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Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013 Resumo Este texto investiga os investimentos recentes na produção de habitação e urbanização de assentamentos precários da primeira geração de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na sua modalidade Infraestrutura Social e Urbana, em andamento na capital do Pará, Belém, e em cidades que desempenham funções de cidades médias no estado do Pará – Marabá e Castanhal. Para melhor situar o problema, o texto explicita como ciclos econômicos ocorridos na região estão associados ao crescimento demográco, ao desenvolvimento urbano e à produção dos assentamentos informais nessas cidades, e explora como as intervenções respondem a variáveis tais como acesso a terra e inserção na cidade, gestão e regulação urbanística disponíveis, padrões de uso e ocupação do solo praticados, e potencial de consolidação dos assentamentos após a intervenção, na expectativa de inferir se há padrões entre tais ações e qual sua contribuição para a estruturação do espaço dessas cidades. Abstract This paper investigates present investments on housing and urbanization of precarious settlements done by the rst generation of the Program Growth Acceleration (PAC), on its modality of urban and social infrastructure provision, in Belém, capital of Pará State, and in Marabá and Castanhal, cities that perform functions of medium size cities in Pará State. To better contextualize the problem, the text presents how economic cycles lived in the region are associated to demographic growth, urban development and to the production of informal settlements within these cities, and explores how the interventions answer to variables such as access to land, insertion in the city, urban regulation available, practiced patterns of soil usage and occupation, and potential of consolidation of target settlements after interventions, in order to assess whether there are patterns among such actions and if so, what are their contributions to better structure these cities space. Novos Cadernos NAEA Urbanização e estratégias de desenvolvimento no Pará: da ocupação ribeirinha aos Assentamentos Precários” Urbanization and development strategies in Pará State: from riverine occupation to “upgrade of informal settlements” Ana Cláudia Duarte Cardoso - Arquiteta Urbanista, mestre em Planejamento Urbano (UnB); PhD em Arquitetura (Oxford Brookes University/UK). Pesquisadora do CNPq. E-mail: aclaudiacardoso@ gmail.com Glaydson de Jesus Cordovil Pereira - Arquiteto Urbanista (UFPA), mestrando do PPGAU/UFPA, Belém-PA. Email: [email protected] Marcília Regina Gama Negrão - Arquiteta Urbanista, mestre em Engenharia Civil (UFPA). Doutoranda do PPGDSTU/NAEA/UFPA. Bolsista do ITV DS. E-mail: [email protected] Keywords Cities. Eastern Amazon. PAC. Urban Development. Palavras-chave Cidades. Amazônia Oriental. PAC. Desenvolvimento Urbano. v. 16, n. 2, p. 255-279, dez. 2013, ISSN 1516-6481

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Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

ResumoEste texto investiga os investimentos recentes na produção de habitação e urbanização de assentamentos precários da primeira geração de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na sua modalidade Infraestrutura Social e Urbana, em andamento na capital do Pará, Belém, e em cidades que desempenham funções de cidades médias no estado do Pará – Marabá e Castanhal. Para melhor situar o problema, o texto explicita como ciclos econômicos ocorridos na região estão associados ao crescimento demográfi co, ao desenvolvimento urbano e à produção dos assentamentos informais nessas cidades, e explora como as intervenções respondem a variáveis tais como acesso a terra e inserção na cidade, gestão e regulação urbanística disponíveis, padrões de uso e ocupação do solo praticados, e potencial de consolidação dos assentamentos após a intervenção, na expectativa de inferir se há padrões entre tais ações e qual sua contribuição para a estruturação do espaço dessas cidades.

AbstractThis paper investigates present investments on housing and urbanization of precarious settlements done by the fi rst generation of the Program Growth Acceleration (PAC), on its modality of urban and social infrastructure provision, in Belém, capital of Pará State, and in Marabá and Castanhal, cities that perform functions of medium size cities in Pará State. To better contextualize the problem, the text presents how economic cycles lived in the region are associated to demographic growth, urban development and to the production of informal settlements within these cities, and explores how the interventions answer to variables such as access to land, insertion in the city, urban regulation available, practiced patterns of soil usage and occupation, and potential of consolidation of target settlements after interventions, in order to assess whether there are patterns among such actions and if so, what are their contributions to better structure these cities space.

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Urbanização e estratégias de desenvolvimento no Pará: da ocupação ribeirinha aos Assentamentos Precários”Urbanization and development strategies in Pará State: from riverine occupation to “upgrade of informal settlements”Ana Cláudia Duarte Cardoso - Arquiteta Urbanista, mestre em Planejamento Urbano (UnB); PhD em Arquitetura (Oxford Brookes University/UK). Pesquisadora do CNPq. E-mail: [email protected]

Glaydson de Jesus Cordovil Pereira - Arquiteto Urbanista (UFPA), mestrando do PPGAU/UFPA, Belém-PA. Email: [email protected]

Marcília Regina Gama Negrão - Arquiteta Urbanista, mestre em Engenharia Civil (UFPA). Doutoranda do PPGDSTU/NAEA/UFPA. Bolsista do ITV DS. E-mail: [email protected]

KeywordsCities. Eastern Amazon. PAC. Urban Development.

Palavras-chaveCidades. Amazônia Oriental. PAC. Desenvolvimento Urbano.

v. 16, n. 2, p. 255-279, dez. 2013, ISSN 1516-6481

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1 O CONTEXTO

Na Amazônia, a exuberância do meio natural é indiscutível (intensidade de chuvas, porte dos rios, presença de vegetação, disponibilidade de minérios etc.). Os desafi os historicamente impostos pela natureza somados ao isolamento geográfi co geraram padrões de ocupação dispersa, apenas alterados no decorrer do século XIX, quando ocorreu a urbanização da região, associada ao padrão típico de fronteira. Historicamente a presença humana foi intensifi cada seguindo diversos ciclos de exploração de recursos naturais (drogas do sertão, borracha, madeira, minério), a princípio baseadas no meio rural, e que contavam com as cidades como um espaço de troca, e não de produção como ocorreu nas sociedades industriais (CASTRO, 2009; VICENTINE, 2004).

Atualmente as cidades já concentram a maior parte da população do estado do Pará, onde as dinâmicas de crescimento sub-regional delineiam a estruturação de uma rede urbana, e as cidades com mais de cem mil habitantes contribuem para mudanças sócio-econômicas importantes, ao mesmo tempo em que manifestam problemas típicos de outras regiões brasileiras, associados à disponibilidade de terra, estratégias de planejamento e gestão urbanística, tipologias habitacionais etc. (BECKER, 2005). Neste artigo a discussão de obras de Urbanização de Assentamentos Precários da primeira geração do PAC Infraestrutura Social e Urbana requer uma apresentação mais qualifi cada do signifi cado e origem das áreas alvo do projeto, atualmente capazes de ilustrar processos típicos da urbanização brasileira, como a criação de periferias, e da ocupação tradicional da região, determinada pela relação homem natureza e dependência das águas dos rios.

Neste sentido, a Figura 1 apresenta um esquema que sintetiza algumas relações entre crescimento populacional, escala de capital envolvida nos ciclos econômicos e seus respectivos padrões de urbanização, de modo a apoiar a compreensão de como as duas trajetórias citadas coexistem nas cidades da região atualmente. Uma relativa aos padrões de urbanização da sociedade industrial que avança para terra fi rme, e outra relativa ao processo tradicional de ocupação de várzeas e margens de rios, típico dos ribeirinhos e populações extrativistas na região. Os ciclos longos detectados na periodização da urbanização da Amazônia desenvolvida por Correa (1987) apresentam momentos de grande dinamismo (ex: ciclo da borracha), alternados com fortes estagnações. Os ciclos ocorridos até o início do século XX foram comandados por atores sociais baseados na região que, na época, detinham o controle do capital. Isso se alterou décadas depois, com os grandes projetos federais deslanchados após a industrialização do país. Nesse

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“ciclo”, a construção de rodovias, hidrelétricas e início da exploração mineral foram decididos e controlados externamente à região, a partir de Brasília e nos estados do Sudeste. Atualmente, com a abertura do capital nas bolsas de valores, de empresas ligadas a atividades de mineração e de incorporação imobiliária, o controle desse capital pode estar inclusive fora do país, alterando mais ainda as estratégias e interesses do setor econômico, e o potencial de confl ito com práticas e interesses locais.

Observa-se que no decorrer do século XX, esses ciclos foram acompanhados por políticas de atração de mão de obra, que desencadearam fl uxos migratórios ascendentes, conforme observado na linha azul do esquema (IBGE, 2012, que representa a evolução de população urbana de 1910 a 2010), em que pese o movimento cíclico do capital. Em períodos com maior disponibilidade de recursos a produção do espaço urbano alinhou-se aos padrões de urbanização importados de sociedades industriais, com tipologias e tecnologias construtivas exógenas tomadas como universais, mas pouco adaptadas ao relacionamento entre população tradicional e o meio natural.

Nos períodos de declínio, a solução de urbanização recupera a inspiração no paradigma das sociedades de abundância (CLASTRE, 1982 apud VICENTINE, 2004, p. 50). Na fl oresta, o mesmo traduz-se pela inexistência de necessidade de produção de excedente ou estoque de acúmulo acima do necessário para o consumo diário (as casas feitas de madeira, a água captada no rio, o alimento coletado ou pescado diariamente), mas que na cidade gerou ocupações de várzea por palafi tas, com aterro progressivo do solo, densidades elevadas, problemas de saneamento, etc., que atualmente caracterizam os assentamentos precários sob intervenção. A transposição do modo de vida ribeirinho cria problemas inaceitáveis do ponto de vista do saneamento e saúde pública, mas tolerados pela população que faz a transição da vida rural para a vida urbana através do processo de ocupação e aterro gradual de áreas alagáveis que após algumas décadas são incorporadas à cidade (CARDOSO, 2007).

O esquema da Figura 1 também apoia alguns esclarecimentos sobre a dinâmica regional que afetam as cidades. Do ponto de vista demográfi co, as ondas migratórias dirigidas para a região a partir dos anos 1960 foram direcionadas para as áreas rurais (projetos de assentamento rural, garimpo, frentes de obra), e com a desaceleração (declínio), transformação ou término dessas atividades esse contingente populacional se redirecionou para as periferias urbanas, na busca de novas oportunidades, especialmente a partir dos anos 1980. A presença abundante de cursos d’água nas cidades tradicionais, localizadas nas margens dos grandes rios, e mesmo nas novas cidades nascidas a partir das rodovias,

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que contam com pequenos rios como limites naturais, facilitou a reprodução da ocupação de várzea no meio urbano por pessoas sem qualifi cação formal e/ou que não tinham acesso a terra urbanizada. Esta ocupação convive com inundações periódicas, com os benefícios econômicos da proximidade dos rios e oportunidade de geração de renda a partir de portos, pesca, extração de argila, produção de embarcações, feiras, etc.; com problemas sanitários e mais recentemente com a disputa da margem dos rios com outros setores e tipologias de ocupação (marinas, condomínios de luxo, centros comerciais e de lazer), motivadas por novas relações de consumo e usufruto das águas.

Figura 1. Representação esquemática do relacionamento entre a evolução da população urbana, ciclos econômicos e padrões de urbanização.

Formulação: Ana Cláudia Cardoso. Ilustração: Alex Bandeira.

Dos pontos de vista econômico e ambiental, a produção extrativista prescindia da cidade ou da ocupação de terra fi rme, dependia da coleta dispersa no território e canalização da produção para as cidades portuárias (as cidades tradicionais da região). Ainda que, de uma forma socialmente perversa1, as 1 A atividade econômica era baseada no sistema de aviamento, onde há comercialização de um

ou vários produtos (em geral um número reduzido e em pequenas quantidades), mas não há relação com um mercado anônimo. A transação é efetuada com um comerciante com quem são mantidos laços personalizados. Surgem normalmente como intermediação entre agricultores de subsistência e um mercado longínquo, mas pode abranger agricultores individuais (índios desaculturados ou imigrantes) que não estão em condições de ter um acesso direto ao mercado por causa da distância e não mais usufruem da segurança que era proporcionada pela economia

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práticas extrativistas, tendiam à harmonia com a natureza até o ciclo da borracha, quando teve início a ruptura2 entre homem e natureza, devido à nova magnitude da escala de produção, mais próxima dos padrões industriais (CORRÊA, 1987; CASTRO, 2009). A abundância de terras e o nomadismo e dispersão típica do sistema de aviamento, praticado até então, cederam lugar progressivamente à produção de latifúndios rurais, comprometida com a intensifi cação da produção, enquanto na cidade portuária se concentravam os investimentos em logística, o controle do capital por um lado, e a população migrante das áreas rurais, pouco qualifi cada para a sociedade industrial, por outro. A conexão da expansão urbana com a inserção na sociedade industrial ocorreu de forma diferente do que nas áreas que sofreram industrialização, mas de forma igualmente concentradora. Na Amazônia oriental, as cidades não ofereciam empregos, mas oportunidades de acesso a equipamentos e serviços públicos, e trabalho no setor terciário.

Segundo Reis (1953, p. 46, apud SOBRINHO, 1992) já no início do século XX, até a pequena produção agropastoril se desestruturou diante da expectativa de lucro gerada pelas atividades ligadas à borracha. A infraestrutura de Belém, capital do estado do Pará, era das mais modernas do país, com todos os serviços urbanos semelhantes aos das cidades europeias. Após décadas de estagnação e declínio, a implementação de uma nova política de desenvolvimento da Amazônia modifi cou o papel da região no processo geral de expansão capitalista no país, durante as décadas de 1950 a 1980, justifi cando a constituição de núcleos urbanos planejados, de acordo com os padrões modernistas, para dar apoio às atividades de exploração mineral e energética. Nesta oportunidade diversas cidades do interior do Pará receberam algum nível de intervenção, e com a abertura das estradas houve a mudança da localização espacial da atividade produtiva, que até então se concentrava na várzea dos principais rios da bacia amazônica para a terra fi rme e margens das rodovias (HOMMA, 1993), a exemplo do que já predominava em outras regiões brasileiras.

Desde que o isolamento da região foi quebrado com a abertura das rodovias, ocorre a convivência e combinação de padrões tradicionais, considerados atrasados, com os exógenos, assumidos como modernos, mas, via de regra, caros demais para a média da população. A partir daí, atores sociais e padrões

doméstica de subsistência, o que representa uma situação de extremamente difícil (LENA; OLIVEIRA, 1992, p. 13).

2 O pensamento sobre a relação do homem com a natureza difundiu-se na Europa entre os séculos XV e XVIII com destaque para as obras de Descartes, Newton, Diderot e Rousseau, entre os principais pensadores do período. O pensamento racionalista triunfou com a matematização dos comportamentos da natureza. Nesse contexto, Newton concluiu que a natureza compreendida a partir de um modelo sistêmico dinâmico poderia ser subjugada e manipulada pelos homens (VICENTINI, 2004).

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urbanísticos distintos e dinâmicas temporais lentas e aceleradas, se superpuseram transformando as cidades em um mosaico que expressa diferentes estágios de consolidação do urbano dentro de uma mesma cidade, ou dentro de um município (a partir das diferenças entre as sedes municipais e as dezenas de vilas ou sedes distritais e localidades ribeirinhas típicas na região). Araújo et al. (2005) propõem uma gradação de tipologias de urbanização destacando as transições dos estágios pré-urbano para o urbano inicial, do urbano inicial para o urbano médio, e do urbano médio para o completamente urbano, conforme o nível de impacto da urbanização sobre a natureza. Nas cidades da Amazônia as gradações se combinam dentro de um mesmo município seja este de pequeno ou grande porte.

Atualmente o ciclo imobiliário em curso em Belém segue as tendências globais de operação do capital e acrescenta mais elementos a esse mosaico, distinguindo espaços globalizados de espaços tradicionais. Nos primeiros as funções da água são totalmente novas e voltadas para o entretenimento e usufruto da paisagem, enquanto nos segundos são mantidas as características seculares da relação homem-ambiente. Ocorre que essas duas situações tendem a concorrer por localizações urbanas, e na medida em que as cidades crescem as áreas ribeirinhas localizadas próximas às áreas centrais melhor infraestruturadas se distinguem das novas áreas periféricas.

2 UMA ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DOS PROCESSOS DE EXPANSÃO URBANA DAS CIDADES PARAENSES

O processo de urbanização e o fl uxo migratório mencionados na sessão anterior não contaram com o apoio de investimentos na produção de habitação ou de terra urbanizada. Apenas recentemente, através da Lei 11.481, de 2007 (BRASIL, 2007), as sedes municipais localizadas em áreas federais contaram com o repasse do domínio das terras da União para os municípios, viabilizando a regularização fundiária das mesmas. A abundância de terras e o descaso com o controle de sua ocupação também favoreceram a ocupação informal nas cidades, aos moldes na ocupação tradicional praticada por comunidades ribeirinhas. Apesar desses antecedentes do problema da informalidade nas cidades da região, a seleção de ações para a geração do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em questão, apresentou um recorte populacional para a seleção dos municípios, que abrangia áreas metropolitanas e municípios com população maior que 150 mil habitantes, tal corte restringiu o acesso aos recursos a algumas poucas cidades paraenses.

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Neste texto adotamos como objeto de estudo intervenções localizadas em três cidades consideradas aptas para captar recursos do programa: Belém, e as cidades de Marabá e Castanhal, classifi cadas como metrópole e capitais regionais, respectivamente, pelo REGIC (IBGE, 2008), de modo a articular os assentamentos precários estudados com a dinâmica regional dessas cidades, na busca de padrões que permitam uma melhor compreensão do processo de expansão urbana e/ ou das estratégias de intervenção viabilizadas pelos programas federais (Ver Figura 2).

Figura 2. Localização das cidades onde se situam os estudos de caso. Adaptado de mapa rodoviário em www.transportes.gov.br

Fonte: Brasil (2012). Ilustração: Alex Bandeira

Assim como ocorreu no restante do país, a demanda por habitação popular emergiu em Belém com a industrialização iniciada ainda durante o ciclo da borracha. Durante a primeira metade do século XX ocorreram pequenos ciclos de produção industrial associados às restrições de importações causadas pelas guerras mundiais. Essas atividades foram concentradas na primeira periferia da cidade, adjacentes à área de várzea, com solução da demanda de moradia pela classe trabalhadora tanto através de vilas operárias no bairro do Reduto, quanto de ocupações informais (ocupação da Bacia) sobre o Igarapé das Armas, limite entre os bairros do Reduto e Umarizal, que também abrigava trabalhadores do porto e do comércio varejista. A produção de habitação popular

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foi timidamente ampliada na capital pelos conjuntos habitacionais criados pelo Instituto de Aposentadoria e Pensão (IAPI) nos anos 1950 e somente a partir dos anos 1960, alcançou outros municípios através da construção de conjuntos habitacionais pelo Banco Nacional de Habitação - BNH em áreas de expansão urbana, incluindo Marabá e Castanhal.

A localização de Belém é estratégica para o acesso fl uvial e controle de toda a Bacia Amazônica, na foz dos rios Tocantins e no grande estuário do rio Amazonas. Apesar dos processos descritos na sessão anterior, a Região Metropolitana de Belém contou com uma produção de 28.388 unidades habitacionais no decorrer do período de 1965 a 1998 (HOLANDA, 2010, p. 76), em sua maior parte concentrada no município de Ananindeua (conjuntos Cidade Nova I a VI), pouco contribuindo para a absorção dos fl uxos populacionais que se dirigiram à capital nesse período. Observe-se que a cidade de Belém é banhada pelo rio Guamá e pela baía do Guajará, e que 40% do seu território se constitui em áreas originalmente de várzea (denominadas localmente de Baixadas), que foram ocupadas informalmente desde os anos 1960, e progressivamente aterradas e/ ou benefi ciadas com ações de macrodrenagem, em um processo de consolidação que hoje resulta em diversos bairros populares, internos ao centro metropolitano3. As funções portuárias originais declinaram, mas a identidade ribeirinha tem sido mantida pela população das baixadas e das ilhas, coexistindo com novas atividades e tipologias de ocupação. A capital é a cidade que conta com melhor estrutura de planejamento e gestão do estado, e também está mais próxima do esgotamento de terras urbanas em solo continental. A cidade conta com dezenas de ilhas que se constituem na sua maioria em áreas rurais.

A cidade de Marabá é a cidade mais importante do Sudeste paraense, sustentada por ciclos de exploração de caucho, diamantes, pecuária, gemas preciosas e minério. A cidade teve o seu primeiro núcleo em 1898, na confl uência dos rios Tocantins e Itacaiunas, sendo elevada à condição de município em 1913. Durante o governo militar recebeu duas rodovias (BR-230, PA-150), que se constituem nos principais eixos rodoviários do estado, uma ferrovia, que escoa a produção de ferro da mina de Carajás para o porto de Itaqui em São Luis (MA), e um aeroporto para aeronaves que fazem rotas nacionais. Como um grande potencial para se tornar um polo multimodal, e como uma cidade tradicional

3 O centro metropolitano corresponde atualmente à primeira légua patrimonial de Belém, porção de terra doada ao Conselho da Câmara de Belém pelo então Governador do Maranhão e Grão Pará, Francisco Coelho de Carvalho, em 1628. A doação consistia em uma faixa de terra de 6.600 metros que passaram a formar o patrimônio municipal, necessários para a ocupação do território (BELÉM, 2008), que orientou a expansão da cidade até os anos 1960, conduzida pelo plano de alinhamento proposto pelo engenheiro Nina Ribeiro, em 1895.

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sujeita a severas enchentes, a cidade foi escolhida para receber investimentos federais em uma proporção atípica: contou com a construção de um núcleo urbano novo na década de 1980 (a Nova Marabá), que foi seguido pela formação de um terceiro núcleo (a Cidade Nova) por loteamentos e conversão de áreas rurais em urbanas. Antes que a implantação da Nova Marabá fosse concluída o controle do processo foi transferido ao governo local e resultou na ocupação informal da metade do núcleo planejado. O município de Marabá sofreu diversas subdivisões ao longo dos anos, e a expansão da cidade ampliou o problema da vulnerabilidade às enchentes, agora nos três núcleos urbanos.

A cidade de Castanhal foi originada de uma parada de trem, da ferrovia Belém-Bragança, construída para conectar a capital à costa Atlântica do estado entre 1883 e 1908, e permitir o direcionamento da produção agrícola dos municípios localizados ao longo do seu trajeto para o abastecimento da capital durante a primeira metade do século XX. Quando a estrada de ferro foi fechada e substituída pela rodovia BR 316, estava em curso um processo da substituição da juta e malva, cultivadas na região, pelo polipropileno, na produção de sacos que abastecia todo o país. Com o fracasso da atividade industrial houve crescimento do setor de comércio e serviço, benefi ciado pela convergência de oito ramais rodoviários para a Castanhal. Durante o período de operação do SERFHAU4, Castanhal foi adotada como município modelo, foco de planejamento local multidisciplinar, alinhado com o planejamento estadual, e apresentou excepcional desempenho de gestão pública na virada dos anos 1970 e 1980.

A importância regional das três cidades citadas quer seja pelas funções exercidas, quer seja pela condição de acessibilidade privilegiada favoreceu a coexistência dos processos formais e informais de expansão urbana, que podem ser sintetizados e analisados a partir de cinco categorias de análise: a) situação fundiária, b) padrões (ou condições) de uso e ocupação do solo, c) condições de regulação urbanística e gestão, d) atributos de projeto ou tipo de intervenção e, e) potencial de consolidação social, ambiental e urbanística. Essas categorias foram destacadas devido à sua relevância para o processo de segregação sócio-espacial típico da urbanização brasileira e também da expansão urbana explicitamente polarizada na região em questão (formal x informal, legal x ilegal, normal x subnormal), e são explicadas com mais detalhes no Quadro 1.

4 Serviço Federal de Habitação e Urbanismo, Órgão que funcionou de 1964 até 1974, e que tinha como função, desde promover pesquisas relativas ao défi cit habitacional até assistir os municípios na elaboração de seus Planos Diretores.

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Quadro 1. Categorias de análise para compreensão da segregação sócio-espacial das cidades brasileiras.

Situ

ação

fund

iária

Maricato (2011) destaca características da urbanização brasileira que potencializam a desigualdade nas cidades brasileiras. A industrialização com baixos salários sustenta a segregação sócio-espacial nas cidades brasileiras, onde jamais o salário foi regulado pelo preço da moradia, a favela ou o lote ilegal combinado à autoconstrução é parte integrante do crescimento urbano. O consumo da mercadoria habitação se deu, em grande parte, fora do mercado marcado pelas relações capitalistas de produção. No contexto estudado neste texto, o resultado é o mesmo, ainda que resulte de um processo histórico diverso. As obras de infraestrutura urbana alimentam a especulação fundiária e não a democratização do acesso à terra para moradia. A valorização das propriedades fundiárias ou imobiliárias é o motor que move e orienta a localização dos investimentos públicos especialmente as grandes macrodrenagens e obras viárias. A abertura de vias importantes amplia oportunidades para o investimento imobiliário apesar das carências acumuladas. A atuação do governo federal nas cidades em questão também privilegiou a construção em larga escala, as empreiteiras e muitos interesses privados atuantes no mercado imobiliário. No Brasil a ocupação de terras urbanas tem sido tolerada pelo poder público, mas não em qualquer localização, Nas áreas valorizadas pelo mercado, a lei é aplicada, enquanto que nas áreas desvalorizadas ou inviáveis para o mercado (beira de córregos, áreas de proteção ambiental), a lei pode ser transgredida. A partir da criação do Ministério das Cidades, em 2003, a questão da regularização fundiária foi introduzida como componente obrigatório nos programas do Governo Federal de urbanização de assentamentos precários. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, incorporam a regularização jurídica, por meio da concessão de títulos de propriedade ou de instrumentos jurídicos que produzem o mesmo efeito, ao conjunto de ações voltadas a implantação de infraestrutura e serviços urbanos nos assentamentos objetos de intervenção (BRASIL, 2009). Além disso, os procedimentos para o registro da regularização foram uniformizados em todo o país, com a criação de novos instrumentos de demarcação urbanística e legitimação da posse, que permitem solucionar de forma administrativa os casos de regularização de ocupações de interesse social em áreas privadas em que não existe oposição de eventuais antigos proprietários, evitando as demoradas e custosas ações de usucapião (BRASIL, 2009).

Padr

ões d

e us

o e

ocup

ação

do

solo

As áreas urbanas centrais das grandes cidades brasileiras, acessíveis e providas de infraestrutura, abrigam os usos mais nobres e as atividades produtivas economicamente mais fortes, incrementando sua ocupação e densidade e empurrando a população pobre para áreas distantes desse centro. O processo de periferização é sustentado pela especulação imobiliária, considerando a lógica de que o solo urbano somente será acessível à população de baixa renda enquanto a ausência ou precariedade de infraestrutura e de serviços sustentar os baixos preços dos terrenos, na Amazônia essa periferia pode ser adjacente às áreas centrais, dada a forte presença de rios e várzeas. Características tais como parcelamento, usos do solo e tipologias construtivas variam no padrão construtivo, vulnerabilidade ambiental e geotécnica conforme se trate de áreas formais ou informais. Por insufi ciência e inadequação de oferta de moradia, os pobres ocupam as áreas frágeis, com restrições legais de ocupação, que não interessam ao mercado imobiliário, assim os pobres exploram o meio ambiente e mantêm a articulação social de origem para conseguir a inserção na cidade através do assentamento informal. Esse grupo busca o controle da localização, tipo e custo da habitação, proximidade de fontes de renda para superar as difi culdades impostas pela exclusão defi nida a partir do preço da terra.

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Regu

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estã

o ur

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Hoje, mais de 160 milhões dos 190 milhões de habitantes brasileiros moram em áreas classifi cadas como urbanas. Esses números representam um aumento de mais de 50% da população urbana em relação à década de 1970. As desigualdades se acentuaram na medida em que os instrumentos de regulação urbana não acompanharam o complexo cenário formado pela rápida urbanização das cidades brasileiras. Em geral, o planejamento e a regulação urbana funcionaram historicamente como instrumentos elitistas voltados para a manutenção da cidade legal, produzida e comercializada pelo mercado, e no seu reverso quase sempre contribuíram para aumentar o processo de produção de territórios ilegais. O modelo de planejamento urbano tecnocrático, baseado no Zoneamento, dividindo o território em zonas específi cas onde seriam aplicados índices e parâmetros específi cos, assumia a cidade como território sem confl itos e tensões (ROLNIK, 2000). Nos municípios do Sudeste do País, o ideário da reforma urbana inspirou, durante os anos 1980 e 1990, um tipo de zoneamento diferente, voltado prioritariamente para a promoção social em áreas pobres, assumido como “inversão de prioridades”, que deveria identifi car e classifi car os espaços urbanos de acordo com a natureza do assentamento (favela ou loteamento irregular) e, conforme o grau de carência de infra-estrutura apresentado (SOUZA, 2010). Esses espaços são comumente chamados de Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) ou Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), manifestando-se na cidade por meio de favelas, loteamentos irregulares e vazios urbanos, que devem receber parâmetros urbanísticos e exigências diversas, ajustados de maneira a facilitar, e não a difi cultar a regularização fundiária e urbanística, e evitar o confl ito com as Zonas de Preservação Ambiental (ZPA). A ausência de uma visão ideal de urbanização é a principal razão para transformação da regulação urbanística em discurso tecnocrático, tendencioso e de difícil compreensão para o cidadão comum. A insegurança a respeito dos objetivos sociais a serem assumidos leva à prescrição generalizada de “fórmulas” e ao engessamento dos instrumentos de controle (lotes mínimos, coefi cientes, recuos, taxas e índices) cuja obediência levaria a uma “cidade saudável”, acaba por produzir imensos territórios de ilegalidade, nos quais não se aplicam (na prática) quaisquer dessas regras, produzindo, dessa forma, efeitos contrários aos objetivos desses tipos de instrumentos. Além das desarticulações entre instrumentos e necessidades da população ocorre a desarticulação entre políticas e instâncias de poder. Áreas de marinha, universidades federais, áreas de preservação ambiental contam com gestão federal, e via de regra foram ocupadas informalmente com forte omissão do poder municipal, e hoje dependem de ações coordenadas para sofrerem regularização.

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A literatura técnica defende que “arquitetura e urbanismo são indissociáveis”, um edifício não pode ser compreendido de forma isolada do contexto urbano onde está inserido, edifício e cidade não deveriam ser dissociados, no campo da arquitetura e urbanismo. Entretanto, no Norte, a cidade também é objeto de intervenções de grande porte (macrodrenagens) que nem sempre dialogam com as premissas do urbanismo, e tanto o projeto de engenharia quanto o urbanístico geram espaços construídos que irão mediar as relações sociais, econômicas, produtivas e de lazer. Não é incomum observarmos, no meio profi ssional, que o edifício e os espaços urbanos sejam pensados como objetos autônomos em relação aos eventos que neles ocorrem. Essa prática é observada principalmente na pré-fabricação e na replicação de projetos-padrão, que podem ser reproduzidos em diferentes contextos espaciais e para os públicos mais diversos. Porém, a replicação de projetos-padrão, descolados dos contextos onde serão inseridos, pode ser considerada uma prática inapropriada, pois segundo Malard (2005), o espaço urbano é um sistema de relações complexo e que não pode ser fi elmente reproduzido a partir de um projeto. As complexas relações, que envolvem pessoas, não são passíveis de serem replicadas. Os projetos habitacionais sustentáveis são tanto mais efi cientes quanto maior a sua capacidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas que serão benefi ciadas, por meio do uso adequado dos recursos naturais locais e uma abordagem de projeto contextual respeitando sítio, clima, características culturais e necessidades humanas (REIS, LAY, 2010). Um projeto habitacional sustentável para os assentamentos precários discutidos neste trabalho pode ser analisado segundo a solução espacial adotada (inclusive tipologia arquitetônica), adequação à realidade sócio-espacial da área objeto de intervenção (considerando a manutenção das relações sociais e econômicas preexistentes), densidade de ocupação, inserção na cidade e qualidade ambiental.

Ana Cláudia Duarte Cardoso • Glaydson de Jesus Cordovil Pereira • Marcília Regina Gama Negrão266

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

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Cardoso (2007) constrói o conceito de consolidação sócio-espacial a partir da compreensão de que consolidar é a ação ou ato de unir ou amalgamar, até formar uma unidade, e de que o estágio é um período de tempo, uma data que marca a divisão de uma jornada ou processo. Um estágio de consolidação pode ser considerado como um período no processo de integração gradual de um assentamento à cidade, onde, a partir da pressão política da comunidade sobre o poder público e políticos locais, são realizadas ações de provisão de infraestrutura que articulem o assentamento à cidade pré-existente, alterando condições de acessibilidade, distribuição de usos, e oferta de serviços (GILBERT, GUGLER, 2000). A consolidação também é social e está associada ao grau de integração da comunidade com sua vizinhança e como ela se apropria ou adota os códigos espaciais já praticados. Cardoso (2007) demonstra como esse processo ocorreu nas baixadas de Belém, destacando que o investimento só acontece em uma área particular quando sua integração também é do interesse da cidade. Neste caso, a escala de investimentos, o ritmo das transformações, a localização relativa nas cidades, a confi guração espacial e os instrumentos de regulação envolvidos foram determinantes para a permanência ou não da população original após as intervenções. A provisão de infraestrutura e regularização de um assentamento informal pode servir tanto para marcar um estágio de integração do mesmo à cidade, quanto pode criar um processo de gentrifi cação e expulsar seus habitantes para outras áreas da cidade ainda não incorporadas pelo mercado imobiliário, criando novos espaços residenciais dos pobres urbanos.

Fonte: Adaptado de Maricato (2011), Souza (2010), Malard (2005), Cardoso (2007), Rolnik (2000) e Brasil (2009),

A descontinuidade dos ciclos econômicos e sua base não industrial, o predomínio da dispersão da população em pequenos núcleos urbanos, a carência de instituições voltadas para a discussão e negociação de processos tipicamente urbanos, são fatores que distinguem trajetórias dos processos fundiários, padrões de uso e ocupação do solo, planejamento e gestão urbanísticos, qualidade dos projetos e percepção dos processos de consolidação, da Amazônia em relação às regiões mais populosas do país, que via de regra, orientam a formulação das políticas nacionais.

O lapso de tempo entre as experiências inovadoras realizadas nos anos 1980 e 1990 no estado de São Paulo, que inspiraram instrumentos e políticas difundidos pelo Ministério das Cidades, e a aplicação das formulações resultantes não permitiu a acomodação e assimilação dessas soluções pelos atores sociais envolvidos com o planejamento e a gestão urbana no Pará. Os processos históricos de urbanização recente da região ainda não foram devidamente compreendidos e explicitados, e muitos atores sociais ainda operam segundo marcos institucionais e políticos conservadores.

3 ESTUDOS DE CASO

O fato de o programa federal ater-se principalmente ao fi nanciamento das ações, sem o suporte de uma visão de desenvolvimento urbano, ou da discussão de um fl uxo de ações que articuladas possam levar à realização de um cenário planejado, favorece a utilização das intervenções em andamento nas três cidades citadas, como oportunidade para observação de como os processos relacionados

267Urbanização e estratégias de desenvolvimento no Pará: da ocupação ribeirinhaaos Assentamentos Precários”

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

à periferização e segregação socioespacial, expostos na literatura sobre as cidades brasileiras, são manifestos nas cidades paraenses. Em Belém foram elencadas três obras com condições de consolidação ou integração à cidade pré-existente diferentes5, todas localizadas em áreas alagáveis, com ocupação de margens de rios. A primeira está inserida no centro metropolitano, dentro da Primeira Légua patrimonial de Belém, em baixada ocupada a partir dos anos 1960, e que já foi alvo de investimentos do Projeto Cura e do Habitar Brasil BID, chamada de Tucunduba; a segunda é adjacente a uma área consolidada, a histórica Vila de Icoaraci, mas distante do centro metropolitano, chamada de Taboquinha; a terceira localizada em área de expansão de Belém e área ambientalmente protegida, de ocupação mais recente e caráter periurbano, e relativamente distante de áreas consolidadas, chamada Pratinha (ver Figura 3).

Em Castanhal uma intervenção foi selecionada, trata-se de ocupação realizada nos anos 1980, e de caráter periurbano que envolve uma área de preservação, e apresenta problemas sociais diversos decorrentes da forma como a ação é conduzida. Em Marabá a área objeto de intervenção foi recomendada por estudos prévios6, para receber infraestrutura, foi reconhecida como área de interesse social e cultural no plano diretor do município, mas por ser adjacente ao centro comercial do núcleo original da cidade, sofre constante pressão do mercado imobiliário, e não há garantias de que não ocorra gentrifi cação após as intervenções (ver Figuras 4 e 5).

A análise das intervenções é exposta a seguir em quadros analíticos dedicados a cada obra e estruturados a partir das variáveis de análises apresentadas na seção anterior. Os Quadros 2A, 2B e 2C (nos quais estão inseridas as fi guras 6 a 11) apresentam as obras da bacia do Tucunduba, das comunidades Taboquinha e Pratinha respectivamente, localizadas em Belém. O Quadro 2D (em que estão inseridas as fi guras 12 e 13) representa a obra do Cabelo Seco, localizada em Marabá e o Quadro 2E (com as fi guras 14 e 15) apresenta a obra da comunidade Jaderlândia localizada em Castanhal.

5 A intensidade da ocupação informal em Belém detectada no Relatório do IBGE (2012) indica que seriam necessárias décadas de ação continuada de urbanização dos assentamentos precários na cidade.

6 A área selecionada foi indicada como prioritária para investimentos pelo projeto GeoMarabá (RAIOL, 2010) e pelo Diagnóstico do Plano Diretor Participativo de Marabá (UFPA; PMM, 2005) situação incomum na experiência de seleção das obras do PAC.

Ana Cláudia Duarte Cardoso • Glaydson de Jesus Cordovil Pereira • Marcília Regina Gama Negrão268

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

Figura 3. Localização das áreas estudos de caso, adaptado a partir de mapa de assentamentos precários na cidade de Belém.

Fonte: Belém (2008).

269Urbanização e estratégias de desenvolvimento no Pará: da ocupação ribeirinhaaos Assentamentos Precários”

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

Figura 4. Localização da comunidade Jaderlândia, na cidade de Castanhal, adaptado a partir de imagem do Google Maps.

Fonte: GOOGLE, 2012. Ilustração: Alex Bandeira.

Figura 5. Localização do bairro Cabelo Seco, na cidade de Marabá, adaptado a partir de mapa rodoviário em www.transportes.gov.br

Fonte: Brasil (2012). Ilustração: Alex Bandeira.

Ana Cláudia Duarte Cardoso • Glaydson de Jesus Cordovil Pereira • Marcília Regina Gama Negrão270

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

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271Urbanização e estratégias de desenvolvimento no Pará: da ocupação ribeirinhaaos Assentamentos Precários”

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

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ulad

os 1

.410

imóv

eis

Ocu

paçã

o in

serid

a no

ba

irro

do

Cruz

eiro,

na

Vila

de

Icoa

raci,

dist

rito

de B

elém

(Fig.

08)

, que

con

ta c

om c

erta

au

tono

mia

de f

unçõ

es, e

boa

ofe

rta d

e fo

ntes

de

rend

a pa

ra a

pop

ulaç

ão d

a oc

upaç

ão.

A

área

es

sujei

ta

a ala

gam

ento

s em

fu

nção

do

m

ovim

ento

da

s m

arés

. O

ig

arap

é Ta

boqu

inha

po

ssui

na

vega

bilid

ade

e há

tráf

ego

de p

eque

nas

emba

rcaç

ões t

ípica

s da r

egião

amaz

ônica

. A

áre

a ala

gada

era

ocu

pada

por

palafi t

as,

form

ando

um

mio

lo ci

rcun

dado

por

ruas

e

tipol

ogias

for

mais

. A p

opul

ação

rea

ge

à ex

tens

ão d

e ár

eas a

sere

m re

cupe

rada

s, se

m

com

pree

nder

as

de

term

inaç

ões

ambi

enta

is. A

s sit

uaçõ

es d

e su

b-lo

caçã

o e

aden

sam

ento

int

enso

são

des

afi o

s ao

eq

uacio

nam

ento

da

ação

.

Ass

enta

men

to i

nser

ido

no s

etor

A

da

Orla

: Áre

a de

inte

ress

e pa

ra

fi ns

de

recu

pera

ção

urba

níst

ica

e pa

isagí

stica

, da

Z

ona

do

Am

bien

te U

rban

o (Z

AU 3

Set

or

I), q

ue c

arac

teriz

a-se

pelo

traç

ado

regu

lar,

com

vias

lar

gas,

gran

des

lote

s, po

uca

verti

caliz

ação

, eix

o co

mer

cial

e de

se

rviço

s de

senv

olvi

dos

ao

long

o da

vi

a pr

incip

al,

pote

ncial

tu

rístic

o e

cultu

ral,

orla

parc

ialm

ente

ur

bani

zada

co

m

ativ

idad

es

portu

árias

, de

laz

er

e tu

rism

o,

ocup

açõe

s irr

egul

ares

, ha

bita

ções

pr

ecár

ias (B

ELÉ

M, 2

008)

.E

ntre

os

ob

jetiv

os

e di

retri

zes

esta

belec

idos

no

PDU

200

8 pa

ra

a Z

AU 3

Set

or I

est

ão: e

stim

ular

e

cons

olid

ar o

uso

hab

itacio

nal,

melh

orar

a in

frae

stru

tura

urb

ana

e re

qualifi c

ar a

orla

deg

rada

da.

Qua

nto

aos

parâ

met

ros

indi

cado

s no

PD

U

2008

, o

proj

eto

está

em

co

nfor

mid

ade

com

o

que

prec

oniz

a a

lei,

e tra

balh

a o

Zon

eam

ento

de

pr

iorid

ades

“i

nclu

dent

e” (S

OU

ZA

, 201

0), m

as

que

se n

ão c

onta

r co

m p

rojet

o e

gest

ão

com

patív

eis

com

as

ne

cess

idad

es d

os h

abita

ntes

, irá

m

eram

ente

viab

iliza

r a

abso

rção

da

ár

ea

pelo

un

iver

so

form

al,

após

int

rodu

ção

de n

ovo

padr

ão

e tip

olog

ias

habi

tacio

nais,

e

alter

ação

da

s co

ndiçõ

es

de

traba

lho

med

iadas

pelo

rio

(pes

ca,

esta

leiro

s)

Ado

ta

com

o so

luçã

o es

pacia

l a

retifi

caç

ão

do

parc

elam

ento

pr

é-ex

isten

te e

a c

onst

ruçã

o de

978

UH

co

m ti

polo

gia p

redo

min

ante

de b

loco

s de

apa

rtam

ento

de

02 p

avim

ento

s (F

ig. 0

9),

com

qui

ntais

ind

ivid

uais,

as

sem

elhad

as à

tipo

logi

a de

con

junt

os

popu

lares

con

stru

ídos

pelo

pro

gram

a PA

R (P

rogr

ama

de

Arr

enda

men

to

Resid

encia

l) da

CA

IXA

.

Figu

ra

9.

Fach

adas

do

s bl

ocos

ha

bita

ciona

is.

Fo

to: A

lber

is Li

ns, 2

011

O

proj

eto

prev

ê a

retir

ada

da

popu

lação

que

hab

itava

as

mar

gens

do

ig

arap

é, e

seu

rem

aneja

men

to

para

as

nova

s U

H; a

s m

arge

ns e

ram

de

nsam

ente

ocu

pada

s po

r pa

lafi ta

s. N

a ár

ea

de

pres

erva

ção

estã

o pr

opos

tas

“áre

as

de

conv

ivên

cia”

ao l

ongo

do

igar

apé

e co

nstr

ução

de

tra

pich

es

móv

eis

de

apoi

o às

at

ivid

ades

liga

das a

o rio

.A

pesa

r de

o

proj

eto

ter

busc

ado

man

ter

as e

stra

tégi

as d

e su

bsist

ência

e

relaç

ões

de

vizi

nhan

ça,

com

re

man

ejam

ento

par

a ár

eas

próx

imas

, ain

da n

ão h

á av

aliaç

ão d

o im

pact

o da

mud

ança

tipo

lógi

ca d

as h

abita

ções

so

bre

a po

pulaç

ão re

man

ejada

.

A

ocup

ação

da

co

mun

idad

e Ta

boqu

inha

fo

i es

trut

urad

a a

parti

r da

s di

vers

as

poss

ibili

dade

s de

util

izaç

ão d

o rio

com

o fo

nte

de

gera

ção

de re

nda.

Ess

a es

traté

gia

de

ocup

ação

crio

u um

a fo

rte r

elaçã

o do

s m

orad

ores

co

m

o lo

cal,

a po

nto

de a

pop

ulaç

ão r

esist

ir ao

re

man

ejam

ento

, ain

da

que,

para

um

a ár

ea p

róxi

ma,

sob

pena

de

ter

o se

u su

sten

to a

mea

çado

com

ess

e af

asta

men

to d

a su

a pr

incip

al fo

nte

de r

enda

. Out

ro p

onto

impo

rtant

e é

quan

to

a su

bstit

uiçã

o da

s pa

lafi ta

s pela

tipo

logi

a de

blo

cos d

e ap

arta

men

tos,

mais

ass

emelh

ada

às

tend

ência

s do

mer

cado

imob

iliár

io

volta

das

a um

a fa

míli

a pa

drão

(5

mem

bros

, co

m v

íncu

lo f

orm

al de

tra

balh

o),

com

plet

amen

te

dist

inta

do

s pe

rfi s

sócio

-eco

nôm

icos

exist

ente

s.A

s in

terv

ençõ

es

urba

nas

em

asse

ntam

ento

s pr

ecár

ios

estã

o re

lacio

nada

s co

m o

s pr

oces

sos

de

expa

nsão

urb

ana

hom

ogen

eizan

te,

oper

ados

pelo

capi

tal.

A p

rovi

são

de

infr

aest

rutu

ra b

ásica

e p

rodu

ção

de

habi

taçã

o, s

ubst

ituin

do a

s pa

lafi ta

s ex

isten

tes

por

outra

s tip

olog

ias,

reco

difi c

am a

s ár

eas

segr

egad

as d

a cid

ade,

inse

rindo

-as

no

mer

cado

im

obili

ário

(RO

LNIK

, 201

1).

É

prec

iso

refl e

tir

sobr

e at

é on

de

as

inte

nçõe

s de

pr

ojet

o ga

rant

irão

a su

sten

tabi

lidad

e do

em

pree

ndim

ento

.

Inse

rção

na

cid

ade

Figu

ra 8

. Fon

te: I

mag

em e

dita

da a

par

tir d

e CO

HA

B, 2

011

Ana Cláudia Duarte Cardoso • Glaydson de Jesus Cordovil Pereira • Marcília Regina Gama Negrão272

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

Qua

dro

2 C

– A

nális

e de

inse

rção

de

proj

etos

hab

itacio

nais

e ur

baní

stico

s do

PAC

no P

ará

Var

iáve

is

/P

roje

toSi

tuaç

ão F

un

diá

ria

Pad

rões

de

uso

e o

cup

ação

do

solo

Reg

ula

ção

urb

anís

tica

e

gest

ãoP

roje

toP

oten

cial

de

con

solid

ação

so

cial

, am

bie

nta

l e u

rban

ísti

ca

Comunidade Pratinha (Belém)

Ocu

paçã

o in

form

al in

iciad

a na

cada

de

1980

às

mar

gens

do

igar

apé

Mat

a Fo

me.

A t

itulaç

ão d

os i

móv

eis p

ara

as

2.20

6 fa

míli

as b

enefi

ciad

as p

elo

proj

eto

enfr

enta

m

impa

sse,

em

funç

ão d

o PD

U 2

008

não

perm

itir

qualq

uer u

so n

a ár

ea, u

ma

vez

que

se tr

ata

de u

ma

Zon

a E

spec

ial d

e In

tere

sse

Am

bien

tal (

ZE

IA).

Não

há c

omo

faze

r a re

gular

izaç

ão

fund

iária

da ár

ea em

conf

orm

idad

e co

m a

legi

slaçã

o vi

gent

e.Re

cai-s

e, de

ssa

form

a, nu

m v

elho

nó q

ue é

a q

uest

ão d

a pr

oprie

dade

da

ter

ra n

o Br

asil

(MA

RICA

TO,

2011

)

Ocu

paçã

o lo

caliz

ada

no

Dist

rito

do

Beng

uí e

lim

ite e

ntre

os

bairr

os d

o Ta

panã

e d

a Pr

atin

ha (F

igur

a 10

). To

da

a ár

ea

foi

ocup

ada

info

rmalm

ente

. Pr

oxim

idad

e co

m

a ro

dovi

a A

rthur

Be

rnar

des

e a

usos

indu

stria

is. A

s ru

as

eram

alag

áveis

e d

e di

fícil

aces

so.

As

casa

s er

am e

m s

ua m

aioria

bar

raco

s de

m

adeir

a, de

spro

vido

s de

aba

stec

imen

to

de á

gua,

siste

ma

de e

sgot

o, e

red

e de

en

ergi

a elé

trica

.Re

petiu

-se

na

área

o

padr

ão

de

ocup

ação

de

terr

as q

ue n

ão in

tere

ssam

ao

m

erca

do

imob

iliár

io

por

sere

m

próx

imas

a á

reas

de

ecos

siste

ma

frág

il e

sobr

e as

qua

is in

cide

a leg

islaç

ão d

e pr

oteç

ão

ambi

enta

l (M

ARI

CATO

, 20

11)

Áre

a in

serid

a em

Zon

a E

spec

ial

de In

tere

sse

Am

bien

tal (

ZE

IA) d

a m

acro

zona

do

Am

bien

te U

rban

o (Z

AU 4

), a

qual

cara

cter

iza-

se p

or

cont

erem

nas

cent

es e

cab

eceir

as

de c

urso

s d’

água

que

com

põem

as

Bac

ias H

idro

gráfi

cas

de

Belém

(B

ELÉ

M,

2008

), no

ca

so

em

ques

tão

a ba

cia d

o M

ata

Fom

e.Se

gund

o o

PDU

(BE

LÉM

, 200

8),

na

ZE

IA

“..n

enhu

m

uso

será

pe

rmiti

do..”

O ca

so ap

rese

nta fl

agr

ante

confl

ito

entre

obj

etiv

os d

o pl

ano

mun

icipa

l e

ação

es

tadu

al,

resu

ltand

o no

im

pass

e so

bre

a re

gular

izaç

ão

fund

iária

do as

sent

amen

to p

opul

ar

objet

o de

inte

rven

ção

pelo

pod

er

públ

ico.

Ess

a sit

uaçã

o de

nota

a

desa

rticu

lação

ent

re o

s 3

níve

is do

pod

er p

úblic

o na

con

duçã

o da

s po

lítica

s ur

bana

s vo

ltada

s à

habi

taçã

o. A

pre

ssa

que

mot

ivou

a

subm

issão

da

s pr

opos

tas

do

gove

rno

esta

dual

ao

gove

rno

fede

ral

levou

à d

esco

nsid

eraç

ão

da

legisl

ação

ur

baní

stica

qu

e re

ge

a cid

ade.

A

m

obili

zaçã

o da

co

mun

idad

e vi

ncul

ada

ao

Mov

imen

to N

acio

nal d

e Lu

ta p

ela

Mor

adia,

fez

com

que

a á

rea

foss

e ab

sorv

ida

pela

agen

da e

stad

ual,

apes

ar

da

ocup

ação

re

cent

e. O

bser

ve-s

e qu

e po

r oc

asião

da

seleç

ão d

as á

reas

o d

iagnó

stico

do

Plan

o E

stad

ual

de H

abita

ção

de

Inte

ress

e So

cial

ainda

o ha

via

sido

conc

luíd

o, n

em d

e se

u eq

uiva

lente

mun

icipa

l.

Ênf

ase

na p

rodu

ção

de h

abita

ção,

com

so

luçã

o es

pacia

l bas

eada

na r

etifi

caçã

o do

pa

rcela

men

to p

ré-e

xist

ente

e c

onst

ruçã

o de

350

Uni

dade

s H

abita

ciona

is (U

H)

com

ár

ea

mín

ima

(39

m2)

(F

ig.

11)

asse

melh

adas

à t

ipol

ogia

de c

onju

ntos

po

pular

es

cons

truí

dos

na

déca

da

de

1970

.Fi

gura

11.

Fac

hada

da

casa

tipo

das

UH

.

Foto

: Glay

dson

Per

eira,

2011

um d

esco

mpa

sso

de 0

2 an

os e

ntre

o

iníci

o da

ex

ecuç

ão

do

proj

eto

de

inte

rven

ção

física

e

a co

ncep

ção

do

Trab

alho

Técn

ico S

ocial

, o q

ue d

ifi cu

lta

a su

sten

tabi

lidad

e do

em

pree

ndim

ento

.O

tra

tam

ento

das

Áre

as d

e Pr

oteç

ão

Perm

anen

te –

APP

, lim

itou-

se à

ret

irada

da

pop

ulaç

ão d

as m

arge

ns d

o ig

arap

é e

seu

rem

aneja

men

to p

ara

as n

ovas

UH

, im

plan

taçã

o de

vi

as

mar

gina

is co

m

ilum

inaç

ão p

úblic

a, e

criaç

ão d

e “á

reas

de

con

vivê

ncia”

ao

long

o do

iga

rapé

. A

s lim

itaçõ

es d

as a

ções

de

prot

eção

das

A

PP r

efl e

tem

as

limita

ções

fi n

ance

iras

do

prog

ram

a de

fi n

ancia

men

to

da

inte

rven

ção

(que

pre

vê 5

% p

ara

açõe

s de

recu

pera

ção

ambi

enta

l).

A

ocup

ação

or

igin

al da

ár

ea

foi

mot

ivad

a pe

la pr

oxim

idad

e do

rio

. Co

m o

des

mat

amen

to d

as m

arge

ns,

ocor

reu

o as

sore

amen

to

do

rio,

que

deix

ou d

e se

r na

vegá

vel e

apó

s co

ntam

inaç

ão d

eixou

de

ser p

iscos

o.

A p

artir

daí

a co

mun

idad

e pe

rdeu

a

cone

xão

com

o ri

o e

pass

ou a

bus

car

font

es d

e re

nda

urba

nas

assu

min

do

uma

cond

ição

perif

érica

con

ecta

da

à cid

ade

apen

as p

ela R

od.

Arth

ur

Bern

arde

s. A

inte

rven

ção

em c

urso

cr

iou

uma

nova

con

exão

(co

m a

Ru

a Ya

mad

a) p

or m

eio d

a Ru

a Jo

hn

Eng

elhar

d,

onde

se

lo

caliz

am

o co

mér

cio e

ser

viço

s da

áre

a. A

pós

a im

plan

taçã

o de

infr

aest

rutu

ra h

ouve

au

men

to d

o trá

fego

de v

eícul

os n

essa

vi

a, e

o ca

ráte

r de

rua

prin

cipal

já ex

isten

te d

a vi

a fo

i ref

orça

do. E

ssas

no

vas

cone

xões

est

ão p

ropi

ciand

o a

intro

duçã

o de

nov

os u

sos,

e de n

ovas

tip

olog

ias q

ue p

erm

item

o a

cess

o de

tra

nspo

rte c

olet

ivo

e a

melh

oria

dos

serv

iços

ofer

tado

s à

popu

lação

(c

olet

a de

lixo

, pol

iciam

ento

). E

ssas

ões

refl e

tem

o in

ício

do p

roce

sso

de a

ssim

ilaçã

o da

áre

a pe

la cid

ade,

vist

o qu

e to

da a

áre

a de

exp

ansã

o de

Belé

m e

ncon

tra-s

e so

b fo

rte a

ção

do m

erca

do im

obili

ário

, alte

rand

o a

cond

ição

de is

olam

ento

ant

erio

r.

Inse

rção

na

cid

ade

Figu

ra 1

0. F

onte

: Im

agem

edi

tada

a p

artir

de

COH

AB,

201

1.

273Urbanização e estratégias de desenvolvimento no Pará: da ocupação ribeirinhaaos Assentamentos Precários”

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

Qua

dro

2 D

– A

nális

e de

inse

rção

de

proj

etos

hab

itacio

nais

e ur

baní

stico

s do

PAC

no P

ará

Var

iáve

is

/P

roje

toSi

tuaç

ão F

un

diá

ria

Pad

rões

de

uso

e o

cup

ação

do

solo

Reg

ula

ção

urb

anís

tica

e g

estã

oP

roje

toP

oten

cial

de

con

solid

ação

so

cial

, am

bie

nta

l e

urb

anís

tica

Urbanização do bairro Cabelo Seco (Marabá)

O

bairr

o Fr

ancis

co

Coelh

o,

popu

larm

ente

co

nhec

ido

com

o “C

abelo

Sec

o” f

oi o

núcle

o da

cid

ade

de M

arab

á,dist

ante

560

Km

de

Belé

m.

O C

abelo

Sec

o es

tá l

ocali

zado

na

confl

uên

cia

dos

rios

Itaca

iuna

s e

Toca

ntin

s (F

igur

a 12

). A

áre

a se

lo

caliz

a, po

rtant

o,

em

terr

as

de

Mar

inha

, est

ando

suj

eita

à ge

stão

da

Secr

etar

ia de

Pat

rimôn

io d

a U

nião

SPU

(BRA

SIL,

200

9).

O

proc

esso

de

re

gular

izaç

ão

fund

iária

benefi c

iará

1.12

0 fa

míli

as,

entre

tant

o,

o pr

oces

so

ainda

o fo

i in

iciad

o pe

la SE

IDU

RB,

o qu

e re

tard

ará

ainda

m

ais

a co

nclu

são

do e

mpr

eend

imen

to,

em e

xecu

ção

desd

e 20

08.

O p

roce

sso

de o

cupa

ção

do C

abelo

Se

co d

eu o

rigem

à c

idad

e de

Mar

abá,

no

ano

de

1898

, e

foi

mot

ivad

o pe

la bo

a ac

essib

ilida

de fl u

vial

prop

orcio

nada

pelo

s rio

s To

cant

ins

e Ita

caiu

nas.

Hoj

e es

adjac

ente

ao

pr

incip

al ce

ntro

co

mer

cial

da

cidad

e, qu

e of

erec

e em

preg

os a

sua

po

pulaç

ão,

asso

ciado

s a

ativ

idad

es

tais

com

o pe

sca,

lavag

em d

e ro

upa

e co

nser

to d

e em

barc

açõe

s. A

áre

a é

pref

erid

a po

r po

pulaç

ão a

dvin

da

de c

idad

es r

ibeir

inha

s pr

óxim

as e

de

outro

s es

tado

s co

mo

o M

aran

hão.

A

mor

adia

tipo

palafi

ta fo

i a fo

rma

que

a po

pulaç

ão e

ncon

trou

para

se fi x

ar

no l

ocal

e en

fren

tar

os a

lagam

ento

s sa

zona

is pr

ovoc

ados

pela

s ch

eias

dos

rios.

O C

abelo

Sec

o es

tá in

serid

o nu

ma Z

ona

Esp

ecial

de

Inte

ress

e So

cial

– Z

EIS

, de

stin

ada

prim

ordi

almen

te à

pro

duçã

o e

man

uten

ção

de h

abita

ção

de in

tere

sse

socia

l (M

ARA

BÁ,

2006

). A

ocu

paçã

o es

tá lo

caliz

ada

abaix

o da

cot

a 84

,00

m

(Art.

14,

§ 2

º) qu

e, se

gund

o o

PDPM

20

06,

limita

“á

rea

não

edifi

cáve

l”,

prio

rizan

do a

inc

lusã

o do

s m

orad

ores

de

ssas

áre

as e

m p

rojet

os h

abita

ciona

is pa

ra a

pop

ulaç

ão d

e ba

ixa

rend

a.O

Plan

o D

ireto

r rem

ete a

um

a fut

ura L

ei de

Uso

e O

cupa

ção

do S

olo,

a Pl

anos

de

Urb

aniz

ação

esp

ecífi

cos

para

as

Zon

as

Esp

eciai

s de

Int

eres

se S

ocial

(Z

EIS

) e

ao P

lano

Mun

icipa

l de

Hab

itaçã

o, q

ue

pode

tra

zer

parâ

met

ros

adici

onais

aos

fi x

ados

no

m

acro

zone

amen

to.

Est

es

inst

rum

ento

s nã

o fo

ram

elab

orad

os a

o m

omen

to (M

ERC

ÊS,

200

9).

O p

rojet

o es

tá e

m d

esac

ordo

com

o

que

prec

oniz

a a

lei,

pois

a ár

ea o

nde

serã

o co

nstr

uída

s as

UH

, fi c

ará

situa

da

na c

ota

82,1

5 m

. Ent

reta

nto,

seg

undo

cnico

da

SED

URB

que

tra

balh

ou n

a ela

bora

ção

do p

rojet

o, h

ouve

um

err

o de

men

sura

ção

da c

ota

para

refe

renc

iá-la

no P

DPM

200

6, q

ue d

ever

ia se

r 82

,00

m. A

int

erve

nção

bas

eou-

se e

m

relat

ório

s am

bien

tais

dese

nvol

vido

s par

a a

cidad

e, e

na c

ondi

ção

de p

reca

rieda

de

sani

tária

em

que

viv

ia a

popu

lação

e n

o fa

to d

o m

unicí

pio

cont

ar c

om r

ecur

sos

do D

NIT

par

a co

nstr

uir m

uro

ao lo

ngo

de t

oda

a or

la da

cid

ade,

sem

diál

ogo

com

a p

opul

ação

.

Ado

ta

com

o so

luçã

o es

pacia

l a

melh

oria

de i

nfra

estr

utur

a pa

ra 1

.040

un

idad

es,

cons

truç

ão

de

mur

o de

ar

rimo

no p

erím

etro

da

área

ond

e se

rão

cons

truí

das

80 U

H,

após

ser

ate

rrad

a at

é a

cota

82,

15 m

, co

m t

ipol

ogia

de

bloc

os d

e ap

arta

men

to d

e 02

pav

imen

tos

(Fig

ura

13),

com

qu

inta

is in

divi

duais

, as

sem

elhad

as à

tip

olog

ia de

con

junt

os

popu

lares

co

nstr

uído

s pe

lo

prog

ram

a PA

R da

CA

IXA

.Fi

gura

13.

Fac

hada

das

UH

.

Foto

: Glay

dson

Per

eira,

2011

O p

rojet

o de

man

dou

um g

rand

e vo

lum

e de

ate

rro

para

viab

iliza

r a

cons

truç

ão

dos

bloc

os

habi

tacio

nais,

su

prim

indo

in

clusiv

e um

a gr

ota

que,

no

proj

eto

orig

inal,

seria

man

tida.

Hou

ve m

udan

ça n

o m

odo

de m

orar

da

pop

ulaç

ão,

com

a s

ubst

ituiçã

o da

s pa

lafi ta

s pe

la tip

olog

ia de

bl

ocos

de

ap

arta

men

tos,

e m

udan

ça n

a re

lação

de

aces

so a

os ri

os, e

m fu

nção

da

cons

truç

ão

do m

uro

de a

rrim

o, s

endo

que

, nã

o fo

i ap

rese

ntad

a so

luçã

o es

pacia

l pa

ra

man

uten

ção

das

ativ

idad

es

gera

dora

s de

ren

da d

os h

abita

ntes

, com

o a

pesc

a, co

nser

to d

e em

barc

açõe

s e

lavag

em d

e ro

upa.

A

ocup

ação

do

Ca

belo

Se

co

foi

mot

ivad

a pe

la gr

ande

ac

essib

ilida

de fl u

vial

prop

orcio

nada

pe

los

rios

Itaca

iuna

s e

Toca

ntin

s e

pelas

di

vers

as

poss

ibili

dade

s de

ut

iliza

ção

dess

es

rios

com

o fo

nte

de

gera

ção

de

rend

a. E

ssa

estra

tégi

a de

oc

upaç

ão

crio

u um

a fo

rte r

elaçã

o do

s m

orad

ores

co

m

o lo

cal,

a po

nto

de a

pop

ulaç

ão r

esist

ir ao

s ala

gam

ento

s pe

riódi

cos

da á

rea,

sob

pena

de

ter

o se

u su

sten

to

amea

çado

co

m

o af

asta

men

to d

a su

a pr

incip

al fo

nte

de

rend

a. N

esse

se

ntid

o,

a m

udan

ça

oper

ada

por

meio

da

subs

titui

ção

das

palafi

tas

pela

tipol

ogia

de

bloc

os d

e ap

arta

men

tos,

mais

as

sem

elhad

a às

ten

dênc

ias d

o m

erca

do

imob

iliár

io

volta

das

a um

a fa

míli

a pa

drão

co

m

vínc

ulos

for

mais

de

traba

lho,

be

m c

omo

a eli

min

ação

das

ár

eas

onde

era

m r

ealiz

adas

as

ativ

idad

es in

form

ais d

e re

nda,

em f

unçã

o do

ate

rro

da á

rea

peni

nsul

ar e

da

cons

truç

ão d

o m

uro

de

arrim

o,

que

criam

ba

rreir

as

física

s de

ac

esso

ao

rio

, po

dem

pr

ecip

itar

a ge

ntrifi

caç

ão d

essa

áre

a, da

da a

pr

essã

o do

mer

cado

imob

iliár

io

(SM

ITH

, 19

96),

ocas

iona

da

pela

vist

a ex

cepc

iona

l do

rio.

Inse

rção

na

cid

ade

Figu

ra 1

2. D

elim

itaçã

o da

áre

a de

int

erve

nção

do

proj

eto,

a p

artir

de

foto

mon

tage

m.

Font

e: SE

IDU

RB, 2

011.

Ana Cláudia Duarte Cardoso • Glaydson de Jesus Cordovil Pereira • Marcília Regina Gama Negrão274

Novos Cadernos NAEA • v. 16 n. 2 • p. 255-279 • dez. 2013

Qua

dro

2 E

– A

nális

e de

inse

rção

de

proj

etos

hab

itacio

nais

e ur

baní

stico

s do

PAC

no P

ará

Var

iáve

is

/P

roje

toSi

tuaç

ão F

un

diá

ria

Pad

rões

de

uso

e o

cup

ação

do

solo

Reg

ula

ção

urb

anís

tica

e

gest

ãoP

roje

toP

oten

cial

de

con

solid

ação

so

cial

, am

bie

nta

l e

urb

anís

tica

Comunidade Jaderlândia (Castanhal)

Áre

a oc

upad

a no

s an

os 1

980

parte

de

um e

mpr

eend

imen

to d

a CO

HA

B/PA

no

mun

icípi

o de

Cas

tanh

al (a

73

Km

de

Belé

m),

ocup

ado

ilega

lmen

te a

ntes

da

pro

visã

o de

infr

aest

rutu

ra, p

róxi

mo

às m

arge

ns d

o ig

arap

é Pi

tem

ande

ua.

(Fig

ura

14)

A r

egul

ariz

ação

fun

diár

ia de

im

óveis

pa

ra a

s 45

0 fa

míli

as b

enefi

ciad

as e

stá

prev

ista

no

proj

eto,

en

treta

nto,

o

proc

esso

ain

da n

ão fo

i ini

ciado

mes

mo

para

as u

nida

des q

ue já

fora

m en

tregu

es

à pop

ulaç

ão.

Ess

a dem

ora n

o in

ício

do

proc

esso

é um

gar

galo

par

a a co

nclu

são

dos e

mpr

eend

imen

tos,

devi

do ao

long

o te

mpo

dem

anda

do p

ara

a ob

tenç

ão d

o do

cum

ento

de

tit

ular

idad

e so

bre

o im

óvel.

Dife

rent

emen

te d

e ou

tras

ocup

açõe

s qu

e se

dão

às

mar

gens

de

curs

os

d’ág

ua

em

área

s pe

rifér

icas

das

cidad

es,

a oc

upaç

ão d

a Co

mun

idad

e Ja

derlâ

ndia

não

se d

eu e

m f

unçã

o da

s po

ssib

ilida

des

de d

iver

sas

font

es

de r

enda

ger

adas

pelo

rio

, po

is o

igar

apé

Pite

man

deua

não

é n

aveg

ável,

ta

mpo

uco

é pi

scos

o na

ár

ea

do

asse

ntam

ento

.A

ár

ea,

quan

do

do

iníci

o de

su

a oc

upaç

ão n

a dé

cada

de

1980

tin

ha

cara

cter

ística

s pe

riurb

anas

, se

ndo,

po

rtant

o de

po

uco

inte

ress

e ao

m

erca

do

imob

iliár

io

naqu

ele

mom

ento

(M

ARI

CATO

, 20

11).

Hav

ia um

a in

terv

ençã

o da

CO

HA

B,

de

prov

isão

de

lote

s ur

bani

zado

s, oc

upad

os il

egalm

ente

pela

pop

ulaç

ão

ante

s de

sua

conc

lusã

o.

Áre

a in

serid

a em

um

a Z

ona

Pred

omin

ante

men

te

Resid

encia

l (Z

PR).

As

ZPR

ca

ract

eriz

adas

po

r se

rem

ár

eas

e fr

agm

ento

s ur

bano

s de

stin

adas

ao

us

o re

siden

cial

com

pr

edom

inân

cia

de

habi

taçõ

es

unifa

mili

ares

e

mul

tifam

iliar

es,

com

den

sidad

es

cons

trut

ivas

e

popu

lacio

nais

variá

veis,

div

ersifi

caç

ão ti

poló

gica

e

class

ifi ca

ção

viár

ia lo

cal.

(CA

STA

NH

AL,

200

6)A

ocu

paçã

o es

tá a

inda

ins

erid

a em

um

a em

: AC

ITE

- Á

rea

da

Cida

de d

e Tr

ansiç

ão e

Exp

ansã

o U

rban

a (q

ue é

um

a su

bdiv

isão

da

AE

IU-Á

rea

Esp

ecial

de

Inte

ress

e U

rban

ístico

), re

pres

enta

ndo

uma

parc

ela m

enor

da

zona

urb

ana,

para

apl

icaçã

o do

s in

stru

men

tos

urba

níst

icos

prev

istos

. (C

AST

AN

HA

L, 2

006)

.A

pesa

r da

área

ond

e es

tá in

serid

a a

Com

unid

ade

Jade

rlând

ia es

tar

devi

dam

ente

enq

uadr

ada

quan

to

ao

zone

amen

to

e ár

eas

de

inte

ress

e, a

legisl

ação

não

ind

ica

quais

os

ob

jetiv

os

e di

retri

zes

que

deve

riam

or

ienta

r ta

is in

stru

men

tos,

tam

pouc

o tra

ta

sobr

e oc

upaç

ões

às m

arge

ns d

e cu

rsos

d’

água

. Co

nsid

eran

do

ainda

est

ar i

nser

ido

num

a Z

PR,

o pr

ojet

o nã

o ap

rese

nta

uso

inco

mpa

tível

com

o p

revi

sto

no

PDPC

200

6.

Ado

ta co

mo

solu

ção

espa

cial a

retifi

caç

ão d

o pa

rcela

men

to p

ré-e

xist

ente

e a

con

stru

ção

de 3

50 U

H c

om t

ipol

ogia

de c

asas

de

área

m

ínim

a (3

9 m

2) (F

igur

a 15

) ass

emelh

adas

à

tipol

ogia

de co

njun

tos p

opul

ares

cons

truí

dos

na d

écad

a de

197

0.Fi

gura

15

. Fa

chad

as

da

Uni

dade

s H

abita

ciona

is tip

o.

Foto

: Glay

dson

Per

eira,2

011

um d

esco

mpa

sso

de 0

3 an

os e

ntre

o

iníci

o da

exe

cuçã

o do

pro

jeto

de in

terv

ençã

o fís

ica

e o

Trab

alho

Técn

ico

Socia

l (C

ARD

OSO

, N

EG

RÃO

e

PERE

IRA

, 20

11),

o qu

e difi c

ulta

a s

uste

ntab

ilida

de d

o em

pree

ndim

ento

.O

bser

vou-

se q

ue a

s m

arge

ns d

o Ig

arap

é Pi

tem

ande

ua

não

eram

oc

upad

as,

em

funç

ão d

o fo

rte p

roce

sso

de e

rosã

o qu

e já

avan

ça e

m d

ireçã

o às

áre

as o

cupa

das.

Fora

m

repe

tidas

as m

edid

as a

dota

das p

ela C

OH

AB

para

out

ros

empr

eend

imen

tos

em e

xecu

ção

em B

elém

, ta

is co

mo

impl

anta

ção

de v

ias

mar

gina

is, c

onst

ruçã

o de

pra

ças

e de

um

a E

TE,

visa

ndo

elim

inar

os

lança

men

tos

in

natu

ra n

o rio

.

A o

cupa

ção

da á

rea

não

foi

mot

ivad

a pe

la co

nexã

o co

m o

rio

, po

is a

popu

lação

bus

cava

fo

ntes

de

re

nda

urba

nas

assu

min

do

uma

cond

ição

perif

érica

, co

nect

ada

à cid

ade

apen

as p

ela B

R 31

6.A

pro

visã

o de

inf

raes

trut

ura

está

alte

rand

o a

aces

sibili

dade

da

co

mun

idad

e, en

treta

nto,

mov

imen

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CONCLUSÕES

As intervenções adjacentes às áreas consolidadas apresentam soluções de projeto baseadas em tipologias que permitem maior densidade, maior integração com o sistema viário, e exposição a usos não habitacionais e serviços. No caso do Tucunduba assumiu-se uma condição completamente urbana, em que a construção de vias marginais ao longo do rio prevalece à recomposição de matas ciliares. De forma similar a construção do muro de arrimo na orla de Marabá assume uma transformação completa da margem do rio, e abre espaço para a ampliação da faixa de orla da cidade, que já é usada como espaço de lazer e entretenimento. No caso da comunidade Taboquinha ainda foi possível introduzir o tratamento ambiental da margem do rio na proposta, mas a própria população questiona a recomposição de áreas verdes e a substituição das palafi tas por blocos de apartamentos.

Nas comunidades mais afastadas das áreas centrais, como a Pratinha e a Jaderlândia, observa-se um padrão de ocupação de transição, mais próximo do modo de vida periurbano, presente na maioria das cidades da região. Essas áreas estão menos sujeitas às pressões do mercado imobiliário, contam com densidades mais baixas e espaço para recompor a margem dos rios, mas não contam com recursos sufi cientes para recuperação da natureza.

As desarticulações entre condição fundiária e regulação urbanística aplicáveis para as áreas não permitem a fi nalização das ações previstas no programa, mesmo que sejam concluídas as obras físicas. Do ponto de vista positivo, as obras enquadradas na modalidade Urbanização de Assentamentos Precários permitiram que a população benefi ciada tivesse acesso às moradias produzidas dentro de um sistema formal por um custo fi nanceiro muito baixo, e mantivesse a sua inserção original no espaço da cidade. Esta condição é diferente da oferecida pelas novas gerações dos programas federais (tais como o Programa Minha Casa Minha Vida), que preveem a aquisição de terras regularizadas, secas com facilidade de expansão de infraestrutura, o que impõe localizações bastante diversas das praticadas atualmente, transferindo as famílias de renda mais baixa para a borda da região metropolitana.

As difi culdades em “dar baixa” nas ações ora apresentadas no sistema de controle do governo federal causam desconforto e justifi cam o crescente redirecionamento de recursos para programas que ofereçam maior controle sobre as variáveis críticas para a conclusão das obras. Historicamente, a trajetória de urbanização da região demonstra que a população de menor renda teve acesso à cidade através da ocupação de áreas de várzea. A intensidade desse fenômeno nas cidades paraenses aliada à ausência de uma visão ideal ou de uma

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concepção de desenvolvimento urbano para a região potencializa a importância de investimentos em áreas já ocupadas há décadas, mas desprovidas de serviços e infraestrutura urbana adequados.

As regras para a operação dos programas federais são formuladas a partir do contexto do urbano industrial, e não aderem completamente às manifestações do urbano no Pará, que ainda conta com estruturas espaciais vinculadas a tempos diversos, ainda que superpostas. Além disso, a capacidade de apropriação dessas regras pelos atores envolvidos, setor público, setor privado e população, é bastante diversa. Ainda não foi construída uma visão de consenso a respeito de como devam ser construídas, estruturadas e/ ou geridas as cidades na Amazônia. A falta de consenso e fragilidade institucional das políticas urbanas concentra o poder de proposição nas mãos de único segmento, e permitem que cada proponente elabore propostas de acordo com visões limitadas, seja pela carência de diagnóstico, pelo curto intervalo de tempo disponível para elaboração de projeto e contratação os recursos federais, ou ainda, pela pressa de conclusão das ações no período de uma gestão política.

Essas condições conduzem ao resgate de fórmulas já consagradas em outros períodos (tipologias habitacionais e condições de urbanização), mas pouco adequadas à realidade em questão, priorizando aspectos da produção em larga escala, e o trato da natureza como algo a ser dominado ou exterminado (supressão de vegetação, canalização de rios). Observa-se que dentro do mosaico de padrões de ocupação existente nas cidades paraenses, ainda existe um grande entrelaçamento entre natureza e cidade, com grande relevância para o modo de vida da população local, especialmente os de menor renda.

Diante do exposto, consideramos que os problemas observados nas ações investigadas, estão mais associados a essa falta de consenso quanto ao que se espera das cidades paraenses, e a carência histórica de políticas urbanas adequadas, do que por problemas na modalidade do programa. Será mais sensato, enfrentar o passivo acumulado pelo processo de transição do meio rural para a cidade paraense com o aprimoramento de linhas de ação orientadas para a urbanização de assentamentos precários, do que a com a sua substituição por outras modalidades que não considerem ocupações pré-existentes.

AGRADECIMENTOS

Este texto é produto da pesquisa “Contribuições para a construção de uma política urbana para regiões periféricas no Brasil: articulações entre o planejamento da região e a construção do espaço intraurbano na Amazônia” fi nanciada pelo CNPq.

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Texto submetido à Revista em 02.06.2012Aceito para publicação em 18.05.2013