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Agosto – Outubro UBE – União Brasileira dos Escritores • SEGUIDORES NO FACEBOOK > 2.785 • SEGUIDORES NO TWITTER > 53 UBE – União Brasileira dos Escritores 142 2017 www.facebook.com/ubesp www.twitter.com/UbeBrasil Página 3 @Divulgação 2017 VAI PARA RENATA PALLOTTINI Juca Pato O PRÊMIO INTELECTUAL DO ANO, UM DOS MAIS IMPORTANTES DA LITERATURA BRASILEIRA, VAI PARA RENATA PALLOTTINI, ENSAÍSTA, DRAMATURGA, POETISA E TRADUTORA BRASILEIRA POR SUA PRODUÇÃO LITERÁRIA EM 2016. CONFIRA ENTREVISTA NA PÁG. 3 Festa do Conhecimento Literatura e Cultura Negra Antonio Candido União Brasileira de Escritores fechou parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e participará da 5° Festa do Conhecimento Literatura e Cultura Negra que acontecerá nos dias 16, 17 e 18 de novembro na sede da Facul- dade Zumbi na Av. Santos Dumont, 843 – Armênia, São Paulo – SP. @Divulgação Página 7 Revolução Russa Nos 100 anos que nos separam da Revolução Russa, o mundo sofreu profundas mudanças econômicas, culturais e geopolíticas. É necessário ver 1917 como um dos mais importantes movimentos históricos mundiais. Podemos aprender muito com ela se tivermos olhos analíticos e distantes das histerias dos extremos, tão presentes no Brasil de hoje. @Divulgação Página 6 Moniz Bandeira Estávamos no fechamento desta edição quando soubemos do falecimento de Moniz Bandeira. “Trata-se de uma perda inestimável. Se vai um grande patriota e dos maiores historiadores quando não o maior do Brasil” disse Durval Noronha, presidente da UBE. A UBE prepara uma série de eventos em homenagem a este que foi um dos grandes intelectuais brasileiros. @Divulgação Página 8

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Agosto – Outubro UBE – União Brasileira dos Escritores

• SEGUIDORES NO FACEBOOK > 2.785• SEGUIDORES NO TWITTER > 53

UBE – União Brasileira dos Escritores

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www.facebook.com/ubesp www.twitter.com/UbeBrasil

Página 3

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2017VAI PARA RENATA PALLOTTINI

Juca Pato

O PRÊMIO INTELECTUAL DO ANO, UM DOS MAIS IMPORTANTES

DA LITERATURA BRASILEIRA, VAI PARA RENATA PALLOTTINI,

ENSAÍSTA, DRAMATURGA, POETISA E TRADUTORA BRASILEIRA

POR SUA PRODUÇÃO LITERÁRIA EM 2016.

CONFIRA ENTREVISTA NA PÁG. 3

Festa do Conhecimento Literatura e Cultura Negra Antonio Candido

União Brasileira de Escritores fechou parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e participará da 5° Festa do Conhecimento Literatura e Cultura Negra que acontecerá nos dias 16, 17 e 18 de novembro na sede da Facul-dade Zumbi na Av. Santos Dumont, 843 – Armênia, São Paulo – SP.

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Revolução Russa

Nos 100 anos que nos separam da Revolução Russa, o mundo sofreu profundas mudanças econômicas, culturais e geopolíticas. É necessário ver 1917 como um dos mais importantes movimentos históricos mundiais. Podemos aprender muito com ela se tivermos olhos analíticos e distantes das histerias dos extremos, tão presentes no Brasil de hoje.

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Moniz Bandeira

Estávamos no fechamento desta edição quando soubemos do falecimento de Moniz Bandeira. “Trata-se de uma perda inestimável. Se vai um grande patriota e dos maiores historiadores quando não o maior do Brasil” disse Durval Noronha, presidente da UBE. A UBE prepara uma série de eventos em homenagem a este que foi um dos grandes intelectuais brasileiros.

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Jornal O EscritorUma publicação da União Brasileira de Escritores - Nacional

Rua Rêgo Freitas, 454, cj. 61, São Paulowww.ube.org.br

Textos: Cassia Janeiro,Fernanda Groke,Franthiesco Ballerini, Samuel Pinheiro GuimarãesRevisão: Grupo ColmeiaEditora: Sandra Juliana

Mais informações:[email protected]

Diretoria

Durval de Noronha Goyos Jr.Presidente

Ricardo de Medeiros Ramos FilhoVice-Presidente

Cláudio Willer2.º Vice-Presidente

Cássia JaneiroSecretária-Geral

Fábio Tucci Farah1.º Secretário

Sueli Carlos2.ª Secretária

Antonio Francisco C. Moura CamposTesoureiro-Geral

Djalma da Silveira Allegro1.º Tesoureiro

Nicodemos Sena2.º Tesoureiro

Conselho Consultivo e FiscalAnna Maria MartinsAudálio Ferreira DantasCarlos Alberto VogtLygia Fagundes TellesLuis AvelimaLuiz Alberto Moniz BandeiraSamuel Pinheiro Guimarães NetoWalter Natalino SorrentinoCaio Porfírio de Castro Carneiro

Diretores DepartamentaisFabio Lucas GomesDirce Lorimier FernandesBianca FerrariElisabete Vidigal HastingsJosé Domingos de BritoSandra Juliana SiniccoPaulo de AssunçãoRenata PallottiniLuis Antonio PaulinoLevi Bucalem Ferrari

• Durval de Noronha Goyos Júnior, presidente da UBE.

A União Brasileira de Escritores (UBE) outor-gou o seu prestigioso prêmio Juca Pato pela 59a vez à escritora Renata Pallottini no último mês de outubro de 2017, em concorrida ses-são solene realizada na Academia Paulista de Letras, em São Paulo.

Na ocasião, a UBE constatou que os tempos continuam difíceis para o Brasil e que a crise de nossas instituições se aprofunda. Nosso presi-dente lembrou que o crime organizado entro-nizou-se no Poder Executivo, praticando uma política de espólios com setores numerosos do Poder Legislativo, tornando a corrupção gene-ralizada. Um Judiciário corporativista e injurídi-co compromete ainda mais o quadro.

Forças sombrias inspiradas em ideologias es-púrias denegam as conquistas do humanismo e da civilização, repudiando o devido processo legal e a presunção de inocência, e bem assim os direitos fundamentais básicos, como o da livre expressão de pensamento. Até mesmo as conquistas básicas, como os direitos à educa-ção universal, à saúde pública, à criminalização do trabalho escravo e a uma alimentação bási-ca encontram-se comprometidas.

O escritor brasileiro está duramente atingido por esta crise, com números decrescentes de leitores, menor acesso às editoras e ao sistema de distribuição de livros. O aspecto tenebroso da censura nos aflige e ameaça e suas mani-festações atingem não apenas a produção lite-rária, mas também mostras artísticas, que são atacadas por indigentes mentais organizados em odiosas coortes nas mídias sociais. A into-lerância quanto às preferências sexuais exacer-bou-se. A violência física e moral aumenta, no esteio da maior crise de desemprego de nossa história.

A UBE conclama o escritor brasileiro à vigorosa resistência quanto ao assédio e acossamento ético e moral, bem como à luta pela afirmação dos melhores valores humanísticos de nossa civilização.

Prêm

i o J u c a Pat o

União Brasileira dos Escritores

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Renata Monachesi Pallottini, vencedora do Prêmio Intelec-tual do Ano – Troféu Juca Pato pelo conjunto da obra e pela produção literária em 2016, além de A poetisa e contista, autora de literatura infanto-juvenil, dramaturga, roteirista e professora nasceu em São Paulo em 1931.

Formada em direito pela Universidade de São Paulo e filoso-fia pela PUC-SP, começou como revisora na tipografia da família, onde imprimiu quase que manualmente seu primei-ro livro de poemas, Acalanto. Fez artes cênicas na USP e co-meçou como docente em 1964, além de trabalhar com tea-tro e roteiro para TV. No teatro montou a peça A Lâmpada (1960) e O Crime da Cabra (1965). Na TV foi roteirista do infantil Vila Sésamo e tradutora e roteirista de séries como Malu Mulher (TV Globo). Na literatura, sua obra poética in-clui livros como A Faca e a Pedra (1962), Os Arcos da Memó-ria (1971), Noite Afora (1978), Esse Vinho Vadio (1988) e A Menina que Queria ser Anja (1987). Apesar de vinculada à terceira geração do modernismo, sempre foi uma poetisa independente de escolas.

Formada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), em 1951 e em Direito pela Universi-dade de São Paulo (USP/SP) em 1953, Renata Pallottini atua como ensaísta, dramaturga, poetisa, tradutora e escritora de livros infantis e juvenis.

Renata começou a trabalhar como revisora na Tipografia Pallottini, de sua família, em 1951, lançando seu primeiro livro, “Acalanto”, em 1952. Daí em diante, foi forjando sua carreira intelectual. Em 1953, estudou teatro nos cur-sos livres da Sorbonne Nouvelle, em Paris. Ao retornar ao Brasil iniciou o curso de artes cênicas na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/USP) for-mando-se em 1964 e estreando no teatro profissional no ano seguinte com sua peça “O Crime da Cabra”, que re-cebeu os Prêmios Molière e Governador do Estado de São Paulo de melhor texto.

Hoje, são inúmeras as adaptações para o teatro, televisão, tradução e obras publicadas.

Renata ganhou o prêmio pelo conjunto da carreira e especi-ficamente pelo livro Poesia Não Vende, publicado em 2016 pela Hucitec Editora. “É uma honra imensa ganhar o Juca Pato, especialmente por tê-lo visto nascer, muitos anos atrás, quando fiz parte da reunião de criação desta belíssima ho-menagem à literatura brasileira. Recebo com alegria e uma boa dose de emoção este prêmio”, comenta Renata.

“A UBE faz justiça a uma grande intelectual brasileira, es-critora polimática e defensora histórica das causas hu-manísticas”, comentou Durval Noronha de Goyos Jr, presi-dente da entidade.

A escritora conta que Poesia Não Vende surgiu da necessidade de reunir poemas feitos ao longo de muitos anos e que ela sentiu necessidade de tornar público no ano passado. “Fazia anos que não levava ao público minhas poesias e decidi esco-lher os poemas que considerava válidos para publicar, todos feitos em tempos de perdas e dores da minha vida”, explica ela.

E o nome do livro tem uma história curiosa. “Certa vez, fui a uma livraria e perguntei ao dono porque eles não colocavam livros de poesia nas estantes principais. O homem me respon-deu: ‘Ah senhora, mas que bobagem! Poesia não vende!’. Achei essa fala muito oportuna para o título do livro”, comenta.

O livro possui 130 poemas que abordam diversos temas, de perdas afetivas e emocionais à pressa do mundo contempo-râneo. Também toca em problemas profundos do Brasil, como no poema ‘A Mãe’ (Meu filho está na sarjeta / Alguém matou o meu filho / Tinha poucos anos e / Poucas culpas o meu filho. Era drogado e vencido / O meu filho; e era moço. Igual aos outros, meu filho / Era carne, pele e osso. Ninguém me disse por que / Alguém matou o meu filho. Acho que a alguém molestou / Acho que alguém o marcou. Para morrer, meu menino. Eu o pari, como sempre/Soem parir as mulhe-res; Com dor e com esperança / Como nascem as crianças. Alguém o ensinou a usar / Isso que usam os malditos. Di-nheiro sempre; dinheiro. Dinheiro e gozo da vida. Muita fes-ta e muito ruído / E um amor mal resolvido; Não sei dizer mais do que isso. Não sei dizer. Está dito”.).

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E o Juca Pato vai para... a poesia brasileira!

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4Renata fala sobre o que é fazer poesia no Brasil. “O Brasil lê pouco seus poetas, em parte porque as pessoas não sabem ler poesia, pois é um exercício constante, uma linguagem cifrada que nos aproximamos com interesse, curiosidade e carinho e deve-se estar aberto para receber o fluxo de suas belezas”, diz.

Renata já tem um próximo projeto, um romance inspirado na vida de seu avô, que veio da Itália, no começo do século 20, e foi morto “pelos donos do poder” em 1918 por apresentar as ideias do anarquismo no Brasil. “Vou arriscar um roman-ce, ainda que a poesia seja, neste momento, a única forma de manifestar liberdade e esperança, já que a realidade está dura demais”, comenta.

Abaixo alguns trechos da entrevista com a poetisa:

ENSAÍSTA, DRAMATURGA, POETISA, ESCRITORA DE LITERATURA INFAN-

TIL E TRADUTORA. VOCÊ TEM UM CURRÍCULO EXTENSO E MUITO DIVER-

SIFICADO EM SUAS PRODUÇÕES. COMO SE DÁ O PROCESSO CRIATIVO

PARA CADA UMA DELAS E QUAL VOCÊ CONSIDERA A MAIS DIFÍCIL?

Em principio, tudo é difícil, se não tiver acontecido no mo-mento certo. Os poemas vem quando querem, e se tiverem vindo no momento certo, simplesmente acontecem. Natural-mente, as produções mais extensas demandam mais tempo de preparação. Têm que ser organizadas. Assim é uma peça de teatro, um romance. Nada acontece tão assustadoramen-te como um poema. Poesia não vende”, dentre muitos de seus trabalhos, mais uma pérola pela qual a literatura brasilei-ra é agraciada.

NESTE ANO VOCÊ GANHOU O PRÊMIO JUCA PATO DENTRE OUTRAS PRO-

DUÇÕES PELO “POESIA NÃO VENDE”. PODERIA NOS DIZER UM POUCO

SOBRE A OBRA E O POEMA QUE MAIS LHE APRAZ?

Não saberia dizer. Sei que, quando comecei a publicar po-esia eu tinha vinte anos. Então, pode-se supor, era imatura. Com o tempo fui melhorando. O poema de que a gente gosta mais depende do momento em que a gente está. Ago-

ra, por exemplo, quando eu estou perplexa pela estupidez humana, está nascendo um poema sobre isso, sobre o pre-conceito, a crueldade, a vilania. Vamos ver o que sai...

VOCÊ TEM DIVERSOS TRABALHOS NA TELEVISÃO. COMO VOCÊ VÊ O

PROCESSO DE ADAPTAÇÕES LITERÁRIAS PARA A MÍDIA TELEVISIVA?

RP: Ah, televisão é uma coisa muito engraçada e complica-da. Ela depende de um público, que sempre se deve ter em conta, e que não é necessariamente, o público do livro, por exemplo. Queira-se ou não a gente escreve para ele, milhões de gentes, enquanto um poema, às vezes, a gente está es-crevendo para uma só pessoa. E escrever continuado, tipo telenovela ou serie demanda muita preparação na feitura do roteiro, tempo total, dedicação até física.

DE ACORDO COM UMA PESQUISA DA FECOMÉRCIO SOBRE OS HÁBITOS

CULTURAIS DOS BRASILEIROS, 70,1% NÃO LEEM LIVROS. EM SUA OPI-

NIÃO, QUAL É A CAUSA DESSE CENÁRIO? VOCÊ ACHA QUE É POSSÍVEL

INCENTIVAR UMA NOVA GERAÇÃO DE LEITORES E REVERTER ESSE QUA-

DRO? SE SIM, COMO?

Só a educação, básica, total, perene, vai melhorar isso. Nossa Educação oficial, hoje em dia, é uma tristeza: alunos desprepa-rados, professores mal pagos, nenhuma planificação. A culpa é de todos, e mais da nossa miséria atual. Miséria, violência, abandono em relação à família, descaso criminoso, roubo or-ganizado. Sem educação fundamental, não vamos melhorar nisso. Quando eu fiz os primeiros anos, a gente estudava latim aos 10, grego, aos 15 anos. Acredita?

O QUE NOS LEVA A PRÓXIMA PERGUNTA: O QUE VOCÊ DIRIA SOBRE O

NOSSO ATUAL CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO?

Uma tristeza total. Não faço muita distinção entre estes e aqueles. Tristeza total. Claro que há os culpados e os inocen-tes, os respeitáveis (poucos...) e os desprezíveis. Pena é que nem todas as pessoas, todos os eleitores chegam a ver isso, a compreender o alcance disso. Nem são esclarecidos a res-peito. Baseiam-se em algum favor pessoal ou em alguma simpatia, proximidade, e votam por isso. O que não leva a nada que preste.

CORA CORALINA, RACHEL DE QUEIROZ E LYGIA FAGUNDES TELLES; VOCÊ

É A QUARTA MULHER A VENCER O PRÊMIO JUCA PATO. O QUE ISSO RE-

PRESENTA PARA VOCÊ E PARA AS MULHERES?

Que bom sair do pessimismo! Lembrando com orgulho das minhas antecessoras, fico muito feliz com a premiação, porque é um reconhecimento a todas as mulheres, as da ci-dade, as do campo, as do Norte e do Sul, às refinadas e às campesinas. Somos todas nós, querendo fugir da cama obri-gatória, da pia e do fogão obrigatórios, da maternidade como uma carga inexorável, que assim tem sido para muitas mães abandonadas. Somos nós, as mulheres lutadoras!

“ Quando eu fiz os primeiros anos, a gente estudava latim aos 10, grego aos 15 anos. Acredita? “

União Brasileira dos Escritores

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No dia 12 de setembro, a UBE realizou em sua sede um seminário em homenagem à retrospec-tiva poética da escritora, Ricardo Ramos (vice--presidente da UBE), Elizabeth Vidigal (diretora da UBE) e Djalma da Silveira Allegro (1° tesourei-ro da UBE) foram os palestrantes.

Na ocasião Durval de Noronha Goyos Jr, presi-dente da instituição, recitou poemas de Renata Pallottini e a autora respondeu às perguntas da audiência.

EM SEU POEMA, “DUAS SENHORAS”, UM DOS VERSOS DIZ QUE: “SENTIR-

-SE AMADA É VER NASCER A LUA”. É UM POEMA BELO E DELICADO. DE

ONDE VEIO A INSPIRAÇÃO PARA ELE?

É uma constatação. Amar é delicioso, mas nada se compa-ra à delícia de amar e sentir-se amado. É uma beleza em si, por isso a analogia.

UMA DE SUAS PEÇAS, “ENQUANTO SE VAI MORRER...”, FOI CENSURADA

EM 1973, DURANTE O REGIME MILITAR. O QUE PENSA SOBRE O FECHA-

MENTO DA EXPOSIÇÃO “QUEERMUSEU”, A PROIBIÇÃO DA PEÇA ”O

EVANGELHO SEGUNDO JESUS, RAINHA DO CÉU” E OUTRAS MANIFESTA-

ÇÕES CULTURAIS QUE FORAM, ESTÃO SENDO PROIBIDAS E SOFREM

AMEAÇAS ATUALMENTE?

Sou visceralmente contra a Censura, contra toda proibição relativa à obra de arte. O artista deve sentir-se absolutamente livre para criar e depois ser submetido à avaliação de um pos-sível público. É essa avaliação, devidamente ponderada, sub-metida à análise do tempo, que vai valer. Van Gogh, Goya, Munch, todos pintores de mulheres desnudas, de cenas de amor, foram desprezados em seu tempo. Hoje se sabe que eram gênios. Dezenas de escritores, ao longo da História, foram proibidos e cerceados. Dezenas de peças de teatro, in-clusive brasileiras, idem. Não se pode compreender, tampou-co, nem aceitar a censura religiosa num país que se diz laico.

O SEU NOME CONSTA NO PROJETO DA PRIMEIRA COLETÂNEA DE POESIA

GAY DA LITERATURA BRASILEIRA. COMO NASCEU O PROJETO E QUAL A

SUA IMPORTÂNCIA?

A iniciativa da coletânea se deve a Hannah Korich e seu gru-po, ligado à editora Malagueta, especializada em literatura gay. O grupo de escritores ali reunidos engloba, até, gente absoluta-mente inesperada, como Carlos Drummond de Andrade...

VOCÊ DECLAROU, EM ENTREVISTA A ANTÔNIO ABUJAMRA, QUE CHE-

GOU NUMA FASE DE SUA VIDA QUE NÃO É MAIS MODESTA. QUAL O SEU

LUGAR NA LITERATURA BRASILEIRA, COM PRODUÇÃO TÃO RICA E DIVER-

SIFICADA?

Hoje em dia eu percebo quanto me escondi, quanto me intimidei. Hoje, por sorte, aceito o que me vem, não sou mais modesta e nublada como era, sei que fiz um bom trabalho e que ainda posso fazer mais. No entanto, não é isso que te dá popularidade, fama, reconhecimento. Um cantor de sertane-jo universitário, um apresentador de TV, um político qual-quer recebe mais homenagens. Só que isso não é o impor-tante. Conheço muito pessoas que cultivam o auto-elogio como se cultivassem rosas. Mas eu prefiro a violeta africana, que planto aqui em casa e trato com muito carinho. Eu con-verso com as minhas violetas e com os meus cachorros! E, além disso, vou sair no jornal e ganhar um tremendo prêmio!

POR FIM, COMO VOCÊ SE SENTE TENDO INFLUENCIADO TANTAS PESSO-

AS, DE UMA FORMA TÃO POSITIVA, NO DECORRER DO TEMPO?

Quero muito, sempre, fazer isso. A vida é um presente, um regalo de Deus. Deus, para mim (e para o dramaturgo Bjorn Bjornsen, escandinavo) é um ser que cada um de nós vai construindo dentro do seu coração, à medida de suas neces-sidades. Eu fiz para mim um Deus cujas decisões eu não compreendo, mas que me sinto obrigada a aceitar e, ao qual, devo agradecer cada dia a mais da minha vida. Eu vivi, criei, amei e fui amada. Vi nascer a lua. Não é maravilhoso?

“ Eu vivi, criei,amei e fui amada.Vi nascer a lua.Não é maravilhoso? “

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PARA CONHECER MAIS SOBRE O ASSUNTO:

Apopulação russa viveu uma história dramática nos anos que antecederam a Revolução 1917, Com 80% da economia concentrada na produção agrícola, uma indústria incipiente e incapaz de absorver em quanti-

dade a massa de trabalhadores nas áreas urbanas, um gover-no absolutista e trabalhadores rurais pagando altos impostos ao Czar Nicolau II, o povo permanecia em estado de miséria e pobreza extrema.

Em 1905, marinheiros russos provocaram um motim ao des-cobrir que a carne que lhes seria servida estava cheia de ver-mes. Nicolau II manda fuzilar os manifestantes no chamado Domingo Sangrento. O episódio foi retratado no filme “O Encouraçado Potemkin”, dirigido por Serguei Eisentein, um clássico do cinema mundial. O episódio seria o prenúncio da Revolução Russa, de 1917.

Dez anos depois, o Czar Nicolau II decide que a Rússia deve participar da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Tomar parte do conflito gerou grandes prejuízos à nação e contri-buiu para aumentar a insatisfação popular. Começam então a surgir os sovietes, grupos formados por trabalhadores rus-sos que se organizam para debater.

Após greves, manifestações e motins, o Czar Nicolau II é de-posto e os revolucionários (bolcheviques, liderados por Le-nin, e mencheviques, que efetivamente assumiram o poder logo após a retirada de Nicolau II, com Alexander Kerensky),

Lenin lidera a Revolução de Outubro de 1917, implantando o socialismo no país.

Em 1918, Lenin decide que a Rússia não deve mais permane-cer na Guerra e instala o Partido Comunista (PC). As fábricas passam às mãos dos trabalhadores urbanos, distribuem-se terras para os trabalhadores do campo e os bancos são na-cionalizados.

Até hoje, a Revolução Russa é estudada por historiadores e outros cientistas sociais, pelo marco histórico que represen-tou. Um dos mais importantes teóricos a se debruçarem so-bre o tema foi Moniz Bandeira, que, ao lado de Clóvis Melo e A. T. Andrade, escreveu “O ano vermelho: a Revolução Russa e seus reflexos no Brasil”, livro essencial para compre-ender não apenas a Revolução de Outubro, mas também a sua repercussão no Brasil. Trata-se de uma contextualização impecável e complexa, abarcando diversos ângulos da Revo-lução e de seus impactos e ecos no País.

Nos 100 anos que nos separam da Revolução Russa, o mun-do sofreu profundas mudanças econômicas, culturais e geo-políticas. É necessário ver 1917 com um olhar contextualiza-do. Como um dos mais importantes movimentos históricos mundiais, a Revolução de Outubro é um dos marcos da hu-manidade. Podemos aprender muito com ela se tivermos olhos analíticos e distantes das histerias dos extremos, tão presentes no Brasil de hoje.

OS CEM ANOS DA REVOLUÇÃO RUSSAPor Cássia Janeiro

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BANDEIRA, Moniz; ANDRADE, A. T.; MELO, Clóvis. O ano vermelho: a Revolução Russa e seus Reflexos no Brasil. São Paulo: Civilização Brasileira, 1967.

HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. 10 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

REED, Jhon. Os dez dias que abalaram o mundo. São Paulo: Penguin Companhia, 2010.

REIS, Daniel A. A revolução que mudou o mun-do: Rússia, 1917. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

União Brasileira dos Escritores

7ACONTECE NA UBE

UBE REALIZA SEMINÁRIO EM HOMENAGEM A CAIO PORFÍRIO CARNEIRO

Caio Porfírio Carneiro, contista e escritor brasileiro, faleceu no dia 17 de julho deste ano, aos 89 anos. Dedicou boa parte de sua vida à UBE tendo recebido importan-tes prêmios literários, dentre eles, o Jabuti.

No dia 21 de setembro, a UBE realizou um seminário para homenagear a me-mória do autor de “O Sal da Terra” e de mais de quinze obras de contos, poesias e novelas.

O evento contou com a presença de Dur-val de Noronha Goyos Jr., Ricardo Ramos Filho, respectivamente presidente e vice--presidente da UBE, e, das escritoras e associadas Rosani Abou Adal e Maria de Lourdes Alba, amigas próximas do escritor.

Maria de Lourdes Alba, uma das amigas mais próximas de Caio prestou uma ho-menagem ao amigo: “Caio Porfírio Car-neiro foi um homem generoso, culto, de uma simplicidade que o elevava a extra-polar o mundo físico. Vivia e exercia no dia a dia “o mundo das ideias. Escritor primoroso e reconhecido crítico literário brasileiro. Era casado com a UBE. Vestia a camisa e carregava a bandeira da entida-de por onde passava.

UBE E FACULDADE ZUMBI DOS PALMARES FIRMAM PARCERIA

Deixou uma obra riquíssima, além dos va-liosos livros publicados e premiados, dei-xou livros inéditos não apresentados, cito aqui o livro Ângela que é de literatura fantástica, gênero nunca editado por ele.

Acompanhei a escrita e as várias mudanças que fez em determinados capítulos. Na finalização me pediu e fiz o poema para a abertura do Ângela. Infelizmente, este e outros livros dele não vieram a público.

Caio ajudava a todos que o procuravam, sem distinção, sem meias palavras. Enxer-gava a pessoa pela pessoa, não pelos títu-los que possuía, nem tão pouco pela apa-rência que apresentava. Em seu percurso prefaciava e criticava as obras, inclusive dos novatos e inéditos para que se ali-nhassem e produzissem o melhor possível dentro da capacidade de cada um.

A UBE e a Faculdade Zumbi dos Palmares firmaram, no dia 22 de agosto, uma par-ceria que permitirá à entidade organizar uma mesa de debates sobre a literatura afro-brasileira e o empoderamento femi-nino através da literatura negra de 16 a 18 de novembro da 5° edição da Festa da Literatura, Conhecimento e Cultura Ne-gra, organizada pela FlinkSampa, Afro-

Eu me tornei escritora pelas mãos dele e assim, fui aprendendo a lidar com esse mundo tão distinto, tão ímpar e, portan-to, solitário que é a literatura.

Tivemos uma amizade única e fiel. Caio trabalhou até o último dia que teve saú-de na vida. Preservou a lucidez até o fim da vida.

Aprendi a lapidar os poemas, a escolher palavras apropriadas e trabalhar o texto com ele. Me orientou e me apresentou aos amigos, que hoje me respeitam e me querem bem.

O que aprendi com o Caio, o lado huma-no, o tratamento com a literatura, com o convívio igualitário entre as pessoas cul-tas e analfabetas, vou levar como ensina-mento para o resto da vida.

A obra de Caio Porfírio Carneiro, desde o regionalismo, ao fantástico, ao micro contos, poemas, infanto-juvenil, etc. há de ser por nós cuidadosamente preserva-da e valorizada. Temos a obrigação de expandi-la e apresenta-la sempre, para que não se perca no contexto da univer-salidade e das banalidades tão presentes nos dias de hoje.”

bras (Sociedade Afro-Brasileira de De-senvolvimento Sócio-Cultural) e pela Fa- culdade Zumbi dos Palmares.

De acordo com Francisca Rodrigues, Pró--Reitora da Faculdade Zumbi dos Palma-res, Presidente da Flink Sampa e do Tro-féu Raça Negra:

“Uma festa literária é sempre uma forma de unir povos de todas as nações Quere-mos descobrir talentos, dando oportuni-

dade nunca vista aos escritores negros, aos que escrevem sobre o negro e aos jovens”

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Luiz Alberto Moniz Bandeira dedicou sua vida ao Brasil e à luta contra o imperialismo.

Sua vida e sua obra são testemunhos desta dedicação.

Foi jornalista desde jovem, trabalhando no Correio da Ma-nha, no Diário de Noticias e na Ultima Hora. Como jornalista, teve a oportunidade de conviver e de entrevistar as mais di-ferentes personalidades brasileiras, como Jânio Quadros, e estrangeiras, como Che Guevara.

Assim desenvolveu a capacidade e o hábito de analisar e interpre-tar os acontecimentos e de procurar sobre eles se documentar.

Foi professor titular de História, na Universidade de Brasilia. Foi militante político da POLOP, foi preso, condenado e anis-tiado. Lutou na clandestinidade.

Escreveu um de seus primeiros livros, Presença dos Estados Unidos no Brasil, quando se encontrava preso.

O eixo de seu pensamento e de sua obra, de mais de trinta livros, centenas se não milhares de artigos e de entrevistas, pode ser resumido em três palavras, que são os três desafios para o Brasil: desenvolvimento, democracia e soberania. Três desafios profundamente entrelaçados e que não podem ser vencidos isoladamente.

Em Joao Goulart: as Lutas Sociais no Brasil e em seu livro sobre Jânio Quadros Moniz Bandeira se apresenta como de-mocrata convicto e autêntico e como um lutador pelo desen-volvimento do Brasil, assim como em suas obras sobre a inte-gração latino e sul-americana.

É em sua analise do imperialismo e das relações entre o Brasil e a Potência Imperial, que são os Estados Unidos, e sobre o Império americano e sua ação que se encontra sua principal contribuição como intérprete da realidade política e como historiador, imparcial mas militante.

São obras imprescindíveis para diplomatas, historiadores, jor-nalistas e políticos que desejem e procurem conhecer a polí-tica internacional, a ação do imperialismo, e o Brasil: A Pre-sença dos Estados Unidos no Brasil; João Goulart; As Relações Perigosas: Brasil-Estados Unidos; Brasil-Estados Unidos: A ri-validade emergente; De Marti a Fidel; Formula para o Caos, a derrubada de Allende; Formação do Império Americano; Argentina, Brasil e Estados Unidos; A Segunda Guerra Fria; A Desordem Mundial.

Luiz Alberto faleceu e nos deixou: sua obra sobrevive como guia e farol de todos os que lutam por um Brasil mais justo, mais desenvolvido, mais democrático, mais soberano.

Luiz Alberto Moniz Bandeira: patriota e anti imperialista

Indicado pela UBE em 2015 para concorrer ao Prêmio Nobel de Literatura, o escritor também foi indicado ao prêmio Jabuti por sua publicação “A Desordem Mundial”, na categoria ciências humanas. A obra investiga o avanço da onda conservadora em todo o mundo e faz um panorama político internacional.

Além de influente intelectual, Moniz Bandeira também teve uma importante trajetória de militância política. Filiado ao Partido Socialista Brasileiro, dentro do qual foi um dos organizadores da corrente Política Operário (Polop), acompanhou João Goulart em seu exílio no Uruguai após o golpe de 1964.

Em 1973, quando ele já estava outra vez preso, a Editora Civilização Brasileira lançou Presença dos Estados Unidos no Brasil (Dois séculos de História), que se tornou um clássico na área de relações internacionais. O livro foi traduzido para o russo e publicado na então União Soviética.

Durante o governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, nos anos 1980, Moniz Bandeira foi nomeado Diretor- Superintendente do Instituto Estadual de Comunicação.

Luiz Alberto Moniz Bandeira foi eleito o Intelectual do Ano pela UBE, ganhando assim o Juca Pato em 2005.

PRÊMIOS:

• Samuel Pinheiro Guimarães / 17 de novembro de 2017