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Universidade São Francisco
Curso de Fisioterapia
PERFIL DA TRAQUEOSTOMIA EM PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO
FRANCISCO
Bragança Paulista
2010
Juliana Bonfim dos Passos
Priscila de Carvalho Ramos
PERFIL DA TRAQUEOSTOMIA EM PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO
FRANCISCO
Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Fisioterapia da Universidade São Francisco sob orientação da Profa
Patrícia Teixeira Costa como exigência para conclusão do curso de graduação
Bragança Paulista
2010
PASSOS, Juliana Bonfim ; RAMOS, Priscila Carvalho. Perfil da traqueostomia nos pacientes internados no Hospital Universitário São Francisco. 2010. Trabalho de
Conclusão de Curso. Curso de Fisioterapia da Universidade São Francisco,
Bragança Paulista.
________________________________________________________________Prof.ª Patrícia Teixeira CostaUSF – Orientadora Temática
________________________________________________________________Prof.ª Rosimeire Simprini PadulaUSF – Orientadora Metodológica
________________________________________________________________Prof.ª Aline HeidemannUSF – Banca Examinadora
DEDICATÓRIAS
Dedico este trabalho a duas pessoas: Izaldete e Aparecido, que em nenhum momento
deixaram de medir esforços para realização dos meus sonhos, que me guiaram pelos
caminhos corretos, me ensinaram a fazer as melhores escolhas, me mostraram que a
honestidade e o respeito são essenciais à vida e que devemos sempre lutar pelo que
queremos. A eles devo a pessoa que me tornei, sou extremamente feliz e tenho muito
orgulho por chamá-los de pai e mãe. AMO VOCÊS!
Priscila Carvalho Ramos
Quero dedicar este trabalho ao meu pai Luis e à minha mãe Maria, pessoas que me
ensinaram a retidão do caminho, a ser humilde, honesta, confiante e nunca desistir de
nenhum sonho por mais simples que ele seja. Exemplos de coragem, simplicidade e
persistência. Hoje sou o que sou por conta da dedicação e do amor que me deram. Muito
obrigada. AMO VOCÊS!
Juliana Bonfim dos Passos
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, meu refúgio, minha força, onde sempre encontrei
respostas para os meus problemas e por ter me oferecido a oportunidade de viver e evoluir a
cada dia.
Agradeço aos meus pais Izaldete e Aparecido, por serem minha fonte de inspiração,
pelo carinho, respeito, compreensão e amor dados sem querer nada em troca, por não
medirem esforços em realizar meus sonhos, por me ensinarem o valor das coisas simples da
vida e que jamais devemos ir contra nossos princípios; isso é a dádiva de crescer como ser
humano. Quando crescer quero ser metade do que foram pra mim. Amo vocês.
À minha irmã Aline, que muitas vezes seus puxões de orelha me incentivaram a
continuar nesta luta incessante, pelas noites mal dormidas devido às conversas, por
simplesmente ser como é. Ao meu cunhado, pelas brincadeiras e pelas conversas
incentivadoras.
À professora e orientadora Patrícia Teixeira Costa: quando eu crescer e conseguir
falar de minhas experiências com metade do entusiasmo com que você fala, serei muito
realizada. Tenho você como um exemplo a ser seguido sempre, afinal já deixou de ser uma
simples orientadora e tornou-se uma mãe científica pra todas as horas e momentos da vida.
À Juliana, por acreditar e confiar em mim, pelo companheirismo e dedicação, por me
aceitar e me ajudar, por me acalmar quando muitas vezes o desespero no nosso trabalho
falava mais alto.
Às professoras Rosimeire Simprini Padula e Thatiane Moura Campos Zanelli, como
orientadoras metodológicas, que muitas vezes nos faziam pirar com suas exigências, mas
que sabíamos da importância do trabalho a ser seguido, pela compreensão, pela
experiência, pelos ensinamentos, muito obrigada.
À banca examinadora, Aline Heidemann, por prestigiar este trabalho, contribuindo de
forma significativa neste processo.
Às amigas de faculdade, companheiras por quatro anos, mas amigas pela vida
inteira. Em especial à Emanuele, à Laís e a Thalita, que muitas vezes foram meu alicerce
para continuar nesta jornada, me incentivando e me mostrando a capacidade e o potencial
que havia em mim. Amo vocês, amigas.
À minha manauxa e agora afilhada Daia, pelas conversas, risadas, pelas fases
vividas juntas, pelos sorrisos dados em cada conquista, pelas conversas, pelas lutas, pelos
momentos únicos e inesquecíveis, por simplesmente sermos amigas e irmãs.
À Tamy e Ju, por terem surgido de uma forma única em minha vida, por terem me
ensinado que amizades verdadeiras nascem sem motivos, motivos esses únicos.
Aos amigos Lize, Prix e Neto, por termos nos aproximado de forma única, mas por
esse ciclo de amizade permanecer, pela veracidade que temos uns com os outros, pelos
finais de semana passados juntos, pelas bebedeiras, pelas conversas sérias e sarcásticas,
por momentos únicos, por sonhos compartilhados, por simplesmente fazerem parte de minha
vida.
Ao amigo Má, que fez parte de uma fase importante de minha vida, me incentivando
e me mostrando que eu era capaz de ser muito mais do que aquilo que imaginava ser.
À uma família nova que ganhei e ao meu namorado Bruno, que me ensinou a viver
com intensidade as coisas simples da vida, que me ama pelo que sou e não pelo que
possuo, que me ensinou a amar e ser amado sem querer nada em troca, que simplesmente
fez a minha vida mais feliz, me ajudando em momentos difíceis, me dando força para não
desistir, muitas vezes me ensinando o caminhando certo a seguir e caminhando junto
comigo, pelo companheirismo, compreensão, lealdade, cumplicidade, orgulho e amor, pelas
noites mal dormidas, pelas risadas incessantes, pelos momentos tristes, pelos momentos
únicos e insubstituíveis. Por sermos simplesmente como areia e o mar que não se
separaram. Amo você.
E aos que fizeram parte indiretamente para que eu chegasse até aqui. Obrigado a
todos.
Priscila Carvalho Ramos
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer a Deus pela vida, por levantar em cada dia com
forças para lutar, pelos obstáculos que tive que enfrentar, pelas vitórias e pelas derrotas,
pela família e pelos amigos que possuo.
Agradeço ao meu pai, uma pessoa que me ensinou que viver é curtir cada momento,
sentir cada perfume e que, mesmo não estando mais ao meu lado, me inspira, me protege e
me conforta.
À minha mãe, um exemplo de mulher, que me dá forças para superar os mais difíceis
obstáculos e que não mede esforços para que eu realize os meus sonhos. Eu sei que
sempre poderei contar com ela, independente de qualquer coisa.
Ao meu Irmão Leandro, que sempre está ali para me apoiar, me fazer acordar de
uma ilusão, me elogiar e me criticar. Te amo demais!!!
À minha amiga e companheira Priscila, por confiar em mim e acreditar que seríamos
mais que uma dupla de trabalho mas sim amigas verdadeiras. Por me ajudar e ter paciência
nos momentos mais difíceis.
À professora e orientadora Patrícia Teixeira Costa, por toda a sua dedicação e
disponibilidade em repassar seus conhecimentos para que este trabalho se tornasse
realidade. Pessoa que me surpreende a cada dia com tamanho conhecimento. Um exemplo
que quero levar pra toda a vida.
Às orientadoras metodológicas professoras Rosimeire Simprini Padula e Thatiane
Moura Campos Zanelli, que nos faziam pirar com tantas exigências. Mas hoje vejo que tudo
valeu a pena.
Quero agradecer uma pessoa mais que especial, o Ivan, meu namorado, que me
apóia,me puxa a orelha, por sua paciência e conforto nas horas mais difíceis. Te amo!
Ao Otaviano e a Hebe (pais do Ivan), minha segunda família, por me acolherem e
sempre me ajudarem.
À banca examinadora, Aline Heidemann, por prestigiar este trabalho, dispensando
tempo e contribuindo de forma significativa neste processo.
E a todas as pessoas que, de forma direta ou indireta, contribuíram para que este
sonho se tornasse realidade.
Obrigada de coração!
Juliana Bonfim dos Passos
EPÍGRAFES
“Determinação, coragem e auto confiança são fatores decisivos para o sucesso. Se estamos possuídos por uma inabalável determinação, conseguiremos superá-los. Independentemente das circustâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e despidos de orgulho.”
Dalai Lama
"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar.. Por isso, não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai para sempre.”
Bob Marley
RESUMO
INTRODUÇÃO: A traqueostomia é uma técnica cirúrgica muito antiga e um procedimento comum no ambiente de terapia intensiva que se refere à abertura e exteriorização da luz traqueal, onde é inserida uma cânula de traqueostomia, podendo ser temporária ou permanente. Sua principal utilização é o manejo de pacientes que necessitam de períodos prolongados de suporte ventilatório mecânico, tendo por finalidade promover o alívio do desconforto respiratório em pacientes com via aérea artificial e facilitar a remoção de secreções pulmonares. A Fisioterapia faz parte do atendimento multidisciplinar oferecido aos pacientes em Unidades de Terapia Intensiva. OBJETIVOS: Verificar o perfil de uso das traqueostomias utilizadas em pacientes internados no Hospital Universitário São Francisco. MÉTODO: Foi realizada uma análise dos prontuários dos pacientes adultos internados nas Enfermarias da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário São Francisco, anexo ao campus de Bragança Paulista, São Paulo, no período de 01 de setembro a 30 de novembro de 2009, que apresentaram o uso de qualquer tipo de traqueostomia. Os dados foram coletados dos prontuários e a análise foi realizada por meio de estatística descritiva com valores absolutos e relativos, sendo demonstrados os resultados através de gráficos e tabelas. RESULTADOS: Dos 960 pacientes internados, 6 (2%) fizeram uso de traqueostomia, sendo 100% do sexo masculino com idade média entre 41 e 79 anos. O local de predominância de internações foi na enfermaria cirúrgica (67%). O Acidente Vascular Cerebral (50%) foi a patologia com maior indicação para as internações hospitalares e a insuficiência respiratória aguda (50%) foi a patologia de maior indicação para o uso de traqueostomia. As cânulas plásticas (83,3%) foram as mais utilizadas. A ventilação mecânica (50%) foi o suporte ventilatório mais utilizado sendo que, 50% dos pacientes utilizaram a modalidade ventilatória PCV e 50%, a modalidade PSV. Os valores de PEEP ficaram entre 6 e 8 cmH20 e os de PIP entre 18 e 20 cmH20. A FiO2 variou entre 30 e 60%. As condutas fisioterapêuticas predominantes foram as manobras de higiene brônquica e aspiração endotraqueal (100%), seguidos pela manobras de reexpansão pulmonar (83,3%). O tempo de internação médio ficou entre 21 a 40 dias. Não houve óbito relacionado ao procedimento de traqueostomia mas sim referente ao quadro clínico dos pacientes. 50% evoluiu para alta e 50% evoluiu para o óbito. CONCLUSÃO: O estudo mostrou baixa incidência de uso de traqueostomia nos pacientes internados no Hospital Universitário São Francisco, sendo a maior predominância de uso de cânulas plásticas em relação às metálicas. A maioria dos pacientes apresentou como principal indicação de uso da traqueostomia a insuficiência respiratória. Houve baixa incidência de uso de oxigenioterapia e predominância do uso de ventilação mecânica nos pacientes avaliados. As condutas fisioterapêuticas mais utilizadas foram as manobras de higiene brônquica, manobras de reexpansão pulmonar e aspiração endotraqueal.
Palavras-chave: traqueostomia, ventilação mecânica, fisioterapia.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Tracheostomy is a surgical technique very old and the common procedure in intensive care setting with regard to openness and exteriorization of the tracheal lumen, which is inserted a tracheostomy tube, which may be temporary or permanent. Its main use is the management of patients requiring prolonged mechanical ventilatory support, the purpose of promoting the relief of respiratory distress in patients with artificial airway and facilitate the removal of pulmonary secretions. Physiotherapy is part of the multidisciplinary care offered to patients in Intensive Care Units. OBJECTIVES: To verify the use profile of tracheostomies in hospitalized patients used at University Hospital in San Francisco. METHODS: An analysis of medical records of adult patients admitted to wards of the Medical Clinic and Surgical Clinic, University Hospital San Francisco, annexed to the campus of Bragança Paulista, Sao Paulo, from September 1 to November 30, 2009, which presented the use of any type of tracheostomy. Data were collected from medical records and analysis was performed using descriptive statistics with absolute and relative values, the results being shown through graphs and tables. RESULTS: Of 960 patients hospitalized, 6 (2%) were treated with tracheostomy, being 100% male with average age between 41 and 79 years. The local prevalence of hospital admissions in the surgical ward (67%). The cerebral vascular accident (50%) was indication the pathology for more hospital admissions and respiratory failure (50%) disease was the major indication for tracheostomy. The plastic tubes (83.3%) were the most used. Mechanical ventilation (50%) was the most commonly used ventilatory support and that 50% of patients used the PCV ventilation mode and 50%, the PSV mode. The values of PEEP were between 6 and 8 cmH20 and the PIP between 18 and 20 cmH20. The FiO 2 ranged between 30 and 60%. The conducts physical therapy were the predominant maneuvers bronchial hygiene and endotracheal aspiration (100%), followed by pulmonary reexpansion maneuvers (83.3%). The mean hospital stay was between 21-40 days. There were no deaths related to the tracheostomy procedure but referring to the clinical status of patients. 50% progressed to high and 50% progressed to death. CONCLUSION: The study showed low incidence of use of tracheostomy in patients admitted to HUSF, with the highest prevalence of use of plastic cannulas in relation to metal. Most patients presented as the main indication for use of tracheostomy in respiratory insufficiency. There was a low incidence of use of oxygen and prevalence of mechanical ventilation. The practice of physical therapy were the most commonly used maneuvers bronchial hygiene, lung reexpansion maneuvers and endotracheal suction.
Keywords: tracheostomy, mechanical ventilation, physiotherapy.
.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Incidência de traqueostomia …..................................................................................39
Gráfico 2 - Gênero nos pacientes traqueostomizados.................................................................40
Gráfico 3 - Idade dos pacientes traqueostomizados....................................................................41
Gráfico 4 - Local de internação hospitalar dos pacientes traqueostomizados.............................42
Gráfico 5 - Tempo de uso da traqueostomia................................................................................46
Gráfico 6 – Número de atendimentos de fisioterapia....................................................................49
.
Gráfico 7 – Tempo de internação hospitalar.................................................................................51
Gráfico 8 – Evolução dos pacientes..............................................................................................52
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Diagnósticos clínicos................................................................................43
Tabela 2 – Indicações clínicas para traqueostomia....................................................44
Tabela 3 – Número das cânulas de traqueostomia.....................................................45
Tabela 4 – Uso de suporte ventilatório........................................................................47
Tabela 5 – Parâmetros ventilatórios............................................................................48
Tabela 6 – Condutas fisioterapêuticas........................................................................50
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Anatomia da Traquéia....................................................................................17
Figura 2 – Procedimento Cirúrgico..................................................................................26
Figura 3 – Cânulas e tubos.............................................................................................26
LISTA DE SIGLAS
a.C antes de Cristo
AMIB Associação de Medicina Intensiva Brasileira
cm centímetro
cm/H2O centímetros de água
DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
FiO2 Fração inspirada de oxigênio
HME Trocadores de umidade e calor
HUSF Hospital Universitário São Francisco
l/min litros por minuto
mm milímetro
mg/Kg miligramas por kilo
ml/Kg mililitros por kilo
mmHg milímetros de mercúrio
PaO2 Pressão de Oxigênio
PCV Ventilação por Pressão Controlada
PEEP Pressão Positiva Expiratória Final
PIP Pico de Pressão Inspiratória
PSV Ventilação por Suporte Pressórico
SARA Síndrome da Angustia Respiratória Aguda
SBPT Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia
SIMV Ventilação Mandatória Intermitente Sincronizada
TT Tubo traqueal
UA Umidificador aquecido
UTI Unidade de terapia intensiva
VCV Ventilação por Volume Controlado
VMI Ventilação mecânica invasiva
V/Q Relação ventilação/perfusão
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................16
1.1 Considerações Gerais Sobre Traqueostomia............................................................18
1.2 Atuação Fisioterapêutica nos Pacientes Traqueostomizados....................................26
2.OBJETIVOS ..................................................................................................................35
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................ 35
2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................35
3.0 MÉTODO ....................................................................................................................36
3.1 Desenho do Estudo......................................................................................................36
3.2 Local do Estudo............................................................................................................36
3.3 Critérios de Inclusão.....................................................................................................36
3.4 Critérios de Exclusão.....................................................................................................36
3.5 Materiais.........................................................................................................................37
3.6 Procedimento.................................................................................................................37
3.7 Análise dos Dados.........................................................................................................37
4.RESULTADOS ................................................................................................................39
5. DISCUSSÃO....................................................................................................................53
6. CONCLUSÃO..................................................................................................................58
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................59
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................60
ANEXOS...............................................................................................................................65
1. INTRODUÇÃO
A traqueostomia é uma técnica cirúrgica muito antiga e um procedimento comum no
ambiente de terapia intensiva que se refere à abertura e exteriorização da luz traqueal, onde
é inserida uma cânula de traqueostomia, podendo ser temporária ou permanente. Apresenta
relatos em livros de medicina hindu no ano de 1500 a.C, sendo que na década de 1940 o
interesse pelo procedimento cirúrgico aumentou devido a uma epidemia de poliomielite na
Europa. A primeira descrição cirúrgica foi datada em 1546 por um médico italiano, Antonio
Musa Brasavolta, que operou um paciente com “abscesso traqueal”. Chevalier e Jackson
(1923), no início do século XX padronizaram o procedimento pelo qual no fim da década de
60 com o advento dos ventiladores mecânicos com pressão positiva e o surgimento da
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) fez com que sua técnica cirúrgica persistisse até os dias
de hoje com mínimas modificações, com a finalidade de desviar de uma obstrução de vias
aéreas superiores, permitindo a respiração (SOUSA, 1998; BASTOS, 2003; SCARTEZINI,
2007; VIANNA, 2007).
Entretanto, há duas décadas vem sendo substituída por manipulações simples que
envolvem a punção e a dilatação da traquéia e das estruturas moles adjacentes. Esta técnica
deve ser adaptada para cada paciente levando em conta a patologia de base, expectativa de
recuperação, efeitos deletérios da intubação orotraqueal prolongada e risco do procedimento
cirúrgico (PARK, 2004; SABACK, 2009).
A laringe é composta por um esqueleto cartilaginoso rígido, com função de permeio
de vias aéreas e fonação além de participar da primeira e da segunda fase da deglutição. As
três principais cartilagens envolvidas na função respiratória e vocal são a cartilagem tireóide,
a cartilagem cricóide e um par de cartilagens aritenóides. A membrana cricotireoídea faz a
ligação da borda inferior da cartilagem tireóide com a cartilagem cricóide. O espaço
subglótico inicia-se abaixo das cordas vocais e se estende até a margem inferior da
cartilagem cricóide. Este espaço é local de menor diâmetro interno e é circundado pela
cartilagem cricóide, que é o único anel cartilaginoso completo das vias aéreas. Essas
características predispõem este espaço às inúmeras complicações (GOFFI, 1997; SOUSA,
1998).
A traquéia estende-se da borda inferior da cartilagem cricóide até a carina. A parede
posterior é membranosa e faz relação com a parede anterior do esôfago. Ao nível do
segundo anel traqueal, situa-se o istmo da tireóide. A irrigação sanguínea da traquéia tem
íntima relação com o suporte sanguíneo do esôfago; a porção cervical traqueal é irrigada,
predominantemente, por ramos da artéria tireóide inferior (GOFFI, 1997).
Figura 1. Anatomia da traquéia
1.1 Considerações Gerais sobre Traqueostomia
Existem diferenças quanto à técnica da cirurgia em relação à traqueostomia ser
eletiva ou de urgência. Antes da cirurgia uma cânula traqueal adequada deve ser escolhida e
testada (SOUSA, 1998).
Segundo Morgan e Dixan (2002), a traqueostomia eletiva, convencional em adultos,
deve ser realizada em um ambiente cirúrgico que possui instrumentos, iluminação e
assistência adequada. O procedimento começa com o posicionamento do paciente que deve
estar em decúbito dorsal com um coxim sob os ombros e o pescoço em extensão. (GOFFI,
1997; SOUSA, 1998; ALMEIDA, 2005).
Durante a realização de uma traqueostomia, as estruturas encontradas, por ordem de
aparição, são: pele e tecido subcutâneo, musculatura do platisma, musculatura pré-traqueal,
eventualmente o istmo tireoideano (que se situa entre o 1º e o 2º anel traqueal) e a fáscia
pré-traqueal. Em seguida, são palpados os pontos de referência anatômica (cartilagem
cricóide, cartilagem tireóide e fúrcula esternal) e realizado a assepsia e anti-sepsia do bordo
inferior da mandíbula até o segundo espaço intercostal e, em seguida, são colocados os
campos estéreis. Usa-se sempre anestesia local por infiltração, empregando anestésicos
comuns como a lidocaína a 2% em dose de 5 a 7% mg/Kg. Se houver riscos de asfixia
iminente, dispensa-se a anestesia para abreviar a cirurgia e salvar a vida do paciente
(GOFFI, 1997; SOUSA, 1998; MORGAN & DIXON, 2002; ALMEIDA, 2005).
Nos casos onde a cartilagem cricóide é palpada na altura da fúrcula esternal, a
incisão (de 3 a 5 cm) é realizada a uma polpa digital acima da fúrcula esternal. A incisão
prolonga-se na pele subcutânea até encontrar o plano dos músculos pré-traqueais (SOUSA,
1998; ALMEIDA, 2005).
De acordo com Sousa (1998), a musculatura pré-traqueal (esterno-hióideo e esterno-
tireóideo) é separada em sua rafe mediana e afastada lateralmente e, na maioria das vezes,
o istmo tireoideano é facilmente deslocado cranialmente por dissecção. Eventualmente, pode
ser necessária a secção mediana do istmo com sutura de seus bordos para melhor
exposição da traquéia. Uma incisão horizontal é então realizada entre o terceiro e o quarto
anel traqueal e ocorre a colocação da cânula traqueal já testada anteriormente (GOFFI,
1997; SOUSA, 1998).
Após a abertura da traquéia, o tubo endotraqueal, quando presente, é
cuidadosamente tracionado até um nível justamente acima da incisão traqueal. A traquéia é
então aspirada para a remoção de sangue ou secreções e a cânula traqueal já testada é
introduzida na luz traqueal (GOFFI, 1997; SOUSA, 1998;).
O estoma é fechado com pontos esparsos para evitar complicações precoces,
fixando-se a cânula de traqueostomia com uma fita ao redor do pescoço. Havendo dúvida
quanto ao correto posicionamento da cânula ou nos casos de dificuldade de realização da
traqueostomia deve ser realizado uma radiografia de tórax e pescoço. (GOFFI, 1997;
SOUSA, 1998).
Segundo Morgan & Dixan (2002), a técnica para traqueostomia de urgência é
modificada pela técnica da incisão da pele, verticalmente, e realização de toda a dissecação
na linha mediana até a parede traqueal.
Existem quatro tipos diferentes de técnicas cirúrgicas de traqueostomia.
A Cricotireoidostomia é um acesso cirúrgico das vias aéreas através da membrana
cricotireoídea. Seu maior uso é particularmente no paciente politraumatizado com lesões
maxilo-faciais graves, onde a intubação translaríngea é contra indicada. Não deve ser
utilizada eletivamente para acesso prolongado das vias aéreas e também não deve ser
utilizada no grupo pediátrico (abaixo de 10 anos). Deve ser convertida para traqueostomia
formal dentro de 24 a 72 horas para que não ocorram complicações, como por exemplo, a
estenose subglótica. Sua realização é fácil e rápida; é realizada uma incisão horizontal de
mais ou menos dois centímetros de extensão entre as cartilagens tireóide e cricóide
(SOUSA, 1998; ALMEIDA, 2005).
A Cricotireoidostomia Percutânea por agulha é considerado um método ainda mais
fácil e simples de acesso às vias aéreas através da membrana cricotireoídea, por meio de
uma punção desta membrana com um extracat (jelco) de grosso calibre. A ventilação pode
ser conseguida através de um fluxo de oxigênio (10L/min) ou através de um reservatório. O
inconveniente desta técnica é que só se consegue uma oxigenação adequada por um
espaço curto de tempo, porém suficiente até que um outro método definitivo seja obtido.
Muito utilizada em pacientes politraumatizados, com urgência de acesso das vias aéreas,
onde os métodos translaríngeo e de cricotireoidostomia são inviáveis ou contra indicados.
Existe também a descrição de sua utilização para abordagem de secreções
traqueobrônquicas, na limpeza traqueobrônquica e microcirurgia de laringe. Nos casos de
suspeita de corpos estranhos em vias aéreas, a ventilação deve ser feita com um baixo fluxo
de oxigênio (SOUSA, 1998).
A Traqueostomia Clássica é um método de caráter eletivo e nunca de urgência, visto
que a condição de emergência aumenta em cinco vezes a incidência de complicações. Se
houver urgência, opta-se por dar preferência à cricotireoidostomia. Quaisquer destes
procedimentos devem ser realizados por médicos (cirurgião ou intensivista) experientes para
evitar complicações. Não exige anestesia geral, podendo ser feita com bloqueio anestésico
local. A dissecação por planos pode encontrar tecido tireoideano em seu caminho, mas a
boa apresentação de acesso permite a secção sob ligaduras do istmo tireoideano, o que
evita sangramento no intra-operatório ou posterior. Também é possível fazer uma lipo-
ressecção caso o paciente seja obeso, o que facilita as trocas de cânulas no período pós-
operatório. Uma vez alcançada a traquéia, a incisão pode ser feita em H horizontal, em cruz
ou com a ressecção de um ou dois anéis traqueais. A realização de suturas em ancoragem
são sempre recomendadas com o intuito de produzirem tração na traquéia e facilitarem a
passagem da cânula. Depois de realizada a abertura da traquéia, a cânula de traqueostomia
é inserida sob visão direta (ALMEIDA, 2005; MATEUS et al., 2005; SABACK, 2009).
A Traqueostomia Percutânea é considerada atualmente o método mais popular. Foi
inicialmente descrita por Ciaglia em 1985, que utilizou a técnica de Seldinger e vários
dilatadores progressivos. A técnica, relativamente simples, emprega anestesia local e, com
um equipamento adequado, o procedimento é realizado em aproximadamente dez minutos.
Dentre as variações mais importantes estão: a punção traqueal passa a ser abaixo da
cricóide entre o primeiro e segundo anel traqueal, o que diminui a incidência de estenose
traqueal; utilização de dilatador único, que substitui os múltiplos e utilização da monitorização
com a broncofibroscopia. Apresenta como vantagem a realização no leito ou em unidade de
terapia intensiva, onde o risco do transporte do paciente da UTI ao bloco cirúrgico é
eliminado. As desvantagens do método existem pelo fato deste ser realizado às “cegas”,
com o risco de mau posicionamento do tubo traqueal e a possibilidade de ocorrer um falso
trajeto do tubo para fora da região traqueal (HOLANDA, 2002; ALMEIDA, 2005; VIANNA,
2007).
Segundo Almeida (2005), a traqueostomia pode ser classificada quanto à urgência,
ao anel traqueal seccionado e ao tempo de permanência. A traqueostomia pode ser de
urgência ou eletiva. Quanto ao anel traqueal seccionado, pode ser: alta, quando ocorre a
secção abaixo do quarto anel traqueal. Quanto ao tempo, pode ser temporária ou definitiva.
A abertura da traquéia pode ser realizada em vários níveis, sendo classificada em: alta
(acima da glândula tireóide, nos dois primeiros anéis traqueais); média ou trans-istímica
(através do istmo tireoideano); baixa (na altura do terceiro ou quarto anéis traqueais) e
transmembrana cricotireoideana (feita através da membrana cricotireoideana).
Desde o século XVI, quando o primeiro tubo de traqueostomia foi descrito por
Fabricius, todos os tubos são feitos de metal e possuem uma cânula interna que pode ser
removida para limpeza (COOPER & GRILLO, 2001 apud SCARTEZINI, 2007).
Diversos fatores vão interferir na escolha do tubo da traqueostomia, sendo os mais
importantes o estado clínico do paciente, as patologias de base e a indicação da
traqueostomia (BASTOS 2003; SABACK, 2009).
Os tubos de borracha natural são difíceis de higienizar, pois absorvem facilmente
secreções e os produtos de limpeza, entretanto apresentam maior durabilidade, mantendo
uma melhor curvatura, apresentando como desvantagem o balonete de alta pressão e baixa
complacência. Os tubos de plástico, por serem transparentes, facilitam a limpeza e permitem
a visualização de secreções, mas endurecem com o tempo e são mais propensos a produzir
trauma e perder sua curvatura com o uso repetido. Entretanto, os tubos com uma única
curva exercem pressão sobre as cartilagens aritenóides e a parte anterior da traquéia.
(SOUSA, 1998; CARVALHO, 2000).
As cânulas inseridas diretamente na traquéia ou através de via aérea superior
constituem a melhor maneira de manter a via aérea segura e isolada do trato gastro-
intestinal, podendo ser metálicas ou plásticas. As cânulas metálicas são indicadas para
pacientes que necessitem apenas da traqueostomia para manutenção da permeabilidade da
via aérea sem previsão de ventilação mecânica. (CARVALHO, 2000; BASTOS, 2003).
Em fins de 1960, começaram a ser experimentadas as cânulas plásticas que
possuem um balonete (cuff) situado ao redor da cânula, antes de sua extremidade distal,
com função de ocluir as vias aéreas a fim de permitir a ventilação mecânica com pressão
positiva e minimizar a aspiração de secreções da orofaringe, porém estes cuffs eram
associados a uma alta incidência de estenose traqueal (CARVALHO, 2000).
Atualmente, as cânulas plásticas são mais utilizadas, pois são maleáveis e, quando
comparadas com as metálicas, causam menos trauma na traquéia. Apresentam também
uma grande variedade de modelos que permitem ser acoplados aos mais diversos tipos de
ventiladores mecânicos. Possuem uma cânula interna removível que acompanha um tubo
metálico ou plástico tendo como função facilitar os cuidados de limpeza de secreções no
interior da cânula, podendo estas ser removidas, lavadas e desinfetadas com facilidade o
que aumenta o seu tempo de vida útil, reduzindo assim a necessidade de troca (BASTOS,
2003).
Outro ponto importante é a recursão imediata nos casos de obstrução por rolha de
secreção, pois nestes casos basta à retirada da subcânula para se preservar a via aérea
patente com a cânula externa. Sua função primária é permitir a ventilação mecânica com
pressão positiva, pois promove a vedação da via aérea impedindo assim o vazamento de ar
(BASTOS, 2003).
Geralmente, em adultos são utilizados diâmetros internos de 6 a 8 mm e, em alguns
casos específicos como pacientes com obesidade mórbida, aumento da circunfêrencia
cervical ou estenose baixa, são necessários tubos mais longos. Os homens necessitam de
tubos mais calibrosos que as mulheres (BASTOS, 2003; SABACK, 2009).
Por fim, as cânulas plásticas podem ser fenestradas permitindo a fonação que ocorre
através do direcionamento do fluxo expiratório para a boca com oclusão da saída externa da
cânula por válvula unidirecional, promovendo a possibilidade de recuperação da fala do
paciente, oportunidade que deve ser valorizada, pois aumenta o grau de independência do
paciente com maior grau de satisfação e bem estar (BASTOS, 2003; SABACK, 2009).
Há ainda uma série de outros tipos de tubos e cânulas disponíveis. As cânulas de
Kistner são cânulas curtas e retas que se estendem da pele até a parede anterior da
traquéia, podendo ser aberta intermitentemente. O tubo endobrônquico de duplo lúmen é um
tubo com dois ramos, cada um ventilando um dos dois pulmões e tornou-se o tubo de
escolha em anestesia para procedimentos intratorácicos. Por fim, os tubos em “T” ou de
Montgomery são utilizados sempre que pacientes são submetidos à reconstrução da
traquéia com anastomose término-terminal até que a completa cicatrização da anastomose
tenha ocorrido (CARVALHO, 2000; KREMER, et al., 2002).
Atualmente, os cuffs possuem grande volume e baixa pressão, minimizando as
lesões, mas não eliminaram os problemas focais de isquemia da traquéia. A pressão do cuff
deve ser suficiente para evitar o escape durante a ventilação com pressão positiva, sem
prejudicar a perfusão da mucosa traqueal (CARVALHO, 2000).
A traqueostomia está entre os procedimentos cirúrgicos mais comumente realizados
em pacientes críticos que necessitam de suporte ventilatório. Atualmente, a principal
utilização da traqueostomia é o manejo de pacientes que necessitam de períodos
prolongados de suporte ventilatório mecânico, tendo por finalidade promover o alívio do
desconforto respiratório em pacientes com via aérea artificial e facilitar a remoção de
secreções pulmonares. Apresenta ainda como indicações o manuseio de desmame difícil da
prótese ventilatória, obstrução das vias aéreas, paralisia abdutora das cordas vocais, em
caso de traumas, fraturas ou transecções da laringe ou traquéia, lesões da medula cervical
que impeçam a manipulação do pescoço, queimaduras e corrosivos, aspiração de corpos
estranhos, infecções, neoplasias, apnéia do sono, anomalias congênitas, limpeza de vias
aéreas e suporte ventilatório (SOUSA, 1998; BASTOS, 2003; MATEUS et al., 2005; PASINI
et al., 2007; RIBEIRO et al., 2007; SCARTEZINI, 2007; VIANNA, 2007).
É estabelecido na comunidade cientifica que os riscos de complicações são de duas
a cinco vezes maiores na traqueostomia de urgência do que em situações eletivas, portanto,
a realização da traqueostomia não é um método a ser utilizado na urgência, contudo, deve
ser realizada no centro cirúrgico com todos os suportes necessários, devendo a sua
realização à beira do leito ser evitada (MAIA & EMMERICH, 1992; SCARTEZINI, 2007).
Como qualquer procedimento cirúrgico, a traqueostomia não é desprovida de riscos e
complicações que podem ser divididas em três grupos: complicações intra-operatórias,
complicações precoces e complicações tardias (MAIA e EMMERICH, 1992; BASTOS, 2003;
SCARTEZINI, 2007).
As complicações intra-operatórias mais comuns são: hemorragia, embolia gasosa,
pneumotórax (mais comum em crianças), pneumomediastino, lesão de esôfago, lesão da
parede posterior da traquéia, lesão do nervo recorrente, falso trajeto da cânula traqueal,
edema falso de glote, aspiração de corpo estranho, lesão da glândula tireóide, dificuldades
respiratórias agudas, fraturas das cartilagens traqueais, mau posicionamento do tubo e
parada cardiorrespiratória (MAIA e EMMERICH, 1992; BASTOS, 2003; SCARTEZINI, 2007).
As complicações pós-operatórias mais comuns são: infecção, traqueíte, celulite
cervical, mediastinite, pneumonia, abscesso pulmonar, colonização bacteriana, enfisema
subcutâneo, obstrução da cânula por secreção espessa, edema agudo de pulmão,
deslocamento da cânula, distúrbios de deglutição e hematomas (MAIA e EMMERICH, 1992;
SCARTEZINI, 2007).
As complicações tardias mais comuns incluem: traqueomalácea, granulomas,
estenose subglótica, estenose traqueal, fístula traqueocutânea e traqueoesofágica,
aspiração e obstrução da cânula, cicatrização inadequada do orifício da traquéia e
dificuldades de extubação (MAIA e EMMERICH, 1992; SCARTEZINI, 2007).
Em casos de deslocamento acidental da cânula na fase precoce da traqueostomia, a
conduta mais segura é instituir a ventilação orofacial com ressuscitador manual e realizar
intubação translaringeal antes de reintroduzir a cânula no estoma (SABACK, 2009).
Os trabalhos atuais mostram uma morbidade em torno de 6% e uma taxa de
mortalidade menor que 1% em pacientes traqueostomizados (SOUSA, 1998; ALMEIDA,
2005; MATEUS et al, 2005; RIBEIRO et al., 2007; SCARTEZINI, 2007).
Figura 2 – Procedimento Cirúrgico
Figura 3. Cânulas e tubos
1.2 Atuação Fisioterapêutica nos Pacientes Traqueostomizados
A ventilação mecânica invasiva é um suporte oferecido ao paciente com função
ventilatória comprometida. Para sua aplicabilidade, é necessária a utilização de via aérea
artificial com o objetivo de manter a ventilação pulmonar adequada. As vias aéreas artificiais
mais comumente utilizadas na ventilação mecânica invasiva (VMI) são os tubos traqueais
(TT) e as cânulas de traqueostomia. Estas normalmente apresentam um balonete em sua
extremidade inferior que tem como função vedar a traquéia para evitar o refluxo do conteúdo
gástrico para o interior do trato respiratório inferior (causa comum de pneumonia) e o escape
de gás inspirado durante a ventilação artificial (SILVA et al., 2008).
A insuflação do balão interno (balonete) é facilmente monitorada pelo balão externo
(cuff). O cuff, além de fixar a cânula da traqueostomia, centraliza-a, permite a ventilação por
pressão positiva e previne aspirações. Sabe-se que nas unidades de terapia intensiva (UTI)
é comum encontrar pacientes que necessitam de suporte ventilatório mecânico invasivo
através de prótese traqueal (ALMEIDA, 2005; CATÃO et al., 2007).
A correta insuflação do balonete permite uma ventilação adequada além de ser uma
das formas de prevenção de pneumonia aspirativa bem como de diversas complicações
traqueais. É recomendado que a insuflação do balonete do tubo traqueal ou da cânula de
traqueostomia, inicialmente, seja feita gerando uma “pressão de selo”, com a função de
vedar a via aérea, impedindo a fuga do volume de gás inspirado e a formação de dobras na
parede do balonete durante sua insuflação, predispondo à formação de pequenos canículos
os quais favorecem a passagem e possível aspiração; porém, essa insuflação não impede,
obrigatoriamente ou necessariamente, a própria aspiração de conteúdo gástrico ou do
líquido proveniente das vias aéreas superiores; assim, é recomendado que a relação entre o
diâmetro do balonete e da traquéia seja a mais próxima possível entre 15 a 40 cm H2O. A
pressão maior que 15 cm H2O evita a aspiração gástrica com segurança e a pressão maior
que 40 cmH2O compromete a perfusão da mucosa traqueal (SILVA et al., 2008).
Não é habitual encontrar na rotina hospitalar a mensuração da pressão do balonete
pelos profissionais. Quando a verificação é realizada, geralmente ocorre pela palpação
digital do balonete externo (piloto). Estudos têm demonstrado que a palpação digital do
balonete externo é insuficiente para detectar alterações da pressão. Desta forma, faz-se
necessário à mensuração da pressão por meio de métodos considerados mais seguros e
confiáveis como a utilização de cuffômetros que são aparelhos específicos para medir tais
pressões. A literatura específica da área não apresenta um total padrão de medidas que
devem ser observadas durante o período de intubação do paciente. Contudo, no III
Consenso de Ventilação Mecânica está estabelecido que as medidas devem ser verificadas
diariamente, sendo monitorada três vezes ao dia para prevenir lesões isquêmicas e estenose
traqueal (CATÃO et al., 2007;OKAMOTO et al.,2007 SILVA et al., 2008; ).
A necessidade de intubação traqueal por um período maior que 24 horas pode
apresentar um grau de sofrimento da mucosa laringotraqueal. Existem estudos evidenciando
alterações na mucosa traqueal após 2 horas de intubação, caracterizando lesões precoces,
sendo o balonete um fator preditor dessas complicações. Vários fatores influenciam a
pressão do balonete, entre o tipo e o tamanho do tubo traqueal (CATÃO et al., 2007).
Sugere-se a vigilância contínua das pressões do balonete através da implantação de
uma rotina de mensurações matutina, vespertina e noturna como medida profilática para
prevenir as possíveis complicações da pressão de balão da prótese traqueal (CATÃO et al.,
2007).
A prevenção de hipoxemia durante a aspiração endotraqueal sempre foi um forte
motivo de preocupação, considerando que as quedas abruptas da pressão parcial do
oxigênio no sangue arterial (PaO2) comprometem severamente as funções celulares,
podendo desencadear arritmias cardíacas, parada cardiorrespiratória e até o óbito. Além
disso, a hipoxemia tem sido considerada como fator desencadeante da maioria das
intercorrências durante a aspiração endotraqueal (GROSSI e SANTOS, 2004). De acordo
com o III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica, a hiperoxigenação (FiO2 = 1) deve
ser utilizada previamente ao procedimento de aspiração endotraqueal para minimizar a
hipoxemia induzida pelo procedimento (OKAMOTO et al., 2007).
Mesmo quando se ventila o paciente com aparelhos modernos e sofisticados, não se
pode assegurar que a quantidade e a qualidade do ar inspirado permitam uma atuação
eficaz dos seus mecanismos de defesa das vias aéreas inferiores como o sistema muco-
ciliar, a tosse e a desobstrução macrófaga. Dentre as medidas de fisioterapia para manter a
permeabilidade das vias aéreas, a aspiração endotraqueal é considerada um procedimento
necessário e rotineiro. Apesar disto, vários autores concordam que a aspiração endotraqueal
não deva ser feita em intervalos regulares, mas somente quando o paciente necessite, pois
os riscos da aspiração de rotina ultrapassam seus benefícios (ROESE et al., 2007).
Com a indicação correta da aspiração traqueal, os pacientes ficam menos expostos
às sérias complicações decorrentes do procedimento, incluindo arritmias, laringo-espasmos,
traumatismos da mucosa traqueal, microatelectasias, hipoxemia, dessaturação do oxigênio,
bradicardias, hipertensão arterial, aumento da pressão intracraniana, infecções, ansiedade,
alterações na pressão parcial de gás carbônico, cianose, broncoconstrição e parada
cardíaca. Destas intercorrências, a hipoxemia tem sido apontada como uma das mais sérias,
pela maioria dos investigadores (GROSSI e SANTOS, 2004; ROESE et al., 2007).
Os efeitos da aspiração endotraqueal sobre a oxigenação sangüínea têm sido
extensivamente examinados e reconhecidos há muitos anos. É muito bem documentado que
severos decréscimos do oxigênio no sangue arterial ocorrem durante o procedimento
aspirativo ocasionando sérias complicações, inclusive a morte (ROESE et al., 2007).
A limitação do tempo de aspiração em quinze segundos, da pressão de sucção em
120 mmHg, do fluxo de sucção em 16 l/min e do número do catéter de aspiração em 14,
para adultos, são procedimentos aceitos e utilizados pela maioria dos pesquisadores. A
aplicação da pressão negativa durante a aspiração pode colapsar algumas zonas aéreas,
deteriorando a oxigenação e aumentando o trabalho respiratório (GROSSI e SANTOS, 2004;
ROESE et al., 2007).
Evidentemente, muitas instituições carecem de recursos financeiros, porém, é
importante repensar a qualidade da assistência e os riscos a que estão sendo expostos os
pacientes e tentar priorizar a compra de equipamentos que possibilitem melhora nas
condições ventilatórias aos pacientes, especialmente durante a aspiração endotraqueal
(GROSSI e SANTOS, 2004; ROESE et al., 2007). A ventilação mecânica constitui um dos
pilares terapêuticos da Unidade de Terapia Intensiva. Desde o início do seu uso em 1952,
por ocasião da epidemia de Poliomielite, em Copenhagem, vem se mostrando como uma
das principais ferramentas no tratamento de pacientes graves, em especial, os que
apresentam insuficiência respiratória. A produção de artigos científicos em revistas médicas
acompanha a evolução tecnológica dos ventiladores mecânicos e a evolução terapêutica do
seu uso nos últimos anos. Porém, a avaliação epidemiológica da ventilação mecânica,
usando como exemplo o enfoque do seu uso pelos médicos intensivistas na prática clínica,
carece de um número maior de estudos publicados (TASANATO et al., 2006).
O processo de retirada de ventilação mecânica deve ser priorizado nas Unidades de
Terapia Intensiva pois a manutenção do paciente nesse estado o coloca em risco de
diversos eventos associados ao aumento da morbi-mortalidade. Dessa forma, são
recomendados que se desenvolvam protocolos de avaliação diária do paciente,
selecionando aqueles que podem ser submetidos à tentativa de ventilação espontânea. A
utilização desses protocolos tem diminuído o tempo de ventilação mecânica, a duração de
internação na UTI, o custo total da internação e mesmo a mortalidade. A melhor forma de
realizar essa tentativa de ventilação espontânea não está ainda definida (AMARAL et al.,
2006; TASANATO et al., 2006).
A indicação de traqueostomia nos pacientes em ventilação mecânica ocorre
principalmente com o objetivo de evitar complicações associadas à intubação traqueal
translaríngea prolongada, facilitar a aspiração de secreções respiratórias, diminuir o espaço
morto e o trabalho muscular respiratório e promover maior conforto ao paciente. A
possibilidade de realização deste procedimento à beira do leito por técnicas de dilatação
percutânea e a maior quantidade de pacientes em ventilação mecânica prolongada nas UTI
tem promovido um incremento no número de traqueostomia nesta população (AMARAL et
al., 2006; TASANATO et al., 2006).
O fisioterapeuta tem importante papel na condução de protocolos de triagem de
pacientes para interrupção da ventilação mecânica. A triagem sistemática de pacientes aptos
para a realização do teste de respiração espontânea deve ser realizada diariamente pelo
fisioterapeuta da UTI, seguindo protocolo multidisciplinar da respectiva unidade. O
fisioterapeuta deve realizar o teste de respiração espontânea nos pacientes aptos,
identificando assim os elegíveis para a interrupção da ventilação mecânica. (OKAMOTO et
al., 2007).
A Ventilação Mandatória Intermitente Sincronizada (SIMV) e a Ventilação por Suporte
Pressórico (PSV) têm em comum a possibilidade de permitir ciclos ativos do paciente na
ventilação mecânica, havendo um trabalho muscular respiratório parcial e ou total por parte
do paciente. O uso destes modos ventilatórios permite menor necessidade de sedação já
que possibilitam, através dos seus ajustes, maior interação entre o paciente e o ventilador
mecânico (TASANATO et al., 2006).
Deve-se usar o modo ventilatório mais adequado ao paciente, levando em conta sua
doença, suas condições hemodinâmicas, o objetivo pelo qual se instala o ventilador e a
aptidão em manusear o modo escolhido. O valor mediano de volume corrente nos pacientes
em Ventilação por Volume Controlado (VCV) é maior que nos pacientes ventilados na
modalidade Ventilação por Pressão Controlada (PCV) e PSV, respectivamente 8 ml/kg e 7 a
7,2 ml/kg. Tal diferença se justifica pelo fato de se determinar e fixar o volume corrente nos
pacientes que são ventilados a volume. Observa-se no Brasil a utilização dos valores de
volume corrente orientado pelos consensos nacionais e internacionais sugerido de 8 a 10
ml/kg de peso corporal, evitando potenciais lesões alveolares e microvasculares
(volutrauma) (AMARAL et al., 2006; TASANATO et al., 2006).
A pressão inspiratória máxima apresenta-se maior nos pacientes em PCV (30
cmH2O), e, de forma esperada, mais baixa nos pacientes em PSV (21 cmH2O). O uso de
PCV implica em se determinar o valor de pressão com o qual se deseja ventilar o paciente e
pressupõe que este valor será limitado a um nível que possa ser seguro para os pulmões. A
oferta de oxigênio, caracterizada pela FiO2, mostra-se similar em valores compatíveis e
seguros para os pacientes já que, quando os valores ultrapassam 0,5 por mais de sete dias,
há possibilidades de lesões pulmonares. Quanto à PEEP, parece existir um “consenso não
escrito” de selecioná-la em 5 cmH2O. Os pacientes em PCV ventilam com valor mediano de
PEEP mais alta, provavelmente às custas de doenças mais graves (AMARAL et al., 2006;
TASANATO et al., 2006).
Nos pacientes em ventilação mecânica invasiva, a umidificação e o aquecimento
adequados dos gases são imprescindíveis para assegurar a integridade das vias aéreas e a
adequada função mucociliar. Podem ser realizados tanto ativamente, através de
umidificadores aquecidos (UA), como passivamente, por meio de trocadores de calor e
umidade (HME - Heat and moisture exchangers). Os HME são divididos em três categorias:
os higroscópicos, os hidrofóbicos e os mistos (higroscópicos-hidrofóbicos). Os HME com
propriedades higroscópicas têm melhor qualidade de umidificação, quando comparados aos
HME que possuem somente componente hidrofóbico, ou seja, este tipo de HME esteve
associado à oclusão do tubo traqueal em alguns estudos. Entretanto, os HME com
componentes hidrofóbicos funcionam também como filtros de bactérias em que seu uso
incorreto pode causar aquecimento e umidificação excessivos ou insuficientes, podendo
levar à hiper ou hipotermia, lesão térmica de via aérea ou fluidificação insuficiente da
secreção (OKAMOTO et al., 2007).
Existem sistemas de umidificação que usam circuito com fio aquecido (de maior
custo), que promovem aquecimento mais preciso do ar e previnem a condensação de água
no circuito, reduzindo o consumo de água e podendo, potencialmente, reduzir o risco de
infecção, quando comparado com circuito usualmente utilizado (sem fio aquecido). Contudo,
são contra-indicações relativas para o uso de HME: secreções espessas, abundantes ou
sanguinolentas, pois pode haver oclusão do HME, resultando em excessiva resistência,
hiperinsuflação pulmonar e necessidade de repetidas trocas do dispositivo; fístula
broncopleural volumosa ou vazamento de ar através do balonete do tubo traqueal;
temperatura corporal menor do que 32º C, pois o HME funciona passivamente e retorna
somente uma porção do calor e umidade exalados, grande volume minuto espontâneo (> 10
L/min) ou grande volume-corrente podem diminuir a eficiência de umidificação dos HME e
durante tratamento com aerossol. Nesta situação, o HME deve ser removido do circuito do
paciente durante a nebulização, pois a retenção do vapor de água e dos fármacos aerossóis
pelo HME pode aumentar a resistência do circuito. Dentre as possíveis complicações
descritas na literatura decorrentes do uso dos HME estão o aumento da resistência, o
aumento do trabalho da respiração e a hipoventilação devido ao aumento do espaço morto
(OKAMOTO et al., 2007).
Em 2000, foi publicado o II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Desde
então, o conhecimento na área da ventilação mecânica avançou rapidamente, com a
publicação de estudos clínicos que acrescentaram importantes informações para o manuseio
de pacientes críticos em ventilação artificial. Além disso, a expansão do conceito de
Medicina Baseada em Evidências determinou a hierarquização das recomendações clínicas
segundo o rigor metodológico dos estudos que as embasaram. Essa abordagem explícita
vem ampliando a compreensão e a aplicação das recomendações clínicas. Por esses
motivos, a AMIB – Associação de Medicina Intensiva Brasileira – e a SBPT – Sociedade
Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – julgaram conveniente a atualização das
recomendações descritas no consenso anterior. Dentre os tópicos selecionados, a
Fisioterapia durante a Ventilação Mecânica foi um dos temas propostos (OKAMOTO et al.,
2007).
A Fisioterapia se insere na equipe multidisciplinar e se faz presente em vários
segmentos do tratamento intensivo tais como o atendimento a pacientes críticos que não
necessitam de suporte ventilatório e assistência durante a recuperação pós-cirúrgica, com o
objetivo de evitar complicações respiratórias e motoras e assistência a pacientes graves que
necessitam de suporte ventilatório. Nesta fase, o fisioterapeuta tem importante participação,
auxiliando na condução da ventilação mecânica, desde o preparo e ajuste do ventilador
artificial à intubação, evolução do paciente durante a ventilação mecânica, desmame do
suporte ventilatório e extubação (BASTOS, 2003).
O paciente traqueostomizado tem a sua rotina diária normal como qualquer outra
pessoa, podendo inclusive se cuidar sozinho, e, para aprender a manusear a traqueostomia
e a cânula, basta um simples treinamento com a equipe de saúde do hospital no momento
da sua alta, para que, o mesmo esteja habilitado a cuidar da traqueostomia e da sua cânula.
Diante de alguma dificuldade ou problema mais sério é importante explicar o que fazer como
em casos de entupimento da cânula por crostas de secreção acumulada, saída acidental da
cânula e expectoração de secreção com vestígios de sangue (BASTOS, 2003).
Devido à importância essencial do fisioterapeuta nos hospitais, especialmente nas
Unidades de Terapia Intensiva, é importante se obter conhecimento sobre o paciente
traqueostomizado e suas implicações para que se possam realizar condutas e medidas
terapêuticas adequadas a cada caso.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Verificar o perfil de uso das traqueostomias utilizadas em pacientes internados no Hospital
Universitário São Francisco.
2.2 Objetivos Específicos
Verificar os tipos de traqueostomias utilizados em pacientes internados no Hospital
Universitário São Francisco.
Verificar a indicação clínica do procedimento de traqueostomia nos pacientes internados.
Verificar o uso de ventilação mecânica invasiva e os modos ventilatórios utilizados nos
pacientes submetidos à traqueostomia.
Verificar o uso de oxigenioterapia nos pacientes submetidos à traqueostomia.
Verificar as condutas fisioterapêuticas aplicadas aos pacientes traqueostomizados.
3. MÉTODO
3.1 Desenho do estudo
Estudo de coorte prospectivo com corte transversal por meio da análise de prontuários
dos pacientes.
3.2 Local do estudo
O estudo foi desenvolvido nas Enfermarias da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica
do Hospital Universitário São Francisco, anexo ao campus de Bragança Paulista, São
Paulo.
3.3 Critérios de inclusão
Foram incluídos no estudo pacientes adultos com faixa etária entre 18 e 90 anos
internados nas Enfermarias da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário
São Francisco no período de 01 de setembro a 30 de novembro de 2009, que apresentaram
o uso de qualquer tipo de traqueostomia e que aceitassem participar do estudo assinando o
TCLE.
3.4 Critérios de exclusão
Foram excluídos do estudo pacientes adultos internados nos locais referidos acima
que fizeram uso de outro tipo de via aérea artificial ou que não fizeram uso de nenhuma via
aérea artificial ou que não aceitaram participar não assinando o TCLE.
3.5 Materiais
Foram utilizados os seguintes materiais para o estudo:
♦ Prontuários hospitalares dos pacientes
♦ Ficha de avaliação específica
♦ Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
3.6 Procedimento
Inicialmente, foi solicitado ao diretor clínico do Hospital Universitário São Francisco
uma autorização para a coleta dos dados dos prontuários dos pacientes (Anexo I). Em
seguida, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São
Francisco para aprovação com número de protocolo: 0179.0.142.000-09 (Anexo II). Após
isso, os pacientes ou seus acompanhantes foram convidados a participar do estudo e
assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo III). Posteriormente, os
prontuários hospitalares dos pacientes internados nas Enfermarias da Clínica Médica e
Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário São Francisco foram analisados e assim
coletadas as informações sobre o tipo de traqueostomia, indicação clínica, tempo de
ventilação mecânica invasiva, tempo de oxigenioterapia e atuação fisioterapêutica. Essas
informações foram registradas em ficha de avaliação específica (Anexo IV).
3.7 Análise dos dados
Os dados registrados nos roteiros de avaliação foram revisados manualmente pelos
pesquisadores e, a seguir, transcritos e armazenados nos moldes de arquivos para bancos
de dados do programa Excel ESTATISTIC ou SPSS/PC 11.0 para análise.
Para a análise dos dados, foi realizado o cálculo de porcentagens, com valores
absolutos e relativos. O nível de significância adotado foi de 5%.
A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva com valores
absolutos e relativos, sendo demonstrados os resultados através de gráficos e tabelas.
4. RESULTADOS
Durante o período de 01 de setembro a 30 de novembro de 2009 foram internados
960 pacientes adultos nas Enfermarias da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica do Hospital
Universitário São Francisco com diversas afecções. Destes, 6 foram incluídos no presente
estudo por apresentarem o uso de via aérea artificial do tipo traqueostomia.
O Gráfico 1 representa a incidência de traqueostomia nos pacientes adultos
internados no HUSF.
Gráfico 1. Incidência de traqueostomia
A amostra indica que, dos 960 pacientes adultos internados no HUSF, 6 (2%)
apresentaram o uso de traqueostomia (Gráfico 1).
98%
2%
Pacientes sem TQT
Pacientes com TQT
O Gráfico 2 representa o gênero dos pacientes adultos traqueostomizados
internados no HUSF.
Gráfico 2. Gênero dos pacientes traqueostomizados
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, todos
(100%) eram do sexo masculino (Gráfico 2).
0%
100%
Sexo masculino
Sexo feminino
O Gráfico 3 representa a idade dos pacientes adultos traqueostomizados internados
no HUSF.
Gráfico 3. Idade dos pacientes traqueostomizados
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 1
(17%) estava entre a faixa etária de 18 a 40 anos, 2 (33%) estavam entre 41 e 59 anos, 2
(33%) estavam de 60 a 79 anos e 1 (17%) estava acima de 80 anos (Gráfico 3).
33%
17%17%
33%
18 - 40 anos 41 - 59 anos
60 - 79 anos Mais 80 anos
O Gráfico 4 representa o local de internação hospitalar dos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF.
Gráfico 4. Local de internação dos pacientes traqueostomizados
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 2
(33%) estavam internados na Enfermaria Clínica e 4 (67%) estavam na Enfermaria Cirúrgica
(Gráfico 4).
33%
67%
Enfermaria Cirúrgica
Enfermaria Clínica
A Tabela 1 representa os diagnósticos clínicos dos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF.
Tabela 1. Diagnósticos Clínicos
Diagnóstico Clínico N %Acidente Vascular Encefálico 3 50Pneumonia Aspirativa 1 16,6Broncopneumonia 1 16,6Choque Séptico 2 33,2Eviscerações Intestinais 1 16,6Derrame Pleural 1 16,6Ferimento Arma Branca 1 16,6Neoplasia de Laringe 1 16,6Total 6 100
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, o
diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico apresentou maior incidência entre os pacientes
com 50% dos casos, seguido de choque séptico com 2 pacientes (33,2%). Os demais
diagnósticos apresentaram a mesma incidência (Tabela 1).
A Tabela 2 representa as indicações clínicas para traqueostomia dos pacientes
adultos traqueostomizados internados no HUSF.
Tabela 2. Indicações clínicas para traqueostomia
Indicações da Traqueostomia N %Rebaixamento de nível de consciência 1 16,6
Pneumonia Aspirativa 1 16,6
Insuficiência Respiratória Aguda 3 50
Neoplasia de laringe 1 16,6
Total 6 100
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF,
houve a predominância de indicação clínica para o uso de traqueostomia a Insuficiência
respiratória em 3 pacientes (50%). As demais indicações apresentaram a mesma
predominância entre elas com 16,6% dos casos (Tabela 2).
Houve a predominância da técnica cirúrgica clássica nos 6 (100%) pacientes
analisados.
A Tabela 3 representa o número das cânulas de traqueostomia dos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF.
Tabela 3. Número das cânulas de traqueostomias
Número da Cânula N %8 3 509 1 16,6
6 1 16,65 2 33,2
Total 7 100
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 1
(16,6%) utilizou cânula de traqueostomia número 9 , 3 (50%) utilizaram cânula número 8, 1
(16,6%) utilizou cânula número 6 e 2 utilizaram cânula número 5 (33,2%) (Tabela 3).
Dentre os 6 pacientes traqueostomizados, houve a predominância da cânula plástica
em 5 pacientes (83,3%) e 2 utilizaram também cânula metálica, totalizando 33,2%.
O Gráfico 5 representa o tempo de uso de traqueostomia nos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF.
Gráfico 5. Tempo de uso da traqueostomia
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 2
(33%) permaneceram com traqueostomia por um período de 1 a 20 dias, 1 (17%)
permaneceu por um período de 21 a 45 dias e 3 (50%) permaneceram por um período acima
de 45 dias (Gráfico 5).
33%
17%50% 1 - 20 dias21- 45 diasAcima 45 dias
A Tabela 4 representa o uso de suporte ventilatório nos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF.
Tabela 4. Uso de suporte ventilatório
Suporte Ventilatório N %Ventilação Mecânica 4 66,7Oxigenioterapia 1 16,6Ar Ambiente 2 33,2Total 7 100
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 1
(16,6%) permaneceu em oxigenioterapia, 4 (66,7%) utilizaram ventilação mecânica e 2
(33,2%) permaneceram em ar ambiente durante o tempo de permanência com a
traqueostomia. 2 (50%) pacientes utilizaram a modalidade PCV e 2 (50%) utilizaram a
modalidade PSV (Tabela 4).
A Tabela 5 representa os parâmetros ventilatórios utilizados nos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF que permaneceram em ventilação mecânica.
Tabela 5. Parâmetros ventilatórios
Paciente PEEP (cmH2O) PIP (cmH2O) FiO2 (%)
1 6 20 30
2 8 18 40
3 8 18 40
4 6 20 60
Total 4 2 4
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 4
(66,66%) utilizaram valores de PEEP entre 6 e 8 cmH2O , 2 (33,33%) utilizaram PIP de 20
cmH2O, 2 (33,33%) utilizaram PIP de 18cmH2O e 4 (66,66%) utilizaram valores de FiO2
entre 30 e 60% (Tabela 5).
O Gráfico 6 representa o número de atendimentos de fisioterapia nos pacientes
adultos traqueostomizados internados no HUSF.
Gráfico 6. Número de atendimentos de fisioterapia
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 2
(17%) receberam de 1 a 20 atendimentos de fisioterapia, 2 (33%) receberam de 21 a 40
atendimentos, 2 (33%) receberam de 41 a 60 atendimentos e 1 (17%) recebeu acima de 60
atendimentos durante a internação hospitalar (Gráfico 6).
33%
17%17%
33%
01-20 atendimentos 21-40 atendimentos
41-60 atendimentos Acima 60 atendimentos
A Tabela 6 representa as condutas fisioterapêuticas utilizadas nos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF.
Tabela 6. Condutas Fisioterapêuticas
Condutas Fisioterapêuticas N %Manobras de Higiene Brônquica 6 100Manobras de Reexpansão Pulmonar 5 83,3Manobras de Desinsuflação Pulmonar 0 0Aspiração Endotraqueal 6 100Bag Squeezing 0 0Total 17 100
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF,
houve a predominância das manobras de higiene brônquica e aspiração endotraqueal em 6
pacientes (100%) como condutas fisioterapêuticas, seguidos pela manobra de reexpansão
pulmonar (83,3%). As manobras de desinsuflação pulmonar e Bag Squeezing não foram
realizadas nesses pacientes (Tabela 6).
O Gráfico 7 representa o tempo de internação hospitalar dos pacientes adultos
traqueostomizados internados no HUSF.
Gráfico 7. Tempo de internação hospitalar
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF, 1
(17%) permaneceu internado por um período de 1 a 20 dias, 4 (66%) permaneceram
internados por um período de 21 a 40 dias e 1 (17%) permaneceu internado por um período
acima de 40 dias (Gráfico 7).
17%
66%
17%
1-20 dias21-40 diasAcima 40 dias
O Gráfico 8 representa a evolução dos pacientes adultos traqueostomizados
internados no HUSF.
Gráfico 8. Evolução dos pacientes
A amostra indica que, dos 6 pacientes traqueostomizados internados no HUSF,3
(50%) evoluíram para a alta hospitalar e 3 (50%) evoluíram para o óbito (Gráfico 8).
50%
50%
Alta Óbito
5. DISCUSSÃO
Como visto no presente estudo, dos 960 prontuários de pacientes analisados no
Hospital Universitário São Francisco no período de 01 de setembro a 30 de novembro de
2009, apenas 2% dos pacientes fizeram uso de via aérea artificial por meio de
traqueostomia, o que denota um baixo índice desse procedimento no hospital em questão.
Segundo Tasanato e col. (2006), pacientes entre 7 e 21 dias dependentes do ventilador
mecânico e com utilização superior a 8 dias , fica sendo necessário o uso de via aérea
artificial via traqueostomia , mantendo assim uma ventilação eficaz a estes pacientes.
Segundo Ribeiro e col. (2007), a incidência de traqueostomia encontrou-se entre 10 e
11% nos pacientes internados. Esta baixa incidência pode ser justificada por não ter havido a
necessidade dos pacientes analisados permanecerem por tempo prolongado em uso de
ventilação mecânica e consequentemente sua evolução para uso de traqueostomia.
No presente estudo, houve predominância do gênero masculino nos pacientes
traqueostomizados, fato que corrobora com o estudo de Lima e col. (2009), em que 60% dos
pacientes traqueostomizados eram do sexo masculino. Esses dados também foram
observados no estudo de Tasanato e col. (2006), em que há uma predominância de 53%
para o sexo masculino. A predominância desse gênero se justifica devido ao grande número
de internações do sexo masculino que necessitaram de via aérea artificial, sendo que
posteriormente evoluiram para traqueostomia. Contudo, o autor conclui que há também uma
maior incidência no gênero masculino devido a fatores como tabagismo, obstrução de vias
aéreas e o mais grave que é a neoplasia cervical e pescoço no qual podem resultar em
traqueostomia definitiva.
Neste estudo, foi predominante para a realização de traqueostomia a faixa etária
entre 41 e 79 anos, o que evidencia uma faixa etária mais adulta. Esse fato se contradiz com
o estudo de Lima e col, (2009), em que há uma extensa abrangência de idades variando
entre 15 e 77 anos que fizeram uso de traqueostomia plástica ou metálica. Entretanto, não
se pode relacionar as comorbidades de cada faixa etária apresentada, identificando assim a
discrepância de idades nos estudos literários.
De acordo com essa pesquisa, 67% dos pacientes traqueostomizados
permaneceram internados na Enfermaria Cirúrgica do HUSF. Segundo o estudo de Ribeiro e
col. (2007), 95% dos pacientes traqueostomizados permaneceram internados em
enfermarias clínicas.
O diagnóstico clínico mais evidenciado neste estudo foi Acidente Vascular Cerebral
(50%), seguido de Choque (33,2%). Outras patologias obtiveram os mesmos dados
estatísticos (1%), sem maior relevância quando comparadas aos diagnósticos
predominantes. Salcedo e Vivar (2008) relatam que a ventilação mecânica nos pacientes
com Acidente Vascular Cerebral, associadas à intubação endotraqueal ou à traqueostomia
ocorre devido à inabilidade de manter adequadamente a ventilação alveolar; dessa forma,
esse suporte é utilizado com a finalidade de manter as trocas gasosas. Segundo Chaboyer
(2004), é de grande importância para o fisioterapeuta a limpeza das vias aéreas, que,
devido à idade, fraqueza ou doenças neuromusculares, certos pacientes são incapazes de
expelir adequadamente as secreções traqueobrônquicas decorrentes de pneumonia,
bronquiectasia ou broncoaspiração crônica. Nestes casos, a traqueostomia pode ser
benéfica pois permite a limpeza e aspiração das vias aéreas sempre que necessário.
A insuficiência respiratória aguda foi a patologia de maior indicação ao uso de
traqueostomia (50%); houveram outras patologias sem significância estatística entre elas
quando comparadas com a predominante. Os estudos epidemiológicos de Esteban e col.
(2001) mostraram incidência de 68% de insuficiência respiratória aguda nos pacientes
traqueostomizados. Segundo Mendes e co.l (2008), houve maior indicação ao uso de
traqueostomia para aqueles pacientes que apresentaram insuficiência respiratória (19%), o
que confirma os dados apresentados nesta pesquisa.
O presente estudo evidenciou o uso de cânulas plásticas (83,3%) na maior parte dos
pacientes que fizeram uso de traqueostomia, com predomínio do uso de cânulas de número
08 (50%). Diversos fatores irão influenciar a escolha da cânula, sendo os mais importantes o
estado clínico do paciente, a patologia de base apresentada e a indicação da traqueostomia,
se definitiva ou não. De acordo com Pinheiro e col. (2010), as cânulas plásticas são as mais
utilizadas atualmente pois são maleáveis e quando comparadas com as metálicas, causam
menos traumas na traquéia. Apresentam grande variedades de modelos a serem acoplados
no ventilador mecânico, onde sua função primordial é permitir a ventilação mecânica com
pressão positiva. Silva (2009) afirma que as cânulas de traqueostomia mais utilizadas são as
de diâmetro interno de 6 a 8 mm porém em alguns casos mais específicos como obesidade
mórbida, pacientes com aumento da circunfêrencia cervical ou com estenose baixa são
necessários tubos mais longos.
Com relação ao tempo de uso da traqueostomia, houve uma variação média entre 19
e 150 dias, tendo maior predominância de pacientes traqueostomizados no período acima de
45 dias (50%). De acordo com Ribeiro e col. (2007), o uso de traqueostomia encontra-se
associado ao prolongamento da internação hospitalar, o que confirma os dados
apresentados nesta pesquisa em que também o maior período de uso de traqueostomia é
proporcional ao tempo de internação hospitalar.
Este estudo apresentou como suporte ventilatório predominante associado à
traqueostomia o uso de ventilação mecânica (66,7%). Tais dados se confirmam no estudo de
Tasanato e col. (2006), em que 55,6% dos pacientes traqueostomizados fizeram uso de
ventilação mecânica.
Esta pesquisa evidenciou que, dos quatro pacientes que fizeram uso de ventilação
mecânica, 2 (50%) utilizaram a modalidade ventilatória PCV e 2 (50%), a modalidade PSV.
Nos estudos de Tasanato e col. (2006), as modalidades PCV, PSV e VCV foram as
modalidades ventilatórias mais utilizadas. Quando comparadas em relação ao desmame, a
PSV apresentou predominância de uso, tanto em modo isolado ou associada à modalidade
SIMV. Porém, no III Consenso de Ventilação Mecânica, o modo ventilatório SIMV associado
ou não a PSV não demonstrou significância para o favorecimento do desmame (FARIAS,
2007).
Este estudo verificou que os valores de PEEP variaram entre 6 e 8 cmH20, valores
esses idênticos ao estudo de Tasanato e col. (2006) com o objetivo de manter ou aumentar a
capacidade residual funcional, promover recrutamento alveolar, diminuir shunt intrapulmonar,
melhorar a relação V/Q e consequentemente, a complacência pulmonar.
Também os valores de PIP variaram entre 18 e 20 cmH2O, diferentemente do estudo
de Tasanato e col. (2006) no qual se observou valores maiores de PIP entre 21 e 30 cmH2O.
Essa variação está dentro dos valores obtidos no estudo de Godwasser (2007), com
variações entre 15 e 35 cmH2O. Acima desses valores podem ocorrer lesões como
barotrauma e volutrauma nos pacientes em ventilação mecânica.
Quando comparados os valores de FiO2 , há uma concordância de valores entre esta
pesquisa e o estudo de Tasanato e col. (2006), permanecendo este parâmetro entre 0,3 e
0,6. No início da ventilação mecânica, o autor recomenda que se inicie uma FIO2 em 1,
procurando-se reduzir progressivamente ate níveis mais seguros (menor ou igual 0,5). O
ideal é manter a FIO2 suficiente para obter uma saturação maior que 90% e uma PaO2 maior
ou igual a 60 mmHg, porém esses valores podem apresentar exceções quando
relacionados à patologias individuais como SARA e DPOC. Contudo, o autor afirma que é
necessário levar em conta o estado hemodinâmico dos pacientes e suas condições clinicas,
proporcionando valores adequados com a finalidade de manter ventilação pulmonar sem
provocar complicações a esses pacientes. Apesar de não ser bem definido o limite superior
de FIO2 aceitável, valores elevados acarretam o risco de atelectasia de absorção e de
toxicidade por oxigênio. A FIO2 deve ser mantida abaixo de 60%, sempre que possível. No presente estudo, houve uma predominância das manobras de higiene brônquica e
aspiração endotraqueal como condutas realizadas pela fisioterapia respiratória, seguidas das
manobras de reexpansão pulmonar (83,3%). Silva (2009) afirma que a fisioterapia
respiratória pode atuar tanto na prevenção quanto no tratamento das doenças respiratórias
utilizando-se de diversas técnicas e procedimentos terapêuticos tanto em nível ambulatorial,
hospitalar ou de terapia intensiva com o objetivo de restabelecer um padrão respiratório
funcional no intuito de reduzir gastos energéticos durante a ventilação. Segundo Salcedo e
Vivar (2008), para que a atuação da fisioterapia ocorra de forma produtiva visando o
restabelecimento do quadro dos pacientes hospitalizados, é necessário melhorar o clearance
mucociliar, melhorar a ventilação, prevenir ou eliminar acúmulo de secreções, favorecendo
assim a troca gasosa, além de manter ou melhorar a mobilidade da caixa torácica e da
parede abdominal. Silva (2009) afirma ainda que as manobras de fisioterapia relacionadas
aos cuidados respiratórios consistem em técnicas manuais, posturais e cinéticas dos
componentes tóraco-abdominais que podem ser aplicadas isoladamente ou em associação
com outras técnicas. Por fim, a fisioterapia respiratória é utilizada em pacientes críticos com
o objetivo de prevenir ou tratar complicações respiratórias, usando uma combinação de
procedimentos que objetivam a reexpansão pulmonar e a remoção de secreções de vias
aéreas. De acordo com Chaboyer et. al., (2004), em estudo realizado em 77 UTIs de adultos
de hospitais australianos públicos observou-se que 90% das instituições mantêm
fisioterapeutas em UTIs de segunda a sexta-feira, 25% delas mantém apenas nos finais de
semana e 10%, todos os dias da semana..
A fisioterapia respiratória pode ser utilizada em pacientes críticos com objetivo de
prevenir e/ou tratar complicações respiratórias. Para isso, geralmente é usada uma
combinação de procedimentos que objetivam a reexpansão pulmonare a remoção de
secreções nas vias aéreas (Chaboyer et al., 2004).
O tempo de internação hospitalar deste estudo variou de 10 a 150 dias, porém houve
uma maior incidência no período de 21 a 40 dias. Segundo os estudos de Tasanato e col.
(2006), o tempo de internação hospitalar esteve entre 11 e 23 dias, confirmando os dados
apresentados neste estudo. Esses dados podem ser justificados devido a maioria dos
pacientes apresentarem um bom prognóstico referente às doenças de base apresentadas.
A partir deste estudo, pode-se identificar que não houve óbito relacionado ao
procedimento de traqueostomia mas sim referente ao quadro clínico dos pacientes. 50%
evoluiu para alta e 50% evoluiu para o óbito. O estudo de Leão e col. (2007) mostra uma
contradição com esta pesquisa em que 63% dos pacientes evoluíram a óbito não
relacionado ao procedimento e 27% evoluiu para a alta hospitalar, ou seja, os dados se
diferenciam devido à gravidade clínica apresentada pelos pacientes analisados em cada
estudo no período de internação hospitalar. De acordo com Aranha (2007), as causas de
morte pós traqueostomia estão relacionadas à doença de base do paciente e não ao
procedimento cirúrgico para realização da traqueostomia, o que confirma os resultados
obtidos nesta pesquisa .
6. CONCLUSÃO
O presente estudo mostrou baixa incidência de uso de traqueostomia nos pacientes
internados no HUSF, sendo a maior predominância de uso de cânulas plásticas em relação
às metálicas. A maioria dos pacientes apresentou como principal indicação clínica de uso da
traqueostomia a insuficiência respiratória aguda. Houve baixa incidência de uso de
oxigenioterapia associada e predominância do uso de ventilação mecânica nos pacientes
avaliados. As condutas fisioterapêuticas mais utilizadas foram as manobras de higiene
brônquica, manobras de reexpansão pulmonar e aspiração endotraqueal.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi realizada nas enfermarias da clínica médica e da clínica cirúrgica
do HUSF. Esse fato dificultou a coleta de dados já que a predominância dos pacientes
traqueostomizados está em Unidades de Terapia Intensiva. Os pacientes que eram
encaminhados para as enfermarias já estavam em melhores condições clínicas e muitas
vezes sem o uso da traqueostomia.
Traçar um perfil de pacientes traqueostomizados é um assunto muito complexo e que
necessita de maiores pesquisas para que se possa comparar e observar, em diferentes
situações, a predominância das características do paciente com esta indicação com o intuito
de aprimorar o tratamento, diferenciar a abordagem e prevenir complicações desses
pacientes.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO I
SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS DOS PRONTUÁRIOS HOSPITALARES DO HUSF
Bragança Paulista, 19 de junho de 2009.
ILMO Sr Pedro Izzo,
Juliana Bonfim dos Passos e Priscila de Carvalho Ramos, acadêmicas do
Curso de Fisioterapia, vêm solicitar de Vossa Senhoria autorização para
analisar os prontuários hospitalares dos pacientes internados nas
Enfermarias da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica do HUSF no período
de 01 de setembro a 30 de novembro de 2009, por meio de um estudo
de coorte prospectivo através da análise de prontuários, tendo por finalidade ser um
Trabalho de Conclusão de Curso.
Este estudo tem a finalidade de verificar os tipos de traqueostomia utilizadas nos
pacientes, o tempo de ventilação mecânica invasiva dos pacientes submetidos à
traqueostomia, o tempo de oxigenioterapia utilizado e as condutas fisioterapêuticas
realizadas nos pacientes traqueostomizados internados no Hospital Universitário São
Francisco.
Esperando sua preciosa atenção, desde já agradecem e a esta subscrevem.
___________________________
Acadêmica: Juliana Bonfim dos Passos
_________________________
Acadêmica: Priscila de Carvalho Ramos
________________________
Orientadora Temática
Professora Patrícia Teixeira Costa
__________________________
Diretor Clínico Hospital Universitário São Francisco
Dr Pedro Izzo
ANEXO III
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PERFIL DA TRAQUEOSTOMIA EM PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO FRANCISCO
Eu_____________________________________________,RG________________, responsável por
_________________________________ Idade:______________, Endereço:
__________________________________________________________
declaro que é de livre e espontânea vontade participar como voluntário dessa pesquisa, de
responsabilidade do pesquisador Profª Patrícia Teixeira Costa. Assim estou ciente que:
I. O objetivo desta pesquisa é analisar os prontuários dos pacientes internados nas
Enfermarias da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica do HUSF no período de 01 de setembro
a 30 de novembro de 2009, não trazendo nenhum risco ou benefício em participar da
pesquisa.
II. É condição indispensável para participação do estudo os pacientes estarem
traqueostomizados e internados no HUSF.
III. Não será administrado nenhum tipo de medicamento.
IV. Os resultados obtidos serão mantidos em sigilo, não ocasionando exposição e/ou
publicação do nome do paciente.
V. O responsável pelo paciente poderá contactar o Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade São Francisco para apresentar recursos e reclamações em relação ao
estudo. (fone: (011) 4034-8028) ou os responsáveis pelo estudo Profª Patrícia Teixeira
Costa (fone: 4034-8133)
VI. Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
participação neste estudo e estar livre para interromper minha participação na pesquisa a
qualquer momento.
VII. O TCLE será impresso em duas vias, sendo uma para os pesquisadores e outra para o
voluntário.
Bragança Paulista, ____ de _______________ de 2009.
Nome e assinatura do responsável
Profª Patrícia Teixeira Costa
ANEXO IVFICHA DE AVALIAÇÃO
NÚMERO ____________________ DATA _____________________
Idade _______________ Sexo: M ( ) F ( )
Diagnóstico Clínico __________________________________________________
__________________________________________________________________
Antecedentes Pessoais ______________________________________________
Internação Clínica Cirúrgica ( ) Clínica Médica ( )
Traqueostomia Plástica ( ) Metálica ( ) Número ________________
Indicações Traqueostomia _____________________________________________
Técnica: Cricotireoidostomia Percutânea ( ) Cricotireoidostomia ( )
Traqueostomia Clássica ( ) Traqueostomia percutânea ( )
Cuff: Sim ( ) Não ( )
Ar ambiente ( ) Oxigenioterapia ( ) Ventilação Mecânica ( )
Ventilador __________________________________________________________
Modos de VM:
CPAP ( ) PSV ( ) SIMV ( ) SIMV + PSV ( ) PCV ( ) VCV ( ) PIP max
_________ PEEP max _____________ FiO2 max _______________
Tempo IOT ____________________ Tempo desmame ____________________
Tempo internação UTI ____________ Tempo internação hospitalar _____________
Tempo traqueostomia ______________ Tempo oxigenioterapia _______________
Fisioterapia respiratória Sim ( ) Não ( ) Número AT __________________
Condutas:
( ) MHB ( ) MRP ( ) MDP ( ) Aspiração Traqueal
( ) Bag squeezing ( ) Outras ___________________
Evolução Alta ( ) Óbito ( )