universidade tuiuti do paranÁ curso de ciÊncias...

44
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS Maria Francisca Sofia Nedeff Santos REFORMATIO IN PEJUS CURITIBA 2014

Upload: lamdung

Post on 25-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

Maria Francisca Sofia Nedeff Santos

REFORMATIO IN PEJUS

CURITIBA

2014

Maria Francisca Sofia Nedeff Santos

REFORMATIO IN PEJUS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade Tuiuto do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Daniel Ribeiro Surdi de Avelar.

CURITIBA

2014

Maria Francisca Sofia Nedeff Santos

REFORMATIO IN PEJUS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no

Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, de 2114.

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________

Professor Mestre Daniel Ribeiro Surdi de Avelar

Universidade Tuiuti do Paraná

_____________________________________

_____________________________________

À não perder a esperança de um mundo

mais justo e civilizado.

AGRADECIMENTOS

Obrigado aos meus colegas, professoras e funcionários pelo apoio e incentivo

durante essa fase.

Ao meu orientador Professor Daniel Avelar pela paciência e dedicação.

Ao Desembargador Loyola pelo incentivo, afeto e a oportunidade que me

levou ao mundo do Direito Penal.

Às gabi girls por toda a ajuda e conselhos que me deram.

À minha família e amigos.

RESUMO

Este trabalho tem a pretensão de fazer uma análise sobre o Instituto da Reformatio in Pejus. Pretende-se analisar a aplicação deste recurso dentro do ordenamento jurídico pátrio. Serão investigadas suas peculiariedades quanto à aplicação no Tribunal do Júri. Para tanto, objetiva-se dispor sobre duas correntes distintas – a favor e contra a aplicação da vedação ao reformatio in pejus – quando há recurso exclusivo da defesa. Será abordada também a controvérsia presente nas duas cortes superiores, na qual temos o Supremo Tribunal Federal defendendo a vedação do reformatio in pejus indireta e o Superior Tribunal de Justiça defendendo a soberania das decisões do Tribunal do Júri.

Palavras-chave: Reformatio in pejus. Soberania do Tribunal do Júri. Ampla defesa e contraditório.

ABSTRACT The purpose of this work is to explore the various aspects present in the prohibiton of reformation in pejus, in the Brazilian judicial sistem. The Federal constitution estipulates that when only the defense appeals of its conviction, the new or reformed decision cannot agravate the situation of the convictee – both in quantity as in the kind of punishment. There are diferente positions in the brazilian judicial system, where the superior court accepts in part the application of a worst sentence, and the Supreme Court which prohibits it.

Key-words: Reformatio in Pejus. Contitucional guarantees. Appeal.

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ________________________________________1

1- CONCEITO DOS RECURSOS ___________________________ 2

2- PRINCÍPIO DOS RECURSOS ____________________________5

3- PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE ________________________7

4- REFORMATIO IN PEJUS________________________________8

4. 1 DA NULIDADE ABSOLUTA _____________________________9

5 - REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA ______________________11

6 – FIGURA DO JUIZ NATURAL ____________________________14

7 – TRIBUNAL DO JÚRI __________________________________16

8 – DA SOBERANIA DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI ___20

9 – CONCLUSÃO________________________________________33

10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _____________________34

8

!"

"

INTRODUÇÃO

O objeto deste trabalho é analisar a aplicação do instituto jurídico do

Reformatio In Pejus, que prevê que a situação do acusado não pode piorar

quando este interpõe recurso ou tem uma decisão anulada. Esta vedação ao

Reformatio in Pejus institui que a pena a qual foi condenado no primeiro

julgamento, fica estabelecida como limite para um segundo julgamento, após

Recurso interposto em grau superior.

A importância de se estudar este tema consiste, primeiramente, no fato de

que a aplicação deste recurso não é consenso na jurisprudência pátria. Desta

forma, será perscrutada qual posição deve-se adotar quanto ao instituto da

Reformatio in Pejus para que ele não conduza à insegurança jurídica e a má

aplicação do direito.

Conforme será exposto, ambas correntes – a favor ou contra da vedação

da figura da Reformatio in Pejus – tem sólidos argumentos calcados na

jurisprudência das Cortes Máximas do ordenamento jurídico brasileiro. Esse tema

merece uma atenção especial, pois versa em torno de julgamentos dos crimes

dolosos contra a vida, considerados os mais graves previstos no Direito

Processual Penal pátrio. Consequentemente sua interpretação envolve a

coexistência de princípios fundamentais colidentes.

O estudo deste Instituto tem uma grande importância no mundo jurídico,

pois a sociedade busca por uma equação mais justa da jurisdição na solução dos

casos finais.

#"

"

I – CONCEITO DOS RECURSOS

O Direito aos Recursos é uma garantia e direito fundamental no

ordenamento jurídico Brasileiro. Na Constituição do Império de 1824, este preceito

estava implícito em seu artigo 158 e afirmava: “para julgar as causas em segunda

e última instância haverá nas Províncias do Império as Relações que forem

necessárias para comodidade dos Povos”. Atualmente está implícito no artigo 5º,

inciso LV, da Constituição Federal de 1988, que tem a seguinte redação: ‘aos

litigantes em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são

assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes’. Segundo De Plácido e Silva1, o Instituto do Recurso, “corresponde no

nosso sistema jurídico ao provocatio, do direito Romano, ou uma provocação a um

novo exame dos autos, para emenda ou modificação da primeira sentença”.

Nesse sentido, os Recursos seriam um remédio que sanearia ou controlaria

uma possível decisão injusta, fazendo assim um controle de legalidade e da

justiça. Segundo Badaró2 “toda decisão estatal deve estar sujeita a reexame, pois

a ausência desse controle daria ao titular da referida decisão um poder ilimitado e

absoluto, o qual não pode ser aceito em um Estado de Direito”.

Os Recursos utilizados para esse reexame da matéria são cabíveis quando

previstos em lei. Cada espécie de decisão judicial tem um tipo específico. Quando

a lei não o permite, essa decisão torna-se irrecorrível.

No duplo grau de jurisdição faz-se um reexame de matéria de fato e de

direito. Na qual poderá se alterar ou eximir o acusado de sua pena. Essa alteração

de pena pode ser quantitativa ou qualificativa, pois se analisa tanto a dosimetria

da pena, como também o regime em que esta será cumprida. Sendo assim,

embora o Instituto do Recurso não esteja explicitamente no Caderno

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!"SILVA, De Placido e. Vocabulário Jurídico. 27 edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007.

2 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Direito Processual Penal. v. I. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008."

$"

"

Constitucional, ele é garantido toda vez que a Constituição prevê a competência

originária para Tribunais de grau superiores, os quais fazem o reexame das

decisões.

Além desse preceito constar na Constituição Federal, o Brasil também é

signatário do Pacto de San José de Costa Rica, o qual foi ratificado em 1992 e

que se transformou em uma lei interna através do Decreto de n. 678/92. De

acordo com o texto é assegurado ao acusado o direito de recorrer de uma

sentença a um juiz ou colegiado em grau superior. Entretanto é importante

salientar que embora esse decreto trate de matéria relativa aos Direitos Humanos,

não tem natureza absoluta, pois em se tratando de matérias cuja competência

originária se dá na mais alta corte do nosso judiciário, o Supremo Tribunal Federal,

esse reexame de matéria não é permitido em todos os tipos de sentença.

Sendo assim, só recorre quem não está de acordo com a decisão, pois

temos os Recursos como “ meio voluntário de impugnação de decisões, utilizando

antes da preclusão e não na mesma relação jurídica processual, apto a propiciar a

reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão3 (...)”.

Na presente dissertação trabalharemos com os Recursos Criminais, os

quais dão direito a novo julgamento nas matérias competentes ao Conselho de

Sentença do Tribunal do Júri (artigo 5º, XXXVIII, ‘d’, CF/88) e que podem muitas

vezes levarem a condenação a um tipo penal mais gravoso.

Neste sentido, Machado Cruz4, discorre:

“se é aceito que uma apelação criminal, por exemplo, cria um segundo julgamento, com total liberdade de conhecimento da matéria fática discutida em primeiro grau, teríamos que admitir a necessidade, ou pelo

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$"%&'()*+&,"-./"01221345657"8+&(-(9+:,"-6;<65<":=/4/6=17"%)>+:"8'?@),"-6;<65<">/3/2AB1CD"E1<45/"%14/2".<C"&1=F4C<C7"G"+.5HI<7":I<"0/F2<D"+.5;<4/"&1J5C;/".<C"E45KF6/5C,"#LLM,"NO356/"#P7""

Q"R&ST,"&<3U45<":=A51;;5">/=A/.<7"%/4/6;5/C"N4<=1CCF/5C"6<C"41=F4C<C"=45V56/5C7"!7"1.7":I<"0/F2<D"-;2/C,"#LL#7"

Q"

"

menos a conveniência, da renovação da prova colhida nesta instância, bem como o acréscimo de nova atividade probatória (...)”.

Cabe ainda questionar se ao reformar-se uma sentença após interposição

de Recurso, não se estaria criando um novo e autônomo juízo sobre os mesmos

fatos e quais seriam esses limites para reforma de uma decisão no Processo

Penal.

W"

"

II - PRINCÍPIOS DOS RECURSOS

Os Recursos no Processo Penal Brasileiro são norteados pelos seguintes

princípios gerais: taxatividade, unirrecorribilidade das decisões, variabilidade,

complementariedade, fungibilidade, dialeticidade, disponibilidades também o da

personalidade5.

“O princípio da taxatividade determina que somente possam ser utilizados

os recursos expressamente previstos em lei, e nos casos em que a lei os admite.

Sendo que a lei deve estabelecer um rol dos recursos utilizáveis e a hipótese de

cabimento desses 6”.

O princípio da unirrecorribilidade, por sua vez, especifica que para cada

decisão existe apenas um tipo de recurso cabível, não podendo esta ser atacada

por mais de um recurso.

Já o princÍpio da variabilidade diz que se a parte interpôs um recurso

erroneamente, pode desistir desse, e se houver prazo, pode recorrer corretamente.

No princÍpio da complementariedade, o Recorrente poderá complementar a

fundamentação do Recurso. Quando houver uma decisão complementar posterior

a sua interposição, que altere essa decisão, como por exemplo, Embargos de

Declaração. Neste caso, com os novos fatos o recorrente poderá complementar

as razões recursais com as informações destes julgados.

Quanto ao princípio da fungibilidade, este permite que um Recurso

interposto, erroneamente, seja conhecido - desde que não haja má fé e a

fundamentação esteja de acordo com o Recurso previsto para o tipo de decisão

atacada -. """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""W""%&'()*+&,"-./"01221345657"8+&(-(9+:,"-6;<65<":=/4/6=17"%)>+:"8'?@),"-6;<65<">/3/2AB1CD"E1<45/"%14/2".<C"&1=F4C<C7"G"+.5HI<7":I<"0/F2<D"+.5;<4/"&1J5C;/".<C"E45KF6/5C,"#LLM,"NO356/"#P7""

G"BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Direito Processual Penal. v. I. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008."N3"WMW7""

G"

"

O princípio da dialeticidade especifica que o recurso não pode ser julgado

sem que existam razões e contrarrazões, pois sem elas o Tribunal não saberá

quais são os argumentos para a impugnação da sentença.

A disponibilidade, por sua vez, discorre sobre a renúncia e desistência dos

Recursos. O réu não é obrigado a continuar com o recurso após sua interposição.

Já o Ministério Público, embora não seja obrigado a recorrer, uma vez que o fez

não pode desistir.

Por fim, o princípio da personalidade merece uma maior atenção devido à

pertinência com o tema abordado neste estudo e será analisado separadamente.

P"

"

III - PRINCÍPIO DA PERSONALIDADE

O Princípio da Personalidade dispõe sobre o fato de que o recurso irá

beneficiar apenas aquele que o interpôs. Note-se aqui que a parte que recorreu

não pode ter sua pena agravada se não houver recurso da parte contrária,

conforme o artigo 617 do Código de Processo Penal “o tribunal, câmara ou turma

atenderá nas suas decisões ao disposto nos artigos 383, 386 e 387, no que for

aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o Réu

houver apelado da sentença”. .

Tal princípio tem como fundamento, segundo Grinover,7 “o fato do recurso

devolver ao tribunal tão somente o conhecimento da matéria impugnada, o que se

expressa no brocado latino tantun devolutum quantum apellatum. No direito

positivo o principio é buscado no artigo 574 do CPP, caput, c/c o artigo 599”.

Ainda que:

“A regra da personalidade dos recursos opõe-se a principio

diametralmente oposto, que é do beneficio comum, próprio do direito

romano, passando deste para o luso-brasileiro de outrora: ainda sem

recorrer, a parte poderia ser beneficiada pelo recurso da outra. A

aplicação do principio do beneficio comum leva, como corolário, a

possibilidade de o recorrente ser prejudicado por seu próprio recurso –

reformatio in pejus -, enquanto o princípio da personalidade dos recursos

impede como consectário, a reformatio in pejus.” 8

O princípio da personalidade nos recursos solidifica a proibição do

reformatio in pejus, sendo que o recurso do réu nunca pode servir para prejudicá-

lo.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""P"!"#$%&'","-./"01221345657"('"$)$*'+,"-6;<65<":=/4/6=1"8146/6.1C7-!%.'+-(#/0%,""-6;X65<">/3/2AI1C7"!"#$%&'()'(*%'#"&&'(*")+,7"*'"1.5HI<7":I<"0/F2<D"&1J5C;/".<C"E45KF6/5C,"#LLM"

Y "!"#$%&'"," -./" 01221345657" ('"$)$*'+," -6;<65<" :=/4/6=1" 8146/6.1C7- !%.'+-(#/0%," "-6;X65<">/3/2AI1C7"!"#$%&'()'(*%'#"&&'(*")+,7"*'"1.5HI<7":I<"0/F2<D"&1J5C;/".<C"E45KF6/5C,"#LLM,"N7"$M7""

Y"

"

IV – REFORMATIO IN PEJUS

A Reformatio in Pejus é uma piora tanto quantitativa ou qualitativa na

situação do Recorrente, ante a decisão recorrida e a nova decisão prolatada pelo

órgão julgador, sendo esta situação vedada em nosso ordenamento jurídico.

Fundado no princípio de que é vedado no nosso processo penal utilizar-se

de recurso interposto exclusivamente pelo Réu para agravar ou causar prejuízo a

este, a proibição da reformatio in pejus incentiva as partes a recorrerem das

decisões judiciais.

Previsto no artigo 617 do Código de Processo Penal, estipula que “o

tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos artigos 383,

386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena,

quando somente o Réu houver apelado da sentença”.

Do que se dispõe que: ao ocorrer apenas à efetivação do exercício do meio

recursal por parte da defesa, tendo o Ministério Público se conformado com o

provimento jurisdicional, ou não se manifestado, a situação do réu não poderá ser

agravada, recaindo na chamada proibição da reformatio in pejus direta.

No mesmo sentido, Norberto Avena9 relata que na hipótese de ser anulada

uma sentença por força do recurso interposto exclusivo da defesa, tendo

silenciado o Ministério Público, ficará vinculada a nova sentença, ao máximo da

pena imposta na primeira sentença, não podendo agravar a situação do réu, sob

pena de incorrer em reformatio in pejus indireta. A pena não pode nem ser

agravada quantitativamente - número de dias de restrição de direitos ou

liberdades impostos - ou qualificativamente – ter um regime de cumprimento pena

ou restrições mais grave.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""M "-*+(-," (<4K14;<7" &1Z<4V/;5<" 56" N1[FC" 1" CF/" =2/CC5Z5=/HI<7" 95CN<6\J12" 1VD"A;;ND]]^^^76<4K14;</J16/7=<V7K4].1;/2A1C_6<;5=5/C_6<4K14;<_/J16/7NAN`V16Fa6<;5=5/Cb5.a#$"

M"

"

Tal posicionamento tem como fundamento a Súmula 16010 do Supremo

Tribunal Federal, a qual será analisada no tópico oportuno.

4.1 – DA NULIDADE ABSOLUTA

Segundo Grinover 11 temos uma nulidade absoluta quando “o ato

processual é praticado em infringência a norma ou princípio constitucional de

garantia, pois não há espaço nesse campo para tais irregularidades. Ainda, que

esta garantia constitucional-processual, vise primeiramente o interesse público na

condução do processo segundo as regras do devido processo legal, devendo ser

decretadas de ofício.”

No atual sistema jurídico brasileiro tem-se adotado também essa proibição

do reformatio in pejus quando a sentença é anulada e o juiz vem a proferir uma

nova sentença. Ao anular uma decisão, o juiz ficará adstrito a pena aplicada na

primeira sentença, podendo expedir nova decisão dentro desses limites prévios.

Se por ventura a decisão viesse a agravar a situação no Réu estaria incorrendo na

reformatio in pejus indireta.

Embora seja pacífico esse entendimento na jurisprudência brasileira

quando se diz respeito a decisões feita por um juízo, nas decisões do Tribunal do

Júri ela é polêmica. Defende Grinover, que tratando-se de decisão proferida pelo

Conselho de Sentença, não se pode limitar a soberania do tribunal popular

quando voltar a julgar a causa. De acordo com alguns julgadores não há

proibição para o agravamento quando o processo for anulado por incompetência

absoluta do julgador. Sobretudo nos casos de incompetência constitucional que

acarreta a inexistência jurídica da sentença.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!L":cVF2/"!GL".<":E8"d"eÉ nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não argüida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.”"

!!"%&'()*+&,"-./"0121345657"8+&(-(9+:,"-6;<65<":=/4/6=17"8'?@),"-6;<65<">/3/2AI1C7"-&()$,./+/"&()'(0%'#"&&'(0")+,1""$"1.7":I<"0/F2<D"+.5;<4/">/2A154<C,"!MM$7"N3"#!7""

!L"

"

Consonante é o entendimento do Supremo Tribunal Federal em sua

Súmula 160, que especifica em sua redação que: “é nula a decisão do tribunal que

acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados

os casos de recurso de ofício”.

Ademais, “observa-se que o referido regramento somente fala em recurso

de apelação. Todavia, é pacífico que qualquer que seja o recurso interposto

somente pela defesa, com a inércia da acusação, como, por exemplo, no caso de

um agravo de execução, é permitida a aplicação do princípio sob retina (...) 12”.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!#"R&ST,"-6.4U"%<6f/21C7"2(0%.)#30.'(/+(0%'.4.56'(/+(%"7'%8+9.'( .)(0":$&( .)/.%"9+()+&(/"#.&;"&( /'( :<%.1(Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão, Juris Itinera, de 2013. Disponível em http://atualidadesdodireito.com.br/andregonzalez/2014/02/01/o-principio-da-proibicao-da-reformatio-in-pejus-indireta-nas-decisoes-do-juri/"

!!"

"

V- REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA

A Reformatio in Pejus indireta consiste no fato de que: ao anular uma

decisão anterior, o órgão que a julgou inicialmente, ao proferir uma nova decisão,

quando só a defesa recorreu, não pode piorar a situação do recorrente, pois ao

fazê-lo estaria prejudicando-o indiretamente. Deste modo, o juiz originário da

causa fica vinculado à dosimetria máxima da pena (tanta no montante da pena,

como no regime imposto) imposta no primeiro julgamento. Este preceito jurídico

admite duas correntes distintas sobre o assunto.

A primeira entende que o Juiz, ao prolatar uma nova sentença estaria

adstrito à pena imposta no primeiro julgamento – quando de Recurso exclusivo da

Defesa - não podendo agravar tanto o quantum quanto o regime de cumprimento

da pena ou restrições impostas ao réu, mesmo que a sentença original tenha sido

anulada. Este o entendimento do Supremo Tribunal Federal brasileiro.

Assim entende Tourinho Filho (fls. 391) 13:

“Fala-se em “reformatio in pejus” indireta quando o Tribunal, após decretar a nulidade da sentença ou do processo, atendendo ao apelo exclusivo da Defesa, ao proferir a nova decisão o Juiz imponha pena mais grave. Haveria uma “reformatio in pejus” indireta. Na verdade, se a sentença ou o processo foi anulado em decorrência do apelo do réu, não teria sentido pudesse aquela anulação, por ele pedida, acarretar-lhe prejuízo. O direito pretoriano, com os olhos voltados para o parágrafo único do art. 626, deu à proibição da reformatio in pejus um sentido mais abrangente. [...] Na verdade, se a decisão transitou em julgado para a Acusação, não havendo possibilidade de agravamento da pena, não teria sentido, diante de uma decisão do Tribunal anulando o feito, pudesse o Juiz, na nova sentença, piorar-lhe a situação. Do contrário os réus ficariam receosos de apelar e essa intimidação funcionaria como um freio a angustiar a interposição de recursos. Mesmo que, em face da nulidade decretada pelo Tribunal, entenda o Juiz, à vista do art. 383, dever dar ao fato qualificação jurídica diversa, nada poderá impedi-lo, conquanto não majore a pena. E a razão é simples: se o próprio Tribunal não tem essa faculdade, como se infere do art. 617, muito menos a instância inferior.”

No mesmo sentido entende Mirabete, “(...) anulada uma decisão em

face de recurso exclusivo da defesa, não é possível, em novo julgamento, agravar """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!$"TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. v. II. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2004."

!#"

"

a sua situação. Como o Ministério Público se conformara com a primeira decisão,

não apelando dela, não pode o juiz, após anulação daquela, proferir uma decisão

mais severa contra o réu (...) 14”.

Em contrapartida encontra-se na doutrina e na jurisprudência o

posicionamento de uma corrente minoritária. Esta defende que quando uma

sentença for anulada no novo julgamento haverá sim, a possibilidade, de o Juiz

exarar uma sentença que seja mais prejudicial para o réu. Esse raciocínio pauta-

se no pensamento de que não existe mais uma decisão para limitar a nova pena,

pois esta foi anulada. Nesse sentido defende RANGEL15:

“A uma, por falta de texto expresso proibindo o juiz de dar uma sentença com quantum superior à que foi dada no primeiro julgamento, pois o que se proíbe no art. 617 é a reforma para pior pelo tribunal e não pelo juízo a quo. Assim, o que não é proibido é permitido. Aplica-se o princípio da legalidade. A duas, porque deve haver diferença entre a decisão recorrida (e anulada) e a decisão proferida no recurso. Ora, como haver diferença entre uma decisão que não mais existe (anulada) e a do recurso? Não se agrava aquilo a que a ordem jurídica não mais confere validade. Assim, agravar o nada é um não senso jurídico. A três, porque estar-se-ia emprestando força a uma decisão que desapareceu em detrimento de uma que é proferida em perfeita harmonia com a ordem jurídica. Seria o inválido sobrepondo-se ao válido, em verdadeira aberração. A quatro, porque o recurso, como vimos, é voluntário, ou seja, o réu recorre se quiser. Portanto, carrega o ônus do seu recurso com os resultados que lhe são previsíveis e possíveis: provimento, improvimento e não conhecimento”.

Essa controvérsia acerca da possibilidade de ser aceita ou não a reformatio

in pejus, nos leva ao ponto central deste estudo, que é a verificação de como

estas diversas interpretações afetam as decisões no Tribunal do Júri.

Sobre essa polêmica discorre Grinover:

“(...) tecnicamente não parece correta a posição ante a falta de texto expresso. Para que a reformatio in pejus se verifique, deve haver diferença para pior entre a decisão recorrida e a decisão no recurso. Sob o ponto de vista prático, a aplicação da tese pode levar a resultados aberrantes; a decisão anulada, proferida, por exemplo, por juiz

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!Q"MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2005."

!W"&-(%+?,"0/F2<,"=.%".9'(*%'#"&&$+,(*")+,1"!P"1.7"&5<".1"g/6154<D"+.5;<4/"?FV16"gF45C,"#L!L7"""

!$"

"

incompetente, suspeito ou peitado, conferir-se-ia a força de impedir que o verdadeiro julgador pudesse solucionar a controvérsia legalmente e com justiça. E em qualquer caso, haverá sempre a anomalia de se reconhecer a influência de uma sentença nula sobre a válida (...)” 16.

Embora a jurisprudência majoritária venha no sentido de que uma decisão

nula, em geral, pode acarretar o efeito de se tornar definitiva, delimitando a nova

pena imposta, há divergências quando se aplica esse entendimento no Tribunal

do Júri.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!G!"#$%&'","-./"01221345657"('"$)$*'+,"-6;<65<":=/4/6=1"8146/6.1C7-!%.'+-(#/0%,""-6;X65<">/3/2AI1C7"!"#$%&'()'(*%'#"&&'(*")+,7"'*"1.5HI<7":I<"0/F2<D"&1J5C;/".<C"E45KF6/5C,"#LLW,"N7"Q!7""

!Q"

"

VI – FIGURA DO JUIZ NATURAL

No Direito Brasileiro a figura do juiz natural vem para definir a organização

e a jurisdição. O objetivo é proteger as garantias constitucionais e reiterar de que

não haverá Tribunais de Exceção (artigo 5°, XXXVII, CF). Esta norma também

garante que todos serão julgados e sentenciados pelas autoridades competentes

(artigo 5º, LIII, CF).

“A função jurisdicional, que é uma só e atribuída abstratamente a todos os

órgãos do Poder Judiciário, passa por um processo gradativo de concretização,

até chegar-se à determinação do juiz competente para determinado processo:

através das regras constitucionais e legais que atribuem a cada órgão o exercício

da jurisdição com referência a dada categoria de causas – regras de competência

excluem-se os demais órgãos jurisdicionais para que só aquele deva exercê-la,

em concreto” 17.

Esta divisão de competência denomina quem é o Juiz que deve julgar a

causa, que é o Juiz natural para o feito. Desse modo, quando a competência é

determinada de acordo com o interesse público esta não admite alterações, sendo

regra de competência absoluta.

“Segundo o artigo 109 do Código de Processo Penal, ‘se em qualquer fase

do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos

autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo

anterior”.

Ademais, o nosso Código de Processo Penal ainda estipula no artigo 567,

que a incompetência do Juiz causa vício de nulidade nas decisões, devendo estas

ser anuladas e remetidos os autos ao juiz competente. Entretanto os atos

processuais já realizados não podem acarretar prejuízo às partes.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!P"%&'()*+&,"-./"0121345657"8+&(-(9+:,"-6;<65<":=/4/6=17"8'?@),"-6;<65<">/3/2AI1C7"-&()$,./+/"&()'(0%'#"&&'(0")+,1""$"1.7":I<"0/F2<D"+.5;<4/">/2A154<C,"!MM$7"

!W"

"

Sendo assim, conforme expõe Grinover, o princípio do Juiz natural vai além

dos interesses individuais nos direitos no processo, “é a garantia da própria

jurisdição, seu elemento essencial, sua qualificação substancial” 18.

No tocante a interpretação das nulidades quanto à violação do juiz natural,

temos no artigo 563 do Código de Processo Penal, que “nenhum ato será

declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a

defesa”. No artigo 564, do mesmo códex, temos ainda que “a nulidade ocorrerá

por incompetência do Juiz”. Isso nos leva ao problema de como interpretar essas

regras juntamente com o artigo 5º, LIII, da CF; e como não prejudicar a Defesa

quando há uma nulidade no processo ou julgamento de recurso.

Grinover defende que “em se tratando de processo penal, o rigor técnico da

ciência processual há de ceder perante os princípios maiores do favor rei e do

favor liberatatis, e do dogma ne bis in idem. Sendo que, no terreno de repressão

penal no qual está diretamente em jogo valores supremos nos indivíduos – vida,

liberdade, dignidade – se reconhece como coisa julgada os casos em que

tecnicamente não se poderia considerar como.19”

Quanto ao instituto da Reformatio in Pejus, essa discussão nos levar a

vislumbrar que para não prejudicar o acusado – levando em conta os princípios e

garantias individuais – uma sentença teoricamente nula, julgada por um juiz

incompetente - poderia gerar efeitos à parte, no tocante à sua pena. Ao ser

anulada a primeira sentença ante a incompetência do Juiz ou Tribunal, em seu

segundo julgamento o juiz, agora competente, estaria adstrito a primeira pena, sob

pressuposto de não agravar a situação da parte e não incidir na reformatio in

pejus.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""!Y"GRINOVER, Ada Pelegrini. FERNANDES, Antonio Scarance. FILHO, Antonio Magalhães. As nulidades no processo penal. 3 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 1993. pg 41.

19 GRINOVER, Ada Pelegrini. FERNANDES, Antonio Scarance. FILHO, Antonio Magalhães. As nulidades no processo penal. 3 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 1993. pg 47.

!G"

"

VII – TRIBUNAL DO JÚRI

O Tribunal do Júri no Brasil foi disciplinado pela primeira vez no século XIX.

“Tendo a Constituição democrática de 1946 restabelecido a sua soberania,

prevendo-o entre os direitos e garantias constitucionais” 20 No atual ordenamento

jurídico, tem sua competência definida no 5°, inciso XXXVIII, da Constituição

Federal que diz que é reconhecida a instituição do Júri com a organização que lhe

der a lei”.

A soberania do tribunal do júri é calcada no princípio fundamental do

acusado ser julgado por pessoa do povo, seus pares. Estes devem julgar com

base em seu interno convencimento, e não pela lei, os crimes mais graves

previstos no nosso ordenamento jurídico, que são os crimes dolosos contra a vida.

Os três princípios fundamentais o qual se baseia essa instituição são: a plenitude

da defesa, o sigilo das votações e a soberania dos vereditos.

A plenitude da defesa tem a haver com o fato de que “poderá a defesa usar

de todos os argumentos lícitos para convencer os jurados, uma vez que estes

decidem por íntima convicção, ou seja, julgam somente perante a consciência de

cada um, sem fundamentarem e de forma secreta.” 21 .

Nesse sentido também ensina NUCCI, “Um tribunal que decide sem

fundamentar seus veredictos precisa proporcionar ao réu uma defesa acima da

média e foi isso que o constituinte quis deixar bem claro, consignando que é

qualidade inerente ao júri a plenitude de defesa. Durante a instrução criminal,

procedimento inicial para apreciar a admissibilidade da acusação, vige a ‘ampla

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""#L"BISINOTO, Edneia Freitas Gomes. Origem, história, principiologia e competência do tribunal do júri. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura &artig"

#!"BISINOTO, Edneia Freitas Gomes. Origem, história, principiologia e competência do tribunal do júri. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura &artig"

!P"

"

defesa’. No plenário, certamente que está presente a ampla defesa, mas com um

toque a mais: precisa ser, além de ampla, plena.” 22

“Já no sigilo nas votações visa resguardar a liberdade de convicção e

opinião dos jurados, para uma justa e livre decisão, sem constrangimentos

decorrentes da publicidade da votação. Trata-se de uma mínima exceção à regra

geral da publicidade, disposta no artigo 93, IX, da CF, para prestigiar a

imparcialidade e idoneidade do julgamento. A forma sigilosa ou secreta da

votação decorre da necessidade de resguardar-se a independência dos Jurados

no ato crucial do julgamento.” 23

Por meio deste preceito busca-se ter certeza de que não haverá influência

ou macula no que convence os jurados a julgar.

No tocante à soberania das decisões apóia-se esta em principio

constitucional - presente nas clausulas pétreas - a qual define que o júri detêm a

competência constitucional para julgar os crimes contra vida. “A soberania dos

veredictos é instituída como uma das garantias individuais, em benefício do réu,

não podendo ser atingida enquanto preceito para garantir a sua liberdade” 24.

Cabe aos jurados interpretar e julgar os fatos conforme sua própria

consciência e princípios, e não à letra da lei, decidindo se condena, total ou

parcialmente, ou absolve o réu. O Juiz Presidente do Tribunal do Júri deve ainda

exaurir essa vontade dos jurados e aplicar a pena que condiz com sua

condenação.

A soberania das decisões do Tribunal do Júri e sua competência absoluta

para julgar os crimes dolosos contra a vida, poderiam entrar em confronto quando

interpretadas ante o princípio da reformatio in pejus. Pois, ao proibir o agravo da

situação de um réu - delimitando a pena imposta – estaria limitada a soberania do

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""##"NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 3ª ed., São Paulo: RT, 2004.

#$"BISINOTO, Edneia Freitas Gomes. Origem, história, principiologia e competência do tribunal do júri. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura &artig "

#Q"MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2005"

!Y"

"

tribunal popular de decidir em um segundo julgamento por um crime ou situação

mais grave.

Segundo o Ministro Cezar Peluso, “a regra constitucional da soberania dos

veredictos em nada impede a incidência da vedação da reformatio in pejus indireta,

pois esta não lhe impõe àquela, limitações de qualquer ordem, nem tampouco

despoja os jurados da liberdade de julgar a pretensão punitiva, nos termos em que

a formule a pronúncia”25.

Salienta-se ainda que há distinções entre o papel do membros do

conselhos de sentença e o do Juiz Presidente - sendo que compete ao primeiro

decidir sobre o mérito e peculiaridades - e ao segundo aplicar a pena mais justa à

condenação imposta.

“O Júri e o juiz possuem atribuições funcionais distintas, mas não

é na separação do direito e do fato que dividirão as competências de um e

de outro. (...) Enquanto aos jurados apreciam a culpabilidade do Acusado,

não só em relação ao fato principal, mas ainda no que concerne às

circunstancias acessórias que podem agravar ou atenuar- os magistrados

decidem sobre a aplicação da pena em face do veredicto (...) conferir-se

ao Júri o conhecimento das questões que diretamente se ocuparem do

crime e da responsabilidade criminal do acusado, sejam puramente de fato

ou se achem envolvidas com questões de direito, afetando-se ao

conhecimento e resolução do presidente do tribunal todas as outras

questões de direito e de fato (...)”.26

No mesmo sentido, discorre Badaró, “é necessário que se distinga, na

sentença subjetivamente complexa do Tribunal do Júri, qual matéria é de

competência dos Jurados – e, portanto acobertada pela soberania – e qual

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""#W"HC 89544/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 14.4.2009. (HC-89544)"

#G">-&hS+:,"g<CU"841.145=<7"-"56;5;F5HI<".<"[c457"J7"!7":I<"0/F2<D":/4/5J/,"!MG$,"N7"$W7""

!M"

"

matéria é de competência do Juiz presidente – despida, pois, do atributo da

soberania” 27.

Sendo assim, o nosso sistema jurídico busca conciliar a norma

constitucional da soberania do júri em decidir como bem entender, e as limitações

impostas pela vedação ao reformatio in pejus – princípio presente na Carta Magna

e no Direito Processual Penal. Segundo NUCCI, “essa solução para harmonizar

as duas disposições de grande interesse para o sistema judiciário democrático, é

não impedir que o Júri decida como bem entender, incluindo se quiser, a

qualificadora antes afastada. Entretanto, no momento de aplicar a pena, terminado

o processo, o juiz , lembrando que há impossibilidade de prejudicar o réu, em

recurso que foi exclusivo da defesa, reduzirá a reprimenda até atingir o patamar

primário” 28 .

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""#P"i-9-&j,"%FC;/J<"@1645kF1"&53A5"'J/Al7"95415;<"04<=1CCF/2"016/2"7";7"''7":I<"0/F2<m"R/VNFC,"#LLP,"N"#L$7""

#Y"(SRR',"%F52A14V1".1":<Ff/7"gc45D"N456=5N5<C"=<6C;5;F=5<6/5C7":I<"0/F2<D"gF/41f".1")25J154/,"!MMM7"

#L"

"

VIII – DA SOBERANIA DAS DECISÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI

Opostamente ao que ocorre com a reformatio in pejus direta, a qual não

admite nenhuma ressalva, na reformatio in pejus indireta há dois posicionamentos

distintos sobre a sua incidência. Encontra-se na jurisprudência duas possibilidades

que são: a de sua ocorrência nos julgamentos levados a efeito pelo Tribunal do

Júri quando, no novo julgamento decorrente de recurso interposto exclusivamente

pela defesa, os jurados reconhecerem causas de aumento da pena ou

qualificadoras não aceitas no júri anterior. E a de que seria vedada a sua

aplicação quanto à imposição da nova pena, estando o Júri livre para decidir como

bem entender, mas o Juiz Presidente adstrito ao patamar máximo da pena

imposta no primeiro julgamento.

O primeiro posicionamento pauta-se na nossa Carta Magna, precisamente

em seu artigo 5º, XXXVIII, “c”, que expressa que: “é reconhecida a instituição do

júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados... c) a soberania dos

veredictos.”

Defendendo que as decisões proferidas pelo Tribunal do Júri não podem

ser limitadas pelas reformatio in pejus, deve então esse novo conselho de

sentença ter total liberdade para interpretar e julgar os fatos, proferindo uma

decisão independente e não adstrita àqueles limites. Mas segundo essa corrente,

“caso reconheçam apenas a mesma qualificadora anterior, reproduzindo os

mesmos termos do primeiro julgamento, não pode o Juiz Presidente do Júri, ao

elaborar a sentença, aplicar pena maior do que a sentença que foi anulada, pois

neste caso, a ela é aplicada a proibição da reformatio para pior” 29.

Este posicionamento também é adotado por Pacelli30, “pois para este a

soberania do Tribunal do Júri popular (poder máximo para decidir o que lhe é

competente, não podendo o Tribunal modificar a decisão de forma diversa ao

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""#M"TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3a edição. Editora jusPODIVM: 2009.

30 PACELLI. Eugenio de Oliveria. Curso de Processo Penal."!#"1.7"&5<".1"g/6154<D"#LLM7""

#!"

"

decidido pelo Conselho de Sentença) constitui um obstáculo à proibição da

reformatio in pejus. Deste modo, se incidir a realização de novo julgamento, ou

sendo anulado o julgamento anterior, a nova decisão poderá piorar, de forma

válida, a situação do réu - no caso, por exemplo, de reconhecimento de

agravantes, causas de aumento ou mesmo qualificadoras não apreciadas ou

rejeitadas no julgamento anterior”.

Contudo, se a decisão do novo júri for igual à do primeiro julgamento do

Júri, no que concerne à definição do crime de suas circunstâncias, não poderá o

Juiz Presidente agravar a situação do acusado, exclusivamente por ocasião da

fixação da pena.

O seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial31

sob relatoria do Ministro Relator Felix Fisher foi de que o principio do reformatio in

pejus indireta atinge apenas a figura do Juiz de Direito, conforme se extrai:

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO. JÚRI. VEDAÇÃO À REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA. TRÊS JULGAMENTOS. VEREDICTOS DISTINTOS QUANTO À INCIDÊNCIA DAS QUALIFICADORAS. PENA IMPOSTA NO TERCEIRO MAIS GRAVOSA. IMPOSSIBILIDADE. I - A regra que estabelece que a pena estabelecida, e não impugnada pela acusação, não pode ser majorada se a sentença vem a ser anulada, em decorrência de recurso exclusivo da defesa, sob pena de violação do princípio da vedação da reformatio in pejus indireta, não se aplica em relação às decisões emanadas do Tribunal do Júri em respeito à soberania dos veredictos (Precedentes). II - Desse modo, e neste contexto, tem-se que uma vez realizados três julgamentos pelo Tribunal popular devido à anulação dos dois primeiros, e alcançados, nas referidas oportunidades, veredictos distintos, poderá, em tese, a pena imposta no último ser mais gravosa que a fixada nos anteriores. III - Contudo, constatado que no último julgamento o recorrente restou condenado por crime menos grave (homicídio simples) se comparado com o anterior (homicídio duplamente qualificado), e que neste a pena-base foi aumentada devido, unicamente, a consideração de uma qualificadora como circunstância judicial desfavorável, revela-se injustificado o aumento imposto à pena-base, uma vez que, nesta hipótese, o princípio da vedação da reformatio in pejus indireta alcança o Juiz-Presidente do Tribunal do Júri. Recurso especial parcialmente provido.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$!"REsp 1132728/RJ, STJ, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 26/08/2010, T5 - QUINTA TURMA."

##"

"

No interior do referido Acordão o Ilustre Ministro defende “que em se

tratando de crime afeto à competência do Tribunal do Júri, a garantia da vedação

à reformatio in pejus indireta sofre restrições. Assim, não poderá ser invocada

sobre a soberania dos veredictos. Ou seja, os jurados componentes do segundo

Conselho de Sentença não estarão limitados pelo que decidido pelo primeiro,

ainda que a situação do réu possa ser agravada.32”

Destacando ainda que, “desse modo, não se aplica em relação às decisões

emanadas do Tribunal do Júri em respeito à soberania dos veredictos a regra que

estabelece que a pena aplicada, e não impugnada pela acusação, não pode ser

majorada se a sentença vem a ser anulada, em decorrência de recurso exclusivo

da defesa, sob pena de violação do princípio da vedação da reformatio in pejus

indireta.”33

Mas de acordo com a premissa acima mencionada, esse posicionamento

vem no sentido de que havendo resultados idênticos entre o primeiro e segundo

julgamento, ai sim o Juiz Presidente estaria adstrito ao sentenciar à pena máxima

imposta no primeiro julgamento.

Nesse sentido:

"Não há reformatio in pejus indireta pela imposição de pena mais grave,

após a decretação de nulidade da primeira sentença, em apelo da defesa, quando no novo julgamento realizado pelo Tribunal do Júri, reconhece-se a incidência de qualificadora afastada no primeiro julgamento, eis que, em face da soberania dos veredictos, de caráter

constitucional, pode o Conselho de Sentença proferir decisão que agrave a situação do réu." (HC 78366/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJ de 17/11/2008).

"PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. JÚRI, VEDAÇAO À REFORMATIO IN

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$#"REsp 1132728/RJ, STJ, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 26/08/2010, T5 - QUINTA TURMA. $$"REsp 1132728/RJ, STJ, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 26/08/2010, T5 - QUINTA TURMA."

#$"

"

PEJUS INDIRETA. DOIS JULGAMENTOS. VEREDICTOS IDÊNTICOS. PENA IMPOSTA NO SEGUNDO MAIS GRAVOSA. IMPOSSIBILIDADE. I - Ressalvadas as situações excepcionais como a referente à soberania do Tribunal do Júri, quanto aos veredictos, em regra a pena estabelecida,

e não impugnada pela acusação, não pode ser majorada se a sentença vem a ser anulada, em decorrência de recurso exclusivo da defesa, sob pena de violação do princípio da vedação da reformatio in pejus indireta (Precedentes).

II - Desse modo, e neste contexto, tem-se que uma vez realizados dois julgamentos pelo Tribunal popular devido à anulação do primeiro, e alcançados, em ambas oportunidades, veredictos idênticos, não poderá a pena imposta no segundo ser mais gravosa que a fixada no primeiro sob

pena de reformatio in pejus indireta. Ordem concedida." (HC 108333/SP, 5ª Turma, de minha relatoria, DJe de 08/09/2009).

Esta corrente defende, ainda, que ao se confrontar com um conflito entre

um princípio constitucional, o qual garante a soberania dos vereditos do Tribunal

do Júri, e um principio infraconstitucional, presente na reformatio in pejus, nosso

ordenamento jurídico tem a Constituição Federal como superiormente hierárquica

sobre todas as outras normas. Então, em tese, havendo um conflito como o

descrito, deveria prevalecer o mandamento constitucional sobre normas de

hierarquia inferiores.

Nesse sentido Paulo Rangel34 afirma que:

“(...) anulada a decisão dos jurados, o tribunal do Júri tem plena liberdade para decidir como juiz natural da causa e o juiz-presidente proferirá sentença de acordo com as provas dos autos e a decisão dos jurados, permitindo-se, assim, pena superior, até porque a decisão anterior foi cassada. Não mais existe. O nada não pode servir de fator limitativo para a segunda decisão.”

Saliente-se, ainda, a visão do jurista Heráclito Antônio Mossim35:

“Há na nova decisão plena liberdade de os jurados votarem o questionário de forma que melhor lhes prouver, mesmo porque os juízes de fato que participaram do julgamento que restou anulado não podem participar do novo conselho de sentença, a teor do que se encontra

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$Q"RANGEL, PAULO. Direito Processual Penal. 17 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010.

35 MOSSIN, Heráclito Antônio. Recursos em Matéria Criminal. 4ª ed., São Paulo: Manole, 2005.

#Q"

"

insculpido na Súmula 206 do Colendo Supremo Tribunal Federal. A hipótese releva impedimento especial. A liberdade em questão está vinculada à soberania do tribunal do júri consagrada constitucionalmente (art. 5º, XXXVIII, c, da CF).”

Desta forma, por exemplo, se o réu no primeiro julgamento for

condenado pelo Conselho de Sentença por homicídio duplamente qualificado -

havendo recurso e verificado que a decisão foi manifestamente contrária à prova

dos autos - a decisão seria reformada e colocada em pauta para novo julgamento.

Os jurados, em nova decisão, poderiam vir a reconhecer uma terceira

qualificadora, sendo que se estivessem adstritos ao resultado do primeiro

julgamento isto impediria essa nova convicção dos fatos. Justamente por

prevalecer à soberania dos vereditos do Tribunal do Júri, não deve haver uma

restrição à sua convicção, mesmo que o recurso tenha sido exclusivo da defesa.

Contudo, a corrente contrária – pacifica na jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal - acerca da reformatio in pejus indireta entende que: o

Juiz Presidente estaria vinculado à pena do primeiro julgamento, mesmo que, na

segunda sentença, o Conselho de Sentença reconheça situação menos favorável,

pois somente assim o princípio da proibição da reformatio in pejus estaria sendo

respeitado em sua amplitude. Essa corrente sustenta que a soberania dos

vereditos não estaria sendo afetada, pois o Júri decidiria de forma soberana,

ficando somente o Magistrado a quo vinculado à aplicação da nova pena.

Segundo Jorge Vicente Silva36:

“(...) A tese defendida, acreditamos, seja a que mais atende ao princípio da proibição da reformatio in pejus em toda sua amplitude. Observa-se que nesse caso, fica mantida a soberania do Júri, restando apenas vinculado o Juiz Presidente à decisão anterior, quanto à pena então aplicada. O próprio art. 617 do Código de Processo Penal, quando permite ao Tribunal dar nova classificação ao fato, impedindo porém, seja a pena agravada, permite interpretação no sentido de que o Juiz Presidente do Tribunal do Júri pode ter sua decisão, ao proferir a sentença, vinculada ao máximo da pena fixada no anterior julgamento. Isto porque, se este dispositivo legal permite que o Tribunal ad quem dê nova definição jurídica ao fato, como por exemplo, reclassificar um delito

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$G"SILVA, Jorge Vicente. Homicídio Doloso. 6ª ed., v.4, Curitiba: Juruá, 2006."

#W"

"

de furto para roubo impróprio, devendo, porém, manter a mesma pena aplicada ao furto, nada impede que o Tribunal Popular dê nova classificação ao crime (...)”.

Esse posicionamento leva em conta os dois princípios discutidos. Pois se

a Constituição Federal define em seu artigo 5º, XXXVII, a soberania das decisões

do Tribunal do Júri, o incido LV do mesmo artigo assegura a todos o contraditório

e ampla defesa bem como os meios inerentes à essa. Ambos princípios

fundamentais e cláusulas pétreas da Constituição. Considera-se então a proibição

a reformatio in pejus como presente no principio do contraditório e ampla defesa, e

não apenas norma infraconstitucional presente na legislação processual penal.

O doutrinador Guilherme de Souza Nucci, que defende essa corrente,

sustenta que a pena não poderá ser fixada em quantidade superior à decisão

anulada, pois os princípios constitucionais devem estar em estado de harmonia. E

que, não obstante o respeito à soberania dos veredictos, a ampla defesa também

deve ser respeitada em igual hierarquia, pois também é princípio constitucional.

Ao se retirar do réu a segurança jurídica para interpor recurso - podendo ocorrer

piora a de sua situação - não se estaria garantindo a ampla defesa. Ainda,

pontuou que “(...) caso o juiz-presidente veja que, pela incidência dessa causa de

aumento, a nova pena será fixada em patamar maior do que a anterior, que foi

tornada nula em grau de recurso, deverá reduzi-la, objetivando atingir o patamar

primário, obedecendo ao princípio da ne reformatio in pejus indireta” 37.

Em contrapartida o Supremo Tribunal Federal vem consolidando que “ao

estabelecer que o juiz o qual venha a proferir nova decisão, em substituição à

cassada no âmbito de recurso exclusivo da defesa, está limitado e adstrito ao

máximo da pena imposta na sentença anterior, não podendo de modo algum

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$P"NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 3ª ed., São Paulo: RT, 2004."

#G"

"

piorar a situação jurídico-material do réu, sob pena de incorrer em reformatio in

pejus indireta.” 38

Ainda, em importante voto do Ministro Cezar Peluso, quando na relatoria do

HC 89544-1 RN, STF, entendeu-se que ‘o princípio da personalidade dos recursos

que obsta a reformatio in pejus – CPP, artigo 619 - encontra amparo no princípio

do contraditório e da ampla defesa’. Sendo assim, restou pacificado que o Juiz, ao

proferir a nova decisão, está adstrito à pena incialmente imposta, independente

das circunstâncias de condenação do segundo Júri. Abaixo a ementa da referida

decisão.

AÇÃO PENAL. Homicídio doloso. Tribunal do Júri. Três julgamentos da mesma causa. Reconhecimento da legítima defesa, com excesso, no segundo julgamento. Condenação do réu à pena de 6 (seis) anos de reclusão, em regime semi-aberto. Interposição de recurso exclusivo da defesa. Provimento para cassar a decisão anterior. Condenação do réu, por homicídio qualificado, à pena de 12 (doze) anos de reclusão, em regime integralmente fechado, no terceiro julgamento. Aplicação de pena mais grave. Inadmissibilidade. Reformatio in pejus indireta. Caracterização. Reconhecimento de outros fatos ou circunstâncias não ventilados no julgamento anterior. Irrelevância. Violação conseqüente do justo processo da lei (due process of law), nas cláusulas do contraditório e da ampla defesa. Proibição compatível com a regra constitucional da

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$Y"'(8)&>-E'*)" WQ#" d" :E8" eTribunal do Júri e Princípio da “Ne Reformatio in Pejus”

Indireta – 1 A Turma deferiu habeas corpus para assentar que o princípio da ne reformatio in pejus indireta tem aplicação nos julgamentos realizados pelo tribunal do júri. No caso, acusado como incurso nos delitos capitulados no art. 121, § 2º, I e IV, c/c o art. 29, ambos do CP, fora absolvido pelo conselho de sentença, o qual acolhera a tese de legítima defesa. Interposta apelação pelo Ministério Público, o tribunal de justiça local dera-lhe provimento para submeter o paciente a novo julgamento, por reputar que a decisão dos jurados teria sido manifestamente contrária à prova dos autos. Em novo julgamento, conquanto reconhecida a legítima defesa, entendera o júri ter o paciente excedido os limites dessa causa de justificação, motivo pelo qual o condenara por homicídio simples à pena de 6 anos de reclusão, a ser cumprida em regime semi-aberto. Irresignada, a defesa interpusera recurso de apelação, provido, sob o argumento de que contradição na formulação dos quesitos teria maculado o decreto condenatório, eivando de nulidade absoluta o feito. O paciente, então, fora submetido a terceiro julgamento perante o tribunal do júri, sendo condenado por homicídio qualificado à pena de 12 anos de reclusão, em regime integralmente fechado. A defesa, desse modo, recorrera à corte local e ao STJ, concluindo este que, em crimes de competência do tribunal do júri poderia ser proferida, em novo julgamento, decisão que agravasse a situação do réu, tendo em vista a soberania dos veredictos. A impetração sustentava que, decretada a nulidade do julgamento anterior, não poderia o conselho de sentença, no novo julgamento, agravar a pena do réu, sob pena de violar o princípio constitucional da ampla defesa, bem como a vedação da reformatio in pejus.” HC 89544/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 14.4.2009. (HC-89544)

"

#P"

"

soberania relativa dos veredictos. HC concedido para restabelecer a pena menor. Ofensa ao art. 5º, incs. LIV, LV e LVII, da CF. Inteligência dos arts. 617 e 626 do CPP. Anulados o julgamento pelo tribunal do júri e a correspondente sentença condenatória, transitada em julgado para a acusação, não pode o acusado, na renovação do julgamento, vir a ser condenado à pena maior do que a imposta na sentença anulada, ainda que com base em circunstância não ventilada no julgamento anterior. (HC 89544, Relator (a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 14/04/2009, DJe-089 DIVULG 14-05-2009 PUBLIC 15-05-2009 EMENT VOL-02360-01 PP-00197 RTJ VOL-00209-02 PP-00640 RT v. 98, n. 886, 2009, p. 487-498 LEXSTF v. 31, n. 365, 2009, p. 348-366 RSJADV dez., 2009, p. 46-51)

Segundo julgado do Supremo Tribunal Federal39, “ambas essas garantias,

que constituem cláusulas elementares do princípio constitucional do justo

processo da lei (due process of law), devem interpretadas sob a luz do critério da

chamada concordância prática, que, como se sabe, consiste ‘numa recomendação

para que o aplicador das normas constitucionais, em se deparando com situações

de concorrência entre bens constitucionalmente protegidos, adote a situação que

otimize a realização de todos eles, mas ao mesmo tempo não acarrete a negação

de nenhum’”.

O Ministro Peluso ainda destaca ainda que a “proibição para pior, inspirada

no artigo 617, do Código de Processo Penal, não comporta exceção alguma que

convalide ou a legitime, ainda quando na forma indireta” 40. Ainda, que ambos

artigos sopesados, Artigo 5°, XXXVII, alínea ‘c’, e artigo 5°, inciso LV, são

consectários do devido processo legal, devendo então serem sopesados diante do

principio da concordância prática.

Além disso, ao permitir a reformatio in pejus indireta nas decisões do Júri

assume-se o risco de transformar o recurso da defesa em potencial recurso da

Acusação, pois poderia a situação do réu restar agravada em posterior julgamento.

Fato esse que traria insegurança jurídica e inibiria muitas vezes a parte de

recorrer. Resta então, segundo essa corrente jurisprudencial, o Júri livre para

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""$M"HC 89544/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 14.4.2009. (HC-89544)"

QL"HC 89544/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 14.4.2009. (HC-89544)"

#Y"

"

decidir como bem lhe convir. Entretanto o Juiz adstrito, independente do resultado

do novo Júri, deve estar adstrito às condições da pena do primeiro Júri.

Em tal julgado41 observamos que não se deve interpretar e aplicar um

princípio sobre o outro, pois “essa decorrência do princípio da unidade orgânica e

da integridade axiológica da Constituição, e cuja ratio iuris está em garantir a

coexistência harmônica dos bens tutelados, sem predomínio teórico de uns sobre

os outros, cuja igualdade de valores fundamenta o critério ou princípio da

concordância”.

Discorre ainda, que “como corolário do contraditório e da ampla defesa, o

código de Processo Penal contempla, dentre outros, o princípio da personalidade

dos recursos (parte final do artigo 617, que obsta à reformatio in pejus indireta” 42.

Essa corrente parte do pressuposto de que se a Acusação já se deu por

satisfeita quanto à sentença proferida - tendo deixar (OU ADO) transitar em

julgado para si – não haveria sentido em o inconformismo do Réu levar a uma

nova decisão que agravasse a sua situação. Pois o “recurso só pode beneficiar à

parte que o interpôs, não aproveitando à parte que não recorreu, e que via de

consequência que - quem não recorreu não pode ter sua situação agravada se

não houve recurso da parte contrária.43

No mesmo sentido é o entendimento do Doutrinador Fernando Capez 44:

“Anulada a sentença condenatória em recurso exclusivo da defesa, não

pode ser prolatada nova decisão mais gravosa do que a anulada. Por

exemplo: réu condenado a um ano de reclusão apela e obtém a nulidade

da sentença: a nova decisão poderá impor-lhe, no máximo, a pena de um

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""Q!"HC 89544/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 14.4.2009. (HC-89544)"

Q#"HC 89544/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 14.4.2009. (HC-89544)"

Q$"!"#$%&'","-./"01221345657"('"$)$*'+,"-6;<65<":=/4/6=1"8146/6.1C7-!%.'+-(#/0%,""-6;X65<">/3/2AI1C7"!"#$%&'()'(*%'#"&&'(*")+,7"'*"1.5HI<7":I<"0/F2<D"&1J5C;/".<C"E45KF6/5C,"#LLW,"N7"$M7"

QQ"CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003."

#M"

"

ano, pois do contrário o réu estaria sendo prejudicado indiretamente pelo

seu recurso.”

Ainda, Júlio Fabbrini Mirabete45:

“Também é vedada a denominada reformatio in pejus indireta. Anulada

uma decisão em face de recurso exclusivo da defesa, não é possível, em

novo julgamento, agravar a sua situação. Como o Ministério Público se

conformara com a primeira decisão, não apelando dela, não pode o juiz,

após anulação daquela, proferir uma decisão mais severa contra o réu.”

Entendimento esse presente durante a história da Suprema Corte:

JÚRI. APELAÇÃO DA DEFESA CONTRA TÓPICO DA CONDENAÇÃO.PRINCÍPIO ‘TANTUM DEVOLUTUM QUANTUM APELLATUM’. HIPÓTESE EM QUE DA CONDENAÇÃO, PELO JÚRI, APELOU UNICAMENTE A DEFESA. LIMITES OBJETIVOS DO APELO, QUE NÃO PODERIA PRODUZIR, COMO RESULTADO, A SUBMISSÃO DO RÉU A NOVO JÚRI, E SUA CONDENAÇÃO A PENA MAIS GRAVE. ‘HABEAS CORPUS’ CONCEDIDO, PARA QUE SE REAPRECIE NA ORIGEM, EM SEUS EXATOS TERMOS, A APELAÇÃO DO RÉU (HC no 62.987, Rel. Min. FRANCISCO REZEK, DJ de 14.11.1985). “HABEAS CORPUS. JÚRI. ANULAÇÃO DO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 2. O paciente foi condenado por homicídio qualificado consumado e por homicídio tentado. Recorreu da decisão do Júri, tão-só, quanto à condenação pelo homicídio consumado. 3. Quanto à condenação por homicídio tentado, não houve apelação nem do Ministério Público, nem do réu, ora paciente. 4. O Tribunal anulou o julgamento amplamente, por vício formal, determinando que o réu fosse submetido a novo pronunciamento do Júri, também de referência ao homicídio tentado. 5. Alegação, no habeas corpus, de ‘reformatio in pejus’. 6. (RE no 23.989, Rel. Min. AFRANIO COSTA, DJ de 9.8.1954). Todavia, esses entendimentos causam certa controvérsia, uma vez que afetaria indiretamente o princípio da soberania dos veredictos. A apelação do réu ensejava à Corte julgadora anular o julgamento no que se referia à condenação por homicídio qualificado consumado. Ao determinar, entretanto, o Tribunal local a renovação integral do julgamento, pelo Júri, também quanto ao crime tentado, contra cuja condenação não houve apelação, ultrapassou os limites do recurso. 7. Na inicial o impetrante alega que houve ‘reformatio in pejus’, pois a decisão prejudica ao paciente. 8. Habeas Corpus deferido para, cassando em parte o acórdão referente à apelação criminal, afastar a determinação de o paciente ser submetido a novo julgamento pelo Júri, quanto ao homicídio tentado”

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""QW"MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2005."

$L"

"

(HC no 73.641, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, DJ de 8.11.1996). “Júri. Apelação. Limites. Coisa Julgada. ‘Reformatio in pejus’. Se o Ministério Público não se insurgiu contra a absolvição da paciente, quanto ao delito de homicídio, até porque ele próprio a pleiteara, em Plenário do Júri, e, se, ao pedir a anulação do julgamento, só levou em consideração o crime de destruição de cadáver, não podia o Tribunal ir mais longe, piorando a sorte da ré e inobservando, inclusive, a coisa julgada, resultante da absolvição. ‘HABEAS CORPUS’ deferido para anulação do acórdão nesse ponto. 2. Havendo, posteriormente, o juiz de“Art. 593 (...). § 3o Se a apelação se fundar no n. III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar- lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação”. 1o grau declarado a extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva, quanto ao delito de ocultação de cadáver, e transitando em julgado essa decisão, fica encerrado o processo (HC no 68.009, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, DJ de 5.4.1991). “REFORMATIO IN PEJUS: PASSANDO EM JULGADO, PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO, A DECISÃO DO JÚRI DESCLASSIFICANDO O CRIME PARA CULPOSO, NÃO PODE O RÉU SER SUBMETIDO A NOVO JÚRI, EM RECURSO POR ELE INTERPOSTO”

O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná vem consolidando no mesmo

sentido que a Suprema Corte, de que resta proibido a incidência da reformatio in

pejus indireta quando há Recurso exclusivo da defesa. Neste sentido já decidiu:

“Desse modo, estando a pronúncia ausente de fundamentação na parte em

que admitiu as qualificadoras descritas na denúncia, há nulidade tópica da

sentença.Ocorre que, no caso, por se tratar de recurso exclusivo da Defesa em

que não se arguiu a referida nulidade, não há como se anular a decisão nesta

parte.Neste sentido é o teor da Súmula nº 160 do Supremo Tribunal Federal: "É

nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no

recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício". In casu,

portanto, é de rigor a exclusão das qualificadoras.”46

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""QG""RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, INCISOS I E II DO CP). PRONÚNCIA. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS DE AUTORIA. DESPROVIMENTO. PRESENÇA DE PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. AFASTAMENTO DAS QUALIFICADORAS DO MOTIVO TORPE E DO EMPREGO DE RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA VÍTIMA. NULIDADE DA PRONÚNCIA

$!"

"

HOMICÍDIOS CULPOSOS (ART. 302, PARÁGRAFO ÚNICO, I E, III, CTB) - SENTENÇA CONDENATÓRIA - NULIDADE RECONHECIDA - PRAZO VINCULADO À PENA CONCRETIZADA - PROIBIÇÃO À REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA - ARTS. 107,IV, 109-IV e 110,§1º, DO CÓDIGO PENAL - RECURSO PROVIDO, COM DECRETAÇÃO, DE OFÍCIO, DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO RECORRENTE. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC - 1165545-5 - Matelândia - Rel.: Naor R. de Macedo Neto - Unânime - - J. 15.05.2014).

APELAÇÃO CRIME. CRIME DEFINIDO NO ART. 302, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO II, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. ATROPELAMENTO. FAIXA DE PEDESTRES.CONDENAÇÃO. PLEITO DE REDUÇÃO DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO. - RECURSO NÃO CONHECIDO NESTA PARTE. MÉRITO. PLEITO ABSOLUTÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. IMPRUDÊNCIA CARACTERIZADA. FALTA DE DEVER OBJETIVO DE CUIDADO CONFIGURADO. PROVA ROBUSTA SUSTENTANDO A CONDENAÇÃO. REDUÇÃO DA PENA DE SUSPENSÃO PARA DIRIGIR. QUANTUM FIXADO BENÉFICO AO RECORRENTE.MANUTENÇÃO EM OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO NON REFORMATIO IN PEJUS. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTA PARTE, DESPROVIDO. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC - 1174085-3 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Naor R. de Macedo Neto - Unânime - - J. 24.04.2014)

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PRONÚNCIA.TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO E POSSE DE ARMA DE FOGO MODIFICADA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE ANIMUS NECANDI. TESE NÃO COMPROVADA DE FORMA CABAL. AFASTAMENTO. PEDIDO DE NULIDADE TÓPICA DA PRONÚNCIA EM RELAÇÃO AO CRIME CONEXO POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO - ACOLHIMENTO. QUALIFICADORA DO MOTIVO TORPE.FALTA DE CORRELAÇÃO ENTRE A IMPUTAÇÃO FEITA NA DENÚNCIA E A DECISÃO. INOCORRÊNCIA DE MOTIVAÇÃO QUANTO À QUALIFICADORA DO RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA. RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA. APLICAÇÃO DA SÚMULA 160 DO STF. AFASTAMENTO DAS QUALIFICADORAS DA PRONÚNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO PARA RECONHECER A NULIDADE TÓPICA EM RELAÇÃO AO CRIME CONEXO E PARA EXCLUIR AS QUALIFICADORAS. (TJPR - 1ª C.Criminal - RSE - 1124077-6 - Manoel Ribas - Rel.: Macedo Pacheco - Unânime - - J. 27.02.2014)

Diante de todo o exposto, um entendimento que pode vir a adequar estas

correntes seria o seguinte: de que no Tribunal do Júri é facultado ao Juiz

Presidente proferir uma pena superior ou mais grave se o Conselho de Sentença

"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""NESTA PARTE POR AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. VÍCIO NÃO ALEGADO NO RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA. SÚMULA Nº 160/STF. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR, RSE nº 1.065.602-3, Rel. Des. MIGUEL KFOURI NETO, Julg.10.10.2013, DJ nº 1212).

$#"

"

reconhecer situação menos favorável ao réu àquela reconhecida no primeiro

julgamento. Assim, não haveria então uma violação à reformatio in pejus indireta,

pois tal decisão foi proferida pelo Tribunal acima citado e deriva do princípio fixado

pela Constituição Federal da soberania dos vereditos. Em contrapartida, sendo a

decisão do novo júri igual à primeira - no que concerne a definição do crime e de

suas circunstâncias - não poderá o Juiz Presidente agravar a situação do acusado

somente por ocasião da dosimetria da pena.

Posicionamento esse adotado por Mirabete47:

“Não pode a lei ordinária impor-lhe limitações que lhe retirem a liberdade de julgar a procedência ou a improcedência da acusação, bem como a ocorrência, ou não, de circunstâncias que aumentem ou diminuam a responsabilidade do réu, em virtude de anulação de veredicto anterior por decisão da Justiça togada. Isso implica dizer que tem o novo Júri, nos limites da pronúncia e do libelo, a liberdade de responder diferentemente do anterior aos quesitos que lhe são apresentados, podendo agravar a situação do réu. Nos termos do art. 617, somente o Juiz Presidente está proibido de aumentar à pena se o novo Júri responder da mesma forma que o primeiro quanto ao crime e às circunstâncias influentes da pena. Não está em jogo, nessa hipótese, a soberania do Júri, devendo curvar-se o Juiz Presidente ao ditado pelo mencionado dispositivo.”

Ao final, devemos equacionar quais benefícios cada posicionamento

jurisprudencial e doutrinário traz para a sociedade. “Pois é certo que os jurados

são soberanos, mas não é menos certo afirmar que os princípios constitucionais

devem harmonizar-se” 48.

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""QP"MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2005."

QY"(SRR',"%F52A14V1".1":<Ff/7">?/.@'(/"(*'%#"&&'(*")+,(>'8")9+/'7"$"1.5HI<7":I<"0/F2<D"&1J5C;/".<C"E45KF6/5C,"#LLQ,"N7"M!$7"

$$"

"

IX – CONCLUSÃO

Conforme exposto quando tratamos sobre o Instituto da Reformatio in Pejus

há uma série de fatores a serem considerados. Fato este que levou a analisar

duas correntes divergentes no nosso ordenamento pátrio. Cabe a nós sopesar

princípios e garantias constitucionais da soberania do Tribunal do Júri e o do

Contraditório e ampla defesa – o qual implicitamente proíbe o reformatio in pejus –

com razoabilidade e proporcionalidade para se chegue a uma interpretação e

aplicação jurisprudencial unificada.

Embora ambas as correntes doutrinárias tenham aspectos que visam

garantir a segurança jurídica e a dignidade da pessoa, deve-se buscar uma

constância nas decisões de nossas cortes com o intuito de garantir segurança

jurídica e evitar-se a injustiça através de decisões contrastantes dentro do mesmo

território.

Ainda que a Carta Magna reze a soberania nas decisões do Tribunal do

Júri, este mandamento não ser interpretado de forma independente, pois se deve

buscar uma intepretação para o melhor benefício da sociedade e seus cidadãos.

Conclui-se que a vedação ao Instituto da Reformatio in Pejus - que está

presente tanto na Constituição Federal como na legislação infraconstitucional -

deve ser interpretada de maneira que se acomodem todos esses posicionamentos

aos princípios constitucionais que regem a dignidade e liberdade da pessoa

humana. Pois, “a soberania dos vereditos não pode ser atingida, enquanto

preceito para garantir a liberdade do Réu. Mas, se ela é desrespeitada em nome

dessa mesma liberdade, atentado algum se comete contra o texto constitucional.” 49

""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""QM"MARQUES, Frederico. A instituição do Júri. 1 edição, São Paulo: Saraiva, 1963, vol. I, p. 54.""

$Q"

"

X – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AVENA, Norberto. Reformatio in Pejus e sua classificação. Disponível em: http://www.norbertoavena.com.br/detalhes-noticias-norberto-avena.php?menu=noticias&id=23

BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Direito Processual Penal. v. I. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

BISINOTO, Edneia Freitas Gomes. Origem, história, principiologia e competência do tribunal do júri. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9185

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HC 89544/RN, rel. Min. Cezar Peluso, 14.4.2009. (HC-89544)

BRASIL – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 1132728/RJ, STJ, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 26/08/2010, T5 - QUINTA TURMA.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1988.

CRUZ, Rogério Schietti Machado. Garantias processuais nos recursos criminais. 1ª. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

CRUZ, André Gonzales. O princípio da proibição da reformatio in pejus indireta nas decisões do júri. Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão, Juris Itinera, de 2013. Disponível em http://atualidadesdodireito.com.br/andregonzalez/2014/02/01/o-principio-da-proibicao-da-reformatio-in-pejus-indireta-nas-decisoes-do-juri/

GRINOVER, Ada Pelegrini. FERNANDES, Antonio Scarance. FILHO, Antonio Magalhães. As nulidades no processo penal. 3 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 1993.

GRINOVER, Ada Pellegrini. FERNANDES, Antonio Scarance . GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Recurso no Processo Penal. VI edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

MARQUES, José Frederico. A instituição do júri. v. 1. São Paulo: Saraiva, 1963, p. 35.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 2005.

$W"

"

MOSSIN, Heráclito Antônio. Recursos em Matéria Criminal. 4ª ed., São Paulo: Manole, 2005.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 3ª ed., São Paulo: RT, 2004.

NUCCI, Guilherme de Souza. Júri: princípios constitucionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999.

PACELLI. Eugenio de Oliveria. Curso de Processo Penal. 12 ed. Rio de Janeiro: 2009.

RANGEL, Paulo, Direito Processual Penal. 17 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010.

SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 27 edição. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2007.

SILVA, Jorge Vicente. Homicídio Doloso. 6ª ed., v.4, Curitiba: Juruá, 2006.

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 3a edição. Editora jusPODIVM: 2009.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. v. II. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.