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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENSINO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS E DA NATUREZA - PPGEN ROGÉRIO NASCIMENTO BORTOLIN CONSTRUIR UM LIVRO: A PRODUÇÃO DE UM LIVRO-PORTFÓLIO COMO INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO TECNOLÓGICO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO LONDRINA 2017

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENSINO –

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS E

DA NATUREZA - PPGEN

ROGÉRIO NASCIMENTO BORTOLIN

CONSTRUIR UM LIVRO: A PRODUÇÃO DE UM LIVRO-PORTFÓLIO COMO

INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

TECNOLÓGICO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

LONDRINA

2017

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ROGÉRIO NASCIMENTO BORTOLIN

CONSTRUIR UM LIVRO: A PRODUÇÃO DE UM LIVRO-PORTFÓLIO COMO

INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

TECNOLÓGICO

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ensino, do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza (PPGEN), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Londrina. Área de Concentração: Ciências Humanas Orientador: Prof. Dr. Evandro de Melo Catelão

LONDRINA

2017

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TERMO DE LICENCIAMENTO

Esta Dissertação está licenciada sob uma Licença Creative Commons atribuição uso não-

comercial/compartilhamento sob a mesma licença 4.0 Brasil. Para ver uma cópia desta licença,

visite o endereço http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/ ou envie uma carta para

Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, Califórnia 94105, USA.

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Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza – PPGEN.

Mestrado Profissional UTFPR Câmpus Londrina

TERMO DE APROVAÇÃO

CONSTRUIR UM LIVRO: A PRODUÇÃO DE UM LIVRO PORTIFÓLIO

COMO INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO E DESENVOLVIENTO DO

PENSAMENTO TECNOLÓGICO

por

ROGÉRIO NASCIMENTO BORTOLIN

Dissertação de Mestrado apresentada no dia 1º de dezembro de 2017 como requisito parcial

para a obtenção do título de MESTRE EM ENSINO DE CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS E DA

NATUREZA pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da

Natureza – PPGEN, Câmpus Londrina, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O

mestrando foi arguido pelos membros presencias da Banca Examinadora composta pelo Prof.

Dr. Evandro de Melo Catelão e a Profa. Dra. Nívea Rohling abaixo assinados. Após

deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho APROVADO. (Aprovado ou

Reprovado). O Prof. Dr. Evandro de Melo Catelão, presidente da Banca, assinou o termo de

aprovação pelo Prof. Dr. Franklin Oliveira Silva, membro a distância.

________________________________ _______________________________

Prof. Dr. Evandro de Melo Catelão (UTFPR) Profa. Dra. Nivea Rohling (UTFPR) Orientador Membro Titular

________________________________ _______________________________ Prof. Dr. Franklin Oliveira da Silva (UESPI) Prof. Dr. Givan José Ferreira dos Santos Membro Titular Coordenador do Programa de Pós-

Graduação em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza – PPGEN. Mestrado Profissional UTFPR Câmpus Londrina

A FOLHA DE APROVAÇÃO ASSINADA ENCONTRA-SE ARQUIVADA NA SECRETARIA DO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS HUMANAS, SOCIAIS E DA

NATUREZA – PPGEN.

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Dedico este trabalho de pesquisa e dissertação de

Mestrado a Deus, por ter me dado força, disposição, vigor

e até mesmo livramento para que eu pudesse concluir tal

empreitada, a meus pais e familiares pelo suporte, meu

orientador por acreditar neste projeto, meus alunos por

embarcarem nesta jornada comigo e a direção do Colégio

Monteiro Lobato por me abrir as portas e acreditar no meu

trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus por ter cuidado de mim em cada momento dessa

longa jornada, por ter me fortalecido, dado vigor e até mesmo livramento para que

eu pudesse concluir este projeto.

Aos meus pais, familiares e amigos por todo o suporte, carinho e paciência que

tiveram comigo durante todo esse percurso.

Agradeço a diretora do Colégio Monteiro Lobato, Lina Maria Graça Borges, por ter

me entregue a palavra de que “não seria pesado”, se eu colocasse Deus na frente

dessa empreitada, e por ter aberto as portas de sua instituição, acreditando sempre

no meu potencial e no meu trabalho.

Ao meu orientador. Evandro de Melo Catelão por ter confiado em mim, acreditado no

meu projeto e me guiado até aqui com sabedoria, paciência e muita disposição,

estando sempre pronto para me estender a mão em todos os momentos de dúvidas

e dificuldades.

Aos meus alunos por embarcarem comigo nesta ideia de construir um livro e terem

participado de cada etapa com entusiasmo, alegria e disposição, fazendo da sala de

aula um grande laboratório de riquíssimas experiências.

Às minhas companheiras de UTFPR, Alessandra, Rejane, Simone e Zenaide por

termos percorrido juntos este trajeto que nem sempre foi fácil. Cresci muito

convivendo com vocês todas e sou muito grato pela amizade que construímos.

Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, me ajudaram a chegar até aqui,

fechando assim mais um ciclo em minha vida acadêmica.

Meu sincero muito obrigado!

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O texto é uma forma de conhecimento, fonte de prazer, maneira de observar e

usufruir a infinidade de usos e frutos implicados na língua, na literatura, na vida, na

linguagem em constante movimento.

Beth Brait

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BORTOLIN, Rogério Nascimento. Construir um livro: a produção de um livro-

portfólio como instrumento de humanização e desenvolvimento do pensamento

tecnológico. 2017. 145 fls. Dissertação – Programa de Mestrado Profissional em

Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza. Universidade Tecnológica

Federal do Paraná, Londrina, 2017.

RESUMO

Como inserir as tecnologias em sala de aula de maneira eficiente em uma prática significativa? Norteado por tal inquietação, o presente estudo foi elaborado e transformado em produto educacional nos limites de proposta didática e desenvolvido em uma turma de 2ª série do Ensino Médio sob a prática de construção de um livro-portfólio (contendo 12 gêneros do discurso) como um instrumento de humanização e desenvolvimento do pensamento tecnológico, uma vez que, a obsolescência das máquinas é um fator que muitas vezes atrapalha ou impede o aprimoramento tecnológico em contexto escolar. Com o objetivo maior de se desenvolver o produto educacional, o estudo também aponta reflexões sobre o desenvolvimento do pensamento tecnológico (criativo) e o avançar rumo à humanização dos alunos por meio de práticas de produção de gêneros discursivos; também analisa a ressignificação e os novos contornos em seus planos pré-formatados (ADAM, 2011; 2017), a hibridez (MARCUSCHI, 2005) e a reacentuação (SILVEIRA, ROHLING e RODRIGUES, 2012) que alguns dos gêneros produzidos apresentaram, devido à interpretação criativa e inovadora de seu comando disparador feita pelos alunos. Sob os postulados de Bakhtin (1997), Bronckart (2006), Adam (2011; 2017), Marcuschi (2005; 2008), Rojo (2012; 2015), Freire (1969), Machado (2008) Kenski (2012) e Silveira, Rohling e Rodrigues (2012), o projeto desenvolvido apresentou resultados satisfatórios e além dos previstos com relação ao escopo ao qual se propunha.

Palavras-chave: Livro-portfólio; Gêneros discursivos; Desenvolvimento do

pensamento tecnológico; Humanização.

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BORTOLIN, Rogério Nascimento. Constructing a book: the production of portfólio-

book as an instrument of humanization and development of technological thinking.

2017. 145 fls. Dissertação – Programa de Mestrado Profissional em Ensino de

Ciências Humanas, Sociais e da Natureza. Universidade Tecnológica Federal do

Paraná, Londrina, 2017.

ABSTRACT

How to effectively introduce in the classroom technologies into a meaningful practice? Based on this concern, this study was elaborated and transformed into an educational product within the limits of a didactic proposal and developed in a 2nd grade high school class under the practice of building a portfolio book (containing 12 genres of discourse) as an instrument of humanization and development of technological thinking, since the obsolescence of machines is a factor that often hinders or impedes the technological improvement in a school context. With the greater objective of developing the educational product, the study also points out reflections on the development of technological (creative) thinking and the advancement towards the humanization of the students through practices of discourse genres production; It also analyzes the re-signification and new contours in its preformatted planes (ADAM, 2011; 2017), the hybridization (MARCUSCHI, 2005) and the revival (SILVEIRA, ROHLING e RODRIGUES, 2012) that some of the produced genres presented, due to the creative and innovative interpretation of their command made by the students. Under the postulates of Bakhtin (1997), Bronckart (2006), Adam (2011, 2017), Marcuschi (2005, 2008), Rojo (2012, 2015), Freire (1969), Machado (2008) Kenski (2012) and Silveira, Rohling e Rodrigues (2012), the project developed presented satisfactory results and beyond those predicted in relation to the scope to which it was proposed.

Keywords: Book-portfolio; Discursive genres; Development of technological thinking;

Humanization.

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LISTA DE DIAGRAMA

Diagrama 1. Adaptado de DECS & UniSa. 2006. In ROJO, 2012, p. 29 .................. 47

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LISTA DE ESQUEMAS

Esquema 1. Catelão & Cavalcante, sd - esquema de análise - Adam (2017, p.38) .. 28

Esquema 2. Adam (2011), p. 43............................................................................... 32

Esquema 3. Adam (2011), p. 229............................................................................. 36

Esquema 4. Adam (2011), p. 234............................................................................. 37

Esquema 5. Adam (2011), p. 234............................................................................. 38

Esquema 6. Adam (2011), p. 250............................................................................. 39

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Modelo de capa confeccionada por uma aluna ......................................... 92 Figura 2. Modelo de ficha catalográfica produzida por um aluno .............................. 93

Figura 3. Modelo de prólogo produzido por uma aluna ............................................ 95

Figura 4. Modelo de autorretrato produzido por um aluno ........................................ 97

Figura 5. Modelo de poema autorretrato produzido por uma aluna .......................... 99

Figura 6. Modelo de canção escolhida por uma aluna. .......................................... 101

Figura 7. Modelo de carta produzida por uma aluna. ............................................. 104

Figura 8. Modelo de relato autobiográfico produzido por um aluno. ....................... 106

Figura 9. Modelo de relato de viagem produzido por um aluno. ............................. 108

Figura 10. Modelo de notícia produzida por um aluno ............................................ 110

Figura 11. Modelo de adágio escolhido por uma aluna .......................................... 113

Figura 12. Modelo de enigma produzido por uma aluna ......................................... 115

Figura 13. Carta para o futuro produzida por uma aluna ....................................... 127

Figura 14. Relato autobiográfico produzido por um aluno ..................................... 129

Figura 15. Carta para o herói produzida por uma aluna ......................................... 132

Figura 16. Enigma produzido por uma aluna ......................................................... 133

Figura 17. Poema autorretrato produzido por um aluno ......................................... 134

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Formas de composição do gênero carta pessoal, baseado em Köche,

2012 ......................................................................................................................... 65

Quadro 2. Cronograma de aplicação do projeto ....................................................... 75

Quadro 3. Acompanhamento das produções ........................................................... 77

Quadro 4. Critérios de correção das produções textuais. ......................................... 79

Quadro 5. Capa do livro: elementos do gênero e especificidades. ........................... 91

Quadro 6. Ficha catalográfica: elementos do gênero e especificidades. .................. 93

Quadro 7. Prólogo: elementos do gênero e especificidades..................................... 94

Quadro 8. Autorretrato: elementos do gênero e especificidades .............................. 96

Quadro 9. Poema: elementos do gênero e especificidades...................................... 98

Quadro 10. Canção: elementos do gênero e especificidades................................. 100

Quadro 11. Carta pessoal: elementos do gênero e especificidades ....................... 102

Quadro 12. Relato autobiográfico: elementos do gênero e especificidades ........... 105

Quadro 13. Relato de viagem: elementos do gênero e especificidades ................. 107

Quadro 14. Notícia: elementos do gênero e especificidades .................................. 109

Quadro 15. Adágio: elementos do gênero e especificidades .................................. 112

Quadro 16. Enigma: elementos do gênero e especificidades ................................. 114

Quadro 17. Oficina de produção de cartas ............................................................. 117

Quadro 18. Oficina: Diferentes formas de narrar .................................................... 118

Quadro 19. Oficina: Nada além de mim: retratando minha identidade. .................. 119

Quadro 20. Oficina de construção e edição .......................................................... 120

Quadro 21. Acompanhamento das produções ....................................................... 120

Quadro 22. Critérios para correção e avaliação das produções textuais ................ 122

Quadro 23. Plano pré-formatado do gênero carta pessoal ..................................... 128

Quadro 24. Plano pré-formatado do gênero relato autobiográfico .......................... 130

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INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 16

1 SOBRE GÊNEROS E TEXTO ............................................................................. 21

1.1 Gêneros discursivos, elementos constitutivos e práticas sociais de

linguagementremeios do ensino e aprendizagem ................................................... 24

1.1.1 Os elementos constitutivos dos gêneros: base para uma proposta de produção

na esfera escolar .................................................................................................... 26

1.1.2 Os elementos constitutivos dos gêneros do discurso na visão de Adam ........ 27

1.1.3 Suporte: a materialização dos gêneros discursivos ........................................ 40

2 TRABALHO COM OS GÊNEROS E O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

TECNOLÓGICO ..................................................................................................... 43

2.1 Multiletramentos e o desenvolvimento do pensamento tecnológico na sala de

aula: uma perspectiva para a escola contemporânea ............................................. 45

2.2 O avançar dos alunos rumo à humanização ..................................................... 49

2.3 A interdisciplinaridade a serviço de um conhecimento holístico ........................ 51

3 METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ................................. 54

3.1 Da inspiração do projeto à concretização da temática do livro-portfólio ............ 56

3.2 Escolha e delimitações dos gêneros ................................................................. 57

a) Capa de livro (tema, composição e estilo) .......................................................... 58

b) Ficha catalográfica .............................................................................................. 59

c) Prólogo ............................................................................................................... 60

d) Autorretrato ......................................................................................................... 61

e) Poema ................................................................................................................ 62

f) Canção ................................................................................................................ 63

g) Carta pessoal ...................................................................................................... 64

h) Relato autobiográfico .......................................................................................... 66

i) Relato de viagem ................................................................................................. 68

j) Notícia .................................................................................................................. 69

k) Adágio (ditado, frase, máxima, mote, provérbio, sentença) ................................. 70

l) Enigma ................................................................................................................. 71

3.2.1 (Re)Contexto de produção e recepção: contornos para fins didáticos ............ 73

3.3 Estágio de docência e cronograma de aplicação do projeto .............................. 73

4 PRODUTO EDUCACIONAL: CONSTRUIR UM LIVRO: A PRODUÇÃO DE UM

LIVRO-PORTFÓLIO COMO INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO TECNOLÓGICO ................................. 80

SUMÁRIO

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4.1 Desenvolver a criatividade é preciso ................................................................. 87

4.2 Humanizar também é preciso ............................................................................ 88

4.3 Com que gênero eu vou? ................................................................................. 89

4.3.1 (Re)Contextos e situacionalidade: imagine que... ........................................... 90

a) Capa de livro (tema, composição e estilo) .......................................................... 91

b) Ficha catalográfica .............................................................................................. 93

c) Prólogo ............................................................................................................... 94

d) Autorretrato ......................................................................................................... 96

e) Poema ................................................................................................................ 98

f) Canção .............................................................................................................. 100

g) Carta pessoal .................................................................................................... 102

h) Relato autobiográfico ........................................................................................ 105

i) Relato de viagem ............................................................................................... 107

j) Notícia ................................................................................................................ 109

k) Adágio (ditado, frase, máxima, mote, provérbio, sentença) ............................... 111

l) Enigma ............................................................................................................... 114

4.4 A estruturação do projeto e seu desenvolvimento ........................................... 116

a) Oficina de Produção de Cartas ......................................................................... 116

b) Diferentes Formas de Narrar ............................................................................. 117

c) Nada além de mim: construindo minha identidade ............................................ 118

d) Construção e Edição ......................................................................................... 120

5 APLICAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL: RESULTADOS OBTIDOS E

DESAFIOS ENCONTRADOS ............................................................................... 123

5.1 O desenvolvimento do produto educacional: reflexões sobre o trabalho com

gêneros e o desenvolvimento do pensamento tecnológico em sala de aula ......... 123

5.2 A ressignificação e a reacentuação de alguns gêneros: especificidades temáticas

e pré-formatação ................................................................................................... 125

5.3 A interpretação do comando disparador: produções singulares e o avanço rumo

à humanização ....................................................................................................... 131

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 137

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 140

ANEXOS ............................................................................................................... 143

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INTRODUÇÃO

As noções de língua, linguagem, texto e gêneros discursivos são inquietantes

no universo das ciências de linguagem. Muitos estudiosos da área se debruçaram

no estudo desses conceitos, baseando-se naqueles que os antecederam e

oferecendo novos olhares e/ou perspectivas de análise; outros contrapondo e/ou

rediscutindo ideias concebidas. Todos discutem, todavia, em determinado momento

o mesmo tema: a expressão humana por meio das ações de linguagem.

Para as mais variadas funções corriqueiras do cotidiano, enviar uma

mensagem de texto via meio digital, preencher uma nota fiscal ou preparar uma lista

de compras, até funções que exijam um traquejo acurado e manejo fino da

linguagem, como redigir um documento administrativo ou uma dissertação de

mestrado, são usados tipos pré-formatado ou não (ADAM, 2017) de enunciados. Ao

buscar emocionar ou gerar reflexão, utilizam-se textos como poemas, romances,

peças de teatro, por exemplo; ou seja, os gêneros discursivos permeiam a vida em

sociedade e a interação humana: são as engrenagens do ato comunicativo.

Em sentido próximo, no ambiente escolar e atual contexto, os gêneros são

considerados as bases para o processo de ensino e aprendizagem de Língua

Portuguesa, norteando práticas tendo em vista os aspectos linguísticos e de

interação humana. Esse tipo de abordagem acontece em detrimento a outras que

visam apenas à instrumentalização gramatical do alunado. Porém, ainda muito se

discute nesse meio e sobre essa concepção que já sofre críticas (FIORIN, 2016) no

sentido das tentativas de alguns materiais buscarem por normatização e prescrições

dos gêneros.

Variadas são, contudo, as abordagens desenvolvidas por professores e

encontradas em materiais didáticos que propõem o trabalho com os gêneros

discursivos em sala de aula. Estas vão desde produções a análises de textos sob

determinadas perspectivas e teorias. Inspirado nessas práticas, este estudo foi

pensado, observando que para o desenvolvimento da pesquisa, fundamentos sobre

a produção de gêneros discursivos se fizeram essenciais, mas com intenções e

tratamentos específicos: a ressignificação dos gêneros (MARCUSCHI, 2005;

SILVEIRA, ROHLING e RODRIGUES, 2012), o desenvolvimento do pensamento

tecnológico/criativo (MACHADO, 2008 e KENSKI, 2012) em sala de aula e o avançar

da humanização dos alunos (FREIRE, 1969).

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Esse desenvolver da criatividade (aqui chamado de pensamento tecnológico)

se sustenta na inquietação de: como inserir as tecnologias em sala de aula de

maneira eficiente em uma prática significativa? Sob a luz de tal questionamento,

percebeu-se que não é necessariamente a máquina (artefato tecnológico) que

precisa entrar na sala de aula, e sim o desenvolvimento e a exploração do

pensamento tecnológico por meio do ato criativo, interpretativo, imaginativo que são

as bases de todo desenvolvimento de tecnologias, visto que “foi da engenhosidade

humana, em todos os tempos, que deu origem às mais diferenciadas tecnologias”

(KENSKI, 2012, p. 15)

Tal perspectiva justifica-se, pois é necessário um aprimoramento dos alunos

que já estão inseridos em um contexto no qual lidam com (novas) tecnologias,

pessoas, máquinas, sistemas, normas, causas e consequências e precisarão ser

ainda mais autônomos, criativos, curiosos, solucionadores de problemas e ter uma

visão do todo para o mercado de trabalho. Desse modo, a exploração da

criatividade, da curiosidade, da motivação, da iniciativa, da interpretação, do

pensamento lógico, ágil, abstrato o enriquecimento intelectual e a humanização são

fatores que devem ser trabalhados e desenvolvidos no âmbito escolar.

O avançar da humanização dos alunos, por sua vez, está apoiado nas

concepções de Paulo Freire (1969) que defende uma educação humanista,

libertadora e transformadora que estimula o desenvolvimento da criatividade, tem

uma visão crítica do saber, enxerga o homem como um ser social posicionado em

um contexto político e sócio-histórico, sabe que não existe busca ao saber sem

inquietação e, sobretudo, que o homem é um ser de práxis. Também nos dizeres de

Antonio Candido (1995), que entende a humanização como o exercitar da reflexão,

da aquisição do saber, no afinar das emoções, na capacidade de perceber a

complexidade do mundo, dos seres e dos problemas da vida, no senso de beleza e

no cultivar do humor. Elementos e atitudes estas que precisam se fazer presentes

no contexto escolar quando se trata de uma educação humanizadora.

Com tais inquietações em mente e visando a uma prática significativa que

desenvolvesse o pensamento criativo/tecnológico e avançasse rumo à humanização

dos alunos, surge a ideia de se construir (leia-se construir no sentido mais amplo e

literal da palavra) e reinventar uma (velha, porém, riquíssima) tecnologia que ainda

mexe com o imaginário das pessoas: o livro, mais especificamente um livro-portfólio

com uma turma de 2ª série do Ensino Médio.

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Esse projeto teve origem no ano de 2013, quando os mesmos alunos que

participaram em 2016 da execução da proposta apresentaram o livro Destrua este

diário (2013) (em inglês, Wreck this journal: to create is to destroy), de Keri Smith,

ao professor-pesquisador. Trata-se de um livro em branco com comandos em cada

página que devem ser interpretados ao bel-prazer do “leitor” (que acaba por se

tornar o autor responsável da composição da obra) e ser construído, portanto, de

forma criativa. A intenção maior do livro é a experimentação, seja de ideias,

materiais e interpretações. Adaptar então esse livro a uma prática de produção de

texto criativa e significativa foi o motor para o desenvolvimento da construção do

projeto.

Para compor o livro-portfólio, foram escolhidos 12 gêneros do discurso

(capa, ficha catalográfica, prólogo, autorretrato, poema, canção, carta pessoal, relato

autobiográfico, relato de viagem, notícia, adágio e enigma) que ora trazem consigo

traços de identidade, reflexão e projeção de uma imagem do eu discursivo, ora

situam os interlocutores em determinado contexto de tempo e espaço. Todos, no

entanto, com comandos disparadores de produção que se abriam para múltiplas

possibilidades de interpretações, justamente para o desenvolvimento do

pensamento e do ato criativo de interpretação e produção. Outra particularidade

sobre tais gêneros escolhidos é que eles também sofriam possibilidades de

alterações em seus planos pré-formatados (nos limites do que discute ADAM, 2017)

devido aos comandos disparadores e sua possibilidade de produção.

O objetivo maior desse estudo foi o desenvolvimento do produto

educacional, uma vez que se trata de um programa de mestrado profissional.

Especificamente, buscou-se investigar como alguns gêneros do discurso ganham

novos contornos e ressignificações em seus planos pré-formatados (ADAM, 2017) e

também por meio das interpretações dos comandos e das produções textuais.

Pontualmente, verificar como se dá o processo criativo, o pensamento tecnológico e

a humanização dos alunos/autores por meio da execução do projeto.

Assim, a pesquisa comprova que o pensamento e o ato criativo são as

bases da tecnologia e que o trabalho de exploração da criatividade, da interpretação

e do raciocínio são requisitos fundamentais preparatórios para a formação de

alunos/cidadãos que já se deparam com um mundo tecnológico. Para tanto, um dos

caminhos que poderia ser tomado para tal prática era a produção criativa de gêneros

do discurso em determinadas ações de linguagem.

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Partindo da concepção interacionista de linguagem que entende o homem

como um ser social que interage por meio de gêneros do discurso, a pesquisa se

pauta nessa interação reflexiva entre o homem, o seu meio, a imagem que ele tem

de si (e projeta por meio de seus escritos) e como os gêneros por ele utilizados

podem possuir composições pré-formatados ao serem produzidos.

Nesses limites, foram utilizadas como fontes de apoio, principalmente, os

postulados de Bakhtin (1997), Bronckart (2006), Adam (2011; 2017), Marcuschi

(2005; 2008), Rojo (2012; 2015), Freire (1969) e Machado (2008). Trabalhos que

possibilitam que esta pesquisa tomasse corpo e que direcionaram os níveis teóricos,

críticos e analíticos das produções desenvolvidas.

Apoiado, portanto, em todas as premissas citadas, o projeto foi idealizado,

(re)discutido, transformado em um produto educacional aplicado e seus resultados

se tornaram fonte de dados para uma análise acurada de como uma prática de

produções de textos para compor um livro-portfólio poderia gerar resultados

satisfatórios e alcançar o escopo ao qual se propunha.

A elaboração dessa dissertação foi organizada nas seguintes seções: no

capítulo um foram abordadas questões teóricas sobre gêneros, seus elementos

constitutivos, estes sob os postulados de Adam (2011; 2017) e domínios discursivos.

Em seguida, no capítulo dois, são discutidas perspectivas pontuais sobre

desenvolvimento do pensamento tecnológico, multiletramentos, humanização e

interdisciplinaridade, uma vez que são vieses pertinentes para o desenvolvimento

dessa pesquisa.

No capítulo três foi descrita a metodologia utilizada, a explanação dos

gêneros abordados, bem como o porquê dessas escolhas para a composição do

livro-portfólio e a descrição do estágio de docência (desenvolvimento do produto em

sala de aula).

O capítulo quatro foi destinado ao produto educacional. Trata-se de uma

conversa direta com o professor que se dispuser a desenvolver essa proposta

didática em sala de aula, bem como as orientações didáticas para o trabalho e sua

divisão em oficinas.

No quinto capítulo, os dados dessa pesquisa foram analisados sob os

postulados de Marcuschi (2005), Silveira, Rohling e Rodrigues (2012) e Adam (2011;

2017) e foi verificado como alguns gêneros ganharam novos contornos e

ressignificações devido à interpretação de seus comandos disparadores e

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produções por parte do alunado, apesar de manterem planos pré-formatados e

sequências textuais predominantes. Também foi verificado, de maneira mais

específica como a materialização do pensamento criativo e o avanço rumo à

humanização se fazem presentes por meio dos escritos de alguns alunos. Por fim,

foram realizadas as considerações finais acerca da pesquisa e as referências que

nortearam seu desenvolvimento.

Essa prática de trabalho com gêneros discursivos sob as perspectivas de

ressignificações se deve ao fato também da predisposição do pesquisador pelo

trabalho que também desenvolve com a Literatura e o texto literário em sala de aula

e em sua convicção, que vem de encontro aos dizeres de Beth Brait (2015), que

considera “o texto uma forma de conhecimento, fonte de prazer, maneira de

observar e usufruir a infinidade de usos e frutos implicados na língua, na literatura,

na vida, na linguagem em constante movimento” (p. 12).

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1 SOBRE GÊNERO E TEXTO

Delimitações sobre as noções de gênero e texto abordadas nessa pesquisa

se fazem pertinentes, uma vez que se trata de uma proposta de desenvolvimento de

um produto educacional pautado na perspectiva/produção de gêneros discursivos,

que aqui serão tratados como tendo planos pré-formatados (ADAM, 2011; 2017) e

sendo constituídos por sequências textuais, elementos que se fazem importantes

para as análises dos dados obtidos. Para tanto, esse capítulo se propõe a tratar de

questões acerca de gêneros discursivos e seus domínios, (BAKHTIN, 1997, e

MARCUSCHI, 2005; 2008) noções de texto e agir de linguagem (BRONCKART,

2006) e também das sequências que compõem os planos de texto (ADAM, 2011;

2017).

A partir da década de 1990, o ensino no Brasil sofreu uma profunda mudança

de foco principalmente mobilizada pela inserção do trabalho com os gêneros

discursivos no espaço escolar. Trabalhar com gêneros significou uma reformulação

progressiva de propostas de ensino e também mobilizou o próprio desenvolvimento

das teorias do texto, centradas principalmente no exame das práticas

sociodiscursivas motivadas pela popularização dos trabalhos de Bakhtin e seus

seguidores. Essa mudança é vista por diferentes autores (KOCH, 2012,

TRAVAGLIA, 2002, GERALDI, 2003, entre outros) como uma alteração de

concepção de ensino e/ou de linguagem que passa a focar nas práticas de interação

humana. Koch (2012) observa essa prática e a defende por se tratar de uma

abordagem que faz uso real da linguagem em ambientes sociocomunicativos e

interacionais nos quais os interlocutores são essenciais para a construção de

sentido e efetivação da comunicação e por mobilizar e reconstruir diferentes

saberes, não apenas de ordem textual, mas também sociocognitiva, histórica e

cultural do(s) contexto(s) no momento de interação.

É uma característica inata aos seres humanos a vontade de se expressar.

Crianças se expressam por meio do choro; depois por meio de uma fala ainda em

desenvolvimento; nos estudos escolares e interação social, aprende-se (aprimora-

se) continuamente a manusear uma ferramenta de alto grau de complexidade

linguística e essencial para a interação humana: o texto. Esse modo de expressão é

tido como complexo por estar permeado de diversos elementos que interlocutores

devem fazer uso de maneira complexa: na produção de um texto é necessário que

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se utilize uma linguagem e que sejam ativados conhecimentos de mundo, artifícios

de inferências, reconhecimento/entendimento de contextos, recursos coesivos para

que assim se forme um todo coerente. “Não é por acaso”, portanto, que a raiz da

palavra texto venha do latim textum que significa tecido, ou seja, o ato de se

elaborar um texto é como um ato de entrelaçar fios, tecer partes, para que assim se

consiga um todo. Marcuschi (2008) afirma que “a tendência é ver o texto no plano

das formas linguísticas e de sua organização” (p. 58). Em suma, pode-se entender

texto como trabalho que exige diversos tipos de conhecimentos que precisam

emergir no ato de sua produção e essenciais para que haja a interação.

Sobre os processos interacionais, Bronckart (2006) traz contribuições

significativas, em especial sobre as atividades de linguagem com/entre os sujeitos.

O autor define a interação por meio da linguagem como uma atitude própria do ser

humano. Pela linguagem criamos conexões, dividimos e acumulamos conhecimento

que poderá ser retomado em outro momento no curso da história. O homem é o

único a utilizar a linguagem como uma forma de agir comunicativo verbal mobilizado

por signos que se organizam em formatos que denominamos textos (BRONCKART,

2006). Sobre os textos e nossas ações de linguagem com outros sujeitos

(realização) o autor apresenta algumas considerações:

Essa realização se dá, por sua vez sob a forma de textos construídos, de um lado, mobilizando-se os recursos (lexicais e sintáticos) de uma determinada língua natural, e de outro, levando-se em conta modelos de organização textual disponíveis no âmbito dessa mesma língua. Por isso, os textos podem ser definidos como os correspondentes empíricos/linguísticos das atividades de linguagem de um grupo, e um texto como o correspondente empírico e linguístico de uma determinada ação de linguagem. (p. 139)

Sendo assim, a noção de texto estaria na associação entre o saber lexical

com estruturas textuais dentro de determinados contextos, em outras palavras, uma

atividade de linguagem fina manuseada pelo homem a serviço da interação e da

comunicação com os seus semelhantes. Para Koch (2012), o texto é “o próprio lugar

da interação verbal”, e os interlocutores são “sujeitos ativos, empenhados

dialogicamente na produção de sentidos” (p. 10).

É por meio do agir de linguagem organizado no formato de textos, portanto,

que o homem se expressa e interage na sociedade/cultura a qual está inserido. Os

textos, por sua vez, apresentam-se organizados segundo sua vinculação à vida

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cultura e social em esferas de circulação. Segundo Marcuschi (2005) “os gêneros

contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia” (p.

19), por exemplo, a escolha de um bilhete (ou uma mensagem texto via digital) para

um filho avisar a mãe que passará o dia na casa dos amigos estudando para a prova

do dia seguinte, em detrimento de outras possibilidades; é o que Koch (2012) chama

de competência metagenérica, que, para ela “diz respeito ao conhecimento de

gêneros textuais, suas características e funções e nos propicia a escolha adequada

do que produzir textualmente nas situações comunicativas de que participamos” (p.

54).

Determinados gêneros são utilizados em situações específicas para fins e

propósitos sócio-comunicativos estabelecidos, porém, não podem ser caracterizados

como estanques e/ou estáveis de ação de linguagem, pois “caracterizam-se como

eventos textuais altamente maleáveis dinâmicos e plásticos” (MARCUSCHI, 2006, p.

19).

No que concerne ao estudo das interações humanas com/por meio da

linguagem, teóricos como Bakhtin (1997) afirmam que os homens se comunicam por

meio de gêneros discursivos, que para ele são “tipos relativamente estáveis de

enunciados” (p. 279, grifos do autor) constitutivos nas mais variadas e diversas

esferas de comunicação da sociedade. Tais gêneros são, portanto, a materialização

sob o formato de texto (oral ou escrito) da interação humana. Nesses mesmos

limites, Bronckart (2006) afirma que as atividades humanas de linguagem são

guiadas por unidades comunicativas (os textos) que servem aos diferentes tipos de

ação de linguagem por ela desempenhados. Os gêneros, na perspectiva do autor,

se apresentariam como as diferentes espécies de texto que atentem às diferentes

esferas de comunicação humana.

Há de se delimitar, por conseguinte, as diferenças entre gêneros discursivos e

domínios discursivos (esferas). Para Marcuschi (2008) estes são:

“esferas de atividade humana” no sentido bakhtiniano do termo [...] Não abrange um gênero em particular, mas dá origem a vários deles, já que os gêneros são institucionalmente marcados. Constituem práticas discursivas nas quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que às vezes lhes são próprios ou específicos como rotinas comunicativas institucionalizadas e instauradoras de relações de poder. (p. 155)

Em outras palavras, os domínios são as esferas sociais onde circulam os

gêneros fazendo que haja a interação humana por meio de textos. O gênero

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discursivo, por sua vez, como também define Marcuschi (2008), é uma “forma de

realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares” (p.

154).

Situando o espaço textual (gênero materializado) nesses limites, destaca-se

que mesmo alguns gêneros apresentando um tipo de materialização mais estável,

são um tipo de criação humana extremamente maleável e estável. Podem se

misturar, se fundir, deixar de existir ou simplesmente trocar de forma conforme as

necessidades de comunicação e evolução da (ou de uma) linguagem/sociedade. Os

gêneros são subdivididos em primários e secundários – este último podendo ser

uma evolução (ou hibridez) dos primeiros. São determinados gêneros primários, de

acordo com Rojo & Barbosa (2015), pautada nos estudos bakhtinianos:

aqueles que ocorrem em nossas atividades mais simples, privadas e cotidianas, geralmente – mas não necessariamente – na modalidade oral do discurso. São ordens, pedidos, cumprimentos, conversas com amigos ou parentes, bilhetes, certas cartas, interações no Skype, torpedos e posts em certos tipos de blogs. (p. 18)

Delimitados, desse modo, por ações comunicativas menos elaboradas

presentes no cotidiano, os gêneros primários se diferem dos secundários pelo seu

nível de abstração, competência e manuseio da linguagem, pois, os gêneros

secundários, ainda segundo Rojo & Barbosa (2015)

servem a finalidades públicas de vários tipos, em diversas esferas ou campos de atividade humana e de comunicação. Esses são mais complexos, se valem da escrita ou de outra maneira (e, hoje, também de outras linguagens) e têm função mais formal e oficial. São relatórios, atas, formulários, notícias, anúncios, artigos, romances, telenovelas, noticiários televisivos ou radiofônicos, entre outros. (p. 18)

É válido ressaltar que os gêneros secundários podem se valer dos primários

para sua composição, marcando, dessa forma, essa característica híbrida e mutável

dos gêneros e sendo o resultado de um uso mais elaborado da linguagem que

requer de seus interlocutores uma ação mais competente de produção e recepção.

1.1 Gêneros discursivos, elementos constitutivos e práticas sociais de linguagem: entremeios do ensino e aprendizagem Acompanhando a discussão anterior, os Parâmetros Curriculares Nacionais

(1997)1 sugerem que o ensino de Língua Portuguesa seja efetivado por meio de

1Faz-se importante mencionar a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) que está em discussão,

norteando o conjunto de aprendizagens essenciais. Ela defende que o processo de ensino e

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textos das mais diversas esferas sociais para o desenvolvimento crítico/analítico e

de uso competente do alunado. O processo de ensino e aprendizagem se dá, dessa

forma, por meio dos gêneros discursivos pelos quais o texto não deve ser tomado

como pretexto para que se aborde apenas determinado conteúdo gramatical,

morfológico ou fonético. O texto deve ser trabalhado em sua totalidade de

análise/produção o que não exclui uma abordagem conjunta de elementos

específicos do gênero em questão, desde aspectos discursivos de sua realização a

elementos de ordem composicional.

Por outro lado, sobre a inserção dos gêneros nas práticas de ensino e

aprendizagem, Fiorin (2016) tece algumas críticas sobre um tipo de tratamento dado

ao gênero, em particular quando o seu produto e seu ensino se tornam normativo.

Essa normatização por ele referida segue os preceitos do que se faz(ia) no ensino

meramente gramatical, por exemplo, e que, no atual contexto, tem sido transferido

para o processo de ensino e aprendizagem regido pelos gêneros. Tomá-los como

produto e focar a prática apenas em algumas particularidades é esvaziar a riqueza

de possibilidades que a produção/leitura/análise textual traz consigo.

Essa observação é reforçada no presente estudo, pois a proposta didática

aqui desenvolvida valoriza diferentes dimensões e possibilidades que o trabalho com

os gêneros viabiliza, desde as situações simuladas2 como atividades de escrita,

também encontradas em concursos de vestibular – o que se faz pertinente para tal

prática, visto que o alunado do Ensino Médio com o qual o projeto foi realizado já se

prepara para tais tipos de provas – até ressignificações e possibilidades de novos

contornos para as produções dos gêneros solicitados, denotando assim uma

abordagem que não entende o gênero como algo estanque e normatizado, mas

híbrido, multifacetado e complexo, condizendo com a interação humana e com as

possibilidades de uso da linguagem.

Vale ressaltar o viés de tratamento das produções do gênero por meio das

sequências textuais e o das noções de pré-formatações previstas nos postulados de

Adam (2011; 2017), que será tratado na seção seguinte.

aprendizagem de Língua Portuguesa tenha o texto (tanto na modalidade oral quanto escrita) como o centro de suas práticas. 2 Há uma ampla discussão no que se refere às “simulações” em sala de aula, no entanto, o

pressuposto norteador dessa prática é o de HALTÉ (2008) que afirma que “situações didáticas não são mais artificiais que quaisquer outras, elas são apenas situações da instituição regularizadas. Essas regras estruturam relações, hierarquizam funções, selecionam universos de discurso, pré-constroem dispositivos; em suma, regulam as comunicações” (p. 17).

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1.1.1 Os elementos constitutivos dos gêneros: base para uma proposta de

produção na esfera escolar

Os gêneros organizam e instauram as relações de interação e comunicação

dos homens. Em termos composicionais, eles se caracterizam com um conteúdo

temático, um tipo de estilo e uma unidade composicional, fatores considerados

indissociáveis (ROJO & BARBOSA, 2015). Essa tríade é estuda por diferentes focos,

tendo em vista os limites teóricos adotados pelo pesquisador.

O tema, ou conteúdo temático, é definido por Fiorin (2016) como “um domínio

de sentido de que se ocupa o gênero” (p, 69), ou seja, ele não é o assunto

específico de um texto, mas o tema que permeia textos pertencentes a um gênero

específico. Rojo & Barbosa (2015) apresentam ainda que o tema “mais do que

meramente o conteúdo, assunto ou tópico de um texto, é o conteúdo inferido com

base na apreciação de valor, na avaliação que acento valorativo que o locutor lhe

dá” (p. 87, grifos das autoras).

Com relação ao estilo, Fiorin (2016) diz ser a “escolha de certos meios

lexicais, fraseológicos e gramaticais em função da imagem do interlocutor e de como

se presume sua compreensão responsiva ativa do enunciado” (p. 69). Em outras

palavras, são as escolhas e a maneira que o enunciador encontra para produzir o

seu discurso regido pelo gênero discursivo escolhido para tal, com o foco no seu

interlocutor e na imagem que ele faz de si e que pretende passar para quem o lê ou

ouve. É sobre esse prisma que Rojo & Barbosa (2015) afirmam que “nenhuma

escolha é inocente” (p. 92). Seria, por exemplo, como comparar duas publicações de

jornais distintos que veiculam um protesto de professores. Enquanto o jornal 1

publica que “professores invadem a praça”, no qual o verbo deixaria subentendido,

entre outras inferências, atos de violência, vandalismo e oposição ao protesto; o

jornal 2 publica “professores ocupam a praça”, denotando apoio a classe. A mera

escolha/troca de verbos apontaria a posições tomadas pelos veículos frente a tal

manifestação.

De acordo com Costa (2013), uma análise entre gênero e estilo pode ser

elaborada em três níveis. Segunda ela, é possível que se verifique:

a) Dimensão social do estilo (estilo de gênero): a associação estável entre determinadas formas linguísticas e os gêneros é resultado de uma elaboração histórica social.

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b) O estilo é abordado em uma dimensão individual que corresponde às escolhas linguísticas de enunciador, em um contexto particular tendo em vista a obtenção de um efeito de sentido. c) Elaborada a partir de um agrupamento de textos, efetivamente produzidos em condições sócio-históricas determinadas, tendo em vista identificar o estilo de um autor, de uma época [...] (p. 156)

Dessa maneira, as questões de análises estilísticas podem ser feitas de

maneira que abarque as possibilidades permitidas pelo gênero em questão, a

individualidade do enunciador dentro de um contexto sócio-histórico e uma

comparação entre textos produzidos pelo mesmo autor em determinado período.

Sobre a composição, Fiorin (2016) afirma ser “o modo de organizar o texto e

estruturá-lo” (p. 69), são as características composicionais particulares de cada

gênero; tomando como exemplo as cartas, é possível perceber que elas trazem

elementos estruturais recorrentes, como local e data, vocativo, corpo do texto,

despedida e assinatura. Adam (2011) trata esses elementos como fazendo parte de

um esquema retórico que apresenta certa recorrência. Desse esquema, o autor

chega a conceitos importantes relativos a um plano composicional em sequências e

plano de texto, discutidos no próximo tópico.

1.1.2 Os elementos constitutivos dos gêneros do discurso na visão de Adam

Nessa pesquisa, será adotada, como ponto de partida, a visão apresentada

por Adam (2011; 2017) que traz dois níveis de análise (discursiva e textual) como

possibilidade analítica para os gêneros. Nesse sentido, defende-se um tipo de

aplicação a) discursiva, espaço onde circula os gêneros e b) textual, espaço onde

se encontra os formatos materializados (textos) e em que se situa o tema, o estilo, e

a forma de composição. Na edição de 2017 da obra Les textes types et prototypes, o

autor apresenta um esquema, em que é possível visualizar alguns dos aspectos

relativos aos gêneros na perspectiva de Bakhtin (tema, estilo e forma de

composição), conforme segue com tradução de Catelão & Cavalcante (sd):

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Esquema 1. Catelão & Cavalcante, sd baseados em Adam (2017, p.38)

É possível perceber, por meio do esquema, o elo entre discurso (e suas

relações de interação sociocomunicativa) e sua materialização sob o formato de

texto e suas implicações de estilo (textura), estrutura composicional, semântica

(tema), polifonia e intencionalidades. Diversas são, portanto as especificidades dos

(e de cada um dos) gêneros, uma vez que a interação humana se dá por meio deles,

de certa forma, eles funcionam como engrenagens no/do ato comunicativo.

Elementos como contexto de produção e recepção, autoria e estilística, relação

entre os interlocutores, suporte, elemento disparador (motivações), temática e

objetivos já foram discutidos por diversos pesquisadores e se fazem relevantes para

a caracterização e melhor compreensão/entendimento/uso dos gêneros discursivos.

Todos esses elementos são importantes ao se analisar produções/recepções de

gêneros, seus usos e determinação de suas escolhas, para tanto, um breve

delineamento no que concerne ao tema, estilo e composição se faz necessário, pois

tais elementos são indissociáveis e essenciais na composição dos gêneros.

O tema do gênero funcionaria como um catalisador que filtra, repele e

seleciona os assuntos abordados em um texto em detrimento a outros. É o elemento

que dá as diretrizes para que o estilo e a composição do gênero se configurem, pois,

nas palavras de Rojo & Barbosa (2015) “um texto é todo construído (composto e

estilizado) para fazer ecoar o tema” (p.87).

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Rojo & Barbosa (2015) afirmam que é por meio do tema que circulam a(s)

ideologia(s), pois, ele está relacionado aos juízos de valores/significações que são

dados (adquiridos, acumulados e propagados) a determinadas palavras,

proposições e enunciados em diversos contextos sócio-histórico comunicativos.

Outra característica a respeito do tema é, de acordo com Bakhtin (1997), que

ele estará dentro dos limites de um “intuito definido pelo autor” (p. 300), ou seja, o

querer dizer do enunciador determinando todas as suas escolhas, sua amplitude e

suas balizas que são pilares para as análises dos enunciados.

Há de se compreender, portanto, que o tema se determina não apenas pela

composição linguística (sintática, lexical e morfológica) do enunciado, mas também

pelos entornos situacionais (verbais e não verbais) do enunciado. Nas palavras de

Volochinov e Bakhtin (1981) “somente a enunciação tomada em toda a sua

amplitude concreta, como fenômeno histórico, possui um tema” (p. 133).

Uma máxima bastante conhecida e discutida por diversos pesquisadores é a

de que não existem discursos neutros ou que não é possível um apagamento do

posicionamento de seu enunciador. Todo falante ao produzir seu enunciado o faz

imprimindo (consciente ou inconscientemente) suas opiniões, valores e impressões

sobre o tema em questão.

No que tange aos conceitos de estilo, defende-se que eles se pautem sobre

não o que o enunciador diz, mas a maneira como ele o faz, ou seja, sua escolha

dentro de um leque linguístico de possibilidades utilizado por ele para construir seu

enunciado a maneira que atinja suas intenções.

Fiorin (2008), pautado nas teorias da Semiótica francesa e da Análise do

Discurso da linha francesa, elenca alguns aspectos relevantes para que se assimile

o estilo do enunciador e desenvolva uma análise estilística de um enunciado.

Segundo ele:

é preciso levar em conta, principalmente, os seguintes aspectos: a) o estilo é recorrência; b) é um fato diferencial; c) produz um efeito de sentido de individualidade; d) configura um ethos do enunciador, ou seja, uma imagem dele; e) é heterogêneo. (p. 154)

Observando-se tais particularidades, é possível compreender, por exemplo,

as intencionalidades que perpassam o discurso do enunciador, bem como a

projeção que ele faz de si por meio de seu dito e também questionar/analisar suas

escolhas linguísticas em detrimento a outras possíveis.

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Muitas são as perspectivas que abordam as questões de sujeito e

subjetividade no discurso. Pautando-se nos dizeres de Marcuschi (2008), o sujeito:

é aquele que ocupa um lugar no discurso e que se determina na relação com o outro. [...] Em suma, pode se dizer que o sujeito não é um assujeitado nem totalmente individual e consciente, mas produto de uma clivagem da relação entre linguagem e história. (p. 70)

Pode-se afirmar, portanto que os enunciados produzidos são reflexos de um

contexto e posicionamento histórico, social e político, impregnado de subjetividade,

opinião e escolhas lexicais que influenciam na interpretação e na leitura que o

interlocutor irá fazer do texto produzido e do seu interlocutor. Também há uma

relação direta entre o que se produz e para quem. Por mais que se tente apagar

marcas de pessoalidade dos enunciados, elas sempre estarão presentes pelas

simples escolhas do vocabulário e estrutura textual. Sempre é possível perceber “o

dito que não foi dito pelo dito”, ou seja, fazer inferências dos pressupostos e

subentendidos e analisar o texto como um todo que emite sempre determinado

posicionamento de seu enunciador criando uma imagem dele e projetado para seu

interlocutor.

Por serem os gêneros discursivos pertencentes a determinados domínios

discursivos (ou preferencialmente circular em domínios pré-determinados) a

estilística do texto está intrinsecamente ligada ao seu domínio, sobretudo, ao seu

interlocutor e às peculiaridades do gênero utilizado.

É fato que a linguagem é utilizada de diferentes modos, em diferentes

contextos para diferentes fins. Sabendo que a comunicação verbal é organizada por

meio de gêneros discursivos, é de se esperar que cada gênero traga consigo uma

carga estilística própria tanto no quesito (in)formalidade, mas também com relação

ao léxico e estrutura. Para tanto, há a diferença entre estilo de gênero e estilo

individual, no qual este seria a subjetividade do enunciador e sua imagem

propagada permitida em alguns gêneros do discurso, e aquele uma maneira pré-

formatada de manusear determinado gênero do discurso, que, em alguns casos, não

se abre para o estilo individual do enunciador, como em documentos oficiais e bulas

de remédio, por exemplo.

Sobre a questão do estilo, Bakhtin (1997) afirma:

O estilo está indissoluvelmente ligado ao enunciado e a formas típicas de enunciados, isto é, aos gêneros do discurso. O enunciado - oral e escrito, primário e secundário, em qualquer esfera da

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comunicação verbal - é individual, e por isso pode refletir a individualidade de quem fala (ou escreve). Em outras palavras, possui um estilo individual. Mas nem todos os gêneros são igualmente aptos para refletir a individualidade na língua do enunciado, ou seja, nem todos são propícios ao estilo individual.[...] O estilo é indissociavelmente vinculado a unidades temáticas determinadas e, o que é particularmente importante, a unidades composicionais: tipo de estruturação e de conclusão de um todo, tipo de relação entre o locutor e os outros parceiros da comunicação verbal (relação com o ouvinte, ou com o leitor, com o interlocutor, com o discurso do outro, etc) O estilo entra como elemento na unidade de gênero de um enunciado. (p. 283-284)

O estilo permeia, portanto, as escolhas feitas pelo emissor na composição de

seu enunciado, mas leva em conta também o ambiente sócio/histórico discursivo e

principalmente seus interlocutores. Desse modo, a linguagem/estilo se adéqua aos

mais variados contextos para as diversas finalidades. Koch (2012) defende tal ponto

de vista quando salienta que:

toda ação linguageira implica diferentes capacidades da parte do sujeito de adaptar-se às características do contexto e do referente (capacidades de ação, de mobilizar modelos discursivos (capacidades discursivas) e de dominar as operações psicolinguísticas e as unidades linguísticas (capacidades linguístico-discursiva) (p. 62)

É possível inferir, à vista disso, que as ações de linguagem exigem um

manuseio fino da língua e atenção a fatores não só intratextos, como estrutura e

nível de autoria, mas também extratextos, principalmente ao que compete ao

contexto, interlocutor, tema e objetivos de determinada ação comunicativa.

No esquema analítico de Adam (2017), a forma de composição representaria

o espaço onde estão situadas as sequências e os planos de textos, temas que serão

descritos mais à frente, segundo uma apresentação de regime composicional que

pode ser fixada como uma possibilidade de aplicação no espaço escolar. Os

(proto)tipos sequenciais podem ser de cunho narrativo, descritivo, argumentativo,

explicativo e dialogal e estão presentes como macroestruturas na constituição dos

gêneros. Todos os gêneros discursivos possuem sequências que estão presentes

concomitantemente no interior de cada gênero, formando seu plano de texto. Como

já observou Marcuschi (2005) “os gêneros são uma espécie de armadura

comunicativa geral preenchida por sequências tipológicas de base que podem ser

bastante heterogêneas, mas relacionadas entre si” (p. 26).

Adam (2011) traça um ponto de vista de análise de discurso e composição

textual pautada em um: jogo complexo das determinações textuais

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“ascendentes” (da direita para a esquerda), que regem os encadeamentos de

proposições no sistema que constitui a unidade TEXTO – objeto da linguística

textual –, e as regulações “descendentes”(da esquerda para a direita) que as

situações de interação nos lugares sociais, nas línguas e nos gêneros dados

impõem aos enunciados – objeto da análise de discurso. (p. 44, grifos do autor)

Segundo ele, há uma ligação intrínseca entre os enunciados construídos e a

situação sócio-comunicativa, bem como o gênero utilizado. Ele exemplifica tal

relação no seguinte esquema que pressupõe uma análise textual dos discursos:

Esquema 2. Adam (2011), p. 43.

No nível de análise textual, os textos trazem em sua composição sequências

textuais (descritiva, narrativa, argumentativa, expositiva e dialogal) que, no mais alto

nível, tendo em vista possíveis uniões de sequências, receberão a designação plano

de texto.

De acordo com Adam (2011), os planos de texto são de extrema relevância

para a composição macrotextual do sentido. Eles podem ser do tipo convencional ou

fixo, ou seja, “fixados pelo estado histórico de um gênero ou subgênero de discurso”

(p. 258) ou ocasional “inesperado, deslocado em relação a um gênero ou subgênero

de discurso” (p. 258), ou seja, são planos pré-formatados ou não. O autor ainda

afirma que os planos de textos “permitem construir (na produção) e reconstruir (na

leitura ou na escrita) a organização global de um texto, prescrita por um gênero.” (p.

258). Em outras palavras, por meio dos planos de texto é possível construir/inferir

sentidos aos textos e percebê-los segundo as sequências prototípicas que os

compõem, uma vez que os planos de textos são compostos por elas.

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Sobre as sequências, Adam (2011) as trata como “unidades textuais

complexas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-

enunciados: as macroproposições” (p. 205) sendo estruturas relacionais/hierárquicas

e autônomas com relativa organização interna. Para ele, são dessas diferentes

combinações que se formam as sequências, descritivas, narrativas, argumentativas,

explicativas e dialogais. Tais sequências estão presentes na composição de todos

os gêneros discursivos – muitas vezes, mais que uma concomitantemente – todavia,

uma delas parece ser dominante no gênero, ao se observar/analisar o seu plano de

texto.

No que se refere ao ensino, reconhecer o plano de dominância sequencial

representa, sob a perspectiva deste trabalho, uma oportunidade de visualizar

aspectos mais internos aos textos e que direcionam em um plano discursivo outros

aspectos concernentes aos gêneros. Falar em sequências permitiu traçar novas

considerações sobre as questões envolvendo os gêneros, reorganizando as formas

de observar o texto. Essa temática será tratada como forma de contribuição à

pesquisa aqui desenvolvida.

A teoria das sequências aparece em obra publicada em 1992 por Jean-Michel

Adam. Ele tinha por objetivo contestar a existência de uma numerosa organização

dos textos em tipos textuais, simplificando a ordem composicional em cinco

sequências base. A repercussão da teoria das sequências foi tão grande que

suscitou recentemente uma nova edição (4ª/2017) da obra em que o autor visa

desfazer o que chama de ambiguidades presentes em edições anteriores. Adiante,

serão descritas as cinco sequências bases, principalmente, como forma de

entendimento do intricamento existente entre sequências, plano de texto e gêneros.

Para tratar das sequências descritivas, Adam (2011), apoiado na teoria de

Svetlana Vogeler (1992), distingue dois tipos de descrever: o perceptual, no qual o

descritor faz uso dos cinco sentidos sensoriais para criar uma imagem virtual do

descrito para o leitor, e o epistêmico, no qual o descritor se vale de suas memórias

ou lembranças para produzir sua descrição.

Segundo Adam (2011) as sequências descritivas são “de frágil caracterização

sequencial e na atualidade pulverizada em subcategorias” (p. 216) de pessoas,

coisas e lugares, tempo e animais e plantas. Sobre as técnicas para as produzir, o

autor destaca:

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A montagem em paralelo (descrições consecutivas ou alternadas,

baseadas na semelhança ou na oposição) é uma das técnicas recomendadas, juntamente com a hipotipose (exposição vívida do objeto,

tornado presente e vivo pelo trabalho estilístico do orador ou do escritor) e o quadro (contextualização, agrupamento em torno de um motivo ou

personagem principal). (p. 217 – grifos do autor)

O autor destaca quatro macrooperações que se dividem em nove operações

descritivas. Tem-se, assim:

I – Operações de tematização

Chamada por Adam (2011) de macrooperação principal, ela é a que constitui

uma unidade descritiva a determinado fragmento de texto. Pode ser desmembradas

em três formas:

a) Pré-tematização ou ancoragem: abre um período descritivo.

b) Pós-tematização ou ancoragem inferida: apresenta uma sequência descritiva no

meio ou no fim de um período.

c) Retematização ou reformulação: aparece no entremeio de um período descritivo,

depois que tal objeto é mencionado e antes que seja retomado.

II – Operações por aspectualização

Tal operação realiza-se de duas maneiras:

a) Fragmentação ou partição: apenas partes do objeto a ser descrito é selecionado

na ação descritora.

b) Qualificação ou atribuição de propriedades: realizada pela adjetivação ou pela

predicação, aqui também são selecionadas partes pela operação de fragmentação

as quais são evidenciadas e/ou enaltecidas.

III – Operações de relação

Também subdivida em duas:

a) Relação de contiguidade: são selecionados elementos temporais ou espaciais

para ser o centro do descrito.

b) Relação de analogia: essencialmente comparativo ou metafórico, tal

procedimento permite construir relações entre o descrito com outros elementos.

IV – Operações de expansão ou subtematização

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Caracteriza-se por pela soma de qualquer outras das operações anteriores

combinadas ou não.

Adam (2011) ainda ratifica a importância dos conectores discursivos para a

construção das sequências descritivas e ressalta a importância de seus planos de

texto para a leitura e interpretação de tais sequências. É possível perceber, contudo,

que apesar das sequências descritivas serem fragmentadas e de difícil

caracterização, elas possuem determinadas singularidades que se fazem presentes

e precisam ser consideradas no ato de produção e, principalmente, nas análises dos

gêneros discursivos nos quais elas se mostram dominantes em seus planos de

texto.

Com relação às sequências narrativas, Adam (2011) afirma que elas podem

ser consideradas como “exposição de ‘fatos’ reais ou imaginários” (p. 225) e que se

dividem em “realidades distintas” sendo elas eventos e ações. Para essa última, o

autor entende como caracterizada pelo aparecimento de um agente que “provoca ou

tenta evitar uma mudança” (p. 225); e para o evento aquele que se realiza “sob o

efeito de causas, sem a intervenção de um agente” (p.225).

Adam (2011) defende a ideia de graus de narrativização, diferenciando-os em

altos e baixos. Esses são compostos por sequências meramente enumerativas de

ações ou eventos e aqueles quando apresentam determinada estruturação

hierárquica composta por cinco “macroproposições de narrativas de base (Pn)” que

ele as define como: “antes do processo (m1), o início do processo (m2), o curso do

processo (m3), o fim do processo (m4) e depois do processo (m5) (p. 225). Desta

forma, as sequências narrativas dos planos de texto dos gêneros cuja tal “tipologia”

seja a dominante podem variar de acordo com sua composição tornando tais

sequências com grau maior ou menor de narrativização.

O autor também destaca a presença de elementos em narrativas orais,

teatrais ou de encaixes de sequências narrativas, são eles as Entradas-prefácios ou

Resumos (Pn0) presentes nas aberturas de tais sequências e Avaliação final (PnΩ)

– ou Moralidade, como ele próprio destaca, nos casos das fábulas – usados para

seu encerramento. Segundo o autor, “tais proposições garantem a entrada e saída

do mundo da narração” (p. 229).

Diversos são os teóricos que teceram esquemas para elucidar os

momentos/elementos das narrativas, no entanto, ao tratar das sequências que

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compõem um plano de texto predominantemente narrativo, Adam (2011) desenvolve

o seguinte esquema:

Com tal esquema é possível perceber o movimento que acontece no interior

de um plano de texto narrativo, e, principalmente, os protótipos de sequências que o

compõem. É válido ressaltar que tal estrutura refere-se a textos com alto grau de

narrativização e contam com elementos que em tal esquema não foram previstos

como narrador (a voz que está contanto), personagens (os envolvidos) e cenário

(composto de elementos temporais e espaciais). É possível, todavia, compreender a

ausência de tais componentes, uma vez que Adam (2011) trata das sequências que

compõem um todo narrativo e não de traços da narração que conferem mais ou

menos narratividade (relacionada na maioria das vezes a tramas ficcionais) ao um

texto.

Adam (2011) chama de “embrião da sequência argumentativa” (p. 236) o

seguinte modelo: um enunciador contesta em seu dito uma tese anterior – presente

no seu enunciado – e as conclusões a serem tiradas levam a conclusão que foi dada

de início (p. 236). Dessa forma, uma sequência argumentativa é, pois formada por

premissas (dados e/ou fatos) aparentemente não contestáveis pelo interlocutor, uma

vez que o enunciador a suporta com argumentos/provas tidos como irrefutáveis. O

Trama narrativa

Entrada – prefácio Encerramento ou ou Resumo Pn0 Avaliação final (Moralidade) PnΩ

Sequência

Sequência inicial Sequência final (Orientação) Pn1 Pn5

Nó Desenlace (Desencadeador) (Resolução) Pn2 Pn4

Re-ação ou Avaliação Pn3

Esquema 3. Adam (2011), p. 229.

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autor chama tais movimentos de “demonstrar-justificar uma tese e refutar uma tese

ou certos argumentos de uma tese adversa” (p. 233).

Apoiado no conceito de Moeschler (1985), Adam (2011) entende o discurso

argumentativo situado na relação de um contradiscurso eletivo ou virtual, para tanto

ela não pode ser dissociada da polêmica, que não deve ser entendida apenas como

desacordo, mas como se ter contra-argumentos. (p. 47). O autor desenvolve então

um esquema que revela os movimentos das encadeações das sequências

argumentativas em um plano de texto dissertativo.

Esquema 4. Adam (2011), p. 234.

Neste esquema, o autor afirma existir dois níveis de enunciação: o

justificativo, que segundo ele “o interlocutor é pouco levado em conta e a estratégia

argumentativa é dominada pelos conhecimentos conhecidos” (p. 234), e o dialógico

ou contra-argumentativo, no qual “a argumentação é negociada com o contra-

argumentador (auditório) real ou potencial e a estratégia argumentativa visa a uma

transformação dos conhecimentos” (p. 234).

Em suma, é possível dizer que as sequências argumentativas são

encadeamentos de premissas irrefutáveis, sendo o corpo do texto formado pela

introdução de uma tese/ideia/argumento seguida pela defesa do exposto

anteriormente para ser finalizada em uma conclusão lógica e irrefutável. Para tanto,

o enunciador se vale de proposições e conectores argumentativos de causa-

consequência, contrastes, justificativas, explicativos e conclusivos para tornar seu

escrito um todo coeso, coerente e, aparentemente, incontestável que valoriza ou não

os contra-argumentos de seu interlocutor potencial ou virtual.

Sobre as sequências expositivas, Adam (2011, p. 238 – 242) afirma que elas

aparecem em “segmentos curtos”. O autor explora algumas construções específicas

de tais sequências, destacando o uso de conectores como SE, que introduzem

proposições de problemas, É QUE OU É PORQUE, que iniciam explicações e EIS

Tese Dados Conclusão (C) Anterior + Fatos Portanto, provavelmente (nova) tese Sustentação A menos que (Princípios Base) Restrição

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POR QUE e É POR ISSO QUE apresentando proposições conclusivas. Ele distingue

sdois movimentos textuais explicativos de base:

a) Movimento à direita: que se abre por um conector explicativo para depois

desencadear um fechamento;

b) Movimento à esquerda: considera, de maneira retrospectiva, uma parcela anterior

do texto como explicativa.

Em outras palavras, as sequências explicativas podem ser introduzidas ou

não por conectores e vir antes ou depois do elemento/problema a ser

elucidado/abordado terminando em um “consenso sobre fatos observados e sobre a

causalidade que os relaciona” (ADAM, 2011, p. 243).

Ainda segundo o autor, tais sequências aparecem entre os objetivos de

partilhar crenças ou conhecimentos e (como último objetivo) os de convencer a fazer

agir. Apoiado na teoria de Grize (1990), ele ressalta construções explicativas

iniciadas pelo operador POR QUE(?) que conduz a uma estruturação do problema,

cuja explicação é/pode ser introduzida pelo operador PORQUE. Adam (2011, p. 245)

menciona uma esquematização semelhante nos estudos de Gülch (1990). Chamada

de sequências conversacionais explicativas. Elas são adquiridas pelas crianças a

partir dos dez e/ou onze anos e se desenvolvem em três fases:

a) Fase 1: constituição do objeto a ser explicado.

b) Fase 2: núcleo explicativo.

c) Fase 3: ratificação/sanção da explicação e fechamento da sequência.

Para elucidar a estruturação das sequências explicativas, Adam (2011)

elabora o seguinte esquema:

Esquema 5. Adam (2011), p. 234.

É possível perceber pelo esquema, portanto, que as sequências explicativas

são introduzidas de uma situação inicial geradora de um problema, seguindo então

uma explicação (resposta) para ser finalizada em uma ratificação ou avaliação

consensual relacionado às causas da situação problema inicial.

P. explicativa 0 Esquematização inicial Sequência Por que p? P. explicativa 1 Problema (questão) explicativa Porque q P. explicativa 2 Explicação (resposta) P. explicativa 3 Ratificação-avaliação

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Com relação às sequencias dialogais, Adam (2011, p. 248) explicita que

existem diferenças nas condições de enunciação orais e escritas, não podendo

estas ser confundidas com autêntica oralidade. O autor cita Goffman (1987) que

afirma ocorrer uma “transmutação da conversação”, que, para ele, aparenta um jogo

de pingue-pongue no qual os interlocutores são posicionados acertadamente nos

turnos de fala, o que pode ser reconhecido, segundo Adam (2011), em gêneros

discursivos cuja sequência predominante é a dialogal, como a entrevista, na qual

são transcritas as perguntas do entrevistador e as respostas do entrevistado.

Situado nos dizeres de Goffman (1987), o autor esclarece que a enunciações

não ocorrem em parágrafos, mas por turnos de fala que são naturalmente

emparelhados, sob do que Goffman (1987) chama de “intercâmbios bipartidos”.

Esses, por sua vez, estão conectados uns aos outros em sequências instituídas por

determinado tema formando assim o todo da conversação. Uma concepção,

portanto, interacionista, na qual é necessária a participação ativa dos interlocutores

envolvidos (em um jogo de declarações, réplicas, tréplicas, questionamentos,

respostas, explicações e avaliações) implicando, assim, na tomada dos turnos de

fala (intercâmbio verbal), sendo este o habitat coletivo natural das palavras

pronunciadas.

Adam (2011) ressalta ainda que “um texto dialogal é enquadrado por

sequências fáticas de abertura e fechamento” (p. 250). Para elucidar o

funcionamento das sequências dialogais, o autor desenvolve o seguinte esquema:

Esquema 6. Adam (2011), p. 250.

A sequência dialogal, portanto segue a estrutura fática de abertura e

fechamento do canal de comunicação, sendo permeada por perguntas, respostas e

avaliações, ou seja, por turnos de fala (intercâmbios bipartidos) formando o todo

conversacional.

Sequências fáticas

Intercâmbio Sequência transacional Intercâmbio de abertura de fechamento Pergunta Resposta Avaliação

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Sabendo, pois que todos os gêneros discursivos são compostos por

sequências (descritivas, narrativas, argumentativas, explicativas e dialogais, sendo

uma delas dominante no corpo do texto), um levantamento das especificidades de

cada uma delas se fez necessário para que se compreenda melhor a composição

dos gêneros presentes nesta pesquisa.

Pelo discutido anteriormente, compreender que a composição dos gêneros do

discurso se dá por meio de sequências que formam o todo de seu plano de texto é

de extrema relevância para o aluno ao produzir, ler e, principalmente, interpretar um

gênero e suas particularidades. O que aqui será proposto é uma análise da

dominância sequencial presente nas composições textuais dos alunos, que fizeram

parte do projeto apresentado nessa pesquisa, como formadoras dos planos de texto

e a relação com o evento deflagrador do texto e sua temática, estilo e composição.

O foco das análises perpassa também sobre a maneira como os alunos interpretam

as propostas indicadas, seu estilo de escrita, a imagem que eles propagam de si por

meio de seus escritos, e principalmente, como a solução dessas situações

interpretativas e de composição textual são fomentos para o desenvolvimento do

pensamento criativo (aqui entendido como tecnológico, a ser explicitado à frente).

Para tanto, a base das análises será pautada nos próprios textos produzidos pelo

alunado em seus aspectos textuais e discursivos, que se resguarda de análises

psicológicas mais aprofundadas, por não ser esse o norte dessa pesquisa.

1.1.3. Suporte: a materialização dos gêneros discursivos

Um fator também relevante ao se tratar dos gêneros do discurso é a questão

de seu suporte, pois é por meio dele que os gêneros são materializados e

veiculados. Marcuschi (2008) faz uma colocação importante sobre suporte. Para ele:

entendemos aqui como suporte de um gênero um locus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Pode-se dizer que suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto.[...] A ideia central é que o suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele. Mas ainda estão por ser discutidos a natureza e o alcance dessa interferência ou desse papel. Uma observação preliminar pode ser feita a respeito da importância do suporte. Ele é imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na natureza do gênero suportado. Mas isso não significa que o suporte determine o gênero e sim que o gênero exige um suporte especial [...] o suporte determina a distinção que o gênero recebe. (p. 174)

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Em outras palavras, suporte é onde ocorre a materlialização do gênero

discursivo, corrobora para a construção de sentido e a intencionalidade. A sua

simples troca/escolha pode alterar os efeitos de sentido de um texto, bem como sua

funcionalidade. É válido ressaltar que os gêneros possuem preferências para serem

suportados, portanto há uma relação estrita e significativa entre eles.

Marcuschi (2008) tece uma diferença entre suportes convencionais e

incidentais, para ele, estes ”podem trazer textos, mas não são destinados a esse fim

de modo sistemático nem na atividade comunicativa regular” (p. 176) – é o caso do

corpo humano servir como suporte para “cartazes de protestos”, como o próprio

autor salienta, por exemplo – e aqueles são “típicos ou característicos, produzidos

para essa finalidade” (p. 176), como no caso de um livro de romance.

Ao tratar o livro como um suporte – e não como gênero – Marcuschi (2008)

salienta:

Trata-se de um suporte maleável, mas com formatos definidos pela própria condição em que se apresenta (capa, páginas, encadernação, etc.). O livro comporta os mais diferentes gêneros que se queira. Contudo, podemos ter um livro que ao mesmo tempo realiza apenas um gênero, como no caso do romance ou da tese de doutorado. (p. 178)

Tal definição se faz importante no sentido que o suporte livro será abordado

daqui para frente. Permitindo ele a veiculação de vários gêneros e tendo elementos

característicos como capa, páginas e encadernação, o projeto aqui relatado e

analisado será tratado como livro-portfólio, pois traz consigo traços prototípicos do

livro, embora seja uma produção individual, particular e intimista tendo cada aluno

produzido artesanalmente seu próprio exemplar, que, no entanto, pode ou não se

tornar público dependendo da vontade do aluno/autor.

Cada um dos livros-portfólios3 produzidos pelos alunos comporta os gêneros

abordados/produzidos durante a realização do projeto. No entanto, apesar de

comandos disparadores comuns, os alunos interpretaram as situações enunciativas

de modo particular – fruto de um ato criativo – resultando em produções que, apesar

de se tratarem de gêneros comuns muitas vezes com um plano pré-formatado, tais

3 Há também a possibilidade de se entender o livro-portfólio aqui discutido não apenas como suporte,

mas com um hipergênero, que, de acordo com Bonini (2003) são “suportes dos gêneros que são, ao mesmo tempo, gêneros que se compõem a partir de outros gêneros, como é o caso dos jornais, das revistas, de vários tipos de home-pages” (p. 210). Pretende-se abordar tal perspectiva em trabalhos posteriores, analisando tal concepção e suas influências para as produções.

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escritos ganharam novos contornos e ressignificações nas produções,

consequentemente, livros-portfólios com características individuais e singulares de

cada aluno.

Encerradas as delimitações sobre gêneros, texto, sequências e planos de

texto, passa-se agora às implicações sobre a convergência entre uma abordagem

que une gêneros discursivos e o desenvolvimento do pensamento tecnológico – um

dos pressupostos de base dessa pesquisa. Noções sobre tecnologia(s),

multiletramentos, humanização e interdisciplinaridade também se fazem pertinentes,

uma vez que são fatores que envolvem a prática desenvolvida.

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2 TRABALHO COM OS GÊNEROS E O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

TECNOLÓGICO

Entendido aqui como base da materialização de toda e qualquer tecnologia, o

desenvolvimento do pensamento tecnológico pode ocorrer por meio de práticas de

produções textuais, uma vez que estas exigem raciocínio lógico, abstrato,

interpretativo e, especialmente nesta abordagem, imaginativo. Para que tais

conceitos sejam esclarecidos, este capítulo inicia com noções entre tecnologia e

poder; avança para perspectivas dos multiletramentos – essenciais para a escola

contemporânea; trata da relação entre o processo de ensino e aprendizagem e a

humanização dos alunos e finaliza com aspectos de interdisciplinaridade, previstos

no desenvolvimento dessa pesquisa.

Desde os primórdios das civilizações, o homem se viu cercado de tecnologias

por todos os lados, e novas tecnologias surgem na contemporaneidade a todo o

momento resultante do constante desenvolvimento digital, da (micro)eletrônica e das

telecomunicações (KENSKI, 2012) . Aprimorar o manejo com o meio tecnológico e

seu uso crítico e eficaz, faz-se essencial no preparo dos alunos de hoje que terão de

lidar de maneira eficiente com tais mecanismos no futuro em sua vida acadêmica e

profissional. A inquietação maior de professores e educadores, no entanto, é a de

como inserir a tecnologia em suas práticas escolares para contribuir para a formação

de alunos/cidadãos letrados nos moldes tecnológicos que o mundo contemporâneo

exige, uma vez que a tecnologia pode ser concebida não apenas como técnica ou

artefatos, mas como fator significativo nas relações de poder.

Kenski (2012) aborda a questão entre tecnologia e poder quando afirma que

“os vínculos entre conhecimento, poder e tecnologia estão presentes em todas as

épocas e em todos os tipos de relações sociais” (p. 15). A autora cita como exemplo,

a supremacia da raça humana na Idade da Pedra quando, por meio de astúcia e

engenhosidade, conseguiu dominar elementos da natureza; chegando até a época

da Guerra Fria, quando duas grandes potências mundiais impulsionaram a ciência e

a tecnologia de forma até então jamais vista na história da humanidade. Também

traça um paralelo entre muitas tecnologias que estão presentes no cotidiano, mas

que foram antes pensadas como artefatos de guerra, conquista do espaço, e

equipamentos militares.

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O questionamento sobre a inserção da tecnologia em sala de aula é também

resolvido quando se tem em mente que não é a tecnologia (máquina) que precisa,

necessariamente, entrar no processo de ensino e aprendizagem e na rotina escolar;

e sim o pensamento tecnológico e criativo que precisa ser explorado para que assim

se instruam alunos para lidar com o mundo tecnológico, pois, ainda de acordo com

Kenski (2012):

O uso do raciocínio tem garantido ao homem um processo crescente de inovações. Os conhecimentos daí derivados quando colocados em prática dão origem a diferentes equipamentos, instrumentos, recursos, produtos, processos, ferramentas, enfim, a tecnologia. Desde o início dos tempos, o domínio de determinados tipos de tecnologias, assim como o domínio de determinadas informações, distinguem os seres humanos. (p. 15)

Dessa forma, torna-se necessário, no contexto contemporâneo de ensino,

desenvolver nos alunos o pensamento tecnológico que seria, de acordo com

Machado (2008) um pensamento abstrato, lógico e ágil – e que se pode incluir

criativo e interpretativo.

Sob tal ponto de vista, haja vista que o processo criativo é altamente

tecnológico (uma vez que é da criatividade dos homens que surgiram – e ainda

surgem – as mais variadas, úteis e mirabolantes tecnologias) e que a criatividade é

uma fonte abundante e inesgotável de recursos – pois, quanto mais se explora, mais

se tem – uma das maneiras de se desenvolver tal pensamento é sob a forma de

produção de gêneros do discurso, que envolve desde a interpretação de seu tema

disparador, a solução de problemas de composição do texto, e questões de estilo, o

que se dá por meio do uso da criatividade e conhecimento de mundo e linguístico.

Produzir textos no ambiente escolar é uma maneira de se desenvolver o

pensamento tecnológico/criativo. Nessas situações, o alunado precisa não só

interpretar as propostas de produção, mas construí-las nos limites do gênero

discursivo requisitado (adequado) para aquela situação sócio-comunicativa o que

envolve o reconhecimento (e uso) dos elementos composicionais para a formação

de seu plano de texto que está intrinsecamente ligado ao gênero em questão. A

criatividade é um fator onipresente em tal circunstância, pois compreende desde o

momento de interpretação à tecitura do texto e solução de problemas, como a

escolha do léxico, os caminhos que se dá para o escrito, o estilo de se escrever e a

imagem que se constrói de si por meio do discurso.

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2.1 Multiletramentos e o desenvolvimento do pensamento tecnológico na sala

de aula: uma perspectiva para a escola contemporânea

De acordo com o GNL (Grupo de Nova Londres, ROJO, 2012) é encargo da

escola os novos letramentos emergentes na sociedade contemporânea, bem como

envolver as novas TICs (tecnologias de informação e comunicação) e diversidade

cultural presentes na sala de aula. O alunado de hoje não é o mesmo da década

passada, uma vez que aquele dos anos de 1990 estava em um momento de

transição e presenciou gradativamente a entrada das novas tecnologias, como

computadores, celulares e até mesmo o controle remoto em suas vidas, tendo que

se adequar a essa nova realidade, enquanto este já nasce cercado desses artefatos

cada vez mais modernos, requerendo dele uma utilização consciente e eficiente que

ao mesmo tempo divide sua atenção e o inunda de informações e caminhos,

portanto, exigem/necessitam de (multi)letramentos para suas mais diversas formas

de usos.

Há uma diferença, de acordo com Rojo (2012), entre letramentos múltiplos e

multiletramentos. Para ela, estes são a “multiplicidade cultural das populações e a

multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela se informa

e se comunica” (p. 13) e aqueles são a “multiplicidade e variedade das práticas

letradas” (p. 13). Ambos aqui entendidos de igual importância uma vez que agem

concomitantemente na construção dos letramentos dos alunos, no entanto, um está

ligado a uma amplitude cultural e de composição de textos e o outro na vasta gama

de meios para que se atinja com sucesso tal empreendimento do ato de letrar.

Ao tomar o caminho dos multiletramentos – apontados por Rojo (2012), do

qual a partir daqui será o alicerce dos postulados seguintes sobre tal tema – a autora

afirma que para que ele ocorra são, inicialmente, requeridas novas concepções de

ética e estética das quais ela trata destas como emergidas com critérios próprios na

qual cada indivíduo terá uma coleção de valores e conceitos próprios e singulares de

acordo com sua vivência, experiência e contato com o mundo; e aquelas, seja na

recepção, na produção ou design, baseiem-se nos letramentos críticos. Desta forma,

novos conceitos éticos e estéticos se fazem presentes na perspectiva dos

multiletramentos nos quais o respeito ao novo e diferente se faz necessário, bem

como o diálogo crítico/edificador na produção e recepção de textos. Em outras

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palavras, abrir-se para novas perspectivas sem (pré)conceitos arraigados ou que

não sejam passíveis de discussão é a atual ordem.

Sob tais preceitos, Rojo (2012) explicita como funcionam os multiletramentos,

que, segundo a autora, abarcam tanto uma diversidade cultural de produção e

circulação dos textos quanto de linguagens que os constituem. Sobre as

diversidades de linguagens, ela afirma que:

a) eles são interativos, mais que isso, colaborativos; b) eles fraturam e transgridem as relações de poder estabelecidas em especial as relações de propriedade (das máquinas, das ferramentas, das ideias, dos textos – verbais ou não); c) eles são híbridos, fronteiriços, mestiços (de linguagens, modos, mídias e culturas). (p. 23)

É, portanto, estabelecida uma nova dinâmica com relação ao elemento texto.

Eles (os textos) jamais foram tão interativos e construídos a muitas mãos, tampouco

híbridos e abstratos, capazes de se readequarem, tomar novas formas ou se

liquefazer ao bel-prazer do sujeito enunciador/interlocutor e de seus contextos de

produção e recepção. Muitos não cabem mais em caixas pré-estabelecidas com

características, normas e formatos que os identificam e caracterizam, pelo contrário,

eles se misturam, somam, subtraem-se, transformam-se, caem em desuso e,

sobretudo, são multimodais (utilizam diversas e variadas linguagens). Acerca da

multimodalidade, Dionísio (2007) expõe:

Em todas as situações comunicativas, usamos os nossos sistemas de conhecimentos para orquestrar, da forma mais harmônica possível, todos os recursos verbais (escritos ou orais) e os recursos visuais (estáticos ou dinâmicos) existentes nas interações comunicativas em que estamos inseridos. Assim, referimo-nos à multimodalidade discursiva como um traço constitutivo a todos os gêneros textuais escritos e orais. Consequentemente, recursos visuais e verbais precisam ser vistos como um todo, no processamento dos gêneros textuais. (p. 178)

É possível afirmar, por conseguinte, que todos os textos (sejam eles orais ou

escritos) são multimodais, uma vez que são compostos por diversas linguagens

igualmente importantes para a sua interpretação, inferências e na construção de

seus efeitos de sentido. Desde escolha do suporte (papel, rede social ou qualquer

outro meio real ou virtual) até a diagramação, gráficos, fotografias, cores contribuem

para a leitura e compreensão do texto atribuindo a ele características que lhe são

peculiares e precisam ser levadas em conta para seu entendimento e leitura

eficiente.

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O GNL propõe então uma “pedagogia” dos multiletramentos. Para tanto, o

diagrama abaixo foi elaborado para ilustrar como seria seu funcionalismo:

Mapa dos multiletramentos

USUÁRIO FUNCIONAL

Competência técnica

Conhecimento prático

CRIADOR DE SENTIDOS

Entende como diferentes tipos de texto e de tecnologias operam

ANALISTA CRÍTICO

Entende que tudo o que é dito e estudado é fruto de seleção prévia

TRANSFORMADOR

Usa o que foi aprendido de novos modos

Diagrama 1. Adaptado de DECS & UniSa. 2006. In ROJO, 2012, p. 29

Entende-se, pelo diagrama, que é indispensável levar aos alunos um

conhecimento prático e funcional dos elementos/textos para que assim eles possam

reconfigurá-los em diferentes modos e usos sendo criadores de sentidos

competentes – fazendo uso do entendimento das multimodalidades que se

apresentem – bem como analistas críticos que conseguem ir além do posto, mas

que compreendem seus pressupostos, subentendidos e intencionalidades. Logo, é

fazer que os alunos manuseiem de maneira eficiente e crítica as multimodalidades

das linguagens que lhes são apresentadas em determinado texto – seja no contexto

de produção ou recepção.

É indissociável a visão dos multiletramentos sem a menção do

desenvolvimento do pensamento tecnológico na sala de aula – que já se faz

presente mesmo de maneira onipresente em tal contexto – que, de acordo com

Machado (2008), é um pensamento abstrato, lógico e ágil – e que se pode incluir

também criativo e interpretativo.

Os alunos de hoje precisam ser aprimorados para um futuro no qual eles

lidarão com pessoas, máquinas, sistemas, normas, causas e consequências e

precisarão ser autônomos, criativos, curiosos, solucionadores de problemas e ter

uma visão do todo – nova tendência do mercado de trabalho contrária do modelo

Taylorista e Fordista, no qual o funcionário era responsável por parte do processo e

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o trabalho era setorizado. Deste modo, a exploração da criatividade, da curiosidade,

da motivação, da iniciativa, da interpretação, do pensamento lógico, ágil, abstrato o

enriquecimento intelectual e a humanização são fatores que devem ser trabalhados

e desenvolvidos no âmbito escolar. Todos os elementos acima citados fazem parte

do cabedal formador do pensamento tecnológico, tão necessário para os alunos que

enfrentarão um mercado de trabalho que, de acordo com Machado (2008) exige:

“[...] saber identificar tendências, limites, problemas, soluções e condições existentes, associar, discernir, analisar e julgar dados e informações, usando um raciocínio ágil, abstrato e lógico, saber lidar com situações diferenciadas, aproveitando conhecimentos extraídos e transferidos de outras experiências, demonstrando predisposição para o trabalho grupal, dispondo de recursos de comunicação oral, escrita, visual de forma a se mostrar com condições de mobilidade, flexibilidade e adaptação às mudanças [...] e saiba continuar aprendendo com autonomia. (p. 183 e 184).

Pessoas multifacetadas e com ampla visão do todo capazes de se adequar e

adaptar aos mais diversos ambientes. Esses são os requisitos, não só para um

mercado de trabalho no mundo (líquido) moderno, mas para a (sobre)vivência em tal

meio, e habilidades que são encargos da escola desenvolver em seus alunos. Os

multiletramentos, domínio das multimodalidades, do senso crítico, desenvolvimento

da criatividade, do pensamento ágil, lógico e abstrato (aqui chamado de

tecnológico), a capacidade de interpretação e suposição são alicerces para a

construção de cidadãos ativos e, sobretudo, engajados na sociedade moderna.

Essa pesquisa se alicerça nos multiletramentos na medida em que permite,

por meio da produção de gêneros discursivos, o desenvolvimento do pensamento

criativo/tecnológico – abordado anteriormente no que tange as interpretações das

propostas de produção, a solução de situações de escrita, a maneira como o texto é

formatado/configurado e a imagem por ele transmitida – o uso das multimodalidades

de construção do texto que o projeto possibilita – , configurando-se em uma prática

pedagógica significativa, reflexiva, crítica que valoriza a vivência, a experiência e a

expressão criativa dos alunos.

Pela escrita dos gêneros pré-estabelecidos, mas com a possibilidade de

múltiplas interpretações de seu escopo disparador (bem como de múltiplas

possibilidades de tecitura), é possível observar (como apontava o diagrama dos

multiletramentos desenvolvido pelo GNL) que o projeto exigia uma competência

técnica e funcional (conhecimento teórico e prático) dos gêneros solicitados (tema,

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composição e estilo), porém, a maneira como eles foram produzidos demandava

uma atitude transformadora, criativa e reflexiva. Para tanto, era também necessária

a consciência dos alunos como enunciadores, no sentido de solucionar os

problemas de escrita, que como já mencionado, abrangem desde a escolha do

léxico, passa pela construção das sequências que formam o plano de texto e

culminam na projeção de um eu discursivo por meio do escrito e o discernimento de

que seu texto é fruto de uma seleção prévia que projeta determinada imagem.

A hibridez dos gêneros também é algo pertinente ao projeto, uma vez que os

comandos para a produção do texto exigiam uma interpretação criativa e, por

conseguinte, uma desconstrução das características prototípicas dos gêneros.

Textos que possuem caráter dialógico foram reconfigurados e ganharam traços

intimistas, reflexivos e monólogos, por exemplo, que caberiam em outros gêneros do

discurso, mas que, propositalmente, foram solicitados sob outros formatos,

justamente para ativar a criatividade e desenvolver o pensamento tecnológico dos

alunos.

A multimodalidade é um fator presente e de extrema importância para a

interpretação dos textos produzidos. Ela perpassa desde o suporte em que o gênero

foi produzido, às referências extra textuais presentes nas produções, como

ilustrações, design, cores e elementos de referenciação que contribuem na

inferência de sentido do texto.

Dessa forma, a ressignificação de paradigmas, a possibilidade de novos

formatos, a valorização da experiência, da individualidade e de conceitos estéticos e

principalmente, o uso e desenvolvimento da criatividade e do pensamento

tecnológico se fizeram presentes na execução do projeto e estão estreitamente

alinhados as concepções dos multiletramentos.

2.2 O avançar dos alunos rumo à humanização

Ao contrário do que possa parecer, o desenvolvimento do pensamento

tecnológico/criativo no ambiente escolar está longe de meramente preparar os

alunos para sua adaptação no mundo e para fora dos muros da escola, e sim

desenvolver sua consciência de agente transformador humanizado.

Candido (1995, p. 180) entende como humanização:

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[...] exercício da reflexão, aquisição do saber, a boa disposição para com o

próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos

problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do

mundo e dos seres, o cultivo do humor.

Exercitar a reflexão e a aquisição do saber, colocar-se no lugar do outro,

poder expressar (e entender) suas emoções, compreender a complexidade do

mundo, dos seres, da vida e acurar o senso de beleza é o que se objetiva ao se

trabalhar sob o viés da humanização, aliados aos escrito de Paulo Freire que visa à

autonomia do aluno e uma educação mais humanizadora. Não é apenas

desenvolver nos alunos o pensamento criativo/tecnológico que tal projeto tinha o

intuito, mas avançar na direção de uma prática que também humaniza.

Sobre este ponto de vista, Freire (1969) quando trata do papel da educação

na humanização já afirmava ser o homem como um ser no mundo e com o mundo,

portanto, não só ele deve se adaptar ao seu meio, mas transformá-lo de maneira

crítica e reflexiva. Sobre uma educação humanista, ele afirma:

A concepção humanista e libertadora da educação, ao contrário, jamais dicotomiza o homem do mundo. Em lugar de negar, afirma e se baseia na realidade permanentemente mutável. Não só respeitam a vocação ontológica do homem de ser mais, como se encaminha para esse objetivo. Estimula a criatividade humana, Tem do saber uma visão crítica; sabe que todo o saber se encontra submetido a condicionamentos histórico-sociológicos. Sabe que não há saber sem a busca inquieta, sem a aventura do risco de criar. Reconhece que o homem se faz homem na medida em que, no processo de sua hominização até sua humanização, é capaz de admirar o mundo, É capaz de, despreendendo-se dele conservar-se nele e com ele; e, objetivando-o, transformá- 50u. Sabe que é precisamente porque pode admirar o mundo que o homem é um ser da práxis ou um ser que é práxis. Reconhece o homem como um ser histórico, Desmistifica a realidade, razão porque não teme a sua desocultação. Em lugar do homem- coisa adaptável, luta pelo homem-pessoa, transformador do mundo. Ama a vida, em seu devenir. É biófila e não necrófila. (p.05)

Na contramão, portanto, de uma “educação bancária” (FREIRE, 1969), que

tem o alunado com uma caixa vazia no qual os conhecimentos são depositados e

recebidos passivamente pelos alunos, uma educação que humaniza é inquietante,

questionadora, reflexiva, crítica, criativa e transformadora e toma os alunos como

seres vivos, reais que participam, modificam, interferem e, sobretudo, contribuem no

processo de ensino e aprendizagem, e no final, todos os envolvidos ganham e saem

transformados desse movimento.

Nessa concepção, os alunos são provocados a serem responsáveis pela

construção de seu saber, são colocados em situações que exigem soluções,

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reflexões e criticidade; interagem não só com seus colegas, mas também com

aquele que está mediando o caminho do conhecimento e do aprender, são levados

a serem criativos, ativos e participativos e, portanto, se tornam agentes responsáveis

do sucesso do processo e transformadores do seu meio.

É neste prisma que aqui se defende uma prática que avança rumo a

humanização. Um projeto no qual os alunos não são encarados como caixas vazias

que precisam ser preenchidas de conhecimento, mas como agentes criativos que

são estimulados a resolver problemas de construção de escrita, a interpretar

comandos de forma criativa, a interagir com seus semelhantes, a exercitarem a

reflexão de se colocarem no mundo como seres sociais, históricos e políticos em um

determinado contexto de tempo e espaço, e assim, saírem transformados e mais

humanizados de tal prática.

2.3 A interdisciplinaridade a serviço de um conhecimento holístico

Promover práticas interdisciplinares no contexto escolar é sempre um grande

desafio para professores e alunos. Por parte dos docentes, é necessário um

planejamento conjunto e minuciosamente articulado entre todos os envolvidos,

levando em conta a relevância dos conteúdos abordados, o contexto que a turma

alvo está inserida e o modus operandi dessa atividade. Por sua vez, é indispensável

que os discentes tenham maior clareza que o trabalho está sendo feito de maneira

colaborativa e que culminará em uma prática mais significava, que visa à abordagem

de diferentes tópicos entrelaçando distintas disciplinas.

As abordagens interdisciplinares são validadas e enriquecedoras devido a

gama de possibilidades de aplicações que elas possibilitam e dos diálogos possíveis

promovidos por tais performances. Pensar em um contexto multi/interdisciplinar é

abrir-se para novas maneiras de manejar conteúdos de maneira inovadora,

interativa, e principalmente, relevante para os alunos.

Não se trata, no entanto, de aulas temáticas que cada professor irá

desmembrar especificidades de seu currículo programado e trabalhar de maneira

isolada sob a luz de um tema que perpassa cadeiras diversas. Trata-se, porém, de

uma relação estreita e um diálogo mais refinado entre disciplinas que abordam

elementos específicos de sua área, culminando em um trabalho conjunto com

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denominador comum cujos resultados podem ser obtidos e analisados sob a ótica

das multimodalidades semióticas formadoras do discurso.

A sala de aula é essencialmente multimodal, nela o professor utiliza um

conjunto de modos para construir os significados: a fala, os gestos, a proxêmica, o

olhar etc. Entende-se por 52ultímodos a integração do discurso em diferentes modos

para representar os raciocínios e as explicações científicas. O termo múltiplas

representações é entendido como a prática de representar um mesmo conceito ou

processo científico de diferentes formas (PRAIN; WALDRIP, 2006).

Segundo Laburú e Silva (2011), ao provocar variados modos e formas

representacionais, é possível potencializar as possibilidades de apreensão mais

penetrante e extensa dos significados pretendidos, na proporção em que se

aperfeiçoa a ocorrência de ressonâncias de certas capacidades de maior

desenvoltura do aprendiz com representações que melhor lhe correspondam. Como

uso de procedimentos multimodais, torna-se possível controlar, discriminar, entender

e superar as recalcitrâncias ligadas à construção das unidades significantes próprias

a cada registro científico, auxiliando o aprendiz a construir um discurso coerente,

coordenado e integrado.

O ensino multimodal ou multirepresentacional pode se dar no meio

interdisciplinar, propondo assim situações que possam integrar os conceitos nas

mais diferentes esferas do saber. Todas essas contribuições podem ser

desenvolvidas e potencializadas em um trabalho interdisciplinar com a área do

conhecimento de Língua Portuguesa, por exemplo, tornando, dessa forma, o

processo ensino e aprendizagem muito mais relevante e global ao aluno.

Uma vez que o assunto que perpassa a interdisciplinaridade é o ambiente

escolar e suas multifacetas e multitarefas, é necessário reconhecer primeiro que a

escola é um ambiente plural e diverso. A efervescência de diversidades (sócio)

culturais, de discursos, pensamentos, opiniões e conteúdos faz da escola um

ambiente rico, multi e propício para a convergência de diálogos. Seja dito de

passagem, diálogo é a palavra de ordem ao tratar de interdisciplinaridade.

Mesclar, convergir, misturar, dialogar, os termos são muitos no tocante

interdisciplinar. De acordo com Thiesen (2008, p. 547) “as definições e conceitos

para tal termo ainda estão em construção”. No entanto, para ele, a literatura que

trata desse assunto é unânime ao se referir à finalidade da interdisciplinaridade

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como “necessidade de superação da visão fragmentada nos processos de produção

e socialização do conhecimento” (p. 545). Segundo o autor:

A ação interdisciplinar é contrária a qualquer homogeneização e/ou enquadramento conceitual. Faz-se necessário o desmantelamento das fronteiras artificiais do conhecimento. [...] possibilita o aprofundamento da compreensão entre teoria e prática, contribui para uma formação mais crítica, criativa e responsável e coloca escola e educadores diante de novos desafios tanto no plano ontológico quanto no plano epistemológico [...] Integrar o que foi dicotomizado, religar o que foi desconectado, problematizar o que foi dogmatizado, questionar o que foi imposto como verdade absoluta. (Thiesen, p. 550)

Em vista disso, não pode haver amarras em um projeto interdisciplinar. Os

professores envolvidos devem estar abertos às novas experiências, caminhos e

principalmente ao diálogo. Somente assim será possível que a efetivação do

trabalho aconteça de maneira eficaz e que a aprendizagem se torne uma

experiência significativa para alunos e professores envolvidos em processo de

ensino e aprendizagem no qual todos saem com uma bagagem de conhecimento

exponencialmente superior ao fim do processo.

Essa pesquisa também se pauta na interdisciplinaridade, pois além de ter

uma parte sido desenvolvida junto da disciplina de Química (na produção de papel

reciclado para a escritura do prólogo do livro-portfólio), também se propõe um

trabalho conjunto com o professor de Arte, no que se refere à produção do

autorretrato visual, às ilustrações e customizações do livro, bem como a confecção

da capa.

Para a próxima seção, é apresentada a metodologia que orientou o a

pesquisa, a origem do projeto, delimitações sobre os gêneros trabalhados, as

descrições do estágio de docência e desenvolvimento do projeto.

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3 METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Neste capitulo é descrita a metodologia utilizada na pesquisa, bem como o

contexto no qual ela ocorreu e como são realizadas as análises dos dados obtidos.

São retomados os objetivos, justificativa e fatores disparadores para o

desenvolvimento desta prática. A elucidação de cada um dos gêneros discursivos (e

justificativa da escolha de cada um deles) e a relação entre contexto de produção e

recepção serão abordadas nesta seção. Por fim, relata-se o estágio de docência

bem como o cronograma de realização do projeto.

Este estudo apoia-se na noção de elaboração didática (HALTÉ, 2008), pois,

é entendida como “uma didática globalmente praxiológica, caracterizando-se, em

relação aos saberes, por uma metodologia implicacionista” (p. 22). Tal concepção,

ainda de acordo com o autor, pressupõe situar um projeto didático no qual seu

espaço privilegiado é o sistema didático. Em suma, o desenvolvimento de uma

prática dentro de sala de aula no qual há uma junção entre conhecimento científico,

prática social de referência e conhecimento especializado e geral.

Halté (2008) faz uso do termo happening (um acontecimento) para elucidar a

sala de aula, pois o contexto escolar realmente é dinâmico, vivo e interacional. No

entanto, ainda de acordo com o autor, não é porque um saber está disponível que

ele precisa ser ensinado, mas “porque tal projeto didático busca tal objetivo que tal

conceito teórico é eleito e transposto mais do que outro, em convergência com as

escolhas dos suportes, com os conhecimentos prévios, com as especialidades afins

etc.” (p. 23). É neste ponto que tal projeto de alicerça: na produção de um livro-

portfólio como instrumento de humanização e desenvolvimento do pensamento

tecnológico.

A pesquisa ocorreu no ano de 2016 em um colégio particular no município

de Arapongas, Paraná, em uma turma de 2ª série do Ensino Médio com nove

alunos, durante 23 aulas (primeiro semestre de 2016) da disciplina de Produção de

Texto, que é separada da disciplina de Língua Portuguesa, por isso, a flexibilidade e

possibilidade de aplicação do projeto. A escolha dessa turma se deu justamente por

ter alunos que em 2013 estavam confeccionando o livro Destrua este diário (2013)

além da turma ter concordado e mostrado interesse e entusiasmo em participar do

projeto desde 2013, quando ele ainda estava sendo esboçado. O número reduzido

de alunos (nove alunos) permitiu um acompanhamento individualizado com cada um

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deles, bem como auxílio e suporte (tanto de sugestões e dicas, quanto no manuseio

de técnicas de scrapbook) nas produções dos elementos mais artesanais como a

confecção da capa e customização das páginas. Para a confecção dos livros-

portfólio, foram disponibilizados para os alunos folhas de vergê A4 creme, nas quais

eles escreveram as versões finais dos gêneros solicitados, bem como placas de

papel holler para a produção das capas e argolas para o fechamento dos livros.

Demais elementos de customização, tanto das capas quanto das folhas que

compunham o projeto, ficaram a critério de cada aluno, dando, o professor-

pesquisador, sugestões e dicas de quais materiais poderiam ser utilizados.

Destaca-se para o trabalho que o objetivo maior é desenvolver o produto

educacional, uma vez que se trata de um programa de mestrado profissional,

situando seus principais aspectos configuracionais e de base teórica, além de

descrever suas etapas de produção.

Por outro lado, seguindo por uma perspectiva mais linguística se fizeram

necessárias análises de algumas produções sob, principalmente, os postulados de

Marcuschi (2005); Silveira, Rohling e Rodrigues (2012) no que tange questões

envolvendo os gêneros e suas ressignificações por meio da interpretação do

comando disparador e produção textual. De forma complementar, aborda-se nessas

análises elementos relativos aos planos textuais estudados (sequencialidade e plano

de texto/pré-formatado) com base em Adam (2011; 2017). Por fim, nessa seção, são

discutidas questões de criatividade (materialização do pensamento tecnológico) e

avanço rumo à humanização por meio de indícios presentes nos textos produzidos.

A proposta do projeto era cada aluno confeccionar seu próprio livro-portfólio

com 12 gêneros discursivos pré-escolhidos e com comandos disparadores pré-

estabelecidos que deveriam ser interpretados de maneira criativa4, culminando em

produções textuais, reflexivas, intimistas, únicas e singulares, fruto do ato de

interpretação e escrita. As características, particularidades e especificidades dos

gêneros discursivos escolhidos foram trabalhadas previamente com os alunos5 para

que as produções respeitassem as peculiaridades dos gêneros trabalhados, 4 Há diversos estudos na literatura especializada que abordam o fator criatividade. Trata-se de um

tema difícil de mensurar por implicar inúmeras questões, variantes e perspectivas. O termo aqui será tratado pelo viés de Mouchird e Lubart (2002) que entendem por criatividade o conjunto de capacidades que permitem uma pessoa comportar-se de modos novos e adaptativos em determinados contextos. 5 A maioria dos gêneros discursivos presentes neste projeto já havia sido trabalhada nas séries

anteriores com essa turma específica. Tal fato é legitimado, pois o professor-pesquisador leciona as disciplinas de Língua Portuguesa e Produção de Texto para a turma alvo desde 2010.

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justamente para uma possível ressignificação de seu estilo pré-formatado (ADAM,

2017) e abrindo-se para novas possibilidades de escrita dos gêneros no que

concerne aos elementos de tema, estilo e composição.

Tendo em mente o questionamento de como inserir as tecnologias em sala

de aula de maneira eficiente em uma prática significativa, buscou-se por meio de

uma prática de produções de textos investigar, principalmente, como alguns gêneros

do discurso ganham novos contornos e ressignificações pelas interpretações dos

comandos e sua escritura. Pontualmente, trazer a importância dos elementos de

construção do texto para a elaboração/produção do livro-portfólio e verificar como se

dá o processo criativo, o pensamento tecnológico e a humanização dos

alunos/autores por meio da execução do projeto.

A exploração da criatividade, da interpretação, da iniciativa, do pensamento

criativo, enriquecimento intelectual e humanização são fatores que necessitam ser

desenvolvidos no ambiente escolar sob a justificativa de que o alunado precisa ser

aprimorado para lidar com pessoas, máquinas, normas, sistemas, causas e

consequências e precisarão ser ainda mais autônomos, criativos, curiosos,

solucionadores de problemas e com uma visão do todo em seu futuro profissional. A

produção de um livro-portfólio não poderia, portanto, encontrar ambiente mais fértil

que as aulas de Produção de Texto no meio escolar em uma turma de 2ª série de

Ensino Médio que já se prepara para os desafios da vida adulta e de mercado de

trabalho.

3.1 Da inspiração do projeto à concretização da temática do livro-portfólio

A inspiração para a produção do livro-portfólio confeccionado pelos alunos da

2ª série do Ensino Médio (2016) para essa pesquisa é oriunda do livro Destrua este

diário (em inglês Wreck this journal: to create is to destroy) (2013) de Keri Smith. O

livro é em branco, porém com comandos/instruções em suas páginas que seu

portador deve obedecê-las e interpretá-las da maneira que preferir. A intenção é

justamente experimentar materiais, novas experiências e usar a criatividade para

compô-lo. Cada livro depende da imaginação e criatividade de seu dono, que acaba

por se tornar o autor da obra.

Percebendo a euforia dos alunos em adquirir e compor tal livro nessa época,

a ideia de uma adaptação para o contexto escolar para as aulas de Produção de

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Texto e como um possível projeto de pesquisa para um programa de mestrado

começou a ganhar forma. Verificou-se que a adaptação do livro Destrua este diário

(2013) para as aulas de Produção de texto (e uma parte desenvolvida de maneira

interdisciplinar com a Química) seria uma forma de aprimorar o pensamento

tecnológico/criativo no contexto escolar, bem como a ressignificação na produção de

alguns gêneros do discurso, por meio das interpretações de seus comandos

disparadores, trabalhar elementos textuais de composição e também avançar rumo

à humanização dos alunos.

Para a elaboração dessa pesquisa, foram selecionados 12 gêneros

discursivos que os alunos deveriam produzir de acordo com temas disparadores pré-

determinados para a composição do livro-portfólio. Tais gêneros não foram

escolhidos de maneira aleatória. Todos trazem consigo (seja em sua composição,

ou traços de seus planos de texto, ou ainda na possibilidade de ressignificação dada

para a sua escrita) elementos que remetem à subjetividade (quando escrevem

poemas que os retratam), à reflexão (ao escreverem cartas para os que consideram

vilões e heróis), à criatividade (ao produzirem enigmas cujas soluções dizem muito

da imagem que eles fazem de si), à solução de problemas (quais informações

devem aparecer em um prólogo), às inferências e interpretação de seu comando (o

que dizer/como me dirigir ao meu eu do futuro por meio de uma carta), o que

possibilita além de um exercício significativo de escrita, o desenvolvimento do

pensamento tecnológico/criativo.

3.2 Escolha e delimitações dos gêneros

Os gêneros do discurso escolhidos para compor o livro-portfólio, como já

mencionado, não foram escolhidos de maneira aleatória. Buscam a reflexão,

subjetividade, a interpretação do comando disparador e um estilo de escrita,

permitindo a visualização de uma imagem de si como enunciador e também de

situar os interlocutores em um contexto sócio-histórico. Não bastava, contudo, a

mera produção eficiente de cada gênero no sentido de especificidades do estilo do

gênero; o grande diferencial das produções era interpretação dos comandos

disparadores que, somada a escrita do gênero proposto, fazia que as produções

ganhassem contornos intimistas, reflexivos e singulares.

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Sobre os gêneros selecionados para a produção do livro, são eles: capa de

livro, ficha catalográfica, prólogo, autorretrato, poema, canção, carta pessoal, relato

autobiográfico, relato de viagem, notícia, adágio e enigma.6Todos os gêneros

escolhidos para compor o livro-portfólio possuem uma pré-determinada

especificidade, justamente para dar os contornos reflexivos, intimistas, situacionais e

de identidade para cada uma das produções. No que se refere a uma caracterização

dos gêneros selecionados, segundo os pressupostos (tema, estilo e forma de

composição), além de outros parâmetros relativos a princípios composicionais

(conforme apresenta ADAM, 2017), segue uma breve descrição de cada um deles,

para melhor entendimento de seus planos pré-formatados (quando cabe ao gênero)

e a justificativa de suas escolhas.

a) Capa de livro

De acordo com Carvalho (2008), a capa do livro é composta por três

elementos – capa ou painel frontal, lombada e contracapa – ligadas entre si, no

entanto, se designa por capa somente o painel frontal, que por sua vez será o objeto

de estudo desta seção. O surgimento de tal gênero está diretamente relacionado ao

livro, pois é uma parte constituinte desse objeto.

Ainda de acordo com a autora, não há um consenso ou hierarquização sobre

os elementos pertencentes a esse gênero, ela afirma que o mais recorrente é estar

presente o nome do autor, título do livro e nome da editora, todavia, devido a fatores

sociais, históricos e estéticos, é comum que sejam encontradas capas de livros

apenas com imagens que podem – ou não – conversar diretamente com o conteúdo

do livro, sendo uma estratégia para instigar a curiosidade do leitor.

O que é possível afirmar é que a capa inaugura o ato de leitura do livro. Ela

traz consigo conotações como portas de entrada da obra fazendo uma ligação direta

com o conteúdo o qual o leitor irá se deparar – podendo ser um marco de sedução,

incitação da curiosidade ou ainda de questionamento. Carvalho (2008) ao retratar tal

gênero, afirma:

Em suma, podemos considerar a capa não como devaneio estético ou produto de constrangimentos técnicos ou comerciais, mas como um sintoma de hábitos de literatura, que reflecte a interpretação do

6 Esta é a sequência de ordenamento na organização final do livro-portfólio, as produções dos

gêneros obedeceram a uma ordem diferente, logo à frente explicitada.

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livro pelo capista e constrói relações com o texto. A leitura como parte integrante do processo de criação permite assegurar que a capa não se esgota num exercício gráfico e decorativo, mas numa mais-valia que se acrescenta à narrativa literária. A força visual da capa permite que, em alguns casos, se torne um símbolo visual do livro que representa. (p. 73)

A capa do livro é, portanto, muito mais do que apenas um elemento de

proteção ou de decoração. Ela é um exercício estético que remete diretamente a

obra a qual se liga, releituras de seu produtor e carregada de subjetividade. Um

gênero, que apesar de estar atrelado a um suporte maior (o livro) é carregado de

significações e merecedor de análise de seus efeitos de sentido, aspirações, e carga

semântica.

É possível perceber que o nível de autoria de tal gênero é elevado, portanto

essencial para a prática aqui abordada, visto que os alunos iriam construir suas

próprias capas de acordo com suas inspirações, aspirações e o que julgavam

pertinente para tal gênero; e o evento deflagrador, por sua vez, vai além do simples

ato de proteger os escritos do livro, mas para já na abertura do livro (capa)

demonstrar traços subjetivos e de autoria de cada aluno, tornando cada produção

ainda mais individual, singular, intimista e significativa.

Como se trata da composição de um livro-portfólio artesanal construído

inteiramente pelos alunos, a capa era um item essencial a ser produzido para o

projeto, pois ela é um elemento caracterizador de tal suporte e também traz consigo

uma carga semântica de possibilidade de interpretações denotando as inspirações e

aspirações dos alunos para a construção de tal gênero, dando dicas, logo nas portas

de entrada de cada livro, de uma imagem de cada um de seus autores que poderiam

(ou não) ser corroboradas conforme a leitura e interpretação dos demais gêneros

que compunham cada exemplar.

b) Ficha catalográfica

Presente nas publicações de livros e periódicos, a ficha catalográfica serve

com o registro de identidade de um escrito. Caracteriza-se por ter elementos fixos

como nome e sobrenome do autor, (ano de nascimento) nome da obra, editora

responsável pela veiculação, cidade e ano de publicação, número de páginas e

coleção. Tal gênero permite que uma busca por obra por meio de seu ISSN

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(International Standard Serial Number) seja realizada e que ela possa ser

encontrada.

A ficha catalográfica é um gênero de estruturas fixas que permite a fácil

identificação de um escrito. É, justamente, por essa rigidez estrutural que facilita a

busca por obras, bem como sua referenciação.

Ao produzir esse gênero, mesmo que de forma simplificada, os alunos

criaram uma identidade para o seu material, dando nome ao livro-portfólio (escolhido

por eles mesmos), destacando seu lugar como autor e o ano de produção. A ficha

catalográfica, portanto, seria a identificação de cada um dos exemplares produzidos.

Seguindo uma estrutura fixa de composição e de estilo de gênero, a temática da

ficha catalográfica ficaria em torno de atribuir uma identidade ao livro, particular

também ao contexto de experiência do aluno.

c) Prólogo

De acordo com Valencia (2005), o gênero literário prólogo tem origem no

teatro grego sob a forma de diálogo ou monólogo e tem a função de esclarecer ao

público a temática da peça a ser apresentada. Ainda de acordo com o autor, esse

gênero cria uma atmosfera entre leitor e autor no qual este expõe o conteúdo

temático da obra a ser lida e é um veículo expressivo e com características próprias

que atendem às necessidades de introdução estabelecendo um contato com o futuro

leitor, no qual muitas vezes o autor do prólogo e do livro é a mesma pessoa.

Em outras palavras, o prólogo é um diálogo entre autor e leitor no qual este se

dirige diretamente àquele para explicitar o conteúdo que está por vir na leitura de

determinada obra.

Para esta pesquisa, optou-se pelo gênero prólogo, em detrimento a outros

gêneros com funções similares como o prefácio, por exemplo, justamente por esta

carga subjetiva, literária e dialogal que este gênero traz consigo.

Outra peculiaridade para as produções deste gênero foi uma parceira

interdisciplinar estabelecida com a professora de Química da turma, que juntamente

com o professor-pesquisador desenvolveram uma oficina de produção de papel

reciclável (duas aulas) na qual os alunos produziram os papéis que serviram de

base para a escrita dos prólogos. Os alunos assim confeccionaram os papéis

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adicionando elementos como café, gliter, retalhos de tecidos, pétalas de flores e

folhas secas para dar contornos individuais às suas produções.

Essa parceria com a disciplina de Química (como parte de um projeto paralelo

do professor-pesquisador) justamente para a produção do gênero prólogo se justifica

para dar contornos ainda mais intimistas e singulares às produções deste gênero,

pois é o texto que abre o livro-portfólio, que como foi todo artesanalmente

confeccionado por cada aluno, produzir também uma folha de papel do livro é uma

forma de ratificar tais contornos individuais, além de proporcionar uma possível

leitura multimodal entre o conteúdo do gênero e seu suporte.

d) Autorretrato

O gênero autorretrato se faz presente há bastante tempo por meio da pintura

– como é o caso de grandes artistas que pintaram seu próprio retrato, como Van

Gogh e Pablo Picasso, por exemplo – e que hoje, permeia as redes sociais no cyber

espaço. Costa (2009) define esta nova estilística do gênero como “um misto de real

e ficcional, de referencial e verossímil, ou seja, uma espécie de autobiografia

“instável” em que há uma identidade entre autor, narrador e personagem, construída

numa linguagem plena de subterfúgios e modalizações” (p. 39) e, nos dias de hoje,

cada vez mais multimodal, pois há de se considerar o suporte para o qual ele foi

produzido, bem como suas intenções e referenciais.

Tal gênero tem a função de criar uma imagem de si, que pode corresponder

ou não com a realidade de acordo com as intencionalidades do autor. Ele pode ser

produzido seja para expor o “eu” em uma rede social, de namoro ou networking,

fazer novos amigos ou ainda pode ser construída em outros formatos como a pintura

e a fotografia. Um retrato de si é projetado para que o interlocutor crie uma imagem

virtual (idealizada pelo autor) do emissor. É válido ressaltar que, por estar

subordinada as intencionalidades do enunciador, essa imagem produzida pode não

ser verossímil e elaborada com a finalidade única de levar o interlocutor a acreditar

que o retratado corresponde a representação produzida.

Para a execução dessa parte do projeto, o gênero autorretrato foi

reconfigurado: ele foi produzido de forma não verbal e artística. Os alunos foram

solicitados a montar o seu autorretrato sob o viés da Pop Art, pois era um diálogo

com um dos assuntos estudados por eles na disciplina de Língua Portuguesa

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durante o 2º Bimestre de 2016 e a aplicação de uma Web Quest sobre o assunto

que os instrumentalizava para saber mais sobre o assunto. O tema Pop Art

influenciou nas produções dos autorretratos artísticos, pois os alunos puderam expor

suas referências, inspirações e, sobretudo, expor uma imagem que eles tinham de si

que era transmitida por meio das referências por eles escolhidas ao montar seu

autorretrato. Há a possibilidade, nessa parte do projeto de uma parceria

interdisciplinar com a disciplina de Arte que pode indicar caminhos diferentes e

dialogar com outras formas de expressão artística para o desenvolvimento dessa

prática.

e) Poema

O gênero poema, muitas vezes, é confundido com poesia. No entanto há uma

distinção entre as duas terminologias. Brasil (1979) faz essa diferenciação, para ele:

Poema é o “objeto” poético, o texto onde a poesia se realiza, é uma forma, como o soneto que tem dois quartetos e dois tercetos, ou quatorze versos juntos, como é conhecido o soneto inglês. [...] Poesia é uma manifestação cultural, criativa, expressiva do homem. Não se trata de um “estado emotivo”, do deslumbre de um pôr do sol ou de uma dor de cotovelo, é muito mais do que isso, é uma forma de conhecimento intuitivo, nunca podendo ser confundido o termo poesia com o outro correlato: o poema. (p. 168, 169)

Poema, portanto, é forma e poesia o sentimento expresso. Há de se validar a

máxima, por conseguinte, que há poesia sem poema, mas não há poema se poesia,

uma vez que a poesia pode ser encontrada nas mais variadas artes incluindo a

escritura de poemas.

Com relação a sua estrutura, este gênero é construído por variadas formas de

composição, desde sonetos, a quadras e versos livres, rimados ou não. Geralmente

é organizado em versos e estrofes e com determinada cadência de ritmo. Por

pertencer à esfera literária, a valorização da estética e a linguagem plurissignificativa

– possibilitando variadas interpretações e relações de sentido – são traços

característicos dos poemas.

O papel de um poema é a expressão de um sentimento experenciado pelo eu

lírico; por isso a poesia está presente em todos os poemas. Causando os mais

variados efeitos em seus leitores e interlocutores, os poemas são carregados de

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sentidos variados e compostos por uma linguagem que permite as mais diversas

interpretações e inferências. Também, na contemporaneidade, não possui estruturas

rígidas ou específicas, como se pode observar em épocas passadas cujos

determinados formatos eram tidos como de prestígio – como é o caso do soneto.

Rimados ou não, metrificados ou não, esse gênero se caracteriza pelo uso de uma

linguagem figurada, alegórica e metafórica com o emprego das mais variadas figuras

de linguagem, som e pensamento. Seu objetivo final, no entanto, é sensibilizar seu

leitor, o levando a reflexão e avançando em sua humanização.

O gênero poema entrou na composição do livro-portfólio como produção de

poema autorretrato. Nele, os alunos deveriam se retratar de forma livre e poética.

Sem as amarras de um gênero discursivo com formas fixas, o gênero em questão foi

escolhido justamente para permitir aos alunos a liberdade de se expressarem e se

autorretratarem da maneira como lhes conviessem seja em versos livres, ou

metrificados e rimados e dos mais variados formatos, para que assim, também uma

análise multimodal e entre tema, estilo e composição pudesse ser feita e uma

imagem do aluno como eu lírico fosse projetada.

f) Canção

Para que seja estabelecida a definição do gênero canção é necessária a

explanação da diferença entre música e canção. No dicionário Houaiss (2001), o

termo música aparece como “combinação harmoniosa e expressiva de sons; a arte

de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a

civilização etc (a.m. é uma manifestação mais autêntica de uma cultura)” (p. 1986 –

grifos do autor). Por outro lado, a canção, de acordo com Soares (2011, vol. 1) “é

uma composição poética em versos, de tamanho muito variado, acompanhada por

música. É um gênero discursivo que apresenta dois tipos de linguagem: a verbal e a

musical” (p. 56).

Há, portanto, uma relação harmoniosa entre canção e música que torna o

gênero canção essencialmente multimodal. Não é objetivo, contudo, deste estudo

entrar no mérito musical. O enfoque aqui está estritamente aos elementos verbais e

suas possíveis inferências.

Ainda de acordo com Soares (2011, vol. 1), três características possíveis de

verificação nesse gênero: o predomínio de palavras usadas no cotidiano, a liberdade

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quanto às regras gramaticais e de sintaxe e a veiculação de gírias e de variedades

linguísticas. O gênero canção, portanto, traz consigo a liberdade de criação

(subjetividade) de seu autor e reflete diretamente a época (contexto de produção)

em que foi escrita.

O gênero canção (musicado) está presente em nosso cotidiano nas mais

diversas esferas da sociedade. Tendo a liberdade de expressão como fator

fundamental para sua composição, diversas variedades linguísticas são encontradas

e o desvio da norma padrão está salvaguardado pela licença poética. Os mais

variados assuntos podem ser abordados em sua escritura e a pessoalidade e

subjetividade são elementos que imperam nas entrelinhas do texto.

A escolha desse gênero para a composição do projeto se dá como forma de

projeção de uma imagem do aluno naquele determinado período sócio-histórico de

sua vida. Esse foi um dos gêneros que os alunos não criaram por si próprios, mas

copiaram uma letra de canção favorita para compor o livro-portfólio. Seria como um

marco histórico e social para o livro, situando-o no tempo, espaço e também no que

a letra da canção representava para o aluno naquele determinado período de sua

vivência. É um momento de extrema reflexão para eles, pois a escolha de uma letra

de música que o representasse naquele momento de sua vida exigia discernimento,

ordenação de critérios e ponderação para a escolha acertada para aquele período

específico. O comando para que os alunos trouxessem a canção era:

Trecho da letra de uma música que retrate meu momento.

Sob tal comando, eles teriam então que selecionar uma letra de uma canção

que estivesse relacionada ao momento em que eles estavam vivendo, revelando

assim, uma imagem de cada aluno.

g) Carta pessoal

Entre os muitos gêneros discursivos trabalhados no ambiente escolar, foi

escolhido o gênero carta pessoal pelos seus traços de linguagem informal e

espontânea e por se tratar de um texto que tem como característica o diálogo entre

remetente e destinatário – interlocutores. Como se pretendia “reconfigurar” tal

especificidade solicitando aos alunos que escrevessem textos nos quais eles

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enfrentassem seus medos, dialogassem com seus heróis e questionassem a si

mesmos sobre o futuro, encontrou-se no gênero carta pessoal o suporte para tal

composição.

Köche (2012) – p. 27 e 28 – citando Kaufman e Rodriguez (1995) faz algumas

disposições sobre o gênero discursivo carta pessoal que pode ser observado no

quadro abaixo:

Formas de composição do gênero carta pessoal

Gênero em que o remetente conta ao destinatário eventos particulares de sua vida.

Contém acontecimentos, emoções e sentimentos experimentados por um emissor que percebe seu receptor com “cúmplice”.

Há uma intimidade entre os interlocutores, portanto a linguagem é familiar, espontânea e com marcas da oralidade.

Possui frases inacabadas, com reticências, que habilitam múltiplas interpretações e uso de pontos de exclamação para dar ênfase a determinadas expressões, refletindo alegrias, preocupações e dúvidas.

Uso excessivo de adjetivos, diminutivos, aumentativos e interjeições.

Trata-se de um diálogo a distância entre o remetente e um destinatário que faz parte de suas relações.

Pertence à ordem do relatar e pode mesclar diferentes tipologias, como a narração, a descrição, a dissertação e injunção.

O tempo verbal mais empregado é o presente do indicativo.

Sua estrutura padrão é composta de: local e data, vocativo, corpo do texto, despedida e assinatura.

Depois da assinatura, o autor pode acrescentar um P.S (post-scripitum – pós-escrito) para apresentar informações adicionais que esqueceu de mencionar no corpo do texto.

Se a carta for enviada pelo correio, faz-se uso de um envelope no qual deve conter informações do remetente e destinatário.

Quadro 1. Formas de composição do gênero carta pessoal, baseado em Köche, 2012.

O gênero discursivo carta pessoal é, portanto, um “diálogo” entre

interlocutores que possuem um determinado grau de intimidade, permitindo assim

uma linguagem mais pessoal e espontânea. Permeado, também, de narrações,

descrições, argumentações e injunções; expressando sentimentos, emoções,

questionamentos e experiências vividas pelo autor (ou pelos interlocutores) e com

uma estrutura textual bastante delimitada.

Tal gênero foi escolhido justamente por sua característica dialógica na qual foi

reconfigurada para um “monólogo” reflexivo e humanizador; além de seu tema poder

tratar de questões como autoidentificação e reflexão por parte dos alunos, memórias

e até mesmo elementos de literariedade em sua escrita.

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Nota-se que o nível de autoria de tal gênero é elevado, portanto essencial

para a prática aqui abordada, visto que os alunos precisavam se expressar por meio

das cartas pessoais; e o evento deflagrador, por sua vez, foi reconfigurado para um

monólogo reflexivo e não mais para um diálogo a distância entre interlocutores.

Como já explicitado, o gênero carta pessoal foi o único que foram solicitadas

três produções distintas. Todo o projeto aqui descrito teve início com uma oficina e

produção de cartas, com duração de quatro aulas, na qual os comandos

disparadores para a escrita foram os seguintes:

Aula 01:

Se você tivesse a oportunidade, o que você diria para o seu maior medo ou o vilão

de sua vida? Escreva, então, uma carta pessoal para aquele que tanto te atormenta.

Aula 02:

Uma carta para o meu herói.

O que você diria para o seu herói? Escreva uma carta pessoal para aquele que você

considera o herói de sua vida.

Aula 03:

Uma carta para meu futuro.

O que você diria ou perguntaria para o seu “eu” do futuro? Escreva, então, uma

carta para você mesmo só que no futuro.

A quarta e última aula da oficina foi dedicada à reescrita das cartas que

apresentaram desvios de forma e de conteúdo. Vale ressaltar que todos os

comandos eram intencionalmente construídos de maneira a proporcionar as mais

variadas interpretações e assim desenvolver o pensamento criativo e reflexivo aqui

tomado como tecnológico e também avançar rumo à humanização deles, uma vez

que eles teriam que enfrentar seus medos, se dirigir a quem considerassem o herói

de suas vidas e por último se questionar/refletir/dialogar com o seu eu do futuro.

h) Relato autobiográfico

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Entre os gêneros discursivos que trazem consigo a sequência narrativa como

imperativa em sua composição situa-se o relato autobiográfico. Segundo Lopes

(2015, vol. 1), neste gênero:

o enunciador relata casos que aconteceram com ele mesmo. Não se trata de julgar se o texto é verdadeiro ou falso, real ou fictício, pois a escrita autobiográfica é sempre ambígua, por ser uma leitura subjetiva de um acontecimento. [...] assemelha-se a outros gêneros, como o diário, o blog, as memórias e o depoimento – todos são narrativas autobiográficas, portanto subjetivas e de um alto teor emocional. (p. 13).

Tal gênero permite a narração de uma história vivida ou fictícia, porém com

um teor elevado de subjetivismo e narratividade. Algumas características levantas

por Lopes (2015, vol. 1) sobre o relato autobiográfico é o emprego da 1ª pessoa do

discurso, elementos próprios da sequência narrativa, verbos predominantemente no

pretérito, mas também é possível encontrar verbos no presente – justamente para

aproximar o fato narrado com o leitor – e o destaque na subjetividade, pois é por

meio da memória que os fatos são recuperados e contados.

Traços da sequência descritiva, no entanto (principalmente o perceptual, que

faz uso dos cinco sentidos do corpo humano marcando tais descrições com uma

carga emocional e subjetiva, uma vez que é a partir das memórias que os fatos são

extraídos e recontados) podem ser identificados nas descrições de cenários e

personagens envolvidos. Conectores temporais, causais e explicativos também são

identificáveis na composição do gênero que permite sequências dialogais ao

rememorar conversações entre personagens.

Também desenvolvida sob o formato de oficinas de produção textual (quatro

aulas) que visavam à manipulação de sequências narrativas e as diferentes formas

de narrar – que iriam desde produções de gêneros mais subjetivos e intimistas até

aqueles cuja objetividade e clareza se fazem pertinentes em seu corpus – a oficina

era composta pela produção de relatos autobiográficos, de viagem e, por último,

notícia. O primeiro gênero, portanto, que deu início a tal trabalho foi o relato

autobiográfico, tido como subjetivo, intimista e revelador de experiências da vida de

quem o escreve, para tanto, gênero cuja presença se faz importante para a

composição desse projeto. O comando disparador para tal produção era:

Imagine que você possua um diário. Que notas ou recordações merecem ser lá

eternizadas? Escreva, pois, uma nota, lembrança, recordação, memória, sentimento

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ou opinião que você gostaria de sempre se recordar de um dia/acontecimento

memorável.

Novamente o comando disparador deixava margens para inúmeras

interpretações (propositadamente) justamente para ativar o pensamento criativo e

reflexivo. Também exigia do aluno ponderar entre uma memória digna de ser

eternizada ao ser transcrita para o papel para a composição de seu livro-portfólio,

que como já se nota, se materializa como objeto de reflexão, seleção e

desenvolvimento da criatividade do alunado.

i) Relato de viagem

De acordo com Soares (2013, vol. 3) o gênero relato de viagem objetiva

“documentar experiências pessoais de viagem, pode ser considerado um gênero

entre a literatura e o jornalismo” (p. 19). Segundo a autora, do jornalismo ele utiliza a

narração da informação real e de fatos verídicos e da literatura a liberdade de narrar,

expressar sentimentos e a subjetividade de como o fato é (re)contado.

É possível, entretanto, que a escrita desse texto possa ser elaborada como

exercício de produção textual, no qual o relato seja de uma viagem imaginária ou

fictícia, reconfigurando, dessa forma, o gênero para uma esfera hipotética, criativa e

fantástica. Aspecto este que rompe com os objetivos primeiros do relato de viagem,

denotando a hibridez desse gênero e sua possível riqueza de produção.

Outras especificidades como a coincidência entre autor e narrador,

apresentação de fatos em ordem cronológica, descrição de lugares e de

personagens, indicações precisas de tempo e lugar, predominância de verbos

conjugados no pretérito (perfeito ou imperfeito) e do uso da primeira pessoa do

discurso (singular ou plural) são traços comuns de tal gênero elencados por Soares

(2013, vol. 3).

É fato que o objetivo primeiro deste gênero é o de relatar uma experiência

vivida e marcante no qual autor e narrador se fundem, no entanto, é válido ressaltar

que em contextos cujo gênero é tomado como exercício de escrita (como é o caso

de concursos), há a possibilidade de criação de uma viagem imaginária (hipotética),

uma vez que, de acordo com Soares (2013, vol. 3) ele é um misto de realidade e

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subjetividade, podendo assim, seu caráter fantástico se sobressair mantendo

apenas a verossimilhança com o corpo do texto e seu contexto de produção.

Sendo esta a segunda produção da oficina que tratava das diferentes formas

de narrar, a produção do relato de viagem era uma forma de eternizar uma viagem

marcante realizada pelos alunos que estão construindo o livro-portfólio. Tido como

um momento de revisitar a memória e eternizar uma lembrança, agora sob a forma

de escrita. Foi escolhido justamente como o segundo gênero de tal progressão

justamente por transitar entre o livre (subjetivo e íntimo) e o real que esbarra no

jornalístico, por tratar de uma experiência vivida. O comando disparador para tal

produção, novamente era amplo e permitia o rememorar de diversas experiências.

Era ele:

Viagem marcante da minha vida.

Com o intuito de ativar as lembranças e transformá-las em um ato criativo e

reflexivo de escrita, novamente o alunado era levado a fazer uma seleção de suas

memórias de viagem e escolher aquela que lhe foi a mais marcante.

j) Notícia

Outro gênero discursivo também com traços de sequência narrativa é a

notícia, no entanto com particularidades distintas e composição estrutural bem

delimitada. Para Lopes (2015, vol. 5):

Notícia é o relato de um fato real, de interesse das pessoas. É veiculada em jornais, revistas, rádio, televisão e na internet. É escrita na 3ª pessoa do singular, de modo impessoal, e busca a precisão da linguagem e a objetividade, em um registro formal, sem rebuscamentos. Tem um caráter mais imediato, tratando de fatos recentes que podem se tornar ultrapassados em pouco tempo. (p. 16)

Com uma estrutura canônica de responder às questões O que? Quem?

Quando? Onde? Como e Por quê?, é organizada sempre do mais importante para o

menos importante e também atendo-se aos fatos sem julgamentos de opinião de

quem escreve. O gênero notícia é sempre produzido sobre fatos reais e relevantes

para o público (geral ou específico de tal assunto) com linguagem clara e objetiva.

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Com características próprias e bem delimitadas, este gênero não comporta,

em sua composição subjetividades explicitas tampouco emissões de opiniões,

todavia é pressuposto que a escolha lexical e fraseológica para a composição desse

gênero denota, implicitamente, a opinião de quem o escreve, marcando assim o

posicionamento do enunciador sobre o fato noticiado. Tal objetividade e clareza são

almejadas pelo uso da 3ª pessoa do discurso que tenciona diminuir a carga

emocional do texto, no entanto ela não é suficiente para silenciar/apagar os pontos

de vista de quem produz o texto sobre o assunto a ser noticiado.

Como último gênero a ser produzido na oficina das diferentes formas de

narrar (novamente, a quarta aula da oficina era destinada a correção dos desvios de

norma, forma e conteúdo) este era o que mais se distanciava da subjetividade e

reflexão e se aproximava da objetividade, clareza e apagamento de eu enunciador.

Foi esclarecido aos alunos, que tal objetividade e neutralidade do discurso é

praticamente impossível de ser alcançada, uma vez que as simples escolhas de

léxico e construção de frases já denotam determinados posicionamentos do

enunciador. A escolha do gênero para a composição do livro-portfólio era, assim

como no gênero canção, situar as produções em um determinado espaço e tempo

de um contexto sócio-histórico. Sua intenção era, que no futuro, os alunos ao

revisitar seus livros-portfólios de deparassem com algum acontecimento que estava

chamando a atenção dos noticiários e da sociedade da época.

Para a sua produção, os alunos deveriam se apoiar em um

fato/acontecimento recente e transformá-lo no gênero notícia, para tanto, o comando

disparador para tal produção era:

Escreva uma notícia sobre um fato relevante para o nosso cotidiano que retrate o

nosso atual momento histórico e social.

Outra vez sob a forma de um tema amplo e de variadas inferências, os alunos

deveriam retratar um acontecimento significativo para o cotidiano deles e que fosse

importante para retratar o contexto sócio-histórico no qual eles estavam inseridos.

k) Adágio (ditado, frase, máxima, mote, provérbio, sentença)

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De acordo com Costa (2009) o gênero adágio, também sob a forma de frase,

ditado, máxima, mote, provérbio ou sentença, se caracteriza por ser uma “sentença

(v.) moral de origem popular, curta, rimada ou não” (p.29). Tal gênero pode ter

origens em livros, filmes, seriados, canções, quadrinhos, internet, filósofos etc. São

frases de efeito moral que podem elucidar determinados contextos, trazer

ensinamentos, comparações, servir de lemas de vida, máximas a serem seguidas,

conselhos e crenças em verdades tidas como absolutas (para os interlocutores).

Aplicadas nos mais diversos contextos, é nas conversações orais (e atualmente nas

redes sociais digitais) elas são mais reaproveitadas, reutilizadas e muitas vezes

recontextualizadas.

O adágio, geralmente, não é, portanto, de criação própria, mas o empréstimo

de uma fala (ou escritura) de terceiros que é reaproveitada e (re)utilizada em

contextos específicos.

O emprego dos adágios está presente no cotidiano nas mais diversas

situações sociocomunicativas. Apesar de serem curtos em extensão, possuem uma

carga semântica bastante complexa e o seu emprego está diretamente ligado ao

contexto. Funcionam, muitas vezes, como regras de comportamento/avisos a serem

considerados e podem ser encontrados sob a forma de dizeres metafóricos,

verdades que regem uma maneira de pensar/agir, e conselhos práticos ou

ensinamentos morais.

O gênero foi selecionado para estar presente no livro por sua carga semântica

e reveladora por quem a utiliza dentro de determinado contexto. Também foi um

texto que os alunos não tiveram que produzir, mas selecionar para fazer parte da

composição do livro-portfólio. Os adágios escolhidos projetavam a imagem dos

alunos enunciadores (ou aquela que eles queriam que fosse projetada) nesse

período da vida deles e serviram de uma rica fonte de análise dessa imagem

propagada.

l) Enigma

O dicionário Houaiss (2001) traz como uma das definições de enigma “texto

ou parte dele, frase ou discurso, cujo sentido seja incompreensível, ambíguo ou de

difícil explicação” (p. 1152). Assemelhando-se a advinha, que Costa (2009) a elucida

como:

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questão enigmática que geralmente exige uma solução engenhosa [...] a enunciação da ideia, fato ou objeto ou ser envolta em uma alegoria, procurando-se dificultar-lhe a descoberta. A interpretação da linguagem metafórica ou comparativa pode levar a decifração. (p. 30)

O enigma, portanto, é um gênero que exige um alto nível de interpretação,

mas principalmente de ativação dos conhecimentos relacionados ao que está sendo

dito. Bastante comum nas brincadeiras infantis de advinha, tal gênero se caracteriza

pelo seu caráter coloquial, imaginativo e inventivo sendo um exercício de ativação

de conhecimento de mundo e interpretação.

Este gênero exige um diálogo (real, virtual, imediato ou não) entre

interlocutores, sendo estes levados a resolver o proposto por meio das dicas ou

pistas fornecidas pelo próprio texto, mas, principalmente, pela ativação de seu

conhecimento de mundo. A imaginação, criatividade, engenhosidade e a

interpretação (muitas vezes) de uma linguagem metafórica e ambígua são

características exigidas dos interlocutores envolvidas e pertinente na produção

desse texto.

A última produção para o livro-portfólio solicitava aos alunos que criassem um

enigma para falar deles próprios. A intenção era esconder a solução do enigma em

uma das páginas do livro (ou que a palavra solução do enigma estivesse presente

em uma das produções anteriores), por esse motivo foi a última a ser realizada e

colocada na composição do exemplar, para que o leitor pudesse voltar as páginas

da obra para encontrar a palavra que solucionava o enigma que era uma palavra

que traduzisse o aluno/autor. Tal exercício objetivava criar uma imagem dos

enunciadores, tanto uma imagem que eles tinham de si, mas também uma imagem

que eles queriam propagar para quem se propusesse a ler seu exemplar.

Todos os gêneros escolhidos, portanto, traziam consigo ora uma carga

reveladora das imagens dos alunos/autores tinham ou transmitiam de si e

transparecendo questões de identidade, ora serviam para situar a produção em um

determinado contexto sócio-histórico, e, sobretudo, levar os alunos a reflexão e ao

desenvolvimento do pensamento tecnológico por meio do ato interpretativo dos

comandos e criativo nas produções solicitadas que exigiam tomadas de decisões,

seleções, discernimento, raciocínio abstrato, disposição para o uso de recursos

multimodais e criatividade.

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3.2.1 (Re)Contexto de produção e recepção: contornos para fins didáticos

É possível partir do princípio que texto e contexto estão incondicionalmente

interligados que um não existiria sem o outro e vice-versa. É por meio do contexto

de produção que os gêneros discursivos ganham corpo e aval para serem gerados,

e também por meio do contexto de recepção que eles têm possibilidade de adquirir

sentido(s) e se fazer coerentes. Marcuschi (2008) afirma que “sem situacionalidade

e inserção cultural, não há como interpretar o texto” (p. 87). O autor ainda ressalta

sobre as relações contextuais:

se estabelecem entre o texto e sua situacionalidade ou inserção cultural, social, histórica e cognitiva (o que envolve os conhecimentos individuais e coletivos). Não se pode produzir nem entender um texto considerando apenas a linguagem. O nicho significativo do texto (e da própria língua) é a cultura, a história e a sociedade. (p. 86-87)

Sob o pressuposto de que todo sentido é um sentido situado (Marcuschi,

2008), toda produção é situada seja por sua temática, e principalmente pelos seus

entornos socais, culturais, políticos e históricos. Por conseguinte, um texto só pode

ser considerado como tal devido ao seu contexto de produção e recepção que

incluem fatores discursivos, inteligíveis e articuláveis em sua tecitura. Dessa forma, é

o contexto que permite que certos textos – e também determinadas temáticas –

sejam produzidos (e temas abordados), interpretados e impedem (não se fazem

pertinentes) que outros sejam elaborados e principalmente, que tomem corpo e

sentido.

Essa questão de contextualização é um fator de extrema importância e

legitimidade para o desenvolvimento desse projeto, visto que os comandos

disparadores para as produções posicionavam os alunos em determinadas

situações com temáticas definidas e propunha produções específicas, todavia com

abertura para interpretações criativas que possibilitavam reconfigurações nos

formatos pré-delimitados dos gêneros, sejam eles nas questões textuais

materializadas (tema, estilo e composição) ou discursivas (ações visadas e situação

interacional), como já previstas no esquema de Adam (2017).

3.3 Estágio de docência e cronograma do projeto

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O desenvolvimento do projeto de produção do livro-portfólio ocorreu durante o

primeiro semestre do ano letivo de 2016, durante 23 aulas da disciplina de Produção

de Texto em uma 2ª série do Ensino Médio com nove alunos de um colégio

particular da cidade de Arapongas, Paraná. A aplicação das atividades obedeceu ao

seguinte cronograma:

CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

Aula Atividade

1 Início da Oficina de Produção de Cartas Pessoais.

Produção 1: Uma carta para o meu maior medo/vilão.

Comando disparador: Se você tivesse a oportunidade, o que

você diria para o seu maior medo ou o vilão de sua vida?

Escreva, então, uma carta pessoal para aquele que tanto te

atormenta.

2 Oficina de Produção de Cartas Pessoais.

Produção 2: Uma carta para o meu herói.

Comando disparador: O que você diria para o seu herói?

Escreva uma carta pessoal para aquele que você considera o

herói de sua vida.

3 Oficina de Produção de Cartas Pessoais.

Produção 3: Uma carta para meu futuro.

Comando disparador: O que você diria ou perguntaria para o

seu “eu” do futuro? Escreva, então, uma carta para você mesmo

só que no futuro.

4 Finalização da Oficina de Produção de Cartas Pessoais.

Reescrita das cartas que apresentaram desvios de forma e,

também, de conteúdo.

5 Aplicação da Web Quest sobre Pop Art (instrumentalização) e

produção do autorretrato em Pop Art.

6 Produção do gênero poema.

Temática: Autorretrato

7 Trazer o trecho da letra de uma música (canção) que retrate

meu momento.

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8 Início da Oficina: Diferentes formas de narrar.

Produção do gênero relato autobiográfico.

Comando disparador: Imagine que você possua um diário.

Que notas ou recordações merecem ser lá eternizadas?

Escreva, pois, uma nota, lembrança, recordação, memória,

sentimento ou opinião que você gostaria de sempre se recordar

de um dia/acontecimento memorável.

9 Oficina: Diferentes formas de narrar.

Produção do gênero relato de viagem.

Comando disparador: Viagem marcante da minha vida.

10 Oficina: Diferentes formas de narrar.

Produção do gênero notícia.

Comando disparador: Escreva uma notícia sobre um fato

relevante para o nosso cotidiano que retrate o nosso atual

momento histórico e social.

11 Finalização da Oficina: Diferentes formas de narrar.

Reescrita dos textos que apresentaram desvios de norma, forma

e conteúdo.

12 Trazer a sua frase favorita (adágio) ou aquela que te

represente/ou diga algo sobre você neste momento de sua vida.

13 Produção do prólogo do livro portfólio.

14 Produção do gênero enigma: esconda aquela palavra que te

traduz.

15 Customização das páginas do livro-portfólio.

16 Customização das páginas do livro-portfólio.

17 Customização das páginas do livro-portfólio.

18 Customização das páginas do livro-portfólio.

19 Confecção das capas dos livros-portfólio.

20 Confecção das capas dos livros-portfólio.

21 Confecção das capas dos livros-portfólio.

22 Confecção das capas dos livros-portfólio.

23 Produção de ficha catalográfica dos livros-portfólio.

Quadro 2. Cronograma de aplicação do projeto

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Em todas as aulas destinadas às produções textuais, as regularidades dos

gêneros eram relembradas – uma vez que os alunos que participaram do projeto já

tiveram contato com tais gêneros anteriormente, tendo em vista que o professor-

pesquisador trabalha com a disciplina de Produção textual com a turma desde 2010

e já havia abordado tais gêneros em situações anteriores.

A ordem das produções textuais não obedeceu à organização da ordenação

final do livro, pois muitas delas foram realizadas em formato de oficinas com

objetivos comuns de se abordar gêneros com estruturas similares (justamente para

mostrar as diferenças composicionais, como no caso da Oficina diferentes formas de

narrar) ou até mesmo abordar diferentes temáticas para o mesmo gênero discursivo

(como no caso da Oficina de produção de cartas). Optou-se por inserir os gêneros

que projetassem uma imagem do enunciador (por exemplo, a produção do poema

autorretrato) entre as oficinas e depois delas (a produção do enigma que os

representasse), também para intercalar os gêneros que eram produzidos pelos

alunos com aqueles que eles deveriam selecionar para compor seu livro-portfólio (a

canção e o adágio que os retratassem, por exemplo. Tais gêneros não foram

produzidos, mas escolhidos pelos alunos). O prólogo do livro-portfólio ficou depois

de muitas das produções concluídas, justamente para que os alunos tivessem já

uma projeção de como ficaria o resultado final de suas produções para que assim

pudessem escrever seu texto com mais clareza e discernimento, bem como essa

escolha para o gênero enigma, uma vez que a palavra por ele escolhida já poderia

estar presente em alguma de suas produções.

As capas e as customizações dos livros-portfólio ficaram para a finalização do

projeto, por já se ter uma noção de que tomariam tempo, e por ser uma atividade

que requeria um olhar reflexivo para cada uma das produções para que assim elas

pudessem ser customizadas (ou ilustradas, como aconteceu em alguns casos),

permitindo um olhar multimodal para os textos produzidos.

Esta última etapa do projeto foi a que tomou mais tempo e exigiu do

professor-pesquisador ordenação e suporte aos alunos, pois foi neste período que

técnicas de customização e scrapbooking7 foram utilizadas com o auxílio do

7 Palavra ainda sem tradução específica na Língua Portuguesa, significa a arte de criar álbuns de fotografia

e de memória com o uso de fotos, papéis decorativos, etiquetas, laços, enfeites diversos, entre outros itens. Esta arte é antiga e começou com a ideia de juntar restos de papeis coloridos, de embalagens, de cartões, de cartinhas que, de algum modo, expressavam um momento marcante. Tudo isso era guardado em álbuns de família ou em diários. Fonte: http://www.criartiva.com/scrapbooking-a-historia-do-comeco. Acesso: 4 nov. 2017

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professor-pesquisador. Para uma próxima aplicação, sugere-se que essa parte do

projeto seja realizada em parceria com a disciplina de Artes de uma maneira

interdisciplinar, assim como foi empreendida a produção de papel reciclado com a

disciplina de Química para a produção do gênero prólogo.

Nem todas as produções foram concluídas em sala de aula. A finalização de

muitas delas foram deixadas como tarefa de casa dos alunos e, como acontece no

contexto escolar, muitos alunos acabavam por não entregar no prazo e assim

acumular produções. Uma maneira encontrada para controlar a entrega e finalização

das produções dos alunos foi uma tabela de controle de entrega, na qual continha o

nome do aluno e suas produções. Todas as vezes que o aluno finalizava uma delas,

o seu campo era preenchido com uma caneta marca-texto. A tabela de

acompanhamento das produções pode ser visualizada logo abaixo:

TABELA DE ACOMPANHAMENTO DAS PRODUÇÕES

Quadro 3. Acompanhamento das produções.

Por meio de tal tabela, era possível acompanhar a evolução dos alunos com

relação às produções concluídas, bem como ter um panorama geral do andamento

do projeto.

É válido ressaltar que as produções não tinham por finalidade valorizar o texto

como pretexto para se trabalhar conteúdos gramaticais, ortográficos e de

acentuação. Pelo contrário, elas visavam a um manejo eficiente do gênero solicitado

(suas sequências predominantes e suas especificidades) e, sobretudo, a

interpretação criativa do comando disparador, bem como sua produção criativa. A

valoração dos textos, no entanto, passavam pelo crivo das adequações do gênero,

condições de produção, textualização e língua.

PROJETO: CONSTRUIR UM LIVRO – PRODUÇÃO DO LIVRO-PORTFÓLIO

MAPA DE EVOLUÇÃO

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A avaliação de uma produção textual é algo bastante subjetivo, uma vez que

é possível requerer do alunado que eles escrevam nos limites pressupostos de

determinado gênero e na linguagem permitida por ele – seja ela formal ou informal.

Exigir, no entanto, o que se chama de “brilho” nas produções (ou determinado grau

de literariedade ou fruição) é algo que passa pela apreciação do leitor/corretor e

difícil de ser transformada em nota matemática. Por tanto, questões de adequações

de gênero e condições de produção acabaram por ter um peso maior na composição

da nota final (previstos na ficha como conteúdo) do que elementos de textualização

e língua (determinado como forma), mesmo porque tais elementos não eram o foco

das produções.

Os critérios de correção para as produções são baseados nos mesmos

utilizados pelo concurso de vestibular da Universidade Estadual de Maringá (UEM),

uma vez que o projeto, apesar de ter objetivos específicos e com produções cujas

temáticas valorizam a subjetividade, a reflexão e singularidade, aborda alguns dos

gêneros requeridos em tal concurso e também no Processo de Avaliação Seriada

dessa mesma instituição (PAS-UEM)8, o qual os alunos são incentivados e

preparados para participar. Tais concursos já solicitam em sua prova de redação a

escrita de gêneros discursivos como carta pessoal, relato de viagem e notícia, por

exemplo. As correções foram pautadas, portanto, nos seguintes critérios:

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO DAS PRODUÇÕES TEXTUAIS

CONTEÚDO

Avaliar a capacidade do aluno em produzir determinado gênero discursivo a partir da temática

proposta, bem como atender às condições de produção estabelecidas no enunciado do comando de

cada gênero.

TEMÁTICA

Avalia-se o desenvolvimento da temática

ATENDIMENTO DO COMANDO

Avalia-se o atendimento às condições de

8 O Processo de Avaliação Seriada (PAS-UEM) é uma modalidade do processo seletivo para ingresso

no Ensino Superior destinado aos alunos matriculados regularmente no Ensino Médio e que abrange todas as séries desse nível de ensino. Ao final de cada série, o aluno realiza uma prova. O desempenho em pontos obtidos em cada prova será acumulado e determinará o desempenho final do candidato nesse processo, compondo o escore final utilizado para a classificação ao curso pretendido. Assim, ao invés de o aluno fazer um só exame ao final do terceiro ano, como ocorre no concurso vestibular convencional, ele participa de avaliações seriadas, as quais contemplam conteúdos específicos da série em que o aluno está matriculado no Ensino Médio. Fonte: https://www.npd.uem.br/cvu/relatorios/manual_candidato_13.pdf. Acesso: 04 nov. 2017.

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ppertinente a cada gênero discursivo solicitado,

observando os níveis de exauribilidade do tema.

produção expressas no comando de cada

gênero discursivo.

FORMA

Objetiva-se avaliar a organização composicional típica do gênero discursivo solicitado, a coesão e a

coerência em função da materialização das ideias e o desempenho linguístico em consonância com

a variedade linguística, mas sempre observando a modalidade culta da língua escrita. Em alguns

gêneros, no entanto, há concessões devido às licenças poéticas, como no caso dos poemas.

ORGANIZAÇÃO TEXTUAL

Avalia-se a estrutura organizacional típica do

gênero textual solicitado, considerando os

mecanismos de coesão e de coerência

necessários para a sua materialização ou

textualização.

DESEMPENHO LINGUÍSTICO

Avalia-se o desempenho linguístico a partir da

modalidade culta da língua escrita, observando

os níveis de construção de parágrafos, frases,

períodos, orações, palavras e seus elementos

constituintes, como ortografia, pontuação,

regência, concordância etc.

As produções que apresentaram desvios tanto de elementos de conteúdo ou

mesmo de forma foram solicitadas a reescrita para os alunos. Tais desvios foram

sinalizados e anotações sobre adequações feitas nas primeiras produções. Somente

depois dessa primeira correção que os alunos reescreverem seus textos nas folhas

de papel vergê, caracterizando assim a produção final de cada gênero abordado.

A próxima seção é destinada ao produto educacional desenvolvido, para que

assim outros professores possam fazer uso de tal prática em seu contexto de sala

de aula. Trata-se de uma proposta didática em tom de conversa com o professor, o

orientando e dando sugestões sobre como tal abordagem pode ser realizada.

Quadro 4. Critérios de correção das produções textuais.

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4 PRODUTO EDUCACIONAL: CONSTRUIR UM LIVRO: A PRODUÇÃO DE UM LIVRO-PORTFÓLIO COMO INSTRUMENTO DE HUMANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO TECNOLÓGICO Este capítulo é destinado à apresentação do produto educacional

desenvolvido para esta dissertação. Nessa apresentação, leva-se em conta que o

programa de mestrado requer a elaboração e desenvolvimento de um material

voltado ao uso didático-pedagógico e para a prática escolar (Educação Infantil,

Ensino Fundamental, Médio ou Superior). Nesses limites, a exemplo de trabalhos e

apresentações anteriores desse tipo de material, todo o design do capítulo

obedecerá uma formatação do texto bem particular e própria de um produto anexo

ao texto, mas, como parte mais importante de estudo, aparece em destaque no

espaço pós-metodologia.

Por meio de comandos disparadores, buscou-se uma interpretação criativa

dos 12 gêneros solicitados – criatividade entendida aqui como “as capacidades que

permitem uma pessoa comportar-se de modos novos e adaptativos em

determinados contextos” (MOUCHIROUD e LUBART, 2002) – à (auto)reflexão e à

produção de textos particulares, intimistas e singulares, defende-se que tal prática

auxilia no desenvolvimento do pensamento tecnológico, pelo fato de demandar do

alunado a materialização de um pensamento criativo ao interpretar e produzir os

comandos estabelecidos, que por tratar de temáticas que levam a reflexão e

estimulam a criatividade, avançam rumo à humanização (FREIRE, 1969).

Delimitações sobre o desenvolvimento da criatividade, do avançar da

humanização, questões sobre gêneros discursivos e contextos de produção foram

abordados para esclarecer ao professor sobre as conceituações teóricas que a

prática se pauta. Quadros sobre as características dos gêneros selecionados foram

elaborados e, por último, foram traçadas algumas orientações metodológicas para

auxiliar o professor sobre o desenvolvimento do projeto.

O tom de conversa com o professor, escolhido para a escrita deste produto,

pretende aproximar pesquisador e produto educacional de seu público-alvo: o

professor de Língua Portuguesa/Produção de texto atuante no Ensino Fundamental

2 e Médio. Também para sustentar que a projeto foi desenvolvido abrindo o canal de

diálogo entre pesquisador e professores que se dispuserem a desenvolver a prática

em suas salas de aula.

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Construir um livro: uma proposta didática

Ao professor,

Se existe algo que ainda mexe com o imaginário das

pessoas, mesmo depois de tantos séculos, e que nós, professores

de Língua Portuguesa somos fascinados (ou, pelo menos é essa

visão que constrói-se sobre nós, pois somos vistos pelos nossos

alunos como aqueles que ainda encorajam a leitura), isso se chama

LIVRO.

Os livros são capazes (re)criar atmosferas perdidas no

tempo ou totalmente inventadas pela genialidade de certos

“criadores” e, o mais importante, transportar leitores para tais

lugares, desde “O país das Maravilhas” de Alice e a Escola de

Magia e Bruxaria de Hogwarts, de Harry Potter, até a Paris do século

XIX e uma de suas luxuosas Óperas (na qual habitava um tenebroso

Fantasma) e a Londres caótica e deteriorada da época da

revolução industrial, retratada por Charles Dickens em Oliver Twist, e

até mesmo nos convidar a dar a volta ao mundo em fascinantes 80

dias. Um por todos e todos por um! E essa Capitu, traiu ou não traiu

Bentinho?

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Mas falar de livros em pleno século XXI na era dos multi,

pluri e hipertextos? “É preciso preparar nossos alunos para este

mundo repleto de tecnologias. Instrumentalizá-los. Levá-los a fazer

uso consciente”. Os discursos são muitos sobre isso. Que tal então

falar de tecnologias por meio da confecção de livros? “Um e-book,

claro?!” Você deve estar se perguntando. Pois não é isso. Um livro

de papel, confeccionado e escrito por eles. “Imagina! Eles nunca

iriam querer fazer um negócio desses.” Acredite, eles irão! E você irá

se surpreender com os resultados. “Então, fale-me mais sobre

isso...”

Primeiro que este projeto visa ao desenvolvimento do

pensamento criativo (que vou chamar de tecnológico, pois entendo

que a base de toda tecnologia já desenvolvida, seja ela útil ou não, é

fruto do pensamento e do ato criativo). Logo eu vou te dar mais

informações sobre isso, porque a gente, professor, não vai

comprando a primeira ideia que vê na frente e colocando para dentro

da nossa sala de aula, não é mesmo?

Segundo que aqui também se objetiva o avanço rumo à

humanização do aluno, bem aquela defendida por Paulo Freire

quando fala de uma educação humanista, libertadora e

transformadora. Vamos chegar lá.

Bem, para desenvolver o projeto, selecionei 12 gêneros do

discurso para estarem presentes na composição do livro, melhor

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dizendo, um livro-portfólio.12 gêneros que vão permitir que seus

alunos usem da criatividade ao produzi-los, e o mais importante,

abusem da criatividade na hora de interpretar o comando disparador

para cada um deles. E nessa interpretação que está o X da questão.

É na interpretação do comando disparador que os alunos poderão

usar e abusar da criatividade. O projeto foi desenvolvido em uma

turma de 2ª série do Ensino Médio, mas nada que você, professor,

não possa readequar a sua realidade escolar e com suas turmas.

Basta fazer uma readequação de gêneros que você julgue

pertinentes para a composição do material e que estejam adequados

com a maturidade de escrita dos alunos e sua desenvoltura para

produção. Não é uma receita pronta, mas sim uma experiência que

você pode readequar, e eu ficaria contente de saber dos seus

resultados.

Essa história de fazer um livro-portfólio com os alunos (que

eu já fiz com meus alunos, e se você quiser bater um papo sobre,

vou deixar meu contato aqui no final) não nasceu do além não. Você

já deve ter visto na livraria – porque professor adora uma livraria –

um livro chamado Destrua este diário, de Keri Smith. Pois bem, foi

vendo esse livro na mão dos meus alunos (e depois comprando meu

exemplar, porque eu também queria destruir o meu) foi que surgiu a

ideia de adaptar o livro para uma prática pedagógica (significativa)

para as minhas aulas de Produção de Texto, e, posso falar, deu

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muito certo!

Bom, se você chegou até aqui é porque está quase

convencido a comprar essa ideia de fazer um livro-portfólio com seus

alunos também. Vamos conversar mais sobre isso? Para continuar

nossa conversa, vamos falar primeiro sobre essa história de

desenvolver esse tal de pensamento tecnológico na sala de aula. E

assim eu coloco reticências nessa nossa conversa inicial...

Um abraço cordial,

Professor Rogério Nascimento Bortolin

[email protected]

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Construir um livro

Índice: Prólogo

Poema autorretrato

Trecho de uma música que retrata meu momento

Uma carta para o meu medo/vilão da minha vida

Uma carta para o meu herói

Uma carta para o meu “eu” do futuro

Querido diário...

Minha frase favorita

Notícia que chamou minha atenção

Um relato de viagem...

Enigma: este sou eu!

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Materiais Utilizados Papel Caneta / Lápis Argolas de metal Tinta Tecido Cola Botões Tesoura Estilete Reflexão Iniciativa Emoções Medos Coragem Ideias Criatividade Raciocínio Abstração Interpretação

Imaginação

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4.1 Desenvolver a criatividade é preciso

Em tempos que somos cercados de tecnologias por todos os lados, novas

ferramentas e aplicativos invadem (e facilitam) a nossa vida, novos dispositivos são

lançados quase que na velocidade da luz, e aparelhos se tornam obsoletos também

nessa mesma proporção. Acompanhar esse ritmo frenético é como estar em uma

eterna corrida e sempre ficar para trás. Mas é preciso estar preparado para lidar com

esse mundo e, principalmente, preparar nossos alunos para que façam uso

consciente e se posicionem criticamente nesse meio.

A obsolescência das máquinas é um fator que muitas vezes impede ou

atrapalha esse desenvolver tecnológico em contexto escolar. Como lidar com isso e

ainda instrumentalizar o alunado? Bem, quando se tem em mente que não é,

necessariamente, a tecnologia (máquina) que precisa entrar na sala de aula, e sim o

desenvolvimento do pensamento criativo (tecnológico), essa questão começa a ser

iluminada por uma luz que vem lá do fim do túnel.

É do pensamento criativo que toda e qualquer tecnologia surge. Se não

fosse a resolução criativa de algum problema ou para a gênese de uma invenção

facilitadora, muito provavelmente ainda estaríamos desenhando em pedras. Toda

tecnologia provém, portanto da criatividade humana. Logo, desenvolver esse

pensamento na sala de aula é uma maneira de preparar o alunado a lidar com o

mundo tecnológico.

Mas o que vem a ser esse tal de pensamento criativo e tecnológico e como

desenvolvê-lo em sala de aula? Esse desenvolvimento pode ser feito por meio de

práticas que valorizem o uso da criatividade, da interpretação, da abstração, da

solução de problemas, da cooperação, das relações de causa e consequência, da

lógica, da agilidade, da curiosidade, da iniciativa, da associação com outras áreas,

da comunicação (oral, visual e escrita), da criticidade, por meio de atividades que

permitam uma visão do todo e não apenas uma fragmentação e da autonomia. Tudo

isso são as bases do pensamento criativo e tecnológico e fatores que precisam estar

inseridos nas nossas práticas escolares se almejamos a preparação dos nossos

alunos para esse mundo moderno. E este projeto de construir um livro-portfólio

abrange todos esses elementos.

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Para construir os livros, os alunos precisam não só produzir textos de forma

criativa, mas interpretar os comandos de forma criativa, solucionar problemas de

composição, entender que estão participando de um processo que é multifacetado e

que envolve inúmeras etapas e diversos tipos de conhecimentos (de diferentes

áreas), terão de ser críticos e reflexivos para as seleções do que entra ou não no

livro (e refletir sobre o porquê dessas escolhas e as consequências delas) e também

ser autônomos, mas ao mesmo tempo cooperar uns com os outros com ideias,

sugestões e críticas. Uma reinvenção de uma velha tecnologia, mas que vislumbra o

desenvolvimento do potencial criativo de cada aluno e prepará-lo para experiências

(tecnológicas) do mercado de trabalho e do mundo moderno.

4.2 Humanizar também é preciso

Avançar rumo à humanização dos alunos é outro fator objetivado com a

aplicação dessa prática. Buscar uma educação mais humanizada, libertadora e

transformadora já é objetivo comum de nós professores, pois ela é pautada em uma

visão crítica e reflexiva, com práticas que estimulam a criatividade, que colocam os

alunos como agentes responsáveis e atuantes na construção de seu processo de

ensino e aprendizagem. Uma educação que não enxerga os alunos como caixas

que precisam ser preenchidas de conhecimento, mas que acredita na interação e na

troca de saberes em que todos saem transformados.

Nas palavras de Antônio Candido (1995), a humanização é o exercício da

reflexão, aquisição do saber, a capacidade de perceber (e compreender) a

complexidade do mundo, dos seres e da vida, a boa disposição com os outros, o

alinhar das emoções e o cultivo do senso de beleza e do humor, e essa prática

almeja levar os alunos a reflexão (primeiro dele com ele mesmo e depois dele com o

mundo e suas experiências), fazer uso do pensamento crítico na seleção de textos

para compor seu livro-portfólio, enfrentar seus medos, frustrações e confrontar seu

futuro e, principalmente, se perceber com um ser no mundo.

Paulo Freire (1969), em seus escritos já defendia uma educação humanista e

libertadora que, por meio de práticas que estimulem a criatividade, o

questionamento, a reflexão e a criticidade, leve o aluno a não só se perceber no

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mundo como ser sócio-histórico, mas querer transformá-lo de maneira crítica e

reflexiva.

É, portanto, sob este prisma que aqui se defende uma prática que avança

rumo à humanização. Um projeto no qual os alunos não são encarados como caixas

vazias que precisam ser preenchidas de conhecimento, mas como agentes criativos

que são estimulados a resolver problemas de construção de escrita, a interpretar

comandos de forma criativa, a interagir com seus semelhantes, a exercitarem a

reflexão de se colocarem no mundo como seres sociais, históricos e políticos em um

determinado contexto de tempo e espaço, e assim, saírem transformados e mais

humanizados de tal prática.

4.3Com que gênero eu vou?

Este projeto se pauta na perspectiva bakhtiniana que entende os gêneros do

discurso como tipos relativamente estáveis de enunciados que organizam e

permeiam nossa comunicação circulando em determinados domínios discursivos

(esferas sociais) e também na visão sociointeracionista de Bronckart (2006) que

entende que a interação humana se dá por meio das ações de linguagem (agir

comunicativo) materializadas no formato de textos.

Dessa forma, tal prática se baseia na produção de gêneros do discurso em

ambiente escolar, porém com um diferencial: tais gêneros podem sofrer alterações

(intencionais) em seus planos pré-formatados de acordo com o comando disparador

e, sobretudo da interpretação (proativa) feita pelo aluno e seu ato criativo de escrita.

Estes planos pré-formatados dos gêneros estão presentes nos estudos de

Adam (2011; 2017) que entende que a materialização dos textos se dá pela

junção/ordenação por sequências (narrativas, descritivas, argumentativas,

expositivas e dialogais) que juntas, pela teia textual, em um nível de organização

seguinte remetem ao que o autor denomina plano de texto fixo ou ocasional, ou

planos pré-formatados para um gênero ou não pré-formatados. Esta também foi uma

abordagem almejada no desenvolvimento desse projeto: levar os alunos a

perceberem a presença e, sobretudo, manipularem tais sequências de acordo com o

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gênero requerido para a sua composição competente, crítica e criativa e suas

macroações de narrar, descrever, argumentar, dialogar e expor.

Para a construção do livro-portfólio, foram escolhidos 12 gêneros que trazem

consigo características que levam a reflexão, a subjetividade e a possibilidade de

uma escrita criativa – principalmente por conta da interpretação de seu comando

disparador. Outra característica é que eles permitem que os alunos se posicionem

em um contexto político, social e histórico e projetem uma imagem reflexiva que eles

fazem de si e que passa para seus leitores. Outro fator de extrema importância para

esta prática e que precisa estar claro (tanto para você, professor, quanto para os

seus alunos) é a questão dos contextos de produção e recepção.

4.3.1 (Re)Contextos e situacionalidade: imagine que...

É possível partir do princípio que texto e contexto estão incondicionalmente

interligados que um não existiria sem o outro e vice-versa. É por meio do contexto

de produção que os gêneros discursivos ganham corpo e aval para serem gerados,

e também por meio do contexto de recepção que eles são passives de adquirir

sentido(s) e se fazer coerentes.

Sob o pressuposto de que todo sentido é um sentido situado (Marcuschi,

2008), toda produção é situada seja por sua temática, e principalmente pelos seus

entornos socais, culturais, políticos e históricos. Por conseguinte, um texto só pode

ser considerado como tal devido ao seu contexto de produção e recepção que

incluem fatores discursivos, inteligíveis e articuláveis em sua tecitura. Essa

questão de contextualização é um fator de extrema importância e legitimidade para a

aplicação desse projeto, visto que os comandos disparadores para as produções

posicionam os alunos em determinadas situações com temáticas definidas e

propõem produções específicas, todavia com abertura para interpretações criativas

que possibilitavam reconfigurações nos formatos pré-delimitados dos gêneros,

sejam eles nas questões textuais materializadas (tema, estilo e composição) ou

discursivas.

Alguns dos gêneros escolhidos permitem aos alunos uma divagação reflexiva

dele com ele mesmo, alguns servem para situar a produção do livro-portfólio em um

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determinado contexto social, histórico e político, outros são formas de eternizar

momentos relevantes da vivência e experiência deles e por fim, tem aqueles que

servem para criar uma imagem do aluno (a que ele tem de si e que pretende passar

para seu leitor). Os gêneros selecionados para compor o livro-portfólio, portanto são:

capa de livro, ficha catalográfica, prólogo, autorretrato, poema, canção, carta

pessoal, relato autobiográfico, relato de viagem, notícia, adágio e enigma.

Para facilitar o desenvolvimento, longe de querer normatizar os gêneros ou

(pré) defini-los, quadros foram elaborados (inspirados nos trabalhos de Santos,

2016) fazendo um levantamento das características pré-formatadas de cada um dos

gêneros aqui abordado com relação à composição, o tema e o estilo de cada um

deles.

a) Capa de livro

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Como atividade estética, a capa de livro pode estar ligada diretamente ao seu conteúdo, instigando a curiosidade do leitor, fazendo referências a determinadas partes da obra, ou como elemento independente do texto ao qual se atrela, ser uma atividade visual artística.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Convencionalmente é composta pelo nome do autor, nome do livro e da editora, mas permite variações por não possuir estrutura fixa.

ESTILO Subjetivo e pessoal. CONTEXTO DE PRODUÇÃO A motivação inicial é proteger o livro.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO A capa de livro possui um leitor universal, uma vez que são as “portas” do livro, no qual, qualquer leitor pode ter acesso.

SUPORTE O próprio livro.

Quadro 5. Capa do livro: elementos do gênero e especificidades

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Como se trata da composição de um livro-portfólio artesanal construído

inteiramente pelos alunos, a capa é um item essencial a ser produzido para o

projeto, pois ela é um elemento caracterizador de tal suporte e traz consigo uma

carga semântica de possibilidade de interpretações denotando as inspirações e

aspirações dos alunos, dando dicas, logo nas portas de entrada de cada livro.

Figura 1. Modelo de capa confeccionada por uma aluna

Como minha turma era pequena e eu conhecia as técnicas de scrapbook, eu

acabei fazendo as capas com eles utilizando papel holler (aquele utilizado para

confecção de cadernos de capa dura) e papéis de scrapbook, e outros materiais

ficaram a critério dos alunos, mas eu sugiro que esta parte seja feita em parceria

com o professor de Arte em uma atividade interdisciplinar. Ele poderá indicar

materiais, utilizar técnicas e auxiliar os alunos nessa parte da produção.

Como já mencionei, este projeto pode ser realizado de maneira

interdisciplinar com as disciplinas de Arte e Química, resultando em um trabalho

bastante amplo e abordando diversas áreas do conhecimento.

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b) Ficha catalográfica

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Referenciar o nome do autor, o da obra, a editora, cidade e ano de publicação.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Sobrenome do autor em caixa alta seguido pelo nome do autor ou apenas a letra inicial, nome da obra, cidade de publicação, editora responsável e ano de publicação. Outros elementos como volume, número da edição, nome do tradutor, ilustrador e colaboradores também podem aparecer.

ESTILO Obedece às regras específicas de composição, como normatização da ABNT e tabela internacional.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Catalogar um escrito (obra).

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitores que tiverem contato com tal escrito, ou que pretendem fazer uma busca pelo ISSN.

SUPORTE Geralmente, nas páginas iniciais ou finais de livros e periódicos.

Quadro 6. Ficha catalográfica: elementos do gênero e especificidades

Figura 2. Modelo de ficha catalográfica produzida por um aluno.

Ao produzir tal gênero, os alunos criam uma identidade para o seu material,

dando nome ao livro-portfólio (escolhido por eles mesmos), destacando seu lugar

como autor e o ano de produção.

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A ficha catalográfica, portanto, seria a identificação de cada um dos

exemplares produzidos.

c) Prólogo

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Esclarecer e introduzir o público à obra a ser lida, dando pistas sobre seu conteúdo temático.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Composto por sequências narrativas, descritivas, expositivas, dialogais e até mesmo argumentativas em um texto introdutório a uma obra.

ESTILO O estilo pode variar de acordo com a obra, desde o mais coloquial e informal, até respeitando a norma-padrão e com léxico específico da área.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Introduzir o leitor a uma obra.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitores universais que tiverem contato com a obra.

SUPORTE Livros e peças teatrais.

Quadro 7. Prólogo: elementos do gênero e especificidades

Outra peculiaridade para as produções deste gênero foi uma parceira

interdisciplinar estabelecida com a professora de Química da turma. Juntos

desenvolvemos uma oficina de produção de papel reciclável (duas aulas) na qual os

alunos produziram os papéis que serviram de base para a escrita dos prólogos. Os

alunos, assim confeccionaram os papéis adicionando elementos como café, gliter,

retalhos de tecidos, pétalas de flores e folhas secas para dar contornos individuais

às suas produções.

Essa parceria com a disciplina de Química justamente para a produção do

gênero prólogo se justifica para dar contornos ainda mais intimistas e singulares às

produções deste gênero, pois é o texto que abre o livro-portfólio, que é todo

confeccionado por cada aluno, produzir também uma folha de papel do livro é uma

forma de ratificar tais contornos individuais, além de proporcionar uma possível

leitura multimodal entre o conteúdo do gênero e seu suporte.

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Esta parceria interdisciplinar para o projeto leva os alunos a conciliar outras

áreas do conhecimento na execução do projeto, dando um olhar ainda mais singular

para cada livro-portfólio.

Figura 3. Modelo de prólogo produzido por uma aluna.

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d) Autorretrato

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Geralmente, características do enunciador são enaltecidas – ou (re)criadas sob a forma da multimodalidade) para que se atinja determinados fins, seja criar uma imagem de si mesmo, ou convencer alguém de que a imagem criada é verossímil e condizente com o que o autor realmente é (ou pensa ser).

ESTRUTURA COMPOSICIONAL No formato de texto escrito, pode ser organizado em períodos e parágrafos, ou em formato de tópicos compondo um texto com sequências descritivas. Pode ser elaborado também, no entanto, sob a forma de pintura ou fotografia estando relacionado ao tipo de estética que o autor pretende utilizar e transmitir.

ESTILO Estará subordinado diretamente ao suporte de veiculação. Para uma rede social de namoro, será uma linguagem coloquial e afetuosa, por exemplo, no entanto, outros contextos e suportes podem exigir uma linguagem mais acurada ou elementos multimodais referenciais diferenciados e específicos.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Alguém intencionando se retratar e evidenciar determinadas características de seu ser (ou de um ser inventado para determinado fim).

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitor universal, sob a forma de texto escrito veiculado em redes sociais, ou mesmo em formato de pintura ou fotografia.

SUPORTE Cyber espaço, redes sociais, telas, papel, livros e revistas.

Quadro 8. Autorretrato: elementos do gênero e especificidades

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Figura 4. Modelo de autorretrato produzido por um aluno.

Para a execução dessa parte do projeto, o gênero autorretrato foi

reconfigurado e foi produzido de forma não verbal e artística. Os alunos foram

solicitados a montar o seu autorretrato sob o estilo de Pop Art., Este tema

influenciou nas produções dos autorretratos artísticos, pois os alunos puderam expor

suas referências, inspirações e, sobretudo, expor uma imagem que eles tinham de

si. Aqui, sugiro que esta etapa seja desenvolvida junto do professor de Arte, pois

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podem, novamente, ser exploradas técnicas e diferentes escolas artísticas como o

Cubismo, Impressionismo, e até a própria Pop Art.

e) Poema

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Os sentimentos humanos e manifestações culturais, criativa e expressivas são os temas presentes nos poemas.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Geralmente, é organizado em versos e estrofes, rimados ou não, metrificados ou de versos livres e muitas vezes tendo uma cadência sonora demarcando determinado ritmo podendo apresentar sequências, narrativas, descritivas, dialogais, expositivas e argumentativas, prevalecendo a macroação de narrar.

ESTILO Pode variar desde a mais coloquial, até o respeito da norma padrão culta, no entanto há a valorização da estilística e de uma linguagem metafórica, alegórica, carregada de figuras de linguagem e plurissignificativa.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO A expressão de um sentimento (amor, protesto, crítica social etc) ou uma manifestação expressiva.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitor universal, uma vez que os poemas podem ser encontrados desde janelas de ônibus a livros e na internet.

SUPORTE Livros, internet, e lugares menos convencionais como ônibus, por exemplo.

Quadro 9. Poema: elementos do gênero e especificidades

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Figura 5. Modelo de poema autorretrato produzido por uma aluna.

Quando executei o projeto, o gênero poema entrou na composição do livro-

portfólio como produção de poema autorretrato. Nele, os alunos deveriam se retratar

de forma livre e poética. Sem as amarras de um gênero discursivo com formas fixas,

o gênero em questão foi escolhido justamente para permitir aos alunos a liberdade

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de se expressarem e se autorretratarem da maneira como lhes conviessem seja em

versos livres, ou metrificados e rimados e dos mais variados formatos e uma imagem

do aluno como eu lírico fosse projetada.

Claro que você pode optar por formas mais clássicas como sonetos,

quadras, ou até mesmo haicais. Longe de engessar o projeto, sinta-se livre para

adaptar a sua realidade e propostas que julgar pertinentes ao seu contexto.

f) Canção

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Os temas abordados nas canções podem ser diversos e variados que abrangem desde críticas a sentimentos.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Convencionalmente é composta em versos e estrofes, podendo ser composta por sequências narrativas, descritivas, argumentativas, dialogais e expositivas.

ESTILO Subjetivo e pessoal. Sendo a liberdade de composição um fator imperativo no gênero, as diversas variedades linguísticas podem estar presentes e o desvio da norma padrão também é um fator recorrente.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Contar histórias, abordar sentimentos, tecer criticas sociais.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitor universal, tendo em vista que as canções podem ser musicadas e ser tocadas no rádio, TV e plataformas digitais.

SUPORTE Meio impresso ou virtual (a letra da canção), musicada é veiculada pelo rádio, TV e plataformas digitais.

Quadro 10. Canção: elementos do gênero e especificidades

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Figura 6. Modelo de canção escolhida por uma aluna.

A escolha desse gênero para a composição do projeto se dá como forma de

projeção de uma imagem do aluno naquele determinado período sócio-histórico de

sua vida. Esse foi um dos gêneros que selecionaram para a composição do livro-

portfólio: a letra de canção favorita. Seria como um marco histórico e social para o

livro, situando-o no tempo, espaço e também no que a letra da canção representava

para o aluno naquele determinado período de sua vivência.

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É um momento de extrema reflexão para eles, pois a escolha de uma letra

de música que o representasse naquele momento de sua vida exigia discernimento,

ordenação de critérios e ponderação para a escolha acertada para aquele período

específico.

g) Carta pessoal

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Assuntos particulares e pessoais da vida dos interlocutores; questionamentos; expressão de emoções e pontos de vista.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Organizada em parágrafos. Estrutura: local e data; vocativo; corpo do texto; despedida e assinatura (podendo acrescentar o P.S – post-scriptum – para apresentar informações adicionais que se esqueceu de mencionar no corpo do texto), podendo apresentar sequências descritivas, narrativas, dialogais, expositivas e argumentativas.

ESTILO Escrita familiar, informal, espontânea e com marcas da oralidade, normalmente com o emprego da 1ª pessoa gramatical.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Intenção de contar de maneira espontânea, eventos particulares da vida do emissor, expressar emoções, sentimentos e perguntar sobre acontecimentos da vida do destinatário.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Inicialmente, leitores do convívio social e familiar do enunciador. No entanto, para este projeto há uma ressignificação desse leitor, pois os alunos escreverão para seus medos, heróis e futuro.

SUPORTE Papel e envelope.

Quadro 11. Carta pessoal: elementos do gênero e especificidades

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Tal gênero foi escolhido justamente por sua característica dialógica na qual

foi reconfigurada para um “monólogo” reflexivo e humanizador; além de tratar de

questões como identidade: autoidentificação e reflexão por parte dos alunos,

memórias e até mesmo elementos de literariedade em sua escrita.

O gênero carta pessoal foi o único que solicitei três produções distintas. Eu

pedi para os alunos escreverem cartas para o seu medo, seu herói e para seu eu do

futuro. Os comandos que usei para estas produções foram esses:

Medo:

Se você tivesse a oportunidade, o que você diria para o seu maior medo ou o vilão

de sua vida? Escreva, então, uma carta pessoal para aquele que tanto te atormenta.

Herói:

Uma carta para o meu herói.

O que você diria para o seu herói? Escreva uma carta pessoal para aquele que você

considera o herói de sua vida.

Futuro:

Uma carta para meu futuro.

O que você diria ou perguntaria para o seu “eu” do futuro? Escreva, então, uma

carta para você mesmo só que no futuro.

Vale ressaltar que todos os comandos são intencionalmente construídos de

maneira a proporcionar as mais variadas interpretações e assim desenvolver o

pensamento criativo e reflexivo aqui tomado como tecnológico e também avançar

rumo à humanização, uma vez que eles têm que enfrentar seus medos, se dirigir a

quem consideram o herói de suas vidas e, por último, questionar/refletir/dialogar com

o seu eu do futuro.

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Figura 7. Modelo de carta produzida por uma aluna.

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h) Relato autobiográfico

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Experiências tidas como vividas pelo enunciador, fatos marcantes e relevantes que ele resgata de sua memória.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Organizado em parágrafos, possui título e segue a estrutura da sequência narrativa com enredo, nó/crise, conflito, clímax, desfecho, narrador, personagens e cenário (tempo e espaço bem marcados), podendo também ter em sua composição sequências, descritivas, dialogais, expositivas e argumentativas.

ESTILO Subjetiva, uso de adjetivos e impressões pessoais do narrador sobre o evento relatado.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Relatar uma experiência.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitor universal, pois sua produção pode ser requerida tanto como exercício escolar, concursos e/ou aparecer em outros suportes como jornais, revistas e blogs.

SUPORTE Papel (livros, revistas, jornais impressos) ou meio digital (e-books, revistas eletrônicas, jornais digitais, blogs e portais).

Quadro 12. Relato autobiográfico: elementos do gênero e especificidades

Esta parte do projeto pode ser desenvolvida sob o formato de oficina que visa

à manipulação da macroação narrativa e as diferentes formas de narrar – que vão

desde produções de gêneros mais subjetivos e intimistas até aqueles cuja

objetividade e clareza se fazem pertinentes em seu corpus – a oficina pode ser

composta pela produção de relatos autobiográficos, de viagem e, por último, notícia.

O primeiro gênero, portanto para dar início a tal trabalho é o relato autobiográfico,

tido como subjetivo, intimista e revelador de experiências da vida de quem o

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escreve, para tanto, gênero cuja presença se faz importante para a composição

desse projeto. O comando disparador para tal produção pode ser:

Imagine que você possua um diário. Que notas ou recordações merecem ser lá

eternizadas? Escreva, pois, uma nota, lembrança, recordação, memória, sentimento

ou opinião que você gostaria de sempre se recordar de um dia/acontecimento

memorável.

Figura 8. Modelo de relato autobiográfico produzido por um aluno.

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Novamente o comando disparador se abre para inúmeras interpretações

(propositadamente) justamente para ativar o pensamento criativo e reflexivo.

Também exige do aluno ponderar entre uma memória digna de ser eternizada ao ser

transcrita para o papel para a composição de seu livro-portfólio, que como já se

nota, se materializa como objeto de reflexão, seleção e desenvolvimento da

criatividade do aluno.

i) Relato de viagem

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Uma viagem marcante na vida do enunciador, ou tida como marcante, no caso de uma ficção.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Organizado em parágrafos, possui título e segue a estrutura da sequência narrativa com enredo, nó/crise, conflito, clímax, desfecho, narrador, personagens e cenário (tempo e espaço bem marcados) e descritiva, detalhando especificidades dos lugares e dos envolvidos, podendo também ter em sua composição sequências, expositivas, dialogais e argumentativas.

ESTILO Subjetiva com uso da primeira pessoa do discurso (singular ou plural), de descrições, de adjetivos, verbos no pretérito (perfeito ou imperfeito) e permeado de impressões pessoais do enunciador sobre a viagem realizada.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Relatar uma viagem (realizada ou imaginária).

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitor universal, pois sua produção pode ser requerida tanto como exercício escolar, concursos e/ou aparecer em outros suportes como livros, jornais, revistas e blogs.

SUPORTE Papel (livros, revistas, jornais impressos) ou meio digital (e-books, revistas eletrônicas, jornais digitais, blogs).

Quadro 13. Relato de viagem: elementos do gênero e especificidades

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Esta pode ser a segunda produção da oficina que trate das diferentes formas

de narrar, a produção do relato de viagem é também uma forma de eternizar uma

viagem marcante realizada pelos alunos que estão construindo o livro-portfólio. Tido

como um momento de revisitar a memória e eternizar uma lembrança, agora sob a

forma de escrita. Foi escolhido justamente como o segundo gênero de tal

progressão justamente por transitar entre o livre (subjetivo e íntimo) e o real que

esbarra no jornalístico, por tratar de uma experiência vivida.

Figura 9. Modelo de relato de viagem produzido por um aluno.

O comando disparador que você pode utilizar para tal produção, novamente

é amplo e permite o rememorar de diversas experiências:

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Viagem marcante da minha vida.

Com o intuito de ativar as lembranças e transformá-las em um ato criativo e

reflexivo de escrita, os alunos são levados a fazer uma seleção de suas memórias

de viagem e escolher aquela que lhe foi a mais marcante.

j) Notícia

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Fatos reais de relevância social para o público em geral ou um público seleto e específico.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Organizada em parágrafos, possui título (destacado do texto seja com uma fonte, cor ou tamanho diferente, ou mesmo o negrito), lide (também separado do todo do texto e destacado geralmente pelo uso do itálico) e corpo do texto. Possui em sua composição sequências narrativas, expositivas, descritivas e argumentativas.

ESTILO Linguagem clara, objetiva, sem rebuscamentos e escrita obedecendo à ordem dos elementos dos mais importantes para os menos importantes.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Noticiar um acontecimento.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Quando produzida suportes como jornais, revistas, rádio, televisão e internet, dispõe de um leitor universal, no entanto sua produção pode ser requerida tanto como exercício escolar, concursos para a verificação da escrita do gênero.

SUPORTE Papel (jornais e revistas impressos), meio digital (revistas eletrônicas e jornais digitais), radio e televisão.

Quadro 14. Notícia: elementos do gênero e especificidades

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Figura 10. Modelo de notícia produzida por um aluno.

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Como último gênero a ser produzido nesta oficina das diferentes formas de

narrar, este era o que mais se distanciava da subjetividade e reflexão e se

aproximava da objetividade, clareza e apagamento de eu enunciador. É necessário

esclarecer aos alunos, que tal objetividade e neutralidade do discurso é

praticamente impossível de ser alcançada, uma vez que as simples escolhas de

léxico e construção de frases já denotam determinados posicionamentos do

enunciador. A escolha do gênero para a composição do livro-portfólio é, assim como

no gênero canção, situar as produções em um determinado espaço e tempo de um

contexto sócio-histórico.

Para a sua produção, os alunos podem se apoiar em um fato/acontecimento

recente e transformá-lo no gênero notícia, para tanto, o comando disparador pode

ser:

Escreva uma notícia sobre um fato relevante para o nosso cotidiano que retrate o

nosso atual momento histórico e social.

Outra vez sob a forma de um tema amplo e de variadas inferências, os alunos

devem retratar um acontecimento significativo para o cotidiano deles e que se faz

importante para retratar o contexto sócio-histórico no qual eles estão inseridos.

k) Adágio (ditado, frase, máxima, mote, provérbio, sentença)

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Como depende intrinsecamente do contexto, seu tema pode ser os mais variados (desde máximas existenciais a comparações que levam ao riso).

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Geralmente são sentenças curtas, rimada ou não permeadas por sequências argumentativas, narrativas e expositivas.

ESTILO Como são das mais diversas origens, podem ser encontradas tanto em variedades coloquiais ou sob a mais alta expressão da norma padrão.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Pode ser utilizado para elucidar situações, moralizar, resumir, ratificar,

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levar a reflexão, ao riso etc.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Leitor universal, pois está presente no cotidiano sob a forma de ditados populares, frases de efeito e morais etc.

SUPORTE Conversações orais, redes sociais digitais, também encontradas em diários, agendas ou até mesmo no corpo humano sob a forma de tatuagens, para-choque de caminhão, roupas, paredes, muros etc.

Quadro 15. Adágio: elementos do gênero e especificidades

O gênero foi selecionado para estar presente no livro por sua carga

semântica e reveladora por quem a utiliza dentro de determinado contexto. Também

é um texto que os alunos não precisam produzir (claro que você pode pedir para que

eles produzam), mas selecionar para fazer parte da composição do livro-portfólio. Os

adágios escolhidos projetam a imagem dos alunos enunciadores (ou aquela que

eles queriam que fosse projetada) nesse período da vida deles.

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Figura 11. Modelo de adágio escolhido por uma aluna

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l) Enigma

ELEMENTOS DO GÊNERO ESPECIFICIDADES

TEMA Variado, dependendo dos contextos de produção e, principalmente, de veiculação e recepção.

ESTRUTURA COMPOSICIONAL Pode aparecer sob a forma de períodos e parágrafos, ou também em forma de versos rimados. composto por sequências narrativas, expositivas ou descritivas.

ESTILO Geralmente de linguagem coloquial.

CONTEXTO DE PRODUÇÃO Elaborar uma advinha para o interlocutor.

CONTEXTO DE RECEPÇÃO Interlocutores em situações dialogais, ou leitores universais quanto tal texto é veiculado por outros suportes.

SUPORTE Conversações, almanaques, livros, jornais, revistas, internet.

Quadro 16. Enigma: elementos do gênero e especificidades

A última produção para o livro-portfólio solicita aos alunos que criem um

enigma para falar deles próprios. A intenção é esconder a solução do enigma em

uma das páginas do livro (ou que a palavra solução do enigma esteja presente em

uma das produções anteriores), por esse motivo é a última a ser realizada e

colocada na composição do exemplar, para que o leitor possa voltar às páginas da

obra para encontrar a palavra que solucione o enigma que deve ser uma palavra

que “traduza” o aluno/autor.

Tal exercício objetiva também criar uma imagem dos enunciadores, tanto

uma imagem que eles têm de si, mas uma imagem que eles queiram propagar para

quem se vá ter contato como seu exemplar.

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Figura 12. Modelo de enigma produzido por uma aluna.

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4.4 A estruturação do projeto e seu desenvolvimento

Todos os gêneros escolhidos trazem consigo ora uma carga reveladora das

imagens dos alunos/autores, ora servem para situar a produção em um determinado

contexto sócio-histórico.

Um dos objetivos, contudo, de tal prática é o de levar os alunos à reflexão e

ao desenvolvimento do pensamento tecnológico por meio do ato interpretativo dos

comandos e criativo nas produções solicitadas que exigem tomadas de decisões,

seleções, discernimento, raciocínio abstrato, disposição para o uso de recursos

multimodais.

Para estruturar melhor a aplicação do projeto, tomei a iniciativa de

desenvolver um cronograma de aplicação para facilitar o seu trabalho. Sugiro que

você, professor, organize as produções em oficinas, para que os alunos possam

perceber a evolução do processo e ter uma visão do todo. É bom esclarecer para

eles que eles estarão participando de um projeto multidisciplinar.

Lembrando que este cronograma é apenas uma sugestão para nortear o seu

trabalho, quero que você se sinta livre para fazer as adequações que julgar

necessárias e condizentes ao seu contexto.

Uma recomendação é iniciar o trabalho com a Oficina de Produção de

Cartas, já dei até um nome bonito que você pode utilizar. Ela vai permitir que você

trabalhe com um gênero só durante algum tempo e os alunos também podem ir

percebendo a evolução das produções e das temáticas. Você pode seguir esses

passos:

a)Oficina de Produção de Cartas

Aula Atividade

1 Início da Oficina de Produção de Cartas.

Orientações: É importante levar em conta o conhecimento

prévio dos alunos sobre o gênero abordado, questioná-los sobre

o que sabem sobre ele, levar alguns exemplos de cartas e

também explorar as suas características com relação ao tema,

composição e estilo desse gênero.

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Produção 1: Uma carta para o meu maior medo/vilão.

Comando disparador: Se você tivesse a oportunidade, o que

você diria para o seu maior medo ou o vilão de sua vida?

Escreva, então, uma carta pessoal para aquele que tanto te

atormenta.

2 Produção 2: Uma carta para o meu herói.

Comando disparador: O que você diria para o seu herói?

Escreva uma carta pessoal para aquele que você considera o

herói de sua vida.

3 Produção 3: Uma carta para meu futuro.

Comando disparador: O que você diria ou perguntaria para o

seu “eu” do futuro? Escreva, então, uma carta para você mesmo

só que no futuro.

4 Finalização da Oficina de Produção de Cartas Pessoais.

Reescrita das cartas.

Quadro 17. Oficina de produção de cartas

Finalizada esta oficina, você pode começar uma nova, desta vez a de

Diferentes Formas de Narrar, que vai instrumentalizar os alunos a manipular as

sequências narrativas (predominantemente) em diferentes gêneros discursivos: o

relato autobiográfico, o relato de viagem e a notícia. Assim, os alunos poderão sair

de um gênero narrativo mais subjetivo e migrar para aquele que preza pela clareza e

objetividade.

b) Diferentes Formas de Narrar

Aula Atividade

1 Início da Oficina: Diferentes Formas de Narrar.

Orientações: É importante iniciar a oficina trazendo

características das sequências narrativas e da macroação de

narrar presentes nos diferentes gêneros a ser trabalhados. Uma

análise textual de exemplos de relato autobiográfico, relato de

viagem e notícia auxilia os alunos a perceberem a presença

dessas sequências e também a identificar as características

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desses gêneros e suas particularidades. Trazer exemplos para

leitura e análise de cada um dos gêneros propostos para depois

iniciar as produções é uma alternativa que irá facilitar o trabalho

das produções. Isso pode ser feito antes da produção de cada

gênero ou em uma aula específica para leitura e análise textual.

Produção do gênero relato autobiográfico.

Comando disparador: Imagine que você possua um diário.

Que notas ou recordações merecem ser lá eternizadas?

Escreva, pois, uma nota, lembrança, recordação, memória,

sentimento ou opinião que você gostaria de sempre se recordar

de um dia/acontecimento memorável.

2 Produção do gênero relato de viagem.

Comando disparador: Viagem marcante da minha vida.

3 Produção do gênero notícia.

Comando disparador: Escreva uma notícia sobre um fato

relevante para o nosso cotidiano que retrate o nosso atual

momento histórico e social.

4 Finalização da Oficina.

Reescrita dos textos.

Quadro 18. Oficina: Diferentes formas de narrar.

Agora é hora dos alunos começar a expor a imagem que eles fazem de si

(não que isso já não tenha acontecido nas produções anteriores, mas esta parte é

específica para isso) e, você, professor, explorar os gêneros que permitem essa

projeção e levar os alunos a um processo de seleção e reflexão. Eu chamo essa

oficina de Nada além de mim: retratando minha identidade, aqui você pode trabalhar

junto do professor de Arte para ele produzir com os alunos o autorretrato sob a

temática que ele, ou vocês em conjunto decidam, seja ela Pop Art, Cubismo,

Expressionismo ou Abstrata. Os gêneros abordados sãos os seguintes:

c) Nada além de mim: retratando minha identidade

Aula Atividade

1 Produção do autorretrato em parceria com a disciplina de Arte.

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2 Orientações: É importante trabalhar as características do

gênero poema e suas particularidades. Há diversos autores que

se propõem a fazer seu autorretrato em forma de poema, pode-

se fazer a leitura e análise do poema “O autorretrato”, de Mário

Quintana, por exemplo, antes de solicitar a produção desse

gênero. Depois das produções dos poemas, pode-se fazer um

Sarau na sala com os alunos recitando os poemas produzidos.

Produção do gênero poema.

Temática: Autorretrato

3 Trazer o trecho da letra de uma música (canção) que retrate

meu momento.

Orientações: Pode-se fazer um momento no qual os alunos

tragam as músicas em áudio ou vídeo e expliquem o porquê de

sua escolha para determinada canção.

4 Orientações: Explicitar aos alunos o que é um adágio e suas

características.

Trazer a sua frase favorita (adágio) ou aquela que te

represente/ou diga algo sobre você neste momento de sua vida.

5 Orientações: Iniciar esta etapa com a leitura e análise de

alguns enigmas (perceber as sequências presentes) e expor as

características do gênero.

Produção do gênero enigma: esconda aquela palavra que te

traduz.

Quadro 19. Oficina: Nada além de mim: retratando minha identidade.

Entrando na etapa final da aplicação do projeto, começa a oficina de

Construção e Edição, na qual os alunos produzem a capa, a ficha catalográfica e o

prólogo. Novamente, em uma atividade interdisciplinar, o professor de Arte pode

ficar com a confecção das capas, utilizando técnicas e materiais que vocês

decidirem, e poderá ser aplicado um projeto de Química para construir uma página

de papel reciclado para que os alunos escrevam (ou colem) os prólogos dos livros.

Essa parte de produção do papel leva de três a quatro aulas, mas isso fica a critério

do planejamento do professor de Química.

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d) Construção e Edição

Aula Atividade

1 Confecção das capas dos livros-portfólio (parceria com a

disciplina de Arte).

2 Orientações: Levar diferentes livros para que os alunos possam

encontrar as fichas catalográficas e levá-los a perceber as

características desse gênero.

Produção da ficha catalográfica dos livros-portfólio.

3 Confecção do papel reciclável para a produção dos prólogos

(parceria com a disciplina de Química).

Orientações: O link com o vídeo ensinando como fazer o papel

reciclável é este aqui embaixo, ou você pode acessar o canal

“Manual do Mundo” no Youtube.

https://www.youtube.com/watch?v=fjt5gWCx120&t=2s

4 Orientações: Fazer um momento de leitura e análise com

diferentes prólogos de livros para que os alunos percebam o

teor desse gênero bem como suas características.

Produção do prólogo do livro portfólio.

Quadro 20. Oficina de construção e edição.

Uma dica é que você crie uma planilha de acompanhamento da aplicação

com o nome dos alunos e as produções, assim você pode ir marcando aquelas que

já foram finalizadas. Eu fiz uma dessa forma:

Quadro 21. Acompanhamento das produções

PROJETO: CONSTRUIR UM LIVRO – PRODUÇÃO DO LIVRO-PORTFÓLIO

MAPA DE EVOLUÇÃO

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Avaliar as produções não é uma tarefa fácil. Não se pode cobrar brilho nos

textos dos alunos, pois a atividade de escrita envolve diversos conhecimentos e

também afinidades que são transpostos para o papel na hora de escrever.

Parâmetros, no entanto, são necessários para que se tenha um norte de correção e

avaliação. O quadro abaixo mostra alguns elementos que precisam ser

considerados na correção do aluno, até para que ele possa aprimorar sua escrita.

Vale ressaltar que os textos produzidos não devem ser tomados como

pretextos para se abordar determinados conceitos gramaticais, aquela famosa

gramática pela gramática. As adequações dos gêneros, sua produção sócio-

comunicativa eficiente, e suas especificidades, tanto no que concerne as suas pré-

estruturas quanto a situacionalidade e adequação as propostas, devem prevalecer

em detrimento às questões formais de língua. Não que esses requisitos não sejam

importantes e devam ser ignorados, mas os alunos não devem ficar presos em

regras quando se trata de produções criativas. As regras servirão para ajudar na

escrita e não como forma de engessar as produções.

Alguns elementos que podem ser observados ao se corrigir/avaliar os textos

são os seguintes:

CRITÉRIOS PARA CORREÇÃO E AVALIAÇÃO DAS PRODUÇÕES

CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO / TEMA

Unidade temática

Adequação ao gênero

Limites traçados

Ausência de contradições

Sequência lógica

TEXTUALIZAÇÃO

Coesão

Coerência

Situacionalidade

Sequências

Disposição gráfica

Legibilidade

Vocabulário

Paragrafação

LÍNGUA

Concordância

Pontuação

Gramática

Ortografia

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Acentuação

Pontuação

Tais elementos podem ser tidos como nortes/parâmetros para a

conceituação dos alunos, no entanto, são apenas algumas sugestões para que a

correção seja realizada.

Os alunos ”fecharam” os livros com argolas de metal, até para que se os

eles no futuro queiram adicionar páginas extras, possam ter essa possibilidade, mas

existem técnicas de costura que você poderá utilizar.

Meus alunos produziram todas as versões finais dos gêneros abordados em

folhas de papel vergê creme, por ser um papel com uma aparência mais rústica e

mais grossa, dando um visual mais artesanal ao livro-portfólio. Como eles tiveram

que passar todos os textos para esse papel, a minha aplicação se estendeu mais do

que eu sugeri aqui para você, até porque eles customizaram as páginas, fizeram

ilustrações – tive até um aluno que datilografou suas produções. Essa parte de

customização das páginas pode ser feita em parceria com a disciplina de Arte, mas

a intenção maior aqui é que os alunos produzam os gêneros, solucionem problemas

de escrita, sejam criativos ao interpretar e escrever os textos, e, principalmente,

avancem rumo à humanização.

Bom, esta é uma prática, entre inúmeras outras que você já deve ter visto,

que aborda produções dos gêneros discursivos. Mas aposto que com essa ideia de

desenvolver o pensamento criativo e tecnológico nos alunos e avançar rumo à

humanização deve ser novidade para você. Eu espero que você tenha gostado da

proposta e se arrisque a aplicá-la em suas turmas. Vai dar trabalho? Um monte!

Você vai encontrar obstáculos? Provavelmente, porque eu também encontrei. Mas

uma coisa eu posso garantir, vai valer a pena cada segundo investido na aplicação,

porque os resultados são simplesmente surpreendentes. Logo abaixo estão alguns

exemplos dos trabalhos dos meus alunos para você se inspirar. Desejo a você que

vai aplicar este projeto uma boa sorte e pode contar comigo para qualquer dúvida,

estarei a disposição e gostaria muito de ver os seus resultados.

Um abraço e até breve!

Prof. Rogério Nascimento Bortolin

Quadro 22. Critérios para correção e avaliação das produções textuais.

[email protected]

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5 APLICAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL: RESULTADOS OBTIDOS E DESAFIOS ENCONTRADOS

Neste capítulo, destinado às análises dos dados obtidos com a pesquisa,

aborda-se, principalmente, a prática do produto educacional e algumas reflexões

sobre os desafios encontrados com desenvolvimento do projeto. Especificamente,

observa-se como alguns dos gêneros presentes nessa prática ganharam novos

contornos e ressignificações, embora mantendo parte de seu plano de texto original.

Pontualmente, reflete-se sobre o estilo de escrita (criativa), fruto do ato de

interpretação do comando disparador para tais produções. Por fim, são destacados

pontos mais relevantes no tocante a algumas produções que se mostraram

reflexivas no sentido de humanizar o aluno.

5.1 O desenvolvimento do produto educacional: reflexões sobre o trabalho com

gêneros e o desenvolvimento do pensamento tecnológico em sala de aula

Esta proposta didática foi elaborada como um instrumento de humanização e

desenvolvimento do pensamento tecnológico em contexto escolar. As premissas que

orientaram o projeto foram a busca de uma educação mais humanizada, sob os

preceitos de Candido (1995) e Freire (1969), e a perspectiva do desenvolvimento do

pensamento tecnológico (MACHADO, 2008 e KENSKI, 2012), uma vez que a

obsolescência das máquinas é um fator que muitas vezes atrapalha ou impede o

desenvolver tecnológico em sala de aula.

Por meio de práticas de produção de texto para a composição de um livro-

portfólio, 12 gêneros do discurso foram trabalhados – principalmente suas

especificidades de tema, composição e estilo, e também sob as concepções de pré-

formatação, sequências e planos de texto (ADAM, 2011; 2017).

Para que tais produções se concretizassem, os alunos deveriam interpretar o

comando disparador para cada gênero e assim produzi-lo. É nesse ponto que o

desenvolvimento do pensamento tecnológico (criativo) se faz presente, uma vez

que, de acordo com Machado (2008), são as características desse pensamento a

abstração, a lógica e a agilidade, podendo incluir a criatividade e a interpretação.

Kenski (2012), também entende que o raciocínio e engenhosidade humana têm

garantido ao homem um processo crescente de inovações; portanto, é do

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pensamento criativo humano que a tecnologia é materializada (tanto no sentido de

artefato, quanto técnica, estreitando o vínculo entre tecnologia e poder).

A interpretação dos comandos de maneira inovadora e a produção dos

gêneros solicitados (também, muitas vezes de maneira singular) foram, portanto, os

combustíveis para o desenvolvimento do produto educacional que culminou em

resultados satisfatórios alcançando o escopo ao qual se propunha, uma vez que foi

da engenhosidade dos alunos que os textos foram produzidos (materializados) e

ganharam novos contornos com relação à sua temática, textura e semântica (ADAM,

2017). Além disso, em muitos deles, pode-se observar o fenômeno de hibridização

(MARCUSCHI, 2005) ou reacentuação (SILVEIRA, ROHLING e RODRIGUES, 2012)

no momento de produção pelos alunos.

De uma forma geral, a criatividade (aqui entendida como pensamento

tecnológico), sob a concepção de Mouchrioud, C. e Lubart, T. (2002), é entedida

como um conjunto das capacidades que permitem uma pessoa comportar-se ou

trazer padrões novos e/ou adaptativos em determinados contextos de ação. Nas

práticas docentes, esse tipo de atitude se fez presente em todas as etapas de

construção do livro-portfólio: interpretação dos comandos; produções

textuais/retextualizações; seleções dos textos para a composição do exemplar do

livro, entre outros. Os alunos foram expostos a situações (de interpretação e

produção) nas quais eles precisaram tomar atitudes criativas para concluírem a

tarefa solicitada e foram bem-sucedidos com relação à inovação

interpretação/reinterpretação dos contextos de produção dos gêneros solicitados.

Além disso, a humanização, pautada em Candido (1995) e Freire (1969), se

fez presente no exercício da reflexão sobre o universo das situações

sociodiscursivas para cada uma das atividades de linguagem propostas e/ou

reconstruídas nos comandos disparadores.

O produto educacional desenvolvido, portanto, obteve resultados satisfatórios

e se mostra como uma possibilidade de prática de sala de aula com gêneros do

discurso (contexto formador de sujeitos mais ativo ou propostas de exames

vestibulares), o desenvolvimento do pensamento tecnológico e avançar rumo

humanização. Os resultados alcançados foram além dos projetados e os alunos se

mostraram abertos, críticos e reflexivos ao produzir os textos e interpretar de

maneira criativa os comandos disparadores, surpreendendo com produções

honestas, intimistas e que diziam muito do seu eu enunciador. Também foram

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criativos ao solucionar desafios de escrita e de produção ao pensar no projeto como

um todo e não em produções isoladas. Tais atitudes denotaram que as expectativas

acerca do desenvolvimento do produto foram, não somente alcançadas, mas

também superadas e, muitas vezes, não previstas (como o caso de um aluno, por

exemplo, que datilografou todas as produções de seu livro-portfólio).

Outra característica é a proposta artesanal do projeto e sua confecção.

As customizações das páginas e confecções das capas foram realizadas todas

nas aulas de Produção do Texto, uma vez que o professor-pesquisador conhecia

técnicas de scrapbook – técnica essa que não precisa ser considerada em

aplicações posteriores, ela só se fez presente por sugestão do pesquisador – e

pode auxiliar os alunos. Dessa forma, além das produções escritas serem

realizadas nas aulas, as etapas artísticas de customização também foram. Para

futuras aplicações, sugere-se um trabalho multidisciplinar entre as cadeiras de

Língua Portuguesa (produção dos textos), Arte (customização das páginas,

produções das capas e autorretrato) e Química (confecção de papel reclicado

que pode ser utilizado no livro-portfólio), por conseguinte o trabalho pode ganhar

contornos interdisciplinares e envolver variados conhecimentos de áreas

diversas.

5.2 A ressignificação e a reacentuação de gêneros: especificidades temáticas e

pré-formatação

O conceito de ressignificação de alguns gêneros foi embasado em Marcuschi

(2005) no que diz respeito à mescla de texto em que um gênero assume a

função/forma de outro em dada situação comunicativa. De forma complementar,

Silveira, Rohling e Rodrigues (2012) tratam da questão como um caso de

reacentuação de gênero, quando, “por exemplo, alguns artigos assinados assumem

cara de carta ou de poema [...] poemas assumem a feição de receita culinária.” (p.

56). Esse processo, apesar de parecer pouco comum, resvala na relativa

estabilidade dos gêneros e o profundo entrosamento que entre eles podem

acontecer. Em determinadas situações sociodiscursivas, naturais ou produzidas em

sala de aula (como em nosso caso), a reacentuação (ou hibridismo para alguns –

ROJO & BARBOSA, 2015) mostra-se também um tipo de unidade criativa que se

caracteriza, em muitos casos, pela mudança de esfera do gênero ou uma espécie de

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“travestimento”, uma fábula (esfera literária) travestida em crônica (esfera

jornalística), por exemplo.

Para Silveira, Rohling e Rodrigues (2012), quando o leitor se depara com tais

situações, “ele age orientado pela situação social de interação, uma vez que o

enunciado (e, logo, o gênero) possui duas dimensões: uma dimensão verbal (ou

constituída de outro material semiótico) e uma dimensão social.” (p. 56, 57). Nesses

casos, é a dimensão social que orienta o leitor. Tal característica de ressignificação

se mostrou presente nas produções das cartas (para o medo, herói e futuro), como é

possível observar nesta produção de uma aluna:

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Figura 13. Carta para o futuro produzida por uma aluna.

No texto anterior, visualiza-se um plano de texto canônico para a carta

pessoal (vocativo/abertura/narração/fechamento). Segundo Adam (2017), alguns

gêneros possuem o que se denomina plano pré-formatado para um gênero, ou seja,

recorrência de um formato que se aplica a vários outros exemplares. O quadro

abaixo resume os dados prototípicos de uma produção do gênero epistolar com

referências ao texto de um dos alunos em análise:

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ELEMENTOS DE TEXTURA E ESTRUTURA PRÉ-FORMATADA DO GÊNERO

CARTA PESSOAL

Local e data: Arapongas, 19 de fevereiro de 2016

Vocativo: Querida Eu,

Corpo do texto: Acredito que quando você estiver lendo

essa carta [...] e se preparar para o pior.

Despedida: Com muitíssimo Amor

Assinatura: Suelen Calizotti9

Exemplo de sequência predominante

narrativa (macroação do narrar):

Com seus 36, deve ter vivido muitas

coisas, realizado muitos de seus sonhos,

deve ter descoberto em quem por fim

realmente confiar.

Quadro 23. Plano pré-formatado do gênero carta pessoal.

Apesar deste texto apresentar elementos de textura e estrutura de seu plano

pré-formatado como uma carta pessoal, ao se analisar o conteúdo, percebe-se que

há uma ressignificação temática, pois não há um direcionamento a um leitor

diferente do enunciador. O que se observa é que tal escrito ganha contornos de um

monólogo reflexivo destinado à própria aluna quando ela estiver mais velha: O

motivo de estar escrevendo essa carta é para você se recordar sempre das coisas

boas que você (eu na verdade) estou vivendo. Essa marca denota uma

reacentuação discursiva para o gênero em que a carta (estrutura marcadamente

dialogal com foco em uma coenunciação) mistura-se com um discurso intimista,

monológico. Em outras palavras, mantem-se a forma, mas altera-se o tema/função

do gênero. O texto não terá mais um interlocutor (leitor preferencial) diferente do

enunciador, tampouco será enviado via sistema postal. Ele foi escrito já com o

pressuposto de fazer parte da composição do livro-portfólio dessa aluna. O escrito,

apesar de seguir os planos de pré-formatação de uma carta, ganha contornos

intimistas, reflexivos e de um monólogo como os textos produzidos em diários, por

exemplo, no qual leitor e enunciador não se diferem e é o espaço que esse encontra

9 A aluna concedeu a carta de autorização para que seu texto fosse analisado.

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para refletir sobre suas vivências, experiências e aspirações. Há, portanto, nesse

exemplo o que Marcuschi (2005) chama de hibridez do gênero.

Outro caso em que a ressignificação do gênero pode ser observado nesta

produção de relato autobiográfico:

Figura 14. Relato autobiográfico produzido por um aluno.

Apesar de apresentar elementos previstos em seu plano pré-formatado, o

relato autobiográfico produzido pelo aluno ganha contornos ressignificativos, e

reflexivos. Ao dispor o escrito do aluno em um quadro pode-se delimitar os seguintes

limites no que se refere à textura, estrutura e semântica do gênero, verifica-se:

ELEMENTOS DE TEXTURA, ESTRUTURA E SEMÂNTICA PRÉ-FORMATADA DO

GÊNERO RELATO AUTOBIOGRÁFICO

Textura: Proposições-

enunciados e períodos.

Minha infância como um

todo, do tempo em que eu

podia brincar a tarde toda.

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Estrutura: Sequências e planos de

texto.

Macroação de narrar.

Não precisava me preocupar

com tantas coisas como

tenho hoje.

Semântica: Representação

discursiva.

As melhores coisas que hoje

não voltam mais ficam

apenas nas lembranças [...]

Quadro 24. Plano pré-formatado do gênero relato autobiográfico.

O texto, embora narre eventos passados da vida de seu enunciador, como em

as tardes na casa da avó, as brincadeiras, não apresenta detalhes marcantes

desses acontecimentos, o que se justifica já pelo título escolhido “Lembranças”. Tais

memórias não são narradas de maneira pontual e detalhada, mas como um

exercício em que o aluno revisita seu passado e traz à tona algumas de suas

memórias de infância. Essas memórias são transpostas em um formato mais

poético, apenas como lembranças, sem o detalhamento e/ou objetividade de um

relato autobiográfico. Portanto, o gênero em questão também ganha outros

contornos e é reacentuado estilisticamente para um olhar mais literário.

Outro fator que contribui para essa noção de reflexão nostálgica é o fato do

aluno ilustrar seu texto com uma imagem de um desenho animado que fez parte de

sua infância, além dele ter datilografado para sua versão final (preferência do próprio

alunos), novamente uma menção poética/estilística. Ao se fazer uma análise

multimodal (DIONÍSIO, 2007, p.178) pontua que os “recursos visuais e verbais

precisam ser vistos como um todo, no processamento dos gêneros textuais”. É

possível perceber que tais elementos corroboram para essa noção nostálgica, uma

vez que tais recursos visuais e verbais se somam para a construção desse efeito de

sentido do texto produzido.

5.3 A interpretação do comando disparador: produções singulares e o avanço

rumo à humanização

Um fator que se mostrou importante desde o início do projeto foi a forma

como os alunos interpretariam o comando disparador para as produções textuais.

Neste ponto, defende-se o aspecto da criatividade, sob os postulados de

Mouchrioud e Lubart (2002) que a entendem como o conjunto das capacidades que

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permitem uma pessoa comportar-se de modos novos e adaptativos em

determinados contextos. Sob essa perspectiva, quando os alunos se depararam, por

exemplo, com o comando:

Uma carta para o meu herói.

O que você diria para o seu herói? Escreva uma carta pessoal para aquele que você considera o herói da sua vida

Em tal situação, poderia se esperar que as produções fossem direcionadas

aos heróis dos filmes, dos desenhos animados, a alguns profissionais como

policiais, bombeiros, médicos ou professores, ou até mesmo aos próprios pais. O

teor da produção estaria intrinsecamente veiculado à concepção de herói que cada

aluno entenderia/interpretaria.

O dicionário Houaiss (2001) traz como uma das definições para a palavra

herói: “indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade,

abnegação, magnanimidade, etc [...] que arrisca a vida pelo dever ou em benefício

de outrem.” (p. 1520). Ou seja, indivíduos com traços mais concretos. Algumas

dessas expectativas puderam ser verificadas, pois houve cartas nas quais os alunos

direcionaram seus escritos para seus pais, no entanto, algumas cartas foram

direcionadas a Deus, tomando-o como herói, o que denota uma interpretação

inovadora do comando disparador, rompendo com as expectativas dos textos serem

direcionados a seres mais concretos que trouxeram algo a vida deles, ou

possibilitaram alguma mudança pontual em seu comportamento. Um exemplo de

carta direcionada a Deus pode ser verificada no texto produzido por uma aluna:

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Figura 15. Carta para o herói produzida por uma aluna10

Direcionar a carta para o herói a Deus, no caso desse texto, denota uma

interpretação criativa por parte da aluna, uma vez que ela comportou-se de maneira

nova e inesperada frente ao comando disparador, tendo em vista as definições de

herói que podem ser encontradas nos dicionários. Para ela, Deus é o seu herói,

pois, de acordo com seu texto sem você sou fraca, mas com você sou maior. Ela

entende o conceito de herói não como alguém que arrisca a vida em benefício dos

outros, como aponta algumas definições dicionarizadas para o termo, mas como

algo superior que para ela, sustenta, dá forças e ela pode contar em todos os

momentos. Nesse caso, portanto, o ato de interpretação inovador (criativo) orientou

a escrita, bem como o teor semântico do texto.

A produção do gênero enigma exigiu dos alunos um senso criativo, não só

para produzir um texto cuja resposta era uma palavra que o traduzia, mas também a

maneira encontrada por eles para esconder a resposta em seu livro-portfólio. O

comando para a escrita do texto é: “Produção do gênero enigma: esconda aquela

palavra que te traduz.”

Alguns alunos optaram por “esconder” a palavra em outros gêneros já

produzidos, ou seja, para encontrar a resposta, o leitor deveria voltar ao início do

exemplar e ler cuidadosamente cada produção em busca da palavra-solução para o

10 A aluna concedeu a carta de autorização para que seu texto fosse analisado.

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enigma elaborado. No entanto, uma aluna decidiu de forma inusitada, valendo-se

das técnicas de produção dos livros pop up (dobraduras que podem saltar das

páginas e estimulam o leitor a interagir diretamente com o exemplar), produzir o seu

enigma. Escondeu primeiro a resposta na própria página onde se encontrava o

texto, porém em setas que o leitor precisa manusear para encontrar a solução – são

cinco setas, quatro delas há apenas pontos de interrogação instigando o leitor a

continuar procurando. Uma interpretação criativa que ela fez do comando disparador

que solicitava a ela esconder a solução do texto, mas não indicava pistas de como

fazê-lo. Dessa forma, ela decidiu elaborar um dispositivo na própria página do

escrito, provovando o leitor a procurar pela resposta. O que se pode ser visualizado

a seguir:

Figura 16. Enigma produzido por uma aluna.

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Outro fator relacionado ao desenvolvimento do projeto é o avançar rumo à

humanização dos alunos norteado pelos postulados de Candido (1995) que a

entende, entre outros princípios, como o exercício da reflexão e aquisição do saber;

e Freire (1969) que entre outros aspectos de uma educação humanista, enfatiza o

estímulo da criatividade.

Todas as produções para a composição do livro-portfólio demandava dos

alunos a reflexão e o ato criativo (tanto para interpretar os comandos, quanto para

produzi-los de maneira singular e na seleção dos textos que fizeram parte dos

exemplares). Tendo em mente os postulados de Candido (1995) e Freire (1969) que

afirmam que o trabalho com a criatividade e reflexão possibilita o avanço rumo à

humanização (e uma educação humanista), o desenvolvimento do projeto como um

todo se pautou nessas premissas e foi ao encontro a tais propósitos. Uma das

produções que indicam esse trabalho pode ser verificado no poema autorretrato

produzido por um aluno:

Figura 17. Poema autorretrato produzido por um aluno.

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É válido ressaltar que o poema é, entre os gêneros trabalhados, o que

permitia a maior liberdade de composição, por ele, na contemporaneidade, não ser

mais pautado em estruturas fixas (soneto, novena, etc.). A solicitação para a

produção de um poema autorretrato possibilitou aos alunos a liberdade de se

expressarem desde que respeitassem a temática. Tal liberdade pode ser verificada

no estilo de linguagem utilizada pelo aluno no texto de exemplo, ao dar um título

para o poema em forma de pergunta e também fazer um empréstimo de um

elemento que pode ser encontrado com mais frequência nas cartas, que é o P.S

(post-scriptum). Esses elementos corroboram para o efeito de sentido do poema,

quando o aluno inicia o texto com uma pergunta e a responde no post-scriptum. A

criatividade, portanto, em fazer uso de outros elementos não característicos do

gênero e construção em forma de negação do poema (percebida somente após o

término da leitura) é um fator presente nessa produção.

A reflexão que o aluno faz ao se retratar em forma de poema é outro aspecto

encontrado nessa produção. O escrito traz afirmações que são negadas ao final do

texto levando a entender que o aluno fez um jogo de palavras durante o texto, no

qual ele nega ser medroso, covarde, introvertido e não amar a família, por exemplo.

Tais elementos são fruto do ato reflexivo do aluno em selecionar características

particulares dele para se retratar sob a forma de texto. Para essa produção, ele

precisou ponderar sobre aspectos característicos dele – selecionado entre tantos

outros – e ordená-los para compor o escrito.

O ato reflexivo se mostra presente nessa produção (e nas outras

anteriormente expostas) e denota que, por meio da produção do livro-portfólio,

houve um avanço rumo à humanização desse aluno (e dos demais), uma vez que a

reflexão, de acordo com os postulados de Candido (1995), é um dos fatores que

pode levar à humanização e precisa estar presente em práticas de ensino e

aprendizagem que visem a uma educação humanista, como salienta Freire (1969).

Com a análise de tais textos, foi possível perceber que o produto educacional

desenvolvido obteve resultados satisfatórios e além dos esperados, vindo de

encontro aos pressupostos teóricos que nortearam o projeto, tanto com relação ao

desenvolvimento do pensamento tecnológico, a humanização, a ressignificação dos

gêneros, como também se mostrou uma prática dentro dos parâmetros dos

multiletramentos (ROJO, 2012) que estabelece que os textos, no atual contexto,

jamais foram tão interativos, tampouco híbridos e abstratos, capazes de se

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readequarem, tomar novas formas ou se liquefazer ao bel-prazer do sujeito

enunciador/interlocutor e de seus contextos de produção e recepção, por

conseguinte é indispensável levar os alunos a um conhecimento prático e funcional

dos elementos/textos para que assim eles possam reconfigurá-los em diferentes

modos e usos de maneira eficiente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trabalhar com produção de texto escrito em sala de aula é um grande

desafio tanto para professores, quanto para o alunado. O ato de tecer um texto exige

variados conhecimentos e manuseio de técnicas e competências acuradas da

linguagem escrita. Não basta apenas ter o que dizer, mas saber como fazê-lo, por

meio de um gênero do discurso mais adequado ao referido ato de comunicação,

tendo em mente que o escrito precisa ser compreendido de maneira eficiente, e que

– querendo ou não – as marcas do enunciador ficarão inferidas, seja pelos

pressupostos ou subentendidos.

Uma prática que tenha em mente o desenvolver do pensamento tecnológico

e o avançar rumo à humanização dos alunos por meio da produção de texto e a

interpretação criativa de seu comando disparador é um feito que exige planejamento

acurado e objetivos claros. No entanto, os resultados por ela obtidos se mostraram

enriquecedores (tanto para professor, quanto para o aluno). Os objetivos foram não

só alcançados como surpreendentes, uma vez que, por meio dos textos aqui

analisados, foi possível verificar o ato reflexivo por parte dos alunos ao produzirem

textos críticos, reflexivos, intimistas e singulares resultado de uma interpretação

criativa e inovadora dos comandos disparadores – como a carta para o herói

destinada a Deus, e o poema autorretrato, por exemplo – mostrando que houve um

avanço com relação à humanização. Foi possível verificar o desenvolvimento do

pensamento tecnológico (criativo) não apenas por meio dos atos de interpretação,

mas também pelas soluções criativas dadas pelos alunos em determinadas

situações de produção – como no caso do enigma que a aluna criou um dispositivo

pop up no qual continha a solução, por exemplo. Uma prática, portanto, que se

mostrou eficaz, rica e agentiva.

Sob o questionamento de como inserir as tecnologias em sala de aula de

maneira eficiente em uma prática significativa, objetivou-se, principalmente,

desenvolver um produto educacional que abarcasse o desenvolvimento do

pensamento tecnológico – uma vez que a obsolescência das máquinas é um fator

que atrapalha ou impede o aprimoramento no trato com as tecnologias em sala de

aula – e avançar rumo à humanização dos alunos. A pesquisa também se

empenhou em analisar os dados obtidos sob os planos configuracionais mais fixos

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(ADAM, 2017), ressignificação, hibridez e reacentuação (MARCUSCHI, 2005;

SILVEIRA, ROHLING e RODRIGUES, 2012) dos gêneros produzidos. Esse olhar

representou uma possibilidade rica de trabalho em sala de aula no sentido de

incentivar a criatividade e o pensamento humanista pela análise e produção de

situações sociodiscursivas no ambiente escolar. A forma pontual, direcionada e

reflexiva de interpretação do comando disparador influenciou na produção do texto,

atribuindo-lhe contornos singulares como pode ser visto nas atividades com o

autorretrato e da carta para o herói.

Debruçar-se sobre tal projeto é de longe uma tarefa fácil, mas cada etapa

concluída, cada superação dos alunos e, principalmente, cada barreira transposta

fez que seu desenvolvimento se tornasse uma experiência única e ímpar.

Das dificuldades enfrentadas, certamente o de envolver todas as facetas do

projeto e desenvolvê-las nas aulas de Produção de texto, principalmente as de teor

artístico como a customização das páginas e as produções das capas foram as que

mais demandaram tempo, habilidade, destreza, percepção e (re)planejamento do

professor-pesquisador, mas enriqueceram ainda mais a atividade com a

possibilidade de integrar duas ou mais disciplinas (Química, Física, Artes). Atrasos

nas entregas das versões iniciais e finais e o protelar de algumas produções por

parte dos alunos também se mostraram fatores dificultadores. No entanto, estes

foram resolvidos por meio do diálogo e pela elaboração de um mapa de evolução

das produções que incentivava os alunos a concluir o projeto.

Alterações complementares poderiam ser realizadas em futuras aplicações,

de acordo com o contexto no qual o professor que se dispor a desenvolver o projeto

estiver inserido. A abertura para um desenvolvimento de forma multidisciplinar

poderia ser uma delas. Dessa forma, o professor de Português ficaria encargo

apenas das produções textuais, (correções e produções iniciais e finais dos textos).

O professor de Artes poderia, por exemplo, trabalhar com a customização das

páginas, produção de autorretrato sob a perspectiva de um estilo artístico e a

confecção das capas. O professor de Química, também de forma conjunta, poderia

confeccionar com os alunos o papel reciclado para as produções textuais –

englobando conteúdos também pertinentes a sua disciplina como reações químicas

e a experimentação. Outros gêneros poderiam ser introduzidos, como resumo (um

resumo da minha vida), a resenha de um filme ou livro, em outros níveis, por

exemplo.

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A essência do projeto, no entanto, em promover produções que almejassem

o avançar rumo à humanização e o desenvolvimento do pensamento tecnológico em

sala de aula, certamente não se perderia, pois os resultados aqui obtidos tanto nas

reflexões feitas pelos alunos, por meio de seus escritos, quanto na projeção do

projeto como um todo e na solução de problemas – seja de escrita ou de

interpretação – foram extremamente válidos e produtivos.

A produção de um livro-portfólio é uma experiência transformadora para

todos os envolvidos e que, sem dúvida, ficará na memória de cada um dos alunos

como uma prática crítica e reflexiva, mas, sobretudo, criativa e sem amarras. Tal

perspectiva pode ser verificada, por exemplo, neste trecho de um prólogo produzido

por uma aluna: Nunca pensei como seria minha vida daqui alguns anos e jamais

imaginei que escreveria sobre meu maior medo, para meu futuro, fazer um poema,

minha música preferida e coisas que eu gosto em um só lugar.

Levar os alunos a uma prática significativa de produção textual, na qual eles

precisem refletir sobre suas experiências (relato de viagem e autobiográfico),

inspirações (adágio), aspirações (carta para o futuro), enfrentarem seus medos

(carta para o medo), sem dúvida é uma atividade enriquecedora e transformadora.

Em um contexto geral, os alunos se sentiram motivados e se emprenharam em

escrever textos reflexivos e intimistas imprimindo sua identidade em cada produção

para que seu livro-portfólio não fosse só mais uma proposta de produção de texto,

mas que fosse uma maneira deles se retratarem e se expressarem por meio de

textos verbais e não verbais.

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