vegetação do parque estadual...

58
Vegetação do Parque Estadual Cristalino Novo Mundo – MT Relatório Preliminar Maio 2008 Denise Sasaki 1 , Daniela Zappi 2 & William Milliken 2 1 Fundação Ecológica Cristalino, 2 Royal Botanic Gardens, Kew

Upload: vanhuong

Post on 02-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Vegetação do Parque Estadual Cristalino Novo Mundo – MT

Relatório Preliminar Maio 2008

Denise Sasaki 1, Daniela Zappi 2 & William Milliken 2

1 Fundação Ecológica Cristalino, 2 Royal Botanic Gardens, Kew

Conteúdo 1 AGRADECIMENTOS ......................................................................................................................1 2 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................2

2.1 A REGIÃO DO CRISTALINO ...........................................................................................................2 2.2 PROGRAMA FLORA CRISTALINO ..................................................................................................2 2.3 O PARQUE ESTADUAL CRISTALINO .............................................................................................3 2.4 CLIMA..........................................................................................................................................4 2.5 GEOMORFOLOGIA ........................................................................................................................4 2.6 GEOLOGIA ...................................................................................................................................5 2.7 SOLOS..........................................................................................................................................6 2.8 VEGETAÇÃO: INTERPRETAÇÕES PRÉVIAS.....................................................................................7 2.9 ESTUDOS ANTERIORES DA VEGETAÇÃO DO PARQUE ....................................................................8

3 INTRODUÇÃO AO PRESENTE ESTUDO ...................................................................................9 3.1 OBJETIVOS...................................................................................................................................9 3.2 METODOLOGIA ..........................................................................................................................10

4 VEGETAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO........................................................12 4.1 REVISÃO DOS TIPOS DE VEGETAÇÃO E SUA DISTRIBUIÇÃO NO PARQUE......................................12 4.2 MAPA PRELIMINAR DA VEGETAÇÃO DO PARQUE .......................................................................15 4.3 DIVERSIDADE E ENDEMISMO......................................................................................................16

5 PRINCIPAIS TIPOS DE VEGETAÇÃO NO PARQUE .............................................................18 5.1 FLORESTA OMBRÓFILA DENSA SUBMONTANA............................................................................18

5.1.1 Observações na floresta ombrófila densa no sudoeste do Parque .......................................20 5.1.2 Floresta ombrófila densa aluvial..........................................................................................21

5.2 FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA SUBMONTANA (MATA-DE-CIPÓ)...............................................23 5.3 FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL SUBMONTANA .............................................................25 5.4 FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL SUBMONTANA.....................................................................27 5.5 CAMPINARANA ..........................................................................................................................29

5.5.1 Campinarana Florestada (Caatinga) ...................................................................................29 5.5.2 Campinarana gramíneo-lenhosa ..........................................................................................33

5.6 CAMPO RUPESTRE DA AMAZÔNIA (REFÚGIOS SUBMONTANOS ARBUSTIVOS) ............................36 5.6.1 Serras do Mateiro e do Rochedo ..........................................................................................36

5.7 VEGETAÇÃO (FORMAÇÕES PIONEIRAS) COM INFLUÊNCIA FLUVIAL E/OU LACUSTRE ..................39 5.7.1 Palmeiral (buritizal) .............................................................................................................39 5.7.2 Contato arbustiva/herbácea .................................................................................................40

5.8 VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA E AGROPECUÁRIA.............................................................................42 6 IMPACTO ANTRÓPICO NA VEGETAÇÃO DO PARQUE.....................................................44

6.1 EXPLORAÇÃO DE MADEIRA........................................................................................................44 6.2 FOGO .........................................................................................................................................44 6.3 AGROPECUÁRIA.........................................................................................................................44 6.4 USINAS HIDRELÉTRICAS ............................................................................................................45

7 PERSPECTIVAS PARA O ZONEAMENTO...............................................................................46 8 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................48 9 ANEXOS ..........................................................................................................................................51

9.1 ANEXO 1: PONTOS REFERIDOS NO TEXTO...................................................................................51

Figuras FIGURA 1. LOCALIZAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO, MATO GROSSO, BRASIL. 3 FIGURA 2. REGIÃO DO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO (CORES ARTIFICIAIS) EM 1984,

MOSTRANDO A COMPLEXIDADE DA VEGETAÇÃO NATURAL (FONTE: LANDSAT TM) 4 FIGURA 4. MAPA GEOLÓGICO DO NORTE-CENTRO DE MATO GROSSO (MODIFICADO DE

SEPLAN/MT 2001). 5 FIGURA 5. MAPA DOS SOLOS DO PARQUE (SEPLAN/ZSEE-MT 2000). 6 FIGURA 6. MAPA DA VEGETAÇÃO DO PARQUE (SEPLAN/ZSEE-MT 2000). 7 FIGURA 7. VEGETAÇÃO NO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO DE ACORDO COM

RADAMBRASIL (PROVIDO PELA SEMA-MT). 8 FIGURA 8: ÁREAS VISITADAS NO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO PARA A REALIZAÇÃO

DESTE ESTUDO FLORÍSTICOS (PONTOS BRANCOS = 2008, PONTOS VERMELHOS = ESTUDOS ANTERIORES EM 2007). 10

FIGURA 9. SCIADOCEPHALA SP. – PROVÁVEL ESPÉCIE NOVA E PRIMEIRO REGISTRO PELO GÊNERO NO BRASIL. 16

FIGURA 10: FLORESTA OMBRÓFILA DENSA, TRANSECTO 9 (P29). 18 FIGURA 11: FLORESTA OMBRÓFILA DENSA, TRANSECTO 12 (P40). 18 FIGURA 12. SOLO TRANSECTO 7 (P29). 20 FIGURA 13. SOLO TRANSECTO 12 (P40). 20 FIGURA 14. SOLO P15. 20 FIGURA 15. FLORESTA ALAGADA NA BEIRA DO RIO TELES PIRES. 22 FIGURA 16. BURITIZAL NO RIO CRISTALINO (P34). 22 FIGURA 17. SOLO P14. 23 FIGURA 18. SOLO P16. 23 FIGURA 19. SOLO P50. 23 FIGURA 20. FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA (MATA DE CIPÓ, MOSTRANDO O MOSAICO

DE ÁREAS ABERTAS E FLORESTA). 24 FIGURA 21. MATA DE CIPÓ (JUQUIRA), P14. 24 FIGURA 22. MATA DE CIPÓ (JUQUIRA), P16. 24 FIGURA 23. FLORESTA SEMIDECIDUAL, TRANSECTO 11 (P48). 26 FIGURA 24. FLORESTA SEMIDECIDUAL, TRANSECTO 8 (P21). 26 FIGURA 25. SOLO P19. 26 FIGURA 26. SOLO TRANSECTO 8 (P21). 26 FIGURA 27. SOLO TRANSECTO 11 (P48). 26 FIGURA 28. FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL (MES DE JULHO) NUM MORRO

GRANÍTICO NA BEIRA DO RIO CRISTALINO. 28 FIGURA 29. FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL SOBRE UM MORRO DE GRANITO NO

OESTE DO PARQUE (© GOOGLEEARTH). 29 FIGURA 30. SOLO TRANSECTO 1 (P3). 30 FIGURA 31. SOLO TRANSECTO 5 (P1). 30 FIGURA 32. SOLO TRANSECTO 10 (P42). 30 FIGURA 33. CAMPINARANA DE HUMIRIA BALSAMIFERA, TRANSECTO 1 (P3). 31 FIGURA 34. CAMPINARANA ALAGADA DE CLUSIA/ RETINIPHYLLUM (P46). 31 FIGURA 35. CAMPINARANA NA SERRA DO MATEIRO, TRANSECTO 10 (P42). 32 FIGURA 36. TRANSIÇÃO CAMPINARANA/CAMPO RUPESTRE, P1. 32 FIGURA 37. FLORESTA E CAMPINARANA NO EXTREMO LESTE DO PARQUE. 33 FIGURA 38. CAMPINARANA GRAMÍNEO-LENHOSA, LESTE DO PARQUE (P7); OBSERVA A

ÁGUA CORRENDO LENTAMENTE NA SUPERFÍCIE DAS PEDRAS. 34 FIGURA 39. CAMPINARANA GRAMÍNEO-LENHOSA (TRANSIÇÃO CAMPO RUPESTRE),

SERRA DO ROCHEDO (P25). 35 FIGURA 40. CAMPO RUPESTRE NO SERRA DE ROCHEDO. 36 FIGURA 41. CAMPO RUPESTRE NA SERRA DO ROCHEDO (P22). 37 FIGURA 42. CAMPO RUPESTRE NA SERRA DE ROCHEDO, TRANSECTO 4 (P20). 38 FIGURA 43. CAMPO RUPESTRE NA SERRA DE MATEIRO, P44. 38 FIGURA 44. CURSO DO RIO CRISTALINO NO NOROESTE DO PARQUE (FONTE: ASTER 2005).

40 FIGURA 45. VEGETAÇÃO RIBEIRINHA NUMA DAS ‘LAGOAS’ NO RIO CRISTALINO (P36). 41 FIGURA 46. VEGETAÇÃO ARBUSTIVO-HERBÁCEA NO RIO CRISTALINO (P45). 42 FIGURA 47. RYTIDOSTYLIS AMAZONICA COBRINDO VEGETAÇÃO RIBEIRINHA. 42

4

FIGURA 48. ÁREAS DE VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA NO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO. ÁREAS LISTRADAS DE VERMELHO E BRANCO SOFRERAM ALTERAÇÕES ANTES DA CRIAÇÃO DO PARQUE EM 2001 (FONTE: LANDSAT TM/INPE); AS ÁREAS EM VERMELHO ENTRE 2001 E 2006 (FONTE: CBERS/INPE). 43

FIGURA 49. PASTO NA FAZENDA AJJ (P13). 43 FIGURA 50. PASTO, P31. 43 FIGURA 51. EVIDÊNCIA DE EXPLORAÇÃO DE MADEIRA NO PARQUE: ESTRADAS E

CLAREIRAS. 44 FIGURA 52. VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA E TERRAS AGRÍCOLAS NO PARQUE ESTADUAL

CRISTALINO, SEGUNDO IMAGENS CBERS 2006. 45 FIGURA 53. ESTIMATIVA DA ÁREA A SER INUNDADA PELO PCH ROCHEDO (FONTE: SEMA

– INTERPRETAÇÃO DO MAPA DO PCH). 46 FIGURA 54. ÁREAS DE BOA PRESERVAÇÃO DE HÁBITAT, INCORPORANDO ENTRE ELES

TODOS OS HÁBITATS ENCONTRADOS NO PARQUE. 48 FIGURA 55: PONTOS DISCUTIDOS NESTE RELATÓRIO 53

Tabelas TABELA 1: TIPOS DE VEGETAÇÃO E SUAS COORDENADAS GEOGRÁFICAS ONDE FORAM

REALIZADAS ANÁLISES QUANTITATIVAS DO COMPONENTE ARBÓREO (TRANSECTO POR PONTO-CENTRO-QUADRADO) NO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO. ...................11

TABELA 2: POLINIZAÇÃO E DISPERSÃO POR AGENTES BIÓTICOS NO PARQUE ESTADUAL CRISTALINO. ..................................................................................................................................17

5

1 Agradecimentos Nossos agradecimentos para:

• Elton A. Silveira, Élder Monteiro, Eliane Fachim e Fátima Sonoda da Superintendência da Biodiversidade da Secretaria do Estado de Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA – MT), pelo apoio logístico e técnico;

• Martinho Philippsen e Marcos Bessa da gerência do Parque Estadual Cristalino (SEMA – MT), pelo apoio logístico e estratégico;

• O pessoal da Fundação Ecológica Cristalino, especialmente Renato e Márcia Farias e Cláudio Vicenti, pela prolongada colaboração e suporte logístico prestado a esta expedição.

• Karen G. Rebeschini e Edílson Marques da Regional da SEMA de Alta Floresta pelo apoio logístico;

• A gerência da Fazenda AJJ, especialmente Rogério Arnildo Gauer, pelo apoio logístico;

• A gerência e funcionários Raimundo Nonato Teixeira e Maria Aparecida Teixeira da Pousada no Parque Estadual Cristalino, pelo apoio logístico;

• A Universidade do Estado do Mato Grosso – campus universitário de Alta Floresta, pelo empréstimo de materiais de coleta e pelo uso do laboratório;

• Os colegas da Universidade de São Paulo, José R. Pirani e Renato de Mello-Silva, pelo apoio logístico e apoio junto ao CNPq e IBAMA com relação à permissão de coleta na área.

• Os nossos companheiros de campo: Arianne C. Camargo, Gracieli S. Henicka, Jéferson Nascimento, José H. Piva, Nicola G. Biggs e Marlene Batista;

Este levantamento fez parte das atividades do Programa Flora Cristalino, uma iniciativa colaborativa entre a Fundação Ecológica Cristalino e o Royal Botanic Gardens Kew, com apoio de Fauna & Flora International (FFI) e da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Programa Flora Cristalino recebe apoio financeiro das parcerias Kew-Rio Tinto e FFI-Rio Tinto.

1

2 Introdução

2.1 A região do Cristalino A região do Cristalino, localizada no extremo norte do Estado de Mato Grosso nos municípios de Novo Mundo e Alta Floresta, constitui umas das áreas mais importantes para conservação na Amazônia brasileira, devido ao alto grau de pressão antrópica a que está submetida e à sua elevada biodiversidade, a qual é ainda pouco conhecida (Campello et al. 2002). É considerada uma das áreas prioritárias para a conservação segundo o Ministério do Meio Ambiente (Maury 2004). O termo “região do Cristalino” é usualmente utilizado para referir-se à porção mato-grossense da bacia do Rio Cristalino, um afluente do Rio Teles Pires, que nasce na Serra do Cachimbo no sul do Estado do Pará, e também à parte da bacia do Rio Nhandu, um outro afluente do Teles Pires.

Situada no chamado “arco do desmatamento” no sul da Amazônia brasileira, a região do Cristalino tem sido palco de conflitos político-econômicos desde o início de sua colonização nos anos ‘70. Atividades garimpeiras, agricultura, retirada de madeira e pecuária foram responsáveis pela intensa devastação da sua vegetação nativa, que atualmente encontra-se extremamente fragmentada. Em janeiro deste ano, Alta Floresta liderava a lista elaborada pelo Governo Federal dos municípios com as maiores taxas de desmatamento no país. Apesar de unidades de conservação (UCs) terem sido criadas na região nos últimos anos, estas ainda permanecem ameaçadas por invasões, queimadas e desmatamentos ilegais.

2.2 Programa Flora Cristalino Desde 1999, a organização não-governamental Fundação Ecológica Cristalino (FEC), com sede no município de Alta Floresta, tem se dedicado à promoção da conservação desta região, através principalmente de atividades de educação ambiental, criação e gestão de unidades de conservação, projetos sociais e políticas públicas. Em julho de 2006, foi criado o Programa Flora Cristalino (PFC), uma parceria entre a FEC e Royal Botanic Gardens Kew, com o apoio da Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT), Fauna & Flora International (FFI) e Rio Tinto. Este programa visa promover a conservação do Cristalino através da produção de conhecimento científico sobre a sua flora e a capacitação de pessoal local. Os dados obtidos nas pesquisas científicas são utilizados para a criação de material de divulgação, a elaboração de planos de manejo de UCs da região, a produção de artigos científicos, além de contribuir com outros projetos da FEC, como de Educação Ambiental.

O foco inicial do PFC foram as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Cristalino I, II e III, situadas no município de Novo Mundo e que são administradas pela FEC. Realizaram-se expedições de campo para as RPPNs e os dados sobre a sua flora foram utilizados para a elaboração do seu plano de manejo, além de outros produtos de divulgação, como pôster, calendário temático e página na internet com lista de espécies. Outra grande contribuição do PFC para o conhecimento da flora do Cristalino foi a doação dos materiais botânicos herborizados (exsicatas) para a UNEMAT, a qual pôde iniciar a montagem de um herbário (HERBAM) no campus de Alta de Floresta.

Um dos principais objetivos do PFC é colaborar com a elaboração do plano de manejo do Parque Estadual Cristalino, uma importantíssima unidade de conservação situada nos municípios de Novo Mundo e Alta Floresta (Figura 1). O PE Cristalino foi criado em junho de 2000 e teve sua área ampliada para 184.900 hectares em maio de 2001. Entretanto, passados quase oito anos após sua criação, esta unidade de conservação permanece sem um plano de manejo e a sua implementação não pôde ocorrer de fato.

2

2.3 O Parque Estadual Cristalino

O PE Cristalino foi criado através do Decreto nº 1.471 de 09 de junho de 2000 e da Lei n° 7.518 de 28 de setembro de 2001, com uma área de 66.900 hectares. Em 30 de maio de 2001, o Parque teve sua área ampliada em mais 118.000 hectares de acordo com Decreto Nº 2.628. Neste processo de criação, tiveram importante papel o PROECOTUR, o PRODEAGRO e a extinta FEMA.

A localização do PE Cristalino no extremo norte do Estado do Mato Grosso, ao Sul da Reserva Biológica da Serra do Cachimbo (Pará) e o e ao leste do Parque Nacional do Juruena (Mato Grosso/ Pará/ Amazonas) posiciona-o estrategicamente em função do projeto visando a formação de um corredor ecológico meridional da Amazônia.1 A necessidade de conservação de áreas no Norte do Mato Grosso havia sido ressaltada por vários membros da expedição Anglo-Brasileira da Royal Society e Royal Geographical Society (1967-1969), conforme citado por Smith (1971) “O norte do Mato Grosso, e as partes adjacentes dos estados limítrofes, sobreviveram até a segunda metade deste século como uma das áreas tropicais não colonizadas mais extensas... ao que parece as dificuldades, durante um futuro próximo, de praticar uma utilização agrícola intensiva e racional, e, especialmente, de manter o equilíbrio precário da fertilidade dos solos distróficos, são razões válidas para preservar partes substanciais deste ambiente ainda não perturbado”.

Figura 1. Localização do Parque Estadual Cristalino, Mato Grosso, Brasil.

O PE Cristalino está situado entre coordenadas aproximadas de 9°25’ e 9°43’S e de 55°09’ e 56°02’W. A maior parte da sua área localiza-se no município de Novo Mundo, sendo que a porção do extremo oeste do Parque encontra-se no município de Alta Floresta. Apresenta um formato aproximado de um retângulo, com comprimento máximo aproximado de 89 km (sentido leste-oeste) e largura máxima aproximada de 32 km (sentido norte-sul). Ao norte, faz fronteira com a Base da Força Aérea Brasileira, no Estado do Pará, a qual abriga uma extensa área de vegetação nativa. Na lacuna retangular que existe na sua porção sudoeste, estão as RPPNs Cristalino I, II e III. Seus demais limites a oeste, leste e sul fazem fronteiras com propriedades rurais.

Desde a sua criação, a integridade do PE Cristalino vem sendo ameaçada e uma área considerável sofreu degradações. No início de 2002, a própria Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso promoveu diversas tentativas de redução de sua área, ao mesmo tempo em que ocorriam descontroladamente invasões, queimadas e desmatamentos (Associação dos Amigos do Parque Cristalino 2005). Diante desta situação, a Justiça Federal interveio em dezembro de 2002 e determinou o seqüestro da área como forma de suspender a grilagem promovida pelo Governo Estadual. Além disso, o IBAMA foi encarregado de combater a degradação ambiental do Parque. Contudo, a indefinição da responsabilidade em longo prazo sobre o Parque e a crença

1 Ver site da WWF no http://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza//index.cfm?uNewsID=2863

3

na impunidade por parte dos posseiros propiciaram taxas de desmatamentos recordes no ano de 2003, que decaíram somente em 2004.

Figura 2. Região do Parque Estadual Cristalino (cores artificiais) em 1984, mostrando a complexidade da vegetação natural (fonte: Landsat TM)

Em março de 2005, uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal devolveu ao Estado a responsabilidade sobre o PE Cristalino. Depois da extinção da FEMA em junho de 2005, a SEMA assumiu a responsabilidade pelo Parque. Entretanto, esta situação de instabilidade parece demorar a se resolver. Ainda em dezembro de 2006, houve mais uma tentativa de redução dos limites do PE Cristalino por deputados do Estado de Mato Grosso. O caso encontra-se atualmente no Ministério Público Federal e, em 26 de janeiro de 2007, foi concedida uma liminar suspendendo a redução do Parque.

2.4 Clima O clima na região de Novo Mundo e Alta Floresta é considerado quente e úmido, com temperaturas médias anuais acima de 24°C e pluviosidade média anual acima de 2.400 mm. Há, porém, uma estação seca definida (maio-setembro), com duração de três a cinco meses e totais mensais inferiores a 100 mm (Nimer 1989, Köppen 1948, SEPLAN/MT 2001a).

2.5 Geomorfologia A região do Cristalino está localizada na grande Depressão Marginal Sul-Amazônica, que foi gerada por processos erosivos de intensa atuação nas bordas da Bacia Amazônica ao longo do Terciário e Quartenário (Ross 2003). É a principal unidade geomorfológica da parte norte do estado, estendendo-se de leste a oeste, onde se situam as cidades de Guarantã do Norte, Matupá, Peixoto de Azevedo, Alta Floresta, Colider, Paranaíta, Apiacás e Juruena (SEPLAN/MT 1997).

Sua gênese é semelhante à Depressão Marginal Norte-Amazônica, marcada por formas de relevo de topos levemente convexizados com altitudes entre 100 e 400 m, crescentes do norte para o sul (Ross 2003). É característica marcante a presença de relevos residuais representados por intrusões graníticas do Pré-Cambriano (Planaltos Residuais Sul-amazônicos), que determinam formas de relevo em morros de topos convexos com distribuição descontínua.

A depressão da Amazônia meridional apresenta complexidade estrutural e litológica (Brasil & Alvarenga 1989). O substrato rochoso está representado por litologias que vão desde o Arqueano ao Proterozóico Superior. O traço marcante desta depressão é intensa dissecação do relevo, que nivelou estruturas distintas, através de sucessivas fases erosivas. O arcabouço geológico é visualizado nitidamente através de muitas formas de relevo que se mostram adaptadas a falhamentos e dobramentos. Como

4

exemplos desses eventos, citam-se os grabens (i.e. depressões de origem tectônica com fundo plano) do Cachimbo e dos Caiabis e o alto estrutural Juruena–Teles Pires. Por caracterizar-se como uma unidade de amplas proporções e ser uma superfície baixa, apresenta-se com diversas segmentações, sendo ora dividida por planaltos residuais, ora interpenetrando relevos residuais mais altos (SEPLAN/MT 1997).

2.6 Geologia Segundo a base de dados da SEPLAN/MT (2001b), a área do PE Cristalino abrange quatro formações geológicas distintas, três das quais são restritas à faixa norte do Estado de Mato GrossoError! Reference source not found.. A única exceção são os aluviões do Quartenário (Ha), presentes nos vales e planícies de inundação de todos os cursos de água da atual rede hidrográfica. São depósitos de areias, siltes, argilas e cascalhos. No Parque, é restrito às margens do médio Rio Cristalino.

A maior parte do PE Cristalino ocorre sobre rochas antigas do Grupo Beneficente (PMb), que datam do Proterozóico Médio (1.900-1.100 MA). Este é resultado de um sistema deposicional em ambientes marinho e continental, composto principalmente por arenitos quartzosos, arenitos feldspáticos, siltitos, argilitos, calcários e dolomitos estromatolíticos ou não, dolarenitos, folhelhos, conglomerados, cherts e tufos. No Estado de Mato Grosso, essa formação está exposta em três grandes blocos em seu limite norte: Apiacás, a região do Cristalino e entre a Serra do Cachimbo e o Rio Xingu.

Na porção sul do Parque, onde se situa a Serra do Rochedo, a formação geológica ocorrente é o Complexo Xingu (pCx), ainda mais antiga do que o Grupo Beneficente, datado do Arqueano (>2.600 MA). Suas rochas, de modo geral, sofreram ação de fenômenos granitizantes e/ou intensa migmatização ao longo de sua história, tendo como resultado a transformação de áreas, normalmente com uma intrincada associação litológica, em regiões homogêneas com marcante monotonia composicional. Esta formação, apesar de também ser restrita à porção norte do estado, é mais extensa, ocupando grandes áreas no noroeste e centro-norte de Mato Grosso, e tendo como limite sul a Serra do Tombador.

Figura 3. Mapa geológico do norte-centro de Mato Grosso (modificado de SEPLAN/MT 2001).

5

Em uma pequena porção no sudeste e também no oeste do Parque, ao redor das RPPNs Cristalino, ocorre a formação geológica do Grupo Iriri (PMi), datando do Proterozóico Médio. Sob esta denominação estão reunidos componentes vulcânicos ácidos do Supergrupo Uatumã. Suas rochas são classificadas como riólitos, riodacitos, andesitos, basaltos e rochas piroclásticas, recobertas em vários pontos por sedimentos do Proterozóico Médio – no caso do PE Cristalino, pelo grupo Beneficente. Essa formação ocorre em todo o norte de Mato Grosso.

2.7 Solos Segundo a base de dados da SEPLAN/MT (2001c), ocorrem nos limites do PE Cristalino cinco diferentes tipos de solo (Figura 4). As Areias Quartzosas Álicas (AQa9) são o tipo predominante, encontradas em quase toda a sua porção norte, centro e centro-leste. As Areias Quartzosas correspondem a solos minerais arenosos, hidromórficos ou não, normalmente profundos ou muito profundos, essencialmente quartzosos, virtualmente destituídos de minerais primários. Possuem textura nas classes areia e areia franca, até pelo menos 2 m de profundidade, com baixíssima disponibilidade de água. São particularmente susceptíveis à erosão em profundidade. Normalmente são muito pobres, com capacidade de troca de cátions e saturação de bases baixas.

AQa

PVd1

PVd4 Rd2

RaSCLd

Ra

PVd2

PTd

PVa

HGPdLEd2

AQa

PVd1

SCLd

LEd2

LEd1

PVd6

PTa

PTa

PVd2

Rd

Rd

AQaPVd2Ra

PTa

Figura 4. Mapa dos solos do Parque (SEPLAN/ZSEE-MT 2000).

Em todo o norte do Estado de Mato Grosso, são predominantes os solos Podzólicos Vermelho-Amarelos, sendo álicos (ácidos, com alto teor de alumínio) ou distróficos (de média a baixa fertilidade, com baixos valores de saturação de bases). Estes são solos minerais, não-hidromórficos, profundos a pouco profundos, com uma distinta individualização de horizontes (horizonte A mais arenoso e o B mais argiloso). A grande maioria dos Podzólicos Vermelho-Amarelos de Mato Grosso possui argila de atividade baixa. Apresentam textura variável e são moderadamente a bem drenados, com porosidade total baixa a média e muito susceptíveis à erosão. No PE Cristalino, solos Podzólicos Vermelho-Amarelos Distróficos (PVd3) ocorrem em duas faixas longitudinais uma no nordeste e outra no sudeste do Parque; e Podzólicos Vermelho-Amarelos Álicos (PVa13) ocorrem no oeste do Parque, ao redor das RPPNs Cristalino.

No centro-sul do Parque e na região da Serra do Rochedo, ocorrem solos Litólicos Álicos Distróficos, que são minerais, não-hidromórficos, pouco desenvolvidos, muito rasos ou rasos (2 cm até a rocha), com horizonte A sobre a rocha ou sobre horizonte C, de baixa fertilidade natural. São de textura variável, freqüentemente arenosa ou média cascalhenta. A susceptibilidade à erosão é altíssima.

6

Numa pequena mancha arredondada próxima ao centro-sul do Parque, ocorrem Latossolos Vermelho-escuros Distróficos (LEd7), que compreendem solos minerais não-hidromórficos, muito profundos, bem drenados, friáveis ou muito friáveis, de textura argilosa ou muito argilosa, e ácidos. Com relação à erosão superficial, são relativamente resistentes, entretanto são muito susceptíveis à erosão em profundidade.

De forma geral, a maior parte dos solos no PE Cristalino é essencialmente arenosa, ácida, de média a baixa fertilidade e bastante susceptível à erosão (em alguns casos, somente em profundidade).

2.8 Vegetação: interpretações prévias Segundo a base de dados da SEPLAN/MT (2002), a vegetação do Estado de Mato Grosso é bastante heterogênea, havendo uma distinção acentuada entre a metade sul mais a bacia do Rio Araguaia (extremo leste) e a metade norte do estado. Nesta primeira porção do estado predominam formações savânicas (Savana Arborizada, Savana Parque, Savana Parque associada a áreas pantaneiras); enquanto do centro ao norte do estado predominam formações florestais (Floresta associada ao Planalto dos Parecis e Floresta Ombrófila), algumas de contato (entre Floresta Ombrófila e Floresta Estacional, entre Floresta associada ao Planalto dos Parecis e Savana). Entremeando essas vegetações predominantes, ocorrem manchas menores de outras formações vegetacionais.

FeS

Fe

Agp

SaFe

FeFe

Fe

FoFe

FoFe

FeS

Agp

Fa

Agp

Fe

Fa

Agp

Fa

Ap

FsFr

Sd

Sa

Sa

Sa

Sd

Spf

Figura 5. Mapa da vegetação do Parque (SEPLAN/ZSEE-MT 2000).

De acordo essa classificação, no PE Cristalino são encontradas seis formações vegetacionais (Figura 5). A maior parte do Parque é descrita como estando coberta por uma vegetação de contato entre Floresta Estacional e Savana (FeS), sendo que este tipo de vegetação ocorre de forma pouco expressiva no Mato Grosso como um todo, em manchas descontínuas, que são maiores no norte do estado. As vegetações de transição são aparentemente constituídas por comunidades indiferenciadas, ocorrentes na zona de contato entre dois ou mais tipos de vegetação, que podem interpenetrar-se ou confundir-se. Essa classificação menciona que, tanto a Floresta Estacional quanto a Savana, sofrem um estresse hídrico no inverno, havendo nelas espécies caducifólias.

A segunda formação vegetacional mencionada como a mais extensa no Parque é a Floresta Estacional (Fe), encontrada em manchas por toda a sua área. Esta vegetação é também pouco extensa em Mato Grosso, ocorrendo em pequenas áreas no norte do estado e de forma mais expressiva nas proximidades do Rio Guaporé, no sudeste do

7

estado. A vegetação de contato entre Floresta Ombrófila e Floresta Estacional (FoFe) é encontrada em pequenas áreas no extremo noroeste e no prolongamento no sudoeste do Parque, sendo uma das vegetações predominantes na metade setentrional do estado.

Sd

Dse1Sd1

Sd2

Asc

Dse1

Fse3Dse

Asc Dse

Fse3

Dse1

Fse2Asc1

Sgs

Sgs

Sd2

Figura 6. Vegetação no Parque Estadual Cristalino de acordo com RADAMBRASIL (provido pela SEMA-MT).2

A vegetação da porção oeste da Serra do Rochedo e do centro-sul do Parque é classificada como Savana Florestada (cerradão) (Sd), segundo o SEPLAN possuindo uma estrutura caracteristicamente arbórea (8 a 15 metros), xeromorfa, de esgalhamento profuso, folhas grandes (coriáceas e perenes), casca corticosa, sem estrato arbustivo nítido e com estrato graminoso entremeado de espécies lenhosas de pequeno porte. É ocorrente em todo o estado, mas predominante no centro, onde é encontrada em contato com a vegetação de transição entre Floresta associada ao Planalto dos Parecis e Savana.

Em algumas porções das Serras do Rochedo e do Mateiro, foi listada a Savana Arborizada (cerrado) (Sa), que se desenvolve continuamente na metade sul do estado e também ao longo do Rio Araguaia, e é pouco expressiva no norte mato-grossense.

Por fim, foi citada a Floresta Aluvial (Fr) desenvolvendo-se em uma faixa estreita ao longo do Rio Cristalino. As comunidades vegetais que recobrem as planícies aluviais são influenciadas pelo efeito das cheias dos rios, ou das depressões alagáveis anualmente.

Dessa forma, segundo a SEPLAN/MT (2002), na área relativamente pequena do PE Cristalino ocorre um número considerável de diferentes formações vegetais, a maioria florestal (de contato ou não), com áreas menores de fisionomias savânicas. Já de acordo com o IBGE (2004), os tipos de cobertura vegetal ocorrentes na área do PE Cristalino são de todos de transição entre Floresta Ombrófila e Floresta Estacional, Floresta Estacional e Savana, e Floresta Ombrófila e Savana.

2.9 Estudos anteriores da vegetação do Parque O principal estudo sobre a biodiversidade do PE Cristalino foi realizado pela empresa Tangará para a elaboração do seu plano de manejo (Campello et al. 2002). Apesar de

2 Asc = Floresta ombrófila aberta com cipó, Dse = Floresta ombrófila densa submontana (dossel emergente), Fse = Floresta estacional semidecidual (dossel emergente), Sd = Savana florestada (cerradão), Sg = Savana gramíneo-lenhosa (campestre)

8

expedições de campo terem sido realizadas e uma versão preliminar do plano de manejo elaborada, este documento não chegou a ser finalizado e a implementação do Parque nunca ocorreu efetivamente.

Nesse estudo, maior ênfase foi dada aos levantamentos faunísticos, principalmente à avifauna, tendo sido registradas mais de 400 espécies de aves, com diversas novas ocorrências para o Parque. Além disso, foram registradas prováveis espécies novas de avifauna e herpetofauna. Entretanto, no tocante à flora, foi feito um estudo mais superficial, sendo que somente 67 espécies foram identificadas e seis comunidades naturais distintas reconhecidas (floresta de terra firme, floresta estacional, floresta inundável, varjões, afloramentos rochosos e Rio Cristalino). As espécies vegetais que foram identificadas são as mais comuns nessas comunidades, a maioria arbórea. A existência das comunidades naturais “varjões” e “campos rupestres” não havia sido registrada anteriormente na região.

Segundo o estudo da Tangará, as três principais comunidades naturais do PE Cristalino são: a mata de terra firme, a floresta estacional e os varjões. As comunidades que abrigam maiores índices de endemismo relativos são as florestas inundáveis, os afloramentos rochosos e as florestas de terra firme; entretanto, essas informações são baseadas mais em dados faunísticos do que florísticos. Esse estudo não confirma a predominância de uma vegetação de transição entre Floresta Estacional e Savana, como apontado pelo SEPLAN/MT (2002), e sim de Floresta Ombrófila (de terra firme), uma vegetação florestal mais alta, úmida e de elevada diversidade.

Apesar de este diagnóstico florístico ter sido um passo importante para um melhor entendimento da biodiversidade local, são ainda necessários estudos mais aprofundados para a melhor compreensão da flora do PE Cristalino.

Em 2007, o Programa Flora Cristalino deu início ao estudo da vegetação do PE Cristalino. Mesmo com um pequeno esforço de coleta, verificou-se que o Parque apresenta uma diversidade de fitofisionomias e florística muito maior do que as RPPNs Cristalino I, II e III, adjacentes a ele, não apenas devido ao seu tamanho (aproximadamente 30 vezes maior), mas também porque seu meio físico é muito mais heterogêneo, constituído por diferentes formações geomorfológicas, geológicas, tipos de solo e micro-bacias hidrográficas.

No primeiro semestre de 2007, foram feitas duas coletas na vegetação aberta das margens do Rio Cristalino dentro dos domínios do Parque, registrando-se cerca de 50 espécies. Este tipo de formação, constituído por inúmeras trepadeiras e ervas aquáticas, é ausente nas RPPNs Cristalino, e apresenta muitas espécies características, também ausentes nas RPPNs.

Coletas posteriores foram realizadas no interior do PE Cristalino em julho de 2007, em áreas próximas à Pousada, registrando-se cerca de 150 espécies. Além de matas altas e úmidas, que são mais comuns nas RPPNs, foram amostradas também matas estacionais altas em solo arenoso. Na Serra do Mateiro, existem fisionomias florestais cuja composição florística é predominantemente diferente das matas estacionais das serras das RPPNs, que são muito menores em extensão e altitude. Outra fisionomia observada nesta ocasião e que ainda não havia sido relatada para o Parque são florestas baixas e abertas completamente dominadas por cipós.

3 Introdução ao presente estudo

3.1 Objetivos O presente estudo faz parte do Programa Flora Cristalino (ver item 2.2) tendo como objetivo geral contribuir para o fortalecimento de uma importante UC da Amazônia

9

Meridional, o Parque Estadual Cristalino, através do levantamento de dados sobre a sua vegetação de forma a subsidiar o Diagnóstico da flora que constará do seu Plano de Manejo, além de fornecer considerações relevantes para o Zoneamento e os Programas de Manejo do mesmo.

Assim, objetivos específicos deste estudo são: 1) Definir e caracterizar os diferentes tipos vegetacionais do PE Cristalino;

2) Mapear a ocorrência dos tipos vegetacionais na área do PE Cristalino;

3) Realizar um levantamento florístico preliminar do PE Cristalino;

4) Indicar o estado de conservação e importância dos tipos vegetacionais do PE Cristalino;

5) Definir o grau de ameaça aos distintos tipos vegetacionais do PE Cristalino.

3.2 Metodologia As atividades de campo deste estudo foram realizadas entre 24 de janeiro e 13 de fevereiro de 2008. Participaram dela pesquisadores da FEC e do Kew, funcionários da SEMA–MT, estudantes de graduação da UNEMAT-CUAF e UFMT, e um técnico de campo.

O diagnóstico da vegetação e o mapeamento de suas fisionomias foram feitos através do método de “verdade terrestre” (ground-truthing). Foram consultadas imagens de satélite para uma identificação preliminar de diferentes tipos de vegetação e, assim, selecionaram-se alguns pontos representativos destas fitofisionomias, que, com o com o auxílio de GPS Garmin e mapas, foram conferidos no campo, ou seja, in situ (Figura 7).

Figura 7: Áreas visitadas no Parque Estadual Cristalino para a realização deste estudo florísticos (pontos brancos = 2008, pontos vermelhos = estudos anteriores em 2007).

Em cada ponto selecionado e visitado, foram registradas as coordenadas geográficas através de GPS, obtidas fotos da fisionomia com câmera digital e foram realizadas as seguintes atividades, descritas em seguida: 1) Descrição da fisionomia e da composição florística;

2) Coleta geral de amostras botânicas para a elaboração de uma lista de espécies;

3) Coleta de amostra de solo;

4) Em algumas localidades, foram realizadas análises quantitativas do componente arbóreo (transectos) ou da vegetação em geral (parcelas).

Para a descrição dos tipos vegetacionais, foram feitas anotações sobre a fisionomia da vegetação (altura e abertura de dossel, ocorrência de cipós, trepadeiras e epífitas,

10

características do solo, densidade e abertura do subosque, etc.) e sobre as famílias e os gêneros mais freqüentes, além de observações sobre perturbações antrópicas e ameaças.

Foram coletadas amostras de espécimes férteis, e também estéreis quando estes eram muito freqüentes. Estas eram descritas, georreferenciadas com GPS e fotografadas. Posteriormente, as amostras eram numeradas, prensadas e secas em estufa a gás, ou preservadas em álcool 70% e secas posteriormente em estufa elétrica. Materiais coletados em fruto foram secos à parte e destinados à coleção de carpoteca.

Tabela 1: Tipos de vegetação e suas coordenadas geográficas onde foram realizadas análises quantitativas do componente arbóreo (transecto por ponto-centro-quadrado) no Parque Estadual Cristalino.

No. Transecto Tipo de vegetação Coordenadas geográficas

1 Campinarana Florestada 9°34'56.2''S, 55°12'07.3''W

2 Floresta ombrófila densa submontana 9°35'33.6''S, 55°15'20.3''W

3 Floresta ombrófila densa submontana 9°35'33.8''S, 55°15'18.9''W

4 Campo rupestre da Amazônia 9°40'04.9'' S, 55°13'46.0''W

5 Campinarana florestada/campo rupestre 9°29'40.1''S, 55°09'01.2''W

6 Campinarana florestada/campo rupestre 9°29'41.61”S, 55°09'03"W

7 Floresta ombrófila densa submontana 9°38'53.4''S, 55°29'31.8''W

8 Floresta estacional semidecidual submontana 9°39'21.4"S, 55°23'49.1"W

9 Floresta ombrófila densa submontana 9°27'25.2''S, 55°49'26.9''W

10 Campinarana Florestada 9°29'53.1''S, 55°48'02.0''W

11 Floresta estacional semidecidual submontana 9°30'28.5"S, 55°31'07.2"W

12 Floresta ombrófila densa submontana 9°30'00.1"S, 55°48'3"W

Para a coleta de amostra de solo, removiam-se a serrapilheira e a camada superior do solo e coletava-se uma amostra de solo a aproximadamente 20 cm de profundidade, que era acondicionada em saco plástico. Posteriormente, as amostras de solo eram expostas ao ar para que secassem e então transferidas novamente para sacos plásticos. Os resultados das análises de solo serão incluídos em um relatório final.

Na maioria dos tipos vegetacionais, foram realizadas análises quantitativas da vegetação arbórea através de transecto por ponto-centro-quadrado (Tabela 1), segundo Mitchell (2007). Em apenas um tipo vegetacional (campinarana gramíneo-lenhosa), utilizou-se o método de parcelas, nas quais foram identificadas e enumeradas cada planta lenhosa maior de 50cm de altura. Materiais-voucher foram coletados nestas análises, seguindo o mesmo procedimento das amostradas das coletas gerais. Dados destas análises foram considerados neste relatório, porém resultados mais detalhados farão parte de um trabalho posterior.

A classificação dos tipos vegetacionais do PE Cristalino baseou-se na do IBGE (Veloso 1991), complementada por Pires & Prance (1985) e a elaboração dos mapas foi realizada através do programa Arcview.

11

4 Vegetação do Parque Estadual Cristalino

4.1 Revisão dos tipos de vegetação e sua distribuição no Parque O Parque Estadual Cristalino está situado na interface entre a Amazônia e os Cerrados e, em termos de fisionomia, a vegetação apresenta características comuns a ambos os biomas. Em termos florísticos, por outro lado, a vegetação estudada no Parque é quase exclusivamente amazônica3. O Parque inclui florestas altas, densas, variando de perenifólias a completamente decíduas, floresta periodicamente inundada, mata de cipó aberta, vários tipos de campina/campinarana, vegetação associada a afloramentos rochosos (‘campos rupestres’ da Amazônia), vegetação ribeirinha e lacustre e diversas associações de plantas associadas a condições ecológicas específicas localizadas.

Entre os distintos tipos de vegetação, um dos mais importantes é a floresta ombrófila densa, geralmente associada a solos argilosos, sendo que as maiores áreas cobertas por esse tipo de vegetação encontram-se situadas ao sul e oeste do Parque. Em termos de estrutura, trata-se de floresta amazônica bastante típica, mas diferindo em composição daquelas encontradas na região central da Amazônia, pois no Parque foram encontradas proporções maiores das famílias Burseraceae e Moraceae, enquanto que as Leguminosae, Chrysobalanaceae e Lecythidaceae, características do centro da Amazônia, estavam presentes em menor número. A castanheira (Bertholletia excelsa) é comum neste tipo de floresta, como pode ser visto nas áreas onde a floresta foi derrubada deixando as castanheiras em pé. A estatura da floresta ombrófila densa é variável e parece ser parcialmente influenciada pela topografia, sendo que as áreas de floresta mais baixa e com dossel mais contínuo (ou seja, com menor número de espécies emergentes) é encontrada na região oeste do Parque e frequentemente está associada com a face norte dos afloramentos de granito que ocorrem nessa região.

Grandes áreas com floresta alta semidecidual ocorrem no centro e leste do parque, geralmente coincidindo com solos brancos, arenosos (essas áreas são geralmente coincidentes com aquelas mapeadas como cerrado pelo RADAM). Esta vegetação representa uma transição entre a floresta ombrófila densa e as caatingas em solo de areia branca, diferindo das últimas pela proporção maior de espécies decíduas, mas coincidindo com as mesmas em vários aspectos florísticos e estruturais. A distribuição deste tipo de floresta é quase certamente influenciada pelo tipo de solo, sendo que solos mais arenosos geralmente submetem árvores a um maior estresse hídrico durante a estação seca.

Nas áreas de floresta alta semidecidual é comum encontrar manchas espalhadas de campinarana, formando um mosaico complexo. As campinaranas são variáveis em termos de composição e estatura e a sua distribuição está também relacionada ao tipo de solo (areia quartzítica branca, pobre em nutrientes) associada à hidrologia. Campinaranas ocorrem em depressões pouco drenadas no curso dos Rios Cristalino e Teles Pires (provavelmente representando relictos do antigo leito dos rios) e em áreas de solo arenoso raso localizadas sobre rocha arenítica no leste e centro do Parque. Estudos sobre um tipo semelhante de vegetação no norte da Amazônia foram apresentados por Pires-O’Brien (1992).

3 Por exemplo, pouquíssima das 116 espécies lenhosas mais comuns do cerrado citadas por Ratter et al. (2006) foram registradas dentro do Parque. Isso corresponde com as observações feitas por Ackerly et al. (1989) numa avaliação das associações florísticas da vegetação do norte do Estado de Mato Grosso.

12

As formações baixas sobre areia branca estão expostas a níveis variáveis de saturação ou alagamento durante a estação chuvosa, seguida de estresse hídrico durante a estação seca, e variam desde floresta baixa densa (campinarana florestada/arborizada) até formações abertas de aparência semelhante a formações savânicas (campinarana gramíneo-lenhosa). Estas últimas apresentam ecótonos com os ‘campos rupestres’ (ver abaixo) em áreas de arenito exposto. Grandes áreas dessa vegetação ocorrem ao norte e noroeste do Parque, estendendo-se até a Serra do Cachimbo. Apesar de sua semelhança superficial com cerradão/cerrado, estas formações têm mais afinidade com as caatingas da Amazônia descritas por Anderson (1981).

Nas encostas denudadas e no topo dos afloramentos areníticos que formam a Serra do Rochedo, a Serra do Mateiro e em algumas outras localidades do Parque, ocorre um tipo peculiar de vegetação, descrito por vários autores como ‘campo rupestre’ da Amazônia (Pires & Prance 1985). Esta formação baixa e aberta possui características afins às de uma savana, incluindo algumas espécies lenhosas, mas não apresentam um estrato herbáceo graminoso contínuo, sendo que os arbustos e árvores ocorrem sobre ou em fendas de rocha, com restrita formação de solo. Em algumas localidades esta vegetação forma um ecótono com campinarana (compartilhando com estas várias espécies arbóreas), sendo que a campinarana estabelece-se onde os depósitos arenosos foram acumulados sobre áreas de rocha menos fragmentada. Este tipo de ‘campo rupestre’ não deve ser confundido com aquele encontrado nas áreas de altitude (1.000 m s.n.m. ou mais) no leste e centro do Brasil (ex. Cadeia do Espinhaço), nem com áreas de cerrado, com o qual se assemelha fisionomicamente, mas não em termos de composição florística (Lleras & Kirkbride 1978).

No sudoeste do Parque, um tipo semelhante de vegetação ocorre sobre pequenas manchas de rocha exposta sobre os afloramentos de granito espalhados pela região, mas estes apresentam uma alta predominância de orquídeas e bromélias rupícolas e, onde solos acumularam-se no topo dos afloramentos, o ‘campo rupestre’ dá lugar a uma floresta decidual de porte médio dotada de aspecto característico durante a estação seca. Na base das encostas desses afloramentos essa vegetação passa por uma transição para floresta semidecidual e finalmente para o tipo de floresta ombrófila densa que cobre grande parte das áreas mais baixas do Parque.

Existem áreas significativas de mata-de-cipó dentro do Parque, principalmente ao longo de seus limites norte e sudeste. Tal vegetação ocorre tantos sobre solo arenoso como argiloso, formando um mosaico com a floresta ombrófila densa. Essas matas-de-cipó compartilham características estruturais e florísticas encontradas em vegetação secundária, mas é evidente através do estudo de imagens de satélite que as áreas de mata-de-cipó detectadas nos mapas no Parque estavam presentes antes da colonização iniciada no início dos anos de 1980. É possível que essas áreas estejam relacionadas com impactos prévios, atribuídos às comunidades indígenas, como foi sugerido para outras partes da Amazônia (Balée & Campbell 1990). Pires & Prance (1985) descrevem a ocorrência de grandes áreas desse tipo de vegetação ao longo da Transamazônica, entre Marabá e o Xingu, com o limite sul estendendo-se até a fronteira sul com o cerrado, muitas vezes associadas a solos ricos em depósitos minerais como ferro, alumínio, manganês, níquel e ouro.

Matas-de-cipó semelhantes a essas são encontradas ao longo do curso do Rio Cristalino no limite norte do Parque, nas áreas baixas entre meandros do rio. Nesta área encontram-se misturadas com floresta inundada, buritizal e vegetação aberta associada a ambientes aquáticos, formando um mosaico complexo. Próximo da foz do Rio Cristalino, nas proximidades do Rio Teles Pires, vegetação ao longo dos bancos varia entre floresta de terra firme e floresta inundada de estatura variável, dependendo da topografia local. Este tipo de floresta também ocorre ao longo dos bancos do Rio

13

Teles Pires, mas nessa área do Parque esta vegetação sofreu considerável impacto com o estabelecimento de fazendas.

Vegetação secundária e pastagens ocupam uma área considerável dentro do Parque, apesar de terem um valor baixo em termos de biodiversidade. Além de áreas ativamente cultivadas, encontramos também uma grande gama de estágios sucessionais, desde capoeira até matas altas de Cecropia (embaúba).

14

4.2 Mapa preliminar da vegetação do Parque 610000 700000690000680000670000660000650 000640000630000620000

8960000

8920000

8930000

8940000

8950000

Floresta ombrófi la densa submontana, dossel com emergentes

AgropecuáriaSistema de vegetação secundáriaVegetação com influência fluvial e/ou lacustre + Floresta periodicamente inundada ( floresta ombrófila aluvial)Campo rupestre da Amazônia (refúgio submontano arbustivo) + Campinarana gramíneo-lenhosa (áreas de areia branca) + Floresta estacional decidual (morros de granito)Campinarana florestada (áreas de arenito) + Floresta estacional de transição (contato) decidual/semidecidual (áreas de granito)Floresta estacional semidecídual submontanaFloresta de transição (contato) ombrófila/semidecídualFloresta ombrófi la densa submontana, dossel uniformeMata de cipó (floresta ombrófi la aberta submontana) = ‘juquira’

Rio Teles Pires

RioCristal ino

10km

Serra do Rochedo

Serra do Mateiro

RioRochedo

Pousada

15

4.3 Diversidade e endemismo Devido à sua localização marginal com respeito ao grande ecossistema amazônico, o Parque Estadual Cristalino inclui vários extremos ecológicos, como, por exemplo, áreas de floresta amazônica densa e afloramentos rochosos cobertos por vegetação xerófita. A proximidade geográfica de habitats diferentes possivelmente ocasiona a migração de espécies animais ao longo dos períodos do ano, maximizando a utilização dos recursos naturais presentes nos distintos locais. Em termos de associações ecológicas, foram observados gêneros com diversas síndromes de polinização e dispersão (ver Tabela 2), cujas implicações ecológicas são mais profundamente exploradas por Prance (1985) e Kubitzki (1985), e também inúmeras associações simbiônticas entre plantas (epifitismo, hemiepifitismo em Orchidaceae, Araceae, Pteridophyta) e animais (formigas e Tachigali sp., Triplaris sp., Tococa sp., Duroia sp., Peperomia sp.). Plantas parasitas também foram observadas (Loranthaceae, Viscaceae, Balanophoraceae).

O grande número de tipos vegetacionais encontrados dentro e nas vizinhanças do Parque contribui para a sua considerável diversidade ecológica. Numa área relativamente pequena (menos de 200.000 hectares), foram estudados diversos habitats distintos, como florestas, tanto periodicamente inundadas como de terra firme em diferentes tipos de solo, e também campinaranas florestadas e graminosas, e campos rupestres associados tanto a afloramentos areníticos como graníticos, muitos deles interligados e apresentando expressivas áreas de transição. Cada um desses habitats suporta associações de vegetação que incluem plantas tanto lenhosas como herbáceas dominantes, ou seja, presentes em maior número, mas também plantas mais raras ou incomuns, específicas a um habitat, e outras ocasionais, por vezes comuns a mais de um tipo de ambiente.

Figura 8. Sciadocephala sp. – provável espécie nova e primeiro registro pelo gênero no Brasil.

Até o momento foram coletadas mais de 1.000 espécies de plantas vasculares distribuídas em 144 famílias. Apesar do presente levantamento não ter contado com esforços de coleta contínuos e repetitivos, esse número compara-se favoravelmente com aquele encontrado em levantamentos exaustivos, como, por exemplo, aquele realizado na Reserva Ducke, com 2.175 espécies (Ribeiro et al. 1999). Entre as coletas realizadas, muitos registros novos de espécies para o Estado de Mato Grosso foram descobertos, incluindo uma possível nova espécie de Compositae (Sciadocephalum sp.), um gênero até então não conhecido para o Brasil (fig. 8).

É importante ressaltar que não existem levantamentos locais aprofundados do ecossistema amazônico para o Estado de Mato Grosso, sendo que os presentes estudos são pioneiros neste sentido.

16

Tabela 2: Polinização e dispersão por agentes bióticos no Parque Estadual Cristalino.

Polinização

Ornitofilia (beija-flores e outras aves) Palicourea nitidella, Pitcairnia sp., Dyckia sp., Aechmea sp., Siphocampylus sp., Costus sp., Heliconia spp., Psittacanthus sp., Passiflora miniata, Psychotria poeppiggiana, Symphonia globulifera

Quiropterofilia (morcegos) Parkia cachimboensis, P. igneiflora, Pseudobombax sp., Ceiba samauma, Pachira sp., Caryocar sp., Mucuna sp.,

Esfingofilia diurna (borboletas) Arrabidea sp., Justicia spp., Mendoncia sp., Ipomoea spp., Evolvulus sp., Cipura sp., Cuphea sp., Hibiscus spp., Sobralia sp., Passiflora sp., Faramea sp., Coussarea sp., Psychotria spp., Vernonia spp., Gurania sp.

Esfingofilia noturna (mariposas) Epiphyllum phyllanthus, Himatanthus sp., Bauhinia sp., Sobralia sp., Rudgea longiflora

Melitofilia (abelhas) Begonia sp., Cochlospermum spp., Dichorisandra sp., Croton sp., Clusia spp., Kielmeyera spp., Aniba spp., Ocotea spp., Bertholletia excelsa, Couratari sp., Acacia sp, Anadenanthera peregrina, Cassia sp., Senna sp., Banisteriopsis spp., Byrsonima spp., Cedrela spp., Guarea spp., Trichilia spp., Eugenia spp., Myrcia spp., Paullinia sp., Matayba sp., Cupania sp., Cissus sp., Xyris sp.

Cantarofilia (besouros) Annona spp., Duguetia spp., Talauma ovata, Philodendron sp.

Moscas, vespas e outros insetos Aristolochia didyma, Sterculia sp., Theobroma sp., Ficus spp.

Dispersão

Gênero peixes aves mamíferos insetos

Strychnos +++ + +

Picramnia +++ +

Aegiphila +++ +

Anacardium +++

Bertholletia +++

Oenocarpus +++

Bromelia + +++

Jacaratia ++ +++

Cecropia ++ ++

Garcinia ++ ++

Epiphyllum ++ +++ +

Pouteria + +++ +++

Endopleura +++

Eugenia sp. ++ +++

Myrcia sp. +++ +

Campomanesia + +++

Erythroxylum +++

Caryocar +++

Calathea +++

Renealmia +++

Inga +++

Theobroma +++

17

5 Principais tipos de vegetação no Parque O intuito desta seção é de classificar e descrever, na medida do possível, os principais tipos de vegetação encontrados no parque, de acordo com o sistema de classificação fornecido pelo IBGE (Veloso et al. 1991). São fornecidas observações a respeito do estado de conservação dos mesmos. Detalhes das localidades citadas no texto encontram-se sob o Anexo 1 (Tabela 3). A identificação das espécies foi feita num caráter preliminar e será atualizada quando todos os espécimes tiverem sido analisados4.

5.1 Floresta ombrófila densa submontana A floresta alta em terra firme, geralmente ocorrendo sobre terreno argiloso (de coloração variando de laranja forte a acinzentada) foi estudada em diferentes pontos do Parque (P10, 29, 38, 40). Apresenta dossel contínuo a moderadamente descontínuo, variando entre 20 e 35 m alt., conforme a declividade do terreno e o estado de preservação do local. Emergentes de 40-50 m foram observadas, sendo que a castanheira (Bertholletia excelsa - Lecythidaceae), cachimbeiro (Cariniana sp. – Lecythidaceae), cedro-doce (Cedrelinga catenaeformis - Leguminosae) e Dussia sp. (Leguminosae) tiveram ocorrência em muitas das áreas estudadas.

Figura 9: Floresta ombrófila densa, Transecto 9 (P29). Figura 10: Floresta ombrófila densa, Transecto 12 (P40).

Outras árvores grandes e emergentes registradas foram: champanhe (Dipteryx odorata), jatobá (Hymenaea sp.), jutaí-pororoca (Dialium guianense), e orelha-de-negro (Enterolobium sp.) - todas Leguminosae; amoreira (Clarisia racemosa) e outras Moraceae, ex. Perebea sp., maracatiara (Pouteria sp.) e Micropholis sp. (Sapotaceae), Buchenavia sp. (Combretaceae), Alchorneopsis sp. (Euphorbiaceae), diferentes espécies de amescla (Tetragastris altissima, Trattinnickia sp. e Protium sp.), uchi

4 Coletas referidas no texto como DS = Denise Sasaki et al. e Z = Daniela Zappi et al.

18

(Endopleura uchi, Humiriaceae), cambará (Erisma sp., Vochysiaceae) e Myristicaceae (Virola sp.).

O dossel pode apresentar-se desde fechado, nas matas mais baixas com menor freqüência de emergentes, até aberto naquelas mais altas e com maior expressividade de emergentes. O componente arbóreo apresenta uma composição florística bastante diversificada tanto dentro de cada local visitado como entre os locais.

Sua composição envolvia tanto indivíduos jovens de espécies emergentes como outras árvores de menor porte, predominantemente Burseraceae, Moraceae e Leguminosae. Além das espécies já mencionadas, foram listadas: • Annonaceae (Fusaea longifolia) • Anacardiaceae (Thyrsodium sp.) • Apocynaceae (Aspidosperma sp., guarantã, Geissospermum sp., quina) • Araliaceae (DS 2003) • Bombacaceae (Quararibea ochrocalyx) • Burseraceae (Protium spp.) • Caryocaraceae (Caryocar sp.) • Cecropiaceae (Pourouma sp., e Cecropia sp., embaúba) • Chrysobalanaceae (DS 2005), • Elaeocarpaceae (Sloanea sp.) • Erythroxylaceae (Erythroxylum sp.) • Euphorbiaceae (Conceveiba guianensis, Richeria grandis), • Guttiferae (Symphonia globulifera, Caraipa sp.) • Lauraceae (DS 1997, 2000, 2002, 2164, 2070) • Leguminosae Tachigali sp., Pithecelobium sp., Clathropsis brachypetala). • Malpighiaceae (Byrsonima sp.) • Meliaceae (Guarea spp., Trichilia sp.) • Moraceae (Helicostylis sp., Maquira sp., Sorocea sp., Pseudolmedia sp., Perebea sp.) • Myrtaceae (DS 2011, 2019), • Myristicaceae (Virola sp., sp.); • Nyctaginaceae (Guapira sp.) • Olacaceae (Heisteria sp.) • Rubiaceae (Capirona decorticans, Coussarea sp., Rudgea palicoureoides, Amaioua guianensis) • Rutaceae (Metrodorea flavida) • Sapotaceae (Chrysophyllum sp.) • Sterculiaceae (Sterculia sp., Theobroma speciosa) • Vochysiaceae (Qualea sp.)

Ainda como componentes do dossel, foram observadas as palmeiras paxiúba (Iriartea deltoidea), açaí (Euterpe longibracteata) e sete-pernas (Socratea exorrhiza), essa última principalmente nas áreas mais baixas, em terreno alagado, onde ocorrem arvoretas e arbustos de Cecropiaceae (Cecropia, Pourouma spp.), Rutaceae (Raputiarana subsigmoidea) e Sterculiaceae (Theobroma speciosa); epífitas e hemiepífitas, como diversas Araceae, Orchidaceae e Cyclanthaceae (Thoracocarpus bissectus), bem como grandes populações de pteridófitas (Selaginella sp., Microgramma cf. baldwini, Dryopteris sp., Adianthum aff. cajennense, Campyloneurum phyllitidis) crescendo sobre troncos e entre raízes aéreas e tabulares juntamente com Gramineae (Olyra cf. latifolia).

O subosque apresenta-se pouco denso e o interior dessa floresta é de fácil acesso. Tanto as palmeiras como cipós e epífitas não são muito expressivos nesse tipo de vegetação, aparecendo nas proximidades de baixios ou nas faixas de transição com outros tipos de vegetação.

Uma série de arvoretas, arbustos e plantas herbáceas foi observada: espécimes jovens de Leguminosae (Inga sp.), Moraceae (Sorocea sp.), grande quantidade de espécies ombrófilas de Rubiaceae (Palicourea guyanensis, Psychotria lupulina, Psychotria forsteronioides, Psychotria variegata, Psychotria sp, Psychotria capitata, Psychotria cincta, Margaritopsis podocephala, Margaritopsis nana, Coussarea sp., Rudgea stipulacea), Annonaceae (Duguetia flagellaris, Guatteria sp.) e

19

Menispermaceae (Abuta grandifolia, A. sandwithiana), além de Piperaceae (Piper sp.), Hippocrateaceae (Cheiloclinium cognatum), Melastomataceae (Miconia sp.) e Theophrastaceae (Clavija sp.). No sub-bosque foram observadas pequenas palmeiras como: Astrocaryum gynacanthum e Geonoma sp.; palmeiras maiores registradas incluem Astrocaryum aculeatum e Euterpe longibracteata.

Figura 11. Solo Transecto 7 (P29). Figura 12. Solo Transecto 12 (P40). Figura 13. Solo P15.

Lianas e trepadeiras das famílias Bignoniaceae, (Melloa sp. e outras), Dilleniaceae (Pinzona coriacea), Hippocrateaceae (Salacia sp.) Loganiaceae (Strychnos sp.), Leguminosae (Bauhinia sp., escada de jaboti), Marantaceae (Ischnosiphon sp.), Menispermaceae (Cissampelos sp.), Sapindaceae (Paullinia sp.) encontravam-se presentes em diversos graus de abundância.

O solo era coberto por serrapilheira relativamente espessa, onde foram encontradas poucas espécies, variando de local para local. Por exemplo, no ponto P38 foi encontrada uma espécie parasítica de Balanophoraceae (Helosis sp.), enquanto no ponto P40 foram vistos Adiantum sp. crescendo juntamente com uma nova espécie de Compositae (Sciadocephalum sp.), e, nas áreas mais abertas, Selaginella sp.

Áreas visitadas – Sul do Parque (usina do Rio Rochedo); e noroeste do Parque (pousada e Serra do Mateiro).

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) – Alta devido à complexidade do habitat e do seu potencial madeireiro e extrativista, e também à relativamente baixa representatividade do habitat em bom estado de conservação dentro da área atual do Parque.

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom no noroeste do Parque, alarmante nas proximidades da Fazenda AJJ devido tanto à expansão da pecuária com introdução de espécies exóticas invasoras como à inundação iminente de duas grandes áreas para formar as represas das usinas hidrelétricas do Rio Rochedo e do Rio Nhandu.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Alto devido à relativa baixa representatividade do habitat em bom estado de conservação dentro da área atual do Parque, e à proximidade das mesmas de fazendas e da construção das usinas mencionadas.

5.1.1 Observações na floresta ombrófila densa no sudoeste do Parque Grandes áreas deste tipo de vegetação ocorrem no sudoeste do Parque. Embora as mesmas não tenham sido visitadas durante o presente levantamento, existem estudos detalhados realizados pelo Programa Flora Cristalino nas áreas adjacentes das RPPNs Cristalino I, II e III.

20

A estrutura e composição florística dessas florestas é bastante semelhante às demais florestas ombrófilas densas do Parque. Apresentam dossel alto (25-35 m alt.), com emergentes (Bertholletia excelsa, Couratari sp., Dussia micranthera) e ocorrem sobre solos argilosos.

São dominadas pela família Burseraceae, principalmente por Tetragastris altissima. Outras espécies comuns desta família são Protium robustum, P. sagotianum, P. apiculatum, Trattinnickia burserifolia e T. rhoifolia. Leguminosae é uma das famílias mais diversas e freqüentes (Bauhinia sp., Inga pruriens, I. thibaudiana, Ormosia sp., Sclerolobium sp., Swartzia oraria, Tachigali sp.). Moraceae é também bastante expressiva, com muitas espécies freqüentes (Brosimum guianensis, Helicostylis tomentosa, Maquira calophylla, M. guianensis, Perebea guianensis, Pseudolmedia laevigata, P. laevis, P. macrophylla), geralmente não emergentes.

Outras famílias são também importantes na composição do dossel e sub-bosque., como Sapotaceae, que apresenta a espécie bastante freqüente Pouteria cladantha, além de P. hispida, Pouteria spp., Chrysophyllum lucentifolium, C. venezuelanense. A família Vochysiaceae é representada por espécies de porte maior, como Erisma fuscum, Qualea cf. homosepala e Vochysia sp. Apocynaceae se destaca pela ocorrência de guarantãs (Aspidosperma carapanuba e A. nitidum), que são árvores emergentes, podendo ser bastante robustas ou não. Iryanthera laevis da família Myristicaceae é também muito freqüente, além de Virola elongata e V. cuspidata.

Outras espécies que são comuns na floresta ombrófila do sudoeste do Parque são: Capirona decorticans, Cheiloclinium cognatum, Euterpe longebracteata, Iriartea deltoidea, Metrodorea flavida, Quararibea ochrocalyx, Rinoreocarpus ulei, Theobroma speciosum.

5.1.2 Floresta ombrófila densa aluvial Nas margens dos Rios Teles Pires e Cristalino, pode-se desenvolver uma floresta que é sazonalmente alagada. O período da inundação ocorre entre outubro e abril, à medida que as chuvas se intensificam e o nível das águas dos rios se eleva. A altura do dossel varia de acordo com a duração do período de inundação. A composição florística deste tipo de floresta é distinta das florestas ombrófilas densas submontanas, apesar de existirem elementos em comum.

As condições de vida em habitats sazonalmente inundados são extremas (Kubitzki 1989). As plantas imersas sofrem com a menor disponibilidade de oxigênio na água e apresentam estratégias como mecanismos alternativos de produção de energia, suberização das raízes, aeração interna, defesas contra patógenos (Simone et al. 2003). O estabelecimento de sementes também requer mecanismos adaptados ao período reduzido em que o solo não se encontra inundado.

Nas áreas onde a inundação é menor do que 1 m de altura, a floresta é geralmente alta com dossel de 25-30 m alt. e emergentes com mais de 40 m alt. O relevo é bastante ondulado e a camada de serrapilheira espessa. É comum nestas áreas a ocorrência de murundus, que são pequenas elevações do relevo que não são submergidas pela água, formando pequenas ilhas durante a época chuvosa. A composição florística dos murundus corresponde a uma mistura de espécies típicas de florestas inundáveis e de floresta de terra firme.

Nestas florestas, as famílias de dossel mais importantes são: Anacardiaceae (Anacardium giganteum, Astronium lecointei, Tapirira guianensis), Annonaceae (Oxandra major, Pseudoxandra polyphleba, P. lucida), Apocynaceae (Ambelania sp., Aspidosperma desmanthum), Chrysobalanaceae (Hirtella gracilipes, Licania apetala), Lauraceae (Ocotea aciphylla), Leguminosae (Dialium guianense, Tachigali spp., Zygia latifolia), Memecylaceae (Mouriri myrtifolia), Moraceae (Brosimum lactescens, Maquira

21

coriacea), Sapotaceae (Pouteria sp., Sarcaulus brasiliensis) e Vochysiaceae (Qualea cf. homosepala, Vochysia biloba).

Figura 14. Floresta alagada na beira do Rio Teles Pires. Figura 15. Buritizal no Rio Cristalino (P34).

A diversidade de palmeiras é também muito inferior do que as florestas de terra firme. Cipós grossos são comuns, podendo ocorrer de forma bastante densa em alguns locais, e são principalmente das famílias Bignoniaceae, Dilleniaceae, Gnetaceae e Leguminosae. As epífitas são menos freqüentes, ocorrendo Araceae (Anthurium) e Bromeliaceae (Aechmea).

O subosque é mais aberto do que nas floretas ombrófilas densas submontanas. São comuns no subosque Cyperaceae (Scleria), Gramineae (Pariana), Marantaceae (Calathea, Ischnosiphon, Monotagma) e pteridófitas (Hymenophyllaceae, Pteridaceae).

Mesmo depois do abaixamento do nível do rio, permanecem inundados alguns locais onde o relevo é mais rebaixado, formando lagoas até o início da estação seca. Nestes locais, o dossel é uniforme e atinge uma altura média de 10-15 m. As árvores possuem troncos mais finos. A composição florística é muito semelhante às florestas inundáveis com dossel emergente, entretanto, podem ser diferenciadas pela composição e estrutura do componente arbóreo.

As famílias mais importantes do componente arbóreo são: Annonaceae (Pseudoxandra lucida, P. polyphleba, Xylopia nitida), Chrysobalanaceae (Hirtella gracilipes, Licania hypoleuca), Guttiferae (Caraipa densifolia), Memecylaceae (Mouriri cf. myrtifolia), Lauraceae (Aniba sp., Ocotea aciphylla), Lecythidaceae (Eschweilera aff. albiflora), Leguminosae (Inga laurina, Tachigali sp.), Moraceae (Pseudolmedia laeviagata), Violaceae (Rinorea guianensis) e Vochysiaceae (Qualea paraensis, Vochysia floribunda).

Áreas visitadas – Nas margens do Rio Cristalino (P35). Nas margens do Rio Teles Pires, foram visitadas áreas no interior das RPPNs Cristalino.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) - Alta, pois é um tipo de vegetação pouco extenso dentro do Parque e que apresenta composição florística diferenciada.

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom no Rio Cristalino, provavelmente devido à distância das fazendas, à proximidade da Base da Força Aérea Brasileira e ao acesso somente por barco. No Rio Teles Pires, não foi

22

verificado, entretanto as áreas deste tipo de vegetação encontram-se muito próximas a fazendas.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Médio-alto, devido à baixa representatividade deste tipo de vegetação no Parque e a facilidade de acesso.

5.2 Floresta ombrófila aberta submontana (mata-de-cipó)

Este tipo de vegetação arbustivo-arbórea impenetrável e dominada por cipós foi encontrado em diversas localidades, tanto (1) na proximidade de floresta alta sobre solo argiloso como (2) sobre solo arenoso, em solos baixos e planos. Foi observada uma composição florística de diversidade relativamente baixa, na qual as espécies na sua maioria são consideradas como plantas pioneiras ou invasoras, porém existem evidências de que esta vegetação não seja apenas ‘secundária’ e, sim, uma vegetação mantida com essas características devido a uma combinação edáfica ou mesmo histórica em termos de antigos assentamentos indígenas (provável indício é a presença de mandioca-brava e cacauí). As fotografias de satélite de áreas ainda hoje remotas (ex. 35 km da Pousada, subindo o Rio Cristalino) e, portanto, sem apresentarem interferência antrópica, mostram padrões semelhantes aos atuais em 1980, quando a colonização da região ainda era incipiente.

Entre as poucas espécies arbóreas ocorrendo nesta vegetação encontramos as palmeiras Astrocaryum aculeatum e A. murumuru, Leguminosae (Mimosa sp. e outras) e Rhamnaceae (Ziziphus sp., grão-de-galo). Foram observadas também manchas dominadas por bambus altos (Guadua sp.).

Trata-se de área aberta onde arvoretas e arbustos de aproximadamente 3-4 m alt., ocasionalmente até 6 m, encontram-se quase completamente cobertos por plantas escandentes, tanto lianas com caule lenhoso como por trepadeiras herbáceas. Os arbustos mais freqüentes pertencem às famílias Rubiaceae (Faramea sp., Hamelia patens), Euphorbiaceae (Manihot sp., mandioca-brava, Croton sp.), Leguminosae (Bauhinia sp., Inga sp., Mimosa sp.), Urticaceae (Urera sp.) e Cecropiaceae (Pourouma sp. e Cecropia sp., embaúbas). Meliaceae (Cedrela odorata), Polygonaceae (Coccoloba sp.), Solanaceae (Solanum spp.) e Palmae (Bactris sp.) também foram observados.

Figura 16. Solo P14. Figura 17. Solo P16. Figura 18. Solo P50.

Plantas escandentes e lianas das famílias Rhamnaceae (Gouania sp.), Bignoniaceae (Z 1042, Z 900), Compositae (Z 888), Convolvulaceae (Ipomoea sp.), Dilleniaceae (Z 1035), Sapindaceae (Serjania sp.), Cucurbitaceae (Gurania sp.), Smilacaceae (Smilax sp.), Leguminosae (Machaerium sp.), Menispermaceae (Cissampelos sp.) e Trigoniaceae (Trigonia sp.) cobriam a maior parte do solo, usando os arbustos e arvoretas como suporte, tornando a vegetação impenetrável.

23

Figura 19. Floresta ombrófila aberta (mata de cipó, mostrando o mosaico de áreas abertas e floresta).

Também presentes estavam as herbáceas das famílias Acanthaceae (Justicia sp.), Bromeliaceae (Bromelia sp.), Commelinaceae (Dichorisandra sp.), Costaceae (Costus spp.), Gramineae (Pariana radiciflora, Guadua sp., bambu), Heliconiaceae (Heliconia sp.), Marantaceae (Calathea altissima), Rubiaceae (Psychotria appendiculata, P. colorata, Geophila sp. e Diodia sp.).

Figura 20. Mata de cipó (juquira), P14. Figura 21. Mata de cipó (juquira), P16.

Entre a “juquira” e ambos os tipos de floresta, é comum observar áreas de transição consistindo em uma mata mais aberta, com dossel quase ausente com cerca de 20-25

24

de altura, com emergentes até 40 m, entre elas Ficus sp. (figueira), Qualea sp. (pau-terra), Caryocar sp., Aspidosperma sp. e uma Leguminosae (Mimosoideae) não identificada. Outros componentes arbóreos observados na área de transição foram Pourouma e Cecropia (embaúba), Jacaratia sp. (jaracatiá), Meliaceae (Guarea guidonia, marinheiro), Leguminosae (Inga sp., Mimosa sp.), Sterculiaceae (Theobroma cacao), Euphorbiaceae (Croton sp.) e algumas palmeiras (Iriartea deltoidea, paxiúba; Euterpe longibracteata, assaí; Astrocaryum murumuru, tucumã; Attalea maripa, inajá). Lianas das famílias Bignoniaceae (Z 900), Loganiaceae (Strychnos sp.), Leguminosae (Bauhinia sp., escada de jaboti), Menispermaceae (Cissampelos sp.) encontravam-se presentes em abundância. Além destas, diversos arbustos e herbáceas foram observados: Piperaceae (Piper sp.), Menispermaceae (Abuta grandifolia), Rubiaceae (Psychotria sp., Psychotria carthagenensis), Hippocrateaceae (Cheiloclinium cognatum), Melastomataceae (Miconia sp.), Heliconiaceae (Heliconia sp.), Palmae (Geonoma sp., Chamaedorea sp.), Marantaceae (Monotagma sp.), Solanaceae (Solanum sp.). Hemiepífitas como Philodendron e Monstera foram observadas.

Áreas visitadas - Proximidades da Pousada; proximidades do acampamento 35 km rio acima da Pousada, no limite norte do Parque; proximidades da sede da Fazenda AJJ; e leste do Parque.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) – Baixa devido à relativa similaridade entre os locais estudados e à grande área ocupada por esse tipo de habitat.

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom, devido à sua composição com diversidade relativamente baixa, e por contar com espécies na sua maioria consideradas como plantas pioneiras, esta fisionomia encontra-se bem preservada dentro do Parque.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Baixo, porém deve ser ressaltado que localmente esta fisionomia é considerada indicativa de ‘terra boa’ para práticas agrícolas, apesar do seu potencial madeireiro e extrativista muito baixo. A proximidade de fazendas e a expansão das mesmas são ameaças para esta fisionomia em longo prazo.

5.3 Floresta estacional semidecidual submontana A floresta alta com dossel aberto, ocorrendo em terra firme sobre terreno arenoso castanho-escuro, foi estudada em diferentes pontos do Parque (P18, P21, P48). Apresenta dossel descontínuo, variando entre 25-35 m alt. Emergentes de 40-45 m alt. foram observadas. A ocorrência de clareiras é marcante – mas nas áreas visitadas no SE do Parque tais clareiras provavelmente devem-se a atividades de retirada de madeira.

O dossel é freqüentemente dominado pela família Leguminosae, que apresenta grandes indivíduos de Dialium guianense, uma árvore muito conspícua de ritidoma claro e lenticelado, grandes sapopemas e caule com resina vermelha. Além desta espécie, ocorrem Swartzia sp., Inga sp. (DS 2111), Enterolobium sp., Dussia sp., Dipteryx odorata (champanhe), Hymenaea parvifolia, Dimorphandra sp., entre outras. Sapotaceae é outra família importante nesta mata com o gênero Micropholis. Foram encontradas também Apocynaceae (Geissospermum sp.), Virola sp., Lecythidaceae (Z 1225) e Olacaceae (Heisteria sp.). As famílias Burseraceae e Moraceae, freqüentemente bem representadas nas matas de terra firme em solo argiloso, são bem menos expressivas nesta fisionomia. Bertholletia excelsa, uma espécie comum na floresta ombrófila densa, não foi observado neste hábitat,

25

Figura 22. Floresta semidecidual, Transecto 11 (P48). Figura 23. Floresta semidecidual, Transecto 8 (P21).

Outras famílias de arbóreas ocorrentes no dossel e sub-dossel são: • Anacardiaceae (Spondias sp.) • Annonaceae (Guatteria sp. Oxandra sp.) • Apocynaceae (Aspidosperma sp.) • Bombacaceae (Quararibea ochrocalyx) • Caryocaraceae (Caryocar sp.) • Euphorbiaceae (Z 1229) • Flacourtiaceae (Casearia sp.) • Meliaceae (Guarea sp.) • Memecylaceae (Mouriri sp.) • Myristicaceae (Virola sp.) • Nyctaginaceae (DS 2114) • Olacaceae (Heisteria sp.) • Sapotaceae (Micropholis sp Pouteria sp.) • Sterculiaceae (Sterculia sp., Theobroma sp.)

Figura 24. Solo P19. Figura 25. Solo Transecto 8 (P21). Figura 26. Solo Transecto 11 (P48).

O subosque é denso. Entre os arbustos e arvoretas, destacam-se, sobretudo, as Menispermaceae (Abuta grandifolia), Melastomataceae e Rubiaceae (Palicourea

26

guianensis, Coussarea sp., Faramea capillipes), estando também presentes as Memecylaceae (Mouriri) e Hippocrateaceae (Cheiloclinium).

Em certas áreas, eram bastante expressivas lianas das famílias Bignoniaceae, Leguminosae (Bauhinia sp., escada de jaboti), Menispermaceae (Abuta sp.), Gnetaceae (Gnetum sp.), Dilleniaceae (Pinzona coriacea), Connaraceae (Z 1200) e outras, especialmente na proximidade das clareiras.

Arbustos de menor porte e herbáceas estavam representadas por: Rubiaceae (Psychotria lupulina, P. turbinella, P. prunifolia, P. forsteronioides, P. variegata, Rudgea stipulacea, Margaritopsis nana), além de Violaceae (Rinorea sp.), e algumas Melastomataceae (Miconia sp.), Marantaceae (Calathea, Ischnosiphon), Heliconiaceae (Heliconia) e Costaceae (Costus). Palmeiras de pequeno porte são comuns, inclusive (Geonoma sp., Astrocaryum gynacanthum, Bactris acanthocarpa e Bactris sp.).

Enquanto no baixio foram observadas muitas espécies hemiepífitas e epífitas, estas não apresentavam expressividade na área mais elevada, tendo sido observadas Araceae (Heteropsis, Philodendron, Monstera), Orchidaceae (Sobralia sp. e outras), Piperaceae (Peperomia circinnata e Peperomia sp.).

Vale a pena acrescentar que, nas áreas de clareira, havia maior expressividade de Miconia, Palicourea guianensis, Psychotria aff. hoffmannseggiana, Cordia nodosa, Manihot sp., Tabebuia sp. Nessas áreas mais abertas o solo da mata apresentava mais cobertura herbácea e foram observadas Marantaceae, Rubiaceae (Geophila sp.) e Selaginella sp.

Áreas visitadas – Sul do Parque (proximidades da usina do Rio Rochedo); extremo norte do Parque, 35 km rio acima da Pousada, próximo à divisa com o Pará.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) - Alta devido à complexidade do habitat e do seu potencial madeireiro e extrativista e à representatividade média do habitat em bom estado dentro da área atual do Parque.

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom estado no noroeste do Parque, porém alarmante nas proximidades da Fazenda AJJ devido tanto à expansão da pecuária com introdução de espécies exóticas invasoras, especialmente Brachiaria, associadas a ventos fortes que aumentam o efeito de borda nas beiradas da mata.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Médio, devido à média representatividade do habitat em bom estado de conservação dentro da área atual do Parque, além da sua proximidade a fazendas e da expansão das mesmas.

5.4 Floresta estacional decidual submontana No oeste do Parque, existem pequenas serras graníticas com altitude média entre 250-280 m (no máximo 400 m), que ocorrem de forma esparsa em meio à floresta ombrófila densa e alta, atingindo até 6 km de extensão. Estas serras são muito semelhantes as que ocorrem dentro das RPPNs Cristalino I, II e III. A vegetação que se desenvolve nelas é limitada pelo substrato rochoso e pela exitência de um solo bastante superficial.

Nas partes mais elevadas de suas encostas e em manchas no topo, ao redor de afloramentos rochosos, desenvolve-se um tipo de floresta decidual com altura média de 20 m alt., as emergentes com até 30 m alt. As árvores de dossel são em sua maior parte caducifólias, como as das famílias Anacardiaceae (Spondias sp.), Apocynaceae (Aspidosperma spp.), Bignoniaceae (Tabebuia barbata, T. capitata, T. spp.), Bombacaceae (Bombacopsis spp., Pseudobombax cf. longiflorum), Cochlospermaceae (Cochlospermum orinocense), Leguminosae (Anadenanthera peregrina, Chloroleucon acaciodes¸ Hymenaea courbaril, Platymiscium duckei),

27

Meliaceae (Cedrela odorata), Myrtaceae (Eugenia sp.), Rubiaceae (Coutarea hexandra, Dialypetalanthus fuscescens), Rutaceae (Zanthoxylum rhoifolium) e Vochysiaceae (Callisthene fasciculata).

Figura 27. Floresta estacional decidual (mes de Julho) num morro granítico na beira do Rio Cristalino.

Outras árvores e arvoretas comuns são das famílias Erythroxylaceae (Erythroxlum anguifugum), Euphorbiaceae (Sebastiania membranifolia), Flacourtiaceae (Casearia javitensis), Rubiaceae (Guettarda spruceana, Simira rubescens), Rutaceae (Esenbeckia pilocarpoides, Metrodorea flavida) e Tiliaceae (Luehea spp.).

O estrato herbáceo-arbustivo é muito diverso, com predomínio de monocotiledôneas, que podem formar grandes populações, como Bromeliaceae (Aechmea bromeliifolia, A. castelnavii, Ananas ananassoides, Bromelia balansae), Costaceae (Costus arabicus, C. lanceolatus) e Marantaceae (Calathea acuminata, C. polytricha, C. spp.). Outras ocorrentes são: Cycadaceae (Zamia sp.), Leguminosae (Senna pilifera), Oxalidaceae (Oxalis barrelieri), Rutaceae (Ertella trifolia), Sterculiaceae (Helicteres spp.).

As epífitas são extremamente abundantes, especialmente a arácea Philodendron muricatum, que é também rupícola, além de Orchidaceae (Aspasia variegata, Encyclia tarumana, Scaphyglottis cf. amazonica, Trizeuxis falcata, Zygosepalum lindeniae).

Área visitada – Sudoeste do Parque, próximo às RPPNs Cristalino.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) - Alta, pois é um tipo de vegetação com ocorrência restrita no Parque e apresenta uma diversidade florística elevada, sendo muitas espécies características deste ambiente, além de ser muito vulnerável ao fogo na época de seca.

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom, uma vez que é difícil o acesso a essas áreas e também porque essas áreas são inadequadas para agricultura, devido ao solo raso, infértil e pedregoso, e para a pecuária, devido ao relevo acidentado e rochoso.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Médio, pois, apesar de estar em bom estado de conservação, a natureza marcadamente estacional desta fisionomia faz com que ela seja muito vulnerável ao fogo em períodos de seca contínua ou prolongada. É

28

preciso manter tal vegetação afastada de pastos e estradas por meio da manutenção da vegetação florestal circundante.

Figura 28. Floresta estacional decidual sobre um morro de granito no oeste do Parque (© GoogleEarth).

5.5 Campinarana De acordo com Pires & Prance (1985) e Veloso et al. (1991), esta vegetação ocupa áreas tabulares arenosas, bastante lixiviadas e manifesta-se em diferentes fácies: florestada, arborizada e gramíneo-lenhosa. Durante nossos estudos, tivemos a oportunidade de visitar tanto a campinarana clorestada como a campinarana gramíneo-lenhosa, e várias zonas de transição entre estas e os ‘campos rupestres’ da Amazônia.

5.5.1 Campinarana Florestada (Caatinga) Em meio às diferentes fisionomias de floresta alta que ocupam grande extensão na parte central do Parque, ocorrem, tanto em suaves baixadas temporariamente alagadas, como no topo das serras e em planaltos com solo empobrecido e arenoso, manchas de floresta baixa que se desenvolve sobre solo claro e com uma espessa camada superficial de material orgânico. É possível que esta fisionomia esteja associada a solos de pouca profundidade, onde a rocha arenítica comumente observada em afloramentos (ver Serra do Rochedo) está próxima da superfície do solo bloqueando a drenagem.

As comunidades vegetais que ali se desenvolvem variam em densidade e em composição específica, sendo ora fortemente dominadas por poucas espécies (e.g. P46-7 com populações quase monoespecíficas de Clusia ou Retiniphyllum sp.), outras vezes apresentando predomínio de Humiriaceae (P3) com Humiria balsamifera acompanhada de outras arvoretas e arbustos, ou mesmo mais variada e também mais aberta devido à presença marcante de afloramentos de rocha.

29

Figura 29. Solo Transecto 1 (P3). Figura 30. Solo Transecto 5 (P1). Figura 31. Solo Transecto 10 (P42).

5.5.1.1 Campinarana florestada em baixios e em topos de serra O dossel é bastante aberto com cerca de 6-12 m de altura média, sem grandes árvores emergentes. O componente arbóreo desta vegetação é composto em sua maior parte por árvores de pequeno porte. O interior da mata é claro e é comum a ocorrência de clareiras, onde ocorrem pteridófitas terrestres de até 1 m de altura. Blocos de rocha podem ser observados aflorando nos desníveis do relevo, variando em abundância e dimensões conforme o relevo local.

Em algumas localidades, esta vegetação pode ser quase totalmente dominada pela espécie Humiria balsamifera (Humiriaceae), uma arvoreta de cerca de 8 m alt. com ritidoma escamoso castanho-escuro e caule tortuoso. Em outras, encontramos uma mistura de Humiriaceae, Leguminosae (DS 2215, 2222) e Elaeocarpaceae (Sloanea sp). Outras famílias de árvores encontradas foram: Anacardiaceae (DS 2218), Annonaceae (DS 2221), Apocynaceae (Aspidosperma spp., Himatanthus sp.), Araliaceae (Schefflera distractiflora), Bignoniaceae (Tabebuia sp.), Bombacaceae (Bombacopsis sp.), Burseraceae (Protium unifoliolatum, Protium sp.), Celastraceae (Maytenus guianensis), Euphorbiaceae (Aparisthmium condatum), Flacourtiaceae (Casearia javitensis), Guttiferae (Caraipa densifolia, Clusia spp., Vismia cf. duckei), Malpighiaceae (Byrsonima sp.), Melastomataceae (DS 2216), Meliaceae (Guarea sp. nov.), Memecylaceae (Mouriri sp.), Monimiaceae (Siparuna guianensis), Moraceae (Brosimum sp.) Myristicaceae (Virola sp.), Myrtaceae (Eugenia anastomosans), Sapotaceae (Pouteria sp.), Vochysiaceae (Vochysia cf. divergens). São freqüentes as árvores com ritidoma escamoso, porém não suberoso. Os indivíduos destas espécies freqüentemente têm o tronco coberto por musgos, liquens e muitas epífitas, principalmente a pteridófita Elaphoglossum sp. (Lomariopsidaceae) e a uma microrquídea (Z 839).

São raras as palmeiras, tanto de grande como de pequeno porte e/ou acaules, tendo sido encontrada apenas Mauritiella armata (associada à presença de formigas do gênero Azteca).

O subosque é denso, especialmente nas áreas mais próximas às encostas, porém baixo (2-3 m alt.), formado por arbustos e arvoretas finas das famílias Annonaceae (Guatteria sp., Xylopia sp.), Nyctaginaceae (Guapira sp.), Rubiaceae (Pagamea macrophylla e P. guianensis, Faramea capillipes, Psychotria poeppiggiana, Stachyarrhena sp., Palicourea nitidella, Rudgea palicoureoides), Myrtaceae, Melastomataceae, Meliaceae (Trichilia fasciculata), Menispermaceae (Abuta grandifolia), Myrsinaceae (Cybianthus cf. brownii), Nyctaginaceae (Guapira sp.), Chrysobalanaceae (Hirtella burchelli, Hirtella sp.), Leguminosae (Bauhinia pulchella), e Guttiferae (Clusia sp.). Cipós são pouco freqüentes dentro da mata, tendo sido observados apenas Smilacaceae (Smilax sp.), Compositae (Mikania sp.) e Apocynaceae (Allamanda sp.). Nas clareiras, cipós e lianas são mais freqüentes.

30

Figura 32. Campinarana de Humiria balsamifera, Transecto 1 (P3).

Figura 33. Campinarana alagada de Clusia/ Retiniphyllum (P46).

Entre as herbáceas, foram observadas Piperaceae (Piper peltatum), Compositae (Ichthyothere terminalis), Gramineae (Panicum cf. ligulare), Marantaceae e pteridófitas (Sellaginella sp. e Dryopteridaceae (GSH 63), Pteridaceae (Adiantum cf. argutum, Doryopteris cf. ornithopus), juntamente com um grande número de plântulas, no solo desta floresta. Entre as epífitas, é encontrada também a enorme bromeliácea Aechmea sp. além de uma pteridófita (Elaphoglossum sp.), crescendo aparentemente exclusivamente sobre troncos de Humiriaceae. Em áreas mais abertas, especialmente onde o solo é mais úmido, observamos espécies herbáceas de Cyperaceae (DS 1993), Lythraceae (Cuphea sp.) e Rubiaceae (Retiniphyllum sp.).

Também classificada sob este item temos as pequenas manchas estudadas nos pontos P46-7, associadas a floresta ombrófila sobre solo arenoso e nas proximidades de um buritizal, onde foram encontradas Guttiferae (Clusia sp.) e Rubiaceae (Retiniphyllum sp.) formando grandes populações monoespecíficas ou com duas ou três espécies claramente dominantes e semi-imersas, e extensas áreas alagadas com Araceae (Anthurium sp.), Rapateaceae (Cephalostemon sp.) e outras monocotiledôneas, bem como Myrsinaceae (Z 1145) e Polygonaceae (Coccoloba sp.).

Área visitada – Sudeste do Parque, entrada pela sede da Fazenda AJJ; extremo nordeste do Parque, estendendo-se no exterior da área do Parque em direção ao estado do Pará (área controlada pela Força Aérea Brasileira); ao longo do topo da extensa Serra do Mateiro, localizada na porção oeste do Parque.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) - Alta, pois trata-se de um tipo de vegetação raro dentro da área do Parque devido às condições geológicas específicas necessárias para seu estabelecimento, apresenta uma associação de espécies distinta e aparentemente algumas espécies vistas apenas naquela localidade (Rudgea palicoureoides, Pagamea macrophylla, Aechmea sp.)

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Médio, sendo que a área visitada apresentava evidências da passagem de fogo.

31

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Alto, pois é possível que a natureza marcadamente estacional desta fisionomia faça com que ela seja muito vulnerável ao fogo em períodos de seca contínua ou prolongada. É preciso manter tal vegetação afastada de pastos e estradas por meio da manutenção da vegetação florestal circundante.

Figura 34. Campinarana na Serra do Mateiro, Transecto 10 (P42).

Figura 35. Transição campinarana/campo rupestre, P1.

5.5.1.2 Transição entre campinarana florestada e campo rupestre Esta fisionomia encontrada no extremo nordeste do Parque (P1) consiste em floresta baixa e descontínua (ou savana arbustivo-arbórea) em solo arenoso com pouca declividade, com presença de rochas cobertas de liquens, musgos e samambaias. A estrutura e a composição desta fisionomia variam com a profundidade do solo e a declividade do terreno, porém foi possível notar uma maior diversidade e abundância da família Myrtaceae em comparação com as fisionomia 5.5.1.1.

Nas áreas onde o arenito encontra-se muito próximo do solo, a superfície apresenta-se arenosa com pouca matéria orgânica, misturada com rochas isoladas, e coberta por uma mistura de Ananas ananassoides (Bromeliaceae) e samambaias (Doryopteris ornitopus, Anemia sp.), liquens, musgos e, ocasionalmente, algumas gramíneas. As árvores são isoladas e atingem apenas 4-5 m alt., sendo comuns elementos encontrados em campos arenosos (5.5.2) e em ‘campos rupestres’ (5.6), como por exemplo Leguminosae (DS 2037) e Melastomataceae (Topobea sp.). Durante a amostragem dessa vegetação foi registrada uma abundância de Vochysiaceae (Qualea sp.), Euphorbiaceae (Richeria sp.), Leguminosae (DS 2038), Malpighiaceae (Byrsonima sp.,) e Myrtaceae (DS 2041, 2040), sendo amostradas também Palmae (DS 2035), Memecylaceae (Mouriri sp.), Annonaceae (Xylopia sp.), Simaroubaceae (Simaba sp.) e Melastomataceae (DS 2042).

Nas áreas onde o solo é mais profundo foi observada uma vegetação ligeiramente mais alta e contínua (6-8m), apesar de poucas árvores excederem 20 cm de diâmetro. Ao invés de Ananas e Doryopteris, foi observada uma espécie de Selaginella crescendo em meio a uma camada mais espessa de serrapilheira, e uma espécie de Melastomataceae (Miconia sp.) era o elemento arbustivo mais abundante. Entre as árvores e arvoretas registradas houve Myrtaceae (DS 2053, 2049), Combretaceae (Buchenavia sp.), Leguminosae (Swartzia sp.), Sapotaceae (DS 2051), Burseraceae (DS 2052) e Euphorbiaceae (Maprounea sp.).

Outras espécies de menor porte observadas nos arredores foram Melastomataceae (Z 967) e Gentianaceae (Calolysianthus sp.). Uma interessante Orchidaceae terrestre do gênero Sobralia foi observada crescendo na transição entre a floresta baixa

32

descontínua e a floresta alta, em grandes touceiras de mais de 4 m de diâmetro por mais de 2 m de altura.

Esta fisionomia encontra-se contígua a floresta alta sobre solo arenoso (ver 2), cuja ocorrência limita-se aos terrenos de maior declividade associados aos vales dos rios, com grande quantidade de epífitas e com predomínio de Swartzia sp. no estrato arbóreo. Foram observados no solo frutos de Apocynaceae (Macoubea guianensis).

Área visitada - Próximo à Área da Força Aérea Brasileira.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque) (alta, média, baixa) - Média, pois corresponde a um tipo de vegetação incomum dentro da área do Parque, devido às condições geológicas específicas necessárias para seu estabelecimento, apresenta uma associação de espécies distinta e, aparentemente, algumas espécies observadas apenas em uma das localidades (Sobralia sp., Stachyarrhena sp.)

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom, devido à dificuldade de acesso ao habitat.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Médio, pois é possível que a natureza estacional desta fisionomia faça com que ela seja vulnerável ao fogo em períodos de seca contínua ou prolongada. É preciso manter o acesso a tal vegetação afastada de pastos e estradas por meio da vegetação florestal circundante, estabelecendo limites para a abertura de trilhas e estradas.

Figura 36. Floresta e campinarana no extremo leste do Parque.

5.5.2 Campinarana gramíneo-lenhosa

Sob este item foram incluídas áreas campestres em solo arenoso, como, por exemplo, o afloramento rochoso plano no leste do Parque. Dependendo da declividade e estrutura do substrato, que comumente torna-se mais rochoso, as bordas mais elevadas deste habitat possuem um estrato arbustivo-arbóreo mais expressivo e

33

assemelham-se a uma fácies dos ‘campos rupestres’ da Amazônia (5.6). Este habitat não deve ser considerado afim dos ‘cerrados’ do Brasil Central, pois sua composição florística é essencialmente diferente destes.

No limite leste do Parque, observamos várias áreas com vegetação campestre. Esta fisionomia aparece em locais planos ou com pouca declividade, onde o afloramento arenítico é plano e rente ao solo, do tipo ‘lajedo’ semicontínuo. O substrato rochoso com bolsões de areia pura é cortado ou delimitado por cursos d’água, e suporta uma vegetação aberta dominada por Gramineae, Cyperaceae e Compositae (Ichthyothere sp).

Além do ‘lajedo’ superficial, pode haver variável freqüência de rochas areníticas, formando ilhas de vegetação entre e sobre os quais crescem arbustos e arvoretas tortuosas geralmente entre 1-2 m alt., raramente atingindo 3 m e/ou ultrapassando 10 cm diâm. Verificou-se grande predomínio de Euphorbiaceae (Richeria sp., Croton sp., Manihot sp.), Icacinaceae (Emmotum sp.), Malvaceae (DS 1912), e muitas Malpighiaceae (Byrsonima spp., Heteropterys sp.), Guttiferae (Kielmeyera sp., , Clusia sp.), Leguminosae (Parkia cachimboensis), Rubiaceae (Pagamea guianensis, Palicourea sp.), além de Annonaceae (Xylopia sp.), Araliaceae (Schefflera sp.), Labiatae (DS 1948), Bignoniaceae (Z 1007), Melastomataceae (Tibouchina sp.) e Marcgraviaceae (Norantea guianensis).

Figura 37. Campinarana gramíneo-lenhosa, leste do Parque (P7); observa a água correndo lentamente na superfície das pedras.

As seguintes trepadeiras foram encontradas: Bignoniaceae (DS 1926 e Z 952), Convolvulaceae (Ipomoea sp.), Vitaceae (Cissus spp.), Dioscoreaceae (Dioscorea sp.).

Espécies subarbustivas e herbáceas com predomínio de Cyperaceae (Lagenocarpus sp., Rhynchospora sp.), Gramineae (Andropogon sp., Axonopus sp.), Eriocaulaceae (Syngonanthus sp., Paepalanthus sp., Leiothrix sp.), Lentibulariaceae (Utricularia spp.), Rapateaceae (Cephalostemon sp.), Xyridaceae (Xyris sp., Abolboda sp.) crescem em locais alagados, enquanto Apocynaceae (Mandevilla tenuifolia), Compositae (DS 1962), Euphorbiaceae (Phyllanthus sp.), Gesneriaceae (DS 1914), Iridaceae (Cipura paludosa), Lythraceae (Cuphea spp.), Polygalaceae (Polygala spp.,),

34

Rubiaceae (Retiniphyllum sp., Mitracarpus sp., Perama hirsuta e P. sp.) e Scrophulariaceae (DS 1959) habitavam pequenas lacunas com solo arenoso úmido.

Além delas, foram observadas Araceae (Anthurium sp.), Bromeliaceae (Pitcairnia sp., Ananas ananasoides, Dyckia sp.) e Velloziaceae (Vellozia seubertiana, V. tubiflora) rupícolas e algumas pteridófitas, como Anemia sp., Doryopteris ornitopus, Selaginella sp., além de briófitas e liquens (incl. Cladonia sp.) em abundância. Duas espécies de palmeiras foram encontradas nessa hábitat: Mauritiella armata e Allagoptera campestris – ambas escassas.

Nas áreas visitadas, parte do campo foi queimado e os arbustos e árvores, inclusive as Vellozia, não sobreviveram naquela área, dando lugar a populações monoespecíficas de Compositae (2 sp.) e Pteridium.

Figura 38. Campinarana gramíneo-lenhosa (transição campo rupestre), Serra do Rochedo (P25).

Áreas visitadas - Limite leste do Parque, acesso pela Fazenda AJJ; sudeste do Parque, acesso pela Fazenda AJJ.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) - Alta, pois é um tipo de vegetação incomum dentro da área do Parque, aparecendo somente no seu limite sudeste-leste, devido às condições geológicas específicas necessárias para seu estabelecimento. Apresenta uma associação de espécies rica e distinta, com sendo várias delas observadas apenas nesta fisionomia ou mesmo em apenas uma localidade (Vellozia tubiflora, Abolboda, Syngonanthus spp., Paepalanthus spp., Leiothrix spp., Utricularia spp., Perama hirsuta, Perama sp.)

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Alarmante, devido à vulnerabilidade do ecossistema perante à passagem de fogo e à invasão parcial do habitat por uma espécie exótica de Brachiaria utilizada pelos fazendeiros. Nas áreas visitadas, parte do campo foi queimada e os arbustos e árvores, inclusive Vellozia seubertiana, não sobreviveram naquela área, onde o habitat encontra-se empobrecido, colonizado por populações monoespecíficas de Compositae e Pteridium aquilinum.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Alto, pois a maioria das localidades onde encontramos esta fisionomia está localizada na proximidade de terras ocupadas. Este habitat vem sofrendo influência antrópica marcante devido à proximidade da fazenda, especialmente no que diz respeito ao fogo e às espécies invasoras.

35

5.6 Campo Rupestre da Amazônia (Refúgios submontanos arbustivos)

5.6.1 Serras do Mateiro e do Rochedo Este tipo de habitat foi denominado por Pires & Prance (1985) como ‘campos rupestres’ da Amazônia, sendo comparável às campinaranas (5.5) com as quais encontramos diversos graus

de transição, mas tratando-se de uma vegetação desenvolvida virtualmente na ausência de solo e, portanto, desprovida de estrato herbáceo. Vale ressaltar que não existe ligação entre este habitat e os campos rupestres do Leste do Brasil, pois não existem conexões florísticas entre eles.

Em localidades onde os afloramentos rochosos encontram-se fragmentados sobre terrenos de grande declividade, observamos uma vegetação decidual pouco uniforme, com cobertura vegetal descontínua arbustiva e impenetrável. Esta vegetação aberta instala-se sobre e entre fendas de rochas, onde notamos pouca formação de solo, e conta com arbustos e arvoretas de até 5 m alt, mas mais freqüentemente atingindo apenas 3-4 m, e um grande número de lianas e trepadeiras. A disponibilidade de água é baixa, devido ao substrato rochoso e à superficialidade do solo. Em uma dada localidade na Serra de Rochedo (P22), foram observadas rochas divididas por canais profundos (+ de 10 m) e paralelos, a 10-15 m um do outro, contendo água estagnada ou corrente (durante a estação chuvosa). Araceae (Philodendron sp.) e diversas samambaias ocorrem nas paredes sombrias, e algumas árvores de grande porte podem estar quase completamente ocultas nessas fendas, apenas com a copa aparecendo na superfície.

Figura 39. Campo rupestre no Serra de Rochedo.

Foram registradas as seguintes famílias arbustivo-arbóreas, cujo porte varia de uma localidade para a outra. • Anacardiaceae (Anacardium sp.) • Annonaceae (Xylopia sp.) • Apocynaceae (Himatanthus sp.) • Bignoniaceae (DS 2130)

36

• Bombacaceae (Pseudobombax sp.) • Burseraceae (Dacryodes sp.) • Combretaceae (Buchenavia sp.) • Compositae (Ichthyothere sp.) • Convolvulaceae (DS 2125) • Erythroxylaceae (Erythroxylum sp.) • Euphorbiaceae (Croton sp., Manihot sp., Sebastiania sp.) • Gesneriaceae (Drymonia sp.) • Guttiferae (Kielmeyera sp.) • Leguminosae (Bauhinia sp., Parkia cachimboensis ) • Lythraceae (Cuphea sp.) • Malpighiaceae (Byrsonima sp.), • Melastomataceae (DS 1831, 1854) • Moraceae (Ficus spp.) • Myrtaceae (Myrcia sp.) • Ochnaceae (Ouratea sp.) • Rubiaceae (Pagamea guianensis, Dialypetalanthus fuscescens [ambas entre as espécies

predominantes], Alibertia edulis, Psychotria hoffmannseggiana, Palicourea anisoloba, Chomelia sp., Ladenbergia sp.)

• Simaroubaceae (Simaba orinocensis), • Ulmaceae (Trema micrantha) • Urticaceae (Urera baccifera) • Vochysiaceae (Qualea sp.)

Plantas escandentes estendiam-se sobre as rochas e sobre outros arbustos, destacando-se Amaryllidaceae (Bomarea sp.), Araceae (Philodendron sp.), Bignoniaceae (Lundia sp.), Convolvulaceae (DS 2125), Dioscoreaceae (Dioscorea sp.), Leguminosae (DS 1815, Abrus sp., Machaerium sp.), Marcgraviaceae (Norantea guianensis), Menispermaceae (Cissampelos sp.), Vitaceae (Cissus erosa, Cissus sp.).

Figura 40. Campo rupestre na Serra do Rochedo (P22).

Plantas herbáceas foram observadas entre as rochas à sombra, como, por exemplo, Commelinaceae (Dichorisandra sp.), Iridaceae (Cipura paludosa), Euphorbiaceae (Phyllanthus sp.) Selaginellaceae (Selaginella sp.), Begoniaceae (Begonia sp.). Foram vistas também algumas Gramineae (Andropogon bicornis).

Foram observadas a palmeira Syagrus cocoides, e também Bromeliaceae (Ananas ananasoides), Velloziaceae (Vellozia seubertiana), Araceae (Anthurium, Philodendron) e, sobre as pedras, grande quantidade de pteridófitas (Anemia sp., Doryopteris ornitopus) e orquídeas rupícolas (Cyrtopodium sp., Sobralia sp.). Liquens são abundantes tanto sobre as rochas como nos troncos das árvores.

Nas proximidades de um desses habitats na Serra de Mateiro (P44) foi visitada uma área de afloramento rochoso com superfície exposta em declive, com veredas de rocha exposta e ilhas de arvoretas e arbustos. Tratava-se de uma área de rocha exposta contínua, sobre a qual cresciam musgos, Eriocaulaceae, Araceae (Anthurium sp., Philodendron sp.) e Scrophulariaceae. Nas frestas de rocha foram encontrados arbustos e arvoretas geralmente de 2-3 m alt., Anacardium sp., Kielmeyera sp., Erythroxylum sp., Aspidosperma sp. , Eugenia sp., Ichthyothere sp., Norantea sp., Clusia sp., e as herbáceas Mandevilla tenuifolia, Sobralia sp., Dioscorea sp. e Doryopteris ornitopus.

37

Dentro deste ambiente podem ser observadas floresta de galeria pouco expressivas, acompanhando os pequenos cursos d’água onde encontramos um dossel semicontínuo formado por Myrtaceae (Z 1077), Sapotaceae (Micropholis sp.), Rubiaceae (Dialypetalanthus fuscescens, Remijia sp.), Melastomataceae (Miconia), Bombacaceae (Ceiba sp.), Cochlospermaceae (Cochlospermum orinocense), Euphorbiaceae (Croton sp.), Burseraceae (Protium unifoliolatum), e palmeiras (Attalea sp.), à sombra das quais cresciam Menispermaceae (Abuta grandifolia), Rubiaceae (Psychotria iodotricha, Psychotria sp.), Marantaceae, e muitas pteridófitas (Polypodiaceae Z 1066 & 1069, Selaginella sp.), além de orquidáceas rupícolas (Z 1067, 1068).

Em direção ao topo das serras, especialmente quando atingimos os limites da floresta e em depressões onde há maior acúmulo de solo, encontramos árvores maiores, como, por exemplo, as leguminosas Hymenaea courbaril (jatobá), Anadenanthera peregrina (angico), Bignoniaceae (Tabebuia sp.) e Cecropiaceae (Cecropia sp.)

Figura 41. Campo rupestre na Serra de Rochedo, Transecto 4 (P20).

Figura 42. Campo rupestre na Serra de Mateiro, P44.

Áreas visitadas - Face norte da Serra do Mateiro a noroeste do Parque; três diferentes trechos da Serra do Rochedo a sul-sudeste do Parque.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) - Alta, pois é um tipo de vegetação incomum dentro da área do Parque devido às condições geológicas específicas necessárias para seu estabelecimento, apresenta espécies arbustivo-arbóreas e mesmo herbáceas registradas nessa localidade tem afinidade com aquelas observadas nas fisionomias 5.5.1, 5.5.2, porém existem algumas aparentemente exclusivas ou, ao menos, mais expressivas neste habitat (Dialypetalanthus fuscescens, Himatanthus, Cochlospermum), tratando-se de uma vegetação distinta com aparentemente algumas espécies observadas apenas naquela localidade (Stachyarrhena sp.). Devido à notável geologia de algumas destas áreas, elas são potencialmente viáveis para o desenvolvimento de ecoturismo (escalada, turismo de aventura).

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – No extremo noroeste do Parque o estado é bom, devido à dificuldade de acesso ao habitat. Já na Serra do Rochedo, a base dos afloramentos encontra-se em contato imediato com Brachiaria, uma Gramineae invasora que compromete parte do habitat.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Médio, pois é possível que a natureza estacional desta fisionomia faça com que ela seja vulnerável ao fogo em períodos de seca contínua ou prolongada. É preciso manter o acesso a tal vegetação afastada de

38

pastos e estradas por meio da vegetação florestal circundante, estabelecendo limites para a abertura de estradas ou mesmo trilhas que podem facilmente causar erosão do solo arenoso/ rochoso, especialmente nas áreas de maior declividade.

5.6.2 Serras no oeste do Parque No oeste do Parque, nas pequenas serras graníticas com altitude média entre 250-280 m (no máximo 400 m) e até 6 km de extensão, ocorrem, além de floresta estacional decidual, afloramentos rochosos pouco extensos onde se desenvolve uma vegetação aberta em ilhas de solo, predominantemente arbustivo-herbácea, porém com árvores esparsas que podem atingir até 25 m alt.

Estas formações possuem muitos elementos florísticos em comum com as florestas estacionais deciduais que as circundam, como Cochlospermaceae (Cochlospermum orinocense), Bombacaceae (Bombacopsis paraensis, Pseudobombax cf. longiflorum), Leguminosae (Anadenathera peregrina). Outras árvores menores freqüentes nos afloramentos são Clusia weddellianna (Guttiferae) e Ficus amazonica (Moraceae). Ocorrem também Ceiba samauma (Bombacaceae) e Erythrina ulei (Leguminosae).

São também comuns às florestas estacionais deciduais muitas espécies herbáceas a arbustivas, como das famílias Bromeliaceae (Aechmea, Ananas ananassoides), Costaceae (Costus), Sterculiaceae (Helicteres). Destacam-se por formar grandes populações as espécies Vellozia seubertiana (Velloziaceae) e Dyckia duckei (Bromeliaceae). Nestes afloramentos, é encontrada também a possível espécie nova do gênero Marsdenia (Asclepiadaceae). Outras famílias ocorrentes nos afloramentos são: Amaryllidaceae (Bomarea edulis), Begoniaceae (Begonia guaduensis), Cochlospermaceae (Cochlospermum regium), Euphorbiaceae (Croton aff. goyazensis, Sebastiania corniculata), Guttiferae (Kielmeyera sp.), Myrtaceae (Calyptranthes sp., Eugenia sp., Myrcia rufipes), Orchidaceae (Encyclia taruma., Epidendrum sp., Habenaria sp., Rodriguezia lanceolata), Polygalaceae (Bredemeyera floribunda, B. lucida).

São comuns as plantas escandentes como Norantea guianensis (Marcgraviaceae), além de trepadeiras herbáceas das famílias: Asclepiadaceae (Marsdenia weddellii), Convolvulaceae (Ipomoea spp., Operculina alata), Leguminosae (Abrus fruticulosus), Malpighiaceae (Banisteriopsis cf. prancei).

Diferentemente da maior parte dos afloramentos das grandes Serras do Mateiro e do Rochedo, onde as rochas encontram-se na forma de blocos de alturas e tamanhos variáveis, formando fendas que são freqüentemente profundas, nessas pequenas serras do oeste do Parque as rochas expostas são lajes pouco fissuradas e de pequena extensão. Estas ocorrem somente nas partes mais elevadas, enquanto que, nas grandes serras, blocos de rocha ocorrem desde a base até o topo delas. Apesar de haver elementos florísticos em comum, a flora destas pequenas serras é essencialmente diferente das grandes serras, principalmente em relação ao componente arbóreo. Além disso, nas pequenas serras há uma maior abundância de bromélias, orquídeas e aráceas.

5.7 Vegetação (formações pioneiras) com influência fluvial e/ou lacustre

5.7.1 Palmeiral (buritizal) Nas áreas de baixada com pouca drenagem no interior da floresta alta com dossel aberto em solo arenoso, ocorrem comunidades vegetais com predomínio de uma ou poucas espécies vegetais ocorrendo em grandes populações. Nessas áreas comumente encontramos palmeiras tais como (Mauritia flexuosa – espécie geralmente dominante), sete-pernas (Socratea exorrhiza), açaí (Euterpe sp.) e Oenocarpus bataua. Também abundantes são as Cecropiaceae (Pourouma sp., Cecropia sp.), com

39

raízes aéreas. Já no ponto P49, foram observadas abundantes Marantaceae (Calathea altissima, Calathea sp.), Costaceae (costus spp.), Heliconiaceae (Heliconia sp.) e Rapateaceae (Rapatea sp.).

No terreno em declive nas proximidades dessas baixadas, foram registradas árvores e arvoretas das famílias Annonaceae, Magnoliaceae (Talauma ovata), Guttiferae (Clusia panapanari), Melastomataceae (Maieta sp.), bem como trepadeiras (Melastomataceae, Clidemia sp.), espécies herbáceas (Marantaceae, Monotagma sp.) e grande quantidade de plantas epífitas e hemiepífitas das famílias Araceae (Philodendron sp.), Orchidaceae, Piperaceae (Peperomia sp.), Gesneriaceae e Cyclanthaceae (Thoracocarpus bissectus). Samambaias terrestres e epifíticas são também abundantes neste tipo de vegetação.

Áreas visitadas - Duas localidades nas proximidades do acampamento subindo o Rio Cristalino, 35 km acima da Pousada, perto da fronteira com o Pará.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) - Alta, pois é um tipo de vegetação comum dentro da área do Parque. Apresenta, porém, uma associação de espécies distinta de local para local (e.g. Rapatea sp. do P49 foi observada apenas naquela localidade). Existe a possibilidade de que a grande concentração de palmeiras e outras espécies com frutos dispersos por animais, associada à disponibilidade de água durante a maior parte do ano, faça com que essas áreas sejam importantes para a manutenção da fauna local.

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom, devido à dificuldade de acesso ao habitat.

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Médio, pois a alta dependência do balanço hídrico positivo faz com que esta fisionomia seja vulnerável a mudanças climáticas e de uso das terras localizadas a maior elevação, bem como ao represamento e/ou assoreamento dos rios no local.

5.7.2 Contato arbustiva/herbácea O Rio Cristalino no seu trecho no perímetro norte do Parque apresenta um percurso tortuoso, com meandros abandonados e semi-abandonados, localmente chamados de “lagoas”, sendo esta terminologia também adotada neste relatório. O resultado é um mosaico complexo e dinâmico de florestas sazonalmente inundadas (incluindo buritizal), vegetação herbácea aberta e densa, baixos emaranhados de arbustos baixos, pequenas árvores e trepadeiras.

Figura 43. Curso do Rio Cristalino no noroeste do Parque (fonte: ASTER 2005).

Areas roxas representam lagoa e floresta inundada aberta. A pista da Pousada é visível no meio da imagem.

Nessas lagoas e também nos bancos que beiram o Rio Cristalino, encontramos duas distintas fisionomias, determinadas pela declividade e geologia da margem e pelo fluxo do rio:

Mata de galeria com vegetação arbórea variada, entremeada com lianas. As espécies arbóreas mais comuns são: Leguminosae (Inga pilosula, Ormosia flava, Zygia latifolia),

40

Annonaceae (Annona hypoglauca), Aquifoliaceae (Ilex inundata), Malpighiaceae (Byrsonima sp.), Ebenaceae (Diospyros sp.), Elaeocarpaceae (Sloanea sp.), Euphorbiaceae (Mabea sp.), Caryocaraceae (Caryocar microcarpum), Moraceae (Ficus sp.), Rubiaceae (Genipa americana - genipapo), Vochysiaceae (Vochysia floribunda), e das lianas Bignoniaceae (Arrabidea craterophora e Paragonia pyramidata), Loganiaceae (Strychnos sp.), Malpighiaceae (Heteropterys orinocensis), Marantaceae (Ischnosiphon sp.), Myrtaceae (Myrcia sp.), Sapindaceae (Paullinia sp.), Passifloraceae (Passiflora spp.), Hippocrateaceae (Prionostemma sp.), Rubiaceae (Randia sp.).

Figura 44. Vegetação ribeirinha numa das ‘lagoas’ no Rio Cristalino (P36).

Bancos de vegetação arbustivo-herbácea em populações monoespecíficas ou associações de 2-3 espécies acumulam-se em remansos ao longo do rio. Foram observadas populações monoespecíficas de: Euphorbiaceae (Sapium sp.)5, Polygonaceae (Triplaris sp., Coccoloba ovata), Leguminosae (Macrolobium acaciifolium) e Cecropiaceae (Cecropia sp.).

Entre as espécies arbustivas e herbáceas, foram observadas Cucurbitaceae (Rytidostylis amazonica), Malvaceae (Hibiscus sororius), Euphorbiaceae (Capanea sp.,), Cyperaceae (Scleria bracteata, Scleria secans) e Polygonaceae (Polygonum sp. além de bancos flutuantes de aguapés (Pontederiaceae, Eichornia azurea, E. diversifolia, E. crassipes), Pistia stratioides (Araceae) e Azolla sp. (Pteridophyta).

Durante a estação seca, foram observadas Podostemaceae crescendo sobre as pedras das corredeiras.

Áreas visitadas – Diversos pontos das margens e lagoas do Rio Cristalino, entre as RPPNs Cristalino (base do Limão) e a divisa com o estado do Pará.

Importância do tipo de vegetação dentro do Parque como um todo (raridade, riqueza de espécies, representatividade do habitat no Parque; alta, média, baixa) – Alta, pois é

5 Esta espécie dotada de casca castanho-clara cresce em faixas características ao longo dos bancos do rio, e provavelmente permanece imersa durante a maior parte do ano.

41

um tipo de vegetação comum apenas ao longo do Rio Cristalino, não ocorrendo em outras partes do Parque. Apresenta uma associação de espécies semelhante de local para local, com algumas espécies exclusivas dessa fisionomia. Certamente a grande concentração de espécies com frutos dispersos por peixes (Strychnos, Prionostemma, Caryocar, Genipa), associada à disponibilidade de água durante o ano todo, faça com que essas áreas sejam de grande importância para a manutenção da fauna local.

Figura 45. Vegetação arbustivo-herbácea no Rio Cristalino (P45). Figura 46. Rytidostylis amazonica cobrindo vegetação ribeirinha.

Estado de conservação (bom, médio, alarmante) – Bom, devido à dificuldade de acesso ao habitat (entrada apenas através da RPPN).

Nível de ameaça (alto, médio, baixo) – Médio, devido à alta dependência do rio, o que faz com que esta fisionomia seja vulnerável a mudanças climáticas e ao uso das terras localizadas ao norte do Parque, especialmente no que concerne ao represamento e/ou assoreamento dos rios no local.

5.8 Vegetação secundária e agropecuária Dentro do Parque, as áreas de vegetação secundária, muitas vezes completamente descaracterizadas, são mais extensas próximas aos seus limites sul e leste, onde se situam estradas e fazendas de pequeno a grande porte. Mesmo antes da sua criação do Parque, já existiam nele áreas degradadas, também associadas às fazendas. Ao longo dos anos, conflitos gerados por interesses político-econômicos em relação ao Parque propiciaram o aumento destas áreas em um tamanho considerável.

As vegetações secundárias ocorrem em sua maior parte em áreas relativamente planas, utilizadas principalmente para pecuária. Áreas acidentadas, como as Serras do Mateiro e do Rochedo, sofreram menos alterações, devido à dificuldade de acesso. Não obstante, na base da Serra do Rochedo, podem ser observados locais com vegetação um pouco alterada, conseqüência da sua proximidade com a Fazenda AJJ e uma estrada de terra.

42

A proximidade com as fazendas é um fator de risco muito grande por diversos motivos, como devido ao perigo de queimadas não-controladas, à erosão, à invasão de plantas daninhas, à retirada de madeira por moradores das fazendas, e à própria devastação para aumento dos pastos.

Figura 47. Áreas de vegetação secundária no Parque Estadual Cristalino. Áreas listradas de vermelho e branco sofreram alterações antes da criação do Parque em 2001 (fonte: Landsat TM/INPE); as áreas em vermelho entre 2001 e 2006 (fonte: CBERS/INPE).

São típicas de vegetação secundárias: Cecropiaceae (Cecropia sciadophylla, Cecropia spp.), Guttiferae (Vismia spp.), Annonaceae (Xylopia sp.), Caricaceae (Jacaratia spp.), Euphorbiaceae (Croton sp.), Palmae (Attalea maripa), Leguminosae (Schizolobium amazonicum), entre outras. Nos limites dos pastos, beirando as estradas de terra, são comuns a gramínea Andropogon bicornis e outras exóticas (por exemplo Brachiaria), além de diversas trepadeiras (Convolvulaceae, Dilleniaceae, Passifloraceae) e de outras plantas ruderais (Compositae, Costaceae, Heliconiaceae). Além dessas, podem ser encontradas também algumas espécies exóticas, como da família Leguminosae.

Figura 48. Pasto na Fazenda AJJ (P13). Figura 49. Pasto, P31.

Em meio aos pastos, ainda resistem algumas árvores esparsas e muito grandes (> 30 m alt.), geralmente castanheiras (Bertholletia excelsa), mas também jequitibás (Cariniana spp.) e pequi (Caryocar spp.). Muitos destes indivíduos, ainda eretos, encontram-se mortos ou quase mortos. Outras árvores que ocorrem nessas áreas são típicas de vegetação secundária. São comuns também palmeiras como inajá (Attalea maripa), tucumã (Astrocaryum aculeatum) e outras.

43

Devido à sua relativa grande extensão dentro do Parque, a sua recuperação das áreas secundárias deve ser incentivada, a fim de se deter o aumento da sua área através de queimadas ou mais desmatamento.

6 Impacto antrópico na vegetação do Parque

6.1 Exploração de madeira Apesar de não haver evidências a respeito das atividades atuais ou recentes de retirada de madeira, existem abundantes provas de extração no passado, incluindo numerosas estradas e acampamentos abandonados (Figura 36). Tanto a floresta alta ombrófila quanto a semidecidual apresentaram-se bastante abertas e com ocorrência abundante de clareiras, talvez como resultados dessa atividade. A existência dessas estradas e trilhas deixa o parque potencialmente vulnerável para exploração ilegal de madeira, embora, com a vigilância apropriada, a área ficaria assegurada e as próprias trilhas ofereceriam um recurso potencial para ecoturismo.

Figura 50. Evidência de exploração de madeira no Parque: estradas e clareiras.

6.2 Fogo Evidências recentes de passagem de fogo foram detectadas em diversas localidades dentro do Parque, incluindo na campinarana e no ‘campo rupestre’ da Serra de Rochedo, e nas áreas de rocha exposta ao longo do limite leste (P3, P10, P19, P20, P25-6). Em algumas dessas áreas a vegetação natural parece ter sofrido impactos negativos, com estabelecimento de grandes populações invasoras de Compositae e Pteridium aquilinum. Não é absolutamente claro até que ponto este fenômeno é natural ou um resultado de atividade antrópica: fogo não é geralmente considerado um fenômeno normal na vegetação de campinarana (ao contrário do que é conhecido atualmente para o cerrado), mas é possível que fogos naturais ocorram durante a estação seca. De qualquer modo, a proximidade de pastos em todos os locais onde havia sinais de incêndio sugere que estes tenham sido originados nas fazendas vizinhas quando o pasto foi queimado deliberadamente. O fato de que o Parque continua apresentando atividades agropecuárias no seu interior sugere que esses incêndios vão continuar a ocorrer até que a situação seja resolvida.

6.3 Agropecuária Extensas áreas do Parque continuam sendo utilizadas para fins agrícolas. Estas têm sido expandidas de maneira marcante desde o estabelecimento do ParqueError! Reference source not found.. Embora algumas áreas previamente ocupadas tenham

44

sido abandonadas e estejam atualmente formando florestas secundárias (Figura 51), muitas outras continuam ativamente ocupadas por fazendas. Além da destruição da vegetação natural resultando em perda de biodiversidade, a presença de tais fazendas dentro da área de reserva cria uma série de problemas e ameaças adicionais, como acesso não controlado, fogo, plantas invasoras, distúrbios à fauna como pragas e doenças, erosão do substrato e poluição (especialmente dos cursos d’água).

Figura 51. Vegetação secundária e terras agrícolas no Parque Estadual Cristalino, segundo imagens CBERS 2006.

6.4 Usinas Hidrelétricas A ameaça mais recente à biodiversidade do Parque deve-se à construção da PHC Rochedo, um projeto relativamente pequeno de usina hidrelétrica cuja represa resultará na destruição de aproximadamente 500 ha de floresta ombrófila densa.6 Esta área foi visitada durante o presente levantamento e foi realizado um estudo quantitativo (Transecto 7). Trata-se de um trecho de floresta em boas condições e cuja lista preliminar de espécies arbóreas parece detectar uma das áreas mais biodiversas de floresta observadas dentro do Parque. A perda dessa floresta teria um impacto negativo marcante na biodiversidade do Parque como um todo7.

6 Estimada baseada no mapa da represa fornecido pela PCH. Análise baseada no mapa topográfica da área sugere que a área alagada pode ser significativamente maior. 7 Durante a visita a esse local um pequeno grupo de castanheiros encontrava-se acampado no local, colhendo ouriços na área de floresta que será destruída pela represa da usina. O impacto desse projeto afetará não somente a biodiversidade, mas também atividades de manejo sustentável da população local.

45

Figura 52. Estimativa da área a ser inundada pelo PCH Rochedo (fonte: SEMA – interpretação do mapa do PCH).

7 Perspectivas para o Zoneamento O zoneamento para o Plano de Manejo requererá uma análise bastante cuidadosa para que sua diversidade florística seja adequadamente protegida, uma vez que a vegetação da área é bastante heterogênea, não apenas devido à grande diversidade de fitofisionomias, mas também por causa da distribuição irregular das mesmas, formando mosaicos complexos e frequentemente com vários tipos de vegetação, Somam-se a isso as diversas ameaças ao Parque, advindas principalmente de sua fronteira sul, que exigirão programas de fiscalização e monitoramento rígidos.

A existência de fazendas no interior do PE Cristalino é a maior ameaça para sua flora, cujo avanço já destruiu centenas de hectares de variados tipos de vegetação nativa, principalmente de florestas ombrófilas densa e aberta, conforme demonstrado através da comparação do mapa de tipos de vegetação da Figura 5 com o mapa da Figura 51, que ressalta tanto as pastagens como a vegetação secundária dentro do Parque. Também é interessante notar que a Figura 47, mostra o avanço do uso de terras dentro do Parque antes e depois da criação do mesmo em 2001. As fazendas no sudeste do Parque constituem um dos maiores riscos, não apenas pela grande extensão que ocupam, mas também devido à importância das fitofisionomias com as quais estas terras se limitam. A maior parte destas propriedades constitui um bloco retangular que se situa entre a frágil vegetação da Serra do Rochedo (campos rupestres, campinaranas, florestas estacionais deciduais) e uma faixa estreita de florestas ombrófilas densa e aberta remanescentes ao norte. Outra parte das propriedades avança pelo limite leste do Parque até o extremo noroeste, limitando-se a oeste com um mosaico de pelo menos nove tipos de vegetação, como as campinaranas e os ‘campos rupestres’, sendo a floresta estacional semidecidual a fisionomia predominante, até atingir no extremo norte do Parque uma importante mancha de floresta ombrófila densa.

Entre as maiores ameaças trazidas pela presença destas propriedades estão, além do próprio risco de avanço da colonização de terras (novamente, a Figura 47 mostra que este avanço continua sendo uam realidade dentro do Parque), destruindo a vegetação nativa adjacente, as queimadas acidentais, invasão de plantas exóticas, retirada de madeira e erosão do solo. As conseqüências das queimadas acidentais na estação

46

seca podem ser desastrosas nas campinaranas, ‘campos rupestres’ e florestas estacionais, cujas plantas não estão adaptadas à passagem de fogo. Apesar de existirem outras serras no interior do Parque, em locais com menor interferência antrópica, a Serra do Rochedo deve ser protegida, pois corresponde a uma formação singular com características geológicas específicas e que abriga comunidades florísticas únicas com espécies de distribuição restrita no interior do Parque. A adjacência entre as fazendas e as florestas ombrófilas densas e florestas estacionais semideciduais, ricas em espécies madeireiras, pode estar fomentando e propiciando a extração ilegal de madeira e facilitar o avanço de áreas antropizadas.

Por outro lado, as fazendas encontradas no sudoeste e oeste do Parque apresentam uma ameaça principalmente às florestas ombrófilas densas e a sua transição com floresta estacional, e também às manchas de vegetações secas (campinaranas, ‘campos rupestres’, florestas estacionais), inclusive na Serra do Mateiro. Nessa porção do Parque a existência das RPPNs Lote Cristalino e Cristalino I, II e III dificulta uma expansão ainda maior das fazendas.

A porção do norte-centro do Parque é a mais conservada e protegida devido ao difícil acesso e à sua proximidade à área da FAB. A parte mais isolada do Parque é a sua faixa noroeste, com acesso pelo Rio Cristalino, especialmente acima da Pousada, compreende uma série de tipos de vegetação importantes, incluindo florestas ombrófilas tanto em solo argiloso como arenoso, ‘campos rupestres’ e campinarana no topo de serras. Essa dificuldade de acesso deve ser aproveitada para delimitar uma região de proteção, com baixíssima interferência humana, incluindo também toda a faixa norte do Parque, que já usufrui de proteção da área da Força Aérea Brasileira. Dentro dessa área seria importante selecionar seções destinadas a formar a Zona Silvestre e a Zona de Proteção do Parque.

A vegetação da Serra do Rochedo é muito vulnerável devido à proximidade da Fazenda AJJ e suas pastagens e estradas, e devido à construção da Usina do Rochedo. Apesar de existirem outras serras no interior do Parque, em locais com menor interferência humana, a Serra do Rochedo deve ser protegida, pois corresponde a uma formação singular com características geológicas específicas e que abriga comunidades florísticas únicas com espécies de distribuição restrita no interior do Parque. Seria interessante estabelecer uma Zona de Transição para auxiliar na proteção do limite Sul/Sudeste do Parque através de plantio de essências nativas e controle do avanço das pastagens.

As áreas de vegetação secundária encontradas dentro do Parque são relativamente extensas (Figura 47). Alguns locais, onde a vegetação encontra-se mais severamente descaracterizada, poderão ser aproveitados para as Zonas de Administração, porém recomenda-se também que sejam delimitadas áreas grandes para formar a Zona de Recuperação, com o estudo e acompanhamento do processo de regeneração natural (as regiões assinaladas em verde-brilhante no mapa) ou para reflorestamento por meio de plantio de essências nativas obtidas a partir de fontes de sementes locais (as áreas verde-claras).

Mais estudos botânicos deverão ser incentivados nas diferentes fitofisionomias do Parque, para que sua vegetação seja melhor conhecida em relação à sua composição florística, distribuição e processos ecológicos. Para a floresta ombrófila densa sobre solo argiloso (ver 5.1. floresta ombrófila densa submontana), por exemplo, são necessários mais estudos através de “verdade terrestre” (ground-truthing) para que mais áreas com essa fisionomia sejam localizadas e mapeadas, com objetivo de assegurar a proteção das mesmas.

Recomenda-se também que estudos mais intensos sejam realizados nas áreas que serão inundadas para a construção da Usina do Rochedo. Como relatado anteriormente, o presente estudo amostrou uma área que será inundada e que revelou

47

grande diversidade florística. É importante que a biodiversidade que será perdida seja mais bem conhecida e representada com materiais em herbários.

Figura 53. Áreas de boa preservação de hábitat, incorporando entre eles todos os hábitats encontrados no Parque.

O apoio da população nos arredores do Parque será essencial para sua proteção. Atividades relacionadas ao turismo deverão ser incentivadas junto à população local, como formação de guias. Existem, dentro do parque, áreas com potencial turístico significativo (p. ex. Olho da Xuxa e cachoeiras circunvizinhas; subida da trilha da Serra do Mateiro, passeios de barco entre a Ecolodge do Rio Cristalino e a Pousada) apropriadas para aproveitamento do tipo Zona de Visitação. As atividades turísticas e de visitação no Noroeste do Parque poderiam ser desenvolvidas em conjunto com as RPPNs locais.

Dentro do contexto do Corredor Ecológico da Amazônia Meridional, o Parque Estadual Cristalino localiza-se numas das regiões de maior pressão antrópica, sendo que essa já foi responsável pelo comprometimento de sua biodiversidade principalmente nos limites sul e oeste. Por outro lado, sua posição estratégica é importante para auxiliar na regularização fundiária de regiões ameaçadas pelo avanço do arco do desmatamento e expansão demográfica, funcionando como uma barreira contra a grilagem de terras, além da manutenção da biodiversidade, por meio do trânsito de espécies entres essas regiões, como está estabelecido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação8.

8 Bibliografia Ackerly, DD., Thomas, W.W., Ferreira, C.A.C. & Pirani, J.R. 1989. The forest-cerrado transition zone in southern Amazonia: results of the 1985 Projeto Flora Amazônica expedition to Mato Grosso. Brittonia 41 (2): 113-128.

Anderson, A.B.1981. White sand vegetation of Brazilian Amazonia. Biotropica 13(3): 199-210.

Associação dos Amigos do Parque Cristalino. 2005. Parque Estadual Cristalino, Amazônia Matogrossense: Avaliação geral e propostas. Associação dos Amigos do Parque Cristalino, Alta Floresta. 12 p.

Balée, W. & Campbell D.G. 1990. Evidence for the successional status of liana forest (Xingu River Basin, Amazonian Brazil). Biotropica 22:36–47.

8 http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/meio_ambiente_brasil/ arpa/exp/exp_jur/relatos_online/index.cfm?uNewsID=2863)

48

Brasil, A.E. & S.M. Alvarenga. 1989. Relevo. In: Duarte, A.C. (coord.). Geografia do Brasil, volume 1. Região Centro-Oeste. IBGE, Rio de Janeiro. Pp. 53-72.

Campello, S., Georgiadis, G., Richter, M., Buzzetti, D., Dalponte, J., Araújo, A.B., Peres Jr., A.K.P. Brandão, R.A. & Machado, F. 2002a. Diagnóstico do Parque Estadual Cristalino. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Coordenação da Amazônia. Brasília, DF.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2004. Mapa da vegetação brasileira. 3ª edição. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Köppen, W.P. 1948. Climatologia. Fondo de Cultura Economica, México. 478 p.

Kubitzki, K. 1985. The Dispersal of Forest Plants. In: Prance, G.T. & Lovejoy, T.E. (eds.) Amazonia. Oxford, Pergamon Press

Kubitzki, K. 1989. The ecogeographical differentiation of Amazonian inundation forests. Pl. Syst. Evol. 165: 285-304.

Lleras, E & Kirkbride, J.H. 1978. Alguns aspectos da vegetação da serra do Cachimbo. Acta Amazonica 8 (1): 51-65.

Maury, C.M. (org.) 2004. Biodiversidade Brasileira: Avaliação e identificação de áreas e ações prioritárias para conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade nos biomas brasileiros. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas, PROBIO. Brasília, DF.

Mitchell, K. 2007. Quantitative Analysis by the Point-Centered Quarter Method. http://people.hws.edu/mitchell/PCQM.pdf.

Nimer, E. 1989. Clima. In: Duarte, A.C. (coord.) Geografia do Brasil, volume 1. Região Centro-Oeste. IBGE, Rio de Janeiro. Pp. 23-34.

Pires, J.M. & Prance, G.T. 1985. The Vegetation types of the Brazilian Amazon. In: Prance, G.T. & Lovejoy, T.E. (eds.) Amazonia. Oxford, Pergamon Press. pp. 109-145.

Pires-O’Brien, M.J. 1992. Report on a remote swampy rock savanna at the mid-Kari river basin, Lower Amazon. Botanical Journal of the Linnean Society 108: 21-33.

Prance, G.T. 1985. The Pollination of Amazonian Plants. In: Prance, G.T. & Lovejoy, T.E. (eds.) Amazonia. Oxford, Pergamon Press. pp. 166-191.

Ratter, J.A., Bridgewater, S. & Ribeiro, J.F. 2006. Biodiversity patterns of the woody vegetation of the Brazilian cerrados. In: Pennington, R.T., lewis, G.P. & Ratter, J.A. Neotropical savannas and seasonally dry forests. Boca Raton, Taylor & Francis. pp. 31-66.

Ribeiro, J.E.L.S., Hopkins, M.J.G., Vicentini, A., Sothers, C.A., Costa, M.A.S., Brito, J.M., Souza, M.A.D., Martins, L.H.P., Lohmann, L.G., Assunção, P.A.C.L., Pereira, E.C., Silva, C.F., Mesquita, M.R., Procópio, L.C. 1999. Flora da Reserva Ducke. INPA/DFID, Midas Printing ed.

Ross, J.L.S. 2003. Os fundamentos da geografia da natureza. In: Ross, J.L.S. (org.). Geografia do Brasil. Edusp, São Paulo. Pp. 13-65. SEPLAN/MT 2001a. Distribuição da Pluviosidade Média Anual (1983-1994). Zoneamento Sócio-econômico Ecológico. PRODEAGRO. Ministério de Integração Nacional. http://www.seplan.mt.gov.br/. SEPLAN/MT 2001b. Mapa geológico do Estado de Mato Grosso. Zoneamento Sócio-econômico Ecológico. PRODEAGRO. Ministério de Integração Nacional. http://www.seplan.mt.gov.br/

49

SEPLAN/MT 2001c. Mapa de solos. Zoneamento Sócio-econômico Ecológico. PRODEAGRO. Ministério de Integração Nacional. http://www.seplan.mt.gov.br/

SEPLAN/MT 2002. Mapa de vegetação. Zoneamento Sócio-econômico Ecológico. PRODEAGRO. Ministério de Integração Nacional. http://www.seplan.mt.gov.br/

SEPLAN/MT 1997. Geomorfologia (texto). Zoneamento Sócio-econômico Ecológico. PRODEAGRO. Ministério de Integração Nacional.

Simone, O., Junk, W.J. & Schmidt, W. 2003. Central Amazon Floodplain Forests: Root Adaptations to Prolonged Flooding. Russian Journal of Plant Physiology 50(6): 943-51.

Smith, A. 1971. Mato Grosso, last virgin land. Royal Society and Royal Geographical Society, London, 288 pp.

Veloso, H.P., Rangel Filho, A.L.R. & Lima, J.C.A. 1991. Classificação da Vegetação Brasileira, adaptada a um sistema universal. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rio de Janeiro.

50

9 Anexos

9.1 Anexo 1: Pontos referidos no texto Ponto Observações Latitude Longitude Altitude

(m) Amostra

P1 Campinarana florestada/campo rupestre -9.49447222 -55.15033333 357 Transecto 5-6

P2 Vegetação fluvial: 'Olho de Xuxa' -9.50132537 -55.16918996 330

P3 Campinarana dominada por Humiria balsamifera -9.58177777 -55.20236111 365 Transecto 1

P4 Floresta semidecidual (alta) -9.58331337 -55.19985298 386

P5 Acampamento de madeireiros (abandonado) -9.58406691 -55.19369219 377

P6 Beira da mata: área alagada com Scleria -9.58439187 -55.19301058 374

P7 Campinarana gramíneo-lenhosa (base de coleta)

-9.58400000 -55.19144444 360

P8 Campinarana gramíneo-lenhosa -9.58475892 -55.19126329 360 Parcela 1

P9 Campinarana gramíneo-lenhosa -9.58689102 -55.19096917 368 Parcela 2

P10 Transição campinarana-floresta semidecidual -9.58847914 -55.19084905 374

P011 Afloramento pequeno com campo rupestre -9.58737700 -55.19046902 370

P12 Campinarana gramíneo-lenhosa (beira de riacho)

-9.58291666 -55.19055555 360

P13 Sede da Fazenda AJJ -9.63883585 -55.22235864 335

P14 Floresta aberta (mata de cipó) -9.61740576 -55.22260716 332

P15 Transição floresta aberta-ombrófila -9.61727852 -55.22345197 309

P16 Floresta aberta (mata de cipó) -9.61162719 -55.23786524 348

P17 Cachoeira do Escondido -9.59424798 -55.25509777 402

P18 Floresta semidecidual perto do rio -9.59266666 -55.25563888 386 Transecto 2-3

P19 Campo rupestre da Amazônia-floresta transição -9.66730555 -55.21552777 360

P20 Campo rupestre da Amazônia -9.66917398 -55.22957001 364 Transecto 4

P21 Floresta semidecidual (alta) -9.65487295 -55.39815280 289 Transecto 8

P22 Campo rupestre da Amazônia -9.68791877 -55.44183986 459

P23 Paredão de arenito -9.68503104 -55.44239466 435

P24 Mata de galeria com Heliconia e Phenakospermum

-9.68430483 -55.44249089 407

P25 Campinarana gramíneo-lenhosa/campo rupestre -9.68190123 -55.44193936 405

P26 Campinarana gramíneo-lenhosa com Mauritiella -9.67538523 -55.43765721 364

P27 Paredão de arenito e grutas -9.67098414 -55.43816205 407

P28 Floresta ombrófila alta -9.66983448 -55.43785921 398

P29 Floresta ombrófila densa submontana -9.64405555 -55.49352777 301 Transecto 7

P30 Acampamento de castanheiros -9.65183669 -55.49247620 284

P31 Fazenda (pasto e vegetação secundária) -9.70246363 -55.78708811 287

P32 Floresta ombrófila alta -9.67738498 -55.85720088 279

P33 Floresta alagada na beira do Rio Azul -9.65405085 -55.87527419 252

P34 Buritizal -9.44975638 -55.90215219 229

P35 Mata alagada (alta) -9.45118289 -55.90105693 234

P36 Mata alagada aberta c/ herbáceas aquáticas -9.44567322 -55.84207884 264

P37 Floresta aberta (mata de cipó) -9.45420465 -55.82646310 264

51

Ponto Observações Latitude Longitude Altitude (m)

Amostra

P38 Floresta ombrófila densa submontana -9.45700000 -55.82413888 254 Transecto 9

P39 Baixada com Socratea, Oenocarpus, Thoracocarpus

-9.45962096 -55.83016531 260

P40 Floresta ombrófila densa submontana -9.49862396 -55.80711918 296 Transecto 12

P41 Floresta ombrófila densa alta na encosta da serra

-9.49505704 -55.80529427 385

P42 Campinarana florestada -9.49817687 -55.80155142 452 Transecto 10

P43 Campinarana/campo rupestre transição -9.49868021 -55.79873057 431

P44 Campo rupestre da Amazônia com Kielmeyera -9.49898606 -55.79623092 363

P45 Vegetação baixa, beira do rio com cipós e Sapium

-9.49799071 -55.59523674 265

P46 Campinarana baixa com Retiniphyllum -9.50879632 -55.52399919 255

P47 Campinarana baixa com Clusia, Anthurium -9.50876338 -55.52310166 263

P48 Floresta semidecidual (alta) -9.50793399 -55.51858365 291 Transecto 11

P49 Buritizal -9.50734936 -55.51265236 265

P50 Floresta aberta (mata de cipó) -9.52376037 -55.51270626 264

P51 Transição Floresta semidecidual-Floresta aberta -9.52182147 -55.51368233 266

P52 Entrada de igarapé, vegetação aberta c/ cipó -9.48224765 -55.47634397 257

52

Figura 54: Pontos discutidos neste relatório

53