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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CRISTIANE BORMANN CZITORSKI CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL, FRENTE À CRISE DO JUDICIÁRIO CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CRISTIANE BORMANN CZITORSKI

CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL, FRENTE À CRISE

DO JUDICIÁRIO

CURITIBA

2015

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CRISTIANE BORMANN CZITORSKI

CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL, FRENTE À CRISE

DO JUDICIÁRIO

Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Rafael Knnor Lipmann

CURITIBA

2015

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TERMO DE APROVAÇÃO

CRISTIANE BORMANN CZITORSKI

CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL, FRENTE À CRISE DO

JUDICIÁRIO

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _______de ______________ de 2015.

____________________________________

Bacharelado em Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Núcleo de Monografias: ________________________________ Prof. Doutor Eduardo de Oliveira Leite

UTP – Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador:__________________________________ Prof. Rafael Knorr Lippmann UTP – Universidade Tuiuti do Paraná Examinador 1: ________________________________ Prof._____________________________ UTP – Universidade Tuiuti do Paraná Examinador 2: ________________________________ Prof.____________________________ UTP – Universidade Tuiuti do Paraná

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que me deu forças nas horas mais difíceis, me fazendo acreditar

que sou mais forte do que penso.

Ao meu amado marido, sempre presente, principalmente, nos dias que antecediam

provas e trabalhos, períodos em que eu ficava nervosa e estressada, e por isso, com

muito amor e paciência me incentivava a continuar.

Ao meu querido e abençoado filho, uma criança quando iniciei o curso, e hoje

“quase” um adolescente. Meu herói, quando o computador insistia em travar, nos

momentos em que eu mais precisava.

À minha querida amiga Ângela, meu anjo da guarda, nestes cinco anos de curso.

Agradeço a Deus por colocá-la em meu caminho.

A todas as minhas amigas: Professora Tânia, minha maior incentivadora, Silvane e

Liliana, muitas vezes ausentes, a meu pedido, em períodos de provas, momentos

esses, em que eu me isolava de todos, para estudar, mas, mesmo assim, não

deixavam de ligar ou enviar recadinhos carinhosos e incentivadores.

A todos os meus colegas, amigos e familiares que, de alguma forma, contribuíram

para esta conquista.

Aos professores do Curso de Direito da Tuiuti que marcaram minha vida acadêmica,

dentre eles o professor Rabello; Murilo; Friedmann; Marco Aurélio; Surgik, Staut;

Eduardo Leite; Dangelis; Auricchio, André Peixoto, Alcure, Artigas, Pericles. Os

levarei para minha carreira profissional, como referência de ética e profissionalismo.

Ao meu orientador, Professor Lipmann, profissional renomado, mas, extremamente

humilde. Agradeço pela orientação deste trabalho.

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Dedico esta conquista ao meu marido e

ao meu filho, pelo apoio incondicional,

para que eu pudesse concluir o curso de

Direito. Com a cooperação de ambos,

realizei o meu sonho, que agora é

realidade.

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“Quando você achar que é bom o

suficiente, tente segurar o vento...”

(autor desconhecido)

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo um estudo sobre a conciliação nos Juizados Especiais Cíveis, regulado pela Lei 9.099/95, com uma análise sobre a efetividade desse instituto frente à crise do judiciário. O tema escolhido surgiu pelo interesse de se conhecer mais a fundo esse meio alternativo de composição. Para isso, será feito um estudo sobre as diferentes modalidades de composições, momentos processuais distintos em que se promove a conciliação e o juízo arbitral, para alcançar um melhor entendimento sobre o tema. O trabalho fundamenta-se em leis, jurisprudências, doutrinas consagradas, artigos científicos; pesquisa junto ao site do CNJ, para obtenção de informações referentes à quantidade de processos protocolados nos Juizados Especiais Cíveis do País e do Estado do Paraná no ano de 2014, e pesquisa de campo junto aos Juizados de Curitiba.

Palavras-Chave: Juizado Especial Cível. Conciliação. Justiça Comum. Poder

Judiciário. Celeridade.

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LISTA DE ABREVIATURAS Art. Artigo

CC Código Civil

CF Constituição Federal

CPC Código de Processo Civil

JEC Juizado Especial Cível

MP Ministério Público

IAD Índice de Atendimento à Demanda

IPM Índice de Produtividade dos Magistrados

IPS-JUD Índice de Produtividade dos Servidores da área Judiciária

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 JUIZADO ESPECIAL CÍVEL – LEI 9.099/95 ......................................................... 10

2.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO JEC ....................................................... 14

2.1.1 Princípio da Oralidade ................................................................................ 15

2.1.2 Princípio da Simplicidade ........................................................................... 17

2.1.3 Princípio da Informalidade ......................................................................... 18

2.1.4 Princípio da Economia Processual............................................................. 19

2.1.5 Princípio da Celeridade .............................................................................. 21

3 CONCILIAÇÃO NO ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS ................................. 22

3.1 PAPEL DO CONCILIADOR .......................................................................... 23

3.2 REQUISITOS PARA A ESCOLHA DO CONCILIADOR E DO JUIZ LEIGO . 24

3.3 MEDIAÇÃO ................................................................................................... 26

3.4 ARBITRAGEM ESPECIAL NOS JUIZADOS ................................................ 28

3.5 ESCOLHA DO ÁRBITRO ..............................................................................30

4 MOMENTO PROCESSUAL PARA CONCILIAÇÃO ............................................. 31

4.1 AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO ................................................................... 31

4.2 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO ...................................................................... 32

4.3 SENTENÇA E SEGUNDA INSTÂNCIA ........................................................ 33

4.4 HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO JUDICIAL .................................................. 35

4.5 HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL ...................................... 36

5 CRISE DO SISTEMA JUDICIÁRIO ....................................................................... 38

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 43

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 45

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1 INTRODUÇÃO

Diante do crescimento e desenvolvimento das relações jurídicas, o Estado

não consegue acompanhar essa evolução com a agilidade necessária, causando

assim, um acúmulo de processos que se “arrastam” por anos, devido à falta de

estrutura do Poder Judiciário. Em busca de uma solução jurídica para essa crise

judiciária, o legislador instituiu os Juizados de Pequenas Causas, hoje absorvidos

pelos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, com o escopo de uma prestação

jurisdicional efetiva com ênfase na conciliação, bem como, a diminuição do número

de ações ajuizadas perante a justiça comum.

Assim, a conciliação é utilizada por esse instituto como meio alternativo de

solução de conflitos, na tentativa de se evitar um desgaste psicológico entre as

partes envolvidas, e o valor gasto com custas processuais.

Nesse sentido, o acordo entre as partes parece ser a decisão mais acertada,

visto que, ambos abrem mão de uma parte do seu direito em nome de uma

composição amigável, proporcionando uma solução para o conflito sem a

necessidade de uma decisão imperativa do poder judiciário, tomada unilateralmente.

A presente pesquisa tem como objetivo uma análise sobre o procedimento

da conciliação para verificar se há, realmente, efetividade na prestação jurisdicional.

Para isso, faz-se necessário a explanação de alguns pontos relevantes com a

finalidade de respostas para perguntas, como: Atualmente, há celeridade no Juizado

Especial Cível? Quais são os critérios para escolha de um conciliador ou árbitro?

Estes critérios de escolha asseguram uma prestação jurisdicional justa? A crise

judiciária compromete os Juizados Especiais Cíveis?

São respostas importantes para que se possa avaliar se a Lei 9.099/95,

realmente facilitou o acesso à justiça, garantia esta, assegurada pela Carta Magna a

todas as pessoas que necessitem de uma solução para seus litígios, ou se é apenas

uma tentativa infrutífera de desafogar a justiça comum.

O que se almeja com este estudo não é uma crítica aos Juizados Especiais

Cíveis Estaduais, mas sim, uma reflexão sobre a efetividade das conciliações, e se,

realmente, as partes obtiveram uma tutela jurisdicional justa e equânime.

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2 JUIZADO ESPECIAL CÍVEL – LEI 9.099/95

Considerado uma revolução pela doutrina, os Juizados Especiais Cíveis,

representam um caminho alternativo para quem precisa do poder judiciário e almeja

uma prestação jurisdicional das causas de menor complexidade, principalmente,

para as pessoas mais carentes. Contudo, a Lei 9.099/95 não faz exigências quanto

à condição socioeconômica da parte, já que não há a necessidade de se comprovar

renda. Desde que o Juizado seja competente para a causa pleiteada, sendo esta de

até 40 salários mínimos, considerada de menor complexidade, pode-se recorrer ao

Juizado Especial Cível ou Criminal. Devido à complexidade dos institutos, as

ponderações acerca da conciliação, serão feitas no âmbito do Juizado Especial Civil

Estadual.

Antes de adentrar no tema das conciliações, se faz necessária uma

explanação sobre o Juizado Especial Cível, para que se tenha um melhor

entendimento sobre este instituto. Trata-se de um órgão do poder judiciário,

instituído pela Lei Federal número 9.099/95, com base no art. 98, I, da CF, que

determina:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; § 1º - Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999)

Vale dizer, que a Lei 7.244/84, revogada pela Lei 9.099/95, foi a precursora

da democratização do direito, garantindo o acesso à justiça mais célere, visto que

tratava a conciliação entre as partes, como prioridade. Porém, a sua competência

era mais restrita.

Com o advento da Lei 9.099/95, pôde-se aprimorar o que não deu certo com

a lei anterior, e, com isso, possibilitou-se uma maior abrangência de matérias de

competência dos juizados, com maior agilidade e informalidade, visando a promoção

da conciliação, sempre que possível, das causas de menor complexidade, por meio

de procedimentos especiais.

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A doutrina teceu inúmeros elogios aos juizados, elencando vários benefícios

para a sociedade brasileira.

A ministra do STJ, Fátima Nancy Andrighi, demonstra confiança com este

meio alternativo de tutela jurisdicional, em um artigo publicado na Revista dos

Estudantes de Direito da UnB:

No alto de meus 21 anos de magistratura, deixo-lhes o meu testemunho de confiança e fé de que a Lei 9.099/95 é o marco inicial da reestruturação do Poder Judiciário, pois deu-lhe a oportunidade de aproximar-se do cidadão, assumindo o papel e os contornos que lhe traçou a Constituição Federal de 1988, dando vida ao seu único e inarredável escopo, servir à sociedade, sem o que será apenas letra morta na Carta Magna e na vida da Nação brasileira.(ANDRIGHI, 2015, p. 13/18)

A ministra pondera no sentido de que o poder judiciário deve assegurar ao

cidadão, que teve um direito lesado, uma resposta baseada nas garantias

asseguradas pela Constituição Federal. Sendo assim, o Juizado tem o escopo de

garantir esta aproximação do povo com judiciário, de forma desburocratizada e

barata.

Segundo os autores José Maria de Melo e Mário Parente Teófilo Neto:

Vale dizer, que a exigência do legislador constituinte para que os Juizados Especiais fossem criados decorreu da necessidade cada vez maior de uma democratização do acesso ao judiciário. À época da promulgação da Carta Magna era e, ainda, é imperativo que se viabilize cada vez mais o acesso das camadas carentes da sociedade à justiça, a fim de que esta possa oferecer uma resposta sempre rápida e eficaz àqueles que a procuram. (MELO; TEÓFILO NETO, 1996, p.18)

Há necessidade de se assegurar o acesso ao judiciário a todas as pessoas,

e não somente àquelas que possuem condições de arcar com as custas e

honorários advocatícios perante o poder judiciário. É dever do Estado, oportunizar o

acesso à justiça, conforme determina a Constituição Federal em seu art. 5º, inc.

XXXV, onde assegura que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário,

lesão ou ameaça de direito”. Sendo assim, não é possível ignorar os anseios da

população mais carente. Nesse sentido, o Juizado veio para garantir que essas

pessoas tenham uma tutela jurisdicional célere e barata.

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Muitas vezes, a dificuldade de se pleitear um direito na justiça tradicional se

dá ao elevado valor das custas, visto que em determinados casos a monta paga é

maior do que o direito pleiteado. Nesse sentido, Roberto Portugal Bacellar, pontua:

Concomitantemente à estabilização do volume de causas da justiça tradicional – e não seu esvaziamento, como apregoavam alguns -, os Juizados Especiais Cíveis vieram dar acesso à justiça a quem nunca teve. E os exemplos, pelo Brasil afora, são muitos: acordo de R$ 12,00, equivalente a 4 dólares americanos, para pagamento em duas vezes; reclamação sobre um “radinho de pilhas” mal consertado; liquidificador com defeitos; problemas de vizinhança, em que o leitão do vizinho se alimentou das verduras da horta do terreno confinante; questões de condomínio; pequenas cobranças, entre outros tantos. (BACELLAR, 2004, p. 41/42)

A prestação da tutela jurisdicional não pode ser restringida ao pagamento de

custas, visto que no Brasil o índice de pobreza é elevado. Em 01 de outubro de

2013, o Ipea divulgou o comunicado nº 159, intitulado “Duas décadas de

desigualdade e pobreza no Brasil medidas pela Pnad/IBGE”. Segundo comunicado o

número de pessoas vivendo em extrema pobreza no país no ano de 2012 era de

aproximadamente 6 milhões (com renda per capita de até setenta e cinco reais), e a

população considerada pobre era de cerca de 15 milhões (renda per capita de até

cento e cinquenta reais). (DUAS..., 2013, p. 17)

Sendo assim, estas pessoas não podem ser ignoradas pelo poder judiciário

quando precisarem de uma tutela jurisdicional. O direito ao acesso à justiça, não

pode ser condicionado ao pagamento de custas, já que, muitas vezes, elas não têm

nem o suficiente para se alimentar.

Para o autor Luiz Cláudio da Silva:

Os Juizados de Pequenas Causas, absorvidos agora pelos Juizados Especiais Cíveis, vieram acabar com algumas distorções sociais, facilitando aqueles que tinham dificuldades financeiras para buscar a prestação jurisdicional e que hoje podem ter acesso a essa prestação, sem o ônus das custas processuais e sucumbência em honorários advocatícios, permitindo-se lhes propor e contestar as reclamações sem a necessidade de assistência de advogado, quando o valor atribuído à causa não for superior a 20 salários mínimos, tornando-se obrigatória a assistência de advogado somente quando superar esse valor, ex vi do art. 9º, da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. (SILVA, 1997, p. 1)

O art. 9º da Lei 9.099/95, confere à parte, capacidade postulatória para

propor ou se defender sem a assistência de advogado, em primeira instância, desde

que o valor não seja superior a vinte salários mínimos. Considerado um entrave para

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a classe mais carente, os honorários advocatícios, podem limitar o acesso à justiça

comum. Porém, com o advento da lei, estas distorções sociais foram sanadas,

cabendo à parte, a faculdade de escolher ou não a assistência de advogado.

Importante salientar, que, deve-se ter cautela quanto a esta possibilidade,

visto que, muitas vezes, as partes não são isonômicas quanto ao conhecimento

jurídico. Neste caso não haveria um equilíbrio, e a falta da assistência de um

profissional de Direito poderia comprometer a efetividade da demanda. Para evitar

tais prejuízos, as partes podem requer assistência jurídica de defensor público ou

dativo, conforme determina a Lei 1.060/50.

Nesse sentido, os autores Carlos Eduardo Malinowski e Manuella de Oliveira

Soares Malinowski, pontuam:

O princípio da igualdade entre as partes também estaria ferido se o juiz percebesse a desigualdade técnica das partes e nada fizesse para igualá-las, ferindo a máxima de que as partes devem ser tratadas iguais na medida de suas desigualdades. (MALINOWSKI; 2014, p. 337)

Ainda sobre o Juizado Especial Estadual, Roberto Portugal Bacellar,

esclarece:

[...] Nota-se que os Juizados Especiais, embora ainda recentes, já são órgãos confiáveis e seguem um rápido caminho ao amplo reconhecimento popular. Há necessidade de que os administradores percebam o imperioso momento de potencializar investimentos nos Juizados Especiais a fim de reverter o quadro geral, que ainda é desfavorável ao Poder Judiciário como um todo [...] (BACELLAR, 2004, p. 26)

O autor pontua com maestria, a necessidade de se aumentar os

investimentos nos Juizados. Não basta que exista uma lei assegurando facilidades

ao acesso do poder judiciário, se não houver efetividade na prestação jurisdicional.

Para isso acontecer, é de suma importância, que haja pessoal qualificado, estrutura

adequada, para que os serventuários, funcionários e auxiliares da justiça, possam

atender, de maneira eficaz, as pessoas que procuram o Juizado.

Como se observa, a doutrina aprovou a criação dos juizados. Denota-se

uma preocupação dos autores com a classe menos favorecida da sociedade, que

antes da lei não possuíam voz perante o judiciário. Todavia, com o advento dos

Juizados elas se tornaram beneficiárias diretas, e assim, podem ter a tutela

jurisdicional com acesso à justiça.

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2.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO JEC

Há de se esperar uma postura mais informal do julgador diante dos conflitos

demandados nos juizados, sendo primordial que o procedimento seja desprovido do

excessivo formalismo do ordenamento jurídico, buscando sempre um julgamento

justo para ambas as partes, caso contrário, os juizados não atingiriam a finalidade

do legislador, que norteou a Lei 9.099/95, sob os contornos dos princípios da

oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, princípios.

De acordo com o Código de Processo Civil, usado subsidiariamente no

Juizado Especial Cível, no que couber, os atos processuais devem ser aproveitados

ao máximo (Art. 250, § único), e só podem ser anulados se causarem prejuízo para

a parte contrária, conforme dispõe o art. 243. Sendo a nulidade absoluta, tanto a

parte prejudicada, quanto o juiz de ofício, poderão arguir nulidade (art. 245, § único).

Todavia, se a nulidade for relativa, terá que ser arguida no prazo legal, apenas pela

parte prejudicada, caso contrário, a nulidade se convalida (art. 244/245).

Conforme ensinamento de Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini

Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:

Às vezes a exigência de determinada forma do ato jurídico visa preservar interesses da ordem pública no processo e por isso quer o direito que o próprio juiz seja o primeiro guardião de sua observância. Trata-se aqui, da nulidade absoluta, que por isso mesmo pode e deve ser decretada de ofício, independentemente de provocação da parte interessada. (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 381)

Sobre a nulidade relativa, os autores acima citados ponderam:

Quando é exclusivamente da parte o interesse visado pela determinação legal da forma, então se trata de nulidade relativa, que o juiz não decreta de ofício e, portanto, só pode ser decretada mediante provocação da parte prejudicada (CPC, art. 251; CPC, art. 565); a parte tem, ademais, o ônus de fazer a alegação na primeira oportunidade em que falar nos autos, sob pena de ficar convalescido o ato imperfeito (CP, 245, caput) [...]. (CINTRA; DINAMARCO; GRINOVER, 2012, p. 382)

Assim sendo, os princípios gerais devem ser aplicados nos juizados, todavia,

a lei elencou em seu art. 2º os princípios norteadores do Juizado Especial Cível: “O

processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,

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economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou

a transação”.

2.1.1 Princípio da Oralidade

Pode-se afirmar que o procedimento oral no tratamento da causa tem

predomínio nos juizados, o que não se confunde com o procedimento verbal, tendo

em vista a redução a termo. O objetivo deste princípio é a fluência do andamento

processual, com uma satisfação ágil e eficiente da tutela jurisdicional, oferecendo às

partes a opção de escolha no procedimento, cabendo-lhes a melhor forma, seja oral

ou escrita.

Como exemplo de oralidade, pode-se relatar a demanda propriamente dita,

que pode ser requerida à secretaria, oralmente (art.14), contestação (art. 30),

mandato ao advogado, a denúncia do MP (art.77), entre outros previstos na Lei

9.099/95.

Segundo o autor Figueira Júnior (2006, p. 36), o princípio da oralidade se

subdivide em subprincípios complementares “representados pelos princípios do

imediatismo, da concentração, da imutabilidade do juiz, da simplicidade, da

celeridade, da economia e da irrecorribilidade das decisões...”. Sendo assim, o autor

conceitua:

O princípio do imediatismo, imediação ou imediatidade preconiza que o juiz deve proceder diretamente à colheita de todas as provas, em contato imediato com os litigantes, bem como propor a conciliação, expor as questões controvertidas da demanda, dialogar com as partes e com seus advogados sem maiores formalidades etc., o que resulta na facilitação da composição amigável ou no melhor e mais rápido convencimento do julgador. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2006 p. 36)

O Princípio do Imediatismo, segundo o autor, está ligado à composição

amigável entre as partes, visto que o juiz deve usar um diálogo menos formal, ou

seja, é necessário que se tenha um contato direto com as partes e com o advogado

durante a audiência, para que o magistrado possa perceber as reações e, assim,

julgar de forma justa, de acordo com o caso concreto.

Já o Princípio da Concentração dos atos visa à concentração dos atos numa

única audiência, ou seja, na audiência de conciliação, instrução e julgamento ou no

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menor espaço de tempo possível, visto que, a audiência pode ser fracionada ou até

mesmo suspensa devido ao falecimento da parte, ausência de uma testemunha ou

outro empecilho.

Um período muito longo entre um ato processual e outro, poderia prejudicar

a percepção do juiz num depoimento da parte, por exemplo. Nas palavras de

Figueira Júnior (2006, p. 36): “Orienta esse princípio que os atos processuais nas

audiências sejam tão concentrados quanto for possível, ou seja, realizados numa

única etapa ou em audiências aproximadas.”.

O Princípio da Imutabilidade, segundo doutrina de Figueira Júnior (2006, p.

37), dispõe sobre a necessidade de o magistrado acompanhar, pessoalmente, os

trâmites do processo, do início até o final, salvo as exceções previstas no art. 132 do

CPC: “[...] se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo,

promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor”. Sendo

assim, o juiz estará mais apto para julgar, visto ter a oportunidade do contato com as

partes, colher a prova oral etc.

Por último, o Princípio da Irrecorribilidade das decisões interlocutórias tem

por finalidade, evitar que o andamento processual seja prejudicado, e que a

celeridade seja comprometida. Contudo, este subprincípio não pode ser interpretado

de maneira absoluta, visto que, em determinadas situações, deve haver revisão da

decisão para que a parte não seja prejudicada com um direito suprimido, porém,

apenas em situações excepcionais. Nesse sentido, Joel Dias Figueira Júnior,

explica:

[...] verificando-se a prolação de decisão interlocutória de mérito (liminares concessivas ou denegatórias de natureza cautelar ou antecipatória) ou outra capaz de resultar em dano irreparável ou de difícil reparação, não enquadrada nas hipóteses de mandado de segurança, há de se admitir, em caráter excepcional, o recurso de agravo por instrumento. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2006, p. 39/40)

É necessário que a discussão sobre qual o meio correto de se atacar uma

decisão interlocutória, que cause dano irreparável ou de difícil reparação, tenha

contornos constitucionais e não puramente técnicos, visto que, a parte não pode

ficar impedida de pleitear a revisão de uma decisão que cerceou seu direito. Quando

houver conflito de princípios, necessário se faz uma ponderação de valores,

levando-se em conta as garantias constitucionais.

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Nesse sentido Alexandre Freitas Câmara e Bruno Garcia Redondo,

ponderam:

O resultado dessa ponderação deve ser amplamente favorável à prevalência das garantias constitucionais da ampla defesa e do devido processo legal, para que seja permitido o recurso por meio de agravo de instrumento contra decisão interlocutória capaz de causar lesão grave ou de difícil reparação à parte. A defesa da irrecorribilidade desse tipo de decisão, além de não proporcionar maior celeridade ao processo, prestigia interesse inequivocamente menos relevante. (CÂMARA; REDONDO, 2009, p. 139)

Nesse sentido, as garantias fundamentais asseguradas pela Carta Magna

devem ser observadas, visto que, a parte não pode ficar restrita à decisão única e

exclusiva de um julgador, sem a possibilidade de reexame da matéria por outro

órgão julgador, em nome da celeridade processual.

2.1.2 Princípio da Simplicidade

O Princípio da Simplicidade é inerente ao Juizado Especial, conforme

disciplina o art. 14, § 1º da Lei 9.099/95: “do pedido constarão, de forma simples e

em linguagem acessível;”. Trata-se de um sistema alternativo, destinado à

população que busca uma tutela jurisdicional descomplicada e acessível. Por esta

razão, a prestação jurisdicional deve ser feita de maneira simples, com

procedimentos e linguagem descomplicados, dos funcionários, serventuários, juízes

e auxiliares do Juizado ao atenderem as partes, visto que, na maioria, são pessoas

que não conhecem os procedimentos jurídicos.

O autor Roberto Portugal Bacellar, descreve uma situação relatada pelo

magistrado Luiz Fernando Tomasi Keppen, diretor do fórum do JEC de Curitiba, que

exemplifica tal princípio:

[...] Ao finalizar uma conciliação, em resposta à indagação do autor sobre o eventual descumprimento do acordo, o magistrado deu a resposta de praxe: - Se o acordo não for cumprido, a ré vai ser executada! A ré, atônita ante a afirmação do juiz, indagou: - No Brasil tem pena de morte? Essa eu não sabia! Demorou um pouco para que todos percebessem que a indignação da ré era pura e verdadeira, e não se tratava de uma brincadeira. (BACELLAR, 2004, p. 54)

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A situação narrada num primeiro momento parece engraçada, todavia,

reflete o desconhecimento da população do vocabulário jurídico. Diante desta

realidade, o legislador inseriu o princípio da simplicidade como um dos norteadores

do Juizado. Por óbvio, a simplicidade não está apenas na linguagem, mas sim, nos

atos processuais, com isso, o entendimento das partes em relação aos atos

processuais será melhor compreendido.

2.1.3 Princípio da Informalidade

O Princípio da Informalidade tem como objetivo o acesso ao judiciário, sem o

rigoroso formalismo da justiça comum. A informalidade nos atos processuais facilita

o ajuizamento das ações nos juizados. Um exemplo de informalidade seria a

capacidade postulatória da parte, que pode propor ou apresentar defesa em

demandas de até vinte salários mínimos, sem a necessidade da assistência de um

advogado, conforme art. 9º da Lei 9.099/95.

Os autores Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Júnior

salientam:

Por outro lado, em que pese ao rito previamente estabelecido para os Juizados especiais em face da incidência do princípio da informalidade, nada obsta que o juiz busque soluções alternativas de ordem procedimental para obter uma prestação da tutela jurisdicional mais rápida e hábil a adequar a ação de direito material àquela de direito processual. (TOURINHO NETO; FIGUEIRA JÚNIOR 2007, p. 79)

Contudo, o legislador deve ter o cuidado de não criar procedimentos

contrários aos disciplinados no ordenamento jurídico, em nome da celeridade

processual. A atuação do conciliador também fica evidenciada pela informalidade, já

que pode presidir audiência de conciliação. O juiz leigo pode presidir uma audiência

de instrução, sob a supervisão do magistrado, e inclusive fazer o julgamento, mais

um exemplo de informalidade.

Os princípios da Simplicidade e Informalidade, muitas vezes são

confundidos, devido à semelhança entre eles. O objetivo de tais princípios é diminuir

a burocracia que, muitas vezes, impede ou dificulta a busca pelo direito.

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2.1.4 Princípio da Economia Processual

Nas palavras Salomão (1999, p. 23) “O princípio da economia processual

recomenda que se obtenha o máximo resultado na atuação da lei com o mínimo

emprego possível de atividades processuais”. O objetivo principal deste princípio é a

efetividade dos atos processuais com um prazo reduzido.

O art. 13 da Lei 9.099/95, disciplina que os atos serão válidos sempre que

preencherem a finalidade para as quais foram realizados, desde que, atendidos os

critérios do art. 2º. Com isso, os atos tornam-se mais céleres. A impossibilidade de

ajuizamento de Ação Rescisória e a possibilidade de cabimento de um único recurso

à Turma Recursal, via de regra, são exemplos deste princípio.

Contudo, o Superior Tribunal Federal entendeu ser cabível Reclamação ao

STJ, após julgar o RE 571.572-8/BA. Antes dessa decisão, o Superior Tribunal de

Justiça não tinha um posicionamento pacífico sobre a possibilidade de Reclamação

ao STJ nos casos de divergência de interpretação de lei infraconstitucional, já que

até o presente momento não foi instituído um Órgão de Uniformização no âmbito do

Juizado Especial Cível.

Sendo assim, o Superior Tribunal Federal teve o seguinte entendimento:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. APLICAÇÃO ÀS CONTROVÉRSIAS SUBMETIDAS AOS JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS. RECLAMAÇÃO PARA O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CABIMENTO EXCEPCIONAL ENQUANTO NÃO CRIADO, POR LEI FEDERAL, O ÓRGÃO UNIFORMIZADOR. 1. No julgamento do recurso extraordinário interposto pela embargante, o Plenário desta Suprema Corte [...] 2. Quanto ao pedido de aplicação da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, observe-se que aquela egrégia Corte foi incumbida pela Carta Magna da missão de uniformizar a interpretação da legislação infraconstitucional, embora seja inadmissível a interposição de recurso especial contra as decisões proferidas pelas turmas recursais dos juizados especiais. 3. No âmbito federal, a Lei 10.259/2001 criou a Turma de Uniformização da Jurisprudência, que pode ser acionada quando a decisão da turma recursal contrariar a jurisprudência do STJ. É possível, ainda, a provocação dessa Corte Superior após o julgamento da matéria pela citada Turma de Uniformização. 4. Inexistência de órgão uniformizador no âmbito dos juizados estaduais, circunstância que inviabiliza a aplicação da jurisprudência do STJ. Risco de manutenção de decisões divergentes quanto à interpretação da legislação federal, gerando insegurança jurídica e uma prestação jurisdicional incompleta, em decorrência da inexistência de outro meio eficaz para resolvê-la. 5. Embargos declaratórios acolhidos

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apenas para declarar o cabimento, em caráter excepcional, da reclamação prevista no art. 105, I, f, da Constituição Federal, para fazer prevalecer, até a criação da turma de uniformização dos juizados especiais estaduais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça na interpretação da legislação infraconstitucional. (RE 571572 ED, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 26/08/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT VOL-02384-05 PP-00978 RTJ VOL-00216- PP-00540)

Após a decisão prolatada no RE 571.572-8/BA pela suprema corte, o STJ

editou a resolução de número 12/2009, pacificando o entendimento de que cabe

Reclamação ao STJ enquanto não for criada a turma de uniformização para os

Juizados Especiais Estaduais.

RESOLUÇÃO N. 12, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2009. Dispõe sobre o processamento, no Superior Tribunal de Justiça, das reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência desta Corte. O PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, usando da atribuição que lhe é conferida pelo art. 21, XX, do Regimento Interno e considerando a decisão do Pleno do Supremo Tribunal Federal nos EDcl no RE n. 571.572-8/BA, DJ de 14.9.2009, e tendo em vista o decidido pelo Conselho de Administração na sessão de 1º de dezembro de 2009, no Processo STJ n. 11.044/2009, RESOLVE: Art. 1º. As reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, suas súmulas ou orientações decorrentes do julgamento de recursos especiais processados na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil serão oferecidas no prazo de quinze dias, contados da ciência, pela parte, da decisão impugnada, independentemente de preparo. [...] (STJ, 2015)

De acordo com a Súmula do STF, cabe ainda Recurso Extraordinário ao

STF nos casos de afronta à disposição constitucional, com base na Súmula 640.

Súmula 640 do STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.

A decisão do STF de que cabe Reclamação ao STJ quando houver

divergência Jurisprudencial, assegura às partes garantias constitucionais, sendo que

a busca pela efetividade dos atos processuais em um prazo reduzido deve respeitar

estas garantias.

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2.1.5 Princípio da Celeridade

A justiça deveria ser célere e justa para todos, mas, infelizmente, não é o

que acontece na prática. Na busca de amenizar o problema, o legislador idealizou os

juizados com base no princípio da celeridade.

Apesar de o Juizado ter este viés mais célere e informal, o juiz não pode

deixar de observar o disposto do art. 5º da CF, o qual determina o exercício da

jurisdição, o direito ao contraditório, ampla defesa, e, ao devido processo legal. O

artigo 6º da Lei 9.099/95 também regulamenta a conduta do magistrado, que deve

ser justa e equânime, de acordo com o caso concreto.

Neste sentido disciplina José Maria de Melo e Mário Parente Teófilo Neto.

Dessa forma, jamais poder-se-ia compreender a instalação de órgão da Justiça desvinculado, sem compromisso com esses valores. Todo o fortalecimento do poder Judiciário depende inexoravelmente do pronto atendimento ao estatuído no art. 6º da Lei. Somente assim pode-se dizer que o juiz (intérprete e aplicador da norma jurídica) tem condições de verdadeiramente resolver conflitos. (MELO; TEÓFILO NETO, 1996, p. 29)

Espera-se que o magistrado atue com uma postura mais ativa na condução

da lide, objetivando assim, uma decisão célere e equilibrada, levando-se em conta

os fins sociais e o bem comum.

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3 CONCILIAÇÃO NO ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS

O artigo 2º da Lei 9.099/95 preconiza a conciliação como um meio

alternativo na solução de conflitos entre as partes. Essa tutela jurisdicional norteada

pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e

celeridade, tem como escopo uma composição amigável entre os litigantes, com

novas formas e técnicas.

Sobre a conciliação, Joel Dias Figueira Júnior, pontua:

Em sede de Juizados Especiais Cíveis – Federais ou Estaduais –, funda-se o modelo basicamente em técnica não-adversariais de resolução de controvérsias, tornando-se o verdadeiro mote dessa justiça especializada. Ousaria dizer que, pela experiência forense nessa seara, o grande diferencial dos Juizados Especiais em relação à justiça tradicional ou clássica reside justamente na primeira fase procedimental, em que se busca a autocomposição através de técnicas de aproximação das partes e resolução de controvérsias da forma menos traumática aos jurisdicionados litigantes. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2006, p. 42)

O legislador, ao criar os Juizados, priorizou a conciliação, logo, as tentativas

de acordo se dão em vários momentos do processo. Após o registro do pedido

pleiteando seu direito à Secretária do Juizado, independentemente de distribuição, o

autor será intimado da data de audiência de conciliação.

Tal medida tem como objetivo, a primeira tentativa de uma composição

amigável entre as partes, evitando que o processo vá adiante. Porém, esta não é a

única oportunidade de acordo. Serão ofertadas ainda, no início da audiência de

instrução, antes da sentença, e até mesmo na fase de execução, cabendo ainda a

possibilidade de composição por iniciativa das partes em qualquer fase do processo.

Ao tratar da conciliação, Luis Felipe Salomão, afirma:

Outrossim, o sistema dos Juizados Especiais valoriza extremamente a conciliação (artigos 21/26 e 57). Realmente, a conciliação é forma histórica e pacífica de resolução dos conflitos de interesse, mais adequada para o restabelecimento da paz social e para a maturidade do povo jurisdicionado. Deve, pois, não só o conciliador mas também o juiz (togado ou leigo) atentar sempre para o espírito de conciliação imposto pela lei. Na conciliação, não há uma solução ditatorialmente imposta. As partes, em consenso, encontram um caminho para resolução do conflito. Nesse particular, segundo penso, a postura de um e de outro, no âmbito dos Juizados Especiais, não pode ser a mesma da Justiça comum. (SALAMÃO, 1999, p. 23)

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Assim, em conformidade com o que foi idealizado pelo legislador, a

conciliação tem prioridade na solução do conflito, devendo ser ofertada não só na

primeira audiência, mas em todas as fases do processo, ou seja, o conciliador, o juiz

leigo ou o juiz togado devem demonstrar os benefícios de uma composição amigável

para os litigantes, já que muitas vezes, devido à tensão motivada pela lide, as partes

não conseguem entrar num consenso sozinhas.

3.1 PAPEL DO CONCILIADOR

De acordo com a doutrina de Roberto Portugal Bacellar:

É de muita valia que não só o juiz, mas também o conciliador, mostre aos interessados os riscos e as consequências do litígio, como a dificuldade de produzir provas, a possibilidade concreta de que, na decisão, ocorra a perda “de tudo”, a demora natural que decorre da apreciação litigiosa de uma causa, entre outras delongas. Até mesmo os incômodos de deslocamento e o custo material e emocional que decorre da pendência devem ser enfatizados como forma de desestimular a litigiosidade e alcançar o acordo por meio da conciliação. (BACELLAR, 2004, p. 76/77)

A função precípua do conciliador é facilitar a autocomposição entre as partes

evitando que o litígio perdure por anos, à espera de uma decisão judicial coercitiva,

que, muitas vezes, pode ser injusta para uma das partes. Assim, um bom conciliador

deve demonstrar segurança e atenção nas reivindicações das partes, com

imparcialidade, colocando-se no lugar do outro, mas sem tomar partido.

Deve ainda, esclarecer às partes, as consequências de se levar o litígio

adiante, uma vez que haverá o pagamento de custas para recorrer no caso de não

concordância com a decisão. O tempo elevado que uma demanda tem até a decisão

final também deve ser mencionado pelo conciliador.

Vale salientar, que o acordo realizado em audiência de conciliação, poderá

ser acima dos 40 salários mínimos, conforme explicação de Tourinho Neto e

Figueira Júnior (2007, p. 232): “Todavia, a percepção do quantum excedente ao

referido limite só será admitida se as partes entrarem em acordo.” Ou seja, é

necessário que o conciliador esclareça, que, se a demanda prosseguir, o autor

deverá abrir mão da diferença ou haverá extinção da ação sem resolução de mérito,

podendo o autor ajuizá-la na justiça comum, se submetendo ao pagamento das

custas, se não conseguir o benefício da justiça gratuita.

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A doutrina de Luiz Cláudio Silva esclarece:

Insta salientar que o Juizado Especial Cível prima pela conciliação das partes. Destarte, deve o conciliador ou o juiz leigo procurar exaurir todos os argumentos para convencer as partes na celebração do acordo. Obviamente, esses argumentos não devem e nem podem ser aplicados de forma coercitiva, mas sim usando dos recursos éticos, morais, legais, respeitosos e isentos de qualquer interesse pessoal ou de alguma das partes em especial. (SILVA, 1997, p. 65)

Assim, o conciliador não pode impor a composição às partes, a decisão

deverá ser tomada baseada na vontade e condição dos litigantes, uma vez que, se o

acordo não for cumprido, além das cláusulas penais, haverá execução da parte que

não cumpriu. Tudo isso deve ser informado para que os litigantes façam as devidas

ponderações decidindo qual é a melhor alternativa diante do caso concreto.

3.2 REQUISITOS PARA A ESCOLHA DO CONCILIADOR E DO JUIZ LEIGO

Art. 7º Os conciliadores e juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiência.

Os conciliadores, com previsão legal no art. 7º da Lei 9.099/95, são de suma

importância para uma maior celeridade nas demandas de competência do JEC. Eles

não possuem remuneração, recebem apenas uma ajuda de custo e são recrutados

preferencialmente, entre bacharéis de direito, mas, na ausência de bacharel, pode

ser escolhida uma pessoa de outra área que não a jurídica. Sobre a preferência de

que a escolha do conciliador seja dentre os profissionais de direito, José Maria de

Melo e Mário Parente Teófilo Neto, ponderam:

O privilégio conferido a esse profissional reside no fato dele, por ser presumidamente conhecedor de direito, ter maiores condições para bem conduzir uma audiência conciliatória. Já outro profissional sem suas habilidades, em tese, não possui a mesma capacitação. (MELO; TEÓFILO NETO, 1996, p. 30)

Segundo ensinamentos de J. E. Carreira Alvim e Luciana Gontijo Carreira

Alvim, (2006, p.145) a questão sobre a escolha ou até mesmo sobre a capacitação é

bem subjetiva, uma vez que a pessoa escolhida pode ter conhecimentos jurídicos,

mas não possuir a sensibilidade necessária, que um bom psicólogo teria, ou um bom

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assistente social, que, mesmo desprovido de conhecimentos técnicos pode conduzir

uma conciliação com melhores resultados. Para os autores o conciliador deve ser

provido da virtude do poder de persuasão para que possa conduzir uma composição

da melhor maneira possível.

Nas palavras de Tourinho Neto e Figueira Júnior (2007, p. 162): “[...] não

basta o saber jurídico; a isso, devemos acrescer o requisito da tendência

conciliatória como perfil marcante da personalidade do conciliador”. Para evitar

prejuízos na condução de uma conciliação é necessário que a escolha do

conciliador seja pautada, não só em conhecimentos jurídicos, mas em critérios

subjetivos de humanidade e sensibilidades.

Além de conhecimentos objetivos o conciliador deve demonstrar facilidade

ao relacionar-se com as pessoas, visto que estará constantemente diante de

conflitos entre as partes decorrentes de suas reivindicações. Um conciliador

despreparado para lidar com emoções à flor da pele, dificilmente colherá bons frutos

nas tentativas de pacificação.

O conciliador não exerce atividade jurisdicional, mas pode conduzir a

audiência de conciliação, o que demonstra a enorme importância de seu papel nos

juizados, visto que, todas as demandas ajuizadas são submetidas à audiência de

conciliação. Além da figura propriamente dita do conciliador no Juizado, o juiz

togado e o juiz leigo também exercem o papel de conciliadores no decorrer do

processo.

Os juízes leigos, segundo o art. 7º da Lei 9.099/95, são auxiliares da justiça,

e ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os juizados especiais enquanto

estiverem na função. O juiz leigo deverá ser advogado, ou seja, inscrito na Ordem

dos Advogados do Brasil, e ainda ter mais de cinco anos de atividade na advocacia.

Tais exigências se dão pelo fato de que o juiz leigo poderá dirigir a instrução,

sob a supervisão do juiz togado, podendo inclusive julgar o processo, desde que a

decisão seja homologada pelo juiz de direito, para que se tenha eficácia, conforme

dispõe os artigos 37 e 40 da referida lei.

Segundo doutrina de Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira

Júnior:

[...] As leis locais deverão dispor criteriosamente a respeito do ingresso e seleção desses profissionais nos quadros de auxiliares da Justiça, bem

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como sobre a realização de cursos preparatórios e de constante aperfeiçoamento, tudo harmonizado entre a presidência dos respectivos tribunais, corregedorias-gerais de justiça, escolas de magistratura, academias judiciais, membros dos colégios recursais e seccional da Ordem dos Advogados do Brasil. (TOURINHO NETO; FIGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 163)

O juiz leigo fará inscrição perante o Tribunal de Justiça do respectivo estado

em que pretende atuar, não sendo necessário concurso, visto que não possui

vínculo empregatício ou estatutário com o estado, recebendo apenas uma ajuda de

custo, para auxiliar o Juizado. Preenchidos os requisitos exigidos pelo Tribunal, que

pode variar de estado para estado, o juiz leigo será nomeado por portaria.

O juiz leigo também deverá oferecer às partes, a conciliação, antes de iniciar

a audiência de instrução e antes de proceder a decisão. Vale ressaltar que esta

decisão deverá ser homologada pelo juiz togado.

Segundo artigo publicado em 25/09/2015 no site do CNJ “Juizados Especiais

completam 20 anos com 7 milhões de ações em tramitação” (JUIZADOS..., 2015),

não são todos os estados que utilizam a figura do juiz leigo. Apenas dez Tribunais

de Justiça adotam a figura desse auxiliar da justiça, dentre eles: Acre, Bahia,

Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Piauí,

Paraná e Rio de Janeiro. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os juízes

leigos não atuam em todas as varas. Já no Rio Grande do Norte e no Ceará a figura

dos juízes leigos está sendo adotada.

De acordo com a Ministra do Superior Tribunal de Justiça, e Corregedora

Nacional de Justiça, Fátima Nancy Andrighi (JUIZADOS..., 2015): “O juiz leigo é um

mecanismo mais avançado no desenvolvimento e na aceleração do procedimento

adotado pelos juizados. Com ele, podemos multiplicar o número de audiências de

instrução e julgamento realizadas”.

3.3 MEDIAÇÃO

Apesar de não haver previsão na Lei 9.099/95, a mediação é utilizada nos

Juizados Cíveis, principalmente na fase pré-processual. Por meio da resolução 125

de novembro de 2010, o CNJ incentiva esse meio de solução de conflitos por meio

dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania.

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O mediador deve, de maneira imparcial e sem se aprofundar no mérito que

gerou o conflito, facilitar a comunicação entre as partes, principalmente quando a

relação é continuada, para que consigam compor por si só e de maneira amigável.

Para Roberto Portugal Bacellar:

A mediação afigura-se, portanto, recomendável para situações de múltiplos vínculos, sejam eles familiares, de amizade, de vizinhança, decorrentes de relações comerciais, trabalhistas entre outros. Sendo mais adequada para relações multicomplexas, procura a mediação preservar as relações e o processo mediacional bem conduzido, bem como permitir a manutenção dos demais vínculos que continuam a se desenvolver com naturalidade, durante e após a discussão da causa, independentemente do acordo. (BACCELAR, 2012, p. 93)

O mediador deve ser capacitado e cadastrado pelo tribunal do respectivo

estado e supervisionado pelo juiz coordenador do Centro, conforme dispõe o

parágrafo primeiro do art. 8º da resolução 125 do CNJ.

Diferentemente da conciliação, que é regida pela publicidade, a mediação é

confidencial, ou seja, as informações fornecidas pelas partes são confidenciais. O

mediador conduz as negociações sem apresentar propostas de composição. Esse é

o papel do conciliador.

Assim, o mediador proporciona as partes condições propiciais para que

resolvam seus conflitos e componham o acordo de forma harmoniosa, com a

satisfação dos interesses de ambas as partes. Para isso é necessário que deixe a

conversa fluir entre os litigantes, intervindo sempre que os ânimos se exaltem para

que a harmonia retorne e a negociação possa ser retomada.

O objetivo da mediação é que a solução do conflito seja alcançada pelas

partes envolvidas, e não necessite de intervenção jurisdicional com uma decisão

imperativa.

É perfeitamente possível a tentativa de mediação e conciliação no Juizado,

uma vez que a composição é o meio de solução do litígio almejado por esse

microssistema.

Ocorrendo a composição entre as partes, esta será homologada pelo juiz, e

então, terá força de título judicial, conforme determina o art. 57 da Lei 9.099/95.

Deste modo, as partes terão segurança jurídica do que foi acordado.

Atualmente a mediação não é obrigatória, contudo o novo Código de

Processo Civil prevê a obrigatoriedade desse meio de composição. O Judiciário terá

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que se adequar a tal imposição, visto que a mediação requer mais tempo do que a

conciliação.

O número de ações, não só nos Juizados, mas na Justiça comum é elevado,

logo não há estrutura para atender com celeridade essas demandas. Diante da

imposição de mediação, a morosidade do sistema judiciário poderá aumentar, o que

comprometerá ainda mais a celeridade, princípio norteador da Lei 9.099/95.

3.4 ARBITRAGEM ESPECIAL NOS JUIZADOS

O art. 24 da Lei 9.099/95, disciplina sobre o juízo arbitral:

Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei. § 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independentemente de termo de compromisso, com a escolha do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o Juiz convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a audiência de instrução. § 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos.

Não havendo conciliação, as partes poderão requerer o Juízo Arbitral. Nele,

haverá a intervenção de um terceiro, neste caso, o árbitro, escolhido entre os juízes

leigos. Nesse sentido, a arbitragem se difere dos meios compositivos da conciliação

e mediação em que as partes chegam a uma composição sem a intervenção de um

terceiro que dirá a quem pertence o direito. Porém, tem que haver um consenso das

partes na escolha da arbitragem. Nesse sentido, Roberto Portugal Bacellar

esclarece:

Não há dúvidas de que o método adversarial na forma heterocompositiva (pretensão, contestação, produção probatória e sentença) é adotado na arbitragem. Entretanto, na origem, a arbitragem sempre é consensual e pode continuar mantendo essa característica mesmo com a solução pela forma heterocompositiva. (BACELLAR, 2012, p. 30)

Os autores, Melo e Teófilo Neto explicam que, na prática, o juízo arbitral não

é muito utilizado, por falta de pessoas habilitadas (1996, p. 51): “[...] até porque em

muitas comarcas não há a figura do Juiz Leigo e tampouco voluntários para

exercerem esse múnus.”

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Contudo, os referidos autores defendem a importância do Juízo Arbitral, já

que, para eles, haveria um processamento mais rápido das ações que tramitam no

Juizado, aliviando a sobrecarga do juiz togado.

Por existir lei própria, Lei 9.307/96, e previsão na Lei 9.099/95 com algumas

peculiaridades, alguns autores a definem como: arbitragem especial dos Juizados

Especiais. De acordo com os artigos 25 e 26 da referida lei, o árbitro decide por

equidade, sendo que conduzirá o processo, podendo decidir por meio do laudo

arbitral, sem que haja concordância dos litigantes, diferentemente da conciliação, em

que os contornos do acordo são decididos pelas partes. No caso da instauração do

juízo arbitral, haverá decisão tomada por um terceiro escolhido pelas partes.

Na decisão prolatada, deve haver o relatório, não nos mesmos moldes de

uma sentença, mas com alguns dados, como nome das partes, fato, objeto e pedido

do autor e do réu, bem como sua decisão. É indispensável a homologação do laudo

pelo juiz togado para que se torne irrecorrível, conforme art. 26 da Lei 9.099/95 e

enunciado número 7 do Fonaje “A sentença que homologa o laudo arbitral é

irrecorrível”. De acordo com a doutrina de Erick Linhares (2008, p. 27): o enunciado

reitera o que dispõe a Lei dos Juizados excepcionando o princípio do Duplo Grau de

Jurisdição.

Nas palavras de Roberto Portugal Bacellar:

Perceba-se que o poder decorrente da vontade das partes é determinante: enquanto o juiz togado retira seu poder do Estado, o árbitro o retira da vontade das partes, o que o autoriza a decidir até mesmo fora dos padrões da legalidade, utilizando-se de critérios de equidade. Nota-se que na arbitragem especial e endoprocessual dos Juizados Especiais, em todos os casos, o árbitro está autorizado a decidir por equidade, o que não ocorre com o juiz togado, que só por expressa previsão legal pode fazê-lo. ( BACELLAR, 2004, p. 136)

Nota-se, o poder da decisão de um árbitro, que pode julgar “até mesmo fora

dos padrões da legalidade” conforme pontua Bacellar, lembrando que esta decisão,

após homologação do magistrado, torna-se irrecorrível, não cabendo ao juiz de

direito modificá-la, a não ser que haja vício formal. Portando, imprescindível se faz, o

esclarecimento às partes, destas informações, quando do requerimento do Juízo

Arbitral, pois como já mencionado, na maioria das vezes, os litigantes são pessoas

desprovidas de conhecimento jurídico.

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3.5 ESCOLHA DO ÁRBITRO

O árbitro é escolhido entre os juízes leigos, e os requisitos exigidos para a

escolha podem variar de estado para estado. Mas em suma, deve ser capaz e de

confiança das partes.

A arbitragem é considerada uma grande aliada do poder judiciário,

principalmente, dos Juizados Especiais. Embora a lei de arbitragem possua

regulamentação própria, a lei dos Juizados Especiais também dispõe sobre o tema,

e ambas se coadunam perfeitamente. Neste sentido disciplina Roberto Portugal

Bacellar:

Se, de regra geral, a “sentença” que o árbitro proferir não fica sujeita a homologação (Lei 9.307/1996), o laudo arbitral, proferido em sede de Juizados Especiais, deverá, nos termos do art. 26 da LJE, ser submetido ao juiz, para homologação por sentença irrecorrível [...] (BACELLAR, 2004, p. 183)

O autor aponta uma diferença entre a Lei da Arbitragem e a do Juizado

Especial Cível. De acordo com a primeira lei, não há necessidade de homologação

da decisão prolatada pelo árbitro, já no âmbito do Juizado, haverá a necessidade de

homologação, para que haja eficácia do laudo arbitral.

A atuação do conjunto formado por juiz leigo, conciliador e árbitro mostra-se

de grande relevância, uma vez que, contribuí para uma maior celeridade nos

Juizados Especiais Estaduais, visto que, o número reduzido de juízes togados

poderia piorar a demora na solução dos conflitos nos Juizados.

Contudo, há a necessidade de humanização desses serviços. Os critérios

objetivos, previstos em lei para escolha desses auxiliares, devem ser observados.

Contudo, deve haver um trabalho constante de valorização e motivação para que a

prestação dos serviços seja desempenhada de forma efetiva e equânime.

Segundo artigo publicado no site do CNJ no dia 25/09/2015 intitulado “CNJ

discute a qualidade da Justiça e a saúde dos juízes e servidores” (CNJ..., 2015), os

conselheiros do CNJ entendem que a resolução criada pelo plenário do CNJ, em 4

de agosto de 2015, a qual, cria a Política de Atenção Integral à Saúde de

Magistrados e Servidores do Poder Judiciário, é de suma importância para que se

qualifique a prestação jurisdicional e sejam asseguradas aos magistrados e

auxiliares da justiça condições adequadas de trabalho.

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4 MOMENTO PROCESSUAL PARA CONCILIAÇÃO

Nos juizados especiais há tentativa de conciliação em ambas as audiências: na de conciliação e na de instrução e julgamento. A Lei prevê, também, tentativa de conciliação quando da penhora, nos casos de execução por título executivo extrajudicial (art. 53, § 1º). Ademais, esclareça-se que nada impede que a qualquer momento, inclusive em fase recursal, as partes transacionem. (OLIVEIRA, RePro 2012, p. 25)

A conciliação possui grande importância no Juizado Especial Cível e deve

ser oferecida em todas as fases processuais. Em determinados casos não se

alcança a conciliação na audiência inicial, até mesmo porque os ânimos entre as

partes estão exaltados. Porém, com o decorrer do tempo, os litigantes podem

analisar melhor o conflito e nada impede que entrem em acordo, até mesmo na fase

de execução.

4.1 AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

A audiência de conciliação, tida como primeira fase processual tem como

arcabouço, a pacificação dos conflitos entre os litigantes, possibilitando uma

prestação jurisdicional rápida na solução das demandas. Os artigos 21 e 22 da lei

em estudo determinam, que: aberta a sessão, o juiz togado, o juiz leigo ou o

conciliador, devem esclarecer às partes a possibilidade de uma composição

amigável, advertindo-as sobre o tempo e desgaste despendidos em uma demanda

judicial, já que uma das partes sempre sairá perdendo, seja financeiramente ou

psicologicamente. Desse modo, a conciliação é o meio para se evitar tais

transtornos, já que o litígio se resolve de maneira ágil e eficaz.

A doutrina de Joel Dias Figueira Júnior, esclarece:

Contudo, há que distinguir a transação civil daquela preconizada na lei instrumental. A transação processual é celebrada no bojo do processo e acarreta a resolução do mérito, enquanto a civil, por si só, representa apenas a renúncia de direitos por intermédio de concessões mútuas, extinguindo não necessariamente a demanda (a qual nem precisa existir), mas as obrigações entre as partes. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2006, p. 210)

O autor pontua sobre a necessidade de se distinguir os tipos de composição,

visto que, ambos possuem consequências diferentes. Após a homologação do

acordo realizado em juízo, este, torna-se irrecorrível, fazendo com que o acordo

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tenha força de título executivo. Porém, se a autocomposição é praticada entre as

partes, fora do âmbito da justiça, e não é cumprido, caberá à parte lesada propor

ação perante o juízo competente.

Vale ressaltar, que apesar da conciliação ser um dos pilares do Juizado

Especial, como forma de solução dos conflitos de forma pacífica, ela não pode ser

imposta às partes. Neste sentido, os autores José Maria de Melo e Mário Parente

Teófilo Neto, pontuam:

Apesar da conciliação ser de grande importância e do Conciliador dever procurar de todas as formas viabilizá-la, não se deve esquecer que as partes são livres para fazer ou não acordo. Este não deve ser obtido com ameaças, contra a vontade da parte. Esta deve, pessoalmente, dizer de forma livre e espontânea se deseja ou não fazer a conciliação. (MELO, TEÓFLO NETO, 1996, p 49)

Se fosse permitido este tipo de conduta, ou seja, a obrigatoriedade de

composição, estaria se restringindo um direito fundamental das partes ao acesso à

justiça. O que se deve buscar nas audiências de conciliação é a composição

amigável e de livre vontade das partes.

4.2 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO

Esgotadas todas as tentativas de acordo, será marcada a data de audiência

de instrução e julgamento, tida como segunda fase processual. Nela poderá haver

mais uma tentativa de composição amigável, lembrando-se, que a finalidade

principal do Juizado, é a conciliação entre as partes.

Nesse sentido Luiz Cláudio Silva, aponta:

Aberta a audiência, o juiz renovará a proposta de conciliação das partes e, não logrado êxito na sua realização, dará a palavra à parte reclamada ou ao seu advogado, quando assistida, para oferecer sua contestação oral. Nada obsta que a contestação seja oferecida em forma de memorial, ou seja, escrita, quando então será lida em audiência. (SILVA, 1997, p. 69)

Ao iniciar a audiência de instrução, o juiz proporcionará mais uma tentativa

de composição entre as partes, visto que, pode ter ocorrido um período entre a data

da conciliação e a data da audiência de instrução, tempo este em que os litigantes

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tiveram a oportunidade de pensar se querem realmente prosseguir com a ação.

Assim sendo, na abertura da audiência o julgador poderá ter êxito na conciliação.

Assim é o entendimento dos autores Fernando da Costa Tourinho Neto e

Joel Dias Figueira Júnior:

De qualquer maneira, a fase instrutória é quase sempre indispensável, seja quando o julgamento for realizado pelo Estado-Juiz ou juiz leigo instituído, ressalvadas as hipóteses de decisão conforme o estado do processo ou de dispensa de produção de prova oral pelo árbitro. Não obstante, em homenagem ao princípio da oralidade, recomenda-se que seja designada audiência, a fim de que mais uma vez tente a conciliação, e seja logo após oferecida oralmente a sentença ou laudo. (TOURINHO NETO; FIGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 241)

4.3 SENTENÇA E SEGUNDA INSTÂNCIA

Concluída a audiência de instrução depois da colheita de provas, o juiz

julgará a lide. Porém, nada impede que o mesmo faça mais uma tentativa de

conciliação, explicando às partes com uma linguagem simples, sobre as

consequências de uma decisão tomada unilateralmente, em que uma das partes

poderá sair perdendo.

As partes terão a oportunidade de compor um acordo dentro de suas

condições, já que, uma decisão imperativa limita a vontade de ambos. Nesse sentido

Roberto Portugal Bacellar, tem entendimento:

Nos Juizados Especiais a conciliação é tão importante que – no processo de conhecimento – o julgamento é exceção à regra e o que importa é a pacificação entre os interessados; na execução dos Juizados Estaduais pretende-se que a realização de hasta pública igualmente seja exceção e exalta-se a tentativa de conciliação até que sejam satisfeitos os interesses das partes. (BACELLAR, 2004, p. 76)

O Juizado foi criado com a finalidade precípua da pacificação, logo, segundo

a doutrina, não deve haver óbice quanto ao momento para se tentar a conciliação

entre as partes. Bacellar, continua:

A inovação conduz ao entendimento de que antes, durante e depois da instrução do processo e até mesmo posteriormente à sentença, em grau de recurso, possa o magistrado relator buscar o consenso entre as partes, que, uma vez alcançando, será submetido à homologação pelo colegiado. Se o maior objetivo do Poder Judiciário é compor conflitos, a conciliação deve ser

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incentivada e acolhida a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado da decisão. (BACELLAR, 2004, p. 79)

Assim, conforme disposição do art. 125, IV do CPC, o qual disciplina que se

deve tentar a qualquer tempo a conciliação entre as partes e o art. 53, § 1º da Lei

9.099/95, que determina a intimação do devedor, após a penhora, para audiência de

conciliação, conclui-se ser possível a composição entre os litigantes após o trânsito

em julgado da sentença.

O enunciado número 71 do FONAJE reafirma o disposto no art. 53 da Lei

dos Juizados Cíveis e Criminais: “É cabível a designação de audiência de

conciliação em execução de título judicial”.

No mesmo sentido, a 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito

Federal e dos Territórios julgou o Agravo de Instrumento:

PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA - POSSIBILIDADE - DECISÃO REFORMADA. 1. Tratando-se de direitos disponíveis, as partes podem compor sem que haja afronta à coisa julgada. 2. Não há qualquer óbice à homologação de acordo após a prolação da sentença ou de seu trânsito em julgado, cumprindo ao juiz promover, a qualquer tempo, a conciliação das partes no propósito de solucionar o conflito de interesses submetido ao crivo jurisdicional. Precedentes. 3. Agravo de Instrumento conhecido e provido. (Acórdão n.443374, 20100020101311AGI, Relator: HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 25/08/2010, Publicado no DJE: 01/09/2010. Pág.: 65).

Sendo assim, não restam dúvidas quanto à possibilidade de composição

após o trânsito em julgado da sentença. Contudo, há de se analisar juridicamente o

conteúdo da decisão prolatada e seus efeitos, após a homologação desse acordo.

De acordo com Liebman (1945, p. 154) a imutabilidade atinge tanto o teor

declaratório da sentença quanto os efeitos condenatórios e executórios dessa

decisão. Esse posicionamento foi criticado por Ovídio A. Baptista da Silva.

Para Ovídio A. Baptista da Silva (1988, p. 105) a declaração do direito, dita

pelo magistrado na sentença, alcança a coisa julgada, logo, não é possível ser

atacada por recurso. Contudo, essa imutabilidade refere-se apenas ao efeito

declaratório da sentença, visto que os efeitos executórios da decisão, desde que

versem sobre direitos disponíveis, podem ser convencionados pelas partes, mesmo

após o trânsito julgado da decisão.

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4.4 HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO JUDICIAL

Havendo um consenso entre as partes com a composição pacífica, o

conciliador reduzirá a termo as condições e cláusulas penais referentes ao acordo,

com posterior homologação do juiz togado. O magistrado fará a análise da

composição, e se concordar com os pontos acordados deverá homologá-la. Porém,

se o juiz não concordar, não terá a obrigatoriedade de fazer a homologação.

Nesse sentido, Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira

Júnior, esclarecem:

Chegando os litigantes a um denominador comum a respeito do objeto da demanda, serão todos os termos da conciliação ou transação reduzidos à forma escrita e assinados pelas partes, seus procuradores e Ministério Público (estes dois últimos só se a hipótese exigir) e, em seguida, apresentados ao juiz togado para homologação, mediante sentença, a qual confere ao documento eficácia de título executivo judicial. (TOURINHO NETO; FIGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 234)

Após a homologação do acordo, este terá força de título executivo, conforme

art. 475-N do CPC e art. 22, § Ú, da Lei 9.099/95. Sendo assim, se não for cumprido,

o réu será executado, podendo haver penhora de seus bens. Diante desta hipótese

o conciliador deve esclarecer para os interessados, todos os pontos acordados e as

consequências do descumprimento.

Sobre o acordo, Roberto Portugal Bacellar, pontua:

É possível, para efeitos práticos, estipular alguns critérios para um bom fechamento dos acordos. Objetividade, clareza e simplicidade na comunicação impedirão interpretações errôneas em relação ao que está sendo tratado. É importante que o que se quis dizer fique bem claro. Sem margens a interpretações diversas. (BACELLAR, 2004, p. 203)

Segundo o autor, existindo qualquer dúvida a respeito dos pontos

acordados, o mais recomendado é que seja marcada uma nova data para o

esclarecimento e estruturação dos pontos duvidosos, visto que, uma composição

mal interpretada ou obscura poderá desencadear um novo conflito, gerando

insegurança para os litigantes, dificultando assim uma nova composição.

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4.5 HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL

O “acordo extrajudicial”, de qualquer natureza ou “valor”, desde que legalmente permitido, poderá ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, valendo a sentença como título executivo judicial (art. 57 da Lei 9.099/95). (SOARES, 1996, p. 84)

A possibilidade de homologação de acordo extrajudicial no Juizado facilita a

composição entre as partes com a garantia de um título executivo. Ademais a

sentença homologatória é irrecorrível. A vantagem de homologação no Juizado, em

relação à justiça comum, reside no não pagamento das custas, visto que, ocorrendo

a homologação no juizado, as partes não terão que arcar com esse ônus.

Todavia, em caso de descumprimento, sendo o valor do título acima de 40

salários mínimos a execução terá que ser feita na justiça comum, perante o juízo

competente, a não ser que o exequente abra mão do valor excedente, e a matéria

seja de competência do Juizado, neste caso poderá proceder a execução no

Juizado.

Nesse sentido Joel Dias Figueira Júnior, esclarece:

Diante do espírito “conciliador” de que está imbuído o art. 57, parece-nos também possível que o pedido de homologação de acordo seja feito por pessoa jurídica, na medida em que o dispositivo não faz restrição a esse respeito. O que o legislador desejou com o dispositivo em comento foi ampliar ao máximo a possibilidade de pacificação dos conflitos, com ou sem instauração de demanda. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2006, p. 367)

A amplitude do art. 57 da Lei 9.099/95 permite que a autocomposição seja

homologada pelo Juizado, mesmo que, de matérias excluídas da sua competência.

O art. 3º da lei, disciplina quais competências serão do Juizado Especial.

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil; III - a ação de despejo para uso próprio; IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo. § 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução: I - dos seus julgados; II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.

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§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial. § 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.

Porém, com a redação do artigo 57 da referida lei, chega-se a conclusão que

a homologação extrajudicial se dará independentemente da sua competência.

Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, poderá ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, valendo a sentença como título executivo judicial. Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o acordo celebrado pelas partes, por instrumento escrito, referendado pelo órgão competente do Ministério Público.

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5 CRISE DO SISTEMA JUDICIÁRIO

Entre todas essas “crises”, a que nos interessa diretamente neste estudo e se afigura como uma das mais graves (por refletir na manutenção do equilíbrio do estado democrático de direito e na paz social) é a jurisdicional, considerada a expressão em seu sentido mais amplo (sócio-político), ou seja, como estatização da jurisdição e a unificação ortodoxa das técnicas de resolução de conflitos, somando-se: (1) a lentidão na prestação da tutela; (2) excesso de demandas (sempre crescente); (3) falta de infra-estrutura; (4) incompatibilidade do número de magistrados e serventuários; (5) qualidade duvidosa dos julgados. (TOURINHO NETO; FIGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 53)

A crise do sistema judiciário coloca em risco, direitos e garantias, alcançados

pelos brasileiros ao longo da história. Sem um poder judiciário eficiente, não há

como aplicar as leis constitucionais e infraconstitucionais de forma efetiva. O Estado

Democrático de Direito está sob os alicerces de garantias fundamentais

asseguradas pela Constituição Federal, porém, de nada adiantarão estas garantias

se não houver meios eficientes de aplicação.

A ministra Fátima Nancy Andrighi discorre sobre o tema em um artigo

publicado na Revista dos Estudantes de Direito da UnB:

Do mesmo modo que a Lei nº 7.244/84, a Lei nº 9.099/95, sob o aspecto constitucional, pauta-se pelo zelo na tentativa de obter a ampliação de acesso ao Poder Judiciário. Mas é importante relembrar que não se deve confundir acesso à justiça com acesso ao Judiciário. Segundo o prof. Kazuo Watanabe "acesso à justiça, longe de confundir-se com o acesso ao Judiciário, significa algo mais profundo, pois importa o acesso ao justo processo". O acesso ao Judiciário, porém, antecede e é menos profundo que o acesso à justiça. Se consubstancia na possibilidade e facilidade colocada à disposição do cidadão para reivindicar os seus direitos. E somente após ter acesso a esse poder é que se pode mencionar o acesso à justiça. (ANDRIGHI, 2015, p. 13/18)

Vale ressaltar, que não basta que o cidadão tenha acesso à justiça, se não

houver acesso ao judiciário. Devido ao alto valor das custas e a morosidade na

solução dos conflitos, muitas vezes, a parte fica impotente diante do direito que foi

lesado, em razão de não possuir condições financeiras de arcar com o valor das

custas judiciais e dos honorários advocatícios.

O judiciário está sobrecarregado de processos sem soluções. Segundo o

autor Roberto Portugal Bacellar (2004, p. 82): “[...] Em 1988, data da promulgação

da Constituição, havia, segundo o banco de dados do Judiciário, 350 mil processos

tramitando na justiça [...]”. De acordo o CNJ, no ano do 2014 (JUSTIÇA..., 2015)

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tramitavam na Justiça Estadual mais de 57 milhões de processos, sendo 20,1

milhões ajuizados só ano de 2014, e no mesmo período havia 9.993 magistrados.

O número de juízes, em primeira instância, é reduzido em relação à

quantidade de processo que devem julgar. Segundo o estudo citado a cima, seriam

necessários três anos, sem o ajuizamento de nenhuma demanda, para que o

judiciário conseguisse julgar todos os processos acumulados. De acordo com

Bacellar:

Desconhece a maioria da população que os juízes, em geral, trabalham mais do que é recomendável, inclusive em finais de semana e feriados, além dos plantões obrigatórios e da impossibilidade de se ausentarem da comarca sem autorização; não sabe que há juízos com mais de 20 mil processos em andamento e apenas um magistrado para dirigi-los, o que exige mais de 12 horas para atendimento às partes, aos advogados, audiências, inspeções, despachos, decisões e sentenças. (BACELLAR, 2004, p. 82/83)

Diante desta realidade, o poder judiciário entra em colapso e não consegue

dar uma resposta efetiva à população que bate às suas portas, em busca de uma

solução para seu conflito. Assim, o judiciário, detentor do monopólio jurisdicional,

não cumpre de maneira efetiva o que foi delineado pela CF em seu art. 5, inc. XXXV:

“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”

Com isso, o princípio da inafastabilidade não é totalmente respeitado, já que, mesmo

diante de um conflito, as partes não obtêm do judiciário uma tutela imperativa, que

diga a quem cabe o direito, garantindo para ambos uma segurança jurídica em

relação ao litígio.

Nesse sentido, Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira

Júnior, pontuam:

É justamente nesse novo contexto que aflora a justiça coexistencial e participativa ancorada em “juízos conciliatórios” manejados por cidadãos leigos da comunidade local, que se utilizam da oralidade em grau máximo (simplicidade, informalidade, concentração e economia) em busca da resolução não-adversarial dos conflitos apresentados. (TOURINHO NETO; FIGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 58)

Numa tentativa de atenuar a crise judiciária, o legislador criou o Juizado

Especial. Porém, os mesmos problemas da justiça comum, assolaram os Juizados,

que também integram o Sistema Judiciário. Logo, a morosidade e falta de estrutura

comprometem o andamento processual desse microssistema.

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De acordo com dados da Justiça em Números fornecidos pelo CNJ, os

Juizados Estaduais do país (JOVEM..., 2015), possuem 832 magistrados que atuam

exclusivamente e 1,5 mil que atuam tanto no juizado como na justiça comum.

Conforme publicação no site do CNJ no dia 28/01/2015 intitulada “Jovem e

sobrecarregado, sistema de juizados discute problemas” os juizados estão

sobrecarregados porque não há correspondência entre as demandas e recursos de

pessoal e estrutura. Esta sobrecarga causa demora na solução dos litígios, já que,

segundo o artigo, há demandas com mais de 1.000 dias em andamento sem

solução, sendo que o ideal seria 60 dias.

Diante desta realidade, Roberto Portugal Bacellar, adverte:

Para que esses preciosos avanços não sejam taxados de uma nova “venda de ilusões”, há que se conscientizar da necessidade de estruturar adequadamente os Juizados Especiais. Os Juizados Estaduais enfrentaram e ainda estão passando por muitas dificuldades [...] (BACELLAR, 2004, p. 41)

Através do estudo realizado pelo “Justiça em Números”, tendo como base o

ano de 2014 (JUSTIÇA..., 2015), foi possível fazer um comparativo entre a Justiça

Comum e o Juizado Especial do Paraná. Porém, o CNJ não fez distinção da parte

criminal e cível.

Contudo, por meio do quadro abaixo, pôde-se fazer uma análise da

quantidade de processos tramitando tanto na justiça comum quanto no Juizado

Especial, sendo possível uma visão mais aprofundada sobre dados como: número

de magistrados, quantidade de demandas ajuizadas no ano de 2014, quantidade de

julgamentos proferidos, número de processos baixados entre outros. (JUSTIÇA...,

2015, p. 147)

QUADRO 01: LITIGIOSIDADE

1° Grau 2° Grau Juizados Especiais

Turmas Recursais

Movimentação Processual

Casos Novos 564.439 163.105 335.272 54.919

Conhecimento 374.735 - 301.969 -

Execução 189.704 - 33.303 -

Julgados 601.446 166.783 394.097 45.423

Continua [...]

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41

Conhecimento 425.698 - 311.214 -

Execução 175.748 - 82.883 -

Baixados 870.347 178.205 335.859 45.810

Conhecimento 611.454 - 287.640 -

Execução 258.893 - 48.219 -

Estoque 2.320.455 191.527 416.551 40.610

Conhecimento 1.220.788 - 350.002 -

Execução 1.099.667 - 66.549 -

Indicadores de Produtividade

IAD (Baixados) 154,2% 109,3% 100,2% 83,4%

Conhecimento 163,2% - 95,3% -

Execução 136,5% - 144,8% -

Taxa Congest. 69,8% 49,7% 55,3% 52,0%

Conhecimento 61,7% - 55,9% -

Execução 79,9% - 51,7% -

Indicadores de Magistrado

Casos novos 817 1.371 1.479 3.432

Carga de Trab. 4.841 3.402 3.527 6.417

Proc. Julgados 967 1.402 1.791 2.839

IPM (Baixados) 1.399 1.498 1.527 2.863

Indicadores por Servidor da Área Judiciária

Casos novos 113 123 175 1.772

Carga de Trab. 672 305 417 3.312

IPS-Jud (Baixados) 194 134 180 1.478

Força de Trabalho

Cargos Magistrados Existentes 919

Magistrados Providos 911

Cargos Vagos 8

1º Grau - Magistrados Exclusivos 554

2º Grau - Magistrados Exclusivos 119

Juizados Especiais - Magistrados Exclusivos 68

Turmas Recursais - Magistrados Exclusivos 16

1º Grau/Juizados - não Exclusivos 154

Afastados da Jurisdição 88

Cargos Existentes Servidores Efetivos 7.400

Servidores Providos 6.470

Cargos Vagos Servidores Efetivos 930

Servidores Áreas Judiciárias 2ª Grau 1.328

Servidores Áreas Judiciárias 1º Grau 3.934

Servidores Áreas Judiciárias 1º Grau/Juizados 549

Continua [...]

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Servidores Áreas Judiciárias Turmas Recursais 31

Servidores Áreas Administrativas 1.322

Servidores Áreas Administrativas Cedidos 7

Estagiários 3.298

Terceirizados 1.850

Conciliadores 825

Juízes Leigos 413

Assuntos mais recorrentes

DIREITO CIVIL: Obrigações/Espécies de Contratos 171.821

DIREITO TRIBUTÁRIO: Dívida Ativa 97.246

DIREITO CIVIL: Resp. Civil/Ind. Por Dano Moral 90.056

DIREITO CIVIL: Família/Alimentos 54.701

DIREITO CIVIL: Obrigações/Espécies de Títulos de Crédito 50.779

DIREITO CIVIL: Obrigações/Inadimplemento 48.188

DIREITO CIVIL: Responsabilidade Civil/Indenização por Dano Material 44.897

DIREITO CIVIL: Família/Relações de Parentesco 25.500

DIREITO CIVIL: Família/Casamento 22.849

DIREITO DO CONSUMIDOR: Responsabilidade do Fornecedor/Indenização por Dano Moral

21.564

Fonte: (JUSTIÇA..., 2015, p. 137)

Apesar de o CNJ não disponibilizar o número de conciliações realizadas no

Juizado Especial Cível do Paraná, é possível a análise da importância desse

instituto no âmbito dos Juizados Especiais. Visto que, o número de magistrados no

Juizado é inferior ao da justiça comum, contudo, esse microssistema possui uma

taxa de congestionamento menor do que a da justiça comum, com exceção das

Turmas Recursais, em que esse congestionamento é maior. Haja vista, que no ano

de 2014 havia apenas 16 juízes exclusivos atuando nas Turmas Recursais do

Paraná.

Sendo assim, mesmo com número inferior de magistrados, a quantidade de

conciliadores e juízes leigos é expressiva nos Juizados, perfazendo um total de

1.238 em todo o Paraná. Logo, é possível o entendimento de que, mesmo não

havendo correspondência entre a demanda de ações e o recurso de pessoal, o

Juizado Especial Cível do Paraná, ainda presta uma tutela jurisdicional mais célere

do que a justiça comum, devido ao papel desses auxiliares.

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6 CONCLUSÃO

Diante da conclusão da pesquisa realizada sobre a conciliação no âmbito do

Juizado Especial Cível, foi possível fazer algumas ponderações sobre este meio

alternativo de tutela jurisdicional.

Fazendo uma rápida explanação a respeito do estudo que se iniciou com os

princípios que norteiam o Juizado, pôde-se concluir que a ideia do legislador em

criar uma justiça célere, informal e barata foi aprovada pela doutrina, que teceu

inúmeros elogios, principalmente em relação às pessoas mais carentes, que teriam

acesso à justiça sem a burocracia e o alto custo da justiça comum. Não obstante,

este acesso não seria apenas à justiça, mas sim ao judiciário, por meio de uma

resposta efetiva a sua reivindicação, como assegura a Constituição Federal.

Em seguida ao analisar a crise do judiciário, constatou-se que ela não atinge

apenas a justiça comum, mas infelizmente, também compromete o andamento

processual do Juizado, que devido ao aumento das demandas, entrou em colapso

por falta de estrutura e pessoal, colocando em risco um dos preceitos fundamentais

da Lei 9.099/95, que é a celeridade.

Ao estudar a conciliação no âmbito do Juizado Especial, pôde-se concluir,

que, apesar de não se ter critérios totalmente seguros quanto a escolha do

conciliador e do juiz leigo, e nem poderia, visto tratar-se de pessoas suscetíveis a

erros, esta ainda é a opção mais viável para as partes, uma vez que os litigantes

resolvem o conflito de maneira pacífica, delimitando os contornos da composição e

adequando o seu cumprimento, conforme as condições de cada um.

Quanto à instauração do juízo Arbitral, também utilizado no Juizado, conclui-

se que se deve ter uma cautela, ainda maior, na escolha do árbitro, uma vez, que,

neste modelo de composição, o árbitro ouve as partes, e, baseado no seu

convencimento diante do caso concreto, decide o conflito, não cabendo às partes

opinarem e havendo a homologação pelo juiz togado, a decisão torna-se irrecorrível.

Assim, é de suma importância que as partes sejam orientadas em relação a

essas possibilidades, antes de requererem a instauração desse meio conciliatório,

uma vez, que, a decisão será proferida por um terceiro, e que nem sempre será a

mais acertada para os litigantes.

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O correto seria que o Estado, detentor do monopólio jurisdicional,

proporcionasse condições para que o poder judiciário prestasse tutela para todos,

independentemente do valor da causa ou de sua complexidade. Porém, isso está

longe de acontecer, e infelizmente nos parece cada vez mais utópico este modelo de

justiça, visto que a crise jurisdicional atinge patamares cada vez maiores.

O juizado Especial Cível e Criminal completou no dia 26 de setembro de

2015, vinte anos. Seria uma data para se comemorar, visto a grande inovação

trazida por este microssistema. Porém, o que se percebe é que, cada vez mais, esse

instituto se assemelha à justiça comum, em relação à morosidade, o que dificulta a

solução do litígio das pessoas, que ainda acreditam em uma justiça célere.

A partir da pesquisa realizada, conclui-se que mesmo diante das dificuldades

enfrentadas pelo Juizado, este ainda oferece uma tutela jurisdicional barata e

desburocratizada, por meio das conciliações. Todavia, há a necessidade urgente de

que se ampliem os investimentos nesse microssistema, para que haja uma real

efetividade na solução dos litígios, com celeridade e credibilidade do sistema

judiciário, e futuramente a Lei 9.099/95 não seja considerada letra morta no

ordenamento jurídico.

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