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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Luiz Henrique Martins PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA NA JUSTIÇA MILITAR CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Luiz Henrique Martins

PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA NA JUSTIÇA MILITAR

CURITIBA

2011

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PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA NA JUSTIÇA MILITAR

Curitiba

2011

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Luiz Henrique Martins

PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JUSTIÇA MILITAR

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. DálioZippin Filho

Curitiba

2011

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................10

2. OBJETIVO..................................................................................................................11

3. HISTÓRIA DO DIREITO MILITAR NO BRASIL........................................................11

3.1 COMPOSIÇÃO DA JUSTIÇA MILITAR NO BRASIL................................................12

4. OS BENS TUTELADOS NO DIREITO MILITAR........................................................15

4.1 CRIME MILITAR........................................................................................................16

5. O DIREITO PENAL MILITAR E A CONSTITUIÇÃO DE 1988...................................17

6. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA............................................................................23

6.1 CONCEITO...............................................................................................................23

6.1.1 Classificações e Restrições...................................................................................25

6.2 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO NO DIREITO PENAL COMUM..................................27

7. O PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES MILITARES............................33

7.1 O Princípio da Insignificância e a lesão levíssima..............................................35

7.2 O Princípio da Insignificância no delito de furto.................................................36

7.3 O Princípio da Insignificância nos delitos de porte e uso de substância

entorpecente..................................................................................................................39

8. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NOS CRIMES MILITARES

.........................................................................................................................................41

9. POSICIONAMENTO DO STF.....................................................................................47

10. CONCLUSÃO..........................................................................................................52

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................54

12. ANEXOS...................................................................................................................57

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TERMO DE APROVAÇÃO

Luiz Henrique Martins

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JUSTIÇA MILITAR

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela seguinte Banca Examinadora do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,_____de____________de 2011.

_________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

_________________________________ Orientador: Prof. Dr. DállioZippin Filho Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná

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Dedicatória Agradeço a Deus por permitir estar aqui neste momento tão esperado.

Aos meus pais por estar ao meu lado em todos os momentos em que achei que nada disso seria possível

As minhas filhas por serem pacientes na espera deste dia tão clamado.

A minha esposa Ana Paula por entender o oficio da minha profissão e ter suportado os momentos difíceis durante a fase acadêmica.

Agradeço também a uma pessoa que foi muito importante na escalada das minhas pesquisas, o senhor Dr. Misael Duarte.

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INTRODUÇÃO

No Brasil o sistema jurídico contemplao Código Penal Brasileiro, Decreto-Lei

nº. 2.848 de 07 de dezembro de 1940, que dispõe de diversos capítulos específicos,

onde há variados artigos aplicáveis a cada situação, sendo que o individuo que é

preso em flagrante ou coloca em risco a sociedade no momento do delito necessita

ter sua liberdade restrita

Mais especificamente temos o Decreto-Lei nº. 1.002 de 21 de outubro de

1969, mais conhecido como Código de Processo Penal Militar. Nos artigos 9º e 10º

estão classificados os Crimes Militares, em tempo de paz e guerra, respectivamente.

Ainda, no artigo 7º está descrito as autoridades competentes para julgar, tais

crimes.

O presente estudo tem por objetivo demonstrar a relevância da aplicação do

Princípio da Insignificância e a interligação com os Crimes Militares.

O assunto a ser tratado sempre teve entendimentos diversos na doutrina.

Mas, vem tendo uma aceitação com uma freqüência assídua nos crimes penais

comuns, mas com relação aos crimes militares está atuação vem se descobrindo

aos poucos.

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2. OBJETIVO

O presente estudo tem por objetivo demonstrara importância da aplicação do

Princípio da Insignificância para o contexto no âmbito penal, bem como

entendimentos a respeitodo Princípio da Insignificância e a interligação com os

Crimes Militares.

3. HISTÓRIA DO DIREITO MILITAR NO BRASIL

Direito Militar é o ramo do Direito relacionado à legislação das Forças

Armadas. Tem a sua origem no Direito Romano, onde era utilizado para manter a

disciplina das tropas da Legião Romana. Por vezes conhecido como Direito

Castrense, palavra de origem latina, que designa o direito aplicado nos

acampamentos do Exército Romano.

Este ramo passou a adquirir importância com a vinda da Família Real

Portuguesa para o Brasil em 1808, onde foi criado o primeiro Tribunal da Nação, o

Conselho Militar e de Justiça, que depois se transformou no Superior Tribunal Militar,

STM, atualmente com sede em Brasília, e jurisdição em todo o territorio nacional.

Por força da Constituiçao Federal, o Superior Tribunal Militar é considerado um

Tribunal Superior, mas na pratica funciona como um Tribunal de Segundo Grau,

tendo em vista que não existe na estrutura judiciária nacional um Tribunal Regional

Militar, que poderia ser representado pela sigla T.R.M.

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O Direito Militar é um ramo do direito que desperta o interesse das pessoas

em razão de cuidar de uma categoria de funcionários públicos que são considerados

como sendo funcionários especiais, com direitos e prerrogativas que na sua maioria

não são assegurados aos funcionários civis. Mas, ao mesmo tempo os militares

estaduais ou federais possuem direitos especiais também possuem obrigações

diferenciadas, como por exemplo, o sacrificio da própria vida no cumprimento de

missão constitucional, o que se denomina de tributo de sangue, ou tributus

sanguinis. Em razão destas particularidades, o legislador constituinte originario

assegurou aos militares o direito de serem processados e julgados perante uma

Justiça Especializada, que é a Justiça Militar da União ou a Justiça Militar dos

Estados e do Distrito Federal.

Muitos defendem a extinção da Justiça Militar, por considerarem o Direito

Militar um privilégio. Entretanto, o que este ramo do Direito visa proteger não são os

militares em si, mas sim as Instituições Militares, Estaduais, do Distrito Federal ou da

União, sendo que, inclusive, na área penal as penas são em grande parte mais

rígidas do que aquelas que se encontram estabelecidas no vigente Código Penal

Brasileiro.

3.1 COMPOSIÇÃO DA JUSTIÇA MILITAR NO BRASIL

A Justiça Militar no Brasil compõe-se do Superior Tribunal Militar (STM), com

sede em Brasília e jurisdição em todo o território nacional, e dos Tribunais e Juízes

Militares, com competência para processar e julgar os crimes militares definidos em

lei.

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No Brasil, a Constituição da República Federativa de 1988 disciplina sobre a

organização da Justiça Militar da União, estados-membros e do Distrito Federal. A

Justiça Militar Estadual se faz presente em todos os estados e também no Distrito

Federal, sendo constituída em primeira instância pelas Auditorias Militares, que são

varas criminais com competência específica. Nelas um Juiz de Direito, também

denominado Juiz-Auditor, responsabiliza-se pelos atos de ofício, já a função de

processar cabe a um órgão colegiado chamado de Conselhos de Justiça, formado

por quatro juízes militares (oficiais das armas) e o próprio Juiz-Auditor, a este último

cabe o mister de relator do processo e ao Juiz Militar de maior patente a presidência

do Conselho. Em Segunda Instância, nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio

Grande do Sul pelos Tribunais de Justiça Militar e nos demais estados e no Distrito

Federal pelos Tribunais de Justiça estaduais. No âmbito da União, a Segunda

Instância da Justiça Militar é constituída pelo Superior Tribunal Militar (STM).

A Justiça Militar no Brasil foi organizada pela primeira vez em 1808 com a

vinda da família Real para o Brasil em razão do bloqueio continental que foi imposto

por Napoleão Bonaparte. No ano de 1934, a Justiça Militar da União foi inserida pela

primeira vez na Constituição Federal, e no ano de 1946 foi a vez da Justiça Militar

dos Estados. Com o advento da Constituição Federal, tem ocorrido uma maior

divulgação da Justiça Militar, Federal e Estadual. A Emenda Constitucional n°

45/2004, aumentou a competência da Justiça Militar Estadual.

A Justiça Militar da União é justiça especializada na aplicação da lei a uma

categoria especial, a dos militares federais - Marinha, Exército e Aeronáutica

julgando apenas e tão somente os Crimes Militares definidos em lei. Não é um

tribunal de exceção, já que atua, ininterruptamente, há quase duzentos anos, possui

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magistrados nomeados segundo normas legais permanentes e não é subordinado a

nenhum outro Poder. É valido citar que, em 1936, o então Supremo Tribunal Militar

reformou sentenças proferidas pelo Tribunal de Salvação Nacional, este sim um

tribunal de exceção, e que, no período de regime militar de 1964 a 1984, levou

juristas famosos na luta em defesa dos direitos humanos, como Heleno Fragoso,

Sobral Pinto e Evaristo de Morais, a tecerem candentes elogios à independência,

altivez e serenidade com que atuou o Superior Tribunal Militar na interpretação da

Lei de Segurança Nacional e na aplicação dos vários Atos Institucionais.

O Direito Penal Militar é aplicado no Brasil desde o tempo do Império, quando

a Família Real veio para o Brasil e organizou o primeiro Tribunal que a Nação

conheceu, o Supremo Conselho Militar e de Justiça, que posteriormente se

transformou no Superior Tribunal Militar (STM), que atualmente tem sede em Brasília

e jurisdição em todo o território nacional.

O vigente Código Penal Militar (CPM) data de 1969, e foi editado por meio do

Decreto-Lei nº. 1001. O estatuto penal militar alcança os integrantes das Forças

Armadas, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, que devem obedecer e

respeitar as regras militares, acima especificadas.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, novos estudiosos têm se

dedicado ao direito penal militar, na busca de uma maior divulgação deste ramo

especializado do direito, destacando-se entre eles, Jorge César de Assis, Ronaldo

João Roth, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, Robson Coimbra, Lauro Escobar, James

Magalhães, que têm contribuindo para a construção de uma Teoria do Direito Penal

Militar Constitucional.

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4. OS BENS TUTELADOS NO DIREITO PENAL MILITAR

As organizações militares do Brasil têm sua Justiça Militar devidamente

prevista e regulada em nossa Constituição Federal e, consequentemente, nas

Constituição Estaduais. Sendo uma legislação especial, possui um Código Penal

Militar e um de Código de Processo Penal Militar próprios.

As instituições militares são baseadas na hierarquia e na disciplina, cuja

relevância para o funcionamento da estrutura militar demanda considerar como bens

jurídicos dos mais relevantes a serem tutelados por esta legislação especial. Há

outros bens que mereceram tutela penal, a exemplo da integridade física e

patrimonial. Os Crimes Militares podem ser tanto cometidos por militares como por

civis, de onde se extrai, respectivamente, os propriamente militar e os

impropriamente militar.

A necessidade de abordar os Crimes Militares juntamente com o principio da

insignificância é devido ao fato deste principio já estar sendo aplicado nos crimes

comuns, sendo que alguns deles também estão tipificados no Código Penal Militar,

de tal modo que, em razão do princípio da igualdade e da adoção da analogia, vem

se estendendo aos crimes militares, ainda que de forma tímida.

A polêmica é se o Principio da Insignificância poderia ser aplicado em todos

os tipos penais militares ou somente nas mesmas hipóteses previstas no direito

penal comum. Como os dois pilares básicos das instituições militares são a

hierarquia e disciplina, ficaria, em tese, temeroso se aplicar o Princípio da

Insignificância em todos os tipos penais militares, pois isto poderia afetar estes dois

pilares.

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4.1 CRIME MILITAR

Para um adequado melhor entendimento, cumpre primeiramente definir o que

vem a ser Crime Militar, destacando que, em sendo a Justiça Militar esfera de

Justiça Especial, nossa Constituição em seu artigo 125 e o artigo 82 do Código de

Processo Penal Militar, dizem quem esta sujeito ao Foro Militar. Segundo

Esmeraldino Bandeira “não existe um critério cientifico unanimimente indicado e

aceito para classificação de crime militar” (TORRES, Luiz Claudio Alves. 1996. pg 4

e 5) .

Ricardo Calderon, enfatiza que:

As dificuldades que se apresentam para elaborar um conceito completo e imutável de crimes militares, foram elas definidas em normas a fim de evitar definições incompletas ou deficientes, incapazes de aplicação tática, que somente os conduziam ao erro, ou a insuficiência, ou a contradição.

Prosseguindo em sua obra, Calderon termina por definir Crime Militar da

seguinte forma como “ato típico, antijurídico, imputável, culpável, sancionado em lei

para proteção da disciplina das Forças Armadas e praticado por militar (ou civil), nos

quais concorrer condições objetivas de punibilidade”.

José da Silva Loureiro Neto diz que “a posição moderna adotada, consiste em

ser o crime militar, aquele que só pelo militar pode ser cometido, portanto, infração

puramente funcional”. (NETO, Jose da Silva Loureiro: Direito Penal Militar, pg. 32, ed.

Atlas, SP, 1993)

Em face da dificuldade em encontrar unanimidade na doutrina sobre a

definição de crime militar, adotou-se o critério legal, ou seja, coube a lei dizer o que

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é crime militar, não definindo, mas enumerando de maneira taxativa as hipóteses de

sua incidência, como leciona Loureiro Neto;

“As dificuldades que se apresentavam para elaborar um conceito completo e imutável de crime militar, foram fixados em normas a fim de evitar definições incompletas ou deficientes, incapazes de aplicação prática, que somente os conduziam ao erro, ou à insuficiência, ou à contradição”.

Esta dificuldade levou os legisladores a adotarem o critério ratione legis, a fim

de estabelecer os conceitos definidores de Crime Militar, de maneira uniforme, qual

seja, o Decreto-Lei nº 1.001, de 21-10-1969, Código de Penal Militar, em seu artigo

9º, define os Crimes Militares em tempo de paz, sendo os crimes em tempo de

guerra definidos no artigo 10º, do diploma penal castrense.

5. O DIREITO PENAL MILITAR E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

A Justiça Militar é um dos órgãos do Poder Judiciário, com previsão

constitucional e Lei de Organização Judiciária que trata da sua competência,

funcionamento e composição, em atendimento ao Princípio da Legalidade que deve

reger as relações entre o Estado e os jurisdicionados.

No Brasil, com o advento da Constituição Federal de 1988 não existe

nenhum Tribunal de Exceção. Os juízes e Tribunais Militares estão previstos em Lei,

possuindo dotação orçamentária própria em respeito a tripartição dos Poderes.

A competência da Justiça Militar foi estabelecida pelo texto constitucional de

1988. A Justiça Castrense divide-se em: Justiça Militar Federal e Justiça Militar

Estadual. Os servidores militares também se dividem em duas categorias: militares federais e militares

estaduais.

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A Justiça Militar Federal tem competência para processar e julgar os

militares integrantes das Forças Armadas, Marinha de Guerra, Exército, Força Aérea

Brasileira, civis e assemelhados. No Estado democrático de Direito, que tem como

fundamento a observância de uma Constituição estabelecida pela vontade popular

por meio de uma Assembléia Nacional Constituinte, no caso do Brasil um Congresso Constituinte, não

existe nenhum impedimento para a realização de um julgamento militar que tenha como acusado um

civil.

As leis militares, Código Penal Militar, Código de Processo Penal Militar, Leis

Especiais Militares, definem as situações em que um civil poderá ser julgado por um

Juiz ou Tribunal Militar. Se um civil praticar um crime de furto em local sujeito a

Administração Militar, como por exemplo um quartel, poderá responder a uma ação

penal militar perante a Justiça Militar Federal de 1ª Instância.

Principalmente no que tange a Justiça Militar Federal, aplicável às instituições

militares componentes das Forças Armadas da União, qual sejam, Exercito, Marinha

e Aeronáutica, sendo os militares destas respectivas forças o público alvo da Justiça

Militar Federal, segundo se extrai do texto constitucional, vez que, a Justiça Militar

dos Estados, também encontram previsão particular na Constituição de 1988.

Além de acometer expressamente à definição dos Crimes Militares, a Lei,

restringe, limita e condiciona seu processo a Justiça Militar, a qual esta estatuída e

inclusa entre os órgãos do Poder Judiciário, nos termos do artigo 92, VI,

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estruturando sua mais Alta Corte na forma do escabinato.1 (ROMEIRO. Jorge

Alberto. Curso de Direito Penal Militar – Parte Geral, São Paulo. Saraiva, 1994, pg.

7).

A Justiça Militar Estadual tem competência para processar e julgar os policiais

militares e bombeiros militares nos Crimes Militares definidos em lei. Os Crimes

Militares estão definidos no Código Penal Militar, [CPM], e nas Leis Militares

Especiais. Deve-se observar, que por força de disposição constitucional a Justiça

Militar Estadual tem competência apenas e tão somente para julgar os militares estaduais, que são os

integrantes das Forças Auxiliares (Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares).

A Justiça Militar Federal e Estadual possui organização judiciária semelhante,

com algumas particularidades. A 1ª Instância da Justiça Militar denomina-se

Conselho de Justiça, que tem como sede uma auditoria militar. O Conselho de Justiça

divide-se em Conselho de Justiça Permanente e Conselho de Justiça Especial. O primeiro destina-se

ao julgamento das praças. O segundo destina-se ao julgamento dos oficiais.

Os Conselhos de Justiça são constituídos por cinco julgadores, sendo quatro

pertencentes à carreira militar, oficiais, e um juiz civil, denominado auditor militar,

que foi provido ao cargo por meio de concurso de provas e títulos. A presidência do

Conselho de Justiça é exercida pelo oficial de mais alta patente.

As praças não podem compor os Conselhos de Justiça, o que configura uma

“escabinato é um tribunal colegiado misto, composto de juízes togados e juízes leigos, trata-se de colégio judiciário muito difundido, não só na justiça militar mas na justiça comum de muitos países civilizados. Diferencia-se do Tribunal do Júri porque neste o juiz leigo tem somente voto, e o juiz togado apenas voz”.

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violação ao princípio da igualdade. Para dar atendimento ao princípio do julgamento

do acusado por seus pares, as praças deveriam compor o Conselho de Justiça Permanente desde

que tivessem graduação superior a do acusado em observância ao princípio da hierarquia.

A 2 ª Instância da Justiça Militar Federal é exercida pelo Superior Tribunal

Militar – S.T.M, com sede em Brasília, que possui competência originária e derivada para processar e

julgar todos os recursos provenientes das Auditorias Militares distribuídas pelo território brasileiro.

O Superior Tribunal Militar é composto de 15 Ministros vitalícios com todas as

garantias asseguradas aos juízes, vitaliciedade, inamovibilidade, e irredutibilidade de

vencimentos. Os Ministros Militares estão representados por dez militares da ativa,

sendo três oficiais generais da Marinha, três oficiais generais da Aeronáutica, quatro

oficiais generais do Exército, e cinco juízes civis, sendo três da carreira da

advocacia, e dois escolhidos entre os juízes auditores e promotores militares em

atendimento ao disposto no artigo 123 e parágrafo único da Constituição Federal.

A 2ª Instância da Justiça Militar Estadual nos Estado de São Paulo, Rio

Grande do Sul e Minas Gerais, é exercida pelo Tribunal de Justiça Militar que possui

competência originária e derivada para processar e julgar os recursos provenientes

das Auditorias Militares Estaduais. Nos demais Estados-membros da Federação, a

2ª Instância da Justiça Militar é exercida por uma Câmara Especializada do Tribunal

de Justiça em atendimento ao Regimento Interno e Lei de Organização Judiciária.

No Estado de Minas Gerais, o Tribunal de Justiça Militar que é composto por

cinco juízes, sendo três juízes militares do último posto de Coronel PM e dois juízes civis, sendo um

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proveniente do Quinto Constitucional, advogado ou membro do MP, e outro proveniente da carreira de

Juízes Auditores, possui competência para processar e julgar os integrantes da PM, inclusive os

Bombeiros acusados da prática de algum ilícito militar previsto no Código Penal Militar e também para

decidir sobre a perda do posto ou patente e a graduação das praças.

A matéria de perda de graduação das praças segundo a Lei de Organização Judiciária do

Estado de Minas Gerais e o Regimento Interno do Colendo Tribunal de Justiça Militar do Estado de

Minas Gerais somente poderá ser julgada quando o militar estadual, soldado a subtenente tenha sido

condenado em 1 ª Instância a pena privativa de liberdade superior a dois anos.

Por força da nova Constituição Federal, que diversamente das demais deu um tratamento

melhor a Justiça Militar Estadual, os juízes auditores ou juízes de direito que atuam junto as Auditorias

Militares, não poderão determinar com pena acessória a perda da graduação da praça condenada a

uma pena privativa de liberdade superior a dois anos. Somente o Tribunal possui competência para

fazê-lo, existindo alguns julgados que entendem que até mesmo no aspecto administrativo somente o

Tribunal competente poderá decidir sobre a perda da graduação.

A Justiça Militar, Federal ou Estadual, está presente em todos os Estados membros da

Federação. A Justiça Militar da União possui Lei de Organização Judiciária própria e dotação

orçamentária, em atendimento ao disposto na Constituição Federal. As Justiças Militares Estaduais que

também possui dotação própria ainda que pequena, possui sua competência tratada na Lei de

Organização Judiciária dos Estados.

É importante se observar, que a Justiça Militar não é uma criação do Brasil, mas um órgão

especializado do Poder Judiciário, que se faz presente em outros países, como os Estados Unidos da

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América, Portugal, Israel, entre outros.

Afirmar que a Justiça Militar Estadual é criação do movimento de 1964 é desconhecer a história

jurídica do país, tendo em vista que na Constituição Federal de 1946 a Justiça Castrense Estadual ali já

estava prevista, existindo em período em muitos Estados-membros da Federal, como no caso de

Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Além disso, outro erro que tem sido cometido ao tratar da competência da

Justiça Militar é afirmar que esta Justiça no período de 1964 a 1985 julgou crimes contra a Segurança

Nacional. Somente a Justiça Militar da União por força da Constituição de 1967, alterado pela Emenda

Constitucional n º 01 de 1969 possuía competência para processar e julgar os civis acusados em tese

da prática de crimes contra a segurança Nacional, competência esta confirmada na Lei de Segurança

Nacional, e atualmente alterada pela Constituição Federal de 1988 que determina a Justiça Federal

como competente para processar e julgar os crimes previstos na atual Lei de Segurança Nacional.

O conhecimento da competência da Justiça Especializada Militar permite o

seu estudo, afastando afirmações que tem como fundamento apenas o empirismo,

segundo as quais a Justiça Castrense seria um Tribunal de Exceção que tem por

objetivo favorecer os acusados que são processados e julgados perante os seus

órgãos de 1ª e 2ª Instância. Nas democracias modernas, a Justiça Militar se faz

presente e presta um serviço de qualidade ao Estado, permitindo um controle efetivo

das atividades de segurança pública que são exercidas pelos integrantes das Forças

Armadas e Forças Auxiliares.

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6. PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA

6.1 CONCEITO

Derivado da expressão latina “de minimis, non curater praetor” o Princípio da

Insignificância justifica-se sob a alegação de que o Estado não deveria se ocupar

dos delitos mínimos, bem como, só dever-se-ia privar uma pessoa de liberdade

quando estritamente necessário à proteção das pessoas, da sociedade e de outros

bens jurídicos que lhes sejam essenciais, todavia, é claro, nas situações em que

estes bens tutelados sejam expostos a dano, efetivo ou potencial, impregnados de

significativa lesividade.

O excelentíssimo senhor Ministro do STF, Celso de Mello, quando da análise

do HC nº. 94.809, de 12 de agosto de 2008, calcou a aplicação do Princípio da

insignificância sob o seguinte parecer:

O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes – não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social.

Dentro da ótica representativa dos conceitos doutrinários voltados ao princípio

da Insignificância, não há o que se discutir a respeito da opinião de Sua Excelência,

todavia, como é da essência dos operadores do Direito, a argumentação, desde que

bem sustentada, sempre é válida e construtiva.

Partindo deste princípio, e atendo-se ao cerne do presente trabalho, ou seja,

a não aplicação do Princípio da Insignificância nos crimes de drogas no interior do

aquartelamento, deve-se considerar que a natureza das atividades militares

apresenta faces distintas daquelas desenvolvidas pelos civis, tanto é que aqueles

apresentam, inclusive, um Código Penal e Processual diferenciados.

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Tal distinção deve-se ao fato da existência de um Estado estar calcado na

existência de um Exército2, como bem alertou Maquiavel, em sua obra “O Príncipe”

(O Príncipe – Maquiavel, comentado por Napoleão Bonaparte, Martin Claret, 2003,

p. 171), quando disse que a base de todo o poder, são boas leis e bons soldados e

que só poderia haver boas leis onde houvesse bons soldados.

O conceito do Princípio da Insignificância pode ser inspirado no artigo 98,

inciso I, da Constituição Federal, o qual diz:

A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I -juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

Assis de Toledo declara que o Princípio tem a ver com “a graduação

qualitativa e quantitativa do injusto, permitindo que o fato insignificante seja excluído

da tipicidade penal” (Princípios básicos de direito penal, São Paulo: Saraiva, 1989, p.

121-122).Portanto, levando-se em conta a natureza das atividades militares, conclui-

se que o Princípio da Insignificância pode ser aplicado nos Crimes Militares, tanto é,

que existem julgados neste sentido3, todavia, a aplicação de tal princípio quando se

trata de Crimes de Drogas no interior das instalações militares e, pior, em atividades

2 Não que um Estado não sobreviva sem um Exército, e sim, que para um Estado forte é de bom alvitre que se tenha um Exército, conforme citou Helio Lobo, em sua obra Sabres e togas (1906, p. 06) apud DEMOSTUENKS, Harangues politiques, trad- Stievenart, Paris, 1861, pag. H (Discurso sobre as reformas publicas) - “sobre as armas descansa a segurança da Nação”. 3 O STM, durante apreciação da apelação 2004.01.049586-0 considerou o furto de R$ 104,00, praticado por um recruta em outro recruta, como possível de análise perante Regulamento disciplinar em virtude de aplicação do princípio da insignificância. Em outro caso, o membro do Ministério Público Militar deixou de oferecer denúncia contra Soldado que durante exercício extraviou somente a baioneta de seu fuzil, por acreditar que o fato deveria ser resolvido na esfera disciplinar - princípio da insignificância

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militares, deve ser rechaçado prontamente e, calcado nos mesmos princípios que

regem a “insignificância”, em vista de naqueles momentos em que o militar faz uso

das drogas e está em atividades estritamente militares, há, sim, lesão significativa a

bens jurídicos relevantes – representando, por isso, prejuízos importantes, seja ao

titular do bem jurídico tutelado, o qual aqui se refere ao Estado, bem como, à

integridade da própria ordem social que deve reinar no âmbito dos exércitos.

6.1.1 Classificações e Restrições

Neste ponto é bom ressaltar que Maurício Antônio Ribeiro Lopes(LOPES,

Mauricio Antonio Ribeiro, 1997. p. 35.) , é uma das poucas pessoas a dizer que as

expressões princípio da insignificância e crime de bagatela integram o mesmo

instituto em nosso Direito Penal. Encontraremos doutrinadores que classificaram a

insignificância em duas espécies: propriamente dita ou absoluta; e, imprópria ou

relativa. Pela propriamente dita, ou absoluta, de tão insignificante que é o fato, este

nem chega a ser tipificado em nossos “codex”. Pela imprópria ou relativa, mesmo

sendo tipificadas, tem uma importância tão minguada que sua antijuricidade se torna

nula, ficando sem sentido movimentar a máquina do Estado para aplicação da

norma penal.

É bom voltar à discussão do que venha a ser Delito de Bagatela, pois o que é

bagatela para um pode não ser para outro. O que se deve levar em conta para saber

o que é insignificante é o desvalor da ação e o desvalor do resultado, ou seja, saber

distinguir entre o que é ínfimo ou ninharia e o que é pequeno valor ou irrisório. No

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caso do furto simples, tipificado no Código Penal no seu artigo 1554, e no Código

Penal Militar no seu artigo 2405, uma pessoa que subtraiu para si ou para outrem um

valor de R$ 100,00 (cem reais), pode causar a vítima uma perda de pequeno valor,

ou uma lesão ao seu patrimônio que pode ser considerada uma ninharia. Nota-se

que o valor citado, se subtraído de uma pessoa abonada, poderia ser considerada

para este uma ninharia, mas se subtraída de uma pessoa assalariada, que tem que

pagar água, luz e mantimentos, para o sustento de sua família, poderia até deixar

ser considerado de pequeno valor, apesar de o ser para alguns. A lógica, quando há

um valor material, é se verificar qual importância este bem teria para a vítima, e, nos

casos de crimes que não tenham um valor material, como no caso de uso de

substância entorpecente, tipificado no Código Penal Militar no artigo 2906, e na Lei

de Drogas no seu artigo 287, tem que se levar em conta o quanto o ato delituoso

afetaria a sociedade de modo geral.

Era de se esperar algumas restrições em relação à aplicação do Princípio da

Insignificância, tais como o argumento por parte de alguns operadores do direito “de

que este Princípio não encontra previsão legal; de que este Princípio estaria indo

contra a lei violando o Princípio da Legalidade; e, de que o artigo 98, I, da

Constituição Federal, prevê a criação de Juizados Especiais para o julgamento dos

crimes de menor potencial ofensivo”.

4 CP: Art. 155 -Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena -reclusão, de um a quatro anos, e multa. 5 CPM: Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: (...) 6 CPM: Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso próprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que determine dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à administração militar, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: (...) 7 Lei 11.343/06: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: (...)

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Alguns doutrinadores discordam de todas estas restrições. Em relação à

primeira restrição, por ser o Princípio da Insignificância uma criação pretoriana, este

argumento torna-se sem fundamento, pois existem situações em que se deve

analisar o direito como um todo, e não simplesmente o que está tipificado, levando-

se em consideração alguns princípios, quer sejam eles inseridos de forma explicita

ou implícita em nossa Constituição Federal. Em relação à segunda restrição, fica

latente que se pode deixar de aplicar à sanção penal em virtude de uma ofensa

menos gravosa ou irrisória, pois não há nada em nosso ordenamento que proíba a

aplicação do Princípio da Insignificância, não sendo violando desta forma o Princípio

da Legalidade. Por fim, no que diz respeito à Constituição Federal, também não se

encontra descrito em seu texto nenhuma determinação para se criminalizar os

Delitos de Bagatela ou de menor potencial ofensivo, validando assim o uso do

Princípio da Insignificância.

6.2 APLICAÇÃO DO PRINCIPIO NO DIREITO PENAL COMUM

O legislador penal, por ocasião da confecção das leis, tem como objetivo

descrever, mesmo que abstratamente, as condutas típicas que podem ocorrer na

vida em sociedade. Todavia, como é inato ao ser humano, o sistema é

razoavelmente falho, a uma porque se torna impossível abarcar todas as situações

realizáveis; a duas, porque existem certas ações humanas que não chegam a

ofender sequer de forma mínima um bem tutelado, no entanto, acabam adquirindo

forma de acordo com as leis penais e, consequentemente, tornando-se condutas

típicas e puníveis. Para minorar tal problema, a doutrina elaborou a Teoria do

Princípio da Insignificância, a qual tem como objetivo “excluir do âmbito penal as

condutas que não apresentam um grau de lesividade mínima para a concreção do

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tipo legal, evitando, assim, que a sanção penal seja imensamente desproporcional

ao dano causado pela ação formalmente típica8”.

O Princípio da Insignificância tem algumas características semelhantes ao

Princípio da Adequação Social, e, para um completo discernimento entre ambos,

faz-se necessário repisar este.

Welzel foi o responsável pela introdução no Direito Penal de tal princípio, e,

em suas alegações para aplicação do mesmo, esclarecia que se o tipo delitivo é

espécie de conduta proibida, no momento de sua adequação, não se deve

interpretá-lo de forma extensiva, isto é, alcançando condutas lícitas, “socialmente

aceitas e adequadas”.

Ou seja, não se deve confundir “adequação social” com “causa de

justificação”, vez que enquanto este se trata de ação socialmente inadequada, a

qual só não é considerada crime em virtude de uma autorização especial para seu

cometimento, aquele é uma conduta socialmente adequada, permanecendo, desde

o início, excluída do tipo penal.

Conclui-se, desta forma, que o Princípio da Insignificância, é uma espécie de

“regra auxiliar de interpretação” para determinação do injusto, permitindo extirpar da

análise do delito os danos que não afetam de maneira vigorosa os bens tutelados

pelo Direito. Ou seja, nem todas as condutas descritas formalmente como crime,

assim devem ser consideradas, sendo imprescindível que haja uma roporcionalidade

entre a ofensa cometida, com seus danos advindos, e a interferência do Estado.

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Em suma, derivada da imprecisão legislativa, bem como o caráter abstrato do

tipo penal, ocorrem circunstâncias em que a conduta incriminada é imensamente

maior do que àquela necessária à proteção do bem jurídico tutelado, por isso, no

intento de limitação de tal tipicidade, a doutrina pátria adotou os ensinamentos de

que é necessário que a conduta típica seja concretamente lesiva ao bem jurídico

tutelado em razão do conteúdo valorativo, como bem explica Francisco Assis

Toledo.

[...] Modernamente, porém, procura-se atribuir ao tipo, além desse sentido formal, um sentido material. Assim, a conduta para ser crime, precisa ser típica, precisa ajustar-se formalmente a um tipo legal de delito (nullum crimen sine lege). Não obstante, não se pode falar ainda em tipicidade, sem que a conduta seja, a um só tempo, materialmente lesiva a bens jurídicos, ou ética e socialmente reprováveis. [grifo do autor]

Como quer que seja, conclui-se, mesmo de antemão, que o princípio da

insignificância ou da “Intervenção Mínima” é um artifício que faz com que o Direito

Penal seja visto como ultima ratio, fazendo com que sua aplicabilidade seja

procedida somente quando realmente necessária.9

Não obstante, deve-se lembrar que o Princípio ora em comento apresenta

dois aspectos relevantes, os quais servem para fundamento da aplicação do

Princípio da Insignificância. Refere-se aos Princípios da Subsidiariedade e o da

Fragmentariedade.

9Quando houver efetiva lesão (e grave) ao bem jurídico tutelado

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Tecendo comentários acerca deste, Da Silva preleciona que tal princípio

refere-se à questão de que o Direito Penal deve-se ocupar com àquelas ações mais

graves praticadas contra os bens jurídicos.

Já o princípio da subsidiariedade é calcado na acepção de que se devem

esgotar as demais esferas que possibilitem corrigir o ato danoso, para somente

após, acionar-se o Direito Penal.

Da análise dos fatos mencionados acima, verifica-se que uma conduta

somente pode ser punida quando ela encaixar-se na definição de crime. Mas o que

é crime? Este questionamento é realizado com frequência na Teoria do Delito, o

que, segundo Francisco Assis Toledo, é um “fato humano que lesa ou expõe a

perigo bens jurídicos (jurídicospenalmente) protegidos”.

Ademais, explica o autor, é necessária outra definição mais analítica,

chegando-se à conclusão, que a mais adequada é aquela que apresenta os três

elementos fundamentais do crime: uma ação típica (tipicidade), ilícita ou antijurídica

(ilicitude) e culpável (culpabilidade).

No entanto, como observado anteriormente, além desta análise formal, é

necessário a verificação da tipicidade sob o aspecto material. A tipicidade material

cuida de identificar a produção de um resultado jurídico relevante, ou seja, trata-se

de uma “verdadeira função seletiva”, capaz de distinguir, dentre uma centena de

comportamentos humanos àqueles que são dignos de castigo (ultima ratio).

Portanto, uma conduta para ser materialmente típica deve produzir um resultado

além de jurídico, relevante, tal como se pode observar o nº. HC 92411 / RS – RS,

cujo relator foi o Ministro Carlos Brito, comentando a ação de um indivíduo que havia

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furtado algumas peças de roupas usadas e, pouco tempo depois, devolvidas a

vítima:

EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE FURTO SIMPLES (CAPUT DO ART. 155 DO CP). OBJETO DO DELITO: CINCO PEÇAS DE ROUPAS USADAS.ALEGADA INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA, POR SE TRATAR DE UM INDIFERENTE PENAL. PROCEDÊNCIA DA ALEGAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. O furto de cinco peças de roupas usadas, nas circunstâncias do caso, não agride materialmente a norma que se extrai do art. 155 do Código Penal. Peças de roupas usadas que foram restituídas integralmente à vítima, sendo certo que o acusado não praticou nenhum ato de violência. 2. Para que se dê a incidênciada norma penal não basta a mera adequação formal do fato empírico ao tipo legal. É preciso que a conduta delituosa se contraponha, em substância, ao tipo em causa. Necessário que a vítima experimente efetivo desfalque em seu patrimônio, ora maior, ora menor, ora pequeno, mas sempre um real prejuízo material. Não a subtração de algo que já estava logicamente destinado a descarte, pela exaustão do seu uso pessoal e valor pecuniário ínfimo. [...] 4. Desfalque praticamente nulo no patrimônio da suposta vítima, que, por isso mesmo, nenhum sentimento de impunidade experimentará com o reconhecimento da atipicidade da conduta do agente. 5. Habeas corpus deferido para determinar o trancamento da ação penal, na linha do parecer ministerial público. Decisão. A Turma deferiu o pedido de habeas corpus para trancar a ação penal, nos termos do voto do Relator. Unânime.

A conclusão que se chega neste momento, é que nos casos em que a

conduta gera um resultado sem relevância jurídico-penal, não se pode movimentar a

máquina administrativa do Direito Penal a fim de que este atue, sob pena de induzi-

lo ao descrédito10, bem como, calcado nos princípios norteadores dos órgãos

10 HC 92411 / RS - Ministro Carlos Brito - EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DE FURTO SIMPLES (CAPUT DO ART. 155 DO CP). OBJETO DO DELITO: CINCO PEÇAS DE ROUPAS USADAS. ALEGADA INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA, POR SE TRATAR DE UM INDIFERENTE PENAL. PROCEDÊNCIA DA ALEGAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. [...] Pena de se provocar a desnecessária mobilização de uma máquina custosa, delicada

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públicos, dentre os quais, o da economia processual, corre-se o risco de movimentar

todo um aparato, no qual, ao final, pouco se apurará, quando, de outra forma, poder-

se-ia fazer uso de outras sanções menos contusivas11 e que alcançariam o mesmo

efeito.

Portanto, é imperiosa a análise dos fatos calcado em diversos aspectos,

dentre os quais, deve-se observar a mínima ofensividade da conduta do agente, a

ausência da periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade

do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Em consequência, observa-se a aplicação destePrincípio, em diversos casos

da Justiça Penal Comum, todavia, quando se envereda para a área do Direito Penal

Militar, apesar de a Lei Castrense prever algumas situações em que, mesmo

faticamente, autoriza a aplicação do Princípio da Insignificância, sua aceitação

ocorre, todavia, não é unânime em vista de, em grande parte dos casos, os valores

defendidos na caserna possuírem peso diferenciado daqueles apresentados na

sociedade civil, merecendo, desta forma, um estudo mais pormenorizado sobre o

assunto.

e ao mesmo tempo complexa como é o aparato de poder em que o Judiciário consiste. Poder que não é de ser acionado para, afinal, não ter o que substancialmente tutelar. [...] 4. Desfalque praticamente nulo no patrimônio da suposta vítima, que, por isso mesmo, nenhum sentimento de impunidade experimentará com o reconhecimento da atipicidade da conduta do agente. 5. Habeas corpus deferido para determinar o trancamento da ação penal, na linha do parecer ministerial público. 11 Todos sabem que o fato de ser processado na esfera penal rotula e fragiliza qualquer cidadão. Ademais, Bitencourt apud Roxin afirma que tal fato 'radica em que o castigo penal coloca em perigo a existência social do afetado, se o situa à margem da sociedade e, com isso, produz também um dano social'

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7. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA JUSTIÇA MILITAR

A tipicidade penal exige que haja ofensa de alguma gravidade aos bens

jurídicos protegidos. Qualquer ofensa a esses bens não é suficiente para configurar

um injusto penal típico.

Em certas condutas que se amoldam a determinado tipo penal, mas não

apresentam nenhuma relevância material, pode-se afastar liminarmente a tipicidade

penal, vez que o bem jurídico não chegou verdadeiramente a ser lesado.

Na inteligência do Princípio da Insignificância, conclui-se que nem toda

conduta humana é dotada da lesividade necessária a merecer reprimenda penal.

Segundo tal princípio, faz-se necessária uma efetiva proporcionalidade entre a

gravidade da conduta que se quer punir e a drasticidade da intervenção estatal.

Nullum crimen sine iniuria, ou seja, não há crime sem que haja o dano digno de

reprovação ao bem jurídico.

A insignificância de determinada conduta não deve ser aferida apenas em

relação à importância do bem juridicamente atingido, mas principalmente em relação

ao grau de sua intensidade, ou seja, pela extensão da lesão produzida.[3]

O Princípio da Insignificância deverá estar ligado à convicção do julgador

quando esse se deparar com a possibilidade de sua aplicação, ou balizar as

infrações que possam levar em consideração o valor da culpabilidade, a conduta do

agente e o dano, bem assim a mínima perturbação que este último causou à ordem

social e a ausência de periculosidade.

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Ressalte-se que o fato de determinada conduta configurar infração de menor

potencial ofensivo, prevista no artigo 98, inciso I, da Constituição Federal de 1988,

não significa que tal conduta se amolde, por si só, ao Princípio da Insignificância.

A insignificância da ofensa, que deve ser valorada através da consideração

global da ordem jurídica, afasta a tipicidade da conduta.

Questão crucial é saber se o Princípio da Insignificância, na prática, pode ser

aplicado irrestritivamente à Justiça Militar, ou se tem aplicação somente na Justiça

Comum.

Nas palavras de Neves e Streinfinger,

“(...) se o incorporarmos ao Direito Castrense, estaremos dotando o

aplicador da lei de um poder que não lhe cabe, ou seja, o de legislar.

Ademais, fomentaríamos o esquecimento da regularidade das instituições

militares, de acordo com o que já sustentamos ao tratar do principio da

intervenção mínima, incentivando a falência da prevenção geral positiva.”

Prosseguem aduzindo que o Princípio da Insignificância, na Justiça Militar,

tem aplicação relativa, ficando a cargo do Juiz aplicar referido princípio quando a lei

deixar ao discricionarismo do magistrado invocar a bagatela.

Porém, mais uma vez, contrariando alguns doutrinadores e operadores do

Direito, que defendem a idéia de ser o CPM uma legislação severa e inflexível, o

Código Castrense traz expressamente alguns casos de aplicação do Princípio da

Insignificância, que serão tratados de forma individualizada.

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7.1 O Princípio da Insignificância e a lesão levíssima.

A aplicação do Princípio da Insignificância, no caso de lesões levíssimas,

vem estampada na própria exposição de motivos do Código Penal Militar (CPM),

que já em 1969, dispôs:

“Entre os crimes de lesão corporal, inclui-se o de lesão levíssima, o qual,

segundo o ensino da vivência militar, pode ser desclassificado pelo Juiz para

infração disciplinar, poupando-se, em tal caso, o pesado encargo de um

processo penal para fato de tão pequena monta.”

Isso é o que estabelece o parágrafo 6º do artigo 209 do CPM: no caso de

lesões levíssimas, o Juiz pode considerar a infração como disciplinar.

Portanto, entendendo o Juiz que a lesão produzida não é de grande monta,

ou seja, que o dano produzido não é digno de reprovação poderá, à luz do Princípio

da Insignificância, absolver o acusado.

Discussão polêmica é a questão da possibilidade de o próprio Juiz

desclassificar o delito de lesão corporal levíssima para infração disciplinar, livrando o

acusado do processo penal.

Jorge Alberto Romeiro, citado por Jorge Cesar de Assis, analisando referido

princípio, entende que: “quando o Juiz considera a infração como disciplinar, ele

absolve o condenado, enviando o processo para a instância administrativa, sem

vincular absolutamente à decisão dela, que pode punir ou não, pois as

responsabilidades penal e disciplinar são distintas e independentes.

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Considerando que a esfera penal e a disciplinar (administrativa) são

totalmente independentes e autônomas, poder-se-ia questionar se o Juiz tem ou não

competência para desclassificar um delito militar para transgressão disciplinar.

Jorge Cesar de Assis entende que o Juiz somente poderá absolver o

acusado, sob a égide do Princípio da Insignificância, e jamais considerar a infração

como disciplinar.

Ocorre que, nesse caso, tal princípio acaba não sendo aplicado da maneira

como desejou a mens legis. Quis o legislador que o Juiz desconsiderasse o crime,

livrando o acusado do processo penal. Todavia, na prática, o Juiz só aplica o

princípio ao final do processo, absolvendo o acusado. Portanto, o fim primeiro, que

era poupá-lo do fardo de um processo, não foi alcançado.

Ademais, a aplicação da pena disciplinar tem como um de seus

fundamentos o pronto restabelecimento da disciplina e da hierarquia, que por óbvio

exige sua imediata aplicação.

Portanto, sendo a lesão de natureza levíssima, o Juiz, amparado pelo artigo

6º, do artigo 209 do CPM, poderá absolver o acusado, por considerar que os danos

causados à vítima são de pequena monta.

7.2 Princípio da Insignificância no delito de furto.

Outra questão polêmica é a aplicação do Princípio da Insignificância ao caso

do delito de furto cometido por militares.

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A questão não é pacífica e ostenta decisões dos Tribunais Superiores tanto

no sentido de não se admitir a sua aplicação, como no sentido de admiti-la.

O Superior Tribunal Militar (STM) entende que não é o valor monetário da

res o fator decisivo para selar o destino do agente, mas o relevante prejuízo para as

Forças Armadas e para a sociedade em geral (STM – Ap. 2005.01.049837 –0- RJ).

As instituições militares sustentam-se no binômio hierarquia e disciplina,

pilares reforçados pelas lições de ética, moral e devoção ao cumprimento do dever,

que devem ser impostas àqueles que são os responsáveis pela defesa da Pátria e

pela preservação da ordem pública, muito mais que aos cidadãos comuns.

O parágrafo 1º do artigo 240 do Código Penal Militar autoriza que, no caso

de o agente ser primário e de a res furtiva ser de pequeno valor, o Juiz substitua a

pena de reclusão pela de detenção, diminuindo-a de um a dois terços. Outra

possibilidade que o referido parágrafo abre ao Juiz é de considerar a infração como

disciplinar.

Ainda, o parágrafo 2º do referido artigo dispõe que a atenuação do parágrafo

1º é igualmente aplicável no caso em que o criminoso primário restitua a coisa ao

seu dono ou repare o dano causado, antes da instauração da ação penal.

Da mesma maneira que no delito de lesões levíssimas, surge a questão da

competência do Juiz militar para desclassificar um delito militar para transgressão

disciplinar, tendo em vista que a esfera penal e a disciplinar (administrativa) são

totalmente independentes e autônomas.

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O STM entende que o parágrafo 2º do artigo 240 do CPM não autoriza que

se considere a infração como disciplinar. Quando se refere expressamente à

“atenuação do parágrafo anterior”, quis o legislador possibilitar unicamente a

substituição da pena de reclusão pela de detenção, e a sua diminuição quantitativa.

Portanto, a aplicação do Princípio da Insignificância, sendo o delito

considerado como infração disciplinar pelo Juiz, estaria adstrita à hipótese do

parágrafo 1º do artigo 240 do CPM.

No caso da aplicação do Princípio da Insignificância aos delitos de furto,

deve-se ainda fazer a distinção entre ínfimo (ninharia) e coisa de pequeno valor.

Como já aludido, a questão é bastante polêmica, não havendo uniformidade

de decisões dos Tribunais, como se verá a seguir.

O STM entende que, nos crimes contra o patrimônio, deve-se punir a quebra

da confiança, independentemente do valor da res furtiva, servindo a primariedade e

os antecedentes do acusado na diminuição da pena, que deverá ser feita em sua

maior graduação, ou seja, 2/3 (dois terços).

Por sua vez, o Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do RHC

89.624- RS, que teve como relatora a Ministra Carmen Lúcia, entendeu cabível a

aplicação do Princípio da Insignificância aos crimes militares, argumentando que,

além da correspondência formal, para a configuração da tipicidade, é necessária

uma análise materialmente valorativa das circunstâncias do caso concreto, no

sentido de se verificar a ocorrência de alguma lesão grave, contundente e

penalmente relevante do bem jurídico tutelado.

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Oportuno salientar que, por ocasião do julgamento do referido recurso, o

Ministro Marco Aurélio entendeu por divergir do voto da relatora, e

conseqüentemente, pela inaplicabilidade do Princípio da Insignificância aos crimes

militares. Na oportunidade, salientou o Excelentíssimo Ministro que, no caso de tais

delitos, deve-se levar em consideração o local da prática criminosa, ou seja, o

quartel.

Como se percebe, aqueles que alegam não ter aplicação o Princípio da

Insignificância na Justiça Militar, equivocam-se, eis que ele é previsto no próprio

corpo do CPM, em casos pré-estabelecidos pelo legislador.

O Código Penal Militar, tido por alguns como um código severo demais, mais

uma vez revelou-se vanguardista acerca do Princípio da Insignificância.

Importante destacar por fim que é pacífico na jurisprudência brasileira, que

quando se tratar do delito de roubo, o Princípio da Insignificância não deverá ser

levado em consideração, vez que o agir delituoso é cometido por meio de violência e

grave ameaça à pessoa. A gravidade do roubo não se restringe à questão

patrimonial, e tem a ver também com a violência ou grave ameaça à pessoa.

7.3. Princípio da Insignificância nos delitos de porte e uso de substância

entorpecente.

Em termos de entorpecentes, não se cogita falar da aplicação do Princípio

da Insignificância. A inaplicabilidade de tal princípio aos crimes de porte e uso de

substância entorpecente é pacífica, tanto na doutrina como na jurisprudência dos

Tribunais Superiores.

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O crime de posse e uso de substâncias entorpecentes está tipificado no

Capítulo III do CPM, sendo considerado crime contra a incolumidade pública e a

saúde. E é por essa razão que, mesmo sendo pequena a quantidade de

entorpecente que o militar traga ou guarde consigo, ainda que para uso próprio, o

crime já restará configurado, posto que o que se tutela nesse caso é a disciplina

militar, sempre ofendida nesses casos.

O tipo penal não exige que o agente use ou tenha posse de uma grande

quantidade de drogas, portanto, qualquer que seja a quantidade apreendida, será

suficiente a configurar o ilícito penal em questão.

Assis salienta que o delito militar de posse ou uso de entorpecente ou

substância de efeito similar é delito especial de posse ou uso da droga, exatamente

porque ele ocorre em lugar sob a administração militar.

A relevância da inaplicabilidade do Princípio da Insignificância a tais delitos

está no fato de que a função militar exige o manejo constante de armas e

explosivos, não lhe sendo permitido beneficiar-se do crime de bagatela.

Nesse sentido já se manifestou o Supremo Tribunal Federal, no julgamento

do HC 81.734-3 – PR, que teve como relator o Ministro Sydney Sanches, do corpo

de cujo acórdão pode-se extrair o seguinte:

“O uso de entorpecentes por um soldado, que se utiliza de armas e

explosivos para treinamento e vigilância, pode causar danos irreparáveis a

si, a seus colegas de farda e à própria unidade onde serve. A circunstância

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de ser mínima a quantidade de droga em poder do acusado não exclui o

risco de dano à vida militar.”

O caput do artigo 290 do CPM traz a previsão expressa de que quaisquer

das condutas ali descritas devem se realizar em lugar sujeito à administração militar,

para que se configure o ilícito penal militar. O lugar sob a administração militar é um

requisito especial para o apenamento do fato.

Como se denota, no caso dos delitos de posse ou uso de entorpecentes, em

lugar sujeito à administração militar, ainda que com o militar se apreenda pequena

quantidade da droga, não há que se falar em aplicação do Princípio da

Insignificância, restando configurado o ilícito penal.

No que diz respeito à nova lei de drogas (Lei n.º 11.343/2006 ), ainda não há

manifestações jurisprudenciais aptas a embasar qualquer posição. No entanto,

pode-se destacar que a referida lei não veio para abolir o caráter criminal das

condutas ali tipificadas. Ao contrário, avança no tratamento penal do usuário de

drogas ilícitas, sintonizando a legislação ordinária com a Constituição Federal,

devendo, portanto, prevalecer o entendimento da inaplicabilidade do princípio ora

abordado aos crimes tipificados na referida lei.

8. O PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA NOS CRIMES MILITARES

Muito se fala acerca da existência ou até mesmo da aplicação do princípio ora

em comento, ademais, existem determinados operadores do Direito que defendem a

plena aplicabilidade em todas as justiças especializadas, as quais, obviamente,

incluir-se-ia, a Justiça Militar.

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Como já citado alhures, torna-se necessário ressaltar que no momento em

que a conduta típica lesionar um bem jurídico tutelado, ocorrerá, sim, o devido

enquadramento na legislação penal, tornando, a ação, passível de punição por parte

do Estado.

É notória que a sociedade é regida por diversas espécies de legislações,

afinal, esta mesma sociedade é formada por uma variedade de setores, os quais

apresentam características peculiares.

Nesta seara, apresentam-se as Leis Militares, onde estas carregam a estirpe

de ter um Código Penal rígido, imputando, inclusive, e dependendo da situação, a

pena de morte12, punição que há muito foi extirpada da maioria dos sistemas

penais13 existentes no mundo. Como quer que seja, é cristalino o entendimento de

que no seio de uma mesma sociedade, os juízos de valores sejam diferenciados, ou

seja, os parâmetros de aferição sejam distintos14

Em se tratando da aplicação do mencionado Princípio, ao observarem-se

julgados, chega-se à conclusão que há, sim, a devida aplicação do Princípio da

12 Em tempos de guerra, segundo o artigo 55 do CPM, combinado com o artigo 5°, inciso XLVII DA CF, pode-se determinar a pena de morte 13 Como é notório, a pena de morte ainda permanece vigente em alguns países. A título de exemplo pode-se citar os Estados Unidos, onde alguns Estados deste país tem autonomia para aplicar tal sanção. 14 Adequando-se ao presente caso, pode-se citar, da mesma forma, o caráter fragmentário do Direito Penal, onde este deve tipificar “somente parte das condutas que outros ramos do Direito consideram antijurídicas e,

finalmente, deixando, em princípio, sem punir ações meramente imorais, como a homossexualidade ou a mentira” (BITENCOURT, 2000. p. 13). Concluindo, somente com fins exemplificativos, pode-se imaginar o cometimento de uma atividade sexual, por parte de um padre católico. Com certeza, aos olhos da sociedade, é uma ação imoral, todavia, a prática da mesma ação carnal por uma garota de programa, até pode ser vista com reservas sob outro ponto de vista moral, mas não da prática do ato em si, este, na sua essência, é liberto de qualquer ação discriminatória.

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fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado nos julgamentos realizados

pela Justiça Militar15.

Ademais, é imperioso ressaltar que o Código Penal Militar, desde sua criação,

já previa, de forma diversa, é claro, determinadas atenuações quando os valores

envolvidos no caso fossem ínfimos ou as condutas16 do agente justificassem a

aplicação de tal redução.

Assim, por exemplo, o artigo 240 do CPM, o qual trata do Furto Simples,

faculta à autoridade judiciária a substituição da sanção penal pela sanção

administrativa:

Furto simples

Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, até seis anos.

Furto atenuado

§ 1º Se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou considerar a infração como disciplinar. Entende-se pequeno o valor que não exceda a um décimo da quantia mensal do mais alto salário mínimo do país. [grifo nosso]

§ 2º A atenuação do parágrafo anterior é igualmente aplicável no caso em que o criminoso, sendo primário, restitui a coisa ao seu dono ou repara o dano causado, antes de instaurada a ação penal.

15 Artigo 142 da constituição Federal de 1988 16 Exemplo típico é a Lesão Corporal Levíssima (artigo 290, § 6º com), onde o juiz pode considerar a infração como disciplinar.

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Semelhante conduta observa-se em todo o capítulo III17 e IV18 do CPM, além

de naqueles previstos nos crimes de Dano atenuado (artigo 260 do CPM), Lesão

Corporal Levíssima (artigo 290, § 6º CPM) e de Receptação Culposa (artigo 255 do

CPM).

Consequentemente, ao admitir-se a adequação da conduta material àquela

especificada na letra da lei, configurando, obviamente, a tipicidade formal, o juiz

deveria, em tese, proceder a aplicação da sanção penal.

Nesta esteira, pode-se citar o HC nº 87.478-PA, o qual se refere ao caso de

um militar que havia sido denunciado por suposta prática do crime de peculato,

previsto no artigo 303 do CPM, sob a alegação de ter subtraído um fogão da

Fazenda Nacional quando desocupara o imóvel da União, o qual vinha residindo, a

título de ressarcimento de benfeitorias que realizara.

Na análise do writ, visto que o paciente havia recolhido o valor ao erário,

optou-se pela aplicação do princípio da insignificância, determinando-se, desta

forma, o trancamento da ação penal.

De outro modo, ao analisar-se o HC nº 94.9431-2 – PR, observa-se uma

tentativa da defesa em aplicar-se o princípio da insignificância no delito militar

previsto no artigo 195 do CPM – Abandono de posto. Na exposição de motivos,

alegou a defesa à inexistência de qualquer ofensa ao bem jurídico tutelado,

ademais, a lesão era mínima (nenhuma), logo, deveria ser aceita a exclusão da

17 Trata-se da apropriação indébita e de coisa achada 18 capítulo IV - do estelionato e outras fraudes

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tipicidade, por acolhimento do princípio da insignificância, e o comportamento ser

considerado irrelevante para a matéria penal19.

Em seu voto, a relatora, Excelentíssima Senhora Ministra Ellen Gracie,

analisando os autos do caso acima, em que alguns Soldados da Aeronáutica

abandonaram o local em que deviam cumprir seus serviços de sentinela, denegou

tal pedido calcado em diversos argumentos que ressaltam a diversidade de valores

defendidos dentro das Instituições Militares, dentre eles, ressaltava aExcelentíssima

SenhoraMinistra que.:

[...] diante dos valores e bens jurídicos tutelados pelo artigo 195 do Código Penal Militar, revela-se realmente inadmissível a aplicação do princípio da insignificância. A prática da conduta amoldada no referido dispositivo legal ofende, claramente, as instituições militares, a operacionalidade das Forças Armadas, além de violar os princípios da hierarquia e da disciplina na própria interpretação do tipopenal.20

Portanto, o Princípio da Insignificância, como se observa em todas as áreas

do Direito, pode e deve ser aplicado na Justiça militar, todavia, existem algumas

situações em que o Magistrado deixa de aplicar o Princípio ora em discussão,

baseado no argumento de afronta à Disciplina e à Hierarquia, bases das instituições

militares21, bem como, de outros bens jurídicos sobrepostos em ambiente castrense

e devidamente tutelados pelo Direito Penal Militar, de modos que a atitude em que

19 Cabe aqui fazer uma ressalva no tocante ao crime capitulado no artigo 195 do CPM, visto que se trata de um crime de perigo e instantâneo, ou seja, não é necessário que haja realmente a invasão de algum estabelecimento militar, o qual deveria estar sendo vigiado, para que o crime ocorra, basta que tal posto fique sem vigilância, ou,nas palavras de Jorge César de Assis (2007, p. 195), “a raiz do delito do art. 195 é, exatamente,

aprobabilidade de dano ao estabelecimento ou aos serviços militares, decorrentes da ausência voluntária daquele que abandonou o posto ou o local de serviço. 20 HC nº 94.9431-2 – PR. 21 Versa o artigo 142 da CF 88: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela

Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina [...]

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naquele momento está sendo julgada, possa servir de contenção para outras

possivelmente vindouras, além do mais, há de pensar-se na necessidade de “tutelar-

se a regularidade das instituições militares”.

Como quer que seja, e ao que tudo indica, a maior aproximação do ideal de

justiça é interpretação da Lei, visto que, como citado acima, o Código Penal Militar

apresenta situações em que o Princípio da Subsidiariedade pode ser aplicado; em

contraponto, existem certas condutas que por ferirem valores essenciais em

qualquer Força Armada do mundo, tornam-se impossibilitadas de serem alcançados

com tal benesse.

Podemos também citar o “habeas corpus” 94.809-0, impetrado pelo Ministério

Público Militar do Rio Grande do Sul, onde foi Relator o Senhor Ministro Celso de

Mello, que tratava do postulado no artigo 290 do Código Penal Militar, onde o

soldado do Exército, Alex Silva de Campos, foi surpreendido com 3,0g ”(três gramas)

de substância conhecida como “maconha”. Por tratar-se de quantidade ínfima e

incapaz de gerar a menor ameaça que seja à saúde e incolumidade públicas, bens

jurídicos tutelados pela norma penalincriminadora, foi aplicado neste caso o Principio

da Insignificância, sendo que foi determinado, que se o paciente tivesse sido preso

por este fato, ele deveria ser posto em liberdade imediatamente tornando ineficaz a

condenação. Em caso análogo, só que desta vez tratava-se de trouxinhas de

cocaína apreendidas em revista de alojamento, foi impetrado pela Defensoria

Pública da União o “habeas corpus” 97.131 MC / RS – Rio Grande do Sul, onde

também o Senhor Relator Ministro Celso de Mello deu o mesmo tratamento

aplicando o Princípio da Insignificância.

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A questão que causa polêmica em relação à aplicação do princípio da

insignificância, como já fora dito anteriormente, é se sua aplicação afetaria a

hierarquia e disciplina das instituições militares, sendo que alguns doutrinadores

dizem que não é verdade, pois o militar poderá responder em três esferas, ou seja, a

penal, a civil e a administrativa, sendo que uma esfera não afasta a outra.

9. POSICIONAMENTO DO STF

A 2ª Turma do STF, liderada pelo Excelentíssimo Senhor Ministro Celso de

Mello, é considerada a 'ala mais liberal' na Suprema Corte. Tal Turma é adepta da

aplicação do Princípio da Insignificância e consequente aplicação da Lei nº.

11.343/06 quando se tratar de consumo de drogas no interior de aquartelamentos,

como é o exemplo do Habeas Corpus nº 94.085-4, de 29 de abril de 2008, Ipsis

Litteris:

EMENTA: PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. Crime Militar (CPM, art. 290). superveniência da lei nº 11.343/2006, cujo art. 28 – por não submeter o agente a pena privativa de liberdade – qualifica-se como norma penal benéfica. controvérsia em torno da aplicabilidade, ou não, a esse delito militar (CPM, art. 290), do art. 28 da Lei nº 11.343/2006. A questão da precedência do princípio constitucional da “lex mitior” sobre regras penais mais gravosas, mesmo que inscritas em diploma normativo qualificado como “lex specialis”. doutrina. precedente do STF (2ª turma). Invocação, ainda, do princípio da insignificância, como fator de descaracterização material da tipicidade penal. possibilidade de sua aplicação aos crimes militares. precedentes do Supremo Tribunal Federal. Medida cautelar deferida.

Nas inúmeras razões apresentadas a fim de fazer uso do Princípio da

Insignificância no crime de consumo de drogas no interior do aquartelamento, o

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relator do HC acima citado, Ministro Celso de Mello, demonstra sua opinião sob o

ponto de vista da prevalência da aplicação do Princípio da Insignificância.

Ademais, explica Sua Excelência, que o caso em tela apresenta os

requisitos a fim de possibilitar tal Princípio, bem como, defende ele, deve-se

respeitar a dignidade da pessoa humana.

Sabe-se que o Princípio da Insignificância, nos moldes de como fora citado

alhures, deve sempre ser analisado em junção com a fragmentariedade e

intervenção mínima do Estado em se tratando de matéria penal, desta maneira,

quando isso ocorre, exclui-se ou afasta-se a própria tipicidade.

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA QUALIFICA-SE COMO FATORDE DESCARACTERIZAÇÃO MATERIAL DA TIPICIDADE PENAL. O princípio da insignificância -que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina. Tal postulado - que considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público.

Ademais, para esta ala do Superior Tribunal Federal - STF, que opta pela

aceitação e aplicação do Princípio da Insignificância, em se tratando de crimes de

drogas, no interior do aquartelamento, outro argumento utilizado é calcado no

princípio da proporcionalidade, vez que, segundo os defensores, na maioria dos

casos, o consumidor da droga é jovem e com poucas, quiçá, nenhuma passagem

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pela polícia. Portanto, submeter um jovem na tenra idade ao regime carcerário

comum poderia ser desastroso, alertando que a simples expulsão do Exército seria

suficiente como reprimenda.

[...] 7. Paciente jovem, sem antecedentes criminais, com futuro comprometido por condenação penal militar quando há lei que, em vez de apenar -Lei n. 11.343/2006 -possibilita a recuperação do civil que praticou a mesma conduta. 8. Exclusão das fileiras do Exército: punição suficiente para que restem preservadas a disciplina e hierarquia militares, indispensáveis ao regular funcionamento de qualquer instituição militar. 9. A aplicação do princípio da insignificância no caso se impõe, a uma, porque presentes seus requisitos, de natureza objetiva; a duas, em virtude da dignidade da pessoa humana. Ordem concedida.” (HC 92.961/SP, Relator Ministro EROS GRAU)

Igualmente, tendo em vista que a ação de estar fazendo uso, ou portando

droga em pequena quantidade apresentava os vetores essenciais para a aplicação

do Princípio da Insignificância, os quais são: a mínima ofensividade da conduta do

agente; nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de

reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada,

não deveria, o acusado, verse preso.

Como quer que seja, em que pesem as observações apresentadas na maioria

da Habeas Corpus relativa ao caso, tal tema é realmente controverso e, em

momento oportuno apresentar-se-á fatores que levam crer que a atitude que ora se

contesta não apresenta os vetores acima mencionados, sendo assim, não se pode

fazer uso do princípio da intervenção mínima.

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Como já mencionado, tão diverso é o tema em questão, que em contraponto

com o raciocínio da 2ª Turma, apresenta-se a 1ª Turma do STF, a qual, de maneira

distinta daquela, sustenta que a natureza da atividade militar não coaduna com o

uso ou posse de drogas, indiferentemente da quantidade.

À frente das contestações está a Ministra Ellen Gracie, a qual esclarece, de

antemão, que o “Direito Penal Militar pode albergar determinados bens jurídicos que

não se confundem com aqueles do Direito Penal Comum”22, além disso, o fato de o

militar estar fazendo uso de substância entorpecente em atividades militares faz com

que não somente sua saúde esteja em risco, e sim, os demais militares, vez que na

maioria das vezes o usuário está de posse de armamento letal, além do que, deve-

se proteger a regularidade das instituições militares.

Coaduna com tais afirmações, as palavras da Ministra Carmem Lúcia, onde,

no momento em que analisava o HC nº 91.767 esclarecia que a legislação castrense

havia sido esculpida em circunstâncias especiais, vez que os agentes – militares – e

os bens jurídicos tutelados serviam de parâmetro para a aferição da tipicidade dos

crimes militares.

Além disso, impossível seria a aplicação da Lei nº 11.343/06, em virtude de tal

crime estar previsto em Lei específica, no caso, o Código Penal Militar, onde este

teria sua legitimidade gravada no artigo 12423, parágrafo único da Constituição

Federal.

22Habeas Corpus nº 91356-3 SP 23 Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.

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Portanto, muitos são os precedentes onde, em decorrência da natureza das

atividades militares, seus valores e suas finalidades24, a aplicação do Princípio da

Insignificância ficou em segundo plano. Ademais, já alertava o Ministro Carlos Brito,

em sede de análise do HC nº 86.854, sobre os riscos de aplicar diversas legislações

a um único caso, separando somente o que há de mais benéfico para o réu.

24 Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

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5. CONCLUSÃO

Direcionando para o intento que se espera ter alcançado, apresentou-se o

princípio da insignificância, argumento este extremamente útil na aplicação e

condução de um Direito mais justo, mas, concomitantemente, somente invocado nas

situações realmente merecedoras de sua tutoria.

Princípio calcado na expressão latina “de minimis, non curater praetor”,

possibilita ao julgador analisar pormenorizadamente o caso concreto e, segundo seu

convencimento, baseado nas provas apresentadas nos autos, faz com que,

naqueles casos em que os crimes cometidos, por serem de pequena monta, não

afetaram de maneira real o bem jurídico tutelado, seu autor não seja punido. Com

isso, crimes tão conhecidos, com é o exemplo do famélico, em diversos casos,

deixaram de receber a pesada palmatória de um processo penal, bem como, seu

autor, deixou de levar a chancela do sistema penitenciário por parte de uma ação

que atingiu de modo oblíquo outro cidadão.

Afunilando-se os objetivos, demonstrou-se a presença de tal princípio na

Justiça Militar, Justiça esta que, mesmo sendo defensora de determinados bens

jurídicos que há tempos tornaram-se esquecidos nas mentes atuais, anda ao

encontro dos princípios constitucionais e anseios do povo, sem, no entanto,

esquecer que é a única Justiça que permanecerá no campo de batalha, junto com os

Soldados, quando os demais já tiverem batido em retirada.

Calcado nesta plena consciência da importância que representa nas lides

castrense, bem como, ciente do real papel de um Soldado para a Nação, a Justiça

Militar segue seu curso normal sempre com um olhar voltado para a Constituição,

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sem, no entanto, olvidar de seu verdadeiro papel, o qual é ser guardiã dos bens

jurídicos tutelados pelo Direito Penal Militar.

Em se tratando de bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal Militar e,

conseqüentemente, direcionando-se para o cerne do presente trabalho, pode-se

observar que os bens tutelados pela Justiça Comum são diversos daqueles

tutelados pelo Direito Militar.

Por fim, manifesto entendimento que o princípio da insignificância é

perfeitamente aplicável, tanto nos crimes militares impróprios como em alguns tipos

penais dos crimes militares próprios, bastando respeitar suas quatro condições

essenciais, ou seja, “a mínima ofensividade da conduta, inexistência de

periculosidade social do ato, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e

inexpressividade da lesão provocada”, sempre se analisando o grau de ofensividade

do bem tutelado para cada pessoa, caso a caso.

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7. ANEXOS

A respeito do tema podemos analisar esta informação publicada no ano de

2007, na página oficial da internet do Supremo Tribunal Federal:

“A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta terça-

feira, por unanimidade, ao julgar o Habeas Corpus (HC) 92961, aplicar o princípio da

insignificância para absolver T.A.S. da condenação a um ano de prisão com sursis

pelo prazo de prova de dois anos, que lhe foi imposta pela justiça militar pelo crime

de consumo e tráfico de entorpecentes (artigo 290 do Código Penal Militar). A pena

lhe foi aplicada por ter sido flagrado, em unidade militar, fumando um cigarro de

maconha com peso de 1,6 grama e portando outros três.

O relator, ministro Eros Grau, ressaltou o parecer da procuradoria-geral da

República, pelo qual, "embora típica a conduta, é cabível o princípio da

insignificância, vez que atendidos os seus requisitos objetivos: mínima ofensividade

da conduta do agente; ausência de periculosidade social da ação; reduzido grau de

reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica causada”.

A Turma entendeu que “a aplicação de sanções administrativas-disciplinares

ao condenado é suficiente à reprovabilidade da conduta, como ocorreu”. T.A.S.,

primário, já licenciado das fileiras do Exército, confessou o crime e manifestou

arrependimento. Mas foi condenado por crime militar.

No HC impetrado no STF, a Defensoria Pública da União, que atuou em sua

defesa, insurgiu-se contra decisão do Superior Tribunal Militar (STM), que lhe negou

recurso de apelação, mantendo a pena, observando tratar-se de crime militar sem

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atenuantes. Além disso, o STM lembrou que o princípio da insignificância não

encontra aplicação na justiça militar.

Ao votar pelo arquivamento da ação penal, o ministro Eros Grau citou o

parecer do subprocurador-geral Wagner Gonçalves no trecho em que ele afirma que

o militar não tem antecedentes penais e deve ser recuperado, não condenado a um

futuro de comprometimento. Grau lembrou, também, de diversos precedentes em

que o STF aplicou a militar o mesmo princípio da insignificância vigente para os

civis, sustentando que não pode haver discriminação em desfavor do militar.”