v. 2: utilização sustentável dos recursos naturais

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  • Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Embrapa Informao Tecnolgica

    Braslia, DF

    2008

    Agricultura TropicalQuatro dcadas de inovaes tecnolgicas,

    institucionais e polticas

    Ana Christina Sagebin Albuquerque

    Aliomar Gabriel da Silva

    Editores Tcnicos

    Vol. 2

    Utilizao sustentvel dos recursos naturais

  • Exemplares desta publicao podemser adquiridos na:

    Embrapa Sede

    Parque Estao Biolgica (PqEB)Av. W3 Norte (final), Ed. Sede70770-901 Braslia, DFFone: (61) 3448-4088Fax: (61) [email protected]

    Todos os direitos reservadosA reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte,

    constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Informao Tecnolgica

    Embrapa, 2008

    Agricultura tropical: quatro dcadas de inovaes tecnolgicas, institucionais e

    polticas / editores tcnicos, Ana Christina Sagebin Albuquerque, Aliomar

    Gabriel da Silva. - Braslia, DF : Embrapa Informao Tecnolgica, 2008.

    [ ] v. : il. ; 18,5 cm x 25,5 cm.

    Contedo: v. 1. Produo e produtividade agrcola v. 2. Utilizao sustentvel

    dos recursos naturais.

    ISBN 978-85-7383-432-1 v. 1

    ISBN 978-85-7383-433-8 v. 2

    1. Agricultura sustentvel. 2. Instituio de pesquisa. 3. Polticas pblicas.

    4. Produo agrcola. 5. Recurso natural. 6. Tecnologia. I. Albuquerque, Ana

    Christina Sagebin. II. Silva, Aliomar Gabriel da. III. Embrapa. Empresa Brasileira

    de Pesquisa Agropecuria. IV. Ttulo: Utilizao sustentvel dos recursos naturais.

    CDD 630.72

    Coordenao editorialFernando do Amaral Pereira

    Mayara Rosa Carneiro

    Lucilene M. de Andrade

    Superviso editorialJuliana Meireles Fortaleza

    Reviso de texto e normalizao bibliogrficaCleide Maria de Oliveira Passos

    Projeto grfico e capaCarlos Eduardo Felice Barbeiro

    Ilustrao da capaAlex Ferreira Martins

    Editorao eletrnicaMrio Csar Moura de Aguiar

    Jlio Csar da Silva Delfino

    Tratamento de figuras e tabelasSamuel Rodrigues Falco

    Alex Ferreira Martins

    1 edio

    1 impresso (2008): 1.500 exemplares

  • Autores

    Adalberto VerssimoEngenheiro agrnomo, Mestre em Ecologia, pesquisador snior do Instituto doHomem e Meio Ambiente da Amaznia (Imazon), Rua Domingos Marreiros, 2.020,66060-160, Belm, [email protected]

    Aderaldo de Souza SilvaEngenheiro agrnomo, Ph.D. em Recursos Naturais, pesquisador da Embrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Adriana Mayumi Yano-MeloBiloga, Doutora em Cincias Biolgicas, professora-adjunta da Universidade Federaldo Vale do So Francisco (Univasf), Colegiado de Zootecnia, Campus de Petrolina,Avenida Jos de S Manioba, s/n, Centro, 56304-917, Petrolina, [email protected], [email protected]

    Alfredo Kingo Oyama HommaEngenheiro agrnomo, Doutor em Economia Rural, pesquisador da EmbrapaAmaznia Oriental, Belm, [email protected]

    Amablio Jos Aires de CamargoBilogo, Doutor em Entomologia, pesquisador da Embrapa Cerrados, Planaltina, [email protected]

    Editores Tcnicos

    Ana Christina Sagebin Albuquerque

    Engenheira agrnoma, Mestre em Fitotecnia, pesquisadora da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuria (Embrapa), Assessoria da Diretoria-Executiva, Presidncia,Braslia, [email protected], [email protected]

    Aliomar Gabriel da Silva

    Engenheiro agrnomo, Ph.D. em Nutrio Animal, pesquisador aposentado daEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), consultor autnomo,Avenida Sabar, 166, Parque Sabar, 13567-720, So Carlos, [email protected]

  • Anderson Ramos de Oliveira

    Engenheiro agrnomo, Doutor em Produo Vegetal, pesquisador da Embrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Antenor Pereira Barbosa

    Engenheiro florestal, Doutor em Fitotecnia, pesquisador do Instituto Nacional dePesquisas da Amaznia (Inpa), Avenida Andr Arajo, 2.936, Aleixo, Caixa Postal 478,69060-001, Manaus, [email protected]

    Antonio Cabral Cavalcanti

    Engenheiro agrnomo, Doutor em Agronomia (Irrigao e Drenagem),ex-pesquisador e atual consultor da Embrapa Solos/Unidade de Execuo de Pesquisae Desenvolvimento do Recife (UEP Recife), Rua Antnio Falco, 402, Boa Viagem,51020-240, Recife, [email protected], [email protected]

    Antnio Cordeiro de Santana

    Engenheiro agrnomo, Doutor em Economia Aplicada, professor associado daUniversidade Federal Rural da Amaznia (Ufra), Instituto Socioambiental e dosRecursos Hdricos (Isarh), Avenida Presidente Tancredo Neves, 2.501, Terra Firme,Caixa Postal 917, 66077-530, Belm, [email protected]

    Arthur da Silva Mariante

    Engenheiro agrnomo, Ph.D. em Gentica e Melhoramento Animal, pesquisador daEmbrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Braslia, [email protected]

    Artur Gustavo Mller

    Engenheiro agrnomo, Doutor em Fitotecnia (Agroclimatologia), Embrapa Cerrados,Planaltina, [email protected]

    Clara Oliveira Goedert

    Engenheira agrnoma, Doutora em Conservao de Recursos Genticos Vegetais,pesquisadora da Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Braslia, [email protected], [email protected]

    Cristhiane Oliveira da Graa Amncio

    Biloga, Doutora em Cincias Sociais (Desenvolvimento da Agricultura e Sociedade),pesquisadora da Embrapa Pantanal, Corumb, [email protected]

    Djalma Martinho Gomes de Sousa

    Qumico, Mestre em Agronomia (Fertilidade do Solo), pesquisador da EmbrapaCerrados, Planaltina, [email protected]

  • Edmar Ramos de SiqueiraEngenheiro florestal, Doutor em Engenharia Florestal, pesquisador da EmbrapaTabuleiros Costeiros, Aracaju, [email protected]

    Edson Diogo TavaresEngenheiro agrnomo, Doutor em Desenvolvimento Sustentvel, pesquisador daEmbrapa Tabuleiros Costeiros, Aracaju, [email protected]

    Edson LobatoEngenheiro agrnomo, Mestre em Fertilidade do Solo, pesquisador aposentado daEmbrapa Cerrados, SQS 307 Bloco H, apto. 302, Asa Sul, 70354-080, Braslia, [email protected]

    Eduardo Assis MenezesEngenheiro agrnomo, Ph.D. em Melhoramento de Plantas, pesquisador da EmbrapaSemi-rido, Petrolina, [email protected]

    Eduardo Delgado AssadEngenheiro agrcola, Ph.D. em Agroclimatologia e Sensoriamento Remoto,pesquisador da Embrapa Informtica Agropecuria, Campinas, [email protected]

    Emanuel Adilson Souza SerroEngenheiro agrnomo, Ph.D. em Agronomia, pesquisador da Embrapa AmazniaOriental, Belm, [email protected]

    Emiko Kawakami de ResendeBiloga, Doutora em Cincias (Oceanografia Biolgica), pesquisadora da EmbrapaPantanal, Corumb, [email protected]

    Erclia Torres SteinkeGegrafa, Doutora em Ecologia, professora-adjunta da Universidade de Braslia(UnB), Instituto de Cincias Humanas, Departamento de Geografia, ICC Ala Norte mdulo 23, Campus Universitrio Darcy Ribeiro, Asa Norte, Caixa Postal 04508,70910-970, Braslia, [email protected]

    Euzebio Medrado da SilvaEngenheiro agrnomo, Ph.D. em Engenharia de Irrigao, Embrapa Cerrados,Planaltina, [email protected], [email protected]

    Everaldo Rocha PortoEngenheiro agrnomo, Ph.D. em Conservao de Solo e gua, pesquisador daEmbrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

  • Fernando Antnio Macena da SilvaEngenheiro agrnomo, Doutor em Engenharia Agrcola, Embrapa Cerrados,Planaltina, [email protected]

    Flvio Hugo Barreto Batista da SilvaEngenheiro agrnomo, Mestre em Engenharia Agrcola, pesquisador da EmbrapaSolos/Unidade de Execuo de Pesquisa e Desenvolvimento do Recife (UEP Recife),Rua Antnio Falco, 402, Boa Viagem, 51020-240, Recife, [email protected]

    Francisco Pinheiro de ArajoEngenheiro agrnomo, Doutor em Agronomia, pesquisador da Embrapa Semi-rido,Petrolina, [email protected]

    Francislene AngelottiEngenheira agrnoma, Doutora em Agronomia (Proteo de Plantas), pesquisadorada Embrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Geraldo Milanez de ResendeEngenheiro agrnomo, Doutor em Agronomia (Fitotecnia), pesquisador da EmbrapaSemi-rido, Petrolina, [email protected]

    Ido Bezerra SEngenheiro florestal, Doutor em Geoprocessamento/Sensoriamento Remoto,pesquisador da Embrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Ima Clia Guimares VieiraEngenheira agrnoma, Doutora em Ecologia, pesquisadora titular do MuseuParaense Emlio Goeldi (Mpeg), Avenida Magalhes Barata, 376, So Brz,Caixa Postal 399, 66040-170, Belm, [email protected]

    Ivan Andr AlvarezEngenheiro agrnomo, Doutor em Fitotecnia (Silvicultura), pesquisador da EmbrapaSemi-rido, Petrolina, [email protected]

    Joice Nunes FerreiraBiloga, Doutora em Ecologia, pesquisadora da Embrapa Amaznia Oriental,Belm, [email protected]

    Jorge Alberto Gazel YaredEngenheiro florestal, Doutor em Cincia Florestal, pesquisador aposentado daEmbrapa Amaznia Oriental, diretor de Desenvolvimento de Cadeias Florestais doInstituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Par (Ideflor), Rua Boa Venturada Silva, 1.591, 66060-060, Belm, [email protected]

  • Jorge Enoch Furquim Werneck LimaEngenheiro agrcola, Mestre em Irrigao e Agroambientes, pesquisador da EmbrapaCerrados, Planaltina, [email protected]

    Jos Anbal Comastri FilhoEngenheiro agrnomo, Mestre em Formao e Manejo de Pastagens, pesquisador daEmbrapa Pantanal, Corumb, [email protected]

    Jos Carlos Sousa-SilvaBilogo, Ph.D. em Botnica (Fisiologia), pesquisador da Embrapa Cerrados,Planaltina, [email protected]

    Jos Coelho de Arajo FilhoEngenheiro agrnomo, Doutor em Geocincias, pesquisador da Embrapa Solos/Unidade de Execuo de Pesquisa e Desenvolvimento do Recife (UEP Recife),Rua Antnio Falco, 402, Boa Viagem, 51020-240, Recife, [email protected]

    Jos Francisco Montenegro VallsEngenheiro agrnomo, Ph.D. em Manejo e Ecologia de Pastagens, pesquisador daEmbrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, Braslia, [email protected], [email protected]

    Jos Monteiro SoaresEngenheiro agrnomo, Doutor em Recursos Naturais, pesquisador aposentado daEmbrapa Semi-rido, Rua Jos Rabelo Padilha, 918, apto. 303, Centro, 56302-090,Petrolina, [email protected]

    Juscelino Antnio de AzevedoEngenheiro agrnomo, Doutor em Solos e Nutrio de Plantas, pesquisador daEmbrapa Cerrados, Planaltina, [email protected]

    Lcia Helena Piedade KiillBiloga, Doutora em Biologia Vegetal, pesquisadora da Embrapa Semi-rido,Petrolina, [email protected]

    Luciano Carlos Tavares MarquesEngenheiro florestal, Mestre em Cincia Florestal, pesquisador aposentado daEmbrapa Amaznia Oriental, Av. Almirante Tamandar, 814, Campina, 66023-000,Belm, [email protected]

    Luiza Teixeira de Lima BritoEngenheira agrcola, Doutora em Recursos Naturais, pesquisadora da Embrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

  • Magna Soelma Beserra de Moura

    Engenheira agrnoma, Doutora em Recursos Naturais (Agrometeorologia),pesquisadora da Embrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Manoel Abilio de Queirz

    Engenheiro agrnomo, Ph.D. em Melhoramento de Plantas, professor daUniversidade do Estado da Bahia (Uneb)/Departamento de Tecnologia e CinciasSociais (DTCS), Campus III, Avenida Edgard Chastinet Guimares, s/n, So Geraldo,Caixa Postal 171, 48905-680, Juazeiro, [email protected]

    Marcos Aurlio Santos da Silva

    Analista de sistemas, Mestre em Computao Aplicada, pesquisador da EmbrapaTabuleiros Costeiros, Aracaju, [email protected]

    Maria Beatriz Nogueira Ribeiro

    Engenheira agrnoma, Mestre em Ecologia, pesquisadora do Instituto do Homem eMeio Ambiente da Amaznia (Imazon), Rua Domingos Marreiros, 2.020, 66060-160,Belm, [email protected]

    Maria Magaly Velloso da Silva Wetzel

    Engenheira agrnoma, Doutora em Ecologia Aplicada, pesquisadora aposentada daEmbrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, SHIN QI 6, Conj. 11, casa 1, 71520-110,Braslia, [email protected], [email protected]

    Moacyr Bernardino Dias-Filho

    Engenheiro agrnomo, Ph.D. em Ecologia e Biologia Evolucionria, pesquisador daEmbrapa Amaznia Oriental, Belm, [email protected]

    Patrcia Goulart Bustamante

    Engenheira agrnoma, Doutora em Bioqumica, pesquisadora da Embrapa RecursosGenticos e Biotecnologia, Braslia, [email protected]

    Pedro Carlos Gama da Silva

    Engenheiro agrnomo, Doutor em Economia Aplicada, pesquisador da EmbrapaSemi-rido, Petrolina, [email protected]

    Peter Mann de Toledo

    Bilogo, Ph.D. em Geologia, pesquisador titular do Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (Inpe), pesquisador associado do Museu Paraense Emlio Goeldi (Mpeg),atual presidente do Instituto de Desenvolvimento Econmico, Social e Ambiental doPar (Idesp), Avenida Nazar, 871, anexo, 3 andar, Nazar, 66035-170, Belm, [email protected], [email protected]

  • Roberval Monteiro Bezerra de Lima

    Engenheiro florestal, Doutor em Engenharia Florestal, pesquisador da EmbrapaAmaznia Ocidental, Manaus, [email protected]

    Roseli Freire de Melo

    Engenheira agrnoma, Doutora em Solos e Nutrio de Plantas, pesquisadora daEmbrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Samuel Soares de Almeida

    Engenheiro agrnomo, Mestre em Ecologia, pesquisador associado do MuseuParaense Emlio Goeldi (Mpeg), Coordenao de Botnica, Avenida MagalhesBarata, 376, So Brz, 66040-170, Belm, [email protected]

    Sandra Aparecida Santos

    Zootecnista, Doutora em Nutrio e Produo Animal, pesquisadora da EmbrapaPantanal, Corumb, [email protected]

    Sandra Mara Arajo Crispim

    Engenheira agrnoma, Mestre em Zootecnia (Produo e Nutrio Animal),pesquisadora da Embrapa Pantanal, Corumb, [email protected]

    Sueli Corra Marques de Mello

    Engenheira agrnoma, Doutora em Fitopatologia, pesquisadora da Embrapa RecursosGenticos e Biotecnologia, Braslia, [email protected]

    Suzana Maria de Salis

    Biloga, Doutora em Cincias (Biologia Vegetal), pesquisadora da Embrapa Pantanal,Corumb, [email protected]

    Thierry Ribeiro Tomich

    Mdico-veterinrio, Doutor em Cincia Animal (Nutrio Animal), pesquisador daEmbrapa Pantanal, Corumb, [email protected]

    Tony Jarbas Ferreira Cunha

    Engenheiro agrnomo, Doutor em Agronomia (Cincias do Solo), pesquisador daEmbrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Urbano Gomes Pinto de Abreu

    Mdico-veterinrio, Doutor em Zootecnia (Produo Animal), pesquisador daEmbrapa Pantanal, Corumb, [email protected]

  • Vanderlise Giongo PetrereEngenheira agrnoma, Doutora em Cincia do Solo, pesquisadora da Embrapa Semi-rido, Petrolina, [email protected]

    Wenceslau J. GoedertEngenheiro agrnomo, Ph.D. em Cincia do Solo, pesquisador aposentado daEmbrapa Cerrados, professor da Universidade de Braslia (UnB), ICC Ala Sul,Departamento de Agronomia, Campus Universitrio Darcy Ribeiro, Asa Norte, CaixaPostal 4.508, 70910-900, Braslia, [email protected]

  • Agradecimentos

    Os Editores agradecem a Arminda Moreira de Carvalho e a Leo Nobre deMiranda, por colaborarem na organizao da Parte 2 Cerrados; a Alfredo KingoHomma, da Parte 3 Florestas midas; a Eduardo Assis Menezes, da Parte 4 Semi-rido; a Emiko Kawakami de Resende, da Parte 5 Pantanal; e a ClaraOliveira Goedert, por colaborar na organizao da Parte 7 Conservao eutilizao de recursos genticos.

  • Apresentao

    A coletnea Agricultura tropical: quatro dcadas de inovaes tecnolgicas,institucionais e polticas aborda temas de fundamental importncia para acompreenso do desenvolvimento da agricultura tropical no Brasil e em outrospases localizados nessa faixa geogrfica em expanso. No exagero afirmarque o futuro da vida no planeta depende principalmente do mundo tropical.Por exemplo, cerca de 90 % dos recursos genticos de plantas, animais emicrorganismos mais crticos para a garantia do futuro da agricultura e dosistema alimentar mundial tm origem nas regies tropicais da frica, daAmrica Latina e da sia.

    Uma caracterstica inconteste da agricultura tropical tem sido o contnuoaumento da produtividade e da produo de alimentos, fibras e produtosvinculados agroenergia. Tudo isso acompanhado de estrita ateno ao meioambiente, principalmente no propsito de aperfeioar o manejo dos recursosnaturais em sistemas intensivos de produo agrcola.

    A edio desta coletnea tem suas razes estabelecidas no WorkshopInternacional sobre Desenvolvimento da Agricultura Tropical (IWTAD),realizado em Braslia, DF, entre os dias 17 e 19 de julho de 2006, do qualparticipou grande nmero de cientistas e especialistas provenientes de vriospases. Buscou-se, ali, documentar, de forma crtica, o desenvolvimentoocorrido no Brasil e em outros pases tropicais, avaliar seus desafios futurose propor aes para o seu manejo racional. Os promotores do evento foram aEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), o Grupo Consultivoem Pesquisa Agrcola Internacional (CGIAR), dirigido pelo colega dr.Francisco Jos Becker Reifschneider, e o Grupo Banco Mundial, lideradopelo dr. John Briscoe, diretor daquele grupo pelo Brasil. O que se propunhaera o resgate da memria de fatos relevantes ocorridos ao longo das ltimasquatro dcadas. Tambm cabe lembrar a valiosa participao ativa dos colegasRenato Cruz Silva e Levon Yeganiantz, quando da discusso dos primeirosdelineamentos do que seria esse importante workshop e, posteriormente,esta coletnea.

    Nos volumes que compem esta coleo, ser possvel acompanhar asconquistas alcanadas nas reas de produo vegetal e criao animal, e seusignificado na crescente demanda por produtos destinados alimentaohumana e tambm ao processamento industrial. As atividades de pesquisa,

  • desenvolvimento e inovaes so imprescindveis ao desenvolvimento dasnaes. Suas inovaes mais impactantes resultam no apenas de atividadesinter e transdisciplinares, mas tambm de avanos institucionais e de polticasgovernamentais inclusivas. Inovao e conhecimento so ingredientesfundamentais da criao e da construo da moderna agricultura tropical.

    O sucesso dessa agricultura no Brasil no possui apenas um efeito domstico,j por si grandioso; suas frmulas de sucesso e seus produtos esto tambm disposio de outras sociedades tropicais. O progresso em reas onde odesenvolvimento era inicialmente considerado improvvel carrega umpotencial sinalizador para as decises futuras. Que exemplo poderia ser maiseloqente, nesses ltimos 40 anos, do que o desenvolvimento do Cerrado,possuidor de uma agricultura sustentvel e, ao mesmo tempo, altamenteprodutiva e competitiva?

    Esta coletnea apresenta uma viso abrangente das aes mais decisivas.Nela, o leitor encontra, alm de material crtico, ampla bibliografia. Naspginas que seguem, oferecido material de alto valor cientfico apesquisadores, professores, profissionais do desenvolvimento, tomadores dedecises governamentais, profissionais da iniciativa privada e outros lderes,gerentes e tcnicos que trabalham com atividades de desenvolvimento. Estaobra permite o acesso s atuais realizaes e s futuras possibilidades daagricultura tropical. Nossa esperana que todos os envolvidos tambm secomprometam com o desenvolvimento dessa agricultura, no nichocorrespondente a cada um, no conjunto das relaes cinciatecnologiasociedadeinovao.

    Este trabalho no teria sido possvel sem a dedicao, a criatividade e ocompromisso dos editores, de cientistas de vrias reas do conhecimento, almde gestores, empreendedores, estudiosos e lderes em geral, que enriquecerama coletnea com seus relevantes textos. A todos, meus agradecimentos.

    Silvio CrestanaDiretor-Presidente da Embrapa

  • Prefcio

    Nas ltimas quatro dcadas, a agricultura tropical passou por marcantestransformaes em alguns pases em desenvolvimento, principalmentenaqueles com boa distribuio de chuvas, solos adequados e outras condiesfavorveis. A produtividade das principais culturas cresceu aceleradamente,os preos de seus produtos para os consumidores foram reduzidos, e foramgerados significativos benefcios econmicos, tanto para o setor agrcola quantopara outros setores da economia. A chamada Revoluo Verde que se deu naagricultura foi seguida pela revoluo na criao de animais, provocada pelademanda crescente por alimentos de origem animal por parte das sociedadesque rapidamente se urbanizavam.

    Os maiores progressos verificaram-se nas regies onde quatro condiesaconteceram simultaneamente, a saber: inovaes na agricultura e na pecuria,baseadas em pesquisas multidisciplinares; medidas efetivas para otimizar omanejo dos recursos naturais em sistemas de produo agrcola intensiva esustentvel; avanos institucionais que fomentaram o desenvolvimento edisseminaram novas tecnologias; e polticas governamentais que favoreceramo desenvolvimento rural.

    O desenvolvimento da agricultura restringiu-se, porm, a determinadas regiestropicais. Ao mesmo tempo, em algumas reas, o aumento da produtividade agrcolamostrou-se insustentvel por ter sido conseguido a expensas de recursos naturais,especialmente do solo, da gua e das florestas. O desafio, ento, era conciliarinovaes cientficas, tecnolgicas, institucionais e polticas, de forma a permitiremo crescimento sustentado da agricultura onde ele estivesse limitado.

    Com o objetivo de documentar e avaliar experincias que levaram transformaoda agricultura nos trpicos, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria(Embrapa) e o Grupo Consultivo em Pesquisa Agrcola Internacional (CGIAR),com o apoio do Grupo Banco Mundial, propuseram-se a resgatar a memria defatos relevantes ocorridos ao longo das ltimas quatro dcadas, os quais tornarampossvel o desenvolvimento de uma agricultura adequada ao mundo tropical.Como conhecer o passado condio para planejar o futuro, foram feitas projeesnessa rea para as prximas dcadas.

    Duas aes foram programadas. A primeira foi organizar um eventointernacional no qual esses temas fossem discutidos. Assim, no perodo de 17a 19 de julho de 2006, foi realizado, em Braslia, o Workshop Internacional

  • sobre Desenvolvimento da Agricultura Tropical (IWTAD). Cerca de200 cientistas avaliaram as principais inovaes tecnolgicas, institucionaise polticas que resultaram no desenvolvimento dessa agricultura e estimaramos prximos passos e os desafios futuros.

    A segunda ao foi a edio desta coletnea, intitulada Agricultura Tropical:quatro dcadas de inovaes tecnolgicas, institucionais e polticas. Com essapublicao pretende-se documentar, de forma crtica, o desenvolvimentoocorrido no Brasil, avaliar seus desafios futuros e propor aes que visassema sua soluo. Elaborada pelos prprios protagonistas, essa parte da histriaregistra o empenho de uma gama de brasileiros e seus colaboradores, quepermitiu ao Pas passar da condio de importador para a de grandeexportador de alimentos, e da posio de dependente de conhecimentosestrangeiros para a de lder na rea da agricultura tropical. Coube aindamostrar que a tecnologia da agricultura brasileira foi resultado de viso evontade polticas e tambm de mudanas institucionais corajosas, que exigirammuitas batalhas em diversas frentes.

    Por meio de uma viso abrangente, esta coletnea, com base em ricabibliografia, apresenta as principais inovaes que tornaram possveis atransformao e a modernizao da agricultura tropical. Nesse sentido, aosautores foi oferecida a oportunidade de expressar livremente suas opinies,mesmo quando representassem abordagens diferentes de um mesmo tema.

    Esta obra est dividida em volumes, classificados em captulos, cujos autoresso especialistas de vrias reas do conhecimento, alm de gestores,empreendedores, estudiosos e lderes em geral, escolhidos entre aqueles queparticiparam e conhecem o processo. Nela so explorados os seguintes temas:produo e produtividade agrcolas; utilizao sustentvel dos recursosnaturais; desenvolvimento institucional e polticas pblicas; impacto dasinovaes; e desafios agricultura tropical.

    No Volume 2 da coletnea, intitulado Utilizao sustentvel dos recursosnaturais, procura-se registrar, de maneira condensada e analtica, aincorporao matriz agrcola e o processo de utilizao dos recursos danatureza praticado nas ltimas quatro dcadas, que permitiram atingir opatamar de desenvolvimento praticado no Pas, o qual varia conforme o biomae o recurso abordado.

    O Brasil, com suas dimenses continentais, abriga diversos recursos naturais,humanos e culturais. Do Semi-rido Floresta Amaznica, passando peloCerrado, pelos Tabuleiros Costeiros e pelo Pantanal, problemas os maisvariados devem ser enfrentados, e solues diversas precisam ser encontradas.A presso demogrfica, a expanso urbana, a preservao ambiental, as

  • exigncias por bem-estar e as demandas por qualidade e quantidade, todaselas so variveis a serem consideradas quando se faz necessrio utilizar, demaneira sustentada, os recursos disponveis em benefcio dos distintossegmentos da sociedade brasileira. Muitos dos recursos naturais j foramincorporados ao processo produtivo, mas outros ainda dependem deconhecimento especfico para sua utilizao.

    Os editores esperam que este produto possa oferecer, aos que trabalham pelodesenvolvimento de uma agricultura sustentvel, um inventrio de desafiose opes teis e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para avaliar osresultados alcanados e para refletir sobre as perspectivas futuras detransformao da agricultura nos trpicos.

    Os Editores

  • Sumrio

    Parte 1. Introduo ................................................................................. 21

    Captulo 1. Agricultura e uso sustentvel dos recursos naturais ............ 23

    Parte 2. Cerrado ...................................................................................... 63

    Captulo 1. Utilizao dos recursoshdricos na agricultura irrigada do Cerrado ............................................. 65

    Captulo 2. Clima do Bioma Cerrado ........................................................ 93

    Captulo 3. A flora e a fauna do Cerrado ................................................. 149

    Captulo 4. Manejo da fertilidade do solo no Cerrado ............................ 203

    Parte 3. Florestas midas .................................................................... 261

    Captulo 1. Benefcios da domesticaodos recursos extrativos vegetais ............................................................. 263

    Captulo 2. Cadeias produtivas setoriais e ocurso do desenvolvimento local na Amaznia ......................................... 275

    Captulo 3. Processo de degradao erecuperao de reas degradadas na Amaznia brasileira .................... 293

    Captulo 4. Reflorestamento na Amaznia brasileira ............................. 307

    Captulo 5. reas Protegidas na Amaznia:oportunidades para conservao e uso sustentvel ................................ 325

    Captulo 6. Desafios e oportunidades paraa conservao da biodiversidade amaznica ........................................... 337

    Parte 4. Semi-rido ............................................................................... 357

    Captulo 1. O Semi-rido Tropical brasileiro ......................................... 359

    Captulo 2. Recursos hdricos .................................................................. 375

    Captulo 3. Clima ..................................................................................... 411

    Captulo 4. Flora, fauna e microrganismos ............................................. 431

    Captulo 5. A pesquisa em cincia do solo no Semi-rido brasileiro ..... 453

    Parte 5. Pantanal ................................................................................... 493

    Captulo 1. Caracterizao do Pantanal Mato-Grossense ...................... 495

  • Captulo 2. Aspectos socioeconmicosdo desenvolvimento do Pantanal Sul ...................................................... 503

    Captulo 3. Pecuria no Pantanal: em busca da sustentabilidade .......... 535

    Captulo 4. Peixes e pesca no Pantanal ................................................... 571

    Parte 6. Tabuleiros Costeiros ............................................................. 599

    Captulo 1. Agricultura e uso sustentvel dos recursos naturaisdos Tabuleiros Costeiros e Baixada Litornea do Nordeste .................. 601

    Parte 7. Conservao e utilizao de recursos genticos ............. 633

    Captulo 1. Recursos genticos vegetais ................................................. 635

    Captulo 2. Recursos genticos animais .................................................. 665

    Captulo 3. Recursos genticos de microrganismos ................................ 679

  • Parte 1

    Introduo

    Foto

    : Sandra

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  • 23Parte 1|Introduo

    Captulo 1

    Agricultura e usosustentvel dosrecursos naturais

    A histria do desenvolvimento econmico revela que as naes que alcanaramnveis satisfatrios de crescimento o fizeram custa de perdas ambientais.Por isso, cresce a conscincia mundial sobre a importncia da preservao domeio ambiente, o que permite prever que esse ser um dos temas quedemandar definies e aes efetivas das instituies pblicas, em especial,daquelas formuladoras de polticas econmicas e de cincia e tecnologia,fazendo surgir bases tericas para um crescimento econmico com preservaoambiental (MOTTA, 1996). Durante todo o sculo 20, o padro convencionalde agricultura acumulou enorme conhecimento cientfico e tecnolgico e inegvel que os seus avanos foram cruciais para garantir a seguranaalimentar de alguns povos. No entanto, garantir a segurana alimentar detoda a populao mundial e a conservao dos recursos naturais, como exigea noo de sustentabilidade, demandar conhecimento que integre o saberespecfico da agronomia convencional com o conhecimento sistmico,relacionando os diversos componentes do agroecossistema (EHLERS, 1996).

    Nesse contexto, as condies que determinam o desenvolvimento regionalsustentvel tm sido amplamente debatidas no mbito do movimento deglobalizao. As transformaes que vm ocorrendo no mundo, com a crescenteinternacionalizao da economia, promovem a total interdependncia dasdiferentes economias nacionais e regionais. Com isso, modelos dedesenvolvimento podero ser propostos medida que estudos regionaiscontemplem a compreenso das diferentes maneiras de um mesmo modo deproduo se realizar em diferentes regies do mundo (SANTOS, 1997).Analisando a estratgia de integrao internacional da produo, Pacheco(1996) constata que, ao contrrio do que se poderia esperar, a globalizaorefora as estratgias de especializao regional. Assim, ao mesmo tempoque a regionalizao resultado da prpria dinmica da produo das grandesempresas, tambm uma forma de resposta dos Estados Nacionais para

    Edson Diogo Tavares

    Edmar Ramos de Siqueira

    Marcos Aurlio Santos da Silva

  • Agricultura Tropical24

    enfrentar os efeitos deletrios da globalizao, diante de seus rivais extra-regionais, ainda que o discurso seja de defesa da livre concorrncia. E asteorias que permitem a compreenso desses processos ganham destaque vezque a interveno pblica vista como forma de potencializar as vantagenscomparativas existentes, prevenindo impactos sobre os recursos naturais.

    A idia de sustentabilidade da agricultura como uma das questes-chave naproblemtica do meio ambiente (EMBRAPA, 1998) revela, antes de tudo, aanlise crtica que, de forma crescente, tem-se feito da agricultura moderna,indica o desejo social de prticas que, simultaneamente, conservem os recursosnaturais e forneam produtos mais saudveis, sem comprometer os nveis jalcanados de segurana alimentar (BRASIL, 1999). Mas, para falar emsustentabilidade na agricultura necessrio definir desenvolvimentosustentvel que, para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria(Embrapa), o arranjo poltico, socioeconmico, cultural, ambiental etecnolgico que permite satisfazer as aspiraes e as necessidades das geraesatuais e futuras (EMBRAPA, 2004). Carmo (1998) considera conceitualmentedifcil operacionalizar a sustentabilidade do desenvolvimento, uma vez que,alm dos interesses econmicos e de classes sociais envolvidos, h necessidadede compatibilizar o que deve ser sustentado com o que deve ser desenvolvido,isso porque o termo sustentvel implica, num certo sentido, a imutabilidade,enquanto a noo de desenvolvimento pressupe o inverso, a necessriamudana. Para Sachs (1995) o desenvolvimento aparece como um conceitopluridimensional, em que necessria melhor definio do seu contedo,partindo de uma hierarquizao em que o aspecto social deve ser o principal,o ecolgico ser considerado uma restrio assumida e o econmico recolocadoem seu papel instrumental. O autor descreve, ento, quatro tipos decrescimento: a) aquele em que se obtm apenas efeitos econmicos positivose efeitos sociais e ecolgicos negativos (crescimento selvagem); b) aquele emque so alcanados efeitos econmicos e sociais positivos e o ecolgico negativo(crescimento benigno); c) aquele em que se obtm efeitos econmicos eecolgicos positivos e o social negativo (crescimento estvel); e d) e aquele emque os efeitos econmicos, sociais e ecolgicos so positivos (desenvolvimento).

    A agricultura sustentvel passa pela mesma dificuldade de conceituao,envolvendo aspectos tericos e prticos (FARSHAD; ZINCK, 1993;YUNLONG; SMIT, 1994) e, na tentativa de determinar os efeitos das vriaspolticas e tecnologias, a noo de sustentabilidade agrcola tem sido de usolimitado para formuladores de polticas e pesquisadores (ALTIERI, 1998).Segundo o Ministrio do Meio Ambiente (BRASIL, 1999), em geral todas asdefinies concordam que um sistema produtivo de alimentos, fibras eagroenergia deve garantir a manuteno, em longo prazo, dos recursos

  • 25Parte 1|Introduo

    naturais e da produtividade agrcola; o mnimo de impactos adversos aoambiente; retornos adequados aos produtores; otimizao da produo comum mnimo de insumos externos; satisfao das necessidades humanas dealimentos e renda; e atendimento das necessidades sociais das famlias e dascomunidades rurais. De fato, quase toda a definio encontra-se ancorada namanuteno da produtividade e na lucratividade das unidades de produoagrcola, minimizando, ao mesmo tempo, impactos ambientais. Entretanto,nenhuma quantitativa e, nas definies de produtividade agrcola, aprodutividade da base de recursos naturais em seus diferentes fatores,fundamental sustentabilidade, ainda no foi contabilizada.

    Weid (1996), ao analisar a aplicao do conceito de sustentabilidade agricultura brasileira, identifica dois modelos agrcolas fundamentais, entreos quais haveria uma gama de formas intermedirias: o modelo tradicional,praticado pelos camponeses, sem a utilizao de insumos externos propriedade, e o modelo agroqumico (ou da Revoluo Verde), caracterizadopela artificializao mxima do meio ambiente, visando ao controle dasvariveis produtivas. No Brasil, a agricultura fundada no modelo daRevoluo Verde a base dos atuais sistemas agrcolas de produo, queprecisam ser avaliados quanto sua sustentabilidade. Esse fato pressupedeterminar a situao dos recursos naturais, suas potencialidades elimitaes, caracterizando os impactos provocados pela explorao agrcolanuma anlise que considere as diferentes dimenses da realidade e identifiqueas possibilidades de desenvolvimento de uma agricultura que atenda spremissas do desenvolvimento rural sustentvel.

    O modelo da agricultura moderna a torna refm de fatores externos ao sistema,dependendo, intrinsecamente, do uso de recursos no-renovveis. O primeiroe essencial recurso a energia, que pode ser aquela diretamente utilizadapara mover a maquinaria empregada, ou indiretamente, para produzir osinsumos de origem industrial. Apesar da crise do petrleo dos anos de 1970,pouca coisa mudou e, mantidos os atuais nveis de consumo, o esgotamentodas reservas de petrleo previsto para os prximos 30 a 50 anos (WEID,1996; ALTVATER, 1995; BENJAMIN et al., 1998).

    Adicionalmente, esse modelo responsvel por impactos sobre os solos que,pela eroso, afetam os aqferos; pela poluio por fertilizantes; e,principalmente, pelos agrotxicos que afetam as reservas superficiais de gua.Impactos sobre as florestas e a perda da biodiversidade tambm devem sercitados (WEID, 1996).

    Finalmente, as vrias definies apresentadas para a sustentabilidade naagricultura enfatizam a necessidade de viabilidade em longo prazo e o

  • Agricultura Tropical26

    suprimento das necessidades humanas de alimentos e matrias-primas paraa indstria. Para isso, necessrio o uso eficiente dos recursos naturais no-renovveis, garantindo a renda dos agricultores e, em ltima instncia, aqualidade de vida presente e futura da sociedade humana. Assim, a mudanade um modelo de agricultura baseada na modernizao para uma agriculturasustentvel no tarefa simples. Representa passar de uma concepo restritada produo, orientada pela busca da rentabilidade mxima imediata, parauma agricultura parceira da natureza, responsvel pelo desenvolvimento locale por gerenciar os recursos em longo prazo. nesse contexto que se estabeleceo desafio de uso sustentvel dos recursos naturais.

    A evoluo do conceitode desenvolvimento

    O nascimento e a difuso de conceitos so fortemente ligados aos momentoshistricos em que se manifestam. Pode-se tomar a questo ambiental comoum caso exemplar, mesmo que essa no seja uma discusso recente.A magnitude dos impactos provocados pelo processo de desenvolvimento e atomada de conscincia da sociedade tm provocado a busca de novos modelose parmetros para avaliar o desenvolvimento.

    O conceito de desenvolvimento hegemnico, em meados do sculo 20, geroudebates sobre a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento e umamultiplicidade de fatores envolvidos na definio do desenvolvimentosustentvel, em especial a sustentabilidade. Com esse entendimento necessrio discutir o desdobramento do desenvolvimento sustentvel para aagricultura dando origem ao que tem sido denominado de agriculturasustentvel.

    A partir dos anos de 1950, comeam a surgir preocupaes com os assuntosambientais; a princpio de forma pontual e voltadas, principalmente, para asquestes da poluio nas cidades industriais. Em 1987, a Comisso Mundialsobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), criada pela AssembliaGeral da Organizao das Naes Unidas (ONU), em 1983, elaborou o relatrioNosso Futuro Comum, em que as naes do mundo admitiam que promover odesenvolvimento econmico dos pases no era suficiente para garantir amelhoria do padro de vida da humanidade (CMMAD, 1991). A manutenodo modelo de desenvolvimento hegemnico, at aquela data, estavaprovocando degradao crescente do meio ambiente, o que levou a Comisso constatao de que, se no fosse alterada, a sustentabilidade do Planetaestaria ameaada. Naquele relatrio, foi estabelecido o que deveria ser a base

  • 27Parte 1|Introduo

    de um novo padro de desenvolvimento, que permitisse superar o abismoque existia entre os pases desenvolvidos e os pases em desenvolvimento um desenvolvimento sustentvel, meta a ser atingida pelas naes a partirda constatao de que promover o desenvolvimento econmico dos pasesno era suficiente para garantir a melhoria do padro de vida da humanidade.

    Na ltima metade do sculo 20, uma das idias mais utilizadas para definir onvel de evoluo das sociedades humanas foi a de desenvolvimento.O desenvolvimento econmico, muitas vezes, considerado como sinnimo decrescimento econmico, pde, ento, ser definido como o crescimento medidopelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita que, via de regra,deveria vir acompanhado pela melhoria do padro de vida da populao com a satisfao de suas necessidades bsicas e por alteraes fundamentaisna estrutura de sua economia, com conseqente evoluo de toda a sociedade(LEITE, 1983; SEITZ, 1991; SOUZA, 1995; FURTADO, 2000).

    Como nos pases industrializados o crescimento econmico se deuparalelamente melhoria da qualidade de vida das suas populaes, ganhoudestaque a teoria que afirmava que, a partir do crescimento, odesenvolvimento disseminaria por todas as sociedades e pela economiamundial (BASTOS, 1993). Para Bartholo Junior (1984) esse modelo dedesenvolvimento tinha como fundamento um projeto de industrialismo que,baseado no modo de vida das sociedades industriais europias e norte-americanas, deveria ser reproduzido por todo o planeta.

    Assim, a principal teoria que orientou o pensamento econmico nos ltimos40 anos do sculo 20 foi a de que a reproduo, nos pases subdesenvolvidos,dos modelos de desenvolvimento adotados nos pases industrializados, oslevaria a superar seus problemas sociais, conduzindo-os ao desenvolvimentoe trazendo melhoria da qualidade de vida de todas as sociedades humanas(SACHS, 1997). Todavia, a realidade contempornea no confirma esse fato(ATTIELD, 1999). Uma das razes para que esse modelo no desse certo que desenvolvimento no o mesmo que crescimento e que o segundo noleva necessariamente ao primeiro. Na verdade, muitas vezes, o crescimentode algumas naes se deu custa do empobrecimento e, conseqentemente,no subdesenvolvimento de outras. Sachs (1993) chama a ateno para o fatode que o crescimento baseado apenas na economia de mercado pode, naverdade, aprofundar a diviso entre e dentro das naes, pois, da forma comoo crescimento tem se dado historicamente, os custos sociais e ambientais soexternalizados enquanto se ampliam as desigualdades sociais e econmicas.Alm disso, esse modelo estava baseado na hiptese de que todos os pasespoderiam praticar os mesmos padres de consumo que o dos pasesindustrializados. Essa premissa comeou a ser contestada com a

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    compreenso de que os recursos disponveis no Planeta eram finitos e jestavam sendo explorados de forma desigual entre os pases (CMMAD, 1991).

    Para Duarte (2002), o surgimento dessa crise foi precedido da criao, pelasociedade moderna, de vrios mitos: da natureza infinita; do progresso e docrescimento ilimitado; da igualdade socioeconmica e o mito da neutralidadee da superioridade da cincia e da tecnologia. Se, a princpio, esses mitospermitiram que o modelo se disseminasse, fizeram, tambm, com que jtrouxesse, em seu interior, as razes para o seu fracasso. Nas palavras deTouraine, A afirmao de que o progresso o caminho para a abundncia, aliberdade e a felicidade, e que estes trs objetivos esto fortemente ligadosentre si, nada mais que uma ideologia, constantemente desmentida pelahistria Touraine (1997, p. 10).

    Passet (1994) identifica trs fases na relao do desenvolvimento com abiosfera. A primeira fase, que precede a tomada de conscincia sobre os danosque o desenvolvimento inflige natureza, chamou de Fase da Neutralidade,durante a qual se supunha ser possvel pensar a economia em seus prprioslimites, independentemente de sua relao com o ambiente. A segunda faseteve como marco o relatrio do Clube de Roma, publicado em 1972, que revelouos danos que o desenvolvimento infligia natureza, com a superexploraodos recursos, a previso do seu esgotamento, levando a que fossem adotadasmedidas de mbito local visando reduzir o consumo de matrias-primas e deenergia. Essa foi a Fase do Meio Ambiente. Hoje, vive-se a terceira fase, afase da biosfera, quando esto sendo ameaados os mecanismos que regulama vida no Planeta. O perigo nuclear, a destruio da camada de oznio e oefeito estufa so processos que ameaam as condies de vida na Terra, paraos quais s sero efetivas medidas tomadas em escala global.

    Em 1972, Meadows foi um dos que primeiro evidenciou, por meio de clculose projees matemticas, que a manuteno dos nveis de explorao dosrecursos praticados no modelo de desenvolvimento dos pasesindustrializados levaria a humanidade ao colapso pelo esgotamento dosrecursos (MEADOWS, 1997). Celso Furtado (1974) considera que a importnciaprincipal do modelo proposto por Meadows foi ter contribudo para destruiro mito do desenvolvimento econmico, seguramente um dos pilares dadoutrina, que serviu de cobertura dominao dos povos dos pases perifricos,dentro da estrutura do sistema capitalista. Esse autor afirma que:

    [...] A concluso geral que surge que a hiptese de extenso ao conjuntodo sistema capitalista das formas de consumo que prevalecematualmente nos pases cntricos no tem cabimento dentro daspossibilidades evolutivas aparentes desse sistema. E essa a razo pelaqual uma ruptura cataclsmica, num horizonte previsvel, carece deverossimilhana. O interesse principal do modelo que leva a essa previso

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    de ruptura cataclsmica est em que ele proporciona uma demonstraocabal de que o estilo de vida criado pelo capitalismo industrial sempreser o privilgio de uma minoria. O custo, em termos de depreciao domundo fsico, desse estilo de vida de tal forma elevado que todatentativa de generaliz-lo levaria inexoravelmente ao colapso de todauma civilizao, pondo em risco a sobrevivncia da espcie humana.Temos assim a prova cabal de que o desenvolvimento econmico aidia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas devida dos atuais povos ricos simplesmente irrealizvel. (FURTADO,1974, p. 88-89).

    preciso repensar o conceito de desenvolvimento, na medida em que se admiteque a sua busca, baseada apenas no crescimento econmico, no seria caminho aser perseguido por todas as sociedades. Para Passet (2000), esse o momentoem que duas lgicas se defrontam: a do desenvolvimento econmico e a dasregulaes naturais, em que a primeira ameaa destruir a segunda e, assim,arruinar a manuteno de toda a vida humana. Alm disso, tendo em vista que oPlaneta um s e que toda a humanidade seria afetada pelas conseqncias deum possvel colapso, evidenciou-se a necessidade de que as naes tratassem doproblema dos limites ao crescimento como um desafio global.

    No modelo analisado por Meadows, caso a humanidade no alterasse seuspadres de produo e consumo, o colapso se daria pela exausto das reservasde recursos no-renovveis. Torna-se, ento, necessrio pensar a relao queexiste entre desenvolvimento e nvel de consumo, no s dos recursos comotambm dos prprios bens produzidos. Nesse modelo, estava implcita a idia deque o Planeta estava sendo tratado como um bem comum, ou seja, um bem que,por pertencer a todos, ningum era responsvel pela sua preservao. Essaproblemtica j havia sido tratada em profundidade por Hardin, em 1968, quandofoi discutida, com base no problema populacional, a necessidade de que algofosse feito para controlar a explorao desenfreada de recursos (HARDIN, 1997).

    Enzensberger (1976), ao analisar o surgimento do movimento ecolgico,esclarece que, na verdade, os problemas ambientais decorrentes docrescimento industrial remontam ao incio do processo de industrializaoque, h mais de 150 anos, j havia tornado inabitveis cidades e regiesinteiras. Nesse sentido, no se pode ignorar que a histria da civilizaoocidental tem mostrado que h uma correlao direta entre o grau dedesenvolvimento dos pases e a degradao ambiental (BURSZTYN, 1995).

    McCormick (1992) historia a evoluo do movimento ambientalista e de como,principalmente, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, por intermdiodas Naes Unidas e de seus rgos, se internacionaliza a discusso sobre osproblemas dos recursos naturais e da necessidade de eles serem tratadossupranacionalmente. Long (2000) sistematiza a evoluo da questo ambiental

  • Agricultura Tropical30

    em quatro fases. A primeira a do despertar para a questo e corresponderias dcadas de 1950 e 1960. Nesse perodo, o alerta veio dos problemasprovocados pela poluio. A segunda fase compreende as dcadas de 1970 e1980 e seria o perodo da nfase na reparao dos danos provocados peloprocesso industrial. Marco desse perodo foi a Conferncia das Naes Unidassobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, em 1972, que reuniurepresentantes de 113 naes. Nesse mesmo perodo comeam a surgir nospases da Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico(OECD), os organismos nacionais especficos para tratar da questo ambiental.A terceira fase corresponde dcada de 1980, quando surge a preocupaoem prevenir os possveis danos ao meio ambiente. As discusses giram emtorno de saber como contabilizar os custos ambientais e quem deveria pag-los. Em 1987, publicado o relatrio Nosso Futuro Comum. A quarta fase,que abrange a dcada de 1990, caracterizada como a de globalizao do meioambiente. O principal marco institucional do perodo foi a realizao daCpula da Terra como conhecida a Conferncia das Naes Unidas sobreMeio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, quando foi proposta a Agenda 21e os pases presentes se comprometeram em elaborar suas agendas nacionais.Nessa fase, as questes do aquecimento global, emisso de gases do efeitoestufa e a destruio da camada de oznio ocupam a maior parte dos debatesinternacionais. Assim, a crise ecolgica impe a necessidade de superar aideologia do progresso baseada no crescimento econmico, rompendo-se como produtivismo e com o paradigma tecnolgico e econmico que viabilizou acivilizao industrial moderna (LOWY, 1999).

    Evidencia-se a necessidade de redefinio de desenvolvimento para que possaatender s diferenas sociais, econmicas, culturais e mesmo religiosas, quese revelam dentro e entre as sociedades. Mas, o que, ento, o termosustentvel agrega ao agora questionado conceito de desenvolvimento? O quediferencia o desenvolvimento sustentvel do desenvolvimento econmico?O que sustentabilidade?

    Uma questo central a de que o bem-estar no deveria diminuir com o passardo tempo. Nesse sentido, as formas de produo e consumo atuais nodeveriam alterar a capacidade das geraes do futuro de poder satisfazersuas prprias necessidades.

    Assim, a justaposio de sustentabilidade e desenvolvimento proposta pelaCMMAD parecia uma contradio ao afirmar que o desenvolvimentosustentvel seria: Desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presentesem comprometer a habilidade das geraes futuras para satisfazer suasprprias necessidades (CMMAD, 1991, p. 46).

    Esse conceito deve conciliar uma forma de desenvolvimento para a melhoriado bem-estar da populao e ser indefinidamente reproduzido no tempo.

  • 31Parte 1|Introduo

    Aceitar essa definio requer assumir a necessidade do estabelecimento delimites. A necessidade desses limites est relacionada com o nvel tecnolgicode explorao dos recursos naturais, uma vez que o planeta tem claros limitesfsicos. Para o estabelecimento desses limites, a explorao dos recursos terque estar subordinada a decises baseadas no interesse das diferentesorganizaes existentes na sociedade. No entanto, a aceitao dessa definiono assegura que estratgia dever ser adotada para alcanar essedesenvolvimento, podendo apoiar esse conceito tanto os que pensam sersuficiente uma estratgia de reparao para assegurar a reproduo dassociedades humanas, quanto os que defendem rigorosa conservao do capitalnatural, baseados no princpio da precauo (BILLAUD, 1995).

    O desenvolvimento sustentvel , assim, o desenvolvimento que tantoeconmica quanto ambientalmente sustentvel. Nas polticas atuais essasconsideraes podem ser integradas. Nesse sentido, o desenvolvimentosustentvel global coerente com o crescimento econmico em lugares ondeas necessidades humanas no esto sendo atendidas, particularmente noTerceiro Mundo, cujo crescimento necessrio para que se alcance odesenvolvimento (ATTIELD, 1999).

    Para que esse novo padro de desenvolvimento seja efetivo para as diferentesrealidades regionais de acesso e explorao dos recursos, necessrio queele considere as especificidades de cada situao. Dessa forma, cada sociedadepoderia, a partir da avaliao das necessidades bsicas de sua populao,estabelecer suas metas e limites de desenvolvimento.

    A teoria dodesenvolvimentosustentvel

    No final do sculo 20, Eric Hobsbawm (1997) identifica dois problemas centraise, em longo prazo, decisivos para a humanidade: o demogrfico e o ecolgico.Para enfrent-los, considera essencial que se busque um desenvolvimentosustentvel que possa equilibrar a humanidade, os recursos que ela consome eo efeito de suas atividades sobre o ambiente. Assim, a teoria do desenvolvimentosustentvel surgiu visando fornecer solues para problemas ecolgicos esociais, simultaneamente, representando um conceito que deve atender tantoa objees ticas como prticas. A evoluo do conceito e os problemas paraalcan-lo podem ser superados. No entanto, pode ser indispensvel transformaro mundo para obt-lo (REDCLIFT, 1997; ATTIELD, 1999).

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    Para Leff (2001), esse desenvolvimento deve converter-se num projeto deerradicao da pobreza, de satisfao das necessidades bsicas e de melhorapara a vida da populao. Nesse sentido, a gesto ambiental no deveria selimitar a regular o processo econmico mediante normas e ordenamentosecolgicos. Os princpios de racionalidade ambiental permitiriam oferecernovas bases para construir um paradigma produtivo alternativo que tivessepor base o potencial ecolgico, a inovao tecnolgica e a gesto participativados recursos.

    A busca do desenvolvimento sustentvel deve integrar as responsabilidadesde longo prazo para as geraes futuras e, tambm, a considerao de que avida humana depende da preservao do meio ambiente. Dessa forma, oslimites so impostos pelas limitaes das tecnologias e das formas deorganizao social que determinam os padres de explorao dos recursos,devendo contemplar tanto a reduo do uso dos recursos nas sociedades maisricas como o crescimento econmico em lugares onde as necessidades humanasno esto sendo atendidas.

    Estudando os fenmenos naturais, Reid (1997) demonstra a total inexistnciade fenmenos isolados e, conseqentemente, a impossibilidade decompreenso da sua magnitude se analisados de forma isolada. Isso posto, aao humana transformando o meio ambiente, obviamente, no afeta de formaisolada qualquer esfera ou forma de vida na Terra, nem do ponto de vistabiolgico nem social. E, nesse sentido, a toda ao corresponde umamanifestao, conforme alertou Polanyi,

    [...] Aquilo que chamamos terra um elemento da naturezainexplicavelmente entrelaado com as instituies do homem.Tradicionalmente, a terra e o trabalho no so separados: o trabalho parte da vida, a terra continua sendo parte da natureza, a vida e anatureza formam um todo articulado (POLANYI, 1988, p. 214).

    Um dos entraves a enfrentar para que as questes do desenvolvimentosustentvel possam ser tratadas multidimensionalmente superar o dualismonatureza e sociedade, que surge no incio do perodo moderno e persiste,principalmente, na cultura ocidental, tendo como princpio terico ocartesianismo (LEIS, 1999). Assim, o conceito de desenvolvimento sustentveldeve harmonizar os objetivos sociais, ambientais e econmicos. Nesse sentido que Sachs (2000, p. 85-88) prope oito dimenses para a sustentabilidade:

    a) Social: alcance de um patamar razovel de homogeneidade social;distribuio de renda justa; emprego pleno ou autnomo com qualidade devida decente; igualdade no acesso aos recursos e servios sociais.

    b) Cultural: mudanas no interior da continuidade (equilbrio entre respeito

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    tradio e inovao); capacidade de autonomia para a elaborao de umprojeto nacional integrado e endgeno (em oposio s cpias servis dosmodelos aliengenas).

    c) Ecolgica: preservao potencial do capital da natureza na sua produode recursos renovveis; limitar o uso dos recursos no-renovveis.

    d) Ambiental: respeitar e realar a capacidade de autodepurao dosecossistemas naturais.

    e) Territorial: configuraes urbanas e rurais balanceadas; melhoria doambiente urbano; superao das disparidades inter-regionais; estratgiasde desenvolvimento ambientalmente seguras para reas ecologicamentefrgeis.

    f) Econmica: desenvolvimento econmico intersetorial equilibrado; seguranaalimentar; capacidade de modernizao contnua dos instrumentos deproduo; razovel nvel de autonomia na pesquisa cientfica e tecnolgica;insero soberana na economia internacional.

    g) Poltica (nacional): democracia definida em termos de apropriao universaldos direitos humanos; desenvolvimento da capacidade do Estado paraimplementar o projeto nacional em parceria com todos os empreendedores;um nvel razovel de coeso social.

    h) Poltica (internacional): eficcia do sistema de preveno de guerras e depromoo da cooperao internacional da ONU; co-desenvolvimento Norte/Sul,baseado no princpio de igualdade; controle efetivo do sistema financeirointernacional; controle da aplicao do Princpio da Precauo na gestodos recursos naturais; sistema efetivo de cooperao cientfica e tecnolgicae eliminao parcial do carter de commodity da cincia e tecnologia,tambm como propriedade da herana comum da humanidade.

    A anlise baseada na valorao dos recursos naturais permite compreendera relao de desenvolvimento sustentvel com as leis da termodinmica e dasustentabilidade. O meio ambiente, considerado como um sistema, apresentano seu interior diversos subsistemas que se interagem continuamente. Entreesses, se destacam, para a anlise da sustentabilidade, a ecologia e a economia.Numa perspectiva entrpica, a vida na Terra obedece a um ciclo que vai donascimento morte. A manuteno da vida depende de um aporte constantede energia. Da compreenso da dinmica sistmica de funcionamento do meioambiente e das leis da termodinmica decorre a no-sustentabilidade daexplorao dos recursos naturais se o ritmo de explorao do recurso maiordo que a capacidade de resilincia do meio, levando degradao ambiental.Nesse sentido, as ferramentas de valorao ambiental auxiliam no controle

  • Agricultura Tropical34

    da explorao dos recursos naturais pelo homem, devendo embasar asustentabilidade do uso dos recursos naturais (MOTA, 2001). Essa viso,tambm chamada de economia do meio ambiente e dos recursos naturais,preconiza que, pela valorao dos elementos da natureza, seria possvel cobrardos indivduos pelos danos que causassem, at o limite em que optariam pormudar sua forma de utilizao dos recursos naturais, no mais degradando anatureza (MARQUES; COMUNE, 1997).

    Outra viso compreende que, para que se busque o desenvolvimentosustentvel, necessrio mudar o atual padro de desenvolvimento, o quepressupe o estabelecimento de novo paradigma. Tendo em vista que asustentabilidade tem limites impostos pelas tecnologias atualmente em uso,pelo uso coletivo dos recursos e pela capacidade do ambiente de absorver osimpactos das atividades humanas (MOTA, 2001), necessrio que sejamconsiderados o atual padro tecnolgico e as formas de uso praticadas pelohomem, pois a capacidade de a biosfera absorver os impactos no se altera.Mas, independentemente da viso que se tenha desse processo e da forma desuper-lo, evidencia-se a necessidade de anlise da complexidade oumultidimensionalidade da realidade, conforme proposto por Sachs (2000).

    A partir da dcada de 1990, um nmero crescente de pases passou a publicarrelatrios sobre o estado do meio ambiente, a exemplo de organizaesinternacionais, como a OECD, a Comunidade Europia e o Programa dasNaes Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Em seus documentos, essasinstituies diagnosticam que a atividade agrcola nos pases desenvolvidostem sido altamente subsidiada, provocando mltiplos e muitas vezescontraditrios efeitos sobre o meio ambiente. Simultaneamente, os pasesesto preocupados em promover reformas de suas polticas agrcolas a fimde reduzir os subsdios e as barreiras comerciais. Para entender e monitoraros efeitos que essas mudanas da poltica agrcola podem provocar sobre omeio ambiente que se iniciou o trabalho com indicadores ambientais para aagricultura (OECD, 1998).

    Indicadores de sustentabilidade

    Os indicadores tm a funo de chamar a ateno, destacar e estimar. Elesdevem ser simples e devem chamar a ateno sobre o estado de um processo,com objetivos sociais, por exemplo, como o de desenvolvimento sustentvel.Para polticas pblicas, os indicadores devem ter duas caractersticas bsicas:a) devem quantificar a informao; e b) devem simplificar informaes sobrefenmenos complexos. Esses indicadores vm sendo utilizados h muitotempo, com diferentes objetivos, alguns consagrados, como o Produto Nacional

  • 35Parte 1|Introduo

    Bruto (PNB) e o PIB que, apesar de existirem propostas para que contemplem oaspecto ambiental, continuam sendo amplamente empregados. Mais recentemente,a ONU, pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (ONU/PNUD),props e tem aplicado o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) como umimportante instrumento de avaliao do estado de desenvolvimento socialde pases, estados e municpios.

    A necessidade de abordagem integrada das diferentes dimenses que oconceito de desenvolvimento sustentvel engloba se consubstancia na Agenda21, documento no qual, a partir do consenso mundial sobre os problemas dodesenvolvimento, se estabelece a importncia da criao de indicadores desustentabilidade. Mousinho (2001) chama a ateno para a importncia dainformao na promoo do desenvolvimento sustentvel e destaca, com basena Agenda 21, algumas das atribuies que os indicadores de sustentabilidadedevem atender:

    a) Embasar e orientar polticas e estratgias de gerenciamento ambiental.

    b) Fornecer subsdios e diretrizes aos tomadores de deciso, especialmenteem mbitol local.

    c) Alimentar as bases de dados de carter global.

    d) Prover informaes ao pblico em geral e s comunidades locais maisdiretamente envolvidas em questes ambientais especficas.

    O alerta sobre os problemas ocasionados pela agricultura sobre o meioambiente fez aflorar a discusso sobre a necessidade da realizao de amplosdiagnsticos que permitam compreender a lgica e a dinmica dos sistemasagrrios e dos sistemas de produo adotados nas diferentes regies do Pas,visando ao estabelecimento de padres e, conseqentemente, de indicadorespara medir a sustentabilidade da agricultura (BEZERRA; BURSZTYN, 2000).Assim, no contexto da agricultura, pode-se propor como definio para oindicador de sustentabilidade, a partir de vrias definies existentes(MARZALL, 1999; CAMINO; MLLER, 1993; OECD, 2000): instrumento queevidencia mudanas que ocorrem no sistema em funo da ao humana, quepermita a obteno de informaes por meio de medidas simples e sintticassobre fatores essenciais de sistemas complexos. Essa definio pressupeque a ao antrpica provoca mudanas nos sistemas agrrios e que essasmudanas podem ser positivas ou negativas. Para avaliar tais mudanas, osindicadores tm de ter a capacidade essencial de ser simples, ou seja, de, aofornecer uma informao1, permitir imediata compreenso da situao em

    1 Essa informao precisa ser sinttica, ou seja, poder reunir em um nico dado ou medida todo o conhecimentonecessrio sobre aquele aspecto da realidade.

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    anlise. A capacidade de perceber as inter-relaes entre diferentes dimensesda realidade ser tanto maior quanto mais harmoniosa for a combinao dosdiferentes indicadores em um nico conjunto.

    Na anlise da efetividade dos indicadores no se pode perder de vista que oobjetivo a agricultura sustentvel. No que diz respeito a indicadores para aagricultura, fundamental compreender e considerar algumas caractersticasque fazem dessa uma atividade diferente de outras. Por sua natureza biofsica,a agricultura faz parte dos ecossistemas locais e, evidentemente, ao procurartransformar a natureza, o homem, por meio da atividade agrcola, introduzno sistema elementos exteriores, utiliza recursos naturais e produz novoselementos fsicos e biolgicos. Dessa forma, so necessrias informaesdetalhadas para caracterizar a utilizao de fatores de produo (produtosqumicos, energia e gua), o uso do solo (prticas culturais e pecurias) e aprpria gesto da explorao agrcola. Isso faz com que a agriculturasustentvel seja produto de uma combinao muito especfica e adaptada scondies locais. Diferentemente de outros setores, na agricultura ainterveno pblica direta mais a norma do que a exceo, o que torna aatividade especialmente sensvel a alteraes polticas. Outra caractersticada agricultura a influncia, cada vez maior, das atitudes dos consumidoressobre o mercado e, conseqentemente, sobre as prticas agrcolas. A evoluodessas atitudes tem grande impacto na forma de produo, estimulando, porexemplo, um mercado diferenciado para produtos biolgicos (EC, 2000).

    Os recursos naturais mais afetados pela agricultura so a biodiversidade,principalmente pelo desmatamento, a gua e o solo. Por serem esses osrecursos naturais que sofrem maiores impactos, h uma srie de trabalhosque privilegiam esses recursos para a anlise. Para o solo e a sua relao coma gua j existem trabalhos de construo de instrumentos de avaliao dasustentabilidade por meio de sistemas que permitem orientar o uso e o manejodo solo agrcola, tendo em vista sua sustentabilidade (KESSLER, 1994;DAGOSTINI; SCHLINDWEIN, 1998; LAL, 1999; DI PIETRO, 2001). Outrosmodelos, principalmente baseados em tcnicas de programao linear,simulam dados sobre a realidade para avaliar a sustentabilidade(STOORVOGEL et al., 1997; PACINI et al., 1998; PANNELL; GLENN, 2000;CORNELISSEN et al., 2001).

    Todavia, no caso do solo, um dos principais recursos afetados pela atividadeagrcola, ao analisarem os fatores envolvidos com o estabelecimento de nveisde tolerncia eroso, Sparovek e De Maria (2003) reconhecem quecompreender por que os agricultores no as adotam mais importante doque saber as formas de combater a eroso. De fato, os modelos preditivos deeroso, que revelam como os cientistas compreendem a eroso, so eficientes

  • 37Parte 1|Introduo

    para medi-la numa escala em que no percebida pelos agricultores. Dessaforma, pelo uso desses modelos, pouco se pode avanar na direo de umcontrole efetivo da eroso. Como, em ltima instncia, so os agricultoresque decidem sobre a utilizao dessas prticas, os autores sugerem que eladeve ser a melhor escala para a pesquisa sobre tolerncia eroso(SPAROVEK; DE MARIA, 2003). Pat Mooney (2002), ao analisar esse momento,incio do sculo 21, utiliza o conceito de eroso no apenas para caracterizaro que est se passando em relao aos solos, mas trata da eroso gentica,ambiental, cultural e at da tica. O mesmo raciocnio poderia serdesenvolvido em relao prpria sustentabilidade.

    A anlise da qualidade ambiental pressupe uma percepo do ambiente, namesma medida que a forma do indivduo agir no ambiente depende da formacomo ele o percebe. Ao perceber determinado ambiente, o indivduo interpretaseus estmulos e, nessa interpretao, esto envolvidas as aprendizagens eas experincias vivenciadas. Nesse sentido, a avaliao da qualidade ambientalnecessita da aplicao de metodologias que avaliem o ambiente da forma comoele percebido pelas pessoas a ele relacionado. Esse processo envolve diversoscomportamentos humanos, seja afetivos, perceptivos ou cognitivos porqueexiste verdadeira interao homem-ambiente, ou seja, ocorrem reaes doambiente presena do homem e, simultaneamente, aes e reaes do homemsobre o ambiente (DENT et al., 1995; BASSANI, 2001).

    Dessa forma, a anlise da sustentabilidade, em suas diferentes dimenses,poderia partir das prprias informaes dos agricultores que, ao expressaremas suas percepes sobre as variveis, estariam fornecendo a base para aconstruo de indicadores de sustentabilidade.

    Os indicadores podem ser estabelecidos visando analisar todo o processo deproduo ou privilegiar determinadas etapas incorporando, tambm, oprocesso de agroindustrializao, principalmente quando se d em pequenaescala em agroindstrias familiares. Nessa escala de anlise, devem-seconsiderar os diferentes tipos de produtos processados e os seus possveisimpactos ao ambiente, tanto na fase da produo agrcola como na fase daproduo industrial. Esse conjunto de indicadores deve passar por umaavaliao e redefinio, pois sua efetividade depende da sua adaptao ssituaes concretas da realidade (TAVARES; BURSZTYN, 2002).

    Para permitir a efetiva avaliao das polticas rurais, os indicadores devemrefletir as caractersticas locais especficas. Indicadores que no sejamespecficos do local podem ser mais facilmente disponveis, mas podem dizermuito pouco sobre os efeitos em escala local ou regional. Por exemplo, emborase disponha de uma srie de informaes sobre o impacto da agricultura nosrecursos naturais, muitas delas baseiam-se em estimativas e em modelagem

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    e no na agregao de informaes locais. necessrio que se estabeleam elosclaros entre os nveis local e global, para que a avaliao da agricultura possasitu-la corretamente na sua interao com os demais setores da economia e nocontexto global da poluio (EC, 2000).

    Assim, os indicadores devem contribuir para a compreenso das relaesexistentes entre as questes agrcolas, sociais e ambientais, mostrar a evoluoao longo do tempo e fornecer informaes para a tomada de deciso, retratandoos processos subjacentes e as relaes existentes entre a atividade humana e omeio ambiente. Essas interaes so complexas e a prpria atividade agrcolaimplica uma srie de processos biofsicos, muitos deles especficos do local ondeocorrem.

    Finalmente, Hammond e colaboradores (1996) chamam a ateno para o fato deque, mesmo depois que a questo ambiental passou a fazer parte das preocupaesinternacionais, pouca coisa mudou em termos da considerao desse tema naspolticas nacionais. Tais autores argumentam que essa situao pode ser alteradaa partir do momento que a formulao e a utilizao de indicadores, querepresentem de forma adequada as presses sofridas pelo meio ambiente, possampassar a influenciar as decises polticas nacionais e internacionais.

    Agricultura edesenvolvimento

    A impossibilidade de dissociar o trabalho humano da natureza, sobretudo nabusca do suprimento de alimentos para uma populao crescente, fez comque, atravs da histria, se intensificasse a explorao da superfcie do Planeta(POLANYI, 1988). A primeira e, sem dvida, a mais importante forma deutilizao dos recursos da natureza e ocupao do ambiente por todas associedades humanas a agricultura. Se, historicamente, ela foi capaz deproduzir alimentos para uma comunidade sempre crescente (RIBEIRO, 1975),foi e continua sendo uma das mais importantes geradoras de impactos aoambiente (CHIRAS, 1995; WHITE JUNIOR, 1997). Ao mesmo tempo, o setoragrcola , por suas caractersticas, campo propcio para o esforo deintegrao da idia de sustentabilidade ecolgica com aquela de crescimentoeconmico socialmente desejvel (ROMEIRO, 1998a).

    A atual situao da agricultura nacional foi influenciada pelos condicionantespolticos e econmicos expressos nas polticas pblicas que conduziram oBrasil a determinado modelo de desenvolvimento, cujo reflexo deu origem modernizao da agricultura brasileira. Todavia, esse padro de desen-

  • 39Parte 1|Introduo

    volvimento agrcola provoca graves impactos sobre o meio ambiente e tambmnas relaes de trabalho no campo e, em virtude da magnitude de tais impactosnegativos, prosperou o debate sobre a construo de alternativas que, nombito da busca do desenvolvimento sustentvel para a agricultura, tem-sedefinido como agricultura sustentvel. O momento impe, particularmenteaos pases latino-americanos, a busca de novos modelos de desenvolvimentoque devero estar voltados para a economia dos recursos no-renovveis epara a reduo do desperdcio (FURTADO, 1999).

    O papel que o Estado deve desempenhar no processo de desenvolvimento um dos temas mais debatidos na teoria do desenvolvimento, especialmentehoje, no advento do processo de globalizao. Ao longo da histria, alternam-se momentos nos quais predominam ora a viso dos economistas clssicos,defendendo que a economia deve se auto-regular sem qualquer intervenodo Estado, ora os que compreendem ser necessria a sua interveno, podendoesta variar de intensidade desde a regulao absoluta, excluindo o mercado,at intervenes menos drsticas.

    Para compreender o papel das polticas pblicas no desenvolvimento e,particularmente, na promoo da agricultura, necessrio, de um lado, analisarcomo se caracteriza o momento atual da globalizao e, de outro, considerar,historicamente, como se instituram as polticas pblicas nos Estados modernos.Para Gorender (1997), a globalizao uma evoluo natural do processo deinternacionalizao, configurando-se como a caracterstica mundial docapitalismo. Suas atuais caractersticas devem-se, principalmente, recenterevoluo tecnolgica, sobretudo na informtica e nas telecomunicaes.A globalizao pode, tambm, ser caracterizada como um processo segundo oqual as decises, nos campos mais distintos, so tomadas em tempo real e,simultaneamente, em todo o Planeta (CASTELLS, 1998).

    Evidencia-se, na atual fase da globalizao, mais do que em outros momentosda histria da humanidade, a total interdependncia entre os EstadosNacionais. Esse fato faz com que se aguce a dicotomia entre a integrao aosmercados mundiais, com os seus processos econmicos globais, e a defesa deprojetos nacionais autocentrados. Entre esses dois plos gravitam as formasde interveno do Estado-Nao. Considerando que o Estado tem como umade suas funes bsicas regular as relaes entre os agentes do sistemaeconmico-social, o processo de interveno na economia se inicia desde acriao do Estado moderno. No campo das polticas sociais, a crescenteinterveno dos Estados, a partir do final do sculo 19, configura, espe-cialmente nos pases desenvolvidos, o Estado de Bem-Estar Social ou

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    Estado-Providncia, que assumiu as aes de educao, sade e previdnciasocial (BURSZTYN, 1998; ROSANVALLON, 1997). Mas, enquanto no mundodesenvolvido a estratgia era o Estado de Bem-Estar Social, caracterizadocomo uma ampla rede de proteo ao indivduo, nos pases menosdesenvolvidos delegou-se ao Estado a tarefa de promover o desenvolvimento(CARVALHO, 1998).

    O Estado-Providncia enfrentou um momento de crise a partir de meadosdos anos de 1970, vez que as despesas com o sistema de proteo socialcresceram mais do que as receitas dos governos (ROSANVALLON, 1997). Nofinal da dcada, a partir de uma crise econmica mundial, ressurgiram,principalmente nos pases desenvolvidos, as idias liberais, atribuindo osproblemas da economia mundial interveno do Estado. Assim, o EstadoMnimo passou a ser a estratgia para que as naes alcanassem seudesenvolvimento. Sob a inspirao da ideologia neoliberal, difundiu-se a idiada necessidade de reforma, para a qual deveriam ser utilizados instrumentoscomo a privatizao, o ajuste fiscal, a desregulamentao e a liberalizaocomercial. Nesse contexto, Asa Laurell (1997) analisa o surgimento doneoliberalismo e sua argumentao de que o mercado o melhor mecanismoregulador dos recursos econmicos e da satisfao dos indivduos.

    Mas, independentemente da abrangncia da conceituao de globalizao eda discusso se o Estado deve, ou no, intervir na economia, o fato concreto que, em maior ou menor grau, efetivamente, todos os Estados Nacionaisintervm em suas respectivas economias visando melhor instrumentaliz-las para a competio internacional. Para a agricultura, os pasesdesenvolvidos sempre estabeleceram polticas pblicas especficas queincluam subsdios e transferncias. E esse padro se manteve, mesmo nadcada de 1980, perodo de maior esforo no sentido de reduzir o papel doEstado. Na verdade, tanto nos Estados Unidos da Amrica como nos pasesda Unio Europia, houve tendncia de aumento das despesas oramentriascom o setor agrcola. Essa, sem dvida, uma diferena marcante na formacomo o neoliberalismo atingiu os pases; enquanto nos em desenvolvimento,como o Brasil, a regra foi a ausncia de polticas para o setor, nos pasesdesenvolvidos esse foi o perodo de maior crescimento do subsdio exportaoagrcola (CARVALHO, 1998). Romeiro (1999) destaca que, nos pases do Norte,polticas protecionistas e de subsdios continuam a ser implantadas no maiscom o objetivo de gerar o mximo possvel de excedentes, mas com mltiplasfunes como proteger ecossistemas, a paisagem agrcola, produzir alimentossem resduos e garantir o emprego rural.

    Com a introduo da problemtica ambiental nas agendas dos governos,observa-se uma aparente contradio. Ao mesmo tempo que o discurso

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    neoliberal define como necessria a diminuio do tamanho do aparelhoestatal, por meio, principalmente, de privatizaes, os governos, inclusive doBrasil, criam uma nova estrutura institucional pblica voltada para promovere monitorar o meio ambiente. Bresser Pereira (1997), ao formular as bases dareforma do Estado brasileiro, estabeleceu quais seriam as atividadesexclusivas do prprio Estado, entre as quais a de defesa do meio ambiente.Entre as polticas de carter regulamentador, ainda exclusivas e essenciaisdo Estado, o autor cita as polticas agrcolas e de controle ambiental, cujacomplexidade demandaria uma combinao de ideais de maior eficincia emelhor distribuio de renda. Esse modelo no uma novidade brasileira, naverdade, um padro adotado em vrios pases, que compreende duasvertentes: o estabelecimento de um arcabouo legal e a criao de umaestrutura burocrtica especfica voltada para fiscalizar e proteger o meioambiente (BURSZTYN, 1994), em outras palavras, fazer a gesto ambiental.

    O desafio de conciliar desenvolvimento, no sentido econmico, com gestoecolgica dos recursos ambientais, deve romper com referenciais que atendamapenas lgica produtivista da racionalidade econmica. Assim como naproduo essencial contrapor a qualidade ambiental aos critrios deprodutividade, tambm nas polticas pblicas fundamental que os padresutilizados como medida de desempenho sejam ponderados pela natureza doobjeto das instituies ambientais, bem como pelos contextos em que asreferidas instituies operem (BURZSTYN, 1994). A necessidade de polticaspblicas especficas para o setor rural, que contemplem a problemticaambiental, leva, necessariamente, discusso do modelo agrcola. No caso doBrasil, a modernizao da agropecuria, modelo adotado para odesenvolvimento do setor rural nos pases em desenvolvimento, foi possvela partir de um conjunto de polticas pblicas voltadas para a transformaodas bases tcnicas dos estabelecimentos agrcolas, articulando-os aos setoresindustriais produtores de insumos.

    Processo demodernizaoda agricultura

    Nos pases europeus, a partir da Segunda Grande Guerra, evidencia-se anecessidade de fazer com que a agricultura proporcione auto-suficinciaalimentar. Nesse sentido, um marco fundamental foi a implantao da Poltica

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    Agrcola Comum (PAC) a partir da dcada de 1960, que levou rpidamodernizao da agricultura e auto-suficincia em vrios produtos. No finalda dcada de 1970, de importadora de alimentos, a Europa j se transformaraem exportadora no mercado internacional (BAZIN, 1996).

    Nos pases em desenvolvimento o papel atribudo agricultura era o de darsustentao ao desenvolvimento do setor industrial, o que, no caso do Brasil,resultou na perda de competitividade no mercado internacional dos produtosagrcolas at a dcada de 1960. A interveno do Estado para promover,especificamente, o desenvolvimento do meio rural, se deu a partir do finaldessa dcada e, principalmente, durante a dcada de 1970, por meio daimplantao de um conjunto de instituies e polticas que viabilizassem oprocesso de modernizao da agricultura, parte da transformao pela qualpassava o Brasil naquele perodo. Nesse sentido, a intensificao do empregode mquinas e insumos estava associada constituio de importante setorindustrial produtor de meios de produo para a agricultura, cujo empregoera viabilizado por um conjunto de polticas pblicas: crdito rural, pesquisaagrcola, extenso rural, seguro agrcola e preos mnimos. Essas polticasserviram de instrumentos viabilizadores da adoo do que ficou conhecidocomo pacote tecnolgico (AGUIAR, 1986), mudana que visavainstrumentalizar a agricultura para o desenvolvimento econmico, na medidaque atendesse s funes de: a) produzir alimentos a baixos preos para ascidades; b) liberar mo-de-obra para a indstria; c) fornecer recursos para aformao de capital; d) abrir mercado consumidor para produtos industriais;e produzir excedentes para a exportao (CARVALHO, 1998).

    Esse modelo, com base na mecanizao, no melhoramento gentico, no uso deadubos qumicos e de agrotxicos, foi implantado em vrios pases emdesenvolvimento e, efetivamente, proporcionou rpido aumento da produo eda produtividade, sendo denominado Revoluo Verde. No Brasil tambm foidenominado modernizao conservadora (MARTINE, 1991; SILVA, 1996; 1999).

    A anlise das polticas pblicas brasileiras da dcada de 1980 revela que houvecoerncia entre as polticas macroeconmicas e aquelas direcionadasespecificamente para o setor agrcola, proporcionando crescimento daeconomia mesmo durante os perodos de recesso. Dessa forma, a agriculturaserviu de amortecedor da crise.

    Carneiro (1993), analisando as dcadas de 1970 e 1980, constata que, na segundametade dos anos de 1970 j se consolidara, na agricultura brasileira, um padrode modernizao e de insero no comrcio internacional que se projetariapara os anos de 1980. Ao mesmo tempo, os investimentos feitos na pesquisa ena extenso rural foram altamente rentveis, sendo os instrumentos quemelhor explicam o dinamismo da agricultura nacional na dcada de 1980

  • 43Parte 1|Introduo

    (GOLDIN; REZENDE, 1993). Como conseqncia, na segunda metade dessadcada, o coeficiente exportador da agricultura evoluiu de modo geral, enquantoo setor industrial estagnava. Como conseqncia das polticas de crdito e depreos mnimos, a agricultura manteve no s a tendncia de crescimento dadcada anterior como apresentou ganhos expressivos de produtividade daslavouras mais importantes.

    Todavia, a modernizao da agricultura, promovida a partir da dcada de 1960nos pases em desenvolvimento, com a utilizao de tecnologias intensivas eminsumos, aconteceu em muitas regies sem a distribuio da terra. Com isso,foram beneficiados os grandes proprietrios, em detrimento dos agricultoresmais pobres e do meio ambiente. Configura-se, assim, uma crise agrcola-ecolgica, revelando que as polticas de promoo da chamada Revoluo Verdeforam incapazes de promover desenvolvimento equnime e sustentvel(ALTIERI, 1998). Particularmente para os pequenos agricultores, a adoo dessemodelo tecnolgico de utilizao macia de insumos modernos representou oaprisionamento a uma espiral de custos e de degradao ambiental. Para manteros rendimentos, foi necessrio aplicar doses crescentes de agroqumicos emvirtude da degradao dos solos e do aumento da infestao de pragas, e,conseqentemente, a sade humana e a qualidade dos alimentos foram afetadas(REIJNTJES et al., 1999).

    A promoo do modelo da Revoluo Verde, pela adoo de polticas agrcolasque visem ao aumento da produo, desconsiderando, de forma direta, o ambiente,traz como conseqncia a degradao da base de recursos naturais e ainviabilizao econmica dos sistemas agrcolas de produo. Entre os inmerosexemplos desses efeitos podem-se citar: eroso e acidificao dos solos,desflorestamento e desertificao, desperdcio e poluio da gua (CMMAD, 1991;QUIRINO; ABREU, 2000). Surge, ento, a conscincia sobre a necessidade dodesenvolvimento de novos mtodos de produo agropecuria, sustentveis, quevenham reduzir os impactos ambientais e assegurar a produo de alimentosisentos de resduos (CONWAY, 1998; ALMEIDA et al., 2001).

    A busca dasustentabilidadeda agricultura

    O desenvolvimento sustentvel deve ser entendido como um estado ouprocesso social que est presente quando os males inter-relacionados do

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    subdesenvolvimento (pobreza, doena, ignorncia, alta mortalidade infantil,baixa expectativa de vida, baixa produtividade e precrias instalaes mdicase educacionais) so reduzidos ou evitados e substitudos pela sade,alfabetizao, baixa mortalidade infantil, alta expectativa de vida, altaprodutividade, boas instalaes mdicas e educacionais e prosperidadesuficiente que afastem definitivamente os males do subdesenvolvimento(ATTFIELD, 1999). Em contrapartida, naquelas sociedades maisdesenvolvidas e industrializadas, o desenvolvimento sustentvel deverdirecionar a ao para a racionalizao do consumo que representa a reduoda utilizao das fontes no-renovveis de energia, de forma que seu estilode vida torne-se compatvel com os recursos naturais disponveis.

    A sustentabilidade s ser realidade se no for estabelecida apenas em algunspases. No h possibilidade de haver sustentabilidade nacional ou regional.Mais uma vez, os reflexos de aes locais tero repercusso global e s asustentabilidade global permitir que sustentabilidades locais sedesenvolvam. Na escala planetria no existem meias sustentabilidades; outodos se comprometem ou ela no se efetiva. Para Attfield (1999), o fato de oconceito de sustentabilidade proposto pela CMMAD relacionar asustentabilidade s futuras geraes estava relacionado ao fato de as reservasde energias no-renovveis conhecidas, particularmente de petrleo, teremum horizonte de utilizao de, no mximo, duas geraes (50 anos). Por isso,era necessrio que, dentro desse limiar de tempo, o uso de energia se reduzissee que, ao mesmo tempo, fossem alcanados maiores nveis de eficinciaenergtica e ampliado o uso de fontes de energias renovveis para que,simultaneamente, pudesse haver aumento no consumo do Terceiro Mundo,que permitisse maior qualidade de vida para a populao.

    O estabelecimento de um novo padro produtivo que promova a incluso social,que proporcione melhores condies econmicas para os agricultores, queproduza alimentos isentos de resduos qumicos, que no degrade o ambientee que mantenha as caractersticas dos agroecossistemas por longos perodos, necessidade urgente para superar o modelo da Revoluo Verde. Em tornodesse eixo, dezenas de movimentos e prticas agrcolas tm sido desenvolvidas,na busca de uma agricultura sustentvel (YUNLONG; SMIT, 1994; EHLERS,1995; ALMEIDA, 1998; RIGBY; CCERES, 2001), cuja definio pressupe oreconhecimento de que necessrio mudar o modelo de agricultura,incorporando a preocupao com o meio ambiente (FARSHAD; ZINCK, 1993;HANSEN, 1996).

    Ehlers (1996) considera que a agricultura sustentvel dever constituir umnovo padro tecnolgico que combine prticas convencionais e alternativas.A noo de sustentabilidade aplicada agricultura permite a identificao

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    de trs grandes grupos de sistemas de produo: o primeiro orientado parao mercado; o segundo abrange o que tem sido chamado de produointegrada; e o terceiro orientado para o ecossistema. Na realidade rural,esses sistemas apresentam-se de forma difusa indo do presente para um futurodesejvel, representando a expresso de duas foras: de um lado a lgica daintegrao ao mercado, de outro, a lgica da reproduo ecolgica. O modeloorientado para o mercado ainda hegemnico na maioria dos pases e aexpresso do imperativo de atender a demanda do mercado, tendo como metao aumento ilimitado da produo e da produtividade, em que os desequilbriossocioeconmicos, a degradao dos recursos naturais e os impactos ambientaisno sejam considerados parte do sistema e, portanto, no sejam computados.A produo integrada seria um sistema intermedirio medida querepresentasse um compromisso imediato ou momentneo entre os interessessocioeconmicos e os interesses socioecolgicos. A agricultura orientada parao ecossistema projeta-se para o longo prazo, pensando uma soluo global eduradoura para a crise agrcola (BILLAUD, 1995). Esses diferentes sistemasrefletem, tambm, variadas interpretaes dadas ao que deve sersustentabilidade. Obviamente, se o que se pretende para a agricultura nofuturo a incorporao da noo de sustentabilidade, esta se expressa nosegundo e, principalmente, no terceiro grupo.

    A idia de sustentabilidade da agricultura, como uma das questes-chave naproblemtica do meio ambiente, revela a crescente insatisfao com o statusquo da agricultura moderna. Indica o desejo social de um modelo de produoque, simultaneamente, conserve os recursos naturais e fornea produtosisentos de resduos. Resulta, portanto, de emergentes presses sociais poruma agricultura que no afete negativamente o meio ambiente e a sade deprodutores e consumidores (BRASIL, 1999).

    Na natureza, diversidade sinnimo de estabilidade. Quanto maissimplificado for um determinado ecossistema, maior a necessidade de fontesexgenas de energia para manter o seu equilbrio. Um ecossistema agrcolaimplica forosamente a simplificao do ecossistema original. Por essa razo necessrio que o homem intervenha permanentemente para mant-lo estvel(ROMEIRO, 1998b).

    Para Carrieri e Monteiro (1996), no atual momento da agricultura brasileiraesto em disputa dois modelos. Um, cujo smbolo a biotecnologia, buscaria,superar os gargalos mais evidentes do atual regime tecnolgico. O outro, oda agricultura sustentvel, buscaria assentar e manter o homem no campo,como sujeito, resultando na implantao de um padro tecnolgico diferentedo atual, isso porque uma caracterstica intrnseca de um padro de agri-cultura sustentvel o uso intensivo de mo-de-obra, sendo capaz de fixarmaior c