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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CLÁUDIO PEREIRA DIAS INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA SOBRE A IMPORTAÇÃO DE PRODUTOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA E SUAS INFLUÊNCIAS NA GESTÃO FINANCEIRA DAS EMPRESAS: ESTUDO DE CASO EM UMA INDÚSTRIA FABRICANTE DE PRODUTOS ELETRÔNICOS FLORIANÓPOLIS 2008

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINACENTRO SCIO-ECONMICO

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS CONTBEIS

    CLUDIO PEREIRA DIAS

    INCIDNCIA TRIBUTRIA SOBRE A IMPORTAO DE PRODUTOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA E SUAS INFLUNCIAS NA GESTO FINANCEIRA DAS

    EMPRESAS: ESTUDO DE CASO EM UMA INDSTRIA FABRICANTE DE PRODUTOS ELETRNICOS

    FLORIANPOLIS2008

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    CLUDIO PEREIRA DIAS

    INCIDNCIA TRIBUTRIA SOBRE A IMPORTAO DE PRODUTOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA E SUAS INFLUNCIAS NA GESTO FINANCEIRA DAS

    EMPRESAS: ESTUDO DE CASO EM UMA INDSTRIA FABRICANTE DE PRODUTOS ELETRNICOS

    Monografia apresentada Universidade Federal de Santa Catarina como um dos pr-requisitos para a obteno do grau de bacharel em Cincias Contbeis.

    Orientadora: Profa. Dra. Maria Denize Henrique Casagrande

    FLORIANPOLIS2008

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    CLUDIO PEREIRA DIAS

    INCIDNCIA TRIBUTRIA SOBRE A IMPORTAO DE PRODUTOS NO ESTADO DE SANTA CATARINA E SUAS INFLUNCIAS NA

    GESTO FINANCEIRA DAS EMPRESAS: ESTUDO DE CASO EM UMA INDSTRIA FABRICANTE DE PRODUTOS ELETRNICOS

    Esta Monografia foi apresentada como Trabalho de Concluso do Curso de Cincias

    Contbeis da Universidade Federal de Santa Catarina, obtendo a nota (mdia) de _________,

    atribuda pela banca examinadora composta pela orientadora e membros abaixo relacionados.

    Prof. Dra. Valdirene GasparettoCoordenadora de Monografia do Departamento de

    Cincias Contbeis, UFSC

    Professores que compuseram a Banca:

    Prof. Dra. Maria Denize Henrique Casagrande(Orientadora)

    Departamento de Cincias Contbeis, UFSC

    Prof. Dra. Valdirene GasparettoDepartamento de Cincias Contbeis, UFSC

    Prof. M.Sc. Alessandra Vasconcelos GallonDepartamento de Cincias Contbeis, UFSC

    Florianpolis, 2008

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus por me proporcionar a valiosa oportunidade de

    progredir no conhecimento cientfico e me dar a conscincia de que ainda h muito a ser

    desvendado.

    minha famlia que, mesmo distante, confia nos meus sonhos e no trabalho que h

    alguns anos venho desempenhando para chegar conquista de obter a formao de um curso

    superior por uma renomada instituio de ensino.

    Aos professores da Universidade Federal de Santa Catarina e da Universidade de

    Braslia que, ao longo desse perodo acadmico, me mostraram com maestria o caminho do

    conhecimento cientfico, com base no qual, entre tantos outros, foi escolhido o tema deste

    trabalho de concluso de curso.

    minha orientadora, professora Dra. Maria Denize Henrique Casagrande que me

    mostrou a direo dos trabalhos a serem realizados, com sua vasta experincia profissional,

    apontando-me os erros e me apoiando na busca pelas informaes que norteiam a pesquisa

    realizada.

    Aos meus amigos, dos quais pude receber o apoio nessa caminhada, estando certo de

    que poderei comemorar com eles o meu sucesso.

    Aos colaboradores da empresa estudada, que, mesmo com tantas tarefas atribudas ao

    desempenho de suas funes profissionais, me receberam com ateno e me motivaram

    concepo deste trabalho.

    queles que, mesmo anonimamente, contriburam para a realizao desta pesquisa,

    dedicando seu tempo e fornecendo as informaes solicitadas, de forma atenciosa e paciente.

  • 5

    DIAS, Cludio Pereira. Incidncia tributria sobre a importao de produtos no Estado de Santa Catarina e suas influncias na gesto financeira das empresas: estudo de caso em uma indstria fabricante de produtos eletrnicos. 2008. 112f. Monografia (curso de Cincias Contbeis) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis.

    RESUMO

    A legislao tributria que trata da importao de mercadorias, tanto em mbito federal quanto estadual, impe ao contribuinte uma sistemtica de clculo que o insere em obrigaes pecunirias que requerem maior ateno por parte de sua gesto financeira quanto aos valores desembolsados, recuperveis ou no, nos termos da lei. Diante disso, torna-se importante saber quais os efeitos causados pela carga tributria incidente nas importaes no gerenciamento financeiro de empresas importadoras. Nesta perspectiva, com este trabalho, objetiva-se analisar a incidncia tributria em uma operao de importao de matria-prima, a partir do caso de uma indstria catarinense, realizando-se um estudo descritivo atravs do estudo de um caso nico, com abordagem qualitativa e quantitativa. Como fundamentao terica, so apresentados os aspectos inerentes tributao nas operaes de importao de mercadorias no Estado de Santa Catarina, conforme a legislao em vigor e publicaes sobre o assunto, constituindo-se a base para as observaes realizadas no estudo de caso. O estudo de caso se realiza em uma empresa instalada neste Estado, fabricante de produtos eletrnicos de telecomunicaes, segurana e informtica, que realizou, no ms de junho de 2008, uma operao de importao cujos dados, fornecidos pela prpria empresa, so aqui analisados. Essa anlise tem enfoque na carga tributria em relao ao valor aduaneiro da mercadoria, na incidncia de tributos sobre outros tributos, na alocao de tributos no custo de produo e nas sadas e entradas efetivas de valores, relativos ao pagamento desses tributos, no disponvel da empresa. Como concluses, aps um clculo simulado da tributao, identifica-se que, de uma carga tributria de 64% em relao ao valor aduaneiro da mercadoria importada, cerca de 10% do valor desembolsado diz respeito a tributos sobre tributos, que a empresa poderia aplicar em outras necessidades operacionais. Em seguida, separando os tributos entre os recuperveis e os no recuperveis, evidenciando-se os valores destinados ao custo de produo e os valores que devem ser destinados compensao futura pelo importador das mercadorias, uma boa gesto de custos manifesta sua relevncia para o reembolso eficaz dos valores desembolsados em tributos no recuperveis. Por fim, quanto ao prazo de recolhimento dos tributos devidos na operao, verifica-se na Demonstrao do Fluxo de Caixa um instrumento de gesto de grande valia para a empresa no controle dos desembolsos e reembolsos relativos aos tributos incidentes na importao.

    Palavras-chave: Incidncia tributria. Operaes de importao. Gesto financeira.

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    DIAS, Cludio Pereira. Tax incidence on the importation of products in the State of Santa Catarina and its influences in the financial management of the company: a case study in an industry of electronic products. 2008. 112p. Monograph (Accounting Sciences Course) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis.

    ABSTRACT

    The tax legislation that deals with the importing of trade goods, so much in state as much in federal scope, imposes to the contributors a kind of system of calculation that inserts them in pecuniary obligations which demand bigger attention on the part of their financial management regarding the disbursed values, recoverable or not, in terms of law. Considering this, it is important to know which the effects caused for the tax burden incident in the importing in the financial management of importer companies. In this perspective, with this study, the objective is to analyze the incidence tax in an operation of raw material importation, from the case of a catarinense industry, carrying out a descriptive study through the study of a unique case, with quantitative and qualitative approach. As theoretical substantiation, the inherent aspects to the taxation in the operations of the goods importing in the State of Santa Catarina are presented, according to legislation in force and publications about the subject, constituting the base for the observations carried out in the case study. The case study is carried out in a company installed in that State, manufacturer of electronic products in telecommunications, security and data processing, that realized in June, 2008, an operation of importing whose data, supplied by the own company, are analyzed here. This analysis has been focused in the tax burden regarding the custom duties of the trade goods, in the incidence of tributes on other tributes, in the allocation of tributes in the production cost and in the effective exit and entrance of values, relative to the payment of those tributes, in the available cash of the company. As conclusions, after a simulated calculation of the taxation, it is identified that, of a tax burden of 64% in relation to the customs value of the imported goods, around 10% of the value disbursed concerns to tributes on tributes, which the company could apply in other operational necessities. After that, separating the tributes in recoverable and the not recoverable ones, showing up the values sent to the cost of production and the values that should be sent to the future compensation by the goods importer, a good management of costs manifests its relevance for the efficient reimbursement of the values spent in not recoverable tributes. Finally, as regard to the stated period of collection of the due tributes in the operation, it is verified in the Demonstration of the cash-flow a management instrument of great importance for the company in the control of the expenditures and refunds in regard to the tributes incident in the importing operation.

    Key words: Incidence of tributes. Importing operations. Financial management.

  • 7

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Incidncia tributria entre empresas industriais e comerciais com a compensao de

    IPI e ICMS.............................................................................................................. 35

    Tabela 2 - Carga tributria sobre o valor aduaneiro da importao..........................................86

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Tributos isentos ao princpio da anterioridade........................................................37

    Quadro 2 - Modalidades de industrializao.............................................................................46.......................................................................................................................................................

    Quadro 3 - Alquotas de incidncia do ICMS...........................................................................53

    Quadro 4 - Tributos no-cumulativos....................................................................................... 88

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Participao de tributos no valor calculado no despacho aduaneiro...................... 83

    Grfico 2 - Diferena entre cargas tributrias calculadas na importao..................................87

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Alocao dos tributos incidentes na importao...................................................... 90

    Figura 2 - Trmite dos encargos de importao na organizao...............................................96

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    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AFRMM Adicional ao Frete para Renovao da Marinha Mercante

    CAMEX Cmara de Comrcio Exterior

    CF/88 Constituio Federal de 1988

    COFINS Contribuio Social para o Financiamento da Seguridade Social

    CPV Custo dos Produtos Vendidos

    CTN Cdigo Tributrio Nacional

    DFC Demonstrao do Fluxo de Caixa

    DI Declarao de Importao

    EC Emenda Constitucional

    FMM Fundo da Marinha Mercante

    GATT Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (General Agreement on Tariffs and

    Trade)

    ICMS Imposto sobre Operaes Relativas Circulao de Mercadorias e sobre

    Prestaes de Servios de Transporte Interestadual ou Intermunicipal e

    Servios de Comunicao

    II Imposto de Importao

    IOF Imposto sobre Operaes de Crdito, Cmbio e Seguro ou relativas a Ttulos

    ou Valores Mobilirios

    IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

    ME Material de Embalagem

    MP Matrias-primas

    PI Produtos Intermedirios

    PIS/PASEP Contribuio para os Programas de Integrao Social e de Formao do

    Patrimnio do Servidor Pblico

    RA Regulamento Aduaneiro

    RICMS Regulamento do Imposto sobre Operaes Relativas Circulao de

    Mercadorias e sobre Prestaes de Servios de Transporte Interestadual ou

    Intermunicipal e Servios de Comunicao

    RIOF Regulamento do Imposto sobre Operaes de Crdito, Cmbio e Seguro ou

    relativas a Ttulos ou Valores Mobilirios

  • 9

    RIPI Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados

    RIR Regulamento do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza

    SISCOMEX Sistema Integrado de Comrcio Exterior

    THC Taxa de capatazia (terminal Handling Charges)

    TIPI Tabela de Incidncia do Imposto sobre Produtos Industrializados

    UFIR Unidade Fiscal de Referncia

  • 10

    SUMRIO

    1 INTRODUO...................................................................................................................12

    1.1 Tema e problema.......................................................................................................14

    1.2 Objetivos................................................................................................................... 16

    1.2.1 Objetivo Geral........................................................................................................16

    1.2.2 Objetivos Especficos.............................................................................................16

    1.3 Justificativa............................................................................................................... 16

    1.4 Metodologia.............................................................................................................. 17

    1.5 Limitao da pesquisa...............................................................................................19

    1.6 Organizao da pesquisa...........................................................................................19

    2 FUNDAMENTAO TERICA..................................................................................... 21

    2.1 Conceitos tributrios................................................................................................. 21

    2.1.1 Definio de tributo............................................................................................... 21

    2.1.2 Espcies de tributos................................................................................................24

    2.1.3 Funo dos tributos................................................................................................ 27

    2.1.4 Obrigao tributria............................................................................................... 28

    2.1.5 Fato gerador........................................................................................................... 30

    2.1.6 Princpios constitucionais...................................................................................... 31

    2.2 Tributos incidentes na importao............................................................................ 39

    2.2.1 Imposto de Importao (II).................................................................................... 39

    2.2.2 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)...................................................... 44

    2.2.3 Imposto sobre Operaes relativas Circulao de Mercadorias e sobre a

    Prestao de Servios de Transporte Interestadual ou Intermunicipal e Servios de

    Comunicao (ICMS).............................................................................................................. 49

    2.2.4 Imposto sobre Operaes de Crdito, Cmbio e Seguro ou relativas a Ttulos ou

    Valores Mobilirios (IOF)....................................................................................................... 54

    2.2.5 Taxas devidas na importao................................................................................. 57

    2.2.6 Contribuies devidas na importao.................................................................... 59

    2.3 Importao de mercadorias....................................................................................... 62

    2.3.1 Despacho aduaneiro............................................................................................... 62

    2.3.2 Drawback...............................................................................................................64

    2.3.3 Incidncia tributria na importao de mercadorias no Estado de Santa Catarina 68

  • 11

    3 ESTUDO DE CASO........................................................................................................... 79

    3.1 Caso real de importao de materiais diretos........................................................... 79

    3.2 Simulao de importao com incidncia tributria diferenciada............................ 84

    3.3 Apurao da diferena entre as tributaes.............................................................. 86

    3.4 Alocao dos tributos incidentes na importao.......................................................87

    3.5 Extino do crdito tributrio e liberao das mercadorias...................................... 90

    3.6 Demonstrao do fluxo de caixa...............................................................................97

    4 CONCLUSES E RECOMENDAES.........................................................................99

    4.1 Concluses da pesquisa.............................................................................................99

    4.2 Recomendaes para trabalhos futuros...................................................................101

    REFERNCIAS...................................................................................................................103

    ANEXO A Classificao da TIPI, das posies 33.03 a 33.07........................................... 109

    ANEXO B Declarao de Importao Estudo de caso..................................................... 111

  • 12

    1. INTRODUO

    Atualmente, no Brasil, corrente a organizao de debates e encontros polticos e

    econmicos nos quais costumam se reunir representantes empresariais, representantes do

    Estado, representantes sindicais e at mesmo a imprensa, em torno de um assunto cada vez

    mais evidente e divulgado no setor econmico, a reforma tributria.

    Esse tema traz tona as dificuldades encontradas pelos empreendedores em

    desenvolver suas atividades por conta de uma carga tributria considerada excessiva e de uma

    legislao tributria complexa, em que o empresrio precisa se preocupar com o cumprimento

    de todas as suas obrigaes, tanto principais quanto acessrias, de forma a no ingressar em

    nenhum crime contra a ordem tributria e, ainda assim, encontrar meios lcitos de promover

    uma boa administrao de seus negcios.

    No comrcio exterior, a situao no diferente, uma vez que o empresrio que atua

    nesse setor tambm se depara com obrigaes tributrias que acabam onerando suas

    atividades, gerando uma necessidade de recursos financeiros ainda maiores para que as

    exigncias fiscais s quais est submetido possam ser atendidas.

    Fabretti (2005b) classifica os tributos sobre o comrcio exterior como tributos

    regulatrios, sendo estes utilizados como instrumento de poltica econmica para se promover

    o equilbrio da balana comercial do pas nas relaes internacionais. Dessa forma, os tributos

    incidentes tanto nas operaes de importao quanto nas operaes de exportao so

    utilizados pelo Estado para proteger a economia interna, evitando que a influncia do

    comrcio internacional, seja na venda de produtos para o pas, seja na compra de produtos

    desenvolvidos pelas indstrias brasileiras, acabe gerando situaes desvantajosas para a

    indstria nacional, em benefcio a capitais empreendidos em outros pases.

    Conforme afirma Hunt (1981), j nos tempos da Europa mercantilista, polticas de

    comrcio exterior eram implantadas por alguns pases europeus, provocando o estmulo s

    exportaes e desestimulando as importaes.

    Nesse perodo, esses pases procuravam reter no seu mercado uma quantidade cada

    vez maior de moeda e promover o crescimento da produo interna por meio de monoplios

    comerciais, normas s atividades de importao e exportao e at subsdios aos produtores

    de artigos manufaturados. Conforme afirma Hunt (1981, p. 42): alm de estabelecer

    monoplios, todos os pases da Europa (exceto a Holanda) aplicavam extensos regulamentos

    s atividades de exportao e importao.

  • 13

    Nesse contexto, at mesmo as exportaes de matrias-primas poderiam ser

    desestimuladas para que o suprimento da produo interna fosse garantido, e de forma

    vantajosa. Na afirmao de Hunt (1981, p. 42), uma grande lista de matrias-primas pagava

    imposto de exportao, para que no sasse da Inglaterra. Assim, o preo que os mercadores

    industriais ingleses tinham que pagar por estas matrias-primas seria minimizado.

    Nos dias atuais, a legislao tributria no Brasil o instrumento de controle da

    poltica de comrcio exterior, que recebe at mesmo da Constituio Federal de 1988

    benefcios como a no sujeio ao princpio da anterioridade em alguns casos, o que permite

    ao Estado a instituio de tributos ou a majorao de alquotas, podendo seus efeitos surtirem

    imediatamente nas operaes de importao e exportao.

    Por um lado, as importaes podem ser de grande importncia para o pas caso seja

    do interesse da economia renovar tecnologia (FABRETTI, 2005b, p. 290), pois a entrada de

    produtos estrangeiros proporciona maior competitividade de mercado, incentivando a

    indstria nacional ao desenvolvimento de tecnologia igual ou superior quela que est sendo

    trazida de outros produtores, sobretudo em um mercado consumidor nas propores do

    mercado brasileiro.

    Por outro lado, o investimento das empresas nacionais em produo de grande

    escala, tanto para o mercado interno quanto para o mercado externo, tambm de

    fundamental importncia para a balana comercial, uma vez que as importaes acabariam

    sendo reduzidas por no haver interesse do mercado interno em produtos j existentes, e as

    exportaes aumentadas pela capacidade de produo acima da demanda do mercado

    nacional.

    No entanto, essas tendncias no so to simples assim e as relaes de importao e

    exportao de produtos podem resultar em conflitos e prejuzos de ordem econmica e social,

    como a superproduo, inflao, concorrncia desleal, entre outras, se o mercado for deixado

    sorte de suas prprias regras, sem a existncia de normas regulamentadoras dessas

    atividades, cujo objetivo seja o favorecimento da indstria nacional, bem como a garantia do

    suprimento da demanda interna por mercadorias de qualidade.

    Visando isso, a Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 5 de outubro de

    1988, e o Cdigo Tributrio Nacional, de 25 de outubro de 1966, entre diversos outros

    dispositivos legais, apresentam em suas disposies aspectos especiais relacionados ao

    comrcio exterior, impondo tanto nas relaes de importao quanto nas de exportao,

  • 14

    tributos de carter regulador que atuam na regio aduaneira de modo a proteger o mercado

    interno dos efeitos de uma atividade mercantil especulatria e prejudicial por parte daqueles

    que a desempenham.

    Nesse meio, a legislao existente em torno do comrcio exterior vem favorecer

    categoricamente a exportao de produtos nacionais ou, ainda, de produtos importados para

    transformao, complementao ou acondicionamento no pas e posterior exportao para

    pas estrangeiro. Em contrapartida, surgem as diversas obrigaes tributrias cujo intuito

    maior onerar os produtos que forem objeto de importao para o pas, somando-se ainda, os

    tratamentos especiais na limitao ao poder de tributar, permitindo ao Estado influenciar no

    mercado interno de forma a proteger os bens produzidos no pas, da concorrncia de outros

    que, por qualquer razo de seu processo produtivo, cheguem ao nosso mercado com valores

    injustos disputa de mercado com os nacionais.

    Esses aspectos, de ordem tributria, so tratados neste trabalho sob a tica de uma

    empresa importadora de mercadorias, atividade essa que envolve tributos de natureza federal

    e estadual, razo pela qual a pesquisa se desenvolve no Estado de Santa Catarina, sendo este o

    local onde se realizam as operaes da empresa estudada.

    1.1 TEMA E PROBLEMA

    Ao tratar de tributos relacionados ao comrcio exterior, inevitvel deparar-se com

    um grande conjunto de normas derivadas de tratados e polticas mercantis internacionais,

    alm de dispositivos legais que, mesmo atuando no mbito do territrio nacional, representam

    funes significativas para essa prtica econmica.

    Nas operaes de importao de mercadorias, uma parcela dos valores

    desembolsados pelo importador diz respeito aos tributos devidos na entrada dessas

    mercadorias em territrio nacional, podendo constituir, conforme a natureza do bem

    importado e da operao, pequena ou grande proporo do valor total desembolsado, o que

    requer de quem importa cuidados especiais no tratamento dispensado a tais tributos.

    A legislao em vigor permite tanto Unio quanto ao Estado de Santa Catarina a

    instituio de uma srie de tributos sobre a importao de mercadorias, dividindo-os em

    impostos, taxas e contribuies. Essa incidncia tributria exige ateno do contribuinte no

    que se tange a algumas de suas caractersticas.

  • 15

    Uma primeira caracterstica da incidncia tributria na importao de mercadorias

    relaciona-se com o clculo cumulativo dos tributos, pois, de acordo com a legislao em

    vigor, alguns destes, ao terem aplicadas as suas alquotas, no consideram somente o valor

    atribudo mercadoria importada, mas abrangem tambm valores referentes a tributos

    calculados em fases anteriores, aumentando ainda mais a carga tributria a ser paga pelo

    contribuinte aos cofres pblicos.

    Outra caracterstica se refere aos tributos recuperveis incidentes na importao,

    permitindo ao contribuinte o abatimento dos valores pagos na entrada das mercadorias em

    territrio nacional em operaes futuras da empresa, nas quais haja novamente a incidncia

    dos mesmos tributos. No entanto, entre os impostos, taxas e contribuies calculados, no so

    todos que fazem jus a esse tratamento, devendo o contribuinte gerir a destinao de cada um

    dentro da organizao, quanto contabilizao dos tributos a recuperar e dos integrantes do

    custo de suas atividades.

    Por fim, a legislao tributria, ao normatizar a importao de mercadorias, exige do

    contribuinte o recolhimento dos tributos incidentes aos cofres pblicos como fator

    condicionante liberao dessas mercadorias para o domnio da empresa. Dessa forma, o

    importador necessita desembolsar a parcela relativa a tais tributos ainda antes do desembarao

    aduaneiro e recebimento efetivo dos bens oriundos do exterior, o que, conforme a carga

    tributria calculada, pode provocar uma sada significativa de valores de seus disponveis, no

    lhe permitindo contar com esse montante financeiro durante o ciclo de suas atividades.

    Essas caractersticas impostas pela legislao pem o contribuinte dentro de um

    contexto no qual necessrio o estrito cuidado quanto ao cumprimento de suas obrigaes

    tributrias ao tentar encontrar formas de amenizar os impactos financeiros causados pela

    tributao nas operaes de importao. Por um lado, a empresa deve cumprir com suas

    obrigaes de forma a no ser enquadrada em situao de crime contra a ordem tributria, por

    outro lado, a empresa tambm precisa de recursos para o financiamento de suas atividades,

    fazendo-se indispensvel conhecer suas reais disponibilidades entre o pagamento dos tributos

    e seu reembolso, seja pela compensao ou pela alocao destes ao custo de suas operaes.

    Dentro desse contexto, a questo-problema que o trabalho se prope a responder :

    quais os efeitos causados pela carga tributria incidente sobre as operaes de importao

    no gerenciamento financeiro das indstrias de Santa Catarina?

  • 16

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 OBJETIVO GERAL

    Analisar a incidncia tributria em uma operao de importao de matria-prima, a

    partir do caso de uma empresa industrial catarinense.

    1.2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Apresentar conceitos de tributos especficos na importao;

    Apresentar a incidncia tributria na importao atravs de um caso real;

    Verificar o impacto da carga tributria incidente na importao no Estado de

    Santa Catarina;

    Identificar a alocao dos tributos durante o ciclo operacional da empresa objeto

    de estudo; e

    Identificar os impactos causados pelo pagamento de tributos sobre a importao

    na gesto financeira da empresa analisada.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    Para o importador de mercadorias do exterior, indispensvel observar as condies

    impostas pela legislao em vigor para que suas operaes de importao ocorram sem que a

    tributao instituda, tanto na esfera federal quanto na esfera estadual, seja desrespeitada, o

    que configuraria para o contribuinte, neste caso, o importador, a prtica de evaso fiscal,

    definida em lei como crime contra a ordem tributria.

    No entanto, a forma como a legislao aplicvel importao de mercadorias para o

    Estado de Santa Catarina trata o clculo dos tributos devidos nesse tipo de operao, fazendo-

    os incidir uns sobre os outros, alm de determinar o pagamento imediato dos valores devidos

    na operao, acaba impondo ao importador condies onerosas de operao, cujo

    cumprimento se torna condio indispensvel para que este tenha a liberao das mercadorias

    por parte da autoridade aduaneira.

  • 17

    Nesse contexto, mesmo podendo o contribuinte contar com dispositivos legais que

    lhe permitem a compensao de tributos e a possibilidade de repassar o custo desses tributos

    para o preo final das mercadorias, existe um intervalo de tempo, entre a aquisio da

    mercadoria pela importao e sua venda, em que o valor recolhido ao pagamento dos tributos

    incidentes no pode ser considerado pelo importador em suas disponibilidades e o

    conseqente financiamento de outras atividades operacionais.

    Sendo assim, torna-se importante analisar o impacto que a operao de importao

    de mercadorias, com base na legislao atual, pode estar causando no gerenciamento

    financeiro de empresas catarinenses que ao mesmo tempo em que precisam cumprir suas

    obrigaes tributrias, sob pena de perdimento de suas mercadorias, necessitam tambm de

    quantitativos em disponibilidades para o custeio de suas atividades no intervalo de tempo

    varivel entre a aquisio e a venda das mercadorias em questo.

    1.4 METODOLOGIA

    Conforme Longaray e Beuren (2003, p. 40), monografia um trabalho acadmico

    que objetiva a reflexo sobre um tema ou problema especfico e que resulta de um

    procedimento de investigao sistemtica. Marion et al. (2002, p. 13) conceituam

    monografia como a arte de redigir cientificamente sobre um problema especfico de

    determinado assunto. um trabalho intelectual de um estudante que l, levanta dados, reflete

    e interpreta um tema especfico.

    Neste trabalho acadmico, abordando-se caractersticas formadas na tributao sobre

    operaes de importao no Estado de Santa Catarina, a evidenciao desse assunto se d pela

    utilizao de uma metodologia de pesquisa que conduza obteno estruturada de dados que

    possibilitem a investigao, a reflexo e a interpretao do tema proposto.

    Seguindo a definio de Ferreira (2006, p. 552), segundo a qual mtodo significa um

    procedimento organizado que conduz a um certo resultado [...], este item busca apresentar a

    estrutura metodolgica desta pesquisa, delineando sua tipologia quanto aos seus objetivos, aos

    seus procedimentos e sua abordagem.

    Neste trabalho, os dados analisados so obtidos nas disposies constantes em

    instrumentos legais, em livros de direito, de contabilidade, sobre o comrcio exterior, em

    manuais, no stio da Receita Federal do Brasil e do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria

    e Comrcio Exterior na internet, alm de documentos obtidos em visitas a despachantes

  • 18

    aduaneiros na cidade de Itaja e de Florianpolis, visitas empresa estudada e Secretaria de

    Estado da Fazenda do Estado de Santa Catarina, entre outras fontes de informao.

    Com base nos dados coletados, os fatos observados so descritos e analisados sem a

    interferncia do autor, evidenciando-os e estudando-os de forma a caracterizar esta pesquisa,

    no que se refere aos seus objetivos, como descritiva (Andrade, 2002 apud RAUPP; BEUREN,

    2003).

    Quanto aos procedimentos, esta pesquisa se classifica primeiramente como

    bibliogrfica, uma vez que uma grande parte das informaes recolhida em publicaes

    anteriores sobre a legislao tributria, a contabilidade tributria e o comrcio exterior,

    proporcionando a fundamentao terica para o estudo realizado, conforme afirmam Raupp e

    Beuren (2003, p. 87):

    O material consultado na pesquisa bibliogrfica abrange todo referencial j tornado pblico em relao ao tema de estudo, desde publicaes avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, dissertaes, teses, entre outros. Por meio dessas bibliografias renem-se conhecimentos sobre a temtica pesquisada. Com base nisso que se pode elaborar o trabalho monogrfico, seja ele em uma perspectiva histrica ou com o intuito de reunir diversas publicaes isoladas e atribuir-lhes uma nova leitura.

    Ainda quanto aos procedimentos, nesta pesquisa, procedida a uma demonstrao

    real do assunto abordado, selecionando-se uma empresa do setor industrial, localizada no

    Estado de Santa Catarina, que, no ano corrente, importou mercadorias para a utilizao como

    materiais diretos na fabricao de seus produtos. Essa operao de importao analisada no

    captulo terceiro em consonncia com as informaes reunidas na fundamentao terica do

    captulo segundo, com um nico caso (RAUPP; BEUREN, 2003, p. 84), o que caracteriza o

    presente trabalho, tambm, como um estudo de caso.

    Na caracterizao da tipologia desta pesquisa quanto abordagem, a anlise dos

    aspectos inerentes legislao tributria em relao s operaes de importao de

    mercadorias, demonstrando sua influncia na gesto financeira das empresas a caracteriza

    como qualitativa. No entanto, a auferio de dados constantes em uma operao real de

    importao e sua comparao a uma situao fictcia com o objetivo de evidenciar a

    onerosidade demasiada da legislao em vigor, soma a esta pesquisa a caracterizao como

    quantitativa na abordagem do problema.

  • 19

    Sendo assim, esta monografia se classifica como uma pesquisa descritiva, realizada

    por meio de um estudo de caso nico, que se utiliza dos procedimentos de pesquisa

    bibliogrfica, e aborda o problema proposto de forma qualitativa e quantitativa.

    1.5 LIMITAES DA PESQUISA

    A contabilidade tributria um dos campos mais extensos e dinmicos da cincia

    contbil, e, nas operaes de importao no se faz diferente, somando-se aos tributos

    incidentes sobre a mercadoria, diversas taxas de servios prestados tanto por pessoas jurdicas

    de direito privado, quanto pelo prprio poder pblico, para que ocorra o desembarao da

    mercadoria importada.

    Sendo assim, procurando no se desviar do tema abordado, esta pesquisa se limita

    aos tributos incidentes na importao de produtos industrializados, excluindo-se da anlise

    quaisquer tributos incidentes sobre servios, bem como o pagamento de valores no

    classificados nessa atividade como relativos a tributos.

    Geograficamente, a pesquisa se limita ao Estado de Santa Catarina, em virtude de seu

    local de elaborao e do Imposto sobre Operaes Relativas Circulao de Mercadorias e

    sobre a Prestao de Servios de Transporte Interestadual ou Intermunicipal e Servios de

    Comunicao (ICMS), imposto estadual que tambm estudado.

    1.6 ORGANIZAO DA PESQUISA

    O trabalho est organizado em 4 captulos subdivididos conforme a relevncia e a

    convenincia atribudas a cada item, nas fases de pesquisa, delineando-se a introduo, o

    desenvolvimento e a concluso.

    No captulo 1, so tratadas as diretrizes da pesquisa, comeando com uma

    introduo do assunto tratado e, em seguida, estruturando tpicos que objetivam orientar e

    motivar o trabalho, bem como justificar a escolha do tema. Nele so tratados o tema e o

    problema levantados, os objetivos, a justificativa, a metodologia, as limitaes da pesquisa e a

    sua estrutura.

    O captulo 2 dedica-se fundamentao terica da pesquisa, abordando conceitos

    tributrios importantes para a pesquisa realizada, os tributos incidentes na importao e a

    forma como se d o despacho aduaneiro de mercadorias importadas.

  • 20

    No captulo 3 realizado o estudo de caso, com base em uma operao de

    importao ocorrida em uma empresa catarinense, evidenciando a incidncia tributria dessa

    operao, extraindo as informaes que constituem elementos importantes para a abordagem

    do tema da pesquisa.

    O captulo 4 destinado concluso sobre a pesquisa, identificando o problema ora

    proposto, emitindo consideraes para o seu tratamento de forma a contribuir para a pesquisa

    realizada e para outros trabalhos que possam ser realizados.

    Nas referncias, so elencadas todas as fontes de informaes utilizadas para a

    consecuo deste trabalho, obedecendo-se a classificao por ordem alfabtica de

    apresentao.

    Os Anexos complementam assuntos tratados no corpo do trabalho, mas que, por sua

    extenso, foram disponibilizados parte para consulta dos leitores, dividindo-se em Anexo A

    (Classificao da TIPI, das posies 33.03 a 33.07), complementando o captulo 2, dedicado

    fundamentao terica do trabalho, e Anexo B (Declarao de Importao-Estudo de caso),

    complementando o captulo 3, como documento no qual constam os dados sobre os quais foi

    realizado o estudo na empresa industrial instalada em Santa Catarina.

  • 21

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    Neste captulo, constituindo-se a fundamentao terica desta pesquisa, os tributos

    so tratados com enfoque em sua definio, espcies e funes, tratando-se tambm das

    obrigaes tributrias do contribuinte, bem como dos princpios constitucionais aplicveis

    legislao tributria, emanados das limitaes impostas ao Estado em seu poder de tributar.

    Tambm so tratados os tributos incidentes na importao de mercadorias no Estado de Santa

    Catarina, separando-os em impostos, taxas e contribuies, conforme as caractersticas de

    cada espcie. Outras consideraes relevantes para este trabalho, so apresentadas tambm

    neste captulo quanto aos procedimentos inerentes ao despacho aduaneiro, ao drawback e

    incidncia tributria nas operaes de importao de mercadorias.

    2.1 Conceitos tributrios

    Ao abordar um assunto cujo tema relacionado a tributos especficos, inicia-se o

    captulo por conceitos sobre esses, desde definies bsicas at os princpios constitucionais,

    aporte terico balizador do tema de pesquisa proposto.

    2.1.1 Definio de tributo

    Segundo o Art. 3 da Lei n 5.172, de 25 de outubro de 1966, Cdigo Tributrio

    Nacional (CTN), tributo toda prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujo valor

    nela se possa exprimir, que no constitua sano de ato ilcito, instituda em lei e cobrada

    mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

    Para Rocha (2007), quando a lei determina que a prestao do tributo deve ser

    pecuniria, em moeda ou em valor expresso em moeda, o contribuinte se torna obrigado a

    satisfaz-la em dinheiro, podendo apenas mensur-la por meio de unidades fiscais como, por

    exemplo, a Unidade Fiscal de Referncia (UFIR), utilizadas pelo Poder Pblico para a

    indexao de valores, visto que o Estado precisa de dinheiro para exercer sua funo de

    promotor de servios de utilidade pblica, no sendo aceitos pagamentos em mercadorias,

    bens ou servios como, cumprimento das obrigaes tributrias.

    Rocha (2007) cita ainda a previso legal constante no Art. 162 do CTN, na qual o

    pagamento de tributos pode ser realizado por meio de cheque, ou vale postal, ttulos que

    representam ordem de pagamento, convertidos em dinheiro quando h sua compensao.

  • 22

    O autor tambm menciona os casos em que o contribuinte deixa de cumprir o

    pagamento do tributo e o Estado requer, em ao judicial, a penhora de bens do devedor.

    Nesse caso, segundo o autor, no se deve interpretar como pagamento de tributos com bens,

    posto que estes so penhorados com o objetivo de serem levados a leilo para que, com o

    valor arrecadado em dinheiro de suas vendas, o poder pblico possa reaver o valor do tributo

    do qual credor (ROCHA, 2007).

    Machado (2005, p. 71) afirma, quanto a tributo, que cuida-se de prestao tendente

    a assegurar ao Estado os meios financeiros de que necessita para a consecuo de seus

    objetivos, por isto que de natureza pecuniria. Nesse sentido, embora existam ainda,

    segundo esse autor, correntes que consideram como tributo o servio militar obrigatrio, a

    participao em tribunal de jri ou a entrega de bens requisitados pelo Estado, aps a

    definio do CTN, essa classificao no pode mais ser aceita pois, atualmente, no h mais o

    pagamento de tributos ao Estado por meio de servio ou bens (MACHADO, 2005).

    Uma exceo importante, de acordo com Rocha (2007), a possibilidade, inserida

    pela Lei Complementar n 104/2001, no inciso XI do Art. 156 do CTN, da extino do crdito

    tributrio por meio da dao em pagamento de bens imveis. Nesse caso, tal forma de se

    quitar a dvida tributria com o Estado depender da previso em lei da respectiva esfera de

    governo credor do tributo, podendo este definir as condies em que ser aceito o imvel

    dado em pagamento, conforme determina o texto legal: a dao em pagamento em bens

    imveis, na forma e condies estabelecidas em lei (ROCHA, 2007, p. 445).

    Quanto compulsoriedade e instituio em lei do tributo, Rocha (2007) considera

    termos semelhantes, visto que a compulsoriedade, ou seja, a obrigao de se pagar um tributo

    s pode advir de uma lei que o institua, fazendo meno ao Art. 5, inciso II da Constituio

    Federal de 1988 (CF/88), segundo o qual somente a lei pode obrigar algum a fazer ou deixar

    de fazer alguma coisa, neste caso, o pagamento de tributo.

    Para Machado (2005, p. 71), o dever de pagar tributo nasce independentemente da

    vontade, caracterizado pelo momento do nascimento da obrigao definido na lei que institui

    o tributo, no dependendo da vontade do contribuinte.

    A no constituio de sano por ato ilcito definida pelo CTN separa o tributo da

    multa, a qual pode ser confundida como obrigao tributria por ser, em alguns casos, o

    Estado o seu arrecadador. Rocha (2007, p. 9) afirma que o tributo no significa punio por

    alguma infrao cometida, ou seja, o pagamento de tributo no institudo por ter o

  • 23

    contribuinte cometido alguma transgresso lei, mas, como afirma o mesmo autor o dever

    de pagar o tributo decorre do acontecimento do fato gerador. Quanto ao fato gerador, termo

    que ser abordado mais adiante neste trabalho, este est definido na lei que institui o tributo,

    de forma que todas s vezes em que o contribuinte se encontrar em uma das circunstncias

    previstas na lei como fato gerador, ser devedor do tributo.

    Conforme afirma Machado (2005), a penalidade se diferencia do tributo por ter como

    hiptese de incidncia um ato ilcito, enquanto o tributo deve ter como hiptese de incidncia

    um ato lcito. Sendo assim, a lei no pode instituir como hiptese para o pagamento de um

    tributo um ato que seja ilcito, caso em que deveria ser instituda uma penalidade.

    Por fim, o CTN tambm determina que o tributo deve ser cobrado por atividade

    administrativa plenamente vinculada, isso significa que as autoridades administrativas no

    tm opo em cobrar ou no o tributo ou, ainda, quanto se deve cobrar. Em outras palavras, as

    autoridades so obrigadas a cobrar o tributo do devedor institudo em lei e no valor tambm

    institudo em lei. Como discorre Rocha (2007, p. 10), a lei no outorga s autoridades

    administrativas incumbidas da cobrana nenhuma opo no sentido de exigir ou no o tributo,

    ou, ainda, no sentido de escolher de quem ou quanto exigir.

    Machado (2005, p. 76) classifica a atividade administrativa da seguinte forma:

    Atividade arbitrria: aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa no sofre qualquer limite. Sua liberdade absoluta. No deve obedincia a qualquer regra jurdica. Esse tipo de atividade evidentemente incompatvel com o Estado de Direito e nele, quando praticada, representa violao da ordem jurdica.Atividade discricionria: aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa dispe de liberdade para decidir sobre a convenincia e a oportunidade de agir e sobre como agir. A lei estabelece um fim a ser alcanado, a forma a ser observada e a competncia da autoridade para agir.Atividade vinculada: aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa no goza de liberdade para apreciar a convenincia nem a oportunidade de agir. A lei no estabelece apenas um fim a ser alcanado, a forma a ser observada e a competncia da autoridade para agir. Estabelece, alm disso, o momento, vale dizer, o quando agir, e o contedo mesmo da atividade. No deixa margem apreciao da autoridade, que fica inteiramente vinculada ao comando legal. (grifo do autor)

    Dessa forma, quando o CTN afirma que o tributo deve ser cobrado mediante

    atividade administrativa plenamente vinculada, significa que a autoridade administrativa no

    pode preencher com seu juzo pessoal, subjetivo, o campo de indeterminao normativa,

    buscando realizar em cada caso a finalidade da lei (MACHADO, 2005, p. 76).

    Sendo assim, pela compulsoriedade do tributo, o contribuinte tem tanto o dever de

    pagar, quanto o Estado tem o dever de, por meio de seus agentes pblicos, exigi-lo.

  • 24

    2.1.2 Espcies de tributos

    A CF/88, em seu Art. 145, permite Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

    Municpios a instituio dos tributos divididos em espcies, conforme a origem de cada

    obrigao tributria:

    Art. 145. A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios podero instituir os seguintes tributos:I impostos;II - taxas, em razo do exerccio do poder de polcia ou pela utilizao, efetiva ou potencial, de servios pblicos especficos e divisveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposio;III contribuio de melhoria, decorrente de obras pblicas.

    A Carta Magna ento separa os tributos a serem exigidos do contribuinte em

    impostos, taxas e contribuies de melhoria, que sero institudos pelo Poder Pblico

    respeitando-se sempre os limites e condies estabelecidas em lei, inclusive para a

    classificao do tributo quanto a sua espcie.

    Segundo Oliveira et al. (2003, p.22), as espcies de tributos esto estruturadas pelo

    Sistema Tributrio Nacional da seguinte forma:

    - Impostos: que decorrem de situao geradora independente de qualquer contraprestao do Estado em favor do contribuinte;

    - Taxas: que esto vinculadas utilizao efetiva ou potencial por parte do contribuinte, de servios pblicos especficos e divisveis;

    - Contribuies de melhoria: que so cobradas quando do benefcio trazido aos contribuintes por obras pblicas.

    Sendo assim, o Estado no assume qualquer obrigao com o contribuinte pela

    cobrana de um imposto, sendo este mera obteno de renda por parte do poder pblico para a

    manuteno de seus gastos, no exerccio de suas funes.

    De forma diferente so tratadas as taxas, cujo recolhimento ocorre em funo de um

    servio pblico utilizado pelo contribuinte ou, mesmo que este no o tenha utilizado mas que

    lhe foi disponibilizado.

    As contribuies de melhoria so institudas pelos benefcios que o contribuinte

    venha a ter em virtude de uma obra, ou seja, que tenha efetivamente ocorrido uma melhora

    nas condies do contribuinte, em virtude de uma empreitada realizada pelo Estado.

    Machado (2005, p. 432) afirma que a contribuio de melhoria um tributo

    vinculado, o que significa ser este um tributo cujo fato gerador est ligado a atividade estatal

  • 25

    especfica relativa ao contribuinte. Este autor afirma tambm que o fato gerador da

    contribuio de melhoria a valorizao de um imvel do contribuinte, decorrente de obra

    pblica (grifo do autor).

    Ainda segundo Machado (2005), quando o Estado arrecada tributos e os aplica em

    obras pblicas que acabem valorizando o imvel de um contribuinte, justo que este pague

    uma parte desses recursos aplicados, visto que o proprietrio de um imvel valorizado por

    uma obra realizada com dinheiro pblico no deve auferir sozinho um benefcio para o qual

    toda a sociedade contribuiu.

    Para Rocha (2007), a distino entre as espcies de tributos orientada pelo fato

    gerador da obrigao tributria, ou seja, a condio estabelecida em lei como fato gerador do

    tributo que define em qual espcie este se enquadra. Desse modo, as taxas e as contribuies

    de melhoria se aproximam no que diz respeito espcie, pois, embora seus fatos geradores

    tenham caractersticas diferentes, ambas representam tributos em que o Estado realiza uma

    atividade para o contribuinte.

    Diferentemente, o imposto representa um tributo distributivo de riqueza, em virtude

    de seu fato gerador se vincular a uma demonstrao, pelo contribuinte, de determinado grau

    de riqueza com a qual est apto a subsidiar a manuteno do Estado, distribuindo recursos do

    particular que apresenta melhor condio econmica para toda a sociedade (ROCHA, 2007).

    Rocha (2007) tambm afirma que o dispositivo constitucional encontrado no Art.

    145, 1, versa sobre a graduao dos impostos em relao capacidade econmica do

    contribuinte, conforme se pode observar no Art. 145 da CF/88:

    Art. 145. A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios podero instituir os seguintes tributos:[...] 1 Sempre que possvel, os impostos tero carter pessoal e sero graduados segundo a capacidade econmica do contribuinte, facultado administrao tributria, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimnio, os rendimentos e as atividades econmicas do contribuinte.

    Por sua vez, o CTN, em seu Art. 16, define que o imposto o tributo cuja obrigao

    tem por fato gerador uma situao independente de qualquer atividade estatal especfica,

    relativa ao contribuinte.

    Dessa forma, expressa a definio do referido cdigo acerca da no obrigatoriedade

    de prestao de servio pelo Estado ao contribuinte em virtude do recebimento do imposto.

  • 26

    Ainda no que diz respeito s espcies tributrias, a CF/88 permite, em seus Arts. 148,

    149 e 149A, a instituio dos seguintes tributos:

    - emprstimos compulsrios;

    - contribuies sociais;

    - contribuies de interveno no domnio econmico;

    - contribuies de interesse das categorias profissionais ou econmicas; e

    - contribuies para o custeio do servio de iluminao pblica.

    No entanto, controvrsias costumam ocorrer quanto classificao como tributos,

    tanto do emprstimo compulsrio quanto das contribuies.

    Para Rocha (2007, p. 33), necessrio se faz utilizar a definio de tributo constante

    no CTN para que seja possvel classificar essas prestaes como tributos. Segundo o autor,

    tanto o emprstimo compulsrio quanto as contribuies atendem aos requisitos de tributos,

    pois enquadram-se como: (i) prestaes pecunirias, (ii) compulsrias, (iii) estabelecidas em

    lei, (iv) no punitivas e que (v) so cobradas atravs de atividade plenamente vinculada s

    determinaes legais.

    Dessa forma, temos juntamente com os impostos, taxas e contribuies de melhoria,

    os emprstimos compulsrios e as contribuies sociais e de servio de iluminao pblica no

    nosso conjunto de tributos legalmente previstos pela Carta Magna.

    Sobre os emprstimos compulsrios, observa-se, no Art. 148 da CF/88:

    Art. 148. A Unio, mediante lei complementar, poder instituir emprstimos compulsrios:I para atender a despesas extraordinrias, decorrentes de calamidade pblica, de guerra externa ou sua iminncia;II no caso de investimento pblico de carter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b.

    Rocha (2007) define o emprstimo compulsrio como uma exigncia pecuniria que

    o Estado institui sobre o contribuinte, assumindo o dever jurdico de restitu-la

    posteriormente. O emprstimo compulsrio tambm s poder ser institudo pela Unio,

    mediante lei complementar e somente para atender aos casos previstos nos incisos I e II do

    Art. 148 da CF/88.

    As contribuies versadas no Art. 149 da CF/88 recebem, logo de incio, a

    competncia exclusiva da Unio para institu-las:

  • 27

    Art. 149. Compete exclusivamente Unio instituir contribuies sociais, de interveno no domnio econmico e de interesse das categorias profissionais ou econmicas, como instrumento de sua atuao nas respectivas reas, observado o disposto nos arts. 146, III e 150, I e III, e sem prejuzo do previsto no art. 195, 6, relativamente s contribuies a que alude o dispositivo.1 Os Estados, o Distrito Federal e os Municpios instituiro contribuio, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefcio destes, do regime previdencirio de que trata o art. 40, cuja alquota no ser inferior a da contribuio dos servidores titulares de cargos efetivos da Unio.

    Rocha (2007) explica que o objetivo dessas prestaes tributrias o financiamento

    de servios como sade, previdncia, assistncia social etc, bem como a interveno do

    Estado em setores da economia e, ainda, a sustentao de entidades representativas de

    categorias econmicas ou profissionais.

    Para o autor, o enquadramento das contribuies como tributos evidente, visto que

    a CF/88, alm de cit-las no captulo destinado ao Sistema Tributrio Nacional, tambm as

    instituiu com observncia do Art. 146, inciso III, que trata da exigncia de lei complementar

    para o estabelecimento de normas gerais de legislao tributria, e do Art. 150, incisos I e III,

    que estabelecem os princpios da legalidade, irretroatividade e anterioridade tributria,

    submetendo-as ento ao regime tributrio (ROCHA, 2007).

    H ainda, as contribuies para o custeio do servio de iluminao pblica, de

    competncia dos Municpios e do Distrito Federal, conforme o texto do Art. 149-A da CF/88:

    Os Municpios e o Distrito Federal podero instituir contribuio, na forma das respectivas

    leis, para o custeio do servio de iluminao pblica, observado o disposto no Art. 150, I e

    III.

    Nota-se que, do mesmo modo que descrito no Art. 149, tambm ocorre no Art.

    149-A, sendo definida a competncia dos entes para a instituio do tributo, bem como, dessa

    vez, a sujeio da contribuio ao Art. 150, incisos I e III, relativos aos princpios da

    legalidade, irretroatividade e anterioridade tributria.

    2.1.3 Funo dos tributos

    Ao analisar se um determinado tributo fiscal, extrafiscal ou parafiscal, importante

    saber qual o seu propsito, ou seja, qual o objetivo do Estado, seja em qualquer esfera, ao

    institu-lo.

    Caracterstica notvel nos tributos a arrecadao que todos proporcionam ao Poder

    Pblico mediante a incidncia de um fato gerador que obriga o contribuinte ao recolhimento

  • 28

    do imposto, da taxa ou da contribuio devida, em alquotas pr-estabelecidas em lei. Porm,

    os tributos devem ser separados entre aqueles que existem principalmente para a sustentao

    do Estado, daqueles que so institudos com o objetivo de intervir em determinado setor

    econmico ou social ou, ainda, daqueles que existem para que o Estado custeie atividades

    que, embora no lhe sejam atribudas, as exera.

    Para Rocha (2007, p. 58), o tributo que tem como principal objetivo a arrecadao de

    recursos por parte do Estado chamado de tributo fiscal, como se pode ver: Diz-se tributo

    fiscal quando ele tem como principal objetivo abastecer os cofres pblicos (grifo do autor).

    J o tributo extrafiscal conhecido como aquele cujo objetivo principal diferente

    do arrecadatrio, criado com a funo de estimular ou desestimular um comportamento em

    determinado setor econmico ou social. Conforme lembra Rocha (2007, p. 58):

    A incidncia do tributo estimula certas condutas, positivas ou negativas, que favorecem a poltica econmica (proteo da indstria nacional em face de mercadorias estrangeiras, controle do consumo, etc) ou social (adequado aproveitamento das terras rurais) que se pretende realizar.

    Machado (2005) relata que dificilmente, na economia atual, um tributo tem apenas a

    funo de arrecadao para o Estado, ou seja, a arrecadao pode ser o principal objetivo do

    tributo, mas no o nico.

    Machado (2005) apresenta tambm o conceito de parafiscalidade, enquadrando-se

    nesse caso os tributos por intermdio dos quais o Estado paga os custos de atividades que no

    lhe so prprias, mas que exerce por meio de entidades especficas. So citados como

    exemplo as contribuies para a previdncia social, para o sistema financeiro de habitao,

    para a organizao sindical, para programas de integrao social, etc.

    2.1.4 Obrigao tributria

    O CTN estabelece, em termos de obrigao tributria, dois tipos:

    - Obrigao principal; e

    - Obrigao acessria

    Rocha (2007) observa que no direito privado o conceito de obrigao se d a uma

    relao jurdica entre duas ou mais pessoas, no se admitindo obrigao de uma pessoa

    apenas, ou seja, numa obrigao tributria temos como sujeito ativo aquele que tem o direito

  • 29

    de exigir o tributo e, do outro lado, o sujeito passivo, cuja obrigao o pagamento do tributo.

    Esses dois sujeitos so chamados de elementos subjetivos da obrigao.

    O CTN define claramente, em seu Art. 119, o sujeito ativo da obrigao tributria:

    Art. 119. Sujeito ativo da obrigao a pessoa jurdica de direito pblico, titular da

    competncia para exigir o seu cumprimento

    Ainda no CTN, no Art. 121, encontra-se tambm a definio de sujeito passivo: Art.

    121. Sujeito passivo da obrigao principal a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou

    penalidade pecuniria.

    No caso de uma relao tributria, essa conduta pode significar o pagamento de um

    valor, nesse caso, chamada de obrigao principal, como tambm h a exigncia do sujeito

    ativo no cumprimento de certas burocracias por parte do sujeito passivo, o que se chama

    obrigao acessria.

    Para Cassone (1999), tem-se por obrigao tributria o vnculo entre o sujeito ativo,

    neste caso o Estado, e o sujeito passivo, representado pelo contribuinte. Conforme explica o

    autor, a obrigao tributria se subdivide em Principal (relativa ao tributo) e Acessria

    (relativa aos deveres acessrios, isto , escriturao fiscal etc.), conforme dispe o art. 113 do

    CTN/66 (CASSONE, 1999, p. 125).

    No Art. 113 do CTN tem-se:

    Art. 113. A obrigao tributria principal ou acessria. 1 A obrigao principal surge com a ocorrncia do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniria e extingue-se juntamente com o crdito dela decorrente. 2 A obrigao acessria decorre da legislao tributria e tem por objeto as prestaes, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadao ou da fiscalizao dos tributos.

    Conforme Rocha (2007), a obrigao principal da relao tributria caracteriza-se

    por sua natureza pecuniria, ou seja, o dever de pagar um valor. J a obrigao acessria se d

    pelo dever de fazer ou no algo que no seja o pagamento de um valor relativo ao tributo,

    como, por exemplo, emitir notas fiscais, escriturar livros, no rasurar escrituraes, etc.

    Logo, para exemplificar, numa operao de venda de mercadorias temos:

    - recolhimento do ICMS obrigao principal

    - emisso de nota fiscal relativa operao obrigao acessria.

  • 30

    2.1.5 Fato gerador

    Cassone (2004, p. 279) define como o fato que gera a obrigao tributria, ou seja,

    um acontecimento que, efetivando-se, impe ao contribuinte a obrigao de pagar um tributo.

    Dessa forma, para que a obrigao exista, o fato deve ocorrer rigorosamente, nos termos da lei

    que o prev.

    Para Rocha (2007), o fato gerador pode assumir sentido abstrato ou concreto. Por

    sentido abstrato, entende-se a hiptese definida em lei para o surgimento da obrigao

    tributria, mas que por si s no gera obrigao, apenas estipulando situaes em que o

    tributo poder ser cobrado. Em sentido concreto, tem-se o fato consumado, ocorrido em um

    lugar, num determinado momento que, por haver sua previso em lei, gera ao contribuinte a

    obrigao de pagar o tributo, como, por exemplo, a sada de uma mercadoria de um

    estabelecimento comercial que, a partir de ento, gera uma obrigao do pagamento do devido

    imposto pelo estabelecimento do qual ela saiu.

    O CTN, em seus Arts. 114 e 115, separa os fatos geradores como sendo da obrigao

    principal e da obrigao acessria, conforme abaixo:

    Art. 114. Fato gerador da obrigao principal a situao definida em lei como necessria e suficiente sua ocorrncia.Art. 115. Fato gerador da obrigao acessria qualquer situao que, na forma da legislao aplicvel, impe a prtica ou a absteno de ato que no configure obrigao principal.

    Importante observar que, em ambos os casos, o fato gerador dever estar definido em

    lei para que se possa identificar o surgimento de uma obrigao tributria.

    Machado (2005, p. 138) analisa o fato gerador da obrigao principal com um

    sentido amplo, sendo toda e qualquer ocorrncia, decorrente ou no de vontade, cuja

    existncia indispensvel e suficientemente prevista em lei para que se possa caracterizar.

    Quanto ao fato gerador da obrigao acessria, este pode estar definido na legislao

    e no apenas na lei, ou seja, um fato ocorrido pode gerar obrigaes definidas em leis s quais

    o contribuinte tambm vai se submeter, como, por exemplo, a situao de quem

    estabelecido comercialmente faz nascer as obrigaes acessrias de no receber mercadorias

    sem o documento fiscal correspondente e de tolerar a fiscalizao em seus livros e

    documentos (MACHADO, 2005, p.139, grifo do autor).

  • 31

    O autor afirma tambm que um fato gerador pode ser, ao mesmo tempo, da

    obrigao principal e da obrigao acessria (MACHADO, 2005).

    Logo, pode-se entender como fato gerador a situao legalmente definida que,

    ocorrida, acarretar ao sujeito passivo obrigaes principais e/ou, ainda, obrigaes acessrias

    perante o sujeito ativo de uma relao tributria.

    2.1.6 Princpios Constitucionais

    O Art. 150 da CF/88 versa sobre as limitaes do poder de tributar, cujo contedo

    estabelece limites ao Poder Pblico quando em seu exerccio de instituio, cobrana,

    majorao ou reduo de tributos, entre outros atos. Nessas regras, encontramos a

    manifestao de princpios que so utilizados para a eficaz utilizao dos tributos em favor

    tanto do Estado quanto do contribuinte.

    Machado (2005, p. 52) menciona que tais princpios existem para proteger o

    cidado contra os abusos do Poder, ou seja, os princpios esto disposio do cidado com

    instrumento de defesa deste frente s arbitrariedades que possam ser cometidas pelo Estado.

    Rocha (2007, p. 73) chama de princpios constitucionais gerais aqueles aplicveis a

    todos os entes polticos (Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios) e que sero

    elencados a seguir e citados neste trabalho por abrangerem os tributos que sero estudados.

    2.1.6.1 Princpio da legalidade

    Este princpio, estabelecido no Art. 150, inciso I da CF/88, determina que no

    permitido ao Estado exigir ou aumentar tributo que no seja em virtude de lei.

    Diante dessa determinao constitucional, pode-se verificar que este princpio

    evocado tambm pelo CTN na prpria definio de tributo constante em seu Art. 3, no qual

    consta que tributo toda prestao pecuniria compulsria [...] instituda em lei [...].

    Tambm no CTN, em seu Art. 9, inciso I, expressa a vedao a qualquer dos entes

    polticos a instituio ou majorao de tributo sem que exista para isso uma lei.

    Rocha (2007, p. 73) entende que este princpio no se limita somente instituio e

    majorao de tributos, estendendo-o tambm reduo destes, seja pela diminuio de sua

    base de clculo ou da alquota, ou ainda, de ambas, pois, conforme afirma o autor [...] s

    uma lei nova pode inovar em relao a uma lei anterior.

  • 32

    Ainda segundo Rocha (2007, p. 73), a lei instituidora do tributo precisa determinar

    quatro elementos: [...] (i) o fato gerador; (ii) a base de clculo; (iii) a alquota; e (iv) o sujeito

    passivo da obrigao. Sendo assim, uma vez que tanto a base de clculo quanto a alquota

    fazem parte da lei instituidora do tributo, ser necessria a promulgao de uma nova lei para

    que se possa alterar o contedo da lei vigente no que diz respeito majorao e tambm

    reduo do tributo.

    2.1.6.2 Princpio da anterioridade

    O princpio da anterioridade abordado nesta pesquisa devido s peculiaridades

    inerentes aos tributos incidentes nas operaes de importao, estabelecendo uma relao

    entre estes e sua vigncia, e influenciando diretamente os objetivos do Estado ao promover

    alteraes de alquotas ou at mesmo a instituio de novos tributos.

    O inciso III do Art. 150 da CF/88 expe este princpio quando determina que

    vedado:

    III Cobrar tributos:[...] b) no mesmo exerccio financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alnea b [...]

    Para Machado (2005), a alnea b do dispositivo constitucional supracitado

    consubstancia o princpio da anterioridade, valendo dizer que o Estado no pode instituir ou

    aumentar um tributo e cobr-lo do contribuinte dentro do mesmo exerccio financeiro.

    O autor versa tambm sobre a incluso da alnea c pela Emenda Constitucional (EC)

    n 42, de 19 de dezembro de 2003, que tambm impede o Estado de cobrar o tributo que tenha

    sido institudo ou aumentado antes de transcorridos 90 dias da publicao da lei, sem que o

    respeito a esse perodo isente o poder pblico do respeito ao exerccio financeiro de

    publicao da lei (MACHADO, 2005).

    Assim, salvo as excees que sero abordadas mais adiante neste trabalho, uma lei

    que institui ou majora um tributo no pode ter sua aplicao dentro do mesmo exerccio

    financeiro em que tiver sido publicada, devendo surtir efeitos sobre o contribuinte somente a

    partir do exerccio financeiro seguinte. A lei deve respeitar tambm o perodo de 90 dias aps

    a data de sua publicao para que possa vigorar, caso o perodo relativo ao trmino do

  • 33

    exerccio financeiro seja inferior a esse prazo, ou seja, a lei deve respeitar, entre os dois

    perodos, o que estender para um futuro mais distante o incio de sua vigncia.

    Nesse sentido, Rocha (2007) explica que o objetivo desse princpio proteger o

    contribuinte de uma surpresa desfavorvel no pagamento do tributo devido, dando-lhe a

    oportunidade de se prevenir quanto ao impacto causado pela instituio ou aumento do tributo

    em suas finanas.

    Para Rocha (2007), a CF/88 no aplica o princpio da anterioridade quando houver

    reduo ou extino do tributo, pois seu objetivo evitar, de fato, uma surpresa que cause

    mais danos ao contribuinte e no uma surpresa satisfatria como seria no caso de reduo ou

    extino de um tributo.

    2.1.6.3 Princpio do no-confisco

    Uma questo que pode preocupar o contribuinte de determinado tributo quanto aos

    limites que devem ser obedecidos pelo Governo ao instituir o valor de um tributo, ou seja, at

    quanto o ente poltico pode cobrar de tributo do contribuinte por um fato gerador.

    Nesse sentido, o inciso IV do Art. 150 da CF/88 faz surgir o princpio do no-

    confisco ao expressar que aos entes polticos vedado IV utilizar tributo com efeito de

    confisco.

    Para Rocha (2007), este princpio emana da garantia propriedade privada constante

    no Art. 5, incisos XXII e XXIII, tambm da CF/88. O autor explica que este princpio

    promove uma limitao quantitativa aos tributos, evitando uma carga tributria

    demasiadamente pesada sobre o contribuinte, obrigando o Governo a instituir valores

    razoveis para os tributos cobrados de seus devedores (ROCHA, 2007).

    Cassone (1999, p. 109) adverte que o confisco pode ficar caracterizado quando a

    base econmica sofre tributao to elevada a ponto de implicar na transferncia da

    propriedade do bem ou direito do contribuinte para o fisco.

    Para Cassone (1999), essa transferncia de propriedade pode se dar de forma

    imediata ou pelo transcurso de um pequeno intervalo de tempo.

    No entanto, no h na lei um critrio objetivo para identificar a cobrana abusiva de

    tributos por parte do poder pblico. Conforme observa Rocha (2007), fica a critrio da

    autoridade judiciria declarar ou no o desrespeito a este princpio pela autoridade tributria.

  • 34

    Para isso, o contribuinte que se sentir prejudicado na relao tributria dever provocar uma

    ao para que o Poder Judicirio possa analisar o caso, ou seja, o julgamento subjetivo

    quando se torna necessrio concluir pela abusividade ou razoabilidade na cobrana de um

    tributo.

    2.1.6.4 Princpios Constitucionais Especficos do IPI e do ICMS

    Rocha (2007) faz meno a dois Princpios Constitucionais cuja aplicao se d a

    dois impostos que sero tratados neste trabalho. So eles o Imposto sobre Produtos

    Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Operaes Relativas Circulao de Mercadorias e

    sobre Prestaes de Servios de Transporte Interestadual ou Intermunicipal e Servios de

    Comunicao (ICMS).

    Uma diferena importante e explicada por Rocha (2007) a relativa abrangncia de

    cada um dos tributos pois, enquanto o IPI incide apenas sobre mercadorias que tenham

    sofrido alguma forma de industrializao, o ICMS por sua vez incide sobre todos os tipos de

    mercadorias que estejam circulando no comrcio, sejam elas industrializadas ou no.

    No entanto, Rocha (2007) apresenta tambm semelhanas que tornam ambos os

    tributos usurios comuns a dois princpios que sero estudados, o princpio da no-

    cumulatividade e o princpio da seletividade.

    Comparando-se o IPI e o ICMS, pode-se notar que [...] (i) ambos so impostos

    sobre a circulao econmica de mercadorias; (ii) em ambos os casos, por regra, o fato

    gerador ocorre no momento em que a mercadoria sai do estabelecimento respectivo; e (iii)

    ambos so impostos plurifsicos (ROCHA, 2007, p. 88-89).

    Por plurifsicos, o autor explica que so tributos que incidem vrias vezes sobre o

    mesmo produto ao longo do processo de circulao deste, ou seja, em cada vez que o produto

    sai de um estabelecimento industrial (para a incidncia de IPI) ou comercial (para a incidncia

    de ICMS), h uma tributao sobre o seu valor. Logo, um produto que, desde seu primeiro

    processo de industrializao ou comercializao at chegar ao consumidor final, passe por

    diversos outros processos de industrializao e comercializao, dever recolher, em cada

    etapa, tais impostos (ROCHA, 2007).

    Dessa forma, a incidncia tributria do IPI e ICMS sobre o valor desse produto em

    cada negociao, geraria uma tributao em cascata, na qual esses impostos seriam cobrados

    sobre um valor j tributado, visto que os valores atribudos anteriormente ao bem continuam

  • 35

    compondo o seu valor em cada uma dessas etapas de negociao, recebendo apenas um valor

    adicional referente remunerao do industrial ou comerciante que promove sua circulao.

    Com vistas a essa caracterstica, encontramos nos Arts. 153, 3, inciso II e 155, 2,

    inciso I da CF/88 a instituio do princpio da no-cumulatividade, respectivamente, para o

    IPI e para o ICMS.

    Utilizando-se desse instrumento, o contribuinte que estiver dentro da cadeia

    industrial ou comercial pode compensar, no valor do imposto pago por ele na venda de uma

    mercadoria, o valor desse mesmo imposto pago tambm na compra (constante na nota fiscal

    de entrada), ficando ento, obrigado a recolher apenas o valor equivalente diferena entre o

    preo de compra e o preo de venda dessa mercadoria. Assim, o contribuinte paga o IPI e o

    ICMS apenas pelo valor que sua atividade acrescentou ao montante do produto, a esse valor

    d-se o nome de valor agregado.

    Para exemplificar a incidncia de tributos no-cumulativos, suponha-se o trmite de

    um produto entre estabelecimentos contribuintes do IPI e ICMS da seguinte forma:

    Um produto industrializado, com valor inicial de R$ 100,00 (cem reais), produzido

    em uma empresa industrial e comercializado at o consumidor final, conforme a Tabela 1:

    Tabela 1 Incidncia tributria entre empresas industriais e comerciais com a

    compensao de IPI e ICMS

    EmpresaValor de compra

    (R$)

    Impostos a recuperar (R$)

    IPI(10%)

    ICMS(17%)

    Valor de venda (R$)

    Impostos a recolher (R$)

    Impostos incidentes

    sobre o valor agregado

    IPI(10%)

    ICMS(17%)

    IPI(10%)

    ICMS(17%)

    Empresa 1 (industrial) -.-.- -.-.- -.-.- 100,00 10,00 17,00 10,00 17,00

    Empresa 2 (industrial) 110,00 10,00 17,00 150,00 15,00 25,50 5,00 8,50

    Empresa 3 (comercial) 150,00 -.-.- 25,50 200,00 -.-.- 34,00 -.-.- 8,50

    Empresa 4 (comercial) 200,00 -.-.- 34,00 250,00 -.-.- 42,50 -.-.- 8,50

    Total de impostos recolhidos (R$): 15,00 42,50Fonte: Elaborada pelo autor

    Notas: 1) somente as empresas 1 e 2, por serem industriais, tm direito compensao do IPI pago na aquisio, pela no cumulatividade do imposto, nos termos do Art. 164 do RIPI;2) com o objetivo de simplificar o exemplo, para a empresa 1, no foi considerado o valor relativo ao crdito a que faz jus na aquisio de matrias-primas (MP), produtos intermedirios (PI) e material de embalagem (ME), nos termos do Art. 164 do RIPI

  • 36

    Dessa forma, quando em uma operao de revenda de um produto sobre o qual

    incidam IPI ou ICMS ou, ainda, ambos, o valor do imposto devido pelo estabelecimento

    responsvel deve ser referente apenas ao valor que este acrescentou ao produto, ou seja, a

    diferena entre o valor de venda e o valor de compra do produto, uma vez que os

    estabelecimentos antecessores na cadeia industrial ou comercial j recolheram suas

    respectivas parcelas dos impostos em questo.

    Contabilmente, essas operaes se utilizam de contas especficas do ativo,

    comumente chamadas de IPI a recuperar ou ICMS a recuperar, nas quais so registrados os

    valores desses impostos constantes na nota fiscal de compra pelo comerciante, para que possa

    haver a compensao tributria pelo crdito resultante do valor dos impostos pagos pelo

    estabelecimento anterior, mas que foram embutidos no preo do produto adquirido pelo

    estabelecimento seguinte.

    Outros tributos incidentes nas operaes de importao de mercadorias tambm esto

    sujeitos no-cumulatividade, a saber: a Contribuio para os Programas de Integrao Social

    e de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico incidente na Importao de Produtos

    Estrangeiros ou Servios - PIS/PASEP-Importao e a Contribuio Social para o

    Financiamento da Seguridade Social devida pelo Importador de Bens Estrangeiros ou

    Servios do Exterior - COFINS-Importao. Tais tributos so tratados no item 2.2.6 deste

    trabalho, no qual tambm abordada a sua previso legal de no-cumulatividade.

    Tambm na CF/88, em seus Art. 153, 3, inciso I e 155, 2, inciso III,

    encontrado o que Rocha (2007) chama de princpio da seletividade.

    Esse princpio obrigatrio para o IPI e facultativo para o ICMS, em razo da

    extrafiscalidade daquele e da fiscalidade deste, e seu objetivo o de submeter os produtos a

    cargas tributrias que variam de acordo com a essencialidade de cada bem. Conforme Rocha

    (2007, p. 91):

    [...] aquelas mercadorias mais essenciais subsistncia da populao so atingidas com uma alquota menor do que aquela aplicvel a mercadorias consideradas suprfluas. Com isso, mercadorias que compem a cesta bsica, por exemplo, seriam atingidas por alquota zero, enquanto que produtos como bebidas alcolicas, fumgenos, perfumes, jias, etc. so atingidos por alquotas bastante significativas.

    Cassone (1999) observa que, em razo desse princpio, o IPI tambm acaba por se

    excluir do princpio do no-confisco, anteriormente tratado, devido s elevadas tarifas que por

  • 37

    vezes acabam sendo fixadas a determinados produtos, o que poderia ser interpretado, em

    outras circunstncias, como abuso do Estado em seu poder de tributar.

    2.1.6.5 Iseno ao Princpio da Anterioridade

    Os tributos de natureza regulamentadora, para que surtam efeitos, no podem ser

    impedidos de atuar quando necessrio. Para isso a CF/88 garante expressamente a iseno de

    alguns tributos ao princpio da anterioridade.

    No comrcio exterior brasileiro, o Estado pode se utilizar desse dispositivo

    constitucional para que, de forma eficaz, possa intervir na economia, promovendo alteraes

    tributrias que objetivem incentivar ou desestimular uma tendncia de mercado, conforme a

    situao assim o exigir. Na abordagem deste trabalho, so considerados como favorecidos

    pelo dispositivo constitucional o Imposto de Importao (II), o IPI e o Imposto sobre

    Operaes de Crdito, Cmbio e Seguro ou Relativas a Ttulos ou Valores Mobilirios (IOF).

    Conforme foi visto anteriormente, a CF/88, em seu Art. 150, dispe sobre as

    limitaes do poder de tributar, caracterizando nas alneas b e c do inciso III o princpio da

    anterioridade, no permitindo ao Estado a instituio ou majorao e cobrana de um tributo

    dentro do mesmo exerccio financeiro ou, ainda, antes de decorrido o perodo de 90 dias aps

    a publicao da respectiva Lei.

    Porm, como exceo regra, a CF/88 traz tambm, no pargrafo primeiro desse

    Artigo, os tributos que no esto sujeitos ao princpio da anterioridade, contando o legislador,

    nesses casos, com maior liberdade de operao desses tributos.

    O Quadro 1 mostra, segundo o 1 do Art. 150, os tributos que esto isentos do

    princpio da anterioridade, podendo ser institudos ou majorados.

    Tributo

    No mesmo exerccio financeiro de

    publicao da lei (inciso III, alnea b)

    Antes de decorridos 90 dias da data de publicao da lei

    (inciso III, alnea c)Emprstimos compulsrios para atender a despesas extraordinrias decorrentes de calamidade pblica, guerra externa ou sua iminncia.

    Imposto de Importao (II) Imposto de Exportao (IE)

  • 38

    Imposto sobre Produtos industrializados (IPI) Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza (IR) Imposto sobre operaes de crdito, cmbio e seguro ou relativas a ttulos ou valores mobilirios (IOF)

    Impostos extraordinrios na iminncia ou no caso de guerra externa. Fonte: Adaptado da CF/88, art. 150, 1

    Quadro 1 Tributos isentos ao princpio da anterioridade

    Conforme demonstrado no Quadro 1, o II recebe da CF/88 iseno ao princpio da

    anterioridade tanto no perodo que compreende o mesmo exerccio financeiro quanto no

    perodo relativo aos 90 dias aps a publicao da Lei.

    Para Rocha (2007, p. 123), essa exceo do II ao princpio da anterioridade significa

    que se uma lei vier a institu-lo ou aumentar suas alquotas ou base de clculo, tal lei poder

    ter efeitos imediatos. Da mesma forma, caso algum ato do Executivo venha a majorar suas

    alquotas, tal ato poder ter efeito imediato (grifo do autor).

    O CTN, em seu Art. 21, autoriza o Poder Executivo a alterar tanto as alquotas,

    quanto a base de clculo do II, com a finalidade de ajust-las poltica cambial e aos

    objetivos do comrcio exterior e desde que sejam respeitados os limites legais, que de acordo

    com Fabretti (2005a), no que diz respeito alquota de importao, h limitao da

    Organizao Mundial do Comrcio (OMC) a, no mximo, 35%. Em consonncia, a tabela da

    Tarifa Externa Comum (TEC), atualizada pela Cmara de Comrcio Exterior (CAMEX) por

    meio da Resoluo n 14, de 20 de maro de 2008, atribui s importaes alquotas entre 0% e

    35%.

    Assim, o Estado, neste caso a Unio, tem maior liberdade de exercer seu poder de

    controle nas relaes de importao de produtos estrangeiros quando houver necessidade,

    majorando ou reduzindo suas alquotas.

    O IOF, de modo igual ao II, no se sujeita ao princpio de anterioridade tanto em

    relao ao exerccio financeiro, quanto em relao ao perodo de 90 dias, podendo um ato do

    Poder Executivo alterar suas alquotas e bases de clculo em qualquer tempo.

  • 39

    O IPI, por ser um tributo com funo extrafiscal, juntamente com a obrigatoriedade

    constitucional de ser um imposto seletivo, tambm se caracteriza pelo efeito regulador que

    exerce sobre a economia e, no caso aqui estudado, no comrcio exterior.

    O RIPI, em seu art. 64, determina:

    Art. 64. Quando se tornar necessrio atingir os objetivos da poltica econmica governamental, mantida a seletividade em funo da essencialidade do produto, ou, ainda, para corrigir distores, podero as alquotas ser reduzidas at zero ou majoradas at trinta unidades percentuais.

    Conforme o Quadro 1, observa-se que o IPI se submete apenas anterioridade do

    exerccio, ficando sujeito ainda anterioridade nonagesimal (ROCHA 2007, p. 129), ou

    seja, no ocorre o mesmo que com o II e o IOF, que podem ter suas alquotas ou bases de

    clculo majoradas a qualquer tempo, sendo aplicveis de forma imediata. As majoraes de

    alquotas ou bases de clculo do IPI no precisam aguardar o exerccio seguinte para serem

    aplicadas, mas precisam, por determinao constitucional, respeitar o perodo de 90 dias a

    partir da publicao da lei ou ato legal para que suas novas alquotas possam ser exigidas pelo

    poder pblico.

    2.2 Tributos incidentes na importao

    Os tributos apresentados nesta subseo so tratados, de forma separada, segundo a

    espcie caracterstica de cada um, abordando-se os termos da legislao em vigor sobre a

    incidncia desses tributos nas operaes de importao de mercadorias no Estado de Santa

    Catarina.

    2.2.1 Imposto de importao (II)

    O imposto de importao tem sua previso legal no Art. 153, inciso I da CF/88 e no

    Art. 19 do CTN e, em ambos, a competncia para sua instituio da Unio, no podendo

    outro ente pblico assumir essa iniciativa.

    Para Machado (2005), no se deve configurar a personalidade jurdica dos Estados-

    membros nas relaes internacionais, cabendo Unio o tratamento desse imposto de forma

    uniforme para todo o territrio nacional.

  • 40

    Conforme destaca Fabretti (2005a), o II um tributo utilizado como instrumento de

    poltica econmica, ou seja, um meio de buscar o favorecimento da economia nacional em

    virtude das alteraes oriundas do mercado internacional.

    Machado (2005) qualifica o II como imposto de funo extrafiscal, devido sua

    importncia como instrumento de proteo indstria nacional, apesar de tambm ser uma

    fonte de renda para o Estado. Este autor afirma que:

    Se no existisse o imposto de importao, a maioria dos produtos industrializados do Brasil no teria condies de competir no mercado com seus similares produzidos em pases economicamente mais desenvolvidos, onde o custo industrial reduzido graas aos processos de racionalizao da produo e ao desenvolvimento tecnolgico de modo geral. (MACHADO, 2005, p. 303)

    Sendo assim, a existncia desse tipo de imposto protege o mercado interno do Pas

    contra uma possvel entrada desleal de produtos estrangeiros no territrio nacional, com

    conseqncias negativas indstria aqui instalada.

    O Decreto n 4.543, de 26 de dezembro de 2002, Regulamento Aduaneiro (RA), em

    seu Art. 69, determina que o imposto de importao incida sobre mercadoria estrangeira,

    incluindo nessa incidncia a bagagem de viajante, os bens enviados como presente ou

    amostra, ou, ainda, a ttulo gratuito.

    Para fins da incidncia do II, o Art. 70 do RA classifica tambm estrangeira a

    mercadoria nacional ou nacionalizada que tenha sido exportada, nos casos em que essa

    mercadoria retorne ao pas, exceto a mercadoria:

    I - enviada em consignao e no vendida no prazo autorizado;II - devolvida por motivo de defeito tcnico, para reparo ou para substituio;III - por motivo de modificaes na sistemtica de importao por parte do pas importador;IV - por motivo de guerra ou de calamidade pblica; ouV - por outros fatores alheios vontade do exportador.Pargrafo nico. Sero ainda considerados estrangeiros, para