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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Reconhecida pela portaria ministerial Nº 497 de 28/06/85 - D.O.U. 01/07/85, regionalizada pelas portarias ministeriais Nº 1626 de 10/11/93 - D.O.U. 11/11/93 e Nº 818 de 27/05/94 - D.O.U. 30/05/94 Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências - Mestrado MARCIA WINTER EDUCAÇÃO EM SAÚDE: Programa de Ginástica Laboral como atividade educativa Ijuí 2008

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Reconhecida pela portaria ministerial Nº 497 de 28/06/85 - D.O.U. 01/07/85, regionalizada pelas portarias ministeriais Nº 1626 de 10/11/93 - D.O.U. 11/11/93 e Nº 818 de 27/05/94 - D.O.U. 30/05/94

Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências - Mestrado

MARCIA WINTER

EDUCAÇÃO EM SAÚDE:

Programa de Ginástica Laboral como atividade educativa

Ijuí

2008

Livros Grátis

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MARCIA WINTER

EDUCAÇÃO EM SAÚDE:

Programa de Ginástica Laboral como atividade educativa

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strito Sensu Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI. Como requisito parcial para à obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Evaldo Fensterseifer

Ijuí

2008

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida e pelos dons recebidos.

A minha família, pela força e apoio recebidos durante esta caminhada, incentivando-

me a seguir em frente e lutar pelos meus ideais.

Ao orientador Prof. Dr. Paulo Evaldo Fensterseifer pela disponibilidade, seriedade e

competência com que conduziu este trabalho.

Aos professores das disciplinas cursadas durante o cumprimento dos créditos do

mestrado, que além dos conteúdos curriculares me auxiliaram em importantes quebras de

paradigmas.

Aos colegas do mestrado pelo coleguismo e troca de experiências.

A Instituição Financeira pela confiança em proporcionar este espaço para que a

pesquisa se realizasse.

Aos funcionários da Instituição Financeira que gentilmente participaram desta

pesquisa.

Enfim, a todos que de alguma forma fizeram parte desta minha importante trajetória

de vida.

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo conhecer e analisar a percepção dos trabalhadores quanto às ações educativas em saúde do trabalhador propostas pelo Programa de Ginástica Laboral. Constituiu-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritivo realizada numa Instituição Financeira de Ijuí. Participaram dela 12 funcionários, de faixa etária entre 22 e 51 anos de idade, perfazendo uma média de 38,7 anos. Destes, 58,3% (7) são do sexo masculino e 41,7% (5) são do sexo feminino. Nesta amostra estão incluídos os dois sujeitos entrevistados para a testagem do instrumento de pesquisa, denominados pilotos, por ter se julgado que suas falas trariam contribuições significativas à pesquisa. A coleta de dados foi realizada através de entrevista semi-estruturada, contendo 14 questões. A entrevista dividiu-se em duas partes: a primeira com questões para caracterizar a amostra e a segunda parte com questões em que o entrevistado refletiu sobre o objeto de pesquisa. As entrevistas foram todas gravadas e realizadas a partir de agendamento prévio. Foram investigadas questões com o propósito de identificar como as práticas de educação em saúde do trabalhador são percebidas pelos trabalhadores, bem como, identificar as suas expectativas relacionadas às ações de saúde no ambiente de trabalho. Em síntese, os sujeitos da pesquisa deixam claro o quanto valorizam e reconhecem os benefícios do Programa de Ginástica Laboral, bem como, a iniciativa da Instituição em implantar e manter este programa. Entretanto, eles mencionam o quanto é importante e o quanto esperam que a Instituição tenha outras iniciativas em implementar políticas em saúde do trabalhador que venham a suprir suas necessidades e carências. Na percepção dos sujeitos da pesquisa, a Instituição estudada não possui uma política institucional claramente definida de educação em saúde do trabalhador. Ou seja, não proporciona espaços de aprendizado, troca de aperfeiçoamento aos seus trabalhadores de uma forma contínua e sistemática.

Palavras-chave: trabalho, educação em saúde, qualidade de vida, Ginástica Laboral.

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ABSTRACT

This study aimed to know and analyse the workers perception as for heath education actions for workers proposed by the Program of Physical Education for Workers. It is based on qualitative research, descriptive type, done in a bank, in Ijuí. There were 12 employees, aged from 22 to 51 years old, with an average of 38,7 years old. 58,3%(7) were male and 41,7%(5) were female. In that sample, two subjects who were interviewed for the research instrument testing, called pilots, were included, for their talks would bring significant contributions to the research. The data were gathered through a semi-structured interview, containing 14 questions. The interview was divided in two parts: the first with questions to characterize the sample, and the second part with questions aiming the interviewed person’s thinking of the research object. The interwiews were all recorded and made with a previous scheduling. Questions aiming to identify how health education practices for workers are understood by workers were investigated, as well as the identification of their expectation on health actions in work environment. Summarizing, the subjects recognize the benefits of a Program of Physical Education for Workers, as well as the institution decision of offering and maintenance of the program. However, they mention their hopes and importance of other workers’ health policies provided by the institution which would fulfill their needs. As for the subjects’ perception, the institution has no clearly defined institutional policy of health education for workers. That is, it does not offer learning spaces or improvement exchange to its workers in a continuous and systematic way.

Keywords: work, health education, life quality, Physical Education for Workers.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................9 CAPÍTULO I - TRABALHO, SAÚDE E EDUCAÇÃO: INTERFACES...............................13

1.1 O trabalho sob diversos olhares..........................................................................................13

1.1.1 Fases e concepções ..........................................................................................................13

1.1.2 Revolução Industrial........................................................................................................18

1.1.3 O trabalho e o trabalhador ...............................................................................................21

1.2 Breve histórico das doenças do trabalho ............................................................................23

1.3 Educação e saúde do trabalhador........................................................................................29

1.3.1 Concepções de saúde.......................................................................................................29

1.3.2 A educação como instrumento para promoção de saúde.................................................34

1.3.3 Saúde do trabalhador .......................................................................................................36

CAPÍTULO II - GINÁSTICA LABORAL E QUALIDADE DE VIDA.................................42

2. 1 Conceituando qualidade de vida........................................................................................42

2.1.1 Qualidade de vida no trabalho .....................................................................................46

2.2 Um pouco da história da Ginástica Laboral .......................................................................51

2.2.1 Concepções de Ginástica Laboral.................................................................................53

2.3 Ginástica Laboral e seus possíveis benefícios....................................................................57

2.4 Atividade física X saúde.....................................................................................................64

2.5 Programa de Ginástica Laboral e aderência .......................................................................74

2.6 Profissional de Educação Física frente à Ginástica Laboral...............................................80

CAPÍTULO III– PASSOS METODOLÓGICOS ....................................................................89

3.1 Tipo de estudo ....................................................................................................................89

3.2 Campo empírico .................................................................................................................90

3.3 Os sujeitos da pesquisa .......................................................................................................91

3.4 Instrumento de coleta de dados ..........................................................................................93

3.5 Procedimento para coleta de dados ....................................................................................93

3.6 Aspectos éticos da pesquisa................................................................................................94

3.7 Apresentação e análise de dados ........................................................................................95

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CAPÍTULO IV - GINÁSTICA LABORAL: AS PERCEPÇÕES DOS PARTICIPANTES....97

4.1 Contribuições da Ginástica Laboral no ambiente de trabalho............................................97

4.1.1 Integração com os colegas e alívio das tensões...............................................................97

4.1.2 Participação e motivação do professor repercute no envolvimento dos participantes ..106

4.1.3 Ginástica Laboral: o antes e o depois ............................................................................110

4.1.4 Perda de tempo ..............................................................................................................112

4.1.5 Humanização do ambiente de trabalho..........................................................................113

4.2 A Ginástica Laboral incorporada ao dia-a-dia..................................................................115

4.2.1 Cuidado com o corpo.....................................................................................................115

4.2.2 Estímulo à atividade física.............................................................................................119

4.2.3 O professor estimula o cuidado com a saúde ................................................................124

4.2.4 Educação em Saúde.......................................................................................................127

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................135

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................140

ANEXOS................................................................................................................................148

9

INTRODUÇÃO

A trajetória como estudante e o percurso profissional foram igualmente

determinantes para a escolha do tema. O interesse pela Ginástica Laboral surgiu quando ainda

cursava a graduação em Educação Física e, durante o dia, trabalhava numa Cooperativa.

Nessa Cooperativa foi implantado o Programa de Ginástica Laboral, do qual a pesquisadora

era responsável pelo desenvolvimento das atividades. A partir da reflexão sobre a prática

desenvolvida e as dificuldades enfrentadas, percebeu-se a necessidade de aprofundar os

conhecimentos sobre a Ginástica Laboral. Assim, optou-se por desenvolver o trabalho de

conclusão do curso com um dos grupos participantes da Ginástica Laboral da Cooperativa em

questão. O referente estudo teve como propósito identificar as áreas de desconfortos,

reconhecer as posturas adotadas no ambiente de trabalho, bem como tecer sugestões de

melhorias no ambiente de trabalho.

Quando a UNIJUÍ ofereceu a Especialização em Saúde do Trabalhador abriu-se para

a pesquisadora mais uma oportunidade de dedicar-se a esta área. Durante esse curso, mais

uma vez, percebeu-se a necessidade de fortalecer o aspecto educativo de trabalhadores e

administradores de empresas, investindo em políticas de educação em saúde que visem à

assistência física e psicológica dos trabalhadores, a fim de conscientizá-los de que atitudes

coletivas podem gerar mudanças no mundo do trabalho, evitando agravos à saúde e assim,

proporcionar melhor qualidade de vida.

O mundo vem passando por diversas transformações, dentre os aspectos que mais

sofreram modificações ao longo do tempo pode-se ressaltar o trabalho e o modo de vida do

homem na sociedade. Assim, criaram-se novas necessidades, diferentes de alguns anos atrás,

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que exigiram outras formas de ver, de relacionar e de atuar no mundo do trabalho, no âmbito

familiar, bem como, no lazer das pessoas.

Ao abordar a dissociação do trabalho e lazer, Alvarez (2002) elucida que na Era Pré-

literária não existia uma separação clara entre tempo dedicado ao trabalho e tempo dedicado

ao lazer. Sendo que, o que hoje denominamos lazer e jogos estavam relacionados a

habilidades de sobrevivência, como pescar, nadar, jogos de combate e canoagem. Na Era

Agrícola, destaca a autora, as pessoas desenvolviam atividades relacionadas às estações do

ano, como plantio e colheita. As atividades de trabalho e tempo de lazer estavam ligadas a

esses eventos sazonais, incluindo jogos, dança e outros rituais de socialização. Desta forma, o

tempo de lazer era maior quando o trabalho no campo diminuía. Já na Era Industrial, início do

século XIX, a noção de tempo para a sociedade mudou radicalmente, passando a ter grande

distinção entre o tempo de trabalho e o tempo de lazer. A autora afirma que “o trabalho

tornou-se tedioso, cansativo e repetitivo, e no lazer eram realizadas atividades produtivas ou

como meio de compensação para a insatisfação do trabalho” (2002, p.8). Os avanços

tecnológicos, o computador e a televisão mudaram a vida das pessoas, assim como, as

oportunidades de convívio social também diminuíram com a criação de meios de interação

eletrônica. Assim, o trabalhador abdicou do seu tempo de lazer utilizando-o para realizar

tarefas de subsitência ou optou por atividades de lazer física e intelectualmente passivas.

As mudanças tecnológicas revolucionaram não só a vida social das pessoas, mas

também o seu trabalho, cada vez mais informatizado, gerando um trabalhador mais

sedentário. Não bastasse isso, as indústrias de entretenimento estão investindo alto em uma

variedade de lazer passivo; ou seja, atividades físicas de lazer como jogos, esporte, dança,

estão sendo substituídos por atividades como assistir televisão, internet, jogos eletrônicos,

ouvir música, vídeo-game, etc. Dentre estas formas de lazer destacam-se o Orkut e o MSN,

que estão “tomando conta” dos lares e através dos quais amigos virtuais podem interagir, cada

qual em sua residência, falando e vendo através da Web Cam, mesmo muito distantes

fisicamente. Devido a essas facilidades da tecnologia, a comodidade e os hábitos sedentários

das pessoas aumentam a cada dia, provocando assim, alterações significativas na vida social e

profissional delas.

De acordo com Alvarez (2002) esta evolução da tecnologia e do conforto que a

sociedade tem desenvolvido, faz com que o homem seja motivado a um estilo de vida cada

vez mais sedentário deixando de lado atividades simples, mas fundamentais que interferem na

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vida. No mesmo enfoque, Lima (2005) e Mendes (2000) afirmam que todas as facilidades que

o modo de vida moderno proporciona às pessoas, inicialmente, parece uma grande vantagem.

No entanto, quando se analisa a relação custo-benefício com maior atenção, se observa que a

médio e longo prazo as conseqüências podem não ser tão vantajosas, e sim, pelo contrário,

podem ser desastrosas. Mendes (2000) complementa que a tecnologia, quando utilizada de

maneira “excessiva e errônea”, pode trazer prejuízos para a saúde física e psicológica do ser

humano.

Com os avanços tecnológicos, a competitividade, a correria do dia-a-dia, os

compromissos diários do trabalho, da família e da sociedade tem tornado a vida das pessoas

cada vez mais estressante e sedentária. Assim, o setor empresarial vem desenvolvendo

estratégias com o propósito de promover qualidade de vida ao trabalhador e paralelamente às

ações habituais surgem os Programas de Ginástica Laboral, que estão sendo implantados

pelos empresários como uma possível alternativa para contrabalançar o ritmo do trabalho e a

competitividade do mundo globalizado. Entre os objetivos mais freqüentes para a implantação

destes programas, pode-se destacar a melhoria da qualidade de vida dos seus colaboradores,

isto é, a prevenção ao sedentarismo, ao estresse, às doenças ocupacionais, aos acidentes de

trabalho, entre outros. Dessa forma, é no bojo deste processo que se coloca o presente estudo,

tendo por desafio uma maior compreensão deste fenômeno.

O objetivo geral desse estudo é conhecer e analisar a percepção dos trabalhadores

quanto às ações educativas em saúde do trabalhador propostas pelo Programa de Ginástica

Laboral. Como objetivos específicos se têm o propósito de identificar como as práticas de

educação em saúde do trabalhador são percebidas pelos trabalhadores, além de identificar as

suas expectativas relacionadas às ações de saúde no ambiente de trabalho.

Buscando alcançar os objetivos citados, esta dissertação se estrutura em quatro

capítulos. O primeiro trata das relações entre o universo do trabalho e as condições de saúde

da população. O segundo aborda o tema, qualidade de vida no trabalho procurando identificar

possíveis vínculos com propósitos de desenvolvimento pessoal e profissional a partir das

práticas de Ginástica Laboral. O terceiro descreve a metodologia e os procedimentos

utilizados para realização deste estudo. Por fim, o quarto capítulo abarca as análises das

percepções dos trabalhadores no que tange às ações educativas propostas por um Programa de

Ginástica Laboral, já que este é o objetivo primordial desta reflexão. Ao analisar as falas dos

sujeitos da pesquisa, buscou-se agrupá-las em categorias: a primeira diz respeito às

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contribuições da Ginástica Laboral no ambiente de trabalho dos participantes e a segunda

categoria aborda como a Ginástica Laboral pode influenciar no dia-a-dia das pessoas, para

além do local de trabalho.

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CAPÍTULO I - TRABALHO, SAÚDE E EDUCAÇÃO: INTERFACES

O tema trabalho tem ocupado um espaço significativo na literatura moderna e

contemporânea. Nesta produção bibliográfica, uma parte expressiva de autores tem se

debruçado sobre as relações entre o universo do trabalho e as condições de saúde da

população. Uma vez identificada sua relação, instala-se a necessidade de pensar práticas

educacionais com foco na promoção da qualidade de vida dos trabalhadores, dado que as

doenças ocupacionais têm crescido justamente com as demandas de produtividade do

trabalho. É em torno destes temas e suas interelações que se desenvolveu este capítulo.

1.1 O trabalho sob diversos olhares

1.1.1 Fases e concepções

Segundo Albornoz (1992), a palavra trabalho provém do vocábulo latino tripalium,

que era uma espécie de instrumento feito de três paus aguçados, com o qual os agricultores

batiam o trigo, as espigas de milho e o linho, para rasgá-los e esfiapá-los. Posteriormente, esse

instrumento de trabalho serviu como instrumento de tortura de escravos (o verbo tripaliare

passou a significar torturar). Por isso, há uma associação, bastante difundida, entre o trabalho

e a tortura.

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Lechat chama a atenção para o fato de que somente mulheres e escravos realizavam

trabalhos penosos na Antiguidade greco-latina. Na tradição Judaico-cristã, por sua vez,

segundo a mesma autora, o trabalho aparece como castigo imposto por Deus a Adão:

“ganharás o pão com o suor do teu rosto” (2005, p.403). Nesse sentido, para Lechat a visão de

trabalho como esforço físico desgastante para transformar a natureza e produzir bens

materiais é uma das interpretações possíveis. Vale destacar que, conforme Vieira (1994), até o

século XVI a palavra trabalho era sinônimo de penalização, de cansaço insuportável, de dor e

esforço máximo, de tal modo que sua origem só poderia estar ligada a um estado extremo de

miséria e pobreza.

Todavia há uma outra definição que concebe o trabalho como uma obra criativa,

capaz de dignificar e realizar o homem. Mascarenhas afirma que o trabalho é um

elemento ontológico constitutivo essencial da práxis humana. Importantes dimensões da vida social, das formas de sociabilidade e da construção identidária, bem como das estratégias de dominação e maneiras de resistir, enfim, das tensões e contradições inerentes às relações e dinâmica das diferentes sociedades, têm sua origem explicativa no modo como indivíduos e coletividades produzem e reproduzem sua existência, no e pelo trabalho, em intercâmbio com a natureza. A atividade prático-teórica, material e não material, que é o trabalho humano, não se restringe, portanto, somente à labuta diária, mas significa práxis de vida, isto é, objetivação dos homens no mundo, processo pelo qual superam sua condição de seres naturais e se convertem em seres sociais. Assim, como construtores das condições em que vivem, criando e recriando, os homens trabalham, produzindo cultura e fazendo história. A essência do gênero humano se consolida e se manifesta, dessa maneira, na e pela atividade transformadora do mundo (2005, p.406).

A partir deste entendimento, pode-se dizer que a evolução da humanidade está

centrada no trabalho, uma vez que este é o processo que define, significa e ressignifica a

existência histórica dos homens. Além disso, através do trabalho o homem produz as

condições para sua subsistência e constrói a sua identidade. Isso, por sua vez, permite-lhe

participar da vida social e atuar em um mundo que se expande geometricamente.

Vale lembrar que esta transformação do significado do trabalho ocorreu a partir do

século XVIII, quando Smith (1981), em sua Obra A Riqueza das Nações, afirmou que o

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trabalho era a fonte de toda riqueza, e posteriormente Marx (1989), em O Capital, defendeu

que o trabalho é a fonte de toda produtividade e expressão da própria humanidade do homem.

Ferrari, Nascimento & Filho (1998), afirmam que o início do trabalho foi em

família, depois surgiu o trabalho ambulante, em seguida, o artesanal, o industrial e o

domiciliar; só posteriormente, o trabalho manufatureiro e o fabril, para então se chegar ao

regime livre da produção em que a empresa assume posição de destaque no processo

produtivo, o que hoje denominamos, regime capitalista. Não obstante, o Capitalismo passou

por várias etapas até chegar a sua forma atual. As pesquisadoras Amélia Cohn e Regina G.

Marsiglia (1993), em seu artigo intitulado “Processo e organização do trabalho”, ao tratarem

do processo de trabalho e a história do modo de produção capitalista, reportam-se à Marx

(1983), destacando os três modos, ou momentos, por ele considerados: a cooperação simples,

a manufatura e a maquinaria. E Freyssenet (1988) segundo as mesmas autoras, acrescenta a

automação como um quarto momento desse processo.

A cooperação simples foi o primeiro momento, em que o trabalhador executa tarefas

variadas correspondentes às do artesão, mantendo preservada a unidade entre a concepção e a

execução do trabalho, cujo capital tem controle sobre o processo de trabalho pela relação de

propriedade e não pela apropriação do saber do trabalhador.

Na manufatura, segunda fase, o trabalhador realiza tarefas parcializadas; combinando

os trabalhos individualizados para compor um trabalho coletivo, que consome menos tempo

que o trabalho completo realizado por cada trabalhador, individualmente. Nesse processo,

existe a separação entre a concepção e a execução do trabalho, alguns trabalhadores

organizam o trabalho coletivo para ser executado pelos demais. Assim, afirmam as autoras, se

dá início à desqualificação do trabalhador. Esta parcialização, entre concepção e execução das

tarefas, por outro lado, possibilita o aumento da intensidade do trabalho e, por conseqüência,

maior produtividade.

No terceiro momento, a máquina substitui as ferramentas artesanais e a fonte de

energia deixa de ser a força humana; aprofunda-se ainda mais a separação entre a concepção e

execução do trabalho. Esse é dividido em várias fases que se sucedem e são determinadas

pelas operações da máquina. Nesse processo, os trabalhadores se desqualificam ainda mais,

pois não têm conhecimento sobre a totalidade na qual estão envolvidos. Isto é, perdem a

dimensão do produto final para o qual contribuem.

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Na fase da automação ocorre uma redução ainda mais acentuada da participação da

força de trabalho no processo de produção. A participação do trabalhador praticamente se

restringe à função de vigilância ao processo produtivo. Cohn & Marsiglia (1993) reportam-se

a Freyssenet (1988) ao enfatizar que, se de um lado a automação aumenta a produtividade e

suprime numerosas tarefas repetitivas, de outro lado, ela acaba por excluir o operador do

controle dos parâmetros de produção. O autor conclui que esses quatro momentos do

desenvolvimento do processo de trabalho no Capitalismo imprimem uma perda progressiva

do controle do trabalhador sobre o processo produtivo e, conseqüentemente, sobre o seu

trabalho.

No que se refere à noção de trabalho propriamente dita, Lechat (2005) reportando-se

às idéias de Weber (1987), indica que a que conhecemos hoje é relativamente nova, pois

surgiu com a Revolução Industrial, ocorrida no século XIX, na Inglaterra. Isto é, iniciou com

a instalação de fábricas e a exploração da classe operária.

Segundo Mendes (1980) a improvisação das fábricas, o aumento da jornada de

trabalho e a mão-de-obra, constituída principalmente por crianças e mulheres, resultaram em

problemas ocupacionais extremamente sérios. Eram numerosos os acidentes de trabalho,

provocados por máquinas sem proteção, movidas por correias expostas, tornando as mortes,

principalmente das crianças, muito frequentes. A iluminação precária, o ambiente fechado, a

péssima ventilação e o barulho provocado pelas máquinas atingia níveis elevadíssimos,

tornando impossível até mesmo a audição das ordens, o que contribuía para o aumento de

acidentes de trabalho.

Não bastasse isso, segundo o mesmo autor, essas condições de trabalho e as fábricas

inadequadas, colaboravam para o aumento das doenças ocupacionais e as de origem não

ocupacional. Destacam-se as infecto-contagiosas, como o tifo, denominada como “febre das

fábricas”, cuja transmissão encontrava condições favoráveis nas precárias condições do

ambiente de trabalho, na grande concentração dos trabalhadores e pela promiscuidade entre

eles.

Bom Sucesso (2002) ressignifica as palavras de Santos (1988) afirmando que a

Revolução Industrial mudou radicalmente, para pior, a vida e o trabalho do homem.

Transformou o camponês e artesão, homens relativamente descansados e sadios, em operários

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citadinos, aprisionados em casinhas minúsculas, vivendo amontoados, sem saneamento, em

condições anti-higiênicas, cansados, estressados, explorados, fracos e desmoralizados.

Segundo Villermé (1863 apud LAFARGUE 1999), em Mulhouse (França), em 1813,

quando nascia a moderna indústria mecânica, “os operários eram todos filhos da terra,

moravam na cidade e nas aldeias próximas e tinham quase todos uma casa e, frequentemente,

alguma terra” (p.74). Porém, afirma o autor, vinte e cinco anos depois, “a fábrica capitalista,

havia conquistado a região; na sua bulimia de trabalho humano, havia arrancado os operários

de seus lares a fim de melhor retorcê-los e espremer o trabalho neles contido. Era aos milhares

que os operários acorriam ao chamado da máquina” (1999, p.74). Muitos obrigados, pelo alto

preço dos aluguéis, a morar nas aldeias vizinhas. Outros moravam a uma grande distância da

indústria. Para Mendes,

a atração da mão-de-obra para os centros fabris, foi acompanhada por uma série de problemas habitacionais, de saneamento, ocupacionais e outros, que passaram a contrastar cada vez mais com a opulência e progresso dos que possuíam capital para investir nas máquinas e arrendar a força de trabalho dos pobres (1980, p.6).

Em vista disso, observa-se que o modo de trabalho, anterior à produção capitalista,

perdeu-se quase por completo, devido à divisão social do trabalho. De acordo com Mendes

(1980), a chegada das máquinas e o sistema fabril possibilitou a apropriação privada dos

meios de produção apenas por uma parte da sociedade, o que resultou na exploração do

trabalho de segmentos significativos da população e, conseqüentemente, a apropriação por

parte dos proprietários dos meios de produção do trabalho excedente realizado pelos

trabalhadores.

Sob a ótica do autor, este novo sistema industrial transformou a sociedade, pois criou

duas novas classes sociais, fundamentais para a operação do sistema: os empresários

(proprietários dos capitais, prédios, máquinas, matérias-primas e bens produzidos pelo

trabalho) e os operários (proletários ou trabalhadores assalariados), que possuiam apenas sua

força de trabalho e a vendem aos empresários para produzir mercadorias em troca de salários.

Na medida em que o capital da empresa era fortalecido, adquiriam-se mais máquinas e

comprava-se a força de trabalho dos menos privilegiados. Nas palavras do autor,

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os ricos ficaram mais ricos e os pobres, desligados dos meios de produção, mais pobres. Particularmente ruim era a situação dos artesãos, que ganhavam antes o bastante para uma vida decente e que agora, devido a competição das mercadorias feitas pelas máquinas, viram-se na miséria (MENDES, 1980, p.6).

Percebe-se, portanto, que antes do Capitalismo a produção de serviços era voltada

essencialmente à atividade humana. O homem trabalhava em seu próprio negócio e espaço de

trabalho, da sua maneira e dentro de seu tempo, não dependendendo dos outros. Com este

novo sistema e a divisão do trabalho, muitos trabalhadores que eram donos do seu negócio

passaram a trabalhar para outras pessoas, passando a ser subordinados a empresários e à

lógica do capital. Assim, as empresas destacam-se no processo produtivo, comprando a força

de trabalho em troca de salários que, muitas vezes, não são compatíveis com a formação e

função do empregado, fazendo com que muitos trabalhadores não tenham condições de vida

decentes.

1.1.2 Revolução Industrial

Investigando a Revolução Industrial, Castells (2003) percebe que houve pelo menos

duas destas revoluções, com um aumento repentino e inesperado de aplicações tecnológicas,

transformando os processos de produção e distribuição, criando uma enxurrada de novos

produtos, o que muda de maneira decisiva a localização das riquezas e do poder no mundo.

De acordo com o autor, a primeira das revoluções industriais começou pouco antes dos

últimos trinta anos do século XVIII e caracterizou-se por novas tecnologias como, por

exemplo, a máquina a vapor e fiadeira, e, de forma mais geral, a substituição das ferramentas

manuais pelas máquinas. Aproximadamente cem anos depois ocorreu a segunda das

revoluções industriais, destacando-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de

combustão interna, de produtos químicos com base científica, da fundição eficiente de aço e

pelo início das tecnologias da comunicação, com a difusão do telégrafo e a invenção do

telefone. Ainda para Castells, uma terceira revolução diz respeito a novos métodos de

19

gerenciamento, a maior parte deles oriunda de empresas japonesas. O sucesso em

produtividade e competitividade obtido pelas companhias automobilísticas japonesas foi, em

grande medida, atribuído a essa revolução administrativa.

A organização científica do trabalho, representada pelo Taylorismo e pelo Fordismo,

não promove mudanças substanciais na base técnica do processo de trabalho, mas converte o

trabalhador de sujeito em objeto de produção. Os movimentos do trabalhador são

determinados pela máquina. Enquanto o Taylorismo busca reduzir ao máximo o tempo gasto

na execução de cada tarefa, fracionando o processo de trabalho em tarefas cada vez mais

simples, o Fordismo busca um ordenamento seqüencial em cadeia do processo de produção,

utilizando-se de uma esteira, que define o ritmo de trabalho (COHN & MARSIGLIA, 1993).

O Taylorismo é a expressão mais típica caracterizada por Taylor (1968) e recebe esse

nome por ser um método de planejamento, controle do tempo e movimentos no trabalho,

desenvolvido pelo engenheiro e economista americano Frederick Taylor. Os artesãos com

habilidade de produzir determinados objetos foram reunidos em um mesmo local, pois

“considerou-se que, se um trabalhador se especializa em uma parte do trabalho, vai produzir,

no mesmo intervalo de tempo, muito mais do que se montasse todo o produto” (SAVIANI,

2003, p.137). Para Cohn & Marsiglia (1993) é esse o processo da divisão do trabalho que

parte da cooperação simples e que realiza a socialização do trabalho sobre a base da

apropriação privada dos meios de produção. A partir disso, afirmam as autoras, a divisão foi

se aprofundando e o Capitalismo foi introduzindo mecanismos especificamente capitalistas de

produção que culminam com a introdução da maquinaria e o desenvolvimento da grande

indústria. Após o Taylorismo veio o sistema de produção Fordista.

De acordo com Müller (2003), Henry Ford adotou o método Taylorista na sua fábrica

de automóveis e implantou a esteira rolante para controlar melhor os movimentos e o trabalho

em série, o que contribuiu com as revoluções técnicas do trabalho e aumentou a

produtividade. O trabalhador passou a se movimentar cada vez menos dentro do sistema fabril

e as esteiras se encarregavam do transporte dos produtos, sempre cronometrada, sem a

interferência do homem. “Os investimentos estavam voltados às máquinas, observando a sua

velocidade e automatizando-as com movimentos contínuos” (MÜLLER, 2003, p.22). Palma,

porém, chama atenção para o fato de que “o Fordismo não produziu maiores inovações nas

ferramentas e máquinas empregadas, a realidade do aumento da produtividade ocorreu pela

violenta intensificação do ritmo do trabalho” (2001, p.25).

20

Na análise de Couto (1996), essa organização de trabalho priorizava a produção

máxima, a rapidez, satirizada por Charles Chaplin no filme “Tempos Modernos”. O filme

mostrou uma realidade que permanece até hoje, a superespecialização, a fragmentação do

trabalho, em que o trabalhador faz apenas uma tarefa, gerando a alienação, velocidade das

máquinas determinadas pela vontade da gerência ou chefe de produção. Verifica-se que a

organização de trabalho descrita por Mendes ainda está muito presente nas empresas atuais,

onde o trabalhador executa uma função específica e não significativa, tendo em vista que ele

possui uma visão fragmentada do processo sem ter acesso ao produto final.

Rigoto (1993) esclarece que aí reside a evolução do processo de trabalho. O trabalho

que até então era meramente artesanal passou a ser automatizado. Iniciou-se o processo de

produção em grande escala, de objetos cada vez mais sofisticados. Para isso, fez-se necessária

a fragmentação do trabalho, ou seja, o trabalho em série. Dessa forma, afirma a autora, o

trabalhador perdeu sua capacidade imaginativa de produção e participa do processo sem,

muitas vezes, entender o destino final daquilo que está produzindo. Tornou-se alienado1 em

conseqüência do Capitalismo.

Alvarez (2002) afirma que essa divisão do trabalho levou o homem a conhecer

apenas uma pequena parte do todo e desta forma é natural que ocorra uma perda de interesse

pelo trabalho e produto acabado, assim como a responsabilidade e o envolvimento com o

trabalho também decrescem, provocando diminuição da qualidade, alto grau de rotatividade,

absenteísmo, aumento da alienação e, conseqüentemente, queda da produtividade. Müller

corrobora com Alvarez afirmando que “o trabalhador especializou-se em um determinado

método de trabalho, normalmente parcial com relação à máquina ou ao processo. O fazer

passou a exigir a maior cooperação entre os grupos de trabalho, por meio de execução das

atividades” (2002, p.18).

1 A alienação é um processo pelo qual o homem se desfaz não só dos produtos de seu trabalho, mas também do

controle sobre meios e fins da produção (MÜLLER, 2003).

21

Para Loro

a história do processo de produção capitalista mostra que esse tem, em muitas situações brutalizado e alienado o homem, castigando-o em detrimento de sua saúde. Quando o trabalho não personaliza o homem, ou esse não o vê como útil e necessário, quando não existe o estímulo das suas reais potencialidades, apresenta-se como potencial de gerar doenças a ele relacionadas. O trabalho permite manter as condições mínimas de subsistência material mas, também, revela a identidade pessoal, satisfações ou insatisfações. Portanto, o trabalho converge para a sobrevivência e a realização, e embasa a vida que não se reduz a trabalho, mas também não pode ser compreendida sem ele (2003, p.24).

Observa-se na Contemporaneidade que o ser humano precisa de trabalho para sua

subsistência e, na maioria das vezes, ainda sustentar a sua família. Sendo assim, o trabalho

ocupa um espaço muito importante na vida dos homens pois, além de contribuir para a

formação da identidade, permite-lhe participar da vida social, satisfazendo suas necessidades

psíquicas, econômicas e sociais.

1.1.3 O trabalho e o trabalhador

Vieira (1996) chama a atenção para o fato de o trabalho ocupar grande parte da vida

das pessoas, chegando a aproximadamente três quartos da vida do trabalhador. Isso significa

que o ser humano passa o maior tempo de sua vida no seu ambiente de trabalho. O mesmo

autor justifica que isso se deve à necessidade de recompensa econômica do indivíduo sendo

que esta determinará seu status, permitindo-lhe relacionar-se no meio social em que vive.

Nesse sentido, Gonçalves (1994) afirma que é pelo trabalho que se determina o

status de uma pessoa, desde que esta seja identificada como fator econômico, salarial e de

poder aquisitivo. Além disso, o trabalho é um dos pontos de partida para a humanização do

ser social, pois, também se trata do momento da busca de realização, condição para a

22

existência, não se constituindo apenas no instrumento para a satisfação de suas necessidades.

Ou seja, o trabalho configura-se em uma carência psicológica da humanidade, possibilitando

o pertencimento a um grupo, o estabelecimento de laços comunitários e de solidariedade,

assim permitindo realização e felicidade em nível pessoal e social. Para Bom Sucesso (1988)

o trabalho é a forma como o homem interage e transforma o meio ambiente, assegurando a

sobrevivência, e, estabelece relações interpessoais, que teoricamente servem para reforçar a

sua identidade e o senso de contribuição. Nas palavras de Lopes,

o trabalho emerge como atividade essencial, tanto para a construção de uma identidade social, quanto para a construção psíquica. O trabalho não vale apenas pelo que representa, como meio de sobrevivência, ele possui outro valor, o de assegurar ao sujeito a posse de um predicado que o torna humano, como os outros homens (2000, p.218).

O trabalho, nesta perspectiva, é pois, um elemento orientador da condição humana e

constitui uma realidade indissociável do cotidiano do homem, é um dos sentidos fundamentais

da população. Uma identificação social de alto significado, independente da forma e do

conteúdo do trabalho. Quando se conhece uma pessoa, logo pergunta-se o seu nome e em

seguida o que faz, onde trabalha, pois as pessoas identificam-se através do seu trabalho, tanto

que muitos são conhecidos através do seu espaço de trabalho. Como afirma Vieira,

a questão própria do sentido do trabalho relaciona-se com a produção de identidade, já que as identidades profissionais são as formas socialmente construídas pelos indivíduos de se reconhecerem uns aos outros no campo do trabalho e do emprego. O trabalho aparece, assim, como importante para o reconhecimeto de si, como um espaço de conversas, um campo de problemas, de incertezas e de múltiplas implicações (2007, p.247).

O trabalho pode influenciar a personalidade do ser humano, podendo desempenhar

um papel fundamental para o seu equilíbrio, sua inserção social, sua saúde física e mental. De

acordo com Loro

23

o trabalho torna-se um fator poderoso para a saúde, equilibra a vida diária e determina o ritmo pessoal. Porém, quando ocorre um desequilíbrio na relação trabalho X homem, pode-se desencadear desgaste da força de trabalho do sujeito e favorecer o surgimento de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho (2003, p.25).

Cañete (1996) enfatiza que aquelas pessoas que não estão satisfeitas e tranqüilas no

ambiente de trabalho, apresentam um nível de tensão e insegurança, e tornam-se mais

propensas a sofrer acidentes de trabalho e erros ao realizar as tarefas. Nas palavras de Lima

(2005), as pessoa que não se sentem bem não conseguem produzir conforme o seu potencial,

não interagem, são desmotivadas, correndo risco de adoecer.

Já para Laurell & Noriega (1989), “o trabalho deve gerar o domínio das condições

naturais de vida pelo homem, propiciando adequação do ambiente para sua sobrevivência, seu

bem estar e sua reprodução” (apud FILHO, GONÇALVES & GONÇALVES, 1997, p.32). No

entanto, afirmam os autores, as condições de trabalho ainda estão longe de garantir tais

condições no grau necessário. Isso gera uma realidade bipolar, na qual o trabalho, apesar de

indispensável à saúde física e mental, é também fonte de agravos que acumulam cargas físicas

e psíquicas maiores do que a biologia humana pode suportar, o que pode levar aos desgastes e

manifestos pelas doenças e pelo envelhecimento prematuro.

Torreira (1999) acredita que o “trabalho é a obra moral de um indivíduo moral”. Isto

é, o trabalho possui um valor ético. Este valor, apesar de estar sendo bastante renegado pela

economia política da modernidade, segundo o autor, é o que na verdade define o trabalho. É

baseado nesses argumentos que o autor considera praticamente impossível conceber a

existência do homem sem o trabalho.

1.2 Breve histórico das doenças do trabalho

Os primeiros registros sobre os efeitos colaterais do trabalho sobre a saúde dos

trabalhadores foram encontrados em papiros egípcios e, mais tarde, no mundo greco-romano.

24

Já no período medieval surgiram algumas descrições sobre a ocupação dos trabalhadores e a

relação com a sua saúde, voltadas essencialmente as doenças provocadas pela atividade

extrativa mineral2. Foi o início dos estudos sobre às doenças ocupacionais, conforme Mendes

(1980).

No ano de 1700, na Itália, foi publicada a primeira edição do livro “De Morbis

Artificum Diatriba” – As doenças do trabalho - escrito pelo médico Bernardino Ramazzini,

obra que lhe concedeu o título de "Pai da Medicina do Trabalho", em que descreve doenças

que ocorrem em trabalhadores de mais de cinqüenta ocupações. Em seus estudos, esse médico

estabelece a necessidade de estudar-se a relação entre o estado de saúde da população e as

condições de vida, que são determinadas pela sua posição social; os fatores perniciosos que

agem de uma forma particular ou com especial intensidade no grupo por causa de sua posição

social; e os elementos que podem exercer ação deletéria sobre a saúde e impedem o

aperfeiçoamento do estado de bem-estar da população (MENDES, 1980).

Já em 1802, levando em conta a situação desfavorável dos trabalhadores, foi criado

pelo Parlamento Britânico uma comissão de inquérito que, com muita luta, conseguiu que

fosse aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores: a “Lei de Saúde e Moral dos

Aprendizes”. Esta lei resolvia pequena parte dos problemas, e foi seguida de leis

complementares publicadas em 1819, em geral pouco eficientes devido à forte oposição dos

empregadores (MENDES, 1980).

Entretanto isso não foi suficiente e, em 1830, como nos relata Mendes (1980),

perturbado diante das péssimas condições de trabalho dos seus trabalhadores, o proprietário

de uma fábrica, na Inglaterra, procurou o médico Robert Baker na tentativa de melhorar as

condições de saúde deles. Ele, então, foi orientado a contratar um médico da localidade em

que funcionava a fábrica - para visitar diariamente o local de trabalho e estudar a sua possível

influência sobre a saúde dos operários - a fim de estabelecer a relação entre as condições de

saúde do grupo. Assim, surgiu o primeiro serviço médico industrial em todo o mundo.

Segundo Vieira (1994), com a iniciativa deste empreendedor viu-se a necessidade de criar

2 Mendes (1980) referindo-se ao médico Plínio (23-79 d.c) que após visitar alguns locais de trabalho, principalmente galerias de minas, ficou impressionado com o aspecto dos trabalhadores expostos ao chumbo, ao mercúrio e à poeira. Os escravos utilizavam à frente do rosto, à guisa de máscaras, panos ou membranas (de bexiga de carneiro) para diminuir a inalação de poeira. Da mesma forma, Mendes menciona Agrícola (1556), o qual observa que em algumas regiões estrativas, as mulheres chegavam a se casar sete vezes, pela morte prematura dos homens devido a ocupação que exerciam.

25

medidas de proteção aos trabalhadores e, em 1833, surgiu o Factory Act, que deve ser

considerada a primeira legislação realmente eficiente no campo de proteção ao trabalhador.

Vale destacar que no Brasil, a partir do Factory Act, cada vez mais os estudos foram

avançando nesta área e, em 1972, tornou-se obrigatória a existência não só de serviços

médicos, como também de serviços de higiene e segurança em todas as empresas do país.

Iniciou então uma nova era que se dispós a dar aos seus trabalhadores a devida proteção a que

eles têm direito (VIEIRA, 1994). Em junho de 1978, instituiu-se a Portaria 3214/78, do

Ministério do Trabalho, a qual atualmente, constitui-se de 33 Normas Regulamentadoras

(NR), relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. As normas foram criadas, revistas,

ampliadas e atualizadas para a manutenção de condições seguras, bem como, potencializar o

ambiente de trabalho para redução ou até mesmo eliminação dos riscos existentes. (ARAÚJO,

2003).

Enfim, tendo em vista esta retomada histórica nota-se que o mundo do trabalho e os

avanços tecnológicos se desenvolveram e continuam se desenvolvendo de maneira quase

imprevisível e em uma velocidade muito rápida, afetando assim a ordem social e a maneira de

viver, interferindo e reformulando os conceitos, valores, paradigmas e as relações sociais de

crianças e adultos. Com essas tecnologias, concebe-se o mundo de outro modo e reestruturam-

se as experiências. Isto é, surgem novas necessidades, diferentes de alguns anos atrás, o que

exige novas formas de ver, de relacionar e de atuar no mundo do trabalho. Essas mudanças na

produção e organização do processo de trabalho têm exigido dos trabalhadores um aumento

da produção e da qualidade do trabalho, determinando assim, novas exigências no perfil dos

trabalhadores. Exigências estas muitas vezes incompatíveis com a saúde destes.

Além disso, Vieira (1994) e Militão (2001) afirmam que a competitividade e o

aumento da produtividade acarretou um aumento significativo da jornada de trabalho, com as

horas extras transformadas em rotina, ritmo exageradamente intenso, pressão e controle sobre

o trabalhador, com exigências quanto aos resultados. Para os autores, essas condições

desfavoráveis e degradantes para o ser humano acabam desenvolvendo desânimo, estresse,

quadros depressivos, falta de disposição e motivação, doenças ocupacionais e acidentes de

trabalho. Vieira aponta outro aspecto importante do sofrimento mental que está representado

pelos riscos e ameaças vivenciadas pelo trabalhador, como ruído, iluminação, agentes tóxicos,

peso, entre outros. Para o mesmo autor,

26

o trabalho produz transformações no corpo dos trabalhadores, tanto a nível físico como mental. Estes efeitos podem ser relativamente positivos, em decorrência da utilização saudável do corpo e do prazer de criar. Por outro lado, podem ser profundamente maléficos à vida do trabalhador, quando exposto a condições insalubres, esforços exaustivos, estressantes, gerando alienação, tensão, desgaste, etc (1994, p.387).

Para Marchi et al. (2006) o trabalho, além de repercutir sobre a saúde, afeta a

produtividade, as relações estabelecidas dentro e fora do ambiente de trabalho, assim como

família e sociedade. Afirmam ainda que nem todos os trabalhadores realizam suas atividades

com prazer e satisfação. Gonçalves (1994) confirma que são poucas as atividades que

realmente trazem satisfação pessoal e permitem ao homem atuar como ser criativo. Para ele,

poucos conseguem compreender o significado da atividade que realizam como digna, visto

que experimentam as sensações de inferioridade e/ou menosprezo diante do processo laboral

que desempenham.

Dejours (1992) afirma que o trabalho prazeroso é aquele no qual cabe ao trabalhador

parte importante de sua construção. Para ele o sofrimento e a dor estão ligados aos

sentimentos de indignidade, de inutilidade e desqualificação vividos pelos trabalhadores ao

executarem uma tarefa inferior à sua capacidade inventiva. Os trabalhadores expressam

sentimento de indignidade quando se sentem robotizados, como apêndices de máquinas e

também por estarem desempenhando uma tarefa desinteressante, afirma o autor. Percebe-se

que as pesquisas de Dejours são extremamente relevantes, principalmenete pelo fato de terem

chamado atenção para o sofrimento produzido na situação de trabalho.

Conforme Ogata (2008), médico e presidente da Associação Brasileira de Qualidade

de Vida (ABQV) 3, recente pesquisa feita pela Organização Small Business Initiative, nos

Estados Unidos, envolvendo pequenas empresas, revela que 64% delas possuiam

trabalhadores doentes. Além disso, relataram que em 87% destas havia pelo menos um

fumante, em 73% das empresas observadas havia pelo menos um trabalhador com depressão

ou ansiedade e em 57% pelo menos um empregado com doença crônica. De acordo com o

autor, os donos das empresas reconhecem que a má qualidade de vida do trabalhador afeta a

sua produtividade. A pesquisa revelou que 90% dos pequenos empresários acreditam que uma

situação de estresse do trabalhador afeta a sua capacidade de trabalhar e 74% relataram ter um 3 A ABQV é uma associação que reúne pessoas e empresas envolvidas em programas de qualidade de vida, para discutir o tema, falar sobre tendências, assistir palestras, entre outros.

27

trabalho extra porque um dos trabalhadores ficou doente. Mendes (1980) fazendo referência

ao texto de Souza, afirma que o trabalho, quando executado em condições inadequadas e

insalubres, pode prejudicar a saúde, causar doenças, levar à inatividade, encurtar a vida e até

causar a morte. Para o autor, nas décadas mais recentes, percebeu-se que qualquer trabalho em

condições impróprias, mesmo quando não traz prejuízos explícitos e imediatos à saúde,

provoca formas sutis - mas igualmente negativas para a saúde - de adoecimento.

Para Mendes e Leite (2004), outro fator de risco a ser levado em consideração é o

sedentarismo, ou seja, a tecnologia veio para facilitar a vida das pessoas, diminuindo o tempo

de qualquer tarefa a ser realizada, restringindo o movimento corporal, transformando o

esforço muscular em um simples apertar de botões. Todavia, quando utilizada de maneira

excessiva e errônea, a tecnologia transforma em sedentarismo o estilo de vida4 do homem. Em

outros termos, o homem alterou seu estilo de vida deixando de lado atividades simples e

fundamentais que interferem na sua qualidade de vida. Dentre outras conseqüências, tornou-se

sedentário, resultando em uma grande redução do gasto energético da população,

desencadeando as chamadas doenças da civilização. O sedentarismo é, hoje, considerado um

comportamento de risco, e encarado como um problema de saúde pública, merecedor de

atenção especial no seu combate.

De acordo com Lima (2005), desde a década de 1950, vários estudos têm procurado

demonstrar de forma científica, alguma relação entre o nível de atividade física e a

prevalência de algumas doenças e outros indicadores de saúde e o quanto o baixo nível de

atividade física pode aumentar os riscos das doenças não-transmissíveis. Conforme Alvarez

(2002), o sedentarismo é um dos principais fatores de risco das doenças não-transmissíveis.

São consideradas doenças não-transmissíveis, entre outras, as enfermidades cardiovasculares,

tais como: hipertensão arterial, doença coronariana arterosclerótica, as arteriopatias

periféricas, osteoporose, além do diabetes mellitus e das doenças pulmonares crônicas.

De acordo com o mesmo autor, numa compreensão histórica quanto à saúde

ocupacional, observa-se uma inversão na incidência de doenças. Durante muito tempo a

4 O vocábulo estilo pode ser entendido, numa acepção mais abrangente, como o modo de se exprimir os pensamentos e atitudes, utilizando palavras, expressões, comportamentos, condutas que identificam e caracterizam determinados grupos sociais ou mesmo o próprio indivíduo. Desse modo, a prática ou não, de esportes e/ou exercícios físicos, a adoção ou não, de dietas específicas, o consumo ou não, de drogas lícitas e/ou ilícitas, determinados modos de se vestir, entre outros, constituem hábitos que tem sido associados a estilos de vida, quase sempre sem a devida explicitação do viés econômico de classe que a expressão abarca veladamente. (PALMA & BAGRICHEVSKY, 2005).

28

mortalidade e/ou invalidez era ocasionada pela manifestação de doenças infecto-contagiosas,

sendo que atualmente, predominam as doenças crônico não-transmissíveis, ocasionadas pela

modificação do estilo de vida que deixa o homem mais competitivo e sedentário,

caracterizando, assim, situações específicas de estresse.

Freitas (2007) observa que alguns países como o Brasil, Holanda e Canadá estão

preocupados em implementar programas ou campanhas nacionais que estimulam a prática

regular de atividade física como uma das Políticas de Saúde Pública. Esta pode ser uma

tendência devido a ênfase que se dá à importância da prática regular de atividades físicas na

prevenção e no tratamento de doenças.

Lottenberg (2006) destaca que um levantamento realizado pela Mercer Resource,

concluiu que os gastos com saúde representam a segunda maior despesa das organizações,

ficando atrás apenas da folha de pagamento. Para o autor, não é à toa, que a assistência

médica se tornou um dos itens mais desejados do pacote de benefícios oferecido pelas

companhias. Porém, afirma o autor, há um gargalo que atormenta os gestores da área: o

sistema tornou-se um fardo financeiro para as empresas. A preocupação com os custos

alocados em saúde é crescente nesse planeta globalizado. Os Estados Unidos gastam

atualmente cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) no setor, enquanto na Europa o

percentual médio atinge 9%. No Brasil, a estimativa é em torno de 7%, enquanto a renda per

capita da nossa população é significativamente inferior à apresentada em economias mais

desenvolvidas. Segundo o autor, logo, fica claro que saúde não tem preço, mas tem custos.

Assim, as empresas se debruçam em estudos para implementar modelos diferenciados para a

assistência médica, pois cada vez mais vão precisar de funcionários comprometidos e

conscientes dos cuidados com a saúde, pois colaborador saudável reduz custos. Na opinião do

autor, o objetivo é pragmático: uma força de trabalho sadia evita despesas no futuro.

Portanto, ao passo que se verifica que algumas empresas estão implantando o

programa de qualidade de vida, surgem novas dúvidas em relação aos objetivos que as levam

a esta implantação. Estarão elas efetivamente preocupadas com a saúde e qualidade de vida de

seus “colaboradores” ou esta iniciativa visa tão somente o aumento da capacidade produtiva

dos funcionários e o conseqüente aumento do lucro das empresas? Independentemente do

motivo que as move, a verdade é que, de alguma forma, todos se beneficiam. Contudo,

precisam ser criados mecanismos que assegurem uma divisão justa dos “lucros” entre os

empregados e empregadores.

29

1.3 Educação e saúde do trabalhador

1.3.1Concepções de saúde

Saúde é um tema muito amplo, e conceituá-la não é tarefa fácil. Na verdade não

existe consenso, nem mesmo entre os especialistas, no que concerne a conceituar e definir o

termo saúde. Um primeiro conceito de saúde é a ausência de doença, conforme Palma (2001).

Não obstante, esse conceito é bastante reducionista e polêmico, sendo geralmente associado

ao senso comum. Apesar disso, verifica-se que ele ainda impera entre os próprios

profissionais da área

Há um conceito elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que

considera a saúde não apenas a ausência de doença ou enfermidade, mas como um estado de

completo bem-estar físico, mental e social, bem como, um direito humano fundamental

(2003). Embora esta concepção de saúde seja mais ampla e evoluída, esta perde um pouco de

sua força devido a “dificuldade de se definir o que é completo bem-estar”.

Como a medicina científica em geral define saúde como ausência de doença, Martins

julga que assim

segue o famoso modelo cartesiano que concebe o corpo como uma máquina, devendo ser consertada caso dê algum defeito. Este modelo ignora ou menospreza o fato de que não há a tal máquina perfeita em relação à qual se saberia que outra estaria defeituosa. Em outras palavras, ignora ou quer ignorar que não existe perfeição, e que nosso corpo não é uma máquina, um mecanismo, mas um complexo vivo e singular (2004, p.27).

Por sua vez, Nogueira & Palma (2003), referem-se ao conceito da OMS, afirmando

que tal concepção mostra-se “estática” e impossível de ser alcançada, pois não compreende o

“fenômeno” saúde a partir de um processo dinâmico, em que a doença seria uma nova

dimensão da vida e, assim sendo, não poderiam estar separadas uma da outra. Desta forma,

30

existe ainda a necessidade de se considerar que “completo bem-estar” expressa a total

ausência de problemas, idéia utópica para a condição humana. Para Gonçalves, Gonçalves &

Borin (1997) segundo tal abordagem, nenhum de nós teria conhecido alguém saudável,

mesmo não apresentando moléstia física, difícilmente o estado psíquico das pessoas está em

completo bem-estar.

Os argumentos acima, sobre a idealização da saúde (concebida como o completo

bem-estar), são dificilmente reiteráveis, já que é praticamente impossível, seja na sociedade

atual, seja em outros tempos, menos “frenéticos”, ter existido alguém que não estivesse em

algum momento de sua vida com um ou mais dos três aspectos mencionados em

desequilíbrio.

Pela Carta de Ottawa5, “para alcançar um estado adequado de bem-estar físico,

mental e social, um grupo deve ser capaz de identificar e realizar suas aspirações, satisfazer

suas necessidades e mudar ou adaptar-se ao meio ambiente” (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2002, p.1). Freitas (2007) critica esta posição da Carta, uma vez que é difícil conseguir, o

tempo todo, atender ao completo bem-estar nas três dimensões sugeridas. Corroborando,

Palma, Estevão & Bagrichevsky julgam que esta definição “é uma forma implícita de indicar

a impossibilidade de se alcançar tal meta, uma vez que esbarra com uma dificuldade de se

atingir um ‘completo’ bem-estar” (2003, p.19). Para eles, “embora o conceito da OMS traga a

marca ‘social’, parece fazê-lo, apenas, para incorporar uma das dimensões da vida humana,

sem, no entanto, ressaltar seu caráter dinâmico e relevância para compreender o fenômeno de

modo mais contundente” (2003, p.19).

Segre & Ferraz (1997, p.539), referindo-se à definição da OMS, argumentam que era

até avançada para a época em que foi realizada já que atualmente é, “irreal, ultrapassada e

unilateral”. Para eles, esta definição é considerada irreal porque ao mencionar o “perfeito

bem-estar”, coloca uma utopia; é ultrapassada por visar uma perfeição intangível, e porque

ainda dissocia o físico, o mental e o social; sobre a mencionada unilateralidade há que se

discutir o conceito de qualidade de vida. Os autores entendem que qualidade de vida seja algo

intrínseco, só possível de ser avaliado pelo próprio sujeito. “Prioriza-se a subjetividade, de 5 A Carta de Ottawa, foi elaborada na primeira Conferência Internacional de Promoção da Saúde de Ottawa, realiza em 21 de novembro de 1986. Esta Conferência foi organizada pela OMS, pelo Ministério de Saúde e Bem-Estar Social do Canadá e pela Associação Canadense de Saúde Pública. Foram reunidos duzentos delegados de 38 países para trocar experiências e conhecimentos dirigidos à promoção da saúde e aprovou-se a Carta de Ottawa, considerado um dos documentos mais importantes no campo da promoção da saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

31

uma vez que, de acordo inclusive com o conceito de Bion (1967), a realidade é a de cada um.

Não há rótulos de ‘boa’ ou ‘má’ qualidade de vida” (SEGRE & FERRAZ, 1997, p.541).

O conceito de saúde como ausência de doença e o da OMS como um estado de

completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, segundo Palma,

consideram dois pontos essenciais: a ausência de doenças e o viés biológico na determinação

dessas doenças. Para o autor, esta compreensão leva a alguns desdobramentos:

primeiro, que o indivíduo que está doente não pode ser sadio. Segundo, que a doença pode ser evitada de modo determinista biológico (basta acabar com a causa). Um terceiro refere-se ao fato de que a doença pode ser evitada, principalmente, pelo próprio indivíduo (processo de ‘culpabilização’). Um quarto, mas não menos importante, é a falta de atenção ao contexto sócioeconômico (PALMA, 2001, p.29).

Ainda, para este autor, o campo da saúde deveria requerer um pensamento além do

biológico. “Os problemas de saúde existentes, atualmente, em todo mundo estão relacionados

às desiguladades sociais, aos problemas fundamentais da distribuição da riqueza” (PALMA,

2001, p.30). Ainda de acordo com Palma, um certo rompimento com estes enfoques pode ser

observado considerando a saúde como um direito à cidadania.

Dentro desta perspectiva, vale destacar o conceito de Minayo

saúde como direito coletivo é uma bandeira de transformação das condições de vida e de trabalho e que em última instância aponta para transformações do modo de produção e das relações sociais de produção: melhores salários, acesso à terra, a empregos, a saneamento básico, a transporte, a moradia, a educação, lazer e condições de trabalho seguras. Mas também é uma bandeira de redefinição de prioridades do estado (1993, p.192).

O conceito de Minayo vem ao encontro dos pré-requisitos mínimos para uma

adequada condição de saúde, citados na Carta de Ottawa. De acordo com a Carta, qualquer

melhora da saúde deverá ter como base “a paz, a educação, a moradia, a alimentação, a renda,

um ecossistema estável, justiça social e a eqüidade” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002, p.1).

32

Ainda, de acordo com a Carta, a saúde não vem como um objetivo, mas como fonte de

riqueza da vida cotidiana. Trata-se de um conceito positivo que acentua os recursos sociais e

pessoais, de forma a proporcionar informação e educação sanitária e a aperfeiçoar as aptidões

físicas indispensáveis à vida. Assim, “incrementam-se as opções disponíveis para que a

população exerça um maior controle sobre sua própria saúde e sobre o meio ambiente e para

que opte por tudo o que propicie a saúde” (MISTÉRIO DA SAÚDE, 2002, p.3).

No que se refere à assistência à saúde individual, Alvarez (2002) reconhece que é

determinada, acima de tudo, por seu comportamento, sua alimentação e a natureza de seu

meio ambiente. Para a autora, como indivíduo, cada um tem o poder e a responsabilidade de

manter o organismo em equilíbrio, respeitando algumas regras simples de comportamentos.

Porém, ela chama a atenção, sobre o que esta aceitação da responsabilidade pessoal acarretará

num futuro sistema de assistência holística à saúde, a qual terá que ser acompanhada da

responsabilidade social através de programas sociais. No entanto, afirma Freitas (2007), o

indivíduo não é excluído da sua parcela de responsabilidade do seu auto-cuidado, assim como

as escolas, empresas e outras instituições devem ter comprometimento com a saúde. A autora

enfatiza que as questões de saúde exigem o envolvimento de todos, no entanto, é preciso

assumir e esclarecer responsabilidades, em especial o papel e as funções governamentais, para

que as pessoas e as instituições possam comprometer-se na busca de uma melhor saúde. De

acordo com a Carta de Ottawa,

a saúde tem que fazer parte da ordem do dia dos responsáveis pela elaboração dos programas políticos, em todos os setores e em todos os níveis, com o objetivo de fazê-los tomar consciência das conseqüências que suas decisões podem ter para a saúde, e levá-los a assumir a responsabilidade que têm a esse respeito (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002, p.2).

Ainda de acordo com a Carta, a saúde vive e se cria na vida cotidiana, nos centros

educacionais, no trabalho e no lazer. Ela é o “resultado dos cuidados que cada um dispensa a

si mesmo e aos demais, é a capacidade de tomar decisões, controlar a própria vida e assegurar

que a sociedade em que vive ofereça a todos os seus membros a possibilidade de ser

saudável” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002, p.3).

33

De acordo com Carvalho, a saúde não é um objeto, um presente, “ninguém pode dar

saúde: o médico não dá saúde, o profissional de Educação Física não dá saúde, a atividade

física não dá saúde” (2001, p.14). A autora afirma

a saúde resulta de possibilidades, que abrangem as condições de vida, de modo geral, e, em particular, ter acesso a trabalho, serviços de saúde, moradia, alimentação, lazer, conquistados – por direito ou por interesse – ao longo da vida. Tem saúde quem tem condições de optar na vida. A saúde está diretamente relacionada com escolhas que não se restringem tão-somente a poder escolher este ou aquele trabalho, realizar-se pessoalmente e profissionalmente com ele, morar dignamente, comer, relaxar e poder proporcionar condições de vida para os mais próximos, mas também conseguir viver dignamente com base em valores que não predominam em uma sociedade como a brasileira – excludente, individualista, competitiva, consumista. Todos esses são elementos que determinam a nossa saúde que não é só física, mental ou emocional. É tudo junto, ao mesmo tempo! Pensar na saúde do homem é considerá-lo como ser político – cidadão – e ético – profissional (2001, p.14).

Bagrichevsky & Estevão destacam a interpretação de Dejours (1988):

a saúde é a liberdade de dar ao corpo de comer quando tem fome, de fazê-lo dormir quando tem sono, de dar-lhe açúcar quando baixa a glicemia. Não é anormal estar cansado ou com sono, não é anormal ter uma gripe [...]. Pode até ser normal ter algumas enfermidades. O que não é normal é não poder cuidar dessa enfermidade, não poder ir para a cama, deixar-se levar pela enfermidade [...] (2005, p.71).

Nas palavras de Gonçalves, Gonçalves & Borin saúde é um tema muito amplo em

que a sua abrangência e profundidade são tão notáveis que é bem grande a tentação de

“compará-la à parábola dos cegos que definiam o elefante pela parte que tocavam, de sorte

que um dizia tratar-se de algo extenso e flexível (sua tromba); o outro atingia suas ancas e,

então, idealizava-o como grande massa muscular, e assim por diante” (1997, p.49).

Neste estudo, foi dada maior ênfase à área da saúde do trabalhador, que está

relacionada a fatores sociais, econômicos, políticos, tecnológicos e organizacionais que

34

permeiam o mundo do trabalho. Assim, teve como objetivo conhecer e analisar a percepção

dos trabalhadores quanto às ações educativas em saúde do trabalhador propostas pelo

Programa de Ginástica Laboral.

1.3.2 A educação como instrumento para promoção de saúde

Cada vez mais se tem realizado pesquisas teóricas e metodológicas sobre educação,

mostrando a necessidade de abordá-la nas suas diferentes nuances. Para Mosquera & Stobäus

“a educação sempre está presente, de uma maneira ou de outra, no sentido de melhoria da

vida dos homens, dar-lhes significado e propiciar, ao mesmo momento, o mais adequado

desenvolvimento das sociedades, culturas e personalidades” (1983, p.10). Por isso, pode-se

afirmar, que ao longo da vida do homem a educação está entre as atividades mais

significativas e necessárias. Uma vez que em todas as fases da vida o ser humano participa de

diferentes grupos e apropria-se de aspectos de várias culturas, o que gera conhecimento e

aprendizagem.

Para Meyer, os seres humanos constroem suas diferentes identidades em

aprendizagens, que se registram em contextos históricos, sociais e culturais. Aprendizagens

estas que envolvem relações de poder, nas quais vários saberes e práticas culturais se

articulam com processos de disciplinarização, controle e auto-regulação, que são

desenvolvidos em diversos âmbitos sociais, como: familiar, econômico, escolar, médico,

psicológico, profissional, jurídico e político. A autora afirma que “esses se fazem presentes e

engendram aquilo que nós somos e vivemos em determinados momentos e/ou ao longo da

vida” (2000, p.82).

Gadotti (2001), por sua vez, afirma que, desde o surgimento do homem, a educação é

a prática fundamental da espécie, distinguindo o modo de ser cultural dos homens do modo

natural de existir dos demais seres. É a prática mais humana, considerando-se a profundidade

e a amplitude de sua influência na existência dos homens. O autor acredita que a educação

tem um papel importante no próprio processo de humanização do homem e transformação

35

social, embora não considere que, sozinha, a educação possa transformar a sociedade. Os

processos educativos, assim como as técnicas educativas, que são instrumentos de ensino-

aprendizagem, baseiam-se em uma determinada concepção de como conseguir que as pessoas

aprendam e modifiquem sua prática.

Nesse sentido, a educação para a saúde pode ser uma estratégia para promover a

saúde das pessoas, bem como, mudanças de comportamentos. Nas palavras de Gastaldo

(1997, p.148) a educação em saúde “tem sido considerada uma prática positiva a ser integrada

aos cuidados de saúde, pois veicula informações e sugere alternativas para indivíduos,

famílias ou grupos em termos de prevenção à doença e de promoção da saúde”.

Estas ações de educação em saúde, por sua vez, são norteadas por concepções

pedagógicas, que dependendo da escolha, vão promover impactos diferentes nas ações

desenvolvidas. Existem diferentes concepções pedagógicas, entre estas, duas serão abordadas,

que são totalmente opostas em seus resultados: a pedagogia da transmissão e a da

problematização.

Nas palavras de Gadotti (2001), ao pensar em educação, não se pode deixar de citar

Paulo Freire, pois ele foi um dos primeiros educadores a romper com os modelos, paradigmas

e teorias tradicionais, elaborando um pensamento pedagógico novo, ousado, crítico e radical.

Freire defendeu a forma crítica de ensinar, em detrimento de uma simples transferência de

conhecimento, bem como a forma crítica de aprender, isto é lendo e compreendendo o mundo.

Nas palavras de Freire,

a educação é libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir “conhecimentos” e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação “bancária”, mas um ato cognoscente. Como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível, em lugar de ser o término do ato cognoscente de um sujeito, é o mediatizador de sujeitos cognoscentes, educador, de um lado, educandos, de outro, a educação problematizadora coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador-educandos. Sem esta, não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em tôrno do mesmo objeto cognoscível (1978, p.78).

36

Vê-se que a concepção de educação de Freire rejeita aquela que entende o processo

educacional como mera transferência de conhecimentos, habilidades e destrezas. A educação,

para ele, é um sistema baseado na participação. Para Gastaldo (1997) esse enfoque

participativo respeita as idéias do grupo e dos indivíduos envolvidos nas atividades de

educação também na área da saúde. Neste método, nada é imposto e se espera que a

participação permeie todo o processo.

Para Gastaldo, essa visão construtivista e participativa, dá a cada sujeito os princípios

prescritivos de educação em saúde, adaptados à sua situação. Esta estratégia do usuário e do

profissional trabalharem juntos para decidir sobre a educação em saúde faz do usuário um co-

responsável pelo processo. Assim, conforme o mesmo autor, “através da participação, pode-se

evitar uma série de resistências que ocorreriam se a abordagem fosse de caráter mais

impositivo, prescritivo” (1997, p.153).

O mesmo autor defende que a educação em saúde, para ser bem sucedida precisa

suscitar nas pessoas uma mudança de comportamento de forma espontânea e ao mesmo tempo

consciente, sem sentimentos de opressão ou imposição. Ainda conforme o autor, “nos termos

de Foucault, a estratégia sugerida pelas diretrizes diz respeito a desenvolver educação em

saúde como um poder construtivo” (GASTALDO, 1997, p.153). Isto é, o indivíduo deve

possuir vez e voz nas diretrizes construídas coletivamente.

1.3.3 Saúde do trabalhador

A prática educativa que visa a promoção da saúde do trabalhador, a participação é

parte integrante da própria ação da saúde. Pode-se afirmar que ela é uma parcela essencial no

conjunto de ações que constituem o núcleo da saúde do trabalhador e deve ser dinamizada em

consenso com este conjunto, de modo integrado, em todos os níveis do sistema e em todas as

fases do processo de organização e desenvolvimento dos serviços de saúde. De acordo com

Oliveira & Vasconcellos

37

a saúde do trabalhador encerra uma grande capacidade potencial de gerar inquietações profundas, junto aos trabalhadores, aos Sindicatos e ao número cada vez maior de profissionais envolvidos, que hoje discutem a questão nos serviços de saúde e nas instituições de ensino, mantém uma condição permanente de recriação da área, capaz de avaliar as expectativas mais otimistas de que se pode, como um desafio adicional, viabilizá-la (2000, p.11).

Marchi et al. (2006), considerando a retrospectiva histórica, verifica-se que a

evolução da atenção à saúde do trabalhador ainda está muito atrelada ao discurso,

necessitando de uma participação mais efetiva dos órgãos sindicais em relação ao

desencadeamento de ações relativas à questão saúde-trabalho. Nesse sentido, Oliveira &

Vasconcellos (2000) afirmam que no Brasil não existe uma política pública integrada e

integradora em saúde do trabalhador. Para os autores, a evolução pragmática nesse campo tem

sido muito lenta, caracterizando-se por poucos avanços e muitos retrocessos. De acordo com

os mesmos autores

as políticas públicas levadas a cabo pelas áreas do trabalho e previdência caracterizam-se pela proteção da saúde dos trabalhadores, de forma tutelada, considerando-as agentes passivos na relação saúde-trabalho, entendendo a preservação da saúde no trabalho como exigência contratual de trabalho e não como direito pleno de cidadania (2000, p.4).

Para Loro, em sua pesquisa, ficou claro que mesmo havendo um discurso

administrativo de atenção à saúde do trabalhador, não existe uma política bem definida no que

se refere ao processo educativo nas empresas e assim, as ações realizadas ficam abaixo das

necessidades e expectativas dos trabalhadores. A autora verificou que

percebe-se uma dupla mensagem das administrações no que se refere à política institucional, pois, ao mesmo tempo em que têm uma equipe de saúde e dizem incentivar atividades educativas, permitindo a sua realização, pressionam pelo máximo de produção. Assim, as chefias dos setores dessas instituições interpretam ‘priorizar a produção’ como dificultar a participação em ações educativas que se constituem em ‘perda de tempo’ de produção (2003, p.82).

38

Marchi et al. (2006) defendem que as ações em saúde do trabalhador devem ter foco

nas mudanças dos processos de trabalho contemplando as relações saúde e trabalho em toda

sua complexidade, com políticas definidas pelos setores responsáveis pela saúde do

trabalhador em todos os níveis. Para as autoras essa organização precisa garantir aos

trabalhadores o direito de serem realmente sujeitos “das ações referentes às condições de

trabalho e a mecanismos de intervenções para a ampliação e o aprimoramento da qualidade

dos serviços prestados, com repercussões na qualidade de vida” (2006, p.133).

Em defesa disso, Martins (2004) menciona o médico pediatra e psicanalista

Winnicott (1975) o qual afirma que é preciso sentir-se criando o mundo a partir de criações

pessoais partilhadas, para assim estar-se ativo, vendo o mundo de forma ampla e objetiva,

expandindo, realizando e vivendo. Ao contrário de quando algo é imposto como uma verdade

pronta, o que desperta o sentimento de invasão, de impotência e opressão. Portanto, as

pessoas precisam participar e interagir e não somente tomar parte em uma ação ou conjunto

de ações decididas por outros. Nesse sentido, a educação visa a formação do homem integral,

ao desenvolvimento de suas potencialidades, para torná-lo sujeito de sua própria história e não

objeto dela.

Alvarez (2002) faz referência ao texto de Maslow (1943), que ressalta que o

trabalhador possui outros fatores que influenciam na sua satisfação pessoal além do trabalho,

reconhecimento no ambiente de trabalho, participação em tomadas de decisões, posição

social, crescimento profissional permanente, promoções, treinamentos, entre outros.

Conforme Lima (2005), nos últimos anos verifica-se uma ênfase, cada vez maior, no fato de

que uma pessoa não faz parte do quadro funcional de uma empresa apenas para desenvolver

atividades pré-estabelecidas, mas também, para realizar ações eficazes e criativas, afim de

transformar a empresa em que trabalha e os seus produtos em sucesso de mercado.

Martins (2004) destaca a importância do respeito à individualidade daquele que é o

receptor da ação, por parte de quem se propõe a promover saúde, o qual precisa relacionar-se

humanamente de igual para igual, pois ninguém sabe mais dele que ele próprio. Para o autor é

imprescendível, contudo, que se possa dar um passo além, contribuindo para novas práticas e

novos valores, novos modos de fazer, de agir, de afetar-se, de conceber e vivenciar o que seja

a saúde, a potência de vida e o próprio viver.

39

Do conjunto destas posições, podemos derivar a importância de educadores em saúde

nos ambientes de trabalho, pois entende-se que a educação e a saúde são campos do

conhecimento que se inter-relacionam, se integram e se articulam, visando promover

mudanças na vida das pessoas e, conseqüentemente, na sociedade. Entretanto, nem sempre

essa ação representa espaço criador e promotor de mudanças, depende basicamente de como

se processa o ato educativo e qual a sua finalidade. Se faz necessário educadores, que sejam

facilitadores e não meros transmissores de conhecimento, e que a partir da vivência dos

trabalhadores, validem seus programas de atividades preventivas e educativas. Nesse sentido,

pressupõe-se que as mudanças, nos ambientes de trabalho, devam partir da experiência dos

trabalhadores, e a partir disto com o educador desenvolver as atividades.

Para Gonçalves (2004) desta forma, o planejador/especialista que atua na formulação

de políticas públicas deixa de ser aquele que detém o conhecimento para melhoria da saúde da

população, passa a ser o facilitador das transformações investigadas minuciosamente e

operadas por seus protagonistas. Para o mesmo autor esta é uma mudança qualitativa de perfil

de atuação semelhante àquela que Mair (1982), há mais décadas, descreveu em relação ao

antropólogo, que estava abandonando a postura de fornecer decisões, para conhecer melhor as

dificuldades dos grupos com quem estava tratando.

De acordo com Müller, percebe-se que os trabalhadores a partir de sua prática, em

seu cotidiano constroem saberes, que são compreendidos como aqueles acumulados no

mundo intersubjetivo do senso comum. Assim, eles podem propor melhorias no trabalho,

tanto na aplicação de técnicas internas da empresa, como na tecnologia, desenvolvendo novas

práticas produtivas e propiciar o desenvolvimento social. Para a mesma autora, “essas

situações permitem perceber que os trabalhadores possuem uma somatória de conhecimentos

que foram sendo contruídos tanto num contexto escolar quanto em seus cotidianos produtivos

e sociais” (2003, p.6).

A autora afirma que para o crescimento das empresas, a capacidade do trabalhador

gerar conhecimentos é um dos fatores mais importantes. Assim, o trabalhador passa a estar

incluído no rol das mudanças e passa a ter mais abertura para demonstrar a sua

potencialidade. Ainda para esta autora, nesse contexto, busca-se focalizar as modificações

pelas quais o mundo do trabalho vem passando, exigindo novas posturas dos trabalhadores,

exigindo novos saberes e conhecimentos. Desta forma, “exige-se também modificações

sociais e novos métodos de gerenciamento para a produção de conhecimentos, voltados ao

40

dia-a-dia das fábricas, evidenciando a construção de novas técnicas de produção e

desenvolvimento de tecnologias” (MÜLLER, 2003, p.8).

Para Vasconcelos, as ações assumidas pelos próprios trabalhadores, refletem um

amadurecimento da consciência, maior que as ações dirigidas pela equipe de saúde. O

processo educativo ganha uma dimensão mais profunda, a partir do momento em que a

população apoiada pela equipe de saúde se organiza e passa a assumir sua própria caminhada.

O autor enfatiza que desta forma, as discussões tornam-se mais interessantes e mais

mobilizadoras e “começam a tocar num tema que é fundamental: a transformação da

sociedade pelos trabalhadores que agora têm uma vivência de fato para motivá-los e fornecer

questões” (1997, p.86).

Se a educação é um método que posssibilita ao indivíduo tomar consciência de si

próprio e do mundo em que está inserido, no caso da saúde do trabalhador, isso implica em

proporcionar ao sujeito o máximo de conhecimento sobre seu espaço e processo de trabalho,

cabendo aos educadores a socialização do seu saber técnico com o grupo. Para Vasconcelos

(1997), educação para a saúde não se restringe a oferecer às pessoas informações já

conquistadas pela ciência e de domínio profissional, no entanto deve estar baseada na troca de

saberes, entre o científico e o popular em que cada um tem a ensinar e a aprender. Mosquera e

Stobäus afirmam que “o valor mais importante da educação para a saúde é levar a pessoa a

uma crescente humanização, objetivando a sua auto-educação através de toda a sua vida”

(1983, p.104). Segundo Loro,

através da informação, da educação em serviço e em saúde do trabalhador poder-se-á mudar um comportamento inadequado, tanto por parte do trabalhador como de imposições dos empregadores. Esses hábitos pré-determinados por processos de trabalho defasados, poderão ser transformados na medida em que o trabalhador muda seus conceitos de saúde e de qualidade de vida, e isso poderá ser contemplado no local de trabalho quando ao lado da produção, se prioriza a educação do grupo e a socialização do saber. O educador nessa perspectiva tem o papel de estimular os grupos a mudar comportamentos que poderão ser substituídos por estilos de vida mais saudáveis (2003, p.29).

41

Portanto, a educação em saúde é uma prática social, processo que contribui para a

formação e desenvolvimento da consciência crítica das pessoas, a respeito de seus problemas

de saúde e estimula a busca de soluções na organização de ações coletivas. Nesse sentido, é

fundamental dar ao indivíduo e à comunidade os critérios para escolher entre as alternativas

possíveis e tomar decisões mais saudáveis para seu próprio bem-estar. Todas as pessoas têm

um potencial para mudanças de comportamento e estilos de vida, desde que compreendam as

razões e os benefícios dessas mudanças, e obviamente, encontrem condições de efetivá-las.

Esta revisão bibliográfica permite que se tenha uma percepção do nível de

elaboração teórica em torno das preocupações na atuação em saúde dos trabalhadores, em

particular no que tange às práticas educativas. Não se tem condições, e nem é objetivo desta

investigação, verificar a efetiva implematização destas práticas na sua amplitude. Apenas

pode-se pressupor que “programas de qualidade de vida” podem encontrar, nessas

elaborações sua sustentabilidade teórica, o que seria louvável. Mas parece pertinente

suspeitar, pela trajetória percorrida, que muitos destes programas não ultrapassam os marcos

legais, desprezando objetivos mais alargados da humanização nas condições de trabalho.

A partir deste texto buscou-se abordar o tema qualidade de vida no trabalho, que vem

ganhando destaque no âmbito empresarial. Pode-se descrever a qualidade de vida no trabalho

como um conjunto de ações de uma empresa que envolve a implantação de melhores

condições de trabalho para seus colaboradores.

42

CAPÍTULO II - GINÁSTICA LABORAL E QUALIDADE DE VIDA

Na atualidade, o mercado de trabalho, ao mesmo tempo que expõe os indivíduos a

níveis elevados de tensão e estresse, tem voltado suas discussões para programas de qualidade

de vida. Este capítulo abordou o tema qualidade de vida no trabalho, procurando identificar

possíveis vínculos com propósitos de desenvolvimento pessoal e profissional a partir das

práticas de Ginástica Laboral. Nesse contexto, a atividade física e a saúde se inter-relacionam,

sendo a Ginástica Laboral uma possível articuladora destes fatores. Para entender a sua

importância fez-se aqui um breve histórico desta prática, os seus possíveis benefícios, a

aderência em relação a ela, bem como, o papel do profissional de Educação Física nestas

atividades.

2. 1 Conceituando qualidade de vida

O tema qualidade de vida é um dos assuntos mais discutidos no âmbito empresarial,

na mídia e até mesmo no ambiente familiar. É um assunto amplo, que engloba diferentes áreas

da vida, e vêm sendo incorporado no dia-a-dia das pessoas, tanto individual quanto

coletivamente. Nas palavras de Barbanti (1990) a qualidade de vida é uma idéia subjetiva que

está ligada à cultura de um povo, mas de maneira geral, afirma o autor, é um conceito

multifatorial, que envolve a sensação de bem-estar e satisfação do indivíduo, na condição

física, emocional e intelectual, bem como, no trabalho e na participação social. O autor, ainda,

complementa: “o bem-estar proporciona conforto ao indivíduo e é definido como um modo de

43

ser ou estar em perfeita satisfação física ou moral” (1994, p.33). Vilarta (2004) afirma que a

qualidade de vida se estrutura por aspectos relativos à subjetividade da pessoa, como ela

sente, vive, se relaciona na sociedade e consigo própria.

Por outro lado, Mendes ressalta que “a expressão ‘qualidade de vida’ tem estado

muito em moda, sendo divulgada na mídia falada e escrita, mas empregada, na maioria das

vezes, de maneira equivocada” (2000, p.125). Para o autor, freqüentemente esta expressão é

vista como uma vida confortável do ponto de vista material, com lazer e viagens, férias,

pouco trabalho, poucas obrigações e aborrecimentos. O autor chama a atenção para a questão

de que a busca pela qualidade de vida também depende de estarem saciadas as necessidades

básicas como a sede, a fome, o sono, assim como, a segurança na família e no trabalho. Só

atingindo estas necessidades “o ser humano poderá ir em busca de outros anseios importantes

e imprescindíveis para a qualidade de vida, como a auto-estima, a auto-imagem e a auto-

realização” (MENDES, 2000, p.125).

Vilarta (2004) enfatiza que dentre os aspectos relativos à qualidade de vida tem sido

bastante valorizada a importância da atividade física, do esporte e do lazer para a promoção

da saúde e de condições adequadas ao desenvolvimento integral das habilidades e capacidades

de crianças, jovens, adultos e idosos. Freitas (2007) resgata Brasil (1990) para enfatizar a

importância de ações como: promoção da saúde, educação em saúde, adoção de estilos de

vida saudáveis, alimentação, nutrição, entre outros, estimulam a prática de ginástica e outros

exercícios físicos, os hábitos de higiene pessoal, domiciliar e ambiental, que segundo o autor,

em contrapartida, desestimulam o sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, consumo de drogas e

a promiscuidade sexual.

Entretanto, Freitas (2007) destaca que a visão de Brasil (1990) é parcial com relação

à prática de atividade física. Para a autora o estímulo desta não é tão simples, pois existem

fatores como condições econômicas, sociais e emocionais que podem estar relacionados a

comportamentos e vícios. Isto é, a prática de atividade física, por si só, não seria responsável

por desestimular hábitos, como alcoolismo e promiscuidade sexual, pois para a autora, tais

conquistas não podem ser vistas como algo subentendido. Para ela, esta é uma visão que ajuda

a mascarar os problemas sociais que interferem mais no estilo de vida, como as condições de

trabalho e de habitação. Além disso, argumenta a autora, “a responsabilidade pela saúde recai

sobre o indivíduo, uma vez que é ele quem ‘opta’ por fazer ou não atividade física” (2007,

p.63).

44

Para Andrade (2001) um importante aspecto no estudo do estilo de vida e das

diferenças econômicas é exatamente o fato da maioria dos estudos, sobre aptidão física e

saúde ou estilo de vida e saúde, supervalorizar o componente individual, o comportamento

pessoal na análise do problema, desprezando quase que totalmente as variáveis sociais e

econômicas. Para este autor, muitas vezes e em vários contextos, optar e vivenciar um estilo

de vida mais ativo e saudável depende de condições mínimas de existência e de trabalho

específico. Nas palavras do autor, seria fácil responsabilizar o indivíduo pelas suas decisões e

aspectos relacionados ao estilo de vida. Entretanto, isso seria injusto, pois, a sociedade pode

facilitar ou dificultar as escolhas com relação ao estilo de vida.

Na mesma linha, Gonçalves ressalta que na Educação Física, como em outras áreas,

se pratica com freqüência uma distorção grave. A “culpabilização da vítima”, isto é,

“radicalizar, intencionalmente ou não, o conceito de estilo de vida no sentido de ignorar os

seus determinantes socio-econômicos e culturais, de sorte a atribuir as pessoas isoladamente

por seus vícios e dependências” (2005, p.354). Este autor destaca que seguidamente o

fumante é visto como um fraco que não consegue barrar a sua autodestruição, o alcoolista, um

descontrolado e o obeso que busca a hipocinesia; sem tentar entender as pressões sociais, em

que, em diferentes circunstâncias se valoriza o cigarro, a bebida e a comida/comodidade como

paradigmas de adequação e excelência. O autor, ainda se referindo a bebidas alcoólicas e ao

tabaco, enfatiza que embora o uso destes constitua estilos de vida pouco saudáveis, muitas

vezes não é de interesse dos dirigentes estatais, e a quem estes representam, bloquear o

consumo destes produtos.

Ainda de acordo com Gonçalves (2004), esta concepção de estilo de vida tem sido

muito utilizada nas últimas décadas com ênfase em seus aspectos negativos à saúde e na

responsabilidade individual. Para o autor, muitas e perversas são as conseqüências desse

equívoco, intencional ou não, como a “culpabilização da vítima” e o enxugamento da ação do

Estado em políticas públicas. Vilarta, fazendo referência ao texto de Gonçalves, escreve que

este

define e estimula o debate sobre a responsabilização individual quanto aos aspectos da saúde relacionados à adoção de hábitos e costumes, o estilo de vida, inadvertidamente responsabilizado nos dias atuais, pelos fornecedores de opiniões como também pelas elites e correntes populares, como principal causador da relação saúde – doença do indivíduo que além de vítima, passa

45

a ser culpabilizado pela adoção de comportamentos e costumes considerados, senso comum, incompatíveis com uma condição orgânica saudável (2004, p.11).

Nas palavras de Gonçalves, epistemologicamente, fica claro que aceitar a

responsabilização das pessoas na origem das condições e agravos de saúde, quer dizer alienar-

se ao modo de pensar e agir em sociedade. “Esta ‘fragmentação do sujeito’,

‘antiuniversalismo’ e ‘particularismo’ são negadas, no entanto, pelas próprias características

da sociedade atual” (2004, p.19).

Para Bom Sucesso (1988), a conquista da qualidade de vida depende do próprio

indivíduo, no sentido de atribuir valor a sua vida, de sua auto-estima e do engajamento

profissional, político e social, e também da postura dele enquanto comprometimento na

transformação da realidade, da responsabilidade pelos seus atos, e na consciência de seus

direitos e deveres.

Martins (2005, p.21) afirma que "não se pode pensar em qualidade de vida sem ater-

se aos diversos segmentos sociais, os quais influem e são influenciados pelos seres humanos

neles inseridos e suas crenças, valores, hábitos e atitudes”. Quanto a isso, a autora faz

referência a Buss (2000), o qual afirma que os profissionais que atuam na área da saúde, dos

movimentos sociais e nas organizações populares, políticos e autoridades têm

responsabilidades sobre as repercussões positivas e negativas que as políticas públicas geram

sobre a saúde e as condições de vida da sociedade. Isto porque para ele o estilo de vida

corresponde às singularidades essenciais da pessoa e a pequenos grupos, como a família e

amigos, a habitação e seu entorno, o local de trabalho, seus hábitos, normas e valores.

Enquanto que os numerosos determinantes e condicionantes gerais da vida da sociedade,

como um todo, correspondem às condições de vida.

Para melhor compreensão, por atentar para os parâmetros objetivos e subjetivos

pode-se destacar o conceito de qualidade de vida de Minayo, Hartz & Buss:

[...] uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e a própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese

46

cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes sendo, portanto, uma construção social como a marca da relatividade cultural (2000, p.4).

Enfim, de acordo com Gonçalves (2005) a qualidade de vida pertence ao rol das

expressões polissêmicas que, empregadas com impropriedade, acabam assumindo sentidos

equivocados, tanto pode conotar valores humanitários relevantes, se referindo a aspirações

sociais elevadas, níveis coletivos de saúde e educação, como, também, é usada pela mídia e

pela propaganda para promover produtos e serviços. Está se constituindo um consenso, que

independente dos numerosos usos, a qualidade de vida inclui dois núcleos fundamentais: a

dimensão subjetiva e objetiva. A primeira, corresponde ao estilo de vida e a segunda às

condições de vida.

2.1.1 Qualidade de vida no trabalho

Pensando no equilíbrio das pessoas na vida cotidiana e no trabalho, é necessário

discutir a qualidade de vida no ambiente de trabalho, em que, cada vez mais, a produtividade

e a competitividade transformam-se em condições de sobrevivência das organizações. A

expressão qualidade de vida no trabalho está sendo bastante difundida nas organizações, por

ter como propósito o desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas. No entanto,

segundo Siegel e Santos (2006), só no início da dédada de 50 do século XX, na Inglaterra,

esse conceito apareceu na literatura especializada, quando Eric Trist e seus colaboradores

(1975) se propuseram a desenvolver um modelo macro para a constituição do tripé indivíduo-

trabalho-organização. Para os autores, a partir deste modelo, a qualidade de vida tem como

base a satisfação do trabalhador no trabalho e com o trabalho, dando início a várias tentativas

de conceituá-la.

47

Stort, Silva & Rebustini (2006) fazem referência ao texto de Albuquerque & França

(1998) que definem qualidade de vida no trabalho como uma série de ações da empresa que

envolve diagnóstico e implementação de melhorias, bem como, inovações gerenciais,

tecnológicas e estruturais dentro e fora do ambiente de trabalho. Estas ações tem como

objetivo propiciar condições de desenvolvimento humano para e durante a realização do

trabalho. Siegel & Santos (2006) reportam-se a Arellano (2004) o qual destaca que o principal

objetivo da qualidade de vida no trabalho é buscar o equilíbrio psicológico, físico e social dos

funcionários, dentro do contexto organizacional. Através de ações que aumentam a

produtividade, melhorando a imagem da empresa, tanto interna como externa, bem como,

levando a um crescimento pessoal e organizacional.

Já para Bom Sucesso (2002), a qualidade de vida no trabalho diz respeito à renda

digna para satisfazer as expectativas pessoais e sociais; realização no trabalho e na vida

pessoal, equilíbrio entre trabalho e lazer, à auto-estima; a imagem da empresa/instituição

junto a opinião pública; horários e boas condições de trabalho; às oportunidades e

perspectivas de carreira; à possibilidade de uso do potencial; ao respeito aos direitos; e à

justiça nas recompensas.

Mendes & Leite (2004, p.147), por sua vez, definem qualidade de vida no trabalho

como “a qualidade de vida relacionada somente ao trabalho, mas a satisfação no trabalho não

pode ser isolada da vida do indivíduo como um todo”. Para Stort, Silva & Rebustini (2006)

“qualidade de vida e qualidade no trabalho são distintas, porém elas se interinfluenciam, pois

insatisfações no trabalho podem causar desajustes na vida familiar e social, enquanto que

insatisfações fora do trabalho podem exercer um papel desequilibrante sobre o trabalho”

(2006, p.29).

Quanto a esta discussão Ogata (2008) se refere a pesquisa, realizada pela

Organização Small Business Initiative, nos Estados Unidos, envolvendo pequenas empresas.

Nesta pesquisa observou-se que mais de 70% dos entrevistados relataram que os funcionários

trazem problemas pessoais para o trabalho e mais de 50% referiram que a incapacidade do

empregado em resolver seus problemas pessoais pode comprometer a produtividade ou

aumentar o risco de acidentes no ambiente de trabalho.

Muito se ouve falar de que não se pode levar os problemas da vida pessoal para o

trabalho e vice-versa. Em princípio, esta afirmação pode parecer correta, no entanto, o

48

indivíduo não pode separar por completo o trabalho da vida pessoal, pois ele não é uma

pessoa no trabalho e outra pessoa quando está com a família, ele é um ser global. Sabe-se o

quanto é importante que cada indivíduo tenha condições de administrar cada problema em seu

devido espaço, entretanto, sabe-se também, que às vezes não é tão simples assim, um pode

interferir no outro. Isto é, da mesma forma que o estado emocional e físico pode influenciar

no rendimento profissional das pessoas, a implantação dos Programas de Qualidade de Vida

nas empresas, também, pode contribuir para o aumento da produtividade da empresa e

qualidade de seus produtos, assim como, ir além do ambiente de trabalho.

Os donos de empresa podem argumentar que o funcionário é responsável pela sua

saúde, por isso pode, se quiser, procurar atividades físicas fora da empresa para melhorá-la.

Os funcionários, por sua vez, podem alegar vários empecilhos para justificar a falta de

atividade física, como: falta de tempo, falta de condições financeiras, desânimo, falta de

motivação, doenças, dupla jornada de trabalho, entre outros motivos. No entanto, se a

empresa oferecer esta prática como uma prioridade, todos podem ser beneficiados, empresas e

funcionários.

Oliveira & Vasconcellos (2000) também defendem essa possibilidade, já que

afirmam ser um desafio incluir a qualidade de vida do trabalhador no trabalho, com o mesmo

apelo atrativo dos mecanismos de incentivo para a melhoria da qualidade dos produtos, além

da motivação pela disputa de mercado. Os mesmos autores complementam, afirmando que

este desafio poderia ser enfrentado com uma política nacional de saúde do trabalhador, como

a criação de um certificado de qualidade de vida no trabalho, entregue às empresas que

possuissem sistemas de controle de risco que assegurassem a proteção e a promoção da saúde

dos trabalhadores.

Na mesma linha de pensamento, Ogata (2008) argumenta que a qualidade de vida

deve inserir-se no contexto da Responsabilidade Social, prática que, na sua opinião, precisa

ser incorporada tanto pelas empresas quanto pelos próprios profissionais. O autor acredita que

a Responsabilidade Social está intimamente ligada a questão da cidadania empresarial em que

os programas devem focalizar inicialmente seus funcionários, familiares e depois a sociedade

como um todo. Para ele, a Responsabilidade Social é um tema bastante abordado no meio

empresarial, por isso as organizações procuram incluí-la em sua agenda por vários motivos,

como: instrumento de marketing, melhoria de sua imagem institucional, busca de espaço na

mídia ou por entendê-la como um bem em si. O autor chama atenção para o fato de

49

precisarem um reconhecimento ou um selo de Responsabilidade Social unicamente pela

questão da competitividade, ou seja, para equiparação com concorrentes que realizam ações

sociais. Oliveira & Vasconcellos (2000) concordam ao afirmarem que a principal meta da

empresa é a conquista de novos mercados e, apesar de haver algum ganho do consumidor, o

trabalhador não é incorporado como alvo do sistema gestor de qualidade.

Assim, verifica-se que muitos podem ser os motivos de uma empresa ao “optar” pela

implantação de programas de qualidade de vida. O primeiro deles, pode ser cumprir a

legislação, pois como se observou no primeiro capítulo desta pesquisa, desde o ano de 1700,

começou-se a estudar a relação entre o estado de saúde da população e as condições de vida

desta. Deste modo, criaram-se as leis de proteção ao trabalhador, que ano após ano foram

sendo ampliadas e complementadas, aumentando a responsabilidade do empregador em

estabelecer políticas de saúde.

No entanto, mesmo sendo para cumprir a legislação, pode-se supor que alguns

empregadores estão se conscientizando da importância de desenvolver programas de

qualidade de vida no trabalho. Talvez por já terem se dado conta que, na verdade, os

benefícios podem ser recíprocos, pois, se por um lado o empregador pode melhorar a

qualidade de seus produtos, e ainda pode reduzir custos com a saúde dos trabalhadores de

suas empresas. O funcionário pode melhorar a saúde, melhorando assim, sua qualidade de

vida, tanto no ambiente de trabalho quanto fora dele. Para os autores Stort, Silva & Rebustini,

fica evidente para as empresas que o investimento no capital humano, além de uma exigência, traz um enorme retorno ao nível de qualidade e produtividade da empresa em que a organização do ambiente de trabalho é um dos fatores importantes para melhor qualidade de vida do trabalhador (2006, p.28).

De acordo com Singel & Santos (2006), as razões que justificam a implantação de

um programa de qualidade de vida no trabalho, procuram atender tanto aos interesses dos

funcionários quanto os da empresa. Nesse sentido, afirmam os autores, o objetivo dos

funcionários é uma melhor saúde, uma vida melhor e mais longa, e da empresa, estimular a

criatividade e a capacidade dos funcionários em vencer obstáculos, contribuindo para

qualificação e produtividade. Alvarez (2002) menciona Nighswonger (2001) o qual declara

50

que especialistas em saúde ocupacional afirmam que oferecer serviços de saúde na empresa,

atravez de medidas preventivas, assim como, gerenciamento de casos médicos até tratamentos

clínicos é a melhor forma de melhorar a saúde e produtividade do trabalhador.

Para Martins (2005), a qualidade de vida no trabalho é quando a empresa respeita o

trabalhador através de práticas e políticas que promovam sua saúde, sua integridade moral,

física e psicológica, bem como os seus direitos; através de salários dignos, treinamento e

possibilidades para o desenvolvimento pessoal.

Para Ogata (2008), os gestores de programas de qualidade de vida enfrentam dois

grandes desafios, um deles é justificar os orçamentos dos programas através de demonstrações

econômicas relacionadas ao retorno do investimento e outro é encontrar fontes de recursos

para a manutenção dos programas. Segundo Ungarato (2006), quando se apresenta um projeto

deste padrão uma das perguntas mais freqüentes que os empresários fazem é quanto ao

retorno econômico que esta nova intervenção trará. De acordo com a autora, as decisões na

empresa costumam ser tomadas com base em dados objetivos e muitas vezes baseados em

análise de custo e benefício. Os custos são determinados com maior facilidade e costumam

incidir a curto prazo, já os benefícios não são facilmente quantificáveis, eles podem incluir

itens como conforto e segurança dos trabalhadores, que nem sempre podem ser traduzidos em

termos monetários, pelo menos a curto prazo.

Esta dificuldade em quantificar os benefícios, segundo Cañete (1996) já eram

apontadas por King em 1989, contudo, acha importante que se busque maneiras para

demonstrá-los, pois, muitas vezes os programas são realizados sem um planejamento

adequado, sem a participação dos funcionários, clientes, fornecedores, resultando em meras

ações de filantropia, com poucos resultados efetivos para a organização e comunidade. Para o

autor, isto pode acontecer, pelo fato de não se aguardar o período normal de evolução e

crescimento de uma ação de responsabilidade social.

De acordo com a assistente social, Shibuya (2008), para que os programas de

qualidade de vida gerem benefícios eficazes, o comprometimento deve ser completo. Para ela

a empresa precisa desenvolver políticas, ações e programas de estímulo a uma vida saudável,

e o funcionário deve perceber que seu papel é fundamental para que os objetivos sejam

alcançados por ambas as partes. Nas palavras de Siegel & Santos (2006), todas as ações

precisam ser acompanhadas e avaliadas permanentemente, pois, para eles, a responsabilidade

51

com a qualidade de vida no trabalho é tanto da empresa, quanto dos funcionários. Segundo os

autores, não adianta implantar programa de qualidade de vida se os funcionários não

estiverem dispostos a participar, para isso é fundamental a conscientização dos mesmos sobre

o programa, mostrando-lhes o que é e quais são os seus objetivos.

Corroborando, Mendes & Leite (2004) afirmam que um dos fatores de influência

negativa é justamente a presença de trabalhadores descomprometidos e resistentes a

mudanças. Portanto, pode-se afirmar que o comprometimento dos funcionários é de extrema

importância, mas para isso, eles precisam de espaço e condições para participar e interagir. No

entanto, é imprescindível, também, o comprometimento dos líderes de setor e gerência para o

bom andamento dos programas. Assim, o funcionário também se sentirá mais motivado e com

maior comprometimento.

2.2 Um pouco da história da Ginástica Laboral

O primeiro registro sobre Ginástica Laboral conforme Cañete (1996), foi na Polônia

em 1925, chamada de ginástica de pausa, e era destinada a operários. Depois disso, sabe-se

que foram realizadas experiências na Holanda. Posteriormente, na Rússia, 150 mil empresas,

envolvendo cinco milhões de operários, passaram a praticar ginástica de pausa adaptada a

cada ocupação. A ginástica de pausa, é realizada no meio do expediente, os funcionários

param de trabalhar por alguns minutos para fazer a ginástica. De acordo com estes autores,

uma outra modalidade de Ginástica Laboral, denominada preparatória, por ser antes do início

da jornada de trabalho, teve origem nas empresas Japonesas em 1928, com funcionários de

correios, visando a descontração e o cultivo da saúde. Após a II Guerra Mundial, esta

atividade foi difundida por todo o país, tornando-se obrigatória em todas as indústrias e

serviços. Segundo Longen (2003), a grande divulgação da Ginástica Laboral na cultura

japonesa é atribuída a um programa da Rádio Taissõ que envolve uma tradicional ginástica

rítmica, com exercícios específicos acompanhados por música própria. Segundo o autor, esta

atividade acontecia todas as manhãs, motivada pela propagação da rádio, que era feita por

pessoas especialmente “treinadas”. Esta prática era realizada nos ambientes de trabalho, assim

52

como nas ruas e residências. Ou seja, todas as pessoas faziam uma pausa, no mesmo horário,

para realizar esta atividade.

No início da década de 1960, criam-se programas de atividade física em empresas

também na Bulgária, Alemanha, Suécia e Bélgica. Nesta mesma época acontecia a

consolidação e a obrigatoriedade da Ginástica Laboral Compensatória, no Japão (LIMA,

2005), que era realizada durante o expediente.

A primeira experiência no Brasil ocorreu nos anos 1970. O projeto foi iniciado pela

Federação de Estabelecimento Ensino Superior (FEEVALE), juntamente com o Serviço

Social da Indústria (SESI), denominado “Ginástica Laboral Compensatória”. Esta prática

envolveu cinco empresas do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. O projeto tinha caráter

experimental, com duração de três meses, e visava aprofundar os estudos nesta área.

Conforme informações da FEEVALE, referidas pelo diretor da Faculdade de Educação Física,

a experiência não se consolidou pela desistência das empresas, devido ao custo para a

continuidade do projeto, que incluia a contratação dos profissionais (KOLLING, 1980 apud

CAÑETE, 1996). Já a experiência com a Ginástica Laboral Preparatória, de origem Japonesa,

foi introduzida no Brasil por executivos nipônicos, visando primordialmente a prevenção de

acidentes de trabalho (PULCINELLI, 1994 apud CAÑETE, 1996).

Segundo Longen (2003), após algumas experiências isoladas no país envolvendo a

Ginástica Laboral até o final dos anos 70, houve um período de esquecimento da atividade. A

partir da metade da década de 80 houve a sua retomada e logo após, em 1987, a tenossinovite

foi reconhecida como doença profissional pela portaria nº 4062 do Ministério da Previdência

e Assistência Social. De acordo com os autores, este fato exigiu, principalmente por parte dos

empresários, medidas de enfrentamento social a cerca da ameaça das lesões. Assim, afirmam

os autores, na mesma época se deu destaque à qualidade de vida no trabalho e a Ginástica

Laboral era utilizada como medida para promoção da saúde do trabalhador, que acompanhou

o desenrolar histórico da LER/DORT6 (Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios

6 Neste estudo será usada a denominação LER/DORT - Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. A sigla LER, foi utilizada durante vários anos, sendo ainda melhor identificado, frente a isso, ainda são muitos os autores que utillizam esta denominação, mesmo após a edição da utilização da Norma Técnica de 1997 do Instituto Nacional de Seguridade Nacional (INSS). Baseando-se no termo inglês “Work-related musculoskeletal disordes”, foi proposta a sigla DORT, ficando desta forma enquadrada na categoria das doenças relacionadas ao trabalho propostas pela OMS (LONGEN, 2003, p.19). De acordo com Couto (1996) LER/DORT são transtornos funcionais e mecânicos e lesões de músculos, tendões, fáscias (faixa de tecido fibroso que reveste os músculos e vários orgãos do corpo), nervos e/ou bolsas articulares nos membros superiores ocasionados pela utilização, biomecanicamente incorreta, dos membros superiores que

53

Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho), que nesta época foi reconhecida como a então

chamada, “doença dos digitadores”.

Para estes autores, a Ginástica Laboral teve uma grande explosão no Brasil nos anos

1990. Inúmeras empresas passaram a introduzir esta atividade em suas rotinas de trabalho. Os

propósitos são diversificados, sendo que na maioria dos casos é atribuída à prevenção de

LER/DORT. Nas palavras de Lima (2005), a Ginástica Laboral passou a ser um grande

instrumento para melhorar a saúde física do trabalhador reduzindo e prevenindo problemas

ocupacionais.

Pelo exposto, verifica-se que a Ginástica Laboral não é uma atividade física recente,

pode-se observar pelo histórico que esta prática vem sendo implantada a mais de um século.

No entanto, no Brasil parece que ainda não se faz muito presente nas empresas. Porém,

percebe-se que o crescente número de casos de LER/DORT, estresse, acidentes de trabalho,

entre outros, tem mobilizado o mundo do trabalho e esta incidência parece ter relação direta

com o momento histórico marcado pelo Capitalismo, o qual já foi devidamente explicitado no

primeiro capítulo desta reflexão.

2.2.1 Concepções de Ginástica Laboral

O setor empresarial vem criando estratégias operacionais para promover qualidade

de vida aos trabalhadores e vislumbrou, na implantação do Programa de Ginástica Laboral,

uma possibilidade de conseguir dividendos atrativos em épocas tão competitivas da

sociedade. De acordo com Longen (2003), várias definições e diferentes atribuições são dadas

à prática da Ginástica Laboral, talvez por existir pouca teoria e carência científica sobre este

método - o que acaba dificultando a real definição de seu papel dentro da saúde do

trabalhador. Nas palavras desse autor, a aplicação prática das diferentes interpretações e

propósitos da Ginástica Laboral apresenta-se de forma diversificada. resultam em dor, fadiga, queda da performance no trabalho, incapacidade temporária e, conforme o caso, podem evoluir para uma síndrome crônica, nesta fase agravada por todos os fatores psíquicos (inerentes ao trabalho ou não) capazes de reduzir o limiar de sensibilidade dolorosa do indivíduo.

54

Martins (2004) concebe a Ginástica Laboral com uma atividade física praticada pelos

funcionários, no próprio local de trabalho, durante o expediente com duração média de dez

minutos, sem contra-indicações. Qualquer trabalhador pode participar da aula desde que o

professor direcione e adapte as atividades às suas peculiaridades. Para a mesma autora, a

Ginástica Laboral pode ser compreendida como uma pausa ativa, composta por atividades

físicas, recreacionais e “mediativas”, sendo que, o alongamento compõe sua base, direcionado

para os grupos musculares mais solicitados durante a jornada de trabalho.

De acordo com Lima (2005) a Ginástica Laboral pode ser conceituada como um

conjunto de práticas físicas, elaboradas a partir da atividade profissional, que intenciona

compensar as estruturas mais utilizadas no trabalho e ativar as que não são solicitadas,

relaxando-as e tonificando-as. Cañete (1996) complementa que esta atividade consiste em

exercícios específicos de alongamento e concorda com Lima (2005) no que se refere à

compensação das musculaturas envolvidas nas tarefas operacionais diárias, bem como,

ativação de outras que não estejam sendo solicitadas. Como o próprio nome sugere, a

Ginástica Laboral se caracteriza por ser uma atividade desenvolvida no ambiente de trabalho,

com preocupação preventiva. Scharcow e sua equipe7, citado por Cañete entendem a

Ginástica Laboral

como a criação de um espaço onde as pessoas passam, por livre e espontânea vontade, exercer várias atividades e exercícios que, muito mais que um condicionamento mecanicista, estimulem o autoconhecimento levando a sua aplicação da consciência e da auto-estima. E, conseqüentemente, proporcionem um melhor relacionamento consigo, com os outros e com o meio (1996, p.111).

Levando em conta o entendimento desse grupo, pode-se deduzir que a Ginástica

Laboral age sobre o indivíduo de forma subjetiva. Isto é, cada pessoa vai fazer as atividades

de acordo com suas próprias limitações e motivações, por isso os resultados podem ser

diversos.

De acordo com Mendes & Leite (2004) a Ginástica Laboral também é conhecida

como atividade física na empresa e pode ser classificada em três tipos, dependendo dos

7 Equipe de profissionais de Educação Física da SER – Consultoria de Ginástica Laboral

55

objetivos e o momento em que ela é realizada. A preparatória, que ocorre no início do

trabalho, tem como objetivo o aquecimento, a preparação da musculatura e das articulações

que serão utilizadas no trabalho, prevenindo distenções musculares e acidentes de trabalho. Já

a ginástica compensatória ou ginástica de pausa é realizada no meio do expediente, previne a

fadiga nos trabalhadores que realizam movimentos repetitivos, atividades com sobrecarga

muscular, tem o objetivo de diminuir as tensões musculares provocadas pelo trabalho. E por

fim, a ginástica relaxante, que é realizada no final do expediente e é mais indicada para quem

atende ao público, para extravasar as tensões acumuladas nas diversas regiões do corpo.

Alvarez (2002) busca argumentos em Rey (1993) que acredita que esta atividade se

justifica, porque o desempenho e o rendimento do trabalhador não é constante no decorrer da

jornada de trabalho. Para o autor

no início da jornada de trabalho o organismo começa a progressivamente adaptar seus processos fisiológicos às exigências do trabalho. Em seguida ao período de adaptação inicial, o homem atinge seu ápice em rendimento, cuja duração é de aproximadamente duas horas. Após tal período, devido à fadiga ou cansaço, o desempenho do trabalhador começa a decrescer (2002, p.49).

De acordo com o mesmo autor, é comprovado cientificamente que pausas realizadas

no início destes momentos de baixo rendimento tornam variável o retardo dos sintomas

“improdutivos”, estabilizando, por conseguinte, o desempenho do trabalhador em um nível

satisfatório.

Nesse sentido, acredita-se que a ginástica preparatória pode ser benéfica em vários

aspectos, pois além de estar preparando a musculatura para as tarefas que realizará durante o

turno de trabalho pode também animá-la para tais realizações. Da mesma forma a ginástica

compensatória ou de pausa, pode auxiliar e reanimar o trabalhador a fim de que este possa dar

continuidade ao trabalho de forma satisfatória. Por fim, a ginástica relaxante pode

proporcionar uma sensação de alívio do estresse e tensões acumuladas durante a jornada de

trabalho. Podendo inclusive, prepará-lo para outras atividades fora do ambiente de trabalho,

tais como, atividades físicas, culturais, sociais e familiares. Conforme Cañete (1996) as

pessoas por ela entrevistadas afirmam que através da ginástica “os problemas vão saindo

56

pelos movimentos”, “a gente relaxa e sente um alívio, uma paz”, e que percebem várias

mudanças, desde um cuidado maior consigo mesmos até uma maior disposição para enfrentar

o trabalho e a vida” (...) Outras afirmam até sentirem-se mais dispostas para o lazer e o

divertimento, já que antes de participarem das atividades propostas pelo programa estavam

sempre cansadas e sem energia.

Apesar dos possíveis benefícios da Ginástica Laboral, de acordo com Lima (2005),

existem dúvidas por parte das empresas sobre a implantação. As empresas indagam sobre o

número de vezes ao dia, tempo de duração, horário e eficiência do programa. Nesse sentido,

Lima afirma que “depende da rotina da empresa, da necessidade e do diagnóstico, do perfil de

atividade dos funcionários e do valor financeiro que a empresa poderá investir” (2005, p.58).

De acordo com a autora, o ideal seria no mínimo duas sessões diárias, com inserções de

aquecimento e exercícios compensatórios, porém “existe uma readequação do sistema de

produção e trabalho nas empresas, que deve ser respeitado e adequado até atingirmos o

número de pausas necessárias para cada empresa” (2005, p.60). A autora complementa, “o

horário de implantação em cada setor deve ser minuciosamente estudado e organizado

juntamente com as gerências e conforme os objetivos da empresa” (2005, p.59). Portanto,

“ideal” seria sessões de Ginástica Laboral todos os dias e em alguns setores duas vezes ao dia.

No entanto, o número de sessões deve ser organizado de acordo com os objetivos da empresa,

levando em consideração a rotina de trabalho, turnos, atividades desenvolvidas pelos

funcionários, bem como, o valor financeiro que a empresa pode e está disposta a investir.

Alvarez (2002) aponta algumas recomendações para um melhor entendimento quanto

ao Programa de Ginástica Laboral: a) todo programa de promoção da saúde do trabalhador

deve ser direcionado para os diferentes tipos de empresas, nível sócio-econômico dos

trabalhadores, os aspectos culturais e os fatores ambientais; b) deve ser educativo,

proporcionando a mudança de comportamento voltado para a saúde do trabalhador, bem

como, constantemente avaliado e reestruturado; c) somente o profissional de Educação Física

deverá ministrar as aulas de Ginástica Laboral nas empresas, estas devem ser diversificadas,

motivadas, levando ao trabalhador o sentimento de prazer ao executá-las. O professor precisa

estar aberto às críticas avaliando constantemente o seu trabalho; d) é fundamental a

implantação da disciplina de ergonomia8 nos cursos de Educação Física: o professor que

8 Ergonomia é uma norma que estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente (COUTO, 1996).

57

trabalhar com o homem em seu ambiente de trabalho, precisa estar também por dentro do

mundo do trabalho.

2.3 Ginástica Laboral e seus possíveis benefícios

A Ginástica Laboral está sendo destacada por estudiosos que se debruçam sobre a

questão da saúde do trabalhador como uma possível alternativa para contrabalançar o ritmo do

trabalho, a competitividade do mundo globalizado. Para Lima (2005), esta prática é um

instrumento de promoção da saúde e do desempenho profissional que precisa ser elaborada

como um investimento em um sistema de gestão de atividade física relacionada à saúde do

trabalhador, nos aspectos físico, mental e social.

Para a mesma autora, a Ginástica Laboral é “um encontro marcado com a saúde”, um

momento que estabelece um convívio social diário, integrando as pessoas, de forma que se

conheçam melhor, despertando o “espírito de equipe”, trazendo melhores resultados, não só

na qualidade da produtividade, mas também no crescimento pessoal do funcionário que

resulta em uma mudança de rotina que a empresa proporciona em favor do bem-estar físico e

mental dos trabalhadores. Nesse sentido, Lima destaca que

a atividade regular com exercícios no ambiente de trabalho tende a estabelecer uma estratégia de convivência maior entre funcionários e superiores, em geral como uma distração na rotina, compreendendo esta “quebra da rotina” como uma relação entre atividade física e saúde (2005, p.13).

Percebe-se que a Ginástica laboral além de proporcionar a atividade física em sí –

alongamento, fortalecimento muscular e relaxamento – também pode proporcionar um

momento de integração entre funcionários e chefias, um momento para distrair, relaxar,

58

conversar com os colegas, sair um pouco da rotina de trabalho. De acodo com Militão (2001)

e Martins (2005) em sua pesquisa, após a implantação da Ginástica Laboral, a maioria dos

funcionários perceberam que o grupo ficou mais unido, melhorando o relacionamento, o

ânimo, passando uma sensação de bem-estar e assim, gerando uma maior disposição para o

trabalho.

Para Mendes (2000) os trabalhadores consideram a Ginástica Laboral como parte de

seu lazer, porque conseguiram transformá-la em um momento de descontração, relaxamento e

distração, bem como, uma forma de se exercitar. Stort, Silva & Rebustini realizaram um

estudo para verificar os efeitos da Ginástica Laboral nos estados de humor no ambiente de

trabalho e constataram que,

as interferêncicas provenientes da atividade física sobre os estados de humor foram claras e denotam que a atividade física no ambiente de trabalho pode ser uma ferramenta eficiente na tentativa de conduzir o funcionário a uma percepção de bem-estar e, assim, melhorar o seu desempenho no trabalho (2006, p.1).

Para Lucchese

resultados demonstram que o sucesso na Ginástica Laboral, está relacionado com a maior percepção corporal desenvolvida individualmente, a partir dos processos de conscientização educativa dos limites do próprio corpo. Muito mais do que utilizar a escala da dor/desconforto para medir resultados, o profissional deve ser capaz de preparar o indivíduo para utilizar o seu corpo harmoniosamente em cada movimento, inclusive no que tange economia de energia para cada tarefa que o trabalhador realize (2007, p.13).

Lima afirma que “investir em programas que estimulem ou despertem a consciência

corporal pode ter efeitos sobre a descoberta de como reconhecer o corpo e principalmente

reconhecer seus estados emocionais e pontos de tensão” (2005, p.117). A mesma autora

destaca a importância da consciência corporal para reduzir ao máximo os riscos de instalar

59

disfunções no sitema musculoesquelético devido a postura e movimentos inadequados,

podendo provocar desconfortos no organismo.

Para a mesma autora, os benefícios da Ginástica Laboral são diversos, entre eles a

prevenção da fadiga muscular, a diminuição dos índices de acidentes de trabalho, a correção

de vícios posturais, o aumento da disposição para o trabalho, a prevenção das doenças por

traumas cumulativos e ainda, através dela, pode-se valorizar e incentivar a prática de

atividades físicas diárias. Segundo a autora, através da Ginástica Laboral os funcionários

podem ser orientados, quanto à importância de pequenas pausas, para realizar exercícios que

podem ser feitos antes e depois do trabalho, em pequenas pausas no meio do expediente ou

em qualquer momento que sentir necessidade e vontade. Nas palavras da autora, a atividade

física por meio da Ginástica Laboral é uma forma sutil de mostrar que é fundamental se

exercitar, liberar as tensões e descobrir que ao se movimentar podem se sentir melhor fisica e

mentalmente.

Ainda de acordo com Lima (2005), a Ginástica Laboral destaca-se também, como

atividade na prevenção de lesões no ambiente de trabalho, pois, propõe melhorar a

flexibilidade e a mobilidade articular, diminuir a fadiga, decorrente de tensão e repetitividade

que acometem os tendões, músculos, fáscias e nervos, e beneficia a postura do indivíduo

diante do posto e da sua rotina de trabalho. Para a mesma autora, o objetivo da Ginástica

Laboral é promover adaptações fisiológicas, fisicas e psíquicas, por meio de exercícios

dirigidos e adequados para o ambiente de trabalho. Para Mendes & Leite, os programas de

qualidade de vida e de promoção de saúde, bem como, as atividades físicas e desportivas

dentro das empresas, “atuam como forma de neutralizar os efeitos negativos do trabalho e da

utilização inadequada da tecnologia sobre o corpo humano, prevenindo a progressão para

doenças ocupacionais” (2004, p.15).

Longen (2003) realizou um estudo com o objetivo de discutir as representações e

significados da experiência de uma organização com o Programa de Ginástica Laboral

utilizado como método de prevenção de LER/DORT. O autor evidenciou

que as medidas de prevenção são complexas e que medidas isoladas e pouco articuladas entre os setores que têm relação com esse fenômeno são inócuas. Apresenta ainda como uma evidência negativa no sentido de

60

prevenção de LER/DORT, a fragmentação das ações, bem como, a pobre integração entre os envolvidos em atuar nos setores produtivos (2003, p.71).

Nesse sentido, Longen destaca que as atribuições feitas à Ginástica Laboral em

alguns casos pode sofrer influência da própria formação dos profissionais envolvidos com a

saúde dos trabalhadores e da noção que eles têm de prevenção. O autor destaca, “esses efeitos

preventivos atribuídos à Ginástica Laboral de um lado podem ser encarados como um dogma

e de outro negação da existência de LER/DORT dentro das organizações” (2003, p.16).

Também de acordo com o autor,

um dos exemplos da relação entre execução da Ginástica Laboral e a negação da existência de LER/DORT, envolve passagens na empresa envolvida no estudo de alguns casos de queixas levadas pelos trabalhadores ao serviço médico onde os mesmos recebiam a resposta de que não tinham do que reclamar pois estavam fazendo os exercícios. Em algumas situações eram atribuídos aos exercícios capacidade de substituir o tratamento em casos já instalados e dos encaminhamentos (2003, p.16).

O mesmo autor, enfatiza ainda a carência de estudos epidemiológicos sobre os

efeitos da Ginástica Laboral, o que para ele, traz como conseqüência grandes variações na

interpretação do seu papel dentro do campo da saúde do trabalhador. Verifica-se com o

exemplo citado por Longen, que alguns profissionais envolvidos nos programas de saúde dos

trabalhadores, bem como donos de empresas, podem acabar atribuindo toda a

responsabilidade ao Programa de Ginástica Laboral e ao funcionário. No entanto, evidencia-se

que profissionais com esta percepção não levam em consideração outros fatores que podem

estar interferindo e prejudicando a saúde dos funcionários. Como por exemplo: mobiliários e

equipamentos inadequados, postura incorreta, estresse, ritmo de trabalho, horas-extras,

insatisfação, falta de motivação, desânimo, bem como, seus determinantes socio-econômicos

e culturais.

Para Longen, os Programas de Ginástica Laboral, quando adotados de forma isolada

como proposta preventiva de LER/DORT, são extremamente limitados. É preciso considerar a

Ginástica Laboral como uma medida preventiva auxiliar, levando em conta o trabalhar e

61

quem trabalha, assim, pode contribuir para que se alcance a redução dos índices de

LER/DORT nos ambientes de trabalho, promovendo a saúde do trabalhador.

Nas palavras Souza & Jóia (2006), a prevenção das doenças ocupacionais podem

ocorrer pelo emprego da Ginástica Laboral, mas, só se a mesma estiver somada a outras

atitudes. Verifica-se que a Ginástica Laboral é uma das ferramentas preventivas mais

utilizadas nos grupos em que a atuação coletiva é possível, não sendo a única medida. No

entanto, é importante ressaltar que antes de implantar o programa deve-se fazer uma avaliação

ergonômica9, uma forma de identificar situações que podem comprometer a saúde dos

trabalhadores.

Gonçalves (2004), em seu estudo sobre os benefícios da Ginástica Laboral, afirma

que esta prática não possui uma referência que possa afirmar os benefícios pois, de acordo

com a autora, o conhecimento sobre a Ginástica Laboral teve seu início através da prática

profissional de um único autor, com curto período de duração. Para Gonçalves, tal autor não

pôde afirmar os benefícios atribuídos a esta prática, pois as fontes analisadas demonstram a

falta de evidências que comprovem os resultados divulgados. A autora ainda questiona a

fragilidade dos instrumentos utilizados para avaliação dos resultados com a Ginástica Laboral.

Alvarez (2002) corrobora enfatizando que é preciso dar mais atenção e realizar mais

pesquisas com controle estatístico, com estudos que mostrem os resultados do Programa de

Ginástica Laboral voltadas para a saúde dos trabalhadores, para que realmente se possa

entender o quanto estes programas influenciam na qualidade de vida dos trabalhadores.

Por outro lado, Mendes & Leite (2004) defendem que a Ginástica Laboral, apesar de

nova, busca embasamento em diferentes áreas, como na tecnologia, no sedentarismo, no

histórico da Revolução Industrial, na qualidade de vida no trabalho e nas relações de saúde e

trabalho. Para Lima,

mesmo que ainda exista a necessidade de ampliar os estudos sobre seus benefícios, é um programa que estimula a diminuição do sedentarismo com a mudança do estilo de vida, conscientizando os trabalhadores sobre a

9 A avaliação ergonômica faz uma análise minuciosa do comportamento dos homens em situações de trabalho, que permite identificar e eliminar as causas mediatas de acidentes, doenças e sobrecarga de trabalho que geram situações penosas (COUTO, 1996).

62

importância da movimentação natural do corpo, conservação da postura e sua saúde, tão fundamentais para sua performance profissional (2005, p.229).

Assim, afirma a autora que “a partir da diminuição do sedentarismo, do controle do

estresse e da melhoria da qualidade de vida, o aumento da performance profissional, pessoal e

social ocorrerá naturalmente” (LIMA, 2005, p.7). Na mesma linha, segundo Souza & Jóia

(2006), a prevenção do sedentarismo e das doenças cardiovasculares já são motivos

satisfatórios para se afirmar que a Ginástica Laboral produz melhor qualidade de vida. Nas

palavras das autoras, isso se aplica à condição psicológica de uma pessoa por promover

aumento da auto-estima e da auto-confiança e, conseqüentemente, no âmbito empresarial

pode levar ao aumento do desempenho e da produtividade.

De acordo com Cañete,

a Ginástica Laboral aumenta a produtividade sim, tendo em vista todos os depoimentos e a explicação lógica de que, se diminui as dores, aumenta a disposição, a atenção e a concentração, ativa a mente e o corpo, reduz acidentes, afastamentos por doenças ocupacionais e a procura do ambulatório, evidentemente, reduz os custos, os erros, melhorando os resultados em quantidade e, principalmente, em qualidade (1996, p.185).

Oliveira (2002) concorda com Cañete ao afirmar que a Ginástica Laboral tem como

objetivo a promoção da saúde, melhoria das condições de trabalho, preparação

bio/psico/social dos participantes, contribuindo direta ou indiretamente para a melhoria do

relacionamento interpessoal, na redução dos acidentes de trabalho, na redução do absenteísmo

e, proporcionando aumento da produtividade com qualidade. O autor destaca que ainda se

enfrenta resistência para empregar a ginástica na empresa devido a cultura, no entanto, este

quadro já está se convertendo em função da preocupação com a qualidade de vida, segurança

e conscientização da importância da prática de atividade física na empresa. Mendes & Leite

(2004), corroboram ao afirmar que em nosso país ainda não é muito freqüente, mesmo que,

em alguns estados do Brasil exista maior incentivo a esta prática.

63

Alvarez (2002) por sua vez, destaca que apesar de diversos estudos constatarem

benefícios provenientes de Programas de Ginástica Laboral, tanto a empresa contratante

quanto a empresa contratada deve ter claro que para implantar e gerenciar este tipo de

programa é preciso conhecimento quanto à complexidade dos fatores que integram o

ambiente de trabalho. A própria autora, fez um estudo, que teve como objetivo avaliar a

implantação de um Programa de Ginástica Laboral e saúde numa empresa de grande porte e

analisar o estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores, que participam do programa há

dois anos. Dentre as conclusões chegadas, foi ressaltado que os principais motivos que

dificultam a prática da atividade física fora da empresa, são a falta de tempo, motivação e

problemas financeiros; apenas a Ginástica Laboral, fundamentada na Educação Física, não é

suficiente para promover a qualidade de vida dos trabalhadores, necessitando assim de uma

interação direta com os fatores ergonômicos do ambiente de trabalho; os trabalhadores

participantes da Ginástica Laboral apresentam menor percentual quanto ao índice de

tabagismo, consumo de álcool, níveis de estresse, obesidade e consumo diário de alimentos

gordurosos quando comparados com outros estudos.

Para Mendes (2000), a Ginástica Laboral é um programa de qualidade de vida que

passa por grande planejamento, que visa garantir o sucesso durante a implantação e

desenvolvimento da mesma. Segundo o autor, para que isto aconteça é necessário haver

mudança de comportamento e quem sabe mudança na cultura da empresa, chefia, diretoria e

seus trabalhadores. Para Lima

podemos definir a Ginástica Laboral como uma motivação consciente, pois visa um comportamento de fixação intencional do que é mais saudável para a qualidade de vida de todos, palestrando e discutindo a respeito da saúde como um comportamento atual, que levará os resultados obtidos para um futuro melhor ou não, de acordo com a opção de cada um. Dessa forma, a atividade em si é considerada recurso para chegar a resultados de saúde física e mental, e esta teoria deve ser fortemente alicerçada no conhecimento técnico dos profissionais envolvidos no programa (2005, p.50).

Cañete (1996) argumenta que a Ginástica Laboral é uma atividade física bem

orientada e fundamentada em valores éticos. No entanto, essa é uma afirmação perigosa, uma

vez que não se pode garantir que a Ginástica Laboral será sempre bem orientada e firmada em

64

valores éticos. Vale lembrar que Longen (2003) chama a atenção para a falta de preparação

dos profissionais envolvidos quando cita como exemplo a postura de um médico do trabalho,

que atribuiu aos exercícios a capacidade de substituir tratamentos. Sendo que, como já foi

exposto, não se pode atribuir toda a responsabilidade ao programa, uma vez que existem

outros fatores determinantes. Cañete continua sua argumentação em favor da Ginástica

Laboral afirmando que ela é uma prática educativa que tem como objetivo o desenvolvimento

do ser humano em todos os aspectos de forma criativa, tendo todas as condições de beneficiar

indivíduos e organizações.

A Ginástica Laboral pode ser um programa sócio-educativo desenvolvido por meio

de exercícios realizados de forma sistemática, lúdica, voluntária e coletiva pelos trabalhadores

no tempo e local de trabalho. Nesse sentido, pode proporcionar melhoria da qualidade de vida

no trabalho, bem como, motivador para um estilo de vida mais ativo, com objetivo de

proporcionar melhor qualidade de vida para os trabalhadores e, conseqüentemente, o

fortalecimento da empresa.

2.4 Atividade física X saúde

Em boa parte das publicações acadêmicas relacionadas à atividade física e à saúde se

percebe a busca de uma relação de causa e efeito, entre elas, quase natural. Tanto que, de

acordo com Bagrichevsky & Estevão (2005), as abordagens investigativas que tratam da

saúde na Educação Física, ainda parecem priveligiar olhares que buscam explorar muito mais

os aspectos biológicos, em detrimento aos elementos sócio-culturais e econômicos no

processo saúde-doença. Nesta tendência a relação que predomina é a atividade física

associada à saúde, a qual vem sendo enunciada, como conseqüência de causa e efeito, ou seja,

a saúde entendida como conseqüência, quase exclusiva, da prática regular de atividade física.

Palma (2001) critica quem considera que a prática da atividade física por si só gera

saúde a seus participantes, pois ele entende que isto seria desconsiderar a possibilidade de isso

realmente ocorrer ou se a procura pela atividade física se deve ao fato destes indivíduos serem

65

saudáveis10. Mira (2003) lembra que é preciso considerar que indivíduos previamente

saudáveis é que buscam a prática da atividade física e não ao contrário, levando, portanto, em

consideração também o aporte nutricional e financeiro, bem como a disponibilidade de tempo

para tal. O autor considera ainda que

[...] no atual estado da arte, a afirmação de que o exercício físico constitui um fator de saúde e prevenção de doenças – para pessoas previamente saudáveis e normalmente ativas – está ancorada em critérios de valor mas não em fatos científicos. Ou dito em outras palavras, entre exercício físico e saúde existem inter-relações, interações, retroações complexas e recíprocas, mas não uma relação positiva de causa-efeito. De maneira geral, é a saúde que conduz à atividade e ao exercício físico e não ao contrário (2003, p.169).

O mesmo autor argumenta que a divulgação de possíveis efeitos de prevenção dos

exercícios sobre a saúde de pessoas ‘ativas’ não passa de uma hipótese otimista, pois a

interação entre os dois fatores não pode ser compreendida de forma linear e determinista.

Com isso Mira (2003) não nega que o sedentarismo representa um fator de risco para as

doenças não transmissíveis. Também não descarta os exercícios físicos no tratamento e na

recuperação de algumas doenças e fatores de risco, além de afirmar que estes podem ser úteis

tanto educacional quanto socialmente. Além disso, o autor considera que os exercícios físicos

podem ser bons para o equilíbrio psicológico, inclusive chegando a contribuir na auto-estima

e bem-estar de muitos indivíduos.

No entanto, afirma o autor, há necessidade de se analisar, de uma maneira mais

criteriosa, o exagerado otimismo que muitos leigos e até especialistas costumam destinar ao

defender o exercício físico como fator de saúde. Percebe-se este “exagero”, no dia-a-dia,

quando o exercício físico é colocado como gerador de saúde não levando muito em

consideração o tipo de atividade física e acompanhamento desta. Esperando, assim, resultados

de uma prática recente e às vezes inadequada. Não tendo o imediato retorno da prática, muitas

vezes apontada como a solução, estas pessoas podem acabar desistindo das atividades,

chegando a questionar os efeitos benéficos a elas atribuído.

10 Esta expressão quer dar o entendimento de serem pessoas que não apresentam nenhuma patologia/enfermidade antes de começar um programa de exercícios (MIRA, 2003).

66

Para Fraga (2006), convencer as pessoas a terem uma vida fisicamente ativa é hoje

uma das formas mais pertinentes de trabalhar no campo da Educação Física, porque isso

significa agir a partir de um ditado praticamente inquestionável, conhecimento partilhado

como referência fundante da área entre diferentes grupos e orientações teóricas, que pode ser

elaborado da seguinte forma:

atividade física traz saúde; falta de atividade física gera riscos à saúde. Qualquer proposição em contrário soa estranha, já que na Educação Física se aprende e se ensina que fazer atividade física ajuda a prevenir doenças, mas pouco se crê que em algumas situações deixar de se exercitar também pode ser uma questão de saúde. Ex: anorexia e bulimia. Há pouco espaço para pensar em um modo de educar o corpo, independentemente dos objetivos específicos, sem de algum modo incentivar a atividade física, especialmente quando a saúde se torna o ponto de convergência dessa pedagogia (2006, p.43).

Ferreira defende que “o exercício físico deve ser encarado como um meio potencial

para se contribuir positivamente para a saúde, quando praticado de forma correta e adequada”

(2001, p.43). Em contrapartida, chama a atenção de associações diretas entre exercícios

físicos e saúde, como se a primeira fosse a causa da outra. Nesse sentido, toma emprestada a

expressão utilizada por Sobral (1990) que afirma que tal “associação sem reservas” tende a

nos “levar ao campo do otimismo ingênuo”. Já que, como já foi expressado, há outros fatores

em jogo.

Por outro lado, pode-se questionar a “saúde” de um atleta de alto rendimento, pois

ele é treinado para dar resultados, precisando dar o máximo de seu potencial para vencer e se

sobressair. Vale lembrar que muito se ouve falar em atletas com lesões, podemos citar

jogadores de futebol, tênis, basquete, atletas de ginástica olímpica, entre muitos outros.

Entretanto, isso não quer dizer que todo jogador de alto rendimento terá seqüelas, pois não se

acredita na relação de causalidade. Ferreira (2001) fazendo referência ao texto de Meeusen et

al. (1992) afirma que esse é um exemplo que dismistifica a relação direta entre exercício e

saúde, ao apresentar estudos em que o treinamento ao qual os atletas de alto rendimento são

submetidos pode levar, anos mais tarde, a seqüelas do organismo.

67

De acordo com Solomon (1991), citado por Fraga,

algumas pessoas que se exercitam vivem muito, outras, não; algumas pessoas sedentárias morrem cedo, outras vivem até o seu limite biológico. Existe quase a mesma relação entre atividade e longevidade do que a que se pode constatar comparando-se a quantidade de pudim que as crianças comem com a probalidade de elas virem a ter sarampo – isto é, nenhuma. Essa é a interpretação mais sensata dos resultados “conflitantes” de todos os estudos (2006, p.52).

Bagrichevsky & Estevão (2005) destacam que o entendimento da saúde como

conseqüência, quase exclusiva, da prática regular de atividade física traz implicações para o

campo do conhecimento e da intervenção, pois esta interpretação adota um olhar parcial e

distorcido da realidade, não levando em consideração outros fatores relevantes, aos quais as

pessoas estão submetidas e que não podem ser dissociadas de seus cotidianos, como: “a

distribuição da renda populacional, nível de (des)emprego, condições sanitárias básicas,

condições de moradia e alimentação, grau de escolaridade, (in)disponibilidade de tempo livre,

acesso a serviços de saúde e educação, entre outros” (2005, p.66). Para estes autores, tais

aspectos também determinam as condições da vida humana e, por isso, precisam ser

igualmente considerados.

Palma (2001) defende que não se pode mais acreditar num modelo determinista

biológico, nem tampouco, como lembra Navarro (1998), em outro modelo determinista, do

tipo “se as condições socioeconômicas são baixas, a prevalência de doenças será alta”. O

autor afirma que mesmo que alguns posicionamentos anteriores apontem para outra direção, é

preciso perceber que a realidade não é linear, mas sim dialética, o que indica que o foco de

atenção deve ser desviado do individual para o coletivo. Palma conclui com base em Navarro

(1998), que

não são os fatores de risco individuais que são as potentes causas de doenças, mas o impacto de inúmeras variáveis, tais como salários, educação, moradia, ocupação etc., que, combinadas entre si, com os fatores de risco biológicos e com as condições que geram estes mesmos fatores de risco, podem engendrar o processo de adoecimento (2001, p.35).

68

Militão enfatiza que apesar dos diversos estudos que demonstram a importância da

atividade física para a saúde e da divulgação através da mídia dando ênfase aos benefícios,

muitas pessoas ainda adotam hábitos sedentários. Barros & Nahas (2001) realizaram um

estudo em Santa Catarina com uma amostra de 4.225 trabalhadores, constatando que 46,2%

não realizavam atividades físicas no lazer (67% das mulheres e 34,8% dos homens). A

prevalência de sujeitos insuficientemente ativos no lazer, além de ser maior entre as mulheres,

aumentou proporcionalmente com a idade, independentemente do sexo. Para ambos, homens

e mulheres, um maior número de filhos e menor nível educacional e econômico foram

associados à maior proporção de insuficientemente ativos no lazer.

Ferreira aponta para alguns motivos do sedentarismo, dando o exemplo de

um(a) cidadão(ã), residente na periferia de um grande centro urbano, que diariamente acorda às 5:00h para trabalhar, enfrenta em média 2 horas de transporte público, em geral lotado, para chegar às 8:00h no trabalho. Termina o expediente às 17:00h e chega em casa às 19:00 para aí sim, cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos etc. Como dizer a essa pessoa que ela deve praticar exercícios, pois é importante para sua saúde? (2001, p.48).

A partir do exemplo, o autor levanta questionamentos sobre a dificuldade de abordar

e convencer a classe trabalhadora com uma rotina deste tipo a praticar alguma atividade física.

Afirma que “nesse caso, a abordagem individual ao problema tende a fazer com que a pessoa

se sinta impotente em não conseguir praticar exercícios e, conseqüentemente, culpada pelo

fato de ser ou estar sedentária” (2001, p.48).

Esta realidade citada por Ferreira ocorre muito frequentemente em nossa sociedade,

pois uma grande parte das mulheres tem dupla jornada de trabalho, até tripla, pois trabalham

fora e quando chegam em casa tem todos os afazeres domésticos para fazer e os filhos para

dar atenção. Muitas mulheres “optam” por cuidar da casa e dos filhos no lugar de fazer

alguma atividade, pois se referem ao pouco tempo que passam com os filhos, dizendo que

quando percebem eles estão grandes e não acompanharam o crescimento. Os homens por sua

vez, mesmo auxiliando nos afazeres domésticos e na educação dos filhos geralmente não

colocam sobre si a responsabilidade destas tarefas, bem como, tendem não as ter como

69

prioridade (a mulher na maioria das vezes assume esse papel), conseguindo dar-se um tempo

maior para o lazer e/ou atividade física. O maior exemplo disso é o futebol semanal com os

amigos, no qual além de dribles, trocam idéias, piadas e compartilham “uma gelada”.

Vilarta & Gonçalves (2004) afirmam que a qualidade de vida no ambiente de

trabalho sofre influência do lazer ativo, no entanto é mais presente nos homens do que nas

mulheres, principalmente entre as que são casadas, têm filhos e afazeres domésticos. Para os

autores, a maioria dos homens pratica algum tipo de atividade física no decorrer da semana,

ou ao menos nos finais de semana, tendo preferência pela prática do futebol. Os autores

afirmam que o tempo disponível para o lazer ativo das mulheres é praticamente zero.

A atividade física é uma parte integral e complexa do comportamento humano, que

envolve componentes culturais, sócio-econômicos, psicológicos e depende de vários fatores

como o tipo de trabalho, tipo físico, personalidade, quantidade de tempo livre, possibilidades

de acesso a locais e instalações esportivas, entre outros (BARBANTI, 1990). Bagrichevsky &

Estevão confirmam que não é equivocado conjectuar que os discursos e iniciativas dos

programas de promoção da atividade física, ditos para a população, “possuem na verdade,

alcance e efetividade limitados a um nicho bem restrito da mesma, levando-se em conta as

péssimas condições de vida da maior parte dos brasileiros, em que ainda hoje, persevera um

quadro estarrecedor de pobreza e iniqüidades generalizadas” (2005, p.67). Assim, o acesso

aos espaços para prática de atividades físicas e desportos, como academias de ginástica,

clubes, é delimitado por algumas características do público freqüentador, cujo perfil

geralmente é de pessoas com maior poder aquisitivo.

É comum programas de conscientização da necessidade de atividades físicas para a

saúde, com o objetivo de aumentar a prática de atividade física das pessoas, bem como,

modificar os hábitos não muito saudáveis. Segundo Fraga (2006) e Freitas (2007), no Brasil é

conhecido o “Agita São Paulo”, que foi lançado oficialmente pelo Governo do Estado de São

Paulo em dezembro de 1996. Ele é fruto de um convênio entre o Centro de Estudos do

Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISC) e a Secretaria de Saúde

daquele estado. Este programa foi criado para combater o sedentarismo no Estado de São

Paulo promovendo atividades físicas, bem como, conhecimentos dos benefícios de um estilo

de vida ativo.

70

De acordo com os autores o programa recomenda que as pessoas realizem cerca de

30 minutos de atividade física, na maioria dos dias da semana, em intensidade leve ou

moderada, podendo ser de forma contínua ou acumulada. Deve abranger três ambientes

básicos: nas atividades domésticas, no transporte e no lazer, como por exemplo, subir e descer

escadas em vez de utilizar o elevador, caminhar em vez de usar transportes, entre outros. O

programa está baseado em uma rede de parcerias com diferentes instituições e organizações,

assim como, profissionais da saúde e mídia. Trabalha com a idéia de capacitação de

multiplicadores e divulgação do programa nas entidades envolvidas e fora delas, promovendo

eventos e palestras que enfoquem a atividade física, assim como, distribuição de material

promocional (selos, adesivos, bonés), panfletos, faixas, cartazes com mensagens do programa

(FRAGA, 2006; FREITAS, 2007). De acordo com Fraga

essa sutil, mas fundamental, inversão na ordem de prioridades implicou um modo de governar os corpos que depende muito mais da habilidade persuasiva para convencer os sujeitos a adotarem um estilo de vida ativo do que da organização, condução e manutenção de espaços concretos destinados à prática de exercícios físicos. A responsabilidade dos programas passou a ser com a disseminação do ‘palavreado da vida ativa’ nas estruturas existentes, ficando a execução por conta e risco de cada sujeito capturado por esse discurso. Dentro desse novo modelo, não há como ampliar a participação geral em atividades físicas sem passar por um processo de ‘inoculação’ da mensagem da vida ativa, sem investir em mecanismos de multiplicação de seus ‘agentes transmissores’ (2006, p.25).

Para Ferreira, essa estratégia “restringem-se a ações individuais, o que concorre para

a ‘culpabilização da vítima’. Em alguns casos, a individualização do problema é tão acintosa

que acaba por camuflar os determinantes sociopolítico-econômicos da situação” (2001, p.47).

O mesmo autor, enfatiza que não se trata de seguir uma abordagem determinista, em que se

considera as pessoas incapazes de buscar melhores condições de vida, muito menos se

desconsidera que a mudança do nível de atividade física da população, assim como de muitas

condições desfavoráveis à saúde, passa também pela modificação de comportamentos

individuais. Para Ferreira

71

estratégias desse tipo, que não prevêem ou apontam ações concretas para a superação de uma realidade socioeconômica adversa, podem ser consideradas estéreis ou paliativas. Isso porque, ao mesmo tempo em que alguns indivíduos podem se sensibilizar pela mensagem do exercício e se engajar numa prática continuada, inúmeros outros são levados pelas condições socioeconômicas a distanciarem-se dessa prática (2001, p.48).

Bagrichevsky e Estevão fazendo referência ao texto de Castiel & Silva (2004)

escrevem que esses

programas institucionais, que têm sido difundidos também por meio de campanhas publicitárias, buscam enfatizar a exercitação corporal como parte essencial de um ‘estilo de vida’, outorgando-lhe um caráter de ‘estatuto’ ou ‘modelo’ individualista a ser seguido, diante da ênfase de combate ao sedentarismo e, ao despejarem um vasto repertório de comportamentos recomendáveis à saúde, ignoram as injunções sócio-políticas e financeiras do país, nas quais está mergulhada a nossa coletividade (2004, p.67).

Fraga (2006) valendo-se de Junior & Gonçalves (2001) analisa a propagação da

importância da prática da atividade física mesmo em um país como o Brasil, com tantas

diferenças sociais. A conclusão é de que na verdade o programa gera grande movimento na

mídia, de convencimento da necessidade da participação, mas o resultado final é de culpa e

medo pois, “poucos são os que atendem aos chamados e menos ainda os que mantêm ativos’”

(p.12). Netto & Persijn (2002 apud FRAGA, 2006), depois de participarem de uma oficina

para à formação de multiplicadores do Agita São Paulo, publicaram um artigo com

considerações críticas deste programa,

suspeitavam da efetividade dos propalados benefícios fisiológicos à saúde atribuídos aos trinta minutos de atividades físicas compulsórias, repudiavam a subordinação do conteúdo curricular da Educação Física escolar às premissas do programa, lamentavam a destinação de verbas públicas da saúde para algo que consideravam inócuo do ponto de vista sanitário e, por fim, enfatizavam o caráter elitista, excludente e conservador do status quo vigente embutido na versão federal ao Agita São Paulo (2006, p.12).

72

Fraga (2006), ainda se referindo ao Agita São Paulo, sustenta que, por mais

“paradoxal” que possa parecer esse programa, não estava aumentando a prática da atividade

física entre a população. No entanto, estava divulgando a sua existência e fazendo circular sua

mensagem nos meios de comunicação. Para o autor, este tipo de programa “busca enraizar a

crença de que a informação, mais do que o exercício físico em si, é um dos meios mais

eficazes de educar para uma vida fisicamente ativa e de diminuir o número de sujeitos

sedentários” (2006, p.25).

Percebe-se que muitos programas estão sendo implantados, com o objetivo de

incentivar a prática da atividade física, assim, um estilo de vida mais ativo. De acordo com

SESI (2007) uma parceria entre o SESI-SC e o Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e

Saúde-NuPAF, da Universidade Federal de Santa Catarina, implantou o primeiro programa

com abrangência estadual de promoção de saúde do trabalhador da Indústria, o “Lazer Ativo”.

Trata-se de um programa de promoção de um estilo de vida ativo, considerado como elemento

fundamental para a saúde e a qualidade de vida do trabalhador da indústria e seus familiares.

Este programa é baseado na informação, estímulo e criação de oportunidades para que as

pessoas possam modificar comportamentos de risco à saúde, passando a adotar estilos de vida

mais ativos e saudáveis.

Pelos exemplos expostos, pode-se verificar que a informação é imprescindível, mas

não o suficiente, uma vez que o acesso às atividades é fundamental para viabilizar a prática da

atividade física. No programa Agita São Paulo observa-se a preocupação de informar sem,

todavia, levar em consideração os meios de alcançar os objetivos. Já no programa Lazer Ativo

verifica-se uma maior inclinação ao acesso das pessoas e uma preocupação com as

necessidades destas. Sem, contudo, menosprezar a informação e a sensibilização para a

prática de uma atividade física em prol da saúde.

No que concerne a programas voltados às empresas, Siegel & Santos (2006)

ressaltam que é possível afirmar que as melhores empresas para se trabalhar, são as que

oferecem a seus funcionários atividades para manter o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Empresas que proporcionam ao seu quadro funcional o estímulo para desenvolver atividades

voltadas para a saúde física e mental, disponibilizando clube com quadra e piscina para a

prática de esportes; aulas de dança e academia de ginástica; quadra poliesportiva; olimpíadas;

Ginástica Laboral; subsídios para a prática de atividades esportivas; torneios com várias

modalidades esportivas e escolinha de esportes para filhos de funcionários.

73

Siegel & Santos (2006) reportam-se a Grando (1998) que faz uma reflexão sobre o

esporte e o lazer como uma das alternativas mais agradáveis e salutares para descarregar as

tensões da automatização industrial, o serviço de esporte e lazer da empresa ou associações

tem como propósito preencher um espaço até então pouco explorado. O mesmo autor destaca

que algumas pesquisas sobre os benefícios dos esportes na empresa foram realizadas pela

Fundação Ishikawajima do Brasil – Estaleiros S.A. (ISHIBRÁS) comprovando que após o

início das atividades “verificou-se um acentuado decréscimo no número de contusões

causadas pelo esforço físico sem preparação, baixos índices de absenteísmo, acidentes,

reclamações trabalhistas e rotatividade de funcionários” (p.79). O mesmo autor realizou uma

pesquisa em uma organização industrial da cidade de Blumenau/SC, para verificar a

influência de atividades esportivas e recreativas orientadas no índice de produtividade. Os

dados da pesquisa revelam, que no dia seguinte as atividades esportivas e recreativas, os

funcionários ficavam mais dispostos no seu ambiente de trabalho, que além do

desenvolvimento de suas potencialidades físicas, a prática dessas atividades trouxe satisfação

pessoal,.e ainda, apresentou-se um maior índice de produtividade, confirmando a hipótese de

que esporte e produtividade são fatores que mantêm estreita relação.

Conforme Lima (2005), o objetivo destes programas de qualidade de vida no

trabalho com atividade física é criar o hábito desta atividade no dia-a-dia destes indivíduos.

Corroborando, Mendes (2000) destaca, que esta iniciativa tem como objetivo prevenir,

combater e/ou reabilitar doenças crônico-degenerativas, tais como, o sedentarismo, as doenças

hipocinéticas, assim como, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, promovendo

atividade de lazer. De acordo com o autor, muitas pessoas se deparam com dificuldades

financeiras e falta de tempo para a prática de atividade física regular. Assim, várias empresas

estão construindo salas de ginástica e musculação nas instalações da própria empresa, o que

tem facilitado a prática de atividade física e lazer dentro das empresas antes, durante ou após

o expediente de trabalho, bem como, nos finais de semana.

Desta forma, se a empresa optar em oferecer, além da Ginástica Laboral, um espaço

para fazer outras atividades, como uma sala de ginástica, musculação, aeróbica, entre outros,

estará beneficiando o seu colaborador, pois assim, ele não precisará se deslocar para outro

lugar. Vale ressaltar, que este benefício em ter uma academia no próprio local de trabalho não

é a realidade da maioria das empresas, acredita-se ainda ser restrita a poucas. No entanto,

muitas empresas tem Associação dos Funcionários, que disponibilizam aos funcionários e

74

familiares fora do horário de trabalho, um espaço amplo para prática de diversas modalidades

e atividades de lazer.

Siegel & Santos (2006) observam que as empresas comprometidas com saúde do

trabalhador acreditam que a atividade física seja fundamental para melhorar a qualidade de

vida e, por isso, investem para que esta prática se incorpore na vida de seus funcionários. Os

autores acreditam que as empresas podem atuar como facilitadores para tornar seus

funcionários mais saudáveis, através de eventos esportivos internos, convênios com locais que

ofereçam condições para prática de atividade física, bem como, instalação de centros de

condicionamento físico internos.

A prática de atividade física na empresa através da Ginástica Laboral, academia,

Associação dos Funcionários, bem como, eventos organizados por ela, pode ser uma

importante alternativa para a saúde do trabalhador e uma melhor qualidade de vida deste. Isto

porque é um momento de integração com colegas, chefias e familiares, bem como, um

momento de descontração e lazer, tornando assim, a atividade física significativa para a

pessoa e através do acesso a esta, poderá incluí-la para o seu dia-a-dia.

Todavia, apesar de sua curta duração (10 a 12 minutos) a Ginástica Laboral é uma

oportunidade de levantar um pouco da cadeira, esquecer o trabalho por alguns instantes,

alongando e relaxando por alguns minutos. Isto porque esta atividade pode ser a única

atividade física de muitas pessoas, é uma forma de se exercitar. Contudo, vale destacar que

ela não substitui a necessidade de procurar fazer outras atividades fora do ambiente de

trabalho.

2.5 Programa de Ginástica Laboral e aderência

Algumas empresas, de alguma forma estão comprometidas com a qualidade de vida

no trabalho, acreditam que a Ginástica Laboral pode ser uma alternativa e estão investindo

para que esta prática seja constante na vida de seus funcionários. Para Lima (2005) a

Ginástica Laboral inserida em um programa de qualidade de vida é tomado como um

75

importante componente na promoção do equilíbrio físico e emocional, podendo ser não só

mais um item, como também o início de uma série de ações dentro de uma organização.

Porém, percebe-se que às vezes, a participação e o comprometimento das pessoas envolvidas

não é o esperado.

Em um estudo, Soares, Assunção & Lima (2006) buscaram reunir elementos para

analisar a baixa adesão ao Programa de Ginástica Laboral que foi implantado pelo Comitê de

Ergonomia de uma empresa, após solicitação dos funcionários. Os autores afirmam que,

apesar da maioria destes funcionários reconhecer a importância dos objetivos do programa, a

adesão as sessões de Ginástica Laboral sempre foi baixa. As respostas ao questionário e às

entrevistas abertas mostraram que as razões da recusa da Ginástica Laboral, embora comuns,

são hierarquizadas segundo a singularidade de cada indivíduo. Assim, como, a implantação da

ginástica sem reorganização do trabalho pode provocar constrangimentos aos trabalhadores

De acordo com Souza & Jóia (2006) o funcionário não deve ser forçado a participar

da Ginástica Laboral, se ele optar em não participar, sua decisão deve ser respeitada, para que

não seja submetido a uma pressão psicológica, comprometendo, assim, os benefícios da

atividade. Para as autoras é fundamental o incentivo associado à informação que respondam

“para quê” e “o porquê” de aderir ou não a esta atividade. Os mesmos autores acreditam que o

conhecimento quanto aos perigos e conseqüências das LER/DORT, por exemplo, pode

contribuir para a adesão dos funcionários às medidas preventivas propostas, assim como, a

atividade física para além do espaço de trabalho e da própria Ginástica Laboral.

Nas palavras de Longen, o Programa de Ginástica Laboral deve prezar pela

expressão e iniciativa própria do trabalhador, não pode ser imposta como uma tarefa a mais a

ser realizada na jornada de trabalho. Para o autor

a privação das manifestações espontâneas, a rigidez do sistema produtivo e o controle rígido sobre as atividades, são comprovadamente fatores contributivos para a gênese de LER/DORT, com isso a Ginástica Laboral não deve ser mais uma forma de opressão no trabalho11 (2003, p.115).

11 Vivemos a fase do pós-moralismo, em que, os deveres para consigo próprio foram transformados em direitos subjetivos. Nenhum benefício é mais visto como uma obrigação, o fundamental é ser um profundo conhecedor de si próprio.

76

Na maioria das empresas, observa Cañete, não é obrigatória a participação na

Ginástica Laboral, mas muitas pessoas participam da atividade porque a empresa teve a

iniciativa. Nas palavras da autora, “percebe-se que a relação predominante é autoritária e que

os papeís estão bem definidos e arraigados, sendo difícil mudar, principalmente quando quem

detém o poder e a autoridade não se propõe a isso” (1996, p.184).

De acordo com Lucchese, por seu histórico, a Ginástica Laboral é uma prática

voluntária, a participação do trabalhador constantemente segue a sua motivação. Para a autora

“caberá a um profissional capacitado, baseado em sua formação didática, construir estratégias

motivacionais que atraiam o trabalhador para a pausa ativa no trabalho, sem que este

necessariamente se sinta improdutivo” (2007, p.13).

Longen, por sua vez, realizou um estudo em uma empresa do ramo alimentício que

implantou o Programa de Ginástica Laboral. Após a decisão de implantá-lo o responsável

pelo programa organizou palestras sobre os objetivos, com o propósito claro de promover a

adesão geral e criar a relação de compromisso dos funcionários com o programa. De acordo

com o mesmo autor,

ao final de cada palestra, e para cada grupo de funcionários, o Técnico de Segurança da empresa apresentava um termo escrito, sendo que o funcionário que não tivesse intenção de participar do programa, deveria assinar. Basicamente o termo trazia que o funcionário em questão, por livre e expontânea vontade recusava-se a realizar os exercícios no ambiente de trabalho. Na época e mesmo ao longo dos dois anos seguintes à implantação do programa, não houve registro de nenhuma assinatura do termo, ficando assim todos os funcionários comprometidos em realizar os exercícios (2003, p.90).

Percebe-se que o método utilizado pela empresa acima referida, de certa forma

pressiona os funcionários a participar das sessões de Ginástica Laboral12. Desta forma, a

obrigatoriedade e o uso de autoridade podem não ser muito indicados, o que não significa

ausência de organização, regras, limites e orientação durante o processo.

12 Forma da empresa se desresponsabilizar por problemas futuros decorrentes de lesões ocasionadas pelo trabalho.

77

Corroborando, Vilarta & Gonçalves (2004) afirmam, esses programas podem trazer

resultados positivos se a gerência da empresa incentivar seus funcionários para participarem

dos programas e ceder flexibilidade nos horários de trabalho que permitam a prática da

atividade física durante o expediente. Os autores destacam ainda, que

os empregados devem sentir que o programa serve a seus interesses e que podem usufruir de todos os benefícios que o compõem. Esse sentido de propriedade pode ser fortalecido com o sigilo sobre os dados de saúde do empregado e envolvendo os trabalhadores no gerenciamento e na execução do programa (2004, p.135).

Lima (2005), chama a atenção para o fato que durante o processo de implantação do

Programa de Ginástica Laboral existem trabalhadores que praticam ou praticaram esportes,

que com maior facilidade, apoiam o programa e o compreendem como uma alternativa para

melhor qualidade de vida, uma garantia para saúde física e mental. Em contrapartida, algumas

pessoas podem apresentar dificuldades para se adaptar às novidades, considerando todas essas

mudanças no seu cotidiano uma ameaça e reagir sem mesmo perceber ou não conseguindo

evitar a relação. Para a mesma autora,

algumas pessoas diante do “novo” reagem positivamente: “que bom, agora vamos ter ginástica”?; outros reagem com dúvida: “mas 5 ou 10 minutos são suficientes? Dará algum resultado?”. Há ainda aqueles que reagem com timidez: “ai, eu nunca fiz nada disso, eu não sei fazer”; e de forma ainda mais defensiva e negativa: “eu não quero participar” (2005, p.40).

A autora complementa que, quando chega a proposta de parar cinco minutos para

realizar movimentos, cujos resultados podem aliviar o estresse, as pessoas se justificam diante

da situação. Alguns dizem: “eu não posso parar, tenho trabalhos urgentes”, esquecendo que só

estão procurando mais um motivo, dentre tantos, para acumular tensões e gerar o estresse.

Para a mesma autora, durante a Ginástica Laboral, o trabalhador passa por um processo de

mudança, no qual algumas pessoas podem apresentar dificuldades para se adaptar com

rapidez às novidades.

78

Assim como alguns trabalhadores podem ser resistentes à prática desta nova

atividade, sabe-se também que o ritmo de trabalho também pode ser um fator para a não

participação e comprometimento destes trabalhadores. Os funcionários tem metas para atingir,

prazos a cumprir, geralmente dando prioridade ao seu trabalho e conseqüentemente,

esquecendo-se do próprio corpo. Vale salientar que se o funcionário tem tal postura, talvez

seja porque a própria empresa prioriza o seu trabalho, sem estar realmente preocupada com a

saúde.

Nesse sentido, Soares, Assunção & Lima apoiam-se nos apontamentos feitos, sobre o

assunto, por Lima (2000) no qual este defende que

[...] durante a realização de um trabalho, as exigências de uma tarefa e a atividade em curso tendem a prevalecer sobre a “consciência corporal”. De certa forma, estar envolvido com um trabalho que exige atenção ou pressa requer que esqueçamos do corpo próprio, fixando a consciência no trabalho, seus instrumentos e objetos (2006, p.153).

Bigolin confirma que

geralmente, a prioridade para os trabalhadores é o desempenho das atividades, e o corpo é colocado em um plano secundário. Isto é demonstrado na falta de atenção ao corpo durante o trabalho, na necessidade que desenvolve de um corpo sadio para possibilitar a produtividade, e na obrigação que eles têm com o cumprimento dos prazos das tarefas. No momento em que negligenciam o próprio corpo no trabalho, também anulam-se como sujeitos (2002, p.52).

Para a mesma autora, o tempo é dedicado exclusivamente para o cumprimento das

tarefas, pois trabalham contra o tempo e sob pressão do cumprimento dos prazos. A atividade

que o trabalhador desempenha pode envolvê-lo de tal maneira que nem mesmo percebe os

movimentos que realiza e as posturas que adota. O que faz lembrar da existência do corpo,

pode ser a presença de desconforto ou dor. A autora afirma, “o corpo está subjugado ao

trabalho, ou seja, primeiro o trabalhador executa bem as tarefas, depois pensa nas

79

conseqüências para a saúde. Eis o grande desafio: educar o trabalhador para ‘priorizar-se’

como ser humano, em detrimento das tarefas a cumprir” (2002, p.54). Para a autora, a saúde,

mesmo lembrada, não recebe a atenção que deveria, “para os trabalhadores, a prioridade ainda

é o trabalho, mesmo que isso implique danos para a saúde. Enfatizam que hoje estabelecem o

trabalho como prioridade em suas vidas, independente do dano que possa estar causando”

(2002, p.57). Talvez um dos motivos possa ser a instabilidade no emprego, a insegurança, o

medo de perder o emprego.

Sob a mesma ótica Shibuya (2008) afirma que muitas pessoas em fase de carreira

ascendente, consideram-na como uma etapa de sacrifícios e esforços para plantar o futuro,

razão pela qual deixam de viver, ou adiam seus projetos de desfrute para o futuro. Para muitos

destes, destaca a autora, a “história da cigarra e da formiga” é um exemplo, bem como, um

modelo a ser seguido. De acordo com a autora é importante compreender o momento e vivê-

lo na sua plenitude, por isso a importância do equilíbrio entre o trabalho e o desfrute. Moreira

confirma que

a nossa estrutura social e o nosso modo de vida ocidental faz com que nos prendemos ao rendimento, como um dos valores mais importantes: “uma pessoa” “vale o quanto rende”, render, é óbvio, significa produzir mais, ter um lucro maior, conotações essas que desprezam os corpos que rendem menos (2003, p.86).

Para Sant’Anna (1997), muitos médicos do passado consideravam o corpo um

conjunto de segmentos capazes de tornar funcional a anatomia humana. Segundo a autora,

com o desenvolvimento industrial, a funcionalidade não poderia deixar de ser, um valor de

grande importância para o mundo do trabalho. Assim, cada vez mais o ideal de um corpo

funcional tende a se associar à necessidade de ser rentável e produtivo. Para a autora os

homens e mulheres precisam reduzir cada vez mais suas perdas físicas e aumentar seus níveis

de produção e de energia. Ela afirma ainda que

ficamos, assim, diante de uma situação paradoxal: se, por um lado, nunca o corpo foi tão explorado, investigado e modificado segundo as leis do mercado global; por outro, jamais, como em nossos dias, o homem

80

conheceu tantas possibilidades de escolher entre as centenas de produtos e serviços destinados a fortalecer sua saúde e seu bem-estar (1997, p.276).

Para Couto (2001) o enfoque no prazer em cuidar de si próprio acompanha a

necessidade de alguns investimentos e um deles é o carinho que cada um dispensa ao corpo e

sua saúde. No entanto, para que o indivíduo possa cuidar mais do seu corpo, do seu bem-estar,

bem como, da saúde, é preciso ter condições para isso.

2.6 Profissional de Educação Física frente à Ginástica Laboral

O crescente interesse em relação aos Programas de Ginástica Laboral, que

preconizam atividades para prevenção de lesões ocupacionias, promoção da saúde e qualidade

de vida do trabalhador, faz com que os profissionais de Educação Física se mobilizem para

oferecer esta atividade, no entanto, surgiram também várias empresas/profissionais

oferecendo esses serviços. Assim sendo, percebe-se que profissionais da área de Educação

Física e Fisioterapia tentam se apropriar deste mercado, gerando uma “disputa” entre os

Conselhos de ambas as profissões, no sentido de definir quem deve trabalhar com os

Programas de Ginástica Laboral. Isto é, sabe-se de empresas nas quais o profissional de

Educação Física é responsável pelo Programa, da mesma forma que existem outras que

contratam, para tal função, profissionais de Fisioterapia.

Para Cazelato13 (2006), cada profissional tem uma formação específica, de onde vem

a sua competência. Diante da necessidade de escolher o profissional é preciso definir o

problema, isto é, verificar se a pessoa a ser atendida é sadia ou possui alguma lesão. Nesse

sentido, a autora complementa que o importante é que se trabalhe de acordo com as

possibilidades, fazendo o que é de sua competência de acordo com as leis estabelecidas e

vigentes. Para Miranda a função do profissional de Educação Física nos Programas de

Ginástica Laboral é atuar na prevenção de lesões. Nos casos de lesões já estabelecidas, para o 13 Conselheira Federal do CONFEF (Conselho Federal de Educação Física) e Presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul – CREF2/RS

81

mesmo autor, é necessária a atuação de outros profissionais da área da saúde, talvez

fisioterapeutas, ortopedistas, traumatologistas, entre outros, dependendo do tipo de lesão.

Esteves14 (2003) reitera o argumento de Miranda ao afirmar que a Educação Física

trabalha com o indivíduo saudável, trabalhando a estética, a prevenção, a atividade física como melhoria da qualidade de vida, o pilar principal da Educação Física, a Fisioterapia, até que por uma questão histórica, trabalha com a busca da cura. Na Educação Física eu tenho um cliente, e na Fisioterapia eu tenho um paciente, estas relações são diferentes, e o pilar da Fisioterapia é trabalhar na restauração de uma condição perdida, ou seja, reabilitar devolvendo a antiga condição, adaptando novas situações, lidando com a doença, curando ou pelo menos minimizando os malefícios desta doença (apud AIRES & AIRES, 2003, p.1).

Bertevello15, por sua vez, afirma não entender a dúvida de alguns profissionais (das

áreas de Educação Física e Fisioterapia) no que se refere a quem deve atuar nos Programas de

Ginástica Laboral. Levanta inclusive a hipótese de que talvez a expressão Ginástica Laboral

não seja o nome mais apropriado para esta atividade.

Quem sabe se chamássemos de Ginástica na Empresa, ou Ginástica Preventiva e de Fortalecimento. A verdade é que a Ginástica é atribuição do profissional de Educação Física, nenhum outro mais. Onde ela é praticada e para que fim, isso pouco importa, desde que, orientada por profissional com Registro no Sistema CONFEF/CREFs16” (BERTEVELLO, 2006, p.25). grifos da pesquisadora.

Esta colocação de Bertevello, suscita reflexões sobre o que é o mais importante, ter o

Registro do Conselho ou ser um profissional com qualificação e capacidade para ministrar

sessões de Ginástica Laboral, independentemente dele ser um profissional de Educação Física

ou de Fisioterapia. O reconhecimento legal deveria resultar da legitimidade conquistada nas

intervenções.

14 Fisioterapeuta e profissional de Educação Física 15 Conselheiro Federal do CONFEF 16 O corporativismo supera os propósitos inerentes a atividade

82

De acordo com Cazelato17 podem co-existir práticas da Fisioterapia Laboral e

Ginástica Laboral. A autora subentende por Fisioterapia Laboral um tratamento fisioterápico

de lesões ou patologias adquiridas ou causadas pelo trabalhador pelo desempenho de sua

profissão. Para distinguir essa intervenção é necessário um laudo de cada trabalhador que

comprove a lesão ou a patologia e assim, se estabeleça o tratamento fisioterápico adequado. A

autora destaca que esse tipo de tratamento é muito frequente, devido a diversificação e

especificidade dos movimentos exigidos pelos trabalhadores no desempenho de suas

atividades nas empresas. Assim, afirma Cazelato, o papel do fisioterapeuta é significativo para

o atendimento ao trabalhador lesionado e/ou doente. Vale destacar o Art. 3º do Decreto Lei nº

938/69, que estabelece que a atividade “privativa do fisioterapeuta é executar métodos e

técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade

física do paciente. (grifo nosso). “Paciente”, segundo o dicionário Aurélio, é a “pessoa doente,

sob cuidados médicos” (CAZELATO, 2008, p.1).

A Ginástica Laboral por sua vez, afirma Cazelato atende as necessidades dos

trabalhadores no sentido da sua preparação física, comportamental e sociocultural para os

desafios dos modernos ambientes de trabalho. Esta intervenção condizente com um programa

de saúde do trabalhador que proporciona bem-estar no trabalho, previne a ocorrência de

lesões, acidentes e o surgimento de patologias que podem surgir do trabalho. A Resolução

CONFEF nº 073/2004, que dispõe sobre a Ginástica Laboral dá outras providências, em seu

artigo primeiro, reza sobre a prerrogativa do profissional de Educação Física para o exercício

desta atividade:

Art.1. É prerrogativa do profissional de Educação Física planejar, organizar, dirigir, desenvolver, ministrar e avaliar programas de atividades físicas, particularmente, na forma de Ginástica Laboral e de programas de exercícios físicos, esportes, recreação e lazer, independente do local e tipo de empresa e trabalho. Art.2. No desempenho das atribuições dos Profissionais de Educação Física, no âmbito da Ginástica Laboral, incluem-se: I – ações profissionais, de alcance individual e/ou coletivo, de promoção da capacidade de movimento e prevenção a intercorrência de processos cinesiopatológicos (CAZELATO, 2008, p.1).

17 Este material foi enviado pelo CREF2/RS por e-mail. Vale ressaltar que a pesquisadora enviou um e-mail para o Conselho de Educação Física e Físioterapia, solicitando o posicionamento de ambos, referente a atuação destes profissionais na Ginástica Laboral. No entanto, até o fechamento deste trabalho o Conselho de Fisioterapia não se manifestou.

83

Por outro lado, Oliveira18 destaca que

a Resolução COFFITO19 Nº 08 de 20/02/1978 estabelece atos privativos do fisioterapeuta realizando citação sobre a utilização de exercícios físicos, “...prescrever, ministrar e supervisionar terapia física, que objetive preservar, manter, desenvolver, ou restaurar a integridade de órgão, sistema ou função do corpo humano, por meio de:” (art.3º) (2008, p.1).

Esteves (2003) citado por Aires & Aires (2003) parece concordar com a resolução nº

08 COFFITO à medida que afirma que a fisioterapia também atua na prevenção e nessa

discussão a Ginástica Laboral tem parte, uma vez que é a prevenção o seu maior objetivo.

Oliveira (2008) chama atenção ainda para a Lei nº 9.696 de 01/09/1998 que dispõe

sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria o respectivo Conselho Federal

e Conselhos Regionais de Educação Física. Afirma que nessa Lei não está estabelecido que a

Ginástica Laboral seja um ato privativo do profissional da Educação Física. Sendo assim, é

preciso considerar que uma Resolução não pode ferir uma Lei Federal, pois cabe ao

Congresso Nacional e não ao CONFEF a criação das leis federais.

Cazelato afirma que

a prescrição, orientação e dinamização da ginástica e do exercício físico, incluindo a Ginástica Laboral, nas suas diversas formas, manifestações e objetivos são atividades próprias do profissional de Educação Física. Porém, como somente em 1998 a profissão de Educação física foi regulamentada alguns setores da sociedade ainda desconhecem as atribuições e competências desse profissional (2008, p.2).

18 Integrante do Comite de Ética do CREFITO – Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Este material foi retirado da internet. 19 COFFITO - Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional

84

Oliveira conclui que a Fisioterapia

no uso de seus conhecimentos cinesiológicos (estudo do movimento humano) é profissional habilitado e capacitado para o diagnóstico funcional do ambiente laboral e seus integrantes, bem como a prescrição de exercícios físicos e assim, é desprovida de qualquer validade legal a disputa normativa do CONFEF de que o Fisioterapeuta não pode fazer Ginástica Laboral (2008, p.2).

Percebe-se o quanto é complexo e amplo trabalhar com programas de qualidade de

vida nas empresas, já que muitos são os aspectos relevantes ao se implantar este programa.

Nesse sentido, pensa-se que se faz importante a atuação multiprofissional, pois assim há mais

chances destes programas serem efetivamente exitosos, ou seja, mais facilmente alcançados

os objetivos. Na mesma linha Mendes (2000) afirma que o ideal seria trabalhar com uma

equipe multiprofissional, na qual o professor de Educação Física ministraria as aulas, os

exercícios físicos, visando a prevenção e a parte recreativa do programa, e o Fisioterapeuta

reabilitaria os funcionários com doenças ocupacionais.

Além dos profissionais supra citados, existem empresas que estão oferecendo a

Ginástica Laboral orientada por estagiários, bem como, outras oferecem treinamento para os

próprios funcionários, que passam a ser monitores20 da ginástica. Queiroga21 (apud CAÑETE,

1996, p.114), destaca que “originalmente a Ginástica Laboral propõe que os exercícios sejam

realizados no próprio local de trabalho e sob orientação de monitores devidamente treinados,

visando o mínimo de deslocamentos e interferências nas outras atividades da fábrica”. O autor

pensa ser fundamental a atuação do monitor, pois isto facilitará a aceitação e a adaptação das

pessoas a esta atividade. Para ele, mantendo as características do ambiente de trabalho, os

colegas e um monitor que faz parte do grupo, diminuem os fatores que podem aumentar a

resistência a uma nova atividade, no caso a Ginástica Laboral. Vale dizer que, segundo

Queiroga é necessário estar consciente de que vão existir resistências em alguma medida, o

20 Monitores são funcionários da própria empresa, que são escolhidos, treinados, orientados e supervisionados por profissionais de Educação Física ou por Fisioterapeutas, para ministrar sessões de Ginástica Laboral. Além de monitor pode-se chamar de multiplicador, facilitador, instrutor, no entanto, nesta pesquisa será usado o termo monitores. 21 Profissional de Educação Física que contribui para a multiplicação da idéia e prática da Ginástica Laboral (CAÑETE, 1996).

85

que pode ser considerado normal diante da inovação e da mudança, pois é uma reação

perfeitamente humana.

A Ginástica Laboral ministrada por monitores do próprio setor, conforme Queiroga,

possui aspectos positivos, pois é ministrada por um colega com o qual eles convivem no dia-

a-dia, no seu ambiente de trabalho. No entanto, pelo fato de ser colega, também pode haver

funcionários com resistências, sem falar, que o monitor pode ser criticado pelos colegas de

trabalho por não ser um profissional qualificado para esta atividade. De acordo com Mendes a

empresa que implanta a Ginástica Laboral somente com monitores, “corre o risco de que os

próprios colegas de trabalho, por algum problema de relacionamento, boicotem o trabalho que

este funcionário tentar realizar, além do mais, possivelmente ele (trabalhador) não possua

formação como profissional de Educação Física”. No entanto, destaca o autor, se tal

funcionário for acadêmico de Educação Física do 3º ano em diante se pode colocá-lo como

monitor da Ginástica Laboral, na medida do possível acompanhado por um profissional

formado, preferencialmente em Educação Física.

Cañete (1996), fez uma pesquisa com sete empresas de Porto Alegre/RS,

participantes da Ginástica Laboral, sobre o que eles achariam que deveria mudar no programa.

Em primeiro lugar, o surgimento da proposta de uma maior motivação dos funcionários para a

participação na atividade proposta; muitos responderam que esta atividade deveria ser

orientada diretamente pelo professor de Educação Física e não por monitores, pois estes não

teriam a mesma segurança e preparo para a orientação dos exercícios. De acordo com a

autora, outra sugestão é relacionada a uma melhor orientação dos exercícios, que estes

deveriam ser para todo o corpo e não só para algumas partes, pois fica monótono fazer os

mesmos exercícios, repetindo-os tal qual repetem os movimentos no trabalho.

De acordo com Militão (2001), em entrevista feita com responsáveis pelos

Programas de Ginástica Laboral no Estado de Santa Catarina, observou-se que mais de 50%

das empresas que implantaram o Programa de Ginástica Laboral, quem orienta as sessões de

Ginástica Laboral são monitores. A autora realizou um estudo com o objetivo de verificar se

existe diferença nos resultados desta atividade quando orientada por monitores e por

professores de Educação Física. Para isto, foram selecionadas quatro empresas de Santa

Catarina que praticam a Ginástica Laboral há mais de um ano (duas empresas com monitores

e duas com professores de Educação Física).

86

De acordo com a autora, os resultados mostram que nas empresas em que a ginástica

era ministrada diretamente pelo professor de Educação Física houve uma redução

significativa nos problemas relacionados com dores, desânimos, falta de disposição, insônia e

irritabilidade. Isto demonstra que promoveu-se a partir daí uma melhor qualidade de vida,

bem como, a mudança nos hábitos relacionados ao lazer. Em contrapartida, a autora constatou

com o estudo, que nos locais em que a ginástica era ministrada por monitores, tanto a empresa

quanto o próprio trabalhador perdiam ou deixavam de ganhar benefícios que poderiam ter se

tal atividade fosse ministrada pelo professor de Educação Física. Militão afirma que, como o

monitor não pode mudar os exercícios ele repete o que lhe é passado no treinamento de forma

mecanizada. “O professor de Educação Física, entretanto, tem uma fundamentação teórica e

prática que lhe permite mudar os exercícios de acordo com o interesse e motivação dos

funcionários” (MILITÃO, 2001, p.3).

Os resultados da pesquisa de Cañete (1996) nas empresas de Porto Alegre/RS, vêm

ao encontro da pesquisa de Militão (2001) na qual 25,9% dos funcionários sugeriram para que

a ginástica fosse orientada diretamente pelo professor de Educação Física e 18,5% que a

ginástica deveria ser seguida a rigor. Os funcionários relataram que como os monitores

trabalham na empresa, não se preocupavam em cumprir os horários, e que muitas vezes

estavam preocupados com o seu trabalho e deixavam a ginástica para depois. Eles

complementaram que o professor vinha todos os dias no mesmo horário com o objetivo

exclusivo da ginástica, animado e criando o hábito da Ginástica Laboral. Para Militão ficou

evidente que a desmotivação referida está relacionada com o modo que a ginástica estava

sendo orientada pelo monitor, segundo eles, de uma maneira repetitiva e mecanizada.

Desta forma, observa-se que os monitores são “treinados” para ministrar sessões de

Ginástica Laboral, recebendo a programação para ser seguida, repetindo o que lhes foi

passado no treinamento, sem autonomia para mudar os exercícios, o que pode resultar em

sessões de ginástica monótonas, repetitivas de forma robotizada. Situação esta que até pode

deixar o monitor “constrangido” diante seus colegas de trabalho. No entanto, o professor de

Educação Física tem toda uma didática para ministrar as aulas, podendo mudar os exercícios

quando julgar necessário, trabalhar de acordo com o “espírito da equipe”, corrigindo a

postura, os exercícios, interargindo com o grupo.

No entanto, não é o caso de julgar o monitor pela sua limitação, já que além da

responsabilidade de ministrar as sessões de Ginástica Laboral o monitor também tem o seu

87

trabalho para realizar, podendo no horário da ginástica estar bastante envolvido, o que pode

dificultar a sua responsabilidade e desempenho como monitor. Certamente este trabalhador

também é cobrado por resultados e produtividade, assim como, os outros funcionários. Outro

fator que pode ser desfavorável é o monitor não ter os mesmos benefícios com o programa

que os seus colegas, pois, para ele passa a ter uma atividade a mais, uma preocupação a mais,

não aproveitando e relaxando por completo. Para Soares, Assunção & Lima,

os facilitadores voluntários não incorporam o papel a eles destinado, ou seja, a proposta do grupo externo, responsável pela ginástica, de divulgar, estimular e acompanhar os exercícios diariamente não vem surtindo os efeitos esperados. Segundo os instrutores, eles se sentem pouco à vontade ou com a baixa capacidade para incentivar a ativa participação dos colegas, fazendo com que a atividade seja dependente da presença do instrutor (2006, p.158).

Cañete (1996), Militão (2001) e Soares, Assunção & Lima (2006) afirmam, que os

programas acompanhados constantemente por profissionais de Educação Física ou

Fisioterapeutas tem melhores resultados e adesão, do que os programas ministrados por

monitores. Sobre este assunto Longen (2003) menciona Pellegrinotti (1999) que defende a

necessidade da orientação adequada de uma prática da atividade física, que atenda os

objetivos propostos e a pretensão do público alvo. Dentro desta mesma perspectiva, o autor

cita Pimentel (1999), que se refere aos programas orientados por monitores, critica esta

prática e defende o acompanhamento de um profissional, promovendo assim, a possibilidade

de formação da consciência corporal engajada com o real bem-estar do trabalhador.

Sob este prisma Targa (1973), citado por Militão (2001, p.34), afirma que a

“atividade física pode ser uma ‘arma de dois gumes’, dependendo do profissional que a

oriente, pode ser um instrumento de alto valor educativo promovendo a saúde ou, se cair em

mãos incompetentes, poderá produzir lesões e qualidades físicas e morais negativas”.

Portanto, a discussão sobre as competências e habilidades para a promoção e

acompanhamento de programas de atividade física em empresas é complexa e ampla, vai

muito além do que simplesmente ministrar sessões de ginástica. Percebe-se, portanto, a

necessidade de reflexão sobre os encaminhamentos dados nos Programas de Ginástica

88

Laboral atualmente e tentar encontrar alternativas para melhorar cada vez mais a

aplicabilidade destes programas, visando ampliar os benefícios de ambas as partes, empresas

e trabalhadores.

A partir das ponderações feitas até aqui pode-se ter uma maior compreensão da

complexidade e amplitude do termo qualidade de vida, que tem sido motivo de discussões no

dia-a-dia das pessoas, tanto no âmbito empresarial como no ambiente familiar. Não se tem a

pretensão de verificar a implantação e aplicação destes programas nesta pesquisa. Apenas

tem-se a intenção de pressupor que os Programas de Ginástica Laboral podem encontrar neste

estudo um amparo teórico como um programa educativo, como uma possível ferramenta para

melhorar a qualidade de vida do trabalhador, tanto no trabalho quanto na vida pessoal. No

entanto, pode-se inferir com este estudo que o referido programa, também pode ser utilizado

apenas para que se faça cumprir a legislação vigente e assim, aumentar a produtividade e o

lucro das empresas. Portanto, está-se diante de uma questão que não se esgota no plano da

ciência, mas que exige por parte dos profissionais, sejam eles quais forem, uma posição ético-

política.

89

CAPÍTULO III– PASSOS METODOLÓGICOS

3.1 Tipo de estudo

O objetivo do presente estudo é compatível com uma opção metodológica que

privilegia os aspectos qualitativos, pois sua finalidade básica é conhecer e analisar a

percepção dos trabalhadores quanto às ações educativas em saúde do trabalhador propostas

pelo Programa de Ginástica Laboral. Para Minayo este tipo de pesquisa

responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que podem ser reduzidos à operacionalização das variáveis (1999, p.22).

A pesquisa consiste ainda em um estudo descritivo, uma vez que observa, registra,

analisa e correlaciona os fatos e fenômenos do mundo humano sem a intervenção do

pesquisador, assim como Minayo defende que deve ser a pesquisa descritiva. Além disso, esta

pesquisa intenciona conhecer e descrever diversas situações que ocorrem na vida social,

política e econômica das pessoas, podendo analisar atitudes do homem como indivíduo ou

sociedade, avaliando comunidades, também com base no conceito cunhado por Minayo.

90

3.2 Campo empírico

A Instituição Financeira estudada vem expandindo a cada dia e constuitui-se não

apenas como uma das mais importantes Instituições Financeiras do país, mas propõe-se a ser

uma empresa comprometida com a responsabilidade social. Esta Instituição conta com um

grande número de agências, mas teve que se optar por uma delas para realizar a pesquisa de

campo, uma vez que era necessário fazer um recorte a fim de que tal pesquisa fosse viável.

O trabalho nesta Instituição é bastante dinâmico, exige atenção, concentração e

agilidade para atender ao público; cumprir metas; buscar novos clientes, assim, o grau de

exigência da empresa é grande, podendo gerar tensão e estresse para os funcionários. Estes

funcionários passam a maior parte da jornada de trabalho na posição sentada diante de um

monitor, realizando movimentos repetitivos com os membros superiores.

A Instituição Financeira mantém o Serviço Especializado de Engenharia Segurança e

Medicina do Trabalho (SESMT) com o propósito de promover a saúde e proteger a

integridade física do trabalhador no local de trabalho. O SESMT é constituído por uma equipe

multiprofissional composta por médico, enfermeira, técnico de segurança, profissional de

Educação Física, psicólogo, nutricionista e outros. Entretanto, vale destacar que a Central do

SESMT está situada em uma cidade de grande porte, bastante distante da agência pesquisada

e é de lá que coordena os serviços de saúde do trabalhador de todas as agências da Instituição

Financeira. Um dos programas em atenção à saúde do trabalhador coordenado pelo SESMT

na Instituição estudada é o Programa de Ginástica Laboral. Este programa na agência da

Instituição em pesquisa foi implantado no ano de 2003, sendo o principal objetivo a

prevenção de doenças relacionadas ao trabalho e redução do nível de estresse.

Esta prática é orientada por um profissional de Educação Física, três vezes por

semana (duas sessões de Ginástica Laboral e uma de orientação individual). São formados

dois grupos, no horário da tarde, a partir das 15h e 45 min. O horário foi estudado e

organizado juntamente com a administração e SESMT, conforme os objetivos da empresa,

levando em consideração a rotina de trabalho, turnos, as atividades desenvolvidas pelos

funcionários, bem como, o valor financeiro que a empresa estava disposta a investir.

91

Assim, nesta Instituição a Ginástica Laboral realizada enquadra-se em tipos

diferentes, conforme a jornada de trabalho dos funcionários. Isto é, configura-se em ginástica

de pausa ou compensatória, quando realizada no meio do expediente ou ginástica relaxante,

quando é realizada no final dele. Isso ocorre devido a diferentes horários de trabalho dos

funcionários desta Instituição, sendo que a duração da jornada de trabalho varia de 6 a 8 horas

diárias e há uma escala de horários a serem cumpridos.

Referente às pausas durante a jornada de trabalho, os funcionários fazem intervalo

para almoço, fazem a Ginástica Laboral três vezes por semana, “podem” fazer lanche,

cafezinho, entre outros, quando julgarem necessário, no entanto, nem sempre é possível

durante o horário de atendimento ao público, devido ao grande fluxo de ligações e

atendimentos.

A Ginástica Laboral consiste de alongamentos, fortalecimento muscular,

relaxamento e atividades recreativas, com duração de 10 a 15 minutos. Esta prática sempre é

acompanhada por música de diversos tipos (relaxante, lentas, dance, gaúcha, bandinha,

carnaval, entre outras). Para diversificar as aulas, o professor utiliza a estrutura física

(paredes, pilares), mobiliários (cadeiras, mesas, paredes). Além de bolinhas terapêuticas,

bastões, balões, entre outros.

Os funcionários não são obrigados a participar da Ginástica Laboral, é uma opção

individual, no entanto, há um controle dos participantes através de uma lista de presenças. A

participação tem uma média de 82%. Os entrevistados, que trabalham há mais tempo na

Instituição, participam da Ginástica Laboral desde que iniciou, pouco mais de 5 anos e

aqueles com menos tempo (menos de 5 anos), participam desta atividade desde que

começaram a trabalhar neste local.

3.3 Os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos desta pesquisa são 12 funcionários de uma Instituição Financeira de Ijuí,

Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, de faixa etária entre 22 e 51 anos de idade,

92

perfazendo uma média de 38,7 anos. Destes, 58,3% (7) são do sexo masculino e 41,7% (5)

são do sexo feminino.

O tempo de trabalho varia de 1,1 a 32 anos, com uma média de 13,5 anos. O grau de

instrução é diferenciado, há funcionários cursando o 3º grau, outros o concluíram e há pós-

graduados.

Esta pesquisa foi realizada numa Instituição Financeira, pelo fato de esta possuir o

Programa de Ginástica Laboral há mais de 5 anos e também pelo interesse demonstrada em

contribuir com esta pesquisa. A autorização do SESMT (anexo 1) e da Instituição (anexo 2)

foi obtida.

Obedecendo às normas da Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde que

regulamenta a pesquisa com seres humanos, foi solicitado o consentimento livre e informado

dos participantes por escrito (anexo 3). Após a explanação dos objetivos da pesquisa, os

sujeitos foram convidados, individualmente, a participar da mesma, conforme seu interesse e

disponibilidade de tempo. Todos os convidados demonstraram interesse em participar de

maneira voluntária e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

A amostra foi composta por 12 sujeitos denominados: 10 deles E1, E2, E3, E4, E5,

E6, E7, E8, E9, E10 e dois EP1 e EP2, por terem participado da testagem do instrumento e

cujas falas contribuíram significativamente para a pesquisa.

As entrevistas foram numeradas na mesma seqüência de sua realização, o tempo

médio de duração de cada entrevista foi de 20 minutos tendo, uma variação de 6 a 35 minutos.

O delineamento previa a distribuição igual por gênero e por tempo de atuação no

Programa de Ginástica Laboral, formando dois grupos. No entanto, o grupo que participa de 1

a 5 anos da Ginástica Laboral ficou menor em relação àquele que participa há mais de cinco

anos. Isto devido ao menor número de trabalhadores com este tempo de empresa e,

conseqüentemente, de Ginástica Laboral. A amostra ficou da seguinte forma: Fem > 5 anos

(E1, E2 e E3); Fem 1 a 5 anos (E6 e E7); Masc > 5 anos (E5, E8 e E9); Masc 1 a 5 anos (E4 e

E10), e ainda EP1 (masc 1 a 5 anos) e EP2 (masc > 5 anos).

As estrevistas foram realizadas com base em um roteiro de questões abertas que

permitem ampliação e aprofundamento (anexo 4). Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos

93

aleatoriamente, dentre os componentes do grupo que se dispuseram a participar da pesquisa,

respeitando a disponibilidade e a organização do processo de trabalho.

3.4 Instrumento de coleta de dados

A coleta de dados foi realizada através de entrevista semi-estruturada contendo 14

questões. A entrevista dividiu-se em duas partes: a primeira com questões para caracterizar a

amostra e a segunda com questões em que o entrevistado reflete sobre o objeto de pesquisa.

As entrevistas foram todas gravadas (gravador Panasonic) e realizadas a partir de

agendamento prévio. No primeiro momento, foi realizada a testagem do instrumento de

pesquisa com dois funcionários, para validação do mesmo.

O horário para as entrevistas foi combinado com o Gerente Adjunto, sempre a partir

das 16 horas, depois do atendimento ao público e do maior volume de trabalho. As pessoas

foram entrevistadas no local de trabalho, numa sala reservada, individualmente, sem

interferências. O papel da pesquisadora foi de dinamizar a entrevista, fazendo as questões

estabelecidas no roteiro e propondo outros questionamentos complementares quando

necessário.

3.5 Procedimento para coleta de dados

Para que a pesquisa fosse realizada, foi entregue uma cópia do projeto e um ofício

para o Gerente e para a Coordenadora do Programa de Ginática Laboral da Instituição

Financeira, solicitando autorização para realização da mesma. Do qual se obteve autorização,

desde que não se identificasse a Instituição e se mantivesse anonimato dos funcionários,

94

devendo a participação destes nesta pesquisa ser opcional. A participação na pesquisa foi

oportunizada a todos que demonstraram interesse, no entanto, foi necessário definir alguns

critérios:

Critérios de seleção: participar do Programa de Ginástica Laboral há mais de um ano;

participar regularmente deste programa; ter interesse em participar; submeter-se a sorteio no

caso de haver mais interessados e assinar o termo de consentimento livre esclarecido.

Critérios de exclusão: participar a menos de 1 ano do Programa de Ginástica Laboral;

não participar regularmente do programa; não ter interesse e não assinar o termo de

consentimento livre esclarecido.

3.6 Aspectos éticos da pesquisa

Um dos principais pontos do estudo científico é a ética. Para Bogdan & Biklen

(1994, p.75) a investigação deve seguir “duas questões que dominam o panorama recente no

âmbito da ética relativa à investigação com sujeitos humanos; o consentimento informado e a

proteção dos sujeitos contra qualquer espécie de danos”. Segundo os mesmos autores, a

identidade dos sujeitos deve ser preservada e eles devem ser tratados respeitosamente. O

investigador precisa ser claro e objetivo ao pedir a autorização para efetuar o estudo e deve

ser autêntico ao escrever os resultados por mais que as conclusões não lhe satisfaçam.

Os funcionários da Instituição pesquisada foram convidados a participar do estudo,

podendo recusar-se, se assim o desejassem, sem que isso representasse qualquer dano para os

mesmos, conforme os preceitos éticos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,

que regulamenta a pesquisa com seres humanos.

A entrevista com os funcionários foi marcada com antecedência, estes leram,

assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 3), no qual constava a

explicação sobre os motivos, objetivos e procedimentos metodológicos da pesquisa, além da

garantia ao anonimato quanto às informações e liberdade para desistir do estudo a qualquer

95

momento se assim o desejassem. Nesse caso seria convidada outra pessoa, com as mesmas

características, para participar. Sempre respeitando a Resolução 196/96 do Conselho Nacional

de Saúde, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética de Pesquisa da Universidade

Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, do qual se obteve

aprovação para realização da pesquisa As fitas utilizadas para a pesquisa serão guardadas

durante 5 anos.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, foram e serão mantidos em sigilo os

nomes da Instituição e dos sujeitos da pesquisa, afim de preservar as suas imagens. Para

identificar o campo empírico deste estudo utilizar-se-á a, partir deste momento, a expressão

Instituição Financeira.

3.7 Apresentação e análise de dados

Após a transcrição das entrevistas, a análise de dados foi elaborada a partir de

categorias, conforme preconiza Minayo (1999). A autora afirma que trabalhar com categorias

significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um mesmo conceito que seja

capaz de abranger tudo isso. As categorias foram estabelecidas após pesquisa de campo, a

partir da coleta de dados, leituras exaustivas dos relatos e pesquisas bibliográficas.

A amostra foi constituída por critério de saturação dos dados, conforme preconiza

Minayo (1999), ou seja, quando as informações passaram a se repetir, as entrevistas foram

interrompidas.

Gomes (1999, p.69) aponta que para realizar a análise dos dados é necessário que se

determine as finalidades para esta fase. Minayo (apud GOMES, 1999, p.69) aponta três

finalidades importantes: “estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou

não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões formuladas e ampliar o

conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural do qual faz

parte”.

96

Para analisar os dados deste trabalho, seguiram-se os passos metodológicos

propostos por Minayo (1999, p.78), que consistem em:

1. Ordenação dos dados: releitura do material, organização dos relatos;

2. Classificação dos dados: repetidas leituras dos textos; constituição de um “corpus”, ou de

vários “corpus” de comunicação, se o conjunto de informações não for homogêneo; leitura

transversal de cada “corpus” utilizando “unidades de registro”, referenciadas por temas ou por

tópicos de informações;

3. Análise final: considerando os objetivos propostos pela pesquisa e os temas que emergem

dos relatos.

97

CAPÍTULO IV - GINÁSTICA LABORAL: AS PERCEPÇÕES DOS

PARTICIPANTES

Para desenvolver esta etapa da dissertação, buscou-se analisar as falas obtidas no

decorrer das entrevistas, uma vez que o objetivo primordial desta reflexão é analisar as

percepções dos trabalhadores quanto às ações educativas em saúde do trabalhador propostas

pelo Programa de Ginástica Laboral. Ao analisar as falas dos sujeitos, buscou-se agrupá-las

em categorias: 1) contribuições da Ginástica Laboral no ambiente de trabalho dos

participantes da pesquisa; 2) verificação de como a Ginástica Laboral pode influenciar o dia-

a-dia das pessoas, para além do local de trabalho. Dentro de cada uma delas procurou-se

destacar pontos especiais, que contribuam para a compreensão do fenômeno.

4.1 Contribuições da Ginástica Laboral no ambiente de trabalho

4.1.1 Integração com os colegas e alívio das tensões

Durante a revisão bibliográfica deste trabalho mencionaram-se vários autores que

têm se debruçado sobre o tema qualidade de vida no trabalho e a Ginástica Laboral como uma

possível ferramenta para promover a saúde dos trabalhadores. Para Lima (2005), a Ginástica

Laboral pode ser o início de diversas ações dentro de uma organização, bem como, um

98

importante componente na promoção do equilíbrio físico, mental e social do trabalhador.

Afirmação que parece confirmar-se na fala de um dos entrevistados:

(...) conseguimos implantar e hoje o pessoal que acompanha gosta e não abrimos mais mão (...) de fazer ginástica (...). Se eu fico sem fazer Ginástica Laboral para alongar (quando tiro férias ou quando tiro (…) folgas), eu noto no corpo, parece que ele pede que eu alongue (...), então isso aí é um ganho para nós, a gente vê que realmente é um benefício (...). (E1)

Pode-se perceber pelo depoimento de E1 que a Ginástica Laboral foi um ganho para

ele e seu grupo, pois o mesmo afirma que os funcionários que participam do programa não

pretendem abrir mão desta atividade física, até porque esta prática já faz parte do cotidiano

desses trabalhadores, e sua falta é sentida quando, porventura, os indivíduos não a fazem.

(...) o pessoal não reclama nada, só reclamam quando a professora às vezes, quando tem feriado. No dia da ginástica quando ela sai, aí então ah (...) ginástica (...) é muito bom (...) sente falta quando não tem. (E1)

(...) é um momento de descontração, até pra gente que está num dia tenso de trabalho, então é um momento de descontração, é um momento de esticar um pouco, relaxar é um momento de reunir-se, eu gosto desse momento. (E6)

Os sujeitos da pesquisa relatam esta atividade como uma quebra na rotina de

trabalho, para descontrair, alongar, relaxar, bem como, um momento para reunir-se com os

colegas, do qual eles gostam, o que fica bem claro na fala destes. Observa-se também que não

há reclamação em participar na Ginástica Laboral. Só reclamam se, por força maior a

professora não comparece (feriado, cursos…).

99

(...) é uma forma de você se descontrair, se desligar um pouco daquele foco de preocupação, de metas (...) então a Ginástica Laboral além do foco dela, do alongamento, da ginástica em si tem esse, tem essa percepção minha de que é um momento também que você descontrai, você esquece um pouco do que você estava fazendo, aquela preocupação, descontrai e além disso, ainda agrega essa parte da ginástica. (E9)

acho que é uma boa, pois além da gente parar para fazer um movimento, tu levanta do teu lugar e distrai um pouco, sai da rotina de trabalho, eu gosto. (E3)

A Ginástica é uma oportunidade para que o funcionário possa sair um pouco do seu

espaço de trabalho para realizar uma outra atividade. Lima (2005) compreende esta “quebra

da rotina” como uma relação entre atividade física e saúde, o que também pode-se observar

no depoimento abaixo.

Eu acho que a gente passa a se preocupar mais com a nossa saúde física e mental também, até com música é um momento que se tem para relaxar, então a gente começa a se preocupar mais em como está (...). (E6)

(...) por incrível que pareça, às vezes até, não é tanto o corpo mas a cabeça dá uma folgada (...). (E3)

Os depoimentos destes sujeitos apontam para o equilíbrio físico, mental e social, que,

conforme Lima (2005) é um dos componentes relevantes no desenvolvimento de um

Programa de Ginástica Laboral. Nesse sentido, o objetivo do equilíbrio físico, mental e social

parece estar contemplando nas falas de E6 e E3.

Com o sistema capitalista, o processo de trabalho nos bancos vem sofrendo

profundas e rápidas modificações, decorrentes da progressiva informatização em paralelo às

modificações na organização do trabalho. Assim, exigência de produtividade, atenção,

concentração e agilidade para atender ao público, bem como, cumprir metas faz parte do dia-

a-dia destes profissionais, podendo gerar uma certa tensão e estresse. Para Tavares “o

100

estresse, sob certa medida, é um elemento vinculado ao processo de desenvolvimento. Por

outro lado, em excesso, pode romper o equilíbrio bio-psicossocial, resultando no bloqueio ao

desenvolvimento pessoal, em doenças e até na morte (2004, p.89).

Além disso, estes funcionários passam a maior parte da jornada de trabalho na

posição sentada, diante de um monitor, realizando movimentos repetitivos com os membros

superiores. Gonçalves (1994) destaca, que com a expansão do sistema capitalista e com o

desenvolvimento da tecnologia, os movimentos corporais têm se tornado cada vez mais

instrumentalizados. Assim, o ser humano tem sido motivado à prática de um estilo de vida

cada vez mais sedentário.

Esta rotina de trabalho fica bem explícita na fala abaixo:

(...) a gente mexe muito no computador, é muito código e até o movimento repetitivo (...) o nosso trabalho aqui é um trabalho sedentário, fica muito tempo sentado. (E9)

Pode-se retomar as idéias de Alvarez (2002) e de Mendes e Leite (2004), que

afirmam que a tecnologia veio para facilitar a vida das pessoas, contudo, quando utilizada em

exagero transforma em sedentarismo o estilo de vida do homem. Mendes (2000) corrobora

afirmando que a tecnologia usada em exagero pode trazer prejuízos à saúde física e

psicológica. Isso fica bem claro na fala de E5, no que se refere ao sedentarismo e ao

movimento repetititivo.

(...) como nossa função é só repetitivo, é bom, então parar um período e fazer esse tipo de atividade (...). (E5)

(...) tem esse lado também da questão da saúde para gente também sair, levantar, fazer uma atividade nem que 10 – 15 minutinhos, para quem não faz uma atividade já é alguma coisa (...). (E4)

101

Na fala de E5 e E4, a Ginástica Laboral aparece como uma oportunidade para fazer

uma atividade física, mesmo que de curta duração. E7 se refere à Ginástica Laboral como um

momento de lazer, que, embora curto, muitas vezes é a única atividade física sistemática

realizada pelo indivíduo.

(...) a única atividade de oxigenação do cérebro, enfim, e de lazer que eu tenho feito é a Ginástica Laboral (...). (E7)

É relevante, na fala de E7, o destaque que ele dá a Ginástica Laboral enquanto sua

única atividade de lazer. Isto é um dado preocupante, pois denota o sedentarismo do

entrevistado. A tendência é de que cada vez mais o homem se torne sedentário. Pode-se

destacar o estudo de Barros & Nahas (2001) realizado com trabalhadores de Santa Catarina,

em que 46,2% não realizam atividades físicas no lazer, sendo o maior índice de mulheres. De

acordo com Fraga (2006), o sedentarismo é considerado um dos principais fatores de risco das

doenças crônico-degenerativas, também chamadas de doenças da civilização, doenças

silenciosas não-transmissíveis.

De acordo com Barbanti (1994), a falta de exercício físico pode provocar flacidez

muscular, acumulo de gordura, dificultar a eliminação dos produtos de excreção orgânicos e

provocar lentidão na digestão, possivelmente resultando no surgimento de doenças.

As afirmações de E7 referente à Ginástica Laboral, como uma atividade de lazer,

reafirmam as palavras de Mendes (2000), que destaca que os trabalhadores consideram a

Ginástica Laboral como parte de seu lazer, por terem conseguido transformar a Ginástica

Laboral em um momento de descontração, relaxamento e distração, bem como, uma forma de

se exercitar.

eu estou me programando para começar atividade física (...) para conseguir investir na minha saúde, também, que é uma coisa importante, é um investimento muito grande que tu faz no corpo e na mente (...). (E7)

102

No depoimento de E7, nota-se a preocupação dele se reorganizar na sua rotina de

trabalho para começar a praticar alguma atividade física, além da Ginástica Laboral, pois

considera um investimento para a sua saúde. Ferreira (2001) destaca que a prática regular de

atividade física bem orientada pode trazer benefícios, mas lembra que não se pode esquecer

que outros fatores podem interferir na saúde das pessoas.

Para Bagrichevsky & Estevão não se tem a intenção de demonstrar a prática da

atividade física como uma atividade desprovida de qualquer interferência positiva sobre o

corpo humano, mas não se pode acreditar que “simplesmente mantendo-se ‘ativo’ que se

obtêm saúde” (2005, p.67). Os autores criticam “os slogans de propagandas institucionais que

propagandeiam uma imperiosa e inequívoca necessidade de se exercitar em qualquer lugar e a

qualquer tempo” (2005, p.67).

Nestes meios de divulgação a prática da atividade física, mencionados pelos autores,

está focalizada em praticar atividade física, esquecendo de determinantes socio-econômicos e

culturais, fatores que também determinam as condições de vida das pessoas e que precisam

ser igualmente levados em consideração.

Para E2, por sua vez, destaca a dimensão social que a Ginástica Laboral propicia a

medida que promove a convivência entre os colegas. A organização do processo de trabalho,

por vezes, não possibilita a integração dos sujeitos no ambiente de trabalho e a Ginástica

Laboral proporciona este momento de integração aos trabalhadores. Na fala destes sujeitos,

pode-se deduzir que eles percebem a Ginástica Laboral mais como um momento de

integração do que o alongamento propriamente dito.

(...) é um momento que a gente tem com a participação dos outros colegas, às vezes, passa uma semana sem conversar e alí na Ginástica Laboral além de estar fazendo a ginástica a gente consegue conversar, descontrair, parece que tudo ajuda, além, claro, do próprio exercício físico. (E2)

A integração com os colegas aqueles minutinhos parece que alivia toda aquela tensão do dia-a-dia do nosso trabalho (...) a integração com os colegas é extremamente válida. (EP2)

103

O depoimento destes sujeitos da pesquisa referente a integração dos funcionários no

momento da Ginástica Laboral vem ao encontro das afirmativas de Lima (2005) em que a

atividade física no ambiente de trabalho estabelece maior convívio entre os funcionários e

superiores, uma maneira para que se conheçam melhor, despertando o “espírito de equipe”.

Militão (2001) e Martins (2005) confirmam destacando que em seu estudo constaram que o

grupo ficou mais unido, melhorando o relacionamento, o ânimo e disposição para o trabalho,

bem como, uma sensação de bem-estar. Percebe-se a facilidade que os indivíduos tem de

relacionar-se com as pessoas do seu círculo pessoal e profissional de forma equilibrada e

harmoniosa, espaço este também proporcionado através da Ginástica Laboral.

O Programa de Ginástica Laboral é essencial, para E9, para ele as pessoas que

participam desta atividade tornam-se pessoas mais críticas, com maior satisfação.

(...) esse programa é fundamental, a gente (...) percebe que as pessoas que participam têm uma motivação diferente, mais satisfeitos, mais contentes até porque, bom aquela paradinha fazem aquela ginástica, faz com que a pessoa se descontraia, isso ajuda muito, é essa percepção que eu tenho a respeito do programa, é de fundamental importância. (E9)

Para Stort, Silva & Rebustini (2006), a Ginástica Laboral interfere no humor das

pessoas, assim, a atividade física no ambiente de trabalho pode ser uma ferramenta eficaz na

tentativa de levar o funcionário a uma percepção de bem-estar. De acordo com Siegel &

Santos (2006), o funcionário motivado torna-se mais criativo e mais produtivo.

Mendes & Leite (2004) afirmam que a Ginástica Laboral trabalha o cérebro, a mente,

o corpo e o autoconhecimento, amplia a consciência e a auto-estima, proporciona melhor

relacionamento intra e interpessoal, melhorando a motivação, a disposição e humor. Estes

dados condizem com os resultados encontrados na pesquisa.

Conforme E2, a integração do grupo que sempre realiza as atividades é ótima, no

entanto, nota-se que ele gostaria que mais colegas participassem e acha que eles próprios

deveriam interferir um pouco para mais pessoas incorporarem-se ao processo.

104

a integração é ótima, só que sempre os mesmos que participam. Acho que tá faltando até a gente dá uma mexida para mais gente participar (...). (E2)

Para, Scharcow e sua equipe (apud CAÑETE, 1996) esta atividade é um espaço que

as pessoas freqüentam por livre e espontânea vontade, para fazer exercícios físicos. Souza &

Jóia (2006) e Longen (2003) reiteram afirmando que o funcionário não deve ser forçado a

participar desta atividade. Longen afirma ainda, o quanto é importante levar em consideração

a manifestação e estímulo do trabalhador.

A Ginástica Laboral não é uma atividade obrigatória nesta Instituição, no entanto,

existe uma lista de presenças que de certa forma pode pressionar o funcionário a participar

desta atividade. Através da análise dos depoimentos e interagindo com estes funcionários

pode-se constatar que estes participam da Ginástica Laboral por livre espontânea vontade, não

se percebe que estes sintam-se pressionados a participar.

Entende-se que a Ginástica Laboral não pode ser vista como um dever, uma

obrigação a mais a ser cumprida, gerando assim, tensão e estresse. Assim, a obrigatoriedade e

o uso de autoridade são contra-indicados, o que não indica ausência de organização, regras,

limites e orientação durante o processo. No entanto, uma lista de presenças pode ser uma

forma de justificar que a empresa está investindo na saúde do trabalhador, seja para cumprir

ou não a legislação. Os funcionários que não participam do Programa de Ginástica Laboral,

de certa forma, estão dispensando um dos serviços em atenção à saúde do trabalhador

oferecidos pela Instituição, o que pode, com o passar do tempo comprometê-lo, caso venha a

ter uma doença relacionada ao trabalho. Pois, a implantação do Programa de Ginástica

Laboral pode ser uma ferramenta contra ações trabalhistas e provar perante à lei que a

empresa se preocupa e promove ações em prol da saúde e qualidade de vida do seu

colaborador, assim, amenizando a “culpa” da empresa nessas reclamações.

No entanto, é necessário destacar que a Ginástica Laboral é uma das ferramentas

para promover qualidade de vida no trabalho, uma pequena parcela no bojo das ações que

precisam ser desenvolvidas no ambiente de trabalho. Se a empresa possui um Programa de

Ginástica Laboral, não quer dizer que esta atenda às exigências da legislação e muito menos

que esteja isenta das responsabilidades e obrigações para com a saúde do trabalhador.

105

As empresas são complexas e estão em constante processo de transformação,

qualquer mudança no ambiente de trabalho pode gerar impactos tanto positivos quanto

negativos, sendo normal que alguns funcionários tenham algumas resistências a mudanças.

Resistências que podem vir a ocorrer em função dos processos serem decididos sem a

participação dos trabalhadores ou através de uma participação não-crítica que leva ao

desinteresse e insegurança quanto ao futuro do trabalhador, bem como, um sentimento de não-

inclusão no processo de discussão das propriedades.

Eu que tomei a frente porque na época não demostravam vontade, achavam que o povo não iria gostar, que não iriam participar e eu comecei a perguntar para os colegas e uma meia dúzia era a favor e então vamos lá. Deu certo, tá certo que nem todos participam, mas uma grande maioria. (E1)

Verifica-se que antes de implantar o Programa de Ginástica Laboral os funcionários

foram consultados quanto ao interesse em ter esta atividade, alguns concordaram, outros não.

Gastaldo (1997) destaca que o enfoque participativo respeita as idéias do grupo e dos sujeitos

envolvidos nas atividades. Assim, conforme o mesmo autor, neste método nada é imposto e se

espera que a participação norteie todo o processo.

Entretanto, nem todos participam da Ginástica Laboral, alguns por não gostarem

desta atividade, outros consideram a roupa e o local inadequado, assim como, alguns

funcionários colocam como prioridade o seu trabalho. Bigolin (2003) confirma que os

funcionários estabelecem o trabalho como prioridade em suas vidas, mesmo que isso implique

danos para a saúde.

Pode-se indagar sobre o modo como estão sendo implantados os Programas de

Ginástica Laboral. Será que esta atitude em não participar de um programa que tem como

propósito proporcionar benefícios ao funcionário, não é reflexo dos administradores que

proporcionam este espaço aos funcionários, no entanto, priorizam a produtividade?

Vilarta & Gonçalves (2004) afirmam que os programas de Ginástica Laboral podem

trazer resultados positivos se a gerência da empresa animar seus funcionários a participar,

concedendo flexibilidade nos horários de trabalho, para que possam participar da atividade.

106

No entanto, vale destacar, mesmo que a empresa tenha as atitudes mencionadas por Vilarta &

Gonçalves, não se garante que todos os funcionários venham a aderir a esta atividade por

motivos próprios e particulares.

Ou seja, observa-se que algumas pessoas não participam por “julgarem” não terem

tempo disponível para esta atividade, mesmo ela sendo oferecida no horário e local de

trabalho. Questão que mereceria um maior aprofundamento, que neste momento só podemos

debitar a uma hipervalorização do tempo investido “efetivamente no trabalho” em detrimento

de questões “secundárias”, tal como, “cuidar da saúde”.

4.1.2 Participação e motivação do professor repercute no envolvimento dos participantes

Alvarez (2002) destaca a importância das pessoas que organizam e orientam os

programas de saúde nas empresas a estarem em constante sintonia com os fatores que

interferem nas organizações para atuar de forma positiva na qualidade de vida dos

trabalhadores.

Os sujeitos da pesquisa, referindo-se ao profissional de Educação Física, relatam que

ele tenta interagir com todos os funcionários, motiva a turma, chama, busca a atenção de

todos, dando oportunidade para que todas as pessoas participem. Assim, afirmam os sujeitos,

os funcionários se sentem mais motivados a participar, tanto que às vezes até priorizam a

ginástica deixando o trabalho para depois. Algumas manifestações sobre o papel do

profissional de Educação Física na atividade de Ginástica Laboral são significativas.

(...) tenta interargir com todo mundo, tenta chamar todo mundo, mesmo quem nunca vai ou sempre uma atitude de buscar o interesse de todos, buscar interagir com todos, busca conscientizar que é necessário, que precisa fazer, vamos lá, vamos fazer, sempre dando oportunidade para todas pessoas interagirem também. (E7)

107

(...) porque motiva a turma, chama, busca e isso aí é importante porque a gente tá trabalhando compenetrado, tu tá, chega a vamos lá, coisa e tal, vamos fazer Ginástica Laboral e coloca uma música (...), isso aí motiva, é muito bom, porque faz com que a gente, às vezes a gente tá fazendo alguma coisa importante deixa de lado, a vamos fazer ginática laboral. (E1)

(...) às vezes o colega tá meio em dúvida se vai fazer a ginástica ou não vai, na maioria das vezes, sempre motiva a gente e faz com que o colega perceba que deve participar da ginástica e a motivação aqueles minutos alí que traz pra gente tranquilidade motiva a gente a praticar exercícios e cada vez aumentar a participação dos colegas (...). (EP2)

As afirmações destes sujeitos da pesquisa consolidam as declarações de Martins

(2005) em que o professor de Ginástica Laboral, além de apresentar uma didática estruturada,

sempre deve convidar todos os trabalhadores para participar da aula, com simpatia,

criatividade e motivação, aumentando a satisfação em participar da atividade, bem como,

proporcionar a coesão entre os participantes.

Também para E9 e E2 a participação do profissional de Educação Física é essencial e

que sem ele esta atividade não se manteria.

Eu imagino que seja de vital importância, se não tivesse a participação do professor a motivação, o interesse em buscar a nossa participação, ou seja dos funcionários a ginástica por si só não teria, não teria condições de continuar, é fundamental a participação do professor, a motivação dele, o interesse em que a gente participe. (E9)

Eu acho que é fundamental o professor, porque se disser assim, todos os dias os funcionários vão se reunir tal hora e vão fazer a atividade, não iria acontecer, agora se tem um profissional para esta atividade, acho que faz a diferença (...). E2

O profissional de Educação Física vai à empresa com o objetivo de ministrar as

sessões de Ginástica Laboral e fazer com que, cada vez mais, se tenha a participação dos

funcionários. Assim, ele tem o papel de motivar, convidar, incentivar para que todos

108

participem, no entanto, pode-se destacar que nem sempre se consegue motivar a participação

de todos. Para Lima (2005), quando falamos de motivação, é preciso aceitar e ter claro que

cada pessoa possui um comportamento próprio. Nesse sentido, as pessoas são diferentes e

reagem de maneira diferente diante das situações. Bramante ratifica Lima ao afirmar que é na

“subjetividade de cada um que habita a ‘aderência’, isto é, a adoção de um novo estilo de vida

ao longo do tempo, característica essencial para se conseguir vida de qualidade (2004, p.193).

Ao referir-se à preparação de atividades, Lima aconselha que

devemos preparar a programação de acordo com a diversidade de interesses, de forma razoável para que a motivação da aula atinja o maior número de pessoas, mesmo com seus traços de personalidade, suas prédisposições, emoções, crenças, enfim, atitudes diferenciadas (2005, p.49).

Ogata (2008) acredita que coordenar um programa de qualidade de vida não se

constitui numa tarefa administrativa comum, pois envolve a motivação e a adesão dos

colaboradores da empresa em um processo de mudança de comportamento. Deste modo, este

profissional precisa desenvolver algumas características pessoais, como ter empatia e atuar

sem pré-julgamentos, ser colaborativo e ter atitudes positivas e, principalmente, ser autêntico

em seus comportamentos e suas mensagens. Mas, para estes profissionais, reforça o autor,

buscar o constante desenvolvimento pessoal, em todas as dimensões: física, emocional,

espiritual, social, profissional, deve ter uma importância ainda maior, pois esta tarefa exige

um elevado grau de energia positiva, criatividade e autenticidade.

A eu gosto, tá bem bom (...). (E3)

(...) as aulas são ótimas, são bem descontraídas. (E1)

No que diz respeito às espectativas quanto ao Programa de Ginástica Laboral pode-se

concluir que este atende a maioria dos participantes, pois ao serem indagados acerca do que

109

poderia ser diferente e o que poderia melhorar no Programa, muitos mostraram-se satisfeitos,

que, dentro do propósito, está bom. Foi sugerido por um pequeno grupo que poderiam ser

incluídos exercícios novos. Realmente não há uma grande variação das atividades propostas,

uma vez que são realizadas dentro do ambiente de trabalho e com roupas adequadas ao

trabalho. O que o profissional de Educação Física muda são os estilos musicais e os

exercícios, com diversificação dos materiais disponíveis. Os quais, como já foi citado, são a

estrutura física (paredes, pilares), mobiliários (cadeiras, mesas, paredes) bem como, bolinhas

terapêuticas, bastões, balões, entre outros. Vale destacar que há uma boa aceitação das

músicas e exercícios propostos, tanto que os participantes não exitam em verbalizar durante as

atividades. Por outro lado, se algo lhes desagrada os mesmos possuem total liberdade em

manifestá-lo. O gosto pela música e aceitação é revelada no momento da Ginástica, eles não

exitam em manifestar a sua preferência, que na maioria das vezes parece ser favorável.

(...) eu acho que tá bom assim, por isso eu nunca pensei que poderia ser melhor, até que se tivesse alguma coisa para melhorar, você é bem acessível, e a gente pode chegar sem problema nenhum e falar, dar uma idéia. (EP1)

Para melhor fundamentar a fala de EP1, pode-se reportar a Martins (2004), que

chama atenção para a importância de respeitar a individualidade dos participantes da prática

por parte de quem se propõe a promover saúde, e que estes precisam relacionar-se de forma

harmoniosa, sem que um se sobrepornha ao outro. Gonçalves (2004) concorda no sentido de

que profissional deixa de ser aquele que detém o conhecimento para melhoria da saúde da

população e passa a ser o mediador.

110

4.1.3 Ginástica Laboral: o antes e o depois

Da forma como o trabalho está estruturado e organizado, sabe-se que pode

comprometer a execução das tarefas, gerando estresse, tensão, provocando danos à saúde dos

trabalhadores. Tal situação fica bem explícita na manifestação de E7:

(...) cronometrando meu tempo, pensando que no final do dia tenho muitas coisas para resolver, então isso me faz ficar mais tensa, mais nervosa, mais preocupada e isso acaba, eu gasto muito mais tempo tentando resolver uma coisa em função disso, porque fica voltando tudo na minha mente e eu tô muito tensa e não consigo resolver tão rápido, não é tão claro. (E7)

Na fala de E7, percebe-se que o funcionário quando está preocupado em realizar

todas as tarefas, a tensão e o nervosismo acabam dificultando o andamento do trabalho. O

mesmo entrevistado relata que antes da Ginástica Laboral sempre estava cansado, estressado,

não rendendo o que poderia render e que parando alguns minutos para realizar outras

atividades, entre elas, “oxigenar o cérebro”, e ao retornar ao trabalho consegue se orientar e

organizar-se com maior facilidade. Assim, organizando o tempo e o espaço, resolve com

maior facilidade os problemas, o que faz com que o rendimento aumente consideravelmente.

O entrevistado segue seu depoimento tecendo considerações de como percebe a

importância da pausa para a Ginástica Laboral, em relação ao seu rendimento.

O Programa de Ginástica Laboral, ele vem a acarretar justamente na hora que é mais para o final do expediente, assim, eu estava sempre bastante estressada, bastante envolvida, cansada, então acabava não dando tudo aquilo que podia dar no teu trabalho, então se a gente pára uns 5 - 15 minutos para relaxar, pensar em outra coisa e oxigenar o cérebro (...) rende muito mais. Eu percebo isso na Ginástica Laboral, eu percebo que meu rendimento triplica de 5 minutos antes de fazer a laboral e cinco minutos depois, o rendimento é muito melhor (...). Depois que eu faço a Ginástica Laboral eu consigo me orientar melhor, me organizar melhor (...) até o final do dia, porque falta pouco tempo, tu já tá com muita coisa na cabeça (...) daí você vai para a Ginástica Laboral dá aquela conversada,

111

aquela brincada, estica o corpo e quando você volta você já tem uma visão mais clara daquilo que você tem para fazer até o final do dia (...). (E7)

O depoimento deste sujeito da pesquisa vem ao encontro de Cañete (1996), para ela a

Ginástica Laboral aumenta a produtividade ao aumentar a disposição, a atenção e a

concentração, ativando a mente e corpo. Corroborando, Alves (2000) destaca que os

exercícios em forma de Ginástica Laboral ativam a circulação periarticular com aquecimento

tecidual e neuromuscular, promovendo ganho de força pelo alongamento muscular,

melhorando o retorno venoso, a capacidade ventilatória e, assim, reduzindo estresse. Mendes

& Leite (2004) confirmam que a Ginástica Laboral é uma ginástica que trabalha o cérebro, a

mente e o corpo.

No momento, quando funcionários incorporam a Ginástica Laboral em seu cotidiano,

eles percebem a diferença nos dias que praticam, ou deixam de praticar a ginástica. O que fica

bem explícito na fala abaixo.

No trabalho a gente sente assim, os dias que tem a ginástica e que não tem. No dia que tem parece que a gente sai um pouco mais tranqüilo e depois que a gente participa da ginástica a gente trabalha, fica mais tranqüilo e fora quando chega em casa sempre acaba recordando alguma coisa do dia, que a gente fez ginástica, faz algum exercício também, deixa assim um bem-estar bem gratificante. Fora do trabalho, deixa mais tranqüilidade, libera a tensão assim, é muito bom. (EP2)

A postura de EP2 frente à Ginástica Laboral reafirma os achados de Cañete (1996)

sobre as pessoas entrevistadas por ela, que afirmam que por meio da ginástica relaxam e

sentem um alívio, uma paz. Stort, Silva & Rebustini (2006) corroboram no sentido de que a

atividade física no ambiente de trabalho pode ser uma alternativa para proporcionar ao

funcionário uma sensação de bem-estar.

Assim, a Ginástica Laboral, realizada mais para o final do expediente, pode

proporcionar ao trabalhador uma sensação de alívio do estresse e tensões acumuladas durante

o dia de trabalho. Podendo até mesmo prepará-lo para outras atividades fora do ambiente de

trabalho, como atividades físicas, culturais, sociais e familiares.

112

4.1.4 Perda de tempo

A correria do dia-a-dia, a competitividade, faz com que os dias, as semanas, pareçam

cada vez menores, não sendo suficientes para realizar todas as tarefas. Assim, para algumas

pessoas pode parecer perda de tempo parar alguns minutos para realizar outras tarefas, como,

relaxar, alongar, integrar com os colegas. Sobre esta questão vale destacar as opiniões de E2 e

E7.

(...) o funcionário acha que deixar esses 15 minutos para fazer a ginástica vai atrapalhar no serviço, e não é verdade, quando ele voltar provavelmente vai fazer muito mais rápido por ter feito essa parada do que se ele tivesse continuado (...). (E2)

Não é perda de tempo parar para afiar o facão. Porque se você está usando um facão que está com a lâmina gasta você, tem que bater com mais força, mais vezes para conseguir cortar a mesma lenha que se você tivesse ele afiadinho e batesse numa vez só, então é nesse sentido. (E7)

Dar um tempo para recarregar as “baterias e afiar o facão” são compensados com

maior rendimento no resto do processo de trabalho. As afirmações de E7 reafirmam as

considerações de Rey (1993 apud ALVAREZ, 2002) que afirma que o desempenho e o

rendimento do trabalhador não é constante no decorrer da jornada de trabalho, e realizando a

Ginástica Laboral, quando o desempenho do trabalhador começa a diminuir devido a fadiga,

pode-se retardar os sintomas improdutivos.

113

4.1.5 Humanização do ambiente de trabalho

As pessoas dedicam a maior parte de suas vidas ao trabalho, passando mais tempo

com os colegas de trabalho do que com seus familiares. Assim, faz-se necessário que o

funcionário se sinta bem em seu ambiente de trabalho, tendo uma boa convivência com os

colegas e superiores.

Já para E2, a Ginástica Laboral é uma atividade que além de todos benefícios e do

alongamento, também trabalha a questão da afetividade, do carinho, bem como, a importância

de ser um amigo e não apenas um colega de trabalho.

Uma coisa que eu observei, que eu nunca tive problema assim, de demonstrar sentimento, eu abraço e acho que é normal, e me chamou atenção (...) a gente começou a observar que realmente tinha colegas que não sabiam abraçar, sempre distante aquele abraço, eu acho que um abraço tem que ser um abraço caloroso, independente em quem você está dando. Então por isso que eu digo, a Ginástica Laboral além do alongamento tem esse outro lado de mostrar essa afetividade (...) não adianta só um oi, daqui a pouco um colega tá precisando muito mais que um oi, daqui a pouco tá precisando um abraço (...). Foi através da Ginástica Laboral que a gente começou a desenvolver essa integração mais com os colegas e foi bem interessante (...) então acho que além de todos os benefícios, acho que isso ajuda muito, porque eu acho que às vezes um sorriso vale mais ou até um alongamento, tudo ajuda, eu acho a ginástica muito bom (...). (E2)

Lima destaca que o profissional que trabalhar com Ginástica Laboral precisa

observar o comportamento dos funcionários com o objetivo de conhecê-los melhor, podendo

“chegar à descoberta de vários comportamentos e personalidades, além de revelar

indiscutíveis características, emoções e reações diferentes às propostas do Programa de

Ginástica Laboral e a outros programas implantados pela empresa” (2005, p.40).

Para Minayo, Hartz & Buss (2000) é importante observar também que, em todas as

sondagens feitas sobre qualidade de vida, valores não materiais, como amor, liberdade,

solidariedade e inserção social, realização pessoal e felicidade, compõem sua concepção. Sob

114

esse prisma, Ogata (2007) destaca que o trabalho não envolve só a questão de bem-estar

físico, mas como a pessoa sente o ambiente, no qual está inserida, o companheirismo em

relação aos colegas e superiores. Desta forma verifica-se a importância do coleguismo, da

amizade, da integração com os colegas, que segundo E2 se concretiza na Ginástica Laboral.

Programas de Ginástica Laboral são um assunto bastante discutido no âmbito

empresarial. No entanto, não é a realidade da maioria das empresas. E6, por sua vez, destaca a

repercusão da Ginástica Laboral para as pessoas de fora, o quanto chama a atenção para as

pessoas que não fazem parte da Instituição. Isto fica explícito na fala de E6.

Fora, as pessoas perguntam, há que jóia, você trabalha lá? Lá tem Ginástica Laboral? Ah, eu adoraria trabalhar num lugar assim.Quem não tem, quem nunca participou acha maravilhoso, e é maravilhoso mesmo, que há, que bom, que tem Ginástica Laboral eu nunca participei, nunca fiz. (E6)

Percebe-se no depoimento de E6, o quanto este funcionário acha “maravilhoso” ter a

Ginástica Laboral em seu local de trabalho, bem como, aquele que “adoraria trabalhar num

lugar assim”. Para embasar tais afirmações vale retomar Ogata (2008), ao afirmar que os

programas de qualidade de vida têm aumentado em todo o país e cada vez mais as empresas e

funcionários estão valorizando as ações que tem como propósito melhorar a qualidade de vida

e o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. De acordo com o autor, a remuneração e

benefícios, estabilidade no emprego e desenvolvimento profissional, que geralmente são as

mais valorizadas estão perdendo espaço para a possibilidade de melhor qualidade de vida.

Eu acho que o programa é extremamente válido e que não pode parar. Porque os benefícios que ele traz para gente são muito bons, deve continuar e cada vez ser mais valorizado, os colegas que participam e incentivar os colegas sempre, é bom para o funcionário e para a empresa também (...). Acho que os benefícios superam todos os custos, o benefício é bem maior, a curto, médio, como a longo prazo. Para o funcionário e para a empresa (...) evita estresse, LER e, também para os colegas, a integração com os colegas é extremamente válido. (EP2)

115

Percebe-se na fala de EP2 que o sujeito não fica preso a uma visão maniqueísta da

relação funcionários-empresa, reconhecendo ganhos para ambos. A postura deste sujeito

frente aos benefícios dos programas de qualidade de vida, no trabalho, concorda com Singel

& Santos (2006). Para esses autores a implantação destes programas procura atender aos

objetivos dos funcionários: melhor saúde, uma vida melhor e mais longa, e das empresas:

estimular a criatividade e a capacidade dos funcionários em vencer obstáculos, para que estes

contribuam para a qualificação e produtividade.

Para os mesmos autores (2006), o principal objetivo de toda empresa é oferecer

produtos e serviços de qualidade que atendam às necessidades e expectativas dos clientes.

Desta forma, as empresas precisam de um diferencial, ou seja, de algo que as torne especiais,

distintas das demais. Entretanto, para que tudo isso aconteça, é preciso contar com

trabalhadores comprometidos e motivados com seu trabalho, assim pode-se transformar

planos e projetos em realidade. Os autores afirmam que só investindo na potencialização dos

recursos humanos é que as empresas vão atingir um grau de competitividade compatível com

as exigências do mercado.

4.2 A Ginástica Laboral incorporada ao dia-a-dia

4.2.1 Cuidado com o corpo

Os benefícios da Ginástica Laboral podem ser diversos, entre eles, estimular o

autoconhecimento e, assim, melhorar a consciência corporal e a auto-estima das pessoas.

Evidenciou-se nos depoimentos de E4 e E5 que eles têm consciência da importância de

prevenir as doenças relacionadas ao trabalho, bem como, ter uma maior percepção corporal.

De acordo com Cañete (1996), a Ginástica Laboral é um mecanismo de prevenção de lesões

osteoligamentares e musculares relacionadas ao desgaste e estresse do trabalho.

116

(...) tem muitos aí que já estão com problemas de saúde, LER e nem estão sabendo e às vezes podem nesse momento, identificar alguma coisa (...) um probleminha no corpo. (E4)

(...) eu acho que a ginástica também traz alguma coisa nesse sentido, o alongamento você dá uma paradinha, acho que tudo isso ajuda. As pessoas tem que ter aquele conhecimento do próprio corpo, de repente, ah tô no meu máximo, de repente tem que dar uma paradinha, tomar um cafezinho, uma saidinha para tomar uma água. É exatamente para não ter esse tipo de reflexo, porque depois que você adquire esse tipo de doença do trabalho, do esforço repetitivo, é difícil você a não ser por cirurgia, tratamento médico. (E5)

Para fundamentar a fala destes sujeitos pode-se retomar as afirmações de Mendes &

Leite (2004), que destacam os programas de qualidade de vida e de promoção de saúde,

através de atividades físicas e desportivas dentro das empresas, com o propósito de amenizar

efeitos negativos do trabalho e da tecnologia sobre o homem, prevenindo a progressão de

doenças ocupacionais. Para Bigolin (2002), o aumento das doenças ocupacionais é uma

preocupação social, pois envolve vários aspectos da vida humana e não somente a

impossibilidade de trabalhar.

Para Lucchese (2007), o conceito da Ginástica Laboral está claro, é atuar na

prevenção de doenças ocupacionais e promover bem-estar e qualidade de vida no trabalho. De

acordo com a autora, já que um terço do dia é dedicado ao trabalho, a intervenção de

atividades preventivas numa empresa, por um profissional de saúde, é de grande importância

para a qualidade de vida dos indivíduos. Mas, ela lembra que não se pode esquecer que esse

processo precisa seguir o caminho da educação, aprendizagem e, principalmente, da

motivação para a mudança.

(...) comecei a me observar e vê que eu estava mais crítico, questão de, até pela própria postura no alongamento, a professora sempre procura adequar a posição, a postura, mas durante o dia se recordar, cuidar a postura, levantar os ombros, barriga para dentro. (E8)

117

Mudou, principalmente naquela parte que você ensinou em encolher a barriga, outra coisa a postura, sabe às vezes enquando estou sentada lá e lembro, opa, não é assim que tem que ser, os pés, colocar os pés naquela posição e mesmo se movimentar de vez em quando, fazer uma coisa diferente (...) a postura, a barriga até no andar na rua, tô cuidando a postura tem que cuidar (...). (E3)

(...) a gente começa a cuidar melhor a postura procurar sentar com jeito, ah eu estava com dor aquele dia, então vou sentar um pouco diferente, vou melhorar. (E6)

Os sujeitos da pesquisa destacam a importância do trabalho de orientação quanto à

postura, realizada pelo profissional de Educação Física. Orientações que em diferentes

momentos são lembradas desde a maneira de sentar e caminhar, tentam adequar para não

sentir desconforto. Lima (2005) destaca que durante as sessões de Ginástica Laboral, o

profissional de Educação Física poderá corrigir, orientar e incentivar os funcionários a adotar

uma melhor postura, tanto no ambiente de trabalho, quanto fora. Loro (2003) confirma que

através da informação, da educação em saúde do trabalhador, pode-se mudar um

comportamento impróprio. Nesse sentido, o educador tem o papel de estimular os grupos a

substituirem comportamentos não muito saudáveis por estilos de vida mais saudáveis.

Para Vilarta & Gonçalves estilo de vida é o resultado da relação de diversos fatores

que compõem nossa existência. O conjunto de adaptações biológicas e culturais que as

pessoas experimentam durante toda a vida, e que resultam em mudanças comportamentais -

que, dependendo do tipo adotado - podem refletir positivamente sobre os aspectos e as

condições de saúde e bem-estar. De acordo com os mesmos autores, os comportamentos são

aprendidos e modelados desde os primeiros anos de vida, podendo, ao longo do ciclo da vida,

serem alterados em função das influências biológicas, ambientais e culturais. Para eles, a

adoção de novos comportamentos depende muito mais da inserção da pessoa no meio

familiar, ambiental e social, do que somente uma decisão pessoal. Os autores complementam,

adotar novos hábitos e comportamentos pode depender das condições preexistentes, capazes de potencializar os efeitos positivos intrínsecos a cada uma delas. Essas condições estão sujeitas às influencias do meio social em que se vive, da disponibilidade de elementos circunstanciais e

118

ambientais presentes no meio e também da própria estrutura biológica individualizada, capaz de favorecer ou dificultar a adoção de um estilo de vida saudável (2004, p.51).

Para Alvarez (2002), a Ginástica Laboral é um excelente veículo de comunicação

para promover a qualidade de vida dos trabalhadores, através de mudança de hábitos e

comportamentos. Lucchese (2007) afirma que resultados comprovam que o sucesso da

Ginástica Laboral está relacionada com a maior percepção corporal, desenvolvidos a partir de

ações de conscientização educativa dos limites do próprio corpo. Estes dados condizem com o

que foi constatado na presente pesquisa.

Minha flexibilidade melhorou bastante, eu nunca fui de ter dor, dor na coluna, dor de cabeça, nunca, mas uma coisa assim que a minha mobilidade ficou melhor, consigo me abaixar e me levantar mais rápido, ou antes eu não prestava atenção, de repente é isso também, então depois da ginástica a gente já começa a se cuidar como se abaixar para pegar um objeto, começa a tomar mais cuidado, de repente isso tenha melhorado. (E2)

Para Lima (2005), a Ginástica Laboral além de beneficiar a postura do funcionário

no ambiente de trabalho, melhora a flexibilidade e a mobilidade articular e diminui a fadiga

gerada devido à tensão e repetitividade. Martins (2005) destaca que após a Ginástica Laboral

os funcionários passam a se valorizar e cuidar mais, assim como, percebem seus próprios

limites.

A rotina destes trabalhadores é uma atividade bastante sedentária, já que eles passam

o dia todo sentados, diante de um monitor, atendendo ao telefone e a clientes. Vale destacar

que a fila de clientes na espera de atendimento faz parte do dia-a-dia destes funcionários.

(...) a ginástica ajuda bastante, faz com que você se sinta um pouco mais flexível, mexe um pouco a musculatura e coisa e tal, a gente passa o dia todo sentado, ajuda bastante, acho que é interessante. (E9)

119

Para Lima (2005), trabalhar sentado pode gerar fadiga, estresse e, principalmente, má

postura. Assim, no momento da Ginástica Laboral, o indivíduo terá um motivo para levantar e

mudar sua posição estática por alguns minutos. Para Martins (2005), só o fato dos

funcionários levantarem e se movimentarem um pouco permite um maior fluxo sangüíneo e

uma maior irrigação para os membros inferiores, diminuindo assim dores.

É natural, quando se fica muito tempo na mesma postura, sentir-se a necessidade de

levantar um pouco, tomar uma água/cafezinho, espreguiçar um pouco e recarregar as energias.

Assim, as situações de trabalho que tem um Programa de Ginástica Laboral, sem dúvida,

permitem que os trabalhadores façam um número maior de pausas, onde antes não havia

nenhuma.

4.2.2 Estímulo à atividade física

A prática de atividades físicas pode ser incentivada através da Ginástia Laboral e

eventos esportivos patrocinados pela empresa, uma vez que esse espaço atinge um grande

número de pessoas, os funcionários, seus familiares e outras pessoas do seu convívio. Assim,

programas implantados pelas empresas tornam-se propostas interessantes e podem trazer

benefícios de caráter físico, psicológico e social.

E6 relata que aproveita bem o momento da Ginástica Laboral para relaxar, sentir o

corpo, “espichar”, distrair-se, assim, melhorando a mente e o corpo. Para este indivíduo, a

partir dela as pessoas começam a se preocupar mais com a saúde física e mental.

Eu acho que a gente passa a se preocupar mais com a nossa saúde física e mental também, até com música é um momento que tem para relaxar. Então a gente começa a se preocupar mais em como estar. Eu pelo menos tiro aquele momento que é a ginástica para relaxar mesmo, para sentir o corpo, para espichar, para distrair, para melhorar mesmo a mente. Eu apoveito bem o momento. (E6)

120

E7, relata que através da Ginástica Laboral começou a se conscientizar quanto à

importância de realizar atividade física também fora do ambiente de trabalho.

Sim, porque é bastante claro o efeito que causa sobre o corpo, antes e depois da Ginástica Laboral, então isso me fez entender muito melhor também a importância do exercício fora do trabalho, porque é muito claro, muito clara a diferença que faz, do antes e do depois (...). (E7)

Para E8, E9, E4 e E6 a Ginástica Laboral é uma atividade de curta duração, a qual

consideram boa por ser no ambiente de trabalho, no entanto, não o suficiente. Estes sujeitos

relatam que a Ginástica Laboral é uma forma de conscientizar, estimular e incentivar as

pessoas a procurar fazer outras atividades físicas fora do ambiente de trabalho e assim,

estimular o hábito desta prática.

(...) embora nesse pequeno espaço que é dado (...) também incentiva para fazer em casa os alongamentos e ter uma atividade aeróbica também, fazer um esporte, então sempre contribui para a saúde. (E8)

(...) a Ginástica Laboral 10 - 15 minutos por dia não seria suficiente, mas dá ao funcionário a percepção de que ele precisa procurar algo a mais, então para fazer com que ele venha criando este hábito, acho que é por aí a Ginástica Laboral na minha percepção. (E9)

(...) conscientizar para as pessoas fazer atividade física (...) começar a participar num grupinho, o pessoal vai fazendo e tu te sente até motivado para sair daqui, há vou fazer alguma coisa (...). Eu não fazia academia aí eu pensei vou começar a fazer alguma coisa para mexer porque só a laboral é bom porque é no ambiente de trabalho, mas começar a fazer uma coisa a mais fora disso aí, uma hora no mínimo de atividade, não digo todos os dias, mas pelo menos 3 vezes por semana. (E4)

(...) é uma forma de estimular o pessoal, a atividade física não só aqui, mas também fora da Instituição, do local de trabalho. Então é uma forma de

121

incentivar a prática da atividade física, além de servir para sei lá para gente se movimentar aliviar a tensão, não só no momento mas também para continuar depois, é um incentivo para fazer uma outra atividade. (E6)

Este incentivo e motivação, em procurar atividade física fora da empresa, fica bem

explícita na fala dos sujeitos supra citados. Novamente Lima (2005) contribui com a

discussão, pois por meio da Ginástica Laboral pode-se incentivar a prática de exercícios

físicos não só dentro da empresa, mas também fora do ambiente de trabalho. Martins (2005),

em sua pesquisa, destaca que através da Ginástica Laboral 55% dos funcionários ficaram mais

motivados a fazer exercício e 37% tiveram mudanças no lazer, passando a caminhar e praticar

esportes nos finais de semana.

Os entrevistados, quando perguntados sobre a prática de atividade física fora do

ambiente de trabalho, responderam de várias maneiras. Duas pessoas relataram não estar

praticando atividade física, uma por falta de tempo já que um faz curso à noite e a outra por

estar cursando faculdade, não sobrando tempo e nem recursos financeiros. No entanto, os

demais funcionários relataram praticar atividade física com uma freqüência de 1 a 3 vezes por

semana, entre as modalidades, a caminhada, corrida, alongamento, musculação, bicicleta,

balance, pampe, futebol e voleibol. A falta de tempo foi uma das justificativas para a baixa

freqüência, principalmente para as mulheres que, segundo relato, além do trabalho têm a casa

e os filhos para cuidar. O que fica explícito na fala abaixo:

Eu acho que precisava fazer mais atividade física fora, mas nem sempre a gente consegue conciliar tudo fora do trabalho. Você tem outras atividades em casa, tem filhos, a casa, mas acho que precisava achar um jeito de me organizar melhor para fazer outras atividades físicas (...). (E6)

Para ratificar a declaração de E6, pode-se reportar à Vilarta & Gonçalves, que

consideram o lazer ativo mais presente entre os homens do que entre as mulheres,

principalmente entre as que são casadas, têm filhos e afazeres domésticos. De acordo com os

autores, a maioria dos homens praticam algum tipo de atividade física no decorrer da semana,

122

ou ao menos nos finais de semana. No entanto, o tempo disponível para o lazer ativo das

mulheres é bastante reduzido.

Levando em conta o custo financeiro das atividades fora do trabalho como estudo,

cursos, cultura e o tempo usado para tarefas domésticas, casa, filhos, deslocamentos, poucas

são as pessoas que conseguem organizar o lazer de acordo com os seus desejos e suas

necessidades fisiológicas.

E7 relata ter lido numa revista a importância da atividade física, na qual era

ressaltado, conforme E7, que as pessoas deveriam fazer reuniões andando no parque, ou fazer

atividade aeróbica antes de começar o dia de trabalho, para oxigenar o cérebro, aumentar a

imunidade, a saúde, a criatividade, bem como, aumentar o rendimento. Este entrevistado

enfatiza que fazendo uma atividade física se produz muito mais e entendendo isso, vendo e

percebendo no dia-a-dia, o mesmo acredita que isso é realmente importante.

(...) eu li numa Revista (...) Época Negócios22(...) que as pessoas deveriam fazer reuniões andando no parque ou antes de começar o dia de trabalho fazer uma atividade aeróbica e oxigenar o cérebro, porque assim, aumenta a criatividade, o rendimento (...) e a possibilidade de saúde, manutenção da saúde. (...) que as pessoas produzem muito mais fazendo uma atividade física, então entendendo isso (...) percebendo no dia-a-dia, eu acredito que é importante. (E7)

Nota-se que os sujeitos da pesquisa aprendem exercícios novos nas sessões de

Ginástica Laboral e os fazem em casa, bem como quando vão praticar esporte, assim como, às

vezes até ensinam para outras pessoas.

Ás vezes a gente faz em casa, por incrível que pareça, antes de tomar banho estica tudo ou então de noite estica para cá, estica para lá, fazendo alguns movimentos, aqueles que a gente sabe que são bons para relaxar, então a gente faz em casa, fora do ambiente. (E3)

22 Revista Época Negócios Editora Globo. Ano 2 /2008 / Nº 13 – Esta revista traz diversos assuntos empresariais de inovação, gerênciamento, empreendedorismo, marketing, entre outros.

123

(...) a gente tá se exercitando, tá fazendo alongamentos e esses alongamentos também se aproveita às vezes fora, quando se vai praticar esporte (...) jogar futebol, que é meu caso (...). (EP2)

(...) aprendi a fazer exercícios que eu não sabia, então eu faço em casa e às vezes a gente ensina para outras pessoas, a tô com uma dor aqui, a vamos alongar. (E1)

De acordo com Martins (2005), a informação no ambiente de trabalho pode

beneficiar muito mais pessoas, não só o trabalhador da empresa onde a atividade física é

realizada, mas também a comunidade da qual ele está inserido, desde que ele passe este

conhecimento aos seus familiares, vizinhos e amigos.

Segundo EP1, o tempo que o professor está disponível a esta instituição é

aproveitado para tirar dúvidas e pedir sugestões em relação a outras atividades que podem ser

realizadas fora do ambiente de trabalho. Este entrevistado relata ter esclarecido dúvidas com o

professor sobre atividade física, em várias oportunidades.

(...) e também procura esclarecer algumas dúvidas que tu tem fora, por exemplo, até por tá um profissional de Educação Física a gente procura aproveitar desse tempo que tá à disposição do banco para tirar algumas dúvidas em relação a atividades físicas fora da empresa, até eu quantas vezes já perguntei pra tí e colegas também já devem ter perguntado, quando tem alguma dúvida, a o que é melhor fazer, musculação ou caminhada, coisa assim. (EP1)

Martins (2005) chama a atenção para a importância do contato direto entre o aluno e

o professor de Ginástica Laboral, afirmando ser um momento valioso para ambos. Para a

autora é imprescendível alguns minutos após as aulas para que o trabalhador possa tirar

dúvidas sobre atividade física e saúde. Desta forma, ele pode ampliar seus conhecimentos e

melhorar a saúde física e mental e ainda, estar mais seguro ao realizar os exercícios, tanto no

trabalho, durante a ginástica, quanto em outros locais.

124

4.2.3 O professor estimula o cuidado com a saúde

O professor, segundo depoimento de E6, além de auxiliar nos exercícios, para serem

realizados de forma correta, passa a imagem de bem-estar, de preocupação e cuidado com o

corpo e a saúde.

(...) a figura do professor, lá para o momento, é essa imagem de bem-estar mesmo, de preocupação do corpo, de todo cuidado, (...) o professor traz a idéia do cuidado com a saúde e também está lá para auxiliar o que tem que ser feito de forma correta. (E6)

Quando perguntado se mudou algum comportamento em relação à saúde com o

Programa de Ginástica Laboral, EP1 expõe que não é só a Ginástica Laboral que vai mudar

um comportamento em relação à saúde, mas que ela vem a somar com outras coisas no dia-a-

dia das pessoas. Para este entrevistado a Ginástica Laboral é uma parcela num todo. Isso pode

ser verificado nas palavras de EP1

Olha eu não posso te dizer assim, que só o Programa de Ginástica Laboral que vai fazer isso aí, mas acho que faz parte de um conjunto de coisas que ajuda a gente. Não é só o Programa de Ginástica Laboral, a Ginástica Laboral é uma coisa que vem a somar nas outras coisas que tu vai ter no dia-a-dia, que tu vai buscando (...). (EP1)

Para E2 enquanto se fala em Ginástica Laboral se fala em boa alimentação, além do

convívio e harmonia com os colegas, uma é conseqüência da outra, fechando um círculo.

Percebe-se que os entrevistados não têm uma visão maniqueísta quanto aos benefícios da

Ginástica Laboral, reconhecendo benefícios como um todo, não só da Ginástica.

125

(...) então eu acho que uma coisa vai puxando a outra, enquanto se fala em Ginástica Laboral vai se falar de uma boa alimentação, do convívio, na harmonia do convívio com os colegas. Então tudo isso vai ajudando, então vai fechando um círculo, digamos assim, uma coisa vai levando a outra, então nesse sentido acho que ajuda. (E2)

Um programa de qualidade de vida no trabalho tem como propósito incentivar e

apoiar hábitos e estilos de vida mais saudáveis, que promovam saúde integral e bem-estar para

funcionários e suas famílias durante toda a vida, tanto no trabalho como fora dele. Isto

porque, na vida sempre se está buscando uma inter-relação harmoniosa dos vários aspectos e

dimensões do ser humano. Cañete (1996) afirma que Ginástica Laboral é uma prática

educativa que tem como objetivo o desenvolvimento do ser humano em todos os aspectos de

forma criativa, tendo todas as condições de beneficiar indivíduos e organizações.

Para E9, a Ginástica Laboral não tem como objetivo mudar o aspecto físico das

pessoas, mas dar uma motivação a mais para manterem-se ativos, apesar do avanço da idade.

(...) a idade vai avançando, eu acho que eu continuo com o mesmo pique (...) eu acho que o objetivo da ginástica não é mudar o aspecto físico, mas sim dar um incremento. (E9)

Porque eu sou uma pessoa que passo no banco. Eu daqui a pouco, vou estar saindo, me aposentando. Então quando sair daqui quero estar bem, não quero sair daqui e estar mal, para não poder fazer nada. Quando eu cumprir meu tempo de banco, quero sair para estar bem, quero continuar bem, com boa saúde para continuar outras atividades, ou até não sei se não vou fazer nada, mas com qualidade de vida, não fazer nada e doente, pouco resolve. (E2)

Também E2 enfatiza que a sua vida profissional, na instituição, é passageira, pois

quando cumprir seu tempo de trabalho vai se aposentar. Nesse sentido, E2 faz refletir que a

vida não se resume ao trabalho. Este entrevistado afirma, que é preciso ter uma vida saudável

no trabalho e na vida pessoal, pois não se pode pensar só em saúde e qualidade de vida

126

enquanto se está no ciclo da vida “produtiva”, mas também quando estiver aposentada, para

“curtir” esta conquista com qualidade de vida.

Eu acredito que se (...) os trabalhos todos fossem por produção23 e não pelo tempo que você tem, você conseguiria se organizar melhor (...) muitas vezes algumas pessoas, como eu, eu produzo muito melhor à noite. Eu começo a produzir lá pelas 22h, mais ou menos, e não me importo nem um pouco, não tenho dificuldade nenhuma de ficar até às 6 horas da manhã produzindo com intervalos curtos de distração (...) se fosse por produção cada pessoa escolheria qual é o seu melhor horário (...). Eu acho que a pessoa trabalha de acordo com o que ela tem e trabalha de acordo com as possibilidades, e eu acho que isso não é levado em consideração quando você é colocado num tempo, num espaço (....). (E7)

(...) algumas empresas já adotaram, o que eu vejo, alguma reportagem que a gente ouve, tipo microsoft, tu trabalha o tempo que você tem todas as condições24, dali a pouco se não tá mais criando nada você pára no teu ambiente de trabalho (...). Teria que melhorar mas eu não saberia dizer como, quais as alternativas que poderiam ser criadas nesse sentido. (E8)

Quando perguntados se poderia haver outra medida para melhorar as condições de

trabalho, E7 e E8 destacaram que os trabalhos deveriam ser por produção e não por tempo.

Isto é, trabalhar enquanto se está produzindo e quando sentir que não está rendendo mais,

parar de trabalhar, retornando apenas quando sentir que está em boas condições para produzir.

Para E7, as pessoas são diferentes umas das outras, portanto, produzem melhor em diferentes

momentos e isto não é levado em consideração quando se coloca um trabalhador num

determinado tempo e espaço para trabalhar. E8 afirma que algumas empresas como, por

exemplo, a Microsoft, já adotaram este sistema e que as condições de trabalho na Instituição

poderiam mudar. No entanto, não saberia como, quais os mecanismos que poderiam ser

criados nesse sentido.

23 Vale destacar que este sistema de trabalho por produção, se não for bem administrado com a participação do trabalhador, pode envolvê-lo mais ainda no trabalho do que se ele tiver horário a cumprir. 24 Nesse sistema de trabalho o trabalhador adequa o seu prórprio horário

127

4.2.4 Educação em Saúde

A Educação em saúde está sendo considerada já há algum tempo uma estratégia

global para promover a saúde das pessoas, através de conhecimentos organizados;

aprendizagens contínuas; hábitos de higiene; atitudes pessoais a respeito da saúde na sua

tríplice função: física, psicológica e social. Assim, a educação em saúde faz parte da educação

como um todo, com o objetivo levar a pessoa a uma crescente humanização com a finalidade

de chegar a sua auto-educação através de toda sua vida (MOSQUERA & STOBÄUS, 1983).

A educação em atenção à saúde dos trabalhadores está cada vez mais presente nos

ambientes de trabalho. Lopes (2000) enfatiza que ao discutir o tema saúde do trabalhador é

necessário uma maior aproximação entre a teoria e a prática, reconhecendo e integrando

trabalhadores, processos de trabalho, práticas alternativas com os avanços tecnológicos.

Sendo os trabalhadores participantes das ações, interagindo, contribuindo com seus

conhecimentos, com sua prática e rotina de trabalho, para melhor compreensão do impacto do

trabalho sobre o processo saúde-doença. Para Loro, “as ações educativas devem ser

entendidas como uma possibilidade conjunta, entre trabalhadores e profissionais de saúde, de

crescimento e transformação de uma realidade conhecida” (2003, p.114).

De acordo com os depoimentos dos sujeitos da pesquisa pode evidenciar-se que os

mesmos têm carência de orientações e informações sobre o tema saúde. E8, por exemplo,

coloca em pauta a falta de orientações e destaca a importância de ter alguém para observar e

orientar quanto à postura, bem como, a maneira de realizar os movimentos.

Falta orientação, não existe assim uma pessoa que fala, tá inadequado o teu movimento. Ninguém, acho, se tem no SESMT se tivesse alguma coisa em relação a isso que vem observar o funcionário, acho que seria interessante, a tua postura não tá correta, a sua forma de movimentação, eu acredito que falta um pouco disso também. (E8)

A portaria 3214/78, do Ministério do Trabalho, constitui-se de 33 Normas

Regulamentadoras (NR) relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Destas pode-se

128

destacar a Norma Regulamentadora 4 (NR 4), que determina a obrigatoriedade das empresas

que possuem empregados contratados pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, de

estruturarem e manterem em funcionamento o SESMT, com a finalidade de promover a saúde

e proteger a integridade física do trabalhador no local de trabalho. O número de profissionais

que deverão fazer parte da equipe de saúde será determinada de acordo como o número de

funcionários da empresa e o grau de risco ocupacional, que é estabelecido pela NR 4.

Compete aos profissionais integrantes25 do SESMT promover atividades de conscientização,

educação e orientação aos trabalhadores para a prevenção de acidentes de trabalho e doenças

ocupacionais, através de campanhas, assim como programas de duração permanente,

estimulando em favor da prevenção (ARAÚJO, 2003).

E3 e E6 destacam que orientações e informações que eles recebem, restringem-se ao

transmitido pelo professor de Ginástica Laboral. No entanto, E6 destaca que lê bastante e

procura estar informado, principalmente, sobre as lesões que podem ocorrer devido ao esforço

repetitivo do trabalho.

(...) sobre o Programa de Ginástica Laboral, quando foi implantado, mas orientação, informação só mais o que tu mesma passa de vez em quando sobre postura, essa das medidas (...) lembra aquela vez que você mediu a cintura (...) do IMC26, da elasticidade, sentado no colchonete, sentado ou de pé (...). (E3)

Não, a não ser alguma coisa que a gente lê por fora, mas no trabalho mesmo não, mas eu leio bastante em relação, principalmente esta lesão do esforço repetitivo, leio bastante. Mas assim no trabalho não, fica restrito a esse momento na Ginástica Laboral. (E6)

Pode-se destacar ainda a Norma Regulamentadora 5 (NR 5), que institui a Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA. A portaria 3214/78, do Ministério do Trabalho,

25 O SESMT deverá ser integrado por Médico do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Enfermeiro do Trabalho, Auxiliar de Enfermagem do Trabalho e Técnico de Segurança do Trabalho (ARAÚJO, 2003). Vale destacar que o profissional de Educação Física não está incluído na relação dos profissionais exigidos por lei que façam parte do SESMT, no entanto, em muitas empresas este profissional faz parte da equipe, como no caso da Instituição Financeira em pesquisa. 26 É a razão entre o peso corporal (kg) e a altura (m2). É usado para avaliar o estado nutricional (BARBANTI, 1994).

129

normatiza a obrigatoriedade das empresas em organizar e manter em funcionamento, em

função do seu grau de risco e pelo número de funcionários. É uma comissão composta por

representantes dos empregados, escolhidos por voto secreto pelos trabalhadores e

representantes da empresa que são indicados pela administração.

A CIPA tem por objetivo a prevenção de doenças e acidentes do trabalho, através de

controle dos riscos presentes no ambiente de trabalho, nas condições e na organização do

trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida

e a promoção da saúde dos trabalhadores (ARAÚJO, 2003). Sendo assim, as principais

atribuições da CIPA são:

- Identificar os riscos do processo do trabalho, elaborando um mapa de risco;

- Elaborar um plano de trabalho em ações preventivas de segurança e saúde ocupacional;

- Participar da implementação e do controle de qualidade das medidas preventivas;

- Verificar os ambientes e condições de trabalho;

- Avaliar o cumprimento das metas fixadas;

- Promover anualmente, em conjunto com o SESMT, a Semana Interna de Prevenção de

Acidentes do Trabalho – SIPAT;

- Colaborar no desenvolvimento e implementação do Programa de Controle Médico de

Saúde Ocupacional - PCMSO27 e Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA28

e de outros programas relacionados à segurança e saúde do trabalhador.

Referente a CIPA Loro destaca que

dentre os objetivos dessa Comissão está clara a sua função preventiva, no entanto, muitas vezes, permanece em segundo plano. Isso ocorre quando há falta de apoio aos membros da CIPA por parte de sua chefia direta e também quando na instituição ela só existe formalmente, ou seja, em cumprimento à exigência legal do Ministério do Trabalho (2003, p.107).

27 NR 7 - PCMSO é parte integrante do conjunto mais amplo da saúde dos trabalhadores, devendo estar articulado com as exigências das demais normas regulamentadoras, considerando as questões incidentes sobre o homem, com ênfase no instrumental clínico-epidemiológico, na abordagem da relação entre sua saúde e o trabalho, que deverá ter prioridade na prevenção, rastreamento e diagnóstico preventivo dos aspectos de saúde relacionados ao trabalho, inclusive de natureza subclínica, além da constatação da existência de doenças ocupacionais (ARAÚJO, 2003, p.257). 28 NR 9 – PPRA visa a preservação da saúde e integridade física dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho (ARAÚJO, 2003, p.295).

130

Conforme relato de EP1, deveria ter mais informações sobre a saúde, já que fora da

ginástica isso quase não acontece. Eventualmente recebem folhetos sobre saúde, mas é muito

raro e insuficiente. Nas palavras deste sujeito, no Programa de Ginástica Laboral, eles

procuram tirar suas dúvidas.

(...) acho que poderia ter um pouco mais, tipo, não me referindo ao profissional de Ginástica Laboral. Eu digo, questão de saúde mesmo, até de informação. A gente recebe alguns folhetos de vez em quando sobre saúde, (...) mas bem raras vezes (...) fora da ginástica a gente não tem quase nada, informação, e dentro da Ginástica Laboral a gente procura tirar todas as dúvidas. (EP1)

Anualmente a CIPA em conjunto com o SESMT deve realizar a SIPAT, que tem

como objetivo conscientizar os funcionários da impotância de evitar acidentes e doenças

decorrentes do trabalho, que são prejudiciais tanto ao trabalhador quanto ao sistema produtivo

(ARAÚJO, 2003).

É uma semana voltada à prevenção, os assuntos relacionados com saúde e segurança

do trabalho são evidenciados, buscando a efetiva participação dos funcionários, diretores,

gerentes e os familiares se possível. A SIPAT não deve ser vista como mero cumprimento da

legislação, mas sim, como a continuidade dos trabalhos voltados para a prevenção de

acidentes e doenças ocupacionais realizados durante o ano.

No entanto, EP1 menciona que procura manter-se atualizado, lendo reportagens em

jornais, revistas, internet. Ele destaca a internet como o meio de comunicação que mais utiliza

para se manter informado, ao qual tem maior acesso, pois segundo ele a “internet é uma

informação barata”.

(...) quando sai alguma reportagem no jornal, alguma revista sempre procuro ler, quando está ao meu alcance as revistas. Esses dias até saiu uma reportagem legal na Revista Veja, sobre alimentação, achei bem interessante e a gente sempre procura se manter atualizado, (...) as últimas tendências, revistas e a internet mais (...) a internet é uma informação barata, informação que tenho maior alcance (...). (EP1)

131

Internet (...) cuidados com a saúde em geral. Muito pouco, só procuro cuidar, coisa pouca. (E5)

Internet busco algumas informações, leio alguma coisa, alimentação natural (...). (E8)

Os sujeitos da pesquisa apontam a internet como principal fonte de informações. A

internet apresenta uma convergência de mídias, no computador já é possível assistir a

programas de televisão ouvir rádio, ler jornais, revistas, artigos... enfim, todas as mídias

tradicionais, com os mais diversos meios da interatividade. Assim, a internet tem se tornado

um dos meios de comunicação e informação mais práticos e acessíveis, no entanto, este

acesso ainda é um tanto restrito.

EP2, por sua vez, assina a Revista Vida e Saúde29, de onde retira informações sobre

atividade física e alimentação. E1 recebeu informações e passou para os colegas quando fez o

curso da CIPA, também alguma informação do SESMT e Revista Saúde.

(...) tenho a assinatura Revista Vida e Saúde, lá tem alguns exercícios, tem sobre alimentação (...) frutas e verduras (...). (EP2)

(...) no curso de CIPA, recebi algumas informações e passei para os colegas na época (...) na parte do SESMT vejo alguma coisa, uma novidade e repasso para os colegas, mas não tem muita (...). Revista saúde tem muitas dicas (...). (E1)

A cada mandato (duração de um ano) dos membros eleitos da CIPA, titulares e

suplentes, antes da posse, a empresa deverá promover treinamento com carga horária de vinte

horas, distribuídas em no máximo 8 horas diárias, durante o expediente normal da empresa.

Este curso contempla vários assuntos, entre eles o ambiente, as condições de trabalho, os

29 Revista Vida e Saúde é uma revista que traz dos mais diversos assuntos sobre qualidade de vida, alimentação, hábitos saudáveis, entre outros.

132

riscos originados do processo produtivo, como acidentes e doenças do trabalho (ARAÚJO,

2003).

Os sujeitos da pesquisa pouco reportam-se à CIPA, o que revela que a CIPA não é

lembrada, e, possivelmente, pouco atuante. Percebe-se na fala de E1 que já faz bastante tempo

que realizou o curso da CIPA, este sujeito também menciona o SESMT, assim como E8. O

SESMT, também é pouco mencionado, o que também é um dado que merece atenção.

E4 por sua vez, relata que o Sindicato dos bancários alerta bastante, além disso, lê

nos jornais, nos quais saiu bastante material informativo sobre o mundo do trabalho.

O Sindicato alerta bastante e o que a gente lé na imprensa nos jornais, tem o material, saiu bastante do mundo do trabalho essas coisas. (E4)

E6 assiste a programas de televisão, lê bastante revistas e livros. Segundo seu

depoimento, não são reportangens específicas sobre saúde no trabalho, todavia, sempre tem

umas partes sobre este tema.

Ah, eu escuto programa de televisão, revistas, livros, eu sempre leio bastante, então às vezes tem um trechinho lá, às vezes não é só sobre mas sempre tem uma reportagem sobre saúde no trabalho. (E6)

Não, só o que me chega às mãos, mas quando chega eu presto muita atenção. (E7)

Leio alguma coisa, mas nada além do que é colocado, acredito que possa orientar, interessante nesse trabalho e, às vezes, fazer de repente uma palestra sobre postura (...). (E8)

133

De acordo com Loro (2003, p. 51) “a empresa tem a co-responsabilidade com as

ações educativas e com a implantação de medidas de proteção que venham a promover a

saúde dos trabalhadores”. No entanto, a postura de E7 e E8 denota uma atitude bastante

passiva, não demonstram interesse, nem atitude em procurar e manter-se informados, uma vez

que, costumam ler apenas o que lhes é proporcionado, o que chega às mãos ao acaso. Assim,

pode-se destacar, a importância do funcionário também ter responsabilidade, e na medida do

possível, procurar manter-se informado, não atribuindo só à empresa a responsabilidade em

proporcionar informações e orientações sobre o tema saúde.

Orientação, mais o que a gente ouve falar pela imprensa, pelos jornais e tal, mais especificamente assim, nós do banco mesmo, eu teria que me informar mais, às vezes, tem folder até do pessoal do Sindicato que eles alertam bastante, tem LER, tem isso, tem aquilo, mas eu acho que o banco teria que se preocupar mais com essa questão que tem muita gente que tem problemas e depois pode acontecer que, uma boa parte do programa é a prevenção, principalmente poderia ajudar a solucionar muitos casos, prevenção acho que é bem mais importante. (E4)

Como já mencionado por Loro (2003), nota-se que não existe uma política bem

definida no que se refere a ações educativas nas empresas, ficando muito distante das

necessidades e expectativas dos trabalhadores, mesmo existindo um discurso administrativo

em prol da saúde do trabalhador. Marchi et al. (2006) afirmam que as ações em saúde do

trabalhador devem estar focadas nas alterações dos processos de trabalho, dando conta das

relações saúde e trabalho em todos seus complexos, com políticas definidas pelos setores

responsáveis pela saúde do trabalhador em todos os níveis.

De acordo com a NR 4 a equipe de saúde deve promover a realização de atividades

de conscientização, educação e orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes e

doenças ocupacionais, através de campanhas com duração permanente (ARAÚJO, 2003). No

entanto, observando e interagindo com os sujeitos da pesquisa, constatou-se que a Instituição

estudada não possue uma política de educação em saúde do trabalhador claramente definida.

Talvez isto se deva pelo fato da central do SESMT estar situada em uma cidade

bastante distante da agência pesquisada, a qual coordena os serviços de saúde do trabalhador

134

de todas as agências da Instituição Financeira. No entanto, em tempos de comunicação

instantânea tal distância pode não ter relevância.

Conforme Araújo (2003)

a empresa poderá constituir Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho centralizado para atender a um conjunto de estabelecimentos pertencentes a ela, desde que a distância a ser percorrida entre aquele em que se situa o serviço e cada um dos demais não ultrapasse a 5.000 m (cinco mil metros), dimensionando-o em função do total de empregados e do risco (2003, p.137).

Por fim, o que cabe destacar em relação a este tema é a necessidade, afirmado pelos

marcos legais e confirmado pelos sujeitos da pesquisa, de uma melhor articulação dos

programas vinculados a saúde do trabalhador, o que potencializaria o impacto de cada um

destes, entre os quais a Ginástica Laboral.

135

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi de conhecer e analisar a percepção dos trabalhadores

quanto às ações educativas em saúde do trabalhador propostas pelo Programa de Ginástica

Laboral. Ao desenvolver este trabalho, objetivou-se apresentar um tema ligado à vivência

profissional, como educadora física, na área da saúde do trabalhador. Para uma reflexão,

através de um olhar mais crítico e menos comprometido com os anseios, foi necessário um

certo distanciamento, só assim as emoções inerentes a toda e qualquer experiência puderam

ser minimizados. Portanto, foi preciso superar desafios, angústias, saber lidar com as

percepções e opiniões já formadas, reconstruindo-as em novas bases, com o apoio do

referencial teórico e procedimentos metodológicos. Aos poucos, o trabalho foi se delineando,

as dúvidas foram sendo esclarecidas e o estudo começou a tomar forma. A cada objetivo

alcançado, a alegria, o estímulo para a continuidade da pesquisa. A participação dos sujeitos

da pesquisa foi fundamental, pois colaboraram significativamente para a realização desta.

Conseguiu-se estabelecer um elo de amizade e acolhimento, ambiente favorável para que

através das falas emergissem contribuições importantes referente ao Programa de Ginástica

Laboral.

Verificou-se com este estudo que os discursos por parte de todos os envolvidos

(empresa, trabalhadores) quanto aos benefícios dos programas de qualidade de vida são

alentadores, mas também ficou evidente que muitas vezes não ultrapassam o nível do

discurso. Isto é, ficam só no discurso e não se realizam, não se concretizam enquanto prática.

Notou-se, todavia, que as empresas, de uma forma ou de outra, estão implantando tais

programas, seja para cumprir a legislação, seja pensando no bem-estar dos funcionários.

Dentre as leis que amparam o trabalhador, destacou-se a NR 4, que determina a

obrigatoriedade das empresas, que possuem empregados contratados pela CLT, de

136

estruturarem e manterem o SESMT. Entre os profissionais que obrigatoriamente devem fazer

parte, o profissional de Educação Física não está incluído. Assim, o Programa de Ginástica

Laboral não é uma atividade obrigatória nas empresas. Contudo, um programa de Ginástica

Laboral contribuiria para atender às expectativas das empresas no que diz respeito ao

cumprimento da legislação vigente na prevenção de doenças relacionadas ao trabalho.

Como o Programa de Ginástica Laboral não é uma atividade obrigatória nas

empresas, cabe aos administradores a decisão de implantá-lo ou não. Se a empresa optar pela

implantação, deve estar ciente de que implantar, manter e obter sucesso em um programa de

qualidade de vida não se constitui numa tarefa administrativa simples, pois envolve uma

mudança de cultura da empresa, bem como, a motivação e a adesão dos colaboradores desta,

ou seja, prevê um processo de mudança de comportamentos. Assim, para o bom andamento

dos programas é fundamental o envolvimento dos funcionários no planejamento e na

execução dos programas, como também é imprescindível o comprometimento dos diretores,

gerências e líderes de setor. Em outras palavras, de nada adianta implantar Programas de

Ginástica Laboral se a gerência da empresa não incentivar seus funcionários a participarem e

conceder flexibilidade nos horários de trabalho que permitam a prática da atividade física

durante o expediente.

Além disso, várias definições e diferentes atribuições são dadas à prática da

Ginástica Laboral, o que acaba dificultando a real definição de seu papel na saúde do

trabalhador. Dessa forma, após optar em implantar o Programa de Ginástica Laboral é

importante contratar um profissional capacitado para trabalhar com o mesmo. É preciso

considerar a Ginástica Laboral como uma atividade educativa e preventiva, levando em conta

as especificidades das funções exercidas pelos trabalhadores, processos de trabalho, ambiente,

bem como, cada indivíduo em seu espaço de trabalho. Tanto a empresa contratante quanto a

empresa contratada precisa ter clareza de que para implantar e gerenciar um Programa de

Ginástica Laboral é preciso conhecimento quanto à complexidade dos fatores que integram o

ambiente de trabalho. O profissional de Educação Física precisa esclarecer aos

administradores e funcionários quais os reais benefícios desta atividade. Isto é, não pode, sob

hipótese alguma, atribuir à Ginástica Laboral benefícios que não poderão ter êxito, forjando

ilusões ou criando expectativas impossíveis de atender.

Algumas manifestações dos entrevistados da presente pesquisa ao serem

questionados sobre o papel do profissional de Educação Física no Programa de Ginástica

137

Laboral foram significativas, elucidando o que eles pensavam sobre tal profissional. De

acordo com os depoimentos, o profissional de Educação Física ministra as aulas, os exercícios

físicos, de forma recreativa, interagindo, buscando atender ao interesse de todos, animado e

criando o hábito da Ginástica Laboral. Para eles, a participação do professor é essencial e sem

ele esta atividade não se manteria. Isto é, os entrevistados vêem o profissional de Educação

Física como um agente promotor da saúde, à medida que este proporciona aos funcionários

espaço para tirar dúvidas, no qual orienta-os e incentiva-os a adotar um estilo de vida mais

saudável. Consideram a Ginástica Laboral um espaço para falar de saúde, já que quando se

fala em atividade física se fala em alimentação, estilo de vida. Porém, não consideram que a

Ginástica Laboral sozinha mudará um comportamento em relação à saúde, mas que pode

contribuir em um somatório no cotidiano das pessoas, configurando-se em uma parcela de um

todo. Fica explícito, portanto, na fala dos entrevistados que eles não vêem a Ginástica Laboral

sob uma ótica idealista atribuindo-lhe todo e qualquer benefício.

Os depoimentos obtidos dos sujeitos da pesquisa revelam a satisfação dos

participantes em estar com os colegas de trabalho durante a Ginástica Laboral, considerando-a

um momento de lazer, para alongar, descontrair, relaxar e integrar-se com os colegas. Pode-se

destacar que em alguns momentos os participantes, devido ao entendimento como momento

de integração, acabam não se concentrando tanto no exercício, o que, porém, não compromete

a sua valorização, pelo contrário, muitas vezes o funcionário participa da Ginástica não pelo

alongamento, mas para estar participando do grupo. Nesse sentido, a Ginástica Laboral tem

como pano de fundo o relacionamento interpessoal e o fortalecimento dos laços afetivos,

como um dos aspectos fundamentais para a qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Os depoimentos destes sujeitos demonstram o quanto eles gostariam que todos os

colegas participassem da Ginástica Laboral. Desta forma, a Ginástica Laboral direcionada, de

forma hábil, perspicaz e didática, para um trabalho de integração, tem função fundamental na

melhora das relações interpessoais, aumento da motivação para o trabalho, melhora do

espírito de equipe, maior cooperação entre os colegas de trabalho, quebra do bloqueio social,

bem como de tabus. A proximidade com os colegas é eficaz na prevenção da monotonia e

isolamento social. Desse modo, pode-se afirmar que através da Ginástica Laboral existe a

oportunidade de realizar uma atividade física de curta duração, trabalhar o relacionamento

entre colegas e ainda despertar valores que muitas vezes são deixados de lado, como a

amizade, o coleguismo e a afetividade. Nota-se o destaque dado à dimensão social, inerente

138

ao Programa de Ginástica Laboral, uma vez que é uma oportunidade para se integrar com os

colegas. Integração esta geralmente prejudicada e restrita nos modelos de organização dos

processos de trabalho do sistema capitalista.

Os sujeitos da pesquisa apontaram ainda a Ginástica Laboral como um meio de

valorizar e incentivar a prática de atividade física, tanto no âmbito empresarial quanto pessoal.

Ficou explícito na fala dos sujeitos que a prática de atividade física fora do ambiente de

trabalho pode ser incentivada através da Ginástica Laboral, que os programas são uma

proposta interessante, podendo trazer efeitos positivos no combate ao sedentarismo e suas

conseqüências. Vale destacar, ainda, que a Ginástica Laboral, mesmo que de curta duração,

aparece como uma oportunidade para fazer uma atividade física, que para alguns sujeitos é a

única que realizam.

A partir do que foi pesquisado pode-se assegurar que Ginástica Laboral traz

benefícios para o trabalhador, no entanto é preciso tomar um certo cuidado ao divulgá-los,

pois não existem muitas pesquisas que comprovem todos os seus supostos benefícios. O que

se sabe é que a Ginástica Laboral, isoladamente, não pode garantir a plena saúde do

trabalhador, é importante levar em consideração outros fatores que também determinam as

condições de vida das pessoas. Fatores relevantes aos quais as pessoas estão submetidas e que

não podem ser separadas de seus cotidianos, como a distribuição da renda, nível de

(des)emprego, condições sanitárias básicas, condições de moradia e alimentação, grau de

escolaridade, (in)disponibilidade de tempo livre, acesso a serviços de saúde e educação, entre

outros. Outro fator a ser levado em consideração é o processo de trabalho, que vem sofrendo

profundas e rápidas modificações, decorrentes da progressiva informatização em paralelo às

modificações na organização do trabalho. Essas mudanças têm exigido dos trabalhadores um

aumento da produção e da qualidade do trabalho, determinando assim, novas exigências no

perfil dos trabalhadores, muitas vezes incompatíveis com a saúde destes.

Com a intensificação do ritmo de trabalho, cada vez mais, se faz necessário e

relevante a introdução de políticas em atenção à saúde do trabalhador. A Ginástica Laboral,

pode ser uma importante ferramenta, uma alternativa no mundo administrativo, mas ela

precisa fazer parte de um contexto maior: um programa de prevenção de doenças

ocupacionais, qualidade de vida para os trabalhadores, segurança ocupacional e ou um

programa de ergonomia. Estes programas necessitam estar voltados a atividades educativas,

proporcionando a mudança de comportamento visando a promoção da saúde do trabalhador,

139

bem como constantemente avaliados e reestruturados, em constante integração do profissional

da saúde com o trabalhador.

Os sujeitos da pesquisa deixam claro o quanto valorizam e reconhecem os benefícios

do Programa de Ginástica Laboral, bem como, a iniciativa da Instituição em implantar e

manter este programa. Entretanto, eles mencionam o quanto é importante e o quanto esperam

que a Instituição tenha outras iniciativas em implementar políticas em saúde do trabalhador

que venham a suprir suas necessidades e carências. Na percepção dos sujeitos da pesquisa, a

Instituição estudada não possui uma política institucional claramente definida de educação em

saúde do trabalhador. Ou seja, não proporciona espaços de aprendizado, troca de

aperfeiçoamento aos seus trabalhadores de uma forma contínua e sistemática.

Enfim, constatou-se o quanto pode ser significativo o Programa de Ginástica Laboral

para a vida dos sujeitos e o quanto este fator responde por uma das dimensões da qualidade de

vida desses sujeitos. Por outro lado, essa percepção aumenta a responsabilidade enquanto

profissionais de Educação Física. O que, porém, não permite que se acredite em efeitos

milagrosos de uma ação isolada. A maior contribuição que esses profissionais possam almejar

na sua intervenção é de desafiar e pensar no conjunto, podendo contribuir significativamente,

nos aspectos físico, social e mental.

140

REFERÊNCIAS

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148

ANEXOS

149

Ijuí, março de 2008.

Serviço Especializado de Engenharia e Segurança do Trabalho - SESMT

Supervisora do Programa de Ginástica Laboral

Prezada Senhora,

Venho por meio deste solicitar a autorização para realizar a pesquisa de campo, com

os funcionários desta instituição no período de junho a julho de 2008.

A pesquisa constará de uma entrevista aos funcionários sobre EDUCAÇÃO EM

SAÚDE: Programa de Ginástica Laboral como atividade educativa.

Desejamos esclarecer que os dados obtidos nas entrevistas serão divulgados na

dissertação para obtenção de título Mestre em Educação nas Ciências, na Universidade

Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

Para tanto, comprometo-me a observar os preceitos legais e éticos que regem a

pesquisa de campo, no que se refere à discrição, imparcialidade e integridade das colocações

utilizadas.

Certos de sua aquiescência, coloco-me a seu dispor para maiores esclarecimentos, se

necessário.

____________________________________

Marcia Winter

150

Ijuí, março de 2008.

Instituição Financeira

Gerente Geral

Prezado Senhor,

Venho por meio deste solicitar a autorização para realizar a pesquisa de campo, com

os funcionários desta instituição no período de junho a julho de 2008.

A pesquisa constará de uma entrevista aos funcionários sobre EDUCAÇÃO EM

SAÚDE: Programa de Ginástica Laboral como atividade educativa.

Desejamos esclarecer que os dados obtidos nas entrevistas serão divulgados na

dissertação para obtenção de título Mestre em Educação nas Ciências, na Universidade

Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI.

Para tanto, comprometo-me a observar os preceitos legais e éticos que regem a

pesquisa de campo, no que se refere à discrição, imparcialidade e integridade das colocações

utilizadas.

Certos de sua aquiescência, coloco-me a seu dispor para maiores esclarecimentos, se

necessário.

____________________________________

Marcia Winter

151

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) participante:

Sou estudante do curso de Pós-Graduação, Mestrado em Educação nas Ciências da

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Estou realizando a

pesquisa EDUCAÇÃO EM SAÚDE: Programa de Ginástica Laboral como atividade

educativa, sob supervisão do professor Orientador Dr.º Paulo Evaldo Fensterseifer, cujo

objetivo é conhecer e analisar as práticas de educação em Saúde do Trabalhador, através do

Programa de Ginástica Laboral numa Instituição Financeira. Sua participação envolve uma

entrevista, que será gravada se assim você permitir, e que tem a duração aproximada de 30

minutos.

A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar ou quiser

desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais

rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo (a).

O conteúdo da entrevista será gravado e, posteriormente, transcrito e analisado. As

fitas e as cópias ficarão sob minha responsabilidade durante 5 anos e serão utilizadas apenas

por mim e pelo meu orientador.

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará

contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento

científico. O estudo em questão não oferece riscos para o entrevistado.

Após a conclusão do estudo, o mesmo será apresentado na Instituição Financeira e

disponibilizado em forma impressa.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela pesquisadora

fone 55-9118-6605 ou pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIJUÍ, fone 3332 0301.

Atenciosamente

___________________________ Marcia Winter Matrícula: 131601 Fone: 55 9118-6605

____________________________ Local e data

__________________________________________________ Dr.º Paulo Evaldo Fensterseifer Matrícula: 23078 Fone: 55 3332-4209

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste termo de consentimento. _____________________________ Nome e assinatura do participante

______________________________ Local e data

152

Roteiro para Entrevista Gênero: Idade: Função/Profissão: Tempo de trabalho nesta função/profissão: Tempo de trabalho na Instituição: Tempo que participa no Programa de Ginástica Laboral: 1) Você tem plano de saúde?

2) Tem algum problema de saúde?

3) Fale um pouco da tua percepção quanto ao Programa de Ginástica Laboral.

4) O que você sabe sobre os objetivos/propósitos do Programa de Ginástica Laboral?

5) O Programa de Ginástica Laboral repercutiu de alguma forma na tua vida no ambiente de

trabalho? E fora do ambiente de trabalho?

6) Você procura fazer outras atividades?

7) Sente alguma diferença no antes da Ginástica Laboral?

8) Poderia haver outra medida para melhorar as condições de trabalho?

9) Percebe no seu trabalho algum risco a sua saúde? (ritmo, estresse)

10) Algum problema/fator fora do contexto de trabalho que possa interferir em sua saúde?

11) Mudou algum comportamento em relação a saúde com o Programa de Ginástica Laboral?

12) Como você percebe a participação do professor de Educação Física neste programa? (no

que tá bom, pode melhorar, o que poderia ser diferente)

13) Você tem alguma outra orientação/informação sobre os cuidados com a saúde no

trabalho? Você tem buscado informações a esse respeito? (Qual fonte, de onde vem)

14) Deseja colocar algo mais? Sugestões para o funcionamento do programa?

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