utilizaÇÃo de trabalho em condiÇÕes anÁlogas À …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO ASSOCIADA COM A PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS NO BRASIL E NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE ÁLIER ADLAR AQUINO DE OLIVEIRA NATAL/RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES

ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO ASSOCIADA COM A

PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS

NO BRASIL E NO ESTADO DO RIO GRANDE DO

NORTE

ÁLIER ADLAR AQUINO DE OLIVEIRA

NATAL/RN

2018

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ÁLIER ADLAR AQUINO DE OLIVEIRA

UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES

ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO NA PRODUÇÃO E

PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS NO BRASIL E

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito final para obtenção do grau de Nutricionista.

Orientadora: Prof.ª Drª Michelle Cristine Medeiros Jacob

NATAL-RN

2018

ÁLIER ADLAR AQUINO DE OLIVEIRA

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UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES

ANÁLOGAS À ESCRAVIDÃO NA PRODUÇÃO E

PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS NO BRASIL E

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito final para obtenção do grau de

Nutricionista.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Michelle Cristine Medeiros Jacob

Orientadora

Dr. Elias Jacob de Menezes Neto

2º membro

Me. Viviany Moura Chaves

3º membro

Natal, 11 de junho de 2018.

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RESUMO

Um sistema alimentar sustentável é aquele que fornece segurança alimentar e nutricional

para todos seus atores. A que condições de trabalho estão submetidos aqueles que

produzem e processam os alimentos que consumimos? O objetivo deste estudo foi

analisar o trabalho em condições análogas à escravidão na produção e processamento de

alimentos entre 2014 e 2016 no Brasil e no estado do Rio Grande do Norte. É um estudo

descritivo quantitativo que buscou observar a frequência de eventos relacionados às

condições análogas à escravidão no Brasil, com base na Lista Suja, fruto de auditorias do

Ministério do Trabalho e Emprego, e no Rio Grande do Norte, a partir do relatório das

denúncias apuradas pela Procuradoria Regional do Trabalho da 21ª região. No Brasil, das

250 autuações, 124 (49,6%) eram relacionadas a produção de alimentos, sendo a região

mais afetada a região Norte e o alimento alvo a carne bovina. Das 32 denúncias no Rio

Grande do Norte, 8 (25,0%) eram relacionadas a alimentos, sobretudo de origem animal.

Sugere-se que, além de maior aplicação de recursos governamentais para fiscalização,

haja divulgação nos meios acadêmicos e em ações de Educação Alimentar e Nutricional

sobre o tema, com o fim de gerar análises que apoiem ações públicas visando a construção

de sistemas alimentares de base sustentável e saudável para todos.

Palavras-chave: Escravidão; Produção de alimentos; Segurança Alimentar e Nutricional.

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ABSTRACT

A sustainable food system is one that provides food and nutritional security for all its agents.

What are the working conditions of those who produce and process the foods that we consume?

The objective of this study was to analyze and work in conditions analogous to food production

and processing between 2014 and 2016 in Brazil and the state of Rio Grande do Norte. This is

a quantitative descriptive study that observed the frequency of these activities in the country

from the “Lista Suja”, Ministry of Labor, and in Rio Grande do Norte from a report by Regional

Labor Prosecutor's Office of the 21st Region. In Brazil, of the 250 assessments, 124 (49.6%)

were related to food production, being North the region more affected and the beef the target

food. Of the 32 complaints in Rio Grande do Norte, 8 (25.0%) were related to food, mainly of

animal origin. It is suggested, in addition to greater application of resources for inspection, the

dissemination in the academic circles and in actions of Food and Nutrition Education on the

subject, in order to generate results that support the public actions towards a structure of

sustainable food systems and healthy for all.

Keywords: slavery; food production; food and nutrition security

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SUMÁRIO

Apresentação .............................................................................................................. 7 Introdução .................................................................................................................. 8 Métodos ......................................................................................................................10

Tipo da pesquisa ......................................................................................................10 Seleção do corpus da pesquisa .................................................................................10 Análise de dados ......................................................................................................11

Considerações finais ..................................................................................................25 Referências .................................................................................................................26 Anexos ........................................................................................................................32

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Apresentação

Este trabalho de conclusão de curso é resultado de uma pesquisa com fins

acadêmicos no âmbito da Nutrição e da Saúde Coletiva. A reflexão a respeito das

condições de trabalho associadas à produção e processamento de alimentos, é condição

para promoção de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis para todos, os que

produzem e consomem alimentos.

No Brasil, alguns autores apontam que esse setor conta com um

envolvimento direto com condições análogas à escravidão. Além de ferirem o princípio

da dignidade da pessoa humana, tais condições de trabalho, constituem-se também em

uma questão de Saúde Pública, pois despertam riscos ocupacionais de ordens psíquicas e

físicas nos trabalhadores ligados ao setor de produção e processamento de alimentos.

O presente estudo ainda expõe questões históricas e culturais que

circundam a problemática. Além disso, aponta quais alimentos estão relacionados com

denúncias dessa natureza, alertando sobre a necessidade de maior aplicação de recursos

governamentais para fiscalização, e da Nutrição, em promover ações de Educação

Alimentar e Nutricional que possam alertar os diversos atores do sistema alimentar sobre

esses fatos.

Este trabalho de conclusão de curso, defendido na forma de artigo, será

submetido após as considerações da banca ao periódico Ciência & Saúde Coletiva. Por

isso, encontra-se formatado já nas normas desta revista, que podem ser visualizadas no

anexo deste texto (Anexo 1).

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Introdução

A produção de alimentos no mundo enfrenta um momento crítico. O

aumento populacional e a crescente exploração de recursos naturais trazem e continuarão

trazendo desafios para a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) nas próximas

décadas.(1) A agropecuária, por exemplo, imprime grande peso sobre os recursos naturais

e seus efeitos incluem mudanças climáticas, perda de biodiversidade e degradação de

terras e águas. Produzir alimentos, portanto, traz grandes custos ao meio ambiente. Sobre

este tópico há acordos e uma série de esforços sendo feitos no sentido de pensar

tecnologias de produção que sejam mais sustentáveis. (2)

Um sistema alimentar sustentável é aquele que fornece SAN, ou seja,

permite a todos o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade

suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais, com base na promoção da

saúde, respeitando a diversidade cultural e sendo ambiental, cultural, econômico e

socialmente sustentável ao longo de gerações. (3)

Um sistema alimentar seguro e socialmente sustentável, por exemplo, deve

respeitar, proteger, promover e prover o direito à qualidade de vida, justo acesso à terra e

meios de produção, equidade, direitos trabalhistas, segurança, saúde humana e

desenvolvimento cultural não apenas daqueles que consomem alimentos, mas também

daqueles que o produzem. A ausência de qualquer tipo de relações de trabalho ilegais,

tais como aquelas análogas à escravidão deve ser característica de sistemas alimentares

dessa natureza.(4)

O Artigo 149 do Código Penal Brasileiro define cinco os elementos que

configuram a condição análoga a de escravo no trabalho: trabalho forçado ou jornada

exaustiva, condições degradantes, restrição da liberdade por dívida contraída, cerceio do

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uso de meios de transporte e, ainda, vigilância ostensiva no local de trabalho ou posse de

documentos ou objetos pessoais do trabalhador. A Organização Internacional do Trabalho

estimou em 2012 que 20,9 milhões de pessoas estavam submetidas a esse tipo de trabalho.

(5)

Este é um tema que merece ser mais problematizado no campo da Saúde

Pública, pois além de ferir o princípio da dignidade da pessoa humana, encontra-se

relacionado a riscos ocupacionais de ordens psíquicas e físicas nos trabalhadores ligados

ao setor de produção e processamento de alimentos, sendo esses um dos principais canais

pelos quais os sistemas alimentares impactam na saúde humana.(6) Há certa

invisibilidade dos problemas de saúde ocasionados nestes contextos, tais como:

sentimentos intensos de insegurança, transtornos mentais e comportamentais, estresse

pós-traumático, alto consumo de drogas, lesões físicas e traumatismos derivados de

acidentes.(7)

As condições sociais de trabalhadores que produzem alimentos, no âmbito

da discussão contemporânea sobre a produção de sistemas alimentares sustentáveis, ainda

é insipiente.(8) Impactos na saúde de trabalhadores envolvidos na produção de alimentos,

exposição a pesticidas, lesões na linha de produção, estresse, aliados à invisibilidade

desses sujeitos fazem com que esses problemas continuem os atingindo.(6)

Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar o trabalho em condições

análogas à escravidão na produção e processamento de alimentos entre 2014 e 2016 no

Brasil e no estado do Rio Grande do Norte (RN).

Com este fim, neste artigo serão apresentados os métodos traçados para

atingir este objetivo, bem como os resultados, estruturados para responder às seguintes

questões: Qual a frequência denúncias relacionadas especificamente à produção e

processamento de alimentos? Que região brasileira e tipo de alimento que se relacionam

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com o maior número de eventos? Quais os procedimentos instaurados pela Procuradoria

Regional do Trabalho da 21ª região, no caso das denúncias do RN? Por fim, o trabalho

aponta alguns desdobramentos destes resultados para a área da Saúde Pública.

Métodos

Tipo da pesquisa

Trata-se de um estudo descritivo quantitativo. Estudos descritivos

objetivam descrever os fatos e fenômenos de uma realidade. São exemplos de pesquisas

descritivas: estudos de caso, análise documental, entre outras. A pesquisa quantitativa é

caracterizada pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de

informações quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas.(9)

Seleção do corpus da pesquisa

Os materiais utilizados como corpus desta pesquisa foram: 1 - a Lista de

Transparência sobre Trabalho Escravo Contemporâneo no Brasil, fornecida pelo

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na qual constam os empregadores que foram

auditados e autuados entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016 e 2- o Relatório de

trabalho escravo no RN, fornecido pela Procuradoria Regional do Trabalho da 21a

Região (PRT21) –, no mesmo período. O RN foi selecionado por critério de conveniência

dos pesquisadores. Em ambos os casos, os dados foram solicitados com base na Lei nº

12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à informação), que permite a qualquer

pessoa requerer e receber informações de toda a administração direta e indireta nas três

esferas de todos os Poderes da República (Executivo, Legislativo, Judiciário)

Na lista do MTE, há informações relativas a 250 empregadores onde foi

constatada a submissão de trabalhadores em condições análogas à escravidão (Anexo 2).

Constam, ainda, como informações: indicação do ano da ação fiscalizadora, UF, nome e

CPF/CNPJ dos autuados, estabelecimento fiscalizado, quantidade de trabalhadores

envolvidos, classificação nacional de atividades econômicas (CNAE) (quando

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disponível), data de irrecorribilidade (trânsito em julgado administrativo) das decisões

finais dos autos de infração lavrados, cuja validade não tenha sido suspensa ou afastada

por decisão judicial.

No relatório da Procuradoria Regional do Trabalho da 21a Região há

informações de 27 processos de empregadores do RN a partir das 32 denúncias realizadas

(Anexo 3). Contam como informações no documento fornecido: o número do inquérito, o

denunciado, o denunciante e a acusação. Além disso, os 27 processos foram fornecidos

na íntegra no formato digital. Com fundamento Art. 7º, § 2º da Lei 12.527/11, foram

excluídos pela PRT21 os processos administrativos que tiveram sigilo decretado por

ordem da autoridade competente.

Análise de dados

Com fins de atingir o objetivo proposto neste trabalho, foram levantadas

informações sobre a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), versão

2.0, de todos os estabelecimentos auditados e denunciados, por meio da página eletrônica

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e, na sequência, foram

selecionados aqueles que desenvolviam atividade econômica relacionada à produção ou

processamento de alimentos, respectivamente dispostos nas seções A (Agricultura,

Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura), C (Indústrias de transformação) e I

(Alojamento e Alimentação) da classificação.

Na sequência, a partir da Lista do MTE os eventos relacionados com

alimentos foram organizados com bases em duas classificações: pelas regiões brasileiras

onde se localizam os estabelecimentos e pelo tipo de alimento, sejam eles de origem

animal, vegetal, mineral ou processados (tais como biscoitos e massas) e refeições

(lanches, almoço, dentre outros).

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12

A situação do RN teve um enfoque de análise, tanto com base nos dados

da lista do MTE, como com base nos dados das denúncias apontadas no relatório

da PRT21, com a finalidade de destacar o papel do Ministério Público do Trabalho (MPT)

no combate ao problema do trabalho escravo, a partir dos desfechos de cada processo.

Resultados e discussão

A missão institucional do MTE o é promover o desenvolvimento da

cidadania nas relações de trabalho, executando ações de excelência mirando a justiça

social. É seu papel fiscalizar o cumprimento das normas de proteção ao trabalho. A Lista

Suja, parte do Sistema de Acompanhamento e Combate ao Trabalho Escravo, é uma das

medidas de fiscalização, combate e repressão ao trabalho análogo ao de escravo no país.

(10) Em uma síntese das autuações relacionadas à produção e processamento de alimentos

no Brasil entre 2014-2016 pelo MTE, dos 250 eventos, 124 (49,6%) tinham relação com

a produção de alimentos.

Destaca-se o fato de que das 21 seções do CNAE, 3 foram consideradas

por estarem relacionadas diretamente à produção e processamento de alimentos. O que

significa dizer que mesmo que essas seções correspondam a apenas 14,3% das atividades

econômicas classificadas, elas compreendem quase a metade dos eventos relacionados às

condições análogas à escravidão, ou seja, 49,6% das autuações.

Deve-se considerar que, segundo dados de maio de 2018 do Cadastro

Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do MTE, os setores relacionados à

alimentação - agropecuário, de serviços de alimentos e de indústrias alimentícias - foram

responsáveis por 27% dos empregos formais do país.(11) Denotando que a leitura sobre

o alto percentual de denúncias desse setor deve ser feita em termos proporcionais, pois

ele também agrega um grande quantitativo de postos de trabalho.

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13

Não só o Brasil, mas a maior parte da economia da América Latina é

fortemente ligada à produção e processamento de produtos agrícolas. (12) Cabe destacar,

todavia, que o aumento do número de empregos não tem relação direta e positiva com

bem-estar social. No contexto da economia do livre-mercado não há como garantir que

os lucros sejam gerados e distribuídos de maneira justa. O princípio econômico da

autorregulação e do progresso técnico não garantem que o sistema da economia de

mercado gere distribuição justa da renda e eficiência social.(13)

O setor agrícola, por exemplo, é um dos grandes responsáveis pelos

números relativos à escravidão moderna e tráfico de pessoas na América Latina

contemporânea e grande parte de seus lucros são relacionados com a agropecuária

escravagista. (12)

Tome-se como exemplo a indústria da cafeicultura. Nas folhas de

exportações do agronegócio brasileiro, o café, em 2014, representou 5,3% das receitas,

equivalentes a US$ 5,28 bilhões, fornecendo, o país, cerca de 35% de todo o café

consumido no mundo.(14) Santana (15), por outro lado, aponta as contradições que giram

em torno da produção da riqueza pela cafeicultura, que é sustentada na exploração dos

agricultores e precarização dos postos de trabalho. Em maio de 2018, por exemplo, o

MTE resgatou 60 homens em trabalho análogo ao escravo em lavouras de café no estado

do Espírito Santo.(16)

Com relação aos dados da pesquisa, a Tabela 1 sintetiza como as 124

autuações relacionadas a alimentos encontram-se distribuídas nas regiões brasileiras e

que tipo de alimentos são mais frequentes nesses eventos.

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Tabela 1. Autuações relacionadas à produção e processamento de alimentos em condições

análogas à escravidão no Brasil entre 2014-2016

Regiões do Brasil

Tipo de alimento Norte Sudeste Nordeste Sul Centro-Oeste BRASIL

Animal 60 (89,6%) 13 (65,0%) 14 (77,8%) 2 (18,2%) 4 (50,0%) 93 (75,0%)

Vegetal 6 (9,0%) 4 (20,00%) 4 (22,2%) 9 (81,8%) 4 (50,0%) 27 (21,8%)

Mineral 0 1 (5,0%) 0 0 0 1 (0,8%)

Processados e refeições 1 (1,5%) 2 (10,0%) 0 0 0 3 (2,4%)

Total de alimentos 67 (54,0%) 20 (16,1%) 18 (14,5%) 11 (8,9%) 8 (6,5%) 124 (100,0%)

Fonte: dados da pesquisa

A região Norte do Brasil apresentou, com 67 eventos, o maior percentual

(54,0%) de autuações, seguida pela região Sudeste, com 20 (16,1%), Nordeste, com 18

(14,5%), Sul, com 11 (8,9%) e Centro-oeste com 8 (6,5%). Cabe ressaltar que nenhuma

das autuações da Lista Suja do MTE ocorreu no estado do RN.

Bochenek(17) ressalta que. além da massiva presença de latifúndios, o

incentivo fiscal, os créditos conferidos pelo governo, formas arcaicas de organização de

trabalho e a baixa fiscalização, conformam o cenário ideal para grandes empreendimentos

agropecuários com utilização de mão de obra forçada. A autora destaca o caso do estado

do Pará, “onde os trabalhadores, na maioria homens, são recrutados geralmente em

municípios pobres, muitas vezes do estado vizinho de Piauí, onde não há oferta de

trabalho, e estão ausentes o Estado e as instituições de proteção”. (p.37) Isolado pela

floresta e longe de sua comunidade os trabalhadores são submetidos a condições

degradantes de trabalho e a jornadas exaustivas em fazendas de café. Na Lista Suja, 26%

das 250 autuações foram relativas a este estado, um dos 27 das federações brasileiras.

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15

Os alimentos de origem animal estão relacionados à maioria desses

eventos, sendo responsáveis por 75% das autuações no país. A carne bovina (criação de

gado reprodutor para corte) é o principal produto relacionado, 76,3% do total de produtos

de origem animal, seguida do leite e seus derivados.

Historicamente, as vantagens ambientais (clima, relevo) e econômicas

(subsídios fiscais, crédito) tornam essa região propícia ao negócio da pecuária.(18) Por

outro lado, os custos, sejam eles ambientais(19), - contaminação ambiental, emissão de

gases de efeito estufa, perda de biodiversidade relacionada ao desmatamento e mal uso

da água; econômicos(20) -concentração de terra, renda, poder e multiplicação de

desigualdades; e, sociais(21)(22)(23) -gêneses de doenças crônicas não transmissíveis

relacionadas ao consumo de carne, doenças relacionadas à exposição de agentes

patogénicos de origem animal - contaminação da água potável com nitratos, poluição

atmosférica, resistência antimicrobiana- maus-tratos aos animais- relacionados a essa

prática, quase sempre passam desapercebidos. Múltiplos aspectos da saúde humana são,

portanto, afetados pelos sistemas alimentares, os riscos ocupacionais daqueles que

produzem alimentos é um desses aspectos.(6)

Rocha(24) caracteriza tais condições como externalidades. Segundo a

autora externalidades são fatores relacionados com a insegurança alimentar e nutricional

dos sistemas alimentares contemporâneos, que geram um ônus social que é

desconsiderado no preço das mercadorias alimentares. Denotando a incapacidade de

mercados livres gerarem bens públicos de forma satisfatória e sustentável.

No Brasil, por exemplo, a criação de gado para corte, conta com emprego

de trabalho forçado, tráfico de pessoas e com a exploração de mão de obra infantil.(25)

Os trabalhadores, inclusive, dormem no mesmo curral que o gado. Silva (26), em estudo

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16

sobre práticas contábeis do serviço de escravatura no Brasil colonial, aponta que escravos

eram classificados entre os bens pecuários das fazendas, na mesma lista em que

constavam o gado, burros e ovelhas.

Além das jornadas exaustivas, a situação degradante a qual estão expostos

esses trabalhadores produzem riscos de natureza física e psíquica. Sabe-se, por exemplo,

que agricultores e trabalhadores agrícolas que lidam com o gado enfrentam grandes riscos

de exposição a doenças zoonóticas e à propagação de bactérias resistentes a agentes

antimicrobianos.(6) Além disso, quando comparados com a população, eles têm 1,6 mais

chances de cometer suicídio.(27)

Essa situação é agravada pelas nefastas relações de poder que se constroem

no interior se sistemas alimentares. Se por um lado há uma baixa visibilidade das pessoas

mais afetadas por esses problemas, por outro, falhas na governança Estatal ampliam o

poder dos agentes hegemônicos do agronegócio por meio da aprovação de projetos e leis

que atendam aos seus interesses. Na legislatura 2015-2018 brasileira, por exemplo, a

bancada ruralista possui 222 parlamentares, sendo 201 deputados e 11 senadores,

correspondendo a 39% da câmara e a 13% do Senado. (28)

Relações dessa natureza entre o Estado e interesses privados têm

profundas marcas históricas no país em relação ao setor de alimentos. Nos séculos XIX e

XX, a construção de estradas de ferro, que facilitavam o deslocamento do grão para o

interior da região Sudeste, remonta mais uma vez a tradição da aplicação de recursos

públicos no desenvolvimento de uma atividade privada, que instituiu a burguesia do café.

(29,30) Em um desdobramento recente relativo a este tipo de relação, o MTE editou a

Portaria n. 1.129, de 13 de outubro de 2017,(31) que define trabalho análogo à escravidão.

A alteração considera crime quando houver somente a restrição da liberdade de

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locomoção do trabalhador. Essa alteração enfraqueceu o combate ao trabalho escravo no

país, ao limitar a fiscalização do trabalho, resultando o aumento da vulnerabilidade de

uma parte da população já fragilizada.

Fatos como esse colaboram para que nos últimos 30 anos os sistemas

alimentares estejam protagonizando uma crise global ligada à concentração de poder e de

recompensa financeira ao grande capital em detrimento do bem-estar social das pessoas,

dentre elas, aquelas que cultivam e processam alimentos.(32) O Estado, neste cenário,

não desempenha mais um papel de regulador, um árbitro, em benefício dos equilíbrios

territoriais e sociais, entre os interesses do capital privado e dos bens públicos. Milton

Santos(33) caracterizou esse papel como de facilitador, devido à primazia do econômico

sobre o político, do instrumental sobre a finalidade e do dinheiro sobre o homem. O

resultado é a contração empresarial de poder em um dos setores vitais à manutenção da

vida humana, o de produção e processamento de alimentos.(34)

Em se tratando de produtos alimentícios de origem vegetal, há um escopo

cada vez mais amplo de evidências científicas que relacionam sistemas alimentares e

dietas baseadas em vegetais com melhores indicadores de saúde humana e ambiental.(35)

Nos dados desta pesquisa, a classificação dos produtos de origem vegetal, com 21,8% das

autuações, em comparação com os 75,0% dos produtos de origem animal.

Todavia, os produtos vegetais que representam commodities merecem

destaque pelo ônus social que potencialmente geram. O termo commodity é definido como

um tipo de planta, produto vegetal, de interesse comercial, tais como soja, cana-de-açúcar,

milho e café, geralmente produzidos para exportação.(36) O café representa 58,7% do

total dos produtos de origem vegetal mencionados nesta pesquisa, seguido da soja com

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18

22,2% e do abacaxi com 11,1%. A erva-mate, na região Sul, e o cacau, no Norte, também

foram alvo de autuação.

A tônica da produção de alimentos no Brasil historicamente é marcada por

commodities que ditam o que, quando produzir e para quem. Os ciclos das monoculturas

de cana-de-açúcar, cacau, café, soja, demarcam pontos de intersecção históricos evidentes

entre commodity e relações de trabalho análogas à escravidão.(37) Além disso, a produção

de commodities direcionada para o mercado internacional têm reflexos significativos

sobre o estado de Insegurança Alimentar e Nutricional da população, tais como falhas no

acesso da população local a alimentos, crescimento paralelo do uso de agroquímicos e de

alimentos geneticamente modificados.(38–40)

O Matopiba, que compreende os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e

Bahia, 337 municípios e uma área de 73.173.485 hectares, é um dos cenários onde, os

dados desta pesquisa, apontam a produção de soja relacionada a condições análogas à

escravidão. Nos últimos anos, essa porção do território brasileiro, habitada sobretudo

pelos remanescentes de povos e comunidades tradicionais, vêm sendo palco de diversos

conflitos políticos devido ao processo de territorizalização do capital transnacional na

região, sobretudo para a produção de commodities como algodão, cana-de-açúcar, milho

e soja. Atualmente há 26 empresas transnacionais atuando diretamente na

estrangeirização da terra dessas Unidades Federativas.(41) A produção de grãos nesta

área representa quase 10% da produção brasileira. Várias situações de trabalho análogo

ao de escravo foram constatadas no Matopiba, que é, para alguns pesquisadores, como

um arquipélago de ilhas de prosperidade num mar de pobreza e miséria rural.(42) A

inexistência de práticas de controle das relações de trabalho e de consolidação ao acesso

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19

de garantias sociais, tais como à terra, reforça a construção do cenário de injustiça social.

(43)

Ainda de acordo com a Tabela 1, um estabelecimento dos constantes na

Lista Suja dedicava-se ao processamento de sal (origem mineral). Poucos estudos

dedicam-se a documentar as condições de trabalho às quais estão submetidos

trabalhadores que trabalham com a mineração de sal. Alguns riscos ocupacionais

incluem: contato direto com pó de sal inalável, cristais de sal e salmoura concentrada,

causando corrosão na pele e descoloração da íris, estresse físico devido à jornada de

trabalho exaustiva, luz direta do sol e de brilho intenso devido à luz do sol refletida pelos

cristais de sal.(44) Além disso, a Organização Internacional do Trabalho alerta para o

trabalho infantil relacionado à mineração de sal em diversos países do mundo.(45)

Por fim, três denúncias estiveram relacionadas a produtos alimentícios

processados na forma de biscoitos, lanches e refeições. Uma das faces da escravidão

moderna relaciona-se fortemente com o processamento de alimentos, por exemplo, em

indústrias e, sobretudo, com emprego de mão de obra de imigrantes, devido ao frequente

estado de vulnerabilidade social em que vivem.(32) O setor de restauração também é

reconhecido pelas condições insalubres às quais seus trabalhadores frequentemente são

submetidos e pela violação de obrigações sociais.(46)

Com relação às denúncias no Estado do RN, o MPT registrou, entre os

anos de 2014 e 2016, 32 eventos, sendo 8 (25%) delas relacionadas à produção de

alimentos. Tendo em visto que os dados sobre o trabalho escravo são baseados em denúncias

e fiscalizações, os números possivelmente subestimam a incidência do crime.

O MPT, ou Procuradoria Regional do Trabalho, é o ramo do Ministério

Público da União (MPU) competente em fiscalizar o cumprimento das leis trabalhistas,

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20

regularizando e mediando as relações entre empregados e empregadores. Além de

promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho para defesa de interesses

coletivos, quando desrespeitados direitos sociais constitucionalmente garantidos aos

trabalhadores. Também exerce o papel na resolução administrativa de conflitos. A partir

do recebimento de denúncias, representações, ou por iniciativa própria, pode instaurar

inquéritos civis e outros procedimentos administrativos, notificar as partes envolvidas

para que compareçam a audiências, forneçam documentos e outras informações

necessárias. Para combater o trabalho análogo ao de escravo, pode utilizar: termos de

ajuste de condutas (TACs), ação civil pública, ação anulatória, inquérito civil público e

ação preventiva.(10)

O Quadro 1 sintetiza os resultados do relatório apontando os municípios

onde se localizam os estabelecimentos denunciados, o tipo de alimento relacionado, o

objeto da denúncia, o status do processo e o desfecho.

Page 21: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

21

Quadro 1. Denúncias relacionadas à produção e processamento de alimentos em condições análogas à escravidão no Rio Grande do Norte entre

2014-2016

Processo Municípios Tipo de alimento Objeto Status Desfecho

27.2015.21.002/2 Caicó Processados e refeições Jornada exaustiva

Condições degradantes Desativado

Inquérito civil

Termo de Ajustamento de Conduta

70.2015.21.002/2 Caicó Processados e refeições Jornada exaustiva

Condições degradantes Desativado

Inquérito civil

Termo de Ajustamento de Conduta

68.2015.21.002/2 Jardim do Seridó Animal Jornada exaustiva

Condições degradantes Arquivado com TAC

Inquérito civil

Termo de Ajustamento de Conduta

34.2015.21.002/9 Jucurutu Processados e refeições Jornada exaustiva

Condições degradantes Arquivado com TAC Inquérito civil

28.2016.21.002/3 Currais Novos Animal Jornada exaustiva Ativo Inquérito civil

1300.2015.21.000/0 Guamaré Vegetal Jornada exaustiva

Condições degradantes Ativo

Inquérito civil

Termo de Ajustamento de Conduta

1207.2014.21.000/0 Natal Vegetal Jornada exaustiva Arquivado Inquérito civil

329.2015.21.001/8 Mossoró Processados e refeições Jornada exaustiva

Condições degradantes Arquivado Inquérito civil

Fonte: dados da pesquisa

Page 22: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

22

Metade das 8 denúncias relacionadas a alimentos referiam-se a

processados (frios, bolachas e refeições), sendo 2 de origem animal (carne e leite) e 2 de

origem vegetal (hortaliças e frutas). O fato de a maior parte das denúncias do RN estarem

relacionadas a produtos de origem animal, confirma a tese dos altos custos sociais

relacionados a esse tipo de produto. Ainda assim, em todo o país, as atividades da

pecuária, de produção de leite e laticínios, além da pscicultura e avinocultura são líderes

no ranking de trabalhadores em condições análogas à escravidão (47–49)

Mota et al.(50), em estudo no qual propõem uma ferramenta de avaliação

para o setor de alimentação coletiva para produção de refeições e cardápios sustentáveis,

destacam a importância da verificação da origem dos produtos utilizados na Unidade de

Alimentação e Nutrição, para que haja a garantia de que as matérias-primas não possuem

relação com trabalho escravo. Devido ao relevo das relações de trabalho injustas também

no setor de processamento, sugere-se que as autoras revisem a ferramenta para que aborde

não apenas a procedência dos produtos, mas as condições às quais os trabalhadores que

processam alimentos são submetidos.

O objeto das denúncias no RN foram jornadas exaustivas de trabalho e

condições degradantes, tanto relacionadas insalubridade como com assédio moral.

Algumas denúncias foram escritas pelos próprios empregados, valendo-se do anonimato,

em um tom de súplica e urgência. Em quatro casos foi firmado um Termo de Ajustamento

de Conduta, sendo dois deles descumpridos pelos empregadores, ferindo sucessivamente

os direitos dos trabalhadores.

Os dados desta pesquisa apontam que a abordagem da SAN deve

contemplar a alimentação de uma forma sistêmica, ou seja, pautando-se não apenas na

atividade de consumo, mas nas também naquelas de produção e processamento de

Page 23: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

23

alimentos e, além disso, não apenas com foco nos consumidores, mas considerando outros

atores no sistema, como os trabalhadores. (24)

Em relação às vias de enfrentamento, a aplicação da tecnologia para o

desenvolvimento social é apontada como alternativa para reformar sistemas alimentares

gerando bem-estar social e SAN.(51) Todavia, o discurso da inovação e da tecnologia, na

história da SAN, foi sucessivamente utilizado como bandeira para o desenvolvimento de

modelos de negócios excludentes, tais como a Revolução Verde e a Biotecnologia

aplicada a alimentos, pautados exclusivamente na lógica do lucro particular e não na

concretização da alimentação como direito fundamental e na justiça social. Em todos os

casos, é preciso analisar em que pontos a inovação proposta têm potencial de

replicabilidade social.

O reforço da fiscalização do trabalho escravo é uma segunda via de

enfrentamento neste cenário. Faltam recursos humanos, não há novos concursos para

repor os quadros, nem medidas mais estruturais de enfrentamento do problema, como a

reforma agrária. Vale salientar que o número de trabalhadores resgatados ao longo dos

anos de 2010 a 2016 diminuiu, ainda que a quantidade de denúncias muitas vezes tenha

sido maior. Deve-se considerar, ainda, que a fiscalização das denúncias de trabalho

análogo à escravidão no país é feita por poucas equipes e que em 2015, houve uma

redução de 10 para 4 equipes. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, essa

redução reflete a precarização das fiscalizações e, em alguns casos, a sua inviabilidade.

Outra análise é que no discurso de corte de gasto disseminado pelo governo de Michel

Temer, as ações do grupo móvel de fiscalização foram praticamente suspensas desde

julho de 2016.(15) No ano de 2017, por exemplo, nenhuma fiscalização foi realizada no

estado do RN.

Page 24: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

24

A educação é um outro canal de enfrentamento deste cenário. As ações

educativas visam o esclarecimento das pessoas mais suscetíveis a essa situação, como

também, capacitação que viabilize a empregabilidade não só às populações mais

vulneráveis, mas de pessoas já resgatadas.(52)

Silva(53) relata uma experiência educativa para o combate ao trabalho

escravo em um projeto de ação integrada com indivíduos já resgatados em Mato Grosso,

visando romper com a reincidência. Foram desenvolvidas ações de qualificação

profissional, educação, assistência social, geração de trabalho, emprego e renda. Com

cursos profissionalizante e propostas de empregos dignos, esse projeto tem se destacado

como peça importante para introdução de pessoas no mercado de trabalho.

Dentre as ações de educação, destaca-se o papel da Educação Alimentar e

Nutricional (EAN). A Nutrição, neste contexto, tem a oportunidade de imprimir uma

mudança nas concepções tradicionais de EAN trazendo-a para um cenário que vai além

da orientação nutricional de consumo, e que busca o engajamento social e democrático

dos cidadãos em todas as fases do sistema.(54) No Brasil, essa ideia é reforçada pelo

Marco de Referência de EAN para as Políticas Públicas que tem como um dos seus nove

princípios a necessidade da abordagem do sistema alimentar na sua integralidade. (55)

A ab hegordagememônica da Nutrição desafia essa aproximação sistêmica

em SAN, pois ela enfoca o nutriente, concedendo pouca ênfase às perguntas do como,

onde e por quem alimentos são produzidos, processados e distribuídos e, ainda, se e como

se dá o acesso da população a eles, bem como sobre a qualidade das dietas e seus impactos

sociais e ambientais.(56) Apontar relações que certos grupos de alimentos estabelecem

com o trabalho análogo a escravidão é papel da EAN implicada com a SAN no âmbito da

Saúde Pública.

Page 25: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

25

O Guia Alimentar para a População Brasileira é uma boa ferramenta para

orientar ações neste sentido. Nele, estimula-se o consumo de alimentos de origem vegetal,

em detrimento daqueles de origem animal, como forma de contribuir para um sistema

alimentar socialmente mais justo e menos degradante do ponto de vista social e ambiental.

(57)

De forma similar, neste trabalho, os alimentos de origem animal foram os

campeões em denúncias e autuações relacionadas a condições análogas à escravidão.

Evitar e desestimular o consumo desses alimentos, bem como exigir um papel ativo do

Estado em relação a esta falha, deve se tornar um exercício social no combate a essa

prática.(58)

No campo da Saúde Pública, existem redes de combate a condições

injustas de trabalho. É papel da Vigilância em Saúde identificar riscos e introduzir

melhorias nos processos de trabalho. Uma articulação entre a Nutrição, a Saúde Pública

e o Direito poderia apoiar a formação de redes de atenção visando observar a cadeia

produtiva e identificar situações irregulares de trabalho não facilmente identificadas pela

vigilância em saúde, viabilizando o melhor enfrentamento de riscos, danos sociais,

ambientais, sanitários e ocupacionais que colaboram com a etiologia dos problemas de

saúde relacionados à alimentação.(59)

Considerações finais

O presente estudo demonstrou a presença de condições de trabalho

análogo ao de escravo no setor de produção e processamento de alimentos, apontando

regiões mais vulneráveis no país a essa realidade e sua relação com sistemas

agroalimentares globais, sobretudo, aqueles implicados com produtos de origem animal.

Page 26: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

26

A reflexão a respeito das condições de trabalho associadas à produção e

processamento de alimentos, é condição para promoção de sistemas alimentares

saudáveis e sustentáveis para todos, os que produzem e consomem alimentos.

No Brasil, além dos dados produzidos nesta pesquisa, diversos autores

apontam que esse setor conta com um envolvimento direto com condições análogas à

escravidão. Além de ferirem o princípio da dignidade da pessoa humana, tais condições

de trabalho, constituem-se também em uma questão de Saúde Pública, pois despertam

riscos ocupacionais de ordens psíquicas e físicas nos trabalhadores ligados ao setor de

produção e processamento de alimentos, ferindo a dignidade da pessoa humana.

O presente estudo alerta sobre a necessidade de maior aplicação de

recursos governamentais para fiscalização, e de articulação de ciências como a Nutrição

e a Saúde Pública, em seus campos de reflexão e prática, visando a promoção de ações

de EAN que possam alertar os diversos atores do sistema alimentar sobre esses fatos.

Recomenda-se que mais estudos que desenvolvam a relação entre sistemas

alimentares sustentáveis, produção de alimentos e condições análogas à escravidão sejam

desenvolvidos com o fim de apoiar as metas previstas para prossecução dos objetivos do

desenvolvimento sustentável relativas à promoção do trabalho decente para todos.

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32

Anexos

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Anexo 1

Normas do periódico escolhido. Instruções para colaboradores

Ciência & Saúde Coletiva publica debates, análises e resultados de investigações sobre

um tema específico considerado relevante para a saúde coletiva; e artigos de discussão e

análise do estado da arte da área e das subáreas, mesmo que não versem sobre o assunto

do tema central. A revista, de periodicidade mensal, tem como propósitos enfrentar os

desafios, buscar a consolidação e promover uma permanente atualização das tendências

de pensamento e das práticas na saúde coletiva, em diálogo com a agenda contemporânea

da Ciência & Tecnologia.

Orientações para organização de números temáticos

A marca da Revista Ciência & Saúde Coletiva dentro da diversidade de Periódicos da

área é o seu foco temático, segundo o propósito da ABRASCO de promover, aprofundar

e socializar discussões acadêmicas e debates interpares sobre assuntos considerados

importantes e relevantes, acompanhando o desenvolvimento histórico da saúde pública

do país.

Os números temáticos entram na pauta em quatro modalidades de demanda:

• Por Termo de Referência enviado por professores/pesquisadores da área de saúde

coletiva (espontaneamente ou sugerido pelos editores-chefes) quando consideram

relevante o aprofundamento de determinado assunto.

• Por Termo de Referência enviado por coordenadores de pesquisa inédita e

abrangente, relevante para a área, sobre resultados apresentados em forma de

artigos, dentro dos moldes já descritos. Nessas duas primeiras modalidades, o

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Termo de Referência é avaliado em seu mérito científico e relevância pelos

Editores Associados da Revista.

• Por Chamada Pública anunciada na página da Revista, e sob a coordenação de

Editores Convidados. Nesse caso, os Editores Convidados acumulam a tarefa de

selecionar os artigos conforme o escopo, para serem julgados em seu mérito por

pareceristas.

• Por Organização Interna dos próprios Editores-chefes, reunindo sob um título

pertinente, artigos de livre demanda, dentro dos critérios já descritos.

O Termo de Referência deve conter: (1) título (ainda que provisório) da proposta do

número temático; (2) nome (ou os nomes) do Editor Convidado; (3) justificativa resumida

em um ou dois parágrafos sobre a proposta do ponto de vista dos objetivos, contexto,

significado e relevância para a Saúde Coletiva; (4) listagem dos dez artigos propostos já

com nomes dos autores convidados; (5) proposta de texto de opinião ou de entrevista com

alguém que tenha relevância na discussão do assunto; (6) proposta de uma ou duas

resenhas de livros que tratem do tema.

Por decisão editorial o máximo de artigos assinados por um mesmo autor num número

temático não deve ultrapassar três, seja como primeiro autor ou não.

Sugere-se enfaticamente aos organizadores que apresentem contribuições de autores de

variadas instituições nacionais e de colaboradores estrangeiros. Como para qualquer outra

modalidade de apresentação, nesses números se aceita colaboração em espanhol, inglês e

francês.

Recomendações para submissão de artigos

Page 35: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

Recomenda-se que os artigos submetidos não tratem apenas de questões de interesse

local, ou se situe apenas no plano descritivo. As discussões devem apresentar uma análise

ampliada que situe a especificidade dos achados de pesquisa ou revisão no cenário da

literatura nacional e internacional acerca do assunto, deixando claro o caráter inédito da

contribuição que o artigo traz.

A revista C&SC adota as “Normas para apresentação de artigos propostos para

publicação em revistas médicas”, da Comissão Internacional de Editores de Revistas

Médicas, cuja versão para o português encontra-se publicada na Rev Port Clin

Geral 1997; 14:159-174. O documento está disponível em vários sítios na World Wide

Web, como por

exemplo, www.icmje.org ouwww.apmcg.pt/document/71479/450062.pdf. Recomenda-

se aos autores a sua leitura atenta.

Seções da publicação

Editorial: de responsabilidade dos editores chefes ou dos editores convidados, deve ter no

máximo 4.000 caracteres com espaço.

Artigos Temáticos: devem trazer resultados de pesquisas de natureza empírica,

experimental, conceitual e de revisões sobre o assunto em pauta. Os textos de pesquisa

não deverão ultrapassar os 40.000 caracteres.

Artigos de Temas Livres: devem ser de interesse para a saúde coletiva por livre

apresentação dos autores através da página da revista. Devem ter as mesmas

características dos artigos temáticos: máximo de 40.000 caracteres com espaço,

resultarem de pesquisa e apresentarem análises e avaliações de tendências teórico-

metodológicas e conceituais da área.

Page 36: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

Artigos de Revisão: Devem ser textos baseados exclusivamente em fontes secundárias,

submetidas a métodos de análises já teoricamente consagrados, temáticos ou de livre

demanda, podendo alcançar até o máximo de 45.000 caracteres com espaço.

Opinião: texto que expresse posição qualificada de um ou vários autores ou entrevistas

realizadas com especialistas no assunto em debate na revista; deve ter, no máximo, 20.000

caracteres com espaço.

Resenhas: análise crítica de livros relacionados ao campo temático da saúde coletiva,

publicados nos últimos dois anos, cujo texto não deve ultrapassar 10.000 caracteres com

espaço. Os autores da resenha devem incluir no início do texto a referência completa do

livro. As referências citadas ao longo do texto devem seguir as mesmas regras dos artigos.

No momento da submissão da resenha os autores devem inserir em anexo no sistema uma

reprodução, em alta definição da capa do livro em formato jpeg.

Cartas: com apreciações e sugestões a respeito do que é publicado em números anteriores

da revista (máximo de 4.000 caracteres com espaço).

Observação: O limite máximo de caracteres leva em conta os espaços e inclui texto e

bibliografia. O resumo/abstract e as ilustrações (figuras e quadros) são considerados à

parte.

Apresentação de manuscritos

1. Os originais podem ser escritos em português, espanhol, francês e inglês. Os textos em

português e espanhol devem ter título, resumo e palavras-chave na língua original e em

Page 37: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

inglês. Os textos em francês e inglês devem ter título, resumo e palavras-chave na língua

original e em português. Não serão aceitas notas de pé-de-página ou no final dos artigos.

2. Os textos têm de ser digitados em espaço duplo, na fonte Times New Roman, no corpo

12, margens de 2,5 cm, formato Word e encaminhados apenas pelo endereço eletrônico

(http://mc04.manuscriptcentral.com/csc-scielo) segundo as orientações do site.

3. Os artigos publicados serão de propriedade da revista C&SC, ficando proibida a

reprodução total ou parcial em qualquer meio de divulgação, impressa ou eletrônica, sem

a prévia autorização dos editores-chefes da Revista. A publicação secundária deve indicar

a fonte da publicação original.

4. Os artigos submetidos à C&SC não podem ser propostos simultaneamente para outros

periódicos.

5. As questões éticas referentes às publicações de pesquisa com seres humanos são de

inteira responsabilidade dos autores e devem estar em conformidade com os princípios

contidos na Declaração de Helsinque da Associação Médica Mundial (1964, reformulada

em 1975,1983, 1989, 1989, 1996 e 2000).

6. Os artigos devem ser encaminhados com as autorizações para reproduzir material

publicado anteriormente, para usar ilustrações que possam identificar pessoas e para

transferir direitos de autor e outros documentos.

7. Os conceitos e opiniões expressos nos artigos, bem como a exatidão e a procedência

das citações são de exclusiva responsabilidade dos autores.

8. Os textos são em geral (mas não necessariamente) divididos em seções com os títulos

Introdução, Métodos, Resultados e Discussão, às vezes, sendo necessária a inclusão de

Page 38: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

subtítulos em algumas seções. Os títulos e subtítulos das seções não devem estar

organizados com numeração progressiva, mas com recursos gráficos (caixa alta, recuo na

margem etc.).

9. O título deve ter 120 caracteres com espaço e o resumo/abstract, com no máximo 1.400

caracteres com espaço (incluindo palavras-chave/key words), deve explicitar o objeto, os

objetivos, a metodologia, a abordagem teórica e os resultados do estudo ou investigação.

Logo abaixo do resumo os autores devem indicar até no máximo, cinco (5) palavras-

chave. palavras-chave/key words. Chamamos a atenção para a importância da clareza e

objetividade na redação do resumo, que certamente contribuirá no interesse do leitor pelo

artigo, e das palavras-chave, que auxiliarão a indexação múltipla do artigo. As palavras-

chaves na língua original e em inglês devem constar no DeCS/MeSH

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mesh/e http://decs.bvs.br/).

Autoria

1. As pessoas designadas como autores devem ter participado na elaboração dos artigos

de modo que possam assumir publicamente a responsabilidade pelo seu conteúdo. A

qualificação como autor deve pressupor: a) a concepção e o delineamento ou a análise e

interpretação dos dados, b) redação do artigo ou a sua revisão crítica, e c) aprovação da

versão a ser publicada. As contribuições individuais de cada autor devem ser indicadas

no final do texto, apenas pelas iniciais (ex. LMF trabalhou na concepção e na redação

final e CMG, na pesquisa e na metodologia).

2. O limite de autores no início do artigo deve ser no máximo de oito. Os demais autores

serão incluídos no final do artigo.

Nomenclaturas

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1. Devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura de saúde pública/saúde

coletiva, assim como abreviaturas e convenções adotadas em disciplinas especializadas.

Devem ser evitadas abreviaturas no título e no resumo.

2. A designação completa à qual se refere uma abreviatura deve preceder a primeira

ocorrência desta no texto, a menos que se trate de uma unidade de medida padrão.

Ilustraçoes

1. O material ilustrativo da revista C&SC compreende tabela (elementos demonstrativos

como números, medidas, percentagens, etc.), quadro (elementos demonstrativos com

informações textuais), gráficos (demonstração esquemática de um fato e suas variações),

figura(demonstração esquemática de informações por meio de mapas, diagramas,

fluxogramas, como também por meio de desenhos ou fotografias). Vale lembrar que a

revista é impressa em apenas uma cor, o preto, e caso o material ilustrativo seja colorido,

será convertido para tons de cinza.

2. O número de material ilustrativo deve ser de, no máximo, cinco por artigo, salvo

exceções referentes a artigos de sistematização de áreas específicas do campo temático.

Nesse caso os autores devem negociar com os editores-chefes.

3. Todo o material ilustrativo deve ser numerado consecutivamente em algarismos

arábicos, com suas respectivas legendas e fontes, e a cada um deve ser atribuído um breve

título. Todas as ilustrações devem ser citadas no texto.

4. As tabelas e os quadros devem ser confeccionados no mesmo programa utilizado na

confecção do artigo (Word).

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5. Os gráficos devem estar no programa Excel, e os dados numéricos devem ser enviados,

em separado no programa Word ou em outra planilha como texto, para facilitar o recurso

de copiar e colar. Os gráficos gerados em programa de imagem (Corel Draw ou

Photoshop) devem ser enviados em arquivo aberto com uma cópia em pdf.

6. Os arquivos das figuras (mapa, por ex.) devem ser salvos no (ou exportados para o)

formato Ilustrator ou Corel Draw com uma cópia em pdf. Estes formatos conservam a

informação vetorial, ou seja, conservam as linhas de desenho dos mapas. Se for

impossível salvar nesses formatos; os arquivos podem ser enviados nos formatos TIFF

ou BMP, que são formatos de imagem e não conservam sua informação vetorial, o que

prejudica a qualidade do resultado. Se usar o formato TIFF ou BMP, salvar na maior

resolução (300 ou mais DPI) e maior tamanho (lado maior = 18cm). O mesmo se aplica

para o material que estiver em fotografia. Caso não seja possível enviar as ilustrações no

meio digital, o material original deve ser mandado em boas condições para reprodução.

Agradecimentos

1. Quando existirem, devem ser colocados antes das referências bibliográficas.

2. Os autores são responsáveis pela obtenção de autorização escrita das pessoas nomeadas

nos agradecimentos, dado que os leitores podem inferir que tais pessoas subscrevem os

dados e as conclusões.

3. O agradecimento ao apoio técnico deve estar em parágrafo diferente dos outros tipos

de contribuição.

Referências

Page 41: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

1. As referências devem ser numeradas de forma consecutiva de acordo com a ordem em

que forem sendo citadas no texto. No caso de as referências serem de mais de dois autores,

no corpo do texto deve ser citado apenas o nome do primeiro autor seguido da

expressão et al.

2. Devem ser identificadas por números arábicos sobrescritos, conforme exemplos abai-

xo:

ex. 1: “Outro indicador analisado foi o de maturidade do PSF” 11 ...

ex. 2: “Como alerta Maria Adélia de Souza 4, a cidade...”

As referências citadas somente nos quadros e figuras devem ser numeradas a partir do

número da última referência citada no texto.

3. As referências citadas devem ser listadas ao final do artigo, em ordem numérica,

seguindo as normas gerais dos Requisitos uniformes para manuscritos apresentados a

periódicos biomédicos(http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html).

4. Os nomes das revistas devem ser abreviados de acordo com o estilo usado no Index

Medicus (http://www.nlm.nih.gov/).

5. O nome de pessoa, cidades e países devem ser citados na língua original da

publicação.

Exemplos de como citar referências

Artigos em periódicos

1. Artigo padrão (incluir todos os autores)

Pelegrini MLM, Castro JD, Drachler ML. Eqüidade na alocação de recursos para a

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saúde: a experiência no Rio Grande do Sul, Brasil. Cien Saude Colet 2005; 10(2):275-

286.

Maximiano AA, Fernandes RO, Nunes FP, Assis MP, Matos RV, Barbosa CGS,

Oliveira-Filho EC. Utilização de drogas veterinárias, agrotóxicos e afins em ambientes

hídricos: demandas, regulamentação e considerações sobre riscos à saúde humana e

ambiental. Cien Saude Colet 2005; 10(2):483-491.

2. Instituição como autor

The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing.

Safety and performance guidelines. Med J Aust 1996; 164(5):282-284

3. Sem indicação de autoria

Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994; 84:15.

4. Número com suplemento

Duarte MFS. Maturação física: uma revisão de literatura, com especial atenção à criança

brasileira. Cad Saude Publica 1993; 9(Supl. 1):71-84.

5. Indicação do tipo de texto, se necessário

Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson’s disease [carta]. Lancet 1996;

347:1337.

Livros e outras monografias

6. Indivíduo como autor

Cecchetto FR. Violência, cultura e poder. Rio de Janeiro: FGV; 2004.

Page 43: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª Edição.

São Paulo, Rio de Janeiro: Hucitec, Abrasco; 2004.

7. Organizador ou compilador como autor

Bosi MLM, Mercado FJ, organizadores. Pesquisa qualitativa de serviços de

saúde. Petrópolis: Vozes; 2004.

8. Instituição como autor

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA). Controle de plantas aquáticas por meio de agrotóxicos e afins. Brasília:

DILIQ/IBAMA; 2001.

9. Capítulo de livro

Sarcinelli PN. A exposição de crianças e adolescentes a agrotóxicos. In: Peres F,

Moreira JC, organizadores. É veneno ou é remédio. Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio

de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 43-58.

10. Resumo em Anais de congressos

Kimura J, Shibasaki H, organizadores. Recent advances in clinical

neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical

Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.

11. Trabalhos completos publicados em eventos científicos

Coates V, Correa MM. Características de 462 adolescentes grávidas em São Paulo.

In: Anais do V Congresso Brasileiro de adolescência; 1993; Belo Horizonte. p. 581-

582.

Page 44: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

12. Dissertação e tese

Carvalho GCM. O financiamento público federal do Sistema Único de Saúde 1988-

2001 [tese]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública; 2002.

Gomes WA. Adolescência, desenvolvimento puberal e sexualidade: nível de informação

de adolescentes e professores das escolas municipais de Feira de Santana – BA

[dissertação]. Feira de Santana (BA): Universidade Estadual de Feira de Santana; 2001.

Outros trabalhos publicados

13. Artigo de jornal

Novas técnicas de reprodução assistida possibilitam a maternidade após os 40

anos. Jornal do Brasil; 2004 Jan 31; p. 12

Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions

annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3 (col. 5).

14. Material audiovisual

HIV+/AIDS: the facts and the future [videocassette]. St. Louis (MO): Mosby-Year

Book; 1995.

15. Documentos legais

Brasil. Lei nº 8.080 de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a

promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos

serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União 1990; 19

set.

Material no prelo ou não publicado

Page 45: UTILIZAÇÃO DE TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À …

Leshner AI. Molecular mechanisms of cocaine addiction. N Engl J Med. In press 1996.

Cronemberg S, Santos DVV, Ramos LFF, Oliveira ACM, Maestrini HA, Calixto N.

Trabeculectomia com mitomicina C em pacientes com glaucoma congênito

refratário. Arq Bras Oftalmol. No prelo 2004.

Material eletrônico

16. Artigo em formato eletrônico

Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial on

the Internet] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];1(1):[about 24 p.]. Available

from: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm

Lucena AR, Velasco e Cruz AA, Cavalcante R. Estudo epidemiológico do tracoma em

comunidade da Chapada do Araripe – PE – Brasil. Arq Bras Oftalmol [periódico na

Internet]. 2004 Mar-Abr [acessado 2004 Jul 12];67(2): [cerca de 4 p.]. Disponível

em: http://www.abonet.com.br/abo/672/197-200.pdf

17. Monografia em formato eletrônico

CDI, clinical dermatology illustrated [CD-ROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA

Multimedia Group, producers. 2ª ed. Version 2.0. San Diego: CMEA; 1995.

18. Programa de computador

Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version

2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993.

Os artigos serão avaliados através da Revisão de pares por no mínimo três consultores

da área de conhecimento da pesquisa, de instituições de ensino e/ou pesquisa nacionais

e estrangeiras, de comprovada produção científica. Após as devidas correções e

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possíveis sugestões, o artigo será aceito se tiver dois pareceres favoráveis e rejeitado

quando dois pareceres forem desfavoráveis.

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Anexo 2

QR. CODE para conteúdo da Lista de transparência do Ministério Trabalho

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Anexo 3

QR.CODE para conteúdo do Relatório da Procuradoria Regional do Trabalho