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15 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical VALORAÇÃO CONTINGENTE DE ATIVOS AMBIENTAIS NA SUINOCULTURA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE DIAMANTINO/MT EDIJEIDE APARECIDA SOUZA FERNANDES FREITAS

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15

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

VALORAÇÃO CONTINGENTE DE ATIVOS AMBIENTAIS NA

SUINOCULTURA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE

DIAMANTINO/MT

EDIJEIDE APARECIDA SOUZA FERNANDES FREITAS

16

C U I A B Á - MT

2004

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

VALORAÇÃO CONTINGENTE DE ATIVOS AMBIENTAIS NA

SUINOCULTURA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE

DIAMANTINO/MT

EDIJEIDE APARECIDA SOUZA FERNANDES FREITAS

Economista

Orientador: Profº Dr. JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA

Co-orientador: Profº Dr. BENEDITO DIAS PEREIRA

Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Agricultura Tropical.

17

C U I A B Á - MT

2004

FICHA CATALOGRÁFICA

F659v Freitas, Edijeide Aparecida Souza Fernandes

Valoração contingente de ativos ambientais na suinocultura:

um estudo de caso no município de Diamantino/MT / Edijeide

Aparecida Souza Fernandes Freitas. – 2004.

168p.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato

Grosso, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, 2004.

“Orientação: Prof. Dr. João Carlos de Souza Maia”.

CDU – 636.4:504.06(817.2)

Índice para Catálogo Sistemático

1. Suinocultura – Impacto ambiental – Diamantino (MT).

2. Impacto ambiental – Suinocultura – Diamantino (MT).

3. Recursos naturais – Diamantino (MT).

4. Valoração econômica – Suinocultura – Diamantino (MT).

18

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical

CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

Título: VALORAÇÃO CONTINGENTE DE ATIVOS AMBIENTAIS NA

SUINOCULTURA: UM ESTUDO DE CASO EM DIAMANTINO/MT

Autora: EDIJEIDE APARECIDA SOUZA FERNANDES FREITAS

Orientador: Dr. JOÃO CARLOS DE SOUZA MAIA

Co-orientador: Dr. BENEDITO DIAS PEREIRA

Aprovada em 29 de março de 2.004. Comissão Examinadora:

_________________________________

Profº Dr. João Carlos de Souza Maia

(FAMEV/UFMT) (Orientador)

_________________________________

Profº Dr. Benedito Dias Pereira

(FAECC/UFMT) (Co-orientador)

___________________________________

19

Profº Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo

(FAMEV/UFMT)

___________________________________

Profº Dr. Francisco de Souza Ramos

(PIMES/UFPE)

20

“A natureza tem horror ao vácuo.”

Aristóteles

DEDICO

Aos meus pais adorados e admiráveis

Eliete e Salvador, exemplos de vida, luta e vitória, que sempre me irradiam luz divina.

Aos meus irmãos queridos

Edijan, Edilene e Edinei, pela amizade, união e apoio.

21

Ao meu amado marido

Pedro Paulo, pelo companheirismo, compreensão, colaboração intelectual e apoio na

busca pelo conhecimento.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu amigo e orientador Profº João Carlos, que sempre demonstrou acreditar em meu trabalho, não poupou esforços para me ajudar e orientar no desenvolvimento desta pesquisa. Agradeço ao meu amigo e orientador Profº Benedito Pereira, sempre junto, encaminhando, apoiando, orientando. Agradeço à amiga, colaboradora e orientadora Profª Janaina Carvalho da Silva, que sem medir esforços, despendeu seu precioso tempo para me orientar, no momento que mais precisei de apóio. Agradeço as bancas de qualificação e defesa, que muito contribuíram para a evolução e engrandecimento desta Dissertação. Agradeço a equipe de pesquisa: Tatiana, Gioconda e Gilberto, que juntos realizamos a pesquisa de campo na Cidade de Diamantino e desenvolvemos o banco de dados. Agradeço a FAPEMAT – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso, pelo apoio financeiro, por acreditar nos cientistas deste Estado, por colaborar com a ciência.

22

Agradeço a Universidade Federal de Mato Grosso, a Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, aos coordenadores do programa de pós-graduação em Agricultura Tropical, pelo conjunto da obra, por abrir portas, por mostrar caminhos. Agradeço a Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis – FAECC/UFMT, aos professores do departamento de Economia e Ciências Contábeis que me forneceram livros, dissertações, teses, revistas, artigos na área de valoração econômica. Agradeço aos meus professores do mestrado, pelas orientações, ensinamentos e lições sobre como fazer ciência. Agradeço a todos os técnico-administrativos do programa de pós-graduação, em especial a Maria e Denise. Agradeço a todos os colegas de mestrado pelo companheirismo, em especial a Karine Medeiros, que juntas lutamos para concretizar nossos trabalhos de pesquisa. Agradeço a União de Ensino Superior de Diamantino - UNED, pela colaboração, pelo apoio logístico no desenvolvimento deste trabalho. Agradeço a Cidade de Diamantino, pela recepção, colaboração e acolhida.

23

VALORAÇÃO CONTINGENTE DE ATIVOS AMBIENTAIS NA

SUINOCULTURA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE

DIAMANTINO/MT

RESUMO - Este trabalho teve por objetivos estimar e buscar a compreensão do

valor de existência dos ativos ambientais, impactados pela criação de suínos da

principal granja produtora do Estado de Mato Grosso, localizada no município

de Diamantino. A criação de suínos, em escala intensiva de produção, traz

como conseqüência uma grande produção de dejetos nas unidades produtivas,

os quais são altamente poluentes e causadores de degradação ambiental,

quando não manejados e tratados devidamente, como a contaminação do solo,

da água e o desenvolvimento de odores. A problematização desta dissertação

encontra-se no estudo das externalidades (conseqüências) que a suinocultura

provoca sobre o meio ambiente. A hipótese é: o valor de existência estimado

dos ativos ambientais caracteriza baixa consciência da população do município

de Diamantino/MT quanto às questões ambientais relacionadas à suinocultura.

Quanto à metodologia, adotou-se o método valoração contingente, pelo qual se

estimou o valor monetário com base nas preferências individuais reveladas da

disposição a pagar da amostra pela preservação dos ativos ambientais no

contexto de um mercado hipotético. O levantamento da valoração contingente

foi realizado nas ruas da cidade de Diamantino, e, a partir dos dados obtidos,

estimou-se o valor monetário de R$ 1,76 mensal por indivíduo, quantia

24

interpretada como valor dos benefícios obtidos pela satisfação que as pessoas

possuem em saber que o ecossistema Cerrado existe e está sendo preservado.

Buscando a compreensão sobre o valor estimado numa perspectiva

fenomenológica existencialista, o valor indica baixa consciência ambiental da

população do município de Diamantino/MT, na relação meio ambiente e

suinocultura.

Palavras-chave: impacto ambiental, recursos naturais, valoração econômica.

CONTINGENT VALUATION OF ENVIRONMENTAL ASSETS IN PIG

FARMING: A STUDY OF CASE IN THE MUNICIPAL DISTRICT OF

DIAMANTINO/MT

ABSTRACT- This work had for objectives esteem and to search the

understanding of the value of existence of the environmental assets, impact for

the swine creation of the main producing farm of the State of Mato Grosso,

located in the municipal district of Diamantino. The swine creation in intensive

scale of production brings as consequence a great production of dejections in

the productive units, which are highly pollutant and causing of environmental

degradation, when no mismanaged and treated duly, as the contamination of the

soil, the water and the development of odors. The problem of this dissertation

meets in the study of the externality (consequences) that the swine production

provokes on the environment. The hypothesis is: the esteem existence value of

the environmental assets characterizes low conscience of the population of the

municipal district of Diamantino/MT as for the environmental subjects related to

swine production. The methodology, the contingent valuation method was

adopted for which if it esteem the monetary value on the basis of the individual

preferences of the disposition to pay of the sample for the preservation of the

environmental assets in the context of a hypothetical market. The survey of the

contingent valuation was accomplished in the streets of the city of Diamantino,

and, from the gotten data, the monetary value was of R$ 1,76 monthly for

25

individual, interpreted amount as value of the benefits obtained by the

satisfaction that the people possess in knowing that the ecosystem Cerrado

exists and it is being preserved. Looking for the understanding on the estimated

value in a perspective existentialist phenomenological, the value indicates low

environmental conscience of the population of the municipal district of

Diamantino/MT, in the relationship environment and swine production.

Word-key: environmental impact, natural resources, economic valuation.

LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1. Produção média diária de esterco (kg), esterco + urina (kg) e

dejetos líquidos (l) por animal por fase................................................

95

Tabela 2. Características de dejetos suínos (fezes + urinas), expressos por

1.000 kg...............................................................................................

97

Tabela 3. Perdas de Nitrogênio (%) em função do sistema de estocagem,

tratamento e utilização........................................................................

102

Tabela 4. Distribuição de freqüência dos entrevistados no município de

Diamantino, por faixa de renda familiar mensal líquida......................

134

Tabela 5. Tipos de impacto ambiental que a suinocultura pode causar sobre

o meio ambiente..................................................................................

135

Tabela 6. Ambientes naturais do município de Diamantino............................. 136

Tabela 7. Mudanças Ambientais percebidas depois da implantação da

suinocultura no município de Diamantino – externalidades positivas..

137

Tabela 8. Mudanças Ambientais percebidas depois da implantação da

suinocultura no município de Diamantino – externalidades

negativas.............................................................................................

138

26

Tabela 9. Mudanças econômicas percebidas depois da implantação da

suinocultura no município de Diamantino............................................

139

Tabela 10. Valores da disposição a pagar da

amostra.....................................

141

Tabela 11. Motivos pelo não disposição a pagar, dos

entrevistado, pelos

ativos

ambientais..................................................................................

142

Tabela 12. Parâmetros estimados do modelo logit para a

disposição a pagar

pela preservação dos ativos ambientais em

Diamantino/MT...............

146

Tabela 13: Valores médios para estimar o valor estimado

dos parâmetros.....

147

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1. Preço de equilíbrio em concorrência

perfeita.....................................

28

Figura 2. Preço social (Ps) e preço privado

(Pp)...............................................

29

Figura 3. Decomposição do valor econômico de um recurso

ambiental...........

49

Figura 4. Métodos de valoração 51

27

ambiental.......................................................

Figura 5. Excedente do consumidor

.................................................................

65

Figura 6. Variação do excedente do

consumidor..............................................

66

Figura 7. Medidas de ganho de bem-estar para uma redução de

preço..........

68

Figura 8. Medidas de excedente do consumidor para um bem

público............

72

Figura 9. Curvas de

indiferença........................................................................

77

SUMÁRIO

Página

28

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 15

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA VALORAÇÃO ECONÔMICA

AMBIENTAL...............................................................................................................

23

2.1. Bens públicos ......................................................................................................... 23

2.2. Externalidades......................................................................................................... 24

2.3. A importância da valoração econômica ambiental................................................. 30

2.3. Variações de bem-estar........................................................................................... 31

2.4. As teorias econômicas sobre o valor...................................................................... 32

3 QUESTOES METODOLÓGICAS DA VALORAÇÃO ECONÔMCA

AMBIENTAL............................................................................................................

45

3.1. O valor econômico dos ativos ambientais.............................................................. 45

3.2. Métodos diretod de valoração ou métodos da função demanda.............................. 52

3.2.1. Método de mercado de bens complementares .................................................... 52

3.2.1.1. Método de preços hedônicos............................................................................. 53

3.2.1.2. Método de custo viagem................................................................................... 54

3.2.2. Método de valoração contingente........................................................................ 55

3.3. Métodos indiretos de valoração ou métodos da função oferta................................ 57

3.3.1. Método de produtividade marginal...................................................................... 57

3.3.2. Método de mercado de bens substitutos............................................................... 59

3.3.2.1 Custo de reposição............................................................................................. 60

3.2.2.2. Custos evitados................................................................................................. 60

3.3.2..3. Custos de controle............................................................................................ 60

3.3.2.4. Custo de oportunidade...................................................................................... 61

4. MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE................................................. 63

4.1. Fundamentos microeconômicos.............................................................................. 64

4 4.2. A valoração de contingente através da disposição a pagar (DAP) e da disposição

a aceitar (DAA)........................................................................................................

72

4.2.1. Escolha entre a DAP e a DAA ............................................................................ 74

4.2.2. Causas das disparidades entre a DAP e a DAA ................................................... 74

4.2.3. Técnicas para obtenção da disposição a pagar e a aceitar.................................... 78

29

4.2.3.1. Lances livres ou forma aberta (open-ended)..................................................... 78

4.2.3.2. Referendum ou referendo (escolha dicotômica)............................................... 79

4.2.3.3. Referendum com follow up ou referendo com acompanhante.......................... 81

4.2.4. O instrumento (ou veículo) de pagamento........................................................... 81

4.2.5. A forma de entrevistar.......................................................................................... 81

4.3. Estimação do método de valoração contingente: validade, confiabilidade

vieses........................................................................................................................

82

4.3.1. Validade............................................................................................................... 82

4.3.2. Confiabilidade...................................................................................................... 83

4.3.3. Vieses – os principais problemas do método....................................................... 84

4.3.3.1. Viés estratégico................................................................................................. 84

4.3.3.2. Viés de estrutura ou do desenho do questionário.............................................. 85

4.3.3.3. Viés hipotético................................................................................................... 86

4.3.3.4. Viés operacional................................................................................................ 87

4.3.3.5. Viés de protesto................................................................................................. 87

4.3.3.6. Os vieses potenciais.......................................................................................... 87

5. A SUINOCULTURA E SEUS EFEITOS SOBRE ATIVOS AMBIENTAIS..... 93

5.1. A suinocultura......................................................................................................... 93

5.2. Os dejetos suínos..................................................................................................... 93

5.2.1. Volume produzido dos dejetos............................................................................. 95

5.2.2. Composição física e química................................................................................ 96

5.3. Efeitos da suinocultura sobre os ativos ambientais................................................. 98

5.3.1. No solo................................................................................................................. 99

5.3.2. Na água................................................................................................................. 100

5.3.3. No ar..................................................................................................................... 103

5.3.4. Na fauna e flora.................................................................................................... 105

6. A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL NUMA PERSPECTIVA

FENOMENOLÓGICA..........................................................................................

107

6.1. A fenomenologia..................................................................................................... 108

6.2. As diferentes compreensões de consciência na perspectiva de alguns

30

pensadores fenomenólogos....................................................................................... 110

6.2.1. A consciência na fenomenologia essencialista-transcendental............................ 110

6.2.2. A consciência na fenomenologia existencial....................................................... 113

6.3. A compreensão do valor econômico da natureza................................................... 120

7. METODOLOGIA.................................................................................................... 123

7.1. A pesquisa de campo.............................................................................................. 124

7.2. Estimativa do método de valoração contingente.................................................... 126

7.2.1. O modelo logit..................................................................................................... 127

7.2.2. A estimação da DAP............................................................................................ 128

8. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................................................... 132

8.1. Características descritivas da amostra.................................................................... 132

8.2. Cálculo da DAP....................................................................................................... 143

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 151

10. CONCLUSÕES...................................................................................................... 159

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 163

ANEXO......................................................................................................................... 168

31

1. INTRODUÇÃO

A suinocultura é uma atividade economia de produção intensiva de

carne, realizada através de confinamento de suínos, engendrando emprego e

renda. O seu produto, a carne suína, é de maior consumo mundial desde 1978,

superando de frango e de bovinos. Seu consumo tem crescido continuamente

em torno de 2% ao ano, desde 1978. Os principais produtores de carne suína

no mundo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), em 2003, eram a China, a Europa e os Estados Unidos da América. No

Continente Europeu, destacam-se a Alemanha, a Espanha e a França. Os três

principais mercados consumidores também são, em ordem decrescente, a

China, a Europa e os Estados Unidos. O consumo mundial per capita, em 2003,

era estimado em torno de 14 quilogramas/habitante/ano.

No Brasil, de acordo com Gomes et al. (1992), a atividade sofreu franco

crescimento a partir dos anos 70, quando a suinocultura brasileira foi

estimulada pela política agrícola, principalmente de crédito rural, com o intuito

de modernizar o setor agrícola. Foi possível tecnificar a suinocultura,

aumentando a produção e a produtividade com a importação de pacotes

tecnológicos, inclusive genéticos. Subsídios à agroindústria permitiram a

ampliação também deste segmento e a absorção da produção suinícola

crescente.

Ainda segundo Gomes et al. (1992), a partir de meados década de 70, a

carne suína nacional passou a ter importância em mercados externos em

decorrência de sua qualidade e de seus custos de produção competitivos,

comparativamente a outros países exportadores.

A década de 80 foi de estagnação para a produção de carne suína em

nível nacional, decorrente de um quadro de instabilidades macroeconômicas

32

em que a havia inflação, recessão e distorções na distribuição de renda, tudo

isto aliado a uma oferta abundante de produção de suínos, resultado dos

investimentos da década anterior, e de pressões nos custos de produção,

principalmente devido à variação no preço do milho.

O início da década de 90 foi de crescimento modesto do consumo per

capita, do consumo nacional total e da produção nacional de carne suína. A

indústria frigorífica inicia a tipificação de carcaças, pagando de acordo com a

qualidade da carne. Eventuais melhoras do preço do suíno vivo foram

contrabalançadas por altas no preço do milho, competição com a carne de

frango e redução de compras de carne suína pela Argentina, justificada pela

existência de febre aftosa em rebanhos da Região Sul (Rohenkohl, 2003).

A partir da metade de 1994, com uma ligeira recuperação da renda da

população mais pobre, da boa oferta de milho e de suínos para abate, houve

certa estabilização do mercado e melhor rentabilidade para o suinocultor. De

1994 a 2003, a suinocultura nacional viveu rotineiramente envolvida em

oscilações de rentabilidade de amplitude moderada, decorrentes dos ciclos de

oferta de milho, o que o governo federal tentou diminuir com intervenções de

seus estoques, e dos ciclos de oferta de suínos para abate.

Observando a suinocultura em números, de acordo com o IBGE, a

produção de carne suína era de 1.150 milhões de toneladas em 1980, subiu

para 2.556 milhões em 2000, e atingiu a produção de 2,7 milhões de toneladas

em 2003, onde a produção mundial foi de 95.800 milhões de toneladas neste

mesmo ano. A participação mundial do Brasil na produção de carne suína

cresceu acentuadamente a partir de 1990 (1,49%) e alcançando em 2003 o

percentual de 2,8% do total de carne suína produzida no mundo. De 1990 a

2003, a produção cresceu 159%, enquanto a produção mundial cresceu 37,1%.

Nos últimos 23 anos, a produção nacional de carne suína vem

apresentando índices consideráveis de crescimento, em torno de 4,5% ao ano.

De acordo com o IBGE (2003), em 1980, o Brasil possuía 32,5 milhões de

cabeças, formando o seu rebanho suíno. Em 1990, foi reduzido seu rebanho

33

para 30 milhões de cabeças, mas, a partir de 2000, este rebanho brasileiro

voltou a crescer atingindo 37,3 milhões de cabeças; 37,5 milhões, em 2001; 38

milhões, em 2002, mantendo o mesmo rebanho, em 2003.

Esse rebanho estava distribuído, segundo o IBGE, em 13 milhões ou

34,21% na região Sul, maior região produtora do país; 8,75 milhões (23,05%)

na região Nordeste; 7,2 milhões de cabeças ou 18,95% na região Sudeste; a

região Centro-Oeste possuía em 2003: 6,15 milhões de cabeças ou 16,18% do

plantel nacional e a região Norte, com o menor rebanho: 7,635 ou 2,90 milhões

de cabeças.

Quanto ao Estado de Mato Grosso, a atividade suinícola está em franca

expansão no Estado, uma vez que a região apresenta condições competitivas

favoráveis à produção de suínos como: grande produtor de grãos, clima

favorável, Mato Grosso é considerado área livre de aftosa (com vacinação) e

inclusão como área livre de peste suína clássica e, ainda, a criação pelo

governo do Estado do programa “Granja de Qualidade”, a partir de 1995, que

promove incentivo fiscal sobre o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços (ICMS) sobre a comercialização de animais para abate.

O rebanho suíno no Estado de Mato Grosso apresentou queda em seu

plantel em 1995, quando possuía 885.505 mil de cabeças para 602 mil

cabeças, em 1996 e 642.310 mil, em 1997; a partir deste último ano o plantel só

aumentou, pois em 2000, possuía 854.521 mil, e em 2001 – 911.521 mil

cabeças, atingindo, em 2002: 932.992 mil cabeças, segundo o IBGE.

O rebanho de matrizes também sofreu retração no Mato Grosso, em

1995 eram 109.308 mil matrizes, reduzindo para 78.180 mil, em 1997, e 78.660

mil, em 1998. Começou sua trajetória de crescimento, em 1999, com 79.825 mil

cabeças, e, em 2002, atingiu um total de 80.086 mil matrizes suínas.

A distribuição do rebanho de matrizes de suíno no Estado de Mato

Grosso, de acordo com a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso

(ACRISMAT) apud Alves (2001), apresenta-se com uma concentração em torno

de 63% do total na região Médio-norte, nos municípios de Diamantino, Lucas do

34

Rio Verde, Nova Mutum, Sorriso e Tapurah. A região Sul do Estado detém

cerca de 33% do total de matrizes, nos municípios de Alto Araguaia, Campo

Verde, Dom Aquino, Pedra Preta, Primavera do Leste e Rondonópolis. Na

região Norte, no município de Sinop, concentra-se aproximadamente 5% das

matrizes.

Em Mato Grosso, de acordo com a Acrismat apud Alves (2001), somente

dois frigoríficos estavam habilitados para abaterem os suínos das 64 granjas

inscritas no Programa Granja de Qualidade, sendo um localizado em Nova

Mutum e outro em Rondonópolis. Das 64 granjas que o Estado possuía em

2001, 26 eram unidades de terminação, nas quais o animal recebia os últimos

tratamentos antes de ir para o abate.

Na região Médio-Norte de Mato Grosso, está sendo implantado um

sistema de criação, onde as cooperativas produzem os leitões e os produtores

efetuam as fases de cria e terminação. A região foi escolhida para abrigar a

maioria das 150 famílias de produtores de suínos da Holanda (municípios de

Nova Mutum e Sapezal), bem como deverá receber até 2005 cerca de R$ 50

milhões em investimento na construção de um complexo de suínos, no

município de Sorriso, pelo grupo americano Spectrum Suínos Sistem, que

possui sede em Sterlling, no Estado de Illinois (Estados Unidos da América); a

mesma empresa também estuda a possibilidade de montar um outro complexo

no município de Lucas do Rio Verde/MT.

Nessa mesma região, no primeiro semestre de 2000, a empresa Carroll’s

Foods do Brasil S.A. inaugurou em Diamantino/MT a primeira granja que faz

parte de um projeto da empresa, que até 2005 alojará 51,4 mil matrizes

comerciais, possuindo 1,2 milhões de cabeças de suínos no Município. Essa

empresa, uma joint venture entre a MPE Polato Participações e a Carroll’s

Foods, empresa norte-americana, deverá investir US$ 19 milhões na cadeia do

suíno em Mato Grosso até 2005. O faturamento anual após a conclusão dos

investimentos deverá atingir a faixa de R$ 215 a R$ 225 milhões.

35

Analisando o potencial econômico para a prática suinícola, o município

de Diamantino/MT possui vantagens comparativas excelentes para manejo: o

clima é tropical quente semi-úmido; mão-de-obra barata. Tanto o município

quanto a Região Médio-Norte é grande produtora de grãos como: milho e soja,

base da alimentação atual dos suínos, perfazendo um custo de produção final

da carne competitivo no mercado mundial.

No entanto, desenvolvendo observações do ponto de vista ambiental, a

prática suinícola implica na geração de grande quantidade de dejetos animais

por área, com significativo potencial de impacto ambiental. Estudos recentes da

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) têm demonstrado

um alto nível de contaminação, por dejetos suínos, dos rios e lençóis de água

superficiais que abastecem tanto o meio rural como o urbano, no Brasil

(Miranda et al., 1999; Palhares et al., 2002; Diesel et al., 2002). Desenvolvendo

análise sobre a contaminação de água, o município de Diamantino localiza-se

em uma região de extrema importância do ponto de vista ambiental. É uma

região de nascentes de importantes rios formadores das Bacias Amazônicas e

do Prata, sendo, portanto, um divisor hídrico e uma área de recarga de

aqüíferos, sendo fundamental a preservação e conservação da qualidade e

quantidade das águas que aí nascem para formar grandes rios como o

Paraguai (Bacia do Prata) e o Juruena (Bacia Amazônica).

A capacidade poluente dos dejetos suínos, em termos comparativos, é

muito superior a de outras espécies. Perdomo (1999) exemplifica que um suíno,

em média, equivale a 3,5 homens, de poder poluente. Em outras palavras, uma

granja com 600 animais possui um poder poluente, de acordo com este

comparativo, semelhante ao de um núcleo populacional de aproximadamente

2.100 pessoas.

A causa principal da poluição é o esterco de suínos que, quando entra

em contato com os cursos de água, acarreta desequilíbrios ecológicos e

poluição, em função da redução do teor de oxigênio dissolvido na água,

36

disseminando patógenos e contaminando água potável com amônia, nitratos e

outros elementos tóxicos (Palhares et al., 2002).

A produção de suínos acarreta, também, a poluição do ar, provocando

problemas com odores desagradáveis. Isso ocorre devido à evaporação dos

compostos voláteis, que causam efeitos prejudiciais ao bem-estar humano e

animal. Os contaminantes do ar mais comuns nos dejetos são: amônia, metano,

ácidos graxos voláteis, etanol, propanol, dimetil sulfidro e carbono sulfidro. A

emissão de gases pode causar graves prejuízos nas vias respiratórias do

homem e animais, bem com, a formação de chuva ácida através de descargas

de amônia na atmosfera (Perdomo, 1999).

Estes impactos ambientais, acima expostos, são fenômenos

mensuráveis do ponto de vista da valoração econômica, uma vez que decorre

da alteração da quantidade e qualidade dos recursos naturais, levando a

variação de bem-estar do homem.

Desta maneira, a valoração econômica ambiental possui a finalidade de

atribuir valor econômico aos ativos ambientais através da medição da variação

de bem-estar que a alteração dos recursos ambientais provoca, percebida pelos

agentes econômicos e manifestada nas suas preferências individuais pelos

ativos ambientais. Esta percepção se revela pela consciência que os indivíduos

possuem sobre o meio ambiente, sendo formada a partir do tempo, espaço e

vivencia do homem, expressada pela disposição a pagar ou aceitar pelo ativo

ambiental.

A valoração econômica ambiental utiliza-se de vários métodos e técnicas

para aferir o valor econômico dos ativos ambientais. Um desses é o método de

valoração de contingente, desenvolvido através das medidas de bem-estar:

variação compensatória, variação equivalente, excedente de compensação e

excedente de equivalência, sendo interpretado pela disposição a pagar (DAP)

de um indivíduo por uma melhoria, preservação ou conservação do recurso

ambiental ou através da disposição a aceitar (DAA) por uma piora ou

decréscimo na oferta do ativo.

37

Desta maneira, a problematização desta Dissertação centra-se no estudo

das externalidades (conseqüências) que a suinocultura provoca sobre o meio

ambiente, em outras palavras: qual é o valor econômico dos ativos ambientais

insertos no processo produtivo deste tipo de atividade econômica?

O objetivo se constitui em estimar o valor de existência dos ativos

ambientais decorrentes dos efeitos da criação de suínos da principal granja

produtora do Estado de Mato Grosso, localizada no município de

Diamantino/MT, utilizando o método de valoração contingente, valendo-se da

disposição a pagar da população do município pelos ativos ambientais. O

objetivo específico é buscar compreender o valor de existência dos ativos

ambientais aferido pelo método de valoração contingente atribuído pela

consciência ambiental da população do município de Diamantino/MT, numa

perspectiva fenomenológica.

A hipótese desta dissertação é: o valor de existência estimado dos ativos

ambientais caracteriza baixa consciência da população do município de

Diamantino/MT quanto às questões ambientais relacionadas à suinocultura.

Este trabalho se desenvolve da seguinte maneira: no segundo capítulo é

desenvolvida a fundamentação teórica microeconômica para valoração

econômica de ativos ambientais, focando as discussões sobre bens públicos,

externalidades, variação de bem-estar e teorias econômicas sobre o valor.

O terceiro capítulo trata das questões metodológicas da valoração

econômica ambiental: o valor econômico ambiental e os métodos e técnicas

existentes para se medir o valor da natureza.

No quarto capítulo se desenvolvem discussões teóricas e metodológicas

sobre o método de valoração contingente, método utilizado para mensurar o

valor de existência dos ativos ambientais que sofrem impactos da suinocultura

no município de Diamantino/MT.

A suinocultura e os seus efeitos sobre ativos ambientais são abordados

no quinto capítulo; busca-se com esse capítulo fazer uma descrição sobre a

38

suinocultura e o que esta atividade econômica pode causar de externalidades

sobre o meio ambiente.

E no sexto capítulo que se desenvolvem as concepções sobre

consciência numa perspectiva fenomenológica, buscando compreender o valor

de existência dos ativos ambientais no município de Diamantino que sofrem

efeitos da atividade suinícola.

A metodologia deste trabalho é descrita e desenvolvida no sétimo

capítulo. Apresentando o desenvolvimento da pesquisa de campo para a coleta

dos dados e da estimativa da DAP.

No oitavo capítulo são demonstrados os resultados e discussão.

Inicialmente expõem-se as características descritivas da amostra,

posteriormente apresenta-se o cálculo da DAP e, por fim, é realizada a análise

do modelo de regressão.

No nono e décimo capítulos constam às considerações finais e

conclusões, respectivamente.

39

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA VALORAÇÃO ECONÔMICA

AMBIENTAL

O processo de produção e consumo de bens econômicos de maneira

intensiva, que se desenvolveu durante o século XX no mundo, provocou o uso

também intensivo dos recursos ambientais, sem preocupação com a

capacidade de suporte e resiliência destes, gerando custos e benefícios que

não são captados no sistema de mercado, mas que são sentidos pela

sociedade uma vez que altera o nível de bem-estar dos indivíduos.

Neste contexto, a ciência econômica através da valoração econômica

ambiental utiliza-se de métodos que buscam estimar o valor dos ativos

ambientais, refletindo os fluxos de bens e serviços oferecidos pela natureza às

atividades econômicas e humanas, no sistema de mercado. O problema

encontrado para estimar os valores desses diz respeito às características

observadas neles: são bens públicos e apresentam externalidades.

A seguir abordam-se essas características dos ativos ambientais, a

importância da valoração econômica ambiental, a variação de bem-estar e as

teorias sobre valor.

2.1. Bens públicos

Um bem é caracterizado como público, quando apresenta a propriedade

de não destruição pelo uso e cujos direitos de propriedade não estão

completamente definidos e assegurados. Dessa maneira, a impossibilidade

legal ou física de excluir alguém de usufruir o benefício, provoca no sistema de

40

mercado ineficiência na formação de seus preços. Um bem ambiental reúne

estas características de bem público.

A teoria econômica fornece varias definições sobre bens públicos (Motta

e May, 1998, p.50):

a) teoria da troca: bens públicos são aqueles cuja utilização não se pode

individualizar porque estão colocados, simultaneamente, à disposição de

todos os indivíduos;

b) teoria Organicista do Estado: bens públicos são aqueles que

satisfazem “necessidades coletivas” e que colocados à disposição pelo

Estado, proporcionam bem-estar aos indivíduos;

c) teoria Institucional: Bens públicos são aqueles que estão sendo

atualmente supridos pelo Estado ou estão sob sua influência direta, que

seja sua essência direta ou natureza sócio-política.

2.2. Externalidades

O uso dos ativos ambientais assemelha-se muito ao uso dos bens

públicos, por isso, existe a necessidade de se abordar o conceito de

externalidade. As externalidades estão presentes sempre que terceiros ganham

sem pagar por seus benéficos marginais ou percam sem ser compensados por

suportarem o malefício adicional. Assim, na presença de externalidades, os

cálculos privados de custos ou benefícios diferem dos custos ou benefícios da

sociedade. Com isso, a externalidade existe quando o bem-estar de um

indivíduo é afetado, não só pelas suas atividades de consumo como também

pelas atividades de outros indivíduos (Motta, 1998, p. 206).

Pindyck e Rubenfeld conceituam a externalidade:

Uma externalidade surge sempre que a produção ou o consumo de um bem tem efeitos paralelos sobre os consumidores ou produtores envolvidos, efeitos estes que não são plenamente refletidos nos preços de mercado (2002, p. 631).

Nesta conceituação estão presentes três elementos fundamentais:

41

a) O comportamento de uma empresa (ou indivíduo) pode modificar o

lucro (ou utilidade) do(s) outro(s);

b) Os efeitos do comportamento de uma empresa (ou indivíduo) sobre

os outros não deve ser objeto de transação no mercado;

c) Estes efeitos devem constituir subprodutos involuntários e acidentais

das outras atividades.

Para Varian (2000), a característica fundamental da externalidade é:

A existência de bens com os quais as pessoas se importam e que não são vendidos nos mercados, portanto, não tem preço. Por exemplo, não há mercado para a fumaça produzida por charutos ou, ainda, para um vizinho que mantém um bonito jardim de flores. É a falta desses mercados para externalidades que causa problemas (Varian, 2000, p. 612).

É fácil notar a presença de externalidades, o mesmo não pode ser dito

no que diz respeito à correção das mesmas. Existem dificuldades de natureza

técnica, relativas ao conhecimento dos elementos prejudiciais da poluição, por

exemplo. Mesmo quando conhecidos os elementos maléficos das substâncias

poluentes, existem problemas em se identificar o quanto às pessoas foram de

fato afetadas por uma determinada fonte de poluição, ou seja, de como repartir

o ônus entre os poluidores; e ainda as dificuldades de compensar os afetados

pela poluição, ou seja, como evitar o comportamento oportunista quando se

oferece dinheiro para quem foi afetado por determinado tipo de poluição (Motta,

1998).

Outrossim, às dificuldades técnicas e informacionais decorrentes das

externalidades sobrepõe-se à dificuldade de se identificar corretamente os

direitos de propriedade em questão. Como repartir a responsabilidade pela

poluição atmosférica numa grande cidade? Quanto caberá aos proprietários de

veículos, aos industriais? Como e quanto se cobrará das granjas de suínos que

poluíram as águas e o solo, que causam contaminação dos rios, morte dos

peixes e, também, reduzem a fertilidade do solo? Dessa maneira os problemas

42

econômicos provocados pelas externalidades geralmente surgem devido à má

definição dos direitos de propriedade.

Os casos em que os direitos de propriedade estão mal definidos podem

levar a uma produção ineficiente de externalidades - o que significa que haveria

um meio de fazer com que ambas as partes (consumidores e produtores)

melhorasse, modificando-se a produção de externalidades. Se os direitos de

propriedade estiverem bem definidos e se houver mecanismos que permitam a

negociação entre as pessoas, elas poderão negociar seus direitos de produzir

externalidades da mesma forma que trocam direitos de produzir e consumir

bens comuns (Varian, 2000, p. 617).

Por oportuno, o Teorema de Coase, encaminha a solução para esse

assunto: desde que os direitos de emissão de externalidades sejam

adequadamente definidos e que não haja custos de transação entre as partes,

a livre negociação entre as mesmas deve levar ao nível ótimo de emissão

dessas externalidades (Varian, 2000, p. 618).

Segundo Pindyck e Rubenfeld (2002), o Teorema de Coase aplica-se a

todas as situações em que o direito de propriedade é bem especificado, o

Teorema de Coase:

Quando as partes puderem negociar sem custo e com possibilidade de obter benefícios mútuos, o resultado das transações será eficiente, independente de como estejam especificados os direitos de propriedade (Coase, 1960, p. 44, apud Pindyck e Rubinfeld, 2002, p. 650).

Para Varian (2000), a questão central das externalidades é derivada de

Coase, quando este autor estabelece que a externalidade é um problema de

propriedade mal definida, observação essa que, está enfocada no teorema

“coaseano”.

Quando a livre negociação entre as partes não é capaz de garantir que o

nível de emissão de poluentes seja eficiente, algumas políticas podem ser

justificáveis. As duas formas mais tradicionais de políticas públicas contra a

poluição são a regulamentação direta e o estabelecimento de uma taxa sobre a

emissão de poluentes, taxa essa conhecida como taxa pigouviana.

43

A taxa pigouviana, nome dado em homenagem ao economista Arthur

Pigou (1877-1959) da Universidade de Cambridge, é um imposto sobre unidade

de poluição emitida que deve igualar-se ao custo marginal social dessa poluição

no nível ótimo de emissão. O problema é que se precisa conhecer o nível ótimo

de poluição para se estabelecer o imposto.

Um ponto a favor da taxa pigouviana, de acordo com Marta (1999) é:

O estímulo que esta gera para que as firmas busquem desenvolver tecnologias menos poluidoras. Isso porque, com a taxa pigouviana, a emissão de poluição passa a ter um custo e, com isso, toda firma gostaria de possuir tecnologia que reduzissem seus custos (Marta, 1999, p. 21).

Sendo assim, nas análises econômicas, os bens públicos e as

externalidades são constituintes das fontes de ineficiências do mercado. Este é

justamente o ponto central da teoria econômica do meio ambiente: a maneira

de tratar as ineficiências do mercado para atingir o ponto ótimo de eficiência

alocativa da economia define as bases das políticas do meio ambiente. Sendo

um bem público e apresentando externalidade, os bens ambientais não são

eficientemente alocados.

A alocação ótima de recursos privados numa estrutura de mercado de

concorrência perfeita exige que:

a) os consumidores e os produtores sejam suficientemente numerosos,

de tal modo que mudanças nas qualidades individuais transacionadas

não afetem o preço;

b) os produtos transacionados sejam homogêneos;

c) exista a mobilidade de fatores;

d) todos os consumidores e produtores tenham informações perfeitas; e

e) não existem barreiras à entrada de novos agentes.

Garantindo-se o cumprimento destas exigências, o mercado estaria em

equilíbrio, como mostra a Figura 1, havendo um único preço vigente no

mercado, no qual todos agentes maximizam o seu bem-estar, maximizando-se

conseqüentemente, o bem-estar social.

44

Numa economia de concorrência perfeita, o equilíbrio da alocação de

recursos corresponde a uma situação onde ninguém pode melhorar sua

posição sem que outro se sinta lesado (ótimo de Pareto). Em tal economia, o

ótimo de Pareto coincide com a posição de equilíbrio de mercado: ponto que

iguala preços e custos marginais, se não se verificar a presença de nenhum

efeito externo. Contudo, se uma das exigências do modelo concorrencial não

for cumprida, o ótimo social não é estabelecido.

Preço

O

Pe

D

0 Qe Quantidade

Figura 1. Preço de equilíbrio em concorrência perfeita.

Nesse contexto, a literatura econômica ressalta que as quatro principais

fontes de falhas de mercado são: o monopólio natural, as assimetrias de

informação, os bens públicos e as externalidades conforme enunciado por

Margulis:

Quando alguma das imperfeições de mercado não permite que os preços de equilíbrio sejam os preços ótimos, o benefício social marginal de uma unidade extra de um bem não é igual ao seu custo social marginal. (Margulis, 1990, p.114 apud Pessôa, 1996, p. 14).

Na presença de imperfeições ou falhas de mercado, como por exemplo,

dos ativos ambientais não pode se verificá-las, a não ser que sejam utilizados

certos mecanismos de internalização de efeitos externos, uma vez que o

D = Demanda

O = Oferta

Qe = Quantidade de

equilíbrio

Pe = Preço de equilíbrio

45

sistema de preços não é capaz de captá-los. No caso dos ativos ambientais, a

curva de custo (benefício) marginal social difere da curva de custo (benefício)

marginal privado, devido à imperfeição ou falha de mercado.

Ilustra-se essa situação na Figura 2, onde o nível de produção

considerado ótimo é Qs, dado pelo intercepto da curva de benefício social

marginal (BSMg). Ps é o preço de equilíbrio. Devido a alguma falha de

mercado, o preço que vigora para os consumidores e produtores é Pp, o qual é

determinado pelo intercepto da curva de custo marginal privado (CPMg).

Observa-se que a quantidade ótima Qs deve ser menor do que a quantidade Qp.

Preço

CSMg

CPMg

Ps

Pp

BSMg

0 Qs Qp Quantidade

Figura 2. Preço social (Ps) e preço privado (Pp)

Falhas ou imperfeições de mercado como as externalidades desviam o

preço social de equilíbrio. No caso de uma externalidade ambiental, não existe

um mercado específico no qual a poluição de uma fábrica, que afeta as

populações vizinhas, possa ser negociada de forma a compensar os

prejudicados ou tornar possível o uso de equipamentos de controle. Portanto,

faz-se necessária a avaliação monetária desses efeitos, ou seja, é preciso se

quantificar monetariamente o custo de degradação, de exaustão, ou de

46

preservação, e a valoração econômica exerce esta tarefa, seus métodos serão

apresentados no capitulo 3.

2.3. A importância da valoração econômica ambiental

Um bem ambiental qualquer tem grande importância para o suporte às

funções que garantem a sobrevivência das espécies. De uma forma geral,

todas as espécies de animais e vegetais dependem dos serviços

ecossistêmicos dos recursos naturais para sua existência. Essa importância

traduz-se em valores associados aos bens ou recursos ambientais, objetivando

a contribuição do ativo ambiental para o bem-estar social, existindo, assim, a

necessidade do conhecimento e entendimento das funções ecossistêmicas da

biodiversidade para a valoração dos ativos ambientais.

A valoração econômica busca avaliar o valor econômico de um recurso

ambiental através da determinação do que é equivalente, em termos de outros

recursos disponíveis na economia, que estaria o homem disposto a abdicar de

maneira a obter uma melhoria de qualidade ou quantidade do recurso

ambiental. Em suma, a valoração de ativos ambientais é uma análise de trade-

offs, ou seja, escolha entre opções. (May et al, 2003).

A estimação dos valores monetários reflete valores econômicos

baseados nas preferências dos consumidores, utilizando mercados de bens

privados complementares e substitutos para serviços ambientais ou mesmo

mercados hipotéticos para esses serviços, assim, é possível estimar a

disposição a pagar ou a receber das pessoas por mudanças na provisão

ambiental.

Desenvolvem-se, agora, questionamentos sobre a variação de bem-

estar.

47

2.4. Variações de bem-estar

Quando a disponibilidade de um bem ambiental ou serviço ambiental

derivado de um ativo ambiental é alterado, a valoração deve mensurar as

variações de bem-estar que a alteração de disponibilidade do ativo provocou.

Mensurar variações de bem-estar requer valorar variações de utilidade, uma

variável não diretamente observada (Motta, 1998, p. 207).

Se uma variação da quantidade disponível de um bem (insumo ou

produto) é suficientemente pequena em relação à quantidade total utilizada na

economia, pode-se supor que a variação na sua demanda ou oferta pode ser

considerada marginal ou infinitesimal (isto é, quando a variação da função

demanda ou de oferta tende a zero). Conseqüentemente, a variação da

quantidade não altera o preço de equilíbrio e, portanto, não haverá variação de

bem-estar devido à variação da disponibilidade do bem.

Assim posto, segundo Dubeux (1998), a valoração econômica é um

procedimento de cálculo onde: os ganhos e as perdas de bem-estar para os

indivíduos são mensurados com o uso de valores monetários como padrão

comum e os valores monetários dos ganhos e das perdas dos indivíduos são

agregados como expressões dos ganhos líquidos ou das perdas líquidas da

sociedade.

A valoração tem por fundamento teórico (neoclássico) que os indivíduos

tomam decisões racionais e que a agregação das escolhas racionais dos

indivíduos resulta em uma decisão social racional. Assim, consiste em

identificar qual seria esta racionalidade frente à opção de execução, ou não de

uma tomada de decisão.

Conforme Motta (1998) e Dubeux (1998), na valoração, quantificar os

benefícios significa mensurar todos os ganhos de bem-estar incorridos pela

sociedade com o empreendimento, enquanto que quantificar os custos significa

mensurar todas as perdas de bem-estar advindas com o empreendimento

empresarial.

48

Mensurar variações de bem-estar corresponde, então, a valorar

variações de utilidade no consumo de bens e serviços ambientais que geram ou

diminuem satisfação. Satisfação e preferências são representadas pelo

conceito de utilidade, onde para um indivíduo, seu nível de utilidade é função

das quantidades consumidas de bens e serviços, de modo que:

U = (X1, X2, ..., Xn - 1) (1)

Onde:

U = função de utilidade,

X1, X2, ..., Xn - 1 = quantidades consumidas

Assim, quando a disponibilidade de um bem ou serviço ambiental deriva

de um ativo ambiental, ocorrem variações de bem-estar sociais cuja valoração

indica a dimensão destas variações resultantes das alterações de

disponibilidade.

A seguir, é desenvolvida a discussão teórica sobre valor para a teoria

econômica.

2.5. As teorias econômicas sobre o valor

Existem duas teorias predominantes sobre o valor na teoria econômica:

teoria do valor-trabalho e a teoria do valor-utilidade ou teoria marginalista. A

primeira sustenta que o valor não é mais do que uma manifestação do único

custo real de produção, que é o trabalho humano, sendo o trabalho o elemento

fundante de todos os preços. Já a teoria do valor-utilidade baseia-se no

princípio de que cada consumidor sabe quanto vale a mercadoria para ele; o

valor é, então, o preço relativo, sendo assim, o preço relativo reflete, em última

análise, a utilidade relativa para o consumidor de grande variedade de

mercadorias que estão à disposição dele.

Apresentam-se, na seqüência, as idéias dos economistas clássicos e

neoclássicos sobre valor, como o objetivo de compreender a fundamentação

teórica do valor dos recursos naturais.

49

Para os economistas da escola clássica, o valor advém da quantidade de

trabalho humano necessário para produzir uma mercadoria vendável. Nas

concepções de Adam Smith (1723-1790), todas as atividades que produzem

mercadorias geram valor; o valor (valor de troca) se fundamenta no trabalho, no

tempo necessário para a produção de uma mercadoria vendável. Geralmente

os seres humanos não conseguem sobreviver sem se esforçar para transformar

o ambiente natural de uma forma que lhes seja mais conveniente. O ponto de

partida da teoria de Smith foi enfatizado da seguinte maneira: o trabalho era o

primeiro preço, o dinheiro (padrão de troca relativo e nominal) da compra inicial

que era pago por todas as coisas. Assim, Smith afirmou que o pré-requisito

para qualquer mercadoria ter valor era que ela fosse produto do trabalho

humano.

Nas definições do valor dos bens, Adam Smith assim expressa: O preço real de cada coisa – ou seja, o que ela custa à pessoa que deseja adquiri-la – é o trabalho e o incômodo que custa a sua aquisição [...]. Importa observar que o valor real dos diversos componentes do preço é medido pela quantidade de trabalho que cada um deles pode comprar ou comandar. O trabalho mede o valor não somente daquela parte do preço que se desdobra em trabalho efetivo, mas também daquela representada pela renda da terra, e daquela que se desdobra no lucro devido ao empresário. (Smith, 1985, p. 87).

Sobre o valor de uso e de troca Smith explica que:

Importa observar que a palavra valor tem dois significados [...]. O primeiro pode chamar-se “valor de uso”, e o segundo, “valor de troca”. (...) nada é mais útil do que a água, e, no entanto dificilmente se comprará alguma coisa com ela, ou seja, dificilmente se conseguirá trocar água por alguma outra coisa. (Smith, 1985, p.61).

Na sua afirmação sobre o valor ambiental, ele diz:

A terra constitui de longe a parte maior, a mais importante e a mais durável da riqueza de todo país extenso. Pode certamente ser de alguma utilidade, ou ao menos, pode dar alguma satisfação ao público dispor de uma prova tão decisiva do crescente valor da parte maior, mais importante e mais durável de sua riqueza. (Smith, 1985, p. 222).

Para David Ricardo (1772-1823), inglês e discípulo de Smith, tem-se o

aperfeiçoamento da idéia do valor, e melhoramento do valor-trabalho. Ele

50

afirma que o valor de uma mercadoria depende da quantidade de trabalho

necessário a sua produção e não da maior ou menor remuneração que é paga

por esse trabalho, como Smith argumentava. Ricardo afirmava que a água e o

ar são úteis, indispensáveis à existência humana, mas que em circunstâncias

normais, não se obtêm nada em troca deles. Ele já comentava o esgotamento

dos recursos minerais e dizia que os efeitos da acumulação seriam diferentes

em países diferentes, pois dependeria basicamente da fertilidade e da

capacidade produtiva da terra.

O economista clássico Jean-Baptiste Say (1767-832) admite a utilidade

como o princípio do valor, ele abre precedentes para a valoração de bens

realmente úteis como a água, solo, alimentos, etc., mas também de coisas

antes consideradas rejeitos e até mesmo de produtos da moda, que possuem

utilidade artificial. Assim ele afirma:

O valor de cada coisa é arbitrário e vago enquanto não for reconhecido. A produção é em absoluto uma criação de matéria, mas uma criação de utilidade. A produção não se mede, de maneira alguma, pelo comprimento, volume ou peso do produto, mas pela utilidade que lhe foi dada. O preço é a medida do valor das coisas. O valor é a medida da utilidade. (Say, 1986, p. 54).

Para Thomas Robert Malthus (1766-1834) existia um problema

demográfico no mundo, no início do século XIX., que influenciava a quantidade

disponível de terra fértil e dos alimentos, por conseguinte, o valor de mercado

destes recursos. Segundo ele a população crescia em progressão geométrica e

os meios de subsistência em progressão aritmética, argumentando assim que

ocorreria num curto espaço de tempo escassez de recursos naturais para a

alocação de alimentos para toda população. Nesta concepção Malthus

enxergava problemas ambientais, a população estava crescendo rapidamente e

migrando do campo para a cidade. Ao crescerem as cidades, desenvolveram-

se também, em larga escala, subúrbios miseráveis, sistemas de esgotos e de

distribuição de água insuficientes e outras mazelas urbanas. Inúmeros

problemas econômicos e sociais gerados por essas mudanças nesse século

seguiam sem solução (Fusfeld, 2001, p. 55).

51

John Stuart Mill (1806-1873), também inglês e reconhecido por cristalizar

o pensamento liberal inglês do século XIX e econômico clássico, a ideologia do

livre-mercado, faz afirmações que tocam na questão ambiental. Segundo este

autor:

[...] enquanto a quantidade de um agente natural for praticamente ilimitada, ele não pode, a não ser que seja passível de monopólio artificial, ter valor algum no mercado, já que ninguém pagará por aquilo que se pode conseguir gratuitamente. Mas tão logo comece a existir na prática a limitação, tão logo a quantidade disponível da coisa se torne inferior àquela de que as pessoas se apoderariam e utilizariam se a conseguissem gratuitamente, a propriedade ou uso do agente natural adquire um valor de troca. (Mill, 1986, p. 87).

Mill, mesmo que implicitamente, já menciona uma tímida tentativa de

cálculo do capital natural, embora a teoria da utilidade (base teórica para os

métodos de valoração econômica dos ativos ambientais) só tenha aparecido

mais de cem anos após a elaboração: “todos os recursos dos quais o

proprietário aufere uma renda, renda essa que pode usar sem comprometer e

dissipa o próprio recurso, equivale para ele a capital” (Mill, 1986, p. 89).

Mill reconhece a limitação da produção agrícola devido à limitação de

terras disponíveis e da produtividade agrícola. Ele difere a terra dos demais

elementos de produção, como o trabalho e o capital, por ela não ser suscetível

a aumentos indefinidos, a sua extensão é limitada. Mill, ainda, reconhece que a

tecnologia pode suspender temporariamente, mas não impedir a limitação da

produção, seja ela extrativa, agropecuária ou industrial, pois aquela deriva dos

recursos naturais que ele chamou de agentes naturais limitados. À medida que

o limite de produção estiver se findando, investimentos cada vez maiores em

tecnologia (que implicam aumento considerável de capital) trarão ganhos cada

vez menores de produtividade.

52

Mill, em seu livro Princípios da Tributação, ainda, diz: Em resumo, todos os agentes naturais cuja quantidade é limitada, não somente são limitados em sua força produtiva última, como, muito antes de essa força ser solicitada ao máximo, respondem a todas as solicitações adicionais sob condições cada vez mais rigorosas. Todavia, essa lei pode ser suspensa ou temporariamente mantida sob controle por tudo aquilo que aumentar o poder geral da humanidade sobre a natureza, e, de modo especial, por qualquer enriquecimento do poder humano e do conseqüente domínio dos homens sobre as propriedades e as forças dos agentes naturais. (Mill, 1986, p. 88).

Analisando as idéias sobre valor de Karl Marx (1818-1883), sua teoria se

assemelha a de Say quanto diz que:

O que nos pertence como nosso atributo material, é nosso valor (...), o solo é um dos atributos materiais que nos é essencial à vida e os outros: a água e o ar são os que possibilitam os alimentos à nossa existência. Em relação aos valores de uso e de troca, ele ainda afirma que: [...] o valor de uso se realiza para as pessoas em troca, por meio de relação direta entre a coisa e a pessoa, enquanto o valor só se realiza através da troca, isto é, por meio de um processo social. (Marx, 1980, p.93).

Marx afirma que a agricultura e a indústria obtêm seus produtos com

base na destruição da força do trabalhador e do ambiente de onde vêm os

insumos para tais atividades:

Na agricultura moderna, como na indústria urbana, o aumento da força produtiva e a maior mobilização do trabalho obtêm-se com a devastação e a ruína física da força de trabalho. E todo progresso da agricultura capitalista significa progresso na arte de despojar não só o trabalhador, mas também o solo; e todo aumento de fertilidade da terra num tempo dado significa esgotamento mais rápido das fontes duradouras dessa fertilidade. (Marx, 1980, p. 92).

Marx argumenta ainda que a produção capitalista só desenvolve a

técnica e a combinação do processo social de produção esgotando as fontes

originais de toda a riqueza: a terra e o trabalhador. Para a espoliação da

segunda fonte de riqueza (trabalhadores) ele criou a teoria da mais-valia.

Essas abordagens sobre o valor ficaram conhecidas na teoria econômica

como teoria objetiva do valor ou teoria do valor-trabalho.

No início da década de 1870, Willian Stanley Jevons (1835-1882), Léon

Walras (1837-1910) e Carl Menger (1840-1921), desenvolveram uma nova

53

teoria do valor para substituir a teoria do valor-trabalho. O novo princípio era

simples: o valor de um produto ou serviço não decorre do trabalho incorporado

nele, mas da utilidade da última unidade adquirida. Para esses economistas

(neoclássicos), o valor de cada bem é representado pela utilidade que os

agentes econômicos possuem sobre o bem, fundamentado principalmente na

relação existente entre a utilidade e a quantidade do bem econômico no

mercado; essa é a visão da teoria subjetiva do valor ou teoria do valor-utilidade.

(Fusfeld, 2001, p. 113).

A economia neoclássica parte do pressuposto de que o preço de uma

mercadoria é igual ao seu valor. Para fundamentar essa igualdade, os

neoclássicos edificaram a economia do bem-estar e o conceito da eficiência

alocativa de recursos nos mercados. Assim, a função de bem-estar da

sociedade tem conexão direta com as preferências das pessoas, renda

disponível e utilidade de uma cesta de bens/serviços. Dessa maneira, os

mercados funcionam eficientemente, pois os recursos da sociedade estão

sendo alocados de acordo com a preferência revelada de seus agentes. É

nesse suporte teórico que a economia neoclássica fornece subsídio para o

cálculo do valor da natureza (May et al., 2003).

Fazem-se as apresentações dos pressupostos dos principais representes

da teoria neoclássica, para a compreensão do valor nesta abordagem.

Carl Menger, 1871, em seu livro Princípios de Economia Política,

apresenta que a estrutura econômica é naturalmente constituída como efeito

das escolhas individuais objetivando o atendimento de necessidades. O

pressuposto da análise de Menger é o indivíduo com sua escala de

necessidade e de desejos que requerem permanentemente o seu atendimento.

A causa da satisfação das necessidades é o consumo de bens.

54

Quanto ao valor econômico de um bem, Menger assim se expressa:

Para que um bem tenha valor econômico é preciso que exista uma hierarquia previa de desejos não inteiramente satisfeitos, a disponibilidade de bens escassos que devem ser economizados no atendimento deles, priorizando-se os desejos mais importantes, e o conhecimento do agente de que determinado bem pode ser colocado em nexo causal com a satisfação de necessidades. (Menger, 1983, p. 246).

Os bens não são desejados em si mesmos, mas porque somente eles

permitem preencher necessidades. A aptidão ou capacidade do bem que lhe

possibilita ser colocado em “nexo causal” com a satisfação de necessidades é a

sua utilidade. Somente os bens econômicos possuem valor. O valor é a

propriedade que eles adquirem, dada a existência de escassez ante o conjunto

de necessidades a serem atendidas.

O processo econômico elementar, na visão de Menger, depende do

conhecimento humano individual, os fenômenos econômicos configuram uma

estrutura básica permanente e é tarefa da teoria econômica pura estudar de

modo exato os mecanismos que os descrevem (fenômenos) bem como as leis

que os comandam; o agente econômico deve saber quais são as suas

necessidades e quais bens devem ser economizados no atendimento delas. É

sempre possível o erro, o indivíduo pode desconhecer suas necessidades

objetivas, pode não saber que certo bem possuía a propriedade objetiva de

atender a uma dada necessidade. Mas onde quer que conhecimento individual

do agente seja disponível na quantidade adequada o processo econômico

segue-se em obediência estrita às regularidades descrita na teoria exata (Feijó,

2000, p. 60).

Observando as concepções de Carl Menger, este economista indicou

que o consumidor racional, colocado diante de um grande número de

alternativas para despender sua renda, vai procurar maximizar sua satisfação.

Isso será alcançado quando o consumidor tiver alocado seus dispêndios de

forma que o último montante (o valor marginal) gasto em uma mercadoria não

proporcione nem mais nem menos satisfação ou bem-estar ou utilidade do que

o último montante gasto em qualquer outra coisa. O que confere valor a um

55

bem (água, terra, pão, vinho) é a importância do fim a ele associado. Menger

define o valor não como algo inerente aos bem, mas:

[...] é simplesmente a importância que determinados bens concretos – ou quantidades concretas de bens – adquirem para nós, pelo fato de estarmos conscientes de que só podemos atender às nossas necessidades à medida que dispusermos deles. [...] o valor é um juízo que as pessoas envolvidas em atividades econômicas fazem sobre a importância dos bens de que dispõem para a conservação de sua vida e de seu bem-estar, e, portanto, só existe na consciência das pessoas em questão. (Menger, 1983, p.353).

Menger caracterizou o consumidor como uma pessoa que pesava

continuamente as vantagens desta ou daquela ação e sempre escolhia a que

trouxesse o maior incremento da satisfação.

Willian Jevons salientou outro aspecto do princípio da utilidade, ao

mostrar que a utilidade marginal diminui: quanto mais uma pessoa possuir de

uma mercadoria, menor será a satisfação obtida pelo consumidor por outra

mercadoria e menor será a disposição a pagar por ela. Isso significa que

mercadorias abundantes serão baratas, porque uma quantidade adicional não

valerá muito para o comprador, mesmo que a mercadoria seja essencial para

garantir a vida, como a água. Mercadorias escassas, por outro lado, serão

caras, porque ninguém as possuirá em grande quantidade, e uma unidade

adicional trará uma grande dose de satisfação ao comprador como o diamante,

por exemplo. Então, se os recursos ambientais se tornam escassos, os seus

preços majoram. (Jevons, 1983)

A teoria da utilidade, desenvolvida por Jevons, parte dos princípios do

prazer e do sofrimento, o indivíduo busca satisfazer ao máximo as suas

necessidades com o mínimo de esforço – obter o máximo do desejável é custo

do mínimo indesejável; maximizar o prazer é, de acordo com Jevons, o

problema de economia. Com isso Jevons, dirige suas análises para as ações ou

objetos físicos que são para o homem forte de prazer e sofrimento, por meio

dos quais o sentimento de prazer é aumentado, ou afastando o sofrimento.

Para Jevons, influenciado por Courcelle-Senuil, Senior, Bentham, um

objeto é útil se afeta agradavelmente o sentido no momento presente, ou

56

quando por antecipação, espera-se que ele o faça em algum tempo futuro.

Assim deve-se distinguir cuidadosamente entre utilidade real, no uso presente,

e utilidade futura estimado, que, todavia, descontando-se a força imperfeita da

antecipação e a incerteza dos acontecimentos futuros, proporciona certa

utilidade presente. Têm-se, então, a noção do uso presente e futuro de

quaisquer bens, inclusive recursos naturais. “A utilidade, apesar de ser uma

qualidade das coisas, não é uma qualidade inerente. Define-se melhor como

uma circunstância das coisas que surge da relação destas com as exigências

do homem”. (Jevons, 1983, p. 50)

Para Jevons explicar que a utilidade não é uma qualidade intrínseca,

exemplificou sua idéia com o bem água:

[...] a água é indispensável até certa quantidade; e quantidades adicionais terão diversos graus de utilidade, a utilidade diminui gradativamente até zero, podendo mesmo torna-se negativa, ou seja, quantidade adicional das mesmas substâncias pode tornar-se inconvenientes e danosas. (Jevons, 1983, p. 50).

A variação da utilidade é medida pelos acréscimos feitos ao

contentamento de uma pessoa. O montante de utilidade corresponde ao

montante de prazer produzido. Mas a aplicação continua uniforme de um objeto

útil aos sentidos ou desejos não ira comumente produzir montantes uniformes

de prazer.

Uma vez recebida certa quantidade de um objeto, uma quantidade

adicional é indiferente, ou mesmo provoca desgosto. Cada aplicação sucessiva

em geral excitará os sentidos menos intensamente do que a aplicação anterior.

Portanto, de acordo com Jevons, a utilidade do ultimo fornecimento de um

objeto diminui geralmente em certa função da quantidade total recebida.

Utilidade pode ser tratada com uma quantidade de duas dimensões,

sendo que uma dimensão consiste na qualidade do bem, e a outra é a

intensidade do efeito produzido sobre o consumidor. Existindo teoricamente a

variação nas quantidades, devem-se retroceder as quantidades infinitesimais, e

o que Jevons chamou de coeficiente de utilidade, que é a relação entre o ultimo

acréscimo ou fornecimento infinitamente pequeno de um objeto e o aumento de

57

prazer que ele provoca, sendo ambos, naturalmente, estimado em suas

unidades apropriadas. “Raramente precisamos considerar o grau de utilidade

exceto com relação ao ultimo acréscimo que foi consumido ou, o que dá no

mesmo, ao próximo acréscimo que esta preste a ser consumido” (Jevons, 1983,

p. 53).

O coeficiente de utilidade é, portanto, certa função geralmente

decrescente da quantidade total do objeto consumido. Essa é a lei mais

importante de toda a teoria, onde a variação da função expressa o grau final da

utilidade que é o ponto principal nos problemas econômicos, segundo jevons.

“Podemos estabelecer como lei geral que o grau de utilidade varia com a

quantidade de um bem e finalmente diminui na medida em que a quantidade

aumente”. (Jevons, 1983, p. 54)

Essa função de utilidade é caracterizada de cada tipo de objeto e mais

ou menos de cada individuo. Desse modo, a vontade por água se satisfaz muito

mais rapidamente do que por vinho, por exemplo. E cada pessoa tem seus

próprios gostos (singularidade) característicos nos quais ele é praticamente

insaciável.

Léon Walras enunciou a doutrina da utilidade marginal em sua primeira e

principal obra, Elementos de Economia Política Pura, publicado em duas partes,

a primeira em 1874, em que analisa a teoria da troca, e a segunda em 1877, no

qual trata de teoria da produção. Walras fundamenta o valor da troca na

utilidade e nas limitações de quantidade. O desejo de que as utilidades

marginais sejam iguais conduzirá à troca. E esse desejo junto com as

quantidades de mercadorias que cada indivíduo possui e que determinaria uma

oferta e uma demanda representada por uma equação funcional (Fusfeld, 2001,

p. 116).

Léon Walras explicou como o sistema econômico inteiro, incluindo a

produção de bens e capital e matérias-primas, estava ligado às decisões de

dispêndio do consumidor. A economia era uma rede bem costurada de relações

entre preços e quantidades adquiridas, e qualquer mudança na alocação dos

58

gastos do consumidor era propagada por todo o sistema na forma de pequenos

ajustes de produção e preços. Especialmente numa economia competitiva, todo

o sistema ajustava-se automaticamente para adequar a produção à demanda.

Essas idéias levavam ao conceito de equilíbrio geral, no qual a produção

adequava-se às preferências do consumidor, e o maior nível possível de

satisfação do consumidor era alcançado, dados os recursos naturais e a

tecnologia existente.

O economista neoclássico Alfred Marshall (1842-1924), desenvolveu

uma nova visão sobre valor; argumenta que o preço de mercado, ou seja, o

valor econômico era determinado tanto pela oferta como pela demanda, que

interagiam basicamente da mesma forma com que Adam Smith havia descrito a

operação de mercados competitivos. Marshall demonstrou que, no longo prazo,

os preços, em mercados competitivos, tenderiam para o menor nível possível

de custos de produção no qual os montantes demandados pelos consumidores

fossem atendidos. Mas, embora Marshall tenha trazido os custos de produção

de volta, ele, também, abordava de maneira mais ampla as concepções de

Menger e Walras: o patamar de produção era determinado pelas inúmeras

decisões independentes de milhões de consumidores individuais (Fusfeld,

2001, 116).

Observa Marshall que uma pessoa prudente se esforçará para distribuir

os seus recursos para uso presente e futuro, estando disposta a renunciar a um

prazer atual por um igual prazer no futuro (1996, p. 195). A questão do prazer é

exposta como uma medida de utilidade marginal do consumidor de bens.

Marshall reforça esta idéia incluindo na análise o problema da incerteza. Então,

a medida de valor seria alcançada por meio da soma dos prazeres (das

satisfações) que um bem pode proporcionar a uma pessoa.

Com base nessa argumentação, Marshall afirma que:

é preciso notar, porém, que os preços da procura de cada mercadoria, sobre os quais avaliamos a utilidade total e o excedente do consumidor, pressupõem que as outras condições permanecem inalteradas, enquanto o preço sobe até o valor de escassez. (Marshall, 1996, p. 195).

59

Fundamenta assim o conceito de excedente do consumidor como

medida de valor da satisfação de uma pessoa, ou seja, uma medida que

possibilitaria mensurar o seu bem-estar, como princípio metodológico da

valoração econômica. (May et al., 2003)

O enfoque ambiental neoclássico parte do princípio de que um mercado

eficiente é capaz de internalizar os custos ambientais oriundos de

externalidades, referentes ao uso dos recursos naturais, e de assegurar que a

degradação de um recurso natural se reflita em seus preços.

Dos postulados neoclássicos, ora apresentados, aos pensadores

econômicos atuais, desenvolvem-se as idéias de valoração dos recursos

naturais, Sachs (1986) apud Motta (1998), que é um dos fundadores da

valoração ambiental, assim expressa:

[...] Poder-se-ia estabelecer um conjunto de indicadores ecológicos que nos dessem a conhecer a taxa de exploração da natureza que acompanha as diferentes atividades humanas, a evolução da qualidade do meio e o grau de normalidade dos ciclos ecológicos de renovação de recurso. (Motta, 1998, p. 184).

Com o suporte teórico da economia neoclássica o cálculo do valor da

natureza é representado pelo somatório do valor de uso direto, valor de uso

indireto, valor de opção e valor de existência. Qualquer parcela do valor pode

ser mensurada por meio de pesquisa, em que entre as variáveis

socioeconômicas inseridas na pesquisa, se pergunta qual é a disposição dos

indivíduos de pagar ou aceitar pelo recurso natural.

A disposição a pagar (ou aceitar) é o preço que o indivíduo está disposto

a pagar (ou aceitar) pelo uso, opção ou existência do ativo ambiental, e está

relacionada com os princípios da economia neoclássica, a decisão e a alocação

dos recursos estão baseadas na função utilidade das pessoas e na sua

concepção subjetiva sobre o bem ambiental. (Mota, 2001a)

Muitos problemas ambientais tiveram que acontecer em paralelo com o

crescimento econômico ocorrido após a revolução industrial, e principalmente

no século XX, para que fosse incluído o meio ambiente numa perspectiva

econômica, preocupando-se com a disponibilidade dos recursos naturais e a

60

manifestação das funções ecossistêmicas, tendo em vista que o consumo dos

recursos naturais faz parte da função utilidade e função produção do homo

economicus e que possuem valor no mercado, de maneira inadequada, ainda.

Diante do exposto, apresenta-se com isso uma evolução da consciência

ambiental.

A seguir, no próximo capítulo, são abordadas discussões metodológicas

sobre a valoração econômica ambiental.

61

3. QUESTÕES METODOLÓGICAS DA VALORAÇÃO ECONÔMICA

AMBIENTAL

A valoração econômica ambiental resume-se em um conjunto de

métodos úteis para mensurar os benefícios proporcionados pelos ativos

naturais, os quais se referem aos fluxos de bens e serviços oferecidos pela

natureza às atividades econômicas e humanas. E que, mesmo com a escassez

desses recursos, tais atividades continuam degradando os recursos da

natureza em escala acelerada. A valoração busca mitigar tais problemas, tendo

como meio os métodos de valoração, entre os quais: valoração contingente,

custo viagem, preços hedônicos, cujo valor é freqüentemente estimado em

função de variáveis socioeconômicas e da variação de bem-estar.

Faz-se a apresentação da composição do valor econômico dos ativos

ambientais e dos métodos de valoração econômica. Esclarece-se que o método

de valoração contingente será retomado no capítulo 4, onde será mais bem

desenvolvido, uma vez que é o método utilizado para a estimativa do valor de

existência, nesta dissertação.

3.1. O valor econômico dos ativos ambientais

O valor de um ativo ambiental é definido pela função de seus atributos.

Os fluxos de bens e serviços ambientais gerados pelo consumo definem os

atributos relacionados ao seu uso. Os valores de uso, por sua vez, podem ainda

ser classificados em valores de uso direto, valor de uso indireto e valor de

62

opção. E existem também os atributos relacionados à própria existência do

recurso, sem associação ao seu uso apenas a preservação, configura o valor

de não-uso, ou valor de existência do recurso natural. (Mota, 2001a).

Assim, o valor econômico do recurso ambiental (VERA), baseado na

teoria neoclássica ora já exposta no capítulo 2, é obtido pelo somatório do valor

de uso (VU) e valor de não-uso (VNU). Sendo o valor de uso dividido em valor

de uso direto, indireto e de opção, e o valor de não-uso composto pelo valor de

existência.

O valor de uso direto caracteriza-se pelo uso direto do recurso ambiental

como fonte primária de matéria-prima em geral, de produtos medicinais e

científicos, de lazer, de recreação e de satisfação hedônica. (Mota, 2001b)

O valor de uso indireto está relacionado com a função ecológica do ativo

ambiental, pois determinados recursos armazenam muitas contribuições para a

manutenção da biodiversidade. (Mota, 2001b).

Valor de opção relaciona-se com a disposição a pagar declarada pelas

pessoas, com a finalidade de conservar o recurso ambiental e, também, com a

tendência humana de evitar o risco, isto é, a possibilidade de que os recursos

não estejam mais disponíveis para seu uso futuro. Esse valor resulta de uma

série de incertezas no que tange à oferta do bem/serviço será realmente

consumido, ou seja, se as preferências do consumidor e as disponibilidades

futuras de recursos são certas, o valor de opção será zero; mas se essas

hipóteses são improváveis, o consumidor se declara disposto a pagar no

presente algum valor, a fim de ter a opção de uso futuro do recurso ambiental.

(Motta, 1998).

Por fim, apresenta-se de maneira mais sistêmica o valor de existência

(valor mensurado nesta dissertação) que se baseia na parcela do valor

econômico do recurso ambiental somente pela sua existência, que independe

de seu uso presente ou futuro.

63

Para Randall (1997) apud Mota (2001a):

Se algumas pessoas conseguem satisfação somente por saberem que algum ecossistema particular existe em condições relativamente intocadas, o valor resultante de sua existência é tão real como qualquer outro valor econômico. (p. 144).

Na realidade, as pessoas avaliam um recurso natural, mesmo se não o

consomem, porque são altruístas para com amigos, familiares, futuras

gerações, fauna, flora, e por entenderem que a natureza possui direitos.

Desse ponto de vista, os indivíduos quanto expressam suas opiniões

com relação à disposição a pagar, também estão expressando suas

preferências subjetivas com base em um orçamento previamente definido;

portanto, estão conscientes da melhor combinação de bens/serviços que geram

a sua função utilidade máxima. Assim, os mesmo fatores que produzem valores

de existência para bens/serviços conhecidos podem produzir valores para

recursos ambientais não conhecidos (Mota, 2001a, p. 144).

De acordo com Mota (2001b), o valor de existência é motivado por cinco

tipos de comportamentos altruístas:

a) motivo legado: constitui-se em uma das preocupações da geração

presente em legar bens/serviços ambientais para os seus sucessores. A

idéia é que as gerações futuras possam ter acesso aos recursos naturais

em condições ótimas de preservação, como herança de gerações do

presente;

b) benevolência para com parentes e amigos: refere-se à causa mais

nobre do ponto de vista ambiental, pois presentear parentes, amigos ou

instituições ligadas à natureza não é legado e sim complacência e

responsabilidade altruísta em doar bens/serviços ambientais preservados

a outrem;

c) simpatia por pessoas e animais: refere-se ao consenso do bem

comum, isto é, mesmo que o recurso ambiental não seja usado por uma

determinada comunidade, pode estar causando externalidades a outras

comunidades, afetando as suas condições ambientais. O mesmo

64

acontece com relação à biota, quanto às pessoas se predispõem a pagar

para manter ecossistemas preservados;

d) vínculo ambiental: enfatiza as funções ambientais globais. Por

exemplo, a poluição dos recursos hídricos, bem ambiental extremante

importante para a vida na Terra; e

e) responsabilidade ambiental: qualquer causador de degradação

ambiental tem a responsabilidade de reparar o dano ambiental por meio

de pagamento, não somente para mitigar a degradação do recurso

ambiental, mas, também, para reconstituí-lo, de forma a permitir sua

sustentabilidade.

O valor de existência não é somente econômico, mas representa

também a concepção da filosofia ecológica de que o recurso ambiental faz

parte do ecossistema Terra e, portanto, deve viver em processo de simbiose, de

interação com o homem.

É necessário argumentar que nessa visão de valor o homem sofre uma

evolução na sua consciência ambiental, para que se possam compreender suas

atitudes ao dispor-se a pagar pelo ativo ambiental. Esta evolução possui como

etapas: primeiramente, o homem adquire habilidades para viabilizar as

atividades econômicas levando ao crescimento econômico e passa a utilizar os

recursos naturais como elementos geradores de riqueza, degradando-os e

espoliando-os; então, começa sentir variação de seu bem-estar. Depois, num

segundo momento, o homem se educa, adquirindo informações para

reconhecer o ambiente natural como ente sistêmico. E, por fim, o homem passa

a respeitar os direitos dos recursos naturais, atribuindo-lhes valores, valor de

cunho econômico e ecológico: a cifra que representa o patrimônio do capital

natural e analisando as relações de contingência sistêmicas. Desenvolvendo-se

assim, a sua consciência ambiental.

Faz-se uma síntese dos valores ambientais, na Figura 3:

65

Figura 3. Decomposição do valor econômico de um recurso

ambiental

Fonte: Maia, 2002, p. 8.

E necessário argumentar também que, o importante no desafio da

valoração é admitir que indivíduos possam assinalar valores

independentemente do uso que eles fazem hoje ou pretendam fazer amanhã

Valor econômico do recurso

ambiental

Valor de uso

Valor de não-uso

Valor de Uso Direto –

Apropriação direta de

recursos ambientais, via

extração, visitação ou

outra atividade de

produção ou consumo

direto.

Valor de uso indireto –

Benefícios indiretos

gerados pelas funções

ecossistêmicas.

Valor de Opção –

Intenção de consumo

direto ou indireto do

bem ambiental no

futuro.

Valor de Existência –

Valores não associados

ao consumo, e que se

refere a questões

morais, culturais, éticas

ou altruístas em relação

à existência dos bens

ambientais.

66

dos recursos naturais a partir de suas percepções sobre o meio ambiente.

Assim:

VERA = (VUD + VUI + VO) + VE (2)

A tarefa de valorar economicamente um recurso ambiental consiste em

determinar quanto melhor ou pior estará o bem-estar das pessoas devido às

mudanças na quantidade de bens e serviços ambientais, seja na apropriação

por uso ou não (Motta e May, 1998, p. 27).

Dessa forma, os métodos de valoração ambiental correspondem à

capacidade de estimar as distintas parcelas de valor econômico do ativo

ambiental. Todavia, cada método apresenta limitações na cobertura de valores,

a adoção de cada método dependerá do objetivo da valoração, das hipóteses

assumidas, da disponibilidade de dados e conhecimentos da dinâmica

ecológica do objeto que está sendo valorado.

Os métodos de valoração econômica do meio ambiente fazem parte do

arcabouço teórico da microeconomia do bem-estar são necessários na

determinação dos custos e benefícios sociais quando as decisões de

investimento afetam o consumo da população e, portanto, seu nível de bem-

estar.

Não há um padrão universalmente aceito para classificação dos métodos

de valoração existente. Alguns procuram obter o valor do recurso diretamente

sobre as preferências das pessoas, utilizando-se de mercados hipotéticos ou de

bens complementares para obter a disposição a pagar (DAP) ou disposição a

receber (DAR) dos indivíduos, e podem ser classificados como métodos diretos

(função demanda). Por sua vez, os denominados métodos indiretos procuram

obter o valor do recurso através de uma função de produção relacionando o

impacto das alterações ambientais a produtos com preços no mercado

(Dubeux, 1998, p. 19). Na Figura 4 faz-se a síntese dos métodos.

67

Os resultados de todos esses métodos são expressos em valores

monetários, por ser a medida padrão da economia e a forma como os

indivíduos expressam suas preferências no mercado.

Figura 4. Métodos de valoração ambiental.

Fonte: Maia, 2002, p.7.

Cada método de valoração apresenta limitações na captação dos

diferentes tipos de valores do recurso ambiental. No processo de escolha do

método devem estar claras as limitações metodológicas e as conclusões

restritas às informações disponíveis.

Métodos diretos de valoração ou de função demanda – Obtêm as preferências dos consumidores através da disposição a pagar (DAP) ou a aceitar (DAA) para bens e serviços ambientais

Métodos indiretos de valoração ou de função produção – Recuperam o valor dos bens e serviços ambientais através das alterações nos preços de produtos do mercado resultantes das mudanças ambientais.

- Valoração contingente

Mercado de bens complementares

- Preços

hedônicos - Custo de

viagem

- Produtividade marginal

Mercado de bens substitutos - Custos evitados - Custos de controle - Custo de reposição - Custo de

oportunidade

68

3.2. Métodos diretos de valoração ou métodos da função demanda

De acordo com Motta (1998), Dubeux (1998) e Maia (2002), os métodos

diretos de valoração estimam o valor econômico do recurso ambiental a partir

da própria disposição a pagar da população para bens e serviços ambientais.

Estes métodos partem do pressuposto que a variação da quantidade ou da

qualidade do recurso ambiental irá afetar os padrões de bem-estar das

pessoas. Com a variação de bem-estar pode-se estimar a disposição a pagar

das pessoas para evitar ou a disposição a receber para aceitar as alterações do

ambiente.

A maneira de captação da DAP ou DAA, direta ou indiretamente sobre as

preferências das pessoas, será o determinante para classificar os métodos

diretos de valoração.

3.2.1. Método de mercado de bens complementares

Neste grupo os métodos obtêm indiretamente a disposição a pagar das

pessoas para bens e serviços ambientais recorrendo a um mercado de bens

complementares. Os métodos de mercado para bens complementares estimam

o valor dos recursos naturais por intermédio do valor de outros bens e serviços

com preço no mercado. Para tanto utilizam o valor dos bens complementares

que são aqueles consumidos em proporções constantes entre si. Neste sentido,

dada uma função de utilidade U = f(Q, Xi), onde Q corresponde ao recurso

natural, complementar a Xi que são vetores de quantidades de bens que estão

no mercado, poderá ser calculado a partir da estimativa da demanda de Xi para

vários níveis de Q. (Dubeux,1998, p.10).

É esperado que o comportamento destes bens privados complementares

possa trazer as informações necessárias para estudo da demanda pelo bem ou

serviço ambiental (Motta, 1998). Com base nestes fundamentos teóricos, dois

métodos podem ser utilizados, quais sejam Métodos dos Preços Hedônicos e

Método do Custo de Viagem.

69

3.2.1.1. Método de preços hedônicos

De acordo com Maia (2002), o método de preços hedônicos estabelece

uma relação entre os atributos de um produto e seu preço de mercado. Pode

ser aplicado a qualquer tipo de mercadoria, embora seu uso seja mais

freqüente em preços de propriedades.

Conforme Dubeux (1998), este método baseia-se no pressuposto de que

há bens privados A cujo valor varia em função do valor de outros bens ou

serviços B, complementares a A. identificando-se a variação de valor de um

bem privado A em função dos atributos de outro bem ou serviço B, fica

identificado assim o valor deste outro bem ou serviço B.

Assim, um bem privado A que tenha uma oferta perfeitamente inelástica

(a quantidade ofertada não varia quando o preço varia), se a demanda por esse

bem ou serviço complementar B aumenta quantidade ofertada, então a

demanda por A também aumenta. Dada a inelasticidade da oferta de A, o

aumento da quantidade ofertada é devido a B e o valor adicional

correspondente ao valor de B. variações de B alteram preços do bem A e não

quantidades.

No caso da valoração ambiental, o exemplo mais freqüentemente

encontrado na literatura esta relacionado aos preços de propriedades. Distintas

propriedades de mesmas características apresentam diferentes preços de

mercado em função de seus atributos ambientais. Como exemplo pode-se citar

a proximidade da praia ou o nível de ruído do local como diferenciais de preço

de uma propriedade em relação à outra de mesmas características. A

quantificação deste diferencial indica a disposição a pagar dos indivíduos pelo

valor dos atributos ambientais.

Por intermédio de uma denominada função hedônica de preço pode-se

estimar o valor dos atributos de um ou vários bens e serviços ambientais

implícitos no valor de um bem privado. Se P é preço de uma propriedade, a

função hedônica de seus atributos ambientais será dada por.

70

Pi = (ai,Ri) (3)

onde:

ai = atributos da propriedade i

Ri = nível do bem ou serviço ambiental R da propriedade i.

O preço de R será então dado por d/dR sendo a disposição a pagar por

uma variação de R.

3.2.1.2. Método de custo viagem

O método de custo de viagem estima a demanda por um sítio natural R

com base nos custos incorridos pelos usuários de R para acessar R.

Representa, portanto, o custo de visitação a um sítio natural específico que

pode ser considerado a máxima disposição a pagar do usuário pelos serviços

ambientais de R. (Dubeux, 1998, p.24).

Para calcular o valor recreativo do sítio em questão, utilizam-se

procedimentos econométricos. Por intermédio de uma pesquisa de campo

realizada no próprio sítio natural são identificados, por amostragem, seus

visitantes, freqüência e custo de viagem das visitas, idade, zona residencial,

renda, escolaridade, etc. (Dubeux, 1998, p. 24).

A partir destes dados, estima-se a taxa de visitação Vi (visitantes por mil

habitantes por ano, por exemplo) de cada zona residencial da amostra para

correlacioná-la em termos estatísticos com os dados de custo médio de viagem

de cada zona residencial CV da amostra e as outras variáveis sócio-

econômicas (usadas como proxis para indicar preferências) da zona em

questão Si, conforme abaixo:

Vi = (CV, Si) (4)

onde

Vi = taxa de visitação

CV = custo de viagem

Si , i = 1...,n = variáveis sócio-econômicas.

71

Derivando-se em relação à variação de CV para cada zona, estima-se

a curva de demanda ’ pelas atividades recreacionais do sítio natural, medindo-

se a redução (ou aumento) do número de visitantes quando se aumenta (ou

diminui) CV. É ’, portanto, a disposição a pagar pelos serviços ambientais de

R, onde a ’ é a medida do excedente do consumidor.

3.2.2. Método de valoração contingente

O método de valoração contingente (MVC) procura mensurar

monetariamente o impacto no nível de bem-estar dos indivíduos decorrente de

uma variação quantitativa ou qualitativa dos bens ambientais.

Utiliza dois indicadores de valor, quais sejam: Disposição a Pagar (DAP)

e Disposição a Aceitar (DAA); que vem a ser, respectivamente, o quanto os

indivíduos estariam dispostos a pagar para obter uma melhora de bem-estar ou

quanto estariam dispostos a aceitar como compensação para uma perda de

bem-estar. Ou seja, segundo Motta:

o MVC pretende de alguma maneira quantificar a mudança no nível de bem estar percebida pelos indivíduos, resultantes de uma alteração no suprimento de um determinado bem ou serviço ambiental. (Motta, 1998, p. 43).

O MVC estima os valores da DAP e da DAA com base em mercados

hipotéticos que são simulados por intermédio de pesquisa de campo que

pergunta ao entrevistado sua DAP ou sua DAA por alterações na

disponibilidade quantitativa ou qualitativa dos ativos ambiente. Simulam-se

cenários ambientais os mais próximos possíveis das características da

realidade e, ainda, de acordo com Motta (1998), de modo que as preferências

reveladas nas pesquisas reflitam decisões que os agentes tomariam de fato,

caso existisse um mercado para o bem ambiental descrito no cenário hipotético.

O cálculo e a estimação da variação de bem-estar obedecem a

diferentes modalidades em razão da forma de obtenção do valor, por exemplo,

para lances livres (open-ended) que produzem uma variável continua de lance,

72

o valor da DAP ou da DAA pode ser estimado diretamente por técnicas

econométricas. Agora, para as escolhas dicotômicas ou com mais de um valor

(técnica referendum) que produz um indicador de lances, a DAP ou DAA é

estimada por uma função de distribuição das respostas afirmativas e

correlacionada com uma função de utilidade indireta, geralmente logística. Pela

função:

DAPi (ou DAAi) = f (Qij,Yi,Si,Ej) (5)

onde,

Qij = visita

Yi = renda

Si = fatores sociais (ou outras variáveis explicativas)

Ej = parâmetro de qualidade ambiental do bem a ser valorado,

De acordo com Dubeux (1998) pode-se verificar os determinantes das

respostas de DAP o DAA. A curva permite estimar mudanças no lance DAPi ou

DAAi em função de variações em Ei se as demais variáveis permanecerem

estáveis.

A partir da média ou mediana dos valores DAP ou DAA obtidos

multiplicada pelo total da população (indivíduos ou famílias, etc.), obtém-se o

valor econômico total do bem ambiental ou, mais precisamente, da alteração de

sua disponibilidade.

Esta técnica é de extrema valia para a análise econômica do meio

ambiente, principalmente porque é a única que tem potencialmente a

capacidade de captar o valor de existência do bem ambiental. De acordo com

Motta (1998) requer procedimentos muito rigorosos na formulação das

pesquisas para produzir resultados confiáveis.

É desenvolvida uma revisão de literatura mais minuciosa sobre este

método, no próximo capítulo.

73

3.3. Métodos indiretos de valoração ou métodos da função oferta

Os métodos indiretos de valoração estimam o valor de um recurso

ambiental indiretamente através de uma função de produção. O objetivo é

calcular o impacto de uma alteração marginal do ativo ambiental na atividade

econômica, utilizando como referência produtos no mercado que sejam

afetados pela modificação na provisão do recurso ambiental. O impacto

econômico sofrido na produção deste produto será uma estimação dos

benefícios embutidos no recurso ambiental (Maia, 2002, p. 17)

Estes métodos exigem o conhecimento da relação entre a alteração

ambiental e o impacto econômico na produção, que pode ser calculado

diretamente no preço de mercado do produto afetado ou num mercado de bens

substitutos. Os métodos permitem se observar o valor do recurso ambiental R

em razão de sua contribuição como insumo ou fator de produção de um produto

P qualquer, ou seja, permite o cálculo do valor de sua contribuição em

determinada atividade econômica (Dubeux, 1998, p. 25).

Neste sentido, em uma função de produção P = ƒ(Y,R), onde Y

corresponde aos insumos privados e R a recursos ambientais com preço zero,

calcula-se a variação do produto de P em razão da variação da quantidade dos

recursos ambientais R utilizada para produzir P. A adoção destes métodos

depende da possibilidade de obterem-se os preços de mercado para variações

na quantidade do produto P ou de seus produtos substituídos S. Com base

nessa disposição, a seguir, apresenta-se os métodos indiretos de valoração,

que são divididos em dois outros subgrupos: o método de produtividade

marginal e o método de mercado de bens substitutos.

3.3.1. Método de produtividade marginal

De acordo com Maia (2002), o método de produtividade marginal atribui

um valor ao uso da biodiversidade relacionado à quantidade ou à qualidade de

um recurso ambiental diretamente à produção de outro produto com preço

definido no mercado. O papel do recurso ambiental no processo produtivo será

74

representado por uma função dose-resposta, que relaciona o nível de provisão

do recurso ambiental ao nível de produção respectivo do produto no mercado.

Esta função mensura o impacto no sistema produtivo dado uma variação

marginal na provisão do bem ou serviço ambiental, e a partir desta variação,

estimar o valor econômico de uso do recurso ambiental.

Sendo assim, classificado como um dos métodos de função de produção,

o método da produtividade marginal assume que dada a função de produção P

= ƒ(Y,R), o valor econômico de R é um valor de uso dos bens e serviços

ambientais e que para o seu cálculo é necessário conhecer a correlação de R

em f e, ainda, a variação do nível de estoque e de qualidade de R em razão da

produção do próprio P ou de outra função de produção, por exemplo de T. Para

tanto, estimam-se as funções de dano ambiental (funções dose-resposta – DR),

onde:

R = DR (x1,x2,..xn.,Q) (6) Sendo x1,x2,..xn as variáveis que junto com nível de estoque ou qualidade

Q do recurso natural afetam a disponibilidade de R. Assim:

DR = DR/Q (7)

As funções DRs relacionam a variação do nível de estoque ou qualidade

de R, com o nível de danos físicos ambientais provocados com a produção de P

ou T para identificar o decréscimo da disponibilidade de R para a produção de

P.

Dubeux (1998) ressalta que as funções de dano nem sempre são de fácil

utilização tendo em vista que a complexidade da dinâmica dos ecossistemas

ainda não é suficientemente conhecida para que se possam estabelecer

relações precisas de causa e efeito, tornando complexa a estimação da função

do dano.

75

3.3.2. Método de mercado de bens substitutos

Segundo Maia (2002), muitas vezes não se consegue obter diretamente

o preço de um produto afetado por uma alteração ambiental, mas pode-se

estimá-lo por algum substituto existente no mercado. A metodologia de

mercado de bens substitutos parte do princípio de que a perda de qualidade ou

escassez do bem ou serviço ambiental irá aumentar a procura por substitutos

na tentativa de manter o mesmo nível de bem-estar da população.

Entretanto, é muito difícil encontrar na natureza um recurso que substitua

com perfeição os benefícios gerados por outro recurso natural (Varian, 2000, p.

50). As propriedades ambientais são demasiadamente complexas e suas

funções no ambiente são pouco reconhecidas para acreditar que possam ser

substituídas eficientemente.

Considerando-se, de acordo com Dubeux (1998), ainda variações de

quantidade de P devido a variações de quantidade ou qualidade de R, pode se

empregar métodos de mercados de bens substitutos, tanto de P quanto de R

para valorar R. Assim, frente à eventual impossibilidade de se calcular

diretamente as perdas com P ou R, por inexistência de respectivos preços de

mercado, calculam-se as perdas com bens substitutos perfeitos S.

Se em uma função de produção P = F(Y,R), R tem em S seu substituto

perfeito, então a função de produção pode ser expressa em P = F(Y,R + S),

onde a perda de uma unidade de R pode ser compensada por uma quantidade

constante de S. Para manter P constante, uma unidade a menos de R será

compensada por uma quantidade a mais de S e a variação de R será valorada

pelo preço de S observável no mercado. O próprio P sendo um bem ou serviço

ambiental sem serviço ambiental sem preço de mercado, poderia ser

substituído por S caso não houvesse função de produção ou dose-resposta

disponível.

Quatro métodos, com base em mercado de bens substitutos podem ser

considerados de fácil aplicação, a seguir abordados.

76

3.3.2.1. Custos de reposição

Quando o custo de S representa os gastos incorridos pelo consumidor ou

usuário para garantir o nível desejado de P ou R.

Segundo Pearce (1993) apud Maia (2002), este método é

freqüentemente utilizado como medida do dano causado. Isto porque, quando o

prejuízo já foi feito, normalmente é possível estimar o custo de restauração do

ambiente danificado. Ou seja, a estimativa dos benefícios gerados por um

recurso ambiental será calculada pelos gastos necessários para reposição ou

reparação após o mesmo ser danificado.

3.3.2.2. Custos evitados

O método de custos evitados estima o valor de um recurso ambiental

através dos gastos com atividades defensivas substitutas ou complementares,

que podem ser consideradas uma aproximação monetária sobre as mudanças

destes atributos ambientais (Maia, 2002, p. 19)

Quando o custo S representa os gastos incorridos pelo consumidor ou

usuário para não alterar o produto P que depende de R.

3.3.2.3. Custos de controle

O custo de controle representa os gastos necessários para evitar a

variação do bem ambiental e manter a qualidade dos benefícios gerados à

população. É o caso do tratamento de esgoto para evitar a poluição dos rios,

por exemplo (Maia, 2002, p. 20)

Quando o dano ambiental pode ser também valorado pelos custos de

controle que empresas ou consumidores incorrem para evitar a perda de

qualidade ou quantidade de R.

Embora o controle da degradação limite o consumo presente do capital

natural, ele mantém um nível de exploração e aumenta os benefícios da

população a longo prazo, possibilitando o aproveitamento futuro dos recursos

naturais (Maia, 2002, p.20).

77

As maiores dificuldades deste método estão relacionadas à estimação

dos custos marginais de controle ambiental e dos benefícios gerados pela

preservação. Os investimentos de controle ambiental tendem a gerar diversos

benefícios, sendo necessários um estudo muito rigoroso para identificação de

todos eles. Como também não há um consenso sobre o nível adequado de

sustentabilidade, as pessoas encontram sérias dificuldades para ajustar os

custos aos benefícios marginais e determinar o nível ótimo de provisão do

recurso natural.

Segundo Dubeux (1998) há que se ressaltar que o uso dos métodos de

mercados de bens substitutos pode levar a uma subvaloração dos recursos

natural pela dificuldade de encontrarem-se bens substitutos perfeitos, quando

se trata de bens naturais.

3.3.2.4. Custo de oportunidade

O método do custo de oportunidade não valora diretamente o recurso

natural. Pelo contrário, estima o custo de preservá-lo pela não realização de

uma atividade econômica concorrente. Ou seja, é o custo de oportunidade da

renda sacrificada em prol da preservação do recurso ambiental (Dubeux, 1998,

p. 22).

Embora seja desejável do ponto de vista social, a preservação implica

num custo que deve ser mensurado para permitir a divisão entre os diversos

agentes que usufruem os benefícios da conservação. Toda conservação traz

consigo um custo de oportunidade das atividades econômicas que poderiam

estar sendo desenvolvidas na área de proteção. O custo de oportunidade

representa as perdas econômicas da população em virtude das restrições de

uso dos recursos ambientais. O benefício da conservação seria o valor de usos

direto dos recursos ambiental, estimado pela receita perdida em virtude do não

aproveitamento e outras atividades econômicas (Maia, 2002, p. 22).

Maia (2002) questiona, ainda, que a estimação da oportunidade de

exploração deve sempre considerar uma possível diminuição do capital natural

78

ao longo do tempo, que também é uma oportunidade futura de geração de

renda. Danos irreversíveis sobre espécies de plantas e animais acabarão

reduzindo a longo prazo a renda gerada pela exploração.

Após o exposto, faz-se necessário abordar com maiores detalhes o

método de valoração contingente, uma vez que é este o utilizado para se

estimar o valor dos ativos ambientais no município de Diamantino. Essa

abordagem está no Capítulo seguinte.

79

4. MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE

O método de valoração contingente consiste na utilização de pesquisas

amostrais para identificar, em termos monetários, as preferências individuais

em relação a bens que não são comercializados em mercado. Especificamente

a valoração contingente, pergunta-se às pessoas o quanto elas avaliam

situações hipotéticas envolvendo uma mudança em quantidade ou qualidade de

um recurso ambiental. São criados mercados hipotéticos do recurso ambiental

ou cenários envolvendo mudanças do recurso, e as pessoas expressam suas

preferências através da disposição a pagar (DAP) para evitar a alteração na

qualidade ou quantidade do recurso natural ou os indivíduos expressão sua

disposição a aceitar (DAA) pelas alterações no recurso ambiental.

O motivo da escolha do método de valoração contingente para este

trabalho é que este é o único que permite a estimação do valor de existência do

recurso ambiental - objetivo desta pesquisa. É necessário argumentar que o

valor de existência não é somente econômico, mas representa também a

filosofia ecológica de que o recurso natural faz parte do ecossistema da terra e,

portanto, deve viver em processo de interação; é assumir, então, no presente

que os recursos naturais têm direitos à preservação, para que as futuras

gerações possam tê-los como legado.

Esse método está alicerçado na teoria neoclássica do bem-estar e parte

do princípio de que o indivíduo é racional no processo de escolha, maximizando

sua satisfação, dados o preço do recurso natural e a sua restrição

80

orçamentária. O objetivo do pesquisador com a aplicação do método é obter

dos indivíduos o excedente do consumidor.

4.1. Fundamentos microeconômicos

Os consumidores adquirem mercadorias porque elas lhes proporcionam

uma satisfação melhor. A microeconomia, ao desenvolver análise da demanda

individual, utiliza-se do Excedente do Consumidor (EC) como uma medida de

bem-estar. O excedente do consumidor mede quão melhor será a satisfação

das pessoas, em conjunto, por poderem adquirir um produto no mercado. Pelo

fato de diferentes consumidores atribuírem valores diferenciados ao consumo

de cada mercadoria, o valor máximo que estariam dispostos a pagar por tais

mercadorias também seria diferenciado. Segundo Pindyck e Rubinfeld: “O

excedente do consumidor é a diferença entre o preço que um consumidor

estaria disposto a pagar por uma mercadoria e o preço que realmente paga”

(2002, p. 123).

O conceito pressupõe que o consumidor avalia os bens, atribuindo o

montante r, pela i-ésima unidade consumida, mas pagando somente o preço p

por cada uma. Assim, obtém-se um “excedente” igual a r1 – p, associado à

primeira unidade em r2 – p à segunda unidade consumida do bem, e assim por

diante. Somando este excedente para n unidades, tem-se o excedente total do

consumidor (Varian, 2000, p. 264)

EC = r1 – p + r2 – p1 + ... + rn – p = r1 + ... + rn – np = ri – np (8)

Onde i = 1, ..., n

Pode-se observar, na Figura 5, abaixo, utilizando uma função de utilidade

quase-linear, que o EC é a área abaixo da curva de demanda, uma vez que a

demanda pelo bem xi independe do montante que o consumidor possui para

gastar no bem xi.

81

Figura 5. Excedente do consumidor.

Fonte: Varian, 2000, p. 266.

Todavia, o que interessa para esta Dissertação, é a variação desse

excedente, figura 6, ou seja, o foco é: qual a variação da satisfação do

consumidor quando ocorre uma modificação no nível de preços (p’ para p”).

Para formas mais genéricas da função de utilidade, e desde que o efeito renda

não seja muito grande: a área sob a função demanda é uma boa aproximação

entre a variação do excedente do consumidor e a variação da utilidade do

consumidor.

De acordo com Varian (2000):

a variação no excedente do consumidor relacionada a uma variação no preço é a diferença entre duas regiões meio triangulares e, portanto, terá a forma aproximada de um trapézio. Além disso, o trapézio é formado por duas sub-regiões indicado por R e a região um tanto triangular indicada por T (Varian, 2000, p. 267)

O retângulo mede a perda de excedente resultante do fato de que o

consumidor agora paga mais por todas as unidades que continua a consumir.

Depois que o preço aumenta o consumidor continua a consumir x” unidades de

82

bem e cada unidade do bem é agora (p” – p’) mais cara. Isso significa que para

consumir x” unidades do bem, o consumidor tem de gastar (p” – p’)x” mais

dinheiro do que pagava antes.

Isso, porém, segundo Varian, não constitui a perda total do bem-estar. O

aumento do preço do bem x faz com que o consumidor decida consumir menos

desse bem. O triângulo T mede o valor do consumo perdido do bem x. A perda

total do consumidor corresponde à soma desses dois efeitos: R mede a perda

de ter de pagar mais pelas unidades que ele continua a consumir e T mede a

perda devida à redução do consumo (2000, p. 267).

Figura 6. Variação do excedente do consumidor.

Fonte: Varian, 2000, p. 267

Se tiver a expressão da demanda pelo bem x (i) como função de seu

preço, pode-se utilizar o cálculo integral a fim de mensurar a variação do

excedente, quando os preços variam de p’ para p”. (Pessôa, 1996, p. 21):

p”

EC = x(i) di (9) p’

A abordagem de Excedente do Consumidor, foi proposta por Dupuit no

século XIX e popularizada por A. Marshall (1842-1924), que utiliza a área

83

abaixo da curva de demanda e acima da linha de preços de um bem como uma

aproximação da utilidade do consumidor pelo bem, dado o critério da

ordinalidade, ocorre a impossibilita da mensuração monetária na variação de

EC. Esse conceito tem sido definido como problemático, enquanto medida dos

benefícios resultantes das mudanças de preços ou de quantidades (Mitchell e

Carson, 1989, p. 23). “Estes problemas são devidos ao fato de que a curva de

demanda ordinária não mantém o nível de utilidade ou satisfação constante,

mas mantém a renda constante” (Varian, 2000, p. 268).

Na década de 40, Hicks sugeriu duas medidas de ganho ou perda que

mantêm a utilidade constante no nível alternativo específico e duas medidas de

excedente, ficando estas medidas conhecidas como medidas hicksianas:

variação equivalente, variação compensatória, excedente de equivalência e

excedente de compensação, são “refinamentos teóricos” da medida

marshalliana de excedente ordinário do consumidor. Calculadas pelas curvas

de demanda, em que a utilidade total é mantida constante, a diferentes níveis

específicos. Dependendo da posição do direito de propriedade do consumidor,

diante do bem em questão, cada uma das quatro medidas pode envolver

pagamento ou compensação a fim de manter a utilidade no nível específico.

(Mitchell e Carson, 1989, p. 23).

A utilidade não pode ser mensurada diretamente e o mecanismo básico

para medir mudança do bem-estar é o uso de uma medida monetária. Ocorre-

se alteração no bem-estar, provocada por mudanças em um preço ou nos

preços, ou ainda por outros fatores, um mecanismo deve ser determinado para

verificar as alternativas que tem o consumidor para, a partir da situação inicial,

obter incremento ou decréscimo de bem-estar ou permanecer indiferente entre

a mudança de preço(s) e a compensação na renda. (Bacon, 1995 apud Ribeiro,

1998, p. 15).

Para exemplificar o exposto, tem-se a figura 7, são apresentadas duas

curvas de indiferença para um indivíduo considerando dois bens dados, um

com preço P’1, que se altera para P”1, e o outro bem com preço P’2 (confere

84

uma cesta composta de outros bens, isto é, são os outros usos da renda), o

qual permanecerá inalterado. Admite-se que os consumidores sejam capazes

de ordenar todas as combinações de bens e outras despesas, de acordo com

uma função utilidade. Admite-se também que as curvas de indiferenças sejam

estritamente convexas implicando que, ao longo de cada linha de restrição

orçamentária, exista uma combinação única de bens que maximiza a utilidade

do consumidor. Considerando-se, ainda, uma redução no preço do bem X1, o

consumidor altera sua cesta de consumo inicial, dado pelo ponto A na utilidade

U1, para o consumo dado pelo ponto B, na utilidade U2. Qual é o benefício de

bem-estar que esses indivíduos obtêm com a redução no preço de X1? A

medida de bem-estar é definida em termos do bem X2, chamado bem

numerário.

X2

VE E

VC D

A B U2

C F P1”

U1 P1’

P1’ P 1” O X1’ X1” Xi

Figura 7. Medidas de ganho de bem-estar para uma redução de

preço.

Fonte: Ribeiro, 1996, p. 17

Partindo da análise da Figura 7, têm-se as medidas hickisianas, de

acordo com a variação de bem-estar:

85

1- Variação Compensatória (VC): mede qual a variação da renda

necessária para compensar o consumidor caso ocorra uma mudança no

nível de preço, passando o nível de P1’ para P1”, de forma que mantenha o

consumidor no mesmo nível de utilidade inicial. Conforme Ribeiro, essa

medida indica que pagamento compensatório ou equiparação da mudança

da renda é necessário para fazer o indivíduo indiferente entre a situação

original (A) e o novo conjunto de preço. Dado o novo conjunto com o

consumo no ponto B, o indivíduo pode ter sua renda reduzida pelo

montante VC e ainda estar tão bem no ponto C, como estava no ponto. A

medida de VC estima a quantidade máxima que o indivíduo estaria

disposto a pagar pela oportunidade de consumo ao novo conjunto de

preço. Para um aumento de preço Xi, a medida VC seria o montante a ser

pago a esse indivíduo de maneira a torná-lo indiferente à mudança de

preço. Então, a variação compensatória é utilizada para encontrar uma

medida padrão que compense os indivíduos que sofreram uma redução do

seu nível de bem-estar causada por uma degradação ambiental.

2- Variação Equivalente (VE): Mensura qual seria o impacto na renda do

consumidor se este, em substituição a uma mudança nos preços de P1’

para P1”, aceita uma variação de igual magnitude, deixando o nível de

utilidade desse consumidor ao mesmo nível que em P1”. De acordo com

Freeman (1979), no trabalho de Ribeiro, define a medida de VE como a

variação na renda, dados os preços originais, a qual poderia levar à

mesma alteração na utilidade, tal como a alteração no preço de Xi. Na

figura 7, dados os preços originais, o indivíduo alcança o nível de utilidade

U2, no ponto D, com um aumento na renda igual à VE, que é a variação

equivalente na renda pelo ganho de bem-estar devido à alteração no

preço. Em outras palavras, quanto o consumidor estaria disposto a aceitar

uma variação na renda que evita uma modificação no nível de preço em

termos da variação na utilidade? Graficamente isto é mostrado pelo

deslocamento da reta orçamentária original, até tangenciar a curva de

86

indiferença representada pela nova cesta de mercadorias. Então a medida

VE é descrita como o montante mínimo que o indivíduo aceita receber,

para, voluntariamente, privar-se da oportunidade de comprar, ao novo

conjunto de preços. Para um aumento de preço, a medida VE é a

quantidade máxima que o indivíduo pode estar disposto a pagar para

evitar mudança nos preços.

Verifica-se que ambas as medidas, variação compensatória e variação

equivalente, permitem que o indivíduo ajuste as quantidades consumidas de

ambos os bens, em resposta às mudanças nos preços relativos e no nível de

renda.

As medidas apresentadas a seguir são definidas para estabelecer

restrições ao ajustamento que o indivíduo faz em sua cesta de mercadorias:

3- Excedente de Compensação (EC): Apresenta o pagamento

compensatório ou equiparação da mudança na renda que pode tornar o

indivíduo indiferente entre a situação original e a oportunidade de adquirir

nova quantidade de X1” do bem cujo preço foi alterado. A medida EC é

dada pela distância vertical entre as curvas de indiferença U1 e U2

referentes a quantidade X1”, ou seja, ela é equivalente ao segmento BF,

na figura 7. Essa medida é rigorosamente relativa a variação

compensatória, e a única diferença entre essas medidas é a restrição ao

julgamento da aquisição de Xi, em resposta à compensação ou

equiparação da variação na renda.

4- Excedente de Equivalência (EE): Indica a mudança na renda que é

requerida, dados os preços originais e o nível de consumo de Xi, a fim de

deixar o indivíduo também como ele poderia estar com o novo conjunto de

preços e consumo no ponto B. Na figura 7 EE, é a distância vertical entre

U1 e U2, dado o consumo do bem Xi no nível original, representada pelo

segmento AE. A medida EE é rigorosamente relativa à medida VE e é a

única diferença que está na restrição do consumo de Xi.

87

Apresentadas as definições das quatro medidas hicksianas, com relação

ao método de valoração contingente, observa-se na literatura que alguns

autores referem-se às medidas de variação compensatória e equivalente,

enquanto outros, às medidas de excedente de compensação e de equivalência,

para mensurar a variação de bem-estar. De acordo com Mitchell e Carson

(1989) as medidas hicksianas de variação devem ser usadas quando o

consumidor tem toda a liberdade para variar a quantidade do bem considerado,

e as medidas hicksianas de excedente, quando o consumidor está constrangido

a comprar apenas quantidades fixas do bem particular. Para o caso especial de

ativos ambientais, as medidas de excedente seriam, segundo esses autores, as

mais indicadas.

Objetivando o entendimento sobre a relação dos bens ambientais (bens

públicos) e as medidas de excedente para Mitchell e Carson (1989), tem-se a

figura 8, que apresenta a curva de demanda ordinária que é a linha marcada D,

e o preço que é considerado como zero, o que é tipicamente o caso de bens

públicos puros. A mudança no excedente do consumidor resultante de um

aumento na provisão do bem público de Q1 a Q2, é a área (a+b); o excedente

de compensação é a área sob a curva de demanda compensada hicksiana

H1(ou seja, a); e o excedente de equivalência é a área sob a curva de demanda

hicksiana H2(ou seja, a+b+c). Observa-se que para aumentar a quantidade, o

excedente de compensação é menor ou igual ao excedente Marshalliano, que

por sua vez é menor ou igual ao excedente de equivalência.

88

Preço

c

a b

H2 H1 D

Q1 Q2 Quantidade

Figura 8. Medidas de excedente do consumidor para um bem

público.

Fonte: Mitchell e Carson, 1989, p. 24

4.2. A valoração contingente através da Disposição a Pagar (DAP) e da

Disposição a Aceitar (DAA)

A variação econômica de ativos ambientais como o ar, a água, o solo etc,

não é de fácil alcance, uma vez que, conforme anteriormente apresentado,

esses bens possuem características de bens públicos e externalidades, logo,

não existe mercado que tenha o preço como a variável indicadora dos agentes

econômicos.

Como a maioria desses bens não se encontra transacionados no

mercado tornou-se necessário se fazer uso de “mercados alternativos”:

contingentes ou de recorrência. No método de valoração contingente, MVC,

utiliza-se destes mercados hipotéticos (contingentes).

Como na prática, o bem ambiental não possui mercado para ser

transacionado, então se supõe que o mesmo exista e a partir daí pergunta-se

às pessoas o quanto elas estariam dispostas a pagar ou a receber pelo bem.

89

Sendo assim, considere as medidas de disposição a pagar (DAP) e a

aceitar (DAA), relativas às alterações da disponibilidade de um ativo ambiental

(Q), que mantém um nível de utilidade inicial do consumidor. Nesse caso, tem-

se:

U(Q, Y), = U(Q, Y + DAR) = U(Q, Y – DAP) (10)

A expressão acima apresenta diferentes pontos, onde distintas

combinações de renda e de provisão de ativos ambientais se encontram na

mesma curva de indiferença em determinado nível de utilidade. Como a função

de utilidade (U), não é observada diretamente, um método de valoração

contingente estima os valores de DAA e DAP com base em mercados

hipotéticos.

Neste sentido, busca-se simular cenários, cujas características estejam

mais próximas do mundo real, de modo que as preferências reveladas nas

perguntas empreendidas aos agentes econômicos nas pesquisas reflitam

decisões que tomariam de fato caso existisse um mercado para um ativo

ambiental descrito no cenário hipotético. Essas referências, utilizando a teoria

econômica, podem ser expressas em valores monetários. Esses valores são

obtidos através das informações adquiridas nas respostas sobre quanto os

indivíduos estariam dispostos a pagar para garantir a melhoria de bem-estar ou

quanto estariam dispostos a aceitar em compensação para suportar uma perda

de bem-estar.

A grande vantagem do MVC, em relação a qualquer outro método de

valoração, é que ele pode ser aplicado em espectro de bens ambientais mais

amplos. A grande critica, entretanto, é a sua limitação em captar valores

ambientais que indivíduos não entendam ou mesmo desconhecem o bem

questionado. (Motta e May, 1998, p. 43).

Todavia, considerando a concepções fenomenológicas existencialistas,

mais especificamente as proposições de Merleau-Ponty, estas concepções são

apresentadas no capítulo 6 deste trabalho, os agentes econômicos são capazes

90

de perceber variações de bem-estar provocadas por alterações ambientais, e

ocorrendo esta percepção, eles podem revelam suas verdadeiras DAP ou DAR

pelos ativos ambientais, considerando as devidas influências das variáveis

sócio-econômicas do modelo de valoração contingente como a renda do

consumidor. Portanto, este método é considerado o ideal para aferir o valor de

existência dos ativos ambientais.

4.2.1. Escolha entre a DAP e a DAA

Na escolha entre a formulação de uma questão de DAP ou DAA, num

levantamento de valoração contingente é analisada em termos de direitos de

propriedade uma vez que se trata de bens públicos em que os direitos são

mantidos coletivamente, esta questão, freqüentemente, não é fácil. O

pesquisador tem de tomar uma decisão sobre o apropriado direito de

propriedade para o bem, ou seja, o pesquisador é obrigado a decidir a medida

hicksiana de excedente do consumidor a ser usada, para cada mudança de

bem-estar (Ribeiro, 1998, p. 21).

Na década de 80 vários pesquisadores obtiveram de seus entrevistados

valores de DAA consideravelmente maiores do que valores de DAP, para o

mesmo bem. Esses resultados geraram várias hipóteses explicativas da

diferença entre a DAP e a DAA; em algumas focalizaram os levantamentos de

valoração contingente enquanto outras consideraram uma classe mais geral de

comportamento de escolha contingente e observada. A seguir consta resumo

das causas das discrepâncias entre os valores da DAP e da DAA, investigado

por Ribemboin (1997).

4.2.2. Causas das disparidades entre a DAP e a DAA

Quando se está buscando valorar uma mudança de qualidade ambiental,

duas são as perguntas comumente realizadas nos questionários de pesquisa

utilizando–se método de valoração contingente (MVC):

91

1. Qual é a máxima quantia que o respondente estaria disposto a pagar

por uma melhoria ou para evitar uma degradação (DAP)?

2. Qual é a mínima quantia que o respondente estaria disposto a

receber para ser compensado por uma degradação ou para desistir de

uma melhoria (DAA)?

A escolha entre a DAP e DAA deve ser criteriosa, pois cada alternativa

pode resultar em valores bastante diferentes. A divergência entre DAP e DAA

não se deve somente em termo teóricos no que diz respeito à utilidade marginal

decrescente das curvas de demanda - DAA. Esta pode ser muitas vezes

superior a DAP quando o indivíduo, perante a uma possível redução da

disponibilidade do recurso ambiental, percebe que são reduzidas às

possibilidades de substituição entre um ativo ambiental altamente valorado e

outros bens e serviços a sua disposição. Dessa maneira, com possibilidades

reduzidas de substituição do ativo, os indivíduos tendem a exigir compensações

mais elevadas. Neste sentido, a literatura tem considerado a DAP uma

mensuração conservadora.

Diversas são as hipóteses explicativas para os resultados de DAP e DAA

serem diferentes:

a) vieses diversos: os vieses que interferem nos resultados de uma

pesquisa de MVC podem ser resultantes de um comportamento

inesperado do respondente, de formulários mal desenvolvidos, de falhas

operacionais etc. Entretanto a maioria dos vieses pode ser tanto para

mais quanto para menos e não se constitui em explicação convincente

para o fato de ser a DAA sempre maior do que a DAP;

b) comportamento estratégico: quando se compreende a pergunta sobre

DAP e DAA, os respondentes tendem a agir estrategicamente de modo a

captar o máximo benefício ao mínimo de custo. Isto não deixa de ser

uma forma de viés. Os indivíduos adotam o comportamento de: em não

92

dizendo a verdade, podem capturar um benefício extra. Isto é

particularmente freqüente entre consumidores e bens públicos;

c) ignorância do mercado, falta de treinamento ou informação imperfeita:

em se tratando de mercados hipotéticos, os indivíduos se ressentem da

falta de prática para citar os valores que lhes são solicitados. As

discrepâncias de preços de compra e venda são sempre maiores em

mercados onde os freqüentadores não estão familiarizados com os

presos. Em contra partidas nos mercados maduros o preço de compra e

venda trabalhado é bastante próximo, posto que compradores e

vendedores possuam largas experiências nos negócios;

d) a aversão à perda ou “prospect theory”: no texto escrito por

Ribemboin, é manifestada a preposição de Kahneman e Tversky em

célebre artigo de 1979, que se constituem uma nova teoria segundo a

qual os indivíduos costumavam dar maior peso a uma perda do que a um

ganho equivalente. Não se trata da hipótese da utilidade marginal

decrescente da renda mais sim de uma espécie de aversão à perda.

A prospect theory ao alicerçar-se sobre base intuicionista lança uma

sombra na rigidez da lógica clássica que permeia a teoria econômica

tradicional. Essa nova “escola psicológica” põe em questionamento muito dos

sustentáculos da teoria neoclássica. As curvas de indiferença deixariam de ser

reversíveis e cada indivíduo teria na verdade dois mapas de preferência, um

para aumento e outro para diminuição na quantidade possuída de determinado

bem, como se encontra sugerido na figura 9 (1997, p. 8).

93

Figura 9. Curvas de Indiferença.

Fonte: Ribemboin, 1997, p. 8

e) formas de comportamento irracional: preguiça mental, sentimento de

perda ou medo de arrependimento, ou ainda a falta de inteligência, têm

sido citados por alguns autores para explicar as diferenças entre DAP e

DAA.

- Preguiça mental: como os mercados são hipotéticos, os indivíduos ao

serem questionados, dizem a oferta que primeiro lhes vem à cabeça.

- Sentimento de Perda ou medo de arrependimento: é uma possível

explicação para teoria psicológica – prospect theory, baseada numa

iminente aversão ao risco por parte das pessoas;

- Falta de Inteligência: os indivíduos não agem de forma racional e

conseqüentemente acabam numa situação de sub-otimização.

Neste contexto, analisando as figuras 7 e 8, DAP e DAA captam os

valores de VE e VC da seguinte forma, dado o aumento de preço (mudança

para pior):

94

DAP capta o valor de VE, pois é a quantia que o indivíduo está

disposto a pagar para evitar a mudança, num cenário de pré-

mudança.

DAA capta o valor de VC, pois é a quantia que o indivíduo está

disposto a aceitar para ser compensado pela mudança, num cenário

de pós-mudança.

4.2.3. Técnicas para obtenção da disposição a pagar e a aceitar

O uso de mercados contingentes para valoração inclui uma larga

variedade de mecanismos ou técnicas, na ausência de preços de mercado. E

esses têm sido estabelecidos para prover uma base razoável de mensuração

do valor de bens públicos, que estão extra-mercado como os ativos ambientais.

Seguem comentários de cada técnica com os respectivos mecanismos

de obtenção dos valores da DAP e DAA.

As principais opções de se obter o valor do ativo ambiental são: lances

livres ou formas abertas (open-ended), referendum ou referendo (dicotômica) e

referendum com follow up ou referendo com acompanhante.

4.2.3.1. Lances livres ou forma aberta (open-ended)

Nesta forma é utilizado o questionário, apresentando as seguintes

questões: quanto você está disposto a pagar? Ou quanto você está disposto a

receber?

Estas formas de pergunta, segundo Motta e May (1998), produzem uma

variável contínua de lances e o valor esperado da DAA ou DAP pode ser

estimado pela sua média, sendo utilizados dois tipos de mecanismos para a

obtenção dos valores: os cartões de pagamento ou os jogos de leilão,

mecanismos pioneiras na valoração contingente. Para verificação dos

resultados obtidos em relação às variáveis explicativas que influenciam a

resposta da amostra, utilizam-se, geralmente, técnicas econométricas de

regressão. Apresentam-se os mecanismos:

95

a) cartões de pagamentos: este mecanismo busca identificar a

verdadeira disposição dos indivíduos; cartões com diferentes valores, ou

representando bens de consumo de valor equivalente, são apresentados

e o entrevistado escolhe o valor que reflete a sua disposição a pagar, por

exemplo. Esta forma é mais recomendável quando se trata de

populações com baixo grau de monetização.

Ribeiro (1998) demonstra um exemplo da técnica: nesse mecanismo o

entrevistador apresenta todos os valores transcritos num cartão, para que o

entrevistado aponte o valor que está disposto a pagar; assim, a técnica pode

prover um único ponto de partida.

b) Jogos de Leilões (bidding games): este mecanismo se baseia em

sucessivas perguntas que vão sendo feitas conforme a resposta dada.

Se o entrevistado aceitar como quantia inicial, o valor perguntado vai

aumentando. Caso rejeite a quantia inicial, os valores vão diminuindo.

Esta técnica busca a verdadeira disposição a pagar dos indivíduos,

tomando um conjunto de valores que, a partir de um valor médio, são

sucessivamente apresentados aos entrevistados. Caso o valor médio seja

aceito pelo indivíduo, valores superiores a este serão apresentados; caso

contrário, valores inferiores serão apresentados. (Ribeiro, 1998, p. 26)

4.2.3.2. Referendum ou Referendo (escolha dicotômica)

Neste o questionário apresenta a seguinte indagação: você está disposto

a pagar R$ X? - A quantia X é sistematicamente modificada ao longo da

amostra para avaliar a freqüência das respostas dadas diante de diferentes

níveis de lances.

Esta forma de obtenção do valor possui dois fatores apreciáveis em sua

técnica: primeiramente, permite menor ocorrência de lances estratégicos dos

entrevistados que procuram defender seus interesses ou beneficiar-se da

96

provisão gratuita do bem (carona), e, segundo, aproxima-se da verdadeira

experiência de mercado que geralmente define suas ações de consumo frente a

um preço previamente definido.

Esta aproximação produz um indicador discreto de lances e o valor

esperado da medida monetária (DAA ou DAP) tem que ser estimado de forma

bastante complexa com base numa função de distribuição das respostas “sim” e

sua correlação com uma função de utilidade indireta, geralmente assumida

como logística.

Isto ocorre devido ao fato da técnica de Referendo envolver,

basicamente, uma pergunta à qual o consumidor responde “sim” ou “não”, caso

esteja disposto, ou não, a aceitar ou pagar um valor a ele apresentado. Esse

valor seria atribuído a determinado bem ou serviço extra-mercado. A decisão do

consumidor envolve uma mudança dicotômica que pode ser analisada pelo

ordenamento de probabilidades de respostas positivas (sim), para valores

monetários específicos.

Sendo assim, a técnica apresenta três problemas, segundo Ribeiro

(1998):

1- Exige amostras maiores que as exigidas por outras técnicas para os

mesmos níveis de significância;

2- A determinação do intervalo de valores a serem apresentados na

pesquisa pode introduzir vieses nesta, influenciando as estimativas de

DAA e DAP;

3- O referendum está sujeito a alto nível de resposta “zero”, o que se

traduz em um problema análogo ao viés do ponto de partida.

4.2.3.3. Referendum com follow up ou Referendo com acompanhante

Esta técnica utiliza-se de uma outra forma mais sofisticada de escolha

dicotômica. Conforme a resposta dada à pergunta inicial, é acrescida uma

segunda pergunta iterativa. Tomado do intervalo de valores que constituem a

pesquisa, um valor é apresentado ao entrevistado; caso seja rejeitado, será

97

substituído por um valor inferior; caso seja aceito, será substituído por um valor

superior. Ao ser oferecido um segundo valor às questões de referendum, as

estimativas obtêm ganhos de eficiência, mas os problemas supram delineados

e inerente à técnica referendum permanece.

4.2.4. O instrumento (ou veículo) de pagamento

Sobre este assunto Motta (1998) argumenta que podem ser, assim,

definidos os instrumentos (ou veículos) de pagamento ou compensação, após a

medição da DAP ou DAA:

DAP – novos impostos, tarifas ou taxas, ou maiores alíquotas nos

existentes; cobrança direta pelo uso; ou doação para um fundo de

caridade ou uma organização não-governamental.

DAA – novos subsídios ou aumento no nível dos existentes;

compensações financeiras diretas; ou aumento de patrimônio via obras

ou reposição.

Observando que cada caso de valoração deve ser analisado

criteriosamente para identificar qual é o instrumento mais neutro, que tenha

maior credibilidade de ocorrer e ser respeitado.

4.2.5. A forma de entrevistar

A pesquisa de valoração de contingente possui algumas peculiaridades

que só a presença de um entrevistador pode atendê-las. Normalmente as

questões exigem cenários complexos, tornando essencial o auxílio visual

através de imagens, gráficos ou tabelas. As entrevistas podem se tornar

relativamente longas, e manter a atenção do entrevistado é essencial para que

nenhuma informação importante passe despercebida.

As entrevistas pessoais são as que produzem os resultados mais

confiáveis. As informações são passadas verbalmente e permitem a utilização

de cenários gráficos. Isso atrai a atenção do entrevistado e aumenta sua

motivação para responder adequadamente à questão de valoração. Estas

98

entrevistas são complexas e usualmente longas, exigindo entrevistadores bem

treinados para aplicá-las. Pode-se usar telefone, mas o seu uso diminui a

qualidade das informações, as entrevistas devem ser mais curtas para não

perder a atenção das pessoas e a amostragem fica restrita às residências

cadastradas na lista telefônica. Por sua vez as entrevistas por correspondência

permitem auxílio visual para especificação dos cenários, mas apresenta sérias

limitações, como a incerteza na compreensão e interpretação feita pelo

entrevistado; ela é recomendada somente nos casos onde os cenários são

simples, curtos, e a população possui certo grau mínimo de instrução e

conhecimento sobre o bem avaliado (Maia, 2002, p. 40).

É de fundamental importância determinar qual o conteúdo das

informações que devem ser prestadas no questionário de forma a transferir,

realisticamente, a magnitude das alterações de disponibilidade do ativo

ambiental em valoração, para se ter uma redução da subjetividade do método.

4.3. Estimação do método de valoração contingente – validade,

confiabilidade e vieses.

A avaliação de aceitabilidade das estimativas de DAP e DAA estão

concentradas nas questões teóricas e metodológicas de valoração contingente.

Estas questões podem ser divididas, segundo Motta (1998), nas categorias:

validade, confiabilidade e vieses.

4.3.1. Validade

A validade refere-se ao grau em que os resultados estimados no MVC

indicam o “verdadeiro” valor do bem. Todavia, como é impossível precisar o real

valor de um recurso ambiental, o que usualmente se faz é a detecção de vieses

a partir de possíveis comportamentos das pessoas e da interferência de

componentes do cenário. É importante argumentar que viabilidade e

confiabilidade não são sinônimas. Existem casos em que o MVC alcança

estimativa consistente, mas sujeitas à presença de vieses. Nesta hipótese, os

99

resultados são julgados não válidos. Considerando um modelo linear geral,

validade e confiança poderiam ser expressas da seguinte forma (Motta, 1998, p.

48):

Y = aX + b + (11)

Y = valor observado da variável

X = valor verdadeiro da variável

a e b = constantes

= erro residual

Enquanto a e b refletem a validade do método, determina a

confiabilidade. Valores de a = 1, b = 0 e sendo o erro aleatório que indica

absoluta validade. Quando não se revela aleatório, então indica a existência

de vieses.

4.3.2. Confiabilidade

A confiabilidade mensura a variabilidade entre as respostas. É

equivalente à medida de precisão estatística, ou seja, a capacidade de

reproduzir o mesmo valor em medidas consecutivas.

Uma medida de confiabilidade é a variância do estimador, que mensura a

dispersão dos dados em torno da média estimada. Uma distribuição aleatória

da variância do estimador indica consistência entre as respostas e a existência

de alguns componentes não aleatórios na distribuição poderem enviesar a

estimação para alguma direção. Assim, quanto menos aleatória for a amostra,

menor será o grau de confiabilidade.

A variância depende basicamente de três elementos:

1. Da verdadeira natureza do erro aleatório;

2. Do próprio processo de amostragem; e

3. Da forma como foram elaborados os questionários.

100

Para melhorar a confiabilidade, Maia (2002) sugere amostras

relativamente grande e técnicas estatísticas mais vigorosas para detecção de

outliers (valores extremos, considerados irreais para o escopo da pesquisa de

valoração de recursos ambientais).

4.3.3. Vieses - os principais problemas do método

Podem ser identificados vários vieses que afetam a confiabilidade do

método e que devem ser minimizados com o desenho do questionário e da

amostra. A valoração de bens públicos apresenta dificuldades devido ao

problema da revelação de preferências para essa categoria de bens (públicos)

e o método de valoração contingente é um dos métodos de mercado hipotético

mais conhecido, visto que constrói um mercado, ele está sujeito a vários vieses:

viés estratégico, viés de estrutura ou do desenho do questionário, viés

hipotético, viés operacional, viés de protesto e vieses potenciais. A seguir, é

feita uma descrição de cada um, de acordo com os trabalhos de Pessôa (1996),

Motta (1998) e Ribeiro (1998).

4.3.3.1. Viés Estratégico

O viés estratégico já é bastante antigo na literatura e originou-se da

suposição ou evidência de que, no contexto de mercados hipotéticos, os

indivíduos não revelem suas verdadeiras preferências, porque adotam um

comportamento estratégico com o objetivo de garantir um benefício maior que o

custo que desejam assumir.

Este viés descreve a possibilidade que os respondentes subestimem sua

verdadeira disposição a pagar por um bem, pois acreditam que agindo assim,

podem ser capazes de usufruir os benefícios da provisão do bem a um preço

menor que se tiver que pagar um preço mais alto pelo mesmo bem. Os

respondentes percebem que mesmo não podendo cumprir com sua disposição

a pagar não são compelidos a fazerem “revelando” sua disposição, influencia

na avaliação monetária da DAP estimada. Além disso, se a soma agregada das

101

DAPs exceder os custos de provisão do bem ambiental em questão, este será

ofertado, tornando-se difícil excluir qualquer pessoa de usufruí-lo. Isto se deve à

característica de bem público. Este é o clássico problema do free rider

(passageiro clandestino ou pegar carona).

Com vistas a minimizar a ocorrência do comportamento estratégico,

Motta e May (1998) recomendam atenção com a estrutura das perguntas para

que estas não sejam indutoras desse tipo de comportamento. Uma maneira

usada para diminuir o viés estratégico é fazer as perguntas utilizando três

cenários distintos: somente os n entrevistados que apresentarem os maiores

lances terá acesso ao bem; todos têm acesso ao bem se a DAP for acima de

um determinado nível; e todos com uma DAP positiva terão acesso.

O primeiro cenário parece revelar a “verdadeira” DAP, o segundo, um

fraco comportamento estratégico e o último um forte. Evidências empíricas

sugerem que, nos resultados obtidos nas pergunta com formato dicotômico,

observa-se uma incidência do comportamento caronista menor que nas

perguntas do tipo aberto (continua). Em se tratando dos bens públicos

ambientais, o valor de existência e o sentimento de altruísmo atuam como um

desincentivo para o carona.

4.3.3.2. Viés de estrutura ou do desenho do questionário

Está relacionado com todo tipo de problema que envolva o planejamento

de uma pesquisa utilizando uma avaliação hipotética, já que este pode induzir

os entrevistados a dar respostas que não traduzam suas reais preferências.

O viés do ponto de partida pode ocorrer devido a uma possível influência

que o valor inicial apresentado na questão de valoração, com o uso da técnica

jogos de leilão ou referendum com follow up, possa exercer no entrevistado, já

que este pode ser induzido a considerar que esse valor inicial seja o mais

correto.

O viés do veículo é definido pelo instrumento de pagamento usado na

pesquisa. A mudança em taxas locais e conhecidas pelos entrevistados, tais

102

como taxas de acesso, sobretaxas de contas específicas, elevação dos preços

dos bens determinados, faz com que os entrevistados sejam mais sensíveis ao

tipo de veículo adotado como pagamento. O viés informativo pode decorrer

devido à forma pela qual o pesquisador/entrevistador informa ao entrevistado

sobre dado valor inicial. A seqüência das perguntas e as informações contidas

nestas ou apresentadas no texto para valoração contingente podem influenciar

os entrevistados.

4.3.3.3. Viés hipotético

É decorrente da própria natureza do MVC e está relacionado com a

própria capacidade do pesquisador em construir, idealmente, o mercado

hipotético. Além de estar relacionado com a compreensão que os entrevistados

têm do processo. Dada à natureza hipotética do método, os entrevistados

podem não levar a sério o processo e, conseqüentemente, não realizar boa

reflexão acerca de suas respostas. Para reduzir o efeito desse viés, os

economistas têm buscado apoio no campo da psicologia sobre processo de

informação e tomada de decisão, conhecimento sobre as relações entre atitude,

intenções e comportamento. Motta (1998) coloca que o viés hipotético induz a

um aumento da variância e, conseqüentemente, a uma baixa confiabilidade do

modelo.

Ainda, segundo Motta, as pesquisas elaboradas sobre o viés hipotético

mostram que este tipo de problema é bastante significativo em estudos

baseados na DAA e que pode se tornar insignificante nos estudos baseados na

DAP. Normalmente, o teste é realizado através da comparação entre os lances

hipotéticos e os lances obtidos em simulações de mercado onde se utilizam

transações reais de dinheiro. A divergência entre a verdadeira DAP e DAP

hipotética é muito menor que na referente a DAA. Uma razão para este

fenômeno deve-se ao fato de que os entrevistados estão muito mais

familiarizados na vida real com o ato de fazer pagamentos de que o de receber

103

compensações. Para minimizar o viés hipotético, a credibilidade dos cenários e

proximidade destes com a realidade são fundamentais.

4.3.3.4. Viés operacional

Ocorre pela dimensão em que as condições operacionais apresentadas

no mercado hipotético se aproximam das condições de mercados reais. Muitos

pesquisadores indicam que a pesquisa de valoração contingente deve

apresentar, claramente, as possíveis formas de se operacionalizarem

alterações relativas ao bem com o qual os entrevistados devem ter alguma

familiaridade ou conhecimento. A presença de incertezas a respeito de como o

bem pode ser provida é a principal fonte desse tipo de viés.

4.3.3.5. Viés de protesto

Este tipo de viés tem sido considerado como muito importante pela

literatura recente. O viés expressa uma “forma de comportamento político”, pois

o entrevistado utiliza suas respostas como instrumentos que expresse seu

protesto contra algo relacionado com a pesquisa. Para a identificação desse

viés, os questionários podem incluir uma questão que investigue os motivos

pelos quais os entrevistados deram resposta negativa à valoração contingente.

(Hanemann, 1994 apud Ribeiro, 1998, p. 38)

4.3.3.6. Os vieses potenciais

Os vieses potenciais sobre o método de valoração contingente podem

ser agrupados em três tipos: incentivo a falsificar o valor da DAP, implicação

dos valores sugeridos (indicados) e cenário (contexto) incorretamente

especificado. (Pessôa, 1996, p. 47).

O primeiro tipo de erro potencialmente sistemático é resultado dos

incentivos aos respondentes falsearem o valor da DAP. Estes incentivos são

causados pelas características do cenário do bem que está sendo avaliado ou

104

instrumento, que pode induzir comportamento estratégico, comportamento de

concordância ou comportamento de resposta.

Sendo assim, três vieses potenciais são incluídos:

a) O primeiro deles é chamado de viés estratégico: os respondentes

declaram um montante falso para influenciar o resultado do estudo de

forma que sirva aos seus próprios interesses (caso do carona, free rider,

ou dos respondentes que pertencem a instituições ambientalistas que, na

oportunidade de responder um questionário, superestimam sua avaliação

ambiental – DAP).

Para reduzir os efeitos do viés estratégico, existem três formas:

1. recomenda-se a utilização de um método de licitação com

compatibilidade de incentivos, no caso, o método TIOLI (take-it-or-leave-

it);

2. evitar alguma opinião (sugestão) que leve os respondentes a

compreenderem que uma mudança ambiental que está sendo avaliada

será fornecida impreterivelmente ou que os respondentes apenas

pagarão um montante fixado;

3. análise cuidadosa da distribuição dos valores declarados. Licitantes

estratégicos geralmente fazem lances altos demais ou bastantes baixos,

sem uma razão apropriada. No caso de lances altos, a renda (familiar ou

individual) seria uma restrição ou no caso de lances baixos, os

respondentes consideram a provisão do bem analisado uma questão

sem importância.

b) viés do entrevistador – este viés está relacionado com os

respondentes que declaram um montante falso de forma a agradar o

entrevistador ou o patrocinador da pesquisa. Para reduzir o efeito desse

viés, recomenda-se um treinamento especifico para os entrevistadores e

que a operacionalidade da pesquisa seja feita por uma organização

neutra.

105

c) o terceiro tipo, o viés da conveniência social, tem relação com aqueles

respondentes que atestam um montante falso para representarem a si

mesmo como se fosse um procedimento elegante, por exemplo, quando

se está respondendo alguma questão, é preferível dizer sim a não. Uma

forma de reduzir a influência é perguntar aos respondentes qual o

pensamento da família com relação à disposição a pagar que seria

compatível com a renda.

O segundo grupo de erros diz respeito à implicação dos valores

sugeridos (indicados), que são resultantes dos elementos do cenário (contexto).

Esses elementos que compõe a avaliação são percebidos pelos respondentes,

implicando em informações sobre o valor da mudança ambiental. Se o cenário

contém algum valor monetário indicado (algumas pesquisas informam, ao longo

do questionário, algum montante associado a outro ativo ambiental similar ou

não), os respondentes estarão propensos a usá-lo como referência quando

avaliar sua disposição individual.

Três vieses potenciais são incluídos neste segundo grupo:

a) viés do ponto de partida: está relacionado com a suposição de que o

respondente faz sua avaliação com base no valor DAP inicial, que é o

indicado no início do jogo de oferta (lances), quando se utiliza o método

de licitação interativo entre o entrevistado e o entrevistador;

b) viés de ordenamento: diz respeito ao respondente que baseia sua

DAP analisando a ordem da disposição dos diversos montantes (valores)

apresentados no carnê de pagamento;

c) viés referencial: refere-se aos respondentes que avaliam sua

disposição a pagar tomando como base algum bem público, o qual é

enfatizado por elementos de cenários, como o veículo de pagamento, ou

opção de valores indicados no carnê de pagamento.

106

Os dois primeiros tipos de vieses podem ser evitados fornecendo alguma

sugestão não monetária no cenário (ou contexto) a ser avaliado, utilizando o

método de licitação direta ou formulando questões que tenham como resposta

uma escolha dicotômica. Uma estratégia que pode ser adotada para reduzir o

efeito dos vieses é permitir que o respondente obtenha alguma experiência em

avaliação de bens ambientais antes que ele proceda à avaliação do bem em

questão.

O efeito do terceiro viés pode ser reduzido através de cuidado na

elaboração do desenho da pesquisa, por exemplo, do questionário, do veículo

de pagamento e outros.

O último grupo de viés a ser analisado, de acordo com Pessôa, é

denominado viés de cenário incorretamente especificado. Esse viés é resultante

de elementos de cenários (contexto) os quais são corretos do ponto de vista

teórico ou do conhecimento dos fatos da situação, mas são percebidas as

maneiras como as pessoas percebem a informação. É subdividido em dois

grupos:

a) vieses relacionados à má especificação do bem, sendo os potenciais

vieses:

1) viés simbólico, os respondentes reagem preferencialmente aos bens

com maior significado simbólico do que as descrições apresentadas do

bem;

2) viés parcial, os respondentes reagem preferencialmente a uma maior

compreensão do bem ambiental do que a descrição especificada no

questionário;

3) viés de probabilidade, os respondentes reagem de forma diferente a

uma probabilidade de provisão de uma mudança ambiental do que a

uma probabilidade descrita na pesquisa.

107

b) vieses relacionados a má especificação dos aspectos do contexto no

qual o bem é avaliado. Cinco vieses potenciais são incluídos no segundo

subgrupo:

1) viés de veículo de pagamento: os indivíduos respondem

diferentemente em relação às características do veículo de pagamento

do que a um veículo pretendido, mesmo supondo que a forma de

pagamento fosse neutra;

2) viés do método de provisão: os entrevistados respondem

diferentemente devido às qualidades da organização que está

fornecendo o bem ambiental em questão do que alguma organização

pretendida, mesmo sendo neutra a forma de provisão;

3) viés de restrição de orçamento: os entrevistados respondem a

diferentes restrições orçamentárias do que em relação a renda líquida.

4) viés de licitação: os respondentes não percebem que o processo de

licitação final, conduz ao máximo montante solicitado;

5) viés de contexto: o entrevistado reage com maior relevância às

questões precedentes do cenário, de modo não intencional. Por

exemplo, se uma série de questões é perguntada sobre a necessidade

de melhoria da qualidade ambiental sem colocar algumas das questões

na forma de trade-offs econômico, o potencial de ocorrer viés de

contexto seria induzido, sem intencionalidade, mas enfatizando a idéia

de melhoria ambiental.

O impacto desses vieses pode ser reduzido através: de treinamento aos

respondentes na avaliação de bens ambientais, no cuidado na elaboração do

“design” da pesquisa, uso de grupos de discussão tendo como foco o objeto de

análise e precauções prévias na pesquisa, além da utilização de técnicas que

auxiliem na montagem do mercado hipotético como figuras, fotos, discussões

com o entrevistado sobre o tema.

108

Contudo, viés de especificação incorreta pode ser uma série ameaça

para a validade do método de valoração contingente. Dados que pessoas não

fazem a articulação de valores para avaliação de bens ambientais dentro de um

estudo de valoração contingente, existe um considerável potencial para as

pessoas ignorarem ou interpretarem mal alguns dos detalhes em um cenário.

O método de valoração contingente é classificado como Metodologia de

Provisão Local, metodologia que soluciona um problema peculiar, de certo

campo de interesse. A simples estimação da máxima disposição a pagar (DAP)

ou a mínima disposição a aceitar (DAA), ou a revelação de escolhas

contingentes, como por exemplo, comprar ou não comprar a um preço dado, ou

ainda, votar sim ou não para decidir sobre alguma política pública, fez com que

economistas e cientistas sociais desacreditassem na eficiência da MVC.

Contudo, ao longo dos anos 70 e 80 vários estudos empíricos utilizando MVC

foram sendo publicados, teorias, modelos e técnicas proliferaram, aumentando,

portanto, as contribuições para a aceitabilidade do método. As leis federais e

regulamentações passaram a conceder compensação monetária por danos

ambientais sofridos por indivíduos que reivindicaram a perda de um ativo

ambiental que tinha um valor de uso passivo, utilizando MVC como um método

de avaliação (Ribeiro, 1996, p.52).

A seguir, no próximo capítulo é caracterizada e descrita a suinocultura e

o que esta pode causar aos ativos ambientais.

109

5. A SUINOCULTURA E SEUS EFEITOS SOBRE ATIVOS AMBIENTAIS

5.1. A Suinocultura

A suinocultura é o manejo realizado para criação de suínos em escala

intensiva de produção. A carne suína por ser a carne mais consumida no

mundo, tem um papel fundamental com relação ao crescimento da produção de

alimentos para a população mundial. Sendo assim, ela é uma atividade

importante do ponto de vista econômico e social (gera emprego, renda e

alimento), no entanto, sua exploração é considerada como uma atividade de

grande potencial poluidor.

É realizada, agora, uma discussão sobre dejetos suínos: composição

química e física, manejo e tratamento e seus efeitos sobre os ativos ambientais

(solo, água, ar, fauna e flora).

5.2. Os dejetos suínos

A criação de suínos em escala industrial traz como conseqüências a

intensa produção de dejetos nas propriedades rurais, os quais são altamente

poluentes e causadores de degradação ambiental, como a contaminação dos

corpos receptores e desenvolvimento de odores. Os resíduos orgânicos dos

suínos possuem um potencial poluidor em torno de 50 vezes a mais do que o

esgoto doméstico, pois, enquanto o esgoto doméstico apresenta uma Demanda

Bioquímica de Oxigênio – DBO per capita de 45 g/hab/dia, Perdomo (1999),

aponta uma DBO per capita de 189g/suíno/dia, com peso de 61 kg.

110

De acordo com Diesel et al. (2002) a causa principal da poluição é o

lançamento direto do esterco de suínos sem o devido tratamento nos cursos de

água, que acarreta desequilíbrios ecológicos e poluição em função da redução

do teor de oxigênio dissolvido na água, disseminação de patógenos e

contaminação das águas potáveis com amônia, nitratos e outros elementos

tóxicos.

Os principais constituintes dos dejetos suínos que afetam as águas

superficiais são: matéria orgânica, nutrientes, bactérias fecais e sedimentos.

Nitratos e bactérias são os componentes que afetam a qualidade da água

subterrânea. A produção de suínos acarreta, também, um outro tipo de poluição

que é aquela associada ao problema do odor desagradável dos dejetos. Isto

ocorre devido à evaporação dos compostos voláteis, que causam efeitos

prejudiciais ao bem-estar humano e animal. Os contaminantes do ar mais

comuns nos dejetos são: amônia, metano, ácidos graxos voláteis, etanol,

propanol, dimetil sulfidro e carbono sulfidro. A emissão de gases pode causar

graves prejuízos nas vias respiratórias do homem e animais, bem como, a

formação de chuva ácida através de descargas de amônia na atmosfera, além

de contribuírem para o aquecimento global da terra (Perdomo, 1999).

Segundo Oliveira e Lima (1998) o processo de manejo e tratamento de

dejetos, inicia-se na separação de fases, sendo este um processo que consiste

em separar as partículas maiores contidas nos dejetos da fração líquida,

conduzindo à obtenção de dois produtos: uma fração líquida mais fluida, mas

que conserva a mesma concentração em nutrientes fertilizantes solúveis que os

dejetos brutos; e uma fração sólida, resíduo da decantação ou da peneira, com

unidade alta e mantendo-se agregada, podendo evoluir para um composto,

sendo que o programa de manejo dos dejetos deve atender às exigências e as

características específicas de cada criador. Para Oliveira (1993) devem-se levar

em conta, no planejamento do manejo dos dejetos, cinco etapas: a produção, a

coleta, o tratamento, a armazenagem e a utilização dos dejetos na forma sólida,

pastosa ou líquida. O perfeito conhecimento de cada uma destas etapas é

111

fundamental para o sucesso e a sustentabilidade do sistema de manejo

suinícola.

5.2.1. Volume produzido de dejetos

De forma geral, Oliveira (1993) e Perdomo et al. (2001), estimam que um

suíno (na faixa de 16 a 100 kg de peso vivo) produz de 8,5 a 4,9% de seu peso

corporal em urina + fezes diariamente. O manejo, o tipo de bebedouro e o

sistema de higienização adotados, bem como, o número e categoria de animais

também influenciam o volume de dejetos (tabela 1). Estima-se a produção de

efluentes das unidades de ciclo completo (cria, recria e abate), em condições

normais, em 100/matriz/dia., 60 l/matriz/dia para as unidades de produção de

leitões e 7,5 l/terminado/dia. Portanto, uma granja em ciclo completo com 80

matrizes e dejetos “pouco diluídos”, geram 8 000 l/dia, cerca de 12 000 l/dia

com “diluição média” e 16 000 l/dia no caso de “muito diluído”.

TABELA 1. Produção média diária de esterco (kg), esterco + urina (kg) e

dejetos líquidos (l) por animal por fase.

Categoria de Suínos Esterco Esterco + urina Dejetos líquidos

25-100 kg 2,30 4,90 7,00

Porcas em Gestação 3,60 11,00 16,00

Porcas em Lactação 6,40 18,00 27,00

Machos 3,00 6,00 9,00

Leitão desmamado 0,35 0,95 1,40

Média 2,35 5,80 8,60

Fonte: Oliveira (1993)

112

5.2.2. Composição física e química

Os dejetos suínos são constituídos por fezes, urina, água desperdiçada

pelos bebedouros e de higienização, resíduos de ração, pêlos, poeiras e outros

materiais decorrentes do processo criatório (Konzen,1993 apud Diesel et al.,

2002). O esterco, por sua vez, é constituído pelas fezes dos animais que,

normalmente, se apresentam na forma pastosa ou sólida. O esterco líquido dos

suínos contém matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, sódio,

magnésio, manganês, ferro, zinco, cobre e outros elementos incluídos nas

dietas dos animais (Diesel et al., 2002, p. 7).

As características dos dejetos (Tabela 2) estão associadas ao sistema de

manejo adotado e aos aspectos nutricionais, apresentando grandes variações

na concentração dos seus elementos entre produtores e dentro da própria

granja (Perdomo et al. 2001, p. 10).

113

TABELA 2. Características de dejetos suínos (fezes + urinas), expressos por

10 kg de peso vivo.

Parâmetros Unidade Valor

Volume – urina Kg 39

fezes kg 45

densidade Kg/m³ 990

Sólidos – totais kg 11

voláteis kg 8,5

DBO5 kg 3,1

DQO kg 8,4

Ph - 7,5

Nitrogênio – total kg 0,52

amoniacal kg 0,29

Fósforo total kg 0,18

Potássio total kg 0,29

Minerais – Cálcio kg 0,33

Magnésio kg 0,070

Enxofre kg 0,076

Sódio kg 0,067

Cloro kg 0,26

Ferro Mg 16

Manganês Mg 1,9

Zinco Mg 5,0

Cobre Mg 1,2

Coliforme – total Colônia 45x1010

fecal Colônia 18x1010

Fonte: ASSAE (1993) apud Perdomo et al. (2001)

114

A degradação de fibras vegetais e de proteínas provoca a formação de

compostos voláteis. Os ácidoaminados submetidos aos processos de

desaminação, transaminação, descarbolixação oxidativa dão origem ao CO2,

NH3 e ácidos graxos voláteis (AGV). Segundo Pain e Bonazzi (1991) apud

Perdomo et al. (2001), a concentração de AGV varia de 4 a 27 g/l de dejetos.

Sob condições aeróbias o CO2 é o principal gás produzido, mas em processos

anaeróbios predomina o CH4 (60 a 70%) e o CO2 (30%). Dentre os mais de 40

compostos gasosos identificados como resultante da degradação de dejetos

animais, cabe destaque ainda para a família dos mercaptanos, sulfides, esteres,

carbonilas e aminas. A produção de CH4 é pequena na produção de suínos,

representando menos de 1% da energia consumida e, comparada à produção

de ruminantes resulta insignificante, sendo levemente superior a 1 kg de CH4

por cabeça/ano (Tamminga e Verstegen, 1992 apud Perdomo e Lima 1998)

Agora, são analisadas as conseqüências dos dejetos sobre ativos

ambientais.

5.3. Efeitos da suinocultura sobre os ativos ambientais

A suinocultura é atividade de grande potencial poluidor, ora já

argumentado, face ao elevado número de contaminantes gerados pelos seus

efluentes, cuja ação individual ou combinada, pode representar importante fonte

de degradação do ar, dos recursos hídricos, do solo e, por conseguinte dos

animais. De acordo com Perdomo et al. (2001), a degradação biológica dos

dejetos produz gases tóxicos, cuja exposição constante a níveis elevados, pode

reduzir o desempenho zootécnico dos suínos e incapacitar precocemente os

tratamentos para o trabalho, mas o lançamento dos dejetos na natureza pode

causar desequilíbrios ambientais, a exemplo da proliferação de moscas e

borrachudos, além do aumento das doenças vinculadas à água e ao solo.

Esses problemas ocorrem devido à falta de informações precisas sobre a

concentração química dos dejetos, da aptidão dos diferentes tipos de solos e

culturas para o recebimento de fertilizantes existentes nos dejetos suínos e da

115

compreensão dos efeitos da aplicação dos resíduos sobre o meio ambiente, a

curto e longo prazo. Eles têm provocado muitos danos econômicos e

ambientais.

Oliveira e Lima (1998) argumentam que a prática de lançar os dejetos de

suínos de forma indiscriminada na natureza, com riscos de contaminação do

solo, dos mananciais naturais de água, do ar e da saúde das comunidades

rurais e urbanas, constitui-se numa agressão condenável.

Buscando a caracterização da produção de dejetos suínos, através dos

sistemas de manejo dos animais, os sistemas confinados constituem a base da

expansão suícola, correspondem a 61%, em 2000, do total de sistemas

adotados de produção de suínos no Brasil, de acordo com Perdomo et al.

(2001), e induzem a adoção do manejo de dejetos na forma líquida. O elevado

nível de diluição constitui um agravante para os problemas de captação,

armazenamento, tratamento, transporte e distribuição dos dejetos.

Todos os sistemas, confinado, semiconfinado, extensivo ou ar livre,

resultam poluidores potenciais, mas com níveis de impacto ambiental

diferenciados, por exemplo: o sistema confinado, de uma forma geral, coleta e

armazena os dejetos suínos para posterior tratamento e utilização. A

intensificação no sistema acarreta aumento da pressão sobre os recursos

naturais, uma vez que gera e distribui os efluentes no próprio local. O impacto é

especialmente na integridade do solo (dificuldade para manter a cobertura

natural, compactação, erosão) e na contaminação das águas superficiais e

subterrâneas (Perdomo et al., 2001, p. 9).

5.3.1. No solo

Na exploração da suinocultura, é importante estar atento ao processo de

contaminação do solo, em função da quantidade de esterco líquido que

porventura venha a ser depositado, assim como da capacidade de filtração do

solo e retenção dos nutrientes do esterco. O impacto ambiental sobre o solo

ocorre devido aos componentes poluentes dos dejetos suínos -

116

macronutrientes: o nitrogênio, o fósforo, o potássio alguns microminerais como

o zinco e o cobre.

O problema do nitrogênio no solo é provocado pela sua transformação

em nitrato, que sofre lixiviação e atinge os lençóis freáticos. O fósforo em

excesso fica acumulado no solo e só é dissolvido na água dos rios quando a

capacidade de retenção dele pelo solo fica prejudicada.

Seganfredo (2000), ao estudar o efeito acumulativo da aplicação de

dejetos suínos no solo (três anos), concluiu que doses para suprir até 150 kg/ha

de N na cultura do milho, aumentaram os teores de N total, N-NH4 e N-NO3 na

camada de 0 a 20 cm do solo e de N-NO3 na de 40 a 60 cm. A concentração de

N-NO3 na profundidade de 40 a 60cm foi 172% superior a testemunha

(adubação mineral) e os teores de NO3 excederam de 50 a 121% o limite

estabelecido pela legislação ambiental (10 mg/l). Um outro estudo do autor com

dosagens de 100 a 150 kg/ha de N revelou que a aplicação de dejetos de

suínos diminui a microporosidade e a densidade do solo, mas, aumentou a

macroporosidade e a porosidade total do solo.

Além dos macronutrientes essenciais, os dejetos de suínos, devido à

suplementação mineral oferecida aos animais, contêm micronutrientes como o

Zn, Mn, Cu e Fe que, em doses elevadas, também, podem ser tóxicos às

plantas (Perdomo et al., 2001, p. 15).

A disposição direta e indiscriminada do dejeto no solo pode causar

contaminação de águas superficiais e subterrâneas por nitrato, elevação da

concentração de metais pesados no solo e nas plantas, salinização,

depreciação das características físicas e químicas do solo, além do aumento da

concentração de agentes patogênicos no meio ambiente (Couto e Maia, 1999,

p.9)

5.3.2. Na água

O problema da adição de dejetos aos recursos hídricos resulta do rápido

aumento populacional das bactérias e na extração do oxigênio dissolvido na

117

água para o seu crescimento. As bactérias são as principais responsáveis pela

decomposição da matéria orgânica. Se o corpo de água contém oxigênio

dissolvido (OD), os organismos envolvidos na decomposição da matéria

orgânica são as bactérias aeróbias ou facultativas, sendo o CO2 e a H20 os

subprodutos finais da digestão aeróbia (Perdomo et al., 2001, p. 13). Os

macronutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P) encontrados nos dejetos

provocam, também, contaminação dos recursos hídricos.

Quando se adiciona uma grande quantidade de dejetos num corpo

d’água, teoricamente, a população de bactérias pode dobrar a cada divisão

simultânea, ou seja, uma bactéria com tempo de multiplicação de 30 minutos

pode gerar uma população de 16 777 216 novas bactérias em apenas 12 horas

de vida (Krueger et al.,1995 apud Perdomo et al., 2001).

Os nutrientes, o nitrogênio (N) e o fósforo (P) são considerados como os

principais problemas de poluição dos recursos hídricos. Dietas ricas em

proteína, e conseqüentemente nitrogênio, exigem maior consumo de água, uma

vez que o metabolismo das proteínas gera menor produção de água

metabólica, quando comparada ao de carboidratos e lipídeos. A excreta na

urina é tanto maior quanto mais elevado for o nível de N da dieta (Perdomo, et

al., 2001, p.13).

O N é o nutriente que exige maiores cuidados, pois além de limitar o

desenvolvimento da maioria das culturas, é o mais sujeito às transformações

biológicas e perdas, seja na armazenagem ou no solo. A Tabela 3 apresenta as

perdas de N em função do sistema de estocagem e utilização.

118

TABELA 3. Perdas de Nitrogênio (%) em função do sistema de estocangem,

tratamento e utilização.

Sistema Perda de N

Lagoa anaeróbia 70 a 85

Esterqueira 20 a 40

Aspersão 15 a 40

Distribuição

Líquida 10 a 25

Sólida 15 a 30

Injeção ou incorporação imediata 1 a 5

Fonte: USDA (1994) apud Perdomo et al. 2001

Em estudos empreendidos por Perdomo (1998, 2001) os teores de

nitratos detectados no lençol freático de solos tratados com altas quantidades

de dejetos líquidos (160 m³/ha) são 10 vezes maiores que os de solos não

tratados. Com isso, o impacto da suinocultura se dá nos recursos hídricos

superficiais e subterrâneos, o efeito sobre a água é provocado inicialmente pelo

nitrogênio, que se transforma em nitrato (NO3-) e nitrito (NO2

-). Segundo Alves

(2001), no caso do nitrato (NO3-), sendo um ânion normalmente repelido pela

superfície negativa das partículas do solo, será facilmente lixiviado, por

movimentar-se no solo, praticamente acompanhado as águas de percolação. O

nitrogênio pode também poluir o ambiente na forma de amônio, que pode

causar a chamada chuva ácida.

O Excesso de fósforo, assim como o nitrogênio favorece o

desenvolvimento desordenado de algas. A decomposição destas algas

consome o oxigênio dissolvido na água. A este crescimento das algas e o

consumo de oxigênio dissolvido é dado o nome de eutrofixação. Ela

compromete o crescimento de espécies aquáticas, como peixes, crustáceos,

etc.

119

Os microminerais que chegam aos rios em níveis relativamente baixos

de cobre podem causar a morte de peixes, algas e fungos. O zinco também

pode comprometer o desenvolvimento de peixes e algas. Ocorrem, ainda,

alterações nas características naturais da água como cor, odor, viscosidade etc.

(Palhares, 2002, p. 49).

A disposição dos dejetos, camas, iodos de tratamento e produtos da

compostagem de forma inadequada no solo também poderá causar poluição

das águas superficiais e subterrâneas, os impactos estão correlacionados

(Palhares, 2002, p. 50)

5.3.3. No ar

O impacto da suinocultura na qualidade do ar é devido à emissão de

gases tóxicos e poluentes e os odores desagradáveis ao conforto humano,

como exemplo, uma simples aplicação superficial do dejeto suíno no solo é um

potencial fonte de impacto no ar.

A emissão de gases ocorre dentro das instalações dos animais, a partir

de sistemas de tratamento mal manejados e devido à aplicação de resíduos no

solo de forma errônea. Os gases emitidos no interior das instalações são

prejudiciais à saúde dos animais e produtores, sendo que em altas

concentrações podem até causar morte. A amônia é a principal substância

presente nas instalações. As lagoas de tratamento, principalmente, as

anaeróbias também emitem gases de impacto na atmosfera como o metano,

gás carbônico e gás sulfídrico. A maior emissão deste está relacionada ao

manejo destas lagoas e ao seu correto dimensionamento (Dartora et al., 2002).

A concentração de bactérias (estafilococos, estreptococos e outras) no ar

das edificações nas granjas, varia de 17.650 durante o verão e 353.000 no

inverno por m3 de volume de ar, mas em edifícios que possuem uma das

laterais abertas, as concentrações reduzem-se a 3.530 e 175.500 por m3 de

volume de ar durante o verão e inverno, respectivamente. Estas concentrações

internas de bactérias podem ser consideradas elevadas quando comparadas à

120

externa que é da ordem de 353 por m3 de volume do ar. Um bom sistema de

ventilação possibilita manter a concentração de partículas suspensas no ar em

níveis adequados (Perdomo et al., 2001, p. 12).

Os gases de maiores interesses para a suinocultura são: a amônia,

dióxido de carbono e hidrogênio sulfídrico. Duas de suas dimensões

apresentam grande significância, qual seja: o nível da concentração incidente e

o tempo de permanência.

O amônio (NH3) é facilmente detectado através do odor na concentração

de 5 ppm ou mais. A partir de 50 ppm passa a afetar o crescimento e a saúde

dos animais. Sendo mais leve que o ar, tende a concentrar-se junto ao forro.

Sua concentração depende muito mais da higiene do que da ventilação e não é

um bom indicador da qualidade da ventilação. Drumond et al. (1980) apud

Perdomo et al. (2001) encontraram reduções de 12,0; 30,0 e 29,9% do ganho

de peso de suínos (8,5 kg de peso vivo) quando expostos à concentrações de

50; 100 e 150 ppm de NH3 durante quatro semanas. Para o maior conforto e

segurança dos criadores e animais, recomenda-se que os níveis de NH3 não

ultrapassem os 10 ppm.

Já o dióxido de carbono (CO2) é mais pesado do que o ar, inodoro e

asfixiante. A concentração máxima admissível na edificação das granjas é de

3.500 ppm sendo que valores superiores a 20.000 ppm provocam aumento dos

batimentos cardíacos, sonolência e dor de cabeça. Permanece na camada mais

baixa das edificações e das estruturas de armazenagem, deslocando

gradualmente os gases mais leves. Perdomo (1999) encontrou em estudo

realizado em Concórdia (SC) concentrações de 0,030% em edifícios

climatizados naturalmente e de 0,038% em climatizados artificialmente, muito

abaixo daqueles referidos como tóxicos. Um suíno de 50 kg pode produzir cerca

de 450 kg/ano de CO2, o qual contribui para o efeito estufa, também (Tamminga

e Verstegen, 1992 apud Perdomo et al., 2001).

O hidrogênio sulfídrico (H2S) é detectado na concentração de 0,01 ppm

ou mais, e entre 50–200 ppm pode acarretar sintomas, tais como: perda de

121

apetite, fotofobia, vômitos e diarréias nos animais. Recomenda-se que os níveis

de H2S nas edificações não ultrapassem os 20 ppm (Tamminga e Verstegen,

1992 apud Perdomo et al., 2001).

No manejo de dejetos suínos usando biodigestores, que têm como um

dos produtos do processo o biogás, também poderão ser fonte de poluição

atmosférica, se este for liberado.

5.3.4. Na fauna e flora

A suinocultura pode impactar a biodiversidade da fauna e flora devido

aos danos provocados na qualidade do solo, água e ar. Dependendo do grau

de poluição dos corpos de água com dejetos suínos, poucas, ou nenhuma

espécie de peixe pode sobreviver; assim, onde antes havia uma diversidade de

animais aquáticos, torna-se um ambiente estéril. O excesso de dejetos no solo

provoca mudanças nas características microbiológicas, incentivando uma

seleção de organismos adaptados a estas condições adversas em detrimento

de outras espécies.

Um exemplo típico de impacto na fauna é o caso da elevação da

população de borrachudos em regiões de concentração suína onde os dejetos

são despejados nos rios, pois os microrganismos presentes nos dejetos são

alimentos para as larvas dos borrachudos. O mau cheiro afugenta a fauna do

local onde se localiza o empreendimento, todavia, atraí outras muitas vezes

indesejáveis (Perdomo et al., 2001).

Outro exemplo ocorre na poluição do ar que provoca incidência de

doenças relacionadas à perda da qualidade do ar nas granjas. Cerca de 50%

dos suínos criados em sistemas confinados, apresentam problemas de saúde e

muitos criadores tornam-se precocemente incapacitados para o trabalho, face

aos danos causados em seu sistema respiratório pela exposição constante a

ambientes com elevadas concentrações de poeiras e gases (Perdomo, et al.,

2001, p.12).

122

Isso exposto, no próximo capítulo faz-se a abordagem sobre a

consciência ambiental.

123

6. A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL NUMA PERSPECTIVA

FENOMENOLÓGICA

Este capítulo busca a compreensão da consciência a partir da

fenomenológica, com o objetivo de verificar o significado atribuído pelos

indivíduos entrevistados por esta pesquisa com relação à questão ambiental. A

prática de valorar revela-se da consciência que o homem tem a respeito da sua

realidade sobre os ativos ambientais no mundo, quantitativamente; todavia a

valoração econômica não se dispõe a trabalhar a compreensão da

subjetividade do valor num mercado contingente, e a abordagem sobre o valor

de existência dos ativos ambientais aferido neste trabalho requer o olhar

subjetivo, fazendo-se necessário buscar na perspectiva fenomenológica.

Sendo assim, é desenvolvida primeiramente neste capítulo uma

abordagem etimológica da fenomenologia, em seguida, são apresentadas duas

direções fundamentais da fenomenologia: o essencialismo e o existencialismo;

e, então, apresentada de maneira sucinta a fenomenologia essencialista,

buscando a compreensão da consciência, no pensamento de Edmund Husserl,

que é considerado por muitos estudiosos o pai da fenomenologia

transcendental; posteriormente é trabalhada a fenomenologia numa perspectiva

existencial, sendo mostradas as considerações da consciência para Martin

Heidegger, Jean-Paul Sartre e para Maurice Merleau-Ponty. Por fim é

desenvolvida uma correlação do pensamento sobre consciência de Merleau-

124

Ponty com o entendimento da teoria neoclássica sobre o valor e o bem-estar,

sendo estas concepções neoclássicas a base teórica na valoração econômica.

É necessário deixar claro que nas idéias dos economistas neoclássicos

(como: Walras, Jevons e Menger) percebem-se concepções fenomenológicas,

sendo por este motivo que se utiliza a filosofia da fenomenologia para se

compreender a consciência. E a escolha do fenomenólogo existencialista

Merlau-Ponty para abordar a questão da consciência ambiental neste trabalho,

se deve ao fato de que suas concepções sobre a percepção do fenômeno

(impacto ambiental) se fazem através de uma consciência entendida na origem

de toda a experiência histórica, fundada no tempo, no espaço, na liberdade do

homem, sendo estes aspectos observáveis e presentes no método de

valoração de contingente, no que tange à subjetividade (utilidade, satisfação do

agente econômico de maneira singular), utilizado para mensurar o valor de

existência dos ativos ambientais em Diamantino/MT.

6.1. A fenomenologia

Etimologicamente, a fenomenologia é o estudo ou a ciência do

fenômeno. Fenômeno é tudo o que se mostra ou aparece, o que se torna

visível. Em sentido amplo Fragata (1959) define fenômeno como “tudo aquilo de

que podemos ter consciência, de qualquer modo que seja” (p. 82). São

considerados fenômenos não só os objetos da consciência, mas os atos da

consciência sejam eles: intelectivos, volitivos ou afetivos. Numa visão

transcendental o fenômeno se mostra ou aparece para uma consciência; numa

abordagem existencial o fenômeno mostra-se na consciência engajada, inserida

numa cultura, numa sociedade, num momento concreto.

A fenomenologia procura deter-se na análise do puramente vivido ou

experimentado. Isso supõe que todo fenômeno tem uma essência e não se

pode reduzi-lo a uma única dimensão de fato. A fenomenologia, assim, é o

estudo do que surge à consciência como fenômeno, no sentido de explorar e

descrever a essência desse fenômeno. Ele é apresentado e revelado à

125

consciência, e no qual se pensa e do qual se fala, evitando suposições, tanto

sobre a relação que o liga ao ser do qual ele é fenômeno, como sobre a relação

que o liga à consciência para quem ele é fenômeno (DARTIGUES, 1992, p. 17).

Na História da Filosofia, a fenomenologia possui três significados

especiais. Primeiramente, em meados do século XVIII, era sinônima de “teoria

das aparências”, expressão cunhada pelo filósofo Jean-Henri Lambert para

distinguir a aparência das coisas do que elas são em si mesmas. Com Hegel,

tem-se o segundo significado, em “Fenomenologia do Espírito” (1807), é uma

espécie de lógica do conteúdo e uma introdução à filosofia, história das fases

sucessivas, das aproximações e das oposições pelas quais o espírito se eleva

da sensação individual à razão universal, ou, para usar sua formulação: “é a

ciência da experiência que faz a consciência”. Por fim, foi com Husserl que a

palavra ganhou, nas primeiras décadas do século XX, o significado de que hoje

se reveste de estudo dos fenômenos em si mesmos, que visa à evidência

primordial, e de denominação de um movimento que influenciou de modo

significativo no pensamento filosófico dessa época (Martinelli, 1987).

Herbert Spiegelberg apud Martinelli (1987), em sua obra, de 1960, “The

Phenomenological Mouvement: a historical introduction”, considera que a

Fenomenologia, na história de seu movimento, contém pelo menos três grandes

linhas ou tendências: a transcendental, a existencial e a genética. A

fenomenologia husserliana fica conhecida como transcendental caracterizada

por se preocupar com a essência do vivido, que é uma meditação sobre o

conhecimento. Considera que aquilo que é dado à consciência é o fenômeno

(objeto do conhecimento imediato). Esse fenômeno só aparece numa

consciência; portanto, é a essa consciência que é preciso interrogar, deixando

de lado tudo o que lhe é exterior. Tem-se a Fenomenologia Existencial que se

faz da influência de Husserl de maneira profunda sobre Martin Heidegger, a

fenomenologia existencial busca compreender o homem em sua estrutura

universal, e, concomitantemente, na sua experiência concreta do vivido, tendo

como expoentes além de Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-

126

Ponty. Por fim, tem-se a fenomenologia genética que procura as razões

passivas e ativas no homem, para explicar a origem de seus conhecimentos e

os processos pelos quais toma consciência dos fatos. Nesta concepção tem-se

Karl Jaspers, médico alemão que procurou aplicar os princípios da

fenomenologia à Psiquiatria.

Tem-se, no próximo item, a apresentação de apenas duas correntes de

pensamento da fenomenologia: essencialista e existencialista, buscando

somente compreender a categoria consciência para alguns filósofos

fenomenólogos.

6.2. As diferentes compreensões de consciência na perspectiva de alguns

pensadores fenomenólogos.

6.2.1. A consciência na fenomenologia essencialista-transcendental

A fenomenologia foi assim apresentada nas filosofias de Hegel e Husserl:

estudo dos fenômenos considerados em si, livres dos condicionamentos

exteriores a eles, com o objetivo de apreender sua essência, havendo uma

essência para cada fenômeno, ou cada fenômeno é caracterizado pela sua

essência. Sendo o conhecimento da realidade essencial dos fenômenos e a

possibilidade desse conhecimento foi preocupação constante da filosofia até

princípios do século XX (Oliveira, 1985, p. 131).

Objetivando a compreensão sobre a consciência, na fenomenologia de

Edmund Husserl (1859-1938), a noção de intencionalidade propõe uma análise

acurada da estrutura da consciência e da descrição dos objetos como se lhes

apresentam. A intencionalidade da consciência torna-se postulado fundamental

da fenomenologia husserliana. Seu ponto de partida são as experiências do ser

humano consciente que vive e age em um mundo, que ele percebe e interpreta

e que faz sentido para ele. Portanto, os atos perceptivos do sujeito consciente

de alguma coisa têm caráter direcional, que implicam movimentos ativos da

127

consciência para além de si mesmo e na direção do objeto intencionado

(Pavão, 1988, p. 18).

Dessa forma, a consciência está sempre dirigida para um objeto que

pode ser real, imaginário, material ou ideal, e que, por sua vez, só tem sentido

para uma consciência; esta correlação mostra a intencionalidade da

consciência, que busca o objeto e o objeto em função da consciência. Sendo

assim, a significação da consciência se faz na essência do objeto, que não será

nunca objeto em si, mas sempre objeto percebido, pensado, imaginado etc.

Para Fragata (1959), França (1966) e Costa (1980), a fenomenológica de

Husserl interpreta os fenômenos vividos e experimentados da consciência.

Descreve, assim, os fenômenos como eles mesmos são. Não busca o

fenômeno em si, mas a consciência indo ao fenômeno, vivendo-o,

experimentando-o, descrevendo-o. Com isso, a consciência, para Husserl, só

pode ser entendida como intencional, isto é, não está fechada em si mesma,

mas define-se como uma certa maneira de perceber o mundo e seus objetos.

Mostrar os diversos aspectos pelos quais a consciência percebe esses objetos

e sob os quais eles lhe aparecem, o que a sua presença supõe, constitui o

estudo e o objetivo essencial da fenomenologia.“A fenomenologia trata o

conhecimento humano, o sujeito-como-cogito, como intencionalidade: a

propriedade fundamental dos modos de consciência em que vivo como eu”

(Husserl, 1973, p. 98 apud Costa, 1980, p. 12).

A idéia da intencionalidade de Husserl, segundo Costa:

faz-se na relação da consciência de algo, do caráter da consciência pelo qual a cada ato da consciência corresponde um conteúdo de consciência, ou seja, toda consciência é consciência de si e nunca uma relação entre duas entidades de relacionamento existente, por outras palavras, o ato de consciência e o objeto (fenômeno) da consciência.[...] Husserl define consciência fazendo a intenção voltar-se para o objeto (fenômeno). Não existe fenômeno que não tenda para a consciência e não há consciência que não vise o mundo dos objetos (Costa, 1980, p. 13).

Assim, o campo de análise fenomenológica, em que a consciência é

sempre consciência de alguma coisa, e o objeto é sempre objeto para a

128

consciência, supõe que “para a modalidade de consciência intencional temos

uma correspondência, ou seja, o modo como o objeto se apresenta à

consciência” (Capalbo, 1984, p. 15). A esta análise dos atos da consciência

intencional, na concepção de Husserl, supõe uma estrutura noética-noemática,

dentro da qual o ser aparece na sua essencialidade. A intencionalidade,

segundo Pavão (1988), considera como ato de conhecer, a noesis, nome

aplicado para designar atividade de consciência a partir da vivência orientada

subjetivamente, que inclui dados matérias enquanto informados. Todo conteúdo

visado, relativo ao ato do conhecimento, Husserl chama de noema, que se pode

definir como vivência orientada objetivamente, então, a consciência se faz a

partir de uma subjetividade para uma objetividade sobre o fenômeno.

Segundo Martinelli (1987):

O conhecimento para Husserl é o relato objetivo do sujeito, atribuindo à subjetividade a condição de ser a única fonte transcendental de todo conhecimento, absoluto e objetivamente valido, pois é na subjetividade da consciência, e tão somente lá que encontramos a objetividade absoluta. (MartinelliI, 1987, p. 4).

Para Husserl, o fenômeno é tudo aquilo que se oferece ao olhar, à

observação pura, descrito dos fatos vivenciados do pensamento e do

conhecimento originário dessa observação.

Neste ponto a reflexão fenomenológica exige um esforço constante para

compreender o real, o significado essencial da estrutura do vivido que se fez

fenômeno, cuja compreensão nunca é fechada, é sempre vir-a-ser.

Buscando a compreensão da objetividade e subjetividade, nas

concepções de Husserl, a objetividade é uma construção subjetiva ou

intersubjetiva, e a subjetividade fenomenologicamente supõe uma

intencionalidade, ou seja, atribuição de um significado dirigido à consciência de

alguma coisa. Pela intencionalidade, o mundo se apresenta à consciência que

por sua vez lhe dá sentido, através da experiência vivida (Pavão, 1988).

Por conseguinte, para Husserl, toda a consciência “esta no mundo”, para

conhecê-lo, compreendê-lo e transformá-lo e só quando assim age cumpre o

homem sua vocação de ser dono e sujeito de sua situação. O “estar no mundo”

129

e “com o mundo”, permanece todo o alcance da consciência. E é nesta

significação que centraliza a conscientização como um processo de homem-

mundo.

A perspectiva da fenomenologia essencialista/transcedental, proposta

por Husserl, não obteve muitos seguidores, porém, muitos estudiosos de

diferentes áreas do conhecimento (sociólogos, filósofos etc.) partiram da teoria

de Husserl sobre a fenomenologia transcendental para a genética e existencial,

como já foi supra mencionado.

Sendo a fenomenologia existencial, na sua concepção sobre

consciência, que faz suporte à compreensão do valor de existência mensurado

a partir da subjetividade do agente econômico numa fundamentação

neoclássica sobre o valor dos ativos ambientais, a seguir revisão.

6.2.2. A consciência na fenomenologia existencial

Existencialismo, na filosofia, embora represente uma corrente específica

do pensamento moderno, não deixa de ser uma tendência que se faz sentir ao

longo de toda a história da filosofia. Assim sucede, por exemplo, com o

imperativo socrático “conhece-te a ti mesmo”; com a angustiada exclamação de

Pascal, situando o homem entre o ser e o nada. Denomina-se existencialismo

uma série de doutrinas filosóficas que, mesmo diferindo radicalmente em muitos

pontos, coincidem na idéia de que é a existência do ser humano, como ser livre,

que define sua essência, e não a essência ou natureza humana que determina

sua existência. (Martins, 1983).

Representantes deste pensamento, como Hegel, abraça o conceito da

necessidade incoercível, afirmando que a liberdade é a consciência da

necessidade, a consciência eleva-se da imediatidade da relação com o objeto,

que é o puro visar algo como isto aqui e agora na sensação até o nível do

conhecimento entrelaçando sensações e percepções, a consciência constrói

objetos estáveis e codifica pontos de referência fora de si; e o dinamarquês

130

Soren Kierkgaard, considerado o pai do existencialismo, interpreta a existência

em termos de possibilidade. A existência humana é, para todas as formas de

existencialismo, a projeção do futuro sobre a base das possibilidades que o

constituem (Silva, 1985, p. 109 - 110).

A fenomenologia existencial se interessa pela explicitação, descrição,

compreensão, interpretação e ação sobre o fenômeno em sua natureza material

e não em sua natureza meramente formal, a partir desta compreensão busca-

se a entendimento nesta teoria sobre consciência.

De maneira abrangente, na fenomenologia existencial a consciência é

sempre consciência de alguma coisa, o dado básico do “eu” é a

intencionalidade da consciência. A consciência é do mundo, mas não se acha

no mundo como as coisas. Se a consciência é consciência de algo, ela própria

não pode ser esse algo. É inerente à consciência a negação da identidade entre

consciência e algo. A consciência se aproxima do ser, pois é consciência dele,

mas se reconhece ao mesmo tempo distanciada do ser (Pavão, 1988).

Em suma, a fenomenologia é uma análise da noção mais profunda, e

última, do fenômeno. Assim, o existencialismo é a descrição mais profunda e

definitiva dos nossos dados relativos à existência.

A fenomenologia existencial possui inúmeros seguidores, porém neste

trabalho faz-se uma descrição sucinta das idéias dos fenomenologos

existencialistas Heidegger e Sartre, por fim Merleau-Ponty, de maneira mais

elaborada, buscando a compreensão da consciência. Explica-se que, este

último autor é o escolhido para se fazer a compreensão sobre consciência

ambiental, uma vez que nas suas concepções, consegue-se a interpretação do

valor de existência de maneira qualitativa, uma vez que a compreensão e

interpretação dos fenômenos para o filósofo se faz a partir da percepção total

do indivíduo envolvendo aspectos como: ver e observar situado no tempo, no

espaço e no corpo (gesto, expressões, linguagem etc.).

Primeiramente, apresentam-se as discussões sobre a consciência para

Martin Heidegger (1889-1976), filósofo alemão que conduziu a fenomenologia

131

para o existencialismo, foi um dos fundadores do existencialismo alemão,

reestruturou radicalmente os postulados metafísicos tradicionais, a partir de

uma conceituação do ser compreendido necessariamente em sua relação com

o tempo e suas circunstâncias reais.

Em 1927 publicou “Ser e Tempo”, sua obra principal, que constituiu um

delineamento filosófico inesperado por parte de quem parecia seguidor da

fenomenologia de Edmund Husserl, pois Heidegger era seu discípulo. Este

pensador em seus escritos assinala que o ser é existência. Considera que

“estar-no-mundo”, é uma temporalidade. Essa abordagem representa uma

mudança total em relação à idéia metafísica clássica de "essência" (Husserl). O

homem, segundo Heidegger, é “existência lançada ao mundo, obrigado a

construir sua própria essência”. Este homem, para Heidegger, é definido como

pré-compreensão do sentido (sentido é qualquer coisa que excede o próprio

homem), o que constitui a sua essência é a exigência do sentido, a esperança,

o desejo de ser na falta do próprio ser. Então, buscando compreender a

estrutura dos atos vividos, Heidegger, define a consciência como os objetos

vividos nos atos de consciência, do ponto de vista de sua objetividade

determinada pela própria consciência (objetividade transcendental, determinada

pelo sujeito do conhecimento, ou, pela fenomenologia, pela consciência). Mas

Heidegger avança em seus fundamentos sobre a consciência defendidos por

Husserl, e passa da consciência transcendental para o “Dasein” (o ser se dá,

em seu retraimento e em seu não retraimento, para a, na, presença do ser do

homem) um ser que inclui o individuo e as coisas e possibilita o próprio

conhecimento (Fleig, 2003).

É necessário argumentar, diante do que foi exposto, a expressiva

contribuição deste filósofo a partir da proposta husserliana, avança em suas

reflexões para uma fenomenologia vinculada à ontologia da existência, para ele

o problema fundamental da filosofia é o ontológico, isto é, o problema do “ser”

e, assim, o problema do homem ficar subordinado a esse problema.

132

Agora, buscando a compreensão de consciência para Jean-Paul Sartre

(1905-1980), este filósofo francês, é conhecido como um dos principais

representantes da doutrina existencialista. Em 1933, Sartre teve contato com a

fenomenologia de Edmund Husserl, as teorias existencialistas de Kierkgaard,

bem como o pensamento de Heidegger. Igual a todos os outros fenomenólogos,

Sartre tem como ponto de partida o caráter intencional da consciência. Todo

modo de consciência, para o filósofo, representa algo, revela algo, apresenta

algo, está voltado e direcionado para algo fora dela mesma, daí dizer que a

consciência é intencional. Ela não existe sem estar voltada, sem estar

representada, criando a presença de um objeto. Os objetos da consciência são

reais, ainda que alguns sejam ideais, eles existem como fenômenos, como

imagens, são porque existem, que Sartre os considera “seres em si”,

completos, acabados, de fato existentes. Porém, há também um conhecimento

ou consciência de que se é consciente, isto é, uma consciência da consciência.

Então, diz Sartre: “a consciência é um ser para si”. Sem seu objeto, a

consciência é um nada, um não-ser, pois somente existe na relação de si

mesma com o “ser em si”. Ela procura o “ser em si” para fundar a si mesma, o

que significa que ela destrói o “ser em si”, transformando-o no seu próprio nada.

“O Ser e o Nada”, título de seu livro publicado em 1943, refere-se a esses dois

tipos de ser: o “ser em si” (fenômeno) e o “ser para si” (consciência) (Cobra,

2001).

Esta concepção do nada como algo que existe que é a consciência

segundo Sartre. É preciso notar a constante separação daquilo que o homem,

que Sartre chama o “nada”, que obriga a realidade humana a se fazer ao invés

de ser. A realidade humana é nada precisamente no que ela não é, mas está a

se fazer incessantemente: o “nada”, em Sartre, não é uma constatação niilista

(redução a nada). Portanto, percebe-se que a contribuição deste filósofo para a

fenomenologia existencialista e para a compreensão da consciência ocorre

quando o autor expressa que o homem tem a capacidade de conceber do

“nada” a constituição de liberdade de imaginar outras possibilidades, ou melhor,

133

o poder de negar é a possibilidade de escolher, é o princípio da liberdade do

pensamento (de imaginar possibilidades) e da liberdade de ação (o tentar

realizá-las).

Objetivando a interpretação fenomenológica sobre a consciência, faz-se,

agora, a busca da compreensão das idéias de Maurice Merleau-Ponty (1908-

1961), filósofo francês, principal representante da fenomenologia, que baseou

sua epistemologia na relação entre a consciência e o mundo, tomando a

percepção como base do conhecimento.

Em 1942, Merleau-Ponty publicou “A Estrutura do Comportamento” e,

três anos depois, “Fenomenologia da Percepção”; desenvolvendo nessas obras

a tese segundo a qual o organismo humano deve ser considerado como um

todo, para se descobrir o que decorre com cada conjunto de estímulos (no

tempo e espaço). Seu método, para isso, é essencialmente fenomenológico e

pressupõe que a percepção é a fonte maior de todo o conhecimento.

Para Maurice Merleau-Ponty a fenomenologia é o estudo das essências,

e todos os problemas, segundo ele, tornam a definir essências, a essência da

percepção, a essência da consciência; mas a fenomenologia é também uma

filosofia que substitui as essências na existência e não pensa que se possa

compreender o homem e o mundo de outra forma senão e a partir de sua

facticidade. A consciência humana em sua existência concreta é finita e

temporal, inserida numa cultura, numa sociedade, num dado momento histórico,

é a consciência engajada (Capalbo, 1984, p. 26).

Para Merleau-Ponty, a consciência: “[...] não é apenas inserida no

mundo, pois o seu ser-no-mundo é o poder de ter consciência desta inserção e

de tomar posição fase a esta inserção – é isto que define a noção de

engajamento” (Merleau-Ponty, 1971, p. 65). Essa inserção no mundo, para o

filosofo não é apenas um estar, mas é participar efetivamente com consciência

de si, do outro e da sociedade.

O ser humano, para Merleau-Ponty, não é um ser que “repousa em si”,

mas é um ser cuja essência é a de “fazer ver”. O homem, enquanto consciência

134

define-se essencialmente por um movimento centrífugo que lança para fora

uma “maneira de existir”. É a partir desta perspectiva sobre o homem como

“mostração” que o filósofo visualiza temas humanos fundamentais: do tempo,

do espaço, do corpo, da liberdade, do social para compreender o indivíduo.

Dessa maneira, considera-se fundamental a apresentação da

subjetividade para Merleau-Ponty:

A subjetividade não é identidade consigo mesmo, mas é um sair de si, é um “se fazer ver” a si mesmo. Este “se fazer a si mesmo” configura o “se fazer presente”, isto é, “o engajamento”. A essência do ser humano é ser consciente (esta consciência entendida com origem de toda a experiência), ou seja, um “devenir” puro que se manifesta necessariamente a si mesmo (...), para se constitui intrinsecamente de um movimento de intencionalidade ao ser (toda consciência é sempre consciência de algo), o que significa dizer que consiste em um movimento de consciência de si mesmo ou revelação de si próprio, resultando no aparecimento de uma ipseidade, interioridade ou subjetividade, configurando em uma série de presentes. (Merleau-Ponty, 1971, p. 89).

Então, a subjetividade e o “se fazer presente” se identificam, o que

equivale dizer que subjetividade e tempo se identificam. Uma vez que encontrar

o tempo do sujeito é conseqüentemente apreender este “se fazer presente”, ou

seja, é captar o engajamento no mundo do homem.

Para Merleau-Ponty, é o corpo que efetua a síntese dos engajamentos

no mundo. No desdobramento do tempo, funda-se uma síntese espacial e do

objeto e o corpo não expressa a fixação do passado, porém, “projetam em torno

do presente um duplo horizonte do passado e do futuro e recebem uma

orientação histórica” (Merleau-Ponty, 1971, p. 275). Portanto, para o autor o

corpo é o lugar da “intenção de significar” e do “fazer ver”, não enquanto

conjunto anatômico, mas enquanto significações vivas. Sendo assim,

A intencionalidade do corpo é a possibilidade de instituição do espaço, pois buscar o espaço do sujeito é buscar um espaço habitado, o espaço de sua existência, isto é, este meio que meu corpo projeta em torno de “si” Enquanto tomada das intencionalidades, o corpo efetua todas as tomadas de percepção no mundo. (Merleau-Ponty, 1971, p. 162).

O mundo para Merleau-Ponty, ocorre enquanto o individuo efetua a

síntese dos engajamentos no mundo, ao nível de uma espacialidade que não é

135

física, mas de um conjunto significativo que tende a um equilíbrio, vividos pelo

sujeito, o corpo é, enfim, a estrutura estabilizada de uma existência.

Continuando as analises através da percepção do corpo, para o filosofo

francês, a linguagem esta inserida no corpo. A palavra não está separada do

gesto, mas ela é, na verdade, “um verdadeiro gesto”. O gesto designa, por si

mesmo, o seu sentido, contendo um modo de estar no mundo e se oferece a

uma compreensão, portanto, o corpo quanto à fala são lugares de fazer ver,

para Merleau-Ponty.

Definindo-se como um “fazer ver”, o homem é um ser cuja existência

consiste, fundamentalmente, na retomada de certa estrutura de significação

sempre aberta a mais de uma consciência. Em outras palavras, o homem é um

ser que é dado a si mesmo, que recebe com a existência uma maneira de

existir. Todas as ações e pensamentos dos homens estão em relação com esta

estrutura e é somente sendo sem restrições e sem reservas esta significação

da natureza e da história que o homem tem a chance de progredir.

Quanto ao mundo social, ele é situado por Merleau-Ponty como “fundo

de mundo” onde toda liberdade se particulariza.

Situa-se depois do mundo cultural como campo permanente e dimensão de existência, mais profundo que toda experiência e todo julgamento, estando já lá quanto tomamos consciência, inesgotavelmente lá. (Merleau-Ponty, 1971, p.23).

Este “fundo de mundo” não é a explicação de um Ser ou Natureza, mas é

o sentido do mundo que o mundo apresenta ao homem e que o homem

desvela. Um sentido que se dá na intersecção das experiências do homem e na

intersecção das experiências esse homem com das dos outros.

No pensamento de Merleau-Ponty a consciência está inserida no mundo,

pois é a consciência de um sujeito existente no mundo, ela é a consciência de

um mundo “ser-no-mundo”, trata-se de descrever o fenômeno tal como é

percebido (Capalbo, 1984, p. 28).

Por conseguinte, é a consciência de si (homem) há que ser a consciência

que o homem tem de sua maneira de estar no mundo e de se posicionar face

136

às situações, a consciência que deverá poder emergir da fenomenologia é uma

compreensão profunda que capta a forma de vivenciar o mundo pelo homem na

sua singularidade. Então, numa conjectura traçada no pensamento de Merleau-

Ponty sobre a consciência, é que se busca compreender e interpretar esta

categoria numa perspectiva ambiental medida através do valor dos bens

ambientais, onde este é aferido de maneira subjetiva num mercado contingente,

através do método de valoração de contingente.

6.3. A compreensão do valor econômico da natureza

A economia ambiental procura uma abordagem preventiva contra os

problemas ambientais, pregando a conservação dos recursos naturais por meio

de uma ótica que adequadamente considere as necessidades potenciais das

gerações futuras. Por seu turno, os economistas neoclássicos, propõem

técnicas de valoração que visem mitigar os efeitos da degradação ambiental

dos recursos naturais.

Os recursos naturais desempenham funções ecossistêmicas e

econômicas, entendidas estas como quaisquer serviços que contribua para a

melhoria do bem-estar, do padrão de vida e para o desenvolvimento econômico

e social do ser humano. Estes recursos naturais podem ser valorados

economicamente por meio do fluxo de serviços que oferece à economia e aos

anseios humanos. A valoração econômica é composta por muitos métodos e

técnicas, ora já apresentados no capítulo 3, deste trabalho. Para esta pesquisa,

a mensuração do valor econômico dos ativos ambientais foi desenvolvida pelo

método de valoração de contingente através da disposição a pagar de um

conjunto de pessoas, em decorrência do usufruto do ativo ambiental que reflete

as preferências individuais das pessoas no consumo de bens naturais.

O valor econômico dos recursos naturais é composto de quatro partes:

valor de uso direto, valor de uso indireto, valor de opção e valor de existência;

nesta Dissertação é aferido o valor de existência, que é aquele expresso pelos

indivíduos que mesmo não consumindo os serviços e bens ambientais, podem

137

manter-se preocupados com sua qualidade ou existência, derivando daí

satisfação (concepção da teoria neoclássica). Diante disso, a partir dos

conhecimentos sobre a prática suinícola, e as observações quanto às questões

ambientais decorrentes dos impactos sobre o meio ambiente que esta prática

provoca, abordada no capítulo 5 deste trabalho, e tendo como objeto de análise

unidade de produção de suínos no município de Diamantino/MT, existe a

necessidade de buscar compreender a consciência dos habitantes do

município, quanto à questão ambiental.

Partindo para a compreensão de consciência ambiental parafraseou-se

importantes filósofos da perspectiva fenomenológica como: Husserl

(transcendental), Heidegger (ontologia), Sartre (o nada), os quais deixam

importantes contribuições sobre compreender o vivido. Mas foi a concepção

sobre consciência trabalhada por Merleau-Ponty, que é construída a partir da

existência concreta, finita e temporal, inserida numa dada sociedade e num

mundo histórico, que se busca compreender o valor de existência, obtido pela

variação do bem-estar sentida pelo homem e manifestada na disposição a

pagar pelos ativos ambientais e revelada na consciência que a população de

Diamantino/MT possui da relação entre o meio ambiente e a prática suinícola.

Desenvolvendo análise das concepções do fenomenólogo Merleau-Ponty

e as proposições da teoria neoclássica do valor-utilidade e do bem-estar,

observa-se que o valor de cada bem é representado pela utilidade que os

agentes econômicos possuem sobre o bem, fundamentado principalmente na

relação existente entre a utilidade e a quantidade do bem econômico no

mercado, e que os bens não são desejados em si mesmos, mas porque

somente eles permitem preencher necessidades do homem, em seu mundo

vivido, e que o nível de satisfação do individuo é alcançado através da

disponibilidade do bem, dos recursos e da tecnologia existentes, medida pela

utilidade marginal, onde uma variação na quantidade de um bem é suficiente

para variar o nível de bem-estar do individuo, sendo que a medição desta

variação indica perda ou ganho de bem-estar que é a fundamentação para o

138

calculo da valoração dos ativos ambientais, quando o bem é um recurso

natural. Com vistas nisso, observam-se concepções fenomenológicas na

valoração ambiental como: existência, individualidade (singuralidade),

subjetividade, engajamento, tempo, espaço, do ser no mundo, descrevendo o

fenômeno tal como é percebido, numa consciência engajada do bem ambiental

no mundo vivido.

Por fim, a compreensão da formação do valor dos recursos naturais pelo

homem se traduz no papel que o valor exerce no processo de escolha para o

individuo no pensamento neoclássico, sendo que a base para a atribuição do

valor para o meio ambiente tem dimensão filosófica, pois é pela análise

filosófica que se compreende a natureza do valor de existência do recurso

ambiental que é subjetiva, e é nesta visão que se faz a conexão entre a razão e

a ação de dispor a pagar ou não pelo ativo ambiental, obtendo-se a correlação

da categoria consciência da fenomenologia existencial de Merleau-Ponty com o

pensamento neoclássico.

No próximo capítulo, é abordada a metodologia.

139

7. METODOLOGIA

Para a viabilização da valoração dos ativos ambientais que sofrem

efeitos da atividade suinícola no município de Diamantino/MT, é usado o

método de valoração de contingente para obter o valor de existência dos

recursos naturais. Na elaboração da pesquisa de campo para a aplicação do

método foram tomadas como base algumas pesquisas empíricas realizadas no

Brasil como os trabalhos de dissertação de Pessôa (1996), Ribeiro (1998),

Dubeux (1998) e Maia (2002), e do exterior: Dixon e Sherman na Tailândia, em

1990; Carson e Imbel na Austrália, em 1994; Bickmore e Willians, em 1998,

trabalhos de valoração que constam em Motta (1998).

Utilizando o método de valoração de contingente e desenvolvendo

modelo econométrico baseado na medida hickisiana (excedente de

compensação) de variação de bem-estar obtida pela disposição a pagar da

amostra da população do município de Diamantino/MT estimou-se o valor de

existência dos ativos ambientais. Mediante a aplicação da técnica lance livre

com cartões, era oferecida aos entrevistados uma escolha entre duas

alternativas (sim ou não), para que estes revelassem a sua preferência. Como a

resposta é uma variável binária e descontínua, o modelo econométrico foi

obtido pela equação logit, para estimar, primeiro, a probabilidade de um

indivíduo se dispor a pagar e, em seguida, o preço, em que a probabilidade de

obtenção de uma resposta “sim” seja de 50%, que é considerado o valor

140

máximo que o indivíduo estaria disposto a pagar. Para a obtenção da equação

Logit foi utilizado o programa estatístico SPSS 10.0 for windows.

7.1. A pesquisa de campo

Na pesquisa de campo foram realizadas entrevistas utilizando

questionário no município de Diamantino, sendo aplicada pesquisa piloto em 20

pessoas para determinar o valor mínimo e o máximo que estas estariam

dispostas a pagar pela preservação dos ativos ambientais e também identificar

se estava compreensível as 28 perguntas constantes no questionário. O

mecanismo aplicado foi o de cartões, onde nestes estavam escritos valores

monetários de R$ 1,00 (mínimo) e R$ 240,00 (máximo) para serem pagos

mensalmente para uma instituição brasileira proteger e manter os recursos

naturais do município.

Esses valores a pagar foram baseados na renda mensal média domiciliar

do município, que consta no Relatório do Fórum de Desenvolvimento do

Município de Diamantino realizado pelo Sebrae/MT (2001), que é de até 3 (três)

salários mínimos para 64% dos domicílios. Como esse nível de renda pode ser

considerado baixo, foi estipulado o teto máximo do valor a pagar de 1 (um)

salário mínimo ora vigente no país. Foram identificadas várias escolhas de

valores sendo o mínimo de R$ 1,00 e o máximo de R$ 100,00. Então, foram

deixados para fazer parte da pesquisa de campo os valores monetários: R$

1,00, R$ 5,00, R$ 10,00, R$ 20,00, R$ 30,00, R$ 40,00, R$ 50,00, R$ 60,00, R$

70,00, R$ 80,00, R$ 90,00 e R$ 100,00. A pesquisa piloto serviu ainda para a

identificação dos recursos naturais conhecidos e visitados pela população do

local e a devida compreensão pelos entrevistados das perguntas sobre a

suinocultura.

Entre os dias 01 a 04 de outubro de 2003 foi realizado o trabalho de

campo, participando 4 pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso:

uma mestranda em Agricultura Tropical, uma pós-graduanda em Economia

Agroindustrial, uma pós-graduanda em Gestão Ambiental e um acadêmico do

141

último ano do curso de Economia. Foram abordadas 338 pessoas na cidade de

Diamantino, das quais 330 se dispuseram a responder o questionário. Esse,

conforme já afirmado, continha 28 questões. Inicialmente foram solicitadas

informações socioeconômicas: idade, sexo, grau de instrução, setor que

trabalha renda mensal líquida individual e familiar, quantas pessoas residem na

casa do entrevistado, se participava de alguma organização não governamental

e se era nascido em Diamantino; em seguida, o questionário contemplou o

conhecimento do entrevistado sobre suinocultura: o que era, o que já havia

ouvido falar, se tinha conhecimento que a maior produtora de carne suína da

América possuía unidade de produção no local, se tinha conhecimento dos

impactos ambientais que a suinocultura poderia causar ao meio ambiente e, em

seguida, identificavam os impactos que eram de seu conhecimento;

posteriormente, se possuíam noção do manejo do dejeto suíno como adubo

orgânico, fonte de energia e fertirrigação. Adiante era perguntado sobre os

recursos naturais do município. Nesta parte da entrevista o objetivo era

diagnosticar o interesse do entrevistado pelos ativos ambientais: então era

perguntado se ele se preocupava com problemas ambientais que a suinocultura

poderia causar aos ativos (solo, água, ar, fauna e flora), se havia percebido

alguma mudança ambiental na região após a instalação da unidade produtiva e

quais eram as mudanças positivas e negativas que constavam no questionário.

Em seguida era interrogado sobre mudanças econômicas, constantes no

questionário. Por fim era perguntado ao entrevistado como ele classificava seu

interesse pela preservação ambiental: alto ou baixo e, então, se estaria disposto

a contribuir financeiramente com uma quantia mensal para a preservação dos

ativos ambientais de Diamantino, com resposta dicotômica “sim” ou “não”; caso

“sim” então eram entregues cartões aos entrevistados, contendo valores de R$

1,00 a R$ 100,00, para escolha de um cartão identificando o valor que ele

estaria disposto a pagar. Em caso da resposta “não”, era solicitado ao

entrevistado identificar o motivo de sua resposta negativa, pela preservação dos

ativos ambientais.

142

7.2. Estimativa do método de valoração contingente

O questionário aplicado para captar as disposições individuais a pagar

apresentado aos entrevistados continha duas alternativas para escolha: aceita

ou não pagar pela preservação dos recursos naturais. Após a decisão do

entrevistado, se aceita ou não a DAP, dada certas características ou atributos,

têm-se a necessidade de um modelo que faça estimação das respostas dos

entrevistados. Isto é possível através do modelo de probabilidade linear (linear

probability model), do modelo probabilístico (probit model) e do modelo logístico

(logist model), sendo os resultados compreendidos no intervalo entre 0 e 1.

O modelo de probabilidade linear é usado para o modelo de regressão

onde a variável dependente y é dicotômica, com valores 1 e 0. A variável y é

um indicador da ocorrência ou não do evento:

y = 1 – ocorrência

0 – não ocorrência.

O modelo de probabilidade linear analisa a variável dicotômica como elas

são (demonstram ser). Os modelos probit e logit consideram a existência

implícita da variável latente para a qual se observa à relação dicotômica

(Maddala, 1992).

Os modelos probit e logit podem ser descritos pelo modelo de regressão:

k

yi* = 0 j Xij + (12) j=1 O modelo probit e o modelo logit diferenciam-se pela especificação da

distribuição do termo aleatório (Maddala, 1992, p 327).

Para este trabalho utiliza-se o modelo logístico na estimação da DAP.

Ele é mais aplicável para a forma de entrevista, usada nesta Dissertação, e

também porque a função de distribuição logística é próxima à distribuição

normal e algebricamente mais simples. Esse modelo é sintetizado a seguir.

143

7.2.1. O modelo logit

No modelo, define-se Pi como a probabilidade de um individuo concordar

em pagar. Essa probabilidade é determinada por vários fatores representados

por Zi, tais como nível de renda, idade, sexo, nível de escolaridade, entre

outros. Como a probabilidade é uma variável que se encontra no intervalo [0, 1],

a relação entre essa probabilidade e determinado atributo pode ser

representado por uma função densidade de probabilidade. No caso do modelo

Logit, essa função é representada pela seguinte função densidade de

probabilidade acumulada logística (Maddala, 1992):

Pi = F(Zi), (13)

em que F é a função densidade.

No caso da função logística, F tem-se a seguinte forma:

1 Pi = (14)

1 + -Zi ou seja, 1 Pi = (15)

1 + -( + 1X

1i +

2X

2i)

Partindo-se de (14), tem-se:

Zi Pi = (16)

Zi + 1 1

1 – Pi = (17)

Zi + 1 Dividindo a probabilidade de ocorrência pela não-ocorrência, tem-se:

Pi

Zi = (18) 1 – Pi

Tomando-se o logaritmo neperiano, tem-se:

144

Pi Zi = ln (19)

1 - Pi e considerando que Zi seja uma função linear das variáveis explicativas, resulta:

Pi

ln = Zi = + 1X1i + 2X2i. (20) 1 - Pi

A variável dependente nessa regressão é o logaritmo das chances de

uma escolha particular. O lado esquerdo da equação (19) é denominado logito,

e é uma função linear dos parâmetros e das variáveis explicativas. A

probabilidade Pi não é observável; observa-se y = 1, caso a escolha seja feita e

y = 0, caso contrário. Por isso, a equação (20) deve ser ajustada pelo método

de Máxima Verossimilhança (Gujarati, 1995).

7.2.2. A estimação da DAP

Para estimar mudanças no bem-estar dos indivíduos, os coeficientes

obtidos da regressão Logit devem ser interpretados com base na teoria da

utilidade (Aguire e Faria, 1996 apud Ribeiro, 1998). As respostas “sim” ou “não”

são tomadas como resultado de um processo de maximização da utilidade.

Como o objetivo desta dissertação é a estimação do valor de existência

dos ativos ambientais do município de Diamantino, para um individuo,

questiona-se a sua disposição a pagar (DAP). Considerando-se a pergunta:

“Você estaria disposto a contribuir financeiramente com uma quantia mensal

para a preservação dos ativos ambientais de Diamantino?” - admite-se que o

indivíduo deriva sua utilidade do consumo dos recursos ambientais e da sua

renda monetária. Esse tipo de pergunta leva a uma medida de excedente de

compensação (medida hicksiana), estimada pela seguinte função utilidade:

u (j, y; s) (21)

145

em que j = variável binária; j = 1 significa – ativos ambientais preservados; j = 0

significa – ativos ambientais sofrendo impacto ambiental; y = renda e s = vetor

que representa outros atributos do indivíduo que possam afetar sua preferência.

Portanto, para u1 = u (1, y; s): os indivíduos optam em preservados os

recursos naturais, e, para u0 = u (0, y; s) : os indivíduos não se importam com

os recursos naturais.

Tem-se que u1 e u0 são variáveis aleatórias com certa distribuição de

probabilidade e com média v (j, y; s) e v (1, y; s). Portanto, as utilidades são

escritas como:

u (j, y; s) = v (j, y; s) + j = 0, 1 (22)

Em que 0 e 1 são variáveis aleatórias independentes e identicamente

distribuídas, com média zero e variância finita.

Os indivíduos dão uma resposta “sim” a questão apresentada, apenas se:

v (1, y – p; s) – v (0, y; s) 0 - 1, (23)

em que p é a quantia que o indivíduo pagaria, mensalmente, para ter o bem

“ativo ambiental” e mede sua disposição a pagar (DAP).

Enquanto o individuo tem certeza da escolha que maximiza sua utilidade

à resposta do individuo é uma variável aleatória cuja distribuição de

probabilidade é dada por:

Pi = Pr [o individuo aceita pagar]; (24)

Pi = Pr [v (1, y – p; s) + 1 v (0, y; s) + 0] (25)

Pi = Pr [ v ], (26)

Em que:

v = v (1, y – p; s) – v (0, y; s) (27)

Sendo: v (1, y – p; s) – o indivíduo aceita pagar pelos ativos ambientais e

v (0, y; s) – o indivíduo não aceita pagar pelos ativos ambientais. Como:

= 0 - 1. (28)

146

Conseqüentemente,

P0 = Pr [o indivíduo não aceita pagar] (29)

P0 = 1 – Pr. (30)

Como o caráter aleatório é dado por , torna-se a função densidade

acumulada de , de modo que a probabilidade de que o indivíduo esteja

disposto a pagar R$ p possa ser escrito por:

Pi = F (v). (31)

Assim, no modelo Logit, F é a distribuição acumulada da função logística

padrão; v é a Função Diferença de Utilidade, tal como dada na equação (27):

o modelo estatístico das respostas binárias pode ser interpretado como

resultado de uma escolha que maximiza utilidade. Logo, a forma funcional

relevante a ser especificada é a de v.

Para calcular uma medida, com base na utilidade, do valor monetário dos

benefícios atribuídos à disponibilidade do bem, estima-se uma quantia R$ p que

satisfaça a igualdade:

v (1, y – p*; s) – v (0, y; s) = (32)

O valor que faria um indivíduo permanecer indiferente na escolha entre

perda de ativos ambientais (impacto ambiental) e renda total y, ou preservação

de ativos ambientais (ativos protegidos) e renda menor (y – p*), é R$ p, sendo

p* a quantia mensal a ser paga pela obtenção desse benefício. Se tem

distribuição logística padronizada, a mediana é igual à média e igual a zero.

Então, o valor = 0 está associado ao ponto de indiferença, sendo a função

Logit F (0) = 0,5. Para v = = 0, o indivíduo estaria indiferente em proteger,

ou não, o bem ambiental, e o valor médio (e mediano) de p é considerado como

valor que o indivíduo estaria disposto a pagar pelo mesmo (p*). Assim, tem-se:

147

Pr [v = = 0] = F (v = 0) = 0,5. (33) Portanto, o modelo Logit, p* satisfaz a condição:

v (p*) = 0. (34)

Após se ter abordado o modelo Logit, a seguir, resultados e discussão.

148

8. RESULTADOS E DISCUSSÃO

8.1. Características descritivas da amostra

A pesquisa de campo realizada na cidade de Diamantino/MT, para

obtenção do valor de existência dos ativos ambientais que sofrem ação da

suinocultura, é constituída de amostra com 330 observações. A coleta de dados

foi realizada através de entrevistas ao acaso nas ruas da cidade, atingindo os

bairros: Centro, Nossa Senhora da Conceição, São Benedito, Ponte e Novo

Diamantino.

Do total dos entrevistados 145 foram do sexo masculino e 185 do

feminino; 43,9% e 53,1% respectivamente. A idade dos entrevistados assim

ficou distribuída: na faixa de 16 a 25 anos, a maior porcentagem: 46,7%; entre

26 a 35 anos: 29,7%; na faixa de 36 a 45 anos: 14,5% e entre 46 a 55 anos:

6,7%, dos 56 a 65 anos: 2,1% e 0,3% acima de 65 anos.

Quanto ao grau de instrução, a amostra apresentou apenas 0,6% dos

entrevistados sem instrução; 10,6% com ensino fundamental incompleto; 7,3%

com ensino fundamental completo; 9,1% com ensino médio incompleto, 27,8%

com ensino médio completo; a grande maioria dos entrevistados: 104 (31,5%)

possuem o nível superior incompleto; 8,4% nível superior completo e 4,7%, com

pós-graduação. É observado que 147 entrevistados 44,6% da amostra já

fizeram ou fazem graduação; e 55,4% (183 indivíduos da amostra) não tiveram

acesso ao nível superior. Desta maneira, constata-se um elevado grau de

escolaridade na amostra investigada.

149

Com relação ao setor de trabalho, 70,3% dos entrevistados são do setor

privado; 20,3% trabalham no setor público e 9,4% da amostra não trabalham.

Quanto à renda pessoal mensal líquida, 9,1% dos entrevistados não

possuem renda pessoal; 15,5% recebem até um salário mínimo (R$ 240,00);

26,4% recebem entre R$ 240,00 a R$ 500,00; 31,2% (a maior porcentagem)

possuem renda pessoal mensal líquida entre R$ 501,00 a R $1.500,00; 12,1%

da amostra recebem de R$ 1.501,00 a R$ 2.500,00; 3% de R$ 2.501,00 a R$

3.500,00; 0,9% de R$ 3.500,00 a R$ 5.000,00 e acima de R$ 5.000,00

(mensalmente) 1,8% dos entrevistados. Estes dados mostram que 241

entrevistados ou 73% possuem renda pessoal mensal líquida entre um a seis

salários mínimos.

A renda familiar mensal líquida fica assim distribuída: não houve a

ocorrência de falta de renda familiar; 1,3% declararam possuir renda familiar de

até R$ 240,00; 12,1% entre R$ 240,00 a R$ 500,00; 40,9%, a maioria,

responderam que a renda familiar fica entre R$ 501,00 a R$ 1.500,00; 21,8%

entre R$ 1.501,00 a R$ 2.500,00; 13,3% possuem renda familiar mensal líquida

entre R$ 2.501,00 a R$ 3.500,00, na faixa entre R$ 3.501,00 a R$ 5.000,00,

7,3% dos entrevistados e 3,3% acima de R$ 5.000,00. A tabela de resultados

da renda familiar está anotada a seguir:

150

TABELA 4. Distribuição de freqüência dos entrevistados no município de

Diamantino, por faixa de renda familiar mensal líquida.

Renda familiar mensal liquida Entrevistados (%)

Sem renda -

Até 240,00 1,3

Entre 240,00 a 500,00 12,1

Entre 501,00 a 1.500,00 40,9

Entre 1.501,00 a 2.500,00 21,8

Entre 2.501,00 a 3.500,00 13,3

Entre 3.501,00 a 5.000,00 7,3

Acima de 5.000,00 3,3

Total 100

Fonte: pesquisa de campo (2003)

Com relação à quantidade de pessoas que residem na casa do

entrevistado, 23,3% da amostra possui 4 pessoas; 22,3%, 5 pessoas; 20,9%, 3

pessoas; com 2 pessoas, 14,5%; sozinha, 4,3% e 14,7% da amostra possuem 6

indivíduos ou acima morando na residência.

Quanto à participação do entrevistado em organizações não

governamentais (ONGs) que cuidam ou protegem o meio ambiente, 88,5%

declaram não participar, e 11,5% participam de ONG que protege e cuida do

meio ambiente.

Em relação à naturalidade dos entrevistados, 70,9% dos entrevistados

não nasceram em Diamantino e apenas 29,1% são nascidos na cidade.

Ao serem questionados se sabiam o que era suinocultura, 308 (93,3%)

dos entrevistados disseram que “sim”, então a estes foram perguntados sobre o

que já ouviram falar sobre a atividade suinícola: que a suinocultura é criação de

suinos, 286 (93%) entrevistados; que a suinocultura provoca impacto ambiental,

184 (60%); que a suinocultura gera emprego e renda: 269 pessoas ou 87%; que

151

a carne suína não é saudável, 113 (37%); que a carne suína é saudável nos

dias de hoje, 135 (44%) dos entrevistados; outros 0,01%.

Observa-se nestes dados da pesquisa que quase a totalidade dos

entrevistados (93%) que responderam saber o que é suinocultura, 87% dos

entrevistados manifestaram ter consciência da relação entre aspectos

econômicos positivos e atividade suinícola mais do que com os impactos

ambientais (60%).

De acordo com a amostra, 266 (80,6%) dos entrevistados sabem que a

maior produtora de carne suína da América possui unidade de produção em

Diamantino.

Sobre a pergunta: você sabe que tipo de impacto ambiental a

suinocultura pode causar sobre o meio ambiente, sendo múltiplas as escolhas.

Na tabela seguinte constam os resultados:

TABELA 5. Tipos de impacto ambiental que a suinocultura pode causar sobre o

meio ambiente

Impactos ambientais Freqüência porcentagem

Degradação do solo (erosão, compactação) 108 33

Degradação dos recursos hídricos (água) 186 56

Morte de peixes nos rios 118 36

Proliferação de insetos 229 69

Prejudica a qualidade do ar 198 60

Doenças nas pessoas (alergia, hepatite, câncer) 102 31

Pragas em lavouras próximas unidade produtiva 48 15

Fonte: pesquisa de campo (2003)

Responderam que a suinocultura causa impacto na fauna, aumenta a

presença de insetos (moscas e borrachudos) e no ar (qualidade) 69% e 60%,

respectivamente; 56% degradação dos recursos hídricos; 33% degradação do

152

solo; 31% doenças nas pessoas e 15% pragas em lavouras próximas à região

produtora. Ficou constatado na pesquisa de campo sobre este item do

questionário que: dos entrevistados que declaram conhecimento sobre impacto

ambiental da suinocultura, principalmente sobre a fauna e o ar, que estes

conhecimentos devem-se as experiências pessoais, percebidas pela maioria

dos entrevistados na própria região pesquisada.

Quanto à utilização dos dejetos suínos como insumo de produção, na

forma de adubo orgânico 166 (50,3%) dos entrevistados desconhecem essa

utilização e 164 (49,7%) tinham conhecimento; como fonte de energia 208

(63%) declara não conhecer esta utilização do dejeto e 122 (37%) da amostra

conhece; com relação a fertirrigação, 194 (58,8%) dos entrevistados não tinham

conhecimento e 136 (41,2%) conhece a utilização da parte líquida do dejeto

suíno como fonte de nutrientes através da irrigação do solo.

Com relação aos recursos naturais, foi perguntado aos entrevistados se

conheciam alguns lugares na região. O objetivo era investigar as percepções

dos entrevistados quanto aos recursos naturais. Segue tabela com os

resultados.

TABELA 6. Ambientes naturais do município de Diamantino.

Ambientes Naturais Freqüência Porcentagem

Nascente do Rio Paraguai 132 40

Ponte de Pedra 75 23

Cidade de Pedra 38 12

Rio Subterrâneo do Sumidouro 37 11

Rio Salto 27 8

Cachoeira do Frei Manoel 207 63

Chapadão da Serra Pary 30 9

Fonte: Pesquisa de campo (2003)

153

Observa-se na Tabela 6 que os entrevistados não têm muito

conhecimento das paisagens naturais da região. O ambiente natural mais

conhecido e visitado pela amostragem é a Cachoeira do Frei Manoel, com 63%,

e 40% declararam conhecer a nascente do rio Paraguai, principal rio da Bacia

Hidrográfica Platina, que banha o ecossistema Pantanal.

Dos 330 entrevistados, 282 (85,5%) informaram que se preocupa com

problemas ambientais que a suinocultura pode causar aos ativos ambientais

(água, solo, ar, fauna e flora), e 48 (14,5%) dos entrevistados não se

preocupam com os ativos.

Foram, então, perguntados aos entrevistados se perceberam alguma

mudança ambiental após a implantação da maior produtora de suínos na

região, 171 (51,8%) responderam que “sim”, e em seguida foi investigado que

tipos de mudanças. Seguem as Tabelas com os resultados, das mudanças

positivas (externalidades positivas) e das negativas (externalidade negativa).

TABELA 7. Mudanças ambientais percebidas depois da implantação da

suinocultura no município de Diamantino – externalidades positivas.

Mudanças Ambientais Freqüência (%)

Aparecimento de animais (pássaros, jacaré etc) 4 2,3

Melhoria no clima 3 1,8

Melhoramento na qualidade água 1 0,6

Paisagismo, beleza cênica. 2 1,2

Melhoramento na qualidade do solo - -

Outros 2 1,2

Fonte: Pesquisa de campo (2003)

154

TABELA 8. Mudanças ambientais percebidas depois da implantação da

suinocultura no município de Diamantino– externalidades negativas.

Mudanças Ambientais Freqüência (%)

Mau cheiro 128 75

Aparecimento de insetos(moscas, borrachudos etc) 108 63,2

Aparecimento de ratos 20 11,7

Aumento de problemas de saúde 17 10

Erosão do solo 9 5,3

Cheiro e gosto na água 12 8,2

Redução de fertilidade do solo 5 2,9

Outros 15 18,8

Fonte: Pesquisa de campo (2003)

Constata-se que dos 171 entrevistados que declararam perceber

mudanças ambientais, as conseqüências (externalidades) negativas da

suinocultura que foram mais observadas: 75%: mau cheiro, 63%:

aparecimentos de insetos, e 12% de ratos.

Existem observações a serem feitas sobre este item, dos 5 bairros

pesquisados o bairro: Novo Diamantino, região urbana mais próxima da granja

suinícola, aproximadamente 15 km de distância da unidade produtiva e 8 km do

centro da Cidade de Diamantino, ocorreu a maior freqüência de respostas

quanto ao impacto ambiental negativo. Nas entrevistas efetuadas neste bairro,

as pessoas sentiam a necessidade de manifestar declarações. Fizeram

menções sobre os horários que o mau cheiro era mais intenso, os tipos de

insetos, principalmente moscas, e animais como ratos, que apareceram nos

últimos tempos. Também é interessante argumentar que a amostra deste bairro

apresentou uma maior disposição a pagar pelos ativos ambientais, do que nos

outros bairros visitados e pesquisados. As externalidades negativas provocam

variações no bem-estar deste universo da amostra, sendo fato vivido no tempo

155

da pesquisa, no espaço do município de Diamantino, manifestado em suas

expressões e argumentações do corpo e da fala, num engajamento com o

mundo exposto, neste momento.

Os itens: aparecimento de problemas de saúde e outros foram indicados

por 10 e 18,8% da amostra, respectivamente, os entrevistados de maneira geral

relataram o surgimento de doenças como: dermatológicas nas pessoas que

trabalharam ou trabalhavam na granja, e que também sofriam de mal-estar

(dores de cabeça, enjôos) principalmente aqueles moradores e pessoas que

trabalham mais próximos à unidade produtiva.

Quanto às mudanças econômicas, 87,9% (290) da amostra perceberam

alterações econômicas depois que a suinocultura foi implantada na região,

conforme dados da Tabela 9.

TABELA 9. Mudanças econômicas percebidas depois da implantação da

suinocultura no município de Diamantino

Mudanças econômicas Freqüência Percentagem

Geração de emprego 276 95,2

Aumento da circulação de dinheiro no comércio 169 57,9

Crescimento econômico da Região 144 49,7

Chegada de novas pessoas (migração) 158 54,5

Melhoramento em infra-estrutura na região 77 26,6

Outros 1 0,03

Fonte: Pesquisa de campo (2003)

Observa-se na tabela 9 que as mudanças econômicas foram bastante

percebidas pela amostra. A geração de emprego foi indicada por 95,2% dos

entrevistados e aumento da circulação de dinheiro no comércio por 57,9% da

amostra. A empresa suinícola (Carroll’s Food) demanda mão-de-obra da

cidade, e existe um enxergar bastante positivo pelos entrevistados sobre a

156

empresa. Foram realizadas varias audiências públicas na cidade de Diamantino

sobre a suinocultura e o manejo que a empresa desenvolve na unidade de

produção suinícola instalada na região. Em 2002, a granja obteve destaque

nacional devido a uma reportagem realizada no local e apresentada para todo o

país, como um marco do desenvolvimento de atividade da produção de suinos

no Centro-oeste do Brasil. Ficou constatado pela equipe de pesquisadores que

o empreendimento é o orgulho da região, manifestadas nas percepções das

pessoas quanto à prática suinícola, no engajamento delas com o vivido

apresentado.

Por fim, foi solicitada uma escolha dicotômica sobre a sua disposição a

pagar pelos ativos ambientais aos entrevistados. Pedia-se ao respondente que

imaginasse que a prática suinícola tivesse provocado contaminação no solo,

nos rios da região, no ar, desaparecimento de algumas espécies de animais, e

que uma instituição ambiental brasileira tinha sido escolhida para proteger e

manter os ativos ou recursos ambientais do município; então eram perguntados:

“Você estaria disposto a contribuir financeiramente com uma quantia mensal

para a preservação dos ativos ambientais de Diamantino?” - a resposta “não” foi

proferida por 158 (47,9%) dos entrevistados, e a “sim” por 172 (52,1%) da

amostra.

Para as pessoas que responderam “sim” foram entregues cartões que

continham valores em reais e, então, era solicitado aos respondentes escolher

um valor a ser pago mensalmente pelos ativos ambientais, como meio de

pagamento a cobrança direta a pessoa, a tabela 10 apresenta as respostas.

Para a parcela da amostra que aceita pagar, a seguir tem-se a Tabela de

valores.

157

TABELA 10. Valores da disposição a pagar da amostra

Valores a pagar por mês Freqüência Porcentagem

R$ 1,00 17 10

R$ 5,00 24 14

R$ 10,00 52 30,2

R$ 20,00 34 20

R$ 30,00 13 7,6

R$ 40,00 5 3

R$ 50,00 15 8,7

R$ 60,00 1 0,6

R$ 70,00 - -

R$ 80,00 3 1,2

R$ 90,00 - -

R$ 100,00 8 4,7

Total 172 100

Fonte: Pesquisa de campo (2003)

Os cartões mais aceitos foram: o de valor R$ 10,00, com 30,2%; de R$

20,00, com 20%; e de R$ 5,00 com 14% das escolhas; ou seja, 74,2% do total

das 172 pessoas pagam até R$ 20,00 pelos ativos ambientais, e 25,8% deste

universo pagam valores iguais ou acima de R$ 30,00. É necessário argumentar

que a amostra apresenta-se com 73% dos entrevistados recebendo até 6

salários mínimos por mês, isto traz implicações diretas sobre o valor pago aos

ativos ambientais, sua restrição orçamentária.

A escolha do mecanismo de cartões (lance livre) deveu-se ao fato da

população do município de Diamantino apresentar-se com baixa renda

(Relatório do Fórum de Desenvolvimento Municipal de Diamantino, 2001). Para

populações de baixa renda este mecanismo é o recomendado pelo manual de

valoração (1998) e por trabalhos já realizados de valoração como o de Maia

158

(2002). Uma outra observação a ser feita sobre a utilização de cartões é que

este mecanismo apresenta-se com baixo poder de influência do entrevistador

sobre a resposta do entrevistado.

Para os 158 (47,9%) entrevistados que não se dispuseram a pagar pela

preservação dos ativos ambientais. Esses respondentes apresentaram as

seguintes justificativas, identificadas na Tabela 11:

TABELA 11. Motivos pela não disposição a pagar, dos entrevistados, pelos

ativos ambientais

Motivo Freqüência Porcentagem

Desempregado - -

O estado deve conservar o meio ambiente 42 26,6

Contribuo com instituições que cuidam do

meio ambiente

4 2,5

O solo e a água de Diamantino não devem ser

preservados

5 3,2

O agente que provocou o impacto ambiental

deve arcar com o preço a ser pago pela

degradação

88 55,7

Outros motivos: econômicos 19 12

Total 158 100

Fonte: Pesquisa de campo (2003)

A maioria, 88 (55,7%) entrevistados, alegou não pagar pelos ativos

porque, para eles, quem deve arcar com o preço é o agente que provocou o

impacto ambiental; 42 (26,6%) justificaram a recusa pelo pagamento afirmando

que o estado é que deve preservar o meio ambiente; outros motivos de ordem

econômica, principalmente a falta de renda, foram às respostas de 12% da

amostra; já outros justificaram sua resposta afirmando que contribuem com

159

instituições que cuidam do meio ambiente (2,5%); e para 3,2% escolheram o

item: o solo e a água não devem ser preservados.

Esses resultados das respostas dos entrevistados que não se

dispuseram a pagar indicam a presença de viés (protesto); já o conjunto de

respostas que pagam indica que a valoração contém benefícios da existência

dos ativos ambientais.

8.2. Calculo da DAP

Dada a função utilidade proposta por Hanemann (1984) apud Ribeiro

(1998), tem-se:

v (j, y; s) = aj (s) + by j = 0, 1 e b > 0 (35) A função acima é linear em y; portanto, a utilidade marginal da renda é

constante, implicando que a probabilidade associada à variável discreta de

escolha independe da renda do indivíduo; assim, ocorre apenas o efeito-

substituição e não o efeito-renda.

Aplicando em (35) a definição de Função Diferença de utilidade, sobre a

equação (27), tem-se que:

v = a1 (s) + b (y – p) – a0 (s) – by, (36)

v = [a1 (s) – a0 (s)] – bp, (37)

v = (a1 – a0) – bp, (38)

v = a – bp (39)

Substituindo (39) em (31), obtém-se o modelo estatístico de escolha que

é:

Pi = F (a – bp) (40)

Onde : a = a1 – a0 (41)

Porém, a1 e a0 não podem ser identificados a partir dos dados, sendo

que apenas a diferença entre eles é identificável.

160

A função determinada em (40) é estimada pelo Modelo Logit, cuja forma

funcional utilizada é linear, e a equação é ajustada pelo método da Máxima

Verossimilhança definida por:

v = 1 Preço 2 Renda familiar mensal 3 Instrução 4 Protesto 5

Preocupação 6 Suinocultura 7 Origem (42)

As variáveis escolhidas ficaram assim definidas:

- v = variável dependente, com valor 0 para respostas “não” aceita

pagar pelos ativos ambientais e 1 para “sim”, ou seja, aceitam pagar;

- Preço = valores monetários calculados a partir da distribuição de

freqüência: (1) R$ 1,00, (2) R$ 5,00, (3) R$ 10,00, (4) R$ 20,00, (5) R$

30,00, (6) R$ 40,00, (7) R$ 50,00, (8) R$ 60,00, (9) R$ 70,00, (10) R$

80,00, (11) R$ 90,00 e (12) R$ 100,00;

- Renda familiar mensal = valores monetários calculados a partir da

distribuição de freqüência: (1) até R$ 240,00, (2) entre R$ 240,00 a R$

500,00, (3) entre R$ 501,00 a R$ 1.500,00, (4) entre R$ 1.501,00 a R$

2.500,00, (5) entre R$ 2.501,00 a R$ 3.500,00, (6) R$ 3.501,00 a R$

5.000,00, (7) acima de R$ 5.001,00;

- Instrução = escolaridade calculada a partir da distribuição de

freqüência: (0) sem instrução, (1) ensino fundamental incompleto, (2)

ensino fundamental completo, (3) ensino médio incompleto, (4) ensino

médio completo, (5) ensino superior incompleto, (6) ensino superior

completo, (7) pós-graduação;

- Protesto = variável que indica o porquê do respondente não aceita

pagar pela preservação dos ativos ambientais, sendo: (0) aceita pagar,

(1) desempregado, (2) o Estado deve conservar o meio ambiente, (3)

contribuo com instituições que cuidam do meio ambiente, (4) não tem

interesse sobre o assunto, (5) o solo e a água de Diamantino não devem

ser preservados, (6) o agente que provocou impacto ambiental deve

161

arcar com o preço a ser pago pela degradação, (7) outros motivos de

ordem econômica;

- Preocupação = dummy com valores 0 e 1, ou seja, não preocupa-se

com o meio ambiente e preocupa-se com o meio ambiente,

respectivamente;

- Suinocultura = dummy com valores compreendidos entre 0 e 1, não

sabem o que é suinocultura ou sabem o que é, respectivamente, e

- Origem = dummy, 0 não são naturais de Diamantino e 1 são nascidos

na cidade.

Essas variáveis foram escolhidas após a análise do cenário pesquisado e

baseando-se em outras pesquisas que utilizaram o método de valoração

contingente (Maia, 2002; Dubeux, 1998; Ribeiro, 1998; Pessôa, 1996), verificou-

se que essas variáveis poderiam influenciar a resposta da disposição a pagar

dos entrevistados pela preservação dos ativos ambientais. Sendo assim foram

feitas às estimativas dos coeficientes, o resultado:

v = 0,293 – 1,263 Preço – 0,163 Renda familiar mensal + 0,302 Instrução +

0,856 Protesto – 0,507 Preocupação - 0,009 Suinocultura + 0,429 Origem (43)

A seguir, tem-se a Tabela com os resultados encontrados na regressão:

162

TABELA 12. Parâmetros estimados do modelo logit para a disposição a pagar

pela preservação dos ativos ambientais em Diamantino/MT.

Modelo Logit – variável dependente v

Amostra = 330

Convergência após 3 (três) interações

Variável Coeficiente Erro-padrão Teste t

0,293 1,368 0,214

Preço -1,263 0,249 5,072

Renda familiar -0,163 0,231 0,705

Instrução 0,302 0,213 1,417

Protesto 0,856 0,268 3,194

Preocupação -0,507 0,693 0,731

Suinocultura -0,009 1,051 0,008

Origem 0,429 0,568 0,755

Fonte: Dados da pesquisa (2003)

Quanto à avaliação da regressão (43), o pseudo R² (McFadden), modelo

ajustado, é de 90,9%, indicando que as variáveis independentes do modelo

explicam 90,9% a variável dependente v.

A significância dos coeficientes individual foi obtida através do teste t,

que permite testar a hipótese nula, ou seja, não existe relação de cada variável

explicativa com a variável dependente do modelo, ao nível de significância 5%.

Foi observado que as variáveis: Preço, Instrução e Protesto são significativas;

Renda familiar, Preocupação, Suinocultura e Origem não são significativas.

Por fim, faz-se agora o cálculo da DAP: função definida em (35) e (39):

v = a – bp, fazendo v = 0,

a – bp = 0. (44)

Resolvendo para p, obtém-se:

P* = a/b. (45)

163

Sendo a equação (32) definindo a equação (45) obtém-se o valor médio

de p, denotado por P*, calculado em função dos coeficientes do modelo

estatístico. O valor da perda (dano dos bens ambientais) ou benefício

(preservação dos bens ambientais) individual é dado por:

* Perda individual = (46)

*

Sendo * a estimativa dos coeficientes que representam , e *, as

estimativas que representam b na equação 45, têm-se a seguir os valores

médios das distribuições de freqüência das variáveis explicativas:

TABELA 13. Valores médios para estimar o valor estimado dos parâmetros.

Variável Média Total

1,0000

Preço 21,3260

Renda familiar 3,6909

Instrução 4,1242

Protesto 1,8758

Preocupação 0,8545

Suinocultura 0,9333

Origem 0,290

Fonte: Dados da pesquisa (2003)

Obtém o valor da DAP:

_________________ _______ ______

*= 0,293 – 0,163 (Renda familiar mensal) + 0,302 (Instrução) + 0,856(Protesto) __________ __________ _____ – 0,507 (Preocupação) - 0,009 (Suinocultura) + 0,429 (Origem) (47)

* = - 1,263 Preço (48)

164

Substituindo os valores médios dos parâmetros na equação (47) das

variáveis: Renda familiar mensal, Instrução, Protesto, Preocupação,

Suinocultura e Origem, apresentados em (47), (constantes na Tabela 13) e,

usando os valores estimados dos parâmetros e, uma vez conhecidos *e *,

pode-se, finalmente, estimar o valor da DAP por intermédio da razão entre: * =

2,226 e * = - 1,263, ou seja: R$ 1,76.

O valor estimado (R$ 1,76) representa o valor econômico da perda

ambiental mensal por indivíduo, devido à ausência ou deficiência no controle do

impacto ambiental sobre os ativos ambientais que sofrem efeitos da atividade

suinícola no município de Diamantino, valor este que pode servir como

parâmetro para pagamento de indenização por parte da empresa poluidora.

Esse valor também pode expressar o benefício individual mensal a ser mantido

com a conservação dos ativos ambientais.

Existe a necessidade de argumentar que o valor ora mensurado é baixo

quando comparado com outros valores de ativos ambientais estimados pelo

método valoração contingente em trabalhos acadêmicos na mesma linha de

pesquisa desta Dissertação, como por exemplo, o valor estimado no trabalho de

Pessôa (1996) foi de R$ 23,52, por habitante pela preservação dos ativos

ambientais de Roraima/RR, na pesquisa de Ribeiro (1998) o valor foi de

R$14,57 individual pela preservação e conservação do rio da Ponte em

Goiânia/GO; o de Maia (2002) R$ 25,50, valor do conforto provocado pelo meio

ambiente sobre os funcionário e estudante da UNICAMP/São Paulo.

Agora, comparando o valor estimado deste trabalho com o custo para se

recuperar áreas degradadas, observa-se que os valores monetários para a

recuperação e preservação do meio ambiente são muito elevados; por exemplo,

o valor dos custos de reposição do Estuário de Mersey na Grã-Bretanha que

sofreu contaminação: ficaram em US$ 14,04 milhões por ano (Bickmore et al.,

1998); já o programa de despoluição da Baia da Guanabara no Rio de Janeiro,

os gastos totais estimados são de US$ 793 milhões (Dubeux, 1998). Se fosse

considerar hipoteticamente a contaminação do lençol freático, por dejeto suíno,

165

o valor anual estimado dos ativos ambientais do município de Diamantino/MT,

nesta pesquisa, ficou em R$ 389.811,84, considerando a taxa de câmbio em

US$ 1,00 comprando R$ 2,92, em dezembro de 2003 (IPEADATA/2003), tem-

se a quantia anual de US$ 134 mil; portando o valor é baixo; uma vez que a

região estudada é aqüífero e divisora de águas para dois importantes

ecossistemas: o Pantanal ao sul de Diamantino e a Floresta Amazônica ao

norte. Uma contaminação dos lençóis freáticos da região geraria impacto

ambiental nos dois ecossistemas.

Pode ainda ocorrer à contaminação e degradação dos outros ativos

ambientais: o ar, o solo, a fauna e a flora do Cerrado, onde se encontra

localizado o empreendimento suinícola, os valores para a reposição dos ativos

ambientais se elevariam ainda mais.

Diante do exposto, existe, portanto, a necessidade de buscar a

compreensão deste valor de existência mensurado, na subjetividade da

objetividade de valorar, utilizando para isso as concepções fenomenológicas de

Merleau-Ponty e do pensamento dos economistas neoclássicos. Sendo assim,

os motivos do baixo valor caracterizá-se pela baixa renda da população, esta

declarada na amostra, e em tudo aquilo que está situado no mundo fazendo

parte da experiência dos entrevistados; e ao ser construído, pelo entrevistador,

um mercado hipotético (contingente) para os ativos naturais as pessoas foram

provocadas a revelar suas preferências pelos recursos naturais, neste momento

a experiência humana influenciou a ação do respondente em se dispor a pagar

pouco pelos ativos ambientais.

Esta ação realizou-se na unidade do sujeito, no momento da experiência,

no entrecruzamento de todos os motivos e necessidades do sujeito em seu

mundo natural e social, efetuado na totalidade do ser e do existir da relação:

homem, suinocultura e meio ambiente, a disposição a pagar, então, foi obtida

na visão pelo homem de seu mundo, na percepção de compreender a

existência dos recursos naturais nas suas funções ecossistêmicas e

econômicas.

166

Nesse entendimento, como não há o conhecimento (consciência) sobre

impacto ambiental e, também, as externalidades não são sentidas por todos os

entrevistados, somando-se a isso a baixa renda da amostra, e como não houve

a provocação para a reflexão sobre os impactos negativos que a suinocultura

possa causar sobre o meio ambiente antes desta pesquisa, então, as

preferências dos entrevistados foram reveladas e refletiram o valor de R$ 1,76

pelos ativos ambientais, por indivíduo, por mês.

167

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação de suínos em escala industrial traz como conseqüências a

geração de emprego e renda, crescimento da atividade econômica e, também,

a intensa produção de dejetos nas unidades produtivas, os quais são altamente

poluentes e causadores da degradação ambiental, como a contaminação dos

corpos receptores e desenvolvimento de odores, alterando a disponibilidade de

recursos naturais, por conseguinte o bem-estar da população que vive nas

proximidades deste tipo de atividade econômica.

Sendo assim, a valoração econômica ambiental é um campo da teoria

econômica que emerge das análises neoclássicas a respeito da utilização das

terras agrícolas, da água, da fauna, da flora, enfim de todos os recursos

naturais reprodutíveis ou não-reprodutíveis e a relação destes com o bem-estar

do homem, servindo como um eficiente instrumento para determinar políticas

alocativas dos recursos ambientais escassos de maneira a obter o maior

benéfico social a partir das disponibilidades finitas dos recursos naturais e das

necessidades humanas infinitas. Sua finalidade é obter o valor dos recursos

naturais que não apresentam preços adequados no mercado, mas são

intensamente usados na atividade econômica. Para a obtenção desse valor

existem diversos métodos e técnicas, entre estes: a valoração contingente,

preços hedônicos, custo viagem etc.

Tendo em vista que a suinocultura encontra-se em franca expansão no

Estado de Mato Grosso, em especial na região Médio-Norte, onde no município

168

de Diamantino/MT está instalada unidade de produção que estima até 2005

alojar 51,4 mil matrizes e atingir 1,2 milhões de cabeças. Foi desenvolvida

nesta Dissertação a valoração econômica dos recursos naturais utilizando-se

do método valoração contingente no Município de Diamantino, com o objetivo

de estimar o valor de existência dos ativos ambientais que sofrem efeitos da

prática suícola.

Desenvolvendo críticas sobre o método valoração contingente, esse

estima o valor monetário dos bens e serviços ambientais com base nas

preferências expressas pelos indivíduos relativas à disponibilidade e, ou,

alteração na provisão desses bens, tomada no contexto de um mercado

hipotético estruturado pelo pesquisador; o método valoração contingente é

solidamente fundamentado na teoria econômica, o conceito básico esta

centrado nos benefícios derivados dos ativos ambientais, que são identificadas

nas preferências dos indivíduos em se dispor a pagar por aquilo de desejam. A

mensuração desses benefícios corresponde à medida do nível de bem-estar.

As medidas de bem-estar derivadas da valoração contingente são as

hicksianas, que fundamentam, teoricamente, os modelos analíticos utilizados

para interpretação das respostas de disposição a pagar, obtida por técnicas de

pagamento, neste trabalho a medida hicksiana foi do excedente de

compensação e a técnica lance livre com cartões.

O método utilizado, nesta pesquisa, apresentou alguns vieses: de

protesto, os respondentes utilizam de seu poder de resposta para transferir toda

a responsabilidade do problema ambiental à empresa poluente e ao Estado

como os agentes que deverão cuidar do meio ambiente; outro viés foi o de

gênero, foi entrevistado mais mulheres do que homens, e as mulheres são

consideradas mais sensíveis que os homens quanto a questões de impacto

ambiental; o terceiro viés é com relação ao espaço ou local da amostra, no que

tange o bairro Novo Diamantino, este está localizado mais próximo da granja de

suínos do que os outros bairros pesquisados, logo os respondentes dessa

169

localidade estão mais propenso a pagar pela existência dos ativos ambientais,

pois sentem mais a variação de bem-estar.

Como resultado da pesquisa, um total de 338 pessoas foi abordado nas

ruas da cidade, e 330 pessoas aceitaram ser entrevistadas, das quais: 172

(52,1%) apresentaram disposição a pagar pelos ativos ambientais e 158

(47,9%) não aceitaram pagar pela preservação dos ativos ambientais. Nessa

distribuição obteve-se o preço dos ativos ambientais de: R$ 1,76 por individuo

mensalmente.

Quanto a outras características da amostra, a maioria dos entrevistados

foi do gênero feminino (53,1%); a faixa etária de maior percentual foi de 16 a 25

anos com 46,7%; 27,8% dos entrevistados possuem ensino médio completo e

31,5% o nível superior incompleto; 73% da amostra recebem até 6 salários

mínimos por mês; apenas 29,1% é natural do município de Diamantino/MT;

93,3% responderam que sabiam o que é suinocultura, deste total 60%

declararam saber que a suinocultura provoca impacto ambiental e 87%

responderam que a suinocultura provoca geração de emprego e renda; quanto

aos impactos ambientais a amostra indicou que a suinocultura causa danos na

fauna (69% proliferação de insetos, 36% morte de peixes), no ar (60%), na

água (56%), tabela 5; quanto aos recursos naturais, uma grande parcela da

amostra demonstrou não conhecer as belezas naturais da região, tabela 6;

quanto às mudanças ambientais e econômicas percebidas pela amostra depois

da implantação da unidade produtiva no municípios, destacaram-se quanto ao

meio ambiente: 75% afirmaram que provocou mudança no ar, 63,2%

aparecimento de insetos (moscas e borrachudos), o econômico: geração de

emprego 95,2%, aumento da circulação de dinheiro no comercio local 57,9%

(tabelas 8 e 9).

Quanto à equação (43) de regressão do modelo logit, tem-se a análise

dos efeitos das variáveis independentes sobre a variável dependente.

Em particular, a variável Preço possui sinal negativo, indicando que

quanto maior o preço dos ativos ambientais, menor disposição a pagar do

170

individuo. Isto condiz com a teoria econômica, uma vez que, a coeteris paribus,

aumentos no preço provocam redução na quantidade demandada. A variável

independente Renda familiar mensal apresenta-se negativa, isto significa que

quanto maior a renda familiar menor a disposição a pagar pelos ativos

ambientais do individuo; desenvolvendo análise econômica pode-se argumentar

que os ativos possuem características de bens inferiores para a amostra, uma

vez que aumento da renda reduz a quantidade demandada pelos ativos, isto

pode ser explicada pela baixa consciência ambiental apresentada pelos

entrevistados e verificada no sinal dessa variável. É oportuno lembrar que a

variável Preço é estatisticamente significativa e a Renda familiar não é

significativa (5%).

Quanto à variável Instrução, esta possui sinal positivo indicando que

quanto maior a escolaridade maior a disposição a pagar pelos ativos ambientais

do indivíduo. A variável explicativa Protesto tem haver com o universo da

amostra que não aceita pagar pelos ativos ambientais, uma vez que os

entrevistados não foram os causadores dos problemas ambientais, onde 55,7%

da amostra responderam que “o agente que provocou o impacto ambiental deve

arcar com o preço a ser pago pela degradação” e 26,6% argumentou que o

Estado é que deve preservar o meio ambiente. (tabela 11), estas variáveis são

estatisticamente significativas.

As variáveis Preocupação (preocupação com o meio ambiente) e

Suinocultura (o que é suinocultura) possuem sinais negativos, isto significa que:

na primeira variável - 85,5% afirmaram que possuem preocupação com o

ambiente; na segunda variável verifica-se que 93,3% da amostra sabem o que

é suinocultura, todavia, a disposição a pagar e o valor da disposição a pagar

pelos ativos ambientais é baixo, indicando assim baixa consciência ambiental.

Estatisticamente, essas variáveis não são significativas a 5%.

Por fim, a variável explicativa Origem tem sinal positivo, apenas 29,1%

da amostra são naturais de Diamantino, parcela significativa aceita pagar pelos

171

ativos ambientais; e estatisticamente esta variável explicativa também não é

significativa.

Fazendo considerações sobre a hipótese desta Dissertação, ela foi

aceita, uma vez que o valor de existência estimado dos ativos ambientais é

baixo: esse valor expressa a reduzida consciência da população, quanto à

relação meio ambiente e suinocultura, uma vez que para a recuperação ou a

preservação dos recursos naturais demandam-se valores monetários

extremamente altos, conforme já apresentado no capítulo 8 deste trabalho.

Então, como o método valoração contingente é um procedimento

quantitativo e não apresenta a compreensão do valor estimado, e como este

valor aferido foi apenas de R$ 1,76 por individuo mensalmente, buscou-se a

compreensão do valor na categoria consciência numa perceptiva

fenomenológica.

Dentre os autores que fazem a discussão sobre a consciência, optou-se

pelo fenomenólogo existencialista Merleau-Ponty, devido ao fato deste autor

possibilitar ao entrevistador compreender o sujeito (entrevistado) na sua

percepção do ver e observar sobre o fenômeno (impacto ambiental), a partir do

espaço e do tempo que foi realizada a pesquisa. O espaço do entrevistado é

um espaço habitado que se mede pela amplitude de sua vivência de

possibilidades de alcance e captação de sua compreensão do mundo. É este

espaço (Diamantino) que é a medida de existência e não-existência do

entrevistado quanto a questões ambientais, que se transformam. O tempo do

entrevistado, por sua vez, e seu engajamento e consciência de si. Ver e

observar a partir do tempo dos entrevistados é , portanto, captar as suas

subjetividades, buscando perceber essa subjetividade no seu momento, no

momento, então, da realização desta pesquisa. Buscou-se perceber, através

das respostas, de que forma as pessoas compreendiam as questões

ambientais, na percepção de si mesma para si, na raiz de todas as suas

experiências e de todas as suas reflexões, de seu saber sobre os problemas

ambientais, que se chegou à constatação que não é sentido por todos a

172

variação de seu bem-estar, dada as mudanças dos ativos ambientais pela

prática suinícola no município.

No momento da entrevista observou-se que para um grupo que

responderam as 28 perguntas e que até depoimentos fizeram para a equipe de

pesquisadores, e se dispuseram a pagar pelos ativos, nas suas percepções, no

tempo e no espaço foi sentida a presença de mudanças ambientais. Esse grupo

foi formando principalmente de moradores e trabalhadores do bairro Novo

Diamantino, lugar próximo à granja de suínos. Nos outros bairros (Centro,

Nossa Senhora da Conceição, São Benedito e Ponte) foram observadas

expressões de espanto quanto às questões de impacto ambiental negativo que

a suinocultura possa provocar a disposição a pagar foi mais baixa comparada

ao bairro Novo Diamantino.

As respostas dos entrevistados permitem compreender que o impacto

ambiental (fenômeno) não é vivenciado por todos que foram entrevistados, por

uma questão muitas vezes de espaço (aqueles que moram perto do

empreendimento suinícola - Bairro Novo Diamantino sentem mudanças de bem-

estar provocadas pelas variações dos ativos ambientais: mau cheiro,

aparecimento demasiado de insetos e ratos), e aqueles habitantes que

moravam em outras localidades urbanas do município, que não perceberam

mudanças em seu bem-estar, não sendo, portanto, de suas vivencias o

fenômeno (problema ambiental) possui uma baixa consciência.

Destaca-se, também, que foi percebida a construção de uma identidade

do empreendimento na região utilizando-se de aspectos econômicos bastante

positivos, como a geração de emprego, crescimento da renda na região e status

nacional, somado a isto a falta de vivência de problemas ambientais por uma

parcela da amostra, no período que ocorreram as entrevistas que mais

contribuíram para a falta de consciência ambiental apresentada no baixo valor

da disposição a pagar; ou seja, na formação subjetiva do valor pago no

mercado contingente aos ativos ambientais do município.

173

Desenvolvendo uma análise de correlação entre o pensamento

neoclássica sobre valor-utilidade e as concepções fenomenológicas

existencialista de Merleau-Ponty, o valor é revelado pela consciência que o

homem tem a respeito da sua realidade sobre os ativos ambientais no mundo,

derivando o valor de existência que se manifesta pela satisfação que as

pessoas possuem do simples fato de que uma determinada espécie e

ecossistema existem e estão sendo preservados. Os habitantes do Município

de Diamantino ao se disporem a pagar ficam satisfeitos em saber que o

ecossistema Cerrado existe e desejam que seja conservado. Essa é a

concepção de consciência ambiental, ora buscada, sendo esta consciência

percebida do ambiente numa perspectiva: histórica, temporal espacial, corporal,

liberal do homem que foi entrevistado utilizando o método valoração

contingente, então, constata-se uma baixa consciência ambiental.

Analisando as limitações da valoração econômica do meio ambiente, o

conceito de disposição a pagar, refere-se à máxima propensão a pagar que

uma pessoa revela sobre um ativo ambiental, considerando seu limite

orçamentário, sua preferência, seu altruísmo e outros fatores atitudinais e sócio-

econômicos, encontra-se dificuldades de se estimar o valor total dos ativos

ambientais, que, também devido ao fato do homem ainda não compreender

totalmente as manifestações das funções ecossistêmicas do Cerrado, por

exemplo, prejudica a obtenção do valor da natureza. A subjetividade existente

no método valoração contingente, é uma parte integrante na aferição do valor

de recursos ambientais, e questionada quanto à aceitação deste valor como o

valor real de mercado.

Por conseguinte, surge à necessidade de se reconhecer que o valor de

existência dos recursos naturais, é aferido através da percepção filosófica do

homem, representado por princípios como: a perpetuação das espécies, o

legado, a benevolência para com as pessoas e meio ambiente, a simpatia e o

respeito em relação aos seres vivos, a compreensão das funções ambientais e

174

ecológicas exercidas pelos recursos naturais e a responsabilidade ambiental de

deixar para as gerações futuras um mundo possível de viver.

Estas constatações fazem frente à razão fundamental da valoração

econômica do meio ambiente que é prover investigações de racionalidade

econômica para investir em melhorias (ou preservação) ambientais, buscando o

desenvolvimento sustentável. E esta pesquisa sobre valor dos ativos

ambientais, numa visão fenomenológica, motivou reflexões dos habitantes da

cidade, uma vez que a consciência é uma estrutura aberta, em direção às

coisas, dimensionando-se no tempo e no espaço, numa história, num vivido,

levada a um engajar no mundo, fazendo-se presente, provocando reflexões,

desenvolvendo um novo olhar para os problemas ambientais na relação

suinocultura e meio ambiente em Diamantino/MT.

Indica-se para pesquisa futura o “valor total” dos ativos ambientais do

município de Diamantino, incluindo na estimativa, além do valor de existência,

os valores de uso direto, uso indireto e de opção.

175

10. CONCLUSÕES

O valor de existência dos ativos ambientais que sofrem efeitos da

atividade suinícola no município de Diamantino/MT estimado por esta

pesquisa é de R$ 1,76 por indivíduo mensalmente;

O objetivo desta Dissertação foi atingido, o valor de existência dos ativos

ambientais que sofre efeitos da criação de suínos da principal granja

produtora do Estado de Mato Grosso, localizada no município de

Diamantino/MT foi estimado, utilizando o método de valoração contingente

valendo-se da disposição a pagar da população do município pelos ativos

ambientais.

O valor estimado de R$ 1,76 significa o benefício por habitante mensal a

ser obtido como a conservação dos ativos ambientais do município de

Diamantino/MT; de outra maneira, pode também representar o dano ou a

perda individual mensal decorrente da ausência ou deficiência provocada

pela atividade suinícola sobre os ativos ambientais do município de

Diamantino/MT.

Se extrapolado para o valor estimado mensal o total é R$ 32.484,32 e R$

389.811,32 (anual), considerando a população em 18.457 habitantes

(CENSO/IBGE/2000);

176

O valor estimado dos ativos ambientais em Diamantino/MT, pode ser

usado como parâmetro para determinação de multas por danos

ambientais, como valor de referência para o estabelecimento de tarifas de

uso dos recursos, como também na implementação da cobrança pelo uso

dos recursos naturais na região estudada;

A hipótese deste trabalho é aceita, pois o valor de existência estimado

dos ativos ambientais é baixo, comparando com outras pesquisas sobre

o valor de ativos ambientais que utilizaram o método de valoração

contingente: o valor estimado no trabalho de Pessôa (1996) foi de R$

23,52, por habitante pela preservação dos ativos ambientais de

Roraima/RR, na pesquisa de Ribeiro (1998) o valor foi de R$14,57

individual pela preservação e conservação do rio da Ponte em

Goiânia/GO; o de Maia (2002) R$ 25,50, valor do conforto provocado

pelo meio ambiente sobre os funcionário e estudante da UNICAMP/São

Paulo;

Considerando o valor anual dos ativos ambientais aferidos pelo MVC, em

Diamantino/MT, tem-se a quantia de R$ 389.811,32, se comparado com

valores gastos para a recuperação ambiental, como por exemplo, o valor

dos custos de reposição do Estuário de Mersey na Grã-Bretanha que

sofreu contaminação: o valor é US$ 14,04 milhões por ano, outro

exemplo é o programa de despoluição da Baia da Guanabara no Rio de

Janeiro, os gastos totais estimados são de US$ 793 milhões, portanto, o

valor monetário estimado é baixo;

O método de valoração contingente não oferece resposta à compreensão

do valor aferido, sendo assim recorreu-se a perspectiva fenomenológica

existencialista do filósofo Maurice Merleau-Ponty, para a compreensão do

valor de existência dos ativos ambientais;

177

O valor estimado expressa a reduzida consciência da população quanto à

relação meio ambiente e suinocultura;

O valor de existência dos ativos naturais é aferido através da percepção

filosófica do homem, representado por princípios como: a perpetuação das

espécies, o legado, a benevolência para com as pessoas e meio ambiente,

a simpatia e o respeito em relação aos seres vivos, a compreensão das

funções ambientais e ecológicas exercidas pelos recursos naturais e a

responsabilidade ambiental de deixar para as gerações futuras um mundo

possível de viver.

Os habitantes do Município de Diamantino ao se disporem a pagar ficam

satisfeitos em saber que o ecossistema Cerrado existe e desejam que seja

conservado. Essa é a concepção de consciência ambiental, ora buscada,

sendo esta consciência percebida do ambiente numa perspectiva:

histórica, temporal espacial, corporal, liberal do homem que foi

entrevistado utilizando o método de valoração contingente, então,

constata-se uma baixa consciência ambiental.

Os indivíduos entrevistados no bairro Novo Diamantino, local próximo à

granja de suínos, apresentou uma maior disposição a pagar pelos ativos

ambientais;

Nos bairros: Centro, Nossa Senhora da Conceição, São Benedito e Ponte,

foram observadas expressões de espanto nos entrevistados quanto às

questões de impacto ambiental negativo que a suinocultura possa

provocar, e a disposição a pagar foi mais baixa comparada ao bairro Novo

Diamantino.

178

Foi percebida a construção de uma identidade do empreendimento na

região utilizando-se de aspectos econômicos bastante positivos, como a

geração de emprego, crescimento da renda na região e status nacional;

Esta pesquisa sobre valor dos ativos ambientais provocou a construção de

um novo olhar para os problemas ambientais na relação suinocultura e

meio ambiente em Diamantino/MT, uma vez que a consciência é uma

estrutura aberta, em direção às coisas, dimensionando-se no tempo e no

espaço, numa história, num vivido, levada a um engajar no mundo.

179

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO