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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA HISTÓRIA INSTITUCIONAL E PATRIMÔNIO DOCUMENTAL: AS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI, 2006-2019, COMO LUGAR DE MEMÓRIA Mestranda: Marilise Zibetti Orientadora: Denise Almeida Silva Frederico Westphalen, abril de 2019.

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

MESTRADO EM LETRAS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA

HISTÓRIA INSTITUCIONAL E PATRIMÔNIO DOCUMENTAL: AS

DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI, 2006-2019, COMO

LUGAR DE MEMÓRIA

Mestranda: Marilise Zibetti

Orientadora: Denise Almeida Silva

Frederico Westphalen, abril de 2019.

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MARILISE ZIBETTI

HISTÓRIA INSTITUCIONAL E PATRIMÔNIO DOCUMENTAL: AS

DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI, 2006-2019, COMO

LUGAR DE MEMÓRIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Letras –

Mestrado em Letras, área de concentração em

Literatura Comparada, sob a orientação da

Profa. Dra. Denise Almeida Silva, como

requisito parcial para a obtenção do título de

Mestra em Letras.

Frederico Westphalen, abril de 2019.

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Aos meus filhos, Bárbara e Heitor Gabriel, que

estão construindo suas histórias.

Amo vocês infinitamente!

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AGRADECIMENTOS

Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São

muitos aqueles que nos acompanham nos diversos momentos de sua elaboração: os autores,

que sustentam e servem de referência às nossas reflexões, os professores com quem

compartilhamos estudos e pesquisas, os amigos e colegas de estudos com quem dividimos

nossas angústias e ansiedades, e a família, que é nosso suporte diário e o sentido da nossa

existência. A todos os que contribuíram para a construção deste sonho, os meus sinceros

agradecimentos.

A Deus, por iluminar minha trajetória e dar-me forças nos momentos em que pensava

em desistir.

Aos meus pais, Lédio e Neiva, pela vida, pelo amor incondicional e por tantos

esforços em prol de minha educação, pelo carinho e preocupação dedicados.

A minha filha Bárbara, que, apesar de seus oito anos, soube como gente grande

compreender que eu precisava dedicar boa parte do meu tempo a esta dissertação, abrindo

mão de estar comigo por muitos momentos, mesmo que por alguns dias, enquanto eu estava

escrevendo. Ao meu filho Heitor Gabriel, que em breve estará em meus braços, minha

inspiração, motivação e alegria.

A você Gabriel, que me apoiou, que me fez acreditar que eu podia, me incentivou, me

apoiou nos momentos de dúvida e principalmente por entender quando, ao invés de ficarmos

juntos, precisava estudar. Certamente com você ao meu lado tudo ficou mais fácil e tranquilo.

Você é uma pessoa incrível, obrigada!

Aos meus irmãos, Marilisa e Tiago. Pelo amor e incentivo a mim sempre dados. Vocês

moram no meu coração!

Aos meus amigos, pelas palavras de carinho e de incentivo, demonstrando que eu

venceria esta etapa. Obrigada a cada um por tudo, orações, motivações, carinho e apoio

incondicional.

À minha chefe e amiga, Claodete, que autorizou minhas ausências do trabalho para

que fosse possível frequentar as aulas do mestrado e, principalmente, por sempre estar do meu

lado, pelo carinho e por me dar forças constantes para eu seguir em frente e aprimorar meus

conhecimentos. Você é especial!

Aos meus colegas de trabalho, que, com todo o zelo possível, sempre me deram ânimo

para dar conta das tarefas profissionais e acadêmicas.

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Aos meus colegas de Mestrado, pelas conversas acalentadoras, pela escuta, pela

sensibilidade, apoio e boas vibrações, pela parceria em todos os momentos de dificuldades.

À minha querida orientadora Profa. Denise, a quem tanto admiro pelo trabalho,

delicadeza pessoal e pelas orientações tão imprescindíveis a esta pesquisa. Obrigada por

confiar em mim, acreditando em meu trabalho e me orientando para a vida. A você, que me

fez refletir muito, agradeço a paciência, a compreensão, o esforço e o empenho, que ajudou a

tornar-me uma pessoa melhor.

A todos os professores do Curso de Mestrado em Letras da URI, cada um com sua

particularidade, que me ensinaram a ver o mundo de outra forma, e a ampliar os horizontes.

Minha gratidão!

Agradeço à minha banca, Profa. Dra. Gabriela Silva e Prof. Dr. Lizandro Carlos

Calegari, por terem aceitado o convite de avaliar este trabalho e por contribuírem, com

leituras críticas, reflexivas e sensíveis, para o aperfeiçoamento desta pesquisa.

À Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões–URI e

funcionários, pelo serviço prestado e pela oportunidade de cursar um Pós-Gradução Stricto

Sensu de tamanha excelência como o Mestrado em Letras.

À CAPES, por propiciar os meios necessários para a minha caminhada acadêmica no

Mestrado em Letras.

A todos vocês, meu eterno reconhecimento!

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RESUMO

Este trabalho registra um aspecto específico da memória institucional da URI, que é a história

do Mestrado em Letras, mantido pela URI no período entre 2006 a 2019. Para isso, elegeram-

se, como objeto de estudo, as dissertações produzidas pelo PPGL da URI nesse período, as

quais são tomadas como lugar de memória. A pesquisa tem, como objetivo, preservar o

patrimônio documental da URI representado por essas dissertações, promovendo também o

registro da história do curso, tomado como patrimônio cultural. É a possibilidade de tornar

estes dados memoriais acessíveis, interpretáveis e ordenáveis que estabelece a produtividade e

sentido desta dissertação, esperando-se que contribua para a decisão de atribuir a essas

dissertações o status de arquivo permanente e, como tal, de caráter definitivo e disponível

para pesquisa, já que muito em breve perderão seu status de arquivo corrente. Para

desenvolver a investigação desta pesquisa exploratória no campo da memória institucional

foram adotadas a pesquisa bibliográfica e a análise literária. Os conceitos aqui expressos

resultam, principalmente, de reflexões baseadas em pressupostos teóricos de Pierre Nora

(1993), para o conceito de lugar de memória; estudos sobre memória institucional baseiam-se

Worcman (2004) e Nassar (2004) e patrimônio documental em Christo (2006) e Ribeiro

(2009). A relação história-memória é tratada, sobretudo a partir dos estudos de Le Goff

(2003), Halbwachs (2006) e Assmann (2011). Após expostos e discutidos os conceitos

fundamentais para a constituição da base analítica, e dimensionado o curso no qual as

dissertações foram produzidas através de seu histórico, analisaram-se as dissertações

produzidas, classificadas de acordo com linha de pesquisa e triênio, e mais tarde, quadriênio

de sua produção. Ficaram caracterizadas as contribuições de cada linha pesquisa, de acordo

com seus objetivos específicos. Modificações ocorridas nas linhas de pesquisa Literatura,

História e Imaginário e Memória e Identidade Cultural em 2010, quando foram subsumidas,

respectivamente, pelas LPs Literatura, História e Memória e Comparatismo e processos

culturais, determinaram significativa alteração nos rumos das pesquisas em ambas as linhas,

que ampliaram os temas investigados, e passaram a desenvolver pesquisas que, em vez

vinculadas a um orientador específico, tornaram-se recorrentes no programa. Nesse sentido,

salientam-se, na LP Literatura, História e Memória, trabalhos em torno da violência, e a

intensificação e ampliação das investigações sobre memória, identidade e minorias. Na LP

Comparatismo e processos culturais tem destaque pesquisas sobre comparatismo e tradução,

literatura e jornalismo, e a análise de narrativas cinematográficas, televisivas e midiáticas.

Pesquisas conduzidas na LP, Leitura, linguagens e ensino, caracterizaram-se pela busca do

perfil leitor do aluno em vários níveis de ensino, e pela intensa proposição de

atividades práticas com vistas à melhor formação do leitor, considerando suas vivências

leitoras e tecnologias passíveis de proporcionar atitudes mais reflexivas e ativas no discente;

as atividades propostas incluíram, frequentemente, temas como a violência e sexualidades

excêntricas. Em todas as LPs, observou-se a preferência pelo estudo de autores

contemporâneos. A contribuição das bancas, ao longo dos 13 anos do curso, revelou crescente

expansão das redes de cooperação e pesquisa do PPGL, as quais se alargaram do âmbito

regional ao âmbito nacional e até internacional.

Palavras-chave: Arquivo. Dissertação como lugar de memória. História Institucional.

Memória. Patrimônio Documental.

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ABSTRACT

This paper records a specific aspect of the institutional memory at URI, that is, the history of

the Master's degree in Letters, maintained by URI between 2006 and 2019. For this purpose,

the theses produced by the PPGL at URI in this period were chosen as the object of study, and

taken as a place of memory. The research aims to preserve the documentary patrimony of the

URI represented by these theses, and to promote the record of the history of the course, which

is considered as cultural heritage. It is the possibility of making these memorial data

accessible, interpretable and manageable that establishes the productivity and meaning of this

thesis. It is this researcher´s hope that it contributes in the decision to assign these theses the

status of permanent file, attributing to them the capacity of definitive file available for

research, since very soon the theses will lose their status of current file. Bibliographic research

and literary analysis were adopted to develop the investigation of this exploratory research in

the field of institutional memory. The concepts expressed here result mainly from reflections

based on the theoretical assumptions of Pierre Nora (1993), for the concept of memory place;

studies on institutional memory are based on Worcman (2004) and Nassar (2004) and the

ones on documentary heritage find spport on Christo (2006) and Ribeiro (2009). The history-

memory relationship is addressed based on the studies of Le Goff (2003), Halbwachs (2006)

and Asmann (2011). Initially, the fundamental concepts for the formation of the analytical

basis are discussed and the history of the course in which the theses were produced is

described; then the theses are analyzed and classified according to the line of research and

triennium, and later, quadriennium of their production. The contributions of each line of

research were characterized according to their specific objectives. Modifications in the

Literature, history and imaginary and Memory and cultural identity research lines in 2010,

when they were subsumed, respectively, by the LPs Literature, history and memory and

Comparatism and cultural processes, determined significant alteration in the directions of

research in both lines: there was an expension in the investigated themes, and research that

were previously associated to a specific advisor became recurrent in the program. In this

sense, we emphasize, in the history of the research line Literature, history and memory,

studies around violence, and the intensification and expansion of investigations on memory,

identity and minorities. In the Research line Comparatism and cultural processes, research on

comparatism and translation, literature and journalism, and the analysis of cinematographic,

television and media narratives became recurrent. Research conducted in the research line

Reading, languages and teaching was characterized by studies on the reader profile of

students at various levels of education, and by the intense proposition of practical activities

with a view on better reader formation, considering the role of reading experiences and the

usage of technologies to provide more reflexive and active attitudes in the student. Practical

activities proposed in the theses in this line often included topics such as violence and

eccentric sexualities. In all research lines, a preference for the study of contemporary authors

was noticed. The composition of the thesis examination board, over the course of the 13

years, revealed a growing expansion of the cooperation and research networks of the PPGL,

which widened from local into national and even international level.

Keywords: Archive. Thesis as a place of memory. Institutional history. Memory.

Documentary heritage.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Folder de divulgação da 1ª Turma do Mestrado ................................................ 79

FIGURA 2 – Câmpus da URI de Frederico WestphalenFonte: Site da URI........................... 79

FIGURA 3 – Prédio do Salão de Atos da URI (Prédio 08), que abriga o curso de Mestrado

em Letras .................................................................................................................................. 80

FIGURA 4 – Primeira turma de ingressantes no PPGL/URI, ladeada pelas professoras Ada

Maria Hemilewski (coordenadora, à esquerda) e Denise Almeida Silva (à direita). ............... 92

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Número de discentes, docentes e funcionários, URI-FW, 2018....................... 65

QUADRO 2 - Dissertações ingressantes Turma 2006 – Literatura, História e Imaginário ..... 92

QUADRO 3 - Dissertações ingressantes Turma 2007 – Literatura, História e Imaginário ..... 98

QUADRO 4 – Dissertações ingressantes Turma 2008 – Literatura, História e Imaginário .. 100

QUADRO 5 – Dissertações ingressantes Turma 2009 – Literatura, História e Imaginário .. 105

QUADRO 6 – Dissertações ingressantes Turma 2010 – Literatura, História e Memória ..... 111

QUADRO 7 – Dissertações ingressantes Turma 2011 – Literatura, História e Memória ..... 115

QUADRO 8 – Dissertações ingressantes Turma 2012 – Literatura, História e Memória ..... 119

QUADRO 9 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Literatura, História e Memória ..... 130

QUADRO 10 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Literatura, História e Memória ... 132

QUADRO 11 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Literatura, História e Memória ... 136

QUADRO 12 – Dissertações ingressantes Turma 2006 – Memória e Identidade Cultural... 141

QUADRO 13 – Dissertações ingressantes Turma 2007 – Memória e Identidade Cultural... 143

QUADRO 14 – Dissertações ingressantes Turma 2008 – Memória e Identidade Cultural... 146

QUADRO 15 – Dissertações ingressantes Turma 2009 – Memória e Identidade Cultural... 149

QUADRO 16 – Dissertações ingressantes Turma 2010 – Comparatismo e Processos Culturais

................................................................................................................................................ 151

QUADRO 17 – Dissertações ingressantes Turma 2011 – Comparatismo e Processos Culturais

................................................................................................................................................ 153

QUADRO 18 – Dissertações ingressantes Turma 2012 – Comparatismo e Processos Culturais

................................................................................................................................................ 154

QUADRO 19 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Comparatismo e Processos Culturais

................................................................................................................................................ 155

QUADRO 20 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Comparatismo e Processos Culturais

................................................................................................................................................ 158

QUADRO 21 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Comparatismo e Processos Culturais

................................................................................................................................................ 161

QUADRO 22 – Dissertações ingressantes Turma 2016 – Comparatismo e Processos Culturais

................................................................................................................................................ 163

QUADRO 23 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 165

QUADRO 24 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 168

QUADRO 25 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 172

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QUADRO 26 – Dissertações ingressantes Turma 2016 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 175

QUADRO 27 – Dissertações ingressantes Turma 2017 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 177

QUADRO 28 - Dissertações em progresso ou aguardando redação final ............................. 205

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 12

1 HISTÓRIA E MEMÓRIA.................................................................................................. 20

1.1 A relação entre história e memória ................................................................................. 20

1.2 História e Memória Institucional .................................................................................... 29

1.3 Patrimônio documental: memória e arquivo ................................................................. 36

1.4 O arquivo como lugar de memória ................................................................................. 49

2 MEMÓRIA UNIVERSITÁRIA 56

2.1 Memória Universitária ..................................................................................................... 56

2.2 Lugares de memória na URI ........................................................................................... 65

2.2.1 Espaço FESAU ................................................................................................................ 66

2.2.2 Biblioteca Central Dr. José Mariano da Rocha Filho ...................................................... 69

2.2.3 CEDOPH (Centro de Documentação e Pesquisas Históricas do Alto Uruguai) ............. 72

2.2.4 Dissertações do Mestrado em Letras ............................................................................... 75

3 AS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI COMO LUGAR DE

MEMÓRIA 78

3.1 Mestrado em Letras na URI: histórico do programa ................................................... 78

3.2 Dissertações produzidas a partir da linha 1: Literatura, História e Imaginário

(2006) e Literatura, História e Memória (2010)................................................................... 91

3.2.1 Linha 1: Literatura, História e Imaginário ....................................................................... 91

3.2.2 Linha 1: Literatura, História e Memória ........................................................................ 111

3.3 Dissertações produzidas a partir da linha 2: Memória e Identidade Cultural (2006) e

Comparatismo e Processos Culturais (2010)...................................................................... 140

3.3.1 Linha 2: Memória e Identidade Cultural ....................................................................... 140

3.3.2 Linha 2: Comparatismo e Processos Culturais .............................................................. 150

3.4 Dissertações produzidas a partir da linha 3: Leitura, Linguagens e Ensino (2013) . 164

CONCLUSÃO....................................................................................................................... 181

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 190

ANEXOS............................................................................................................................... 205

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INTRODUÇÃO

“Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nossa ação, nosso sentimento. Sem ela,

somos nada.”

(Luis Buñuel, 1982, p. 7)

Embora o conceito de memória apresente várias categorias analíticas, relaciona-se a

um tempo vivido que deve ser guardado a partir das vivências de indivíduos (memória

individual) e/ou grupos (memória coletiva), da sociedade (memória social), nação (memória

nacional ou oficial), instituições (memória institucional), ou ainda gerado a partir de

documentos (memória documental) e até de máquinas (memória artificial).

Nas últimas décadas, estudos envolvendo a memória ganharam grande incremento, e

têm sido valorizados como instrumento para a preservação de experiências vividas, do

conhecimento acumulado e da identidade de indivíduos e grupos sociais que buscam a

recuperação e divulgação de suas memórias através de diferentes formas de resgate do

passado, expressas, também, a partir de múltiplas formas. Esse renovado interesse pela

memória revela preocupação da sociedade com a recuperação, preservação, disseminação e

acesso a inúmeras informações, cada vez mais rapidamente disponíveis, em virtude do

crescimento informacional no mundo contemporâneo.

A atuação e importância da memória também têm sido reconhecidas na área

empresarial como reforço ou consolidação da imagem pública de uma empresa ou instituição,

podendo repercutir de maneira positiva em sua credibilidade junto ao público consumidor e à

sociedade como um todo. O desenvolvimento da memória nesse campo tem revelado a

importância do resgate e da organização da história de uma instituição, uma vez que se

constitui em ferramenta estratégica que pode ser aplicada no planejamento e o direcionamento

dos negócios e na consolidação da imagem institucional.

Enquanto funcionária da URI, sempre chamou a atenção a esta pesquisadora o viés da

memória institucional, a qual vem sendo percebida e compreendida como informação

estratégica para as atividades da gestão universitária. Para Carolina da Cruz Costa, “a

memória é o elemento primordial no funcionamento das instituições, pois, através da

memória, as instituições se reproduzem no seio da sociedade, retendo apenas as informações

que interessam ao seu funcionamento” (COSTA, 1997, p. 145). Worcman (2004) menciona

que a memória institucional é o uso que uma empresa faz de sua própria história, devendo ser

vista “como um marco referencial a partir do qual as pessoas redescobrem valores e

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experiências, reforçam vínculos presentes, criam empatia com a trajetória da organização e

podem refletir sobre as expectativas dos planos futuros” (WORCMAN, 2004, p.23). Nessa

perspectiva, é interessante criar alternativas para preservação da memória institucional, bem

como, utilizá-la nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Sendo assim, esta pesquisa registra um aspecto específico da memória institucional da

URI, que é a história do Mestrado em Letras mantido pela URI no período entre 2006 a 2019,

enfocando uma trajetória marcada pela dedicação e pelo entusiasmo de seus atores. Por esse

motivo, considera-se um desafio evocar as memórias de um grupo de professores que

almejaram a criação de um Curso Stricto Sensu, de abrangência regional, que oportuniza aos

graduados a continuidade de sua formação. A pertinência deste trabalho está no fato de que o

registro destas memórias também vem a ser um importante meio de comunicação entre as

diferentes gerações de docentes, técnicos administrativos e discentes do primeiro Curso

Stricto Sensu da URI- Câmpus de Frederico Westphalen.

Faz-se necessário preservar a memória representada nessas produções científicas

porque, como menciona Fragoso: “a responsabilidade de preservar a memória é de todos, já

que a memória é um patrimônio cultural da sociedade, e é a memória que alimenta a história

da nação" (FRAGOSO, 2009, p. 16). Nessas dissertações encontram-se registros que poderão

alimentar a história do Mestrado em Letras da URI, da própria Universidade, da comunidade

regional, do Estado e até mesmo do país.

Haveria múltiplas possibilidades para promover o resgate da memória do curso:

através dos docentes; eventos realizados; publicações feitas no decorrer dos anos ou mesmo

dos projetos de pesquisa. Porém fez-se opção pelas dissertações tomadas como lugar de

memória, o que implica registrar os rumos assumidos pela pesquisa no Mestrado em Letras: a

criação e manutenção das Linhas de Pesquisa, os projetos a elas associados, e as dissertações

delas decorrentes.

O conceito de lugar de memória deriva de Pierre Nora, que registra a necessidade de

lugares de memória quando já não há meios de memória, e a consciência da ruptura com o

passado ainda se confunde com memória evanescente, mas suficiente ainda para que seja

abordada. O conceito é mais amplamente exposto no capítulo 1.

Enquanto pesquisadora, foi-se levada a optar por este tema em virtude da trajetória

acadêmica. Inicialmente, a formação em História ampliou a compreensão da condição

humana, através da leitura, do estudo e da pesquisa. Dentre as alternativas oferecidas pelo

curso de História registra-se a possibilidade de estudo da trajetória das pessoas, famílias,

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empresas, patrimônio histórico e obras de arte. Desejava-se, já naquela ocasião, estudar a

história institucional, o que acabou não acontecendo.

No Mestrado em Letras, dada essa formação inicial, optou-se pela Linha de Pesquisa

Literatura, História e Memória, a qual aborda o fenômeno da memória, detendo-se nas

memórias individual, coletiva, involuntária e cultural, o que abarca a possibilidade de estudo

da relação história-memória dentro de um contexto institucional. Durante as aulas, o interesse

pela relação narrativa, história e memória foi despertado, e surgiu o desejo de aliar este

interesse ao estudo da história institucional. Além disso, estar inserida no contexto

universitário, fazer parte do cotidiano da Universidade, trouxe à tona, para este projeto, a

hipótese e a reflexão sobre os espaços de memória no contexto da URI e sua função na

preservação do patrimônio documental e na promoção da memória da instituição.

Falar em memória de instituições ou empresas é um conceito relativamente novo para

muitos historiadores. Entretanto, vale ressaltar que qualquer forma de convívio social interfere

na vida de cada indivíduo, que, por sua vez, interfere na sociedade. Estas relações são

fundamentais para compreendermos que uma empresa ou instituição tem suas histórias e

memórias, entrelaçadas no modo de vida particular, e também entrelaçadas à memória da

sociedade de sua área de abrangência. Falar da memória de uma instituição é, assim, falar da

memória de uma sociedade.

Muitas empresas e instituições perceberam que resgatar a memória, muito mais do que

uma celebração do passado, é uma importante ferramenta na preservação do patrimônio

cultural e documental, bem como um grande diferencial de mercado, uma vez que não são

todas as empresas que têm uma história interessante para contar. Sendo assim, ao enfocar a

memória empresarial, as empresas promovem estudos da história local e regional, pois

possuem acervos que colaboram na construção da pesquisa e na preservação da memória. De

modo análogo, a opção, dentro do campo da memória institucional, pela análise do acervo

documental relativo às dissertações produzidas pelo Mestrado em Letras motivou-se pela

percepção de que preservar a memória desse acervo institucional, que integra o patrimônio

documental da URI, representa preservar a memória da instituição e da comunidade regional,

a partir da descrição e análise dessa produção acadêmica, que sintetiza a forma de pensar e de

agir de uma comunidade acadêmica.

Há, porém, uma dimensão mais pessoal na escolha do tema desta dissertação. A

propósito, como lembra Alberto Manguel (2008) a escrita é uma forma de compreensão que

faz com que o ser humano se movimente entre o passado e o futuro. O autor apresenta a

história de Alfred Döblin, um dos grandes romancistas do século XX, para quem “[...]

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15

escrever era um processo que nos levava do presente ao futuro, um fluxo constante de

linguagem que permitia que as palavras dessem forma e nome a uma realidade sempre em

processo de formação” (MANGUEL, 2008, p. 15).

Ao optar por escrever este trabalho, esta pesquisadora divisava a possibilidade de se

movimentar entre o passado e o futuro. No passado, buscava a certeza da importância, não

apenas para si, mas para a comunidade de abrangência da URI, daquilo que representou o

curso. Divisava não apenas o intuito de recordar, mas de exercitar uma práxis em que reflexão

e redação marchassem lado a lado. Percebe, agora, o quanto havia a redescobrir: as diferenças

e os limites de cada ano de existência do curso, o processo de solidificação das Linhas de

Pesquisa, as contribuições únicas trazidas por cada docente para o desenvolvimento do ensino

e pesquisa, e para a construção de redes de cooperação nacionais e internacionais – tudo isso

visível na forma como temas de pesquisa se alternavam, alteravam e/ou reiteravam.

Referenciais consistentes possibilitaram reconstruir este passado, descobrindo valores, mas,

também, renovando vínculos.

Essa era uma caminhada em que, no trânsito do passado para o futuro, divisavam-se

não apenas reflexos para esta pesquisadora ,já que reafirmada da relevância do PPGL para si

própria, tanto em termos profissionais como pessoais, mas também a possibilidade da

manutenção, viva, dessa memória institucional, a qual poderá ajudar a entender o presente e a

planejar ações futuras.

Como a literatura sobre a memória tem, repetidas vezes, salientado que a memória se

constitui, na verdade, de duas variáveis: a memória e o esquecimento (RICOEUR, 2007),

outra motivação para a realização desta pesquisa foi a ameaça de esquecimento e perda de

documentos produzidos no ambiente acadêmico, os quais encontram-se agora disponíveis em

plataforma que poderá deixar de existir com a extinção do Mestrado, dificultando o acesso a

esses documentos, salvo via banco de dissertações e teses da CAPES. A importância da

preservação desses arquivos está no fato de que eles constituem a memória e a história de

pessoas que almejaram a criação de um Curso Stricto Sensu, que ao longo de seus 13 anos de

existência, tem oportunizado aos graduados da comunidade regional, a continuidade de sua

formação acadêmico-profissional. Com a preservação dos acervos documentais, a herança

cultural estará protegida e poderá ser transmitida para as gerações futuras.

Assim, ao fazer este registro descritivo-analítico, visa-se a preservação do patrimônio

documental e a promoção da memória da instituição, a partir da relação documento-história-

memória. Nessa perspectiva, a pesquisa tem, como objetivo principal, preservar o patrimônio

documental da URI representado pelas dissertações do Mestrado em Letras escritas no

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período de 2006 a 2019, promovendo o registro da história do curso, tomado como patrimônio

cultural de sua região de abrangência, a partir da descrição e análise dessa produção

acadêmica que se configura, já, como um lugar de memória.

Como desdobramento desse objetivo primeiro, a pesquisa apoia-se, em seu

desenvolvimento, nos seguintes objetivos específicos: a) apresentar o conceito de patrimônio

documental e relacioná-lo ao patrimônio e à memória institucional; b) definir o conceito de

lugar de memória, e relacioná-lo aos espaços de memória da URI, em geral, e em especial às

dissertações produzidas no Mestrado em Letras da URI, 2006-2019; c) Identificar os espaços

de memória da URI, situando as dissertações no contexto dos acervos de memória destinados

à perpetuação da memória e cultura institucional dentro da comunidade acadêmica; d)

Localizar todas as dissertações produzidas no PPGL no período de 2006 a 2019, classificá-las

de acordo com a linha de pesquisa a que se relacionam, e analisá-las comparativamente,

tomando-as como lugar de memória; e) Investigar os temas abordados nas dissertações a fim

de verificar os rumos e desdobramentos das pesquisas contempladas em mais de uma década

de produção acadêmica; f) Registrar a memória da pesquisa levada a cabo no Mestrado em

Letras, 2006-2019, reunindo, em um único trabalho, a memória da pesquisa realizada,

formando, assim, um banco de dados.

Cabe, ainda, registrar que a noção de dissertação como lugar de memória inspirou-se

em artigo de Ilza da Silva Fragoso (2010), “Teses e dissertações como referenciais de

memória: produções acadêmicas constantes no acervo da biblioteca do Núcleo de

Documentação e Informação Histórica Regional da UFPB (1975-2010)”. O artigo objetivava,

através do levantamento de produções acadêmicas, disseminar a informação registrada como

referencial de memória na construção do conhecimento e da história daquela instituição. Por

achar o assunto oportuno, utilizou-se as dissertações do Mestrado em Letras da URI como

fonte de registro de memória e como patrimônio cultural e documental da comunidade em que

o curso esteve inserido no período de 2006 a 2019.

Trata-se de uma pesquisa exploratória no campo da memória institucional. Foi adotada

abordagem qualitativa, baseada, sobretudo na relação história-memória, e nos conceitos de

memória institucional, patrimônio documental e lugar de memória. Os conceitos aqui

expressos resultam, principalmente, de reflexões baseadas em estudos de Pierre Nora (1993),

para o conceito de lugar de memória; estudos sobre memória institucional baseiam-se em

Worcman (2004) e Nassar (2004) e patrimônio documental em Christo (2006) e Ribeiro

(2009). A relação história-memória é tratada, sobretudo a partir dos estudos de Le Goff

(2003), Halbwachs (2006) e Assmann (2011). Especificamente no que tange à memória

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institucional, as fontes bibliográficas consultadas possibilitaram melhor compreensão do

assunto em questão através de exemplos de instituições que podem auxiliar na

operacionalização do conceito, o qual ainda não é amplamente reconhecido e aplicado no que

tange aos procedimentos necessários para a preservação da memória institucional.

A pesquisa acadêmica é um processo que requer várias etapas, desde a formulação do

problema até a apresentação dos resultados. Esta pesquisa utilizou materiais do Mestrado em

Letras que contemplam a divulgação das atividades e projetos desenvolvidos, tais como:

relatórios Coleta-CAPES, um sistema informatizado desenvolvido pela CAPES com o

objetivo de coletar informações sobre os programas de Pós-Graduação Stricto Sensu do País.

Subsidia o processo de avaliação realizado pela CAPES, bem como os programas de fomento

e delineamento de políticas institucionais e a Plataforma Sucupira, uma ferramenta que coleta

informações e funciona como base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação

(SNPG) e disponibiliza em tempo real informações, processos e procedimentos que a CAPES

realiza no SNPG para toda a comunidade acadêmica.

Ademais, elaborou-se uma leitura das produções acadêmicas da Pós-graduação Stricto

Sensu constantes no acervo da Secretaria do Mestrado em Letras da URI, defendidas no

período de 2006 a meados de 2019. Foram coletados dados acerca do autor, título, data e local

de defesa, banca, orientador e linha de pesquisa, o que permitiu a classificação inicial das

dissertações ao longo de escala temporal, e também sua delimitação segundo a linha de

pesquisa a que se associam. Dados a respeito da constituição das bancas são tomados como

índices de inserção do PPGL-URI, bem como dos intercâmbios de pesquisa ocorridos ao

longo da história do curso.

Para melhor compreensão do tema proposto, este estudo foi estruturado da seguinte

maneira: o Capítulo inicial, “História e Memória”, apresenta esses conceitos, salientando as

relações essenciais existentes entre ambos. Além disso, algumas categorias relacionadas à

memória são descritas, tais como: memória individual, memória coletiva e memória social,

com o propósito de situar, no contexto desses estudos de memória, o conceito de memória

institucional. São apresentados também os conceitos de Patrimônio Documental e de arquivo

como lugar de memória, esclarecendo, aí, esse conceito base para a elaboração desta

dissertação.

Logo a seguir, o Capítulo 2, “Memória Universitária”, expõe o conceito, que abriga

uma diversidade inerente a esse ambiente de ensino e de pesquisa científica. Na sequência,

enfatiza-se a construção de lugares de memória dentro da Universidade, trazendo o

conhecimento dos lugares de memória na URI. Para isso, desenvolveu-se uma reflexão sobre

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tais espaços de memória, a fim de que se pudesse investigar, mesmo que brevemente, como

eles impactam na perpetuação da memória e cultura dentro da comunidade na qual estão

inseridos.

Finalmente no Capítulo 3, “As Dissertações do Mestrado em Letras da Uri como lugar

de memória”, são descritas as dissertações do Mestrado em Letras. O capítulo subdivide-se

em quatro partes: primeiramente fala sobre o “Mestrado em Letras na URI: histórico do

programa”, passando, em seguida, à análise das dissertações, o que é feito na perspectiva de

cada uma das Linhas de Pesquisa - Linha 1: Literatura, História e Imaginário (2006) e

Literatura, História e Memória (2010); Linha 2: Memória e Identidade Cultural (2006) e

Comparatismo e Processos Culturais (2010) e, por fim, as dissertações produzidas a partir da

Linha 3: Leitura, Linguagens e Ensino (2013). Os trabalhos são agrupados ao longo dos

triênios, e, mais tarde quadriênios avaliativos; cada dissertação é analisada a partir de quatro

indicativos: objetivos, base teórica, estrutura e conclusão, com o que se espera ter produzido

quadro descritivo essencial da produção de um curso que se configura, já, como um lugar de

memória.

Construir esta dissertação significou, como já registrado, refletir sobre o significado da

história construída pelo PPGL; necessariamente, dado o caráter de documento de uma

dissertação, tal reflexão foi feita por meio de palavras. Lembra-se, aqui, outra reflexão de

Manguel, desta vez sobre a linguagem: para esse autor, toda vez que se pronuncia algo, sente-

se a necessidade de um retorno do dito. Para além do que o retorno daquilo que passou, a

linguagem pode mais: é “[...] um ato de evocação por meio de palavras e por meio daquelas

versões dos acontecimentos reais que chamamos de histórias” (MANGUEL, 2008, p. 18). E

histórias, Manguel lembra, são “[...] um modo de registrar nossa experiência do mundo, de

nós mesmos, dos outros”.

Registra-se aqui, necessariamente, a história do PPGL- Mestrado em Literatura

Comparada segundo a versão da história construída por esta pesquisadora, a partir de suas

vivências e visão de mundo. Mas, como lembra ainda Manguel, é uma forma de registrar não

somente uma memória e história individual, como a de todo um grupo de pessoas. É preciso

olhar para as pessoas, pois a história institucional é uma construção que traz em si as marcas

dos sujeitos que dela fazem e fizeram parte. Tanto os professores e alunos que passaram pelo

Curso, como os funcionários – enfim, todos quantos trabalharam e continuam, ainda,

trabalhando nesse projeto têm dado sua contribuição para construir essa história que se busca

preservar.

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Volta-se, ainda a Manguel para a compreensão do que levou à elaboração desta

narrativa: o autor relembra como toda a narrativa nasce e se constitui, em última análise, do

desejo do diálogo. Assim, a narrativa seria a melhor síntese da natureza do ser humano,

independentemente da época ou do espaço, já que “a maioria de nossas funções humanas é

singular: não precisamos de ninguém para respirar, andar, comer ou dormir. Mas precisamos

dos outros para falar, para que nos devolvam o que dissemos. A linguagem, declarou Döblin,

é um modo de amar os outros” (MANGUEL, 2008, p. 17).

Este trabalho é, pois, um diálogo: desta pesquisadora consigo mesmo, mas também

com todos os que compartilharam esta história e, ainda, com os que dela ficarão sabedores

através desta pesquisa. Consideram-se, já, futuros leitores, porque o ato de escrever pressupõe

desde sempre um diálogo com o leitor. Que este devolva a esta pesquisadora o que se disse,

mas o devolva como um amoroso ato de compartilhamento. Dessa forma, esta dissertação é,

também, uma expressão de amor ao Curso, à instituição, à própria história de vida e à história

de vida de todos os que sonharam com um Curso Stricto Sensu nesta região, e compartilharam

sua história. Ecoando as palavras de Manguel, espera-se que o ato da leitura deste trabalho

seja como “uma operação da memória por meio da qual as histórias nos permitem desfrutar da

experiência passada e alheia como se fosse a nossa própria” (MANGUEL, 2008, p. 19). Desse

modo, cada experiência, será definida como algo significativo no presente, em vez da

projeção de um passado definitivamente terminado.

Em tempos sombrios, quando do encerramento do Mestrado em Letras, escrever sua

história permitirá continuar a existência desse legado. Tomam-se de empréstimo, mais uma

vez, as palavras de Manguel (2008): “as histórias podem alimentar nossa mente, levando-nos

talvez não ao conhecimento de quem somos, mas ao menos à consciência de que existimos -

uma consciência essencial, que se desenvolve pelo confronto com a voz alheia” (MANGUEL,

2008, p. 19).

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1 HISTÓRIA E MEMÓRIA

“Resgatar a memória e recontar a história é ressignificar o olhar.”

Sonia Kramer (1999, s.p)

1.1 A relação entre história e memória

Em tempos de rapidez no compartilhamento das informações, os termos memória e

história se consolidam como um campo de estudos e de atuação profissional pela capacidade

de gerar pertencimento, emoção, organização, acesso e uso da informação, trazendo à tona o

que pode ser lembrado e permanecer vivo. Sem memória não se resgata o passado; sem

memória não se faz história e, sendo assim, algumas aproximações entre história e memória

autorizam tratá-las comparativamente.

Chauí (2000) sugere que tudo aquilo que se sabe ou se pode aprender se deve à

memória, seja ela passada ou relacionada ao futuro. Vai além, definindo-a como, “uma

evocação do passado. É a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi,

salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e que não retornará jamais”

(CHAUÍ, 2000, p. 158). Partindo dessas considerações, a autora (2000) menciona que a

memória seria como uma “atualização ou presentificação” do passado, tendo como uma de

suas atribuições fundamentais organizar a relação do homem com o tempo:

A memória não é um simples lembrar ou recordar, mas revela uma das formas

fundamentais de nossa existência, que é a relação com o tempo, e, no tempo, com

aquilo que está invisível, ausente e distante, isto é, o passado. A memória é o que

confere sentido ao passado como diferente do presente (mas fazendo ou podendo

fazer parte dele) e do futuro (mas podendo permitir esperá-lo e compreendê-lo)

(CHAUÍ, 2000, p. 164)

A possibilidade de conferir sentido ao passado é vital para a associação entre memória

e história. Para Tânia Oliveira Pereira (2007), há uma relação essencial entre memória e

história: “A memória é o mecanismo do cérebro humano que nos permite relembrar com

detalhes fatos passados, ou seja, a história de modo geral. A memória é, então, condição sine

qua non da história: sua matéria-prima, seu registro” (PEREIRA, 2007, p. 33).

A relação entre história-memória é tratada, neste trabalho, sobretudo a partir dos

estudos de Maurice Halbwachs (2006), Aleida Assmann (2011), Pierre Nora (1993) e Jacques

Le Goff (2003). O ponto básico da discussão é compreender as contribuições que estes

teóricos trazem sobre a escrita da história e da memória ao longo do tempo.

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Jacques Le Goff (2003) coloca em pauta um conjunto de conceitos e questionamentos

sobre história e memória. O autor define a memória como “um conjunto de funções psíquicas,

graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele

representa como passadas” (LE GOFF, 2003, p. 423). Por outro lado, salienta que a História

não deve ser entendida como ciência do passado, mas como a “[...] ciência da mutação e da

explicação dessa mudança” (LE GOFF, 2003, p. 15).

Raciocinando a partir da etimologia da palavra história nas línguas românicas, Le Goff

apresenta duas acepções básicas de História possíveis: a procura das ações realizadas pelos

homens, conceito que remonta a Heródoto; e a narração dessa série de acontecimentos. No

século XIX, surgem doutrinas que privilegiam a história dentro desse saber: a noção de

historicidade leva a inserir a própria história dentro da história. Como Certeau observa, “Há

uma historicidade da história que implica o movimento que liga uma prática interpretativa a

uma práxis social” (1970, p. 484, apud LE GOFF, 2003, p. 19). Por outro lado, o raciocínio de

Ricoeur de que “[...] é sempre na fronteira da história, no fim da história que se compreendem

os traços mais gerais da historicidade” (1961, p. 225-225, apud LE GOFF, 2003, p. 20)

possibilita a “entrada” de novos objetos no campo da Ciência Histórica, até então não

reconhecidos.

Alguns teóricos, como Aleida e Jan Assmann, valorizam os estudos da memória não

apenas em termos de armazenamento de dados em arquivos, mas de tudo aquilo escapa ao

registro oficial. Bernd (2017) destaca que,

[...] assim chamada memória Cultural incorporaria os elementos que pertencem à

esfera do sensível e do simbólico e que escapam ao registro hegemônico do poder e

sua tentativa de construção de uma identidade nacional em termos de totalização.

Há, portanto, um caráter político inegável na utilização do conceito de Memória

cultural. (BERND, 2017, p. 245-246)

Como Bernd registra, “a memória cultural está constituída não apenas por dados de

arquivo ou pela historiografia tradicional, mas também pela memória contida nos vestígios,

no que foi reprimido” (BERND, 2017, p. 247). Tal memória possibilita a exploração de

elementos associados também à tradição e à vivência, tais como mitos, rituais, e celebrações,

obras artísticas e textos literários.

É notável que Le Goff considere a discussão sobre ambiguidades e paradoxos sobre a

história como fundamentais para a definição de sua concepção. Segundo ele, o passado é “[...]

uma construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e

significativa da história” (LE GOFF, 2003, p. 25). Este raciocínio traz à tona uma

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preocupação acerca da dependência da história do passado em relação ao presente, pois a

memória sempre é trabalhada do presente para o passado:

Ela é inevitável e legítima, na medida em que o passado não deixa de viver e de se

tornar presente. Esta longa duração do passado não deve, no entanto, impedir o

historiador de se distanciar do passado, uma distância reverente, necessária para que

o respeite e evite o anacronismo (LE GOFF, 2003, p. 26)

Recorrendo ao pensamento de Génicot (1980), Le Goff traça importante distinção

entre objetividade e imparcialidade no pensamento histórico. “A primeira é deliberada; esta

última, uma impossibilidade, considerada a necessidade de o historiador avaliar a importância

dos fatos e suas relações causais- para o autor, a objetividade histórica não é a pura submissão

dos fatos” (LE GOFF, 2003, p. 32). Com relação às relações entre saber e poder, objetividade

e manipulação do passado e a natureza da memória e da história, o autor avalia:

Se a memória faz parte do jogo de poder, se autoriza manipulações conscientes ou

inconscientes, se obedece aos interesses individuais ou coletivos, a história, como

todas as ciências, tem como norma a verdade. Os abusos da história só são um fato

do historiador, quando este se torna um partidário [...] (LE GOFF, 2003, p. 32)

A história é posta como a ciência do tempo: “está estritamente ligada às diferentes

concepções de tempo que existem numa sociedade e são um elemento essencial da

aparelhagem mental dos seus historiadores” (LE GOFF, 2003, p. 52). Por outro lado, “a

memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para

servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para

a libertação e não para a servidão dos homens” (LE GOFF, 2003, p. 478).

Apesar de reconhecer a dependência entre memória e história, Le Goff (2003) explana

que existe uma clara distinção entre ambas. Comentando o pensamento de Le Goff a esse

respeito, Antonio Monsanto Dias (2012) avalia que a memória “faz parte do jogo do poder, se

autoriza a manipulações e a interesses, sejam eles individuais ou coletivos [...], e a história

como ciência, busca legitimar uma verdade em seu discurso” (DIAS, 2012, p. 220). Nesse

sentido, pode-se dizer que a memória, um objeto da história, deve ser encarada como um

componente elementar de sua criação. A memória é onde cresce a história, lugar onde a

história é alimentada, em sua relação sempre incompleta e conflituosa entre o presente e o

passado. Constitui-se por rastros, que chegam ao presente a partir do passado e que assim

constituem e legitimam o discurso historiográfico.

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Em seus estudos para compreender a natureza da memória, Maurice Halbwachs pensa

não tanto a relação temporal ou a objetividade/imparcialidade da narrativa histórica, mas

centra-se, antes, em uma perspectiva sociológica. Halbwachs (2006) afirma que nenhuma

lembrança pode existir apartada da sociedade. Entende a memória como um trabalho de

reconstrução do passado de um narrador, defendendo que a memória não existe em um plano

exclusivamente individual, uma vez que todo indivíduo vive em sociedade e está sempre

interagindo com outras pessoas. A memória coletiva baseia-se em um conjunto de indivíduos

que se lembram, por serem membros de um mesmo grupo, a partir do qual ela assegura sua

força e duração, e cuja “combinação de influências [...] são todas de natureza social. Algumas

dessas combinações são extremamente complexas.” (HALBWACHS, 2006, p. 69). Para o

teórico, a memória é sempre vivida, física ou afetivamente.

O autor trabalha a questão da memória coletiva da perspectiva de quadros sociais, isto

é, as relações que os agentes fazem com os ambientes coletivos. É a partir do conjunto das

relações entre pessoas e ambientes que os fatos do passado “assumem importância maior e

acreditamos revivê-los com maior intensidade, porque não estamos mais sós ao representá-los

para nós”. (HALBWACHS, 2006, p. 30). São os quadros sociais da memória que fazem com

que nossas lembranças, permaneçam coletivas. Estas “[...] nos são lembradas por outros, [...].

Isto acontece porque jamais estamos sós. [...] porque sempre levamos conosco e em nós certa

quantidade de pessoas que não se confundem”. (HALBWACHS, 2006, p. 30).

Assim, destaca-se, no pensamento de Halbwachs, a concepção de que, em grande

parte, nossas das lembranças ressurgem porque são acionadas a partir de recordações e/ou

convivência com outros indivíduos; mesmo quando estes não estejam “materialmente

presentes”, ao se evocar algum acontecimento compartilhado e visto sob o ponto de vista de

um grupo, “se pode falar em memória coletiva”. (HALBWACHS, 2006, p. 41).

Uma vez que a memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva,

esse ponto de vista muda conforme o lugar que ocupamos e as relações que mantemos com os

quadros sociais a que pertencemos: “a sucessão de lembranças, mesmo as mais pessoais,

sempre se explica pelas mudanças que se produzem em nossas relações com os diversos

ambientes coletivos” (HALBWACHS, 2006, p. 69).

No instante em que um grupo desaparece, existe uma única forma de salvar as

lembranças, “é fixá-las por escrito em uma narrativa, pois os escritos permanecem, enquanto

as palavras e o pensamento morrem” (HALBWACHS, 2006, p. 101). De acordo com esse

raciocínio, o autor defende uma distinção fundamental entre memória e história: “Como

poderia a história ser uma memória, se há uma interrupção entre a sociedade que lê essa

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história e os grupos de testemunhas ou atores, outrora, de acontecimentos que nela são

relatados?” (HALBWACHS, 2006, p. 101).

Por tudo isso, Halbwachs afirma que memória coletiva não pode ser confundida com

memória histórica, pois os termos memória e história se opõem, sendo a última “a compilação

dos fatos que ocuparam maior lugar na memória dos homens” (2006, p. 100). Traça distinção

entre memória e história a partir de dois aspectos: a história “examina os grupos de fora e

abrange um período bastante longo. A memória coletiva, ao contrário, é o grupo visto de

dentro e durante um período que não ultrapassa a duração média da vida humana, que de

modo geral, lhe é bem inferior” (HALBWACHS, 2006, p. 109).

Também Pierre Nora (1993) estabelece contrapontos entre e memória e a história,

situando-as em lados opostos, mas a partir de raciocínio distinto. Nora percebe na

contemporaneidade, em paralelo aos fenômenos da mundialização, democratização,

massificação, mediatização, uma “aceleração da história” que testifica o fim do que chama

“história-memória”. Para o historiador francês, assiste-se agora ao fim das “sociedades-

memória”, caracterizadas por “forte bagagem de memória e fraca bagagem de história” (1993,

p. 8). Esta se tornava desnecessária, visto que aquelas sociedades asseguram a conservação e

transmissão dos valores, sendo portadoras de uma “memória integrada, ditatorial e

inconsciente de si mesma, organizadora e toda-poderosa, espontaneamente atualizada, uma

memória sem passado que reconduz eternamente a herança, conduzindo o antigamente dos

ancestrais ao tempo indiferenciado dos heróis, das origens e do mito [...] (NORA, 1993, p. 8).

A essa memória integrada, Nora opõe a memória divorciada da vivência direta, a qual

descreve como “história, vestígio e trilha” (1993, p. 8). O termo memória é lembrado, pois ela

não mais existe. Há hoje uma percepção histórica que, com a ajuda da mídia, substituiu “[...]

uma memória voltada para a herança de sua própria intimidade pela película efêmera da

atualidade.” (NORA, 1993 p. 8).

Nora (1993) vai mais além, e afirma que "a memória se enraíza no concreto, no

espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga a continuidades temporais, às

evoluções, e às relações das coisas. A memória é o absoluto e a história, o relativo” (NORA,

1993, p. 09). Contrasta fortemente os conceitos de memória e história:

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em

permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,

inconsciente de suas deformações sucessivas, vulneráveis a todos os usos e

manipulações, suscetível de longas latências e repentinas revitalizações. A história é

a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A

memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história,

uma representação do passado. (NORA, 1990, p. 9)

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A partir desse raciocínio, Nora estabelece a noção da oscilação de um momento

memorial a um momento histórico, de um mundo em que se vivenciava uma história-memória

a um mundo em que a história tem caráter vestigial, em que se aguça a necessidade de lugares

nos quais a memória se cristaliza. Nora descreve: “Tudo o que é chamado de clarão de

memória é a finalização de seu desaparecimento no fogo da história. A necessidade de

memória é uma necessidade da história” (1993, p. 14). Conforme o historiador explana, o que

se chama de memória é, de fato, a constituição do estoque material daquilo que é impossível

lembrar, repertório insondável daquilo que se poderia ter necessidade de se lembrar.

Nora aponta para a aceleração dos ritmos de transformação dos processos históricos

como um fator que legou à memória e seus suportes uma importância cada vez mais

destacada. Segundo ele, nenhuma época foi tão voluntariamente produtora de arquivos como

a atual. Não somente pelo volume material que as sociedades produzem, tão pouco pelos

novos meios técnicos de reprodução e conservação de que passamos a dispor, mas sim pela

superstição e pelo respeito ao vestígio.

Segundo sua visão teórica, à medida que desaparece a memória tradicional, os

indivíduos sentem-se obrigados a acumular “religiosamente vestígios, testemunhos,

documentos, imagens, discursos, sinais visíveis do que foi como se esse dossiê cada vez mais

prolífero devesse se tornar prova em não se sabe que tribunal da história” (NORA, 1993, p.

15). Além disso, denomina o processo de descentralização da memória de “liquidação da

memória” (NORA, 1993, p. 16), na ânsia não apenas de tudo guardar, mas também de

produzir arquivos, ou seja, produzir memórias para conservá-las.

Em tal contexto, evidencia-se a complexidade dos campos da memória e da história.

“A memória é percebida por Nora como prisioneira da História ou encurralada nos domínios

do privado e do íntimo. Transformou-se em objeto e trama da História, em memória

historicizada” (SEIXAS, 2004, p. 41). Dessa forma, assume uma função criativa inscrita na

memória de atualização do passado lançando-se em direção a um futuro, que se reinveste de

toda a carga afetiva atribuída geralmente às utopias e aos mitos.

Em contraste com os raciocínios de Maurice Halbwachs e Pierre Nora, Aleida

Assmann (2011, p. 145) rejeita a oposição entre memória e história. Com referência ao

pensamento de Halbwachs, critica a concepção de que existe uma “memória do grupo”: “Que

há uma “memória no grupo”, isso ninguém contesta, mas também pode haver algo como uma

“memória do grupo?” Para Assmann, pode-se admitir a existência de tal memória apenas

metaforicamente, já que uma “[...] memória de grupo não dispõe de qualquer base orgânica e

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por isso é impensável, em sentido literal” (ASSMANN, 2011, p. 145). A esse respeito, a

pesquisadora lembra como Pierre Nora aponta para a inexistência de qualquer alma coletiva

por trás da memória coletiva, remetendo, antes, aos signos e símbolos sociais. Reconhecendo

o caráter pioneiro das pesquisas sobre a base social da memória desenvolvidas por

Halbwachs, e comparando-as com os argumentos de Nora, Assmann conclui: “Nora cumpriu

na teoria da memória o passo que vai do grupo vinculado na existência espaço-temporal, tema

estudado por Halbwachs, à comunidade abstrata que se define por meio dos símbolos que

abrangem e agregam, em nível espacial e temporal.”(ASSMANN, 2011, p. 145).

Para Aleida Assmann, a relação entre memória e história não é a de distinção, mas de

complementaridade. Reconhece a existência de relação colaborativa, uma vez que concebe

memória e história como “dois modos de recordação, que não precisam excluir-se nem

recalcar-se mutuamente” (ASSMANN, 2011, p. 147).

A pesquisadora identifica a existência de uma memória habitada, ou corporificada, ou

seja, uma memória pertence a portadores vivos, a qual denomina de memória funcional.

Percebe, nessa memória, as características de referência “ao grupo, à seletividade, à

vinculação a valores e a orientação ao futuro”. Por outro lado, concebe as ciências históricas

como uma memória de segunda ordem, ou seja, “uma memória das memórias, que acolhe em

si aquilo que perdeu a relação vital com o presente” (ASSMANN, 2011, p. 147). A este tipo

de memória a pesquisadora denomina memória cumulativa.

Segundo Assmann, a memória tem diferentes planos; um deles é referente aos fatos

que o indivíduo lembra e sabe sobre si próprio, ou seja, o conhecimento particular sobre si,

sobre sua autoestima e, consequentemente, a forma como lida com essas experiências, o que a

pesquisadora denomina de “memória consciente”. Porém, “dessa configuração da memória

para o indivíduo depende o quadro de oportunidades futuras à disposição do indivíduo e quais

delas estão excluídas de seu horizonte” (ASSMANN, 2011, p. 147).

Já um segundo plano da memória se constitui de elementos bastante heterogêneos: em

parte, improdutivos, inacessíveis; em parte fora do alcance da atenção ou inacessíveis a

tentativa ordenada de recuperação; em parte, ainda, escandalosos ou dolorosos e, por esse

motivo, afastados do alcance imediato de recuperação. Conforme Assmann resume, “os

elementos da memória cumulativa pertencem ao indivíduo, mas constituem uma reserva – que

por vários motivos, sejam eles quais forem – em certo momento deixa de estar disponível para

resgate” (ASSMANN, 2011, p. 148). Para que tais elementos passem a integrar uma memória

com função orientadora, é necessário classificá-los de acordo com um determinado quadro de

sentido.

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É justamente a possibilidade de tornar os dados da memória cumulativa acessíveis,

interpretáveis e ordenáveis que estabelece sua produtividade e sentido. Esse trânsito assinala a

passagem de elementos da memória cumulativa para a memória funcional, justificando a

concepção da natureza complementar entre ambas. De acordo com Assmann, esse modelo de

memória funcional, estabelece por um lado, uma fronteira produtiva entre uma massa amorfa

de elementos soltos, e elementos produtivos, já que seleciona elementos e agrega-os entre si.

Para a pesquisadora, “essa fronteira é produtiva justamente por ser móvel. A memória

funcional é seletiva e atualiza apenas um fragmento do conteúdo possível da recordação”

(ASSMANN, 2011, p. 148).

O cerne do raciocínio da Assmann é justamente esse trânsito vivo entre uma memória

e outra, fazendo com que não haja uma rígida separação entre ambas, demonstrando como a

memória funcional se alimenta da cumulativa e vice-versa. A memória cumulativa, segundo

Assmann, se configura, como a “massa amorfa”, “aquele pátio de lembranças inutilizadas,

não amalgamadas, que circunda a memória funcional” (ASSMANN, 2011, p. 149). Essa

memória, não constitui o oposto da memória funcional, mas sim, o seu pano de fundo.

Ao apresentar os dois modos complementares de recordação, a memória funcional e

cumulativa, a autora está afirmando que nenhuma delas é totalmente independente, podendo

haver um trânsito entre memórias, o que leva a perceber que mesmo com conceitos diferentes,

estão interligadas. A memória tem lugares, contradições, tensões, lastros, rastros, vestígios,

tem documentos. Nesse sentido a memória funcional precisa da memória cumulativa, pois

esta “[...] pode ser vista como um depósito de provisões para memórias funcionais futuras”

(ASSMANN, 2011, p. 153).

Importante destacar que a memória cumulativa é um reservatório para todas as

memórias funcionais. Ela não é natural e necessita de apoio de instituições para preservá-la,

como arquivos, museus, bibliotecas, memoriais, institutos e universidades. Para Assmann

(2011) “uma sociedade que não proporciona a si mesma nichos e espaços de liberdade como

esses não logra construir memória cumulativa alguma [...] e o futuro da cultura depende em

grande medida de que essas memórias continuem existindo lado a lado” (2011, p. 154).

No espaço das camadas que compõem o conteúdo do humanamente vivido encontra o

esquecido, o velado, o que não pode vir à luz, é neste emaranhado que a tese de colaboração

entre memória e história se firma. Em resumo, Assmann diz:

“História” [...] é o produto de um processo cultural de diferenciação. Desenvolveu-

se por meio da emancipação da “memória” (no sentido da “tradição normativa”).

Essa diferenciação na “economia doméstica do saber da sociedade” [...] não leva

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necessariamente, como se temia à dissolução [...] das memórias vivas de grupos

específicos. Ao passo que o caráter excludente dos dois modos de memória revela lá

e cá potenciais bastante problemáticos, por privar a historiografia de seu valor e

atribuir à memória um caráter mítico, há no imbricamento de ambos um corretivo

proveitoso. (ASSMANN, 2011, p. 155)

Assmann considera que sempre existem interesses políticos e sociais envolvidos no

ato de rememorar. Afora questões de ser produto do processo cultural, as duas formas de

memória são envolvidas por importantes questões teóricas, como por exemplo, atestar a

veracidade de um testemunho ou decidir o que deve ser conservado ou não. Para a autora,

“[...] a dimensão memorial e a dimensão científica da historiografia não se excluem, mas

ligam-se uma à outra de maneira complexa” (ASSMANN, 2011, p. 158), sugerindo que se

utilizássemos as duas correntes, poderíamos reorientar o projeto de escrita da história.

Comentando o texto de Assmann, Vera Lúcia Alves Mendes Pagatini (2016) defende a

ideia de que “a história, mesmo sendo registro do passado, sempre tem algo a nos dizer; traz

em si os registros da nossa memória cultural” (2016, p. 6). Esse tipo de memória, constituída

por “heranças simbólicas materializadas em textos, ritos, monumentos, celebrações, objetos,

escrituras sagradas e outros suportes que funcionam como gatilhos para acionar significados

associados ao que passou” (2016, p. 6). A autora complementa;

Os usos que se faz da memória nas experiências individuais podem compor a

memória coletiva; as localidades espaciais tornam-se locais de memória que podem

ser armazenadas, repassadas e reincorporadas ao longo das gerações; uma esfera

onde as pessoas se comunicam. (PAGATINI, 2016, p. 6)

Pagatini (2016) percebe, com propriedade e agudeza, que o eixo de argumentação de

Assmann consiste em demonstrar que não há uma essência da memória. Diversos grupos

celebram os mais variados tipos de lembranças e não apenas os indivíduos isolados. Menciona

que os modos de recordar podem distinguir-se, mas jamais poderão ser excluídos, “variam ao

longo do tempo e segundo a formação cultural em que são formulados. Desse modo, se há o

desaparecimento da memória, isso é verdade apenas na medida em que há o descrédito de

algumas formas de recordar” (PAGATINI, 2016, p. 7).

Todas essas discussões sobre as fronteiras que ligam e separam história e memória,

despertam o interesse dos historiadores pelo passado como elemento fundamental para a

compreensão do presente. A identificação entre ambas ocorre a partir da utilização da mesma

matéria-prima, o passado, remetendo tanto à construção da memória quanto à operação

histórica e narrativa.

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Cada uma dessas perspectivas sobre a memória e suas relações com a história oferece

um ângulo peculiar para pensar as dissertações produzidas no PPGL/URI. Le Goff lembra

como, na conflituosa relação entre passado e presente, a memória é uma fonte de alimentação

da história. Já Nora traz o aporte fundamental a esta proposta, que virá a ser explicado em

profundidade ainda neste capítulo: o de uma memória que se desliga do presente e já

apresenta traços vestigiais, pelo que necessita de lugares de memória. Halbwachs traz a

perspectiva do aporte representado pela contribuição de uma comunidade ao seu quadro de

memórias; nesse sentido, não é demais lembrar que o Mestrado em Letras caracteriza-se como

essencialmente coletivo, uma interação entre docentes e discentes, intra- e inter-geracional

(refere-se, aqui, às sucessivas turmas ingressantes). Por último, a produtividade do

pensamento de Assmann é a porosidade e interpenetração fundamental entre memória e

história, memória funcional e cumulativa, e que alimenta a esperança de que as dissertações

produzidas ao longo de treze anos de curso não jazam no anonimato indiferenciado da

memória cultural, mas venham a se transformar em contínua e disponível fonte de consulta.

1.2 História e Memória Institucional

Quando se está inserido em um grupo, têm-se afinidades e pensamentos em comum.

Como já salientado, Halbwachs (2006) destaca a importância do sentimento de pertença para

a construção da memória coletiva, relacionando a lembrança com as vivências significativas

de um determinado grupo, criando, consequentemente, um sentido para a memória:

Todavia, quando dizemos que o depoimento de alguém que esteve presente ou

participou de certo evento não nos fará recordar nada se não restou em nosso espírito

nenhum vestígio do evento passado que tentamos evocar, não pretendemos dizer que

a lembrança ou parte dela devesse substituir em nós da mesma forma, mas somente

que, como nós e as testemunhas fazíamos parte de um mesmo grupo e pensávamos

em comum com relação a certos aspectos, permanecemos em contato com esse

grupo e ainda somos capazes de nos identificar com ele e de confundir o nosso

passado com o dele. (HALBWACHS, 2006, p. 33)

Dessa forma, a história de cada indivíduo é formada então por suas memórias, pelas

memórias do grupo a que pertence e por aquilo que classificou como importante e digno de

ser guardado. Esse sentimento de pertença grupal e as memórias formadas a partir dele são

importantes para a perspectiva desenvolvida nesta pesquisa quando se considera, como o faz

Worcman, que uma

[...] empresa é obviamente um grupo. E, como todos os grupos, possui uma memória

que garante sua coesão e identidade. Resta-nos saber em que medida as empresas

hoje utilizam sua história como fator de união entre seus integrantes e, ainda, como

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fator de criação de identidade perante o resto da sociedade. Resta-nos analisar

também de que maneira a concepção que a empresa possui da própria história

permite que esta se transforme ou não em um elemento potencial de integração e

comunicação. (WORCMAN, 2001, p. 12)

Em vista disso, a partir da compreensão de que uma empresa é uma reunião de pessoas

que fazem parte de outros grupos sociais, pode-se dizer que a sua história é resultado da

história e da contribuição de cada uma dessas pessoas, clientes e fornecedores. As relações

estabelecidas entre esses múltiplos atores e suas interações têm sido um tema fascinante.

Vive-se a era da globalização, na qual o conhecimento é essencial à sobrevivência das

empresas. Nesse sentido, a História Empresarial pode ser considerada uma ferramenta de

condução, resgate e manutenção dos conhecimentos, habilidades e competências desenvolvidos

por cada organização empresarial. Percebe-se um fortalecimento da política de imagem, e como

consequência dessa preocupação, a partir dos anos 1980 e, sobretudo, nos anos 1990, assiste-

se a um crescente desenvolvimento de projetos de memória institucional, no Brasil e no

mundo. Contudo, já a partir dos anos de 1970, com a utilização das novas tecnologias capazes

de proporcionar o acesso rápido a informações, se fortalece a ideia de preservação de

documentos nas empresas, fazendo com que a área de investigação da história empresarial

ganhasse novas proporções dentro do ramo da historiografia contemporânea.

Este ramo da história engloba a conjuntura econômica-social, analisando a origem,

trajetória e campo de atuação das instituições ligadas ao mundo empresarial. Souza (2010, p.

32) salienta que “a memória empresarial tem-se consolidado como ferramenta de suporte a

decisões e como instrumento relevante nas estratégias de comunicação e marketing das

empresas”.

Construir uma marca de renome, forte e próspera parece ser o melhor caminho para as

empresas se adaptarem e se manterem nestes novos tempos de globalização e de informação

em tempo real. Dentro desse contexto, as instituições estão atentas à importância da memória,

pois reconhecem que para garantirem o futuro é necessário que as novas gerações conheçam e

valorizem seu processo histórico e evolutivo. Como Pereira enfatiza, em face “[...] das

acirradas competições tecnológicas e mercadológicas, as empresas encontraram na

preservação e no entendimento de sua história uma forma de compreender o presente e de

buscar construir um futuro mais controlado e conhecido” (PEREIRA, 2007, p. 38). Dessa

forma, “a história de uma empresa é um marco referencial a partir do qual as pessoas

redescobrem valores e experiências, reforçam vínculos, criam empatia com sua trajetória e

podem refletir sobre as expectativas dos planos futuros” (WORCMAN, 2004, p. 23).

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Ao enfocar a memória de uma empresa, não está se referindo apenas ao seu

passado. Para Pereira (2007), o “[...] resgate da memória empresarial tem um objetivo muito

maior do que simplesmente preservar o passado. Ele visa, além de vislumbrar o futuro das

organizações, fortalecer sua identidade” (PEREIRA, 2007, p. 43).

As instituições tornam-se, cada vez mais, conscientes de que resgatar a memória é um

importante instrumento para gestão da informação e do conhecimento. Segundo Almeida,

“perceberam que um dos maiores desafios era promover mudanças, sem perder sua

identidade, que estava ligada à sua memória, aos processos que vivenciaram, aos erros e

acertos, as inovações, superações, derrotas e vitórias que marcaram sua trajetória histórica”

(ALMEIDA, 2009, p. 17).

Nesse cenário da esfera empresarial, a reconstrução da memória é uma forma de

repensar a história e tê-la como um instrumento de transformação, indicando a direção e

oferecendo as informações necessárias para nortear as ações e o planejamento, reforçando sua

identidade, fazendo com que ela se reconheça como organização e consolide seus valores. As

historiadoras Gagete e Totini (2004) explicam que a capacidade de administrar mudanças está

diretamente ligada à capacidade da empresa de preservar sua memória. Segundo as autoras:

Muitas empresas perceberam que, diante de tantas transformações, um dos maiores

desafios era promover as necessárias mudanças, sem perder a identidade. Por

consequência, tomavam consciência que sua identidade estava diretamente ligada a

sua memória, aos processos que vivenciaram, aos erros e acertos, às inovações,

superações, derrotas e vitórias que marcaram a sua trajetória histórica (GAGETE;

TOTINI, 2004, p. 119)

O resgate e a organização da história das empresas constituem ferramentas que podem

ser utilizadas no planejamento dos negócios, na consolidação da imagem institucional e com a

comunidade em que está inserida. A clareza acerca da trajetória histórica de uma empresa, de

seu papel em sua comunidade e de seu posicionamento no contexto de empresas congêneres é

considerada por Nassar como “responsabilidade histórica: essa compreensão, pelos gestores

de uma organização, de seu papel histórico na sociedade, dentro de seu segmento de negócios,

dentro de sua comunidade e para os seus integrantes, é o que se denomina responsabilidade

histórica”. (NASSAR, 2007, p. 35).

Em virtude das constantes competições disputas tecnológicas e mercadológicas, as

empresas encontraram na preservação e no entendimento de sua história uma forma de

compreender o presente e de buscar construir um futuro mais promissor. Nos dias atuais, para

se manterem no mercado e terem participação ativa na geração de novos empregos, muitas

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empresas mudaram seu foco, não visando mais somente o lucro, mas se tornaram produtoras

de significados sociais e culturais.

Pereira explana: “Elas são cobradas por uma gestão sustentável, e para que sejam

responsáveis nas esferas social, ambiental e econômica. Na ânsia pela diferenciação

decorrente disso, surge então uma nova tendência: a da responsabilidade histórica”

(PEREIRA, 2007, p. 39). Enquanto a memória empresarial está voltada ao resgate histórico da

organização, a responsabilidade histórica vai além, representando o compromisso da

instituição com a comunidade onde está situada. Quando em sintonia, ambas fortalecem a

marca e melhoram o relacionamento da organização com seu público e com a sociedade como

um todo.

Partindo dessa compreensão, pode-se destacar que, contar a história de uma instituição

é torná-la visível, o que pode representar um trunfo nos períodos de crise, e uma vantagem

competitiva no mercado. De acordo com Nassar (2004, p. 18), “em meio às adversidades, as

empresas e gestores que têm as suas trajetórias, realizações, contribuições e atitudes bem

posicionadas na sociedade podem contar com o apoio, a compreensão e a solidariedade dos

públicos sociais”. Tudo isso, porque ao disseminar a memória empresarial a empresa valoriza

sua marca na região em que opera, oferecendo um diferencial em relação aos seus

concorrentes, tornando-se mais visível tanto para seus clientes atuais como para os que ainda

estão por vir.

Algumas instituições enfatizam essas referências através de seus projetos de História e

Memória Empresarial, como é o caso da Memória dos Trabalhadores da Petrobrás, Vale

Memória, Centro de Memória Bunge, Memória Empresarial da Belgo-Mineira, Núcleo da

Cultura Odebrecht, Centro de Documentação e Memória Multibrás, Memória Votorantim,

Espaço Memória do Grupo Pão de Açúcar. Tais instituições perceberam que, ao resgatarem

suas memórias, além de estarem celebrando seu passado estão preservando sua identidade

corporativa e se diferenciando no mercado, uma vez que, não são todas as empresas que têm

uma história interessante para contar.

No contexto da área educacional, podem-se citar iniciativas como a história e memória

da UFRJ, além do Projeto Memória SiBI-UFRJ (Sistema de Bibliotecas e Informação). Neire

do Rossio Martins (2012) em sua dissertação intitulada “Memória Universitária: o Arquivo

Central do Sistema de Arquivos da Universidade Estadual de Campinas (1980 - 1995)”

apresenta um panorama da política arquivística adotada por essa universidade para preservar

seus documentos e suas memórias. A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), também

conta com o Centro de História e Memória da UNIVAP, possibilitando a discussão da

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importância da memória institucional dentro e fora da Universidade. Outra instituição que tem

projeto de preservação da memória é a Universidade de São Paulo – USP, que conta com o

“Projeto Memória USP”.

Em sua pesquisa sobre projetos de História Empresarial nas empresas brasileiras,

Nassar (2006) focalizou 119 empresas atuantes no Brasil. Um dos aspectos investigados foi a

percepção acerca da importância de um programa de história empresarial. Após tabuladas, as

respostas a esse questionamento foram classificadas em três categorias principais:

• Para 95,8% dos entrevistados, História é o resgate, a preservação e o registro da

memória e cultura da empresa. • O acúmulo de informações levantadas pode ser utilizado como ferramenta

estratégica na administração, na análise do desempenho da empresa, provendo

subsídios que a orientam na definição de novos rumos. • Os programas representam uma nova forma de comunicação empresarial,

constituindo-se em nova opção para a atuação do profissional no

mercado. (NASSAR, 2006, p. 163)

Como se pode averiguar, o resultado da pesquisa demonstrou que quase a totalidade

dos entrevistados atribuiu importância aos programas de história empresarial. Segundo o

autor, os entrevistados destacaram que os registros de fatos do passado constituem fontes de

preservação da memória e subsídios para a construção da trajetória da empresa, além disso,

“estabelecem conexão entre o passado da organização e a compreensão da sua proposta atual

e futura, contribuem no planejamento de ações e estratégias empresariais e fortalecem o

vínculo dos públicos internos e externos com a empresa” (NASSAR, 2006, p. 163), e

consequentemente observa-se uma melhor confiabilidade entre empresa e cliente.

Através desses projetos de resgate da memória, as instituições disponibilizam

informações que permitem conhecer a sua trajetória. Tal assentamento documental é extremamente

importante, pois sem o registro do ontem tudo o que foi vivido e construído estará fadado ao

esquecimento. Conforme Nassar (2004),

A história traduz a identidade da organização, para dentro e para fora dos muros que

a cercam. É ela que constrói, a cada dia, a percepção que o consumidor e seus

funcionários têm das marcas, dos produtos, dos serviços. O consumidor e o

funcionário têm na cabeça uma imagem, que é histórica. Uma imagem viva,

dinâmica, mutável, ajustável, que sofre interferências de toda natureza. (NASSAR,

2004, p. 21)

Para o pesquisador, esses projetos que resgatam a memória das empresas acabam

valorizando suas marcas, pois ao mostrar onde estão suas raízes e, principalmente, quem são

as pessoas que participaram e ainda participam da construção desta história, resgatam dados e

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informações que ressaltam valores e experiências capazes de identificar e reforçar as

características particulares da organização.

A memória empresarial deve estar em sintonia com a responsabilidade histórica,

contextualizando as soluções utilizadas para superar obstáculos surgidos ao longo dos anos.

Segundo Pereira (2007, p. 39), “é mais uma ferramenta da comunicação corporativa, cujo

potencial como fonte de informação, de fortalecimento da marca e de melhoria no

relacionamento das empresas com seus públicos e com a sociedade já está mais que

comprovado”.

Ao preservarem seu acervo histórico e sua memória, as instituições fortalecem sua

relação com a sociedade em que estão inseridas. Dessa maneira, solidificam-se e ganham

referência, oportunizando, ainda, o desenvolvimento econômico, social, cultural e político à

comunidade em que estão localizadas. É de ressaltar, ainda, que ao contar sua história, a

empresa não está apenas recuperando suas memórias, mas ressignificando sua história. Muitas

organizações, ao perceberam que tanto os registros físicos do passado como as pessoas que

vivenciaram os momentos históricos estavam se perdendo, assumiram o compromisso com a

preservação e disseminação de suas memórias. Com isso, buscam identificação com a

sociedade na qual com isso atuam, e ainda tornam-se diferenciadas no mercado. Conforme

analisa Worcman, “uma empresa não é uma ilha isolada do resto da sociedade. Ela com

certeza faz parte de uma teia social” (WORCMAN, 1999, p. 16).

Para valorizar suas raízes históricas, uma instituição precisa criar mecanismos

adequados de difusão da memória empresarial. Alguns produtos podem ser criados tendo

como base a história de uma organização, tais como: livros comemorativos, biografias,

vídeos, DVDs, documentários, sites, página redes sociais, relatórios internos, museu,

exposições, campanhas publicitárias, promoções, centro de documentação e memória e a

história oral. Todos esses produtos contribuem para a imagem da empresa como diferencial de

mercado, além disso, são organizados para atender a muitas outras necessidades das empresas.

Para Almeida (2009), os produtos produzidos a partir do resgate histórico de uma

empresa, proporcionam à sociedade, para além do conhecimento da história da empresa, o

conhecimento de sua própria história, e da história da cidade, do estado e do país. Ainda de

acordo com a autora, “A Memória Empresarial, hoje, constitui-se em um relevante

instrumento da comunicação corporativa, por permitir o fortalecimento da marca e identidade

da empresa e incrementar o relacionamento desta com seus clientes” (ALMEIDA, 2009, p.

23).

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A preservação da memória empresarial depende da organização, classificação e

arquivamento correto de documentos, fotografias, vídeos, folders, entre outros. Mas também

pode se valer, dentro do desenvolvimento impressionante dos veículos virtuais, de contextos

informatizados, que são os sites e as redes sociais. O uso da rede virtual de comunicação

permite que informação relevante a respeito da história da instituição possa ser acessada

múltiplas vezes, com facilidades, pelos interessados, propiciando materiais para um esforço

de análise e de pesquisa. Nessa perspectiva, fala-se da preservação do patrimônio documental

de uma empresa.

Por tudo isso, pode-se verificar que a memória institucional confere características

identitárias a uma instituição e a seus colaboradores, criando em seus integrantes um vínculo

que os identifica perante a sociedade e consolida os valores que regem sua conduta. Dessa

forma, a preservação histórica fortalece o vínculo com a sociedade para a qual uma instituição

presta seus serviços, conforme explana Worcman (2004),

Uma empresa não existe isolada do restante da sociedade. Ela faz parte de uma

trama social e confunde-se com uma boa parte da história das comunidades com as

quais ela interage, dos seus clientes, fornecedores, parceiros e, sobretudo, com a

própria história do Brasil. É esse o melhor sentido para entender o significado da

expressão Responsabilidade Histórica. Pois ao compreender o potencial de

conhecimento que a história de uma empresa possui, percebe-se que, ao externá-la, a

empresa faz muito mais do que uma ação de comunicação ou de recursos humanos.

Ela constrói e devolve para a sociedade parte da memória do país. (WORCMAN,

2004, p. 28)

Faz-se necessário, portanto, destacar a necessidade de resguardar a memória

institucional, elencando as fontes de memória e estratégias para garantir a proteção de seu

passado. Resgatar a memória passou a ser um fator determinante para as instituições, pois não

se trata apenas de um registro da história, mas também de uma ferramenta para a elaboração e

consecução de sua visão, missão e valores.

Na URI, as fontes de formação dessa memória são encontradas nas fotografias,

documentos, registros históricos, lugares de memória, datas de celebração, produção

historiográfica, documentários, publicações na imprensa e na internet, entre outros. A

preservação e a manutenção desses elementos permitem o acesso e a disseminação de

informações relevantes para os integrantes da instituição e para o público, ao qual é destinado

seu serviço. Diante disso, é possível afirmar que a preservação da memória institucional da

URI consolida seus valores, tradições e identidade construídos ao longo de seus 27 anos de

existência, sendo, pois, elemento garantidor de credibilidade e legitimidade de suas ações,

fortalecendo-a diante de questionamentos sobre o desempenho de sua atividade.

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1.3 Patrimônio documental: memória e arquivo

Ao longo da história, muito se tem discutido sobre o que é memorável, o que deve ser

preservado e como preservar o patrimônio social. O registro da história e da memória da

humanidade tem sido feito através de documentos gerados pelas atividades desenvolvidas por

estados, instituições, empresas, organizações, famílias e pessoas. Porém, para que venham a

ser tomados como subsídio para pesquisa histórica, é preciso que estejam acessíveis aos

interessados, sejam eles pesquisadores ou a sociedade em geral. Vale, ainda, destacar a

importância da preservação do patrimônio documental, uma vez que esses documentos são a

essência de uma organização, além de pertencerem à memória da sociedade. Ao tratar sobre a

questão da preservação do patrimônio documental, cabe refletir sobre patrimônio e

preservação e, neste contexto, sobre o arquivo.

Para Guimarães, “o estudo acerca do patrimônio só pode ser compreendido a partir de

sua vinculação com as problemáticas atuais que definem interesses específicos com relação ao

passado” (2008, p. 18), ou seja, esse campo de reflexão deve submeter-se a investigações que

avaliem sua dimensão histórica. Para o pesquisador, deve ser feito um trabalho de produção

de narrativas sobre o passado, uma vez que define patrimônio como “(...) também uma escrita

do passado, submetida evidentemente a uma gramática e uma sintaxe específicas”

(GUIMARÃES, 2008, p. 18).

De acordo ainda com Guimarães, o próprio termo sugere “uma relação com um tempo

que nos antecede, e com o qual estabelecemos relações mediadas através de objetos que

acreditamos pertencer a uma herança coletiva” (2008, p. 19). Complementa:

[...] esses objetos que acreditamos pertencer a um patrimônio de uma coletividade, e

hoje até mesmo da humanidade, estabelecem nexos de pertencimento, metaforizam

relações imaginadas e que parecem adquirir materialidade a partir da presença desse

conjunto de monumentos. O termo patrimônio supõe, portanto, uma relação com o

tempo e com o seu transcurso. Em outras palavras, refletir sobre o patrimônio

significa igualmente pensar nas formas sociais de culturalização do tempo, próprias

a toda e qualquer sociedade humana. (GUIMARÃES, 2008, p. 19)

É nesse “trabalho de produção de sentido para a passagem do tempo que as sociedades

humanas constroem suas noções de passado, presente e futuro, como formas históricas e

sociais de dar sentido para o transcurso do tempo” (GUIMARÃES, 2008, p. 19). Vai além,

acrescentando que a escrita do passado requer uma transformação do material documental em

fonte para a construção desse passado, uma escolha que irá produzir objetos do passado em

patrimônio cultural de uma coletividade humana.

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Explana ainda que, “as relações entre patrimônio e memória são estreitas”

(GUIMARÃES, 2008, p. 21). Conceitua Patrimônio como resultado de uma produção

marcada historicamente,

A simples sobrevivência ao tempo não assegura por si só a condição de transformar

em patrimônio histórico um objeto, um vestígio material ou um acervo

arquitetônico. E nem mesmo todo o conjunto de restos que sobreviveram à

passagem do tempo vieram a se constituir em patrimônio histórico de uma

coletividade. [...] É ao fim de um trabalho de transformar objetos, retirando-lhes seu

sentido original, que acedemos à possibilidade de transformar algo em patrimônio.

Adjetivar um conjunto de traços do passado como patrimônio histórico é mais do

que lhes dar uma qualidade; é produzi-los como algo distinto daquilo para o qual um

dia foram produzidos e criados. Da mesma forma que um conjunto de documentos

só poderá se transformar em fonte histórica pelo trabalho do historiador, igualmente

os objetos que aprendemos a ver como patrimônio histórico só ganharam essa

qualidade a partir de uma operação envolvendo diferentes esferas de produção de

saberes e poderes. (GUIMARÃES, 2008, p. 21)

No Brasil, a tradição associada ao conceito de patrimônio esteve sempre voltada

preferencialmente para um viés artístico/cultural, focalizando, sobretudo, as obras de arte

reconhecidas e os bens imóveis, exemplares arquitetônicos e monumentos, sendo considerada

sua definição muito recente. A primeira definição legal do conceito de Patrimônio no Brasil

veio com o Decreto-lei nº 25, promulgado durante o Estado Novo em 1937, que sistematiza a

proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. É, até os dias de hoje, um dos

principais instrumentos da administração pública para a efetivação da proteção ao patrimônio

cultural brasileiro. No referido documento, é reconhecido como patrimônio histórico e

artístico nacional “[...] o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país cuja

conservação seja de interesse público quer por sua vinculação a fatos memoráveis, quer pelo

seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. (BRASIL,

1937, Art. 1).

Segundo Rezende (2007), essa referência a fatos memoráveis levou a atividade

patrimonialista brasileira a privilegiar a preservação dos produtos e expressões do passado.

Era um olhar voltado ao passado e isso “significava poder dedicar-se a aspectos culturais em

torno dos quais já se estabelecera certo consenso nas diferentes esferas da sociedade: obras

historicamente consagradas, [...] gerando uma aura de neutralidade” (REZENDE, 2007, p. 1).

Dessa maneira, impossibilitava-se a abordagem de novos conceitos, ligados a questões não

resolvidas do ponto de vista político-social e que despertariam opiniões e interesses

conflituosos.

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Ainda com respeito ao Decreto-lei nº 25/1937 em seu Capítulo V – Disposições gerais,

lê-se que o reconhecimento de bens de natureza bibliográfica é parte do patrimônio cultural da

nação:

Os negociantes de antiguidades, de obras de arte de qualquer natureza, de

manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial no

Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossim

apresentar semestralmente ao mesmo relações completas das coisas históricas e

artísticas que possuírem. (BRASIL, 1937, Art. 26)

O decreto não apresenta uma definição do que vem a ser o patrimônio documental da

nação, mas reconhece os manuscritos e livros raros como bens culturais dignos de

preservação, firmando a proposição de preservação de um patrimônio composto por obras de

excepcional valor bibliográfico.

Com a Constituição de 1988, em seu Art. 216, adotou-se uma definição mais ampla e

detalhada, mencionado explicitamente o termo documentos, que deu abertura para o claro

enquadramento dos acervos arquivísticos dentro das políticas nacionais voltadas ao Patrimônio,

conforme segue:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,

tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à

ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais

se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as

criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos,

edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os

conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,

paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988)

A Constituição Brasileira, principal instrumento legal de efetivação da cidadania,

salienta a necessidade de preservação e valorização do patrimônio cultural da nação, o que

permite inferir que o patrimônio documental é visto e reconhecido como instrumento de

validação das políticas de governo. Agregue-se, ao que foi mencionado, a necessidade de

preservar, difundir e socializar o patrimônio documental, a fim de proporcionar condições a

população de acessar e estudar fontes de informação, ampliando seus conhecimentos,

contribuindo para a formação de sua consciência histórica e reconhecimento identitário.

Nesse sentido, a Constituição Federal assegura não somente o direito à vida, à

igualdade, à dignidade, à segurança, à honra, à educação, à moradia e à saúde; mas também o

exercício pleno dos direitos culturais, reconhecendo que a preservação da memória é

importante para construção da cidadania. Ricardo Oriá (2013) menciona que:

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Hoje, o conceito de patrimônio cultural não está mais restrito ao dito “patrimônio

edificado” – a chamada “pedra e cal” – constituído de bens imóveis, representados

por edifícios e monumentos de notável valor estético e artístico e que foram

preservados ou até mesmo tombados pelo poder público. O patrimônio cultural

brasileiro engloba também os bens imateriais ou intangíveis, que, muitas vezes, são

muito mais reveladores de nossa rica diversidade cultural, expressos nos modos de

criar, fazer e viver de nosso povo. (ORIÁ, 2013, p.12)

Ao longo dos anos, com a ampliação do conceito de patrimônio cultural, disposto na

Constituição, a qual compreende que as obras, os documentos, os livros e demais criações

artísticas e científicas também são parte integrante desse patrimônio, muitas leis e decretos

relacionados a esses bens e seus respectivos suportes da memória (arquivos, bibliotecas e

museus), foram criadas a fim de preservar o patrimônio cultural do Brasil. Dentre estas, figura

o Decreto nº 3.351 de 2000, que institui o registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial

que constituem patrimônio cultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimônio

Imaterial. E em seu Art. 1ºdiz: “Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro”. (CÂMARA DOS DEPUTADOS,

2013, p. 237).

Com a globalização e a constante revolução comunicativa, algumas práticas em

relação ao Patrimônio vêm sendo repensadas, uma vez que os próprios conceitos de memória

e identidade constantemente vêm se transformando. Para Rezende (2007) vem ocorrendo

“uma fragmentação das identidades, verificável na multiplicidade de processos de formação

de grupos identitários que visam suprir o âmbito comunitário e dar sustentação local paralela

à mundialização virtual da cultura e da informação” (REZENDE, 2007, p. 3).

As definições de Patrimônio baseavam-se na concepção da descoberta ou resgate de

uma memória e uma identidade nacional a ser preservada, ligadas ao conceito de

“imutabilidade da memória e da identidade, o que garantiria a permanência e universalidade

dos bens culturais, objeto da ação patrimonialista” (REZENDE, 2007, p. 3). Na atualidade,

tanto a memória como a identidade são concebidos como resultados de processos de

construção, que não ocorrem apenas nas esferas autorizadas, mas são realizados

continuamente pelos mais variados grupos e indivíduos, sempre em permanente

transformação, passando a ideia de que as culturas, as práticas e os significados não são

nacionais, e muito menos universais. Dessa forma, a discussão gira em torno de “como

preservar bens culturais (materiais e imateriais) sem torná-los expressões congeladas,

vinculadas a um único discurso identitário” (REZENDE, 2007, p. 6).

Ribeiro (2009) destaca que patrimônio não inclui apenas grandes monumentos

arquitetônicos, mas seu significado vai além, caracterizando a identidade, a cultura e a

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memória de um povo, pois representam o desenvolvimento cultural da nação. Esses registros

“guardam informações, significados, mensagens, registros da história humana - refletem

ideias, crenças, costumes, gosto estético, conhecimento tecnológico, condições socais,

econômicas e políticas de um grupo em uma determinada época” (RIBEIRO, 2009, p. 203).

Já para Christo (2006) o conceito de patrimônio está atrelado à noção de

preservação. Preservar seria o ato de proteger de algum dano ou perigo, definindo o termo

como a junção “de técnicas e métodos que visam conservar os documentos de arquivos e

bibliotecas e as informações neles contidas, assim como as atividades financeiras e

administrativas necessárias, os equipamentos, as condições de armazenagem e a formação de

pessoal”. (CHRISTO, 2006, p. 22).

Luís Reis (2006) menciona, como definição de arquivo, “o conjunto de documentos,

independentemente da sua data, da sua forma, e do suporte material, produzidos ou recebidos

por qualquer pessoa, física ou moral, ou por qualquer organismo público ou privado no

exercício da sua atividade” (REIS, 2006, p. 1). Estes são conservados por seus inventores a

fim de que possam atender as suas necessidades futuras.

Arquivos, como Reis frisa, “constituem desde sempre a memória das instituições e das

pessoas, e existem desde que o homem fixou por escrito as suas relações como ser social”

(REIS, 2006, p. 2). Na antiguidade, placas de argila e o papiro encontravam-se entre seus

suportes; mais tarde, o papel passou a, largamente, desempenhar essa função. Na atualidade,

suportes diversificados possibilitam que o conteúdo dos arquivos seja, também, ampliado.

Bellotto (2006) chama a atenção para o fato de que “o documento de arquivo só tem

sentido se relacionado ao meio que o produziu. Seu conjunto tem que retratar a infraestrutura

e as funções do órgão gerador”. (BELLOTTO, 2006, p. 28). Ressalta-se, aqui, o Mestrado em

Letras da URI enquanto órgão gerador, e a produção das dissertações como decorrência das

atividades desenvolvidas ao longo de sua história. Nessa perspectiva, a análise da produção

acadêmica gerada pelo PPGL torna possível não somente a recuperação e estudo das

informações contidas nas dissertações, mas também a avaliação da trajetória cultural e

educacional em que foram geradas.

Pensar essas dissertações como documento de arquivo implica, necessariamente,

definir o que se entende por arquivo. Segundo Bellotto, são arquivos

Os produzidos por uma entidade pública ou privada ou por uma família ou pessoa no

transcurso das funções que justificam sua existência como tal, guardando esses

documentos relações orgânicas entre si. Surgem, pois, por motivos funcionais,

administrativos e legais. Tratam sobretudo de provar, testemunhar alguma coisa. Sua

apresentação pode ser manuscrita, impressa ou audiovisual; são em geral exemplares

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únicos e sua gama é variadíssima, assim como sua forma e suporte. (BELLOTTO,

2006, p. 37)

Desde sua produção até sua guarda permanente ou eliminação, os arquivos passam por

três fases, às quais Bellotto (2006) se refere como “as três idades dos documentos”

Documentos iniciam sua preservação no arquivo corrente, passam a ser constituir, mais tarde,

o arquivo intermediário e concluem sua trajetória no arquivo permanente, passando de uma

fase à outra de acordo com a frequência de uso e o valor agregado. Torna-se fundamental,

portanto, discorrer sobre arquivo corrente, intermediário e permanente, como também o valor

inerente a cada um.

O Dicionário de Terminologia Arquivística (2013, p. 29) define arquivo corrente

como “conjunto de documentos, em tramitação ou não, pelo seu valor primário, é objeto de

consultas frequentes pela entidade que o produziu, a quem compete a sua administração.”

Nesta fase, o arquivo é consultado constantemente pela entidade que o produziu. Segundo

Paes (2004) no cumprimento de suas funções, os arquivos correntes muitas vezes respondem

ainda pelas atividades de recebimento, registro, distribuição, movimentação e expedição dos

documentos correntes. Por isso, encontram-se na estrutura organizacional das instituições. Por

ser de grande movimentação, têm um papel imprescindível no que tange à funcionalidade das

instituições, e podem ser considerados como documentos ativos, os quais têm a sua principal

característica no fato de serem essenciais ao funcionamento cotidiano.

Os arquivos correntes estão integrados, em sua grande maioria, à estrutura

organizacional das instituições. No caso das universidades, os arquivos encontram- se

vinculados aos setores da instituição. Além de guardarem os documentos de caráter

administrativo, em sua grande maioria, são responsáveis pela funcionalidade da instituição, ou

seja, os arquivos correntes são constituídos de documentos em curso. Trata-se do “período

durante o qual os documentos ativos são indispensáveis à manutenção das atividades

cotidianas de uma administração” (ROUSSEAU, COUTURE, 1998, p. 115).

Por sua vez, os arquivos intermediários são constituídos de documentos procedentes

de arquivos correntes. Conforme Paes (2004) quando as instituições contavam com espaço,

conservavam os seus documentos por longos tempos, muitas vezes sem condições adequadas;

outras, por falta de espaço, recolhiam precocemente documentos ainda de uso corrente,

congestionando o arquivo permanente com documentação ainda necessária à administração. A

situação se agravou com o crescimento da massa documental produzida em quantidades cada

vez maiores. Foi pela busca da solução que surgiu a teoria da “idade intermediária”, cujo

acervo é constituído de papéis que não estão mais em uso corrente.

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O Dicionário de Terminologia Arquivística (2013, p. 29) define arquivo

intermediário como “conjunto de documentos originários de arquivos correntes, com uso

pouco frequente, que aguarda destinação”. Sua consulta não é tão constante pela entidade que

o produziu, e, sobretudo, aquele que aguarda sua destinação final. Os arquivos intermediários

tornam-se necessários para as instituições por guardarem os documentos que não são mais

movimentados frequentemente pela administração. Por estar entre os períodos ativos e

semiativos, há uma imprecisão no que tange ao seu valor.

Por fim, os arquivos permanentes são constituídos de documentos procedentes de

arquivos correntes e intermediários. Na concepção de reis (2004), apesar dos arquivos serem

conservados primariamente para fins administrativos, constituem base fundamental para a

história, não apenas do órgão a que pertence, mas também do povo e suas relações sociais e

econômicas.

No que concerne à função do arquivo permanente, Paes (2004) ressalta as atividades

de reunir, conservar, arranjar, descrever e facilitar a consulta aos documentos, de uso não

corrente. Por ser o resultado da reunião dos arquivos correntes, o arquivo permanente recebe a

documentação originária de diferentes setores e cresce em grande proporção. Logo, sua

administração é bem mais complexa que a dos arquivos corrente e intermediário.

O Dicionário de Terminologia Arquivística (2013, p. 34) define arquivo permanente

como o “conjunto de documentos preservados em caráter definitivo em função do seu valor”.

Deve ser protegido definitivamente em razão de seu valor. Embora os documentos tenham

perdido seu valor primário, passam a ter fins de pesquisa histórica e a ser considerados de

caráter definitivo.

Para Rousseau, Couture (1998, p. 117) “o período de inatividade se dá quando os

documentos inativos deixam de ter valor previsível para a organização que os produziu”.

Dessa forma, não respondendo aos objetivos da sua criação, os documentos são eliminados ou

conservados como arquivos definitivos somente se possuírem valor de testemunho, ou seja:

são preservados em caráter definitivo, em função de seu valor secundário, valor distinto dos

quais foram produzidos.

Portanto, os arquivos correntes e intermediários compreendem conjuntos documentais

de interesse direto da entidade que os produziu para tomadas de decisões ou informações e

que podem passar por avaliações. O arquivo permanente, por sua vez, compreende os

conjuntos documentais que precisam ser preservados em caráter definitivo devido ao interesse

para a pesquisa, como será o caso, se espera das Dissertações do Mestrado em Letras da URI.

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Partindo da noção de patrimônio, pode-se retornar o olhar aos patrimônios

documentais. Vale destacar que da mesma forma que o patrimônio em geral, o patrimônio

documental corresponde a uma categoria de bens culturais investidos de sentido que remetem

à memória do grupo detentor. Segundo Lage (2002),

O conceito de Patrimônio Documental liga-se intrinsecamente ao conceito de

documento no seu duplo sentido – de recurso, logo funcional, e de significado, logo

cultural – sendo no entanto mais complexo que os conceitos já de si complexos de

Documento (unidade de informação),Informação (dados do conhecimento

registrado) ou Fonte Histórica (todo o dado precedente do passado, do recente, que

tem uma realidade material e objectiva, relacionado com a actividade científica e

social e historicamente produzido; testemunho original, não re-elaborado, do

conhecimento do passado). (LAGE, 2002, p. 15)

Como se pode observar, muito do patrimônio documental é trazido da ideia de

patrimônio, em seu sentido mais amplo, e de toda a história envolvida no desenvolvimento da

sua noção e também da formação da prática de preservar bens culturais. A preservação dos

bens culturais categorizados como patrimônio é, atualmente, uma prática muito difundida

entre todos os povos e tem adquirido especial importância. Entretanto, para a preservação do

patrimônio é necessário que, além de políticas e ações governamentais, haja a conscientização

e a reflexão da sociedade acerca do reconhecimento da diversidade cultural do país e de sua

importância para a humanidade. Deve haver um sentimento que Nora chamou de “vontade de

memória”, ou seja, a necessidade de “saber da sociedade sobre si mesma” (NORA, 1993, p.

12).

Aqui se torna necessário lembrar a conexão entre memória e história. Como Le Goff

(2003, p. 471) registra, é na e através da memória que cresce a história, a qual, por sua vez a

alimenta, de forma a “salvar o passado para servir ao presente e ao futuro”. Concepções

recentes de memória têm enfatizado suas características de estruturação, resultantes de

sistemas dinâmicos de organização. No dizer de Scandia de Schonen (1974, apud Le Goff,

2003, p. 421) os fenômenos da memória existem “na medida em que a organização os

mantém ou os reconstitui”.

A ênfase no aspecto estrutural/organizacional da memória é particularmente relevante

quando se considera como, enquanto elemento social da identidade individual e coletiva, a

memória é tanto instrumento como objeto de poder, característica que se estende à

arquivística. Comentando a evolução da memória coletiva com base no sistema de

documentação, Leroi-Gourhan comenta:

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A memória coletiva tomou, no século XIX um volume tal que se tornou impossível

pedir à memória individual que recebesse o conteúdo das bibliotecas... O século

XVIII e uma parte importante do XIX viveram ainda sob cadernos de notas e

catálogos de obras; entrou-se em seguida na documentação por fichas que realmente

apenas se organiza no início do século XX. Na sua forma mais rudimentar

corresponde já à constituição de um verdadeiro córtex cerebral exteriorizado, já que

um simples fichário bibliográfico se presta, nas mãos do utilizador, a arranjos

múltiplos... A imagem do córtex é até certo ponto errada, pois se um fichário é uma

memória em sentido estrito, é contudo uma memória sem meios próprios de

rememoração e a sua animação requer a introdução no campo operatório, visual e

manual, do investigador" (LEROI-GOURHAN, 1964--65, p. 72-73, apud LE GOFF,

2003, p, 461)

O raciocínio de Leroi-Gourhan, ao desqualificar parcialmente a comparação da nova

arquivística ao córtex cerebral, e compará-la a uma “memória sem meios próprios de

rememoração”, a qual requer a operação de um agente, lembra a concepção de Aleida

Assmann acerca da memória funcional e da memória cumulativa, e suas possibilidades de

interpenetração. Enquanto acúmulo de informação, a memória documental depende da

atenção e seleção de agentes para que se torne funcional, dotada de propósito e sentido.

Por outro lado, é ainda de ressaltar, como o faz Le Goff (2003), que arquivos estão

sujeitos à vigilância dos governantes, como também acontece com meios contemporâneos de

produção dessa memória como o rádio, a televisão e mais recentemente, acrescentamos, a

ambiência digital. Com respeito à documentação, Le Goff parte da premissa de que a história

é a forma científica e da memória coletiva, e de que, a ambas, aplicam-se dois tipos de

materiais: os documentos e os monumentos. O autor é enfático ao destacar o aspecto seletivo-

organizacional presente em ambas. Diz:

De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma

escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do

mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo

que passa, os historiadores. (LE GOFF, 2003, p. 525)

Esses materiais podem se apresentar sob a forma de monumentos, herança do passado,

ou documentos, escolha do historiador. Já a partir da antiguidade romana, monumento tendeu

a se associar a dois sentidos: obra arquitetônica ou escultural comemorativa, tal como o

pórtico, a coluna ou o troféu, ou monumento funerário destinado a perpetuar a memória

daquele que o ocupa. Assim, monumento tem, historicamente, tido o sentido de ligar-se “(...)

ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas [...] e o reenviar

a testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos escritos” (LE GOFF, 2003, p.

526).

Por outro lado, tradicionalmente, e sobretudo para historiadores associados ao espírito

positivista, documento equivalia a texto. A partir do século XIX, contudo documento passa a

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ser correntemente usado para as grandes coleções de documentos, como os Monumenta

historia e patriae (Turim, 1836), os Monumenti storici, publicados em Veneza em 1876.

Ademais, o termo documento passa a ser tomado em sentido amplo, admitindo registros

escritos, ilustrados, transmitidos por som, imagem ou outros modos. Essa tendência era já

bem visível ao início do século XX, como se pode ver através da argumentação dos

fundadores da revista Annales d`Histoire Économique et Sociale:

A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida”. Quando estes existem. Mas

pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com

tudo o que a habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na

falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos. Paisagens e telhas. Com as

formas do campo e das ervas daninhas. Com os eclipses da lua e a atrelagem dos

cavalos de tiro. Com os exames de pedras feitos pelos geólogos e com as análises de

metais feitas pelos químicos. Numa palavra, com tudo o que, pertencendo ao

homem, depende do homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a

presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem. Toda uma parte, e

sem dúvida a mais apaixonante do nosso trabalho de historiadores, não consistirá

num esforço constante para fazer falar as coisas mudas, para fazê-las dizer o que elas

por si próprias não dizem sobre os homens, sobre as sociedades que as produziram, e

para constituir, finalmente, entre elas, aquela vasta rede de solidariedade e de entre

ajuda que supre a ausência do documento escrito? (FEBVRE, 1949, ed. 1959, p.

428, apud LE GOFF, 1977, ed. 2003, p. 530)

A dilação da memória histórica sofre, no último quarto do século XX, a influência da

revolução tecnológica proporcionada pelo computador, que oportuniza uma nova unidade de

informação: não mais o fato que conduz ao acontecimento e a uma história linear, mas o dado,

que leva à série e a uma memória descontinua. Tornam-se necessários novos arquivos, e o

novo documento é manejado em bancos e dados. Em virtude da aceleração ocasionada pelo

avanço das mídias eletrônicas, que oferecem a possibilidade do acesso em tempo real, busca-

se a preservação de um conjunto de determinados bens como forma de protegê-los dessa

mesma aceleração que parece tudo condenar ao desaparecimento. Guimarães (2008) destaca:

As profundas transformações que tem alterado de maneira radical a relação dos

homens com a Natureza na contemporaneidade, provocaram um desinvestimento

com relação ao futuro, que no lugar de realizar o progresso acena-nos com crises as

mais diferenciadas: desemprego, crise energética e alimentar, crises ecológicas.

Assim, o futuro parece incerto e inseguro diferentemente daquilo que fora para a

cultura histórica oitocentista. A esse tempo de incertezas e dúvidas investe-se no

presente, que parece teimar em não passar, e, portanto, em transformar-se em

história (GUIMARÃES, 2008, p. 38)

Como já ressaltado, os fundadores dos Annales haviam iniciado crítica à noção estreita

de documento, pondo em evidência os critérios de seleção e organização que determinavam

sua seleção e estudo. Já na parte medial do século XX. Marc Bloch declarava:

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Não obstante o que por vezes parecem pensar os principiantes, os documentos não

aparecem, aqui ou ali, pelo efeito de um qualquer imperscrutável desígnio dos

deuses. A sua presença ou a sua ausência nos fundos dos arquivos, numa biblioteca,

num terreno, dependem de causas humanas que não escapam de forma alguma à

análise, e os problemas postos pela sua transmissão, longe de serem apenas

exercícios de técnicos, tocam, eles próprios, no mais íntimo da vida do passado, pois

o que assim se encontra posto em jogo é nada menos do que a passagem da

recordação através das gerações. (BLOCH, 1941-42, p. 29-30, apud LE GOFF,

1977, ed. 2003, p. 534)

Mais tarde, Paul Zumthor registraria o que transforma o documento em monumento,

ou seja, sua utilização pelo poder: escrevendo para a Revue dês Sciences Humaines, em 1960,

propôs em seu artigo “Documentet monument. A propôs des plusanciens textes de langue

française” que os testemunhos dos monumentos mais numerosos e antigos revela a influência

da revolução política na consciência linguística da alta Idade Média. Comentando a posição

de Zumthor e a ilusão positivista, Le Goff (2003, p 535) argumenta sua hesitação em admitir

que todo o documento é um monumento, já que não existe documento “objetivo, inócuo,

primário”. Já para Michel Foucault questionar o documento é fundamental, pois a história

corresponde à maneira de uma sociedade elaborar uma massa documental que lhe é

fundamental para sua constituição identitária.

Também não escapam a Aleida Assmann as relações entre documento e poder.

Comentando especificamente o caso do arquivo, a pesquisadora alemã o descreve como sendo

uma memória da dominação, “constante de legados e atestações, de certificados que são

provas de direitos de poder, de posse e de origem” (ASSMANN, 2011, p. 368), antes de ser

memória histórica. Para ela, não haveria poder político sem o controle dos arquivos e sobre a

memória: “Controle do arquivo é controle da memória”. (ASSMANN, 2011, p. 368).

Assmann cita a Revolução Francesa como um exemplo de mudança radical na estrutura do

arquivo, a partir da qual os documentos que perderam o valor legal não foram destruídos

como era de se esperar, mas ganharam valor como prova histórica; perderam a função de

legitimação, mas tornaram-se fontes históricas. (ASSMANN, 2011, p. 368)

Como ficou patente, concepções recentes de memória têm enfatizado suas

características de estruturação, resultantes de sistemas dinâmicos de organização. A ênfase no

aspecto estrutural/organizacional da memória é particularmente relevante quando se considera

que a operação da memória, enquanto elemento social da identidade individual e coletiva,

tanto como instrumento como objeto de poder, é característica que se estende à arquivística.

Talvez por isso Le Goff tenha enfatizado a importância de considerar o

documento/monumento em contexto de produção: “Mais ainda do que estes múltiplos modos

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de abordar um documento, para que ele possa contribuir para uma história total, importa não

isolar os documentos do conjunto de monumentos de que fazem parte”. (1977, ed. 2003, p.

538).

Ao comparar os processos de recordação individual com o coletivo e institucional,

Assmann analisa que enquanto os primeiros ocorrem espontaneamente no indivíduo, de

acordo com mecanismos psíquicos, no nível coletivo e institucional, os processos “são

guiados por uma política específica de recordação e esquecimento” (ASMANN, 2011, p. 19).

A autora identifica o arquivo como um “armazenador coletivo de conhecimentos que

desempenha diversas funções”, das quais ela destaca a conservação, seleção e acessibilidade,

segundo as quais os arquivos:1) guardam e protegem os documentos referentes às atividades

do homem e das instituições através da informação registrada, através de atividades de

recolhimento e conservação; 2) selecionam arquivos para descarte: o acúmulo de informações

torna necessária a “cassação”, ou destruição de acervos de arquivos, segundo princípios de

valor que não são necessariamente compartilhados em épocas posteriores.

Como Assmann ressalta, aquilo “[...] que é lixo para uma geração pode ser informação

preciosa para gerações posteriores” (201l, p. 370) definem-se em termos de abertura ou

fechamento, sendo mantidos em segredo em estados totalitários, nos quais a memória de

armazenamento é eliminada em favor da memória funcional. Os regimes democráticos, ao

contrário, tendem a expandir a memória de armazenamento às custas da memória funcional.

Assim, o status de um arquivo pode ser identificado como “memória institucional da pólis, do

Estado, da nação e da sociedade, entre a memória funcional ou de armazenamento”, conforme

estiver organizado; e principalmente, “como instrumento de autoridade; ou como repositório

de conhecimento realocado” (ASSMANN, 2011, p. 369).

Como Assmann, Fernanda Cheiran Pereira (2011) destaca a importância da

acessibilidade: “a construção da memória está estreitamente vinculada ao acesso à

informação, que por sua vez está vinculada à organização dos seus suportes materiais”

(PEREIRA, 2011, p. 20). Dessa maneira, a organização dos arquivos terá como tarefa

primordial a implementação e a execução de uma política de gestão documental para atender

à administração, aos cidadãos e ao resgate histórico através da investigação científica.

É como memória potencial ou pré-condição material para memórias culturais futuras

que o arquivo adquire significado de destaque, já que contêm embutida em si uma memória

funcional na forma de memória de armazenamento, ou seja, uma “herança cultural”, a qual

também é entregue aos cuidados de arquivistas, que devem protegê-la de catástrofes naturais

ou culturais. Segundo Assmann, o arquivo privado neste aspecto constitui-se como uma

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referência para a percepção da relação entre a memória individual e a memória coletiva. A

memória materializada nos documentos pertence tanto ao seu proprietário, quanto aos sujeitos

que, de alguma forma, tiveram relação com os documentos ali encontrados.

Para o cumprimento das razões para as quais os arquivos foram criados, é de

fundamental importância que seja planejada e executada uma política de gestão documental

para que não haja acumulação desordenada da massa documental. O arquivo tem papel

fundamental no processo decisório, pois garante que o acesso à informação seja rápido e

eficiente e que una esforços para atingir os objetivos, assim contribui para que as decisões

formuladas tenham significado positivo para as partes envolvidas.

Dessa maneira, a memória apresenta-se de forma materializada e simbólica, através de

seus referentes, exercendo determinada função em um recorte espaço-temporal, sendo o

registro fundamental a preservação da nossa história. Para Nora, “arquivar a própria vida

requer um esforço de seleção relativo ao que pretende lembrar e esquecer, visto que os objetos

não selecionados para compor o acervo pessoal, tem o descarte como destino” (NORA, 1993,

p. 05).

Percebe-se se que preservação do patrimônio documental está intrinsecamente ligada

às formas de registro de seu passado que a sociedade possui, as quais geram determinada

identidade, pois por meio dos registros acessíveis os indivíduos podem rememorar sua

história. “Do patrimônio como mercadoria ao patrimônio como forma de construção da

cidadania são inúmeras as possibilidades de sua leitura e interpretação por parte daqueles que

se engajam em favor da preservar” (GUIMARÃES, 2008, p. 39). Acerca de sua

acessibilidade, Castro (2008) enfatiza: “a preservação, conservação e restauração do

patrimônio constituem-se como empreendimentos culturais direcionados a prolongar a vida

útil dos objetos materiais e, assim, possibilitar a relação dialógica com estes bens culturais

portadores de múltiplas significações” (CASTRO, 2008, p. 12).

Volta-se, agora, ao conceito de memória, evocando a definição de João Carlos

Tedesco (2004, p. 35): por “[...] memória entende-se a faculdade humana de conservar traços

de experiências passadas e, pelo menos em parte, ter acesso a essas pelo veio da lembrança”.

Visto que os documentos são uma forma de expressão da memória, então os arquivos são os

detentores da memória individual e coletiva, servindo de suporte para a constituição da

história das instituições e da identidade de um determinado povo. De fato, segundo Eneida

Izabel Schirmer Richter, Olga Maria Corrêa Garcia e Elenita Freitas Penna (1997) “os

arquivos constituem a memória das instituições e das pessoas e existem desde o momento em

que o homem resolveu fixar por escrito suas relações como ser social” (RICHTER; GARCIA;

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PENNA, 1997, p. 36). Dessa forma, os documentos são produzidos para atender às

finalidades específicas e por isso constituem a memória da instituição.

Por esses motivos, as instituições devem instituir uma política de preservação dos

acervos que consiste em pensar em ações com o propósito de garantir a preservação do

suporte para que esteja garantida a construção da memória da Instituição e da sociedade a

partir da informação arquivística. Concorda-se com Pereira (2011), para quem “preservar a

memória, bem de natureza imaterial e intangível, é necessário planejar e executar uma política

de preservação dos suportes como fotos, documentos, vídeos, entre outros” (2011, p. 25).

Somente através do resgate da memória e análise crítica dos acontecimentos do passado será

possível ter um suporte para decisões que afetarão o presente e o futuro. Sendo assim,

preservar a memória é torná-la disponível e indispensável ao cidadão. Porém, não basta

somente organizar a informação, é necessário estabelecer meios efetivos que transmitam a

informação acumulada através dos tempos e que estão nos arquivos.

Preservar os documentos representa preservar o patrimônio histórico e cultural do

meio no qual está inserida determinada instituição, retratando a forma de pensar e de agir de

uma comunidade num determinado tempo e lugar. Os bens culturais guardam informações,

significados, mensagens, registros da história humana, refletem ideias, crenças, costumes,

gosto estético, conhecimento tecnológico, condições sociais, econômicas e políticas de um

grupo em uma determinada época. Para Carmen Tereza Coelho Moreno (2009) “Restaurar é

técnica, mas preservar pressupõe uma decisão política – consciente ou inconsciente. E se o

objeto é memória, é preciso refletir sobre que história estamos contando para ficar na

memória de quem virá” (MORENO, 2009, p. 267).

Pode-se dizer, portanto, que os documentos são fontes de informação e possibilitam o

acesso a uma memória do grupo, que se mantém no presente devido à preservação

documental. Essa memória, por sua vez, se reconstrói e adquire significados a partir do acesso

a arquivos por parte de diferentes usuários, e dos usos que estes fazem da informação colhida.

1.4 O arquivo como lugar de memória

O conceito de lugar de memória foi pensado por Pierre Nora entre os anos de 1978 e

1981, com o objetivo de refletir sobre conceitos de memória e identidade relacionados ao seu

país, a França, e que se encontram na obra Les Lieux de Mémoire (1993). A coletânea está

dividida em três partes: “La Republique” publicada em 1984, “La Nation” em 1986 e “Les

France” no ano de 1992, e destaca como “lugares de memória” paisagens, cidades, edifícios,

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monumentos, livros, documentos, nomes de ruas, objetos, comidas, festas e celebrações,

enfatizando que tais locais existem “porque não há mais meios de memória”. No Brasil

encontramos apenas um artigo do volume I, traduzido e publicado na Revista Projeto História

da PUC São Paulo no ano de 1993, intitulado “Entre memória e história: a problemática dos

lugares”.

Coser (2017) menciona que com a crescente globalização e consequente alteração na

composição étnica, racial e cultural francesa, os estudos de Nora possibilitam uma reflexão

diante da “urgência de repensar e registrar aquilo que ainda parece remeter a uma identidade

nacionalmente compartilhada” (COSER, 2017, p. 233). A obra remete às condições

socioeconômicas da França da segunda metade do século XX, era da “mundialização, da

democratização, da massificação, da mediatização”, do incremento do processo de

descolonização e do “fim das sociedades memórias arcaicas”, que seriam aquelas que

preservavam e entrelaçavam mitos, tradições e valores” (NORA, 1993, p. 8).

Como Coser (2017) percebe, Nora estabelece um divisor entre memória e história,

argumentando que a sociedade moderna, levada pela mudança e condenada ao esquecimento,

faz do passado história, distanciando-se da memória viva e dos rituais repetidos para apoiar-se

na história e em seus vestígios, em contraposição a uma memória verdadeira, social, intocada,

que representa um elo de identidade entre os grupos. Assim, é no “[…] contexto de uma era

de „aceleração da história‟ e de temor generalizado da perda inexorável dos registros dos

fatos, tradições e valores, [que] pessoas e grupos sociais se preocupam em descobrir, estudar e

preservar seu legado” (COSER, 2017, p. 234).

Segundo Nora (1993), a necessidade pelos “lugares de memória” é indicador de que

não há mais memória e sim uma necessidade de história: “se habitássemos ainda nossa

memória, não teríamos necessidade de lhe consagrar lugares. Não haveria lugares porque não

haveria memória transportada pela história” (NORA, 1993, p. 8). Desse modo, a curiosidade

pelos lugares nos quais a memória se cristaliza e se refugia está ligada a esse processo de

ruptura com o passado. Nora contrasta a experiência vivencial da memória nas sociedades

tradicionais com o modo como esta é vivenciada na atualidade. Essas “sociedades-memória”

mantinham elos firmes, ainda que ditatoriais e impositivos, entre o passado e o futuro.

Asseguravam a conservação e transmissão das tradições como a família, a Igreja, a escola ou

o Estado, estão atualmente em crise devido ao fenômeno da “mundialização, da

democratização, da massificação, da mediatização” (NORA, 1993, p. 8).

Para Nora, “os lugares de memória nascem e vivem do sentimento de que não há

memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários,

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organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não

são naturais.” (1993, p. 13). O autor compara essa “memória refugiada” a “bastiões” sobre os

quais a história se escora, observando a necessidade de um duplo movimento: por um lado,

bastiões são instituídos porque há a necessidade de defender uma memória ameaçada (fato a

que se refere como “a verdade de todos os lugares de memória” (1993, p. 13); por outro lado,

registra a necessidade de intervenção da história:

se a história não se apoderasse deles para deformá-los, transformá-los, sová-los e

petrificá-los eles não se tornariam lugares de memória. É este vai-e-vem que os

constitui: momentos de história arrancados do movimento da história, mas que lhe

são devolvidos. Não mais inteiramente a vida, nem mais inteiramente a morte, como

as conchas na praia quando o mar se retira da memória viva. (NORA, 1993, p.13)

Para Coser (2017), a expressão “lugares de memória” é paradoxal: “Sejam esses

lugares individuais, familiares, comunitários ou nacionais, na forma de álbum de músicas ou

de retratos, livros, praças, monumentos ou comemorações, eles vêm substituir as memórias

vivas na tentativa de que elas não se percam” (COSER, 2017, p. 234).

Em relação à preservação da memória de um determinado local, podemos considerar

como lugares de memória: os museus, as bibliotecas, centros de documentação, centros

históricos, arquivos públicos e privados, casarões, dentre outros, por possuírem objetos de

valor afetivo e histórico, que representam um grande patrimônio cultural informacional, no

qual estão exemplificadas, materializadas e simbolizadas em suportes variados. Tais lugares,

sejam comunitários, privados ou nacionais, vêm justamente substituir as memórias vivas, a

fim de que elas não se percam com o decorrer do tempo. Contudo, Nora não limita os locais

de memória a construções materiais. Segundo o autor, na conformação dos lugares de

memória se faz necessário observar simultaneamente três aspectos ou dimensões. São elas:

material, simbólicas e funcionais, as quais diferem entre si somente quanto ao grau de

evidência. É necessário para a constituição dos lugares de memória que “os três aspectos

coexistam sempre” (NORA, 1993, p. 22). O estudioso acrescenta ainda que os lugares de

memória são:

[...] material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese, pois garante, ao

mesmo tempo, a cristalização da lembrança e sua transmissão; mas simbólica por

definição visto que caracteriza por um acontecimento ou uma experiência vividos

por um pequeno número uma maioria que deles não participou. O que os constitui é

um jogo da memória e da história. (NORA, 1993, p. 22)

De acordo com Nora, os lugares de memória são aqueles que devem dar conta do

passado, como uma necessidade contínua de negativa ao esquecimento, já que é diante do

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perigo da perda do passado é que passam a ser criados e recriados. Na verdade, esses lugares

não são mais de memória, mas sim da história, uma vez que os grupos sociais reivindicam,

através deles, direito ao passado. Esses lugares, classificados como detentores de informação,

são de fundamental importância para a cultura de uma sociedade, pois guardam nos seus

acervos documentos que contam a história e consequentemente fazem parte da memória do

lugar.

Para o pesquisador francês, a memória se democratizou a partir da materialização dos

arquivos. Cabe a estes lembrar pela memória aquilo que agora não mais está presente. Na

medida em que essa memória tradicional desaparece, há que se recorrer ao acúmulo de

vestígios, documentos, testemunhos, “sinais visíveis” do que se foi, nos quais o “sentimento

de um desaparecimento rápido e definitivo combina-se à preocupação com o exato significado

do presente e com a incerteza do futuro para dar ao mais modesto dos vestígios, ao mais

humilde testemunho a dignidade virtual do memorável” (NORA, 1993, p. 14). A razão

fundamental dos lugares de memória é, desta forma, a de bloquear o trabalho de

esquecimento: “a memória dita e a história escreve” (NORA, 1993, p. 24).

Nesses locais, os cidadãos, além conhecer as políticas públicas de preservação

cultural, devem ser instruídos quanto as suas responsabilidades junto ao patrimônio cultural

mundial. Em seus estudos sobre modelos institucionais de proteção ao patrimônio cultural e

preservação da memória na cidade de João Pessoa, Ilza da Silva Fragoso (2009a) parece

retomar o conceito de Pierre Nora de forma mais estreita, enfatizando apenas a dimensão

material e funcional. Ressalta-se aqui a aplicação que faz desta última, quando se refere as

“instituições-memória” como sendo “órgãos públicos ou privados, instituídos social, cultural

e politicamente, com o fim de preservar a memória, seja de um indivíduo, de um segmento

social, de uma sociedade ou de uma nação; que tem funções de socialização, aprendizagem e

comunicação” (FRAGOSO, 2008, p. 9). Além disso, têm a função de disponibilizar

informações como fonte de pesquisa na construção de identidades e da história, e na produção

de trabalhos científicos.

Como se pode averiguar, esses espaços têm como missão disponibilizar e disseminar

dados para as futuras gerações, como forma de compreensão do passado. Nesse contexto, é

possível dizer que instituições-memória são lugares que abrigam conjuntos documentais

responsáveis pela guarda e manutenção da memória dos povos desde o surgimento da escrita

até os dias atuais. Para Nora, esses “lugares” híbridos e mutantes transformam-se em espaços

de contradição, uma vez que representam “não mais inteiramente a vida, nem mais

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inteiramente a morte [...] e preservam uma memória na qual não mais habitamos [...], mas

onde palpita ainda algo de uma vida simbólica” (NORA, 1993, p. 13-14).

Nora (1993) enfatiza que os espaços de memória devem se adaptar aos novos tempos,

proporcionando novas formas de reunir, organizar e promover a memória das instituições, dos

grupos e dos indivíduos. De acordo com o autor, tudo que é chamado hoje de memória, na

verdade já é história, pois memória verdadeira não existe mais, logo, “à medida em que

desaparece a memória tradicional, nós nos sentimos obrigados a acumular religiosamente

vestígios, testemunhos, documentos, imagens, discursos, sinais visíveis do que foi” (1993, p.

15). Assim, tal memória foi substituída pela memória arquivística ou registradora, obrigando

“cada grupo a redefinir sua identidade pela revitalização de sua própria história” (NORA,

1993, p. 17).

Esses lugares descritos por Nora se constituem como espaços contraditórios e

ambíguos, e ao mesmo tempo passado e presente. Existem e podem ser convocados para

entender e justificar os rumos, as tensões, as contradições e os potenciais grupos em ação e de

grupos em oposição, pois estes são,

[...] lugares mistos, híbridos e mutantes, intimamente enlaçados de vida e de morte,

de tempo e de eternidade; numa espiral do coletivo e do individual, do prosaico e do

sagrado, do imóvel e do móvel. [...] enrolados sobre si mesmos. Porque, se é

verdade que a razão fundamental de ser de um lugar de memória é parar o tempo, é

bloquear o trabalho do esquecimento, fixar um estado de coisas, imortalizar a morte,

materializar o imaterial para prender o máximo de sentido num mínimo de sinais, é

claro, e é isso que os torna apaixonantes: que os lugares de memória só vivem de sua

aptidão para a metamorfose, no incessante ressaltar de seus significados e no silvado

imprevisível de suas ramificações. (NORA, 1993, p. 22)

Por outro lado, “se a história, o tempo, a mudança não interviessem, seria necessário

se contentar com um simples histórico dos memoriais” (NORA, 1993, p. 22), pois uma das

funções dos lugares de memória é impedir o trabalho do esquecimento. O pesquisador os

compara objetos no abismo, geradores de um jogo de interrogação sobre a própria memória,

os quais, segundo Coser (2017), “articulam diferenças, tecem e organizam uma rede coletiva

que representa o nacional e, ao mesmo tempo, rejeitam referentes na realidade. Assim, a

memória, é promovida ao centro da história” (COSER, 2017, p. 235-236).

Na percepção de Nora, um depósito de arquivos, um manual de aula, uma associação

de antigos combatentes, um livro, um monumento, um testamento de família, uma catedral ou

um sítio arqueológico, se configuram como lugares de memória se tiverem ligação com o

ritual e com o simbólico e se forem impulsionados por uma “vontade de memória” (NORA,

1993, p. 22).

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Atendo-se, também, à dimensão material e funcional, Gobira et. al (2015) mencionam

a necessidade de espaço físico para conservar documentação, e assim contribuir para a

conservação de rastros do passado. Gobira destaca, mais especificamente, o arquivo,

definindo como “espaço de preservação de vestígios documentais do passado [...], um lugar

físico e social, do qual se utilizam estudiosos para procurar evidências necessárias à

instituição de um discurso, seja ele histórico, crítico, seja analítico” (GOBIRA et. al, 2015, p.

110-111).

Porém Nora vai além, e observa que o desejo de produzir arquivos também impulsiona

a criação e o reconhecimento de lugares de memória por grupos minoritários e

marginalizados. Um interesse na memória por parte de judeus, trabalhadores, feministas,

africanos, que começam a questionar sobre questões coloniais e o papel nacional, temas

conflituosos e que geram divisões no campo ideológico, historiográfico e político. No Brasil,

a partir dos anos 1960, vem crescendo o número de Centros de Memória, acervos, publicações

e seminários sobre a preservação de registros em diversas esferas sociais anteriormente

desvalorizadas e esquecidas, como por exemplo, a criação de um bairro ou organizações de

trabalhadores.

Em seus comentários sobre o texto de Nora, Coser (2017) salienta que a literatura e a

arte podem contribuir para a reconfiguração de lugares de memória hegemônicos e

tradicionais,

Ao assinalar a complexidade dos lugares de memória, é importante sublinhar a

qualidade mutante, flexível e dinâmica deste conceito amplo que se renova em

constantes apropriações, questionamentos e retomadas nos campos da história, das

ciências sociais, da comunicação, na educação, na política e na cultura (COSER,

2017, p. 240-241)

Se, para Nora, um lugar de memória necessita ser esvaziado de memória para tornar-se

história, Assmann (2011) atenta para a importância da memória adotando o conceito “espaços

de recordação”. Diverge do entendimento de Nora de que um lugar de memória seja um

indício de falta de memória. Em seus estudos, Assmann (2011) argumenta que os lugares de

memória ajudam na fixação dos eventos. Primeiramente ligam-se os locais à história das

famílias, além disso, têm-se os locais sagrados, onde é possível “vivenciar a presença dos

deuses.” (ASSMANN, 2011, p. 322). Existem também os locais honoríficos, ou seja, locais

onde, em algum momento, houve uma história e hoje só restam ruínas, vestígios, tais lugares

são visitados como parte da formação cultural. Os locais traumáticos foram o palco de

sofrimento e diferente dos locais memorativos, não conseguem contar a história e por fim, os

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locais de memória a contragosto, que são apagados por relembrarem a história que gostaria de

ser esquecida. Lápides e sepulturas, ruínas mudas, são indicadores de presenças ausentes.

Jô Gondar (2005) também defende esse ponto de vista, ao afirmar que no discurso de

Nora existe “uma dificuldade de positivar as mudanças do tempo, mudanças do modo de

sentir, perceber e lembrar que caracterizam as sociedades contemporâneas, como se nos

restasse apenas a compreensão nostálgica de uma situação originária” (GONDAR, 2005, p.

21). Para esta autora, existe uma intencionalidade das lembranças ou documentos, “uma

concepção de memória implicada na escolha do que conservar e do que interrogar, [...] é uma

maneira de pensar o passado em função do futuro que se almeja” (GONDAR, 2005, p.17).

Também Martins (2012), para quem os estudos sobre memória estão em ampla

expansão, julga importante situar o arquivo como lugar de memória, uma vez que essa visão

traz em si a necessidade de compreensão desse conceito. Conforme a autora, o arquivo, “apoia

a construção de memórias”, pois coloca à disposição acervos documentais, com poder de

“construir, enquadrar e modificar memórias” (MARTINS, 2012, p. 166), bem como descreve

e orienta a produção e avaliação de documentos, dando publicidade ao acervo. Por esse

motivo, o pode ser visto como portador de memórias, as quais “fazem sentido quando

representadas, confrontadas, apreendidas pelas pessoas ou grupos sociais” (MARTINS, 2012,

p. 166).

Dessa forma, embora por um viés diferente, a autora ressalta, tal como Aleida

Assmann, o papel potencial do arquivo enquanto fonte de memória, o qual guarda dados que

necessitam da atenção de um pesquisador para que deixem de ser elementos indiferenciados

de uma memória cultural, e passem a integrar de maneira significativa as memórias de uma

dada sociedade. Daí por que arquivos que têm seu potencial reconhecido necessitam ser

disponibilizados e, efetivamente, consultados para que se tornem, ou se conservem,

significativos.

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2 MEMÓRIA UNIVERSITÁRIA

“As coisas que recordamos e os caminhos pelos quais a memória nos conduz são

imprevisíveis”

(Adam Phillips, 2005, p. 10)

2.1 Memória Universitária

A memória está constantemente presente em nosso cotidiano, sempre em movimento,

envolvida em complexidade, por se tratar de um processo inacabado. Como já registrado no

capítulo anterior, na percepção de Pierre Nora (1993) a memória é um fenômeno sempre

atual, um elo vivido no eterno presente através do qual se procura remediar da perda de dados

através de um processo de construção que conduz à recuperação do passado. Essa

reconstrução é baseada em questões que são formuladas sobre o passado, porém vistas por

uma perspectiva do presente. Assim, o estudo memorial abre um leque de possibilidades, que

perpassam diversas áreas, dentre as quais se destaca aqui a questão da memória universitária.

A universidade é reconhecida como uma instituição que desempenha importante papel

no desenvolvimento regional, sustentável e humano, contribuindo com a formação de

competências e com a difusão de experiências culturais e científicas na sociedade. Por este

motivo, pode ser considerada o "[...] lócus fundamental para a construção da identidade

sociocultural de um país. Por entendê-la assim, instituição social de interesse público, muitos

de nós temos nos empenhado em sua construção, preservação e defesa” (MORAES, 1999, p.

56).

As universidades apresentam características e traços típicos, próprios e inconfundíveis

que as constituem como distintas de outras instituições e estruturas organizacionais: têm uma

vasta coleção de compromissos e objetivos, simultaneamente, e não se comportam, do ponto

de vista organizacional, com a exatidão ou especificidade de uma empresa ou organização

semelhante. Com efeito, segundo Vahl (1990),

[...] algumas particularidades, no entanto, merecem ser destacadas, no que diz

respeito à diferenciação entre universidades e as demais organizações empresariais:

1- seus objetivos não estão claramente definidos; são vagos e ambíguos, sendo

difícil defini-los exatamente. Entre eles podem-se citar o ensino, a pesquisa, a

prestação de serviços à comunidade onde se insere, a administração de suas

instalações, a solução de problemas sociais, etc.

2- são organizações prestadoras de serviços, servindo a clientes com necessidades

específicas e que retornam à sociedade como um todo. Trata-se de uma clientela

com voz ativa, que deseja ser ouvida e participar do processo de tomada de decisões.

3- a tecnologia de universidades é complexa, não rotineira e pouco clara, uma vez

que é obrigada a atender clientes com necessidades individuais distintas.

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4- os profissionais que nelas atuam são altamente treinados e especializados e

demandam autonomia para o desenvolvimento de seu trabalho. Somente aceitam a

avaliação e o julgamento de seus pares, negando uma avaliação por parte de seus

superiores hierárquicos. Seus valores profissionais, frequentemente, não se

coadunam com as expectativas burocráticas, gerando conflitos entre estes

profissionais e os dirigentes e ocupantes de cargos administrativos da organização.

(VAHL, 1990, p.108-109)

Marilena Chauí (2000) compreende a universidade como uma instituição social,

destinada a garantir e a realizar um direito constitucional, e não como uma organização

vinculada à exploração de um setor de serviços, conforme descreve:

[...] uma organização difere de uma instituição por definir-se por uma outra prática

social, qual seja, a de sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios

particulares para a obtenção de um objetivo particular. Não está referida a ações

articuladas às ideias de reconhecimento externo e interno, de legitimidade interna e

externa, mas de operações definidas como estratégias balizadas pelas ideias de

eficácia e sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo

particular que a define. É regida pelas ideias de gestão, planejamento, previsão,

controle e êxito. [...] A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe

que sua eficácia e a seu sucesso dependem de sua particularidade. Isso significa que

a instituição tem a sociedade como seu princípio e sua referência normativa e

valorativa, enquanto a organização tem apenas a si mesma como referência, num

processo de competição com outras que fixaram os mesmos objetivos particulares

(CHAUÍ, 2000, p.187)

Ademais, é possível perceber que a universidade se constitui como uma instituição de

múltiplas finalidades, descritas basicamente como atividades de ensino, pesquisa e extensão,

em suas mais diferentes formas e especificidades. Santos (2011, p. 65) afirma que “[...] no

século XXI só há universidade quando há formação graduada e pós-graduada, pesquisa e

extensão. Sem qualquer destes, há ensino superior, não há universidade”. Esse

posicionamento está consoante com os pressupostos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB), que em seu Art. 52 deixa claro que:

As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros

profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do

saber humano, que se caracterizam por: I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e

problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto

regional e nacional. [...] (BRASIL, 1996, p. 18-19)

Nas atividades de extensão, abriga uma diversidade imensurável de linhas de ação e de

propósitos: coordena e integra uma ampla gama de serviços, por vezes, inclusive, em áreas

sociais ou culturais completamente distintas e até antagônicas, seja junto aos grandes

empresários, seja junto às populações excluídas. Nas atividades de pesquisa, a universidade

lida com uma vasta coleção de conhecimentos, inclusive com muitos que ainda não estão

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prontos para serem aplicados, mas que demandam investimento, coordenação administrativa e

atenção ética. No ensino, junto ao corpo docente, as atualizações de conteúdo são promovidas

e incentivadas em áreas e entre áreas completamente distintas, tudo simultaneamente.

Assim, o ensino, a pesquisa e a extensão são atividades acadêmicas voltadas para a

sociedade e para o desenvolvimento do cidadão, pois como afirma Santos (2011, p. 113), “A

universidade é um bem público intimamente ligado ao projeto de país”. As grandes

transformações e mudanças sociais trazidas pela globalização e pelos avanços das tecnologias

de informação e comunicação exigem das instituições de educação superior a formação do

cidadão com responsabilidade e ética.

Nunes, Pereira e Pinho (2017) descrevem como sendo um dos objetivos da

universidade

a produção do conhecimento no que concerne a sua contribuição para o

desenvolvimento cultural, por meio de ações que promovam os direitos humanos, a

educação, a cultura, a saúde, o trabalho, as tecnologias, o meio ambiente, a

comunicação; com atenção especial para as populações em condições de

vulnerabilidade, considerando a diversidade de gênero, raça, credo, idade e etnia

(NUNES, PEREIRA, PINHO, 2017, p. 173)

A educação nacional tem suas diretrizes e bases estabelecidas pela lei 9.394 de 1996:

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). O Art. 43 da referida lei trata da

educação superior e suas finalidades. Destacando, inicialmente, o estímulo ao

desenvolvimento do espírito científico e crítico, a lei recomenda o incentivo à pesquisa e à

promoção da ciência e desenvolvimento, bem como seu compartilhamento e disseminação:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do

pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção

em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade

brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o

desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e,

desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que

constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de

publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e

possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão

sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de

cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os

nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer

com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das

conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e

tecnológica geradas na instituição.

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VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação básica,

mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesquisas

pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os dois

níveis escolares. (BRASIL, 1996)

Como missão, a universidade não apenas deve possibilitar aos seus acadêmicos a

obtenção de um diploma, um emprego ou remuneração satisfatória, deve ir além, e ser capaz

de produzir novos conhecimentos para serem aplicados à realidade social. A sua função social

se aplica à toda a sociedade, em todos os níveis sociais. Conforme destaca Chauí (2001) “a

universidade é uma instituição social. [...] realiza e exprime de modo determinado a sociedade

de que é e faz parte. Não é uma realidade separada e sim uma expressão historicamente

determinada de uma sociedade determinada” (CHAUÍ, 2001, p. 35).

Pensar a universidade como uma instituição social torna necessário ir além das

fronteiras dos interesses científicos e abrigar o entendimento do caráter da memória, que

reforça identidades e sentimentos de pertencimento, um processo que, também se faz evidente

na universidade. Comentando a forma de operação da memória na formação do senso de

identidade, embora em outro contexto, Michael Pollak assim se expressa:

A memória, essa operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do

passado que se quer salvaguardar, se integra, como vimos, em tentativas mais ou

menos conscientes de definir e reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras

sociais entre coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas,

aldeias, regiões, clãs, famílias, nações etc. A referência ao passado serve para manter

a coesão dos grupos e das instituições que compõem uma sociedade, para definir seu

lugar respectivo, sua complementaridade, mas também as oposições irredutíveis.

(POLLAK, 1989, p.3)

Assim sendo, a memória de um departamento, de um instituto, ou da própria

universidade, mostra como o estágio atual das atividades acadêmicas provêm de um

desenvolvimento peculiar, pontuado pelas iniciativas inovadoras, pelas mudanças na estrutura

administrativa, pela atuação de docentes, estudantes e funcionários, pelos eventos marcantes,

tanto na vida universitária como no contexto social, e por aspectos da produção prévia. Estes

aspectos todos, quando devidamente preservados e postos ao alcance dos interessados,

constituem uma base para se entender melhor a natureza presente da instituição.

Reconhecendo não apenas sua natureza, mas sua dívida para com sua comunidade, a

universidade deve contribuir para minimizar seus problemas, retribuindo o investimento que

dela recebe, desenvolvendo estudos, pesquisas e projetos de extensão compatíveis com as

reais necessidades da população, em benefício comum. A função da universidade na

sociedade é inquestionável: “Cabe a ela a liderança do sistema educacional, pois é de sua

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responsabilidade a formação de sujeitos críticos, reflexivos, autônomos e éticos”

(RODRIGUES, 2007, p. 49), colocando à disposição os conhecimentos gerados e acumulados

na instituição. A universidade não deve produzir para si mesma, pois sua função é social.

Afinal, é uma instituição da qual deriva uma imensa diversidade de modos e formas de

organização. E organizações, como Vahl define, são instituições eminentemente sociais:

“organizações são unidades sociais ou agrupamentos humanos, constituídas e reconstituídas

com a finalidade de atingir objetivos específicos” (VAHL, 1990, p. 107).

No contexto universitário, a questão relacional torna-se evidente e relevante pois,

como Costa (1997) esclarece, uma instituição é sempre obra coletiva, social, cultural, um

acontecimento.

Sua construção é historicamente percebida e seu processo instituinte se dá pela

viabilização de mecanismos de controle social, estabelecendo regras e padrões de

conduta que venham a garantir seu funcionamento e o exercício de suas funções

reprodutoras, que tendem à estabilidade e que obedecem a uma certa regularidade.

Trata-se de reproduzir uma determinada ordem alcançada, com a intenção de

manutenção dessa ordem. (COSTA, 1997, p.80)

Um aspecto importante a considerar é a percepção de que é sempre no contexto das

relações que as lembranças são construídas, mesmo que aparentemente individualizadas

(HALBWACHS, 2006). Esse aspecto vem ao encontro do raciocínio de Icléia Thiesen

Magalhães Costa (1997), que situa a memória de uma universidade a partir da dinâmica de

suas relações sociais, em um “[...] permanente jogo de informações que se constrói em

práticas discursivas dinâmicas. O instituído e o instituinte – as duas faces da instituição –

fazem suas jogadas na dinâmica das relações sociais.” (COSTA, 1997, p. 9).

Na dinâmica dessas relações sociais, a memória está sujeita às questões da seletividade

e, sobretudo, às instâncias de poderes. Oliveira (2008, p. 43) complementa: “Mesmo que

constituída a partir de indivíduos, a memória sempre nos remete a uma dimensão coletiva e

social e, por extensão, institucional”. Para o autor,

Se é verdade que uma instituição é constituída de uma complexa rede de relações

estabelecidas, não somente nos papéis e registros oficiais, mas (e sobretudo) através

das práticas habituais, fundamentadas em valores e normas adotadas pelos sujeitos

que as constituem e nela atuam, é também sabido que a identidade compartilhada é

um poderoso fator de coesão de grupos. (OLIVEIRA, 2008, p. 45)

Como Oliveira (2008) registra, referindo-se aos que atuam no âmbito da história e

memória de instituições, entre passado e presente há um trânsito. De acordo com o estudioso,

é nesse “campo permeado pelas disputas de poderes, na dimensão dos embates que definirão o

que será lembrado, como será lembrado, e também aquilo que, não sendo lembrado, será

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esquecido: não somos só o que lembramos, somos também o que esquecemos” (OLIVEIRA,

2008, p. 42). É no interior desse trânsito, dessa seletividade tão ligada ao próprio processo

identitário, que se enquadram, também, as memórias universitárias.

Falar sobre a memória universitária não é tarefa fácil. Ao refletir sobre a universidade

para além do lugar de produção de conhecimento, e ampliar o campo de observação, percebe-

se que os lugares de memória e cultura também se encontram nesse meio.

Nora (1993) explana que deve haver nos lugares da memória uma intenção

memorialista que garanta sua identidade, e que permita que eles não sejam meros lugares de

história e sim, espaços criados pelo indivíduo contemporâneo. Nesses espaços deve haver

uma identificação, a fim de que esses indivíduos se unifiquem e se reconheçam agentes de seu

tempo, isto é, a tão desejada volta dos sujeitos: “a atomização de uma memória geral em

memória privada dá à lei da lembrança um intenso poder de coerção interior. Ela obriga cada

um a se relembrar e a reencontrar o pertencimento, princípio e segredo da identidade"

(NORA, 1993, p. 18).

Na atualidade, percebe-se valorização do significado da memória universitária, e

esforços no sentido de constituir acervos memoriais nessas instituições. Para contextualizar as

relações que estão impregnadas nas estruturas da educação superior do País, atentou-se para

os trabalhos do pesquisador Antônio José Barbosa de Oliveira, (UFRJ), autor de inúmeros

artigos no campo da história e memória de instituições, e membro integrante do Projeto

Memória SiBI-UFRJ (Sistema de Bibliotecas e Informação). Constam entre suas obras

focadas na história e memória institucional os volumes A Universidade e lugares de memória

(2008) e A Universidade e lugares de memória II (2009). Na leitura de tais obras, percebe-se

que a intencionalidade dessa organização de textos foi a de reforçar a concepção de que uma

universidade se faz importante pela riqueza advinda da multiplicidade de saberes,

constituindo-se como patrimônio cultural indispensável a toda nação.

Segundo o historiador, foram necessários cinco séculos de história para o Brasil ter,

em seus domínios, a instituição universitária. Somente no século XX, no contexto das

políticas de modernização do Brasil, o debate para a criação de universidades tomou corpo e,

finalmente, em 1920, o Governo Federal criou a primeira universidade, a Universidade do Rio

de Janeiro (URJ). Em 1937, a URJ é transformada em Universidade do Brasil (UB) e

concebida como modelo a todas as instituições de ensino superior no país.

Oliveira (2009) identificou e analisou cerca de trinta espaços que possuem acervos

memorialísticos sobre a história da UFRJ e sobre as áreas de pesquisa específicas a que se

destinam. Constam nesse acervo: documentos escritos, fotografias, mapas, plantas, esculturas,

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pinturas, livros raros, jornais, revistas, acervos pessoais de professores, instrumentos

científicos, patrimônio arquitetônico e alguns depoimentos de funcionários.

Comentando este estudo, Teixeira (2008) destaca:

Nós estamos aqui reverenciando a memória e os espaços de memória, mas, ao

mesmo tempo, temos que olhar para o amanhã, definindo se este amanhã será

apenas uma reprodução do passado, de um passado permeado de micro-histórias de

êxitos, ou se será o amanhã de uma universidade nova, aberta, democrática, crítica,

humanista, capaz de se defrontar e resolver os problemas da integração dos

conhecimentos e da universalização do ensino superior. Entre este passado com suas

glórias, conquistas, vitórias, fracassos e carências e esse amanhã que está em aberto,

encontra-se o hoje, o presente e os nossos desafios. E é neste hoje que precisamos

tomar as nossas decisões. Reproduziremos o passado ou construiremos uma

universidade nova, diferente da que temos? (TEIXEIRA, 2008, p. 15)

Enquanto Universidade, uma das funções dessas instituições é assegurar à sociedade o

direito de acesso a todas as informações sobre sua origem, trajetória e funcionamento,

reafirmando, desta forma, sua importância estratégica na construção de saberes e da

cidadania. Por este motivo, ressalta-se a importância da preservação da memória técnico-

científica e cultural da Universidade para o fortalecimento de sua identidade institucional.

Nesse sentido, registra-se a pesquisa desenvolvida por Maria Helena Alves da Silva,

Maria Aparecida Chaves Ribeiro Papali e Valéria Zanetti, as quais, no trabalho intitulado “A

importância da memória institucional e o CEHVAP (Centro de História e Memória da

UNIVAP)” analisam o caso particular da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP),

localizada na cidade de São José dos Campos/SP. Têm como objetivo explorar e discutir a

importância da memória institucional dentro e fora da Universidade, e entender qual a

importância da instituição e de seu Centro de História e Memória (CEHVAP) no contexto da

criação da Universidade e na história da cidade. Levantam a questão de porque o Centro tem

pouco reconhecimento por parte dos outros setores da Universidade, apesar de ser

oficialmente reconhecido como estratégico e indispensável para o funcionamento da

instituição e manutenção de sua história.

As autoras registram uma situação paradoxal: apesar do amplo reconhecimento do

caráter social da universidade, “a memória institucional raramente está articulada e disponível

de forma sistemática nas Universidades, tanto públicas quanto particulares” (2017, p. 36),

havendo um silêncio quanto a isso. Silva, Papali e Zanetti destacam que trabalhar com a

memória institucional não é apenas explorar a história vivida pelos alunos e funcionários de

uma instituição, mas também honrar o esforço de todos que contribuíram e ainda contribuem

para a continuidade da instituição. Porém é preciso que os programas de memória e

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documentação sejam norteados, estimulando fatos e escolhendo histórias relevantes que

apresentam a organização da instituição à sociedade.

Outra contribuição no campo da memória universitária é a da pesquisadora Neire do

Rossio Martins (2012). Em sua dissertação intitulada “Memória Universitária: o Arquivo

Central do Sistema de Arquivos da Universidade Estadual de Campinas (1980 - 1995)”

apresenta uma visão geral da análise histórica e desse lugar de memória, traçando um

panorama da política arquivística adotada pela universidade para preservar seus documentos e

suas memórias. Trata-se de pesquisa histórica acerca da trajetória de instalação e implantação

do Arquivo Central do Sistema de Arquivos da Universidade Estadual de Campinas.

O objetivo da pesquisa foi investigar a trajetória de implantação desse sistema: suas

bases, conflitos, os interesses dos grupos e os próprios grupos que atuaram nesse período. Ao

mesmo tempo, Martins faz uma reflexão sobre as formas utilizadas para sua legitimação como

órgão administrativo e acadêmico; identifica os contextos em que esse percurso se

desenvolveu, trazendo elementos que possibilitem compreender e refletir sobre o presente.

Como a autora comenta, essa memória universitária, “procura abrigar essa diversidade

inerente a esse ambiente de ensino e de pesquisa científica” (MARTINS, 2012, p. 166). A

autora lança mão do conceito de lugar de memória de Pierre Nora, associando a necessidade

de arquivo ao momento temporal em que há uma ruptura com o passado: a ele consagramos

lugares porque não mais habitamos sua memória, mas valemo-nos, antes, de uma memória

transportada pela história.

Assim, descreve o Arquivo Central do Sistema de Arquivos da UNICAMP como um

lugar de memória (NORA, 1993), memória institucional e coletiva que vem reunindo desde a

década de 1980, documentos produzidos pela universidade ou sobre a universidade, em

diferentes meios e suportes, provenientes de suas unidades e órgãos compreendidos em sua

estrutura organizacional. O seu acervo documental é formado a partir de recolhimentos

organizados por critérios estabelecidos durante a gestão sistêmica de documentos ou de

doações e compras ou coligidos por meio de depoimentos orais. Além de preservar, constitui

memórias na medida em que prepara programas de apoio a comemorações institucionais,

exposições, oferece cursos e programas educativos. (NEVES, 2005)

As possibilidades de um arquivo institucional são variadas, não havendo um conceito

único que o defina. O arquivo molda-se, antes, de acordo com as finalidades e a dinâmica de

cada universidade, conforme explana a autora:

É possível pensar que um arquivo de uma instituição universitária possa suscitar,

mesmo, que considerado “administrativo” ou “oficial”, público ou privado,

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investigações importantes, uma vez que mantém registros e documentos sobre as

relações com a comunidade. Registros acadêmicos que permitem mostrar o perfil

dos alunos que ingressam e que passam pelos bancos escolares, e o perfil dos

professores contratados pela universidade ou que a visitam para palestras,

participação em bancas ou mesmo, para envolvimento com grupos de pesquisa. Os

registros referentes aos cursos permitem investigações sobre a forma curricular, as

prescrições. Os registros e documentos sobre convênios e pesquisas, permitem um

olhar sobre os interesses de pesquisa dos grupos, da instituição e do próprio

ambiente social e científico em que a universidade está inserida (MARTINS, 2012,

p. 166)

Heloísa Liberalli Bellotto (1992) considera importante que a gestão se relacione com a

preservação dos documentos da própria universidade, visando à memória institucional, com o

fim de garantir a memória das organizações para efeitos científicos da pesquisa histórica ou

para efeitos de transmissão cultural. Ressalta em outro momento a necessidade do

reconhecimento da importância da gestão arquivística de documentos nas Universidades e

sugere a implantação de programas de gestão de documentos a fim de sistematizar os

procedimentos administrativos para que se alcance o controle da produção documental, sua

utilização e sua destinação final.

O documento em si não é memória, mas é o elemento que permite a sua constituição,

ou seja, um local significativo para a construção da memória. Esclarece ainda que o papel

principal de um arquivo em universidades é:

[...] reunir, processar, divulgar e conservar todos os documentos relativos à

administração, à história e ao funcionamento/ desenvolvimento da universidade;

avaliar e descrever estes documentos, tornando possível seu acesso, de acordo com

as políticas e procedimentos elaborados especificamente para estes fins;

supervisionar a eliminação, ter o controle da aplicação das tabelas de temporalidade,

objetivando que nenhum documento de valor permanente seja destruído. [...]

fornecer aos administradores as informações requeridas no menor tempo possível;

ser a informação para a própria universidade como um todo. (BELLOTTO, 1992, p.

19)

Para a autora, (2006, p. 35) “documento é qualquer elemento gráfico, iconográfico,

plástico ou fônico pelo qual o homem se expressa”. A função e o suporte do documento

determinam o uso e o destino de armazenamento futuro. Os documentos de arquivo em

suporte papel são, em geral, manuscritos, impressos e exemplares únicos, produzidos pelas

atividades funcionais ou intelectuais de instituições, no decurso de suas funções.

Os dados aqui coletados e comentados acerca da memória universitária demonstram

que é plausível criar mecanismos que tornem visíveis os lugares de memória institucionais, os

projetos que os originam e os espaços dedicados a eles. O incentivo à produção e manutenção

de tais espaços mostrará que a instituição está preparada para tornar sua memória cada vez

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mais pública e acessível não apenas à comunidade interna da instituição, mas também à toda

população que deseja usufruir da pesquisa e conhecer esses lugares de memória.

2.2 Lugares de memória na URI

A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI- Câmpus de

Frederico Westphalen, é uma instituição multicampi, com 27 anos de atividade. Reconhecida

pela Portaria nº 708, de 19 de maio de 1992, publicada no Diário Oficial da União em

21/05/92, tem sede na cidade de Erechim, Estado do Rio Grande do Sul. É mantida pela

Fundação Regional Integrada - FuRI, entidade de caráter técnico-educativo-cultural, com sede

e foro na cidade de Santo Ângelo/RS. As atividades de ensino, pesquisa e extensão são

desenvolvidas em seis Câmpus: Erechim, Frederico Westphalen, Santo Ângelo, Santiago,

Cerro Largo e São Luiz Gonzaga.

A URI identifica-se como universidade comunitária, pois sua vocação é a integração,

atingindo mais de 100 municípios das regiões Alto Uruguai Norte, Médio Alto Uruguai,

Missões e Fronteira Oeste. Para a consecução de tais metas e estrutura, desenvolve suas

atividades de ensino, pesquisa e extensão através de oito Departamentos: Ciências Exatas e da

Terra, Ciências Biológicas, Engenharia e Ciência da Computação, Ciências da Saúde, Ciência

Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Linguística, Letras e Artes.

A missão da URI, conforme encontra-se divulgada em sua homepage, é “formar

pessoal ético e competente, inserido na comunidade regional, capaz de construir o

conhecimento, promover a cultura, o intercâmbio, a fim de desenvolver a consciência coletiva

na busca contínua da valorização e solidariedade humanas”. Tem como visão “ser

reconhecida como uma Universidade de referência que prima pela qualidade, ação solidária,

inovação e integração com a comunidade”.

Em suas seis unidades, além do Ensino Superior, a URI conta com Escolas de

Educação Básica que atuam na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio,

Ensino Técnico e Cursos de Pós-Graduação Latu Sensu e Stricto Sensu. Em relatório anual,

publicado em 2018, a URI – Câmpus de Frederico Westphalen contabilizou um universo

composto pelas seguintes grandezas:

QUADRO 1 - Número de discentes, docentes e funcionários, URI-FW, 2018

Descrição Quantidade

Alunos de Graduação 2524

Alunos de Pós-Graduação – Lato Sensu 302

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Alunos de Pós-Graduação – Stricto Sensu 48

Alunos Ensino Médio 65

Docentes 175

Funcionários 171

TOTAL 3285

FONTE: Secretaria Geral da Uri - Câmpus de Frederico Westphalen (2018), quadro elaborado pela autora

Em seus diversos espaços de convivência na unidade, a URI têm acervos e arquivos

que compõem seu patrimônio, os quais podem ser livremente acessados pela comunidade

interna e externa a ela. Esses “lugares de memória”, verdadeiros rastros memoriais, guardam

muitas significações, cujas dimensões este estudo não será suficiente para esgotar. Lembra-se

aqui Pollak (1989), quando, ao enfatizar sobre os ditos e os não-ditos para a construção de

uma memória, seja ela coletiva ou individual, ressalta a importância de rastros significativos

que uma pessoa, um grupo ou uma nação vai deixando em suas experiências de vida, e que se

tornam pontos de referência para qualquer estudo histórico. Isso é notável principalmente

quando os rastros, muitas vezes esquecidos ou ignorados, revelam interpretações distintas da

oficial ou mesmo da que se acostuma ouvir. É um processo que demanda trabalho árduo de

interpretação dos mundos existentes e dos submundos, dos esquecimentos, dos silêncios, das

angústias e dos prazeres.

Em busca de entender o contexto da instituição, serão apresentados e comentados, a

seguir, alguns espaços de memória, dialogando com o que foi discutido até aqui. Desenvolve-

se aqui um registro dos lugares de memória na URI, a fim descrevê-los e discutir, mesmo que

brevemente, como eles impactam na perpetuação da memória e cultura dentro da comunidade

acadêmica e não acadêmica. Relatam-se, a seguir, informações primeiramente sobre o espaço

FESAU, em seguida sobre a Biblioteca Central da URI, o Centro de Documentação e

Pesquisas Históricas do Alto Uruguai (CEDOPH) e por fim, as Dissertações do Mestrado em

Letras da URI.

2.2.1 Espaço FESAU

O Espaço FESAU localiza-se no Câmpus I da URI – Câmpus de Frederico

Westphalen, no prédio 06, sala 10. O local, que sedia a Fundação de Ensino Superior do Alto

Uruguai, guarda um significado histórico: o prédio 06 foi o primeiro prédio construído, ao ser

criada a URI em 1992. A sala é, como todo o Prédio 06, propriedade da FESAU, cedida em

comodato à FuRI- Fundação Regional Integrada, Mantenedora da URI, como todos os demais

bens, já que a FESAU continua a existir, permanecendo proprietária do patrimônio da URI.

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A FESAU iniciou suas atividades em 22 de dezembro de 1969; portanto, neste ano de

2019 completa seu cinquentenário, permanecendo proprietária do patrimônio da URI. Hoje,

segundo a professora Ophélia Sunpta Buzatto Paetzold (2019), “a FESAU só não exerce a sua

função acadêmica; a questão financeira e jurídica ela cumpre, porque é uma norma”, estando

orientada pela Procuradoria Geral das Fundações do Estado do Rio Grande do Sul. Esse

espaço está sempre se movimentando, com entrada e saída de material e em breve estará

aberto em horário permanente para acesso do público em geral, e também para professores

que trabalharam na FESAU.

No momento atual, o estatuto da FESAU está passando por reformulação, para se

adequar ao Código Civil Brasileiro, com o intuito de contemplar a questão do intercâmbio

com a sociedade local e regional. A Diretoria é composta por 13 membros, com o mesmo

número de suplentes. Atualmente, são titulares do Conselho Diretor: Presidente - Luiz

Panosso Netto; Odi Marchesan, Lírio Zanchet, Vitalino Adjalmo Cerutti, Normando Bambini,

Edemar Girardi, Roberto Felin Júnior e José Alberto Panosso (prefeito); do Conselho

Curador: Armando Ali Younes, Antônio Garcia da Silva, Lauro Paulo Mazzutti, Ophélia

Sunpta Buzatto Paetzold e Rubens A. C. Haubert.

O Espaço FESAU foi solicitado à Direção da URI/Frederico Westphalen pela

Diretoria da Fundação de Ensino Superior do Alto Uruguai, porque, mesmo sendo

proprietária de toda área física onde está localizada a URI, não havia sido disponibilizado

qualquer espaço para que a FESAU usufruísse como um local de encontro para reuniões de

sua Diretoria, as quais acontecem no início de cada ano e, sempre que necessário, para

realização de sua assembleia anual.

Este lugar foi criado para explorar a história da Fundação, preservando a sua memória.

É reservado à guarda dos documentos históricos referentes à sua trajetória e ao caráter

visionário dos pioneiros que há 27 anos sonharam criar uma Universidade, aliando ao IESAU-

Instituto de Ensino Superior do Alto Uruguai- as IES de Erechim e de Santo Ângelo.

O Espaço FESAU contribui para a perpetuação e divulgação da história, memória e

identidade dessa Fundação, já que objetiva a preservação e documentos, criando possibilidade

de diálogo, pesquisas e ações integradas. É, por isso, um local onde a história da Fundação

está guardada e cuidada; poderá ser visitado, contribuindo com a sociedade, ajudando

pesquisadores e guardando documentos, trabalhos e fotografias. Não somente traz à

comunidade o conhecimento dos envolvidos na criação da FESAU, como memórias que

acompanham os 50 anos de sua história, em parte publicadas no volume FESAU Memórias I,

no ano de 2018.

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Era uma constante preocupação da direção da FESAU a preservação dos documentos

que cada presidente guardava consigo, material como livros de atas e outros livros de uso da

presidência, documentos do Conselho Diretório Curador, e o próprio estatuto da entidade. Era

necessário que tais documentos fossem abrigados em um espaço que possibilitasse que essa

informação tanto estivesse disponível para as próprias assembleias da FESAU, como pudesse

ser consultada por alunos, comunidade local e regional, imprensa, e demais interessados. A

partir disso, foi pensada a criação desse local, para arquivo desses documentos e também para

a realização de reuniões.

A Direção do Câmpus da URI, constituída por Silvia Regina Canan como Diretora

Geral, Elisabete Cerutti como Diretora Acadêmica, e Clóvis Quadros Hempel como Diretor

Administrativo, aceitou o desafio de prover um espaço para a FESAU. A 16 de setembro de

2016 realizou-se a cerimônia de inauguração da sala da Fundação de Ensino Superior do Alto

Uruguai - FESAU, reunindo representantes de toda a comunidade, especialmente pioneiros

que ajudaram na construção da história do ensino superior de Frederico Westphalen e da

própria FESAU. Na ocasião, a Diretora-Geral da URI Frederico Westphalen falou sobre a

importância do momento de entrega do espaço, ressaltando a visão de seus fundadores, e

reforçando que a sala, mais do que um espaço onde são guardados documentos, é “o local

onde a história da fundação estará e poderá ser guardada, cuidada e visitada com o respeito

que ela merece” (CASSOL, 2016). O atual presidente da FESAU, Sr. Luiz Panosso Neto,

também falou sobre a importância do espaço, emocionando-se ao relembrar o caminho

percorrido até a criação da Fundação.

O Espaço FESAU está dividido em 3 ambientes: a sala do presidente, sala de reuniões

e recepção. Para realização da assembleia, a URI disponibiliza o Auditório menor, localizado

no prédio 07. O material básico que se encontra na sala do presidente e que não foi repassado

para a URI constitui-se de estatutos, revistas, livros com dados históricos, todos disponíveis

para pesquisas. Os documentos de uso do financeiro ficaram sob guarda e responsabilidade da

URI, mas também disponíveis à pesquisa, assim como toda documentação acadêmica relativa

aos cursos, docentes e alunos dos quatro Cursos que foram criados enquanto FESAU: Letras,

Administração, Pedagogia e Ciências Contábeis, de 1972 a 19 de maio de 1992. Estes dados

estão no arquivo dispostos no passivo da Secretaria Geral do Câmpus da URI.

Nesse local é possível encontrar toda a documentação desde sua criação até os dias

atuais, como atas, estatutos, revistas, mapas e vídeos históricos. A intenção é colocar uma

galeria de fotos registrando toda essa caminhada histórica, divulgando, preservando e

incentivando pesquisas históricas e de outros fins sobre esses acervos, visando a valorização

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do patrimônio cultural e documental, da memória e da história do Ensino Superior da região

do Alto Uruguai.

Integravam o acervo original da FESAU fotos e livros. Aquelas foram cedidas para o

CEDOPH (Centro de Documentação e Pesquisas Históricas do Alto Uruguai), localizado na

Biblioteca da URI e que será descrito mais tarde neste capítulo. O acervo de livros da

Biblioteca da FESAU, a partir de maio de 1992, foi integrado à Biblioteca Central da URI.

2.2.2 Biblioteca Central Dr. José Mariano da Rocha Filho

Dentro do contexto universitário, as bibliotecas, além da função de disponibilizar

revistas, livros e outros documentos, são fontes de informação, pois nelas são selecionadas,

guardadas e disseminadas as produções culturais e intelectuais de uma sociedade. Tais

informações assumem também a importante tarefa de preservar a memória institucional.

Para Ribeiro (2007) a universidade como geradora de conhecimento depende dos

recursos informacionais, organizados pela biblioteca. Neste sentido, nota-se um ciclo no qual

uma produz e a outra registra e divulga o que é produzido. Deste modo, a biblioteca

universitária tem papel destacado na produção e difusão do conhecimento da universidade

sendo que a função da universidade é social e está intimamente ligada ao desempenho social

que a biblioteca universitária deve desenvolver.

A biblioteca universitária, enquanto parte integrante de uma instituição, afirma-se

como necessária para colaborar nessa construção, apresentando-se como lugar de memória. O

próprio ato de publicar pesquisas que acontecem dentro da universidade é uma maneira de

documentar sua memória intelectual e cultural. Entende-se, assim, que documentos

bibliográficos também são lugares de memória e cultura, e as bibliotecas das instituições

servem como repositório desses saberes produzidos, registrados e publicados. Além de

arquivos e acervos artísticos, as bibliotecas, através de suas coleções de livros e periódicos, se

mantém como um dos mais antigos espaços de memória e cultura.

Na atualidade, em virtude dos novos recursos tecnológicos, a biblioteca se expande

para os espaços virtuais, disponibilizando artigos, pesquisas, dissertações e teses, ampliando o

acesso à cultura. No momento em que institui seu acervo digital, possibilita também a

parceria entre instituições acadêmicas, abrindo seus acervos para estudantes e professores

dessas universidades. A criação de bases de dados que constem as produções e publicações

que ocorrem dentro da universidade é outro espaço de memória e cultura, inclusive da própria

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instituição, que serve de suporte para estudos sobre questões políticas e culturais na

universidade.

Dessa forma, nesse ambiente está contida uma variedade de acervos que compila

muito dos resultados da caminhada intelectual da raça humana, sejam as descobertas, os

inventos e os escritos, que impulsionaram o desenvolvimento, ou tudo o que mereceu a

imortalidade, “reunido e arquivado num único espaço físico, porém, ilimitado, como

imaginamos que seja um universo” (FILHO, 2018, p. 25). Porém, é necessário que exista uma

política com intenção memoralística, ou seja, que preserve e mantenha esses espaços de

maneira adequada e organizada, uma vez que são geradores de pesquisa e permitem que a

universidade, representada pelo seu corpo docente, discente, técnico-administrativos e a

comunidade do seu entorno constituam a sua identidade cultural.

Para Chartier (2002), é possível definir as bibliotecas como um lugar de memória e de

preservação do patrimônio documental. Considera-as como: “um espaço dinâmico e vivo

tendo como uma das tarefas fundamentais colecionar, [...], inventariar e, finalmente, tornar

acessível a herança da cultura escrita” (CHARTIER, 2002, p.30). Assim como outros lugares

de memória, as bibliotecas se apresentam como palcos de encenação à dramaturgia da

sociedade. Em virtude disso, “a identidade de uma sociedade ou nação [que pode] ser

espelhada por uma biblioteca, por uma reunião de títulos que, em termos práticos ou

simbólicos, faça às vezes de definição coletiva”. (MANGUEL, 2006; p.241 apud SILVEIRA,

2012 p. 12). Dessa forma, compreende-se a importância da biblioteca no cumprimento da sua

função social enquanto lugar de memória e o que ela representa para perpetuar o que de fato é

relevante a nível de conhecimento e reconhecimento cultural e identitário de uma nação. É

nesse sentido que se quer refletir sobre a Biblioteca Central da URI.

A Biblioteca Central Dr. José Mariano da Rocha Filho, criada em 1970, recebeu esse

nome em homenagem a um dos fundadores da FESAU. No primeiro andar, estão disponíveis

terminais para consulta ao acervo, além de área de acervo de livros, área de estudo e

circulação, setor de empréstimos, e o acervo do Centro de Documentação e Pesquisas

Históricas do Alto Uruguai – CEDOPH. Salas de estudos individuais e coletivas estão

localizadas no segundo pavimento da Biblioteca Central, onde também se localizam terminais

de consulta, área de acervo de livros e de periódicos, e a Coleção Ada Maria Hemilewski,

doação póstuma do acervo pessoal da primeira coordenadora do PPGL. São disponibilizados,

na biblioteca, vídeos, CD-ROM, DVDs. Acesso à informação é garantido, ainda, através de

Bases de Dados. Conforme Paetzold (2017), o local destina-se ao corpo docente, discente,

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pesquisadores, técnicos especializados, servidores, diplomados e estagiários, além de atender

a comunidade em geral.

A biblioteca disponibiliza aos seus usuários em torno de 65.000 títulos e

aproximadamente 112.000 exemplares, cadastrados no Programa de gerenciamento de

Biblioteca (Pergamum). Em particular, na área de Letras, dispõe de cerca de 31 títulos de

periódicos nacionais e oito títulos de periódicos, 6.815 títulos de livros e 10.040 exemplares,

muitos deles adquiridos pelo Mestrado em Letras, com verbas institucionais e/ou verbas do

PROSUP; há, ainda, volumes que resultam de doações de docentes do PPGL e de

pesquisadores convidados. Dados de 2017 revelam que, com verbas institucionais, em 2017, o

Mestrado em Letras ampliou seu acervo bibliográfico em 485 títulos novos e 549 exemplares,

a que se acrescentaram doações recebidas de professores, pesquisadores convidados, alunos

ou parcerias externas. Na grande área de Linguística, Letras e Artes, atualmente, a Biblioteca

possui um acervo de 11.010 títulos e 14.258 exemplares.

Conta com 243 bases de dados, liberadas para utilização no Portal de Periódicos da

CAPES. Especificamente voltadas à área de Letras, via Portal de Periódicos, há livre acesso a

158 bases; além dessas, com acesso restrito (apenas na universidade), tem-se acesso aos

conteúdos das bases E-books, E-books em português, EBSCO, Elsevier, ProQuest, Royal

Society Books, Philosophical Boos, Sage e Scopus.

A biblioteca participa, como solicitante, do serviço de comutação bibliográfica

(COMUT), buscando para a comunidade acadêmica cópias de documentos fora da Instituição.

Dispõe, ainda, de serviço de intercâmbio e permuta. A política de Intercâmbio e Permuta

consiste no envio de publicações da URI – Câmpus de Frederico Westphalen – e no

recebimento e no controle das publicações recebidas das 60 (sessenta) outras instituições

cadastradas. É um serviço que requer controle de movimentação das publicações periódicas,

bem como dos livros que vem a integrar o acervo como resultado de doações, e daqueles que,

produzidos como resultado da pesquisa desenvolvida na IES, são enviados por doação. Esses

intercâmbios dão subsídios para o crescimento do setor. No momento, há um total de 60

Universidades cadastradas. Na área de Letras, há 48 títulos permutados e 09 assinaturas. A

Revista Língua & Literatura, editada pelo departamento de LLA e PPGL da URI-FW,

chegou a ser permutada com 40 universidades no Brasil e no exterior; atualmente, em versão

apenas digital, proporciona acesso universal integral a todos os seus números, e está publicada

através da plataforma SEER, como as demais revistas produzidas na URI, o que lhe garante

maior visibilidade, aumentando o alcance do compartilhamento de saberes.

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Esse ambiente dentro da universidade conserva conhecimento gerado na instituição de

ensino, reunindo, organizando e disseminando as produções de cunho cultural e técnico-

científico. Enquanto lugar de memória, especificamente na área de Letras, a Biblioteca

mantém acervo constituído pelas dissertações produzidas pelo PPGL – Programa de Pós-

Graduação em Letras- Mestrado em Literatura Comparada, desde as produzidas pela primeira

turma de egressos, defendidas em 2008. Além de preservar a memória da universidade,

proporciona a multiplicação do conhecimento, gerando novos saberes a partir da pesquisa

proporcionada por seu acervo.

2.2.3 CEDOPH (Centro de Documentação e Pesquisas Históricas do Alto Uruguai)

O CEDOPH teve origem nos primeiros anos da década de dois mil, a partir do esforço

coletivo dos professores do Curso História. À época, a Universidade oferecia cursos de

História e Geografia em regime especial de férias; mais tarde houve a criação do curso regular

de História. Chamado a lecionar nesse curso, o professor Breno Antonio Sponchiado percebeu

que havia uma lacuna na região: a ausência de um local que guardasse e preservasse a

memória histórica, principalmente a escrita, porquanto, mesmo havendo um museu municipal,

o arquivo municipal viria a ser criado somente em data posterior ao surgimento do CEDOPH.

Em depoimento escrito concedido a esta pesquisadora (2019), o professor Breno

Antonio Sponchiado, ao lembrar a criação do CEDOPH no ano 2000, refere-se a esse projeto

e a seus anos iniciais como “algo simples, humilde e embrionário”, destinado a, em um

primeiro momento, “guardar, sabendo que o segundo momento seria o de sistematizar e

depois o de divulgar” documentos relativos à história do Alto Uruguai. Nesse sentido, o

Centro, coordenado pelo professor Sponchiado desde sua criação, até meados de 2016, contou

com o apoio de alguns doadores, como uma coleção de jornais de colecionadores, O Regional

e O Alto Uruguai. Este último é descrito pelo professor Breno, “como o diário, a crônica de

tudo que acontece e aconteceu na região, é uma fonte excelente de pesquisa e reprodução do

nosso mundo atual.” (2019)

Além dessas doações, o próprio professor Breno contava um acervo considerável,

resultado de cerca de 20 anos de coleta de material; esse acervo contribuiu para a

concretização desse espaço. Mais tarde, o CEDOPH recebeu a doação de um significativo

acervo da Inspetoria de Terras, doado pelo Senhor Pinto Fortes, e que trata da colonização.

Nele se encontra a história agrária da região, e contêm correspondências da Inspetoria de

Terras.

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Assim, o CEDOPH veio a dispor de um número considerável de livros, revistas e

fotografias, ao qual, com o passar do tempo, foi sempre se juntando mais material, doado por

pessoas da comunidade, que tomavam a iniciativa de levar até o centro o que consideravam

importante para a história regional. A isso se junta material coletado e produzido a partir de

pesquisa institucional. Anualmente desenvolviam-se pesquisas, através do Programa de

Pesquisa URI/Memória, criado pela Resolução N° 713/CUN/04, diante da necessidade de

criação de iniciativas concretas para apoio ao registro da história da Universidade, da história

da região de sua abrangência e da história geral que, se escrita pela história oficial, merece ser

relida. Tal programa tem como objetivo apoiar a criação e fixação de grupos de pesquisa que

tenham como base os seguintes eixos temáticos, articuladores de linhas de pesquisa: história,

educação e cultura; política e sociedade; literatura e história. A este programa foi destinada

5% da cota de bolsas de Iniciação Científica da Instituição, o que vem instigando bolsistas a

se dedicaram a esse trabalho.

O material disponível no acervo foi arquivado, com ajuda de bolsistas, e classificado

por locais, famílias e temas, sempre valorizando assuntos considerados como prioritários, tais

como a questão agrária, a questão indígena e a questão das famílias. Para que isso viesse a se

efetivar, a pesquisa em jornais foi de extrema importância. A URI assinava os jornais Correio

do Povo e Zero Hora, e tudo o que fosse de interesse regional e/ou que, por seu tema tivesse

vínculo com a história regional, era recortado e arquivado. Esse material se encontra nesse

espaço até hoje, datado e com identificação da fonte.

O CEDOPH tem, assim, a vocação de guardar e preservar a memória do processo

histórico da região do Alto Uruguai e Oeste de Santa Catarina, através da identificação,

aquisição e arquivamento de produção historiográfica disponível em acervos públicos ou

privados, e em fontes primárias. Seu propósito, segundo o professor Breno, sempre foi

“primeiramente guardar a parte física, mas a segunda era publicizar, ou seja, democratizar o

acervo, para que todos tenham conhecimento do que se encontra nesse local, multiplicando

através das novas ferramentas de acesso ao acervo” (2019).

Tem como objetivo, ainda, servir de referência ao público interessado em realizar

pesquisas históricas regionais, bem como sistematizar a história do Médio Alto Uruguai e

Oeste Catarinense. Seu vasto acervo está disponível para pesquisa pelos estudantes da

Universidade e da comunidade em geral, podendo também ser utilizado como uma ferramenta

ao ensino de História nos níveis Fundamental e Médio das escolas de abrangência da URI,

tendo em vista que o acesso a esses documentos proporciona um maior entendimento do

conteúdo trabalhado em sala de aula. A construção do conhecimento histórico a partir de

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elementos da cultura local e regional permite um maior envolvimento dos estudantes,

problematizando as relações socioambientais, pois entram em contato direto com fotos,

jornais e documentos, despertando para a história e memória local e, ainda, recebendo noções

básicas acerca dos cuidados necessários para o manuseio e preservação de documentos

históricos.

Destacando-se por sua riqueza e diversidade documental, desde a criação, o acervo foi

dividido em sete seções, que são: 1) Municípios: com histórico referente aos municípios de

abrangência da URI; 2) Famílias: documentação sobre as famílias mais antigas da região; 3)

Periódicos: coleção de revistas e jornais da região; 4) Questão Indígena: acervo documental e

artefatos sobre às áreas indígenas; 5) Colonização: relatórios, mapas, relativo ao processo de

povoamento regional; 6) Monsenhor Vitor Batistella: acervo de documentos pessoais do

primeiro pároco de Frederico Westphalen que permite a reconstrução de sua trajetória; e 7)

Assuntos Diversos: documentos sobre política, cultura, religião, igreja, biografias, economia e

esportes de recortes de jornais; Escritório de Terras. A esses documentos ajunta-se o acervo

da Comissão de Terras e Colonização de Palmeira das Missões e da Inspetoria de FW; e os

documentos doados pela FESAU/URI, relativos aos setores administrativo e pedagógico

desde o início do ensino superior em Frederico Westphalen, além de monografias e

bibliografias: trabalhos elaborados pelos discentes dos cursos de História e Geografia e obras

de história regional.

O acervo fotográfico cedido pela FESAU é organizado de acordo com sequência

lógica, já que nessas fotografias estão contempladas imagens de aquisição do terreno,

reuniões da diretoria, construção dos prédios, visitas a Universidade Federal de Santa Maria,

encontros em Porto Alegre, formaturas dos cursos da época, entre outras. Além disso,

encontram-se nesse local jornais dos anos de 1969 e 1970 em diante, com notícias que dizem

respeito à FESAU.

O CEDOPH priorizou a coleta de registros documentais escritos, uma vez que a

prefeitura municipal de Frederico Westphalen já dispunha de um museu onde se encontram

objetos materiais, como peças, ornamentos, objetos. De acordo com o professor, “isso

complementava ainda mais a história regional, pois um local complementa o outro” (2019).

Porém, anexo ao CEDOPH, foi criado um espaço que foi chamado de Pró Museu, onde estão

peças valiosas que podem ser admiradas e estudadas, reunindo, através de doações, objetos

que testemunham a evolução da tecnologia aqui na região.

O CEDOPH abrigou, ao longo de sua história, pesquisas desenvolvidas a partir de

projetos de pesquisa. A criação e organização do espaço tiveram início com o projeto de

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pesquisa “Inventário da bibliografia e dos acervos documentais da região do Alto Uruguai e

Oeste Catarinense”, vinculado ao Curso de História, e desenvolvido pelo professor e

historiador Breno Antonio Sponchiado, um de seus idealizadores. Destaca-se aqui o projeto

“Historiografia regional: textos e contextos narrativos”, que era coordenado pelo Prof. Breno

Antonio Sponchiado, e vinculava-se à Linha de Pesquisa Literatura, história e memória do

Mestrado em Letras da URI. Como produções decorrentes desse projeto contam-se a

dissertação “Reminiscências – a tradição oral em narrativas do Oeste de Santa Catarina” de

Fabiane Crys Barbiero, defendida em 2015; a produção da Série CEDOPH, dedicada ao

estudo historiográfico e literário da região de abrangência da URI. Também foi vinculado ao

CEDOPH o subprojeto “Povoadores da Colônia Guarita/RS no seu Centenário -1917-2017”.

Originalmente, o CEDOPH funcionava junto às salas de permanência dos docentes

desse Curso, os quais haviam projetado o espaço. Posteriormente, a partir do momento em

que as doações passaram a avolumar-se, o acervo exigiu um espaço maior para sua

acomodação, passando, então para uma sala de aula. Mais tarde, com a intenção de aumentar

sua visibilidade e ganhar um espaço mais amplo, passou a se localizar no andar térreo da

Biblioteca, onde se encontra até o momento. A partir de então, juntamente com a

Universidade dos Jesuítas, de Curitiba, que criou o programa Pergamum, utilizado pela

Biblioteca Central, foi iniciado o processo de digitalização do acervo, que demandou, segundo

o depoente, professor Breno Antonio Sponchiado, “muito tempo, dedicação e calma dos

envolvidos” (2019).

Um trabalho minucioso e paciente caracterizou todo o processo de coleta e

preservação desenvolvido pelo CEDOPH, o que veio a propiciar um local de pesquisa para

alunos e comunidade em geral, detentor de acervo de grande valor para a história e memória

local e regional.

Por tudo isso, este local tem se consolidado como um espaço da memória regional,

“marcada pelo pluralismo étnico e coesão comunitária. Esforça-se para servir de guardião da

história desta parte do Estado [...]. Tem servido de suporte de fontes históricas e

assessoramento para diversas pesquisas monográficas de municípios, famílias e trabalhos

acadêmicos” (PAETZOLD, 2017, p. 243).

2.2.4 Dissertações do Mestrado em Letras

O Mestrado em Letras tem como principal objetivo formar profissionais aptos para o

ensino, pesquisa e extensão, centrados na leitura e ensino da literatura em suas relações com a

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história, memória e outras linguagens e processos culturais, na perspectiva do comparatismo,

considerando o contexto de demandas e perspectivas de pesquisa e trabalho do século XXI.

As produções discentes do Curso do Mestrado em Letras configuram-se como um dos

principais mecanismos de identificação da memória do Curso e da Instituição, uma vez que

permitem a extração de uma série de informações específicas acerca do contexto em que o

trabalho foi produzido como, por exemplo, quadro de professores, título dos professores,

egressos da instituição/curso, e a própria estrutura da Instituição, tendo em vista que grande

parte dos trabalhos científicos dessa natureza tende a discutir e/ou pesquisar experimentos e

vivências do âmbito acadêmico.

Ao publicar a memória da imprensa do Estado de Pernambuco, Nascimento (1962)

declarou: “Trabalhar hoje para que se conheça amanhã o que se publicou ontem” (1962, p. 9).

Com essa mesma visão, objetiva-se o resgate da memória do Mestrado em Letras da URI,

através das dissertações produzidas, as quais têm sido, há mais de uma década,

disponibilizadas à comunidade acadêmica, o que proporciona a disseminação da pesquisa, e

contribui para o desenvolvimento de projetos. Sua leitura leva a uma reflexão sobre sua

importância para a memória da Universidade, propagando a informação como referência de

memória.

Ao utilizar-se das dissertações do Mestrado em Letras da URI, como fonte de registro

de memória e como patrimônio cultural e documental da comunidade em que o Curso esteve

inserido durante os 13 anos de história, está se contribuindo para a disseminação da

informação registrada como referencial de memória e para a construção do conhecimento e da

história.

Em tal contexto, através das dissertações do primeiro curso Stricto Sensu da URI, é

possível traçar todo um percurso do Curso na instituição, desde a época em que foi instalado

até o momento atual, trazendo à tona as mudanças que ocorreram com o decorrer do tempo,

inclusive no que diz respeito aos temas de pesquisa e suas evoluções. Nessa perspectiva,

consideramos necessária a preservação desses documentos, pois, além de servirem de base

para uma pesquisa futura, conservam a memória da instituição.

Para a análise dos espaços da memória e suas potencialidades, levou-se em

consideração que nem todo lugar onde há reverberação da memória é espaço de memória.

Para Nora (1993), os lugares de memória são nada mais que lugares de restos de memória.

Entende ainda que os lugares de memória surgem e sobrevivem do sentimento que não há

memória espontânea e que é necessário criar arquivos, celebrar aniversários e organizar

celebrações, pois “essas operações não são naturais” (NORA, 1993, p.13).

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As dissertações do Mestrado em Letras estão disponíveis para pesquisas no setor da

biblioteca; além disso, podem ser encontradas na secretaria do Mestrado em Letras e via

online através no site da universidade. Dedica-se, neste registro dos lugares de memória,

espaço reduzido às dissertações porque a elas é dedicado, em sua íntegra, capítulo terceiro

deste trabalho. Quer-se apenas, aqui, caracterizá-las, também, como, um dos lugares de

memória da URI- Frederico Westphalen.

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3 AS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI COMO LUGAR DE

MEMÓRIA

“A memória é sempre uma construção feita no presente, a partir de vivências e experiências

corridas num passado sobre o qual se deseja refletir e entender”.

(Antônio José Barbosa de Oliveira, 2009, p. 43)

3.1 Mestrado em Letras na URI: histórico do programa

O Programa de Pós-Graduação – Stricto Sensu – Mestrado em Letras: Literatura

Comparada, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI –

Câmpus de Frederico Westphalen é um programa de abrangência regional destinado à

formação Stricto Sensu de profissionais na área de Letras e afins, oportunizando aos

graduados da região a continuidade de sua formação acadêmico-profissional.

Foi após o oferecimento, com sucesso, de Pós-Graduações Lato Sensu na área de

Letras e a constatação da ausência de Mestrado, na área de Letras, na região de abrangência

da URI - norte e noroeste do Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina e Paraná - que se

iniciou o planejamento para a implementação de um curso Stricto Sensu na área de Letras na

instituição. Aprovado pela Resolução CUN/744/2005, em 06 de junho de 2005, conforme

consta no Parecer 2159.03, Art.1º: “Aprovar a Implantação do Curso de Mestrado em Letras –

Área de Concentração – Literatura, proposto pelo Departamento de Linguística, Letras e

Artes, a ser oferecido no Câmpus de Frederico Westphalen”, o curso veio a ser recomendado

pelo Parecer CTC/CAPES – 05/09/2005.

A primeira seleção de discentes ocorreu entre maio e junho de 2006, e em julho de

2006 o Mestrado iniciou suas atividades, com duas Linhas de Pesquisa: Literatura, História e

Imaginário e Literatura, Memória e Identidade Cultural. Em agosto de 2008 foram defendidas

as primeiras dissertações; nesse mesmo ano, foi homologado o reconhecimento do curso, pelo

Conselho Nacional de Educação, através da Portaria MEC 524, constante do Parecer

CES/CNE 33/2008, publicado no Diário Oficial da União em 30 de abril 2008. Na Figura 1, é

possível verificar o folder de divulgação da primeira turma do Curso.

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FIGURA 1 - Folder de divulgação da 1ª Turma do Mestrado

Fonte: Arquivos do Mestrado em Letras

O Curso localiza-se no Câmpus da URI de Frederico Westphalen, conforme demonstra

a Figura 2, na Rua Assis Brasil 709, e partilha, com o Mestrado em Educação, dependências

localizadas no Prédio 08: a secretaria, no andar térreo, e salas de aula, reunião e de pesquisa

no segundo andar, conforme se pode verificar na Figura 3, logo abaixo.

FIGURA 2 – Câmpus da URI de Frederico Westphalen

Fonte: Site da URI

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FIGURA 3 - Prédio do Salão de Atos da URI (Prédio 08), que abriga o curso de Mestrado em

Letras

Fonte: Arquivo de Josafá Lucas Rohde. Disponível em: https://segundachamada.wordpress.com/category/uri/>

Inicialmente, a área de concentração do curso foi Literatura. No ano de 2010,

acatando a sugestão da avaliação da CAPES relativa ao triênio 2007-2009, a qual considerava

a área de concentração do Curso como sendo demasiadamente genérica, houve mudança na

área de concentração, que passou a ser Literatura Comparada, conforme Parecer

2993.03/CUN/2010 e Res. 1429/CUN/2010, Art.1º: “Aprovar as alterações no Programa de

Pós-Graduação em Letras, como segue: Área de Concentração – Literatura Comparada,

Linhas de Pesquisa: Comparatismo e Processos Culturais e Literatura, História e Memória”.

Ainda em 2010, primeiro ano do segundo triênio pleno de funcionamento do PPGL

(2010-2012), houve outra mudança significativa: a reformulação das Linhas de Pesquisa,

com a criação da Linha “Literatura, História e Memória”, resultante da fusão das duas Linhas

de Pesquisa existentes até então, “Memória e Identidade Cultural” e “Literatura, História e

Imaginário”, e da Linha “Comparatismo e Processos Culturais”. A alteração está registrada

nas atas nº 01/2010 do Departamento de Linguística, Letras e Artes e nº 02/2010 do

Colegiado do Curso de Mestrado em Letras, e passou a valer para as turmas iniciadas no ano

de 2010.

A partir de 2012, ocorreram as primeiras defesas relativas a essa nova LP,

correspondentes às turmas com ingresso a partir de 2010, cujas dissertações atendiam às

exigências da nova área de concentração e linhas de pesquisa, verificando-se não somente um

incremento da pesquisa já mais solidamente implementada no curso, correspondente à linha,

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“Literatura, História e Memória”, como, segundo se esperava, o desenvolvimento de

pesquisas na linha “Comparatismo e Processos Culturais”.

Em 2013, objetivando atender às demandas regionais na área de Letras e à formação

profissional dos docentes em exercício na região de abrangência da URI- Frederico

Westphalen, implementou-se ainda outra Linha de Pesquisa. Buscavam-se novas

possibilidades no âmbito acadêmico para atender às demandas regionais na área de Letras

com relação à formação profissional. Consultada a CAPES, criou-se a Linha de Pesquisa,

“Leitura, Linguagens e Ensino”, uma implementação inovadora, dado ser este o primeiro

programa acadêmico Stricto Sensu voltado ao ensino na área de Letras no RS. Decorreu daí

reformulação do programa, com acréscimo de novas disciplinas, para atender as

especificidades dessa e linha; houve, também, revisão do ementário: diminui-se o número de

disciplinas obrigatórias, elegendo-se disciplinas que asseguram os fundamentos necessários à

fundamentação teórica da área de concentração do programa e ao exercício da pesquisa: 1.

Tópicos de Literatura comparada; 2. Fundamentos de Poética e Literatura; e 3. Seminário de

Dissertação. Por outro lado, extinguiram-se: Seminário de Autor I e II, substituídos por

Seminário de Autor; Literatura, mito e Imaginário, Crítica da Cultura e Representações

Literárias, Texto literário e espaço (auto) biográfico, cujos conteúdos se sobrepunham, em

parte, aos de Culturas, discursos e territorialidades e de Literaturas, modernidades,

textualidades; Teoria da Literatura, substituída por Fundamentos de Poética e Literatura, com

ementário revisado.

Decidiu-se atribuir a cada linha de pesquisa uma disciplina obrigatória específica,

considerada, dentre as disciplinas da grade curricular, como indispensável à formação do

aluno na Linha em questão: a) Linha de Pesquisa “Literatura, História e Memória”: disciplina

Ficção, História e Memória; b) Linha de Pesquisa “Comparatismo e Processos Culturais”:

disciplina “Comparatismo e Tradução” e c) Linha de Pesquisa “Leitura, Linguagens e

Ensino”: disciplina “Literatura e Ensino”. Houve também modificação nas disciplinas

eletivas, que passaram a ser: 1. Gêneros literários e não-literários; 2. Expressões literárias de

minorias e margens da história; 3. Cultura, discursos e territorialidades; 4. Literaturas,

modernidades, textualidades; 5. Linguagens e gêneros textuais midiáticos; 6. Literatura

infanto-juvenil e práticas de leitura; 7. Formação do leitor; 8. Literatura e outras linguagens;

9. Seminário de Autor.

Essas alterações na Grade Curricular do Mestrado em Letras visaram a atender de

forma plena as três linhas de pesquisa para a turma iniciada em 2013, conforme registrado em

Ata nº 01/2013 do Departamento de Linguística, Letras e Artes e Atas n° 01/2013 e n°

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02/2013 do Colegiado do Curso de Mestrado em Letras. A justeza da decisão do Colegiado

quanto à inclusão de nova Linha de Pesquisa foi constatada quando, tanto no Processo

Seletivo 2013 como no 2014, houve significativo interesse pela nova linha de pesquisa. Em

cada um desses processos seletivos, abriram-se cinco vagas para cada linha de pesquisa,

atingindo-se, assim, um total de quinze vagas ofertadas; em ambos os processos seletivos, as

vagas da Linha de Pesquisa “Leitura, Linguagens e Ensino” foram totalmente preenchidas.

Três Grupos de Pesquisa, cadastrados no CNPq, foram planejados para dar suporte e

impulsionar as pesquisas desenvolvidas em cada uma das linhas: o GP “Literatura, História e

Imaginário”, formado em 2006, para dar suporte às pesquisas do então recém criado Mestrado

em Letras, coordenou, até 2016, as pesquisas associadas à LP “Literatura, história e

memória”. Em 2017, deu lugar ao GP “GP Literatura e história: Diálogos interdisciplinares”,

alteração que refletia as práticas de pesquisa e ensino correntes no PPGL. Liderou ambos os

GPs a professora Dra. Denise Almeida Silva. Apoio à Linha de Pesquisa “Comparatismo e

Processos Culturais” foi provido pelo o GP “Leituras Intersemióticas: cenografias discursivas

(LEICEDIS), coordenado pela professora Dra. Maria Thereza Veloso. A Linha de pesquisa

“Leitura, Linguagens em Ensino” tem suas pesquisas centradas em torno do GP “Práticas

mediadoras de leitura”, criado em 2013, e coordenado por Ana Paula Teixeira Porto.

No decorrer de seus 13 anos de história, de 2006/2 a 2019/1, muitos professores

fizeram parte da construção do Programa: Ada Maria Hemilewski (primeira coordenadora do

curso), Robson Pereira Gonçalves, Denise Almeida Silva, Lionira Maria Giacomuzzi

Komosinski, André Luís Mitidieri Pereira, Isabel da Rosa Gritti, Marcelo Marinho, Ricardo

André Ferreira Martins, Lizandro Carlos Calegari, Silvia Helena Pinto Niederauer, Nelci

Müller, Breno Antonio Sponchiado, Luana Teixeira Porto, Ana Paula Teixeira Porto, Maria

Thereza Veloso, Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing, Rosângela Fachel de Medeiros e Ilse

Maria da Rosa Vivian, além da professora Elizabete Cerutti, docente colaboradora.

Sucederam à professora Ada Maria Hemilewski, na coordenação do curso, os professores

Denise Almeida Silva, Lizandro Carlos Calegari e Maria Thereza Veloso.

O Mestrado ofereceu, ainda, bolsas do Programa Nacional de Pós-Doutorado – PNPD,

tendo sido bolsistas a Dra. Maria Regina Barcelos Bettiol, no período de 2014 a 2016, com

orientação da Dra. Luana Teixeira Porto, e, do ano de 2016 até a presente data, a Dra.

Gabriela Farias da Silva, com orientação da Dra. Ana Paula Teixeira Porto. Dentre as

contribuições da bolsista Maria Regina Barcelos Bettiol cita-se a organização, em conjunto

com a coordenadora do Mestrado, Dra. Maria Thereza Veloso, do volume Entre livros e

discursos: a trajetória das mulheres da Academia Brasileira de Letras (2018), o qual foi

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chancelado pela ABL. Presentemente, Gabriela Farias da Silva finaliza suas pesquisas; tem

colaborado com o PPGL na docência, havendo ministrado as disciplinas: Seminário de

Estudos Avançados I - leitura: teoria e prática; Tópicos de Teoria da Literatura; Culturas,

discursos e territorialidades e Seminário de Estudos avançados Leituras Ocidentais Clássicos,

além da participação em bancas de qualificação e defesa. Está orientando dois discentes do

curso, Talita François Wahlbrinck e Guilherme Buzatto.

Também fizeram parte da trajetória do PPGL da URI as secretárias Magali Teresa de

Pellegrin Reinheimer (2006 - 2011), Vanderléia Skorek (2012-2017), Cláudia Maíra Silva de

Oliveira (2016), Emanoeli Ballin Picolotto (Estagiária 2016), Andriéli Santos da Rosa

(2017-2018) e Claudia Aline da Silva Vargas, atual secretária (2015- 2019).

Ao longo de sua história, o PPGL da URI criou três eventos regulares: o Curso de

Extensão Novos Olhares, anual, o SENAEL (Seminário Nacional de Estudos Literários), que

viria a se transformar em SINEL (Seminário Internacional de Estudos Literários) e a partir de

2009, o Simpósio Afrocultura. Os dois últimos eventos apresentavam periodicidade bianual,

alternando-se, respectivamente, em anos ímpares e pares a partir de 2009. Assim, o SINEL

teve quatro edições, em 2009, 2011, 2013 e 2015, enquanto o Simpósio Afrocultura realizou-

se em 2010, 2012, 2014 e 2016.

O mais antigo dos eventos criados e mantidos pelo PPGL da URI, o Curso de

Extensão Novos Olhares teve edições anuais a partir de 2008, estendendo-se até 2018. Dentre

os objetivos do evento, buscava-se integrar o Programa de Pós-Graduação em Letras da URI

com outros programas nacionais e internacionais, na área das Letras, e com a Educação

Básica, na dinâmica de uma universidade que pretende ser crítica e transformadora da

realidade em que está inserida, possibilitando a formação continuada de profissionais e

estudantes da área de Letras e afins, e fornecendo-lhes subsídios teórico-práticos para sua

atuação no âmbito escolar.

A primeira edição, em 2008, inspirou-se nos eventos criados em torno de Machado de

Assis naquele ano, quando o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,

sancionou o projeto do acadêmico e senador Marco Maciel que instituía 2008 como o Ano

Nacional Machado de Assis, em homenagem ao centenário da morte do escritor. Nos anos

subsequentes, o projeto colocou em evidência o Texto Dramático (2009), as Afro-culturas e as

Literaturas Africanas (2010), Clarice Lispector e Guimarães da Rosa (2011), Carlos

Drummond de Andrade e Graciliano Ramos (2012). Ao longo desses anos, quando o evento

anualmente crescia tanto em seu reconhecimento pela comunidade e abrangência

(inicialmente regional, passou a ter repercussão estadual e até nacional), visitaram a URI, na

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qualidade de especialistas sobre os temas propostos, Dra. Luciana Éboli (2009), Dra. Alai

Garcia Diniz (2009), escritor Ignácio Matínez (2009), Dra. Beth Grossi (2009), Ms. Samba

Sané (2010), Dra. Isabel da Rosa Griti (2010), Dr. Cassio dos Santos Tomaim (2010), Dr.

Jorge Araújo (2010), Dr. João Luis Ourique (2010), Dr. Uruguay Cortazza González (2010),

Dra. Ana Paula Cantarelli (2011), Dra. Nádia Battella Gotlib (2011), Dr. Luciano Nascimento

(2011), Dr. Santo Gabriel Vaccaro (2011), Dr. Afonso Romano de Sant‟Anna (2012) e Dr.

Fernando de Moraes Gebra (2012).

A partir do ano de 2013, o evento enfocou temas relacionados à leitura e ao

ensino. Em 2013, com temática Literatura e outras Linguagens, contou com a participação de

professores convidados, tais como: Profa Dra. Fabiana Piccinin (UNISC), Prof. Dr. Flavi

Lisboa Filho (UFSM), Prof. Dr. Marcelo Spalding (UNIRITTER), Prof. Dr. Cassio dos

Santos Tomaim (CESNORS-FW) e Profa. Dra. Cimara Valim de Melo (IFRS-CANOAS),

que proferiram conferências e palestras. O evento de 2015, “Novos Olhares: da formação de

professores à formação de leitores” teve como convidados especiais as professoras Zoara

Failla (Instituto Pró-Livro), Dra. Gabriela Fernanda Cé Luft (IFRS) e Dra. Lúcia Pagliosa

(URI). Seguiu-se, em 2016, o Novos Olhares “Letramentos, linguagens e formação do leitor”,

com a presença da Dra. Luciana Contreira, (UNIPAMPA), Dra. Fabiana de Amorim Marcello

(UFRGS) e Rildo José Cosson Mota (Câmara dos Deputados - Brasil); os egressos do curso

Larissa Bortoluzzi Rigo, Letícia Sangaletti e Rudião Wisnievsky ministraram oficinas. A

décima edição do evento, em 2017, “Leitur@, ensino e mundo digit@l” teve, como as

demais, a participação de especialistas na área temática enfocada: a Dra. Aline Conceição Job

da Silva (UFPEL), o Dr. Simão Pedro Pinto Marinho (PUCo-MG) e o professor e escritor

Christopher Kastensmidt (UNIRITTER). Em 2018, primeiro ano em que não houve edital de

abertura a vagas no PPGL- Mestrado em Literatura Comparada, por já ter sido anunciado o

encerramento das atividades do curso, manteve-se o evento, de forma a continuar atendendo

plenamente as demandas de pesquisa e ensino do curso. O tema escolhido foi “Linguagens de

resistência”, com palestras da Profa. Dra. Janaína Gomes (UFSM) “Leitura de imagens

visuais e construção de resistência” e do escritor Gustavo Melo Czekster “O fazer literário

como forma de resistência”. O evento contou, ainda, com mesas-redondas e oficinas, com

participações de professores da URI e de egressos do PPGL, e sessões para apresentação de

trabalhos: comunicações, relatos de experiência ou pôster.

Iniciado com a abrangência de Evento Nacional, o SENAEL (Seminário Nacional de

Estudos Literários) abrigava, desde o início, como evento paralelo, o SELIRS (Seminário de

Estudos Literários da Região Sul), de acordo com os objetivos da LP 2, Memória e Identidade

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Cultural, a qual buscava a valorização e estudo das manifestações culturais da região de

abrangência da URI (Norte- Noroeste do RS, em particular), e do Rio Grande do Sul em uma

perspectiva mais ampla. A partir de 2009, o evento passa a ter abrangência internacional,

convertendo-se em SINEL (Seminário Internacional de Estudos Literários), que continua

englobando o SENAEL e o SELIRS. Em 2011 criou-se o I SINELZINHO, destinado a formar

e motivar jovens leitores.

Este evento bianual teve como objetivo reunir pesquisadores, professores e estudantes

de pós-graduação e de graduação, em âmbito internacional, para socializar resultados de

pesquisas e práticas educativas na área dos estudos literários em seus diálogos com outros

campos do conhecimento. Além disso, oportunizar, aos participantes, o encontro com

escritores e pesquisadores reconhecidos nacional e internacionalmente, e também com seus

pares de diferentes programas e regiões do Brasil e do exterior, proporcionando um espaço de

discussão que aproximasse o contexto acadêmico e de pesquisa da pós-graduação Stricto

Sensu à realidade vivenciada em instituições de ensino superior e de educação básica, na

dinâmica de uma universidade que pretende ser crítica e transformadora da realidade em que

está inserida.

O primeiro seminário, realizado em 2007, teve como temática “Narrativas

Contemporâneas” e entre os convidados conferencistas destacaram-se os professores: Dr.

Dino de Sousa Del Pino (PUC), Dra. Zilá Bernd (UFRGS) e os escritores Ms. Fabrício

Carpinejar e Oliveira Silveira. No ano de 2009, com o tema “Linguagens, e identidades,

fluxos e confluências” o evento contou a participação de convidados como: profa Dra. Eneida

Maria de Souza (UFMG/CNPq), profa. Ms. Graciela Viega – (CERP/LD de Maldonado,

Uruguai), o escritor Ignacio Martínez - Montevidéu (Uruguai), profa Dra. Alai Garcia Diniz

(UFSC), Prof. Dr. Gilmei Francisco Fleck (UNIOESTE) e profa Dra. Inara de Oliveira

Rodrigues (UNIFRA). Em 2011, “Literatura e Territorialidade”, teve, entre seus convidados

escritores e artistas, além e professores pesquisadores. Entre os primeiros figuraram Altair

Martins, Ricardo Silvestrin, Clemente Pain (Uruguai), Eliane Potiguara, Ignacio Martinez

(Uruguai), José Roberto Secchi, Carlos Heráclito Neves (Kalunga) e Louis-Philippe

D‟Alembert (Haiti). Entre os professores pesquisadores figuraram docentes de múltiplas

universidades – Dra. Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves (UFJF), Dr. Cássio dos Santos

Tomaim, Dr. João Luis Pereira Ourique e Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM), Dra.

Silvina Carrizo (UFJF), Dra. Patrícia Peterle Santurbano (UFSC) - além de convidados de

renome internacional na área da Literatura Comparada: Dra. Adriana Cristina Crolla (UNL,

Asociación Argentina de Literatura Comparada), o prof. Eduardo de Faria Coutinho (UFRJ),

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Dr. Jean Morrisset (Universidade de Quebec em Montreal) e o Dr. Daniel-Henri Pageaux

(Sorbonne). Um compêndio de Literatura Comparada, Musas na encruzilhada - ensaios de

literatura comparada, de autoria de Pageaux, organizado e produzido por docentes da URI-

Frederico Westphalen, foi lançado na ocasião, tendo sido adotado por inúmeros PPGLs no

Brasil. Assim, o evento contribuiu para afirmar o PPGL local no contexto das IES cujos

cursos possuem área de concentração em Literatura Comparada. Em 2013, a temática foi

“Travessias, Tessituras: a literatura e outros processos culturais”, com os seguintes

convidados: Dra. Alai Garcia Diniz (UFSC) Dra. Jane Tutikian (UFRGS), Dra. Juracy

Assmann (FEEVALE) e Dra. Regina DalCastagnè (Universidade de Brasília). No último

evento, “Vozes e escrituras: Confluências”, realizado em 2015, estiveram presentes os

professores: Dra.Aracy Ernst (UCPel), Dr. David Foster (Universidade do Estado do Arizona,

EUA), Dra. Maria Cristina Leandro Ferreira (UFRGS), Dra. Jane Tutikian (UFRGS), Dr.

Lizandro Carlos Calegari (UFSM), Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM) e Dra. Tânia

Mariza Kuchenbecker Rösing (UPF).

Iniciado em 2010, de maneira modesta, como desdobramento das atividades propostas

para o Novos Olhares, o Simpósio Afrocultura, Literatura e Educação veio a se transformar

em um dos mais importantes eventos de celebração da literatura e cultura negras (e, em sua

última edição, da cultura e literatura de minorias nas América) realizado no sul do Brasil.

Tinha como objetivo discutir acerca da cultura afro-brasileira e indígena, as quais compõem o

panorama cultural e histórico da formação do Brasil. Além disso, visava oportunizar a

divulgação da pesquisa em uma perspectiva regional e nacional, ampliando o espaço de

interlocução dos estudos realizados na URI e em diferentes IES representadas, através de

comunicações e lançamento de publicações. Em sua primeira edição contou já, como

convidada principal, com um dos expoentes da literatura e cultura negra no Brasil, a escritora

Conceição Evaristo, presença que veio a se repetir no evento em 2012, ao lado do professor

Amauri Mendes Pereira (UEZO/RJ). Este último proferiu a palestra inaugural do simpósio,

“Princesa Isabel, Zumbi dos Palmares e a construção historiográfica”, além de ministrar um

minicurso.

O simpósio de 2014, intitulado “Narrativas afro-brasileiras e indígenas, memórias e

ensino”, teve, como representante da narrativa indígena, a participação da palestrante,

escritora e professora Dra. Graça Graúna (Maria das Graças Ferreira) (UPE, Câmpus

Garunhuns), potiguara, nascida em São José do Campestre (RN) e membro do Grupo de

Escritores Indígenas, liderado por Daniel Munduruku. Representou as escritoras negras

Esmeralda Ribeiro. Além disso, dois distinguidos pesquisadores da literatura indígena e afro-

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brasileira, respectivamente, Ana Lúcia Tettamanzy (UFRGS) e Eduardo de Assis Duarte

(UFMG) proferiram palestras e lançaram obras no evento.

No ano de 2016, realizou-se o IV Simpósio Afrocultura e o I Simpósio Internacional

culturas negras e indígenas nas Américas, com o tema “Literaturas, culturas e minorias”.

Objetivava tanto discutir as relações das populações negras das Américas com a cultura

negro-africana, bem como os estudos que se realizam, a partir do olhar americano (no

sentido amplo) sobre as mesmas, e também sobre outras manifestações culturais, priorizando

reflexões sobre o espaço minoritário por elas ocupado no cenário social, político e econômico.

O evento acolheu estudos acerca de outros grupos minoritários que contribuem para a

formação sóciocultural das Américas, e contou com a presença de convidados especiais como:

Prof. Dr. Alcione Correa Alves (Universidade Federal do Piauí), Prof. Dr. Mario Mejia

Huaman (Universidad Ricardo Palma, no Peru), e Prof. Dr. Wesley Grijó (UFSM), além dos

escritores Olívio Jekupé (Olívio Silva), membro do Núcleo dos Escritores e Artistas Indígenas

(NEARIM) e um dos fundadores da Associação Guarani Nae'en Porã, Susy Delgado, poeta e

palestrante paraguaia, com foco na língua e literatura em guarani, além da literatura

paraguaia; Miriam Alves, poeta, dramaturga, contista, ensaísta, romancista e palestrante afro-

brasileira de projeção internacional; Prof. Dr. Dejair Dionísio (Universidade Estadual do

Centro-Oeste do Paraná); Prof. Ms. Samba Sané (UERGS); Mamadou Aliou Diallo (bacharel

pela UCAD, Senegal) e a prof. Dra. Rita de Cássia Nadal Chaves (USP) enfocaram a cultura e

literatura negra produzida no Brasil e na África.

Ao longo desses anos, todos os eventos promovidos foram coordenados pelos

professores do Mestrado em Letras e pelos professores do Curso de Letras da URI, então

coordenado pela Professora Marinês Ulbriki Costa. Esses eventos, além de reunirem um

número expressivo de pesquisadores, fomentando e socializando o desenvolvimento da

pesquisa, estreitaram relações e parcerias, estabelecendo espaços para apresentação e

discussão de pesquisas realizadas na graduação e no Mestrado, como também o

desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa e extensão.

Outros indicadores da inserção social alcançada pelo PPGL da URI são as obras

publicadas por docentes do curso. Em decorrência das atividades dos eventos, Anais,

contendo resumos dos trabalhos apresentados, e Acta, contendo trabalhos completos

selecionados, foram organizados por professores e discentes do Mestrado e da graduação, o

que, além de incentivar a pesquisa, fomentou integração entre o PPGL e a Graduação em

Letras. Além disso, a cada evento Novos Olhares correspondeu um livro sobre a temática

desenvolvida, com contribuições de palestrantes e de pesquisadores convidados. Outros livros

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publicados: Machado de Assis: Novos Olhares (2009), Texto Dramático (Série Novos

Olhares) (2010), Novos olhares: Clarice Lispector e Guimarães da Rosa (2012), Novos

olhares: Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade (2012), Novos olhares:

narrativas e mídias na escola (2014), e Novos olhares: leitur@, ensino e mundo digital

(2017), além das Acta e Anais dos encontros, a partir da edição de 2014, quando o encontro

passou a incluir chamadas para apresentação de trabalhos, e duas edições da Revista

Literatura em Debate (v. 17, n. 30, 2015 e v. 18, n. 31, 2016), que acolheram debates

oriundos do Simpósio Novos Olhares dos respectivos anos. Além dos livros da série Novos

Olhares, docentes do PPGL publicaram e/ou organizarem outros volumes, dentre os quais

destacam-se aqui: Entre livros e discursos: a trajetória das mulheres da Academia Brasileira

de Letras, (2018), para o qual foi obtido o selo da ABL; Memórias e discursos:

representações literárias e linguísticas nos séculos XX e XXI (2017), resultado de convênio de

cooperação URI – UNINCOR (MG), Para ler com prazer: proposições didáticas para o

ensino da literatura africana, afro-brasileira e indígena em sala de aula (2015), Brasil e

Portugal: a ditadura entre luzes e sombras (2015), fruto de convênio de cooperação entre a

URI- UESC (Bahia), Poéticas do espaço, geografias simbólicas (2013), O Quintana que

(quase) ninguém viu ( 2012), O sujeito do desejo no trama do discurso (2012),

Literatura, história, etnicidade e educação: estudos nos contextos afro-brasileiro, africano

e da diáspora africana (2011, organizado em parceria com Conceição Evaristo).

Cabe, ainda, citar um último indicador do alcance nucleador atingido pelo PPGL-

Mestrado em Letras da URI: mestres, muitos deles já doutores, ou com doutorado em curso,

que desenvolvem (ou já desenvolveram) atividades de ensino, pesquisa e extensão em

diferentes IES. Os egressos do Mestrado em Letras da URI mantêm relação ativa com o

programa, com participação em Grupos de Estudo e Pesquisa e eventos organizados pelo

PPGL. Também ministraram oficinas e minicursos em eventos promovidos pelo Curso, como

Novos Olhares e o Simpósio Afrocultura.

São, atualmente, doutorandos os seguintes egressos: Ana Lúcia Rodrigues Guterra

(UPF) e Cláudio Roberto da Silva Mineiro (UFRGS) da turma de egressos 2006; Carlete

Maria Thomé (UPF), da turma 2007, Carla Luciane Klôs Schöninger (UFRGS); egressa da

turma 2008, Solange Fernandes Barrozo Debortoli, (Universidade Tuiuti do Paraná) egressa

de 2009; Larissa Bortoluzzi Rigo (PUC-RS) e Leticia Sangaletti (UFRGS) egressas da turma

2011; Laísa Veronese Bisol (UFSM) e Rita de Cássia Dias Verdi (UPF), da turma de 2012 e

Joao Paulo Massotti (UFSM), da turma de egressos 2014.

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Em relação à atuação profissional de egressos na docência, pode-se verificar

concentração na atuação no Ensino Superior e Básico da região de abrangência da URI,

corroborando para o sucesso do PPGL em seu objetivo de formar profissionais para o ensino,

a pesquisa e a extensão, sensíveis às solicitações e demandas do contexto regional e na

colaboração para o desenvolvimento regional. Com atuação no Ensino Superior destacam-se:

Dra. Márcia Rejane Kristiuk, professora no Instituto Federal Farroupilha, Campus FW; Dra.

Luciane Figueiredo Pokulat, professora no Instituto Federal Farroupilha, campus FW; Dr.

Rudião Rafael Wisniewski, professor no Instituto Federal Farroupilha - Campus Panambi; Dr.

Adilson Barbosa, professor da área de Letras do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Sul- IFRS- Câmpus de Ibirubá; Miquela Piaia, doutoranda em

Letras pela Universidade de Passo Fundo e docente no Instituto Federal Farroupilha, Câmpus

Santo Augusto-RS; Edevandro Sabino da Silva, professor efetivo do Instituto Federal

Farroupilha - Câmpus de Santo Augusto; Dra. Larissa Paula Tirloni, professora na

Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA. Dos egressos que

permanecem mestres, atuam no magistério superior: Vanice Hermel, professora efetiva na

URI, atuando na Escola de Educação Básica e na Graduação; Rita de Cássia Dias Verdi

Fumagalli, docente da FAISA Faculdades – Santo Augusto.

Larissa Bortoluzzi Rigo atuou como docente na Universidade do Oeste de Santa

Catarina; professora substituta do curso de Comunicação Social Jornalismo/Relações Públicas

da UFSM/FW e de Jornalismo/Publicidade e Propaganda da UNOESC/ São Miguel do Oeste;

Letícia Sangaletti atuou como professora substituta da UFSM/FW e atualmente é assessora de

imprensa do Poder Legislativo Municipal de Santo Ângelo e editora geral dos jornais Diário

Missões (online) e Santo Ângelo Urgente (impresso); Laísa Veroneze Bisol atuou como

docente no curso de Letras da URI e professora substituta na UFSM/FW.

Dentre os egressos que estão atuando na docência no Ensino Básico podem-se

evidenciar: Aliete do Prado Martins Santiago, professora Municipal de Cristal do Sul;

Andiara Zandoná, professora Municipal Cerro Grande, RS; Ângela de Fátima Langa,

professora Municipal de Alpestre e Ametista do Sul; Carlete Maria Thomé: integrante do

Magistério Público Estadual- SC - Assistente de Educação (EEB São Vicente); Daiane

Wildner Ott, professora da Rede Pública Estadual do RS; Gabriela Cornelli dos Santos,

professora na Rede Pública Estadual do RS; Girvani José Sulzbacher Seitel, professor da

Rede Pública de Santo Ângelo; Jaime André Klein, professor estadual em Santa Catarina;

Simone de Freitas Sanguebuche Bester, professora no Magistério Público Estadual e

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Municipal (Coronel Bicaco, RS) e Vanderléia Skorek, professora municipal em Balneário

Camboriú-SC.

Quanto aos egressos que não estão atuando na docência, percebe-se a relevância de

atividades voltadas à área da comunicação, principalmente, do jornalismo, área afim, onde se

destacam os seguintes egressos: Camila Muller Stuelp, jornalista de veículo de comunicação,

no oeste de Santa Catarina; Luana Paula Candaten, jornalista de veículo de comunicação em

Ijuí, RS; Vanderléia de Andrade Haiski, Assessora de Relações Internacionais, na Assessoria

da Reitoria da UNIJUÍ e Adriana Folle, editora-chefe do Jornal O Alto Uruguai de FW.

Por todas essas ações, o Mestrado Acadêmico em Letras da URI elevou seu conceito

na avaliação da CAPES referente ao quadriênio 2012-2016, alcançando o conceito 4. Visto

que a avaliação da CAPES é muito criteriosa, pois leva em consideração a produção científica

dos professores, a produção em conjunto com os alunos, o número de egressos, o tempo de

formação, a infraestrutura, entre outros, a elevação do conceito representou um

reconhecimento da qualidade do curso ofertado pela URI, confirmando-o como referência na

sua área de concentração e em suas linhas de pesquisa. O resultado, divulgado em 2017,

representou um prêmio a todos aqueles que se dedicaram desde a fundação do programa, em

2006, trabalharam sempre no sentido de cumprir com as diretrizes da Capes. A obtenção do

conceito habilitaria a submissão de um projeto de doutorado; contudo, a essa data, a Direção

já havia optado pelo encerramento do curso.

Ao longo dessa trajetória, 98 dissertações de Mestrado foram produzidas e defendidas

(destas, 5 ainda não foram entregues na versão final), as quais se constituem em patrimônio

documental da URI – Câmpus de Frederico Westphalen. Este trabalho de pesquisa foi

motivado pelo desejo de refletir sobre a preservação desse patrimônio representado pelas

dissertações do Mestrado em Letras, do período de 2006 a 2019, promovendo o resgate

memorial desse patrimônio cultural social e contribuindo, assim, para o registro da história

desse curso e dos rumos das pesquisas contempladas em mais de uma década de produção

acadêmica.

As dissertações defendidas até a presente data, resultado de pesquisas realizadas por

pesquisadores e docentes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

– URI – Câmpus de Frederico Westphalen, são consideradas como locais de memória,

vestígios de um curso que já se encontra em processo de ruptura com o passado, situação em

que deixa de haver uma memória viva, não dissociada e surge a necessidade da história.

Na sequência, far-se-á a descrição de todas as dissertações, registrando-se o nome dos

alunos ingressantes por turma, orientadores, banca de defesa, e título, seguindo-se análise, a

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partir de quatro indicativos: objetivos, base teórica, estrutura e conclusões. O estudo foi

organizado de acordo com as linhas de pesquisa, e as turmas ingressantes a cada triênio –

2006, 2007-2009, 2010-2012, ou quadriênio: 2013-2016, e o quadriênio em curso, o qual

inclui, para efeitos dessa análise, apenas os anos de 2017 e 2018, dada a dificuldade de obter

dados de processos em curso. As demais dissertações faltantes, constam no Quadro 28, que se

encontra em anexo.

A ordem de apresentação no texto segue a ordenação cronológica das linhas de

pesquisa e suas modificações, iniciando com a análise das produções agrupadas sob a linha

que recebeu, inicialmente, mais ênfase, considerada como “Linha 1”, “Literatura, História e

Imaginário” e sua sucessora, “Literatura, História e Memória”. Segue-se a análise das

dissertações congregadas a partir das propostas da “Linha 2”: “Memória e Identidade

Cultural” e sua sucessora, “Comparatismo e Processos Culturais. Por fim, analisam-se as

dissertações da “Linha 3”, a mais recente: “Leitura, Linguagens e Ensino”.

3.2 Dissertações produzidas a partir da linha 1: Literatura, História e Imaginário

(2006) e Literatura, História e Memória (2010)

3.2.1 Linha 1: Literatura, História e Imaginário

As atividades do então PPGL Mestrado em Letras – Literatura, da URI, iniciaram em

2006, ano que correspondeu ao final do quadriênio 2004-2006. Em sua primeira turma de

ingressantes, o Mestrado em Letras da URI teve sete alunos matriculados. Destes, quatro

desenvolveram pesquisas centradas na Linha 1: Literatura, História e Imaginário, o que

equivale a uma distribuição equilibrada entre as dissertações das duas linhas de pesquisa, uma

vez que foram acolhidas pela Linha 2: Memória e Identidade Cultural, os trabalhos dos três

outros discentes. Na Figura 4, é possível observar os alunos e professores que fizeram parte da

primeira turma do Mestrado, cujo envolvimento e desafios enfrentados por esses pioneiros do

programa contribuíram expressivamente para a produção do conhecimento, desenvolvimento

da pesquisa e qualificação de futuros docentes e pesquisadores, estimulando a prática de ações

interligadas e conectadas, em sintonia com o saber em Letras e Literatura.

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FIGURA 4- Primeira turma de ingressantes no PPGL/URI, ladeada pelas professoras Ada

Maria Hemilewski (coordenadora, à esquerda) e Denise Almeida Silva (à direita).

Fonte: Arquivo pessoal de D. A. Silva

A Linha de Pesquisa “Literatura, História e Imaginário”, segundo consta em sua

ementa, propunha-se a aglutinar pesquisas em torno dos seguintes conceitos:

Investiga o estudo das relações entre a literatura e o processo histórico, cultural e

social; a historicidade do discurso literário; a mimésis literária e interpretação da

história. As tendências teórico-críticas e a história: historiografia; história da

interpretação do discurso literário; história literária e história da história da

literatura; marxismo e literatura, psicanálise e literatura; estética da recepção, sócio-

crítica e sociologia da literatura. Concebendo-se os discursos literário e histórico

como representações, a linha de pesquisa enfatiza o campo imaginário, através da

análise e interpretação de procedimentos simbólicos e míticos da criação literária e

das atitudes socio-histórico-culturais em um período dado, em uma perspectiva

interdisciplinar que se abre a teorias e métodos da história, antropologia, sociologia,

filosofia e psicologia. (CURRÍCULO em extinção, Linha 1, 2018)

Duas mestrandas foram orientadas pelo Professor Robson Pereira Gonçalves e duas

pela Professora Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski, sendo que uma delas teve como co-

orientadora a Professora Denise Almeida Silva, conforme indica o quadro-resumo abaixo.

QUADRO 2 - Dissertações ingressantes Turma 2006 – Literatura, História e Imaginário

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/ Banca

Título da Dissertação

Daiane Morin

1. 08/08/2008

Dr. Robson Pereira Gonçalves –

Orientador/Presidente – URI; Dra. Maria Luiza Ritzel Remédios –

PUC/RS e Dra. Ada Maria Hemilewski –

URI

As naus e a

redescoberta de

Portugal: Intertexto,

paródia e carnaval no

romance português

contemporâneo

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3. Denise de Quadros

4. 07/08/2008

Dr. Robson Pereira Gonçalves –

Orientador/Presidente – URI; Dra. Maria

Luiza Ritzel Remédios – PUC/RS e Dra.

Ada Maria Hemilewski – URI

Afetos e estranhamento

em O Ano da Morte de

Ricardo Reis

5. Maristela Schleicher

Silveira

6. 06/10/2008

Dra. Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski

- Orientador/Presidente – URI, Dra. Regina

Kohlrausch – PUC/RS e Dra. Isabel da Rosa

Gritti – URI.

Literatura e história O

memorial do

Convento: Uma

apresentação irônica das

personagens

7. Nádia Terezinha

Arzivenko Forgiarini

8. 19/01/2009

Dra. Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski

- Orientador/Presidente – URI; Dra. Denise

Almeida Silva – Co-Orientadora – URI; Dra.

Silvia Helena Pinto Niederauer - UNIFRA e

Dr. André Luís Mitidieri Pereira – URI

Intertextos míticos em

Cem Anos de Solidão

Fonte: Quadro elaborado pela autora

O QUADRO 2 mostra, através da composição das bancas, as redes de cooperação

interna e externa formadas nos anos iniciais do curso. Docente aposentado da UFSM, aonde

construíra sólida carreira acadêmica e administrativa, Robson Pereira Gonçalves estendeu à

URI as redes formadas com professores de outras IES, como a PUC, e também, como se verá

na sequência dos quadros-resumo desta LP e da LP Memória e Identidade Cultural, docentes

da UFSM. A relação com a PUC foi particularmente intensa naquele período, o que não é

surpreendente quando se considera que grande parte dos docentes integrantes das bancas (Ada

Maria Hemilewski, Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski, Silvia Helena Pinto Niederauer,

Isabel da Rosa Gritti) tiveram sua formação na PUC/RS, buscando, portanto, apoio entre

seus mestres para a constituição de bancas e a participação em outras atividades de ensino e

extensão.

As datas de defesa indicam o esforço para preservar um período considerado ótimo

para a defesa, variando de 24 meses (quatro dos sete trabalhos) a 30 meses. As primeiras

quatro defesas aconteceram de forma concentrada, ao longo de dois dias, 07 e 08 de agosto de

2008, cumprindo exatos 24 meses decorridos desde a matrícula no curso. Percebe-se, por isso,

bancas com formação idêntica (Denise de Quadros e Daiane Morin), privilegiando o

deslocamento da professora Maria Luiza Ritzel Remédios.

A primeira dissertação defendida na Linha “Literatura, História e Imaginário” foi

“Afetos e estranhamento em O Ano da Morte de Ricardo Reis”, de Denise de Quadros,

orientada pelo professor Robson Pereira Gonçalves. Defendida a 07 de agosto de 2008, a

dissertação tinha como objetivo realizar leitura do romance O ano da morte de Ricardo

Reis, de José Saramago, com foco na relação que se estabelece entre Fernando Pessoa, trazido

à vida pelo romancista, e Ricardo Reis, heterônimo de Pessoa. O romance apresenta enredo

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que se desenvolve ao longo de nove meses, período ao longo do qual Saramago coloca frente

a frente Fernando Pessoa e seu heterônimo Ricardo Reis; os diálogos travados entre os poetas

e a relação de Reis com Lídia e Marcenda, musas das odes, tornadas personagens da trama,

são analisados por Quadros, já que são indicativos do relacionamento desenvolvido pelo poeta

e seu heterônimo da obra. Uma vez que a mestranda intentava, ainda, mostrar como José

Saramago constrói em torno de Pessoa a indicação de um pai literário, relacionando aos

estudos de Lacan sobre o Nome-do-Pai, substrato teórico para a análise é fornecido por

estudos de Sigmund Freud e Jacques Lacan no campo dos afetos, do estranhamento e do

duplo.

A dissertação foi dividida em 3 capítulos, sendo que o primeiro, sugestivamente

denominado “Na esteira das personagens”, é dedicado à descrição e análise dos heterônimos

de Fernando Pessoa. Assim, subdivide-se em três partes, cada uma das quais dá conta de um

dos heterônimos do poeta, ou seja, Alberto Caieiro, Álvaro de Campos e Fernando Reis. O

segundo capítulo, “Literatura e psicanálise”, dá conta dos conceitos-chave a serem

empregados na análise do texto de Saramago, discorrendo sobre a relação entre literatura e

psicanálise, e psicanálise e subjetividade, trazendo, em suas sete subdivisões, uma introdução

à obra de Sigmund Freud e aos estudos posteriores desenvolvidos por Jacques Lacan, com

ênfase nas questões ligadas à constituição do sujeito, ao processo de estranhamento,

simbólico, real e imaginário, à área dos afetos, ao duplo e à construção do Nome-do-Pai.. Por

fim, o capítulo 3 apresenta a análise literária propriamente dita. Subdividido em cinco seções,

o texto deixa clara a articulação da análise com a teoria anteriormente exposta, bem como a

opção por uma análise que, progressivamente, partindo da apresentação do autor, José

Saramago, e de sua obra, com o intuito de situar o texto em análise no contexto da obra, bem

como expor a construção do romance O ano da morte de Ricardo Reis (3.1 Na trama de

Saramago; 3.2 Das odes e das musas), adentra progressivamente para a teoria psicanalítica,

através dos conceitos do Nome-do-Pai e do Estranho e Afetos (3.3. Em Questa de um Pai, 3.4

Afetos em prosa e verso e 3.5 Uma estética do estranhamento).

Denise Quadros explica e resume seu plano de análise:

A produção heteronímica na obra do poeta português figura como um diálogo entre

Pessoa em relação a si próprio e ao mundo, na busca de maneiras de existência, onde

se processariam as alteridades entre o subjetivo e o objetivo, entre a sensibilidade e

o pensamento. Sendo assim, a análise da obra será direcionada sob dois eixos: de um

lado será enfocada a subjetividade, considerando o campo dos afetos como profícuo

para a compreensão do que o romancista, associado às ideias do poeta, busca

desenvolver. (QUADROS, 2008, p. 72)

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A dissertação teve como mérito as seguintes contribuições ao estudo do romance de

Saramago: análise do simbólico, para desvendar as faces do afeto e do estranhamento, e o

registro e análise da tripla duplicação na obra de Reis, em que este, ficção de Pessoa, retorna

como ficção de Saramago, que também constrói Pessoa como ficção em seu romance,

caracterizando, assim, o que, como Quadros explica, “Freud designava como „inquietante

estranheza‟, que é essa „variedade particular do pavoroso que remonta para além que é desde

há muito tempo conhecido, desde há muito tempo familiar” (2008, p. 111); a análise da

construção da metáfora paterna – o Nome-do-Pai – não apenas como elo subjetivo que une

Reis e Pessoa, mas como indicação à importância de Fernando Pessoa no cenário literário

mundial.

Orientada, também, pelo professor Robson Pereira Gonçalves, a mestranda Daiane

Morin, defendeu, no dia 08 de agosto de 2008, a dissertação intitulada “As naus e a

redescoberta de Portugal: Intertexto, paródia e carnaval no romance português

contemporâneo”. O trabalho teve como objetivo abordar a leitura de uma das obras de Lobo

Antunes, revelando a relação existente entre ficção e tradição historiográfica, a partir da

proposta de investigar a maneira como o autor faz da ficção um instrumento de resgate,

reinterpretação e reflexão sobre um dado histórico que marcou a história portuguesa, ou seja,

a descolonização das colônias que Portugal, durante séculos, manteve sob domínio em

território africano e, consequentemente, o retorno dos portugueses ao seu país de origem. Ao

mesmo tempo, a obra empreende uma revisão e releitura do passado histórico, valendo-se da

subversão de registros historiográficos.

Uma vez que o trabalho investe na análise da metáfora, da paródia e, principalmente,

da carnavalização, investigando de que forma Lobo Antunes recorre aos mencionados

elementos no intuito de promover uma reflexão sobre a sociedade portuguesa contemporânea,

recorre a referencial teórico bastante distinto do utilizado por Denise de Quadros. Daiane

Morin recorre a autores como Mikhail Bakhtin, Peter Burke, Antonio Cândido, Tereza

Cristina Cerdeira, Linda Hutcheon, Maria Alzira Seixo e Maria Luiza Ritzel Remédios.

A dissertação foi dividida seis capítulos e uma conclusão. Os primeiros estão

agrupados sob o título geral “O início de uma viagem: As Naus e a procura de um porto para

ancorar”; a última se denomina, sugestivamente, “As Naus: Desfecho ou pausa de uma

viagem?”. Os três capítulos iniciais, “Da Revolução à Ficção: O romance português e sua

relação com a Revolução dos Cravos”; “António Lobo Antunes e a ficção portuguesa

contemporânea: inovação e transformação na escrita literária”; constituem-se em introdução

ao contexto histórico enfocado pelo romance, a seu autor, e a um conceito fundamental

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utilizado na análise da obra, o da carnavalização. Os três outros capítulos, “Redescobrindo

Portugal sob um novo olhar: metáfora, alegoria e confronto de vozes no romance As Naus”, “

A viagem de volta: As Naus e a paródia das descobertas” e “As Naus: fantasias audaciosas e

exageros desmedidos: A carnavalização no enredo romanesco” analisam o romance, a partir

do uso da metáfora, alegoria, paródia e carnavalização.

Morin destaca, como contribuições de sua pesquisa, a compreensão de que As Naus

tornou-se, dentro da crítica literária, um exemplo fundamental de „literatura paródica‟,

correspondendo a uma narrativa marcada pelo descompromisso e pela „ótica

revolucionária‟ (MORIN, 2008, p. 99). Ao transformar e dessacralizar personagens

significativos da tradição histórico-cultural portuguesa, a paródia e carnavalização propõem a

revogação das leis, proibições e restrições que determinam o sistema e a ordem da vida

comum; ao mesmo tempo, e tal transgressão traz a valorização do ser humano, construindo

personalidades históricas com as fragilidades dos mortais, portadores, não somente de

qualidades, mas também de defeitos.

A dissertação defendida por Maristela Schleicher Silveira, intitulada “Literatura e

história no Memorial do Convento: uma apresentação irônica das personagens”, foi

defendida no dia 06 de outubro de 2008. Orientada pela professora Lionira Maria Giacomuzzi

Komosinski, enfocava outro romance de autor português contemporâneo, Memorial do

Convento, de José Saramago. Trazia, como objetivo principal, a relação entre literatura e

história presente no romance, demonstrando que ao utilizar-se de personagens históricos o

autor o faz de forma irônica, além disso, a pesquisadora explicou como a história, oficial ou

não, registra a passagem de seus heróis e como Saramago traduz ou recria estes registros.

O trabalho divide-se em três capítulos, sendo que os dois primeiros, “Literatura e

história” e “Ironia” constituem-se em longa apresentação dos conceitos que embasam a

análise dos personagens. O capítulo I subdivide-se em cinco seções, as quais apresentam a

evolução da relação literatura e história partindo do Positivismo, a forma como essa relação

ocorre para o Formalismo Russo, o Estruturalismo, New Criticism, e, finalmente, com a

Estética da Recepção, através das contribuições dos teóricos Hans Robert Jauss e Wolfang

Iser. O capítulo II, “Ironia”, conceituou o termo, caracterizando três tipos de ironia: a ironia

retórica, a ironia humoresque e a ironia romântica, e o diferente uso desse recurso na

caracterização das personagens emprestadas da História oficial, e ao povo, ao qual o narrador

dá voz, não apresentando de forma irônica. O capítulo final, “Literatura e História: Uma

abordagem irônica” traz a análise mais extensiva, quando a autora aborda como Saramago

traz para seu romance personagens históricos, como o rei D João V, a rainha D. Maria Ana da

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Áustria e o Padre Bartolomeu Lourenço, e personagens são ficcionais, como os protagonistas

da narrativa, Baltasar e Blimunda, representantes do povo português, esquecidos pela

História.

Apesar de trazer conceito questionável acerca do discurso histórico e do literário “[...]

afirmamos que a história aborda os fatos sob a ótica dos dominantes enquanto a literatura o

faz sob a ótica dos dominados” (SILVEIRA, 2008, p. 72), o trabalho traz boa contribuição

quanto ao uso da ironia, destacando, além da diferença entre o tratamento dos personagens

históricos e ficcionais, a relevância do uso da ironia humoresque em conexão com a

construção dos excluídos, e quanto à tensão entre a vontade opressora (construção do

convento) e a vontade libertadora (construção da Passarola).

A última dissertação da LP 1 dessa turma inicial foi defendida em 19 de janeiro de

2009 pela aluna Nádia Terezinha Arzivenko Forgiarini, orientada por Lionira Maria

Giacomuzzi Komosinski, com a co-orientação de Denise Almeida Silva. A pesquisa teve

como objetivo analisar, dentre os intertextos míticos em Cem anos de solidão, de Gabriel

García Márquez, os mitos de origem, pois “o mundo de Macondo não existiria sem a

recriação de mitos fundacionais” e o mito do eterno retorno, que “relaciona-se com a evidente

circularidade do tempo em Cem anos de solidão, que apresenta, já desde o seu início, um

processo que mescla futuro e presente ao passado, como na célebre antecipação com que se

inicia o romance” (FORGIARINI, 2009, p. 13). Para alcançar esses objetivos, a mestranda

buscou, para o estudo do mito, pressupostos teóricos em Vernant, Eliade, Crippa, Burn e

Gusdorf e, percebendo a necessidade de situar esse romance no contexto da produção

romanesca latino-americana contemporânea, embasou a pesquisa em Alejo Carpentier (1985),

Bella Josef (2004), César Fernández Moreno (1979) e Regina Zilberman (1977); para

intertextualidade, Julia Kristeva (1974) e Mikhail Bakhtin (1988).

A pesquisa foi estruturada em quatro capítulos. O primeiro, “Mito: uma tentativa de

definição”, subdivide-se entre a conceituação e definição do que é mito e sua funcionalidade,

seguida da diferenciação entre consciência mítica e consciência histórica; o segundo,

“Substratos míticos para o estudo de Cem anos de solidão”, define o mito cosmogônico,

diferenciando-o de mitos de criação. Os capítulos III, “Mitos de origem em Cem anos de

solidão” e IV “O mito do eterno retorno em Cem anos de solidão”, são reservados à análise

de como esses mitos foram apropriados por Gabriel Garcia Márquez, relacionados ao tempo e

espaço de onde escreveu, e da forma como dialogam com as narrativas bíblicas e com o Popol

Vuh, livro sagrado dos maias.

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Em sua conclusão, Forgiarini afirma que a descrição da fundação de Macondo

equivale a um mito de criação, no qual, através das repetições e recriações contínuas instaura-

se um tempo cíclico na sociedade histórica. A autora também destaca o processo de

dessacralização na obra, a qual revela um mundo desde o início imperfeito, feito à imagem e

semelhança do homem.

Percebe-se, nas primeiras dissertações produzidas pelos discentes do Curso, tendência

a centramento nas relações entre a literatura e o processo histórico e sua interpretação, bem

como nas relações entre literatura e psicanálise, privilegiando a análise dos procedimentos

simbólicos e míticos da criação literária (dissertações defendidas por Denise de Quadros e

Nádia Terezinha Arzivenko Forgiarini) e das relações entre literatura e história (dissertações

de Daiane Morin e Maristela Schleicher Silveira). As duas últimas dissertações analisavam

obras de autores portugueses contemporâneos, Lobo Antunes e José Saramago, o que revela,

ainda, outra tendência que viria a se fortalecer ao longo da história do curso: a preferência

pelo estudo de autores contemporâneos.

QUADRO 3 - Dissertações ingressantes Turma 2007 – Literatura, História e Imaginário

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca

Título da Dissertação

Edevandro Sabino da

Silva

17/09/2009

Dra. Denise Almeida Silva –

Orientadora/Presidente – URI; Dra. Rosani

Úrsula Ketzer Umbach – UFSM e Dr. Breno

Antonio Sponchiado – URI

Gaúcho farroupilha: visões e

revisões

Luciane Figueiredo

Pokulat

24/07/2009

Dr. Robson Pereira Gonçalves –

Orientador/Presidente – URI; Dra. Silvia

Helena Pinto Niederauer – UNIFRA e Dr.

André Luís Mitidieri Pereira – URI

Um olhar sobre o romance

Malandro

Fonte: Quadro elaborado pela autora

No ano de 2007 ingressaram apenas cinco alunos. Destes, dois optaram pela LP

Literatura, história e imaginário. Luciane Figueiredo Pokulat defendeu sua dissertação no dia

24 de julho de 2009. Sob a orientação do Professor Robson Pereira Gonçalves, investigou de

que forma a identidade nacional brasileira é retratada pela literatura nacional, em dois

aspectos: o carnaval e a malandragem. A análise foi feita a partir de três narrativas da

Literatura Brasileira, produzidas em três contextos sócio-históricos diferentes: Memórias de

um sargento de milícias, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter e Confissões de Ralfo

uma autobiografia imaginária. O estudo foi embasado nas teorias de Roberto DaMatta

quanto à dinâmica das relações sociais na cultura brasileira, com atenção especial ao

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fenômeno do Carnaval; na teoria da carnavalização literária do russo Mikhail Bakhtin; no

conceito de homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda e na dialética da malandragem,

pensada por Antonio Candido.

A pesquisa foi estruturada em três capítulos, sendo que o primeiro “Por uma

Identidade Cultural” abordou o conceito de cultura e de identidade cultural, o processo de

construção das identidades, e padrões culturais brasileiros. No segundo capítulo, “Três

tempos, três obras e a manutenção de um ícone”, foram apresentados os contextos históricos

de produção das narrativas constituintes do corpus literário, sendo a figura do malandro

apresentada como ícone cultural brasileiro. No terceiro capítulo, “O Romance Malandro: do

Império à Ditadura” a análise contempla o primeiro malandro da Literatura Brasileira,

Leonardo, protagonista do romance de Manoel Antonio de Almeida, Macunaíma, protagonista

do romance homônimo de Mário de Andrade, e Ralfo, do romance de Sérgio Santanna.

O estudo confirmou que “o malandro é uma figura que sulca profundamente o

imaginário nacional” (POKULAT, 2009, p.144), proporcionando uma reflexão em torno da

sociedade que o gerou e à qual se adapta tão bem; por outro lado, a autora ressalta a

carnavalização literária, aos moldes de Bakhtin, como “ótimo instrumento para dar vida e

vigor à figura do malandro” (POKULAT, 2009, p.148).

O aluno Edevandro Sabino da Silva desenvolveu a pesquisa intitulada “Gaúcho

Farroupilha: Visões e Revisões”, a qual foi defendida no dia 17 de setembro de 2009.

Orientado pela professora Denise Almeida Silva, o trabalho teve como objetivo estudar a

representação do gaúcho farroupilha nos Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto e

no romance A Prole do Corvo, de Luiz Antonio de Assis Brasil.

A dissertação foi estruturada da seguinte maneira: o primeiro capítulo, dedicado às

articulações entre história e ficção, enfoca inicialmente a ficcionalização da história e a

historicização da ficção a partir do pensamento de Paul Ricoeur e de José Saramago (e, pois,

respectivamente, das lógicas do “ver como” e do “ter sido”); estuda o discurso da história e

da ficção através das proposições de Roland Barthes e de historiadores que optaram por

rejeitar o paradigma rankeano; busca, ainda, em Jean Mukaravosky a compreensão da arte

como fato semiológico. O segundo capítulo proporciona revisão dos eventos históricos

aludidos nas obras analisadas, registrando causas e principais episódios da Revolução

Farroupilha, e a forma como esta foi mitificada; essa revisão tem base, sobretudo, nas

contribuições da historiadora gaúcha Sandra Jatahy Pesavento. Seguem-se dois capítulos

analíticos, “Blau Nunes, furriel farroupilha” e “Farroupilhas, prole de corvos”, dedicados à

análise, respectivamente, dos Contos Gauchescos e de A prole do corvo.

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Nas conclusões, o pesquisador aponta para uma nova visão do gaúcho farroupilha em

ambos os romances, nos quais o tecido ficcional predomina sobre os fatos históricos:

Quer reinscrevendo o mito do gaúcho centauro e/ou do militar nobilitado, quer

desmitificando a aura de nobreza e heroicidade dos heróis farroupilhas, os dois

textos rompem com a concepção assimilada pelo imaginário popular, permitindo

que um amplo espaço de reflexão seja aberto (SILVA, 2009, p. 91).

De acordo com o autor, nos textos ficcionais analisados se tem a plena sensação de

que as histórias narradas privilegiam o “ter sido”, e trazem um emaranhado de acontecimentos

que de fato poderiam ter acontecido na revolução. O narrador dos contos mostra uma história

recheada de bravuras e atos heroicos, que reforça a construção mitificada do gaúcho

farroupilha. “O aprendizado do “ver como” também é exercido por Assis Brasil através da

recuperação do quotidiano dos soldados, dos fazendeiros explorados pelos comandantes

revolucionários e daqueles que exploram a revolução, enriquecendo com ela” (SILVA, 2009,

p. 89).

QUADRO 4 – Dissertações ingressantes Turma 2008 – Literatura, História e Imaginário

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Carla Luciane Klôs

Schöninger

27/08/2010

Dr. Robson Pereira Gonçalves –

Orientador/Presidente – URI; Dr. Orlando

Fonseca – UFSM e Dra. Denise Almeida

Silva – URI

A Subjetividade e as

máscaras da repetição em

Atonement: entre a culpa e

o desejo de reparação

Fabiana Garafini

27/08/2010

Dr. Robson Pereira Gonçalves –

Orientador/Presidente – URI; Dr. Orlando

Fonseca – UFSM e Dr. Lizandro Carlos

Calegari – URI

Carnavalização e

Malandragem em a Morte e

a Morte de Quincas Berro

Dágua: um retrato do

brasileiro pelo olharde Jorge

Amado

Gabriela Cornelli

dos Santos

26/08/2010

Dra. Denise Almeida Silva –

Orientadora/Presidente – URI; Dra. Heloisa

Toller Gomes – UERJ e Dr. Lizandro Carlos

Calegari – URI

Revisitando Caliban: uma

leitura de “Brazil”, de Paule

Marshall

Rudião Rafael

Wisniewski

04/11/2010

Dra. Denise Almeida Silva –

Orientadora/Presidente – URI; Dra. Eloína

Prati dos Santos – UFRGS e Dr. Lizandro

Carlos Calegari – URI

O horror como motivação:

rememoração e

individuação em The

Nature Of Blood

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101

Suzana Raquel

Bisognin Zanon

20/08/2010

Dr. Robson Pereira Gonçalves –

Orientador/Presidente – URI; Dra. Silvia

Helena Pinto Niederauer – UNIFRA e Dr.

Lizandro Carlos Calegari – URI

Dona Flor e seus dois

maridos: o desejo como

princípio do avesso

Terezinha Pezzini

Soares

01/10/2010

Dr. Lizandro Carlos Calegari –

Orientador/Presidente – URI; Dr. André Luís

Mitidieri Pereira – Co-orientador – URI; Dr.

João Luis Pereira Ourique – UFPel e Dr.

Ricardo André Ferreira Martins – URI

Ibirapuitan e Província de

São Pedro: uma história da

recepção a Mario Quintana

Fonte: Quadro elaborado pela autora

O QUADRO 4 elenca os egressos do Curso no ano de 2008 na LP 1. Nesse ano, dos

nove alunos matriculados, seis optaram por essa linha. Em relação as orientações, três delas

ficaram com o professor Robson Pereira Gonçalves, duas com a professora Denise Almeida

Silva e uma com o professor Lizandro Carlos Calegari. A primeira dissertação dessa turma a

ser defendida, no dia 20 de agosto de 2010, foi “Dona Flor e seus dois maridos: o desejo

como princípio do avesso”, da aluna Suzana Raquel Bisognin Zanon. Como o trabalho de

Luciane Pokulat, a dissertação de Zanon investiga processo de carnavalização, tendo como

corpus o romance de Jorge Amado; seu alvo é estudar o universo carnavalizado e verificar

como se dá o princípio do mundo às avessas na narrativa em um romance que tem como pano

de fundo a fase ditatorial brasileira e o sistema de domínio, ordens e leis oriundas do Golpe

Militar de 1964. Além da teoria da carnavalização na literatura de Mikhail Bakthin, a

mestranda lançou mão de estudos do antropólogo brasileiro Roberto DaMatta em torno do

substrato do ritual carnavalesco e a teoria dos afetos de Sigmund Freud e de Jacques Lacan

para fundamentar seu trabalho, estruturado em três capítulos. O primeiro, “Jorge Amado:

irreverência e ideologia libertária” concentra-se na fortuna crítica sobre o autor; o segundo,

intitulado “A fonte”, na revisão do corpo teórico de base; por fim, o terceiro capítulo,

intitulado “Da fonte às entrelinhas”, volta-se à análise do romance Dona flor e seus dois

maridos.

Em suas conclusões, a autora afirma que foi possível perceber que a carnavalização

conduziu a narrativa a diálogo em que o desejo de dona Flor desencadeia a dimensão do

avesso no texto de Jorge Amado. Nesse contexto, Flor adentra o mundo ambivalente das

formas carnavalescas através de suas metades (Vadinho e Teodoro), que são transpostas ao

cerne carnavalizado do romance, ficando “[...] no entremeio entre ordem e desordem; duas

verdades, duas realidades” (ZANON, 2010, p. 134).

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Seis dias após, no dia 26 de agosto de 2010, Gabriela Cornelli dos Santos, orientada

pela professora Denise Almeida Silva, defendeu o trabalho intitulado “Revisitando Caliban:

Uma leitura de „Brazil‟, de Paule Marshall”. O trabalho estuda o personagem Caliban, tanto

na peça A tempestade, de William Shakespeare, como no conto “Brazil” de Paule Marshall,

em uma leitura intertextual embasada pela teoria do pós-colonial e nos conceitos de

identidade cultural e espaço geográfico, elaborados por estudiosos como Stuart Hall (1996),

Thomas Bonnici (2000; 2009), Yi-Fu Tuan (2008), Dirce Suertegaray (2000). Em seu

primeiro capítulo, Santos busca as principais fontes literárias, históricas e lendárias, a fim de

esclarecer visões de Caliban construídas ao longo dos séculos. No segundo, apresentada a

releitura de Marshall da peça A tempestade, analisa as ações dos personagens, com base na

teoria apresentada. O terceiro capítulo volta-se para a crise de identidade apresentada pelo

protagonista de “Brazil”; reserva ao quarto capítulo a análise dos espaços citados na narrativa,

na qualidade de influenciadores na identidade dos sujeitos.

A pesquisadora verifica que a “reescrita e releitura são atos literários que corroboram a

teoria pós-colonial, por revidarem discursivamente o cânone ocidental. Apesar do conto não

ser considerado uma reescrita nem releitura da peça A tempestade, ele é intertextual àquele”

(SANTOS, 2010, p. 67). Percebe relações possíveis entre A tempestade e o conto, como

personagens com nomes em comum, mas ressalta a diferença de construção dos personagens:

o Caliban de Shakespeare sofre com a escravização imposta por Próspero, enfatizando

relações de conquista e poder, e a discriminação daqueles que são sujeitos ao poder imperial,

enquanto o de Marshall sofre o conflito identitário advindo da colonização da mente.

A sequência de defesas prossegue a 27 de agosto de 2010, quando Carla Luciane Klôs

Schöninger, orientada pelo professor Robson Pereira Gonçalves, defendeu sua dissertação “A

Subjetividade e as máscaras da repetição em Atonement: entre a culpa e o desejo de

reparação”. A mestranda propõe leitura do texto de Ian McEwan. Para a análise desse clássico

contemporâneo, Schöninger busca conexões entre literatura e psicanálise, esta última pelo

viés de Jacques Lacan (2005), e a partir de estudos de Giovanna Bartucci (2001), Antonio

Godino Cabas (2009) e Robson Gonçalves (2002). O primeiro capítulo: “Ian McEwan: de

Macabre a um escritor que dispensa reparos” apresenta o autor; o segundo, subdividido em “A

subjetividade e as máscaras do discurso repetitivo” e “Desejo de reparação e a representação

dos afetos”, detém-se nas relações entre a Psicanálise e a Literatura. O terceiro e último

capítulo compreende a análise do texto Atonement. O estudo sublinha o valor das concepções

psicanalíticas sobre a questão da subjetividade, os afetos e do próprio fazer literário como

bases teóricas para a compreensão da narrativa; avalia como a percepção do erro e da culpa se

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103

dá através do fator moral, o que impede o abandono da punição do sofrimento, e ressalta,

ainda, o conflito da protagonista, “[...] comparada ao sujeito moderno, que está vivendo um

conflito interno e pensa somente em si mesma” (SCHÖNINGER, 2010, p. 131).

Ainda outra dissertação, orientada pelo professor Gonçalves, associada à

carvanalização, à malandragem e à obra de Jorge Amado, e embasada nos postulados de

Bakhtin e DaMatta foi defendida no mesmo dia, 27 de agosto de 2010. O trabalho, intitulado

“Carnavalização e Malandragem em A Morte e a Morte de Quincas Berro D´água: Um

retrato do brasileiro pelo olhar de Jorge Amado”, de Fabiana Garafini, busca nos

“personagens traços de caráter do homem brasileiro, cidadão que o senso comum qualificou

como portador de características que o identificam especialmente com o carnaval e a

malandragem” (GARAFINI, 2010, p. 9). Dividido em três capítulos, o estudo dedica o

primeiro ao estudo da bibliografia sobre o autor e a obra; o segundo revisa os pressupostos

teóricos, e o terceiro estuda as características da carnavalização inseridas no romance em

estudo, de forma a perceber em que medida o protagonista contribuiu para reforçar o ícone do

malandro – com suas influências sociais de negatividade e anti-heroicidade – no imaginário

da sociedade brasileira.

Garafini conclui pela institucionalização da carnavalização e da malandragem na

cultura brasileira, sendo o romance de Amado uma das manifestações de tal conduta:

“conclui-se que tanto a teoria da carnavalização com suas características, quanto a

malandragem são traços identitários da cultura brasileira e vêm permanecendo há anos no

país” (GARAFINI, 2010, p. 101).

No dia 01 de outubro de 2010, Terezinha Pezzini Soares apresentou sua pesquisa

“Ibirapuitan e Província de São Pedro: Uma História da recepção a Mario Quintana”, para a

banca composta pelo seu orientador, professor Lizandro Carlos Calegari, co-orientador

professor André Luís Mitidieri Pereira, e pelos professores João Luis Pereira Ourique (UFPel)

e Ricardo André Ferreira Martins (URI). O trabalho teve como objetivo registrar a poesia de

Mario Quintana nos periódicos Ibirapuitan, da cidade de Alegrete, e Província de São

Pedro, de Porto Alegre, procurando desvendar, através da estética da recepção, como as

leituras desses poemas impulsionaram a carreira do poeta gaúcho. O trabalho busca o

pensamento de Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser para elaboração do seu embasamento,

expondo-o em seu primeiro capítulo, “A estética da recepção: considerações sobre as obras de

Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser”. No segundo capítulo. “A crítica a Quintana e os

primeiros quintanares”, apresenta a repercussão do movimento modernista de 1922 e sua

influência na temática do poeta alegretense, elaborando um estudo da recepção aos textos de

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Quintana publicados na revista Ibirapuitan, do período de janeiro de 1938 a dezembro de

1939. O terceiro capítulo, “Quintana e a Província de São Pedro”, aponta os poemas de

Quintana editados na revista em apreço no espaço de tempo de 1945 a 1951, e sua recepção

junto aos leitores.

Em suas conclusões, a autora destaca a importância desses textos pioneiros e sua

recepção, “pois a partir do momento em que os poemas começaram a serem lidos, a obra de

Quintana passou a ser conhecida e valorizada, sendo o poeta incentivado a publicar o seu

primeiro livro, A rua dos cataventos, em 1940” (SOARES, 2010, p. 125).

Rudião Rafael Wisniewski encerrou as defesas dos ingressantes 2008 na LP -

Literatura, História e Imaginário, apresentando, no dia 04 de novembro de 2010 o trabalho “O

horror como motivação: rememoração e individuação em The nature of blood”, com

orientação da professora Denise Almeida Silva. O objetivo da dissertação foi investigar como

e por que, no romance de Caryl Phillips, é representado o horror em contextos extremos como

o genocídio e a discriminação racial; considera, ainda, o papel que a rememoração e a

individuação desempenham na representação do horror no romance, averiguando de que

forma o preconceito está presente nos diferentes contextos a partir dos quais o judeu e o negro

são representados na obra. Para atingir os objetivos deste trabalho, o autor busca teóricos para

compreender a capacidade humana de perpetrar o mal a seres possuidores da mesma natureza.

Assim, o primeiro capítulo apresenta os conceitos de “banalidade do mal”, tal qual proposto

por Hannah Arendt, bem como os conceitos de vitimização, imputação, individuação,

rememoração, entre outros, estudados por Paul Ricoeur; demora-se, ainda, na memória

individual e memória coletiva, a partir do pensamento de Maurice Halbwachs. O segundo

capítulo preocupa-se com a compreensão da intricada estrutura do romance, indispensável

para o estudo da narrativa, buscando apoio, para a análise da forma, nos postulados de Walter

Benjamin e Theodor Adorno, bem como do discurso da narrativa em Gérard Genette. O

terceiro capítulo retoma os conceitos teóricos, aplicando-os à análise dos personagens.

Wisniewski (2010, p. 5) observa que The nature of blood desperta a reflexão do

leitor, “o qual entende que os horrores sofridos e perpetrados no decorrer da História devem

servir de motivação para a construção de um mundo em que se busque compreender as

relações humanas, respeitando o direito de todos”. Ademais, o autor enfatiza que “a dor

causada pela rememoração do horror por parte de quem realmente a sentiu tende a criar uma

espécie de fluxo de consciência, possível de ser controlada apenas com muito esforço”

(WISNIEWSKI, 2010, p. 104). Dessa maneira, a rememoração do horror como fim,

“destinada à prevenção do preconceito e do mal por ele provocado, através das histórias

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narradas, em The nature of blood, atinge realmente seus objetivos, constituindo-se em eficaz

advertência contra essas práticas” (WISNIEWSKI, 2010, p.108).

QUADRO 5 – Dissertações ingressantes Turma 2009 – Literatura, História e Imaginário

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Fabio Martins

Moreira 16/12/2011

Dr. Lizandro Carlos Calegari –

Orientador/Presidente – URI;

Dra. Nelci Müller – URI e Dr.

Marcelo Marinho – URI

O cânone literário brasileiro: preconceito

e eugenia em o Presidente Negro, de

Monteiro Lobato

Grasiela Lourenzon

de Lima 19/08/2011

Dr. Marcelo Marinho –

Orientador/Presidente – URI;

Dr. Cássio dos Santos Tomaim

– UFSM e Dr. Lizandro Carlos

Calegari – URI

Literatura comparada e tradução

intersemiótica: O tema da violência

urbana em O Matador e O Homem do

Ano

Karine Studzinski

Kerber 16/08/2011

Dr. Lizandro Carlos Calegari –

Orientador/Presidente – URI;

Dra. Márcia Ivana de Lima e

Silva – UFRGS e Dra. Denise

Almeida Silva – URI

Literatura, homoerotismo e crítica social:

a perspectiva queer em Caio Fernando

Abreu

Sandra de Fátima

Kalinoski 16/08/2011

Dr. Lizandro Carlos Calegari –

Orientador/Presidente – URI;

Dra. Márcia Ivana de Lima e

Silva – UFRGS e Dr. Breno

Antônio Sponchiado – URI

As cicatrizes da censura: Memória,

melancolia e fragmentação na ficção

brasileira Pós-64

Solange Fernandes

Barrozo Debortoli

26/08/2011

Dra. Nelci Müller –

Orientadora/Presidente – URI;

Dr. Pedro Brum Santos – UFSM

e Dr. Lizandro Carlos Calegari –

URI

A (Des) Construção narrativa como forma

de representação da sociedade de

espetáculo em Eles eram muitos cavalos,

de Luiz Ruffato

Viviane Catarina

Marconato Stringhini

25/10/2011

Dra. Denise Almeida Silva –

Orientadora/Presidente – URI;

Dr. André Luís Mitidieri Pereira

– UESC e Dr. Lizandro Carlos

Calegari – URI

A problematização do conceito de lar no

contexto da diáspora africana em Coming

home, de June Henfrey

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A turma que ingressou no ano de 2009 teve sete alunos matriculados. Esse ano

correspondeu ao último ano de ingresso nas linhas de pesquisa “Literatura, História e

Imaginário” e “Memória e Identidade Cultural”. Destes ingressantes, seis alunos optaram pela

LP 1, com três orientações do professor Lizandro Carlos Calegari, uma do professor Marcelo

Marinho, uma da professora Denise Almeida Silva e uma da professora Nelci Muller.

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Duas dissertações, redigidas pelas mestrandas Karine Studzinski Kerber e Sandra de

Fátima Kalinoski, defendidas no dia 16 de agosto de 2011, ambas sob a orientação do

professor Lizandro Carlos Calegari, tornaram-se as primeiras dissertações a serem defendidas

da turma 2009. O trabalho de Kerber, “Literatura, Homoerotismo e Crítica Social: A

Perspectiva Queer em Caio Fernando Abreu”, teve como objetivo analisar alguns contos de

Caio Fernando Abreu extraídos das obras Morangos mofados (1982) e Os dragões não

conhecem o paraíso (1988), considerando a perspectiva da teoria queer e utilizando, para

isso, referenciais sobre a questão do homoerotismo, escritos por autores como Michel

Foucault, David William Foster, João Silvério Trevisan, Guacira Lopes Louro, Judith Butler e

Anthony Giddens.

Para atender a proposta, o trabalho foi dividido em três capítulos, segmentos básicos,

cada qual com seus subcapítulos: “Construções sociais da sexualidade: heterossexualismo e

homossexualismo na história e na literatura”; “Literatura e homoerotismo no Brasil” e “A

perspectiva queer em Caio Fernando Abreu”. No primeiro capítulo, são apresentados três

ângulos de abordagem: resgate da história da sexualidade, a propósito do heterossexualismo e

do homoerotismo; a crítica queer e seus apontamentos teóricos; no segundo discute-se a

presença do homoerotismo no Brasil e na literatura brasileira; no terceiro, adotam-se quatro

eixos de análise, a cada um dos quais se vincula o estudo de dois contos de Abreu:

caracterização das personagens queer; queer e corpo; iniciação sexual e homoerotismo e

homofobia e exclusão social.

Em suas conclusões Kerber (2011) constata que a sociedade, “não está preparada para

aceitar o novo, para romper barreiras, reestruturar conceitos, reavaliar concepções e pensar o

significado de ser humano” (KERBER, 2011, p. 202). A violência e o preconceito são

justificados e recebem muitas vezes o apoio de instituições sociais que, em sua intolerância,

inflexibilidade e ignorância, não são capazes de compreender as diferenças e de respeitar a

pluralidade sexual e o direito de cada um escolher a sua forma de sexualidade.

No mesmo dia, Sandra de Fátima Kalinoski traz à defesa o tema “As cicatrizes da

censura: Memória, melancolia e fragmentação na ficção brasileira Pós-64”. O trabalho teve

como objetivo principal investigar como as práticas autoritárias do período ditatorial são

representadas na Literatura Brasileira, verificando aspectos como a problemática da memória

e do esquecimento, a melancolia dos protagonistas e, consequentemente, a fragmentação da

narrativa - o esforço de ambos para narrar suas experiências em relação ao sistema opressor e

a dificuldade encontrada para fazê-lo diante da problemática da memória e da perturbação

psicológica. O corpus do estudo foi formado por duas narrativas surgidas em meio ao

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contexto histórico ditatorial: Quatro-olhos, de Renato Pompeu, publicada em 1976, e Em

câmara lenta, de Renato Tapajós, lançada em 1977. Referenciais da teoria literária, da

história e da psicanálise, com autores como Walter Benjamin, Theodor Adorno e Sigmund

Freud, embasaram o trabalho, organizado em três capítulos. Inicialmente dá conta do contexto

histórico e social pós-64, bem como os rumos tomados pela ficção brasileira nesse período; o

segundo capítulo trata da produção literária enquanto escrita da dor, e a relação entre ficção,

história e testemunho; o terceiro, analítico, reflete acerca da memória, da melancolia, do

trauma e da fragmentação.

Kalinoski (2011) conclui que os procedimentos narrativos em Quatro olhos e Em

câmara lenta incorporam a dimensão histórica coletiva da época, além de testemunhar,

acusar e condenar a história do país, “uma história comum a todos ou a muitos. Na medida em

que dão testemunho, os protagonistas de ambos os romances fazem-se ouvir enquanto

detentores de um saber que deveria ser de todos, mas que nem sempre é exposto pela versão

oficial da história” (KALINOSKI, 2011, p. 147). Particularidades “como a memória, o

esquecimento, a melancolia, o trauma e, consequentemente, a fragmentação narrativa,

articulados, fornecem uma ampla visão de como a situação política autoritária influenciou

diretamente nas formas de manifestação artísticas da época” (KALINOSKI, 2011, p. 148).

Solange Fernandes Barrozo Debortoli defendeu, no dia 26 de agosto de 2011, o

trabalho intitulado “A (des)construção narrativa como forma de representação da sociedade de

espetáculo em Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato”, sob a orientação da professora

Nelci Muller. Tal pesquisa teve como objetivo geral interpretar os movimentos da vida urbana

representados nos “desmontes” da tessitura fragmentada da narrativa, a qual desestabiliza o

olhar do leitor, com o intuito de voltar a atenção ao conflito do ser humano na era da

tecnologia, globalização, consumo e aceleração, estabelecendo um paralelo entre a

(des)construção narrativa e vida urbana segmentada. Para fundamentação da pesquisa, o

estudo, em três capítulos, teve como viés teórico as ideias de Zygmunt Bauman, Guy Debord;

revê conceitos de modernidade e pós-modernidade e a concepção de “Modernidade Líquida”,

estuda os diálogos possíveis entre o mal estar contemporâneo e a forma narrativa “ruffatiana”,

com destaque para operadores de leitura como: forma, tema, enredo, narrador, e demais

operadores imersos no decorrer das análises, e passa a analisar as personagens e seu entorno,

esboçando, ainda, algumas ponderações sobre a gigantesca São Paulo do século XXI e seu

protagonismo nesta narrativa.

Para a pesquisadora, a realização desse trabalho “como forma e conteúdo de

representação da sociedade do espetáculo [...] possibilitou um melhor entendimento sobre os

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tempos atuais e, também, esclareceu questionamentos a respeito da inquietante narrativa

contemporânea de Ruffato” (DEBORTOLI, 2011, p. 114). A narrativa instiga uma “reflexão

crítica sobre os conflitos socioculturais da atualidade, enfocando, dilemas do cotidiano, de

figuras reais que também se deparam com a questão da fragmentação ou perda da identidade”

(DEBORTOLI, 2011, p. 115), pois “as desigualdades, inferidas na obra, pela voz ou ações das

personagens, inscritas num eixo temporal que vai da infância à maturidade, são frutos não

somente das relações econômicas, sociais, políticas, mas também culturais” (DEBORTOLI,

2011, p. 116).

A dissertação de Fabio Martins Moreira, defendida no dia 16 de dezembro de 2011,

“O cânone literário brasileiro: preconceito e eugenia em O Presidente Negro, de Monteiro

Lobato”, com orientação do professor Lizandro Carlos Calegari, teve como objetivo avaliar a

marginalização do negro no cânone e na obra em questão. Para tanto, foram buscados

elementos históricos e sociológicos que explicitam as bases de fundação do cânone literário

brasileiro; as abordagens da pesquisa passaram por uma revisão crítica sobre Monteiro

Lobato: sua fortuna crítica e envolvimento com as ciências eugênicas, e o modo como seus

personagens negros são apresentados em sua obra. Por fim, estuda o livro O presidente

negro, seus temas e associações com teorias de superioridade racial, bem como suas ligações

com o poder nos critérios de canonização, questionando os padrões de canonização aplicados

na literatura brasileira.

Moreira conclui que um período literário tem em sua “caracterização elementos que

atendem à classe política dominante e aos representantes intelectuais ligados ao grupo

burguês. O autor ou a obra que não se adapta aos moldes impostos permanece afastado do

cânone e legado ao esquecimento” (MOREIRA, 2011, p 125). A obra de Monteiro Lobato,

além de extensa, é polêmica, pois por trás da inocência de seus personagens infantis, existem

muitas evidências racistas. De acordo com o autor “o pensamento racista sempre fez parte de

Monteiro Lobato e foi nos eugenistas que ele encontrou a teoria para desenvolver suas ideias e

aplicá-las em sua literatura” (MONTEIRO, 2011, p. 128).

Grasiela Lourenzon de Lima, no dia 19 de agosto de 2011, defendeu sua pesquisa

intitulada “Literatura Comparada e tradução intersemiótica: o tema da violência urbana em O

matador e O homem do ano”, sendo sido orientada pelo professor Marcelo Marinho. Sua

dissertação objetivava analisar a representação da violência urbana nas artes, por meio da

leitura comparativa de dois textos que pertencem a campos semióticos distintos: o thriller

romanesco O matador (1995), de Patrícia Melo, e sua adaptação fílmica O homem do ano

(2003), de José Henrique Fonseca. Entre os autores que embasam teórica e

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109

metodologicamente a pesquisa, destacam-se: Antonio Candido, Daniel-Henri Pageaux, Fábio

Messa, Ismail Xavier, Julio Plaza, Karl Erik Schøllhammer, Luiz Zanin Oricchio, Randal

Johnson e Tânia Pelegrini. Como tantas outras, a dissertação se estrutura em três capítulos,

passando dos aspectos teóricos sobre literatura comparada, tradução intersemiótica e violência

urbana.

Registrando que, “em uma tradução intersemiótica, é preciso considerar as

especificidades de cada signo que está sendo analisado” (LIMA, 2011, p. 96), a autora

constata que “o filme de José Henrique Fonseca mantém o eixo norteador do livro O

matador: a violência como meio de ascensão social. O processo de adaptação ressignifica

esteticamente a fonte original e reforça sua crítica social” (LIMA, 2011, p. 98). A estética da

violência se consolida na ficção porque, cada artista busca alternativas para capturar a

violência do mundo factual e traduzi-la para o universo fictício. Quando produzidas, “essas

obras assumiram um compromisso social e estético com o seu tempo” (LIMA, 2011, p. 99).

Viviane Catarina Marconato Stringhini, sob orientação da professora Denise Almeida

Silva, apresentou, no dia 25 de outubro de 2011, a dissertação “A problematização do

conceito de lar no contexto da diáspora africana em Coming home, de June Henfrey”, a qual

objetivou investigar o conceito de lar no contexto da história da diáspora africana no Caribe,

através da análise de contos da coletânea Coming home and other stories, de June Henfrey

(1994). Ao longo de três capítulos, a discente investiga se o negro, mesmo escravizado, ou

sendo alvo de discriminação e preconceito, é representado como um sujeito agente, capaz de

construir (ou optar por desconstruir), material ou imaginativamente, um espaço a que possa

chamar de lar, mesmo em face de fatores sociais e afetivos adversos. Fundamentação teórica é

encontrada em Stuart Hall (2009), Thomas Bonnici (2009), William Saffran (1994), Paul

Gilroy (2001) e James Clifford (1994); especificamente quanto aos conceitos de território e

lar, busca autores como Henri Lefebvre (2009), Anthony Giddens e Claude Raffestin, Rogério

Haesbaert, Marcos Saquet (2004) e Eva Hoffman (1999); as ligações entre memória,

identidade e espacialidade são apoiadas nos estudos de Émile Durkheim (1970), Maurice

Halbwachs (2006, 1990) e Michael Pollak (1992).

Ao concluir o trabalho, Stringhini (2011) menciona que “os contos trazem,

recorrentemente, a representação da diáspora como um movimento de migração forçada, na

qual milhares de escravos foram transportados de diferentes ilhas, suportando e se

submetendo às mais desprezíveis situações que se possa imaginar” (STRINGHINI, 2011, p.

103), tornando-se essencial para a pesquisa pensar pertencimento à luz da diáspora, para

compreender como a construção do sentido de lar é afetada em tais circunstâncias. De acordo

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110

com a pesquisadora, “escravidão e preconceito também dificultam pensar em lar a partir das

conotações evidentes na etimologia latina, como domus, lugar de domesticidade, valores

associados à família, simplicidade e paz” (STRINGHINI, 2011, p. 106).

Ao final do segundo triênio de andamento do Mestrado em Letras, correspondente ao

período 2007-2009, pode-se verificar que as orientações foram bem divididas entre os

professores. De um total de quatorze concluintes, quatro foram orientados pela Professora

Dra. Denise Almeida Silva, contando como membros externos, além de sua orientadora,

Eloína Prati dos Santos (UFRGS), professores oriundos da UERJ, UFSM e UESC, o que já

denota a formação de redes de cooperação para além da esfera de sua formação inicial. O

professor Dr. Robson Gonçalves Pereira, orientou quatro trabalhos destacando a presença do

professor Dr. Orlando Fonseca (UFSM) em duas de suas bancas, sendo ambas na mesma data.

O professor Dr. Lizandro Carlos Calegari, orientou quatro dissertações nesse período

destacando a presença da professora Márcia Ivana de Lima e Silva (UFRGS) em duas bancas

no mesmo dia. Um dos trabalhos foi orientado pela professora Dra. Nelci Muller, que

convidou a participar de sua banca o professor Dr. Pedro Brum Santos (UFSM) e uma pelo

professor Dr. Marcelo Marinho que contou com a presença do professor Dr. Cássio dos

Santos Tomain (UFSM).

Percebe-se, ainda, a articulação em torno dos projetos individuais dos pesquisadores: o

apoio de base psicanalítica, com Freud e Lacan, bem como a recorrência de pesquisas sobre o

romance malandro e a carnavalização, em trabalhos orientados pelo professor Robson Pereira

Gonçalves; questões relacionadas à memória e identidade pessoal e nacional, com apoio

teórico de autores como Ricouer, Halbwacks, Pollak e Renan em trabalhos orientados por

Denise Almeida Silva. A chegada do professor Lizandro Carlos Calegari adicionou, aos

rumos da pesquisa, a preocupação com os marginalizados, a perspectiva Queer e a

investigação sobre a violência, especialmente a verificada no período ditatorial brasileiro.

Quanto às obras literárias estudadas, continua a preferência por autores

contemporâneos, como Luiz Ruffato e Patrícia Mello, ou os “clássicos”, autores canonizados

como Jorge Amado e até Monteiro Lobato. Ocorre, também, a primeira análise comparativa

entre um texto literário, O matador de Patrícia Mello e sua adaptação fílmica, O homem do

ano de José Henrique Fonseca, orientada pelo professor Marcelo Marinho.

Destaca-se ainda, que com o final desse triênio encerrou-se o ingresso de alunos na LP

– Literatura, História e Imaginário, pois a partir do ano 2010, essa linha deu lugar à LP

Literatura, História e Memória, resultado da fusão entre a LP 1 e LP 2 – Memória e

Identidade Cultural, como já mencionado no decorrer do trabalho.

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111

3.2.2 Linha 1: Literatura, História e Memória

No ano de 2010, primeiro ano do segundo triênio de funcionamento do Mestrado em

Letras (2010-2012), houve reformulação nas Linhas de Pesquisa, com a criação da Linha de

Pesquisa “Literatura, História e Memória”, resultante da fusão das duas Linhas de Pesquisa

existentes até então, “Memória e Identidade Cultural” e “Literatura, História e Imaginário”.

Segundo consta em sua ementa, a LP concentra estudos em torno dos seguintes conceitos:

Investiga as relações entre a literatura, a história e a memória, em suas interfaces

com o mito, a retórica, a filosofia, a antropologia etc. Analisa os discursos

poético/literário e histórico, entendendo-os como constructos socioculturais e

privilegiando a mimese, a constituição dos modos e gêneros literários, bem como os

marcos da ciência histórica. Estuda as principais correntes historiográficas, a história

da literatura, a crítica, a história e a historiografia literárias, as teorias da literatura e

a ficcionalidade enquanto elemento caracterizador da representação literária. Inclui a

flexibilização do cânone oficial, enfocando as minorias tanto no papel de

personagens quanto no de produtores dos discursos. Aborda o fenômeno da

memória, detendo-se nas memórias individual, coletiva, involuntária e cultural.

Compreende ainda o espaço (auto)biográfico, no âmbito da autobiografia, da

biografia, das confissões, do diário íntimo, da epistolografia, das memórias e/ou

gêneros aproximados. (CURRICULO, Linha 1, 2018)

O Quadro 6 apresenta os primeiros alunos ingressantes na nova LP – Literatura,

História e Memória. A turma teve sete alunos matriculados, sendo que cinco optaram por essa

LP, sendo orientados pelos seguintes professores orientadores: Denise Almeida Silva, Robson

Pereira Gonçalves, Marcelo Marinho, Lizandro Carlos Calegari e Ana Paula Teixeira Porto.

QUADRO 6 – Dissertações ingressantes Turma 2010 – Literatura, História e Memória

Nome/Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Gustavo

Menegusso

30/08/2012

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Fernando

de Moraes Gebra - UNILA e Dra.

Maria Thereza Veloso –URI

O duplo narciso: O herói da

modernidade em O retrato de

Dorian Gray, de Oscar Wilde e

Esfinge, de Coelho Neto

Neides Marsane

John Bolzan 31/08/2012

Dr. Robson Pereira Gonçalves – URI

Orientador/Presidente; Dra. Silvia

Helena Pinto Niederauer; Dra. Luana

Teixeira Porto - URI.

A representação dos afetos em Amar,

verbo intransitivo, de Mário de

Andrade

Rosemeri

Aparecida Back 01/11/2012

Dr. Marcelo Marinho - URI

Orientador/Presidente; Dr. Gilmei

Francisco Fleck - UNIOESTE e Dra.

Luana Teixeira Porto - URI.

Vozes femininas, literatura, história e

memória: A doce canção de

Caetana, de Nélida Piñon, e Eva

Luna, de Isabel Allende

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112

Vanderléia de

Andrade Haiski 28/06/2013

Dr. Lizandro Carlos Calegari – URI

Orientador/Presidente; Dra. Rosani

ketzer Umbach – UFSM e Dra. Silvia

Helena Pinto Niederauer – URI.

Trauma, memória e narrativa em The

pawnbroker, de Edward Lewis

Wallant, e Quero viver... memórias

de um ex-morto, de Joseph

Nichthauser: comparações e

intersecções

Vanessa Fritzen

31/01/2013 Dra. Ana Paula Teixeira Porto - URI

Orientadora/Presidente; Dr. Silvia

Niederauer e Dra. Maria Thereza

Veloso - URI.

Literatura, história e memória em O

último voo do flamingo, de Mia

Couto

Fonte: Quadro elaborado pela autora

Ao defender sua dissertação “O duplo Narciso: O herói da modernidade em O Retrato

de Dorian Gray, de Oscar Wilde e esfinge, de Coelho Neto” no dia 30 de agosto de 2012,

sob a orientação da professora Denise Almeida Silva, Gustavo Menegusso tornou-se o

primeiro aluno a defender um trabalho na LP – Literatura, História e Memória. Menegusso

propunha reflexão acerca da representação do herói da modernidade na literatura fantástica,

considerando elementos como a manifestação do duplo, a fragmentação do herói e a

percepção da modernidade presente nos personagens principais das referidas obras.

A pesquisa foi organizada em três capítulos. O primeiro contrasta o herói clássico e o

herói moderno, bem como das mudanças ocorridas nas artes em geral, principalmente na

literatura e na pintura, na modernidade, tanto na Inglaterra como no Brasil, enfocando, pois, o

período vitoriano tardio, e a belle époque no Brasil. O capítulo apresenta pesquisa apoiada no

pensamento de Georg Lukács, Mikhail Bakhtin, Walter Benjamin, Theodor Adorno, Anatol

Rosenfeld, Charles Baudelaire e Marshall Berman. O segundo capítulo detém-se nos

conceitos de fantástico e do duplo, com suporte nos estudos de Tzevetan Todorov, Selma

Calasans Rodrigues, Louis Vax, Sigmund Freud, Afrânio Coutinho, Paulo Leminski, Nicole

Fernandez Bravo, Otto Rank, Clément Rosset e Ana Maria Lisboa de Mello. O capítulo final,

“O herói da modernidade em O retrato de Dorian Gray e Esfinge” analisa as obras à luz dos

conceitos estudados, e aponta diálogo intertextual entre esses romances.

Para Menegusso, as obras em análise, no limiar entre o mundo natural e o

sobrenatural, ao tematizar o desdobramento de personalidade e o duplo, representam e, ao

mesmo tempo, criticam a sociedade moderna e os indivíduos que dela fazem parte. É notória,

nas obras, a busca de identidade como manifestação de crise identitária que se instaura no

momento histórico em que o sujeito se descentra, perdendo o sentido de si. O mestrando

percebe no duplo a possibilidade de “trazer à tona discussões intrínsecas à identidade do

sujeito moderno. Assim, esse processo de duplicidade e/ou desdobramento corresponde a um

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113

processo de se autoconhecer, permitindo através da relação com o outro a busca do

conhecimento sobre si mesmo” (MENEGUSSO, 2012, p. 120).

Um dia após a defesa de Gustavo Menegusso, no dia 31 de agosto de 2012, Neides

Marsane John Bolzan apresentou sua dissertação “A Representação dos afetos em Amar,

verbo intransitivo, de Mário de Andrade”. O trabalho, com orientação do professor Robson

Pereira Gonçalves, objetiva refletir acerca da relação entre literatura e psicanálise,

evidenciando a manifestação dos afetos em Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade

(2008). Sigmund Freud, Jacques Lacan, Roland Barthes, Thomas Bonicci e Jean Michel

Palmier embasam as reflexões sobre psicanálise e literatura. Partindo, no primeiro capítulo,

da fortuna crítica e contexto histórico em que a obra foi publicada, o estudo aborda, no

segundo capítulo, a teoria dos afetos, caracterizando pulsão, desejo, satisfação e gozo; o

terceiro capítulo apresenta uma das leituras possíveis do romance, a partir da Teoria dos

Afetos.

Nas considerações finais, Bolzan explicita que a obra é uma narrativa que contempla

um grande número de representações afetivas e objetiva revelar os sentimentos da sociedade

paulistana da década de 20, “manifestando os estados emocionais delas, mas representados

pelos personagens. Percebe-se, assim: tristeza, ciúme, ansiedade, vergonha, orgulho,

indiferença, desprazer, remorso, luto, fingimento, saudade, rancor, pânico, ódio” (BOLZAN,

2012, p. 100). A autora enfatiza que a obra tece considerações acerca dos valores humanos,

caracterizando-se como patrimônio cultural da humanidade, expresso em forma de memória.

A discente Rosemeri Aparecida Back fez a defesa de sua dissertação no dia 01 de

novembro de 2012, com o trabalho intitulado “Vozes femininas, literatura, história e

memória: A doce Canção de Caetana, de Nélida Piñon, e Eva Luna, de Isabel Allende”. Seu

orientador foi o professor Marcelo Marinho e o objetivo da pesquisa era estudar as

representações literárias do poder e do corpo, no plano das vozes poéticas femininas nas obras

acima citadas, considerando o papel social da mulher, contexto histórico, conflitos de gênero

e luta pela libertação feminina, elementos observados nas principais personagens dos textos

em estudo. A pesquisa leva em consideração as relações entre Literatura, História e Memória

e entre os autores que alicerçam este trabalho destacam-se Daniel-Henri Pageaux, Pierre

Bourdieu, Gerda Lerner, Michel Foucault, Elódia Xavier, Jacques Le Goff e Maurice

Halbwachs.

O primeiro capítulo, “Advento e escrita literária da consciência feminista: vozes da

memória, percursos da história”, apresenta reflexões sobre memória, elemento essencial para

a materialização das reminiscências que servirão para o reconhecimento das vozes femininas

Page 114: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

114

e história; o segundo capítulo, “Isabel e Nélida: vozes femininas e releituras da História da

América Latina”, traz investigações relacionadas às ditaduras militares na América Latina e à

escrita feminina, no Chile, na Venezuela e no Brasil, países a que se referem as escritoras e os

romances em estudo, bem como uma exposição acerca da escrita feminina nas vozes de Isabel

Allende e Nélida Piñon. “Eva, Caetana e a sociedade patriarcal: memória, sexualidade e

contrapoder”, terceiro capítulo, analisa os romances em conformidade com: memória, corpo e

sexualidade, patriarcalismo e contrapoder.

Ao concluir a pesquisa, Back revela que a leitura comparatista das obras revela várias

possibilidades de interpretação; para a autora, estudos feministas contribuem “para o

aniquilamento dos modelos tradicionais, pois estimulam métodos novos de produção, análise

e pesquisa no que tange à literatura e à crítica” (BACK, 2012, p. 97). As personagens

protagonistas de A doce canção de Caetana, de Nélida Piñon e Eva Luna, de Isabel Allende

“são resultado de um regime patriarcal e autoritário, entretanto, de forma alguma representam

vozes femininas oprimidas e vitimadas” (BACK, 2012, p. 98).

“Trauma, Memória e Narrativa em The Pawnbroker, de Edward Lewis Wallant, e

Quero viver... Memórias de um ex-Morto, de Joseph Nichthauser: comparações e

intersecções” foi o tema da dissertação de Vanderléia de Andrade Haiski, defendida em 28 de

junho de 2013, tendo como orientador o professor Lizandro Carlos Calegari. Propõe avaliação

e reflexão sobre o trauma das vítimas do Holocausto nos referidos textos, buscando, também,

verificar suas convergências e divergências temáticas e formais, uma vez que pertencem a

gêneros distintos. A dissertação procurou verificar como o trauma e a memória são abordados

na narrativa; analisar as relações entre história e ficção; avaliar o modo como os personagens

concebem o evento traumático por eles sofrido e considerar a narrativa como fator de cura ou

superação dos eventos traumáticos e, por fim, comparar intersecções teóricas e/ou

interpretativas entre essas duas obras. O embasamento teórico foi buscado em Roland

Barthes, Zygmunt Bauman, Walter Benjamin, Antoine Compagnon, Jaime Ginzburg, Maurice

Halbwachs e Michael Pollak, e foi apresentado nos dois primeiros capítulos, reservando a

análise da narrativa no terceiro capítulo.

Haiski enfatiza que os textos não trazem a perspectiva dos poderosos; pelo contrário,

são produções cujo olhar é dado de baixo, isto é, considerando o ponto de vista de pessoas

vitimadas com graus extremos de violência. Os textos apresentam duas perspectivas distintas

ao tratarem de um mesmo assunto, o que permite avaliação ainda mais contundente daquilo

que foi o Holocausto: The pawnbroker é um romance, assentado no princípio da

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115

ficcionalidade e da verossimilhança, e Quero viver... é um relato de testemunho (HAISKI,

2013).

Vanessa Fritzen, primeira orientanda da professora Ana Paula Teixeira Porto,

apresentou, no dia 31 de janeiro de 2013, o trabalho intitulado “Literatura, história e memória

em O último voo do flamingo, de Mia Couto”. O objetivo principal do estudo foi focalizar

as correlações entre o romance e a história de Moçambique no contexto pós independência

africana. Em seus três capítulos, foram consideradas reflexões acerca da literatura africana de

língua portuguesa e moçambicana, para um melhor entendimento da obra de Mia Couto e,

posteriormente, da obra em análise, a partir de uma perspectiva que estabeleceu conexões

entre literatura, história e memória no contexto histórico e social pós-colonial. Nesse sentido,

destaca-se a utilização dos suportes teóricos de Ana Mafalda Leite, Inocência Mata, Maria

Luiza de Carvalho Armando, Pires Laranjeira e Thomas Bonnici.

Fritzen (2013) concluiu que o romance leva o leitor a “rememorar a história recente de

Moçambique a partir de uma perspectiva crítica permeada pela construção de espaço e

personagens que representam o país” (FRITZEN, 2013, p. 107). A obra possibilita várias

interpretações, podendo o leitor participar do processo de construção de novos significados e

preencher “lacunas da memória de um passado recente que não se quer esquecer, pois, pelo

contrário, um passado que se quer lembrar para testemunhar um momento singular da história

recente moçambicana” (FRITZEN, 2013, p. 110).

QUADRO 7 – Dissertações ingressantes Turma 2011 – Literatura, História e Memória

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Denise Menezes

Guerra

23/08/2013

Dra. Ana Paula Teixeira Porto -

URI Orientadora/Presidente;

Dra. Rosani Úrsula Ketzer

Umbach - UFSM e Dra. Silvia

Helena Pinto Niederauer - URI.

A cidade de Deus de Paulo Lins:

representação da vida social, da violência

e da marginalização

Girvâni José

Sulzbacher Seitel 22/08/2013

Dra. Ana Paula Teixeira Porto –

URI Orientadora/Presidente;

Dra. Rosani Úrsula Ketzer

Umbach - UFSM e Dra. Luana

Teixeira Porto -URI.

Máscaras líquidas, vidas fragmentadas:

Marginalização do sujeito no Ensaio

sobre a cegueira, de José Saramago, e

Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll

Jaci Luft Seidel

04/10/2013 Dra. Ana Paula Teixeira Porto -

URI Orientadora/Presidente; Dr.

Flavi Lisboa Filho - UFSM e

Dra. Luana Teixeira Porto -

URI.

Tenente Mário Portela Fagundes: A

construção do herói no discurso da

história oficial e em letras de canções

gaúchas

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116

Larissa Bortoluzzi

Rigo 22/08/2013 Dra. Luana Teixeira Porto - URI

Orientadora/Presidente; Dra.

Rosani Úrsula Ketzer Umbach –

UFSM e Dra. Ana Paula

Teixeira Porto - URI.

Literatura, vida social e memória em

crônicas de Caio Fernando Abreu

Letícia Sangaletti

22/08/2013 Dra. Luana Teixeira Porto - URI

Orientadora/Presidente; Dra.

Márcia Ivana de Lima e Silva -

UFRGS e Dra. Maria Thereza

Veloso - URI.

A representação da voz de minorias

sexuais na narrativa de Caio Fernando

Abreu e João Gilberto Noll

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A turma de ingressantes do ano de 2011 teve seis alunos matriculados, e cinco deles

escolheram a LP – Literatura, História e Memória. Três orientações ficaram com a professora

Ana Paula Teixeira Porto e duas com a professora Luana Teixeira Porto. Três discentes,

Girvâni José Sulzbacher Seitel, Larissa Bortoluzzi Rigo e Letícia Sangaletti, realizaram suas

defesas na mesma data, em 22 de agosto de 2013; um dia depois ocorreu a defesa de Denise

Menezes Guerra, e o quinto trabalho, da autoria de Jaci Luft Seidel, foi defendido dois meses

depois, no dia 04 de outubro de 2013.

Girvâni José Sulzbacher Seitel defendeu seu trabalho “Máscaras líquidas, vidas

fragmentadas: marginalização do sujeito no Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, e

Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll”, sob orientação da professora Ana Paula Teixeira

Porto. Visava verificar como se dá a representação da alteridade, da fragmentação e da

marginalização do sujeito nas obras.

No primeiro capítulo, Seitel faz leitura do círculo de ideias circunscritas à

modernidade, trazendo o pensamento de Charles Baudelaire (1985, 2010), Walter Benjamin

(1989, 1994), Marshall Berman (1986), Anthony Giddens (1991) e Zygmunt Bauman (1999,

2001, 2008a, 2009). O segundo capítulo pondera discussões sobre a narrativa e a

representação da cidade “como lugar” da fragmentação e marginalização do sujeito com

referências de Gomes (1999), Fredric Jameson (2004), André Bueno (2002), Roland Barthes

(1985), Rejane C. Rocha (2011), Tânia Pellegrini (1996, 2002) e Ângela Maria Dias (2005).

Para discorrer sobre o dilema da alteridade no espaço urbano e como a narrativa produzida no

Brasil e em Portugal depois de 1970 trata dessa questão, a segunda seção lança mão das ideias

de Regina Dalcastagnè (2003, 2007, 2008), Lucia Helena (2008), Silviano Santiago (2002),

Seixo (1986), Ernesto Sabato (2003), Theodor Adorno (1983, 1994), Roland Barthes (2002),

Nelson Brissac Peixoto (1987), Jaime Ginzburg (2004), Michel Maffesoli (1984), Maurice

Merleau-Ponty (1994), Marc Augé (1994) e Zygmunt Bauman (1998a, 1998b, 2001, 2004,

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117

2008). O terceiro capítulo disserta acerca do diálogo da literatura com a sociedade, com

destaque ao espaço urbano e à liquidez dos seus sujeitos, em uma leitura analítico-

interpretativa dos romances.

Seitel destaca que as “representações sociais dos sujeitos evidenciadas na tessitura das

narrativas saramaguiana e nolliana revelam um mal-estar assentado numa “cegueira” de que o

sujeito é vítima como que também vitimiza” (SEITEL, 2013, p 140). A leitura dos romances

evidenciou “diferenças, semelhanças, aproximações. [...] Seja na representação crítica e

fragmentária de condicionamentos sócio-históricos nos textos literários e no enfoque temático

quanto nas opções estéticas” (SEITEL, 2013, p. 148).

Larissa Bortoluzzi Rigo, orientada pela professora Luana Teixeira Porto, defendeu a

dissertação intitulada “Literatura, vida social e memória em crônicas de Caio Fernando

Abreu”, tendo como objetivo examinar crônicas do escritor Caio Fernando Abreu, publicadas

no jornal Folha de São Paulo nas décadas de 1980 e 1990 e reunidas o livro A vida gritando

aos cantos, de 2012, para investigar de que forma a crônica de Caio constrói uma memória

coletiva de seu tempo.

O trabalho foi estruturado em três capítulos. O primeiro capítulo, “A crônica e sua

trajetória no Brasil”, apresenta o percurso do gênero até chegar ao país, evidenciando o

hibridismo que circunda os campos da literatura e do jornalismo e, por fim, mostrando um

pequeno esboço da crônica brasileira em distintos autores. O segundo capítulo, “A Narrativa

de Caio Fernando Abreu”, enfoca a obra do escritor, e o terceiro, “Literatura, sociedade e

memória na crônica de Caio Fernando Abreu”, analisa como esses aspectos estão inseridos na

narrativa do escritor gaúcho.

Para Rigo, a leitura de crônicas de A vida gritando nos cantos permitiu a

possibilidade de várias reflexões; uma delas, relacionada ao título, que constitui uma espécie

de síntese das narrativas: “alerta aos leitores sobre temas delicados da vida social, mostrando

o quanto a arte pode atentar para problemas sociais, fazendo os leitores compreenderem o

meio do qual fazem parte” (RIGO, 2013, p. 127). A autora observa ainda que “as narrativas

formam um diálogo aberto e explícito entre escritor, leitor e sociedade” (RIGO, 2013, p. 129)

e a linguagem empregada pelo autor, como se estivesse em conversa cotidiana com o leitor, o

aproxima deste.

Letícia Sangaletti também analisa a obra de Abreu, no estudo comparativo intitulado

“A representação da voz de minorias sexuais na narrativa de Caio Fernando Abreu e João

Gilberto Noll; tem como orientadora a professora Luana Teixeira Porto. Seu objetivo é

investigar como as vozes de minorias sexuais sinalizam a vivência de uma “sexualidade

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118

dissidente” no contexto da sociedade patriarcal, e ainda avaliar o potencial crítico e estético de

romances que tematizam a homossexualidade. A perspectiva crítica foi amparada nas

reflexões de Antonio Candido e Walter Benjamin. Sangaletti buscou analisar de que forma os

autores relacionaram “literatura e sociedade nas produções selecionadas, de modo a

identificar se há um conflito social nas obras, e se ele pode ser problematizado sob uma visão

crítica que contesta valores, posições e preconceitos característicos de uma comunidade social

conservadora” (SANGALETTI, 2013, p. 19).

O percurso do trabalho seguiu a organicidade de três capítulos: “Literatura e Minorias

Sexuais”, “A voz homossexual em Caio Fernando Abreu” e “A homossexualidade em João

Gilberto Noll”. Nas reflexões finais, Sangaletti abarca exercício comparativo, evidenciando

semelhanças e diferenças entre as obras dos escritores. A pesquisadora estuda elementos

estéticos, literários e sociais, inseridos na literatura de Caio Fernando Abreu e João Gilberto

Noll, de modo a debater a homossexualidade no contexto da literatura contemporânea

brasileira. Para Sangaletti (2013) “a leitura dos romances nos permite mergulhar em uma

realidade literária construída sobre uma realidade histórico-político-e-socialmente fixada por

preceitos patriarcais e heteronormativos” (SANGALETTI, 2013, p. 161).

A aluna Denise Menezes Guerra, sob a orientação da professora Ana Paula Teixeira

Porto, defendeu a dissertação intitulada “A Cidade de Deus de Paulo Lins: representação da

vida social, da violência e da marginalização”, com o intuito de estudar relações entre

literatura e vida social, e a representação da violência e da marginalização no espaço urbano,

no romance Cidade de Deus, de Paulo Lins. O estudo permitiu uma avaliação da

representação da cidade no romance enquanto espaço público onde a criminalidade encontra

um lugar perfeito para sua legitimação. O primeiro capítulo aborda questões relativas à

aproximação entre a Literatura e a Sociedade; o segundo discorre acerca da representação da

violência em Cidade de Deus, de Paulo Lins e o terceiro enfoca a marginalização na

literatura brasileira, em obras do século XX.

Guerra percebe, de certo modo, a irracionalidade da violência; colabora com a

legitimação da violência e da marginalização o fato de que os sujeitos vivem em condições

marginais, que compreendem inclusive sua linguagem, e restrição de seu vocabulário. A

“violência e criminalidade passam a ser banais na cultura da comunidade urbana de Cidade de

Deus, e o romance, dessa forma, constitui uma representação desse contexto social recente,

fortalecendo o diálogo que a literatura estabelece com a sociedade” (GUERRA, 2013, p. 106).

A terceira orientanda da professora Ana Paula Teixeira Porto a defender sua

dissertação, nessa turma de 2011, foi Jaci Luft Seidel. O trabalho intitulado “Tenente Mário

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119

Portela Fagundes: a construção do herói no discurso da história oficial e em letras de canções

gaúchas” teve como objetivo analisar de que maneira é construída a figura do herói Tenente

Mário Portela Fagundes em canções regionais e no discurso da história regional na obra

historiográfica objeto de estudo, O Tenente Portela na marcha da Coluna Revolucionária,

de Jacó Beuren.

Em seu primeiro capítulo, a dissertação analisa o herói na história e na literatura; no

segundo, estuda a história do Rio Grande do Sul que gira em torno do Tenente Portela, sua

biografia e como ocorreu a construção do herói na História oficial; já no terceiro capítulo foi

apresentada a análise do corpus literário da dissertação, sendo estudada a cultura gaúcha e o

gênero musical usado pelos compositores das canções em homenagem ao Tenente Portela. Foi

realizada análise da música regional a partir da letra das canções gaúchas compostas para a

terceira edição do Canto dos Bravos de Pinheirinho do Vale, examinando a construção do

Tenente Portela, elevado pelos compositores a herói histórico regional pela sua atuação na

Coluna Prestes. As reflexões foram ancoradas nas relações entre a Literatura e História, e

mostraram que Tenente Mário Portela Fagundes, pela representação da história oficial e das

letras das canções, foi institucionalizado como um herói regional com traços de valentia,

inteligência e liderança, o que remeteu à configuração de herói proposta por alguns

pesquisadores como Joseph Campbell, Aristóteles, Nicola Abbagnano e Fernando Seffner.

Em suas conclusões, Seidel (2013) destaca alguns eventos em homenagem a Tenente

Portela, que “fortalecem no imaginário regional o heroísmo desse protagonista, que é cultuado

com um mártir. Esse sentimento vai se enraizando na cultura local através das canções e do

discurso dos historiadores que elevam Tenente Portela como um herói” (SEIDEL, 2013, p.

91-92). Sendo assim, “configura-se a institucionalização do herói regional no Rio Grande do

Sul, através da história oficial, dos movimentos cívicos e culturais e das letras das canções

apresentadas pelos compositores” (SEIDEL, 2013, p. 93). Seu estudo sobre a canção gaúcha

regional é pioneiro na linha de pesquisa da Literatura Comparada do programa de Mestrado

em Letras da URI, pois foi o primeiro trabalho de dissertação que focou letras de canções

como objeto de pesquisa.

QUADRO 8 – Dissertações ingressantes Turma 2012 – Literatura, História e Memória

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Ana Alice Pires da

Silva Stacke 17/11/2014

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Rosane

Maria Cardoso - UNISC e. Dra. Ana

Paula Teixeira Porto – URI

Violência, estética e ética:

uma leitura de contos de

Marcelino Freire e Marçal

Aquino

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120

Andiara Zandoná

17/09/2014 Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer –

URI Orientadora/Presidente; Dra. Inara

de Oliveira Rodrigues -UESC/Ilhéus-BA

e Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Barba ensopada de sangue: entre o lembrar e o existir.

Uma leitura da memória e

identidade

Carlete Maria Thomé

31/03/2015 Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer –

URI Orientadora/Presidente; Dr. Miguel

Rettenmaier – UPF e Dra. Ana Paula

Teixeira Porto – URI

As narrativas de literatura

Infantil de escritoras do oeste

de Santa Catarina

Daiana Diniz

Quebing dos Santos 25/08/2015

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro

Carlos Calegari –UFSM e Dra. Ana

Paula Teixeira Porto –URI

Identidade e corpo em contos

de Cadernos Negros: a

função social da literatura

Daniela Bombardelli

20/10/2015 Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Rosani

Úrsula Ketzer Umbach – UFSM; Dra.

Denise Almeida Silva – URI e Dra. Ilse

Maria da Rosa Vivian – URI

Reflexões sobre opressão

feminina e sociedade

conservadora em contos de O

Fio das missangas, de Mia

Couto

Fabiane Crys

Barbiero

19/03/2015

Breno Antonio Sponchiado – URI

Orientador/Presidente; Dra. Luana

Teixeira Porto – URI e Dr. Lizandro

Carlos Calegari – UFSM

Reminiscências... A tradição

oral através de narrativas de

vida presentes no oeste de

Santa Catarina

Gabriela de Oliveira

Vieira 28/01/2015

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro

Carlos Calegari - CAFW - UFSM e Dra.

Maria Thereza Veloso –URI

A configuração dos

personagens e o papel da

violência na sociedade

brasileira em releituras de

contos de Machado de Assis

Juliana Falkowski

Burkard 26/11/2014

Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer –

URI Orientadora/Presidente; Dr.

Lizandro Carlos Calogari - CAFW -

UFSM e Dra. Luana Teixeira Porto –

URI

Processos de modernização

conservadora no Brasil: uma

leitura de Recordações do

escrivão Isaías Caminha, de

Lima Barreto

Laísa Veroneze Bisol 31/10/2014

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Ana Paula

Teixeira Porto – URI e Dr. Flavi Lisboa

Filho – UFSM

Literatura, cinema e

jornalismo: memória,

violência e guerra no romance

e no filme O Tempo e o vento

e nos jornais o povo e a

federação

Liege Schilling

Copstein 24/10/2014 Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Maria da

Glória Bordini – UFRGS; Dr. Ricardo

Timm de Souza - PUC/RS e Dra. Maria

Thereza Veloso – URI

O Avesso da metáfora: uma

perspectiva antiespecista sobre

Disgrace, de J. M. Coetzee, e

A Gata, de Laerte Coutinho

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121

Roselei Battista

31/03/2015 Dra. Ana Paula Teixeira Porto - URI

Orientadora/Presidente; Dr. Miguel

Retternmaier – UPF e Dra. Silvia Helena

Pinto Niederauer–URI

A representação feminina em

narrativas juvenis brasileiras

integrantes do PNBE/2013:

uma leitura de obras de Caio

Riter e Ana Cristina Massa

Tanira Giacon Hatem

26/02/2015 Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro

Carlos Calegari - UFSM e Dra. Luana

Teixeira Porto –URI

Memória e trauma em

Memórias do cárcere, de

Graciliano Ramos

Vanice Hermel

27/11/2014 Dra. Denise Almeida Silva - URI

Orientadora/Presidente; Dra. Rosani

Úrsula Ketzer Umbach - UFSM e Dra.

Luana Teixeira Porto – URI

O Rio Grande do Sul em canto

e conto: a vertente regionalista

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A turma de 2012 teve um total de 15 alunos matriculados. O Quadro 8 elenca os 13

alunos ingressantes na LP 1, com seus respectivos orientadores: três a cargo da professora

Luana Teixeira Porto, três com a professora Ana Paula Teixeira Porto, três com a professora

Denise Almeida Silva, três com a professora Silvia Helena Pinto Niederauer e uma com o

professor Breno Antonio Sponchiado.

A primeira defesa aconteceu no dia 17 de setembro de 2014 pela aluna Andiara

Zandoná, que apresentou o trabalho “Barba ensopada de sangue: entre o lembrar e o existir.

Uma leitura da memória e identidade”, com o objetivo de verificar de que forma a memória se

constrói no romance e influencia a identidade da personagem principal. O aporte teórico

buscou compreender o conceito de memória, esquecimento e identidade, abordando

estudiosos como Maurice Halbwachs, Anselm L. Strauss, Pierre Nora, Aleida Assmann,

Paulo Ricoeur e Zygmunt Bauman. A dissertação seguiu a tradicional divisão em três

capítulos, os dois primeiros dedicados à exposição de conceitos, e o último analítico. Todas as

dissertações redigidas pelos ingressantes em 2012 mantiveram esta estrutura, com exceção do

trabalho de Laísa Veroneze Bisol, dividido em cinco capítulos.

Nas considerações finais, Zandoná (2014) comenta que o romance, marcado por

lembranças e esquecimentos, encontra na memória coletiva elemento fundamental para que

“o personagem, apesar de não ter vivenciado os acontecimentos, possa recontar uma história

com base em informações fornecidas por outras pessoas que foram auxiliares nesse processo”

(ZANDONÁ, 2014, p. 90).

Ana Alice Pires da Silva Stacke apresentou no dia 17 de novembro de 2014, o trabalho

intitulado “Violência, estética e ética: uma leitura de contos de Marcelino Freire e Marçal

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122

Aquino”, pesquisa orientada pela professora Luana Teixeira Porto que teve como objetivo

analisar a representação da violência social em contos de autores contemporâneos brasileiros,

para contribuir com o desenvolvimento de estudos sobre a relação entre literatura e violência

no Brasil. A proposta procurou alinhar-se à perspectiva de estudos brasileiros, como os de

Jaime Ginzburg, Tânia Pellegrini e Regina Alcastagnè, Milton Santos, Karl Erik

Schøllhammer, autores que têm procurado desvendar as formas de violência na sociedade

contemporânea e discutir os valores do mundo.

Stacke discute a função social da literatura no desvendamento das relações entre

violência e literatura como base de reflexão dos leitores para uma postura ética das relações

humanas, aspirando-se a formação de uma política social que quebre esse ciclo de violência”

(STACKE, 2014, p. 21). Conclui que a “representação da violência no texto literário busca

agitar as consciências para conseguir despertar uma sociedade adormecida. A ética nas

narrativas analisadas não é abordada de forma direta e com a intenção de se mostrar o que é

eticamente coerente ou não” (STACKE, 2014, p. 119).

A dissertação de Carlete Maria Thomé, intitulada “As narrativas de literatura infantil

de escritoras do oeste de Santa Catarina”, foi defendida no dia 31 de março de 2015, sob

orientação da professora Silvia Helena Pinto Niederauer. O objetivo da pesquisa foi

apresentar e discutir as narrativas de literatura infantil de escritoras catarinenses do oeste do

Estado de SC, destacando seus recursos estéticos e estruturantes. Apresentando breve

histórico da literatura infantil em Santa Catarina, especificamente na região oeste, a pesquisa

analisou narrativas das escritoras Anair Weirich, Ladir F. Wigikoski e Therê Osmari Bagatini.

Thomé conclui que os textos servem “de apresentação ao mundo simbólico, uma vez

que o mundo ali expresso é o da fantasia. Por apresentarem personagens que assumem a

perspectiva humana, [...] dão voz a um protagonista que quer uma instrução de modo de vida”

(THOMÉ, 2015, p. 104). Destaca ainda a relevância do estudo desses autores, relativamente

pouco conhecidos, os quais poderão auxiliar docentes na seleção de obras adequadas e de fato

apreciadas pelas crianças.

Daiana Diniz Quebing dos Santos defendeu, no dia 25 de agosto de 2015, a dissertação

“Identidade e corpo em contos de Cadernos Negros: a função social da literatura”, com

orientação da professora Denise Almeida Silva. O objetivo geral foi analisar a relação entre

identidade e o corpo racizado como construída em contos publicados em volumes dessa

antologia. O trabalho caracteriza a literatura afro-brasileira, discute a função social da

literatura, de forma geral e também especificamente com relação ao corpus literário afro-

brasileiro, e ressalta o corpo e o cabelo como símbolos identitários. Para concluir, Santos

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busca desenvolver reflexão acerca da relação entre identidade e o corpo racializado como

símbolo da negritude. Destaca que “o corpo negro mantém uma estreita associação com a

construção de identidade, através da interação social, já que o indivíduo precisa de seus outros

para construir sua identidade, estabelecendo semelhanças e divergências” (SANTOS, 2015, p.

92), e percebe ainda que “o discurso literário afro-brasileiro, ao construir seus personagens e

histórias, o faz de forma diferente do estabelecido pela literatura canônica, a qual é veiculada

pelas classes que detém o poder político-econômico” (SANTOS, 2015, p. 93), apresentando

visões não estereotipadas tanto do sujeito negro como do sujeito branco.

Daniela Bombardelli, no dia 20 de outubro de 2015, com orientação da professora Ana

Paula Teixeira Porto, defende o trabalho “Reflexões sobre opressão feminina e sociedade

conservadora em contos de O Fio das Missangas, de Mia Couto”. O objetivo principal da

pesquisa foi refletir sobre as conexões existentes entre os contos de Mia Couto e a relação que

há entre a literatura e a sociedade, considerando o pensamento de Antonio Candido e Valdeci

Rezende Borges.

Nas suas conclusões, Bombardelli ressalta que o tema da “opressão feminina é

arquitetada por meio de informações sobre a sociedade de Moçambique, as quais não são

diretamente expostas, mas sim, através de prosa poética que cria uma narração recheada de

neologismos e jogos de linguagem que remetem àquele contexto” (BOMBARDELLI, 2015,

p. 94).

Fabiane Crys Barbiero, em 19 de março de 2015, defendeu sua dissertação intitulada

“Reminiscências... A tradição oral através de narrativas de vida presentes no oeste de Santa

Catarina”, sob orientação do professor Breno Antonio Sponchiado. O objetivo geral foi

estudar a tradição oral através de histórias de vida, relatadas na comunidade de origem italiana

e alemã dos oito municípios que abrangem a 29ª SDR: Águas de Chapecó, Cunha Porã, Caibi,

Cunhataí, Mondaí, Palmitos, Riqueza e São Carlos. A autora identifica as principais

temáticas, semelhanças e diferenças entre as narrativas, destacando a importância das

narrativas para a preservação da memória individual e coletiva da sociedade regional. O

aporte teórico teve reflexões de pesquisadores como Walter Benjamin, Ecléa Bosi, Louis-Jean

Calvet, Carla Caruso, Astor Antonio Diehl e Maurice Halbwachs.

Barbiero aponta para o esquecimento progressivo de histórias atreladas à tradição oral.

Registra sua preocupação com o fato de “que o hábito de contar histórias, ou mesmo a

oralidade, tem perdido seu espaço, porque a memória trocou de lugar... Parece-nos que o uso

da tecnologia é mais „interessante‟ do que sentar e ouvir uma história” (BARBIERO, 2015, p.

78-79).

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No dia 28 de janeiro de 2015, a discente Gabriela de Oliveira Vieira apresentou seu

trabalho “A configuração dos personagens e o papel da violência na sociedade brasileira em

releituras de contos de Machado de Assis”, o qual teve como objetivo analisar o papel da

violência na sociedade brasileira e como ela subsidia a configuração dos personagens e em

releituras de contos de Machado de Assis. Segundo Vieira (2015) “as releituras de textos

literários, a sua maneira, também propiciam um meio para averiguar a essência da obra

primária, estabelecendo contrastes e similaridades entre o texto original e a releitura”

(VIEIRA, 2015, p. 14).

A abordagem das temáticas selecionadas no trabalho baseou-se em referenciais em que

foi possível fazer uma articulação entre literatura, história e sociedade, considerando críticos

como Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Jaime Ginzburg, entre outros. Além disso,

levaram-se em conta, elementos da Teoria Literária e Social, enfocando o estudo do

personagem e da violência a partir da Literatura Comparada, agregando, para tanto,

perspectivas interdisciplinares com outras áreas do conhecimento, a exemplo da

intertextualidade por Julia Kristeva. Na análise textual, a atenção foi para a interrelação dos

objetos de estudo com os contos machadianos.

Nas reflexões finais observa

[...] que existe uma inconstância na compreensão do que seja um intertexto na visão

dos escritores atuais. Embora não haja rompimento com algumas premissas

apontadas pelos teóricos –tais como Kristeva, Genette e Compagnon –, a

desvetorização de sentidos, tais como as das releituras analisadas, tendem a

fortalecer uma nova forma textual que necessita da atenção mais apurada no que

tange a algumas áreas de conhecimento da Teoria da Literatura Comparada, visto

que um mesmo personagem pode percorrer diferentes narrativas e, em cada uma

delas, ganhar novas vozes que transitam entre diferentes ideologias e crenças, tal

como ocorre nas releituras aqui analisadas. (VIEIRA, 2015, p. 109)

Para Vieira (2015) “na medida em que avaliamos se os escritores dos intertextos

conseguiram apontar novas possibilidades de leitura dos escritos machadianos, fomos levados

para novos questionamentos acerca das concepções temáticas e estéticas adotadas por eles”

(VIEIRA, 2015, p. 110).

Juliana Falkowski Burkard, no dia 26 de novembro de 2014, defendeu sua pesquisa

intitulada “Processos de modernização conservadora no Brasil: uma leitura de Recordações

do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto”, com orientação da professora Silvia Helena

Pinto Niederauer. A dissertação teve como objetivo analisar de que forma a temática da

modernização conservadora no Brasil aparece no romance, publicado em 1909 por Lima

Barreto, e que implicações sociais decorrem dessa modernização, segundo a perspectiva da

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obra. Embasaram a proposta de pesquisa teóricos como Walter Benjamin, Marshall Berman,

Maria Cristina Teixeira Machado, Max Weber, Sérgio Paulo Rouanet e Jürgen Habermas.

A análise sobre a modernização conservadora no romance considera não somente a

temática em si, mas também alguns elementos da narrativa, como a sua estrutura, a linguagem

e o enredo. Burkard explana que “a imagem de modernidade no Brasil que predomina na obra

é, justamente, a ideia de modernização conservadora. Porém, devido à falta de oportunidade,

nem todas as pessoas tinham condições de acompanhar os avanços da modernidade. Destaca

que “se a sociedade brasileira sempre conviveu com o preconceito, mesmo que não

explicitamente, é por meio do personagem Isaías que a percepção do outro ainda é incômoda

e, ao que parece, será um longo caminho a ser percorrido para que a igualdade seja

verdadeira” (BURKARD, 2014, p. 84).

Já a aluna Laísa Veroneze Bisol, no dia 31 de outubro de 2014, defendeu sua

dissertação “Literatura, cinema e jornalismo: memória, violência e guerra no romance e no

filme O tempo e o vento e nos jornais O povo e A federação”, tendo sido orientada pela

professora Luana Teixeira Porto. O trabalho objetivou uma reflexão sobre a representação das

guerras Farroupilha e Federalista e da violência em discursos ficcionais e não-ficcionais,

associando a narrativa ao contexto histórico sul-rio-grandense, verificando a memória sócio-

histórica construída em cada um destes discursos. Além disso, o estudo buscou apontar traços

formais e estilísticos dos discursos ficcional e não-ficcional que abordam a história social do

Rio Grande do Sul no século XIX, avaliar o posicionamento crítico dos discursos jornalístico,

literário e cinematográfico sobre a violência e as revoluções Farroupilha e Federalista, discutir

a construção da memória sócio-histórica em cada um dos discursos em relação às duas

guerras abordadas nas obras e comparar o modo de representação de dois episódios da história

social gaúcha em três discursos de natureza expressiva distintas. O estudo foi embasado

principalmente nos pressupostos teóricos de Tânia Carvalhal (2003).

Diferentemente das demais dissertações de sua turma, o trabalho foi estruturado em

cinco capítulos: o primeiro traz teorizações acerca da representação, além da memória da

guerra e da violência; o segundo apresenta o romance e, na sequência, desenvolve reflexão

sobre a imagem perpassada na obra em torno das revoluções Farroupilha e Federalista, além

de uma leitura da violência e memória na narrativa. Já o terceiro capítulo enfoca a imagem da

guerra e da violência do discurso ficcional do filme O tempo e o vento, trazendo à tona a

proposta da produção cinematográfica, a questão da glamourização da guerra, a

espetacularização da violência e a memória histórico-social das revoluções gaúchas,

consentidas a partir da narrativa fílmica. O quarto capítulo aborda a guerra e a violência no

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discurso jornalístico do século XIX, especialmente os jornais O povo e A federação, e o

quinto capítulo aponta diálogos e divergências entre os discursos analisados. Bisol conclui

que, ao longo destes anos, os discursos apresentaram as situações de guerra e violência

enquanto elementos naturalmente presentes na vida social, demonstrando que, “muito mais do

que proporcionar reflexões em torno destes temas, os textos comunicam questões como amor,

orgulho de pertencimento e a reafirmação do heroísmo do povo gaúcho, que nas lutas matava

e morria por seus ideais” (BISOL, 2014, p. 189). Além disso, propiciaram “ao público uma

memória de legitimação à guerra, reafirmando uma ideia de violência justificável e

contribuindo para a conservação de um pensamento de normalidade da violência diante destes

contextos” (BISOL, 2014, p. 191).

No dia 24 de outubro de 2014, Liege Schilling Copstein defendeu sua dissertação

intitulada “O avesso da metáfora: uma perspectiva antiespecista sobre Disgrace, de J. M.

Coetzee, e A Gata, de Laerte Coutinho”, com orientação da professora Denise Almeida Silva.

O objetivo foi avaliar a forma pela qual as metáforas usadas para representar a relação entre

humanos e outros animais espelham o conceito de giro animal na literatura e na filosofia, uma

reconfiguração dos modos simbólicos que permitem pensar o humano e o animal, elegendo

para tanto as contribuições teóricas de Julieta Yelin e Jacques Derrida.

A metáfora animal e suas funções, tanto retórica como poética, foram relacionadas à

perpetuação ou denúncia do pensamento especista, aquele que exclui animais não humanos da

comunidade moral. A autora utiliza a crítica antiespecista para fundamentar a noção de

especismo, os pressupostos sobre direitos animais de Gary Francione e ética animal de Carlos

Naconecy. O conceito aristotélico de doxa para a delimitação das noções de linguagem

acrática e encrática é relacionando aos pressupostos de Michel Foucault a respeito de discurso

e poder. No segundo capítulo, a Teoria Multifatorial de Jorge Pedro Sousa, e a abordagem

pós-estruturalista de Umberto Eco fundamentaram a proposta de tomar o gênero “tira”

igualmente como literatura e como notícia, avaliando se as representações metafóricas em

Disgrace constituem um novo olhar sobre a alteridade ou remetem apenas ao uso simbólico

da figura animal. As análises textuais, sob o viés antiespecista, consideram como Disgrace e

A gata reproduziram os procedimentos narrativos alinhados com a noção do giro animal,

além de espelharam demandas sociais sobre o tema.

Copstein manifesta o desejo de que os demais leitores, assim como ela, percebam “que

as obras objeto deste estudo desconstroem o uso metafórico de fundo arquetípico dos animais,

que representam demandas sociais contemporâneas, e propõem a apreensão da alteridade

animal” (COPSTEIN, 2014, p. 148).

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Roselei Battista, no dia 31 de março de 2015, com orientação da professora Ana Paula

Teixeira Porto, defendeu a dissertação “A representação feminina em narrativas juvenis

brasileiras integrantes do PNBE/2013: uma leitura de obras de Caio Riter e Ana Cristina

Massa”. O objetivo geral foi discutir como as protagonistas adolescentes femininas são

representadas em narrativas juvenis brasileiras longas (romance, novela), produzidas no

século XXI, que integram o acervo do PNBE/2013, destinado aos anos finais do Ensino

Fundamental. A análise textual contempla as figuras femininas nas obras A filha das

sombras (2011), de Caio Riter e Aqualtune e as histórias da África (2012), de Ana Cristina

Massa.

Battista alerta que “através da repetição incansável das mesmas imagens de jovens e

de seres femininos invadindo nossa mente, torna-se cada vez mais difícil exercitarmos nossa

percepção em relação às diferenças” (BATTISTA, 2015, p. 167). Considerou “que a

representatividade assume um caráter essencial quando pensamos em desconstrução de

estereótipos, de desigualdades sociais e de acesso à voz por diferentes grupos e culturas”

(BATTISTA, 2015, p. 168). Em relação ao PNDE, reconhece que há dificuldades em

administrar, porém alerta que não se pode admitir que um programa financiado com recursos

públicos, gaste uma fortuna “enviando para as escolas públicas brasileiras livros que, além de

não servirem aos propósitos aos quais se destinariam, como o de desenvolver o gosto pela

leitura, podem contribuir para que atitudes veladas de preconceito e discriminação perpetuem-

se entre nós” (BATTISTA, 2015, p. 174).

A aluna Tanira Giacon Hatem, com orientação da professora Ana Paula Teixeira

Porto, defendeu, no dia 26 de fevereiro de 2015, a dissertação “Memória e Trauma em

Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos”. A pesquisa buscou analisar as relações entre

memória e trauma na obra, bem como estudar a questão da autobiografia de Graciliano

Ramos, investigar o contexto histórico do Estado Novo, analisar o trauma de escritor e sua

relação com a forma estética e estudar referências sobre memória e trauma na obra, avaliando

a memória individual e coletiva, relacionando-as à memória e ao trauma de Graciliano Ramos

no Estado Novo. O enfoque da memória e trauma foi fundamentado nos teóricos Márcio

Seligmann-Silva e Maurice Halbawachs.

Para alcançar tais objetivos, o trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro

capítulo apresentou um estudo sobre o contexto histórico do Estado Novo, ressaltando que,

por meio da repressão e da violência, esse momento gerou no país transformações de diversas

ordens. O segundo deu ênfase à biografia de Graciliano Ramos quando esteve na prisão, a fim

de conhecer o contexto de publicação de Memórias do cárcere e contribuir na compreensão

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do trauma vivido pelo autor no cárcere. Além disso, possibilitou uma reflexão sobre a

violência e opressão, retratada na literatura, a triste realidade de um governo ideologicamente

autoritário, valendo-se da memória individual do personagem-narrador e também da memória

coletiva dos indivíduos que fizeram parte dessa narrativa, diante do autoritarismo da Era

Vargas. O terceiro capítulo enfocou a análise do texto literário, correlacionando com o aporte

teórico sobre memória e trauma. Nessa perspectiva, o eixo de reflexão esteve pautado em

quatro enfoques: a forma da narrativa; a narração e a linguagem do discurso traumático; a

narração como cura e construção da memória; e, por fim, a função social e política contrária

ao apagamento da memória através da literatura.

Hatem enfatiza que a obra tem valor significativo não somente pelo valor histórico,

mas pelo seu valor literário, e por apresentar uma sociedade desumana, mostrando um lado

opressor e sombrio da história do Brasil. Conclui que a “obra estabelece diálogo com a

história porque nela temos fatos verídicos relacionados com o período de repressão que o

Brasil viveu nos anos de 1936 a 1945. Esta fase conturbada da história do país foi marcada

pela violência, pelo autoritarismo e pelas repressões” (HATEM, 2015, p. 94).

Vanice Hermel, no dia 27 de novembro de 2014, defendeu sua dissertação “O Rio

Grande do Sul em canto e conto: a vertente regionalista”, com orientação da professora

Denise Almeida Silva. O objetivo foi investigar a persistência da vertente regionalista na

literatura gaúcha, evidenciando, para isso, a mitificação do gaúcho e de sua terra em dois

gêneros literários: o conto e a canção. O estudo do percurso da evolução da vertente

regionalista no conto foi realizado tomando como base a pesquisa de Gilda Neves Bittencourt,

que distingue quatro nuances distintas no conto regionalista gaúcho; para o estudo da canção

recorremos à periodização da canção gauchesca proposta por Francisco Cougo Júnior. Na

análise, a pesquisadora destacou primeiramente a construção ideológica do gaúcho e sua

representação na vertente regionalista, com o objetivo de lembrar, o gaúcho histórico, e suas

lutas e vivências na defesa da fronteira e do território sul-rio-grandense, já que o

conhecimento dos fatos históricos permitiria melhor dimensionar a construção imaginativa

desse tipo humano.

A dissertação foi estruturada em três capítulos. O primeiro constituiu-se em introdução

conceitual, e traz noções fundamentais para o embasamento das ideias construídas: discutiu o

conceito de representação, cultura e regionalismo, bem como o desenvolvimento histórico do

Rio Grande do Sul pastoril e heroico, visão a partir da qual se construíram os mitos da

monarquia e do centauro dos pampas. No segundo capítulo, delineou-se o percurso da

vertente regionalista na literatura gaúcha, iniciando com o registro da literatura oral,

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representada pelo Cancioneiro; a seguir, o desenvolvimento do conto na literatura gaúcha, e,

novamente à literatura oral, representada pela canção de vertente regionalista. O terceiro

capítulo, refere-se à proposta analítica, em que demonstrou o desenvolvimento da vertente

regionalista no conto e, especialmente, a visão mitificada do gaúcho e de sua terra, para então,

evidenciar a permanência/predominância desta vertente na canção regionalista gaúcha até a

contemporaneidade.

Hermel verifica que, embora por muito tempo, o conto riograndense e regionalismo

foram indissociáveis, tendo havido, desde as primeiras manifestações românticas, prolongada

manifestação do regionalismo nesse gênero, essa prática tem, mais recentemente, sido menks

frequente. Por outro lado, a análise das canções demonstrou a persistência da vertente

regional, porém, como a autora assinala, “[...] não de modo uniforme, pois a canção retoma,

na contemporaneidade, desde o Rio Grande pastoril até o Rio Grande heroico, oscilando

motivos da guerra, da violência, êxodo rural, com a idealização e revisionismo crítico da vida

no pago, do próprio mito do centauro dos pampas e do monarca das coxilhas.” (HERMEL,

2014, p. 6).

Como se percebe, a reformulação dessa LP, entre anos de 2010 a 2012, que

correspondem ao terceiro triênio de funcionamento do Mestrado, houve um ingresso

considerável de matrículas. Nessa LP, ingressaram 23 alunos durante esse período. As

orientações foram divididas da seguinte maneira: na turma de ingressantes do ano de 2010, os

professores Robson Pereira Gonçalves, Lizandro Carlos Calegari e Marcelo Marinho fizeram

suas últimas orientações, uma vez que se desvincularam do PPGL da URI. O professor

Robson Pereira Gonçalves teve uma orientação, abordando a relação entre literatura e

psicanálise., Marcelo Marinho orientou uma discente, com a temática sobre conflitos de

gênero e luta pela libertação feminina. Nesse período, o professor Breno Antonio Sponchiado,

teve sua primeira orientação, enfocando a temática da tradição oral e memória individual e

coletiva. Por outro lado, a Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer teve seus três primeiros

orientandos a partir da turma de 2012.

A professora Luana Teixeira Porto teve cinco orientandos, que trabalharam com temas

sobre literatura e sociedade, violência (bem recorrente), memória, minorias sexuais. Na base

teórica percebe-se a preferência pelos teóricos Candido, Benjamin, Ginzburg, Kristeva,

Carvalhal e Halbwacks. Algumas obras que foram analisadas sob a sua orientação foram: O

tempo e o vento, A vida gritando aos cantos e contos A causa secreta e o Alienista,

trazendo para discussão autores como Machado de Assis, Marcelino freire, Marçal Aquino e

Erico Veríssimo.

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Nas bancas externas estiveram presentes Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach

(UFSM), Lizandro Carlos Calegari (UFSM), Dr. Flavi Lisboa Filho (UFSM), Dra. Marcia

Ivana de Lima e Silva (UFRGS) e Dra. Rosane Maria Cardoso (UNISC), Dr. Gilmei

Francisco Flek (UNIOESTE), Dra. Inara de Oliveira Rodrigues (UESC – Ilheus), Dr. Miguel

Retternmaier (UPF) e Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer (UNIFRA), que mais tarde viria a

fazer parte do corpo docente do programa. Já em exercício na UFSM, o Dr. Lizandro Carlos

Calegari foi convidado a integrar bancas como convidado externo. (UFSM).

QUADRO 9 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Literatura, História e Memória

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Angela de Fátima

Langa

27/08/2015

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Wellington

Ricardo Fiorucci – UTFPR e Dra. Maria

Thereza Veloso – URI

A favela que não acabou:

memória e espaço em Becos da

memória, de Conceição Evaristo

Gabriela Coletto

25/02/2016 Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian – URI

Oreintadora/Presidente; Dr. Anselmo

Peres Alós - UFSM e Dra. Ana Paula

Teixeira Porto –URI

Uma leitura alegórica das

identidades em O Apocalipse dos

Trabalhadores e Niketche: Uma

história de poligamia

Isabele Corrêa

Vasconcelos Fontes

Pereira 31/08/2015

Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian - URI

Orientadora/Presidente; Dr. Anselmo

Peres Alós – UFSM e Dra. Rosângela

Fachel de Medeiros –URI

A epopeia na contemporaneidade:

O “império” de Bloom, em Uma

Viagem à Índia, de Gonçalo M.

Tavares

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A turma de ingressantes no ano de 2013 teve 10 alunos matriculados. Destes, 3

optaram pela LP- Literatura, História e Memória, 4 pela LP – Comparatismo e Processos

Culturais e 3 pela nova LP criada para o Curso, a qual será descrita posteriormente, Leitura,

Linguagens e Ensino. Na Linha 1, as orientadoras foram as professoras Ilse Maria da Rosa

Vivian, com duas orientandas e Denise Almeida Silva, com uma. A primeira aluna dessa

linha a apresentar sua defesa no quadriênio foi Angela de Fátima Langa, no dia 27 de agosto

de 2015, com o trabalho intitulado “A favela que não acabou: memória e espaço em Becos da

memória, de Conceição Evaristo”, que teve como objetivo destacar o papel essencial do

espaço na rememoração da favela, evidenciada através do registro das memórias dos

moradores por Maria-Nova, com base nos relatos por ela colhidos.

O estudo foi dividido em três capítulos. O primeiro abordou os conceitos de espaço e

território; a fundamentação teórica repousou no pensamento crítico de Doreen Massey (2008),

Milton Santos (1988, 1994, 2007, 2012), e Gaston Bachelard (1989). O conceito de lar foi

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discutido, levando em consideração os fatores que colaboraram para que um espaço seja

considerado lar ou não, amparado no pensamento de Theano Terkenli (1995), Laura Huttunen

(2005) e Gaston Bachelard (1989); Mike Davis (2006) provê insights sobre a favela. O

capítulo aborda, ainda, o conceito de escrevivência, formulado por Evaristo, e relaciona

memória,nespaço e escrevivência. Para os estudos da memória, Langa busca suporte teórico

em Maurice Halbwachs (2006), Aleida Assmann (2011), Joël Candau (2011), Pierre Nora

(1993) e Michael Pollak (1989). O terceiro capítulo é analítico.

A pesquisadora Langa enfatiza que “A memória não se reproduz no abstrato, é

vivenciada e habitada. Necessita sempre de uma ancoragem espacial ou um portador, que

pode ser um grupo, uma instituição ou um indivíduo” (LANGA, 2015, p. 89). No romance, “a

partir das recordações de Maria-Nova delineia-se um claro mapa da favela, no qual se

distinguem vias, „bairros‟ [...] e limites, estes demarcando não só o ambiente interior à favela,

mas, sobretudo, seus limites exteriores” (LANGA, 2015, p. 90).

Gabriela Coletto, no dia 25 de fevereiro de 2016, fez a defesa de sua dissertação, a

qual teve como tema “Uma leitura alegórica das identidades em O Apocalipse dos

trabalhadores e Niketche: uma história de poligamia”. Orientada pela professora Ilse Maria

da Rosa Vivian, a pesquisa realiza uma análise comparativa entre as obras portuguesa O

Apocalipse dos trabalhadores (2008), de Valter Hugo Mãe e moçambicana Niketche: uma

história de poligamia (2002), de Paulina Chiziane por meio da leitura alegórica, enfatizando o

discurso dominador-subjugado por meio das vozes femininas das personagens Maria da Graça

e Rami. Os estudos foram amparados nas teorias da alegoria de Platão (2006), (2015), Walter

Benjamin (1985), (1994), (2004) e Flávio René Kothe (1986). O trabalho parte, nos capítulos

iniciais, de fundamentação teórica, seguindo-se a análise comparativa da obra.

Nas considerações finais, Coletto (2016), destaca a possibilidade do “entendimento

das diversas realidades encontradas nos romances [...] observando a atualidade dos temas

abordados, que ainda são um problema dentro dessas culturas” (COLETTO, 2016, p. 72).

Através da literatura, foi possível perceber, a trajetória e os caminhos coloniais pelos quais

passaram povos africanos colonizados pelos portugueses, abrindo caminho para a

compreensão das identidades constituídas pela história desses povos.

Outra orientanda da professora Ilse Maria da Rosa Vivian foi Isabele Corrêa

Vasconcelos Fontes Pereira, que defendeu seu trabalho no dia 31 de agosto de 2015,

intitulado “A Epopeia na contemporaneidade: O “império” de Bloom, em Uma viagem à

Índia, de Gonçalo M. Tavares”. O objetivo geral foi identificar e discutir os elementos que

permitem reconhecer, a partir da obra, a dimensão da épica contemporânea, constituindo-se

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como um exemplo da nova formação literária no que tange ao gênero épico, por sua

percepção hodierna sobre a realidade e sua capacidade de gerar hibridismos e intertextos

relevantes para a literatura.

Pereira considera que a sociedade contemporânea precisava “de uma estética que

figurasse o seu novo retrato: uma sociedade antropocentrista, individualista, capitalista, cada

vez mais amparada nos diferentes meios de locomoção e comunicação, na ciência, na técnica,

na especialização, no isolamento, na melancolia e na incompletude” (PEREIRA, 2015, p. 87),

e essa representação inovadora foi encontrada no romance estudado.

QUADRO 10 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Literatura, História e Memória

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Jenifer Royer Thiel

13/12/2016

Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian – URI

Oreintadora/Presidente; Dr. Reges Shwaab –

UFSM e Dra. Denise Almeida Silva – URI

A construção da memória e

sua influência na

constituição identitária:

Análise da obra No tempo

das tangerinas, de Urda

Alice Klueger

João Paulo Massotti

29/09/2016

Dra. Luana Teixeira Porto - URI

Orientadora/Presidente; Dr. Breno Antônio

Sponchiado (Co orientador - URI); Dr.

Lizandro Carlos Calegari –UFSM; Dra. Maria

Regina Barcelos Bettiol – URI e Dra. Silvia

Helena Pinto Niederauer – URI

Repressão, censura e

silenciamentos: A ditadura

militar brasileira aos olhos

de Caio Fernando Abreu

Lilian Raquel

Amorim de Quadra 31/08/2016

Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Maria Elisa

Rodrigues Moreira – UNINCOR e Dra. Luana

Teixeira Porto –URI

A condição feminina em O

último voo do flamingo e

A confissão da leoa, de

Mia Couto: uma análise

comparatista

Simone de Freitas

Sangue Buchebester

18/10/2016

Dra. Luana Teixeira Porto - URI

Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro Carlos

Calegari – UFSM e Dra. Ana Paula Teixeira

Porto – URI

Integrar-se ou desintegrar-

se, eis a questão: A

representação de

personagens homossexuais

em contos e telenovela

brasileiros contemporâneos

Tani Gobbi dos Reis 14/12/2017

Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer– URI

Orientadora/Presidente; Dra. Inara de Oliveira

Rodrigues - UESC-BA e Dra. Ilse Maria da

Rosa Vivian – URI

O resgate da memória na

conformação da identidade

moçambicana:

Reminiscências de Imani

em Mulheres de cinzas, de

Mia Couto

Fonte: Quadro elaborado pela autora

Page 133: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

133

O Quadro 10 mostra a turma de ingressantes do ano de 2014. Dos 14 alunos

matriculados nesse ano, cinco escolheram a LP - Literatura, História e Memória. As

orientações foram divididas entre as professoras Luana Teixeira Porto, com dois orientandos e

Ana Paula Teixeira Porto, Silvia Helena Pinto Niederauer e Ilse Maria da Rosa Vivian - cada

uma com um orientando.

No dia 31 de agosto de 2016, Lilian Raquel Amorim de Quadra foi a primeira aluna

desses ingressantes a defender a dissertação intitulada “A condição feminina em O último

voo do flamingo e A confissão da leoa, de Mia Couto: uma análise comparatista”. A

pesquisa, estruturada em três capítulos, teve como objetivo principal analisar a condição

feminina em dois romances africanos do século XX escritos por Mia Couto, conforme citados

anteriormente. O primeiro capítulo contextualizou a produção africana nos últimos anos; os

dois capítulos seguintes analisam, respectivamente O último voo do flamingo, e A confissão

da leoa.

Ao final da dissertação, Quadra percebe que as narrativas, ao explorarem a

representação da figura feminina, estabeleceram um diálogo com a história e, dessa forma,

oportunizaram a construção da memória de um tempo histórico recente. Assim, a investigação

dos romances permitiu leitura crítica da sociedade moçambicana, na qual foi possível

perceber que “a mulher desempenha um papel fundamental no que tange à continuidade da

vida e também à manutenção e educação dos filhos, porém é subjugada e inferior ao homem

em todos os níveis sociais” (QUADRA, 2016, p. 74).

A aluna Jenifer Royer Thiel, no dia 13 de dezembro de 2016 defendeu sua pesquisa

intitulada “A construção da memória e sua influência na constituição identitária: análise da

obra No tempo das tangerinas, de Urda Alice Klueger”, com orientação da professora Ilse

Maria da Rosa Vivian. Teve como objetivo compreender o processo de construção de

memória, a fim de perceber sua influência na constituição identitária dos indivíduos. Em três

capítulos, o estudo parte de conceituação teórica sobre identidade e memória, a fim de

analisar a presença desses temas na construção do romance. Para tal atividade baseou-se em

Tomaz Tadeu da Silva (2000) e Kathryn Woodward (2000) sobre identidade, e especialmente

Maurice Halbwachs (2006) sobre memória. No segundo capítulo pensa o discurso ficcional e

literário, e o terceiro é analítico, visando compreender como os discursos da história e da

literatura se entrelaçam.

Thiel afirma ser “cada vez maior a evidência de que a memória é capaz de influenciar

a constituição identitária do sujeito, seja na vida real, ou no romance analisado, é que nossas

memórias são afirmadas como essenciais em nossas vidas” (THIEL, 2016, p. 77). Segundo a

Page 134: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

134

pesquisadora, “a identidade dos personagens mostrou-se influenciada pelo contexto em que

estes viviam, e as gerações seguintes acabaram sendo influenciadas também, mesmo que não

tenham vivido o contexto de repressão” (THIEL, 2016, p. 78). Concluiu que memória e

identidade tornam-se fundamentais na construção da personalidade do indivíduo, e no

reconhecimento como sujeito pertencente a um meio social.

No dia 29 de setembro de 2016, o aluno João Paulo Massotti defendeu sua dissertação

“Repressão, censura e silenciamentos: a ditadura militar brasileira aos olhos de Caio Fernando

Abreu”, com orientação da professora Luana Teixeira Porto e co-orientação do professor

Breno Antonio Sponchiado. O objetivo desse trabalho foi analisar cartas e contos de Caio

Fernando Abreu, escritos durante o período ditatorial, procurando investigar a censura, a

tortura e os silenciamentos presentes nos textos produzidos pelo autor nesse período. Para

desenvolver o estudo comparativo entre as narrativas, foram adotadas as perspectivas teóricas

de autores como Alfredo Bossi, Alexandre Stephanou, Lilia M. Schwarcz, Heloísa M.

Starling, Luís Antônio Groppo e Tânia Pelegrini, a partir das quais são analisados aspectos

histórico-sociais, bem como Aleida Assman, Pierre Nora, Maurice Halbwachs, Paul Ricoeur e

Jaime Ginzburg, que embasam questões sobre a memória e sua relação com o contexto –

ditadura militar – investigado.

O trabalho, estruturado em três capítulos, resenha o período histórico que vai de 1964

a 1985, ao qual está vinculada a escrita das cartas e dos contos de Caio Fernando Abreu.

Discute conceitos de memória, e analisa contos e cartas, a fim de avaliar como foram os

posicionamentos do autor sobre esse período histórico-social ao criar narrativas ficcionais e

autobiográficas. As reflexões finais, na seção quatro do texto da dissertação, ainda têm o

objetivo de pensar a literatura e as cartas de Caio Fernando Abreu como testemunho, muitas

vezes velado de um período muito duro da literatura nacional.

Em suas considerações finais, Massotti (2016) descreve a ditadura militar como um

“período em que, não só estanca os sonhos daquela geração, mas também inviabiliza um

pensamento crítico livre das amarras da censura. Caio apresenta uma voz que fala da opressão

através de narradores indeterminados, muitas vezes sem rosto, lugar ou nome” (MASSOTTI,

2016, p. 116). Destaca “as inúmeras narrativas feitas por Caio Fernando Abreu em relação ao

período ditatorial provém inicialmente da esperança que o próprio autor nutria acerca da

possibilidade de despertar o leitor para as questões sociais que ocorreram no país”

(MASSOTTI, 2016, p 117). Massotti enfatiza que Caio deixa como testemunho uma forma de

resistência, ao abordar a repressão, a tortura e os silenciamentos, durante o período ditatorial,

em seus textos literários e epistolares.

Page 135: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

135

A aluna Simone de Freitas Sanguebuche Bester, no dia 18 de outubro de 2016,

apresentou seu trabalho “Integrar-se ou desintegrar-se, eis a questão: a representação de

personagens homossexuais em contos e telenovela brasileiros contemporâneos”, sob a

orientação da professora Luana Teixeira Porto. Discute a identidade de personagens

homossexuais em produções culturais brasileiras contemporâneas a fim de observar se há uma

tendência à configuração de estereótipos relativos à sexualidade e à prática homofóbica. A

pesquisa, ao longo de três capítulos, propôs um cotejo entre texto literário e telenovela,

reconhecendo, nas entrelinhas destes discursos, o sentido que as falas dos personagens e dos

narradores assumem na composição dos enredos.

As produções literárias selecionadas para esta pesquisa fizeram parte da coletânea de

contos contemporâneos Entre Nós: contos sobre homossexualidade (2007), organizada pelo

escritor Luiz Ruffato, a qual, em suas 19 narrativas curtas, aborda a homossexualidade. Os

contos selecionados para a dissertação foram: ― Rútilos, de Hilda Hilst, ― A Moralista, de

Dinah Silveira Queirós, e ―Morte de mim, de Cintia Moscovich.

Bester observa “o processo histórico em que os personagens estão inseridos,

percebendo as marcas do patriarcalismo ainda sobre as relações homossexuais

contemporâneas” (BESTER, 2016, p. 15). Quanto ao perfil dos personagens homossexuais

em sua relação no contexto social, conclui que estes apresentam “grandes dificuldades de

relacionar-se com os demais membros do contexto em que viviam, uma vez que não eram

aceitos devido a suas escolhas” (BESTER, 2016, p. 99). A análise revela, em narrativas

fictícias, “[...] a preocupação de, através do olhar de seus personagens, revelar, de forma

distinta, o quanto é necessário os sujeitos integrarem-se e quanto isso é custoso para

sociedade, que desintegra aqueles que não seguem os preceitos estabelecidos por ela”

(BESTER, 2016, p. 101).

Tani Gobbi dos Reis, com orientação da professora Silvia Helena Pinto Niederauer,

defendeu no dia 14 de dezembro de 2017, a dissertação “O resgate da memória na

conformação da identidade moçambicana: reminiscências de Imani, em Mulheres de Cinzas,

de Mia Couto”. O objetivo geral foi investigar a narrativa literária, tendo como objeto de

análise o livro Mulheres de cinzas, de Mia Couto, enquanto (com)formadora da identidade

moçambicana através de uma retomada da memória e história de um povo (usa os termos de

Gagnebin, 2006) preservando, salvando e resgatando um passado desaparecido. A

recapitulação desse período histórico de Moçambique se dá por meio do diálogo entre a

história oficial e a oral, sendo também um ponto norteador do romance de Mia Couto: “A

narrativa apresenta uma reelaboração da história sob a ótica do colonizado, com base nas

Page 136: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

136

questões aquém da história oficializa – referimo-nos à história contada pelos brancos,

recuperando uma “história” que é desconhecida ou foi negligenciada pela Grande História”

(REIS, 2017, p. 8). A dissertação, estruturada em 3 capítulos, recorreu a estudos de Manuel

Ferreira, José Pires Laranjeira, Ana Mafalda Leite, Paul Ricoeur, Jeanne Marie Gagnebin,

Inocência Mata, Jane Tutikian. Reis enfatiza que é preciso “conservar na memória os fatos

para que não se repitam, talvez esse seja um dos objetivos do autor o retratarem sua narrativa

literária alguns dos fatos passados pelo seu território” (REIS, 2017, p. 92).

QUADRO 11 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Literatura, História e Memória

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Adriana Folle

14/12/2017

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Janice Thiel

- PUC-PR e Dra. Denise Almeida Silva –

URI

Histórias que nos contam: O

imaginário indígena em narrativas

de Daniel Munduruku

Claudia Maíra Silva de

Oliveira

05/09/2017

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Marcos

Hidemi de Lima – UTFPR e Dra. Ana

Paula Teixeira Porto –URI

Histórias para incomodar os da

casa grande em seus sonos

injustos: menores em situação de

risco em contos de Conceição

Evaristo

Emanoeli Ballin

Picolotto

29/08/2017

Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Rafael

Eisinger Guimarães – UNISC e Dra.

Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing –

URI

Prêmio Jabuti e os romances

premiados no século XXI:

Diálogos e intersecções

Patrícia Simone

Grando Ferreira

17/04/2018

Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Luciane

Figueiredo Pokulat - IFFAR/FW e Dra.

Luana Teixeira Porto – URI

O (quase não) lugar da literatura

na formação de professores de

Letras

Fonte: Quadro elaborado pela autora

Em 2015, a turma de ingressantes teve doze alunos matriculados. Destes, quatro

optaram pela LP – Literatura, História e Memória, tendo sido orientados pelas professoras

Ana Paula Teixeira Porto, com duas orientandas, e as professoras Denise Almeida Silva e

Luana Teixeira Porto, com uma orientação cada.

A discente Adriana Folle apresentou sua defesa no dia 14 de dezembro de 2017, com o

trabalho intitulado “Histórias que nos contam: O imaginário indígena em narrativas de Daniel

Munduruku”. A pesquisadora objetivou registrar narrativas contadas por Daniel Munduruku

em suas histórias escritas, mapeando temas e formas dos textos reproduzidos pelo escritor,

para identificar o imaginário do indígena sobre sua cultura. Aborda o conceito de memória

Page 137: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

137

cultural e acentua a relação entre narrativa e identidade, já que as histórias contadas devem

revelar também traços da vida e do comportamento dos indígenas e o imaginário que o

próprio indígena constrói sobre si mesmo.

Para alcançar os objetivos propostos na pesquisa, Folle (2017) destaca, inicialmente, a

importância da oralidade na literatura indígena, para o que busca referencial teórico em Érika

Bergamasco Guesse, Walter Benjamin, Janice Thiél, Graça Graúna e Eliane Potiguara. O

segundo capítulo dedicou-se à narrativa de Daniel Munduruku, apontando traços formais e

temáticos característicos; o terceiro, voltado a uma reflexão associada à contrariedade ao

esquecimento da cultura indígena, aborda a necessidade de preservação dos textos em estudo

como elementos cruciais do patrimônio cultural brasileiro.

Ao final, Folle advoga a “[...] defesa do patrimônio cultural indígena e ao

reconhecimento do valor literário e social da narrativa de Munduruku, em um contexto de

preservação da cultura indígena no campo das Letras e dos Estudos Culturais” (FOLLE, 2017,

p. 30). O trabalho destaca que a narrativa de Daniel Munduruku apresenta “[...] organização

formal [semelhante] a qualquer narrativa, com marcação e personagens, enredo, fatos a serem

desenrolados, tempo e espaços definidos” (FOLLE, 2017, p. 121). Reconhece “[...] a

habilidade narrativa dos povos indígenas. Ler, reproduzir tais histórias e guardá-las na

memória é, sem dúvida, uma atitude ética e política” (FOLLE, 2017, p. 124)

Claudia Maíra Silva de Oliveira defendeu seu trabalho no dia 05 de setembro de 2017,

intitulado “Histórias para incomodar os da casa grande em seus sonos injustos: Menores em

situação de risco em contos de Conceição Evaristo”, com orientação da professora Denise

Almeida Silva. Com essa pesquisa, a pesquisadora objetivou examinar se e de que formas a

representação, em contos de Conceição Evaristo, de menores socialmente vulnerabilizados

pode contribuir para inquietar o leitor, conscientizá-lo da violência de tal situação, e, assim,

humanizá-lo. Tais considerações ampliam as reflexões sobre a função social da literatura, o

que é feito, sobretudo, a partir de estudos de Antônio Candido (2000; 2002; 2011), a partir do

pensamento da própria Conceição Evaristo e de Antonio Candido.

A dissertação, estruturada em quatro capítulos, situa a personagem infantil e a infância

na literatura contemporânea no Brasil, conceitua indivíduo em desenvolvimento,

vulnerabilidade e violência, analisa o corpus ficcional, com o intuito de investigar o perfil de

crianças e adolescentes em situação de risco em contos de Evaristo, e, no quarto capítulo,

reflete sobre a relação entre literatura e sociedade.

Oliveira constata que “Conceição Evaristo apresenta, nos contos analisados, uma

denúncia social, pois coloca em evidência enredos pouco ou não abordados na literatura:

Page 138: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

138

crianças pobres, e/ou pobres crianças, destituídas do amor e proteção da família, embora

providas economicamente” (OLIVEIRA, 2017, p. 98).

Emanoeli Ballin Picolotto, no dia 29 de agosto de 2017, defende sua dissertação

“Prêmio Jabuti e os romances premiados no século XXI: diálogos e intersecções”, com

orientação da professora Ana Paula Teixeira Porto. Ao longo de três capítulos, Picolotto

apresenta descrição pormenorizada do Prêmio Jabuti, desde sua criação até a atualidade,

identificando tendências formais e temáticas dos romances premiados no período 2000-2016,

a fim de estabelecer o perfil romanesco valorizado pelo Prêmio, bem como o perfil dos

autores premiados. Teóricos como Eliana de Fátima Rodrigues e Cândida Vilares Gancho

auxiliaram o aporte teórico sobre a análise dos romances.

Nas considerações finais, Picolotto (2017) salientou a falta de aporte teórico-crítico

sobre as premiações literárias. No processo de compreensão do Prêmio Jabuti, a pesquisadora

destaca “que ele forma um „cânone‟ literário, pois as obras ali consagradas serão bem vistas

diante do meio editorial e acadêmico. [...] O Prêmio, assim, alimenta o mercado do que vai se

publicar e do que terá maiores chances de ser lido.” (PICOLOTTO, 2017, p. 100). Também

“[...] sinaliza tendências literárias, tendo em vista que a partir dessas obras consagradas é

possível identificar um panorama da atual literatura através dos modos de escritas e técnicas

encontrados nos livros” (PICOLOTTO, 2017, p. 101), projetando obras e autores, e servindo

como um instrumento reconhecido pela crítica, pois premia obras e autores contemporâneos

que representam a literatura atual.

A aluna Patrícia Simone Grando Ferreira apresentou sua defesa no dia 17 de abril de

2018, com o trabalho “O (quase não) lugar da literatura na formação de professores de

Letras”, tendo como orientadora a professora Ana Paula Teixeira Porto. O objetivo geral da

pesquisa foi compreender o lugar ocupado (ou não) pela literatura na formação dos docentes

de cursos de Letras do Brasil, usando uma amostra composta por dez cursos brasileiros. Busca

identificar, nesses cursos, um cenário parcial de como a literatura é oferecida aos futuros

docentes da Educação Básica em suas formações iniciais. Em seu embasamento teórico,

baseou-se nas reflexões de Antonio Candido (1989, 2002, 2011), Harold Bloom (2001), Paulo

Freire (1989, 2002), dentre outros.

Para atender aos objetivos propostos, o trabalho foi estruturado em quatro capítulos: o

primeiro, “Literatura e a formação humana”, discorre sobre a ligação da literatura com a

formação do ser humano. No capítulo II, “Formação de Professores de Letras: o lugar da

literatura”, a autora apresenta estudos das leis e documentos sobre a educação básica e

Page 139: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

139

entendermos como a literatura deve ser encarada no ensino. No capítulo III, foi apresentada a

metodologia da pesquisa, e o quarto contempla a análise de dados.

Nas conclusões, Ferreira (2018) destaca que a carga horária destinada à formação

inicial, com base nos cursos analisados, “é mais ampla do que a solicitada na Resolução

CNE/CP n.2/2002, que são 2800 horas totais mínimas; além disso, esses cursos já atendem ao

disposto na Resolução n. 2/2015, pois nenhum deles exige menos de 3200 horas totais

mínimas.” (FERREIRA, 2018, p. 96). Sobre o (quase não) lugar da literatura na formação de

professores de Letras, a pesquisadora percebeu que na formação inicial os docentes têm um

contato limitado com a literatura, precisando “encontrar seu lugar e reassumir seu papel,

ganhar novamente o seu protagonismo e auxiliar na reconstrução dos Cursos de Letras, uma

vez que ninguém melhor que o próprio docente para auxiliar na resolução de questões sobre a

sua prática.” (FERREIRA, 2018, p. 97). A partir dos resultados apresentados, a autora faz

votos de que “os currículos possam ser repensados, dando ênfase à formação literária destes

professores, pois, ao compreender a grandiosidade da contribuição da literatura, seu valor não

poderá ser descartado” (FERREIRA, 2018, p. 99).

O ano de 2015 se configurou como o último em que os ingressantes apresentam, já,

trabalhos concluídos. Dos dez alunos matriculados em 2016, três optaram pela Linha –

Literatura, História e Memória; contudo, até a presente data, todas as dissertações estão em

progresso. Da turma que ingressou no ano de 2017, dos oito alunos matriculados, três alunas

optaram pela LP – Literatura, História e Memória, e duas delas encontram-se, ainda, em fase

de construção de suas pesquisas.

No primeiro quadriênio do PPGL, que correspondeu aos anos de 2013, 2014, 2015 e

2016, a LP – Literatura, História e Memória teve um total de 12 dissertações defendidas. Em

relação à distribuição das orientações nesse período, constatou-se que a professora Denise

Almeida Silva teve dois orientandos; convidados externos para as bancas foram: Dr.

Wellington Ricardo Fiorucci (UTFPR) e Dr. Marcos Hidemi de Lima (UTFPR). Os temas

abordados tratam das relações entre memória, espaço e violência em contexto marginal, e da

representação de menores vulnerabilizados; ambos os trabalhos analisam obras de Conceição

Evaristo, Becos da Memória e contos publicados em várias antologias da autora. A base

teórica fundamentou-se em Santos, Halbwacks, Assmann, Candau, Nora, Pollak e Candido.

A professora Ilse Maria da Rosa Vivian teve três orientandos; como convidados

externos salientaram-se os professores Dr. Anselmo Peres Alós (UFSM), por duas vezes

convidado e Dr. Reges Shwaab (UFSM). Os temas orientados pela professora relacionam-se

ao gênero épico, memória e identidade, contemplando literatura portuguesa, moçambicana e

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140

brasileira, tendo sido analisadas as obras com: O apocalipse dos trabalhadores, de Valter

Hugo Mãe, Niketche: uma história de poligamia, de Paulina Chiziane e No tempo das

tangerinas, de Urda Alice Klueger. Autores recorrentes na fundamentação dos trabalhos por

ela orientados foram Platão, Benjamin, Lukács, Le Goff, Nora, Certeau ae Halbwacks.

A professora Luana Teixeira Porto também orientou, nesse quadriênio, três alunos,

com temas como o imaginário indígena, memória, identidade e narrativa, violência e

sexualidades excêntricas. Na composição das bancas destacam-se os professores Dr. Lizandro

Carlos Calegari (UFSM), duas vezes convidado, e a Dra. Janice Thiel (PUC- Pr); dentre os

autores estudados figuram Caio Fernando Abreu e Daniel Munduruku. Os principais teóricos

utilizados para as pesquisas foram Ricouer, Bossi, Ginzburg, Focault, Benjamin, Graúna e

Potiguara.

Alguns temas abordados nos trabalhos orientados pela professora Ana Paula Teixeira

Porto foram a historiografia literária e literaturas africanas de língua portuguesa. Na

composição das bancas estiveram presentes os professores Dr. Rafael Eisinger Guimarães

(UNISC), Dra. Maria Elisa Rodrigues Moreira (UNICOR) e Dra. Luciane Figueiredo Pokulat

(IFFAR-FW) egressa do Mestrado em Letras da URI, da turma de ingressantes do ano de

2009. Um autor recorrente foi Mia Couto; teóricos frequentes indicados pela orientadora

foram Compagnon, Zilberman, Dalcastagnè, Rösing, Candido, Freire e Bloom.

Por fim, a professora Silvia Helena Pinto Niederauer orientou um trabalho, sobre a

obra de Mia Couto, abordando a identidade moçambicana, com embasamento teórico em

Ricouer e Gagnebin. Como convidada externa, mais uma vez, registra-se sua parceria com a

professora Dra. Inara de Oliveira Rodrigues (UESC-Ilheus).

No ano de 2017 iniciou o segundo quadriênio do PPGL, que corresponde aos anos

entre 2017 e 2020. Porém, como o programa não oferece mais vagas, restam apenas as

defesas de alunos pendentes dessa linha, como já especificado anteriormente.

3.3 Dissertações produzidas a partir da linha 2: Memória e Identidade Cultural (2006) e

Comparatismo e Processos Culturais (2010)

3.3.1 Linha 2: Memória e Identidade Cultural

Os alunos ingressantes no Mestrado em Letras que escolheram a Linha de Pesquisa

“Memória e Identidade Cultural”, desenvolveram pesquisas em torno dos seguintes objetivos:

Page 141: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

141

[...] estudar os processos de construção dos sistemas de representações, ou seja, as

identidades, a memória e os espaços simbólicos, buscando o entendimento das

práticas sociais, artísticas e culturais; acompanhar e refletir as dimensões do debate

em torno de temas contemporâneos da cultura, na perspectiva da produção de

conhecimentos a partir das manifestações observáveis na Região Norte e Noroeste

do RS. Isso levará à constituição de acervos de fontes e referências variadas, que

contribuirá para estudos acerca das identidades culturais e das suas afirmações

identitárias em áreas como a Literatura, a História, a Antropologia. (CURRICULO

em extinção, Linha 2, 2018)

Em relação à primeira turma, no ano de 2006, duas dissertações foram orientadas pela

Professora Ada Maria Hemilewski e uma pela Professora Denise Almeida Silva. As bancas

de defesa dos orientandos da primeira aconteceram em dois dias subsequentes, em agosto de

2018, conforme indica o quadro-resumo abaixo, e tiveram a mesma composição. Três meses

depois, em novembro de 2008, viria a acontecer a defesa da dissertação de Claudio Roberto

Silva Mineiro.

QUADRO 12 – Dissertações ingressantes Turma 2006 – Memória e Identidade Cultural

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca

Título da Dissertação

Cláudio Roberto da

Silva Mineiro

24/11/2008

Dra. Denise Almeida Silva –

Orientador/Presidente – URI; Dr. Alfeu

Sparemberger – UFPEL e Dra. Isabel da

Rosa Gritti – URI

No país do Bom Fim: A

representação da identidade

judaica em A guerra no Bom

Fim

Edivane Silvia Piovesan

07/08/2008

Dra. Ada Maria Hemilewski –

Orientador/Presidente – URI; Dr.

Orlando Fonseca – UFSM e Dr. Robson

Pereira Gonçalves – URI

Em busca da cocanha: a

(re)construção da identidade

cultural italiana no Rio

Grande do Sul

Márcia Rejane Kristiuk 08/08/2008

Dra. Ada Maria Hemilewski –

Orientador/Presidente – URI; Dr.

Orlando Fonseca – UFSM e Dr. Robson

Pereira Gonçalves – URI

O Caminho da Pedra: um

diálogo entre literatura e

história

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A primeira dissertação da Linha 2 foi defendida no dia 07 de agosto de 2008 pela

discente Edivane Silvia Piovesan. A pesquisa foi intitulada “Em busca da Cocanha: a

(re)construção da identidade cultural italiana no Rio Grande do Sul”. O trabalho teve como

objetivo investigar as relações culturais dos imigrantes italianos que chegaram ao Rio Grande

do Sul no final do século XIX, a partir da leitura do romance A Cocanha, de José Clemente

Pozenato, escritor gaúcho. Intérprete da tradição italiana, Pozenato enfoca a influência de

descendentes de imigrantes, registrando momentos significativos de sua vivência no Rio

Grande do Sul, mais especificamente na região serrana.

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142

A fundamentação teórica foi baseada em conceitos sobre os cruzamentos entre a

Literatura e a História, com postulados, dentre outros, de George Lukács, Peter Burke,

Auguste Comte, Jacques Le Goff, Hayden White, Paul Ricoeur, Walter Mignolo, Alfredo

Bosi e Luiz Costa Lima, aos quais se dedica o capítulo segundo, “Literatura e História: uma

viagem entre fronteiras”. Ainda com reflexões teóricas, o terceiro capítulo, “Entre-lugar: no

limiar das fronteiras culturais”, debruça-se sobre a questão da identidade e diferença com

postulados de Homi Bhabha, Stuart Hall, Kathryn Woodward, Tomaz Tadeu da Silva,

Benedict Anderson e Zilá Bernd. Também introdutório à análise textual, o capítulo IV “A

Cocanha: entrelaçamento da História e da ficção na (re)construção da identidade cultural”, faz

referência à narrativa histórica da imigração italiana, explica o termo cocanha, e resenha seu

uso na literatura. Por fim, no quinto capítulo, “A (re)construção da identidade cultural no país

da cocanha”, como o nome indica, analisa a construção da identidade individual e coletiva dos

imigrantes. O capítulo final, “Porto de chegada” apresenta os resultados da aprendizagem que

o estudo proporcionou à pesquisadora, sobretudo, no que tange à significação e valorização da

cultura italiana em terras gaúchas representada na obra literária. Segundo Piovesan (2008) “A

narrativa de Pozenato busca na arte a realidade histórica empírica, registrando, através da

verossimilhança, os nexos essenciais de acontecimentos reais recriados ficcionalmente”

(PIOVESAN, 2008, p. 103).

No dia 08 de agosto de 2008, a egressa Márcia Rejane Kristiuk, apresentou a

dissertação “O caminho da pedra: Um diálogo entre literatura e história”. O trabalho,

delimitado de acordo com a LP “Memória e Identidade Cultural”, investigou o diálogo entre

literatura e história no romance O caminho da pedra, de Mário Simon, narrativa que traz a

história da destruição dos Sete Povos das Missões e a imigração alemã: os colonos, ao

receberem as terras demarcadas, tomaram o espaço cultural e territorial do índio.

O primeiro capítulo, “O diálogo entre Literatura e História” realiza um percurso

teórico sobre as relações dos fatos históricos com o discurso ficcional, embasado, sobretudo,

em Walter Mignolo, Roland Barthes e Hayden White e Maria Teresa de Freitas. O segundo

capítulo, “Povoamento no Rio Grande do Sul” recupera a história das missões jesuíticas, e os

embates entre portugueses e espanhóis. No terceiro capítulo, “Análise da Obra O Caminho

da Pedra” de Mário Simon” foram estudadas as contribuições do romance em torno da

questão indígena, abordando a perda de identidade do indígena e as situações de exclusão, de

marginalização que este sofreu e ainda sofre. Por fim, a análise da obra de Mário Simon

buscou entender o que aconteceu com a cultura indígena e compreender a história social,

demonstrando que “a ficção, se não pode acessar a realidade, de alguma forma, tem como

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143

representá-la” (KRISTIUK, 2008, p. 11). Longe de ser o indígena idealizado do romantismo,

o personagem de Simon é um indígena sofrido, dizimado e marginalizado.

A última dissertação da Linha 2, referente aos ingressantes em 2006, foi apresentada

no dia 24 de novembro de 2008, por Cláudio Roberto da Silva Mineiro. Intitulada “No país

do Bom Fim: a representação da identidade judaica em A guerra no Bom Fim”, a pesquisa

teve como objetivo estudar os processos de construção dos sistemas de representação da

identidade cultural. Tais estudos basearam-se em pressupostos teóricos de Stuart Hall, Moacir

Scliar, Nilton Bonder, Bernardo Sorj, Homi K. Bhabha, Ernest Renan, Benedict Anderson e

Maurice Halbwachs.

No primeiro capítulo, “Identidade cultural: a condição judaica” o pesquisador

esclarece o conceito de identidade e diferença, ressaltando ainda no papel da memória, da

narrativa e do rito na constituição da identidade do judeu. No segundo capítulo “Comunidades

imaginadas: o país do Bom Fim, “uma morada do coração”, a construção do conceito de

nação e das narrativas da cultura nacional, além do papel da história, memória e esquecimento

nesse processo são discutidos. Por fim, o capítulo III, “No país do Bom Fim: trânsitos

multiculturais e a narração da guerra” analisa a representação da vida cotidiana da

comunidade judaica em suas interações intra- e interculturais.

Em suas conclusões, Mineiro (2008) destaca que a narrativa trata de questões inerentes

a cultura e história de vida de Scliar enquanto judeu, fazendo uso, também, da memória

coletiva: seus personagens carregam sentimentos e traços que estão firmados no cruzamento

de sua história pessoal e história do povo judeu.

Como se pode averiguar no quadro-resumo, dos três alunos que optaram pela LP

Memória e Identidade Cultural, dois fizeram suas defesas nos dias 07 e 08 de agosto de 2008,

com mesma banca e professora orientadora, assim como aconteceu na LP Literatura, História

e Imaginário. Além disso, os temas abordados revelam a preferência pelo estudo sobre as

identidades culturais do Rio Grande do Sul, contemplando processos de construção dos

sistemas de representação da identidade cultural da colonização italiana, indígenas e judaica.

QUADRO 13– Dissertações ingressantes Turma 2007 – Memória e Identidade Cultural

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Marli Terezinha

Morgenstern 05/11/2009

Dra. Denise Almeida Silva –

Orientadora/Presidente – URI; Dr. Adeítalo

Manoel Pinho – UEFS e Dr. André Luís

Mitidieri Pereira– URI

Um certo oriente sob os olhos da memória

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144

Miquela Piaia

24/09/2009 Dr. André Luís Mitidieri Pereira –

Orientador/Presidente – URI; Dra. Maria da

Glória Bordini – UFRGS/CNPq e Dr. Robson

Pereira Gonçalves – URI

Rastros da literatura

brasileira na história da

colônia Neu-Württemberg

Neiva Andréa

Klagenberg 04/11/2009

Dr. André Luís Mitidieri Pereira –

Orientador/Presidente – URI; Dr. Adeítalo

Manoel Pinho – UEFS e Dra. Denise Almeida

Silva – URI

Migração, exílio e nação:

No tempo das tangerinas,

um rio imita o Reno

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A LP - Memória e Identidade Cultural, no ano de 2007, teve três alunos matriculados,

sendo que Miquela Piaia defendeu a dissertação intitulada “Rastros da literatura brasileira na

história da colônia Neu-Württemberg” no dia 24 de setembro de 2009. O trabalho estuda o

acervo literário, representado por cartas, anotações e publicações do Sr. Arno Philipp,

imigrante alemão da comunidade teuto-brasileira de Panambi, cidade natal da mestranda. A

dissertação utiliza a noção de “rastro” no campo dos estudos históricos, com base em Carlo

Ginzburg. A partir do próprio rastreamento desse conceito, busca verificar as eventuais

relações entre os métodos dos micro-historiadores, dos críticos literários e dos críticos

culturais, estudando o papel dos acervos literários junto à crítica contemporânea e, a partir daí,

a organização do Acervo Literário Arno Philipp, com base no Manual de Organização do

Acervo Literário Erico Verissimo, de Maria da Glória Bordini. Alguns itens, como dados e

rastros, permitiram chegar a outras fontes, de modo a tecer uma série de considerações acerca

da presença da literatura brasileira em Panambi. O segundo capítulo – “Micro-história e

crítica cultural” fundamenta-se nos trabalhos de Eneida Maria de Souza, verificando as

possíveis relações entre os métodos dos micro-historiadores, dos críticos literários e dos

críticos culturais; o terceiro, intitulado “Taunay e Alencar no Acervo Literário Arno Philipp”

estuda o papel da memória na literatura, relatando a organização em acervo dos documentos

pertencentes ao Sr. Philipp, bem como descrevendo os itens acervados e já tentando entender

a história que eles possam contar. O quarto e quinto capítulos, “Visconde de Taunay e seus

familiares” e “José de Alencar em alemão” estuda a relação de Arno Phillip com esses

escritores, bem como organiza o material legado por Philipp, começando por classificá-lo e

dispô-lo em suportes adequados.

Em suas considerações finais, Piaia destaca:

Distorcendo as fontes históricas, para que falem sobre a literatura, produzo um

trabalho de historiografia literária, com várias lacunas a serem preenchidas. Muitas

de suas passagens vêm à tona por meio das cartas trocadas entre o Sr. Philipp, os

escritores e seus familiares que, em grande maioria, se referem a traduções de obras

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literárias de José de Alencar e do Visconde de Taunay. Assisto então a constantes

insatisfações com o meio editorial brasileiro. Registro o desânimo do Visconde, pelo

pouco incentivo e retorno material a seus trabalhos. Reclamações acerca de um

Brasil sem lei juntam-se a confidências desgostosas de Mario de Alencar. Revelam-

se também as ligações do deputado teuto-brasileiro com o centro do País e as

colônias alemãs do interior do Rio Grande do Sul (PIAIA, 2009, p. 98)

A pesquisadora registra, ainda, que a documentação deixada por Arno Philipp precisa

de instrumentos de preservação, pois uma sociedade não se mantém apenas com o

desenvolvimento econômico.

A dissertação “Migração, exílio e nação: No tempo das tangerinas, um rio imita o

Reno” de Neiva Andréa Klagenberg, defendida em 04 de novembro de 2009, sob a orientação

do professor André Luís Mitidieri Pereira, tem como corpus duas obras da narrativa ficcional

sulina, No tempo das tangerinas, de Urda Alice Klueger e Um rio imita o Reno, de

Clodomir Vianna Moog, as quais processam o sentimento de exílio e a consciência nacional

ao representarem histórias de imigrantes alemães e de teuto brasileiros estabelecidos no Vale

do Itajaí, em Santa Catarina, e no Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. O trabalho é

embasado, fundamentalmente, nas teorias de Benedict Anderson e Ernest Renan, quanto ao

conceito de nação, e de Edward Said, em relação ao exílio, apoiando-se também nas

considerações de Gérard Genette sobre o discurso da narrativa. Divide-se em cinco capítulos:

o primeiro introduz o tema, os objetivos e os aportes teóricos: o segundo enfoca as migrações

e deslocamentos em geral, e o sentimento de exílio e a imigração tanto na América Latina

quanto no Brasil, destacando as reflexões, de Clodomir Vianna Moog e Angel Rama, sobre o

conceito de regiões literárias, contraposto ao da homogeneidade das literaturas nacionais. O

terceiro capítulo se constitui da fortuna crítica dos romancistas Urda Alice Klueger e Vianna

Moog, enquanto o quarto capítulo analisa os romances: No tempo das tangerinas eUm rio

imita o Reno, da autoria desses autores, quanto à representação da imigração, do exílio e da

nação. Por fim, no quinto capítulo, são expressas as conclusões às quais a pesquisa realizada

permitiu chegar.

Klagenberger destaca que ambos os romances abordam histórias semelhantes,

trazendo casos amorosos que envolvem alemães e “brasileiros”, ambientados no mesmo

contexto histórico, mas em espaços diferentes. A autora ressalta o preconceito e a

representação da “atmosfera social, política, econômica e cultural, realçando as situações de

conflito e diferentes posições ideológicas expressas pelos personagens” (KLAGENBERGER,

2009, p. 114).

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146

A aluna Marli Terezinha Morgenstern apresentou sua defesa no dia 05 de novembro de

2009, tendo como orientadora a professora Denise Almeida Silva. O trabalho intitulado “Um

certo Oriente sob os olhos da memória”, objetivava analisar o romance Relato de um certo

Oriente (2001), de Milton Hatoum, estudando o cruzamento da memória individual e coletiva

no romance. A dissertação foi organizada em quatro capítulos. No primeiro capítulo, “Com os

olhos da memória” resenham-se os estudos sobre a memória de Santo Agostinho, Jacques Le

Goff, Paul Ricouer, Maurice Halbwachs e Pierre Nora. Os três capítulos seguintes são

dedicados à análise do romance: A esfera da infância destaca a figura da matriarca da família

e matriz de toda a história, a personagem Emilie; “A sombra espessa de Emilie” centra-se no

espaço como suporte para a memória, e “Acervos de surpresas da vida” aborda a fotografia

como uma das técnicas profundamente associadas à rememoração. O estudo está embasado

nos conceitos de Roland Barthes, Walter Benjamin e Pierre Bourdieu, além de Maurice

Halbwachs.

Morgenstern conclui que a “própria estrutura da narrativa envolve o entrecruzar de

relatos baseados na memória daqueles que cercaram Emilie. Opera, assim, não só o resgate da

história de sua vida como o da história daqueles que mais intimamente a cercaram”

(MORGENSTERN, 2009, p. 72); ressalta ainda o espaço e o uso de foto como modos de

resgatar e perenizar a memória dos personagens que falecem ao longo do romance.

QUADRO 14– Dissertações ingressantes Turma 2008 – Memória e Identidade Cultural

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Adilson Barbosa

12/08/2010 Dra. Denise Almeida Silva –

Orientadora/Presidente – URI; Dr. Breno

Antonio Sponchiado – Co-orientador – URI;

Dr. Jorge de Souza Araújo – UEFS e Dr.

André Luís Mitidieri Pereira – URI

Cágada: riso, humor e

representação

Isabel Cristina Brettas

Duarte 13/08/2010

Dr. André Luís Mitidieri Pereira –

Orientador/Presidente – URI; Dr. Jorge de

Souza Araújo – UEFS e Dra. Nelci Muller –

URI

Miradas ao México de

Erico Verissimo: viagem,

narrativa e memória no

espaço autobiográfico

Rejane Seitenfuss

Gehlen 26/08/2010

Dr. André Luís Mitidieri Pereira –

Orientador/Presidente – URI; Dra. Heloisa

Toller Gomes – UERJ e Dra. Denise Almeida

Silva – URI

Angola sob a contística

pós-colonial de João Melo

Fonte: Quadro elaborado pela autora

O quadro 14 apresenta os três alunos ingressantes da LP - Memória e Identidade

Cultural, no ano de 2008, sendo que dois trabalhos foram orientados pelo professor André

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Luís Mitidieri Pereira e um pela professora Denise Almeida Silva, com co-orientação do

professor Breno Antonio Sponchiado. O primeiro aluno a realizar sua defesa foi Adilson

Barbosa, no dia 12 de agosto de 2010, com a pesquisa intitulada “Cágada: riso, humor e

representação”. Tinha por objetivo analisar o romance Cágada, de Gladstone Osório Mársico,

a fim de mostrar os ativadores de comicidade que provocam o riso e a reflexão, enquanto

crítica social e política acerca da colonização judaica no Rio Grande do Sul e dos momentos

que antecederam o golpe militar de 1964.

A dissertação foi dividida em quatro capítulos: o primeiro versa sobre a história do

riso no pensamento ocidental; o segundo capítulo trata do humor e da construção das

personagens da narrativa, e o terceiro capítulo estuda a relação entre riso e mito,

especialmente às narrativas de faroeste. O quarto capítulo analisa a inserção do romance em

dois contextos históricos distintos, separados por aproximadamente 40 anos: a colonização

judaica no Rio Grande do Sul e o golpe militar de 64. Para o estudo dos aspectos relacionados

ao riso, o aporte teórico foi buscado em Henri Bergson (1980) e Vladimir Propp (1992); em

Stuart Hall (2003), Catherine Woodward (2000) e Tomaz T. da Silva (2000) para análise da

representação da identidade cultural; Mircea Eliade (2006), Claude Levi Strauss (1979),

Eloína Prati dos Santos (2008), Moacir B. de Souza (2009) para pesquisas relacionadas ao

mito do faroeste e de Roland Barthes (1988), Isabel da R. Gritti (1997) e Thomas Skidmore

(1982) para o estudo da relação literatura e história.

Ao concluir a dissertação, Barbosa (2010) constata que o romance em análise “[...]

permite a noção de trânsito cultural, no qual personagens cruzam fronteiras imaginárias” e, ao

problematizar a “[...] questão identitária, permite um novo olhar sobre a história, [e] revela o

processo de abandono e opressão das minorias e abre um amplo espaço de reflexão”

(BARBOSA, 2010, p. 203; p. 200). Observa, ainda, que o estudo concernente ao riso, ao

humor, à comicidade é decisivo para a análise do romance, já que é fundamental à

compreensão da crítica social e histórica presente no romance.

Isabel Cristina Brettas Duarte defendeu sua dissertação, intitulada “Miradas ao México

de Erico Verissimo: viagem, narrativa e memória no espaço autobiográfico”, no dia 13 de

agosto de 2010, com orientação do professor André Luís Mitidieri Pereira. O trabalho objetiva

analisar, no âmbito da Literatura de Viagem, os diferentes tipos de viagens presentes na

narrativa e no espaço autobiográfico da obra México: narrativa de viagem, do escritor Erico

Verissimo. A autora analisa as relações entre o escritor enquanto viajante narrador e o

narrador/viajante enquanto instância que narra suas viagens, organizando-as textualmente; e a

memória – segundo o conceito benjaminiano - como mecanismo que une as instâncias

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viajante/narrador e narrador/viajante e entre autor, narrador e personagem, num típico

procedimento de narrativas que se inserem no espaço autobiográfico, segundo a definição de

Philippe Lejeune.

O estudo se desenvolve ao longo de três capítulos. O primeiro, “Erico Verissimo:

novos olhares sobre o viajante narrador/narrador-viajante”, enfatiza como a narrativa centra-

se no trabalho da memória, aliado à descrição da viagem, ao trajeto percorrido por Erico e às

informações que fornece sobre a terra visitada e suas gentes. O segundo, “Erico Verissimo:

miradas sobre a memória”, versa sobre a memória, segundo o conceito benjaminiano, como

mecanismo que une as instâncias viajante/narrador e narrador/viajante; já o terceiro, “Erico

Verissimo no espaço autobiográfico: confluência de instâncias diversas”, trata sobre o autor,

narrador e personagem, como triplicação de instâncias que se socorrem da memória.

Concluindo seu trabalho, Duarte (2010) menciona que “a figura do viajante-narrador e

as especificidades do seu olhar, retratadas pelo narrador-viajante, tornam-se uma constante no

livro. Associam-se a ela a questão do deslocamento e do contato com o diferente” (DUARTE,

2010, p. 84). Registra, também, o imbricamento de várias instâncias, razão pela qual “[...] o

processo narrativo e seus vínculos com a memória, segundo o conceito benjaminiano,

mostram-se de suma importância ao desvendamento das relações entre memória e narrativa”

(DUARTE, 2010, p. 87).

No dia 26 de agosto de 2010, Rejane Seitenfuss Gehlen apresenta sua pesquisa

“Angola sob a contística pós-colonial de João Melo”, orientada pelo professor André Luís

Mitidieri Pereira. O objetivo consistiu em relacionar as obras literárias Imitação de Sartre &

Simone de Beauvoir e Filhos da pátria, de autoria de João Melo, compreendidas como

literatura pós-colonial, com o colonialismo, o anticolonialismo, o neocolonialismo e o anti-

neocolonialismo, diretamente implicados no conceito de pós-colonialismo. Para viabilizar tal

estudo, divide-o em quatro capítulos: o primeiro, “Engajamento sartriano e formulações pós-

coloniais”, a partir da afirmação sartriana de que a obra de arte, vista de qualquer ângulo,

equivale a um ato de confiança na liberdade dos homens; o segundo, “Identidades e nações

de língua portuguesa”, faz referência à questão identitária e às literaturas dos países africanos

de língua portuguesa principalmente no período pós-colonial, em que a superação da condição

de subalternidade assume diferentes traços em cada país. O terceiro capítulo, “A escrita pós-

colonial de João Melo”, leva a uma releitura do engajamento como alteridade, fornecendo

lastro para a análise da obra literária Imitação de Sartre & Simone de Beauvoir. Já o quarto

capítulo. “A escrita pelo revés, histórias da margem” analisa as narrativas evidenciando a

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degradação social, pobreza, bem como os impactos da guerra na desagregação das famílias, e

os negócios escusos da elite angolana no período pós-independência.

A análise identifica discurso marcado pelo questionamento e pela denúncia de valores

opressivos, impostos por uma história de colonização e dominação, cujo processo de reversão

se inicia a partir da descolonização e se estende à atualidade. Gehlen conclui:

A textualidade pós-colonial apresenta espaços de contestação, onde se articulam

verdades expressas pela atitude de opor-se a todas as formas de opressão e

dominação, independente da delimitação do prefixo pós. A abordagem estética

criativa de João Melo volta-se para a conscientização da necessidade de resistência

através de muitas vozes e múltiplos pontos de vista, através dos quais se constroem e

reconstroem utopias, buscam-se saídas para a incerteza contemporânea da África de

língua portuguesa. (DUARTE, 2010, p 153)

QUADRO 15– Dissertações ingressantes Turma 2009 – Memória e Identidade Cultural

Nome/ Data

Defesa Orientador(a)/

Banca Título da Dissertação

Adriana Maria

Romitti Albarello 29/09/2011

Dra. Denise Almeida Silva –

Orientadora/Presidente – URI; Dr.

Uruguay Cortazzo González – UFPEL e

Dr. Lizandro Carlos Calegari – URI

Deslocamento, memória e identidade

em A Casa da Água, de Antonio

Olinto

Fonte: Quadro elaborado pela autora

Como o quadro 15 deixa claro, uma única aluna matriculou-se na LP 2 na turma de

ingressantes do ano de 2009, Adriana Maria Romitti Albarello, que se tornou a última aluna

dessa Linha de Pesquisa. A discente, orientada pela professora Denise Almeida Silva,

apresentou o trabalho “Deslocamento, memória e identidade em A Casa da Água, de

Antonio Olinto”, no dia 29 de setembro de 2011, o qual teve como objetivo estudar as

relações entre deslocamento, memória e identidade nesse romance. Ao longo de quatro

capítulos, essas relações foram analisadas a partir da história de vida dos personagens

Catarina, Mariana e os filhos, Joseph, Ainá e Sebastian, buscando compreender o duplo

deslocamento do negro, que, tendo sido escravizado, é trazido ao Brasil, e, com o término da

escravidão, retorna à África. A relação memória-identidade, a partir dos fundamentos teóricos

de Maurice Halbwachs (2006), Paul Connerton (1993), Ecléia Bosi (2001), Michael Pollack

(1992) e R. C. Brandão (1990), e o conceito de entre-lugar de Homi Bhaha foram

fundamentos teóricos expostos no capítulo inicial. O segundo capítulo trata da presença do

negro no contexto literário brasileiro e o terceiro capítulo ocupa-se do estudo da obra A casa

da água a partir das noções de deslocamento, memória e identidade.

Albarello registra que

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150

[...] estar em diferentes territórios pode revelar que o entre-lugar é capaz de abrir

caminho à significação de uma cultura, baseada na articulação de um misto de

tradições. Explorar o Terceiro Espaço é o meio de constituir-se, assim como o faz

Mariana, que reconstrói sua posição identitária, já que as identidades devem ser

entendidas como estratégias resultantes de desejos ou interesses de filiação a grupos

específicos e, portanto, elas são sempre passíveis de reestruturação. (ALBARELLO,

2011, p. 117)

No triênio, sete alunos desenvolveram pesquisas na LP – Memória e Identidade

Cultural. As orientações nesses três anos se dividiram entre o professor Dr. André Luís

Mitidieri Pereira e a professora Dra. Denise Almeida Silva, que mantiveram uma mútua

colaboração na composição das bancas, já que banca do dia 04 de novembro de 2010, com a

presidência do professor André Luís Mitidieri Pereira, foi a mesma do dia seguinte, com a

presidência da professora Denise Almeida Silva, tendo como professor externo o Dr. Adeítalo

Manoel Pinho (UEFS). O mesmo fato se repetiu no ano seguinte em mais duas defesas, que

contaram com a presença do professor Dr. Jorge de Souza Araújo, também da UEFS. As

demais defesas contaram com professores: Dra. Maria da Glória Bordini (UFRGS), Dr.

Uruguay Cortazzo Gonzáles (UFPEL) e Dra. Heloisa Toller Gomes (UERJ). Os convidados

externos refletem um claro alargamento das relações tecidas com docentes de outras IES, já

não mais restritos a docentes em atuação em universidades sitiadas no RS. Memória e

identidade se firmaram como temas recorrentes abordados pelos discentes orientados por

ambos os professores; o espaço biográfico, a partir das orientações do professor André Luís

Mitidieri Pereira, passou a figurar nas pesquisas. Esse triênio foi o último da LP – Memória e

Identidade Cultural, uma vez que, a partir do ano de 2010, uma nova LP foi criada,

Comparatismo e Processos Culturais, cujos objetivos estavam mais diretamente voltados aos

conceitos e métodos comparatistas.

3.3.2 Linha 2: Comparatismo e Processos Culturais

Criada no ano de 2010, a Linha de Pesquisa Comparatismo e Processos Culturais,

centrada nos conceitos e métodos do comparatismo, destinava-se a investigar os diálogos da

literatura com outros sistemas de conhecimento, processos culturais, políticos e

socioeconômicos. A partir dessa abrangência, buscava entender os discursos que integram o

campo da cultura, e seus bens simbólicos, deslocamentos, territorialidades, trocas culturais e

interrelações cultura/poder, operando com as noções de multiculturalismo, diversidade,

diferença, engajamento e agenciamento. Propunha o estudo das identidades culturais e suas

afirmações identitárias em áreas como a literatura, a história e a antropologia; dando

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continuidade aos estudos sobre a cultura regional, acompanhava, ainda, a produção de

conhecimento a partir de manifestações observáveis nas regiões Norte e Noroeste do Rio

Grande do Sul. Compreendia as teorias pós-estruturalistas, pós-modernistas e pós-

colonialistas em suas intersecções com a redefinição do sujeito moderno, abrangendo,

sobretudo, as textualidades contemporâneas, nelas incluindo literaturas de língua portuguesa,

inglesa e espanhola, assim como outras expressões artístico-culturais e seus processos de

articulação (CURRÍCULO, 2018).

As mestrandas Camila de Carli e Franciele Casagranda Metz foram as primeiras a

produzirem seus trabalhos nessa nova LP, sob a orientação da professora Maria Thereza

Veloso. A defesa de ambas ocorreu em fevereiro de 2013, em dias subsequentes, sendo a

composição de suas bancas idêntica, conforme quadro abaixo:

QUADRO 16– Dissertações ingressantes Turma 2010 – Comparatismo e Processos

Culturais

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Camila de Carli

06/02/2013 Dra. Maria Thereza Veloso –URI

Orientadora/Presidente; Dra. Aracy

Graça Ernst - UCPel e Dra. Denise

Almeida Silva - URI.

Do discurso original ao discurso

traduzido: uma análise discursiva, de

Pedro Páramo, de Juan Rulfo, pelo

viés da memória e da subjetividade

Franciele Casagranda

Metz 07/02/2013

Dra. Maria Thereza Veloso - URI

Orientadora/Presidente; Dra. Aracy

Graça Ernst –UCPel e Dra. Denise

Almeida Silva – URI

Poder instituído versus poder

marginal: confrontações discursivas

Fonte: Quadro elaborado pela autora

Camila de Carli foi a primeira a realizar a defesa de sua dissertação, no dia 06 de

fevereiro de 2013. Intitulada “Do discurso original ao discurso traduzido: uma análise

discursiva, de Pedro Páramo, de Juan Rulfo, pelo viés da memória e da subjetividade”, a

pesquisa objetivava estabelecer um possível diálogo entre os estudos literários e linguísticos,

verificando como os aspectos linguístico e ideológico foram transpostos e ressignificados para

a obra traduzida. A partir dos conceitos de língua, sujeito e sentido sob a ótica discursiva

provinda da Análise do Discurso de filiação francesa, o trabalho compara a obra original, a

novela Pedro Páramo, de Juan Rulfo, escrita no idioma espanhol, com sua tradução para o

português, mediante os conceitos de memória e de subjetividade, considerados a partir dos

pontos de vista discursivo e discursivo-literário.

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O estudo se faz ao longo de quatro capítulos. O primeiro toma a Análise do Discurso

de linha francesa como suporte teórico, buscando estabelecer, a partir dos conceitos de

Formação Discursiva, Condições de Produção, Interdiscurso, Intradiscurso e sujeito um

possível diálogo entre o discurso literário e o discurso linguístico. O segundo aborda

conceitos de tradução e a teoria dos polissistemas; o terceiro trata da memória pelo viés

social, a partir da memória e subjetividade, consideradas desde os pontos de vista discursivo e

literário. Por fim, o quarto capítulo traz a análise das obras no discurso de partida e do

discurso de chegada, considerados e comparados a partir das teorias citadas nos capítulos

anteriores.

Nas suas conclusões, Carli ressalta as interligações entre a ciência linguística – AD - e

a literatura, compreendendo que, a partir da AD, foi possível “[...] buscar em cada palavra um

significado nem tão evidente na superfície discursiva, mas passível de uma interpretação

discursiva” (CARLI, 2013, p. 70). Correspondências entre as duas línguas, e também

digressões decorrentes do uso cotidiano, informal, da língua original foram percebidas no

processo tradutório da obra, que traz à tona questões sociais, configurando, através de

estrutura narrativa fragmentada, “um mundo de desolação, com distintas formas de violência,

destruindo toda Comala, levando a população campesina mexicana a um desengano em

relação ao local em que vivia.” (CARLI, 2013, p. 69).

No dia 07 de fevereiro de 2013, Franciele Casagranda Metz defendeu seu trabalho,

intitulado “Poder instituído versus poder marginal: confrontações discursivas”. Também

fundamentada na Análise do Discurso (AD) de linha francesa, a dissertação teve como corpus

o filme “Tropa de Elite 2 - o inimigo agora é outro”, e visou apresentar reflexões analítico-

discursivas sobre o poder, a partir de recortes discursivos representativos sobre a polícia, a

milícia e a política, tomadas como sintoma de problemas que permeiam a conjuntura social do

país.

Estruturada em três capítulos, a dissertação apresentou também, nos dois capítulos

iniciais a discussão de aspectos teóricos, como fica claro já nos títulos dos capítulos:

“Identificando a base teórica” e “O discurso dito e o discurso não-dito”, os quais buscam o

pensamento de tomando como base reflexões de Michel Pêcheux, Eni Puccinelli Orlandi,

Maria Cristina Leandro Ferreira, Jean-Jacques Courtine, Jacques-Marie Émile Lacan, Michel

Foucault, Christian Metz, Louis Althusser e Jaqueline Authier-Revuz. O terceiro capítulo

“Pelos nós do sistema” é uma descrição interpretativa dos recortes discursivos fílmico-

imagéticos (RDF-I), sempre fundamentada na AD em diálogo com conceitos tomados à

cinematografia.

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153

Metz constata que José Padilha, diretor do filme, “não seguiu uma ordem linear tendo

por base a obra literária, mas sim, baseou-se em alguns fragmentos isolados para a construção

do discurso fílmico-imagético” (METZ, 2013, p. 106); ressalta, ainda, que o cinema político

brasileiro está voltado para questões da realidade social, refletindo a própria incapacidade

contemporânea de se pensar a política em sua dimensão normativa.

QUADRO 17– Dissertações ingressantes Turma 2011 – Comparatismo e Processos Culturais

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Larissa Paula Tirloni

31/08/2013 Dra. Maria Thereza Veloso – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Matilde

Contreras – UCPel; Dra. Ana Paula

Teixeira Porto - URI.

A obra poética de Octavio Paz:

transculturação e transcriação na

tradução de Blanco, por Haroldo

de Campos

Fonte: Quadro elaborado pela autora

Na turma ingressante em 2011, uma única aluna, Larissa Paula Tirloni, optou pela LP

Comparatismo e Processos Culturais. Sua dissertação, “A obra poética de Octavio Paz:

Transculturação e Transcriação na Tradução de Blanco, por Haroldo de Campos”, sob a

orientação da professora Maria Thereza Veloso, foi defendida no dia 31 de agosto de 2013. A

partir do comparatismo e da análise do discurso, Tirloni buscou estudar a prática tradutória

como um diálogo entre culturas, analisando de que forma os elementos poéticos são

articulados de modo a produzirem sentido na cultura alvo, sem se distanciarem da cultura

fonte, considerando-se os aspectos linguísticos e culturais do tradutor e do autor do poema.

Para tal, ao longo de três capítulos, servindo-se de aportes teóricos dos Estudos da Tradução

(capítulo 1, “Poesia em tradução: do contexto à transculturação”), e tomando a obra poética

de Octavio Paz (capítulo 2, “A obra poética de Octavio Paz: o texto em seu contexto histórico,

estético e ideológico”, a pesquisa avança para a análise do processo tradutório (capítulo 3,

“Octavio Paz em tradução no Brasil: a perspectiva crítico-tradutória de Haroldo de Campos”).

Nas considerações finais do trabalho, a pesquisadora destaca que “o tradutor Haroldo

de Campos atém-se ao macroestrutural e conteudístico do poema, promovendo um diálogo

constante, livre de concepções estanques, deixando florescer as inúmeras possibilidades

hermenêuticas do jardim da tradução” (TIRLONI, 2013, p. 119) e que “a estética utilizada no

poema Blanco articula forma e conteúdo, uma versificação que permite o livre fluir, uma

discursividade poética que se articula ao ritmo dos versos, o que foi mantido e destacado por

Haroldo de Campos em sua transcriação” (TIRLONI, 2013, p. 120).

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QUADRO 18– Dissertações ingressantes Turma 2012 – Comparatismo e Processos Culturais

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Joice Machado

25/11/2014 Dra. Maria Thereza Veloso – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Franciele

Matzembacher - UFSM e Dra. Denise

Almeida Silva – URI

Sobre a fidelidade na tradução:

reflexões a partir da versão da

obra Disgrace, de J. M.

Coetzee, ao português

Rita de Cássia Dias

Verdi Fumagalli 26/02/2015

Dra. Maria Thereza Veloso – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Aracy Ernst –

UCPEL e Dra. Silvia Helena Pinto

Niederauer – URI

Do livro ao filme: a

constituição do sujeito

discursivo em O meu pé de

laranja lima

Fonte: Quadro elaborado pela autora

Conquanto a turma ingressante em 2012 fosse a maior desde a criação do Mestrado,

contando com 15 alunos, apenas duas mestrandas optaram por desenvolver suas pesquisas

nessa linha, Joice Machado e Rita de Cássia Dias Verdi Fumagalli. A orientadora de ambas

foi a professora Maria Thereza Veloso. A primeira a defender sua dissertação foi Joice

Machado, no dia 25 de novembro de 2014, com o trabalho intitulado “Sobre a fidelidade na

tradução: reflexões a partir da versão da obra Disgrace, de J. M. Coetzee, ao português”. O

trabalho estuda em que medida o tradutor José Rubens Siqueira interpreta as sutilezas que

remetem ao contexto histórico de produção da obra (África do Sul, no período imediatamente

subsequente à queda do Apartheid).

Estruturado em apenas dois capítulos, o trabalho busca, no capítulo 1, “A problemática

da tradução: a tradução como contato de línguas”, os fundamentos necessários ao estudo do

ato tradutório, prosseguindo em “O relato da obra Disgrace e da vida do autor, J. M.

Coetzee”, capítulo 2, com a análise de recortes discursivos da obra, os quais foram

selecionados de forma a ressaltar as questões de territorialidade e ideologia, ressaltando ainda,

quanto ao fazer tradutório, aproximações e distanciamentos com relação à obra original.

Nas considerações finais, Machado (2014) menciona que a obra Disgrace, de J. M.

Coetzee, está aproximada de sua tradução, Desonra “[...] em termos de essência, expressões

idiomáticas e sutilezas. Siqueira soube com precisão codificar Disgrace em sua leitura da

obra como um todo e recodificá-la em Língua Portuguesa, mantendo a essência original e

aproximando-a também do entendimento do público brasileiro” (MACHADO, 2014, p. 73).

Rita de Cássia Dias Verdi Fumagalli defendeu sua dissertação “Do livro ao filme: a

constituição do sujeito discursivo em O meu pé de laranja lima. O estudo propôs uma leitura

intertextual do filme O meu pé de laranja lima (2012), de Marcos Bernstein, em relação à

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obra literária homônima, de José Mauro de Vasconcelos, escrita em 1968. Partindo do

capítulo “Análise do discurso como procedimento interpretativo”, que trata sobre conceitos

essenciais à Análise do Discurso de filiação francesa, o trabalho prossegue com “O corpus

literário-cinematográfico como materialidade para pesquisas em Análise do Discurso”,

voltado à relação entre literatura e cinema, e avança, no terceiro capítulo, “Do livro ao filme:

a constituição do sujeito discursivo em O meu pé de laranja lima” para o cotejo entre as

duas narrativas.

Fumagalli destaca, em suas conclusões, que “[...] o discurso do Outro emerge na voz

do sujeito discursivo Zezé enquanto um efeito de memória discursiva” (2015, p. 124),

ressaltando que “[...] no personagem analisado e em seu discurso [...] o Outro não é um objeto

exterior, sobre o qual se fala, mas a condição constitutiva, o quê estruturante do seu discurso.

Zezé passa a ser efeito de linguagem, uma representação das formas da linguagem que ele

enuncia” (FUMAGALLI, 2015, p.125). Através da leitura da obra literária e cinematográfica

na perspectiva da AD foi possível perceber “como os sujeitos são constitutivamente

heterogêneos, fragmentados, e como o discurso não é uma entidade pronta e determinada, mas

constitutiva, opaca e incompleta” (FUMAGALLI, 2015, p. 127).

No triênio 2010-2012, os cinco alunos que optaram por pesquisas desenvolvidas na LP

Comparatismo e processos culturais foram orientados pela professora Dra. Maria Thereza

Veloso, realizando análises a partir do viés da análise do discurso de linha francesa. Todas as

orientações centraram-se em estudos de tradução (tanto literária como inter-semiotica,

envolvendo literatura e cinema), transculturação e transcriação. A composição das bancas

indica um claro desenvolvimento de cooperação com a UCPEL, instituição de formação da

professora Maria Thereza Veloso, com a presença da professora Dra. Aracy Graça Ernst

(UCPel), que participou três vezes, Dra. Matilde Contreras (UCPel) e Dra. Franciele

Matzembacher (UFSM), uma vez cada. Os teóricos utilizados nas pesquisas foram Pêcheux,

Orlandi, Lacan e Focault e algumas das obras analisadas Disgrace, de J.M. Cotzee, Pedro

Páramo, de Juan Rulfo e a tradução da obra de Octavio Paz por Haroldo de Campos.

QUADRO 19– Dissertações ingressantes Turma 2013 – Comparatismo e Processos Culturais

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Adejane Pires da Silva

24/02/2016

Dra. Maria Thereza Veloso – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Luciana

Iost Vinhas – FURG e Dra. Rosângela

Fachel de Medeiros –URI

A materialidade do silêncio na

construção de sentidos em La

piel que habito, de Pedro

Almodóvar

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Camila Muller Stuelp

27/08/2015

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Ângela

Zamim – UFSM e Dra. Luana Teixeira

Porto – URI

Retratos do eu: um olhar sobre

o papel do jornalista literário

nas obras Área de segurança

Gorazde e Philomena

Luana Paula Candaten

24/02/2016

Dra. Maria Thereza Veloso – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Ângela

Maria Zamin - UFSM e Dra. Rosângela

Fachel de Medeiros –URI

A mulher na crônica brasileira

dos séculos XX e XXI: um

olhar sobre o discurso de

cronistas homens e mulheres

Fonte: Quadro elaborado pela autora

No ano de 2013, de onze alunos ingressantes, quatro desenvolveram pesquisas na LP –

Comparatismo e Processos Culturais. Pela primeira vez, as orientações dessa LP foram

compartilhadas por uma segunda orientadora, a professora Denise Almeida Silva; continuava,

porém, a professora Maria Thereza Veloso como a orientadora mais frequente dessa LP, o que

é compreensível, dado que concentrava suas pesquisas apenas nesse direcionamento.

A primeira aluna a apresentar sua defesa de dissertação foi Camila Muller Stuelp, no

dia 27 de agosto de 2015, com o trabalho intitulado “Retratos do eu: um olhar sobre o papel

do jornalista literário nas obras Área de segurança Gorazde e Philomena”, orientado pela

professora Denise Almeida Silva. Mestranda com formação original na área da Comunicação

Social, Stuelp optou por eleger, como seu objetivo central, analisar o jornalista enquanto

personagem e narrador em dois relatos: o livro-reportagem Philomena: Uma mãe, seu filho e

uma busca que durou cinquenta anos e a obra Área de segurança Gorazde: A guerra na

Bósnia Oriental. A fundamentação teórica da pesquisa ressaltou os conceitos de jornalismo

literário e o ofício do jornalista, sobretudo a partir de Marcelo Bulhões (2007), Rogério

Borges (2013) e Sergio Vilas Boas (2007); livro-reportagem e histórias em quadrinhos, com

fundamentação em Edvaldo Pereira Lima (2009) Will Eisner (1989) e José Arbex (2000) e a

“reportagem de ideias”, a partir de Michel Foucault (2008) e Marocco (2008).

A pesquisa foi dividida em três capítulos, reservando apenas ao primeiro a

fundamentação teórica. O segundo capítulo, dedicado à descrição e análise da obra Área de

segurança Gorazde, de Joe Sacco (2001), traça inicialmente um panorama acerca do

jornalismo do autor, que tem como foco os quadrinhos de guerra, passando depois à análise

do jornalista como autor e personagem na obra em estudo. O terceiro capítulo, “Philomena”,

apresenta primeiro o contexto que deu origem à obra, detendo-se a seguir na análise do papel

do jornalista nessa obra do jornalista Martin Sixsmith (2014).

Em suas conclusões, Stuelp destaca que “ainda que em formatos diferentes, o

jornalismo em quadrinhos de Joe Sacco em Área de segurança Gorazde e o livro-

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reportagem Philomena, de Martin Sixsmith, têm diversos aspectos em comum” (STUELP,

2015, p. 100). Os autores se preocuparam “com a descrição dos detalhes em cada imagem e

em cada capítulo, exercendo uma característica fundamental no campo do jornalismo literário:

o detalhamento das cenas” (STUELP, 2015, p. 102); além disso, ambos conferem importância

aos sentimentos dos personagens. Por fim, a pesquisadora enfatizou que as obras “[...] acabam

tornando-se documentários históricos daquelas sociedades e dos momentos que vivenciaram”

(STUELP, 2015, p. 104).

Seguindo costume verificado desde as primeiras defesas do curso, as três demais

mestrandas optantes por esta LP, orientadas todas pela professora Dra. Maria Thereza Veloso,

realizaram suas defesas em dias subsequentes - 24/02/2016: Adejane Pires da Silva e Luana

Paula Candaten; 25/02/2016 - Vanderleia Skorek - e com bancas constituídas de forma

bastante similar.

Inicialmente, na manhã do dia 24 de fevereiro, Luana Paula Candaten defendeu o

trabalho “A mulher na crônica brasileira dos séculos XX e XXI: um olhar sobre o discurso de

cronistas homens e mulheres”, o qual visou identificar a imagem da mulher representada em

crônicas brasileiras escritas por cronistas homens e mulheres em diferentes épocas e

momentos históricos. Foram utilizadas duas ferramentas: a Análise de Discurso e a Literatura

Comparada, as quais foram discutidas no capítulo inicial. O segundo capítulo reflete sobre a

história das mulheres, a história da literatura e as relações possíveis entre ambas. No terceiro

capítulo, foram analisadas as crônicas “Enigma”, de Clarice Lispector; “A viúva na praia”, de

Rubem Braga, ambos do século XX, e “A mulher independente”, de Martha Medeiros e “os

homens desejam as mulheres que não existem”, de Arnaldo Jabor, cronistas do século XXI.

Em suas conclusões, Candaten destaca que, nas crônicas escritas por mulheres, há uma

mulher que usa de seus direitos, é independente, atua na sociedade sem se importar com

regras pré-estabelecidas de conduta. Já nas crônicas escritas por homens há representação da

mulher sendo idolatrada, não pela doçura, pela essência, pelo caráter, mas sim pela beleza

exterior, pelo belo corpo, cada vez mais artificial, e pela capacidade que tem de despertar o

prazer masculino, porém, de uma forma diferente em cada cronista.

Ainda no dia 24 de fevereiro, à tarde, Adejane Pires da Silva defendeu seu trabalho,

intitulado “A materialidade do silêncio na construção de sentidos em La piel que habito, de

Pedro Almodóvar”, no dia 24 de fevereiro de 2016, com orientação da professora Maria

Thereza Veloso. O objetivo do trabalho foi estudar o sentido discursivo do silêncio mediante

uma reflexão sobre o silêncio fundador e a política do silêncio, conceitos desenvolvidos por

Eni Orlandi. A atenção esteve voltada para as condições de produção em que esse discurso foi

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produzido e/ou silenciado, observando-se atentamente às questões ideológicas, históricas e

culturais do discurso. O corpus foi composto por recortes discursivos fílmico-imagéticos do

filme La piel que habito, de Pedro Almodóvar (2011), ambientado na cidade de Toledo,

Espanha.

Seguindo os moldes tradicionais, Adejane reserva os dois primeiros capítulos as

discussões teóricas, pautadas pela AD, e o terceiro à análise do filme, através de recortes

fílmico-imagéticos. A mestranda inova formalmente, ao duplicar, na materialidade do papel, o

silêncio sobre o qual reflete. Como a autora mesmo explica, ao abrir cada capítulo da

dissertação, optou

[...] pela pausa, simbolicamente marcada pela ausência da fala, do discurso, mediado

aqui pela escrita. Assim, a página introdutória de cada capítulo apresenta-se

parcialmente em branco. Contém apenas o título do referido capítulo e uma epígrafe,

representando o silêncio, ou seja, o respiro necessário para significar a análise dos

discursos deste estudo, pois, como define Orlandi, o silêncio é o „fôlego da

significação, um lugar de recuo necessário para que se possa significar, para que o

sentido faça sentido‟(2007, p. 13)”. (SILVA, 2016, p. 12)

Nas considerações finais, Silva menciona que a “reflexão sobre o silêncio é algo

complexo e se mostrou algumas vezes um terreno arenoso, por que o sentido está nas fissuras,

naquilo que não é visível e, entretanto, movimenta o sentido do texto”. (SILVA, 2016, p. 74).

A pesquisadora percebe que “as estratégias de silenciamento do outro denunciam as relações

de força, poder e violência que podem funcionar nos processos de interdição do sentido”

(SILVA, 2016, p. 76), evidenciando que o discurso é atravessado por outros discursos.

Um dia depois, a 25 de fevereiro de 2016, Vanderleia Skorek defendeu seu trabalho,

denominado “Reatualização do mito do gaúcho/gaucho em formações discursivas presentes

em contos produzidos na comarca pampeana”. Uma vez que o trabalho não está disponível

para consulta no site, nem na biblioteca, torna-se impossível, por hora, sua análise.

QUADRO 20– Dissertações ingressantes Turma 2014 – Comparatismo e Processos

Culturais

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Bibiane Trevisol

04/10/2016

Dra. Maria Thereza Veloso – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Vanessa

Ribas Fialho - UFSM) e Dra. Rosângela

Fachel de Medeiros – URI

O estudo do RPG Vampiro: a

máscara em contato com a

Análise do Discurso:

Reflexões sobre ideologia e

sujeito

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159

Michele Neitzke

01/08/2017

Dra. Rosângela Fachel de Medeiros – URI

Orientadora/Presidente; Dra Janaína de

Azevedo Baladão de Aguiar – PUC; Dra.

Cecilia Nuria Gil Mariño - CONICET –

Argentina e Dra. Maria Thereza Veloso –

URI

Medianeras- Buenos Aires da

era do amor virtual– A

comédia romântica no cinema

argentino contemporâneo:

entre o local e o global

Valtenir Muller

Pernambuco

24/11/2016

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Cássio

Tomaim – UFSM e Dra. Ana Paula

Teixeira Porto – URI

A representação do casamento

na obra a Megera domada e

na telenovela O cravo e a

Rosa

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A partir do ano de ingresso de 2014, passaram a ser três as professoras orientadoras da

LP Comparatismo e Processos Culturais: às professoras Maria Thereza Veloso e Denise

Almeida Silva, já atuantes nessa LP, somou-se a professora Rosângela Fachel de Medeiros, as

três professoras orientaram os quatro alunos optantes por essa Linha de Pesquisa nesse

ingresso. Considerando-se a realidade de quatorze ingressantes, e três Linhas de Pesquisa,

houve boa distribuição de mestrandos entre as diversas linhas oferecidas pelo curso, e seus

orientadores. Nesse momento, foram atribuídas à professora Dra. Rosângela Fachel de

Medeiros dois orientandos, e um a cada uma das demais orientadoras dessa LP. Como um

aluno não entregou versão final, não houve possibilidade de analisar sua pesquisa. Destaque a

ser registrado é que Michele Neitzke foi a primeira aluna do PPGL- Mestrado em Letras da

URI a realizar parte de sua formação em uma universidade estrangeira, realizando estudos

com o professor Jerónimo Rivera Betancour na Universidad de la Sabana, Colombia.

A primeira aluna dessa linha a defender sua dissertação foi Bibiane Trevisol, no dia 04

de outubro de 2016, com o trabalho “O estudo do RPG Vampiro: a máscara em contato com

a Análise do Discurso: reflexões sobre ideologia e sujeito”. Ao escolher esse corpus, a

dissertação torna-se também, a seu modo, pioneira: pela primeira vez a narrativa do RPG

torna-se central, deslocando para si as atenções até então voltadas para a narrativa literária

e/ou fílmica. O trabalho teve como objetivo registrar uma leitura de cunho comparatista tendo

como base a obra Vampiro: A máscara, de Mark Rein Hagen (1998) e sua comparação com

criações narrativas do RPG, tendo sido a análise proposta na perspectiva da AD de linha

francesa, ressaltando o pensamento de Michel Pêcheux e Eni Puccinelli Orlandi, abrangendo

a linguística e as ciências sociais.

Dada a novidade, para a academia, do tema proposto, o primeiro dos três capítulos em

que se estrutura o trabalho apresenta a importância do RPG como objeto de estudo e a sua

classificação, seguida de uma apresentação do estereótipo do vampiro como conhecido da

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160

literatura e obras cinematográficas, esclarecimentos sobre o cenário do jogo (Los Angeles) e

uma desconstrução de uma ficha de RPG, esta última para evidenciar como se constrói um

personagem nesse jogo. O Capítulo dois traz uma reflexão sobre as teorias da Ideologia

materialista de Althusser, as diferenças de concepção dos vampiros conhecidos, e relaciona-se

essa caracterização ao sistema capitalista ocidental, pensando-se a metáfora da máscara como

fenômeno semântico que provoca um deslizamento de sentido através de uma substituição

contextual. O terceiro capítulo foi composto pelas análises tanto dos Recortes Discursivos

quanto dos Recortes Áudio-discursivos e dos personagens, estabelecendo um paralelo entre as

diversas construções de vampiros, tomados como estereótipos de classes e modismos sociais.

A mestranda Trevisol percebeu que “durante o andamento das análises, os sentidos que estão

intrínsecos no texto são manifestados pela organização interna dos discursos que são

enunciados e materializados” (TREVISOL, 2016, 108).

A dissertação defendida por Valtenir Muller Pernambuco a 24 de novembro de 2016,

com claro caráter comparatista, introduziu ainda outra novidade quanto ao corpus da pesquisa,

incluindo, pela primeira vez no programa, o estudo da narrativa da telenovela em seu trabalho

“A representação do casamento na obra a Megera domada e na telenovela O cravo e a

Rosa”. O trabalho tem por objetivo identificar possíveis relações entre a obra literária e a

telenovela que conduzem à reflexão crítica sobre o comportamento humano nas sociedades

enfocadas em cada obra, respectivamente, a Inglaterra elizabetana e o Brasil do início do

século XX, tomando o casamento como parâmetro para a análise. O texto se estrutura em três

capítulos: o inicial caracteriza os gêneros em estudo, ou seja, a comédia romântica

shakespeariana e a telenovela brasileira; o segundo discute o casamento nos dois contextos

abrangidos pelo corpus em análise. Por fim, no terceiro capítulo, Pernambuco apresenta a

abordagem sobre o casamento em cada uma das obras.

Para o pesquisador, “tanto a peça quanto a telenovela [...] com grande ênfase,

representaram as lutas de poder que ocorrem dentro dos relacionamentos conjugais”

(PERNAMBUCO, 2016, p. 102). Destaca que a mulher representada na telenovela tem maior

influência nas decisões sobre o casamento, indicando o momento histórico brasileiro, quando

a mulher estava conquistando seu espaço e adquirindo direitos; já a peça de Shakespeare

apresenta a submissão da mulher, submetida ao casamento por obrigação, declarando

submissão ao pai e ao marido.

No dia 01 de agosto de 2017, Michele Neitzke defendeu sua dissertação intitulada

“Medianeras - Buenos Aires da era do amor virtual – A comédia romântica no cinema

argentino contemporâneo: entre o local e o global”. O objetivo foi analisar a obra do diretor

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161

argentino Gustavo Tartetto a partir de sua condição de comédia romântica, para o que retoma

proposições teórico-críticas de Daniel Chandler (1997), Robert Stam (2000), Barry Langford

(2005) e Tamar Jeffers McDonald (2007). Em seu primeiro capítulo, Neitzke faz revisão

cinematográfica e teórico-crítica referente à conformação desse gênero no cinema clássico de

Hollywood até sua reconfiguração no cinema transnacional hollywoodiano contemporâneo,

destacando dois repertórios fundamentais ao gênero: o Meet Cute (Primeiro Encontro) e o

Happy End (Final Feliz), e sua estratificação em subgênero. No segundo capítulo, “A comédia

romântica no cinema argentino contemporâneo” compara a comédia hollywoodiana com os

filmes produzidos pelo cinema argentino contemporâneo. No terceiro capítulo “Medianeras:

a globalização da comédia romântica”, Neitzke analisa o filme, partindo do processo de

expansão narrativa do curta para o longa-metragem, enquanto coprodução transnacional que

recorre a um imaginário cultural e cinematográfico globalizado, observando como ocorre a

repetição e a reconfiguração destes repertórios.

Nas considerações finais, considera a aderência à cultura local e ao universo midiático

argentino como possível fonte da não popularidade dessas obras fora da Argentina; contudo

“o centro temático e estético da narrativa está construído então a partir de uma perspectiva

audiovisual globalizada no qual o contexto local está alicerçado em elementos, repertórios e

referências globalizadas e internacionalmente significantes” (NEITZKE, 2017, p. 85).

QUADRO 21– Dissertações ingressantes Turma 2015 – Comparatismo e Processos Culturais

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Cristiane Teresinha

Mossmann Quevedo

29/09/2017

Dra. Maria Thereza Veloso–URI

Orientadora/Presidente; Dr. Jorge Sala -

UBA- Argentina; Dra. Aracy Graça

Ernst - UCPEL e Dra. Rosângela Fachel

de Medeiros – URI

A exterioridade da violência

em jogos na Hora da Sesta:

considerações a partir da

tradução à luz da Análise do

Discurso

Elis Gorett Lemos da

Fonseca

26/10/2017

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Tatiana

Lebedeff – UFPEL e Dra. Maria Thereza

Veloso – URI

Leitura, surdez e inclusão:

tradução comentada do conto

“Vestida de Preto” do

português para a Língua

Brasileira de Sinais – Libras

Fonte: Quadro elaborado pela autora

No ano de 2015, na LP – Comparatismo e Processos Culturais, cinco alunos

desenvolveram pesquisas, sendo que três dissertações foram orientadas pela professora

Rosângela Fachel de Medeiros, uma pela professora Denise Almeida Silva e uma pela

professora Maria Thereza Veloso. Uma vez que três dos mestrandos devem, ainda, entregar a

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162

versão definitiva do seu trabalho, estes não constam na base de dados do Mestrado, e não

puderam ser alvo de análise.

A primeira aluna a fazer a defesa de sua dissertação foi Cristiane Teresinha Mossmann

Quevedo, no dia 29 de setembro de 2017. Intitulada “A exterioridade da violência em Jogos

na Hora da Sesta: considerações a partir da tradução à luz da Análise do Discurso”, a

pesquisa visou contrastar o texto da peça Jogos na Hora da Sesta, e o texto, traduzido por

Eduardo San Martín, a fim de identificar a presença de elementos exteriores que influenciam

na constituição dos sujeitos discursivos, e constatar a existência de pistas da exterioridade da

violência e de ideologias nas traduções. A fundamentação teórica do trabalho trouxe as

contribuições de estudiosos da arte teatral, como Vasconcellos, e de pensadores/pesquisadores

da área de Análise do Discurso, como Pêcheux, Althusser, Lacan, Foucault, Orlandi e

Mazière.

A dissertação foi estruturada em três capítulos: o primeiro, “Tradução e processos

tradutórios sob uma perspectiva discursiva”, o segundo, “Exterioridade no discurso:

ideologia, contexto histórico e a constituição dos sujeitos” e o terceiro, “Jogos na Hora da

Sesta: o discurso dramático”, ao longo dos quais a autora analisou as soluções utilizadas

pelos tradutores para reproduzir, nas línguas de chegada, no caso o português e o espanhol da

Espanha, o discurso carregado de significação na cultura argentina.

Nas considerações finais, Quevedo assevera: “O contexto histórico da população da

Argentina está presente em toda obra, reproduzindo a violência, através da Memória

Discursiva, tanto da própria dramaturga, como da memória social dos povos latino-

americanos” (QUEVEDO, 2017, p. 111). Pelo valor histórico e por colocar em discussão as

leituras do passado e os conceitos e dúvidas do presente, a autora compreende o tradutor

como um sujeito histórico e constituído.

“Leitura, surdez e inclusão: Tradução comentada do conto Vestida de Preto do

português para a Língua Brasileira de Sinais – Libras” foi o título da pesquisa da aluna Elis

Gorett Lemos da Fonseca, a qual foi apresentada no dia 26 de outubro de 2017, com

orientação da professora Denise Almeida Silva. A autora objetivou produzir uma tradução

comentada do conto Vestida de Preto, de Mário de Andrade, do Português para a Língua

Brasileira de Sinais- Libras, de forma a prover, ao adolescente surdo, literatura em sua língua

materna, adequada a sua faixa de desenvolvimento maturacional e capaz de promover sua

inclusão ao mundo literário.

A pesquisa foi dividida em quatro capítulos. Após delinear as motivações e universo

da pesquisa no primeiro capítulo, Fonseca apresenta questões relativas à identidade e à cultura

Page 163: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

163

surda no segundo capítulo, reservando o terceiro para a discussão da questão tradutória

propriamente dita, tendo em vista, sobretudo, processos específicos da tradução do Português

para Libras. O último capítulo compreendeu a análise da tradução, comentando as estratégias

tradutórias que se fizeram necessárias em virtude do texto de partida, do texto de chegada e

das características do leitor surdo, público primeiro a quem essa tradução se destina.

Em suas reflexões conclusivas, Fonseca (2017) registra “que as escolhas do tradutor

de Libras interferem diretamente na compreensão e apropriação do texto pelo surdo, e as

estratégias usadas podem levar a diferentes maneiras de perceber as intenções do autor”

(FONSECA, 2017, p. 93). Ressalta que “a literatura pode e deve fazer parte da vida escolar e

particular da pessoa surda e não possibilitar tal oportunidade é o mesmo que mutilar o

conhecimento para um sujeito” (FONSECA, 2017, p. 94).

QUADRO 22– Dissertações ingressantes Turma 2016 – Comparatismo e Processos Culturais

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Simão Cireneu Milani

Aldôr Nunes da Silva

28/09/2018

Dra. Rosângela Fachel de Medeiros – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Maria Thereza

Veloso – URI; Dr. Luís Filipe de Bargança e

Souza da Silva Teixeira - Ulisboa – Portugal

A expansão do universo

narrativo de Batman na

série de games Arkham

Fonte: Quadro elaborado pela autora

No ano de 2016, dos quatro alunos que optaram pela LP – Comparatismo e Processos

Culturais, apenas o aluno Simão Cireneu Milani Aldôr Nunes da Silva, até a presente data,

defendeu sua dissertação, intitulada “A Expansão do universo narrativo de Batman na série de

games Arkham”, no dia 28 de setembro de 2018, com orientação da professora Rosângela

Fachel de Medeiros. Tal pesquisa objetivou analisar a série de games do Batman, estudando

seus mais de 70 anos de história, que passaram pelas mais diversas mídias, já que a série de

games “[...] expande o universo narrativo de Batman, rearticulando elementos advindos de

diferentes narrativas, linguagens e tecnologias” (SILVA, 2018, p. 12). A pesquisa foi norteada

pelas teorias da adaptação de Robert Stam (2006), da transmidiação, de Henry Jenkins (2007),

Carlos A. Scolari (2015) e da convergência, de Henry Jenkins (2009).

O trabalho foi estruturado em três capítulos: o capítulo I “As várias vidas de Batman –

das HQS aos games”, buscou percorrer o trajeto das migrações do personagem e de seu

universo narrativo para várias linguagens e mídias até chegar ao de “Arkhamverse”. No

capítulo II, “Da adaptação à transmidiação – caminhos de convergência narrativas” descreve a

série Arkham, buscando aporte em teóricos como: Robert Stam, Julia Kristeva, Henry

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164

Jenkins, Carlos Scolari e Luís Filipe B. Teixeira. O capítulo III, “A expansão do universo

narrativo de Batman na série de games Arkham”, é analítico, buscando entender a forma

como o universo narrativo de Batman se expande. Em suas conclusões finais, Silva (2018)

destaca que o “novo leitor/espectador/jogador transforma sua antiga passividade de receptor

em entrada ativa narrativa como prossumidor (produtor-consumidor)” (SILVA, 2018, p. 143).

A análise desta linha de pesquisa se encerra com a narrativa da conclusão do trabalho

relativo ao ingresso em 2016, nenhum dos três alunos ingressantes em 2017 concluiu, até o

momento, suas pesquisas.

Entre os anos de 2013 a 2016, quatorze dissertações foram produzidas na LP –

Comparatismo e Processos Culturais. Nesse período, as orientações foram divididas entre as

professoras Denise Almeida Silva, com três orientandos, Maria Thereza Veloso, com cinco

orientandos e Rosângela Fachel de Medeiros, com seis, havendo a prevalência de temas

relativos à tradução interlingual, intersemiótica, à análise de narrativas não convencionais

(pouco estudadas na academia, como a de séries de games e RPM), e trabalhos comparativos

entre a linguagem literária e cinematográfica ou televisiva.

Percebe-se, também nesta Linha de Pesquisa, a prevalência de narrativas

contemporâneas e/ou clássicas, como Philomena: uma mãe, seu filho e uma busca que durou

cinquenta anos e a obra Área de segurança Gorazde: a guerra na Bósnia oriental, a peça

Jogos na hora da sesta, a narrativa fílmica Medianeras – Buenos Aires da era do amor

virtual, vídeo clipes „Te aviso, te anuncio e Pa’ bailar, series de games Arkhan e o conto

de Mario de Andrade Vestida de preto, Clarice Lispector, Martha Medeiros e Arnaldo Jabor.

Estiveram presentes nas bancas, como docentes externos, professores da UFSM,

como a Dra. Ângela Maria Zamim (convidada três vezes no período), Dra. Janaína de

Azevedo Baladão de Aguiar (PUC), presente duas vezes, Dr. Cassio dos Santos Tomaim e a

Dra. Vanessa Ribas Fialho (ambos da UFSM), além da Dra. Tatiana Lebedeff (UFPEL), Dra.

Luciana Iost Vinhas (FURG) e Dra. Aracy Graça Ernst (UCPel). A expansão dos laços de

cooperação é indicada pela extensão de convites a docentes do exterior, como Dr. Jorge Sala

(UBA-Argentina), Dra. Cecília Nuria Gil Mariño (CONICET- Argentina) e Dr. Luis Filipe de

Bargança e Souza da Silva Teixeira (ULisboa – Portugal).

3.4 Dissertações produzidas a partir da linha 3: Leitura, Linguagens e Ensino (2013)

No ano de 2013, o Mestrado em Letras criou uma nova Linha de Pesquisa, “Leitura,

Linguagens e Ensino”, buscando atender às demandas regionais na área de Letras com relação

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165

à formação profissional. A partir dessa implementação, houve uma reformulação no

programa, necessária à fundamentação teórica da área de concentração do programa e ao

exercício da pesquisa. Atuaram como professoras orientadoras, nesse primeiro momento, as

professoras Ana Paula Teixeira Porto e Luana Teixeira Porto, as quais tiveram papel

fundamental para a criação e implementação dessa LP. Dentre os alunos matriculados na

turma de 2013, três escolheram a Linha de Pesquisa “Leitura, Linguagens e Ensino” e

desenvolveram pesquisas em torno dos seguintes conceitos:

A LP Leitura, Linguagens e Ensino têm como objetivo investigar a leitura da

literatura, correlacionando-a com outras linguagens da história, das mídias, das artes

plásticas, do teatro e da canção. Oportuniza a reflexão acerca da leitura de gêneros

discursivos e não discursivos e da formação do leitor, contemplando abordagens

teórico-práticas de ensino da leitura. Propicia a discussão dos conceitos de leitor,

gêneros literários e não literários, linguagem, mídia, modernidade e metodologia de

pesquisa em Letras, ensino da literatura e cânone literário. Busca relacionar

processos que envolvem a leitura, a literatura e outras linguagens no contexto do

ensino superior e da educação básica do século XXI (CURRÍCULO, 2018).

QUADRO 23– Dissertações ingressantes Turma 2013 – Leitura, Linguagens e Ensino

Nome/ Data Defesa Orientador(a)Banca Título da Dissertação

Ana Lucia Rodrigues

Guterra 26/08/2015

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Miguel

Retternmaier – UPF e Dra. Denise

Almeida Silva – URI

Literatura, violência e ensino: uma

proposta de prática de leitura

comparatista para o Ensino Médio

Daiane Samara

Wildner Ott 15/09/2015

Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Miguel

Rettenmaier - UPF e Dra. Luana

Teixeira Porto – URI

Ferramenta Hagáquê na mediação

de leitura: uma proposta para a

formação de leitor de literatura no

1º ano do Ensino Médio

Jaime André Klein

02/05/2015 Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra Gabriela

Fernanda Cé Luft – UPF e Dra. Ana

Paula Teixeira Porto – URI

Leitura e ensino de literatura

contemporânea no Ensino Médio:

um olhar crítico sobre livros

didáticos do PNLD 2015

Fonte: Quadro elaborado pela autora

O primeiro aluno do Mestrado em Letras da URI a apresentar seu trabalho na LP 3 foi

Jaime André Klein, no dia 02 de maio de 2015, com o trabalho “Leitura e ensino de literatura

contemporânea no Ensino Médio: um olhar crítico sobre livros didáticos do PNLD 2015”,

com orientação da professora Luana Teixeira Porto. Dentre os objetivos expostos para a

realização da pesquisa, destaca-se a discussão do ensino de literatura na escola a partir da

identificação de fragilidades e potencialidades dos livros didáticos utilizados para e na

Page 166: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

166

formação do leitor de textos literários no Ensino Médio e a avaliação da qualidade do material

didático oferecido às escolas brasileiras, entendendo que isso é primordial na consolidação da

leitura e do ensino de Literatura no Ensino Médio.

O trabalho, inicialmente, aborda a literatura na formação do leitor, refletindo

criticamente sobre o leitor, o espaço dedicado à literatura na sala de aula e nos documentos

oficiais que norteiam a educação brasileira. O segundo capítulo explana sobre o livro didático,

sua introdução na educação brasileira, a implantação de programas nacionais que promovem

sua distribuição para os alunos das escolas públicas, e o uso desse material para o ensino de

literatura. O terceiro analisa livros didáticos do PNLD 2015, e propõe um roteiro para análise

de livro didático voltado à leitura da literatura.

Em suas conclusões, Klein registra que o apagamento da leitura e do ensino de

literatura na vida do estudante interfere na qualidade de ensino e da formação do aluno da

Educação Básica. “Esse desapego do estudante à leitura e à literatura explica-se, em parte,

pelo fato de a disciplina de literatura nem sempre ser desenvolvida adequadamente, na sala de

aula e de a área literária não parecer agradável ou convidativa aos alunos” (KLEIN, 2015, p.

124). Outra revelação foi a de que o livro didático ainda ocupa papel central no ensino do

texto literário e consequentemente, na formação do leitor, uma vez que é por meio dele que os

alunos do Ensino Médio das escolas públicas brasileiras têm acesso ao texto e a práticas de

leituras. Segundo o pesquisador, “os livros didáticos exploram o ensino de literatura, de forma

superficial e com um objetivo evidente, apropriar o aluno de informações e conhecimento

sobre literatura para fins avaliativos” (KLEIN, 2015, p. 125), e a partir dessa realidade a

literatura perde sua função social de sensibilizar e fomentar a visão crítica no aluno.

Ana Lucia Rodrigues Guterra, no dia 26 de agosto de 2015, defendeu a dissertação

intitulada “Literatura, Violência e Ensino: uma proposta de prática de leitura comparatista

para o Ensino Médio”, tendo como orientadora a professora Luana Teixeira Porto. A

mestranda buscava refletir sobre a importância da abordagem de narrativas sobre violência no

espaço escolar através da análise de contos que a tematizam, contribuindo para uma discussão

sobre a função humanizadora da literatura. Como contribuição inovadora, elaborou sequência

didática para o Ensino Médio, a partir de textos literários que tematizam a violência, de forma

a desenvolver, nos alunos, a habilidade de leitura de literatura, associando esta arte à vida

social.

A discussão sobre leitura e formação do leitor foi solidamente embasada em autores

que são referência na área, como Teresa Colomer, Ana Maria Machado, Maria da Glória

Bordini, Vera Aguiar, Alice Vieira, Ligia Chiappini Moraes Leite, Cláudia Riolfi, Zoara

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167

Failla, Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing. A abordagem da violência, das obras abordadas

no contexto da literatura brasileira e do estudo comparatista foi pensada com base no

pensamento de Jaime Ginzburg, Sigmund Freud, Hannah Arendt, Antonio Candido, Jaime

Ginzburg, Márcio Seligmann-Silva, Ângela Maria Dias, Nilo Odalia, Tânia Pellegrini, Flávia

Schilling, George Steiner, Antonio Candido e Henry Remak.

A pesquisadora estrutura seu trabalho ao longo de três capítulos: no primeiro apresenta

abordagem teórico-crítica, considerando a leitura na escola, o ensino da literatura no Ensino

Médio, as orientações curriculares nacionais e os recursos pedagógicos disponíveis hoje para

a abordagem do texto literário pelo docente. No segundo, a partir da visão da violência como

marca de nosso tempo, revisa a abordagem da temática da violência no conto brasileiro

contemporâneo, especialmente em narrativas que integram o livro Contos cruéis: as

narrativas mais violentas da literatura brasileira. O terceiro capítulo ressalta a necessidade de

desenvolver prática de leitura comparatista, voltada para a abordagem de tema social e

literariamente relevante, e contém, ainda, a proposição de sequências didáticas com narrativas

da violência no conto contemporâneo.

Ao final da pesquisa, Guterra (2015) enfatiza que “a violência necessita ser debatida

no cotidiano de leituras na sala de aula no sentido de ser promotora da justiça que oportuniza

ao educando reflexão, análise, crítica e possíveis soluções que visem a transformar a realidade

social” (GUTERRA, 2016, p. 133).

Por fim, Daiane Samara Wildner Ott defendeu sua dissertação intitulada “Ferramenta

HagáQuê na mediação de leitura: uma proposta para a formação de leitor de literatura no 1º

ano do Ensino Médio” no dia 15 de setembro de 2015, com orientação da professora Ana

Paula Teixeira Porto. O objetivo foi analisar possibilidades do uso do software HagáQuê

como recurso proveitoso para a criação de práticas de ensino de literatura que busquem maior

interação dos alunos nas atividades de leitura e escrita, propondo metodologias que auxiliem

na formação de leitores críticos desde o primeiro ano do Ensino Médio. A pesquisa

bibliográfica amparou-se em autores como Maria da Glória Bordini e Regina Zilberman,

referências para o estudo de práticas de leitura e formação do leitor de literatura, e Pierre

Levy, Vani Kenski e José Moran, no entendimento dos recursos tecnológicos.

Ao longo do trabalho, foram discutidos, inicialmente, o ensino da literatura brasileira

enquanto disciplina escolar, o ensino de literatura e formação do leitor e a formação de

leitores literários na era tecnológica. O segundo capítulo deteve-se sobre o uso das tecnologias

e o ensino no Brasil, observando os desafios para uma educação tecnológica e o ensino para

nativos digitais, o papel do software educacional no ensino de literatura nas séries finais no

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168

Ensino Fundamental e por último o software HagáQuê, com apresentação de sua

caracterização e ferramentas. Já o capítulo final tratou mais especificamente a questão de

possíveis práticas mediadoras de leitura e escrita com o uso do recurso tecnológico HagáQuê,

utilizando histórias em quadrinhos, e considerando as ações de aprendizagem literária

potencializadas pelo HagáQuê, e as práticas mediadoras de leitura com uso do HagáQuê,

destacando potencialidades e limitações de cada prática proposta.

Nas considerações finais, Ott considera que métodos interativos e recursos

tecnológicos têm perspectivas bastante inovadoras para o ensino de literatura. Destaca a

relevância de a escola oferecer para o aluno o contato com o texto literário, afirmando que,

com o recurso HagáQuê o aluno pode fazer “uma leitura de texto literário de forma prazerosa

, utilizando-se de imagens que permitem visualizar o cenário, os personagens e, assim,

facilitar o entendimento da história problematizada” (OTT, 2015, p. 120).

QUADRO 24– Dissertações ingressantes Turma 2014 – Leitura, Linguagens e Ensino

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Alcione Salete

Dal‟Alba Pilger 03/08/2016

Dra. Ana Paula Teixeira Porto –

URI Orientadora/Presidente; Dra.

Luciane Figueiredo Pokulat – IFF

e Dra. Luana Teixeira Porto –

URI

Prática leitora no ensino superior: Uma

proposta de diálogo entre literatura e

direito

Aliete do Prado

Martins Santiago 10/08/2016

Dra. Ana Paula Teixeira Porto –

URI Orientadora/Presidente; Dr.

Luciano Marcos Dias Cavalcanti –

UNINCOR e Dra. Elisabete

Cerutti – URI

Rádio escolar: Proposições didáticas para

formação do leitor de literatura

Deise Josene Stein 18/08/2016

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra.

Rosani Ketzer Umbach – UFSM e

Dra. Denise Almeida Silva – URI

Amor líquido e relações pessoais frágeis:

Uma proposta de leitura da representação

da mulher canalha em contos de canalha:

Substantivo feminino e na série televisiva

As Canalhas

Jaqueline Pinson

Sicherelo

12/01/2017

Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian –

URI Orientadora/Presidente; Dr.

Deonir Kurek- UNIOESTE e Dra.

Rosângela Fachel de Medeiros –

URI

Contação de histórias: Sua contribuição

para o incentivo à leitura

Juliane Della Méa

24/08/2016 Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian –

URI Orientadora/Presidente; Dra.

Eunice Terezinha Piazza Gai -

UNISC e Dra. Edite Maria

Sudbrack – URI

A leitura na escola é prática

humanizadora? Uma análise do contexto

escolar de Frederico Westphalen /RS

pela perspectiva multinível

Fonte: Quadro elaborado pela autora

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169

Na turma de ingressantes do ano de 2014, cinco alunos optaram pela LP – Leitura,

Linguagens e Ensino. Duas orientações ficaram a cargo da professora Ana Paula Teixeira

Porto, duas com a professora Ilse Maria da Rosa Vivian e uma com a professora Luana

Teixeira Porto.

A primeira aluna a defender seu trabalho foi Alcione Salete Dal‟Alba Pilger, no dia 03

de agosto de 2016, tendo como tema “Prática leitora no ensino superior: Uma proposta de

diálogo entre literatura e direito”; foi orientada por Ana Paula Porto. A pesquisa teve como

objetivo geral discutir as relações entre Literatura e Direito, propondo práticas mediadoras de

leitura para a formação do leitor de literatura no contexto do Ensino Superior. A proposta se

inseriu na área de Literatura Comparada a partir de pressupostos de Tania Franco Carvalhal,

Sandra Nitrini e Henry H. H Remack e outros como Chartier, Failla, Rösing, juntamente com

as DCNS-Diretrizes Curriculares Nacionais do Direito, PCNs – Parâmetros Curriculares

Nacionais: língua portuguesa.

Para expor as reflexões construídas na pesquisa, amparadas em autores como Todorov,

Antonio Candido, Zilberman, Malard e Bordini, Ourique, Porto e Porto, dentre outros, no

primeiro capítulo, “Formação do leitor”, a autora discutiu a concepção de leitor e leitura de

Literatura, bem como a ampliação das habilidades do leitor do Ensino Superior, através de

mediação de leitura que envolva o tripé professor, texto e leitor. No segundo capítulo, reflete

sobre a formação humana através da Literatura, considerando diálogos entre Literatura e

Direito com vistas a qualificar os leitores do Ensino Superior.

Ao final da pesquisa, Pilger (2016) constata que “as duas disciplinas apresentam

inclinação para uma visão humanista associada ao contexto histórico para análise de seus

objetos” (PILGER, 2016. p. 103). Além disso, ressalta que, “é comum identificarmos

estudantes de graduação que pouco leem e que têm pouco contato com textos literários.

Destarte, demonstram dificuldades em compreender o que leem e produzir textos” (PILGER,

2016. p. 104). Por fim, defende que o trabalho esteve “comprometido com a formação cultural

e o letramento no ensino superior, demonstrando esforço em ressaltar a Literatura Comparada,

focando a experiência humana nas proposições para uma Educação humanizada” (PILGER,

2016. p. 107).

Aliete do Prado Martins Santiago, no dia 10 de agosto de 2016, defendeu sua

dissertação intitulada “Rádio escolar: proposições didáticas para formação do leitor de

literatura”, tendo como objetivo investigar a leitura, em especial de literatura,

correlacionando-a com outras linguagens, como a das mídias, que podem ser utilizadas como

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170

ferramentas eficientes na formação do leitor, considerando a rádio escolar, como uma

ferramenta no processo de formação de leitores de literatura.

Para atender aos objetivos propostos, o trabalho foi estruturado em três capítulos. No

primeiro, a pesquisadora estuda a temática da leitura e a formação de leitores. O segundo

capítulo apresenta um olhar sobre a literatura, as ferramentas midiáticas e o ensino,

identificando a Rádio Escolar e suas potencialidades como uma ferramenta para o ensino. No

capítulo III, apresenta proposições didáticas com o uso da Rádio Escolar com exploração de

um roteiro de atividades que mostra a utilização da mesma nas aulas de literatura e no

processo de formação de leitores.

Santiago destaca a importância do professor mediador “ser um leitor assíduo, realizar

a seleção correta de textos, priorizar a leitura integral dos textos, buscar a formação

qualificada e a atualização constante e explorar diversos recursos didáticos, não apenas os

livros didáticos” (SANTIAGO, 2016, p. 101). Conclui que a proposta da rádio escolar “pode

colaborar para a formação do leitor de literatura, ou seja, apontamos outras formas de a rádio

ser um importante recurso nas instituições escolares” (SANTIAGO, 2016, p. 104).

Deise Josene Stein defendeu sua dissertação “Amor líquido e relações pessoais

frágeis: uma proposta de leitura da representação da mulher canalha em contos de Canalha:

substantivo feminino e na série televisiva As Canalhas”, no dia 18 de agosto de 2016, tendo

como orientadora a professora Luana Teixeira Porto. A pesquisa objetivou possibilitar uma

forma de leitura comparada entre as obras, de maneira a explorar suas possíveis inferências

sociais, e, a partir disso, propor uma forma de leitura destes textos para o ensino superior,

analisando a (des)construção das relações pessoais e amorosas de personagens femininas na

literatura e na TV brasileira contemporânea através da elaboração de uma proposta de leitura

sobre esse tema para o ensino superior.

O estudo parte da discussão acerca do amor líquido e das relações frágeis como

sintomas da modernidade (capítulo 1), segue abordando a representação a mulher na literatura

e na televisão (capítulo 2), para, no terceiro capítulo, centrar-se na leitura inter-artística na

sala de aula, com reflexões sobre por que abordar amor líquido e relações frágeis no ensino

superior, propondo uma leitura de base comparatista.

Stein destaca “a forma invasiva que a televisão adentra nos ambientes familiares é

responsável por redimensionar os espaços de diálogo e estruturar os padrões de consumo”

(STEIN, 2016, p. 101), salientando como a “imagem feminina ainda é vista como um símbolo

que segue padrões de beleza, que são erotizados em programas de auditório para alcançar um

grande número de espectadores” (STEIN, 2016, p. 103). A pesquisadora considera necessário

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171

que o Ensino Superior prepare os estudantes para serem leitores críticos e inteligentes,

defendendo que abordar "a realidade e as produções midiáticas e literárias contemporâneas

sob a perspectiva comparatista aprimora e desenvolve nos alunos as habilidades necessárias

para viver e fazer a diferença na sociedade atual” (STEIN, 2016, p. 104).

A aluna Juliane Della Méa, com orientação da professora Ilse Maria da Rosa Vivian,

defendeu, no dia 24 de agosto de 2016, a dissertação “A Leitura na escola é prática

humanizadora? Uma análise do contexto escolar de Frederico Westphalen /RS pela

perspectiva multinível”. A pesquisadora objetivou compreender como ocorre a relação da

leitura entre os protagonistas professor/aluno no âmbito escolar e se o ato de ler colabora para

a formação humanizadora do indivíduo.

A fim de encontrar possíveis respostas para o desinteresse pela leitura, o trabalho parte

do conceito de leitura e sua contribuição para a formação humana íntegra, de cunho social, e a

legislação vigente sobre o assunto. No segundo capítulo, “Bifurcações entre teoria e prática”,

registra investigação de campo, através de coleta de dados via survey, conduzido com

professores graduados em Letras que atuam em sala de aula e com alunos matriculados nos

Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio em Escolas Estaduais de Frederico

Westphalen /RS –Brasil. O terceiro capítulo, “A fruição da leitura”, corresponde à análise dos

dados na perspectiva multinível, sendo alunos e professores a unidade de análise de primeiro

nível (nível micro) e as escolas e bairros a unidade de segundo nível (nível macro).

Nas considerações finais, Méa observa que, “a leitura que aceita, que reflete, que

reage, que disponibiliza, reafirma sua amplitude e renova a crença de criação e autonomia de

identidade, esta é a idealizada por todos” (MÉA, 2017, p. 95). Observa a existência de

correlações significativas entre o aspecto comportamental e o estatuto intelectual dos

respondentes, o que sugere que existe interdependência entre as atitudes face ao interesse pela

leitura e o autoconceito dos alunos, uma vez que, os índices de porcentagem apurados

assemelham-se entre si. A análise realizada através do instrumento multinível revela a

necessidade da escola resgatar a reflexão e interação entre autor/leitor/texto/contexto como

elemento agenciador das transações sociais, entre o indivíduo e o ambiente em que está

inserido.

“Contação de histórias: sua contribuição para o incentivo à leitura” foi a dissertação

defendida por Jaqueline Pinson Sicherelo, no dia 12 de janeiro de 2017, com orientação da

professora Ilse Maria da Rosa Vivian. O objetivo foi repensar a prática leitora na escola,

enfatizando a necessidade da leitura como processo lúdico e prazeroso, cujas ações refletem

diretamente na formação pessoal e coletiva dos sujeitos, contribuindo para seu

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172

autoconhecimento; outro objetivo foi repensar a formação de leitores neste nível de ensino,

possibilitando buscar alternativas possíveis para a resolução de deficiências.

Para tratar dessas questões, a dissertação dividiu-se em três capítulos: no primeiro,

“Leitura, o que é?”, a autora apresentou seu entendimento sobre leitura, subdividindo em

Leitura na escola e Leitura na infância. No capítulo II, “A história da contação de histórias”,

resgata o histórico da contação de histórias e sua contribuição para o incentivo à leitura, e no

terceiro apresenta as “Práticas de leitura: propostas de contação de histórias”, subdivididas em

importância das práticas de leitura e propostas de contação de histórias.

Sicherelo percebe que, “[...] a contação precisa ser preparada/pensada, desde a

história escolhida, a maneira como se quer contar, o tom de voz e os materiais que serão

utilizados” (SICHERELO, 2017, p. 67). Ao ouvir uma história, “a criança a interpreta e

assimila com seu cotidiano. Ainda, a contação de histórias permite a contextualização do

conteúdo escolar de uma forma prazerosa e dinâmica” (SICHERELO, 2017, p. 68).

QUADRO 25– Dissertações ingressantes Turma 2015 – Leitura, Linguagens e Ensino

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Daniela Tur 28/09/2017

Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Rosane Maria

Cardoso – UNISC; Dra. Luciane Figueiredo

Pokulat – IFFAR e Dra. Luana Teixeira Porto

– URI

Retratos de leitura de

universitários: Perfil de

leitores da área da saúde

Janaine Pomatti

Junglaus 27/09/2017

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Lúcia Regina

Lucas da Rosa – UNILASALLE e Dra.

Denise Almeida Silva – URI

Letramento intercultural e

crítico: contos de fadas em

língua inglesa e a prática

social de leitura

Minéia Carine Huber

07/12/2017 Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian – URI

Orientadora/Presidente; Dr. Anselmo Peres

Alós – UFSM; Dr. Arnaldo Nogaro – URI e

Dra. Rosângela Fachel de Medeiros – URI

A leitura e a Base Nacional

Comum Curricular (BNCC):

uma abordagem pela

perspectiva dos Estudos

Culturais

Fonte: Quadro elaborado pela autora

No ano de 2015, três alunas optaram por pesquisas na LP- Leitura, Linguagens e

Ensino, ficando as orientações distribuídas entre as professoras Ana Paula Teixeira Porto,

Luana Teixeira Porto e Ilse Maria da Rosa Vivian. A primeira discente a defender foi Janaine

Pomatti Junglaus, no dia 27 de setembro de 2017, com o tema “Letramento intercultural e

crítico: contos de fadas em língua inglesa e a prática social de leitura”. A pesquisadora teve

como objetivo elaborar proposição de prática leitora em língua inglesa para os anos iniciais do

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Ensino Fundamental, enfatizando o letramento crítico e intercultural, a partir da leitura dos

contos de fada Beauty and the beast (A Bela e a Fera), Sleeping Beauty (A Bela

Adormecida) e The little mermaid (A Pequena Sereia), na versão Clássicos Bilíngues, da

Claranto Editora, com tradução para o português de Cristina Marques e Emílio Paiva.

A dissertação foi estruturada em três capítulos. O primeiro abordou o ensino de língua

estrangeira, novas metodologias de ensino, e o desenvolvimento de habilidades leitoras por

meio do conto de fadas; o segundo, o letramento intercultural e crítico e conceito de práticas

leitoras, e o último apresentou proposições didáticas para o letramento intercultural e crítico

no ensino de língua inglesa, na perspectiva do letramento intercultural.

A partir da compreensão da relevância “[...] do letramento em língua inglesa a ser

compreendido como oportunidade do aluno interagir com o outro e com outras culturas,

podendo participar e atuar no mundo dos discursos de forma consciente e crítica”

(JUNGLAUS, 2017, p. 79), a pesquisadora ressalta a adequação dos contos de fadas no

ensino de língua inglesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental, já que, a partir deles, “[...]

objetiva-se ampliar a competência leitora, desenvolvendo metodologias para essa finalidade

[...] que permitem o estímulo à imaginação e despertam o interesse do leitor mirim”

(JUNGLAUS, 2017, p. 80).

Um dia depois de Janaine Junglaus, Daniela Tur, no dia 28 de setembro de 2017,

defendeu a dissertação intitulada “Retratos de leitura de universitários: perfil de leitores da

área da saúde”, orientada pela professora Ana Paula Teixeira Porto. A pesquisadora objetivou

realizar estudos de natureza científica sobre a leitura na universidade e o perfil do leitor

universitário, na área da saúde. A pesquisa teve como base teórica textos de Michèle Petit,

Izabel Solé, Helena Maria Martins, Antonio Candido, Geraldina Porto Witter, Lucia

Santaella, Magda Soares, e recorreu, ainda, a questionário estruturado respondido por alunos

dos cursos de Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição, sendo a

análise realizada de forma quantitativa e qualitativa, articulada ao suporte teórico-crítico da

pesquisa.

O trabalho teve a seguinte estrutura: no primeiro capítulo, foram discutidas questões

sobre leitura, e a leitura no Ensino Superior; o segundo explicitou os processos metodológicos

da pesquisa, o terceiro analisou os dados da pesquisa de campo, identificando o perfil social,

educacional e cultural dos respondentes, e o quarto mapeou seu perfil leitor.

Os dados da pesquisa mostraram que “os estudantes não leem, em geral, com a

intenção de distração, nem por prazer e entretenimento, mas sim por exigência” (TUR, 2017,

p. 119). Contudo, os estudantes interrogados “entendem a leitura como uma atividade

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essencial para a construção de conhecimentos e o aprendizado de coisas novas, com base no

caráter informacional, além de atender exigências das disciplinas dos cursos, ou seja, numa

perspectiva utilitária da leitura” (TUR, 2017, p. 120). Por fim, a pesquisadora destacou que

esses mesmos estudantes não realizam mais leituras de textos pela falta de tempo, ou porque

preferem outras atividades em relação à leitura.

“A leitura e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC): uma abordagem pela

perspectiva dos Estudos Culturais” foi o tema da pesquisa da aluna Minéia Carine Huber, a

qual defendeu seu trabalho no dia 07 de dezembro de 2017, com orientação da professora Ilse

Maria da Rosa Vivian. O objetivo foi discutir e estudar a formação cultural e leitora proposta

na Base Nacional Comum Curricular, com base nos Estudos Culturais, a fim de apontar

elementos importantes presentes ou não no documento, pressupondo a formação de um leitor

cultural crítico. A revisão teórica foi embasada nos Estudos Culturais e nas pesquisas sobre

leitura e formação do leitor, abrangendo leituras de Stuart Hall, Ana Carolina Escosteguy,

Richard Johnson, Jesus Martín-Barbero, Eduardo Restrepo, Néstor Garcia Canclini, Bell

Hooks, Douglas Kellner, Paulo Freire, Henry Giroux, Maria da Glória Bordini, Antonio

Candido, Hilton Japiassu, Tania Franco Carvalhal, Roland Barthes, Eneida Leal Cunha, Ivani

Catarina Arantes Fazenda, Marisa Cristina Vorraber Costa, Rosa Maria Hessel Silveira, Luis

Henrique Sommer e Carlos Magno Gomes.

A pesquisa investiga, sucessivamente, ao longo de seus três primeiros capítulos, o

problema da leitura no Brasil, o desenvolvimento dos Estudos Culturais, desde seu início na

Inglaterra até a chegada na América Latina, e o significado que assume a leitura nesse

contexto, considerada uma prática social, e, ainda, o conceito de cultura, entendida como

manifestação e espaço de luta e como processo que protagoniza a produção de significados na

sociedade. O quarto capítulo, “Um olhar sobre a BNCC: qual a concepção de leitura que

embasa o documento?”, realiza leitura crítica da Base Nacional Comum Curricular, embasada

politicamente nos Estudos Culturais.

Nas considerações finais, Huber (2017) registra que o BNCC, ao abordar os

conhecimentos historicamente construídos, “reafirma a exclusão e a desigualdade social, visto

que esses conhecimentos foram construídos por uma sociedade excludente, que fez isso

justamente para manter seu posto de dominação e hierarquia” (HUBER, 2017, p. 101). Além

disso, sugere que, “[...] por se tratar de um documento norteador para o ensino em nível

nacional, a Base deveria apresentar a leitura em uma perspectiva cultural, ou seja, uma prática

social, de acordo com os Estudos Culturais” (HUBER, 2017, p. 103), buscando a

interdisciplinaridade.

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QUADRO 26– Dissertações ingressantes Turma 2016 – Leitura, Linguagens e Ensino

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Benise Albarello

Rapachi 07/08/2018 Dra. Ana Paula Teixeira Porto– URI

Orientadora/Presidente; Dra. Denise Almeida

Silva – URI e Dra. Luciane Figueiredo

Pokulat - IFFAR/FW

A formação de professores

leitores na graduação em

Letras: Uma pesquisa de

campo

Marcelo Santos da

Rosa 10/01/2019

Dra. Luana Teixeira Porto– URI

Orientadora/Presidente; Dra. Denise Almeida

Silva – URI e Dra. Maria Silvia Cintra

Martins – UFScar

Gamificação em práticas

leitoras em Língua Inglesa

no Ensino Médio

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A turma do ano de 2016 teve três alunos optantes pela LP 3, dos quais dois, até a

presente data, defenderam suas dissertações. Inicialmente, Benise Albarello Rapachi, no dia

07 de agosto de 2018, defendeu o trabalho “A formação de professores leitores na graduação

em Letras: uma pesquisa de campo”, que teve orientação da professora Ana Paula Teixeira

Porto. A pesquisa, realizada a partir de questionário estruturado respondido por graduandos de

um curso de Letras, visava identificar o perfil do leitor, considerando apenas o universo de

discentes do Ensino Superior, que estão cursando licenciatura em Letras, na tentativa de

descobrir o que esses alunos leem, por que e quando o fazem, e as implicações desses hábitos

de leitura para a formação profissional.

Partindo de resenha da importância da leitura para a formação cidadã e para a

formação dos professores, e de documentos legais que norteiam a formação docente e

identificam competências e habilidades para esses profissionais, em seu capítulo segundo o

trabalho descreveu a metodologia usada nesta pesquisa de campo, cabendo ao terceiro

capítulo analisar os dados obtidos. A análise traz dados que merecem ser pensados: apesar de

presente no dia a dia dos alunos, desde a Educação Básica, a leitura desses graduandos em

Letras “[...] é meramente realizada pelo fator obrigatoriedade e não como consciência que

deveria ter da importância para toda a vida acadêmica e social” (RAPACHI, 2018, p. 103).

Contudo, vão ao encontro das “normas das DCNs no sentido de que eles leem e leem

literatura, dando a atenção à produção que se relaciona com as habilitações do curso, a saber

domínio da leitura e conhecimento da literatura das línguas nas quais são formuladas as

habilitações de Letras” (RAPACHI, 2018, p. 102).

No dia 10 de janeiro de 2019, Marcelo Santos da Rosa defendeu sua pesquisa,

“Gamificação em práticas leitoras em Língua Inglesa no Ensino Médio”, com orientação da

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professora Luana Teixeira Porto. Com formação em Letras-Inglês, Marcelo preocupou-se em

discutir processos de leitura e de formação de leitor em língua inglesa que possam ocorrer em

concordância com a contemporaneidade, quando tecnologias diversas assumem um papel

preponderante na vida das pessoas, especialmente dos nativos digitais, como é o caso dos

alunos do Ensino Médio hoje. A fim de refletir sobre a formação do leitor no espaço escolar

na atualidade e as novas demandas que se apresentam para o trabalho com a leitura em

tempos de cultura digital (capítulo 1), entender a natureza do jogo e da gamificação (capítulo

2) e elaborar uma sequência didática de leitura em língua inglesa com a perspectiva da

gamificação (capítulo 3), da Rosa pesquisou, extensivamente, sobre leitura, formação do

leitor, jogo e gamificação, para o que buscou suporte teórico em Zilberman (1984; 2016),

Lajolo (1984; 2009; 2016), Rojo (2017), Gee (2008, 2014) e Santaella (2004; 2010; 2014). Na

parte dos jogos, Huizinga, Juul (2003; 2005), Mäyrä (2008), Silva (2012) e Gomes (2003),

Alves (2015), Glover (2013), Kapp (2014) e Burke (2014).

Além da compreensão mais profunda sobre exigências e demandas da educação como

um todo na cultura digital e, mais especificamente sobre o ensino de leitura nesse contexto,

da Rosa confirma sua hipótese de que “a relação entre gamificação e pedagogia se estreita e

se fortalece a partir das perspectivas que são possíveis de extrair do jogo e transferir para a

sala de aula” (DA ROSA , 2019, p. 126). Ressalta, ainda, a necessidade de nova pedagogia e

novos meios tecnológicos na escola hoje, destacando que, se essas práticas e pedagogias não

forem aplicadas na escola, é bem provável “que não ocorram transformações, portanto, faz-se

necessário um repensar constante sobre o status quo do ensino e a que custo mantém-se tudo

exatamente como está, sem se abrir a novas perspectivas de aprendizagem ou de caminhos

pedagógicos” (DA ROSA , 2019, p. 129).

As dissertações referentes ao primeiro quadriênio da LP – Leitura, Linguagens e

Ensino trouxeram novo rumo às pesquisas do PPGL da URI, já que se direcionaram a práticas

de leitura no Brasil e o perfil dos leitores. Nesse período, foram defendidos treze trabalhos,

com orientações distribuídas entre as professoras Ana Paula Teixeira Porto (cinco alunos), a

professora Luana Teixeira Porto, também com cinco orientações, e a professora Ilse Maria da

Rosa Vivian, com três orientações.

Nos trabalhos orientados pela professora Ana Paula Teixeira Porto, fez-se o estudo dos

DCNs e PCNs, e desenvolvidas pesquisas com foco em tecnologias e ensino no Brasil (uso do

software HagáQuê, práticas de leitura no Ensino Superior e a rádio escolar como ferramenta

no processo de formação de leitores), criação de práticas de ensino de literatura, relações

entre Direito e Literatura, e estudo do perfil dos leitores universitários na área da saúde e de

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Letras. Teóricos recorrentes foram Bordini, Zilberman, Levy, Kenski, Moran, Carvalhal,

Malard, Solé e Petit. A composição das bancas refletiu a valorização de egressos do PPGL,

representados pela Dra. Luciane Figueiredo Pokulat (IFFAR), presente em três das bancas, e a

formação de redes de cooperação com universidades gaúchas (convite ao Dr. Miguel

Retternmaier (UPF) e à Dra. Rosane Maria Cardoso (UNISC), além de evidenciar a efetiva

participação de docentes da UNINCOR, com quem o PPGL-URI mantém um acordo de

cooperacão formalizado.

Rumos de cooperação e pesquisa semelhantes aos evidenciados na composição das

bancas da professora Ana Paula se fizeram presentes nas bancas da professora Luana Teixeira

Porto, para as quais foram convidados, ao longo do período, Dr. Miguel Retternmaier (UPF),

Dra. Gabriela Fernanda Cé Luft (UPF), Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM), Dra.

Lúcia Regina Lucas da Rosa (UNILASALLE) e a Dra. Maria Silvia Cintra Martins

(UFSCAR). Os trabalhos contemplaram investigações em torno da violência no espaço

escolar e em contos brasileiros, ensino de literatura no Ensino Médio, fragilidades e

potencialidades dos livros didáticos, letramento intercultural e crítico e práticas leitoras em

língua inglesa. Embasamento teórico recorrente foi buscado nos pesquisadores Tânia Mariza

Kuchenbecker Rösing, Jaime Ginzburg, Sigmund Freud, Antonio Candido, Henry Remak,

Teresa Colomer, Ana Maria Machado.

As orientações feitas pela professora Ilse Maria da Rosa Vivian apresentaram temas

relacionados às práticas de leitura na escola, relação da leitura entre professor/aluno no

âmbito escolar, formação cultural e leitora na Base Nacional Comum Curricular e problemas

de leitura no Brasil, investigados através de pesquisas de campo. Os teóricos mais citados

foram Hall, Freire, Candido, Bordini, Carvalhal, Barthes, Cunha, Sommer, Giroux e Japiassu.

Em relação aos professores externos que compuseram as bancas, verifica-se, também, o

predomínio de docentes em atuação no Rio Grande do Sul. Foram convidados: Dr. Deonir

Kurek (UNIOESTE), Dra. Eunice Terezinha Piaza Gai (UNISC) e Dr. Anselmo Peres Alós

(UFSM).

QUADRO 27– Dissertações ingressantes Turma 2017 – Leitura, Linguagens e Ensino

Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação

Bibiana Zanella

Pertuzzati 18/12/2018

Dra. Ana Paula Teixeira Porto– URI

Orientadora/Presidente; Dra. Luciane

Figueiredo Pokulat – IFFAR e Dra. Tânia

Mariza Kuchenbecker Rösing – CNPq

Leitura, literatura e mídias

digitais na formação

básica: Práticas mediadoras

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Elisângela Bertolotti

19/12/2018

Dra. Ana Paula Teixeira Porto–URI

Orientadora/Presidente; Dra. Eliane Cadoná -

URI e Dra. Cilene Margarete Pereira –

UNICOR

Sexualidades “excêntricas”

em práticas mediadoras de

leitura para o Ensino

Superior

Luana Magalhães

Siqueira 09/01/2019

Dra. Luana Teixeira Porto – URI

Orientadora/Presidente; Dra. Elisabete Cerutti

- URI e Dra. Lúcia Regina Lucas da Rosa –

UNILASALLE

BNCC para o Ensino

Fundamental e práticas

leitoras: Gêneros digitais

na sala de aula

Fonte: Quadro elaborado pela autora

A turma que ingressou no ano de 2017 viria a ser a última a ser admitida no Mestrado

em Letras. Três alunas optaram pela LP “Leitura, Linguagens e Ensino”; orientadas pelas

professoras Ana Paula Teixeira Porto (duas discentes) e pela professora Luana Teixeira Porto

(uma discente), todas concluíram suas pesquisas, tendo sido Bibiana Zanella Pertuzzati a

primeira a defender seu trabalho, intitulado “Leitura, literatura e mídias digitais na formação

básica: Práticas mediadoras”, no dia 18 de dezembro de 2018.

O trabalho, fundamentado em autores como Alberto Manguel, Ezequiel Silva, Paulo

Freire, Harold Bloom, Vera Teixeira de Aguiar, Maria da Glória Bordini, Tânia Mariza

Kuchenbecker Rösing, Roger Chartier, Regina Zilberman, Isabel Solé, Antonio Candido,

Tzvetan Todorov e Jaime Ginzburg, teve como objetivo discutir as possibilidades de inter-

relação entre leitura, literatura e mídias digitais, considerando a perspectiva de formação de

leitores, com vistas a propor práticas mediadoras de leitura que auxiliem na prática docente na

educação básica. Dado esse objetivo, tornaram-se necessárias leituras sobre as mídias digitais

(Vani Moreira Kenski, José Moran e Rui Fava) e dos documentos que regem a educação

básica brasileira, como a LDBEN, PCNs, BNCC, DCN-EM e OCEM.

Após enfocar, no capítulo inicial, “Leitura na educação básica”, a crise consolidada da

leitura na escola e no país e a importância da leitura na formação dos estudantes do Ensino

Médio, a dissertação prossegue, no segundo capítulo, “Formação do leitor na era digital”, com

apontamentos teórico-críticos acerca desse processo formativo e das estratégias e práticas

mediadoras de leitura nesse contexto. Já o terceiro capítulo, “Práticas mediadoras de leitura

para o Ensino Médio”, contempla a construção de duas propostas de mediação de leitura

literária, intituladas “Leituras da „periferia‟” e “Personagens idosos na literatura e telenovela”.

Em suas conclusões, Pertuzzati (2018) destaca que “os usos de metodologias ativas,

como a sala de aula invertida utilizada na elaboração das propostas desse trabalho, contribuem

para uma educação inovadora e favorecem mais tempo para que os estudantes”

(PERTUZZATI, 2018, p. 103). Conclui, ainda, que “as mudanças nas metodologias de

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ensino-aprendizagem são necessárias quando se depara com uma sociedade cada vez mais

digitalizada e com a reprodução de métodos ultrapassados no ensino” (PERTUZZATI, 2018,

p. 105).

Um dia após a defesa de Bibiana Zanella Pertuzzati, a 19 de dezembro de 2018, a

aluna Elisângela Bertolotti defendeu a dissertação “Sexualidades „excêntricas‟ em práticas

mediadoras de leitura para o Ensino Superior”, com orientação da professora Ana Paula

Teixeira Porto. A pesquisadora objetivou realizar uma leitura investigativo-crítica acerca das

sexualidades excêntricas - transexuais e travestis - e elaborar práticas mediadoras de leitura

para o Ensino Superior que contribuam para a visibilidade dessa temática e a construção de

novas leituras e pesquisas em torno dela. Com base em estudos de autores como Antonio

Candido (1997), Berenice Bento (2009), Judith Butler (2003), Guacira Lopes Louro (1997) e

Adriana Nunan (2015), o trabalho parte de considerações sobre a formação humana e cidadã e

a valorização de diversidades; prossegue, no capítulo 2, com discussão sobre a diversidade

sexual, abordando as minorias sexuais, preconceito sexual – estereótipos – e invisibilidade de

sexualidades excêntricas. O terceiro capítulo introduz as práticas mediadoras de leitura e seus

pressupostos teóricos, detalhando, por fim, duas propostas de práticas mediadoras de leitura

para o Ensino Superior a partir da temática enfocada.

Bertolotti ressalta a importância de propiciar “[...] práticas mediadoras de leitura que

abrangem a diversidade sexual, através de leituras literárias sensibilizadoras e documentos

que expressam a realidade brasileira em termos de preconceito com a diversidade sexual”

(BERTOLOTTI, 2018, p. 97). Destaca, ainda, que “é nesse diálogo que práticas discursivas

em prol da formação humana e do respeito à diversidade sexual são postos em pauta,

apagando traços de uma leitura conservadora que ainda norteia as atividades e discursos dos

cidadãos” (BERTOLOTTI, 2018, p. 99).

Encerrando as atividades de pesquisa da LP 3, no dia 09 de janeiro de 2019 Luana

Magalhães Siqueira apresentou a dissertação intitulada “BNCC para o Ensino Fundamental e

práticas leitoras: gêneros digitais na sala de aula”, sob a orientação da professora Luana

Teixeira Porto. O objetivo principal foi analisar a concepção de leitura que subjaz à BNCC, e

focalizar novos gêneros digitais para a elaboração de proposta de prática leitora. A autora se

valeu de literatura atualizada e recente, bem como de clássicos sobre o assunto: Maria da

Glória Bordini (2016), Anne-Marie Chartier (2016), Rildo Cosson (2011), Edvaldo de Souza

Couto (2016), Luiz Antonio Marcuschi (2003; 2005), Maria Helena Martins (1994), Lucia

Santaella (2004; 2016), Margarete Schlatter (2018), Magda Soares (2002; 2002), Graça

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Paulino (2001), Ana Paula Teixeira Porto (2016), Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing (2015),

Ernani Terra (2001) e Regina Zilberman (2007; 2016).

O estudo desenvolve-se em três capítulos, sendo o primeiro intitulado “Base Nacional

Comum Curricular e o Ensino da Leitura” e o segundo “Os letramentos múltiplos e os

gêneros digitais em práticas leitoras”; o terceiro, “Gêneros digitais na sala de aula:

proposições para prática leitora alicerçada em letramentos múltiplos”, apresenta um roteiro de

atividades que contemplam alguns dos gêneros digitais propostos pela BNCC ao ensino do

componente Língua Portuguesa.

Em suas conclusões, Siqueira verificou que a BNCC (2017), “propõe, como eixo de

leitura, práticas de linguagens voltadas ao aprofundamento da reflexão crítica, à capacidade

de abstração e ao desenvolvimento do potencial analítico na formação de leitores”

(SIQUEIRA, 2019, p. 81), orientando a formação de um leitor reflexivo. Direciona as práticas

de linguagem ao desenvolvimento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação –

TDIC‟s. Além disso, percebe “a necessidade de repensar constantemente o ensino das práticas

de linguagem, as metodologias utilizadas e os objetivos pretendidos na formação de cidadãos

pensantes que possam desenvolver pela leitura satisfação e significação” (SIQUEIRA, 2019,

p. 83), ressaltando que o “objetivo central dos mediadores da educação deve ser preconizar

uma formação em que seus alunos realizem leituras significativas, valorativas em suas vidas e

ainda com fruição estética” (SIQUEIRA, 2019, p. 84).

Integrou a banca deste trabalho, como membro externo, a Dra. Lúcia Regina Lucas da

Rosa (UNILASALLE). A professora Ana Paula Teixeira Porto convidou os seguintes

professores externos para a composição das bancas ao longo do quadriênio: Dra. Luciane

Figueiredo Pokulat (IFFAR) e Dra. Cilene Margarete Pereira (UNICOR), valorizando, uma

vez mais, egressa do programa e integrante de IES com a qual o PPGL- URI mantém acordo

de cooperação, respectivamente.

Percebe-se, nos trabalhos desenvolvidos por esta última turma ingressante, a

prevalência de pesquisas envolvendo as mídias e os gêneros digitais, e o direcionamento à

proposição de atividades de ensino para práticas leitoras.

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CONCLUSÃO

Esta dissertação se propôs a analisar as dissertações de mestrado produzidas pelo

PPGL- Mestrado em Letras - Literatura Comparada, desde as elaboradas pela turma inicial,

com ingresso em 2006, até a turma final, com ingresso em 2017 e defesa até 2019.

Evidentemente, a data-limite para a análise tornou-se a data da elaboração desta dissertação;

pesquisas que fogem a este padrão, mesmo com defesa marcada para 2019, encontram-se

elencadas no Quadro 28, anexo.

Orientou a pesquisa a visão de que essas dissertações constituem parte integrante do

patrimônio documental da URI e, pois, de sua memória institucional. Nesse sentido, tomou-se

esta produção como um lugar de memória, estabelecendo como referencial primário, para esta

pesquisa, o conceito formulado por Pierre Nora, o qual salienta a necessidade de história

quando a memória já não é produzida, dado o desvínculo com a população que a tece. Ao se

referir ao momento em que se aplica esse conceito, Nora o compara a chama produzida por

incêndio já quase em extinção. Descreve: “tudo o que é chamado de clarão de memória é a

finalização de seu desaparecimento no fogo da história. A necessidade de memória é uma

necessidade da história” (NORA, 1993, p. 14).

O conceito traz à tona, pois, uma relação vestigial, profundamente vinculada aos

conceitos de história, memória (e vontade de memória) e documento. Para Nora, lugares de

memória são essencialmente meios de acesso a uma memória que já é história, uma memória

reivindicada e não espontânea, que não seria mais construída em um grupo, mas para um

grupo, através da história. Aqui o teórico faz alusão à concepção de memória de Maurice

Halbwachs, segundo o qual, como já resenhado neste trabalho, a memória deve ser

compreendida como um fenômeno coletivo e social, elaborada seletivamente a partir da

vivência de um indivíduo em um quadro social, e sujeita a alterações e reconstruções

conforme se fortalece ou, ao contrário, se enfraquece o sentido de pertença entre um indivíduo

e o quadro social ao qual se vincula uma memória. Uma vez que a memória individual é um

ponto de vista sobre a memória coletiva, tal ponto de vista muda e sofre alteração conforme o

lugar que este ocupa nas relações que mantém com os diversos ambientes coletivos.

Partindo dessa compreensão, pode-se dizer que a memória deste Curso se caracteriza

como um fato social, e, pois, que deve ser preservada tanto no âmbito da memória individual

quanto social: é de interesse coletivo estudar sua constituição, construção e legado, visando à

ciência e compreensão de sua história. Aqui cabe registrar mais um pensamento de

Halbwachs: no instante em que um grupo desaparece, existe uma única forma de salvar as

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lembranças, “[...] é fixá-las por escrito em uma narrativa, pois os escritos permanecem,

enquanto as palavras e o pensamento morrem” (HALBWACHS, 2006, p. 101). Assim se

justifica o presente registro escrito, o qual representa a socialização crítica da história do

Mestrado em Letras - Literatura Comparada da URI, a fim de tornar acessível a todos -

discentes, docentes, pesquisadores, comunidade local, regional, nacional e internacional - esta

chama memorial.

Era preciso, porém, que, para além da análise da história do curso através do viés da

produção documental representada pelas dissertações de mestrado, fosse feito o registro dos

professores que alavancaram as pesquisas, dos funcionários que lhes deram suporte, dos

alunos que por aqui passaram, dos professores externos que fizeram parte de sua rede de

cooperação em bancas, e dos que aqui estiveram em eventos realizados e promovidos pelo

Curso, e, ainda, da atuação profissional já vivenciada por egressos. Por outro lado, o exame

das dissertações, consideradas como lugar de memória, proporcionou o registro das diversas

possibilidades e rumos assumidos pelas pesquisas, com temas diversificados e contundentes, e

dos resultados obtidos com e através dessa produção.

Esta dissertação é, pois, um meio de acesso a uma memória que se apaga, dado que

não poderá mais ser construída em seu grupo. Nora alerta: quanto "menos a memória é vivida

do interior, mais ela tem necessidade de suportes exteriores e de referências tangíveis de uma

existência que só vive através delas" (NORA, 1993, p. 14).

Lembra-se aqui Chauí (2000) e seu registro de que a memória tem como função não só

diferenciar o passado do presente e tornar acessível o futuro, como conferir sentido ao

passado, salientando mesmo aquilo em que difere do presente. É o presente o marco a partir

do qual se faz história, no sentido de compreender o que se foi e o que se pode ser. Essa é

também, uma função da narrativa: recorda-se, mais uma vez, Manguel, para quem se narra

uma história em busca de autocompreensão. Escrever esta dissertação significou, ainda, um

olhar retrospectivo ao passado com o duplo fim de lhe atribuir sentido e compreender melhor

não apenas o passado, mas o presente e a esta pesquisadora mesma, integrante dessa trajetória.

Ao realizar tal exercício memorial, valoriza-se uma função essencial da memória, que “[...] é

o que confere sentido ao passado como diferente do presente (mas fazendo ou podendo fazer

parte dele) e do futuro (mas podendo permitir esperá-lo e compreendê-lo)” (CHAUÍ, 2000, p.

164).

A relação essencial entre memória, passado e identidade reforça e explica a urgência

pelo não esquecimento: não lembrar seria enfraquecer uma identidade árdua e diligentemente

forjada. Ao analisar todas as dissertações, compreende-se a importância que esse Curso teve,

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e ainda tem, na vida daqueles que, de uma forma ou de outra, fizeram parte da sua história.

Contudo, relembra-se a lição de Le Goff, quando menciona que a História é “[...] uma

construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e

significativa da história” (LE GOFF, 2003, p. 25). Enquanto construção e reinterpretação, este

estudo traz, inescapavelmente, o olhar e a vivência desta pesquisadora. Por outro lado, o

pensamento de Le Goff chama a atenção para ainda outro dado essencial: a consciência do

presente e a perspectiva de futuro se fundamentam na memória do passado. Por isso, a

necessidade de retomá-lo, à luz da História, com vontade e, sobretudo, entendimento, e dar

novamente um sentido à existência desse curso, reinterpretando-o através desta dissertação, de

forma a reconduzir sua história a um futuro ressignificado na História, com o claro registro

das contribuições do programa na promoção dos saberes construídos e compartilhados por ele.

Seguindo a esteira dos horizontes de pesquisa de Aleida Assmann, consideram-se

tanto a história como a memória como formas de recordação “que não precisam excluir-se

nem recalcar-se mutuamente” (ASSMANN, 2011, p. 147). Se já está a se perder uma

memória habitada, funcional, pertencente a portadores vivos, resta esta memória de segunda

ordem, a qual, como Assmann registra acerca da memória cumulativa, “[...] acolhe em si

aquilo que perdeu a relação vital com o presente” (ASSMANN, 2011, p. 147). É essa visão da

continuidade de valoração vital, para o presente, de dados produzidos no passado que anima

este trabalho de pesquisa. Relegadas às prateleiras de uma biblioteca ou arroladas em uma

base de dados à espera de leitores, as dissertações produzidas por este PPGL pouca

significação poderiam ter ou vir a ter. Contudo, de acordo com a visão de Aleida Assmann, os

elementos da memória cumulativa se constituem em reserva potencialmente disponível para

resgate, a qual “[...] pode ser vista como um depósito de provisões para memórias funcionais

futuras” (ASSMANN, 2011, p. 153).

Se este trabalho se localiza, já, na confluência de uma memória habitada que se

estingue, configurando-se como uma “memória das memórias”, a porosidade entre memória

cumulativa e funcional, história e memória viva, é capaz de ressignificar o que poderiam vir a

ser dados amorfos e inertes do passado, tornando-os parte da memória funcional de uma

sociedade. É justamente a possibilidade de tornar os dados da memória cumulativa acessíveis,

interpretáveis e ordenáveis que estabelece a produtividade e sentido desta dissertação. Para

que chegue a bom sucesso a luta pelo não esquecimento, pela preservação e perpetuação do

curso, como representado por suas dissertações enquanto lugar de memória, é preciso que haja

aquele sentimento que Nora chamou de “vontade de memória”, referindo-se à necessidade da

sociedade de saber sobre si mesma. Pensa-se que, muito além do documento representado por

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esta dissertação, que representa apenas uma resenha crítica de toda a produção e pesquisa

contida nessas dissertações, é preciso que a vontade de memória institucional se materialize

em firme compromisso de atribuir a essas dissertações o status de arquivo permanente e,

como tal, considerados de caráter definitivo e disponíveis para fins de pesquisa, já que muito

em breve as dissertações perderão seu status de arquivo corrente.

Tomando-se como base o conceito de arquivo de Reis (2006), para o qual arquivo

corresponde a um conjunto de documentos, produzidos ou recebidos por qualquer pessoa ou

organismo público ou privado, as dissertações podem, em si mesmas, ser consideradas como

arquivo. Sendo o arquivo gerador de conhecimento, ele se impõe como lugar indispensável

para o exercício da pesquisa, pois permite diálogo com outros discursos e documentos. Assim

considerado, o arquivo adquire novo status, não apenas de guardião da memória, mas,

sobretudo, como um espaço de referência para a produção do conhecimento. Ademais, a

comunidade que se formou no entorno do PPGL-Mestrado em Literatura Comparada,

geograficamente próxima ou distante, é detentora do direito do acesso à informação.

Na qualidade de arquivo, as dissertações integram o patrimônio da URI. E, não custa

lembrar, patrimônio não se limita apenas ao sentido de herança. Refere-se também, aos bens

produzidos por aqueles que fizeram a história acontecer, que resultam em experiências e

memórias, coletivas ou individuas. Isso é verdade, também, na esfera empresarial, de marcado

teor social, já que a história de uma empresa é resultado da contribuição de cada uma dessas

pessoas que por ela passaram. Assim pensado, o patrimônio, enquanto relação com o tempo

que antecede, permite o estabelecimento de “[...] relações mediadas através de objetos que

acreditamos pertencer a uma herança coletiva” (GUIMARÃES, 2008, p. 19). Diante do

exposto, torna-se evidente que a relação entre memória, arquivo e patrimônio é essencial. A

existência desse trabalho seria impossível sem o registro da memória, sem os arquivos que a

mantém viva, e alimentam, ainda, o senso de identidade, de história, de cultura e de memória

individual e coletiva desta comunidade de saber.

Resta agora registrar por que as dissertações produzidas por este PPGL são dignas do

status de arquivo permanente, e de serem mantidas como lugares de memória que ultrapassam

a função de guardiães de uma época. Da mesma forma que se optou pela análise individual

das linhas de pesquisa, em seu desenvolvimento cronológico, parte-se da análise das linhas

individuais, o que possibilita melhor dimensionar como cada uma delas contribuiu, a sua

maneira, para os rumos do desenvolvimento da pesquisa no PPGL- Mestrado em Literatura

Comparada da URI.

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A Linha de Pesquisa 1 – Literatura, História e Imaginário (2006), mais tarde

subsumida pela LP Literatura, História e Memória (2010), ao longo dos seus treze anos de

história, foi tecendo vínculos de pesquisa e parcerias institucionais e interinstitucionais, tendo

sido a linha que mais teve alunos matriculados: um total de 53, dos 98 alunos que defenderam

suas dissertações, optaram por esta linha.

Considerando-se a questão da formação de redes de cooperação e pesquisa,

inicialmente percebe-se, nesta linha, (e também na então LP2, Memória e Identidade Cultural,

criada à mesma época que a LP Literatura, História e Imaginário), as naturais marcas de um

programa muito jovem. Os docentes buscavam, em pesquisadores da sua universidade de

formação e colegas de curso, apoio para a formação de bancas e outros eventos patrocinados

pelo curso. A Dra. Eloína Prati dos Santos (UFRGS), orientadora de Mestrado e doutorado da

professora Denise Almeida Silva, integrou uma banca dessa docente e a professora Dra.

Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM), orientadora do professor Lizandro Carlos Calegari

integrou duas bancas nesse período. Essa professora viria a se tornar uma das mais assíduas

colaboradoras do PPGL-URI, tendo sido também convidada para bancas constituídas pelas

professoras Denise Almeida Silva, Ana Paula Teixeira Porto e Luana Teixeira Porto, bem

como convidada para publicações e eventos promovidos pelo curso. Dada a formação dos

professores Ada Maria Hemilewski, Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski e André Luís

Mitidieri Pereira na PUC/RS é forte, nos anos iniciais, a presença de docentes e egressos da

PUC, como Maria Luiza Ritzel Remédios, Regina Kohlrausch e Silvia Helena Pinto

Niederauer, respectivamente; esta última mais tarde viria a integrar o corpo docente do PPGL.

Por outro lado, o professor Robson Pereira Gonçalves contribuiu com sua rede de

pesquisadores e colegas da UFSM.

Em relação aos temas mais abordados por essa linha, em um primeiro momento, até

2009, o mais recorrente foi o romance malandro e carnavalização e as relações entre literatura

e psicanálise, em dissertações orientadas pelo professor Robson Pereira Gonçalves. Além

desse, destacam-se questões relacionadas a minorias, memória e identidade; deslocamento,

narrativa e trauma, este nos contextos da ditadura e do holocausto. A partir da reformulação

dessa linha no ano de 2010, e com a renovação do quadro docente, outras temáticas passaram

a serem pesquisadas, como a violência, as quais deixaram de se vincular a um único

pesquisador para se tornarem temas recorrentes no programa. Intensificou-se a pesquisa sobre

memória e identidade, abrangendo, com frequência, a memória individual, coletiva e cultural;

alargou-se o escopo da pesquisa sobre minorias, passando a abranger minorias sexuais (e

conflitos de gênero), e as minorias afro-brasileira e indígena. Além da literatura brasileira,

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foram analisadas a literatura portuguesa e africana de expressão portuguesa, literaturas de

língua inglesa e de língua espanhola.

Para tratar de todos esses temas, foram bases teóricas utilizadas com frequência, para

tratar as relações literatura-história, Peter Burke, Auguste Comte, Jacques Le Goff e Hayden

Withe; Michel de Certeau; para questões relativas ao pós-colonial: Homi Bhabha, Stuart Hall,

Tomaz Tadeu da Silva e Thomas Bonnici; para estudos sobre a narrativa Roland Barthes e

Jean Mukaravosky, e, na teoria da recepção, Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser. Questões

sobre identidade nacional usaram, com frequência, os teóricos Ernest Renan e Benedict

Anderson. Em estudos sobre literatura brasileira, foram assíduas menções a Alfredo Bosi,

Antonio Candido, Regina Dalcastagnè, Karl Erik Schollhammer, Tânia Pelegrini e Jaime

Ginzburg; pesquisas envolvendo psicanálise registraram estudos de Freud e Jacques Lacan.

Naturalmente, esta listagem está longe de ser completa, pois a variedade de assuntos tratados

requereu, a cada caso, teóricos específicos; no entanto, em se tratando de um programa com

concentração em Literatura Comparada, não se pode deixar de mencionar a recorrência dos

nomes de Daniel-Henri Pageaux e Tânia Carvalhal.

Constatou-se, ainda, a confirmação de tendência verificada já nas primeiras

dissertações produzidas pelos discentes do Curso na LP 1, a análise de obras de autores

contemporâneos, e ou “clássicos”, como Manoel Antonio de Almeida, Simões Lopes Neto,

Monteiro Lobato, Mário de Andrade, e Jorge Amado. Contudo, estes “clássicos” foram, em

geral, estudados de forma comparativa com autores contemporâneos, como Luiz Ruffato,

Patrícia Mello, Paulo Lins e Sérgio Santanna, ou ainda com autores gaúchos contemporâneos

como Mário Quintana, José Clemente Pozzenato, Mário Simon, Antonio de Assis Brasil e

Caio Fernando Abreu (alvo de cinco dissertações) e Conceição Evaristo (duas dissertações).

Esta última tendência se dá de acordo com o direcionamento da LP 1 no sentido de

valorização das manifestações culturais e literárias regionais. Outros autores contemporâneos

de língua portuguesa foram os portugueses Lobo Antunes e José Saramago e o africano Mia

Couto, este estudado em quatro dissertações. A produção literária em língua inglesa foi

representada pelo estudo de Paule Marsshall, Caryl Phillips e June Henfrey, do Caribe

anglófono, e Ian McEwan, escritor inglês contemporâneo; em língua espanhola, por Gabriel

Garcia Marques e Isabel Allende.

Na Linha de Pesquisa 2, Memória e Identidade Cultural, subsumida, em 2010, pela LP

Comparatismo e Processos Culturais, no primeiro e segundo triênios aconteceram dez defesas

e as orientações ficaram concentradas entre os professores Ada Maria Hemilewski, Denise

Almeida Silva e André Luís Mitidieri Pereira. No segundo triênio, estiveram presentes, por

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duas vezes, nas bancas de defesa, os professores externos Dr. Adeítalo Manoel Pinho (UEFS),

nos dias 04/11/2009 e 05/11/2009 e Dr. Jorge Araújo de Souza da (UEFS), a 12/08/2010 e

13/08/2010. Com a chegada, em 2010, da professora Maria Thereza Veloso, atual

coordenadora do mestrado, a maioria das orientações dessa LP passou a ser assumida por essa

professora; a convidada externa mais frequente, no triênio 2010 – 2012, foi a professora

Aracy Graça Ernest, da UCPel, sua orientadora, que esteve presente por três vezes. Nos anos

seguintes os destaques foram os professores: Dra. Ângela Maria Zamim (UFSM), duas vezes,

Dr. Cassio dos Santos Tomaim (UFSM), Dra. Vanessa Ribas Fialho (UFSM), o que

demonstra a ampliação de redes de cooperação, em uma dimensão regional e estadual.

Sobre as temáticas desenvolvidas nessa linha, destacam-se, primeiramente, abordagem

sobre memória e identidade, memória e literatura, histórias e imigrantes alemães no RS e SC,

literatura de viagem, todos esses enfatizados entre os anos de 2007 a 2009, quando a LP

Memória e Identidade Cultural tinha como um dos objetivos estudar as identidades, a

memória e os espaços simbólicos. As pesquisas realizadas a partir de 2010, quando a LP 2

passou a ter como objetivo investigar os diálogos da literatura com outros sistemas de

conhecimento, processos culturais, políticos e socioeconômicos, ampliando e diversificando

seu alcance, passaram a abordar a questão do comparatismo e tradução, análise do discurso,

diálogo entre estudos literários e linguísticos, e entre literatura e jornalismo, e até a narrativa

de games e RPG; com a chegada da professora Rosângela Fachel de Medeiros, em 2014,

ampliaram-se esses temas, sendo mais intensivo o estudo do cinema, em associação ou não

com o texto literário.

Nesta linha, como suporte teórico, destacaram-se, num primeiro momento Paul

Ricouer e Maurice Halbwacks, e posteriormente com a reestruturação da linha, Michel

Pêcheux, Eni Orlandi, Jacques Lacan, Michel Focault; com a inclusão de estudos

comparativos com outros sistemas de conhecimento e processos culturais, passaram a figurar

nomes como Ismael Xavier, Daniel Chandler, Robert Stam, Henry Jenkins, Carlos A. Scolari,

José Arbex, Will Eisner e Beatriz Marocco.

Na primeira fase desta linha, antes de sua reformulação, estudaram-se obras de autores

de literatura brasileira contemporânea: Milton Hatoum, Gladstone Osório Marsico, Antonio

Olinto; da literatura angolana, João Melo, e da literatura gaúcha, Érico Veríssimo. A partir do

ano de 2010, com os novos rumos de pesquisas da LP 2, analisaram-se J. M. Coetzee

(africano, de língua inglesa), Juan Rulfo (mexicano), e Mario de Andrade, Clarice Lispector,

Martha Medeiros, Arnaldo Jabor, autores brasileiros contemporâneos. Outros tipos de

narrativas estudadas foram a telenovela, cinema, vídeo clipe, e séries de games.

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A Linha de Pesquisa 3, criada em 2013, Leitura, Linguagens e Ensino, ampliou e

renovou as pesquisas realizadas até então. As professoras Ana Paula Teixeira Porto, Luana

Teixeira Porto e Ilse Maria da Rosa Vivian atuaram como orientadoras no primeiro quadriênio

dessa linha. No segundo quadriênio, que iniciou em 2017, somente as professoras Ana Paula

Teixeira Porto e Luana Teixeira Porto atuaram como orientadoras; ao todo, nos dois

quadriênios, essas docentes orientaram dezesseis trabalhos.

Na composição das bancas teve destaque a participação da Dra. Luciane Figueiredo

Pokulat (IFFAR/FW), egressa do PPGL da URI, convidada quatro vezes pela professora Ana

Paula Teixeira Porto, a Dra. Lúcia Regina Lucas da Rosa (UNILASALLE), duas vezes

convidada pela professora Luana Teixeira Porto e o professor Dr. Anselmo Peres Alós

(UFSM), convidado da professora Ilse Maria da Rosa Vivian. Além desses, outros professores

convidados, da UFSM, UPF, UFSCAR, UNICOR, UNISC se fizeram presentes.

Os temas mais relevantes dessa linha abordaram o uso do software HagáQuê, ensino

de literatura, tecnologias, práticas de leitura no Ensino Superior, fragilidades e

potencialidades dos livros didáticos, violência no espaço escolar, violência nos contos

brasileiros, formação cultural, gêneros digitais, relação entre leitura, literatura e mídias

digitais e leitura sobre sexualidades excêntricas, letramento intercultural, perfil de leitores

universitários, os quais, muitos foram investigados por meio de pesquisa de campo.

O embasamento teórico esteve pautado nos pesquisadores: Judith Butler, quando o

assunto foi sexualidades excêntricas; Paulo Freire, para abordar educação; Vani Moreira

Kenski e Rui Fava trataram a respeito da educação a distância. Ao enfocar sobre a leitura, os

preferidos pelas orientadoras foram: Izabel Solé, Anne-Marie Chartier, Rildo Cosson, Ana

Paula Teixeira Porto, Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing, Edvaldo de Souza Couto e Regina

Zilberman, que asseguraram as leituras necessárias à fundamentação teórica da área de

concentração do programa e ao exercício da pesquisa.

Este trabalho se propôs a estudar as dissertações produzidas por este PPGL enquanto

locais de memória; ao resenhar criticamente essa produção, reunindo-a em um único trabalho,

esta dissertação se torna, ela mesma um lugar de memória. É, acima de tudo, um registro para

que a memória do curso não se perca e um convite à acessibilidade e pesquisa dessas

dissertações, as quais, se espera virão a permanecer como arquivo permanente, parte da

herança cultural da URI à comunidade local, regional, nacional e internacional.

Ao elaborar essa dissertação, a pesquisadora resgatou, acima de tudo, suas próprias

memórias, recordando todo o processo de implementação desse Curso, uma vez que

acompanhou o andamento enquanto colaboradora dessa instituição. A cada nova linha escrita,

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foi inevitável não se deparar com lembranças de momentos vividos e compartilhados ao longo

destes 13 anos. Representou lembrar o brilho nos olhos dos professores nos corredores da

universidade, a busca incessante pelo conhecimento, o envolvimento do corpo docente, dos

funcionários e dos discentes na realização dos eventos promovidos pelo curso, das rodas de

conversa; rememorar, ainda, o entusiasmo dos alunos com as aulas, a emoção ao conquistar o

diploma, enfim, a chegada e a partida de tantas pessoas que foram imprescindíveis e

importantes para o Mestrado. Esse contato diário com aqueles que buscavam a realização de

um sonho não se apagará da memória.

E a memória, sabe-se, é responsável por conferir sentido à vida. Conforme Manguel

(2008, p. 19), “sonhar histórias, contar histórias, redigir histórias, ler histórias são artes

complementares que dão voz a nossa percepção da realidade e podem nos servir como

conhecimento vicário, transmissão de memórias, instrução ou advertência” e a preservação e

divulgação dessas memórias, às gerações vindouras, através desse trabalho, permitirá o acesso

e a disseminação de informações relevantes para os integrantes da instituição e para o público

ao qual é destinado seu serviço, garantindo a continuidade da memória do Curso.

Por fim, foi possível compreender que a memória não é meramente um depósito de

tudo o que aconteceu, mas vai além dessa função: é seletiva e guarda o que por um motivo ou

outro tem ou teve algum significado nas vidas das pessoas. A história, por sua vez, é como se

organiza e se traduz para o outro o que se filtra na memória, demarcando o que foi

significativo em sua trajetória. Por tudo isso, o resgate da história do Mestrado em Letras da

URI não só possibilitou a reconstrução de tantas memórias, mas sobretudo, daquilo que os

documentos escritos não dizem, da emoção, do envolvimento pessoal, de dar outra abordagem

para uma pesquisa que não se limita aos dados escritos, mas que abre espaço para essa carga

emocional que constrói a história dos homens e da humanidade. E, é isso que deu sentido a

essa pesquisa.

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SCHÖNINGER, Carla Luciane Klôs. A subjetividade e as máscaras da repetição em

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SEIDEL, Jaci Luft. Tenente Mário Portela Fagundes: a construção do herói no discurso da

história oficial e em letras de canções gaúchas. 2013. 110f. Dissertação (Mestrado em Letras)

– Departamento de Linguística, Letras e Artes. Universidade Regional Integrada do Alto

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SEITEL, Girvâni José Sulzbacher. Máscaras líquidas, vidas fragmentadas sujeito no

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2013. 159f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Departamento de Linguística, Letras e Artes.

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Frederico Westphalen,

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SICHERELO, Jaqueline Pinson. Contação de histórias: sua contribuição para o incentivo à

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202

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Westphalen, 2017.

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piel que habito, de Pedro Almodóvar. 2016. 92f. Dissertação (Mestrado em Letras) –

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Westphalen, 2010.

Page 205: Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissõesAGRADECIMENTOS Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São muitos aqueles que

ANEXOS

QUADRO 28 - Dissertações em progresso ou aguardando redação final

ANO DE INGRESSO

NOME

LINHA DE PESQUISA

2013 Vanderléia Skorek Comparatismo e processos

culturais

2014 Gabriel Figueiredo de Oliveira Comparatismo e processos

culturais

2015 Ducimar Peloso Comparatismo e Processos

Culturais

2015 Eliezer Pandolfo Da Silva

Comparatismo e processos

culturais

2015 Patrícia Crespan Mantelli

Comparatismo e processos

culturais

2015 Tatiane Vaz

Comparatismo e processos

culturais

2016 Elisiane Castanho da Silva

Maciel

Literatura, História e

Memória

2016 Guilherme Buzatto Literatura, História e

Memória

2016 Talita François Wahlbrinck Literatura, História e

Memória

2016 Marcos AntonioCorbari

Comparatismo e Processos

Culturais

2016 Otília Maria Dill Wohlfart

Comparatismo e Processos

Culturais

2016 Philipe Gustavo Portela Pires Comparatismo e Processos

Culturais

2016 Ariele Eidt Leitura, Linguagens e

Ensino

2017 Adilson Kipper

Comparatismo e Processos

Culturais

2017 Josefina Maria Toniolo

Comparatismo e Processos

Culturais

2017 Lia Machado Dos Santos Comparatismo e Processos

Culturais

2017 Jéssica Casarin Literatura, História e

Memória