veiga ilma

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Texto extraído sob licença da autora e da editora do livro: VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 14 a edição Papirus, 2002. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA Ilma Passos Alencastro Veiga1 1. Introdução O projeto político-pedagógico tem sido objeto de estudos para professores, pesquisadores e instituições educacionais em nível nacional, estadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino. O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da construção do projeto político-pedagógico, entendido como a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um todo. A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, é fundamental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe dêem as condições necessárias para levá-Ia adiante. Para tanto, é importante que se fortaleçam as relações entre escola e sistema de ensino. Para isso, começaremos, na primeira parte, conceituando projeto político-pedagógico. Em seguida, na segunda parte, trataremos de trazer nossas reflexões para a análise dos princípios norteadores. Finalizaremos discutindo os elementos básicos, da organização do trabalho pedagógico, necessários à construção do projeto político-pedagógico. 2. Conceituando o projeto político-pedagógico 2.1 O que é projeto político-pedagógico No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de edificação (Ferreira 1975, p.1.144). Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro diferente do presente. Nas palavras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (1994, p. 579) Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola. 1 Pesquisadora associada sênior da Faculdade de Educação da UnB. O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. "A dimensão política se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prática especificamente pedagógica" (Saviani 1983, p. 93). Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade.

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  • Texto extrado sob licena da autora e da editora do livro: VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projetopoltico-pedaggico da escola: uma construo possvel. 14a edio Papirus, 2002.

    PROJETO POLTICO-PEDAGGICO DA ESCOLA:UMA CONSTRUO COLETIVA

    Ilma Passos Alencastro Veiga1

    1. Introduo

    O projeto poltico-pedaggico tem sido objeto de estudos para professores, pesquisadores einstituies educacionais em nvel nacional, estadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino.

    O presente estudo tem a inteno de refletir acerca da construo do projeto poltico-pedaggico,entendido como a prpria organizao do trabalho pedaggico da escola como um todo.

    A escola o lugar de concepo, realizao e avaliao de seu projeto educativo, uma vez quenecessita organizar seu trabalho pedaggico com base em seus alunos. Nessa perspectiva, fundamental queela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essainiciativa, mas que lhe dem as condies necessrias para lev-Ia adiante. Para tanto, importante que sefortaleam as relaes entre escola e sistema de ensino.

    Para isso, comearemos, na primeira parte, conceituando projeto poltico-pedaggico. Emseguida, na segunda parte, trataremos de trazer nossas reflexes para a anlise dos princpios norteadores.Finalizaremos discutindo os elementos bsicos, da organizao do trabalho pedaggico, necessrios construo do projeto poltico-pedaggico.

    2. Concei tuando o pro jeto po l tico-pedaggico

    2.1 O que projeto pol tico-pedaggico

    No sentido etimolgico, o termo projeto vem do latim projectu, particpio passado do verboprojicere, que significa lanar para diante. Plano, intento, desgnio. Empresa, empreendimento. Redaoprovisria de lei. Plano geral de edificao (Ferreira 1975, p.1.144).

    Ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o que temos inteno de fazer, derealizar. Lanamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possvel. antever um futuro diferentedo presente. Nas palavras de Gadotti:

    Todo pro jeto supe rup turas com o presente e promessas para o fu turo.Projetar signi fica ten tar quebrar um estado confor tvel para arriscar-se,atravessar um perodo de instabi l idade e buscar uma nova estabi l idadeem funo da promessa que cada projeto contm de estado melhor doque o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessafrente a determinadas rupturas. As promessas tornam vis veis os camposde ao possvel , comprometendo seus atores e autores. (1994, p. 579)

    Nessa perspectiva, o projeto poltico-pedaggico vai alm de um simples agrupamento de planosde ensino e de atividades diversas. O projeto no algo que construdo e em seguida arquivado ouencaminhado s autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocrticas. Ele construdoe vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola.

    1 Pesquisadora associada snior da Faculdade de Educao da UnB.

    O projeto busca um rumo, uma direo. uma ao intencional, com um sentido explcito, comum compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedaggico da escola , tambm, um projetopoltico por estar intimamente articulado ao compromisso sociopoltico com os interesses reais e coletivos dapopulao majoritria. poltico no sentido de compromisso com a formao do cidado para um tipo desociedade. "A dimenso poltica se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prtica especificamentepedaggica" (Saviani 1983, p. 93). Na dimenso pedaggica reside a possibilidade da efetivao daintencionalidade da escola, que a formao do cidado participativo, responsvel, compromissado, crtico ecriativo. Pedaggico, no sentido de definir as aes educativas e as caractersticas necessrias s escolas decumprirem seus propsitos e sua intencionalidade.

  • Poltico e pedaggico tm assim uma significao indissocivel. Neste sentido que se deveconsiderar o projeto poltico-pedaggico como um processo permanente de reflexo e discusso dos problemasda escola, na busca de alternativas viveis efetivao de sua intencionalidade, que "no descritiva ouconstatativa, mas constitutiva" (Marques 1990, p. 23). Por outro lado, propicia a vivncia democrticanecessria para a participao de todos os membros da comunidade escolar e o exerccio da cidadania. Podeparecer complicado, mas trata-se de uma relao recproca entre a dimenso poltica e a dimenso pedaggicada escola.

    O projeto poltico-pedaggico, ao se constituir em processo democrtico de decises, preocupa-se em instaurar uma forma de organizao do trabalho pedaggico que supere os conflitos, buscando eliminar asrelaes competitivas, corporativas e autoritrias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizadoda burocracia que permeia as relaes no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentrios da diviso dotrabalho que refora as diferenas e hierarquiza os poderes de deciso.

    Desse modo, o projeto poltico-pedaggico tem a ver com a organizao do trabalho pedaggicoem dois nveis: como organizao da escola como um todo e como organizao da sala de aula, incluindo suarelao com o contexto social imediato, procurando preservar a viso de totalidade. Nesta caminhada serimportante ressaltar que o projeto poltico-pedaggico busca a organizao do trabalho pedaggico da escola nasua globalidade.

    A principal possibilidade de construo do projeto poltico-pedaggico passa pela relativaautonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua prpria identidade. Isto significa resgatar a escola comoespao pblico, lugar de debate, do dilogo, fundado na reflexo coletiva. Portanto, preciso entender que oprojeto poltico-pedaggico da escola dar indicaes necessrias organizao do trabalho pedaggico, queinclui o trabalho do professor na dinmica interna da sala de aula, ressaltado anteriormente.

    Buscar uma nova organizao para a escola constitui uma ousadia para os educadores, pais,alunos e funcionrios.

    E para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial que fundamente a construodo projeto poltico-pedaggico. A questo , pois, saber a qual referencial temos que recorrer para acompreenso de nossa prtica pedaggica. Nesse sentido, temos que nos alicerar nos pressupostos de umateoria pedaggica crtica vivel, que parta da prtica social e esteja compromissada em solucionar os problemasda educao e do ensino de nossa escola. Uma teoria que subsidie o projeto poltico-pedaggico e, por sua vez,a prtica pedaggica que ali se processa deve estar ligada aos interesses da maioria da populao. Faz-senecessrio, tambm, o domnio das bases terico-metodolgicas indispensveis concretizao das concepesassumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas que:

    As novas formas tm que ser pensadas em um contexto de luta, decorrelaes de fora s vezes favorveis, s vezes desfavorveis. Teroque nascer no prpr io " cho da escola" , com apoio dos pro fessores epesquisadores. No podero ser inventadas por algum, longe da escolae da luta da escola. (Gr i fos do autor) (Frei tas 1991, p. 23)

    Isso significa uma enorme mudana na concepo do projeto poltico-pedaggico e na prpriapostura da administrao central. Se a escola nutre-se da vivncia cotidiana de cada um de seus membros, co-participantes de sua organizao do trabalho pedaggico administrao central, seja o Ministrio da Educao,a Secretaria de Educao Estadual ou Municipal, no compete a eles definir um modelo pronto e acabado, massim estimular inovaes e coordenar as aes pedaggicas planejadas e organizadas pela prpria escola. Emoutras palavras, as escolas necessitam receber assistncia tcnica e financeira decidida em conjunto com asinstncias superiores do sistema de ensino.

    Isso pode exigir, tambm, mudanas na prpria lgica de organizao das instncias superiores,implicando uma mudana substancial na sua prtica.

    Para que a construo do projeto poltico-pedaggico seja possvel no necessrio convenceros professores, a equipe escolar e os funcionrios a trabalhar mais, ou mobiliz-los de forma espontnea, maspropiciar situaes que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer pedaggico de forma coerente.

    O ponto que nos interessa reforar que a escola no tem mais possibilidade de ser dirigida decima para baixo e na tica do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle tcnico burocrtico. Aluta da escola para a descentralizao em busca de sua autonomia e qualidade.

    Do exposto, o projeto poltico-pedaggica no visa simplesmente a um rearranjo formal da escola,mas a uma qualidade em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organizao do trabalhopedaggico da escola tem a ver com a organizao da sociedade. A escola nessa perspectiva vista como umainstituio social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no seu interior as determinaes e contradiesdessa sociedade.

    3. Pr incpios nor teadores do projeto pol ti co-pedaggico

  • A abordagem do projeto poltico-pedaggico, como organizao do trabalho da escola como umtodo, est fundada nos princpios que devero nortear a escola democrtica, pblica e gratuita:

    a) Igualdade de condies para acesso e permanncia na escola. Saviani alerta-nos para ofato de que h uma desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto de chegada deve ser garantidapela mediao da escola. O autor destaca:

    Portanto, s possvel considerar o processo educat ivo em seu conjuntosob a condio de se disti nguir a democracia como possibi l idade noponto de part ida e democracia como real idade no ponto de chegada.(1982,p.63)

    Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que a expanso quantitativa de ofertas; requerampliao do atendimento com simultnea manuteno de qualidade.

    b) Qual idade que no pode ser privilgio de minorias econmicas e sociais. O desafio quese coloca ao projeto poltico-pedaggico da escola o de propiciar uma qualidade para todos.

    A qualidade que se busca implica duas dimenses indissociveis: a formal ou tcnica e a poltica.Uma no est subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas prprias.

    A primeira enfatiza os instrumentos e os mtodos, a tcnica. A qualidade formal no est afeita,necessariamente, a contedos determinados. Demo afirma que a qualidade formal: "( ...) significa a habilidade demanejar meios, instrumentos, formas, tcnicas, procedimentos diante dos desafios do desenvolvimento" (1994,p.14).

    A qualidade poltica condio imprescindvel da participao. Est voltada para os fins, valorese contedos. Quer dizer "a competncia humana do sujeito em termos de se fazer e de fazer histria, diante dosfins histricos da sociedade humana" (Demo 1994, p.14).

    Nesta perspectiva, o autor chama ateno para o fato de que a qualidade centra-se no desafio demanejar os instrumentos adequados para fazer a histria humana. A qualidade formal est relacionada com aqualidade poltica e esta depende da competncia dos meios.

    A escola de qualidade tem obrigao de evitar de todas as maneiras possveis a repetncia e aevaso. Tem que garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatrio de todos. Qualidade para todos,portanto, vai alm da meta quantitativa de acesso global, no sentido de que as crianas, em idade escolar,entrem na escola. preciso garantir a permanncia dos que nela ingressarem. Em sntese, qualidade "implicaconscincia crtica e capacidade de ao, saber e mudar" (Demo 1994, p.19).

    O projeto poltico-pedaggico, ao mesmo tempo em que exige dos educadores, funcionrios,alunos e pais a definio clara do tipo de escola que intentam, requer a definio de fins. Assim, todos deverodefinir o tipo de sociedade e o tipo de cidado que pretendem formar. As aes especificas para a obtenodesses fins so meios. Essa distino clara entre fins e meios essencial para a construo do projeto politico-pedaggico.

    c) Gesto democrtica um princpio consagrado pela Constituio vigente e abrange asdimenses pedaggica, administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histrica na prtica administrativa daescola, com o enfrentamento das questes de excluso e reprovao e da no-permanncia do aluno na sala deaula, o que vem provocando a marginalizao das classes populares. Esse compromisso implica a construocoletiva de um projeto poltico-pedaggico ligado educao das classes populares.

    A gesto democrtica exige a compreenso em profundidade dos problemas postos pela prticapedaggica. Ela visa romper com a separao entre concepo e execuo, entre o pensar e o fazer, entreteoria e prtica. Busca resgatar o controle do processo e do produto do trabalho pelos educadores.

    A gesto democrtica implica principalmente o repensar da estrutura de poder da escola, tendoem vista sua socializao. A socializao do poder propicia a prtica da participao coletiva, que atenua oindividualismo; da reciprocidade, que elimina a explorao; da solidariedade, que supera a opresso; daautonomia, que anula a dependncia de rgos intermedirios que elaboram polticas educacionais das quais aescola mera executora.

    A busca da gesto democrtica inclui, necessariamente, a ampla participao dos representantesdos diferentes segmentos da escola nas decises/aes administrativo-pedaggicas ali desenvolvidas. Nas pala-vras de Marques:

    A par t icipao ampla assegura a transparncia das decises, for talece aspresses para que sejam elas legt imas, garan te o controle sobre osacordos estabelecidos e, sobretudo, contribui para que sejamcontempladas questes que de outra forma no entrar iam em cogi tao.(1990, p.21)

    Neste sentido, fica claro entender que a gesto democrtica, no interior da escola, no umprincpio fcil de ser consolidado, pois trata-se da participao crtica na construo do projeto poltico-pedag-gico e na sua gesto.

  • d) Liberdade outro princpio consti tucional. O princpio da liberdade est sempreassociado idia de autonomia. O que necessrio, portanto, como ponto de partida, o resgate do sentido dosconceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da prpria natureza do atopedaggico. O significado de autonomia remete-nos para regras e orientaes criadas pelos prprios sujeitos daao educativa, sem imposies externas.

    Para Rios (1982, p. 77), a escola tem uma autonomia relativa e a liberdade algo que seexperimenta em situao e esta uma articulao de limites e possibilidades. Para a autora, a liberdade umaexperincia de educadores e constri-se na vivncia coletiva, interpessoal. Portanto, "somos livres com osoutros, no, apesar dos outros" (grifos da autora) (1982, p. 77). Se pensamos na liberdade na escola, devemospens-la na relao entre administradores, professores, funcionrios e alunos que a assumem sua parte deresponsabilidade na construo do projeto poltico-pedaggico e na relao destes com o contexto social maisamplo.

    Heller afirma que:

    A l iberdade sempre l iberdade para algo e no apenas l iberdade de algo.Se interpretarmos a l iberdade apenas como o fato de sermos l ivres dealguma coisa, encontramo-nos no estado de arbt rio, definimo-nos demodo negativo. A l iberdade uma relao e, como tal , deve ser cont i -nuamente ampl iada. O prpr io concei to de l iberdade contm o concei tode regra, de reconhecimento, de interveno recproca. Com efei to,ningum pode ser l iv re se, em vol ta dele, h out ros que no o so! (1982,p.155)

    Por isso, a liberdade deve ser considerada, tambm, como liberdade para aprender, ensinar,pesquisar e divulgar a arte e o saber direcionados para uma intencionalidade definida coletivamente.

    e) Valorizao do magistrio um principio central na discusso do projeto poltico-pedaggico.

    A qualidade do ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar cidados capazesde participar da vida socioeconmica, poltica e cultural do pas relacionam-se estreitamente a formao (inicial econtinuada), condies de trabalho (recursos didticos, recursos fsicos e materiais, dedicao integral escola, reduo do nmero de alunos na sala de aula etc.), remunerao, elementos esses indispensveis profissionalizao do magistrio.

    A melhoria da qualidade da formao profissional e a valorizao do trabalho pedaggicorequerem a articulao entre instituies formadoras, no caso as instituies de ensino superior e a EscolaNormal, e as agncias empregadoras, ou seja, a prpria rede de ensino. A formao profissional implica,tambm, a indissociabilidade entre a formao inicial e a formao continuada.

    O reforo valorizao dos profissionais da educao, garantindo-lhes o direito aoaperfeioamento profissional permanente, significa "valorizar a experincia e o conhecimento que os professorestem a partir de sua prtica pedaggica" (Veiga e Carvalho 1994, p. S1).

    A formao continuada um direito de todos os profissionais que trabalham na escola, uma vezque no s ela possibilita a progresso funcional baseada na titulao, na qualificao e na competncia dosprofissionais, mas tambm propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional dos professoresarticulado com as escolas e seus projetos.

    A formao continuada deve estar centrada na escola e fazer parte do projeto poltico-pedaggico. Assim, compete escola:

    a) proceder ao levantamento de necessidades de formao continuada de seusprofissionais;

    b) elaborar seu programa de formao, contando com a participao e o apoio dos rgoscentrais, no sentido de fortalecer seu papel na concepo, na execuo e na avaliao do referido programa.

    Assim, a formao continuada dos profissionais, da escola compromissada com a construo doprojeto poltico-pedaggico, no deve limitar-se aos contedos curriculares, mas se estender discusso daescola como um todo e suas relaes com a sociedade.

    Da, passarem a fazer parte dos programas de formao continuada, questes como cidadania,gesto democrtica, avaliao, metodologia de pesquisa e ensino, novas tecnologias de ensino, entre outras.

    Veiga e Carvalho afirmam que:

    O grande desafio da escola, ao construi r sua autonomia, deixando delado seu papel de mera " repet idora" de programas de " treinamento" , ousar assumir o papel p redominante na formao dos pro fissionais.(1994,p.50)

    Inicialmente, convm alertar para o fato de que essa tomada de conscincia, dos princpiosnorteadores do projeto poltico-pedaggico, no pode ter o sentido espontanesta de se cruzar os braos diante

  • da atual organizao da escola, que inibe a participao de educadores, funcionrios e alunos no processo degesto.

    preciso ter conscincia de que a dominao no interior da escola efetiva-se por meio dasrelaes de poder que se expressam nas prticas autoritrias e conservadoras dos diferentes profissionais,distribudos hierarquicamente, bem como por meio das formas de controle existentes no interior da organizaoescolar. Como resultante dessa organizao, a escola pode ser descaracterizada como instituio histrica esocialmente determinada, instncia privilegiada da produo e da apropriao do saber. As instituies escolaresrepresentam "armas de contestao e luta entre grupos culturais e econmicos que tm diferentes graus depoder" (Giroux 1986, p. 17). Por outro lado, a escola local de desenvolvimento da conscincia critica darealidade.

    Acreditamos que os princpios analisados e o aprofundamento dos estudos sobre a organizaodo trabalho pedaggico traro contribuies relevantes para a compreenso dos limites e das possibilidades dosprojetos poltico-pedaggicos voltados para os interesses das camadas menos favorecidas.

    Veiga acrescenta, ainda que:

    A importncia desses princpios est em garanti r sua operacional izaonas estruturas escolares, po is uma coisa estar no papel , na legislao,na proposta, no currculo, e outra estar ocorrendo na dinmica internada escola, no real , no concreto. (1991, p. 82)

    4. Construindo o pro jeto pol tico-pedaggico

    O projeto poltico-pedaggico entendido, neste estudo, como a prpria organizao do trabalhopedaggico da escola. A construo do projeto poltico-pedaggico parte dos princpios de igualdade, qualidade,liberdade, gesto democrtica e valorizao do magistrio. A escola concebida como espao social marcadopela manifestao de prticas contraditrias, que apontam para a luta e/ou acomodao de todos os envolvidosna organizao do trabalho pedaggico.

    O que pretendemos enfatizar que devemos analisar e compreender a organizao do trabalhopedaggico, no sentido de se gestar uma nova organizao que reduza os efeitos de sua diviso do trabalho, desua fragmentao e do controle hierrquico. Nessa perspectiva, a construo do projeto poltico-pedaggico um instrumento de luta, uma forma de contrapor-se fragmentao do trabalho pedaggico e sua rotinizao, dependncia e aos efeitos negativos do poder autoritrio e centralizador dos rgos da administrao central.

    A construo do projeto poltico-pedaggico, para gestar uma nova organizao do trabalhopedaggico, passa pela reflexo anteriormente feita sobre os princpios. Acreditamos que a anlise doselementos constitutivos da organizao trar contribuies relevantes para a construo do projeto poltico-pedaggico.

    Pelo menos sete elementos bsicos podem ser apontados: as finalidades da escola, a estruturaorganizacional, o currculo, o tempo escolar, o processo de deciso, as relaes de trabalho, a avaliao.

    4.1 Finalidades

    A escola persegue finalidades. importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza dasfinalidades de sua escola. Para tanto h necessidade de se refletir sobre a ao educativa que a escoladesenvolve com base nas finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades da escola referem-se aosefeitos intencionalmente pretendidos e almejados (Alves 1992, p.19).

    Das finalidades estabelecidas na legislao em vigor, o que a escola persegue, com maior oumenor nfase?

    Como perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a de preparar culturalmente os indivduospara uma melhor compreenso da sociedade em que vivem?

    Como a escola procura atingir sua finalidade poltica e social; ao formar o indivduo para aparticipao poltica que implica direitos e deveres da cidadania?

    Como a escola atinge sua finalidade de formao profissional, ou melhor, como ela possibilita acompreenso do papel do trabalho na formao profissional do aluno?

    Como a escola analisa sua finalidade humanstica, ao procurar promover o desenvolvimentointegral da pessoa?

    As questes levantadas geram respostas e novas indagaes por parte da direo, deprofessores, funcionrios, alunos e pais. O esforo analtico de todos possibilitar a identificao de quaisfinalidades precisam ser reforadas, quais as que esto relegadas e como elas podero ser detalhadas em nveldas reas, das diferentes disciplinas curriculares, do contedo programtico.

    necessrio decidir, coletivamente, o que se quer reforar dentro da escola e como detalhar asfinalidades para se atingir a almejada cidadania.

  • Alves (1992, p.15) afirma que h necessidade de saber se a escola dispe de alguma autonomiana determinao das finalidades e, conseqentemente, seu desdobramento em objetivos especficos. O autorenfatiza que:

    Interessar reter se as final idades so impostas por ent idades exter ioresou se so definidas no interior do " terr i trio social" e se so definidaspor consenso ou por conf l i to ou at se matr ia ambgua, imprecisa oumarginal . (1992, p. 19)

    Essa colocao est sustentada na idia de que a escola deve assumir, como uma de suasprincipais tarefas, o trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse sentido, ela procuraalicerar o conceito de autonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado os outros nveisda esfera administrativa educacional. Nvoa nos diz que a autonomia importante para: "a criao de umaidentidade da escola, de um ethos cientfico e diferenciador, que facilite a adeso dos diversos atores e aelaborao de um projeto prprio" (1992, p. 26).

    A idia de autonomia est ligada concepo emancipadora da educao. Para ser autnoma, aescola no pode depender dos rgos centrais e intermedirios que definem a poltica da qual ela no passa deexecutora. Ela concebe seu projeto poltico-pedaggico e tem autonomia para execut-lo e avali-lo ao assumirum nova atitude de liderana, no sentido de refletir sobre as finalidades sociopolticas e culturais da escola.

    4.2 - Estrutura organizacional

    A escola, de forma geral, dispe de dois tipos bsicos de estruturas: administrativas epedaggicas. As primeiras asseguram praticamente, a locao e a gesto de recursos humanos, fsicos efinanceiros. Fazem parte, ainda, das estruturas administrativas todos os elementos que tm uma forma materialcomo, por exemplo, a arquitetura do edifcio escolar e a maneira como ele se apresenta do ponto de vista de suaimagem: equipamentos e materiais didticos, mobilirio, distribuio das dependncias escolares e espaoslivres, cores, limpeza e saneamento bsico (gua, esgoto, lixo e energia eltrica).

    As pedaggicas, que, teoricamente, determinam a ao das administrativas, "organizam asfunes educativas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades" (Alves 1992, p. 21).

    As estruturas pedaggicas referem-se, fundamentalmente, s interaes polticas, s questes deensino-aprendizagem e s de currculo. Nas estruturas pedaggicas incluem-se todos os setores necessrios aodesenvolvimento do trabalho pedaggico.

    A anlise da estrutura organizacional da escola visa identificar quais estruturas so valorizadas epor quem, verificando as relaes funcionais entre elas. preciso ficar claro que a escola uma organizaoorientada por finalidades, controlada e permeada pelas questes do poder.

    A anlise e a compreenso da estrutura organizacional da escola significam indagar sobre suascaractersticas, seus plos de poder, seus conflitos.

    O que sabemos da estrutura pedaggica?

    Que tipo de gesto est sendo praticada?

    O que queremos e precisamos mudar na nossa escola?

    Qual o organograma previsto?

    Quem o constitui e qual a lgica interna?

    Quais as funes educativas predominantes?

    Como so vistas a constituio e a distribuio do poder?

    Quais os fundamentos regimentais?

    Enfim, caracterizar do modo mais preciso possvel a estrutura organizacional da escola e osproblemas que afetam o processo ensino-aprendizagem, de modo a favorecer a tomada de decises realistas eexeqveis.

    Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os pressupostos que embasam a estruturaburocrtica da escola que inviabiliza a formao de cidados aptos a criar ou a modificar a realidade social. Pararealizar um ensino de qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas tm que romper com a atual forma deorganizao burocrtica que regula o trabalho pedaggico pela conformidade s regras fixadas, pelaobedincia a leis e diretrizes emanadas do poder central e pela ciso entre os que pensam e executam , queconduz fragmentao e ao conseqente controle hierrquico que enfatiza trs aspectos inter-relacionados: otempo, a ordem e a disciplina.

    Nessa trajetria, ao analisar a estrutura organizacional, ao avaliar os pressupostos tericos, aosituar os obstculos e vislumbrar as possibilidades, os educadores vo desvelando a realidade escolar,estabelecendo relaes, definindo finalidades comuns e configurando novas formas de organizar as estruturasadministrativas e pedaggicas para a melhoria do trabalho de toda a escola na direo do que se pretende.Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos disponveis (humanos, materiais e financeiros) e a

  • realidade escolar, cada instituio educativa assume sua marca, tecendo, no coletivo, seu projeto poltico-pedaggico, propiciando conseqentemente a construo de uma nova forma de organizao.

    4.3 - Currculo

    Currculo um importante elemento constitutivo da organizao escolar. Currculo implica,necessariamente, a interao entre sujeitos que tm um mesmo objetivo e a opo por um referencial tericoque o sustente.

    Currculo uma construo social do conhecimento, pressupondo a sistematizao dos meiospara que esta construo se efetive; a transmisso dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas deassimil-los, portanto, produo, transmisso e assimilao so processos que compem uma metodologia deconstruo coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currculo propriamente dito. Neste sentido, o currculorefere-se organizao do conhecimento escolar.

    O conhecimento escolar dinmico e no uma mera simplificao do conhecimento cientfico,que se adequaria faixa etria e aos interesses dos alunos. Da, a necessidade de se promover, na escola, umareflexo aprofundada sobre o processo de produo do conhecimento escolar, uma vez que ele , ao mesmotempo, processo e produto. A anlise e a compreenso do processo de produo do conhecimento escolarampliam a compreenso sobre as questes curriculares.

    Na organizao curricular preciso considerar alguns pontos bsicos. O primeiro o de que ocurrculo no um instrumento neutro. O currculo passa ideologia, e a escola precisa identificar e desvelar oscomponentes ideolgicos do conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a manuteno deprivilgios. A determinao do conhecimento escolar, portanto, implica uma anlise interpretativa e crtica, tantoda cultura dominante, quanto da cultura popular. O currculo expressa uma cultura.

    O segundo ponto o de que o currculo no pode ser separado do contexto social, uma vez queele historicamente situado e culturalmente determinado.

    O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organizao curricular que a escola deve adotar. Emgeral, nossas instituies tm sido orientadas para a organizao hierrquica e fragmentada do conhecimentoescolar. Com base em Bernstein (1989), chamo a ateno para o fato de que a escola deve buscar novas formasde organizao curricular, em que o conhecimento escolar (contedo) estabelea um relao aberta e inter-relacione-se em torno de uma idia integradora. A esse tipo de organizao curricular, o autor denomina decurrculo integrao. O currculo integrao, portanto, visa reduzir o isolamento entre as diferentes disciplinascurriculares, procurando agrup-Ias num todo mais amplo.

    Como alertou Domingos (1985, p.153) "cada contedo deixa de ter significado por si s, paraassumir uma importncia relativa e passar a ter uma funo bem determinada e explcita dentro do todo de quefaz parte".

    O quarto ponto refere-se a questo do controle social, j que o currculo formal (contedoscurriculares, metodologia e recursos de ensino, avaliao e relao pedaggica) implica controle. Por outro lado,o controle social instrumentalizado pelo currculo oculto, entendido este como as "mensagens transmitidas pelasala de aula e pelo ambiente escolar" (Cornbleth 1992, p. 56). Assim, toda a gama de vises do mundo, asnormas e os valores dominantes so passados aos alunos no ambiente escolar, no material didtico e maisespecificamente por intermdio dos livros didticos, na relao pedaggica, nas rotinas escolares. Os resultadosdo currculo oculto "estimulam a conformidade a ideais nacionais e convenes sociais ao mesmo tempo quemantm desigualdades socioeconmicas e culturais" (ibid., p. 56).

    Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle social que tm permeado as principaistendncias do pensamento curricular, procurou defender o ponto de vista de que controle social no envolve,necessariamente, orientaes conservadoras, coercitivas e de conformidade comportamental. De acordo com oautor, subjacente ao discurso curricular crtico encontra-se uma noo de controle social orientada para aemancipao. Faz sentido, ento, falar em controle social comprometido com fins de liberdade que dem aoestudante uma voz ativa e crtica.

    Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor chama a ateno para o fato de que a noocritica de controle social no pode deixar de discutir:

    o contexto apropriado ao desenvolvimento de prt icas curriculares quefavoream o bom rendimento e a autonomia dos estudantes e, empart icular , que reduzam os elevados ndices de evaso e repetncia denossa escola de primeiro grau. (1992, p. 22)

    A noo de controle social na teoria curricular crtica mais um instrumento de contestao eresistncia ideologia veiculada por intermdio dos currculos, tanto do formal quanto do oculto.

    Orientar a organizao curricular para fins emancipatrios implica, inicialmente desvelar as visessimplificadas de sociedade, concebida como um todo homogneo, e de ser humano como algum que tende aaceitar papis necessrios sua adaptao ao contexto em que vive. Controle social na viso crtica, umacontribuio e uma ajuda para a contestao e a resistncia ideologia veiculada por intermdio dos currculosescolares.

  • 4.4 - O tempo escolar

    O tempo um dos elementos constitutivos da organizao do trabalho pedaggico. O calendrioescolar ordena o tempo: determina o inicio e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as frias, os perodosescolares em que o ano se divide, os feriados cvicos e religiosos, as datas reservadas avaliao, os perodospara reunies tcnicas, cursos etc.

    O horrio escolar, que fixa o nmero de horas por semana e que varia em razo das disciplinasconstantes na grade curricular, estipula tambm o nmero de aulas por professor. Tal como afirma Enguita(1989, p. 180).

    (..) As matr ias tornam-se equivalentes porque ocupam o mesmo nmerode horas por semana, e, so vis tas como tendo menor prestgio seocupam menos tempo que as demais.

    A organizao do tempo do conhecimento escolar marcada pela segmentao do dia letivo, e ocurrculo , conseqentemente, organizado em perodos fixos de tempo para disciplinas supostamenteseparadas. O controle hierrquico utiliza o tempo que muitas vezes desperdiado e controlado pelaadministrao e pelo professor.

    Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, mais hierarquizadas e ritualizadas seroas relaes sociais, reduzindo, tambm, as possibilidades de se institucionalizar o currculo integrao queconduz a um ensino em extenso.

    Enguita ao discutir a questo de como a escola contribui para a inculcao da preciso temporalnas atividades escolares, assim se expressa:

    A sucesso de perodos muito breves sempre de menos de uma hora dedicados a matrias muito di feren tes entre si , sem necessidade deseqncia lgica entre elas, sem atender melhor ou pior adequao deseu contedo a perodos mais longos ou mais cur tos e sem prestarnenhuma ateno cadncia do in teresse e do trabalho dos estudantes;em suma, a organizao hab i tual do horr io escolar ensina ao estudanteque o importante no a qual idade precisa de seu trabalho, a que odedica, mas sua durao. A escola o pr imeiro cenrio em que a crianae o jovem presenciam, acei tam e sofrem a reduo de seu trabalho atrabalho abstrato. (1989, p.180)

    Para alterar a qualidade do trabalho pedaggico torna-se necessrio que a escola reformule seutempo, estabelecendo perodos de estudo e reflexo de equipes de educadores fortalecendo a escola comoinstncia de educao continuada.

    preciso tempo para que os educadores aprofundem seu conhecimento sobre os alunos e sobreo que esto aprendendo. preciso tempo para acompanhar e avaliar o projeto poltico-pedaggico em ao. preciso tempo para os estudantes se organizarem e criarem seus espaos para alm da sala de aula.

    4.5 - O processo de deciso

    Na organizao formal de nossa escola, o fluxo das tarefas das aes e principalmente dasdecises orientado por procedimentos formalizados, prevalecendo as relaes hierrquicas de mando esubmisso, de poder autoritrio e centralizador.

    Uma estrutura administrativa da escola adequada realizao de objetivos educacionais, deacordo com os interesses da populao, deve prever mecanismos que estimulem a participao de todos noprocesso de deciso.

    Isto requer uma reviso das atribuies especificas e gerais, bem como da distribuio do poder eda descentralizao do processo de deciso. Para que isso seja possvel h necessidade de se instalaremmecanismos institucionais visando participao poltica de todos os envolvidos com o processo educativo daescola. Paro (1993, p. 34 sugere a instalao de processos eletivos de escolha de dirigentes, colegiados comrepresentao de alunos, pais, associao de pais e professores, grmio estudantil, processos coletivos deavaliao continuada dos servios escolares etc.

    4.6 - As relaes de trabalho

    importante reiterar que, quando se busca uma nova organizao do trabalho pedaggico, estse considerando que as relaes de trabalho, no interior da escola devero estar calcadas nas atitudes desolidariedade, de reciprocidade e de participao coletiva, em contraposio organizao regida pelosprincpios da diviso do trabalho da fragmentao e do controle hierrquico. nesse movimento que se verifica oconfronto de interesses no interior da escola. Por isso todo esforo de se gestar uma nova organizao develevar em conta as condies concretas presentes na escola. H uma correlao de foras e nesse embate quese originam os conflitos, as tenses, as rupturas, propiciando a construo de novas formas de relaes detrabalho, com espaos abertos reflexo coletiva que favoream o dilogo, a comunicao horizontal entre os

  • diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a descentralizao do poder. A esse respeito,Machado assume a seguinte posio: "O processo de luta visto como uma forma de contrapor-se dominao,o que pode contribuir para a articulao de prticas emancipatrias" (1989, p. 30).

    A partir disso novas relaes de poder podero ser construdas na dinmica interna da sala deaula e da escola.

    4.7 - A aval iao

    Acompanhar as atividades e avali-las levam-nos a reflexo com base em dados concretos sobrecomo a escola organiza-se para colocar em ao seu projeto poltico-pedaggico. A avaliao do projeto poltico-pedaggico, numa viso crtica, parte da necessidade de se conhecer a realidade escolar, busca explicar ecompreender ceticamente as causas da existncia de problemas bem como suas relaes, suas mudanas e seesfora para propor aes alternativas (criao coletiva). Esse carter criador conferido pela autocrtica.

    Avaliadores que conjugam as idias de uma viso global, analisam o projeto poltico-pedaggico,no como algo estanque desvinculado dos aspectos polticos e sociais. No rejeitam as contradies e osconflitos. A avaliao tem um compromisso mais amplo do que a mera eficincia e eficcia das propostasconservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar o projeto poltico-pedaggico avaliar os resultados da prpriaorganizao do trabalho pedaggico.

    Considerando a avaliao dessa forma possvel salientar dois pontos importantes. Primeiro, aavaliao um ato dinmico que qualifica e oferece subsdios ao projeto poltico-pedaggico. Segundo, elaimprime uma direo s aes dos educadores e dos educandos.

    O processo de avaliao envolve trs momentos: a descrio e a problematizao da realidadeescolar, a compreenso crtica da realidade descrita e problematizada e a proposio de alternativas de ao,momento de criao coletiva.

    A avaliao, do ponto de vista crtico, no pode ser instrumento de excluso dos alunosprovenientes das classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrtica, deve favorecer o desenvolvimento dacapacidade do aluno de apropriar-se de conhecimentos cientficos, sociais e tecnolgicos produzidoshistoricamente e deve ser resultante de um processo coletivo de avaliao diagnstica.

    5. Final i zando

    A escola, para se desvencilhar da diviso do trabalho, de sua fragmentao e do controlehierrquico precisa criar condies para gerar uma outra forma de organizao do trabalho pedaggico.

    A reorganizao da escola dever ser buscada de dentro para fora. O fulcro para a realizaodessa tarefa ser o empenho coletivo na construo de um projeto poltico-pedaggico e isso implica fazer rup-turas com o existente para avanar.

    preciso entender o projeto poltico-pedaggico da escola como uma reflexo de seu cotidiano.Para tanto ela precisa de um tempo razovel de reflexo e ao, para se ter um mnimo necessrio consolidao de sua proposta.

    A construo do projeto poltico-pedaggico requer continuidade das aes, descentralizao,democratizao do processo de tomada de decises e instalao de um processo coletivo de avaliao de cunhoemancipatrio

    Finalmente, h que se pensar que o movimento de luta e resistncia dos educadores indispensvel para ampliar as possibilidades e apressar as mudanas que se fazem necessrias dentro e forados muros da escola.

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