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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA PAULISTANA DO SÉCULO XXI: O RETROFIT SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA RODRIGO DE PAULA FERREIRA SÃO PAULO 2020

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ARQUITETURA

CONTEMPORÂNEA PAULISTANA DO SÉCULO XXI: O RETROFIT

SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA

RODRIGO DE PAULA FERREIRA

SÃO PAULO

2020

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RODRIGO DE PAULA FERREIRA

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA PAULISTANA DO SÉCULO XXI: O RETROFIT

SOB A ÓTICA DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA

Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade

de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São

Judas Tadeu para a obtenção do título de Mestre

em Arquitetura e Urbanismo.

Área de concentração: Arquitetura e Cidade. Linha

de Pesquisa: Projeto, produção e representação.

Grupo de Pesquisa CNPQ: Arquitetura:

abordagens alternativas e transdisciplinares na

condição contemporânea.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Edite Galote Carranza.

SÃO PAULO 2020

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NOME: FERREIRA, Rodrigo de Paula

TÍTULO: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ARQUITETURA

CONTEMPORÂNEA PAULISTANA DO SÉCULO XXI: O RETROFIT SOB A ÓTICA

DA AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA

À FACULDADE DE ARQUITETURA E

URBANISMO DA UNIVERSIDADE SÃO JUDAS

TADEU PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE

MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO.

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ARQUITETURA E

CIDADE.

APROVADO EM:

BANCA EXAMINADORA

PROF. DR.:______________________INSTITUIÇÃO: _____________________

JULGAMENTO: ___________________ASSINATURA: _____________________

PROF. DR.:______________________INSTITUIÇÃO: _____________________

JULGAMENTO: ___________________ASSINATURA: _____________________

PROF. DR.:______________________INSTITUIÇÃO: _____________________

JULGAMENTO: ___________________ASSINATURA: _____________________

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“Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire

conhecimento;” (Provérbios 3:13)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus por me dar saúde e condições de participar desta etapa de minha

vida.

À Universidade São Judas por me proporcionar um aperfeiçoamento com excelência.

À prof.ª Drª Paula de Vincenzo Fidelis Belfort Matos, coordenadora do Programa de

Mestrado no primeiro período do curso, pela receptividade.

Ao prof. Dr Fernando Guillermo Vazquez Ramos, coordenador do programa no

segundo período, pelos ensinamentos.

À prof.ª Drª Edite Galote Carranza, minha orientadora, pelos seus ensinamentos e

reflexões, um exemplo de pessoa e profissional.

Ao corpo docente, pelos ensinamentos acadêmicos e profissionais que transmitiram.

Ao prof. Dr. José Augusto Fernandes Aly pela contribuição.

Ao prof. Dr. Renan Pícolo Salvador pela colaboração.

Prof. (a) Dr.(a) Prof. Dr. Dimas Alan Strauss Rambo pela contribuição.

Aos colegas de mestrado, que apoiaram e enfrentaram as dificuldades desta etapa de

vida juntos.

Aos meus familiares, pai, mãe e irmão pelo apoio neste período contínuo de estudos.

À minha noiva Érica pela parceria nesses anos, apoiando e tendo paciência em cada

momento no decorrer deste período.

Page 7: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

RESUMO

Após a Conferência das Partes em 2015, o Brasil se tornou signatário do Acordo de

Paris que estabeleceu metas para o Desenvolvimento Sustentável (DS) em diversas

áreas inclusive na Arquitetura e Urbanismo. A Agenda 2030 determina por meio dos

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) a busca por Cidades e

Comunidades Sustentáveis na ODS 11. Em síntese: na preservação do ambiente

natural e melhoria na qualidade do ambiente construído. Neste contexto, uma técnica

de reforma atual denominada de retrofit pode ser utilizada na arquitetura

contemporânea paulistana como um meio de atualizar edificações ao aplicar

tecnologias que contribuem para a sustentabilidade. Esta dissertação tem por objetivo

investigar a importância da metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) na

aplicação em conjunto com a técnica de retrofit, a fim de cotejar a aplicabilidade na

arquitetura contemporânea paulistana como resposta às metas estabelecidas para o

ODS 11. O estudo colabora com as pesquisas em sustentabilidade na arquitetura

contemporânea paulistana, uma vez que discute através de um recorte os impactos

ambientais causados pela arquitetura, intensificados pela longevidade perdida das

construções existentes. Desta forma, este trabalho demonstrará estudos de caso em

que os resultados apontam o sucesso da aplicação do retrofit concomitante a ACV,

norteado pela certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED)

em contribuição para a sustentabilidade na arquitetura contemporânea paulistana.

Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável; Avaliação do Ciclo de Vida; Retrofit;

Arquitetura Contemporânea Paulistana.

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ABSTRACT

Following the 2015 Conference of the Parties, Brazil became a signatory to the Paris

Agreement, setting its goals for Sustainable Development (SD) in several areas,

including Architecture and Urbanism. The 2030 Agenda determines through the

Sustainable Development Goals (SDGs) the search for Sustainable Cities and

Communities in SDG 11. In short: preserving the natural environment and improving

the quality of the built environment. In this context, a current reform technique called

retrofit can be used in contemporary São Paulo architecture as a means of upgrading

buildings by applying technologies that contribute to sustainability. This dissertation

aims to investigate the importance of the Industrial Life Cycle Assessment (LCA)

methodology in its application in conjunction with the retrofit technique, and to

demonstrate that retrofit can contribute to sustainability in São Paulo's contemporary

architecture as a response to the goals established in the. Paris agreement. The study

collaborates with research on sustainability in contemporary architecture in São Paulo,

as it discusses through a clipping the environmental impacts caused by architecture,

intensified by the lost longevity of existing buildings. Thus, this work will demonstrate

case studies in which the results indicate the success of the application of the

concomitant retrofit to the LCA, guided by the Leadership in Energy and Environmental

Design (LEED) certification, contributing to sustainability in São Paulo's contemporary

architecture.

Keywords: Sustainable Development; Life Cycle Assessment; Retrofit; Paulistana

Contemporary Architecture.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ̶ Edifício Martinelli......................................................................................34

Figura 2 ̶ Perspectiva do Edifício Wilton Paes de Almeida......................................35

Figura 3 ̶ Edifício Rochaverá Corporate Towers......................................................35

Figura 4 ̶ Edifício Citicenter (Entrada)......................................................................36

Figura 5 – Complexo SESC Pompeia.......................................................................38

Figura 6 – Planta do SESC Pompeia........................................................................38

Figura 7 – Prédio Esportivo do SESC Pompeia........................................................40

Figura 8 – Fases do Edifício Wilton Paes de Almeida...............................................45

Figura 9 – Planta do Edifício Wilton Paes de Almeida..............................................46

Figura 10 – Fases de uma ACV................................................................................51

Figura 11 – Áreas de Análise da Certificação LEED.................................................63

Figura 12 – Níveis de Certificação.............................................................................64

Figura 13 – Impacto da Certificação no Brasil...........................................................64

Figura 14 – Levantamento dos Edifícios Certificados na Avenida Paulista..............65

Figura 15 – Torre Matarazzo e Shopping Cidade São Paulo....................................67

Figura 16 – Edifício Eluma.........................................................................................68

Figura 17 – Edifício CYK...........................................................................................69

Figura 18 – Edifício SESC Paulista...........................................................................70

Figura 19 – Edifício Paulista 2028.............................................................................71

Figura 20 – Edifício Paulista 867...............................................................................72

Figura 21 – Edifício FIESP........................................................................................73

Figura 22 – Edifício Citicenter....................................................................................74

Figura 23 – Edifício São Luis Gonzaga.....................................................................75

Figura 24 – Loja Quem disse, Berenice? do Shopping Cidade São Paulo...............76

Figura 25 – Restaurante Madero...............................................................................77

Figura 26 – Edifício SESC Paulista...........................................................................79

Page 10: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

Figura 27 – Mapa de Localização do SESC Paulista................................................80

Figura 28 – Fachada do Edifício Sesc Paulista.........................................................80

Figura 29 – Planta do térreo: acesso aos elevadores, escada e área multiuso com

integração à avenida...................................................................................................82

Figura 30 – Planta do 1ºandar – mezanino: atividades de serviços..........................82

Figura 31 – Planta do 2º andar – pilotis: Central de relacionamento SESC e área de

convivência.................................................................................................................83

Figura 32 – Planta do 3º andar: espaço para crianças..............................................83

Figura 33 – Planta do 4º andar: salas de cursos e oficinas de tecnologia e arte......84

Figura 34 – Planta do 5º andar: espaço de arte multiuso, cênica, exposições e

auditório......................................................................................................................84

Figura 35 – Planta do 6º andar: mezanino do 5º andar – apoio................................85

Figura 36 – Planta do 7º andar: pavimento técnico da equipe de infraestrutura.......85

Figura 37 – Planta do 8º andar: clínica odontológica................................................86

Figura 38 – Planta do 9º andar: administrativo..........................................................86

Figura 39 – Planta do 10º andar: atividades físicas..................................................87

Figura 40 – Planta do 11º andar: atividades físicas..................................................87

Figura 41 – Planta do 12º andar: atividades físicas..................................................88

Figura 42 – Planta do 13º andar: espaço de arte multiuso, cênica, exposições e

auditório......................................................................................................................88

Figura 43 – Planta do 14º andar: mezanino do 13º andar – apoio............................89

Figura 44 – Planta do 15º andar: biblioteca...............................................................89

Figura 45 – Planta do 16º andar: comedoria.............................................................90

Figura 46 – Planta do 17º andar: café e terraço, acesso ao mirante........................90

Figura 47 – Área de Convivência do SESC Paulista.................................................91

Figura 48 – Circulação Vertical do SESC Paulista....................................................92

Figura 49 – Pavimento com pé-direito duplo.............................................................93

Figura 50 – Pontuações do SESC Paulista...............................................................94

Page 11: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

Figura 51 – “Rasgos” na Fachada do SESC Paulista...............................................96

Figura 52 – Placas Solar do SESC Paulista..............................................................99

Figura 53 – Boilers do SESC Paulista.......................................................................99

Figura 54 – Edifício Citicenter..................................................................................103

Figura 55 – Mapa de Localização do Citicenter......................................................104

Figura 56 – Fachada do Citicenter Avenida Paulista...............................................104

Figura 57 – Fachada do Citicenter Alameda Santos...............................................105

Figura 58 – Planta do Térreo Citicenter Alameda Santos.......................................106

Figura 59 – Planta do Térreo Citicenter Avenida Paulista.......................................106

Figura 60 – Planta do Mezanino do Citicenter: agência e autoatendimento...........107

Figura 61 – Planta tipo do 2º ao 10º andar..............................................................107

Figura 62 – Planta tipo do 11º ao 20º andar............................................................107

Figura 63 – Pontuações do Citicenter.....................................................................111

Figura 64 – Terraço Verde.......................................................................................113

Figura 65 – Terraço Verde visto da Avenida Paulista..............................................113

Figura 66 – Envidraçamento da Fachada do Citicenter..........................................118

Page 12: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 ̶ Conceitos para o quarto pilar...................................................................28

Tabela 2 ̶ Domicílios vagos na região metropolitana de São Paulo........................42

Tabela 3 ̶ Anexo da lei 619/16. Plano Municipal da Habitação em São Paulo........43

Tabela 4 – Relação dos edifícios certificados na Avenida Paulista...........................65

Tabela 5 – Relação dos edifícios selecionados.........................................................78

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACV Avaliação do Ciclo de Vida

ASBEA Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura

ASHRAE Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e

Ar-Condicionado

BMS Building Management System

C2C Cradle to Cradle

CBCS Conselho Brasileiro de Construção Sustentável

CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável

CF Constituição Federal

CIB Conselho Internacional da Construção

CMC Comissão de Mudança do Climática

CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

COP Conferência das Partes

CTE Centro de Tecnologia de Edificações

CVB Companhia Comercial de Vidros do Brasil

DDT Diclorodifeniltricloroetano

DFD Design for Deconstruction

DJSI Dow Jones Sustainability Index World

DPF Declaração de Princípios a Fornecedores

DS Desenvolvimento Sustentável

EMPA Laboratórios Federais Suíços de Ciência e Tecnologia de Materiais

EUA Estados Unidos da América

FGV Fundação Getúlio Vargas

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GBC Green Building Council

GNV Gás Natural Veicular

HVAC Heating Ventilation and Air Conditioning

IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil

INDC Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas

ISO Organização Internacional de Padronização

LEED Leadership in Energy and Environmental Design

MASP Museu de Arte de São Paulo

MMA Ministério do Meio Ambiente

MRI Midwest Research Institute

NBR Norma Brasileira

NDC Contribuições Nacionalmente Determinadas

NR Norma Regulamentadora

ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

ONU Organização das Nações Unidas

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

QAI Qualidade do Ar Interior

QRC Questionário de Responsabilidade Corporativa

RES Responsabilidade Social Empresarial

RS Relatório de Sustentabilidade

SESC Serviço Social do Comércio

SETAC Society of Environmental Toxicology and Chemistry

SP São Paulo

SPOLD Sociedade para a Promoção do Desenvolvimento do Ciclo de Vida

SSO Segurança e Saúde Ocupacional

USGBC United States Green Building Council

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 16

1 SUSTENTABILIDADE: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PÓS-AGENDA

2030 ......................................................................................................................... 21

1.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: DISCUSSÕES GLOBAIS E LOCAIS .................... 21

1.2 SUSTENTABILIDADE PAULISTANA: DESENVOLVIMENTO ARQUITETÔNICO E URBANO . 31

2 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA ....................................................................... 48

2.1 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA: RESPOSTA AOS DEBATES SOBRE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL ........................................................................................................ 48

2.2 CICLO DE VIDA NA ARQUITETURA ....................................................................... 51

3 O SURGIMENTO DA TÉCNICA RETROFIT E O CONCEITO NA ARQUITETURA

................................................................................................................................. 56

3.1 HISTÓRICO DO RETROFIT.................................................................................... 56

3.2 RETROFIT NO BRASIL EM SÃO PAULO ................................................................. 60

3.3 A CERTIFICAÇÃO LEED COMO PARÂMETRO PARA AS INTERVENÇÕES EM EDIFÍCIOS. 61

4 ESTUDOS DE CASO DE RETROFIT ................................................................... 67

4.1 EDIFÍCIO SESC PAULISTA ................................................................................. 79

4.1.1 FICHA TÉCNICA .............................................................................................. 79

4.1.2 HISTÓRICO .................................................................................................... 79

4.1.3 RETROFIT ...................................................................................................... 81

4.1.4 RESULTADOS ................................................................................................. 94

4.2 EDIFÍCIO CITICENTER ....................................................................................... 103

4.2.1 FICHA TÉCNICA ............................................................................................ 103

4.2.2 HISTÓRICO .................................................................................................. 103

4.2.3 RETROFIT .................................................................................................... 109

4.2.4 RESULTADOS ............................................................................................... 111

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 120

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 121

ANEXOS ................................................................................................................ 133

Page 16: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

16

Introdução

Com a Conferência das Partes realizada em 2015 (COP21), o Brasil, como

signatário, apresentou sua meta para redução de emissão de carbono até 2025 em

37% e em 2030, até em 43% (MENDES, 2018). Segundo o Ministério do Meio

Ambiente (MMA), a arquitetura deve passar por uma remodelação significativa, o que

constitui um grande desafio dada a necessidade de essa mudança estar relacionada

com a busca da preservação do ambiente natural e com a melhoria na qualidade do

ambiente construído (BRASIL, M. M. A., 2018).

Contexto

Neste sentido, uma técnica de intervenção em edificações denominada de

retrofit dá início a um novo setor de atuação de profissionais da arquitetura que

engloba desde a manutenção e operação do edifício a qualquer tipo de intervenção

na edificação existente: reformas, renovação, revitalização, requalificação até a

reabilitação de patrimônios históricos, proporcionando, junto à aplicação da técnica,

uma análise de impactos ambientais durante e após a intervenção. Desta forma, o

retrofit promove uma operação e uma manutenção atualizada, integrando à

sustentabilidade e proporcionando longevidade de edifícios ao alterar o ciclo de vida

linear para um ciclo de vida circular, caracterizado pelo recomeço de uso da edificação

(BARRIENTOS; QUALHARINI, 2004).

No entanto, cabe salientar que é importante compreender o conceito de

Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) que surge no setor industrial bem como destacar

também o conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS). Ambos precedem o

surgimento da técnica retrofit desde a década de 1960, sendo que os primeiros

exemplares de retrofit na arquitetura surgem apenas na década de 1990, nos Estados

Unidos da América (EUA) e na Europa.

O tema Desenvolvimento Sustentável que, em síntese, integra o crescimento

econômico e as preocupações ambientais, é discutido no cenário internacional desde

1960, quando ocorreu a Conferência da Biosfera em Paris e o surgimento do Clube

de Roma: grupos de líderes empresariais e governamentais que se reuniram para

debater as questões do meio ambiente. Um reflexo destes debates à época acontece

Page 17: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

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no setor industrial diante dos impactos causados ao meio ambiente pela indústria de

embalagens. O setor industrial foi pioneiro no desenvolvimento do método de

Avaliação do Ciclo de Vida na mesma década, método este que permite analisar

aspectos e impactos ambientais de um produto mediante a um Inventário do Ciclo de

Vida (ICV) em cada etapa do produto (NBR ISO 14040, 2009).

A ACV acompanhou a evolução dos debates sobre o meio ambiente e passou

por aprimoramentos dentro da própria metodologia. Em 1987, ocorreu um marco nos

debates sobre DS: foi realizada a primeira Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente

e Desenvolvimento (CMMAD), sendo elaborado o Relatório de Brundtland.

(BRUNDTLAND, 1991).

Segundo Arantes (2008), as definições sobre DS estabelecidas no Relatório de

Brundtland começaram a nortear o setor da indústria de embalagens, uma das

principais causadoras do efeito estufa atrelado à economia na década de 1980. Assim,

por iniciativa governamental, o Laboratório Federal Suíço para Teste e Investigação

de Materiais (EMPA) publica nesse período um relatório sobre ACV cujo objetivo é

estabelecer uma primeira base de dados para os materiais de embalagens mais

importantes: alumínio, vidro, plásticos, papel e cartão, com parâmetros para os níveis

de emissões no ar e na água dentro de uma normalização durante o beneficiamento

dos materiais.

Em 1992, durante o contexto de preocupação global sobre as emissões de

carbono na Conferência no Rio de Janeiro (Rio 92/ Eco 92), ou como conhecida

Cúpula da Terra, é que se consolida a Sociedade para a Promoção do

Desenvolvimento do Ciclo de Vida (sigla em inglês SPOLD) com a missão de juntar

recursos para acelerar o desenvolvimento da metodologia ACV como uma abordagem

de gestão aceita para ajudar nas tomadas de decisões.

O Brasil passa a compreender a ACV e o DS exatamente neste contexto.

Segundo Boff (2016), os resultados da Rio 92 não foram tão promissores, pois o

sistema capitalista com predominância econômica, gerava um conflito na busca por

fortalecer o lucro sobre os recursos naturais e o equilíbrio necessário para

restabelecer o meio ambiente com a colaboração nas emissões de gases. O Brasil

somente se posicionou no cenário mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável em

2016, quando passou a ser signatário do Acordo de Paris.

Page 18: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

18

Com a ratificação do Acordo, o Brasil deve se preocupar com as metas

estabelecidas para o setor da arquitetura em busca de Cidades e Comunidades

Sustentáveis. O MMA afirma que “a construção e o gerenciamento do ambiente

construído devem ser encarados dentro da perspectiva de ACV.” (BRASIL. M. M. A,

2018, p.1). A partir do entendimento do MMA, a ACV compreende o campo da

arquitetura, uma vez que promove uma nova perspectiva no ciclo de vida de

edificações por meio da inserção da técnica retrofit, que permite tornar a vida edifícios

em estado de obsolescência ou atualizar edificações existente para sua longevidade,

ambas permitindo uma aproximação com a sustentabilidade.

Objetivo Geral

Pelo exposto do cenário delineado acima, o objeto principal da pesquisa é

investigar a importância da metodologia industrial de ACV na aplicação da técnica de

retrofit e discutir essa técnica na arquitetura contemporânea paulistana como resposta

às metas estabelecidas no Acordo de Paris. A pesquisa contextualiza as discussões

mundiais sobre o DS desde o surgimento até o presente e as possíveis influências no

projeto do espaço construído na arquitetura contemporânea paulistana. Ela demonstra

a transposição da metodologia de ACV da indústria para a arquitetura e analisa as

legislações e normalizações que definem e norteiam a técnica de retrofit, bem como,

o uso da certificação LEED como norteador para aplicação do retrofit concomitante à

ACV nos aspectos que tangem o DS na arquitetura.

Objetivos Específicos

Para atingir o objetivo geral da pesquisa, alguns objetivos específicos foram

determinados, são eles: Discutir o surgimento do tema sustentabilidade.

Contextualizar a transposição da metodologia ACV da indústria em geral para a

indústria da construção civil em particular. Discutir o surgimento da técnica retrofit.

Compreender a definição do que é efetivamente o retrofit. Entender como a técnica

pode contribuir para a sustentabilidade da arquitetura contemporânea paulistana,

tendo como base os parâmetros estabelecidos pela certificação LEED. Demonstrar a

certificação, mais especificamente na categoria GB+C e O+M (Prós e Contras).

Apresentar dois estudos de caso que compreendem o retrofit no entendimento da

dissertação.

Page 19: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

19

Metodologia

A compilação de dados teóricos desta pesquisa é feita por meio de fontes

secundárias com referência em material bibliográfico e normativas. As discussões,

além das fontes secundárias, são feitas por meio de visitas técnicas e conversas com

pesquisadores e especialistas que perpassam sobre os temas: DS, ACV e retrofit.

Para o estudo de caso, foram selecionados os edifícios SESC Paulista

(Cultural) e Citicenter (Corporativo), nos quais foram realizadas pesquisas de campo

para coleta de dados com o foco em dialogar com o material disposto por escritórios

e empresas responsáveis pelo projeto de arquitetura, construção e retrofit dos

exemplares.

Estrutura

Este trabalho divide-se em Introdução, quatro capítulos que abordam o tema,

Considerações Finais, Referências, Apêndices e Anexos.

Sobre os capítulos, após a Introdução, o primeiro contextualiza as discussões

mundiais sobre a sustentabilidade com base nos posicionamentos de três teóricos do

meio ambiente (Leonardo Boff, John Elkington e William Mcdonough) e o surgimento

da ACV diante das questões sobre o meio ambiente até a transposição para a

arquitetura.

O segundo e terceiro capítulos discutem sobre o histórico do retrofit e a

evolução das legislações que definem e norteiam-no. Analisa a aproximação da

técnica com a sustentabilidade seguindo os critérios da certificação LEED na categoria

de Operação e Manutenção (O+M) e discute a contribuição social do retrofit diante da

relação déficit habitacional X edifícios obsoletos.

O quarto capítulo analisa exemplares de retrofit na Avenida Paulista que

cumpriram os critérios e pré-requisitos para obtenção da certificação LEED. A escolha

dos exemplares se deu em função das categorias de uso existentes até o presente:

edifícios corporativos e edifícios culturais. O capítulo demonstrará os resultados

obtidos entre as tipologias existentes e permitirá um comparativo entre as técnicas e

tecnologias mais adequadas para cada caso, assim como, uma perspectiva sobre a

ampliação do tema no cenário da arquitetura contemporânea paulistana.

Page 20: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

20

Resultados

Este trabalho visa demonstrar, portanto, a importância do conhecimento e

aplicação da técnica do retrofit, pois compreende que permite uma continuidade no

ciclo de vida de edifícios com aplicação de técnicas e tecnológicas que proporcionam

condições mínimas de saúde e segurança ocupacional bem como evita a

obsolescência de edificações, o que resulta na demolição e reconstrução contínua na

arquitetura com altos impactos ambientais. Contribui ainda com a conscientização de

que as atividades de operação, manutenção ou reforma do patrimônio edificado

podem beneficiar o ambiente construído das cidades e o ambiente natural.

A pesquisa integra os trabalhos do grupo de pesquisa CNPQ. Arquitetura:

abordagens alternativas e transdisciplinares, que resultaram nas dissertações:

Edifícios Inteligentes e Sustentáveis na Arquitetura Paulistana Contemporânea

(2017); Avenida Paulista: observações sobre arquitetura, cultura e sustentabilidade no

contexto século XXI (2019); Plataforma BIM e a perspectiva de uma arquitetura

sustentável: o caso do banco interamericano de desenvolvimento BID em Manaus

(2019) e a pesquisa de iniciação científica Edifícios Corporativos: Estudo de caso –

retrofit do Citicorp Center (2018).

O estudo colabora, desta forma, com a propagação da pesquisa científica,

contribuindo em uma lacuna sobre a importância da compreensão sobre a técnica

retrofit concomitante à ACV no cenário da arquitetura paulistana contemporânea.

Page 21: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

21

1 Sustentabilidade: Desenvolvimento Sustentável Pós-Agenda 2030

1.1 Desenvolvimento Sustentável: Discussões Globais e Locais

O Dicionário Aurélio (2010) define sustentabilidade com dois sentidos: ativo,

referenciando que a sustentabilidade está nas ações humanas em conservar e

manter; passivo, que remete ao que a Terra faz para que o ecossistema não decline.

Estes sentidos são empregados hoje em dia em sustentabilidade e trazem em si o

entendimento de equilíbrio entre ações humanas e a capacidade do meio ambiente

em regenerar-se.

Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. (CARTA DA TERRA, 2000. p.7)

Segundo Boff1 (2016, p.25) o ser humano viveu três fases de uma vivência

entre homem e natureza: inicialmente denomina-se uma relação de interação que

estabelecia uma cooperação entre eles; a segunda foi de intervenção, momento em

que o ser humano passa a modificar a natureza; a terceira fase, atual, caracteriza-se

pela agressão, quando o ser humano usa de recursos tecnológicos para submeter à

natureza a suas necessidades, como: cortes de montanhas, bacias hidrográficas,

minerações, extração de petróleo, criando cidades e indústrias. Atingimos um nível de

agressão em que extraímos recursos sem dar tempo para a natureza se regenerar.

No entanto, a natureza reage as agressões humanas com fenômenos que

transcendem o controle humano como: terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis,

tufões, secas e inundações que atingem as barreiras construídas, travando uma

“guerra” entre homem e natureza.

A ideia de sustentabilidade apresenta duas origens segundo Nascimento2

(2012, p.51-64). A primeira relacionada às agressões do homem ao uso incontrolável

dos recursos naturais, desflorestamentos, que remetem a capacidade de recuperação

dos ecossistemas, no qual se ergueu a bandeira da silvicultura, a gestão das florestas;

1 Leonardo Boff, Teólogo e Filósofo, com mais de oitenta livros publicados nas áreas humanísticas, desde 1980 se dedica as questões da ecologia. 2 Elimar Pinheiro do Nascimento, Sociólogo, com doutorado pela Universite de Paris V (Rene Descartes, 1982), e pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales.

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a segunda remonta à evolução nos processos de produção industrial voltadas à

economia, em que compreende o padrão de produção e consumo às necessidades

do ecossistema, acarretando no conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS) diante

da percepção da limitação dos recursos naturais frente à revolução industrial.

De acordo com Boff (2016 p. 34-36), a primeira ideia tem origem no período da

Pré-Revolução Industrial, caracterizado pelos processos manufaturados de produção.

Em 1560, na Alemanha, na província da Saxônia, surge uma inquietação sobre o uso

sensato das florestas, uma necessidade de garantir condições de regeneração, dando

origem a palavra Nachhaltigkeit (Sustentabilidade) no alemão. Entretanto, foi somente

em 1713 que a palavra se transformou em um conceito estratégico, um ano antes de

falecer o capitão Hans Carl Von Carlowitz3, autor do tratado Nachhaltig Wirtschaften

(Organizar de Forma Sustentável) que, segundo Grober, (2012, p.1) foi considerado

o primeiro trabalho para a ciência do meio ambiente que apresenta uma ideia de

sustentabilidade.

No início da Revolução Industrial, período da troca das ferramentas manuais

por máquinas de trabalho, foi publicado o livro de Carl Georg Ludwig Hartig4 (1764-

1837) Anweisung zur Taxation der Forste oder zur Bestimmung des Holzertrags der

Wälder (Instrução para a avaliação das florestas ou para a determinação do

rendimento de madeira das florestas) em 1795. Diante do aumento do cenário

produtivo, o autor afirma que avaliar o desflorestamento é garantir que as faturas

gerações tenham a mesmas vantagens que a atual, frase esta que se manteve viva e

se tornou lema para o Relatório de Brundtland mencionado adiante (BOFF, 2016,

p.35).

Três anos depois, Thomas Malthus5 (1766-1834) desenvolveu uma teoria em

seu ensaio Princípio da Humanidade (1798) que permitia estimar o crescimento da

população em curto período de 10 a 20 anos, o que constituiu em um questionamento

3 Hans Carl Von Carlowitz, contador alemão e administrador de mineração. Considerado o pai da silvicultura de produção sustentável pela publicação de seu tratado. 4 Carl Georg Ludwing Hartig, especialista em Silvicultura pela Universidade de Giessen de 1781 a 1783. 5 Thomas Robert Malthus foi um economista britânico que problematizou o aumento populacional. Considerado pai da demografia pela sua teoria conhecida como malthusianismo.

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diante de uma possível falta de recursos relacionando crescimento populacional com

a Revolução Industrial (MCDONOUGH, 2013, p.51).

De fato, a Revolução Industrial proporcionou avanços tecnológicos positivos,

ampliando os padrões de vida, com acesso a produtos que forneceram conforto e

bem-estar. Thomas Malthus, no entanto, não compactuou com essa visão de avanço,

mas, com a carência, a pobreza e a fome, o que o tornou conhecido como mensageiro

sombrio. Ele alertou que se a humanidade continuasse a crescer, consequências

devastadoras estariam por vir. Alguns autores compactuaram com esta visão um

século depois, como os norte-americano, David Thoreau6 (1817-1862) e Aldo

Leopold7 (1887-1948). Eles seguiram a concepção de Thomas Malthus contra a

crescente revolução que se concentrava em capital, consumos e desperdício,

descrevendo sobre as necessidades ambientais, e o modo de vida integrado ao

ambiente natural. (MCDONOUGH, 2013, p.52).

Já no século XX, diante da ocorrência de chuvas radioativas que evidenciaram

a poluição nuclear na década de 1950, a sociedade percebe a existência de um risco

global, desastres ambientais apontavam os reflexos da poluição (MACHADO, 2005,

p.7). De acordo com Mccormick8 (1992, p.17 e 71) na Pensilvânia EUA em 1948, 43%

da população adoeceu e foi confirmada vinte mortes, também em Londres no ano de

1952, foram registradas 445, ambos ocasionados por nevoeiros com fumaça. Todavia

Mccormick (1992, p.71) ainda afirma que já se suspeitavam dos riscos desde meados

do século XIX.

Para contrastar com o cenário acima, acontece um marco na ideia de

Sustentabilidade Ambiental: surge o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa) em

1962 de Rachel Carson9 1907-1964 (CARRANZA, 2013, p.47-48). Segundo

McCormick (1992, p.71-72) a publicação direcionou olhares para a agressão química

ao meio ambiente.

Seu impacto advinha de uma combinação de seu moralismo, da controvérsia que causou e do efeito que produziu, tirando a questão

6 Henry David Thoreau, historiador e filósofo, é considerado um crítico na ideia de desenvolvimento industrial. 7 Aldo Leopold foi um silvicultor, acadêmico, filósofo ambiental e conservacionista, é considerado uma figura importante na história do conservacionismo e o fundador da ciência da conservação nos Estados Unidos. 8 Thomas J. McCormick, professor de história na Universidade de Wisconsin-Madison. 9 Rachel Carson foi escritora, cientista e ecologista, precursora da consciência ambiental moderna.

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dos pesticidas dos círculos acadêmicos e das publicações técnicas, e colocando-a na arena pública. (MCCORMICK, 1992, p.71-72).

O livro se tornou uma referência pela proibição do pesticida

diclorodifeniltricloroetano (DDT) nos EUA e Alemanha, surgindo como uma

controvérsia aos produtos químicos industriais. Assim, ambientalistas ampliaram suas

perspectivas, não mais lutando pela preservação somente, mas sim pelo

monitoramento e redução das agressões químicas industriais (MCCORMICK, 1992,

p.69). A diminuição dos recursos, a poluição e lixo tóxico passam a se tornar os

principais focos de preocupações (MCDONOUGH, 2013, p.53).

Três séculos após o alerta de Thomas Malthus, o autor William Mcdonough10

(2013, p.33), analisa os problemas ocasionados no contexto da Revolução Industrial

como: “falhas fundamentais no projeto de Revolução Industrial”. A emergência da

compreensão sobre as necessidades ambientais abre caminho a um complexo campo

de discussões diante da contradição ocasionada em relação ao desenvolvimento

econômico e degradação do meio ambiente (MACHADO, 2005, p.7).

Neste contexto, surge a segunda ideia de sustentabilidade, período conhecido

como Pós-Revolução Industrial, caracterizado por uma sociedade baseada na

produção de informação, serviços e aumento da expectativa de vida. A

sustentabilidade começa a ser valorizada como elemento necessário para o

desenvolvimento e passa a ser discutida por líderes governamentais e empresários

diante do tema: Desenvolvimento Sustentável. O primeiro grupo reuniu-se na

Accademia dei Lincei em Roma, dando origem organização Clube de Roma em 1968

(NASCIMENTO, 2012, p.51-64).

A primeira conferência realizada para debater o tema DS em escala global foi

realizada em Estocolmo no ano de 1972, marcado pelo documento apresentado pelo

Clube de Roma11, Os limites do crescimento. O documento propunha diminuir o

crescimento populacional nos países subdesenvolvidos e desacelerar o crescimento

industrial nos desenvolvidos (MEADOWS et al, 1972). A reunião deu origem ao

10 William Andrews McDonough é um arquiteto, designer e autor americano. Coautor do livro Cradle to Cradle (2002) junto à Michael Braungart, com o conceito de que podemos projetar materiais, sistemas, empresas, produtos, edifícios e comunidades que melhoram ao longo do seu ciclo de vida. 11 O Clube de Roma teve início em abril de 1968 com a reunião de um gruo seleto para tratar de assuntos relacionados ao meio ambiente em nível global.

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Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) criado para proteção

do meio ambiente e promoção do DS, programa que perdurou por mais de dez anos.

Diante dos resultados da conferência em Estocolmo, em 1984, o programa

inicia uma ação global sobre meio ambiente e desenvolvimento cujo lema era: Uma

agenda global para a mudança. A ação encerrou em 1987 com a formação da

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). A comissão

foi chefiada pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que elaborou

o relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório de Brundtland,

que definiu, DS é: “(...) suprir as necessidades da geração presente sem afetar as

gerações futuras.” (BRUNDTLAND, 1991, p.46). O relatório apresenta uma

discussão sobre as causas dos desequilíbrios socioeconômicos e os conflitos.

Com o entendimento do tema DS no Relatório de Brundtland, a Assembleia das

Nações Unidas12 compreendeu que era necessária uma ação global. Desta forma, a

Organização das Nações Unidas13 (ONU) convoca as nações em 1992, no Rio de

Janeiro, como estratégia para integrar os países subdesenvolvidos, inclusive o Brasil,

a discutir sob o tema DS na conferência Rio-92. Segundo Machado (2005 p.11),

diferentemente de Estocolmo em 1972, que associava o problema ambiental aos

problemas sociais, a Rio 92 tinha como premissa questões voltadas à problemática

ambiental, vinculadas ao equilíbrio econômico.

Na Rio 92, foi criada a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), com

o intuito de servir como órgão auxiliador para os países que objetivam o DS, sendo

também responsável pela organização das conferências a partir da Rio 92 que visam

discutir o DS. Além disso, foi aprovada na Rio 92 a Convenção sobre a Mudança do

Clima (CMC), que promove em paralelo ao DS a Conferência das Partes14 (COP)

desde 1995, (COP 1) anualmente. A Rio 92 se tornou um marco na promoção do tema

12 A Assembleia Geral da ONU é o seu principal órgão deliberativo em que todos os Estados (Membros) da Organização se reúnem para discutir os assuntos que afetam a vida de todos os habitantes do planeta. 13 A Organização das Nações Unidas é uma organização internacional formada por países que se reunem voluntariamente para trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundial. 14 A Conferência das Partes (COP) é o órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e reúne anualmente os países Parte em conferências mundiais. Suas decisões, coletivas e consensuais só podem ser tomadas se forem aceitas unanimemente pelas Partes, soberanas e valendo para todos os países signatários.

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DS, assim, as discussões posteriores passaram a ser chamadas de Rio+X, em que

“X” são os anos após a Rio 92 (SENADO 1, 2018).

De acordo com Boff (2013, p.37), os principais documentos consequentes

desta reunião foram: Agenda 21: programa de ação global e a Carta do Rio de Janeiro.

A Carta do Rio de Janeiro afirma que a necessidade da colaboração entre todos os

quesitos deve ser indispensável para o DS, a ação em conjunto é essencial para

eliminar a pobreza e equilibrar os padrões de vida entre a população mundial.

Entretanto, os resultados não foram tão promissores como constatado na Rio+5

(1997).

A Conferência Rio-92 foi de um êxito fantástico, foi muito bem recebida no mundo inteiro, muitas medidas foram adotadas. Mas sabemos também que, logo depois do encerramento da Rio-92, parece que os países se acomodaram. Há um enorme déficit de implementação daquilo que foi resolvido e decidido na Rio-92. (SENADO 1, 2018, p.1).

Apesar dos resultados não terem sido promissores na Rio-92 em escala

mundial, cunhou-se o termo ecoeficiência que significa: fazer mais com menos.

Segundo Mcdonough (2013, p.57-58), a ecoeficiência era compreendida como o que

precisava ser adotado entre os países para que o sistema estabelecesse o equilíbrio,

uma política neoliberal, para consolidar meios alternativos de DS. A ecoeficiência, por

exemplo, norteou a ação de algumas indústrias com resultados promissores. A

empresa 3M divulgou em 1997 uma economia de 750 milhões de dólares por meio de

ações contra a emissão de poluente, redução de impactos diretos, energia e

desperdícios. Afirma ainda que a redução é somente um princípio para a

ecoeficiência, a redução não elimina a falta de recursos, mas sim, o-causa com menor

velocidade.

Em 1993, John Elkington15 criou uma linguagem que se faz presente até os

dias de hoje, o conceito de sustentabilidade como o tripé: People, Planet and Profit

(social, ambiental e econômico). Este conceito surgiu como uma tentativa de criar uma

linguagem que compreendia a complexidade do DS, partindo do equilíbrio entre as

vertentes econômica, ambiental e social.

15 John Elkington, cofundador da Environmental Data Services (1978) e da SustainAbility (1987), é uma autoridade mundial em responsabilidade social e Desenvolvimento Sustentável.

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De forma sintética, o conceito relaciona o DS dentro do tripé como: a)

Econômico, concorrência entre cidades, utilização da cidade como infraestrutura

“mobilidade, transporte, marketing urbano”; b) Ambiental, cidade vista como

consumidora de recursos, produtora de resíduos (relação pegada ecológica e

biocapacidade); c) Social, conflitos na distribuição de recursos, serviços e

oportunidades (ELKINGTON, 2001, p. 107-135).

Em 1995, a CMC organiza a COP 1 em Berlim, na Alemanha, realizada

anualmente em diversas localidades, a qual teve como foco chamar os países à

reponsabilidade sobre a minimização da emissão de gases do efeito estufa. Tal

documento de compromisso foi chamado de Mandato de Berlim. Na primeira reunião,

com a participação de 117 países, todos concordaram sobre a necessidade de criação

de um protocolo que oficializasse metas para as nações que se comprometeram com

o acordo, principalmente aos países desenvolvidos. (PROCLIMA COP-1, 2019).

A apresentação do protocolo ocorreu em 1997 durante a COP 3 na cidade de

Kyoto, no Japão, e ficou conhecido como Protocolo de Kyoto, o qual previa uma

redução de 5,2% de redução na emissão de gases de efeito estufa para os países que

ratificassem. Entretanto, a ratificação pelo acordo não ocorreu como esperado, pois

demandava da adoção de novas alternativas de matrizes energéticas aos países, o

que para os países desenvolvidos resultavam em altos custos de implementação. A

exemplo: o EUA que não ratificou o acordo (SENADO 1, 2018).

Segundo Boff (2016, p.37), existia um conflito nas propostas estabelecidas na

COP 3 entre o sistema capitalista com predominância econômica, que buscava

fortalecer o lucro sobre os recursos naturais e desenvolvimento social, e o equilíbrio

necessário para fortalecer o meio ambiente com a colaboração nas emissões e

reciclagem dos resíduos. Neste sentido, cientistas e ambientalistas propuseram novas

vertentes da temática DS, colocado por Boff (2013, p. 52-54) como melhorias no tripé

da sustentabilidade conforme tabela a seguir.

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Tabela 1 – Conceitos para o quarto pilar

Novos Pilares Autor Proposta

Gestão da mente

sustentável

Evandro Vieira

Ouriques

Aqui conta mais o desenvolvimento integral do

ser humano, que envolve suas muitas

dimensões, do que o crescimento meramente

material.

Generosidade Rogério Ruschel Um ser social que coloca os bens comuns acima

dos particulares.

Cultura John Hawkes Favorece o cultivo das dimensões tipicamente

humanas como a arte, a religião, a criatividade,

as ciências e outras tantas formas de expressão

estética.

Neuroplasticidade do

Cérebro

Sem autor

específico

Pode gerar hábitos de moderação, de consumo

solidário, consciente e respeitador dos ciclos da

natureza.

Cuidar Leonardo Boff Ética do humano, compaixão pela terra e o

cuidado necessário.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de BOFF, 2016 e MCDONOUGH, 2013.

Diante dos conflitos ocasionados pelo entendimento do DS, a ONU convocou

os líderes de Estado para uma nova discussão sobre DS realizada em 2002 em

Joanesburgo, África do Sul. Conhecida como RIO+10, o encontro reuniu 150 líderes,

empresários, cientistas e ambientalistas, a qual travou uma discussão entre os

interesses econômicos, por parte dos grandes empresários, não obtendo novos

resultados consolidados. Entretanto, foi a maior participação até então nos debates, o

que fez com que aumentasse a conscientização da humanidade sobre as questões

do meio ambiente (BOFF, 2016, p.39).

A expressão DS passou a ser usada em diversos setores, referindo-se as

questões do meio ambiente, entretanto, segundo Mcdonough (2013, p.58), no período

de dez anos houve uma banalização no entendimento do assunto que foi usado como

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promoção de bens e produtos, atingindo as nações de maneira descentralizada, não

mais com objetivo global.

Em virtude de restabelecer a busca global de pelo DS, a ONU promove a

Rio+20 em 2012. Os temas levados em consideração nesta ocasião enfatizaram a

necessidade de uma economia verde e um posicionamento global sobre o meio

ambiente, mas a discussão não determinou nenhuma meta para o DS, o que

impulsionou governos e empresas a medirem esforços para aliar a Sustentabilidade

ao Desenvolvimento Econômico.

Empresas assumiram o compromisso socioambiental com programas que

propõem a redução de impactos sobre a natureza (BOFF 2016, p.41). Tais práticas

pontuais passaram a ser articuladas como um benefício econômico devido à ausência

de planos de metas para o DS. Segundo Mcdonough (2013, p.154), “Se as empresas

iniciassem suas intenções com o Triple Bottom Line, os resultados seriam mais

satisfatórios, permitindo ao projetista uma visão holística diante dos questionamentos,

ao invés de serem considerados no final do processo.”

O compromisso oficial dos países com o DS só ocorre em 2015 com a COP 21.

Lá, 195 países firmam o Acordo de Paris a partir das Pretendidas Contribuições

Nacionalmente Determinadas16 (INDC sigla em inglês). Cada país que ratificou o

documento apresentou um compromisso para redução dos gases de efeito estufa,

analisando o que cada nação considerava particularmente viável diante da situação

atual, deixando de ser INDC para Contribuições Nacionalmente Determinadas17 (NDC

sigla em inglês). Como apoio a elaboração do plano de metas, a ONU criou a Agenda

2030, intitulada de: Transformando Nosso Mundo, que estabelece 17 objetivos para o

DS (BRASIL, M. M. A, 2018), a saber:

Os dezessete objetivos compreendem 169 especificações, e seu processo de elaboração articulou, durante dois anos, não somente instâncias governamentais como instituições da sociedade civil e especialistas em diversas áreas do mundo todo. (BRASIL, M. M. A, 2018).

16 Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas, proposta de metas para o Acordo de Paris 17 Contribuições Nacionalmente Determinadas, metas para o Acordo de Paris.

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De acordo com Marcovitch18 (2016, p.5), a COP 21 obteve resultados

promissores com uma tentativa audaciosa para definir o futuro do planeta: foi o

primeiro evento em que se alcançou um consenso entre as nações. O macro tema

que direcionou o Acordo de Paris se trata do controle do aumento da temperatura

global a menos de 2°C. O Brasil com um propósito ambicioso ratificou o Acordo de

Paris, se comprometendo com a redução de 37% das emissões de gases de efeito

estufa até 2025 e continuamente em 43% até 2030, em relação aos níveis emitidos

de 2005 (BRASIL, M. M. A, 2018).

La Rovere19 (2016 p.9) aponta que existe uma tendência no Brasil com o

desenvolvimento de uma infraestrutura com baixa emissão e por propostas que se

utilizem de fontes de energias renováveis a um baixo custo ambiental e, por que não

zero, assim, com a grande possibilidade de matrizes energéticas, o país apresenta

um cenário promissor para o atendimento das metas.

Dentro deste contexto do Acordo, o setor da construção civil é a atividade com

mais influência aos impactos ambientais: tem sido o maior consumidor de recursos

naturais e energia segundo o Conselho Internacional da Construção (CIB). Diante

deste dado, o MMA (2018) afirma que a preservação do ambiente natural e melhorias

do ambiente construído devem ser prioridades para o setor da construção civil.

Desta forma, a arquitetura tem uma responsabilidade global em prol do DS, é

sim o ponto chave para contribuir com as metas ao Acordo de Paris. Assim, a

Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura20 (ASBEA) desenvolveu o Guia

de Sustentabilidade na arquitetura com o intuito de direcionar e promover as práticas

sustentáveis na arquitetura. “[...] a cidade com DS caracteriza-se não somente pelas

condições adequadas da economia, mas também pela busca da adequação ambiental

e social.” (GRUPO DE TRABALHO DE SUSTENTABILIDADE ASBEA, 2012, p.9).

Nesse contexto, o planejamento e projeto dos espaços construídos tem uma

importância maior, portanto, são imprescindíveis para inclusão do DS no setor da

construção civil, principalmente nas grandes metrópoles já consolidadas como São

18 Jacques Marcovitch é Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. 19 Emilio Lèbre La Rovere é cientista e professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) da UFRJ. 20 Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, surgiu no início da década de 1970, é uma entidade independente, composta e dirigida pelos escritórios de arquitetura e urbanismo associados.

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Paulo. A seguir serão discutidos os pilares que nortearam o desenvolvimento urbano

da cidade de São Paulo, e as influências dos debates globais sobre DS na arquitetura

e urbanismo paulistano;

1.2 Sustentabilidade Paulistana: desenvolvimento arquitetônico e urbano

Benedito Lima de Toledo21 (1934-2019) em São Paulo: três cidades em um

século, descreve detalhadamente as transformações urbanas da cidade. São Paulo

já foi demolida duas vezes: no final do século XIX, quando foi derrubada a cidade de

taipa, erguida pelos portugueses e Tupis; e em meados do século XX, quando foi a

vez da cidade de tijolos, edificada pelos imigrantes italianos, portugueses e espanhóis.

Dando origem a uma difusão do uso do concreto na arquitetura paulistana que,

gradativamente vai virando obsoleta. (TOLEDO, 1983).

Um ponto ténue nesta perspectiva é colocado por Toledo (1983) quanto à

memória das cidades e as modificações do cenário urbano. A manutenção dos bens

históricos se torna difícil para as estratégias atuais da cidade, o que requer projetos

que de alguma forma, respeitem a identidade local, mas promovam avanços nas

necessidades urbanísticas, sociais, econômicas, culturais e ambientais. A crítica do

autor diz respeito à perda do patrimônio edificado, à memória e ao patrimônio histórico,

e não no sentido do DS dos dias atuais.

O desenvolvimento da cidade, baseado na construção demolição e

reconstrução, é questionado por autores como Namur22 (2012). Ela afirma que é

basicamente caracterizado por dois extremos: o primeiro por áreas com infraestrutura,

excesso de veículos, associados à emissão de gases de efeito estufa, aquecimento

da superfície, poluentes. O segundo por áreas não estruturadas, insalubres, com falta

de emprego, dependente de grandes deslocamentos urbanos.

21 Benedito Lima de Toledo, foi professor da disciplina “História da Arquitetura” na FAU/USP, historiador veemente da evolução urbana da capital paulista. 22 Marly Namur é Professora Associada da Universidade de São Paulo e representante da FAU/USP no Conselho Estadual de Habitação, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento e gestão, habitação de interesse social, avaliação de políticas públicas urbanas, políticas públicas e instrumentos do estatuto da cidade.

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O grande desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo tem início na

segunda metade do século XIX, período em que as atividades comerciais estavam

relacionadas à exportação agrícola de café (CROCE, 2015). A ascensão de regiões

cafeeiras, de Campinas e Vale do Paraíba, fizeram com que a economia da cidade

crescesse consideravelmente, favorecendo a diversificação de investimentos internos

e contribuindo para o crescimento do volume exportador desse produto (CANO, 1990).

Na perspectiva crítica de Caio Prado23 (1907-1990) (1983), no início do

desenvolvimento urbano de São Paulo, houve a ocupação do centro por residências

burguesas que caracterizavam o centro comercial no fim do século XIX. Com a

abolição da escravatura24 (1888) e proclamação da república25 (1889), o centro de

São Paulo, ainda vivenciando o período Pré-Revolução Industrial, teve a primeira

expansão oriunda das atividades comerciais, criando os primeiros bairros

propriamente residenciais como Santa Ifigênia que se prolonga ao Campos Elísios.

Na virada do século, com o aumento populacional, novos bairros para a

sociedade do trabalho se formavam. Os bairros residenciais começam a migrar

decididamente pelas regiões mais altas, em síntese, davam origem aos bairros de

Higienópolis e Avenida Paulista, caracterizado por ser destinada a elite paulistana

formada após o sucesso da economia cafeeira. Entretanto, essas migrações não

tinham planejamento urbano, como afirma Prado (1983). As terras que cercavam São

Paulo estavam praticamente abandonadas.

Os especuladores de terrenos, adquirindo-os a preço baixo ou a preço nenhum pelo tão difundido sistema do “grilo”, que é a ocupação pura e simples sem título algum, não tiveram mais que traçar as ruas, às vezes papel apenas, e passá-los aos compradores que o crescimento considerável e vertiginoso da cidade fornecia em abundância. (PRADO, 1983, p. 74).

23 Caio da Silva Prado Júnior, de família tradicional paulista, foi historiador e escritor, autor de livros como: A Questão Agrária no Brasil (1979); História e Desenvolvimento (1972); O que é Liberdade (1980).Suas obras remontam a uma explicação consolidada no marxismo sobre a sociedade colonial brasileira. 24 O projeto de lei que extinguia a escravidão no Brasil foi apresentado à Câmara Geral, atual Câmara dos Deputados, pelo ministro da Agricultura da época, Rodrigo Augusto da Silva, em 8 de maio de

1888. 25 A Proclamação da República Brasileira foi um ato político-militar ocorrido em 15 de novembro de 1889 que instaurou a forma republicana federativa presidencialista de governo no Brasil, derrubando a monarquia do Império do Brasil.

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33

A Avenida Paulista se torna o novo polo da burguesia paulistana, expandindo

aos poucos para as áreas de várzea dos Pinheiros, dando origem aos bairros, Jardim

Paulista, Jardim Europa, caracterizado como Jardins pelos aspectos: vegetação

densa, espaços livres, áreas de parques e uma perspectiva de urbanismo vindo do

norte da Europa (PRADO, 1983).

Com o descenso da exportação do café devido à queda da bolsa de Nova York

(1929), São Paulo começa a receber os reflexos da Revolução Industrial europeia e

direcionar os recursos para a indústria paulista. Nesta nova fase da economia, a

população cresce e surgem novos bairros operários ao longo da ferrovia: Ipiranga,

Cambuci, Mooca, Brás, Pari, Luz, Bom Retiro, Barra Funda, Água Branca, Lapa. As

terras em que localizam esses bairros compunham o chamado cinturão de chácaras

que envolviam o núcleo urbano de São Paulo (Andrade, 2011).

Com as indústrias emergentes e a mecanização das atividades no campo e de

produção tecnológica, as indústrias passaram a empregar menos operários com

níveis de qualificação específicos, transportando parte da população operária para os

comércios e serviços. O setor terciário26 marca uma nova estruturação urbana da

metrópole. Segundo Biderman27 (2001), esse novo setor se beneficia com expansão

da cidade em ganhos sobre a urbanização, ou seja, esta função de serviços

especializados para consumidores e firmas provoca uma nova economia em que se

solidifica graças à possibilidade de espaços modernos na cidade.

Assim, a primeira remodelação surge deslocando as atividades do centro da

cidade para a Avenida Paulista na década de 1960, refletindo em novos

deslocamentos para novos setores na cidade durante os anos 1970 e 1980, como a

Avenida Faria Lima, Itaim e a região da Marginal Pinheiros que foram se consolidando.

Um fator importante para esta remodelação da cidade é o avanço tecnológico

direcionado a uma variedade de materiais. Ao longo dos anos, as edificações se

caracterizavam por baixa tecnologia, muito uso de concreto armado ornamentado com

argamassas, esquadrias em madeira e aço e fechamento em alvenaria, como o

edifício Martinelli finalizado em 1934 (Figura 1).

26 também conhecido como setor de serviços é aquele que engloba as atividades de serviços e comércio de produtos. 27 Ciro Biderman é professor dos cursos de graduação e pós-graduação em administração pública e economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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Com os avanços na forma de produtividade tecnológica, os edifícios passam a

integrar uma racionalização, alinhados aos preceitos da arquitetura moderna com

aumento nos vãos livres e o surgimento de lâmpada fluorescentes e vidros com

dimensões maiores e melhores desempenhos. Começam a surgir então nesse cenário

os edifícios caracterizados pelo uso de pele de vidro, possibilitado pelo uso do

alumínio em caixilhos e novos sistemas de fixação, com gabaritos elevados

possibilitado pelo avanço tecnológico industrial de elevadores com materiais mais

leves e velocidades que permitem atender a demanda com mais deslocamentos como

o edifício Wilton Paes de Almeida (Figura 2). Estas evoluções marcaram

significativamente a arquitetura paulistana. As construções recentes, destinadas ao

uso corporativo, apresentam sistemas cada vez mais eficazes para fechamentos em

vidro e gabaritos consideráveis para as demandas da cidade, à exemplo o edifício

Rochaverá Corporate Towers. (Figura 3).

Figura 1 – Edifício Martinelli

Fonte: Viva São Paulo, 201928.

28 Disponível em: <http://cidadedesaopaulo.com/v2/atrativos/edificio-martinelli/> Acesso em: 16 dez 2019.

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35

Figura 2 – Perspectiva do Edifício Wilton Paes de Almeida

Fonte: São Paulo antiga, 201829.

Figura 3 – Edifício Rochaverá Corporate Towers

Fonte: Aflalo&Gasperini Arquitetos, 201930.

29 Disponível em: <http://www.saopauloantiga.com.br/edificio-wilton-paes-de-almeida/> Acesso em: 05 dez 2019. 30 Disponível em: <http://aflalogasperini.com.br/blog/project/rochavera-corporate-towers//> Acesso em: 16 dez 2019.

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36

Com os avanços tecnológicos aplicados à arquitetura iminente, as edificações

passam a incorporar sistemas de controle de climatização interna dos edifícios,

chamados de Heating Ventilation and Air Conditioning (HVAC) com centrais

eletrônicas de sistemas de climatização via computadores, precedendo ao conceito

Smart Building (Edifício Inteligente).

Segundo Mariano (2013), o conceito de Edifícios Inteligentes surgiu no EUA na

década de 1980 com o intuito de utilizar a tecnologia para favorecer os custos de

operação dos edifícios com estrutura adequada às necessidades do usuário a fim de

promover conforto, segurança e custos.

No Brasil, o primeiro edifício seguindo o conceito de Edifício Inteligente foi o

Citicenter (Figura 4), situado na Avenida Paulista em São Paulo, sede do Citibank no

Brasil. O edifício foi pioneiro na implantação de tecnologias ao possuir um sistema de

monitoramento e controle energético. No entanto, esse sistema ainda não era

centralizado, o que vem a ocorrer somente em 2014 após o retrofit. Antes controle era

feito por setores, por zonas de iluminância. Os elevadores tinham o atendimento por

proximidade e o sistema de ar-condicionado era alimentado por produção noturna de

gelo, para refrigeração diária, aproveitando as tarifas mais baixas.

Figura 4 – Edifício Citicenter

Fonte: Acervo do autor.

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37

Enquanto o setor corporativo migrava para uma nova forma de concepção de

edifícios, influenciando na expansão de novas zonas de centralidade, a cidade de São

Paulo enfrentava o ordenamento das zonas de expansão da cidade bem como os

distanciamentos criados para a sociedade do trabalho com estes novo setores

destinados aos serviços.

Com base na compreensão e ordenamento à época para o desenvolvimento

social da cidade, novas centralidades marcam a década de 1990 em busca de

desenvolvimento: às regiões da Vila Olímpia e da Avenida Luís Carlos Berrini são

reconhecidas por sua concentração de empregos nos mais variados serviços

altamente especializados (IGLIORI, 2010).

Já em curso o processo de democratização sob a égide da Constituição Federal

(CF) de 1988, novas premissas se estabeleceram para o enfrentamento dos

problemas sociais com a ampliação dos espaços de participação e das competências

dos estados e dos municípios. Como em seu artigo 182:

A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em Lei tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (SENADO, 2018).

A CF abriu caminho para diversas iniciativas com perspectiva socioambientais

para a cidade de São Paulo como a criação do Fundo Municipal de Habitação (1994),

Estatuto da Cidade (2001), Plano Diretor Estratégico (PDE) (2002), Fundo Paulista da

Habitação (FPH) (2008) por exemplo.

Apesar da CF em curso aproximar a solução dos problemas da cidade às

questões sociais, não havia uma preocupação com o DS. O que se observa é que,

com a função fabril deixando de ser importante no centro urbano, sendo deslocada

para outras regiões mais afastadas, abre a necessidade de rever o uso das

edificações obsoletas em prol de aproximar a sociedade as áreas de centro como o

caso do Serviço Social do Comércio (SESC) Pompeia (Figura 5 e 6).

Projetado pela Arquiteta Lina Bo Bardi31 (1914-1992) em 1977, a qual fez uma

leitura muito clara da identidade, materializando elementos que caracterizam a

31 Lina Bo Bardi, arquiteta modernista ítalo-brasileira, conhecida por projetos como: o Museu de Arte de São Paulo (MASP) (1947); Casa de Vidro (1951).

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38

memória local e, ao mesmo tempo, propondo uma edificação nova, complementar

para as funções do projeto.

Figura 5 – Complexo SESC Pompeia

Fonte: Acervo do autor.

Figura 6 – Planta do SESC Pompeia

Fonte: Pinterest, 201932.

32 Disponível em: <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-90181/clasicos-de-arquitectura-sesc-pompeia-lina-bo-bardi/planta-85> Acesso em: 05 dez 2019.

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39

Lina Bo Bardi atuou até 1986 em atividades em meio ao SESC Pompeia, ou

seja, não existia separação entre escritório e obra: tudo ocorria dentro do canteiro de

obras com atividades que perpassam por projetos, maquetes, ensaios,

acompanhamentos. Uma revolução sobre o modelo de fazer arquitetura, ainda mais

fazer arquitetura de obra feita segundo Marcelo Ferraz (2008).

Ainda de acordo com Ferraz (2008), com olhar culto à edificação, Lina descobre

que a estrutura havia sido projetada por François Hennebique33, o que a impulsiona a

dar início então ao processo de remoção das camadas superiores em busca de sua

essência tectônica.

A implantação do programa do SESC ocorreu no bairro Pompeia frente à rua

Clélia, em local onde se abrigava a antiga fábrica de tambores dos Irmãos Mauser e,

posteriormente, sede da Ibesa-Gelomatic34. Apesar da conclusão das atividades

serem feitas em 1986, o SESC Pompeia já utilizava o espaço antes do convite

realizado à Lina Bo Bardi, o que demandou uma inauguração parcial em 1982 da área

consolidada antes pelos antigos galpões fabris agora destinados a programas e ações

socioculturais que têm marcado a instituição em suas atividades culturais até o hoje.

(SESC SP, 2007).

Na segunda etapa, o prédio esportivo (Figura 7) foi inaugurado em 1986: duas

torres de concreto que abrigam vestiários e quadras ligadas por passarelas de

concreto protendido com 25 metros e, sob elas, o córrego canalizado da Águas Pretas.

Desta forma, as passarelas perfazem às necessidades hidrológicas do terreno. Ao

lado, uma torre de água cilíndrica de 70 metros de altura, também em concreto

aparente, caracteriza-se por uma espécie de rendado marcado pelas juntas entre as

fôrmas (OLIVEIRA, 2008).

33 François Hennebique (1842-1921) foi um engenheiro e autodidata construtor francês, pioneiro no sistema construtivo de concreto armado no fim do século XIX. 34 Fundada em 1945 na cidade de São Paulo, a empresa foi pioneira na fabricação de refrigeradores a querosene em 1952.

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Figura 7 – Prédio Esportivo do SESC Pompeia

Fonte: Acervo do autor.

O contraste de uma história de local de trabalho duro e sofrimento de muitos

até a sua transformação em um centro de vivência, mantendo a originalidade pregada

nas paredes, fazem do SESC Pompeia um ponto de conexão histórica entre as

gerações.

A percepção em recuperar os galpões da antiga fábrica e expor aos usuários

do SESC propôs ao espaço um recomeço em seu Ciclo de Vida com personalidade.

A própria linguagem arquitetônica emerge o lado fabril e industrial em que edifícios

novos rompem a materialização da história composta pelos galpões de tijolos com

telha cerâmica (Oliveira, 2007).

A arquiteta Lina Bo Bardi, antecipando questões que hoje são discutidas no

âmbito do DS, propôs a requalificação dos galpões. Do ponto de vista ambiental, o

projeto do SESC Pompeia não tem relação direta com o conceito de DS, já que este,

na década de 1980, não estava em evidência em São Paulo a ponto de intervir na

arquitetura paulistana. O projeto se refere às questões de memória da cidade e

importância do espaço já construído para a sociedade.

No sentido do DS, como entendemos nos dias atuais, a primeira iniciativa no

âmbito governamental voltada para o aproveitamento de edifícios, ou seja,

revitalização e requalificação de edifícios obsoletos na cidade, ocorreu em 1997 com

a intenção de moradia sem custas de aluguel. No entanto, a iniciativa não obteve

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resultados promissores: as ações passavam por ameaças e ações de despejo devido

à alta demanda de ocupação e a propriedade privada das edificações, assim, essas

ocupações passaram a ter um papel de imposição ao poder público para reformas de

edifícios vazios e os destinação à população (BOCH, 1997).

Assim, surge o Programa de Arrendamento Residencial35 (PAR) em 1999 que,

mais tarde, segundo Maleronka (2005), seria pressionado pelos movimentos sociais

para a criação do PAR-Reforma, o qual caberia à prefeitura definir as diretrizes para

a reforma e indicar a demanda populacional a ser atendida. O par PAR-Reforma é

definido da seguinte forma:

Uma vertente do programa voltada para estimular a recuperação de áreas de risco e de preservação ambiental, a revitalização urbana e a recuperação de sítios históricos, estes através da reforma de antigas estruturas para uso residencial. (BONATES, 2008, p. 147).

Diversas dificuldades foram identificadas para efetividade desta modalidade.

Pode-se entendê-las em três aspectos. No primeiro, Bonates36 (2008) aponta

problemas relacionados às condições de Viabilidade para reforma das edificações: a

maioria das edificações eram de propriedade privada ou estavam em condições de

embargo; a mudança de uso do edifícios para residências multifamiliar; os resultados

econômicos apresentados pelas edificações reformadas que apontavam o baixo lucro

em virtude da destinação para a população de baixa renda: até R$ 40.000,00 a

unidade habitacional. O segundo problema enfrentado pelas reformas se deu em

função dos Projetos que, segundo Silva37 e Sigolo38 (2007), fez com que as unidades

acabassem tendo suas dimensões reduzidas, o que teria reduzido à qualidade das

unidades em função dos custos. O terceiro ponto está relacionado ao Gerenciamento

35 PAR é um programa que se caracterizou, a princípio, pela construção de conjuntos de pequeno porte preferencialmente localizados na malha urbana, seguindo uma tendência de aproveitamento dos vazios urbanos, contrariamente à prática do BNH, marcado pelo modelo periférico de implantação. 36 Mariana Fialho Bonates é professora adjunta da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 37 Helena Maria Menna Barreto Silva é pesquisadora independente e da Universidade de São Paulo (Labhab). 38 Letícia Moreira Sigolo é pesquisadora, desde 2003, do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos (Labhab) da FAUUSP, docente no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo e professora colaboradora no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas.

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42

posto por Devecchi39 (2010). As reabilitações de edifícios eram gerenciadas como

construções novas, sem um estudo preliminar que atestasse evidentemente as

características das condições materiais das edificações antigas, o que ocasionava em

gastos excessivos com a necessidade de atividades identificadas no período de obras.

Não existem estatísticas que apontem qual a quantidade de edifícios não

residenciais obsoletos na cidade de São Paulo. O Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) no censo 2010 apresenta dados referentes a edificações

destinadas à habitação. Segundo IBGE (2010), há 589.671 edificações particulares

residenciais não ocupadas em áreas urbanas de um total de 6.629.074. (tabela 2).

Tabela 2 – Domicílios vagos na região metropolitana de São Paulo

Domicílios recenseados, por espécie e situação do domicílio – Sinopse

Variável - Domicílios recenseados (Unidades)

Ano – 2010

Brasil e Região Metropolitana Situação do domicílio Espécie

Total Particular - não ocupado

Brasil Total 67.569.688 10.031.049

Urbana 56.721.147 7.336.309

São Paulo (SP) Total 6.710.623 609.452

Urbana 6.629.074 589.671

Fonte: IBGE - Censo Demográfico

Fonte: IBGE, Censo, 2010.

Segundo Lima (2016), no período de 2000 até 2012, o município de São Paulo

conseguiu reformar 11 edifícios para promoção de habitação na área central de São

Paulo, gerando um total de 985 unidades habitacionais de um total de 4.122 com as

novas edificações. Assim, a reforma de edifícios contribuiu com 25%, para produção

de Habitação de Interesse Social (HIS), um número expressivo do ponto de vista do

desenvolvimento urbano de São Paulo já que são edificações que não ocupam novos

espaços na cidade.

De acordo com o projeto de Lei 619/16, para a cidade atender às necessidades

habitacionais são necessárias 368.731 moradia. (Tabela 3), ou seja, hoje o número

de edificações residenciais não ocupadas já supera o déficit habitacional.

39Alejandra Maria Devecchi, professora universitária, atualmente leciona disciplinas relativas ao desenho urbano e estudos ambientais na Universidade São Judas Tadeu com mais tem 30 anos de atuação na área de planejamento urbanístico.

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Tabela 3 – Anexo da Lei 619/16. Plano Municipal da Habitação em São Paulo

Fonte: Gestão Urbana, 2019.

Seguindo a estatística apresentada por Lima, se a reforma de edifícios

contribuírem com 25% do déficit total necessário para novas habitações, o

aproveitamento de edifícios pode resultar em 92.183 moradias para a cidade de São

Paulo sobre o déficit habitacional apresentado, necessário à reforma de 1.024

edifícios com uma média de 90 Unidades Habitacionais cada.

Podemos considerar promissores os dados apresentados. São Paulo tem

condições de aumentar a porcentagem de aproveitamento de edificações, pois o

número de domicílios vagos é consideravelmente superior ao déficit habitacional,

sendo assim, é possível analisar de maneira mais adequada os problemas citados

anteriormente quanto à viabilidade, projeto e gerenciamento.

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Bonduki40 (2010) corrobora com esta visão, ao ser possível se pensar em

reestruturar as edificações promovendo o DS. O conceito não deve ser pensado como

um aspecto isolado das demais práticas, mas sim pertencente, em equilíbrio, aos

pilares que norteiam o DS. Se São Paulo continuar a crescer horizontalmente, com a

atual visão de solução para os problemas socioambientais, os problemas somente se

agravaram. A única solução não pode ser a demolição novamente, ou seja, é possível

aproveitar o acervo edificado de modo a proporcionar melhor qualidade de vida e

reduzir os impactos ocasionados ao meio ambiente.

Esta opção para enfrentar edifícios obsoletos deve ser evitada a qualquer custo, posto que, mesmo com reciclagem de entulho, é uma prática insustentável, requerendo uma enorme quantidade de novos recursos naturais e energia para reedificar o que já está construído. Através do desenvolvimento de novas tecnologias de reabilitação em reciclagem de edifícios, a cidade poderá se renovar sem demolir, gerando novos espaços habitáveis, comerciais e serviços, na perspectiva de crescer para dentro. (BONDUKI, 2010, p. 14)

Este segundo exemplo pode nos ilustrar não ser o avanço tecnológico o cerne

da questão para a promoção do DS, mas sim o modo de como ainda prevalecem as

premissas de desenvolvimento arquitetônico e urbano nos dias atuais. Essa questão

se torna premente, como o caso do edifício Wilton Paes de Almeida que poderia ter

tido um destino diferente.

Em maio de 2018, a cidade de São Paulo vivenciou o desmoronamento do

edifício Wilton Paes de Almeida (Figura 8) acarretado pelo incêndio, evidenciando a

necessidade de uso e de intervenções em edifícios na cidade em estado de

obsolescência.

40 Nabil Georges Bonduki é arquiteto e urbanista, professor titular de Planejamento Urbano da Universidade de São Paulo e professor visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley.

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Figura 8 – Fases do Edifício Wilton Paes de Almeida

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de São Paulo Antiga, 2018 e VejaSP, 2018.

Projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol na década de 1960, com 22

pavimentos e 2 subsolos, o edifício estava localizado no Largo no Paissandu, em um

terreno com 650m² e área construída de 10.000m², feito em estrutura mista de

concreto e aço com pele de vidro que envolvia a fachada (FIALHO, 2007, p.108).

Após 7 anos de obras entre 1961 a 1968, sua inauguração carregava o nome

de um de seus investidores, Wilton Paes de Almeida (1910-1965). Iniciando suas

atividades com um intuito de abrigar empresas de seu proprietário, ali operavam

Companhia Comercial de Vidros do Brasil (CVB), Socomin, Oleogaza, e duas

agências bancárias o Banco Nacional do Comércio de São Paulo e o Banco Mineiro

do Oeste S/A (NASCIMENTO, 2018).

Segundo o arquiteto autor do projeto Roger Zmekhol41 (1928-1976) (1965), o

edifício integrava o novo cenário urbano à época em busca de espaços modernos

para a cidade em estilo planta livre (Figura 9), com novas tecnologias, em que se

destacavam os vidros das fachadas com janelas de guilhotina e contrapeso embutido

nos montantes, e o sistema de condicionamento de ar totalmente embutido, insuflados

pelos rodapés.

Em 1992 foi reconhecido e tombado pelo Conselho Municipal de Preservação

do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP).

41 Roger Zmekhol foi um arquiteto formado pela FAU/USP, venceu o Prêmio Oswald de Andrade Filho – IAB-SP. Autor de projetos como: Edifício Augusta; Residência Roger Zmekhol.

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Figura 9 – Planta do Edifício Wilton Paes de Almeida

Fonte: Revista Acrópole,1965.

O edifício operou por nove anos com as empresas de seus proprietários devido

a instabilidades financeiras e sucessivas crises econômicas. Com dívidas na Receita

Federal, o edifício é adquirido pela Caixa Econômica Federal em 1977, que inicia às

atividades em 1978 com uma agência no térreo e outras repartições e cedido em 1980

à Polícia Federal (NASCIMENTO, 2019).

De acordo com Nascimento (2019), com a saída da Caixa Econômica e a

Polícia Federal em 2002, o edifício passa a receber uma agência do INSS até 2009.

A falta de manutenção e atualização promove o seu declínio operacional, sem

condições de uso o governo propõe repassar o edifício em estado de obsolescência

ao município, no entanto, o município não aceitou com a justificativa de altos custos

de reforma.

Com a exposição do edifício sem um destino, passa a ser ocupado

irregularmente: neste momento os riscos aumentam, e a probabilidade de uma

catástrofe se confirma em 2018: uma sobrecarga elétrica no quinto pavimento resultou

em um incêndio com o desmoronamento do edifício. Em termos de DS, como seria

possível reverter e evitar a ruína do edifício?

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Nas regiões mais antiga, em especial a região central, a preservação do

patrimônio edificado é indispensável para o fortalecimento da identidade da cidade.

Deve-se desenvolver ações mais contundentes para aproveitar melhor os edifícios

verticais construídos na cidade de São Paulo para não ocorrer novos desastres como

o Wilton Paes de Almeida.

Podemos concluir que o aproveitamento dos edifícios existentes é importante

tanto para a memória de cidade como a promoção do DS: aproveitar o patrimônio

edificado remonta ao aproveitamento da infraestrutura urbana consolidada: água,

esgoto, luz, transportes e diversos aspectos que promovem o desenvolvimento urbano

da cidade, sendo importante ressaltar a economia de recursos naturais.

As demolições ou desmontes com aproveitamento, quando analisadas pelo

método de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), promovem uma perspectiva de

contribuição não somente social, mas também ilustra diversas dimensões dentro do

Ciclo de Vida de materiais aplicados ao edifício, o que podem resultar em melhorias

desde os métodos de intervenção até o momento pós-obra com a operação do edifício

com resultados promissores, contribuindo, assim, com o DS, com a preservação do

ambiente natural e com a otimização do ambiente construído.

Desta forma, é necessário analisar as edificações com o intuito de aproveitar

os materiais existentes bem como todo o custo ambiental e humano para sua

produção. Uma das alternativas para tal impasse seria pensar no ACV do patrimônio

construído a fim de evitar a obsolescência dos edifícios. “A construção e o

gerenciamento do ambiente construído devem ser encarados dentro da perspectiva

de ACV.” (BRASIL, M. M. A, 2018, p.1)

O próximo capítulo, portanto, discutirá sobre os fatores que direcionaram ao

surgimento da metodologia da ACV, como resposta aos debates globais sobre a DS

no setor industrial, até a transposição para a arquitetura e como as normativas

apontam para a realização da aplicação da metodologia na arquitetura.

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2 Avaliação do Ciclo de Vida

2.1 Avaliação do Ciclo de Vida: resposta aos debates sobre Desenvolvimento

Sustentável

Os debates em prol do conceito de DS desde a década de 1960 no cenário

internacional como tema global têm buscado o equilíbrio entre os conflitos gerados no

tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômico) por meio de ações de

melhorias aos aspectos e impactos socioambientais, dado que é iminente a

predominância econômica em diversas ações. Diante desse contexto, diversos

setores, incluindo o setor da construção civil, têm buscado implantar diretrizes que

vão ao encontro do DS tais como: cura ambiental, saúde de vida, equidade social,

incentivos financeiros, qualidade na concepção do espaço.

As diretrizes ambientais são colocadas pela Associação Brasileira de Normas

técnicas (ABNT) NBR ISO 14001 (2004, p.2) como aspecto ambiental e, somente

após a avaliação da interação com o meio, é possível levantar os dados de impacto

ambiental.

Aspecto ambiental, o elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que podem interagir com o meio ambiente, já Impacto ambiental é qualquer modificação do meio ambiente adversa ou benéfica que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização. (ABNT NBR ISO 14001.2004, p.2)

Para análise de impactos, fez-se necessária a aplicação de metodologias que

permitem analisar dados inerentes às etapas da vida útil de produtos e materiais,

tendo como base os impactos ambientais. Assim, como respostas aos debates sobre

DS, surge a análise denominada de ACV no setor industrial.

Segundo Mourad42 (2002), no início dos anos 1960 nos Estados Unidos,

surgiram questões ambientais aplicados à produção industrial de embalagens devido

ao avanço da produção tecnológica em embalagens descartáveis. Estas questões

aliadas à crise do petróleo (1973) levaram a indústria a estudar métodos específicos

de análise de energia e de recursos aplicados ao processo produtivo.

42 Ana Lúcia Mourad é coordenadora geral do Centro de Tecnologia de Embalagens (CETEA).

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O primeiro estudo foi realizado pela Coca-Cola através da Midwest Research

Institute (MRI) para comparar os diferentes tipos de embalagens e selecionar qual

teria menos emissões e utilizaria menos recursos em sua fabricação, sendo a mais

adequada do ponto de vista ambiental e de melhor desempenho com relação à

preservação dos recursos naturais. Apesar deste estudo não ter sido publicado por se

tratar de cunho confidencial, o resultado serviu para provar a má interpretação à época

de que embalagens de plástico eram piores do ponto de vista ambiental do que as de

vidros, incitando a produção em massa das embalagens de plástico (HUNT;

FRANKLIN, 1996).

Mourad (2002) descreve que esse processo ficou conhecido como Resource

and Environmental Profile Analysis (REPA) ou Metodologia REPA. A metodologia vem

a se tornar ACV em 1974 através de aprimoramentos postos pelo MRI em um estudo

realizado para a agência norte-americana de proteção ambiental, marcando as

próximas décadas pelo início dos esforços para redução do efeito estufa e proteção à

camada de ozônio (CHEHEBE, 1997).

No entanto, Arantes (2008) aponta que a década de 1980 é marcada como

período de desinteresse público em ACV, o que conduz o Laboratório Federal Suíço

para Teste e Investigação de Materiais (EMPA sigla em inglês) por iniciativa

governamental a publicar um relatório em 1984 com base no estudo Balanço

Ecológico de Materiais de Embalagens. O estudo tinha como objetivo estabelecer uma

base de dados para os materiais de embalagens mais importantes: alumínio, vidro,

plásticos, papel e cartão, sendo o primeiro estudo a elaborar parâmetros

normalizadores de análise do ar e da água, denominados de: “volume crítico de ar” e

“volume crítico de água” (OFEFP, 1984).

Houve um notável crescimento das atividades ACV na Europa e nos EUA e os

primeiros problemas começaram a aparecer. Os resultados apontavam diferentes

avaliações para um mesmo produto. A fim de ajustar a variedade de frentes de

pesquisa, a Society of Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) (Sociedade

de Toxicologia e Química Ambiental) promoveu o primeiro evento científico sobre o

tema em 1989, o que denota o incremento do número de workshops e outros fóruns

para o desenvolvimento de uma metodologia padronizada de ACV (GUINÉE et al.,

2004).

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Em 1992 foi formada a Sociedade para a Promoção do Desenvolvimento de

Ciclo de Vida (SPOLD sigla em inglês) com a missão de juntar recursos para acelerar

o desenvolvimento da metodologia ACV como uma abordagem de gestão aceita para

ajudar na tomada de decisão (CHEHEBE, 1997). Como a metodologia para analisar

a geração de poluentes é idêntica ao cálculo de consumo de água e energia, esta se

expandiu para incorporar esses fatores e novos setores adotarem a metodologia

(MOURAD et al, 2002).

Segundo Ugaya43 (2011), a ACV hoje pode ser aplicada a qualquer produto em

qualquer setor, inclusive construção civil como veremos. A ONU através do PNUMA

tem se posicionado diante da importância da disseminação da ACV nos países,

inclusive o Brasil. No ano de 2001 foi lançada a primeira norma ISO (14040) com base

na participação do país em discussões por meio de um subcomitê sobre ACV

(CHERUBINI 2015, p.24)

A ACV permite, desta forma, avaliar aspectos ambientais e impactos potenciais

associados a um produto mediante a compilação de um inventário de entradas e

saídas pertinentes de um sistema de produto; a avaliação dos impactos ambientais

potenciais associados a essas entradas e saídas; a interpretação dos resultados das

fases de análise de inventário e de avaliação de impactos em relação aos objetivos

dos estudos. Ademais, permite também analisar impactos ambientais causados por

diferentes sistemas que apresentam funções similares como optar entre blocos

cerâmicos ou de concreto para a construção de uma parede. Essa avaliação

estabelece relatórios mais completos sob a ótica ambiental do possível fluxo de

matéria e energia para cada atividade e possibilita a comparação desses balanços

(ABNT NBR ISO 14040, 2009).

No Brasil, para ser executada uma ACV, as Normas NBR ISO 14.040, 14.044

e 14.049 devem ser seguidas. Elas têm como foco principal a gestão ambiental e

avaliam o desempenho ambiental, rotulagem ambiental, analisam o ciclo de vida dos

produtos, entre outros fatores.

43 Diretora da Associação Brasileira do Ciclo de Vida.

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51

Cherubini44 (2015, p.25) descreve que os resultados obtidos são interpretados

com a veracidade dos dados coletados da análise realizada e dos objetivos

pretendidos (Figura 10). Afirma ainda que a ACV tem por finalidade contribuir com

respostas a questionamentos sociais com consistência científica para a

sustentabilidade através da ação mais consciente de empresas.

Figura 10 – Fases de uma ACV.

Fonte: ABNT NBR ISO 14040, 2009.

2.2 Ciclo de Vida na Arquitetura

No ano de 2002, o livro intitulado Cradle to Cradle: criar e reciclar

ilimitadamente, ou C2C, do arquiteto William McDonough e do engenheiro químico

alemão Michael Braungart, remonta uma teoria com base na metodologia da ACV em

que mencionam a necessidade de aproximação da produção técnica industrial com o

ciclo de renovação da natureza.

A teoria C2C refere-se a uma visão mais ampla do ciclo de vida de um produto,

considerando um contraponto no processo de produção ao chamado Ciclo Linear ao

qual considera que a vida útil deve ser posta até o seu fim, limitando o produto entre

os extremos de produção e descarte. A teoria tem como intenção a produção industrial

que promove o reaproveitamento dos recursos de maneira cíclica, não incluindo um

ponto final na ACV. Portanto, o ciclo que vai da criação e reutilização em que cada

44 Doutor em Engenharia Ambiental (2015) pela UFSC é consultor ambiental e sócio da EnCiclo Soluções Sustentáveis e pesquisador convidado do Grupo de Pesquisa em Avaliação do Ciclo de Vida (CICLOG).

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52

passagem do ciclo se torna o marco zero de um recurso, determinando o novo berço

de um material. Dessa forma, o conceito linear substituído por sistemas cíclicos

permite que os recursos sejam reutilizados indefinidamente e possam circulem em

fluxos seguros e saudáveis para os seres humanos e para a natureza (MCDONOUGH,

2013).

Desta forma, ainda segundo Mcdonough (2013), pensar em um sistema de

produção cíclica vai além da ecoeficiência como foi enfatizado na Rio 92: é abstrair-

se ao que se pode aproveitar dos recursos naturais, principalmente quando os

impactos já foram ocasionados: devemos pensar em ecoefetividade.

[...]um edifício ecoeficiente é um grande economizador de energia minimiza a ventilação vedando lugares pelos quais o ar poderia passar. Reduz a entrada de luz solar com vidros escurecidos, diminuindo a carga de refrigeração do sistema de ar-condicionado do edifício, restringindo assim a quantidade de energia de combustíveis fósseis usada. [...] o edifício ecoefetivo [...] durante o dia, a luz entra pondo a vista o exterior que se tem através das janelas grandes [...] O sistema de refrigeração maximiza os fluxos naturais de ar como em uma fazenda: à noite, o sistema lança ar fresco noturno para dentro do edifício, baixando a temperatura e limpando o ar velho. (MCDONOUGH. 2013, p.78).

Ambos são exemplos, mas o segundo apresenta uma complexidade em

integração com os meios naturais sendo um edifício que valoriza a natureza, diante

do respeito aos aspectos que compõem o meio ambiente. Sendo assim, apresenta

uma diferença entre os conceitos de ecoeficiência e ecoefetividade.

Dentro desse cenário, Rogers e Gumuchdjian (2013) abordam a importância

desses termos. O arquiteto Richard Rogers45 corrobora com esta visão: edifícios

artificiais são grandes consumidores de energia, repensar nosso conceito de

tecnologia e qualidade de vida pode representar metade do consumo de energia gasta

pelos edifícios, refletindo até 1/4 do consumo global.

Existe uma série de conceitos que partem da metodologia da ACV e

complementam as reflexões sobre respostas ao DS, ou seja, são muitas peças de um

mesmo quebra-cabeça (ELKINGTON, 2001).

45 Richard George Rogers, arquiteto italiano naturalizado britânico, recebeu os prêmios Stirling pelo terminal 4 do Aeroporto de Barajas em 2006 e Pritzker pelo conjunto de sua obra em 2007.

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53

O que se pode afirmar é: não existe material beneficiado totalmente “verde”.

Todos os produtos contêm em suas fases de produção elementos que agridem a

saúde do planeta e dos seres, como o consumo de água. Não é possível edificar sem

agredir o meio ambiente, no entanto, a metodologia ACV exibe e monitora os danos,

dando espaço para que o ecossistema seja capaz de se recompor junto ou antes de

novos impactos. Portanto, a ACV expõe que produtos ditos sustentáveis nem sempre

são tão sustentáveis assim. (MCDONOUGH, 2013).

De acordo com Boff (2016), para garantirmos uma produção necessária a vida

que não estresse e degrade a natureza, precisamos mais do que a busca do verde: o

DS é uma crise ainda conceitual e não somente econômica.

A relação para com a terra tem que mudar, e mudar também as relações sociais para que não sejam demasiadamente desiguais. Somos parte da sociedade e parte de Gaia, e por nossa atuação cuidadosa a tornamos mais consciente e com mais chance de assegurar a sua própria vitalidade. (BOFF, 2016, p.60).

A ACV hoje está presente em diversos setores diante das respostas que têm

proporcionado ao DS, inclusive na arquitetura. Neste sentido, o Brasil M. M. A (2018,

p.1) afirma “a construção e o gerenciamento do ambiente construído devem ser

encarados dentro da perspectiva de ACV.”

Em vários países existem conselhos para o desenvolvimento dos conceitos da

construção sustentável. Eles orientam e discutem padrões a serem seguidos. No

Brasil, foi criado em 2007 O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS),

composto de acadêmicos e pessoas ligadas às áreas social e financeira, construtores

e representantes de organizações não governamentais. Segundo o próprio CBCS, seu

objetivo é contribuir para a geração e difusão de conhecimento e de boas práticas de

sustentabilidade na construção civil.

De acordo com o CBCS (2011), a integração do edifício com o meio ambiente

se dá em momentos distintos de sua existência, em linhas gerais contempla as

seguintes etapas: Planejamento, Projeto, Implantação, Operação, Manutenção e

Demolição, ou seja, enfatiza que o Ciclo de Vida de um edifício deve ser cíclico.

Em síntese, o CBCS define: planejamento é etapa essencial para a garantia de

desempenho mais sustentável da edificação, pois é nesse momento que são definidos

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54

o local de implantação e os objetivos funcionais, culturais, sociais, econômicos e

ambientais a serem atendidos pelo edifício; na Implantação, a edificação começa a

ser executada, e é quando os impactos surgem.

Apesar de essas etapas serem as menores do ciclo de vida dos edifícios, elas

são fundamentais para o nível de desempenho de sua etapa mais longa: a de

operação; a operação e manutenção são determinantes para o aumento da vida útil

das edificações e no aperfeiçoamento dos níveis de desempenho. Nestas atividades,

estão contidas reposição de componentes, conservação das superfícies, manutenção

preditiva, preventiva e corretiva de equipamentos e sistemas, que podem incluir ações

de atualização e ampliação da construção. A demolição é a fase de inutilização de um

edifício por meio de um processo de desmonte para aproveitar os produtos existente,

não simplesmente considerando-o integralmente como entulho. Este raciocínio

poderia ter evitado o colapso do edifício Wilton Paes de Almeida citado no capítulo 1.

Ugaya (2011) corrobora com a perspectiva do CBCS ao apontar que a

operação de edifícios no Brasil é responsável por 18% do consumo total de energia

do país e por cerca de 50% do consumo de energia elétrica, além de consumir parte

significativa da água sem contar os respectivos desperdícios. O edifício não deve

operar continuamente com os mesmos resultados, ou seja, deve possibilitar

atualizações e desmontes para sempre promover um recomeço de ciclo de forma que

seus produtos possam ser reciclados ou reutilizado.

Assim, um bom projeto é necessário, ampliando a perspectiva de vida útil da

edificação não se limitando a validade dos materiais empregados, pois seu transporte,

o emprego, a operação e a manutenção influenciam no ciclo de vida da edificação e

são itens relevantes para uma boa ACV.

Se o CBCS e Ugaya enfatizam que o desmonte é etapa essencial, às novas

edificações devem incluir estratégias resilientes que vão ao encontro da ACV, quando

pensadas de maneira cíclica. As edificações existentes não podem simplesmente

serem jogadas ao chão: é importante avaliar o desmonte, a reciclagem e a reutilização

de materiais nas intervenções de reforma de edificação. É neste ponto que o conceito

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55

Design for Design for Deconstruction46 (DFD) mais recente no cenário internacional

reflete o fazer da arquitetura resiliente com condições de intervenção futura.

É possível que a prática da técnica de retrofit pode propor a longevidade no

ciclo de vida das edificações com inserção das questões de DS em função da

utilização da ACV.

No próximo capítulo serão discutidos o surgimento da técnica de retrofit e sua

evolução no cenário edificado bem como as normas que surgiram para

regulamentação da atividade.

46 The ultimate goal of the Design for Deconstruction (DfD) movement is to responsibly manage end-of-life building materials to minimize consumption of raw materials. By capturing materials removed during building renovation or demolition and finding ways to reuse them in another construction project or recycle them into a new product, the overall environmental impact of end-of-life building materials can be reduced. Architects and engineers can contribute to this movement by designing buildings that facilitate adaptation and renovation.

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3 O surgimento da técnica retrofit e o conceito na arquitetura

3.1 Histórico do retrofit

Após o Acordo de Paris em 2015, torna-se iminente a adaptação do setor da

arquitetura para contribuir com Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis (ODS),

principalmente no que tange a ODS 1147 que, em alguma medida, aponta influências

do setor da construção civil nas metas estabelecidas. Nesse âmbito, o retrofit pode

ser uma alternativa para a continuidade do ciclo de vida do patrimônio edificado. Em

centros urbanos consolidados, com edifícios com mais de 30 anos ou em processo de

obsolescência, o retrofit pode ir ao encontro da Agenda 2030: uma nova Agenda para

o Desenvolvimento Sustentável que estabelece objetivos para diversos setores em

busca da sustentabilidade global (ONUBR, 2018). Assim, seria importante ressaltar o

contexto que originou o surgimento da técnica retrofit no cenário internacional.

Segundo o CBCS (2013), a palavra retrofit é criada a partir da junção do termo

retro do latim que significa movimentar-se para trás e do termo fit do inglês que

significa ajustar-se: em síntese compreende ao conceito em português reconversão,

ou seja, podemos compreender que é a intervenção realizada com o objetivo de

incorporar melhorias e alterar o estado de utilidade do objeto com um novo ciclo de

vida.

O termo retrofit foi utilizado na década de 1990 pela indústria aeronáutica,

referindo-se à adaptação das aeronaves com novos equipamentos mais modernos e

tecnológicos ROCHA; QUALHARINI (2001). Na mesma época, surgem os primeiros

processos de aplicação da técnica retrofit no setor da construção civil. Segundo o

CBCS (2013) a aplicação da técnica é identificada na Europa e EUA em cidades que

têm centros urbanos consolidados com pouca oferta de terrenos para novas

construção, possibilitando o surgimento deste novo setor de atuação para arquitetos

e engenheiros.

Estes países incentivam a prática de retrofit, independente do uso e idade da

edificação, pois possibilita o aumento da vida útil através da atualização tecnológica

de equipamentos, promovendo em alguns casos mudanças de usos em função da

avaliação do grau de intervenção e custo financeiro para reparar produtos. Esse

47 Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

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processo devolve à edificação sua funcionalidade perdida e atende a critérios

estabelecidos nas Normas Regulamentadoras (NR) que preveem condições mínimas

de Saúde e Segurança Ocupacional (SSO).

Segundo Moraes e Quelhas (2012, p. 449), a prática do retrofit abrange 50%

das obras na Europa. Na França e Itália essa porcentagem já chega a 60%,

demonstrando a modalidade ser uma alternativa mais adequada a opção de

demolição ou de uma nova construção.

O engenheiro Eduardo Qualharini, professor da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, em texto publicado na I Conferência Latino-Americana de Construção

Sustentável (2004) descreve que o retrofit é um estudo complexo dos aspectos que

constituem a técnica com procedimentos específicos e individuais para cada

intervenção, porque os rumos propostos à obra são norteados pelas condições

inerentes da edificação.

A caracterização do retrofit engloba um campo amplo de possibilidade de

intervenções como:

• Reforma, intervenção menor voltada principalmente a aspectos de

manutenção da edificação;

• Reabilitar, “recuperar a capacidade” (AURÉLIO, 2010), reestabelecer as

características originais do objeto. Aplicáveis em obras de restauro em

que o objeto deve ser preservado em sua integridade. Utilizado

principalmente em obras de arte em que a funcionalidade não tange a

obsolescência do bem. Na construção civil, é muito aplicada a obras de

restauro pois recobra às características originais do edifício e permite a

modernização da infraestrutura de acordo com as cartas patrimoniais

(BARRIENTOS e QUALHARINI, 2002; CROITOR, 2009).

• Renovação e Revitalização: o dicionário Aurélio (2010) define: “ficar

melhor, com aparência de novo [...]. Ter novo início, recomeçar.” É

possível compreender dentro desta definição que o termo “renovar” se

enquadra em ações que promovem a continuidade de utilidade do

objeto, com nova estética, contudo, sem intervir em sua estrutura física,

ou seja, para a arquitetura se trata de uma intervenção que tenha como

intenção manter o estado de utilidade, promovendo uma nova estética

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para o edifício e o uso de tecnologia no processo, muito confundido com

o retrofit.

• Requalificação: de acordo com o dicionário Aurélio (2010) o termo

requalificar é: “[De re + qualificar] dar nova ou melhor qualidade [...], dar

nova ou melhor habilitação”. O significado mostra que existe um grau de

complexidade maior, pois caracteriza-se principalmente pela mudança

de utilidade do objeto, permitindo ser aplicado no setor da construção

civil com intervenções na estrutura física do edifício. Também pode ser

aplicável até em obras de restauro em que o tombamento remonta a

aspectos pertencentes no edifício e não integralmente ao seguir critérios

específicos estabelecidos pelas cartas patrimoniais podendo fazer uso

de tecnologia.

É possível compreender que a técnica retrofit permeia uma variedade de

intenções através de uma avaliação crítica do objeto de intervenção. Conforme

descreve Barrentos e Qualharini (2004), é necessário o Pré-Diagnóstico para se

avaliar a viabilidade de aplicação da técnica retrofit e o Diagnóstico para investigar o

grau de intervenção possível, contudo, é necessário visualizar e discutir o retrofit

mediante a sua possibilidade de contribuir com às metas para o DS na Agenda 2030.

Como vimos, a ACV é uma metodologia que permite análise de impactos

ambientais para diversos produtos, desta forma, é provável que a metodologia de ACV

aplicada em conjunto com a técnica retrofit podem ampliar consideravelmente o

desempenho da edificação perante ao combate dos impactos ambientais: desde os

impactos já ocasionados, até os que vão ocorrer durante a intervenção e na operação

dos edifícios. Assim, o ciclo de vida linear da edificação recomeça em um sistema

cíclico de vida na medida em que aproxima a compreensão do sistema cíclico da

natureza ao ciclo de vida da indústria da construção civil.

Não existe até hoje (2019) uma normatização que compreenda o significado de

retrofit com o sentido desta dissertação e direcione à prática por meio de uma

regulamentação específica, propondo a integração da intervenção do retrofit

concomitante à ACV, em contribuição às metas do Acordo de Paris. Algumas

organizações e associações que tratam do tema compreendem, de forma geral, sem

especificidades.

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Segundo o CBCS (2013, p.1) o retrofit é a intervenção realizada em um edifício

com objetivo de incorporar melhorias e alterar seu estado de utilidade. Este conceito

de aproveitamento do patrimônio edificado que esteja subutilizado ou totalmente

inutilizado, não encerra na escala do edifício, mas se estende ao entorno urbanos.

Já a ABNT NBR 15.575 (2013) e a ASBEA (2012) incorporam a compreensão

do retrofit a atualização tecnológica ao agregar tanto valores econômicos ao edifício

quanto à redução dos custos operacionais com as possibilidade de alteração de uso.

Podemos perceber que, indiretamente, a Norma inclui o retrofit à sustentabilidade,

pois, se uma intervenção é realizada incluindo materiais com coeficientes de

desempenhos maiores para proporcionar uma operação com economia de custos em

geral e custos energéticos, como a troca de um sistema de iluminação fluorescente

por LED, isto, consequentemente, influência em uma redução na geração de energia

necessária para alimentar o edifício.

Retrofit é a remodelação ou atualização do edifício ou de sistemas, através da incorporação de novas tecnologias e conceitos, normalmente visando a valorização do imóvel, mudança de uso, aumento da vida útil e eficiência operacional e energética. (ABNT NBR 15.575; ASBEA, 2012, p.127).

Com base nas afirmações, o retrofit surgiu diante de uma necessidade de

aproveitamento do cenário arquitetônico ao remeter a longevidade do patrimônio

edificado, utilizando à tecnologia como premissa para reintegrar edifícios às condições

de uso diante da carência de espaços não construídos ou situações em que a

legislação não permita a ampliação do espaço construído como as áreas de centro.

No entanto, se olharmos o retrofit concomitante a metodologia de ACV, a

técnica remete uma contribuição para a sustentabilidade: assim, o retrofit transcende

a visão de atualização tecnológica ou reparo de edificações, porque se estende às

necessidades ambientais, direcionando a técnica às metas da Agenda 2030, bem

como, promove a utilização efetiva do patrimônio edificado já com infraestrutura

urbana. Sendo assim, favorável a políticas públicas, como mencionado a questão da

habitação no item 1.2.

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3.2 Retrofit no Brasil em São Paulo

O acervo edificado na cidade de São Paulo remonta aos avanços postos pela

Revolução Industrial e possibilitou mudanças ao passar das décadas conforme foi

exposto no Capítulo 1, tornando os edifícios cada vez mais complexos em tecnologia

e produtos com atenuação de normativas que direcionam às necessidades do meio

urbano e social. Sendo assim, com o passar dos anos, um edifício necessita de

atualizações que o recoloquem ou o mantenha em estado de utilidade nos aspectos

que perpassam tecnologia.

Como a cidade de São Paulo se consolida em diversos momentos na década

de XX, diversos edifícios não acompanharam em sua construção o crescente avanço

tecnológico marcado pelo fim da década de 1990. Desta forma, parte do cenário

edificado para o setor corporativo tem entrado em estado de obsolescência devido à

demanda necessária de equipamentos.

Algumas centralidades como a Avenida Paulista, polo corporativo, apresenta

essa demanda preemente do setor em busca espaços que contemplem às

necessidades não só urbanística mas principalmente as funcionais internas,

impactando na subutilização de parte do acervo arquitetônico, o que remonta a

décadas anteriores e a áreas desprovidas ou com baixa infraestrutura.

No entanto, boa partes destes edifícios não apresentam problemas graves

estruturais: não houve atualização necessária para garantir ao edifício condições de

Segurança e Saúde Ocupacional (SSO). Além dos custos altos energéticos de sua

operação, podemos citar osproblemas hidráulicos e elétricos, a falta de paças para

manutenção, a velocidade de elevadores reduzida, a ausência de rede de lógica, de

sistemas de condicionamento de ar não resilientes. Tais fatos direcionam os

ocupantes a procurarem novos espaços.

No Brasil, não há uma tradição consolidada na manutenção e operação.

Benedito Lima de Toledo (1983) já mencionava a necessidade de se olhar para o

existente na cidade, seja do ponto de vista urbano, arquitetônico, seja do ponto social

e cultural. Sendo assim, a disseminação da técnica retrofit não é explorada.

O CBCS (2011) justifica a não disseminação do retrofit pela falta de legislações

específicas, pois entende que se o meio da construção civil não tem um parâmetro

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legal que defina e regulamenta a técnica, o aproveitamento de edificações se torna

inviável tanto para o investidor como o consumidor. Alguns fatores são citados como

exemplos da falta de propagação do retrofit: retorno financeiro; legislações que

abrangem o retrofit; recursos tecnológicos disponíveis adequados a obras existentes;

a falta de conhecimento dos arquitetos do potencial da técnica; a carência da

fabricação de materiais específicos novos como o beneficiamento de materiais

oriundos dos desmontes parciais para reutilização com o mesmo ou outros fins.

[Uma] área de interesse para políticas públicas é o conceito de retrofit, que representa a requalificação de uma edificação, às vezes com troca de uso. A reocupação de centros antigos nos próximos anos e a readequação de edificações construídas nas décadas de 1960 e 1970 irão destacar este tipo de trabalho. O momento de retrofit traz grandes oportunidades para melhorias no desempenho energético de uma edificação (CBCS, 2014, p. 97).

Como mencionado anteriormente, algumas organizações e associações

buscam definir o tema para fundamentar a técnica, porém a falta de normatização faz

com que o setor busque alternativas que possam nortear e agregar valores as práticas

de retrofit. Neste sentido, as certificações têm sido aceitas na arquitetura e usadas

como parâmetros norteadores ao estabelecer critérios para o atendimento efetivo de

uma intervenção. Existem diversas organizações que chancelam as certificações

voltadas a técnica do retrofit como a Leadership in Energy and Environmental Design

(LEED), a Well Building Standard e a Alta Qualidade Ambiental (AQUA).

3.3 A certificação LEED como parâmetro para as intervenções em edifícios

A organização United States Green Building Council (USGBC), fundada em

1993 por arquitetos, engenheiros e ambientalistas, é uma organização não

governamental mantida pela indústria da construção civil que desenvolve métodos

para auxiliar a tornar as construções sustentáveis. O USGBC é responsável pela

criação da certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), um

sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações com

intuito de incentivar a transformação dos projetos, obra e operação das edificações,

sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações (GBC, 2019)

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O Certificado LEED segue uma formatação única para um mercado global, ou

seja, não importa onde esteja localizado, o resultado da certificação tem a mesma

representatividade. Com essa premissa, os critérios podem abranger caminhos

alternativos que leva em consideração condicionantes locais como a variação

climática, os métodos construtivos e os materiais disponíveis, porém dentro uma

mesma conformidade global.

No Brasil, a certificação LEED está presente desde 2005 com a fundação da

organização Green Building Council Brasil (GBC BRASIL). Ela iniciou o primeiro

processo de certificação em 2006 na cidade de Curitiba no edifício Office Park. Hoje

tem sido a certificação de maior uso no setor na construção civil (GBC, 2017).

Segundo GBC (2017), a certificação é dividida em quatro tipologias, a saber:

• BD+C – Building Design and Construction: fornece parâmetros para novas

construções ou grandes reformas de um edifício sustentável. Esta categoria

abrange as seguintes classificações: Envoltória e Núcleo Central, Data Centers

Unidades de Saúde, Hospedagem, Varejo, Escolas, Galpões, Centros de

Distribuição, Novas Construções (quando não se enquadra nas opções anteriores)

e Grandes Reformas. Para uma reforma se enquadrar nesta tipologia, a

intervenção deve ser de mais de 60% do edifício, quando menos deve se

enquadrar na O+M.

• ID+C – Interior Design and Construction: aplicável a projetos de interiores, como

interiores comerciais, varejo e hospedagem.

• O+M – Building Operations and Maintenance: oferece parâmetros para edifícios

existentes melhorarem seu desempenho sem reforma ou com intervenção de

menos de 60% do edifício. Aplicável à: varejo, escolas, hospedagem, datacenters,

galpões logísticos e armazenamento ou como edifícios existentes (quando não se

enquadra nas opções anteriores). Principal categoria para a prática de retrofit.

• ND – Neighborhood Development: aplicável a projetos em escala de bairros ou

projetos de requalificação urbana contendo usos residenciais, usos não

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residenciais, ou uso misto. Os projetos podem estar em qualquer fase do processo

de desenvolvimento, desde o planejamento conceitual ao projeto de construção.

As tipologias analisam os projetos em 8 áreas diferentes (Figura 11):

Figura 11 – Áreas de análise da certificação LEED

Fonte: Cartilha GBC, 201948.

Em cada área de análise existem pré-requisitos e os créditos: os pré-requisitos

são elementos obrigatórios a serem atendidos pelo projeto para que ele tenha direito

à acumulação de pontos para certificação. Caso não sejam atendidos, o projeto não

poderá ser certificado. Assim, são obrigatórios e não valem pontos, mas garantem ao

empreendimento um desempenho ambiental mínimo para poder ser certificado, como

uma construção sustentável. Os créditos valem pontos que variam de acordo com a

categoria a ser atendida. Conforme os créditos são atendidos, o edifício acumula

pontos que somados ao final direcionam ao nível de certificação.

Os certificados variam em quatro níveis de certificação: Certified (Certificado)

Silver (Prata), Gold (Ouro) e Platinum (Platina) que são chancelados pelo GBC de

acordo com a somatória de pontos atingidos pelo projeto (Figura 12).

48 Disponível em: <https://www.gbcbrasil.org.br/docs/leed.pdf> Acesso em: 05 dez 2019.

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Figura 12 – Níveis de certificação

Fonte: Cartilha GBC, 201949.

O GBC (2019) afirma que os impactos da certificação no Brasil vêm sendo

promissores à contribuição do Acordo de Paris com dados que vão ao encontro dos

ODS estabelecidos na Agenda 2030 (Figura 13). Desta forma, a certificação está

sendo uma alternativa norteadora para incentivar e nortear o setor da construção civil

em ações mais eficazes em prol do DS.

Figura 13 – Impacto da certificação no Brasil

Fonte: Cartilha GBC, 201950

Em São Paulo, temos alguns exemplos de retrofit que já utilizam o critério da

certificação para aplicação da técnica, em busca de uma aproximação com a

sustentabilidade. Boa parte destas edificações encontram-se na Avenida Paulista

(Tabela 4) como mostra o levantamento realizado pela pesquisadora Bruna Pimentel

do grupo de pesquisa CNPQ. Arquitetura: abordagens alternativas e transdisciplinares

(Figura 10).

49 Disponível em: <https://www.gbcbrasil.org.br/docs/leed.pdf> Acesso em: 05 dez 2019. 50 Disponível em: <https://www.gbcbrasil.org.br/docs/leed.pdf> Acesso em: 05 dez 2019.

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Tabela 4 – Relação dos edifícios certificados na Avenida Paulista.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do GBC, 2019.

Figura 14 – Levantamento dos Edifícios Certificados na Avenida Paulista

Fonte: Pimentel, 2018.

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Conforme os dados apresentados, são 11 edificações localizadas na Avenida

Paulista que utilizaram os critérios da certificação LEED como norteador das

estratégias em busca de melhores resultados sustentáveis. No entanto, o

levantamento realizado pela pesquisadora não tinha por objetivo detalhar cada um

deles.

No próximo capítulo serão apresentados estudos de caso de retrofit em que a

aplicação da técnica foi compreendida junto ao conceito DS, seguindo a certificação

LEED como parâmetro norteador para atingir resultados de impactos ambientais

menores durante a longevidade da edificação.

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4 Estudos de caso de retrofit

Dos 11 exemplares apresentados na Avenida Paulista, foram selecionados dois

deles para demonstrar as estratégias que estão sendo utilizadas e resultam em

desempenhos favoráveis em relação aos impactos ambientais na operação. Para

seleção dos edifícios, foi adotado o critério de exclusão e inclusão em função da idade

do edifício (mais de 30 anos), estratégias tecnológicas contra obsolescência, do grau

de intervenção com mais ou menos de 60%, que determina a tipologia de certificado

LEED. Desta forma, será possível analisar as estratégias de retrofit em situações

distintas.

1 Torre Matarazzo (Figura 15).

Figura 15 – Torre Matarazzo e Shopping Cidade São Paulo

Fonte: Acervo do autor.

O edifício Torre Matarazzo projetado pelo escritório Aflalo&Gasperini Arquitetos

e construído em 2014 e 2015 não foi selecionado, pois é uma edificação nova e não

um caso de retrofit. Contudo é uma obra que segue os parâmetros da

sustentabilidade.

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2 Edifício Eluma (Figura 16).

Figura 16 – Edifício Eluma

Fonte: Acervo do autor.

Edifício Eluma projetado pelo arquiteto americano Charles Bosworth não foi

selecionado, apesar de ser um edifício antigo (1977) na avenida com potencial para

intervenções, não apresenta uma variedade de estratégias em sua operação atual. O

edifício é pré-certificado, isto significa que tem intenções de aplicar estratégias dentro

das categorias do certificado, estando processo de intervenção. Desta forma, ainda

não constam os resultados obtidos com a intervenção, não sendo adequado para esta

dissertação estudá-lo.

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3 CYK - Comendador Yerchanik Kissajikian (Figura 17)

Figura 17 – Edifício CYK

Fonte: Acervo do autor.

O edifício CYK projeto do escritório Kogan, Villar & Associados não foi

selecionado, por ter sido construído em 2003 é considerado novo no entendimento

desta dissertação. Ele se enquadra na categoria O+M, em termos do ciclo de vida útil,

portanto, foi construído já com o objetivo de obter resultados de desempenho

favoráveis em sua operação. Sendo assim, as questões relacionadas ao retrofit não

remontam à obsolescência das tecnologias da edificação, o que o torna tecnicamente

mais viável em implantar novas tecnologias e conquistar níveis de economia mais

favoráveis ao meio ambiente.

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4 SESC Paulista (Figura 18)

Figura 18 – Edifício SESC Paulista

Fonte: Acervo do autor.

O edifício do SESC Paulista projetado pelos arquitetos Sérgio Pileggi e Euclides

de Oliveira em 1970, e projeto de retrofit do escritório Königsberger Vannucchi

Arquitetos Associados foi selecionado, pois é um caso em que a aplicação da técnica

retrofit se enquadra perfeitamente nos termos desta dissertação, viabilizando a

longevidade do edifício projetado em 1970, com alto grau de intervenção e estratégias

que alcançaram resultados positivos para atender as metas da Agenda 2030 seguindo

os moldes da certificação LEED GB+C. Os detalhes serão analisados detidamente

mais adiante.

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5 Paulista 2028 (Figura 18)

Figura 19 – Edifício Paulista 2028

Fonte: Acervo do autor.

O edifício Paulista 2028, construído nos anos 1970 e projeto de retrofit em 2014

pelo escritório Athié Wohnrath, é um bom exemplar para análise com as intenções da

dissertação, no entanto, foi descartado pela coincidência de categoria de avaliação

com o edifício SESC Paulista, o que prejudicaria a análise comparativa entre

intenções distintas de retrofit. O objetivo é apresentar estudos com características

distintas de retrofit concomitante à ACV que estão sendo norteados pela certificação

LEED, a fim de ampliar o entendimento das estratégias possíveis. Desta forma, se faz

necessário discutir às múltiplas possibilidades entre as categorias que abrangem o

retrofit, não sendo adequado para a dissertação este estudo de caso.

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72

6 Paulista 867 (Figura 20)

Figura 20 – Edifício Paulista 867

Fonte: Acervo do autor.

O edifício Paulista 867 construído entre 2013 a 2016 não foi selecionado para

este estudo, pois é um edifício novo, certificado como construção nova e não possui

intervenções de retrofit.

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7 Edifício FIESP (Figura 21)

Figura 21 – Edifício FIESP

Fonte: Acervo do autor.

O edifício FIESP projetado em 1969 pelo arquiteto Rino Levi, vencedor em um

concurso e em 1998 foi parcialmente reformulado pelo arquiteto Paulo Mendes da

Rocha. O edifício não foi selecionado pois, apesar de ser uma construção antiga nos

termos da dissertação e ter passado por reformulações, de acordo com o GBIG, órgão

gestor das informações dos edifícios certificados LEED, o edifício não apresenta

dados de desempenho entre com estratégias sustentáveis, constando somente a

iniciativa de registro para obtenção da certificação. Desta forma, não se tem uma base

de dados consolidados para avaliação dos impactos ambientais de sua operação.

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8 Citicenter (Figura 22)

Figura 22 – Edifício Citicenter

Fonte: Acervo do autor.

O edifício Citicenter projetado pelo escritório Aflalo&Gasperini Arquitetos em

1984 foi selecionado para este estudo, pois passou por um processo de retrofit

completo entre os anos de 2016 a 2018, com intenções de atualização tecnológico

para atingir resultados de operação mais econômicos e com menos impactos

ambientais. Desta forma, as estratégias de intervenção serão discutidas mais

detidamente no próximo item.

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9 Edifício São Luis Gonzaga (Figura 23)

Figura 23 – Edifício São Luis Gonzaga

Fonte: Acervo do autor.

O edifício São Luis Gonzaga concebido pelos arquitetos Edison Musa e Jaci

Hargreaves não foi selecionado por ser um edifício inaugurado em 2000, considerado

novo no entendimento desta dissertação. Desta forma, tem em sua concepção uma

viabilidade para implementar atualizações tecnológicas sem um grande grau de

intervenção, o que não se enquadra no objetivo desta pesquisa, mesmo tendo usado

o LEED como parâmetro norteador para as estratégias de sustentabilidade na sua

operação.

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10 Loja “Quem disse Berenice?” (Figura 24)

Figura 24 – Loja Quem disse, Berenice? do Shopping Cidade São Paulo

Fonte: Envolverde, 201951..

A loja Quem Disse, Berenice? Localizada dentro do Shopping Cidade SP não

foi selecionada para este estudo, porque, apesar de atingir o nível máximo em

estratégias sustentáveis seguindo os parâmetros LEED de certificação, não se

enquadra no objetivo desta pesquisa por ser um projeto de arquitetura de interiores.

51 Disponível em: <https://envolverde.cartacapital.com.br/quem-disse-berenice-recebe-certificacao-leed-de-sustentabilidade/> Acesso em: 05 dez 2015

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11 Restaurante Madero (Figura 25)

Figura 25 – Restaurante Madero

Fonte: Restaurante Madero, 201952.

O restaurante Madero também não foi selecionado pelo mesmo critério do

anterior, ou seja, por ser arquitetura de interiores.

Após avaliação dos 11 empreendimentos mencionados na Avenida Paulista

com estratégias sustentáveis direcionadas pela certificação LEED, foram

selecionados 2 edifícios (Tabela 5) que se enquadram nos objetivos desta pesquisa.

Serão apresentadas detalhadamente as estratégias de retrofit do edifício 4. SESC

Paulista e 8. Citicenter a seguir.

52 Disponível em: <https://www.restaurantemadero.com.br/pt/restaurante/sp/s%C3%A3o%20paulo/madero-steak-house-shopping-cidade-sao-paulo-pt> Acesso em: 05 dez 2015

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Tabela 5 – Relação dos edifícios selecionados.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para análise dos edifícios, o estudo foi dividido em quatro partes: Ficha

técnica, com dados referentes ao edifício; Histórico, com breve relato sobre a história

do edifício até a intervenção com retrofit; Retrofit, com informações sobre o processo

de intervenção e Resultados, análise com base nas 9 áreas de avaliação LEED que

remontam o atendimento aos objetivos específicos.

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4.1 Edifício SESC Paulista

4.1.1 Ficha Técnica

Figura 26 – Edifício SESC Paulista

Arquitetura: Königsberger Vannucchi Arquitetos

Associados

Localização: Avenida Paulista, 119, São Paulo -

SP

Proprietário: SESC

Área construída: 12 mil m²

Ano da construção: 1973

Ano do retrofit: 2011 - 2018

Construção: Omar Maksoud

Luminotécnica: Estúdio Carlos Fortes Luz

Paisagismo: Albuquerque Arquitetura

Consultora de Sustentabilidade: CTE

Sistema e nível da certificação: LEED NC BD+C

– Silver

Data do certificado: 31/10/2018

Fonte: Acervo do autor.

4.1.2 Histórico

O edifício SESC Paulista localizado na Avenida Paulista, 119 (Figura 27)

passou por um longo processo de retrofit nos últimos anos. O projeto foi realizado pelo

escritório Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados no período de 2007 a 2011

e a obra realizada no período de 2011 a 2018. Inaugurado em 29 de abril 2018, o

edifício contém 17 pavimentos mais 2 subsolos e comporta uma população flutuante

de 18 mil pessoas por semana em sua área construída de 12 mil m². Projetado para

se tornar um marco cultural frente à Avenida Paulista (Figura 28) (Vasconcelos, 2018).

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Figura 27 – Mapa de localização do SESC Paulista

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Geosampa, 2019.

Figura 28 – Fachada do Edifício SESC Paulista

Fonte: Acervo do autor.

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O edifício foi projetado pelos arquitetos Sérgio Pileggi e Euclides de Oliveira53

no início dos anos 1970. O SESC está atuante no prédio desde 1975 quando adquiriu

o edifício junto à Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de

São Paulo (FecomercioSP)54. Após a saída da FecomercioSP, o edifício passou a

operar como polo administrativo do SESC até ser remanejado para a unidade

Belenzinho em 2005. No mesmo ano o edifício se torna unidade provisória, operando

até 2010 quando se iniciam as atividades de retrofit do edifício (PORTAL VITRUVIUS,

2018).

4.1.3 Retrofit

O estudo inicial para elaboração do retrofit inicia em 2007, se estendendo até

2011 sob responsabilidade do escritório Königsberger Vannucchi Arquitetos

Associados55 com a proposta de aproximar o edifício ao trinômio Corpo, Arte e

Tecnologia (VASCONCELOS, 2018).

O retrofit do SESC Paulista ocorreu no período de 2010 a 2017, com a atuação

de empresas específicas dos setores de tecnologia, materiais e sustentabilidade,

tendo como objetivo a implantação de tecnologias para promover a inserção do

conceito de Edifícios Inteligentes ao SESC Paulista. De acordo com Vasconcelos

(2018), o acompanhamento da obra foi realizado pela própria equipe do SESC,

atuantes de forma contínua entre a conexão projeto e execução, contando com a

assessoria do escritório projetista.

As intervenções foram realizadas em todos os pavimentos do edifício,

adequando cada andar a uma tipologia de uso como é possível observar na

distribuição de layouts nas plantas (Figura 29-46), contendo: espaço infantil, salas de

cursos, práticas esportivas e físicas, estúdios flexíveis para teatro e exposições, lojas,

biblioteca, café, comedoria, consultórios odontológicos à credenciados bem como a

criação de um mirante a 70m de altura com vista panorâmica à Avenida Paulista e

outros pontos da cidade que tem sido o principal atrativo do SESC.

53 Sócios arquitetos no período de 1973 a 1993, premiados em diversos projetos pelo IAB nas décadas de 1970, 1980 e 1990. 54 Responsável por administrar, no Estado, o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). 55 Liderado pelos arquitetos Jorge Königsberger e Gianfranco Vannucchi, o escritório paulista iniciou suas atividades em 1973, atuante em projeto e planejamento de arquitetura.

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Figura 29 – Planta do térreo: acesso aos elevadores, escada e área multiuso com integração

à avenida

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 30 – Planta do 1ºandar – mezanino: atividades de serviços

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 31 – Planta do 2º andar – pilotis: Central de relacionamento SESC e área de convivência

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 32 – Planta do 3º andar: espaço para crianças

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 33 – Planta do 4º andar: salas de cursos e oficinas de tecnologia e arte

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 34 – Planta do 5º andar: espaço de arte multiuso, cênica, exposições e auditório

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 35 – Planta do 6º andar: mezanino do 5º andar – apoio

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 36 – Planta do 7º andar: pavimento técnico da equipe de infraestrutura

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 37 – Planta do 8º andar: clínica odontológica

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 38 – Planta do 9º andar: administrativo

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 39 – Planta do 10º andar: atividades físicas

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 40 – Planta do 11º andar: atividades físicas

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 41 – Planta do 12º andar: atividades físicas

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 42 – Planta do 13º andar: espaço de arte multiuso, cênica, exposições e auditório

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 43 – Planta do 14º andar: mezanino do 13º andar – apoio

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 44 – Planta do 15º andar: biblioteca

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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Figura 45 – Planta do 16º andar: comedoria

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

Figura 46 – Planta do 17º andar: café e terraço, acesso ao mirante

Fonte: Königsberger Vannucchi Arquitetos Associados, 2019.

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No que tange ao DS, duas questões ressaltam no projeto do SESC Paulista:

primeiro, quanto às questões ambientais. Devido à ausência de uma normativa que

direcione esta modalidade de intervenção de retrofit com ACV, o SESC buscou o

direcionamento através da certificação LEED. Em consultoria ao Centro de Tecnologia

de Edificações (CTE), o retrofit foi realizado de maneira que as estratégias pudessem

ser aplicadas e direcionassem a resultados de desempenho ambientais favoráveis

para a operação do edifício. Segundo: o edifício está implantado em uma avenida,

palco de diversas manifestações e ações culturais como já mencionado nesta

pesquisa, desta forma, o projeto traz uma proximidade com o público externo ao

romper entre os espaços públicos e privados, trazendo fluidez do cenário externo para

dentro do edifício, o que faz com que a unidade promova seu papel de

sustentabilidade social. Com a criação do espaço de convivência multiuso no térreo

com vagas para 40 bicicletas, 6 elevadores e escadas rolantes para conexão vertical

(Figura 47).

Figura 47 – Área de Convivência do SESC Paulista

Fonte: Archdaily, 201956.

Segundo Vera Lucia Tusco, Arquiteta do Königsberger Vannucchi, em

entrevista à Revista Infra (2018), alguns aspectos foram relevantes para o projeto:

56 Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/905384/sesc-avenida-paulista-konigsberger-vannucchi-arquitetos-associados> Acesso em: 16 dez 2019

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[...]os espaços e serviços da nova unidade foram distribuídos pelos 17 pavimentos, considerando quatro aspectos básicos: a vizinhança entre atividades similares, os níveis de ruído produzido pelas atividades, o volume de público acessando a unidade e os visuais externos (TUSCO, 2018, p.1)

Em toda a extensão do edifício, as áreas de uso colocam o usuário em contato

com outros visuais, reforçando a conexão do usuário com a paisagem externa e

ambientações internas. A circulação pelas escadas pode ser feita entre as varandas

que conectam o 3º andar ao 17º até o acesso ao mirante (Figura 48), promovendo ao

usuário um olhar para a cidade por meio da subtração de placas de vidro que permitem

a visão externa em cada pavimento bem como as que estão fora do edifício visualizar

todo o percurso vertical:, a proposta remete ao contraponto dos núcleos de circulação

fechados comumente encontrados em propostas da arquitetura moderna do século

XX.

Dessa forma, o SESC Paulista incorpora conceitos que estão sendo adotados

na arquitetura do século XXI como o Health Building (edifício salutar em tradução

livre), Trata-se de um conceito que tem como objetivo valorizar o bem-estar do

usuário.

Figura 48 – Circulação Vertical do SESC Paulista

Fonte: Acervo do autor.

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Reforçando a percepção de conectividade do usuário, em alguns pavimentos

foram feitos pés-direitos duplos, deixando somente as vigas aparentes, criando vazios

nas lajes, de maneira que o usuário possa ter a permeabilidade visual entre as

atividades internas também (Figura 49).

Figura 49 – Pavimento com pé-direito duplo

Fonte: Acervo do autor.

O SESC possui alguns andares multiuso (Figura 49) com pé-direito duplo que

contam com equipamentos automatizados para favorecer a flexibilidade total dos

espaços. Desta forma, é possível transformar os ambientes conforme a necessidade

de uso: exposições diversas, espaço para atividades cênicas, espaço para atividades

musicais e reuniões, entre outras. Esta flexibilidade só é possível em função do projeto

arquitetônico que se valeu de tecnologia e sistemas de automação para aplicar

divisórias retrateis, treliça metálicas móveis para variação de altura e suporte dos

equipamentos de iluminação, sonorização, projeções e outros, além de cortinas tipo

blecaute para regular a iluminação natural. Este projeto fez das plantas do edifício

SESC Paulista uma referência tanto para as demais unidades do SESC, como para o

cenário arquitetônico paulistano de retrofit concomitante à ACV, ou seja, promove uma

contribuição no que tange as premissas do DS.

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4.1.4 Resultados

A intervenção realizada ao edifício acumulou 54 pontos no checklist da

categoria BD+C em 6 áreas de avaliação das 9 possíveis, (Figura 25) recebendo o

nível prata de certificação. A análise dos resultados segue a ordem das áreas de

avaliação estabelecidas pela certificação LEED.

Figura 50 – Pontuações do SESC Paulista

Fonte: GBIG (2019)57.

1. Desenho e Planejamento de Projeto Integrado

Objetivo: apoiar resultados de projetos econômicos de alto desempenho do

projeto por meio de uma análise prévia dos inter-relacionamentos entre sistemas.

(LEED BD+C V4, 2014, p.10).

Análise: o SESC Paulista não obteve estratégias para este quesito.

57 Disponível em: <http://www.gbig.org/activities/leed-1000016587> Acesso em: 05 dez 2019.

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2. Localização e Transporte (LT):

Objetivo: implantar em terrenos adequados que permitam a redução das

distâncias percorridas por automóveis. Contribuir com a qualidade de vida do usuário,

incentivando o uso de transportes alternativos que promovam atividades físicas diária

(LEED BD+C V4, 2014, p.10).

Análise: o SESC Paulista está localizado bem próximo da estação Brigadeiro

da Avenida Paulista do Metrô de São Paulo e, como iniciativa para incentivo a

transportes alternativos, implantou vagas para 40 bicicletas. Contudo, a ação se

enquadra na diversidade de modais existente na estrutura urbana, pois não é mais

uma iniciativa que promove a redução do uso de automóveis no contexto da avenida

Paulista. Portanto, não obteve pontuações para esta categoria.

3. Terreno Sustentável (SS):

Objetivo: reduzir a poluição das atividades de construção controlando a erosão

do solo, a sedimentação de hidrovias e a poeira suspensa no ar. Proteger a saúde de

populações vulneráveis garantindo que o terreno seja avaliado quanto à contaminação

ambiental e que toda contaminação ambiental tenha sido remediada. Avaliar as

condições do terreno antes do projeto para verificar as opções sustentáveis e informar

decisões relacionadas ao projeto do terreno. Preservar as áreas naturais existentes e

restaurar áreas danificadas para proporcionar habitat e promover a biodiversidade.

Criar espaço aberto externo que incentive a interação com o ambiente, interação

social, recreação passiva e atividades físicas. Reduzir o volume de escoamento

superficial e melhorar a qualidade da água replicando a hidrologia natural e o balanço

hídrico do terreno com base em condições históricas e ecossistemas não

desenvolvidos na região. Minimizar os efeitos em microclimas e habitat de seres

humanos e vida animal reduzindo ilhas de calor. Aumentar o acesso ao céu noturno,

melhorar a visibilidade noturna e reduzir as consequências do empreendimento para

a vida animal e as pessoas (LEED BD+C V4, 2014, p. 13).

Análise: nessa área algumas estratégias do SESC resultaram no atendimento

aos objetivos específicos: a criação da área de convivência no térreo do edifício

promove ações de interação social do edifício com a rua, proporcionando atividades

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frequentes. As áreas internas de convivência favorecem a aproximação da natureza

e biodiversidade com a inclusão de zonas internas com espécies da Mata Atlântica,

Essa estrutura também favorece na redução das zonas de calor nos espaços de

concentração do público. Na torre do edifício, a fachada envidraçada contribui para

permeabilidade visual. Os vidros com fator solar e a baixa condutibilidade térmica,

unidos a criação do avarandado nos pavimentos com ventilação através da subtração

de algumas placas ou “rasgos” ao longo da fachada (Figura 51), têm proporcionado a

redução do calor interna do edifício. Segundo Gregorutti (2018), reduz o calor de 40%

a 70%, contribuindo também para o consumo energético dos condicionadores de ar.

Com a captação de águas pluviais o edifício chega a reduzir 25% do volume de

escoamento superficial do terreno, preservando a qualidade dos recursos hídricos do

terreno.

Figura 51 – “Rasgos” na fachada do SESC Paulista

Fonte: Acervo do autor.

Nesta área o retrofit somou 22 pontos (GBIG, 2018).

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4. Uso racional da água (WE):

Objetivo: reduzir o consumo de água do interior e exterior do edifício. Apoiar a

gestão da água e identificar oportunidades de economias adicionais de água

rastreando o consumo de água. (LEED O+M V4, 2014, p. 26).

Análise: a redução do consumo de água no SESC direciona a duas

estratégias: a primeira, pela redução fluxos de água nos lavatórios, pias e descarga

com a instalação de sensores de utilização e temporizadores para os chuveiros; a

segunda, pela captação de águas pluviais nas lajes e jardins, que são utilizadas para

a irrigação do edifício e alimentação de algumas bacias sanitárias, com capacidade

de armazenamento de 16,56m³. Os resultados já atingiram níveis consideráveis no

edifício, chegando a reduzir 85% do consumo de água potável segundo Gregorutti

(2018). De acordo com dados do GBIG (2018), os resultados médios apontam de 40%

do uso potável a 50% na geração de esgoto.

Neste item, o retrofit atingiu 9 pontos cumprindo o pré-requisito de redução do

uso de água do interior e exterior do edifício (GBIG, 2018).

5. Energia e atmosfera (EA):

Objetivo: apoiar, construir e operacionalizar um projeto que atenda aos

requisitos dos proprietários de energia, água, qualidade do ambiente interno e

durabilidade. Reduzir os prejuízos ambientais e econômicos do uso excessivo de

energia, alcançando um nível mínimo de eficiência energética para o edifício e seus

sistemas. Apoiar a gestão de energia e identificar oportunidades de economias

adicionais de energia rastreando o uso de energia no nível do edifício. Reduzir o

esgotamento do ozônio estratosférico. Apoiar adicionalmente o projeto, construção e

operação de um projeto que atenda aos requisitos de planejamento do proprietário de

energia, água, qualidade do ambiente interno e durabilidade. Alcançar níveis

crescentes de desempenho energético além da norma do pré-requisito para reduzir

os prejuízos ambientais e econômicos associados ao uso excessivo de energia.

Apoiar a gestão de energia e identificar oportunidades de economias adicionais de

energia rastreando o uso de energia no edifício e nos sistemas. Aumentar a

participação em tecnologias e programas de resposta à demanda que tornem

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98

sistemas de geração e distribuição de energia mais eficientes; aumentar a

confiabilidade da rede de energia elétrica e reduzir as emissões de gases do efeito

estufa. Reduzir os prejuízos ambientais e econômicos associados à energia de

combustíveis fósseis aumentando o autoabastecimento de energia renovável. Reduzir

a destruição da camada de ozônio e promover conformidade antecipada com o

Protocolo de Montreal minimizando ao mesmo tempo as contribuições diretas para a

mudança climática. Incentivar a redução de emissões de gases do efeito estufa com

o uso de fontes provenientes da rede de energia, tecnologias de energia renovável e

projetos de mitigação de carbono. (LEED BD+C V4, 2014).

Análise: o edifício SESC Paulista foi concebido para ser um marco para as

unidades em Sistemas Inteligentes de operação como já mencionado anteriormente,

assim, diversas estratégias contemplam o edifício neste quesito: os elevadores e

escadas rolante regeneram energia através de driver ReGen, que geram energia para

o próprio sistema. Na cobertura estão implantadas 37 placas de aquecimento solar

(Figura 52) que funcionam juntas a um sistema híbrido de aquecimento, conectadas

a 3 boilers elétricos que atendem a demanda na falta de desempenho atingível pelas

placas, direcionando água quente para as áreas de vestiários e comedoria que

funcionam por misturadores. (Figura 53). Na rede de lógica do edifício são instaladas

três tecnologias para áudio e vídeo: DANTE (rede de áudio), HDBASET (rede de áudio

e vídeo) e SDVOE (rede de dados para vídeo),as tecnologias permitem controle de

transmissão em todos os pavimentos do edifício, inclusive projeções nas áreas de

convivência do térreo e café da unidade. A iluminação é feita por LED conectado via

sistema DALI que permite uma maior flexibilização do sistema, possibilitando a

reprogramação dos espaços sem a utilização de novos circuitos para a demanda.

Todas as lâmpadas possuem sensores Dimmers que ajustam o fator de iluminância

de acordo com a intensidade de luz natural que atinge o ambiente, possibilitando a

otimização do sistema inclusive nas áreas de iluminação cênica. Todo o sistema é

controlado por monitoramento em BMS que permite gerenciar os dados em tempo real

e identificar falhas nos sistemas que promovem ações de perde de desempenho das

instalações, ou seja, é possível monitorar e controlar os sistemas: central de água,

medidores de energia, aquecimento de água, iluminação, persianas, condicionadores

de ar e elevadores (sistema EMS).

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Figura 52 – Placas Solar do SESC Paulista

Fonte: Archdaily, 201958.

Figura 53 – Boilers do SESC Paulista

Fonte: Acervo do autor.

58 Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/905384/sesc-avenida-paulista-konigsberger-vannucchi-arquitetos-associados> Acesso em: 05 dez 2019.

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Segundo dados do GBIG (2018), as ações resultam em 16% na melhoria de

desempenho do edifício na linha de base e gera 1% de energia de uso no local. As

ações somaram um total de 6 pontos para o quesito.

6. Materiais e recursos (MR):

Objetivo: reduzir os resíduos gerados por ocupantes de edifícios e

transportados e descartados em aterros sanitários. Reduzir os resíduos de construção

e demolição descartados em aterros sanitários ou instalações de incineração

recuperando, reutilizando e reciclando materiais. Incentivar o reuso adaptável e

otimizar o desempenho ambiental de produtos e materiais. Incentivar o uso de

produtos e materiais cujas informações de ciclo de vida estejam disponíveis e que

tenham impactos ambientais, econômicos e sociais de ciclo de vida vantajosos (LEED

BD+C V4, 2014, p.65).

Análise: segundo Gregorutti (2018), o retrofit manteve 85% das estruturas e

paredes no projeto, boa parte do granito aplicado na fachada foi realizado com

materiais existentes ou aproveitados de outras áreas do SESC, contribuindo para

redução de resíduos. Contudo, a base de dados do GBIG (2018) aponta a

permanência de 75% da estruturas e paredes, 10 menos que o publicado na Revista

Infra por Gregorutti. Ainda na intervenção, foi considerado um raio de 800 km para se

utilizar de materiais considerados regionais com porcentagem de conteúdo reciclado,

a fim de minimizar o impacto de esgotamento de recurso. Segundo GBIG (2018), 20%

dos materiais foram extraídos, colhidos, manufaturados e recuperados regionalmente.

Atualmente, de acordo com informação pessoal, o edifício contém pontos de coleta

seletivas em todas às áreas de núcleo comum dos pavimentos sem lixeiras, nos

compartimentos internos, a fim de gerar a conscientização dos usuários e

trabalhadores a gerar menos lixo com a locomoção para o descarte; já nas áreas de

café e comedoria, o SESC adotou a medida de não vender mais água engarrafada,

pois gerava um número considerável de descarte, assim, foram instalados

bebedouros que permitem ao usuário reutilizar suas garrafas para dentro e fora do

edifício.

O SESC Paulista atingiu 6 pontos neste quesito (GBIG, 2018).

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101

7. Qualidade do ambiente interno (EQ):

Objetivo: contribuir para o conforto e bem-estar dos ocupantes do edifício

estabelecendo padrões mínimos para a qualidade do ar interior (QAI). Evitar ou

minimizar a exposição de ocupantes do edifício, superfícies internas e sistemas de

distribuição do ar de ventilação à fumaça ambiental do tabaco. Oferecer salas de aula

que facilitem as comunicações professor-aluno e aluno-professor por meio de um

projeto acústico eficaz. Promover o conforto, bem-estar e produtividade dos ocupantes

melhorando a qualidade do ar interior. Reduzir as concentrações de contaminantes

químicos que podem prejudicar a qualidade do ar, saúde humana, produtividade e o

ambiente. Promover o bem-estar dos trabalhadores de construções e de ocupantes

de edifícios minimizando problemas de qualidade do ar interior associados à

construção e reforma. Oferecer um ar interior de melhor qualidade no edifício após a

construção e durante a ocupação. Promover a produtividade, o conforto e o bem-estar

dos ocupantes proporcionando conforto térmico de qualidade. Promover a

produtividade, o conforto e o bem-estar dos ocupantes fornecendo iluminação de alta

qualidade. Conectar os ocupantes do edifício à área externa, reforçar os ritmos

circadianos e reduzir o uso de iluminação elétrica introduzindo luz natural no espaço.

Fornecer aos ocupantes do edifício uma conexão ao ambiente externo natural

oferecendo vistas de qualidade. Fornecer espaços de trabalho e salas de aula que

promovam o bem-estar, a produtividade e as comunicações dos ocupantes por meio

de um projeto acústico eficaz. (LEED BD+C V4, 2014, p.78).

Análise: o projeto do SESC Paulista traz algumas iniciativas já mencionadas

que remete a obtenção de pontos neste quesito. A fachada com ventilação

avarandada atuante, em concomitante a medidores de CO², permite aos

trabalhadores de operação gerenciar as estratégias de mantimento da qualidade

adequada interna do ar, propondo a renovação interna pelas próprias aberturas ou

induzindo através dos condicionadores de ar. Os vidros acústicos proporcionam,

quando necessário, o isolamento dos ruídos externos postos pela avenida,

proporcionando condições de conforto interno para os usuários e trabalhadores, sem

perder a visual da paisagem externa. Todas as salas têm incidência de luz natural.

O projeto atingiu neste quesito 3 pontos para área de avaliação (GBIG) 2018.

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102

8. Inovação (IO):

Objetivo: incentivar projetos a atingir desempenho excepcional ou inovador.

Incentivar a integração da equipe necessária em um projeto LEED e simplificar o

processo de aplicação e certificação (LEED BD+C V4, 2014, p.102).

Análise: nessa área todos os esforços já mencionados mais a consultoria feita

por profissional acreditado LEED renderam ao SESC Paulista 6 pontos, pontuação

máxima para a área de avaliação (GBIG, 2018).

9. Prioridade Regional (RP):

Objetivo: obter créditos de contribuição com prioridade ambientais

geograficamente específicas, prioridades de igualdade social e prioridades de saúde

pública. (LEED GB+C V4, 2014, p.105).

Análise: o SESC Paulista não obteve estratégias para este quesito.

Concluindo: o SESC como instituição tem intenção de proporcionar consciência

cultural, social e ambiental em suas atividades. Assim, as ações empreendidas na

unidade SESC Paulista vão ao encontro das intenções da instituição SESC e dos

objetivos do DS.

Hoje, após o retrofit, o SESC Paulista recebe cerca de 4 mil pessoas por dia,

número muito superior aos 18 mil visitantes semanais previstos em projeto. A

surpreendente utilização do edifício só foi possível graças à qualidade do projeto

arquitetônico aliada aos sistemas de controle e automação “embarcados” – alta

tecnologia computacional. Segundo Marcela Weege (2019), coordenadora de

Infraestrutura da unidade, a operação do edifício com controle de manutenção

preditiva tem sido a ênfase nas ações de minimização dos reparos corretivos,

direcionando-o a uma operação com desempenho controlado. O fato é que o SESC

Paulista tem controle de todos os itens e custos da edificação conforme demonstrado

nas planilhas Anexo 1. Isto demonstra a preocupação da Instituição com os custos

operacionais a longo prazo.

O projeto orientado pelo LEED apresentou números favoráveis para um novo

Ciclo de Vida do edifício do SESC Paulista. O resultado da intervenção com o retrofit

demonstra uma tendência para o cenário arquitetônico paulistano contemporâneo.

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103

4.2 Edifício Citicenter

4.2.1 Ficha Técnica

Figura 54 – Edifício Citicenter

Arquitetura: Aflalo&Gasperini

Localização: Avenida Paulista, 1111, São Paulo

-SP

Proprietário: Citibank

Área construída: 40 mil m²

Ano da Construção: 1986

Ano do retrofit: 2014 – 2016

Luminotécnica: 2PRB Arquitetos Associados

Paisagismo: Iris Paisagismo

Consultora de Sustentabilidade: CTE

Sistema e nível da certificação: LEED EB O+M

– Silver

Data do certificado: 13/12/2016

Fonte: Acervo do autor.

4.2.2 Histórico

O Citibank banco proprietário do Citicenter iniciou suas atividades no Brasil no

Estado do Rio de Janeiro em 1915. Em 2019, após 100 anos de atuação no Brasil,

possui mais de 300 mil funcionários atuantes em 140 países, sendo reconhecido pelo

segmento corporativo (CITIBRASIL, 2008)

O edifício Citicenter localizado na Avenida Paulista, 1111 (Figura 55), foi

projetado pelo escritório Aflalo&Gasperini59 em 1983, inaugurado em 1986 e abrigou

a sede do Citibank no Brasil. A torre de escritórios com 20 andares e 47mil m²

59 Aflalo&Gasperini, escritório de arquitetura fundado em 1962 a partir da associação dos arquitetos Plínio Croce, Roberto Aflalo e Gian Carlo Gasperini, é especializado em edifícios corporativos, sendo responsável pelos projetos de edifícios como o edifício-sede IBM, o complexo Rochaverá Corporate Towers, o Auditório Cláudio Santoro, entre outros.

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comporta 2600 funcionários e foi implantada num terreno com duas frentes entre a

Avenida Paulista (Figura 56) e a Alameda Santos (Figura 57) (DIAS, 2017).

Figura 55 – Mapa de localização do Citicenter

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Geosampa, 2019.

Figura 56 – Fachada do Citicenter Avenida Paulista

Fonte: Acervo do autor.

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Figura 57 – Fachada do Citicenter Alameda Santos

Fonte: Acervo do autor.

Conforme mencionado no capítulo 1, a construção do Citicenter compõe o

cenário de expansão da cidade de São Paulo para as novas zonas de centralidade

corporativa da década de 1980 com um novo modelo de arquitetura que integra os

benefícios da produção industrial em sua concepção.

Segundo o escritório Aflalo&Gasperini (2018), o projeto foi concebido a partir

da exploração do conceito estrutural em malha, que acarretou em um desenho com

planta livre que se encerra nas grelhas estruturais vedada com vidro que se estendem

na fachada até os planos curvos das duas frentes do edifício, como é possível se

perceber no desenho das plantas (Figura 58-62). No térreo do edifício, o sistema em

malha passa por uma transição estrutural que permitiu a criação de áreas com menos

influência no térreo, criando um saguão que já abrigou exposições hoje não mais

presente no edifício, mas que define a criação do espaço semipúblico interligando as

duas ruas em desnível.

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Figura 58 – Planta do Térreo Citicenter Alameda Santos

Fonte: Aflalo&Gasperini Arquitetos, 2019.

Figura 59 – Planta do Térreo Citicenter Avenida Paulista

Fonte: Aflalo&Gasperini Arquitetos, 2019.

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107

Figura 60 – Planta do Mezanino do Citicenter: agência e autoatendimento

Fonte: Aflalo&Gasperini Arquitetos, 2019.

Figura 61 – Planta tipo do 2º ao 10º andar

Fonte: Aflalo&Gasperini Arquitetos, 2019.

Figura 62 – Planta tipo do 11º ao 20º andar

Fonte: Aflalo&Gasperini Arquitetos, 2019.

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108

O edifício foi o precursor dos sistemas inteligentes de controle de edifício em

São Paulo. Segundo Fialho (2007), o Citicenter seguia o conceito norte-americano

Smart Building (Edifício Inteligente) e na época já implantava tecnologias atreladas

aos sistemas de monitoramento voltados ao controle de consumos energéticos. Para

iluminação, o sistema de monitoramento era descentralizado, dividido por áreas

estratégicas no edifício com circuitos que centralizavam em setores de controle, uma

revolução para época; nos elevadores, o edifício também contava com a mais nova

tecnologia à época de elevadores com chamada por proximidade, deslocando sempre

o equipamento mais próximo do pavimento de chamada; os sistemas de

condicionadores de ar eram alimentados com produção de gelo no período noturno a

fim de reduzir o consumo de energia nos horários de pico em que as tarifas são mais

caras; As vedações feitas com vidros de alto desempenho para época, com redução

da transmissão térmica para o interior do edifício.

As estratégias do projeto do Citicenter remontavam à preocupação em obter

um edifício tecnológico, com início de sistemas de automação unidos a um novo

modelo de projeto. Contudo, apesar da construção ter sido uma revolução na

arquitetura no que tange aos Edifícios Inteligentes, ele foi projetado e construído em

um momento que o tema DS não estava em evidência no Brasil. Somente em 1997,

o tema passa a ser uma política do Citibank, no mesmo ano em que é feita a

elaboração do Protocolo de Kyoto durante a Conferência das Partes 3 (COP 3)

(CITIBANK, 2018).

No mesmo ano 1997, a Citi Foundation60 amplia as atividades socioambientais

com projetos de forma planejada, monitorada e sistemática que leva o Citibank em

2001 ao ingresso no índice Dow Jones de Sustentabilidade 61(DJSI), passando a fazer

parte também do FTSE4Good Index Series62 (índice da FTSE). Em 2003, ao participar

da criação e adoção dos Princípios do Equador, um marco para o banco em direção

ao conceito de DS, o banco passa a responder sobre emissões de gases de efeito

estufa. Assim, com a implantação da política de análise de risco socioambiental, ele

60 Órgão responsável pelas ações sustentáveis do Citibank 61 O Dow Jones Sustainability Index World, Lançado em 1999 em Nova York é o primeiro índice de performance financeira que avalia a qualidade sustentável corporativa de empresas. 62 FTSE4Good companhia independente criada pelo The Financial Times e pela Bolsa de Valores de Londres, foi projetada para medir o desempenho de empresas que demonstram fortes práticas ambientais.

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109

direcionou um setor específico em 2006 para debater questões sobre a

Responsabilidade Social Empresarial (RSE) discutindo métodos que unifiquem a

sustentabilidade a estratégias de negócios, dando origem ao Relatório de

Sustentabilidade (RS) publicado anualmente desde 2008 (CITIBRASIL, 2008).

Com a publicação do RS, o Citibank passa a mapear as ações realizadas e

desenvolver estratégias que vão ao encontro dos princípios do DS e promove ações

de capacitação sobre práticas sustentáveis entre funcionários e colaboradores,

principalmente sobre o efeito estufa, considerado um dos principais impactos

negativos causados pelo consumo no banco.

Neste contexto, surge a iniciativa do Citibank de rever as instalações do edifício

Citicenter em busca de resultados, em consonância às políticas do banco, o edifício

sede na Avenida Paulista passa por um retrofit entre 2014-2016, a fim de torná-lo um

edifício sustentável (DIAS, 2017).

4.2.3 Retrofit

O retrofit do Citicenter ocorreu no mesmo período em que no cenário

internacional ocorreu a COP 21, a qual as nações firmaram o Acordo de Paris,

inclusive o Brasil como signatário que ratificou o acordo em setembro de 2016

(BRASIL, M. M. A., 2018).

Neste sentido, a reforma do edifício veio ao encontro do compromisso firmado

na COP 21 e pode ser entendido como um retrofit consoante ao conceito de ACV por

compreender a sustentabilidade junto as técnicas de atualização do edifício. O retrofit

realizado no Citicenter compreende às intenções desta pesquisa, na medida em que

as técnicas e tecnologias aplicadas têm a intenção de realizar a atualização do edifício

junto a implementação de estratégias que gerenciem seu ciclo de vida a favor do meio

ambiente.

Não existe uma normativa que direcione esta modalidade de intervenção na

construção civil, o que direcionou o Citibank a contratar o CTE, empresa de consultoria

e gerenciamento sustentável para do setor da construção civil.

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110

O CTE direcionou as estratégias que atenderiam aos quesitos para o edifício

obter um nível de certificação LEED O+M. Como já mencionado no capítulo anterior,

vale ressaltar que está modalidade avalia o período de operação do edifício e exige

que passe por reavaliação a cada cinco anos (LEED V4, 2014). Assim, a reforma do

edifício não tinha intenção de se limitar as ações durante a intervenção, mas

principalmente a de criar uma base de controle de dados que possibilitavam o

gerenciamento preditivo das ações dentro do edifício.

O Citicenter foi o primeiro edifício a obter um certificado na Avenida Paulista na

categoria de edifícios existentes. Ao longo de três anos de intervenção, o edifício

passou por mudanças e atualizações fundamentais que ampliaram a eficiência

operacional (CITIBRASIL, 2016).

Dois fatores contribuíram fundamentalmente nas ações do retrofit: primeiro, a

sustentabilidade já estava em curso como política do banco, assim algumas ações de

intervenção o edifício já havia iniciado, sendo necessário somente a implantação do

sistema de gerenciamento dos dados Building Management System (BMS) (Sistema

de Gestão do Edifício) para as ações de operação; segundo, o Citibank já se utilizava

de processos de licitação para garantir a contratação adequada de fornecedores.

Segundo o CitiBrasil (2016), as empresas participantes do processo das áreas

de elétrica, hidráulica, climatização, luminotécnica, paisagismo e telhado verde,

responderam a um Questionário de Responsabilidade Corporativa (QRC), que aborda

o tema sustentabilidade unido a participação em um plano de capacitação orientado

pela Declaração de Princípios a Fornecedores (DPF), documentos que garantem a

seguridade diante de três temas que tratam: práticas empresariais éticas; direitos

humanos no local de trabalho; sustentabilidade ambiental, bem como o cumprimento

da Política de Seleção e Gerenciamento de Fornecedores com o objetivo de

estabelecer diretrizes socioambientais, atendendo as Resoluções nº 4.327/14, do

Banco Central do Brasil, de 25 de abril de 2014.

Além disto, os fornecedores devem garantir ambiente de trabalho de acordo

como as Normas Regulamentadoras que garantem condições de segurança e saúde

ocupacional e a proibição explícita de trabalho infantil, forçado ou escravo.

(CITIBRASIL, 2016).

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111

4.2.4 Resultados

A intervenção realizada ao edifício acumulou 51 pontos no checklist da

categoria O+M em 6 áreas de avaliação das 9 possíveis (Figura 63) recebendo o nível

Silver de certificação, sendo assim. A análise dos resultados segue a ordem das áreas

de avaliação estabelecidas pela certificação LEED.

Figura 63 – Pontuações do Citicenter

Fonte: GBIG (2019)63.

1. Desenho e Planejamento de Projeto Integrado

Objetivo: apoiar resultados de projetos econômicos de alto desempenho do

projeto por meio de uma análise prévia dos inter-relacionamentos entre sistemas.

(LEED BD+C V4, 2014, p.10).

Análise: o Citicenter não obteve estratégias para este quesito.

63 Disponível em: <http://www.gbig.org/activities/leed-1000042290> Acesso em: 05 dez 2019.

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112

2. Localização e Transporte (LT):

Objetivo: reduzir os efeitos da poluição e do desenvolvimento de terrenos do

uso de automóveis para transporte (LEED O+M V4, 2014, p.10).

Análise: o Citicenter está localizado junto às estações do Metrô de São Paulo

Trianon-Masp e Brigadeiro da Avenida Paulista, contudo o edifício não implementou

novas estratégias para o incentivo de novos modais para acesso ao edifício,

considerando a diversidade existente para este quesito. Portanto, não obteve

pontuações para esta categoria.

3. Terreno Sustentável (SS):

Objetivo: preservar a integridade ecológica e incentivar práticas de

gerenciamento do terreno ambientalmente sensíveis que propiciem um exterior de

edifício limpo, bem mantido e seguro, mas favorecendo também operações de

edifícios de alto desempenho e sua integração à paisagem vizinha. Preservar as áreas

naturais existentes e restaurar áreas danificadas para proporcionar habitat e promover

a biodiversidade. Reduzir o volume de escoamento superficial e melhorar a qualidade

da água replicando a hidrologia natural e o balanço hídrico do terreno, com base em

condições históricas e ecossistemas não desenvolvidos na região. Minimizar os

efeitos em microclimas e habitats de seres humanos e vida animal reduzindo ilhas de

calor. Aumentar o acesso ao céu noturno, melhorar a visibilidade noturna e reduzir as

consequências do empreendimento para a vida animal e as pessoas. (LEED O+M V4,

2014, p.13-25).

Análise: no terraço da agência anexa ao edifício foi implantado um terraço

verde (Figura 64-65) com 526 árvores e aproximadamente 80 espécies nativas da

Mata Atlântica (CITIBRASIL, 2015). No acesso pela Alameda Santos, criou-se uma

parede verde, totalizando 500m² de vegetação que reconstituem à Mata Atlântica que

existia na área anos atrás (CITIBRASIL, 2016). A estratégia utilizada foi resgatar a

diversidade ecológica em meio a construção (Dias, 2017).

Page 113: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

113

Figura 64 – Terraço Verde

Fonte: Citibrasil, 2016.

Figura 65 – Terraço Verde visto da Avenida Paulista

Fonte: Acervo do autor.

Nesta área o retrofit somou 21 pontos (GBIG, 2018).

4. Uso racional da água (WE):

Objetivo: reduzir o consumo de água do interior do edifício. Apoiar a gestão da

água e identificar oportunidades de economias adicionais de água rastreando o

consumo de água. Reduzir o consumo de água externo. Conservar a água usada para

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114

reposição da torre de resfriamento enquanto se controla micróbios, corrosão e crostas

no sistema de água do condensador. Apoiar a gestão da água e identificar

oportunidades de economias adicionais de água rastreando o consumo de água.

(LEED O+M V4, 2014, p. 26-37).

Análise: a redução do consumo de água do edifício concerne a três

estratégias: primeira, a implantação do sistema de bombeamento das águas

armazenadas no subterrâneo do edifício, que são utilizadas na linha de serviço

durante a operação do edifício, junto ao sistema de uso de águas pluviais; segunda,

a instalação de redutores de pressão nas torneiras dos banheiros; terceira; a

perfuração de um poço em 2016 com capacidade de extração de água em

2.200m³/mês e instalações para atendimento em 100% do edifício, com vistorias

semanais de empresa específica para controle de qualidade da água para consumo.

Segundo dados do CitiBrasil (2016, p.30), o consumo de água em 2015 foi de

47.917m³, já em 2016 totalizou 50.762m³, representando 5,9% de acréscimo. No

mesmo ano, o Citicenter extraiu 22.227m³, reduzindo o consumo de água potável no

equivalente a 43,8% do consumo do ano.

Neste item, o retrofit atingiu 9 pontos cumprindo o pré-requisito de redução do

uso de água do interior do edifício, atingindo uma redução de 30,84% no uso de água

potável em ambientes fechados e em 63% o uso de água potável em áreas verdes

atendendo também a critérios específicos implantando sistemas de medição e

controle de águas (GBIG, 2018).

5. Energia e atmosfera (EA):

Objetivo: a categoria propõe promover a continuidade de informações, para

garantir que estratégias de operação eficazes energeticamente sejam mantidas e,

sirvam de base para treinamentos e análises de sistemas. Reduzir os danos

ambientais e econômicos associados ao uso excessivo de energia estabelecendo um

nível mínimo de desempenho de energia em operação. Apoiar a gestão de energia e

identificar oportunidades de economias adicionais de energia rastreando o uso de

energia no nível do edifício. Reduzir o esgotamento do ozônio estratosférico. Usar o

processo de comissionamento do edifício existente para melhorar as operações do

edifício, a energia e a eficiência de recursos. Reduzir os danos ambientais e

econômicos associados ao uso excessivo de energia alcançando níveis mais altos de

Page 115: UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS …

115

desempenho de energia em operação. Aumentar a participação em tecnologias e

programas de resposta à demanda que tornem sistemas de geração e distribuição de

energia mais eficientes, aumentar a confiabilidade da rede de energia elétrica e reduzir

as emissões de gases do efeito estufa. Incentivar a redução de emissões de gases do

efeito estufa com o uso de fontes locais e provenientes da rede de energia, tecnologias

de energia renovável e projetos de mitigação de carbono. Reduzir a destruição da

camada de ozônio e promover conformidade antecipada com o Protocolo de Montreal

minimizando ao mesmo tempo as contribuições diretas para a mudança climática.

(LEED O+M V4, 2014, p.38-61).

Análise: dentro desses parâmetros, o sistema de iluminação foi substituído por

lâmpadas LED com sensores que ajustam a intensidade de iluminação artificial à

incidência natural. Como estratégia de redução de consumo em operação, o edifício

passa por desligamento parcial programado do sistema de iluminação a partir das 19h,

sendo ativos somente em casos específicos previamente informado e se autorizado

pela área de facilities (CITIBRASIL, 2014). Além disso, o sistema de condicionamento

de ar é utilizado com sensores que se ajustam a temperatura dos pavimentos,

evitando a superutilização do sistema. Todas as funções de energia do edifício, exceto

a do o sistema de elevadores conectados ao BMS (transmissor de dados simultâneo

de consumo e operação de cada equipamento), possibilitou ao Citicenter o

gerenciamento e operação em área centralizada do consumo energético do edifício,

não sendo mais dividido em zonas de controle.

Outra ação como pré-requisito da categoria da certificação LEED foi realizar

uma auditoria energética Lv.2, conduzida pela Sociedade Americana de Engenheiros

de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado (ASHRAE), cujos resultados são

utilizados como base para continuidade das estratégias de redução energética (Dias,

2017). Ainda foram realizados processos de conscientização à população do Citicorp

sobre a importância do uso consciente da energia.

Segundo o CitiBrasil (2016, p.30), do ano de 2015 para 2016 o consumo de

energia no edifício resultou em 1,3%, passando de 77.289 GJ para 76.284 GJ e 7,3%

se comparado à 2014. Economia considerável se considerar o fato de o edifício já ter

sido projetado com sistema de gerenciamento de consumos.

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116

Para redução das emissões de CO2, a redução foi em função da substituição

da frota de veículos por automóveis a Gás Natural Veicular (GNV), com 16,9% em

gasolina, 18,5% em diesel e 19,6% em etanol. Contudo, houve o aumento do GNV

em 11,5%, que ainda está em avaliação para substituir os de maiores emissões

(CITIBRASIL, 2016, p.30).

Com a ferramenta Energy Star64, o Citicenter conquistou a classificação 80

pontos, ou seja, a redução de 30% de energia lhe rendeu 7 pontos dos 14 somados

nesta categoria (GBIG, 2018).

6. Materiais e recursos (MR):

Objetivo: reduzir o dano ambiental de materiais comprados, usados e

descartados nas operações dentro dos edifícios. Reduzir os danos ambientais

associados com os materiais comprados, instalados e descartados durante a

manutenção e reforma de edifícios. Estabelecer e manter um programa de redução

de fontes de materiais tóxicos para reduzir a quantidade de mercúrio levada para o

local do edifício por meio de compras de lâmpadas. Reduzir os prejuízos ambientais

de materiais usados em reformas de edifícios. Reduzir os resíduos gerados por

ocupantes de edifícios e transportados e descartados em aterros sanitários ou

incineradores. Desviar os entulhos de construção, reformas e demolição do descarte

em aterros sanitários e incineradores e recuperar e reciclar os materiais reutilizáveis.

(LEED O+M V4, 2014, p.62-77).

Análise: para a redução do volume de lixo evitando descartes incorretos, foi

implantado no edifício pontos de coleta para seleção dos materiais de descartes.

Contudo, o edifício não promove ações internas de reciclagem, somente as

direcionam a empresas específicas que fazem a reciclagem de produtos. Para tal, o

gerenciamento implantou um setor de monitoramento de resíduos que monitoram a

qualidade de sua a separação. Além da coleta seletiva, outra estratégia foi a instalação

de purificadores de água nos escritórios situados na área central dos pavimentos com

o intuito de eliminar o uso de garrafas plásticas.

64 ENERGY STAR Portfolio Manager®, um software usado para medir e identificar o consumo de energia e emissões de gases de efeito estufa. A certificação é fornecida para edifícios que atingem no mínimo 75 pontos de um total de 100.

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117

Segundo dados do Citibank, o edifício calcula que 47% dos resíduos gerados

estão aptos a serem encaminhados à reciclagem (DIAS, 2017, p 15). Em 2015, foram

coletadas 285,68t de resíduos e em 2016, 221,4t, que correspondem a uma redução

de 22,5% no volume. Do total, foram selecionados 144,7t de resíduos orgânicos, 59,9t

de papel, 41,2t de resíduos eletrônicos, 15,6t de plásticos e polímeros e 1,2t de

resíduos (lâmpadas encaminhadas para incineração) (CITIBRASIL, 2016, p.30).

O Citicorp atingiu 1 ponto com implementação de política de compras

sustentáveis e gerenciamento de resíduos e fluxo resíduos (GBIG, 2018).

7. Qualidade do ambiente interno (EQ):

Objetivo: contribuir para o conforto e bem-estar dos ocupantes do edifício

estabelecendo padrões mínimos para a Qualidade do Ar Interior (QAI). Evitar ou

minimizar a exposição de ocupantes do edifício, superfícies internas e sistemas de

distribuição do ar de ventilação à fumaça ambiental do tabaco. Reduzir os níveis de

contaminantes químicos, biológicos e particulados que podem comprometer a

qualidade do ar, a saúde humana, acabamentos e sistemas de edifícios e o meio

ambiente. Manter o bem-estar dos ocupantes evitando e corrigindo os problemas de

qualidade do ar interior. Promover o conforto, bem-estar e produtividade dos

ocupantes melhorando a qualidade do ar interior. Promover a produtividade, o conforto

e o bem-estar dos ocupantes por meio do fornecimento de iluminação de qualidade.

Conectar os ocupantes do edifício com o ambiente ao ar livre, reduzir o uso de

iluminação elétrica por meio da introdução de luz natural e vistas ao espaço. Reduzir

os níveis de produtos químicos, agentes biológicos e contaminantes particulados que

podem comprometer a saúde humana, acabamentos e sistemas de edifícios e o meio

ambiente por meio da implementação de procedimentos de limpeza eficazes. Reduzir

os efeitos ambientais de produtos de limpeza, produtos descartáveis de papel para

limpeza e sacos de lixo. Reduzir os níveis de produtos químicos, agentes biológicos e

contaminantes particulados de equipamentos de limpeza elétricos. Minimizar os

problemas de pragas e a exposição a pesticidas. Avaliar o conforto dos ocupantes do

edifício. (LEED O+M V4, 2014, p.78-101).

Análise: nessa área, o projeto original comprovou que o Citicorp possui

iluminação natural em 50% dos espaços ocupados e vistas de qualidade (GBIG,

2018), ou seja, a solução estrutural proposta pelos arquitetos em grelha permitiu uma

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118

independência dos sistemas estruturais com os elementos de vedação, permitindo o

envidraçamento em todas as elevações do edifício (Figura 66) e mantendo uma

relação visual dos usuários do edifício com a paisagem externa. Desse modo, a

qualidade arquitetônica do projeto original do Citicenter contribui favoravelmente ao

conforto e bem-estar de seus usuários e ocupantes do edifício, pois atende aos

requisitos desta categoria (LEED O+M V4, 2014), o que resultou em 2 pontos na

somatória.

Figura 66 – Envidraçamento da fachada do Citicenter

Fonte: Acervo do autor.

8. Inovação (IO):

Objetivo: incentivar projetos a atingir desempenho excepcional ou inovador

(LEED O+M V4, 2014, p.102).

Análise: nessa área todos os esforços já mencionados mais a consultoria feita

por profissional acreditado LEED rendeu ao Citicenter 4 pontos, pois incentiva projetos

a atingir desempenho excepcional ou inovador (GBIG, 2018).

9. Prioridade Regional (RP):

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119

Objetivo: obter créditos de contribuição com prioridades ambientais

geograficamente específicas, prioridades de igualdade social e prioridades de saúde

pública. (LEED V4, 2014, p.105).

Análise: O Citicenter não obteve estratégias para este quesito.

Concluindo: todas as ações apresentadas acima demonstram como a técnica

do retrofit concomitante as estratégias de ACV proposta pela certificação LEED para

a longevidade da operação do edifício integra a tendência de estratégias sustentáveis

para edifícios existentes.

Os números de economia de água, 43,8%, de energia, 7,3% e de resíduos

22,5%, entre outro, revelam que as intervenções realizadas com a certificação LEED

como norteador foram positivas.

Como resultado, o Citicenter, um importante exemplar da arquitetura moderna

paulistana, foi preservado e sua longevidade garantida.

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Considerações Finais

A arquitetura contemporânea paulistana vive um período em que a busca por

uma arquitetura sustentável após Agenda 2030 se torna veemente para o setor da

construção civil. Assim, esta pesquisa cotejou a aplicação do retrofit concomitante a

metodologia de ACV norteada pela certificação LEED: ambas podem contribuir para

a construção sustentável e abrem uma área de atuação para arquitetos e engenheiros.

Com o intuito de promover a longevidade do patrimônio edificado, a técnica de

retrofit associado à ACV utiliza um diagnóstico para definir o grau de intervenção

adequado com o uso e implantação de tecnologias para atualização. A técnica,

devolve a edificação condições de desempenho tecnológico (Smart Building),

funcional e operacional, ou seja, promove ao usuário condições de segurança e saúde

(Health Building) consoante ao DS.

Os resultados, coletados das análises e dos estudos de caso, apontam que o

aproveitamento do patrimônio edificado pode ser otimizado por alguns fatores como:

a Memória da Cidade, que remonta sua história e passa por aspectos sociais e

culturais; o Desenvolvimento Urbano, que adensa áreas já com infraestruturas; o

Meio Ambiente, pois a técnica retrofit permite gerenciar o aproveitamento dos

produtos existentes. Desta forma, há uma redução da demanda de novos impactos

ambientais bem como sua operação, porque expõem dados de desempenho ao

permitir gerar relatórios e gráficos de operação na vida útil das edificações.

Isto resulta na diminuição da demolição e reconstrução contínua da arquitetura

contemporânea, o que configura altos impactos negativos ao meio ambiente

construído e natural. Portanto, o estudo realizado colabora com a elucidação dos

conceitos – retrofit e ACV – por publicar essa pesquisa científica e acredita contribuir

para futuras pesquisas nas áreas de construção sustentável – arquitetônica e urbana

– áreas que se mostram promissoras para profissionais que atuam em metrópoles

consolidadas como São Paulo.

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Infra (Online): 02 ago. 2018. Entrevista concedida a Larissa Gregorutti. Disponível

em: <https://infrafm.com.br/Textos/18711/A-arte-de-se-reinventar-e-gerar-novos-

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UGAYA, C. Ciclo de vida das edificações ganha impulso no Brasil. Massa

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UGAYA, C. Avaliação do Ciclo de Vida. 2011. Disponível em:

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VASCONCELOS, E. Presidente da FecomercioSP inaugura Sesc Avenida

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ZMEKHOL, R. Edifício-sede. Revista Acrópole, v. 323, p. 34, 1965. Disponível em:

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Anexos

1 Consumo de energia elétrica no SESC Paulista

Tabela do consumo de energia elétrica do SESC Paulista desde à inauguração

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

Tabela do consumo de energia elétrica per capita mensal

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

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Gráfico comparativo do consumo de energia elétrica per capita mensal

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

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2 Consumo de água no SESC Paulista

Tabela do consumo de água do SESC Paulista desde à inauguração

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

Tabela do consumo de água per capita mensal

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

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Gráfico comparativo do consumo de água per capita mensal

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

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3 Consumo de gás no SESC Paulista

Tabela do consumo de gás do SESC Paulista desde à inauguração

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

Tabela do consumo de gás per capita

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.

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Gráfico comparativo do consumo de gás per capita mensal

Fornecido pela Equipe de Infraestrutura do SESC Paulista, 2019.