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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E GOVERNANÇA PÚBLICA SIMONE FERREIRA NAVES ANGELIN Seminário de casos de boas práticas na gestão pública A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL NAS CIDADES LITORÂNEAS DO PARANÁ Curitiba 2013

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

PLANEJAMENTO E GOVERNANÇA PÚBLICA SIMONE FERREIRA NAVES ANGELIN

Seminário de casos de boas práticas na gestão pública A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL NAS CIDADES LITORÂNEAS DO

PARANÁ

Curitiba 2013

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

PLANEJAMENTO E GOVERNANÇA PÚBLICA SIMONE FERREIRA NAVES ANGELIN

Seminário de casos de boas práticas na gestão pública A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL NAS CIDADES LITORÂNEAS DO

PARANÁ

Relatório Técnico sobre Seminário apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em 24 de outubro de 2013, às 17:30 horas, na sala A302, como cumprimento da disciplina de Tópicos Especiais Aplicados ao Setor Público – Seminários de Casos de Boas Práticas Gestão Pública. Orientador: Profa. Dr. Maria Lucia Figueiredo Gomes de Meza.

Curitiba 2013

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 03

2METODOLOGIA DO EVENTO ...................................................................... 04

3ORGANIZAÇAO ESPACIAL NAS CIDADES LITORÂNIAS DO PARANÁ .. 05

ANEXO 1 –FOLDER DE DIVULGAÇÃO DO EVENTO ................................... 18

ANEXO 2 – LISTA DE PRESENÇA ................................................................ 19

ANEXO 3 – FOTOS DO EVENTO ................................................................... 20

ANEXO 4 – SLIDES DA APRESENTAÇÃO .................................................... 25

3

1 INTRODUÇÃO

O seminário de boas práticas, dentro do contexto da governança

pública, é muito importante, devido a sua importância na troca de

experiências entre os profissionais que atuam na área pública. Cada debate,

proporcionado por cada seminário, tem possibilitado o levantamento de

discussões acerca da atuação no serviço público. Com os seminários está

sendo possível, também, um maior aprimoramento das ações do servidor

público ao conhecer as experiências que estão sendo implementadas no

âmbito da Administração Pública.

A presente palestra, intitulada “Organização espacial nas cidades

Litorâneas do Paraná”, proferida pelo Prof. Ricardo Rodrigues Monteiro, foi

pensada visando conhecer a problemática acerca do Planejamento Urbano e

Regional, onde hoje se tenta encontrar alternativas que possam melhorar a

organização espacial do território brasileiro. O enfoque desta palestra foi no

Litoral do Paraná, região conhecida por suas belezas naturais e, também,

pelos seus altos índices de desigualdades sociais.

A importância de se trazer o professor Ricardo, está no fato dele

possuir vasta experiência em Planejamento Urbano e Regional. Experiência

esta não adquirida apenas em sala-de-aula, mas, também, experiência

técnica, adquirida em anos de atuações, junto aos órgãos de Planejamento

Urbano e Regional municipais. Hoje, o professor Ricardo é um dos membros

do COLIT (Conselho de Desenvolvimento Territorial do Litoral Paranaense),

órgão normativo de deliberaçãoresponsável por coordenar e controlar ações

de uso e ocupação do solo no Litoral do Paraná.

Dessa forma, através da palestra foi possível realizar reflexões

acerca de como está sendo a intervenção do Estado na organização espacial

da produção? Pensar um pouco esta questão, que muitas vezes não temos o

completo conhecimento de como o Estado organiza o espaço, suas reais

intenções, se faz necessário, principalmente, porque quer cedo ou tarde a

organização espacial será/é afetado pelas decisões do Estado. Além da

discussão sobre organização espacial, com a palestra foi possível realizar

uma análise mais aprofundada acerca da ideologia e mitos em torno do

planejamento urbano. Comumente, se afirma que o problema das cidades é a

4

falta de planejamento; a partir desta palestra, outras possibilidades foram

vislumbradas.

Para poder discorrer com profundida a temática pretendida, o prof.

Ricardo Monteiro se utilizou de um arcabouço teórico-metodológico que

abarca as questões macros, envolvendo a sociedade brasileira, perpassando

ao foco final que era o Litoral do Paraná. Está contextualização foi

fundamental para o completo entendimento das questões que seriam

levantadas no decorrer da palestra.

2 METODOLOGIA DO EVENTO

O seminário ocorreu no dia 24 de outubro de 2013, às 17:30

horas,na sala A302 da UTFPR, Curitiba/Paraná. Para a efetivação do evento

inicialmente foi conversado com a orientadora professora doutora Maria Lucia

Figueiredo Gomes de Meza a respeito do convite que seria realizado ao

palestrante e sobre a temática que seria discutida na palestra.A partir do

aceite da professora orientadora, foi contatado o professor Ricardo Rodrigues

Monteiro para formalização do convite. Tendo o professor acordado em

realizar a palestra, foi verificada em sua agenda a data que poderia realizá-la.

A partir da definição da data, foi enviado ao professor doutor Sérgio Tadeu

Gonçalvez Muniz a data da realização do evento, bem como a síntese da

palestra, além das as informações a respeito da carreira profissional do

palestrante. Posteriormente, foi confeccionado o folder/convite da palestra

para veiculação. Inicialmente os folders foram enviados aos professores do

programa, assim como aos alunos do programa de mestrado. Para melhor

elucidação, segue currículo simplificado do professor Ricardo Rodrigues

Monteiro:

Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de

Pelotas (2001);

Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa

Catarina (2006);

5

Professor Assistente II da Universidade Federal do Paraná / Setor

Litoral, nos cursos: Gestão e Empreendedorismo e Gestão Imobiliária.

Trabalhou na Pref. de Chapecó-SC de 2002 a 2009, onde coordenou o

Plano Diretor (2004) e projetou loteamentos e moradias de interesse

social e equipamentos públicos comunitários (escola, un. de saúde,

mercado público regional, abrigo para mulheres vítimas de violência,

pavilhão de exposições).

Membro do COLIT (Conselho de Desen. Territorial do Litoral

Paranaense).

Tem experiência nas áreas de Planejamento Urbano, Sistemas de

Informações Geográficas, Projetos de Habitação e loteamentos de

Interesse Social.

Desenvolve projeto de pesquisa em planejamento urbano e regional,

para implementação de SIG no mun. de Morretes.

Atualmente coordena ações da UFPR Litoral e prefeituras na

implantação de SIG para a gestão municipal de Matinhos e Morretes.

O evento iniciou às 17:40h, do dia 24 de outubro de 2013. A

abertura do seminário foi realizada pela discente Simone Ferreira Naves

Angelin, que fez uma breve apresentação do palestrante aos convidados

presentes, discorrendo sobre sua principal atuação profissional, assim como

a síntese da palestra. Foi agradecido o aceite do convite pelo palestrante e

pela presença dos colegas; em seguida foi passada a palavra ao professor

Ricardo Monteiro, que deu início a palestra. A palestra ocorreu de forma

participativa: as questões foram levantadas tanto no decorrer da palestra,

como também ao seu final. Após a finalização do evento por volta das 19:20h

deu se inicio a um coquetel de confraternização entre os presentes. O evento

teve seu encerramento às 20:00h.

3 ORGANIZAÇAO ESPACIAL NAS CIDADES LITORÂNIAS DO PARANÁ

O Prof. Ricardo Rodrigues Monteiro começou sua palestra

salientando que seriam mostrados muitos mapas que fazem parte de um

6

sistema de informações geográficas (SIG), sendo este sistema uma das

principais ferramentas que ele utiliza em seu trabalho para o mapeamento

dos dados levantados nos municípios do Litoral Paranaense.

Um dos primeiros mapas (anexo 4) mostrado traz a diferenciação

natural, onde se imagina o Litoral do Paraná sem as infraestruturas, sem

antropização, onde se têm apenas os elementos naturais, com destaque para

as curvas de níveis nas áreas mais altas, os topos dos morros. É possível

notar neste mapa o complexo para o Marumbi, a Serra da Prata, o Morro

Inglês, com seuselementos naturais: os manguezais, a baía Oceânica. É

possível notar também as linhas nas rochas, que se estendem até uma

determinada altura, formando os cordões litorâneos, que é o registro da

diferenciação natural em função do Período, considerado ótimo climático que

aconteceu há aproximadamente 6 mil anos, onde o nível do mar avançou e

veio até estes cordões litorâneos.

Foi mostrado no mapa a área urbana de Paranaguá onde algumas

partesse encontravam submersas, onde formavam algumas lagoas. À

medidaque o mar ia se recuando, ele deixava na sua passagem os cordões

litorâneos, conhecidos como dunas. Boa parte deles foi utilizado para a

urbanização das cidades litorâneas do Paraná.

Para se entender um pouco de boa parte dos problemas que

afligem as cidades e as sociedades, tem que entender um pouco como se

encontra a organização espacial, entender que muitos elementos existem

antes da antropizaçao, da ocupação humana.

Em outro mapa, georeferenciado pelo professor, foi mostrado as

primeiras diferenciações do espaço/ambiente pela ocupação humana, estas

primeiras ocupações deixaram como registro os sambaquis. Eles ficavam

localizados nas áreas próximas aos lagos, onde se deu o cultivo dos

moluscos, matéria-prima necessária para a formação dos sambaquis

(amontoado de conchas). Dessa forma, os sambaquis são resultante da

atividade humana, principalmente no depósito de conchas de diversas

espécies de moluscos. Os sambaquis foram utilizados, nos tempos mais

modernos, para a construção das estradas no Litoral do Paraná e as dunas

serviram como base da urbanização, no sentido físico.

7

O professor Ricardo também explicou acerca do tratado de

Tordesilhas, que é muito importante para entender a questão da organização

espacial. O tratado foi assinado em 1494 e foi celebrado pelo Reino de

Portugal com o recém-formado Reino da Espanha, para dividir as terras

descobertas e por descobrir. Outro documento, trazido pelo professor, mostra

como o “mundo” deve ser dividido. Organiza espacialmente a produção,

defini uma linha e dividi os territórios da forma como deve-se explorar a

produção. No Brasil, um pouco depois surge outra organização espacial da

produção, que é a divisão do país em15 capitanias hereditárias: o desenho

dela é todo voltado para o litoral, pois a função é justamente escoar a

produção, sugar a produção, conduzir a produção e esta produção era

conduzida para outros locais. Dessa forma, as capitanias hereditárias foram

implantadas no início da exploração. A organização espacial da produção era

toda voltada para o atlântico. As navegações entram num sistema de

triangulação comercial da Europa que tinha armas, cujaseram trocadas por

escravos na África. A partir daí, os escravos vinham para as Américas e aqui

eles eram trocados por recursos naturais. O Brasil entra suprindo os recursos

naturais, para outras partes do planeta. Neste sentido, se percebe que não

mudou nada até hoje. Ainda hoje ele entra na divisão internacional do

trabalho e do consumo como principal fornecedor de recursos naturais.

Referente a questão da reprodução social, o professor utiliza uma

abordagem de ordem sociológica, para poder entender um pouco da

organização espacial as sociedade. A sociedade brasileira é analisada como

uma sociedade de elite, que é distinta da sociedade burguesa. Alguns

autores caracterizam o Brasil como ainda num estágio de desenvolvimento

capitalista extensivo, que ainda não conseguiu passar pelo estágio intensivo,

estágio este já alcançado por outras nações mais avançadas no

desenvolvimento industrial.

Estas abordagens se fazem necessárias para poder entender a

sociedade brasileira como uma sociedade de elite, entender o espaço ou a

organização espacial como resultado da organização espacial definida por

esta elite, onde a ideologia surge como elemento extremamente importante

para se entender a reprodução social. A sociedade brasileira deve ser

entendidanum contexto da sociedade de elite, que se utiliza da ideologia para

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construir narrativas de mundos, para construir interpretações que sejam

adequadas de interesse deste grupo social que controla. Nesse sentido, o

professor fez toda uma abordagem metodológica teórica antes para poder

entender a organização espacial das cidades.

Dessa forma, o professor Ricardo levantou algumas questões de

provocações referente a ideologia do planejamento urbano. Dentre elas,

levantou a discussão acerca do mito do crescimento desordenado.

Comumente as pessoas dizem que o problema da cidade hoje é o

crescimento desordenado. Segundo o professor, esta é uma falácia, uma

incoerência com a realidade. O crescimento das cidades brasileiras não é

desordenado. Obedece a uma ordem, que é a mesma ordem que organiza

espacialmente o espaço nacional. Então, o Tratado de Tordesilhas, as

Capitanias Hereditárias e a ordem das cidades são decorrentes da mesma

organização de forças. Existe uma ordem: as Capitanias Hereditárias não

foram feitas ao acaso, a estrutura social das cidades brasileiras não foram

feitas ao acaso.

Dizer que ele é desordenado é furtar a fazer interpretação do

espaço como ele é organizado. Dessa forma, se o espaço se encontra

desordenado, basta organiza-lo para que todos os problemas fossem

resolvidos. Portanto, a afirmativa de que há falta de planejamento urbano é

uma falácia, porque na verdade não falta planejamento. Assim como, fugir do

aluguel, o sonho da casa própria e o programa minha casa minha vida vão

entrar com um componente ideológico extremamente forte. Se observar hoje

as políticas federais de habitação, boa parte delas oferece, aponta e anuncia

coisas que não estão sendo feitas. Um exemplo éo minha casa minha vida:

quando tem uma divida embutida de 35 anos, ela pode vir a ser uma casa,

ela poderá vir ser uma casa sua depois dos 35 anos, se você quitar todas as

parcelas e cumprir com todas as suas obrigações. Parte das pessoas

entendeisso como sendo a casa.

Outra questão: se o programa atende, com todas as deficiências,

por volta de 6 % da população, para todasas outras o preço dos imóveis, do

material e da mão de obra serão aumentos. Houve uma explosão imobiliária,

uma valorização por volta de 250 %do valor do imóvel. Mas está tudo isso no

pacote, onde inclui-se, por exemplo, a revitalização urbana, os edifícios

9

verdes, cidades inteligentes. Todas estas questões vão entrar neste pacote

de ideologia, onde se oferece coisas que não são aquelas que estão sendo

anunciadas, possuem outras ideias por trás.

Outra questão abordada refere-se aos tratos e traçados, para

mostrar um pouco a organização do espaço, pois a organização do espaço

pode se dar através de questões politicas e ambientais.

No que diz respeito as questões ambientais, 83% de todo o

território do Litoral são gravados como unidades de conservação e, dessa

forma, os traçados serão enormemente afetados em decorrências desta

quantidade de APAs (Área de Proteção Ambiental).

Com relação as decisões políticas, elas também tm grande

influência na decisão de um traçado. Uma decisão política vai influenciar na

valorização, pode ser uma valorização positiva ou negativa. A valorização de

um imóvel ocorre pela valorização do trabalho. Com relação ao entendimento

do conceito de valorização, parte das pessoas tem dificuldade de entender

que a valorização se dá por conta do trabalho, do trabalho social; as pessoas

acham que a valorização se dá por conta dos investimentos. A localização é

algo que não existe. A localização se dá também pelas relações sociais,

assim como o valor. O que existe é o local, fisicamente, mas a localização é

um componente que depende das relações sociais.

No caso da sociedade de elite brasileira, da intervenção do

Estado, da organização espacial, percebe-se pela história, pela realidade,

pelas estatísticas que a intervenção do Estado muitas vezes não procura

resolver os problemas sociais e coletivos, mas direcionar esta valorização

para algumas corporações, alguns grupos, para alguns interesses

particulares. Esta é uma questão que acontece, que permeia as cidades

brasileiras e o espaço brasileiro como um todo.

Abordado estas questões, o professor Ricardo começou a mostrar

seu trabalho, como ele pesquisa e investiga a organização espacial das

cidades balneárias. Seus trabalhos são realizados por meio da estruturação

do Sistema de Informações Geográfica, onde são inseridos os dados; a partir

dali uma série de elementos começa a ser organizado. Por exemplo, em

Matinhos são inseridos elementos como as unidades de conservação, as

escolas, a população moradora, por setor censitário e, também, a variação da

10

população moradora por setor censitário. Os dados do Censo são

apresentados de forma georeferenciados.

Analisando a situação de Matinhos no que diz respeito a

pavimentação, os setores de Caiobá têm mais de 80% de pavimentação,

próximo de 95%. Se analisar a região do Tabuleiro, a pavimentação está em

torno de 34%, Sertãozinho e Vila Progresso em torno de 20%. Sobre a

porcentagem de calçada também, Caiobá tem mais de 77% de calçada,

Tabuleiro e Sertãozinho não chega a 20% e são nestes locais que se

concentram 70% da população moradora de Matinhos.

Sobre o local dos equipamentos públicos, tem uma abordagem

interessante com relação as academias da terceira idade: 3 academias que

foram implantadas em 2010: uma na Praia Mansa, uma na Praia Brava e

outra no Centro. Elas passaram pela análise do circulo de proximidade. Onde

o círculo de proximidade mostra o local do equipamento em relação a

população moradora, para verificar os tempos de deslocamento e de

atendimento. Foi obtido como resultado que a primeira academia tem a maior

parte do círculo de proximidade no Oceano Atlântico e no Parque Saint

Hilaire-Lange. Uma parte muito pequena está numa área urbana onde não

tem mais que 20, 30 moradores. A da Praia Brava, metade dela fica no

círculo de proximidade do Atlântico, a própria UFPR Litoral, metade do círculo

de proximidade dela está no Oceano Atlântico. Estes dados mostram como

uma coisa tão importante, como o local do equipamento público é tratado

com tanto descuido. O local do equipamento social é tão importante a ponto

de privar pessoas do acesso por conta do local.

Algumas questões podem ser feitas para tentar melhorar o local

destes equipamentos e atender melhor a população. A maioria da população

está fora do circulo de proximidade. Este trabalho que mostra que estas

academias atendiam 30% da população idosa moradora de Matinhos,

questiona que se fosse mudado o local, poderia mudar o atendimento para

85% da população moradora, um aumento de quase 200%. Isso é

planejamento, é importante dizer que este local foi planejado e foi muito bem

ordenado e não é fruto do acaso. Este local atende a população do veraneio.

Ele atende muito bem a população do veraneio. Então, o que é trazido atona

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é a questão: da primazia, o que está se realmente atendendo em primazia

como organização espacial. Porque ela atende com primazia alguma coisa.

Outro dado importante levantado, diz respeito à microbacia de

Caiobá, onde esta microbacia foi vetorizada. A partir das curvas de níveis e

dos canais é formado um canal de chuva no limite desta microbacia, que vai

para a prainha e para o canal que hoje passa no mercado de peixes de

Matinhos.Dessa forma, a conexão das águas que caem da chuva passa

necessariamente por esta barreira de canais. A avenida Juscelino Kubistchek

acaba por receber e transferir o excedente das águas. Só existe um ponto de

transferência do excedente das águas, que é um bueiro que se encontra com

sua metade assoreada. Isso significa que esta rede foi organizada, planejada

e implantada para que o excedente das águas ficasse nesta região. Como

consequência, a região do Tabuleiro alaga, inclusive o Hospital Municipal e o

Centro Cultural da UFPR. O Ipardes veiculou um dado de que quase 100%

das pessoas moradoras do Tabuleiro já tiveram problemas de alagamentos

em suas casas. A avenida JK está funcionando como um Dique. É fato que

esta obra é de outra época, foi construído há 30 anos, mas hoje tem 35% da

população morando aqui. O plano foi feito desta forma, para proteger Caiobá

e deixar o excedente para a região do Tabuleiro. O excedente da água

poderia ser distribuído.

Com relação a organização do território em Matinhos, todo o

excedente de investimento fica em Caiobá: a iluminação pública, a

pavimentação, as calçadas, as escolas, as praças, o calçadão, a saúde, a

educação, a guarda, a vigilância. Mas o excedente das águas fica do outro

lado. Então, a JK funciona como um divisor de excedentes e um divisor de

águas.

Foi realizada uma análise da proximidade das escolas, como a

posição dos equipamentos sociais podem ser melhorados no espaço urbano.

Foi mostrado uma escola que se encontra posicionada próxima a rodoviária

de Matinhos, mas a metade dela está sob o Parque Nacional Saint-

Hilaire/Lange. A pergunta que se faz é: será que não dá para melhorar isso

ai? Claro que dá para melhorar. Quando se realiza o posicionamento do

equipamento, atendência é melhorar o atendimento das pessoas, isso é

melhorar a vida das pessoas.

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O tempo, um dos principais elementos do planejamento urbano e

regional, ele está se acabando. Hoje as pessoas não tem tempo, boa parte

do tempo das pessoas é utilizado para a força de trabalho, pois, a final de

contas, tem que pagar as contas, as prestações e os financiamentos. Então,

o tempo é o elemento essencial do planejamento, quando posiciona o

equipamento social a tendência é amelhoriado atendimento da população. O

intuito do trabalho do professor Ricardo com a utilização do SIG e,

consequentemente, com os dados levantados, é ajudar os municípios, as

prefeituras a pensar estas questões com um pouco mais de carinho. E

poderem posicionar melhor os equipamentos públicos.

É muito complicada a realidade de Matinhos, onde mais de 80%

dos imóveis localizados nos bairros, nos setores censitários mais próximos

ao mar, tem a primazia da segunda ou terceira residência e, por

conseguinte,se encontram vazios.

A densidade média de habitantes por hectare é extremamente

baixa no Litoral do Paraná. Pontal do Paraná, por exemplo, tem 4,7 hab. por

hectare, isto é densidade rural. Matinhos e Guaratuba também possuem uma

densidade baixa, com 14 hab. por hectare. Isto significa que boa parte da

cidade é um deserto urbano na boa parte do tempo e são cidades

extremamenteonerosas. Não há dinheiro que chegue para resolver

infraestrutura e os serviços, equipamentos. Isso atrapalha muito o

desenvolvimento.

No caso de Pontal do Paraná, a organização espacial de

zoneamento passa a ser fruto dos interesses das atividades ligadas à

indústria. Se observa muita especulação de terra, muita gente já organizando

o plano diretor para reservar aquelas áreas próximas aos portos, aos

estaleiros para ter exploração econômica através de renda, É o que

aconteceu com Paranaguá. Estes fatos começam a aparecer no zoneamento.

O zoneamento mostra os direcionamentos, os acordos que estão sendo

feitos para favorecer estes grupos que vão explorar as terras para a atividade

empresarial e também explorar as terras para habitação.

As Unidades de Conservação existentes no Litoral do Paraná,

dificultamurbanizar, pois elas criam hiatos, espaços que não tem população,

dificulta a integração entre os bairros. Então, como a política pública pode

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interferir no desenvolvimento local? É difícil administrar uma cidade desta,

porque tem muitos vazios e, quando vão inserir os equipamentos públicos, se

colocanum determinado local que não atende o outro, devido a estes hiatos.

Além desta problemática, existe o problema das políticas públicas

desenhadaspara a cidadeserem desenhadas em função de interesses

próprios, especulativos.

No zoneamento urbano, as áreas irregulares precisam ser

reconhecidas para poder realmente resolver os conflitos. A proposta de

zoneamento de Matinhos do Plano Diretor (2006), por exemplo, não

reconhece boa parte das áreas irregulares. Nem todas estas áreas estão nas

encostas de morros, uma parte delas foi gravada como Zonas Especiais de

Interesse Social (ZEIS), além da maior parte dos morros ter sido gravada

como Zonas de Restrição Máxima e algumas áreas não foram reconhecidas.

A proposta de zoneamento de 2012 é mais interessante ainda, ela não

reconhece nenhuma. No Plano de 2006 foram identificadas 22 áreas

irregulares e apenas 6 foram reconhecidas como ZEIS. No Plano de

2012nada foi reconhecido.

O zoneamento brasileiro vem como um instrumento forte de

segregação; é através do zoneamento que faz esta separação, que são

definas as áreas onde a população de baixa renda pode morar e são

definidas as áreas onde serão recebidos os maiores investimentos: os

investimentos principalmente em infraestrutura, equipamentos sociais e a

própria legislação do uso e ocupação do solo do zoneamento.

Perguntas:

1) Estes sambaquis eram atividades de uma população não nômade?

Indica que era população fixa?

Resposta: Isso, no sambaqui a população vivia nos locais consumindo

os recursos existentes lá, tinha água e alimento em abundância.

Então, a característica da sedentaridade era de uma população não

tão nômade quanto aquela que precisava ir em busca da caça e dos

frutos.Eles ficavam em uma sede próxima a estes depósitos de

conchas. Também eram realizados rituais nestes sambaquis, vários

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corpos foram encontrados no meio destes depósitos de conchas. Eles

também modificavam à medida que o meio ia se modificando.

2) Hoje estes sambaquis existem nas áreas urbanizadas?

Resposta Então, eu vou mostrar no mapa seguinte algumas fotos.

Aqui você vai ver que os sambaquis serviram de base para a

construção das estradas, você tem esta região de concentração de

sambaquis, esta estrada que liga Paranaguá com Praia de Leste. Aqui

está Praia de Leste, aqui está Matinhos e aqui a Baia de Guaratuba.

Desta concentração aqui se deu matéria para fazer sub-base, base,

leito e subleito das estradas. Se observar, este sambaqui está na área

urbana de Matinhos, este aqui está bem próximo dos bairros, então

eles foram utilizados também como base.

3) É por isso que não dá para fazer uma estrada ligando Pontal a

Paranaguá? Desviando pela Praia de Leste?

Resposta Não dá porque tem o mangue, o manguezal vai próximo à

estrada, a estrada fica justamente onde termina o manguezal. Ai

Pontal do Sul fica numa posição bem confinada, na ponta.

4) Esta população fixa, ela vem antes ou vem depois? A infraestrutura

chegou primeiro nesta região dos veranistas e a população secundária

chegou depois?

Resposta O que acontece primeiro é um deslocamento das pessoas

em busca dos recursos naturais e do lazer, mas pra isso precisa ter

todo um suporte. Claro que tinha moradores anteriores, tinham índios,

tinham Caiçaras, tinham pescadores que desenvolviam suas

atividades e era seu modo de subsistência e este espaço da

subsistência começa a ser substituído pelo espaço do lazer. E o

espaço do lazer precisa ter um contingente de pessoas, que alguns

autores chamam de uma constituição de um exercito industrial de

reserva e são essas pessoas que vão dar o suporte para as

residências e para o espaço urbano; ao longo do ano elas vão manter

15

as propriedades, vão manter os imóveis, elas vão manter o espaço

urbano. Nos períodos sazonais de movimentos, elas vão atender todas

as demais necessidades de serviços, de limpezas, de venda, de cortar

grama. Então este contingente vem lado a lado.

5) No senso comum, à medida que as crises vão se intensificando, a

população que tem dificuldade de se colocar numa metrópole, igual a

Curitiba, muitas vezes, ela vai montar um negócio lá no litoral, para

vender para o veranista, porque no verão o dinheiro ta girando lá e o

pessoal acaba ficando, se desenvolvendo por ali, por isso que eu fiz

esta pergunta se a população fixa aumentou com o tempo?

RespostaA população aumentou bastante, para você ter uma ideia a

população que mais cresce é a de Pontal do Paraná, mas ai tem além

do veraneio, tem a questão da indústria ligada ao pré-sal. Aumentou

muito, os índices de crescimento populacional das últimas duas

décadas de Guaratuba, Matinhos e Pontal. Tem esta procura mais

pela segunda residência. Mas isto que você falou acontece, muitas

pessoas vão pra lá em busca de mais qualidade de vida, elas acabam

montado alguns negócios no verão. Mas eu ainda acho que o principal

elemento é o da atividade ligada a segunda e terceira residência

6) Mas o planejamento de uma cidade que tem uma população sazonal

que a gente houve que em determinados períodos vai receber o dobro

da sua população é muito complexo, porque ao mesmo tempo em que

tem que olhar para a população ali, tem que pensar na infraestrutura

para receber estas pessoas por um mínimo período de tempo ?

Resposta É, e é muito mais que o dobro, Matinhos tem 33.000

imóveis, população fixa em torno de 30.000. Se considerar que todos

os imóveis ficam ocupados no verão terá em torno de 120.000 a

150.000 pessoas só em Matinhos, só que a variação pode ser mais do

que 5 vezes, sem contar os hotéis, as pousadas, os campings. É uma

variação muito grande realmente.

16

7) A rede de esgoto parece não dar conta, né? Porque na temporada o

mar é impróprio para banho?

Resposta Não, não é próprio, não da conta. E agora o governo fez

uma locação de ativos, é uma forma de privatização indireta da

SANEPAR. Uma empresa vai construir e ela vai explorar a conta de

esgoto por algumas décadas. O pior é que hoje torno de 40% das

residências estão em áreas atendidas pelas redes de esgoto e não

estão ligadas, ou porque as pessoas não moram lá ou não têm

interesse. Então, uma empresa provavelmente vai cobrar destas

casas, mas não necessariamente vai estar ligada a rede de esgoto. E

não é de interesse que estas casas sejam ligadas, pois quanto maior

as casas ligadas, maior o volume de esgoto para tratar. Quem vai

controlar? Quem vai fiscalizar? Isso é e quem vai garantir que o

serviço está sendo prestado? Estas são preocupações que nós

devemos pensar.

8) Normalmente o zoneamento faz parte do plano diretor, ele é um anexo

ao plano diretor, pelo período que você coloca, a maioria destes

municípios teve problemas na elaboração dos seus planos diretores,

onde a maioria das prefeituras já tinha uma ou duas empresas que

ofereciam o plano diretor meio padrão, a partir de uma colagem.

Resposta Perfeito, isto mesmo, a Ermínia Maricato considera a

década de 2000 a 2010 como a farra dos planos diretores. O governo

liberou muito dinheiro para que os municípios fizessem seus planos

diretores. O bem da verdade é que os planos diretores atenderam

muito bem as universidades, os assessores, os consultores e as

empresas. O plano diretor entra na parte do mito, da ideologia. Falo

isso, porque já trabalhei muito com planos diretores. Ele é muito

bonito, perfumado, colorido, mas o dia a dia da prefeitura ela faz o que

quer. Se a zona não está condizente ela muda.

9) Como funciona este estudo geográfico, espacial e populacional

linkando com o desenvolvimento econômico e o zoneamento? Como

17

vocês trabalham com as prefeituras? Vocês fazem estas propostas na

construção dos espaços?

Resposta É um processo incipiente, agora nas discussões do Colit

teve várias reuniões, eu apresentei boa parte dos mapas trazidos aqui,

com o intuito de subsidiar o processo de discussão e planejamento,

mas o que existe é que, na prática, eles não têm esta cultura de utilizar

dados e informações. Dificilmente eles vão utilizar dados e

informações cartográficas, econômicas. É um processo cultural muito

difícil. Quando você começa trabalhar com dado, você tenta clamar por

um critério mais técnico e menos político. A partir daí começa ficar

muito transparente, começa ficar muito visual e quando você quer

tomar uma decisão por interesse você quer que não apareça mesmo.

Então, a cartografia ajuda para isso. Se antes a decisão era tomada

em gabinete, agora pelo menos ela fica mais aberta. É extremamente

positiva e as pessoas estão começando a utilizar estas informações.

Vai criar uma nova cultura, que vai ajudar na governança, na Gestão

Pública.

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ANEXO 1 – FOLDER DE DIVULGAÇÃO DO EVENTO

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ANEXO 2 – LISTA DE PRESENÇA

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ANEXO 3 – FOTOS DO EVENTO

Palestrante

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ANEXO 4 – SLIDES DA APRESENTAÇÃO

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