variações na paisagem

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Variações na Paisagem uma coleção vegetal, históriais da roça e cultura rural Cintia Ribas 2015

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Publicação de 2 livros de imagens - ação que incorporou o projeto Jardinagem: territorialidade, temporalidade, ato político. As duas edições do livro foram apresentadas ao público em abril e maio de 2015 no Museu da Gravura da cidade de Curitiba inseridos num contexto de instalação e pelas mãos da autora. Cintia propôs uma visualidade variada sobre a paisagem tecendo diálogos com o público participante. Os livros originais receberam ainda intervenções de colagens numa etapa pós-gráfica.

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Variações na Paisagem

uma coleção vegetal, históriais da roça e cultura rural

Cintia Ribas2015

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Que é paisagem? De que forma corpo e paisagem interferem na construção um do outro?

Essas questões são os pontos pelos quais venho desenrolando minha pesquisa e a grande motivação a publicar este livro. As imagens tornam-se mapeamentos para a construção de diálogos. Diante delas é possível visualizar os trajetos que venho tecendo em diferentes territórios utilizando-me da fotografia enquanto meio de produção em Artes Visuais.

Imagino para além da paisagem geográfica, cuja beleza pode ser admirada numa ação contemplativa, a indicação de uma paisagem que nos afeta.

Subjetiva. Sentimental. Atravessada. Sonora.

A paisagem composta não penas por aquilo que está diante de nossos olhos mas a que se encontra em nossas mentes.

Além da poética desse trabalho venho registrando através da fotogra�a uma visão integrada do espaço rural em paralelo com os centros urbanos, esse projeto também incorpora a presença de terras agrícolas e unidades de conservação - o Parque Primavera, por exemplo, situado entre a bacia hidrográ�ca do Rio Passaúna na região metropolitana de Curitiba: uma área de preservação ambiental que possui em torno de cinco mil árvores Araucárias livres de extinção, além de mananciais, piscinas de água mineral compondo um complexo paisagístico riquíssimo porém pouco conhecido pela população curitibana e localizado muito próximo de nosso centro urbano.

A pesquisa constitui-se também num campo especí�co de investigação de questões tratadas a partir da percepção da paisagem e suas variações. Um estudo que trata das experiências humanas com relação a paisagem enquanto um sistema de troca entre o mundo sensível e o mundo das signi�cações. Seja no enraizamento a um lugar de pertencimento seja no deslocamento pela diversidade de lugares vividos, importa como a experiência humana ofereceu sentidos ao olhar, à escuta, à subjetividade. Nesses jogos perceptivos, são colocadas em destaque as fotogra�as e os modos que movem os habitantes em suas lógicas de viver os espaços e os tempos culturais. A paisagem é uma experiência humana plural onde os sujeitos e suas histórias relacionam imagens, motivados pela experiencia e pelo imaginário. No entanto, a paisagem como construto social no mundo moderno pode ser organizada como um sistema de símbolos O indivíduo nessa intenção deseja a permanência dessa paisagem na matéria construída a qual requer formas duráveis, quando não políti-cas de intervenção. De qualquer modo, mediante o espaço construído, o homem acolherá as modi�cações que se impõem ao seu olhar. Isso é su�ciente para que ocorra a paisagem, experiência possível pela evocação de imagens que habitam a memória coletiva.

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histórias da roça

De fato uma história rural. Mas para mim encontrar a publicidade em meio a tarde causou grande espanto. Havia um tom melódico nesta chamada. Fui me debruçando num exercício investigativo da situação gerando uma certa especulação da minha parte durante conversas com vizinhos. Dias depois soube que os proprietários encontraram o mini-touro decapitado, havia apenas a cabeça despejada como um despacho em um terreno baldio qualquer da região. Há boatos de que agora oferecem recompensa a quem encontrar o responsável por essa ação cruel, mas essa é uma publicidade que não será exibida em local público pois faz parte de uma configuração off específica da região.

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Mãos que que encontram. Tocam-se. Perguntam. São a representação da lida no mato, o plantio, a colheita e o jardim. Minhas mãos numa série de auto retratos. Movimento contínuo de trabalho diante

dos diversos elementos na paisagem-campo. A transparência um reflexo misturando-se à cor - ocre.

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anotações sobre processos estranhos em colagens

Algumas imagens compondo essa publicação percorrem liames entre experiência visual e representação podendo indicar também certas surrealidades especialmente em processos de colagens, momento em que a imagem para mim opera de modo retorcido.

Essas operações muitas vezes brotam de uma desarticulação do real, da possibilidade da criar à imagem uma outra instância. Uma vazão inconsciente mesmo. Entendo que colagens e fotomontagens pertencem a esse modo de execução indo de encontro com os movimentos surrealista e dadaísta, de certa maneira fraturam um espaço estabelecido da imagem anexan-do atalhos estrangeiros à narrativa, como ocorre em apropriações, sendo sem dúvida uma maneira peculiar de construir paisagens.

Pensando bem, não encontro apenas uma forma de apontar a fenomenologia da imagem mas uma série de procedimentos para inscrevê-la, registrá-la, inventá-la.

Fruto de trabalho humano e da tecnologia - por isso dúbio pois submetemos o fenômeno a uma série de variações imaginárias e con�gurações pré estabelecidas pelos dispositivos.

Por esse motivo é que coloco também a paisagem num aspecto subjetivo ou sentimental, um complexo manipulado pelo homem de acordo com as demandas e não só um lugar de contemplação.

Para visualizar uma imagem que recebeu atalhos estrangeiros é necessário colocar o olhar em ação, fruir de modo ativo. Abrir-se à dinâmica da paisagem. E a ginástica que teria sido destacar pedaço por pedaço os elementos que constituíam sua unidade para alcançar a pureza da imagem - muitas vezes à toa, como colocou Anne Cauquelin em a Invenção da Paisagem.

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Mesclas entre a “Invenção da Paisagem” de Anne Cauquelin e o meu dia-a-dia na roça:

A natureza, sob a forma de campo, manifestava-se melhor quando obser-vava os cavalos. E mediante essas transformações - do campo para a na-tureza, do jardim ou da paisagem, o pasto e o estrume transformavam-se na coisa benfazeja, potencializada, rica, radiosa que devia ser: o fertili-zante.

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Potencializando a merda

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Sobre as ediçoes do livro

As publicações foram apresentadas ao público no Museu da Gravura da cidade de Curitiba em abril e maio de 2015 mediante uma instalação. A presença da artista foi situada enquanto o letreiro vivo do livro criando diálogos e narrativas acerca das imagens. O primeiro livro foi impresso em papel fotográfico 230 gramas colorido tamanho A5 e recebeu colagens manuais no pós-gráfica. Já na segunda edição, a publicação foi impressa em papel couchet 170 gramas colorido tamanho A4 recebendo também algumas interferências de colagens após a impressão off-set na gráfica Digitize.

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Potencializando a merda

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Agradecimentos

Em primeira mão agradeço Faetusa Tezelli pelo olhar sensível em direção ao meu trabalho, antecipando situações das quais já vinha percorrendo silenciosamente em minha vida-produção. O convite para participar deste proje-to, sua escuta, seriedade e o cuidado nas relações traçadas. Faetusa sabe como percorrer jardins. A Ana González pela consideração ao abrir as portas do Museu da Gravura de Curitiba ampliando o espaço deste trabalho. A �alita Sejanes que envolveu-se de forma direta no processo de construção e diagramação deste livro. A BetoPaiva pela troca assídua, criando ressonâncias entre imagem e texto, tecendo diálogos intermináveis e confeccio-nando novos sentidos com relação a pensar as relações na produção artística.Agradeço as publicações e seminários disponíveis na web onde Jacques Lacan discursou, esses canais, são paramim, teias valiosas, respiros e preciosos vazios. Também inspirações para este trabalho. Por �m, meus agradeci-mentos à meu parceiro Je�erson Santos, que ao estender suas mãos me convidou a adentrar um portal in�nitochamado Natureza. Sua paciência, amor e entusiamo ao compartilhar inúmeras possibilidades, dimensões eformas de nos construirmos.

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Esta publicação incorpora o projeto Jardinagem: territorialidade, temporalidade, ato político de Faetusa Tezelli, contemp-lado com o Programa Rede Nacional funarte Artes Visuais 11ª Edição 2015.

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