urbanizaÇÃo, aumento de ruÍdo e problemas de voz: …

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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO HELOISA MARIA MACHADO E SILVA URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a interferência de ruídos produzidos em espaços abertos na produção vocal de professores BELÉM 2009

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Page 1: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

URBANO

HELOISA MARIA MACHADO E SILVA

URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a interferência de ruídos produzidos em espaços abertos na

produção vocal de professores

BELÉM

2009

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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

URBANO

HELOISA MARIA MACHADO E SILVA

URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a interferência de ruídos produzidos em espaços abertos na

produção vocal de professores

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia – UNAMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Urbanização e Meio Ambiente. Linha de Pesquisa: Dinâmica Sócio-ambiental Urbana. Orientador: Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho. Co-Orientadora: Profa. Dra. Elcione Maria Lobato de Moraes.

BELÉM 2009

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

S586u SILVA, Heloísa Maria Machado. Urbanização, Aumento de ruído e problemas de voz: a interferência

de ruídos produzidos em espaços abertos na produção vocal de professores. Belém, 2009.

133 f. Dissertação (Mestrado) _ Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia – UNAMA.

Orientador: Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho.

1.Belém. 2.Urbanização. 3.Ruído. 4.Voz.

CDD:616.855

Page 4: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a interferência de

ruídos produzidos em espaços abertos na produção vocal de professores

HELOISA MARIA MACHADO E SILVA

Dissertação submetida à avaliação, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho Universidade da Amazônia - UNAMA ___________________________________________ Profa. Dra. Cynthia da Silva Lynch Universidade da Amazônia - UNAMA ___________________________________________ Profa. Dra. Maria Tita Portal Sacramento Universidade do Estado do Pará – UEPA ___________________________________________ Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo Universidade da Amazônia - UNAMA

Aprovado: _________________________ Belém, ____de _________________2009.

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Ao meu marido Alberto, minhas filhas Camilla

e Juliana, meus netos João Vitor e Cecília,

Meus irmãos e meus pais Neuza e José (in

memorian) por estarem sempre por perto.

Page 6: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho, por ter aceito o desafio de

orientar um trabalho na área da saúde, especialmente da fonoaudiologia.

À Dra. Elcione Lobato, pela co-orientação e disponibilidade para me acompanhar

durante toda a coleta dos dados.

Ao Dr. Antonio Marcos Araújo, pela ajuda inestimável na realização dos gráficos e

discussão dos resultados.

Aos meus pais, por terem me ensinado o valor da educação e dos estudos.

Ao Alberto Damasceno, meu marido, pelos livros presenteados em silêncio,

verdadeiras provas de amor.

À aluna Fernanda Ripardo, pelo auxílio durante a coleta dos dados.

Ao Ricardo Figueiredo, pela disponibilidade sem limites.

À Francisca Araújo, pela possibilidade de interlocução sempre que preciso.

Ao meu irmão Cláudio Machado, fiel escudeiro, presente em todos os momentos.

Às minhas filhas Juliana e Camilla, pela presença amorosa e apoio na realização deste

trabalho.

Aos professores e responsáveis pelas escolas, por aceitarem participar da pesquisa.

Aos professores do mestrado, pelos ensinamentos e informações trocados,

especialmente ao professor Marco Aurélio Arbage Lobo

Ao Antonio Carlos Lobo Soares, pelos textos gentilmente emprestados.

A todos os colegas do mestrado, turma 2007, por compartilharmos as angústias e as

vitórias.

À Maira Carvalho e Vanessa Costa, pela revisão da dissertação.

À FIDESA, pela bolsa concedida.

Page 7: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

RESUMO

O presente estudo analisa de que forma o ruído produzido em espaços abertos impacta e se inter-relaciona com os ruídos produzidos em espaços fechados e contribui para as alterações de voz, particularmente de voz de professores. O objetivo principal foi analisar a influência do ruído decorrente da urbanização sobre a voz. Especificamente, o estudo buscou (a) estabelecer a correlação entre o ruído produzido interna e externamente às escolas e as queixas vocais dos professores de escolas localizadas em áreas urbanas; e, (b) comparar as alterações vocais de professores expostos a diferentes níveis de ruído urbano. A pesquisa alicerçou-se em estudo de casos múltiplos, abordagem qualitativa e técnica de análise de conteúdo. Fizeram parte da pesquisa vinte professores de duas escolas de ensino fundamental de Belém do Pará, a cidade mais ruidosa da região amazônica. As escolas estão localizadas em espaços urbanos com níveis de ruído urbano e características construtivas distintas selecionadas a partir dos dados gerados pelo Mapa Acústico de Belém. Foram medidos os níveis de pressão sonora internos às salas de aula e identificadas as queixas e sintomas vocais dos professores. A dissertação conclui que há relação direta entre o ruído externo e o interno e que este, por sua vez, está relacionado às condições acústicas internas das salas de aula que influenciam diretamente no comportamento dos professores quanto ao uso da voz. O estudo identificou que na presença de ruídos intensos os professores ficam menos motivados a conversar com alunos e em muitos casos comportam-se como surdos. O estudo indica que o planejamento urbano deve considerar o ‘fator locacional’ para definir o espaço de construção de novas escolas, assim como traçar uma política de transito que diminua os níveis de ruído no entorno das escolas já existentes.

Palavras-chave: Belém, Urbanização, Ruído. Voz.

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ABSTRACT

This study examines how noise produced in closed spaces impacts and inter-relates with noises produced in open spaces and then contributes for voice changes, particularly teachers’ voice. The aim was to analyze the influence of recurrent urbanization noise on voice. The study specifically aimed (a) to establish correlation between noise generated internally and externally to schools and vocal teachers’ complaints and (b) to compare the changes of teachers’ voices that are exposed to different levels of urban noises. The research was based on the multiple case study, qualitative approach and content analysis technique. The research data was collected from twenty teachers from two primary schools of Belém do Pará City that is the noisiest city in Amazonia region. The schools are located in urban areas with diverse levels of urban noise and different construction’s patterns. The schools were selected from data generated by Belém Acoustic Map. The research measured the levels of sound pressure inside the classrooms and identified vocal complaints and teachers’ vocal symptoms. The study evidences that there is a direct correlation between internal and external noise. The study shows that noise is related to classroom internal acoustic conditions that in its turn directly influences on teachers’ behavior in using their voices. The study identified that teachers are less motivated to talk with pupils and in many cases they behave as deaf when intense noises are present. The study indicates that urban planning should take into account 'location factor' in order to define areas where new schools ought to be building as well as to develop a traffic policy that makes feasible to reduce noise levels around the existing schools.

Keywords: Urbanization of Belém, Noise, Voice.

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LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ASA Acustical Society of América (Sociedade Americana de Acústica)

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

DATASUS Banco de Dados do Sistema Único de Saúde

dB(A) Decibéis com ponderação A

DETRAN Departamento Estadual de Trânsito

FIDESA Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

JICA Japan International Cooperation Agency

L Nível sonoro médio equivalente com ponderação A eq

L Nível sonoro máximo max

L Nível sonoro mínimo min

MAB Mapa Acústico de Belém

MT Ministério do Trabalho

NBR Normas Brasileiras de Ruído

NR Norma Regulamentadora

NPS Nível de Pressão Sonora

OMS Organização Mundial de Saúde

PDTU Plano de Desenvolvimento dos Transportes Urbanos de Belém

PIB Produto Interno Bruto

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RMB Região Metropolitana de Belém

SEAD Secretaria de Estado de Administração

SEDUC Secretaria Estadual de Educação

SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

UFPA Universidade Federal do Pará

UNAMA Universidade da Amazônia

WHO World Health Organization

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa dos bairros de Belém........................................................................ 34 Figura 02 Mapa acústico dos bairros de Belém (2004) entre 9h e 10 h..................... 40 Figura 03 Mapa Acústico (9h-10h) e Localização da Escola Particular..................... 68 Figura 04 Mapa Acústico do bairro Telégrafo (9h-10h) e localização da Escola

Pública........................................................................................................

69 Figura 05 Visão da parada de ônibus em frente à escola............................................ 72 Figura 06 Visão do comércio e serviços..................................................................... 72 Figura 07 Visão da avenida, ônibus e veículos........................................................... 72 Figura 08 Visão do comércio e veículos..................................................................... 72 Figura 09 Visão frontal da sala de aula localizada em via urbana com altos níveis

de ruído......................................................................................................

73 Figura 10 Visão interna da sala de aula localizada em via urbana com baixos níveis

de ruído.......................................................................................................

73 Figura 11 Visão da via em que se encontra a escola................................................... 75 Figura 12 Visão dos órgãos públicos localizados nas proximidades.......................... 75 Figura 13 Mapa das quadrículas com os pontos de medição...................................... 76 Figura 14 Nível de ruído por freqüência nas duas escolas.......................................... 84 Figura 15 Diferença de níveis de ruído entre as duas escolas..................................... 84 Figura 16 Níveis de ruído das duas escolas................................................................. 86 Figura 17 Ruídos que mais incomodam na sala de aula............................................. 89 Figura 18 Registro da intensidade dos sinais de voz, ruído de tráfego e ruído

gaussiano branco sintético.........................................................................

91 Figura 19a Comportamento vocal dos professores da escola pública sob níveis de

ruído urbano................................................................................................

95 Figura 19b Comportamento vocal dos professores da escola particular sob níveis de

ruído urbano................................................................................................

95 Figura 19c Diferença média entre a intensidade de voz dos professores das duas

escolas.........................................................................................................

95 Figura 20 Queixas e sintomas vocais dos professores das duas escolas..................... 98 Figura 21 Queixas relacionadas ao ruído 98 Figura 22 Espectro do ruído de trânsito...................................................................... 102 Figura 23 Hábitos na prática docente nas duas escolas........................................ 104

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Nível médio de ruído típico em situações cotidianas.................................. 37 Quadro 02 Ruído nas escolas........................................................................................ 42 Quadro 03 Nível de conforto sonoro, segundo NBR 10.152........................................ 45 Quadro 04 Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente......................... 47 Quadro 05 Recursos vocais........................................................................................... 52 Quadro 06 Qualidade vocal........................................................................................... 56 Quadro 07 Critérios de inclusão das escolas.................................................................. 69

Page 12: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

15

1.1 O CONTEXTO DA PESQUISA 15 1.2 O PROBLEMA E A HIPÓTESE DA INVESTIGAÇÃO 19 1.3 OS OBJETIVOS DA PESQUISA 20 1.3.1 Objetivo geral 20 1.3.2 Objetivos específicos 20 1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 21

CAPÍTULO 2: ARCABOUÇO TEÓRICO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ

23

2.1 A RELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ 23 2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO 24 2.2.1 A urbanização brasileira 24 2.2.2 A urbanização na Amazônia 29 2.2.3 A urbanização em Belém 32 2.3 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E A POLUIÇÃO SONORA 36 2.4 O RUÍDO NA CIDADE DE BELÉM 39 2.5 O RUÍDO NA ESCOLA 41 2.6 O RUÍDO SOB A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 44 2.7 RUÍDO E SEUS IMPACTOS SOBRE A VOZ 48 2.8 HÁBITOS, QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS 50 2.9 RECURSOS VOCAIS 52 2.10 QUALIDADE VOCAL 53 2.11 VOZ E SAÚDE 56 2.12 VOZ E AUDIÇÃO 58 2.13 CONCLUSÃO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ DO PROFESSOR 59

CAPÍTULO 3: METODOLOGIA

61

3.1 EM BUSCA DE UMA NOVA ABORDAGEM METODOLÓGICA 61 3.2 ESTUDO DE CASO 61 3.3 PESQUISA QUALITATIVA 63 3.3.1 Análise de conteúdo 64

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3.3.2 Grupo Focal 65 3.4 SELEÇÃO DAS UNIDADES DE ANÁLISE: ESCOLAS E PROFESSORES 67 3.4.1 As escolas 67 3.4.2 Os professores 70 3.4.3 Caracterização das escolas analisadas 70 3.4.3.1 A escola pública 70 3.4.3.2 A escola particular 73 3.5 COLETA, ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 75 3.5.1 Níveis de ruído 75 3.5.2 Hábitos, queixas e sintomas vocais 77 3.6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 78 3.7 A PESQUISA DE CAMPO: ASPECTOS POSITIVOS E LIMITANTES 79 3.8 CONCLUSÃO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA OPÇÃO

METODOLÓGICA ADOTADA

80

CAPÍTULO 4: O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS NA ESCOLA

82

4.1 INTRODUÇÃO 82 4.2 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO 82 4.3 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO DAS SALAS 86 4.4 CONCLUSÃO 93

CAPÍTULO 5: OS RUÍDOS E SEUS IMPACTOS NA VOZ DOS PROFESSORES

94

5.1 INTRODUÇÃO 94 5.2 COMPORTAMENTO VOCAL DOS PROFESSORES SOB DIFERENTES

NÍVEIS DE RUÍDO

94 5.3 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DOS RUÍDOS EXTERNOS

E INTERNOS E SUAS INTERFERÊNCIAS NA PRODUÇÃO VOCAL

98 5.4 O RUÍDO E OS HÁBITOS QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS DOS

PROFESSORES

101 5.5 RECURSOS VOCAIS UTILIZADOS PARA SUPERAÇÃO DOS

OBSTÁCULOS

106

5.6 CONCLUSÃO 108

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CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO

109

6.1 RETORNANDO À QUESTÃO CENTRAL 109 6.2 O IMPACTO DO RUÍDO EXTERNO NA ESCOLA 109 6.3 DO AUMENTO DO RUÍDO À ALTERAÇÃO DE VOZ DOS

PROFESSORES

110 6.4 ENTRE O IDEAL E O REAL: A DESOBEDIÊNCIA À LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA

111 6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: EM DIREÇÃO A NOVOS ESTUDOS 112 REFERÊNCIAS

113

GLOSSÁRIO

125

APÊNDICES

128

APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 128 APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO DE AUTO AVALIAÇÃO 131 APÊNDICE 3 - ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL

133

Page 15: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

15

1 INTRODUÇÃO

1.1 O CONTEXTO DA PESQUISA

O mundo moderno está repleto de problemas ambientais causados pelo crescimento

desorganizado dos centros urbanos. A degradação ambiental, o aumento da violência urbana,

a pobreza e as dificuldades relacionadas ao aumento tráfego motorizado são alguns exemplos

(SOUZA, 2003).

A Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (RIO 92) deixou

clara sua posição no que diz respeito ao agravamento da crise ambiental mundial, e enfatizou

a necessidade do planejamento como forma de se buscar a sustentabilidade ambiental e a

manutenção dos recursos naturais de todo o planeta.

Uma série de estudos realizados por Miraglia (2002), entre 1991 e 1994, concluiu que

13% das mortes de idosos por doenças respiratórias estavam associadas à poluição e que São

Paulo perde US$ 3,2 milhões em despesas hospitalares, mortalidade ou doenças provocadas

pela poluição.

A poluição atmosférica por dióxido de enxofre e monóxido de carbono apresenta-se

estacionária ou em declínio, na maior parte das regiões metropolitanas brasileiras, com

exceção do ozônio, que na baixa atmosfera é um agente oxidante nocivo para os habitantes

das grandes cidades (IBGE, 2004).

A mesma pesquisa informou que foram detectados por satélite, em todas as regiões do

Brasil, quase 213 mil focos de calor com valores altos da taxa de desflorestamento da

Amazônia Legal. Os autores declararam preocupação com as taxas, pois não tem mostrado

tendência de declínio.

Os níveis de ruído encontrados em tráfego de veículos, em alguns lugares, costumam

estar acima dos níveis considerados responsáveis pelas perdas auditivas. O som excessivo

Page 16: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

16

provocado pelo trânsito, pelas indústrias, pelas áreas de recreação, por pessoas conversando,

por aviões, por exemplo, é o maior responsável pela poluição sonora. (KWITKO, 2001).

As manifestações mais importantes encontradas em seres humanos expostos ao ruído

são: alteração da qualidade do sono; alteração da percepção e da compreensão de fala;

modificação da freqüência cardíaca acompanhada de sudorese; diminuição da capacidade de

desempenho de tarefas psicomotoras; reação muscular; contração do abdômen e do estômago;

alteração da função intestinal; lesões teciduais dos rins e do fígado; aumento da produção de

hormônios da tireóide e da produção de adrenalina; aumento da produção de corticotrofina;

queda da resistência a doenças infecciosas; disfunção no sistema reprodutor; contração dos

vasos sanguíneos; dilatação das pupilas; irritabilidade; ansiedade e insônia (DEJOURS, 1980;

BENSOUSSAN, 1988; GERGES, 2000).

Os estudos sobre os efeitos negativos do ruído em ambientes escolares são recentes e

escassos, mantendo-se a preocupação dos estudiosos sobre os trabalhadores das indústrias e a

perda auditiva. No Brasil se tem priorizado aspectos relativos às condições acústicas das salas

de aula, ao processo de ensino aprendizagem e verifica-se a preocupação com os alunos e a

voz dos professores (KWITKO, 2001). Não há referências, nestes estudos, a medições dos

níveis de ruído que chegam aos ouvidos dos mesmos ou à inter-relação entre o ruído

proveniente das vias e as alterações vocais.

Nunes e Sattler (2004) ao estudarem duas escolas próximas ao aeroporto, em Porto

Alegre, concluíram que tanto alunos quanto professores necessitavam elevar a voz para se

comunicar indicando a possibilidade de ser o ruído uma das causas de problemas auditivos e

vocais. Enfatizaram que a maioria dos programas de saúde vocal responsabiliza o professor

pelo adoecimento da voz, pois o próprio termo “abuso vocal” induz à idéia de que o professor

seria o agente causador das alterações de voz. O estudo demonstrou a necessidade de uma

ação preventiva que incorpore a melhoria das condições ambientais para o trabalho docente

identificando a interferência do ruído na comunicação, mas não explorou as consequências

para a voz dos professores, assim como não mensurou os níveis de ruído a que estes estavam

expostos.

Estudo epidemiológico realizado com 2133 professores da rede Municipal de Ensino,

em Belo Horizonte, investigou as condições nas quais o trabalho dos docentes se desenvolve e

Page 17: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

17

sua associação com a pior percepção da qualidade de vida em relação à voz. Observaram que

a qualidade de vida, no que diz respeito à voz depende, de certa forma, de seu uso na

atividade docente, e que os professores com pior percepção da relação entre as duas variáveis

são aqueles que referiram piores condições ambientais destacando-se, entre outros fatores, o

ruído elevado nas salas de aula (JARDIM; BARRETO; ASSUNÇÃO, 2006).

Nenhuma destas pesquisas foi realizada em escolas particulares e públicas de forma

que os resultados pudessem ser comparados. Da mesma forma, não realizaram as

investigações em escolas localizadas em vias com diferentes níveis de ruído.

Após realizar pesquisa sobre a prevalência de problemas vocais em 1168 professores

de escolas públicas estaduais na Austrália, Russel, Oates e Greenwood (1998) concluíram

pela necessidade de outros estudos que enfatizassem as causas das disfunções vocais nesta

categoria profissional com programas educativos para a prevenção de problemas de voz em

trabalhadores.

Dados divulgados em 2007, pela Secretaria Estadual de Administração (SEAD) em

conjunto com a Secretaria Estadual de Educação do Pará, apontaram que 5421 professores da

rede estadual de ensino apresentavam problemas de voz, afirmando que este fato deve-se ao

esforço repetitivo. A Secretária de Administração anunciou a realização de reformas em 25

escolas da rede estadual de ensino, visando a solucionar dois problemas crônicos destes

ambientes escolares como a poluição sonora e o excesso de calor, pois a maioria das escolas

selecionadas está localizada em corredores de grande fluxo de veículos.

Resultados da pesquisa realizada pela Secretaria de Educação do Estado do Pará

(SEDUC) revelaram que grande parte dos professores que se encontram afastados de suas

funções sofre de problemas vocais e que, aproximadamente, 3300 professores da rede

municipal encontram-se ausentes da sala de aula. Ainda sobre o problema dos professores a

SEAD concluiu, após a pesquisa, que há necessidade de se alertar para esta problemática. Para

isto foi elaborado um projeto que envolve uma campanha com o intuito de promover a

melhoria na qualidade de vida dos profissionais, além de oficinas de educação sobre os riscos

a que eles estão expostos (QUADROS, 2007).

Page 18: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

18

Ao caracterizarem a ocorrência de disfonia em professores do ensino fundamental de

Criciúma (SC), Lemos e Rumel (2005) determinaram os fatores que estavam associados a ela

em decorrência do exercício profissional. Os resultados revelaram a necessidade de propostas

preventivas de atuação na atenção à saúde vocal do professor em programas de saúde escolar

ou de saúde do trabalhador assim como a realização de diagnóstico precoce com vistas à

prevenção, evitando que o professor adoeça. O número significativo de professores que auto-

referiram transtornos vocais demonstrou que estavam atentos ao problema.

Martins (2005), ao analisar o reconhecimento de fala de crianças na presença de ruído,

na cidade de São Paulo, referiu que, em salas ruidosas, esse reconhecimento pode estar

comprometido em decorrência da perda de pistas acústicas presentes na voz e na fala do

professor. A dificuldade em perceber as pistas por parte dos alunos pode ser ocasionada por

alterações na voz do professor, por dificuldades auditivas ou de discriminação por parte dos

alunos e, até mesmo, pelo ruído externo que distrai aqueles que estão dentro das salas de aula.

Estes resultados reforçam a necessidade de se conhecer quais os fatores que estão provocando

estas dificuldades.

Pinto et al. (1991) enfatizaram a importância da voz para transmitir a informação,

interagir com os alunos, orientá-los na aquisição do conhecimento durante a atividade

docente, afirmando que este profissional dispõe dela como instrumento de trabalho e precisa

garantir que o processo de ensino e aprendizagem se realize com qualidade.

Os estudos realizados em outras cidades brasileiras, tais como São Paulo, Belo

Horizonte e Curitiba, relataram que o aumento do número de veículos, os altos níveis de ruído

produzidos nas cidades e o número de professores com problemas de voz demonstram a

relevância deste estudo.Os estudos citados anteriormente priorizaram métodos quantitativos

em detrimento da possibilidade de estudos qualitativos ou quali-quantitativos que permitissem

uma visão do contexto com as percepções dos indivíduos pesquisados acerca da problemática,

neste caso, a percepção dos professores acerca da influência do ruído produzido na cidade

sobre o seu local de trabalho e a necessidade de realizar esforço para falar e ser

compreendido.

Os estudos sobre problemas vocais de professores apresentam, ainda, lacunas tais

como:

Page 19: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

19

• Não contemplam a análise da relação entre ruído e voz, particularmente para a análise

dos professores que usam a voz como instrumento de trabalho, em especial em escolas

localizadas em diferentes espaços urbanos e submetidas a altos níveis de ruído interno

e externo.

• Não comparam escolas particulares e públicas no que tange à presença de

equipamentos e características construtivas diferentes em cada tipo de instituição de

ensino.

• Não apresentam relação entre o ruído interno das escolas e o ruído do entorno

principalmente aquele oriundo do trânsito e das atividades realizadas na cidade.

• Centram-se na discussão sobre os hábitos vocais e as alterações orgânicas laríngeas

dos professores, conferindo-lhes a responsabilidade pelas alterações de voz; e na saúde

auditiva dos trabalhadores das indústrias.

• Os dados empíricos são, basicamente, do exterior ou do centro-sul do país. Não

existem pesquisas sobre essa temática em cidades localizadas na Amazônia,

principalmente a cidade de Belém, considerada a capital mais ruidosa do país.

1.2 O PROBLEMA E A HIPÓTESE DA INVESTIGAÇÃO

Dentro do contexto acima apresentado, verifica-se que ainda existem lacunas no

conhecimento sobre o crescimento das cidades, a poluição sonora, a localização das escolas, o

número de veículos circulando na cidade e os problemas vocais dos professores. Os efeitos

negativos do ruído urbano sobre a voz, especificamente, a relação entre poluição sonora e

alterações vocais de profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho, ainda é

uma área no conhecimento a ser explorada. Assim, entender como o ruído produzido em

espaços abertos se inter-relaciona com os ruídos produzidos em espaços fechados e provocam

alterações de voz, principalmente de professores, é uma fundamental para que se tenha real

dimensão dos problemas ocasionados pelo excesso de ruído nas cidades em relação à

educação. Desta forma, a questão central que norteou a pesquisa foi: de que forma o ruído

produzido em espaços abertos impacta e se inter-relaciona com os ruídos produzidos em

espaços fechados e contribui para as alterações de voz?

Page 20: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

20

Esta pesquisa buscou, particularmente, comparar as alterações vocais de professores

submetidos a diferentes níveis de ruído urbano, uma vez que os estudos atuais não

contemplam a localização das escolas ou os níveis de ruído externo produzidos pelo trânsito e

pela comunidade como critérios de análise.

Admitiu-se como hipótese que o ruído externo se inter-relaciona com o ruído

produzido no espaço fechado e contribui para a alteração de voz dos professores. Assim, a

alteração de voz dos mesmos não está ligada unicamente ao esforço repetitivo, como sugerem

os relatórios dos órgãos oficiais de educação do Estado do Pará.

1.3 OS OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1 Objetivo geral

Analisar a influência do ruído decorrente da urbanização sobre a voz, particularmente

sobre a voz de professores.

1.3.2 Objetivos específicos

A- Estabelecer a correlação entre o ruído produzido interna e externamente às escolas e as

queixas vocais dos professores de escolas localizadas em áreas urbanas.

B- Comparar as alterações vocais de professores expostos a diferentes níveis de ruído urbano.

Page 21: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

21

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Esta dissertação está dividida em seis capítulos. No primeiro capítulo são apresentados

os antecedentes e o contexto da pesquisa considerando-se os resultados de estudos sobre a

poluição sonora, o ruído nas escolas, o ruído de tráfego e as alterações de voz de professores.

Assim, justifica o problema e estabelece a hipótese da pesquisa. Apresenta as lacunas no

conhecimento produzido até então, no que concerne aos problemas vocais de professores e

sua correlação com o processo de urbanização para, então, estabelecer os objetivos da

investigação.

O segundo capítulo apresenta o marco teórico que orientou esta pesquisa relacionada

ao processo de urbanização brasileira, da Amazônia e de Belém do Pará. Aborda ainda as

questões relativas ao ruído na cidade e nas escolas, assim com o a relação entre o ruído, a

saúde e a voz. Apresenta algumas considerações sobre a relação entre a urbanização, o

aumento do ruído e os problemas de voz.

A escolha metodológica é discutida no terceiro capítulo. A partir da revisão da

literatura sobre estudo de caso, discute a abordagem qualitativa, a análise de conteúdo e

justifica a opção metodológica. Da mesma forma apresenta algumas considerações sobre a

técnica de coleta de dados. São apresentadas descrições das unidades de análise (escolas e

professores) e os critérios de inclusão e exclusão dos mesmos. A descrição dos procedimentos

de coleta e análise dos dados é feita detalhadamente neste capítulo e, ao final, são apontados

os aspectos positivos e os aspectos limitantes da opção metodológica adotada.

O capítulo quatro analisa o impacto do processo de urbanização sobre as escolas a

partir dos níveis de ruído interno e externo.

No capítulo cinco são analisadas as percepções dos professores acerca da interferência

dos ruídos internos e externos sobre a produção vocal, além dos hábitos, queixas e dos

sintomas vocais presentes em professores expostos a diferentes níveis de ruído. São também

comparadas as alterações vocais dos mesmos nas diferentes escolas. Finalmente são

analisados os recursos vocais utilizados por eles para a superação dos obstáculos impostos

pelo ruído.

Page 22: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

22

O capítulo seis trata da conclusão e das considerações finais desta pesquisa,

considerando a urbanização de Belém e o aumento dos níveis de ruído, o impacto do ruído

produzido no entorno sobre a escola, a relação entre o aumento do ruído e alterações de voz

dos professores e os problemas de saúde dos professores decorrentes das alterações vocais.

São expostas, ainda, considerações sobre a legislação vigente relacionada ao ruído nas escolas

e apresentadas às expectativas do autor em relação a futuros estudos relativos ao tema.

Page 23: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

23

2 ARCABOUÇO TEÓRICO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ

2.1 A RELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ

Com a revolução industrial os mecanismos de produção de novos e modernos produtos

tecnológicos foram aperfeiçoados, tais como o surgimento de eletrodomésticos, meios de

transporte e comunicação de massa. Em conseqüência, houve aumento significativo nas áreas

urbanas (LUZ, 2000; CARMO, 1999; MEDEIROS, 1999).

Os efeitos do ruído sobre a saúde podem ser cumulativos. Indivíduos expostos por

longo período a níveis elevados podem apresentar sintomas físicos como perda auditiva,

disfunções gástricas ou cardiovasculares, cefaléias, envelhecimento prematuro. Podem

apresentar, também, irritabilidade, estresse, nervosismo, distúrbio do sono, redução da

capacidade de comunicação e de memorização (PINTO, 2002; MACHADO, 2003;

MEDEIROS, 2005). A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que o excesso de

ruído nas escolas é o provável responsável pelos problemas de rouquidão em professores

(WHO, 1999).

Dreossi e Momensohn-Santos (2005) enfatizaram a necessidade de pesquisas sobre a

interferência do ruído nas salas de aulas, pois em ambientes escolares ele também pode causar

problemas na comunicação oral, na atenção e na aprendizagem.

A voz produzida de forma equilibrada não leva à fadiga ou desgaste. Por se tratar de

processo automático, a fonação deve se dar livre de qualquer esforço permitindo máxima

eficiência na vibração das pregas vocais. Assim, o som produzido será mantido por longo

período de forma clara e limpa. Enfatiza-se, aqui, que o som pode sofrer modificações em

contextos e situações diferenciadas. A perda deste equilíbrio pode provocar alterações

conhecidas por disfonia. O uso inconsciente de mecanismos para forçar a voz para ser ouvido

na presença de alterações vocais momentâneas ou na presença de ruído leva o indivíduo a

realizar esforço vocal desnecessário e, consequentemente, à disfonia (BEHLAU, 2001).

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24

Pesquisa realizada por Arruda (2004) apontou a percepção dos alunos sobre aspectos

relativos à produção de voz dos professores. Na análise a velocidade de fala, o emprego de

pausa, a qualidade da voz e a intensidade vocal mostraram-se relevantes para a expressividade

oral de professores.

O uso incorreto da voz por modelo vocal deficiente ocorre quando os indivíduos

modificam ajustes naturais da própria emissão para se aproximar de um modelo idealizado

como melhor ou que gostaria de copiar. Portanto, profissionais que fazem uso da voz, no dia a

dia, como ferramenta de trabalho como, por exemplo, professores e repórteres, estão sujeitos a

este tipo de distúrbio.

2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO

2.2.1 A urbanização brasileira

A urbanização brasileira caracterizou-se, principalmente, pela expansão da fronteira

agrícola das regiões Sul, Centro-oeste e Norte e, mais especificamente, pela concentração da

população em áreas urbanas cada vez maiores (SANTOS, 2005).

Duas características básicas têm sido atribuídas ao processo de urbanização brasileiro:

de um lado, a concentração crescente da população em grandes cidades; e de outro, o aumento

do número de grandes centros urbanos (MARICATO, 2000).

O fenômeno da ocupação espacial da população brasileira se deu pela desruralização e

pela concentração em áreas urbanas com fortes diferenças decorrentes de fenômenos regionais

específicos, principalmente, os movimentos migratórios que garantem crescimento vegetativo

mais alto nas áreas de emigração. Reflete o padrão da região sudeste baseado no modelo de

industrialização pela substituição de importações embora não seja homogêneo, com

diferenças significativas no processo evolutivo entre as regiões (CAMARANO; BELTRÃO,

2000).

Page 25: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

25

A concentração excessiva e acentuada da população nas áreas urbanas, principalmente

nas grandes cidades em decorrência dos movimentos migratórios, tem revelado cidades cada

vez maiores e com maior concentração da população. Camarano e Beltrão (2000) confirmam

as grandes diferenças entre as regiões brasileiras. Em 1940, a região Norte apresentou taxas

de urbanização de 27,5%; a Sudeste 39,42%. Até 1970, o grau de urbanização da região

Sudeste era o mais elevado em relação à média nacional. Neste mesmo período a região Norte

apresentou o valor mais baixo (62,3%) de taxa de urbanização. Ainda que tenha ocorrido de

forma heterogênea, se manifesta em cada cidade de forma excludente e segregadora devido ao

padrão de acumulação no qual as prioridades são definidas “em consonância com as

corporações monopolistas”. (RODRIGUES, 1996, p.266).

Entre 1930 e o final da Segunda Guerra Mundial, a industrialização promoveu um

avanço relativo de forças e de fortalecimento do mercado interno com grande

desenvolvimento das forças produtivas, diversificação, assalariamento crescente e

modernização da sociedade.

O início das obras de saneamento básico e embelezamento paisagístico ocorridas no

final do século XIX e início do século XX, realizadas em algumas cidades brasileiras,

caracterizaram o urbanismo moderno “à moda da periferia” (Maricato, 2000, p.22). O

mercado imobiliário se implantou e a população que foi excluída deste processo foi expulsa

para os arredores da cidade.

Ao final da Segunda Guerra Mundial o processo de industrialização passa a produzir

bens duráveis. A produção de eletrodomésticos, bens eletrônicos e automóveis, a partir de

1950, geraram grandes mudanças no modo de vida dos consumidores, na habitação e nas

cidades, de modo que a massificação do consumo destes bens acaba por alterar os valores, a

cultura e o ambiente construído. O aumento da produção e do uso do automóvel acarretou,

também, questões ambientais associadas ao ruído.

Após a Segunda Guerra Mundial, o setor automobilístico caracterizou-se por pelo

rápido crescimento da produção mundial, passando de 3,9 milhões de unidades em 1946 para

13,7 milhões em 1955; e 24,3 milhões em 1965 (GUIMARÃES, 1980).

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26

Neste período inicia-se o que Santos (1995) denominou período tecnológico,

caracterizado pela difusão da indústria e do capitalismo das grandes corporações e da difusão

rápida dos meios de comunicação, o que permitiu a propagação de inovações em oposição aos

períodos anteriores. O autor confere à tecnologia da comunicação valor essencial para o

crescimento.

Só após os anos 60 a cidade assumiu um novo processo de desenvolvimento nacional

em consequência do chamado “modelo de substituição das importações” que acelerou a

urbanização. A partir de 1964, as cidades passam a ocupar o centro de uma política destinada

a mudar o padrão de produção. No novo padrão, o Brasil instalou a indústria automobilística

que modificou radicalmente o sistema de transporte brasileiro. Recursos financeiros foram

drenados para o mercado habitacional, em grande escala, modificando o perfil das cidades.

Iniciou-se o processo de verticalização no país com a construção de edifícios de apartamentos

com forma de habitação da classe média (MARICATO, 2000).

De acordo com o IPEA (2007), o Brasil apresenta problemas habitacionais

relacionados, principalmente, ao excessivo adensamento (mais de 3 pessoas por cômodo

servindo de dormitório), à coabitação familiar, ao ônus excessivo do aluguel de imóveis e à

proliferação de assentamentos precários. O adensamento excessivo é maior nas áreas

metropolitanas com proporção de população adensada de 9,3%. A Região Metropolitana de

São Paulo apresenta 2,2 milhões de pessoas adensadas, em números absolutos, seguida pela

Região Metropolitana do Rio de Janeiro com 1 milhão de pessoas. Em termos relativos, as

Regiões Metropolitanas de Belém (16,6%), São Paulo (11,7%) e Salvador (10,6%)

apresentam situação mais grave com percentuais de moradores urbanos vivendo sob

condições de adensamento.

A recessão ocorrida nas décadas de 80 e 90, aliada a um crescimento demográfico

superior ao do PIB, provocou forte impacto social e ambiental com a ampliação das

desigualdades sociais caracterizada por forte concentração de pobreza urbana, com multidões

concentradas em morros, várzeas, e alagadas. Em 1991, a taxa de urbanização brasileira era

de 75%. A região Norte apresentava taxa de 56%; a Nordeste de 58%; a Sudeste de 88%; e a

Centro Oeste de 75% (dados do CENSO, 1991), com previsões de alcançarem 80% no ano

2000 (IBGE, 2004).

Page 27: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

27

Dados do IBGE (2007) expressam a densidade demográfica brasileira média de 22,3

hab./km2. As diferenças entre as regiões do Brasil apontam caráter irregular de densidade,

tendo a Região Norte 4,0 hab./km2 distribuídos numa área que corresponde a 45,2% do país.

Na Região Sudeste concentram-se, aproximadamente, 42% da população total do país com

87,4 hab./km2

O trânsito e o tráfego de veículos, decorrentes do aumento do número de vias e de

veículos circulando, são grandes problemas das cidades atuais. Apesar dos esforços dos

. A Região Metropolitana de São Paulo concentra o maior número de pessoas

(20 milhões), o equivalente a 10,5% do total da população do país. Oliveira (2006) afirma que

o excesso populacional gera diversos problemas, tais como congestionamentos e poluição.

Entre os anos de 1940 a 2000, a taxa de natalidade brasileira foi uma das mais baixas,

caindo de 4,5% para 2,0% no que diz respeito à taxa de natalidade bruta (número de nascidos

vivos/total da população). Outro indicador do processo de urbanização refere-se à expectativa

de vida ao nascer. No período de 1991 a 2000, a expectativa de vida ao nascer sobe de 66

anos para 68,6 anos para ambos os sexos (IBGE, 1980, 1990, 2000).

As taxas de natalidade, no Brasil, vêm decrescendo desde a década de 70 devido a

mudanças ocorridas no planejamento familiar e ao controle da natalidade com o uso de pílulas

anticoncepcionais e inserção maior das mulheres no mercado de trabalho. Nos anos 80, a taxa

de fecundidade era de 4,34 filhos por mulher. Dez anos depois as taxas caíram para 2,85,

segundo dados do IBGE (2008).

Nas décadas de 80 e 90, os investimentos para universalizar o atendimento da

população com água tratada e esgoto diminuíram e, em consequência, ao final dos anos 90,

aproximadamente 55% dos domicílios não tinham acesso à água potável, sendo que 4% deles

estavam localizados em áreas urbanas, e 48,9% ao eram atendidos por rede de esgotos

(MARICATO, 2000).

Dados do Governo Federal indicam a melhoria nos indicadores sociais no se refere ao

acesso a bens duráveis e à cobertura de serviços básicos (telefone: 77%; celular: 32%;

computador: 27%; internet: 20%; Televisão: 95%; Máquina de lavar: 40%). No entanto, o

saneamento necessita de melhorias (energia elétrica: 98%; abastecimento de água: 84%; rede

de esgoto: 52%) (DESTAQUES, 2008).

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28

gestores para a melhoria das condições de vida dos cidadãos, a cidade continua a ser

degradada e espoliada (LIMA; SANTORO, 2005). Os autores citados anteriormente,

realizaram estudo para identificar os avanços apresentados pelas cidades brasileiras, quais os

resultados e restrições que devem ser superados para reduzir as externalidades negativas do

transporte e trânsito por meio da gestão do crescimento urbano. Os resultados revelaram que o

planejamento, de transporte e de trânsito, deve considerar as variáveis espaço e tempo

necessários para os deslocamentos, tendo em vista que o melhor uso do espaço urbano reduz o

tempo de viagem para a maioria, assim como também reduz custos e melhora as condições

ambientais com a diminuição de emissão de poluentes.

Em 2007 havia 254 mil veículos circulando na Região Metropolitana de Belém na

razão de 1 automóvel para cada 12 habitantes, enquanto no município de Belém a razão era de

1 para cada 10 habitantes. Na mesma região havia na mesma época um ônibus para cada 437

pessoas, demonstrando a insuficiência de transporte coletivo (PARÁ NEGÓCIOS, 2008).

O aumento de concentração da população nas grandes cidades e do número de grandes

centros urbanos são características importantes do processo de urbanização brasileiro. Com o

crescimento populacional, as cidades se expandiram e, muitas vezes, as rodovias que tinham

como objetivo primordial o tráfego de entrada e saída dos municípios, ou de passagem pela

cidade, perdem esta função e se transformam em avenidas de intenso trafego urbano

(CALIXTO; DINIZ; ZANNIN, 2001).

Sobre a poluição sonora decorrente do uso do transporte aéreo, em larga escala, Mota

(2003) afirma que esta tende a se agravar e que sua interferência no espaço urbano é cada vez

maior devido ao aumento do uso desta forma de transporte. A infraestrutura que surge nas

áreas em que são construídos aeroportos, mesmo aqueles que construídos em áreas afastadas

do centro da cidade, somada aos avanços tecnológicos, tem provocado grande impacto sobre o

ambiente e a população destas áreas.

Estudo sobre o impacto ambiental do aeroporto de Londrina (PR), quando de sua

ampliação, não evidenciou o ruído produzido pelas aeronaves como relevantes ou altos, pois

foram considerados inferiores àqueles gerados pelo intenso tráfego de veículos da região

(FACHINNI; SANT’ANNA; MACEDO, 2003).

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29

A construção de aeroportos, em sua maioria, costuma se dar em áreas urbanas com

bom tráfego de acesso e com frequencia próxima de áreas residenciais. Esta proximidade gera

problemas ambientais, tais como ruído, emissão de gases das aeronaves, além de impactos

gerais sobre o ecossistema (TEIXEIRA; AMORIM, 2005).

2.2.2 A urbanização na Amazônia

A urbanização na Amazônia ocorreu a partir de uma política pública que sustentava

que os núcleos urbanos assumiam a função econômica e social. Trata-se de um processo

recente ocorrido há aproximadamente 40 anos. Em decorrência desta política quase dois

terços da população ocupou estes núcleos no início deste milênio. (SERRE 2001).

A ocupação do espaço e o adensamento populacional demandaram grandes

investimentos públicos em infraestrutura mínima. A redução do financiamento público forçou

a reorientação das prioridades nacionais gerando diminuição dos movimentos migratórios

necessários para a ocupação efetiva das áreas selecionadas na Amazônia. Como o

povoamento se dava de acordo com as configurações geográficas do espaço, a região acabou

perdendo sua função atrativa e deixou de ser foco de grandes movimentos migratórios

(MOURA; MOREIRA, 2001; SERRE 2001).

Fundamental, neste ponto, mencionar a construção do núcleo de Parauapebas, com a

implantação do Projeto Ferro Carajás que provocou a migração de muitas pessoas para a área

atingindo, em 2004, 110.000 habitantes, fato que representou um crescimento anual entre

1981 e 2004 de 6,8%. Comparando-se as taxas médias de crescimento anual da população

brasileira, do Pará e de Parauapebas, neste período, observou-se que a população do Brasil

apresentou crescimento entre 1,3% e do Pará 2,0%, enquanto a de Parauapebas cresceu 8,9%.

A população estimada em 2006, era de 133.261 habitantes (PREFEITURA MUNICIPAL DE

PARAUAPEBAS, 2008).

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30

Mesmo contando com os esforços para a ocupação demográfica e econômica, com os

recursos minerais madeireiros e agropecuários e a importância da região para o ecossistema

mundial, a região permaneceu pouco ocupada por muito tempo. O crescimento da população

urbana não foi acompanhado da implementação de infraestrutura para garantir as condições

mínimas de qualidade de vida. Baixos índices de saúde, de educação e de salários aliados à

falta de equipamentos urbanos, denotam a baixa qualidade de vida da população local. Os

problemas sociais e o desenvolvimento desigual aparecem como graves problemas da região

(KAMPEL; CÂMARA; MONTEIRO, 2000).

De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM,

2001) e Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD, 2001), o acelerado

processo de urbanização na Amazônia deu-se, principalmente, em função dos movimentos

migratórios do tipo rural-urbano. Em 1940, a população residente nas áreas urbanas era de

apenas 23,1%, tendo atingido percentuais de 69,1% no ano 2000. A criação de novos

municípios foi um dos fatores responsáveis pelo crescimento da população urbana. Estima-se

que em 2021, a população urbana da região aproxime-se de 27,3 milhões de habitantes.

As intervenções desenvolvimentistas provocaram mudança na organização da vida

urbana das cidades amazônicas. A lógica do modelo vinculado ao setor rural ou florestal foi

substituída, passando a depender dos grandes projetos, dos incentivos fiscais e da

transferência de verbas públicas. Consequentemente houve a desarticulação da relação

urbano-rural na região, como pode ser percebido nas prateleiras dos supermercados de

Manaus, onde a grande maioria dos produtos expostos tem origem em outras regiões do país

(MACHADO, 2004).

Na região amazônica observa-se a concentração de povoamento ao longo dos eixos de

circulação fluvial e rodoviário (Amazônia dos rios e Amazônia das estradas), caracterizando

um padrão linear de origens históricas da época em que o único meio de comunicação era o

rio. Com a abertura do espaço amazônico e sua integração ao território nacional, no início do

século XX, a construção de estradas possibilitou a ocupação do espaço dando origem, então, à

Amazônia das estradas (SERRE 2001).

Page 31: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

31

A urbanização da região encontra-se em fase de estruturação, caracterizando-se ainda

como uma região de fronteira, onde a dinâmica das cidades ainda é muito intensa, incluindo o

surgimento de novos assentamentos urbanos.

De acordo com Serre (2001) o povoamento está relacionado, também, com os

processos de exploração dos recursos naturais, agropecuários e agroindustriais. Assim, grande

parte da população encontra-se localizada nos estados do Pará, Maranhão, Rondônia e Acre

(MOURA; MOREIRA, 2001).

Segundo Rodrigues (1996), o processo crescente de urbanização e destruição da região

produziu a desorganização, que caracteriza o quadro de contrastes no qual se observa, de um

lado, a implantação de fábricas modernas, agropecuária mecanizada e cidades planejadas para

a implantação dos grandes projetos e, de outro, destruição da produção camponesa, ocupação

de terras indígenas e poluição ambiental.

Nas três últimas décadas a região tem apresentado as maiores taxas de crescimento

urbano no Brasil, com 58% em 1991, 61% em 1996 e 70% em 2000. Considerando a relação

entre a falta de moradia e o número de domicílios de cada estado, os piores resultados foram

encontrados no Maranhão, no Amazonas, no Pará e no Acre, nessa ordem.

O déficit habitacional na Região Norte, para famílias com renda até 1,3 mil reais, é de

91,2 %. O índice de posse de bens1 e serviços simultâneos2

é de apenas 7% na região (IBGE,

2008).

1 Iluminação elétrica, telefone fixo e acesso à internet 2 Atendimento simultâneo de serviços públicos de abastecimento de água com canalização interna, esgotamento sanitário e coleta de lixo.

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32

2.2.3 A urbanização em Belém

A urbanização de Belém está fortemente ligada ao comércio da borracha a partir de

1897 com o governo de Antonio Lemos (1897-1911). De forma similar a outras cidades no

mundo, as intervenções urbanas foram bastante comuns, tendo como modelo a cidade de

Paris, com ruas largas, iluminação pública e espaços verdes. A capital foi transformada em

centro financeiro e de consumo dos investidores estrangeiros e dos seringalistas. Para atender

a estas necessidades foram introduzidos planos de saneamento e embelezamento da cidade.

Com o intuito de facilitar o escoamento da produção e a transação comercial da borracha

foram construídas avenidas largas, calçadas nas ruas e instalada rede de esgoto. Foram, ainda,

construídos bosques, quiosques e praças, além de instalado um serviço de transporte público

(SARGES, 1999).

A intensificação dos fluxos migratórios a partir da década de 40 levou à propagação de

vilas e passagens nas terras altas, à ocupação de áreas alagadas, assim como ocupações

espontâneas, invasões e implantação de projetos habitacionais nas áreas rurais de Belém e

Ananindeua.

Os reflexos deste crescimento desordenado podem ser observados no processo de

verticalização acentuada do centro urbano e pela propagação de vilas e passagens,

(MACHADO, 2004). Conforme a autora, como centro de decisões políticas e de confluência

de grandes eixos rodoviários, Belém passou a exercer um grande poder de atração

concentrando interesses de massa populacional e, desta forma, tornou-se palco de vigoroso

processo de urbanização com seus principais agentes nocivos.

Em 1940, Belém era a única cidade da região Norte com mais de 100 mil habitantes,

com processo de urbanização bastante acentuado e contando com 65% da população urbana.

Com o revigoramento do comércio da borracha (1940-1950), a população aumentou e o

processo de urbanização da cidade acelerou ultrapassando a taxa de 500 mil habitantes em

1970. Observou-se o aumento do número de cidades menores com desconcentração da

população urbana (CAMARANO; BELTRÃO, 2000).

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No período compreendido entre 1980 e 1990,, a cidade de Belém apresentou uma das

maiores taxas de expansão urbana. As taxas de crescimento da população, de acordo com o

IBGE entre os anos de 1991 e 2000 foram de 1,64% no Brasil. A população urbana de Belém,

de acordo com o Censo 2000 era de 1.280.614 habitantes. De acordo com a estimativa do

IBGE (2004), a população urbana de Belém seria de 1.361.672 habitantes. Em 2006 atingiu

1.428.368 habitantes.

Comparando-se este resultado com o referente à população da Região Metropolitana

de Belém3 (1.795.536 habitantes), em 2000, constata-se o predomínio de concentração no

espaço urbano, confirmando a alta densidade demográfica do município com 2056,3

hab./km2

3 A Região Metropolitana de Belém é composta por Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Santa Izabel.

. Os dados referentes à moradia indicaram prevalência de domicílios (71,17%); do

processo de verticalização com 92,33% dos apartamentos da RMB localizados em Belém.

(DATASUS, 2001).

De acordo com o DATASUS (2001), as condições de moradia (saneamento básico,

escoamento sanitário básico) em Belém, se apresentaram melhores em relação ao restante das

cidades (76,12%); a coleta de lixo ocorre, em 95,12% das moradias; em muitas residências é

possível constatar que há automóvel, videocassete, lavadora de roupa e linha telefônica

(30,86%); computadores, microondas ou ar condicionado (28,25%), com maior prevalência

no bairro do Umarizal.

Nos espaços centrais encontram-se construções de conjuntos de edifícios verticais

residenciais e comerciais que agravam os problemas ambientais com congestionamentos do

trânsito nas ruas. Da mesma forma a produção do espaço urbano, em Belém, segue a lógica de

ocupação de outras cidades brasileiras. Inicia-se nas áreas mais altas e mais valorizadas

atingindo, mais tarde, as áreas mais baixas obedecendo, portanto, à lógica da produção e da

valorização do espaço da cidade (OLIVEIRA, 2007). De acordo com a autora, em

consonância com Machado (2000), observa-se grande diferença entre as áreas quanto ao

processo construtivo, com predomínio de horizontalidade na periferia e marcas de

verticalização agressiva como forma de segregação sócio-espacial.

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34

A verticalização é especialmente problemática em alguns centros comerciais na

medida em que pode formar grandes muralhas de edifícios colados uns aos outros, numa

cidade de relevo pouco acidentado, causando alteração dos ventos e formando caixas de

reverberação de ruídos. O congestionamento do trânsito se agrava devido ao número de

veículos que permanecem estacionados nas vias públicas, além de contribuírem para a piora

da qualidade do ar (RODRIGUES, 1996).

Machado (2004) analisou os bairros mais e menos afetados pelo ruído em Belém,

ressaltando suas características. O bairro de Nazaré é um bairro predominantemente

residencial, mas sofre com o aumento do número de colégios, de comércio, de clínicas, de

áreas de lazer e outros empreendimentos. É o elo do trânsito que liga os bairros ao centro, o

que ocasiona um permanente fluxo de ônibus e de outros veículos de passageiros e cargas

acarretando constantes congestionamentos em suas principais vias, o que contribui para a

crescente poluição, inclusive sonora, do bairro. A figura 1 demonstra os bairros de Belém no

mapa da cidade.

Figura 1: Mapa dos bairros de Belém Fonte: Prefeitura Municipal de Belém

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35

A Campina, antigo bairro do Comércio, corresponde ao centro da cidade e desenvolve

funções comerciais, residenciais, portuárias, administrativas, industriais e outras. Abriga

amplo mercado ambulante de trabalhadores informais e de excluídos sociais. Apresentou

crescimento vertical em virtude dos altos preços dos terrenos e por não poder se expandir

horizontalmente. Nele situa-se o Mercado do Ver-o-Peso. Caracteriza-se por ruas estreitas

(MACHADO, 2004).

O bairro do Reduto, tal como a Campina, possui ruas estreitas e sem arborização. Tem

função residencial e comercial. Com o surgimento de restaurantes, lanchonetes, bares, boates

e outros empreendimentos, suas áreas de lazer estão se expandindo. A porção mais afastada

do litoral, com terrenos mais elevados, apresenta padrão de urbanização diferenciado com

ruas mais largas, arborização e intenso processo de verticalização (MACHADO, 2004).

A Cidade Velha é o bairro mais antigo de Belém e conserva ruas estreitas com casas

grandes que estão sendo substituídas por prédios residenciais, praças, estabelecimentos

militares, igrejas. Nele situam-se os principais terminais de embarque e desembarque de

passageiros que demandam, pela via fluvial, as cidades próximas a Belém.

O bairro denominado Montese (Terra Firme) está situado em terreno

predominantemente alagado, e estruturou-se a partir da ocupação de uma extensa área

institucional pertencente à UFPA, dentro da 1ª Légua Patrimonial.4.

Moraes, Sacavem e Guimarães (2006) descrevem o bairro da Condor como residencial

periférico, com habitações de um ou dois pavimentos e poucas edificações comerciais. O

ruído ambiental é proveniente do ruído de tráfego de veículos.

4 Primeira Légua Patrimonial é a porção do território municipal doada pela Coroa Portuguesa para formar a Municipalidade de Belém, em 1627, e corresponde a área mais urbanizada da cidade e engloba toda a região central e seu entorno mais imediato

No ano 2000, a RMB contava com 111.564 automóveis trafegando, 60% da malha

viária pavimentada e apenas 85% das vias iluminadas. O transporte coletivo era responsável

pelo deslocamento de, aproximadamente, 35 mil passageiros ao dia, realizando mais de 2

milhões de viagens dentro da RMB. As principais razões para os deslocamentos foram o

Page 36: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

36

trabalho (45%) e o estudo (1,7%), que juntos são responsáveis pela maior frequencia de

deslocamentos (JICA, 2000).

Os deslocamentos são feitos, em sua maioria, em automóveis (36,7%) e ônibus

(31,9%) e, em menores proporções, por caminhão (12,8%) e microônibus (10,8%). Houve o

aumento do uso de motocicletas para circulação de documentos e entrega de mercadorias, mas

os números não foram referenciados, pois de acordo com o DETRAN-PA (2009) as

motocicletas usadas para este fim não são cadastradas e os serviços são realizados por

trabalhadores autônomos, sem registro.

2.3 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E A POLUIÇÃO SONORA

A gravidade dos problemas decorrentes da urbanização é de tal monta que a OMS a

reconheceu esta última como fonte de grande parte dos problemas de saúde que as

coletividades enfrentam e reconhecendo sua nocividade passou a tratá-la como um problema

de saúde coletiva (MACHADO, 2004). A exposição humana ao ruído é um dos grandes

problemas de saúde decorrentes da urbanização.

A poluição sonora é considerada a terceira maior forma de poluição, a mais difundida

forma de contaminação sonora encontrada na sociedade moderna. A grandeza da gravidade

tem exigido soluções para controlar o problema em razão do fato que seus efeitos não são

detectados imediatamente, entretanto tendem a se acumular e se fixar com o passar do tempo

(ALMEIDA, 1999; CARMEM et al., 2001).

A exposição contínua a ruídos superiores a 85 dB (A) pode provocar perdas auditivas

permanentes. De acordo Russo (1993), a cada 5 dB acima de 85 dB o tempo de exposição

permitido reduz-se à metade. Logo, a exposição de um indivíduo a 90 dB será permitida por

período de, apenas, 4 horas considerando-se que Ministério do Trabalho recomenda, no

máximo, exposição de oito horas de trabalho a níveis de 85 dB. O quadro abaixo apresenta o

nível médio de ruído em algumas atividades cotidianas.

Page 37: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

37

QUADRO 01: Nível médio de ruído típico em situações cotidianas

NÍVEL (DB) ATIVIDADE

1 a 5 O mais suave som audível

25 a 45 Quarto silencioso

35 a 50 Recomendado para bibliotecas e salas de vídeo

60 Conversa normal

75 Nível máximo de tolerância ao ruído (WHO)

85 Nível máximo permitido para trabalhadores – 8 h/dia (NR 15) Pessoas gritando

110 a 130 Limite da dor

150 Motor de avião a jato

Fonte: BISTAFA, 2006.

O excesso de ruído ambiental parece inevitável na medida em que há aumento do

número de atividades e de fontes geradoras de ruído, particularmente no meio urbano. Sem

controle os níveis de quietude e de silêncio serão progressivamente rebaixados. Embora as

grandes cidades do mundo tenham legislação específica para o ruído, estas não tem se

mostrado eficientes. Em Nova York há um número grande de multas e advertências expedidas

contra os infratores, mas a cidade continua barulhenta. No Brasil as cidades como Belém, Rio

de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, de acordo com Costa (1997), são alvos frequentes de

matérias jornalísticas devido à poluição sonora.

Os veículos em circulação emitem ruídos que variam em função da velocidade, das

condições de pilotagem, da qualidade do veículo e da pavimentação, e podem ser modificados

em cruzamentos, semáforos e frenagens devido às variações de rotação do motor. Desta

forma, as mudanças, repentinas ou não, de velocidade dentro dos espaços urbanos geram

níveis de ruídos intensos e variados a todo o momento, em marcha lenta, gerando ruídos que

se somam aos produzidos por outras fontes. A contaminação acústica produzida por veículos

com motores a gasolina pode ultrapassar 70 dB, e a diesel 85 dB. Os aviões vêm logo depois,

com grande emissão de energia sonora durante as decolagens e as aterrissagens (MORAES,

SACAVEM; GUIMARÃES, 2006).

O estudo realizado em Santa Maria, por Nunes e Satter (2004), revelou que é possível

controlar a poluição sonora se forem consideradas as características acústicas do meio para os

Page 38: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

38

projetos dos ambientes, o que evita o contato direto com a via emissora de maior ruído ou

ameniza os efeitos da via ruidosa com a implantação de áreas verdes ou praças. Em áreas que

exigem maior rigor no controle do ruído, como escolas e hospitais, é possível alterar as

características do tráfego de veículos a partir do nível de pressão sonora recomendado,

considerando-se o conforto acústico como um dos principais condicionantes do controle de

tráfego urbano.

O tráfego de veículos automotivos é o maior responsável pela poluição sonora nas

cidades. O adensamento do trânsito eleva os níveis de ruído e provoca sérios agravos à saúde

dos indivíduos. Pimentel (2000) destacou a perda da capacidade de concentração dos

indivíduos sobre si mesmos, deixando-os agitados e sem capacidade de introspecção. Referiu-

se à poluição sonora como o “inimigo sutil” da comunicação oral que invade a audição e

monopoliza o cérebro de tal modo que reduz a capacidade de se refletir e comunicar.

Calixto, Diniz e Zannin (2001) realizaram estudo sobre o impacto do ruído do tráfego

de veículos em rodovias na cidade de Curitiba (PR) sobre a vida das pessoas. Constataram

que o ruído de tráfego de veículos nas rodovias provoca poluição sonora ambiental e que as

pessoas que vivem nessas áreas estão expostas a níveis de ruído que excedem os limites

permitidos por lei. O nível de ruído recomendado pela OMS (2003) para áreas residenciais é

de, no máximo, 55 dB. Ainda que acima de 50 dB possa causar perturbação, o organismo tem

a capacidade de se adaptar. Os autores sugerem medidas para a redução dos níveis de ruído

tanto na geração quanto na transmissão, tais como a implantação de barreiras acústicas,

estímulo ao uso de bicicletas, implantação de transporte subterrâneo, limitação do fluxo e da

velocidade de veículos em áreas mais sensíveis (escolas e hospitais).

De acordo com os mesmos autores citados acima, os sinais de danos físicos e mentais

por exposição ao ruído não são facilmente percebidos, instalando-se lentamente e levando ao

estresse, à insônia, à problemas mentais etc. Devido às características dos ruídos presentes nas

grandes cidades (ruídos de intensidade moderada) aqueles que estão expostos dificilmente os

identificam como agentes causadores do mal estar. As fontes de ruído, externas às edificações

são: ruído de tráfego de veículos, de tráfego aéreo, de obras públicas, de indústrias, de

atividades urbanas comunitárias, de agentes atmosféricos.

Page 39: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

39

Ao considerar o ambiente interno, podem ser encontrados ruídos gerados por pessoas,

ruídos de impacto, ruídos produzidos por aparelhos elétricos e eletrodomésticos, por

instrumentos musicais e elevadores, pelas instalações hidráulicas, de calefação, de

climatização e elétricas.

A análise de avaliações subjetivas realizada com moradores da cidade de Curitiba em

diferentes zonas urbanas revelou que mais de 90% dos habitantes acredita que o ruído pode

causar prejuízos à saúde, destacando a irritabilidade e a baixa concentração em maior

ocorrência, e o ruído oriundo do tráfego de veículo como o causador de maior incômodo

(PAZ; FERREIRA; ZANNIN, 2005).

Pesquisa realizada em Curitiba por Lacerda, Magni, Morata, Marques e Zannin

(2005), visando à identificação das principais fontes sonoras do ambiente urbano geradoras de

desconforto para os habitantes da cidade, quando se encontram em suas moradias, concluiu

que a poluição sonora urbana influencia na qualidade de vida da população gerando reações

psicossociais de irritabilidade e insônia.

Outro estudo realizado com a população de Curitiba (PR) descreveu a reação da

mesma ao ruído ambiental. O tráfego de veículos (73%) e os vizinhos (38%) foram

classificados como a principal fonte de desconforto (ZANNIN; CALIXTO; DINIZ;

FERREIRA; SCHUHLI, 2002).

2.4 O RUÍDO NA CIDADE DE BELÉM

A análise do nível de contaminação sonora gerada pela comunidade, no centro

comercial de Belém (PA) evidenciou que suas vias encontram-se com níveis de ruído

ambiental intoleráveis, acima do recomendado pela NBR 10.151 da ABNT em período diurno

(MORAES; LARA; TOGUCHI; PINTO, 2003).

Resultados similares foram encontrados em dezoito bairros desta cidade. As

entrevistas realizadas com a população apontaram 60% dela convivendo por mais de seis anos

durante, aproximadamente, nove horas diárias com altos níveis de ruído: 50% apresentando

Page 40: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

40

sintomas extra-auditivos. Os resultados sugerem a necessidade de ações para reorganização

do tráfego de veículo com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos moradores de

Belém (MORAES; LARA, 2004).

A análise dos níveis de ruído dentro da Primeira Légua Patrimonial de Belém

demonstra os níveis de ruído ambiental de dezoito bairros. Em todos eles foram registrados

altos níveis de poluição sonora, independente do período do dia em que foram realizadas as

medições. Os três bairros menos afetados foram a Cidade Velha, com níveis variando entre

63,20 dB e 80,20 dB; Condor com nível mínimo de 65, 33 dB e máximos de 71,84 dB; o

bairro Montese com nível mínimo de 69,48 dB(A) e máximo de 71 dB.

Os resultados das medições realizadas na cidade de Belém aparecem na figura 2, com

as indicações dos níveis de ruído, por área.

Figura 2: Mapa acústico dos bairros de Belém (2004) entre 9h e 10 h. Fonte: MAB-SEMMA

Os bairros mais afetados foram Campina com níveis mínimos de 62,20 dB(A) e

máximos de 82,50 dB(A); Nazaré, variando de 74,66 dB(A) a 82,50 dB(A); e Reduto,

variando entre 63,60 dB(A) e 80,00 dB(A) nos diversos horários (MORAES; SACAVEM;

GUIMARÃES, 2006).

Page 41: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

41

2.5 O RUÍDO NA ESCOLA

Os efeitos do ruído sobre o homem têm sido estudados sob diferentes enfoques nas

diversas áreas do conhecimento, principalmente quando a exposição provoca perdas auditivas.

Os efeitos silentes, quase imperceptíveis, que permitem que os sintomas se instalem

em longo prazo, não chamando a atenção dos indivíduos expostos ou das autoridades, é

bastante preocupante. O ruído nas escolas, advindo de fontes externas e internas, faz parte

deste grupo perigoso, quase invisível. Diversas fontes geradoras de ruído podem ser

encontradas externamente às escolas. Os ruídos são gerados, habitualmente, pelo tráfego de

veículos e aviões e por estabelecimentos localizados em sua proximidade tais como bares,

construção civil, academias, templos religiosos (FERNANDES, 2006).

Dentro da escola são gerados ruídos como, por exemplo, na própria sala de aula pela

movimentação e pela atividade dos alunos, conversa, uso de materiais didáticos (papel,

tesoura, grampeador etc.), por ventiladores ou condicionador de ar, reatores entre outros.

Encontram-se, ainda, os ruídos gerados nos ambientes adjacentes às salas, no interior da

escola, como pátios, salas de músicas, quadra de esportes, outras salas de aula, que

contribuem para o aumento dos níveis de ruído (FERNANDES, 2006).

Um dos principais efeitos do ruído sobre as crianças na escola é a redução da

inteligibilidade de fala e a audição e compreensão da fala por crianças de diferentes idades

sob diferentes condições acústicas e de ruído (SHIELD; DOCKRELL, 2003).

Salas de aula são espaços destinados à aprendizagem e, portanto, devem ser espaços

privilegiados quanto aos aspectos facilitadores de atenção, de concentração e de compreensão.

Os ruídos produzidos nas salas de aula são originados por fontes externas e

transmitidos através das paredes dos edifícios, aumentados pelos internos de modo que as

crianças ficam expostas a uma grande variedade de fontes sonoras.

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42

As pesquisas sobre os efeitos do ruído em salas de aula não têm correlacionado os

níveis de ruído externos deste com as queixas vocais de professores. Os estudos são pontuais,

a maioria de prevalência estatística. O quadro abaixo sintetiza algumas pesquisas sobre ruído

em escolas e seus resultados.

QUADRO 02: Ruído nas Escolas

AUTOR/ANO DISCUSSÃO/RESULTADOS

Oiticica e Gomes

(2004)

- Análise das condições acústicas em sala de aula e a reação fisiológica de estresse do

professor em escolas, particulares e públicas de Maceió.

- Encontraram elevados níveis de poluição sonora e desgaste das cordas vocais dos

professores. Os autores concluíram ser o ruído o causador do desconforto nas salas de

aula

Eniz e Garavelli (2006)

- Analise do ruído ambiental em escolas de ensino médio e fundamental no Distrito

Federal.

- Encontraram 90% das escolas com níveis de ruído acima dos valores considerados

aceitáveis, 50% delas convivendo com ruídos advindos do tráfego de aviões, de

carros de passeio e propaganda, caminhões, motocicletas, ônibus, e 90% com níveis

de ruído acima dos valores recomendados.

- Esta análise revelou apenas as fontes geradoras de ruído ambiental, não

relacionando os resultados aos problemas decorrentes desta exposição em alunos e

professores.

Zwirtes (2006).

- Avaliação da qualidade acústica de salas de aula de escolas estaduais, de Curitiba,

que fazem parte de um grupo com projeto padrão.

- O ruído das salas vizinhas e da própria escola foram identificados como os que mais

perturbavam. A medição dos níveis de ruído externo produzido pelo tráfego apontou

níveis muito acima dos aceitáveis, mas foi pouco percebida como incômoda por

professores e alunos.

- De acordo com a autora o ruído proveniente do tráfego foi pouco percebido, porque

as salas ficam distantes da via de tráfego, o que indica uma relação direta entre a

posição das salas de aula e os níveis de ruído percebidos.

Page 43: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

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Picanço, Vieira e

Barreto (s/d)

- Verificação dos níveis de ruído de cinco salas de aula no horário das atividades

escolares, sala dos professores e quadra de esportes durante o recreio, em uma escola

da rede pública de Fortaleza (CE).

- Encontrou níveis mínimos de 72 dB (NPS) e máximos de 86 dB (NPS) nas salas.

Ao comparar os resultados com as recomendações da Norma NBR 10152,

verificaram que os níveis de ruído nas escolas não poderiam ultrapassar 50 dB(A)

para permanecer abaixo da voz humana em intensidade normal (60 dB) provocando

interferência na comunicação entre o professor e o aluno e exigindo que ambos

elevem a voz forçando o aparelho fonador.

- Tal resultado indica que pessoas submetidas a níveis de ruído acima de 50 dB

necessitam elevar a voz para se comunicar e, consequentemente, estão sujeitas a

problemas de voz.

Jaroszewski,

Zeigelboim e Lacerda

(2007)

- Implicações do ruído sobre a atividade de ditado em crianças da primeira série do

ensino fundamental, em Santa Catarina.

- Constataram que os níveis médios de ruído das salas encontravam-se entre 59,5 a

71,3 dB(A), valores acima dos recomendados pela NBR 10 152. Nestas salas os

professores revelaram que tinham necessidade de elevar a voz durante a atividade de

ditado queixando-se de posterior cansaço vocal.

-De modo geral, todos identificaram fontes internas como geradoras de ruído de

fundo.

Bragion e Silvério

(2006)

- Investigação das condições do ambiente de trabalho e o perfil vocal dos professores

da rede particular de ensino de Piracicaba (SP). Evidenciou que a média do nível de

ruído obtido em sala foi de 73,9 dB, maior que o encontrado em escola pública em

outros estudos, e que a localização da escola estudada interferiu no nível de ruído nas

salas.

- Na qualidade de voz dos professores evidenciou-se a não valorização dos sintomas

laríngeos apresentados, não os identificando como queixas de voz, decorrentes de

problemas laríngeos e/ou vocais.

-A rouquidão foi observada em todos os professores (100%), com algum grau de

soprosidade ou tensão laríngea. Esta alteração da qualidade vocal também foi pouco

percebida pelo professor e é decorrente do ambiente de trabalho ao qual está exposto.

-Este estudo sugere que após certo tempo trabalhando em um ambiente ruidoso as

pessoas podem adquirir problemas de voz embora não consigam perceber as

alterações.

Zucki, Morata e

Marques (2006)

- Análise da percepção de estudantes, profissionais e coordenadores de graduação de

Educação Física sobre o ruído em sua profissão.

- Constataram que o ruído no local de trabalho foi considerado moderado por 60%

dos estudantes e alto por 60% dos profissionais. Sugere que o ruído nas salas de aula

pode ser responsável por grande parte das dificuldades relatadas por alunos e

professores.

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44

Rinaldi (2005)

- Avaliação dos níveis de pressão sonoros em diversas ruas, avenidas e escolas

municipais da cidade de Joinville no Estado de Santa Catarina,

- Identificou os níveis de pressão sonoros (NPS) médio equivalente (Leq)

relacionando-os com o fluxo de veículos/hora e mediu os níveis de pressão sonora

equivalentes (Leq) no interior das salas de aula, ocupadas e desocupadas, a fim de

identificar o grau de perturbação sonora no processo de aprendizagem.

- Os resultados confirmaram, em sua maioria, a superação dos limites e dos padrões

estabelecidos, influenciando negativamente a inteligibilidade dos alunos no processo

de aprendizagem.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Dois fatores são os responsáveis pela reverberação de um ambiente: o volume do

ambiente e o índice de reflexão das superfícies. Quanto maior for a atenuação do som nas

superfícies do ambiente, menor será a reverberação. A inteligibilidade da fala é prejudicada

pela reverberação em ambientes fechados na medida em que ao se pronunciar uma palavra

com várias sílabas, os sons se sobrepõem de forma que ao produzir ma sílaba, o som da sílaba

anterior ainda está sendo ouvido, prejudicando sobremaneira a inteligibilidade. Na fala muito

rápida, ou quando a reverberação é grande, mesmo as pausas entre as palavras ficam

preenchidas com o som reverberante fazendo com que os finais das palavras, que precedem as

pausas, sobreponham-se ao início das palavras que se seguem. Portanto, o som da fala direta

mistura-se com o som reverberado e com o ruído de fundo, e o controle do tempo de

reverberação precisa ser considerado. Os valores considerados ideais para salas de aula

variam de 0,4 a 1 segundo (NABELEK; NABELEK, 1999).

O ruído e a reverberação isolados ou combinados interferem negativamente na

discriminação auditiva nas diferentes faixas etárias. A OMS estabelece que as salas de aulas,

devem ser claras, com boa divisão, ventiladas e livres de interferência de ruídos internos e

externos, de forma a garantir fala inteligível para todos os ocupantes (WHO, 1999).

2.6 - O RUÍDO SOB A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.

O crescimento das cidades e o desenvolvimento tecnológico trouxeram alguns desafios

para serem solucionados. Um deles refere-se ao controle da poluição sonora em diversos

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45

níveis. Para tanto, algumas leis e resoluções foram criadas, particularmente a partir da década

de 90.

A Resolução CONAMA nº. 01, de 8 de março de 1990, “dispõe sobre a emissão de

ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas,

determinando padrões, critérios e diretrizes”. Esclarece que “os problemas dos níveis

excessivos de ruído estão incluídos entre os sujeitos ao controle da poluição de meio

ambiente”, visando à manutenção da qualidade de vida humana por meio da preservação da

saúde e do sossego público. Essa resolução determina que as medições para a verificação dos

níveis de ruído devem ser efetuadas de acordo com a NBR 10151-Avaliação do ruído em

áreas habitadas, visando o conforto da comunidade, e a NBR 10152-Avaliação do ruído em

recintos de edificações, visando o conforto dos usuários. O documento apresenta vários

recintos dos quais se podem utilizar alguns para caracterizar as salas de aula como mostra o

quadro a seguir:

Quadro03: Nível de conforto sonoro, segundo a NBR 10152

LOCAIS dB (A)

-Hospitais,

Apartamentos, enfermarias, berçários, centros cirúrgicos,

Laboratórios, áreas para uso público, Serviços.

35 - 45

40 - 50

45 – 55

-Escolas

Bibliotecas, salas de música, salas de desenho,

Salas de aula, laboratórios, Circulação.

35 - 45

40 - 50

45 – 55

-Hotéis

Apartamentos,

Restaurantes, salas de estar, Portaria, recepção, circulação.

35 – 45

40 - 50

45 – 55

-Residências,

Dormitórios, Salas de estar,

35 - 45

40 – 50

-Auditórios,

Salas de concerto, teatros, Salas de conferências, cinemas, salas de uso múltiplo.

30 - 40

35 – 45

-Restaurantes 40 – 50

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46

-Escritórios,

Salas de reunião,

Salas de gerência, salas de projetos e de administração,

Salas de computadores, Salas de mecanografia.

30 - 40

35 - 45

45 - 65

50 – 60

-Igrejas e templos 40 – 50

-Locais para esportes, -Locais fechados para espetáculos e atividades esportivas.

45 – 60

Adaptado: NBR 10.152, 1987

A Resolução CONAMA n° 002/1990 instituiu o “Programa Nacional de Educação da

Poluição Sonora – SILÊNCIO”. Este programa visou o estabelecimento de normas para o

controle do ruído excessivo e reconheceu sua interferência negativa na saúde da população,

garantindo qualidade de vida á mesma. Esta resolução delegou ao IBAMA a coordenação do

programa e tem como objetivos:

“Divulgar junto à população, através dos meios de comunicação disponíveis matéria educativa e conscientizadora dos efeitos prejudiciais causados pelo excesso de ruído; Introduzir o tema ‘poluição sonora’, nos cursos secundários da rede oficial e privada de ensino, através de um Programa oficial de Educação Nacional”. (BRASIL, 1990b).

O ruído ocupacional é reconhecido como risco à saúde no Brasil. A legislação

trabalhista utiliza como base as Normas Regulamentadoras NR 9, NR 15 e NR 17.

A NR 9 estabelece a obrigatoriedade por parte de empregadores e instituições a

obrigatoriedade de elaborar e implementar o Programa de Prevenção e Riscos Ambientais -

PPRA, visando a preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio da

antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos

ambientais que venham a ocorrer no ambiente de trabalho.

Os limites de tolerância para os diferentes riscos ambientais são apresentados pela NR

15. A norma recomenda 85 dB (A) como o máximo permitido para jornada de trabalho de oito

horas.

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QUADRO 04: Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente

NÌVEL DE RUÌDO DB(A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMITIDA

85 8h

86 7h

87 6h

88 5h

90 4h

92 3h

94 2h e 15 min

95 2h

98 1h e 15 min

100 1h

104 30 min

105 30 min

106 25 min

108 20 min

110 15 min

112 10 min

114 8 min

115 7 min

Adaptado: NR15 – Ministério do Trabalho

A Lei Municipal n. 7.990/2000, de Belém, refere-se ao controle e ao combate à

poluição sonora. Estabelece as diretrizes para a emissão de ruídos produzidos por atividades

que sejam exercidas em qualquer tipo de ambiente. Esta lei também utiliza a NBR 10151

como parâmetro de medição de níveis de ruído. “Art. 2º: É proibido perturbar o sossego e o

bem estar público com sons excessivos, vibrações ou ruídos incômodos de qualquer natureza,

produzidos por qualquer forma, que ultrapassem os limites estabelecidos nesta lei.”

(SEMMA, 2000).

As condições legais para execução a de atividades que exijam solicitação intelectual e

atenção constante, tais como, salas de laboratório, escritórios, análise de projetos, são

recomendadas pela NR 17 (ergonomia). Estabelece os níveis de ruído em conformidade com a

NBR 10.152, para salas de aula entre 40 e 50 dB (A).

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48

Para a avaliação da exposição do ruído ocupacional, no interior das salas de aula, a

legislação se fundamenta na Resolução CONAMA nº. 001 que visa controlar a poluição

sonora e cita as Normas Regulamentadoras NBR 10.151 e NBR 10.152.

No Brasil, diferente de países como Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e Japão, as

condições acústicas das salas de aula não são estabelecidas por normas específicas ficando

estabelecidos, apenas, o nível de pressão sonora e os valores aceitáveis de ruído do ambiente

em sala desocupada. Naqueles países as normas estabelecem parâmetros mínimos com base

no tempo de reverberação (TR), no ruído de fundo, e nos Estados Unidos acrescentam valores

máximos de ruído para condicionadores de ar. Lá é reconhecido que o nível de ruído em

escolas tem relação direta com o processo de ensino e aprendizagem.

Apesar da existência de leis e normas para controle do ruído e do reconhecimento de

seus efeitos negativos sobre a saúde, o nível de poluição sonora nas cidades não tem

diminuído (COUTO; LICHTIG, 2002). Neste contexto, escolas, professores e alunos ficam

expostos a níveis de ruído considerados insalubres contrariando as normas vigentes.

2.7 RUÍDO E SEUS IMPACTOS SOBRE A VOZ

O conhecimento da mecânica de produção da voz permite a compreensão dos

mecanismos que levam às alterações orgânicas e funcionais das pregas vocais e às

consequências sobre a comunicação.

A voz produzida de forma equilibrada não leva à fadiga ou desgaste. Por se tratar de

processo automático, a fonação deve se dar livre de qualquer esforço, permitindo máxima

eficiência na vibração das pregas vocais. Assim, o som produzido será mantido por longo

período de forma clara e limpa. Este pode sofrer modificações em contextos e situações

diferenciadas. A perda deste equilíbrio pode provocar alterações conhecidas por disfonias

(BEHLAU, 2001).

O uso incorreto da voz por modelo vocal deficiente ocorre quando os indivíduos

modificam ajustes naturais da própria emissão para se aproximar de um modelo idealizado

como melhor ou que gostaria de copiar. Portanto, profissionais que fazem uso da voz, no dia a

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49

dia, como ferramenta de trabalho, como professores e repórteres, estão sujeitos a este tipo de

distúrbio. O uso inconsciente de mecanismos para forçar a voz para ser ouvido na presença de

alterações vocais momentâneas, ou na presença de ruído, leva o indivíduo a realizar esforço

vocal desnecessário e, consequentemente, à disfonia. Nestes casos as alterações costumam se

dar por inspiração insuficiente ou início da fonação após a expiração, uso hipotônico ou

hipertônico da compressão glótica, falhas no uso das caixas de ressonância (voz pouco

amplificada) e seleção de uma caixa de ressonância específica dando à voz características

nasais (BEHLAU, 2001).

Pesquisa realizada por Arruda (2004) apontou a percepção dos alunos sobre aspectos

relativos à produção de voz dos professores. A velocidade de fala, o emprego de pausa, a

qualidade da voz e a intensidade vocal mostraram-se relevantes para a expressividade oral de

professores.

A Sociedade Americana de Acústica (Acustical Society of America-ASA) preconiza

que deve haver 20 dB, no mínimo, entre o sinal de voz do professor e o ruído ambiente

(relação fala/ruído). Significa que ao medir o ruído de fundo de uma sala de aula em 50 dB,

por exemplo, a voz do professor deverá atingir 70 dB em todos os pontos da sala. Isto implica

na necessidade de elevar a intensidade da voz a níveis muito altos, com excesso de esforço

vocal. A tendência natural de aumentar a voz em ambientes ruidosos leva os professores a

realizar mudanças constantes na voz. Em outras palavras, falam mais alto e mais forte na

presença do ruído tentando superá-lo (ASA, 2000).

Assim, quanto mais intenso o nível de ruído na sala de aula, maior será o esforço vocal

do professor para manter a atenção dos alunos e efetivar a mensagem (CRANDELL;

SMALDINO, 2004). O ruído afeta a comunicação de tal forma que para superá-lo é

necessário grande esforço por parte do falante e do ouvinte.

De acordo com Pinto e Furck (1988), a rouquidão e a disfonia de graus variados, são

os sintomas vocais mais comuns apresentados por professores. Estas alterações interferem na

atuação dos mesmos em sala piorando seu estado de saúde física e mental e devem-se, em

grande parte, ao mau uso e abuso vocal em sala de aula devido à necessidade de se fazer ouvir

e de ser ouvido num ambiente ruidoso (OYARZÚN; BRUNETTO; MELLA, 1984).

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50

2.8 HÁBITOS, QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS

As queixas mais comuns de pessoas com alterações vocais são ardências, pigarros

constantes, modificações na qualidade vocal, dificuldades para respirar e falar, dores na região

do pescoço. Nem todas as alterações vocais decorrem da produção alterada, tendo sua origem

tanto no uso abusivo quanto intensivo. Muitas vezes surgem como sintomas secundários a

crises alérgicas, períodos de estresse ou uso intermitente da voz cantada. A duração dos

sintomas pode durar muitos dias, semanas ou apenas uma noite (GARCIA, 2002).

Em indivíduos que usam a voz profissionalmente as queixas vocais promovem

desconforto maior por interferirem no processo comunicativo e no próprio desempenho

profissional. Professores queixam-se, com frequencia, de sensação de tensões na musculatura

cervical, da postura inadequada, de falar por horas seguidas utilizando tom e padrão

respiratório inadequado ao competirem com o ruído ambiente (PINTO; FURCK, 1988).

O impacto que as alterações vocais exercem sobre os professores em seu cotidiano é

percebido de forma diferenciada por aqueles que apresentam quadros disfônicos instalados.

Os sintomas físicos como falta de ar e esforço ao falar são os mais percebidos (PEREIRA,

2004).

As dificuldades na emissão vocal manifestam-se de diferentes formas. Esforço durante

a emissão, dificuldade para manter a voz, sensação de cansaço ao falar, variações na

frequencia fundamental habitual, rouquidão, falta de volume e projeção, perda de eficiência

vocal, pouca resistência para falar são os mais comuns (BEHLAU; PONTES, 1995).

Giannini e Passos (2006) estudaram as percepções de professores disfônicos (com

alterações de voz, roucos) da rede municipal de ensino de São Paulo, sobre as condições de

trabalho a que estes estavam expostas, e a forma como estas se constituíam em elementos

constitutivos dos sintomas de voz. Concluíram que os mesmos consideravam a acústica das

salas insatisfatória referindo-se, unicamente, ao local e ao tamanho das mesmas. Nenhum dos

professores, no entanto, associou o início das alterações de voz à necessidade de aumentar a

voz ou esforço ao falar.

Page 51: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

51

Ao contrário dos olhos, que podem fechar-se quando algo causa incômodo, o ouvido

humano não descansa e permanece recebendo o estímulo sonoro, ininterruptamente. Com o

passar do tempo o ser humano se acostuma com o ruído deixando de percebê-lo.

Os estudos sobre prevalência de problemas de voz em professores são, de modo geral,

inconclusivos. Russel, Oates, Greenwood (1998) não encontraram diferenças significativas

entre os sexos ou nível de ensino em que lecionavam. Por outro lado, a correlação entre a

idade dos professores e a ocorrência de problemas de voz ficou evidente nos grupos com

idades acima de 31 anos.

No mesmo estudo constataram que o número de professores que procurou ajuda para

os problemas de voz foi consideravelmente menor que aqueles que relataram preocupações

sobre suas vozes. Apenas 16% dos professores relataram problemas de voz no dia do exame,

20% durante o ano letivo e 19% em alguma época durante a carreira de professor. A

relutância dos professores em procurar ajuda profissional para os problemas vocais sugeriu

que os mesmos consideram problemas vocais como doença ocupacional caracterizando a falta

de consciência dos mesmos sobre os recursos disponíveis para prevenção ou solução do

problema. Demonstrou que, independentemente de serem os professores mais suscetíveis ou

não a problemas de voz do que a população em geral, mais de 22% deles apresentou

problemas, regularmente, e que estes interferem na habilidade de usar a voz como desejariam.

Estudo comparativo da prevalência de desordens vocais entre professor realizado por

Sala; Laine; Simberg; Pentti, Suonpää (2001) avaliou 262 professores e 108 enfermeiras de

um centro de atendimento diurno. Evidenciou a prevalência e frequencia de sintomas vocais

maior em professores do que em enfermeiros. Os resultados confirmaram forte relação de

causa e efeito entre trabalho e desordens vocais. Foram encontrados sintomas vocais,

principalmente durante o trabalho, em quase todos os professores e na maioria dos

enfermeiros, reforçando, desta forma, a relação de causa-efeito entre trabalho e desordens

vocais.

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52

2.9 RECURSOS VOCAIS

Gonçalves (2000) enfatiza os aspectos que se constituem como base para falar bem.

Dentre eles destacam-se a respiração, as pausas, a entonação e o ritmo por serem recursos

utilizados na fala espontânea por todos os falantes. Os três elementos mais importantes, a seu

ver, para colorir a fala são as ênfases, a entonação e a pausa. Estes elementos são apresentados

no quadro abaixo.

QUADRO 05: Recursos Vocais

RECURSO CARACTERÍSTICAS

Respiração - O controle sobre a respiração favorece o uso de pausas, durante a fala. - Tempo necessário para que as inspirações se realizem e o falante possa continuar falando confortavelmente.

Pausas respiratórias

- Permitem que o sujeito falante enfatize, de forma natural, aquilo que pretende salientar durante o discurso. - Quando associadas à entonação produzem discurso eficiente e inteligível. Despertam o interesse do interlocutor. O uso inadequado, por sua vez, compromete a mensagem podendo causar confusão no ouvinte.

Pausas respiratórias breves - São realizadas com inspiração rápida e superficial. - Para destacar palavras ou frases. Quando associadas à diferentes entonações promovem maior valorização das palavras.

Entonação, pausas e ênfase - Interferem no ritmo da fala. - Evitam que se fale muito rápido ou muito devagar

Entonação ou inflexão - Conferem ao discurso curva melódica variada.

Curvas melódicas ascendentes - Indicam interrogação e avisam ao interlocutor que deverá responder, assim como a elevação do som da última sílaba antes da vírgula indica que o ouvinte deve aguardar por uma complementação.

Curva melódicas descendentes - Indicam a conclusão do raciocínio.

Inflexão aguda sustentada - Mostra ao interlocutor que ainda não deve se pronunciar, devendo aguardar.

Entonação variada

- Feita pela utilização de tons que vão dos graves aos agudos; - Imprime vida ao discurso; - O uso de tons graves com queda de altura no final da frase transmite autoridade e certeza, e voz que permanece muito aguda transmite insegurança.

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Ênfase

- Deve ser dada à palavra que transmita a essência da mensagem e deve acontecer em uma só palavra. Significa ressaltar determinada palavra entre os outros elementos da frase ou enunciado. O uso excessivo de ênfases dificulta a compreensão da mensagem; -Valoriza o significado da palavra. Ao enfatizarem-se as palavras básicas do enunciado, o significado torna-se mais claro. - Para ressaltar algo se usam a ênfase, a pausa e o aumento da intensidade da voz.

Fonte: GONÇALVES (2000)

Boone e McFarlane (1994) apontaram a importância do uso de ênfases, de variação de

altura e de tipos de pausas para a constituição do significado da mensagem durante a

comunicação oral.

Professores utilizam a voz como principal recurso didático em sala de aula (OATES,

1984; BEHLAU e PONTES, 1995; SERVILHA, 1998) necessitando, portanto, fazer o uso

adequado dos recursos vocais de modo a garantir a compreensão da mensagem emitida. O uso

variado destes recursos supra-segmentais permite a integração de todos os aspectos da

comunicação humana falada.

2.10 - QUALIDADE VOCAL

O termo qualidade vocal diz respeito ao conjunto de características que identificam

determinada voz. Refere-se à impressão total criada pela voz. Embora varie de acordo com o

contexto e as condições físicas e psicológicas de cada indivíduo, mantém um padrão básico de

emissão que identifica cada ser, individualmente (BEHLAU, 2001).

As vozes podem ser classificadas como: voz rouca, áspera, soprosa, sussurrada, fluida,

gutural, comprimida, tenso-estrangulada, bitonal, diplofônica, polifônica, monótona, trêmula,

pastosa, branca ou destimbrada, crepitante, infantilizada, feminilizada, virilizada,

presbifônica, hipernasal, hiponasal e de nasalidade mista. O quadro abaixo relaciona

características de cada tipo às sensações provocadas no ouvinte (BEHLAU, 2001).

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QUADRO 06: Qualidade Vocal

TIPO DE VOZ CARACTERÍSTICAS

Rouca - Qualidade ruidosa, geralmente relacionada a alterações orgânicas.

- Em grau severo, como sinal de esgotamento e estresse. Não confere sensação desagradável.

Soprosa

- Presença de ar não sonorizado acompanhando a voz, com presença audível de ruído durante

a fonação.

- Relacionada a quadros hipocinéticos, de fadiga vocal, inadaptações fônicas, entre outros.

- Transmite impressão de fraqueza e falta de potência.

Sussurrada

- Caso extremo da voz soprosa. Pode aparecer em casos de paralisia bilateral total abdutora

de pregas vocais ou afonia funcional por conversão psicossomática. Confere caráter intimista

ao ouvinte.

Fluida

- Voz de emissão agradável, solta e relaxada, com tendência à frequencia fundamental grave,

usada por apresentadores de telejornal e locutores de comercial. Encontrada nos casos de

edemas de mucosa. Confere caráter de sensualidade e sedução ao ouvinte.

Gutural

- Emissão tensa com predomínio de ressonância laringo-faríngea que dificulta a projeção

vocal por questões psicoemocionais, modelo vocal deficiente ou técnica vocal inadequada.

- Transmite raiva e agressividade contidas.

Comprimida - Tensa e desagradável dá a impressão de um falante de caráter rígido, com emoções contidas

e necessidade de controle da situação.

Tenso-estrangulada

- Som comprimido e entrecortado com flutuações de qualidade. Com freqüência é associada

à incoordenação pneumofonoarticulatória.

- Inteligibilidade da fala encontra-se parcial ou totalmente bloqueada.

- Transmite desespero, tensão, aflição, angústia e falta de ar.

Bitonal

- Dois tipos diferentes de sons, como se fossem duas vozes pelo desnivelamento das pregas

vocais no plano horizontal.

- Sensação de estranheza e indefinição de personalidade ou sexo do falante.

Diplofônica

- Dois sons diferentes. A voz é decorrente de duas estruturas compondo a fonte geradora do

som.

- Sensação de estranheza. Em casos muito graves, pode dar a sensação de medo ou de que a

pessoa está gravemente doente.

Polifônica

- Condição máxima de irregularidade na qualidade vocal com presença de rouquidão,

soprosidade, aspereza, diplofonia, entre outros.

- Pode afligir o ouvinte de modo a levá-lo a interromper a fala.

Monótona

- Mono altura, mono intensidade ou padrões de altura e intensidade repetitivos.

- Não atrai a atenção do ouvinte e pode comprometer a comunicação e evidenciar quadros

depressivos ou neurológicos.

Trêmula - Variações da frequencia fundamental com a sensação de instabilidade à emissão.

-sensação de fragilidade, sensibilidade excessiva, indecisão, medo e senilidade.

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Pastosa

- Imprecisão articulatória e redução da ressonância orofaríngea.

- Encontrada em crianças com hipertrofia de amídalas palatinas e em indivíduos intoxicados

por ingestão excessiva de álcool, quadros neurológicos e obesos.

- Impressão de falta de maturidade psicoemocional e limitações mentais.

Branca ou Destimbrada

- Redução das características melódicas e espectrais da emissão.

- Poucos harmônicos, tom geralmente grave, gama tonal restrita.

- Possibilidades de inflexão vocal, volume e projeção no espaço restritas.

- Expressa timidez e introversão, falta de interesse e de energia.

Crepitante - Tom grave, intensidade reduzida.

- Provoca estranheza, medo, aflição. Pode parecer assustadora e vinda do sobrenatural.

Infantilizada

- Tom agudo não condizente com a idade do falante ou à sua maturidade psicoemocional.

Pode representar a imaturidade do indivíduo.

- Transmite ingenuidade do falante, falta de amadurecimento psicológico.

Feminilizada

- Tom agudo, de origem quase sempre psicológica. Encontrada em rapazes com disfonia da

muda vocal por dificuldade de aceitação das responsabilidades do adulto que mantém vozes

infantis; pode ocorrer em homossexuais masculinos acompanhada de curva melódica

excessivamente variada e confere aos falantes características femininas.

Presbifônica - Grau variado de deterioração que se caracteriza pela falta de sustentação de frequencia,

intensidade e qualidade da emissão com constantes quebras de sonoridade.

Virilizada - Tom grave em mulheres com edema de Reinke.

- Em alguns quadros de menopausa e de ingestão de hormônios masculinos.

Hipernasal

- Uso acentuado da cavidade nasal com contaminação dos sons orais.

- Encontrada em indivíduos com fissuras labiopalatinas ou com inadequações velofaríngeas.

- Sensação de afetividade, carinho e sensualidade quando o grau de alteração é discreto.

Hiponasal e com nasalidade mista

- Qualidade abafada, pobre em harmônicos, sem amplificação do som laríngeo básico.

Fonte: BEHLAU (2001)

Trabalhos preventivos, de orientação sobre técnica e saúde vocal, instrumentam os

profissionais que dela fazem uso diário, minimizando o aparecimento de lesões e o

comprometimento da didática em sala de aula, melhorando não só o padrão de comunicação

mas, também, a qualidade vocal.

Alguns cuidados são sugeridos por Behlau (1995) e Stier (2004) para manter uma boa

voz. Entre eles destacam-se: não fumar, beber aproximadamente dois litros de água por dia,

evitar bebidas geladas, manter boa postura corporal ao falar, falar articulando bem quando

precisar falar em ambientes muito ruidosos evitando aumentar o tom de voz, não usar

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pastilhas ou bebidas alcoólicas ao falar, pois estas mascaram a dor do esforço vocal

funcionando como anestésicos.

O ruído de fundo das salas de aula, a demanda vocal, acústica inadequada e a distância

entre os falantes são alguns dos fatores que, associados à falta de técnica e à baixa resistência

vocal, contribuem para as alterações de voz em professores.

2.11 VOZ E SAÚDE

A produção normal da voz pressupõe a existência harmônica entre o mecanismo

respiratório, ressonador e vocalizador, pois qualquer desajuste ou mau funcionamento de um

destes mecanismos poderá ocasionar produção alterada da voz (WILLIAMS, 2003).

A ocorrência de problemas vocais entre professores é frequente e crescente e diversos

fatores podem contribuir para isso, dentre eles o aumento do tamanho das salas de aula, do

número de alunos, a competição com o ruído interno e o externo, o aumento da jornada de

trabalho, o estresse entre outros.

Simberg (2004) realizou pesquisa envolvendo professores e estudantes universitários

de Pedagogia, tendo como objetivo investigar a prevalência de sintomas e desordens vocais

entre eles e de desenvolver um programa de intervenção precoce incluindo teste de triagem e

grupo de terapia vocal para os estudantes que apresentassem alguma desordem vocal.

Os resultados dos questionários aplicados aos professores foram comparados com os

de Pekkarinen e Viljanen. (1992) que coletados em 1988. Houve aumento na proporção de

professores com queixas de sintomas vocais, assim como aumentou a proporção de

professores com duas ou mais queixas, sugerindo um aumento na ocorrência de desordens

vocais nesses profissionais. A terapia de voz realizada em grupo com alunos identificados

como portadores de problemas de voz, na triagem vocal, mostrou-se método efetivo para o

tratamento de problemas vocais detectados precocemente. Os níveis de ruído das salas

analisadas variaram entre 40 e 58 dB(A) e indicaram que os professores necessitavam de

esforço maior para falar.

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Professores referem, com frequencia, dificuldades para lidar com o ruído em salas de

aula. Araújo (2006), ao investigar a qualidade de vida de professores com queixas vocais,

observou que 54% da população pesquisada apresentava dificuldades no trabalho por causa da

voz, 29,4% necessitava repetir o que falava para ser compreendido; 58,8% dos professores

referiram dificuldade em falar forte ou de ser ouvido em ambientes ruidosos. Estes resultados

confirmam a necessidade de promover a saúde do professor, incluindo a saúde vocal, no

ambiente escolar.

As pesquisas relacionadas aos problemas de saúde dos professores apontam a

prevalência de distúrbios vocais relacionados ao trabalho. A competição sonora, em salas de

aula, realizada de forma inadequada e em decorrência de elevados níveis de ruído ambiental

vem sendo identificada como uma das causas mais freqüentes de disfonias em professores

(ARAÚJO, 2006; BEHLAU, 2001; BEHLAU; DRAGONE; NAGANO, 2004; GIANINNI;

PASSOS, 2006).

Estudo realizado por Motta, Cunha, Crato e Oliveira (2004) com professoras de uma

creche de Belo Horizonte revelou que, aproximadamente 60% delas já tiveram ou têm

problemas de voz, 85% referiram rouquidão, 37% sentiam dor ao falar, 20% faziam esforço

ao falar, 75% tinham o hábito de gritar e 23% realizavam abusos vocais.

Pinto e Furck (1988) chamam a atenção para o número de professores readaptados que

acabam por exercer outras funções nas escolas e para o afastamento deles devido à ocorrência

de problemas de voz. Muitas vezes estes afastamentos acabam gerando custos e prejuízos aos

cofres públicos e instituições de ensino com contratação de outros profissionais. A voz dos

professores torna-se vulnerável devido ao uso indiscriminado e inadequado se não forem

adotados cuidados especiais.

As atividades orais realizadas pelos professores, quando incompatíveis com a saúde

vocal, podem provocar alterações nos tecidos laríngeos ocasionando distúrbios vocais

(PINHO, 1997).

Behlau e Pontes (2001) sugerem alguns cuidados com a voz tais como:

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58

• Hidratação: a ingestão de pelo menos 2 litros de água por dia melhora a lubrificação

do trato vocal permitindo que a vibração das pregas vocais aconteça livremente e sem

atrito.

• Evitar tosse seca e pigarro: ambos provocam forte atrito nas pregas vocais podendo

provocar lesões. Desta forma deve-se evitar tossir ou pigarrear.

• Evitar o uso de cigarro: a fumaça agride todo o sistema respiratório e as pregas vocais.

Ao ser tragada pode provocar tosse, edema, pigarro, aumento de secreção e infecção

laríngea.

• Evitar a ingestão de álcool: provoca desidratação da mucosa que reveste o trato vocal e

anestesia o corpo e laringe.

• Evitar o uso de pastilhas, gengibre, menthol e própolis: estas substâncias têm efeito

cicatrizante e anestésico e, portanto, mascaram sintomas de abuso vocal.

• Evitar alimentos pesados e gordurosos que dificultam a digestão e provocam

problemas digestivos.

Dar preferência a alimentos como frutas cítricas, maçãs que exigem maior número de

mastigações melhorando a articulação e ressonância. Evidencia-se, assim, a importância dos

cuidados com a voz para a prevenção de alterações que prejudicam o desempenho do

professor em sala de aula e para a manutenção da saúde a fim de evitar que quadros disfônicos

se agravem.

2.12 VOZ E AUDIÇÂO

A audição permite que o ser humano module sua voz durante a emissão. É pela

audição que regula e modula a frequencia, a velocidade e a entonação vocal.

De acordo com Buosi (2002), voz e audição estão intimamente relacionados,

considerando-se ser o ato de ouvir uma atividade complexa e elaborada, que envolve desde a

detecção dos estímulos sonoros, através dos órgãos periféricos, até sua interpretação pelo

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59

sistema nervoso central. Assim, pode-se afirmar sua importância para a manutenção de um

adequado padrão vocal.

A audição tem papel fundamental na aquisição e desenvolvimento da linguagem oral,

da comunicação interpessoal. Desta forma torna-se determinante para o desenvolvimento do

padrão de emissão vocal que se modifica conforme as experiências e vivências de cada um

(PEREIRA; GARCIA, 2005).

Um indivíduo com deficiência auditiva, ainda que tenha sido oralizado precocemente,

não apresentará ritmo de fala semelhante ou igual ao ouvinte da mesma língua por não

desenvolver a capacidade de realizar feedback auditivo característico do ouvinte. Devido a

esta incapacidade o ritmo e a melodia da fala estarão alterados em comparação ao resto da

comunidade ouvinte em que está inserido.

Pinho (1990) refere que a intensidade vocal no deficiente auditivo pode estar alterada

para mais forte devido à excessiva tensão no trato vocal, por ser uma forma de se fazer ouvir.

Nos casos em que estes tem consciência da tendência de falar forte a tentativa de controle

pode reverter a situação levando a uma voz com intensidade fraca.

2.13 CONCLUSÃO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ DO PROFESSOR.

A revisão da literatura permitiu entender que há forte correlação entre aumento de

urbanização e aumento dos níveis de ruído, e que muitos problemas ambientais são

decorrentes do crescimento desordenado das cidades. Entre eles destaca-se a poluição sonora

que provoca sérios danos à saúde humana com prejuízos em diversas áreas.

Embora vários estudos tenham sido realizados sobre ruído nas escolas ainda existem

lacunas no conhecimento sobre a relação entre a interferência do processo de urbanização e o

aumento de ruído nas salas de aula.

Ainda que estudos sobre voz tenham sido realizados com professores nenhum deles

procurou conhecer a relação entre o aumento dos níveis de ruído externo e os

comportamentos vocais de professores.

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60

Considerando-se que a profissão de professor prioriza a voz como instrumento de

trabalho, e que o processo de ensino e aprendizagem depende, mesmo que em parte, das pistas

auditivas da voz do mesmo e da clareza com que a mensagem oral é emitida, os fenômenos

externos que interferem nas condições acústicas das salas de aula devem ser estudados.

A literatura mostra que existem poucos estudos sobre o ruído na Amazônia, mais

especificamente em Belém do Pará. Em Belém, apesar do reconhecimento por parte do

governo da existência de problemas de voz dos professores, a relação entre os problemas de

voz com a localização das escolas não tem sido reconhecido. As escolas permanecem nos

corredores de intenso fluxo de veículos sem legislação que lhes garanta condições de conforto

acústico. As escolas não estão imunes ao processo de crescimento das cidades e da poluição

sonora ficando alunos e professores expostos a altos níveis de ruído que interferem na

aprendizagem.

Em termos metodológicos, a revisão da literatura mostra que a maioria dos estudos é

de caráter quantitativo, experimentais e/ou algumas pesquisas de opinião. Verifica-se uma

menor preocupação com estudos qualitativos que relacionem o crescimento das cidades às

alterações de voz e o aumento do ruído nas escolas.

As pesquisas relacionadas aos problemas vocais de professores têm sido realizadas,

em sua maioria, através de abordagens quantitativas com enfoque em alterações orgânicas.

Poucos estudos contemplam as percepções dos professores, as interferências ambientais ou o

processo de urbanização como agravantes dos problemas de saúde dos professores,

especialmente no que se refere às alterações de voz.

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3 METODOLOGIA

3.1 EM BUSCA DE UMA NOVA ABORDAGEM METODOLÓGICA

A pesquisa buscou traçar uma metodologia que fosse capaz de compreender de que

forma o processo de urbanização e o aumento dos níveis de ruído produzidos na cidade se

interrelacionam com os problemas de voz dos professores.

Por este motivo optou-se pelo Estudo de Caso e pela abordagem qualitativa, embora o

levantamento quantitativo dos níveis de ruído interno e externo das escolas tenha sido

realizado. A pesquisa tomou como fundamental que para a análise do impacto do ruído era

necessário mensurá-lo.

Enquanto abordagem qualitativa, a análise do conteúdo tornou-se procedimento

importante para identificar e compreender as percepções dos professores sobre o ruído e as

condições ambientais como agentes que influenciam nos problemas de voz.

3.2 ESTUDO DE CASO

Ainda que o estereótipo dos estudos de caso como modelos deficientes de pesquisa

continue a existir, estes continuam sendo usados de forma extensiva em pesquisas sociais

mesmo em áreas mais tradicionais como a história, psicologia, educação e políticas públicas,

da mesma forma que são utilizados em dissertações e teses.

A literatura mostrou que a análise de casos tem sido uma constante em estudos sobre o

ruído. Considerando-se que esta pesquisa tenha a preocupação de um entendimento mais

intensivo do que extensivo sobre o impacto do ruído na voz dos professores, optou-se por este

método.

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62

Yin (2005) refere que o estudo de caso, como estratégia , assim como qualquer outra,

tem vantagens e desvantagens dependendo do tipo de questão de pesquisa, do controle que o

pesquisador tem sobre os eventos comportamentais efetivos, do foco em fenômenos históricos

ou contemporâneos. Como esta pesquisa não objetiva ter controle sobre eventos

comportamentais, mas sim ampliar os “conhecimentos sobre fenômenos sociais complexos e

relacionados” (YIN, 2005, p.20), mais especificamente a influência do ruído ambiental nos

problemas de voz de professores, foi eleito o estudo de caso.

Os acontecimentos contemporâneos são ideais para estudos de caso, quando os

comportamentos relevantes não podem ser manipulados. Ainda que seja possível utilizar as

técnicas de pesquisas históricas, no estudo de caso duas fontes de evidências são

acrescentadas: a observação direta dos acontecimentos que estão sendo investigados, e as

entrevistas das pessoas que estão envolvidas no estudo, além da possibilidade de, no caso de

observação participante, ser possível a manipulação informal das evidências como artefatos e

documentos. Nesta pesquisa, particularmente, a observação direta, os questionários e o grupo

focal permitiram que o observador registrasse os comportamentos e as percepções dos

professores e confrontasse os resultados in loco, além de permitir os ajustes necessários para

reduzir viéses. A estes foi acrescentado um questionário que permitisse a triangulação na

análise dos dados levantados.

Sobre as dificuldades de generalização dos resultados, o autor chama atenção para a

questão de que os fatos científicos raramente se baseiam em experimentos únicos, e sim, num

conjunto de múltiplos experimentos que repetiram o mesmo fenômeno sob diferentes

condições.

Os estudos de caso são generalizáveis a proposições teóricas, não a populações ou

universos. Tem como objetivo generalizar e expandir teorias – generalização analítica- ao

invés de enumerar freqüências - generalizações estatísticas. Os estudos citados anteriormente

confirmam a importância e a validade do estudo de caso como recurso metodológico para a

realização desta pesquisa.

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63

3.3 PESQUISA QUALITATIVA

As pesquisas quantitativas, de modo geral, seguem roteiros rígidos com base em

hipóteses e variáveis definidoras da forma operacional e com instrumental estatístico. A

pesquisa qualitativa, por outro lado, é direcionada com frequencia durante o desenvolvimento

do estudo, diferenciando-se também na forma de análise de seus resultados, evitando medir ou

enumerar eventos sem instrumental estatístico. A opção pela análise qualitativa, neste estudo,

deu-se pela necessidade de se estudar a influência do ruído decorrente da urbanização sobre a

voz, particularmente sobre a voz de professores, considerando suas percepções sobre o

crescimento da cidade e a própria produção vocal durante a atividade docente na presença de

ruído gerado dentro e fora das escolas.

A obtenção dos dados foi originada do contato direto e interativo do pesquisador com

o objeto de estudo, os professores. Estudos qualitativos geralmente costumam ser realizados

no local de origem dos dados permitindo que o investigador empregue a lógica do empirismo

científico a partir de um recorte temporoespacial do fenômeno (NEVES, 1996). Este recorte

definiu a dimensão em que o trabalho se desenvolveu, neste caso, as escolas e os professores.

Segundo Manning (1979), esta forma permitiu que se realizasse a descrição dos dados sobre

os problemas de voz, as fontes de ruído e o comportamento e as percepções dos professores,

durante o momento da coleta.

A opção pelo método qualitativo possibilitou à pesquisadora visualizar o contexto

(salas de aula de diferentes escolas) em que os professores agem e se comunicam e, quando

possível, integrou-se, de forma empática, com o objeto de estudo de forma que se obtivesse

uma melhor compreensão do comportamento vocal dos professores na presença de ruído.

Embora diferentes na forma de análise, os métodos quantitativos e qualitativos não se

excluem mutuamente. Uma pesquisa pode ter como objetivo realizar o diagnóstico de

determinado fenômeno descrevendo-o e interpretando-o e, também, explicá-lo a partir das

relações de nexo causal ou seus determinantes. Portanto, tais pontos de vista podem

complementar-se contribuindo para melhor compreensão do fenômeno estudado. Por este

motivo a mensuração do ruído interno e externo às escolas foi realizada sem prejudicar o

método principal (qualitativo).

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64

Esta pesquisa entendeu que a combinação de técnicas quantitativas e qualitativas

fortaleceu a análise e minimizou os problemas relativos à adoção somente da análise de

conteúdo. Da mesma forma, as entrevistas com os sujeitos da pesquisa, característica dos

métodos qualitativos, possibilitaram à pesquisadora entender o contexto em que se produz o

ruído.

3.3.1 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo baseia-se no uso de técnica sistemática, analisando o material

passo a passo, com controle metodológico rígido, a partir de um sistema de categorias guiado

por teoria subjacente. A análise qualitativa, neste estudo, considerou a ausência ou a presença

de determinada característica de conteúdo, ou conjunto de características, em uma fração da

mensagem, conforme Mayiring (2000) sugere. Foram considerados os aspectos relativos à

ausência e presença de fontes geradoras de ruído externo e interno, e incômodo durante as

aulas, assim como os hábitos e as queixas vocais dos professores expressos durante os grupos

focais e em conversas informais com a pesquisadora.

Os debates no grupo focal, os questionários e a observação geraram material que foi

considerado como meio de expressão dos professores, permitindo que a pesquisadora

categorizasse as palavras ou frases que se repetiam inferindo, assim, uma expressão que as

representasse, conforme Caregnato e Mutti (2006) indicam para serem realizados em análise

de conteúdo.

Assim, a análise de conteúdo foi realizada por categorias temáticas objetivando

encontrar significações detectadas pela pesquisadora através de indicadores ligados ao ruído e

voz, de modo a inseri-los numa das classes de equivalência definidas como importantes para o

estudo. Este tipo de análise se deu através de desmembramentos do texto em unidades, em

reagrupamentos analógicos.

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65

Procedeu-se à análise de conteúdo a partir de três etapas conforme sugere Mayring

(2000), quais foram: sumarização, explicação e estruturação.

A sumarização se caracterizou pela redução do material a conteúdos essenciais de

modo a criar um corpus, pela abstração, que retratasse os aspectos relativos aos hábitos, às

queixas e aos sintomas vocais dos professores submetidos a diferentes níveis de ruído urbanos

durante a emissão vocal.

A explicação acrescentou material adicional a alguns segmentos do texto para

aumentar a compreensão, esclarecer e explicar algum segmento como, por exemplo, de que

maneira a voz se modifica na presença de ruídos, ou a percepção dos professores sobre as

fontes geradoras de ruído dentro e fora das salas de aula.

A estruturação permitiu que, a partir dos critérios pré-estabelecidos, aspectos como a

percepção dos professores sobre o crescimento da cidade, a interferência do ruído ambiental

nas salas de aula, os recursos vocais usados para superar o excesso de ruído nas salas e as

próprias produções de voz e suas alterações fossem filtrados, e que se fizesse um recorte

avaliando o material de pesquisa.

3.3.2 Grupo Focal

Desde os anos 80 observa-se o uso crescente da técnica de grupo focal nas pesquisas

sociais, especialmente nas pesquisas de mercado, que reelaboraram técnicas consagradas

pelas ciências sociais para captar as necessidades e desejos dos consumidores de forma a

definir padrões a serem seguidos pelas empresas em seus lançamentos futuros (CRUZ et al.,

2002). Trata-se de uma estratégia de pesquisa para a coleta de dados que passou a ser

intensamente utilizada a partir da década de 80 pelos cientistas sociais. Tornou-se bastante

conhecida por pesquisadores da área de Ciências Sociais, para a investigação de aspectos de

modo mais profundo, de forma a revelar características de um grupo e dos indivíduos que o

compõem que não seriam possíveis de evidenciar com o uso de outras técnicas. Observou-se

Page 66: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

66

que o grupo focal objetiva compreender os fenômenos sociais utilizando estratégia indutiva de

investigação e descrevendo de forma ampla os resultados (GALEGO e GOMES, 2005).

Entendeu-se que este método era apropriado para investigar a relação entre a urbanização, o

aumento do ruído e os problemas de voz de professores.

Sua principal função foi propiciar dados que permitissem a reflexão sobre a expressão

dos professores. A idéia era captar os conceitos, impressões e concepções sobre ruído,

urbanização e problemas vocais dos professores. Assim, foi analisada a percepção dos

professores sobre a mudança no nível dos ruídos nos últimos 10 anos; assim como o

entendimento acerca dos ruídos externos e internos e suas interferências na produção vocal; a

relação entre o ruído e os hábitos, as queixas e os sintomas vocais dos professores, o ruído

externo e seu impacto sobre o ruído interno e a produção vocal.

As percepções trabalhadas no grupo focal não se restringiram a uma descrição simples

ou expositiva, uma vez que todos os pontos de vista expressos foram discutidos pelos

participantes. Dentro desta perspectiva, questões levantadas foram capazes de propiciar e

fomentar o debate entre os professores ainda que nem todos compartilhassem da mesma

opinião.

Para a análise e a interpretação dos dados a pesquisa considerou o que Galego e

Gomes (2005) sugerem em termos de observação de ações e atitudes. A pesquisadora fez

parte da discussão e observou as expressões faciais, o tom de voz usado pelos participantes, o

contexto das falas e o clima da discussão, além dos hábitos, das queixas e dos sintomas

vocais.

Os debates foram gravados e transcritos e elaborado um plano para a descrição das

falas com apresentação das idéias destacando-se as diferenças entre as opiniões e os discursos

do grupo focal.

A análise dos dados destacou o que a pesquisa considerava relevante e relacionou ao

ruído, aos hábitos e às queixas vocais dos professores. Identificou as idéias principais que

suportaram as discussões, fazendo a pesquisadora buscar tendências e formular tentativas de

conclusões sobre as relações encontradas.

Page 67: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

67

Especial cuidado foi dado ao relatório final com os resultados de modo que se evitasse

generalizações e acentuasse as relações entre os dados levantados de acordo com as

interpretações dos indivíduos que participaram do grupo.

3.4 SELEÇÃO DAS UNIDADES DE ANÁLISE: ESCOLAS E PROFESSORES

3.4.1 As escolas

O estudo foi realizado em duas escolas que oferecem ensino de nível fundamental, por

tratarem-se de classes com um único professor garantindo-se, assim, que o professor estivesse

na mesma sala durante toda a jornada de trabalho, e localizadas em vias com diferentes níveis

de ruído urbano de forma que se pudesse comparar os problemas vocais em professores

submetidos a níveis de ruído distintos. Para tanto, foram selecionadas duas escolas com

características construtivas opostas e localizadas em espaços urbanos com diferentes níveis de

ruído. Desta forma foi possível garantir que as salas de aula sofressem interferência do ruído

urbano de forma diferenciada.

Para a localização das escolas foram considerados os dados do Mapa de Ruídos de

Belém - Fase III (MORAES, 2008). Por se tratar de trabalho com dados atualizados sobre as

condições acústicas da cidade de Belém, a utilização do mapa acústico permitiu agilidade no

processo de escolha das áreas urbanas a serem estudadas, evitando que se consumisse longo

tempo com medições nas ruas da cidade em que as mesmas estão localizadas, precisamente

em pontos próximos das portas principais das escolas.

As escolas selecionadas estão localizadas em bairros com níveis de ruído e

características construtivas distintas. Esta escolha se deu para garantir a identificação da maior

e menor interferência do ruído advindo de tráfego de veículos, de pessoas circulando ou

conversando nas proximidades. Estão localizadas em áreas urbanas com diferentes funções no

perímetro urbano de Belém.

Page 68: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

68

A via em que está localizada a escola particular se caracteriza por ter uso do solo,

predominantemente habitacional, com alguma presença de órgãos públicos. Situa-se entre

duas vias de grande movimento (Avenida Almirante Barroso e Avenida Duque de Caxias)

sem ser, no entanto, afetada por elas. Trata-se de um bairro com densidade demográfica bruta

inferior (130,5 hab/ha.) ao que está localizada a escola pública. (IBGE, 2000).

A localização da escola particular e o mapa acústico do bairro em que se localiza

encontram-se na figura que se segue.

Figura 3: Mapa Acústico (9h-10h) e Localização da Escola Particular Fonte: Mapa Acústico de Belém (2004) entre 9 h e 10 h e imagem disponibilizada pelo Google Earth.

A área em que se localiza a escola pública se caracteriza como corredor de comércio e

serviços, sendo uma via importante na ligação centro-periferia da cidade e, assim, o uso do

solo lindeiro5

5 Relativo às margens.

é composto por estabelecimentos comerciais e de serviços. A via se caracteriza

por ter grande movimento de veículos; não só por ser ligação centro-periferia como, também,

pela atração de veículos causada pelo próprio uso do solo. Além do mais é uma via importante

para o fluxo de ônibus, considerando que passa por bairros de elevada densidade demográfica

bruta de 191,5 hab/ ha. (IBGE, 2009; CODEM, 2000).

Page 69: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

69

A localização da escola pública e o mapa acústico do bairro em que se localiza

encontram-se na figura que segue.

Figura 4: Mapa acústico do bairro Telégrafo (9h-10h) e localização da Escola Pública. Fonte: Mapa Acústico de Belém (2004) e imagem disponibilizada pelo Google Earth.

Os critérios de inclusão das escolas nesta pesquisa estão sintetizados no quadro

abaixo.

QUADRO 07: CRITÉRIOS DE INCLUSÃO DAS ESCOLAS

ESCOLA LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS

Pública

Via urbana com intenso fluxo de veículos e pessoas circulando; próxima de pontos de ônibus; via com ruído acima de 75 dB.

Sem janelas ou portas, apenas grades de ferro; Ventiladores no teto; salas de aula próximas da via; Presença de ruídos internos e do entorno; Mais de trezentos alunos; Salas de aula localizadas próximas à via e sujeitas a maior interferência do ruído e padronizadas quanto ao volume da sala e número de alunos.

Particular

Via urbana com pequeno fluxo de veículos e pessoas circulando; longe de esquinas e de pontos de ônibus em via com baixo fluxo de veículos, com obstruções; via com ruído de 68 dB.

Janelas fechadas com cortinas; Salas climatizadas com ar condicionado tipo Split no teto; Ausência de ruídos externos; Com mais de trezentos alunos; Salas de aula localizadas longe das vias e sujeitas a menor interferência do ruído; Padronizadas quanto ao volume da sala e número de alunos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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70

3.4.2 Os professores

A pesquisa qualitativa indica que um estudo intensivo não requer uma amostra

extensa. Por isso definiu-se a análise de 20 professores como suficiente. A definição por este

número de professores deu-se pela necessidade da permanência do pesquisador em cada sala

de aula, para observar os professores durante a atividade docente de modo que seus

comportamentos e hábitos vocais pudessem ser analisados e comparados com os dados

obtidos nos questionários e grupo focal.

Fizeram parte deste estudo vinte professores das quatro séries iniciais do ensino

fundamental, do município de Belém-PA, de primeira a quarta série, por serem classes com

um único professor.

A amostra foi composta por dez professoras de cada escola, todas do sexo feminino,

de diferentes idades e com mais de cinco anos atuando como docentes.

Foram excluídos os professores de educação física por trabalharem fora das salas,

normalmente em espaços abertos. Para os professores que trabalham em mais de uma escola

foi solicitado que respondessem às perguntas tendo como referência, apenas, a que estava

sendo estudada.

Durante a observação o pesquisador pôde observar e registrar os ruídos presentes nas

salas durante o período e as atitudes dos professores neste contexto.

3.4.3 Caracterização das escolas analisadas

3.4.3.1 A escola pública

A caracterização das escolas analisadas está baseada no primeiro levantamento de

campo realizado pela pesquisadora. Neste levantamento priorizou-se a observação e a

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71

descrição das escolas, realizou-se a contagem de veículos em frente às mesmas (para tal

utilizou-se um contador manual). Mediu-se o ruído interno das escolas, particularmente das

salas de aula, utilizando um sonômetro de precisão NL 15 e NL 27 conforme detalhado

anteriormente na seção 3.5.1.

A escola localizada em espaço urbano mais ruidoso é pública, estadual, de ensino

fundamental, construída próximo à calçada, com salas de aula sem janelas ou portas de

madeira. Conta com 90 professores, 708 alunos no turno da manhã, 30 funcionários.

Nas janelas e portas há apenas grades de ferro sem vidro e sem estrutura em madeira.

Internamente às salas encontram-se cadeiras de ferro e madeira, quadro de giz, uma mesa de

madeira para a professora, quatro ventiladores de teto em metal e quatro luminárias de luz

fluorescente. Nas paredes das salas há alguns cartazes em cartolina confeccionados por alunos

e professores.

As salas de aula são padronizadas quanto ao tamanho e ao número de carteiras e

apresentam medidas internas de 25,2m2

.

Durante as aulas ouve-se, constantemente, buzinas de carros, motocicletas, pessoas

circulando e conversando, ruídos provenientes da oficina de carros localizada no entorno. Há

presença constante de ruído gerado por frenagens e arrancadas de ônibus devido à localização

de uma parada na frente da escola. Somam-se a estes ruídos aqueles gerados pelos alunos,

funcionários, o arrastar de cadeiras, a queda de material, característicos de escolas em

funcionamento.

A contagem do número de veículos que circulavam na avenida em que está localizada

a escola foi realizada usando-se quatro contadores manuais durante 10 minutos. Cada

contador foi utilizado para registrar a presença de motocicletas, carros de médio porte, grande

porte, ônibus e caminhões.

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72

Figura 05: Visão da parada de ônibus em frente à escola Fonte: acervo do autor

Figura 06: Visão do Comércio e Serviços Fonte: acervo do autor

Figura 07: Visão da avenida, dos ônibus e dos veículos Fonte: acervo do autor.

Figura 08: Visão do comércio e veículos. Fonte: acervo do autor.

No período coletado de dez minutos foram registrados 176 carros pequenos, 154

carros grandes, 38 motocicletas e 83 caminhões e ônibus. O nível médio de ruído na via foi

aproximadamente 75 dB nos horários compreendidos entre 8 horas e 11 horas da manhã, de

segunda a sexta-feira.

A figura 09 mostra uma sala de aula da escola pública. Nota-se a ausência de portas e

janela que minimizariam a entrada do ruído gerado externamente.

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73

Figura 09: Visão frontal da sala de aula de escola pública localizada em via urbana com altos níveis de ruído Fonte: acervo do autor.

3.4.3.2 A escola particular

A escola localizada em espaço urbano menos ruidoso é particular, de ensino

fundamental, construída longe da calçada, com salas de aula com janelas protegidas por

cortinas e portas de madeira, conforme mostra a fotografia abaixo.

A figura 10 mostra uma sala de aula padrão da escola, com portas e janelas fechadas

e ar condicionado.

Figura 10: Visão interna da sala de aula de Escola Particular localizada em via Urbana com Baixos Níveis de Ruído Fonte: Colégio Ipiranga.

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74

Internamente encontram-se cadeiras de ferro e madeira, quadro branco, uma mesa de

madeira para a professora, todas climatizadas com condicionador de ar do tipo split. Nas

paredes encontram-se cartazes em cartolina confeccionados por alunos e professores, suporte

para mochilas e merendeiras. A escola conta com 19 professores, 344 alunos, 20 funcionários,

31 estagiárias, uma quadra de esportes e uma cantina.

As salas de aula não são padronizadas quanto ao tamanho e ao número de carteiras.

Por este motivo foram medidos os Tempos de Reverberação de três salas de tamanhos

diferentes. As salas de aula apresentam as seguintes medidas internas: 29,8 m2; 24,0 m2 e

32,76 m2, com tempos de reverberação de 2,47 s; 1,82 s e 2,49 s, respectivamente, valores

acima dos recomendados pela norma.

Durante as aulas ouvem-se apenas os ruídos produzidos pela movimentação das

crianças, cadeiras sendo arrastadas e queda de materiais característicos de salas de aula, tais

como canetas, lápis, apontador, livros etc. Não se ouve presença de ruído nos corredores,

exceto nos horários de recreio e de entrada e saída dos alunos. A circulação de funcionários

ou alunos é pequena e, quando ocorre, não produz incômodo nas salas.

Os níveis de ruído gerados pela campainha e microfone não interferem nas aulas uma

vez que só acontecem durante os horários de entrada e saída das crianças. Do mesmo modo os

ruídos de buzinas e de trânsito de veículos só são intensos nestes horários não

comprometendo a dinâmica vocal durante as aulas.

A contagem do número de veículos que circulavam na avenida em que está localizada

a escola foi realizada usando-se quatro contadores manuais durante 10 minutos. O nível

médio de ruído na via é de aproximadamente 68 dB.

Cada contador foi utilizado para registrar motocicletas, carros de médio porte, grande

porte, ônibus e caminhões em circulação na via durante o período das aulas, pela manhã.

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75

No intervalo de dez minutos em que foi realizada a coleta foram registrados 30 carros

pequenos e 6 motocicletas, número bem inferior ao encontrado na via em que está localizada

a escola estadual.

Figura 11: Visão da via em que se encontra a escola Fonte: acervo do autor.

Figura 12: Visão dos Órgãos públicos localizados nas proximidades. Fonte: acervo do autor.

3.5 COLETA, ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS6

O Mapa Acústico de Belém utilizou uma quadrícula de 400x400 metros, tamanho

considerado em conformidade com a precisão e com o número de pontos a serem medidos.

Desta forma não foi necessário realizar a medição dos níveis de ruído externo às escolas. As

quadrículas foram sobrepostas ao mapa da cidade partindo desde a extremidade inferior

esquerda, utilizando letras do alfabeto no eixo das ordenadas e números nas abscissas,

gerando, na primeira etapa do trabalho, um total de 246 pontos de medida, dentro da 1ª Légua

3.5.1 Níveis de ruído

Para a identificação dos níveis de ruído do entorno foram utilizados os dados gerados

pelo Mapa Acústico de Belém - Fase III (MORAES, 2008), conforme explicado no item 3.4.1

deste capítulo.

6 Antes de iniciar a coleta de dados o projeto foi encaminhado para apreciação do Comitê de Ética em pesquisa da Unama tendo sido aprovado em 27/06/2008, sob protocolo nº. 200746/08.

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76

Patrimonial de Belém. As medições dos níveis de ruído foram realizadas durante 15 minutos

em cada ponto e de acordo com a norma ISO 1996/2, obedecendo aos afastamentos mínimos

do piso (de 1,20m a 1,50m) e das superfícies refletoras verticais (não inferior a 3,50m), sendo

corrigida em 3 dB no caso de distância inferior a referenciada. Não foram realizadas medições

em momentos nos quais as condições climáticas eram adversas, como chuva e ventos fortes,

para evitar interferências destes nos resultados (MORAES, 2004). A figura 13 ilustra a forma

como as quadrículas foram superpostas ao mapa da cidade com os pontos de medição.

Figura 13: Mapa das quadrículas com os pontos de medição. Fonte: MAB – Mapa Acústico de Belém.

Antes de iniciar as medições dos níveis de pressão sonora (NPS) internos das salas de

aula, a pesquisadora permaneceu na escola por uma semana com o objetivo conhecer o

ambiente sonoro em que as mesmas estavam inseridas, de modo a identificar os ruídos

advindos da própria escola e do entorno que pudessem ser percebidos durante as aulas.

Esta prática permitiu à mesma conhecer os melhores momentos para realizar as

medições e confirmar as percepções dos professores apontadas nos diferentes momentos da

coleta (questionário e grupo focal).

As medições dos níveis de pressão sonora internos foram realizadas considerando-se o

ruído ambiente através do Sonômetro de precisão NL18 e NA27. Foram respeitadas as

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77

recomendações da NBR 10.151 particularmente no que concerne à localização do aparelho a

1,20m de altura do solo com, no mínimo 2,0 m de afastamento de qualquer barreira como

paredes, com distância mínima do operador a 0,50m.

As medições internas aconteceram com todos os equipamentos calibrados pelo órgão

competente7 há, no mínimo um ano, de segunda a sexta-feira, em intervalos regulares com

duração de cinco a 10 minutos, antes e depois do recreio. Este período foi escolhido em

virtude dos horários de funcionamento das escolas e da ocorrência de intenso fluxo de

veículos durante a semana. Foram coletados os Lmax, Lmin, Leq,

A área de absorção equivalente da sala receptora foi determinada pela análise do

tempo de reverberação. Para o cálculo colocou-se o microfone e uma fonte geradora de ruído

alimentada com ruído rosa

com ponderação “A”.

8

A identificação dos hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos professores, e a

percepção dos mesmos acerca dos ruídos e sua interferência na sala de aula e na própria

produção vocal

(nas freqüências de 80 Hz a 5.000 Hz) na sala receptora. A

medição foi realizada com as salas totalmente fechadas e desocupadas utilizando-se o método

de decaída do nível de pressão sonora. Foram realizadas 04 (quatro) medições variando-se a

posição do microfone nos diferentes pontos e mantendo-se a fonte fixa com o mesmo nível de

intensidade sonora. A adoção de quatro pontos de medição deu-se pela necessidade de

determinar uma média destes tempos que caracterizam a sala analisada.

3.5.2 Hábitos, queixas e sintomas vocais.

9

7O órgão responsável pela calibração é o IMMETRO. 8 Ruído de espectro contínuo cujo nível por bandas de terço de oitava é constante. Num nível de nível em dB/Hz, toma a forma de uma reta descendente na razão de 3 dB/oitava (TEJEDA; ARRANZ, 2005). 9 Após a leitura do termo de consentimento livre e esclarecido para os professores garantindo a compreensão, por parte dos mesmos, dos termos nele contidos. Após se certificar e tirar todas as dúvidas dos mesmos solicitou suas assinaturas em duas vias, entregando-lhes uma delas. Somente após este procedimento foram entregues os questionários.

foi realizado a partir de um questionário. Este continha perguntas acerca dos

hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos professores ao ministrar aulas, durante os

intervalos e em conversações livres no local de trabalho, e aplicados antes dos encontros para

o grupo focal, evitando-se, assim, que respondessem aleatoriamente às perguntas e

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78

comprometessem a fidedignidade dos dados (Apêndice 1). Na seqüência, realizou-se a

observação estruturada e o grupo focal.

A observação se deu em três momentos distintos: na sala de aula, no grupo focal e nos

intervalos de aula, dentro da escola. A dinâmica das aulas e dos professores determinou o

número de dias necessários para concluir a observação. Este método de coleta permitiu ao

pesquisador melhor observação dos hábitos vocais no local de trabalho sujeito às

interferências do ruído e confirmou os dados levantados através do questionário.

O grupo focal foi realizado nas escolas pelas mesmas razões e permitiu, ainda, que a

pesquisadora identificasse as percepções dos professores acerca do ruído e sua interferência

na sala de aula e na própria produção vocal. Para a sua realização foram pré-definidos os

temas das discussões, quais sejam: as percepções individuais sobre os tipos de voz,

localização das escolas, incômodos gerados pelo ruído, percepção dos sintomas e motivos que

levam às diversas formas de produção vocal (Apêndice 2).

Cada encontro teve duração de aproximadamente uma hora e meia até que se

esgotassem as discussões com os professores. Da mesma forma que a observação, o número

de encontros foi determinado pela dinâmica dos professores. Para que fosse mantido o

anonimato em todas as etapas da pesquisa não houve identificação pessoal nos questionários.

Como houve necessidade de gravação durante a coleta dos dados, a pesquisadora se

comprometeu a minimizar os riscos de perda de confidencialidade.

3.6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Os resultados obtidos pelas medições dos níveis de ruído interno e externo foram

realizadas quantitativamente, utilizando-se planilhas Excel e aplicativo MATLAB. Para a

análise dos dados capturados na observação, questionários e grupo focal utilizou-se a técnica

de análise de conteúdo. Os dados derivados dos questionários foram analisados tanto

qualitativamente, quanto quantitativamente. No entanto, admite-se que pela amostra de

professores levantados, os resultados dos dados quantitativos precisam ser relativizados.

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79

Por tratar-se de pesquisa qualitativa, foi utilizada a técnica de triangulação para a

coleta e análise de dados, permitindo maior confiabilidade no resultado da investigação

durante a análise. Foram triangulados os dados coletados através do questionário, da

observação e do grupo focal.

Os dados gerados pelas medições dos níveis de ruído foram comparados com os

gerados pelo questionário. Procurou-se relacionar os níveis de ruído às queixas de forma

qualitativa.

De posse dos dados gerados nas observações e no grupo focal procurou-se entender

como o ruído externo tem influência nos hábitos, nas queixas e nos sintomas vocais dos

professores através do método qualitativo de análise de conteúdo, considerando-se as

representações individuais sobre voz, os incômodos gerados pelo ruído durante as aulas, a

relação entre o crescimento da cidade e o aumento do ruído.

3.7 A PESQUISA DE CAMPO: ASPECTOS POSITIVOS E LIMITANTES

A opção pela pesquisa de campo em escolas ruidosas e silenciosas demandou muito

tempo para a realização da coleta dos dados empíricos em função do grande número de salas

de aula para realizar as medições de ruído e tempo de reverberação.

Por se tratar de ambiente escolar, foi necessário adequar os horários à disponibilidade

dos professores e do funcionamento e calendário escolar, sendo necessário adiar a coleta

diversas vezes, o que demandou maior tempo para a coleta.

A realização do grupo focal, embora pareça simples, foi particularmente difícil na

escola estadual. Eventos como provas de vestibular, festas de encerramento, feiras etc.,

aliados a pouca disponibilidade dos professores e da direção, atrasaram o processo e

dificultaram a coleta de dados. Quanto aos aspectos relacionados às percepções dos mesmos

sobre a própria produção vocal e a atividade docente houve a necessidade de maior esforço

por parte da pesquisadora para capturar as percepções dos mesmos, fazendo-se necessário

Page 80: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

80

realizar um número maior de visitas de observação para comprovar suas opiniões e

percepções.

A opção pelo uso de mais de uma técnica de coleta permitiu à pesquisadora confrontar

e comparar os dados à medida que iam sendo coletados, de modo que os ajustes puderam ser

feitos durante o processo. Este recurso permitiu que as dificuldades encontradas durante a

coleta fossem superadas e os dados levantados fossem confirmados. As dificuldades acima

apresentadas não impactaram negativamente no resultado da pesquisa.

A interferência da presença da pesquisadora dentro das salas de aula pode ser

minimizada no grupo focal e nos questionários.

3.8 CONCLUSÃO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA OPÇÃO METODOLÓGICA

ADOTADA

A escolha pelo estudo de caso múltiplo como método de pesquisa exigiu da

pesquisadora muito tempo para a realização da coleta, considerando-se a localização das

mesmas em espaços urbanos afastados um do outro. Não obstante a localização, o número de

professores e a necessidade de observá-los durante a atividade docente, a aplicação de

questionário e a realização de grupo focal demandaram esforço maior para a realização da

coleta.

No entanto, as dificuldades foram superadas com a ajuda de voluntários para a

realização de dois grupos focais na escola estadual em horários que antecedessem o início das

aulas, a contagem de veículos e a medição dos níveis de ruído de cada uma das 20 salas de

aula.

Em contrapartida, a realização da observação direta durante as aulas permitiu que os

comportamentos vocais dos professores durante as aulas, assim como os ruídos mais

frequentes fossem observados e analisados em tempo real e no contexto do evento. Assim, os

dados capturados através do questionário e do grupo focal puderam ser confirmados,

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81

minimizando a ocorrência de resultados com vieses devido ao tamanho da amostra ou da

presença da pesquisadora.

O uso de mais de uma técnica de coleta possibilitou o desenvolvimento de linhas de

investigação convergentes de modo que as conclusões se mostrassem convincentes e

acuradas, pois os fenômenos puderam ser corroborados pela recorrência. Deste modo, foram

minimizadas as possibilidades de vieses e o construto foi validado.

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82

4 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS NA ESCOLA

4.1 INTRODUÇÃO

A emissão de ruídos nas zonas urbanas vem sendo considerada um dos principais

problemas atuais por gerar incômodos, irritação e insegurança, agredindo o ser humano por

inteiro e o ambiente em que este está inserido. O ruído urbano afeta a todos de forma

indiscriminada e de diferentes maneiras, tanto na saúde e no trabalho, quanto nas atividades

de lazer. Seus efeitos são produzidos silenciosamente, sem que os indivíduos se dêem conta.

Neste capítulo são discutidos e analisados os resultados referentes aos níveis de ruído

interno e externo das salas de aula das duas escolas analisadas, particularmente os ruídos

resultantes do processo de urbanização, tais como o de motores de veículos, o elevado número

de pedestres, os estabelecimentos comerciais e os órgãos públicos. Visa a caracterizar as

condições acústicas do interior das salas e a influência do ruído gerado nas vias. Assim, são

considerados ruídos externos aqueles produzidos no entorno da escola e advindos do trânsito,

de pessoas circulando, de indústrias e serviços que se encontram nas proximidades das

escolas.

Os impactos dos diferentes níveis de ruído do entorno foram analisados considerando-

se a legislação e as normas vigentes, além da percepção dos professores.

4.2 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO

Como destacado no segundo capítulo, junto ao crescimento das cidades surgem

problemas que afetam a qualidade de vida e o meio ambiente, entre eles o ruído urbano ou

comunitário que pode ser gerado pelas indústrias, comércio, serviços e veículos, entre outros.

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83

Internamente às escolas são produzidos ruídos que se somam aos produzidos externamente,

podendo interferir na inteligibilidade da fala e na voz dos professores (LUZ, 2000; CARMO,

1999; MEDEIROS, 1999).

Para a análise dos níveis de ruído externo foram considerados os dados gerados pelo

Mapa Acústico de Belém - Fase III (MORAES, 2008), conforme explicado no terceiro

capítulo.

As medições realizadas na via em que se encontra a escola particular (menos exposta)

identificaram Leq de 68 dB na porta da escola. Para a escola pública foi verificado Leq de 75

dB.

Identificou-se que nas duas escolas os níveis de ruído apresentam-se superiores aos

recomendados pela NBR 10152 de 40 dB (A), descrito na seção 2.6 do segundo capítulo.

Estes resultados confirmam os estudos de Eniz (2004), que mostram que as escolas com

maiores níveis de ruído interno localizam-se em vias com intenso fluxo de veículos e com

níveis entre 70 e 100 dB(A) decorrente do tráfego de aeronaves nas imediações. Nas escolas

pesquisadas em Belém o nível de ruído interno foi de 68 dB (A) na escola particular (menos

exposta ao ruído) e 75 dB (A) na escola pública (mais exposta ao ruído). Em ambos os casos

os níveis de ruído encontraram-se acima do especificado pela NBR 10.151 que indica 50 dB

(A) durante o dia.

A figura 14 mostra o comportamento do nível de ruído por frequencia nas duas

escolas. A figura 15 mostra a diferença de níveis de ruído entre as duas escolas. A

comparação dos níveis de ruído das duas escolas mostrou que na escola mais exposta há,

aproximadamente, 15 dB de ruído acima da escola menos exposta, na frequencia de 1000 Hz.

Um aumento (ou redução) de 1 dB na relação sinal/ruído pode acarretar reduções (ou

aumentos) de até 21% na inteligibilidade de fala, na presença de ruído gaussiano branco, e de

3,5% na presença de ruído de tráfego urbano (ARAÚJO, 2009).

Page 84: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

84

Figura 14: Nível de Ruído por frequencia nas duas escolas Fonte: Elaborado do autor.

Figura. 15: Diferença de níveis de ruído entre as duas escolas. Fonte: elaborado pelo autor.

Na faixa de frequencia de 600 Hz a 4000 Hz a diferença se mantém acima de 10 dB,

com exceção da faixa de 2000 Hz em que a diferença é de 8 dB. Nesta faixa, onde se

concentram os sons da fala, o ruído é mais intenso tornando-se competitivo. A análise

espectral indica que as componentes espectrais se superpõem às componentes espectrais do

sinal de fala, portanto, podem efetivamente prejudicar a inteligibilidade de fala (ARAÚJO;

Page 85: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

85

MORAES; ARAÚJO; MACHADO e SILVA, 2008), tornando a situação das escolas ainda

mais grave.

Os resultados confirmam os estudos de Eniz e Garavelli (2006), realizado em escolas

do Distrito Federal, e Rinaldi (2005), em escolas de Joinville, Santa Catarina, que o ruído está

acima do tolerável e aceitável. Nas escolas do Distrito Federal as fontes de ruído mais

evidenciadas foram de tráfego de aviões, carros de passeio e propaganda, caminhões, ônibus e

bicicletas. As salas de aula apresentaram níveis de ruído interno entre 81,8 dB e 84,7 dB. A

pesquisa de Rinaldi (2005) identificou salas de aula com níveis de ruído também acima do

tolerável, tendo o trânsito e as conversas dos alunos como principais fontes geradoras de

incômodo.

A ausência de pesquisas sobre ruído nas escolas de Belém exigiu a comparação dos

resultados com estudos feitos em outras cidades. No entanto, as condições das escolas

analisadas se assemelham, considerando-se que, tanto aqui quanto nas outras cidades, as salas

de aula encontram-se fora dos padrões de conforto acústico para as atividades a que se

destinam. Para zonas residenciais urbanas a NBR 10151 estabelece níveis aceitáveis de ruído

urbano de 50 dB (A) no período diurno. Para ambientes internos a NBR 10152 estabelece

níveis de ruído em salas de aula de 55 dB (A).

Durante a observação do entorno da escola mais exposta verificou-se a presença de

intenso fluxo de veículos, intensa atividade comercial e circulação de pessoas. A contagem

dos veículos revelou uma média de 2500 veículos por hora circulando na via.

Por outro lado, na via em que se localiza a escola menos exposta a ocorrência de fluxo

de veículos, durante o período observado, foi muito pequena, assim como a circulação de

pessoas ou ambulantes. Considerando-se que o nível de ruído interno da escola particular é

menor do que o da escola pública e, considerando ainda, que o número de veículos também

foi menor no entorno da escola particular, entende-se que a localização das escolas é fator

relevante para as condições acústicas internas das salas de aula. Como as condições acústicas

internas das salas de aula são determinantes para a produção da voz de professores, a relação

entre a localização da escola, o ruído interno e as condições acústicas das salas de aula é

evidente.

Page 86: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

86

4.3 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO DAS SALAS

Para a análise e discussão dos níveis de ruído externo e interno foram considerados os

dados coletados nas medições, no questionário, nas observações no local e no grupo focal.

Observa-se que nas escolas pesquisadas os níveis de ruído estão acima dos

recomendados pela OMS (WHO, 1999), que preconiza níveis de ruído de fundo em sala de

aula da ordem de 35 dB (A).

De acordo com Grandjean (1998), quando se usa a voz profissionalmente com a

finalidade de troca de informações ou ditados, esta não deve ultrapassar o limite de 65 a 70

dB (1m de distância). Uma pressão sonora vocal de 10 dB, acima do nível de ruído da sala,

possibilita uma compreensão da frase ou seu sentido de 93% a 97%. Na troca de informações

não conhecidas profundamente (exemplo, sala de aula), os níveis de pressão sonora da voz

devem alcançar pelo menos 20 dB acima do ruído de fundo.

A figura 16 mostra os níveis de ruído medidos na via e no interior das salas das duas

escolas.

NÍVEIS DE RUÍDO (dB)

756863

54

01020304050607080

Escola mais exposta Escola menos exposta

Nív

el r

uído

Externo Interno

Figura 16: Níveis de ruído das duas escolas. Fonte: Elaborado pelo autor.

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87

Na figura 16 observa-se que o nível de ruído na escola mais exposta já está próximo

(63 dB) dos limites de 65-70 dB preconizados para a utilização profissional da voz

(GRANDJEAN, 1998), resultados que possibilitam uma relação sinal/ruído máxima de 7 dB

(70 dB – 63 dB), portanto abaixo dos níveis preconizados por Grandjean (1998). Na escola

menos exposta a relação sinal/ruído máxima é de 16 dB (70 dB – 54 dB), portanto

inadequada, ainda que melhor que a situação da escola pública, para sala de aula, de acordo

com as recomendações do autor. Isto significa que a relação sinal/ruído máxima não é um

fator que a escola particular e os órgãos responsáveis da escola pública levam em

consideração para a escolha de localização das escolas ou urbanização do entorno das escolas

já existentes.

Ainda na mesma figura observa-se que a escola mais exposta está em via com 7 dB

acima do nível de ruído da escola menos exposta. No que tange ao nível de ruído interno,

observa-se que a escola mais exposta apresenta 9 dB de ruído acima do nível de ruído da

escola menos exposta. A observação nas salas de aula, da escola menos exposta localizada em

espaço urbano menos ruidoso, não identificou a presença de ruídos advindos do entorno.

Foram identificadas apenas poucas vozes de crianças ou ruídos de cadeiras sendo arrastadas e

material didático caindo. Nem mesmo vozes nos corredores foram identificadas. Há, porém,

ruído de fundo gerado pelo aparelho de ar condicionado, supostamente maior fonte do ruído

interno, ou seja, a busca do conforto ambiental, em termos de temperatura, também provoca o

aumento do ruído interno. Há que se considerar que as condições de temperatura de Belém e

da Amazônia, como um todo, são elevadas o que faz com que a região induza a um dilema

entre conforto ambiental de temperatura e conforto ambiental de ruído. Pelas condições

identificadas neste estudo, há prioridade para o conforto ambiental de temperatura mesmo que

este provoque aumento de ruído na sala de aula.

A escola menos exposta está localizada em área urbana com pequeno fluxo de

veículos e poucos estabelecimentos comerciais e órgãos públicos no entorno, ocupando boa

parte do quarteirão. A pesquisa identificou, através do uso de contador manual que circulam,

em média, 222 veículos por hora na frente da escola distribuídos entre carros pequenos e

motos.

Page 88: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

88

Como destacado no terceiro capítulo, a escola mais exposta está localizada em via com

intenso fluxo de veículos, posto de gasolina, oficina mecânica, templo religioso e

estabelecimentos comerciais de todo tipo que geram grande circulação de veículos e pessoas

falando, assim como ruídos advindos de frenagens e arrancadas de veículos. Este movimento

eleva os níveis de ruído da via e dentro das salas de aula. A pesquisa identificou, através do

uso de contador manual que circulam, em média, 2500 veículos por hora na frente da escola,

distribuídos entre carros pequenos e grandes, motos e carros de propaganda.

Durante a observação nas salas de aula da escola mais exposta, localizada em via

urbana mais ruidosa, foi possível identificar a presença de ruídos advindos do tráfego de

veículos, frenagens e arrancadas de ônibus, buzinas de veículos, motocicletas, pessoas

conversando, ambulantes, carros de propaganda e crianças da escola. Internamente

identificou-se a presença constante de vozes e gritos de alunos que circulam nos corredores e

na quadra de esportes. Face ao volume de ruído externo, as vozes e gritos dos alunos

sobressaem-se, talvez em função do esforço que as mesmas fazem para se comunicar.

Moraes et al. (2003) identificaram ruído ambiental no centro comercial de Belém

acima dos níveis recomendados pela NBR 10.151. Os dezoito bairros localizados dentro da

Primeira Légua Patrimonial de Belém apresentaram níveis sonoros entre 66,6 dB(A) e 75,4

dB(A) durante todo o dia, ultrapassando os índices estipulados pelas normas nacionais (NBR

10.151).

A Secretaria de Estado de Administração de Belém (SEAD) reconhece, em entrevista,

que a maioria das escolas encontra-se em corredores de fluxo intenso de veículos e que

precisa solucionar o problema de excesso de ruído das escolas. Não foram apresentados

dados, mas de acordo com os endereços das escolas é possível verificar que se encontram em

vias de grande fluxo. Na Avenida Governador José Malcher, bairro de Nazaré apontado pelo

Mapa de Ruídos (MORAES, 2008), como um dos mais ruidosos, estão localizadas quatro

escolas estaduais. Embora o Estado mostre preocupação com a questão do ruído, os dados

levantados na escola pública não indicam nenhuma ação do estado que sinalize mudança no

quadro de elevado nível de ruído nas escolas. Consequentemente, os problemas de saúde

vocal dos professores não deverão ser resolvidos em curto prazo.

Page 89: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

89

Salas de aula, assim como qualquer local em que se realizem atividades que exijam

atenção e solicitação intelectual constante, devem obedecer às recomendações da NR 17

(ergonomia) em conformidade com a NBR 10.151. Nestes casos específicos os níveis de

ruído devem permanecer entre 40 e 50 dB(A). Todavia mediu-se valores de níveis de ruído de

63 e 54 dB(A) nas escolas pública e particular, respectivamente. Pesquisas revelam que nos

séculos XX e XXI evidencia-se uma espécie de culto ao ruído de forma que criam laços

emocionais com o mesmo, e que por este motivo os malefícios pela exposição ao som elevado

passam despercebidos, uma vez que o fenômeno da habituação leva à acomodação

(LACERDA et al., 2005; BARING, 2006). Este comportamento, talvez, explique a pouca

preocupação dos dirigentes das escolas, particularmente das escolas públicas, sobre os níveis

de ruído interno na escola e as consequências nas alterações de voz de professores.

A análise dos questionários revelou que os professores da escola mais exposta

(pública) percebem os ruídos gerados pelo trânsito de veículos como os que mais incomodam

na sala de aula, seguidos pelo ruído da rua e da sala de aula. No entanto, apesar da percepção

de que o ruído de trânsito e o ruído da rua são elevados, as professoras sentem que são

impotentes no controle de ambos. Quanto ao ruído de sala de aula, identificou-se que este não

é resultado apenas das condições internas das salas e do movimento de estudantes, mas

também, da inter-relação com o ruído externo. Quanto maior o ruído de trânsito, maior é o

ruído interno das escolas, inclusive da sala de aula.

RUÍDOS QUE MAIS INCOMODAM (% )

01020304050607080

Trânsito Rua Sala de Aula

Escola mais exposta Escola menos exposta

Figura 17: Ruídos que mais incomodam na sala de aula. Fonte: Elaborado pelo autor.

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90

Na escola menos exposta (particular) o ruído predominante, na percepção dos

professores, foi o gerado na sala de aula (60%). Os professores referiram ainda o ruído gerado

na rua e pelo trânsito, porém em menor escala. A análise dinâmica indica que a variação do

ruído gaussiano branco é de apenas 0,8 dB enquanto o sinal de ruído de tráfego apresenta

variações de até 30 dB, portanto são mais prejudiciais à inteligibilidade de fala (ARAÚJO;

MORAES; ARAÚJO; MACHADO E SILVA, 2008).

A observação realizada na escola menos exposta indica que a estrutura construtiva da

escola, a posição afastada da sala de aula distante da rua de maior tráfego de veículos e a

presença de ar condicionado inibem a entrada de ruído externo no interior da sala de aula.

Embora o ruído interno seja elevado, este não é percebido pelas professoras. Neste caso, a

inter-relação entre o ruído externo e o interno é indireta. Assim, as alterações de voz dos

professores são provenientes do ruído interno. Ainda que seja prejudicial à voz dos

professores, este se mostrou menos impactante do que na escola mais exposta, que está

diretamente exposta ao ruído externo.

A figura 18 ilustra o registro da intensidade dos sinais de voz (capturados através de

gravador digital MP3 Player em intervalos de dois minutos, em condições similares de níveis

de ruído, nas duas escolas, concomitantemente à captura do ruído de fundo), ruído de tráfego

e ruído gaussiano branco sintético. O sinal de voz apresentou variação de 20 dB, enquanto o

sinal de ruído tráfego apresentou variação 25 dB, e o sinal de ruído gaussiano branco10

10 Ruído de espectro contínuo, que medido por bandas de Hz, ou seja, dB/Hz, é constante em todo o intervalo audível. Significa que será representado por uma reta horizontal em um diagrama de nível, em função da frequencia (TEJEDA ; ARRANZ, 2005).

apresentou variação de 0,5 dB. Os sinais do ruído urbano foram obtidos em gravação

realizada em avenida movimentada, no sentido da periferia para o centro, da cidade de Belém-

PA. Foram realizadas 04 (quatro) medições do ruído, com duração de 4’15’’ (255s)

correspondente a 03 (três) ciclos do semáforo (abre-fecha) localizado no cruzamento da

primeira medida (ARAÚJO; MORAES; ARAÚJO; MACHADO e SILVA, 2008).

Page 91: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

91

Figura18: Registro da intensidade dos sinais de voz, ruído de tráfego e ruído gaussiano. branco sintético Fonte: Elaborado pelo autor.

Desta forma, é possível compreender os motivos que levaram os professores da escola

mais exposta a perceberem o ruído de trânsito como o que mais interfere nas salas de aula.

Entende-se que as variações nos níveis de ruído gerados pelo trânsito desviam a atenção dos

alunos e professores, e interferem na inteligibilidade da fala do professor podendo levar à

dispersão e à conversa entre eles, o que, por sua vez, eleva os níveis de ruído interno,

indicando uma relação direta entre o nível de ruído externo e o interno. Assim, este fato

propicia interferência entre professor e aluno, exigindo que ambos falem mais alto e forcem

seus aparelhos fonadores.

Os alunos foram identificados pelos professores das duas escolas como fontes

geradoras de ruído interno como ilustram os relatos que se seguem. No entanto, ao mesmo

tempo em que os professores identificam os alunos como os principais causadores do ruído

interno, estes mesmos professores consideram tal ruído como “normal” em um ambiente

escolar.

“[...] as crianças correm, falam, gritam alto...” (p1)11

11 P1 a P10 : professores da escola pública, mais exposta ao ruído urbano. P11 a P20: professores da escola particular, menos exposta ao ruído urbano.

“[...] eu considero um barulho normal por se tratar de um ambiente escolar com ruídos normais referentes às crianças”. (p.11).

Page 92: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

92

Segundo Fernandes (2006), diversas fontes de ruído podem ser encontradas fora das

escolas além do tráfego de veículos, tais como estabelecimentos comerciais e construção civil.

Os ruídos produzidos internamente são gerados tanto nos ambientes próximos às salas, quanto

na própria sala pelos alunos e materiais didáticos, que juntos contribuem para o aumento de

ruído.

Na escola menos exposta os ruídos externos não foram percebidos devido à distância

das salas em relação à rua e por serem climatizadas com as portas e janelas fechadas. Trata-se,

também, de uma escola pequena, com 19 professores, 31 estagiárias e 20 funcionários. Por

outro lado, na escola mais exposta há presença de ruídos provenientes das salas vizinhas, da

rua, dos alunos no pátio e nos corredores. Como não há janelas e portas para serem fechadas,

os ruídos se confundem e se misturam. Assim, as características construtivas são, também,

determinantes para a contaminação acústica.

O ruído de fundo da sala foi menos percebido por ser constante (Ruído Gaussiano

Branco), ao passo que o ruído gerado pelo trânsito apresenta variações que desviam a atenção

dos alunos e interferem na inteligibilidade da fala. O ruído de trânsito, como debatido no

primeiro capítulo, é uma característica básica de áreas com elevado nível de urbanização.

“[...], pois a mesma fica em uma avenida com muito movimento [...]” (p5) “[...] do trânsito porque o tráfego de trânsito é muito grande, tem carro buzinando e freando todo o tempo”. (p10)

Há um contraste grande em relação às percepções dos professores da escola menos

exposta, que não referiram os ruídos de trânsito, apontando apenas a campainha da escola e as

crianças como fontes geradoras de ruído interno e externo. Entende-se que este fato deva-se,

principalmente, ao fato de estarem localizadas em espaços urbanos com fluxos de pessoas e

veículos muito diferentes, às características construtivas de cada escola e à distância das salas

em relação à via.

“[...] gritos dos alunos no corredor, conversa de alunos, batidas dos pés no chão, toque da campainha”. (p16) “[...] a campainha da escola no horário da saída é muito alta, nós já pedimos para mudar, botar uma música”. (p12)

Os resultados confirmam Kwitko (2001), Lima e Santoro (2005) que identificaram o

trânsito, as indústrias, o aumento do número de vias e a quantidade de veículos circulando,

Page 93: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

93

como alguns dos grandes problemas das cidades atuais, assim como sua influência para o

aumento da poluição sonora. A urbanização também envolve outros elementos como, por

exemplo, o número de pessoas circulando na cidade, a construção de prédios, o comércio

ambulante e outros que também provocam ruído. No caso específico da escola mais exposta, a

presença de um ponto de ônibus próximo ao portão principal da escola caracteriza a relação

direta entre urbanização e o aumento de ruído externo que, por sua vez, interfere no ruído

interno das escolas.

4.4 CONCLUSÃO

A escola com maiores níveis de ruído interno está localizada em via urbana com maior

fluxo de veículos, próxima da via e com características construtivas inadequadas, contrárias às

normas. Logo, a localização das escolas é fator relevante para as condições acústicas internas

das salas de aula.

Nas duas escolas a relação sinal/ruído máxima encontra-se inadequada, ainda que nas

salas da escola menos exposta seja melhor que nas salas da escola mais exposta. Evidenciou-

se que a variação do ruído gaussiano branco foi de apenas 0,8 dB enquanto o sinal de ruído de

tráfego apresentou variações de até 30 dB, sendo, portanto, mais prejudiciais à inteligibilidade

de fala.

As variações nos níveis de ruído gerados pelo trânsito desviam a atenção dos alunos e

professores e interferem na inteligibilidade da fala do professor, podendo levar à dispersão e à

conversa entre eles o que, por sua vez, eleva os níveis de ruído interno. Este fato propicia

interferência entre professor e aluno, exigindo que ambos falem mais alto e forcem seus

aparelhos fonadores.

Page 94: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

94

5 OS RUÍDOS E SEUS IMPACTOS NA VOZ DOS PROFESSORES

5.1 INTRODUÇÃO

A ocorrência de problemas vocais em professores deve-se a vários fatores, entre eles a

competição com o ruído interno e externo. As pesquisas revelam que a maioria das escolas

apresenta níveis de ruído acima dos aceitáveis e que a prevalência de problemas de voz nesta

classe profissional deve-se à ocorrência de ruído ambiental. O quarto capítulo desta

dissertação evidencia os níveis de ruído das escolas de Belém e corrobora com as pesquisas

realizadas em outras cidades do Brasil. Ainda que em Belém a urbanização tenha ocorrido

tardiamente se comparada com a urbanização de outras cidades do eixo sul-sudeste, os

problemas de ruído nas ruas da cidade apresentam intensidades semelhantes.

Os níveis de ruído medidos foram analisados e apresentados sob a forma de gráficos.

Os dados coletados foram processados através do aplicativo desenvolvido em linguagem

MATLAB12

12 Madres Laboratory Linguagem computacional para análise matemática.

especialmente para este fim. A captura das vozes ocorreu concomitantemente à

captura do ruído de fundo. Para a confirmação dos dados levantados, a triangulação dos dados

capturados se deu através dos questionários, da observação direta e do grupo focal que, por

sua vez, foram analisados de forma qualitativa. Os dados analisados a partir da linguagem

MATLAB são apresentados sob a forma de gráficos ilustrativos.

5.2 COMPORTAMENTO VOCAL DOS PROFESSORES SOB DIFERENTES NÍVEIS DE

RUÍDO

O comportamento vocal dos professores durante a atividade docente sob diferentes

níveis de ruído, de forma objetiva está demonstrado nas figuras 19 a e 19b. Para tanto foram

medidas a intensidade da voz de cada professor e a média nas faixas de frequencia de 100 Hz

a 10 khz. A figura 19c mostra a diferença média, em decibéis, entre a intensidade da voz dos

professores da escola particular e da intensidade da voz dos professores da escola pública.

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95

Figura 19a: Comportamento vocal dos professores a escola mais exposta sob níveis de ruído urbano. Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 19b: Comportamento vocal dos professores

da escola menos exposta sob níveis de ruído urbano. Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 19c: Diferença média entre a intensidade de voz dos professores das duas escolas. Fonte: Elaborado pelo autor.

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96

Na escola mais exposta (figura 19a) percebe-se que há uma quase superposição da voz

dos professores e do ruído de fundo. Nesta faixa as vozes não foram capazes de alterar o nível

equivalente de pressão sonora (Leq), pois, conforme visto anteriormente, o nível de ruído de

fundo já está com intensidade similar aos níveis admissíveis para voz. Para alcançar uma

relação sinal/ruído adequada para a inteligibilidade de fala (20 dB), na presença de ruído com

intensidade 63 dB, os professores deveriam falar com intensidades de 83 dB, nível acima dos

preconizados para conforto vocal (70 dB), e próximo ao estabelecido (85 dB) para provocar

perda auditiva (NR-19).

Os resultados demonstram que ouve percepção clara, por parte dos professores, de que

não seriam capazes de superar o ruído e, então, mantiveram-se na mesma faixa deste. Diante

da impossibilidade de serem ouvidos, os professores não elevam a voz para tentar manter a

inteligibilidade e efetivar a comunicação dentro das salas de aula. Assim, os professores

parecem se comportar como deficientes auditivos, pois segundo Pinho (1999) os deficientes

auditivos, quando têm consciência da tendência de falar forte, tendem a reverter a situação,

produzindo voz com maior freqüência e de intensidade fraca. As curvas de igual audibilidade

mostram que há um ganho na sensação auditiva de 40 dB quando se aumenta a frequencia de

100 Hz para 1000 Hz.

Ao aumentar a frequencia fundamental, o deficiente auditivo aproxima a frequencia

fundamental (pitch) da voz, em geral com energia significativa de uma região de maior

sensibilidade auditiva. Portanto, aumentar a frequencia fundamental implica em ampliar a

sensação auditiva e, consequentemente, o feedback auditivo, permitindo que o deficiente

auditivo detecte a presença ou a ausência da própria voz, mesmo que o padrão seja pouco

inteligível (ARAÚJO, 2000). Aumentar a frequencia fundamental exige uso de mecanismos

ou ajustes vocais, tais como aumentar o pitch, loudness e a velocidade, ou uso de variação

melódica intensa que podem levar a alterações de voz (VIANELLO; ASSUNÇÃO; GAMA,

2006).

A tendência ao comportamento similar aos dos indivíduos surdos ficou clara no grupo

focal e na observação. Muitos professores afirmaram ser este um recurso usado.

“[...] quando fico muito cansada paro de falar, eles não conseguem escutar mesmo. Todo mundo acaba falando menos”. (p9)

Page 97: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

97

“[...] não adianta falar alto ou gritar, a gente faz força, fica cansada e a bagunça continua. As crianças lá de trás sempre pedem para repetir ou sentam na frente com outro colega” (p7)

A figura 19b mostra que na escola menos exposta a voz dos professores está acima do

ruído de fundo. Esta constatação evidencia que os professores percebem que podem ser

ouvidos ao elevarem a intensidade da voz, pois, conforme foi visto anteriormente o nível de

ruído de fundo com menor intensidade possibilita níveis de pressão sonora da voz possíveis

para compreensão, embora esta diferença ainda não seja a ideal (relação sinal/ruído de 20 dB).

Crandell e Smaldino (2004) indicam que para manter a atenção dos alunos e efetivar a

comunicação, em salas de aula ruidosas, o professor necessita de maior esforço vocal. Tal

figura indica que o processo de comunicação entre os professores e alunos da escola particular

é mais propício de acontecer do que na escola pública.

Oyarzún, Brunetto e Mella (1984) referiram que as alterações vocais de professores

devem-se, muitas vezes, ao abuso vocal realizado em sala pela necessidade de ouvir e se fazer

ouvido em ambientes ruidosos. Essas alterações são claramente perceptíveis, tanto por agentes

externos como pelos próprios professores na escola mais exposta.

Observa-se que em toda a faixa dominada pela voz dos professores (de 200 Hz a 10

kHz), de ambas as escolas, as vozes dos professores da escola menos exposta mantiveram-se

sempre 2 a 4 dB acima das vozes dos professores da escola mais exposta (figura 19c),

indicando que nestas condições é possível elevar a voz para ser compreendido, o que não

acontece na escola mais exposta onde, mesmo com esforço e elevação da intensidade, não é

possível manter a inteligibilidade da fala.

Oliveira (1998) destacou o mau uso da voz, como um fator que provoca a fonação de

grande esforço. A autora relatou que tal esforço é capaz de resultar a prevalência de fadiga

vocal, rouquidão e garganta raspando. Nesta situação, o professor percebe que ao longo da sua

jornada de trabalho a voz vai enfraquecendo, resultando em fadiga muscular, desgaste físico e

tensão músculo-esquelético ao tentar manter o volume da voz.

Page 98: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

98

5.3 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DOS RUÍDOS EXTERNOS E

INTERNOS E SUAS INTERFERÊNCIAS NA PRODUÇÃO VOCAL

As pesquisas revelam que a voz de professores é influenciada pelos níveis de ruído das

salas de aula e que a percepção dos mesmos sobre as alterações vocais depende de vários

fatores. Nesta seção discutem-se as principais queixas e sintomas vocais dos professores

submetidos a níveis de ruído distintos.

Nas figuras 20 e 21 encontram-se as principais queixas referidas pelos professores das

duas escolas.

QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS

02468

10

Dor ouirritação na

garganta

Sensação decorpo

estranho

Necessidadede pigarrear

Dor nopescoço

Rouquidão

Escola mais exposta Escola menos exposta

Figura 20: Queixas e sintomas vocais dos professores das duas escolas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

QUEIXAS RELACIONADAS AO RUÍDO

0

2

4

6

8

10

12

Dor de cabeça Stress Irritação Falar alto Cansaço Intolerância Cansaço aofalar

Escola mais exposta Escola menos exposta

Figura 21: Queixas dos professores relacionadas ao ruído nas duas escolas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 99: URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: …

99

No que se refere às queixas e aos sintomas vocais de professores, percebe-se que em

ambas as escolas estão relacionadas ao uso da voz em competição com o ruído do ambiente.

Esta ocorrência confirma os relatos dos professores da escola menos exposta que tentam

superar o ruído (conforme figuras 19a, 19b). Lubman (2001) diz que em salas muito ruidosas

os professores tendem a conversar menos com os alunos ou conversam por tempos menores.

Quando tem que falar mais alto que o ruído de fundo as vozes podem ficar cansadas. De

acordo com Behlau (2001), o uso de mecanismos para forçar a voz na tentativa de serem

ouvidos na presença de ruídos, mesmo que sejam momentâneos, força os indivíduos a realizar

esforço vocal desnecessário podendo levar à disfonia. A sensação de cansaço, a necessidade

de pigarrear e a rouquidão, queixas mais freqüentes na escola mais exposta ao ruído urbano,

de acordo com Oliveira (1998) são resultantes de fonação com esforço.

Como descrito no quarto capítulo, a análise dos questionários revelou que os

professores da escola mais exposta percebem os ruídos gerados pelo trânsito de veículos como

os que mais incomodam na sala de aula, seguidos pelo ruído da rua e da sala de aula. Na

escola menos exposta o ruído predominante, na percepção dos professores, foi o gerado na

sala de aula. Apenas 20% dos professores referiram o ruído gerado na rua e 10% o gerado no

trânsito. As professoras da escola mais exposta, por sua vez, identificaram o ruído advindo do

trânsito, da rua como a principal fonte geradora de ruído. A percepção dos professores acerca

dos ruídos que mais incomodavam em sala de aula confirmam os dados do questionário.

O volume de trânsito é característico da localização que tem sofrido aumento do

processo de urbanização. A área onde se localiza a escola mais exposta é hoje uma avenida

onde passam, aproximadamente, 2500 veículos por hora. Segundo relatos dos professores

mais antigos, há alguns anos o volume de carros era menor, o ruído externo provocava menos

impacto e, consequentemente, os professores tinham melhores condições de comunicação

com os alunos e precisavam de menor intensidade no uso da voz, ficando menos cansados ao

falar.

Os segmentos que se seguem ilustram a percepção dos mesmos sobre o ruído gerado

externamente às escolas.

“[...], pois a mesma fica em uma avenida com muito movimento...” (p8) “[...] do trânsito porque o tráfego de trânsito é muito grande...” (p5)

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100

“[...] ao lado da escola tem uma oficina, tem um posto de gasolina, além dos carros que passam...” (p2)

Há um contraste grande em relação às percepções das professoras da escola menos

exposta que não referiram ruídos deste gênero, apontando apenas a campainha da escola e as

crianças como fontes geradoras de ruído interno e externo. A percepção os professores da

escola menos ruidosa confirmam Zwirtes (2006) ao analisar a percepção dos professores

sobre os ruídos presentes nas escolas, concluindo que o ruído de tráfego foi pouco percebido

porque as salas de aula ficavam distantes da via indicando uma relação direta entre a

localização das escolas e das salas de aula e os níveis de ruído percebidos. A escola mais

exposta analisada está situada em área de comércio e serviços que atraem veículos e pessoas,

além de ser importante para o fluxo de ônibus, pois passa por bairros de elevada densidade

demográfica.

No caso das escolas pesquisadas, houve predominância de agentes externos na escola

mais exposta devido à localização e às características construtivas, o que não ocorreu na

escola menos exposta situada em espaço predominantemente residencial.

A percepção da interferência do ruído sobre a voz foi confirmada no grupo focal e nos

questionários. Os relatos dos professores da escola mais exposta indicaram a necessidade de

realizar alterações no padrão vocal com elevação da intensidade, e esforço para serem ouvidos

devido aos ruídos gerados interna e externamente. No entanto, os gráficos 19a e 19b

mostraram que a intensidade da voz dos professores está abaixo do nível de ruído de fundo.

Entende-se que estes comportamentos devem-se ao fato de os professores da escola mais

ruidosa perceberem, mesmo inconscientemente, que nestas condições é impossível superá-lo

necessitando gritar. Assim, sobre os motivos que levam o ruído das salas de aula a alterarem

suas vozes referiram:

“[...] me força a usar a voz com mais intensidade”. (p7) “[...] porque, se necessário, eu tenho que falar mais alto”. (p3) “[...] há necessidade de falar mais alto senão eles não escutam, fazem bagunça”. (p1)

Em relação ao ruído externo foram apresentados motivos semelhantes:

“[...] porque quando os carros passam, eles se distraem, não escutam... acaba falando alto e se irrita”. (p6) “[...] porque tenho que forçar a garganta para falar”. (p2)

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101

“[...] há necessidade de falar mais alto ou parar e esperar”. (p10)

Os relatos dos professores da escola menos ruidosa indicaram a necessidade de falar

mais alto e forçar a voz para serem ouvidos devido aos ruídos gerados interna e externamente.

Sobre os motivos que levam o ruído das salas de aula a alterarem suas vozes referiram apenas

ao ruído interno. Mesmo não havendo ruído externo gerado por trânsito de veículos ou

pessoas circulando e falando na rua, o compressor do aparelho de ar condicionado colocado

na parede externa da sala de aula aumenta os níveis internos de ruídos. Como já referido em

outra parte desta dissertação, a busca de um conforto ambiental em termos de temperatura

aumenta o nível de ruído interno nas escolas.

“[...] ar condicionado e barulho constante dos alunos”. (p13) “[...] minha turma é agitada e falante, é preciso elevar a voz”. (p17)

Os resultados desta pesquisa confirmam as afirmações da Organização Mundial da

Saúde (OMS, 1999) que atribuiu ao excesso de ruído nas escolas a responsabilidade por

grande parte dos problemas de voz de professores. Da mesma forma, Pinto e Furck (1988)

referiram que o mau uso e o abuso vocal em sala de aula devem-se à necessidade de se fazer

ouvir e ser ouvido em ambientes ruidosos.

Nas escolas pesquisadas os níveis de ruído presentes forçam, necessariamente, que os

professores elevem suas vozes para serem ouvidos pelos alunos caso desejem ser

compreendidos. Mesmo que o ruído de fundo se confunda com a voz dos professores, há

necessidade de superá-lo. Quando o ruído mais presente é de trânsito de veículos, a situação

se agrava devido às variações na intensidade e duração dos mesmos, pois provoca dispersão e

desatenção dos alunos comprometendo a inteligibilidade de fala e a comunicação com

conseqüente elevação de intensidade vocal.

5.4 O RUÍDO E OS HÁBITOS, AS QUEIXAS E OS SINTOMAS VOCAIS DOS

PROFESSORES

Na escola pública, onde os níveis de ruído do entorno são maiores, os relatos

evidenciaram dor e irritação (60%), pigarro (60%), sensação de corpo estranho (60%) e

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102

necessidade de arranhar a garganta (30%) como as queixas mais frequentes. O ato de

pigarrear foi comum durante a observação. No grupo focal foram identificados frases do tipo:

“[...] no fim do dia sinto cansaço no corpo e na garganta...” (p4) “[...] a garganta dói, fico arranhando e pigarreando...” (p7) “[...] parece que tem uma bola na minha garganta, a voz falha ...” (p8).

Na escola particular, com baixos níveis de ruído no entorno, prevaleceram como

ocorrência dor e irritação na garganta (90%), sensação de corpo estranho (40%), necessidade

de pigarrear (50%), dor no pescoço (50%).

Na figura que segue está demonstrado o espectro do ruído de trânsito. Nota-se que tem

a maior parte da energia concentrada em até 3 kHZ. O espectro é descendente, mas a energia

se concentra nas frequencias mais baixas onde se encontram as primeiras formantes dos sons

da fala (todas as vogais). Desta forma, o professor percebe que sua voz não é inteligível e

mesmo com esforço vocal não atingirá as crianças, logo a inteligibilidade da fala fica

comprometida exigindo (quando, e se possível) maior esforço vocal dos professores.

Figura 22 Espectro do ruído de trânsito. Fonte: Araújo; Moraes; Araújo; Machado e Silva (2008).

Durante os debates no grupo focal foram feitas observações que evidenciavam as

mesmas queixas.

“[...] quando os alunos fazem barulho eu tenho que falar mais alto e acabo ficando irritada porque dói a garganta.”. (p13) “[...] eu sei que arranhar a garganta não é bom, depois fica ardendo...” (p20)

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103

De acordo com Garcia (2002) as queixas mais comuns de pessoas com alterações

vocais são ardências, pigarros constantes, modificações na qualidade vocal, dificuldades para

respirar e falar, dores na região do pescoço e nem todas as alterações vocais decorrem da

produção alterada, tendo sua origem tanto no uso abusivo quanto intensivo. Professores

queixam-se, com frequencia, da sensação de tensões na musculatura cervical, postura

inadequada, de falar por horas seguidas utilizando tom e padrão respiratório inadequado ao

competirem com o ruído ambiente (PINTO; FURCK, 1988).

Os resultados desta pesquisa confirmam os autores citados, considerando-se as queixas

nas duas escolas. No que se refere aos professores da escola mais exposta ao ruído externo,

entende-se que a interferência desse ruído sobre a voz dos professores deve-se ao fato de

haver ruído de fundo constante (Ruído Gaussiano Branco), acima dos níveis aceitáveis o que,

por si só, exige elevação da voz e à presença de ruídos externos advindos do trânsito e de

pessoas conversando ou gritando. Estes aumentam os níveis de ruído interno e distraem

alunos ao mesmo tempo em que interferem na inteligibilidade provocando o uso abusivo da

voz por parte de professores e alunos. Assim, a relação entre ruído externo, ruído interno,

ruído de fundo e alteração de voz dos professores se evidencia.

Quanto aos hábitos vocais, os professores da escola mais exposta referiram hábito de

falar alto na presença de ruído (30%), sem a presença de ruído (60%), hábito de gritar com

alunos (30%) e uso de pastilhas (20%). Os professores da escola menos exposta referiram

falar alto na presença de ruído (60%), falar alto sem a presença de ruído (40%), falar sem

respirar (20%) e uso de pastilhas (40%).

Na escola menos exposta os níveis de ruído interno não sofrem influência do trânsito

ou comunidade, os níveis de ruído interno são mais baixos permitindo que os professores

tentem superá-lo e, desta forma, realizam uso mais intensivo das vozes.

Pereira (2004) afirmou que o impacto que as alterações vocais exercem sobre os

professores em seu cotidiano é percebido de forma diferenciada por aqueles que apresentam

quadros disfônicos instalados. Os sintomas físicos como falta de ar e esforço ao falar são os

mais percebidos. Este dado pode ser explicado por se habituarem ao ruído de fundo (Ruído

Gaussiano Branco) e, portanto, não perceberem a presença do mesmo. Por outro lado, na

presença de ruído de trânsito, por suas características dinâmicas, não se habituam percebendo

sua presença, e com isso tem a possibilidade de evitar falar quando este é muito intenso.

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HÁBITOS NA PRÁTICA DOCENTE

01234567

Falar altocom ruído

Falar altosem ruído

Falar semrespirar

Arranhar agarganta

Escola mais expostaEscola menos exposta

Figura 23: Hábitos vocais dos professores das duas escolas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

No grupo focal os professores de ambas as escolas mencionaram a interferência do

ruído do entorno e do trânsito como agravantes para a voz e responsáveis pelos hábitos

vocais: Como referido anteriormente, o ruído de transito é típico de áreas urbanizadas. Essa

constatação pode ser confirmada pelos depoimentos abaixo:

“[...] o barulho da rua incomoda a audição e eu tenho que falar mais alto”. (p8) “[...] muitos carros, buzinas e motores..., a parada de ônibus, as freadas... daí tem que gritar senão os meninos se dispersam...” (p5)

No grupo focal da escola menos exposta foi constante a referência ao ruído do ar

condicionado e aos alunos como as maiores fontes geradoras de ruído e as principais causas

para justificar os hábitos. Acrescente-se, também, que todos os professores foram unânimes ao

se referirem à ausência de ruídos provenientes do entorno, e que a observação da pesquisadora

confirmou que nesta escola este fato foi comprovado, assim como não houve percepção de

ruídos provenientes dos corredores ou de pessoas conversando.

Abaixo se tem algumas expressões dos professores que comprovam os resultados do

questionário e da observação:

“[...] o ar condicionado e o barulho constante dos alunos”. (p14-15-16) “[...] as crianças fazem barulho, toda escola tem barulho... aqui é privilegiado, na outra escola tem muito barulho da rua, dos ônibus...” (p19) “[...] essa rua é silenciosa, não passa ônibus, não tem muito carro passando...” (p17)

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105

Jaroszewski, Zeigelboim e Lacerda (2007), constataram que em salas com níveis de

ruído interno acima do recomendado os professores sentem necessidade de elevar a voz

durante as atividades de ditado e queixam-se de cansaço vocal posteriormente. Os mesmos

professores identificaram as fontes internas como geradoras de ruído. Os professores das

escolas investigadas nesta pesquisa referiram, em diversos momentos, a necessidade de falar

alto, a dificuldade em serem ouvidos pelas crianças e o cansaço ao final da jornada ou da

semana. Isto porque os níveis de ruído internos das duas escolas encontram-se acima do

aceitável para a produção vocal com conforto.

Pesquisa realizada por Martz (1987), identificou forte associação entre o fazer esforço

para falar e as queixas de alterações vocais e inferiram que, além de ser utilizado para

demonstrar firmeza ou autoridade, seu uso devia-se à necessidade de vencer a competição

sonora do ruído ambiental presente nas escolas. Nesta dissertação foram identificados

comportamentos similares, pois nas duas escolas houve necessidade de fazer força para

superar o ruído interno. Na escola mais exposta ao ruído de trânsito e da comunidade, apesar

do comportamento das professoras de não tentar superá-lo, foi evidente o esforço para falar

nos momentos em que havia interferência interna devido a arrancadas e frenagens de ônibus,

buzinas, conversas. Mesmo evitando falar, muitas das atividades realizadas nas salas de aula

precisam ser orais, tais como ditados e explanações de conteúdos novos. Sendo o ruído de

trânsito presente em todo o período letivo, a necessidade de transmitir os conhecimentos se

faz presente. Logo, mesmo que evitem falar, terão que realizar esforço vocal para serem

compreendidos. Nota-se que o fluxo de veículos foi intenso durante todo o período de

observação e que esta é uma característica do espaço urbano em que se localiza a escola, daí

se afirmar que há forte associação entre as queixas vocais e a urbanização da cidade.

As condutas vocais presentes nos professores das duas escolas devem-se, também, à

falta de conhecimento e orientações sobre saúde vocal destes profissionais. Conforme Pereira

(1999); Russell, Oates e Greenwood (1998), o desconhecimento dos professores acerca dos

cuidados preventivos de problemas de voz pode contribuir para as condutas e os hábitos

inadequados que levam aos distúrbios vocais.

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106

5.5 RECURSOS VOCAIS UTILIZADOS PARA SUPERAÇÃO DOS OBSTÁCULOS

De posse das informações geradas nos questionários, na observação e no grupo focal

foi possível analisar os recursos vocais utilizados pelos professores para superar os ruídos

gerados dentro e fora das escolas de modo que se concretizasse o processo comunicativo

verbal entre professores e alunos. Foram analisados, ainda, os recursos adotados para a

manutenção da saúde vocal dos mesmos. Durante a observação evidenciaram-se

comportamentos vocais distintos entre os professores das escolas.

Na escola mais exposta ao ruído urbano, nenhum dos professores fez uso de pastilhas,

aquecimento vocal, ou hidratação durante a jornada de trabalho. Uma professora faz uso de

protetor auricular para não escutar o ruído alegando que usa “protetor diariamente para

proteger a audição”. Esta professora manteve-se calma durante o período em que foi

observada e, em nenhum momento, elevou a voz. No entanto, foi visível o excesso de tensão

na região cervical.

Os questionários e o grupo focal geraram respostas que evidenciaram algum

conhecimento sobre didática de ensino que ajudam a preservar a voz, evidenciando a

necessidade de novas formas de ensino nas escolas mais ruidosas para garantir o processo de

ensino e aprendizagem.

Esta pesquisa evidenciou que há a necessidade de implementação de medidas que

minimizem os efeitos do ruído nas salas de aula, especialmente daqueles provocados pelo

trânsito, e que a localização das escolas e das salas de aula é fator relevante a ser considerado.

“[...] a gente não dá aula só falando, tem outras coisas que pode fazer..., desenhar, ler uma história...” (p7) “[...] escola pública não tem muito recurso, mas a gente vai inventando...” (p2)

Nas situações em que a fonação se dá com esforço, o professor percebe que, ao tentar

manter o volume, sua voz vai enfraquecendo ao longo da jornada de trabalho, devido à fadiga

muscular e ao desgaste físico (OLIVEIRA, 1998).

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Na escola mais exposta, observando os professores durante a atividade docente,

identificou-se que quando o ruído era muito intenso estes evitavam falar, esperavam ou

falavam muito baixo.

Os alunos sentados nas fileiras mais afastadas da professora se dispersavam, iniciavam

conversas paralelas ou sentavam-se mais à frente, na mesma cadeira de outros colegas para

facilitar a escuta.

As respostas geradas no grupo focal confirmam os dados dos questionários e da

observação, como demonstram os segmentos abaixo:

“[...] circular pela sala, mesclar atividades, usar fantoches, e brinquedos”. (p6) “[...] tomar água durante a aula”.(p2) “[...] eu sou viciada em pastilha e halls porque alivia a garganta”. (p10)

Behlau e Pontes (2001) sugerem a ingestão de água durante atividades vocais para

melhorar a lubrificação do trato vocal e permitir a vibração das pregas vocais livremente e

sem atrito. Referem, ainda, que o uso de pastilhas, menthol (halls) e outras substâncias que

têm efeito cicatrizante ou anestésico, mascaram sintomas de abuso vocal sendo, portanto,

desaconselhadas.

Devido à falta de conhecimentos sobre saúde vocal, a maioria dos profissionais fez uso

de pastilhas ou balas de menta para aliviar os sintomas, juntamente com a ingestão de água.

Embora tenham se referido à ingestão de água durante as aulas, tal hábito não foi observado

com regularidade durante a observação realizada nas salas de aula de ambas as escolas.

5.6 CONCLUSÃO

Professores percebem os ruídos de trânsito de veículos, típicos de áreas urbanas ou em

processo de urbanização como os que mais incomodam na sala de aula, seguidos pelo ruído

da rua e da sala de aula.

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108

Houve percepção clara, por parte dos professores de que não seriam capazes de

superar o ruído, mantendo suas vozes na mesma faixa. Diante da impossibilidade de serem

ouvidos não elevam a voz para tentar manter a inteligibilidade e efetivar a comunicação

dentro das salas de aula. Indicam novas metodologias de ensino como forma de melhorar a

comunicação e o processo de ensino e aprendizagem.

Houve predominância de queixas e de sintomas vocais em professores da escola mais

exposta ao ruído externo. A percepção dos professores evidenciou que quando o ruído mais

presente é o ruído de trânsito de veículos a situação se agrava devido às variações na

intensidade e duração dos mesmos, pois provoca dispersão e desatenção dos alunos.

Esta pesquisa evidenciou que há necessidade de implementação de medidas que

minimizem os efeitos do ruído nas salas de aula, especialmente daqueles provocados pelo

trânsito, e que a localização das escolas e das salas de aula é fator relevante a ser considerado.

As características construtivas das escolas mostraram-se relevantes neste estudo como

forma de minimizar os ruídos, tanto internos quanto externos. Note-se que as escolas

pesquisadas apresentaram diferenças bastante significativas neste aspecto. A escola mais

exposta, além de estar localizada em área urbana com função predominantemente comercial e

de serviços, com intenso fluxo de veículos e localização próxima da via, não estava protegida

do ruído por janelas e portas. Por outro lado a escola menos exposta apresentou janelas e

portas fechadas, além de estar localizada em área urbana residencial, com fluxo de veículos

menos intenso e salas longe da via. Conclui-se, portanto, que os níveis de ruído interno das

salas de aula podem ser minimizados se forem consideradas, também, as características

construtivas das escolas.

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109

6 CONCLUSAO

6.1 RETORNANDO À QUESTÃO CENTRAL

O tema proposto neste estudo considera os dados relativos ao crescimento das cidades,

à poluição sonora, à localização das escolas, ao número de veículos circulando na cidade e aos

problemas vocais dos professores. Desta forma, discutiu-se os efeitos negativos do ruído

urbano sobre a voz, especificamente, a relação entre a poluição sonora e as alterações vocais

de professores.

Analisou-se de que forma o ruído produzido em espaços abertos impacta e se inter-

relaciona com os ruídos produzidos em espaços fechados e contribui para as alterações de

voz, mais particularmente comparou as alterações vocais de professores em razão do fato de

que os estudos atuais não contemplam a localização e as características construtivas das

escolas ou os níveis de ruído externo produzidos pelo trânsito e pela comunidade, como

critérios de análise.

6.2 O IMPACTO DO RUÍDO EXTERNO NA ESCOLA

Com base nas análises realizadas nas escolas submetidas a diferentes níveis de ruído

urbano, conclui-se que a localização das escolas associada às características construtivas são

fatores determinantes para o controle dos níveis de ruído interno. Estes, por sua vez, são

determinantes para a produção de voz dos professores.

O presente estudo conclui, então, que há relação direta entre o ruído externo e o

interno, e que esse está relacionado às condições acústicas internas das salas de aula que

influenciam diretamente no comportamento dos professores quanto ao uso da voz. No

entanto, diferentemente de outros trabalhos, este estudo sugere que a alteração vocal de

professores ocorre, predominantemente, em função do nível de ruído interno e externo das

escolas, não do comportamento individual de cada professor. Assim, o “abuso vocal” de

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110

professores, indicado pela maioria dos programas de saúde vocal, não depende unicamente do

comportamento individual do professor. Isto sugere que os programas de saúde vocal, para

serem efetivos no combate à doença vocal de docentes, devem estar relacionados com outros

programas de controle de ruído ambiental como, por exemplo, na escola mais exposta onde

houve pior relação sinal/ruído devido à presença de ruído de trânsito, identificou-se que há

maior prejuízo na inteligibilidade de fala e, por conseguinte, provocam alterações na voz dos

professores.

A perda da inteligibilidade, as distrações frequentes dos alunos devido à interferência

dos ruídos externos comprometem o processo comunicativo e a performance vocal dos

professores. Esta dissertação mostrou evidências de que na presença de ruídos intensos os

professores ficaram menos motivados a conversar com alunos. Por exemplo, na escola menos

exposta ao ruído urbano foi possível manter uma relação sinal/ruído favorável à produção

vocal de modo que se garantisse a comunicação e a efetivação do processo de ensino. Assim,

a localização da escola em via menos contaminada acusticamente, assim como a localização

das salas, foi determinante para a manutenção da inteligibilidade.

Deste modo, os resultados desta pesquisa indicam que o planejamento urbano deve

considerar o “fator locacional” para definir o espaço de construção de novas escolas, assim

como traçar uma política de trânsito que diminua os níveis de ruído no entorno das escolas já

existentes. Com tal atenção diminuir-se-á o nível de ruído externo às escolas e,

consequentemente, a doença vocal de professores, visando melhora no processo de ensino e

aprendizagem nas escolas, particularmente, nas escolas de ensino fundamental.

6.3 DO AUMENTO DO RUÍDO À ALTERAÇÃO DE VOZ DOS PROFESSORES

O estudo comprova que em escolas com ruído de fundo superior ao indicado pelas

normas, da OMS e da NBR, faz com que os professores falem com esforço e em altas

intensidades. Tais esforços e intensidades têm levado a um conjunto de queixas e reclamações

por parte dos docentes em termos de esforço vocal, o que indica a possibilidade de perda de

saúde vocal. O estudo identificou que para preservar a voz, existem professores que agem,

consciente ou inconscientemente, como surdos. Na medida em que percebem que por maior

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111

seja a intensidade de sua voz e a mesma não será percebida pelos alunos, esses professores

não se esforçam em falar mais alto do que o nível de ruído de fundo. Embora não se possa

generalizar essa ocorrência, o estudo identificou que professores com mais tempo de atuação

na escola e no magistério não conseguem mais perceber a intensidade de sua voz e como esta

se apresenta no processo de comunicação. Tal evidência ocorreu particularmente na escola

mais ruidosa (escola pública), onde houve pior relação sinal/ruído devido à presença de ruído

de trânsito, evidenciando que nestas condições há maior prejuízo na inteligibilidade de fala e,

por conseguinte, provocam alterações na voz dos professores. A prevalência de queixas

vocais na escola mais exposta ao ruído urbano demonstra que este é mais impactante sobre a

voz do que o ruído interno.

6.4 ENTRE O IDEAL E O REAL: A DESOBEDIÊNCIA À LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

As medidas dos níveis de ruído nas escolas investigadas evidenciaram que não há uma

preocupação com o respeito às normas brasileiras estabelecidas. A escola pública, por

exemplo, está localizada em área predominantemente comercial, com características

inadequadas para este fim, contrariando as normas. Todas as salas apresentaram níveis de

ruído acima do recomendado pela NBR 10.152 de 40 dB(A).

A desobediência aos parâmetros aceitáveis para escolas e salas de aula acarreta

prejuízos de todo tipo. A exposição ao ruído gera problemas vocais, de saúde e de

comunicação. Problemas de saúde e de voz costumam afastar os professores das salas de aula

gerando, no caso dos professores da escola pública, gastos adicionais com licenças médicas e

prejuízo aos cofres públicos. Em se tratando de professores de escolas particulares, o

afastamento provoca perdas salariais para o próprio profissional e descontinuidade de

trabalhos em sala de aula, o que prejudica o processo de ensino e aprendizagem.

A necessidade de leis que contemplem, regulem e acompanhem efetivamente a

emissão de ruídos e a localização das escolas evidencia-se nesta pesquisa. Desta forma,

conclui-se que o professor que exerce atividade docente em escolas sujeita ao ruído do tráfego

percebem que sua voz não é inteligível, e que mesmo com esforço vocal não atingirão as

crianças.

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112

6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: EM DIREÇÃO A NOVOS ESTUDOS

Os resultados deste estudo sugerem a necessidade de revisão na localização das

escolas, assim como atenção especial aos danos à saúde vocal dos professores, uma vez que

os resultados desta dissertação mostram que a orientação e o conhecimento sobre saúde vocal

não são suficientes para evitar a ocorrência de alterações de voz nesta classe profissional e,

assim, minimizar os afastamentos dos profissionais em questão da sala de aula.

Adicionalmente, esta dissertação mostrou que a análise das pistas auditivas perdidas, o

desconforto do falante disfônico, os problemas de saúde decorrentes da exposição do

professor a condições insalubres referentes ao ruído permitem melhor compreensão da

problemática dos afastamentos dos professores das salas de aula.

Embora reconhecidos como graves, os problemas vocais de profissionais que usam a

voz como instrumento de trabalho, em Belém, são pouco estudados, assim como os fatores

determinantes destes problemas. O conhecimento sobre as interferências que o ruído urbano

exerce sobre as outras atividades profissionais realizadas nas escolas, ou em outros ambientes

de trabalho, devem ser objetos de outras investigações científicas, uma vez que as alterações

vocais não são privilégios de professores e que a perda da inteligibilidade gera outras

dificuldades dentro de um processo comunicativo.

Por fim, este estudo mostrou que pesquisas que trabalham na interface entre

urbanização e problemas ambientais podem e devem utilizar métodos qualitativos de análise,

pois estes permitem uma visão mais holística dos fenômenos estudados.

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GLOSSÁRIO

CODIFICAÇÃO: transformação dos dados brutos do texto para atingir uma representação do

conteúdo, ou da sua expressão que permita esclarecer o analista acerca das características do

texto que podem servir de índice. A transformação é feita através de recorte, agregação e

enumeração dos dados.

dB(A): a percepção de um som pelo ouvido humano depende da frequencia em que é emitido.

Assim, um som de baixa frequencia é percebido de forma diferente do de alta frequencia. Para

realizar esta análise usa-se uma curva de ponderação que enfatiza as curvas que o ouvido

humano apresenta maior sensibilidade. Em medições sonoras é usada a curva de ponderação

“A” e seu valor é dado em dB(A).

DURAÇÃO: refere-se à medida em segundos.

INTENSIDADE DO SOM: refere-se à energia das oscilações e é definida por unidade de área.

LEITURA FLUTUANTE: primeiro contato com os documentos para análise e conhecimento.

LOUDNESS: sensação subjetiva de intensidade do som. Permite que o ouvinte perceba se o

som é fraco ou forte.

NÍVEL DE PRESSÃO SONORA: Refere-se à mínima pressão sonora percebida pelo ouvido

humano.

NÍVEL SONORO EQUIVALENTE (Leq): representa a média de todos os níveis sonoros

medidos ao longo do tempo. Permite que as avaliações sejam mais precisas e se expressem

através de um único número. É dado em dB (A).

PITCH: sensação subjetiva de frequencia. Permite que o ouvinte perceba se o som é grave ou

agudo.

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PRESSÃO SONORA: pressão que atinge o tímpano dos seres humanos e animais. É resultante

do movimento de oscilação das moléculas do meio. É dada em Pascal (Pa).

QUALIDADE VOCAL: impressão deixada pela voz do falante. Depende da quantidade e

qualidade de harmônicos produzidos nas cavidades de ressonância do trato vocal. Este termo

substituiu o timbre que atualmente é usado para instrumentos musicais.

RELAÇÃO SINAL-RUÍDO: refere-se à relação entre o nível de ruído do ambiente e o sinal

(fala). Significa que a redução do nível de ruído em ambiente fechado favorece a recepção do

sinal de modo que este seja tão alto quanto possível para que a informação recebida supere o

ruído de fundo.

RESSONÂNCIA: capacidade que um sistema vibrante possui, ao oscilar livremente, de por em

movimento corpos ao seu redor que possuem a mesma frequencia.

REVERBERAÇÃO: reflexões do som que incidem sobre as superfícies refletoras, em

ambiente fechado.

RUÍDO: mistura de sons cujas frequencias não seguem qualquer lei precisa, diferindo entre si

por valores imperceptíveis ao ouvido humano. É considerado um som indesejado. Atribui-se o

termo ruído a qualquer sinal que tem a capacidade de reduzir a inteligibilidade de uma

informação de som, imagens ou dados. É definido, ainda, como um som indesejável. Diversos

tipos de ruídos podem ser identificados, entre eles, os ruídos naturais e artificiais. Por naturais

entendemos os ruídos encontrados na natureza, sem influência do homem para sua produção ou

ocorrência – são os ruídos galácticos ou atmosféricos.

RUÍDO DE FUNDO: sons emitidos durante o período de observação, que não aquele objeto da

medição. Refere-se ao ruído constante encontrado em determinado ambiente, superior a 40 dB,

que não se configura como o mais importante.

RUÍDO GAUSSIANO BRANCO: onda sonora aperiódica com energia constante em todas as

frequencias componentes do espectro de frequencia.

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SOM: modificação da pressão que se propaga em meios elásticos. É o resultado do movimento

ordenado e vibratório das partículas materiais que se propagam em oscilação em torno de uma

posição de equilíbrio.

TEMPO DE REVERBERAÇÃO: tempo necessário para que, depois de cessada a fonte, a

intensidade do som se reduza de 60 dB. Em ambientes fechados a fala inteligível está

subordinada ao ruído e fundo, ao tempo de reverberação, nível da fala e ao ruído de fundo. A

distância entre o ouvinte e a fonte sonora definirá cada um deles, pois os níveis dos sons

diretos e refletidos e o ruído de fundo variam em cada ponto da sala.

Parte do som articulado produzido pelo falante chega às orelhas do ouvinte (som direto) e a

outra parte bate nas superfícies e é absorvida pelo ar. Quando cessa a fonte sonora, a energia

diminui de forma gradativa, enquanto reflete e é absorvida. A inteligibilidade depende do

tempo de reverberação e da relação entre a energia direta e a refletida.

TIMBRE: qualidade resultante da combinação harmônica do som em decorrência das

características da fonte sonora que o produz. Por muito tempo foi utilizada para a voz, mas

atualmente usa-se para instrumentos musicais.

TRATO VOCAL: região compreendida entre a glote e os lábios. É composto pela laringe, pela

faringe, e pelas cavidades oral e nasal.

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128

APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

CRESCIMENTO URBANO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a

interferência de ruídos produzidos em espaços abertos na produção vocal de professores

Você está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa acima citado. O documento

abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua

colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer

momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. Esta pesquisa tem como objetivo analisar

a interferência do ruído na produção vocal de professores. O tema proposto neste estudo

considera os dados relativos à poluição sonora nesta cidade, a localização das escolas, o

número de veículos circulando na cidade os problemas vocais dos professores.

O estudo será realizado em escolas do ensino fundamental públicas de Belém do Pará. A

amostra será constituída pelos professores e considerará as queixas dos mesmos no que diz

respeito à percepção do ruído e dos sintomas vocais.

Para a identificação dos hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos professores, e a

percepção dos mesmos acerca dos ruídos e sua interferência na sala de aula e na própria

produção vocal serão entregues os questionários para responderem individualmente. O

questionário conterá perguntas acerca dos hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos

professores ao ministrar aulas, durante os intervalos e em conversações no local de trabalho.

Serão aplicados antes dos encontros para o grupo focal evitando-se, assim, que respondam

aleatoriamente às perguntas e comprometam a fidedignidade dos dados. A observação se dará

em 3 momentos distintos: na sala de aula, no grupo focal e nos intervalos de aula, dentro da

escola. A dinâmica das aulas e dos professores é que determinará o número de dias necessários

para concluir a observação. Este método de coleta permitirá ao pesquisador melhor observação

dos hábitos vocais no local de trabalho sujeito às interferências do ruído e confirmará os dados

levantados através do questionário. O Grupo focal será realizado nas escolas pelas mesmas

razões. Permitirá, ainda, que o pesquisador identifique as percepções dos professores acerca do

ruído e sua interferência na sala de aula e na própria produção vocal. Cada encontro terá

duração de, aproximadamente, 2 horas. Da mesma forma que a observação, o número de

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129

encontros será determinado pela dinâmica dos professores. Para que seja mantido o anonimato

em todas as etapas da pesquisa não haverá identificação pessoal nos questionários.

Riscos e benefícios: este tipo de pesquisa apresenta riscos mínimos aos sujeitos da pesquisa.

O risco previsto é a quebra da confidencialidade por parte do pesquisador. Todavia serão

tomados todos os cuidados possíveis para que isto não ocorra. Os formulários não serão

identificados e após 5 anos serão incinerados. O mesmo procedimento será realizado com o

termo de consentimento livre e esclarecido. Os resultados servirão para identificar os impactos

negativos do ruído na produção vocal, permitirão a realização de trabalhos de prevenção e

conscientização dos professores, e da população em geral, acerca dos problemas ocasionados

pelo excesso de ruído nas cidades. Este tipo de pesquisa amplia o leque de possibilidades de

estudos para a saúde, principalmente a fonoaudiológica, e o meio ambiente incentivando a

investigação nestas áreas.

Eu, _____________________________________________________________, residente e

domiciliado na _____________________________________________________, portador da

Cédula de identidade, RG _________________ ,e inscrito no CPF___________________

nascido (a) em _____ / _____ /_______ , abaixo assinado (a), concordo de livre e espontânea

vontade em participar como voluntário (a) deste estudo.

Estou ciente que:

-Não sou obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário de avaliação;

-A participação neste projeto não tem objetivo de me submeter a um tratamento, bem como

não me causará nenhum gasto com relação aos procedimentos de avaliação efetuados com o

estudo;

-Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento em

que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;

-A desistência não causará nenhum prejuízo à minha saúde ou bem estar físico

-A minha participação neste projeto contribuirá para acrescentar à literatura dados referentes ao

tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da saúde e não causará nenhum risco;

-Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo minha

participação voluntária;

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-Os resultados obtidos durante este ensaio serão mantidos em sigilo;

Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas e encontros

científicos desde que meus dados pessoais não sejam mencionados;

-Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados parciais e finais

desta pesquisa.

( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa

Qualquer dúvida poderá ser esclarecida pelos responsáveis por esta pesquisa, Prof. Dr. Mario

Vasconcelos Fonoaudióloga. Heloísa M. M. e Silva no telefone e endereço da Universidade da

Amazônia: Avenida Alcindo Cacela, Nº. 287, Umarizal. Belém-PA, Tel.: (91) 4009-3117

Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais

esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas.

( ) Professor_________________________________________________

Testemunha 1: ________________________________________________

Nome / RG / Telefone

Testemunha 2: _______________________________________________

Nome / RG / Telefone

Responsável pelo Projeto:

____________________________________________

Prof. Dr. Mario Vasconcelos

____________________________________________

Fga. Heloisa M. Machado e Silva. CRFa 4066

Belém.........de............de 2008

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APÊNDICE 2

QUESTIONÁRIO DE AUTO AVALIAÇÃO

Elaborado por Heloisa Maria Machado e Silva

1-Dentre as aulas que você ministra qual o número máximo de alunos por sala de aula?

( ) menos de 30 alunos ( ) de 31 a 50 alunos

( ) de 51 a 100 alunos ( ) de 100 a 150 alunos

( ) mais de 150 alunos

2-Exerce outra atividade profissional além de professor?

( ) sim. ( ) não Qual?__________________________

Sintomas Clínicos

1-Sente dor ou irritação na garganta?

( ) não ( ) sim

2-Em que período do dia acontece mais frequentemente?

( ) manhã ( ) tarde ( ) noite

3-Sensação de corpo estranho na garganta?

( ) não ( ) sim

4-Em que período do dia acontece mais frequentemente?

( ) manhã ( ) tarde ( ) noite

5-Sente necessidade de pigarrear?

( ) não ( ) sim

6-Em que período do dia acontece mais frequentemente?

( ) manhã ( ) tarde ( ) noite

7-Sente dor no pescoço?

( ) não ( ) sim

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8-Em que período do dia acontece mais frequentemente?

( ) manhã ( ) tarde ( ) noite

9-Tem rouquidão?

( ) não ( ) sim

10-Em caso afirmativo a rouquidão é:

( ) constante ( ) constante com flutuação ( ) episódios intermitentes

11-Se a rouquidão for intermitente ou com flutuações, quando ela é mais comum?

( ) durante o dia de trabalho ( ) no decorrer da semana

( ) final do semestre letivo ( ) todos os períodos acima

12-Possui algum cuidado com a voz?

( ) não ( ) sim

13-Informações que considere relevantes que não foram perguntadas acima:

Hábitos

1-Cigarro (tabaco):

( ) sim .Quantas unidades por dia?_____________

Há quantos anos é tabagista?__________________

( ) não, pois nunca fui tabagista ( ) sou ex-fumante há ______anos/meses

No caso de ex-fumante, especifique

quantas unidades/dia:________

quantos anos fumou?_________

Alguns desses sintomas perguntados anteriormente levaram-no a procurar um especialista?

( ) não ( ) sim

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APÊNDICE 3

ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL

Levantar questionamentos acerca das representações individuais sobre:

1- Quais os ruídos mais presentes na sala de aula.

2- Qual Ruído mais incomoda.

3- Identificar as sensações físicas ao falar com o ruído.

4- O crescimento da cidade e a localização da escola.

5- O que faz para melhorar ou para ser compreendida na presença de ruído.