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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ADRIANA SILVENTE PEREIRA CONCILIAÇÃO JUDICIAL: ART. 331 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, REFLEXÕES PARA UMA PRÁTICA CONSCIENTE CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ADRIANA SILVENTE PEREIRA

CONCILIAÇÃO JUDICIAL:

ART. 331 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL,

REFLEXÕES PARA UMA PRÁTICA CONSCIENTE

CURITIBA

2014

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ADRIANA SILVENTE PEREIRA

CONCILIAÇÃO JUDICIAL: ART. 331 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL,

REFLEXÕES PARA UMA PRÁTICA CONSCIENTE

Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. Rafael Knorr Lippmann

Curitiba

2014

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TERMO DE APOVAÇÃO

ADRIANA SILVENTE PEREIRA

CONCILIAÇÃO JUDICIAL:

ART. 331 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL,

REFLEXÕES PARA UMA PRÁTICA CONSCIENTE

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel em Direito da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba,_____ de _____________ de 2014.

___________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador:___________________________

Prof. Dr. Rafael Knorr Lippmann

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Supervisor __________________________

Prof. Dr.

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Supervisor _________________________

Prof. Dr.

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por me capacitar para este trabalho. Ao meu marido Edivaldo, sempre presente ao meu lado, meu grande encorajador. Aos meus filhos Daniel e Paulo Henrique razão de sempre eu querer dar o melhor de mim. À minha mãe, em quem procuro me espelhar, por me confortar com suas palavras de amor nos momentos mais difíceis e por cobrir minha vida com suas orações. Aos meus irmãos Eduardo e Rodrigo, que trilharam anteriormente o mesmo caminho que agora faço mostrando-me ser possível percorrê-lo até o final. Ao meu orientador Professor Rafael Lippmann, minha admiração, respeito e agradecimento por compartilhar seu conhecimento e me inspirar no decorrer deste trabalho. A todos os professores que marcaram minha vida, minha grande admiração.

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“Como andarão dois juntos se não houver acordo entre eles”?

Bíblia Sagrada. Amós 3:3

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

1 MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ........................ 4

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................ 4

1.2 CONCILIAÇÃO ................................................................................................. 6

1.3 OUTRAS FORMAS ALTERNATIVAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ...... 7

1.3.1 Arbitragem ........................................................................................................ 8

1.3.2 Mediação ........................................................................................................ 10

1.3.3 Negociação ..................................................................................................... 12

2 FUNDAMENTOS E OBJETIVOS DA CONCILIAÇÃO ................................... 14

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................... 14

2.2 PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO ................................................................... 14

2.2.1 Soberania e Autonomia .................................................................................. 15

2.2.2 Cidadania ........................................................................................................ 16

2.2.3 Dignidade da pessoa humana ........................................................................ 17

2.2.4 Livre iniciativa ................................................................................................. 18

2.2.5 Acesso à jurisdição ......................................................................................... 19

2.3 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA CONCILIAÇÃO ....................................... 21

3 CLASSIFICAÇÃO E MOMENTO PROCESSUAL DA CONCILIAÇÃO ......... 24

3.1 CLASSIFICAÇÃO ........................................................................................... 24

3.1.1 Conciliação Extrajudicial, Pré-Processual, Preventiva .................................... 24

3.1.2 Conciliação Judicial, endoprocessual, incidental ............................................ 25

3.2 DO MOMENTO PROCESSUAL ..................................................................... 26

3.2.1 Processo e Procedimento ............................................................................... 29

3.2.2 A Reforma do Código e a Evolução da Conciliação no Direito Processual Civil

30

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3.2.3 Audiência Preliminar x Audiência de Instrução e Julgamento ........................ 31

4 A CONCILIAÇÃO COMO MEIO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITO .............. 34

4.1 O CONCILIADOR ........................................................................................... 34

4.2 O PAPEL DO JUIZ: JULGADOR OU CONCILIADOR? QUEM JULGA DEVE

CONCILIAR? ............................................................................................................. 35

4.3 O SER E O DEVER SER DAS AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO NO

PROCEDIMENTO ORDINÁRIO, CONFORME PREVISÃO ESTATUÍDA NO ART.

331 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ................................................................ 36

4.4 A IMPORTÂNCIA DA CONCILIAÇÃO JUDICIAL ........................................... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 41

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 45

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RESUMO

O presente trabalho inclina-se para o instituto da conciliação, especificamente no

processo de conhecimento, procedimento comum ordinário. O tema escolhido surgiu

pelo interesse em se conhecer melhor o referido instituto, com especial atenção aos

requisitos necessários para uma adequada aplicação do processo conciliatório. Tem

como escopo: a) conhecer cientificamente o que é a conciliação, distinguindo a

audiência de conciliação da conciliação propriamente dita; b) conhecer o papel do

conciliador e sua relevância para a conciliação; c) compreender como a conciliação

pode proporcionar efetividade à prestação jurisdicional. A pesquisa fundamentou-se

em conceituada doutrina, artigos científicos, manuais e documentos acessados por

meio da internet. Ao longo do estudo, procurou-se delinear os seus objetivos e os

métodos para alcançá-los, visando a consecução da pacificação social de forma

eficaz e consciente.

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1

INTRODUÇÃO

A resolução do litígio sem necessidade de submissão das partes à solução

estatal e imperativa para o conflito, propriamente dito, proporciona relevante

vantagem tanto para as partes quanto para o sistema jurídico. Mais do que isso, as

soluções rápidas e mediadas tem se mostrado um meio promissor de se evitar a

sobrecarga dos tribunais e as despesas excessivamente altas que envolvem o

processo, não se olvidando que num processo judicial em que as partes compõem,

há um julgamento “formal”, conforme preceito do artigo 269, inciso III do CPC, que

prevê que há resolução de mérito quando as partes transigirem. Também o art. 475-

N, III, do CPC, atribui força de título executivo à sentença homologatória do acordo,

e não ao acordo em si.

Entre as possíveis formas alternativas de solução de controvérsias, a

conciliação tem alcançado grande aceitação no meio jurídico.

Compartilha dessa opinião o coordenador do Comitê Gestor do Movimento

pela Conciliação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Conselheiro Emmanoel

Campelo, que avaliou o Mutirão da VIII Semana de Conciliação, realizado em

dezembro de 2013, “como um sucesso, um momento de conscientização do

cidadão, assim como dos operadores do Direito”. 1

O tema é de grande importância para a resolução dos conflitos sociais que dia

após outro são mais frequentes, sendo necessário que o Estado, responsável pela

atividade jurisdicional, se estruture e se prepare para solucioná-los.

O presente trabalho tem por proposta abordar, de forma crítica, pontos

relevantes do tema, suscitando reflexões e ponderações sobre o assunto.

Destaca-se a audiência preliminar, prevista no artigo 331 do CPC, no Título

VIII, intitulado “Do Procedimento Ordinário”.

Pretende-se, dessa forma, consolidar os aspectos inovadores sobre o tema e

manter em aberto as discussões necessárias para o aperfeiçoamento da técnica da

conciliação. Tome-se como exemplo a atividade do oleiro: quando começa a fazer

um vaso, ele precisa trabalhar com o barro, amassá-lo, tirar as pedras e as

1 BANDEIRA, Regina. Agência CNJ de notícias (02.12.2013) Aumento da participação de magistrados

na Semana Nacional demonstra a confiança nos métodos alternativos de solução. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/27107:aumento-da-participacao-de-magistrados-na-semana-nacional-demonstra-a-confianca-nos-metodos-alternativos-de-solucao. Acesso em: 08 set. 2014.

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impurezas. O vaso, então, começa a ser moldado e tomar forma em suas mãos.

Algumas vezes, o objeto que está sendo construído perde o seu contorno e então o

oleiro volta a amassar o barro e reinicia todo o processo, até conseguir a forma

desejada para aquele vaso. Isso não representa um fracasso; pelo contrário,

representa um aperfeiçoamento. A cada vez que reinicia o seu trabalho, o barro está

mais depurado e maleável.

A cada reflexão e discussão que emerge sobre o tema, avançamos para uma

prática mais aperfeiçoada e consciente.

Ao apresentar posições antagônicas sobre os vários aspectos que envolvem

o tema conciliação, procurou-se chegar aos extremos, para então suscitar um

equilíbrio. Utilizando-se de um exemplo, seria como a ideia da Teoria da Curvatura

da Vara proposta por Lênin ao ser criticado por assumir posições extremistas e

radicais. Lênin, citado por Saviani, afirma que “quando uma vara está torta, ela fica

curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição

correta. É preciso curvá-la para o lado oposto”. 2

Dedicar um estudo à conciliação em meio a tantas obras existentes sobre o

tema pode parecer um mero repetir de ideias e palavras. Porém, quando se retoma

o mesmo assunto através de outras vozes e outros olhares, o que se faz é

aperfeiçoar, depurar, renovar, dar um novo delineamento. É ampliar horizontes, e

esse é o propósito do presente trabalho.

O tema será explanado através da lente Constitucional, de um Estado

Democrático de Direito, sinalizando para a inserção da conciliação em nosso

ordenamento jurídico.

Sendo o Estado operador do exercício da função jurisdicional, de forma

monopolizada, procurou-se desenvolver o tema com atenção especial ao devido

processo legal, ou seja, questionando-se se essa atividade tem sido exercida

satisfatoriamente ou existem deficiências. Tem o Estado atendido aos reclamos dos

jurisdicionados?

Os principais meios alternativos de resolução de conflitos serão apresentados

e analisados destacando-se, em especial, a conciliação como uma opção viável para

o pronto atendimento da atividade jurisdicional.

2 LÊNIN, apud SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 33. ed. rev. Campinas: Autores

Associados, 2000. p. 83.

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Selecionada a conciliação como meio alternativo de resolução de conflitos,

faz-se necessário conhecer sua trajetória em nosso ordenamento, bem como sua

conceituação, natureza e modalidades.

A Conciliação Judicial será a opção escolhida dentre as demais modalidades.

Serão analisados alguns princípios e objetivos pertinentes ao tema.

Procurar-se-á verificar se a conciliação, no aspecto judicial, possibilita o

acesso à justiça; se existem técnicas para a sua aplicação; quais seriam suas

vantagens e desvantagens.

Após a análise da conciliação, em seu aspecto judicial, discorrer-se-á sobre

seus aspectos práticos, tais como a figura do conciliador, seu conceito, o perfil que

se considera adequado para desempenhar a atividade conciliatória.

Pretende-se, ainda, fazer considerações sobre o papel do juiz-julgador e do

juiz-conciliador, identificando-se quem deve estar à frente da conciliação.

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1 MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

“Era uma vez quatro pessoas que se chamavam Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém. Havia um importante trabalho a ser feito e Todo Mundo acreditava que Alguém iria executá-lo. Qualquer Um poderia fazê-lo, mas Ninguém o fez. Alguém ficou abandonado com isso porque entendia que a sua execução era responsabilidade de Todo Mundo e Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia executá-lo, mas Ninguém imaginou que Todo Mundo não faria. Final da estória: Todo Mundo culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia ter feito”.

3

É realidade que o Estado, no exercício da função jurisdicional, sofre com

muitos problemas e deficiências estruturais. Porém, não basta elencar essas

situações. É preciso encontrar soluções alternativas efetivas que atendam aos

anseios daqueles que buscam a tutela do Estado.

Entretanto, não basta qualquer solução. É preciso que seja adequada à

realidade e necessidades da sociedade. Não é suficiente que exista, é preciso que

seja efetiva para que venha dissipar a situação de frustrações e descrédito já

instalada, como bem pontuou Torres:

“O sistema tradicional não está conseguindo fazer frente ao grande volume de processos, cada vez mais crescente, ano após ano, deixando resíduos à espera de julgamento e contribuindo para o retardamento e o descrédito da justiça. Milhares de cidadãos estão afastados da oportunidade de reconhecimento de seus direitos, embora a previsão do art. 5º XXXV, da Constituição brasileira. Diante dessa realidade, a salutar necessidade de encontrar modelos alternativos para aproximar a Justiça do cidadão”.

4

Ada Pellegrini pontifica sobre a crise do judiciário, que:

“A crise da justiça está na ordem do dia: dissemina-se e serpenteia pelo corpo social, como insatisfação dos consumidores de Justiça, assumindo as vestes do descrédito nas instituições; atinge os operadores do direito e os próprios magistrados, como que impotentes perante a complexidade dos problemas que afligem o exercício da função jurisdicional; desdobra-se em greves e protestos de seus servidores; ricocheteia, enfim, pelas páginas da imprensa e ressoa pelos canais de comunicação em massa, assumindo dimensões alarmantes e estimulando a litigiosa latente. A Justiça é inacessível, cara, complicada, lenta, inadequada. A Justiça é denegação de

3 RANGEL, Alexandre. O que Podemos Aprender com os Gansos. 7. ed. São Paulo: Original, 2013. p.

178. 4 TORRES, Jasson Ayres. O Acesso à Justiça e soluções alternativas. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2005. p. 15.

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5

Justiça. A Justiça é injusta. Não existe Justiça [...]. A crise que se generaliza apresenta vários aspectos: a crise estrutural, a crise institucional do equilíbrio entre os poderes, a mentalidade dos operadores da Justiça, inadequação dos controles sobre o exercício da função jurisdicional”.

5

A autora coloca o Judiciário no cenário da crise de macrocefalia do Estado

Moderno. “A sobrecarga dos tribunais, a morosidade dos processos, seu custo, a

burocratização da Justiça, a complicação procedimental, tudo leva à insuperável

obstrução das vias de acesso à Justiça e ao distanciamento cada vez maior entre o

Judiciário e os seus usuários”. 6 Com isso, os novos conflitos sociais não encontram

estrutura processual adequada.

O Estado, frente ao volume de conflitos que se acumulam dia a dia e como

detentor do monopólio da função jurisdicional, deve encontrar meios para tratar a

presente situação. Ao tratar da cultura do conflito existente em nosso meio, Calmon

afirma:

“Mas o conflito não é um mal em si mesmo e são considerados como aspectos inevitáveis e recorrentes da vida. Têm funções individuais e sociais importantes, proporcionando aos homens o estímulo para promover as mudanças sociais e o desenvolvimento individual. O importante não é aprender a evitá-lo ou suprimi-lo, atitude que poderia trazer consequências danosas. Ao contrário, diante do conflito, a atitude correta é encontrar uma forma que favoreça sua composição construtiva”.

7

Dessa forma, nos deparamos com a seguinte situação, que clama por

alternativas de solução: de um lado, a sociedade busca acesso efetivo à justiça para

resolução de seus conflitos e, de outro, o Estado, guarda para si o exercício da

atividade jurisdicional, assumindo a responsabilidade de fazê-lo da melhor forma

possível.

Moraes e Silveira citados por Tavares, afirma:

“Esses mecanismos alternativos, entre os quais citam-se a mediação, a arbitragem, a negociação, a conciliação [...] colocam-se ao lado do tradicional processo judicial como uma opção que visa descongestionar os tribunais e reduzir o custo e a demora dos procedimentos: estimular a participação da comunidade na resolução dos conflitos, e facilitar o acesso à Justiça, já que, por vezes, muitos conflitos ficam sem resolução porque as

5 GRINOVER, Ada Pellegrini. A crise do poder judiciário. Revista da Procuradoria do Estado de São

Paulo, São Paulo: Centro de Estudos, nº 34, p. 11-12, dez. 1990. 6 GRINOVER, op. cit., p. 11-12.

7 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p.

25.

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6

vias de obtenção são complicadas e custosas e as partes não têm alternativas disponíveis a não ser, quem sabe, recorrer à força”.

8

A solução que se procura apontar com o desenvolvimento do presente estudo

refere-se aos métodos alternativos de resolução de conflitos, tendo como destaque a

conciliação judicial.

1.2 CONCILIAÇÃO

Para um melhor desenvolvimento e uma correta compreensão deste trabalho,

é importante apontarmos algumas das definições existentes para a palavra

conciliação e qual delas será adotada.

Gramaticalmente, a palavra conciliação se trata de um substantivo feminino,

derivado do verbo transitivo conciliar, que segundo o Dicionário Técnico Jurídico, de

Deocleciano Torrieri Guimarães, consiste num “ajuste, acordo, entendimento entre

partes em litígio, pondo fim à lide”. 9

Dispõe o dicionário Jurídico Acquaviva que a palavra conciliação deriva “do

latim conciliatione”, que representa “reunião, pacificação de um conflito,

reconciliação”. 10

Bem próximo a esta ideia está o conceito de Humberto Theodoro Júnior que

coloca que a conciliação, em nosso processo civil, é “um acordo entre as partes para

solucionar o litígio deduzido em juízo”. 11

O dicionário Noah Webster, traduzindo livremente, conceitua o verbo

“conciliar”, de onde deriva a palavra conciliação, como:

“Chamar para junto, esforçar-se para juntar; Verbo transitivo composto por “com” (junto) mais “calo” (que é chamar - origem grega); Significado primário da raiz da palavra: amarrar apertado, arrastar ou puxar para junto; Conduzir ou puxar por meio de influência moral, vencer, ganhar, ou conquistar

8 MORAES E SILVEIRA apud TAVARES, Fernando Horta. Mediação & Conciliação. Belo Horizonte:

Mandamentos, 2002. p. 130. 9 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 7. ed. São Paulo: Rideel, 2005. p.

188. 10

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Acquaviva. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2013. p. 215. 11

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processamento de conhecimento. Vol. I, 52. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 504.

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7

afeição ou boa vontade; Reconciliar ou trazer a um estado de amizade pessoas que estão em discórdia”.

12

Para Cassio Scarpinella Bueno, “a conciliação também é meio alternativo de

solução de conflitos porque ela representa, em última análise, a vontade dos

próprios envolvidos no litígio para sua solução”. 13

Calmon discorre que a Conciliação é:

“um mecanismo de obtenção da autocomposição que, em geral, é desenvolvido pelo próprio juiz ou por pessoa que faz parte ou é fiscalizado ou orientado pela estrutura judicial; e que tem como método a participação mais efetiva desse terceiro na proposta de solução, tendo por escopo a solução do conflito que lhe é concretamente apresentado nas petições das partes”.

14

Processualmente, este será o conceito utilizado neste trabalho, ou seja, a

conciliação como uma fase procedimental, presidida por um terceiro imparcial, dito

conciliador, que tem por objetivo ajudar as partes em conflito a chegarem a uma

solução justa que coloque fim ao conflito existente.

Dessa forma, a expressão “conciliação” será utilizada no trabalho não como o

“ato de conciliar”, em si, mas como a etapa da relação processual destinada a atingir

este objetivo.

1.3 OUTRAS FORMAS ALTERNATIVAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Não obstante a conciliação seja o foco central do trabalho, não se pode deixar

de mencionar que ao lado dela a arbitragem, a mediação e a negociação são

também consideradas formas alternativas de resolução de conflitos, e cada uma

delas, em sentido mais amplo, representa um método de atingir a pacificação social

que é uma das finalidades do direito processual civil. Cada uma apresenta

particularidades, ora se aproximando das características da conciliação, ora

distanciando-se dela na forma como é aplicada.

12

WEBSTER, Noah. 1828. American Dictionary of The English Language. Published by Foundation for American Christian Education. San Francisco, California. 13

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Direito Processual Civil. vol. 1. 2. ed. ver. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 14. 14

CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 144.

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1.3.1 Arbitragem

O instituto da arbitragem é conhecido no Brasil desde as Ordenações do

Reino de Portugal, porém não era muito aplicado pelos operadores do direito.

Santos, menciona em sua obra que “As Ordenações Filipinas, já

disciplinavam o processo arbitral em seu Título XVI, Livro II, sob o título Dos Juízes

Árbitros" 15.

Como Colônia portuguesa, o Brasil estava submetido às Ordenações do

Reino16, que eram as compilações de todas as leis vigentes em Portugal, mandadas

fazer por alguns de seus monarcas e que passavam a constituir a base do direito

vigente.

Esse meio alternativo de resolução de conflitos começou a ser utilizado e

valorizado somente a partir da Lei nº 9.307/96. 17

Apesar da Lei de Arbitragem estar em vigor no Brasil há, precisamente, 17

anos e ser a primeira lei específica sobre o tema, esta já era prevista em nosso

ordenamento jurídico. A Constituição de 1824 trazia em seu artigo 160 a

possibilidade das partes nomearem árbitros para a resolução de questões cíveis. O

Código Civil de 1916, por sua vez, previa a realização de compromisso arbitral,

como forma de solucionar uma obrigação (artigos 1.037/1.048).

Há ainda o Decreto nº 21.187/32 (Protocolo de Genebra de 1923), sobre

compromisso arbitral e cláusula compromissória em contratos comerciais.

Scarpinella dispõe que:

“Deve ser entendido por arbitragem o método de solução de conflitos segundo o qual as pessoas em conflito escolhem, de comum acordo, um ou mais árbitros que, fazendo às vezes do juiz-estatal, reconhecerão o direito aplicável à espécie”.

18

15

SANTOS, Paulo de Tarso. Arbitragem e Poder Judiciário. São Paulo: Ed. LTR, 2001, p.19. 16

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. O Ordenamento Jurídico Brasileiro. Revista Jurídica Virtual Brasília, vol. 1, n. 3, julho 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_03/ordenamento%20jur%20brasil.htm. Acesso em 08 set. 2014. 17

Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 – Dispõe sobre a arbitragem. 18

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Direito Processual Civil. vol. 1. 2. ed. ver. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 12.

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9

Modernamente, arbitragem é um mecanismo de solução de controvérsias no

qual as partes litigantes outorgam a uma terceira pessoa o poder de julgar, de

maneira definitiva, uma controvérsia que lhes é atinente. Ela é uma técnica

extrajudicial de resolução de conflitos (equivalente jurisdicional) onde não há a

interferência do Judiciário. Uma terceira pessoa imparcial (árbitro) decide a

controvérsia (heterocomposição), por meio de uma sentença arbitral, escrita, com

eficácia de uma sentença judicial. No caso de não ser cumprida a decisão, a

sentença poderá ser executada judicialmente.

A arbitragem só pode ser utilizada por pessoas civilmente capazes de

contratar e somente para resolver questões sobre direitos patrimoniais disponíveis

(art.1º da Lei de Arbitragem).

O árbitro pode ser qualquer pessoa com capacidade civil, que possua a

confiança das partes (art. 13). Deve atuar com imparcialidade, competência,

independência, diligência e discrição.

A arbitragem apresenta algumas vantagens em relação ao processo judicial.

Entre as principais, podemos citar o sigilo, a maior celeridade, o procedimento mais

simplificado e a liberdade na escolha das regras que irão incidir na solução do

debate. Apresenta, por outro lado, como desvantagens: o risco da privatização da

justiça, favorecendo somente aqueles que podem pagar por ela; a necessidade de

execução judicial, no caso da parte vencida não cumprir a decisão do árbitro; o risco

de falha no procedimento ou na sentença arbitral e a possível ocorrência, da parte

economicamente mais favorecida, exercer influência sobre as normas aplicáveis e a

instituição arbitral escolhida, gerando prejuízos para a outra parte.

Apesar dos aspectos negativos e da garantia da tutela jurisdicional pelo

Estado, continua a arbitragem a ser uma opção para todos os que dela queiram

fazer uso.

O quadro a seguir aponta algumas diferenças entre o Poder Judiciário e a

Arbitragem, na solução de conflitos:

Poder Judiciário Arbitragem

1. Escolha do Terceiro . Não há escolha . Há escolha

2. Poderes do Julgador

. O juiz tem o Poder Juridctio (poder de julgar quem tem a razão) e o Poder de Imperatum (poder de forçar o cumprimento da obrigação – ele representa o Estado que tem o papel de forçar o cumprimento de

. O poder vem da escolha feita pelas partes. Só tem o Poder Juridctio. Quando dá a sentença arbitral ele decide quem irá vencer ou não. Porém ele não pode forçar o cumprimento.

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uma obrigação) . Se a parte não cumprir a sentença ela será executada no judiciário. A sentença arbitral não precisa de aceitação ou homologação do judiciário. Ela é automaticamente válida e produz os mesmo efeitos da sentença judicial. Será um título executivo judicial.

3. Duplo Grau

. É inerente do procedimento

. Não existe recurso. A sentença é imutável com relação ao seu mérito.

4. Foro Competente (é uma delimitação para o juiz)

. Critérios que o legislador levou em conta para a distribuição de competência: soberania nacional, hierarquia e atribuições dos órgãos jurisdicionais (critério funcional), natureza ou valor da causa, pessoas envolvidas no litígio (critério objetivo), limites territoriais que cada órgão judicial exerce a atividade jurisdicional (critério territorial).

. A Lei prevê a competência do árbitro em determinar a sua própria competência para decidir, conhecido como o princípio da competência-competência.

5. Publicidade

. É inerente. A regra é a publicidade. . Pode ser determinada pelo juiz bem como pela lei, conforme art. 93, IX, da CF e art. 155 do CPC.

. Há grande facilidade do processo ser sigiloso. Basta as partes decidirem que será assim. No contrato isso já pode ser determinado. Atinge as parte, seus advogados, os árbitros, a instituição de arbitragem que administra o procedimento, ou seja, todos. Aplica-se a quem vazar a informação a responsabilidade determinada no Direito Civil. Raramente é aberta.

6. Custos

. Pago custas de administração pré-estabelecidas.

. Tem custos diferentes do Poder Judiciário. . Os gastos são compactados num prazo curto porque a arbitragem é rápida.

7. Prazo para solução da lide

. Art. 5º, inciso LXXVIII, CF: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. . O processo judicial, em regra, não possui a mesma rapidez da arbitragem, tampouco fixação de prazo para a prolação da decisão.

. Pode ser limitado pelas partes, caso contrário será de 6 meses, conforme dispõe o art. 23 da Lei nº 9.307/96.

1.3.2 Mediação

A mediação consiste na intervenção de uma terceira pessoa de forma a obter

acordo entre pessoas físicas ou jurídicas. Consiste em aproximar as partes

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interessadas na concretização de um negócio, mediante comissão a ser paga por

uma ou pelas duas partes. O objetivo não é simplesmente fazer um acordo. Tem por

escopo melhorar a relação social das partes.

Segundo Scarpinella:

“A mediação é uma forma alternativa de solução de conflitos em que um ‘mediador’ (um terceiro imparcial) estimulará os envolvidos a colocarem fim a um litígio existente ou potencial”.

19

O mediador tem papel de auxílio, facilitando a comunicação entre as partes. A

este não é permitido fazer propostas às partes.

A mediação apresenta como características: processo construtivo e

mecanismo autocompositivo. Difere da arbitragem, que apresenta mecanismo

heterocompositivo e processo destrutivo, onde a decisão é imposta por um terceiro,

devendo ser acatada pelas partes. A decisão aqui é vinculante e obrigatória,

diferenciando-se da mediação, na qual as partes podem voltar atrás da decisão.

Na mediação, o poder de decisão está nas mãos das partes. A participação

de advogados não é necessária. O mediador exerce papel de facilitador e pode

contar com a figura do comediador, que auxilia para traçar estratégias.

O processo de mediação possui passos definidos, porém flexíveis, e

caracteriza-se por apresentar flexibilidade procedimental, sessões individuais e tom

informal.

A mediação judicial tem aspecto formal e estará revestida de uma sentença. A

extrajudicial terá o peso de um contrato. O formalismo será dado pelas partes.

Aplica-se aqui a autonomia das partes, a autonomia privada.

A Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, dispõe sobre a Política

Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses no âmbito do Poder

Judiciário:

“Considerando que cabe ao Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala na sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam sê-lo mediante outros

19

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Direito Processual Civil. vol. 1. 2. ed. ver. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 13.

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mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação”.

20

Na conciliação e na mediação, com a ajuda de uma terceira pessoa, as partes

constroem o acordo, participam e contribuem para o resultado final. Diferem, no

entanto, pelo fato da primeira ser processual e a segunda contratual.

O Projeto de Lei n° 8.046/2010 acolhe a mediação/conciliação como meio

alternativo (complementar) para solução de conflitos, transformando-as, segundo

Morais; Splengler em “elementos fundamentais e, utilizando-se o termo do Projeto,

preferenciais para a tarefa de resolver o conflito de forma autocompositiva”. 21

Para Rigon, “o PL 8.046/10 distingue a conciliação da mediação no momento

de sua aplicação. Para as relações em que as partes já possuem contato e se

conhecem anteriormente ao conflito em questão, o PL recomenda o uso da

mediação. Nos demais casos, a orientação da PL é para a aplicação da

conciliação”.22

A mediação ajuda as partes a desenvolverem formas autônomas para lidar

com os atritos inerentes ao seu relacionamento, não visando propriamente buscar

acordos que finalizem uma controvérsia pontual.

1.3.3 Negociação

Negociar significa ceder, abrir mão. Aqui, os argumentos são subjetivos e o

foco está na diferença das perspectivas. É necessário identificar as limitações

existentes.

Na negociação, não há necessidade da intervenção de uma terceira pessoa,

diferentemente do que ocorre na mediação, na conciliação e na arbitragem, podendo

as partes negociar diretamente ou até mesmo ser representadas. Não há exigência

de critérios rígidos, apenas a disposição das partes na solução do conflito.

Tavares, ao tratar sobre a negociação, menciona que:

20

RESOLUÇÃO Nº 125, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2010. 21

MORAIS, José Luiz Bolzan de; SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação e arbitragem: alternativas à jurisdição! 3. ed., rev. e ampl. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2012. 22

RIGON, Josiane. Questionamentos acerca da conciliação e da mediação no projeto de lei n.8046/2010 do CPC. Disponível no site: http://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/mediacao_e_jr/article/view/10853/1385. Acesso em 11 set. 2014.

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“A forma básica de resolução de disputas é a negociação. Nela, as partes se encontram diretamente e, de acordo com suas próprias estratégias e estilos, procuram resolver uma disputa ou planejar uma transação, mediante discussões que incluem argumentação e arrazoamento. Sem intervenção de terceiros, as partes procuram resolver as questões, resolvendo disputas mediante discussões que podem ser conduzidas pelas partes autonomamente, ou por representantes. Por isso, alguns autores não a consideram uma forma de solução de conflitos propriamente dita. A negociação é usada para qualquer tipo de disputa e faz parte do dia-a-dia transacional. É uma atividade constante entre advogados. É um método apropriado a ser utilizado quando as partes continuam a ter relações comerciais, cotidianamente, ou quando é possível solução criativa, sendo certo que tal vínculo caracteriza-se pela confiança mútua credibilidade entre as partes”.

23

Confrontando a negociação com a conciliação, podemos dizer que a primeira é

presidida por um conciliador, que interfere e oferece conselhos para a resolução do

conflito na medida em que auxilia as partes a chegarem a um acordo, conduzindo a

relação de forma a não existir um vencedor ou um perdedor ao final. Quem decide

são as partes. O conciliador somente sugere a solução que pode ou não ser

acatada. Não há obrigatoriedade na aceitação do acordo, porém quando acatado

deve ser assinado pelas partes devendo ser cumprido normalmente.

Em relação à negociação, vislumbramos que nela não há interferência alguma

de terceiro, pois é realizada exclusivamente por aqueles que têm interesse no

negócio, podendo ser gerado um contrato, que possui força de lei, desde que

respeite a legislação vigente.

23

TAVARES, Fernando Horta. Mediação & Conciliação. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p. 42.

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2 FUNDAMENTOS E OBJETIVOS DA CONCILIAÇÃO

2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Constituição Imperial de 25 de março de 1824 determinava a Conciliação

prévia obrigatória, pois em seu artigo 161 dispunha: “Sem se fazer constar, que se

tem intentado o meio da reconciliação, não se começará Processo algum”.

As Constituições brasileiras que se sucederam não fizeram menção à

conciliação. Esta somente ressurgiu na Constituição Federal de 1988, quando foram

criados os Juizados Especiais com competência para Conciliação nas causas cíveis

de menor complexidade, e para as infrações penais de menor potencial ofensivo e

ainda a justiça de paz com atribuição conciliatória, porém sem caráter jurisdicional.

Evidentemente, deve a conciliação estar em harmonia com o ordenamento

jurídico brasileiro e consequentemente em conformidade com a Constituição

Federal, possuindo os mesmos princípios e objetivos que a fundamentam. Da

mesma forma que o Estado é organizado e têm seus objetivos fundamentais, a

conciliação também tem seus objetivos fundamentais que serão analisados a seguir.

2.2 PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO

Começa o título I da Constituição Federal de 1988 abordando os princípios

fundamentais, integrando-os ao ordenamento jurídico. O reconhecimento dos

princípios no sistema jurídico constitucional descortina os valores que se buscam

sistematizar e preservar.

Nessa linha de pensamento, podemos citar Celso Antônio Bandeira de Mello:

“Princípio é por definição mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento do princípio que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais,

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contumédia irreversível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”.

24

Os princípios são normas jurídicas e, como tais, devem ser observados e

aplicados por todos os que integram a comunidade jurídica, pois sua observância e

obediência estruturam o conhecimento e orientam as atividades exercidas voltadas

para a mesma finalidade.

É a Constituição Federal que estrutura a jurisdição, e ao observarmos os

princípios presentes em seu art. 1º podemos reconhecê-los, com determinado nível

de identidade, na conciliação, como veremos a seguir.

2.2.1 Soberania e Autonomia

Conforme se verifica no dicionário Aurélio, pode-se dizer que o significado de

Soberania é “o complexo de poderes que formam uma nação politicamente

organizada”. 25 Também tem por significado independência, sentido esse que nos

interessa no momento.

Autonomia, por sua vez, é “a faculdade de alguém reger-se por si mesmo”. 26

Segundo Ferreira, ela é a “propriedade pela qual o homem pretende poder escolher

as leis que regem sua conduta”. 27

A soberania é um dos pilares da conciliação, porque os sujeitos envolvidos no

conflito precisam ser soberanos, independentes e autônomos para tomarem as suas

próprias decisões, manifestando-se de forma livre e autônoma. Tendo poder de

decisão sobre os possíveis desdobramentos do conflito e eventuais soluções, eles

tornam-se responsáveis pelo cumprimento do que livremente pactuaram.

É preciso que haja liberdade para que as partes envolvidas no litígio possam

resolvê-lo através conciliação. Não podem, porém, estar sendo ameaçadas ou

coagidas. Devem ter consciência do significado deste meio de pacificação, assim

como de estarem desobrigadas a aceitar qualquer acordo que não seja julgado

adequado e eficaz.

24

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São Paulo: Melheiros. p. 230. 25

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. 25ª impressão, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 1597. 26

GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 7. Ed. São Paulo: Rideel, 2005. 27

FERREIRA, op. cit., p. 203.

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A conciliação confere às partes a possibilidade de construírem a decisão

almejada, devendo essa manifestação, sempre, ocorrer de forma livre e autônoma,

para não perder a sua genuinidade. Com isso, os envolvidos se investem de

autoridade para gerir seus próprios problemas, tomando as decisões possíveis

frente aos desdobramentos do conflito, buscando eventuais soluções e

responsabilizando-se pelo cumprimento do que foi livremente pactuado.

2.2.2 Cidadania

Conforme se verifica no Dicionário Acquaviva, cidadania é o “vínculo político

que liga o indivíduo ao Estado e que lhe atribui direitos e deveres de natureza

política”. 28

Para Moraes, “a cidadania representa um status e apresenta-se

simultaneamente como objeto e um direito fundamental das pessoas”. 29

Bem coloca Rodrigues ao discorrer que:

“Quanto à cidadania, da forma mais ampla possível, está inserida na Conciliação. O cidadão que participou da construção do ordenamento jurídico tem o direito de manifestar livremente sobre os seus direitos e interesses que estarão sob o crivo da ordem jurídica. Os protagonistas têm o direito de falar e ouvir, de participar ativamente da construção da decisão. É o que se deseja como resgate da cidadania e do respeito ao jurisdicionado. Todos os sujeitos são colocados em posição isonômica, buscando cada um, com igualdade de oportunidades, demonstrar seu posicionamento ante ao conflito, sempre com o objetivo de solucioná-lo, sem um vencedor ou um perdedor, sem qualquer adversidade. A Conciliação possibilita a entrega da cidadania quando o jurisdicionado tem acesso à jurisdição, igual oportunidade às partes, de forma democrática, sem quaisquer diferenciações ou restrições, com individualidade caso a caso, conforme as pretensões e interesses apresentados”.

30

Como se depreende da leitura acima, não se pode descartar o princípio da

cidadania quando da realização da conciliação. Para que essa cidadania se faça

presente, é necessário que se dê às partes a oportunidade de manifestar suas

opiniões e interesses e de participar ativamente na construção de uma solução

adequada e satisfatória para o conflito.

28

ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Acquaviva. 6 ed. São Paulo: Rideel, 2013. 29

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26 ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 22. 30

RODRIGUES, Ângela de Lourdes. Processo e Conciliação no Estado Democrático de Direito. 2008. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito Processual Civil da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais. Pg. 50 Disponível em: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_RodriguesAL_1.pdf. Acesso em: 08 mar. 2014. p. 49.

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2.2.3 Dignidade da pessoa humana

A palavra dignidade nos remete à ideia de respeito.

Para Moraes dignidade:

“É um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem as pessoas enquanto seres humanos”.

31

A conciliação deve estar disponível e acessível às partes envolvidas no

conflito, podendo o juiz consultá-las a respeito de um possível acordo, em qualquer

momento do processo. Esse acesso precisa ser efetivo e de qualidade, lembrando

que o instituto existe para auxiliar os envolvidos. O modo como será realizada

refletirá o respeito e consideração do conciliador para com as partes.

Consagra a Carta Magna de 1988, em seu artigo 1º, como princípio universal,

a dignidade da pessoa humana, tornando-se obrigação do Estado garantir um

mínimo de recursos de forma a prover-lhe a subsistência.

Deduz-se disso que disponibilizar a conciliação é obrigação do Estado,

respeitando assim a dignidade da pessoa humana, cabendo às partes envolvidas a

liberdade de aceita-la ou não.

Ferreira argumenta que “a dignidade é o respeito a si mesmo”. 32

Para Rodrigues:

“A dignidade da pessoa humana é um valor supremo em que são considerados o respeito e a promoção do outro. Normalmente, depois de esgotadas todas as possibilidades extrajudiciais de solução amigável do conflito, a parte recorre ao Judiciário em busca de soluções. Ao ser concedida a oportunidade da escuta, sem comprometimentos futuros do que foi manifestado, a dignidade da pessoa humana é resgatada. É a oportunidade de ser ouvida, de estar pessoalmente em juízo e de reabrir-lhe a possibilidade de compartilhar da decisão que melhor atenda aos seus interesses e pretensões. Ainda que não seja possível o encontro pessoal

31

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26 ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 22. 32

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. 25ª impressão, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 589.

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dos sujeitos em conflito, a melhor solução para o problema seria se a oportunidade de manifestação pessoal fosse respeitada”.

33

Como se observa, a Conciliação deve considerar os interesses e pretensões

das partes envolvidas no conflito, pois esta simples atitude de respeito faz surgir o

sentimento de dignidade, tão necessário para o alcance de soluções nos momentos

de conflito.

2.2.4 Livre iniciativa

Considera-se como livre iniciativa a liberdade para agir, pensar e tomar

decisões.

Deve haver liberdade para que as partes decidam se querem comparecer em

audiência e se manifestarem, o que já demonstra uma pré-disposição para a

conciliação. Fazer imposições e forçar uma decisão afasta ou retira a liberdade de

manifestação e decisão das partes envolvidas no conflito, o que não coaduna com

as características da conciliação muito menos com os objetivos que se pretendem

alcançar com ela.

A aplicação do princípio da livre iniciativa na conciliação é fundamental para

regular a relação entre os sujeitos, que se dá pela manifestação de livre vontade de

quem propõe a solução e a livre manifestação de quem a aceita. Apesar de aparecer

no texto constitucional como fundamento da ordem econômica e da Republica

Federativa do Brasil, a livre iniciativa possui natureza principiológica dada sua

natureza e importância.

Sendo a livre iniciativa um atributo inalienável do ser humano, deve ser

compreendida na dimensão de compromisso que envolve a sociedade e o Estado.

Para Celso Ribeiro Bastos, a livre iniciativa:

[...] “é uma manifestação dos direitos fundamentais e no rol daqueles devia estar incluída. De fato o homem não pode realizar-se plenamente enquanto não lhe for dado o direito de projetar-se através de uma realização

33

RODRIGUES, Ângela de Lourdes. Processo e Conciliação no Estado Democrático de Direito. 2008. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito Processual Civil da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais. Pg. 50 Disponível em: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_RodriguesAL_1.pdf. Acesso em: 08 mar. 2014. p. 50.

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transpessoal. Vale dizer, por meio da organização de outros homens com vistas à realização de um objetivo”.

34

Ao transportar a livre iniciativa à natureza de princípio, importa reconhecer em

seu alicerce a liberdade como um dos fatores estruturantes da ordem jurídica justa.

Para o exercício da livre iniciativa, faz-se necessário que as partes tenham

opções de escolhas. De que valeria a liberdade para tomada de decisões se

houvesse um único caminho a seguir? É preciso suscitar possibilidades, expondo os

pontos fortes e frágeis e cada uma delas.

Na realização da tentativa de Conciliação deverão, então, ser apresentadas

às partes em conflito propostas variadas que apontem para uma solução. Esse

pluralismo de soluções deve ser adotado como forma de viabilizar a conciliação.

2.2.5 Acesso à jurisdição

Discorre Cappelletti, que:

“A expressão “acesso à Justiça” é reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico – o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos”.

35

Ter acesso à justiça é diferente de ter acesso a uma justiça efetiva. O autor

supracitado bem coloca essa questão quando diz que além de acessível, a justiça

deve atender aos anseios individuais das partes e de forma justa.

A conciliação pode até ser proposta arguindo-se às partes sobre a

possibilidade de acordo. Porém o modo como esse ato se realiza é muito

significativo, já que se pode fazer a coisa certa de modo errado.

Prossegue o autor:

“O acesso à justiça pode, portanto, ser encarado como requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico

34

BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil, vol. 7, São Paulo: Saraiva, 1990, p. 16. 35

CAPPELLETTI, Mauro. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988. p. 08.

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20

moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos”.

36

Considerado um direito humano, o princípio em tela é um caminho que

conduz a uma Justiça efetiva e transparente, necessária para o exercício da

cidadania e fortalecimento da democracia.

Sobre este princípio argumenta Rodrigues que:

“O acesso à jurisdição é o direito incondicionado previsto na Constituição de acionar a atividade jurisdicional do Estado e de receber do órgão jurisdicional o provimento condicionado às garantias constitucionais do processo. O acesso à jurisdição como direito incondicionado está inserido o direito a ampla defesa, contraditório e ao tratamento isonômico, sendo concedida às partes oportunidade para manifestação, construção do procedimento com igualdade de oportunidades, compartilhando o provimento final conforme suas pretensões e seus interesses”.

37

O modo pelo qual um direito se efetiva é muito relevante e deve ser

reconhecido e amparado legalmente. Há que se considerar, também, quanto ao

acesso à justiça, que embora a conciliação tenha como propósito evitar as delongas

de um processo, não pode esta ser usada como forma de “desafogar o judiciário”, o

que poderia descaracterizar sua finalidade, não garantindo uma solução jurisdicional

adequada e efetiva.

Nas palavras da Ministra Fátima Nancy Andrigui:

“Não podemos e não devemos esquecer que o apressado faz as coisas sem pensar, sem cuidar dos detalhes, sem ponderar a respeito das consequências e alternativas subjacentes de suas atitudes. Estamos querendo ser rápidos e não apressados. Porque o rápido não vive lamentando o passado; o rápido envolve as pessoas no processo decisório, convive com as diferenças de ideias entre seus colaboradores; o rápido sabe que só não erra quem não faz e, ele faz, mesmo correndo algum risco calculado de errar, e quando erra, rapidamente corrige o erro e segue em frente”.

38

36

CAPPELLETTI, op. cit, p. 08. 37

RODRIGUES, Ângela de Lourdes. Processo e Conciliação no Estado Democrático de Direito. 2008. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito Processual Civil da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais. Pg. 50 Disponível em: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_RodriguesAL_1.pdf. Acesso em: 08 mar. 2014. p. 55. 38

ANDRIGUI, Fátima Nancy. Conciliação no Processo Civil. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/Discursos/0001118/texto%20ministra%20selecionado%20%20%20Concilia%C3%A7%C3%A3o%20no%20Processo%20Civil%20-%20Piau%C3%AD.doc> Acesso em 30 ago. 2014.

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21

Por último, e não menos importante, temos que ter em mente que as pessoas,

ao confiarem seus conflitos às mãos do Estado, esperam uma adequada atenção

não somente aos seus problemas processuais, mas também à carga emocional que

carregam, e que acaba gerando um desgaste por vezes muito maior do que o

próprio problema material-financeiro em si.

2.3 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA CONCILIAÇÃO

Em agosto de 2006, o Conselho Nacional de Justiça lançou as bases do

“Movimento Nacional pela Conciliação”. Tinha por escopo organizar o Judiciário de

forma a findar a progressão das demandas que obstruíam o sistema de acesso à

justiça.

A Ministra Ellen Gracie, na época Presidente do STF e do CNJ, discursou no

evento sobre o objetivo maior da conciliação que é a busca da pacificação social,

discorrendo que:

“A conciliação é caminho para a construção de uma convivência mais pacífica. O entendimento entre as partes é sempre a melhor forma para que a Justiça prevaleça. O objetivo é uma sociedade capaz de enfrentar suas controvérsias de modo menos litigiosos, valendo-se da conciliação, orientada por pessoas qualificadas, para diminuir o tempo na busca da solução de conflitos e reduzir o número de processos, contribuindo, assim, para o alcance da paz social”.

39

Rodrigues, ao considerar os objetivos da conciliação pontuou que:

“A Conciliação judicial deverá proporcionar aos contendores a oportunidade de comparecerem pessoalmente em juízo, assistidas por seus procuradores; manifestar livremente seus interesses e pretensões; ouvir a parte contrária e participar da decisão que melhor solucione o conflito existente. As partes litigantes têm direito de ser tratadas de maneira respeitosa e igualitária, devendo ser concedidos as mesmas oportunidades para cada um dos envolvidos no conflito. No Estado Democrático de Direito, o objetivo da conciliação deverá ser o resgate da cidadania, através da liberdade de manifestação, da igualdade de oportunidades e de direitos, permitindo que os contendores encontrem a melhor solução para o conflito, pois são os destinatários da decisão construída e suportarão seus efeitos”.

40

39

BUZZI, Marco Antonio Gastaldi. Conciliação e Mediação: Estrutura da Política Judiciária Nacional. Rio de Janeiro: Forense. 2011, p. 50. 40

RODRIGUES, Ângela de Lourdes. Processo e Conciliação no Estado Democrático de Direito. 2008. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito Processual Civil da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais. Pg. 50 Disponível em: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_RodriguesAL_1.pdf. Acesso em: 08 mar. 2014. p. 56.

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Dessa forma, depreende-se que a conciliação tem como objetivo primordial

auxiliar as partes envolvidas no conflito a construírem consenso sobre uma

determinada desavença. É muito importante que os sujeitos afetados pelo problema

tenham liberdade para construir a decisão que terão que acatar e suportar. É preciso

assegurar segurança para manifestarem-se individualmente e, acima de tudo, que

sejam tratados com isonomia.

Rodrigues considera que, para possibilitar às partes a autocomposição, é

necessário:

“Direitos e deveres preservados, tais como igualdade em direitos, obrigações e oportunidades; liberdade para fazer ou deixar acordo nos termos da lei; tratamento cordial e respeitoso (reciprocidade); liberdade de manifestação do pensamento sem qualquer receio de vinculação para um futuro julgamento, se for o caso; inviolabilidade de atos e manifestações prestadas na audiência de Conciliação, mantendo o sigilo entre todos os sujeitos; assistência jurídica, indispensável à administração da justiça, sendo concedida assistência jurídica gratuita aos que dela necessitarem; receber os esclarecimentos necessários para resguardar seus direitos e interesses, sendo que, ninguém poderá ser compelido a aceitar qualquer proposta que considere inadequada”.

41

A aplicação da conciliação como meio alternativo de resolução de conflitos,

observando-se os critérios supracitados, vai muito além de reduzir e agilizar a

solução dos conflitos. Contribui de forma significativa no sentido dos envolvidos

serem os protagonistas, assumindo a responsabilidade pelo acordo proposto,

resgatando efetivamente sua dignidade e prevenindo que novas desavenças surjam.

Andrighi defende o direito que possuem as partes de ter acesso a uma justiça

efetiva ao afirmar que:

“É imperioso lembrar que o momento da audiência corresponde ao direito do cidadão de ter o seu dia na Justiça e destina-se exclusivamente, àquelas que aguardaram para ser ouvidas por aquele que não só deve conhecer profundamente o processo, como sabe a solução e, principalmente tem o poder de decisão”.

42

Podemos, assim, observar que a conciliação prima pela busca de uma solução

consensual e justa para por fim ao conflito existente. Para isso, conta com a ajuda

de um terceiro imparcial, que deve promover o diálogo entre as partes de forma a

41

RODRIGUES, op. cit., p. 58. 42

ANDRIGHI, Fátima Nancy. O Instituto da Conciliação e as Inovações introduzidas no Código de Processo Civil. São Paulo: ADV (Advocacia Dinâmica) Seleções Jurídicas, Jun. 1996. p. 15.

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23

promover a pacificação social, tema este que será abordado com maior

profundidade no próximo capítulo.

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24

3 CLASSIFICAÇÃO E MOMENTO PROCESSUAL DA CONCILIAÇÃO

3.1 CLASSIFICAÇÃO

O Código Civil, em seu artigo 840 dispõe que “É lícito aos interessados

prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas”. Para que isso

ocorra, as partes podem fazer uso da conciliação, que é um dos meios alternativos

de solução de conflitos e representa a vontade dos próprios envolvidos no conflito

para sua solução.

A conciliação, conforme o momento em que for implementado o acordo,

subdivide-se em extraprocessual e em endoprocessual, sendo esta última a que nos

interessa para o presente trabalho. Convém diferenciá-las para uma melhor

compreensão.

3.1.1 Conciliação Extrajudicial, Pré-Processual, Preventiva

A conciliação realizada extrajudicialmente ocorre fora do plano do processo e

não conta com a participação do magistrado. Nela, as partes participam de uma

sessão conciliatória, que tem por objetivo colocar fim ao litígio existente, sem,

entretanto, precisarem solicitar intervenção estatal por meio da jurisdição. O que as

partes fazem, caso ocorra um acordo, é solicitar que o judiciário homologue por

sentença a decisão tomada pelas partes. A base legal que demonstra esse

procedimento encontra-se na Lei n. 11.232/2005 (Código de Processo Civil), no

artigo 475-N, inciso V, que dispõe que “São Títulos executivos judiciais: [...] o acordo

extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente”.

Alves dispõe que:

“A conciliação extraprocessual tem como pedra de toque a solução de conflitos por meio de acordo elaborado entre as partes antes de se instaurar a lide, ou seja, antes de se efetivar a ação que comina na ativação de órgãos jurisdicionais. Sendo assim, apresenta-se de forma pré-processual, uma vez que o Estado-Juiz não utilizará dos artifícios jurisdicionais inerentes aos procedimentos judiciais, e informal, já que as partes interessadas na solução da controvérsia, juntamente com agentes específicos (juízes leigos e conciliadores, por exemplo), tentarão resolver a

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insatisfação de suas pretensões por meio da composição, portanto, sem a interferência do Poder Estatal”.

43

Segundo Scarpinella, “mesmo sem a ‘homologação’ para os fins do precitado

dispositivo de lei, o Código de Processo Civil reconhece que, preenchidas

determinadas exigências, um acordo extrajudicial pode também ser equiparado a

uma decisão jurisdicional”. 44 O autor trata dos casos de títulos executivos

extrajudiciais referidos no art. 585 do CPC, com destaque ao inciso II do dispositivo:

“São títulos executivos extrajudiciais: [...] a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados transatores”.

45

Concluindo, podemos dizer que, na modalidade extrajudicial, a conciliação

procura levar os interessados a obter um acordo que solucione seus conflitos por

meio da composição não adversarial, que ocorre antes de iniciada a ação.

3.1.2 Conciliação Judicial, endoprocessual, incidental

Diferentemente da conciliação extraprocessual, a conciliação endoprocessual

se dará somente após a instauração da ação. É, pois, uma modalidade de

procedimento inerente à jurisdição. É autêntica atividade jurisdicional.

Segundo Scarpinella, “a conciliação também poderá ser judicial quando a ela

se chega em meio a um litígio já existente e devidamente instaurado perante o

Estado-Juiz”. 46

O artigo 125, inciso IV, do Código de Processo Civil destaca a função

conciliadora do magistrado, dispondo que “O juiz dirigirá o processo conforme as

disposições deste Código, competindo-lhe [...] tentar, a qualquer tempo, conciliar as

partes”. 47

Prossegue afirmando que:

43

ALVES, Rafael Oliveira Carvalho. Conciliação e Acesso à Justiça. Webartigos. Disponível em http://www.webartigos.com/artigos/conciliacao-e-acesso-a-justica/11585/. Acesso em 09. Mar. 2014. 44

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Direito Processual Civil. vol. 1. 2. ed. ver. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 14. 45

Artigo 585 do Código de Processo Civil de 1973. 46

BUENO, op. cit., p. 15. 47

Artigo 125, inciso IV, do Código de Processo Civil de 1973.

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“O acordo a que chegarem as partes (com ou sem a participação do juiz) faz as vezes da decisão judicial e tem os mesmo efeitos que ela teria, se proferida como ato decorrente do exercício da função jurisdicional (arts. 269, III, e 475 – N, III)”.

48

Nery Júnior coloca que a norma analisada:

“Vem reforçar o entendimento de que a tentativa de conciliação, de iniciativa do juiz, é obrigatória, notadamente porque acrescido o inciso IV ao CPC 125, que regula os princípios fundamentais da direção do processo pelo juiz. Trata-se de dispositivo cogente, não restando ao magistrado outra alternativa que não a de, sempre, tentar conciliar as partes”.

49

Assim, define a lei que, antes de iniciar qualquer ato processual, deve o juiz

buscar a conciliação a qualquer tempo, desde que, em consonância com os demais

deveres atribuídos ao juiz, se revele útil e praticável para o deslinde da controvérsia.

3.2 DO MOMENTO PROCESSUAL

Dispõe o caput do art. 331 do Código de Processo Civil que, não sendo o

caso de extinção do processo, nos termos dos artigos 267 e 269, incisos II a V, nem

de julgamento antecipado da lide, o juiz deverá designar audiência preliminar,

intimando as partes, para comparecerem pessoalmente, podendo fazer-se

representar por seu procurador ou preposto, com poderes para transigir.

Dessa forma, passada a fase das providências preliminares, caberá ao juiz

designar audiência preliminar, onde, obrigatoriamente, tentará promover a

conciliação das partes, pois é o que determina o caput do art. 331 do CPC:

“Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir”.

50

Pode também o magistrado marcar a audiência mesmo sendo caso de

julgamento antecipado da lide, ou seja, ocorre a possibilidade do juiz decidir a

48

BUENO, op. cit., p. 15. 49

NERY JÚNIOR, Nelson. Atualidades sobre o processo civil: a reforma do Código de Processo Civil. brasileiro de 1994 e 1995. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. p. 44. 50

Artigo 331 do Código de Processo Civil de 1973.

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demanda depois da frustração da transação na primeira audiência, sem a

necessidade de realização da audiência de instrução e julgamento.

É o que explica Didier Júnior, ao discorrer que:

“Nada impede, não obstante o texto legal (art. 331 do CPC), que o magistrado, mesmo sendo caso de julgamento antecipado da lide (art. 330 do CPC), marque a audiência preliminar, com o objetivo de tentar conciliar as partes. Isso com base no inciso IV do art. 125 do CPC, que atribui ao magistrado o dever de tentar conciliar as partes a qualquer tempo. Não obtida a conciliação, o magistrado julgaria a demanda imediatamente”.

51

Em relação à facultatividade da realização da audiência preliminar, discorre

Marinoni que:

“O juiz pode decidir a forma pela qual organizará o feito, se por escrito (art. 327, CPC) ou oralmente (art. 331, CPC). A designação de audiência preliminar, portanto, é uma faculdade do magistrado e a sua não realização não gera qualquer invalidade no feito (STJ, 1ª Turma, REsp 790.090/RR, rel. Min. Denise Arruda, j. em 02.08.2007, DJ 10.09.2007, p. 192). Com efeito, se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo e por escrito, sanear o processo e ordenar a produção da prova (art. 331, § 3º, CPC). O ideal é que o juízo consulte as partes, por escrito e previamente, a propósito da possibilidade de conciliação e, assim, aquilate com maior segurança a conveniência da designação de audiência preliminar”.

52

Depreende-se do artigo 331 do CPC que a designação

da audiência preliminar não é obrigatória, e que compete ao juiz da causa analisar a

conveniência de sua designação em razão das particularidades do caso. Além disso,

a regra contida no art. 331 do CPC objetiva dar maior agilidade ao processo, e as

partes podem conciliar-se a qualquer momento, caso tenha sido precipitada a

decisão de não realizá-la.

Humberto Theodoro Júnior faz uma importante consideração sobre a

flexibilização da obrigatoriedade da audiência preliminar, ocorrida com a Lei n.

10.444, de 07.05.2002, que acrescentou o § 3º ao art. 331 e que dispõe que “se o

direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa

evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o

processo e ordenar a produção da prova, nos termos do § 2º”.

51

DIDIER Jr., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Processo de Conhecimento. Vol 1. 11 ed. Salvador: Jus Podivm, 2009. p. 517. 52

MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil comentado artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 333.

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Argumenta o autor que:

“A Lei nº 10.444, de 07.05.2002, acrescentou o § 3º ao art. 331, que praticamente anulou o esforço para habituar os juízes brasileiros ao importante instituto da audiência preliminar, pois abriu-lhes a oportunidade de não realiza-la “se as circunstâncias da causa” evidenciarem ser improvável a transação. A lei do menor esforço conduzirá grande número de juízes a seguir a velha rotina de marcar a audiência de instrução e julgamento sem tentar a conciliação e sem, infelizmente, efetuar a triagem que a lei destinou à audiência preliminar (art. 331, §2º)”.

53

A última reforma andou na contramão das legislações processuais mais

avançadas, ao se afastar da política de obrigatoriedade da audiência preliminar. Não

é só pela possibilidade de conciliação entre as partes que a importância dessa

audiência tem sido ressaltada nas legislações europeias. Sobretudo pela definição

do objeto do processo em trabalho de franca e direta cooperação entre juiz e partes

é que se valoriza esse estágio procedimental, por meio do qual se concentra o tema

do debate e se definem as provas pertinentes e admissíveis.

“Nada recomendava, portanto, a transformação da audiência preliminar em

simples eventualidade a ser cumprida segundo critério pessoal do juiz”. 54

Mesmo as partes manifestando desinteresse num acordo, sendo caso de

direito disponível, deveria o magistrado incentivar a sua realização. Ocorre que o

desinteresse pode ter origem no próprio magistrado.

Rodrigues pontua que:

“Entretanto, entende-se que a designação de audiência de tentativa de Conciliação não é uma faculdade, sendo obrigatória sua designação, tanto para realização da tentativa de Conciliação, quanto para o andamento processual. Quando então, se frustrado o acordo, serão fixados os pontos controvertidos, decididas as questões processuais, determinadas as provas requeridas com designação de audiência de instrução e julgamento, se for o caso”.

55

Torres também compartilha dessa linha de entendimento, ao discorrer que:

53

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processamento de conhecimento. Vol. I, 52. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 420. 54

THEODORO JÚNIOR, op. cit., p. 421. 55

RODRIGUES, Ângela de Lourdes. Processo e Conciliação no Estado Democrático de Direito. 2008. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito Processual Civil da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais. Pg. 50 Disponível em: http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_RodriguesAL_1.pdf. Acesso em: 08 mar. 2014. p. 62.

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“A audiência preliminar é um momento precioso para as partes transigirem, tomarem conhecimento dos pontos controvertidos e das provas que devam ser produzidas, e também, serem resolvidas as questões importantes e que interessam de perto às partes e à celeridade processual. São avanços no sentido de Justiça mais rápida, são possibilidades a ensejar, a qualquer momento, a transação, não retardando o desfecho dos processos. Mesmo que o acordo não venha a ser efetivado nesses momentos, há uma dinamização do processo, pelo saneamento, pelo destaque dos pontos controvertidos, pelo princípio da instrumentalidade, visando a solução mais rápida da causa”.

56

Vale lembrar ainda que, segundo o art. 448 do Código de Processo Civil,

antes de iniciar a instrução, o juiz tentará conciliar as partes, ou seja, ainda é

adequada a proposta de conciliação nesse momento processual. É prática forense

que toda audiência seja iniciada com a tentativa de conciliação.

3.2.1 Processo e Procedimento

Processo e procedimento são institutos distintos que pedem a devida

diferenciação. Segundo Theodoro Júnior:

“Enquanto o processo é uma unidade, como relação processual em busca da prestação jurisdicional, o procedimento é a exteriorização dessa relação e, por isso, pode assumir diversas feições ou modos de ser. A essas várias formas exteriores de se movimentar o processo aplica-se a denominação de procedimentos. Procedimento é, descarte, sinônimo de rito do processo, ou seja, o modo e a forma por que se movem os atos no processo”.

57

Depreende-se, assim, que o processo pauta-se numa relação jurídica de

direito público. É um método do qual as partes se utilizam para buscar a solução do

direito para as pretensões resistidas. Essa busca se dá pela aplicação da lei ao caso

concreto.

O Estado, ao tutelar o direito, utiliza o processo como instrumento para

exercer a sua jurisdição.

Quanto ao procedimento, podemos defini-lo como um rito, ou seja, uma

organização encadeada de atos processuais.

Grinover dispõe que procedimento é:

56

TORRES, Jasson Ayres. O Acesso à Justiça e soluções alternativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 184. 57

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil e processamento de conhecimento. Vol. I, 52. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 340.

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“[...] apenas o meio extrínseco pelo qual se instaura, desenvolve-se e termina o processo; é a manifestação extrínseca deste, a sua realidade fenomenológica perceptível. [...] a noção de procedimento é puramente formal, não passando da coordenação dos atos que se sucedem. Conclui-se, portanto, que o procedimento (aspecto formal do processo) é o meio pelo qual a lei estampa os atos e fórmulas da ordem legal do processo”.

58

Depreende-se, dessa forma, que o procedimento está ligado à forma como os

atos acontecem, forma esta determinada pela lei, ou seja, um rito.

3.2.2 A Reforma do Código e a Evolução da Conciliação no Direito Processual Civil

Em dezembro de 1994, a audiência de conciliação obrigatória passou por

uma reforma com a edição da Lei Federal nº 10.444/2002, sofrendo mudança em

sua terminologia. Passou a audiência a ser denominada de “audiência preliminar”.

Essa alteração se fez necessária, pois já era reconhecido que nessa

audiência outras funções eram exercidas, além da tentativa de conciliação, como o

saneamento do processo e a delimitação da instrução. Com a Lei Federal, ocorreu

também a flexibilização da obrigatoriedade da realização desta audiência, que antes

era obrigatória desde que não ocorresse a incidência no caso dos artigos 329 ou

330.

Outra mudança trazida pela Lei Federal foi a possibilidade da parte fazer-se

representar por preposto – possibilidade já prevista nos Juizados Especiais Cíveis

(arts. 9º, § 4º, da Lei Federal nº 9.099/95) e nas audiências de ritos sumários (art.

277, º 3º, do CPC).

Quanto a esse aspecto, Diddier faz a seguinte ponderação:

“O preposto representará a parte na audiência, e apenas nela, desde que tenha poderes expressos para conciliar (art. 331, fine, do CPC). Trata-se de delegado da parte com o poder especial de transigir (rectius: conciliar). Seu agir é essencialmente material (transação, por exemplo, é ato de direito material), consistente na prática de determinado ato jurídico, sem qualquer função postulatória, daí por que não precisa de advogado.

A preposição regulada no Código Civil é figura de direito material, mais especificamente de direito empresarial, e cujo regramento legal tem por fim precípuo regular as relações do preposto com a sociedade a que pertence e com terceiros (artigos 1.169 a 1.778 do CC – 2002). A preposição, aqui prevista, assemelha-se (repita-se: assemelha-se) à figura do mandato, com poder específico de proceder à conciliação judicial, administrando os interesses do proponente. Trata-se de representação voluntária, regulada,

58

CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 27. Ed. São Paulo: Malheiros. 2011. P. 301.

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genericamente, pelos arts. 115 a 120 do CC – 2002. A utilização, pelo legislador, do termo “preposto”, de conteúdo dogmático mais restrito, deve-se, induvidosamente, à consagração do seu uso nas causas trabalhistas e no âmbito dos Juizados Especiais. Para que não houvesse confusão, seria de bom alvitre a mudança do termo: de “preposto” para representante voluntário”, ou simplesmente “representante”.

59

Percebe-se que as alterações realizadas pelo legislador foram muito além de

propiciar oportunidade exclusiva á conciliação. A composição da lide, na verdade,

tornou-se apenas uma de suas etapas.

Dessa forma, não ocorrendo a conciliação, o juiz, antes da audiência de

instrução e julgamento, deverá organizar o feito, evitando discussões inúteis e

protelatórias. Deverá examinar as questões processuais suscitadas, declarar

saneado o feito, fixar os pontos controvertidos e delimitar a atividade probatória.

Fica a percepção que o legislador teve como prioridade agilizar o

procedimento, promovendo aos litigantes a autocomposição e, na ausência desta,

devido a intransigência das partes, o despacho saneador.

3.2.3 Audiência Preliminar x Audiência de Instrução e Julgamento

Prescreve o artigo 125, IV, do CPC que “ao juiz compete tentar, a qualquer

tempo, conciliar as partes”. Sendo assim, tem o magistrado muitas oportunidades

para alcançar a conciliação.

Mesmo depois da audiência preliminar, quando da realização da audiência de

instrução e julgamento, segundo o artigo 448, do CPC, pode ainda o juiz tentar

conciliar as partes.

Também está prevista a realização de audiência de conciliação nas ações

que seguem o procedimento comum ordinário (art. 331, do CPC) e sumário (art. 277,

CPC), além das ações que tramitam nos Juizados Especiais Estaduais (Lei

9.099/95) e Federais (Lei 10.259/01).

A legislação prescreve, assim, a audiência de conciliação para todos os

procedimentos mencionados.

Na audiência preliminar, a tentativa de conciliação (art. 331, CPC) se realiza

sem grandes solenidades.

59

DIDIER Jr., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Processo de Conhecimento. Vol 1. 11 ed. Salvador: Jus Podivm, 2009. p. 521.

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O juiz propõe aos litigantes que procurem uma solução amigável para suas

divergências. Pode o juiz renovar a proposta conciliatória a qualquer momento, bem

como na audiência final do processo.

Quando não alcançar êxito, feita a proposta de acordo, o juiz passará à

instrução da causa. Caso as partes entrem em acordo, haverá homologação deste

por sentença.

O processo, então, extingue-se, com decisão definitiva de mérito, gerando

coisa julgada material.

No caso de não se obter êxito na tentativa de conciliação, ou quando não

couber a medida, terão início os atos instrutórios da audiência de instrução e

julgamento. O juiz inicia a instrução, ouve as partes e fixa os pontos controvertidos

sobre os quais incidirão as provas, seguindo o disposto nos artigos 450 a 457 do

Código de Processo Civil, lembrando que, mesmo neste caso, pode o juiz, a

qualquer momento, tentar a conciliação.

Clóvis Brasil Pereira argumenta que “apesar de estimuladas pela legislação,

as audiências de tentativa de conciliação acabam se transformando, na maioria das

vezes, em instrumento de pouca ou nenhuma eficácia, em prol dos

jurisdicionados”.60

Nas ações que tramitam pelo procedimento ordinário, isso aconteceria porque

nem sempre as partes atendem à convocação dos juízes para a tentativa de

conciliação e, em contrapartida, quando atendem, observa-se na postura dos juízes

pouco empenho para se alcançar a conciliação.

Menciona Pereira que:

“Muitas vezes, as partes criam uma grande expectativa, se preparam para o “dia da audiência”, que para alguns, por ser um acontecimento formal, se torna importante, inusitado, e quando chega o dia designado, indo ao Fórum, entram e saem da sala de audiência, sem saber ao menos, se ela se realizou”.

61

Pereira aponta as seguintes razões para o fato das audiências de conciliação

se mostrarem de pouca ou nenhuma utilidade para os jurisdicionados:

60

PEREIRA, Clóvis Brasil. A audiência de Conciliação, um instrumento pouco ou mal utilizado pelo judiciário. Disponível em: <http://www.prolegis.com.br/index.php?cont=12&id=296>. Acesso em 09 mar. 2014. 61

PEREIRA, op. cit.

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“Primeiro, porque são tão rápidas, e não contam com uma intervenção ativa do juiz presidente, que por vezes, ao menos cumprimenta as partes; Segundo, porque ao menos o magistrado indaga dos presentes, sobre o interesse na conciliação; Terceiro, porque o Juiz não faz, preambularmente, uma pequena intervenção, dizendo de suas vantagens, como meio mais rápido e eficiente de apaziguamento dos conflitos judiciais”.

62

Depreende-se, de tais afirmações, que seria oportuno dar plena eficácia às

normas já existentes, tratando as audiências de tentativa de conciliação com

seriedade e os jurisdicionados com o devido respeito.

62

PEREIRA, op. cit.

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34

4 A CONCILIAÇÃO COMO MEIO DE RESOLUÇÃO DE CONFLITO

4.1 O CONCILIADOR

O artigo 7º da Lei 9.099/95 dispõe que os conciliadores são auxiliares da

justiça porque atuam de forma a colaborar com a atividade jurisdicional, sendo sua

função relevante principalmente no aspecto de conduzir as partes na busca de uma

solução para o conflito existente.

Deve o conciliador ser perceptível aos elementos que o cercam, sendo capaz

de ouvir e compreender as partes auxiliando-os a alcançar a melhor solução

possível.

Em relação ao conciliador, bem coloca Calmon ao pontuar que:

“Ao Conciliador encontra-se reservado o papel de conduzir o procedimento de conciliação segundo o método próprio. O conciliador pode ser honorário ou servidor público. Aquele que exerce a função sem remuneração normalmente o faz temporariamente, às vezes sem exclusividade. São funcionários aposentados, advogados, servidores da justiça (em horário alternativo), ou estudantes de direito. Onde a função é exercida mediante remuneração, observa-se a existência de cargo permanente ou temporário. Conforme já salientado, não foi implementado o disposto no artigo 98, inciso I da Constituição Federal, que prevê a função conciliativa a juízes de paz eleitos para mandato determinado. [...] O conciliador normalmente recebe treinamento abreviado e espelha sua atividade naquela desenvolvida pelo juiz. Sua postura para com o conflito é em grande parte ativa, emitindo opiniões, aconselhando as partes, indicando sua visão a respeito da futura decisão judicial, caso o acordo não seja alcançado, e propondo os termos da solução. [...] O conciliador não é órgão jurisdicional nem exerce jurisdição. É auxiliar da Justiça e vale como multiplicador da capacidade de trabalho do juiz, como agente catalisador na busca de reações proveitosas entre pessoas e conflitos.

63

O conciliador, sendo aquele que está disposto a conciliar opiniões que se

encontram divergentes, sendo juiz ou outra pessoa devidamente preparada e

investida no cargo de conciliador, deve procurar, com diligência, promover o diálogo

entre as partes conflituosas. Ele assume, assim, o papel de intermediador, visando

auxiliar as partes na busca de uma solução que seja justa e de comum acordo,

promovendo a pacificação social.

No entanto, para atuar dessa forma, é necessário um perfil específico para a

função.

63

CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 159 – 150.

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35

Nesse sentido, Linhares dispõe que:

“O conciliador judicial é uma pessoa que deve: possuir conhecimentos técnicos em Direito; acreditar fielmente que a conciliação é o melhor meio para a solução dos conflitos e querer verdadeiramente exercer relevante função; além é claro de ser devidamente qualificado para desenvolver efetivamente sua função, haja vista que conciliar exige preparo técnico para tal”.

64

Avançando nessa argumentação, Linhares chama a atenção para o fato de

que “o estímulo à conciliação é uma obrigação legal do juiz, todavia os juízes não

são capacitados para conciliar, mas para julgar essencialmente”. 65

Delegar funções sem capacitação incorre em uma situação de inviabilidade

funcional, e a conciliação exige qualidade e efetividade para que possa ser operante.

Capacitar juízes, bem como os investidos na função de conciliar, faz-se necessário

para uma prestação jurisdicional adequada.

4.2 O PAPEL DO JUIZ: JULGADOR OU CONCILIADOR? QUEM JULGA DEVE

CONCILIAR?

O conciliador, prioritariamente, precisa dedicar seu tempo e seus esforços na

atividade conciliatória, esgotando todas as formas e possibilidades de auxílio para

socorro das partes e finalização do conflito.

O juiz-conciliador, nesse processo, não poderá emitir juízo de valor ou se

posicionar em relação a uma ou outra parte, pois um comportamento assim

ensejaria insegurança jurídica e quebra da imparcialidade, inviabilizando, assim,

qualquer tentativa de conciliação.

Não é permitido ao conciliador, na realização da audiência, que faça

julgamentos antecipados ou direcione a solução do conflito. As soluções deverão ser

apresentadas pelas partes e dentro do que foi apresentado poderá o conciliador

propor a alternativa que melhor se adeque à situação.

64

LINHARES, José Ronaldo. A Conciliação Judicial Levada a Sério. Disponível em:http://www.ambitojuridico.com;br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11813. Acesso em 05 mar. 2014. 65

LINHARES, op. cit.

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36

A atuação do conciliador, sendo o juiz ou outra pessoa investida na função,

deve ser de atenção aos princípios da supremacia da Constituição, adequando as

decisões e manifestações dos interessados ao ordenamento jurídico.

Nesse sentido, destaca Gonçalves:

“O juiz tem o dever de se ater ao pedido e de se ater às espécies de medidas jurisdicionais autorizadas pela norma. Ele atua como órgão do Estado e fala pelo Estado, e, assim como não pode penetrar na esfera dos direitos dos jurisdicionados, para protegê-los, sem ser solicitado, não pode decidir além do que foi pedido pela parte, que tem a liberdade de dispor sobre os limites da proteção requerida. O juiz não pode impor medida não autorizada pelas normas porque, sendo órgão do Estado tem o dever de cumprir o Direito legitimamente criado pela nação pela qual o Estado fala”.

66

Num olhar mais apurado, percebe-se que as funções de juiz-conciliador e juiz-

julgador aproximam-se, pois após tentar conciliar as partes conflituosas em toda e

qualquer oportunidade, restando infrutífera a situação, somente restará ao

conciliador decidir com fundamento nos fatos e provas constantes dos autos.

4.3 O SER E O DEVER SER DAS AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO NO

PROCEDIMENTO ORDINÁRIO, CONFORME PREVISÃO ESTATUÍDA NO

ART. 331 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

Propiciar um ambiente favorável ao diálogo com um comportamento

adequado por parte do conciliador é fundamental para se alcançar a solução do

problema em uma audiência de conciliação.

Infelizmente, essa audiência, que se destaca por propiciar um momento

especial na conciliação, quanto ao procedimento ordinário, tem deixado a desejar,

mostrando-se, não raras vezes, improdutiva.

A Ministra do Superior Tribunal de Justiça, Fátima Nancy Andrighi, em

palestra proferida no “II Congresso Piauense de Direito Processual”, em Teresina,

no ano de 2003, discorreu sobre a forma como as audiências de conciliação, no

procedimento ordinário, conforme previsão estatuída no art. 331 do Código de

Processo Civil, tem se processado.

66

GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica Processual e Teoria do Processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992. p. 168.

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37

A Ministra pontuou em seu discurso que não se pode negar ou omitir que “a

atuação dos magistrados no trato que dispensam às partes, bem como aos seus

advogados por ocasião das audiências, não tem sido das melhores”.

Após informar-se sobre a maneira como os juízes realizavam as audiências

de conciliação do art. 331 do CPC, pontuou a Ministra Fátima Nancy Andrighi:

“Raramente foram encontrados juízes que:

1) reservam um dia da semana ou no mês para se dedicar à conciliação;

2) se preparam para a audiência, estudando os processos e seus incidentes, assim como para proferir despacho saneador em caso de eventual frustração da conciliação;

3) se preocupam com o direito constitucional do cidadão de ter seu dia na Justiça e se lembram de que somos funcionários públicos e temos o dever de prestar um excelente serviço, especialmente por ser ele público;

4) se inquietam com a possibilidade de estar o processo causando um mal psicossomático às pessoas envolvidas no conflito devido à demora de sua conclusão;

5) demonstram cuidado com a imagem da Justiça, sendo que, seguramente, parte dela se forma nas salas de audiência, onde as partes se encontram perante a figura do juiz”.

67

Segundo a Ministra, os juízes argumentam em justificativa que:

“a) fizeram concurso para proferir sentenças;

b) não foram treinados para serem conciliadores;

c) não podem perder mais do que cinco minutos tentando a conciliação;

d) a secretaria da vara fica sobrecarregada com a edição da pauta, expedição de mandados, disponibilização de oficiais de justiça e funcionários para fazer a juntada aos autos, além da assentada;

e) a audiência de conciliação separada da instrução nada mais é do que um assoberbamento na pauta (tais argumentos os levam a suprimir a audiência de conciliação do art. 331 e a realizar somente a prevista no art. 448, ambas do Código de Processo Civil, o que elimina, em consequência, a conciliação como ápice do processo)”.

68

Quanto à experiência da aplicação do art. 331 do CPC no procedimento

ordinário, por parte dos advogados, apresentam-se as seguintes críticas:

“a) a novel audiência de conciliação apenas serviu para sobrecarregar pautas e tornar os processos ainda mais morosos;

b) o interesse do advogado naturalmente não é fazer acordo, porquanto sua formação é voltada para a busca da solução de litígios por meio de ações que resultem numa sentença e, findando o processo pelas vias suasórias,

67

ANDRIGUI, Fátima Nancy. Conciliação no Processo Civil. Disponível em: www.stj.jus.br/.../texto%20ministra%20selecionado%20-%20%20concili... Acesso em 30 ago. 2014. 68

ANDRIGUI, op. cit.

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38

ainda não estarão exercendo sua função constitucional de partícipes da administração da Justiça (art. 133 da CF);

d) o insucesso da audiência de conciliação isolada da instrução é favorecida pela impossibilidade de, em regra, o magistrado dispor de tempo para ler, estudar e equacionar uma solução transacional para o processo;

e) o acordo pode gerar uma visão distorcida do seu trabalho perante seu cliente, o que minimiza o interesse do advogado em incentivar a conciliação, pois, em assim agindo, mais satisfação estará trazendo a seu cliente;

f) se o patrono da parte tivesse interesse no acordo, teria chamado as partes em seu escritório e tentado conciliá-las; estando a ação em tramitação não mais vale a pena transacionar;

g) conciliar implica ceder, e isso não interessa à parte; afinal, esta pagou advogado para propor ação e já sofreu o desgaste da demora do procedimento, por conseguinte espera, ao menos, receber tudo o que acredita lhe ser de direito, no seu conceito de justo – atitude absolutamente incompatível com o convite à conciliação”.

69

A situação em tela retrata a distância que há entre o ser e o dever-ser, o que

está no papel e a viabilidade em cumpri-lo.

Os posicionamentos acima descritos, seja por parte dos juízes ou dos

advogados, deixa claro que mudanças geram desconforto e tiram as pessoas de

suas zonas de conforto, afetando seus interesses e expectativas, gerando

resistência.

Contudo, essa barreira precisa ser vencida e o quadro hoje existente, de

ineficiência dos serviços judiciários, precisa ser superado.

Nesse sentido, Andrigui sustenta que:

“[...] a crise do Poder Judiciário jamais será debelada se antes não nos empenharmos em mudar a mentalidade do povo brasileiro; principalmente, de todos os artífices do Direito, a começar pelos magistrados, que precisam conscientizar-se das benesses que a participação maciça de leigos na administração da justiça, tais como os árbitros, os mediadores, os conciliadores, os juízes de paz e os juízes leigos, poderá trazer à prestação jurisdicional, aprimorando-a”.

70

Nessa linha de entendimento, a Ministra pontua que o ponto de partida para

a formação de uma nova cultura jurídica “seria permitir que os juízes fossem

auxiliados por conciliadores judiciais na realização da audiência de conciliação,

preconizada no art. 331 do Código de Processo Civil”. 71

69

ANDRIGUI, op. cit. 70

ANDRIGUI, op. cit. 71

ANDRIGUI, op. cit.

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39

Esse ponto de vista vai de encontro à ideia de que somente o juiz detém

poder de resolver conflitos.

Para a Ministra:

“Outros profissionais, podem, com proficiência e segurança, dividir a tarefa. Citem-se como exemplos os árbitros, os mediadores, os negociadores e os conciliadores judiciais. Tenho presente, outrossim, que todas essas mudanças preconizadas devem submeter o Poder Judiciário a uma verdadeira reengenharia, quer quanto a sua estrutura, quer quanto à mentalidade de seus membros”.

72

Há uma necessidade urgente de desburocratizar a complexa e emperrada

máquina do Judiciário, buscando-se soluções que estejam pautadas na agilidade,

racionalização e efetividade.

4.4 A IMPORTÂNCIA DA CONCILIAÇÃO JUDICIAL

Por ser um método alternativo de resolução de conflitos que pode ser

proposto a qualquer momento do processo, a conciliação mostra-se como um

instrumento valoroso no meio jurídico na busca da pacificação social.

Para a realização da audiência, faz-se necessário somente o agendamento

com prazo razoável para viabilizar que as partes e advogados tenham a

oportunidade de se manifestar proporcionando igualdade de condições.

A audiência possibilita autonomia para as partes, contrário à decisão judicial

que tende a retirá-la.

Não podendo as partes envolvidas no conflito fazer justiça “com as próprias

mãos”, recorrem ao Judiciário em busca de uma adequada solução para suas

pretensões resistidas. A conciliação viabiliza uma solução participativa restando

ainda para os envolvidos, alternativamente, aguardar a decisão judicial. As partes

que alcançam uma solução harmônica, voluntária, envolvem-se de forma mais

compromissada no cumprimento da mesma, evitando futuras ações, recursos e até

mesmo medidas para o cumprimento da decisão.

72

ANDRIGUI, Fátima Nancy. Conciliação no Processo Civil. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/Discursos/0001118/texto%20ministra%20selecionado%20%20%20Concilia%C3%A7%C3%A3o%20no%20Processo%20Civil%20-%20Piau%C3%AD.doc> Acesso em 30 ago. 2014.

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40

A conciliação respeita a individualidade, privacidade e integridade física e

moral dos envolvidos. Há um reconhecimento pessoal das partes que se identificam

como cooperadores na solução do litígio.

Como método de resolução de conflito a conciliação mostra-se eficaz, célere,

não onerosa e democrática evitando delongas desnecessárias. Como a solução

advém das partes envolvidas o ajustado geralmente é cumprido evitando-se a

interposição de recursos e do procedimento executório.

Por outro lado há algumas desvantagens como quando as partes encontram-

se em condições de desigualdade, não estão preparadas para a autocomposição,

não são bem orientadas durante o processo ou estão sem assistência de um

profissional habilitado para a função. Nada, porém, que não possa ser suprido com a

presença de procuradores constituídos (ou nomeados) bem preparados. Sua

efetividade, não resta dúvidas, exige qualificação e empenho. Na ausência destes

estará destinado à inoperância.

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41

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A palavra conciliação traz em seu cerne conceitos como acordo, harmonia,

compatibilização. É também a reunião dos envolvidos no conflito com o conciliador

que conduz e incentiva a construção de um entendimento que possa levar à solução

do problema existente.

Devidamente capacitado, o conciliador, sendo ou não juiz, é peça

fundamental para o êxito do procedimento conciliatório, conduzindo as partes de

forma a não haver um sentimento de vencedor ou perdedor, mas a percepção de

alcance de uma solução madura, justa e plausível para a situação.

Linhares coloca que a conciliação tem muitas vantagens destacando-se entre

elas a economia processual e a economia emocional, e prossegue:

“É inquestionável que a conciliação traz vantagens relevantes tanto para as partes quanto para o sistema jurídico, reduzindo-lhes os efeitos do calvário processual; todavia na realização da mesma faz-se necessário que os magistrados e os conciliadores dos Juizados Especiais, acreditem fielmente que o instituto da conciliação é um meio jurídico para a solução célere e eficaz de conflitos e em especial para a pacificação social e mais, que sejam devidamente capacitados para desempenharem tal mister, haja vista aquela exigir preparo e dedicação”.

73

Verifica-se, pela dicção de renomados estudiosos da conciliação, que o cerne

do problema não está no instituto em si, mas sim na falta de preparo, capacitação,

interesse e compreensão de muitos que a exercem de forma displicente e

descompromissada.

Linhares conclui que:

“O instituto da conciliação é de extrema importância para a efetiva pacificação da sociedade, haja vista que, dentre muitos outros aspectos, as próprias partes ao construírem a solução para os seus próprios problemas, eliminam o estigma de vencedores ou perdedores processuais; bem como a animosidade própria da derrota judicial, onde a parte vencida acredita ter sido injustiçada pela decisão do Estado-Juiz e provavelmente recorrerá de referida decisão”.

74

73

LINHARES, José Ronaldo. A conciliação judicial levada a sério. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 101, jun. 2012. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11813&revista_caderno=21>. Acesso em 31 ago. 2014. 74

LINHARES, José Ronaldo. A conciliação judicial levada a sério. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 101, jun. 2012. Disponível em: <http://www.ambito-

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42

Andrigui pontua que, na prática, a conciliação, como método alternativo de

resolução de conflitos, no sentido quantitativo, é efetiva, porém questionável no

sentido qualitativo devendo dar-se a devida atenção a este fato. Em relação à

adequada aplicação da técnica da conciliação, sustenta que vai além de uma prática

operacional correta, discorrendo nesse sentido que:

“Não podemos esquecer que os prazos processuais jamais correspondem aos prazos emocionais e que o nosso tempo deve ser lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a pacificação social, sem jamais olvidar que tal propósito requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de se pensar a humanização da Justiça”.

75

No balanço apresentado, com o encerramento do Mutirão da VIII Semana de

Conciliação, realizado em dezembro de 2013, o número de magistrados que

participaram da campanha passou de 2.694 (em 2012) para 4.850. O número de

tribunais que aderiram também foi maior no mutirão de 2013: 52 contra 49 do ano

anterior. A tabela abaixo apresenta um resumo consolidado referente a alguns dos

tribunais do sul do país, elaborado a partir da tabela analítica publicada pela

Corregedoria Nacional de Justiça. 76

Tribunal Audiências marcadas

Audiências realizadas

% realizado

Acordos efetuados

% efetuado

R$ homologados

R$ INSS+IR

TJPR 9299 7339 78,92 2216 30,19 43.794.838,17 0,00

TJRS 14525 13854 95,38 3046 21,99 14.845.546,84 0,00

TJSC 6086 3774 62,01 1339 35,48 7.226.114,54 0,00

TJSP 25669 17292 67,37 5570 32,21 23.054.886,90 0,00

TRT2(SP) 23396 19015 81,27 6698 35,22 128.595.036,45 6.396.697,10

TRT4(RS) 5785 4661 80,57 1068 22,91 15.644.418,14 3.902.557,08

TRT9(PR) 1001 892 89,11 455 51,01 12.745.574,98 10.158,46

TRT12(SC) 1495 1412 94,45 963 68,20 11.167.584,83 699.930,47

TRT15(SP) 12953 10821 83,54 4278 39,53 79.061.509,45 665.788,00

Totais 100209 79060 81,40 25633 37,42 336.135.510,30 11.675.131,11

juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11813&revista_caderno=21>. Acesso em 31 ago. 2014. 75

ANDRIGUI, Fátima Nancy. Conciliação no Processo Civil. Disponível em: www.stj.jus.br/.../texto%20ministra%20selecionado%20-%20%20concili... Acesso em 30 ago. 2014. 76

CORREGEDORIA NACIONAL DE JUSTIÇA. Semana Nacional de Conciliação de 2013. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/sistemaconciliacao/?=dadosportal&a=dadosportal&f=relatorioglobalconciliacao. Acesso em: 20 set. 2014.

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43

Diante dos números apresentados, Campelo destacou que:

“Isso é um salto gigantesco. Demonstra que a magistratura compreendeu a importância do engajamento no fortalecimento dos métodos alternativos de resolução de controvérsias [...] é um momento de conscientização do cidadão, assim como dos operadores do Direito”.

77

Pelo exposto, demonstra-se a importância da conciliação como meio de

solução de conflito, seja na fase pré-processual ou endoprocessual, não restando

dúvidas de que sua efetividade exige qualificação e dedicação, sem as quais o

referido instituto beira à inoperância.

77

Bandeira, Regina. Agência CNJ de notícias (02.12.2013) Aumento da participação de magistrados na Semana Nacional demonstra a confiança nos métodos alternativos de solução. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/27107:aumento-da-participacao-de-magistrados-na-semana-nacional-demonstra-a-confianca-nos-metodos-alternativos-de-solucao. Acesso em: 08 set. 2014.

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44

CONCLUSÃO

Verificou-se com o estudo em tela que o Estado ao exercer sua função

jurisdicional tem procurado meios alternativos para solucionar os conflitos. A

conciliação tem sido um destes meios por propiciar economia processual, celeridade

e principalmente porque quando as partes participam do processo de construção da

decisão mostram-se mais propensas a respeitá-la e cumpri-la. Elas identificam na

conciliação uma solução justa e adequada para suas pretensões resistidas.

Não se pode olvidar, entretanto, que os envolvidos precisam estar amparados

por seus procuradores, que deverão estar devidamente habilitados, pois a decisão

acatada dará fim ao conflito com resolução de mérito, sendo homologada

judicialmente. Com isso, o acordo estabelecido deverá ser cumprido, não podendo

haver rediscussão do que foi livremente pactuado.

A análise do presente trabalho conduz à conclusão de que, para a aplicação

do instituto da conciliação, faz-se necessário que o conciliador tenha um perfil

adequado para desempenhar a atividade conciliatória. O conciliador, portanto, deve

aprimorar e desenvolver habilidades fundamentais para essa tarefa. Quanto à

questão da dupla função do juiz, de conciliar e julgar, nada o impede de exercer

ambas as atividades.

Os fatores negativos não podem ser empecilho para que se invista na

conciliação, pois esta conduz a uma prestação jurisdicional mais eficaz.

Conclui-se, enfim, que a conciliação, como meio alternativo de solução de

conflitos, é válida, desde que observada sua adequada aplicação, pois viabiliza e

agiliza o andamento processual, finaliza o conflito com resolução de mérito evitando

descumprimentos, bem como futuras discussões dos acordos livremente ajustados,

minimizando a atual ineficácia dos serviços judiciários.

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