validaÇÃo de tratamento de Água

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  • 8/16/2019 VALIDAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

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    PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

    CÂMPUS TOLEDO

    MBA EM GESTÃO INDUSTRIAL

    JULIO CESAR DE MARCHI FILHO

    VALIDAÇÃO DE SISTEMAS DE ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS

    TOLEDO

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    JULIO CESAR DE MARCHI FILHO

    VALIDAÇÃO DE SISTEMAS DE ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentadoao Curso de MBA  em Gestão Industrial daPUCPR – Câmpus de Toledo, como requisitoparcial para a obtenção do título de Pós-Graduado na área em questão.

    Orientador: Prof. Ms. Jaime José Rauber.

    TOLEDO

    2012

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    JULIO CESAR DE MARCHI FILHO

    VALIDAÇÃO DE SISTEMAS DE ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS 

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de MBA em GestãoIndustrial, da PUCPR – Câmpus de Toledo, como requisito parcial para a obtenção

    do título de Pós-Graduado na área em questão.

    COMISSÃO EXAMINADORA

    Prof. Ms. Jaime José RauberPontifícia Universidade Católica do Paraná

    Prof. _. _____________________Pontifícia Universidade Católica do Paraná

    Prof. _. _____________________Pontifícia Universidade Católica do Paraná

    TOLEDO, ____ de _________________2012.

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    À minha companheira

    de todas as horas, Bruna.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao meu orientador, Prof. Jaime Rauber, por ter aceitado a orientação do trabalho

    mesmo com o curto prazo disponível para conclusão.

    À empresa Prati Donaduzzi, por possibilitar a realização do curso.

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    “Toda reforma interior e toda mudança paramelhor dependem exclusivamente da aplicaçãodo nosso próprio esforço”.

    (IMMANUEL KANT)

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    RESUMO

    A água é a substância mais largamente utilizada em uma indústria farmacêutica e oprocesso de obtenção deve garantir que ela esteja sempre dentro de padrões rígidosde qualidade. Dentro da indústria farmacêutica sistemas e processos críticos, comoé o caso dos sistemas de obtenção de água para fins farmacêuticos devem servalidados, ou seja, deve ser conduzido um estudo que demonstre que o sistema queproduz a água utilizada dentro da indústria não é uma fonte de contaminação paraos produtos. A validação dos sistemas de água para fins farmacêuticos é primordialseja pelas exigências regulatórias, pelo volume utilizado, variedade de aplicações oucaracterísticas físico-químicas da água que podem torná-la uma fonte decontaminação dentro da indústria. O objetivo deste trabalho é discorrerbibliograficamente sobre a validação de um sistema de água dentro da indústriafarmacêutica, abordando os principais aspectos técnicos e regulatórios relacionados,principais meios de obtenção e ordenar as etapas fundamentais para a obtenção do

    status validado de um sistema de água para fins farmacêuticos.Palavras-chave: Água Purificada. Validação. Qualificação. Indústria Farmacêutica. 

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    ABSTRACT

    Water is the substance most widely used in a pharmaceutical industry and theprocess of gathering should ensure that it is always within strict quality standards.

    Within the pharmaceutical industry and processes critical systems, such as systemsfor obtaining water for pharmaceutical purposes must be validated, i.e., should beconducted a study demonstrate that the system produces the water used in theindustry is not an source of contamination of the products. Validation of watersystems for pharmaceutical purposes is Paramount is the regulatory requirements,used by the volume, variety of applications or physic-chemical characteristics ofwater that can make it a source of contamination within the industry. The objective ofthis paper is to discuss bibliographically on the validation of a water system within thepharmaceutical industry, with the key technical and regulatory aspects relatedprimary means of collecting and sorting the fundamental steps for obtaining thevalidated status of a water system for pharmaceutical use.

    Key-words: Purified Water. Validation. Qualification. Pharmaceutical Industry.

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    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1 – Sistema de água farmacêutica............................................................ 23

    Figura 2 – Resina de troca iônica.......................................................................... 31

    Figura 3 – Etapas qualificação de um sistema de água farmacêutica.................. 46

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    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO  ...................................................................................................... 10 

    2 A ÁGUA NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA ........................................................ 11 

    2.1 ASPECTOS QUÍMICOS ..................................................................................... 16 

    2.2 ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS ..................................................................... 19 

    2.3 LIMITE DE ALERTA E LIMITE DE AÇÃO .......................................................... 20 

    2.4 CONCEPÇÃO SANITÁRIA ................................................................................. 21 

    2.5 SISTEMAS DE ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS ..................................... 23 

    2.6 CAPTAÇÃO DA ÁGUA ....................................................................................... 24 

    2.7 MÉTODOS DE TRATAMENTO E PURIFICAÇÃO DA ÁGUA ............................ 25 

    2.7.1 Água Potável ................................................................................................... 27 

    2.7.2 Água para fins farmacêuticos .......................................................................... 27 

    2.7.3 Tecnologias de tratamento e purificação ......................................................... 29 

    2.8 ARMAZENAMENTO E DISTRIBIÇÃO DA ÁGUA............................................... 37 

    2.8.1 Água potável .................................................................................................... 38 

    2.8.2 Água para fins farmacêuticos .......................................................................... 38 

    3 VALIDAÇÃO ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS ......................................... 41 

    3.1 VALIDAÇÃO ....................................................................................................... 41 

    3.2 QUALIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS ... 44 

    3.2.1 Qualificação de Desenho (DQ) ........................................................................ 47 

    3.2.2 Qualificação de Instalação (IQ)........................................................................ 47 

    3.2.3 Qualificação de Operação (OQ) ...................................................................... 48 

    3.2.4 Qualificação de Desempenho (PQ) ................................................................. 49 

    3.2.5 Monitoramento Continuo ................................................................................. 51 

    4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 52 

    REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 55 

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    1 INTRODUÇÃO

    A produção de medicamentos exige que todos os materiais, instalações e

    pessoal envolvidos em sua fabricação tenham um elevado grau de qualidade, o que

    se deve tanto pela finalidade do produto quanto pela rigorosidade da

    regulamentação envolvida. Neste contexto tudo que for inserido em uma planta

    farmacêutica tem que ser pensado e projetado com antecedência para que atenda

    aos requisitos exigidos.

    A água é o insumo que possui o maior número de aplicações em uma

    indústria farmacêutica. Está presente em todos os processos de fabricação seja

    como matéria prima ou indiretamente na limpeza dos equipamentos utilizados para a

    fabricação.

    As aplicações farmacêuticas da água exigem rígidos parâmetros de qualidade

    para que esta não seja uma fonte de contaminação para os medicamentos

    produzidos.

    Os sistemas que produzem e fornecem a água para fins farmacêuticos devem

    ser projetados e construídos para fornecer água dentro dos padrões de qualidade

    exigidos. Porém, a concepção e construção adequada de um sistema de água para

    fins farmacêuticos não garante por si só a qualidade da água fornecida. Somente a

    validação do sistema fornecerá evidência de que o sistema é capaz de fornecer de

    maneira eficiente a água a ser utilizada.

    A validação é um ato documentado que atesta que qualquer procedimento,

    processo, equipamento, material, atividade ou sistema realmente e

    consistentemente leva aos resultados esperados (BRASIL, 2010). Neste sentido, o

    problema que orientará o desenvolvimento da presente pesquisa é: quais aspectos

    devem ser considerados para se alcançar a validação de um sistema de água para

    fins farmacêuticos e assim garantir que a principal substância utilizada na indústriafarmacêutica não seja uma fonte de contaminações para os produtos?

    O desenvolvimento dessa pesquisa se dará por meio de uma revisão

    bibliográfica buscando as bases legais e as contribuições de autores disponíveis em

    livros, artigos científicos impressos ou eletrônicos para a validação de sistemas de

    água para fins farmacêuticos.

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    2 A ÁGUA NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

    Segundo Bolet (2006) a água é o “solvente universal” e, em conseqüência, a

    despeito de sua abundância no planeta, ela praticamente nunca existe no estado

    puro, pois possui sempre um conteúdo mais ou menos importante de substancias

    dissolvidas.

    Conforme Gomes e Clavico (2005) a água cobre mais de 70% da superfície

    terrestre e é vital para toda a vida no planeta. É a substância mais abundante da

    natureza, ocorrendo nos rios, lagos, oceanos, mares e nas calotas polares. Dentre

    os diversos reservatórios, mais de 99 % correspondem aos oceanos, às geleiras e à

    umidade dos solos e do ar. Segundo Gomes e Clavico (2005), da água docedisponível estima-se que apenas 0,02% do total corresponda à disponibilidade

    efetiva de água doce com a qual a humanidade pode contar, em termos médios e

    globais, para sustentar-se e atender às necessidades ambientais das outras formas

    de vida, das quais não pode prescindir. Dos 1% da água doce líquida disponível no

    planeta, 10% esta localizada em território brasileiro.

    Segundo Breda (2001), não há água pura na natureza devido ao seu alto

    poder de dissolução. Esse poder químico faz com que a água seja denominada de

    solvente universal. Devido a esta efetiva propriedade de solvência e ao seu altopoder de transportar partículas em seu meio, podem ser encontradas diversas

    impurezas que normalmente definem sua qualidade. Essas impurezas na realidade

    conferem à água suas características químicas, físicas e biológicas, características

    estas que determinam os parâmetros de qualidade da água.

    As características químicas são conferidas através da presença em maior ou

    menor intensidade tanto de matéria orgânica como de inorgânica, enquanto que as

    físicas são consequência da presença de sólidos, que podem estar em suspensão

    (exemplo silte e argila), dissolvidos (exemplo coloides) ou em solução (exemplo saise corantes). As características biológicas são inerentes à presença de seres vivos ou

    mortos, principalmente de vida microscópica animal e vegetal, moneras, protistas e

    vírus.

    Segundo Alencar et al. (2004, p. 85),

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    diferentemente de outras indústrias de processo, onde a água é utilizadacomo uma utilidade, na indústria farmacêutica, ela é a substância maislargamente utilizada, e a sua produção é tida como delicada, pois, trata-sede um componente principal na preparação de diversas fórmulasfarmacêuticas líquidas, sejam elas de uso oral ou parenteral. Sua utilizaçãoé também imprescindível na granulação de formas sólidas, preparação desoluções de revestimento, assim como na preparação de formassemissólidas e outras formulações líquidas intermediárias. Não menosimportante é a sua utilização nas operações de esterilização, troca térmica elimpeza de ambientes, equipamentos e vidrarias extremamente necessáriasao cumprimento das boas práticas de fabricação. Imprescindível se faz avalidação do processo de produção de água para esta indústria.

    No Brasil todos os aspectos de saúde pública são regidos pela ANVISA

    (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). No que diz respeito a fabricação de

    medicamentos, a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 17, de 16 de Abril de

    2010, estabelece os requisitos mínimos a serem seguidos para padronizar a

    verificação do cumprimento das Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos

    (BPF) de uso humano durante as inspeções sanitárias (BRASIL, 2010). A RDC 17

    estabelece que “a água utilizada na fabricação de produtos farmacêuticos deve ser

    adequada para o uso a que se pretende” (BRASIL, 2010).

    Segundo Bolet (2006) as exigências em matéria de qualidade das águas

    utilizadas estão ligadas ao uso previsto. Em uma unidade farmacêutica, a água pode

    ser utilizada: (1) como uma matéria prima; (2) como utilidade com caráter crítico; e

    (3) como utilidade com caráter não crítico.

    Bolet (2006) define utilidade como as energias ou fluídos necessários para o

    funcionamento dos equipamentos ou para o desenvolvimento das operações. As

    utilidades são definidas, do ponto de vista farmacêutico, como “críticas” ou “não

    críticas”. Esta criticidade é definida em função da sua influência sobre a qualidade

    dos produtos. Bolet (2006) considera que o contato físico com o produto é o fatorchave para determinar a criticidade de uma utilidade.

    Considerando estas definições, a água utilizada em uma unidade

    farmacêutica será crítica quando matéria prima e aplicada na lavagem final de

    equipamentos e utensílios que serão utilizados posteriormente para a fabricação de

    produtos.

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    Assim podemos entender que as aplicações da água na indústria

    farmacêutica fazem com que seja necessária a sua disponibilidade em duas

    qualidades diferentes: (1) água como matéria prima e como utilidade crítica; e (2)

    água como utilidade não crítica.

    Segundo Bolet (2006) o termo “água farmacêutica” ‘empregado para designar

    de maneira geral a água preparada a partir da água potável – e, portanto, de melhor

    “qualidade” química e microbiológica – especificamente utilizada na indústria

    farmacêutica. De maneira prática, segundo Bolet (2006), utiliza-se o termo “água

    farmacêutica” para se referir à água regulamentada – água matéria prima e água

    como utilidade com caráter crítico. A água regulamentada ou farmacêutica tem suas

    características definidas em uma farmacopéia.

    A Farmacopéia é um documento oficial de referência que contém um conjuntode informações a respeito de insumos, fármacos e medicamentos, tal como

    requisitos de qualidade, métodos de análises e especificações técnicas. O intuito

    principal é a padronização das informações. No Brasil existe a Farmacopéia

    Brasileira que teve sua primeira edição publicada em 1926 e hoje se encontra na

    quinta edição, que foi publicada em 2010 (FARMACOPÉIA..., 2010).

    A RDC 37 (BRASIL, 2009) determina que, na ausência de monografia oficial

    de matéria-prima, formas farmacêuticas, correlatos e métodos gerais inscritos na

    Farmacopéia Brasileira, poderá ser adotada monografia oficial, última edição, de umdos seguintes compêndios internacionais: (1) Farmacopéia Alemã; (2) Farmacopéia

    Americana; (3) Farmacopéia Argentina; (4) Farmacopéia Britânica; (5) Farmacopéia

    Européia; (6) Farmacopéia Francesa; (7) Farmacopéia Internacional (OMS); (8)

    Farmacopéia Japonesa; (9) Farmacopéia Mexicana; e (10) Farmacopéia

    Portuguesa. Na prática, segundo Bolet (2006), quando se trata de água

    farmacêutica, o usual é a aplicação das Farmacopéias Brasileira, Americana e

    Européia.

    A água como utilidade com caráter não crítico não é regulamentada e suascaracterísticas, segundo Bolet (2006), não estão definidas em nenhuma norma. Ela

    possui suas características determinadas por cada empresa, o que na prática acaba

    sendo a qualidade requerida para a água potável.

    Conforme a Portaria 2.914 de 12 de Dezembro de 2011 do Ministério da

    Saúde (BRASIL, 2011) a água dita potável é a água destinada ao consumo humano.

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    Segundo Bolet (2006) outro aspecto particular das águas farmacêuticas

    decorre do fato de serem elas preparadas no local, dentro da indústria. O tratamento

    da água bruta ou potável, com a finalidade de obter água que satisfaça as

    exigências estabelecidas por uma Farmacopéia, é quase inevitável em cada unidade

    farmacêutica, em consequência dos importantes volumes requeridos pelo seu uso

    simultâneo como matéria-prima e como utilidade.

    A Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010) trata a água de uso

    geral como sendo água potável e trata as águas farmacêuticas como “água

    purificada”, quando utilizada para preparação e operações críticas de produtos não

    estéreis e “água para injetáveis” quando aplicada para a preparação e operações

    críticas de produtos estéreis.

    Operações críticas podem ser consideradas as que podem influenciar aqualidade final dos produtos. Assim, a principal operação crítica, além do emprego

    como matéria prima, seria o enxágue final após limpeza dos equipamentos e

    componentes que entram em contato com os produtos.

    A água purificada, segundo USP 351  (THE UNITED..., 2012), deve ser

    empregada como água grau reagente analítico, como matéria prima e limpeza de

    equipamentos de produtos não estéreis. A água para injetáveis deve ser empregada

    como matéria prima e limpeza de equipamentos de produtos estéreis (THE

    UNITED..., 2012).A EP 72 (EUROPEAN..., 2011) cita três tipos de águas farmacêuticas, quais

    sejam, água purificada, água ultrapura e a água para injetáveis. A particularidade da

    Farmacopéia Europeia, segundo Runyon (2007), está na aplicação da água

    ultrapura nas aplicações antes somente definidas para água para injetáveis. Para os

    europeus, a água para injetáveis é obtida exclusivamente por destilação. Assim, o

    custo deste processo fez com que a indústrias farmacêuticas exercessem pressão

    para que a agência reguladora européia (EMEA -  Agency for the Avaliation of

    Medicinal Products) permitisse que, nas aplicações de limpeza de equipamentosutilizados para a produção de estéreis fosse utilizada água com a mesma pureza,

    porém obtida por métodos mais baratos. Esta pressão fez com que surgisse a água

    conhecida como ultrapura.

    1 USP 35: Farmacopéia Americana (The United States Pharmacopeia) trigésima quinta edição. 

    2 EP 7: Farmacopéia Europeia (European Pharmacopeia) sétima edição. 

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    A FB 53 (FARMACOPÉIA..., 2010) classifica a água utilizada em uma indústria

    farmacêutica nos seguintes tipos: (1) água potável; (2) água reagente; (3) água

    purificada; (4) água ultrapurificada; e (5) água para injetáveis (FARMACOPÉIA...

    2010).

    Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) a água potável se aplica como água

    de alimentação dos sistemas de água farmacêutica, nas etapas iniciais de

    procedimentos de limpeza de equipamentos, como fonte de calor na climatização

    térmica e nas indústrias químicas de síntese de ingredientes intermediários.

    A água reagente é empregada, segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), na

    limpeza de materiais e de alguns equipamentos, principalmente de laboratório e na

    fase final da síntese de ingredientes ativos e de excipientes.

    A água purificada segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) é a utilizada para

    a produção de produtos não estéreis, para a limpeza final de equipamentos

    utilizados na fabricação de medicamentos não estéreis e em determinadas análises

    laboratoriais. 

    Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), a água para injetáveis é a água

    utilizada na produção de produtos estéreis e lavagem final de equipamentos,

    tubulações e recipientes usados na preparação de estéreis.

    A água ultrapura, diferentemente da aplicação definida pela Farmacopéia

    Europeia, é a água utilizada em análises laboratoriais que requerem água de alta

    pureza (FARMACOPÉIA..., 2010).

    Do ponto de vista da tecnologia empregada para a obtenção dos diferentes

    tipos de água, se entende que é necessário o atendimento das especificações

    previstas nas farmacopeias, utilizando para isto o método que for conveniente. A

    única exceção é no que diz respeito à água para injetáveis, prevista na Farmacopeia

    Europeia, pois prescreve a utilização da destilação (EUROPEAN..., 2011).

    Neste contexto, não existe um padrão de definições e aplicações para as

    águas utilizadas dentro de uma indústria farmacêutica nos diferentes compêndios

    oficiais aplicados no mundo, o consenso comum está na aplicação da água

    purificada na produção e processos relacionados a medicamentos não estéreis e da

    água para injetáveis ou similares na produção e processos relacionados a

    3 FB 5: Farmacopéia Brasileira quinta edição. 

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    medicamentos estéreis, que é o que determina a Resolução de Diretoria Colegiada

    17 (BRASIL, 2010).

    Os parâmetros de qualidade da água purificada e da água para injetáveis

    contidos nos principais compêndios aceitos pela ANVISA (Farmacopéia Brasileira,

    Farmacopéia Americana e Farmacopéia Européia), contemplam os aspectos que

    seguem.

    2.1 ASPECTOS QUÍMICOS

    Diferentemente da água potável, segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), a

    água para fins farmacêuticos pode ser caracterizada quimicamente com apenas dois

    ensaios, os ensaios de carbono orgânico total e de condutividade. Esteentendimento utilizado hoje em parte pela Farmacopéia Brasileira é uma tendência

    mundial primeiramente instituída pela Farmacopeia Americana em sua vigésima

    terceira edição (USP 23) (THE UNITED..., 2012).

    O uso de apenas dois parâmetros para definir a qualidade química da água

    farmacêutica foi parcialmente adotado somente na quinta edição da Farmacopeia

    Brasileira (FARMACOPÉIA..., 2010) e ainda não foi adotado pela sétima edição da

    Farmacopéia Europeia para a água purificada. Porém, existe uma tendência à

    adoção, já verificada na monografia da água para injetáveis (EUROPEAN..., 2011).Segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), os atributos químicos da água

    purificada e água para injetáveis antes da publicação da USP 23 eram especificados

    por uma série de parâmetros químicos, onde eram quantificados individualmente

    inúmeros compostos químicos, que não refletiam diretamente o nível de purificação

    da água. Embora estes métodos fossem sabidamente inadequados para determinar

    a qualidade da água, eles resistiram ao tempo. Somente com a evolução dos

    métodos de monitoramento em linha, a Farmacopéia Americana os deixou de lado e

    adotou a condutividade e a determinação de carbono orgânico total (COT) comoparâmetros químicos da qualidade da água farmacêutica.

    Com este procedimento, segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), com duas

    medidas em linha é possível determinar a qualidade da água, ou seja, com sensores

    de condutividade e COT instalados no sistema que podem fornecem resultados em

    tempo real é possível monitorar a qualidade da água. A análise de COT substituiu a

    análise de substâncias oxidáveis, realizado em bancada por titulação, possibilitando

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    a determinação de contaminantes orgânicos em linha, e a condutividade substituiu

    inúmeros testes de detecção íons contaminantes (principalmente inorgânicos) os

    testes (amônia, cálcio, dióxido de carbono, cloreto e sulfato). A única exceção que

    foi tratada com ressalva devido aos riscos de contaminação foi o teste de metais

    pesados que, apesar disso, vem sendo considerado desnecessário mediante as

    exigências estabelecidas para águas potáveis serem bem rigorosas. Neste caso, é

    aplicável o monitoramento deste parâmetro na água de alimentação dos sistemas.

    Segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012) os testes de sólidos totais e pH

    foram os únicos testes não abrangidos pelo teste de condutividade. O teste de teor

    de sólidos foi considerado redundante, pois os métodos aplicados para obtenção da

    água purificada e água para injetáveis dentro dos parâmetros de condutividade e

    COT removeriam facilmente a sílica coloidal, que poderia passar despercebida pelostestes não seletivos de condutividade e TOC. Somente em situações extremamente

    críticas a presença de sílica poderia trazer problemas para a saúde humana.

    Segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), o parâmetro de pH, por sua vez, foi

    considerado para o teste de condutividade, pois o pH é um dos fatores, assim como

    a temperatura, monitorados no teste de condutividade. Assim, este também foi

    eliminado como um teste individual.

    Segundo 35 (THE UNITED..., 2012), a lógica utilizada pela Farmacopéia

    Americana para estabelecer as especificações de condutividade se baseou nacontribuição exercida pela presença, dentro dos limites antes estabelecidos pela

    própria farmacopeia, para os dois íons mais comuns e que exercem maior influência

    na condutividade da água, quais sejam, o íon cloreto e o íon amônio. Somando a

    condutividade das moléculas dissociadas da água e de moléculas de dióxido de

    carbono dissolvido, a contribuição da condutividades destes íons foi determinada em

    diferentes pHs e temperaturas chegando a valores relativos de condutividade que

    demonstram que a água não apresenta íons em quantidade que possam ser

    prejudiciais.Esta lógica, segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), levou à determinação

    da especificação de condutividade da água em três etapas. O usual acaba sendo a

    utilização de um valor conservativo de 1,3 µS/cm a 25oC, principalmente para

    medidas realizadas em linha. As mudanças realizadas na USP 23, padronizando a

    utilização da condutividade e COT, permitiram as medições dos parâmetros de

    qualidade da água em linha e trouxeram uma grande economia para as indústrias

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    farmacêuticas, e a consequente adoção da maioria das indústrias aos padrões de

    água estabelecidos por esta Farmacopéia.

    Segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), o COT e a condutividade podem

    ser realizadas em bancada, sem ser em linha. Porém, os cuidados com as amostras

    deve ser maior, pois podem sofrer contaminação acidental e ocasionar falsas

    leituras.

    Para USP 35 (THE UNITED..., 2012), os valores limites de condutividade e

    COT para a água purificada é 1,3 µS/cm a 25oC e 0,5 mg/L (respectivamente).

    Para EP 7 (EUROPEAN..., 2011), na água purificada a condutividade limite é

    5,1 µS/cm a 25oC e COT é 0,5 mg/L. O teste de COT é uma alternativa para o teste

    de substâncias oxidáveis, onde a especificação é qualitativa (a solução resultante do

    teste, que é uma titulação, deve ter coloração levemente rosa). Adicionalmente sãoprevistos testes de Nitratos (máximo 0,2 ppm), Alumínio (máximo 10 ppb) e Metais

    pesados (máximo 0,1 ppm).

    A FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) determina para água purificada e água para

    injetáveis a realização das análises: (1) Caracterização física, que compreende um

    teste de descrição pelo qual a água deve atender as seguintes características

    organolépticas: ser límpida, incolor, inodora e insípida; (2) Acidez e Alcalinidade (a

    solução deve mudar de cor); (3) Substâncias Oxidáveis (a solução remanescente

    deve ser fracamente rosada); (4) Condutividade (máximo de 1, 3 µS/cm a 25o

    C); (5)COT (máximo 0,5 mg/L); (6) Amônio (máximo 0,2 ppm); (7) Cálcio e Magnésio (uma

    coloração azul límpida é produzida); (8) Cloretos (máximo 0,5 ppm); (9) Nitrato

    (máximo 0,2 ppm); e (10) Sulfatos (em uma hora a solução não apresenta alterações

    na aparência).

    A FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), na tendência de redução de análises

    prevista pela USP 35 (THE UNITED..., 2012), prevê a possibilidade de substituição

    das análises de Substâncias Oxidáveis pela de COT, e a de condutividade pelas de

    Amônio, Cálcio e Magnésio, Cloretos, Nitratos e Sulfatos. Assim, é possível reduziras análises para apenas Caracterização física, Acidez e Alcalinidade, Condutividade

    e COT.

    Para FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) e USP 35 (THE UNITED..., 2012) o valor

    limite de condutividade e COT para a água para injetáveis são os mesmos aplicados

    à água purificada.

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      19

    Para EP 7 (EUROPEAN..., 2011), na água para injetáveis a condutividade

    limite é 1,3 µS/cm a 25oC e COT é 0,5 mg/L. Adicionalmente são previstos testes de

    Nitratos (máximo 0,2 ppm), Alumínio (máximo 10 ppb) e Metais pesados (máximo

    0,1 ppm).

    2.2 ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS

    Segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), a principal fonte de contaminação

    da água farmacêutica é a fonte de água de alimentação. Assim, para minimizar os

    riscos, a água de alimentação deve possuir no mínimo a qualidade da água potável,onde os níveis de coliformes são controlados.

    Os riscos de contaminação microbiológica das águas farmacêuticas, segundo

    FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), estão relacionados principalmente à presença de

    bactérias, que podem ter origem na água de alimentação ou do próprio sistema de

    tratamento. Podem surgir também devido a procedimentos de limpeza e sanitização

    dos sistemas inadequados, que levam a formação de biofilmes e, por consequência,

    instaurar um ciclo continuo de crescimento a partir de compostos orgânicos, que são

    os próprios nutrientes para os microrganismos.Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), as bactérias podem afetar a

    qualidade da água por desativar reagentes ou alterar substratos por ação

    enzimática, aumentar o conteúdo em COT, alterar a linha de base (ruído de fundo)

    em análises espectrais e produzir pirogênios e endotoxinas.

    Para FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), a contagem de bactérias é reportada

    em unidades formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL) e, em geral, aumenta

    com o tempo de estocagem da água. Os contaminantes mais frequentes são

    bastonetes gram negativos, principalmente dos gêneros  Alcaligenes, Pseudomonas,Escherichia, Flavobacterium, Klebsiella, Enterobacter, Aeromonas e Acinectobacter .

    Para FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) o padrão microbiológico é especificado

    para água, em paralelo aos contaminantes químicos, e consiste na ausência de

    coliformes totais e termotolerantes (micro-organismos patogênicos de origem fecal),

    além de enterovírus cistos e oocistos de protozoários, como Giardia sp e

    Cryptosporidium sp em amostra de 100 mL.

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      20

    Assim, além da ausência de microrganismos reconhecidamente patogênicos

    as especificações microbiológicas da água purificada e para injetáveis são as que

    seguem.

    A USP 35 (THE UNITED..., 2012), EP 7 (EUROPEAN..., 2011) e FB 5

    (FARMACOPÉIA..., 2010) preconizam a quantificação de microrganismos utilizando

    o método de filtração por membrana onde é quantificado o número de

    microrganismos mesófilos totais. A especificação máxima para contagem de

    microrganismos mesófilos totais na água purificada é 100 UFC/mL.

    A FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) e a USP 35 (THE UNITED..., 2012)

    possibilitam a utilização de métodos alternativos que quantificam por exemplo

    bactérias heterotróficas, onde o limite é o mesmo (máximo 100 UFC/mL).

    No que diz respeito à qualidade microbiológica da água para injetáveis, aUSP 35 (THE UNITED..., 2012), EP 7 (EUROPEAN..., 2011) e FB 5

    (FARMACOPÉIA..., 2010) consideram o valor de 10 UFC/mL como limite máximo

    para contagem de microrganismos mesófilos e 0,25 UI/mL como valor máximo de

    endotoxinas.

    2.3 LIMITE DE ALERTA E LIMITE DE AÇÃO

    Segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), devido à não possibilidade de

    monitoramente de alguns parâmetros da água, como os parâmetros microbiológicos,

    se faz necessária a utilização de limites de trabalho menores aos limites

    especificados nos compêndios oficiais para que se possam tomar medidas que

    evitem que a qualidade da água seja comprometida. Usualmente se aplicam limites

    de alerta e ação a parâmetros microbiológicos, porém é interessante a utilização

    para todos os parâmetros visando um maior controle do sistema de águafarmacêutica.

    Segundo USP 35 (THE UNITED..., 2012), os limites alerta devem ser

    estabelecidos para cada sistema em particular e devem ser os mais rigorosos

    possíveis, sendo determinados durante a etapa de qualificação do sistema.

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      21

    2.4 CONCEPÇÃO SANITÁRIA

    Segundo Bolet (2006) por concepção sanitária compreende-se a concepção

    de um equipamento, instalação ou qualquer outro material de uso a fim de evitar ao

    máximo a contaminação dos produtos durante as operações neles realizadas. A

    concepção sanitária compreende as técnicas de Boas Praticas de Engenharia.

    Assim, conforme Bolet (2006), os componentes de um sistema de água para fins

    farmacêuticos deve, além de exercer sua função especifica, proteger os produtos de

    contaminação.

    Bolet (2006, p. 141-149 e 265-278) relaciona alguns cuidados a serem

    tomados para garantir a sanietariedade de equipamentos e componentes de um

    sistema de água para fins farmacêuticos:

    •  Devem ser projetados, construídos e instalados de forma a convir ao

    uso pretendido;

    •  Devem ser evitados locais de acúmulo de água, como “braços mortos”;

    •  As superfícies em contato com a água devem ser lisas;

    •  O sistema, assim como todos os seus componentes devem permitir

    uma drenagem total;

    •  Os sistemas nas etapas finais de purificação, no armazenamento e nadistribuição devem ser fechados, sem contato com o ar atmosférico;

    •  Devem permitir a execução de procedimentos de limpeza e

    sanitização;

    •  Os materiais de construção devem ser o mais inertes possível, não

    afetar a água e não ser afetado pela água, de preferência deve s optar pelo uso de

    aço inoxidável 316L;

    •  Quando empregados trocadores de calor, estes deve possuir parede

    dupla;

    •  Soldas e anéis de vedação das juntas não devem ser aflorantes,

    devem estar alinhadas as tubulações;

    •  Válvulas e demais acessórios devem possuir desenho que evite o

    acúmulo de água;

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    •  Quando aplicável, devem ser realizados tratamentos que diminuam a

    reatividade dos materiais, tal como o polimento e a passivação do aço inoxidável

    (lavagem com uma solução oxidante que torna a superfície do aço inoxidável mais

    resistente);

    •  Filtros e leitos que possibilitem o acúmulo de impurezas devem ser

    evitados nos sistemas de armazenamento e distribuição;

    •  Filtros terminais empregados para controle de biocontaminação podem

    mascarar possíveis contaminações no sistema de distribuição e, portanto, devem ser

    evitados.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), os materiais

    que entram em contato com a água para uso farmacêutico, incluindo a tubulação,

    válvulas e armações, lacres, diafragmas e instrumentos devem ser selecionadospara satisfazer os seguintes objetivos:

    •  Compatibilidade: todos os materiais usados devem ser compatíveis

    com a temperatura e as substâncias químicas utilizadas pelo sistema ou dentro dele;

    •  Prevenção de vazamento: todos os materiais que entram em contato

    com a água para uso farmacêutico não podem apresentar vazamentos dentro da

    faixa de temperatura de trabalho;

    •  Resistência à corrosão: a água purificada e a água para injetáveis são

    altamente corrosivas. Para evitar falha do sistema e contaminação da água, osmateriais selecionados devem ser apropriados, o processo de soldagem deve ser

    controlado cuidadosamente, e todos os vedantes e componentes devem ser

    compatíveis com a tubulação utilizada. O sistema deve ser submetido à passivação

    após a instalação inicial ou após modificação. Quando a passivação é realizada, o

    sistema deve ser totalmente limpo antes do uso, e o processo de passivação deve

    ser realizado em consonância com um procedimento documentado claramente

    definido;

    •  Acabamento interno liso: devem ser utilizadas superfícies internas lisas

    que ajudam a evitar aspereza e fissuras no sistema de água para uso farmacêutico;

    •  Soldagem: os materiais selecionados do sistema devem ser facilmente

    soldados, de forma controlada;

    •  Desenho de flanges ou juntas: quando são utilizadas flanges ou juntas,

    devem ter desenho higiênico ou sanitário. Devem ser realizadas verificações para

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    garantir que os lacres corretos são usados e que estão encaixados e ajustados

    corretamente;

    •  Documentação: todos os componentes do sistema devem ser

    plenamente documentados;

    •  Materiais: devem ser utilizados materiais adequados que possam ser

    considerados como elementos sanitários do sistema.

    2.5 SISTEMAS DE ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS

    A água para fins farmacêuticos dentro da indústria é gerada e distribuída até

    os pontos de consumo por um sistema que, segundo Bolet (2006), são compostos

    pelos seguintes elementos: obtenção ou geração, estocagem ou armazenamento, e

    distribuição. Estes elementos são organizados em dois subsistemas, “obtenção” e

    “estocagem e distribuição (conforme Figura 1). 

    Figura 1 - Sistema de água farmacêutica.

    Fonte: Adaptado de Bolet (2006).

    EstocagemObten ão

    Entrada deágua bruta

    Distribuição

    Pontos de Consumo

    Área técnica

    Área de fabricação

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    A obtenção da água compreende os tratamentos utilizados na purificação da

    água farmacêutica (BOLET, 2006). A estocagem e distribuição permitem dispor, a

    todo o momento, de água farmacêutica nos pontos de utilização (BOLET, 2006).

    Segundo Bolet (2006), dos componentes do sistema de água farmacêutica apenas

    uma parte da rede de distribuição fica dentro da área de fabricação, que são os

    pontos de consumo. Todos os demais ficam dispostos em áreas que circundam a

    área de produção (área técnica).

    A Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010) determina que sejam

    previstas as seguintes especificação para os equipamentos e componentes de um

    sistema de água farmacêutica: (1) risco de contaminação a partir de lixívias de

    materiais de contato; (2) impacto adverso de materiais de contato adsorvíveis; (3)

    projeto que permita a sanitização do sistema, quando exigido; (4) resistência àcorrosão; (5) ser livre de vazamentos; (6) configuração para evitar a proliferação

    microbiológica; (7) tolerância a agentes de limpeza e sanitização (térmicos e/ou

    químicos); (8) capacidade do sistema e exigências de produção; e (9) instalação de

    todos os instrumentos, pontos de amostragem necessários para permitir que todos

    os parâmetros críticos do sistema sejam monitorados.

    2.6 CAPTAÇÃO DA ÁGUA

    Segundo o GCAP 34 (WORLD..., 2006), o tratamento da água começa na sua

    captação. Além da relação com a qualidade da água, a captação também tem uma

    função importante quanto à regularidade do fornecimento da água.

    A captação da água pode ser realizada diretamente de mananciais, como é o

    caso de sistemas públicos de fornecimento de água potável e indústrias com alto

    consumo de água, ou de redes de distribuição em locais onde existe fornecimentode água potável.

    A captação da água de fontes naturais exigirá maiores cuidados do que a

    captação de redes de distribuição onde a água é tratada e fornecida dentro de

    parâmetros de qualidade constantemente monitorados.

    4  GCAP 3: Guias sobre a Qualidade da Água Potável (Guías para la Calidad del Agua Potable)

    terceira edição. 

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    Segundo o GCAP 3 (WORLD..., 2006), as estruturas de captação de fontes

    naturais, sobretudo em mananciais de superfície, em especial no regime climático

    tropical, sofrem grandes variações (de vazão, de velocidade ou de nível) ao longo do

    ano. Por essa razão é fundamental o conhecimento das características da água

    captada para que não ocorram colapsos no fornecimento ou na qualidade da água.

    A captação tem função crucial no abastecimento, em vista dos riscos

    relacionados a falhas no fornecimento e variações na qualidade da água de

    alimentação.

    2.7 MÉTODOS DE TRATAMENTO E PURIFICAÇÃO DA ÁGUA

    Segundo Pádua (2009), os primeiros indícios de tratamento da água levam à

    Índia de 4000 anos atrás. Documentos citam a fervura, exposição ao sol, uso de

    peças de cobre aquecidas e filtração como formas de purificação de água. Em

    relação ao Egito (1500 anos a.C), existem registros da utilização de alumínio para

    remover sólidos suspensos na água.

    Conforme Pádua (2009), a preocupação das civilizações ocidentais nos

    séculos que antecedem o cristianismo estavam na construção de aquedutos, canais,túneis e cisternas com o intuito de levar a água considerada adequada para o

    consumo até as cidades. Durante séculos os tratamentos de água se centraram em

    melhorar ou manter a cor, odor e sabor da água.

    Segundo Pádua (2009) um dos tratamentos mais antigos e eficazes é a

    fervura da água. Porém, do ponto de vista prático, fica restrita à aplicação no âmbito

    das unidades residenciais. Em 1870, e durante alguns anos posteriores, o uso de

    filtros de areia e de outras técnicas de tratamento ainda visava melhorar o aspecto

    estético da água, eliminar o odor e melhorar o sabor. O avanço do conhecimentodeu então lugar ao tratamento da água com vistas à proteção à saúde.

    Segundo Pádua (2009), do final do século XIX até à primeira metade do

    século XX, o tratamento da água teve como objetivo central a clarificação e a

    remoção de organismos patogênicos, em torno do que foram se desenvolvendo as

    técnicas de coagulação, floculação, decantação e desinfecção.

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    A partir dos anos 1960 e 1970, o desenvolvimento agrícola e industrial impôs

    intensa produção e uso de novas substâncias químicas, dentre as quais os

    agrotóxicos, fármacos e hormônios sintéticos, implicando necessidade de

    desenvolvimento e emprego de técnicas de tratamento mais específicas e/ou

    complexas.

    Dependendo da aplicação à qual se destina a água, o sistema requer uma

    qualidade diferenciada que na maioria das vezes não é a qualidade da água bruta

    obtida das fontes naturais. Assim, para que a água atenda às diferentes

    necessidades de cada aplicação, muitas vezes são necessários tratamentos que

    dão conta da sua qualidade. Existem inúmeros métodos de tratamento da água, que

    podem se utilizar de propriedades físico-químicas da água, da aplicação de produtos

    químicos ou até a utilização de barreiras filtrantes.A qualidade da água é variável em função da sua aplicação. Assim também

    são os tratamentos aplicados para transformar a água bruta na água adequada para

    o fim pretendido, os métodos de tratamento ou purificação são adaptados conforme

    a finalidade a que se pretende e podem servir para a eliminação de contaminantes,

    manutenção da qualidade ou atribuição de uma propriedade interessante para a

    saúde pública, como é o caso da fluoretação da água potável.

    Conforme Breda (2001), a tecnologia atual permite a utilização de vários

    métodos de tratamento e purificação da água, sejam isolados, sejam combinados,dependendo da qualidade da água bruta e da qualidade desejada para a água

    tratada.

    O nível de tratamento necessário depende da aplicação à qual a água se

    destina e da qualidade da água de alimentação. Em algumas aplicações simples,

    pode ser suficiente uma filtração que elimine as partículas de grande tamanho, ao

    passo que em outras se precisa realizar uma purificação mais estrita.

    Segundo Pádua (2009) o tratamento da água envolve o emprego de

    diferentes operações e processos unitários para adequar a água de diferentes fontesaos padrões de qualidade definidos pelos órgãos de saúde e agências reguladoras.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), o grau de

    tratamento da água deve considerar a natureza e o uso pretendido do intermediário

    ou produto terminado, bem como a etapa no processo de produção na qual a água é

    utilizada. A obtenção da água potável e da água para fins farmacêuticos seguem

    processos distintos.

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    2.7.1 Água Potável

    Quando se trata do tratamento da água para consumo humano tem por

    finalidade primeira torná-la potável, ou seja, torná-la atrativa e segura para o

    consumo. Portanto, os principais objetivos do tratamento são de ordem sanitária

    (remoção e inativação de organismos patogênicos e substâncias químicas que

    representem riscos à saúde) e estética / organoléptica (por exemplo: remoção de

    turbidez, cor, gosto e odor).

    Segundo o GCAP 3 (WORLD..., 2006) o tratamento da água para consumohumano tem por objetivos: (1) Atender ao padrão de potabilidade exigido pelos

    órgãos regulamentadores: prevenindo a veiculação de doenças de origem

    microbiológica ou química e estimulando a aceitação para consumo; (2) Prevenir a

    cárie dentária, por meio da fluoretação; e (3) Proteger o sistema de abastecimento

    dos efeitos da corrosão e da deposição/incrustação.

    Com esses objetivos, segundo GCAP 3 (WORLD..., 2006) as estações de

    tratamento de água para o consumo humano geralmente contemplam a combinação

    das seguintes etapas:•  Clarificação, com o objetivo de remover impurezas por meio da

    combinação dos seguintes processos unitários: coagulação, floculação,

    sedimentação, flotação e filtração;

    •  Desinfecção, para a inativação de organismos patogênicos;

    •  Fluoretação, para a prevenção da cárie dentária;

    •  Estabilização da água, destinada ao controle da sua corrosividade ou

    de sua capacidade de formar depósitos excessivos de substâncias insolúveis na

    água.

    2.7.2 Água para fins farmacêuticos

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    Segundo Bolet (2006), no caso especifico da água utilizada para fins

    farmacêuticos, os métodos de tratamento da água visam a sua purificação e de

    maneira geral visam a eliminação (1) de partículas sedimento (poeiras, polens,

    metais, etc.); (2) de sustâncias inorgânicas (sobretudo a “dureza” – Ca e MG – e os

    “metais”- Fe, Al, Si); (3) de substâncias orgânicas (produtos de decomposição de

    vegetais e poluentes – detergentes, óleos, pesticidas, etc.); (4) de microrganismos e

    seus restos (endotoxinas); e (5) de desinfetantes (como o cloro, que permanece

    sempre o produto mais empregado para a proteção da qualidade microbiológica da

    água).

    A Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010) determina que o

    método escolhido de purificação da água, ou sequência de etapas de purificação,

    deve ser apropriado à aplicação em questão e recomenda a consideração dosseguintes itens na seleção do método de tratamento da água: (1) a especificação da

    qualidade da água pretendida; (2) o rendimento esperado pelo sistema; (3) a

    qualidade da água de alimentação e suas possíveis alterações sazonais; e (4) a

    confiabilidade e robustez dos equipamentos pretendidos para o tratamento durante a

    operação.

    Bolet (2006) separa em duas etapas os processos utilizados para a

    purificação da água para fins farmacêuticos, a primeira etapa é o “pré-tratamento” e

    a segunda é o “tratamento”. As tecnologias de pré-tratamento têm por finalidadeobter água com uma qualidade apropriada para o emprego eficiente da tecnologia

    final, isto é, do tratamento, onde são empregadas tecnologias mais avançadas.

    Embora seja teoricamente possível considerar a produção de uma água

    farmacêutica por meio de uma única tecnologia, na prática isto se mostra muito

    pouco prático, de um lado por seu baixo desempenho e do outro porque as

    variações sazonais de um produto retirado da natureza, como a água, exigem uma

    flexibilidade muito difícil de atingir com um único método.

    Segundo Bolet (2006), o pré tratamento tem por finalidade o aumento daqualidade da água de alimentação, seja ela potável ou bruta, a fim de que o

    procedimento de tratamento final tenha a melhor eficácia e rendimento possível, o

    que se traduz também por um aumento da sua vida útil. Desta maneira, o tratamento

    também é protegido das alterações sazonais da qualidade da água.

    Os métodos empregados para o pré-tratamento podem também ser

    empregados como tratamento final, segundo a concepção do sistema. Conforme

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    Bolet (2006), os processos de pré-tratamento da água, comumente empregados,

    são as seguintes:

    •  Clarificação, para reduzir a turbidez através da remoção de partículas

    sólidas dissolvidas, que incluem a floculação, coagulação, sedimentação, flotação e

    filtração;

    •  Filtração, para remoção de partículas sólidas;

    •  Absorção, visando a absorção de substâncias presentes na água;

    •  Redução química (metabissulfito), aplicada na eliminação do cloro,

    quando sua presença não é interessante, pois interage e danifica determinados

    componentes presentes na maioria dos tratamentos de água purificada;

    •  Permutação (troca iônica), para a remoção de íons;

    •  Desgaseificação, aplicado principalmente em águas muito alcalinasdevido a presença de íons carbonato;

    •  Desinfecção, onde são empregados a cloração, a ozonização e a

    aplicação de radiação ultra-violeta.

    Segundo Bolet (2006), após a remoção dos principais contaminantes da água,

    que será utilizada para fins farmacêuticos, pode-se proceder a etapa de tratamento

    propriamente dita, que dará à água a qualidade requerida.

    Segundo Bolet (2006), comumente são empregados seis tecnologias para o

    tratamento da água a ser utilizada como água purificada ou de qualidade superior

    em uma indústria farmacêutica, que são:

    •  Permutação (troca iônica);

    •  Osmose reversa (ou osmose inversa);

    •  Destilação;

    •  Eletrodeionização;

    •  Ultrafiltração;

    •  Eletrodiálise.

    2.7.3 Tecnologias de tratamento e purificação

  • 8/16/2019 VALIDAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

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      30

    As principais tecnologias empregadas na purificação da água para fins

    farmacêuticos estão listadas e brevemente descritas na sequência.

    2.7.3.1 Permutação ou troca iônica

    Segundo o GCAP 3 (WORLD..., 2006) a permutação, troca iônica ou

    deionização é um processo no qual os íons presentes na água são permutados

    (trocados) por íons com a mesma carga ligados a uma substância sólida insolúvel

    em água (resina). Segundo Bolet (2006), inicialmente foram usados como resinas de

    troca iônica os zeólitos (aluminossilicatos naturais), porém, atualmente usam-seresinas obtidas sinteticamente e apresentadas em forma de pequenos grânulos.

    Bolet (2006) separa as resinas em dois tipos principais: (1) resinas catiônicas,

    que possuem íons carregados positivamente, permutam cátions por cátions e podem

    ser regeneradas com soluções ácidas ou com salmoura; e (2) resinas aniônicas, que

    possuem íons carregados negativamente, permutam ânions por ânions e a sua

    regeneração é feita por meio de solução alcalina com a solução de soda cáustica.

    Segundo Bolet (2006), as resinas são apresentadas em colunas

    pressurizadas ou cartuchos. Há cartuchos com um só tipo de resina e cartuchosmistos que contém os dois tipos de resinas.

    Segundo Breda (2001), a deionização consiste em passar a água através de

    um leito de resina. Os cátions e ânions presentes na água são deslocados e

    substituem gradativamente os íons hidrogênio e hidroxila ativos presentes na resina,

    até saturá-la (até que não haja mais íons H+ e OH- para serem substituídos). Nesse

    momento a resina tem que ser regenerada ou substituída. O processo de

    regeneração é exatamente o inverso do funcionamento normal do leito de resina, é

    promovida a substituição, nas partículas das resinas, dos cátions e ânionsseqüestrados durante a operação normal por íons H+ e OH-, respectivamente.

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    Figura 2 – Resina de troca iônica

    Fonte: Breda (2001)

    Bolet (2006) cita a existência de tratamentos da água específicos que

    empregam o principio da troca iônica, que são o abrandamento e a

    desmineralização da água. Conforme Bolet (2006), o abrandamento da água implicao tratamento por uma resina catiônica, na qual os cátions que conferem a dureza da

    água (cálcio e magnésio) são trocados por íons sódio da resina. Neste caso as

    resinas dos abrandadores são regenerados por uma solução de NaCl (salmoura).

    Para Bolet (2006), a demineralização da água implica duas reações de troca

    iônica. A água a ser tratada passa primeiro por uma resina catiônica, na qual os

    cátions (cálcio, magnésio, sódio, etc.) que ela contém são trocados por íon

    hidrogênio da resina. Após, a água flui através de uma resina aniônica, na qual os

    ânions (cloreto, sulfato, carbonato, bicarbonato, sílica, nitrato, etc.) são permutadospor íons hidroxila da resina.

    Bolet (2006) ressalta que as resinas são danificadas pela ação do cloro,

    portanto, a água deve ser tratada por filtro de carvão ativo ou adição de

    metabissulfito antes de passar pela resina, para remover o cloro normalmente

    presente na água potável com o objetivo de aumentar a vida útil das resinas.

    Outra questão importante levantada por Bolet (2006) está no risco de

    proliferação microbiológica como qualquer filtro, mas também muito particularmente

    porque o cloro tem sido retirado da água.Um condutivímetro instalado na saída dos leitos de resinas (catiônico e

    aniônico) ou do leito de resinas misto indica a qualidade da água tratada. A subida

    da condutividade acima dos padrões requeridos indicam a necessidade de se

    regenerar ou substituir as resinas.

    No tratamento de água para consumo humano segundo o GCAP 3

    (WORLD..., 2006) as trocas irônicas estão presentes principalmente em águas muito

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    duras (uso de abrandadores), ou quando existe a presença de algum íon em

    concentração muito alta que prejudiquem a qualidade da água ou o sistema de

    abastecimento.

    Segundo Breda (2001), a troca iônica isoladamente não produz água

    totalmente pura devido a limitações deste método: (1) fuga de pequenos fragmentos

    de resina durante a operação; (2) a proliferação de microrganismos no leito de

    resina, onde a água muitas vezes fica estagnada; (3) a resina não remove

    determinados compostos orgânicos e a matéria orgânica presente na água; (4) o

    acúmulo de matéria orgânica no leito de resina pode bloquear a resina. Assim, é

    necessário combinar este método com outros que supram as limitações da troca

    iônica.

    2.7.3.2 Osmose reversa

    A osmose reversa ou osmose inversa é um método de purificação baseado

    no fenômeno natural que ocorre nas membranas semipermeáveis conhecido como

    osmose. Segundo Breda (2001), a osmose é o movimento da água através de uma

    membrana semipermeável, do lado com menor concentração de impurezas (maispuro) para o lado de maior concentração de impurezas (lado de maior salinidade,

    menos puro). Este movimento ocorre naturalmente até que as concentrações

    atinjam o equilíbrio ou que a pressão no lado mais concentrado se torne alta o

    suficiente para impedir o fluxo de água através da membrana.

    Segundo Breda (2001), quando se aplica, na solução mais concentrada, uma

    pressão maior do que a pressão osmótica, usando uma bomba de alta pressão, as

    moléculas de água são forçadas através da membrana para o lado menos

    concentrado, o que resulta na purificação da água. Este é o processo da osmosereversa. A membrana de osmose reversa é transposta pela água como um filtro

    tangencial, onde a água é dividida em duas frações uma contendo a água com as

    impurezas (concentrado) e outra contendo a água purificada (permeado).

    Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) a osmose reversa é um método

    muito eficiente empregado na purificação da água para fins farmacêuticos e é capaz

    de remover de 90 a 99% da maioria dos contaminantes da água. Conforme Bolet

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    (2006), idealmente as membranas de osmose reversa deveriam ser permeáveis a

    água, mas impermeáveis aos solutos, resistir às elevadas pressões de trabalho,

    tolerar uma ampla escala de pH e temperatura e resistir ao ataque de produtos como

    cloro livre e de bactérias.

    Conforme Bolet (2006), as membranas celulósicas foram as primeiras

    utilizadas na osmose reversa, mas embora sejam de baixo custo, elas tem

    importantes limitações em termos de pressão, pH, temperatura, hidrólise e

    resistência aos ataques biológicos.

    A segunda geração de membranas, segundo Bolet (2006), foram as

    membranas de poliamida aromática, que foram desenvolvidas para melhorar estes

    inconvenientes, mas, embora possuem melhores propriedades, são danificadas pelo

    cloro livre. Procurando uma melhora adicional, foram desenvolvidas membranascompostas de duas camadas. Elas possuem uma fina camada superficial (poliamida

    aromática, alquil-aril-poliurea/poliamida, etc.) e uma camada porosa de suporte

    (habitualmente de polisulfona). Embora estas membranas compostas possuam

    desempenhos melhorados, a resistência ao cloro fica limitada.

    Segundo Bolet (2006) as membranas de osmose reversa são habitualmente

    apresentadas em dois tipos de construção, enroladas em espiral ou como fibras

    ocas, montadas em carcaças de pressão. O equipamento de osmose reversa é

    bastante simples e consiste em uma série de tubos contendo as membranasconectadas a uma bomba de pressão para impelir a água através dos tubos. A água

    deve ser pré-tratada para eliminar sólidos em suspensão, dureza e oxidantes

    (principalmente cloro).

    Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), é comum o emprego de sistemas

    em duplo passo, ou seja, duas membranas de osmose reversa instaladas em série.

    A água que sai do primeiro estágio alimenta o segundo estágio, aumentando assim

    a eficiência da purificação.

    Bolet (2006) relata que a manutenção do equipamento de osmose reversa érelativamente simples, existe a necessidade limitada de reativos e pode ser

    facilmente automatizado (as medidas de condutividade em linha permitem detectar

    falhas no sistema).

    Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), as membranas semipermeáveis

    devem ser periodicamente sanitizadas. Devido à sua excepcional eficiência de

    purificação, a osmose reversa, segundo Breda (2001), é uma opção que tem uma

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    relação custo / benefício muito atrativa para um sistema de purificação de água.

    Devido à sua alta capacidade de remoção de bactérias e pirogênicos, a osmose

    reversa é frequentemente combinada com a troca iônica de modo a reduzir

    consideravelmente a frequência de regeneração das resinas de troca iônica, o que

    aumenta muito a vida útil das mesmas.

    Segundo o GCAP 3 (WORLD..., 2006) a osmose reversa tem sido

    tradicionalmente aplicada na produção de água para aplicações industriais,

    especialmente na indústria farmacêutica, mas nos últimos anos iniciaram o uso

    como tecnologia de tratamento para água potável, principalmente na dessalinização

    de água do mar e da água salobra.

    2.7.3.3 Eletrodiálise

    Segundo Bolet (2006) a eletrodiálise é o processo usado para desmineralizar

    a água por meio da migração de íons através de membranas em um campo elétrico.

    Onde os cátions são atraídos pelo anodo e os anions são atraídos pelo cátodo do

    campo elétrico. Entre os eletrodos são colocadas membranas seletivas, permitindo a

    purificação da água.Bolet (2006) salienta que, para evitar deposições sobre as membranas, o

    campo elétrico deve ser invertido de maneira alternada. Essa tecnologia é conhecida

    como eletrodiálise de inversão. Nesta situação se elimina a necessidade de utilizar

    produtos para eliminar os sedimentos depositados sobre as membranas. Porém,

    mesmo neste caso de inversão da polaridade do campo elétrico, é necessária a

    sanitização periódica das membranas.

    2.7.3.4 Eletrodeionização

    Bolet (2006) define a eletrodeionização ou eletrodeionização continua como a

    combinação de troca iônica e eletrodiálise. Neste sistema os íons são capturados

    pelas resinas, porém a corrente elétrica rompe as moléculas da água em íons

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    hidrogênio e hidroxilo, os quais regeneram continuamente as resinas, então os íons

    são finalmente extraídos através das membranas pela ação do campo elétrico.

    Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) os sistemas de eletrodeionização

    continua combinam resinas catiônicas e aniônicas com membranas semipermeáveis

    e a aplicação de um campo elétrico, promovendo assim a remoção de ions de forma

    continua, sem a necessidade de regenerações periódicas das resinas.

    Para Bolet (2006), a grande vantagem da eletrodeionizaçào está no fato de

    não serem necessários reativos químicos para a regeneração das resinas.

    Bolet (2006) recomenda a aplicação da eletrodeionização em combinação

    com a osmose reversa, onde é possível gerar água de alta pureza sem a

    necessidade de aplicação de muitos reativos químicos.

    2.7.3.5 Ultrafiltração

    Segundo Castro e Presot (2006), a ultrafiltração é um processo mecânico que

    remove pequenas impurezas dissolvidas ou suspensas na água, este método retém

    as partículas baseado no seu tamanho, forma e carga elétrica e é utilizado em

    combinação com outros métodos de purificação. São comumente utilizados paraprevenir a degradação das membranas de osmose reversa e como filtros

    intermediários para remoção de endotoxinas e material particulado.

    Segundo Breda (2001), na ultrafiltração é empregada uma membrana muito

    similar à utilizada em osmose reversa, exceto pelo fato de que os poros do ultrafiltro

    são ligeiramente maiores. O ultrafiltro é utilizado para remover pirogênicos da água

    purificada. Considerando que uma alta porcentagem da água trazida ao ultrafiltro

    passa através dele, ele eventualmente irá entupir caso não receba manutenção

    adequada. Em um sistema projetado adequadamente, o ultrafiltro é regularmentelavado, tangencialmente, para eliminação dos contaminantes.

    Conforme Runyon (2007), recentemente a ultrafiltração vem sendo

    empregada em conjunto com a osmose reversa na produção de água de alta

    pureza, onde a utilização da destilação é inviabilizada devido aos custos dos

    processos térmicos.

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    2.7.3.6 Destilação

    Segundo Bolet (2006) a destilação se diferencia dos outros métodos de

    tratamento da água porque a água é separada das impurezas mais que as

    impurezas da água. Durante o processo de destilação a água sofre mudanças de

    estado físico, passando de líquido a vapor e voltando para líquido. As impurezas

    possuem um ponto de ebulição superior ao da água (100oC). Assim, quando ocorre

    a evaporação da água, as impurezas permanecem na caldeira do destilador. A água

    e as impurezas, que possuam ponto de ebulição igual ou mais baixo do que a água,

    são convertidas em vapor. Quando este vapor é condensado, a água é apenasacompanhada de algumas substâncias que fervem a temperaturas mais amplas. A

    destilação pode eliminar efetivamente a maioria de sólidos inorgânicos, todos os

    compostos orgânicos com ponto de ebulição superior ao da água (100oC), as

    bactérias e pirógenos. Segundo Bolet (2006), os gazes, compostos orgânicos e as

    impurezas que não são eliminadas pela mudança de estado físico da água devem

    ser eliminados através do emprego de outros métodos de purificação.

    Bolet (2006) salienta que a destilação precisa de muita energia, mas é o único

    procedimento aceito na Europa para a obtenção de água para produção deinjetáveis. Neste tipo de água, o conteúdo em endotoxinas é um fator crítico. Para

    evitar o risco de arrastamento com o vapor de vesículas de água contendo

    endotoxinas, os destiladores devem possuir defletores, que só deixam passar o

    vapor. Um destilador bem projetado deve ser capaz de reduzir, pelo menos de 3

    unidades logarítmicas o conteúdo em endotoxinas da água.

    Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), na utilização de destiladores deve-

    se ter um cuidado especial na água de alimentação, principalmente no que diz

    respeito a presença de silicatos, devido as possíveis incrustações, e a presença decompostos voláteis como os trihalometanos, dióxido de carbono e amônia

    dissolvidos.

    Bolet (2006) distingue três tipos de destiladores empregados nas indústrias

    farmacêuticas:

    •  Destiladores de efeito único: são empregados para débitos pequenos.

    O vapor gerado em uma caldeira é condensado pela passagem por um trocador de

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    calor (condensador). Os elementos básicos de um destilador são a caldeira, um

    defletor para reduzir os pirógenos, um condensador e um mecanismo para controlar

    os nível da água (BOLET, 2006).

    •  Destiladores de multi-efeito: são empregados para grandes débitos.

    Neste caso, o vapor produzido em uma câmara é empregado para aquecer a água

    da câmara seguinte e assim obter mais vapor. Somente a primeira câmara tem

    necessidade de aquecimento exterior, pois as seguintes são aquecidas pelo vapor

    da câmara precedente. Finalmente o vapor da última câmara é condensado a fim de

    obter a água purificada. Este escalonamento de câmaras permite atingir uma grande

    eficácia térmica (BOLET, 2006).

    •  Destiladores por termocompressão: nestes equipamentos, o vapor

    gerado é comprimido e por isto ele adquire uma temperatura mais alta e pode serempregado para a produção de vapor em ciclo contínuo. Estes destiladores são

    utilizados para débitos muito grandes, pois possuem um rendimento térmico mais

    elevado (BOLET, 2006).

    Os destiladores multi-efeito e por termocompressão podem ser empregados

    tanto para a obtenção da água para a preparação de injetáveis, quanto como fonte

    de vapor ultrapuro, que possui varias aplicações dentro de uma indústria

    farmacêutica.

    o GCAP 3 (WORLD..., 2006) coloca como possibilidade de tratamento daágua a destilação, principalmente quando se trata da dessalinização da água

    captada do mar. Contudo, o elevado custo energético deste método de tratamento

    praticamente inviabiliza a aplicação da destilação quando se busca a produção de

    água potável em grande escala.

    2.8 ARMAZENAMENTO E DISTRIBIÇÃO DA ÁGUA

    Aplicado o tratamento necessário para a água atingir a especificação de

    qualidade exigida para sua aplicação, o desafio passa a ser a manutenção desta

    qualidade até a sua utilização.

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    O que determina os cuidados que devem ser tomados no armazenamento e

    distribuição da água são os riscos envolvidos na contaminação microbiana e a

    reatividade da água, que quanto mais pura, maior será (WORLD..., 2005).

    No caso da água potável, os cuidados estão relacionados a microbiologia e

    manutenção de concentrações residuais de cloro. Já na água para fins

    farmacêuticos, a pureza da água e ausência do cloro a tornam sujeita a

    contaminações e mais agressiva aos componentes do sistema de armazenamento e

    distribuição, tornando estas operações um desafio maior.

    2.8.1 Água potável

    Segundo GCAP 3 (WORLD..., 2006), os reservatórios e a rede de distribuição

    são de fundamental importância para garantia da qualidade da água. Os cuidados

    tomados nas unidades de captação e tratamento serão inúteis se atenção especial

    não for dispensada aos reservatórios e à rede de distribuição para que eles não

    constituam pontos de contaminação e de perda de água.

    2.8.2 Água para fins farmacêuticos

    Após a obtenção da água na qualidade desejada, é necessário a manutenção

    da qualidade até os locais onde ela será utilizada, por isso, devem ser tomados

    cuidados especiais levando em conta as características da água purificada e o risco

    de recontaminação.

    Como na maioria dos sistemas de água a geração da água não supre ademanda requerida momentaneamente nos pontos de uso, se faz necessário a

    utilização de tanques de armazenamento da água para que esteja sempre disponível

    para o uso.

    A disponibilidade da água nos locais de consumo é outra questão importante.

    Para que a água chegue na qualidade requerida em todos os pontos de uso, é

    preciso uma tubulação que a leve até local desejado sem comprometer sua

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    qualidade. Segundo FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010), quanto maior o grau de

    purificação da água, mais rapidamente ela tende a se recontaminar. Assim, a água

    deve ser mantida em constante recirculação, em fluxo turbulento o que evita a

    formação de biofilmes e a consequente contaminação da água.

    Quanto a capacidade de armazenamento dos tanques utilizados para água

    para fins farmacêuticos, a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010)

    determina que deve ser intermediária entre a capacidade de geração da água e o

    consumo e deve ser suficiente para oferecer reserva de curto prazo em caso de

    falha do equipamento de tratamento da água ou de incapacidade de produção

    devido à sanitização ou ciclo de regeneração

    No que diz respeito ao controle de contaminação da água armazenada, a

    Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010) prevê as seguintes situações:•  O espaço entre a superfície da água e a tampa do reservatório é uma

    área de risco em que gotas de água e ar podem entrar em contato em temperaturas

    que incentivam a proliferação de microorganismos;

    •  Os reservatórios devem ser configurados para evitar zonas mortas em

    que possa haver contaminação microbiológica;

    •  Filtros de ventilação são colocados em reservatórios para permitir que

    o nível interno de líquido flutue. Os filtros devem reter bactérias, devem ser

    hidrofóbicos e devem ser configurados idealmente para permitir a avaliação de suaintegridade;

    •  Quando são utilizadas válvulas de alívio de pressão e discos de ruptura

    em reservatórios para protegê-los contra pressurização excessiva, tais componentes

    devem ter desenho sanitário.

    Bolet (2006) resalta que o reservatório de estocagem apresenta um risco em

    um sistema de água, pois ele constitui um ponto de estagnação. Para evitar a

    multiplicação microbiana, devem ser empregadas as seguintes técnicas:

    •  A chegada da água no reservatório faz-se através de uma cabeça de

    aspersão (sprayball ), de maneira que as paredes estejam permanentemente

    molhadas;

    •  A capacidade do reservatório deve ser projetada de maneira

    apropriada para que não se esvazie nem muito rapidamente, nem muito lentamente.

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    Bolet (2006) cita como possibilidades da manutenção da qualidade

    microbiológica da água o emprego de técnicas como a ozonização, radiação

    ultravioleta, manutenção do sistema a quente (temperatura em torno de 80oC) e

    manutenção do sistema a frio (temperatura em torno de 10oC).

    No caso dos sistemas mantidos aquecidos, o aquecimento é eficaz na

    proteção a contaminação bacteriana. Porém, segundo Bolet (2006), o custo

    energético e a necessidade de resfriamento da água em determinados pontos de

    consumo para segurança dos usuários, são as desvantagens deste método.

    Sistemas mantidos a frio também são eficazes no controle microbiano, porém o

    custo energético é o inconveniente.

    No emprego da ozonização, segundo Bolet (2006), a aplicação do ozônio

    deve ser realizada continuamente no reservatório de água e deve-se tomar ocuidado de que o ozônio seja destruído antes da utilização da água, o que

    normalmente se faz empregando o uso de lâmpadas de ultravioleta no inicio da

    tubulação de distribuição.

    Bolet (2006) salienta a importância da utilização de bombas que garantam

    uma pressão positiva e uma velocidade alta de circulação da água nas tubulações

    do sistema de distribuição, o que evita a entrada de contaminantes na tubulação e

    um fluxo em regime turbulento. O fluxo em regime turbulento, assim como a

    concepção sanitária das tubulações, evitam a formação de biofilmes na superfície datubulação e consequente contaminação da água.

    Segundo Bolet (2006), os circuitos de distribuição da água devem ter uma

    inclinação suficiente para garantir uma drenagem total da tubulação.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), na

    distribuição da água para fins farmacêuticos devem ser previstas as seguintes

    situações:

    •  A distribuição de água para fins farmacêuticos deve ser realizada

    utilizando preferencialmente um anel de circulação contínua. A proliferação decontaminantes dentro do tanque de armazenamento e do anel de distribuição deve

    ser controlada;

    •  A filtração não deve ser utilizada nos anéis de distribuição ou em

    pontos de uso para controlar a biocontaminação. Tais filtros podem mascarar a

    contaminação do sistema.

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    •  Quando trocadores de calor são empregados para aquecer ou resfriar

    água para uso farmacêutico dentro de um sistema, devem ser tomadas precauções

    para evitar que o equipamento de aquecimento ou resfriamento contamine a água

    (Art. 559). As bombas de circulação devem ter desenho sanitário que evitem a

    contaminação do sistema.

    •  A utilização de técnicas de controle de biocontaminação deve ser

    considerada isoladamente ou em conjunto, a fim de evitar a utilização de água fora

    das especificações estabelecidas.

    A FB 5 (FARMACOPÉIA..., 2010) prevê o emprego de agentes químicos na

    sanitização, tal como oxidantes (compostos halogenados, peróxido de hidrogênio,

    ozônio ou uma combinação desses). A frequência da sanitização, assim como a

    eficiência do agente utilizado deve ser determinada pelo histórico dos resultados domonitoramento e das curvas de tendência, de forma que o sistema funcione sem

    exceder o limite de alerta.

    3 VALIDAÇÃO ÁGUA PARA FINS FARMACÊUTICOS

    3.1 VALIDAÇÃO

    A validação é um ato documentado que atesta que qualquer procedimento,

    processo, equipamento, material, atividade ou sistema realmente e

    consistentemente leva aos resultados esperados (BRASIL, 2010). Segundo a

    Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), a validação é uma parte

    essencial de Boas Práticas de Fabricação (BPF), sendo um elemento da garantia da

    qualidade associado a um produto ou processo em particular.Para a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010) os princípios

    básicos da garantia da qualidade têm como objetivo a produção de produtos

    adequados ao uso pretendido. Estes princípios são: (1) a qualidade, a segurança e a

    eficácia devem ser projetadas e definidas para o produto; (2) a qualidade não pode

    ser inspecionada ou testada no produto; e (3) cada etapa crítica do processo de

    fabricação deve ser validada. Outras etapas do processo devem estar sob controle

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    para que os produtos sejam consistentemente produzidos e que atendam a todas as

    especificações definidas e requisitos de qualidade.

    Sob esta ótica de BPF, a validação de processos e sistemas é fundamental

    para se atingir os objetivos. É por meio do projeto e validação que um fabricante

    pode estabelecer com confiança que os produtos fabricados irão consistentemente

    atender as suas especificações.

    Quando se trata de validação, segundo Alencar et. al. (2004), se faz

    necessário a geração de uma evidência documentada, o que demonstrará a

    confiança do sistema validado.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), a

    documentação associada a validação deve incluir: (1) Procedimentos Operacionais

    Padrão, que demonstraram que o processo é realizado de maneira padronizada; (2)Especificações, documento onde constam todas as necessidades do usuário frente

    ao sistema a ser validado; (3) Plano Mestre de Validação, documento que dita todo o

    planejamento das validações dentro de uma indústria farmacêutica; (4) Protocolo de

    validação, documento que orienta a execução do estudo de validação em questão;

    (5) relatórios de validação, documento que apresenta os resultados e conclusões

    obtidas no estudo de validação.

    Os termos validação e qualificação, segundo a Resolução de Diretoria

    Colegiada 17 (BRASIL, 2010), essencialmente designam a mesma coisa, porém naprática se aplica o termo 'qualificação' quando o objeto é um equipamento, utilidade

    ou sistema, enquanto 'validação' se aplica aos processos. Entende-se que a

    qualificação constitui parte da validação. Segundo Bolet (2006), os termos

    qualificação e validação são usualmente sinônimos, são essencialmente o

    estabelecimento da prova que “uma coisa” permite realmente atingir os resultados

    esperados. Porém, habitualmente reserva-se o termo qualificação para instalações

    sistemas e equipamentos, e validação para processos e operações. Neste contexto,

    o termo mais adequado, quando o objeto da avaliação é um sistema de água parafins farmacêuticos, é qualificação.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), existem

    duas abordagem possíveis para os estudos de validação, uma baseada em

    evidências obtidas por meio de testes (concorrente e prospectiva) e outra baseada

    na análise de dados históricos (retrospectiva). A Resolução de Diretoria Colegiada

    17 (BRASIL, 2010) recomenda, sempre que possível, utilizar a abordagem

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    prospectiva, na qual o estudo é conduzido junto com o inicio da utilização do

    equipamento ou inicio do processo. Na validação concorrente, o objeto da validação

     já está em uso ou sendo aplicado.

    Segundo Brasil (2010), a validação deve ser realizada para instalações,

    equipamentos, utilidades (ex: água, ar, ar comprimido, vapor), sistemas, processos e

    procedimentos em intervalos predeterminados ou quando ocorrerem mudanças nos

    objetos da validação.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), a validação

    deve ser orientada por um protocolo aprovado e os resultados apresentados em um

    relatório devem ser aprovados por pessoa designada.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), a validação,

    quando possível, deve avaliar a situação de “pior caso”, ou seja, a situação onde osriscos associados são maiores.

    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), a validação

    deve ser muito mais criteriosa do que os controles adotados na rotina de trabalho,

    ou seja, devem ser coletados mais dados e realizados mais testes do que na rotina.

    A validação deve ser realizada, segundo a Resolução de Diretoria Colegiada

    17 (BRASIL, 2010), embasada em uma análise de risco que determinará o escopo

    da validação (o que deve ser validado) e a extensão da validação (o que deve ser

    avaliado na validação).Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), os

    sistemas, equipamentos e utilidades devem ser qualificados segundo sua correta

    instalação (qualificação de instalação), correta operação (qualificação de operação)

    e desempenho (qualificação de desempenho ou performance). A Resolução de

    Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010) ainda prevê como etapa adicional a

    qualificação do projeto, antes da instalação do sistema ou equipamento.

    A qualificação de projeto deve fornecer evidências documentadas de que as

    especificações do projeto foram atendidas de acordo com os requerimentos dousuário e as Boas Práticas de Fabricação (BRASIL, 2010). A qualificação de

    instalação deve fornecer evidências documentadas de que a instalação foi finalizada

    de forma satisfatória (BRASIL, 2010). Nesta etapa devem ser verificadas, segundo

    Brasil (2010), especificações de compra, desenhos, manuais, listas de componentes

    e detalhes do fornecedor, além da verificação de instrumentos de controle para

    averiguar se estão ou não calibrados.

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    Segundo a Resolução de Diretoria Colegiada 17 (BRASIL, 2010), a

    qualificação operacional deve fornecer evidências documentadas de que as

    utilidades, sistemas ou equipamentos e todos os seus componentes operam de

    acordo com as especificações operacionais. Os testes devem ser elaborados para

    demonstrar que o objeto da qualifica