universidade regional integrada do alto uruguai e das missõesagradecimentos compartilho da ideia de...
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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES
CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
MESTRADO EM LETRAS
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA COMPARADA
HISTÓRIA INSTITUCIONAL E PATRIMÔNIO DOCUMENTAL: AS
DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI, 2006-2019, COMO
LUGAR DE MEMÓRIA
Mestranda: Marilise Zibetti
Orientadora: Denise Almeida Silva
Frederico Westphalen, abril de 2019.
MARILISE ZIBETTI
HISTÓRIA INSTITUCIONAL E PATRIMÔNIO DOCUMENTAL: AS
DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI, 2006-2019, COMO
LUGAR DE MEMÓRIA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Letras –
Mestrado em Letras, área de concentração em
Literatura Comparada, sob a orientação da
Profa. Dra. Denise Almeida Silva, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestra em Letras.
Frederico Westphalen, abril de 2019.
Aos meus filhos, Bárbara e Heitor Gabriel, que
estão construindo suas histórias.
Amo vocês infinitamente!
AGRADECIMENTOS
Compartilho da ideia de que um trabalho acadêmico nunca é um fazer solitário. São
muitos aqueles que nos acompanham nos diversos momentos de sua elaboração: os autores,
que sustentam e servem de referência às nossas reflexões, os professores com quem
compartilhamos estudos e pesquisas, os amigos e colegas de estudos com quem dividimos
nossas angústias e ansiedades, e a família, que é nosso suporte diário e o sentido da nossa
existência. A todos os que contribuíram para a construção deste sonho, os meus sinceros
agradecimentos.
A Deus, por iluminar minha trajetória e dar-me forças nos momentos em que pensava
em desistir.
Aos meus pais, Lédio e Neiva, pela vida, pelo amor incondicional e por tantos
esforços em prol de minha educação, pelo carinho e preocupação dedicados.
A minha filha Bárbara, que, apesar de seus oito anos, soube como gente grande
compreender que eu precisava dedicar boa parte do meu tempo a esta dissertação, abrindo
mão de estar comigo por muitos momentos, mesmo que por alguns dias, enquanto eu estava
escrevendo. Ao meu filho Heitor Gabriel, que em breve estará em meus braços, minha
inspiração, motivação e alegria.
A você Gabriel, que me apoiou, que me fez acreditar que eu podia, me incentivou, me
apoiou nos momentos de dúvida e principalmente por entender quando, ao invés de ficarmos
juntos, precisava estudar. Certamente com você ao meu lado tudo ficou mais fácil e tranquilo.
Você é uma pessoa incrível, obrigada!
Aos meus irmãos, Marilisa e Tiago. Pelo amor e incentivo a mim sempre dados. Vocês
moram no meu coração!
Aos meus amigos, pelas palavras de carinho e de incentivo, demonstrando que eu
venceria esta etapa. Obrigada a cada um por tudo, orações, motivações, carinho e apoio
incondicional.
À minha chefe e amiga, Claodete, que autorizou minhas ausências do trabalho para
que fosse possível frequentar as aulas do mestrado e, principalmente, por sempre estar do meu
lado, pelo carinho e por me dar forças constantes para eu seguir em frente e aprimorar meus
conhecimentos. Você é especial!
Aos meus colegas de trabalho, que, com todo o zelo possível, sempre me deram ânimo
para dar conta das tarefas profissionais e acadêmicas.
5
Aos meus colegas de Mestrado, pelas conversas acalentadoras, pela escuta, pela
sensibilidade, apoio e boas vibrações, pela parceria em todos os momentos de dificuldades.
À minha querida orientadora Profa. Denise, a quem tanto admiro pelo trabalho,
delicadeza pessoal e pelas orientações tão imprescindíveis a esta pesquisa. Obrigada por
confiar em mim, acreditando em meu trabalho e me orientando para a vida. A você, que me
fez refletir muito, agradeço a paciência, a compreensão, o esforço e o empenho, que ajudou a
tornar-me uma pessoa melhor.
A todos os professores do Curso de Mestrado em Letras da URI, cada um com sua
particularidade, que me ensinaram a ver o mundo de outra forma, e a ampliar os horizontes.
Minha gratidão!
Agradeço à minha banca, Profa. Dra. Gabriela Silva e Prof. Dr. Lizandro Carlos
Calegari, por terem aceitado o convite de avaliar este trabalho e por contribuírem, com
leituras críticas, reflexivas e sensíveis, para o aperfeiçoamento desta pesquisa.
À Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões–URI e
funcionários, pelo serviço prestado e pela oportunidade de cursar um Pós-Gradução Stricto
Sensu de tamanha excelência como o Mestrado em Letras.
À CAPES, por propiciar os meios necessários para a minha caminhada acadêmica no
Mestrado em Letras.
A todos vocês, meu eterno reconhecimento!
RESUMO
Este trabalho registra um aspecto específico da memória institucional da URI, que é a história
do Mestrado em Letras, mantido pela URI no período entre 2006 a 2019. Para isso, elegeram-
se, como objeto de estudo, as dissertações produzidas pelo PPGL da URI nesse período, as
quais são tomadas como lugar de memória. A pesquisa tem, como objetivo, preservar o
patrimônio documental da URI representado por essas dissertações, promovendo também o
registro da história do curso, tomado como patrimônio cultural. É a possibilidade de tornar
estes dados memoriais acessíveis, interpretáveis e ordenáveis que estabelece a produtividade e
sentido desta dissertação, esperando-se que contribua para a decisão de atribuir a essas
dissertações o status de arquivo permanente e, como tal, de caráter definitivo e disponível
para pesquisa, já que muito em breve perderão seu status de arquivo corrente. Para
desenvolver a investigação desta pesquisa exploratória no campo da memória institucional
foram adotadas a pesquisa bibliográfica e a análise literária. Os conceitos aqui expressos
resultam, principalmente, de reflexões baseadas em pressupostos teóricos de Pierre Nora
(1993), para o conceito de lugar de memória; estudos sobre memória institucional baseiam-se
Worcman (2004) e Nassar (2004) e patrimônio documental em Christo (2006) e Ribeiro
(2009). A relação história-memória é tratada, sobretudo a partir dos estudos de Le Goff
(2003), Halbwachs (2006) e Assmann (2011). Após expostos e discutidos os conceitos
fundamentais para a constituição da base analítica, e dimensionado o curso no qual as
dissertações foram produzidas através de seu histórico, analisaram-se as dissertações
produzidas, classificadas de acordo com linha de pesquisa e triênio, e mais tarde, quadriênio
de sua produção. Ficaram caracterizadas as contribuições de cada linha pesquisa, de acordo
com seus objetivos específicos. Modificações ocorridas nas linhas de pesquisa Literatura,
História e Imaginário e Memória e Identidade Cultural em 2010, quando foram subsumidas,
respectivamente, pelas LPs Literatura, História e Memória e Comparatismo e processos
culturais, determinaram significativa alteração nos rumos das pesquisas em ambas as linhas,
que ampliaram os temas investigados, e passaram a desenvolver pesquisas que, em vez
vinculadas a um orientador específico, tornaram-se recorrentes no programa. Nesse sentido,
salientam-se, na LP Literatura, História e Memória, trabalhos em torno da violência, e a
intensificação e ampliação das investigações sobre memória, identidade e minorias. Na LP
Comparatismo e processos culturais tem destaque pesquisas sobre comparatismo e tradução,
literatura e jornalismo, e a análise de narrativas cinematográficas, televisivas e midiáticas.
Pesquisas conduzidas na LP, Leitura, linguagens e ensino, caracterizaram-se pela busca do
perfil leitor do aluno em vários níveis de ensino, e pela intensa proposição de
atividades práticas com vistas à melhor formação do leitor, considerando suas vivências
leitoras e tecnologias passíveis de proporcionar atitudes mais reflexivas e ativas no discente;
as atividades propostas incluíram, frequentemente, temas como a violência e sexualidades
excêntricas. Em todas as LPs, observou-se a preferência pelo estudo de autores
contemporâneos. A contribuição das bancas, ao longo dos 13 anos do curso, revelou crescente
expansão das redes de cooperação e pesquisa do PPGL, as quais se alargaram do âmbito
regional ao âmbito nacional e até internacional.
Palavras-chave: Arquivo. Dissertação como lugar de memória. História Institucional.
Memória. Patrimônio Documental.
ABSTRACT
This paper records a specific aspect of the institutional memory at URI, that is, the history of
the Master's degree in Letters, maintained by URI between 2006 and 2019. For this purpose,
the theses produced by the PPGL at URI in this period were chosen as the object of study, and
taken as a place of memory. The research aims to preserve the documentary patrimony of the
URI represented by these theses, and to promote the record of the history of the course, which
is considered as cultural heritage. It is the possibility of making these memorial data
accessible, interpretable and manageable that establishes the productivity and meaning of this
thesis. It is this researcher´s hope that it contributes in the decision to assign these theses the
status of permanent file, attributing to them the capacity of definitive file available for
research, since very soon the theses will lose their status of current file. Bibliographic research
and literary analysis were adopted to develop the investigation of this exploratory research in
the field of institutional memory. The concepts expressed here result mainly from reflections
based on the theoretical assumptions of Pierre Nora (1993), for the concept of memory place;
studies on institutional memory are based on Worcman (2004) and Nassar (2004) and the
ones on documentary heritage find spport on Christo (2006) and Ribeiro (2009). The history-
memory relationship is addressed based on the studies of Le Goff (2003), Halbwachs (2006)
and Asmann (2011). Initially, the fundamental concepts for the formation of the analytical
basis are discussed and the history of the course in which the theses were produced is
described; then the theses are analyzed and classified according to the line of research and
triennium, and later, quadriennium of their production. The contributions of each line of
research were characterized according to their specific objectives. Modifications in the
Literature, history and imaginary and Memory and cultural identity research lines in 2010,
when they were subsumed, respectively, by the LPs Literature, history and memory and
Comparatism and cultural processes, determined significant alteration in the directions of
research in both lines: there was an expension in the investigated themes, and research that
were previously associated to a specific advisor became recurrent in the program. In this
sense, we emphasize, in the history of the research line Literature, history and memory,
studies around violence, and the intensification and expansion of investigations on memory,
identity and minorities. In the Research line Comparatism and cultural processes, research on
comparatism and translation, literature and journalism, and the analysis of cinematographic,
television and media narratives became recurrent. Research conducted in the research line
Reading, languages and teaching was characterized by studies on the reader profile of
students at various levels of education, and by the intense proposition of practical activities
with a view on better reader formation, considering the role of reading experiences and the
usage of technologies to provide more reflexive and active attitudes in the student. Practical
activities proposed in the theses in this line often included topics such as violence and
eccentric sexualities. In all research lines, a preference for the study of contemporary authors
was noticed. The composition of the thesis examination board, over the course of the 13
years, revealed a growing expansion of the cooperation and research networks of the PPGL,
which widened from local into national and even international level.
Keywords: Archive. Thesis as a place of memory. Institutional history. Memory.
Documentary heritage.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – Folder de divulgação da 1ª Turma do Mestrado ................................................ 79
FIGURA 2 – Câmpus da URI de Frederico WestphalenFonte: Site da URI........................... 79
FIGURA 3 – Prédio do Salão de Atos da URI (Prédio 08), que abriga o curso de Mestrado
em Letras .................................................................................................................................. 80
FIGURA 4 – Primeira turma de ingressantes no PPGL/URI, ladeada pelas professoras Ada
Maria Hemilewski (coordenadora, à esquerda) e Denise Almeida Silva (à direita). ............... 92
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Número de discentes, docentes e funcionários, URI-FW, 2018....................... 65
QUADRO 2 - Dissertações ingressantes Turma 2006 – Literatura, História e Imaginário ..... 92
QUADRO 3 - Dissertações ingressantes Turma 2007 – Literatura, História e Imaginário ..... 98
QUADRO 4 – Dissertações ingressantes Turma 2008 – Literatura, História e Imaginário .. 100
QUADRO 5 – Dissertações ingressantes Turma 2009 – Literatura, História e Imaginário .. 105
QUADRO 6 – Dissertações ingressantes Turma 2010 – Literatura, História e Memória ..... 111
QUADRO 7 – Dissertações ingressantes Turma 2011 – Literatura, História e Memória ..... 115
QUADRO 8 – Dissertações ingressantes Turma 2012 – Literatura, História e Memória ..... 119
QUADRO 9 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Literatura, História e Memória ..... 130
QUADRO 10 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Literatura, História e Memória ... 132
QUADRO 11 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Literatura, História e Memória ... 136
QUADRO 12 – Dissertações ingressantes Turma 2006 – Memória e Identidade Cultural... 141
QUADRO 13 – Dissertações ingressantes Turma 2007 – Memória e Identidade Cultural... 143
QUADRO 14 – Dissertações ingressantes Turma 2008 – Memória e Identidade Cultural... 146
QUADRO 15 – Dissertações ingressantes Turma 2009 – Memória e Identidade Cultural... 149
QUADRO 16 – Dissertações ingressantes Turma 2010 – Comparatismo e Processos Culturais
................................................................................................................................................ 151
QUADRO 17 – Dissertações ingressantes Turma 2011 – Comparatismo e Processos Culturais
................................................................................................................................................ 153
QUADRO 18 – Dissertações ingressantes Turma 2012 – Comparatismo e Processos Culturais
................................................................................................................................................ 154
QUADRO 19 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Comparatismo e Processos Culturais
................................................................................................................................................ 155
QUADRO 20 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Comparatismo e Processos Culturais
................................................................................................................................................ 158
QUADRO 21 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Comparatismo e Processos Culturais
................................................................................................................................................ 161
QUADRO 22 – Dissertações ingressantes Turma 2016 – Comparatismo e Processos Culturais
................................................................................................................................................ 163
QUADRO 23 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 165
QUADRO 24 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 168
QUADRO 25 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 172
QUADRO 26 – Dissertações ingressantes Turma 2016 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 175
QUADRO 27 – Dissertações ingressantes Turma 2017 – Leitura, Linguagens e Ensino ..... 177
QUADRO 28 - Dissertações em progresso ou aguardando redação final ............................. 205
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 12
1 HISTÓRIA E MEMÓRIA.................................................................................................. 20
1.1 A relação entre história e memória ................................................................................. 20
1.2 História e Memória Institucional .................................................................................... 29
1.3 Patrimônio documental: memória e arquivo ................................................................. 36
1.4 O arquivo como lugar de memória ................................................................................. 49
2 MEMÓRIA UNIVERSITÁRIA 56
2.1 Memória Universitária ..................................................................................................... 56
2.2 Lugares de memória na URI ........................................................................................... 65
2.2.1 Espaço FESAU ................................................................................................................ 66
2.2.2 Biblioteca Central Dr. José Mariano da Rocha Filho ...................................................... 69
2.2.3 CEDOPH (Centro de Documentação e Pesquisas Históricas do Alto Uruguai) ............. 72
2.2.4 Dissertações do Mestrado em Letras ............................................................................... 75
3 AS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI COMO LUGAR DE
MEMÓRIA 78
3.1 Mestrado em Letras na URI: histórico do programa ................................................... 78
3.2 Dissertações produzidas a partir da linha 1: Literatura, História e Imaginário
(2006) e Literatura, História e Memória (2010)................................................................... 91
3.2.1 Linha 1: Literatura, História e Imaginário ....................................................................... 91
3.2.2 Linha 1: Literatura, História e Memória ........................................................................ 111
3.3 Dissertações produzidas a partir da linha 2: Memória e Identidade Cultural (2006) e
Comparatismo e Processos Culturais (2010)...................................................................... 140
3.3.1 Linha 2: Memória e Identidade Cultural ....................................................................... 140
3.3.2 Linha 2: Comparatismo e Processos Culturais .............................................................. 150
3.4 Dissertações produzidas a partir da linha 3: Leitura, Linguagens e Ensino (2013) . 164
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 181
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 190
ANEXOS............................................................................................................................... 205
INTRODUÇÃO
“Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nossa ação, nosso sentimento. Sem ela,
somos nada.”
(Luis Buñuel, 1982, p. 7)
Embora o conceito de memória apresente várias categorias analíticas, relaciona-se a
um tempo vivido que deve ser guardado a partir das vivências de indivíduos (memória
individual) e/ou grupos (memória coletiva), da sociedade (memória social), nação (memória
nacional ou oficial), instituições (memória institucional), ou ainda gerado a partir de
documentos (memória documental) e até de máquinas (memória artificial).
Nas últimas décadas, estudos envolvendo a memória ganharam grande incremento, e
têm sido valorizados como instrumento para a preservação de experiências vividas, do
conhecimento acumulado e da identidade de indivíduos e grupos sociais que buscam a
recuperação e divulgação de suas memórias através de diferentes formas de resgate do
passado, expressas, também, a partir de múltiplas formas. Esse renovado interesse pela
memória revela preocupação da sociedade com a recuperação, preservação, disseminação e
acesso a inúmeras informações, cada vez mais rapidamente disponíveis, em virtude do
crescimento informacional no mundo contemporâneo.
A atuação e importância da memória também têm sido reconhecidas na área
empresarial como reforço ou consolidação da imagem pública de uma empresa ou instituição,
podendo repercutir de maneira positiva em sua credibilidade junto ao público consumidor e à
sociedade como um todo. O desenvolvimento da memória nesse campo tem revelado a
importância do resgate e da organização da história de uma instituição, uma vez que se
constitui em ferramenta estratégica que pode ser aplicada no planejamento e o direcionamento
dos negócios e na consolidação da imagem institucional.
Enquanto funcionária da URI, sempre chamou a atenção a esta pesquisadora o viés da
memória institucional, a qual vem sendo percebida e compreendida como informação
estratégica para as atividades da gestão universitária. Para Carolina da Cruz Costa, “a
memória é o elemento primordial no funcionamento das instituições, pois, através da
memória, as instituições se reproduzem no seio da sociedade, retendo apenas as informações
que interessam ao seu funcionamento” (COSTA, 1997, p. 145). Worcman (2004) menciona
que a memória institucional é o uso que uma empresa faz de sua própria história, devendo ser
vista “como um marco referencial a partir do qual as pessoas redescobrem valores e
13
experiências, reforçam vínculos presentes, criam empatia com a trajetória da organização e
podem refletir sobre as expectativas dos planos futuros” (WORCMAN, 2004, p.23). Nessa
perspectiva, é interessante criar alternativas para preservação da memória institucional, bem
como, utilizá-la nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Sendo assim, esta pesquisa registra um aspecto específico da memória institucional da
URI, que é a história do Mestrado em Letras mantido pela URI no período entre 2006 a 2019,
enfocando uma trajetória marcada pela dedicação e pelo entusiasmo de seus atores. Por esse
motivo, considera-se um desafio evocar as memórias de um grupo de professores que
almejaram a criação de um Curso Stricto Sensu, de abrangência regional, que oportuniza aos
graduados a continuidade de sua formação. A pertinência deste trabalho está no fato de que o
registro destas memórias também vem a ser um importante meio de comunicação entre as
diferentes gerações de docentes, técnicos administrativos e discentes do primeiro Curso
Stricto Sensu da URI- Câmpus de Frederico Westphalen.
Faz-se necessário preservar a memória representada nessas produções científicas
porque, como menciona Fragoso: “a responsabilidade de preservar a memória é de todos, já
que a memória é um patrimônio cultural da sociedade, e é a memória que alimenta a história
da nação" (FRAGOSO, 2009, p. 16). Nessas dissertações encontram-se registros que poderão
alimentar a história do Mestrado em Letras da URI, da própria Universidade, da comunidade
regional, do Estado e até mesmo do país.
Haveria múltiplas possibilidades para promover o resgate da memória do curso:
através dos docentes; eventos realizados; publicações feitas no decorrer dos anos ou mesmo
dos projetos de pesquisa. Porém fez-se opção pelas dissertações tomadas como lugar de
memória, o que implica registrar os rumos assumidos pela pesquisa no Mestrado em Letras: a
criação e manutenção das Linhas de Pesquisa, os projetos a elas associados, e as dissertações
delas decorrentes.
O conceito de lugar de memória deriva de Pierre Nora, que registra a necessidade de
lugares de memória quando já não há meios de memória, e a consciência da ruptura com o
passado ainda se confunde com memória evanescente, mas suficiente ainda para que seja
abordada. O conceito é mais amplamente exposto no capítulo 1.
Enquanto pesquisadora, foi-se levada a optar por este tema em virtude da trajetória
acadêmica. Inicialmente, a formação em História ampliou a compreensão da condição
humana, através da leitura, do estudo e da pesquisa. Dentre as alternativas oferecidas pelo
curso de História registra-se a possibilidade de estudo da trajetória das pessoas, famílias,
14
empresas, patrimônio histórico e obras de arte. Desejava-se, já naquela ocasião, estudar a
história institucional, o que acabou não acontecendo.
No Mestrado em Letras, dada essa formação inicial, optou-se pela Linha de Pesquisa
Literatura, História e Memória, a qual aborda o fenômeno da memória, detendo-se nas
memórias individual, coletiva, involuntária e cultural, o que abarca a possibilidade de estudo
da relação história-memória dentro de um contexto institucional. Durante as aulas, o interesse
pela relação narrativa, história e memória foi despertado, e surgiu o desejo de aliar este
interesse ao estudo da história institucional. Além disso, estar inserida no contexto
universitário, fazer parte do cotidiano da Universidade, trouxe à tona, para este projeto, a
hipótese e a reflexão sobre os espaços de memória no contexto da URI e sua função na
preservação do patrimônio documental e na promoção da memória da instituição.
Falar em memória de instituições ou empresas é um conceito relativamente novo para
muitos historiadores. Entretanto, vale ressaltar que qualquer forma de convívio social interfere
na vida de cada indivíduo, que, por sua vez, interfere na sociedade. Estas relações são
fundamentais para compreendermos que uma empresa ou instituição tem suas histórias e
memórias, entrelaçadas no modo de vida particular, e também entrelaçadas à memória da
sociedade de sua área de abrangência. Falar da memória de uma instituição é, assim, falar da
memória de uma sociedade.
Muitas empresas e instituições perceberam que resgatar a memória, muito mais do que
uma celebração do passado, é uma importante ferramenta na preservação do patrimônio
cultural e documental, bem como um grande diferencial de mercado, uma vez que não são
todas as empresas que têm uma história interessante para contar. Sendo assim, ao enfocar a
memória empresarial, as empresas promovem estudos da história local e regional, pois
possuem acervos que colaboram na construção da pesquisa e na preservação da memória. De
modo análogo, a opção, dentro do campo da memória institucional, pela análise do acervo
documental relativo às dissertações produzidas pelo Mestrado em Letras motivou-se pela
percepção de que preservar a memória desse acervo institucional, que integra o patrimônio
documental da URI, representa preservar a memória da instituição e da comunidade regional,
a partir da descrição e análise dessa produção acadêmica, que sintetiza a forma de pensar e de
agir de uma comunidade acadêmica.
Há, porém, uma dimensão mais pessoal na escolha do tema desta dissertação. A
propósito, como lembra Alberto Manguel (2008) a escrita é uma forma de compreensão que
faz com que o ser humano se movimente entre o passado e o futuro. O autor apresenta a
história de Alfred Döblin, um dos grandes romancistas do século XX, para quem “[...]
15
escrever era um processo que nos levava do presente ao futuro, um fluxo constante de
linguagem que permitia que as palavras dessem forma e nome a uma realidade sempre em
processo de formação” (MANGUEL, 2008, p. 15).
Ao optar por escrever este trabalho, esta pesquisadora divisava a possibilidade de se
movimentar entre o passado e o futuro. No passado, buscava a certeza da importância, não
apenas para si, mas para a comunidade de abrangência da URI, daquilo que representou o
curso. Divisava não apenas o intuito de recordar, mas de exercitar uma práxis em que reflexão
e redação marchassem lado a lado. Percebe, agora, o quanto havia a redescobrir: as diferenças
e os limites de cada ano de existência do curso, o processo de solidificação das Linhas de
Pesquisa, as contribuições únicas trazidas por cada docente para o desenvolvimento do ensino
e pesquisa, e para a construção de redes de cooperação nacionais e internacionais – tudo isso
visível na forma como temas de pesquisa se alternavam, alteravam e/ou reiteravam.
Referenciais consistentes possibilitaram reconstruir este passado, descobrindo valores, mas,
também, renovando vínculos.
Essa era uma caminhada em que, no trânsito do passado para o futuro, divisavam-se
não apenas reflexos para esta pesquisadora ,já que reafirmada da relevância do PPGL para si
própria, tanto em termos profissionais como pessoais, mas também a possibilidade da
manutenção, viva, dessa memória institucional, a qual poderá ajudar a entender o presente e a
planejar ações futuras.
Como a literatura sobre a memória tem, repetidas vezes, salientado que a memória se
constitui, na verdade, de duas variáveis: a memória e o esquecimento (RICOEUR, 2007),
outra motivação para a realização desta pesquisa foi a ameaça de esquecimento e perda de
documentos produzidos no ambiente acadêmico, os quais encontram-se agora disponíveis em
plataforma que poderá deixar de existir com a extinção do Mestrado, dificultando o acesso a
esses documentos, salvo via banco de dissertações e teses da CAPES. A importância da
preservação desses arquivos está no fato de que eles constituem a memória e a história de
pessoas que almejaram a criação de um Curso Stricto Sensu, que ao longo de seus 13 anos de
existência, tem oportunizado aos graduados da comunidade regional, a continuidade de sua
formação acadêmico-profissional. Com a preservação dos acervos documentais, a herança
cultural estará protegida e poderá ser transmitida para as gerações futuras.
Assim, ao fazer este registro descritivo-analítico, visa-se a preservação do patrimônio
documental e a promoção da memória da instituição, a partir da relação documento-história-
memória. Nessa perspectiva, a pesquisa tem, como objetivo principal, preservar o patrimônio
documental da URI representado pelas dissertações do Mestrado em Letras escritas no
16
período de 2006 a 2019, promovendo o registro da história do curso, tomado como patrimônio
cultural de sua região de abrangência, a partir da descrição e análise dessa produção
acadêmica que se configura, já, como um lugar de memória.
Como desdobramento desse objetivo primeiro, a pesquisa apoia-se, em seu
desenvolvimento, nos seguintes objetivos específicos: a) apresentar o conceito de patrimônio
documental e relacioná-lo ao patrimônio e à memória institucional; b) definir o conceito de
lugar de memória, e relacioná-lo aos espaços de memória da URI, em geral, e em especial às
dissertações produzidas no Mestrado em Letras da URI, 2006-2019; c) Identificar os espaços
de memória da URI, situando as dissertações no contexto dos acervos de memória destinados
à perpetuação da memória e cultura institucional dentro da comunidade acadêmica; d)
Localizar todas as dissertações produzidas no PPGL no período de 2006 a 2019, classificá-las
de acordo com a linha de pesquisa a que se relacionam, e analisá-las comparativamente,
tomando-as como lugar de memória; e) Investigar os temas abordados nas dissertações a fim
de verificar os rumos e desdobramentos das pesquisas contempladas em mais de uma década
de produção acadêmica; f) Registrar a memória da pesquisa levada a cabo no Mestrado em
Letras, 2006-2019, reunindo, em um único trabalho, a memória da pesquisa realizada,
formando, assim, um banco de dados.
Cabe, ainda, registrar que a noção de dissertação como lugar de memória inspirou-se
em artigo de Ilza da Silva Fragoso (2010), “Teses e dissertações como referenciais de
memória: produções acadêmicas constantes no acervo da biblioteca do Núcleo de
Documentação e Informação Histórica Regional da UFPB (1975-2010)”. O artigo objetivava,
através do levantamento de produções acadêmicas, disseminar a informação registrada como
referencial de memória na construção do conhecimento e da história daquela instituição. Por
achar o assunto oportuno, utilizou-se as dissertações do Mestrado em Letras da URI como
fonte de registro de memória e como patrimônio cultural e documental da comunidade em que
o curso esteve inserido no período de 2006 a 2019.
Trata-se de uma pesquisa exploratória no campo da memória institucional. Foi adotada
abordagem qualitativa, baseada, sobretudo na relação história-memória, e nos conceitos de
memória institucional, patrimônio documental e lugar de memória. Os conceitos aqui
expressos resultam, principalmente, de reflexões baseadas em estudos de Pierre Nora (1993),
para o conceito de lugar de memória; estudos sobre memória institucional baseiam-se em
Worcman (2004) e Nassar (2004) e patrimônio documental em Christo (2006) e Ribeiro
(2009). A relação história-memória é tratada, sobretudo a partir dos estudos de Le Goff
(2003), Halbwachs (2006) e Assmann (2011). Especificamente no que tange à memória
17
institucional, as fontes bibliográficas consultadas possibilitaram melhor compreensão do
assunto em questão através de exemplos de instituições que podem auxiliar na
operacionalização do conceito, o qual ainda não é amplamente reconhecido e aplicado no que
tange aos procedimentos necessários para a preservação da memória institucional.
A pesquisa acadêmica é um processo que requer várias etapas, desde a formulação do
problema até a apresentação dos resultados. Esta pesquisa utilizou materiais do Mestrado em
Letras que contemplam a divulgação das atividades e projetos desenvolvidos, tais como:
relatórios Coleta-CAPES, um sistema informatizado desenvolvido pela CAPES com o
objetivo de coletar informações sobre os programas de Pós-Graduação Stricto Sensu do País.
Subsidia o processo de avaliação realizado pela CAPES, bem como os programas de fomento
e delineamento de políticas institucionais e a Plataforma Sucupira, uma ferramenta que coleta
informações e funciona como base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação
(SNPG) e disponibiliza em tempo real informações, processos e procedimentos que a CAPES
realiza no SNPG para toda a comunidade acadêmica.
Ademais, elaborou-se uma leitura das produções acadêmicas da Pós-graduação Stricto
Sensu constantes no acervo da Secretaria do Mestrado em Letras da URI, defendidas no
período de 2006 a meados de 2019. Foram coletados dados acerca do autor, título, data e local
de defesa, banca, orientador e linha de pesquisa, o que permitiu a classificação inicial das
dissertações ao longo de escala temporal, e também sua delimitação segundo a linha de
pesquisa a que se associam. Dados a respeito da constituição das bancas são tomados como
índices de inserção do PPGL-URI, bem como dos intercâmbios de pesquisa ocorridos ao
longo da história do curso.
Para melhor compreensão do tema proposto, este estudo foi estruturado da seguinte
maneira: o Capítulo inicial, “História e Memória”, apresenta esses conceitos, salientando as
relações essenciais existentes entre ambos. Além disso, algumas categorias relacionadas à
memória são descritas, tais como: memória individual, memória coletiva e memória social,
com o propósito de situar, no contexto desses estudos de memória, o conceito de memória
institucional. São apresentados também os conceitos de Patrimônio Documental e de arquivo
como lugar de memória, esclarecendo, aí, esse conceito base para a elaboração desta
dissertação.
Logo a seguir, o Capítulo 2, “Memória Universitária”, expõe o conceito, que abriga
uma diversidade inerente a esse ambiente de ensino e de pesquisa científica. Na sequência,
enfatiza-se a construção de lugares de memória dentro da Universidade, trazendo o
conhecimento dos lugares de memória na URI. Para isso, desenvolveu-se uma reflexão sobre
18
tais espaços de memória, a fim de que se pudesse investigar, mesmo que brevemente, como
eles impactam na perpetuação da memória e cultura dentro da comunidade na qual estão
inseridos.
Finalmente no Capítulo 3, “As Dissertações do Mestrado em Letras da Uri como lugar
de memória”, são descritas as dissertações do Mestrado em Letras. O capítulo subdivide-se
em quatro partes: primeiramente fala sobre o “Mestrado em Letras na URI: histórico do
programa”, passando, em seguida, à análise das dissertações, o que é feito na perspectiva de
cada uma das Linhas de Pesquisa - Linha 1: Literatura, História e Imaginário (2006) e
Literatura, História e Memória (2010); Linha 2: Memória e Identidade Cultural (2006) e
Comparatismo e Processos Culturais (2010) e, por fim, as dissertações produzidas a partir da
Linha 3: Leitura, Linguagens e Ensino (2013). Os trabalhos são agrupados ao longo dos
triênios, e, mais tarde quadriênios avaliativos; cada dissertação é analisada a partir de quatro
indicativos: objetivos, base teórica, estrutura e conclusão, com o que se espera ter produzido
quadro descritivo essencial da produção de um curso que se configura, já, como um lugar de
memória.
Construir esta dissertação significou, como já registrado, refletir sobre o significado da
história construída pelo PPGL; necessariamente, dado o caráter de documento de uma
dissertação, tal reflexão foi feita por meio de palavras. Lembra-se, aqui, outra reflexão de
Manguel, desta vez sobre a linguagem: para esse autor, toda vez que se pronuncia algo, sente-
se a necessidade de um retorno do dito. Para além do que o retorno daquilo que passou, a
linguagem pode mais: é “[...] um ato de evocação por meio de palavras e por meio daquelas
versões dos acontecimentos reais que chamamos de histórias” (MANGUEL, 2008, p. 18). E
histórias, Manguel lembra, são “[...] um modo de registrar nossa experiência do mundo, de
nós mesmos, dos outros”.
Registra-se aqui, necessariamente, a história do PPGL- Mestrado em Literatura
Comparada segundo a versão da história construída por esta pesquisadora, a partir de suas
vivências e visão de mundo. Mas, como lembra ainda Manguel, é uma forma de registrar não
somente uma memória e história individual, como a de todo um grupo de pessoas. É preciso
olhar para as pessoas, pois a história institucional é uma construção que traz em si as marcas
dos sujeitos que dela fazem e fizeram parte. Tanto os professores e alunos que passaram pelo
Curso, como os funcionários – enfim, todos quantos trabalharam e continuam, ainda,
trabalhando nesse projeto têm dado sua contribuição para construir essa história que se busca
preservar.
19
Volta-se, ainda a Manguel para a compreensão do que levou à elaboração desta
narrativa: o autor relembra como toda a narrativa nasce e se constitui, em última análise, do
desejo do diálogo. Assim, a narrativa seria a melhor síntese da natureza do ser humano,
independentemente da época ou do espaço, já que “a maioria de nossas funções humanas é
singular: não precisamos de ninguém para respirar, andar, comer ou dormir. Mas precisamos
dos outros para falar, para que nos devolvam o que dissemos. A linguagem, declarou Döblin,
é um modo de amar os outros” (MANGUEL, 2008, p. 17).
Este trabalho é, pois, um diálogo: desta pesquisadora consigo mesmo, mas também
com todos os que compartilharam esta história e, ainda, com os que dela ficarão sabedores
através desta pesquisa. Consideram-se, já, futuros leitores, porque o ato de escrever pressupõe
desde sempre um diálogo com o leitor. Que este devolva a esta pesquisadora o que se disse,
mas o devolva como um amoroso ato de compartilhamento. Dessa forma, esta dissertação é,
também, uma expressão de amor ao Curso, à instituição, à própria história de vida e à história
de vida de todos os que sonharam com um Curso Stricto Sensu nesta região, e compartilharam
sua história. Ecoando as palavras de Manguel, espera-se que o ato da leitura deste trabalho
seja como “uma operação da memória por meio da qual as histórias nos permitem desfrutar da
experiência passada e alheia como se fosse a nossa própria” (MANGUEL, 2008, p. 19). Desse
modo, cada experiência, será definida como algo significativo no presente, em vez da
projeção de um passado definitivamente terminado.
Em tempos sombrios, quando do encerramento do Mestrado em Letras, escrever sua
história permitirá continuar a existência desse legado. Tomam-se de empréstimo, mais uma
vez, as palavras de Manguel (2008): “as histórias podem alimentar nossa mente, levando-nos
talvez não ao conhecimento de quem somos, mas ao menos à consciência de que existimos -
uma consciência essencial, que se desenvolve pelo confronto com a voz alheia” (MANGUEL,
2008, p. 19).
1 HISTÓRIA E MEMÓRIA
“Resgatar a memória e recontar a história é ressignificar o olhar.”
Sonia Kramer (1999, s.p)
1.1 A relação entre história e memória
Em tempos de rapidez no compartilhamento das informações, os termos memória e
história se consolidam como um campo de estudos e de atuação profissional pela capacidade
de gerar pertencimento, emoção, organização, acesso e uso da informação, trazendo à tona o
que pode ser lembrado e permanecer vivo. Sem memória não se resgata o passado; sem
memória não se faz história e, sendo assim, algumas aproximações entre história e memória
autorizam tratá-las comparativamente.
Chauí (2000) sugere que tudo aquilo que se sabe ou se pode aprender se deve à
memória, seja ela passada ou relacionada ao futuro. Vai além, definindo-a como, “uma
evocação do passado. É a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi,
salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e que não retornará jamais”
(CHAUÍ, 2000, p. 158). Partindo dessas considerações, a autora (2000) menciona que a
memória seria como uma “atualização ou presentificação” do passado, tendo como uma de
suas atribuições fundamentais organizar a relação do homem com o tempo:
A memória não é um simples lembrar ou recordar, mas revela uma das formas
fundamentais de nossa existência, que é a relação com o tempo, e, no tempo, com
aquilo que está invisível, ausente e distante, isto é, o passado. A memória é o que
confere sentido ao passado como diferente do presente (mas fazendo ou podendo
fazer parte dele) e do futuro (mas podendo permitir esperá-lo e compreendê-lo)
(CHAUÍ, 2000, p. 164)
A possibilidade de conferir sentido ao passado é vital para a associação entre memória
e história. Para Tânia Oliveira Pereira (2007), há uma relação essencial entre memória e
história: “A memória é o mecanismo do cérebro humano que nos permite relembrar com
detalhes fatos passados, ou seja, a história de modo geral. A memória é, então, condição sine
qua non da história: sua matéria-prima, seu registro” (PEREIRA, 2007, p. 33).
A relação entre história-memória é tratada, neste trabalho, sobretudo a partir dos
estudos de Maurice Halbwachs (2006), Aleida Assmann (2011), Pierre Nora (1993) e Jacques
Le Goff (2003). O ponto básico da discussão é compreender as contribuições que estes
teóricos trazem sobre a escrita da história e da memória ao longo do tempo.
21
Jacques Le Goff (2003) coloca em pauta um conjunto de conceitos e questionamentos
sobre história e memória. O autor define a memória como “um conjunto de funções psíquicas,
graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele
representa como passadas” (LE GOFF, 2003, p. 423). Por outro lado, salienta que a História
não deve ser entendida como ciência do passado, mas como a “[...] ciência da mutação e da
explicação dessa mudança” (LE GOFF, 2003, p. 15).
Raciocinando a partir da etimologia da palavra história nas línguas românicas, Le Goff
apresenta duas acepções básicas de História possíveis: a procura das ações realizadas pelos
homens, conceito que remonta a Heródoto; e a narração dessa série de acontecimentos. No
século XIX, surgem doutrinas que privilegiam a história dentro desse saber: a noção de
historicidade leva a inserir a própria história dentro da história. Como Certeau observa, “Há
uma historicidade da história que implica o movimento que liga uma prática interpretativa a
uma práxis social” (1970, p. 484, apud LE GOFF, 2003, p. 19). Por outro lado, o raciocínio de
Ricoeur de que “[...] é sempre na fronteira da história, no fim da história que se compreendem
os traços mais gerais da historicidade” (1961, p. 225-225, apud LE GOFF, 2003, p. 20)
possibilita a “entrada” de novos objetos no campo da Ciência Histórica, até então não
reconhecidos.
Alguns teóricos, como Aleida e Jan Assmann, valorizam os estudos da memória não
apenas em termos de armazenamento de dados em arquivos, mas de tudo aquilo escapa ao
registro oficial. Bernd (2017) destaca que,
[...] assim chamada memória Cultural incorporaria os elementos que pertencem à
esfera do sensível e do simbólico e que escapam ao registro hegemônico do poder e
sua tentativa de construção de uma identidade nacional em termos de totalização.
Há, portanto, um caráter político inegável na utilização do conceito de Memória
cultural. (BERND, 2017, p. 245-246)
Como Bernd registra, “a memória cultural está constituída não apenas por dados de
arquivo ou pela historiografia tradicional, mas também pela memória contida nos vestígios,
no que foi reprimido” (BERND, 2017, p. 247). Tal memória possibilita a exploração de
elementos associados também à tradição e à vivência, tais como mitos, rituais, e celebrações,
obras artísticas e textos literários.
É notável que Le Goff considere a discussão sobre ambiguidades e paradoxos sobre a
história como fundamentais para a definição de sua concepção. Segundo ele, o passado é “[...]
uma construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e
significativa da história” (LE GOFF, 2003, p. 25). Este raciocínio traz à tona uma
22
preocupação acerca da dependência da história do passado em relação ao presente, pois a
memória sempre é trabalhada do presente para o passado:
Ela é inevitável e legítima, na medida em que o passado não deixa de viver e de se
tornar presente. Esta longa duração do passado não deve, no entanto, impedir o
historiador de se distanciar do passado, uma distância reverente, necessária para que
o respeite e evite o anacronismo (LE GOFF, 2003, p. 26)
Recorrendo ao pensamento de Génicot (1980), Le Goff traça importante distinção
entre objetividade e imparcialidade no pensamento histórico. “A primeira é deliberada; esta
última, uma impossibilidade, considerada a necessidade de o historiador avaliar a importância
dos fatos e suas relações causais- para o autor, a objetividade histórica não é a pura submissão
dos fatos” (LE GOFF, 2003, p. 32). Com relação às relações entre saber e poder, objetividade
e manipulação do passado e a natureza da memória e da história, o autor avalia:
Se a memória faz parte do jogo de poder, se autoriza manipulações conscientes ou
inconscientes, se obedece aos interesses individuais ou coletivos, a história, como
todas as ciências, tem como norma a verdade. Os abusos da história só são um fato
do historiador, quando este se torna um partidário [...] (LE GOFF, 2003, p. 32)
A história é posta como a ciência do tempo: “está estritamente ligada às diferentes
concepções de tempo que existem numa sociedade e são um elemento essencial da
aparelhagem mental dos seus historiadores” (LE GOFF, 2003, p. 52). Por outro lado, “a
memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para
servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para
a libertação e não para a servidão dos homens” (LE GOFF, 2003, p. 478).
Apesar de reconhecer a dependência entre memória e história, Le Goff (2003) explana
que existe uma clara distinção entre ambas. Comentando o pensamento de Le Goff a esse
respeito, Antonio Monsanto Dias (2012) avalia que a memória “faz parte do jogo do poder, se
autoriza a manipulações e a interesses, sejam eles individuais ou coletivos [...], e a história
como ciência, busca legitimar uma verdade em seu discurso” (DIAS, 2012, p. 220). Nesse
sentido, pode-se dizer que a memória, um objeto da história, deve ser encarada como um
componente elementar de sua criação. A memória é onde cresce a história, lugar onde a
história é alimentada, em sua relação sempre incompleta e conflituosa entre o presente e o
passado. Constitui-se por rastros, que chegam ao presente a partir do passado e que assim
constituem e legitimam o discurso historiográfico.
23
Em seus estudos para compreender a natureza da memória, Maurice Halbwachs pensa
não tanto a relação temporal ou a objetividade/imparcialidade da narrativa histórica, mas
centra-se, antes, em uma perspectiva sociológica. Halbwachs (2006) afirma que nenhuma
lembrança pode existir apartada da sociedade. Entende a memória como um trabalho de
reconstrução do passado de um narrador, defendendo que a memória não existe em um plano
exclusivamente individual, uma vez que todo indivíduo vive em sociedade e está sempre
interagindo com outras pessoas. A memória coletiva baseia-se em um conjunto de indivíduos
que se lembram, por serem membros de um mesmo grupo, a partir do qual ela assegura sua
força e duração, e cuja “combinação de influências [...] são todas de natureza social. Algumas
dessas combinações são extremamente complexas.” (HALBWACHS, 2006, p. 69). Para o
teórico, a memória é sempre vivida, física ou afetivamente.
O autor trabalha a questão da memória coletiva da perspectiva de quadros sociais, isto
é, as relações que os agentes fazem com os ambientes coletivos. É a partir do conjunto das
relações entre pessoas e ambientes que os fatos do passado “assumem importância maior e
acreditamos revivê-los com maior intensidade, porque não estamos mais sós ao representá-los
para nós”. (HALBWACHS, 2006, p. 30). São os quadros sociais da memória que fazem com
que nossas lembranças, permaneçam coletivas. Estas “[...] nos são lembradas por outros, [...].
Isto acontece porque jamais estamos sós. [...] porque sempre levamos conosco e em nós certa
quantidade de pessoas que não se confundem”. (HALBWACHS, 2006, p. 30).
Assim, destaca-se, no pensamento de Halbwachs, a concepção de que, em grande
parte, nossas das lembranças ressurgem porque são acionadas a partir de recordações e/ou
convivência com outros indivíduos; mesmo quando estes não estejam “materialmente
presentes”, ao se evocar algum acontecimento compartilhado e visto sob o ponto de vista de
um grupo, “se pode falar em memória coletiva”. (HALBWACHS, 2006, p. 41).
Uma vez que a memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva,
esse ponto de vista muda conforme o lugar que ocupamos e as relações que mantemos com os
quadros sociais a que pertencemos: “a sucessão de lembranças, mesmo as mais pessoais,
sempre se explica pelas mudanças que se produzem em nossas relações com os diversos
ambientes coletivos” (HALBWACHS, 2006, p. 69).
No instante em que um grupo desaparece, existe uma única forma de salvar as
lembranças, “é fixá-las por escrito em uma narrativa, pois os escritos permanecem, enquanto
as palavras e o pensamento morrem” (HALBWACHS, 2006, p. 101). De acordo com esse
raciocínio, o autor defende uma distinção fundamental entre memória e história: “Como
poderia a história ser uma memória, se há uma interrupção entre a sociedade que lê essa
24
história e os grupos de testemunhas ou atores, outrora, de acontecimentos que nela são
relatados?” (HALBWACHS, 2006, p. 101).
Por tudo isso, Halbwachs afirma que memória coletiva não pode ser confundida com
memória histórica, pois os termos memória e história se opõem, sendo a última “a compilação
dos fatos que ocuparam maior lugar na memória dos homens” (2006, p. 100). Traça distinção
entre memória e história a partir de dois aspectos: a história “examina os grupos de fora e
abrange um período bastante longo. A memória coletiva, ao contrário, é o grupo visto de
dentro e durante um período que não ultrapassa a duração média da vida humana, que de
modo geral, lhe é bem inferior” (HALBWACHS, 2006, p. 109).
Também Pierre Nora (1993) estabelece contrapontos entre e memória e a história,
situando-as em lados opostos, mas a partir de raciocínio distinto. Nora percebe na
contemporaneidade, em paralelo aos fenômenos da mundialização, democratização,
massificação, mediatização, uma “aceleração da história” que testifica o fim do que chama
“história-memória”. Para o historiador francês, assiste-se agora ao fim das “sociedades-
memória”, caracterizadas por “forte bagagem de memória e fraca bagagem de história” (1993,
p. 8). Esta se tornava desnecessária, visto que aquelas sociedades asseguram a conservação e
transmissão dos valores, sendo portadoras de uma “memória integrada, ditatorial e
inconsciente de si mesma, organizadora e toda-poderosa, espontaneamente atualizada, uma
memória sem passado que reconduz eternamente a herança, conduzindo o antigamente dos
ancestrais ao tempo indiferenciado dos heróis, das origens e do mito [...] (NORA, 1993, p. 8).
A essa memória integrada, Nora opõe a memória divorciada da vivência direta, a qual
descreve como “história, vestígio e trilha” (1993, p. 8). O termo memória é lembrado, pois ela
não mais existe. Há hoje uma percepção histórica que, com a ajuda da mídia, substituiu “[...]
uma memória voltada para a herança de sua própria intimidade pela película efêmera da
atualidade.” (NORA, 1993 p. 8).
Nora (1993) vai mais além, e afirma que "a memória se enraíza no concreto, no
espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga a continuidades temporais, às
evoluções, e às relações das coisas. A memória é o absoluto e a história, o relativo” (NORA,
1993, p. 09). Contrasta fortemente os conceitos de memória e história:
A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em
permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
inconsciente de suas deformações sucessivas, vulneráveis a todos os usos e
manipulações, suscetível de longas latências e repentinas revitalizações. A história é
a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. A
memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história,
uma representação do passado. (NORA, 1990, p. 9)
25
A partir desse raciocínio, Nora estabelece a noção da oscilação de um momento
memorial a um momento histórico, de um mundo em que se vivenciava uma história-memória
a um mundo em que a história tem caráter vestigial, em que se aguça a necessidade de lugares
nos quais a memória se cristaliza. Nora descreve: “Tudo o que é chamado de clarão de
memória é a finalização de seu desaparecimento no fogo da história. A necessidade de
memória é uma necessidade da história” (1993, p. 14). Conforme o historiador explana, o que
se chama de memória é, de fato, a constituição do estoque material daquilo que é impossível
lembrar, repertório insondável daquilo que se poderia ter necessidade de se lembrar.
Nora aponta para a aceleração dos ritmos de transformação dos processos históricos
como um fator que legou à memória e seus suportes uma importância cada vez mais
destacada. Segundo ele, nenhuma época foi tão voluntariamente produtora de arquivos como
a atual. Não somente pelo volume material que as sociedades produzem, tão pouco pelos
novos meios técnicos de reprodução e conservação de que passamos a dispor, mas sim pela
superstição e pelo respeito ao vestígio.
Segundo sua visão teórica, à medida que desaparece a memória tradicional, os
indivíduos sentem-se obrigados a acumular “religiosamente vestígios, testemunhos,
documentos, imagens, discursos, sinais visíveis do que foi como se esse dossiê cada vez mais
prolífero devesse se tornar prova em não se sabe que tribunal da história” (NORA, 1993, p.
15). Além disso, denomina o processo de descentralização da memória de “liquidação da
memória” (NORA, 1993, p. 16), na ânsia não apenas de tudo guardar, mas também de
produzir arquivos, ou seja, produzir memórias para conservá-las.
Em tal contexto, evidencia-se a complexidade dos campos da memória e da história.
“A memória é percebida por Nora como prisioneira da História ou encurralada nos domínios
do privado e do íntimo. Transformou-se em objeto e trama da História, em memória
historicizada” (SEIXAS, 2004, p. 41). Dessa forma, assume uma função criativa inscrita na
memória de atualização do passado lançando-se em direção a um futuro, que se reinveste de
toda a carga afetiva atribuída geralmente às utopias e aos mitos.
Em contraste com os raciocínios de Maurice Halbwachs e Pierre Nora, Aleida
Assmann (2011, p. 145) rejeita a oposição entre memória e história. Com referência ao
pensamento de Halbwachs, critica a concepção de que existe uma “memória do grupo”: “Que
há uma “memória no grupo”, isso ninguém contesta, mas também pode haver algo como uma
“memória do grupo?” Para Assmann, pode-se admitir a existência de tal memória apenas
metaforicamente, já que uma “[...] memória de grupo não dispõe de qualquer base orgânica e
26
por isso é impensável, em sentido literal” (ASSMANN, 2011, p. 145). A esse respeito, a
pesquisadora lembra como Pierre Nora aponta para a inexistência de qualquer alma coletiva
por trás da memória coletiva, remetendo, antes, aos signos e símbolos sociais. Reconhecendo
o caráter pioneiro das pesquisas sobre a base social da memória desenvolvidas por
Halbwachs, e comparando-as com os argumentos de Nora, Assmann conclui: “Nora cumpriu
na teoria da memória o passo que vai do grupo vinculado na existência espaço-temporal, tema
estudado por Halbwachs, à comunidade abstrata que se define por meio dos símbolos que
abrangem e agregam, em nível espacial e temporal.”(ASSMANN, 2011, p. 145).
Para Aleida Assmann, a relação entre memória e história não é a de distinção, mas de
complementaridade. Reconhece a existência de relação colaborativa, uma vez que concebe
memória e história como “dois modos de recordação, que não precisam excluir-se nem
recalcar-se mutuamente” (ASSMANN, 2011, p. 147).
A pesquisadora identifica a existência de uma memória habitada, ou corporificada, ou
seja, uma memória pertence a portadores vivos, a qual denomina de memória funcional.
Percebe, nessa memória, as características de referência “ao grupo, à seletividade, à
vinculação a valores e a orientação ao futuro”. Por outro lado, concebe as ciências históricas
como uma memória de segunda ordem, ou seja, “uma memória das memórias, que acolhe em
si aquilo que perdeu a relação vital com o presente” (ASSMANN, 2011, p. 147). A este tipo
de memória a pesquisadora denomina memória cumulativa.
Segundo Assmann, a memória tem diferentes planos; um deles é referente aos fatos
que o indivíduo lembra e sabe sobre si próprio, ou seja, o conhecimento particular sobre si,
sobre sua autoestima e, consequentemente, a forma como lida com essas experiências, o que a
pesquisadora denomina de “memória consciente”. Porém, “dessa configuração da memória
para o indivíduo depende o quadro de oportunidades futuras à disposição do indivíduo e quais
delas estão excluídas de seu horizonte” (ASSMANN, 2011, p. 147).
Já um segundo plano da memória se constitui de elementos bastante heterogêneos: em
parte, improdutivos, inacessíveis; em parte fora do alcance da atenção ou inacessíveis a
tentativa ordenada de recuperação; em parte, ainda, escandalosos ou dolorosos e, por esse
motivo, afastados do alcance imediato de recuperação. Conforme Assmann resume, “os
elementos da memória cumulativa pertencem ao indivíduo, mas constituem uma reserva – que
por vários motivos, sejam eles quais forem – em certo momento deixa de estar disponível para
resgate” (ASSMANN, 2011, p. 148). Para que tais elementos passem a integrar uma memória
com função orientadora, é necessário classificá-los de acordo com um determinado quadro de
sentido.
27
É justamente a possibilidade de tornar os dados da memória cumulativa acessíveis,
interpretáveis e ordenáveis que estabelece sua produtividade e sentido. Esse trânsito assinala a
passagem de elementos da memória cumulativa para a memória funcional, justificando a
concepção da natureza complementar entre ambas. De acordo com Assmann, esse modelo de
memória funcional, estabelece por um lado, uma fronteira produtiva entre uma massa amorfa
de elementos soltos, e elementos produtivos, já que seleciona elementos e agrega-os entre si.
Para a pesquisadora, “essa fronteira é produtiva justamente por ser móvel. A memória
funcional é seletiva e atualiza apenas um fragmento do conteúdo possível da recordação”
(ASSMANN, 2011, p. 148).
O cerne do raciocínio da Assmann é justamente esse trânsito vivo entre uma memória
e outra, fazendo com que não haja uma rígida separação entre ambas, demonstrando como a
memória funcional se alimenta da cumulativa e vice-versa. A memória cumulativa, segundo
Assmann, se configura, como a “massa amorfa”, “aquele pátio de lembranças inutilizadas,
não amalgamadas, que circunda a memória funcional” (ASSMANN, 2011, p. 149). Essa
memória, não constitui o oposto da memória funcional, mas sim, o seu pano de fundo.
Ao apresentar os dois modos complementares de recordação, a memória funcional e
cumulativa, a autora está afirmando que nenhuma delas é totalmente independente, podendo
haver um trânsito entre memórias, o que leva a perceber que mesmo com conceitos diferentes,
estão interligadas. A memória tem lugares, contradições, tensões, lastros, rastros, vestígios,
tem documentos. Nesse sentido a memória funcional precisa da memória cumulativa, pois
esta “[...] pode ser vista como um depósito de provisões para memórias funcionais futuras”
(ASSMANN, 2011, p. 153).
Importante destacar que a memória cumulativa é um reservatório para todas as
memórias funcionais. Ela não é natural e necessita de apoio de instituições para preservá-la,
como arquivos, museus, bibliotecas, memoriais, institutos e universidades. Para Assmann
(2011) “uma sociedade que não proporciona a si mesma nichos e espaços de liberdade como
esses não logra construir memória cumulativa alguma [...] e o futuro da cultura depende em
grande medida de que essas memórias continuem existindo lado a lado” (2011, p. 154).
No espaço das camadas que compõem o conteúdo do humanamente vivido encontra o
esquecido, o velado, o que não pode vir à luz, é neste emaranhado que a tese de colaboração
entre memória e história se firma. Em resumo, Assmann diz:
“História” [...] é o produto de um processo cultural de diferenciação. Desenvolveu-
se por meio da emancipação da “memória” (no sentido da “tradição normativa”).
Essa diferenciação na “economia doméstica do saber da sociedade” [...] não leva
28
necessariamente, como se temia à dissolução [...] das memórias vivas de grupos
específicos. Ao passo que o caráter excludente dos dois modos de memória revela lá
e cá potenciais bastante problemáticos, por privar a historiografia de seu valor e
atribuir à memória um caráter mítico, há no imbricamento de ambos um corretivo
proveitoso. (ASSMANN, 2011, p. 155)
Assmann considera que sempre existem interesses políticos e sociais envolvidos no
ato de rememorar. Afora questões de ser produto do processo cultural, as duas formas de
memória são envolvidas por importantes questões teóricas, como por exemplo, atestar a
veracidade de um testemunho ou decidir o que deve ser conservado ou não. Para a autora,
“[...] a dimensão memorial e a dimensão científica da historiografia não se excluem, mas
ligam-se uma à outra de maneira complexa” (ASSMANN, 2011, p. 158), sugerindo que se
utilizássemos as duas correntes, poderíamos reorientar o projeto de escrita da história.
Comentando o texto de Assmann, Vera Lúcia Alves Mendes Pagatini (2016) defende a
ideia de que “a história, mesmo sendo registro do passado, sempre tem algo a nos dizer; traz
em si os registros da nossa memória cultural” (2016, p. 6). Esse tipo de memória, constituída
por “heranças simbólicas materializadas em textos, ritos, monumentos, celebrações, objetos,
escrituras sagradas e outros suportes que funcionam como gatilhos para acionar significados
associados ao que passou” (2016, p. 6). A autora complementa;
Os usos que se faz da memória nas experiências individuais podem compor a
memória coletiva; as localidades espaciais tornam-se locais de memória que podem
ser armazenadas, repassadas e reincorporadas ao longo das gerações; uma esfera
onde as pessoas se comunicam. (PAGATINI, 2016, p. 6)
Pagatini (2016) percebe, com propriedade e agudeza, que o eixo de argumentação de
Assmann consiste em demonstrar que não há uma essência da memória. Diversos grupos
celebram os mais variados tipos de lembranças e não apenas os indivíduos isolados. Menciona
que os modos de recordar podem distinguir-se, mas jamais poderão ser excluídos, “variam ao
longo do tempo e segundo a formação cultural em que são formulados. Desse modo, se há o
desaparecimento da memória, isso é verdade apenas na medida em que há o descrédito de
algumas formas de recordar” (PAGATINI, 2016, p. 7).
Todas essas discussões sobre as fronteiras que ligam e separam história e memória,
despertam o interesse dos historiadores pelo passado como elemento fundamental para a
compreensão do presente. A identificação entre ambas ocorre a partir da utilização da mesma
matéria-prima, o passado, remetendo tanto à construção da memória quanto à operação
histórica e narrativa.
29
Cada uma dessas perspectivas sobre a memória e suas relações com a história oferece
um ângulo peculiar para pensar as dissertações produzidas no PPGL/URI. Le Goff lembra
como, na conflituosa relação entre passado e presente, a memória é uma fonte de alimentação
da história. Já Nora traz o aporte fundamental a esta proposta, que virá a ser explicado em
profundidade ainda neste capítulo: o de uma memória que se desliga do presente e já
apresenta traços vestigiais, pelo que necessita de lugares de memória. Halbwachs traz a
perspectiva do aporte representado pela contribuição de uma comunidade ao seu quadro de
memórias; nesse sentido, não é demais lembrar que o Mestrado em Letras caracteriza-se como
essencialmente coletivo, uma interação entre docentes e discentes, intra- e inter-geracional
(refere-se, aqui, às sucessivas turmas ingressantes). Por último, a produtividade do
pensamento de Assmann é a porosidade e interpenetração fundamental entre memória e
história, memória funcional e cumulativa, e que alimenta a esperança de que as dissertações
produzidas ao longo de treze anos de curso não jazam no anonimato indiferenciado da
memória cultural, mas venham a se transformar em contínua e disponível fonte de consulta.
1.2 História e Memória Institucional
Quando se está inserido em um grupo, têm-se afinidades e pensamentos em comum.
Como já salientado, Halbwachs (2006) destaca a importância do sentimento de pertença para
a construção da memória coletiva, relacionando a lembrança com as vivências significativas
de um determinado grupo, criando, consequentemente, um sentido para a memória:
Todavia, quando dizemos que o depoimento de alguém que esteve presente ou
participou de certo evento não nos fará recordar nada se não restou em nosso espírito
nenhum vestígio do evento passado que tentamos evocar, não pretendemos dizer que
a lembrança ou parte dela devesse substituir em nós da mesma forma, mas somente
que, como nós e as testemunhas fazíamos parte de um mesmo grupo e pensávamos
em comum com relação a certos aspectos, permanecemos em contato com esse
grupo e ainda somos capazes de nos identificar com ele e de confundir o nosso
passado com o dele. (HALBWACHS, 2006, p. 33)
Dessa forma, a história de cada indivíduo é formada então por suas memórias, pelas
memórias do grupo a que pertence e por aquilo que classificou como importante e digno de
ser guardado. Esse sentimento de pertença grupal e as memórias formadas a partir dele são
importantes para a perspectiva desenvolvida nesta pesquisa quando se considera, como o faz
Worcman, que uma
[...] empresa é obviamente um grupo. E, como todos os grupos, possui uma memória
que garante sua coesão e identidade. Resta-nos saber em que medida as empresas
hoje utilizam sua história como fator de união entre seus integrantes e, ainda, como
30
fator de criação de identidade perante o resto da sociedade. Resta-nos analisar
também de que maneira a concepção que a empresa possui da própria história
permite que esta se transforme ou não em um elemento potencial de integração e
comunicação. (WORCMAN, 2001, p. 12)
Em vista disso, a partir da compreensão de que uma empresa é uma reunião de pessoas
que fazem parte de outros grupos sociais, pode-se dizer que a sua história é resultado da
história e da contribuição de cada uma dessas pessoas, clientes e fornecedores. As relações
estabelecidas entre esses múltiplos atores e suas interações têm sido um tema fascinante.
Vive-se a era da globalização, na qual o conhecimento é essencial à sobrevivência das
empresas. Nesse sentido, a História Empresarial pode ser considerada uma ferramenta de
condução, resgate e manutenção dos conhecimentos, habilidades e competências desenvolvidos
por cada organização empresarial. Percebe-se um fortalecimento da política de imagem, e como
consequência dessa preocupação, a partir dos anos 1980 e, sobretudo, nos anos 1990, assiste-
se a um crescente desenvolvimento de projetos de memória institucional, no Brasil e no
mundo. Contudo, já a partir dos anos de 1970, com a utilização das novas tecnologias capazes
de proporcionar o acesso rápido a informações, se fortalece a ideia de preservação de
documentos nas empresas, fazendo com que a área de investigação da história empresarial
ganhasse novas proporções dentro do ramo da historiografia contemporânea.
Este ramo da história engloba a conjuntura econômica-social, analisando a origem,
trajetória e campo de atuação das instituições ligadas ao mundo empresarial. Souza (2010, p.
32) salienta que “a memória empresarial tem-se consolidado como ferramenta de suporte a
decisões e como instrumento relevante nas estratégias de comunicação e marketing das
empresas”.
Construir uma marca de renome, forte e próspera parece ser o melhor caminho para as
empresas se adaptarem e se manterem nestes novos tempos de globalização e de informação
em tempo real. Dentro desse contexto, as instituições estão atentas à importância da memória,
pois reconhecem que para garantirem o futuro é necessário que as novas gerações conheçam e
valorizem seu processo histórico e evolutivo. Como Pereira enfatiza, em face “[...] das
acirradas competições tecnológicas e mercadológicas, as empresas encontraram na
preservação e no entendimento de sua história uma forma de compreender o presente e de
buscar construir um futuro mais controlado e conhecido” (PEREIRA, 2007, p. 38). Dessa
forma, “a história de uma empresa é um marco referencial a partir do qual as pessoas
redescobrem valores e experiências, reforçam vínculos, criam empatia com sua trajetória e
podem refletir sobre as expectativas dos planos futuros” (WORCMAN, 2004, p. 23).
31
Ao enfocar a memória de uma empresa, não está se referindo apenas ao seu
passado. Para Pereira (2007), o “[...] resgate da memória empresarial tem um objetivo muito
maior do que simplesmente preservar o passado. Ele visa, além de vislumbrar o futuro das
organizações, fortalecer sua identidade” (PEREIRA, 2007, p. 43).
As instituições tornam-se, cada vez mais, conscientes de que resgatar a memória é um
importante instrumento para gestão da informação e do conhecimento. Segundo Almeida,
“perceberam que um dos maiores desafios era promover mudanças, sem perder sua
identidade, que estava ligada à sua memória, aos processos que vivenciaram, aos erros e
acertos, as inovações, superações, derrotas e vitórias que marcaram sua trajetória histórica”
(ALMEIDA, 2009, p. 17).
Nesse cenário da esfera empresarial, a reconstrução da memória é uma forma de
repensar a história e tê-la como um instrumento de transformação, indicando a direção e
oferecendo as informações necessárias para nortear as ações e o planejamento, reforçando sua
identidade, fazendo com que ela se reconheça como organização e consolide seus valores. As
historiadoras Gagete e Totini (2004) explicam que a capacidade de administrar mudanças está
diretamente ligada à capacidade da empresa de preservar sua memória. Segundo as autoras:
Muitas empresas perceberam que, diante de tantas transformações, um dos maiores
desafios era promover as necessárias mudanças, sem perder a identidade. Por
consequência, tomavam consciência que sua identidade estava diretamente ligada a
sua memória, aos processos que vivenciaram, aos erros e acertos, às inovações,
superações, derrotas e vitórias que marcaram a sua trajetória histórica (GAGETE;
TOTINI, 2004, p. 119)
O resgate e a organização da história das empresas constituem ferramentas que podem
ser utilizadas no planejamento dos negócios, na consolidação da imagem institucional e com a
comunidade em que está inserida. A clareza acerca da trajetória histórica de uma empresa, de
seu papel em sua comunidade e de seu posicionamento no contexto de empresas congêneres é
considerada por Nassar como “responsabilidade histórica: essa compreensão, pelos gestores
de uma organização, de seu papel histórico na sociedade, dentro de seu segmento de negócios,
dentro de sua comunidade e para os seus integrantes, é o que se denomina responsabilidade
histórica”. (NASSAR, 2007, p. 35).
Em virtude das constantes competições disputas tecnológicas e mercadológicas, as
empresas encontraram na preservação e no entendimento de sua história uma forma de
compreender o presente e de buscar construir um futuro mais promissor. Nos dias atuais, para
se manterem no mercado e terem participação ativa na geração de novos empregos, muitas
32
empresas mudaram seu foco, não visando mais somente o lucro, mas se tornaram produtoras
de significados sociais e culturais.
Pereira explana: “Elas são cobradas por uma gestão sustentável, e para que sejam
responsáveis nas esferas social, ambiental e econômica. Na ânsia pela diferenciação
decorrente disso, surge então uma nova tendência: a da responsabilidade histórica”
(PEREIRA, 2007, p. 39). Enquanto a memória empresarial está voltada ao resgate histórico da
organização, a responsabilidade histórica vai além, representando o compromisso da
instituição com a comunidade onde está situada. Quando em sintonia, ambas fortalecem a
marca e melhoram o relacionamento da organização com seu público e com a sociedade como
um todo.
Partindo dessa compreensão, pode-se destacar que, contar a história de uma instituição
é torná-la visível, o que pode representar um trunfo nos períodos de crise, e uma vantagem
competitiva no mercado. De acordo com Nassar (2004, p. 18), “em meio às adversidades, as
empresas e gestores que têm as suas trajetórias, realizações, contribuições e atitudes bem
posicionadas na sociedade podem contar com o apoio, a compreensão e a solidariedade dos
públicos sociais”. Tudo isso, porque ao disseminar a memória empresarial a empresa valoriza
sua marca na região em que opera, oferecendo um diferencial em relação aos seus
concorrentes, tornando-se mais visível tanto para seus clientes atuais como para os que ainda
estão por vir.
Algumas instituições enfatizam essas referências através de seus projetos de História e
Memória Empresarial, como é o caso da Memória dos Trabalhadores da Petrobrás, Vale
Memória, Centro de Memória Bunge, Memória Empresarial da Belgo-Mineira, Núcleo da
Cultura Odebrecht, Centro de Documentação e Memória Multibrás, Memória Votorantim,
Espaço Memória do Grupo Pão de Açúcar. Tais instituições perceberam que, ao resgatarem
suas memórias, além de estarem celebrando seu passado estão preservando sua identidade
corporativa e se diferenciando no mercado, uma vez que, não são todas as empresas que têm
uma história interessante para contar.
No contexto da área educacional, podem-se citar iniciativas como a história e memória
da UFRJ, além do Projeto Memória SiBI-UFRJ (Sistema de Bibliotecas e Informação). Neire
do Rossio Martins (2012) em sua dissertação intitulada “Memória Universitária: o Arquivo
Central do Sistema de Arquivos da Universidade Estadual de Campinas (1980 - 1995)”
apresenta um panorama da política arquivística adotada por essa universidade para preservar
seus documentos e suas memórias. A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), também
conta com o Centro de História e Memória da UNIVAP, possibilitando a discussão da
33
importância da memória institucional dentro e fora da Universidade. Outra instituição que tem
projeto de preservação da memória é a Universidade de São Paulo – USP, que conta com o
“Projeto Memória USP”.
Em sua pesquisa sobre projetos de História Empresarial nas empresas brasileiras,
Nassar (2006) focalizou 119 empresas atuantes no Brasil. Um dos aspectos investigados foi a
percepção acerca da importância de um programa de história empresarial. Após tabuladas, as
respostas a esse questionamento foram classificadas em três categorias principais:
• Para 95,8% dos entrevistados, História é o resgate, a preservação e o registro da
memória e cultura da empresa. • O acúmulo de informações levantadas pode ser utilizado como ferramenta
estratégica na administração, na análise do desempenho da empresa, provendo
subsídios que a orientam na definição de novos rumos. • Os programas representam uma nova forma de comunicação empresarial,
constituindo-se em nova opção para a atuação do profissional no
mercado. (NASSAR, 2006, p. 163)
Como se pode averiguar, o resultado da pesquisa demonstrou que quase a totalidade
dos entrevistados atribuiu importância aos programas de história empresarial. Segundo o
autor, os entrevistados destacaram que os registros de fatos do passado constituem fontes de
preservação da memória e subsídios para a construção da trajetória da empresa, além disso,
“estabelecem conexão entre o passado da organização e a compreensão da sua proposta atual
e futura, contribuem no planejamento de ações e estratégias empresariais e fortalecem o
vínculo dos públicos internos e externos com a empresa” (NASSAR, 2006, p. 163), e
consequentemente observa-se uma melhor confiabilidade entre empresa e cliente.
Através desses projetos de resgate da memória, as instituições disponibilizam
informações que permitem conhecer a sua trajetória. Tal assentamento documental é extremamente
importante, pois sem o registro do ontem tudo o que foi vivido e construído estará fadado ao
esquecimento. Conforme Nassar (2004),
A história traduz a identidade da organização, para dentro e para fora dos muros que
a cercam. É ela que constrói, a cada dia, a percepção que o consumidor e seus
funcionários têm das marcas, dos produtos, dos serviços. O consumidor e o
funcionário têm na cabeça uma imagem, que é histórica. Uma imagem viva,
dinâmica, mutável, ajustável, que sofre interferências de toda natureza. (NASSAR,
2004, p. 21)
Para o pesquisador, esses projetos que resgatam a memória das empresas acabam
valorizando suas marcas, pois ao mostrar onde estão suas raízes e, principalmente, quem são
as pessoas que participaram e ainda participam da construção desta história, resgatam dados e
34
informações que ressaltam valores e experiências capazes de identificar e reforçar as
características particulares da organização.
A memória empresarial deve estar em sintonia com a responsabilidade histórica,
contextualizando as soluções utilizadas para superar obstáculos surgidos ao longo dos anos.
Segundo Pereira (2007, p. 39), “é mais uma ferramenta da comunicação corporativa, cujo
potencial como fonte de informação, de fortalecimento da marca e de melhoria no
relacionamento das empresas com seus públicos e com a sociedade já está mais que
comprovado”.
Ao preservarem seu acervo histórico e sua memória, as instituições fortalecem sua
relação com a sociedade em que estão inseridas. Dessa maneira, solidificam-se e ganham
referência, oportunizando, ainda, o desenvolvimento econômico, social, cultural e político à
comunidade em que estão localizadas. É de ressaltar, ainda, que ao contar sua história, a
empresa não está apenas recuperando suas memórias, mas ressignificando sua história. Muitas
organizações, ao perceberam que tanto os registros físicos do passado como as pessoas que
vivenciaram os momentos históricos estavam se perdendo, assumiram o compromisso com a
preservação e disseminação de suas memórias. Com isso, buscam identificação com a
sociedade na qual com isso atuam, e ainda tornam-se diferenciadas no mercado. Conforme
analisa Worcman, “uma empresa não é uma ilha isolada do resto da sociedade. Ela com
certeza faz parte de uma teia social” (WORCMAN, 1999, p. 16).
Para valorizar suas raízes históricas, uma instituição precisa criar mecanismos
adequados de difusão da memória empresarial. Alguns produtos podem ser criados tendo
como base a história de uma organização, tais como: livros comemorativos, biografias,
vídeos, DVDs, documentários, sites, página redes sociais, relatórios internos, museu,
exposições, campanhas publicitárias, promoções, centro de documentação e memória e a
história oral. Todos esses produtos contribuem para a imagem da empresa como diferencial de
mercado, além disso, são organizados para atender a muitas outras necessidades das empresas.
Para Almeida (2009), os produtos produzidos a partir do resgate histórico de uma
empresa, proporcionam à sociedade, para além do conhecimento da história da empresa, o
conhecimento de sua própria história, e da história da cidade, do estado e do país. Ainda de
acordo com a autora, “A Memória Empresarial, hoje, constitui-se em um relevante
instrumento da comunicação corporativa, por permitir o fortalecimento da marca e identidade
da empresa e incrementar o relacionamento desta com seus clientes” (ALMEIDA, 2009, p.
23).
35
A preservação da memória empresarial depende da organização, classificação e
arquivamento correto de documentos, fotografias, vídeos, folders, entre outros. Mas também
pode se valer, dentro do desenvolvimento impressionante dos veículos virtuais, de contextos
informatizados, que são os sites e as redes sociais. O uso da rede virtual de comunicação
permite que informação relevante a respeito da história da instituição possa ser acessada
múltiplas vezes, com facilidades, pelos interessados, propiciando materiais para um esforço
de análise e de pesquisa. Nessa perspectiva, fala-se da preservação do patrimônio documental
de uma empresa.
Por tudo isso, pode-se verificar que a memória institucional confere características
identitárias a uma instituição e a seus colaboradores, criando em seus integrantes um vínculo
que os identifica perante a sociedade e consolida os valores que regem sua conduta. Dessa
forma, a preservação histórica fortalece o vínculo com a sociedade para a qual uma instituição
presta seus serviços, conforme explana Worcman (2004),
Uma empresa não existe isolada do restante da sociedade. Ela faz parte de uma
trama social e confunde-se com uma boa parte da história das comunidades com as
quais ela interage, dos seus clientes, fornecedores, parceiros e, sobretudo, com a
própria história do Brasil. É esse o melhor sentido para entender o significado da
expressão Responsabilidade Histórica. Pois ao compreender o potencial de
conhecimento que a história de uma empresa possui, percebe-se que, ao externá-la, a
empresa faz muito mais do que uma ação de comunicação ou de recursos humanos.
Ela constrói e devolve para a sociedade parte da memória do país. (WORCMAN,
2004, p. 28)
Faz-se necessário, portanto, destacar a necessidade de resguardar a memória
institucional, elencando as fontes de memória e estratégias para garantir a proteção de seu
passado. Resgatar a memória passou a ser um fator determinante para as instituições, pois não
se trata apenas de um registro da história, mas também de uma ferramenta para a elaboração e
consecução de sua visão, missão e valores.
Na URI, as fontes de formação dessa memória são encontradas nas fotografias,
documentos, registros históricos, lugares de memória, datas de celebração, produção
historiográfica, documentários, publicações na imprensa e na internet, entre outros. A
preservação e a manutenção desses elementos permitem o acesso e a disseminação de
informações relevantes para os integrantes da instituição e para o público, ao qual é destinado
seu serviço. Diante disso, é possível afirmar que a preservação da memória institucional da
URI consolida seus valores, tradições e identidade construídos ao longo de seus 27 anos de
existência, sendo, pois, elemento garantidor de credibilidade e legitimidade de suas ações,
fortalecendo-a diante de questionamentos sobre o desempenho de sua atividade.
36
1.3 Patrimônio documental: memória e arquivo
Ao longo da história, muito se tem discutido sobre o que é memorável, o que deve ser
preservado e como preservar o patrimônio social. O registro da história e da memória da
humanidade tem sido feito através de documentos gerados pelas atividades desenvolvidas por
estados, instituições, empresas, organizações, famílias e pessoas. Porém, para que venham a
ser tomados como subsídio para pesquisa histórica, é preciso que estejam acessíveis aos
interessados, sejam eles pesquisadores ou a sociedade em geral. Vale, ainda, destacar a
importância da preservação do patrimônio documental, uma vez que esses documentos são a
essência de uma organização, além de pertencerem à memória da sociedade. Ao tratar sobre a
questão da preservação do patrimônio documental, cabe refletir sobre patrimônio e
preservação e, neste contexto, sobre o arquivo.
Para Guimarães, “o estudo acerca do patrimônio só pode ser compreendido a partir de
sua vinculação com as problemáticas atuais que definem interesses específicos com relação ao
passado” (2008, p. 18), ou seja, esse campo de reflexão deve submeter-se a investigações que
avaliem sua dimensão histórica. Para o pesquisador, deve ser feito um trabalho de produção
de narrativas sobre o passado, uma vez que define patrimônio como “(...) também uma escrita
do passado, submetida evidentemente a uma gramática e uma sintaxe específicas”
(GUIMARÃES, 2008, p. 18).
De acordo ainda com Guimarães, o próprio termo sugere “uma relação com um tempo
que nos antecede, e com o qual estabelecemos relações mediadas através de objetos que
acreditamos pertencer a uma herança coletiva” (2008, p. 19). Complementa:
[...] esses objetos que acreditamos pertencer a um patrimônio de uma coletividade, e
hoje até mesmo da humanidade, estabelecem nexos de pertencimento, metaforizam
relações imaginadas e que parecem adquirir materialidade a partir da presença desse
conjunto de monumentos. O termo patrimônio supõe, portanto, uma relação com o
tempo e com o seu transcurso. Em outras palavras, refletir sobre o patrimônio
significa igualmente pensar nas formas sociais de culturalização do tempo, próprias
a toda e qualquer sociedade humana. (GUIMARÃES, 2008, p. 19)
É nesse “trabalho de produção de sentido para a passagem do tempo que as sociedades
humanas constroem suas noções de passado, presente e futuro, como formas históricas e
sociais de dar sentido para o transcurso do tempo” (GUIMARÃES, 2008, p. 19). Vai além,
acrescentando que a escrita do passado requer uma transformação do material documental em
fonte para a construção desse passado, uma escolha que irá produzir objetos do passado em
patrimônio cultural de uma coletividade humana.
37
Explana ainda que, “as relações entre patrimônio e memória são estreitas”
(GUIMARÃES, 2008, p. 21). Conceitua Patrimônio como resultado de uma produção
marcada historicamente,
A simples sobrevivência ao tempo não assegura por si só a condição de transformar
em patrimônio histórico um objeto, um vestígio material ou um acervo
arquitetônico. E nem mesmo todo o conjunto de restos que sobreviveram à
passagem do tempo vieram a se constituir em patrimônio histórico de uma
coletividade. [...] É ao fim de um trabalho de transformar objetos, retirando-lhes seu
sentido original, que acedemos à possibilidade de transformar algo em patrimônio.
Adjetivar um conjunto de traços do passado como patrimônio histórico é mais do
que lhes dar uma qualidade; é produzi-los como algo distinto daquilo para o qual um
dia foram produzidos e criados. Da mesma forma que um conjunto de documentos
só poderá se transformar em fonte histórica pelo trabalho do historiador, igualmente
os objetos que aprendemos a ver como patrimônio histórico só ganharam essa
qualidade a partir de uma operação envolvendo diferentes esferas de produção de
saberes e poderes. (GUIMARÃES, 2008, p. 21)
No Brasil, a tradição associada ao conceito de patrimônio esteve sempre voltada
preferencialmente para um viés artístico/cultural, focalizando, sobretudo, as obras de arte
reconhecidas e os bens imóveis, exemplares arquitetônicos e monumentos, sendo considerada
sua definição muito recente. A primeira definição legal do conceito de Patrimônio no Brasil
veio com o Decreto-lei nº 25, promulgado durante o Estado Novo em 1937, que sistematiza a
proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. É, até os dias de hoje, um dos
principais instrumentos da administração pública para a efetivação da proteção ao patrimônio
cultural brasileiro. No referido documento, é reconhecido como patrimônio histórico e
artístico nacional “[...] o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país cuja
conservação seja de interesse público quer por sua vinculação a fatos memoráveis, quer pelo
seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. (BRASIL,
1937, Art. 1).
Segundo Rezende (2007), essa referência a fatos memoráveis levou a atividade
patrimonialista brasileira a privilegiar a preservação dos produtos e expressões do passado.
Era um olhar voltado ao passado e isso “significava poder dedicar-se a aspectos culturais em
torno dos quais já se estabelecera certo consenso nas diferentes esferas da sociedade: obras
historicamente consagradas, [...] gerando uma aura de neutralidade” (REZENDE, 2007, p. 1).
Dessa maneira, impossibilitava-se a abordagem de novos conceitos, ligados a questões não
resolvidas do ponto de vista político-social e que despertariam opiniões e interesses
conflituosos.
38
Ainda com respeito ao Decreto-lei nº 25/1937 em seu Capítulo V – Disposições gerais,
lê-se que o reconhecimento de bens de natureza bibliográfica é parte do patrimônio cultural da
nação:
Os negociantes de antiguidades, de obras de arte de qualquer natureza, de
manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial no
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossim
apresentar semestralmente ao mesmo relações completas das coisas históricas e
artísticas que possuírem. (BRASIL, 1937, Art. 26)
O decreto não apresenta uma definição do que vem a ser o patrimônio documental da
nação, mas reconhece os manuscritos e livros raros como bens culturais dignos de
preservação, firmando a proposição de preservação de um patrimônio composto por obras de
excepcional valor bibliográfico.
Com a Constituição de 1988, em seu Art. 216, adotou-se uma definição mais ampla e
detalhada, mencionado explicitamente o termo documentos, que deu abertura para o claro
enquadramento dos acervos arquivísticos dentro das políticas nacionais voltadas ao Patrimônio,
conforme segue:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais
se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as
criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988)
A Constituição Brasileira, principal instrumento legal de efetivação da cidadania,
salienta a necessidade de preservação e valorização do patrimônio cultural da nação, o que
permite inferir que o patrimônio documental é visto e reconhecido como instrumento de
validação das políticas de governo. Agregue-se, ao que foi mencionado, a necessidade de
preservar, difundir e socializar o patrimônio documental, a fim de proporcionar condições a
população de acessar e estudar fontes de informação, ampliando seus conhecimentos,
contribuindo para a formação de sua consciência histórica e reconhecimento identitário.
Nesse sentido, a Constituição Federal assegura não somente o direito à vida, à
igualdade, à dignidade, à segurança, à honra, à educação, à moradia e à saúde; mas também o
exercício pleno dos direitos culturais, reconhecendo que a preservação da memória é
importante para construção da cidadania. Ricardo Oriá (2013) menciona que:
39
Hoje, o conceito de patrimônio cultural não está mais restrito ao dito “patrimônio
edificado” – a chamada “pedra e cal” – constituído de bens imóveis, representados
por edifícios e monumentos de notável valor estético e artístico e que foram
preservados ou até mesmo tombados pelo poder público. O patrimônio cultural
brasileiro engloba também os bens imateriais ou intangíveis, que, muitas vezes, são
muito mais reveladores de nossa rica diversidade cultural, expressos nos modos de
criar, fazer e viver de nosso povo. (ORIÁ, 2013, p.12)
Ao longo dos anos, com a ampliação do conceito de patrimônio cultural, disposto na
Constituição, a qual compreende que as obras, os documentos, os livros e demais criações
artísticas e científicas também são parte integrante desse patrimônio, muitas leis e decretos
relacionados a esses bens e seus respectivos suportes da memória (arquivos, bibliotecas e
museus), foram criadas a fim de preservar o patrimônio cultural do Brasil. Dentre estas, figura
o Decreto nº 3.351 de 2000, que institui o registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial
que constituem patrimônio cultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial. E em seu Art. 1ºdiz: “Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro”. (CÂMARA DOS DEPUTADOS,
2013, p. 237).
Com a globalização e a constante revolução comunicativa, algumas práticas em
relação ao Patrimônio vêm sendo repensadas, uma vez que os próprios conceitos de memória
e identidade constantemente vêm se transformando. Para Rezende (2007) vem ocorrendo
“uma fragmentação das identidades, verificável na multiplicidade de processos de formação
de grupos identitários que visam suprir o âmbito comunitário e dar sustentação local paralela
à mundialização virtual da cultura e da informação” (REZENDE, 2007, p. 3).
As definições de Patrimônio baseavam-se na concepção da descoberta ou resgate de
uma memória e uma identidade nacional a ser preservada, ligadas ao conceito de
“imutabilidade da memória e da identidade, o que garantiria a permanência e universalidade
dos bens culturais, objeto da ação patrimonialista” (REZENDE, 2007, p. 3). Na atualidade,
tanto a memória como a identidade são concebidos como resultados de processos de
construção, que não ocorrem apenas nas esferas autorizadas, mas são realizados
continuamente pelos mais variados grupos e indivíduos, sempre em permanente
transformação, passando a ideia de que as culturas, as práticas e os significados não são
nacionais, e muito menos universais. Dessa forma, a discussão gira em torno de “como
preservar bens culturais (materiais e imateriais) sem torná-los expressões congeladas,
vinculadas a um único discurso identitário” (REZENDE, 2007, p. 6).
Ribeiro (2009) destaca que patrimônio não inclui apenas grandes monumentos
arquitetônicos, mas seu significado vai além, caracterizando a identidade, a cultura e a
40
memória de um povo, pois representam o desenvolvimento cultural da nação. Esses registros
“guardam informações, significados, mensagens, registros da história humana - refletem
ideias, crenças, costumes, gosto estético, conhecimento tecnológico, condições socais,
econômicas e políticas de um grupo em uma determinada época” (RIBEIRO, 2009, p. 203).
Já para Christo (2006) o conceito de patrimônio está atrelado à noção de
preservação. Preservar seria o ato de proteger de algum dano ou perigo, definindo o termo
como a junção “de técnicas e métodos que visam conservar os documentos de arquivos e
bibliotecas e as informações neles contidas, assim como as atividades financeiras e
administrativas necessárias, os equipamentos, as condições de armazenagem e a formação de
pessoal”. (CHRISTO, 2006, p. 22).
Luís Reis (2006) menciona, como definição de arquivo, “o conjunto de documentos,
independentemente da sua data, da sua forma, e do suporte material, produzidos ou recebidos
por qualquer pessoa, física ou moral, ou por qualquer organismo público ou privado no
exercício da sua atividade” (REIS, 2006, p. 1). Estes são conservados por seus inventores a
fim de que possam atender as suas necessidades futuras.
Arquivos, como Reis frisa, “constituem desde sempre a memória das instituições e das
pessoas, e existem desde que o homem fixou por escrito as suas relações como ser social”
(REIS, 2006, p. 2). Na antiguidade, placas de argila e o papiro encontravam-se entre seus
suportes; mais tarde, o papel passou a, largamente, desempenhar essa função. Na atualidade,
suportes diversificados possibilitam que o conteúdo dos arquivos seja, também, ampliado.
Bellotto (2006) chama a atenção para o fato de que “o documento de arquivo só tem
sentido se relacionado ao meio que o produziu. Seu conjunto tem que retratar a infraestrutura
e as funções do órgão gerador”. (BELLOTTO, 2006, p. 28). Ressalta-se, aqui, o Mestrado em
Letras da URI enquanto órgão gerador, e a produção das dissertações como decorrência das
atividades desenvolvidas ao longo de sua história. Nessa perspectiva, a análise da produção
acadêmica gerada pelo PPGL torna possível não somente a recuperação e estudo das
informações contidas nas dissertações, mas também a avaliação da trajetória cultural e
educacional em que foram geradas.
Pensar essas dissertações como documento de arquivo implica, necessariamente,
definir o que se entende por arquivo. Segundo Bellotto, são arquivos
Os produzidos por uma entidade pública ou privada ou por uma família ou pessoa no
transcurso das funções que justificam sua existência como tal, guardando esses
documentos relações orgânicas entre si. Surgem, pois, por motivos funcionais,
administrativos e legais. Tratam sobretudo de provar, testemunhar alguma coisa. Sua
apresentação pode ser manuscrita, impressa ou audiovisual; são em geral exemplares
41
únicos e sua gama é variadíssima, assim como sua forma e suporte. (BELLOTTO,
2006, p. 37)
Desde sua produção até sua guarda permanente ou eliminação, os arquivos passam por
três fases, às quais Bellotto (2006) se refere como “as três idades dos documentos”
Documentos iniciam sua preservação no arquivo corrente, passam a ser constituir, mais tarde,
o arquivo intermediário e concluem sua trajetória no arquivo permanente, passando de uma
fase à outra de acordo com a frequência de uso e o valor agregado. Torna-se fundamental,
portanto, discorrer sobre arquivo corrente, intermediário e permanente, como também o valor
inerente a cada um.
O Dicionário de Terminologia Arquivística (2013, p. 29) define arquivo corrente
como “conjunto de documentos, em tramitação ou não, pelo seu valor primário, é objeto de
consultas frequentes pela entidade que o produziu, a quem compete a sua administração.”
Nesta fase, o arquivo é consultado constantemente pela entidade que o produziu. Segundo
Paes (2004) no cumprimento de suas funções, os arquivos correntes muitas vezes respondem
ainda pelas atividades de recebimento, registro, distribuição, movimentação e expedição dos
documentos correntes. Por isso, encontram-se na estrutura organizacional das instituições. Por
ser de grande movimentação, têm um papel imprescindível no que tange à funcionalidade das
instituições, e podem ser considerados como documentos ativos, os quais têm a sua principal
característica no fato de serem essenciais ao funcionamento cotidiano.
Os arquivos correntes estão integrados, em sua grande maioria, à estrutura
organizacional das instituições. No caso das universidades, os arquivos encontram- se
vinculados aos setores da instituição. Além de guardarem os documentos de caráter
administrativo, em sua grande maioria, são responsáveis pela funcionalidade da instituição, ou
seja, os arquivos correntes são constituídos de documentos em curso. Trata-se do “período
durante o qual os documentos ativos são indispensáveis à manutenção das atividades
cotidianas de uma administração” (ROUSSEAU, COUTURE, 1998, p. 115).
Por sua vez, os arquivos intermediários são constituídos de documentos procedentes
de arquivos correntes. Conforme Paes (2004) quando as instituições contavam com espaço,
conservavam os seus documentos por longos tempos, muitas vezes sem condições adequadas;
outras, por falta de espaço, recolhiam precocemente documentos ainda de uso corrente,
congestionando o arquivo permanente com documentação ainda necessária à administração. A
situação se agravou com o crescimento da massa documental produzida em quantidades cada
vez maiores. Foi pela busca da solução que surgiu a teoria da “idade intermediária”, cujo
acervo é constituído de papéis que não estão mais em uso corrente.
42
O Dicionário de Terminologia Arquivística (2013, p. 29) define arquivo
intermediário como “conjunto de documentos originários de arquivos correntes, com uso
pouco frequente, que aguarda destinação”. Sua consulta não é tão constante pela entidade que
o produziu, e, sobretudo, aquele que aguarda sua destinação final. Os arquivos intermediários
tornam-se necessários para as instituições por guardarem os documentos que não são mais
movimentados frequentemente pela administração. Por estar entre os períodos ativos e
semiativos, há uma imprecisão no que tange ao seu valor.
Por fim, os arquivos permanentes são constituídos de documentos procedentes de
arquivos correntes e intermediários. Na concepção de reis (2004), apesar dos arquivos serem
conservados primariamente para fins administrativos, constituem base fundamental para a
história, não apenas do órgão a que pertence, mas também do povo e suas relações sociais e
econômicas.
No que concerne à função do arquivo permanente, Paes (2004) ressalta as atividades
de reunir, conservar, arranjar, descrever e facilitar a consulta aos documentos, de uso não
corrente. Por ser o resultado da reunião dos arquivos correntes, o arquivo permanente recebe a
documentação originária de diferentes setores e cresce em grande proporção. Logo, sua
administração é bem mais complexa que a dos arquivos corrente e intermediário.
O Dicionário de Terminologia Arquivística (2013, p. 34) define arquivo permanente
como o “conjunto de documentos preservados em caráter definitivo em função do seu valor”.
Deve ser protegido definitivamente em razão de seu valor. Embora os documentos tenham
perdido seu valor primário, passam a ter fins de pesquisa histórica e a ser considerados de
caráter definitivo.
Para Rousseau, Couture (1998, p. 117) “o período de inatividade se dá quando os
documentos inativos deixam de ter valor previsível para a organização que os produziu”.
Dessa forma, não respondendo aos objetivos da sua criação, os documentos são eliminados ou
conservados como arquivos definitivos somente se possuírem valor de testemunho, ou seja:
são preservados em caráter definitivo, em função de seu valor secundário, valor distinto dos
quais foram produzidos.
Portanto, os arquivos correntes e intermediários compreendem conjuntos documentais
de interesse direto da entidade que os produziu para tomadas de decisões ou informações e
que podem passar por avaliações. O arquivo permanente, por sua vez, compreende os
conjuntos documentais que precisam ser preservados em caráter definitivo devido ao interesse
para a pesquisa, como será o caso, se espera das Dissertações do Mestrado em Letras da URI.
43
Partindo da noção de patrimônio, pode-se retornar o olhar aos patrimônios
documentais. Vale destacar que da mesma forma que o patrimônio em geral, o patrimônio
documental corresponde a uma categoria de bens culturais investidos de sentido que remetem
à memória do grupo detentor. Segundo Lage (2002),
O conceito de Patrimônio Documental liga-se intrinsecamente ao conceito de
documento no seu duplo sentido – de recurso, logo funcional, e de significado, logo
cultural – sendo no entanto mais complexo que os conceitos já de si complexos de
Documento (unidade de informação),Informação (dados do conhecimento
registrado) ou Fonte Histórica (todo o dado precedente do passado, do recente, que
tem uma realidade material e objectiva, relacionado com a actividade científica e
social e historicamente produzido; testemunho original, não re-elaborado, do
conhecimento do passado). (LAGE, 2002, p. 15)
Como se pode observar, muito do patrimônio documental é trazido da ideia de
patrimônio, em seu sentido mais amplo, e de toda a história envolvida no desenvolvimento da
sua noção e também da formação da prática de preservar bens culturais. A preservação dos
bens culturais categorizados como patrimônio é, atualmente, uma prática muito difundida
entre todos os povos e tem adquirido especial importância. Entretanto, para a preservação do
patrimônio é necessário que, além de políticas e ações governamentais, haja a conscientização
e a reflexão da sociedade acerca do reconhecimento da diversidade cultural do país e de sua
importância para a humanidade. Deve haver um sentimento que Nora chamou de “vontade de
memória”, ou seja, a necessidade de “saber da sociedade sobre si mesma” (NORA, 1993, p.
12).
Aqui se torna necessário lembrar a conexão entre memória e história. Como Le Goff
(2003, p. 471) registra, é na e através da memória que cresce a história, a qual, por sua vez a
alimenta, de forma a “salvar o passado para servir ao presente e ao futuro”. Concepções
recentes de memória têm enfatizado suas características de estruturação, resultantes de
sistemas dinâmicos de organização. No dizer de Scandia de Schonen (1974, apud Le Goff,
2003, p. 421) os fenômenos da memória existem “na medida em que a organização os
mantém ou os reconstitui”.
A ênfase no aspecto estrutural/organizacional da memória é particularmente relevante
quando se considera como, enquanto elemento social da identidade individual e coletiva, a
memória é tanto instrumento como objeto de poder, característica que se estende à
arquivística. Comentando a evolução da memória coletiva com base no sistema de
documentação, Leroi-Gourhan comenta:
44
A memória coletiva tomou, no século XIX um volume tal que se tornou impossível
pedir à memória individual que recebesse o conteúdo das bibliotecas... O século
XVIII e uma parte importante do XIX viveram ainda sob cadernos de notas e
catálogos de obras; entrou-se em seguida na documentação por fichas que realmente
apenas se organiza no início do século XX. Na sua forma mais rudimentar
corresponde já à constituição de um verdadeiro córtex cerebral exteriorizado, já que
um simples fichário bibliográfico se presta, nas mãos do utilizador, a arranjos
múltiplos... A imagem do córtex é até certo ponto errada, pois se um fichário é uma
memória em sentido estrito, é contudo uma memória sem meios próprios de
rememoração e a sua animação requer a introdução no campo operatório, visual e
manual, do investigador" (LEROI-GOURHAN, 1964--65, p. 72-73, apud LE GOFF,
2003, p, 461)
O raciocínio de Leroi-Gourhan, ao desqualificar parcialmente a comparação da nova
arquivística ao córtex cerebral, e compará-la a uma “memória sem meios próprios de
rememoração”, a qual requer a operação de um agente, lembra a concepção de Aleida
Assmann acerca da memória funcional e da memória cumulativa, e suas possibilidades de
interpenetração. Enquanto acúmulo de informação, a memória documental depende da
atenção e seleção de agentes para que se torne funcional, dotada de propósito e sentido.
Por outro lado, é ainda de ressaltar, como o faz Le Goff (2003), que arquivos estão
sujeitos à vigilância dos governantes, como também acontece com meios contemporâneos de
produção dessa memória como o rádio, a televisão e mais recentemente, acrescentamos, a
ambiência digital. Com respeito à documentação, Le Goff parte da premissa de que a história
é a forma científica e da memória coletiva, e de que, a ambas, aplicam-se dois tipos de
materiais: os documentos e os monumentos. O autor é enfático ao destacar o aspecto seletivo-
organizacional presente em ambas. Diz:
De fato, o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma
escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do
mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo
que passa, os historiadores. (LE GOFF, 2003, p. 525)
Esses materiais podem se apresentar sob a forma de monumentos, herança do passado,
ou documentos, escolha do historiador. Já a partir da antiguidade romana, monumento tendeu
a se associar a dois sentidos: obra arquitetônica ou escultural comemorativa, tal como o
pórtico, a coluna ou o troféu, ou monumento funerário destinado a perpetuar a memória
daquele que o ocupa. Assim, monumento tem, historicamente, tido o sentido de ligar-se “(...)
ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas [...] e o reenviar
a testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos escritos” (LE GOFF, 2003, p.
526).
Por outro lado, tradicionalmente, e sobretudo para historiadores associados ao espírito
positivista, documento equivalia a texto. A partir do século XIX, contudo documento passa a
45
ser correntemente usado para as grandes coleções de documentos, como os Monumenta
historia e patriae (Turim, 1836), os Monumenti storici, publicados em Veneza em 1876.
Ademais, o termo documento passa a ser tomado em sentido amplo, admitindo registros
escritos, ilustrados, transmitidos por som, imagem ou outros modos. Essa tendência era já
bem visível ao início do século XX, como se pode ver através da argumentação dos
fundadores da revista Annales d`Histoire Économique et Sociale:
A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida”. Quando estes existem. Mas
pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com
tudo o que a habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na
falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos. Paisagens e telhas. Com as
formas do campo e das ervas daninhas. Com os eclipses da lua e a atrelagem dos
cavalos de tiro. Com os exames de pedras feitos pelos geólogos e com as análises de
metais feitas pelos químicos. Numa palavra, com tudo o que, pertencendo ao
homem, depende do homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a
presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem. Toda uma parte, e
sem dúvida a mais apaixonante do nosso trabalho de historiadores, não consistirá
num esforço constante para fazer falar as coisas mudas, para fazê-las dizer o que elas
por si próprias não dizem sobre os homens, sobre as sociedades que as produziram, e
para constituir, finalmente, entre elas, aquela vasta rede de solidariedade e de entre
ajuda que supre a ausência do documento escrito? (FEBVRE, 1949, ed. 1959, p.
428, apud LE GOFF, 1977, ed. 2003, p. 530)
A dilação da memória histórica sofre, no último quarto do século XX, a influência da
revolução tecnológica proporcionada pelo computador, que oportuniza uma nova unidade de
informação: não mais o fato que conduz ao acontecimento e a uma história linear, mas o dado,
que leva à série e a uma memória descontinua. Tornam-se necessários novos arquivos, e o
novo documento é manejado em bancos e dados. Em virtude da aceleração ocasionada pelo
avanço das mídias eletrônicas, que oferecem a possibilidade do acesso em tempo real, busca-
se a preservação de um conjunto de determinados bens como forma de protegê-los dessa
mesma aceleração que parece tudo condenar ao desaparecimento. Guimarães (2008) destaca:
As profundas transformações que tem alterado de maneira radical a relação dos
homens com a Natureza na contemporaneidade, provocaram um desinvestimento
com relação ao futuro, que no lugar de realizar o progresso acena-nos com crises as
mais diferenciadas: desemprego, crise energética e alimentar, crises ecológicas.
Assim, o futuro parece incerto e inseguro diferentemente daquilo que fora para a
cultura histórica oitocentista. A esse tempo de incertezas e dúvidas investe-se no
presente, que parece teimar em não passar, e, portanto, em transformar-se em
história (GUIMARÃES, 2008, p. 38)
Como já ressaltado, os fundadores dos Annales haviam iniciado crítica à noção estreita
de documento, pondo em evidência os critérios de seleção e organização que determinavam
sua seleção e estudo. Já na parte medial do século XX. Marc Bloch declarava:
46
Não obstante o que por vezes parecem pensar os principiantes, os documentos não
aparecem, aqui ou ali, pelo efeito de um qualquer imperscrutável desígnio dos
deuses. A sua presença ou a sua ausência nos fundos dos arquivos, numa biblioteca,
num terreno, dependem de causas humanas que não escapam de forma alguma à
análise, e os problemas postos pela sua transmissão, longe de serem apenas
exercícios de técnicos, tocam, eles próprios, no mais íntimo da vida do passado, pois
o que assim se encontra posto em jogo é nada menos do que a passagem da
recordação através das gerações. (BLOCH, 1941-42, p. 29-30, apud LE GOFF,
1977, ed. 2003, p. 534)
Mais tarde, Paul Zumthor registraria o que transforma o documento em monumento,
ou seja, sua utilização pelo poder: escrevendo para a Revue dês Sciences Humaines, em 1960,
propôs em seu artigo “Documentet monument. A propôs des plusanciens textes de langue
française” que os testemunhos dos monumentos mais numerosos e antigos revela a influência
da revolução política na consciência linguística da alta Idade Média. Comentando a posição
de Zumthor e a ilusão positivista, Le Goff (2003, p 535) argumenta sua hesitação em admitir
que todo o documento é um monumento, já que não existe documento “objetivo, inócuo,
primário”. Já para Michel Foucault questionar o documento é fundamental, pois a história
corresponde à maneira de uma sociedade elaborar uma massa documental que lhe é
fundamental para sua constituição identitária.
Também não escapam a Aleida Assmann as relações entre documento e poder.
Comentando especificamente o caso do arquivo, a pesquisadora alemã o descreve como sendo
uma memória da dominação, “constante de legados e atestações, de certificados que são
provas de direitos de poder, de posse e de origem” (ASSMANN, 2011, p. 368), antes de ser
memória histórica. Para ela, não haveria poder político sem o controle dos arquivos e sobre a
memória: “Controle do arquivo é controle da memória”. (ASSMANN, 2011, p. 368).
Assmann cita a Revolução Francesa como um exemplo de mudança radical na estrutura do
arquivo, a partir da qual os documentos que perderam o valor legal não foram destruídos
como era de se esperar, mas ganharam valor como prova histórica; perderam a função de
legitimação, mas tornaram-se fontes históricas. (ASSMANN, 2011, p. 368)
Como ficou patente, concepções recentes de memória têm enfatizado suas
características de estruturação, resultantes de sistemas dinâmicos de organização. A ênfase no
aspecto estrutural/organizacional da memória é particularmente relevante quando se considera
que a operação da memória, enquanto elemento social da identidade individual e coletiva,
tanto como instrumento como objeto de poder, é característica que se estende à arquivística.
Talvez por isso Le Goff tenha enfatizado a importância de considerar o
documento/monumento em contexto de produção: “Mais ainda do que estes múltiplos modos
47
de abordar um documento, para que ele possa contribuir para uma história total, importa não
isolar os documentos do conjunto de monumentos de que fazem parte”. (1977, ed. 2003, p.
538).
Ao comparar os processos de recordação individual com o coletivo e institucional,
Assmann analisa que enquanto os primeiros ocorrem espontaneamente no indivíduo, de
acordo com mecanismos psíquicos, no nível coletivo e institucional, os processos “são
guiados por uma política específica de recordação e esquecimento” (ASMANN, 2011, p. 19).
A autora identifica o arquivo como um “armazenador coletivo de conhecimentos que
desempenha diversas funções”, das quais ela destaca a conservação, seleção e acessibilidade,
segundo as quais os arquivos:1) guardam e protegem os documentos referentes às atividades
do homem e das instituições através da informação registrada, através de atividades de
recolhimento e conservação; 2) selecionam arquivos para descarte: o acúmulo de informações
torna necessária a “cassação”, ou destruição de acervos de arquivos, segundo princípios de
valor que não são necessariamente compartilhados em épocas posteriores.
Como Assmann ressalta, aquilo “[...] que é lixo para uma geração pode ser informação
preciosa para gerações posteriores” (201l, p. 370) definem-se em termos de abertura ou
fechamento, sendo mantidos em segredo em estados totalitários, nos quais a memória de
armazenamento é eliminada em favor da memória funcional. Os regimes democráticos, ao
contrário, tendem a expandir a memória de armazenamento às custas da memória funcional.
Assim, o status de um arquivo pode ser identificado como “memória institucional da pólis, do
Estado, da nação e da sociedade, entre a memória funcional ou de armazenamento”, conforme
estiver organizado; e principalmente, “como instrumento de autoridade; ou como repositório
de conhecimento realocado” (ASSMANN, 2011, p. 369).
Como Assmann, Fernanda Cheiran Pereira (2011) destaca a importância da
acessibilidade: “a construção da memória está estreitamente vinculada ao acesso à
informação, que por sua vez está vinculada à organização dos seus suportes materiais”
(PEREIRA, 2011, p. 20). Dessa maneira, a organização dos arquivos terá como tarefa
primordial a implementação e a execução de uma política de gestão documental para atender
à administração, aos cidadãos e ao resgate histórico através da investigação científica.
É como memória potencial ou pré-condição material para memórias culturais futuras
que o arquivo adquire significado de destaque, já que contêm embutida em si uma memória
funcional na forma de memória de armazenamento, ou seja, uma “herança cultural”, a qual
também é entregue aos cuidados de arquivistas, que devem protegê-la de catástrofes naturais
ou culturais. Segundo Assmann, o arquivo privado neste aspecto constitui-se como uma
48
referência para a percepção da relação entre a memória individual e a memória coletiva. A
memória materializada nos documentos pertence tanto ao seu proprietário, quanto aos sujeitos
que, de alguma forma, tiveram relação com os documentos ali encontrados.
Para o cumprimento das razões para as quais os arquivos foram criados, é de
fundamental importância que seja planejada e executada uma política de gestão documental
para que não haja acumulação desordenada da massa documental. O arquivo tem papel
fundamental no processo decisório, pois garante que o acesso à informação seja rápido e
eficiente e que una esforços para atingir os objetivos, assim contribui para que as decisões
formuladas tenham significado positivo para as partes envolvidas.
Dessa maneira, a memória apresenta-se de forma materializada e simbólica, através de
seus referentes, exercendo determinada função em um recorte espaço-temporal, sendo o
registro fundamental a preservação da nossa história. Para Nora, “arquivar a própria vida
requer um esforço de seleção relativo ao que pretende lembrar e esquecer, visto que os objetos
não selecionados para compor o acervo pessoal, tem o descarte como destino” (NORA, 1993,
p. 05).
Percebe-se se que preservação do patrimônio documental está intrinsecamente ligada
às formas de registro de seu passado que a sociedade possui, as quais geram determinada
identidade, pois por meio dos registros acessíveis os indivíduos podem rememorar sua
história. “Do patrimônio como mercadoria ao patrimônio como forma de construção da
cidadania são inúmeras as possibilidades de sua leitura e interpretação por parte daqueles que
se engajam em favor da preservar” (GUIMARÃES, 2008, p. 39). Acerca de sua
acessibilidade, Castro (2008) enfatiza: “a preservação, conservação e restauração do
patrimônio constituem-se como empreendimentos culturais direcionados a prolongar a vida
útil dos objetos materiais e, assim, possibilitar a relação dialógica com estes bens culturais
portadores de múltiplas significações” (CASTRO, 2008, p. 12).
Volta-se, agora, ao conceito de memória, evocando a definição de João Carlos
Tedesco (2004, p. 35): por “[...] memória entende-se a faculdade humana de conservar traços
de experiências passadas e, pelo menos em parte, ter acesso a essas pelo veio da lembrança”.
Visto que os documentos são uma forma de expressão da memória, então os arquivos são os
detentores da memória individual e coletiva, servindo de suporte para a constituição da
história das instituições e da identidade de um determinado povo. De fato, segundo Eneida
Izabel Schirmer Richter, Olga Maria Corrêa Garcia e Elenita Freitas Penna (1997) “os
arquivos constituem a memória das instituições e das pessoas e existem desde o momento em
que o homem resolveu fixar por escrito suas relações como ser social” (RICHTER; GARCIA;
49
PENNA, 1997, p. 36). Dessa forma, os documentos são produzidos para atender às
finalidades específicas e por isso constituem a memória da instituição.
Por esses motivos, as instituições devem instituir uma política de preservação dos
acervos que consiste em pensar em ações com o propósito de garantir a preservação do
suporte para que esteja garantida a construção da memória da Instituição e da sociedade a
partir da informação arquivística. Concorda-se com Pereira (2011), para quem “preservar a
memória, bem de natureza imaterial e intangível, é necessário planejar e executar uma política
de preservação dos suportes como fotos, documentos, vídeos, entre outros” (2011, p. 25).
Somente através do resgate da memória e análise crítica dos acontecimentos do passado será
possível ter um suporte para decisões que afetarão o presente e o futuro. Sendo assim,
preservar a memória é torná-la disponível e indispensável ao cidadão. Porém, não basta
somente organizar a informação, é necessário estabelecer meios efetivos que transmitam a
informação acumulada através dos tempos e que estão nos arquivos.
Preservar os documentos representa preservar o patrimônio histórico e cultural do
meio no qual está inserida determinada instituição, retratando a forma de pensar e de agir de
uma comunidade num determinado tempo e lugar. Os bens culturais guardam informações,
significados, mensagens, registros da história humana, refletem ideias, crenças, costumes,
gosto estético, conhecimento tecnológico, condições sociais, econômicas e políticas de um
grupo em uma determinada época. Para Carmen Tereza Coelho Moreno (2009) “Restaurar é
técnica, mas preservar pressupõe uma decisão política – consciente ou inconsciente. E se o
objeto é memória, é preciso refletir sobre que história estamos contando para ficar na
memória de quem virá” (MORENO, 2009, p. 267).
Pode-se dizer, portanto, que os documentos são fontes de informação e possibilitam o
acesso a uma memória do grupo, que se mantém no presente devido à preservação
documental. Essa memória, por sua vez, se reconstrói e adquire significados a partir do acesso
a arquivos por parte de diferentes usuários, e dos usos que estes fazem da informação colhida.
1.4 O arquivo como lugar de memória
O conceito de lugar de memória foi pensado por Pierre Nora entre os anos de 1978 e
1981, com o objetivo de refletir sobre conceitos de memória e identidade relacionados ao seu
país, a França, e que se encontram na obra Les Lieux de Mémoire (1993). A coletânea está
dividida em três partes: “La Republique” publicada em 1984, “La Nation” em 1986 e “Les
France” no ano de 1992, e destaca como “lugares de memória” paisagens, cidades, edifícios,
50
monumentos, livros, documentos, nomes de ruas, objetos, comidas, festas e celebrações,
enfatizando que tais locais existem “porque não há mais meios de memória”. No Brasil
encontramos apenas um artigo do volume I, traduzido e publicado na Revista Projeto História
da PUC São Paulo no ano de 1993, intitulado “Entre memória e história: a problemática dos
lugares”.
Coser (2017) menciona que com a crescente globalização e consequente alteração na
composição étnica, racial e cultural francesa, os estudos de Nora possibilitam uma reflexão
diante da “urgência de repensar e registrar aquilo que ainda parece remeter a uma identidade
nacionalmente compartilhada” (COSER, 2017, p. 233). A obra remete às condições
socioeconômicas da França da segunda metade do século XX, era da “mundialização, da
democratização, da massificação, da mediatização”, do incremento do processo de
descolonização e do “fim das sociedades memórias arcaicas”, que seriam aquelas que
preservavam e entrelaçavam mitos, tradições e valores” (NORA, 1993, p. 8).
Como Coser (2017) percebe, Nora estabelece um divisor entre memória e história,
argumentando que a sociedade moderna, levada pela mudança e condenada ao esquecimento,
faz do passado história, distanciando-se da memória viva e dos rituais repetidos para apoiar-se
na história e em seus vestígios, em contraposição a uma memória verdadeira, social, intocada,
que representa um elo de identidade entre os grupos. Assim, é no “[…] contexto de uma era
de „aceleração da história‟ e de temor generalizado da perda inexorável dos registros dos
fatos, tradições e valores, [que] pessoas e grupos sociais se preocupam em descobrir, estudar e
preservar seu legado” (COSER, 2017, p. 234).
Segundo Nora (1993), a necessidade pelos “lugares de memória” é indicador de que
não há mais memória e sim uma necessidade de história: “se habitássemos ainda nossa
memória, não teríamos necessidade de lhe consagrar lugares. Não haveria lugares porque não
haveria memória transportada pela história” (NORA, 1993, p. 8). Desse modo, a curiosidade
pelos lugares nos quais a memória se cristaliza e se refugia está ligada a esse processo de
ruptura com o passado. Nora contrasta a experiência vivencial da memória nas sociedades
tradicionais com o modo como esta é vivenciada na atualidade. Essas “sociedades-memória”
mantinham elos firmes, ainda que ditatoriais e impositivos, entre o passado e o futuro.
Asseguravam a conservação e transmissão das tradições como a família, a Igreja, a escola ou
o Estado, estão atualmente em crise devido ao fenômeno da “mundialização, da
democratização, da massificação, da mediatização” (NORA, 1993, p. 8).
Para Nora, “os lugares de memória nascem e vivem do sentimento de que não há
memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários,
51
organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não
são naturais.” (1993, p. 13). O autor compara essa “memória refugiada” a “bastiões” sobre os
quais a história se escora, observando a necessidade de um duplo movimento: por um lado,
bastiões são instituídos porque há a necessidade de defender uma memória ameaçada (fato a
que se refere como “a verdade de todos os lugares de memória” (1993, p. 13); por outro lado,
registra a necessidade de intervenção da história:
se a história não se apoderasse deles para deformá-los, transformá-los, sová-los e
petrificá-los eles não se tornariam lugares de memória. É este vai-e-vem que os
constitui: momentos de história arrancados do movimento da história, mas que lhe
são devolvidos. Não mais inteiramente a vida, nem mais inteiramente a morte, como
as conchas na praia quando o mar se retira da memória viva. (NORA, 1993, p.13)
Para Coser (2017), a expressão “lugares de memória” é paradoxal: “Sejam esses
lugares individuais, familiares, comunitários ou nacionais, na forma de álbum de músicas ou
de retratos, livros, praças, monumentos ou comemorações, eles vêm substituir as memórias
vivas na tentativa de que elas não se percam” (COSER, 2017, p. 234).
Em relação à preservação da memória de um determinado local, podemos considerar
como lugares de memória: os museus, as bibliotecas, centros de documentação, centros
históricos, arquivos públicos e privados, casarões, dentre outros, por possuírem objetos de
valor afetivo e histórico, que representam um grande patrimônio cultural informacional, no
qual estão exemplificadas, materializadas e simbolizadas em suportes variados. Tais lugares,
sejam comunitários, privados ou nacionais, vêm justamente substituir as memórias vivas, a
fim de que elas não se percam com o decorrer do tempo. Contudo, Nora não limita os locais
de memória a construções materiais. Segundo o autor, na conformação dos lugares de
memória se faz necessário observar simultaneamente três aspectos ou dimensões. São elas:
material, simbólicas e funcionais, as quais diferem entre si somente quanto ao grau de
evidência. É necessário para a constituição dos lugares de memória que “os três aspectos
coexistam sempre” (NORA, 1993, p. 22). O estudioso acrescenta ainda que os lugares de
memória são:
[...] material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese, pois garante, ao
mesmo tempo, a cristalização da lembrança e sua transmissão; mas simbólica por
definição visto que caracteriza por um acontecimento ou uma experiência vividos
por um pequeno número uma maioria que deles não participou. O que os constitui é
um jogo da memória e da história. (NORA, 1993, p. 22)
De acordo com Nora, os lugares de memória são aqueles que devem dar conta do
passado, como uma necessidade contínua de negativa ao esquecimento, já que é diante do
52
perigo da perda do passado é que passam a ser criados e recriados. Na verdade, esses lugares
não são mais de memória, mas sim da história, uma vez que os grupos sociais reivindicam,
através deles, direito ao passado. Esses lugares, classificados como detentores de informação,
são de fundamental importância para a cultura de uma sociedade, pois guardam nos seus
acervos documentos que contam a história e consequentemente fazem parte da memória do
lugar.
Para o pesquisador francês, a memória se democratizou a partir da materialização dos
arquivos. Cabe a estes lembrar pela memória aquilo que agora não mais está presente. Na
medida em que essa memória tradicional desaparece, há que se recorrer ao acúmulo de
vestígios, documentos, testemunhos, “sinais visíveis” do que se foi, nos quais o “sentimento
de um desaparecimento rápido e definitivo combina-se à preocupação com o exato significado
do presente e com a incerteza do futuro para dar ao mais modesto dos vestígios, ao mais
humilde testemunho a dignidade virtual do memorável” (NORA, 1993, p. 14). A razão
fundamental dos lugares de memória é, desta forma, a de bloquear o trabalho de
esquecimento: “a memória dita e a história escreve” (NORA, 1993, p. 24).
Nesses locais, os cidadãos, além conhecer as políticas públicas de preservação
cultural, devem ser instruídos quanto as suas responsabilidades junto ao patrimônio cultural
mundial. Em seus estudos sobre modelos institucionais de proteção ao patrimônio cultural e
preservação da memória na cidade de João Pessoa, Ilza da Silva Fragoso (2009a) parece
retomar o conceito de Pierre Nora de forma mais estreita, enfatizando apenas a dimensão
material e funcional. Ressalta-se aqui a aplicação que faz desta última, quando se refere as
“instituições-memória” como sendo “órgãos públicos ou privados, instituídos social, cultural
e politicamente, com o fim de preservar a memória, seja de um indivíduo, de um segmento
social, de uma sociedade ou de uma nação; que tem funções de socialização, aprendizagem e
comunicação” (FRAGOSO, 2008, p. 9). Além disso, têm a função de disponibilizar
informações como fonte de pesquisa na construção de identidades e da história, e na produção
de trabalhos científicos.
Como se pode averiguar, esses espaços têm como missão disponibilizar e disseminar
dados para as futuras gerações, como forma de compreensão do passado. Nesse contexto, é
possível dizer que instituições-memória são lugares que abrigam conjuntos documentais
responsáveis pela guarda e manutenção da memória dos povos desde o surgimento da escrita
até os dias atuais. Para Nora, esses “lugares” híbridos e mutantes transformam-se em espaços
de contradição, uma vez que representam “não mais inteiramente a vida, nem mais
53
inteiramente a morte [...] e preservam uma memória na qual não mais habitamos [...], mas
onde palpita ainda algo de uma vida simbólica” (NORA, 1993, p. 13-14).
Nora (1993) enfatiza que os espaços de memória devem se adaptar aos novos tempos,
proporcionando novas formas de reunir, organizar e promover a memória das instituições, dos
grupos e dos indivíduos. De acordo com o autor, tudo que é chamado hoje de memória, na
verdade já é história, pois memória verdadeira não existe mais, logo, “à medida em que
desaparece a memória tradicional, nós nos sentimos obrigados a acumular religiosamente
vestígios, testemunhos, documentos, imagens, discursos, sinais visíveis do que foi” (1993, p.
15). Assim, tal memória foi substituída pela memória arquivística ou registradora, obrigando
“cada grupo a redefinir sua identidade pela revitalização de sua própria história” (NORA,
1993, p. 17).
Esses lugares descritos por Nora se constituem como espaços contraditórios e
ambíguos, e ao mesmo tempo passado e presente. Existem e podem ser convocados para
entender e justificar os rumos, as tensões, as contradições e os potenciais grupos em ação e de
grupos em oposição, pois estes são,
[...] lugares mistos, híbridos e mutantes, intimamente enlaçados de vida e de morte,
de tempo e de eternidade; numa espiral do coletivo e do individual, do prosaico e do
sagrado, do imóvel e do móvel. [...] enrolados sobre si mesmos. Porque, se é
verdade que a razão fundamental de ser de um lugar de memória é parar o tempo, é
bloquear o trabalho do esquecimento, fixar um estado de coisas, imortalizar a morte,
materializar o imaterial para prender o máximo de sentido num mínimo de sinais, é
claro, e é isso que os torna apaixonantes: que os lugares de memória só vivem de sua
aptidão para a metamorfose, no incessante ressaltar de seus significados e no silvado
imprevisível de suas ramificações. (NORA, 1993, p. 22)
Por outro lado, “se a história, o tempo, a mudança não interviessem, seria necessário
se contentar com um simples histórico dos memoriais” (NORA, 1993, p. 22), pois uma das
funções dos lugares de memória é impedir o trabalho do esquecimento. O pesquisador os
compara objetos no abismo, geradores de um jogo de interrogação sobre a própria memória,
os quais, segundo Coser (2017), “articulam diferenças, tecem e organizam uma rede coletiva
que representa o nacional e, ao mesmo tempo, rejeitam referentes na realidade. Assim, a
memória, é promovida ao centro da história” (COSER, 2017, p. 235-236).
Na percepção de Nora, um depósito de arquivos, um manual de aula, uma associação
de antigos combatentes, um livro, um monumento, um testamento de família, uma catedral ou
um sítio arqueológico, se configuram como lugares de memória se tiverem ligação com o
ritual e com o simbólico e se forem impulsionados por uma “vontade de memória” (NORA,
1993, p. 22).
54
Atendo-se, também, à dimensão material e funcional, Gobira et. al (2015) mencionam
a necessidade de espaço físico para conservar documentação, e assim contribuir para a
conservação de rastros do passado. Gobira destaca, mais especificamente, o arquivo,
definindo como “espaço de preservação de vestígios documentais do passado [...], um lugar
físico e social, do qual se utilizam estudiosos para procurar evidências necessárias à
instituição de um discurso, seja ele histórico, crítico, seja analítico” (GOBIRA et. al, 2015, p.
110-111).
Porém Nora vai além, e observa que o desejo de produzir arquivos também impulsiona
a criação e o reconhecimento de lugares de memória por grupos minoritários e
marginalizados. Um interesse na memória por parte de judeus, trabalhadores, feministas,
africanos, que começam a questionar sobre questões coloniais e o papel nacional, temas
conflituosos e que geram divisões no campo ideológico, historiográfico e político. No Brasil,
a partir dos anos 1960, vem crescendo o número de Centros de Memória, acervos, publicações
e seminários sobre a preservação de registros em diversas esferas sociais anteriormente
desvalorizadas e esquecidas, como por exemplo, a criação de um bairro ou organizações de
trabalhadores.
Em seus comentários sobre o texto de Nora, Coser (2017) salienta que a literatura e a
arte podem contribuir para a reconfiguração de lugares de memória hegemônicos e
tradicionais,
Ao assinalar a complexidade dos lugares de memória, é importante sublinhar a
qualidade mutante, flexível e dinâmica deste conceito amplo que se renova em
constantes apropriações, questionamentos e retomadas nos campos da história, das
ciências sociais, da comunicação, na educação, na política e na cultura (COSER,
2017, p. 240-241)
Se, para Nora, um lugar de memória necessita ser esvaziado de memória para tornar-se
história, Assmann (2011) atenta para a importância da memória adotando o conceito “espaços
de recordação”. Diverge do entendimento de Nora de que um lugar de memória seja um
indício de falta de memória. Em seus estudos, Assmann (2011) argumenta que os lugares de
memória ajudam na fixação dos eventos. Primeiramente ligam-se os locais à história das
famílias, além disso, têm-se os locais sagrados, onde é possível “vivenciar a presença dos
deuses.” (ASSMANN, 2011, p. 322). Existem também os locais honoríficos, ou seja, locais
onde, em algum momento, houve uma história e hoje só restam ruínas, vestígios, tais lugares
são visitados como parte da formação cultural. Os locais traumáticos foram o palco de
sofrimento e diferente dos locais memorativos, não conseguem contar a história e por fim, os
55
locais de memória a contragosto, que são apagados por relembrarem a história que gostaria de
ser esquecida. Lápides e sepulturas, ruínas mudas, são indicadores de presenças ausentes.
Jô Gondar (2005) também defende esse ponto de vista, ao afirmar que no discurso de
Nora existe “uma dificuldade de positivar as mudanças do tempo, mudanças do modo de
sentir, perceber e lembrar que caracterizam as sociedades contemporâneas, como se nos
restasse apenas a compreensão nostálgica de uma situação originária” (GONDAR, 2005, p.
21). Para esta autora, existe uma intencionalidade das lembranças ou documentos, “uma
concepção de memória implicada na escolha do que conservar e do que interrogar, [...] é uma
maneira de pensar o passado em função do futuro que se almeja” (GONDAR, 2005, p.17).
Também Martins (2012), para quem os estudos sobre memória estão em ampla
expansão, julga importante situar o arquivo como lugar de memória, uma vez que essa visão
traz em si a necessidade de compreensão desse conceito. Conforme a autora, o arquivo, “apoia
a construção de memórias”, pois coloca à disposição acervos documentais, com poder de
“construir, enquadrar e modificar memórias” (MARTINS, 2012, p. 166), bem como descreve
e orienta a produção e avaliação de documentos, dando publicidade ao acervo. Por esse
motivo, o pode ser visto como portador de memórias, as quais “fazem sentido quando
representadas, confrontadas, apreendidas pelas pessoas ou grupos sociais” (MARTINS, 2012,
p. 166).
Dessa forma, embora por um viés diferente, a autora ressalta, tal como Aleida
Assmann, o papel potencial do arquivo enquanto fonte de memória, o qual guarda dados que
necessitam da atenção de um pesquisador para que deixem de ser elementos indiferenciados
de uma memória cultural, e passem a integrar de maneira significativa as memórias de uma
dada sociedade. Daí por que arquivos que têm seu potencial reconhecido necessitam ser
disponibilizados e, efetivamente, consultados para que se tornem, ou se conservem,
significativos.
2 MEMÓRIA UNIVERSITÁRIA
“As coisas que recordamos e os caminhos pelos quais a memória nos conduz são
imprevisíveis”
(Adam Phillips, 2005, p. 10)
2.1 Memória Universitária
A memória está constantemente presente em nosso cotidiano, sempre em movimento,
envolvida em complexidade, por se tratar de um processo inacabado. Como já registrado no
capítulo anterior, na percepção de Pierre Nora (1993) a memória é um fenômeno sempre
atual, um elo vivido no eterno presente através do qual se procura remediar da perda de dados
através de um processo de construção que conduz à recuperação do passado. Essa
reconstrução é baseada em questões que são formuladas sobre o passado, porém vistas por
uma perspectiva do presente. Assim, o estudo memorial abre um leque de possibilidades, que
perpassam diversas áreas, dentre as quais se destaca aqui a questão da memória universitária.
A universidade é reconhecida como uma instituição que desempenha importante papel
no desenvolvimento regional, sustentável e humano, contribuindo com a formação de
competências e com a difusão de experiências culturais e científicas na sociedade. Por este
motivo, pode ser considerada o "[...] lócus fundamental para a construção da identidade
sociocultural de um país. Por entendê-la assim, instituição social de interesse público, muitos
de nós temos nos empenhado em sua construção, preservação e defesa” (MORAES, 1999, p.
56).
As universidades apresentam características e traços típicos, próprios e inconfundíveis
que as constituem como distintas de outras instituições e estruturas organizacionais: têm uma
vasta coleção de compromissos e objetivos, simultaneamente, e não se comportam, do ponto
de vista organizacional, com a exatidão ou especificidade de uma empresa ou organização
semelhante. Com efeito, segundo Vahl (1990),
[...] algumas particularidades, no entanto, merecem ser destacadas, no que diz
respeito à diferenciação entre universidades e as demais organizações empresariais:
1- seus objetivos não estão claramente definidos; são vagos e ambíguos, sendo
difícil defini-los exatamente. Entre eles podem-se citar o ensino, a pesquisa, a
prestação de serviços à comunidade onde se insere, a administração de suas
instalações, a solução de problemas sociais, etc.
2- são organizações prestadoras de serviços, servindo a clientes com necessidades
específicas e que retornam à sociedade como um todo. Trata-se de uma clientela
com voz ativa, que deseja ser ouvida e participar do processo de tomada de decisões.
3- a tecnologia de universidades é complexa, não rotineira e pouco clara, uma vez
que é obrigada a atender clientes com necessidades individuais distintas.
57
4- os profissionais que nelas atuam são altamente treinados e especializados e
demandam autonomia para o desenvolvimento de seu trabalho. Somente aceitam a
avaliação e o julgamento de seus pares, negando uma avaliação por parte de seus
superiores hierárquicos. Seus valores profissionais, frequentemente, não se
coadunam com as expectativas burocráticas, gerando conflitos entre estes
profissionais e os dirigentes e ocupantes de cargos administrativos da organização.
(VAHL, 1990, p.108-109)
Marilena Chauí (2000) compreende a universidade como uma instituição social,
destinada a garantir e a realizar um direito constitucional, e não como uma organização
vinculada à exploração de um setor de serviços, conforme descreve:
[...] uma organização difere de uma instituição por definir-se por uma outra prática
social, qual seja, a de sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios
particulares para a obtenção de um objetivo particular. Não está referida a ações
articuladas às ideias de reconhecimento externo e interno, de legitimidade interna e
externa, mas de operações definidas como estratégias balizadas pelas ideias de
eficácia e sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo
particular que a define. É regida pelas ideias de gestão, planejamento, previsão,
controle e êxito. [...] A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe
que sua eficácia e a seu sucesso dependem de sua particularidade. Isso significa que
a instituição tem a sociedade como seu princípio e sua referência normativa e
valorativa, enquanto a organização tem apenas a si mesma como referência, num
processo de competição com outras que fixaram os mesmos objetivos particulares
(CHAUÍ, 2000, p.187)
Ademais, é possível perceber que a universidade se constitui como uma instituição de
múltiplas finalidades, descritas basicamente como atividades de ensino, pesquisa e extensão,
em suas mais diferentes formas e especificidades. Santos (2011, p. 65) afirma que “[...] no
século XXI só há universidade quando há formação graduada e pós-graduada, pesquisa e
extensão. Sem qualquer destes, há ensino superior, não há universidade”. Esse
posicionamento está consoante com os pressupostos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), que em seu Art. 52 deixa claro que:
As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros
profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do
saber humano, que se caracterizam por: I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e
problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto
regional e nacional. [...] (BRASIL, 1996, p. 18-19)
Nas atividades de extensão, abriga uma diversidade imensurável de linhas de ação e de
propósitos: coordena e integra uma ampla gama de serviços, por vezes, inclusive, em áreas
sociais ou culturais completamente distintas e até antagônicas, seja junto aos grandes
empresários, seja junto às populações excluídas. Nas atividades de pesquisa, a universidade
lida com uma vasta coleção de conhecimentos, inclusive com muitos que ainda não estão
58
prontos para serem aplicados, mas que demandam investimento, coordenação administrativa e
atenção ética. No ensino, junto ao corpo docente, as atualizações de conteúdo são promovidas
e incentivadas em áreas e entre áreas completamente distintas, tudo simultaneamente.
Assim, o ensino, a pesquisa e a extensão são atividades acadêmicas voltadas para a
sociedade e para o desenvolvimento do cidadão, pois como afirma Santos (2011, p. 113), “A
universidade é um bem público intimamente ligado ao projeto de país”. As grandes
transformações e mudanças sociais trazidas pela globalização e pelos avanços das tecnologias
de informação e comunicação exigem das instituições de educação superior a formação do
cidadão com responsabilidade e ética.
Nunes, Pereira e Pinho (2017) descrevem como sendo um dos objetivos da
universidade
a produção do conhecimento no que concerne a sua contribuição para o
desenvolvimento cultural, por meio de ações que promovam os direitos humanos, a
educação, a cultura, a saúde, o trabalho, as tecnologias, o meio ambiente, a
comunicação; com atenção especial para as populações em condições de
vulnerabilidade, considerando a diversidade de gênero, raça, credo, idade e etnia
(NUNES, PEREIRA, PINHO, 2017, p. 173)
A educação nacional tem suas diretrizes e bases estabelecidas pela lei 9.394 de 1996:
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). O Art. 43 da referida lei trata da
educação superior e suas finalidades. Destacando, inicialmente, o estímulo ao
desenvolvimento do espírito científico e crítico, a lei recomenda o incentivo à pesquisa e à
promoção da ciência e desenvolvimento, bem como seu compartilhamento e disseminação:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do
pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção
em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade
brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e,
desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e
possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de
cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os
nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer
com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das
conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
tecnológica geradas na instituição.
59
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação básica,
mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesquisas
pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os dois
níveis escolares. (BRASIL, 1996)
Como missão, a universidade não apenas deve possibilitar aos seus acadêmicos a
obtenção de um diploma, um emprego ou remuneração satisfatória, deve ir além, e ser capaz
de produzir novos conhecimentos para serem aplicados à realidade social. A sua função social
se aplica à toda a sociedade, em todos os níveis sociais. Conforme destaca Chauí (2001) “a
universidade é uma instituição social. [...] realiza e exprime de modo determinado a sociedade
de que é e faz parte. Não é uma realidade separada e sim uma expressão historicamente
determinada de uma sociedade determinada” (CHAUÍ, 2001, p. 35).
Pensar a universidade como uma instituição social torna necessário ir além das
fronteiras dos interesses científicos e abrigar o entendimento do caráter da memória, que
reforça identidades e sentimentos de pertencimento, um processo que, também se faz evidente
na universidade. Comentando a forma de operação da memória na formação do senso de
identidade, embora em outro contexto, Michael Pollak assim se expressa:
A memória, essa operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do
passado que se quer salvaguardar, se integra, como vimos, em tentativas mais ou
menos conscientes de definir e reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras
sociais entre coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas,
aldeias, regiões, clãs, famílias, nações etc. A referência ao passado serve para manter
a coesão dos grupos e das instituições que compõem uma sociedade, para definir seu
lugar respectivo, sua complementaridade, mas também as oposições irredutíveis.
(POLLAK, 1989, p.3)
Assim sendo, a memória de um departamento, de um instituto, ou da própria
universidade, mostra como o estágio atual das atividades acadêmicas provêm de um
desenvolvimento peculiar, pontuado pelas iniciativas inovadoras, pelas mudanças na estrutura
administrativa, pela atuação de docentes, estudantes e funcionários, pelos eventos marcantes,
tanto na vida universitária como no contexto social, e por aspectos da produção prévia. Estes
aspectos todos, quando devidamente preservados e postos ao alcance dos interessados,
constituem uma base para se entender melhor a natureza presente da instituição.
Reconhecendo não apenas sua natureza, mas sua dívida para com sua comunidade, a
universidade deve contribuir para minimizar seus problemas, retribuindo o investimento que
dela recebe, desenvolvendo estudos, pesquisas e projetos de extensão compatíveis com as
reais necessidades da população, em benefício comum. A função da universidade na
sociedade é inquestionável: “Cabe a ela a liderança do sistema educacional, pois é de sua
60
responsabilidade a formação de sujeitos críticos, reflexivos, autônomos e éticos”
(RODRIGUES, 2007, p. 49), colocando à disposição os conhecimentos gerados e acumulados
na instituição. A universidade não deve produzir para si mesma, pois sua função é social.
Afinal, é uma instituição da qual deriva uma imensa diversidade de modos e formas de
organização. E organizações, como Vahl define, são instituições eminentemente sociais:
“organizações são unidades sociais ou agrupamentos humanos, constituídas e reconstituídas
com a finalidade de atingir objetivos específicos” (VAHL, 1990, p. 107).
No contexto universitário, a questão relacional torna-se evidente e relevante pois,
como Costa (1997) esclarece, uma instituição é sempre obra coletiva, social, cultural, um
acontecimento.
Sua construção é historicamente percebida e seu processo instituinte se dá pela
viabilização de mecanismos de controle social, estabelecendo regras e padrões de
conduta que venham a garantir seu funcionamento e o exercício de suas funções
reprodutoras, que tendem à estabilidade e que obedecem a uma certa regularidade.
Trata-se de reproduzir uma determinada ordem alcançada, com a intenção de
manutenção dessa ordem. (COSTA, 1997, p.80)
Um aspecto importante a considerar é a percepção de que é sempre no contexto das
relações que as lembranças são construídas, mesmo que aparentemente individualizadas
(HALBWACHS, 2006). Esse aspecto vem ao encontro do raciocínio de Icléia Thiesen
Magalhães Costa (1997), que situa a memória de uma universidade a partir da dinâmica de
suas relações sociais, em um “[...] permanente jogo de informações que se constrói em
práticas discursivas dinâmicas. O instituído e o instituinte – as duas faces da instituição –
fazem suas jogadas na dinâmica das relações sociais.” (COSTA, 1997, p. 9).
Na dinâmica dessas relações sociais, a memória está sujeita às questões da seletividade
e, sobretudo, às instâncias de poderes. Oliveira (2008, p. 43) complementa: “Mesmo que
constituída a partir de indivíduos, a memória sempre nos remete a uma dimensão coletiva e
social e, por extensão, institucional”. Para o autor,
Se é verdade que uma instituição é constituída de uma complexa rede de relações
estabelecidas, não somente nos papéis e registros oficiais, mas (e sobretudo) através
das práticas habituais, fundamentadas em valores e normas adotadas pelos sujeitos
que as constituem e nela atuam, é também sabido que a identidade compartilhada é
um poderoso fator de coesão de grupos. (OLIVEIRA, 2008, p. 45)
Como Oliveira (2008) registra, referindo-se aos que atuam no âmbito da história e
memória de instituições, entre passado e presente há um trânsito. De acordo com o estudioso,
é nesse “campo permeado pelas disputas de poderes, na dimensão dos embates que definirão o
que será lembrado, como será lembrado, e também aquilo que, não sendo lembrado, será
61
esquecido: não somos só o que lembramos, somos também o que esquecemos” (OLIVEIRA,
2008, p. 42). É no interior desse trânsito, dessa seletividade tão ligada ao próprio processo
identitário, que se enquadram, também, as memórias universitárias.
Falar sobre a memória universitária não é tarefa fácil. Ao refletir sobre a universidade
para além do lugar de produção de conhecimento, e ampliar o campo de observação, percebe-
se que os lugares de memória e cultura também se encontram nesse meio.
Nora (1993) explana que deve haver nos lugares da memória uma intenção
memorialista que garanta sua identidade, e que permita que eles não sejam meros lugares de
história e sim, espaços criados pelo indivíduo contemporâneo. Nesses espaços deve haver
uma identificação, a fim de que esses indivíduos se unifiquem e se reconheçam agentes de seu
tempo, isto é, a tão desejada volta dos sujeitos: “a atomização de uma memória geral em
memória privada dá à lei da lembrança um intenso poder de coerção interior. Ela obriga cada
um a se relembrar e a reencontrar o pertencimento, princípio e segredo da identidade"
(NORA, 1993, p. 18).
Na atualidade, percebe-se valorização do significado da memória universitária, e
esforços no sentido de constituir acervos memoriais nessas instituições. Para contextualizar as
relações que estão impregnadas nas estruturas da educação superior do País, atentou-se para
os trabalhos do pesquisador Antônio José Barbosa de Oliveira, (UFRJ), autor de inúmeros
artigos no campo da história e memória de instituições, e membro integrante do Projeto
Memória SiBI-UFRJ (Sistema de Bibliotecas e Informação). Constam entre suas obras
focadas na história e memória institucional os volumes A Universidade e lugares de memória
(2008) e A Universidade e lugares de memória II (2009). Na leitura de tais obras, percebe-se
que a intencionalidade dessa organização de textos foi a de reforçar a concepção de que uma
universidade se faz importante pela riqueza advinda da multiplicidade de saberes,
constituindo-se como patrimônio cultural indispensável a toda nação.
Segundo o historiador, foram necessários cinco séculos de história para o Brasil ter,
em seus domínios, a instituição universitária. Somente no século XX, no contexto das
políticas de modernização do Brasil, o debate para a criação de universidades tomou corpo e,
finalmente, em 1920, o Governo Federal criou a primeira universidade, a Universidade do Rio
de Janeiro (URJ). Em 1937, a URJ é transformada em Universidade do Brasil (UB) e
concebida como modelo a todas as instituições de ensino superior no país.
Oliveira (2009) identificou e analisou cerca de trinta espaços que possuem acervos
memorialísticos sobre a história da UFRJ e sobre as áreas de pesquisa específicas a que se
destinam. Constam nesse acervo: documentos escritos, fotografias, mapas, plantas, esculturas,
62
pinturas, livros raros, jornais, revistas, acervos pessoais de professores, instrumentos
científicos, patrimônio arquitetônico e alguns depoimentos de funcionários.
Comentando este estudo, Teixeira (2008) destaca:
Nós estamos aqui reverenciando a memória e os espaços de memória, mas, ao
mesmo tempo, temos que olhar para o amanhã, definindo se este amanhã será
apenas uma reprodução do passado, de um passado permeado de micro-histórias de
êxitos, ou se será o amanhã de uma universidade nova, aberta, democrática, crítica,
humanista, capaz de se defrontar e resolver os problemas da integração dos
conhecimentos e da universalização do ensino superior. Entre este passado com suas
glórias, conquistas, vitórias, fracassos e carências e esse amanhã que está em aberto,
encontra-se o hoje, o presente e os nossos desafios. E é neste hoje que precisamos
tomar as nossas decisões. Reproduziremos o passado ou construiremos uma
universidade nova, diferente da que temos? (TEIXEIRA, 2008, p. 15)
Enquanto Universidade, uma das funções dessas instituições é assegurar à sociedade o
direito de acesso a todas as informações sobre sua origem, trajetória e funcionamento,
reafirmando, desta forma, sua importância estratégica na construção de saberes e da
cidadania. Por este motivo, ressalta-se a importância da preservação da memória técnico-
científica e cultural da Universidade para o fortalecimento de sua identidade institucional.
Nesse sentido, registra-se a pesquisa desenvolvida por Maria Helena Alves da Silva,
Maria Aparecida Chaves Ribeiro Papali e Valéria Zanetti, as quais, no trabalho intitulado “A
importância da memória institucional e o CEHVAP (Centro de História e Memória da
UNIVAP)” analisam o caso particular da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP),
localizada na cidade de São José dos Campos/SP. Têm como objetivo explorar e discutir a
importância da memória institucional dentro e fora da Universidade, e entender qual a
importância da instituição e de seu Centro de História e Memória (CEHVAP) no contexto da
criação da Universidade e na história da cidade. Levantam a questão de porque o Centro tem
pouco reconhecimento por parte dos outros setores da Universidade, apesar de ser
oficialmente reconhecido como estratégico e indispensável para o funcionamento da
instituição e manutenção de sua história.
As autoras registram uma situação paradoxal: apesar do amplo reconhecimento do
caráter social da universidade, “a memória institucional raramente está articulada e disponível
de forma sistemática nas Universidades, tanto públicas quanto particulares” (2017, p. 36),
havendo um silêncio quanto a isso. Silva, Papali e Zanetti destacam que trabalhar com a
memória institucional não é apenas explorar a história vivida pelos alunos e funcionários de
uma instituição, mas também honrar o esforço de todos que contribuíram e ainda contribuem
para a continuidade da instituição. Porém é preciso que os programas de memória e
63
documentação sejam norteados, estimulando fatos e escolhendo histórias relevantes que
apresentam a organização da instituição à sociedade.
Outra contribuição no campo da memória universitária é a da pesquisadora Neire do
Rossio Martins (2012). Em sua dissertação intitulada “Memória Universitária: o Arquivo
Central do Sistema de Arquivos da Universidade Estadual de Campinas (1980 - 1995)”
apresenta uma visão geral da análise histórica e desse lugar de memória, traçando um
panorama da política arquivística adotada pela universidade para preservar seus documentos e
suas memórias. Trata-se de pesquisa histórica acerca da trajetória de instalação e implantação
do Arquivo Central do Sistema de Arquivos da Universidade Estadual de Campinas.
O objetivo da pesquisa foi investigar a trajetória de implantação desse sistema: suas
bases, conflitos, os interesses dos grupos e os próprios grupos que atuaram nesse período. Ao
mesmo tempo, Martins faz uma reflexão sobre as formas utilizadas para sua legitimação como
órgão administrativo e acadêmico; identifica os contextos em que esse percurso se
desenvolveu, trazendo elementos que possibilitem compreender e refletir sobre o presente.
Como a autora comenta, essa memória universitária, “procura abrigar essa diversidade
inerente a esse ambiente de ensino e de pesquisa científica” (MARTINS, 2012, p. 166). A
autora lança mão do conceito de lugar de memória de Pierre Nora, associando a necessidade
de arquivo ao momento temporal em que há uma ruptura com o passado: a ele consagramos
lugares porque não mais habitamos sua memória, mas valemo-nos, antes, de uma memória
transportada pela história.
Assim, descreve o Arquivo Central do Sistema de Arquivos da UNICAMP como um
lugar de memória (NORA, 1993), memória institucional e coletiva que vem reunindo desde a
década de 1980, documentos produzidos pela universidade ou sobre a universidade, em
diferentes meios e suportes, provenientes de suas unidades e órgãos compreendidos em sua
estrutura organizacional. O seu acervo documental é formado a partir de recolhimentos
organizados por critérios estabelecidos durante a gestão sistêmica de documentos ou de
doações e compras ou coligidos por meio de depoimentos orais. Além de preservar, constitui
memórias na medida em que prepara programas de apoio a comemorações institucionais,
exposições, oferece cursos e programas educativos. (NEVES, 2005)
As possibilidades de um arquivo institucional são variadas, não havendo um conceito
único que o defina. O arquivo molda-se, antes, de acordo com as finalidades e a dinâmica de
cada universidade, conforme explana a autora:
É possível pensar que um arquivo de uma instituição universitária possa suscitar,
mesmo, que considerado “administrativo” ou “oficial”, público ou privado,
64
investigações importantes, uma vez que mantém registros e documentos sobre as
relações com a comunidade. Registros acadêmicos que permitem mostrar o perfil
dos alunos que ingressam e que passam pelos bancos escolares, e o perfil dos
professores contratados pela universidade ou que a visitam para palestras,
participação em bancas ou mesmo, para envolvimento com grupos de pesquisa. Os
registros referentes aos cursos permitem investigações sobre a forma curricular, as
prescrições. Os registros e documentos sobre convênios e pesquisas, permitem um
olhar sobre os interesses de pesquisa dos grupos, da instituição e do próprio
ambiente social e científico em que a universidade está inserida (MARTINS, 2012,
p. 166)
Heloísa Liberalli Bellotto (1992) considera importante que a gestão se relacione com a
preservação dos documentos da própria universidade, visando à memória institucional, com o
fim de garantir a memória das organizações para efeitos científicos da pesquisa histórica ou
para efeitos de transmissão cultural. Ressalta em outro momento a necessidade do
reconhecimento da importância da gestão arquivística de documentos nas Universidades e
sugere a implantação de programas de gestão de documentos a fim de sistematizar os
procedimentos administrativos para que se alcance o controle da produção documental, sua
utilização e sua destinação final.
O documento em si não é memória, mas é o elemento que permite a sua constituição,
ou seja, um local significativo para a construção da memória. Esclarece ainda que o papel
principal de um arquivo em universidades é:
[...] reunir, processar, divulgar e conservar todos os documentos relativos à
administração, à história e ao funcionamento/ desenvolvimento da universidade;
avaliar e descrever estes documentos, tornando possível seu acesso, de acordo com
as políticas e procedimentos elaborados especificamente para estes fins;
supervisionar a eliminação, ter o controle da aplicação das tabelas de temporalidade,
objetivando que nenhum documento de valor permanente seja destruído. [...]
fornecer aos administradores as informações requeridas no menor tempo possível;
ser a informação para a própria universidade como um todo. (BELLOTTO, 1992, p.
19)
Para a autora, (2006, p. 35) “documento é qualquer elemento gráfico, iconográfico,
plástico ou fônico pelo qual o homem se expressa”. A função e o suporte do documento
determinam o uso e o destino de armazenamento futuro. Os documentos de arquivo em
suporte papel são, em geral, manuscritos, impressos e exemplares únicos, produzidos pelas
atividades funcionais ou intelectuais de instituições, no decurso de suas funções.
Os dados aqui coletados e comentados acerca da memória universitária demonstram
que é plausível criar mecanismos que tornem visíveis os lugares de memória institucionais, os
projetos que os originam e os espaços dedicados a eles. O incentivo à produção e manutenção
de tais espaços mostrará que a instituição está preparada para tornar sua memória cada vez
65
mais pública e acessível não apenas à comunidade interna da instituição, mas também à toda
população que deseja usufruir da pesquisa e conhecer esses lugares de memória.
2.2 Lugares de memória na URI
A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI- Câmpus de
Frederico Westphalen, é uma instituição multicampi, com 27 anos de atividade. Reconhecida
pela Portaria nº 708, de 19 de maio de 1992, publicada no Diário Oficial da União em
21/05/92, tem sede na cidade de Erechim, Estado do Rio Grande do Sul. É mantida pela
Fundação Regional Integrada - FuRI, entidade de caráter técnico-educativo-cultural, com sede
e foro na cidade de Santo Ângelo/RS. As atividades de ensino, pesquisa e extensão são
desenvolvidas em seis Câmpus: Erechim, Frederico Westphalen, Santo Ângelo, Santiago,
Cerro Largo e São Luiz Gonzaga.
A URI identifica-se como universidade comunitária, pois sua vocação é a integração,
atingindo mais de 100 municípios das regiões Alto Uruguai Norte, Médio Alto Uruguai,
Missões e Fronteira Oeste. Para a consecução de tais metas e estrutura, desenvolve suas
atividades de ensino, pesquisa e extensão através de oito Departamentos: Ciências Exatas e da
Terra, Ciências Biológicas, Engenharia e Ciência da Computação, Ciências da Saúde, Ciência
Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Linguística, Letras e Artes.
A missão da URI, conforme encontra-se divulgada em sua homepage, é “formar
pessoal ético e competente, inserido na comunidade regional, capaz de construir o
conhecimento, promover a cultura, o intercâmbio, a fim de desenvolver a consciência coletiva
na busca contínua da valorização e solidariedade humanas”. Tem como visão “ser
reconhecida como uma Universidade de referência que prima pela qualidade, ação solidária,
inovação e integração com a comunidade”.
Em suas seis unidades, além do Ensino Superior, a URI conta com Escolas de
Educação Básica que atuam na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio,
Ensino Técnico e Cursos de Pós-Graduação Latu Sensu e Stricto Sensu. Em relatório anual,
publicado em 2018, a URI – Câmpus de Frederico Westphalen contabilizou um universo
composto pelas seguintes grandezas:
QUADRO 1 - Número de discentes, docentes e funcionários, URI-FW, 2018
Descrição Quantidade
Alunos de Graduação 2524
Alunos de Pós-Graduação – Lato Sensu 302
66
Alunos de Pós-Graduação – Stricto Sensu 48
Alunos Ensino Médio 65
Docentes 175
Funcionários 171
TOTAL 3285
FONTE: Secretaria Geral da Uri - Câmpus de Frederico Westphalen (2018), quadro elaborado pela autora
Em seus diversos espaços de convivência na unidade, a URI têm acervos e arquivos
que compõem seu patrimônio, os quais podem ser livremente acessados pela comunidade
interna e externa a ela. Esses “lugares de memória”, verdadeiros rastros memoriais, guardam
muitas significações, cujas dimensões este estudo não será suficiente para esgotar. Lembra-se
aqui Pollak (1989), quando, ao enfatizar sobre os ditos e os não-ditos para a construção de
uma memória, seja ela coletiva ou individual, ressalta a importância de rastros significativos
que uma pessoa, um grupo ou uma nação vai deixando em suas experiências de vida, e que se
tornam pontos de referência para qualquer estudo histórico. Isso é notável principalmente
quando os rastros, muitas vezes esquecidos ou ignorados, revelam interpretações distintas da
oficial ou mesmo da que se acostuma ouvir. É um processo que demanda trabalho árduo de
interpretação dos mundos existentes e dos submundos, dos esquecimentos, dos silêncios, das
angústias e dos prazeres.
Em busca de entender o contexto da instituição, serão apresentados e comentados, a
seguir, alguns espaços de memória, dialogando com o que foi discutido até aqui. Desenvolve-
se aqui um registro dos lugares de memória na URI, a fim descrevê-los e discutir, mesmo que
brevemente, como eles impactam na perpetuação da memória e cultura dentro da comunidade
acadêmica e não acadêmica. Relatam-se, a seguir, informações primeiramente sobre o espaço
FESAU, em seguida sobre a Biblioteca Central da URI, o Centro de Documentação e
Pesquisas Históricas do Alto Uruguai (CEDOPH) e por fim, as Dissertações do Mestrado em
Letras da URI.
2.2.1 Espaço FESAU
O Espaço FESAU localiza-se no Câmpus I da URI – Câmpus de Frederico
Westphalen, no prédio 06, sala 10. O local, que sedia a Fundação de Ensino Superior do Alto
Uruguai, guarda um significado histórico: o prédio 06 foi o primeiro prédio construído, ao ser
criada a URI em 1992. A sala é, como todo o Prédio 06, propriedade da FESAU, cedida em
comodato à FuRI- Fundação Regional Integrada, Mantenedora da URI, como todos os demais
bens, já que a FESAU continua a existir, permanecendo proprietária do patrimônio da URI.
67
A FESAU iniciou suas atividades em 22 de dezembro de 1969; portanto, neste ano de
2019 completa seu cinquentenário, permanecendo proprietária do patrimônio da URI. Hoje,
segundo a professora Ophélia Sunpta Buzatto Paetzold (2019), “a FESAU só não exerce a sua
função acadêmica; a questão financeira e jurídica ela cumpre, porque é uma norma”, estando
orientada pela Procuradoria Geral das Fundações do Estado do Rio Grande do Sul. Esse
espaço está sempre se movimentando, com entrada e saída de material e em breve estará
aberto em horário permanente para acesso do público em geral, e também para professores
que trabalharam na FESAU.
No momento atual, o estatuto da FESAU está passando por reformulação, para se
adequar ao Código Civil Brasileiro, com o intuito de contemplar a questão do intercâmbio
com a sociedade local e regional. A Diretoria é composta por 13 membros, com o mesmo
número de suplentes. Atualmente, são titulares do Conselho Diretor: Presidente - Luiz
Panosso Netto; Odi Marchesan, Lírio Zanchet, Vitalino Adjalmo Cerutti, Normando Bambini,
Edemar Girardi, Roberto Felin Júnior e José Alberto Panosso (prefeito); do Conselho
Curador: Armando Ali Younes, Antônio Garcia da Silva, Lauro Paulo Mazzutti, Ophélia
Sunpta Buzatto Paetzold e Rubens A. C. Haubert.
O Espaço FESAU foi solicitado à Direção da URI/Frederico Westphalen pela
Diretoria da Fundação de Ensino Superior do Alto Uruguai, porque, mesmo sendo
proprietária de toda área física onde está localizada a URI, não havia sido disponibilizado
qualquer espaço para que a FESAU usufruísse como um local de encontro para reuniões de
sua Diretoria, as quais acontecem no início de cada ano e, sempre que necessário, para
realização de sua assembleia anual.
Este lugar foi criado para explorar a história da Fundação, preservando a sua memória.
É reservado à guarda dos documentos históricos referentes à sua trajetória e ao caráter
visionário dos pioneiros que há 27 anos sonharam criar uma Universidade, aliando ao IESAU-
Instituto de Ensino Superior do Alto Uruguai- as IES de Erechim e de Santo Ângelo.
O Espaço FESAU contribui para a perpetuação e divulgação da história, memória e
identidade dessa Fundação, já que objetiva a preservação e documentos, criando possibilidade
de diálogo, pesquisas e ações integradas. É, por isso, um local onde a história da Fundação
está guardada e cuidada; poderá ser visitado, contribuindo com a sociedade, ajudando
pesquisadores e guardando documentos, trabalhos e fotografias. Não somente traz à
comunidade o conhecimento dos envolvidos na criação da FESAU, como memórias que
acompanham os 50 anos de sua história, em parte publicadas no volume FESAU Memórias I,
no ano de 2018.
68
Era uma constante preocupação da direção da FESAU a preservação dos documentos
que cada presidente guardava consigo, material como livros de atas e outros livros de uso da
presidência, documentos do Conselho Diretório Curador, e o próprio estatuto da entidade. Era
necessário que tais documentos fossem abrigados em um espaço que possibilitasse que essa
informação tanto estivesse disponível para as próprias assembleias da FESAU, como pudesse
ser consultada por alunos, comunidade local e regional, imprensa, e demais interessados. A
partir disso, foi pensada a criação desse local, para arquivo desses documentos e também para
a realização de reuniões.
A Direção do Câmpus da URI, constituída por Silvia Regina Canan como Diretora
Geral, Elisabete Cerutti como Diretora Acadêmica, e Clóvis Quadros Hempel como Diretor
Administrativo, aceitou o desafio de prover um espaço para a FESAU. A 16 de setembro de
2016 realizou-se a cerimônia de inauguração da sala da Fundação de Ensino Superior do Alto
Uruguai - FESAU, reunindo representantes de toda a comunidade, especialmente pioneiros
que ajudaram na construção da história do ensino superior de Frederico Westphalen e da
própria FESAU. Na ocasião, a Diretora-Geral da URI Frederico Westphalen falou sobre a
importância do momento de entrega do espaço, ressaltando a visão de seus fundadores, e
reforçando que a sala, mais do que um espaço onde são guardados documentos, é “o local
onde a história da fundação estará e poderá ser guardada, cuidada e visitada com o respeito
que ela merece” (CASSOL, 2016). O atual presidente da FESAU, Sr. Luiz Panosso Neto,
também falou sobre a importância do espaço, emocionando-se ao relembrar o caminho
percorrido até a criação da Fundação.
O Espaço FESAU está dividido em 3 ambientes: a sala do presidente, sala de reuniões
e recepção. Para realização da assembleia, a URI disponibiliza o Auditório menor, localizado
no prédio 07. O material básico que se encontra na sala do presidente e que não foi repassado
para a URI constitui-se de estatutos, revistas, livros com dados históricos, todos disponíveis
para pesquisas. Os documentos de uso do financeiro ficaram sob guarda e responsabilidade da
URI, mas também disponíveis à pesquisa, assim como toda documentação acadêmica relativa
aos cursos, docentes e alunos dos quatro Cursos que foram criados enquanto FESAU: Letras,
Administração, Pedagogia e Ciências Contábeis, de 1972 a 19 de maio de 1992. Estes dados
estão no arquivo dispostos no passivo da Secretaria Geral do Câmpus da URI.
Nesse local é possível encontrar toda a documentação desde sua criação até os dias
atuais, como atas, estatutos, revistas, mapas e vídeos históricos. A intenção é colocar uma
galeria de fotos registrando toda essa caminhada histórica, divulgando, preservando e
incentivando pesquisas históricas e de outros fins sobre esses acervos, visando a valorização
69
do patrimônio cultural e documental, da memória e da história do Ensino Superior da região
do Alto Uruguai.
Integravam o acervo original da FESAU fotos e livros. Aquelas foram cedidas para o
CEDOPH (Centro de Documentação e Pesquisas Históricas do Alto Uruguai), localizado na
Biblioteca da URI e que será descrito mais tarde neste capítulo. O acervo de livros da
Biblioteca da FESAU, a partir de maio de 1992, foi integrado à Biblioteca Central da URI.
2.2.2 Biblioteca Central Dr. José Mariano da Rocha Filho
Dentro do contexto universitário, as bibliotecas, além da função de disponibilizar
revistas, livros e outros documentos, são fontes de informação, pois nelas são selecionadas,
guardadas e disseminadas as produções culturais e intelectuais de uma sociedade. Tais
informações assumem também a importante tarefa de preservar a memória institucional.
Para Ribeiro (2007) a universidade como geradora de conhecimento depende dos
recursos informacionais, organizados pela biblioteca. Neste sentido, nota-se um ciclo no qual
uma produz e a outra registra e divulga o que é produzido. Deste modo, a biblioteca
universitária tem papel destacado na produção e difusão do conhecimento da universidade
sendo que a função da universidade é social e está intimamente ligada ao desempenho social
que a biblioteca universitária deve desenvolver.
A biblioteca universitária, enquanto parte integrante de uma instituição, afirma-se
como necessária para colaborar nessa construção, apresentando-se como lugar de memória. O
próprio ato de publicar pesquisas que acontecem dentro da universidade é uma maneira de
documentar sua memória intelectual e cultural. Entende-se, assim, que documentos
bibliográficos também são lugares de memória e cultura, e as bibliotecas das instituições
servem como repositório desses saberes produzidos, registrados e publicados. Além de
arquivos e acervos artísticos, as bibliotecas, através de suas coleções de livros e periódicos, se
mantém como um dos mais antigos espaços de memória e cultura.
Na atualidade, em virtude dos novos recursos tecnológicos, a biblioteca se expande
para os espaços virtuais, disponibilizando artigos, pesquisas, dissertações e teses, ampliando o
acesso à cultura. No momento em que institui seu acervo digital, possibilita também a
parceria entre instituições acadêmicas, abrindo seus acervos para estudantes e professores
dessas universidades. A criação de bases de dados que constem as produções e publicações
que ocorrem dentro da universidade é outro espaço de memória e cultura, inclusive da própria
70
instituição, que serve de suporte para estudos sobre questões políticas e culturais na
universidade.
Dessa forma, nesse ambiente está contida uma variedade de acervos que compila
muito dos resultados da caminhada intelectual da raça humana, sejam as descobertas, os
inventos e os escritos, que impulsionaram o desenvolvimento, ou tudo o que mereceu a
imortalidade, “reunido e arquivado num único espaço físico, porém, ilimitado, como
imaginamos que seja um universo” (FILHO, 2018, p. 25). Porém, é necessário que exista uma
política com intenção memoralística, ou seja, que preserve e mantenha esses espaços de
maneira adequada e organizada, uma vez que são geradores de pesquisa e permitem que a
universidade, representada pelo seu corpo docente, discente, técnico-administrativos e a
comunidade do seu entorno constituam a sua identidade cultural.
Para Chartier (2002), é possível definir as bibliotecas como um lugar de memória e de
preservação do patrimônio documental. Considera-as como: “um espaço dinâmico e vivo
tendo como uma das tarefas fundamentais colecionar, [...], inventariar e, finalmente, tornar
acessível a herança da cultura escrita” (CHARTIER, 2002, p.30). Assim como outros lugares
de memória, as bibliotecas se apresentam como palcos de encenação à dramaturgia da
sociedade. Em virtude disso, “a identidade de uma sociedade ou nação [que pode] ser
espelhada por uma biblioteca, por uma reunião de títulos que, em termos práticos ou
simbólicos, faça às vezes de definição coletiva”. (MANGUEL, 2006; p.241 apud SILVEIRA,
2012 p. 12). Dessa forma, compreende-se a importância da biblioteca no cumprimento da sua
função social enquanto lugar de memória e o que ela representa para perpetuar o que de fato é
relevante a nível de conhecimento e reconhecimento cultural e identitário de uma nação. É
nesse sentido que se quer refletir sobre a Biblioteca Central da URI.
A Biblioteca Central Dr. José Mariano da Rocha Filho, criada em 1970, recebeu esse
nome em homenagem a um dos fundadores da FESAU. No primeiro andar, estão disponíveis
terminais para consulta ao acervo, além de área de acervo de livros, área de estudo e
circulação, setor de empréstimos, e o acervo do Centro de Documentação e Pesquisas
Históricas do Alto Uruguai – CEDOPH. Salas de estudos individuais e coletivas estão
localizadas no segundo pavimento da Biblioteca Central, onde também se localizam terminais
de consulta, área de acervo de livros e de periódicos, e a Coleção Ada Maria Hemilewski,
doação póstuma do acervo pessoal da primeira coordenadora do PPGL. São disponibilizados,
na biblioteca, vídeos, CD-ROM, DVDs. Acesso à informação é garantido, ainda, através de
Bases de Dados. Conforme Paetzold (2017), o local destina-se ao corpo docente, discente,
71
pesquisadores, técnicos especializados, servidores, diplomados e estagiários, além de atender
a comunidade em geral.
A biblioteca disponibiliza aos seus usuários em torno de 65.000 títulos e
aproximadamente 112.000 exemplares, cadastrados no Programa de gerenciamento de
Biblioteca (Pergamum). Em particular, na área de Letras, dispõe de cerca de 31 títulos de
periódicos nacionais e oito títulos de periódicos, 6.815 títulos de livros e 10.040 exemplares,
muitos deles adquiridos pelo Mestrado em Letras, com verbas institucionais e/ou verbas do
PROSUP; há, ainda, volumes que resultam de doações de docentes do PPGL e de
pesquisadores convidados. Dados de 2017 revelam que, com verbas institucionais, em 2017, o
Mestrado em Letras ampliou seu acervo bibliográfico em 485 títulos novos e 549 exemplares,
a que se acrescentaram doações recebidas de professores, pesquisadores convidados, alunos
ou parcerias externas. Na grande área de Linguística, Letras e Artes, atualmente, a Biblioteca
possui um acervo de 11.010 títulos e 14.258 exemplares.
Conta com 243 bases de dados, liberadas para utilização no Portal de Periódicos da
CAPES. Especificamente voltadas à área de Letras, via Portal de Periódicos, há livre acesso a
158 bases; além dessas, com acesso restrito (apenas na universidade), tem-se acesso aos
conteúdos das bases E-books, E-books em português, EBSCO, Elsevier, ProQuest, Royal
Society Books, Philosophical Boos, Sage e Scopus.
A biblioteca participa, como solicitante, do serviço de comutação bibliográfica
(COMUT), buscando para a comunidade acadêmica cópias de documentos fora da Instituição.
Dispõe, ainda, de serviço de intercâmbio e permuta. A política de Intercâmbio e Permuta
consiste no envio de publicações da URI – Câmpus de Frederico Westphalen – e no
recebimento e no controle das publicações recebidas das 60 (sessenta) outras instituições
cadastradas. É um serviço que requer controle de movimentação das publicações periódicas,
bem como dos livros que vem a integrar o acervo como resultado de doações, e daqueles que,
produzidos como resultado da pesquisa desenvolvida na IES, são enviados por doação. Esses
intercâmbios dão subsídios para o crescimento do setor. No momento, há um total de 60
Universidades cadastradas. Na área de Letras, há 48 títulos permutados e 09 assinaturas. A
Revista Língua & Literatura, editada pelo departamento de LLA e PPGL da URI-FW,
chegou a ser permutada com 40 universidades no Brasil e no exterior; atualmente, em versão
apenas digital, proporciona acesso universal integral a todos os seus números, e está publicada
através da plataforma SEER, como as demais revistas produzidas na URI, o que lhe garante
maior visibilidade, aumentando o alcance do compartilhamento de saberes.
72
Esse ambiente dentro da universidade conserva conhecimento gerado na instituição de
ensino, reunindo, organizando e disseminando as produções de cunho cultural e técnico-
científico. Enquanto lugar de memória, especificamente na área de Letras, a Biblioteca
mantém acervo constituído pelas dissertações produzidas pelo PPGL – Programa de Pós-
Graduação em Letras- Mestrado em Literatura Comparada, desde as produzidas pela primeira
turma de egressos, defendidas em 2008. Além de preservar a memória da universidade,
proporciona a multiplicação do conhecimento, gerando novos saberes a partir da pesquisa
proporcionada por seu acervo.
2.2.3 CEDOPH (Centro de Documentação e Pesquisas Históricas do Alto Uruguai)
O CEDOPH teve origem nos primeiros anos da década de dois mil, a partir do esforço
coletivo dos professores do Curso História. À época, a Universidade oferecia cursos de
História e Geografia em regime especial de férias; mais tarde houve a criação do curso regular
de História. Chamado a lecionar nesse curso, o professor Breno Antonio Sponchiado percebeu
que havia uma lacuna na região: a ausência de um local que guardasse e preservasse a
memória histórica, principalmente a escrita, porquanto, mesmo havendo um museu municipal,
o arquivo municipal viria a ser criado somente em data posterior ao surgimento do CEDOPH.
Em depoimento escrito concedido a esta pesquisadora (2019), o professor Breno
Antonio Sponchiado, ao lembrar a criação do CEDOPH no ano 2000, refere-se a esse projeto
e a seus anos iniciais como “algo simples, humilde e embrionário”, destinado a, em um
primeiro momento, “guardar, sabendo que o segundo momento seria o de sistematizar e
depois o de divulgar” documentos relativos à história do Alto Uruguai. Nesse sentido, o
Centro, coordenado pelo professor Sponchiado desde sua criação, até meados de 2016, contou
com o apoio de alguns doadores, como uma coleção de jornais de colecionadores, O Regional
e O Alto Uruguai. Este último é descrito pelo professor Breno, “como o diário, a crônica de
tudo que acontece e aconteceu na região, é uma fonte excelente de pesquisa e reprodução do
nosso mundo atual.” (2019)
Além dessas doações, o próprio professor Breno contava um acervo considerável,
resultado de cerca de 20 anos de coleta de material; esse acervo contribuiu para a
concretização desse espaço. Mais tarde, o CEDOPH recebeu a doação de um significativo
acervo da Inspetoria de Terras, doado pelo Senhor Pinto Fortes, e que trata da colonização.
Nele se encontra a história agrária da região, e contêm correspondências da Inspetoria de
Terras.
73
Assim, o CEDOPH veio a dispor de um número considerável de livros, revistas e
fotografias, ao qual, com o passar do tempo, foi sempre se juntando mais material, doado por
pessoas da comunidade, que tomavam a iniciativa de levar até o centro o que consideravam
importante para a história regional. A isso se junta material coletado e produzido a partir de
pesquisa institucional. Anualmente desenvolviam-se pesquisas, através do Programa de
Pesquisa URI/Memória, criado pela Resolução N° 713/CUN/04, diante da necessidade de
criação de iniciativas concretas para apoio ao registro da história da Universidade, da história
da região de sua abrangência e da história geral que, se escrita pela história oficial, merece ser
relida. Tal programa tem como objetivo apoiar a criação e fixação de grupos de pesquisa que
tenham como base os seguintes eixos temáticos, articuladores de linhas de pesquisa: história,
educação e cultura; política e sociedade; literatura e história. A este programa foi destinada
5% da cota de bolsas de Iniciação Científica da Instituição, o que vem instigando bolsistas a
se dedicaram a esse trabalho.
O material disponível no acervo foi arquivado, com ajuda de bolsistas, e classificado
por locais, famílias e temas, sempre valorizando assuntos considerados como prioritários, tais
como a questão agrária, a questão indígena e a questão das famílias. Para que isso viesse a se
efetivar, a pesquisa em jornais foi de extrema importância. A URI assinava os jornais Correio
do Povo e Zero Hora, e tudo o que fosse de interesse regional e/ou que, por seu tema tivesse
vínculo com a história regional, era recortado e arquivado. Esse material se encontra nesse
espaço até hoje, datado e com identificação da fonte.
O CEDOPH tem, assim, a vocação de guardar e preservar a memória do processo
histórico da região do Alto Uruguai e Oeste de Santa Catarina, através da identificação,
aquisição e arquivamento de produção historiográfica disponível em acervos públicos ou
privados, e em fontes primárias. Seu propósito, segundo o professor Breno, sempre foi
“primeiramente guardar a parte física, mas a segunda era publicizar, ou seja, democratizar o
acervo, para que todos tenham conhecimento do que se encontra nesse local, multiplicando
através das novas ferramentas de acesso ao acervo” (2019).
Tem como objetivo, ainda, servir de referência ao público interessado em realizar
pesquisas históricas regionais, bem como sistematizar a história do Médio Alto Uruguai e
Oeste Catarinense. Seu vasto acervo está disponível para pesquisa pelos estudantes da
Universidade e da comunidade em geral, podendo também ser utilizado como uma ferramenta
ao ensino de História nos níveis Fundamental e Médio das escolas de abrangência da URI,
tendo em vista que o acesso a esses documentos proporciona um maior entendimento do
conteúdo trabalhado em sala de aula. A construção do conhecimento histórico a partir de
74
elementos da cultura local e regional permite um maior envolvimento dos estudantes,
problematizando as relações socioambientais, pois entram em contato direto com fotos,
jornais e documentos, despertando para a história e memória local e, ainda, recebendo noções
básicas acerca dos cuidados necessários para o manuseio e preservação de documentos
históricos.
Destacando-se por sua riqueza e diversidade documental, desde a criação, o acervo foi
dividido em sete seções, que são: 1) Municípios: com histórico referente aos municípios de
abrangência da URI; 2) Famílias: documentação sobre as famílias mais antigas da região; 3)
Periódicos: coleção de revistas e jornais da região; 4) Questão Indígena: acervo documental e
artefatos sobre às áreas indígenas; 5) Colonização: relatórios, mapas, relativo ao processo de
povoamento regional; 6) Monsenhor Vitor Batistella: acervo de documentos pessoais do
primeiro pároco de Frederico Westphalen que permite a reconstrução de sua trajetória; e 7)
Assuntos Diversos: documentos sobre política, cultura, religião, igreja, biografias, economia e
esportes de recortes de jornais; Escritório de Terras. A esses documentos ajunta-se o acervo
da Comissão de Terras e Colonização de Palmeira das Missões e da Inspetoria de FW; e os
documentos doados pela FESAU/URI, relativos aos setores administrativo e pedagógico
desde o início do ensino superior em Frederico Westphalen, além de monografias e
bibliografias: trabalhos elaborados pelos discentes dos cursos de História e Geografia e obras
de história regional.
O acervo fotográfico cedido pela FESAU é organizado de acordo com sequência
lógica, já que nessas fotografias estão contempladas imagens de aquisição do terreno,
reuniões da diretoria, construção dos prédios, visitas a Universidade Federal de Santa Maria,
encontros em Porto Alegre, formaturas dos cursos da época, entre outras. Além disso,
encontram-se nesse local jornais dos anos de 1969 e 1970 em diante, com notícias que dizem
respeito à FESAU.
O CEDOPH priorizou a coleta de registros documentais escritos, uma vez que a
prefeitura municipal de Frederico Westphalen já dispunha de um museu onde se encontram
objetos materiais, como peças, ornamentos, objetos. De acordo com o professor, “isso
complementava ainda mais a história regional, pois um local complementa o outro” (2019).
Porém, anexo ao CEDOPH, foi criado um espaço que foi chamado de Pró Museu, onde estão
peças valiosas que podem ser admiradas e estudadas, reunindo, através de doações, objetos
que testemunham a evolução da tecnologia aqui na região.
O CEDOPH abrigou, ao longo de sua história, pesquisas desenvolvidas a partir de
projetos de pesquisa. A criação e organização do espaço tiveram início com o projeto de
75
pesquisa “Inventário da bibliografia e dos acervos documentais da região do Alto Uruguai e
Oeste Catarinense”, vinculado ao Curso de História, e desenvolvido pelo professor e
historiador Breno Antonio Sponchiado, um de seus idealizadores. Destaca-se aqui o projeto
“Historiografia regional: textos e contextos narrativos”, que era coordenado pelo Prof. Breno
Antonio Sponchiado, e vinculava-se à Linha de Pesquisa Literatura, história e memória do
Mestrado em Letras da URI. Como produções decorrentes desse projeto contam-se a
dissertação “Reminiscências – a tradição oral em narrativas do Oeste de Santa Catarina” de
Fabiane Crys Barbiero, defendida em 2015; a produção da Série CEDOPH, dedicada ao
estudo historiográfico e literário da região de abrangência da URI. Também foi vinculado ao
CEDOPH o subprojeto “Povoadores da Colônia Guarita/RS no seu Centenário -1917-2017”.
Originalmente, o CEDOPH funcionava junto às salas de permanência dos docentes
desse Curso, os quais haviam projetado o espaço. Posteriormente, a partir do momento em
que as doações passaram a avolumar-se, o acervo exigiu um espaço maior para sua
acomodação, passando, então para uma sala de aula. Mais tarde, com a intenção de aumentar
sua visibilidade e ganhar um espaço mais amplo, passou a se localizar no andar térreo da
Biblioteca, onde se encontra até o momento. A partir de então, juntamente com a
Universidade dos Jesuítas, de Curitiba, que criou o programa Pergamum, utilizado pela
Biblioteca Central, foi iniciado o processo de digitalização do acervo, que demandou, segundo
o depoente, professor Breno Antonio Sponchiado, “muito tempo, dedicação e calma dos
envolvidos” (2019).
Um trabalho minucioso e paciente caracterizou todo o processo de coleta e
preservação desenvolvido pelo CEDOPH, o que veio a propiciar um local de pesquisa para
alunos e comunidade em geral, detentor de acervo de grande valor para a história e memória
local e regional.
Por tudo isso, este local tem se consolidado como um espaço da memória regional,
“marcada pelo pluralismo étnico e coesão comunitária. Esforça-se para servir de guardião da
história desta parte do Estado [...]. Tem servido de suporte de fontes históricas e
assessoramento para diversas pesquisas monográficas de municípios, famílias e trabalhos
acadêmicos” (PAETZOLD, 2017, p. 243).
2.2.4 Dissertações do Mestrado em Letras
O Mestrado em Letras tem como principal objetivo formar profissionais aptos para o
ensino, pesquisa e extensão, centrados na leitura e ensino da literatura em suas relações com a
76
história, memória e outras linguagens e processos culturais, na perspectiva do comparatismo,
considerando o contexto de demandas e perspectivas de pesquisa e trabalho do século XXI.
As produções discentes do Curso do Mestrado em Letras configuram-se como um dos
principais mecanismos de identificação da memória do Curso e da Instituição, uma vez que
permitem a extração de uma série de informações específicas acerca do contexto em que o
trabalho foi produzido como, por exemplo, quadro de professores, título dos professores,
egressos da instituição/curso, e a própria estrutura da Instituição, tendo em vista que grande
parte dos trabalhos científicos dessa natureza tende a discutir e/ou pesquisar experimentos e
vivências do âmbito acadêmico.
Ao publicar a memória da imprensa do Estado de Pernambuco, Nascimento (1962)
declarou: “Trabalhar hoje para que se conheça amanhã o que se publicou ontem” (1962, p. 9).
Com essa mesma visão, objetiva-se o resgate da memória do Mestrado em Letras da URI,
através das dissertações produzidas, as quais têm sido, há mais de uma década,
disponibilizadas à comunidade acadêmica, o que proporciona a disseminação da pesquisa, e
contribui para o desenvolvimento de projetos. Sua leitura leva a uma reflexão sobre sua
importância para a memória da Universidade, propagando a informação como referência de
memória.
Ao utilizar-se das dissertações do Mestrado em Letras da URI, como fonte de registro
de memória e como patrimônio cultural e documental da comunidade em que o Curso esteve
inserido durante os 13 anos de história, está se contribuindo para a disseminação da
informação registrada como referencial de memória e para a construção do conhecimento e da
história.
Em tal contexto, através das dissertações do primeiro curso Stricto Sensu da URI, é
possível traçar todo um percurso do Curso na instituição, desde a época em que foi instalado
até o momento atual, trazendo à tona as mudanças que ocorreram com o decorrer do tempo,
inclusive no que diz respeito aos temas de pesquisa e suas evoluções. Nessa perspectiva,
consideramos necessária a preservação desses documentos, pois, além de servirem de base
para uma pesquisa futura, conservam a memória da instituição.
Para a análise dos espaços da memória e suas potencialidades, levou-se em
consideração que nem todo lugar onde há reverberação da memória é espaço de memória.
Para Nora (1993), os lugares de memória são nada mais que lugares de restos de memória.
Entende ainda que os lugares de memória surgem e sobrevivem do sentimento que não há
memória espontânea e que é necessário criar arquivos, celebrar aniversários e organizar
celebrações, pois “essas operações não são naturais” (NORA, 1993, p.13).
77
As dissertações do Mestrado em Letras estão disponíveis para pesquisas no setor da
biblioteca; além disso, podem ser encontradas na secretaria do Mestrado em Letras e via
online através no site da universidade. Dedica-se, neste registro dos lugares de memória,
espaço reduzido às dissertações porque a elas é dedicado, em sua íntegra, capítulo terceiro
deste trabalho. Quer-se apenas, aqui, caracterizá-las, também, como, um dos lugares de
memória da URI- Frederico Westphalen.
3 AS DISSERTAÇÕES DO MESTRADO EM LETRAS DA URI COMO LUGAR DE
MEMÓRIA
“A memória é sempre uma construção feita no presente, a partir de vivências e experiências
corridas num passado sobre o qual se deseja refletir e entender”.
(Antônio José Barbosa de Oliveira, 2009, p. 43)
3.1 Mestrado em Letras na URI: histórico do programa
O Programa de Pós-Graduação – Stricto Sensu – Mestrado em Letras: Literatura
Comparada, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI –
Câmpus de Frederico Westphalen é um programa de abrangência regional destinado à
formação Stricto Sensu de profissionais na área de Letras e afins, oportunizando aos
graduados da região a continuidade de sua formação acadêmico-profissional.
Foi após o oferecimento, com sucesso, de Pós-Graduações Lato Sensu na área de
Letras e a constatação da ausência de Mestrado, na área de Letras, na região de abrangência
da URI - norte e noroeste do Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina e Paraná - que se
iniciou o planejamento para a implementação de um curso Stricto Sensu na área de Letras na
instituição. Aprovado pela Resolução CUN/744/2005, em 06 de junho de 2005, conforme
consta no Parecer 2159.03, Art.1º: “Aprovar a Implantação do Curso de Mestrado em Letras –
Área de Concentração – Literatura, proposto pelo Departamento de Linguística, Letras e
Artes, a ser oferecido no Câmpus de Frederico Westphalen”, o curso veio a ser recomendado
pelo Parecer CTC/CAPES – 05/09/2005.
A primeira seleção de discentes ocorreu entre maio e junho de 2006, e em julho de
2006 o Mestrado iniciou suas atividades, com duas Linhas de Pesquisa: Literatura, História e
Imaginário e Literatura, Memória e Identidade Cultural. Em agosto de 2008 foram defendidas
as primeiras dissertações; nesse mesmo ano, foi homologado o reconhecimento do curso, pelo
Conselho Nacional de Educação, através da Portaria MEC 524, constante do Parecer
CES/CNE 33/2008, publicado no Diário Oficial da União em 30 de abril 2008. Na Figura 1, é
possível verificar o folder de divulgação da primeira turma do Curso.
79
FIGURA 1 - Folder de divulgação da 1ª Turma do Mestrado
Fonte: Arquivos do Mestrado em Letras
O Curso localiza-se no Câmpus da URI de Frederico Westphalen, conforme demonstra
a Figura 2, na Rua Assis Brasil 709, e partilha, com o Mestrado em Educação, dependências
localizadas no Prédio 08: a secretaria, no andar térreo, e salas de aula, reunião e de pesquisa
no segundo andar, conforme se pode verificar na Figura 3, logo abaixo.
FIGURA 2 – Câmpus da URI de Frederico Westphalen
Fonte: Site da URI
80
FIGURA 3 - Prédio do Salão de Atos da URI (Prédio 08), que abriga o curso de Mestrado em
Letras
Fonte: Arquivo de Josafá Lucas Rohde. Disponível em: https://segundachamada.wordpress.com/category/uri/>
Inicialmente, a área de concentração do curso foi Literatura. No ano de 2010,
acatando a sugestão da avaliação da CAPES relativa ao triênio 2007-2009, a qual considerava
a área de concentração do Curso como sendo demasiadamente genérica, houve mudança na
área de concentração, que passou a ser Literatura Comparada, conforme Parecer
2993.03/CUN/2010 e Res. 1429/CUN/2010, Art.1º: “Aprovar as alterações no Programa de
Pós-Graduação em Letras, como segue: Área de Concentração – Literatura Comparada,
Linhas de Pesquisa: Comparatismo e Processos Culturais e Literatura, História e Memória”.
Ainda em 2010, primeiro ano do segundo triênio pleno de funcionamento do PPGL
(2010-2012), houve outra mudança significativa: a reformulação das Linhas de Pesquisa,
com a criação da Linha “Literatura, História e Memória”, resultante da fusão das duas Linhas
de Pesquisa existentes até então, “Memória e Identidade Cultural” e “Literatura, História e
Imaginário”, e da Linha “Comparatismo e Processos Culturais”. A alteração está registrada
nas atas nº 01/2010 do Departamento de Linguística, Letras e Artes e nº 02/2010 do
Colegiado do Curso de Mestrado em Letras, e passou a valer para as turmas iniciadas no ano
de 2010.
A partir de 2012, ocorreram as primeiras defesas relativas a essa nova LP,
correspondentes às turmas com ingresso a partir de 2010, cujas dissertações atendiam às
exigências da nova área de concentração e linhas de pesquisa, verificando-se não somente um
incremento da pesquisa já mais solidamente implementada no curso, correspondente à linha,
81
“Literatura, História e Memória”, como, segundo se esperava, o desenvolvimento de
pesquisas na linha “Comparatismo e Processos Culturais”.
Em 2013, objetivando atender às demandas regionais na área de Letras e à formação
profissional dos docentes em exercício na região de abrangência da URI- Frederico
Westphalen, implementou-se ainda outra Linha de Pesquisa. Buscavam-se novas
possibilidades no âmbito acadêmico para atender às demandas regionais na área de Letras
com relação à formação profissional. Consultada a CAPES, criou-se a Linha de Pesquisa,
“Leitura, Linguagens e Ensino”, uma implementação inovadora, dado ser este o primeiro
programa acadêmico Stricto Sensu voltado ao ensino na área de Letras no RS. Decorreu daí
reformulação do programa, com acréscimo de novas disciplinas, para atender as
especificidades dessa e linha; houve, também, revisão do ementário: diminui-se o número de
disciplinas obrigatórias, elegendo-se disciplinas que asseguram os fundamentos necessários à
fundamentação teórica da área de concentração do programa e ao exercício da pesquisa: 1.
Tópicos de Literatura comparada; 2. Fundamentos de Poética e Literatura; e 3. Seminário de
Dissertação. Por outro lado, extinguiram-se: Seminário de Autor I e II, substituídos por
Seminário de Autor; Literatura, mito e Imaginário, Crítica da Cultura e Representações
Literárias, Texto literário e espaço (auto) biográfico, cujos conteúdos se sobrepunham, em
parte, aos de Culturas, discursos e territorialidades e de Literaturas, modernidades,
textualidades; Teoria da Literatura, substituída por Fundamentos de Poética e Literatura, com
ementário revisado.
Decidiu-se atribuir a cada linha de pesquisa uma disciplina obrigatória específica,
considerada, dentre as disciplinas da grade curricular, como indispensável à formação do
aluno na Linha em questão: a) Linha de Pesquisa “Literatura, História e Memória”: disciplina
Ficção, História e Memória; b) Linha de Pesquisa “Comparatismo e Processos Culturais”:
disciplina “Comparatismo e Tradução” e c) Linha de Pesquisa “Leitura, Linguagens e
Ensino”: disciplina “Literatura e Ensino”. Houve também modificação nas disciplinas
eletivas, que passaram a ser: 1. Gêneros literários e não-literários; 2. Expressões literárias de
minorias e margens da história; 3. Cultura, discursos e territorialidades; 4. Literaturas,
modernidades, textualidades; 5. Linguagens e gêneros textuais midiáticos; 6. Literatura
infanto-juvenil e práticas de leitura; 7. Formação do leitor; 8. Literatura e outras linguagens;
9. Seminário de Autor.
Essas alterações na Grade Curricular do Mestrado em Letras visaram a atender de
forma plena as três linhas de pesquisa para a turma iniciada em 2013, conforme registrado em
Ata nº 01/2013 do Departamento de Linguística, Letras e Artes e Atas n° 01/2013 e n°
82
02/2013 do Colegiado do Curso de Mestrado em Letras. A justeza da decisão do Colegiado
quanto à inclusão de nova Linha de Pesquisa foi constatada quando, tanto no Processo
Seletivo 2013 como no 2014, houve significativo interesse pela nova linha de pesquisa. Em
cada um desses processos seletivos, abriram-se cinco vagas para cada linha de pesquisa,
atingindo-se, assim, um total de quinze vagas ofertadas; em ambos os processos seletivos, as
vagas da Linha de Pesquisa “Leitura, Linguagens e Ensino” foram totalmente preenchidas.
Três Grupos de Pesquisa, cadastrados no CNPq, foram planejados para dar suporte e
impulsionar as pesquisas desenvolvidas em cada uma das linhas: o GP “Literatura, História e
Imaginário”, formado em 2006, para dar suporte às pesquisas do então recém criado Mestrado
em Letras, coordenou, até 2016, as pesquisas associadas à LP “Literatura, história e
memória”. Em 2017, deu lugar ao GP “GP Literatura e história: Diálogos interdisciplinares”,
alteração que refletia as práticas de pesquisa e ensino correntes no PPGL. Liderou ambos os
GPs a professora Dra. Denise Almeida Silva. Apoio à Linha de Pesquisa “Comparatismo e
Processos Culturais” foi provido pelo o GP “Leituras Intersemióticas: cenografias discursivas
(LEICEDIS), coordenado pela professora Dra. Maria Thereza Veloso. A Linha de pesquisa
“Leitura, Linguagens em Ensino” tem suas pesquisas centradas em torno do GP “Práticas
mediadoras de leitura”, criado em 2013, e coordenado por Ana Paula Teixeira Porto.
No decorrer de seus 13 anos de história, de 2006/2 a 2019/1, muitos professores
fizeram parte da construção do Programa: Ada Maria Hemilewski (primeira coordenadora do
curso), Robson Pereira Gonçalves, Denise Almeida Silva, Lionira Maria Giacomuzzi
Komosinski, André Luís Mitidieri Pereira, Isabel da Rosa Gritti, Marcelo Marinho, Ricardo
André Ferreira Martins, Lizandro Carlos Calegari, Silvia Helena Pinto Niederauer, Nelci
Müller, Breno Antonio Sponchiado, Luana Teixeira Porto, Ana Paula Teixeira Porto, Maria
Thereza Veloso, Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing, Rosângela Fachel de Medeiros e Ilse
Maria da Rosa Vivian, além da professora Elizabete Cerutti, docente colaboradora.
Sucederam à professora Ada Maria Hemilewski, na coordenação do curso, os professores
Denise Almeida Silva, Lizandro Carlos Calegari e Maria Thereza Veloso.
O Mestrado ofereceu, ainda, bolsas do Programa Nacional de Pós-Doutorado – PNPD,
tendo sido bolsistas a Dra. Maria Regina Barcelos Bettiol, no período de 2014 a 2016, com
orientação da Dra. Luana Teixeira Porto, e, do ano de 2016 até a presente data, a Dra.
Gabriela Farias da Silva, com orientação da Dra. Ana Paula Teixeira Porto. Dentre as
contribuições da bolsista Maria Regina Barcelos Bettiol cita-se a organização, em conjunto
com a coordenadora do Mestrado, Dra. Maria Thereza Veloso, do volume Entre livros e
discursos: a trajetória das mulheres da Academia Brasileira de Letras (2018), o qual foi
83
chancelado pela ABL. Presentemente, Gabriela Farias da Silva finaliza suas pesquisas; tem
colaborado com o PPGL na docência, havendo ministrado as disciplinas: Seminário de
Estudos Avançados I - leitura: teoria e prática; Tópicos de Teoria da Literatura; Culturas,
discursos e territorialidades e Seminário de Estudos avançados Leituras Ocidentais Clássicos,
além da participação em bancas de qualificação e defesa. Está orientando dois discentes do
curso, Talita François Wahlbrinck e Guilherme Buzatto.
Também fizeram parte da trajetória do PPGL da URI as secretárias Magali Teresa de
Pellegrin Reinheimer (2006 - 2011), Vanderléia Skorek (2012-2017), Cláudia Maíra Silva de
Oliveira (2016), Emanoeli Ballin Picolotto (Estagiária 2016), Andriéli Santos da Rosa
(2017-2018) e Claudia Aline da Silva Vargas, atual secretária (2015- 2019).
Ao longo de sua história, o PPGL da URI criou três eventos regulares: o Curso de
Extensão Novos Olhares, anual, o SENAEL (Seminário Nacional de Estudos Literários), que
viria a se transformar em SINEL (Seminário Internacional de Estudos Literários) e a partir de
2009, o Simpósio Afrocultura. Os dois últimos eventos apresentavam periodicidade bianual,
alternando-se, respectivamente, em anos ímpares e pares a partir de 2009. Assim, o SINEL
teve quatro edições, em 2009, 2011, 2013 e 2015, enquanto o Simpósio Afrocultura realizou-
se em 2010, 2012, 2014 e 2016.
O mais antigo dos eventos criados e mantidos pelo PPGL da URI, o Curso de
Extensão Novos Olhares teve edições anuais a partir de 2008, estendendo-se até 2018. Dentre
os objetivos do evento, buscava-se integrar o Programa de Pós-Graduação em Letras da URI
com outros programas nacionais e internacionais, na área das Letras, e com a Educação
Básica, na dinâmica de uma universidade que pretende ser crítica e transformadora da
realidade em que está inserida, possibilitando a formação continuada de profissionais e
estudantes da área de Letras e afins, e fornecendo-lhes subsídios teórico-práticos para sua
atuação no âmbito escolar.
A primeira edição, em 2008, inspirou-se nos eventos criados em torno de Machado de
Assis naquele ano, quando o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
sancionou o projeto do acadêmico e senador Marco Maciel que instituía 2008 como o Ano
Nacional Machado de Assis, em homenagem ao centenário da morte do escritor. Nos anos
subsequentes, o projeto colocou em evidência o Texto Dramático (2009), as Afro-culturas e as
Literaturas Africanas (2010), Clarice Lispector e Guimarães da Rosa (2011), Carlos
Drummond de Andrade e Graciliano Ramos (2012). Ao longo desses anos, quando o evento
anualmente crescia tanto em seu reconhecimento pela comunidade e abrangência
(inicialmente regional, passou a ter repercussão estadual e até nacional), visitaram a URI, na
84
qualidade de especialistas sobre os temas propostos, Dra. Luciana Éboli (2009), Dra. Alai
Garcia Diniz (2009), escritor Ignácio Matínez (2009), Dra. Beth Grossi (2009), Ms. Samba
Sané (2010), Dra. Isabel da Rosa Griti (2010), Dr. Cassio dos Santos Tomaim (2010), Dr.
Jorge Araújo (2010), Dr. João Luis Ourique (2010), Dr. Uruguay Cortazza González (2010),
Dra. Ana Paula Cantarelli (2011), Dra. Nádia Battella Gotlib (2011), Dr. Luciano Nascimento
(2011), Dr. Santo Gabriel Vaccaro (2011), Dr. Afonso Romano de Sant‟Anna (2012) e Dr.
Fernando de Moraes Gebra (2012).
A partir do ano de 2013, o evento enfocou temas relacionados à leitura e ao
ensino. Em 2013, com temática Literatura e outras Linguagens, contou com a participação de
professores convidados, tais como: Profa Dra. Fabiana Piccinin (UNISC), Prof. Dr. Flavi
Lisboa Filho (UFSM), Prof. Dr. Marcelo Spalding (UNIRITTER), Prof. Dr. Cassio dos
Santos Tomaim (CESNORS-FW) e Profa. Dra. Cimara Valim de Melo (IFRS-CANOAS),
que proferiram conferências e palestras. O evento de 2015, “Novos Olhares: da formação de
professores à formação de leitores” teve como convidados especiais as professoras Zoara
Failla (Instituto Pró-Livro), Dra. Gabriela Fernanda Cé Luft (IFRS) e Dra. Lúcia Pagliosa
(URI). Seguiu-se, em 2016, o Novos Olhares “Letramentos, linguagens e formação do leitor”,
com a presença da Dra. Luciana Contreira, (UNIPAMPA), Dra. Fabiana de Amorim Marcello
(UFRGS) e Rildo José Cosson Mota (Câmara dos Deputados - Brasil); os egressos do curso
Larissa Bortoluzzi Rigo, Letícia Sangaletti e Rudião Wisnievsky ministraram oficinas. A
décima edição do evento, em 2017, “Leitur@, ensino e mundo digit@l” teve, como as
demais, a participação de especialistas na área temática enfocada: a Dra. Aline Conceição Job
da Silva (UFPEL), o Dr. Simão Pedro Pinto Marinho (PUCo-MG) e o professor e escritor
Christopher Kastensmidt (UNIRITTER). Em 2018, primeiro ano em que não houve edital de
abertura a vagas no PPGL- Mestrado em Literatura Comparada, por já ter sido anunciado o
encerramento das atividades do curso, manteve-se o evento, de forma a continuar atendendo
plenamente as demandas de pesquisa e ensino do curso. O tema escolhido foi “Linguagens de
resistência”, com palestras da Profa. Dra. Janaína Gomes (UFSM) “Leitura de imagens
visuais e construção de resistência” e do escritor Gustavo Melo Czekster “O fazer literário
como forma de resistência”. O evento contou, ainda, com mesas-redondas e oficinas, com
participações de professores da URI e de egressos do PPGL, e sessões para apresentação de
trabalhos: comunicações, relatos de experiência ou pôster.
Iniciado com a abrangência de Evento Nacional, o SENAEL (Seminário Nacional de
Estudos Literários) abrigava, desde o início, como evento paralelo, o SELIRS (Seminário de
Estudos Literários da Região Sul), de acordo com os objetivos da LP 2, Memória e Identidade
85
Cultural, a qual buscava a valorização e estudo das manifestações culturais da região de
abrangência da URI (Norte- Noroeste do RS, em particular), e do Rio Grande do Sul em uma
perspectiva mais ampla. A partir de 2009, o evento passa a ter abrangência internacional,
convertendo-se em SINEL (Seminário Internacional de Estudos Literários), que continua
englobando o SENAEL e o SELIRS. Em 2011 criou-se o I SINELZINHO, destinado a formar
e motivar jovens leitores.
Este evento bianual teve como objetivo reunir pesquisadores, professores e estudantes
de pós-graduação e de graduação, em âmbito internacional, para socializar resultados de
pesquisas e práticas educativas na área dos estudos literários em seus diálogos com outros
campos do conhecimento. Além disso, oportunizar, aos participantes, o encontro com
escritores e pesquisadores reconhecidos nacional e internacionalmente, e também com seus
pares de diferentes programas e regiões do Brasil e do exterior, proporcionando um espaço de
discussão que aproximasse o contexto acadêmico e de pesquisa da pós-graduação Stricto
Sensu à realidade vivenciada em instituições de ensino superior e de educação básica, na
dinâmica de uma universidade que pretende ser crítica e transformadora da realidade em que
está inserida.
O primeiro seminário, realizado em 2007, teve como temática “Narrativas
Contemporâneas” e entre os convidados conferencistas destacaram-se os professores: Dr.
Dino de Sousa Del Pino (PUC), Dra. Zilá Bernd (UFRGS) e os escritores Ms. Fabrício
Carpinejar e Oliveira Silveira. No ano de 2009, com o tema “Linguagens, e identidades,
fluxos e confluências” o evento contou a participação de convidados como: profa Dra. Eneida
Maria de Souza (UFMG/CNPq), profa. Ms. Graciela Viega – (CERP/LD de Maldonado,
Uruguai), o escritor Ignacio Martínez - Montevidéu (Uruguai), profa Dra. Alai Garcia Diniz
(UFSC), Prof. Dr. Gilmei Francisco Fleck (UNIOESTE) e profa Dra. Inara de Oliveira
Rodrigues (UNIFRA). Em 2011, “Literatura e Territorialidade”, teve, entre seus convidados
escritores e artistas, além e professores pesquisadores. Entre os primeiros figuraram Altair
Martins, Ricardo Silvestrin, Clemente Pain (Uruguai), Eliane Potiguara, Ignacio Martinez
(Uruguai), José Roberto Secchi, Carlos Heráclito Neves (Kalunga) e Louis-Philippe
D‟Alembert (Haiti). Entre os professores pesquisadores figuraram docentes de múltiplas
universidades – Dra. Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves (UFJF), Dr. Cássio dos Santos
Tomaim, Dr. João Luis Pereira Ourique e Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM), Dra.
Silvina Carrizo (UFJF), Dra. Patrícia Peterle Santurbano (UFSC) - além de convidados de
renome internacional na área da Literatura Comparada: Dra. Adriana Cristina Crolla (UNL,
Asociación Argentina de Literatura Comparada), o prof. Eduardo de Faria Coutinho (UFRJ),
86
Dr. Jean Morrisset (Universidade de Quebec em Montreal) e o Dr. Daniel-Henri Pageaux
(Sorbonne). Um compêndio de Literatura Comparada, Musas na encruzilhada - ensaios de
literatura comparada, de autoria de Pageaux, organizado e produzido por docentes da URI-
Frederico Westphalen, foi lançado na ocasião, tendo sido adotado por inúmeros PPGLs no
Brasil. Assim, o evento contribuiu para afirmar o PPGL local no contexto das IES cujos
cursos possuem área de concentração em Literatura Comparada. Em 2013, a temática foi
“Travessias, Tessituras: a literatura e outros processos culturais”, com os seguintes
convidados: Dra. Alai Garcia Diniz (UFSC) Dra. Jane Tutikian (UFRGS), Dra. Juracy
Assmann (FEEVALE) e Dra. Regina DalCastagnè (Universidade de Brasília). No último
evento, “Vozes e escrituras: Confluências”, realizado em 2015, estiveram presentes os
professores: Dra.Aracy Ernst (UCPel), Dr. David Foster (Universidade do Estado do Arizona,
EUA), Dra. Maria Cristina Leandro Ferreira (UFRGS), Dra. Jane Tutikian (UFRGS), Dr.
Lizandro Carlos Calegari (UFSM), Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM) e Dra. Tânia
Mariza Kuchenbecker Rösing (UPF).
Iniciado em 2010, de maneira modesta, como desdobramento das atividades propostas
para o Novos Olhares, o Simpósio Afrocultura, Literatura e Educação veio a se transformar
em um dos mais importantes eventos de celebração da literatura e cultura negras (e, em sua
última edição, da cultura e literatura de minorias nas América) realizado no sul do Brasil.
Tinha como objetivo discutir acerca da cultura afro-brasileira e indígena, as quais compõem o
panorama cultural e histórico da formação do Brasil. Além disso, visava oportunizar a
divulgação da pesquisa em uma perspectiva regional e nacional, ampliando o espaço de
interlocução dos estudos realizados na URI e em diferentes IES representadas, através de
comunicações e lançamento de publicações. Em sua primeira edição contou já, como
convidada principal, com um dos expoentes da literatura e cultura negra no Brasil, a escritora
Conceição Evaristo, presença que veio a se repetir no evento em 2012, ao lado do professor
Amauri Mendes Pereira (UEZO/RJ). Este último proferiu a palestra inaugural do simpósio,
“Princesa Isabel, Zumbi dos Palmares e a construção historiográfica”, além de ministrar um
minicurso.
O simpósio de 2014, intitulado “Narrativas afro-brasileiras e indígenas, memórias e
ensino”, teve, como representante da narrativa indígena, a participação da palestrante,
escritora e professora Dra. Graça Graúna (Maria das Graças Ferreira) (UPE, Câmpus
Garunhuns), potiguara, nascida em São José do Campestre (RN) e membro do Grupo de
Escritores Indígenas, liderado por Daniel Munduruku. Representou as escritoras negras
Esmeralda Ribeiro. Além disso, dois distinguidos pesquisadores da literatura indígena e afro-
87
brasileira, respectivamente, Ana Lúcia Tettamanzy (UFRGS) e Eduardo de Assis Duarte
(UFMG) proferiram palestras e lançaram obras no evento.
No ano de 2016, realizou-se o IV Simpósio Afrocultura e o I Simpósio Internacional
culturas negras e indígenas nas Américas, com o tema “Literaturas, culturas e minorias”.
Objetivava tanto discutir as relações das populações negras das Américas com a cultura
negro-africana, bem como os estudos que se realizam, a partir do olhar americano (no
sentido amplo) sobre as mesmas, e também sobre outras manifestações culturais, priorizando
reflexões sobre o espaço minoritário por elas ocupado no cenário social, político e econômico.
O evento acolheu estudos acerca de outros grupos minoritários que contribuem para a
formação sóciocultural das Américas, e contou com a presença de convidados especiais como:
Prof. Dr. Alcione Correa Alves (Universidade Federal do Piauí), Prof. Dr. Mario Mejia
Huaman (Universidad Ricardo Palma, no Peru), e Prof. Dr. Wesley Grijó (UFSM), além dos
escritores Olívio Jekupé (Olívio Silva), membro do Núcleo dos Escritores e Artistas Indígenas
(NEARIM) e um dos fundadores da Associação Guarani Nae'en Porã, Susy Delgado, poeta e
palestrante paraguaia, com foco na língua e literatura em guarani, além da literatura
paraguaia; Miriam Alves, poeta, dramaturga, contista, ensaísta, romancista e palestrante afro-
brasileira de projeção internacional; Prof. Dr. Dejair Dionísio (Universidade Estadual do
Centro-Oeste do Paraná); Prof. Ms. Samba Sané (UERGS); Mamadou Aliou Diallo (bacharel
pela UCAD, Senegal) e a prof. Dra. Rita de Cássia Nadal Chaves (USP) enfocaram a cultura e
literatura negra produzida no Brasil e na África.
Ao longo desses anos, todos os eventos promovidos foram coordenados pelos
professores do Mestrado em Letras e pelos professores do Curso de Letras da URI, então
coordenado pela Professora Marinês Ulbriki Costa. Esses eventos, além de reunirem um
número expressivo de pesquisadores, fomentando e socializando o desenvolvimento da
pesquisa, estreitaram relações e parcerias, estabelecendo espaços para apresentação e
discussão de pesquisas realizadas na graduação e no Mestrado, como também o
desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa e extensão.
Outros indicadores da inserção social alcançada pelo PPGL da URI são as obras
publicadas por docentes do curso. Em decorrência das atividades dos eventos, Anais,
contendo resumos dos trabalhos apresentados, e Acta, contendo trabalhos completos
selecionados, foram organizados por professores e discentes do Mestrado e da graduação, o
que, além de incentivar a pesquisa, fomentou integração entre o PPGL e a Graduação em
Letras. Além disso, a cada evento Novos Olhares correspondeu um livro sobre a temática
desenvolvida, com contribuições de palestrantes e de pesquisadores convidados. Outros livros
88
publicados: Machado de Assis: Novos Olhares (2009), Texto Dramático (Série Novos
Olhares) (2010), Novos olhares: Clarice Lispector e Guimarães da Rosa (2012), Novos
olhares: Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade (2012), Novos olhares:
narrativas e mídias na escola (2014), e Novos olhares: leitur@, ensino e mundo digital
(2017), além das Acta e Anais dos encontros, a partir da edição de 2014, quando o encontro
passou a incluir chamadas para apresentação de trabalhos, e duas edições da Revista
Literatura em Debate (v. 17, n. 30, 2015 e v. 18, n. 31, 2016), que acolheram debates
oriundos do Simpósio Novos Olhares dos respectivos anos. Além dos livros da série Novos
Olhares, docentes do PPGL publicaram e/ou organizarem outros volumes, dentre os quais
destacam-se aqui: Entre livros e discursos: a trajetória das mulheres da Academia Brasileira
de Letras, (2018), para o qual foi obtido o selo da ABL; Memórias e discursos:
representações literárias e linguísticas nos séculos XX e XXI (2017), resultado de convênio de
cooperação URI – UNINCOR (MG), Para ler com prazer: proposições didáticas para o
ensino da literatura africana, afro-brasileira e indígena em sala de aula (2015), Brasil e
Portugal: a ditadura entre luzes e sombras (2015), fruto de convênio de cooperação entre a
URI- UESC (Bahia), Poéticas do espaço, geografias simbólicas (2013), O Quintana que
(quase) ninguém viu ( 2012), O sujeito do desejo no trama do discurso (2012),
Literatura, história, etnicidade e educação: estudos nos contextos afro-brasileiro, africano
e da diáspora africana (2011, organizado em parceria com Conceição Evaristo).
Cabe, ainda, citar um último indicador do alcance nucleador atingido pelo PPGL-
Mestrado em Letras da URI: mestres, muitos deles já doutores, ou com doutorado em curso,
que desenvolvem (ou já desenvolveram) atividades de ensino, pesquisa e extensão em
diferentes IES. Os egressos do Mestrado em Letras da URI mantêm relação ativa com o
programa, com participação em Grupos de Estudo e Pesquisa e eventos organizados pelo
PPGL. Também ministraram oficinas e minicursos em eventos promovidos pelo Curso, como
Novos Olhares e o Simpósio Afrocultura.
São, atualmente, doutorandos os seguintes egressos: Ana Lúcia Rodrigues Guterra
(UPF) e Cláudio Roberto da Silva Mineiro (UFRGS) da turma de egressos 2006; Carlete
Maria Thomé (UPF), da turma 2007, Carla Luciane Klôs Schöninger (UFRGS); egressa da
turma 2008, Solange Fernandes Barrozo Debortoli, (Universidade Tuiuti do Paraná) egressa
de 2009; Larissa Bortoluzzi Rigo (PUC-RS) e Leticia Sangaletti (UFRGS) egressas da turma
2011; Laísa Veronese Bisol (UFSM) e Rita de Cássia Dias Verdi (UPF), da turma de 2012 e
Joao Paulo Massotti (UFSM), da turma de egressos 2014.
89
Em relação à atuação profissional de egressos na docência, pode-se verificar
concentração na atuação no Ensino Superior e Básico da região de abrangência da URI,
corroborando para o sucesso do PPGL em seu objetivo de formar profissionais para o ensino,
a pesquisa e a extensão, sensíveis às solicitações e demandas do contexto regional e na
colaboração para o desenvolvimento regional. Com atuação no Ensino Superior destacam-se:
Dra. Márcia Rejane Kristiuk, professora no Instituto Federal Farroupilha, Campus FW; Dra.
Luciane Figueiredo Pokulat, professora no Instituto Federal Farroupilha, campus FW; Dr.
Rudião Rafael Wisniewski, professor no Instituto Federal Farroupilha - Campus Panambi; Dr.
Adilson Barbosa, professor da área de Letras do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul- IFRS- Câmpus de Ibirubá; Miquela Piaia, doutoranda em
Letras pela Universidade de Passo Fundo e docente no Instituto Federal Farroupilha, Câmpus
Santo Augusto-RS; Edevandro Sabino da Silva, professor efetivo do Instituto Federal
Farroupilha - Câmpus de Santo Augusto; Dra. Larissa Paula Tirloni, professora na
Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA. Dos egressos que
permanecem mestres, atuam no magistério superior: Vanice Hermel, professora efetiva na
URI, atuando na Escola de Educação Básica e na Graduação; Rita de Cássia Dias Verdi
Fumagalli, docente da FAISA Faculdades – Santo Augusto.
Larissa Bortoluzzi Rigo atuou como docente na Universidade do Oeste de Santa
Catarina; professora substituta do curso de Comunicação Social Jornalismo/Relações Públicas
da UFSM/FW e de Jornalismo/Publicidade e Propaganda da UNOESC/ São Miguel do Oeste;
Letícia Sangaletti atuou como professora substituta da UFSM/FW e atualmente é assessora de
imprensa do Poder Legislativo Municipal de Santo Ângelo e editora geral dos jornais Diário
Missões (online) e Santo Ângelo Urgente (impresso); Laísa Veroneze Bisol atuou como
docente no curso de Letras da URI e professora substituta na UFSM/FW.
Dentre os egressos que estão atuando na docência no Ensino Básico podem-se
evidenciar: Aliete do Prado Martins Santiago, professora Municipal de Cristal do Sul;
Andiara Zandoná, professora Municipal Cerro Grande, RS; Ângela de Fátima Langa,
professora Municipal de Alpestre e Ametista do Sul; Carlete Maria Thomé: integrante do
Magistério Público Estadual- SC - Assistente de Educação (EEB São Vicente); Daiane
Wildner Ott, professora da Rede Pública Estadual do RS; Gabriela Cornelli dos Santos,
professora na Rede Pública Estadual do RS; Girvani José Sulzbacher Seitel, professor da
Rede Pública de Santo Ângelo; Jaime André Klein, professor estadual em Santa Catarina;
Simone de Freitas Sanguebuche Bester, professora no Magistério Público Estadual e
90
Municipal (Coronel Bicaco, RS) e Vanderléia Skorek, professora municipal em Balneário
Camboriú-SC.
Quanto aos egressos que não estão atuando na docência, percebe-se a relevância de
atividades voltadas à área da comunicação, principalmente, do jornalismo, área afim, onde se
destacam os seguintes egressos: Camila Muller Stuelp, jornalista de veículo de comunicação,
no oeste de Santa Catarina; Luana Paula Candaten, jornalista de veículo de comunicação em
Ijuí, RS; Vanderléia de Andrade Haiski, Assessora de Relações Internacionais, na Assessoria
da Reitoria da UNIJUÍ e Adriana Folle, editora-chefe do Jornal O Alto Uruguai de FW.
Por todas essas ações, o Mestrado Acadêmico em Letras da URI elevou seu conceito
na avaliação da CAPES referente ao quadriênio 2012-2016, alcançando o conceito 4. Visto
que a avaliação da CAPES é muito criteriosa, pois leva em consideração a produção científica
dos professores, a produção em conjunto com os alunos, o número de egressos, o tempo de
formação, a infraestrutura, entre outros, a elevação do conceito representou um
reconhecimento da qualidade do curso ofertado pela URI, confirmando-o como referência na
sua área de concentração e em suas linhas de pesquisa. O resultado, divulgado em 2017,
representou um prêmio a todos aqueles que se dedicaram desde a fundação do programa, em
2006, trabalharam sempre no sentido de cumprir com as diretrizes da Capes. A obtenção do
conceito habilitaria a submissão de um projeto de doutorado; contudo, a essa data, a Direção
já havia optado pelo encerramento do curso.
Ao longo dessa trajetória, 98 dissertações de Mestrado foram produzidas e defendidas
(destas, 5 ainda não foram entregues na versão final), as quais se constituem em patrimônio
documental da URI – Câmpus de Frederico Westphalen. Este trabalho de pesquisa foi
motivado pelo desejo de refletir sobre a preservação desse patrimônio representado pelas
dissertações do Mestrado em Letras, do período de 2006 a 2019, promovendo o resgate
memorial desse patrimônio cultural social e contribuindo, assim, para o registro da história
desse curso e dos rumos das pesquisas contempladas em mais de uma década de produção
acadêmica.
As dissertações defendidas até a presente data, resultado de pesquisas realizadas por
pesquisadores e docentes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões
– URI – Câmpus de Frederico Westphalen, são consideradas como locais de memória,
vestígios de um curso que já se encontra em processo de ruptura com o passado, situação em
que deixa de haver uma memória viva, não dissociada e surge a necessidade da história.
Na sequência, far-se-á a descrição de todas as dissertações, registrando-se o nome dos
alunos ingressantes por turma, orientadores, banca de defesa, e título, seguindo-se análise, a
91
partir de quatro indicativos: objetivos, base teórica, estrutura e conclusões. O estudo foi
organizado de acordo com as linhas de pesquisa, e as turmas ingressantes a cada triênio –
2006, 2007-2009, 2010-2012, ou quadriênio: 2013-2016, e o quadriênio em curso, o qual
inclui, para efeitos dessa análise, apenas os anos de 2017 e 2018, dada a dificuldade de obter
dados de processos em curso. As demais dissertações faltantes, constam no Quadro 28, que se
encontra em anexo.
A ordem de apresentação no texto segue a ordenação cronológica das linhas de
pesquisa e suas modificações, iniciando com a análise das produções agrupadas sob a linha
que recebeu, inicialmente, mais ênfase, considerada como “Linha 1”, “Literatura, História e
Imaginário” e sua sucessora, “Literatura, História e Memória”. Segue-se a análise das
dissertações congregadas a partir das propostas da “Linha 2”: “Memória e Identidade
Cultural” e sua sucessora, “Comparatismo e Processos Culturais. Por fim, analisam-se as
dissertações da “Linha 3”, a mais recente: “Leitura, Linguagens e Ensino”.
3.2 Dissertações produzidas a partir da linha 1: Literatura, História e Imaginário
(2006) e Literatura, História e Memória (2010)
3.2.1 Linha 1: Literatura, História e Imaginário
As atividades do então PPGL Mestrado em Letras – Literatura, da URI, iniciaram em
2006, ano que correspondeu ao final do quadriênio 2004-2006. Em sua primeira turma de
ingressantes, o Mestrado em Letras da URI teve sete alunos matriculados. Destes, quatro
desenvolveram pesquisas centradas na Linha 1: Literatura, História e Imaginário, o que
equivale a uma distribuição equilibrada entre as dissertações das duas linhas de pesquisa, uma
vez que foram acolhidas pela Linha 2: Memória e Identidade Cultural, os trabalhos dos três
outros discentes. Na Figura 4, é possível observar os alunos e professores que fizeram parte da
primeira turma do Mestrado, cujo envolvimento e desafios enfrentados por esses pioneiros do
programa contribuíram expressivamente para a produção do conhecimento, desenvolvimento
da pesquisa e qualificação de futuros docentes e pesquisadores, estimulando a prática de ações
interligadas e conectadas, em sintonia com o saber em Letras e Literatura.
92
FIGURA 4- Primeira turma de ingressantes no PPGL/URI, ladeada pelas professoras Ada
Maria Hemilewski (coordenadora, à esquerda) e Denise Almeida Silva (à direita).
Fonte: Arquivo pessoal de D. A. Silva
A Linha de Pesquisa “Literatura, História e Imaginário”, segundo consta em sua
ementa, propunha-se a aglutinar pesquisas em torno dos seguintes conceitos:
Investiga o estudo das relações entre a literatura e o processo histórico, cultural e
social; a historicidade do discurso literário; a mimésis literária e interpretação da
história. As tendências teórico-críticas e a história: historiografia; história da
interpretação do discurso literário; história literária e história da história da
literatura; marxismo e literatura, psicanálise e literatura; estética da recepção, sócio-
crítica e sociologia da literatura. Concebendo-se os discursos literário e histórico
como representações, a linha de pesquisa enfatiza o campo imaginário, através da
análise e interpretação de procedimentos simbólicos e míticos da criação literária e
das atitudes socio-histórico-culturais em um período dado, em uma perspectiva
interdisciplinar que se abre a teorias e métodos da história, antropologia, sociologia,
filosofia e psicologia. (CURRÍCULO em extinção, Linha 1, 2018)
Duas mestrandas foram orientadas pelo Professor Robson Pereira Gonçalves e duas
pela Professora Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski, sendo que uma delas teve como co-
orientadora a Professora Denise Almeida Silva, conforme indica o quadro-resumo abaixo.
QUADRO 2 - Dissertações ingressantes Turma 2006 – Literatura, História e Imaginário
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/ Banca
Título da Dissertação
Daiane Morin
1. 08/08/2008
Dr. Robson Pereira Gonçalves –
Orientador/Presidente – URI; Dra. Maria Luiza Ritzel Remédios –
PUC/RS e Dra. Ada Maria Hemilewski –
URI
As naus e a
redescoberta de
Portugal: Intertexto,
paródia e carnaval no
romance português
contemporâneo
93
3. Denise de Quadros
4. 07/08/2008
Dr. Robson Pereira Gonçalves –
Orientador/Presidente – URI; Dra. Maria
Luiza Ritzel Remédios – PUC/RS e Dra.
Ada Maria Hemilewski – URI
Afetos e estranhamento
em O Ano da Morte de
Ricardo Reis
5. Maristela Schleicher
Silveira
6. 06/10/2008
Dra. Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski
- Orientador/Presidente – URI, Dra. Regina
Kohlrausch – PUC/RS e Dra. Isabel da Rosa
Gritti – URI.
Literatura e história O
memorial do
Convento: Uma
apresentação irônica das
personagens
7. Nádia Terezinha
Arzivenko Forgiarini
8. 19/01/2009
Dra. Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski
- Orientador/Presidente – URI; Dra. Denise
Almeida Silva – Co-Orientadora – URI; Dra.
Silvia Helena Pinto Niederauer - UNIFRA e
Dr. André Luís Mitidieri Pereira – URI
Intertextos míticos em
Cem Anos de Solidão
Fonte: Quadro elaborado pela autora
O QUADRO 2 mostra, através da composição das bancas, as redes de cooperação
interna e externa formadas nos anos iniciais do curso. Docente aposentado da UFSM, aonde
construíra sólida carreira acadêmica e administrativa, Robson Pereira Gonçalves estendeu à
URI as redes formadas com professores de outras IES, como a PUC, e também, como se verá
na sequência dos quadros-resumo desta LP e da LP Memória e Identidade Cultural, docentes
da UFSM. A relação com a PUC foi particularmente intensa naquele período, o que não é
surpreendente quando se considera que grande parte dos docentes integrantes das bancas (Ada
Maria Hemilewski, Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski, Silvia Helena Pinto Niederauer,
Isabel da Rosa Gritti) tiveram sua formação na PUC/RS, buscando, portanto, apoio entre
seus mestres para a constituição de bancas e a participação em outras atividades de ensino e
extensão.
As datas de defesa indicam o esforço para preservar um período considerado ótimo
para a defesa, variando de 24 meses (quatro dos sete trabalhos) a 30 meses. As primeiras
quatro defesas aconteceram de forma concentrada, ao longo de dois dias, 07 e 08 de agosto de
2008, cumprindo exatos 24 meses decorridos desde a matrícula no curso. Percebe-se, por isso,
bancas com formação idêntica (Denise de Quadros e Daiane Morin), privilegiando o
deslocamento da professora Maria Luiza Ritzel Remédios.
A primeira dissertação defendida na Linha “Literatura, História e Imaginário” foi
“Afetos e estranhamento em O Ano da Morte de Ricardo Reis”, de Denise de Quadros,
orientada pelo professor Robson Pereira Gonçalves. Defendida a 07 de agosto de 2008, a
dissertação tinha como objetivo realizar leitura do romance O ano da morte de Ricardo
Reis, de José Saramago, com foco na relação que se estabelece entre Fernando Pessoa, trazido
à vida pelo romancista, e Ricardo Reis, heterônimo de Pessoa. O romance apresenta enredo
94
que se desenvolve ao longo de nove meses, período ao longo do qual Saramago coloca frente
a frente Fernando Pessoa e seu heterônimo Ricardo Reis; os diálogos travados entre os poetas
e a relação de Reis com Lídia e Marcenda, musas das odes, tornadas personagens da trama,
são analisados por Quadros, já que são indicativos do relacionamento desenvolvido pelo poeta
e seu heterônimo da obra. Uma vez que a mestranda intentava, ainda, mostrar como José
Saramago constrói em torno de Pessoa a indicação de um pai literário, relacionando aos
estudos de Lacan sobre o Nome-do-Pai, substrato teórico para a análise é fornecido por
estudos de Sigmund Freud e Jacques Lacan no campo dos afetos, do estranhamento e do
duplo.
A dissertação foi dividida em 3 capítulos, sendo que o primeiro, sugestivamente
denominado “Na esteira das personagens”, é dedicado à descrição e análise dos heterônimos
de Fernando Pessoa. Assim, subdivide-se em três partes, cada uma das quais dá conta de um
dos heterônimos do poeta, ou seja, Alberto Caieiro, Álvaro de Campos e Fernando Reis. O
segundo capítulo, “Literatura e psicanálise”, dá conta dos conceitos-chave a serem
empregados na análise do texto de Saramago, discorrendo sobre a relação entre literatura e
psicanálise, e psicanálise e subjetividade, trazendo, em suas sete subdivisões, uma introdução
à obra de Sigmund Freud e aos estudos posteriores desenvolvidos por Jacques Lacan, com
ênfase nas questões ligadas à constituição do sujeito, ao processo de estranhamento,
simbólico, real e imaginário, à área dos afetos, ao duplo e à construção do Nome-do-Pai.. Por
fim, o capítulo 3 apresenta a análise literária propriamente dita. Subdividido em cinco seções,
o texto deixa clara a articulação da análise com a teoria anteriormente exposta, bem como a
opção por uma análise que, progressivamente, partindo da apresentação do autor, José
Saramago, e de sua obra, com o intuito de situar o texto em análise no contexto da obra, bem
como expor a construção do romance O ano da morte de Ricardo Reis (3.1 Na trama de
Saramago; 3.2 Das odes e das musas), adentra progressivamente para a teoria psicanalítica,
através dos conceitos do Nome-do-Pai e do Estranho e Afetos (3.3. Em Questa de um Pai, 3.4
Afetos em prosa e verso e 3.5 Uma estética do estranhamento).
Denise Quadros explica e resume seu plano de análise:
A produção heteronímica na obra do poeta português figura como um diálogo entre
Pessoa em relação a si próprio e ao mundo, na busca de maneiras de existência, onde
se processariam as alteridades entre o subjetivo e o objetivo, entre a sensibilidade e
o pensamento. Sendo assim, a análise da obra será direcionada sob dois eixos: de um
lado será enfocada a subjetividade, considerando o campo dos afetos como profícuo
para a compreensão do que o romancista, associado às ideias do poeta, busca
desenvolver. (QUADROS, 2008, p. 72)
95
A dissertação teve como mérito as seguintes contribuições ao estudo do romance de
Saramago: análise do simbólico, para desvendar as faces do afeto e do estranhamento, e o
registro e análise da tripla duplicação na obra de Reis, em que este, ficção de Pessoa, retorna
como ficção de Saramago, que também constrói Pessoa como ficção em seu romance,
caracterizando, assim, o que, como Quadros explica, “Freud designava como „inquietante
estranheza‟, que é essa „variedade particular do pavoroso que remonta para além que é desde
há muito tempo conhecido, desde há muito tempo familiar” (2008, p. 111); a análise da
construção da metáfora paterna – o Nome-do-Pai – não apenas como elo subjetivo que une
Reis e Pessoa, mas como indicação à importância de Fernando Pessoa no cenário literário
mundial.
Orientada, também, pelo professor Robson Pereira Gonçalves, a mestranda Daiane
Morin, defendeu, no dia 08 de agosto de 2008, a dissertação intitulada “As naus e a
redescoberta de Portugal: Intertexto, paródia e carnaval no romance português
contemporâneo”. O trabalho teve como objetivo abordar a leitura de uma das obras de Lobo
Antunes, revelando a relação existente entre ficção e tradição historiográfica, a partir da
proposta de investigar a maneira como o autor faz da ficção um instrumento de resgate,
reinterpretação e reflexão sobre um dado histórico que marcou a história portuguesa, ou seja,
a descolonização das colônias que Portugal, durante séculos, manteve sob domínio em
território africano e, consequentemente, o retorno dos portugueses ao seu país de origem. Ao
mesmo tempo, a obra empreende uma revisão e releitura do passado histórico, valendo-se da
subversão de registros historiográficos.
Uma vez que o trabalho investe na análise da metáfora, da paródia e, principalmente,
da carnavalização, investigando de que forma Lobo Antunes recorre aos mencionados
elementos no intuito de promover uma reflexão sobre a sociedade portuguesa contemporânea,
recorre a referencial teórico bastante distinto do utilizado por Denise de Quadros. Daiane
Morin recorre a autores como Mikhail Bakhtin, Peter Burke, Antonio Cândido, Tereza
Cristina Cerdeira, Linda Hutcheon, Maria Alzira Seixo e Maria Luiza Ritzel Remédios.
A dissertação foi dividida seis capítulos e uma conclusão. Os primeiros estão
agrupados sob o título geral “O início de uma viagem: As Naus e a procura de um porto para
ancorar”; a última se denomina, sugestivamente, “As Naus: Desfecho ou pausa de uma
viagem?”. Os três capítulos iniciais, “Da Revolução à Ficção: O romance português e sua
relação com a Revolução dos Cravos”; “António Lobo Antunes e a ficção portuguesa
contemporânea: inovação e transformação na escrita literária”; constituem-se em introdução
ao contexto histórico enfocado pelo romance, a seu autor, e a um conceito fundamental
96
utilizado na análise da obra, o da carnavalização. Os três outros capítulos, “Redescobrindo
Portugal sob um novo olhar: metáfora, alegoria e confronto de vozes no romance As Naus”, “
A viagem de volta: As Naus e a paródia das descobertas” e “As Naus: fantasias audaciosas e
exageros desmedidos: A carnavalização no enredo romanesco” analisam o romance, a partir
do uso da metáfora, alegoria, paródia e carnavalização.
Morin destaca, como contribuições de sua pesquisa, a compreensão de que As Naus
tornou-se, dentro da crítica literária, um exemplo fundamental de „literatura paródica‟,
correspondendo a uma narrativa marcada pelo descompromisso e pela „ótica
revolucionária‟ (MORIN, 2008, p. 99). Ao transformar e dessacralizar personagens
significativos da tradição histórico-cultural portuguesa, a paródia e carnavalização propõem a
revogação das leis, proibições e restrições que determinam o sistema e a ordem da vida
comum; ao mesmo tempo, e tal transgressão traz a valorização do ser humano, construindo
personalidades históricas com as fragilidades dos mortais, portadores, não somente de
qualidades, mas também de defeitos.
A dissertação defendida por Maristela Schleicher Silveira, intitulada “Literatura e
história no Memorial do Convento: uma apresentação irônica das personagens”, foi
defendida no dia 06 de outubro de 2008. Orientada pela professora Lionira Maria Giacomuzzi
Komosinski, enfocava outro romance de autor português contemporâneo, Memorial do
Convento, de José Saramago. Trazia, como objetivo principal, a relação entre literatura e
história presente no romance, demonstrando que ao utilizar-se de personagens históricos o
autor o faz de forma irônica, além disso, a pesquisadora explicou como a história, oficial ou
não, registra a passagem de seus heróis e como Saramago traduz ou recria estes registros.
O trabalho divide-se em três capítulos, sendo que os dois primeiros, “Literatura e
história” e “Ironia” constituem-se em longa apresentação dos conceitos que embasam a
análise dos personagens. O capítulo I subdivide-se em cinco seções, as quais apresentam a
evolução da relação literatura e história partindo do Positivismo, a forma como essa relação
ocorre para o Formalismo Russo, o Estruturalismo, New Criticism, e, finalmente, com a
Estética da Recepção, através das contribuições dos teóricos Hans Robert Jauss e Wolfang
Iser. O capítulo II, “Ironia”, conceituou o termo, caracterizando três tipos de ironia: a ironia
retórica, a ironia humoresque e a ironia romântica, e o diferente uso desse recurso na
caracterização das personagens emprestadas da História oficial, e ao povo, ao qual o narrador
dá voz, não apresentando de forma irônica. O capítulo final, “Literatura e História: Uma
abordagem irônica” traz a análise mais extensiva, quando a autora aborda como Saramago
traz para seu romance personagens históricos, como o rei D João V, a rainha D. Maria Ana da
97
Áustria e o Padre Bartolomeu Lourenço, e personagens são ficcionais, como os protagonistas
da narrativa, Baltasar e Blimunda, representantes do povo português, esquecidos pela
História.
Apesar de trazer conceito questionável acerca do discurso histórico e do literário “[...]
afirmamos que a história aborda os fatos sob a ótica dos dominantes enquanto a literatura o
faz sob a ótica dos dominados” (SILVEIRA, 2008, p. 72), o trabalho traz boa contribuição
quanto ao uso da ironia, destacando, além da diferença entre o tratamento dos personagens
históricos e ficcionais, a relevância do uso da ironia humoresque em conexão com a
construção dos excluídos, e quanto à tensão entre a vontade opressora (construção do
convento) e a vontade libertadora (construção da Passarola).
A última dissertação da LP 1 dessa turma inicial foi defendida em 19 de janeiro de
2009 pela aluna Nádia Terezinha Arzivenko Forgiarini, orientada por Lionira Maria
Giacomuzzi Komosinski, com a co-orientação de Denise Almeida Silva. A pesquisa teve
como objetivo analisar, dentre os intertextos míticos em Cem anos de solidão, de Gabriel
García Márquez, os mitos de origem, pois “o mundo de Macondo não existiria sem a
recriação de mitos fundacionais” e o mito do eterno retorno, que “relaciona-se com a evidente
circularidade do tempo em Cem anos de solidão, que apresenta, já desde o seu início, um
processo que mescla futuro e presente ao passado, como na célebre antecipação com que se
inicia o romance” (FORGIARINI, 2009, p. 13). Para alcançar esses objetivos, a mestranda
buscou, para o estudo do mito, pressupostos teóricos em Vernant, Eliade, Crippa, Burn e
Gusdorf e, percebendo a necessidade de situar esse romance no contexto da produção
romanesca latino-americana contemporânea, embasou a pesquisa em Alejo Carpentier (1985),
Bella Josef (2004), César Fernández Moreno (1979) e Regina Zilberman (1977); para
intertextualidade, Julia Kristeva (1974) e Mikhail Bakhtin (1988).
A pesquisa foi estruturada em quatro capítulos. O primeiro, “Mito: uma tentativa de
definição”, subdivide-se entre a conceituação e definição do que é mito e sua funcionalidade,
seguida da diferenciação entre consciência mítica e consciência histórica; o segundo,
“Substratos míticos para o estudo de Cem anos de solidão”, define o mito cosmogônico,
diferenciando-o de mitos de criação. Os capítulos III, “Mitos de origem em Cem anos de
solidão” e IV “O mito do eterno retorno em Cem anos de solidão”, são reservados à análise
de como esses mitos foram apropriados por Gabriel Garcia Márquez, relacionados ao tempo e
espaço de onde escreveu, e da forma como dialogam com as narrativas bíblicas e com o Popol
Vuh, livro sagrado dos maias.
98
Em sua conclusão, Forgiarini afirma que a descrição da fundação de Macondo
equivale a um mito de criação, no qual, através das repetições e recriações contínuas instaura-
se um tempo cíclico na sociedade histórica. A autora também destaca o processo de
dessacralização na obra, a qual revela um mundo desde o início imperfeito, feito à imagem e
semelhança do homem.
Percebe-se, nas primeiras dissertações produzidas pelos discentes do Curso, tendência
a centramento nas relações entre a literatura e o processo histórico e sua interpretação, bem
como nas relações entre literatura e psicanálise, privilegiando a análise dos procedimentos
simbólicos e míticos da criação literária (dissertações defendidas por Denise de Quadros e
Nádia Terezinha Arzivenko Forgiarini) e das relações entre literatura e história (dissertações
de Daiane Morin e Maristela Schleicher Silveira). As duas últimas dissertações analisavam
obras de autores portugueses contemporâneos, Lobo Antunes e José Saramago, o que revela,
ainda, outra tendência que viria a se fortalecer ao longo da história do curso: a preferência
pelo estudo de autores contemporâneos.
QUADRO 3 - Dissertações ingressantes Turma 2007 – Literatura, História e Imaginário
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca
Título da Dissertação
Edevandro Sabino da
Silva
17/09/2009
Dra. Denise Almeida Silva –
Orientadora/Presidente – URI; Dra. Rosani
Úrsula Ketzer Umbach – UFSM e Dr. Breno
Antonio Sponchiado – URI
Gaúcho farroupilha: visões e
revisões
Luciane Figueiredo
Pokulat
24/07/2009
Dr. Robson Pereira Gonçalves –
Orientador/Presidente – URI; Dra. Silvia
Helena Pinto Niederauer – UNIFRA e Dr.
André Luís Mitidieri Pereira – URI
Um olhar sobre o romance
Malandro
Fonte: Quadro elaborado pela autora
No ano de 2007 ingressaram apenas cinco alunos. Destes, dois optaram pela LP
Literatura, história e imaginário. Luciane Figueiredo Pokulat defendeu sua dissertação no dia
24 de julho de 2009. Sob a orientação do Professor Robson Pereira Gonçalves, investigou de
que forma a identidade nacional brasileira é retratada pela literatura nacional, em dois
aspectos: o carnaval e a malandragem. A análise foi feita a partir de três narrativas da
Literatura Brasileira, produzidas em três contextos sócio-históricos diferentes: Memórias de
um sargento de milícias, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter e Confissões de Ralfo
uma autobiografia imaginária. O estudo foi embasado nas teorias de Roberto DaMatta
quanto à dinâmica das relações sociais na cultura brasileira, com atenção especial ao
99
fenômeno do Carnaval; na teoria da carnavalização literária do russo Mikhail Bakhtin; no
conceito de homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda e na dialética da malandragem,
pensada por Antonio Candido.
A pesquisa foi estruturada em três capítulos, sendo que o primeiro “Por uma
Identidade Cultural” abordou o conceito de cultura e de identidade cultural, o processo de
construção das identidades, e padrões culturais brasileiros. No segundo capítulo, “Três
tempos, três obras e a manutenção de um ícone”, foram apresentados os contextos históricos
de produção das narrativas constituintes do corpus literário, sendo a figura do malandro
apresentada como ícone cultural brasileiro. No terceiro capítulo, “O Romance Malandro: do
Império à Ditadura” a análise contempla o primeiro malandro da Literatura Brasileira,
Leonardo, protagonista do romance de Manoel Antonio de Almeida, Macunaíma, protagonista
do romance homônimo de Mário de Andrade, e Ralfo, do romance de Sérgio Santanna.
O estudo confirmou que “o malandro é uma figura que sulca profundamente o
imaginário nacional” (POKULAT, 2009, p.144), proporcionando uma reflexão em torno da
sociedade que o gerou e à qual se adapta tão bem; por outro lado, a autora ressalta a
carnavalização literária, aos moldes de Bakhtin, como “ótimo instrumento para dar vida e
vigor à figura do malandro” (POKULAT, 2009, p.148).
O aluno Edevandro Sabino da Silva desenvolveu a pesquisa intitulada “Gaúcho
Farroupilha: Visões e Revisões”, a qual foi defendida no dia 17 de setembro de 2009.
Orientado pela professora Denise Almeida Silva, o trabalho teve como objetivo estudar a
representação do gaúcho farroupilha nos Contos Gauchescos, de João Simões Lopes Neto e
no romance A Prole do Corvo, de Luiz Antonio de Assis Brasil.
A dissertação foi estruturada da seguinte maneira: o primeiro capítulo, dedicado às
articulações entre história e ficção, enfoca inicialmente a ficcionalização da história e a
historicização da ficção a partir do pensamento de Paul Ricoeur e de José Saramago (e, pois,
respectivamente, das lógicas do “ver como” e do “ter sido”); estuda o discurso da história e
da ficção através das proposições de Roland Barthes e de historiadores que optaram por
rejeitar o paradigma rankeano; busca, ainda, em Jean Mukaravosky a compreensão da arte
como fato semiológico. O segundo capítulo proporciona revisão dos eventos históricos
aludidos nas obras analisadas, registrando causas e principais episódios da Revolução
Farroupilha, e a forma como esta foi mitificada; essa revisão tem base, sobretudo, nas
contribuições da historiadora gaúcha Sandra Jatahy Pesavento. Seguem-se dois capítulos
analíticos, “Blau Nunes, furriel farroupilha” e “Farroupilhas, prole de corvos”, dedicados à
análise, respectivamente, dos Contos Gauchescos e de A prole do corvo.
100
Nas conclusões, o pesquisador aponta para uma nova visão do gaúcho farroupilha em
ambos os romances, nos quais o tecido ficcional predomina sobre os fatos históricos:
Quer reinscrevendo o mito do gaúcho centauro e/ou do militar nobilitado, quer
desmitificando a aura de nobreza e heroicidade dos heróis farroupilhas, os dois
textos rompem com a concepção assimilada pelo imaginário popular, permitindo
que um amplo espaço de reflexão seja aberto (SILVA, 2009, p. 91).
De acordo com o autor, nos textos ficcionais analisados se tem a plena sensação de
que as histórias narradas privilegiam o “ter sido”, e trazem um emaranhado de acontecimentos
que de fato poderiam ter acontecido na revolução. O narrador dos contos mostra uma história
recheada de bravuras e atos heroicos, que reforça a construção mitificada do gaúcho
farroupilha. “O aprendizado do “ver como” também é exercido por Assis Brasil através da
recuperação do quotidiano dos soldados, dos fazendeiros explorados pelos comandantes
revolucionários e daqueles que exploram a revolução, enriquecendo com ela” (SILVA, 2009,
p. 89).
QUADRO 4 – Dissertações ingressantes Turma 2008 – Literatura, História e Imaginário
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Carla Luciane Klôs
Schöninger
27/08/2010
Dr. Robson Pereira Gonçalves –
Orientador/Presidente – URI; Dr. Orlando
Fonseca – UFSM e Dra. Denise Almeida
Silva – URI
A Subjetividade e as
máscaras da repetição em
Atonement: entre a culpa e
o desejo de reparação
Fabiana Garafini
27/08/2010
Dr. Robson Pereira Gonçalves –
Orientador/Presidente – URI; Dr. Orlando
Fonseca – UFSM e Dr. Lizandro Carlos
Calegari – URI
Carnavalização e
Malandragem em a Morte e
a Morte de Quincas Berro
Dágua: um retrato do
brasileiro pelo olharde Jorge
Amado
Gabriela Cornelli
dos Santos
26/08/2010
Dra. Denise Almeida Silva –
Orientadora/Presidente – URI; Dra. Heloisa
Toller Gomes – UERJ e Dr. Lizandro Carlos
Calegari – URI
Revisitando Caliban: uma
leitura de “Brazil”, de Paule
Marshall
Rudião Rafael
Wisniewski
04/11/2010
Dra. Denise Almeida Silva –
Orientadora/Presidente – URI; Dra. Eloína
Prati dos Santos – UFRGS e Dr. Lizandro
Carlos Calegari – URI
O horror como motivação:
rememoração e
individuação em The
Nature Of Blood
101
Suzana Raquel
Bisognin Zanon
20/08/2010
Dr. Robson Pereira Gonçalves –
Orientador/Presidente – URI; Dra. Silvia
Helena Pinto Niederauer – UNIFRA e Dr.
Lizandro Carlos Calegari – URI
Dona Flor e seus dois
maridos: o desejo como
princípio do avesso
Terezinha Pezzini
Soares
01/10/2010
Dr. Lizandro Carlos Calegari –
Orientador/Presidente – URI; Dr. André Luís
Mitidieri Pereira – Co-orientador – URI; Dr.
João Luis Pereira Ourique – UFPel e Dr.
Ricardo André Ferreira Martins – URI
Ibirapuitan e Província de
São Pedro: uma história da
recepção a Mario Quintana
Fonte: Quadro elaborado pela autora
O QUADRO 4 elenca os egressos do Curso no ano de 2008 na LP 1. Nesse ano, dos
nove alunos matriculados, seis optaram por essa linha. Em relação as orientações, três delas
ficaram com o professor Robson Pereira Gonçalves, duas com a professora Denise Almeida
Silva e uma com o professor Lizandro Carlos Calegari. A primeira dissertação dessa turma a
ser defendida, no dia 20 de agosto de 2010, foi “Dona Flor e seus dois maridos: o desejo
como princípio do avesso”, da aluna Suzana Raquel Bisognin Zanon. Como o trabalho de
Luciane Pokulat, a dissertação de Zanon investiga processo de carnavalização, tendo como
corpus o romance de Jorge Amado; seu alvo é estudar o universo carnavalizado e verificar
como se dá o princípio do mundo às avessas na narrativa em um romance que tem como pano
de fundo a fase ditatorial brasileira e o sistema de domínio, ordens e leis oriundas do Golpe
Militar de 1964. Além da teoria da carnavalização na literatura de Mikhail Bakthin, a
mestranda lançou mão de estudos do antropólogo brasileiro Roberto DaMatta em torno do
substrato do ritual carnavalesco e a teoria dos afetos de Sigmund Freud e de Jacques Lacan
para fundamentar seu trabalho, estruturado em três capítulos. O primeiro, “Jorge Amado:
irreverência e ideologia libertária” concentra-se na fortuna crítica sobre o autor; o segundo,
intitulado “A fonte”, na revisão do corpo teórico de base; por fim, o terceiro capítulo,
intitulado “Da fonte às entrelinhas”, volta-se à análise do romance Dona flor e seus dois
maridos.
Em suas conclusões, a autora afirma que foi possível perceber que a carnavalização
conduziu a narrativa a diálogo em que o desejo de dona Flor desencadeia a dimensão do
avesso no texto de Jorge Amado. Nesse contexto, Flor adentra o mundo ambivalente das
formas carnavalescas através de suas metades (Vadinho e Teodoro), que são transpostas ao
cerne carnavalizado do romance, ficando “[...] no entremeio entre ordem e desordem; duas
verdades, duas realidades” (ZANON, 2010, p. 134).
102
Seis dias após, no dia 26 de agosto de 2010, Gabriela Cornelli dos Santos, orientada
pela professora Denise Almeida Silva, defendeu o trabalho intitulado “Revisitando Caliban:
Uma leitura de „Brazil‟, de Paule Marshall”. O trabalho estuda o personagem Caliban, tanto
na peça A tempestade, de William Shakespeare, como no conto “Brazil” de Paule Marshall,
em uma leitura intertextual embasada pela teoria do pós-colonial e nos conceitos de
identidade cultural e espaço geográfico, elaborados por estudiosos como Stuart Hall (1996),
Thomas Bonnici (2000; 2009), Yi-Fu Tuan (2008), Dirce Suertegaray (2000). Em seu
primeiro capítulo, Santos busca as principais fontes literárias, históricas e lendárias, a fim de
esclarecer visões de Caliban construídas ao longo dos séculos. No segundo, apresentada a
releitura de Marshall da peça A tempestade, analisa as ações dos personagens, com base na
teoria apresentada. O terceiro capítulo volta-se para a crise de identidade apresentada pelo
protagonista de “Brazil”; reserva ao quarto capítulo a análise dos espaços citados na narrativa,
na qualidade de influenciadores na identidade dos sujeitos.
A pesquisadora verifica que a “reescrita e releitura são atos literários que corroboram a
teoria pós-colonial, por revidarem discursivamente o cânone ocidental. Apesar do conto não
ser considerado uma reescrita nem releitura da peça A tempestade, ele é intertextual àquele”
(SANTOS, 2010, p. 67). Percebe relações possíveis entre A tempestade e o conto, como
personagens com nomes em comum, mas ressalta a diferença de construção dos personagens:
o Caliban de Shakespeare sofre com a escravização imposta por Próspero, enfatizando
relações de conquista e poder, e a discriminação daqueles que são sujeitos ao poder imperial,
enquanto o de Marshall sofre o conflito identitário advindo da colonização da mente.
A sequência de defesas prossegue a 27 de agosto de 2010, quando Carla Luciane Klôs
Schöninger, orientada pelo professor Robson Pereira Gonçalves, defendeu sua dissertação “A
Subjetividade e as máscaras da repetição em Atonement: entre a culpa e o desejo de
reparação”. A mestranda propõe leitura do texto de Ian McEwan. Para a análise desse clássico
contemporâneo, Schöninger busca conexões entre literatura e psicanálise, esta última pelo
viés de Jacques Lacan (2005), e a partir de estudos de Giovanna Bartucci (2001), Antonio
Godino Cabas (2009) e Robson Gonçalves (2002). O primeiro capítulo: “Ian McEwan: de
Macabre a um escritor que dispensa reparos” apresenta o autor; o segundo, subdividido em “A
subjetividade e as máscaras do discurso repetitivo” e “Desejo de reparação e a representação
dos afetos”, detém-se nas relações entre a Psicanálise e a Literatura. O terceiro e último
capítulo compreende a análise do texto Atonement. O estudo sublinha o valor das concepções
psicanalíticas sobre a questão da subjetividade, os afetos e do próprio fazer literário como
bases teóricas para a compreensão da narrativa; avalia como a percepção do erro e da culpa se
103
dá através do fator moral, o que impede o abandono da punição do sofrimento, e ressalta,
ainda, o conflito da protagonista, “[...] comparada ao sujeito moderno, que está vivendo um
conflito interno e pensa somente em si mesma” (SCHÖNINGER, 2010, p. 131).
Ainda outra dissertação, orientada pelo professor Gonçalves, associada à
carvanalização, à malandragem e à obra de Jorge Amado, e embasada nos postulados de
Bakhtin e DaMatta foi defendida no mesmo dia, 27 de agosto de 2010. O trabalho, intitulado
“Carnavalização e Malandragem em A Morte e a Morte de Quincas Berro D´água: Um
retrato do brasileiro pelo olhar de Jorge Amado”, de Fabiana Garafini, busca nos
“personagens traços de caráter do homem brasileiro, cidadão que o senso comum qualificou
como portador de características que o identificam especialmente com o carnaval e a
malandragem” (GARAFINI, 2010, p. 9). Dividido em três capítulos, o estudo dedica o
primeiro ao estudo da bibliografia sobre o autor e a obra; o segundo revisa os pressupostos
teóricos, e o terceiro estuda as características da carnavalização inseridas no romance em
estudo, de forma a perceber em que medida o protagonista contribuiu para reforçar o ícone do
malandro – com suas influências sociais de negatividade e anti-heroicidade – no imaginário
da sociedade brasileira.
Garafini conclui pela institucionalização da carnavalização e da malandragem na
cultura brasileira, sendo o romance de Amado uma das manifestações de tal conduta:
“conclui-se que tanto a teoria da carnavalização com suas características, quanto a
malandragem são traços identitários da cultura brasileira e vêm permanecendo há anos no
país” (GARAFINI, 2010, p. 101).
No dia 01 de outubro de 2010, Terezinha Pezzini Soares apresentou sua pesquisa
“Ibirapuitan e Província de São Pedro: Uma História da recepção a Mario Quintana”, para a
banca composta pelo seu orientador, professor Lizandro Carlos Calegari, co-orientador
professor André Luís Mitidieri Pereira, e pelos professores João Luis Pereira Ourique (UFPel)
e Ricardo André Ferreira Martins (URI). O trabalho teve como objetivo registrar a poesia de
Mario Quintana nos periódicos Ibirapuitan, da cidade de Alegrete, e Província de São
Pedro, de Porto Alegre, procurando desvendar, através da estética da recepção, como as
leituras desses poemas impulsionaram a carreira do poeta gaúcho. O trabalho busca o
pensamento de Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser para elaboração do seu embasamento,
expondo-o em seu primeiro capítulo, “A estética da recepção: considerações sobre as obras de
Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser”. No segundo capítulo. “A crítica a Quintana e os
primeiros quintanares”, apresenta a repercussão do movimento modernista de 1922 e sua
influência na temática do poeta alegretense, elaborando um estudo da recepção aos textos de
104
Quintana publicados na revista Ibirapuitan, do período de janeiro de 1938 a dezembro de
1939. O terceiro capítulo, “Quintana e a Província de São Pedro”, aponta os poemas de
Quintana editados na revista em apreço no espaço de tempo de 1945 a 1951, e sua recepção
junto aos leitores.
Em suas conclusões, a autora destaca a importância desses textos pioneiros e sua
recepção, “pois a partir do momento em que os poemas começaram a serem lidos, a obra de
Quintana passou a ser conhecida e valorizada, sendo o poeta incentivado a publicar o seu
primeiro livro, A rua dos cataventos, em 1940” (SOARES, 2010, p. 125).
Rudião Rafael Wisniewski encerrou as defesas dos ingressantes 2008 na LP -
Literatura, História e Imaginário, apresentando, no dia 04 de novembro de 2010 o trabalho “O
horror como motivação: rememoração e individuação em The nature of blood”, com
orientação da professora Denise Almeida Silva. O objetivo da dissertação foi investigar como
e por que, no romance de Caryl Phillips, é representado o horror em contextos extremos como
o genocídio e a discriminação racial; considera, ainda, o papel que a rememoração e a
individuação desempenham na representação do horror no romance, averiguando de que
forma o preconceito está presente nos diferentes contextos a partir dos quais o judeu e o negro
são representados na obra. Para atingir os objetivos deste trabalho, o autor busca teóricos para
compreender a capacidade humana de perpetrar o mal a seres possuidores da mesma natureza.
Assim, o primeiro capítulo apresenta os conceitos de “banalidade do mal”, tal qual proposto
por Hannah Arendt, bem como os conceitos de vitimização, imputação, individuação,
rememoração, entre outros, estudados por Paul Ricoeur; demora-se, ainda, na memória
individual e memória coletiva, a partir do pensamento de Maurice Halbwachs. O segundo
capítulo preocupa-se com a compreensão da intricada estrutura do romance, indispensável
para o estudo da narrativa, buscando apoio, para a análise da forma, nos postulados de Walter
Benjamin e Theodor Adorno, bem como do discurso da narrativa em Gérard Genette. O
terceiro capítulo retoma os conceitos teóricos, aplicando-os à análise dos personagens.
Wisniewski (2010, p. 5) observa que The nature of blood desperta a reflexão do
leitor, “o qual entende que os horrores sofridos e perpetrados no decorrer da História devem
servir de motivação para a construção de um mundo em que se busque compreender as
relações humanas, respeitando o direito de todos”. Ademais, o autor enfatiza que “a dor
causada pela rememoração do horror por parte de quem realmente a sentiu tende a criar uma
espécie de fluxo de consciência, possível de ser controlada apenas com muito esforço”
(WISNIEWSKI, 2010, p. 104). Dessa maneira, a rememoração do horror como fim,
“destinada à prevenção do preconceito e do mal por ele provocado, através das histórias
105
narradas, em The nature of blood, atinge realmente seus objetivos, constituindo-se em eficaz
advertência contra essas práticas” (WISNIEWSKI, 2010, p.108).
QUADRO 5 – Dissertações ingressantes Turma 2009 – Literatura, História e Imaginário
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Fabio Martins
Moreira 16/12/2011
Dr. Lizandro Carlos Calegari –
Orientador/Presidente – URI;
Dra. Nelci Müller – URI e Dr.
Marcelo Marinho – URI
O cânone literário brasileiro: preconceito
e eugenia em o Presidente Negro, de
Monteiro Lobato
Grasiela Lourenzon
de Lima 19/08/2011
Dr. Marcelo Marinho –
Orientador/Presidente – URI;
Dr. Cássio dos Santos Tomaim
– UFSM e Dr. Lizandro Carlos
Calegari – URI
Literatura comparada e tradução
intersemiótica: O tema da violência
urbana em O Matador e O Homem do
Ano
Karine Studzinski
Kerber 16/08/2011
Dr. Lizandro Carlos Calegari –
Orientador/Presidente – URI;
Dra. Márcia Ivana de Lima e
Silva – UFRGS e Dra. Denise
Almeida Silva – URI
Literatura, homoerotismo e crítica social:
a perspectiva queer em Caio Fernando
Abreu
Sandra de Fátima
Kalinoski 16/08/2011
Dr. Lizandro Carlos Calegari –
Orientador/Presidente – URI;
Dra. Márcia Ivana de Lima e
Silva – UFRGS e Dr. Breno
Antônio Sponchiado – URI
As cicatrizes da censura: Memória,
melancolia e fragmentação na ficção
brasileira Pós-64
Solange Fernandes
Barrozo Debortoli
26/08/2011
Dra. Nelci Müller –
Orientadora/Presidente – URI;
Dr. Pedro Brum Santos – UFSM
e Dr. Lizandro Carlos Calegari –
URI
A (Des) Construção narrativa como forma
de representação da sociedade de
espetáculo em Eles eram muitos cavalos,
de Luiz Ruffato
Viviane Catarina
Marconato Stringhini
25/10/2011
Dra. Denise Almeida Silva –
Orientadora/Presidente – URI;
Dr. André Luís Mitidieri Pereira
– UESC e Dr. Lizandro Carlos
Calegari – URI
A problematização do conceito de lar no
contexto da diáspora africana em Coming
home, de June Henfrey
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A turma que ingressou no ano de 2009 teve sete alunos matriculados. Esse ano
correspondeu ao último ano de ingresso nas linhas de pesquisa “Literatura, História e
Imaginário” e “Memória e Identidade Cultural”. Destes ingressantes, seis alunos optaram pela
LP 1, com três orientações do professor Lizandro Carlos Calegari, uma do professor Marcelo
Marinho, uma da professora Denise Almeida Silva e uma da professora Nelci Muller.
106
Duas dissertações, redigidas pelas mestrandas Karine Studzinski Kerber e Sandra de
Fátima Kalinoski, defendidas no dia 16 de agosto de 2011, ambas sob a orientação do
professor Lizandro Carlos Calegari, tornaram-se as primeiras dissertações a serem defendidas
da turma 2009. O trabalho de Kerber, “Literatura, Homoerotismo e Crítica Social: A
Perspectiva Queer em Caio Fernando Abreu”, teve como objetivo analisar alguns contos de
Caio Fernando Abreu extraídos das obras Morangos mofados (1982) e Os dragões não
conhecem o paraíso (1988), considerando a perspectiva da teoria queer e utilizando, para
isso, referenciais sobre a questão do homoerotismo, escritos por autores como Michel
Foucault, David William Foster, João Silvério Trevisan, Guacira Lopes Louro, Judith Butler e
Anthony Giddens.
Para atender a proposta, o trabalho foi dividido em três capítulos, segmentos básicos,
cada qual com seus subcapítulos: “Construções sociais da sexualidade: heterossexualismo e
homossexualismo na história e na literatura”; “Literatura e homoerotismo no Brasil” e “A
perspectiva queer em Caio Fernando Abreu”. No primeiro capítulo, são apresentados três
ângulos de abordagem: resgate da história da sexualidade, a propósito do heterossexualismo e
do homoerotismo; a crítica queer e seus apontamentos teóricos; no segundo discute-se a
presença do homoerotismo no Brasil e na literatura brasileira; no terceiro, adotam-se quatro
eixos de análise, a cada um dos quais se vincula o estudo de dois contos de Abreu:
caracterização das personagens queer; queer e corpo; iniciação sexual e homoerotismo e
homofobia e exclusão social.
Em suas conclusões Kerber (2011) constata que a sociedade, “não está preparada para
aceitar o novo, para romper barreiras, reestruturar conceitos, reavaliar concepções e pensar o
significado de ser humano” (KERBER, 2011, p. 202). A violência e o preconceito são
justificados e recebem muitas vezes o apoio de instituições sociais que, em sua intolerância,
inflexibilidade e ignorância, não são capazes de compreender as diferenças e de respeitar a
pluralidade sexual e o direito de cada um escolher a sua forma de sexualidade.
No mesmo dia, Sandra de Fátima Kalinoski traz à defesa o tema “As cicatrizes da
censura: Memória, melancolia e fragmentação na ficção brasileira Pós-64”. O trabalho teve
como objetivo principal investigar como as práticas autoritárias do período ditatorial são
representadas na Literatura Brasileira, verificando aspectos como a problemática da memória
e do esquecimento, a melancolia dos protagonistas e, consequentemente, a fragmentação da
narrativa - o esforço de ambos para narrar suas experiências em relação ao sistema opressor e
a dificuldade encontrada para fazê-lo diante da problemática da memória e da perturbação
psicológica. O corpus do estudo foi formado por duas narrativas surgidas em meio ao
107
contexto histórico ditatorial: Quatro-olhos, de Renato Pompeu, publicada em 1976, e Em
câmara lenta, de Renato Tapajós, lançada em 1977. Referenciais da teoria literária, da
história e da psicanálise, com autores como Walter Benjamin, Theodor Adorno e Sigmund
Freud, embasaram o trabalho, organizado em três capítulos. Inicialmente dá conta do contexto
histórico e social pós-64, bem como os rumos tomados pela ficção brasileira nesse período; o
segundo capítulo trata da produção literária enquanto escrita da dor, e a relação entre ficção,
história e testemunho; o terceiro, analítico, reflete acerca da memória, da melancolia, do
trauma e da fragmentação.
Kalinoski (2011) conclui que os procedimentos narrativos em Quatro olhos e Em
câmara lenta incorporam a dimensão histórica coletiva da época, além de testemunhar,
acusar e condenar a história do país, “uma história comum a todos ou a muitos. Na medida em
que dão testemunho, os protagonistas de ambos os romances fazem-se ouvir enquanto
detentores de um saber que deveria ser de todos, mas que nem sempre é exposto pela versão
oficial da história” (KALINOSKI, 2011, p. 147). Particularidades “como a memória, o
esquecimento, a melancolia, o trauma e, consequentemente, a fragmentação narrativa,
articulados, fornecem uma ampla visão de como a situação política autoritária influenciou
diretamente nas formas de manifestação artísticas da época” (KALINOSKI, 2011, p. 148).
Solange Fernandes Barrozo Debortoli defendeu, no dia 26 de agosto de 2011, o
trabalho intitulado “A (des)construção narrativa como forma de representação da sociedade de
espetáculo em Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato”, sob a orientação da professora
Nelci Muller. Tal pesquisa teve como objetivo geral interpretar os movimentos da vida urbana
representados nos “desmontes” da tessitura fragmentada da narrativa, a qual desestabiliza o
olhar do leitor, com o intuito de voltar a atenção ao conflito do ser humano na era da
tecnologia, globalização, consumo e aceleração, estabelecendo um paralelo entre a
(des)construção narrativa e vida urbana segmentada. Para fundamentação da pesquisa, o
estudo, em três capítulos, teve como viés teórico as ideias de Zygmunt Bauman, Guy Debord;
revê conceitos de modernidade e pós-modernidade e a concepção de “Modernidade Líquida”,
estuda os diálogos possíveis entre o mal estar contemporâneo e a forma narrativa “ruffatiana”,
com destaque para operadores de leitura como: forma, tema, enredo, narrador, e demais
operadores imersos no decorrer das análises, e passa a analisar as personagens e seu entorno,
esboçando, ainda, algumas ponderações sobre a gigantesca São Paulo do século XXI e seu
protagonismo nesta narrativa.
Para a pesquisadora, a realização desse trabalho “como forma e conteúdo de
representação da sociedade do espetáculo [...] possibilitou um melhor entendimento sobre os
108
tempos atuais e, também, esclareceu questionamentos a respeito da inquietante narrativa
contemporânea de Ruffato” (DEBORTOLI, 2011, p. 114). A narrativa instiga uma “reflexão
crítica sobre os conflitos socioculturais da atualidade, enfocando, dilemas do cotidiano, de
figuras reais que também se deparam com a questão da fragmentação ou perda da identidade”
(DEBORTOLI, 2011, p. 115), pois “as desigualdades, inferidas na obra, pela voz ou ações das
personagens, inscritas num eixo temporal que vai da infância à maturidade, são frutos não
somente das relações econômicas, sociais, políticas, mas também culturais” (DEBORTOLI,
2011, p. 116).
A dissertação de Fabio Martins Moreira, defendida no dia 16 de dezembro de 2011,
“O cânone literário brasileiro: preconceito e eugenia em O Presidente Negro, de Monteiro
Lobato”, com orientação do professor Lizandro Carlos Calegari, teve como objetivo avaliar a
marginalização do negro no cânone e na obra em questão. Para tanto, foram buscados
elementos históricos e sociológicos que explicitam as bases de fundação do cânone literário
brasileiro; as abordagens da pesquisa passaram por uma revisão crítica sobre Monteiro
Lobato: sua fortuna crítica e envolvimento com as ciências eugênicas, e o modo como seus
personagens negros são apresentados em sua obra. Por fim, estuda o livro O presidente
negro, seus temas e associações com teorias de superioridade racial, bem como suas ligações
com o poder nos critérios de canonização, questionando os padrões de canonização aplicados
na literatura brasileira.
Moreira conclui que um período literário tem em sua “caracterização elementos que
atendem à classe política dominante e aos representantes intelectuais ligados ao grupo
burguês. O autor ou a obra que não se adapta aos moldes impostos permanece afastado do
cânone e legado ao esquecimento” (MOREIRA, 2011, p 125). A obra de Monteiro Lobato,
além de extensa, é polêmica, pois por trás da inocência de seus personagens infantis, existem
muitas evidências racistas. De acordo com o autor “o pensamento racista sempre fez parte de
Monteiro Lobato e foi nos eugenistas que ele encontrou a teoria para desenvolver suas ideias e
aplicá-las em sua literatura” (MONTEIRO, 2011, p. 128).
Grasiela Lourenzon de Lima, no dia 19 de agosto de 2011, defendeu sua pesquisa
intitulada “Literatura Comparada e tradução intersemiótica: o tema da violência urbana em O
matador e O homem do ano”, sendo sido orientada pelo professor Marcelo Marinho. Sua
dissertação objetivava analisar a representação da violência urbana nas artes, por meio da
leitura comparativa de dois textos que pertencem a campos semióticos distintos: o thriller
romanesco O matador (1995), de Patrícia Melo, e sua adaptação fílmica O homem do ano
(2003), de José Henrique Fonseca. Entre os autores que embasam teórica e
109
metodologicamente a pesquisa, destacam-se: Antonio Candido, Daniel-Henri Pageaux, Fábio
Messa, Ismail Xavier, Julio Plaza, Karl Erik Schøllhammer, Luiz Zanin Oricchio, Randal
Johnson e Tânia Pelegrini. Como tantas outras, a dissertação se estrutura em três capítulos,
passando dos aspectos teóricos sobre literatura comparada, tradução intersemiótica e violência
urbana.
Registrando que, “em uma tradução intersemiótica, é preciso considerar as
especificidades de cada signo que está sendo analisado” (LIMA, 2011, p. 96), a autora
constata que “o filme de José Henrique Fonseca mantém o eixo norteador do livro O
matador: a violência como meio de ascensão social. O processo de adaptação ressignifica
esteticamente a fonte original e reforça sua crítica social” (LIMA, 2011, p. 98). A estética da
violência se consolida na ficção porque, cada artista busca alternativas para capturar a
violência do mundo factual e traduzi-la para o universo fictício. Quando produzidas, “essas
obras assumiram um compromisso social e estético com o seu tempo” (LIMA, 2011, p. 99).
Viviane Catarina Marconato Stringhini, sob orientação da professora Denise Almeida
Silva, apresentou, no dia 25 de outubro de 2011, a dissertação “A problematização do
conceito de lar no contexto da diáspora africana em Coming home, de June Henfrey”, a qual
objetivou investigar o conceito de lar no contexto da história da diáspora africana no Caribe,
através da análise de contos da coletânea Coming home and other stories, de June Henfrey
(1994). Ao longo de três capítulos, a discente investiga se o negro, mesmo escravizado, ou
sendo alvo de discriminação e preconceito, é representado como um sujeito agente, capaz de
construir (ou optar por desconstruir), material ou imaginativamente, um espaço a que possa
chamar de lar, mesmo em face de fatores sociais e afetivos adversos. Fundamentação teórica é
encontrada em Stuart Hall (2009), Thomas Bonnici (2009), William Saffran (1994), Paul
Gilroy (2001) e James Clifford (1994); especificamente quanto aos conceitos de território e
lar, busca autores como Henri Lefebvre (2009), Anthony Giddens e Claude Raffestin, Rogério
Haesbaert, Marcos Saquet (2004) e Eva Hoffman (1999); as ligações entre memória,
identidade e espacialidade são apoiadas nos estudos de Émile Durkheim (1970), Maurice
Halbwachs (2006, 1990) e Michael Pollak (1992).
Ao concluir o trabalho, Stringhini (2011) menciona que “os contos trazem,
recorrentemente, a representação da diáspora como um movimento de migração forçada, na
qual milhares de escravos foram transportados de diferentes ilhas, suportando e se
submetendo às mais desprezíveis situações que se possa imaginar” (STRINGHINI, 2011, p.
103), tornando-se essencial para a pesquisa pensar pertencimento à luz da diáspora, para
compreender como a construção do sentido de lar é afetada em tais circunstâncias. De acordo
110
com a pesquisadora, “escravidão e preconceito também dificultam pensar em lar a partir das
conotações evidentes na etimologia latina, como domus, lugar de domesticidade, valores
associados à família, simplicidade e paz” (STRINGHINI, 2011, p. 106).
Ao final do segundo triênio de andamento do Mestrado em Letras, correspondente ao
período 2007-2009, pode-se verificar que as orientações foram bem divididas entre os
professores. De um total de quatorze concluintes, quatro foram orientados pela Professora
Dra. Denise Almeida Silva, contando como membros externos, além de sua orientadora,
Eloína Prati dos Santos (UFRGS), professores oriundos da UERJ, UFSM e UESC, o que já
denota a formação de redes de cooperação para além da esfera de sua formação inicial. O
professor Dr. Robson Gonçalves Pereira, orientou quatro trabalhos destacando a presença do
professor Dr. Orlando Fonseca (UFSM) em duas de suas bancas, sendo ambas na mesma data.
O professor Dr. Lizandro Carlos Calegari, orientou quatro dissertações nesse período
destacando a presença da professora Márcia Ivana de Lima e Silva (UFRGS) em duas bancas
no mesmo dia. Um dos trabalhos foi orientado pela professora Dra. Nelci Muller, que
convidou a participar de sua banca o professor Dr. Pedro Brum Santos (UFSM) e uma pelo
professor Dr. Marcelo Marinho que contou com a presença do professor Dr. Cássio dos
Santos Tomain (UFSM).
Percebe-se, ainda, a articulação em torno dos projetos individuais dos pesquisadores: o
apoio de base psicanalítica, com Freud e Lacan, bem como a recorrência de pesquisas sobre o
romance malandro e a carnavalização, em trabalhos orientados pelo professor Robson Pereira
Gonçalves; questões relacionadas à memória e identidade pessoal e nacional, com apoio
teórico de autores como Ricouer, Halbwacks, Pollak e Renan em trabalhos orientados por
Denise Almeida Silva. A chegada do professor Lizandro Carlos Calegari adicionou, aos
rumos da pesquisa, a preocupação com os marginalizados, a perspectiva Queer e a
investigação sobre a violência, especialmente a verificada no período ditatorial brasileiro.
Quanto às obras literárias estudadas, continua a preferência por autores
contemporâneos, como Luiz Ruffato e Patrícia Mello, ou os “clássicos”, autores canonizados
como Jorge Amado e até Monteiro Lobato. Ocorre, também, a primeira análise comparativa
entre um texto literário, O matador de Patrícia Mello e sua adaptação fílmica, O homem do
ano de José Henrique Fonseca, orientada pelo professor Marcelo Marinho.
Destaca-se ainda, que com o final desse triênio encerrou-se o ingresso de alunos na LP
– Literatura, História e Imaginário, pois a partir do ano 2010, essa linha deu lugar à LP
Literatura, História e Memória, resultado da fusão entre a LP 1 e LP 2 – Memória e
Identidade Cultural, como já mencionado no decorrer do trabalho.
111
3.2.2 Linha 1: Literatura, História e Memória
No ano de 2010, primeiro ano do segundo triênio de funcionamento do Mestrado em
Letras (2010-2012), houve reformulação nas Linhas de Pesquisa, com a criação da Linha de
Pesquisa “Literatura, História e Memória”, resultante da fusão das duas Linhas de Pesquisa
existentes até então, “Memória e Identidade Cultural” e “Literatura, História e Imaginário”.
Segundo consta em sua ementa, a LP concentra estudos em torno dos seguintes conceitos:
Investiga as relações entre a literatura, a história e a memória, em suas interfaces
com o mito, a retórica, a filosofia, a antropologia etc. Analisa os discursos
poético/literário e histórico, entendendo-os como constructos socioculturais e
privilegiando a mimese, a constituição dos modos e gêneros literários, bem como os
marcos da ciência histórica. Estuda as principais correntes historiográficas, a história
da literatura, a crítica, a história e a historiografia literárias, as teorias da literatura e
a ficcionalidade enquanto elemento caracterizador da representação literária. Inclui a
flexibilização do cânone oficial, enfocando as minorias tanto no papel de
personagens quanto no de produtores dos discursos. Aborda o fenômeno da
memória, detendo-se nas memórias individual, coletiva, involuntária e cultural.
Compreende ainda o espaço (auto)biográfico, no âmbito da autobiografia, da
biografia, das confissões, do diário íntimo, da epistolografia, das memórias e/ou
gêneros aproximados. (CURRICULO, Linha 1, 2018)
O Quadro 6 apresenta os primeiros alunos ingressantes na nova LP – Literatura,
História e Memória. A turma teve sete alunos matriculados, sendo que cinco optaram por essa
LP, sendo orientados pelos seguintes professores orientadores: Denise Almeida Silva, Robson
Pereira Gonçalves, Marcelo Marinho, Lizandro Carlos Calegari e Ana Paula Teixeira Porto.
QUADRO 6 – Dissertações ingressantes Turma 2010 – Literatura, História e Memória
Nome/Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Gustavo
Menegusso
30/08/2012
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Fernando
de Moraes Gebra - UNILA e Dra.
Maria Thereza Veloso –URI
O duplo narciso: O herói da
modernidade em O retrato de
Dorian Gray, de Oscar Wilde e
Esfinge, de Coelho Neto
Neides Marsane
John Bolzan 31/08/2012
Dr. Robson Pereira Gonçalves – URI
Orientador/Presidente; Dra. Silvia
Helena Pinto Niederauer; Dra. Luana
Teixeira Porto - URI.
A representação dos afetos em Amar,
verbo intransitivo, de Mário de
Andrade
Rosemeri
Aparecida Back 01/11/2012
Dr. Marcelo Marinho - URI
Orientador/Presidente; Dr. Gilmei
Francisco Fleck - UNIOESTE e Dra.
Luana Teixeira Porto - URI.
Vozes femininas, literatura, história e
memória: A doce canção de
Caetana, de Nélida Piñon, e Eva
Luna, de Isabel Allende
112
Vanderléia de
Andrade Haiski 28/06/2013
Dr. Lizandro Carlos Calegari – URI
Orientador/Presidente; Dra. Rosani
ketzer Umbach – UFSM e Dra. Silvia
Helena Pinto Niederauer – URI.
Trauma, memória e narrativa em The
pawnbroker, de Edward Lewis
Wallant, e Quero viver... memórias
de um ex-morto, de Joseph
Nichthauser: comparações e
intersecções
Vanessa Fritzen
31/01/2013 Dra. Ana Paula Teixeira Porto - URI
Orientadora/Presidente; Dr. Silvia
Niederauer e Dra. Maria Thereza
Veloso - URI.
Literatura, história e memória em O
último voo do flamingo, de Mia
Couto
Fonte: Quadro elaborado pela autora
Ao defender sua dissertação “O duplo Narciso: O herói da modernidade em O Retrato
de Dorian Gray, de Oscar Wilde e esfinge, de Coelho Neto” no dia 30 de agosto de 2012,
sob a orientação da professora Denise Almeida Silva, Gustavo Menegusso tornou-se o
primeiro aluno a defender um trabalho na LP – Literatura, História e Memória. Menegusso
propunha reflexão acerca da representação do herói da modernidade na literatura fantástica,
considerando elementos como a manifestação do duplo, a fragmentação do herói e a
percepção da modernidade presente nos personagens principais das referidas obras.
A pesquisa foi organizada em três capítulos. O primeiro contrasta o herói clássico e o
herói moderno, bem como das mudanças ocorridas nas artes em geral, principalmente na
literatura e na pintura, na modernidade, tanto na Inglaterra como no Brasil, enfocando, pois, o
período vitoriano tardio, e a belle époque no Brasil. O capítulo apresenta pesquisa apoiada no
pensamento de Georg Lukács, Mikhail Bakhtin, Walter Benjamin, Theodor Adorno, Anatol
Rosenfeld, Charles Baudelaire e Marshall Berman. O segundo capítulo detém-se nos
conceitos de fantástico e do duplo, com suporte nos estudos de Tzevetan Todorov, Selma
Calasans Rodrigues, Louis Vax, Sigmund Freud, Afrânio Coutinho, Paulo Leminski, Nicole
Fernandez Bravo, Otto Rank, Clément Rosset e Ana Maria Lisboa de Mello. O capítulo final,
“O herói da modernidade em O retrato de Dorian Gray e Esfinge” analisa as obras à luz dos
conceitos estudados, e aponta diálogo intertextual entre esses romances.
Para Menegusso, as obras em análise, no limiar entre o mundo natural e o
sobrenatural, ao tematizar o desdobramento de personalidade e o duplo, representam e, ao
mesmo tempo, criticam a sociedade moderna e os indivíduos que dela fazem parte. É notória,
nas obras, a busca de identidade como manifestação de crise identitária que se instaura no
momento histórico em que o sujeito se descentra, perdendo o sentido de si. O mestrando
percebe no duplo a possibilidade de “trazer à tona discussões intrínsecas à identidade do
sujeito moderno. Assim, esse processo de duplicidade e/ou desdobramento corresponde a um
113
processo de se autoconhecer, permitindo através da relação com o outro a busca do
conhecimento sobre si mesmo” (MENEGUSSO, 2012, p. 120).
Um dia após a defesa de Gustavo Menegusso, no dia 31 de agosto de 2012, Neides
Marsane John Bolzan apresentou sua dissertação “A Representação dos afetos em Amar,
verbo intransitivo, de Mário de Andrade”. O trabalho, com orientação do professor Robson
Pereira Gonçalves, objetiva refletir acerca da relação entre literatura e psicanálise,
evidenciando a manifestação dos afetos em Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade
(2008). Sigmund Freud, Jacques Lacan, Roland Barthes, Thomas Bonicci e Jean Michel
Palmier embasam as reflexões sobre psicanálise e literatura. Partindo, no primeiro capítulo,
da fortuna crítica e contexto histórico em que a obra foi publicada, o estudo aborda, no
segundo capítulo, a teoria dos afetos, caracterizando pulsão, desejo, satisfação e gozo; o
terceiro capítulo apresenta uma das leituras possíveis do romance, a partir da Teoria dos
Afetos.
Nas considerações finais, Bolzan explicita que a obra é uma narrativa que contempla
um grande número de representações afetivas e objetiva revelar os sentimentos da sociedade
paulistana da década de 20, “manifestando os estados emocionais delas, mas representados
pelos personagens. Percebe-se, assim: tristeza, ciúme, ansiedade, vergonha, orgulho,
indiferença, desprazer, remorso, luto, fingimento, saudade, rancor, pânico, ódio” (BOLZAN,
2012, p. 100). A autora enfatiza que a obra tece considerações acerca dos valores humanos,
caracterizando-se como patrimônio cultural da humanidade, expresso em forma de memória.
A discente Rosemeri Aparecida Back fez a defesa de sua dissertação no dia 01 de
novembro de 2012, com o trabalho intitulado “Vozes femininas, literatura, história e
memória: A doce Canção de Caetana, de Nélida Piñon, e Eva Luna, de Isabel Allende”. Seu
orientador foi o professor Marcelo Marinho e o objetivo da pesquisa era estudar as
representações literárias do poder e do corpo, no plano das vozes poéticas femininas nas obras
acima citadas, considerando o papel social da mulher, contexto histórico, conflitos de gênero
e luta pela libertação feminina, elementos observados nas principais personagens dos textos
em estudo. A pesquisa leva em consideração as relações entre Literatura, História e Memória
e entre os autores que alicerçam este trabalho destacam-se Daniel-Henri Pageaux, Pierre
Bourdieu, Gerda Lerner, Michel Foucault, Elódia Xavier, Jacques Le Goff e Maurice
Halbwachs.
O primeiro capítulo, “Advento e escrita literária da consciência feminista: vozes da
memória, percursos da história”, apresenta reflexões sobre memória, elemento essencial para
a materialização das reminiscências que servirão para o reconhecimento das vozes femininas
114
e história; o segundo capítulo, “Isabel e Nélida: vozes femininas e releituras da História da
América Latina”, traz investigações relacionadas às ditaduras militares na América Latina e à
escrita feminina, no Chile, na Venezuela e no Brasil, países a que se referem as escritoras e os
romances em estudo, bem como uma exposição acerca da escrita feminina nas vozes de Isabel
Allende e Nélida Piñon. “Eva, Caetana e a sociedade patriarcal: memória, sexualidade e
contrapoder”, terceiro capítulo, analisa os romances em conformidade com: memória, corpo e
sexualidade, patriarcalismo e contrapoder.
Ao concluir a pesquisa, Back revela que a leitura comparatista das obras revela várias
possibilidades de interpretação; para a autora, estudos feministas contribuem “para o
aniquilamento dos modelos tradicionais, pois estimulam métodos novos de produção, análise
e pesquisa no que tange à literatura e à crítica” (BACK, 2012, p. 97). As personagens
protagonistas de A doce canção de Caetana, de Nélida Piñon e Eva Luna, de Isabel Allende
“são resultado de um regime patriarcal e autoritário, entretanto, de forma alguma representam
vozes femininas oprimidas e vitimadas” (BACK, 2012, p. 98).
“Trauma, Memória e Narrativa em The Pawnbroker, de Edward Lewis Wallant, e
Quero viver... Memórias de um ex-Morto, de Joseph Nichthauser: comparações e
intersecções” foi o tema da dissertação de Vanderléia de Andrade Haiski, defendida em 28 de
junho de 2013, tendo como orientador o professor Lizandro Carlos Calegari. Propõe avaliação
e reflexão sobre o trauma das vítimas do Holocausto nos referidos textos, buscando, também,
verificar suas convergências e divergências temáticas e formais, uma vez que pertencem a
gêneros distintos. A dissertação procurou verificar como o trauma e a memória são abordados
na narrativa; analisar as relações entre história e ficção; avaliar o modo como os personagens
concebem o evento traumático por eles sofrido e considerar a narrativa como fator de cura ou
superação dos eventos traumáticos e, por fim, comparar intersecções teóricas e/ou
interpretativas entre essas duas obras. O embasamento teórico foi buscado em Roland
Barthes, Zygmunt Bauman, Walter Benjamin, Antoine Compagnon, Jaime Ginzburg, Maurice
Halbwachs e Michael Pollak, e foi apresentado nos dois primeiros capítulos, reservando a
análise da narrativa no terceiro capítulo.
Haiski enfatiza que os textos não trazem a perspectiva dos poderosos; pelo contrário,
são produções cujo olhar é dado de baixo, isto é, considerando o ponto de vista de pessoas
vitimadas com graus extremos de violência. Os textos apresentam duas perspectivas distintas
ao tratarem de um mesmo assunto, o que permite avaliação ainda mais contundente daquilo
que foi o Holocausto: The pawnbroker é um romance, assentado no princípio da
115
ficcionalidade e da verossimilhança, e Quero viver... é um relato de testemunho (HAISKI,
2013).
Vanessa Fritzen, primeira orientanda da professora Ana Paula Teixeira Porto,
apresentou, no dia 31 de janeiro de 2013, o trabalho intitulado “Literatura, história e memória
em O último voo do flamingo, de Mia Couto”. O objetivo principal do estudo foi focalizar
as correlações entre o romance e a história de Moçambique no contexto pós independência
africana. Em seus três capítulos, foram consideradas reflexões acerca da literatura africana de
língua portuguesa e moçambicana, para um melhor entendimento da obra de Mia Couto e,
posteriormente, da obra em análise, a partir de uma perspectiva que estabeleceu conexões
entre literatura, história e memória no contexto histórico e social pós-colonial. Nesse sentido,
destaca-se a utilização dos suportes teóricos de Ana Mafalda Leite, Inocência Mata, Maria
Luiza de Carvalho Armando, Pires Laranjeira e Thomas Bonnici.
Fritzen (2013) concluiu que o romance leva o leitor a “rememorar a história recente de
Moçambique a partir de uma perspectiva crítica permeada pela construção de espaço e
personagens que representam o país” (FRITZEN, 2013, p. 107). A obra possibilita várias
interpretações, podendo o leitor participar do processo de construção de novos significados e
preencher “lacunas da memória de um passado recente que não se quer esquecer, pois, pelo
contrário, um passado que se quer lembrar para testemunhar um momento singular da história
recente moçambicana” (FRITZEN, 2013, p. 110).
QUADRO 7 – Dissertações ingressantes Turma 2011 – Literatura, História e Memória
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Denise Menezes
Guerra
23/08/2013
Dra. Ana Paula Teixeira Porto -
URI Orientadora/Presidente;
Dra. Rosani Úrsula Ketzer
Umbach - UFSM e Dra. Silvia
Helena Pinto Niederauer - URI.
A cidade de Deus de Paulo Lins:
representação da vida social, da violência
e da marginalização
Girvâni José
Sulzbacher Seitel 22/08/2013
Dra. Ana Paula Teixeira Porto –
URI Orientadora/Presidente;
Dra. Rosani Úrsula Ketzer
Umbach - UFSM e Dra. Luana
Teixeira Porto -URI.
Máscaras líquidas, vidas fragmentadas:
Marginalização do sujeito no Ensaio
sobre a cegueira, de José Saramago, e
Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll
Jaci Luft Seidel
04/10/2013 Dra. Ana Paula Teixeira Porto -
URI Orientadora/Presidente; Dr.
Flavi Lisboa Filho - UFSM e
Dra. Luana Teixeira Porto -
URI.
Tenente Mário Portela Fagundes: A
construção do herói no discurso da
história oficial e em letras de canções
gaúchas
116
Larissa Bortoluzzi
Rigo 22/08/2013 Dra. Luana Teixeira Porto - URI
Orientadora/Presidente; Dra.
Rosani Úrsula Ketzer Umbach –
UFSM e Dra. Ana Paula
Teixeira Porto - URI.
Literatura, vida social e memória em
crônicas de Caio Fernando Abreu
Letícia Sangaletti
22/08/2013 Dra. Luana Teixeira Porto - URI
Orientadora/Presidente; Dra.
Márcia Ivana de Lima e Silva -
UFRGS e Dra. Maria Thereza
Veloso - URI.
A representação da voz de minorias
sexuais na narrativa de Caio Fernando
Abreu e João Gilberto Noll
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A turma de ingressantes do ano de 2011 teve seis alunos matriculados, e cinco deles
escolheram a LP – Literatura, História e Memória. Três orientações ficaram com a professora
Ana Paula Teixeira Porto e duas com a professora Luana Teixeira Porto. Três discentes,
Girvâni José Sulzbacher Seitel, Larissa Bortoluzzi Rigo e Letícia Sangaletti, realizaram suas
defesas na mesma data, em 22 de agosto de 2013; um dia depois ocorreu a defesa de Denise
Menezes Guerra, e o quinto trabalho, da autoria de Jaci Luft Seidel, foi defendido dois meses
depois, no dia 04 de outubro de 2013.
Girvâni José Sulzbacher Seitel defendeu seu trabalho “Máscaras líquidas, vidas
fragmentadas: marginalização do sujeito no Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, e
Hotel Atlântico, de João Gilberto Noll”, sob orientação da professora Ana Paula Teixeira
Porto. Visava verificar como se dá a representação da alteridade, da fragmentação e da
marginalização do sujeito nas obras.
No primeiro capítulo, Seitel faz leitura do círculo de ideias circunscritas à
modernidade, trazendo o pensamento de Charles Baudelaire (1985, 2010), Walter Benjamin
(1989, 1994), Marshall Berman (1986), Anthony Giddens (1991) e Zygmunt Bauman (1999,
2001, 2008a, 2009). O segundo capítulo pondera discussões sobre a narrativa e a
representação da cidade “como lugar” da fragmentação e marginalização do sujeito com
referências de Gomes (1999), Fredric Jameson (2004), André Bueno (2002), Roland Barthes
(1985), Rejane C. Rocha (2011), Tânia Pellegrini (1996, 2002) e Ângela Maria Dias (2005).
Para discorrer sobre o dilema da alteridade no espaço urbano e como a narrativa produzida no
Brasil e em Portugal depois de 1970 trata dessa questão, a segunda seção lança mão das ideias
de Regina Dalcastagnè (2003, 2007, 2008), Lucia Helena (2008), Silviano Santiago (2002),
Seixo (1986), Ernesto Sabato (2003), Theodor Adorno (1983, 1994), Roland Barthes (2002),
Nelson Brissac Peixoto (1987), Jaime Ginzburg (2004), Michel Maffesoli (1984), Maurice
Merleau-Ponty (1994), Marc Augé (1994) e Zygmunt Bauman (1998a, 1998b, 2001, 2004,
117
2008). O terceiro capítulo disserta acerca do diálogo da literatura com a sociedade, com
destaque ao espaço urbano e à liquidez dos seus sujeitos, em uma leitura analítico-
interpretativa dos romances.
Seitel destaca que as “representações sociais dos sujeitos evidenciadas na tessitura das
narrativas saramaguiana e nolliana revelam um mal-estar assentado numa “cegueira” de que o
sujeito é vítima como que também vitimiza” (SEITEL, 2013, p 140). A leitura dos romances
evidenciou “diferenças, semelhanças, aproximações. [...] Seja na representação crítica e
fragmentária de condicionamentos sócio-históricos nos textos literários e no enfoque temático
quanto nas opções estéticas” (SEITEL, 2013, p. 148).
Larissa Bortoluzzi Rigo, orientada pela professora Luana Teixeira Porto, defendeu a
dissertação intitulada “Literatura, vida social e memória em crônicas de Caio Fernando
Abreu”, tendo como objetivo examinar crônicas do escritor Caio Fernando Abreu, publicadas
no jornal Folha de São Paulo nas décadas de 1980 e 1990 e reunidas o livro A vida gritando
aos cantos, de 2012, para investigar de que forma a crônica de Caio constrói uma memória
coletiva de seu tempo.
O trabalho foi estruturado em três capítulos. O primeiro capítulo, “A crônica e sua
trajetória no Brasil”, apresenta o percurso do gênero até chegar ao país, evidenciando o
hibridismo que circunda os campos da literatura e do jornalismo e, por fim, mostrando um
pequeno esboço da crônica brasileira em distintos autores. O segundo capítulo, “A Narrativa
de Caio Fernando Abreu”, enfoca a obra do escritor, e o terceiro, “Literatura, sociedade e
memória na crônica de Caio Fernando Abreu”, analisa como esses aspectos estão inseridos na
narrativa do escritor gaúcho.
Para Rigo, a leitura de crônicas de A vida gritando nos cantos permitiu a
possibilidade de várias reflexões; uma delas, relacionada ao título, que constitui uma espécie
de síntese das narrativas: “alerta aos leitores sobre temas delicados da vida social, mostrando
o quanto a arte pode atentar para problemas sociais, fazendo os leitores compreenderem o
meio do qual fazem parte” (RIGO, 2013, p. 127). A autora observa ainda que “as narrativas
formam um diálogo aberto e explícito entre escritor, leitor e sociedade” (RIGO, 2013, p. 129)
e a linguagem empregada pelo autor, como se estivesse em conversa cotidiana com o leitor, o
aproxima deste.
Letícia Sangaletti também analisa a obra de Abreu, no estudo comparativo intitulado
“A representação da voz de minorias sexuais na narrativa de Caio Fernando Abreu e João
Gilberto Noll; tem como orientadora a professora Luana Teixeira Porto. Seu objetivo é
investigar como as vozes de minorias sexuais sinalizam a vivência de uma “sexualidade
118
dissidente” no contexto da sociedade patriarcal, e ainda avaliar o potencial crítico e estético de
romances que tematizam a homossexualidade. A perspectiva crítica foi amparada nas
reflexões de Antonio Candido e Walter Benjamin. Sangaletti buscou analisar de que forma os
autores relacionaram “literatura e sociedade nas produções selecionadas, de modo a
identificar se há um conflito social nas obras, e se ele pode ser problematizado sob uma visão
crítica que contesta valores, posições e preconceitos característicos de uma comunidade social
conservadora” (SANGALETTI, 2013, p. 19).
O percurso do trabalho seguiu a organicidade de três capítulos: “Literatura e Minorias
Sexuais”, “A voz homossexual em Caio Fernando Abreu” e “A homossexualidade em João
Gilberto Noll”. Nas reflexões finais, Sangaletti abarca exercício comparativo, evidenciando
semelhanças e diferenças entre as obras dos escritores. A pesquisadora estuda elementos
estéticos, literários e sociais, inseridos na literatura de Caio Fernando Abreu e João Gilberto
Noll, de modo a debater a homossexualidade no contexto da literatura contemporânea
brasileira. Para Sangaletti (2013) “a leitura dos romances nos permite mergulhar em uma
realidade literária construída sobre uma realidade histórico-político-e-socialmente fixada por
preceitos patriarcais e heteronormativos” (SANGALETTI, 2013, p. 161).
A aluna Denise Menezes Guerra, sob a orientação da professora Ana Paula Teixeira
Porto, defendeu a dissertação intitulada “A Cidade de Deus de Paulo Lins: representação da
vida social, da violência e da marginalização”, com o intuito de estudar relações entre
literatura e vida social, e a representação da violência e da marginalização no espaço urbano,
no romance Cidade de Deus, de Paulo Lins. O estudo permitiu uma avaliação da
representação da cidade no romance enquanto espaço público onde a criminalidade encontra
um lugar perfeito para sua legitimação. O primeiro capítulo aborda questões relativas à
aproximação entre a Literatura e a Sociedade; o segundo discorre acerca da representação da
violência em Cidade de Deus, de Paulo Lins e o terceiro enfoca a marginalização na
literatura brasileira, em obras do século XX.
Guerra percebe, de certo modo, a irracionalidade da violência; colabora com a
legitimação da violência e da marginalização o fato de que os sujeitos vivem em condições
marginais, que compreendem inclusive sua linguagem, e restrição de seu vocabulário. A
“violência e criminalidade passam a ser banais na cultura da comunidade urbana de Cidade de
Deus, e o romance, dessa forma, constitui uma representação desse contexto social recente,
fortalecendo o diálogo que a literatura estabelece com a sociedade” (GUERRA, 2013, p. 106).
A terceira orientanda da professora Ana Paula Teixeira Porto a defender sua
dissertação, nessa turma de 2011, foi Jaci Luft Seidel. O trabalho intitulado “Tenente Mário
119
Portela Fagundes: a construção do herói no discurso da história oficial e em letras de canções
gaúchas” teve como objetivo analisar de que maneira é construída a figura do herói Tenente
Mário Portela Fagundes em canções regionais e no discurso da história regional na obra
historiográfica objeto de estudo, O Tenente Portela na marcha da Coluna Revolucionária,
de Jacó Beuren.
Em seu primeiro capítulo, a dissertação analisa o herói na história e na literatura; no
segundo, estuda a história do Rio Grande do Sul que gira em torno do Tenente Portela, sua
biografia e como ocorreu a construção do herói na História oficial; já no terceiro capítulo foi
apresentada a análise do corpus literário da dissertação, sendo estudada a cultura gaúcha e o
gênero musical usado pelos compositores das canções em homenagem ao Tenente Portela. Foi
realizada análise da música regional a partir da letra das canções gaúchas compostas para a
terceira edição do Canto dos Bravos de Pinheirinho do Vale, examinando a construção do
Tenente Portela, elevado pelos compositores a herói histórico regional pela sua atuação na
Coluna Prestes. As reflexões foram ancoradas nas relações entre a Literatura e História, e
mostraram que Tenente Mário Portela Fagundes, pela representação da história oficial e das
letras das canções, foi institucionalizado como um herói regional com traços de valentia,
inteligência e liderança, o que remeteu à configuração de herói proposta por alguns
pesquisadores como Joseph Campbell, Aristóteles, Nicola Abbagnano e Fernando Seffner.
Em suas conclusões, Seidel (2013) destaca alguns eventos em homenagem a Tenente
Portela, que “fortalecem no imaginário regional o heroísmo desse protagonista, que é cultuado
com um mártir. Esse sentimento vai se enraizando na cultura local através das canções e do
discurso dos historiadores que elevam Tenente Portela como um herói” (SEIDEL, 2013, p.
91-92). Sendo assim, “configura-se a institucionalização do herói regional no Rio Grande do
Sul, através da história oficial, dos movimentos cívicos e culturais e das letras das canções
apresentadas pelos compositores” (SEIDEL, 2013, p. 93). Seu estudo sobre a canção gaúcha
regional é pioneiro na linha de pesquisa da Literatura Comparada do programa de Mestrado
em Letras da URI, pois foi o primeiro trabalho de dissertação que focou letras de canções
como objeto de pesquisa.
QUADRO 8 – Dissertações ingressantes Turma 2012 – Literatura, História e Memória
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Ana Alice Pires da
Silva Stacke 17/11/2014
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Rosane
Maria Cardoso - UNISC e. Dra. Ana
Paula Teixeira Porto – URI
Violência, estética e ética:
uma leitura de contos de
Marcelino Freire e Marçal
Aquino
120
Andiara Zandoná
17/09/2014 Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer –
URI Orientadora/Presidente; Dra. Inara
de Oliveira Rodrigues -UESC/Ilhéus-BA
e Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Barba ensopada de sangue: entre o lembrar e o existir.
Uma leitura da memória e
identidade
Carlete Maria Thomé
31/03/2015 Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer –
URI Orientadora/Presidente; Dr. Miguel
Rettenmaier – UPF e Dra. Ana Paula
Teixeira Porto – URI
As narrativas de literatura
Infantil de escritoras do oeste
de Santa Catarina
Daiana Diniz
Quebing dos Santos 25/08/2015
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro
Carlos Calegari –UFSM e Dra. Ana
Paula Teixeira Porto –URI
Identidade e corpo em contos
de Cadernos Negros: a
função social da literatura
Daniela Bombardelli
20/10/2015 Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Rosani
Úrsula Ketzer Umbach – UFSM; Dra.
Denise Almeida Silva – URI e Dra. Ilse
Maria da Rosa Vivian – URI
Reflexões sobre opressão
feminina e sociedade
conservadora em contos de O
Fio das missangas, de Mia
Couto
Fabiane Crys
Barbiero
19/03/2015
Breno Antonio Sponchiado – URI
Orientador/Presidente; Dra. Luana
Teixeira Porto – URI e Dr. Lizandro
Carlos Calegari – UFSM
Reminiscências... A tradição
oral através de narrativas de
vida presentes no oeste de
Santa Catarina
Gabriela de Oliveira
Vieira 28/01/2015
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro
Carlos Calegari - CAFW - UFSM e Dra.
Maria Thereza Veloso –URI
A configuração dos
personagens e o papel da
violência na sociedade
brasileira em releituras de
contos de Machado de Assis
Juliana Falkowski
Burkard 26/11/2014
Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer –
URI Orientadora/Presidente; Dr.
Lizandro Carlos Calogari - CAFW -
UFSM e Dra. Luana Teixeira Porto –
URI
Processos de modernização
conservadora no Brasil: uma
leitura de Recordações do
escrivão Isaías Caminha, de
Lima Barreto
Laísa Veroneze Bisol 31/10/2014
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Ana Paula
Teixeira Porto – URI e Dr. Flavi Lisboa
Filho – UFSM
Literatura, cinema e
jornalismo: memória,
violência e guerra no romance
e no filme O Tempo e o vento
e nos jornais o povo e a
federação
Liege Schilling
Copstein 24/10/2014 Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Maria da
Glória Bordini – UFRGS; Dr. Ricardo
Timm de Souza - PUC/RS e Dra. Maria
Thereza Veloso – URI
O Avesso da metáfora: uma
perspectiva antiespecista sobre
Disgrace, de J. M. Coetzee, e
A Gata, de Laerte Coutinho
121
Roselei Battista
31/03/2015 Dra. Ana Paula Teixeira Porto - URI
Orientadora/Presidente; Dr. Miguel
Retternmaier – UPF e Dra. Silvia Helena
Pinto Niederauer–URI
A representação feminina em
narrativas juvenis brasileiras
integrantes do PNBE/2013:
uma leitura de obras de Caio
Riter e Ana Cristina Massa
Tanira Giacon Hatem
26/02/2015 Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro
Carlos Calegari - UFSM e Dra. Luana
Teixeira Porto –URI
Memória e trauma em
Memórias do cárcere, de
Graciliano Ramos
Vanice Hermel
27/11/2014 Dra. Denise Almeida Silva - URI
Orientadora/Presidente; Dra. Rosani
Úrsula Ketzer Umbach - UFSM e Dra.
Luana Teixeira Porto – URI
O Rio Grande do Sul em canto
e conto: a vertente regionalista
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A turma de 2012 teve um total de 15 alunos matriculados. O Quadro 8 elenca os 13
alunos ingressantes na LP 1, com seus respectivos orientadores: três a cargo da professora
Luana Teixeira Porto, três com a professora Ana Paula Teixeira Porto, três com a professora
Denise Almeida Silva, três com a professora Silvia Helena Pinto Niederauer e uma com o
professor Breno Antonio Sponchiado.
A primeira defesa aconteceu no dia 17 de setembro de 2014 pela aluna Andiara
Zandoná, que apresentou o trabalho “Barba ensopada de sangue: entre o lembrar e o existir.
Uma leitura da memória e identidade”, com o objetivo de verificar de que forma a memória se
constrói no romance e influencia a identidade da personagem principal. O aporte teórico
buscou compreender o conceito de memória, esquecimento e identidade, abordando
estudiosos como Maurice Halbwachs, Anselm L. Strauss, Pierre Nora, Aleida Assmann,
Paulo Ricoeur e Zygmunt Bauman. A dissertação seguiu a tradicional divisão em três
capítulos, os dois primeiros dedicados à exposição de conceitos, e o último analítico. Todas as
dissertações redigidas pelos ingressantes em 2012 mantiveram esta estrutura, com exceção do
trabalho de Laísa Veroneze Bisol, dividido em cinco capítulos.
Nas considerações finais, Zandoná (2014) comenta que o romance, marcado por
lembranças e esquecimentos, encontra na memória coletiva elemento fundamental para que
“o personagem, apesar de não ter vivenciado os acontecimentos, possa recontar uma história
com base em informações fornecidas por outras pessoas que foram auxiliares nesse processo”
(ZANDONÁ, 2014, p. 90).
Ana Alice Pires da Silva Stacke apresentou no dia 17 de novembro de 2014, o trabalho
intitulado “Violência, estética e ética: uma leitura de contos de Marcelino Freire e Marçal
122
Aquino”, pesquisa orientada pela professora Luana Teixeira Porto que teve como objetivo
analisar a representação da violência social em contos de autores contemporâneos brasileiros,
para contribuir com o desenvolvimento de estudos sobre a relação entre literatura e violência
no Brasil. A proposta procurou alinhar-se à perspectiva de estudos brasileiros, como os de
Jaime Ginzburg, Tânia Pellegrini e Regina Alcastagnè, Milton Santos, Karl Erik
Schøllhammer, autores que têm procurado desvendar as formas de violência na sociedade
contemporânea e discutir os valores do mundo.
Stacke discute a função social da literatura no desvendamento das relações entre
violência e literatura como base de reflexão dos leitores para uma postura ética das relações
humanas, aspirando-se a formação de uma política social que quebre esse ciclo de violência”
(STACKE, 2014, p. 21). Conclui que a “representação da violência no texto literário busca
agitar as consciências para conseguir despertar uma sociedade adormecida. A ética nas
narrativas analisadas não é abordada de forma direta e com a intenção de se mostrar o que é
eticamente coerente ou não” (STACKE, 2014, p. 119).
A dissertação de Carlete Maria Thomé, intitulada “As narrativas de literatura infantil
de escritoras do oeste de Santa Catarina”, foi defendida no dia 31 de março de 2015, sob
orientação da professora Silvia Helena Pinto Niederauer. O objetivo da pesquisa foi
apresentar e discutir as narrativas de literatura infantil de escritoras catarinenses do oeste do
Estado de SC, destacando seus recursos estéticos e estruturantes. Apresentando breve
histórico da literatura infantil em Santa Catarina, especificamente na região oeste, a pesquisa
analisou narrativas das escritoras Anair Weirich, Ladir F. Wigikoski e Therê Osmari Bagatini.
Thomé conclui que os textos servem “de apresentação ao mundo simbólico, uma vez
que o mundo ali expresso é o da fantasia. Por apresentarem personagens que assumem a
perspectiva humana, [...] dão voz a um protagonista que quer uma instrução de modo de vida”
(THOMÉ, 2015, p. 104). Destaca ainda a relevância do estudo desses autores, relativamente
pouco conhecidos, os quais poderão auxiliar docentes na seleção de obras adequadas e de fato
apreciadas pelas crianças.
Daiana Diniz Quebing dos Santos defendeu, no dia 25 de agosto de 2015, a dissertação
“Identidade e corpo em contos de Cadernos Negros: a função social da literatura”, com
orientação da professora Denise Almeida Silva. O objetivo geral foi analisar a relação entre
identidade e o corpo racizado como construída em contos publicados em volumes dessa
antologia. O trabalho caracteriza a literatura afro-brasileira, discute a função social da
literatura, de forma geral e também especificamente com relação ao corpus literário afro-
brasileiro, e ressalta o corpo e o cabelo como símbolos identitários. Para concluir, Santos
123
busca desenvolver reflexão acerca da relação entre identidade e o corpo racializado como
símbolo da negritude. Destaca que “o corpo negro mantém uma estreita associação com a
construção de identidade, através da interação social, já que o indivíduo precisa de seus outros
para construir sua identidade, estabelecendo semelhanças e divergências” (SANTOS, 2015, p.
92), e percebe ainda que “o discurso literário afro-brasileiro, ao construir seus personagens e
histórias, o faz de forma diferente do estabelecido pela literatura canônica, a qual é veiculada
pelas classes que detém o poder político-econômico” (SANTOS, 2015, p. 93), apresentando
visões não estereotipadas tanto do sujeito negro como do sujeito branco.
Daniela Bombardelli, no dia 20 de outubro de 2015, com orientação da professora Ana
Paula Teixeira Porto, defende o trabalho “Reflexões sobre opressão feminina e sociedade
conservadora em contos de O Fio das Missangas, de Mia Couto”. O objetivo principal da
pesquisa foi refletir sobre as conexões existentes entre os contos de Mia Couto e a relação que
há entre a literatura e a sociedade, considerando o pensamento de Antonio Candido e Valdeci
Rezende Borges.
Nas suas conclusões, Bombardelli ressalta que o tema da “opressão feminina é
arquitetada por meio de informações sobre a sociedade de Moçambique, as quais não são
diretamente expostas, mas sim, através de prosa poética que cria uma narração recheada de
neologismos e jogos de linguagem que remetem àquele contexto” (BOMBARDELLI, 2015,
p. 94).
Fabiane Crys Barbiero, em 19 de março de 2015, defendeu sua dissertação intitulada
“Reminiscências... A tradição oral através de narrativas de vida presentes no oeste de Santa
Catarina”, sob orientação do professor Breno Antonio Sponchiado. O objetivo geral foi
estudar a tradição oral através de histórias de vida, relatadas na comunidade de origem italiana
e alemã dos oito municípios que abrangem a 29ª SDR: Águas de Chapecó, Cunha Porã, Caibi,
Cunhataí, Mondaí, Palmitos, Riqueza e São Carlos. A autora identifica as principais
temáticas, semelhanças e diferenças entre as narrativas, destacando a importância das
narrativas para a preservação da memória individual e coletiva da sociedade regional. O
aporte teórico teve reflexões de pesquisadores como Walter Benjamin, Ecléa Bosi, Louis-Jean
Calvet, Carla Caruso, Astor Antonio Diehl e Maurice Halbwachs.
Barbiero aponta para o esquecimento progressivo de histórias atreladas à tradição oral.
Registra sua preocupação com o fato de “que o hábito de contar histórias, ou mesmo a
oralidade, tem perdido seu espaço, porque a memória trocou de lugar... Parece-nos que o uso
da tecnologia é mais „interessante‟ do que sentar e ouvir uma história” (BARBIERO, 2015, p.
78-79).
124
No dia 28 de janeiro de 2015, a discente Gabriela de Oliveira Vieira apresentou seu
trabalho “A configuração dos personagens e o papel da violência na sociedade brasileira em
releituras de contos de Machado de Assis”, o qual teve como objetivo analisar o papel da
violência na sociedade brasileira e como ela subsidia a configuração dos personagens e em
releituras de contos de Machado de Assis. Segundo Vieira (2015) “as releituras de textos
literários, a sua maneira, também propiciam um meio para averiguar a essência da obra
primária, estabelecendo contrastes e similaridades entre o texto original e a releitura”
(VIEIRA, 2015, p. 14).
A abordagem das temáticas selecionadas no trabalho baseou-se em referenciais em que
foi possível fazer uma articulação entre literatura, história e sociedade, considerando críticos
como Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Jaime Ginzburg, entre outros. Além disso,
levaram-se em conta, elementos da Teoria Literária e Social, enfocando o estudo do
personagem e da violência a partir da Literatura Comparada, agregando, para tanto,
perspectivas interdisciplinares com outras áreas do conhecimento, a exemplo da
intertextualidade por Julia Kristeva. Na análise textual, a atenção foi para a interrelação dos
objetos de estudo com os contos machadianos.
Nas reflexões finais observa
[...] que existe uma inconstância na compreensão do que seja um intertexto na visão
dos escritores atuais. Embora não haja rompimento com algumas premissas
apontadas pelos teóricos –tais como Kristeva, Genette e Compagnon –, a
desvetorização de sentidos, tais como as das releituras analisadas, tendem a
fortalecer uma nova forma textual que necessita da atenção mais apurada no que
tange a algumas áreas de conhecimento da Teoria da Literatura Comparada, visto
que um mesmo personagem pode percorrer diferentes narrativas e, em cada uma
delas, ganhar novas vozes que transitam entre diferentes ideologias e crenças, tal
como ocorre nas releituras aqui analisadas. (VIEIRA, 2015, p. 109)
Para Vieira (2015) “na medida em que avaliamos se os escritores dos intertextos
conseguiram apontar novas possibilidades de leitura dos escritos machadianos, fomos levados
para novos questionamentos acerca das concepções temáticas e estéticas adotadas por eles”
(VIEIRA, 2015, p. 110).
Juliana Falkowski Burkard, no dia 26 de novembro de 2014, defendeu sua pesquisa
intitulada “Processos de modernização conservadora no Brasil: uma leitura de Recordações
do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto”, com orientação da professora Silvia Helena
Pinto Niederauer. A dissertação teve como objetivo analisar de que forma a temática da
modernização conservadora no Brasil aparece no romance, publicado em 1909 por Lima
Barreto, e que implicações sociais decorrem dessa modernização, segundo a perspectiva da
125
obra. Embasaram a proposta de pesquisa teóricos como Walter Benjamin, Marshall Berman,
Maria Cristina Teixeira Machado, Max Weber, Sérgio Paulo Rouanet e Jürgen Habermas.
A análise sobre a modernização conservadora no romance considera não somente a
temática em si, mas também alguns elementos da narrativa, como a sua estrutura, a linguagem
e o enredo. Burkard explana que “a imagem de modernidade no Brasil que predomina na obra
é, justamente, a ideia de modernização conservadora. Porém, devido à falta de oportunidade,
nem todas as pessoas tinham condições de acompanhar os avanços da modernidade. Destaca
que “se a sociedade brasileira sempre conviveu com o preconceito, mesmo que não
explicitamente, é por meio do personagem Isaías que a percepção do outro ainda é incômoda
e, ao que parece, será um longo caminho a ser percorrido para que a igualdade seja
verdadeira” (BURKARD, 2014, p. 84).
Já a aluna Laísa Veroneze Bisol, no dia 31 de outubro de 2014, defendeu sua
dissertação “Literatura, cinema e jornalismo: memória, violência e guerra no romance e no
filme O tempo e o vento e nos jornais O povo e A federação”, tendo sido orientada pela
professora Luana Teixeira Porto. O trabalho objetivou uma reflexão sobre a representação das
guerras Farroupilha e Federalista e da violência em discursos ficcionais e não-ficcionais,
associando a narrativa ao contexto histórico sul-rio-grandense, verificando a memória sócio-
histórica construída em cada um destes discursos. Além disso, o estudo buscou apontar traços
formais e estilísticos dos discursos ficcional e não-ficcional que abordam a história social do
Rio Grande do Sul no século XIX, avaliar o posicionamento crítico dos discursos jornalístico,
literário e cinematográfico sobre a violência e as revoluções Farroupilha e Federalista, discutir
a construção da memória sócio-histórica em cada um dos discursos em relação às duas
guerras abordadas nas obras e comparar o modo de representação de dois episódios da história
social gaúcha em três discursos de natureza expressiva distintas. O estudo foi embasado
principalmente nos pressupostos teóricos de Tânia Carvalhal (2003).
Diferentemente das demais dissertações de sua turma, o trabalho foi estruturado em
cinco capítulos: o primeiro traz teorizações acerca da representação, além da memória da
guerra e da violência; o segundo apresenta o romance e, na sequência, desenvolve reflexão
sobre a imagem perpassada na obra em torno das revoluções Farroupilha e Federalista, além
de uma leitura da violência e memória na narrativa. Já o terceiro capítulo enfoca a imagem da
guerra e da violência do discurso ficcional do filme O tempo e o vento, trazendo à tona a
proposta da produção cinematográfica, a questão da glamourização da guerra, a
espetacularização da violência e a memória histórico-social das revoluções gaúchas,
consentidas a partir da narrativa fílmica. O quarto capítulo aborda a guerra e a violência no
126
discurso jornalístico do século XIX, especialmente os jornais O povo e A federação, e o
quinto capítulo aponta diálogos e divergências entre os discursos analisados. Bisol conclui
que, ao longo destes anos, os discursos apresentaram as situações de guerra e violência
enquanto elementos naturalmente presentes na vida social, demonstrando que, “muito mais do
que proporcionar reflexões em torno destes temas, os textos comunicam questões como amor,
orgulho de pertencimento e a reafirmação do heroísmo do povo gaúcho, que nas lutas matava
e morria por seus ideais” (BISOL, 2014, p. 189). Além disso, propiciaram “ao público uma
memória de legitimação à guerra, reafirmando uma ideia de violência justificável e
contribuindo para a conservação de um pensamento de normalidade da violência diante destes
contextos” (BISOL, 2014, p. 191).
No dia 24 de outubro de 2014, Liege Schilling Copstein defendeu sua dissertação
intitulada “O avesso da metáfora: uma perspectiva antiespecista sobre Disgrace, de J. M.
Coetzee, e A Gata, de Laerte Coutinho”, com orientação da professora Denise Almeida Silva.
O objetivo foi avaliar a forma pela qual as metáforas usadas para representar a relação entre
humanos e outros animais espelham o conceito de giro animal na literatura e na filosofia, uma
reconfiguração dos modos simbólicos que permitem pensar o humano e o animal, elegendo
para tanto as contribuições teóricas de Julieta Yelin e Jacques Derrida.
A metáfora animal e suas funções, tanto retórica como poética, foram relacionadas à
perpetuação ou denúncia do pensamento especista, aquele que exclui animais não humanos da
comunidade moral. A autora utiliza a crítica antiespecista para fundamentar a noção de
especismo, os pressupostos sobre direitos animais de Gary Francione e ética animal de Carlos
Naconecy. O conceito aristotélico de doxa para a delimitação das noções de linguagem
acrática e encrática é relacionando aos pressupostos de Michel Foucault a respeito de discurso
e poder. No segundo capítulo, a Teoria Multifatorial de Jorge Pedro Sousa, e a abordagem
pós-estruturalista de Umberto Eco fundamentaram a proposta de tomar o gênero “tira”
igualmente como literatura e como notícia, avaliando se as representações metafóricas em
Disgrace constituem um novo olhar sobre a alteridade ou remetem apenas ao uso simbólico
da figura animal. As análises textuais, sob o viés antiespecista, consideram como Disgrace e
A gata reproduziram os procedimentos narrativos alinhados com a noção do giro animal,
além de espelharam demandas sociais sobre o tema.
Copstein manifesta o desejo de que os demais leitores, assim como ela, percebam “que
as obras objeto deste estudo desconstroem o uso metafórico de fundo arquetípico dos animais,
que representam demandas sociais contemporâneas, e propõem a apreensão da alteridade
animal” (COPSTEIN, 2014, p. 148).
127
Roselei Battista, no dia 31 de março de 2015, com orientação da professora Ana Paula
Teixeira Porto, defendeu a dissertação “A representação feminina em narrativas juvenis
brasileiras integrantes do PNBE/2013: uma leitura de obras de Caio Riter e Ana Cristina
Massa”. O objetivo geral foi discutir como as protagonistas adolescentes femininas são
representadas em narrativas juvenis brasileiras longas (romance, novela), produzidas no
século XXI, que integram o acervo do PNBE/2013, destinado aos anos finais do Ensino
Fundamental. A análise textual contempla as figuras femininas nas obras A filha das
sombras (2011), de Caio Riter e Aqualtune e as histórias da África (2012), de Ana Cristina
Massa.
Battista alerta que “através da repetição incansável das mesmas imagens de jovens e
de seres femininos invadindo nossa mente, torna-se cada vez mais difícil exercitarmos nossa
percepção em relação às diferenças” (BATTISTA, 2015, p. 167). Considerou “que a
representatividade assume um caráter essencial quando pensamos em desconstrução de
estereótipos, de desigualdades sociais e de acesso à voz por diferentes grupos e culturas”
(BATTISTA, 2015, p. 168). Em relação ao PNDE, reconhece que há dificuldades em
administrar, porém alerta que não se pode admitir que um programa financiado com recursos
públicos, gaste uma fortuna “enviando para as escolas públicas brasileiras livros que, além de
não servirem aos propósitos aos quais se destinariam, como o de desenvolver o gosto pela
leitura, podem contribuir para que atitudes veladas de preconceito e discriminação perpetuem-
se entre nós” (BATTISTA, 2015, p. 174).
A aluna Tanira Giacon Hatem, com orientação da professora Ana Paula Teixeira
Porto, defendeu, no dia 26 de fevereiro de 2015, a dissertação “Memória e Trauma em
Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos”. A pesquisa buscou analisar as relações entre
memória e trauma na obra, bem como estudar a questão da autobiografia de Graciliano
Ramos, investigar o contexto histórico do Estado Novo, analisar o trauma de escritor e sua
relação com a forma estética e estudar referências sobre memória e trauma na obra, avaliando
a memória individual e coletiva, relacionando-as à memória e ao trauma de Graciliano Ramos
no Estado Novo. O enfoque da memória e trauma foi fundamentado nos teóricos Márcio
Seligmann-Silva e Maurice Halbawachs.
Para alcançar tais objetivos, o trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro
capítulo apresentou um estudo sobre o contexto histórico do Estado Novo, ressaltando que,
por meio da repressão e da violência, esse momento gerou no país transformações de diversas
ordens. O segundo deu ênfase à biografia de Graciliano Ramos quando esteve na prisão, a fim
de conhecer o contexto de publicação de Memórias do cárcere e contribuir na compreensão
128
do trauma vivido pelo autor no cárcere. Além disso, possibilitou uma reflexão sobre a
violência e opressão, retratada na literatura, a triste realidade de um governo ideologicamente
autoritário, valendo-se da memória individual do personagem-narrador e também da memória
coletiva dos indivíduos que fizeram parte dessa narrativa, diante do autoritarismo da Era
Vargas. O terceiro capítulo enfocou a análise do texto literário, correlacionando com o aporte
teórico sobre memória e trauma. Nessa perspectiva, o eixo de reflexão esteve pautado em
quatro enfoques: a forma da narrativa; a narração e a linguagem do discurso traumático; a
narração como cura e construção da memória; e, por fim, a função social e política contrária
ao apagamento da memória através da literatura.
Hatem enfatiza que a obra tem valor significativo não somente pelo valor histórico,
mas pelo seu valor literário, e por apresentar uma sociedade desumana, mostrando um lado
opressor e sombrio da história do Brasil. Conclui que a “obra estabelece diálogo com a
história porque nela temos fatos verídicos relacionados com o período de repressão que o
Brasil viveu nos anos de 1936 a 1945. Esta fase conturbada da história do país foi marcada
pela violência, pelo autoritarismo e pelas repressões” (HATEM, 2015, p. 94).
Vanice Hermel, no dia 27 de novembro de 2014, defendeu sua dissertação “O Rio
Grande do Sul em canto e conto: a vertente regionalista”, com orientação da professora
Denise Almeida Silva. O objetivo foi investigar a persistência da vertente regionalista na
literatura gaúcha, evidenciando, para isso, a mitificação do gaúcho e de sua terra em dois
gêneros literários: o conto e a canção. O estudo do percurso da evolução da vertente
regionalista no conto foi realizado tomando como base a pesquisa de Gilda Neves Bittencourt,
que distingue quatro nuances distintas no conto regionalista gaúcho; para o estudo da canção
recorremos à periodização da canção gauchesca proposta por Francisco Cougo Júnior. Na
análise, a pesquisadora destacou primeiramente a construção ideológica do gaúcho e sua
representação na vertente regionalista, com o objetivo de lembrar, o gaúcho histórico, e suas
lutas e vivências na defesa da fronteira e do território sul-rio-grandense, já que o
conhecimento dos fatos históricos permitiria melhor dimensionar a construção imaginativa
desse tipo humano.
A dissertação foi estruturada em três capítulos. O primeiro constituiu-se em introdução
conceitual, e traz noções fundamentais para o embasamento das ideias construídas: discutiu o
conceito de representação, cultura e regionalismo, bem como o desenvolvimento histórico do
Rio Grande do Sul pastoril e heroico, visão a partir da qual se construíram os mitos da
monarquia e do centauro dos pampas. No segundo capítulo, delineou-se o percurso da
vertente regionalista na literatura gaúcha, iniciando com o registro da literatura oral,
129
representada pelo Cancioneiro; a seguir, o desenvolvimento do conto na literatura gaúcha, e,
novamente à literatura oral, representada pela canção de vertente regionalista. O terceiro
capítulo, refere-se à proposta analítica, em que demonstrou o desenvolvimento da vertente
regionalista no conto e, especialmente, a visão mitificada do gaúcho e de sua terra, para então,
evidenciar a permanência/predominância desta vertente na canção regionalista gaúcha até a
contemporaneidade.
Hermel verifica que, embora por muito tempo, o conto riograndense e regionalismo
foram indissociáveis, tendo havido, desde as primeiras manifestações românticas, prolongada
manifestação do regionalismo nesse gênero, essa prática tem, mais recentemente, sido menks
frequente. Por outro lado, a análise das canções demonstrou a persistência da vertente
regional, porém, como a autora assinala, “[...] não de modo uniforme, pois a canção retoma,
na contemporaneidade, desde o Rio Grande pastoril até o Rio Grande heroico, oscilando
motivos da guerra, da violência, êxodo rural, com a idealização e revisionismo crítico da vida
no pago, do próprio mito do centauro dos pampas e do monarca das coxilhas.” (HERMEL,
2014, p. 6).
Como se percebe, a reformulação dessa LP, entre anos de 2010 a 2012, que
correspondem ao terceiro triênio de funcionamento do Mestrado, houve um ingresso
considerável de matrículas. Nessa LP, ingressaram 23 alunos durante esse período. As
orientações foram divididas da seguinte maneira: na turma de ingressantes do ano de 2010, os
professores Robson Pereira Gonçalves, Lizandro Carlos Calegari e Marcelo Marinho fizeram
suas últimas orientações, uma vez que se desvincularam do PPGL da URI. O professor
Robson Pereira Gonçalves teve uma orientação, abordando a relação entre literatura e
psicanálise., Marcelo Marinho orientou uma discente, com a temática sobre conflitos de
gênero e luta pela libertação feminina. Nesse período, o professor Breno Antonio Sponchiado,
teve sua primeira orientação, enfocando a temática da tradição oral e memória individual e
coletiva. Por outro lado, a Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer teve seus três primeiros
orientandos a partir da turma de 2012.
A professora Luana Teixeira Porto teve cinco orientandos, que trabalharam com temas
sobre literatura e sociedade, violência (bem recorrente), memória, minorias sexuais. Na base
teórica percebe-se a preferência pelos teóricos Candido, Benjamin, Ginzburg, Kristeva,
Carvalhal e Halbwacks. Algumas obras que foram analisadas sob a sua orientação foram: O
tempo e o vento, A vida gritando aos cantos e contos A causa secreta e o Alienista,
trazendo para discussão autores como Machado de Assis, Marcelino freire, Marçal Aquino e
Erico Veríssimo.
130
Nas bancas externas estiveram presentes Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach
(UFSM), Lizandro Carlos Calegari (UFSM), Dr. Flavi Lisboa Filho (UFSM), Dra. Marcia
Ivana de Lima e Silva (UFRGS) e Dra. Rosane Maria Cardoso (UNISC), Dr. Gilmei
Francisco Flek (UNIOESTE), Dra. Inara de Oliveira Rodrigues (UESC – Ilheus), Dr. Miguel
Retternmaier (UPF) e Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer (UNIFRA), que mais tarde viria a
fazer parte do corpo docente do programa. Já em exercício na UFSM, o Dr. Lizandro Carlos
Calegari foi convidado a integrar bancas como convidado externo. (UFSM).
QUADRO 9 – Dissertações ingressantes Turma 2013 – Literatura, História e Memória
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Angela de Fátima
Langa
27/08/2015
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Wellington
Ricardo Fiorucci – UTFPR e Dra. Maria
Thereza Veloso – URI
A favela que não acabou:
memória e espaço em Becos da
memória, de Conceição Evaristo
Gabriela Coletto
25/02/2016 Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian – URI
Oreintadora/Presidente; Dr. Anselmo
Peres Alós - UFSM e Dra. Ana Paula
Teixeira Porto –URI
Uma leitura alegórica das
identidades em O Apocalipse dos
Trabalhadores e Niketche: Uma
história de poligamia
Isabele Corrêa
Vasconcelos Fontes
Pereira 31/08/2015
Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian - URI
Orientadora/Presidente; Dr. Anselmo
Peres Alós – UFSM e Dra. Rosângela
Fachel de Medeiros –URI
A epopeia na contemporaneidade:
O “império” de Bloom, em Uma
Viagem à Índia, de Gonçalo M.
Tavares
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A turma de ingressantes no ano de 2013 teve 10 alunos matriculados. Destes, 3
optaram pela LP- Literatura, História e Memória, 4 pela LP – Comparatismo e Processos
Culturais e 3 pela nova LP criada para o Curso, a qual será descrita posteriormente, Leitura,
Linguagens e Ensino. Na Linha 1, as orientadoras foram as professoras Ilse Maria da Rosa
Vivian, com duas orientandas e Denise Almeida Silva, com uma. A primeira aluna dessa
linha a apresentar sua defesa no quadriênio foi Angela de Fátima Langa, no dia 27 de agosto
de 2015, com o trabalho intitulado “A favela que não acabou: memória e espaço em Becos da
memória, de Conceição Evaristo”, que teve como objetivo destacar o papel essencial do
espaço na rememoração da favela, evidenciada através do registro das memórias dos
moradores por Maria-Nova, com base nos relatos por ela colhidos.
O estudo foi dividido em três capítulos. O primeiro abordou os conceitos de espaço e
território; a fundamentação teórica repousou no pensamento crítico de Doreen Massey (2008),
Milton Santos (1988, 1994, 2007, 2012), e Gaston Bachelard (1989). O conceito de lar foi
131
discutido, levando em consideração os fatores que colaboraram para que um espaço seja
considerado lar ou não, amparado no pensamento de Theano Terkenli (1995), Laura Huttunen
(2005) e Gaston Bachelard (1989); Mike Davis (2006) provê insights sobre a favela. O
capítulo aborda, ainda, o conceito de escrevivência, formulado por Evaristo, e relaciona
memória,nespaço e escrevivência. Para os estudos da memória, Langa busca suporte teórico
em Maurice Halbwachs (2006), Aleida Assmann (2011), Joël Candau (2011), Pierre Nora
(1993) e Michael Pollak (1989). O terceiro capítulo é analítico.
A pesquisadora Langa enfatiza que “A memória não se reproduz no abstrato, é
vivenciada e habitada. Necessita sempre de uma ancoragem espacial ou um portador, que
pode ser um grupo, uma instituição ou um indivíduo” (LANGA, 2015, p. 89). No romance, “a
partir das recordações de Maria-Nova delineia-se um claro mapa da favela, no qual se
distinguem vias, „bairros‟ [...] e limites, estes demarcando não só o ambiente interior à favela,
mas, sobretudo, seus limites exteriores” (LANGA, 2015, p. 90).
Gabriela Coletto, no dia 25 de fevereiro de 2016, fez a defesa de sua dissertação, a
qual teve como tema “Uma leitura alegórica das identidades em O Apocalipse dos
trabalhadores e Niketche: uma história de poligamia”. Orientada pela professora Ilse Maria
da Rosa Vivian, a pesquisa realiza uma análise comparativa entre as obras portuguesa O
Apocalipse dos trabalhadores (2008), de Valter Hugo Mãe e moçambicana Niketche: uma
história de poligamia (2002), de Paulina Chiziane por meio da leitura alegórica, enfatizando o
discurso dominador-subjugado por meio das vozes femininas das personagens Maria da Graça
e Rami. Os estudos foram amparados nas teorias da alegoria de Platão (2006), (2015), Walter
Benjamin (1985), (1994), (2004) e Flávio René Kothe (1986). O trabalho parte, nos capítulos
iniciais, de fundamentação teórica, seguindo-se a análise comparativa da obra.
Nas considerações finais, Coletto (2016), destaca a possibilidade do “entendimento
das diversas realidades encontradas nos romances [...] observando a atualidade dos temas
abordados, que ainda são um problema dentro dessas culturas” (COLETTO, 2016, p. 72).
Através da literatura, foi possível perceber, a trajetória e os caminhos coloniais pelos quais
passaram povos africanos colonizados pelos portugueses, abrindo caminho para a
compreensão das identidades constituídas pela história desses povos.
Outra orientanda da professora Ilse Maria da Rosa Vivian foi Isabele Corrêa
Vasconcelos Fontes Pereira, que defendeu seu trabalho no dia 31 de agosto de 2015,
intitulado “A Epopeia na contemporaneidade: O “império” de Bloom, em Uma viagem à
Índia, de Gonçalo M. Tavares”. O objetivo geral foi identificar e discutir os elementos que
permitem reconhecer, a partir da obra, a dimensão da épica contemporânea, constituindo-se
132
como um exemplo da nova formação literária no que tange ao gênero épico, por sua
percepção hodierna sobre a realidade e sua capacidade de gerar hibridismos e intertextos
relevantes para a literatura.
Pereira considera que a sociedade contemporânea precisava “de uma estética que
figurasse o seu novo retrato: uma sociedade antropocentrista, individualista, capitalista, cada
vez mais amparada nos diferentes meios de locomoção e comunicação, na ciência, na técnica,
na especialização, no isolamento, na melancolia e na incompletude” (PEREIRA, 2015, p. 87),
e essa representação inovadora foi encontrada no romance estudado.
QUADRO 10 – Dissertações ingressantes Turma 2014 – Literatura, História e Memória
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Jenifer Royer Thiel
13/12/2016
Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian – URI
Oreintadora/Presidente; Dr. Reges Shwaab –
UFSM e Dra. Denise Almeida Silva – URI
A construção da memória e
sua influência na
constituição identitária:
Análise da obra No tempo
das tangerinas, de Urda
Alice Klueger
João Paulo Massotti
29/09/2016
Dra. Luana Teixeira Porto - URI
Orientadora/Presidente; Dr. Breno Antônio
Sponchiado (Co orientador - URI); Dr.
Lizandro Carlos Calegari –UFSM; Dra. Maria
Regina Barcelos Bettiol – URI e Dra. Silvia
Helena Pinto Niederauer – URI
Repressão, censura e
silenciamentos: A ditadura
militar brasileira aos olhos
de Caio Fernando Abreu
Lilian Raquel
Amorim de Quadra 31/08/2016
Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Maria Elisa
Rodrigues Moreira – UNINCOR e Dra. Luana
Teixeira Porto –URI
A condição feminina em O
último voo do flamingo e
A confissão da leoa, de
Mia Couto: uma análise
comparatista
Simone de Freitas
Sangue Buchebester
18/10/2016
Dra. Luana Teixeira Porto - URI
Orientadora/Presidente; Dr. Lizandro Carlos
Calegari – UFSM e Dra. Ana Paula Teixeira
Porto – URI
Integrar-se ou desintegrar-
se, eis a questão: A
representação de
personagens homossexuais
em contos e telenovela
brasileiros contemporâneos
Tani Gobbi dos Reis 14/12/2017
Dra. Silvia Helena Pinto Niederauer– URI
Orientadora/Presidente; Dra. Inara de Oliveira
Rodrigues - UESC-BA e Dra. Ilse Maria da
Rosa Vivian – URI
O resgate da memória na
conformação da identidade
moçambicana:
Reminiscências de Imani
em Mulheres de cinzas, de
Mia Couto
Fonte: Quadro elaborado pela autora
133
O Quadro 10 mostra a turma de ingressantes do ano de 2014. Dos 14 alunos
matriculados nesse ano, cinco escolheram a LP - Literatura, História e Memória. As
orientações foram divididas entre as professoras Luana Teixeira Porto, com dois orientandos e
Ana Paula Teixeira Porto, Silvia Helena Pinto Niederauer e Ilse Maria da Rosa Vivian - cada
uma com um orientando.
No dia 31 de agosto de 2016, Lilian Raquel Amorim de Quadra foi a primeira aluna
desses ingressantes a defender a dissertação intitulada “A condição feminina em O último
voo do flamingo e A confissão da leoa, de Mia Couto: uma análise comparatista”. A
pesquisa, estruturada em três capítulos, teve como objetivo principal analisar a condição
feminina em dois romances africanos do século XX escritos por Mia Couto, conforme citados
anteriormente. O primeiro capítulo contextualizou a produção africana nos últimos anos; os
dois capítulos seguintes analisam, respectivamente O último voo do flamingo, e A confissão
da leoa.
Ao final da dissertação, Quadra percebe que as narrativas, ao explorarem a
representação da figura feminina, estabeleceram um diálogo com a história e, dessa forma,
oportunizaram a construção da memória de um tempo histórico recente. Assim, a investigação
dos romances permitiu leitura crítica da sociedade moçambicana, na qual foi possível
perceber que “a mulher desempenha um papel fundamental no que tange à continuidade da
vida e também à manutenção e educação dos filhos, porém é subjugada e inferior ao homem
em todos os níveis sociais” (QUADRA, 2016, p. 74).
A aluna Jenifer Royer Thiel, no dia 13 de dezembro de 2016 defendeu sua pesquisa
intitulada “A construção da memória e sua influência na constituição identitária: análise da
obra No tempo das tangerinas, de Urda Alice Klueger”, com orientação da professora Ilse
Maria da Rosa Vivian. Teve como objetivo compreender o processo de construção de
memória, a fim de perceber sua influência na constituição identitária dos indivíduos. Em três
capítulos, o estudo parte de conceituação teórica sobre identidade e memória, a fim de
analisar a presença desses temas na construção do romance. Para tal atividade baseou-se em
Tomaz Tadeu da Silva (2000) e Kathryn Woodward (2000) sobre identidade, e especialmente
Maurice Halbwachs (2006) sobre memória. No segundo capítulo pensa o discurso ficcional e
literário, e o terceiro é analítico, visando compreender como os discursos da história e da
literatura se entrelaçam.
Thiel afirma ser “cada vez maior a evidência de que a memória é capaz de influenciar
a constituição identitária do sujeito, seja na vida real, ou no romance analisado, é que nossas
memórias são afirmadas como essenciais em nossas vidas” (THIEL, 2016, p. 77). Segundo a
134
pesquisadora, “a identidade dos personagens mostrou-se influenciada pelo contexto em que
estes viviam, e as gerações seguintes acabaram sendo influenciadas também, mesmo que não
tenham vivido o contexto de repressão” (THIEL, 2016, p. 78). Concluiu que memória e
identidade tornam-se fundamentais na construção da personalidade do indivíduo, e no
reconhecimento como sujeito pertencente a um meio social.
No dia 29 de setembro de 2016, o aluno João Paulo Massotti defendeu sua dissertação
“Repressão, censura e silenciamentos: a ditadura militar brasileira aos olhos de Caio Fernando
Abreu”, com orientação da professora Luana Teixeira Porto e co-orientação do professor
Breno Antonio Sponchiado. O objetivo desse trabalho foi analisar cartas e contos de Caio
Fernando Abreu, escritos durante o período ditatorial, procurando investigar a censura, a
tortura e os silenciamentos presentes nos textos produzidos pelo autor nesse período. Para
desenvolver o estudo comparativo entre as narrativas, foram adotadas as perspectivas teóricas
de autores como Alfredo Bossi, Alexandre Stephanou, Lilia M. Schwarcz, Heloísa M.
Starling, Luís Antônio Groppo e Tânia Pelegrini, a partir das quais são analisados aspectos
histórico-sociais, bem como Aleida Assman, Pierre Nora, Maurice Halbwachs, Paul Ricoeur e
Jaime Ginzburg, que embasam questões sobre a memória e sua relação com o contexto –
ditadura militar – investigado.
O trabalho, estruturado em três capítulos, resenha o período histórico que vai de 1964
a 1985, ao qual está vinculada a escrita das cartas e dos contos de Caio Fernando Abreu.
Discute conceitos de memória, e analisa contos e cartas, a fim de avaliar como foram os
posicionamentos do autor sobre esse período histórico-social ao criar narrativas ficcionais e
autobiográficas. As reflexões finais, na seção quatro do texto da dissertação, ainda têm o
objetivo de pensar a literatura e as cartas de Caio Fernando Abreu como testemunho, muitas
vezes velado de um período muito duro da literatura nacional.
Em suas considerações finais, Massotti (2016) descreve a ditadura militar como um
“período em que, não só estanca os sonhos daquela geração, mas também inviabiliza um
pensamento crítico livre das amarras da censura. Caio apresenta uma voz que fala da opressão
através de narradores indeterminados, muitas vezes sem rosto, lugar ou nome” (MASSOTTI,
2016, p. 116). Destaca “as inúmeras narrativas feitas por Caio Fernando Abreu em relação ao
período ditatorial provém inicialmente da esperança que o próprio autor nutria acerca da
possibilidade de despertar o leitor para as questões sociais que ocorreram no país”
(MASSOTTI, 2016, p 117). Massotti enfatiza que Caio deixa como testemunho uma forma de
resistência, ao abordar a repressão, a tortura e os silenciamentos, durante o período ditatorial,
em seus textos literários e epistolares.
135
A aluna Simone de Freitas Sanguebuche Bester, no dia 18 de outubro de 2016,
apresentou seu trabalho “Integrar-se ou desintegrar-se, eis a questão: a representação de
personagens homossexuais em contos e telenovela brasileiros contemporâneos”, sob a
orientação da professora Luana Teixeira Porto. Discute a identidade de personagens
homossexuais em produções culturais brasileiras contemporâneas a fim de observar se há uma
tendência à configuração de estereótipos relativos à sexualidade e à prática homofóbica. A
pesquisa, ao longo de três capítulos, propôs um cotejo entre texto literário e telenovela,
reconhecendo, nas entrelinhas destes discursos, o sentido que as falas dos personagens e dos
narradores assumem na composição dos enredos.
As produções literárias selecionadas para esta pesquisa fizeram parte da coletânea de
contos contemporâneos Entre Nós: contos sobre homossexualidade (2007), organizada pelo
escritor Luiz Ruffato, a qual, em suas 19 narrativas curtas, aborda a homossexualidade. Os
contos selecionados para a dissertação foram: ― Rútilos, de Hilda Hilst, ― A Moralista, de
Dinah Silveira Queirós, e ―Morte de mim, de Cintia Moscovich.
Bester observa “o processo histórico em que os personagens estão inseridos,
percebendo as marcas do patriarcalismo ainda sobre as relações homossexuais
contemporâneas” (BESTER, 2016, p. 15). Quanto ao perfil dos personagens homossexuais
em sua relação no contexto social, conclui que estes apresentam “grandes dificuldades de
relacionar-se com os demais membros do contexto em que viviam, uma vez que não eram
aceitos devido a suas escolhas” (BESTER, 2016, p. 99). A análise revela, em narrativas
fictícias, “[...] a preocupação de, através do olhar de seus personagens, revelar, de forma
distinta, o quanto é necessário os sujeitos integrarem-se e quanto isso é custoso para
sociedade, que desintegra aqueles que não seguem os preceitos estabelecidos por ela”
(BESTER, 2016, p. 101).
Tani Gobbi dos Reis, com orientação da professora Silvia Helena Pinto Niederauer,
defendeu no dia 14 de dezembro de 2017, a dissertação “O resgate da memória na
conformação da identidade moçambicana: reminiscências de Imani, em Mulheres de Cinzas,
de Mia Couto”. O objetivo geral foi investigar a narrativa literária, tendo como objeto de
análise o livro Mulheres de cinzas, de Mia Couto, enquanto (com)formadora da identidade
moçambicana através de uma retomada da memória e história de um povo (usa os termos de
Gagnebin, 2006) preservando, salvando e resgatando um passado desaparecido. A
recapitulação desse período histórico de Moçambique se dá por meio do diálogo entre a
história oficial e a oral, sendo também um ponto norteador do romance de Mia Couto: “A
narrativa apresenta uma reelaboração da história sob a ótica do colonizado, com base nas
136
questões aquém da história oficializa – referimo-nos à história contada pelos brancos,
recuperando uma “história” que é desconhecida ou foi negligenciada pela Grande História”
(REIS, 2017, p. 8). A dissertação, estruturada em 3 capítulos, recorreu a estudos de Manuel
Ferreira, José Pires Laranjeira, Ana Mafalda Leite, Paul Ricoeur, Jeanne Marie Gagnebin,
Inocência Mata, Jane Tutikian. Reis enfatiza que é preciso “conservar na memória os fatos
para que não se repitam, talvez esse seja um dos objetivos do autor o retratarem sua narrativa
literária alguns dos fatos passados pelo seu território” (REIS, 2017, p. 92).
QUADRO 11 – Dissertações ingressantes Turma 2015 – Literatura, História e Memória
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Adriana Folle
14/12/2017
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Janice Thiel
- PUC-PR e Dra. Denise Almeida Silva –
URI
Histórias que nos contam: O
imaginário indígena em narrativas
de Daniel Munduruku
Claudia Maíra Silva de
Oliveira
05/09/2017
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Marcos
Hidemi de Lima – UTFPR e Dra. Ana
Paula Teixeira Porto –URI
Histórias para incomodar os da
casa grande em seus sonos
injustos: menores em situação de
risco em contos de Conceição
Evaristo
Emanoeli Ballin
Picolotto
29/08/2017
Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Rafael
Eisinger Guimarães – UNISC e Dra.
Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing –
URI
Prêmio Jabuti e os romances
premiados no século XXI:
Diálogos e intersecções
Patrícia Simone
Grando Ferreira
17/04/2018
Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Luciane
Figueiredo Pokulat - IFFAR/FW e Dra.
Luana Teixeira Porto – URI
O (quase não) lugar da literatura
na formação de professores de
Letras
Fonte: Quadro elaborado pela autora
Em 2015, a turma de ingressantes teve doze alunos matriculados. Destes, quatro
optaram pela LP – Literatura, História e Memória, tendo sido orientados pelas professoras
Ana Paula Teixeira Porto, com duas orientandas, e as professoras Denise Almeida Silva e
Luana Teixeira Porto, com uma orientação cada.
A discente Adriana Folle apresentou sua defesa no dia 14 de dezembro de 2017, com o
trabalho intitulado “Histórias que nos contam: O imaginário indígena em narrativas de Daniel
Munduruku”. A pesquisadora objetivou registrar narrativas contadas por Daniel Munduruku
em suas histórias escritas, mapeando temas e formas dos textos reproduzidos pelo escritor,
para identificar o imaginário do indígena sobre sua cultura. Aborda o conceito de memória
137
cultural e acentua a relação entre narrativa e identidade, já que as histórias contadas devem
revelar também traços da vida e do comportamento dos indígenas e o imaginário que o
próprio indígena constrói sobre si mesmo.
Para alcançar os objetivos propostos na pesquisa, Folle (2017) destaca, inicialmente, a
importância da oralidade na literatura indígena, para o que busca referencial teórico em Érika
Bergamasco Guesse, Walter Benjamin, Janice Thiél, Graça Graúna e Eliane Potiguara. O
segundo capítulo dedicou-se à narrativa de Daniel Munduruku, apontando traços formais e
temáticos característicos; o terceiro, voltado a uma reflexão associada à contrariedade ao
esquecimento da cultura indígena, aborda a necessidade de preservação dos textos em estudo
como elementos cruciais do patrimônio cultural brasileiro.
Ao final, Folle advoga a “[...] defesa do patrimônio cultural indígena e ao
reconhecimento do valor literário e social da narrativa de Munduruku, em um contexto de
preservação da cultura indígena no campo das Letras e dos Estudos Culturais” (FOLLE, 2017,
p. 30). O trabalho destaca que a narrativa de Daniel Munduruku apresenta “[...] organização
formal [semelhante] a qualquer narrativa, com marcação e personagens, enredo, fatos a serem
desenrolados, tempo e espaços definidos” (FOLLE, 2017, p. 121). Reconhece “[...] a
habilidade narrativa dos povos indígenas. Ler, reproduzir tais histórias e guardá-las na
memória é, sem dúvida, uma atitude ética e política” (FOLLE, 2017, p. 124)
Claudia Maíra Silva de Oliveira defendeu seu trabalho no dia 05 de setembro de 2017,
intitulado “Histórias para incomodar os da casa grande em seus sonos injustos: Menores em
situação de risco em contos de Conceição Evaristo”, com orientação da professora Denise
Almeida Silva. Com essa pesquisa, a pesquisadora objetivou examinar se e de que formas a
representação, em contos de Conceição Evaristo, de menores socialmente vulnerabilizados
pode contribuir para inquietar o leitor, conscientizá-lo da violência de tal situação, e, assim,
humanizá-lo. Tais considerações ampliam as reflexões sobre a função social da literatura, o
que é feito, sobretudo, a partir de estudos de Antônio Candido (2000; 2002; 2011), a partir do
pensamento da própria Conceição Evaristo e de Antonio Candido.
A dissertação, estruturada em quatro capítulos, situa a personagem infantil e a infância
na literatura contemporânea no Brasil, conceitua indivíduo em desenvolvimento,
vulnerabilidade e violência, analisa o corpus ficcional, com o intuito de investigar o perfil de
crianças e adolescentes em situação de risco em contos de Evaristo, e, no quarto capítulo,
reflete sobre a relação entre literatura e sociedade.
Oliveira constata que “Conceição Evaristo apresenta, nos contos analisados, uma
denúncia social, pois coloca em evidência enredos pouco ou não abordados na literatura:
138
crianças pobres, e/ou pobres crianças, destituídas do amor e proteção da família, embora
providas economicamente” (OLIVEIRA, 2017, p. 98).
Emanoeli Ballin Picolotto, no dia 29 de agosto de 2017, defende sua dissertação
“Prêmio Jabuti e os romances premiados no século XXI: diálogos e intersecções”, com
orientação da professora Ana Paula Teixeira Porto. Ao longo de três capítulos, Picolotto
apresenta descrição pormenorizada do Prêmio Jabuti, desde sua criação até a atualidade,
identificando tendências formais e temáticas dos romances premiados no período 2000-2016,
a fim de estabelecer o perfil romanesco valorizado pelo Prêmio, bem como o perfil dos
autores premiados. Teóricos como Eliana de Fátima Rodrigues e Cândida Vilares Gancho
auxiliaram o aporte teórico sobre a análise dos romances.
Nas considerações finais, Picolotto (2017) salientou a falta de aporte teórico-crítico
sobre as premiações literárias. No processo de compreensão do Prêmio Jabuti, a pesquisadora
destaca “que ele forma um „cânone‟ literário, pois as obras ali consagradas serão bem vistas
diante do meio editorial e acadêmico. [...] O Prêmio, assim, alimenta o mercado do que vai se
publicar e do que terá maiores chances de ser lido.” (PICOLOTTO, 2017, p. 100). Também
“[...] sinaliza tendências literárias, tendo em vista que a partir dessas obras consagradas é
possível identificar um panorama da atual literatura através dos modos de escritas e técnicas
encontrados nos livros” (PICOLOTTO, 2017, p. 101), projetando obras e autores, e servindo
como um instrumento reconhecido pela crítica, pois premia obras e autores contemporâneos
que representam a literatura atual.
A aluna Patrícia Simone Grando Ferreira apresentou sua defesa no dia 17 de abril de
2018, com o trabalho “O (quase não) lugar da literatura na formação de professores de
Letras”, tendo como orientadora a professora Ana Paula Teixeira Porto. O objetivo geral da
pesquisa foi compreender o lugar ocupado (ou não) pela literatura na formação dos docentes
de cursos de Letras do Brasil, usando uma amostra composta por dez cursos brasileiros. Busca
identificar, nesses cursos, um cenário parcial de como a literatura é oferecida aos futuros
docentes da Educação Básica em suas formações iniciais. Em seu embasamento teórico,
baseou-se nas reflexões de Antonio Candido (1989, 2002, 2011), Harold Bloom (2001), Paulo
Freire (1989, 2002), dentre outros.
Para atender aos objetivos propostos, o trabalho foi estruturado em quatro capítulos: o
primeiro, “Literatura e a formação humana”, discorre sobre a ligação da literatura com a
formação do ser humano. No capítulo II, “Formação de Professores de Letras: o lugar da
literatura”, a autora apresenta estudos das leis e documentos sobre a educação básica e
139
entendermos como a literatura deve ser encarada no ensino. No capítulo III, foi apresentada a
metodologia da pesquisa, e o quarto contempla a análise de dados.
Nas conclusões, Ferreira (2018) destaca que a carga horária destinada à formação
inicial, com base nos cursos analisados, “é mais ampla do que a solicitada na Resolução
CNE/CP n.2/2002, que são 2800 horas totais mínimas; além disso, esses cursos já atendem ao
disposto na Resolução n. 2/2015, pois nenhum deles exige menos de 3200 horas totais
mínimas.” (FERREIRA, 2018, p. 96). Sobre o (quase não) lugar da literatura na formação de
professores de Letras, a pesquisadora percebeu que na formação inicial os docentes têm um
contato limitado com a literatura, precisando “encontrar seu lugar e reassumir seu papel,
ganhar novamente o seu protagonismo e auxiliar na reconstrução dos Cursos de Letras, uma
vez que ninguém melhor que o próprio docente para auxiliar na resolução de questões sobre a
sua prática.” (FERREIRA, 2018, p. 97). A partir dos resultados apresentados, a autora faz
votos de que “os currículos possam ser repensados, dando ênfase à formação literária destes
professores, pois, ao compreender a grandiosidade da contribuição da literatura, seu valor não
poderá ser descartado” (FERREIRA, 2018, p. 99).
O ano de 2015 se configurou como o último em que os ingressantes apresentam, já,
trabalhos concluídos. Dos dez alunos matriculados em 2016, três optaram pela Linha –
Literatura, História e Memória; contudo, até a presente data, todas as dissertações estão em
progresso. Da turma que ingressou no ano de 2017, dos oito alunos matriculados, três alunas
optaram pela LP – Literatura, História e Memória, e duas delas encontram-se, ainda, em fase
de construção de suas pesquisas.
No primeiro quadriênio do PPGL, que correspondeu aos anos de 2013, 2014, 2015 e
2016, a LP – Literatura, História e Memória teve um total de 12 dissertações defendidas. Em
relação à distribuição das orientações nesse período, constatou-se que a professora Denise
Almeida Silva teve dois orientandos; convidados externos para as bancas foram: Dr.
Wellington Ricardo Fiorucci (UTFPR) e Dr. Marcos Hidemi de Lima (UTFPR). Os temas
abordados tratam das relações entre memória, espaço e violência em contexto marginal, e da
representação de menores vulnerabilizados; ambos os trabalhos analisam obras de Conceição
Evaristo, Becos da Memória e contos publicados em várias antologias da autora. A base
teórica fundamentou-se em Santos, Halbwacks, Assmann, Candau, Nora, Pollak e Candido.
A professora Ilse Maria da Rosa Vivian teve três orientandos; como convidados
externos salientaram-se os professores Dr. Anselmo Peres Alós (UFSM), por duas vezes
convidado e Dr. Reges Shwaab (UFSM). Os temas orientados pela professora relacionam-se
ao gênero épico, memória e identidade, contemplando literatura portuguesa, moçambicana e
140
brasileira, tendo sido analisadas as obras com: O apocalipse dos trabalhadores, de Valter
Hugo Mãe, Niketche: uma história de poligamia, de Paulina Chiziane e No tempo das
tangerinas, de Urda Alice Klueger. Autores recorrentes na fundamentação dos trabalhos por
ela orientados foram Platão, Benjamin, Lukács, Le Goff, Nora, Certeau ae Halbwacks.
A professora Luana Teixeira Porto também orientou, nesse quadriênio, três alunos,
com temas como o imaginário indígena, memória, identidade e narrativa, violência e
sexualidades excêntricas. Na composição das bancas destacam-se os professores Dr. Lizandro
Carlos Calegari (UFSM), duas vezes convidado, e a Dra. Janice Thiel (PUC- Pr); dentre os
autores estudados figuram Caio Fernando Abreu e Daniel Munduruku. Os principais teóricos
utilizados para as pesquisas foram Ricouer, Bossi, Ginzburg, Focault, Benjamin, Graúna e
Potiguara.
Alguns temas abordados nos trabalhos orientados pela professora Ana Paula Teixeira
Porto foram a historiografia literária e literaturas africanas de língua portuguesa. Na
composição das bancas estiveram presentes os professores Dr. Rafael Eisinger Guimarães
(UNISC), Dra. Maria Elisa Rodrigues Moreira (UNICOR) e Dra. Luciane Figueiredo Pokulat
(IFFAR-FW) egressa do Mestrado em Letras da URI, da turma de ingressantes do ano de
2009. Um autor recorrente foi Mia Couto; teóricos frequentes indicados pela orientadora
foram Compagnon, Zilberman, Dalcastagnè, Rösing, Candido, Freire e Bloom.
Por fim, a professora Silvia Helena Pinto Niederauer orientou um trabalho, sobre a
obra de Mia Couto, abordando a identidade moçambicana, com embasamento teórico em
Ricouer e Gagnebin. Como convidada externa, mais uma vez, registra-se sua parceria com a
professora Dra. Inara de Oliveira Rodrigues (UESC-Ilheus).
No ano de 2017 iniciou o segundo quadriênio do PPGL, que corresponde aos anos
entre 2017 e 2020. Porém, como o programa não oferece mais vagas, restam apenas as
defesas de alunos pendentes dessa linha, como já especificado anteriormente.
3.3 Dissertações produzidas a partir da linha 2: Memória e Identidade Cultural (2006) e
Comparatismo e Processos Culturais (2010)
3.3.1 Linha 2: Memória e Identidade Cultural
Os alunos ingressantes no Mestrado em Letras que escolheram a Linha de Pesquisa
“Memória e Identidade Cultural”, desenvolveram pesquisas em torno dos seguintes objetivos:
141
[...] estudar os processos de construção dos sistemas de representações, ou seja, as
identidades, a memória e os espaços simbólicos, buscando o entendimento das
práticas sociais, artísticas e culturais; acompanhar e refletir as dimensões do debate
em torno de temas contemporâneos da cultura, na perspectiva da produção de
conhecimentos a partir das manifestações observáveis na Região Norte e Noroeste
do RS. Isso levará à constituição de acervos de fontes e referências variadas, que
contribuirá para estudos acerca das identidades culturais e das suas afirmações
identitárias em áreas como a Literatura, a História, a Antropologia. (CURRICULO
em extinção, Linha 2, 2018)
Em relação à primeira turma, no ano de 2006, duas dissertações foram orientadas pela
Professora Ada Maria Hemilewski e uma pela Professora Denise Almeida Silva. As bancas
de defesa dos orientandos da primeira aconteceram em dois dias subsequentes, em agosto de
2018, conforme indica o quadro-resumo abaixo, e tiveram a mesma composição. Três meses
depois, em novembro de 2008, viria a acontecer a defesa da dissertação de Claudio Roberto
Silva Mineiro.
QUADRO 12 – Dissertações ingressantes Turma 2006 – Memória e Identidade Cultural
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca
Título da Dissertação
Cláudio Roberto da
Silva Mineiro
24/11/2008
Dra. Denise Almeida Silva –
Orientador/Presidente – URI; Dr. Alfeu
Sparemberger – UFPEL e Dra. Isabel da
Rosa Gritti – URI
No país do Bom Fim: A
representação da identidade
judaica em A guerra no Bom
Fim
Edivane Silvia Piovesan
07/08/2008
Dra. Ada Maria Hemilewski –
Orientador/Presidente – URI; Dr.
Orlando Fonseca – UFSM e Dr. Robson
Pereira Gonçalves – URI
Em busca da cocanha: a
(re)construção da identidade
cultural italiana no Rio
Grande do Sul
Márcia Rejane Kristiuk 08/08/2008
Dra. Ada Maria Hemilewski –
Orientador/Presidente – URI; Dr.
Orlando Fonseca – UFSM e Dr. Robson
Pereira Gonçalves – URI
O Caminho da Pedra: um
diálogo entre literatura e
história
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A primeira dissertação da Linha 2 foi defendida no dia 07 de agosto de 2008 pela
discente Edivane Silvia Piovesan. A pesquisa foi intitulada “Em busca da Cocanha: a
(re)construção da identidade cultural italiana no Rio Grande do Sul”. O trabalho teve como
objetivo investigar as relações culturais dos imigrantes italianos que chegaram ao Rio Grande
do Sul no final do século XIX, a partir da leitura do romance A Cocanha, de José Clemente
Pozenato, escritor gaúcho. Intérprete da tradição italiana, Pozenato enfoca a influência de
descendentes de imigrantes, registrando momentos significativos de sua vivência no Rio
Grande do Sul, mais especificamente na região serrana.
142
A fundamentação teórica foi baseada em conceitos sobre os cruzamentos entre a
Literatura e a História, com postulados, dentre outros, de George Lukács, Peter Burke,
Auguste Comte, Jacques Le Goff, Hayden White, Paul Ricoeur, Walter Mignolo, Alfredo
Bosi e Luiz Costa Lima, aos quais se dedica o capítulo segundo, “Literatura e História: uma
viagem entre fronteiras”. Ainda com reflexões teóricas, o terceiro capítulo, “Entre-lugar: no
limiar das fronteiras culturais”, debruça-se sobre a questão da identidade e diferença com
postulados de Homi Bhabha, Stuart Hall, Kathryn Woodward, Tomaz Tadeu da Silva,
Benedict Anderson e Zilá Bernd. Também introdutório à análise textual, o capítulo IV “A
Cocanha: entrelaçamento da História e da ficção na (re)construção da identidade cultural”, faz
referência à narrativa histórica da imigração italiana, explica o termo cocanha, e resenha seu
uso na literatura. Por fim, no quinto capítulo, “A (re)construção da identidade cultural no país
da cocanha”, como o nome indica, analisa a construção da identidade individual e coletiva dos
imigrantes. O capítulo final, “Porto de chegada” apresenta os resultados da aprendizagem que
o estudo proporcionou à pesquisadora, sobretudo, no que tange à significação e valorização da
cultura italiana em terras gaúchas representada na obra literária. Segundo Piovesan (2008) “A
narrativa de Pozenato busca na arte a realidade histórica empírica, registrando, através da
verossimilhança, os nexos essenciais de acontecimentos reais recriados ficcionalmente”
(PIOVESAN, 2008, p. 103).
No dia 08 de agosto de 2008, a egressa Márcia Rejane Kristiuk, apresentou a
dissertação “O caminho da pedra: Um diálogo entre literatura e história”. O trabalho,
delimitado de acordo com a LP “Memória e Identidade Cultural”, investigou o diálogo entre
literatura e história no romance O caminho da pedra, de Mário Simon, narrativa que traz a
história da destruição dos Sete Povos das Missões e a imigração alemã: os colonos, ao
receberem as terras demarcadas, tomaram o espaço cultural e territorial do índio.
O primeiro capítulo, “O diálogo entre Literatura e História” realiza um percurso
teórico sobre as relações dos fatos históricos com o discurso ficcional, embasado, sobretudo,
em Walter Mignolo, Roland Barthes e Hayden White e Maria Teresa de Freitas. O segundo
capítulo, “Povoamento no Rio Grande do Sul” recupera a história das missões jesuíticas, e os
embates entre portugueses e espanhóis. No terceiro capítulo, “Análise da Obra O Caminho
da Pedra” de Mário Simon” foram estudadas as contribuições do romance em torno da
questão indígena, abordando a perda de identidade do indígena e as situações de exclusão, de
marginalização que este sofreu e ainda sofre. Por fim, a análise da obra de Mário Simon
buscou entender o que aconteceu com a cultura indígena e compreender a história social,
demonstrando que “a ficção, se não pode acessar a realidade, de alguma forma, tem como
143
representá-la” (KRISTIUK, 2008, p. 11). Longe de ser o indígena idealizado do romantismo,
o personagem de Simon é um indígena sofrido, dizimado e marginalizado.
A última dissertação da Linha 2, referente aos ingressantes em 2006, foi apresentada
no dia 24 de novembro de 2008, por Cláudio Roberto da Silva Mineiro. Intitulada “No país
do Bom Fim: a representação da identidade judaica em A guerra no Bom Fim”, a pesquisa
teve como objetivo estudar os processos de construção dos sistemas de representação da
identidade cultural. Tais estudos basearam-se em pressupostos teóricos de Stuart Hall, Moacir
Scliar, Nilton Bonder, Bernardo Sorj, Homi K. Bhabha, Ernest Renan, Benedict Anderson e
Maurice Halbwachs.
No primeiro capítulo, “Identidade cultural: a condição judaica” o pesquisador
esclarece o conceito de identidade e diferença, ressaltando ainda no papel da memória, da
narrativa e do rito na constituição da identidade do judeu. No segundo capítulo “Comunidades
imaginadas: o país do Bom Fim, “uma morada do coração”, a construção do conceito de
nação e das narrativas da cultura nacional, além do papel da história, memória e esquecimento
nesse processo são discutidos. Por fim, o capítulo III, “No país do Bom Fim: trânsitos
multiculturais e a narração da guerra” analisa a representação da vida cotidiana da
comunidade judaica em suas interações intra- e interculturais.
Em suas conclusões, Mineiro (2008) destaca que a narrativa trata de questões inerentes
a cultura e história de vida de Scliar enquanto judeu, fazendo uso, também, da memória
coletiva: seus personagens carregam sentimentos e traços que estão firmados no cruzamento
de sua história pessoal e história do povo judeu.
Como se pode averiguar no quadro-resumo, dos três alunos que optaram pela LP
Memória e Identidade Cultural, dois fizeram suas defesas nos dias 07 e 08 de agosto de 2008,
com mesma banca e professora orientadora, assim como aconteceu na LP Literatura, História
e Imaginário. Além disso, os temas abordados revelam a preferência pelo estudo sobre as
identidades culturais do Rio Grande do Sul, contemplando processos de construção dos
sistemas de representação da identidade cultural da colonização italiana, indígenas e judaica.
QUADRO 13– Dissertações ingressantes Turma 2007 – Memória e Identidade Cultural
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Marli Terezinha
Morgenstern 05/11/2009
Dra. Denise Almeida Silva –
Orientadora/Presidente – URI; Dr. Adeítalo
Manoel Pinho – UEFS e Dr. André Luís
Mitidieri Pereira– URI
Um certo oriente sob os olhos da memória
144
Miquela Piaia
24/09/2009 Dr. André Luís Mitidieri Pereira –
Orientador/Presidente – URI; Dra. Maria da
Glória Bordini – UFRGS/CNPq e Dr. Robson
Pereira Gonçalves – URI
Rastros da literatura
brasileira na história da
colônia Neu-Württemberg
Neiva Andréa
Klagenberg 04/11/2009
Dr. André Luís Mitidieri Pereira –
Orientador/Presidente – URI; Dr. Adeítalo
Manoel Pinho – UEFS e Dra. Denise Almeida
Silva – URI
Migração, exílio e nação:
No tempo das tangerinas,
um rio imita o Reno
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A LP - Memória e Identidade Cultural, no ano de 2007, teve três alunos matriculados,
sendo que Miquela Piaia defendeu a dissertação intitulada “Rastros da literatura brasileira na
história da colônia Neu-Württemberg” no dia 24 de setembro de 2009. O trabalho estuda o
acervo literário, representado por cartas, anotações e publicações do Sr. Arno Philipp,
imigrante alemão da comunidade teuto-brasileira de Panambi, cidade natal da mestranda. A
dissertação utiliza a noção de “rastro” no campo dos estudos históricos, com base em Carlo
Ginzburg. A partir do próprio rastreamento desse conceito, busca verificar as eventuais
relações entre os métodos dos micro-historiadores, dos críticos literários e dos críticos
culturais, estudando o papel dos acervos literários junto à crítica contemporânea e, a partir daí,
a organização do Acervo Literário Arno Philipp, com base no Manual de Organização do
Acervo Literário Erico Verissimo, de Maria da Glória Bordini. Alguns itens, como dados e
rastros, permitiram chegar a outras fontes, de modo a tecer uma série de considerações acerca
da presença da literatura brasileira em Panambi. O segundo capítulo – “Micro-história e
crítica cultural” fundamenta-se nos trabalhos de Eneida Maria de Souza, verificando as
possíveis relações entre os métodos dos micro-historiadores, dos críticos literários e dos
críticos culturais; o terceiro, intitulado “Taunay e Alencar no Acervo Literário Arno Philipp”
estuda o papel da memória na literatura, relatando a organização em acervo dos documentos
pertencentes ao Sr. Philipp, bem como descrevendo os itens acervados e já tentando entender
a história que eles possam contar. O quarto e quinto capítulos, “Visconde de Taunay e seus
familiares” e “José de Alencar em alemão” estuda a relação de Arno Phillip com esses
escritores, bem como organiza o material legado por Philipp, começando por classificá-lo e
dispô-lo em suportes adequados.
Em suas considerações finais, Piaia destaca:
Distorcendo as fontes históricas, para que falem sobre a literatura, produzo um
trabalho de historiografia literária, com várias lacunas a serem preenchidas. Muitas
de suas passagens vêm à tona por meio das cartas trocadas entre o Sr. Philipp, os
escritores e seus familiares que, em grande maioria, se referem a traduções de obras
145
literárias de José de Alencar e do Visconde de Taunay. Assisto então a constantes
insatisfações com o meio editorial brasileiro. Registro o desânimo do Visconde, pelo
pouco incentivo e retorno material a seus trabalhos. Reclamações acerca de um
Brasil sem lei juntam-se a confidências desgostosas de Mario de Alencar. Revelam-
se também as ligações do deputado teuto-brasileiro com o centro do País e as
colônias alemãs do interior do Rio Grande do Sul (PIAIA, 2009, p. 98)
A pesquisadora registra, ainda, que a documentação deixada por Arno Philipp precisa
de instrumentos de preservação, pois uma sociedade não se mantém apenas com o
desenvolvimento econômico.
A dissertação “Migração, exílio e nação: No tempo das tangerinas, um rio imita o
Reno” de Neiva Andréa Klagenberg, defendida em 04 de novembro de 2009, sob a orientação
do professor André Luís Mitidieri Pereira, tem como corpus duas obras da narrativa ficcional
sulina, No tempo das tangerinas, de Urda Alice Klueger e Um rio imita o Reno, de
Clodomir Vianna Moog, as quais processam o sentimento de exílio e a consciência nacional
ao representarem histórias de imigrantes alemães e de teuto brasileiros estabelecidos no Vale
do Itajaí, em Santa Catarina, e no Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. O trabalho é
embasado, fundamentalmente, nas teorias de Benedict Anderson e Ernest Renan, quanto ao
conceito de nação, e de Edward Said, em relação ao exílio, apoiando-se também nas
considerações de Gérard Genette sobre o discurso da narrativa. Divide-se em cinco capítulos:
o primeiro introduz o tema, os objetivos e os aportes teóricos: o segundo enfoca as migrações
e deslocamentos em geral, e o sentimento de exílio e a imigração tanto na América Latina
quanto no Brasil, destacando as reflexões, de Clodomir Vianna Moog e Angel Rama, sobre o
conceito de regiões literárias, contraposto ao da homogeneidade das literaturas nacionais. O
terceiro capítulo se constitui da fortuna crítica dos romancistas Urda Alice Klueger e Vianna
Moog, enquanto o quarto capítulo analisa os romances: No tempo das tangerinas eUm rio
imita o Reno, da autoria desses autores, quanto à representação da imigração, do exílio e da
nação. Por fim, no quinto capítulo, são expressas as conclusões às quais a pesquisa realizada
permitiu chegar.
Klagenberger destaca que ambos os romances abordam histórias semelhantes,
trazendo casos amorosos que envolvem alemães e “brasileiros”, ambientados no mesmo
contexto histórico, mas em espaços diferentes. A autora ressalta o preconceito e a
representação da “atmosfera social, política, econômica e cultural, realçando as situações de
conflito e diferentes posições ideológicas expressas pelos personagens” (KLAGENBERGER,
2009, p. 114).
146
A aluna Marli Terezinha Morgenstern apresentou sua defesa no dia 05 de novembro de
2009, tendo como orientadora a professora Denise Almeida Silva. O trabalho intitulado “Um
certo Oriente sob os olhos da memória”, objetivava analisar o romance Relato de um certo
Oriente (2001), de Milton Hatoum, estudando o cruzamento da memória individual e coletiva
no romance. A dissertação foi organizada em quatro capítulos. No primeiro capítulo, “Com os
olhos da memória” resenham-se os estudos sobre a memória de Santo Agostinho, Jacques Le
Goff, Paul Ricouer, Maurice Halbwachs e Pierre Nora. Os três capítulos seguintes são
dedicados à análise do romance: A esfera da infância destaca a figura da matriarca da família
e matriz de toda a história, a personagem Emilie; “A sombra espessa de Emilie” centra-se no
espaço como suporte para a memória, e “Acervos de surpresas da vida” aborda a fotografia
como uma das técnicas profundamente associadas à rememoração. O estudo está embasado
nos conceitos de Roland Barthes, Walter Benjamin e Pierre Bourdieu, além de Maurice
Halbwachs.
Morgenstern conclui que a “própria estrutura da narrativa envolve o entrecruzar de
relatos baseados na memória daqueles que cercaram Emilie. Opera, assim, não só o resgate da
história de sua vida como o da história daqueles que mais intimamente a cercaram”
(MORGENSTERN, 2009, p. 72); ressalta ainda o espaço e o uso de foto como modos de
resgatar e perenizar a memória dos personagens que falecem ao longo do romance.
QUADRO 14– Dissertações ingressantes Turma 2008 – Memória e Identidade Cultural
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Adilson Barbosa
12/08/2010 Dra. Denise Almeida Silva –
Orientadora/Presidente – URI; Dr. Breno
Antonio Sponchiado – Co-orientador – URI;
Dr. Jorge de Souza Araújo – UEFS e Dr.
André Luís Mitidieri Pereira – URI
Cágada: riso, humor e
representação
Isabel Cristina Brettas
Duarte 13/08/2010
Dr. André Luís Mitidieri Pereira –
Orientador/Presidente – URI; Dr. Jorge de
Souza Araújo – UEFS e Dra. Nelci Muller –
URI
Miradas ao México de
Erico Verissimo: viagem,
narrativa e memória no
espaço autobiográfico
Rejane Seitenfuss
Gehlen 26/08/2010
Dr. André Luís Mitidieri Pereira –
Orientador/Presidente – URI; Dra. Heloisa
Toller Gomes – UERJ e Dra. Denise Almeida
Silva – URI
Angola sob a contística
pós-colonial de João Melo
Fonte: Quadro elaborado pela autora
O quadro 14 apresenta os três alunos ingressantes da LP - Memória e Identidade
Cultural, no ano de 2008, sendo que dois trabalhos foram orientados pelo professor André
147
Luís Mitidieri Pereira e um pela professora Denise Almeida Silva, com co-orientação do
professor Breno Antonio Sponchiado. O primeiro aluno a realizar sua defesa foi Adilson
Barbosa, no dia 12 de agosto de 2010, com a pesquisa intitulada “Cágada: riso, humor e
representação”. Tinha por objetivo analisar o romance Cágada, de Gladstone Osório Mársico,
a fim de mostrar os ativadores de comicidade que provocam o riso e a reflexão, enquanto
crítica social e política acerca da colonização judaica no Rio Grande do Sul e dos momentos
que antecederam o golpe militar de 1964.
A dissertação foi dividida em quatro capítulos: o primeiro versa sobre a história do
riso no pensamento ocidental; o segundo capítulo trata do humor e da construção das
personagens da narrativa, e o terceiro capítulo estuda a relação entre riso e mito,
especialmente às narrativas de faroeste. O quarto capítulo analisa a inserção do romance em
dois contextos históricos distintos, separados por aproximadamente 40 anos: a colonização
judaica no Rio Grande do Sul e o golpe militar de 64. Para o estudo dos aspectos relacionados
ao riso, o aporte teórico foi buscado em Henri Bergson (1980) e Vladimir Propp (1992); em
Stuart Hall (2003), Catherine Woodward (2000) e Tomaz T. da Silva (2000) para análise da
representação da identidade cultural; Mircea Eliade (2006), Claude Levi Strauss (1979),
Eloína Prati dos Santos (2008), Moacir B. de Souza (2009) para pesquisas relacionadas ao
mito do faroeste e de Roland Barthes (1988), Isabel da R. Gritti (1997) e Thomas Skidmore
(1982) para o estudo da relação literatura e história.
Ao concluir a dissertação, Barbosa (2010) constata que o romance em análise “[...]
permite a noção de trânsito cultural, no qual personagens cruzam fronteiras imaginárias” e, ao
problematizar a “[...] questão identitária, permite um novo olhar sobre a história, [e] revela o
processo de abandono e opressão das minorias e abre um amplo espaço de reflexão”
(BARBOSA, 2010, p. 203; p. 200). Observa, ainda, que o estudo concernente ao riso, ao
humor, à comicidade é decisivo para a análise do romance, já que é fundamental à
compreensão da crítica social e histórica presente no romance.
Isabel Cristina Brettas Duarte defendeu sua dissertação, intitulada “Miradas ao México
de Erico Verissimo: viagem, narrativa e memória no espaço autobiográfico”, no dia 13 de
agosto de 2010, com orientação do professor André Luís Mitidieri Pereira. O trabalho objetiva
analisar, no âmbito da Literatura de Viagem, os diferentes tipos de viagens presentes na
narrativa e no espaço autobiográfico da obra México: narrativa de viagem, do escritor Erico
Verissimo. A autora analisa as relações entre o escritor enquanto viajante narrador e o
narrador/viajante enquanto instância que narra suas viagens, organizando-as textualmente; e a
memória – segundo o conceito benjaminiano - como mecanismo que une as instâncias
148
viajante/narrador e narrador/viajante e entre autor, narrador e personagem, num típico
procedimento de narrativas que se inserem no espaço autobiográfico, segundo a definição de
Philippe Lejeune.
O estudo se desenvolve ao longo de três capítulos. O primeiro, “Erico Verissimo:
novos olhares sobre o viajante narrador/narrador-viajante”, enfatiza como a narrativa centra-
se no trabalho da memória, aliado à descrição da viagem, ao trajeto percorrido por Erico e às
informações que fornece sobre a terra visitada e suas gentes. O segundo, “Erico Verissimo:
miradas sobre a memória”, versa sobre a memória, segundo o conceito benjaminiano, como
mecanismo que une as instâncias viajante/narrador e narrador/viajante; já o terceiro, “Erico
Verissimo no espaço autobiográfico: confluência de instâncias diversas”, trata sobre o autor,
narrador e personagem, como triplicação de instâncias que se socorrem da memória.
Concluindo seu trabalho, Duarte (2010) menciona que “a figura do viajante-narrador e
as especificidades do seu olhar, retratadas pelo narrador-viajante, tornam-se uma constante no
livro. Associam-se a ela a questão do deslocamento e do contato com o diferente” (DUARTE,
2010, p. 84). Registra, também, o imbricamento de várias instâncias, razão pela qual “[...] o
processo narrativo e seus vínculos com a memória, segundo o conceito benjaminiano,
mostram-se de suma importância ao desvendamento das relações entre memória e narrativa”
(DUARTE, 2010, p. 87).
No dia 26 de agosto de 2010, Rejane Seitenfuss Gehlen apresenta sua pesquisa
“Angola sob a contística pós-colonial de João Melo”, orientada pelo professor André Luís
Mitidieri Pereira. O objetivo consistiu em relacionar as obras literárias Imitação de Sartre &
Simone de Beauvoir e Filhos da pátria, de autoria de João Melo, compreendidas como
literatura pós-colonial, com o colonialismo, o anticolonialismo, o neocolonialismo e o anti-
neocolonialismo, diretamente implicados no conceito de pós-colonialismo. Para viabilizar tal
estudo, divide-o em quatro capítulos: o primeiro, “Engajamento sartriano e formulações pós-
coloniais”, a partir da afirmação sartriana de que a obra de arte, vista de qualquer ângulo,
equivale a um ato de confiança na liberdade dos homens; o segundo, “Identidades e nações
de língua portuguesa”, faz referência à questão identitária e às literaturas dos países africanos
de língua portuguesa principalmente no período pós-colonial, em que a superação da condição
de subalternidade assume diferentes traços em cada país. O terceiro capítulo, “A escrita pós-
colonial de João Melo”, leva a uma releitura do engajamento como alteridade, fornecendo
lastro para a análise da obra literária Imitação de Sartre & Simone de Beauvoir. Já o quarto
capítulo. “A escrita pelo revés, histórias da margem” analisa as narrativas evidenciando a
149
degradação social, pobreza, bem como os impactos da guerra na desagregação das famílias, e
os negócios escusos da elite angolana no período pós-independência.
A análise identifica discurso marcado pelo questionamento e pela denúncia de valores
opressivos, impostos por uma história de colonização e dominação, cujo processo de reversão
se inicia a partir da descolonização e se estende à atualidade. Gehlen conclui:
A textualidade pós-colonial apresenta espaços de contestação, onde se articulam
verdades expressas pela atitude de opor-se a todas as formas de opressão e
dominação, independente da delimitação do prefixo pós. A abordagem estética
criativa de João Melo volta-se para a conscientização da necessidade de resistência
através de muitas vozes e múltiplos pontos de vista, através dos quais se constroem e
reconstroem utopias, buscam-se saídas para a incerteza contemporânea da África de
língua portuguesa. (DUARTE, 2010, p 153)
QUADRO 15– Dissertações ingressantes Turma 2009 – Memória e Identidade Cultural
Nome/ Data
Defesa Orientador(a)/
Banca Título da Dissertação
Adriana Maria
Romitti Albarello 29/09/2011
Dra. Denise Almeida Silva –
Orientadora/Presidente – URI; Dr.
Uruguay Cortazzo González – UFPEL e
Dr. Lizandro Carlos Calegari – URI
Deslocamento, memória e identidade
em A Casa da Água, de Antonio
Olinto
Fonte: Quadro elaborado pela autora
Como o quadro 15 deixa claro, uma única aluna matriculou-se na LP 2 na turma de
ingressantes do ano de 2009, Adriana Maria Romitti Albarello, que se tornou a última aluna
dessa Linha de Pesquisa. A discente, orientada pela professora Denise Almeida Silva,
apresentou o trabalho “Deslocamento, memória e identidade em A Casa da Água, de
Antonio Olinto”, no dia 29 de setembro de 2011, o qual teve como objetivo estudar as
relações entre deslocamento, memória e identidade nesse romance. Ao longo de quatro
capítulos, essas relações foram analisadas a partir da história de vida dos personagens
Catarina, Mariana e os filhos, Joseph, Ainá e Sebastian, buscando compreender o duplo
deslocamento do negro, que, tendo sido escravizado, é trazido ao Brasil, e, com o término da
escravidão, retorna à África. A relação memória-identidade, a partir dos fundamentos teóricos
de Maurice Halbwachs (2006), Paul Connerton (1993), Ecléia Bosi (2001), Michael Pollack
(1992) e R. C. Brandão (1990), e o conceito de entre-lugar de Homi Bhaha foram
fundamentos teóricos expostos no capítulo inicial. O segundo capítulo trata da presença do
negro no contexto literário brasileiro e o terceiro capítulo ocupa-se do estudo da obra A casa
da água a partir das noções de deslocamento, memória e identidade.
Albarello registra que
150
[...] estar em diferentes territórios pode revelar que o entre-lugar é capaz de abrir
caminho à significação de uma cultura, baseada na articulação de um misto de
tradições. Explorar o Terceiro Espaço é o meio de constituir-se, assim como o faz
Mariana, que reconstrói sua posição identitária, já que as identidades devem ser
entendidas como estratégias resultantes de desejos ou interesses de filiação a grupos
específicos e, portanto, elas são sempre passíveis de reestruturação. (ALBARELLO,
2011, p. 117)
No triênio, sete alunos desenvolveram pesquisas na LP – Memória e Identidade
Cultural. As orientações nesses três anos se dividiram entre o professor Dr. André Luís
Mitidieri Pereira e a professora Dra. Denise Almeida Silva, que mantiveram uma mútua
colaboração na composição das bancas, já que banca do dia 04 de novembro de 2010, com a
presidência do professor André Luís Mitidieri Pereira, foi a mesma do dia seguinte, com a
presidência da professora Denise Almeida Silva, tendo como professor externo o Dr. Adeítalo
Manoel Pinho (UEFS). O mesmo fato se repetiu no ano seguinte em mais duas defesas, que
contaram com a presença do professor Dr. Jorge de Souza Araújo, também da UEFS. As
demais defesas contaram com professores: Dra. Maria da Glória Bordini (UFRGS), Dr.
Uruguay Cortazzo Gonzáles (UFPEL) e Dra. Heloisa Toller Gomes (UERJ). Os convidados
externos refletem um claro alargamento das relações tecidas com docentes de outras IES, já
não mais restritos a docentes em atuação em universidades sitiadas no RS. Memória e
identidade se firmaram como temas recorrentes abordados pelos discentes orientados por
ambos os professores; o espaço biográfico, a partir das orientações do professor André Luís
Mitidieri Pereira, passou a figurar nas pesquisas. Esse triênio foi o último da LP – Memória e
Identidade Cultural, uma vez que, a partir do ano de 2010, uma nova LP foi criada,
Comparatismo e Processos Culturais, cujos objetivos estavam mais diretamente voltados aos
conceitos e métodos comparatistas.
3.3.2 Linha 2: Comparatismo e Processos Culturais
Criada no ano de 2010, a Linha de Pesquisa Comparatismo e Processos Culturais,
centrada nos conceitos e métodos do comparatismo, destinava-se a investigar os diálogos da
literatura com outros sistemas de conhecimento, processos culturais, políticos e
socioeconômicos. A partir dessa abrangência, buscava entender os discursos que integram o
campo da cultura, e seus bens simbólicos, deslocamentos, territorialidades, trocas culturais e
interrelações cultura/poder, operando com as noções de multiculturalismo, diversidade,
diferença, engajamento e agenciamento. Propunha o estudo das identidades culturais e suas
afirmações identitárias em áreas como a literatura, a história e a antropologia; dando
151
continuidade aos estudos sobre a cultura regional, acompanhava, ainda, a produção de
conhecimento a partir de manifestações observáveis nas regiões Norte e Noroeste do Rio
Grande do Sul. Compreendia as teorias pós-estruturalistas, pós-modernistas e pós-
colonialistas em suas intersecções com a redefinição do sujeito moderno, abrangendo,
sobretudo, as textualidades contemporâneas, nelas incluindo literaturas de língua portuguesa,
inglesa e espanhola, assim como outras expressões artístico-culturais e seus processos de
articulação (CURRÍCULO, 2018).
As mestrandas Camila de Carli e Franciele Casagranda Metz foram as primeiras a
produzirem seus trabalhos nessa nova LP, sob a orientação da professora Maria Thereza
Veloso. A defesa de ambas ocorreu em fevereiro de 2013, em dias subsequentes, sendo a
composição de suas bancas idêntica, conforme quadro abaixo:
QUADRO 16– Dissertações ingressantes Turma 2010 – Comparatismo e Processos
Culturais
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Camila de Carli
06/02/2013 Dra. Maria Thereza Veloso –URI
Orientadora/Presidente; Dra. Aracy
Graça Ernst - UCPel e Dra. Denise
Almeida Silva - URI.
Do discurso original ao discurso
traduzido: uma análise discursiva, de
Pedro Páramo, de Juan Rulfo, pelo
viés da memória e da subjetividade
Franciele Casagranda
Metz 07/02/2013
Dra. Maria Thereza Veloso - URI
Orientadora/Presidente; Dra. Aracy
Graça Ernst –UCPel e Dra. Denise
Almeida Silva – URI
Poder instituído versus poder
marginal: confrontações discursivas
Fonte: Quadro elaborado pela autora
Camila de Carli foi a primeira a realizar a defesa de sua dissertação, no dia 06 de
fevereiro de 2013. Intitulada “Do discurso original ao discurso traduzido: uma análise
discursiva, de Pedro Páramo, de Juan Rulfo, pelo viés da memória e da subjetividade”, a
pesquisa objetivava estabelecer um possível diálogo entre os estudos literários e linguísticos,
verificando como os aspectos linguístico e ideológico foram transpostos e ressignificados para
a obra traduzida. A partir dos conceitos de língua, sujeito e sentido sob a ótica discursiva
provinda da Análise do Discurso de filiação francesa, o trabalho compara a obra original, a
novela Pedro Páramo, de Juan Rulfo, escrita no idioma espanhol, com sua tradução para o
português, mediante os conceitos de memória e de subjetividade, considerados a partir dos
pontos de vista discursivo e discursivo-literário.
152
O estudo se faz ao longo de quatro capítulos. O primeiro toma a Análise do Discurso
de linha francesa como suporte teórico, buscando estabelecer, a partir dos conceitos de
Formação Discursiva, Condições de Produção, Interdiscurso, Intradiscurso e sujeito um
possível diálogo entre o discurso literário e o discurso linguístico. O segundo aborda
conceitos de tradução e a teoria dos polissistemas; o terceiro trata da memória pelo viés
social, a partir da memória e subjetividade, consideradas desde os pontos de vista discursivo e
literário. Por fim, o quarto capítulo traz a análise das obras no discurso de partida e do
discurso de chegada, considerados e comparados a partir das teorias citadas nos capítulos
anteriores.
Nas suas conclusões, Carli ressalta as interligações entre a ciência linguística – AD - e
a literatura, compreendendo que, a partir da AD, foi possível “[...] buscar em cada palavra um
significado nem tão evidente na superfície discursiva, mas passível de uma interpretação
discursiva” (CARLI, 2013, p. 70). Correspondências entre as duas línguas, e também
digressões decorrentes do uso cotidiano, informal, da língua original foram percebidas no
processo tradutório da obra, que traz à tona questões sociais, configurando, através de
estrutura narrativa fragmentada, “um mundo de desolação, com distintas formas de violência,
destruindo toda Comala, levando a população campesina mexicana a um desengano em
relação ao local em que vivia.” (CARLI, 2013, p. 69).
No dia 07 de fevereiro de 2013, Franciele Casagranda Metz defendeu seu trabalho,
intitulado “Poder instituído versus poder marginal: confrontações discursivas”. Também
fundamentada na Análise do Discurso (AD) de linha francesa, a dissertação teve como corpus
o filme “Tropa de Elite 2 - o inimigo agora é outro”, e visou apresentar reflexões analítico-
discursivas sobre o poder, a partir de recortes discursivos representativos sobre a polícia, a
milícia e a política, tomadas como sintoma de problemas que permeiam a conjuntura social do
país.
Estruturada em três capítulos, a dissertação apresentou também, nos dois capítulos
iniciais a discussão de aspectos teóricos, como fica claro já nos títulos dos capítulos:
“Identificando a base teórica” e “O discurso dito e o discurso não-dito”, os quais buscam o
pensamento de tomando como base reflexões de Michel Pêcheux, Eni Puccinelli Orlandi,
Maria Cristina Leandro Ferreira, Jean-Jacques Courtine, Jacques-Marie Émile Lacan, Michel
Foucault, Christian Metz, Louis Althusser e Jaqueline Authier-Revuz. O terceiro capítulo
“Pelos nós do sistema” é uma descrição interpretativa dos recortes discursivos fílmico-
imagéticos (RDF-I), sempre fundamentada na AD em diálogo com conceitos tomados à
cinematografia.
153
Metz constata que José Padilha, diretor do filme, “não seguiu uma ordem linear tendo
por base a obra literária, mas sim, baseou-se em alguns fragmentos isolados para a construção
do discurso fílmico-imagético” (METZ, 2013, p. 106); ressalta, ainda, que o cinema político
brasileiro está voltado para questões da realidade social, refletindo a própria incapacidade
contemporânea de se pensar a política em sua dimensão normativa.
QUADRO 17– Dissertações ingressantes Turma 2011 – Comparatismo e Processos Culturais
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Larissa Paula Tirloni
31/08/2013 Dra. Maria Thereza Veloso – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Matilde
Contreras – UCPel; Dra. Ana Paula
Teixeira Porto - URI.
A obra poética de Octavio Paz:
transculturação e transcriação na
tradução de Blanco, por Haroldo
de Campos
Fonte: Quadro elaborado pela autora
Na turma ingressante em 2011, uma única aluna, Larissa Paula Tirloni, optou pela LP
Comparatismo e Processos Culturais. Sua dissertação, “A obra poética de Octavio Paz:
Transculturação e Transcriação na Tradução de Blanco, por Haroldo de Campos”, sob a
orientação da professora Maria Thereza Veloso, foi defendida no dia 31 de agosto de 2013. A
partir do comparatismo e da análise do discurso, Tirloni buscou estudar a prática tradutória
como um diálogo entre culturas, analisando de que forma os elementos poéticos são
articulados de modo a produzirem sentido na cultura alvo, sem se distanciarem da cultura
fonte, considerando-se os aspectos linguísticos e culturais do tradutor e do autor do poema.
Para tal, ao longo de três capítulos, servindo-se de aportes teóricos dos Estudos da Tradução
(capítulo 1, “Poesia em tradução: do contexto à transculturação”), e tomando a obra poética
de Octavio Paz (capítulo 2, “A obra poética de Octavio Paz: o texto em seu contexto histórico,
estético e ideológico”, a pesquisa avança para a análise do processo tradutório (capítulo 3,
“Octavio Paz em tradução no Brasil: a perspectiva crítico-tradutória de Haroldo de Campos”).
Nas considerações finais do trabalho, a pesquisadora destaca que “o tradutor Haroldo
de Campos atém-se ao macroestrutural e conteudístico do poema, promovendo um diálogo
constante, livre de concepções estanques, deixando florescer as inúmeras possibilidades
hermenêuticas do jardim da tradução” (TIRLONI, 2013, p. 119) e que “a estética utilizada no
poema Blanco articula forma e conteúdo, uma versificação que permite o livre fluir, uma
discursividade poética que se articula ao ritmo dos versos, o que foi mantido e destacado por
Haroldo de Campos em sua transcriação” (TIRLONI, 2013, p. 120).
154
QUADRO 18– Dissertações ingressantes Turma 2012 – Comparatismo e Processos Culturais
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Joice Machado
25/11/2014 Dra. Maria Thereza Veloso – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Franciele
Matzembacher - UFSM e Dra. Denise
Almeida Silva – URI
Sobre a fidelidade na tradução:
reflexões a partir da versão da
obra Disgrace, de J. M.
Coetzee, ao português
Rita de Cássia Dias
Verdi Fumagalli 26/02/2015
Dra. Maria Thereza Veloso – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Aracy Ernst –
UCPEL e Dra. Silvia Helena Pinto
Niederauer – URI
Do livro ao filme: a
constituição do sujeito
discursivo em O meu pé de
laranja lima
Fonte: Quadro elaborado pela autora
Conquanto a turma ingressante em 2012 fosse a maior desde a criação do Mestrado,
contando com 15 alunos, apenas duas mestrandas optaram por desenvolver suas pesquisas
nessa linha, Joice Machado e Rita de Cássia Dias Verdi Fumagalli. A orientadora de ambas
foi a professora Maria Thereza Veloso. A primeira a defender sua dissertação foi Joice
Machado, no dia 25 de novembro de 2014, com o trabalho intitulado “Sobre a fidelidade na
tradução: reflexões a partir da versão da obra Disgrace, de J. M. Coetzee, ao português”. O
trabalho estuda em que medida o tradutor José Rubens Siqueira interpreta as sutilezas que
remetem ao contexto histórico de produção da obra (África do Sul, no período imediatamente
subsequente à queda do Apartheid).
Estruturado em apenas dois capítulos, o trabalho busca, no capítulo 1, “A problemática
da tradução: a tradução como contato de línguas”, os fundamentos necessários ao estudo do
ato tradutório, prosseguindo em “O relato da obra Disgrace e da vida do autor, J. M.
Coetzee”, capítulo 2, com a análise de recortes discursivos da obra, os quais foram
selecionados de forma a ressaltar as questões de territorialidade e ideologia, ressaltando ainda,
quanto ao fazer tradutório, aproximações e distanciamentos com relação à obra original.
Nas considerações finais, Machado (2014) menciona que a obra Disgrace, de J. M.
Coetzee, está aproximada de sua tradução, Desonra “[...] em termos de essência, expressões
idiomáticas e sutilezas. Siqueira soube com precisão codificar Disgrace em sua leitura da
obra como um todo e recodificá-la em Língua Portuguesa, mantendo a essência original e
aproximando-a também do entendimento do público brasileiro” (MACHADO, 2014, p. 73).
Rita de Cássia Dias Verdi Fumagalli defendeu sua dissertação “Do livro ao filme: a
constituição do sujeito discursivo em O meu pé de laranja lima. O estudo propôs uma leitura
intertextual do filme O meu pé de laranja lima (2012), de Marcos Bernstein, em relação à
155
obra literária homônima, de José Mauro de Vasconcelos, escrita em 1968. Partindo do
capítulo “Análise do discurso como procedimento interpretativo”, que trata sobre conceitos
essenciais à Análise do Discurso de filiação francesa, o trabalho prossegue com “O corpus
literário-cinematográfico como materialidade para pesquisas em Análise do Discurso”,
voltado à relação entre literatura e cinema, e avança, no terceiro capítulo, “Do livro ao filme:
a constituição do sujeito discursivo em O meu pé de laranja lima” para o cotejo entre as
duas narrativas.
Fumagalli destaca, em suas conclusões, que “[...] o discurso do Outro emerge na voz
do sujeito discursivo Zezé enquanto um efeito de memória discursiva” (2015, p. 124),
ressaltando que “[...] no personagem analisado e em seu discurso [...] o Outro não é um objeto
exterior, sobre o qual se fala, mas a condição constitutiva, o quê estruturante do seu discurso.
Zezé passa a ser efeito de linguagem, uma representação das formas da linguagem que ele
enuncia” (FUMAGALLI, 2015, p.125). Através da leitura da obra literária e cinematográfica
na perspectiva da AD foi possível perceber “como os sujeitos são constitutivamente
heterogêneos, fragmentados, e como o discurso não é uma entidade pronta e determinada, mas
constitutiva, opaca e incompleta” (FUMAGALLI, 2015, p. 127).
No triênio 2010-2012, os cinco alunos que optaram por pesquisas desenvolvidas na LP
Comparatismo e processos culturais foram orientados pela professora Dra. Maria Thereza
Veloso, realizando análises a partir do viés da análise do discurso de linha francesa. Todas as
orientações centraram-se em estudos de tradução (tanto literária como inter-semiotica,
envolvendo literatura e cinema), transculturação e transcriação. A composição das bancas
indica um claro desenvolvimento de cooperação com a UCPEL, instituição de formação da
professora Maria Thereza Veloso, com a presença da professora Dra. Aracy Graça Ernst
(UCPel), que participou três vezes, Dra. Matilde Contreras (UCPel) e Dra. Franciele
Matzembacher (UFSM), uma vez cada. Os teóricos utilizados nas pesquisas foram Pêcheux,
Orlandi, Lacan e Focault e algumas das obras analisadas Disgrace, de J.M. Cotzee, Pedro
Páramo, de Juan Rulfo e a tradução da obra de Octavio Paz por Haroldo de Campos.
QUADRO 19– Dissertações ingressantes Turma 2013 – Comparatismo e Processos Culturais
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Adejane Pires da Silva
24/02/2016
Dra. Maria Thereza Veloso – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Luciana
Iost Vinhas – FURG e Dra. Rosângela
Fachel de Medeiros –URI
A materialidade do silêncio na
construção de sentidos em La
piel que habito, de Pedro
Almodóvar
156
Camila Muller Stuelp
27/08/2015
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Ângela
Zamim – UFSM e Dra. Luana Teixeira
Porto – URI
Retratos do eu: um olhar sobre
o papel do jornalista literário
nas obras Área de segurança
Gorazde e Philomena
Luana Paula Candaten
24/02/2016
Dra. Maria Thereza Veloso – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Ângela
Maria Zamin - UFSM e Dra. Rosângela
Fachel de Medeiros –URI
A mulher na crônica brasileira
dos séculos XX e XXI: um
olhar sobre o discurso de
cronistas homens e mulheres
Fonte: Quadro elaborado pela autora
No ano de 2013, de onze alunos ingressantes, quatro desenvolveram pesquisas na LP –
Comparatismo e Processos Culturais. Pela primeira vez, as orientações dessa LP foram
compartilhadas por uma segunda orientadora, a professora Denise Almeida Silva; continuava,
porém, a professora Maria Thereza Veloso como a orientadora mais frequente dessa LP, o que
é compreensível, dado que concentrava suas pesquisas apenas nesse direcionamento.
A primeira aluna a apresentar sua defesa de dissertação foi Camila Muller Stuelp, no
dia 27 de agosto de 2015, com o trabalho intitulado “Retratos do eu: um olhar sobre o papel
do jornalista literário nas obras Área de segurança Gorazde e Philomena”, orientado pela
professora Denise Almeida Silva. Mestranda com formação original na área da Comunicação
Social, Stuelp optou por eleger, como seu objetivo central, analisar o jornalista enquanto
personagem e narrador em dois relatos: o livro-reportagem Philomena: Uma mãe, seu filho e
uma busca que durou cinquenta anos e a obra Área de segurança Gorazde: A guerra na
Bósnia Oriental. A fundamentação teórica da pesquisa ressaltou os conceitos de jornalismo
literário e o ofício do jornalista, sobretudo a partir de Marcelo Bulhões (2007), Rogério
Borges (2013) e Sergio Vilas Boas (2007); livro-reportagem e histórias em quadrinhos, com
fundamentação em Edvaldo Pereira Lima (2009) Will Eisner (1989) e José Arbex (2000) e a
“reportagem de ideias”, a partir de Michel Foucault (2008) e Marocco (2008).
A pesquisa foi dividida em três capítulos, reservando apenas ao primeiro a
fundamentação teórica. O segundo capítulo, dedicado à descrição e análise da obra Área de
segurança Gorazde, de Joe Sacco (2001), traça inicialmente um panorama acerca do
jornalismo do autor, que tem como foco os quadrinhos de guerra, passando depois à análise
do jornalista como autor e personagem na obra em estudo. O terceiro capítulo, “Philomena”,
apresenta primeiro o contexto que deu origem à obra, detendo-se a seguir na análise do papel
do jornalista nessa obra do jornalista Martin Sixsmith (2014).
Em suas conclusões, Stuelp destaca que “ainda que em formatos diferentes, o
jornalismo em quadrinhos de Joe Sacco em Área de segurança Gorazde e o livro-
157
reportagem Philomena, de Martin Sixsmith, têm diversos aspectos em comum” (STUELP,
2015, p. 100). Os autores se preocuparam “com a descrição dos detalhes em cada imagem e
em cada capítulo, exercendo uma característica fundamental no campo do jornalismo literário:
o detalhamento das cenas” (STUELP, 2015, p. 102); além disso, ambos conferem importância
aos sentimentos dos personagens. Por fim, a pesquisadora enfatizou que as obras “[...] acabam
tornando-se documentários históricos daquelas sociedades e dos momentos que vivenciaram”
(STUELP, 2015, p. 104).
Seguindo costume verificado desde as primeiras defesas do curso, as três demais
mestrandas optantes por esta LP, orientadas todas pela professora Dra. Maria Thereza Veloso,
realizaram suas defesas em dias subsequentes - 24/02/2016: Adejane Pires da Silva e Luana
Paula Candaten; 25/02/2016 - Vanderleia Skorek - e com bancas constituídas de forma
bastante similar.
Inicialmente, na manhã do dia 24 de fevereiro, Luana Paula Candaten defendeu o
trabalho “A mulher na crônica brasileira dos séculos XX e XXI: um olhar sobre o discurso de
cronistas homens e mulheres”, o qual visou identificar a imagem da mulher representada em
crônicas brasileiras escritas por cronistas homens e mulheres em diferentes épocas e
momentos históricos. Foram utilizadas duas ferramentas: a Análise de Discurso e a Literatura
Comparada, as quais foram discutidas no capítulo inicial. O segundo capítulo reflete sobre a
história das mulheres, a história da literatura e as relações possíveis entre ambas. No terceiro
capítulo, foram analisadas as crônicas “Enigma”, de Clarice Lispector; “A viúva na praia”, de
Rubem Braga, ambos do século XX, e “A mulher independente”, de Martha Medeiros e “os
homens desejam as mulheres que não existem”, de Arnaldo Jabor, cronistas do século XXI.
Em suas conclusões, Candaten destaca que, nas crônicas escritas por mulheres, há uma
mulher que usa de seus direitos, é independente, atua na sociedade sem se importar com
regras pré-estabelecidas de conduta. Já nas crônicas escritas por homens há representação da
mulher sendo idolatrada, não pela doçura, pela essência, pelo caráter, mas sim pela beleza
exterior, pelo belo corpo, cada vez mais artificial, e pela capacidade que tem de despertar o
prazer masculino, porém, de uma forma diferente em cada cronista.
Ainda no dia 24 de fevereiro, à tarde, Adejane Pires da Silva defendeu seu trabalho,
intitulado “A materialidade do silêncio na construção de sentidos em La piel que habito, de
Pedro Almodóvar”, no dia 24 de fevereiro de 2016, com orientação da professora Maria
Thereza Veloso. O objetivo do trabalho foi estudar o sentido discursivo do silêncio mediante
uma reflexão sobre o silêncio fundador e a política do silêncio, conceitos desenvolvidos por
Eni Orlandi. A atenção esteve voltada para as condições de produção em que esse discurso foi
158
produzido e/ou silenciado, observando-se atentamente às questões ideológicas, históricas e
culturais do discurso. O corpus foi composto por recortes discursivos fílmico-imagéticos do
filme La piel que habito, de Pedro Almodóvar (2011), ambientado na cidade de Toledo,
Espanha.
Seguindo os moldes tradicionais, Adejane reserva os dois primeiros capítulos as
discussões teóricas, pautadas pela AD, e o terceiro à análise do filme, através de recortes
fílmico-imagéticos. A mestranda inova formalmente, ao duplicar, na materialidade do papel, o
silêncio sobre o qual reflete. Como a autora mesmo explica, ao abrir cada capítulo da
dissertação, optou
[...] pela pausa, simbolicamente marcada pela ausência da fala, do discurso, mediado
aqui pela escrita. Assim, a página introdutória de cada capítulo apresenta-se
parcialmente em branco. Contém apenas o título do referido capítulo e uma epígrafe,
representando o silêncio, ou seja, o respiro necessário para significar a análise dos
discursos deste estudo, pois, como define Orlandi, o silêncio é o „fôlego da
significação, um lugar de recuo necessário para que se possa significar, para que o
sentido faça sentido‟(2007, p. 13)”. (SILVA, 2016, p. 12)
Nas considerações finais, Silva menciona que a “reflexão sobre o silêncio é algo
complexo e se mostrou algumas vezes um terreno arenoso, por que o sentido está nas fissuras,
naquilo que não é visível e, entretanto, movimenta o sentido do texto”. (SILVA, 2016, p. 74).
A pesquisadora percebe que “as estratégias de silenciamento do outro denunciam as relações
de força, poder e violência que podem funcionar nos processos de interdição do sentido”
(SILVA, 2016, p. 76), evidenciando que o discurso é atravessado por outros discursos.
Um dia depois, a 25 de fevereiro de 2016, Vanderleia Skorek defendeu seu trabalho,
denominado “Reatualização do mito do gaúcho/gaucho em formações discursivas presentes
em contos produzidos na comarca pampeana”. Uma vez que o trabalho não está disponível
para consulta no site, nem na biblioteca, torna-se impossível, por hora, sua análise.
QUADRO 20– Dissertações ingressantes Turma 2014 – Comparatismo e Processos
Culturais
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Bibiane Trevisol
04/10/2016
Dra. Maria Thereza Veloso – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Vanessa
Ribas Fialho - UFSM) e Dra. Rosângela
Fachel de Medeiros – URI
O estudo do RPG Vampiro: a
máscara em contato com a
Análise do Discurso:
Reflexões sobre ideologia e
sujeito
159
Michele Neitzke
01/08/2017
Dra. Rosângela Fachel de Medeiros – URI
Orientadora/Presidente; Dra Janaína de
Azevedo Baladão de Aguiar – PUC; Dra.
Cecilia Nuria Gil Mariño - CONICET –
Argentina e Dra. Maria Thereza Veloso –
URI
Medianeras- Buenos Aires da
era do amor virtual– A
comédia romântica no cinema
argentino contemporâneo:
entre o local e o global
Valtenir Muller
Pernambuco
24/11/2016
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Cássio
Tomaim – UFSM e Dra. Ana Paula
Teixeira Porto – URI
A representação do casamento
na obra a Megera domada e
na telenovela O cravo e a
Rosa
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A partir do ano de ingresso de 2014, passaram a ser três as professoras orientadoras da
LP Comparatismo e Processos Culturais: às professoras Maria Thereza Veloso e Denise
Almeida Silva, já atuantes nessa LP, somou-se a professora Rosângela Fachel de Medeiros, as
três professoras orientaram os quatro alunos optantes por essa Linha de Pesquisa nesse
ingresso. Considerando-se a realidade de quatorze ingressantes, e três Linhas de Pesquisa,
houve boa distribuição de mestrandos entre as diversas linhas oferecidas pelo curso, e seus
orientadores. Nesse momento, foram atribuídas à professora Dra. Rosângela Fachel de
Medeiros dois orientandos, e um a cada uma das demais orientadoras dessa LP. Como um
aluno não entregou versão final, não houve possibilidade de analisar sua pesquisa. Destaque a
ser registrado é que Michele Neitzke foi a primeira aluna do PPGL- Mestrado em Letras da
URI a realizar parte de sua formação em uma universidade estrangeira, realizando estudos
com o professor Jerónimo Rivera Betancour na Universidad de la Sabana, Colombia.
A primeira aluna dessa linha a defender sua dissertação foi Bibiane Trevisol, no dia 04
de outubro de 2016, com o trabalho “O estudo do RPG Vampiro: a máscara em contato com
a Análise do Discurso: reflexões sobre ideologia e sujeito”. Ao escolher esse corpus, a
dissertação torna-se também, a seu modo, pioneira: pela primeira vez a narrativa do RPG
torna-se central, deslocando para si as atenções até então voltadas para a narrativa literária
e/ou fílmica. O trabalho teve como objetivo registrar uma leitura de cunho comparatista tendo
como base a obra Vampiro: A máscara, de Mark Rein Hagen (1998) e sua comparação com
criações narrativas do RPG, tendo sido a análise proposta na perspectiva da AD de linha
francesa, ressaltando o pensamento de Michel Pêcheux e Eni Puccinelli Orlandi, abrangendo
a linguística e as ciências sociais.
Dada a novidade, para a academia, do tema proposto, o primeiro dos três capítulos em
que se estrutura o trabalho apresenta a importância do RPG como objeto de estudo e a sua
classificação, seguida de uma apresentação do estereótipo do vampiro como conhecido da
160
literatura e obras cinematográficas, esclarecimentos sobre o cenário do jogo (Los Angeles) e
uma desconstrução de uma ficha de RPG, esta última para evidenciar como se constrói um
personagem nesse jogo. O Capítulo dois traz uma reflexão sobre as teorias da Ideologia
materialista de Althusser, as diferenças de concepção dos vampiros conhecidos, e relaciona-se
essa caracterização ao sistema capitalista ocidental, pensando-se a metáfora da máscara como
fenômeno semântico que provoca um deslizamento de sentido através de uma substituição
contextual. O terceiro capítulo foi composto pelas análises tanto dos Recortes Discursivos
quanto dos Recortes Áudio-discursivos e dos personagens, estabelecendo um paralelo entre as
diversas construções de vampiros, tomados como estereótipos de classes e modismos sociais.
A mestranda Trevisol percebeu que “durante o andamento das análises, os sentidos que estão
intrínsecos no texto são manifestados pela organização interna dos discursos que são
enunciados e materializados” (TREVISOL, 2016, 108).
A dissertação defendida por Valtenir Muller Pernambuco a 24 de novembro de 2016,
com claro caráter comparatista, introduziu ainda outra novidade quanto ao corpus da pesquisa,
incluindo, pela primeira vez no programa, o estudo da narrativa da telenovela em seu trabalho
“A representação do casamento na obra a Megera domada e na telenovela O cravo e a
Rosa”. O trabalho tem por objetivo identificar possíveis relações entre a obra literária e a
telenovela que conduzem à reflexão crítica sobre o comportamento humano nas sociedades
enfocadas em cada obra, respectivamente, a Inglaterra elizabetana e o Brasil do início do
século XX, tomando o casamento como parâmetro para a análise. O texto se estrutura em três
capítulos: o inicial caracteriza os gêneros em estudo, ou seja, a comédia romântica
shakespeariana e a telenovela brasileira; o segundo discute o casamento nos dois contextos
abrangidos pelo corpus em análise. Por fim, no terceiro capítulo, Pernambuco apresenta a
abordagem sobre o casamento em cada uma das obras.
Para o pesquisador, “tanto a peça quanto a telenovela [...] com grande ênfase,
representaram as lutas de poder que ocorrem dentro dos relacionamentos conjugais”
(PERNAMBUCO, 2016, p. 102). Destaca que a mulher representada na telenovela tem maior
influência nas decisões sobre o casamento, indicando o momento histórico brasileiro, quando
a mulher estava conquistando seu espaço e adquirindo direitos; já a peça de Shakespeare
apresenta a submissão da mulher, submetida ao casamento por obrigação, declarando
submissão ao pai e ao marido.
No dia 01 de agosto de 2017, Michele Neitzke defendeu sua dissertação intitulada
“Medianeras - Buenos Aires da era do amor virtual – A comédia romântica no cinema
argentino contemporâneo: entre o local e o global”. O objetivo foi analisar a obra do diretor
161
argentino Gustavo Tartetto a partir de sua condição de comédia romântica, para o que retoma
proposições teórico-críticas de Daniel Chandler (1997), Robert Stam (2000), Barry Langford
(2005) e Tamar Jeffers McDonald (2007). Em seu primeiro capítulo, Neitzke faz revisão
cinematográfica e teórico-crítica referente à conformação desse gênero no cinema clássico de
Hollywood até sua reconfiguração no cinema transnacional hollywoodiano contemporâneo,
destacando dois repertórios fundamentais ao gênero: o Meet Cute (Primeiro Encontro) e o
Happy End (Final Feliz), e sua estratificação em subgênero. No segundo capítulo, “A comédia
romântica no cinema argentino contemporâneo” compara a comédia hollywoodiana com os
filmes produzidos pelo cinema argentino contemporâneo. No terceiro capítulo “Medianeras:
a globalização da comédia romântica”, Neitzke analisa o filme, partindo do processo de
expansão narrativa do curta para o longa-metragem, enquanto coprodução transnacional que
recorre a um imaginário cultural e cinematográfico globalizado, observando como ocorre a
repetição e a reconfiguração destes repertórios.
Nas considerações finais, considera a aderência à cultura local e ao universo midiático
argentino como possível fonte da não popularidade dessas obras fora da Argentina; contudo
“o centro temático e estético da narrativa está construído então a partir de uma perspectiva
audiovisual globalizada no qual o contexto local está alicerçado em elementos, repertórios e
referências globalizadas e internacionalmente significantes” (NEITZKE, 2017, p. 85).
QUADRO 21– Dissertações ingressantes Turma 2015 – Comparatismo e Processos Culturais
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Cristiane Teresinha
Mossmann Quevedo
29/09/2017
Dra. Maria Thereza Veloso–URI
Orientadora/Presidente; Dr. Jorge Sala -
UBA- Argentina; Dra. Aracy Graça
Ernst - UCPEL e Dra. Rosângela Fachel
de Medeiros – URI
A exterioridade da violência
em jogos na Hora da Sesta:
considerações a partir da
tradução à luz da Análise do
Discurso
Elis Gorett Lemos da
Fonseca
26/10/2017
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Tatiana
Lebedeff – UFPEL e Dra. Maria Thereza
Veloso – URI
Leitura, surdez e inclusão:
tradução comentada do conto
“Vestida de Preto” do
português para a Língua
Brasileira de Sinais – Libras
Fonte: Quadro elaborado pela autora
No ano de 2015, na LP – Comparatismo e Processos Culturais, cinco alunos
desenvolveram pesquisas, sendo que três dissertações foram orientadas pela professora
Rosângela Fachel de Medeiros, uma pela professora Denise Almeida Silva e uma pela
professora Maria Thereza Veloso. Uma vez que três dos mestrandos devem, ainda, entregar a
162
versão definitiva do seu trabalho, estes não constam na base de dados do Mestrado, e não
puderam ser alvo de análise.
A primeira aluna a fazer a defesa de sua dissertação foi Cristiane Teresinha Mossmann
Quevedo, no dia 29 de setembro de 2017. Intitulada “A exterioridade da violência em Jogos
na Hora da Sesta: considerações a partir da tradução à luz da Análise do Discurso”, a
pesquisa visou contrastar o texto da peça Jogos na Hora da Sesta, e o texto, traduzido por
Eduardo San Martín, a fim de identificar a presença de elementos exteriores que influenciam
na constituição dos sujeitos discursivos, e constatar a existência de pistas da exterioridade da
violência e de ideologias nas traduções. A fundamentação teórica do trabalho trouxe as
contribuições de estudiosos da arte teatral, como Vasconcellos, e de pensadores/pesquisadores
da área de Análise do Discurso, como Pêcheux, Althusser, Lacan, Foucault, Orlandi e
Mazière.
A dissertação foi estruturada em três capítulos: o primeiro, “Tradução e processos
tradutórios sob uma perspectiva discursiva”, o segundo, “Exterioridade no discurso:
ideologia, contexto histórico e a constituição dos sujeitos” e o terceiro, “Jogos na Hora da
Sesta: o discurso dramático”, ao longo dos quais a autora analisou as soluções utilizadas
pelos tradutores para reproduzir, nas línguas de chegada, no caso o português e o espanhol da
Espanha, o discurso carregado de significação na cultura argentina.
Nas considerações finais, Quevedo assevera: “O contexto histórico da população da
Argentina está presente em toda obra, reproduzindo a violência, através da Memória
Discursiva, tanto da própria dramaturga, como da memória social dos povos latino-
americanos” (QUEVEDO, 2017, p. 111). Pelo valor histórico e por colocar em discussão as
leituras do passado e os conceitos e dúvidas do presente, a autora compreende o tradutor
como um sujeito histórico e constituído.
“Leitura, surdez e inclusão: Tradução comentada do conto Vestida de Preto do
português para a Língua Brasileira de Sinais – Libras” foi o título da pesquisa da aluna Elis
Gorett Lemos da Fonseca, a qual foi apresentada no dia 26 de outubro de 2017, com
orientação da professora Denise Almeida Silva. A autora objetivou produzir uma tradução
comentada do conto Vestida de Preto, de Mário de Andrade, do Português para a Língua
Brasileira de Sinais- Libras, de forma a prover, ao adolescente surdo, literatura em sua língua
materna, adequada a sua faixa de desenvolvimento maturacional e capaz de promover sua
inclusão ao mundo literário.
A pesquisa foi dividida em quatro capítulos. Após delinear as motivações e universo
da pesquisa no primeiro capítulo, Fonseca apresenta questões relativas à identidade e à cultura
163
surda no segundo capítulo, reservando o terceiro para a discussão da questão tradutória
propriamente dita, tendo em vista, sobretudo, processos específicos da tradução do Português
para Libras. O último capítulo compreendeu a análise da tradução, comentando as estratégias
tradutórias que se fizeram necessárias em virtude do texto de partida, do texto de chegada e
das características do leitor surdo, público primeiro a quem essa tradução se destina.
Em suas reflexões conclusivas, Fonseca (2017) registra “que as escolhas do tradutor
de Libras interferem diretamente na compreensão e apropriação do texto pelo surdo, e as
estratégias usadas podem levar a diferentes maneiras de perceber as intenções do autor”
(FONSECA, 2017, p. 93). Ressalta que “a literatura pode e deve fazer parte da vida escolar e
particular da pessoa surda e não possibilitar tal oportunidade é o mesmo que mutilar o
conhecimento para um sujeito” (FONSECA, 2017, p. 94).
QUADRO 22– Dissertações ingressantes Turma 2016 – Comparatismo e Processos Culturais
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Simão Cireneu Milani
Aldôr Nunes da Silva
28/09/2018
Dra. Rosângela Fachel de Medeiros – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Maria Thereza
Veloso – URI; Dr. Luís Filipe de Bargança e
Souza da Silva Teixeira - Ulisboa – Portugal
A expansão do universo
narrativo de Batman na
série de games Arkham
Fonte: Quadro elaborado pela autora
No ano de 2016, dos quatro alunos que optaram pela LP – Comparatismo e Processos
Culturais, apenas o aluno Simão Cireneu Milani Aldôr Nunes da Silva, até a presente data,
defendeu sua dissertação, intitulada “A Expansão do universo narrativo de Batman na série de
games Arkham”, no dia 28 de setembro de 2018, com orientação da professora Rosângela
Fachel de Medeiros. Tal pesquisa objetivou analisar a série de games do Batman, estudando
seus mais de 70 anos de história, que passaram pelas mais diversas mídias, já que a série de
games “[...] expande o universo narrativo de Batman, rearticulando elementos advindos de
diferentes narrativas, linguagens e tecnologias” (SILVA, 2018, p. 12). A pesquisa foi norteada
pelas teorias da adaptação de Robert Stam (2006), da transmidiação, de Henry Jenkins (2007),
Carlos A. Scolari (2015) e da convergência, de Henry Jenkins (2009).
O trabalho foi estruturado em três capítulos: o capítulo I “As várias vidas de Batman –
das HQS aos games”, buscou percorrer o trajeto das migrações do personagem e de seu
universo narrativo para várias linguagens e mídias até chegar ao de “Arkhamverse”. No
capítulo II, “Da adaptação à transmidiação – caminhos de convergência narrativas” descreve a
série Arkham, buscando aporte em teóricos como: Robert Stam, Julia Kristeva, Henry
164
Jenkins, Carlos Scolari e Luís Filipe B. Teixeira. O capítulo III, “A expansão do universo
narrativo de Batman na série de games Arkham”, é analítico, buscando entender a forma
como o universo narrativo de Batman se expande. Em suas conclusões finais, Silva (2018)
destaca que o “novo leitor/espectador/jogador transforma sua antiga passividade de receptor
em entrada ativa narrativa como prossumidor (produtor-consumidor)” (SILVA, 2018, p. 143).
A análise desta linha de pesquisa se encerra com a narrativa da conclusão do trabalho
relativo ao ingresso em 2016, nenhum dos três alunos ingressantes em 2017 concluiu, até o
momento, suas pesquisas.
Entre os anos de 2013 a 2016, quatorze dissertações foram produzidas na LP –
Comparatismo e Processos Culturais. Nesse período, as orientações foram divididas entre as
professoras Denise Almeida Silva, com três orientandos, Maria Thereza Veloso, com cinco
orientandos e Rosângela Fachel de Medeiros, com seis, havendo a prevalência de temas
relativos à tradução interlingual, intersemiótica, à análise de narrativas não convencionais
(pouco estudadas na academia, como a de séries de games e RPM), e trabalhos comparativos
entre a linguagem literária e cinematográfica ou televisiva.
Percebe-se, também nesta Linha de Pesquisa, a prevalência de narrativas
contemporâneas e/ou clássicas, como Philomena: uma mãe, seu filho e uma busca que durou
cinquenta anos e a obra Área de segurança Gorazde: a guerra na Bósnia oriental, a peça
Jogos na hora da sesta, a narrativa fílmica Medianeras – Buenos Aires da era do amor
virtual, vídeo clipes „Te aviso, te anuncio e Pa’ bailar, series de games Arkhan e o conto
de Mario de Andrade Vestida de preto, Clarice Lispector, Martha Medeiros e Arnaldo Jabor.
Estiveram presentes nas bancas, como docentes externos, professores da UFSM,
como a Dra. Ângela Maria Zamim (convidada três vezes no período), Dra. Janaína de
Azevedo Baladão de Aguiar (PUC), presente duas vezes, Dr. Cassio dos Santos Tomaim e a
Dra. Vanessa Ribas Fialho (ambos da UFSM), além da Dra. Tatiana Lebedeff (UFPEL), Dra.
Luciana Iost Vinhas (FURG) e Dra. Aracy Graça Ernst (UCPel). A expansão dos laços de
cooperação é indicada pela extensão de convites a docentes do exterior, como Dr. Jorge Sala
(UBA-Argentina), Dra. Cecília Nuria Gil Mariño (CONICET- Argentina) e Dr. Luis Filipe de
Bargança e Souza da Silva Teixeira (ULisboa – Portugal).
3.4 Dissertações produzidas a partir da linha 3: Leitura, Linguagens e Ensino (2013)
No ano de 2013, o Mestrado em Letras criou uma nova Linha de Pesquisa, “Leitura,
Linguagens e Ensino”, buscando atender às demandas regionais na área de Letras com relação
165
à formação profissional. A partir dessa implementação, houve uma reformulação no
programa, necessária à fundamentação teórica da área de concentração do programa e ao
exercício da pesquisa. Atuaram como professoras orientadoras, nesse primeiro momento, as
professoras Ana Paula Teixeira Porto e Luana Teixeira Porto, as quais tiveram papel
fundamental para a criação e implementação dessa LP. Dentre os alunos matriculados na
turma de 2013, três escolheram a Linha de Pesquisa “Leitura, Linguagens e Ensino” e
desenvolveram pesquisas em torno dos seguintes conceitos:
A LP Leitura, Linguagens e Ensino têm como objetivo investigar a leitura da
literatura, correlacionando-a com outras linguagens da história, das mídias, das artes
plásticas, do teatro e da canção. Oportuniza a reflexão acerca da leitura de gêneros
discursivos e não discursivos e da formação do leitor, contemplando abordagens
teórico-práticas de ensino da leitura. Propicia a discussão dos conceitos de leitor,
gêneros literários e não literários, linguagem, mídia, modernidade e metodologia de
pesquisa em Letras, ensino da literatura e cânone literário. Busca relacionar
processos que envolvem a leitura, a literatura e outras linguagens no contexto do
ensino superior e da educação básica do século XXI (CURRÍCULO, 2018).
QUADRO 23– Dissertações ingressantes Turma 2013 – Leitura, Linguagens e Ensino
Nome/ Data Defesa Orientador(a)Banca Título da Dissertação
Ana Lucia Rodrigues
Guterra 26/08/2015
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Miguel
Retternmaier – UPF e Dra. Denise
Almeida Silva – URI
Literatura, violência e ensino: uma
proposta de prática de leitura
comparatista para o Ensino Médio
Daiane Samara
Wildner Ott 15/09/2015
Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Miguel
Rettenmaier - UPF e Dra. Luana
Teixeira Porto – URI
Ferramenta Hagáquê na mediação
de leitura: uma proposta para a
formação de leitor de literatura no
1º ano do Ensino Médio
Jaime André Klein
02/05/2015 Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra Gabriela
Fernanda Cé Luft – UPF e Dra. Ana
Paula Teixeira Porto – URI
Leitura e ensino de literatura
contemporânea no Ensino Médio:
um olhar crítico sobre livros
didáticos do PNLD 2015
Fonte: Quadro elaborado pela autora
O primeiro aluno do Mestrado em Letras da URI a apresentar seu trabalho na LP 3 foi
Jaime André Klein, no dia 02 de maio de 2015, com o trabalho “Leitura e ensino de literatura
contemporânea no Ensino Médio: um olhar crítico sobre livros didáticos do PNLD 2015”,
com orientação da professora Luana Teixeira Porto. Dentre os objetivos expostos para a
realização da pesquisa, destaca-se a discussão do ensino de literatura na escola a partir da
identificação de fragilidades e potencialidades dos livros didáticos utilizados para e na
166
formação do leitor de textos literários no Ensino Médio e a avaliação da qualidade do material
didático oferecido às escolas brasileiras, entendendo que isso é primordial na consolidação da
leitura e do ensino de Literatura no Ensino Médio.
O trabalho, inicialmente, aborda a literatura na formação do leitor, refletindo
criticamente sobre o leitor, o espaço dedicado à literatura na sala de aula e nos documentos
oficiais que norteiam a educação brasileira. O segundo capítulo explana sobre o livro didático,
sua introdução na educação brasileira, a implantação de programas nacionais que promovem
sua distribuição para os alunos das escolas públicas, e o uso desse material para o ensino de
literatura. O terceiro analisa livros didáticos do PNLD 2015, e propõe um roteiro para análise
de livro didático voltado à leitura da literatura.
Em suas conclusões, Klein registra que o apagamento da leitura e do ensino de
literatura na vida do estudante interfere na qualidade de ensino e da formação do aluno da
Educação Básica. “Esse desapego do estudante à leitura e à literatura explica-se, em parte,
pelo fato de a disciplina de literatura nem sempre ser desenvolvida adequadamente, na sala de
aula e de a área literária não parecer agradável ou convidativa aos alunos” (KLEIN, 2015, p.
124). Outra revelação foi a de que o livro didático ainda ocupa papel central no ensino do
texto literário e consequentemente, na formação do leitor, uma vez que é por meio dele que os
alunos do Ensino Médio das escolas públicas brasileiras têm acesso ao texto e a práticas de
leituras. Segundo o pesquisador, “os livros didáticos exploram o ensino de literatura, de forma
superficial e com um objetivo evidente, apropriar o aluno de informações e conhecimento
sobre literatura para fins avaliativos” (KLEIN, 2015, p. 125), e a partir dessa realidade a
literatura perde sua função social de sensibilizar e fomentar a visão crítica no aluno.
Ana Lucia Rodrigues Guterra, no dia 26 de agosto de 2015, defendeu a dissertação
intitulada “Literatura, Violência e Ensino: uma proposta de prática de leitura comparatista
para o Ensino Médio”, tendo como orientadora a professora Luana Teixeira Porto. A
mestranda buscava refletir sobre a importância da abordagem de narrativas sobre violência no
espaço escolar através da análise de contos que a tematizam, contribuindo para uma discussão
sobre a função humanizadora da literatura. Como contribuição inovadora, elaborou sequência
didática para o Ensino Médio, a partir de textos literários que tematizam a violência, de forma
a desenvolver, nos alunos, a habilidade de leitura de literatura, associando esta arte à vida
social.
A discussão sobre leitura e formação do leitor foi solidamente embasada em autores
que são referência na área, como Teresa Colomer, Ana Maria Machado, Maria da Glória
Bordini, Vera Aguiar, Alice Vieira, Ligia Chiappini Moraes Leite, Cláudia Riolfi, Zoara
167
Failla, Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing. A abordagem da violência, das obras abordadas
no contexto da literatura brasileira e do estudo comparatista foi pensada com base no
pensamento de Jaime Ginzburg, Sigmund Freud, Hannah Arendt, Antonio Candido, Jaime
Ginzburg, Márcio Seligmann-Silva, Ângela Maria Dias, Nilo Odalia, Tânia Pellegrini, Flávia
Schilling, George Steiner, Antonio Candido e Henry Remak.
A pesquisadora estrutura seu trabalho ao longo de três capítulos: no primeiro apresenta
abordagem teórico-crítica, considerando a leitura na escola, o ensino da literatura no Ensino
Médio, as orientações curriculares nacionais e os recursos pedagógicos disponíveis hoje para
a abordagem do texto literário pelo docente. No segundo, a partir da visão da violência como
marca de nosso tempo, revisa a abordagem da temática da violência no conto brasileiro
contemporâneo, especialmente em narrativas que integram o livro Contos cruéis: as
narrativas mais violentas da literatura brasileira. O terceiro capítulo ressalta a necessidade de
desenvolver prática de leitura comparatista, voltada para a abordagem de tema social e
literariamente relevante, e contém, ainda, a proposição de sequências didáticas com narrativas
da violência no conto contemporâneo.
Ao final da pesquisa, Guterra (2015) enfatiza que “a violência necessita ser debatida
no cotidiano de leituras na sala de aula no sentido de ser promotora da justiça que oportuniza
ao educando reflexão, análise, crítica e possíveis soluções que visem a transformar a realidade
social” (GUTERRA, 2016, p. 133).
Por fim, Daiane Samara Wildner Ott defendeu sua dissertação intitulada “Ferramenta
HagáQuê na mediação de leitura: uma proposta para a formação de leitor de literatura no 1º
ano do Ensino Médio” no dia 15 de setembro de 2015, com orientação da professora Ana
Paula Teixeira Porto. O objetivo foi analisar possibilidades do uso do software HagáQuê
como recurso proveitoso para a criação de práticas de ensino de literatura que busquem maior
interação dos alunos nas atividades de leitura e escrita, propondo metodologias que auxiliem
na formação de leitores críticos desde o primeiro ano do Ensino Médio. A pesquisa
bibliográfica amparou-se em autores como Maria da Glória Bordini e Regina Zilberman,
referências para o estudo de práticas de leitura e formação do leitor de literatura, e Pierre
Levy, Vani Kenski e José Moran, no entendimento dos recursos tecnológicos.
Ao longo do trabalho, foram discutidos, inicialmente, o ensino da literatura brasileira
enquanto disciplina escolar, o ensino de literatura e formação do leitor e a formação de
leitores literários na era tecnológica. O segundo capítulo deteve-se sobre o uso das tecnologias
e o ensino no Brasil, observando os desafios para uma educação tecnológica e o ensino para
nativos digitais, o papel do software educacional no ensino de literatura nas séries finais no
168
Ensino Fundamental e por último o software HagáQuê, com apresentação de sua
caracterização e ferramentas. Já o capítulo final tratou mais especificamente a questão de
possíveis práticas mediadoras de leitura e escrita com o uso do recurso tecnológico HagáQuê,
utilizando histórias em quadrinhos, e considerando as ações de aprendizagem literária
potencializadas pelo HagáQuê, e as práticas mediadoras de leitura com uso do HagáQuê,
destacando potencialidades e limitações de cada prática proposta.
Nas considerações finais, Ott considera que métodos interativos e recursos
tecnológicos têm perspectivas bastante inovadoras para o ensino de literatura. Destaca a
relevância de a escola oferecer para o aluno o contato com o texto literário, afirmando que,
com o recurso HagáQuê o aluno pode fazer “uma leitura de texto literário de forma prazerosa
, utilizando-se de imagens que permitem visualizar o cenário, os personagens e, assim,
facilitar o entendimento da história problematizada” (OTT, 2015, p. 120).
QUADRO 24– Dissertações ingressantes Turma 2014 – Leitura, Linguagens e Ensino
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Alcione Salete
Dal‟Alba Pilger 03/08/2016
Dra. Ana Paula Teixeira Porto –
URI Orientadora/Presidente; Dra.
Luciane Figueiredo Pokulat – IFF
e Dra. Luana Teixeira Porto –
URI
Prática leitora no ensino superior: Uma
proposta de diálogo entre literatura e
direito
Aliete do Prado
Martins Santiago 10/08/2016
Dra. Ana Paula Teixeira Porto –
URI Orientadora/Presidente; Dr.
Luciano Marcos Dias Cavalcanti –
UNINCOR e Dra. Elisabete
Cerutti – URI
Rádio escolar: Proposições didáticas para
formação do leitor de literatura
Deise Josene Stein 18/08/2016
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra.
Rosani Ketzer Umbach – UFSM e
Dra. Denise Almeida Silva – URI
Amor líquido e relações pessoais frágeis:
Uma proposta de leitura da representação
da mulher canalha em contos de canalha:
Substantivo feminino e na série televisiva
As Canalhas
Jaqueline Pinson
Sicherelo
12/01/2017
Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian –
URI Orientadora/Presidente; Dr.
Deonir Kurek- UNIOESTE e Dra.
Rosângela Fachel de Medeiros –
URI
Contação de histórias: Sua contribuição
para o incentivo à leitura
Juliane Della Méa
24/08/2016 Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian –
URI Orientadora/Presidente; Dra.
Eunice Terezinha Piazza Gai -
UNISC e Dra. Edite Maria
Sudbrack – URI
A leitura na escola é prática
humanizadora? Uma análise do contexto
escolar de Frederico Westphalen /RS
pela perspectiva multinível
Fonte: Quadro elaborado pela autora
169
Na turma de ingressantes do ano de 2014, cinco alunos optaram pela LP – Leitura,
Linguagens e Ensino. Duas orientações ficaram a cargo da professora Ana Paula Teixeira
Porto, duas com a professora Ilse Maria da Rosa Vivian e uma com a professora Luana
Teixeira Porto.
A primeira aluna a defender seu trabalho foi Alcione Salete Dal‟Alba Pilger, no dia 03
de agosto de 2016, tendo como tema “Prática leitora no ensino superior: Uma proposta de
diálogo entre literatura e direito”; foi orientada por Ana Paula Porto. A pesquisa teve como
objetivo geral discutir as relações entre Literatura e Direito, propondo práticas mediadoras de
leitura para a formação do leitor de literatura no contexto do Ensino Superior. A proposta se
inseriu na área de Literatura Comparada a partir de pressupostos de Tania Franco Carvalhal,
Sandra Nitrini e Henry H. H Remack e outros como Chartier, Failla, Rösing, juntamente com
as DCNS-Diretrizes Curriculares Nacionais do Direito, PCNs – Parâmetros Curriculares
Nacionais: língua portuguesa.
Para expor as reflexões construídas na pesquisa, amparadas em autores como Todorov,
Antonio Candido, Zilberman, Malard e Bordini, Ourique, Porto e Porto, dentre outros, no
primeiro capítulo, “Formação do leitor”, a autora discutiu a concepção de leitor e leitura de
Literatura, bem como a ampliação das habilidades do leitor do Ensino Superior, através de
mediação de leitura que envolva o tripé professor, texto e leitor. No segundo capítulo, reflete
sobre a formação humana através da Literatura, considerando diálogos entre Literatura e
Direito com vistas a qualificar os leitores do Ensino Superior.
Ao final da pesquisa, Pilger (2016) constata que “as duas disciplinas apresentam
inclinação para uma visão humanista associada ao contexto histórico para análise de seus
objetos” (PILGER, 2016. p. 103). Além disso, ressalta que, “é comum identificarmos
estudantes de graduação que pouco leem e que têm pouco contato com textos literários.
Destarte, demonstram dificuldades em compreender o que leem e produzir textos” (PILGER,
2016. p. 104). Por fim, defende que o trabalho esteve “comprometido com a formação cultural
e o letramento no ensino superior, demonstrando esforço em ressaltar a Literatura Comparada,
focando a experiência humana nas proposições para uma Educação humanizada” (PILGER,
2016. p. 107).
Aliete do Prado Martins Santiago, no dia 10 de agosto de 2016, defendeu sua
dissertação intitulada “Rádio escolar: proposições didáticas para formação do leitor de
literatura”, tendo como objetivo investigar a leitura, em especial de literatura,
correlacionando-a com outras linguagens, como a das mídias, que podem ser utilizadas como
170
ferramentas eficientes na formação do leitor, considerando a rádio escolar, como uma
ferramenta no processo de formação de leitores de literatura.
Para atender aos objetivos propostos, o trabalho foi estruturado em três capítulos. No
primeiro, a pesquisadora estuda a temática da leitura e a formação de leitores. O segundo
capítulo apresenta um olhar sobre a literatura, as ferramentas midiáticas e o ensino,
identificando a Rádio Escolar e suas potencialidades como uma ferramenta para o ensino. No
capítulo III, apresenta proposições didáticas com o uso da Rádio Escolar com exploração de
um roteiro de atividades que mostra a utilização da mesma nas aulas de literatura e no
processo de formação de leitores.
Santiago destaca a importância do professor mediador “ser um leitor assíduo, realizar
a seleção correta de textos, priorizar a leitura integral dos textos, buscar a formação
qualificada e a atualização constante e explorar diversos recursos didáticos, não apenas os
livros didáticos” (SANTIAGO, 2016, p. 101). Conclui que a proposta da rádio escolar “pode
colaborar para a formação do leitor de literatura, ou seja, apontamos outras formas de a rádio
ser um importante recurso nas instituições escolares” (SANTIAGO, 2016, p. 104).
Deise Josene Stein defendeu sua dissertação “Amor líquido e relações pessoais
frágeis: uma proposta de leitura da representação da mulher canalha em contos de Canalha:
substantivo feminino e na série televisiva As Canalhas”, no dia 18 de agosto de 2016, tendo
como orientadora a professora Luana Teixeira Porto. A pesquisa objetivou possibilitar uma
forma de leitura comparada entre as obras, de maneira a explorar suas possíveis inferências
sociais, e, a partir disso, propor uma forma de leitura destes textos para o ensino superior,
analisando a (des)construção das relações pessoais e amorosas de personagens femininas na
literatura e na TV brasileira contemporânea através da elaboração de uma proposta de leitura
sobre esse tema para o ensino superior.
O estudo parte da discussão acerca do amor líquido e das relações frágeis como
sintomas da modernidade (capítulo 1), segue abordando a representação a mulher na literatura
e na televisão (capítulo 2), para, no terceiro capítulo, centrar-se na leitura inter-artística na
sala de aula, com reflexões sobre por que abordar amor líquido e relações frágeis no ensino
superior, propondo uma leitura de base comparatista.
Stein destaca “a forma invasiva que a televisão adentra nos ambientes familiares é
responsável por redimensionar os espaços de diálogo e estruturar os padrões de consumo”
(STEIN, 2016, p. 101), salientando como a “imagem feminina ainda é vista como um símbolo
que segue padrões de beleza, que são erotizados em programas de auditório para alcançar um
grande número de espectadores” (STEIN, 2016, p. 103). A pesquisadora considera necessário
171
que o Ensino Superior prepare os estudantes para serem leitores críticos e inteligentes,
defendendo que abordar "a realidade e as produções midiáticas e literárias contemporâneas
sob a perspectiva comparatista aprimora e desenvolve nos alunos as habilidades necessárias
para viver e fazer a diferença na sociedade atual” (STEIN, 2016, p. 104).
A aluna Juliane Della Méa, com orientação da professora Ilse Maria da Rosa Vivian,
defendeu, no dia 24 de agosto de 2016, a dissertação “A Leitura na escola é prática
humanizadora? Uma análise do contexto escolar de Frederico Westphalen /RS pela
perspectiva multinível”. A pesquisadora objetivou compreender como ocorre a relação da
leitura entre os protagonistas professor/aluno no âmbito escolar e se o ato de ler colabora para
a formação humanizadora do indivíduo.
A fim de encontrar possíveis respostas para o desinteresse pela leitura, o trabalho parte
do conceito de leitura e sua contribuição para a formação humana íntegra, de cunho social, e a
legislação vigente sobre o assunto. No segundo capítulo, “Bifurcações entre teoria e prática”,
registra investigação de campo, através de coleta de dados via survey, conduzido com
professores graduados em Letras que atuam em sala de aula e com alunos matriculados nos
Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio em Escolas Estaduais de Frederico
Westphalen /RS –Brasil. O terceiro capítulo, “A fruição da leitura”, corresponde à análise dos
dados na perspectiva multinível, sendo alunos e professores a unidade de análise de primeiro
nível (nível micro) e as escolas e bairros a unidade de segundo nível (nível macro).
Nas considerações finais, Méa observa que, “a leitura que aceita, que reflete, que
reage, que disponibiliza, reafirma sua amplitude e renova a crença de criação e autonomia de
identidade, esta é a idealizada por todos” (MÉA, 2017, p. 95). Observa a existência de
correlações significativas entre o aspecto comportamental e o estatuto intelectual dos
respondentes, o que sugere que existe interdependência entre as atitudes face ao interesse pela
leitura e o autoconceito dos alunos, uma vez que, os índices de porcentagem apurados
assemelham-se entre si. A análise realizada através do instrumento multinível revela a
necessidade da escola resgatar a reflexão e interação entre autor/leitor/texto/contexto como
elemento agenciador das transações sociais, entre o indivíduo e o ambiente em que está
inserido.
“Contação de histórias: sua contribuição para o incentivo à leitura” foi a dissertação
defendida por Jaqueline Pinson Sicherelo, no dia 12 de janeiro de 2017, com orientação da
professora Ilse Maria da Rosa Vivian. O objetivo foi repensar a prática leitora na escola,
enfatizando a necessidade da leitura como processo lúdico e prazeroso, cujas ações refletem
diretamente na formação pessoal e coletiva dos sujeitos, contribuindo para seu
172
autoconhecimento; outro objetivo foi repensar a formação de leitores neste nível de ensino,
possibilitando buscar alternativas possíveis para a resolução de deficiências.
Para tratar dessas questões, a dissertação dividiu-se em três capítulos: no primeiro,
“Leitura, o que é?”, a autora apresentou seu entendimento sobre leitura, subdividindo em
Leitura na escola e Leitura na infância. No capítulo II, “A história da contação de histórias”,
resgata o histórico da contação de histórias e sua contribuição para o incentivo à leitura, e no
terceiro apresenta as “Práticas de leitura: propostas de contação de histórias”, subdivididas em
importância das práticas de leitura e propostas de contação de histórias.
Sicherelo percebe que, “[...] a contação precisa ser preparada/pensada, desde a
história escolhida, a maneira como se quer contar, o tom de voz e os materiais que serão
utilizados” (SICHERELO, 2017, p. 67). Ao ouvir uma história, “a criança a interpreta e
assimila com seu cotidiano. Ainda, a contação de histórias permite a contextualização do
conteúdo escolar de uma forma prazerosa e dinâmica” (SICHERELO, 2017, p. 68).
QUADRO 25– Dissertações ingressantes Turma 2015 – Leitura, Linguagens e Ensino
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Daniela Tur 28/09/2017
Dra. Ana Paula Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Rosane Maria
Cardoso – UNISC; Dra. Luciane Figueiredo
Pokulat – IFFAR e Dra. Luana Teixeira Porto
– URI
Retratos de leitura de
universitários: Perfil de
leitores da área da saúde
Janaine Pomatti
Junglaus 27/09/2017
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Lúcia Regina
Lucas da Rosa – UNILASALLE e Dra.
Denise Almeida Silva – URI
Letramento intercultural e
crítico: contos de fadas em
língua inglesa e a prática
social de leitura
Minéia Carine Huber
07/12/2017 Dra. Ilse Maria da Rosa Vivian – URI
Orientadora/Presidente; Dr. Anselmo Peres
Alós – UFSM; Dr. Arnaldo Nogaro – URI e
Dra. Rosângela Fachel de Medeiros – URI
A leitura e a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC):
uma abordagem pela
perspectiva dos Estudos
Culturais
Fonte: Quadro elaborado pela autora
No ano de 2015, três alunas optaram por pesquisas na LP- Leitura, Linguagens e
Ensino, ficando as orientações distribuídas entre as professoras Ana Paula Teixeira Porto,
Luana Teixeira Porto e Ilse Maria da Rosa Vivian. A primeira discente a defender foi Janaine
Pomatti Junglaus, no dia 27 de setembro de 2017, com o tema “Letramento intercultural e
crítico: contos de fadas em língua inglesa e a prática social de leitura”. A pesquisadora teve
como objetivo elaborar proposição de prática leitora em língua inglesa para os anos iniciais do
173
Ensino Fundamental, enfatizando o letramento crítico e intercultural, a partir da leitura dos
contos de fada Beauty and the beast (A Bela e a Fera), Sleeping Beauty (A Bela
Adormecida) e The little mermaid (A Pequena Sereia), na versão Clássicos Bilíngues, da
Claranto Editora, com tradução para o português de Cristina Marques e Emílio Paiva.
A dissertação foi estruturada em três capítulos. O primeiro abordou o ensino de língua
estrangeira, novas metodologias de ensino, e o desenvolvimento de habilidades leitoras por
meio do conto de fadas; o segundo, o letramento intercultural e crítico e conceito de práticas
leitoras, e o último apresentou proposições didáticas para o letramento intercultural e crítico
no ensino de língua inglesa, na perspectiva do letramento intercultural.
A partir da compreensão da relevância “[...] do letramento em língua inglesa a ser
compreendido como oportunidade do aluno interagir com o outro e com outras culturas,
podendo participar e atuar no mundo dos discursos de forma consciente e crítica”
(JUNGLAUS, 2017, p. 79), a pesquisadora ressalta a adequação dos contos de fadas no
ensino de língua inglesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental, já que, a partir deles, “[...]
objetiva-se ampliar a competência leitora, desenvolvendo metodologias para essa finalidade
[...] que permitem o estímulo à imaginação e despertam o interesse do leitor mirim”
(JUNGLAUS, 2017, p. 80).
Um dia depois de Janaine Junglaus, Daniela Tur, no dia 28 de setembro de 2017,
defendeu a dissertação intitulada “Retratos de leitura de universitários: perfil de leitores da
área da saúde”, orientada pela professora Ana Paula Teixeira Porto. A pesquisadora objetivou
realizar estudos de natureza científica sobre a leitura na universidade e o perfil do leitor
universitário, na área da saúde. A pesquisa teve como base teórica textos de Michèle Petit,
Izabel Solé, Helena Maria Martins, Antonio Candido, Geraldina Porto Witter, Lucia
Santaella, Magda Soares, e recorreu, ainda, a questionário estruturado respondido por alunos
dos cursos de Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição, sendo a
análise realizada de forma quantitativa e qualitativa, articulada ao suporte teórico-crítico da
pesquisa.
O trabalho teve a seguinte estrutura: no primeiro capítulo, foram discutidas questões
sobre leitura, e a leitura no Ensino Superior; o segundo explicitou os processos metodológicos
da pesquisa, o terceiro analisou os dados da pesquisa de campo, identificando o perfil social,
educacional e cultural dos respondentes, e o quarto mapeou seu perfil leitor.
Os dados da pesquisa mostraram que “os estudantes não leem, em geral, com a
intenção de distração, nem por prazer e entretenimento, mas sim por exigência” (TUR, 2017,
p. 119). Contudo, os estudantes interrogados “entendem a leitura como uma atividade
174
essencial para a construção de conhecimentos e o aprendizado de coisas novas, com base no
caráter informacional, além de atender exigências das disciplinas dos cursos, ou seja, numa
perspectiva utilitária da leitura” (TUR, 2017, p. 120). Por fim, a pesquisadora destacou que
esses mesmos estudantes não realizam mais leituras de textos pela falta de tempo, ou porque
preferem outras atividades em relação à leitura.
“A leitura e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC): uma abordagem pela
perspectiva dos Estudos Culturais” foi o tema da pesquisa da aluna Minéia Carine Huber, a
qual defendeu seu trabalho no dia 07 de dezembro de 2017, com orientação da professora Ilse
Maria da Rosa Vivian. O objetivo foi discutir e estudar a formação cultural e leitora proposta
na Base Nacional Comum Curricular, com base nos Estudos Culturais, a fim de apontar
elementos importantes presentes ou não no documento, pressupondo a formação de um leitor
cultural crítico. A revisão teórica foi embasada nos Estudos Culturais e nas pesquisas sobre
leitura e formação do leitor, abrangendo leituras de Stuart Hall, Ana Carolina Escosteguy,
Richard Johnson, Jesus Martín-Barbero, Eduardo Restrepo, Néstor Garcia Canclini, Bell
Hooks, Douglas Kellner, Paulo Freire, Henry Giroux, Maria da Glória Bordini, Antonio
Candido, Hilton Japiassu, Tania Franco Carvalhal, Roland Barthes, Eneida Leal Cunha, Ivani
Catarina Arantes Fazenda, Marisa Cristina Vorraber Costa, Rosa Maria Hessel Silveira, Luis
Henrique Sommer e Carlos Magno Gomes.
A pesquisa investiga, sucessivamente, ao longo de seus três primeiros capítulos, o
problema da leitura no Brasil, o desenvolvimento dos Estudos Culturais, desde seu início na
Inglaterra até a chegada na América Latina, e o significado que assume a leitura nesse
contexto, considerada uma prática social, e, ainda, o conceito de cultura, entendida como
manifestação e espaço de luta e como processo que protagoniza a produção de significados na
sociedade. O quarto capítulo, “Um olhar sobre a BNCC: qual a concepção de leitura que
embasa o documento?”, realiza leitura crítica da Base Nacional Comum Curricular, embasada
politicamente nos Estudos Culturais.
Nas considerações finais, Huber (2017) registra que o BNCC, ao abordar os
conhecimentos historicamente construídos, “reafirma a exclusão e a desigualdade social, visto
que esses conhecimentos foram construídos por uma sociedade excludente, que fez isso
justamente para manter seu posto de dominação e hierarquia” (HUBER, 2017, p. 101). Além
disso, sugere que, “[...] por se tratar de um documento norteador para o ensino em nível
nacional, a Base deveria apresentar a leitura em uma perspectiva cultural, ou seja, uma prática
social, de acordo com os Estudos Culturais” (HUBER, 2017, p. 103), buscando a
interdisciplinaridade.
175
QUADRO 26– Dissertações ingressantes Turma 2016 – Leitura, Linguagens e Ensino
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Benise Albarello
Rapachi 07/08/2018 Dra. Ana Paula Teixeira Porto– URI
Orientadora/Presidente; Dra. Denise Almeida
Silva – URI e Dra. Luciane Figueiredo
Pokulat - IFFAR/FW
A formação de professores
leitores na graduação em
Letras: Uma pesquisa de
campo
Marcelo Santos da
Rosa 10/01/2019
Dra. Luana Teixeira Porto– URI
Orientadora/Presidente; Dra. Denise Almeida
Silva – URI e Dra. Maria Silvia Cintra
Martins – UFScar
Gamificação em práticas
leitoras em Língua Inglesa
no Ensino Médio
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A turma do ano de 2016 teve três alunos optantes pela LP 3, dos quais dois, até a
presente data, defenderam suas dissertações. Inicialmente, Benise Albarello Rapachi, no dia
07 de agosto de 2018, defendeu o trabalho “A formação de professores leitores na graduação
em Letras: uma pesquisa de campo”, que teve orientação da professora Ana Paula Teixeira
Porto. A pesquisa, realizada a partir de questionário estruturado respondido por graduandos de
um curso de Letras, visava identificar o perfil do leitor, considerando apenas o universo de
discentes do Ensino Superior, que estão cursando licenciatura em Letras, na tentativa de
descobrir o que esses alunos leem, por que e quando o fazem, e as implicações desses hábitos
de leitura para a formação profissional.
Partindo de resenha da importância da leitura para a formação cidadã e para a
formação dos professores, e de documentos legais que norteiam a formação docente e
identificam competências e habilidades para esses profissionais, em seu capítulo segundo o
trabalho descreveu a metodologia usada nesta pesquisa de campo, cabendo ao terceiro
capítulo analisar os dados obtidos. A análise traz dados que merecem ser pensados: apesar de
presente no dia a dia dos alunos, desde a Educação Básica, a leitura desses graduandos em
Letras “[...] é meramente realizada pelo fator obrigatoriedade e não como consciência que
deveria ter da importância para toda a vida acadêmica e social” (RAPACHI, 2018, p. 103).
Contudo, vão ao encontro das “normas das DCNs no sentido de que eles leem e leem
literatura, dando a atenção à produção que se relaciona com as habilitações do curso, a saber
domínio da leitura e conhecimento da literatura das línguas nas quais são formuladas as
habilitações de Letras” (RAPACHI, 2018, p. 102).
No dia 10 de janeiro de 2019, Marcelo Santos da Rosa defendeu sua pesquisa,
“Gamificação em práticas leitoras em Língua Inglesa no Ensino Médio”, com orientação da
176
professora Luana Teixeira Porto. Com formação em Letras-Inglês, Marcelo preocupou-se em
discutir processos de leitura e de formação de leitor em língua inglesa que possam ocorrer em
concordância com a contemporaneidade, quando tecnologias diversas assumem um papel
preponderante na vida das pessoas, especialmente dos nativos digitais, como é o caso dos
alunos do Ensino Médio hoje. A fim de refletir sobre a formação do leitor no espaço escolar
na atualidade e as novas demandas que se apresentam para o trabalho com a leitura em
tempos de cultura digital (capítulo 1), entender a natureza do jogo e da gamificação (capítulo
2) e elaborar uma sequência didática de leitura em língua inglesa com a perspectiva da
gamificação (capítulo 3), da Rosa pesquisou, extensivamente, sobre leitura, formação do
leitor, jogo e gamificação, para o que buscou suporte teórico em Zilberman (1984; 2016),
Lajolo (1984; 2009; 2016), Rojo (2017), Gee (2008, 2014) e Santaella (2004; 2010; 2014). Na
parte dos jogos, Huizinga, Juul (2003; 2005), Mäyrä (2008), Silva (2012) e Gomes (2003),
Alves (2015), Glover (2013), Kapp (2014) e Burke (2014).
Além da compreensão mais profunda sobre exigências e demandas da educação como
um todo na cultura digital e, mais especificamente sobre o ensino de leitura nesse contexto,
da Rosa confirma sua hipótese de que “a relação entre gamificação e pedagogia se estreita e
se fortalece a partir das perspectivas que são possíveis de extrair do jogo e transferir para a
sala de aula” (DA ROSA , 2019, p. 126). Ressalta, ainda, a necessidade de nova pedagogia e
novos meios tecnológicos na escola hoje, destacando que, se essas práticas e pedagogias não
forem aplicadas na escola, é bem provável “que não ocorram transformações, portanto, faz-se
necessário um repensar constante sobre o status quo do ensino e a que custo mantém-se tudo
exatamente como está, sem se abrir a novas perspectivas de aprendizagem ou de caminhos
pedagógicos” (DA ROSA , 2019, p. 129).
As dissertações referentes ao primeiro quadriênio da LP – Leitura, Linguagens e
Ensino trouxeram novo rumo às pesquisas do PPGL da URI, já que se direcionaram a práticas
de leitura no Brasil e o perfil dos leitores. Nesse período, foram defendidos treze trabalhos,
com orientações distribuídas entre as professoras Ana Paula Teixeira Porto (cinco alunos), a
professora Luana Teixeira Porto, também com cinco orientações, e a professora Ilse Maria da
Rosa Vivian, com três orientações.
Nos trabalhos orientados pela professora Ana Paula Teixeira Porto, fez-se o estudo dos
DCNs e PCNs, e desenvolvidas pesquisas com foco em tecnologias e ensino no Brasil (uso do
software HagáQuê, práticas de leitura no Ensino Superior e a rádio escolar como ferramenta
no processo de formação de leitores), criação de práticas de ensino de literatura, relações
entre Direito e Literatura, e estudo do perfil dos leitores universitários na área da saúde e de
177
Letras. Teóricos recorrentes foram Bordini, Zilberman, Levy, Kenski, Moran, Carvalhal,
Malard, Solé e Petit. A composição das bancas refletiu a valorização de egressos do PPGL,
representados pela Dra. Luciane Figueiredo Pokulat (IFFAR), presente em três das bancas, e a
formação de redes de cooperação com universidades gaúchas (convite ao Dr. Miguel
Retternmaier (UPF) e à Dra. Rosane Maria Cardoso (UNISC), além de evidenciar a efetiva
participação de docentes da UNINCOR, com quem o PPGL-URI mantém um acordo de
cooperacão formalizado.
Rumos de cooperação e pesquisa semelhantes aos evidenciados na composição das
bancas da professora Ana Paula se fizeram presentes nas bancas da professora Luana Teixeira
Porto, para as quais foram convidados, ao longo do período, Dr. Miguel Retternmaier (UPF),
Dra. Gabriela Fernanda Cé Luft (UPF), Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM), Dra.
Lúcia Regina Lucas da Rosa (UNILASALLE) e a Dra. Maria Silvia Cintra Martins
(UFSCAR). Os trabalhos contemplaram investigações em torno da violência no espaço
escolar e em contos brasileiros, ensino de literatura no Ensino Médio, fragilidades e
potencialidades dos livros didáticos, letramento intercultural e crítico e práticas leitoras em
língua inglesa. Embasamento teórico recorrente foi buscado nos pesquisadores Tânia Mariza
Kuchenbecker Rösing, Jaime Ginzburg, Sigmund Freud, Antonio Candido, Henry Remak,
Teresa Colomer, Ana Maria Machado.
As orientações feitas pela professora Ilse Maria da Rosa Vivian apresentaram temas
relacionados às práticas de leitura na escola, relação da leitura entre professor/aluno no
âmbito escolar, formação cultural e leitora na Base Nacional Comum Curricular e problemas
de leitura no Brasil, investigados através de pesquisas de campo. Os teóricos mais citados
foram Hall, Freire, Candido, Bordini, Carvalhal, Barthes, Cunha, Sommer, Giroux e Japiassu.
Em relação aos professores externos que compuseram as bancas, verifica-se, também, o
predomínio de docentes em atuação no Rio Grande do Sul. Foram convidados: Dr. Deonir
Kurek (UNIOESTE), Dra. Eunice Terezinha Piaza Gai (UNISC) e Dr. Anselmo Peres Alós
(UFSM).
QUADRO 27– Dissertações ingressantes Turma 2017 – Leitura, Linguagens e Ensino
Nome/ Data Defesa Orientador(a)/Banca Título da Dissertação
Bibiana Zanella
Pertuzzati 18/12/2018
Dra. Ana Paula Teixeira Porto– URI
Orientadora/Presidente; Dra. Luciane
Figueiredo Pokulat – IFFAR e Dra. Tânia
Mariza Kuchenbecker Rösing – CNPq
Leitura, literatura e mídias
digitais na formação
básica: Práticas mediadoras
178
Elisângela Bertolotti
19/12/2018
Dra. Ana Paula Teixeira Porto–URI
Orientadora/Presidente; Dra. Eliane Cadoná -
URI e Dra. Cilene Margarete Pereira –
UNICOR
Sexualidades “excêntricas”
em práticas mediadoras de
leitura para o Ensino
Superior
Luana Magalhães
Siqueira 09/01/2019
Dra. Luana Teixeira Porto – URI
Orientadora/Presidente; Dra. Elisabete Cerutti
- URI e Dra. Lúcia Regina Lucas da Rosa –
UNILASALLE
BNCC para o Ensino
Fundamental e práticas
leitoras: Gêneros digitais
na sala de aula
Fonte: Quadro elaborado pela autora
A turma que ingressou no ano de 2017 viria a ser a última a ser admitida no Mestrado
em Letras. Três alunas optaram pela LP “Leitura, Linguagens e Ensino”; orientadas pelas
professoras Ana Paula Teixeira Porto (duas discentes) e pela professora Luana Teixeira Porto
(uma discente), todas concluíram suas pesquisas, tendo sido Bibiana Zanella Pertuzzati a
primeira a defender seu trabalho, intitulado “Leitura, literatura e mídias digitais na formação
básica: Práticas mediadoras”, no dia 18 de dezembro de 2018.
O trabalho, fundamentado em autores como Alberto Manguel, Ezequiel Silva, Paulo
Freire, Harold Bloom, Vera Teixeira de Aguiar, Maria da Glória Bordini, Tânia Mariza
Kuchenbecker Rösing, Roger Chartier, Regina Zilberman, Isabel Solé, Antonio Candido,
Tzvetan Todorov e Jaime Ginzburg, teve como objetivo discutir as possibilidades de inter-
relação entre leitura, literatura e mídias digitais, considerando a perspectiva de formação de
leitores, com vistas a propor práticas mediadoras de leitura que auxiliem na prática docente na
educação básica. Dado esse objetivo, tornaram-se necessárias leituras sobre as mídias digitais
(Vani Moreira Kenski, José Moran e Rui Fava) e dos documentos que regem a educação
básica brasileira, como a LDBEN, PCNs, BNCC, DCN-EM e OCEM.
Após enfocar, no capítulo inicial, “Leitura na educação básica”, a crise consolidada da
leitura na escola e no país e a importância da leitura na formação dos estudantes do Ensino
Médio, a dissertação prossegue, no segundo capítulo, “Formação do leitor na era digital”, com
apontamentos teórico-críticos acerca desse processo formativo e das estratégias e práticas
mediadoras de leitura nesse contexto. Já o terceiro capítulo, “Práticas mediadoras de leitura
para o Ensino Médio”, contempla a construção de duas propostas de mediação de leitura
literária, intituladas “Leituras da „periferia‟” e “Personagens idosos na literatura e telenovela”.
Em suas conclusões, Pertuzzati (2018) destaca que “os usos de metodologias ativas,
como a sala de aula invertida utilizada na elaboração das propostas desse trabalho, contribuem
para uma educação inovadora e favorecem mais tempo para que os estudantes”
(PERTUZZATI, 2018, p. 103). Conclui, ainda, que “as mudanças nas metodologias de
179
ensino-aprendizagem são necessárias quando se depara com uma sociedade cada vez mais
digitalizada e com a reprodução de métodos ultrapassados no ensino” (PERTUZZATI, 2018,
p. 105).
Um dia após a defesa de Bibiana Zanella Pertuzzati, a 19 de dezembro de 2018, a
aluna Elisângela Bertolotti defendeu a dissertação “Sexualidades „excêntricas‟ em práticas
mediadoras de leitura para o Ensino Superior”, com orientação da professora Ana Paula
Teixeira Porto. A pesquisadora objetivou realizar uma leitura investigativo-crítica acerca das
sexualidades excêntricas - transexuais e travestis - e elaborar práticas mediadoras de leitura
para o Ensino Superior que contribuam para a visibilidade dessa temática e a construção de
novas leituras e pesquisas em torno dela. Com base em estudos de autores como Antonio
Candido (1997), Berenice Bento (2009), Judith Butler (2003), Guacira Lopes Louro (1997) e
Adriana Nunan (2015), o trabalho parte de considerações sobre a formação humana e cidadã e
a valorização de diversidades; prossegue, no capítulo 2, com discussão sobre a diversidade
sexual, abordando as minorias sexuais, preconceito sexual – estereótipos – e invisibilidade de
sexualidades excêntricas. O terceiro capítulo introduz as práticas mediadoras de leitura e seus
pressupostos teóricos, detalhando, por fim, duas propostas de práticas mediadoras de leitura
para o Ensino Superior a partir da temática enfocada.
Bertolotti ressalta a importância de propiciar “[...] práticas mediadoras de leitura que
abrangem a diversidade sexual, através de leituras literárias sensibilizadoras e documentos
que expressam a realidade brasileira em termos de preconceito com a diversidade sexual”
(BERTOLOTTI, 2018, p. 97). Destaca, ainda, que “é nesse diálogo que práticas discursivas
em prol da formação humana e do respeito à diversidade sexual são postos em pauta,
apagando traços de uma leitura conservadora que ainda norteia as atividades e discursos dos
cidadãos” (BERTOLOTTI, 2018, p. 99).
Encerrando as atividades de pesquisa da LP 3, no dia 09 de janeiro de 2019 Luana
Magalhães Siqueira apresentou a dissertação intitulada “BNCC para o Ensino Fundamental e
práticas leitoras: gêneros digitais na sala de aula”, sob a orientação da professora Luana
Teixeira Porto. O objetivo principal foi analisar a concepção de leitura que subjaz à BNCC, e
focalizar novos gêneros digitais para a elaboração de proposta de prática leitora. A autora se
valeu de literatura atualizada e recente, bem como de clássicos sobre o assunto: Maria da
Glória Bordini (2016), Anne-Marie Chartier (2016), Rildo Cosson (2011), Edvaldo de Souza
Couto (2016), Luiz Antonio Marcuschi (2003; 2005), Maria Helena Martins (1994), Lucia
Santaella (2004; 2016), Margarete Schlatter (2018), Magda Soares (2002; 2002), Graça
180
Paulino (2001), Ana Paula Teixeira Porto (2016), Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing (2015),
Ernani Terra (2001) e Regina Zilberman (2007; 2016).
O estudo desenvolve-se em três capítulos, sendo o primeiro intitulado “Base Nacional
Comum Curricular e o Ensino da Leitura” e o segundo “Os letramentos múltiplos e os
gêneros digitais em práticas leitoras”; o terceiro, “Gêneros digitais na sala de aula:
proposições para prática leitora alicerçada em letramentos múltiplos”, apresenta um roteiro de
atividades que contemplam alguns dos gêneros digitais propostos pela BNCC ao ensino do
componente Língua Portuguesa.
Em suas conclusões, Siqueira verificou que a BNCC (2017), “propõe, como eixo de
leitura, práticas de linguagens voltadas ao aprofundamento da reflexão crítica, à capacidade
de abstração e ao desenvolvimento do potencial analítico na formação de leitores”
(SIQUEIRA, 2019, p. 81), orientando a formação de um leitor reflexivo. Direciona as práticas
de linguagem ao desenvolvimento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação –
TDIC‟s. Além disso, percebe “a necessidade de repensar constantemente o ensino das práticas
de linguagem, as metodologias utilizadas e os objetivos pretendidos na formação de cidadãos
pensantes que possam desenvolver pela leitura satisfação e significação” (SIQUEIRA, 2019,
p. 83), ressaltando que o “objetivo central dos mediadores da educação deve ser preconizar
uma formação em que seus alunos realizem leituras significativas, valorativas em suas vidas e
ainda com fruição estética” (SIQUEIRA, 2019, p. 84).
Integrou a banca deste trabalho, como membro externo, a Dra. Lúcia Regina Lucas da
Rosa (UNILASALLE). A professora Ana Paula Teixeira Porto convidou os seguintes
professores externos para a composição das bancas ao longo do quadriênio: Dra. Luciane
Figueiredo Pokulat (IFFAR) e Dra. Cilene Margarete Pereira (UNICOR), valorizando, uma
vez mais, egressa do programa e integrante de IES com a qual o PPGL- URI mantém acordo
de cooperação, respectivamente.
Percebe-se, nos trabalhos desenvolvidos por esta última turma ingressante, a
prevalência de pesquisas envolvendo as mídias e os gêneros digitais, e o direcionamento à
proposição de atividades de ensino para práticas leitoras.
CONCLUSÃO
Esta dissertação se propôs a analisar as dissertações de mestrado produzidas pelo
PPGL- Mestrado em Letras - Literatura Comparada, desde as elaboradas pela turma inicial,
com ingresso em 2006, até a turma final, com ingresso em 2017 e defesa até 2019.
Evidentemente, a data-limite para a análise tornou-se a data da elaboração desta dissertação;
pesquisas que fogem a este padrão, mesmo com defesa marcada para 2019, encontram-se
elencadas no Quadro 28, anexo.
Orientou a pesquisa a visão de que essas dissertações constituem parte integrante do
patrimônio documental da URI e, pois, de sua memória institucional. Nesse sentido, tomou-se
esta produção como um lugar de memória, estabelecendo como referencial primário, para esta
pesquisa, o conceito formulado por Pierre Nora, o qual salienta a necessidade de história
quando a memória já não é produzida, dado o desvínculo com a população que a tece. Ao se
referir ao momento em que se aplica esse conceito, Nora o compara a chama produzida por
incêndio já quase em extinção. Descreve: “tudo o que é chamado de clarão de memória é a
finalização de seu desaparecimento no fogo da história. A necessidade de memória é uma
necessidade da história” (NORA, 1993, p. 14).
O conceito traz à tona, pois, uma relação vestigial, profundamente vinculada aos
conceitos de história, memória (e vontade de memória) e documento. Para Nora, lugares de
memória são essencialmente meios de acesso a uma memória que já é história, uma memória
reivindicada e não espontânea, que não seria mais construída em um grupo, mas para um
grupo, através da história. Aqui o teórico faz alusão à concepção de memória de Maurice
Halbwachs, segundo o qual, como já resenhado neste trabalho, a memória deve ser
compreendida como um fenômeno coletivo e social, elaborada seletivamente a partir da
vivência de um indivíduo em um quadro social, e sujeita a alterações e reconstruções
conforme se fortalece ou, ao contrário, se enfraquece o sentido de pertença entre um indivíduo
e o quadro social ao qual se vincula uma memória. Uma vez que a memória individual é um
ponto de vista sobre a memória coletiva, tal ponto de vista muda e sofre alteração conforme o
lugar que este ocupa nas relações que mantém com os diversos ambientes coletivos.
Partindo dessa compreensão, pode-se dizer que a memória deste Curso se caracteriza
como um fato social, e, pois, que deve ser preservada tanto no âmbito da memória individual
quanto social: é de interesse coletivo estudar sua constituição, construção e legado, visando à
ciência e compreensão de sua história. Aqui cabe registrar mais um pensamento de
Halbwachs: no instante em que um grupo desaparece, existe uma única forma de salvar as
182
lembranças, “[...] é fixá-las por escrito em uma narrativa, pois os escritos permanecem,
enquanto as palavras e o pensamento morrem” (HALBWACHS, 2006, p. 101). Assim se
justifica o presente registro escrito, o qual representa a socialização crítica da história do
Mestrado em Letras - Literatura Comparada da URI, a fim de tornar acessível a todos -
discentes, docentes, pesquisadores, comunidade local, regional, nacional e internacional - esta
chama memorial.
Era preciso, porém, que, para além da análise da história do curso através do viés da
produção documental representada pelas dissertações de mestrado, fosse feito o registro dos
professores que alavancaram as pesquisas, dos funcionários que lhes deram suporte, dos
alunos que por aqui passaram, dos professores externos que fizeram parte de sua rede de
cooperação em bancas, e dos que aqui estiveram em eventos realizados e promovidos pelo
Curso, e, ainda, da atuação profissional já vivenciada por egressos. Por outro lado, o exame
das dissertações, consideradas como lugar de memória, proporcionou o registro das diversas
possibilidades e rumos assumidos pelas pesquisas, com temas diversificados e contundentes, e
dos resultados obtidos com e através dessa produção.
Esta dissertação é, pois, um meio de acesso a uma memória que se apaga, dado que
não poderá mais ser construída em seu grupo. Nora alerta: quanto "menos a memória é vivida
do interior, mais ela tem necessidade de suportes exteriores e de referências tangíveis de uma
existência que só vive através delas" (NORA, 1993, p. 14).
Lembra-se aqui Chauí (2000) e seu registro de que a memória tem como função não só
diferenciar o passado do presente e tornar acessível o futuro, como conferir sentido ao
passado, salientando mesmo aquilo em que difere do presente. É o presente o marco a partir
do qual se faz história, no sentido de compreender o que se foi e o que se pode ser. Essa é
também, uma função da narrativa: recorda-se, mais uma vez, Manguel, para quem se narra
uma história em busca de autocompreensão. Escrever esta dissertação significou, ainda, um
olhar retrospectivo ao passado com o duplo fim de lhe atribuir sentido e compreender melhor
não apenas o passado, mas o presente e a esta pesquisadora mesma, integrante dessa trajetória.
Ao realizar tal exercício memorial, valoriza-se uma função essencial da memória, que “[...] é
o que confere sentido ao passado como diferente do presente (mas fazendo ou podendo fazer
parte dele) e do futuro (mas podendo permitir esperá-lo e compreendê-lo)” (CHAUÍ, 2000, p.
164).
A relação essencial entre memória, passado e identidade reforça e explica a urgência
pelo não esquecimento: não lembrar seria enfraquecer uma identidade árdua e diligentemente
forjada. Ao analisar todas as dissertações, compreende-se a importância que esse Curso teve,
183
e ainda tem, na vida daqueles que, de uma forma ou de outra, fizeram parte da sua história.
Contudo, relembra-se a lição de Le Goff, quando menciona que a História é “[...] uma
construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e
significativa da história” (LE GOFF, 2003, p. 25). Enquanto construção e reinterpretação, este
estudo traz, inescapavelmente, o olhar e a vivência desta pesquisadora. Por outro lado, o
pensamento de Le Goff chama a atenção para ainda outro dado essencial: a consciência do
presente e a perspectiva de futuro se fundamentam na memória do passado. Por isso, a
necessidade de retomá-lo, à luz da História, com vontade e, sobretudo, entendimento, e dar
novamente um sentido à existência desse curso, reinterpretando-o através desta dissertação, de
forma a reconduzir sua história a um futuro ressignificado na História, com o claro registro
das contribuições do programa na promoção dos saberes construídos e compartilhados por ele.
Seguindo a esteira dos horizontes de pesquisa de Aleida Assmann, consideram-se
tanto a história como a memória como formas de recordação “que não precisam excluir-se
nem recalcar-se mutuamente” (ASSMANN, 2011, p. 147). Se já está a se perder uma
memória habitada, funcional, pertencente a portadores vivos, resta esta memória de segunda
ordem, a qual, como Assmann registra acerca da memória cumulativa, “[...] acolhe em si
aquilo que perdeu a relação vital com o presente” (ASSMANN, 2011, p. 147). É essa visão da
continuidade de valoração vital, para o presente, de dados produzidos no passado que anima
este trabalho de pesquisa. Relegadas às prateleiras de uma biblioteca ou arroladas em uma
base de dados à espera de leitores, as dissertações produzidas por este PPGL pouca
significação poderiam ter ou vir a ter. Contudo, de acordo com a visão de Aleida Assmann, os
elementos da memória cumulativa se constituem em reserva potencialmente disponível para
resgate, a qual “[...] pode ser vista como um depósito de provisões para memórias funcionais
futuras” (ASSMANN, 2011, p. 153).
Se este trabalho se localiza, já, na confluência de uma memória habitada que se
estingue, configurando-se como uma “memória das memórias”, a porosidade entre memória
cumulativa e funcional, história e memória viva, é capaz de ressignificar o que poderiam vir a
ser dados amorfos e inertes do passado, tornando-os parte da memória funcional de uma
sociedade. É justamente a possibilidade de tornar os dados da memória cumulativa acessíveis,
interpretáveis e ordenáveis que estabelece a produtividade e sentido desta dissertação. Para
que chegue a bom sucesso a luta pelo não esquecimento, pela preservação e perpetuação do
curso, como representado por suas dissertações enquanto lugar de memória, é preciso que haja
aquele sentimento que Nora chamou de “vontade de memória”, referindo-se à necessidade da
sociedade de saber sobre si mesma. Pensa-se que, muito além do documento representado por
184
esta dissertação, que representa apenas uma resenha crítica de toda a produção e pesquisa
contida nessas dissertações, é preciso que a vontade de memória institucional se materialize
em firme compromisso de atribuir a essas dissertações o status de arquivo permanente e,
como tal, considerados de caráter definitivo e disponíveis para fins de pesquisa, já que muito
em breve as dissertações perderão seu status de arquivo corrente.
Tomando-se como base o conceito de arquivo de Reis (2006), para o qual arquivo
corresponde a um conjunto de documentos, produzidos ou recebidos por qualquer pessoa ou
organismo público ou privado, as dissertações podem, em si mesmas, ser consideradas como
arquivo. Sendo o arquivo gerador de conhecimento, ele se impõe como lugar indispensável
para o exercício da pesquisa, pois permite diálogo com outros discursos e documentos. Assim
considerado, o arquivo adquire novo status, não apenas de guardião da memória, mas,
sobretudo, como um espaço de referência para a produção do conhecimento. Ademais, a
comunidade que se formou no entorno do PPGL-Mestrado em Literatura Comparada,
geograficamente próxima ou distante, é detentora do direito do acesso à informação.
Na qualidade de arquivo, as dissertações integram o patrimônio da URI. E, não custa
lembrar, patrimônio não se limita apenas ao sentido de herança. Refere-se também, aos bens
produzidos por aqueles que fizeram a história acontecer, que resultam em experiências e
memórias, coletivas ou individuas. Isso é verdade, também, na esfera empresarial, de marcado
teor social, já que a história de uma empresa é resultado da contribuição de cada uma dessas
pessoas que por ela passaram. Assim pensado, o patrimônio, enquanto relação com o tempo
que antecede, permite o estabelecimento de “[...] relações mediadas através de objetos que
acreditamos pertencer a uma herança coletiva” (GUIMARÃES, 2008, p. 19). Diante do
exposto, torna-se evidente que a relação entre memória, arquivo e patrimônio é essencial. A
existência desse trabalho seria impossível sem o registro da memória, sem os arquivos que a
mantém viva, e alimentam, ainda, o senso de identidade, de história, de cultura e de memória
individual e coletiva desta comunidade de saber.
Resta agora registrar por que as dissertações produzidas por este PPGL são dignas do
status de arquivo permanente, e de serem mantidas como lugares de memória que ultrapassam
a função de guardiães de uma época. Da mesma forma que se optou pela análise individual
das linhas de pesquisa, em seu desenvolvimento cronológico, parte-se da análise das linhas
individuais, o que possibilita melhor dimensionar como cada uma delas contribuiu, a sua
maneira, para os rumos do desenvolvimento da pesquisa no PPGL- Mestrado em Literatura
Comparada da URI.
185
A Linha de Pesquisa 1 – Literatura, História e Imaginário (2006), mais tarde
subsumida pela LP Literatura, História e Memória (2010), ao longo dos seus treze anos de
história, foi tecendo vínculos de pesquisa e parcerias institucionais e interinstitucionais, tendo
sido a linha que mais teve alunos matriculados: um total de 53, dos 98 alunos que defenderam
suas dissertações, optaram por esta linha.
Considerando-se a questão da formação de redes de cooperação e pesquisa,
inicialmente percebe-se, nesta linha, (e também na então LP2, Memória e Identidade Cultural,
criada à mesma época que a LP Literatura, História e Imaginário), as naturais marcas de um
programa muito jovem. Os docentes buscavam, em pesquisadores da sua universidade de
formação e colegas de curso, apoio para a formação de bancas e outros eventos patrocinados
pelo curso. A Dra. Eloína Prati dos Santos (UFRGS), orientadora de Mestrado e doutorado da
professora Denise Almeida Silva, integrou uma banca dessa docente e a professora Dra.
Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM), orientadora do professor Lizandro Carlos Calegari
integrou duas bancas nesse período. Essa professora viria a se tornar uma das mais assíduas
colaboradoras do PPGL-URI, tendo sido também convidada para bancas constituídas pelas
professoras Denise Almeida Silva, Ana Paula Teixeira Porto e Luana Teixeira Porto, bem
como convidada para publicações e eventos promovidos pelo curso. Dada a formação dos
professores Ada Maria Hemilewski, Lionira Maria Giacomuzzi Komosinski e André Luís
Mitidieri Pereira na PUC/RS é forte, nos anos iniciais, a presença de docentes e egressos da
PUC, como Maria Luiza Ritzel Remédios, Regina Kohlrausch e Silvia Helena Pinto
Niederauer, respectivamente; esta última mais tarde viria a integrar o corpo docente do PPGL.
Por outro lado, o professor Robson Pereira Gonçalves contribuiu com sua rede de
pesquisadores e colegas da UFSM.
Em relação aos temas mais abordados por essa linha, em um primeiro momento, até
2009, o mais recorrente foi o romance malandro e carnavalização e as relações entre literatura
e psicanálise, em dissertações orientadas pelo professor Robson Pereira Gonçalves. Além
desse, destacam-se questões relacionadas a minorias, memória e identidade; deslocamento,
narrativa e trauma, este nos contextos da ditadura e do holocausto. A partir da reformulação
dessa linha no ano de 2010, e com a renovação do quadro docente, outras temáticas passaram
a serem pesquisadas, como a violência, as quais deixaram de se vincular a um único
pesquisador para se tornarem temas recorrentes no programa. Intensificou-se a pesquisa sobre
memória e identidade, abrangendo, com frequência, a memória individual, coletiva e cultural;
alargou-se o escopo da pesquisa sobre minorias, passando a abranger minorias sexuais (e
conflitos de gênero), e as minorias afro-brasileira e indígena. Além da literatura brasileira,
186
foram analisadas a literatura portuguesa e africana de expressão portuguesa, literaturas de
língua inglesa e de língua espanhola.
Para tratar de todos esses temas, foram bases teóricas utilizadas com frequência, para
tratar as relações literatura-história, Peter Burke, Auguste Comte, Jacques Le Goff e Hayden
Withe; Michel de Certeau; para questões relativas ao pós-colonial: Homi Bhabha, Stuart Hall,
Tomaz Tadeu da Silva e Thomas Bonnici; para estudos sobre a narrativa Roland Barthes e
Jean Mukaravosky, e, na teoria da recepção, Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser. Questões
sobre identidade nacional usaram, com frequência, os teóricos Ernest Renan e Benedict
Anderson. Em estudos sobre literatura brasileira, foram assíduas menções a Alfredo Bosi,
Antonio Candido, Regina Dalcastagnè, Karl Erik Schollhammer, Tânia Pelegrini e Jaime
Ginzburg; pesquisas envolvendo psicanálise registraram estudos de Freud e Jacques Lacan.
Naturalmente, esta listagem está longe de ser completa, pois a variedade de assuntos tratados
requereu, a cada caso, teóricos específicos; no entanto, em se tratando de um programa com
concentração em Literatura Comparada, não se pode deixar de mencionar a recorrência dos
nomes de Daniel-Henri Pageaux e Tânia Carvalhal.
Constatou-se, ainda, a confirmação de tendência verificada já nas primeiras
dissertações produzidas pelos discentes do Curso na LP 1, a análise de obras de autores
contemporâneos, e ou “clássicos”, como Manoel Antonio de Almeida, Simões Lopes Neto,
Monteiro Lobato, Mário de Andrade, e Jorge Amado. Contudo, estes “clássicos” foram, em
geral, estudados de forma comparativa com autores contemporâneos, como Luiz Ruffato,
Patrícia Mello, Paulo Lins e Sérgio Santanna, ou ainda com autores gaúchos contemporâneos
como Mário Quintana, José Clemente Pozzenato, Mário Simon, Antonio de Assis Brasil e
Caio Fernando Abreu (alvo de cinco dissertações) e Conceição Evaristo (duas dissertações).
Esta última tendência se dá de acordo com o direcionamento da LP 1 no sentido de
valorização das manifestações culturais e literárias regionais. Outros autores contemporâneos
de língua portuguesa foram os portugueses Lobo Antunes e José Saramago e o africano Mia
Couto, este estudado em quatro dissertações. A produção literária em língua inglesa foi
representada pelo estudo de Paule Marsshall, Caryl Phillips e June Henfrey, do Caribe
anglófono, e Ian McEwan, escritor inglês contemporâneo; em língua espanhola, por Gabriel
Garcia Marques e Isabel Allende.
Na Linha de Pesquisa 2, Memória e Identidade Cultural, subsumida, em 2010, pela LP
Comparatismo e Processos Culturais, no primeiro e segundo triênios aconteceram dez defesas
e as orientações ficaram concentradas entre os professores Ada Maria Hemilewski, Denise
Almeida Silva e André Luís Mitidieri Pereira. No segundo triênio, estiveram presentes, por
187
duas vezes, nas bancas de defesa, os professores externos Dr. Adeítalo Manoel Pinho (UEFS),
nos dias 04/11/2009 e 05/11/2009 e Dr. Jorge Araújo de Souza da (UEFS), a 12/08/2010 e
13/08/2010. Com a chegada, em 2010, da professora Maria Thereza Veloso, atual
coordenadora do mestrado, a maioria das orientações dessa LP passou a ser assumida por essa
professora; a convidada externa mais frequente, no triênio 2010 – 2012, foi a professora
Aracy Graça Ernest, da UCPel, sua orientadora, que esteve presente por três vezes. Nos anos
seguintes os destaques foram os professores: Dra. Ângela Maria Zamim (UFSM), duas vezes,
Dr. Cassio dos Santos Tomaim (UFSM), Dra. Vanessa Ribas Fialho (UFSM), o que
demonstra a ampliação de redes de cooperação, em uma dimensão regional e estadual.
Sobre as temáticas desenvolvidas nessa linha, destacam-se, primeiramente, abordagem
sobre memória e identidade, memória e literatura, histórias e imigrantes alemães no RS e SC,
literatura de viagem, todos esses enfatizados entre os anos de 2007 a 2009, quando a LP
Memória e Identidade Cultural tinha como um dos objetivos estudar as identidades, a
memória e os espaços simbólicos. As pesquisas realizadas a partir de 2010, quando a LP 2
passou a ter como objetivo investigar os diálogos da literatura com outros sistemas de
conhecimento, processos culturais, políticos e socioeconômicos, ampliando e diversificando
seu alcance, passaram a abordar a questão do comparatismo e tradução, análise do discurso,
diálogo entre estudos literários e linguísticos, e entre literatura e jornalismo, e até a narrativa
de games e RPG; com a chegada da professora Rosângela Fachel de Medeiros, em 2014,
ampliaram-se esses temas, sendo mais intensivo o estudo do cinema, em associação ou não
com o texto literário.
Nesta linha, como suporte teórico, destacaram-se, num primeiro momento Paul
Ricouer e Maurice Halbwacks, e posteriormente com a reestruturação da linha, Michel
Pêcheux, Eni Orlandi, Jacques Lacan, Michel Focault; com a inclusão de estudos
comparativos com outros sistemas de conhecimento e processos culturais, passaram a figurar
nomes como Ismael Xavier, Daniel Chandler, Robert Stam, Henry Jenkins, Carlos A. Scolari,
José Arbex, Will Eisner e Beatriz Marocco.
Na primeira fase desta linha, antes de sua reformulação, estudaram-se obras de autores
de literatura brasileira contemporânea: Milton Hatoum, Gladstone Osório Marsico, Antonio
Olinto; da literatura angolana, João Melo, e da literatura gaúcha, Érico Veríssimo. A partir do
ano de 2010, com os novos rumos de pesquisas da LP 2, analisaram-se J. M. Coetzee
(africano, de língua inglesa), Juan Rulfo (mexicano), e Mario de Andrade, Clarice Lispector,
Martha Medeiros, Arnaldo Jabor, autores brasileiros contemporâneos. Outros tipos de
narrativas estudadas foram a telenovela, cinema, vídeo clipe, e séries de games.
188
A Linha de Pesquisa 3, criada em 2013, Leitura, Linguagens e Ensino, ampliou e
renovou as pesquisas realizadas até então. As professoras Ana Paula Teixeira Porto, Luana
Teixeira Porto e Ilse Maria da Rosa Vivian atuaram como orientadoras no primeiro quadriênio
dessa linha. No segundo quadriênio, que iniciou em 2017, somente as professoras Ana Paula
Teixeira Porto e Luana Teixeira Porto atuaram como orientadoras; ao todo, nos dois
quadriênios, essas docentes orientaram dezesseis trabalhos.
Na composição das bancas teve destaque a participação da Dra. Luciane Figueiredo
Pokulat (IFFAR/FW), egressa do PPGL da URI, convidada quatro vezes pela professora Ana
Paula Teixeira Porto, a Dra. Lúcia Regina Lucas da Rosa (UNILASALLE), duas vezes
convidada pela professora Luana Teixeira Porto e o professor Dr. Anselmo Peres Alós
(UFSM), convidado da professora Ilse Maria da Rosa Vivian. Além desses, outros professores
convidados, da UFSM, UPF, UFSCAR, UNICOR, UNISC se fizeram presentes.
Os temas mais relevantes dessa linha abordaram o uso do software HagáQuê, ensino
de literatura, tecnologias, práticas de leitura no Ensino Superior, fragilidades e
potencialidades dos livros didáticos, violência no espaço escolar, violência nos contos
brasileiros, formação cultural, gêneros digitais, relação entre leitura, literatura e mídias
digitais e leitura sobre sexualidades excêntricas, letramento intercultural, perfil de leitores
universitários, os quais, muitos foram investigados por meio de pesquisa de campo.
O embasamento teórico esteve pautado nos pesquisadores: Judith Butler, quando o
assunto foi sexualidades excêntricas; Paulo Freire, para abordar educação; Vani Moreira
Kenski e Rui Fava trataram a respeito da educação a distância. Ao enfocar sobre a leitura, os
preferidos pelas orientadoras foram: Izabel Solé, Anne-Marie Chartier, Rildo Cosson, Ana
Paula Teixeira Porto, Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing, Edvaldo de Souza Couto e Regina
Zilberman, que asseguraram as leituras necessárias à fundamentação teórica da área de
concentração do programa e ao exercício da pesquisa.
Este trabalho se propôs a estudar as dissertações produzidas por este PPGL enquanto
locais de memória; ao resenhar criticamente essa produção, reunindo-a em um único trabalho,
esta dissertação se torna, ela mesma um lugar de memória. É, acima de tudo, um registro para
que a memória do curso não se perca e um convite à acessibilidade e pesquisa dessas
dissertações, as quais, se espera virão a permanecer como arquivo permanente, parte da
herança cultural da URI à comunidade local, regional, nacional e internacional.
Ao elaborar essa dissertação, a pesquisadora resgatou, acima de tudo, suas próprias
memórias, recordando todo o processo de implementação desse Curso, uma vez que
acompanhou o andamento enquanto colaboradora dessa instituição. A cada nova linha escrita,
189
foi inevitável não se deparar com lembranças de momentos vividos e compartilhados ao longo
destes 13 anos. Representou lembrar o brilho nos olhos dos professores nos corredores da
universidade, a busca incessante pelo conhecimento, o envolvimento do corpo docente, dos
funcionários e dos discentes na realização dos eventos promovidos pelo curso, das rodas de
conversa; rememorar, ainda, o entusiasmo dos alunos com as aulas, a emoção ao conquistar o
diploma, enfim, a chegada e a partida de tantas pessoas que foram imprescindíveis e
importantes para o Mestrado. Esse contato diário com aqueles que buscavam a realização de
um sonho não se apagará da memória.
E a memória, sabe-se, é responsável por conferir sentido à vida. Conforme Manguel
(2008, p. 19), “sonhar histórias, contar histórias, redigir histórias, ler histórias são artes
complementares que dão voz a nossa percepção da realidade e podem nos servir como
conhecimento vicário, transmissão de memórias, instrução ou advertência” e a preservação e
divulgação dessas memórias, às gerações vindouras, através desse trabalho, permitirá o acesso
e a disseminação de informações relevantes para os integrantes da instituição e para o público
ao qual é destinado seu serviço, garantindo a continuidade da memória do Curso.
Por fim, foi possível compreender que a memória não é meramente um depósito de
tudo o que aconteceu, mas vai além dessa função: é seletiva e guarda o que por um motivo ou
outro tem ou teve algum significado nas vidas das pessoas. A história, por sua vez, é como se
organiza e se traduz para o outro o que se filtra na memória, demarcando o que foi
significativo em sua trajetória. Por tudo isso, o resgate da história do Mestrado em Letras da
URI não só possibilitou a reconstrução de tantas memórias, mas sobretudo, daquilo que os
documentos escritos não dizem, da emoção, do envolvimento pessoal, de dar outra abordagem
para uma pesquisa que não se limita aos dados escritos, mas que abre espaço para essa carga
emocional que constrói a história dos homens e da humanidade. E, é isso que deu sentido a
essa pesquisa.
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STRINGHINI, Viviane Catarina Marconato. A problematização do conceito de lar no
contexto da diáspora africana em Coming Home de June Henfrey. 2011. 117f.
Dissertação (Mestrado em Letras) – Departamento de Linguística, Letras e Artes.
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Frederico Westphalen,
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STUELP, Camila Muller. Retratos do eu: um olhar sobre o papel do jornalista literário nas
obras Área de segurança Gorazde e Philomena. 2015. 108f. Dissertação (Mestrado em Letras)
– Departamento de Linguística, Letras e Artes. Universidade Regional Integrada do Alto
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2016.
THOMÉ, Carlete Maria. As narrativas de literatura infantil de escritoras do Oeste de
Santa Catarina. 2015. 121f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Departamento de
Linguística, Letras e Artes. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões,
Frederico Westphalen, 2015.
TIRLONI, Larissa Paula. A obra poética de Octavio Paz: transculturação e transcriação na
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TREVISOL, Bibiane. O estudo do RPG Vampiro: a máscara em contato com a Análise do
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Letras e Artes. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Frederico
Westphalen, 2010.
ANEXOS
QUADRO 28 - Dissertações em progresso ou aguardando redação final
ANO DE INGRESSO
NOME
LINHA DE PESQUISA
2013 Vanderléia Skorek Comparatismo e processos
culturais
2014 Gabriel Figueiredo de Oliveira Comparatismo e processos
culturais
2015 Ducimar Peloso Comparatismo e Processos
Culturais
2015 Eliezer Pandolfo Da Silva
Comparatismo e processos
culturais
2015 Patrícia Crespan Mantelli
Comparatismo e processos
culturais
2015 Tatiane Vaz
Comparatismo e processos
culturais
2016 Elisiane Castanho da Silva
Maciel
Literatura, História e
Memória
2016 Guilherme Buzatto Literatura, História e
Memória
2016 Talita François Wahlbrinck Literatura, História e
Memória
2016 Marcos AntonioCorbari
Comparatismo e Processos
Culturais
2016 Otília Maria Dill Wohlfart
Comparatismo e Processos
Culturais
2016 Philipe Gustavo Portela Pires Comparatismo e Processos
Culturais
2016 Ariele Eidt Leitura, Linguagens e
Ensino
2017 Adilson Kipper
Comparatismo e Processos
Culturais
2017 Josefina Maria Toniolo
Comparatismo e Processos
Culturais
2017 Lia Machado Dos Santos Comparatismo e Processos
Culturais
2017 Jéssica Casarin Literatura, História e
Memória