologia
tem como base à reformulação tecidual.
O ultrassom também está sendo usado no tratamento da paciente
Aline Gonçalves, de 22 anos. Segundo a fisioterapeuta Evelin Albuquerque,
que trabalha neste caso, o aparelho foi escolhido porque a absorção de suas
ondas acelera o processo de recuperação tecidual das lesões musculares.
A jogadora da vôlei desenvolveu uma contusão de ombro por overuse, que
resultou numa tendinite nos rotadores do ombro e no tendão do bíceps
braquial, por meio de rotações externas e internas para saques e cortes
repetidamente.
No caso de um atleta, é importante o recondicionamento físico.
Realizar os movimentos da sua atividade e principalmente os
mecanismos de lesão, para estimular a defesa natural do organismo,
esse trabalho final é conhecido como propriocepção. “Esta técnica
é importante, pois ela simula os movimentos que o atleta faz. É o treino
específico do movimento”, acrescenta o fisioterapeuta Felipe Rodrigues.
Todas as recentes técnicas foram importantes para o tratamento de
atletas como Diego, Bernardo e Aline e serão fundamentais ainda para
outros esportistas. Mas os estudos não podem parar e novos aparelhos
devem ser incorporados na reabilitação. Este avanço possibilita a
multiplicação de atletas com carreiras mais longas e com mais qualidade
física. É a tecnologia provando que pode ajudar a ultrapassar limites e
garantir que sonhos não são impossíveis de se realizar.
CASO RONALDO FENôMENO É inevitável abordar o tema lesão em atleta e não lembrar do drama que
sofreu o atacante Ronaldo Nazário. Em 2000, o jogador rompeu o tendão patelar
do joelho direito durante um jogo, e fez a cirurgia no Departamento de Ortopedia
e Traumatologia e Cirurgia Plástica do Hospital Pitié Salpêtrière, em Paris, em abril
de 2000, com o professor e cirurgião Gerard Saillant. Este caso quase o afastou dos
campos, por sua gravidade. Após, alguns anos, em fevereiro de 2008, o atacante
rompeu o tendão patelar novamente, só que do joelho esquerdo. O acidente
ocorreu durante uma partida, no Milan, da Itália. E teve a necessidade em fazer
uma nova cirurgia com o mesmo médico e hospital.
As tecnologias usadas para a avaliação do Ronaldo foram a econografia,
para a visualização do tendão, por meio de fotografias e a ressonância
magnética. No tratamento de fisioterapia diária teve auxílio de dois aparelhos,
produzidos na Itália, que estimulam através de uma corrente elétrica o tendão
machucado. Este processo ocorre porque é colocado um eletrodo no local que
promove uma corrente a qual regenera o tecido. Outro equipamento exclusivo
para a época, em 2000 foi o ultra-som com a função de evitar a produção do
edema e auxiliar na cicatrização.
O tratamento de Ronaldo é ainda um espelho para o compromisso em
desenvolver novas técnicas e aparelhos de fisioterapia esportiva no mundo e
no Brasil, principalmente, pois, é um país com poucos recursos para o estudo,
porém com muitos atletas de alto nível. Esses esportistas não podem contar com
a sorte em fazer um tratamento internacional, pois ainda é uma oportunidade
cara e, para poucos, que conseguem capital por meio de patrocínio.
geralmente, o atleta se lesiona sozinho, mas, este mecanismo não é regra,
podendo o mesmo se lesionar por algum trauma
Felipe rodrigues
Para Felipe Rodrigues, fisioterapeuta que trabalha com lesão esportiva,
o tratamento foi o ideal para o caso. Antigamente, era usada técnicas mais
agressivas para o desbloqueio da articulação utilizando mais a força. Hoje,
a mobilização articular chamada de Artrocinemática é mais empregada. O
trabalho de fortalecimento que foca grupos musculares específicos se faz
importante nas fases de reabilitação.
Outro atleta que teve uma rápida recuperação em função das novas
tecnologias foi o jovem de 17 anos, Bernardo Borges, jogador da categoria
juvenil de futebol de campo, do Flamengo. Ele se lesionou durante o treino,
em uma arrancada para correr, que exigiu uma força muscular abrupta, e
o impossibilitou de permanecer em campo. Segundo o fisioterapeuta que
trabalhou este caso, Felipe Rodrigues, as lesões musculares em atletas
acontecem normalmente no estiramento excessivo, na contração muscular
violenta contra uma grande resistência. “Geralmente, o atleta se lesiona
sozinho, mas, este mecanismo não é regra, podendo o mesmo se lesionar
por algum trauma”, afirma ele.
Neste caso, o jogador levou um período de três semanas para voltar
a realizar suas atividades. Essa reabilitação foi divida em duas etapas: A
primeira fase foi de analgesia (alívio da dor) e recuperação das estruturas
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24 V+ tECNOLOGIA
A tECNOLOGIA NOS bAStIDORES DE ESPEtáCULOS MUSICAIScoMo uMa siMples exiBição vira uM MoMento inesquecívelValéria Castor
Uma a uma, as luzes começam a se acender. Elas surgem dos diversos
holofotes e refletores espalhados pelo palco. Em seguida, os primeiros
acordes entram em sintonia com os efeitos luminosos, causando êxtase na
plateia que assiste ao início do espetáculo. O palco sustenta uma série de
equipamentos que desenvolvem a estrutura necessária para transformar o
show em magia e despertar as mais diferentes emoções em cada um dos
espectadores, enlouquecidos pela euforia que toma conta de todos. De
repente, os telões passam a exibir o princípio do que promete ser a melhor
apresentação que já se viu. Para os fãs, ela realmente será. Alegria, lágrimas
de felicidade, coração palpitando. Sentimentos que revelam que os olhos
não conseguem acreditar que estão diante da realização de um sonho.
Mas, para alcançar o objetivo de suscitar cada sensação dessas, é preciso
muito trabalho nos bastidores. Tudo deve estar em seu devido lugar e
cautelosamente preparado para arrancar gritos e suspiros do público. A base
para tal tarefa é a parte técnica de som e iluminação, um tanto complicada
de ser entendida por quem não é do mundo da música. Mas nada que os
detalhes não possam desvendar.
A montagem de todas essas novidades trazidas pela tecnologia só foi
possível nos últimos anos porque, antigamente, na época em que os Beatles se
apresentavam, para ir a um show de rock admirar o som da banda era preciso
ter muito otimismo, já que a potência dos amplificadores era equivalente
àquela presente nos sistemas de som caseiros e alto-falantes projetados para
irradiar a narração de determinadas jogadas de eventos esportivos. Como
esse equipamento era brando, quem estava no palco necessitava se esforçar
ao máximo para que fosse ouvido em meio a milhares de fãs que gritavam
enlouquecidos por estarem diante de seus ídolos musicais. Esse público não
era tão exigente quanto à qualidade do som e se importava mais em ter a
possibilidade de ver aqueles que idolatravam.
Esse tipo de show pôde, com o passar do tempo, utilizar sofisticadas
técnicas eletrônicas, oriundas de uma onda de tecnologia que invadiu o
mundo musical. A união entre som pesado, iluminação de diversas cores
e efeitos visuais passou a emanar uma energia contagiante aos ouvidos e
olhos dos espectadores. Ao contrário das exibições praticamente inaudíveis
dos Beatles, os espetáculos da rainha do Pop, Madonna, revelaram a todos
uma maneira diferente e muito mais abrangente de expressar sentimentos
por meio da música, sempre alicerçados em mega-produções. Computadores
entram em cena de forma fundamental para levar essas mudanças cruciais
aos palcos, gerando, inclusive, microcomputadores capazes de dar comandos
a teclados, que, sozinhos, fazem um show completo.
No Brasil, apenas quem tinha condições financeiras, por volta das décadas
de 60 e 70, podia usufruir o avanço tecnológico que transformava shows
pobres em qualidade de som em espetáculos inesquecíveis por suas produções
detalhadamente perfeitas. Aramis Barros, integrante da banda Canibais e
produtor musical, explica como era esse período inicial. “No fim dos anos 60
e início dos 70, o melhor equipamento ainda era bem precário. Não havia as
caixas de retorno para o artista se ouvir no palco e a variedade de marcas de
instrumentos era bem limitada. O acesso a equipamentos e instrumentos
importados também era muito difícil”, conta.
Mesmo com tanta modificação, um princípio continuou igual, ainda depois
da chegada dos adventos tecnológicos: o de jogar a música sobre o público.
Para que isso ocorra, o som realizado pelos artistas passa de energia acústica
a energia elétrica. Assim, ela é processada e amplificada, transformando-se
mais uma vez em energia acústica. Esse é o princípio. Por isso, na montagem
do projeto de instalação do equipamento usado na apresentação, o ponto
inicial a ser observado pelo engenheiro de som é saber tudo sobre o local do
show. A importância dessa análise está em não deixar que nada interfira na
passagem do áudio entre a fonte sonora e o ouvido da plateia, pois altera a
qualidade do som.
Se houver no ambiente alguma superfície tida como “viva”, a exemplo
de vidros e cimento, o som rebate e vira inúmeros outros sons iguais,
Yuri fica atento a cada detalhes do local de apresentação para levar os equipamentos
Fotos: divulgação
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repetidos em instantes distintos. Ou seja, é a chamada reverberação. Já o
encontro com superfícies “mortas” - como cortinas, estofamentos ou cortiças
- abafa o som. Então, durante o estudo sobre o local em que será preparado o
projeto, o profissional da engenharia acústica precisa confiar em sua apurada
observação auditiva e visual, além de contar também com um equipamento
denominado spectrum analyser. Essa tecnologia produz um ruído conhecido
como “pink noise” - isto é, ruído rosa – que lembra muito o barulho feito por
uma turbina de avião, na frequência entre 20 e 20.000 hertz, a qual o ser
humano consegue escutar.
Na faixa que vai de 20 a 200 hertz estão os sons graves, na que abrange
200 e 2.000 hertz encontram-se os sons médios e na que vai de 2.000 a 20.000
hertz há os agudos. Para obter o resultado a respeito dessa acústica, microfones
ficam por toda parte para captar e informar o spectrum analyser em trinta
bandas de frequência sobre a reação do ambiente conforme ao som emitido.
O aparelho fica ligado a um computador, detectando respostas, como se o
lugar absorve demais o áudio na frequência de 10.000 hertz, o que aumenta o
volume. Ou se diminui, caso essa frequência reverbere em excesso. O objetivo
dessas observações a fundo é alcançar o equilíbrio entre os sons graves, médios
e agudos. Isto é a equalização dos áudios.
Mas outro ponto que não é menos importante do que estudar a localidade
em que vai ocorrer a apresentação musical é saber como é feita a estrutura
que vai sustentar todo esse aparato voltado para que a exibição não seja um
fracasso. Essa estrutura é o palco, que deve ser montado cuidadosamente. Yuri
Bandeira, músico e vendedor de instrumentos em uma loja do bairro carioca
Tijuca, pensa em cada um desses detalhes quando faz um show com sua
banda, na qual toca guitarra e canta. Ele explica como é tal formação antes
de receber os artistas e seus equipamentos. “O palco é formado de um tipo de
alambrado de metal e, em seguida, por uma parte de madeira, que é vista já
montada pelo público no momento do show”.
Quando o som sai de onde os músicos estão e segue para a plateia, a
ação inicial é de captação. Vozes e instrumentos acústicos usam microfones
para isso. Ao mesmo tempo, instrumentos como baixo elétrico ou teclados
eletrônicos ficam ligados a uma mesa de som, comandada por um técnico.
Dessa ligação direta, o sinal emitido vem elétrico do instrumento e passa por
um transformador que recebe o nome de direct box. Então, vai para uma mesa
de mixagem. Já no caso da voz e de outros instrumentos, a energia acústica
deve ser passada a elétrica por intermédio do microfone.
E já que todo som é uma vibração de moléculas de ar na forma de ondas com
frequências, a voz de quem canta entra no microfone e, nesse instante, sensibiliza
um diafragma, que faz movimentos para frente e para trás. Ainda há o microfone
dinâmico que dispõe de uma bobina presa a um campo magnético. Ela reage a cada
vibração do diafragma ali presente, se movimentando também e produzindo sinais
elétricos. Mesmo com tantas formas e estilos de aparelhos que moldam o áudio e
ajudam o cantor a fazer sua voz sair do melhor modo para o público, Sergio Cruz,
produtor musical do artista Lafayette – do antigo grupo Tremendões -, afirma que
quem não tem talento não consegue se transformar em fenômeno da música. “Os
recursos básicos, que são de equalização, controle de subgraves, graves, médios,
agudos e super agudos, compressores e equalizadores melhoram muito, além de
fazer reverberação e eco. Mas, na verdade, o cara tem mesmo é que cantar”, aponta.
Do microfone e do direct box saem os sinais elétricos, que vão para a chamada
mesa de PA, que em inglês se diz public address, ou seja, é o endereçamento ao
público. Esse é o centro de pilotagem do som de qualquer apresentação musical.
É justamente por esse mecanismo que passa tudo o que a plateia vai escutar. Em
geral, as mesas de PA utilizadas em shows são constituídas por 48 canais, o que
equivale à possibilidade de captar 48 fontes sonoras distintas para, então, serem
mixadas. O processo de mixagem é a combinação do som de todos esses canais,
com os respectivos volumes equilibrados pelo operador para gerar a canção, na
qual os instrumentos sejam audíveis. Na realidade, quanto mais canais houver,
maior será o controle com precisão de cada instrumento ou cada parte dele. Isso
também ocorre com a voz do cantor, que, além de passar por essa mixagem,
retorna para o próprio se escutar no palco.
“A voz do cantor também vai para a mesa de som e, depois, tem um retorno,
que parte de quatro ou cinco caixas localizadas ao redor dele”, explica o músico
Yuri Bandeira. Mas como não é só o cantor que conta com esse retorno de palco,
ele completa o raciocínio dando ainda o exemplo do que acontece com um dos
integrantes da banda - o guitarrista – durante o show. “Normalmente, ele leva
sua própria caixa de som. Mas pode ser que no local já tenha. E a função dela é
como a de um amplificador para o músico”, detalha.
Assim que os sinais elétricos transformados chegam à mesa de PA, entram,
primeiramente, em um limitar de frequência. O operador, então, escolhe,
a voz do cantor também vai para a mesa de som e, depois, tem um retorno,
que parte de quatro ou cinco caixas localizadas ao redor dele
Yuri Bandeira
Aramis, Roosevelt, Max e Elydi se apresentam no Centro Cívico Leopoldinense em 1969, quando a tecnologia envolvida em um show não era tão complexa
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26 V+ tECNOLOGIAconfiando em seu ouvido, em qual frequência os áudios soam melhor. Nesse
instante, passam para as bandas de equalização, nas quais toda fonte sonora
receberá o equilíbrio entre cada um dos seus tons. Os sons que vêm do palco vão
para o subgrupo de dezesseis canais de saída, que, depois, serão mais uma vez
agrupados em oito canais estéreos de saída. Essa subdivisão gradativa dos canais
tem duas funções: facilitar o trabalho do operador da mesa durante um show,
pois ele se perderia caso tivesse que mexer com 48 canais simultaneamente, e
servir de entrada para os efeitos especiais.
Isso é uma parte da montagem dos equipamentos necessários para um show
de sucesso. Para Nelson Cardoso, editor-chefe de uma revista especializada nesse
tema, a Backstage, a tecnologia está por toda parte desse processo. “Na última
década houve várias mudanças radicais na produção de um show, principalmente
no que se refere ao reforço sonoro (PA). A entrada do processamento digital nos
consoles de mixagem mudou toda a forma de se pensar e agir em um show ao
vivo e sem o uso do ‘play back’. Uma outra mudança significativa na qualidade do
áudio nos shows foi a redescoberta dos sistemas de line array”, acrescenta. Esse
último advento apontado por Nelson foi visto por cinco empresas brasileiras do
ramo de apresentações como uma opção econômica e prática para o momento da
montagem. Empresários afirmam, inclusive, que a qualidade do material nacional,
se comparado com marcas importadas, apresenta o diferencial de dar a assistência
técnica do próprio país. “Hoje este sistemas possuem uma tecnologia, principalmente
nos guias de onda, que não existia no século passado”, conclui Nelson.
Mesmo diante de tantos segredos para melhorar a qualidade da voz e
do som dos instrumentos voltados para agradar o público, o editor-chefe da
Backstage acredita que aqueles que nascem com o dom da música não serão
desvalorizados em detrimento das transformações possíveis de serem feitas
graças à tecnologia. “Este não é o futuro porque o verdadeiro talento continua
a ser o grande diferencial. O processamento da voz a torna pasteurizada e igual.
Todos terão o timbre da ‘pata rouca’”, opina.
Da mesma forma que Nelson, o músico e produtor musical Aramis Barros
também expõe seu ponto de vista a respeito da possibilidade de a tecnologia
vencer ou banalizar o talento nato. “O objetivo é e sempre foi evoluir no sentido
de melhorar a performance tanto nas gravações como em shows. O ruim é
quando estas ferramentas são colocadas como prioridade, em detrimento da
emoção que o artista deve passar”.
Mas tantos cuidados para garantir o melhor show não se limitam à exibição.
Tão importante quanto o tratamento que se dá ao áudio produzido no palco é
a iluminação dada a cada apresentação, de acordo com o seu estilo. É ela que
mostra a banda em foco a todos. Deve andar ao lado da música sempre, porque
pode dar o tom da emoção passada ao público ou pode atrapalhar os significados
que os músicos querem transmitir. Isso prejudicaria a comunicação expressa ali.
Sergio Cruz, produtor do cantor Lafayette, explica que o técnico dessa parte
deve entender bem de cores básicas e da mistura entre elas. Além disso, é preciso
que ele saiba das qualidades de filtros – espécies de gelatina – coloridos para
pôr nos refletores, conforme os ambientes gerados pelas canções e os tipos de
artistas. Também é importante programar o console de controle desses refletores
e dos mooveis (refletores robotizados). “É fundamental ter amplo conhecimento
e prática na ‘afinação’ da luz para não correr o risco de fazer projeções de fachos
sem ninguém. Ou seja, quando é o caso de haver luz individual”, relata Sergio.
Ele ainda aponta outra característica essencial para um técnico em luz dar
a magia ao show: criatividade para criar quadros de apresentação, variando de
acordo com a música. Por isso, para acertar cada um desses detalhes, é necessário
ter conhecimento musical, até por ter de contar o tempo das canções. Se não
souber isso, o operador pode entrar errado com a luz no momento do show.
Sergio enumera mais alguns pontos a que esse tipo de profissional deve se ater.
“Saber elaborar, desenhar e ler o plano de luz dado pelo produtor ou diretor
do show. Conhecer de energia elétrica para poder lidar com o equipamento e
projetar a carga elétrica necessária para uso do mesmo”, resume.
Yuri Bandeira acredita que os efeitos visuais são tão fundamentais no show
que, para ele, se não forem cautelosamente observados e planejados, podem
levar a apresentação ao fundo do poço. E acrescenta que para a equipe fugir
desse futuro ruim, tudo no palco deve caminhar em harmonia. “A iluminação
é o destaque. Os efeitos especiais dela vêm para mostrar o show da banda
realmente. Na realidade, quando se vai a um show, o ideal é ver as três partes
unidas: interpretação, música e dança. Por esse motivo, o técnico de iluminação
expõe até a coreografia em bandas que possuem corpo de dança. Nesse sentido,
os passos são acompanhados pela luz. É um trabalho em equipe”, diz.
Caroline Arci, frequentadora assídua de shows, coloca sua opinião a
respeito do que considera interessante e chamativo nas apresentações. Para
ela, que tem um gosto musical diversificado, que vai desde música clássica
a rock, o primeiro detalhe a ser visto é a banda. Em seguida, percebe se o
equipamento está bom, se os músicos acompanham o ritmo corretamente e,
claro, se interagem bem com o público. “Quando percebemos que o cantor e a
banda estão realmente emocionados com o que estão transmitindo, quando é
perceptível que a situação não é superficial, me agrada bastante”, comenta.
A jovem, que vai se formar em Jornalismo, não acha que a iluminação, ao
contrário do que dizem os especialistas, influencie na animação do show. Pelo menos,
na visão dela. “Acho interessante, mas geralmente não é o mais determinante para
mim, a não ser que o objetivo do show seja destacar exatamente esse de efeitos de
iluminação”. Ainda para a futura jornalista, o que de fato é determinante durante a
exibição é a presença de palco dos artistas, sempre alinhada à qualidade sonora.
“Acho que a presença de palco da banda, a emoção transmitida no show, junto com
a qualidade do som, devem ser boas. Agora, quando a qualidade do som não está
legal, a interação com o público deixa a desejar”, opina Caroline.
Som, luz, efeitos especiais, qualidade e profissionalismo.
Características apontadas como necessárias para o sucesso. É por isso
que o trabalho nos bastidores é frenético e ninguém pode tropeçar,
já que um deslize significa erros, muitas vezes, bem perceptíveis no
palco. Todos os que atuam por trás do que é apresentado precisam
andar juntos, compreender ou, pelo menos, ter uma boa noção de
cada parte que compõem essa magia construída diante de milhares
de espectadores.
Quando cada detalhe fica pronto - equipamentos afinados, luzes de
acordo e equipe técnica em sintonia para guiar os donos do show - a maior
promessa é brilhar. É ela que todos querem atingir. E, com essa finalidade,
arriscam explosões pirotécnicas, malabarismos inacreditáveis e tantas outras
surpresas que fazem o público ir à loucura. Dessa forma, aos poucos, o delírio
passa a reinar entre os amantes que aguardavam ansiosamente pelos ídolos. A
harmonia dos efeitos e sons entra em ação e abre espaço para a banda ganhar
o palco. Perfeição, enfim, alcançada. O show começa.
Aramis Barros, atualmente com o grupo Caniabis, em show na Penha
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