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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física Daniel Alvarez Pires Validação do Questionário de Burnout para Atletas SÃO PAULO-SP 2006

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física

Daniel Alvarez Pires

Validação do Questionário de Burnout para Atletas

SÃO PAULO-SP

2006

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física

Daniel Alvarez Pires

Validação do Questionário de Burnout para Atletas

Dissertação apresentada ao Programade Mestrado em Educação Física daUniversidade São Judas Tadeu comorequisito à obtenção do título de Mestreem Educação Física

Área de Concentração: BasesBiopsicossociais do Esporte.

Orientadora: Profa. Dra. Maria ReginaFerreira Brandão.

SÃO PAULO-SP

2006

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796.01 Pires, Daniel Alvarez, 1980 -P667v Validação do Questionário de Burnout para Atletas / Daniel Alvarez Pires. – São Paulo: USJT, 2006. 88p : il.

Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu – SP, 2006.

1.Estafa Profissional. 2.Psicometria. 3.Psicologia. I. Título.

CDD – 796.01

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus Pai Todo-Poderoso, que me deu fé para conseguir

sobreviver frente às dificuldades da vida nova em São Paulo, e me fortaleceu nos momentos

de dúvidas e angústias.

Aos meus pais, Geraldo e Concitinha, que me ensinaram princípios de amor, disciplina

e caráter, além de terem me incentivado e apoiado em todas as decisões de minha vida.

Ao meu irmão Hugo, que deixou a nossa família mais divertida, animada e unida,

chegando doze anos depois de mim.

À minha Vó Concita, companheira inseparável, mesmo à distância, que sempre

batalhou para que meus sonhos se tornassem realidades.

À Professora Regina Brandão, que acreditou, à primeira vista, no meu potencial, e me

apresentou à Psicologia do Esporte, abrindo-me as portas das experiências acadêmicas.

Ao Professor Afonso Machado, que me ensinou a olhar pro meu interior, a perceber

que só posso mudar a realidade a partir de minha própria transformação.

À Professora Cláudia Borim, pela consultoria fundamental no conteúdo estatístico

desse trabalho.

Aos amigos do Cativeiro e, mais tarde, do Recanto dos Estudantes (Demilto, Lucinar e

Arestides). Juntos, formamos uma equipe coesa, que superou todo tipo de obstáculo na busca

de um objetivo comum: tornarmo-nos mestres em Educação Física.

A todos os alunos, professores e funcionários da Coordenadoria de Pós-Graduação da

Universidade São Judas Tadeu, pelos imensos auxílios prestados.

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS.................................................................................................7

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................8

LISTA DE FIGURA .....................................................................................................9

RESUMO...................................................................................................................10

ABSTRACT...............................................................................................................11

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................12

1.1. Definição do Problema ................................................................................................................................. 12

1.2. Objetivos ....................................................................................................................................................... 141.2.1. Objetivo Geral ........................................................................................................................................ 141.2.2. Objetivos Específicos ............................................................................................................................. 14

1.3. Justificativa ................................................................................................................................................... 14

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................16

2.1. Burnout ......................................................................................................................................................... 162.1.1. Caracterização do Fenômeno.................................................................................................................. 162.1.2. Percurso Histórico: dos Primeiros Estudos aos Estudos Contemporâneos ............................................. 182.1.3. Instrumentos de Mensuração .................................................................................................................. 21

2.2. Burnout no Esporte ...................................................................................................................................... 252.2.1. Percurso Histórico .................................................................................................................................. 252.2.2. Estresse, Overtraining e Burnout: Semelhanças e Diferenças ................................................................ 262.2.3. Modelos Teóricos ................................................................................................................................... 292.2.4. Dimensões (Subescalas) de Burnout no Esporte..................................................................................... 352.2.5. Burnout em Professores de Educação Física .......................................................................................... 372.2.6. Burnout em Diretores Esportivos de Escolas.......................................................................................... 382.2.7. Burnout em Árbitros ............................................................................................................................... 392.2.8. Burnout em Treinadores ......................................................................................................................... 392.2.9. Burnout em Atletas ................................................................................................................................. 412.2.10. Causas e Conseqüências do Burnout em Atletas .................................................................................. 422.2.11. Burnout e Motivação ............................................................................................................................ 432.2.12. Prevenção e Controle ............................................................................................................................ 452.2.13. Instrumentos de Mensuração no Esporte .............................................................................................. 49

3. MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................51

3.1. Amostra ......................................................................................................................................................... 52

3.2. Instrumento................................................................................................................................................... 55

3.3. Procedimentos............................................................................................................................................... 57

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3.4. Análise Estatística......................................................................................................................................... 58

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................64

4.1. Resultados quanto ao Burnout e aos Estados de Humor .......................................................................... 64

4.2. Validade de Construto do Instrumento ...................................................................................................... 66

4.3. Validade Concorrente do Instrumento....................................................................................................... 714.3.1. Burnout Total.......................................................................................................................................... 714.3.2. Exaustão Física e Emocional .................................................................................................................. 734.3.3. Reduzido Senso de Realização Esportiva ............................................................................................... 754.3.4. Desvalorização Esportiva ....................................................................................................................... 77

4.4. Análise de Conteúdo..................................................................................................................................... 80

4.5. Análise da Consistência Interna.................................................................................................................. 84

5. CONCLUSÃO .......................................................................................................85

REFERÊNCIAS.........................................................................................................87

ANEXOS ...................................................................................................................92

ANEXO 1 ............................................................................................................................................................. 93

ANEXO 2 ............................................................................................................................................................. 94

ANEXO 3 ............................................................................................................................................................. 95

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Instrumentos de medida de burnout e seus respectivos autores. Fonte: GARCÉSDE LOS FAYOS (1999). .................................................................................................24

Quadro 2: Etapas de prevenção e recuperação da síndrome de burnout em atletas (Fonte:TAYLOR, 1991)...............................................................................................................46

Quadro 3: Características dos seis estados de humor avaliados pelo teste POMS (adaptado deBRANDÃO, 1999). ..........................................................................................................60

Quadro 4: Categorias da análise de conteúdo, definições e exemplos de palavras que ascaracterizam......................................................................................................................62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição de freqüência de atletas por modalidade esportiva e gênero. .............54

Tabela 2: Média e desvio padrão, em anos, da idade, idade de iniciação no esporte em quepratica e tempo como atleta federado(a) ou profissional..................................................54

Tabela 3: Média e desvio padrão do burnout total e das subescalas de burnout. ....................64

Tabela 4: Média e desvio padrão do índice de saúde mental atual (POMS total) e dos 6estados de humor. .............................................................................................................65

Tabela 5: Total de variância explicado....................................................................................66

Tabela 6: Rotação Varimax da matriz dos componentes do QBA..........................................68

Tabela 7: Classificação dos itens em relação às subescalas de burnout a partir da rotaçãoVarimax para os instrumentos QBA e ABQ (EFE= exaustão física e emocional; RSR=reduzido senso de realização; e DES= desvalorização esportiva)....................................69

Tabela 8: Correlações de Pearson das dimensões da síndrome e do burnout total com oPOMS total e seus seis estados de humor. .......................................................................71

Tabela 9: Correlação de Pearson do burnout total (BT) com o valor total do POMS e com osseis estados de humor. ......................................................................................................72

Tabela 10: Correlação de Pearson da subescala exaustão física e emocional (EFE) com ovalor total do POMS e com os seis estados de humor......................................................73

Tabela 11: Correlação de Pearson da subescala reduzido senso de realização esportiva (RSR)com o valor total do POMS e com os seis estados de humor...........................................75

Tabela 12: Correlação de Pearson da subescala desvalorização esportiva (DES) com o valortotal do POMS e com os seis estados de humor. ..............................................................77

Tabela 13: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência de burnout. ......................................................................................................81

Tabela 14: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência da subescala exaustão física e emocional........................................................82

Tabela 15: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência da subescala reduzido senso de realização esportiva. .....................................82

Tabela 16: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência da subescala desvalorização esportiva. ...........................................................83

Tabela 17: Consistência interna dos itens do QBA. ................................................................84

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LISTA DE FIGURA

FIGURA 1: Contínuo de adaptações negativas sofridas pelo atleta. ......................................29

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RESUMO

A síndrome de burnout pode ser definida como uma reação ao estresse crônico. No meioesportivo, todos os profissionais envolvidos tornam-se passíveis de serem acometidos por essefenômeno e, em especial, os atletas, que se constituem em indivíduos com elevado potencialde incidência de burnout, devido ao fato de receberem críticas e cobranças mais diretas emrelação à sua performance, bem como pela intensidade e freqüência dos treinamentos ecompetições. No entanto, são raros no Brasil os estudos sobre os instrumentos deidentificação e mensuração dessa síndrome em esportistas. Assim sendo, o objetivo principaldessa pesquisa consistiu em validar um questionário de burnout em atletas para a línguaportuguesa. Para tanto, foram realizados os seguintes passos metodológicos: tradução para alíngua portuguesa do “Athlete Burnout Questionnaire” (ABQ), através do método de “BackTranslation”, originando o Questionário de Burnout para Atletas (QBA); projeto-piloto;validação do QBA, através dos métodos de validade de construto (análise fatorial), validadeconcorrente (teste POMS) e análise de conteúdo com a formação de categorias a priori (3palavras) e, por último, verificação da confiabilidade (α de Cronbach). Os resultadosencontrados confirmaram tanto a validade de construto (o instrumento representa comexatidão o conceito de interesse) quanto a confiabilidade (o instrumento mede efetivamente oque se propõe a medir) do QBA. De acordo com o objetivo da validação concorrente, queconsistia em validar um instrumento (o QBA) a partir da correlação com outro instrumentoreconhecido na literatura científica (POMS), pode-se concluir que o QBA se encontravalidado estatisticamente. Ao longo da análise de conteúdo, as palavras escritas pelos atletasforam classificadas por 3 juízes doutores. Conforme essa classificação, as mesmas poderiamser enquadradas como pertencentes ou não ao burnout total e suas subescalas. Os resultadosda análise de conteúdo demonstraram que os atletas que citaram palavras relacionadas aoburnout total ou à determinada dimensão de burnout obtiveram escores significativamentemais elevados para tais variáveis quando comparados com aqueles que não verbalizaram algoa respeito da síndrome ou de suas subescalas. Os achados dessa investigação permitemconcluir que o QBA é considerado um instrumento adequado para a identificação emensuração da síndrome de burnout em atletas brasileiros de alto rendimento.

Palavras-Chave: Síndrome de Burnout; Atletas; Validação de Instrumento.

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ABSTRACT

The burnout syndrome can be defined as a reaction to chronic stress. In the sport’senvironment, all the professionals involved are vulnerable to be reached by this phenomenonand, specially, the athletes constitute themselves in individuals with high probability ofburnout occurrence, due to the fact that they receive more direct criticism and charging abouttheir performance, as well as by the training’s and competition’s intensity and frequency.However, the syndrome identification and measurement instrument studies are fairly rare inBrazil. Therefore, this study aimed to validate a burnout questionnaire for athletes ofPortuguese language. Four methodologically steps were followed: Back Translation of theAthlete Burnout Questionnaire (ABQ) to the Portuguese language, what led to the“Questionário de Burnout para Atletas” (QBA); pilot project; QBA’s validation, throughconstruct validation (factor analysis), competitor validation (POMS test) and content analysis(3 words); and, finally, the QBA’s reliability. The data found confirmed both the QBA’sconstruct validity (the instrument represents exactly the interest concept) and reliability (theinstrument measures effectively what it purposes to measure). According to the aim of thecompetitor validation, which consisted to validate an instrument (QBA) through thecorrelation with another known instrument in the scientific literature (POMS), we canconclude that QBA is statistically validated. About the content analysis, the words written bythe athletes were classified by 3 Doctors. According to this classification, these words couldbe chosen as pertaining or not to the burnout syndrome and its subscales. The content analysisresults showed that athletes who wrote words related to the burnout and its subscales hadscored significantly higher in these variables when compared with those who didn’t writeanything about the syndrome and its dimensions. The findings of this investigation let usconclude that QBA is considered an appropriate instrument for the burnout syndromeidentification and measurement in high level Brazilian athletes.

Key Words: Burnout Syndrome; Athletes; Instrument Validation.

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Definição do Problema

A partir de minha vivência como professor e pesquisador na natação, entrei em contato

com todos os fatores do treinamento relacionados à performance: físico, técnico, tático e

psicológico. Sobre o último fator mencionado, foi possível perceber, entre os nadadores, a

relevância do controle emocional para enfrentar situações características do esporte, como a

solidão das piscinas, a cobrança de pais e treinadores, além da escassez de momentos de lazer

e contato com a família, contrastantes com o excesso de horas de treinos, viagens e

competições.

O nadador, portanto, acaba vivenciando, com muita intensidade, emoções e

sentimentos tais como ansiedade e estresse. No entanto, quando essas emoções se tornam

crônicas, o atleta pode experienciar uma síndrome denominada de síndrome de burnout,

implicando em prejuízos tanto de ordem física quanto psicossocial.

Nos Estados Unidos, o burnout já se constituiu em objeto de estudo de diversas

pesquisas e publicações científicas. Esses estudos objetivaram desde a elaboração de modelos

teóricos sobre a síndrome até a aplicação e análise de dados de questionários de mensuração

da mesma, passando pela relação do burnout com outras variáveis físicas e psicossociais.

Devido aos raros estudos nacionais sobre o tema, é provável que quantidades

significativas de nadadores e demais esportistas estejam sendo vitimados por essa síndrome,

sem que suas comissões técnicas percebam as manifestações, causas e conseqüências da

mesma.

No terceiro ano de minha graduação em Educação Física, desenvolvi um trabalho de

iniciação científica abordando as manifestações de burnout em nadadores pertencentes à

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categoria júnior (17 a 19 anos) na cidade de Belém-PA (PIRES, 2003). Os resultados

encontrados nesse estudo mostraram relevantes sintomas físicos e psicossociais relacionados à

síndrome, bem como um elevado percentual de atletas afirmando que cogitavam abandonar o

esporte, fenômeno conhecido como “dropout”1. Esses dados são interessantes devido ao fato

de convergirem com a literatura quanto à identificação do dropout como uma das prováveis

conseqüências do burnout.

Uma das principais barreiras para o melhor entendimento sobre o burnout está

representada pela carência de instrumentos de mensuração da síndrome no meio esportivo. Os

questionários, geralmente utilizados pelos cientistas esportivos, são advindos de estudos que

abordavam o burnout em outras profissões, em especial as profissões de ajuda. Isso significa

uma certa ausência de especificidade nessas pesquisas, pois se sabe hoje que a Psicologia do

Esporte possui uma realidade bastante particular, necessitando, portanto, de instrumentos que

reflitam o contexto único do esporte, aumentando-se, assim, a validade ecológica2 dos

mesmos (LIDOR, 1998).

A falta de um instrumento válido para a língua portuguesa inviabiliza a realização de

pesquisas e publicações científicas nacionais, dificultando o entendimento e a conscientização

sobre a síndrome por profissionais esportivos.

Diante do exposto acima, essa dissertação de mestrado tem os seguintes objetivos:

1 Abandono esportivo em virtude da ausência de prazer, recompensas estáveis ou reduzidas, custos elevados,pouca satisfação, incremento de alternativas e baixo investimento em relação à carreira atlética (SCHMIDT eSTEIN, 1991).

2 A “visão ecológica dos questionários torna possível analisar os indivíduos em seu mundo real e dá a devidaatenção à importância da relação e inter-relação entre o ambiente e as competências psicológicas das pessoas quedele participam” (BRANDÃO, 2000, p. 06).

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1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo Geral

- Validar um questionário para a língua portuguesa de identificação e mensuração da

síndrome de burnout em atletas.

1.2.2. Objetivos Específicos

- Traduzir o Athlete Burnout Questionnaire (ABQ) para a língua portuguesa, originando o

Questionário de Burnout para Atletas (QBA);

- Aferir o QBA, através de estudo-piloto;

- Verificar a validade (de construto, concorrente e de conteúdo) e a confiabilidade da nova

versão do instrumento.

1.3. Justificativa

A pesquisa em questão justifica-se pela relevância, do ponto de vista científico, da

existência de um questionário validado para a língua portuguesa para a identificação de

burnout em atletas. A partir da utilização desse instrumento, uma pluralidade de estudos

poderão ser desenvolvidos, a saber: detecção da síndrome em atletas, comparações de

ocorrências da mesma entre duas ou mais modalidades esportivas, comparação entre atletas

pertencentes a diferentes faixas etárias e, finalmente, abordagens cross-culturais acerca das

manifestações de burnout.

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Essa dissertação poderá se constituir como uma fonte de consulta para os treinadores

esportivos no sentido de detecção, prevenção e tratamento do burnout em atletas. A aplicação

desse questionário poderá resultar, ainda, em um melhor entendimento sobre a síndrome em

esportistas de um modo específico e sobre a Psicologia do Esporte de um modo geral.

Pretende-se, então, gerar reflexões quanto às cargas físicas e psicológicas empregadas nos

atletas de alto rendimento na atualidade, contribuindo para a melhoria biopsicossocial dos

esportistas, característica determinante para a otimização da performance.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Para um melhor entendimento sobre o fenônemo conhecido como síndrome de

burnout, a presente revisão de literatura estará dividida em duas sessões principais. A primeira

consistirá na caracterização do fenômeno, no descobrimento da síndrome, seus primeiros

estudos, estudos contemporâneos e instrumentos de mensuração na área da Psicologia

Organizacional. A segunda sessão focalizará a síndrome de burnout no contexto esportivo,

seu percurso histórico, a diferenciação entre estresse, overtraining e burnout, os principais

modelos teóricos que explicam a síndrome, as suas dimensões, as manifestações nos diversos

profissionais da área da Educação Física e Esportes, especialmente em atletas, causas e

conseqüências de sua ocorrência em atletas, os instrumentos de mensuração e, finalmente, a

prevenção e o controle da mesma.

2.1. Burnout

2.1.1. Caracterização do Fenômeno

O termo burnout consiste de uma conjunção entre “burn” e “out”, ambas palavras da

língua inglesa, onde a primeira significa “arder”, “queimar”, enquanto a segunda se refere a

“fora”, “para fora” (MICHAELIS, 1989). Portanto, o significado literal para burnout em

português é “queimar para fora”. Porém, sua tradução é expressa com mais clareza pela

palavra esgotamento. No entanto, devido ao fato de o burnout ter se firmado como um termo

internacionalmente reconhecido na literatura científica, optou-se pela manutenção da

nomenclatura original.

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O primeiro autor a descrever e conceituar a síndrome de burnout foi Freudenberger,

em 1974 (GARCÍA UCHA, 2000; SOUZA e SILVA, 2002). Esse pesquisador definiu

burnout como um estado de fadiga e exaustão, ou perda de energia física e mental, resultante

de aspirações exageradas em alcançar objetivos não realistas traçados pelo indivíduo ou pelos

valores da sociedade (FEJGIN, TALMOR e ERLICH, 2005).

Uma outra hipótese para a descoberta e denominação desse fenômeno surgiu de uma

história interessante. De acordo com CHIMINAZZO e MONTAGNER (2004), Christina

Maslach, uma psicóloga social, estava desenvolvendo, em um período não informado pelos

autores, estudos sobre as relações de trabalho existentes entre os profissionais da área médica

e seus pacientes, especialmente sobre as questões de comprometimento afetivo e humanitário

em relação às pessoas enfermas. Ao expor seu objeto de estudo para um advogado, o mesmo

relatou que os juristas que trabalhavam em processos envolvendo pessoas das camadas sociais

menos favorecidas também sofriam a mesma realidade dos médicos, e chamavam tal processo

de “esgotamento”. A partir daquele momento, “Christina Maslach não só descobriu que a

situação que ela estava estudando tinha um nome como também acontecia em outras áreas do

conhecimento” (CHIMINAZZO e MONTAGNER, 2004).

De acordo com as abordagens históricas do burnout, foram Christina Maslach e Susan

Jackson que, ainda no final da década de 70 e início dos anos 80, elaboraram tanto um modelo

teórico quanto um inventário para a mensuração da síndrome (SOUZA e SILVA, 2002).

MASLACH e JACKSON (1981) definiram burnout como uma síndrome psicológica

de exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissional que pode ocorrer

em indivíduos que se envolvem com pessoas dependentes, de algum modo, de sua ação

profissional.

De acordo com essa definição, o burnout é uma síndrome, ou seja, um conjunto de

sintomas, e está fundamentado em três dimensões: a exaustão emocional (caracterizada por

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sentimentos de extrema fadiga); a despersonalização (representada por atitudes e sentimentos

negativos com respeito aos clientes, sendo ilustrada por um comportamento impessoal, de

desligamento e descuido em relação aos mesmos); e, finalmente, a reduzida satisfação

profissional (reflete avaliações negativas sobre si mesmo, particularmente com referência à

habilidade de obter sucesso no trabalho com clientes) (RAEDEKE, 1997).

Em outras palavras, o burnout é causado por desejos e expectativas frustradas,

sentimentos de controle inadequado do próprio trabalho e sentimentos de perda do sentido da

vida. Dentre as principais conseqüências da síndrome, encontra-se a perda progressiva de

idealismo, que está associada a um fraco desempenho no trabalho e ao comprometimento da

saúde, incluindo-se o aparecimento de dores de cabeça, hipertensão, ansiedade e depressão.

Alguns autores relatam que, em última instância, o burnout pode levar ao alcoolismo, uso de

drogas e deterioração de relacionamentos familiares e sociais (DE MEIS, VELLOSO,

LANNES, CARMO e DE MEIS, 2003).

2.1.2. Percurso Histórico: dos Primeiros Estudos aos Estudos Contemporâneos

Inicialmente, o burnout foi diagnosticado em indivíduos pertencentes às chamadas

profissões de ajuda (“helping professions”). Advogados, professores, assistentes sociais,

dentistas, enfermeiros e médicos são exemplos desse tipo de profissões, que se caracterizam

por constantes relações interpessoais, bem como pela necessidade do profissional em

proporcionar melhorias de ordem biológica, psicológica, social, intelectual e/ou financeira em

seu cliente/paciente/aluno.

Na década de 80, RUSSEL, ALTMAIER e VAN VELZEN (1987) já indicavam que o

magistério se constituía em uma profissão repleta de agentes estressores, como problemas

disciplinares, apatia dos alunos, classes superlotadas e salários inadequados. O burnout, então,

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tende a aparecer como resultado desses aspectos estressantes da profissão, expresso em

sintomas físicos (úlceras e dores de cabeça), psicológicos (raiva e depressão) e

comportamentais (queda de rendimento profissional e absenteísmo) (CUNNINGHAM, 1982,

citado por RUSSEL, ALTMAIER e VAN VELZEN, 1987).

Os estudos mais recentes acerca da síndrome de burnout mantêm seu foco nas

profissões de ajuda. Assim sendo, os profissionais da área de saúde, de modo particular,

constituem-se no grupo de indivíduos mais analisados em relação ao burnout sob o olhar da

ciência psicológica.

Como se observou ao longo do levantamento de registros literários, a preocupação

com o burnout no ambiente organizacional atinge proporções globalizadas. Na região de

Guadalajara (México), MARTÍNEZ (1997) buscou traçar um perfil de risco para a incidência

da síndrome entre os profissionais pertencentes a centros de atenção primária e especializada

de saúde. De acordo com as variáveis abordadas, o perfil de risco epidemiológico obtido foi o

seguinte: sexo feminino; idade acima de 44 anos; ausência de cônjuge estável; mais de 19

anos de profissão e mais de 11 anos no referido local de trabalho; lotação em serviço

especializado com mais de 21 pacientes sob sua responsabilidade; mais de 70% da carga

horária diária dedicada a esses pacientes e, por último, jornada semanal de 36 a 40 horas.

No Brasil, SOUZA e SILVA (2002) elaboraram um estudo a respeito do burnout em

profissionais de saúde, porém relacionando-o com fatores de personalidade e de organização

no trabalho. Nesse estudo, concluiu-se que o padrão de personalidade tipo A (estilo de vida

caracterizado, entre outros fatores, por extremo senso de urgência, raiva, irritação, ambição e

agressividade) mostrou-se um preditor significativo do burnout total, bem como de suas

dimensões exaustão emocional e despersonalização. As variáveis traço de ansiedade

(preocupação referente à determinada situação específica) e suporte de chefia (percepção do

sujeito quanto à orientação recebida para a realização das suas tarefas) também se

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apresentaram preditores significativos do burnout, exaustão emocional e despersonalização.

Esses achados estão em concordância com o estudo do cientista espanhol GARCÉS DE LOS

FAYOS (1999), que propõe a classificação das variáveis preditoras de burnout em três

grupos: as advindas do contexto organizacional, as intrapessoais e as ambientais. O autor

menciona a personalidade tipo A como uma das variáveis intrapessoais preditoras de burnout.

Em relação à ansiedade traço e ao suporte de chefia, o autor considera como preditoras da

síndrome algumas variáveis organizacionais semelhantes a essas, tais como: falta de apoio

organizacional, sobrecarga no trabalho e a não adaptação do indivíduo ao perfil profissional e

pessoal do posto de trabalho, caracterizado pelo autor como uma inadaptação profissional. Em

termos de variáveis do contexto ambiental, podem ser citadas, entre outras, o fator cultural, os

problemas familiares e as atitudes negativas de parentes e amigos.

A exaustão emocional, uma das dimensões de burnout mencionadas anteriormente, foi

pesquisada de modo isolado em relação à percepção de suporte organizacional e às estratégias

de “coping”3 no trabalho de TAMAYO e TRÓCCOLI (2002). O “coping” pode ser

considerado um recurso de defesa psicológica do indivíduo frente aos variados agentes

estressores. Os fatores gestão de desempenho, sobrecarga, suporte social, ascensão e salários

(relacionados ao suporte organizacional), bem como o escape (relacionado ao “coping”)

revelaram-se preditores significativos da exaustão emocional. Um diferencial importante

dessa pesquisa em comparação às demais aqui abordadas diz respeito à amostra, constituída

de profissionais pertencentes aos setores bancário, de pesquisa e de serviços,

descentralizando-se, assim, o foco nos profissionais de saúde.

Ao avaliarem pesquisadores no meio científico brasileiro, DE MEIS e cols. (2003)

verificaram que a pressão sofrida para que novas pesquisas sejam publicadas, a

competitividade crescente entre os cientistas e entre algumas instituições de ensino superior

3 “Processo dinâmico de esforços determinados para a resolução das dificuldades e das demandas exigidas para oajustamento do organismo” (ZAUTRA e WRABETZ, 1991, citados por TAMAYO e TRÓCCOLI, 2002, p. 39).

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nacionais, além da escassez de recursos destinados ao financiamento de produções

acadêmicas, têm levado os pesquisadores (alunos de graduação e pós-graduação) e seus

professores a um quadro característico de burnout. Para os autores, os indivíduos mais

propensos ao desenvolvimento da síndrome são aqueles que apresentam mais dedicação e

comprometimento com o seu trabalho. Isso acontece basicamente em razão de três motivos:

em primeiro lugar, os cientistas vivenciam intensamente o ambiente de seus laboratórios, por

vezes se esquecendo do mundo exterior. Em segundo lugar, o interesse por essa profissão é

geralmente espontâneo e interno, visto que as remunerações não são atrativas em sua maioria.

Por último, a perspectiva de descobrir ou desenvolver algo novo, pioneiro dentro da

comunidade científica, conduz o pesquisador para o comprometimento com seu trabalho (DE

MEIS e cols., 2003).

Conforme observado, o burnout no campo organizacional pode ser considerado um

campo de pesquisa em ampla expansão na comunidade científica em geral e entre os

profissionais de Psicologia do Trabalho de modo específico.

2.1.3. Instrumentos de Mensuração

A partir dos conhecimentos gerados através dos ensaios teóricos sobre a síndrome de

burnout, surgiu a necessidade de construção de métodos de mensuração da mesma, a fim de

que fosse possível detectá-la por meio de pesquisas aplicadas. GARCÉS DE LOS FAYOS

(1999) propõe que um pensamento absolutamente necessário na investigação de um

determinado construto é a possibilidade de encontrar um instrumento de medida que nos ajude

a descrever cientificamente os diferentes aspectos conceituais associados ao construto. O

mesmo autor salienta que outro pensamento relevante na construção de um instrumento leva

em consideração que ele possa ser utilizado em diversos contextos laborais e, de preferência,

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em países diferentes. Assim sendo, a riqueza das conclusões de cada instrumento melhora

significativamente.

A questão da elaboração de modelos de mensuração da síndrome tem sido, inclusive,

um dos principais fatores responsáveis tanto pelo reduzido número de publicações na área

quanto pelo entendimento inadequado ou incompreensão da síndrome (ABRAHAMSON,

1997; HALL, CAWTHRA e KERR, 1997).

As pesquisadoras precursoras na elaboração de tais métodos indicadores foram

Maslach e Jackson. No ano de 1981, surgiu o Maslach Burnout Inventory (MBI), que

continua sendo o instrumento mais utilizado para a mensuração da síndrome nos dias atuais

(SOUZA e SILVA, 2002). O MBI, contendo 25 itens, foi validado através da aplicação em

1025 indivíduos pertencentes às seguintes profissões: enfermeiros, professores, assistentes

sociais, trabalhadores de saúde mental, psiquiatras, psicólogos, administradores de agência,

consultores, empregados em período de experiência, físicos, policiais e procuradores. Da

análise fatorial dos itens emergiram quatro fatores, sendo que três obtiveram valores

significativos, os quais foram denominados de: exaustão emocional, com nove itens,

despersonalização, com cinco itens, e realização pessoal, com oito itens. Foi verificado

também que a realização pessoal, apesar de ser o único fator que possui conotação positiva,

não pode ser considerada como oposta ou inversamente proporcional aos fatores exaustão

emocional e despersonalização, visto que as correlações entre a realização pessoal e os dois

outros fatores, mesmo sendo negativas, não foram significativas (MASLACH e JACKSON,

1981).

Entretanto, uma pequena ressalva deve ser feita. Percebendo a diversidade de

ambientes laborais, e até mesmo extra-laborais (como as donas-de-casa), passíveis de

ocorrência de burnout, Maslach, Jackson e Leiter (GIL-MONTE, 2002) resolveram elaborar

três tipos de MBI, a serem aplicados em circunstâncias específicas, de acordo com o contexto

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em que os sujeitos estão inseridos: o MBI-Human Services Survey (MBI-HSS), voltado aos

profissionais de saúde e serviços, versão original do MBI; o MBI-Educators Survey (MBI-

ES), versão do MBI-HSS dirigida aos profissionais da educação, diferenciando-se do anterior

por substituir, nos itens, a palavra paciente por aluno; e, por último, o MBI-General Survey

(MBI-GS), escala direcionada a qualquer tipo de trabalhador, onde os itens possuem um

caráter mais genérico (GIL-MONTE, 2002).

O MBI-GS está constituído por 16 questões, contra 22 do MBI-HSS e do MBI-ES. As

16 questões contemplam as três dimensões do burnout e estão assim distribuídas: seis

referentes à eficácia profissional, cinco a respeito de esgotamento e cinco sobre cinismo.

Pôde-se perceber, entretanto, que a nomenclatura original das dimensões sofreu modificações

do MBI-HSS para o MBI-GS: a realização pessoal foi substituída por eficácia profissional,

esgotamento emocional ficou reduzido a apenas esgotamento, e despersonalização foi alterada

para cinismo. Cada item é seguido por uma escala numérica que se refere à freqüência

percebida, variando de 0 (nunca) a 6 (todos os dias).

Em uma pesquisa desenvolvida junto a policiais municipais de Tenerife (Espanha), a

versão espanhola do MBI-GS foi considerada válida e confiável (GIL-MONTE, 2002).

Além dos MBIs, outra ferramenta de mensuração de burnout encontrada na literatura

foi o Inventário de Potencial de Burnout de Potter (GARCÍA UCHA, 2000). Esse

questionário é composto de 48 itens distribuídos por 12 variáveis, a saber: impotência,

desinformação, conflito, pobre trabalho de equipe, sobrecarga, aborrecimento, pobre

retroalimentação, castigo, alienação, ambigüidade, ausência de recompensas e conflito de

valores. Para cada item, a escala apresenta uma variação numérica de freqüência de 1

(raramente) a 9 (constantemente). Uma das poucas utilizações desse instrumento na literatura

se deu por GARCÍA UCHA (2000), ao avaliar a síndrome em treinadores esportivos.

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Em sua tese de doutorado, GARCÉS DE LOS FAYOS (1999) apresenta uma revisão

de 15 instrumentos de medida de burnout, os quais podem ser observados no Quadro 1:

Quadro 1: Instrumentos de medida de burnout e seus respectivos autores. Fonte: GARCÉSDE LOS FAYOS (1999).

Instrumento de Medida AutoresStaff Burnout Scale Jones (1980)Indicadores del Burnout Gillespie (1980)Emener-Luck Burnout Scale Emener e Luck (1980)Tedium Measure (Burnout Measure) Pines, Aronso e Kafry (1981)Maslach Burnout Inventory Maslach e Jackson (1981)Burnout Scale Kremer e Hofman (1985)Teacher Burnout Scale Seidman e Zager (1986)Energy Depletion Index Garden (1987)Mettews Burnout Scale for Employees Mattews (1990)Efectos Psiquícos del Burnout García Izquierdo (1990)Escala de Variables Predictoras del Burnout Aveni e Albani (1992)Cuestionario de Burnout del Profesorado Moreno e Oliver (1993)Holland Burnout Assessment Survey Holland e Michael (1993)Rome Burnout Inventory Venturi, Dell’Erba e Rizzo (1994)Escala de Burnout de Directores de Colegios Friedman (1995)

Ao concluir seus comentários sobre os instrumentos analisados, o autor afirma que o

“Maslach Burnout Inventory” (MBI), em português denominado “Inventário de Burnout de

Maslach” (IBM), é considerado o melhor instrumento de medida da síndrome, e sobre o qual

se tem desenvolvido a maioria das investigações científicas. Dentre os instrumentos

alternativos ao MBI, o único inventário que obteve relatos de utilização mais freqüentes foi o

“Tedium Measure”, cuja melhor tradução para o português seria “Medida de Tédio”

(GARCÉS DE LOS FAYOS, 1999).

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2.2. Burnout no Esporte

2.2.1. Percurso Histórico

Após sua identificação nas profissões de ajuda, o burnout passou a ser percebido

também no meio do esporte e da Educação Física. De acordo com GARCÉS DE LOS

FAYOS e VIVES BENEDICTO (2002), os estudos direcionados à área do esporte

começaram há pouco mais de 20 anos. Nesse período, conforme aponta GARCÉS DE LOS

FAYOS (1999), o burnout no âmbito esportivo não despertava tanto o interesse dos

investigadores se comparado ao contexto organizacional, especialmente por duas razões:

primeiramente, porque os autores da época não consideravam a prática esportiva como um

trabalho repleto de pressão, cujas demandas pudessem ocasionar situações tão aversivas a

ponto de provocar burnout nessa espécie de “trabalhadores”; e depois porque a atividade

esportiva não era considerada uma área de desempenho laboral, que se caracterizasse pela

existência de uma certa “produção” advinda do trabalho.

Entretanto, a partir das definições conceituais da síndrome (MASLACH e JACKSON,

1981; RAEDEKE, 1997), nas quais o burnout é descrito em termos de esgotamento

emocional, físico e mental, despersonalização e reduzida realização pessoal, percebeu-se que

tais elementos não eram específicos apenas dos contextos organizacionais, mas também do

sistema esportivo, pois a realidade esportiva exige diferentes estratégias de enfrentamento do

forte componente emocional característico da síndrome (GARCÉS DE LOS FAYOS, 1999).

Desse modo, profissionais como os professores de Educação Física, treinadores,

preparadores físicos, atletas e árbitros tornaram-se indivíduos propensos à aquisição dessa

síndrome. Tal propensão se desenvolve à medida que os profissionais da área lidam com

constantes relações interpessoais, sejam elas com os alunos, diretores de escola, membros de

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suas equipes técnicas, equipe de arbitragem, dirigentes, imprensa, amigos e familiares, e são

vivenciados sentimentos de cobranças, críticas, cansaço e estresse.

Em virtude das constantes comparações realizadas na comunidade científica

envolvendo a síndrome de burnout, a síndrome de overtraining e o estresse, esses três

fenômenos da Psicologia do Esporte serão comentados e diferenciados entre si na próxima

seção.

2.2.2. Estresse, Overtraining e Burnout: Semelhanças e Diferenças

Devido ao fato da síndrome de burnout apresentar sintomas que podem ser

confundidos com o estresse e o overtraining, faz-se necessário refletir sobre as semelhanças e

as diferenças entre esses três fenômenos que ocorrem no esporte. Com isso, pretende-se

esclarecer até que ponto determinadas adaptações negativas apresentadas pelo atleta podem

ser atribuídas ao estresse, ao overtraining, ao burnout, ou, até mesmo, a uma convergência de

dois ou três desses fenômenos.

O estresse pode ser definido como reações somáticas e psicológicas de um indivíduo

frente a exigências que ultrapassam seus limites para lidar com elas (GOULDBERGER e

BREZITZ, 1982). Portanto, o atleta experimenta o estresse quando não consegue reagir a

determinadas situações ocasionadas pelo ambiente esportivo.

De forma didática, o estresse no esporte se manifesta em quatro estágios,

desenvolvidos a partir do “Processo de Estresse de McGrath” (BRANDÃO, 2000), a saber:

No primeiro estágio, intitulado de demanda ambiental, o atleta se depara com uma

demanda ameaçadora no meio em que se encontra. Essa demanda pode ser exemplificada, no

meio esportivo, por uma ofensa do atleta adversário, por desentendimentos com a arbitragem,

pela pressão da torcida e da imprensa, pela perda de um jogo nos minutos finais, etc.

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O estágio 2, conhecido como percepção da demanda ambiental, caracteriza-se pelo

momento em que o esportista, após tomar conhecimento da situação, realiza uma avaliação

cognitiva da mesma, podendo percebê-la como ameaçadora, em caso de uma avaliação

negativa, ou como estimulante, em caso de uma avaliação positiva. No caso de uma partida de

futebol, por exemplo, determinada demanda ambiental, como estar perdendo o jogo nos

minutos finais, pode levar o jogador a avaliá-la de forma negativa (“a partida está quase

perdida, resta pouco tempo para a reação”) ou de forma positiva (“nada está perdido, vamos

partir com tudo para chegarmos ao empate”).

No terceiro estágio, aparecem as respostas físicas e psicológicas do estresse. Ao reagir

frente aos agentes estressores, o atleta pode apresentar dois tipos de conseqüências: os

sintomas biológicos, como, por exemplo, a elevação da freqüência cardíaca e da pressão

arterial, e psicológicos, tais como a elevação da ansiedade-estado.

No estágio final, denominado conseqüências comportamentais, são observados os

efeitos da avaliação cognitiva da demanda ambiental, bem como as alterações físicas e

psicológicas, sobre o desempenho e o resultado atlético. Ainda a respeito desse estágio, as

conseqüências comportamentais podem ser positivas ou negativas para o atleta. Quando ele

busca superar a demanda estressora, para se tornar mais ativo e incrementar sua performance,

isso se caracteriza como “eustresse” ou “estresse positivo”. Por outro lado, quando a situação

causa danos ao desempenho atlético, então o caso é denominado de “distresse” ou “estresse

negativo” (BRANDÃO, 2000). No exemplo citado anteriormente, a partida de futebol tanto

pode ter terminado com a derrota do time que estava atrás no placar (distresse), quanto pode

ter acontecido uma reação nos minutos finais, com o empate ou a virada do jogo (eustresse).

A síndrome de overtraining, por sua vez, pode ser explicada como um estado de

fadiga crônica (fato que a diferencia do estresse) motivado por uma incorreta dosificação das

cargas aplicadas e excesso de treinamento, em combinação com a ação de estressores externos

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ao processo de treinamento, tais como o excesso de viagens e competições, que podem

intensificar o efeito das cargas de trabalho (BONETE e SUAY, 2003; GLEESON, 2002).

Uma consideração importante deve ser feita em relação às cargas de trabalho. Apesar de ser

abordada, geralmente, em termos fisiológicos, sabe-se que, juntamente a uma carga física

aplicada no atleta, existe também uma carga psicológica envolvida no processo. Esse aspecto

pode ser observado quando há competições sucessivas (carga física), promovendo o

afastamento do sujeito de seus familiares e amigos (carga psicológica). Portanto, o termo

“dosificação” deve ser refletido sob o ponto de vista de ambas as cargas.

Além das características citadas acima, o overtraining também promove a piora da

performance competitiva, com diversas tentativas de melhora da condição física (GLEESON,

2002). Em geral, quando um atleta está com overtraining, a comissão técnica dificilmente

reconhece a síndrome, e avalia a queda no desempenho como falta de treinamento adequado,

aumentando a carga de trabalho. Essa conclusão equivocada acaba por levar o esportista a um

patamar de rendimento atlético extremamente reduzido.

De acordo com McCANN (1995), o ponto de união entre os processos de overtraining

e burnout é o estresse, que aparece como elemento fundamental na etiologia de ambas as

síndromes.

Por outro lado, GIMENO (2003) aponta que a diferença chave entre essas duas

síndromes reside no papel que os fatores cognitivos exercem no caso do burnout. Na

perspectiva do overtraining, a atenção está voltada para a importância do agente estressor

(treinamento) e para a resposta ou reação (sintomas), ignorando-se a interpretação que o atleta

faz acerca do agente estressor. Entretanto, no contexto do burnout, é dada ênfase à

interpretação subjetiva realizada pelo esportista sobre o agente estressor, o que mostra a

importância dos mecanismos cognitivos.

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Conforme conclui GIMENO (2003) de forma bem objetiva, pode-se afirmar que existe

um paralelismo geral entre os processos de overtraining e burnout, representado pelo estresse,

do mesmo modo que a inclusão de elementos cognitivos os diferenciam com clareza. Em uma

outra abordagem, fundamentada por Silva (1990, citado por GOULD, UDRY, TUFFEY e

LOEHR, 1996b), os fenômenos são considerados dentro de um contínuo de adaptações

negativas sofridas pelo atleta, na seguinte ordem: primeiramente, o estresse negativo, ou

distresse; depois, o overtraining; e, por último, o burnout. A Figura 1 representa o contínuo de

adaptações negativas proposto por Silva.

Figura 1: Contínuo de adaptações negativas sofridas pelo atleta.

As abordagens referentes ao burnout no âmbito esportivo foram desenvolvidas a partir

da proposição de modelos teóricos, ou seja, sistemas que explicam os modos de ação da

síndrome em profissionais do esporte. Quatro dos principais modelos descritos na literatura

serão abordados a seguir.

2.2.3. Modelos Teóricos

O primeiro modelo é o proposto por SMITH (1986) e conhecido como Cognitivo-

Afetivo. Para esse autor, o burnout é uma reação ao estresse crônico. Conforme seu ponto de

vista, a síndrome possui componentes físicos, mentais e comportamentais, apresentando como

EQUILÍBRIO DISTRESSE OVERTRAINING BURNOUT

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característica mais marcante a saturação psicológica, emocional e, por vezes, física de uma

atividade anteriormente agradável e procurada.

De acordo com esse modelo teórico, tanto o estresse quanto o burnout apresentam

modos de ação similares, baseados em quatro estágios. No caso do estresse, primeiramente, há

a situação ambiental, que envolve a interação entre as demandas exigidas por ela e os recursos

que o indivíduo dispõe para enfrentá-la. Logo após, aparece a avaliação cognitiva dos fatores

que compõem a situação: demandas, recursos, conseqüências e significados das

conseqüências. O terceiro estágio corresponde às respostas fisiológicas frente à avaliação

cognitiva da situação e, finalmente, ocorre um “output”, ou seja, uma manifestação do

comportamento no sentido de controle e enfrentamento da situação, reação também conhecida

pelo termo “coping” (SMITH, 1986).

O burnout, por sua vez, apresenta os mesmos quatro estágios comentados em relação

ao estresse. Porém, a diferenciação entre ambos está no fato de que o burnout representa as

manifestações ou conseqüências dos componentes situacionais, cognitivos, fisiológicos e

comportamentais do estresse (SMITH, 1986).

Portanto, no contexto situacional do burnout, observa-se, entre outras manifestações, a

sobrecarga resultante das altas e conflitantes demandas, o baixo apoio social, a pouca

autonomia do atleta e as reduzidas recompensas. No âmbito cognitivo, evidencia-se a falta de

auto-valorização do indivíduo e de sentido da atividade para o mesmo, além da percepção de

poucas conquistas significativas. No aspecto fisiológico, surgem as reações de tensão, raiva,

ansiedade, depressão, insônia, fadiga e aumento da suscetibilidade a doenças. Por último, o

componente comportamental apresenta, como conseqüências, atitude rígida e inapropriada,

declínio do rendimento esportivo, dificuldades de relacionamento interpessoal e o abandono

da atividade (SMITH, 1986).

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Um ponto importante comentado nesse modelo sugere que fatores motivacionais e de

personalidade têm capacidade de interferir em todos os componentes de estresse e burnout.

Esses fatores podem ser entendidos como a predisposição para perseguir situações ou

objetivos, pensar, e reagir emocionalmente e comportamentalmente em determinadas

maneiras (SMITH, 1986). Tal realidade enaltece a complexidade da síndrome, enfatizando

que a mesma pode se manifestar de maneiras diferenciadas, ou até mesmo não se manifestar,

dependendo de características individuais.

O autor recorre ao Modelo da Permuta Social de Thibaut e Kelley com o intuito de

diferenciar o abandono das modalidades esportivas pelos atletas devido ao burnout daqueles

motivados por outros aspectos. De acordo com esse modelo, nos casos em que o atleta

abandona sua modalidade em virtude de interesses por outras atividades sociais ou, até

mesmo, por outro esporte, tal abandono não se constitui a partir do burnout. Já no caso da

síndrome, há uma elevação dos custos (sobrecarga) físicos e psicológicos induzidos pelo

estresse gerado ao longo dos treinos e competições. Como as recompensas (satisfação,

alcance de metas, prestígio social, ganhos financeiros) proporcionadas pelo esporte

permanecem no mesmo patamar, o atleta comumente faz a opção pela interrupção da carreira

esportiva competitiva (SMITH, 1986).

O segundo modelo teórico é o de COAKLEY (1992), denominado de Modelo da

Perspectiva Social. Inicialmente, a autora concorda com SMITH (1986) no sentido de que o

burnout está associado ao estresse. Entretanto, suas explicações para as raízes da síndrome

estão voltadas para a organização social do esporte. O burnout, conforme esse modelo, surge à

luz de uma estrutura social que reduz a identidade, a dimensão do “eu” do atleta, a apenas à

modalidade esportiva praticada pelo mesmo. Tal realidade é denominada de desenvolvimento

de um autoconceito “unidimensional”.

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Após realizar entrevistas informais com 15 atletas (nove homens e seis mulheres) com

faixa etária compreendida entre 15 e 19 anos e pertencentes a seis modalidades esportivas

(esqui, patinação artística, ginástica, natação, tênis e beisebol), COACKLEY (1992) concluiu

que o burnout entre jovens atletas de elite é um fenômeno social em que os atletas podem

abandonar o esporte competitivo em virtude de dois fatores:

• A restrição de experiências de vida, levando ao desenvolvimento do autoconceito

“unidimensional”;

• Relacionamentos autoritários dentro e ao redor do esporte que impedem os jovens atletas

de possuir controle sobre suas próprias vidas.

Os dados obtidos também sugerem que os jovens mais propensos ao abandono

esportivo são atletas altamente determinados que têm se envolvido fortemente em esportes

individuais por longos períodos. Tal sugestão se dá em razão da formação de uma identidade

associada exclusivamente à participação esportiva, em que são perpetuados os

relacionamentos sociais diretamente ligados ao esporte, bem como pela dedicação quase

integral de tempo ao desenvolvimento de habilidades especializadas e pela definição de metas

a partir do comprometimento com os treinamentos especializados a longo prazo

(COACKLEY, 1992).

Portanto, somente com a aquisição de novas vivências o esportista tem a possibilidade

de prevenção ou reversão do quadro de burnout. Para que isso aconteça, faz-se necessária uma

transformação do cenário social do esporte atual.

O terceiro modelo tem a autoria de Silva, recebendo a denominação de Modelo de

Resposta Negativa ao Estresse do Treinamento (GOULD e cols, 1996b). Nesse modelo, é

dada maior ênfase à valência física do treinamento. De acordo com Silva, o estresse causado

no atleta pode gerar efeitos tanto positivos quanto negativos. A adaptação positiva aparece em

forma de resultados desejados e alcance dos objetivos do treino. Por outro lado, a adaptação

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negativa leva a um contínuo hipotético de respostas indesejáveis, que se inicia com o

“staleness”4, passando pelo overtraining e se encerrando com o burnout, o qual, para Silva,

representa uma resposta psicofisiológica exaustiva, exibida como resultado de esforços

freqüentes, algumas vezes extremos, mas geralmente ineficientes em lidar com o treinamento

excessivo e com as demandas competitivas (GOULD e cols., 1996b).

Infelizmente, GOULD e cols. (1996b) comentam que não há registros na literatura de

testagens científicas do modelo de Silva, com exceção do artigo original do autor. No estudo

em questão, uma pequena amostra de atletas universitários foi avaliada em relação ao estresse

causado pelo processo de treino. Os dados revelaram que 72% dos participantes reportaram

staleness durante a temporada esportiva, 66% sofreram overtraining duas vezes ao longo de

suas carreiras e 47% dos atletas padeceram da síndrome de burnout com uma média de 1,5

vez durante a carreira universitária.

Os três modelos comentados anteriormente assumem posicionamentos competitivos

entre eles, de acordo com HALL e cols. (1997). Esses autores se referem aos estudos de

GOULD e cols. (1996b) e GOULD, TUFFEY, UDRY e LOEHR (1996a), que tiveram por

objetivo verificar qual o modelo teórico mais apropriado para a compreensão do burnout a

partir do confrontamento de dados de entrevistas de atletas de tênis vitimados pela síndrome,

e de atletas que não possuíam a mesma, com as conceituações de cada modelo teórico. Os

resultados das análises quantitativas e qualitativas apontaram para a adoção do Modelo

Cognitivo-Afetivo de SMITH (1986) nas futuras pesquisas na área, apesar do Modelo da

Perspectiva Social de COACKLEY (1992) não ter sido totalmente ignorado.

Contrapondo-se a essa visão que valoriza apenas um dos modelos teóricos acerca da

síndrome, em detrimento dos demais, HALL e cols. (1997) afirmam que é possível realizar

uma aproximação integrada dos Modelos Cognitivo-Afetivo, da Perspectiva Social e de

4 Falha inicial dos mecanismos de adaptação corporal ao enfrentar o estresse psicofisiológico (SILVA 1990,citado por GOULD e cols., 1996b).

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Resposta Negativa ao Estresse de Treinamento, que denominaram de Modelo Social-

Cognitivo Motivacional. Para que isso aconteça, um novo sistema, baseado na motivação,

precisa ser criado. Segundo os autores, o burnout implica em um processo no qual o padrão de

adaptação motivacional do atleta sofre, de alguma forma, uma desadaptação ou má adaptação

como resultado do estresse crônico.

Esse modelo já havia sido empregado para explicar tanto o envolvimento quanto o

desgaste do indivíduo com relação ao esporte, e se fundamenta em dois tipos de objetivos

relativos ao contexto da realização esportiva: a orientação para a tarefa e a orientação para o

ego.

A orientação para a tarefa está centrada no interesse intrínseco, ou seja, o indivíduo

busca sempre desafiar a si próprio, esforçando-se e demonstrando persistência para a melhora

pessoal. Desse modo, o fracasso, quando acontece, não incide de forma impactante sobre a

auto-estima do atleta, pois o mesmo não realiza o julgamento de sua habilidade se

comparando aos seus adversários (HALL e cols., 1997).

Por outro lado, a orientação para o ego está centrada na superação de um ou mais

oponentes, no sucesso obtido e exaltado para um número significativo de pessoas, os

objetivos do atleta têm origens externas ao mesmo, como o reconhecimento público, a fama e

as recompensas financeiras. Esse tipo de orientação está diretamente relacionado com o

abandono esportivo, visto que o atleta tende a procurar outras atividades, nas quais o sucesso

seja conquistado de maneira mais rápida (HALL e cols., 1997).

Portanto, atletas orientados para o ego apresentam maiores possibilidades de aquisição

da síndrome, e o mecanismo de ação do burnout acontece da seguinte forma: no início de sua

carreira esportiva, há um relativo sucesso, e a postura ego-orientada parece ser uma boa opção

a ser seguida, pois ainda há raros questionamentos acerca da habilidade atlética do indivíduo.

Com o surgimento dos primeiros fracassos e da exposição de uma habilidade inadequada, o

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esportista tenta remediar a situação intensificando seu treinamento. Porém, ao perceber que

tanto o esforço aplicado nos treinamentos quanto sua habilidade adquirida são incompatíveis

com seus objetivos propostos para o esporte, torna-se aparente o processo de má adaptação

motivacional. Com isso, o estresse passa a se tornar crônico, bem como as situações

competitivas são percebidas como ameaçadoras (HALL e cols., 1997).

Dentre os quatro modelos teóricos abordados anteriormente, o primeiro modelo

comentado (Modelo Cognitivo-Afetivo), de autoria de SMITH (1986), apresenta-se como o

mais adequado para servir de referencial teórico para a presente investigação científica, visto

que enfatiza a abordagem cognitiva e ressalta a percepção e os sentimentos do atleta em

relação à síndrome.

2.2.4. Dimensões (Subescalas) de Burnout no Esporte

Por se caracterizar como uma síndrome multidimensional, o burnout está

fundamentado em três dimensões ou subescalas, que são: a exaustão emocional, a realização

pessoal e a despersonalização (MASLACH e JACKSON, 1981). Cabe ressaltar que pequenas

adaptações nessas subescalas foram feitas pelos pesquisadores das Ciências do Esporte,

visando à aplicação das teorias do burnout geral para as situações específicas do ambiente

esportivo (RAEDEKE, 1997; RAEDEKE e SMITH, 2001). A seguir, cada uma dessas

subescalas será conceituada e comentada, enfatizando-se o seu emprego na compreensão do

burnout enquanto fenômeno inerente ao esporte contemporâneo.

Enquanto dimensão de burnout geral, a exaustão emocional, associada com tensão

psicológica e fisiológica (LEE e ASHFORTH, 1990), foi denominada, no esporte, de

exaustão física e emocional, a qual está associada às intensas demandas dos treinos e

competições (RAEDEKE e SMITH, 2001). Sabe-se que tais demandas advindas da rotina

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atlética interferem no bem-estar físico, psicológico e social dos esportistas. Portanto, reações

como ansiedade, tensão e estresse, além de cansaço físico e psicológico, representam essa

subescala de burnout.

A subescala realização pessoal foi primeiramente descrita por MASLACH e

JACKSON (1981) como sentimentos de competência e conquista de sucesso no trabalho com

pessoas. Logo, diferentemente das duas outras subescalas, a realização pessoal teria uma

conotação positiva. Por essa razão, autores como LEE e ASHFORTH (1990) a intitularam de

reduzida realização pessoal, nomenclatura essa que a torna diretamente relacionada à

síndrome de burnout. No esporte, o termo mais empregado é reduzido senso de realização

esportiva, interpretado, fundamentalmente, em termos de insatisfação quanto à habilidade e

destreza esportiva (RAEDEKE e SMITH, 2001). Exemplos dessa dimensão são a falta de

progressos no desempenho atlético e percepções de falta de sucesso e falta de talento

(GOULD e cols., 1996a).

A despersonalização é associada à estafa psicológica e à fuga como método de

enfrentamento (LEE e ASHFORTH, 1990), ou seja, um sujeito decidiria por se manter

afastado e indiferente em relação às pessoas para as quais ele exerce sua profissão, como, por

exemplo, pacientes ou clientes, na tentativa de não sofrer de modo mais intenso as

conseqüências do burnout. No campo esportivo, entretanto, a melhor nomenclatura

encontrada para definir tal dimensão de burnout foi desvalorização esportiva, uma vez que

RAEDEKE (1997) associou a despersonalização a uma atitude negativa e indiferente frente a

algo importante em determinado domínio. Portanto, quando o atleta para de se preocupar com

o seu rendimento e com o seu envolvimento dentro do meio esportivo, tem início um processo

similar ao que ocorre na despersonalização, porém em relação à performance esportiva, e não

mais em relação a outras pessoas. Dentre as principais manifestações dessa subescala,

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encontram-se falta de interesse, falta de desejo e falta de preocupação em relação ao esporte

(SILVA, 1990, citado por RAEDEKE e SMITH, 2001).

Portanto, após a revisão das dimensões de burnout no ambiente esportivo, passaremos

sempre a utilizar, a partir desse ponto, as nomenclaturas exaustão física e emocional, reduzido

senso de realização esportiva e desvalorização esportiva para nos referirmos às subescalas.

Ao longo dos próximos tópicos, a síndrome de burnout será comentada conforme sua

incidência em diferentes profissionais da área da Educação Física e Esportes.

2.2.5. Burnout em Professores de Educação Física

Os professores de Educação Física Especial formaram o universo da pesquisa de

DEPAEPE, FRENCH e LAVAY (1985). A hipótese inicial do estudo consistia em prováveis

apresentações de altos níveis de burnout entre esses professores nos Estados Unidos, em

virtude da responsabilidade aumentada, devido à lei 94-142, de 1975, que promoveu o Ato

para todas as Crianças Deficientes, bem como pelos espaços físicos inadequados disponíveis

para suas aulas. Tais hipóteses foram confirmadas após a aplicação do MBI. Outra descoberta

interessante diz respeito à variação da freqüência dos sintomas de burnout ao longo do ano:

durante o período letivo, a incidência dos mesmos é elevada.

Em um outro estudo, VILORIA, PAREDES e PAREDES (2003) verificaram a

incidência da síndrome em 140 professores de Educação Física da cidade de Mérida

(Venezuela), onde constataram níveis baixos de burnout em 41,4% da amostra, níveis médios

em 48,6% e níveis altos em 10%. Também foi constatada a relação das variáveis idade, nível

acadêmico, tempo livre e condição empregatícia do cônjuge com as três dimensões da

síndrome.

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Comparando-se as duas pesquisas referidas, foi possível observar maiores índices de

burnout entre os professores de Educação Física Especial. Isso se deve, supostamente, a

elevadas cargas de ordem afetiva e emocional impostas pelo convívio com crianças e jovens

portadores de necessidades educativas especiais (PNEE). Por outro lado, os resultados

apresentados mostraram que os professores de classes não-especiais também não estão imunes

contra a aquisição da síndrome.

2.2.6. Burnout em Diretores Esportivos de Escolas

Apesar de não atuarem diretamente no palco das competições esportivas, como

acontece com os atletas, treinadores e árbitros, os diretores esportivos escolares podem

apresentar quadro característico da síndrome de burnout. O principal estudo publicado na

literatura a esse respeito consistiu em uma análise de estresse e burnout em 249 diretores

esportivos de “high schools” (escolas equivalentes ao ensino médio no Brasil) pertencentes a

um Estado do meio-oeste norte-americano (MARTIN, KELLEY e EKLUND, 1999). Através

da aplicação do MBI-ES, com pequenas alterações em alguns itens, procurando-se melhor

contextualização dos mesmos, verificou-se que 70,6% dos participantes apresentaram índices

moderados ou elevados em relação à subescala exaustão emocional, ao passo que os mesmos

escores referentes às subescalas despersonalização e reduzida realização pessoal foram de

49,5% e 49,8%, respectivamente. Os autores concluíram, portanto, que as percepções de

burnout em diretores atléticos parecem residir predominantemente em sentimentos de

exaustão emocional. Outro achado da pesquisa revelou que, tanto os fatores pessoais, como a

persistência e o vigor, quanto os fatores situacionais, como as responsabilidades inerentes à

profissão, influenciaram na ocorrência de burnout entre os diretores esportivos escolares.

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2.2.7. Burnout em Árbitros

Os árbitros consistiram na amostra do objeto de estudo de WEINBERG e

RICHARDSON (1990). Os autores argumentam que a empolgação inicial dos árbitros com o

esporte cede lugar, com o passar do tempo, aos sentimentos de estresse oriundos da profissão.

Como vítimas desse processo, são listados famosos oficiais da arbitragem mundial. A

conclusão do texto é a de que um percentual significativo dos árbitros que sofrem de estresse

físico ou psicológico foram afetados pelo burnout.

Discorrendo sobre a investigação do burnout em árbitros, SILVÉRIO e SILVA

(1996), após revisarem duas pesquisas da área, concluíram que “o medo de falhar é o preditor

mais forte do esgotamento e que os conflitos interpessoais aumentam a percepção de

esgotamento” (p. 514).

Apesar da pouca quantidade de estudos existentes envolvendo a psicologia da

arbitragem, é visível o padecimento dessa classe com os sintomas do burnout, pois quando os

árbitros falham, transformam-se em vilões, culpados pelo mau resultado de um atleta ou

equipe. Contraditoriamente, mesmo quando desenvolvem bom trabalho, dificilmente acabam

sendo reconhecidos a contento.

2.2.8. Burnout em Treinadores

Até o presente momento, a classe profissional pertencente ao meio esportivo mais

avaliada em relação ao burnout é a dos treinadores. Existe uma gama de artigos científicos

que objetivaram relacionar variáveis demográficas (especialmente o gênero), cognitivas e

comportamentais com a ocorrência da síndrome.

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Quanto às diferenças entre os gêneros, os resultados de DALE e WEINBERG (1989)

indicaram níveis significativamente mais elevados da dimensão despersonalização entre os

indivíduos do sexo masculino. Complementando essa informação, VEALEY, UDRY,

ZIMMERMAN e SOLIDAY (1992) afirmaram que as treinadoras, por sua vez, mostraram

maiores índices de exaustão emocional do que seus pares do sexo masculino.

Abordando os fatores cognitivos, observou-se em um estudo (VEALEY e cols., 1992)

que existem oito variáveis cognitivas preditoras de burnout, a saber: recompensas percebidas,

valor da função percebida, excitação, sobrecarga, controle, suporte e sucesso percebidos. Na

avaliação geral, tais itens estavam atrás apenas da ansiedade-traço, preditora maior da

síndrome em treinadores.

Em relação aos laços existentes entre estilos de liderança do treinador e burnout,

DALE e WEINBERG (1989) estudaram profissionais pertencentes a escolas de ensino médio

dos Estados Unidos, percebendo que os líderes mais humanistas, aqueles que valorizavam,

entre outros aspectos, a amizade, o respeito e a confiança, apresentaram altas pontuações no

MBI para as dimensões exaustão emocional e despersonalização.

Para que haja prevenção e redução dos quadros de burnout, GARCÍA UCHA (2000)

recomenda um controle sistemático do estado de saúde dos treinadores, bem como o

melhoramento do estilo de enfrentamento da percepção de estresse, o treinamento de técnicas

de suavização do estresse, a comunicação efetiva entre treinadores e seus supervisores e,

finalmente, o aprofundamento dos estudos relacionados às características de personalidade.

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2.2.9. Burnout em Atletas

Na literatura científica internacional, desportistas de variadas modalidades já foram

analisados em relação às manifestações de burnout. No golfe, COHN (1990) entrevistou 10

escolares competitivos. Após classificar em temas as respostas dos mesmos, verificou que as

causas de burnout citadas com maior freqüência foram o excesso de treinos e jogos, a

ausência de alegria e satisfação e, por último, o excesso de cobrança de bom desempenho

oriunda de si próprio, do treinador e dos pais.

No tênis de quadra, GOULD e cols. (1996b) compararam 30 atletas da categoria júnior

vitimados pela síndrome com 32 tenistas-controle. Alguns dos resultados com diferenças

significativas apontaram, para os tenistas com burnout, menores índices de foco no treino,

motivação externa, interpretação positiva e estratégias de “coping”, além de maiores índices

de desmotivação e desejo de abandono esportivo. Em outra pesquisa complementar, os

mesmos autores (GOULD e cols., 1996a) diagnosticaram sintomas mentais e físicos em 10

tenistas. Encontravam-se entre os sintomas psicológicos os seguintes itens: baixa

motivação/energia, sentimentos e afetividade negativos, sentimentos de isolamento,

problemas de concentração, instabilidade emocional e, contraditoriamente, motivação para

competir, porém não necessariamente para treinar. Quanto aos sintomas físicos, foram

mencionadas lesões, doenças, fadiga e cansaço.

Percebendo o burnout como um fenômeno atual e pertinente entre os esportistas,

GARCÉS DE LOS FAYOS e MEDINA (2002) elaboraram princípios básicos a serem

aplicados em programas de prevenção e intervenção. Na prevenção, são necessárias medidas

como estruturação racional do treinamento, aplicação de treinamento psicológico e aumento

da idade mínima para participação em competições profissionais. No âmbito da intervenção,

os autores julgam relevante avaliar os impactos da síndrome na vida pessoal, esportiva e

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familiar-social dos atletas, assim como sincronizar o relacionamento do psicólogo do esporte

com os sujeitos afetados. A prevenção e o tratamento da síndrome de burnout serão abordados

com detalhes no sub-item 2.2.12 – “Prevenção e Controle”.

2.2.10. Causas e Conseqüências do Burnout em Atletas

As causas do burnout estão relacionadas principalmente às dificuldades de

relacionamento com o treinador, altas demandas competitivas, monotonia dos treinamentos,

falta de habilidades esportivas, decepção das expectativas iniciais com os resultados finais

obtidos, interesses financeiros dos pais, ausência ou reduzida vida pessoal fora do esporte,

falta de apoio de familiares e amigos, excessivas demandas de energia e tempo, sentimento de

isolamento frente à equipe técnica e, finalmente, carência de reforços positivos pelos

resultados conseguidos (GARCÉS DE LOS FAYOS e VIVES BENEDICTO, 2002).

Por outro lado, as conseqüências da síndrome atingem a dimensão física, gerando

redução dos níveis de energia e aumento da suscetibilidade tanto a doenças quanto a

distúrbios do sono; a dimensão comportamental, originando sentimentos de depressão,

isolamento e raiva (SMITH, 1986); além da dimensão cognitiva, provocando percepções de

sobrecarga, abandono e baixa realização, juntamente com o tédio (FENDER, 1989).

Concluindo, o burnout em atletas se origina de modo mais marcante a partir da

incompatibilidade dos planos e metas iniciais dos mesmos na modalidade esportiva com as

demandas crônicas de cunho sócio-psico-físico do próprio esporte, podendo ocasionar, como

uma das características mais relevantes, o abandono precoce da modalidade pelo esportista.

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2.2.11. Burnout e Motivação

Ao ser entendida como uma síndrome resultante da percepção de incompatibilidade

entre as expectativas do atleta e seu rendimento real, bem como ao se caracterizar por perda

de entusiasmo e energia, diversos autores (GARCÉS DE LOS FAYOS e CANTON, 1995;

GARCÉS DE LOS FAYOS e VIVES BENEDICTO, 2002 e 2005) argumentam que o

burnout é fortemente influenciado pela motivação, ou melhor, pela perda da motivação em

relação aos motivos que haviam levado o indivíduo a iniciar e a se manter na prática

esportiva.

Essa estreita relação encontrada entre motivação e burnout serviu de base para a

proposição de CRESSWELL e EKLUND (2005c) ao fundamentarem a explicação do

fenômeno através da Teoria da Auto-Determinação, de autoria de Ryan e Deci. De acordo

com essa Teoria, o bem estar do ser humano está sustentado na satisfação de três necessidades

básicas: autonomia, competência e relações humanas. Por outro lado, o fracasso em atingir

tais necessidades leva à percepção de ausência de autodeterminação, predisposição a

enfermidades e demais conseqüências negativas. Ao longo de um contínuo, a desmotivação

(ausência de motivação) se constitui na última forma de motivação em relação à

autodeterminação. Ela se dá pela perda de satisfação das necessidades psicológicas e/ou pela

crença de que o esforço empregado na busca de determinado objetivo não será suficiente para

se obter êxito. Prosseguindo nesse contínuo, tem-se a motivação extrínseca, fundamentada na

obtenção de compromisso e empenho através da perseguição de resultados conseqüentes ao

próprio envolvimento na atividade em si (por exemplo, a conquista de posição de destaque na

mídia e de prêmios volumosos em dinheiro). Na outra extremidade do contínuo da

autodeterminação, aparecem as duas formas de motivação instrínseca, uma associada à

realização pessoal (como, por exemplo, a satisfação em aprender novas habilidades) e outra

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relacionada à estimulação pessoal (como o prazer em vivenciar experiências excitantes e

desafiadoras).

Ao avaliarem 199 jogadores profissionais de rúgbi da Nova Zelândia, CRESSWELL e

EKLUND (2005c) confirmaram a suposição de que a desmotivação está positivamente

relacionada com todas as subescalas de burnout. Surpreendentemente, a motivação extrínseca

não apresentou correlações significativas com as características da síndrome, pois os autores

esperavam que, por se tratar de atletas profissionais que vivem em um ambiente de constantes

recompensas materiais, tal modo de motivação fosse decisivo na regulação do burnout. Por

outro lado, a motivação instrínseca se relacionou de modo significativamente negativo com as

subescalas reduzido senso de realização e desvalorização esportiva.

De modo geral, os autores concluíram que a frustração crônica na tentativa de alcançar

as necessidades básicas para o bem estar pode levar a percepções reduzidas de

autodeterminação e ao burnout, evidenciando a Teoria da Auto-Determinação como adequada

para o entendimento do burnout em atletas. Assim sendo, a associação entre motivação e

burnout pode ser descrita de forma inversamente proporcional, na qual altas representações de

motivação intrínseca e autodeterminação conduzem a manifestações mínimas ou nulas de

burnout, enquanto que reduzida percepção de autodeterminação e desmotivação podem gerar

elevados índices de burnout.

Ao tratarem do abandono de atletas de alto rendimento, GARCÉS DE LOS FAYOS e

VIVES BENEDICTO (2005) voltam a associá-lo ao burnout, colocando o aspecto

motivacional como pano de fundo dessa realidade. Para os autores, a síndrome seria um “fogo

interno” que consome a motivação do esportista, ou seja, um excessivo esgotamento

emocional.

GARCÉS DE LOS FAYOS e CANTON (1995) afirmam que, para se desenvolver

uma atividade, faz-se necessária a existência de um compromisso com a mesma. Entretanto,

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quando as situações geradoras de estresse passam a se tornar permanentes, fica difícil cobrar

do esportista para que mantenha seu compromisso com o esporte, em virtude dele não estar

obtendo o grau de satisfação pessoal necessário através da atividade. Essa seria a razão do

abandono esportivo se constituir na conseqüência máxima da síndrome, pois a hipótese de

deixar o esporte se transforma na “única via de solução” para a saturação percebida pelo

atleta.

De modo conclusivo, GOULD (1996), em um comentário esclarecedor, definiu

burnout como a motivação destorcida, torta, inadequada. Portanto, percebe-se que as variáveis

motivacionais se encontram estreitamente relacionadas à percepção da síndrome de burnout,

podendo-se inferir, então, a razão pela qual a monotonia dos treinos e a ausência dos

resultados esperados conduzem à saturação emocional.

No próximo sub-item, serão comentados os métodos de prevenção e controle do

burnout em atletas.

2.2.12. Prevenção e Controle

Por se tratar de uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas, que, dentre outras

conseqüências, pode levar à exaustão, saturação em relação à modalidade esportiva e, até

mesmo, ao abandono do esporte competitivo, modos de prevenção de burnout se tornam

necessários. Por outro lado, quando o diagnóstico da síndrome já se estabeleceu em

determinado indivíduo, também existem técnicas de tratamento da mesma, com o objetivo de

promover a recuperação do atleta e seu eventual retorno ao melhor nível competitivo nos

aspectos físico, técnico, tático e, principalmente, psicológico.

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Segundo TAYLOR (1991), prevenir e promover a recuperação de atletas com a

síndrome de burnout é um processo longo que se desenvolve a partir de sete etapas, as quais

aparecem no Quadro 2 a seguir:

Quadro 2: Etapas de prevenção e recuperação da síndrome de burnout em atletas (Fonte:TAYLOR, 1991).

1. Entender a natureza do estresse e do burnout;

2. Identificar e avaliar as demandas recebidas;

3. Identificar e avaliar as capacidades para realizar com eficiências tais demandas;

4. Aprender uma técnica de relaxamento;

5. Estabelecer planos e objetivos para o desenvolvimento das habilidades físicas e

psicológicas necessárias para aumentar a habilidade de enfrentar as demandas;

6. Estabelecer objetivos para a vida toda, e;

7. Adotar ou manter um estilo de vida saudável.

Como o autor desenvolveu uma proposta idêntica tanto para a recuperação quanto para

a prevenção, não foi possível distinguí-las. Entretanto, a partir de agora, esses termos serão

tratados separadamente, procurando-se entendê-los de modo mais específico.

No plano da prevenção, GONZÁLEZ (1997), em uma abordagem complementar à de

TAYLOR (1991), enfatiza os seguintes itens: atenção à duração da temporada de competição,

a fim de que haja tempo suficiente para a recuperação física e emocional do atleta; evitar a

monotonia das sessões de treinamento, tornando-as mais divertidas e prazerosas para o

esportista; e a supervisão cuidadosa das mudanças introduzidas nas técnicas ou nos

equipamentos utilizados pelo atleta.

Já GARCÉS DE LOS FAYOS e MEDINA (2002) propõem oito princípios a serem

seguidos, a saber: sistema de avaliação contínuo; estruturação racional do treinamento

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esportivo; estabelecimento planificado dos períodos de treinamento psicológico; motivação

sistemática do esportista em relação a sua modalidade; frear a tempo o espiral de saturação

que conduz ao abandono; promover modificações potenciais na estrutura social do esporte

competitivo; propor um aumento da idade mínima exigida para praticar esporte competitivo e

participar de competições internacionais; e reduzir algumas competições, enfatizando-se o

equilíbrio entre os períodos de carga e recuperação.

De um modo geral, há certo consenso em relação a algumas medidas a serem tomadas

na prevenção do burnout, como a elaboração de cargas de trabalhos distribuídas

equilibradamente ao longo da temporada, a diversificação dos treinos, rompendo-se com a

monotonia do trabalho, a ênfase constante na motivação do atleta, evitando-se a saturação do

indivíduo frente à atividade esportiva, e as sugestões de modificações na estrutura social do

esporte contemporâneo, caracterizada pelo excesso de competições e viagens e afastamento

do convívio com a família e demais pessoas significativas.

No âmbito do tratamento da síndrome de burnout no esporte, GONZÁLEZ (1997)

propõe uma estratégia de recuperação frente ao burnout na qual, primeiramente, devem-se

identificar as causas primárias que estão levando o atleta a padecer da síndrome e, com isso,

eliminar qualquer tipo de causas físicas, técnicas ou de equipamentos (no caso de

modalidades esportivas como a esgrima e o salto com vara), dando ênfase aos aspectos

psicológicos. O segundo momento consiste em uma reprogramação psicológica, cujas vias de

intervenção são duas: o descanso e a elaboração de um programa que acelere a eliminação do

burnout. O descanso consiste na retirada do atleta do cenário competitivo, com os objetivos de

romper com a atmosfera emocional que se gera entre os desportistas, afastá-lo das pressões

oriundas dessa atmosfera e “recarregar as baterias” do indivíduo, facilitando o seu retorno às

competições. Quanto à programação psicológica, o procedimento considerado mais eficaz,

segundo o autor, é o restabelecimento de metas a curto prazo (uma ou duas semanas), metas

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essas que possam ser alcançadas, sirvam de incentivo à auto-estima e, principalmente, sejam

divertidas, contrastando com a monotonia dos treinamentos rotineiros e com o cansaço da

temporada. Essa especificação dos objetivos pode se dar das seguintes maneiras

(GONZÁLEZ, 1997): estabelecimento de objetivos de treinamento; estabelecimento de

objetivos de rendimento; assessoramento emocional por parte de um psicólogo esportivo

competente; e avaliação do tratamento.

Em uma perspectiva semelhante à de GONZÁLEZ (1997), GARCÉS DE LOS

FAYOS e MEDINA (2002) sugerem, no desenvolvimento de programas de intervenção em

atletas com a síndrome de burnout, um sistema de avaliação da mesma, a partir de um

instrumento psicométrico confiável, e também a detecção da área de intervenção frente ao

atleta, ou seja, analisar em quais dos aspectos (pessoal, esportivo ou familiar-social) o

indivíduo se encontra mais afetado pela síndrome. Na opinião dos autores, o psicólogo do

esporte deve ter o perfil profissional adequado para intervir em esportistas afetados por

problemas psicológicos, como é o caso do burnout, ou seja, possuir conhecimentos

específicos da psicologia clínica. Entretanto, quando isso não for possível, os autores

argumentam favoravelmente ao trabalho coordenado de ambos os profissionais, visto que o

psicólogo do esporte possui os conhecimentos referentes à carreira atlética do indivíduo,

atuando como colaborador na intervenção psicológica.

Concluindo, observa-se que, para um tratamento eficaz do burnout, é primordial que

se detecte o que está levando o sujeito a padecer da síndrome, analisando-se os fatores sociais,

psicológicos e fisiológicos. A partir de então, sugere-se o emprego do descanso, de

reestruturação dos objetivos no esporte e da intervenção psicológica.

A seguir, serão comentados os instrumentos de avaliação da síndrome de burnout

existentes no contexto esportivo.

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2.2.13. Instrumentos de Mensuração no Esporte

Assim como acontece com as pesquisas envolvendo as demais profissões, o meio

esportivo também se utiliza quase que exclusivamente do MBI e de outros inventários

generalistas como instrumentos de identificação e mensuração de burnout em indivíduos. Ao

estudar a síndrome em treinadores, GARCÍA UCHA (2000), por exemplo, trabalhou com o

Inventário de Potencial de Burnout de Potter, um modelo genérico de mensuração.

Buscando a evolução nesse sentido, um teste que procurou respeitar as características

do contexto esportivo foi o Inventário de Burnout para Árbitros, desenvolvido por

WEINBERG e RICHARDSON (1990). Tal instrumento, entretanto, configura-se como uma

adaptação do MBI, sendo que os termos genéricos foram substituídos por palavras inerentes à

profissão de árbitro. GARCÉS DE LOS FAYOS (1999) também realizou uma adaptação do

MBI, porém para aplicação em esportistas, considerando-o como o principal método de

avaliação dessa síndrome em atletas.

Um instrumento de identificação e mensuração da síndrome de burnout que contempla

a validação ecológica para o ambiente esportivo, mais especificamente para a realidade dos

atletas, intitula-se “Athlete Burnout Questionnaire” (ABQ) (RAEDEKE e SMITH, 2001),

cuja tradução apropriada para a língua portuguesa significa “Questionário de Burnout para

Atletas” (QBA). O instrumento em questão simbolizou o produto final de três estudos que

objetivaram elaborar e validar uma medição confiável de burnout em atletas. No primeiro

trabalho, foi desenvolvido um questionário de burnout para nadadores (RAEDEKE, 1997),

que representou o primeiro modelo do atual ABQ. O estudo seguinte teve como propósito

verificar as propriedades psicométricas de uma versão modificada do modelo citado.

Finalmente, o terceiro estudo visou a cross-validação do ABQ em uma amostra composta por

atletas pertencentes a diferentes modalidades esportivas. Devido a isso, a palavra “natação”

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foi substituída nos itens do questionário pelas palavras “esporte” ou “performance”

(RAEDEKE e SMITH, 2001). A versão definitiva do ABQ contempla três dimensões ou

construtos de burnout: exaustão física e emocional, reduzido senso de realização no esporte e

desvalorização da modalidade esportiva.

De modo a concluir essa revisão de literatura, pode-se afirmar que a síndrome de

burnout se constitui em um fenômeno consolidado na esfera da Psicologia Organizacional.

Por outro lado, no âmbito esportivo, uma grande gama de estudos têm sido publicados nos

últimos anos. Dentre os variados temas associados à síndrome, a elaboração e a aplicação de

instrumentos psicométricos válidos e harmonizados com as especificidades da realidade

esportiva são dois aspectos de considerável relevância para as Ciências do Esporte.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

Pelo fato do instrumento psicométrico a ser utilizado proceder de outro idioma, o

inglês, torna-se relevante o processo de adaptação cultural da versão do questionário para o

português. Pretende-se, com isso, respeitar a realidade sócio-cultural dos atletas brasileiros

através da elaboração de um questionário compreensível e condizente com o ambiente

esportivo nacional.

De acordo com GIL (2002), uma pesquisa científica pode ser classificada tanto

conforme os objetivos gerais quanto em relação aos procedimentos técnicos utilizados. A

presente pesquisa é, quanto aos seus objetivos gerais, do tipo descritiva. Segundo o mesmo

autor, um dos objetivos primordiais desse tipo de pesquisa consiste no estabelecimento de

relações entre as variáveis, e uma de suas características mais significativas é o emprego de

questionário como técnica padronizada de coleta de dados. Quanto aos procedimentos

técnicos utilizados, pode-se considerar que essa pesquisa é do tipo levantamento, pois,

conforme a classificação de GIL (2002), caracteriza-se “pela interrogação direta das pessoas

cujo comportamento se deseja conhecer” (p. 50).

Uma outra classificação em relação aos métodos empregados pode ser feita,

caracterizando-se uma pesquisa como qualitativa ou quantitativa. Segundo Stake (1983) e

Alves (1991), citados por SILVA (1996), a diferença reside na questão da ênfase que cada

uma delas confere aos aspectos dos objetos investigados. Nesse sentido, os autores

“caracterizam a pesquisa quantitativa por extrair dados de um grande número de casos sobre

um pequeno número de variáveis, confrontando-a à pesquisa qualitativa que obtém dados de

um pequeno número de casos sobre um grande número de variáveis” (p. 88). Em se tratando

de pesquisa qualitativa, também “enfatiza-se a compreensão da singularidade e a

contextualidade de fatos e eventos” (p. 88).

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No presente estudo, verificou-se que havia a necessidade da presença dos dois tipos de

análise. A abordagem quantitativa se fez relevante em virtude do objetivo de se validar um

instrumento para a população de atletas brasileiros de alto rendimento. Frente ao número

elevado de esportistas avaliados, os dados precisavam ser extraídos a partir dessa modalidade

de pesquisa. Por outro lado, a importância do método qualitativo para a presente investigação

está pautada nesse trecho de SILVA (1996, p. 92):

[...] tem se apresentado como uma modalidade de pesquisaextremamente útil para a psicologia visto que permite o estudo deconceitos relativos a sentimentos, emoções (dor, sofrimento, beleza,esperança, amor) da forma como são experienciadas pelas pessoas.

3.1. Amostra

Participaram da pesquisa 200 atletas, de ambos os sexos, sendo 123 homens e 77

mulheres. Por se tratar de um estudo envolvendo atletas brasileiros de alto rendimento, ficou

definido que os esportistas avaliados tivessem nacionalidade brasileira, bem como

competissem em eventos de nível nacional e internacional. Os sujeitos avaliados pertenciam a

12 modalidades esportivas, sendo cinco coletivas (futebol, futsal, voleibol, handebol e

basquetebol) e sete individuais (boxe, tae kwon do, judô, natação, triatlo, ginástica olímpica e

atletismo). A média de idade do grupo foi de 22,63 ± 4,87 anos. O início na prática esportiva

se deu, em média, aos 10,81 ± 3,72 anos, e o tempo médio como atletas federados(as) ou

profissionais foi de 8,88 ± 5,09 anos (no futebol, foi coletado o tempo como jogador

profissional, ao invés do tempo como atleta federado). É importante ressaltar que todos os

participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando

com sua participação na pesquisa, e tiveram seus nomes mantidos sob rigoroso sigilo ao longo

de todos os procedimentos do estudo.

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A escolha por atletas nacionais de alto rendimento como sujeitos participantes da

amostra da pesquisa se fundamenta em dois motivos principais: primeiro, a nacionalidade

brasileira se faz importante, tendo-se em conta que o objetivo geral do presente estudo

consiste em validar um instrumento psicométrico, o QBA, para a língua portuguesa. Atletas

de outras nacionalidades que atuam, momentaneamente, no Brasil poderiam não representar

adequadamente a realidade esportiva nacional, pois são esportistas oriundos de contextos

sócio-culturais e esportivos diferentes dos encontrados na sociedade brasileira; em segundo

lugar, os indivíduos que competem em nível nacional e internacional se encontram expostos a

altas demandas competitivas, lesões, e aparecimento constante na mídia, situações que podem

se constituir em elementos precursores de burnout. Portanto, sujeitos de alto rendimento

esportivo lidam com mais intensidade com os fatores que podem causar a síndrome, em

comparação com seus pares de nível competitivo local ou estadual.

A principal limitação metodológica desse estudo consistiu no aspecto temporal da

aplicação da pesquisa. Em virtude dos informantes pertencerem a diferentes modalidades, os

mesmos se encontravam em estágios diversificados em relação ao macrociclo de

treinamentos. Havia esportistas que estavam passando pelos períodos preparatórios básico,

específico, pré-competitivo, competitivo e pós-competitivo, além de outros em férias.

Dentre os avaliados, há esportistas que competiram nos Jogos Olímpicos de Atenas

(Grécia) em 2004, sendo que alguns dos participantes alcançaram posições de destaque no

evento, aparecendo entre os 10 melhores de suas modalidades. Além dos mencionados

anteriormente, outros atletas têm ou já tiveram passagens pela seleção nacional de seus

respectivos esportes, o que os credenciaram a participar de campeonatos sul-americanos, pan-

americanos e mundiais, obtendo diversos êxitos nas disputas.

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Na Tabela 1 aparece o número de atletas de cada modalidade esportiva separados por

gênero. A Tabela 2 representa a média e o desvio padrão da idade, idade de início no esporte

em que pratica e tempo como atleta federado(a) ou profissional.

Tabela 1: Distribuição de freqüência de atletas por modalidade esportiva e gênero.ModalidadeEsportiva

Masculino Feminino Total

Atletismo 0 1 1Basquetebol 10 6 16

Boxe 2 0 2Futebol 37 0 37Futsal 18 0 18

Ginástica Olímpica 7 0 7Handebol 17 10 27

Judô 7 0 7Natação 9 12 21

Tae Kwon Do 2 0 2Triatlo 2 0 2

Voleibol 12 48 60Total 123 77 200

Tabela 2: Média e desvio padrão, em anos, da idade, idade de iniciação no esporte em quepratica e tempo como atleta federado(a) ou profissional.

N=200 Idade Idade de iniciação noesporte que pratica

Tempo como atletafederado(a) ou profissional

Média 22,63 10,81 8,88Desvio padrão 4,87 3,72 5,09

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3.2. Instrumento

O instrumento original utilizado foi o “Athlete Burnout Questionnaire” (ABQ)

(RAEDEKE e SMITH, 2001). Tal questionário é composto por 15 itens que avaliam a

freqüência de sentimentos relativos ao burnout. Cada item se refere a uma subescala ou

construto da manifestação de burnout em atletas (RAEDEKE, 1997): exaustão física e

emocional; reduzido senso de realização esportiva e desvalorização da modalidade esportiva.

As respostas são dadas em uma escala do tipo Likert que varia de “Quase nunca” (1) a “Quase

sempre” (5), sendo as freqüências intermediárias as seguintes: “Raramente” (2), “Algumas

vezes” (3) e “Freqüentemente” (4). Os resultados são atribuídos a cada subescala, obtidos a

partir da média aritmética das respostas dadas aos cinco itens correspondentes a cada

dimensão de burnout, e a um valor de burnout total calculado pela média aritmética de todos

os 15 itens do instrumento. A interpretação dos escores se dá através da utilização da variação

de freqüência de sentimentos. Isso significa que, caso um atleta obtenha uma média de 2,5

para a dimensão exaustão física e emocional, considera-se que esse indivíduo apresenta

sentimentos relacionados a tal subescala com freqüência de raramente a algumas vezes. Tanto

o método de obtenção dos resultados através das médias dos itens como a interpretação de tais

valores foram propostos pelos autores do instrumento psicométrico (RAEDEKE e SMITH,

2001).

Em virtude de apresentar uma consistência interna aceitável (coeficientes α de

Cronbach para as subescalas de burnout variando entre 0,85 e 0,91), confiabilidade teste-

reteste e validade de construto (RAEDEKE e SMITH, 2001), o ABQ vem sendo reconhecido

como o instrumento mais adequado para a avaliação da síndrome de burnout em atletas, além

de ter sido o questionário utilizado nas mais atuais e relevantes pesquisas na área, como as

investigações de RAEDEKE e SMITH (2001 e 2004) em atletas universitários norte-

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americanos pertencentes a sete modalidades esportivas e em nadadores de nível nacional do

mesmo país. Mais recentemente, CRESSWELL e EKLUND (2005a, 2005b e 2005c)

aplicaram o ABQ em jogadores amadores e profissionais de rúgbi da Nova Zelândia. A versão

original do ABQ está exposta no Anexo 1.

O instrumento traduzido para o português, intitulado “Questionário de Burnout para

Atletas”, é representado pela sigla QBA. A fim de que o instrumento fosse adaptado, de forma

a se tornar adequado para a aplicação na população brasileira, fez-se uso do método de

tradução denominado “Back Translation”. Esse procedimento foi executado em três

momentos distintos. Primeiramente, houve a tradução do inglês para o português do ABQ,

realizada por um indivíduo com conhecimento aprofundado nos dois idiomas, gerando o

instrumento QBA. Posteriormente, efetuou-se a tradução inversa do QBA, do português para

o inglês, por um outro tradutor com notório saber nos idiomas empregados e em tradução de

textos. No terceiro e último momento, foram comparadas a versão traduzida do português

para a língua inglesa com o texto original em inglês, com o intuito de se corrigir os ajustes

necessários para a elaboração da versão final do instrumento em português. Para DELIZA,

ROSENTHAL e COSTA (2003, p.44), “esta técnica garante tradução mais precisa e confiável

do instrumento”. Os cálculos dos escores relacionados a cada dimensão de burnout e ao

burnout total, assim como a interpretação dos resultados do QBA, são idênticos aos

procedimentos detalhados para o ABQ. A versão final do QBA está exposta no Anexo 2.

Vale ressaltar que a aplicação do QBA apresenta risco mínimo à integridade

biopsicossocial dos atletas, assim como os dados obtidos a partir das respostas dadas ao QBA

são confidenciais, de uso restrito dos pesquisadores, e foram utilizados somente para fins de

pesquisa científica.

Juntamente com o QBA, foi utilizada uma ficha de avaliação demográfica, que

continha o nome, gênero e idade do sujeito, esporte que pratica, idade com que iniciou sua

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prática esportiva na referida modalidade, tempo como atleta federado ou profissional,

principais conquistas no esporte e data da participação na pesquisa. Também foi utilizada uma

pergunta aberta com os seguintes dizeres: “Escreva três palavras que representam como você

se sente ou tem se sentido em relação ao seu esporte durante a atual temporada”. Através de

tal questão aberta, procurou-se verificar se o avaliado apresentava indícios do quadro de

burnout por intermédio de sua verbalização. Julgou-se a requisição de resposta por intermédio

de três palavras como mais adequada, de modo a proporcionar eventuais representações das

três subescalas de burnout.

A pesquisa obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São

Judas Tadeu (protocolo 063/2004 do COEP-USJT). Portanto, a mesma se encontra

enquadrada nas normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Os informantes assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando com sua participação na

pesquisa. O TCLE está exposto no Anexo 3.

3.3. Procedimentos

O primeiro procedimento para a aplicação da bateria de instrumentos consistiu na

elaboração, por parte do pesquisador, de uma listagem dos atletas que competem em nível

nacional e/ou internacional. Posteriormente, o pesquisador entrou em contato com esses

atletas e suas comissões técnicas, com o objetivo de solicitar a participação e colaboração dos

mesmos na pesquisa. Nos casos de resposta afirmativa, foram marcados encontros para a

aplicação dos instrumentos. Os locais desses encontros sofreram variações conforme a

disponibilidade dos atletas, e foram clubes, academias e centros de treinamento. Quando se

tratou de esportes coletivos ou esportes individuais com número elevado de atletas avaliados

em um só dia, os mesmos foram divididos em grupos com não mais do que 20 integrantes.

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Foi realizado um estudo-piloto, cujos objetivos foram os seguintes: aferir o grau de

entendimento dos itens do QBA; aferir a compreensão de suas instruções e da utilização da

escala de freqüência; apontar falhas durante aplicação do questionário; verificar o tempo

médio que um atleta demora em responder a todos os itens e sugerir instruções mais eficazes

para a coleta de dados.

Após o estudo piloto, do qual fizeram parte 29 atletas de quatro modalidades

esportivas, foi possível perceber que os mesmos, de modo geral, possuíam um bom

entendimento acerca do significado dos itens do QBA. Além disso, verificou-se que o tempo

de resposta dos atletas aos instrumentos psicométricos durava, em média, 20 minutos. De

posse desses conhecimentos, partiu-se para o desenvolvimento da pesquisa definitiva.

A aplicação dos instrumentos psicométricos ocorreu entre os meses de novembro de

2004 a outubro de 2005, nas cidades de Belém (PA), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Praia

Grande (SP), São Bernardo do Campo (SP) e São Paulo (SP) e Saquarema (RJ).

3.4. Análise Estatística

Finalmente, fez-se necessária a validação do instrumento. Isso significa verificar se o

mesmo mede o que se propõe a medir (NUNALLY 1967, citado por CAZORLA, SILVA,

VENDRAMINI e BRITO, 1999). Tal processo foi desenvolvido em dois momentos, a saber:

Primeiro Momento: Determinação da validade do instrumento, que se caracteriza pelo nível

em que uma escala ou conjunto de medições representam com exatidão o conceito de

interesse (HAIR, ANDERSON, TATHAM e BLACK, 1998). Tal processo de determinação

foi desenvolvido de dois modos distintos, porém complementares, os quais estarão descritos a

seguir.

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Primeiramente, empregou-se o método de “Validação de Construto”. Esse tipo de

validação é definido por THOMAS e NELSON (2002, p. 198) como “o grau no qual um teste

mede um construto hipotético”. No presente estudo, os construtos mensurados foram o

burnout e suas três dimensões ou subescalas. Foi utilizada a técnica estatística denominada

análise fatorial, utilizada para “reduzir um conjunto de dados pelo agrupamento de variáveis

similares em componentes (fatores) básicos” (THOMAS e NELSON, 2002, p. 172). A análise

fatorial exploratória, um dos tipos de análise fatorial, foi usada em virtude de proporcionar a

identificação dos construtos ou fatores básicos referentes a determinado grupo de medidas

(THOMAS e NELSON, 2002).

Deve-se enfatizar que o tamanho da amostra (N=200) se constituiu adequado para o

emprego da técnica de análise fatorial, visto que Tabachnick e Fidell (citados por JONES,

SWAIN e CALE, 1990) consideram como apropriado um tamanho de amostra entre 100 e

200, desde que os sujeitos sejam homogêneos e o número de variáveis não seja muito grande.

Foi utilizado um segundo método de validação do QBA, denominado “Validação

Concorrente”, caracterizado pela correlação de um instrumento em fase de validação, como o

QBA, com outro instrumento já validado na literatura científica. Visto que o Teste POMS

(sigla referente a “Profile of Mood States”, que significa, em português, “Perfil dos Estados

de Humor”) avalia seis estados de humor relevantes ao cotidiano do atleta e é muito utilizado

na literatura da Psicologia do Esporte nacional e internacional como uma forma de avaliar a

saúde mental e emocional em esportistas (BRANDÃO, 1999), e como a síndrome de burnout

está relacionada com alterações no comportamento emocional do atleta, julgou-se que o

POMS seria o instrumento mais apropriado a ser empregado na validação concorrente do

QBA.

O teste POMS é composto por 65 itens, que são palavras que descrevem como o

indivíduo está se sentindo no dia em que responde ao instrumento. A reposta é dada em uma

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escala do tipo Likert que varia de “0” (nada) a “4” (extremamente), tendo como pontuações

intermediárias “1” (um pouco), “2” (mais ou menos) e “3” (bastante). Os seis estados de

humor avaliados pelo teste são: tensão, depressão, raiva, vigor, fadiga e confusão. As

características de cada um dos estados de humor citados aparecem no Quadro 3, a seguir.

Quadro 3: Características dos seis estados de humor avaliados pelo teste POMS (adaptado deBRANDÃO, 1999).

Estado de Humor CaracterísticasTensão Alta tensão músculo-esquelética que pode não ser observada

diretamente ou observada através de manifestações psicomotoras, taiscomo agitação e inquietação

Depressão Estado de depressão acompanhado por uma inadequação pessoal,indicando sentimentos de autovalorização negativa, dificuldades deajustamento, isolamento emocional, tristeza e culpa

Raiva Antipatia e raiva em relação aos outros e a si mesmo; hostilidade

Vigor Energia; animação; atividade

Fadiga Apatia; esgotamento; baixo nível de energia

Confusão Atordoamento

Foram utilizados os resultados do POMS total (índice de saúde mental atual) e de seus

6 estados de humor. Esses dados foram correlacionados, através da correlação de Pearson,

com os valores absolutos do QBA, os quais se referem a cada uma das três dimensões ou

subescalas de burnout e ao burnout total. Segundo Cohen e Cohen (1983, citados por

CRESSWELL e EKLUND, 2005b), as magnitudes das correlações são interpretadas

conforme os seguintes princípios indicados para pesquisas psicológicas: valor de r = 0,10

corresponde a uma pequena correlação; r = 0,30 significa correlação média; e r = 0,50

eqüivale a uma elevada correlação.

De modo a complementar as validades de construto e concorrente, as respostas dadas à

pergunta aberta possibilitaram uma análise de conteúdo com a formação de quatro categorias

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a priori, representadas pelo burnout e suas três dimensões. Para cada categoria foram

classificados dois grupos nomeados “sim” ou “não”. Os esportistas que responderem uma ou

mais palavras pertinentes à manifestação de uma dimensão da síndrome pertenceram ao grupo

“sim” referente a essa dimensão. Ao estar incluído em pelo menos um dos grupos “sim”

relacionados às subescalas de burnout, o atleta também pertencia ao grupo “sim” relativo ao

burnout total. Por outro lado, o grupo “não” foi identificado pela inexistência de respostas

indicativas de qualquer subescala de burnout, resultando na não percepção da síndrome pelos

atletas. Para que houvesse fidedignidade na adequação das palavras dentro das subescalas,

essa avaliação foi realizada por três juízes doutores: uma Psicóloga do Esporte e duas

Professoras de Educação Física. Para que uma palavra fosse enquadrada em uma determinada

dimensão de burnout, teria que ser classificada por, no mínimo, dois juízes. No caso de

empate na classificação de uma palavra nas três dimensões diferentes, prevaleceu a

classificação da Psicóloga do Esporte. Após a avaliação dos juízes, os grupos “sim” e “não”

foram comparados, através do teste “t” de Student, com relação aos resultados absolutos das

subescalas da síndrome e do burnout total encontrados no QBA.

O Quadro 4 mostra as categorias da análise de conteúdo, suas definições e exemplos

de palavras que as caracterizam.

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Quadro 4: Categorias da análise de conteúdo, definições e exemplos de palavras que ascaracterizam.

Categorias ExaustãoFísica e

Emocional

Reduzido Sensode Realização

Esportiva

DesvalorizaçãoEsportiva

Burnout

Definição Reações físicase emocionaisnegativasadvindas dasintensasdemandas detreinos ecompetições

Insatisfaçãoquanto àhabilidade edestrezaesportiva;percepções defalta de sucesso efalta de talento

Despreocupação,falta de desejo efalta de interesseem relação aoesporte

Síndrome decarátermultidimensionalque engloba aexaustão, oreduzido senso derealização e adesvalorização

Exemplosde Palavras

Tenso, cansado,exausto emachucado

Dificuldade efrustrado

Despreocupado,desinteressado edesmotivado

Todas asmencionadas nasoutras categorias

Segundo Momento: Determinação da confiabilidade do instrumento, a qual se constitui na

estimação do grau de consistência entre as múltiplas medidas de uma variável (HAIR e cols.,

1998).

Em relação à análise da confiabilidade do QBA, foi utilizado o coeficiente alfa de

Cronbach (α ), pois o mesmo “mede a homogeneidade dos componentes da escala, ou seja, a

consistência interna dos itens” (CAZORLA e cols., 1999) e se constitui na medida mais

utilizada para estimar a consistência de uma escala inteira (HAIR e cols., 1998).

Com a utilização desse coeficiente, torna-se possível avaliar se todos os 15 itens do

QBA têm importâncias similares para o conjunto do questionário. Em outras palavras, pode-

se aferir se um determinado item contribui para uma maior ou menor confiabilidade do

mesmo. O valor de α varia entre 0 (mínimo) e 1 (máximo), sendo 0,60 ou 0,70 os valores

mínimos de aceitação recomendados. Para o presente estudo, foi adotado o índice de 0,70

como limite mínimo. Assim, caso o valor de um determinado item fosse menor do que 0,70,

seria sugerida sua exclusão do instrumento.

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Foi utilizado o pacote estatístico “Statistical Package for Social Science” (SPSS),

versão 12.0, para o processamento dos dados. O nível de significância adotado em todos os

procedimentos estatísticos desse estudo foi de p ≤ 0,05 .

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Resultados quanto ao Burnout e aos Estados de Humor

Os dados em termos de média e desvio padrão do burnout total e de suas subescalas

dos atletas avaliados na pesquisa aparecem na Tabela 3, a seguir.

Tabela 3: Média e desvio padrão do burnout total e das subescalas de burnout.N=200 Burnout

TotalExaustão Física e

EmocionalReduzido Sensode Realização

DesvalorizaçãoEsportiva

MédiaDesvio padrão

1,910,53

1,940,67

2,090,70

1,700,64

Quanto ao burnout total, verifica-se que os participantes obtiveram valor médio de

1,91, indicativo de uma freqüência de sentimentos pertinentes à síndrome que variou entre

quase nunca e raramente. Já em relação às subescalas de burnout exaustão física e emocional

e desvalorização esportiva, observa-se médias de 1,94 e 1,70, respectivamente, o que também

significa uma variação de freqüência de quase nunca a raramente. Por outro lado, a média da

subescala reduzido senso de realização (2,09) corresponde à freqüência de raramente a

algumas vezes. De modo geral, os atletas pesquisados obtiveram valores reduzidos tanto para

o burnout total quanto para as subescalas de burnout, fatores indicativos de que os mesmos

não apresentavam manifestações significativas da síndrome. Esses índices se assemelham aos

verificados em 208 atletas universitários norte-americanos pertencentes a sete modalidades

esportivas (RAEDEKE e SMITH, 2001) e em 392 jogadores pertencentes à união amadora de

rúgbi da Nova Zelândia (CRESSWELL e EKLUND, 2005b).

Em virtude do burnout estar localizado no extremo de um contínuo que se inicia com

reações negativas de adaptação ao estresse denominadas “staleness” ou esgotamento e passa

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pelo “overtraining” ou treinamento excessivo (SILVA 1990, citado por GOULD e cols.,

1996a), há uma limitação em se encontrar atletas em atividade com índices acentuados da

síndrome, pois existe uma grande possibilidade dos mesmos já terem encerrado suas carreiras

atléticas, visto que o abandono esportivo constitui-se na principal conseqüência do burnout.

Em virtude dessa constatação, torna-se mais evidente a importância da avaliação da síndrome,

com os objetivos de prevenção e tratamento de esportistas que, eventualmente, apresentam

índices de moderadamente altos a altos.

Na Tabela 4 estão descritos a média e o desvio padrão do índice de saúde mental atual,

denominado POMS total (PMT), e dos 6 estados de humor: tensão (T), depressão (D), raiva

(R), vigor (V), fadiga (F) e confusão (C).

Tabela 4: Média e desvio padrão do índice de saúde mental atual (POMS Total) e dos 6estados de humor. N=200 PMT T D R V F C

MédiaDesvio padrão

16,7329,11

9,385,37

6,838,12

8,437,69

19,90 5,45

6,745,04

5,324,36

É possível observar que os atletas obtiveram escores mais altos para o vigor do que

para os demais estados de humor. De acordo com a literatura esportiva (BRANDÃO, 1999)

recomenda-se que, no caso de esportistas, o vigor, por ser a única variável de conotação

positiva do teste POMS, deve apresentar os valores mais elevados possíveis, representativos

de disposição, energia e superação de limites no âmbito esportivo, que se constituem no

principal fator que diferencia não somente atletas de não-atletas, mas também atletas de alto

rendimento esportivo de atletas que não alcançam suas metas no esporte.

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4.2. Validade de Construto do Instrumento

A Tabela 5 abaixo apresenta o total de variância explicado a partir da análise fatorial

dos componentes do QBA.

Tabela 5: Total de variância explicado.Autovalores Iniciais

Componentes Total % de Variância % Cumulativo1 4,388 29,256 29,2562 1,939 12,925 42,1813 1,187 7,911 50,0924 0,898 5,984 56,0765 0,852 5,678 61,7536 0,823 5,487 67,2407 0,739 4,924 72,1648 0,683 4,555 76,7209 0,653 4,355 81,07510 0,604 4,028 85,10311 0,552 3,681 88,78512 0,491 3,276 92,06113 0,470 3,135 95,19514 0,407 2,716 97,91215 0,313 2,088 100,000

De acordo com os dados da Tabela 4, três componentes obtiveram autovalores maiores

que a unidade, índice que determina a significância do componente para a explicação da

variância do instrumento. Esses três componentes são responsáveis por 50,01% da variância

do QBA, sendo que um dos componentes responde, isoladamente, por 29,26% dessa variância

total, com os dois demais apresentando índices de 12,92% e 7,91%, respectivamente.

O surgimento de três componentes que explicam a variância do QBA confirma o que

estava proposto na elaboração do instrumento, ou seja, a existência de três dimensões ou

subescalas da síndrome de burnout, que são: a exaustão física e emocional, o reduzido senso

de realização esportiva e a desvalorização esportiva. Dentre as três dimensões, a exaustão

física e emocional se constitui na responsável pela maior porcentagem de explicação da

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variância do instrumento. Tal constatação vem ao encontro do pressuposto de GARCÉS DE

LOS FAYOS (1999), que, após avaliar dezenas de estudos sobre o burnout, observou que a

exaustão emocional se encontra presente em todas as abordagens teóricas desenvolvidas para

o entendimento da síndrome, havendo divergências em relação às outras duas dimensões ou

subescalas.

Na Tabela 6, os 15 itens do QBA estão classificados de acordo com os três

componentes extraídos da análise de variância, através da rotação Varimax.

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Tabela 6: Rotação Varimax da matriz dos componentes do QBA.Componentes (Dimensões)

ItemExaustão Física e

EmocionalReduzido Sensode Realização

DesvalorizaçãoEsportiva

10- Eu me sinto fisicamenteexausto pelo esporte

0,780 0,100 0,147

12- Eu estou exausto pelasdemandas mentais e físicas doesporte

0,751 0,107 0,153

2- Eu me sinto tão cansado dosmeus treinamentos que eu tenhoproblemas para encontrar energiapara fazer outras coisas

0,695 -0,042 -0,127

4- Eu me sinto extremamentecansado com a minha participaçãono esporte

0,693 0,076 0,032

8- Eu me sinto “destruído” peloesporte

0,518 0,410 0,173

3- O esforço que eu gastopraticando esporte poderia sermais bem gasto fazendo outrascoisas

0,490 0,075 0,423

15- Eu tenho sentimentosnegativos em relação ao esporte

0,480 0,303 0,025

14- Eu me sinto bem-sucedido noesporte

0,074 0,736 -0,241

13- Parece que, não importa o queeu faça, eu não me desempenhotão bem quanto eu poderia

0,214 0,689 0,045

1- Eu estou realizando muitascoisas que valem a pena no esporte

-0,053 0,608 0,274

7- Eu não estou desempenhandotodo meu potencial no esporte

0,137 0,550 0,319

9- Eu não estou tão interessado noesporte como eu costumava estar

0,334 0,530 0,330

5- Eu não estou alcançando muitono esporte

0,052 0,471 0,319

11- Eu me sinto menospreocupado em ser bem-sucedidono esporte do que antes

0,193 0,033 0,783

6- Eu não me preocupo tanto emrelação à minha performanceesportiva quanto antes

-0,091 0,345 0,685

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A partir do agrupamento dos itens conforme a dimensão a qual foram associados, o

que pode ser observado através dos escores sombreados em cinza, observa-se que a subescala

exaustão física e emocional foi expressa por sete itens do questionário, enquanto que reduzido

senso de realização foi representada por seis itens e desvalorização esportiva por apenas dois

itens. Esses achados divergem dos encontrados ao longo do processo de validação do

instrumento precursor do QBA, o ABQ, no qual cada subescala ficou composta por cinco

itens.

Os itens componentes de cada subescala de burnout obtidos a partir da rotação

Varimax para os instrumentos QBA e ABQ estão dispostos na Tabela 7, sendo que os dados

referentes ao ABQ foram extraídos do estudo de RAEDEKE e SMITH (2001).

Tabela 7: Classificação dos itens em relação às subescalas de burnout a partir da rotaçãoVarimax para os instrumentos QBA e ABQ (EFE= Exaustão física e emocional; RSR=Reduzido senso de realização; e DES= Desvalorização esportiva).

Subescala de BurnoutItemQuestionário de Burnout para

Atletas (QBA)Athlete Burnout Questionnaire

(ABQ)1 RSR RSR2 EFE EFE3 EFE DES4 EFE EFE5 RSR RSR6 DES DES7 RSR RSR8 EFE EFE9 RSR DES10 EFE EFE11 DES DES12 EFE EFE13 RSR RSR14 RSR RSR15 EFE DES

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Conforme pode ser visto na tabela, os itens 3, 9 e 15, que se referiam à subescala

desvalorização esportiva no ABQ, sofreram modificações em relação ao QBA. Os itens 3 e 15

foram associados à subescala exaustão física e emocional, enquanto que o item 9 foi atribuído

à dimensão reduzido senso de realização. Tais divergências se constituíram como

surpreendentes, e não há explicações concretas acerca das mesmas. Pode-se sugerir, em

virtude da experiência presencial com os atletas que responderam ao QBA, que havia um

determinado número de esportistas que estavam no início do planejamento da aposentadoria

esportiva, ou seja, já haviam obtido resultados vitoriosos ao longo da carreira atlética e, no

momento em que participaram da pesquisa, pretendiam começar um processo de

destreinamento, competindo em um ritmo de rendimento um pouco abaixo do praticado

anteriormente. Entretanto, esses indivíduos não relatavam qualquer desânimo ou ausência de

motivação em razão da escolha que fizeram, considerando-a como um acontecimento natural

do ciclo esportivo. Essas ocorrências, portanto, podem ter servido de base para as alterações

encontradas entre os itens que, originalmente (no ABQ), estavam empregados no contexto da

desvalorização esportiva.

Apesar das alterações observadas, optou-se pela manutenção dos itens de acordo com

as subescalas do instrumento original (o ABQ). Desse modo, preserva-se os cálculos dos

índices relativos a cada dimensão, tais como estão descritos no sub-item 3.2 – “Instrumento”,

o que possibilita a compatibilidade entre os valores obtidos através do ABQ e do QBA, fato

que permitirá, entre outras investigações, eventuais avaliações cross culturais da síndrome em

esportistas de diferentes nacionalidades.

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4.3. Validade Concorrente do Instrumento

Os valores obtidos para as variáveis burnout total (BT) e suas subescalas exaustão

física e emocional (EFE), desvalorização esportiva (DES) e reduzido senso de realização

(RSR) foram correlacionados com os seis estados de humor (tensão, depressão, raiva, vigor,

fadiga e confusão), bem como com o índice de saúde mental atual, representado pelo valor

total do POMS.

Para a melhor visualização e análise dessas correlações, as mesmas aparecem na

Tabela 8.

Tabela 8: Correlações de Pearson das dimensões da síndrome e do burnout total com oPOMS total e seus seis estados de humor.

N=200 BT EFE RSR DESPOMS Total

TensãoDepressão

RaivaVigorFadiga

Confusão

-0,69*-0,49*-0,63*-0,55*-0,43*-0,60*-0,60*

-0,53*-0,34*-0,47*-0,38*-0,41*-0,52*-0,44*

-0,61*-0,47*-0,55*-0,52*-0,35*-0,45*-0,56*

-0,49*-0,34*-0,47*-0,39*-0,26*-0,46*-0,41*

*p≤0,05

Para a discussão dos dados mostrados na Tabela 7, optou-se por apresentar

separadamente os resultados das correlações entre o burnout total e suas dimensões com o

POMS total e suas variáveis.

4.3.1. Burnout Total

A Tabela 9 mostra as correlações encontradas entre o burnout total (BT) com o POMS

total e os seis estados de humor.

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Tabela 9: Correlação de Pearson do burnout total (BT) com o valor total do POMS e com osseis estados de humor.

N=200 BTPOMS Total

TensãoDepressão

RaivaVigorFadiga

Confusão

-0,69*-0,49*-0,63*-0,55*-0,43*-0,60*-0,60*

*p≤0,05

Os dados da tabela indicam que a variável burnout total se correlacionou de modo

altamente positivo com o POMS total. Em relação aos estados de humor, o burnout total

apresentou correlações altas e positivas com a depressão, raiva, fadiga e confusão, e

correlação positiva de média a elevada com a tensão. Quanto ao vigor, estado de humor

diferenciado dos demais, por se tratar de uma variável de conotação positiva, verificou-se uma

correlação negativa de moderada a elevada. Todas as correlações encontradas foram

estatisticamente significativas.

As correlações observadas do burnout total com o POMS total e seus estados de

humor sugerem que o aparecimento da síndrome pode ser explicado através de índices

elevados de elementos como tensão, depressão, raiva, vigor, e confusão. Por outro lado, o

vigor surge como uma variável que se comporta de modo inverso à manifestação da síndrome,

ou seja, elevados níveis de burnout estão relacionados a baixo vigor. Esses pressupostos

encontram fundamentação em outras investigações científicas, nas quais se presume que o

burnout representa relacionamento estreito com a predisposição a enfermidades e ao estado

depressivo em populações gerais (GLASS, MCKNIGHT e VALDIMARSDOTTIR, 1993,

citados por CRESSWELL e EKLUND, 2005a) e um impacto negativo no bem-estar físico e

psicológico dos atletas (RAEDEKE e SMITH, 2004). Ainda a esse respeito, GOULD e cols.

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(1996a) se referem à experiência de burnout no esporte como a transformação do

envolvimento passional na atividade atlética para um comportamento caracterizado por

motivação reduzida ou ausente, letargia ou, até mesmo, pelo completo abandono da

modalidade. Tais evidências podem esclarecer a ocorrência de fatores como tensão,

depressão, raiva e confusão como pertinentes à sintomatologia da síndrome, bem como o

reduzido vigor como fator contribuinte à aquisição de burnout em atletas.

4.3.2. Exaustão Física e Emocional

A Tabela 10 mostra as correlações encontradas entre a subescala de burnout intitulada

exaustão física e emocional (EFE) com o POMS total e com os seis estados de humor.

Tabela 10: Correlação de Pearson da subescala exaustão física e emocional (EFE) com ovalor total do POMS e com os seis estados de humor.

N=200 EFEPOMS Total

TensãoDepressão

RaivaVigorFadiga

Confusão

-0,53*-0,34*-0,47*-0,38*-0,41*-0,52*-0,44*

*p≤0,05

A exaustão física e emocional se correlacionou de modo positivo e elevado com o

POMS total e com a fadiga. Em relação aos estados de humor tensão, depressão, raiva e

confusão, foram observadas correlações positivas de moderadas a altas. Por outro lado, a

exaustão física e emocional se correlacionou de forma negativa e de moderada a elevada com

o vigor. Todas as correlações foram estatisticamente significativas.

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Percebe-se que a exaustão física e emocional pode ser explicada pelos estados

negativos de humor tensão, raiva, confusão e, principalmente, depressão e fadiga. De acordo

com TSELEBI, MOULOU e ILIAS (2001), a depressão se associou positivamente à exaustão

sentimental em profissionais de enfermagem. Pode-se sugerir, então, que a depressão seja um

dos principais fatores responsáveis pelo componente emocional da exaustão, visto que

BRANDÃO, AGRESTA e REBUSTINI (2002, p. 26) a definiram como um fator que

representa, entre outras características, “dificuldades de ajustamento, isolamento emocional,

tristeza e culpa”.

Por outro lado, a fadiga pode ser considerada a principal responsável pelo componente

físico da exaustão. Segundo BRANDÃO, AGRESTA e REBUSTINI (2002, p. 27), a fadiga se

caracteriza por “baixo nível de energia”. Tal afirmação é consistente com os achados sobre as

síndromes de overtraining e burnout, pois a fadiga crônica se constitui no principal sintoma

do overtraining, que, por sua vez, é largamente descrito na literatura como precursor do

burnout (LAI e WIGGINS, 2003).

Outro fator que explica a exaustão física e emocional é o vigor, porém de modo

inversamente proporcional. Descrito como “estados de animação, energia e atividade”

(BRANDÃO, AGRESTA e REBUSTINI, 2002, p. 27), pode-se perceber que um atleta

vigoroso é dotado de uma elevada motivação interior ou intrínseca. Sendo assim, é possível

sugerir que o mesmo tem poucas possibilidades de adquirir a síndrome de burnout, dado o

contraste existente entre os estados de motivação e de burnout (CRESSWELL e EKLUND,

2005a, 2005b e 2005c). MORGAN (1987), ao propor um modelo de saúde mental que prediz

sucesso esportivo, sugere que existe uma relação direta entre saúde mental positiva e sucesso

no esporte. Nesse sentido, o vigor, como único fator do POMS que representa um aspecto

humoral positivo, contribui de modo substancial para a aquisição de saúde mental positiva.

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4.3.3. Reduzido Senso de Realização Esportiva

Na Tabela 11 estão descritas as correlações da dimensão de burnout denominada

reduzido senso de realização esportiva com o POMS total e com os seis estados de humor.

Tabela 11: Correlação de Pearson da subescala reduzido senso de realização esportiva (RSR)com o valor total do POMS e com os seis estados de humor.

N=200 RSRPOMS Total

TensãoDepressão

RaivaVigorFadiga

Confusão

-0,61*-0,47*-0,55*-0,52*-0,35*-0,45*-0,56*

*p≤0,05

A dimensão reduzido senso de realização esportiva obteve correlações positivas e

elevadas com as variáveis POMS total, depressão, raiva e confusão. Quanto às associações

com os estados de humor tensão e fadiga, ambas foram positivas e de moderadas a altas. No

que se refere à correlação com o estado de humor vigor, o reduzido senso de realização

apresentou resultado de moderado a elevado, porém negativo. Todas as correlações

encontradas foram estatisticamente significativas.

Constatou-se, portanto, que o reduzido senso de realização esportiva pode estar

associado, principalmente, com o POMS total e seus estados de depressão, raiva e confusão.

A estreita relação entre depressão e reduzida realização já havia sido observada por

TSELEBI, MOULOU e ILIAS (2001), que encontraram correlações negativas entre a

depressão e a subescala realização pessoal do MBI (sigla inglesa referente ao Inventário de

Burnout de Maslach).

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Por sua vez, a raiva, apontada por BRANDÃO, AGRESTA e REBUSTINI (2002, p.

27) como estado de humor relacionado “à antipatia e raiva em relação aos outros e a si

mesmo”, pode se apresentar como fator resultante da monotonia dos treinos. A expressão

aborrecimento é bastante empregada na literatura para descrever o sentimento resultante de

meses ou anos de rotinas atléticas monótonas, repetitivas e desinteressantes para o atleta.

Portanto, se o esportista percebe que a prática esportiva habitual não lhe recompensa

pessoalmente e não consegue satisfazer as necessidades originais que buscava no esporte, é

fácil que se aborreça com sua atividade e comece a gerar sentimentos frente ao esporte que

lhe conduzam ao burnout (GARCÉS DE LOS FAYOS e VIVES BENEDICTO, 2002).

O estado de confusão, que “pode ser caracterizado por atordoamento” (BRANDÃO,

AGRESTA e REBUSTINI, 2002, p. 27), constitui-se em um fator que pode ser desencadeado

por diversas causas do burnout, como, por exemplo, a falta de habilidades esportivas e as altas

demandas competitivas. A primeira acontece quando o atleta acredita ser incapaz de conseguir

alcançar as metas planejadas por falta de habilidades suficientes, enquanto que a segunda

ocorre quando o esportista se vê submetido a exigências muito altas que, na maioria das

vezes, confundem-se com a pressão por obter determinados resultados, por parte de

dirigentes, treinadores ou familiares, entre outros (GARCÉS DE LOS FAYOS e VIVES

BENEDICTO, 2002).

Em virtude da subescala em questão ser de origem eminentemente cognitiva,

considera-se adequado o fato da mesma ter apresentado os menores índices de correlação com

a tensão e, principalmente, com a fadiga e o vigor, visto que os dois últimos geralmente são

fatores provenientes de percepções psicofisiológicas, como foi possível perceber na discussão

acerca da subescala exaustão física e emocional.

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4.3.4. Desvalorização Esportiva

As correlações existentes da dimensão desvalorização esportiva com o POMS total e

os seis estados de humor aparecem na Tabela 12.

Tabela 12: Correlação de Pearson da subescala desvalorização esportiva (DES) com o valortotal do POMS e com os seis estados de humor.

N=200 DESPOMS Total

TensãoDepressão

RaivaVigorFadiga

Confusão

-0,49*-0,34*-0,47*-0,39*-0,26*-0,46*-0,41*

*p≤0,05

A subescala desvalorização esportiva apresentou correlações positivas de moderadas a

elevadas com as variáveis POMS total, tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão.

Entretanto, com relação à percepção de vigor, foi encontrada correlação negativa de baixa a

moderada. Todas as correlações observadas foram estatisticamente significativas.

Uma das variáveis que explica a desvalorização esportiva, a tensão, é definida como

uma alta carga somática que pode ser observada através de manifestações psicomotoras, tais

como agitação e inquietação (BRANDÃO, AGRESTA e REBUSTINI, 2002). No contexto do

burnout, isso pode se refletir, entre outros momentos, quando o atleta percebe que foi deixado

de ser considerado importante para sua equipe, quando não se conta mais com ele, e quando

sua opinião não é tão respeitada quanto a dos demais, o que começa a originar no esportista a

percepção de estar afastado do meio do esporte (GARCÉS DE LOS FAYOS e VIVES

BENEDICTO, 2002).

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O interesse mercenário dos pais, citado por GARCÉS DE LOS FAYOS e VIVES

BENEDICTO (2002) como uma variável preditora de burnout, também pode estar vinculado

à desvalorização esportiva, especialmente em jovens atletas. Quando um filho se inicia no

esporte, alguns pais começam a vê-lo como uma futura “estrela” que alcançará êxito e,

conseqüentemente, o dinheiro que atualmente se associa à elite esportiva. Isso leva a um

interesse exagerado e obsessivo pela rápida evolução do jovem. Assim, as pressões intensas e

prolongadas podem gerar depressão, raiva e confusão na criança ou adolescente, desvirtuando

o esporte do componente lúdico e estimulando o desinteresse pela prática atlética.

Outro ponto importante que permeia a desvalorização do esporte é o que GARCÉS DE

LOS FAYOS e VIVES BENEDICTO (2002) chamam de estilo de vida externo. Percebe-se

que a vida social desfrutada pelo atleta fora do ambiente esportivo, marcada por festas,

eventos sociais, etc, geralmente é incompatível com as exigências do sistema esportivo de alto

nível, em que estão presentes a disciplina com o cumprimento de horários, as sessões de

treino, as viagens, etc. Consequentemente, há um confronto negativo entre esses dois estilos

de vida diferentes. Com isso, o esportista pode apresentar tensão, depressão, raiva, fadiga e

confusão. Para exemplificar esse processo, basta que se volte a alguns anos atrás e se

verifique que jovens tenistas brasileiros com futuro promissor na carreira resolveram

abandonar o esporte prematuramente. A declaração de Míriam D’Agostini, no dia em que

anunciou sua aposentadoria aos 22 anos, retrata bem a desvalorização esportiva: “Eu comecei

a jogar e a viajar muito cedo. Cansei da vida no circuito e não tinha mais prazer em jogar e em

ir para os torneios” (Folha Online, 13/03/2001).

A correlação encontrada entre a desvalorização do esporte e a fadiga pode ser

caracterizada pela diminuição de rendimento. De acordo com SMITH (1986), a queda de

rendimento surge como uma das respostas do atleta ao enfrentar as demandas causadoras do

burnout. A partir de tal afirmação, sugere-se que o esportista que se encontra próximo de

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entrar em estado de burnout demonstre um desempenho deficitário, o que contribui para a

falta de valorização em relação à modalidade esportiva.

Finalmente, a correlação da subescala avaliada com o vigor foi negativa, porém de

reduzida a moderada. Isso pode ser considerado surpreendente, visto que a desvalorização

esportiva é entendida como a ausência de estímulos, de motivação e de entusiasmo frente ao

esporte, o que remeteria a uma forte associação negativa com o vigor. No entanto, o achado

pode ser explicado a partir da consideração do vigor como uma variável de cunho

psicofisiológico, o que o torna diferente da desvalorização, eminentemente cognitiva.

A partir dos resultados obtidos, pode-se afirmar que a validação concorrente mostrou

estreita associação do burnout total e suas dimensões com o POMS total e os seis estados de

humor, visto que todas as correlações efetuadas foram estatisticamente significativas. Esses

achados mostraram que o QBA está associado com o propósito do teste POMS, que avalia a

síndrome de overtraining. De fato, a síndrome de burnout é compreendida como o fenômeno

que sucede o overtraining quando se trata de adaptações negativas ao treinamento em atletas.

De acordo com o objetivo da validação concorrente, que consistia em validar um

instrumento (o QBA) a partir da correlação com outro instrumento reconhecido na literatura

científica (POMS), pode-se concluir que o QBA se encontra validado estatisticamente.

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4.4. Análise de Conteúdo

Primeiramente, para a análise das palavras, foram classificados dois grupos nomeados

“sim” ou “não”. Os esportistas que escreveram uma ou mais palavras que mostrassem

similaridade à manifestação da síndrome pertenceram ao grupo “sim”. Por outro lado, o grupo

“não” foi identificado pela inexistência de palavras indicativas de burnout, resultando na não

percepção da síndrome pelos atletas.

Para que houvesse fidedignidade na adequação das palavras dentro dos grupos, foi

realizada uma avaliação por três juízes doutores: uma Psicóloga do Esporte e duas Professoras

de Educação Física. A inclusão de uma palavra no grupo “sim” era feita pela classificação

por, no mínimo, dois juízes. Alguns exemplos de palavras mencionadas pelos atletas e

classificadas como “sim” pelos juizes foram: “tensa”, “frustrado” e “desmotivada”. Por outro

lado, palavras que não apresentavam qualquer similaridade com a síndrome ou suas

subescalas, como “feliz”, “satisfeito”, “realizado” e “vitorioso”, foram enquadradas como

“não”, ou seja, quando os atletas escreviam três palavras desse tipo, os mesmos eram

designados para o grupo “não”.

Após a avaliação dos juízes, os grupos “sim” e “não” foram comparados, através do

teste “t” de Student, com relação às médias dos valores absolutos do burnout total encontrados

no QBA.

A Tabela 13 apresenta a comparação entre os grupos “sim” e “não” quanto à

incidência de burnout total. O “N” se refere ao número de atletas de cada grupo. As médias e

os desvios padrão são referentes aos valores absolutos de burnout total obtidos pelos atletas de

cada grupo.

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Tabela 13: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência de burnout.

N=200 Grupos N Média Desvio padrão Valor t p valorSim 80 33,33 8,32Burnout TotalNão 120 25,56 5,94

7,21 0,00*

*p≤0,05

Conforme mostra a tabela 13, os atletas que tiveram palavras classificadas como

pertencentes ao burnout total (grupo “sim”) apresentaram maiores escores médios para a

síndrome do que seus pares pertencentes ao grupo “não”. A diferença entre as médias dos

grupos foi estatisticamente significativa, o que demonstra que o atleta que escreveu uma ou

mais palavras associadas ao burnout total apresenta uma tendência a obter uma pontuação

mais elevada para a síndrome no QBA.

Posteriormente, as palavras classificadas como associadas ao burnout (“sim”) foram

reclassificadas, dessa vez em relação às três subescalas da síndrome. Novamente, foi utilizada

a avaliação dos mesmos juízes citados anteriormente. Para que uma palavra fosse enquadrada

como “sim” quanto à determinada subescala, teria que ser classificada por, no mínimo, dois

juízes. No caso de empate na classificação de uma palavra nas três subescalas diferentes,

prevaleceu a classificação da Psicóloga do Esporte.

Como cada atleta escrevia três palavras no questionário, o mesmo poderia pertencer

aos grupos “sim” ou “não” das três subescalas de burnout. Após a avaliação dos juízes, os

grupos “sim” e “não” foram comparados, através do teste “t” de Student, com relação às

médias dos valores absolutos das dimensões de burnout encontrados no QBA.

A Tabela 14 apresenta a comparação entre os grupos “sim” e “não” quanto à

incidência da subescala exaustão física e emocional. O “N” se refere ao número de atletas de

cada grupo. As médias e os desvios padrão são referentes aos valores absolutos da dimensão

exaustão física e emocional obtidos pelos atletas de cada grupo.

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Tabela 14: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência da subescala exaustão física e emocional.

N=200 Grupos N Média Desvio padrão Valor t p valor

Sim 63 11,73 3,98Exaustão Física eEmocional

Não 137

8,76 2,55

5,43 0,00*

*p≤0,05

Ao se analisar a tabela 14, observa-se que, tal como ocorreu com relação ao burnout

total, a subescala exaustão física e emocional também apresentou valor médio

significativamente mais alto entre os esportistas que responderam palavras associadas à

dimensão do que entre aqueles que não verbalizaram algo relativo a ela. “Exausta”,

“machucado”, “entristecido”, “angustiado”, “ansioso”, “cobrança” e “cansada” foram

algumas das palavras citadas como ilustrativas de exaustão física e emocional.

A Tabela 15 apresenta a comparação entre os grupos “sim” e “não” quanto à

incidência da subescala reduzido senso de realização esportiva. O “N” se refere ao número de

atletas de cada grupo. As médias e os desvios padrão são referentes aos valores absolutos da

dimensão reduzido senso de realização esportiva obtidos pelos atletas de cada grupo.

Tabela 15: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência da subescala reduzido senso de realização esportiva.

N=200 Grupos N Média Desvio padrão Valor t p valor

Sim 25 12,60 3,39Reduzido Sensode Realização

EsportivaNão 175

10,15 3,42

3,35 0,00*

*p≤0,05

No que se refere ao reduzido senso de realização no esporte, apesar de um número

reduzido de atletas (25) terem mencionado palavras que remetem a tal dimensão, os valores

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médios dos mesmos obtidos no QBA foram significativamente maiores quando comparados

aos indivíduos do grupo “não”. “Frustrado”, “insatisfeita” e “dificuldades” foram algumas das

citações classificadas na dimensão em questão.

A Tabela 16 apresenta a comparação entre os grupos “sim” e “não” quanto à

incidência da subescala desvalorização esportiva. O “N” se refere ao número de atletas de

cada grupo. As médias e os desvios padrão são referentes aos valores absolutos da dimensão

desvalorização esportiva obtidos pelos atletas de cada grupo.

Tabela 16: Média, desvio padrão e análise estatística entre os grupos “sim” e “não” quanto àincidência da subescala desvalorização esportiva.

N=200 Grupos N Média Desvio padrão Valor t p valorSim 12 13,58 4,70Desvalorização

Esportiva Não 188 8,19 2,813,93 0,00*

*p≤0,05

Conforme ocorreu com as variáveis analisadas anteriormente, os atletas que

mencionaram palavras relacionadas à desvalorização esportiva também obtiveram escores

médios significativamente superiores da subescala quando comparados aos esportistas que

não verbalizaram a referida dimensão. “Desmotivada”, “desacreditada”, “ressentida”,

“desanimada”, “desvalorizado” e “exigido demais” são exemplos de palavras classificadas

como pertencentes à dimensão desvalorização esportiva.

De modo geral, os atletas mencionaram palavras classificadas, principalmente, como

representativas de subescala exaustão física e emocional. Esses resultados se encontram de

acordo com a revisão da literatura realizada por GARCÉS DE LOS FAYOS (1999), na qual

ficou constatado que, dentre as subescalas de burnout, a exaustão física e emocional é

considerada a dimensão mais consistente e que melhor caracteriza a síndrome.

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4.5. Análise da Consistência Interna

O índice de consistência interna geral do QBA foi 0,82. Em virtude do limite mínimo

aceito como satisfatório ser de 0,70, considera-se satisfatório o α de Cronbach obtido pelo

instrumento. A Tabela 17 apresenta os valores de consistência interna de cada um dos 15 itens

do QBA.

Tabela 17: Consistência interna dos itens do QBA.Item Coeficiente α de Cronbach

1 0,802 0,813 0,804 0,805 0,816 0,817 0,808 0,799 0,7910 0,7911 0,8112 0,8013 0,8014 0,8115 0,80

Conforme observado na tabela 17, todos os 15 itens do QBA atingiram os escores

necessários para a validação da consistência interna. Além disso, verificou-se que os valores

de α obtidos por cada um dos itens foram menores que o coeficiente geral do instrumento

(0,82). Isso significa que, caso algum item fosse retirado do questionário, o índice de

confiabilidade do instrumento sofreria uma redução, o que confirma a relevância de todos os

15 itens para que se mantenha um valor elevado de confiabilidade. Conclui-se, portanto, que o

QBA é um instrumento psicométrico confiável e de consistência interna satisfatória, ou seja,

há uma homogeneidade entre os seus componentes.

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5. CONCLUSÃO

O objetivo do presente estudo consistiu em validar um questionário para a língua

portuguesa de identificação e mensuração da síndrome de burnout em atletas. Os resultados

encontrados confirmam tanto a validade de construto (o instrumento representa com exatidão

o conceito de interesse) quanto a confiabilidade (o instrumento mede efetivamente o que se

propõe a medir) do Questionário de Burnout para Atletas (QBA).

No que se refere à validade concorrente, o índice de burnout total se correlacionou

significativamente com o POMS total e seus seis estados de humor. Da mesma forma, as

dimensões de burnout apresentaram correlações estatisticamente significativas com o POMS e

os estados de humor, ocorrendo, inclusive, um elevado número de correlações de graus

elevado ou de moderado a elevado. A exaustão física e emocional mostrou estreitas

associações com o POMS total, depressão e fadiga. Nesse sentido, a depressão seria o

principal estado de humor responsável pela carga emocional da exaustão, ao passo que a

fadiga seria a principal responsável pelo aspecto fisiológico. Por sua vez, o reduzido senso de

realização esportiva se correlacionou, principalmente, em termos de POMS total, depressão,

raiva e confusão, sendo os 3 últimos aspectos eminentemente cognitivos, que representam a

frustração resultante dos fracassos e do não cumprimento dos objetivos traçados para a

carreira esportiva. Finalmente, a desvalorização esportiva foi correlacionada positivamente

com as variáveis POMS total, tensão, depressão, raiva e confusão, elementos ilustrativos da

apatia, falta de interesse e falta de motivação em relação à prática esportiva de alto

rendimento.

Os resultados da análise de conteúdo demonstraram que os atletas que mencionaram

palavras relacionadas ao burnout total ou à determinada dimensão de burnout obtiveram

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escores significativamente mais elevados para tais variáveis quando comparados com aqueles

que não verbalizaram algo a respeito da síndrome ou de suas subescalas.

Uma consideração importante deve ser feita em relação aos participantes do estudo.

Os mesmos representavam um número considerável de esportistas brasileiros de alto

rendimento, pertencentes a diversas modalidades. Isso demonstra que a amostra avaliada

representou, de modo consistente, a população alvo da pesquisa.

Apesar da opção pela não alteração das subescalas quanto aos itens que foram

classificados de modo diferente à classificação do ABQ original, outros estudos devem ser

realizados com maior número de participantes. Outra sugestão possível seria a alteração do

enunciado do QBA, trocando-se o termo “essa temporada” para “no dia de hoje”. Acredita-se

que o número de participantes e o período de tempo de avaliação dos itens podem influenciar

no comportamento da análise fatorial. Com as alterações sugeridas, seria possível verificar se

existe uma tendência à manutenção dos itens do QBA ou à aproximação dos mesmos em

relação à classificação encontrada no ABQ original.

Sugere-se, ainda, a utilização do QBA no monitoramento e prevenção da síndrome em

esportistas. Recomenda-se, também, novas abordagens acerca das eventuais manifestações

temporais da síndrome de burnout.

Os achados dessa investigação permitem concluir que o QBA é considerado um

instrumento adequado para a identificação e mensuração da síndrome de burnout em atletas

brasileiros de alto rendimento.

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ANEXOS

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ANEXO 1

Athlete Burnout Questionnaire (ABQ) (RAEDEKE e SMITH, 2001)

Please read each statement carefully and decide if you ever feel this way about your current sport participation. Your currentsport participation includes all the training you have completed during this season. Please indicate how often you have hadthis feeling or thought this season by circling a number 1 to 5, where 1 means "I almost never feel this way" and 5 means "Ifeel that way most of the time." There are no right or wrong answers, so please answer each question as honestly as you can.Please make sure you answer all items. If you have any questions, feel free to ask.

AlmostNever

Rarely Sometimes Frequently AlmostAlways

How often do you feel this way?

1. I'm accomplishing many worthwhile things in[sport]

1 2 3 4 5

2. I feel so tired from my training that I havetrouble finding energy to do other things

1 2 3 4 5

3. The effort I spend in [sport]would be better spentdoing other things

1 2 3 4 5

4. I feel overly tired from my [sport] participation 1 2 3 4 5

5. I am not achieving much in [sport] 1 2 3 4 5

6. I don't care as much about my [sport]performance as I used to

1 2 3 4 5

7. I am not performing up to my ability in [sport] 1 2 3 4 5

8. I feel "wiped out" from [sport] 1 2 3 4 5

9. I'm not into [sport] like I used to be 1 2 3 4 5

10. I feel physically worn out from [sport] 1 2 3 4 5

11. I feel less concerned about being successful in[sport] than I used to

1 2 3 4 5

12. I am exhausted by the mental and physicaldemands of [sport]

1 2 3 4 5

13. It seems that no matter what I do, I don't performas well as I should 1 2 3 4 5

14. I feel successful at [sport] 1 2 3 4 5

15. I have negative feelings toward [sport] 1 2 3 4 5

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ANEXO 2

Questionário de Burnout para Atletas (QBA)

Por favor, leia cada frase cuidadosamente e decida se você já se sentiu dessa maneira em relação à sua participação esportivaatual. A sua participação esportiva atual inclui todos os treinamentos que você completou durante essa temporada. Por favor,indique quantas vezes você tem tido esse sentimento ou pensamento nessa temporada circulando um número de 1 a 5, onde 1significa “eu quase nunca me sinto assim” e 5 significa “eu me sinto assim a maior parte do tempo”. Não há respostas certasou erradas, então, por favor, responda cada questão da forma mais honesta possível. Por gentileza, certifique-se de que tenharespondido todos os itens. Caso você tenha alguma dúvida, sinta-se à vontade para perguntar.

Quasenunca

Raramente Algumasvezes Freqüente

mente

Quasesempre

Quantas vezes você se sente assim?

1. Eu estou realizando muitas coisas que valem apena no esporte

1 2 3 4 5

2. Eu me sinto tão cansado dos meus treinamentosque eu tenho problemas para encontrar energiapara fazer outras coisas

1 2 3 4 5

3. O esforço que eu gasto praticando esportepoderia ser mais bem gasto fazendo outras coisas

1 2 3 4 5

4. Eu me sinto extremamente cansado com a minhaparticipação no esporte

1 2 3 4 5

5. Eu não estou alcançando muito no esporte 1 2 3 4 5

6 Eu não me preocupo tanto em relação à minhaperformance esportiva quanto antes

1 2 3 4 5

7. Eu não estou desempenhando todo meu potencialno esporte

1 2 3 4 5

8. Eu me sinto “destruído” pelo esporte 1 2 3 4 5

9. Eu não estou tão interessado no esporte como eucostumava estar

1 2 3 4 5

10. Eu me sinto fisicamente exausto pelo esporte 1 2 3 4 5

11. Eu me sinto menos preocupado em ser bem-sucedido no esporte do que antes

1 2 3 4 5

12. Eu estou exausto pelas demandas mentais efísicas do esporte

1 2 3 4 5

13. Parece que, não importa o que eu faça, eu não medesempenho tão bem quanto eu poderia 1 2 3 4 5

14. Eu me sinto bem-sucedido no esporte 1 2 3 4 5

15. Eu tenho sentimentos negativos em relação aoesporte

1 2 3 4 5

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ANEXO 3

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ÁREA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

Título da pesquisa: Validação do Questionário de Burnout para Atletas.

Eu, ________________________________________________, ___________ anos, RG n°_______________, residente à ________________________________________________,telefone n° ____________________, e-mail ____________________________, abaixoassinado (ou meu Responsável Legal ________________________________________), doumeu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário do projeto de pesquisasupracitado, sob a responsabilidade do Programa de Mestrado em Educação Física daUniversidade São Judas Tadeu.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:

1) O objetivo da pesquisa é verificar a incidência da síndrome de esgotamento emocional(burnout) em atletas;

2) Durante o estudo será aplicado um inventário de mensuração de esgotamento emocionalem atletas;

3) A aplicação do inventário apresenta risco mínimo para os atletas;

4) Caso seja de meu interesse, terei à minha disposição os resultados de meu teste;

5) Na hipótese de apresentação de elevados índices de esgotamento emocional no inventário,estarei recebendo a orientação dos pesquisadores para aderir, de modo espontâneo, ao serviçoespecializado de psicologia esportiva;

6) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minhaparticipação na referida pesquisa;

7) Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa;

8) Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através dapesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima,incluída sua publicação na literatura científica especializada;

9) Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu paraapresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone (11) 6099-1665;

10) Poderei entrar em contato com os responsáveis pelo estudo, Profa. Maria Regina Brandãoe Prof. Daniel Pires, sempre que julgar necessário, pelo telefone (11) 6693-1485;

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11) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meupoder e a outra com o(a) pesquisador(a) responsável.

São Paulo, ______ de __________________ de _______.

_________________________________________________

_________________________________________________

Nome e assinatura do Voluntário ou Responsável Legal

_________________________________________________

_________________________________________________

Nome e assinatura do Pesquisador Responsável