utilização da pressão positiva expiratória final na síndrome da

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0 Curso de Fisioterapia Matheus Mendes de Souza UTILIZAÇÃO DA PRESSÃO POSITIVA EXPIRATÓRIA FINAL NA SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA Rio de Janeiro 2008.2

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Curso de Fisioterapia

Matheus Mendes de Souza

UTILIZAÇÃO DA PRESSÃO POSITIVA EXPIRATÓRIA FINAL NA SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA

Rio de Janeiro 2008.2

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MATHEUS MENDES DE SOUZA

UTILIZAÇÃO DA PRESSÃO POSITIVA EXPIRATÓRIA FINAL NA SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção parcial do título de Fisioterapeuta. Orientador: Profº Alexandre José do Nascimento

Rio de Janeiro 2008.2

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MATHEUS MENDES DE SOUZA

UTILIZAÇÃO DA PRESSÃO POSITIVA EXPIRATÓRIA FINAL NA SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA AGUDA

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção parcial do título de Fisioterapeuta.

Banca Examinadora: Prof. Professor do Curso de Fisioterapia da UVA. Presidente da Banca Examinadora. Prof. Professor do Curso de Fisioterapia da UVA. Presidente da Banca Examinadora. Prof(a) Professor(a) do Curso de Fisioterapia da UVA. Presidente da Banca Examinadora. Grau: ___________________.

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Aos meus pais, meus irmãos e a querida Monique que são as fontes de minha inspiração e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu querido orientador, Professor

Alexandre José do Nascimento, pelos conselhos sempre úteis e precisos com que, sabiamente, conduziu este trabalho.

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“Os ousados começam, mas só os determinados terminam.”

-George Bernard Shaw-

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RESUMO

A pressão positiva expiratória final (PEEP) tem uma grande importância no

programa de tratamento para pacientes acometidos pela Síndrome da Angústia

Respiratória do Adulto (SARA). As manifestações fisiopatológicas da SARA se

encaixam perfeitamente com os efeitos fisiológicos da peepterapia, vejamos como:

A SARA é caracterizada pela rápida instalação de insuficiência respiratória, com

hipoxemia severa que é refratária a oxigenoterapia, mostrando uma disfunção na

troca gasosa, e a peepterapia vai atuar justamente na membrana alvéolo-capilar,

aumentando a capacidade residual funcional (CRF) e aproximando mais o alvéolo

do capilar, possibilitando melhores condições para a troca gasosa e

conseqüentemente melhorando a hipoxemia. Uma outra manifestação

fisiopatológica é o extravasamento de líquido para o interstício pulmonar e um

outro efeito da peepterapia é favorecer a redistribuição do líquido extra-vascular

para áreas hilares e peribrônquicas, além de impedir que o líquido penetre para o

interior dos alvéolos mostrando também um efeito protetor. Atualmente sabe-se

que a peepterapia é o tratamento de primeira escolha para pacientes acometidos

pela SARA, a grande questão é saber o valor ideal de PEEP a ser utilizado para

cada paciente.

Palavras-chave: pressão positiva expiratória final, Síndrome da Angústia

Respiratória do Adulto, hipoxemia refratária.

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ABSTRACT

The final positive expiration blood (FPEP) hás a great importance on the

treatment program for the patients with the Respiratory Affliton Syndrome (RAS).

The RAS pathology manifestation is compatible with the physiologic effects of the

fpeptherapy, for example: the Ras is caractherizedfor the fastly installation of a

respiratory insufficiency with a severe hypoxeme which is refractory to

oxygentherapy, showing a disfunction on the pulmonary oxygen change. A

fpeptherapy works justly in the alveolus-capilar membrane, increasing the

functional residual capacity, approaching the capilar to the alveolar to the alveolus,

greating the hematooxygen membrane and consequently reducing the hypoxeme.

Another physiologic manifestation is the liquid overflowing winthin the pulmonary

area, and other of the fpeptherapy is to help the redistribution of this overflowing

pulmonary liquid to the hilum areas and around the bronchial area, besides to

hinder that the liquid going into the alveolus, showing already a protector effect.

Nowadays, it is known that the fpeptherapy is the treatment of the first choice for

the patients affected with the RAS disease, the great question it to known the

correct value of the FPEP to be used for each patient.

Keywords: positive expiratory pressure, respiratory distress syndrome in adult,

refractory hypoxemia.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 10 CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................... 11 2.1 Sistema Respiratório ....................................................................................... 11 2.2 Anatomia ......................................................................................................... 11 2.3 Fisiologia ......................................................................................................... 12 2.4 Diagnóstico .................................................................................................... 13 2.4.1 Critérios Básicos ......................................................................................... 13 2.4.2 Escore de Murray ........................................................................................ 14 2.4.3 Exames Complementares ........................................................................... 15 2.4.3.1 Radiografia de tórax ................................................................................. 15 2.4.3.2 Tomografia computadprozada ................................................................. 15 2.5 Fisiopatologia ................................................................................................. 16 2.6 Histopatologia ................................................................................................ 18 2.7 Mecânica Ventilatória ..................................................................................... 20 2.8 Etiologia ......................................................................................................... 21 2.9 Evolução Clínica ............................................................................................. 22 2.10 Alterações Funcionais ................................................................................ 22 2.10.1 Mecânica pulmonar ................................................................................... 22 2.10.2 Disturbio ventilação-perfusão e shunt ....................................................... 23 2.11 Intervenção Fisioterapêutica ........................................................................ 23 2.12 PEEP ............................................................................................................ 24 2.12.1 Aumento da Capacidade Residual Funcional (CRF) ................................. 25 2.12.2 Favorecer o recutamento alveolar ............................................................. 25 2.12.3 Favorecer a redistribuição da água extravascular ..................................... 26 2.12.4 Aumento do volume alveolar e aumento da pressão intra-alveolar ........... 26 2.12.5 Contra-indicação ....................................................................................... 27 2.13 PEEP ideal .................................................................................................. 27 2.13.1 Curva pressão x volume ............................................................................ 27 2.13.2 PEEP complacência .................................................................................. 29 2.13.3 PEEP saturação ........................................................................................ 30 2.13.4 Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2) ......................................................... 30 2.14 Ventilação mecânica .................................................................................. 30 2.14.1 Ajustes ventilatórios .................................................................................. 31 2.15 Hipercapnia permissiva ................................................................................ 31 2.16 Efeito protetor da PEEP ............................................................................... 32 2.17 Recrutamento alveolar ............................................................................... 33 2.17.1 Manobras de recrutamento com uso sustentado de altas pressões ......... 33 2.17.2 Insuflação pulmonar com PEEP + pressão controlada ............................. 34 2.17.3 Insuflação pulmonar periódica (suspiro) .................................................... 34 2.17.4 Insuflação pulmonar com PEEP x insuflação pulmonar periódica ............ 35 2.17.5 Inversão da relação I:E ............................................................................. 35

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CAPÍTULO 3 DISCUSSÃO ................................................................................... 36 CAPÍTULO 4 CONCLUSÃO ................................................................................. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 40

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por finalidade fazer uma revisão da literatura e, concentrar-

se na área de fisioterapia pneumofuncional, abordando o seguinte tema: Atuação

Fisioterapêutica na Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA), sendo

delimitado em: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final (PEEP) na SARA.

É indicado a utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

Angústia Respiratória Aguda? Quais as vantagens e desvantagens da aplicação

da PEEP na SARA? O objetivo deste trabalho é saber qual a eficácia da PEEP na

SARA.

“Do ponto de vista clínico, a SARA caracteriza-se pela rápida instalação de

insuficiência respiratória grave e potencialmente fatal; hipoxemia arterial refratária

a oxigenoterapia, que pode progredir para falência extra-pulmonar e, é bem

considerada como o resultado final clínico e patológica de lesão alveolar aguda

provocada por uma variedade de agressões e, provavelmente, iniciada por

diferentes mecanismos. A via comum final, consiste em lesão difusa da membrana

alvéolo-capilar, sendo o processo seguido de uma série de alterações

morfológicas que levam a insuficiência respiratória” (Tarantino 1997).

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Sistema Respiratório

Esse sistema, assim como os demais do corpo humano, não possui seu

funcionamento independente e isolado, mas trabalha em interação com outros

órgãos e sistemas. Anatomicamente o sistema respiratório do ser humano pode

ser definido, de modo geral, como um sistema de vias aéreas (superiores e

inferiores), unido a um par de pulmões, os quais são revestidos pela pleura

pulmonar e estão contidos na caixa torácica. E funcionalmente, o sistema

respiratório está ligado ao coração e interage com o sistema circulatório no

processo de hematose (trocas gasosas), abastecendo o organismo com oxigênio,

e eliminando o gás carbônico (Gray 1988).

A compreensão da organização anatomofuncional do sistema respiratório é

de fundamental importância para que o fisioterapeuta possa discernir o fisiológico

do patológico e, conseqüentemente, entender com mais clareza as diferentes

pneumopatias. Da mesma forma, o domínio desse conhecimento leva-o a

encontrar a devida fundamentação e justificativa para aplicar as técnicas da

fisioterapia respiratória (Costa 1999).

2.2. Anatomia

A anatomia do sistema respiratório é dividida em: vias aéreas superiores e

vias aéreas inferiores. Da superiores fazem parte: as narinas, a cavidade nasal, as

coanas, o complexo nasobucofaringolaríngo e a laringe. Essas estruturas em

especial as narinas e a cavidade nasal, tem a função de preparar o ar captado na

atmosfera, a fim de que atinja outras estruturas mais sensíveis e delicadas dos

pulmões. As narinas contêm estruturas vibráteis em forma de pêlos, denominadas

vibrissas, que agem como primeira peneira na filtragem do ar, evitando que

partículas sólidas de poeira grossa, pequenos insetos, entre outros fragmentos

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ganhem trajeto mais inferior e se alojem na árvore traqueobrônquica (Dangelo;

Fattini 1998).

Na cavidade nasal é produzido o muco, que age como uma segunda peneira

na filtragem do ar, pois o mesmo envolve as partículas sólidas não filtradas até

então, além de umidificar o ar inspirado, e é nesse seguimento que o ar é

aquecido, já que a rede vascular nesta região é rica e está bem próxima da

superfície. Portanto, as narinas justamente com a cavidade nasal, são as

principais responsáveis pela purificação (filtração, umidificação e aquecimento) do

ar inalado, deixando-o em condições adequadas para percorrer toda a

continuidade da anatomia respiratória. Já as vias aéreas inferiores são

constituídas por um sistema tubular denominado árvore traqueobrônquica, que

origina-se na traquéia, percorre os brônquios e termina no alvéolos, que são

estruturas de formato sacular que se assemelham a um cacho de uva. Em cada

pulmão há cerca de 300 milhões de alvéolos, que formam uma grande área de

troca gasosa (Gray 1988).

Os pulmões, fazem parte do grupo de órgãos nobre do organismo, são

revestidos pelas pleuras (visceral e parietal), e sua função não está limitada

unicamente à troca gasosa, eles desempenham outras funções também

importantes, como filtrar material tóxico da circulação, metabolizar alguns

compostos e atuar como um reservatório de sangue no corpo (Costa 1998;

Dangelo 1998).

2.3. Fisiologia

Basicamente consiste em: ventilação, difusão e perfusão: sendo a ventilação

caracterizada como a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões, ou seja,

inspiração e expiração. A ventilação ocorre devido a diferença de pressões

(atmosférica-intrapulmonar), para que o ar entre nos pulmões, é necessário que a

pressão intrapulmonar seja menor que a atmosférica, ou seja, mais negativa, e

quando a pressão intrapulmonar torna-se mais positiva, o ar então sai dos

pulmões para a atmosfera (Guyton; Hall 1997).

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A difusão consiste na troca gasosa, onde o O2 passa do interior dos alvéolos

para o interior dos capilares, e o CO2 dos capilares para os alvéolos. Isso é

descrito pela lei de Fick. Esta afirma que a velocidade de transferência de um gás

através de uma lâmina de tecido é proporcional à área do tecido e a diferença de

pressão parcial entre os dois lados, e inversamente proporcional à espessura do

tecido. A perfusão caracteriza-se pelo carreamento do oxigênio através da

corrente sanguínea, até chegar aos tecidos dependentes (West 1996).

Ainda dentro da fisiologia é importante apresentar e definir as unidades:

shunt e espaço morto. Sendo shunt a denominação das unidades do sistema

respiratório onde há perfusão íntegra com déficit na ventilação, ocasionando uma

troca gasosa muito precária. E espaço morto a denominação das unidades do

sistema respiratório onde há ventilação íntegra com ausência da perfusão,

ocasionando a não realização da troca gasosa (Presto 2003).

2.4. Diagnóstico

2.4.1. Critérios Básicos

- Lesão Pulmonar Aguda: A instalação da SARA é aguda, ou seja, ocorre de

forma súbita e rápida com comprometimento importante das trocas gasosas.

- Relação PaO2/FiO2 (P/F) menor que 200: Uma P/F menor que 200

representa uma lesão pulmonar com sérios comprometimentos das trocas

gasosas, ou seja, para se manter valores adequados da PO2 se faz necessário à

utilização de uma FiO2 elevada.

- Infiltrado Pulmonar Bilateral: Ao raio-X deve-se verificar infiltrado pulmonar

em ambos HTX, para afastar a hipótese de outras patologias como pneumonia,

embolia pulmonar etc. A SARA gera uma hipotransparência difusa ao raio-X de

tórax.

- Pressão Capilar Pulmonar (Pcap) menor que 18 mmHg: Uma pressão das

artérias pulmonares a níveis maiores de 18 mmHg pode representar a presença

de congestão pulmonar e/ou edema pulmonar cardiogênico. Esse valor poderá ser

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identificado por meio da utilização do cateter Swan-Ganz (Pwedge = pressão de

oclusão da artéria pulmonar) (Presto 2005).

2.4.2. Escore de Murray

Tabela:

__________________________________________________________________

Infiltrados Pulmonares ao raio-X Hipoxemia

1 – sem consolidação 1 – P/F > 300

2 – consolidação em 1 quadrante 2 – P/F 225-299

3 – consolidação em 2 quadrantes 3 – P/F 174-224

4 – consolidação em 3 quadrantes 4 – P/F 100-174

5 – consolidação em 4 quadrantes 5 – P/F < 100

Complacência Estática (Cst) PEEP

1 – Cst > 80 ml/cmH2O 1 – PEEP < 2 cmH2O

2 – Cst 60 a 79 ml/cmH2O 2 – PEEP 6 a 8 cmH2O

3 – Cst 40 a 59 ml/cmH2O 3 – PEEP 9 a 11 cmH2O

4 – Cst 20 a 39 ml/cmH2O 4 – PEEP 12 a 14 cmH2O

5 – Cst < 19 ml/cmH2O 5 – PEEP > 15 cmH2O

(Presto 2005)

Deve-se somar os valores referentes do raio-X, P/F, Cst e PEEP e depois

dividir o total por quatro. Considera-se SARA quando o resultado for maior que

2,5. Valores entre 0,1 a 2,5 indicam injúria pulmonar leve à moderada e quando o

resultado da soma for zero não há injúria pulmonar (Presto 2005).

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2.4.3. Exames Complementares

2.4.3.1. Radiografia de tórax

O acometimento pulmonar na SDRA pode ser analisado macroscopicamente

pelo exame radiográfico (Rx) e/ ou pela tomografia computadorizada.

No Rx, pode se evidenciar um infiltrado com características difusa, bilateral

que pode acometer todo pulmão entretanto, estas imagens serão positivas para a

síndrome se patologias cardíacas e condições de hipervolemia estiverem

descartadas (Wiener-Kronish 1990; Gattinoni 1994).

Figura 1

Fonte: (Hüttner 2002)

2.4.3.2. Tomografia computadorizada

No exame tomográfico, de grande importância para visualização diagnóstica,

a imagem encontrada dos pulmões acometidos são áreas com consolidação

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variável e não uniforme, infiltrados alveolares e atelectasias predominantes nas

regiões dependentes. A fase tardia da síndrome, fibroproliferativa, revela uma

imagem tomográfica do tipo “vidro moído”, isto é, diminuição das áreas de

consolidação que se tornam mais confluentes e adquirem um padrão intersticial

que poderá estar infartado (Wiener-Kronish 1990; Gattinoni 1994).

Figura 2

Fonte: (Peralta 2005)

2.5. Fisiopatologia

A exata patogênese da lesão pulmonar aguda não está definida, e tudo

indica que as reações não sejam específicas do aparelho respiratório. Evidências

clínicas e laboratoriais têm apontado o neutrófilo polimorfonuclear como um

importante mediador da lesão tecidual na SARA. Há muitas informações ainda não

hierarquizadas quanto às células envolvidas a à variedade de mediadores, como:

macrófagos, polimorfonucleares, citocinas e proteases, fragmentos do sistema de

ativação do complemento, ácido araquidônico e seus metabólitos (eicosanóides),

sistemas de coagulação e calicreína/bradicinina, que interagem e exacerbam uma

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resposta inflamatória. O comprometimento do sistema de defesa pulmonar e

anormalidade no surfactante contribuem para o agravamento do quadro (Tarantino

1997).

A fisiopatologia da SARA é extremamente complexa e apresenta variações

dependendo de sua etiologia e da associação de outras disfunções orgânicas. As

principais características são: respostas inflamatórias, extravasamento de líquido

para região alveolar, alteração das células pulmonares, redução da produção de

surfactante, alteração das propriedades elásticas pulmonares, toxidade pelo O2 e

lesões geradas até mesmo pela ventilação mecânica (Presto 2005).

A Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) é compreendida por

alterações pulmonares e mecânicas, mas, alguns estudos têm demonstrado

estratégias que reduzem essas alterações e consequentemente diminuem a

mortalidade (Pereira et al. 2005).

Evidenciam-se dentre as estratégias da SARA, a combinação da relação P-V

(Pressão-Volume) e pressão expiratória final (PEEP). Dessa maneira essa relação

fornece um recrutamento pulmonar adequado, e evita lesão pulmonar, enquanto

se obtém uma troca gasosa e oferta de oxigênio adequadas.

Uma das características clínicas da SARA são alterações da permeabilidade

da membrana alvéolo capilar, com extravasamento de plasma para o interior dos

alvéolos resultando assim no desenvolvimento pulmonar não-hidrostático (David

1996).

Numa fase inicial, existe um aumento na permeabilidade alvéolo-capilar com

o extravasamento de um líquido com alto teor de proteínas que se acumula a nível

intersticial e alveolar. Existe nesta fase um acúmulo de leucócitos na

microcirculação pulmonar. Trombos de fibrina e microtrombos tornam-se

abundantes 24 a 48 horas após o início dos sintomas clínicos. Áreas focais de

atelectasia, provavelmente denotando uma disfunção no surfactante, estão

presentes desde as fases iniciais e tendem a piorar à medida que a doença

progride (Hallman et al. 1989).

Na fase avançada ou subaguda, à medida que a doença progride, as

proteínas plasmáticas e restos celulares vão condensando-se ao nível dos septos,

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alvéolos e ductos alveolares, aparecendo como material cosinofílico e amorfo

(membrana hialina). As atelectasias focais tornam-se mais importantes. Surgem

fibroblastos que podem promover uma fibrose focal e progressiva.

2.6. Histopatologia

Muito embora os aspectos da SARA guardem uma certa identidade, é

praticamente impossível determinar histologicamente a causa da lesão inicial, já

que as complicações da síndrome também podem desenvolver as mesmas

características. Lembramos também que sem o intercâmbio de informações entre

o clínico e o patologista é impossível a correta interpretação dos achados de

biópsia e autópsia. Sob o aspecto didático e evolutivo, as alterações

histopatológicas são divididas em três etapas: I – Fase exsudativa, II – Fase

proliferativa e III – Fase de reparo e fibrose (Tarantino 1997).

Fase exsudativa – Nessa fase, há uma necrose extensa do epitélio alveolar,

com perda da barreira epitelial, alveolar e livre passagem do líquido intersticial

para o espaço alveolar, caracterizando, assim, o edema pulmonar não hidrostático

(Antoniazzi P et al. 1998).

Independente do motivo que tenha precipitado o processo inflamatório, o que

se encontra em estudos sobre microscopia ótica e ultra-estrutural é uma

progressiva congestão capilar com alguns pontos de estiramento e abertura das

junções endoteliais. Há também agregação de granulócitos em sua luz. Pelas

junções vasculares desfeitas flui edema rico em proteínas para o interstício, que

progressivamente separa as membranas basais. Observa-se pinocitose nas

células alveolares com inundação dos seus espaços, apesar de integridade inicial

dos pneumócitos I e II (Tarantino 1997).

Fase proliferativa - Esta fase compreende um período, em média, de 4 a 10

dias. Observa-se o início da resposta fibroblástica e fibrose intersticial. Neste

ponto há um aumento da resposta inflamatória, colapso alveolar (principalmente

das áreas dependentes do pulmão) e espessamento da parede alveolar e redução

da síntese de surfactante (Presto 2005).

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Esse é o estágio de organização dos exsudatos intra-alveolares e

intersticiais, observados na fase aguda. Os pneumócitos do tipo II proliferam-se

nos septos alveolares a partir do terceiro dia do início da SARA e a fibrose é

evidenciada em torno do décimo dia. Os fibroblastos convertem o exsudato em

tecido de granulação celular e, posteriormente, pela deposição de colágeno, em

tecido fibroso denso. Após a lesão da unidade alvéolo-capilar, as paredes

alveolares colapsam, e tornam-se vedadas pela deposição de fibrina.

Anormalidades estruturais e funcionais do surfactante também contribuem para o

colapso alveolar, na SARA (Antoniazzi P et al. 1998).

Com a resposta inflamatória estabelecida, os espaços alveolares abrem-se

para o interstício e são invadidos por fibroblastos e células endoteliais por ação de

peptídios plaquetários, fator de angiogênese e outros. As paredes dos capilares

também são agregadas por material mesenquimal (Tarantino 1997).

Fase de fibrose – Esta fase compreende um período a partir do 8º ao 10º dia,

em média. A fase fibrótica é caracterizada por áreas pulmonares densamente

consolidadas e fibrosadas, neste ponto, o peso do pulmão estará aumentado, a

complacência pulmonar provavelmente estará muito reduzida e as trocas gasosas

extremamente deficientes (Presto 2005).

Nas formas graves ocorre retração pulmonar, tornando-se o pulmão

pequeno, microcístico, lembrando a “displasia broncopulmonar do adulto”. O

sistema circulatório, antes com microtrombos reversíveis, sofre proliferação da

íntima e torna-se muscularizado, o que acentua a hipertensão pulmonar. Na

evolução para insuficiência respiratória ainda ocorrem tromboembolismo e infartos

hemorrágicos com coagulação intravascular regional e obstrução do sistema

linfático (Tarantino 1997).

Page 21: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

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2.7. Mecânica Ventilatória

A insuflação e o esvaziamento pulmonar pode ocorrer pelos movimentos do

diafragma para cima e para baixo, que fazem com que a caixa torácica se encurte

ou se alongue; pela elevação e abaixamento das costelas, o que aumenta ou

diminui o diâmetro antero-posterior da caixa torácica. Em repouso, ventilação

normal ocorre quase que inteiramente, por conta do primeiro dos dois

mecanismos, ou seja, pela movimentação do diafragma (Guyton; Hall 1997).

A caixa torácica e os pulmões possuem, em condições fisiológicas, um

equilíbrio de suas forças. Isto quer dizer que em condições normais a tendência do

pulmão é se colapsar, e a tendência natural da caixa torácica é saltar para fora,

logo, devido à ação da musculatura ventilatória, em condições de equilíbrio, os

pulmões são tracionados para fora e a caixa torácica para dentro (Presto 2005)

Durante a inspiração, a contração do diafragma traciona para baixo a

superfície inferior dos pulmões. Em seguida, durante a expiração, o diafragma

simplesmente se relaxa, permitindo a retração elástica dos pulmões e da caixa

torácica. O segundo mecanismo expande os pulmões porque em sua posição

natural de repouso, as costelas inclinam-se para baixo, desse modo permitindo

que o esterno recue em direção à coluna vertebral. Entretanto, quando o gradil

costal é tracionado para cima, as costelas projetam-se quase que diretamente

para diante, de modo que, assim, o esterno se movimenta para frente, fazendo

com que o diâmetro antero posterior do tórax aumente (Costa 1999).

Duas propriedades importantes contribuem para que esse processo de

enchimento e esvaziamento pulmonar ocorra, são elas: a complacência (pulmonar

e torácica) e a elastância (pulmonar e torácica). Sendo a complacência, a

capacidade de distensão (insuflação), e a elastância, a capacidade de retorno ao

tamanho inicial (Guyton; Hall 1997).

Então, percebe-se que o pulmão e a caixa torácica são órgãos elásticos que

durante a inspiração, por meio do trabalho da musculatura ventilatória, sofrem

uma expansão e durante a expiração retornam aos seus estados morfológicos

iniciais (Presto 2005).

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2.8. Etiologia

A SARA, tem sua etiologia bem variada, tendo como causa mais freqüente à

sepse, que pode chegar à 90% dos casos. Podemos simplificar essa variada

etiologia, de acordo com o mecanismo de lesão da membrana alvéolo-capilar,

dividindo em: a) lesões diretas e; b) lesões indiretas. Lesões diretas (via epitelial),

ou mais recentemente denominada de SARA primária: infecção pulmonar difusa,

inalação de gases tóxicos, afogamento, contusão pulmonar; b) Lesões indiretas

(via endotelial), ou mais recentemente denominada de SARA secundária:

Síndrome séptica, politrauma, intoxicação por drogas, pós circulação

extracorpórea (Amato et al. 2002).

Vários são os fatores que podem estar relacionados a causa da SARA.

Segundo Pereira (2005) podem ser agressões tanto diretas ou indiretas ao

parênquima pulmonar.

Pode ser mais analisada se considerar que esses fatores diretos e indiretos

são de risco e podem iniciar uma reação inflamatória sistêmica, que se for

vigorosa, pode acarretar uma lesão pulmonar difusa, ou seja, a SARA (Scanlan

2000).

Dependendo da lesão inicial, da sua gravidade e características é que pode-

se verificar a probabilidade de desenvolvimento da SARA.

A aspiração gástrica e o choque séptico estão associados com um risco

acima de 25% de desenvolverem SARA, enquanto que os receptores de múltiplas

transfusões sangüíneas apresentam um risco de SARA inferior a 5%. Assim se

existirem múltiplos fatores de risco presentes, haverá risco de desenvolvimento da

SARA (Scanlan 2000).

Alguns estudos comprovam que o tipo, o número e a gravidade dos

distúrbios de base, bem como o comprometimento multiorgânico evolutivo e

fatores perpetuantes merecem uma atenção global na abordagem de SARA.

(Kopp et al. 2002).

Page 23: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

22

2.9. Evolução Clínica

A evolução clínica da SARA, cursa em três fases: 1) Fase de latência e

Edema Intersticial, 2) Fase proliferativa e 3) Fase de fibrose. 1) O período de

latência pode variar desde as primeiras horas até três dias após o dano inicial. Os

sinais vitais estão próximos de regularidade e a radiografia de tórax é normal. O

edema intersticial instala-se em média, 24 horas após a lesão estrutural e

funcional dos pulmões. A tradução clínica é a ansiedade e taquipnéia, iniciando-se

a angústia respiratória (Cheng IN 2003).

O edema intersticial torna-se alveolar com hipoxemia grave, refratária a altas

concentrações de oxigênio (Fração inspirada de O2). A capacidade residual

diminui, com agravamento da complacência, hipertensão pulmonar, e a radiografia

revelando o chamado “pulmão branco”. O paciente torna-se agitado, confuso,

cianótico e a ausculta pulmonar revela estertores caracterizando o edema. Esta

fase pode perdurar até uma semana. 2) Esta segunda fase corresponde à

proliferação mesenquimal ou a organização do exsudatos. Durante este processo

que se desenvolve habitualmente em torno do 7º dia, encontra-se o paciente em

condição grave, sujeito a complicações diversas como o barovolutrauma, infecção,

desnutrição e disfunção de múltiplos órgãos. 3) A progressão da fibrose tem como

sinais, a piora da complacência, redução do índice de oxigenação, aumento do

espaço morto e agravamento da hipertensão pulmonar (Pelosi 1997).

2.10. Alterações Funcionais

2.10.1. Mecânica pulmonar

Complacência pulmonar – correlaciona-se à variação de volume pulmonar

correspondente a uma variação de pressão. Os achados morfológicos de edema

pulmonar, infiltrados inflamatórios, atelectasias e eventualmente fibrose explicam a

baixa distensibilidade do pulmão, dificultando a ventilação do paciente.

Page 24: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

23

Capacidade residual funcional – quantidade de ar que permanece nos

pulmões após uma expiração normal. Está caracteristicamente diminuída, pois vão

ocorrendo microatelectasias e preenchimento de espaços alveolares por exudatos.

Trabalho respiratório – devido a complacência do pulmão está diminuída, o

trabalho imposto a musculatura para realização do ciclo respiratório (Knobel

1999).

2.10.2. Distúrbio ventilação – perfusão e shunt

Na SARA ocorre um desequilíbrio da hematose normal do pulmão, que

privilegia a perfusão capilar de áreas que não estão sendo ventiladas. Os

mecanismos que explicam os distúrbios V/Q (ventilação-perfusão) são edema

alveolar, áreas focais de ventilação inadequada (microatelectasias), alterações

graves na microcirculação secundárias a microtrombos e agregados de leucócitos.

O equilíbrio V/Q é um fenômeno dinâmico e que metabólicos vasoativos da

inflamação comprometem a vasoconstricção hipóxica, causando desequilíbrio

V/Q. O shunt é o principal mecanismo gerador de hipoxemia quando a síndrome

está instalada, representando áreas perfundidas, porém sem ventilação (Tarantino

1997).

2.11. Intervenção Fisioterapêutica

Levando em consideração tudo o que foi mencionado nos parágrafos

anteriores, não será difícil entender a atuação da fisioterapia, que terá sua devida

importância atuando com a visão de melhorar as condições ventilatórias do

paciente. A SARA dificulta a troca gasosa, por lesar a membrana alvéolo-capilar,

levando o paciente a um estado de desconforto respiratório, uso da musculatura

acessória e hipoxemia, sendo necessário a intervenção fisioterapêutica, que irá

por sua vez trabalhar para melhorar a troca gasosa, consequentemente a

oxigenação. Para obtenção de resultados satisfatórios, nada melhor que a

utilização de pressão positiva expiratória final, ou seja, peepterapia (David 1996).

Page 25: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

24

O paciente será ventilado de forma invasiva, onde a prática médica atuará

realizando a intubação traqueal, e a prática fisioterapêutica atuará na

monitorização ventilatória, ou seja, ajustando e mantendo os parâmetros do

ventilador mecânico, em especial a PEEP, sempre com bom senso e inteligência

para conseguirmos os objetivos almejados (melhora do padrão ventilatório, do

shunt, da oxigenação, do intercâmbio gasoso e da atelectasia ocasionada pela

hipoventilação de unidades alveolares) (Azeredo 1996).

Ainda que os resultados não sejam satisfatórios, seremos mais agressivos e

utilizaremos a técnica de recrutamento alveolar (PEEP com alta titulação), na

intenção de reinsuflar os alvéolos colapsados, baseado no raciocínio anatomo-

fisiolófico da ventilação colateral alveolar, uma vez que a distensão dos alvéolos

normalmente ventilados promoveria a reabertura das unidades vizinhas (Amato

2000).

Faz-se necessário, antes de entrar na intervenção fisioterapêutica

propriamente dita, fazer a exposição de um artifício de grande utilidade

fisioterapêutica, que é a PEEP (Pazziannto et al. 2002).

2.12. PEEP

É uma resistência na fase final da expiração, sendo fisiologicamente

oferecida pela glote e pelas cordas vocais com valores de 3 a 5 cmH2O,

objetivando manter uma pressão positiva na via aérea ao final da expiração. A

terapia com PEEP tem a sua indicação quando ocorre situações em que uma

elevada taxa de FIO2 (fração inspirada de oxigênio) não possibilita uma PaO2

(pressão arterial de oxigênio) acima de 60% ou 0,6 são sinais de necessidade de

intervenção com pressão positiva expiratória final, sendo utilizados normalmente

níveis de pressão compreendidas entre 5 e 20 cmH2O. A peepterapia também tem

a sua indicação em casos de atelectasias, na intenção de abrir as unidades

alveolares colapsadas (Shigueomi et al. 2000).

É necessário durante a aplicação da PEEP, seja observando atenciosamente

as implicações hemodinâmicas, sendo sempre indispensável a sua monitorização

Page 26: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

25

e uma atenção especial as possíveis depressões volêmicas. A eficácia da

peepterapia depende do ajuste do nível da PEEP ao processo fisiopatológico que

estará comprometendo a função pulmonar. Os principais efeitos fisiomecânicos da

PEEP nos pulmões são: 1) Aumento da capacidade residual funcional, 2)

Favorecer o recrutamento alveolar, 3) Favorecer a redistribuição do líquido

extravascular, 4) Aumento do volume alveolar, 5) Aumento da pressão intra-

alveolar (Knobel apud Sandra Harumi 1999).

Pressão positiva ao final da expiração (PEEP) deve ser sempre utilizada em

pacientes com LPA/SDRA, para minimizar o potencial de lesão pulmonar

associada ao uso de concentrações tóxicas de oxigênio inspirado e para evitar o

colapso pulmonar ao final da expiração (Ísola et al. 2007).

Concluímos que a pressão positiva ao final da expiração (PEEP) é

considerada como um meio essencial para reverter a hipoxemia refratária

resultante da síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) (Pereira 2005).

2.12.1. Aumento da Capacidade Residual Funcional (CRF)

A CRF aumenta de acordo com o nível de PEEP, visto que quanto maior for

este nível de resistência o ar vai encontrar para sair, conseqüentemente maior

quantidade de ar irá permanecer nos alvéolos, aumentando assim a capacidade

residual funcional. Um aumento relativamente maior da CRF ocorrerá nas

unidades alveolares onde a complacência era inicialmente diminuída. Efeitos

fisiomecânicos benéficos irão surgir em decorrência do aumento da capacidade

residual funcional, tais como: prevenção do colapso alveolar, reabertura dos

alvéolos colapsados (Presto 2003).

2.12.2. Favorecer o recrutamento alveolar

Em decorrência do aumento da CRF, níveis acima de 10 cmH2O favorecem o

recrutamento alveolar, por permitir a reabertura de unidades alveolares

Page 27: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

26

previamente colapsadas. Níveis de PEEP abaixo de 10 cmH2O não promovem o

recrutamento alveolar (Wolf 2001).

2.12.3. Favorecer a redistribuição da água extravascular

Este efeito é na atualidade aceito como um efeito direto da PEEP, que atua

facilitando a movimentação de líquidos do espaço intersticial em direção ao

espaço peribrônquico e áreas hilares. Esta redistribuição de líquidos faz com que

o espaço entre os alvéolos e o capilar diminua melhorando assim a capacidade de

troca gasosa através da membrana alvéolo-capilar (Azeredo 1997).

A pressão término-expiratória positiva também aumenta a distribuição do

líquido alveolar e transloca líquidos dos espaços alveolares para o espaço

intersticial, diminuindo a distância da difusão para o intercâmbio de oxigênio. Na

presença de edema alveolar, a PEEP pode impedir o transbordamento através da

expansão do reservatório alveolar (Marini 1999).

2.12.4. Aumento do volume alveolar e aumento da pressão intra-alveolar

Igualmente o efeito de aumento da CRF, estes dois efeitos são obtidos

através da PEEP, visto que quanto maior for o nível de PEEP, maior será a

resistência que o ar irá encontrar para sair, como conseqüência, maior quantidade

de ar irá permanecer no interior dos alvéolos, aumentando assim o volume

alveolar e a pressão intra-alveolar (Amato 2000).

Foi citado nos parágrafos anteriores os benefícios da PEEP, mas é

importante descrever seus indesejados: Um deles é a diminuição do retorno

venoso, pelo aumento da pressão intra-torácica e aumento nas pressões pleural,

mediastinal e pericárdica. Um outro efeito indesejado é a disfunção do ventrículo

direito podendo ocorrer dilatação do ventrículo direito em resposta ao aumento da

resistência vascular pulmonar. Também podemos ressaltar a alteração da

distensibilidade do ventrículo esquerdo, devido algumas vezes ocorrer o desvio

Page 28: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

27

das respostas interventriculares. A PEEP pode ainda provocar o risco de

hiperinsuflação (David 1996).

2.12.5. Contra-indicação

A peepterapia tem como contra-indicação as seguintes situações: HIC

(hemorragia intra-craniana), instabilidade hemodinâmica, fístula broncopleural

ativa e pneumotórax não drenado (Emmerich 1999).

2.13. PEEP ideal

A PEEP ideal pode ser escolhida através de diferentes manobras tais como:

a curva pressão x volume do sistema respiratório, PEEP complacência (crescente

ou decrescente) e PEEP saturação.

2.13.1 Curva pressão x volume

A curva pressão x volume (P x V) descreve as características mecânicas dos

pulmões, principalmente na SARA. As informações contidas na curva evidenciam,

além das forças de recolhimento elástico, propriedades como: elastância,

complacência, tensão superficial, histerese e propriedades surfactantes (Presto

2003).

Nas fases iniciais da doença, comumente observamos um aumento da

histerese e uma inflexão na parte inspiratória da curva (ponto de inflexão inferior

→ Pflex-inf). Ambos os fenômenos sinalizam a presença de um colapso alveolar

maciço, indicando que recrutamento alveolar importante pode ser obtido com um

auxílio da PEEP. O Pflex-inf corresponde ao valor de pressão, onde a tangente da

curva aumenta de forma súbita, significando que uma grande população de

alvéolos é recrutada neste momento, com conseqüente aumento da complacência

pulmonar (Amato 2000)

Page 29: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

28

Já na fase tardia da SARA, nota-se uma diminuição da complacência e da

histerese na curva P x V, com ausência de um Pflex-inf bem definido. Esta

mudança traduz a presença de um processo fibrótico intenso, com pouco colapso

alveolar. Podemos também notar um segundo ponto de inflexão na curva (ponto

de inflexão superior → Pflex-sup), representando os limites de distensão

pulmonar. O Pflex-sup corresponde ao valor de pressão onde a tangente da curva

começa a diminuir significativamente, indicando que as propriedades elásticas do

pulmão não são mais respeitadas, havendo predominância da hiperdistensão de

estruturas e consequentemente, diminuição da complacência pulmonar (Emmerich

1998).

Este método tem sido proposto para determinar o prognóstico e influenciar

na terapêutica, através de modificações na escolha da estratégia ventilatória

adequada. A curva P x V é sempre construída através da insuflação pulmonar com

volume de ar pré-determinado, medindo-se a pressão gerada no sistema, o que é

a função da complacência pulmonar. Uma medida de pressão, com seu volume

correspondente, representa um ponto singular no gráfico. Este ponto permite o

cálculo da complacência do sistema respiratório para o volume em questão

(Berghe 2002).

Ramos da curva P x V

A curva P x V representa dois trajetos, o inspiratório e o expiratório, que são

distintos entre si, devido a uma propriedade fundamental do tecido pulmonar –

HISTERESE, que pode ser definida como “a falha de um sistema em responder da

mesma forma a atuação de uma força, quando está sendo aplicada ou retirada”

(Wolf 2001).

Ramo inspiratório – Inicialmente 4 pontos poderiam teoricamente ser

visualizados, e representariam fenômenos e conceitos teóricos distintos. Na

origem, os primeiros pontos obtidos em uma curva P x V desenham uma situação

de baixa complacência, necessitando então de altas pressões para deslocar um

pequeno volume de ar em direção ao alvéolos ainda abertos, o que se chamaria

Page 30: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

29

de “baby lung”. Uma transição abrupta marca a segunda fase da curva, este ponto

marca o momento em que grande número de unidades alveolares são recrutadas,

passando a participar da distribuição do ar inspirado. Essa primeira mudança de

inclinação da curva corresponde à pressão crítica de abertura de vias aéreas. A

terceira fase é uma fase de máxima inclinação da curva, correspondendo a uma

enorme somatória de recrutamentos, chegando cada vez mais a volumes maiores.

Na quarta fase, a tangente da curva começa a diminuir demonstrando uma

diminuição da complacência e início da hiperdistensão pulmonar (Berghe 2002).

Ramo expiratório – Partindo de uma volta as pressões caem rapidamente

para queda de valores de ar expirado, correspondendo a fase III do ramo

inspiratório. Agora uma nova inflexão da curva marca o colapso maciço de vias

aéreas (Berghe 2002).

2.13.2 PEEP complacência

Crescente - Sedação e curarização do paciente, leito com a cabeceira a 0º e

aspiração traqueal, verificar a presença de vazamentos no circuito,

homogeneização do pulmão: manobra de recrutamento com utilização de PEEP

de 40 cmH2O por 40 segundos, VC= 4 ml/kg, elevar a PEEP de 2 em 2 e escolher

o último valor da PEEP antes da complacência estática começar a cair (David

1996).

Decrescente - Sedação e curarização do paciente, leito com a cabeceira 0º e

asporação traqueal, verificar a presença de vazamento no circuito,

homogeneização do pulmão: manobra de recrutamento com utilização de PEEP

de 40 cmH2O por 40 segundos, ventilação controlada a volume, fluxo = 60 l/min,

VC = 4 ml/kg, pausa inspiratória no mínimo 2 segundos, decrescer a PEEP até 25

cmH2O e em sequência reduzí-la de 2 em 2, deixando cada etapa por dois

minutos, verificando a complacência estática a cada etapa, a PEEP ideal será

determinada quando o valor da complacência estática se elevar em relação às

anteriores, em seguida o próximo valor diminuir (Pelosi 2003).

Page 31: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

30

2.13.3 PEEP saturação

Paciente sedado e curarizado, leito com a cabeceira a 0º e aspiração

traqueal, verificar a presença de vazamentos no circuito. Homogeneização do

pulmão: manobra de recrutamento com utilização de PEEP de 40 cmH2O por 40

segundos, decresce progressivamente a PEEP observando a oximetria de pulso,

ajustando a PEEP no menor valor que proporcione uma saturação maior que 90%

(Emmerich 1998).

2.13.4 Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2)

Durante todo o procedimento a FiO2 deverá estar ajustada em 100%. Ao

final do processo deve-se colher uma gasometria arterial e ajustar os novos

valores da FiO2 para o menor valor possível a fim de evitar os efeitos deletérios do

O2 (Presto 2005).

2.14. Ventilação mecânica

As metas atuais estabelecidas por diversos autores para a ventilação

mecânica na SARA consiste em: recrutar e estabilizar as unidades alveolares

fechadas e não, participantes das trocas gasosas e, não permitir danos estruturais

em qualquer uma das unidades alveolares funcionantes (David 2002).

Promover adequada troca gasosa, ao mesmo tempo em que se evitam a

lesão pulmonar associada à ventilação mecânica e o comprometimento

hemodinâmico decorrente do aumento das pressões intratorácicas (Ísola et al.

2007).

Page 32: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

31

2.14.1. Ajustes ventilatórios

O volume corrente deve ser de 4 a 7 ml/kg nunca ultrapassando 35 cmH2O

de pressão de platô. Se a pressão de platô estiver acima de 35 cmH2O, deve-se

diminuir o volume corrente até 4 ml/kg. A freqüência respiratória deve estar entre

12 e 20 ciclos/min, evitando-se volume minuto maior do que 7,5 l/min. Freqüências

elevadas podem potencializar a lesão alveolar. Utilizar modos ventilatórios que

minimizem a pressão nas vias aéreas, como pressão controlada (PCV), pressão

de suporte (PSV), ventilação com pressão de suporte e volume garantido (VAPSV)

ou ainda, volume controlado (VCV). Fio2 ajustada até 50%. Se houver

necessidade de uma FiO2 > 50%, sinaliza uma lesão pulmonar acentuada, deve-

se tentar a inversão da relação I:E (inspiração:expiração) (Presto 2003).

2.15. Hipercapnia permissiva

A hipercapnia permissiva é definida pela permissão de valores na pressão

arterial de CO2 (PaCO2) acima do normal, ou seja > 45 mmHg. É estratégia

ventilatória destinada a reduzir o risco de trauma (barotrauma e volutrauma)

causada pela geração de altas pressões de pico nas vias aéreas de pacientes

submetidos a suporte ventilatório convencional para o tratamento de formas

graves de insuficiência respiratória aguda, como na SARA. Estas altas pressões

nas vias aéreas são reduzidas pela utilização de volumes correntes menores 4 a 7

ml/kg (Emmerich 1998).

A hipercapnia permissiva consiste na assistência ventilatória permitindo

níveis da PCO2 acima de 50 mmHg, por meio da utilização de valores elevados de

PEEP, com finalidade de impedir uma possível hiperdistensão alveolar e ao

mesmo tempo mantendo o maior número possível de unidades alveolares

recrutadas. Desta forma, a aplicação da estratégia de repouso alveolar leva a uma

hipercapnia que deve ser tolerada, com finalidade de manter um recrutamento

alveolar e favorecer, desta forma, as trocas gasosas. (Presto 2005)

Page 33: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

32

As principais metas a serem atingidas com o emprego da hipercapnia

permissiva são: diminuir o pico de pressão nas vias aéreas e a melhor oxigenação

(saturação de O2 ≥ 90%) às custas da menor FiO2, limitando variações

metabólicas a um ph entre 7.34 – 7.35 e a PaCO2 em torno de 50-80 mmHg.

Durante esta fase de instalação a hipercapnia permissiva, por haver diminuição

concomitante da PIP e da pressão média das vias aéreas (Paw), pode percorrer

uma piora na oxigenação, que pode ser restaurada ao seu normal pela extensão

do tempo inspiratório (David 1996).

Com critérios de entrada, a hipercapnia permissiva apresenta: pacientes com

quadro clínico, rediológico, gasométrico de SARA em ventilação espontânea, ou

em suporte ventilação com FiO2 ≥ 0,5 PaO2 ≤ 60 mmHg, volume corrente = 10

ml/kg, pressão platô ≥ 35 com ou sem PEEP. E como critérios de exclusão:

pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, coronariopatia aguda,

hipertensão intracraniana, crises convulsivas, com distúrbios metabólicos

descompensados. Em pacientes com mais de 65 anos de idade a indicação desta

técnica deve ser pesada em torno de binômio “risco e benefício” (Silva 2001).

2.16. Efeito protetor da PEEP

A preocupação com o colapso alveolar expiratório, é devido ao aumento do

shunt, e o aparecimento de áreas colapsadas, que atuam como foco gerador de

lesões, principalmente pelo fenômeno de abre e fecha a cada ciclo ventilatório. A

preferência gravitacional das lesões induzidas pela ventilação mecânica, são as

áreas inferiores dos pulmões, que já colabam sob seu próprio peso. As manobras

realizadas para prevenir o colapso expiratório, tem um efeito claramente protetor.

A PEEP quando ajustada acima da pressão crítica de abertura alveolar, pode

praticamente abolir estas lesões (Amato et al. 1998).

A interface entre zonas colapsadas e aeradas poderia sofrer grandes riscos

durante tentativas de expansão do parênquima. Neste modelo de tecido pulmonar,

onde existe a interdependência elástica das paredes alveolares, o alvéolo envolto

Page 34: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

33

por unidades abertas, pode receber uma tensão equivalente a 140 cmH2O durante

a insuflação usual de 30 cmH2O (Berghe 2002).

2.17. Recrutamento alveolar

Define-se como uma manobra de expansão pulmonar para abertura de

unidades alveolares colapsadas, visando uma melhora da oxigenação sanguínea.

Quanto maior o número de alvéolos ventilados, maior a complacência pulmonar,

possibilitando o pulmão acomodar maiores volumes com menores pressões no

sistema respiratório e menor shunt com melhor oxigenação (Azeredo 2000).

Esta manobra tem sua indicação quando se deseja recrutar rapidamente os

alvéolos colapsados, com o objetivo de diminuir o shunt pulmonar, evitar colapsos

alveolares, desfazer atelectasias, reverter uma importante hipoxemia. E como

contra-indicação, a manobra de recrutamento alveolar apresenta: instabilidade

hemodinâmica, fístulas broncopleurais, hemoptise, pneumotórax não drenado.

hemorragia intra craniana (HIC). E ainda devemos atentar para algumas situações

decorrentes a manobra, tais com: diminuição do débito cardíaco, diminuição do

retorno venoso e aumento da pressão intra craniana (David 2000).

O principal objetivo do recrutamento alveolar por intermédio da utilização da

PEEP é favorecer as trocas gasosas, por meio da utilização de menores níveis de

FiO2, valores inferiores a 60%, a fim de minimizar os efeitos deletérios do O2

(Presto 2005).

Existem alguns tipos diferentes de recrutamento alveolar:

2.17.1. Manobras de recrutamento com uso sustentado de altas pressões

Paciente obrigatoriamente sedado, se necessário paralisado. Monitorização

contínua do eletrocardiograma (ECG), pressão arterial (PA) e saturação de O2

(SatO2). Modo ventilatório espontâneo (PSV), ajustar a PEEP 30 cmH2O por 30

segundos. Greaves et al indicaram que pressões de 30 cmH2O são necessárias

Page 35: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

34

para recrutar pulmões sadios que estão atelectasiados. Em pacientes com SARA,

Sjöstrand et al precisaram de via aérea de 55 cmH2O para abrir pulmões

colapsados. Em pacientes com SARA, Gattinoni et al, necessitou de 46 cmH2O

para o recrutamento de parte do pulmão colapsado. Entretanto, Amato et al

aplicaram CPAP de 35 a 40 cmH2O durante 30 a 40 segundos antes do

estabelecimento da estratégia de ventilação protetora e sempre que a ventilação

mecânica for interrompida (Sarmento 2007).

2.17.2. Insuflação pulmonar com PEEP + pressão controlada

Paciente obrigatoriamente sedado, se necessário paralisado com bloqueio

neuromuscular (curarizado). Monitorização contínua do ECG, PA e SatO2. Modo

pressão controlada ajustar o valor da pressão controlada em 10 cmH2O, FiO2 de

100%, FR de 10 ciclos por minutos, relação I:E de 1:1. Aumentar a PEEP

gradativamente até alcançar o valor de 30 cmH2O e manter neste valor, se

possível por 2 minutos. Repetir esta manobra se necessário aumentando-se a PC

para 15 cmH2O. A maior pressão de recrutamento documentada em humanos foi

aplicada por Medoff et al, que usou pico de pressão de 60 cmH2O em mulher de

32 anos com SARA. O recrutamento foi feito usando o modo pressão controlada,

PEEP de 40 cmH2O, I:E de 1:1 e FR de 10 ciclos por minuto mantido por dois

minutos. Nenhuma alteração hemodinâmica foi apresentada, porém quanto à

questão de Barotrauma nada pode ser dito, pois foram colocados drenos de tórax

bilateral antes do recrutamento alveolar (Sarmento 2007).

2.17.3 Insuflação pulmonar periódica (suspiro)

Pelosi et al, investigou o uso de suspiros periódicos administrados com

volumes-correntes que produzissem pressão de platô de 45 cmH2O em 10

pacientes com SARA. Compararam o seu efeito durante uma hora de ventilação

com suspiro. Foram observados aumento da PaO2 e reduções da PaCO2, do

shunt e da elastância do sistema respiratório. Resultados similares foram obtidos

Page 36: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

35

por Foti et al em 15 pacientes com SARA, sendo administrados aumentos

periódicos de PEEP em uma período de 30 minutos (Lemes ; Guimarães 2007).

2.17.4. Insuflação pulmonar com PEEP x insuflação pulmonar periódica

Ambas as manobras de recrutamento alveolar resultam em um aumento da

PaO2. Nenhuma das duas técnicas, se aplica em pacientes hemodinamicamente

estáveis, causam comprometimento ou aumentam o risco de barotrauma, porém

valores limitados são utilizados em pacientes diminuindo esses efeitos.

Conceitualmente, o uso de manobras de recrutamento alveolar sustentada requer

o uso de PEEP alto suficiente para prevenir o desrecrutamento da lesão pulmonar

com o estresse associado com o recrutamento e desrecrutamento pulmonar. O

uso do suspiro periódico é efetivo no aumento da PaO2, mas não mantém a

estabilidade alveolar ao longo do tempo. Mais estudados são necessários para o

potencial de risco em cada técnica de recrutamento. Dentro das bases teórica o

uso da insuflação pulmonar sustentada e preferível em relação ao suspiro.

2.17.5. Inversão da relação I:E

Iniciar com 1:1 aumentando progressivamente para 2:1 ou 3:1 se for o caso,

sempre no modo pressão controlada, até atingir a oxigenação adequada. Esta

manobra só deverá ser realizada com monitorização respiratória e hemodinâmica.

Tem-se demonstrado que o prolongamento do tempo inspiratório efetivo do que

aquele obtido com as modalidades convencionais, obtendo-se ainda uma redução

significativa do espaço morto (Amato 2000).

Nesta modalidade de ventilação mecânica, a melhor oxigenação obtida com

o aumento do tempo inspiratório e inversão da relação I:E, ocorre por haver

heterogeneidade entre unidades alveolares, permitindo-se que aquelas com maior

constante de tempo possam ser recrutadas, melhorando a troca gasosa ( Coimbra

; Silvério 2001).

Page 37: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

36

3. DISCUSSÃO

Segundo Pereira (2005) a SARA é uma das importantes causas da

insuficiência respiratória aguda isso em pacientes graves internados na UTI.

Estudos realizados por esse autor revelam que o valor de PEEP ideal deveria ser

de acordo com a pressão de fechamento dos alvéolos, e não de acordo com a

pressão de abertura, pois os alvéolos fecham-se mais rápidos do que abrem.

Também relata que dentre as estratégias utilizadas no manejo da SARA,

evidenciam-se a combinação da relação P-V (Pressão-Volume) e pressão

expiratória final (PEEP). Essa relação simultaneamente garante um recrutamento

pulmonar adequado, e evita lesão pulmonar, enquanto se obtém uma troca

gasosa e oferta de oxigênio adequadas.

A pressão positiva ao final da expiração (PEEP) é considerada como um

meio essencial para reverter a hipoxemia refratária resultante da Síndrome da

Angústia respiratória aguda (SARA). Mas seu nível ideal é assunto de

controvérsias (Puybasset, 2000). A utilização de PEEP promove melhora da

oxigenação. Utilizando-se em pacientes com SARA associado à aplicação da

estratégia protetora, tem sido de muita importância na melhora de pacientes

acometidos desse mal (Arnato 1998).

Kopp et al. (2002) afirma que a melhor forma para se obter o valor da PEEP

a ser utilizada em cada caso não está definida,, também o valor ideal da PEEP a

ser utilizada na SARA. É recomendado utilizar o valor mínimo necessário para

evitar o colapso alveolar ao final da expiração.

Ards (2000) aconselha que a mais adequada PEEP durante. VM de

pacientes com SARA previne lesão pulmonar associada a VM e melhora a

oxigenação e acrescenta que não se deve ventilar pacientes com SARA sem

PEEP.

Ventilar o paciente com SARA com volume residual baixo e PEEP baixa

indicará grande deterioração da oxigenação e assim não protegerá os pulmões da

lesão induzida pela abertura cíclica dos alvéolos (Folke 1972).

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37

Conforme esclarece Berner (1991) o uso de PEEP muito acima de Pflex

poderia diminuir um pouco mais o shunt pulmonar em conseqüência poderia levar

a uma hiperdistensão pulmonar com graves alterações hemodinâmicas e riscos de

ruptura alveolar. Quando o uso de PEEP abaixo de L-Pflex “mesmo quando

associada a baixos volumes correntes”, poderia levar a um grande aumento do

shunt pulmonar, associada também a aumento do edema pulmonar.

Kreuzfelder (1998) recomenda para SARA que o PEEP deva ser aplicado

em porções pequenas de 3 a 5 cm H2O (até um máximo de 15 cm H2O) para

atingir uma saturação arterial de oxigênio aceitável (>90%), com valores não

tóxicos de oxigênio (FiO2 < 0,6) e com pressão de picos aceitáveis (< 40 a 45 cm

H2O).

Quanto a determinação dos níveis da Pressão Positiva Expiratória Final pelo

emprego da alça P-V, seriam aqueles que eliminassem os dois primeiros pontos

de inflexão desta curva, pois representam o nível mínimo de pressão para superar

o volume de oclusão (PEEP de Apoio) e o ponto de recrutamento alveolar máximo

(PEEP Recrutativo) (Emmerich 1996).

Dessa maneira, muitos autores preconizam o uso da curva pressão-volume

como indicador para escolher o nível de PEEP a ser utilizado com base na

determinação do Pinf (Walther 1998).

Notou-se numa fase inicial que o uso da pressão positiva expiratória final

poderia melhorar a oxigenação nos pacientes com síndrome da angústia

respiratória aguda, permitindo que a fração inspirada de oxigênio pudesse ser

reduzida. O efeito da pressão positiva expiratória final sobre a função pulmonar é

um aumento na capacidade residual funcional, obtendo como resultado o

recrutamento ( Lorraine et al. 2000).

Segundo conclui Presto (2005) deve-se utilizar valores de PEEP, para

recrutamento alveolar, de até 15 cmH2O; salvo nos casos em que a complacência

esteja diminuída de forma extrema, como ocorre na SARA.

Marini (1999) diz que se a pressão de pico for controlada, a PEEP pode

contribuir de forma desprezível para o risco de ruptura alveolar. De fato, quando

pressões correntes elevadas são geradas nos estágios iniciais da SARA, a PEEP

Page 39: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

38

pode ser um instrumento para a redução das tensões de laceração e para evitar o

edema pulmonar induzindo pelo ventilador. Permanece razoável se acreditar que

a PEEP poderia acentuar o risco de ruptura de alvéolos que são enfraquecidos

pela doença se for permitido que as pressões de pico aumentem e, uma vez

rompidos, o aumento da pressão alveolar média induzido pela PEEP poderia

promover um escape gasoso adicional. Essas pressões são reduzidas

eficazmente com a diminuição do volume corrente à medida em que a pressão

término-expiratória é aumentada. Um volume corrente baixo com PEEP

aumentada freqüentemente acarreta hipercapnia, a qual pode ser aceita.

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39

4. CONCLUSÃO

Ficou claro a importância da utilização de pressão positiva expiratória final

como abordagem terapêutica nos pacientes acometidos pela SARA. Basta estudar

a fisiopatologia, entender as alterações funcionais e estudar a peepterapia e seus

efeitos, para compreender o por quê da utilização da PEEP e entender o por quê

da sua eficácia.

A PEEP se torna eficaz na SARA pois melhora a hematose através da lei de

Fick, auxilia na expulsão do líquido intra-alveolar e aumentando a capacidade

residual funcional.

Quando o paciente é submetido a suporte ventilatório invasivo, o

fisioterapeuta deve atentar para os parâmetros ventilatórios, objetivando atender

as necessidades do paciente, a lesão pulmonar e o que pode vir à acontecer.

Page 41: Utilização da Pressão Positiva Expiratória Final na Síndrome da

40

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