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18/08/17 Governo leiloará 14 aeroportos em 2018, diz Moreira Por Daniel Rittner | De Brasília O ministro-chefe da Secretaria- Geral, Moreira Franco, resolveu colocar um ponto final na guerra de bastidores em torno da próxima rodada de concessão de aeroportos. No total, 14 ativos - incluindo Congonhas (SP), de longe o terminal mais rentável da Infraero - serão oferecidos ao mercado. "Está politicamente decidido", disse Moreira ao Valor. Os aeroportos serão divididos em quatro grupos: 1) Congonhas individualmente; 2) Vitória (ES), com um novo terminal de passageiros em reta final de construção pela Infraero, e Macaé (RJ); 3) o chamado "Circuito do Turismo" na região Nordeste: Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB) e Juazeiro (BA); e cinco aeroportos localizados no Mato Grosso: Cuiabá, Rondonópolis, Sinop, Alta Floresta e Barra do Garças. Além disso, segundo Moreira, serão oferecidas as participações acionárias de 49% mantidas pela Infraero nos aeroportos concedidos pelo governo anterior: Guarulhos (SP), Brasília (DF), Galeão (RJ) e Confins (MG). Os controladores privados terão direito de preferência na compra. Se não quiserem exercê- la, esses ativos podem ser leiloados ou vendidos por meio de negociações bilaterais com empresas interessadas. Moreira não quis fazer projeções de arrecadação, mas reconhece que a estimativa de R$ 6 bilhões divulgada pela equipe econômica na terça-feira pode ser conservadora. Uma variável importante é se Congonhas vai ter 100% do pagamento de outorga à vista. Nas duas primeiras rodadas de concessão, feitas pela ex-presidente Dilma Rousseff, todo o valor foi dividido em parcelas anuais ao longo do contrato de concessão. Nos quatro aeroportos licitados em março deste ano, já no governo Michel Temer, 25% do preço mínimo de outorga e todo o ágio precisaram ser depositados na assinatura do contrato. O ministro dos Transportes, Maurício Quintella, se opõe a esse desenho. Ele tem se manifestado contra a concessão de Congonhas e ressalta os riscos de insustentabilidade financeira da Infraero. O aeroporto central de São Paulo deve representar quase 20% de suas receitas neste ano e ter superávit acima de R$ 300 milhões. Sem ele, a estatal ficaria em déficit operacional já em 2017. "Não se privatiza para fazer caixa, mas para viabilizar melhorias no atendimento dos clientes", argumenta o secretário de Aviação Civil, Dario Rais Lopes, subordinado a Quintella. "Privatizar Congonhas isoladamente compromete a Infraero, a política de prestação de serviços em rede e, em consequência, as condições de mobilidade. Mobilidade comprometida é estabilidade econômica comprometida. Daí entendermos que se trata de uma medida longe do ideal para o sistema de transportes", adverte. BRASIL Valor Econômico

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Page 1: Valor Econômico BRASIL · concessão, feitas pela ex-presidente Dilma Rousseff, todo o valor foi dividido em parcelas anuais ao longo do contrato de concessão. Nos quatro aeroportos

18/08/17

Governo leiloará 14 aeroportos em 2018, diz Moreira

Por Daniel Rittner | De Brasília

O ministro-chefe da Secretaria-Geral, Moreira Franco, resolveucolocar um ponto final na guerra debastidores em torno da próximarodada de concessão de aeroportos.No total, 14 ativos - incluindoCongonhas (SP), de longe o terminalmais rentável da Infraero - serãooferecidos ao mercado. "Estápoliticamente decidido", disseMoreira ao Valor.

Os aeroportos serão divididosem quatro grupos: 1) Congonhasindividualmente; 2) Vitória (ES), comum novo terminal de passageiros emreta final de construção pela Infraero,e Macaé (RJ); 3) o chamado"Circuito do Turismo" na regiãoNordeste: Recife (PE), Maceió(AL), Aracaju (SE), João Pessoa(PB), Campina Grande (PB) eJuazeiro (BA); e cinco aeroportoslocalizados no Mato Grosso:Cuiabá, Rondonópolis, Sinop, AltaFloresta e Barra do Garças.

Além disso, segundo Moreira,

serão oferecidas as participaçõesacionárias de 49% mantidas pelaInfraero nos aeroportos concedidospelo governo anterior: Guarulhos(SP), Brasília (DF), Galeão (RJ) eConfins (MG). Os controladoresprivados terão direito de preferênciana compra. Se não quiserem exercê-la, esses ativos podem ser leiloadosou vendidos por meio denegociações bilaterais com empresasinteressadas.

Moreira não quis fazer projeçõesde arrecadação, mas reconhece quea estimativa de R$ 6 bilhõesdivulgada pela equipe econômica naterça-feira pode ser conservadora.Uma variável importante é seCongonhas vai ter 100% dopagamento de outorga à vista. Nasduas primeiras rodadas deconcessão, feitas pela ex-presidenteDilma Rousseff, todo o valor foidividido em parcelas anuais ao longodo contrato de concessão. Nosquatro aeroportos licitados emmarço deste ano, já no governoMichel Temer, 25% do preço mínimode outorga e todo o ágio precisaramser depositados na assinatura do

contrato.

O ministro dos Transportes,Maurício Quintella, se opõe a essedesenho. Ele tem se manifestadocontra a concessão de Congonhas eressalta os riscos deinsustentabilidade financeira daInfraero. O aeroporto central de SãoPaulo deve representar quase 20%de suas receitas neste ano e tersuperávit acima de R$ 300 milhões.Sem ele, a estatal ficaria em déficitoperacional já em 2017.

"Não se privatiza para fazercaixa, mas para viabilizar melhoriasno atendimento dos clientes",argumenta o secretário de AviaçãoCivil, Dario Rais Lopes,subordinado a Quintella. "PrivatizarCongonhas isoladamentecompromete a Infraero, a política deprestação de serviços em rede e, emconsequência, as condições demobilidade. Mobilidadecomprometida é estabilidadeeconômica comprometida. Daíentendermos que se trata de umamedida longe do ideal para o sistemade transportes", adverte.

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A nova rodada de concessõesserá anunciada oficialmente apósreunião do conselho de ministros doPrograma de Parcerias deInvestimentos (PPI), na quarta-feira,cuja secretaria-executiva estávinculada a Moreira. Temer deverápresidir a reunião. Um encontropreparatório ocorreu ontem noPalácio do Planalto e selou ocardápio de ativos que serãooferecidos ao setor privado.

A proposta de conceder oaeroporto de Congonhas nasceu nosúltimos dias, no Ministério doPlanejamento e com apoio daFazenda, como forma de reforçar oscofres públicos em 2018. Quintellafoi pego de surpreso e votará contra.Nos bastidores, fala-se inclusive napossibilidade de que ele se recuse aencaminhar o projeto de qualificaçãodo aeroporto no PPI.

Isso criaria constrangimento no

governo, já que a Lei 13.334 - queestrutura o programa de parcerias efoi sancionada por Temer emsetembro do ano passado - deixaclaro no artigo 11: "Ao ministériosetorial ou órgão com competênciapara formulação da política setorial[o Ministério dos Transportes nocaso de aeroportos] cabe, com oapoio da Secretaria do PPI, aadoção das providências necessáriasà inclusão do empreendimento noâmbito do PPI".

Em eventual recusa de Quintellapara encaminhar o projeto aoprograma de concessões, não háprevisão legal sobre o que fazer. OValor apurou que os estudos deviabilidade para a concessão deCongonhas - que vão definirquestões como o preço mínimo deoutorga, os investimentos necessáriose o prazo de vigência da concessão- devem ser tocados diretamentepelo Ministério do Planejamento. Se

tudo correr bem, o leilão ocorreriano começo do segundo semestre de2018.

Viracopos (SP), que serádevolvido à União pela atualconcessionária, poderia até entrar napróxima rodada. No entanto, oprocesso de devolução ainda não foiregulamentado e uma relicitação doativo depende de outros fatores,como o cálculo de indenizações porinvestimentos não amortizados.

No caso das vendas departicipações acionárias de 49%, odinheiro será voltado inteiramente aosaneamento financeiro da Infraero,sem entrar portanto no caixa doTesouro Nacional. A expectativa dogoverno é que isso possa pagardemissões voluntários deempregados e dotá-la de recursospara gerir a rede de aeroportosdeficitários.

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Equipe econômica sai emdefesa da aprovação da TLP

Por Estevão Taiar, ThaisCarrança, Sergio Lamucci eCristiane Bonfanti | De São Paulo eBrasília

A equipe econômica do governodecidiu sair em defesa da TLP, ataxa de juros de longo prazo que vaisubstituir a TJLP nos empréstimosdo BNDES no ano que vem. Emeventos diferentes, o ministro daFazenda, Henrique Meirelles, e osecretário de Política Econômica,Mansueto de Almeida, defenderama mudança da taxa que reduz ossubsídios nos empréstimos do banco.Até o presidente do BNDES, PauloRabello de Castro, que já esteve dooutro lado ao criticar a metodologiade cálculo da TLP, em junho, voltoua se manifestar favoravelmente ànova taxa.

Em São Paulo, Meirelles disseque a proposta de criação da taxaque se encontra em tramitação naCâmara é "um dos projetos maisimportantes" enviados pelo governoao Congresso.

"Não é justo que haja grandes

empresas com taxas de juros maisbaixas, e a população, as pequenasempresas, as médias e as que nãotêm acesso ao BNDES paguem taxasmais altas", disse Meirelles. Segundoele, a aprovação da TLPrepresentará juros menores para amaior parte da população. "A ideiaé ter um banco de desenvolvimentoforte, mas compatível com as taxasde juros do país."

Também em São Paulo,Mansueto afirmou que a nova taxa"vai ser boa para todo mundo". "Atransição para a TLP vai levar cincoanos, mas se estivesse em vigor hoje,estaria em 8%. Melhor ter um taxade juros que seja baixa, que seja boapara todo mundo, do que ter umataxa artificial decidida por trêspessoas dentro do ConselhoMonetário Nacional", disse,referindo-se à TJLP.

Mansueto disse ainda que aestratégia do governo, por enquanto,é aprovar a medida provisória daTLP até 6 de setembro. Questionadose o governo já trabalha em umprojeto de lei como "plano B",

Mansueto reafirmou que o governoespera a aprovação antes do prazode prescrição da MP.

"Se votar na terça-feira que vem[na comissão], em seguida votar noplenário da Câmara e imediatamentefor para o Senado, é possível, sim,aprovar a MP antes de 6 desetembro", afirmou. "Vamostrabalhar primeiro com essecronograma, não adianta porenquanto ficar falando em hipóteses."

A MP prevê que a taxa vaiconvergir em cinco anos para aNTN-B (papéis do Tesourocorrigidos pelo IPCA) de mesmoprazo, eliminando gradualmente ossubsídios nos empréstimos doBNDES.

A substituição da TJLP pela TLPnos empréstimos do BNDES éfundamental para que o Brasil tenhajuros estruturais mais baixos, disse oBank of America Merrill Lynch emrelatório. A instituição afirma que aadoção da TLP é um das mudançasimportantes de caráter estruturalperseguidas pelo governo, junto com

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a reforma da Previdência.

"A medida é importante tantopara reduzir subsídios na economiacomo para melhorar a eficácia dapolítica monetária e permitir níveismais baixos para os juros estruturais",afirma o texto. O relatório diz que,no lado fiscal, um dos principaisimpactos será a redução dossubsídios implícitos, aqueles que nãoaparecem no Orçamento.

Em Brasília, Rabello de Castrovoltou a negar ter feito críticas àproposta de criação da TLP. Opresidente do BNDES afirmou quea aprovação da MP que institui aTLP está até "tardando". Nasegunda-feira, ele havia dito que seriabom se a MP fosse aprovada noprazo, mas que não seria o "fim domundo" se fosse necessário trabalharum pouco mais na sua definição.

Mansueto negou que o ajustefiscal tenha sido adiado para opróximo governo depois daalteração da meta fiscal para 2017 e2018, feita esta semana, de déficitde R$ 139 bilhões para R$ 159bilhões. Segundo ele, há expectativade queda na despesa primária comrelação ao Produto Interno Bruto até2018.

"O ajuste não foi adiado. Se você

olhar o dado da despesa primária,deste ano e do próximo, vai ver quea despesa sobre PIB vai cair",comentou, rebatendo reportagempublicada ontem pelo Valor.

Segundo Mansueto, a queda"grande e rápida" da inflação tirou R$23 bilhões de receita este ano e afetaa base para o ano seguinte.Mansueto afirmou também que oprazo para aprovação da reforma daPrevidência vai depender do temponecessário para se chegar a umconsenso político.

"A reforma já foi aprovada naComissão Especial, já esta prontapara ser levada ao plenário daCâmara, resta saber quanto temposerá necessário para fazer o acordopolitico", disse. Segundo osecretário, os líderes políticosestarão conversando com todos ospartidos nas próximas duas semanaspara ver exatamente, a partir dorelatório aprovado na comissão, oque é consensual e o que não é.

Mansueto foi questionado sobreo que seria imprescindível aprovar nareforma. "Idade mínima e regra detransição, não dá para abrir mão",afirmou. "O ideal seria ter consensopara votar o relatório do deputadoArthur Maia [PPS-BA], que já foibastante negociado."

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Projeções mostram alta forte da dívida bruta

Por Ribamar Oliveira e SergioLamucci | De Brasília e de São Paulo

O aumento das projeções parao déficit primário dos próximos anoslevou a uma piora na dinâmicaesperada para a dívida públicabrasileira, tanto por parte dogoverno como por analistas do setorprivado. A equipe econômica,porém, continua a prever umatrajetória mais favorável, ainda quetenha passado a estimar númerosmais elevados. Para 2020, porexemplo, a nova projeção oficialpara a dívida bruta subiu de 77,7%para 81,1% do PIB, enquanto aprevisão do Santander pulou de84% para 92% do PIB. Um dosprincipais termômetros de solvênciado setor público, o indicador fechoujunho em 73,1% do PIB.

Nas contas do governo, a dívidabruta crescerá nos próximos trêsanos em relação ao PIB, de acordocom o projeto enviado ontem peloExecutivo ao Congresso. Naprojeção anterior, ela começava acair a partir de 2020.

Segundo o projeto de mudançada Lei de Diretrizes Orçamentárias(LDO), que deverá passar pelo crivodos parlamentares, a dívida públicabruta chegará em 2018 a 78,7% doPIB, ante 76,9% da previsãoanterior. Em 2019, o númeroaumentou de 77,9% para 80,6% doPIB. Já para este ano, a estimativa éde que a dívida bruta alcance 75,7%do PIB, com um crescimento daeconomia de 0,5% e inflação de3,7%. Agora, o governo projeta umaexpansão do PIB de 2,5% em 2019e de 2,6% em 2020. A estimativapara 2018, por sua vez, caiu de 2,5%para 2%.

O ministro do Planejamento,Dyogo Oliveira, disse que o aumentoda projeção para a dívida bruta é umsinal da "situação grave em que seencontram as contas públicas".Segundo ele, o problema revela anecessidade das reformas, emparticular a da Previdência. "Épreciso enfrentar a principal despesado governo, a da Previdência." Semisso, disse Dyogo, o país não vaiestabilizar as contas públicas.

As estimativas da economistaTatiana Pinheiro, do Santander,indicam uma trajetória de alta maisacentuada para a dívida bruta. Elamanteve a projeção para 2017 foiem 77,2% do PIB, elevando a de2018 de 81,9% para 84% do PIB ea de 2019, de 83,4% para 88,9%do PIB.

Anunciadas na terça-feira, asnovas metas fiscais representam umadeterioração de R$ 200 bilhões, ou2,6% do PIB, para o déficit primário(que exclui gastos com juros) dogoverno central entre 2017 e 2020,destacou Tatiana. "Essas mudançasnas metas para o resultado primáriosão más notícias para a dinâmica dadívida", resumiu a economista. Onível dos juros e o crescimento doPIB são as outras variáveisfundamentais para definir a trajetóriado endividamento público.

O Santander adotou comoprojeções para o déficit primário até2020 as novas estimativas dogoverno para o setor públicoconsolidado, que inclui, além da

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União, Estados, municípios e estatais,com exceção da Petrobras e daEletrobras. Para 2017, o númerocontinuou em 2,5% do PIB, aprevisão com que Tatiana játrabalhava. No caso do período de2018 a 2020, o buraco esperadoaumentou, com o anúncio das novasmetas pelo governo. Para o ano quevem, o déficit primário subiu de 1,8%para 2,3% do PIB; para 2019, puloude 0,5% para 1,8% do PIB; e, para2020, passou de um superávit de0,9% para um déficit de 0,6% doPIB.

Essas mudanças produzem umefeito bastante negativo sobre adinâmica da dívida, que já não erafavorável. Para lembrar, oendividamento bruto equivalia a51,5% do PIB no fim de 2013. Emtrês anos e meio, já subiu mais de 21pontos percentuais do PIB.

Nas contas do Santander, oresultado primário será zerado em2021, e o setor público terá umnúmero positivo, de 0,5% do PIB,apenas em 2022. Os superávits apartir daí vão ocorrer por causa docrescimento - de cerca de 3% de2020 em diante - e daimplementação de reformas fiscais,segundo Tatiana. Nesse cenário, oresultado primário deve ser positivoem 1,5% do PIB em 2023 e atingir2% do PIB em 2024 e 2025. Noscálculos da economista, o superávitnecessário para estabilizar o

endividamento está na casa de 2% a3% do PIB.

A dívida bruta, por sua vez,continua a subir até 2023, batendoem 96,3% do PIB, e cai lentamentea partir do ano seguinte - fica em96,2% do PIB em 2024 e em 96,1%do PIB em 2025, estima Tatiana.São números muito acima da médiados países emergentes. Para oFundo Monetário Internacional(FMI), a média do endividamentobruto desse grupo de economiasdeve ficar em 48,6% do PIB nesteano. "De acordo com nossosmodelos, o efeito da Selic na casade um dígito será suplantado peloimpacto de um déficit primário emmédia de 1,8% do PIB nos próximosanos", disse Tatiana. A projeção doSantander para a Selic no fim desteano, de 8,5%, está em processo derevisão. Hoje, a taxa está em 9,25%ao ano, e as previsões dos analistasouvidos pelo Banco Central (BC)apontam para uma Selic de 7,5% nofim de 2017. No projeto enviado aoCongresso, o governo indicou queespera que a Selic chegue a 8% aofim de 2018 e 2019, mas suba para8,3% no fim de 2020. A projeçãoanterior era de Selic em 9% para ofim de todos esses anos.

No caso da dívida líquida, quedesconta ativos do país como asreservas internacionais, o Santanderdivulgou projeções até 2020, e oresultado tampouco é animador. Para

o banco, o endividamento líquido,que fechou o ano em 44,9% do PIB,vai bater em 66% do PIB em 2020- antes, a projeção era de 61% doPIB.

"Essa trajetória ascendente paraa relação entre a dívida bruta e adívida líquida e o PIB aumenta aschances de uma revisão do risco decrédito soberano", disse Tatiana,avaliando que pode haver um novorebaixamento do rating do país pelasagências de classificação de risco."Nós consideramos a implementaçãode reformas estruturais a únicasolução", afirmou Tatiana. "Em nossaopinião, os mercados esperam queo debate no Congresso sobremedidas estruturais recomece a partirde setembro. Se esse calendário deeventos não ocorrer, nós poderemosver um prêmio de risco maior sendoincorporado aos preços de ativosnovamente."

O projeto do governo traz aindaestimativas para o câmbio e para areceita primária nos próximos anos.Para o dólar, a previsão de R$ 3,40por dólar em 2018, R$ 3,50 em2019 e R$ 3,50 em 2020, semprepara o fim de cada um dos anos. Jáa estimativa do governo para receitaprimária se mantém constante em20,14% do PIB em 2018, 2019 e2020. Em 2017, atingirá 20,8% doPIB. (Colaborou Cristiane Bonfanti,de Brasília)

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Equipe quer 'compensar'parlamentares por vetos na LDO

Por Cristiane Bonfanti | DeBrasília

O ministro do Planejamento,Dyogo Oliveira, disse ontem que aequipe econômica está discutindocom o Congresso uma maneira defazer com que matérias vetadas pelopresidente Michel Temer na Lei deDiretrizes Orçamentárias (LDO) de2018 não gerem prejuízos aosparlamentares. A medida seria umaforma de quebrar resistências noLegislativo à aprovação da revisãoda meta fiscal - de déficit primáriode R$ 139 bilhões em 2017 e deR$ 129 bilhões em 2018 para R$159 bilhões nos dois anos.

Ontem, membros da ComissãoMista de Planos, OrçamentosPúblicos e Fiscalização (CMO)disseram que o governo reverteriavetos do presidente Michel Temer àLDO como forma de conseguirapoio para a aprovação da revisãoda meta fiscal. Oliveira, no entanto,

afirmou que não é possível revervetos. "O veto, uma vez emitido, nãopode ser retirado", disse. "O queestamos discutindo com eles é seaquelas matérias vetadas podem serconstruídas de maneira que não gereos prejuízos, os riscos, asdificuldades que foram motivo dosvetos. Então, várias coisas nosparecem passíveis de seremconstituídas de maneira diferente,mas que atendam aosparlamentares", explicou, apósreunião com o ministro José MúcioMonteiro, no Tribunal de Contas daUnião (TCU).

Segundo Oliveira, há temas quepodem ser construídos de "maneiradiferente" de forma a atender aosparlamentares. "Por exemplo,tivemos veto sobre a justificação acada medida do impacto nosEstados e municípios. Isto não épossível [de ser revisto] porque nãotemos informações detalhadas sobreas estruturas, os orçamentos, osgastos dos Estados e municípios.

Mas é possível, por exemplo,fazermos o impacto no FPE [Fundode Participação nos Estados] e FPM[Fundo de Participação nosMunicípios], que me parece que é omotivo da preocupação deles", disse."Então, a gente vai construindo essaspontes, tentando identificarpreocupação do Congresso, econstruindo junto com elesalternativas para atender sem criardificuldades que foram alegadas",complementou o ministro doPlanejamento, que observou que omecanismo sobre como essasalterações podem ser feitas aindaserá discutido.

Oliveira disse estar confiante naaprovação da revisão das metasfiscais de 2017 e 2018 antes de 31de agosto, quando o Executivoenviará ao Congresso Nacional aproposta da lei orçamentária anualdo próximo ano. "Nossa expectativaé que a revisão da meta sejaaprovada antes do dia 31", afirmou.

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Consumo cresce e eleva projeções para o PIB

Por Ana Conceição | De SãoPaulo

Silvia Matos, do Ibre: "O cenáriopolítico limita a velocidade decrescimento".

Com o investimento ainda emretração, a demanda das famíliasdeve puxar o leve crescimento doProduto Interno Bruto (PIB) nosegundo trimestre e também em2017, após dois anos de recessão,segundo economistas. A melhoradas condições financeiras das famíliaspor causa da queda da inflação e dosjuros, do saque do FGTS, e opequeno aumento da populaçãoocupada, ainda que no mercadoinformal, ajudam a atividade.

Depois de oscilar entre abril emaio, os indicadores de junho -comércio e serviços, em especial -surpreenderam e levaram váriasinstituições a elevar suas estimativaspara o PIB do segundo trimestre. Asrevisões não são drásticas, masmarcam uma reversão dasexpectativas, que eram de piora porduas razões: o fim do efeito safra quepuxou o aumento de 1% no PIB doprimeiro trimestre e a forteturbulência política causada pelas

delações da JBS.

Divulgado ontem, o Índice deAtividade Econômica do BancoCentral (IBC-Br), considerado umaprévia do PIB, subiu 0,25% nosegundo trimestre sobre o primeiro,feito o ajuste sazonal. Em junhosobre maio, aumentou 0,5%. Mesmodiante do dado positivo, o ministroda Fazenda, Henrique Meirelles,preferiu, no entanto, manter a cautelae disse ontem que o PIB do 2ºtrimestre pode ainda ficar "próximode zero ou quem sabe até um pouconegativo". Mas isso não significa quea retomada não esteja em curso.

O processo de desinflação é omais importante no jogo de forçasda economia no momento, afirmaSilvia Matos, coordenadora doBoletim Macro, do Ibre-FGV. "Issoforma um quadro mais favorável parao consumo e para a economia nospróximos trimestres". Silvia ressaltaque a retomada da demanda dasfamílias virá em nível mais baixo doque em anos anteriores. "Não hácapacidade para crescer muito. Nãovai haver excesso de crédito,excesso de consumo." Segundo ela,os brasileiros estão quitando débitos,mas continuam endividados.

O Ibre-FGV prevê alta de 0,5%no consumo das famílias no segundotrimestre, número que pode serrevisto para cima, assim como aestimativa do PIB do período,atualmente em queda de 0,3% anteo primeiro trimestre, feito o ajuste

sazonal. Esta última deve melhorar,mas continuar negativa. Há outroselementos que jogam contra. Oinvestimento ainda deve vir ruim. Aconstrução civil continua comnúmeros muito negativos e osegmento de máquinas eequipamentos diminuiu a queda, masenfrenta cenário difícil, limitado pelagrande ociosidade das fábricas.

Ao mesmo tempo, incertezas,como as que envolvem a eleiçãopresidencial não incentivam o aportedas empresas. "O cenário políticolimita a velocidade de crescimento",diz Silvia. A projeção é que oinvestimento tenha queda de 3% em2017. A previsão do consumo dasfamílias para o é de alta de 0,1% e ado PIB, de 0,2%.

As surpresas positivas de junhono varejo, serviços e mercado detrabalho também levaram o Itaú amelhorar a previsão para o PIB dosegundo trimestre, de queda de0,2% para estabilidade ante oprimeiro trimestre. Os dados detrabalho em especial foram bons.Não se esperava queda da taxa dedesemprego antes do fim deste anoou início do próximo. Esse recuo foicomandado pelo emprego informal,mas o banco ressalta que issotambém contribui para o aumento damassa salarial.

A grande mensagem dosindicadores de junho, diz PatriciaPereira, economista da Mongeral, foia de que a crise política não arrefeceu

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a atividade. Os índices de confiançacaíram no mês, o que levou omercado a esperar um pé no freiodos agentes econômicos. Não foi oque aconteceu. "Estávamospessimistas. Mas talvez tenhamos defato chegado ao piso", diz.

A Pnad Contínua do segundotrimestre e os dados do Caged demaio e junho indicam melhoraconsistente do mercado de trabalho,na opinião de Patricia. "Ambossurpreenderam porque o mercado detrabalho geralmente é último a piorar,mas também o último a melhorar".Aumentou o número de pessoasprocurando emprego e ainda assimhá mais pessoas ocupadas. "Esta éuma melhora genuína do mercado detrabalho."

A Mongeral espera estabilidadeno PIB do segundo trimestre ante oprimeiro, de uma expectativa anteriorde queda de 0,2%. Para o ano, aprevisão continua em alta de 0,3%."Estamos longe de devolver a quedados últimos anos e devemos terminaro ano ainda no nível de 2014, mas éum começo", di Patricia.

O aumento da massa de saláriosfoi um dos fatores citados pelo IBGEe economistas para o melhordesempenho do varejo, que em junhoteve alta quase generalizada em dezsegmentos, na comparação com maioe também ante o mesmo período doano passado.

Marco Caruso, do Banco Pine,vê melhora no consumo das famílias,mas relativiza o peso da liberação dascontas inativas do FGTS. "Muitagente está usando o fundo paraexplicar o consumo, mas corre-se orisco de menosprezar outros fatores

relevantes", diz. Entre eles está amelhora das confiança e das finançasdas famílias, influenciadas pela quedados juros e da inflação. Há maisespaço no orçamento.

"Há uma descompressão decustos que se traduz em condiçõesfinanceiras mais favoráveis parafamílias e empresas", afirma Caruso,para quem a demanda ajudou o PIBno segundo trimestre. A massa realde salários está maior, o crédito àpessoa física, mais barato, enumera."Haverá uma contribuiçãoimportante na margem."

Ao longo do segundo semestre,o consumo deve beneficiar aatividade na medida em que odesemprego se estabilize e a quedados juros se torne mais perceptívelpara os tomadores de crédito. Nestesentido, diz Caruso, o PIB para oano também deve ter umdesempenho melhor que o esperado."Mas não vai ser nada extraordinário.Tudo o mais constante, o PIB podecrescer acima de 0,5%, em vez dealgo no intervalo de zero a 0,5%, queparecia mais justo até algum tempoatrás. " O Pine elevou a previsão parao segundo trimestre de alta de 0,1%para avanço de 0,3%.

O banco Haitong deve revisarpara cima a estimativa para o PIBdo segundo trimestre, atualmenteentre estabilidade e queda de 0,2%.Para o ano, a previsão é deestabilidade, por enquanto. A boasurpresa do varejo restrito eampliado (inclui veículos e materiaisde construção) pode ser creditadaao aumento da massa de renda e aossaques do FGTS, considera FlavioSerrano, economista da instituição.Mas ele vê o bom momento do

consumo como algo pontual.

"Pode ser que tenha crescido emjunho, mas não deve liderar aretomada num período mais longopor causa da alta taxa dedesemprego. Há muita ociosidade nomercado de trabalho", diz. A baixados juros e da inflação ajuda, mas aeconomia seguirá em seu processomuito gradual de recuperação. Secomo for, foram reduzidas as chancesde haver uma leitura negativa nosegundo trimestre, diz.

Outra instituição a revisar o PIBfoi a Quantitas. Projeta agoraexpansão de 0,1% no segundotrimestre ante o primeiro, de quedade 0,2% estimada antes. A projeçãopara o terceiro trimestre continuouem alta de 0,3%, mas a do quartosubiu de 0,3% para 0,5%. Agora, aQuantitas trabalha com expansão de0,6% e 2,1% para 2017 e 2018,respectivamente, ante 0,3% e 1,9%anteriormente. "Continuamos comviés para cima para 2018", afirma emrelatório.

Para Silvia, do Ibre-FGV, oconsumo doméstico pode beneficiara produção industrial mais à frente eo setor externo deve continuarpositivo, apesar do câmbio maisvalorizado. O ambiente favorável aosemergentes lá fora também atua afavor. "O investidor externo acreditaque vale a pena correr o risco, pelomenos por enquanto", diz. Entre osriscos à retomada da atividade, Silviacita a situação dos Estados, o cortedos investimentos pelo governo e ocomplicado cenário fiscal.(Colaboraram Eduardo Campos, deBrasília, e Estevão Taiar, de SãoPaulo)

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Fatia de rendimento para pagardívida deve cair abaixo de 20%

Por Thais Carrança | De SãoPaulo

Como efeito da queda dos jurose com a perspectiva de reação domercado de trabalho à frente,economistas já vislumbram umaredução do patamar decomprometimento da renda dasfamílias com o pagamento de dívidasabaixo dos 20%, nível inédito nopaís desde 2011. A maior sobra dedinheiro no bolso das famíliaspromete dar impulso ao consumo,esperado para ser um dos vetoresdo crescimento do PIB em 2018.

A diferença entre as taxas dejuros do crédito livre - aqueleoferecido pelos bancos em diversasmodalidades de produtos,independentemente das políticas dedirecionamento de crédito dogoverno - e o custo de captação dasinstituições financeiras está emqueda desde fevereiro, após umcrescimento constante desdemeados de 2013, acentuado a partirde 2015, com a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff.

"Em 2015, os juros se descolamda Selic porque a capacidade derepagamento das pessoas físicas ejurídicas estava sendo questionada,por conta da recessão, sob impactoda queda de faturamento dasempresas e das renda disponível dasfamílias", afirma Fabio Silveira, daMacroSector.

Com o aumento da recessão e dodesemprego, as pessoas acabarammigrando para créditos de mais altorisco, como cartão de crédito eempréstimo pessoal, que têm taxasde juros mais altas, explica GustavoArruda, economista do banco BNPParibas, sobre a guinada do spreada partir de 2015.

Segundo Arruda, esse fenômenoconjuntural, resultante da crise,também explica porque oendividamento total das famílias estáem queda, enquanto ocomprometimento da renda com opagamento de dívidas se mantémestável, em patamar elevado. "Omovimento de desalavancagem dadívida total não se refletiu empagamento menor de parcela porqueo brasileiro teve que se endividarcom uma dívida muito mais cara", dizo economista.

O endividamento das famílias -relação entre o saldo das dívidasassumidas e a renda em 12 meses -está em queda desde setembro de2015, quando chegou a um pico de46,1%. Em maio, dado mais recentedisponibilizado pelo Banco Central,o indicador estava em 41,5%, novigésimo mês consecutivo deredução e nível mais baixo em seisanos.

"À medida que as famílias pagamsuas dívidas e não tomam dívidasnovas, o endividamento assume umatrajetória de queda mais acentuada",

diz João Morais, economista daTendências.

Já o comprometimento da rendadas famílias com o pagamento doserviço das dívidas tem se mantidoem patamar relativamente estável,entre 21% e 22%, desde 2011. Emmaio, o indicador estava em 21,3%,acumulando quatro meses de queda- o pior ponto da curva, 22,7%, foiregistrado em setembro de 2015.

Analisando o comprometimentoda renda de maneira mais detalhada,separando entre pagamento deprincipal e de juros, o efeito da piorano perfil de endividamento se tornamais evidente, acredita Arruda.Enquanto o comprometimento darenda com amortização de principalvem caindo desde o fim de 2014, acarga de juros se mantém em altafirme desde 2005, observa.

"Em termos históricos, pode-sedizer que o comprometimento darenda ainda está estável, mascolocando uma lupa nos últimosmeses, enxergamos o início de umatrajetória de queda, que deve persistirnos próximos meses, com acontinuidade da baixa de spread ecom a melhora do perfil do crédito,que está voltando a crescer comlinhas de melhor qualidade", afirmaMorais, da Tendências.

A consultoria espera que ocomprometimento da renda deve cairabaixo dos 20% ainda este ano, com

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intensificação da trajetória de quedano fim de 2017. A estimativa daTendências é de que, ao fim do ano,as famílias estejam gastando 19,8%de sua renda com o pagamento dedívidas, caindo a 18,7% em 2018.A projeção tem viés de baixa, poisainda não havia incorporado arevisão de projeção para a Selic noano e a melhora de perspectiva paraa massa salarial, com a recuperaçãodo mercado de trabalho.

Já o BNP Paribas projeta ocomprometimento da renda caindoao nível de 19% mais para o fim de2018. "Esse processo dedesalavancagem se traduziria emmais de 1% do PIB em renda líquidapara as famílias, provavelmenteimpulsionando o consumo e ocrescimento em geral em 2018",escreveu Arruda em relatório. Obanco projeta um crescimento doPIB de 3% no próximo ano,enquanto o consenso do mercadoestá em 2%, conforme o boletimFocus.

Menos otimista, Silveira, daMacroSector, acredita que umaqueda mais significativa docomprometimento da renda dasfamílias deve ficar para 2019, emboradeva haver melhora já no próximoano. "Normalmente, quando os juroscaem, o efeito na economia começaseis a nove meses, mas pelo fato dea economia estar desorganizada, vailevar um ano para o efeito começara aparecer", afirma o economista.Para ele, o Banco Central poderiater sido mais rápido no corte de juros.

Para José Márcio Camargo, daOpus Gestão de Recursos, a quedade spread pode se acelerar se a Taxade Longo Prazo (TLP) for aprovadapelo Congresso Nacional. "Se issoacontecer, esse spread vai diminuirde forma bastante significativa, ouseja, a taxa de juros de mercado vaiestar muito mais próxima da Selic doque no passado recente", prevê.Defensores da TLP acreditam que anova taxa do BNDES aumentará apotência da política monetária,porque uma parte maior do créditoestará atrelada a taxas de mercado.

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Após recuo de 2 anos, distribuiçãode renda melhora no 2º tri

Por Bruno Villas Bôas | Do Rio

Marcelo Neri, da FGV Social:"Sinal de que a desigualdade paroude piorar".

A recente redução dodesemprego e a queda da inflaçãoproduziram um efeito favorável nadistribuição de renda no país. Apóspouco mais de dois anos de pioracontínua, a disparidade da rendadomiciliar per capita do trabalho noBrasil registrou pequena melhora nosegundo trimestre deste ano.

Segundo cálculos da FGVSocial, o Índice de Gini da rendadomiciliar per capita do trabalho foide 0,5875 no período de abril ajunho, abaixo dos 0,5901 doprimeiro trimestre deste ano - oíndice varia de zero a um e, quantomais perto de zero, mais igual a rendaentre ricos e pobres.

Essa pequena variação de 0,4%,num indicador que oscila lentamenteao longo do tempo, é o primeiro sinalpositivo desde o fim de 2014, quandoo mercado de trabalho iniciou umatrajetória de aumento dadesigualdade entre os que compõema força de trabalho (desempregadose empregados).

"Desde o pico histórico em 1989,o índice de desigualdade do país nãosubia por dois anos consecutivos,como vinha acontecendo. A pequenavariação é, portanto, um primeirosinal de que a desigualdade parou depiorar", disse Marcelo Neri, diretorda FGV Social e ex-presidente doInstituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea).

O levantamento da FGV Socialtem como base os microdados daPesquisa Nacional por Amostra deDomicílio (Pnad) Contínua. Apesquisa não inclui a rendaproveniente de outras fontes, comoaposentadoria, pensões etransferências de programas derenda, como o Bolsa Família.

Segundo Neri, o indicador temgrande correlação com o melhorcomportamento do emprego. Deacordo com dados da Pnad

Contínua, a taxa de desempregorecuou de 13,7% no primeirotrimestre para 13% no segundotrimestre deste ano, a primeira quedarelevante desde o fim de 2014.

"Os dados da Pnad Contínuamostram uma evolução interessante,como se estivéssemos cruzando oCabo da Boa Esperança emdesigualdade e desemprego. Claroque sempre existe o risco de novoschoques, mas alguma coisa já estáno azul no mercado de trabalho",disse o economista.

Para Neri, a queda da inflação foium aliado para a redução dadesigualdade, ao permitir o aumentoda renda real. Segundo ele, o piormomento nesse sentido foi nosegundo trimestre de 2016, quandoa renda recuava 6% em 12 mesespara a população de 15 a 60 anos.Esse indicador passou ao campopositivo no segundo trimestre(0,7%).

"A melhora da renda real é um dosfatores por trás do crescimento dovarejo nos indicadores conjunturaismais recentes. Talvez esse seja umfator importante para o próximo PIB", disse Neri.

ESPECIALValor Econômico

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O pente-fino

COM ALVARO GRIBEL (DESÃO PAULO)

O governo vai incluir no BolsaFamília 800 mil famílias no mês deagosto e assim zerar a fila dospedidos de entrada. Apesar disso,foi reduzido em 1,5 milhão o númerode famílias inscritas porque, segundoo ministro Osmar Terra, foi retiradodo programa quem tinha renda maiordo que admitia. Houve casos defuncionários públicos e até políticosque recebiam benefícios.

O ministro do DesenvolvimentoSocial disse que o pente-fino nosprogramas sociais foi bem sucedido.O auxílio-doença que estava sendoconcedido havia mais de dois anosfoi revisto por médicos peritos e sechegou à conclusão de que 85%recebiam indevidamente: — Só noauxílio-doença estimamos mais deR$ 10 bilhões economizados. Háoutros programas que estãopassando por pente-fino emelhorando a gestão. O BPC(Benefício de Prestação Continuada)é maior do que o Bolsa Família, umprograma de R$ 50 bilhões.Encontramos 17 mil pessoas mortasrecebendo BPC. São R$ 600milhões de economia nesseprograma, tudo com mais controle.

Com isso, nós queremos que aspessoas que precisam tenhamcontinuidade. Terra disse que oobjetivo neste momento de crise égarantir atendimento básico para asobrevivência das famílias maisvulneráveis, e para isso trabalha paraque os programas sociais sobrevivamaos cortes: — Nós somos o coraçãodo governo, a parte do Planejamentonão tem coração porque tem quepensar em números. Entrevistei oministro Osmar Terra na Globonewsexatamente sobre este ponto: comomanter os programas sociais emmomento em que naturalmente hámais demanda, pela recessão edesemprego, e num ambiente decorte de gastos provocado pela crisefiscal.

Ele disse que o Bolsa Famíliaencolheu porque a gestão melhorou,mas continua incluindo famílias queprecisam. Antes, o controle dosbeneficiários era feito de dois em doisanos, agora, seis bancos de dadoscruzam as informações mensalmentepara encontrar quem está recebendoindevidamente o auxílio: — Tínhamosfuncionários públicos, vereadores eaté prefeitos no Bolsa Família. Comoo programa estava sem controlerigoroso, estava artificialmenteinchado.

Por isso conseguimos focalizarmais e incluir mais. Em agosto vamos

zerar a fila, incluindo mais 800 milfamílias, e não haverá ninguém naespera. A média do governo anteriorera quase um milhão na fila todomês. Este ano, zeramos pela terceiravez. Osmar Terra disse que oprograma manteve a exigência dacriança na escola, mas está tambémcriando as condições para o quechamou de “inclusão produtiva”.Com 2% do empréstimocompulsório dos bancos ao BancoCentral, será criado um programa demicrocrédito, a princípio de R$ 3bilhões, para financiar pequenosempreendimentos. Isso será lançadoem setembro, mas, segundo ele, asconversas estão adiantadas comBanco Central, Febraban e Sebrae.

Outro programa já emandamento é o que monta uma redede visitadoras para acompanhar ascrianças desde a gestação até operíodo escolar, para anteciparse aosproblemas e acompanhar odesenvolvimento: — É um grupo devisitadores intersetoriais. Sãoprofessores, assistentes sociais,enfermeiros, técnicos emenfermagem que são capacitados emum protocolo internacional daUnicef. Perguntei se não era melhorpensar em universalizar as creches:— Isso não existe em lugar algumdo mundo. Já acompanhei esseprograma, é um assunto ao qual mededico há muito tempo. Nos EUA,

MIRIAM LEITÃOO GLOBO

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há 40% de crianças na creche, naidade de 3 anos. Na Suécia, há 50%.Cuba tem 25%, mas em Cuba existeesse programa de visitadores em casapara 90% das crianças. Esseprograma não é para substituir acreche, é complementar. O ministrodiscorda dos dados do governoanterior de que havia reduzido apobreza a 10%.

Segundo ele, se 14 milhões defamílias, 1/4 da população, recebiamBolsa Família, é porque a reduçãoda pobreza nunca existiu. Eleentende que a pessoa não deixou deser pobre por ter passado a receberauxílio governamental. Osmar Terradisse que a crítica do Banco Mundialao aumento da pobreza no Brasil sereferia aos dados de 2014 e 2015,quando o país estava em crise, e odesemprego, aumentando.

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Cármen quer divulgação on-line de orçamento

Presidente do STF e do CNJbusca fiscalizar pagamentosindevidos nos TJs

ADRIANA MENDES

A presidente do SupremoTribunal Federal (STF) e doConselho Nacional de Justiça(CNJ), ministra Cármen Lúcia, vaipublicar um resolução para oacompanhamento em tempo real dosorçamentos dos tribunais de justiçados estados. A medida visa aaumentar a fiscalização após oTribunal de Justiça de Mato Grosso(TJMT) pagar a 84 magistradossalários acima de R$ 100 mil,chegando até R$ 503 mil.

Atualmente, o CNJ não temcomo fazer uma fiscalização on-linepara saber, por exemplo, os valoresdestinados ao gasto de custeio epessoal. O TJMT tem um portal detransparência, mas ainda nãodivulgou o valor total dasindenizações pagas relacionadas ao

caso dos supersalários.

O tribunal mato-grossensejustificou que tinha aval do ConselhoNacional de Justiça para quitar umadívida antiga com os magistrados,mas o ministro corregedor do CNJ,João Otávio Noronha, negou quetenha autorizado e suspendeu ospagamentos “até que os fatos sejamesclarecidos”.

Houve apenas uma decisão,autorizando o pagamento de R$ 29,5mil a uma juíza do estado, mas quenão era extensiva aos outrosmagistrados. O presidente doTribunal de Justiça de Mato Grosso,Rui Ramos Ribeiro, foi convocadopara dar explicações e estevereunido ontem com o corregedor emBrasília. Após a notificação, otribunal tem 15 dias para prestaresclarecimentos.

Apenas no término do processoserá possível saber se os juízes terãoque devolver o dinheiro recebido noscontracheques.

“NÃO TÔ NEM AÍ”

Titular da 6ª Vara de Sinop, a 477quilômetros de Cuiabá, o juiz MirkoVicenzo Giannotte recebeu, emvalores brutos, R$ 503.928,79 nomês passado. Com descontos, orendimento foi de R$ 415.693.02.

Em entrevista ao GLOBO nestasemana, ele afirmou que opagamento é justo, está dentro da leie que ele não está “nem aí” para apolêmica. Segundo o magistrado, ovalor é a “justa reparação” pelosanos em que trabalhou em comarcassuperiores, mas seguiu recebendo osalário como juiz de primeirainstância. — Eu não tô nem aí (sobrea polêmica).

Eu estou dentro da lei e estavarecebendo a menos. Eu cumpro a leie quero que cumpram comigo —disse o magistrado. O juiz afirmouque aguarda receber outros passivosestimados em R$ 750 mil, referentesao acúmulo de varas.

O PAÍSO GLOBO

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Gastos dos estados com pessoalcresceram 86% em seis anos

Já os investimentos tiveramqueda de 13,3%, mostra boletim daFazenda

MARTHA BECK EBÁRBARA NASCIMENTO

BRASÍLIA - O drama de ter umOrçamento cada vez mais consumidopor despesas obrigatórias(especialmente Previdência Social epessoal) não atinge apenas o governofederal. Nos estados, esses gastostambém abocanham uma fatia cadavez maior da arrecadação, deixandopouco espaço às demais áreas.Segundo o novo Boletim de FinançasPúblicas de Estados e Municípios,divulgado ontem pelo Ministério daFazenda, os desembolsos estaduaiscom pessoal saltaram de R$ 184,7bilhões em 2010 para R$ 343,3 bilhõesem 2016: um aumento de quase 86%,em termos nominais, em apenas seisanos. Entre 2015 e 2016, a alta foi deR$ 15,5 bilhões, ou 4,7%. Já osinvestimentos caminharam no sentidocontrário. Passaram de R$ 49,5bilhões em 2010 para R$ 42,9 bilhõesem 2016, uma queda de 13,3%.

Ao longo dos seis anos, os estadoschegaram a elevar o total investidopara R$ 67,5 bilhões em 2014, masesse montante foi sendo reduzidogradualmente. Entre 2015 e 2016, osinvestimentos estaduais ficarampraticamente estáveis, com queda de0,2%. De acordo com o boletim, osestados em pior situação financeira— Rio de Janeiro, Rio Grande do Sule Minas Gerais — registraram um

crescimento mais expressivo noscustos com inativos. O documentodestaca que, particularmente em2016, os estados fizeram um esforçopara reduzir despesas com pessoal,mas os resultados apareceram nascontas com servidores que estão naativa. Já inativos e pensionistascontinuaram pesando no bolso. “Em2016, a maior parte dos estadosapresentou queda real na despesacom ativos, o que pode ser resultadode um esforço de contenção dereajustes salariais e redução dequadros, em especial decomissionados, motivado pelasdificuldades financeiras ou peloimpacto da inflação (8,7% no IPCAmédio do ano).

As despesas com inativosapresentaram comportamento maisheterogêneo, a depender daconfiguração dos regimesprevidenciários de cada ente”, diz odocumento. No Rio de Janeiro, porexemplo, as despesas com folha depagamento subiram de R$ 31,681bilhões em 2015 para R$ 33,669bilhões em 2016, uma elevação de6%. Mas abrindo esse número épossível observar que, enquanto a altacom ativos foi de apenas 3%, a cominativos e pensionistas chegou a 14%no período. Ao mesmo tempo, osinvestimentos despencaram 62%,passando de R$ 6,176 bilhões para R$2,342 bilhões.

LRF: 9 ESTADOSFORA DO LIMITEO boletim destaca ainda que as

estatísticas dos estados têm

discrepâncias com os númeroscalculados pelo Tesouro. Um exemploestá na relação entre despesas comfolha e Receita Corrente Líquida(RLC). A Lei de ResponsabilidadeFiscal (LRF) define como critério deequilíbrio que a relação entre pessoale RCL não seja superior a 60%. Masesse número é bem diferentedependendo de quem faz a conta. Noscálculos dos estados, apenas Rio deJaneiro (69,38%) e Rio Grande doNorte (62,06%) ultrapassaram o limiteprevisto na LRF em 2016. No entanto,pelo critério do Tesouro, o total deentes desenquadrados no indicadorchega a nove: Rio de Janeiro, MinasGerais, Rio Grande do Sul, Goiás,Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná,Rio Grande do Norte e Mato Grosso.

Os piores cenários estão em MinasGerais (78,76%), Rio de Janeiro(74,73%) e Rio Grande do Sul(69,38%). A diferença nos cálculos,aponta o boletim, ocorre por causa dasmetodologias usadas para se chegarà despesa com pessoal. Ainda deacordo com o documento, hádivergências entre o custo daPrevidência informado pelos estadose o que é estimado pelo governofederal. Esse custo é quanto o Tesouroteve que aportar para cobrir o déficitprevidenciário. Neste caso, adiscrepância fez com que o númeroinformado em 2016 pelos estadosfosse de R$ 54,9 bilhões, enquanto omedido pelo Tesouro de R$ 84,4bilhões. Entre 2015 e 2016, o Tesouroaponta um aumento dos aportes feitosna Previdência para cobrir rombos.Essa conta era de R$ 76,6 bilhões em2015.

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Rombo fiscal maior levará dívida a 81% do PIB

Patamar era de 69,9% em 2016.Para Itaú, país só terá superávit em2022

BÁRBARA NASCIMENTO,GERALDA DOCA ECÁSSIA ALMEIDA

BRASÍLIA E RIO- O adiamentodo ajuste fiscal, com a alteração dasmetas de déficit primário para osanos de 2017 e 2020, fará a dívidabruta do governo geral encerrar opróximo ano em 78,7% do ProdutoInterno Bruto (PIB) e atingir 81,1%em 2020. As projeções estão notexto do projeto de lei que foienviado ontem, pelo governo, aoCongresso. Segundo as novasprevisões da equipe econômica, opaís só voltará a ter resultadopositivo das contas públicas em2021. Para o Itaú Unibanco,superávit nas contas — ainda assim,muito baixo, de 0,1% —, somenteem 2022. Mas as estimativas dobanco para dívida frente ao PIB sãomenores: 78,7% em 2020. — Adívida deve estabilizar em 80%, sehouver ajuste fiscal, com a economiacrescendo mais e os juros caindo —prevê Pedro Schneider, economistado Itaú Unibanco.

Esse cenário já engloba asrevisões na meta fiscal, esperada pelomercado, mas embute reforma daPrevidência e algum aumento deimposto para ser concretizado,avalia Schneider: — Sem reforma da

Previdência, é difícil ver superávit nascontas públicas num horizonterelevante. Os gastos comaposentadorias e benefícios crescem0,3 ponto percentual do PIB a cadaano. Mas a reforma vai acontecer, éuma questão de Estado e não degoverno. Sem conseguir uma sériede receitas que eram esperadas, aUnião quer aumentar a previsão dedéficit do governo central deste anoe do próximo, de R$ 139 bilhões eR$ 129 bilhões, respectivamente,para rombos de R$ 159 bilhões emcada ano. Para 2019, o resultadoesperado aumentou o déficit de R$65 bilhões para R$ 139 bilhões. E,em 2020, passou de superávit de R$10 bilhões para déficit de R$ 65bilhões.

Schneider calcula que, paraestabilizar a dívida, seria necessáriosuperávit de 2% a 2,5% do PIB,percentual que o país conseguiualcançar de 2003 a 2013. O projetode revisão da meta começa a tramitarna Comissão Mista de Orçamento(CMO), e o relator será o deputadoMarcus Pestana (PSDB-MG), quejá tem a relatoria da Lei de DiretrizesOrçamentárias (LDO) de 2018. Oclima atual é de impasse entre ogoverno e os integrantes dacomissão, que estão irritados com 67vetos feitos pelo Palácio do Planaltoà LDO. Parlamentares da baseafirmam que, com isso, a base deapoio no Congresso sairáenfraquecida.

DYOGO: ACORDO SOBREVETOS

Na próxima terça-feira, osministros da Fazenda e doPlanejamento, Henrique Meirelles eDyogo Oliveira, vão se reunir com opresidente da Comissão, senadorDario Berger (PMDB-SC) ePestana, para tentarem chegar a umacordo. Ontem à tarde, Oliveiraafirmou que o Planalto quer chegara um novo formato que consigaatender a deputados e senadores enão prejudique o governo: — O queestamos discutindo é se aquelasmatérias que foram vetadas podemser construídas de uma maneira quenão gere os prejuízos e riscos quemotivaram os vetos. A equipeeconômica ainda estuda qual será omecanismo. Está na mesa o envio deum novo projeto de lei com o quefoi acordado. Oliveira explicou que,entre os vetos que podem ser“revertidos”, está a obrigação de quea União justifique o impacto nosestados e municípios de cada medidatomada.

Também ontem, em audiênciapública no Congresso, o secretárioda Receita Federal, Jorge Rachid,defendeu ampla revisão nasdesonerações que afetam aarrecadação da Previdência Social.Segundo ele, as renúnciasrepresentam 35% do total da massasalarial do país, o que causadesequilíbrio nas contas do regime

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de aposentadoria. Os trabalhadoresque atuam nos setores beneficiados,explicou o secretário, “vão bater naporta da Previdência no fim da vida”e exigir a mesma aposentadoriaconcedida aos demais. Rachid disseque, em 2016, o conjunto dasdesonerações somou R$ 54,4bilhões. Estão nesse cálculo adesoneração da folha de pagamento,empresas do Simples, filantrópicas,exportações e microempreendedoresindividuais (MEI). O secretáriosugeriu mudanças nas renúncias dasfilantrópicas, chamou atenção para

renúncias nas exportações no ramodo agronegócio e disse que osvalores arrecadados por empresasincluídas no Simples emicroempreendedores não cobrema despesa com a Previdência.

Defendeu, ainda, umacontribuição mínima para ostrabalhadores rurais. Schneider, doItaú Unibanco, afirma que odesequilíbrio fiscal vai exigirreestruturação total do gasto: —Fala-se muito da Previdência, por sero maior gasto e que sobe todo o ano.

Em segundo, vem a folha. Areestruturação passa por reverreajustes salariais acima da inflação,avaliar se isenções como adesoneração da folha ainda fazemalgum sentido, se mantêm empregos.Mas, mesmo com a revisão, se nãohouvesse a meta, seria pior. O gastoestá estabilizado e há o teto quemanterá as despesas sob controle.O banco acredita que a Taxa Selicvai chegar a 7% ao ano e se manternesse nível. Nas previsões dogoverno, os juros básicos chegarãoa 8% em 2019.

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Equipe econômica vai rever vetosde Temer para tentar aprovar metas

DANIEL CARVALHOTALITA FERNANDESDE BRASÍLIA

A equipe econômica vai revervetos feitos pelo presidente MichelTemer à LDO (Lei de DiretrizesOrçamentárias) para o ano que vem,aprovada em julho, na véspera dorecesso parlamentar.

A intenção é diminuir a tensão queos vetos criaram na CMO(Comissão Mista de Orçamento). Ocolegiado ficou irritado e prometeretaliar na tramitação da novaproposta de aumento do rombo nosOrçamentos de 2017 e 2018 paraR$ 159 bilhões.

A equipe econômica vai analisaros 40 vetos feitos para verificar osque podem ser revistos.

Os ministros Henrique Meirelles(Fazenda) e Dyogo Oliveira(Planejamento) têm reunião com acúpula da CMO na terça-feira (22).

Com a tentativa de acordo, aexpectativa é que Oliveira encontreum clima mais ameno quando for àreunião do colegiado, também naterça-feira, quando irá apresentar asnovas metas.

Em entrevista à Folha, o senador

Dário Berger (PMDB-SC),presidente do colegiado, chegou achamar o governo de "arrogante eprepotente", o que, para ele, "ésinônimo de governo fracassado".

Foram vetados, por exemplo,trechos que incluíam no rol deprioridades o Plano Nacional deEducação e a conclusão de obrasinacabadas. Outro ponto barradoobrigava o governo a reduzirincentivos e benefícios tributários,financeiros e creditícios.

Nesta quinta (17), o presidenteMichel Temer enviou ao Congressoo projeto de lei que altera as metaspara que o governo possa aumentaro rombo no Orçamento.

Com os sucessivos resultadosnegativos, a equipe econômicaestima que a dívida bruta do setorpúblico vá fechar 2017 em 75,7%do PIB e chegar a 80,6% em 2019.A projeção anterior era de 77,9%para o mesmo ano.

No texto enviado ao Congresso,o ministro do Planejamento disse queo cenário econômico nacionalcontinuou a se deteriorar no segundotrimestre de 2017, "o que provocouelevado grau de frustração dereceitas públicas e a necessidade deconstantes revisões em suas

projeções".

Disse ainda que as projeções dereceitas para o Orçamento de 2018"não se concretizarão em razão dohistórico recente de entrada derecursos nos cofres públicos abaixodo esperado".

O relator da proposta na CMOserá o deputado Marcus Pestana(PSDB-MG), que também relatou aLDO de 2018.

MENOS PIOR

O presidente do Senado, EunícioOliveira (PMDB-CE), não falou emdatas para que o texto sejaanalisado. Ele disse que a soluçãoencontrada foi a "menos pior" e quepreferia que o governo não tivessenem de elevar a meta de deficit nemelevar impostos. "Entre uma opçãoe outra, temos de ficarlamentavelmente com o aumento dameta."

Embora muitos parlamentarestenham defendido uma meta maiorpara acomodar gastos antes daseleições de 2018, eles agora queremcriar dificuldades para conseguir maisespaço no governo.

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

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18/08/17

Cemig propõe manter usinasque União quer vender

MARIANA CARNEIROJULIO WIZIACKDE BRASÍLIA

O governo enfrenta uma disputacom a Cemig que pode levar aodescumprimento da meta de deficitdeste ano de R$ 159 bilhões. Aestatal mineira de energia entregounesta quinta (17) uma proposta aoMinistério do Planejamento paraficar com três das quatro hidrelétricasque a União quer vender paralevantar R$ 11 bilhões neste ano.

A Cemig quer devolver a usinade Volta Grande, avaliada em R$ 1,3bilhão, e permanecer com as de SãoSimão, Miranda e Jaguara pagandoR$ 9,7 bilhões.

O problema é que, aindasegundo a Cemig, a empresa só temR$ 3,5 bilhões no caixa. A diferençade R$ 6,2 bilhões seria coberta porempréstimos com um grupo debancos liderados pelo BNDES.

Representantes da Fazenda

ponderaram que a operação seriapossível desde que a Cemigapresentasse garantias bancárias.

Na conversa, o ministro doPlanejamento, Dyogo Oliveira, disseque o endividamento da empresa jáequivale a quatro vezes sua geraçãode caixa. Por isso, dificilmente onegócio poderia ser feito.

O governo mantém a intenção derealizar os leilões, mas, para isso, teráde obter vitória no STF, onde aCemig questiona a devolução dasusinas.

Para a empresa, os contratos dastrês hidrelétricas previam que aprimeira renovação seria automática,mas Dilma Rousseff mudou as regrasdo setor para a renovação contratuale a Cemig não aceitou. Por isso, aUnião retomou as usinas. A estatalmineira, no entanto, continuaoperando por meio de decisõesjudiciais.

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

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18/08/17

Só Estados vão contribuir para rombo menor

MARIANA CARNEIROJULIO WIZIACKDE BRASÍLIA

Enfrentando um ajuste em suascontas mais severo que o da União,os Estados serão os únicos acontribuir positivamente para ocumprimento das metas fiscais apartir do próximo ano. Em 2020, oesforço deverá chegar a R$ 16,6bilhões, enquanto o governo federalainda registrará um deficit de R$68,4 bilhões, incluindo as estatais.

Como parte da renegociação desuas dívidas no ano passado, osEstados deixaram temporariamentede contribuir para a meta fiscal.

Com o retorno progressivo dosfluxos de pagamento, que retomarácom mais fôlego a partir de 2020,sua contribuição voltará a fazerdiferença no balanço do setorpúblico.

Com a ajuda dos Estados, o

deficit público previsto será reduzidopara R$ 51,8 bilhões em 2020.

Esta conta, porém, não leva emconsideração o leilão de empresasestaduais de saneamento, como aCedae, do Rio, que deverão serprivatizadas para abater oendividamento dos Estados.

O BNDES já trabalha namodelagem de licitações em pelomenos 13 Estados e mantémconversas com outros entes,incluindo municípios.

Outra medida que pode darfôlego aos governadores é a volta aomercado de crédito.

Após um ciclo de forteendividamento estadual estimuladopelo governo, o Tesouro fechou atorneira de novos empréstimos. Em2016, baixou norma de que só osque tiverem notas A e B poderãocaptar com garantias do Tesouro, oque barrou mais da metade dos

governadores.

Pela nova classificação divulgadanesta quinta-feira (17), aumentou de14 para 16 os Estados que têm sinalverde da União.

Segundo a secretária do Tesouro,Ana Paula Vescovi, muitos governosfizeram esforços de economia compessoal e alta de arrecadação.

Para este ano, o Tesouro tem R$17 bilhões para oferecer em garantiaaos Estados. A partir do ano quevem, segundo Vescovi, começam avaler novas regras de acesso ao avaldo Tesouro. Hoje, os Estadosbrigam entre si e com a União parater prioridade.

Com a nova regra, haverácritérios objetivos, como acapacidade de pagamento dosEstados e o cumprimento das metasorçamentárias.

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

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18/08/17

O ESTADO DA GASTANÇA »Urubus impedem venda de imóvel funcional

Aves ocupam a varanda deapartamento na Asa Norte. Uniãotem 231 unidades desabitadas emBrasília que custam R$ 115 mil pormês

HAMILTON FERRARIESPECIAL PARA O CORREIO

Animais fizeram ninho na áreaexterna da residência. Vigilânciaambiental diz que eles só podem serretirados quando os fihotesaprenderem a voar

O governo federal deve fazer umnovo leilão de imóveis funcionais nofim deste mês, mas um apartamentodo bloco D da quadra 304 da AsaNorte não estará na lista. Ele éocupado por uma família de urubus,que não pode ser despejada dolocal. Por se tratar de um animalsilvestre, qualquer tentativa de retiraro ninho será considerada crimeambiental e poderá resultar na prisãodos envolvidos. Por isso, aresidência só pode ser vendida apóso “ciclo espontâneo” dedesocupação, ou seja, quando osdois filhotes aprenderem a voar. Oimóvel é avaliado em mais de R$ 1milhão, tem cerca de 140 m² e ocondomínio custa R$ 700. Ele é umdos 231 imóveis funcionais da Uniãono Distrito Federal que não estãoocupados por humanos, mas

continuam sendo custeados pelocontribuinte.

Os urubus ocuparam apenas avaranda, já que o imóvel estáfechado, mas se tornaram umsímbolo do desperdício da má gestãodos recursos públicos. Segundo aSecretaria do Patrimônio da União(SPU), a administração públicafederal tem 544 residências no DF,mas 42% estão desocupadas.Enquanto não têm moradores, aUnião é responsável por arcar coma Taxa de Limpeza Pública (TLP) ecom o condomínio. Supondo umvalor médio de R$ 500 porapartamento, o custo final é de maisde R$ 115 mil por mês. Isso semconsiderar obras, gasto com pessoal,manutenção e outras despesaspatrimoniais.

DesperdíciosO governo propôs uma série de

medidas para melhorar as contas,como suspender reajustes deservidores, limitar os salários deentrada no serviço público e elevara tributação sobre fundos deinvestimento. Mesmo assim, elevouas metas de deficit deste ano e de2018 para R$ 159 bilhões. Para ocontribuinte, a sensação é de quetodo esse empenho afeta só o ladomais fraco. “É uma característica daadministração pública brasileiraassumir uma certa distância dosproblemas fiscais menores, comoesse. Mas, em conjunto, os pequenosdesperdícios que ocorrem em

diversos setores provocam umgrande dano no orçamento”,observou José Matias-Pereira,professor da Universidade deBrasília (UnB), especialista em contaspúblicas.

Para reduzir custosadministrativos, o governo tentou, emmaio, vender alguns dos imóveisfuncionais, mas não obteve o sucessoesperado. Das 25 residênciascolocadas em leilão, sete foramvendidas e adicionaram R$ 15,7milhões ao caixa do governo, numamédia de R$ 2,24 milhões porapartamento. Levando emconsideração essa média, se aadministração pública vendessetodos os 544 imóveis, teria umreforço de R$ 1,22 bilhão noorçamento.

Os valores são consideradoscaros devido ao estado ruim dosimóveis e, por isso, não devem estaratraindo os compradores. Muitas dasmoradias estão mal cuidadas porqueos antigos ocupantes não sepreocupavam com a manutenção ea conservação da estrutura, que sãode responsabilidade do Estado.Roberto Piscitelli, professor deeconomia da UnB, explicou quemuitos dos apartamentos ficaramimprestáveis. “Foram se deteriorandoporque os moradores ocupam, masé o governo que precisa gastar paramantê-los. E é um custeio públicopouco efetivo. Na verdade, é umgasto inútil que não tem retorno”,destacou.

ECONOMIACORREIO BRAZILIENSE

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Gil Castelo Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas,lembrou que os imóveis funcionaisforam criados para atrair servidoresde outros estados para Brasília. Naépoca, foi criada a chamada“dobradinha”, na qual os funcionáriospúblicos teriam o salário dobrado eum apartamento do governo paramorar. “Hoje em dia, não há essanecessidade. Todos os imóveisdeveriam ser vendidos, porque nãoé papel do Estado cuidar deapartamentos. O governo não é umaimobiliária. Até porque isso acarretacusto com vazamentos e obras, porexemplo. É muito mais vantajoso àUnião conceder auxílio-moradia doque ser administradora de centenasde imóveis”, criticou. O processo devenda das residências oficiaiscomeçou no início dos anos 1990,no governo de Fernando Color, maso estoque até hoje não foi zerado.

Castelo Branco tambémdestacou que os gastos com imóveisnão são exclusividade do Executivo.“Os poderes Judiciário e Legislativotambém têm seus imóveis e,provavelmente, gastos enormes.Alguns parlamentares, por exemplo,preferem ficar em hotéis, porque émais vantajoso. Não é preciso

contratar empregados paraconservar o apartamento. Enquantoisso, o governo arca com os custosdo apartamento funcionaldesocupado”, exemplificou.

ReceioEnquanto a situação fiscal do país

não é resolvida, a família de urubusaproveita o apartamento funcional.Alguns moradores da quadra estãocom receio dos bichos. “Uma vez umdesses atacou um passarinho quetinha na casa de uma amiga no 12ºandar, em São Paulo. Eles podementrar em outro apartamento. Deveser perigoso”, disse a dona de casaEdna Estelles, 55 anos. Já oaposentado Geraldo Francisco, 59anos, que mora no apartamentoabaixo daquele onde se alojaram asaves, disse que não sabe se osanimais atraem “notícias negativas”,mas que torce para eles saírem. “Comcerteza, não deveriam estar ali”,afirmou.

Quando os filhotes levantaremvoo e saírem, a SPU vai mandar umaequipe para limpar o local e tampara varanda, já que, segundo osvigilantes ambientais, os animais sãofiéis ao abrigo e a tendência é quevoltem.

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18/08/17

Dívida vai a 90% do PIBse metas falharem

ROSANA HESSEL

Ao propor ampliação dosrombos fiscais de 2017 e de 2018para R$ 159 bilhões e adiar a voltado equilíbrio nas contas públicasapenas para 2021, o governo estácriando uma bomba para o próximogoverno. O alerta é da economistaMonica de Bolle, pesquisadora doPeterson Institute for InternationalEconomics, de Washington. Elaestima que, no fim do próximo ano,a dívida pública bruta poderá chegara 90% do Produto Interno Bruto(PIB) se as novas metas não foremcumpridas.

A mudança dos objetivos fiscaisdeste ano e do próximo tem comoobjetivo evitar que o presidenteMichel Temer descumpra a Lei deResponsabilidade Fiscal (LRF),como fez Dilma Rousseff com aspedaladas fiscais. Só que, paraentregar as metas, o governo apostaem receitas extraordinárias que nãodevem ser realizadas. “Tudo é muitofrágil e está calcado em esperançase medidas que precisam deaprovação do Congresso. Eles estãosubestimando o tamanho do rombo,que deverá ser maior”, afirmouMonica.

O país está no cheque especialdesde 2014 e, pelo cenário traçadopelo governo, em 2020, completará

sete anos consecutivos no vermelho,algo que nenhuma pessoa ou empresaconseguiria sustentar, continuando ater crédito barato na praça. Como ogoverno gasta muito mais do quearrecada, a dívida pública podeexplodir porque o governo não deveconseguir economizar para pagar osjuros dos títulos.

O mercado, por sua vez, vaicobrar caro por isso, ou seja, maisprêmios e mais juros pelos títulos queo governo emitir para cobrir o rombofiscal. “Ninguém sobrevive nocheque especial por sete anos.Estamos vendo um retrocesso doajuste fiscal feito no início dosgovernos petistas por conta davigência da LRF. Dilma deixou umquadro muito ruim, mas Temerajudou a agravá-lo”, avaliou aeconomista e especialista em contaspúblicas Selene Peres Nunes, umadas autoras da LRF. Ela citou comoexemplo os reajustes generososconcedidos aos servidores e a anistiade R$ 10 bilhões do Funrural.

A economista Alessandra Ribeiro,da Tendências Consultoria, disseque, se a reforma da Previdência nãofor aprovada, haverá maiordescontrole fiscal. “A esperança éque quem vencer as eleições de 2018tenha o compromisso de ajustar ascontas, caso contrário, estaremos devolta aos anos 1980”, alertou.

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BC perde relevância

“A queda de cinco pontospercentuais da Selic ficou emsegundo plano e levou o BancoCentral ao papel de coadjuvante noprocesso de recuperação daeconomia”

por Antonio Temóteo /[email protected]%u2014 Interino

O país, que deveria comemoraro processo de redução da taxabásica de juros, está anestesiadocom a profunda crise fiscal. A quedade cinco pontos percentuais da Selicficou em segundo plano e levou oBanco Central (BC) ao papel decoadjuvante no processo derecuperação da economia. Issoporque as perspectivas para ascontas públicas são cada vez piores,já que o governo dependerá doCongresso Nacional para aprovaruma série de medidas para reduzirdespesas.

Após revisar as metas fiscais de2017 a 2020, o governo acumularáum rombo fiscal de R$ 813,7 bilhõesem sete anos. Para um ex-diretor daautoridade monetária, a crise fiscal,que já é aguda, corre o risco de setornar crônica no curto prazo. Nessecontexto, a queda da inflação nãoseria suficiente para manter os jurosbaixos. Com a elevação dos riscos,os investidores tendem a cobrar umprêmio maior para aplicar em paísesemergentes.

De mãos atadas, caberia à equipede Ilan Goldfajn apenas evitar ocaos. A medida, entretanto,aceleraria a trajetória de crescimentoda dívida pública. Os analistas maispessimistas ouvidos pelo Ministérioda Fazenda já estimam que a dívidabruta equivalerá a 92,8% do ProdutoInterno Bruto (PIB) em 2020. Osprimeiros desafios da equipeeconômica no curto prazo são aaprovação da mudança da meta fiscalde 2017 para um deficit de R$ 159bilhões e a criação da Taxa deLongo Prazo (TLP).

O projeto de lei para elevar emR$ 20 bilhões o rombo fiscal já foienviado ao Congresso, e a medidaprovisória que cria a nova taxa definanciamentos do Banco Nacionalde Desenvolvimento Econômico eSocial (BNDES) está emperrada nacomissão especial destinada adebater o tema. Caberá aoExecutivo aglutinar a base aliada paraaprovar a MP até 6 setembro. Ocolegiado é presidido pelo senadorLindbergh Farias (PT-RJ), e aliadosdo petista deixaram claro que ele nãodará sossego ao governo.

O nível de insatisfação da basealiada aumentou após o presidenteMichel Temer não substituir osministros tucanos. O Centrão —composto por PP, PTB, PR e PSD— cobra mais espaço e estáinsatisfeito com cargos de segundoe terceiro escalões. A pasta maiscobiçada por todas as legendas é o

Ministério das Cidades. O nível dedescontentamento também é grandeentre integrantes do PMDB, quedizem que o capital político de Temerse esgotou após a Câmara barrar oprosseguimento da denúncia contraele submetida ao Supremo TribunalFederal (STF) pelo procurador-geralda República, Rodrigo Janot.

Para uma parte do mercado, ficouclaro que Temer jogou para opróximo governo a responsabilidadede reformar a Previdência. Com isso,além de aprovar a nova meta fiscal ea criação da TLP, será necessáriogarantir o aval do Congresso parareduzir gastos com servidorespúblicos. As pressões de diversascategorias já começaram, e váriasentidades prometem cobrar dosparlamentares apoio para manter osreajustes salariais e benefícios. Oprincipal argumento é que não é justoque os civis sejam prejudicados e osmilitares mantenham as revisões noscontracheques.

ObstáculosAlém de perder relevância em

todo o debate econômico, a equipede Ilan Goldajn terá de lidar com afrustração de ver naufragar a agendade medidas propostas para reduzirestruturalmente os juros e tornar osistema financeiro mais eficiente.Com uma pauta de iniciativasimpopulares na frente, Temer terá demostrar que conhece como ninguémos corredores do CongressoNacional para ver avançar todas asmatérias de interesse do BC.

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Não restam dúvidas de que ochefe do Executivo é o mais hábilnegociador em atividade no Brasil.Entretanto, são enormes os desafiospara que o país saia do atoleiro evolte a crescer sustentavelmente.Com a proximidade das eleições de2018, deputados e senadores terãointeresse em garantir a reeleição e nãoem aprovar um “saco de maldades”.

Os sinais incipientes de lentarecuperação da economia tendem ase dissipar caso o governo nãoconsiga fazer avançar a ampla agendade reformas e ajustes. Semascendência e votos no Congresso,Ilan Goldajn terá de se preparar parao pior. Enquanto isso, a populaçãobrasileira sofre com desemprego efalta de perspectivas de longo prazo.

Estratégia definidaContrário a diversos pontos da

reforma trabalhista, o MinistérioPúblico da União (MPU) definiuestratégia para tentar minar trechosconsiderados inconstitucionais. O

envio de ação direta deinconstitucionalidade ao SupremoTribunal Federal (STF) estádescartado. Para diversosprocuradores, a composição daCorte não favorecerá a reversão dotexto aprovado pelo Congresso esancionado pelo presidente MichelTemer.

Formação de jurisprudênciaOs procuradores se convenceram

de que os questionamentos devemser feitos a partir da primeirainstância, por meio de ações civispúblicas. Caso as teses defendidaspelos integrantes do MPUprosperem, uma jurisprudência seráformada e isso não poderá serignorado pelos ministros do STF. Aestratégia tem apoio velado damaioria dos ministros do TribunalSuperior do Trabalho (TST), que jádemonstraram publicamentecontrariedade com a reformaaprovada por deputados esenadores.