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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SILAS PAULO PROCÓPIO DO MONTE RELIGIOSIDADE DOS ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE CONFLITOS E VIOLÊNCIAS São Paulo 2011

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

SILAS PAULO PROCÓPIO DO MONTE

RELIGIOSIDADE DOS ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE

CONFLITOS E VIOLÊNCIAS

São Paulo

2011

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SILAS PAULO PROCÓPIO DO MONTE

RELIGIOSIDADE DOS ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE

CONFLITOS E VIOLÊNCIAS

Dissertação de mestrado apresentado ao

Programa de Estudos de Pós-Graduação em

Ciências da Religião, da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como exigência à

obtenção do título de MESTRE

Orientador: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira

São Paulo

2011

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São Paulo

2011

M672r Monte, Silas Paulo Procópio do.

Religiosidade dos adolescentes de periferia em face de conflitos

e violências / Silas Paulo Procópio do Monte – 2011.

80 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade

Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

Bibliografia: f. 69-70.

1. Religiosidade. 2. Adolescente. 3. Conflito. 4. Violência.

5. Periferia. I. Título.

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SILAS PAULO PROCÓPIO DO MONTE

RELIGIOSIDADE DOS ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE

CONFLITOS E VIOLÊNCIAS

Dissertação de mestrado apresentado ao

Programa de Estudos de Pós-Graduação em

Ciências da Religião, da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como exigência à

obtenção do título de MESTRE.

Aprovada em 22 de agosto de 2011

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________

Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira

Universidade Presbiteriana Mackenzie

________________________________________________________________

Prof. Dr. Édson Pereira Lopes

Universidade Presbiteriana Mackenzie

________________________________________________________________

Prof. Dr. Álvaro de Aquino e Silva Gullo

Universidade de São Paulo - USP

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Dedicatória

À minha esposa, Simone Silva do Monte fiel ajudadora e

incentivadora, que me sustentou com suas orações,

sacrifícios e por sua bondade e paciência para ler e reler o

texto original e inserir nele correções.

Aos meus filhos queridos Déborah Monte minha eterna

primogênita amada, desejada na alma durante muitos anos

antes de nascer e Samuel, filho de outras entranhas, mas do

coração, também fruto de oração e desejo.

Aos meus pais João Procópio e Maria Máxima (in

memoriam) que me abençoaram e me ensinaram os

primeiros passos, meus exemplos de vida.

A todos os adolescentes, sujeitos de direitos e deveres,

sujeitos dessa investigação da escola estadual Carmelita

Loff, região metropolitana e adolescentes do bairro Nazaré,

região norte de Belo Horizonte.

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Agradecimento

Ao Eterno, que a cada dia renova as Suas misericórdias para com toda a

Sua criação, pois Ele é pleno de bondade, misericórdia e justiça. Em Sua

soberania governa e dirige todas as coisas.

A minha querida esposa Simone Silva do Monte e filhos Déborah e

Samuel, que em minhas idas à São Paulo me sustentou com suas orações.

Ao prof. Dr. João Baptista Borges Pereira que bondosamente me orientou

nessa pesquisa e o fez de maneira exemplar, do qual me orgulho.

A direção da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Igreja

Presbiteriana do Brasil pela concessão da bolsa de estudos.

Aos professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie - Ciências da

Religião, turma do segundo semestre de 2009.

Aos meus pais João Procópio e Maria Máxima (in memoriam) que me

abençoaram.

Aos meus irmãos João Batista e Maria José (in memoriam) , dos quais

tenho boas lembranças e saudades.

A todos os meus irmãos José Máximo, Renato e Jorge pelas orações e

apoio A irmã Ângela que além das orações me ajudou sacrificialmente.

A todos os adolescentes, sujeitos de direitos e deveres, aos seus pais e

responsáveis, escolas, educadores, líderes religiosos e outros atores sociais

que permitiram que eu interagisse para que essa pesquisa pudesse ser

realizada.

Ao “Major” Euler Borja que possibilitou as minhas idas a São Paulo para

realização desse mestrado.

Aos professores Dr. Édson Lopes e Dr. Antônio Máspoli, meus mestres,

pelas preciosas sugestões desde a elaboração do tema e de leituras.

As minhas amigas conselheiras tutelares de Venda Nova, Guiomar,

Joana, Berenice, Piedade, Neusa, Sônia e Maria Aparecida, sempre na luta à

prevenção, defesa e promoção dos adolescentes e de suas respectivas famílias.

Ao rev. Manassés Júmior Villaça pela presteza em me ajudar no inglês.

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Epígrafe

“Como são grandes as riquezas de Deus! Como são profundos o Seu conhecimento e a Sua sabedoria! Quem pode explicar as Suas decisões? Quem pode entender os Seus planos? Como dizem as Escrituras: Quem pode entender a mente do Senhor? Quem é capaz de Lhe dar conselhos? Quem já deu alguma coisa a Deus para receber dEle algum pagamento? Pois todas as coisas foram criadas por Ele e tudo existe por meio dEle e para Ele. Glória a Deus para sempre! Amém”! Romanos 11. 33-36.

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RESUMO

Nessa dissertação tenho como objetivo principal perceber e analisar a

constituição da subjetividade e a praxidade religiosa dos adolescentes,

priorizando os eixos centrais: conflitos, violências e mediação. Os eixos centrais

dessa investigação estão relacionados ao descobrimento das manifestações de

conflitos e violências dos adolescentes, bem como seu significado na visão dos

principais atores envolvidos, considerando suas interações intrafamiliar e com

seus pares. O locus dessa investigação aconteceu no convívio intrafamiliar e na

interação com seus pares na periferia da cidade Belo Horizonte e região

metropolitana. Essas regiões são de risco social elevado, com o agravante de

escassez de políticas públicas sociais básicas.

Objetivando compreender cada etapa da religiosidade dos adolescentes,

parto de duas observações: a constituição familiar nuclear e a monoparental que

passam por crises. Por conseguinte, isso tem corroborado para o

enfraquecimento de valores e princípios morais, gerando conflitos e violências.

Para compreender esse fenômeno religioso utilizei de quatro ações, as

obras: Para Conhecer a Psicologia da Religião de Antônio Ávila e Adolescentes

em Conflito de Les Parrott. Pesquisas e entrevistas estruturadas com

adolescentes e alguns atores sociais. Duas pesquisas realizadas pelo CIA, dos

relatórios estatísticos infracionais referentes aos anos de 2009 e 2010 do

Tribunal de justiça do Estado de Minas Gerais.

Por fim, demonstrarei se a falta da concepção e práxis religiosa entre os

adolescentes interfere diretamente ou não nos mais variados comportamentos,

tornando-os mais vulneráveis ou violentos. Proponho também possibilidades de

mediar ajudas aos mesmos através da rede de apoio, a partir da leitura

aplicativa do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Palavras chave: Religiosidade; adolescente; conflito; violência; periferia.

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ABSTRACT

The aim of this dissertation is to investigate and analyze the formation of

the subjectivity and the religious praxis of the youth, emphasizing main lines:

struggles, violence and mediation. The main lines in this dissertation are related

to the finding out of youth struggles and violence manifestations, as well as the

meaning of the vision of each one involved in, considering the intrafamily

relationship and also their peer interactions. The researching locus covered the

intrafamily and the peer mutual interactions in the suburbs of Belo Horizonte city

and its metropolitan area. Those areas are an environment of high social risk,

worsened by the lack of basic social and public political agendas.

With the interest of understanding each religious level of the youth, I take

to start two possible observations: the nuclear and the monoparental family

formation goes through a crises. Consequently, this has corroborated for

weakening of the moral principle and value, producing struggles and violence.

To understand the religious phenomeno used four shares the

works: To know the Psychology of Religio by Anthony Avila and Adolescents in

Conflict by Les Parrott. Surveys and interviews with teens and some social

actors. Two studies conducted by the CIA, the statistical reports infractions

relative the years of 2009 and 2010 the Court of the State of Minas Gerais.

Finally, it will be demonstrated whether the lack of understanding and

religious praxis among the youths interfere or not directly on the diverse

behaviors, transforming them more vulnerable and violent. It is proposed also

possibilities to mediate helping efforts through a supporting network, based on

the interpretation of the Youth and Child Statute.

Keywords – Religiosity; youth; struggle; violence; suburb

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Sumário

Introdução............................................................................................................11

Capítulo 1 – Conflitos e violências mais recorrentes vividos pelos

adolescentes.......................................................................................................18

1. Conceito de conflito........................................................................21

2. Adolescentes: conflitos pessoais, intrafamiliar e com os

seus pares..........................................................................................25

3. Pesquisa: Conflito com adolescentes.............................................26

4. Pesquisa: violências sofridas intrafamiliar e com os seus pares....27

5. Pesquisa: violências praticadas pelos adolescentes......................28

6. Análise do questionário..................................................................29

7. Considerações do capítulo primeiro...............................................31

Capítulo 2 – Atos infracionais e violências praticadas mais recorrentes por

adolescentes.......................................................................................................32

1. Atos infracionais cometidos pelos adolescentes............................33

2. O uso de drogas.............................................................................37

3. Considerações do capítulo segundo..............................................49

Capítulo 3 - Possíveis mediações e práxis religiosa dos adolescentes..............51

1. O ECA: estatuto da criança e do adolescente: Lei 8.069/9046......51

2. Políticas públicas de atendimento ao adolescente........................53

3. Trabalho em rede – algumas possibilidades Constitucionais........55

4. A religiosidade do adolescente: concepção e práxis.....................55

5. Considerações do capítulo terceiro...............................................65

Considerações finais...........................................................................................66

Referências bibliográficas...................................................................................69

ANEXO 1.............................................................................................................71

ANEXO 2.............................................................................................................72

ANEXO 3.............................................................................................................73

ANEXO 4.............................................................................................................74

ANEXO 5.............................................................................................................77

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Introdução

“ Os moços de Jerusalém eram tão preciosos para nós como o ouro puro, mas agora são tratados como simples potes de barro. Até as lobas dão de mamar às suas crias, mas o meu povo é como os avestruzes, cruéis para os seus filhotes. Os bebês de Jerusalém morrem de sede; as crianças pedem comida, mas ninguém lhes dá nada”. Lamentações 4. 2-41

Com o advento da Constituição Federal de 1998 em seu artigo 227,

subscreveram-se novas possibilidades de políticas públicas básicas e especiais

para as crianças e adolescentes brasileiros. Logo após o período de aprovação

de nossa Carta Magna, nasce através da iniciativa popular projeto de lei que

criou o Estatuto da Criança e do Adolescente, a lei 8.069/90. A partir desse novo

momento na história brasileira, estudos sobre os adolescentes têm sido objeto

de investigação em diversos campos do saber.

Ao pesquisar sobre a religiosidade dos adolescentes de periferia em face

de conflitos e violências, faço considerando: que esses são sujeitos em

formação, de direitos e deveres; que, com o advento da globalização, as

relações individuais, coletivas e sociais, vêm sofrendo mudanças profundas de

forma abrupta e complexa, o qual permite uma reflexão que compreenda e

busque novos direcionamentos dentro do contexto familiar e social; que os

adolescentes, diante da fragilidade nos relacionamentos familiares, estão

vulneráveis a vários tipos de ameaças, não concebendo princípios cristãos,

moral ou ético; que as estatísticas recentes apontam, a cada dia, números onde

adolescentes são vítimas de espancamento, maus tratos, violência sexual,

exploração sexual, abandono material, cultural, intelectual; que as estatísticas

apontam um elevado número de adolescentes envolvidos com tipos

diferenciados de violências que são chamados pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente de Atos Infracionais; que muitas famílias nucleares formadas de

pais e filho ou filhos, hoje um número considerado são monoparental,

apresentando um número significativo dessas que são chefiadas por mães; que

no plano político social, muitas famílias estão no semi-abandono, renegadas

1 Lamentações, 4. 2- 4. In João Ferreira de Almeida. Bíblia Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri, SP: SBB, 2005.

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pelo Estado e seus entes federados, por falta, ou escassez de políticas sociais

públicas eficientes, que atenda as necessidades mais elementares para as

famílias criarem os filhos com dignidade; que no passado próximo, não era tão

comum os pais presenciarem a morte dos seus filhos adolescentes e enterrá-

los, vê-los envolvidos com drogas, furtos, roubos e outros males, como se vê

atualmente. É nesse contexto social que os adolescentes dessa pesquisa vivem.

Diante das considerações acima elencadas, entendo que ao abordar

sobre essa temática, proponho um novo olhar para a compreensão da

religiosidade dos adolescentes e mediações necessárias. Essa pesquisa

também, objetiva, considerando que existe pouca literatura sobre o assunto,

preencher seu espaço no campo científico e auxiliar os atores sociais que estão

na vanguarda, na prevenção, proteção e promoção de nossos adolescentes.

Nessa dissertação proponho discutir três proposições a partir dos eixos

centrais: conflitos, violências e mediação. Esses eixos estão relacionados ao

descobrimento das manifestações de conflitos e violências dos adolescentes,

bem como seu significado na visão dos principais atores envolvidos,

considerando suas interações intrafamiliar e com seus pares. Na primeira

proposição percebo quais são os conflitos mais recorrentes aos adolescentes.

Na segunda descrevo quais são as violências mais recorrentes recebidas e

cometidas pelos adolescentes

Na terceira proposição analiso a religiosidade dos adolescentes Também

observo se a falta da concepção e práxis religiosa pelo adolescente o torna mais

vulnerável aos conflitos ou mais violento. Por fim, demonstro que é possível

propor mediações aos adolescentes através da rede de apoio, a partir da

leitura aplicativa do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

Como referencial teórico, duas obras foram usadas: Antônio Ávila em sua

obra: Para Conhecer a Psicologia da Religião2, e Les Parrott: Adolescentes em

Conflito.3

Quanto à metodologia, duas são as ações aqui usadas. Na primeira fiz

uma pesquisa bibliográfica, procurando resgatar, fundamentar e compreender o

fenômeno religioso em que vivem os adolescentes. Na segunda foi realizada

2 ÁVILA, Antônio. Para conhecer a Psicologia da Religião. São Paulo: Editora Loyola, 2007. 3 PARROTT, Les. Adolescentes em Conflito. Tradução Denise Avalone. São Paulo. Editora Vida, 2003.

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duas pesquisas de campo quantitativa, com questionários e entrevistas

estruturadas com trinta e nove adolescentes do gênero masculino e feminino e

doze atores sociais.

A pesquisa com os adolescentes foi realizada com a permissão dos seus

responsáveis, alunos de uma escola pública, com renda familiar até dois

salários mínimos. No primeiro momento visitei a escola e a direção apresentou-

me os alunos conforme acerto prévio. Convidei os alunos para participarem

voluntariamente de uma pesquisa. No segundo momento, de posse dos nomes

dos alunos e a permissão dos responsáveis marquei uma entrevista para falar

do assunto mais detalhadamente e responderem o questionário conforme

anexos. O questionário de entrevistas estruturadas constou de três blocos de

perguntas. No primeiro, as perguntas foram direcionadas para perceber quais

são os conflitos mais recorrentes que eles têm no seu dia-a-dia. No segundo, as

perguntas foram direcionadas para perceber quais as violências mais

recorrentes que eles enfrentavam. No terceiro, as perguntas foram dirigidas para

perceber quais violências eles praticavam. De posse de todas as respostas fiz

uma análise das informações obtidas. Também demonstrei que o adolescente

que não tem uma religiosidade bem definida está mais vulnerável aos conflitos

e violências sofridas e praticadas.

Realizei uma segunda pesquisa com atores sociais, envolvendo

conselheiros tutelares, gestores de escolas públicas, educadores, oficial

judiciário da Vara da Infância e Juventude e líderes religiosos. O objetivo desse

bloco de perguntas possibilitou perceber quais são os conflitos, as violências

sofridas e praticadas mais recorrentes pelos adolescentes, sob a ótica dos

atendimentos desses atores sociais com os adolescentes.

Também foi objeto dessa dissertação duas pesquisas realizadas pelo

CIA,4 dos relatórios estatístico infracionais referentes aos anos de 2009 e 2010

do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Esses relatórios apontam

dados significativos para uma compreensão e análise da violência urbana na

cidade de Belo Horizonte e região metropolitana.

Quanto à revisão de literatura realizei uma pesquisa de autores e obras

que retratam sobre a religiosidade, comportamentos dos adolescentes e

4 CIA/BH, 2010, p. 1

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métodos de pesquisa social. São eles. A Aventura Antropológica – Teoria e

Pesquisa, organizado por Ruth Cardoso5. Esse livro descreve sobre a

pesquisa antropológica com populações urbanas e discute sobre problemas e

perspectivas encontradas sobre as classes populares no pensamento

sociológico brasileiro. Classifica o valor na reflexão sobre identidade social.

Descreve sobre as aventuras de antropólogos em campo, como escapar das

armadilhas do método, teoria, prática do trabalho de campo, no qual é

levantando alguns problemas relativos à utilização da história de vida e história

oral.

Na obra de Antônio Ávila, Para Conhecer a Psicologia da Religião6,

aborda a religiosidade na adolescência, oferecendo as características gerais

para cada etapa. Analisa também que o termo “identidade” é um conceito-eixo

para compreensão de cada etapa da evolução religiosa na vida dos

adolescentes. O autor faz um comparativo entre a religiosidade e

temperamentos básicos da personalidade, perpassando pelos diferentes tipos

de orientação religiosa e sua mediação. Esclarece também os efeitos da

religiosidade na vida do adolescente, apontando o bem estar que ela

proporciona, com indicativos positivos na saúde mental.

Les Parrott, em sua obra Adolescentes em Conflitos,7 aborda sobre os

problemas mais recorrentes enfrentados pelos adolescentes no seu dia-a-dia.

Na primeira parte de sua obra ele oferece uma visão um pouco mais teórica dos

conflitos. Na segunda aborda conflitos específicos. O autor também demonstra

que a dúvida espiritual do adolescente é caracterizada pela ausência tanto da

concordância religiosa quanto de discordância com uma proposição religiosa.

Na ótica do autor, psicologicamente, a dúvida é quase sempre acompanhada de

ansiedade ou depressão.

Geraldo Claret de Arantes8, em seu livro Manual de Prática Jurídica do

Estatuto da Criança e do Adolescente, fez desta lei um importante instrumento

de cidadania para adolescentes. Esse possui duas partes. A primeira trata dos

5 CARDOSO, C. L. Ruth. A Aventura Antropológica – Teoria e Pesquisa. 3ª. edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997. 6 ÁVILA, 2007, p. 15. 7 PARROTT, 2003, p. 16. 8 ARANTES, C. Geraldo de. Manual de prática jurídica do estatuto da criança e do Adolescente. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Desenvolvimento de Minas Gerais, 2006.

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direitos fundamentais da criança e do adolescente. A segunda analisa

procedimentos, modelos de requisição e encaminhamentos das medidas de

proteção e sócio educativas aos adolescentes, junto aos órgãos competentes.

José Bittencourt Filho em seu livro Matriz Religiosa Brasileira retrata a

religiosidade e mudança social9; a gênese do protestantismo brasileiro; a

aventura protestante, mudança social , campo religioso, capitalismo tardio e

religioso. Nessa obra o autor oferece subsídios para entender as religiões

contemporâneas, tendo como gênese, a formação da matriz religiosa brasileira,

suas peculariedades e pluralidade religiosa.

No livro, o Prazer e o pensar, orientação sexual para educadores e

profissionais da saúde10 organizado por Marcos Ribeiro, foi desenvolvida uma

temática voltada para os adolescentes nos seus mais diversos relacionamentos,

a partir da construção da sexualidade, da autoestima, o lugar do outro, o abuso

sexual na adolescência, perpassando pelas reações emocionais perante o

abuso quando a família é parte envolvida. Retrata o adolescente atual no Brasil,

como agente de mudança na família.

Mães Abandonadas: a entrega de um filho em adoção11. Nessa obra,

Maria Antonieta Pisano Motta ressalta que, a falta de uma política pública

eficiente, impossibilita que mães criem seus filhos, sendo obrigadas a entregá-

los em adoção. A autora também estabelece critérios para realizar uma

pesquisa e coletar dados observando os aspectos sociais e institucionais de

abrigo.

Sônia da Souza Pereira, em seu livro, Bullying e suas implicações no

ambiente escolar,12 parte do conceito geral de violências mais sutis, também

conhecidas como incivilidades, microviolências ou bullying. A autora observa a

dificuldade das escolas detectarem o bullying e esse fator tem dificultado uma

ação preventiva. Também aborda sobre as ações maléficas do bullying escolar,

que provoca traumas aos envolvidos, doenças psicossomáticas, transtornos

mentais e psicopatologias graves, além de estimular a delinquência e o uso de

drogas. 9FILHO, B. José. Matriz religiosa brasileira. RJ: Koinonia; Petrópolis: Editora Vozes, 2003. 10 RIBEIRO, Marcos, O Prazer e o Pensar. São Paulo. Editora Gente, 1999. Vol. 2. 11MOTTA, A. P. Maria. Mães Abandonadas: a entrega de um filho em adoção. 2ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2005. 12 PEREIRA, S. Sônia da. BULLYING e suas implicações no ambiente escolar. São Paulo: Paulus, 2009.

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Rosalinda Carneiro de Oliveira Ritti, em Adolescente de Periferia:

Subjetividades Construídas entre o Poder e a Violência13, apresenta um

trabalho de pesquisa com adolescentes de periferia de um bairro da cidade de

Juiz de Fora. A autora analisa a constituição da subjetividade de adolescentes,

priorizando os temas do poder e da violência. Além do principal instrumento

para coleta de dados, observação de campo e conversas informais com os

adolescentes realizou rodas de leitura e as selecionou para analisar as

relações com a família, com os seus pares e os chamados de o “bonde” grupos

rivais. Analisou também com a sociedade fora do contexto comunitário, a

polícia e o narcotráfico. Ao final de seu trabalho a autora privilegiou as análises

e as experiências vivenciadas pelos adolescentes. Observou e classificou as

regras de condutas dos adolescentes pesquisados.

Carla Coelho de Andrade, em sua tese de doutoramento pela UnB em

antropologia: Entre Ganges e Galeras – juventude, violência e sociabilidade na

periferia do Distrito Federal14, propôs compreender os campos que dinamizam

as experiências da juventude definidos como “Ganges”. A autora utilizou como

eixo norteador de sua pesquisa, delinear conteúdos culturais os quais estão na

base de seu exercício e também situa a violência nos sistemas sociais dos

jovens.

Neide Augusta Marques15 em sua dissertação: Retrato falado da violência

na Escola Pública analisou o fenômeno da violência nas escolas públicas do

Grande Bom Jardim, periferia de Fortaleza. Essa pesquisa foi realizada com

adolescentes. Os eixos centrais desta investigação estão relacionados ao

descobrimento da manifestação da violência dentro da escola pública, assim

como seu significado na visão dos principais atores envolvidos, considerando

suas repercussões na família e com seus pares. A pesquisa utilizou

questionários, entrevistas semi- estruturadas aos pais e professores. Sempre

13 RITTI, C.O. Rosalina de. Adolescente de Periferia: Subjetividades Construídas entre o Poder e a Violência. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Católica de Petrópolis, RJ. Petrópolis, 2010. 14 ANDRADE, C. Carla de. Entre Ganges e Galeras – juventude, violência e sociabilidade na periferia do

Distrito Federal (Tese de Doutorado em Antropologia) – UnB, Brasília: 2007. 15 MARQUES, A. Neide. Retrato falado da violência na Escola Pública. (Dissertação de Mestrado em

Planejamento e Políticas Públicas) – Universidade Estadual de Ceará, 2006.

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procurou o debate, objetivando encontrar as políticas públicas educacionais

mais eficazes do Estado relacionado ao atendimento dos adolescentes.

A socióloga Eva Maria Lakatos em sua obra de Sociologia Geral, ao

desenvolver a temática de processos sociais, analisou as formas de conflito e

afirmou que16 “nas relações, quando cada um dos contendores tem a

consciência de que, para alcançar os próprios propósitos, precisa fazer que o

outro não atinja os seus, ai surge a hostilidade” [...] Segundo a autora, esse tipo

de luta consciente, pessoal, dá-se o nome de conflito. Lakatos também

esclarece sobre as possíveis causas do conflito e reitera que esse pode

apresentar-se de diversas maneiras. Entre as possíveis causas do conflito,

destacamos duas que corroboram para entender os conflitos entre os

adolescentes. Lakatos17 diz que o primeiro conflito que pode aparecer é o “da

rivalidade e o segundo o da contenda, ambos muito visíveis entre os

adolescentes”.

É nesse contexto que propus estudar e compreender a religiosidade dos

adolescentes em face dos conflitos e violências, bem como propor algumas

mediações, objetivado a prevenção, defesa e promoção.

16 LAKATOS, E. Maria. Sociologia geral. 4 ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 1981. 17 LAKATOS, 1981, p. 88.

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CAPÍTULO 1

CONFLITOS E VIOLÊNCIAS MAIS RECORRENTES VIVIDOS PELOS

ADOLESCENTES

“Fecisti nos ad Te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te”.18

Nesse capítulo desenvolverei três objetivos centrais que se concentram

nos eixos: conceituar conflito; apresentar três narrativas vividas por alguns

adolescentes no período de 2003 a 2009 quando atuei como conselheiro tutelar

de Belo Horizonte na região de Venda Nova; e, apontar quais são os conflitos e

violências recebidas mais recorrentes entre os adolescentes no convívio

intrafamiliar e com seus pares, a partir de uma pesquisa estruturada com 39

adolescentes e 12 atores sociais, sendo conselheiro tutelares, gestor escola,

professores e líderes religiosos.

É manifesto a todos que o ser humano, em todas as épocas, de etnias

diferentes, pertencentes ou não a um grupo religioso, alfabetizado ou não é um

ser conflituoso. Esses podem manifestar-se de ordem étnica, geopolítica,

ideológica, religiosa, pessoal, intrafamiliar e de outras formas. Tratando-se de

adolescentes que moram e convivem em uma mesma casa com seus pais, de

pais separados, em uma instituição, com padrasto ou madrasta, em uma

família monoparental19, conflitos e violências intrafamiliar existem e causam dor.

Dor física e na alma. Dor, no primeiro momento, àqueles que passam por

situações trágicas e posteriormente a todos. Pergunta-se: a dor tem sentido?

18 Confições de Santo Agostinho. Coleção os pensadores, Livro I, capítulo 1. Traduzido por J. de Oliveira Santos, S. J. E A. Ambrósio de Pina, S. J. Editora Nova cultural. São Paulo: 1996. “Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós”. 19Segundo a Constituição Federativa do Brasil, em seu artigo 226, parágrafo 4°, família monoparental compreende o ascendente com um dos descendestes – mãe com filhos ou pai com filhos – essa, formada após a dissolução da sociedade conjugal, onde um dos pais fica com a guarda do filho. Poderá também ser formada por mães solteiras que optarem por uma “produção independente” ou cujo pai não reconhece o filho e também de solteiros que resolvem adotar uma criança.

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Hubert Lepargneur20 ao descrever sobre a dor diz que essa pode ser vista por

diferentes abordagens:

[...] No biológico. Como fenômeno natural, a dor pode, no entanto, ser descrita como peça capital de um sistema que, nos seres vivos superiores, tende a melhor associar o indivíduo como entidade autônoma à sua própria existência. [...] No antropológico. A dor como alienação tornou-se, com razão, problema que apela para solução técnica, nem sempre justificável dos analgésicos, mas também sem fugir deles. [...] O sentido cultural da dor é, portanto ambíguo. Metida na maioria das atividades e das paixões humanas, a dor desempenha funções de despertar que temos de precisar. Através da cultura, a dor estende seu domínio à quase totalidade das experiências e atividades humanas, como se delas fosse estímulo e desafio.

Lepargneur21 descreve a dor da ótica da filosofia da cultura:

A dor transforma-se em sofrimento quando integrada numa cultura. [...] Ela é responsável, ora através da psicologia individual, ora através das rações sociais, pelo maior volume de dor que, em qualquer momento e em qualquer comunidade, pesa nos os ombros dos seres humanos. Inferno é dor, diz a Igreja; inferno são os outros disse Sartre. Ela é responsável pela assunção da dor como ingrediente que amadurece o indivíduo e faz progredir a comunidade. Cultura é troca, disse Lévi-Strauss; sim, inclusive de sofrimentos.

Alguns adolescentes em conflitos, violentos, podem ser resultados de

crianças abandonas pelos pais. Maria Antonieta Pisano Motta, em seus estudos

sobre mães abandonadas, a entrega de um filho para adoção, declara que22:

O abandono tem historicamente um cenário patriarcal em que o poder do pai, do homem, seja pela força ou pressão direta, seja pela tradição, pela lei, pelos ritos, define qual papel a mulher deverá ou não desempenhar. A maneira como conceituamos o abandono varia no tempo e no espaço, pois a maternidade e abandono são conceitos que se modificam de acordo com o modelo vigente, ligados a mecanismos ideológicos e culturais dominantes em cada época. Surgem, portanto, diferentes modelos de ser mãe, baseados em diferenciação de papéis, sempre enaltecidos e defendidos de acordo com os interesses do sistema econômico dominante, especialmente em períodos de crise econômica.

Motta23 elucida que durante muitos anos as crianças abandonadas eram

colocadas nas Rodas de Expostos24

20 LEPARGNEUR, Hubert, O lugar atual da morte. São Paulo: Paulinas, 1986. 21 LEPARGNEUR, 1986, apud Sartre, apud Lévi-Strauss p.13. 22 MOTTA, A. P. Maria. Mães Abandonadas: a entrega de um filho em adoção. 2 ª. Edição. São Paulo: Cortez, 2005. 23 MOTTA, 2005, p.50. 24 Ibid, 2005, apud Venâncio, p.53.

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Segundo Venâncio (1997), durante o segundo e o terceiro séculos de colonização surge uma modalidade selvagem de abandono caracterizada pelo abandono de crianças em calçadas, florestas, terrenos baldios e praias. [...] Uma das formas de auxílio prestado pelo governo e sociedade a essas crianças seu acolhimento nas Santas Casas de Misericórdia através da Roda dos Expostos25

Motta26 aponta possíveis motivos das mães por optarem entregar os seus filhos ao abrigo:

Talvez o exame desta questão nos convença da inadequação de aplicar o termo “abandono” a todas as situações em que a mãe que se separa de seu filho. Podemos declarar com tranquilidade sobre a mulher que nem sequer pôde ver o bebê que entregou; que tem pesadelos recorrentes com um bebê sem rosto; que se desespera por não ter como elaborar seu luto; que ela desprezou, repudiou se filho? Pesquisa neste sentido ainda espera por concretização e tem o importante papel de auxiliar na elaboração de programas de prevenção por meio da ação profilática no desenrolar do difícil processo em que se encontra inserida a mãe que entrega um filho em adoção.[...] Além disso, aquelas que alegaram pressões externas de diferentes ordens, mais do que razões internas para a entrega, arrependeram-se dela com mais frequência.

De acordo com a citação acima, nem sempre a mãe deseja entregar o

seu filho à adoção e, quando o faz, algumas se arrependem.

Na função pública de Conselheiro Tutelar entre os anos de 2003 a

2009, na cidade de Belo Horizonte, na região de Venda Nova, uma mãe me

procurou no Conselho27 e disse- me: “Eu não posso levar o meu filho para

casa hoje, pois ele está ameaçado de morte. Ele só tem apenas 12 anos”. Em

uma oitiva ele me disse com os olhos marejados: “Eu estou com medo de

morrer, mas eu não quero ser colocado em um abrigo, pois tenho que tomar

conta da minha mãe. Prefiro morrer que deixar minha mãe e meus irmãos mais

novos sozinhos”. Após um período voltei ao domicílio da referida família e os

vizinhos me disseram: “Tiveram que mudar, eles não suportaram a pressão por

parte dos “caras” que comandam o pedaço28”.

25 Nota do autor: Roda de Expostos: dispositivo instalado na parte lateral ou frontal das Santas Casas de Misericórdias. Consistia num cilindro aberto em um dos lados que unia o interior da Santa Casa à rua, onde as crianças indesejadas eram colocadas. A última Roda foi desativada em 1950. 26 MOTTA, 2005, p. 60-61. 27 Depoimento de uma mãe e um adolescente ao conselheiro Silas Procópio em junho de 2007. 28 Depoimento oral dos moradores ao conselheiro Tutelar Silas Procópio na ocasião da visita.

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O relato abaixo é uma declaração de um adolescente de 16 anos que se

deu em 13 de maio de 200429:

O meu sonho e (sic) ajudar a minha mãe em casa, agora estou sabendo que o serviço esta (sic) muito divirso (sic),[ ] difícil, estou querendo um serviço para mim (sic) trabalhar para ajudar a minha mãe. Eu e o meu irmão samos (sic) [ ] somos, novo aqui em venda nova. Nós mora (sic) de aluguel. A minha mãe conseguiu um emprego ela ganha meio salário mínino., para pagar o aluguel, luz e água, tem vez que ela lava roupa para umas pessoas que ela ganha 40 reais este dinheiro ela cobrar (sic) os alimento para nós alimentar, ai eu pensei a minha mãe sofre para criar nós.O meu pai eu nunca conheci, eu só sei o nome dele eu não sei se ele esta vivo. Por favor, arruma um emprego para mim, para ajudar o menos a minha mãe.

Em 2004 uma adolescente de 12 anos fez uma declaração com os

dizeres: “Conselheiro, tenho doze anos de idade. Não conheço o meu pai. Me

ajuda pelo amor de Deus a encontrá-lo? É o que eu mais desejo”. Ao receber

aquele bilhete

estava respingado de lágrimas. Após alguns dias, a jovem retornou ao

Conselho na tentativa de encontrar o pai, contudo, sem obter sucesso30.

Adolescentes em situações conflitantes, que aos poucos vão se

internalizando, é uma realidade que se percebe nas declarações acima.

1. CONCEITO DE CONFLITO

É possível perceber do conceito geral de conflito, possibilidades para

compreendê-lo. Do latim,31 a ideia de conflito advém do termo conflo e de seus

cognatos: conflictatio, conflictio, conflictor, conflictus e confligio. A idéia básica é

de combater, choque, embate, discussão acompanhada de injúrias e ameaças,

chocar-se com, paralisar, maltratar, atormentar, lutar, querela e disputa. Desse

conceito advêm três ideias básicas. A primeira, quem incita e promove o

29 Declaração do próprio punho do adolescente ao conselheiro tutelar Silas Procópio em 13 de maio de 2004. 30 Declaração do próprio punho da adolescente ao conselheiro tutelar Silas Procópio em março de 2004. 31 FARIA, Ernesto. Dicionário Escola Latino Português. 5ª edição. Rio de Janeiro: Editora FENAME, 1962.

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conflito; a segunda quem recebe o conflito, como algo intrínseco, e a terceira

quem responde ao mesmo.

A socióloga Eva Maria Lakatos32 ao desenvolver a temática de processos

sociais, analisou as formas de conflito e afirmou que:

Nas relações, quando cada um dos contendores tem a consciência de que, para alcançar os próprios propósitos, precisa fazer que o outro não atinja os seus, aí surge a hostilidade [...] A esse tipo de luta consciente, pessoal, dá-se o nome de conflito. A conceituação mais aceita de conflito é, pois uma contenda entre indivíduos ou grupos, em que cada qual dos contendores almeja uma solução que exclui a desejada pelo adversário.

Lakatos33 esclarece sobre as possíveis causas do conflito e diz:

Que esse pode apresentar-se de diversas maneiras. Entre as possíveis causas do conflito, destacamos duas que corroboram para entender os conflitos entre os adolescentes. O primeiro conflito que pode aparecer é o da rivalidade e o segundo o da contenda, ambos muito visíveis entre os adolescentes, pois eles os elegem quando só se tem um mesmo objeto a ser disputado. Exemplo quando uma namorada ou namorado é desejado por vários adolescentes.

Também corroboram para se entender a origem dos conflitos na

adolescência, o que os autores Elaine Maria Pisiani, Guy Paulo Bisi, Luiz

Antônio Rizzon e Ugo Nicoletto34 escreveram:

[...] Estamos diante de um conflito quando há dois motivos incompatíveis querendo assumir a direção de nosso comportamento. Denomina-se conflito o estado psicológico decorrente da situação em que a pessoa é motivada, ao mesmo tempo, para dois comportamentos incompatíveis. Se a pessoa pudesse atender aos dois motivos, não haveria conflito. Na vida real, os conflitos experimentados são muito complexos, podendo envolver um, dois, três ou mais motivos-meta ao mesmo tempo. Porém geralmente se classifica os conflitos em três tipos básicos: aproximação- aproximação, afastamento- afastamento e, aproximação-afastamento.

Segundo os autores acima o conflito aproximação – aproximação35

“existe quando o indivíduo se sente motivado ao mesmo tempo para duas metas

positivas que se excluem mutuamente. Exemplo de um jovem que necessita

32 LAKATOS, 1981, p. 88 32 LAKATOS, 1981, p.88 33 Ibid, p, 88 34 PISANE, Elaine Maria. Psicologia Geral. 12 ª edição. Porto Alegre: Editora Vozes,1990. 35 PISANE, 1990, p. 190.

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optar entre duas careiras universitárias ao mesmo tempo”. Segundo os autores

esse conflito tende a cessar quando a escolha é bem feita.

O conflito afastamento- afastamento36 “ocorre geralmente quando duas

alternativas indesejáveis ocorrem. Exemplo, o adolescente não deseja mais

morar com a família, mas não tem condições para arcar com seus gastos

sozinho”.

O conflito aproximação – afastamento:37

[...] Ocorre quando envolve um mesmo objeto, somos atraídos e ao mesmo tempo repelidos. Há nesse caso um elemento positivo e um outro negativo, gerando ambivalência. Exemplo de um adolescente que deseja tomar uma importante decisão de namoro, contudo falta-lhe a coragem, as palavras, com medo de ser rejeitado ou ridicularizado.

Em meio a esse fases de conflitos vistos acima na adolescência é

possível perceber que esses contribuem para a formação de sua

personalidade.

Contribuiu para compreender o processo da personalidade nos

indivíduos, os estudos realizados por C.G.Jung38, em sua obra o

desenvolvimento da personalidade declarou que:

O desenvolvimento da personalidade encerra mais do que o simples temor de algo monstruoso e anormal ou do isolamento, indica também felicidade. [...] Em lugar de fidelidade gostaria de empregar aqui a palavra grega pístis. Ela costuma ser traduzida erroneamente por fé, mas seu sentido específico é confiança. [...] A personalidade jamais poderá desenvolver-se se a pessoa não escolher seu próprio caminho, de maneira consciente e por uma decisão consciente e moral. A força para o desenvolvimento da personalidade não provém apenas da necessidade, que é o motivo causador. [...] Se faltar a necessidade, esse desenvolvimento não passará de uma acrobacia da vontade; se faltar a decisão consciente, o desenvolvimento seria apenas um automatismo indistinto e inconsciente.

Na busca para compreender a dinâmica dos conflitos dos adolescentes

mais recorrentes, Parrott39 declara que “A busca de identidade do adolescente

não pode evitar as questões de fé. Da mesma forma que experimenta novos

36 PISANE, p.190. 37 PISANE, p. 191. 38 JUNG, C. G. O desenvolvimento da personalidade. 9ª edição. Tradução de Frei Valdemar do Amaral. Petrópolis: Editora Vozes, 2006. 39 PARROTT, 2003, p. 73

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estilos de roupa, o adolescente questiona a religião e busca uma fé que lhe

pareça boa”40. Ele demonstra que a dúvida espiritual do adolescente é

caracterizada pela ausência tanto da concordância religiosa quanto de

discordância com uma proposição religiosa41. “Psicologicamente, a dúvida é

quase sempre acompanhada de ansiedade ou depressão. Para alguns, pode se

tornar obsessiva e particularmente perturbadora”.

Após apresentar as características do conflito, Parrott diz que suas

causas não são facilmente identificadas. “O desenvolvimento espiritual não

segue uma linha reta e que o sentimento de solidão, o ímpeto emocional, o

surgimento de grandes questionamentos, as dúvidas, fazem parte do

desenvolvimento natural dos adolescentes42”.

Parrott listou 36 conflitos ou problemas mais comuns entre os

adolescentes. Não é nosso objetivo nessa pesquisa expor cada um deles e sim

perceber que eles existem. Apresentarei algumas características daqueles que

julgamos serem mais relevantes para compreensão do fenômeno religioso

dentro do contexto onde os adolescentes dessa pesquisa se encontram. São

eles: ansiedade, culpa, depressão, drogas, álcool e timidez.

Parrott descreve que estamos vivendo a era da ansiedade e expõe suas

causas:43 “A ansiedade é uma condição bastante comum na população

adolescente e tem inúmeras causas como a auto-sugestão negativa, [...]

insegurança, incoerência, crítica formalista, permissividade, perfeccionismo e

falta de significado”.

Quanto a culpa Parrott44 diz que “o perfeccionismo e a pressão social

são umas das maiores causas da culpa no adolescente. [...] Não conheço

nenhum outro grupo de pessoas mais propenso a sofrer estragos da culpa que

os adolescentes”.

Quanto a depressão, drogas, álcool e timidez, Parrott diz que também

são causadoras de conflitos nos adolescentes45:

40 PARROTT, 2003, p. 74 41 PARROTT, 2003, p.105 42 Ibid, 2003, p. 157 e 419 43 Idem, 2003, p. 73-74. 44 Idem, 2003, p.105-107. 45 Idem, 2003, p.117- 454.

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A depressão, ‘resfriado comum da psicopatologia’ afeta a vida de todos [...], ninguém escapa a ela, especialmente os adolescentes. [...] Drogas e álcool. Um dos problemas mais difíceis que a sociedade enfrenta atualmente é o uso e abuso de substâncias químicas pelos adolescentes. [...] Alguns adolescentes são invisíveis socialmente. Eles não são notados nem escolhidos como líderes, não participam muito da classe, nem têm outras atividades sociais, não defendem seus direitos e são muito tímidos para expressar suas opiniões sobre assuntos que lhes dizem respeito.

Diante do exposto até aqui vimos que os conflitos podem afligir a alma,

causar dor, sentimento de culpa, impotência e pode evoluir para a depressão.

Posto isso não podemos tentar mitigar os conflitos como se não existissem. Há

necessidade dentro do contexto intrafamiliar, e com seus pares, começarem a

negociar as diferenças e respeitá-las, como Asha Phillips46 expressou:

Negociar nossas diferenças é uma luta, em todas as idades. A capacidade de sustentar seus próprios sentimentos, de não ser invadidos pelos sentimentos dos outros, é essencial, se queremos ter uma relação baseada na maturidade. Precisamos estar suficientes seguros de nós próprios para dizer: Não, isto não me diz respeito, quando colocados diante de um retrato nosso, se sentirmos que ele não corresponde à realidade. Precisamos estar confiantes em manter nossa posição de diferença.

2 Adolescentes: conflitos pessoais, intrafamiliar e com os seus

pares.

Há uma informação importante. No dia que eu realizei essa pesquisa, dia

07 de abril de 2011, às nove da manhã, uma tragédia estava acontecendo no

Brasil. Em uma escola estadual do Rio de Janeiro, em Realengo, um jovem que

se chamava Wellington Menezes de Oliveira47 de 24 anos, ex-aluno da escola,

suicidou logo após um atentado onde cometeu um crime hediondo, tirando a

vida de onze adolescentes e deixando tantas outras feridas. Quando realizei a

pesquisa, os adolescentes ainda não sabiam de tal evento.

46 PHILLIPS, Asha, Dizer não. Impor limites é importante para você e seu filho. 5 ª edição. Rio de Janeiro: editora Campus Ltda, 2000. 47 Fato noticiado pelos canais de comunicação brasileira no dia sete de abril de 2011, às 11h.30min, Globo News.

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Essa unidade de trabalho remete-nos a pesquisas, questionários e

entrevistas estruturadas e realizadas com adolescentes. Nesse primeiro

momento remeto a pesquisa realizada com 39 adolescentes, sendo 26 da

escola pública estadual Carmélia Loff, sendo dezesseis do gênero feminino e

onze do gênero masculino. Outros 13 adolescentes que frequentam uma

escola municipal de Belo Horizonte, que se declararam protestantes históricos,

sendo sete do gênero feminino e seis do gênero masculino. Todo questionário

foi transcrito na integra, porém algumas perguntas foram selecionadas para

serem comentadas, considerando a sua utilidade nessa pesquisa e nesse

capítulo.

Todos participaram da pesquisa e responderam voluntariamente as

perguntas do apêndice cinco.

Questionário aplicado aos adolescentes, considerando o gênero e faixas

etárias: ( ) 12 e 13 anos; ( ) 14 e 15 anos; ( ) 16 e17 anos.

O questionário abaixo faz parte da Dissertação de mestrado que será

apresentado ao Programa de Estudos de Pós-Graduação em Ciências da

Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como exigência à obtenção

do título de Mestre. O tema é: Religiosidade dos Adolescentes de periferia em

face de conflitos e violências.

Ao ser atencioso a responder esse questionário, muito me ajudará como

pesquisador, compreender a sua religiosidade diante de conflitos, violências

sofridas e cometidas mais recorrentes. Ajudará também às famílias,

educadores, escolas, líderes religiosos e outros atores sociais que se esforçam

para a prevenção, defesa e promoção de cada adolescente.

Esse questionário subdivide-se em três subitens. 1 Conflitos. 2 Violências

sofridas. 3 Violências cometidas.

Gênero: ( ) masculino. ( ) feminino. Idade: ( ) anos.

3 Pesquisa: conflitos dos adolescentes

1. O que você mais gosta de fazer na vida? Gosto de: ___________________.

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2. A que grupo religioso você pertence: ( ) Igrejas Históricas. (Presbiteriana

Congregacional. Luterana, Batista, Metodista).

( ) Igreja Católica. ( ) Espírita. ( ) A nenhum grupo religioso.

( ) Igrejas neo pentecostais. (Universal, Quadrangular, Deus é Amor.

( ) Assembléia de Deus, ( ) Outra: _________________________________.

3. Você já passou por uma situação difícil que gerou conflito?( ) sim , ( ) não.

4. O que te causa medo, preocupação, pavor? ( marcar mais de uma opção).

( ) Deus; ( ) Diabo; ( ) morte; ( ) De se envolver com drogas; ( ) De morrer

muito jovem; ( ) De perder a mãe; ( ) De perder o pai; ( ) De ter uma

enfermidade que não tem cura; ( ) Não ter o que comer; ( ) Não ter onde

morar; ( ) Não tenho noção de medo ou perigo.

5. Você já pensou em sair de sua casa? ( ) sim, ( ) não. Já pensou em

suicídio? sim ( ), não ( ). Você mora com quem? ( ) com os pais, ( ) mãe,

( ) pai, ( ) avó.

6. Quais são suas maiores dificuldades? Você pode marcar mais de uma opção.

( ) Relacionar bem com a minha família. ( ) Obedecer à mãe.

( ) Obedecer ao pai. ( ) Relacionar na escola com os colegas.

( ) Relacionar com a direção escolar. ( ) Relacionar com os professores.

( ) Controlar impulsos de raiva, ira, ódio das pessoas. ( ) Timidez,

( ) Revoltado com a vida. ( ) Confiar nas pessoas. ( ) Ciúmes. ( ) Mentira.

( ) Uso e envolvimento com drogas. ( ) Com o furto. ( ) Com o roubo.

7. Você acredita que após a morte, haverá: ( ) Céu. ( ) Inferno.

( ) Reencarnação. ( ) Nada. Morreu, acabou.

8. Você crê que Deus existe e que Ele criou todas as coisas? Sim ( ), não ( ).

9. Você acha que religião, igreja é coisa importante? ( ) sim, ( ) não.

10. Com que frequência você vai ao grupo religioso, igreja? ( ) Uma vez por

semana. ( ) Uma vez ao mês. ( ) Uma vez ao ano. ( ) não vou à igreja.

11. O que você pensa da religião? Marque quantas respostas quiser.

( ) Ela é de Deus. ( ) Ela é invenção do homem. ( ) Ela faz falta para você.

( ) Ela não faz falta para você. ( ) Ela engana as pessoas.

12. Em sua opinião, qual é a melhor religião? ( ) Católica. ( ) Espírita.

( ) Crente /Evangélica histórica.(Presbiteriana, Congregacional, Luterana ,

Batista. Metodista).

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( ) Igreja neo pentecostal. ( ) Igreja Assembléia de Deus. ( ) Nenhuma.

( ) Todas. ( ) Outra: _____________________________________________.

13. Sua mãe vai à igreja? ( ) sim, ( ) não. Seu pai vai à igreja?( ) sim, ( )

não.

4 Pesquisa: violências sofridas intrafamiliar e com seus pares

1. Seus pais moram juntos?( ) sim, ( ) não. Eles são casados? ( ) sim, ( ) não.

2. Quem sustenta a sua casa? ( ) Sua mãe. ( ) Seu pai. ( ) Outro membro da

família. ( ) Você ajuda. ( ) Padrasto. ( ) Avó. ( ) Tio.

3. Você tem quantos irmãos? ( ).Tem irmãos de pais diferentes? ( ) sim, ( )

não. Tem padrasto ou madrasta? ( ) sim, ( ) não.

4. Você relaciona bem com sua mãe? ( ) sim, ( ) não, ( ).

5. Você relaciona bem com o seu pai? ( ) sim, ( ) não, ( ).

6. Você se relaciona bem com seus irmãos? ( ) sim, ( ) não,

7. Você se relaciona bem com o seu padrasto ou madrasta? ( ) sim, ( ) não.

8. Você já foi espancado ou agredido pela sua mãe? ( ) sim, ( ) não.

9. Você já foi espancado ou agredido pelo seu pai? ( ) sim, ( ) não.

10. Você já foi espancado ou agredido pelo seu padrasto ou madrasta?

( ) sim, ( ) não.

11. Você já presenciou alguma violência física em sua família? ( ) sim, ( ) não.

12. Que tipo de violência você presenciou? ( ) Agressão física. ( ). Assassinato.

( ) Xingamentos (violência psicológica).

13. Você já foi abusado/a sexualmente por algum membro de sua família?

( ) sim, ( ) não. Se foi abusado/a, quem foi: ( ) pai, ( ) padrasto, tio ( ),

( ) primo.

14. Você já foi abusado sexualmente por alguém fora da família?( ) sim,

( ) não.

15. Você já é pai ou mãe? ( ) sim, ( ) não. Se sua resposta for sim, isso

aconteceu, com quantos anos? ( ).

16. Você considera definido sexualmente? ( ) sim, ( ) não.

5 Pesquisa: violências praticadas pelos adolescentes

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1. Você já participou de algum furto? (extrair algo de outrem sem violência

aparente). ( ) sim, ( ) não.

2. Você já participou de algum roubo? (extrair algo de outrem com uso de

violência). ( ) sim, ( ) não.

3. Você já se envolveu com brigas, confusões na escola? ( ) sim, ( ) não.

4. Você já usou drogas ilícitas? ( ) sim, ( ) não. ( ) Você faz ou fez uso de

bebidas alcoólicas?( ) sim, ( ) não. ( ) Você fuma ou já fumou?( ) sim, ( )

não.

5. Você já se envolveu com algum tipo de latrocínio? (matar para roubar).

( ) sim, ( ) não.

6. Você já matou alguém por causa de brigas de gangue? ( ) sim, ( ) não.

7. Você já agrediu alguém de sua família? ( ) sim, ( ) não.

8. Você já agrediu algum professor/a? ( ) sim, ( ) não.

9. Você já forçou alguém para ter relação sexual? ( ) sim, ( ) não.

10. Você já participou de pichação? ( ) sim, ( ) não.

11. Enfim, essa pesquisa o ajudou a repensar a vida, a família, a religião, as

oportunidades? ( ) sim, ( ) não.

Muitíssimo obrigado.

Pesquisador: Silas Paulo Procópio do Monte.

6 Análise do questionário

A pergunta de número um, o que você mais gosta de fazer na vida, dos

trinta e nove pesquisados, 98% afirmaram gostar da vida, da família, de fazer

algo lúdico, estudar, da aproveitar a vida, de se divertir e de praticar esportes.

2% disse que não gosta de fazer nada, não apresentando uma perspectiva de

vida, ou seja, um adolescente.

A segunda pergunta, que grupo religioso você pertence, 96% afirmaram

pertencer a alguma denominação cristã. Um dado importante é que do grupo

dos 26 adolescentes, 45% disseram serem católicos e 51% afirmaram ser

evangélicos. Desse número expressivo de evangélicos, a maioria pertence às

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igrejas neo pentecostais e pentecostais. Um adolescente disse ser Testemunha

de Jeová e outro disse não ter religião definida. Nota-se, portanto, a

religiosidade dos adolescentes entrevistados.

A pergunta de número três, se eles já passaram por uma situação difícil

que gerou conflito, 61% responderam positivamente. 39% disseram que não

passaram por situação que gerou conflito. Um dado importante revela que

quanto mais novo for o adolescente entre 12 e 14 anos, menos noção ele possui

de conflito.

A pergunta de número quatro, o que lhes causa medo, preocupação,

pavor, 100% responderam ter medo de alguma coisa. Respostas como,

morrerem muito jovem, de perder os pais, não terem o que comer, onde morar,

medo da morte, de enfermidade, do Diabo estão entre as que mais lhes

causam preocupações. Pelas respostas, percebem-se muitos conflitos no dia a

dia dos adolescentes.

Na pergunta de número cinco, se eles já pensaram em sair de casa, 51%

dos entrevistados afirmaram que não pensam em sair de casa e 49% disseram

que sim. Observa-se ainda que, desse contingente que pensam em sair de

casa, um número elevado são adolescentes do gênero feminino acima de 14

anos.

Na pergunta de número seis, quais são suas maiores dificuldades,

considerando que essa pergunta ofereceu mais de uma opção de resposta,

100% responderam que passam por algumas dificuldades como: relacionar

com a família, timidez, mentira, relacionamento com a mãe, pai, com os

professores, direção da escola, ciúmes, medo de envolver-se com drogas, não

confiar nas pessoas, de não controlar os impulsos de ira e raiva. Chamou-me a

atenção tal pergunta, pois um adolescente de treze anos marcou todos as

opções acima. Nessas respostas percebem-se conflitos pessoais, intrafamiliar e

com seus pares.

As perguntas de número sete a treze, referem-se a percepção e práxis

religiosa dos adolescentes e serão analisadas no capítulo de número três.

O bloco de perguntas: II. Violências sofridas pelos adolescentes são ao

todo dezesseis perguntas. Destaco as seguintes perguntas: a pergunta de

número um (01) se os pais deles morram juntos, 30% afirmaram que não

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moram e que agora moram com a mãe e outros disseram que convivem com

padrasto ou madrasta. Perguntas de número oito e nove que diz: você já foi

agredido por pai ou mãe. 27% afirmam que já foram agredidos; nas perguntas

de número onze e doze se o adolescente já presenciou alguma violência na

família dele e de que tipo, 40% responderam que já presenciaram algum tipo de

violência, sendo 15% agressão física e 25% agressão psicológicas e

xingamentos mútuos entre os pais. Através dessas repostas, percebem-se

violências intrafamiliar contra os adolescentes e violência entre os pais.

O bloco de perguntas: III. Violências cometidas – Atos Infracionais

cometidos pelos adolescentes são ao todo onze perguntas serão avaliadas no

capítulo 2.

7 Considerações do capítulo 1

Nesse capítulo propôs três objetivos centrais a partir dos eixos:

conceituar o que conflito; apresentar três narrativas vividas por alguns

adolescentes no período de 2003 a 2009 quando fui conselheiro tutelar de Belo

Horizonte na região de Venda Nova; e apontar quais são os conflitos e

violências recebidas mais recorrentes entre os adolescentes no convívio

intrafamiliar e com seus pares, a partir de uma pesquisa estruturada com 39

adolescentes e 12 atores sociais. Isso posto é possível afirmar que conflitos

existem de ordem, pessoal, conflitos intrafamiliar e com seus pares onde eles

se socializam. Há violências intrafamiliar como espancamentos e violências

psicológicas.

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CAPÍTULO 2

ATOS INFRACIONAIS E VIOLÊNCIAS PRATICADAS MAIS RECORRENTES

POR ADOLESCENTES

“Não julguem os outros para vocês não serem julgados por Deus.

Porque Deus julgará vocês do mesmo modo que vocês julgarem os outros e usará com vocês a mesma medida que vocês usarem para medir os outros. Por que é que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave de madeira que está no seu próprio olho?

Como é que você pode dizer ao seu irmão: “Me deixe tirar esse cisco do seu olho”, quando você está com uma trave no seu próprio olho?

Hipócrita! Tire primeiro a trave que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão”.49 Mateus 7. 1-5.

Nesse capítulo estabeleci três objetivos para compreender a violência

entre os adolescentes a partir os eixos: atos infracionais - violências cometidas,

mais recorrentes cometidos pelos adolescente a partir da análise da pesquisa

do CIA50; pesquisa estruturada com os adolescentes; e, pesquisa com

conselheiros tutelares, educadores e gestor escolar.

O que pode levar os adolescentes a serem violentos? A cometerem

violências, atos infracionais? É possível perceber essas violências e ajudá-los?

Qual é a função da sociedade civil organizada? O que tem feito o poder público?

Que políticas públicas existem no âmbito da prevenção, defesa e promoção dos

mesmos?

Em recente pesquisa realizada pelo CIA51 Centro Integrado do

atendimento ao adolescente infrator, referentes aos anos de 2009 para o ano

de 2010, apontam o crescimento da violência entre adolescentes na cidade de

Belo horizonte e sua região metropolitana. Esses dados dizem que em 201052

48 Evangelho de Mateus 7. 1-5. In João Ferreira de Almeida. Bíblia Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri. São Paulo: SBB, 2000. 49 CIA, 2010, p.1. 50 CIA, 2010, p.2. 51 Ibid, 2009, p.3.

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em relação ao ano de 2009, houve um aumento de duzentos e cinquenta e nove

casos a mais nos atendimentos.

1. Atos infracionais cometidos pelos adolescentes

No gráfico abaixo o número 1 indica os casos atendidos em 2009 e o

número 2 os caso atendidos no ano de 2010, com uma média de 800

atendimentos realizados ao mês e 20 atendimentos realizados ao dia.

O documento da Vara infracional da Infância e da Juventude da cidade de

Belo Horizonte, referente ao seu exercício base do ano de 2010 aponta o perfil

desse adolescente infrator. Quantos atendimentos foram feitos ao todo, por mês

e ao dia, bem como reincidências e a idade média da cada um53:

No ano de 2010, contabilizaram-se 9.864 entradas de adolescentes, considerando-se inclusive as entradas dos reincidentes, ou seja, dos adolescentes que deram mais de uma entrada. Desconsiderando-se as 3.104 entradas repetidas pelos mesmos adolescentes, isto é, as reincidências, passaram pelo CIA/BH em 2010 6.760 adolescentes não repetidos. No total de 9.864 entradas de adolescentes (neste universo se incluem as entradas repetidas ou reincidências), a média de atendimento foi de 822 adolescentes por mês e 27 adolescentes por dia. No universo de 6.689 casos sobre os quais há informação, que 74,8%

53 CIA, 2010, p. 4.

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deles estão entre as idades de 15 e 17 anos. A média de idade é de 15,6 anos e o maior número de casos (moda) está concentrado na idade dos 17 anos.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes cometeram

algum ato infracional no ano de 2010. O número 2 indica o número de casos

novos atendidos. O número 3 indica os adolescentes atendidos com média de

idade de 15.6 anos. O Número 4 indica os adolescentes reincidentes durante o

ano de 2010.

O mesmo documento demonstrou que os adolescentes do gênero

masculino são uma grande maioria que por ali passaram durante o ano de 2010.

Outro dado importante é que os adolescentes do gênero feminino começam

mais cedo cometer atos infracionais. A pesquisa também aponta que os

adolescentes mais novos entre doze e treze anos cometem menos atos

infracionais 54:

[...] 84,4% dos jovens que passaram pelo CIA/BH são do sexo masculino em 2010 e apenas 15,6% pertencem ao sexo feminino. Ao se fazer o cruzamento das variáveis sexo e idade, [...] demonstra que, nas idades de 12 a 15 anos, os percentuais de mulheres que cometeram atos infracionais no ano de 2010 são maiores do que os percentuais dos homens, o que sugere a hipótese de que, em geral, as mulheres

54 CIA, 2010, p.4.

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começam a infracionar mais cedo do que os homens. Ao se somarem os percentuais de homens e mulheres que cometeram atos infracionais aos 12 e 13 anos, têm-se apenas 10,1% do total de 6.689 casos com informação.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes do gênero

masculino cometeram algum ato infracional no ano de 2010. O número 2 indica

o número de adolescentes do gênero feminino que cometeram algum ato

infracional.

Outro dado relevante na pesquisa é quanto à escolaridade dos

adolescentes envolvidos com atos infracionais55.

Percebe-se que, no período analisado, 16,6% estavam na 5ª série; 20,7%, na 6ª série; 16,6%, na 7ª série e 18,2% tinham o ensino fundamental completo. Evidente a baixa porcentagem de adolescentes estudantes do ensino médio, que somados chegam a 13,3%. Os que não estudam somaram 459 adolescentes, ou seja, 7,9% do total de 5.776 casos com informação. O índice de analfabetismo é de apenas 0,1%, e o ensino básico completo reúne 3,8% dos casos.

Outro dado importante apresentado na pesquisa do CIA56 foram os

resultados dos estudos socioeconômicos e de estado civil aplicados aos 3.100

adolescentes57:

55 CIA, 2010, p.4. 56 CIA, 2010, p.5 57 Ibid, p.5.

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[...] Em 31,4% do total de 9.864 adolescentes que deram entrada do CIA/BH em 2010. Do total de 3.100 entrevistados, constatou-se que 40,9% pertencem à raça/cor pardo; 27,9% deles pertencem à raça/cor preto e 17,4%, à raça/cor branco. Adolescentes pertencentes à raça/cor amarelo somaram 2,1% e à raça/cor indígenas, 3,4% dos adolescentes. 8,3% dos entrevistados não souberam ou não responderam [...] Em relação ao estado civil, dos 3.100 adolescentes entrevistados, 97,0% afirmaram ser solteiros, sendo que apenas 3,0% se encontram em união estável e 325 (10,5%) deles têm filhos.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes cometeram

algum ato infracional e a maioria de cor parda. O número 2 indica os

adolescentes atendidos de cor preta. O número 3 indica os adolescentes

atendidos de cor branca. O Número 4 indica os adolescentes atendidos que

tem filhos.

Outro dado importante apresentado na pesquisa do CIA58, aos 3.100

adolescentes foi quanto à frequência escolar, trabalho e renda, relatou que:

[...] Sobre a frequência à escola, 52,3% informaram que estudam atualmente e 47,7% disseram que não estudam, sendo que 99,5% estudam em escola pública e 0,5%, em escola privada. Em relação à situação de trabalho, 20,7% informaram que trabalham atualmente, enquanto 79,3% não trabalham. No que diz respeito àqueles que trabalham 11,4% estão inseridos no mercado formal, enquanto 88,6% trabalham na informalidade. A renda dos 640 adolescentes que trabalham está na faixa (mediana) dos R$ 500,00 (quinhentos reais)

58 CIA, 2010, p.5.

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mensais, sendo que variou de R$ 50,00 (cinquenta reais) até R$ 3.600,00 (três mil e seiscentos reais) mensais.

No quesito moradia e renda familiar, percebem-se nessa pesquisa do

CIA59, números importantes, sendo que alguns adolescentes moram em casa,

outros em apartamentos, alguns em abrigo, e ainda outros são moradores de

rua:

[...] 80,9% moram em casa; 9,6%, em barracão; 5,4%, em apartamento; 3,0%, nas ruas e 1,2%, em abrigo. 75,0% dos adolescentes que responderam ao questionário informaram que residem em casa própria; 20,4%, em casa alugada; 3,1%, em casa cedida e 0,6%, em moradia ocupada, sendo que o número de moradores variou de 1 a 26, e a média é de 4,8 moradores por família. O número de cômodos variou de 1 a 28, e a média de cômodos é igual a 5,7. [...] Num universo total de 1.016 casos com informação, 44,4% desses jovens têm renda familiar de um até dois salários mínimos; [...] 11,8% deles declararam que a família não possui renda e 5,4% declararam ter renda menor do que um salário mínimo.

Na pesquisa realizada pelo CIA60, os adolescentes foram analisados

sobre a participação em programas do governo, como o Bolsa Família, Fica

Vivo, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e o Pró Jovem:

Dos 2.874 casos sobre os quais há informação, ficou evidenciado que 20,8% dos adolescentes participam do programa Bolsa Família; 18,1% participam do programa Bolsa Escola e 19,2% estão inseridos no Fica Vivo. A participação no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) aparece em 0,1% dos entrevistados; e o Pró-Jovem, em 0,2%. Dos 3.100 casos com informação, 24,3% dos adolescentes informaram participar de escolas de esportes; 23,1% participam de grupos de jovens; 8,5%, de dança de rua; 5,4% têm participações em bandas de música e 5,8%, em grupos de teatro.

2. O uso de drogas

A pesquisa do CIA61 apresentou também dados significativos no que diz

respeito ao uso de vários tipos de drogas, entre os adolescentes e destaca-se

que:

[...] 73,6% informaram fazer uso de bebida alcoólica; 64,5% disseram fazer uso de cigarro; 66,0% reportaram consumo de maconha; 33,5%,

59 CIA, 2010, p.6. 60 CIA, 2010, p.7. 61 Ibid, 2010, p.8.

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uso de cocaína; 31,2%, uso de solventes; 4,9%, uso de crack e 2,2%, uso de psicofármicos. Dos 3.100 entrevistados, apenas 8,3% informaram que não usam drogas e 10,1% declararam já terem feito algum tipo de tratamento antidrogas. Os dados apontam alto consumo de drogas por boa parte dos jovens em conflito com a lei. Entretanto, o uso de crack aparenta não ser alto nesse público, tendo em vista que, em 2009, apenas 6,2% dos jovens admitiram consumir essa droga e, em 2010, o número caiu para 4,9%.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes fazem uso de

bebidas alcoólicas. O número 2 indica quantos fumam. O número 3 indica os

adolescentes que consumem maconha. O Número 4 indica o consumo de

cocaína. O número 5 indica ouso de solventes. O número 6 indica o uso de

crack.

A cidade de Belo Horizonte é dividida em nove regionais. A pesquisa do

CIA62 apresenta dados importantes em relação aos atos Infracionais cometidos

pelos adolescentes em sete regiões da cidade e em sua da região

metropolitana:

[...] Em relação à regional de cometimento do ato infracional, apresenta as regiões com maior frequência: Centro-Sul, com 18,7%; Noroeste, com 13,3%; Venda Nova, com 10,4% e Nordeste, com 10,1%. As regiões que apresentam menor frequência de cometimento de atos infracionais são Pampulha, com 5,5%; Norte, com 8,2% e Barreiro, com 9,1%. A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) concentrou apenas 2,7% do total de infrações computadas pelo CIA/BH no ano de 2010.

62 CIA, 2010, p. 8

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O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes cometeram

algum ato infracional na regional Centro-Sul. O número 2 indica o número de

adolescentes da regional Noroeste. O número 3 indica os adolescentes

atendidos na regional Venda Nova. O Número 4 indica os adolescentes

atendidos da regional Nordeste. O número 5 os da regional Barreiro. O número

6 da regional Norte. O número 7 da regional Pampulha. O número 8 da região

Metropolitana de Belo Horizonte.

A mesma pesquisa do CIA63 ofereceu dados dos bairros da cidade de

Belo Horizonte onde ocorreu o maior número de violência bem como o dia mais

violento durante o ano de 2010:

[...] Foram: Serra com 310 adolescentes; Alto Vera Cruz com 198; Taquaril, com 158; Jardim América, com 151; Jardim Vitória, 114; Jardim Leblon, com 109; Aparecida, 105; Primeiro de Maio, com 104; Goiânia contabilizou 96 adolescentes; Céu Azul e Nova Granada, com 92 jovens cada; São João Batista e São Cristóvão, com 90 adolescentes em cada um e Vista Alegre e Tupi, com 80 adolescentes residentes em cada um desses bairros. Ao se analisar os dias da semana em relação ao fluxo de atendimentos no CIA/BH, a Tabela 7 evidencia que, embora as quartas-feiras apresentem o maior percentual, não há muita variação entre eles. [...] Quarta-feira teve 1467 atos infracionais apurados em todo ano de 2010.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes cometeram

algum ato infracional no bairro Serra. O número 2 indica o número de 63 CIA, 2010, p. 9

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adolescentes no bairro Alto Vera Cruz. O número 3 indica os adolescentes no

bairro Taquaril, regional Leste. O Número 4 indica os adolescentes no bairro

Jardim América da regional Oeste. O número 5 no bairro Jardim Vitória. O

número 6 no bairro Jardim Leblon. O número 7 no bairro Primeiro de Maio. O

número 8 no bairro Céu Azul regional de Venda Nova. O número 9 no bairro

São João Batista regional de Venda Nova.

No que diz respeito aos atos infracionais e as reincidências cometidas

pelos adolescentes, em 2010 é possível verificar:64

[...] Que o tráfico de drogas representa 27,2%; o uso de drogas representa 18,5%, seguidos do furto, com 10,7%; do roubo, com 7,7% e da lesão corporal, com 6,7%. Os homicídios e tentativas de homicídio contabilizados no ano de 2010 foram 32 (0,4%) e 24 (0,3%), respectivamente, do total de 8.009 casos 2010. [...] Num total de 8.009 casos com informação, para os adolescentes que reincidiram uma vez, o tráfico de drogas, o uso de drogas, o furto e o roubo são os atos que eles mais cometeram. Para os adolescentes que reincidiram duas vezes, observa-se o mesmo padrão, que inclusive se repete no caso dos adolescentes que reincidiram três e quatro vezes. Assim há uma tendência de maiores reincidências.

No gráfico abaixo, o número 1 representa os adolescentes envolvidos

com o tráfico de drogas. O número 2 os adolescente envolvidos com furto. O

64 CIA, 2010, p.10

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número 3 os adolescentes envolvidos com roubo e o número 4 os adolescentes

envolvidos com lesão corporal.

Estudiosos tem se perguntado: Por que alguém se torna violento?

Corrobora para entender a violência entre os adolescentes o que escreveu

Filippo Muratori65:

A pergunta não tem evidentemente uma única resposta. Às vezes a violência remete a déficits maiores da organização psicológica da criança; em casos opostos, refere-se a comportamentos aprendidos por meio de repetidas experiências de violências em ambientes socialmente degradados. No meio é possível encontrar as mais variadas situações caracterizadas por uma conjuntura infeliz entre presença de fatores de risco, pobreza de fatores de proteção.

Considerando a complexidade das possíveis causas da violência entre

os adolescentes, Filippo Muratori66 disse que:

[...] A complexidade aponta a necessidade de não se darem respostas apressadas cujo escopo é autotranquilizar-se em relação a um problema que, de alguma forma envolve toda a sociedade e que tem as suas bases na organização da personalidade de cada jovem, isto é aquela que se constrói ao longo de toda idade evolutiva, a partir de épocas precoces, e

65 MURATORI, Filippo. Jovens violentos. Tradução Antônio Efro Feltrin. São Paulo: Paulinas, 2007. 66 MURATORI, 2007, p.105.

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sobre a qual exercem influência decisiva as primeiras relações de afeição com as figuras paternas.

A partir desse parágrafo, remeto a pesquisas realizadas com

adolescentes. Esse bloco completo de perguntas faz parte do questionário

estruturado e realizado com adolescentes que está na íntegra no capítulo

primeiro e anexo cinco.

No primeiro momento destaco as perguntas de números três e cinco. A

pergunta de número três, se o adolescente já se envolveu com brigas,

confusões na escola. 53% afirmaram que sim, contra 47% afirmaram que não.

Desses 53% que afirmaram que sim, 80% são do gênero masculino de idade

entre 16 e 17 e 20% do gênero feminino de idade entre 15 a 17 anos.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes se envolveram

com brigas nas escolas [ ] Bullying escolar. O número 2 indica quantos

adolescentes que não se envolveram com brigas [ ] bullying escolar. O número

3 indica os adolescentes do gênero masculino envolvidos com o bullying

escolar. O número 4 indica os adolescentes do gênero feminino envolvidos com

o bullying nas escolas.

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Procurando visualizar o que acontece no entorno e dentro das escolas

públicas da cidade de Belo Horizonte, a doutora em antropologia Regina

Medeiros67 com um olhar observador declara que:

No contexto escolar, a equipe técnica enfrenta: alunos agressivos e hostis, pais inseguros e tensos; comunidade exigindo posicionamentos das escolas; políticas públicas que impõe projetos pedagógicos de difícil implantação e adequação à realidade; organismos de segurança ausentes das portas das escolas; escassos recursos financeiros para contratação de pessoal de segurança, especialmente à noite e nos fins de semana. Os alunos enfrentam: professores mal remunerados e insatisfeitos, tensos e com medo, destituídos de autoridade. Essa situação faz emergir um estado de tensão constante e crônica pairando no ar, através de ameaças. Assim a equipe pedagógica e os equipamentos formais de segurança se reconhecem como impotentes e sem alternativas eficazes para o enfrentamento dessa problemática.

Procurando compreender o que acontece quando se fala em Bullying

escolar, Sônia Maria de Souza Pereira68 ao estudar o assunto e suas

implicações no ambiente escolar, afirmou que:

Além da violência vinda do ambiente externo à escola, os profissionais da educação estão se vendo “às voltas” com um tipo bem definido de violência entre alunos, o bullying. Suas conseqüências nos envolvidos, independente do grau de envolvimento, podem ser extremamente danosas a curto e a longo prazos, sendo mais severas para as vítimas.

Quanto a pergunta de número quatro – se o adolescente já fez ou faz uso

de algum tipo de drogas, sem dizer se é ilícita ou as chamadas drogas

legalizadas como álcool ou cigarro, 20% disseram ter fumado ou bebido.

A pergunta sete – se o adolescente já agrediu alguém da família dele,

15% afirmaram ter agredido. Na pergunta onze foi perguntado - se a entrevista

e o questionário o ajudou a repensar a vida, a família, a religião, as

oportunidades. 96% afirmaram que sim.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos adolescentes fumam e

ingerem bebidas alcoólicas. O número 2 indica quantos adolescentes agrediram

seus familiares. O número 3 indica se essa pesquisa o fez repensar a vida.

67 MEDEIROS, Regina. A escola no singular e no plural. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2006. 68 FILHO, B. José. Matriz religiosa brasileira. RJ: Koinonia; Petrópolis:Editora Vozes, 2003.

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A pesquisa estruturada abaixo, apêndice quatro, realizada com

conselheiros tutelares e outros atores sociais sobre a temática, objetiva

compreender conflitos, violências recebidas e cometidas pelos adolescentes.

Essa pesquisa foi realizada considerando o atendimento aos adolescentes no

ambiente de trabalho de cada ator social como conselheiro tutelar, educador ou

gestor escolar. Foram 15 pesquisas estruturadas e todos os pesquisadores

responderam a todos os itens. Tomo como base um relatório respondido pela

ex-conselheira tutelar e educadora Maria d’Aparecida Pereira Braga para

interação com o toda da pesquisa. Ela foi a primeira conselheira tutelar de Belo

Horizonte no ano de 1991 na região de Venda Nova. Ao final alguns

depoimentos dos atores sociais sobre o assunto em tela.

Excelentíssimos (a) Senhores (a)

( x ) Conselheiro(a) Tutelar

( x ) Educador

( ) Religioso

( ) Outro ator social: _____________________________________________.

O questionário abaixo faz parte da Dissertação de mestrado que será

apresentado ao Programa de Estudos de Pós-Graduação em Ciências da

Religião, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, como exigência

parcial à obtenção do título de Mestre. O tema é: Religiosidade dos

adolescentes de periferia em face de conflitos e violências.

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Ao responder as perguntas abaixo listadas, muito me ajudará como

pesquisador. Ajudará também às famílias, educadores, escolas, líderes

religiosos e outros atores sociais que se esforçam para a prevenção, defesa e

promoção dos adolescentes.

Autorizo a publicação desse questionário para os fins acima mencionado.

Por ser verdade assino e dato o presente.

Nome: Maria d’Aparecida Pereira Braga. Data: 30 /03/2011.

1. Direitos violados aos adolescentes existem. Em sua opinião,

considerando os atendimentos e ou convívio com eles, quais são os mais

recorrentes? Enumere de 01 a 07 por ordem de importância.

(1) Ter uma família que não lhes dão carinho, apoio e proteção.

(6) Não reconhecimento de paternidade.

(5) abandono do lar por parte do pai.

(2) abandono do lar por parte de mãe.

(3) Não ter uma educação de qualidade.

(4) Escassez de políticas públicas sociais básicas.

( ) Outro: _______________________________________________________.

2. Você percebe que a falta de bons exemplos na família (amor, respeito,

verdade, honestidade, carinho, e a falta de práxis (prática) religiosa) contribui

para a falta de limites dos adolescentes? (x) sim, ( ) não.

3. Você percebe que a falta de práxis (prática) religiosa dos adolescentes,

contribui para a falta de limites deles? (x) sim, ( ) não.

4. Quais são as causas dos conflitos intrafamiliar dos adolescentes, em sua

opinião, considerando os atendimentos e ou convívio com eles. Coloque o

número 01 para a opção que você apontaria como a maior causa de conflito e

assim sucessivamente até o número 10, se necessário.

(4) Separação dos pais.

(5) Falta de suporte familiar.

(3) Falta de diálogo do pai.

(2) Falta de diálogo da mãe.

(9) Falta de diálogo com o padrasto ou madrasta.

(1) Falta de bons exemplos dos pais ou responsáveis.

(8) Discriminação na família.

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(7) Falta de assistência e atenção ao adolescente do pai que abandonou a

família.

(6) Falta de assistência e atenção ao adolescente da mãe que

abandonou a família.

(10) Falta de oportunidade, por exemplo: primeiro emprego ou um bom

curso profissionalizante. ( ) Outro : __________________________________.

5. Quais são as maiores manifestações de conflitos dos adolescentes que você

percebe, considerando o seu atendimento ou convívio com eles?

(marque quantos itens você concordar). Enumere-os de 01 a 13. Coloque o

número 01 para a opção que você apontaria como a maior manifestação de

conflito e assim sucessivamente até o número 13, se necessário.

(8) Recusa de auxílio e orientação.

(12) Fuga do lar.

(9) Evasão escolar.

(13) Sexualidade indefinida.

(10) Envolvimento sexual precoce.

(11) Ser pai ou mãe na adolescência.

(1) Pensamento de auto-extermínio/suicida.

(2) Ameaça de morte.

(3) Uso de drogas.

(5) Envolvimento com o tráfico de drogas.

(6) Revolta.

(7) Fuga da realidade.

(4) Envolvimento em furto, roubo, brigas, assassinato e estupro.

( ) Outro: _______________________________________________________.

6. Violências intrafamiliar sofridas pelos adolescentes existem. Considerando os

atendimentos ou convívio com eles, quais são as mais recorrentes.

(3) Violências físicas pelo pai.

(2) Violências físicas pela mãe.

(5) Violências físicas pelo padrasto.

(4) Violências físicas pela madrasta.

(7) Violências físicas pelos irmãos.

(6) Violências físicas pelos meios- irmãos.

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(8) Violência ou abuso sexual sofrido pelo padrasto

(9) Violência ou abuso sexual sofrido por outro membro familiar.

(1) Violências psicológicas. (x) Outra: “negligência: os pais existem, mas não

atuam como tal. Não educam”.

7. De acordo com sua prática de atendimento e convívio com o adolescente,

que ato infracional, ou tipo de violência que o adolescente mais pratica?

(4) Participação em furto.

(5) Participação em roubo.

(2) Bulling escolar.

(6) Participação no tráfico de drogas.

(7) Latrocínio.

(8) Estupro.

(3) Pichação

(1) Brigas.

( ) Outro: _______________________________________________________.

Após a entrevista com os atores sociais acima foi solicitado que, caso

desejasse, comentassem sobre o assunto. A Conselheira Maria Aparecida

disse: “Parece-me que o Estatuto da Criança e do Adolescente ainda não foi

adotado, colocado em prática, pois toda violência que o adolescente pratica é

conseqüência da má educação na família, na igreja, na escola, pela sociedade,

pelo Estado que não cumpre suas obrigações e a Lei. (Art, 4 e 5 do ECA). Pai e

mãe ausentes, igreja que só se interessa em obter mais dinheiro, educadores

“laise-faire” e Estado omisso estão levando os adolescentes à reação=violência.

Amar é educar. Educar é amar [...] Os adolescentes e crianças violentos estão

gritando por amor”.

A educadora Júnia Costa Amaral comentou: “Em minha trajetória

profissional, observo que as causas das manifestações de violência praticadas

pelos adolescentes dialogam com a desorganização familiar e ainda com a

fragilidade do conceito de responsabilidade”.

A conselheira Berenice ferreira de Lima disse: “Acredito que o

distanciamento de Deus seja o maior responsável pelos conflitos em geral”.

A conselheira Joana D’Arc Anunciação disse que: “Com muita frequência

muitos adolescentes deixam a escola por exploração e manutenção da família”.

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A conselheira Guiomar Daniel Meira Soares disse que: “O assunto é

muito importante e oportuno diante da triste realidade da adolescência”.

A gerente regional de políticas públicas Maria Piedade Fonseca

comentou que: “Os pais atualmente não possuem propriedade e consciência

plena de maternidade/paternidade. Despreparo...”

A conselheira Sônia disse que: “Falta de uma religião”.

O religioso, reverendo Renê Alves Stófel disse que: “Falta

conscientização dos pais quanto aos perigos da vida adulta”.

O educador Júlio L. Ferreira disse quanto ao trabalho em tela: “[...] Vem

contribuir para uma melhora do desenvolvimento dos nossos jovens

adolescentes”.

A oficial do Judiciário na Infância e Juventude do município de Ribeirão

das Neves, Neide Farias G. de Alvarenga cidade da região metropolitana de

Belo Horizonte, locus também dessa pesquisa disse que: “O adolescente

precisa ser tutelado para que tenha uma boa formação física, mental, espiritual

e assim seja um cidadão de bem”.

A educadora social Neuza Faria de Azevedo, comentou que:

“Adolescente sem família estrutura serão desestruturados. Precisa trabalhar a

família”.

A educadora Simone da Silva do Monte disse que “a falta de uma

estrutura familiar, com bons exemplos por parte dos pais, gera todo tipo de

conflito e violência, torando os adolescentes violentos e sem limites”.

A estudante de Relações Internacionais Déborah Silva do Monte,

estagiária e educadora do Pró- Jovem em 1010, projeto do governo estadual de

Minas Gerais afirmou que “A razão da violência entre os adolescentes, tanto a

cometida quanto a sofrida está no ambiente em que eles vivem. Pressões

externas, hostilidades do meio, preconceitos e conflitos estimulam aos jovens a

terem comportamentos violentos”.

O número 1 no gráfico abaixo indica quantos conselheiros tutelares,

educadores, gestor escolar ao serem perguntas. Direitos violados aos

adolescentes existem. Em sua opinião, considerando os atendimentos e ou

convívio com eles, quais são os mais recorrentes? Enumere de 01 a 07 por

ordem de importância. Todos marcaram que o direito violado mais recorrente

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nas relações intrafamiliar foi ter uma família que não lhes dão carinho, apoio

e proteção69. O número 2 indica violências recebidas pelos adolescentes. As

respostas violências físicas pelo pai, violências físicas pela mãe e

violências psicológicas como xingamentos, pressão70 ganharam destaque.

O número 3 indica entre as violências cometidas pelos adolescentes, destaca-

se o bullying escolar [ ] brigas entre os pares no ambiente escolar71.

3 CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO 2

Nesse capítulo estabeleci três objetivos para compreender a violência

entre os adolescentes a partir os eixos: atos infracionais [ ] violências

cometidas, mais recorrentes cometidos pelos adolescente a partir da análise

da pesquisa do CIA72; pesquisa estruturada com os adolescentes; e, pesquisa

com conselheiros tutelares, educadores e gestor escolar. Diante do exposto,

69 Grifo do autor. 70 Grifo do autor. 71 Ibid. 72 CIA, 2010, p.1.

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pode-se afirmar que: os adolescentes do gênero masculino cometem mais

violências [ ] atos infracionais do que as do gênero feminino; que as

adolescentes iniciam-se nos atos infracionais mais cedo do que os

adolescentes, embora seja em termos de índice apresenta números bem

menores; que o consumo de drogas é alto entre os adolescentes chegando aos

índices de 73,6% quanto ao uso de bebidas alcoólicas e 66% quanto ao uso da

maconha; que a região Centro Sul de Belo Horizonte é a regional onde os

adolescentes cometem mais atos infracionais com índice de 18,7%; que a

regional da Pampulha é onde ocorre menos atos infracionais; que 235

adolescentes são pais, no universo de 9.864; que 3.104 adolescentes durante o

ano de 2010 são reincidentes, isto é: cometeram mais de um ato infracional; e,

ter uma família que não lhes dão carinho, apoio e proteção; violências físicas

pelo pai; violências físicas pela mãe e violências psicológicas como

xingamentos, pressão; o bullying escolar [ ] brigas entre os pares no ambiente

escolar, são as maiores causas de conflitos intrafamiliar, violências recebidas e

cometidas por adolescentes.

Todos esses dados coletados e analisados demonstram o perfil dos

adolescentes da cidade de Belo Horizonte e sua região metropolitana no quesito

violências, [ ] atos infracionais cometidos pelos adolescentes no ano de 2010.

Esse número é maior. Esse número de 9.864 que foram coletados foram os

casos que tiverem flagrante no momento em que o adolescente cometera o ato

infracional.

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CAPÍTULO 3

POSSÍVEIS MEDIAÇÕES E PRÁXIS RELIGIOSA DOS ADOLESCENTES

“Guardem sempre no coração as leis que eu lhes estou dando hoje e não deixem de ensiná-las aos seus filhos. Repitam essas leis em casa e fora de casa, quando se deitarem e quando se levantarem. Amarrem essas leis nos braços e na testa, para não as esquecerem; e as escrevam nos batentes das portas das suas casas e nos seus portões”.73 Deuteronômio 6. 6-9.

Três são os objetivos ao escrever esse capítulo tenho como eixos:

apontar algumas medições possíveis à rede de prevenção, proteção e

promoção ao adolescente, a partir da leitura aplicativa do Estatuto da Criança e

do Adolescente; perceber a concepção e práxis religiosa dos adolescentes em

face aos conflitos, violências sofridas e cometidas recorrentes intrafamiliar e

com seus pares; observar se a falta da concepção e práxis religiosa entre os

adolescentes interfere diretamente ou não nos mais variados comportamentos,

tornando-os mais vulneráveis e violentos.

1 O ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90

Quando pesquiso sobre os adolescentes de hoje, inquiro: Que lei dizia

sobre os seus direitos e deveres antes de 1990? Eles possuíam algum direito e

dever? Quais adolescentes eram protegidos?

A história registra que antes de 1990, existia o Código de Menores de

1927. Com o advento e promulgação da Constituição Federal de 1988, nasceu

a Lei Federal 8.069/90, o Estatuto Da Criança e do Adolescente, popularmente

73 Deuteronômio, 6.6-9. In João Ferreira de Almeida. Bíblia Sagrada. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri, SP: SBB, 2005.

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conhecido como ECA. Esse nasceu trazendo em seu bojo novos

direcionamentos à criança e ao adolescente, como diz Arantes74:

[...] É um feixe de direitos das crianças e adolescentes e deveres dos adolescentes, dos adultos, das instituições e do Estado, regulando a Doutrina de Proteção Integral, tutelada pela Organização das Nações Unidas, recepcionada em nossa legislação especialmente pelo artigo 227 da Constituição Federal e que veio substituir a Doutrina da Situação Irregular, do revogado Código de Menores de 1927. O código revogado, que deu suporte à chamada “escola menorista”, destinava-se a mendigos, abandonados, infratores, andarilhos, toxicômanos, alcoólatras e outras crianças e adolescentes, sempre denominados como “menores”, que estivessem na concepção da então denominada “situação irregular”.

A partir da citação acima, verifica-se que de 1927 até 1990, o Código de

Menores vigorava. Era uma Lei excludente, alcançando apenas crianças e

adolescentes consideradas marginalizadas. A partir de 1990 com o novo

advento da Lei 8.069/90 - ECA, os adolescentes passam a ter direitos e

deveres. No seu artigo 3°, diz que75:

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral que trata essa Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual76 e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Essa nova Lei, o ECA é aplicável a todas as crianças e todos aos

adolescentes, como vimos acima e como bem fundamenta, Claret77:

A partir da recepção pela legislação brasileira da referida doutrina, o foco do direito centra-se prioritariamente na criança e no Adolescente. [...] As pessoas em desenvolvimento que têm entre zero e doze anos de idade são crianças, e as que têm entre doze anos e dezoito anos de idade são adolescentes.

Em seu artigo 4°, o ECA afirma que as crianças e os adolescentes

merecem todo cuidado e atenção especial a partir da família e de todos os

setores da sociedade organizada78:

74 ARANTES, 2006, 15. 75 ARANTES, 2006, p.19 76 Grifo do autor. 77 Ibid, 2006, p.17 78 Idem, 2006, p.19.

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É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária. Parágrafo Único – A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

2 Políticas públicas de atendimento ao adolescente

Com fulcro no artigo 4° do ECA, crianças e adolescentes, a partir da

família, perpassando pela sociedade, pelo poder público, devem mediar ações

que facilitem a efetivação dos direitos desses. É passível de ação no Juízo

competente, quem negligenciar tais direitos ou dificultar a não efetivação dos

mesmos.

O Estatuto da Criança e do adolescente no seu título I da política de

atendimento, no seu capítulo I, das disposições gerais diz que:79

Art. 86 - A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Art. 87 - São linhas de ação da política de atendimento: - políticas sociais básicas; Il - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que deles necessitem; lII - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Ainda sobre as políticas de atendimento a criança e o adolescente o ECA

diz que80:

VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes; VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades

79 ARANTES, 2006, p. 38- 39. 80 ARANTES, 2006, p. 38-39.

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específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. Art. 88 - São diretrizes da política de atendimento: I - municipalização do atendimento;

O Estatuto da Criança e do Adolescente também estabelece a criação de

conselhos estaduais e municipais para atender demandas especiais81:

l - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional [...], órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, asseguradas a participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; lII - criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-administrativa; Art. 90 - As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programa de proteção e sócioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em regime de: I - orientação e apoio sócio-familiar; Il - apoio sócio-educativo em meio aberto; lII - colocação familiar; IV - acolhimento institucional; V-liberdade assistida; Vl-semiliberdade; VlI-internação.

O ECA estabelece as medidas de proteção às crianças e aos

adolescentes e diz que tais medidas devem ser aplicadas quando se verifica um

direito violado ou ameaçado nos termos dessa lei:82

Art. 98 - As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei foram ameaçados ou violados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; Il - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; lII - em razão de sua conduta. Art. 99 - As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo. Art. 100 - Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

São também parte dessas ações estabelecidas no ECA83:

Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal; II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são titulares;

81 ARANTES, 2006, p. 39 82 ARANTES, 2006, p.44. 83 Ibid, 2006, p. 44.

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3 Trabalho em rede: algumas possibilidades Constitucionais

No artigo 101 do ECA declara que havendo demanda concreta quanto aos

direitos da criança e do adolescente84:

Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; llI - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial Vl - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos VII - acolhimento institucional.

É preciso entender que os direitos das crianças e dos adolescentes

foram estabelecidos na forma da lei como vimos. Cabe a sociedade em geral

mobilizar-se para a efetivação dos mesmos, através de comunicado ao conselho

tutelar da cidade ou da região mais próxima, quando uma situação o requerer ou

houver uma demanda.

4 A Religiosidade do adolescente: Concepção e práxis

Como os adolescentes concebem a religiosidade? A religião é importante

para essa fase da vida? Como eles a expressam? Qual é a religião que os

adolescentes adotam? A religião que o pai assiste? A religião que a mãe

frequenta? E se os pais foram separados? Eles seguirão alguma religião?

O antropólogo John Burdick que residiu no Brasil nos anos oitenta na

Baixada Fluminense, durantes suas pesquisas ao longo de 10 anos percebeu

um crescimento das igrejas pentecostais e decréscimo nas Comunidades de

base da Igreja Católica. Ele teceu um paralelo entre as comunidades de base da

84 ARANTES, 2006, p.44-45.

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Igreja Católica, Assembléia de Deus e Umbanda, em uma região vulnerável e

declarou que:85

Por conseguinte mesmo se aceitarmos as cifras nacionais mais conservadoras, e as mantivermos constantes o período inicial dos anos noventa, elas ainda indicam que os pentecostais e os umbandistas são mais numerosos que os participantes ativos das comunidades na ordem pelo menos dois, e possivelmente três ou quatro por um.

Citei a pesquisa do autor acima porque, pela pesquisa estruturada que

realizei com os adolescentes, percebi que o catolicismo romano também não é

a religião predominante entre os adolescentes e sim, os pentecostais e neo

pentecostais.

Procurando compreender as religiões ocidentais, as várias opções ou

maneiras de as pessoas expressarem sua fé e rito religioso, em seu livro

pluralismo religioso contemporâneo, o doutor em Ciências da Religião Roberlei

Panasiewicz86, descreve que:

Esse fenômeno de mundialização pelo qual a humanidade vem passando hoje também atingirá as religiões e produz impactos nunca antes sentidos. Criam-se novas práticas religiosas, frutos de sincretismos e ecletismos com religiões existentes e desaparecidas, esotéricas e sapienciais, espiritualistas e filosóficas. Tanto o surgimento dos novos movimentos religiosos quanto a escolha, por parte do adepto, de uma religião específica, seguem um critério subjetivo. [...] Por parte do adepto há compromisso não com uma prática religiosa, mas sim com o bem estar subjetivo propiciado por essa participação. Isso gera um transito religioso constante dos fies [...] e nas religiões, produz fragmentação e rivalidade, pois terão que lutar por novos adeptos no mercado mundial.

Em um estudo recente realizado no Brasil, Tania Zugury87 aborda

sobre a religiosidade do adolescente e afirma que:

Muito embora estejamos vivendo um período em que as grandes religiões vêm, a cada dia, diminuir seu número de adeptos, não se pode dizer do adolescente que seja agnóstico. Com efeito, mais de 90% dos jovens afirmaram crer em Deus. 87,1% têm alguma religião. [...]

85 BURDICK, John. Procurando Deus no Brasil. Tradução Renato Luiz Dowsworth Machado. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 1998. 86 PANASIEWIECZ, Roberlei. Pluralismo religioso contemporâneo. São Paulo: Paulinas. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2007. 87 RIBEIRO, Marcos. O Prazer e o pensar: São Paulo. Editora Gente, 1999. Vol. 2.

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Nas entrevistas estruturadas feitas com os adolescentes, percebi

aspectos de religiosidade no seu cotidiano, contudo sem fundamentar a religião

ou a fé pessoal.

Mendonça88 em seu livro, O Celeste Porvir, de forma notável, da ótica

pastoral e da sociologia, traça um perfil do protestantismo brasileiro. Fala da

atuação dos protestantes de missão e das novas práticas cristãs da

modernidade, apresentando-se como opção religiosa, como novas práticas

religiosas. Ele diz que:

O protestantismo não aparece, não se apresenta, não se insere de modo sensível na política, na cultura. Não há impacto protestante na sociedade brasileira. Mas ele existe, está aí. Por toda parte, no campo e nas cidades, vêem-se templos, às vezes rústicas e feiosas “casas de oração”, às vezes suntuosas catedrais góticas ou modernas. [...] Por que o protestantismo no Brasil, já com mais de um século de presença, não manteve o ritmo de crescimento das primeiras décadas de sua implantação? Por que parece estar diminuindo por não receber tantas adesões como no início, além de perder fiéis para formas mais novas de prática religiosa cristã?

O que Mendonça relata acima revela a prática religiosa dos

adolescentes. Essa prática não caminha para uma religiosidade de conteúdo

histórico, mas neo pentecostal. Na cidade de Belo Horizonte na região de Venda

Nova, fiz um levantamento sobre denominações religiosas. Para cada grupo de

51 igrejas catalogadas em um raio de apenas três quilômetros, apenas 5 era de

origem histórica.

Peter L. Berger89 corrobora para a compreensão do papel da religião

entre os indivíduos afirmando que:

Pode–se dizer, portanto, que a religião desempenhou uma parte estratégica no empreendimento humano da construção do mundo. A religião representa o ponto máximo da auto-exteriorização do homem pela infusão, dos seus próprios sentidos sobre a realidade. A religião supõe que a ordem humana é projetada na totalidade do ser. Ou por outra, a religião é a tentativa de conceber o universo inteiro como humanamente significativo.

88 MENDONÇA, G. Antônio. O celeste porvir. São Paulo: Editora Edims, 1995. 89 BERGER, L. Peter, O Dossel Sagrado – elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulus, 1985.

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Antonio Ávila expõe sobre as principais características psicológicas para

que o adolescente possa interagir com a religião. Ele afirma que a adolescência

é um fenômeno complexo e diversificado, por isso destaca os principais fatores

que influem uma possível mudança no comportamento do adolescente, sendo90:

Mudanças fisiológicas [...] com a chegada da puberdade, com as implicações psicológicas que trazem aquisição da lógica formal, que se alcança entre os 11-15 anos e supõe uma organização nova e definitiva da compreensão da realidade. [...] Amadurecimento pessoal, que nessa etapa do desenvolvimento está relacionado com o ganho de identidade. [...] E o progresso de socialização, que se concretiza na afiliação da consciência de pertença grupal.

Segundo Ávila, esses fatores são a base pessoal sobre a qual o

adolescente vai articular sua religiosidade e acrescenta o termo identidade,

como conceito-eixo para a evolução religiosa do adolescente que consiste,

através dos estudos de E. Erikson91:

A identidade é, em primeiro lugar e fundamentalmente, uma percepção interna da própria realidade, na qual o indivíduo vivencia-se como um eu integrado. [...] A identidade tem um caráter bipolar, relacional. Supõe um relacionamento mútuo entre o indivíduo e a sociedade, no qual esta convida o indivíduo a ser, e a ser de uma determinada forma, e ele percebe-se atendendo a essas expectativas. [...] Há elementos que configuram a personalidade do adolescente, que lhe foram dados ou adquiridos ao longo de sua infância, e que agora deve assumir papel pessoal e criticamente.[...] Os mais importantes como a própria existência, a corporalidade, o sexo, a raça, a afetividade, a família, a educação, a classe social.

Ávila também classifica outros elementos que devem ser escolhidos pelo

adolescente para adquirir ganho de identidade, a partir da obra de E. Erikson92.

“A identidade é uma realidade complexa na qual se entrecruzam os distintos

aspectos da personalidade, conscientes e inconscientes, formando um todo

coerente que é mais do que a soma de seus elementos como93:

A profissão, o estado de vida, o credo, os ideais. A integração e a articulação de todos eles, formando um todo coerente e equilibrado, implicará no ganho de identidade. Mas a identidade não é alcançada com facilidade. Em sua consecução aparecem muitas vezes comportamentos e atitudes de recusa.

90 ÁVILA, 2007, p.156 91 ÁVILA, 2007, p. 157, apud E. Erikson. 92 Ibid, 2007, p.157, apud E. Erikson 93 Idem, 2007, p.158.

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Ávila, após afirmar acima que o adolescente que reúne todos os

elementos objetivando ganho de identidade, a fim de demarcar o

desenvolvimento dessa etapa no contexto social, utiliza de dois indicadores

sociológicos significantes em relação ao ganho de identidade, que são: “a

crença e a prática94”, algo inerente a todo adolescente que expressa sua

religiosidade. Posto isso, ele apresenta a religiosidade do adolescente e como

ela se expressa95:

[...] Apesar desse risco abordarei o tema em quatro momentos. Nos dois primeiros, mais ligados à área cognitiva, descreverei a evolução que se dá no adolescente no momento de articular seu pensamento religioso, agora já de uma forma adulta, e seus conceitos religiosos. No terceiro, mais ligado à articulação da personalidade, abordarei o processo de auto-identificação religiosa, num mundo plural como o atual, desempenha um papel importante no momento de construir a religiosidade do adulto. [...] No quarto apresentarei as conseqüências que se seguem do ganho ou não da identidade religiosa.

Segundo Ávila a religiosidade do adolescente se expressa a partir de seu

pensamento religioso, perpassando pelo conceito da divindade, através de sua

articulação96:

[...] O grande mistério de Deus, sua existência, seu ser mesmo podem ser abordados pessoalmente graças a essa nova capacidade. [...] A apresentação da descrição do conceito de Deus, de sua articulação e de seu conteúdo pode ser considerado um paradigma dos demais religiosos, como céu, eternidade, Igreja e modelo da estruturação da religiosidade. Nessa etapa Deus já não por que ser o “personagem” bondoso ou terrível representado durante a infância. [...] Agora, sua dimensão espiritual, sua grandeza, seu poder, sua bondade, adquirem progressivamente toda a sua transcendência sem que precise abandonar sua proximidade e a relação interpessoal com ele.

Quanto ao conteúdo do conceito de Deus da religiosidade do adolescente

para além da evolução que se dá e de suas novas capacidades, Ávila apresenta

a descrição das características principais de cada uma das categorias, sendo

“Deus da criação, o Deus homem, Deus da revelação de Jesus Cristo”97:

A categoria “Deus da criação” é formada por respostas nas quais Deus é concebido como o criador do mundo, a causa primeira, o que cuida de manter a ordem. “O Deus homem” é descrito pelos adolescentes como alguém com quem se relaciona pessoalmente, que participa de suas

94 ÁVILA, 2007, p.158. 95 ÁVILA, 2007, p.160. 96 Ibid, 2007, p.16-162 97 Idem, 2007, p. 163.

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experiências e dá sentido à vida. A categoria “Deus da revelação de Jesus Cristo” caracteriza-se pelo fato que nela aparecem explicitamente formulados os traços específicos do Deus cristão. [...] Enquanto em alguns casos aparecem apenas formulações superficiais e nocionais aprendidas no ensino religioso.

A concepção e a práxis religiosa do adolescente é um período marcado

por dúvidas. A fragmentação das crenças pode ser frequente e com suas

múltiplas contradições um só indivíduo. Ávila agrupou as dúvidas mais

freqüentes entre os adolescentes em dois grupos98:

[...] A integração entre pensamento religioso e pensamento científico. O primeiro engloba aqueles aspectos de tipo mais racional e cognitivo. [...] O segundo - Essa concepção recebida encontra-se muitas vezes em contradição ou à margem de outros saberes científicos e filosóficos. [...] Uma segunda fonte de dúvida, não menos importante e, na prática intimamente relacionada a anterior, deve-se a aspectos mais afetivos e pessoais. Entre eles destaca-se a vivência da igreja ou a ausência de Deus.

A partir de estudos e observações feitas, Ávila deduz-se a existência de

vários fatores que influem no processo de ganho de identidade religiosa do

adolescente, alguns mais relacionados a características pessoais e outros a

influência social, mas todas relacionadas ao processo geral de amadurecimento.

Todos esses fatores desempenham um papel importante99:

O equilíbrio pessoal alcançado depois das tensões próprias da mudança biológica púbere. [...] O quociente intelectual. A aparição do raciocínio abstrato, que permite o adolescente compreender o conteúdo [...]. O desenvolvimento da sensibilidade. [...] a aquisições dos estágios autônomos no desenvolvimento moral. [...] A necessidade de busca de sentido que articule e dê coerência à própria personalidade. [...] A existência de um contexto social no qual seja possível o amadurecimento religioso e a consciência de pertença a um grupo religioso.

Há de se considerar também em nossa cultura religiosa, quando se trata

da religiosidade do adolescente, a superficialidade religiosa, o que Ávila chama

de mecanismos de evitação da identidade religiosa, referindo-se aos escritos de

E. Erikson.100 “[...] a evitação geral de identidade e também da identidade

religiosa [...] , deve-se à superficialidade religiosa que ainda existe em nossa

98 ÁVILA, 2007, p. 166-168. 99 ÁVILA, 2007, p. 169-170. 100 Ibid, 2007, p.157, apud, E. Erikson

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sociedade”. Ávila101, utilizou um estudo realizado por meio de entrevistas semi-

estruturadas, que se perguntava sobre as crenças religiosas aos adolescentes:

“Alguma vez você já teve dúvidas quanto a suas crenças religiosas”102? Os

adolescentes ao responderem a essa pergunta, ofereceu um elenco de

respostas características de cada uma das categorias que ele chama de: Ganho

de identidade. Moratória. De fase emprestada e Difusa103:

[...] Ganho de identidade: “Claro, inclusive comecei a me perguntar se Deus existia ou não. No entanto, agora para mim está bastante claro. Parece-me que”. [...] Moratória: “Sim, acho que é precisamente por isso que estou passando agora. Simplesmente não posso entender como há tanta maldade no mundo se Deus existe.” De fase emprestada: “ Não , na realidade não, nossa família está bastante de acordo sobre essas coisas”. Difusa: “Não sei, acho. Todo mundo passa por alguma etapa como essa. Mas realmente a mim não me preocupa muito. Imagino que todas são igualmente boas.”

Existe também a possibilidade na concepção e práxis religiosa do

adolescente, acontecer o que Ávila chama de “Conversão religiosa104.”

“Finalmente, nos encontramos com o pequeno grupo dos que se convertem à fé

religiosa, apesar de carecerem de qualquer tipo de socialização religiosa na

infância”. Os adolescentes brasileiros têm uma gama de denominações para

escolher e externalizar a religiosidade. Quem traz uma contribuição importante

quanto a efervescência religiosa é José Bittencourt Filho105. Ele diz que:

Na perspectiva da expansão do campo religioso, o que mais

me chama a atenção é a corrida das organizações para

possuírem um espaço significativo na mídia. [...] Assim

sendo, as agremiações religiosas vão burilando suas

mensagens de modo de adaptá-las aos meios eletrônicos.

A partir desse parágrafo retomo a pesquisa às perguntas do questionário

estruturado do bloco do primeiro capítulo.

101 ÁVILA, 2007, p.157, apud J. E. Márcia. 102 ÁVILA, 2007, p.175. 103 Ibid, 2007, p.157, apud J.E. Márcia. 104 Idem, 2007, p. 174. 105 FILHO, B. José. Matriz religiosa brasileira. RJ: Koinonia. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.

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Destaco algumas perguntas: Na primeira, o que você mais gosta de fazer

na vida. Dos trinta e nove pesquisados 98% afirmaram gostar da vida, da

família, de fazer algo lúdico, estudar, de aproveitar a vida, de se divertir, de

praticar esportes. 2% disseram que, no momento, não gostam de fazer nada,

não apresentando uma perspectiva de vida, ou seja, um adolescente. Note que

nas respostas dadas pelos adolescentes, a religião ou a vida religiosa não é

prioridade para eles.

Na segunda pergunta, que grupo religioso você pertence, 96% afirmaram

pertencer a alguma denominação cristã. Um dado importante é que do grupo

dos 26 adolescentes, 45% disseram serem católicos e 51% afirmaram ser

evangélicos. Desse número expressivo de evangélicos a maioria pertence às

igrejas neo pentecostais e pentecostais. Esse dado aponta para uma realidade

que independe da religião que os pais frequentam ou não, se moram juntos, ou

ainda se eles estão separados. Um adolescente disse ser Testemunha de Jeová

e outro disse não ter religião definida. Nota-se, portanto, a religiosidade dos

adolescentes entrevistados, mesmo em meio a conflitos e violências

intrafamiliar, como mostra as duas próximas respostas.

Na pergunta de número três, se eles já passaram por uma situação difícil

que gerou conflito, 61% afirmaram ter passado por situação que gerou conflito.

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39% disseram que não passaram por situação que gerou conflito. Um dado

importante revela que quanto mais novo for o adolescente entre 12 e 14 anos,

menos noção ele possui de conflito.

Na pergunta de número quatro, o que lhes causa medo, preocupação,

pavor, 100% responderam ter medo de alguma coisa. Respostas como morte

precoce, medo de perder os pais, não terem o que comer, onde morar, medo da

morte, de enfermidade, do Diabo estão entre as que mais lhes causam

preocupações. Por meio dessas respostas percebem-se conflitos no dia a dia

dos adolescentes.

Na pergunta de número cinco, se os adolescentes já pensaram em sair

de casa, 51% dos entrevistados afirmaram que não pensam nisso e 49%

pensam em sair. Observa-se ainda que, desse contingente que pensam em sair

de casa, um número elevado é composto por adolescentes do gênero feminino

acima de 14 anos.

Na pergunta de número seis, quais são suas maiores dificuldades,

considerando que essa pergunta ofereceu mais de uma opção de resposta,

100% responderam que passam por algumas dificuldades como: relacionar

com a família, timidez, mentira, relacionamento com a mãe, pai, com os

professores, direção da escola, ciúmes, medo de envolver-se com drogas, não

confiar nas pessoas, de não controlar os impulsos de ira e raiva. Chamou-me a

atenção nessa pergunta, pois um adolescente de treze anos marcou todos as

opções acima. Nessas respostas percebem-se conflitos pessoais, intrafamiliar e

com seus pares.

O gráfico abaixo o número 1 representa quantos adolescentes passaram

por conflitos intrafamiliar. O número 2 representa quantos adolescentes

passaram por momentos de medo, pavor, timidez, insegurança, e tensão. O

número 3 represente os adolescentes que pensam ou já pensaram em sair de

casa por algum conflito não resolvido. O número 4 representa os adolescentes

que apresentaram alguma dificuldade como timidez, relacionar-se com as

pessoas, em controlar os impulsos como raiva, ira ciúme, revoltado por não ter

oportunidade na vida.

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O bloco de perguntas: II. Violências sofridas pelos adolescentes são ao

todo dezesseis perguntas. Destaco as seguintes: a pergunta de número um (01)

se os pais deles morram juntos. 30% afirmaram que não moram e que agora

moram com a mãe e outros disseram que convivem com padrasto ou madrasta.

Perguntas de número oito e nove que diz: você já foi agredido pelos pais. 27%

afirmam que sim. Nas perguntas de número onze e doze se o adolescente já

presenciou alguma violência na família dele e de que tipo, 40% responderam

que sim, sendo 15% agressão física e 25% agressão psicológica e xingamentos

mútuos entre os pais. Através das repostas, percebem-se violências intrafamiliar

contra os adolescentes e violência entre os pais. Observe no gráfico esses

números acima. O número 1 indica adolescentes que moram com os pais. O

número 2 indica adolescentes agredidos pelos pais. O número 3 indica que

presenciou violências dos pais.

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5 CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO 3

Três foram os objetivos propostos nesse capítulo, tenho como eixos:

apontar algumas medições possíveis à rede de prevenção, proteção e

promoção ao adolescente, a partir da leitura aplicativa do Estatuto da Criança e

do Adolescente; perceber a concepção e práxis religiosa dos adolescentes em

face aos conflitos, violências sofridas e cometidas recorrentes intrafamiliar e

com seus pares; observar se a falta da concepção e práxis religiosa entre os

adolescentes interfere diretamente ou não nos mais variados comportamentos,

tornando-os mais vulneráveis e violentos. Possibilidades: É possível que a

sociedade civil organizada civil ou jurídica, como igrejas, ONGs associação

comunitária, profissionais da saúde, diante de quaisquer demandas concretas,

encaminhe ao conselho tutelar de sua cidade ou região notícias ou fato, visando

a prevenção, defesa e promoção dos adolescentes, bem como de suas famílias.

Que os adolescentes sofrem maus tratos, violências, conflitos, mas é um ser

religioso que expressa sua religiosidade indo aos cultos de diversos credos

religiosos. Que os adolescentes que têm uma prática religiosa regular são

menos violentos nos mais variados comportamentos do que aqueles que não

esboçam prática religiosa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa dissertação, propus como objetivo principal perceber e analisar a

constituição da subjetividade e a praxidade religiosa dos adolescentes,

priorizando os eixos centrais: conflitos, violências e mediação. Percebi

claramente que os eixos centrais dessa investigação estão relacionados ao

descobrimento das manifestações de conflitos e violências dos adolescentes,

bem como seu significado na visão dos principais atores envolvidos,

considerando suas interações intrafamiliar e com seus pares. O locus dessa

investigação aconteceu no convívio intrafamiliar e na interação com seus pares

na periferia da cidade Belo Horizonte e região metropolitana. Essas regiões são

de risco social elevado, com o agravante de escassez de políticas públicas

sociais básicas.

Objetivando compreender cada etapa da religiosidade dos adolescentes,

parti das duas observações possíveis. A primeira, a constituição familiar

nuclear106 e a segunda constituição familiar monoparental107 passam por crises.

Essas, por conseguinte, tem corroborado para o enfraquecimento de valores e

princípios morais, gerando conflitos e violências entre os adolescentes. Como

facilitador para compreender esse fenômeno religioso entre os adolescentes,

utilizei de quatro ações, as obras: Para Conhecer a Psicologia da Religião de

Antônio Ávila108 e de Les Parrott – Adolescentes em Conflito109. Fiz pesquisas e

entrevistas estruturadas com adolescentes e alguns atores sociais110. Também

foi objeto de estudo duas pesquisas realizadas pelo CIA111. Isso posto

demonstrei que a falta da concepção e práxis religiosa entre os adolescentes

interfere diretamente nos mais variados comportamentos, tornando-os mais

vulneráveis ou violentos. Propus também possibilidade de mediar ajudas aos

106 Composta de pais filho (a) ou filhos. 107 Segundo a Constituição Federativa do Brasil, em seu artigo 226, parágrafo 4°, família monoparental compreende o ascendente com um dos descendestes – mãe com filhos ou pai com filhos – essa, formada após a dissolução da sociedade conjugal, onde um dos pais fica com a guarda do filho. Poderá também ser formada por mães solteiras que optarem por uma “produção independente” ou cujo pai não reconhece o filho e também de solteiros que resolvem adotar uma criança. 108 AVILA, 2007, passim. 109 PARROTT, 2003, passim. 110 Conselheiro tutelar, gestor e educador escolar, líder religioso, assistente social e outros atores sociais. 111 CIA, 2010, passim.

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mesmos através da rede de apoio, a partir da leitura aplicativa do Estatuto da

Criança e do Adolescente.

Os objetivos gerais e específicos da temática: A religiosidade dos

adolescentes em face aos conflitos e violências foi alcançada. Também, pela

riqueza do assunto, não objetivou esgotá-lo, porém visa ser um fonte de

pesquisa para outros estudos e novos apontamentos.

Durante a pesquisa tive algumas dificuldades como: agendar entrevistas

com os adolescentes, falar de um assunto muito pessoal relacionado à

religiosidade e poucas literaturas especializadas. Diante de todos esses

considerandos aponto algumas premissas:

No capítulo primeiro propus três objetivos centrais a partir dos eixos:

conceituar o que é conflito; apresentar três narrativas vividas por alguns

adolescentes no período de 2003 a 2009 quando fui conselheiro tutelar de Belo

Horizonte na região de Venda Nova; e, apontar quais são os conflitos e

violências recebidas mais recorrentes entre os adolescentes no convívio

intrafamiliar e com seus pares, a partir de uma pesquisa estruturada com 39

adolescentes e 15 atores sociais. Foi possível verificar a existência de conflitos

individuais; conflitos intrafamiliar e com seus pares onde eles se socializam.

Quanto a violências onde os adolescentes são vítimas, existem as intrafamiliar

tais como espancamentos, xingamentos e violências psicológicas.

No capítulo segundo foi estabelecido três objetivos para compreender a

violência entre os adolescentes a partir os eixos: atos infracionais [ ] violências

cometidas, mais recorrentes pelos adolescente a partir da análise da pesquisa

do CIA112; da pesquisa estruturada com os adolescentes; e, pesquisa com

conselheiros tutelares, educadores e gestor escolar. Isso posto pode-se afirmar

que adolescentes do gênero masculino cometem mais violências [ ] atos

infracionais do que os do gênero feminino; que as adolescentes iniciam-se nos

atos infracionais mais cedo do que os adolescentes, embora os índices

apresentam números bem menores; que o consumo de drogas entre eles é alto,

com índices de 73,6% quanto ao ingestão de bebidas alcoólicas e 66% quanto

ao uso da maconha; que a região Centro Sul de Belo Horizonte é o local onde

112 CIA, 2010, passim.

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os adolescentes cometem mais atos infracionais com índices de 18,7%; que a

regional da Pampulha é onde ocorre menos atos infracionais; que 235

adolescentes são pais, no universo de 9.864; que 3.104 adolescentes durante o

ano de 2010 foram reincidentes, isto é, cometeram mais de um ato infracional;

e, ter uma família que não lhes dão carinho, apoio e proteção; violências físicas

pelo pai; violências físicas pela mãe e violências psicológicas como

xingamentos, pressão; o bullying escolar [ ] brigas entre os pares no ambiente

escolar, são as maiores causas de conflitos intrafamiliar, violências recebidas e

cometidas por adolescentes.

Todos esses dados coletados e analisados demonstram o perfil dos

adolescentes da cidade de Belo Horizonte e sua região metropolitanas no

quesito violências cometidas pelos adolescentes no ano de 2010.

No capítulo terceiro três foram os objetivos propostos tendo como eixos:

apontar algumas mediações possíveis à rede de prevenção, proteção e

promoção ao adolescente, a partir da leitura aplicativa do Estatuto da Criança e

do Adolescente; perceber a concepção e práxis religiosa dos adolescentes em

face aos conflitos, violências sofridas e cometidas recorrentes intrafamiliar e

com seus pares; observar se a falta da concepção e práxis religiosa entre os

adolescentes interfere diretamente ou não nos mais variados comportamentos,

tornando-os mais vulneráveis e violentos. Possibilidades: É possível que a

sociedade civil organizada civil ou jurídica, como igrejas, ONGs associação

comunitária, profissionais da saúde, diante de quaisquer demandas concretas,

encaminhem ao conselho tutelar de sua cidade ou região notícias ou fato,

visando a prevenção, defesa e promoção dos adolescentes, bem como de suas

famílias. Que o adolescente sofre maus tratos, violências, conflitos, mas é um

ser religioso que expressa sua religiosidade indo aos cultos de diversos credos

religiosos. Que os adolescentes que têm uma prática religiosa regular é menos

violento nos mais variados comportamentos do que aqueles que não esboçam

prática religiosa.

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MEDEIROS, Regina. A escola no singular e no plural. Belo Horizonte: Editora

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MENDONÇA, G. Antônio . O celeste porvir. São Paulo: Editora Edims, 1995.

MOTTA, A. P. Maria. Mães Abandonadas: a entrega de um filho em adoção. 2ª edição.

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MARCOS, Ribeiro. O Prazer e o pensar. São Paulo. Editora Gente, 1999. Vol. 2.

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ANEXO 1 Autorização direção escolar

À Direção desta douta Instituição de Ensino

Assunto: Autorização para adolescentes responderem um questionário sócio-

cultural e religioso.

Sou mestrando em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, São Paulo. Estou realizando uma pesquisa sobre a

RELIGIOSIDADE DOS ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE

CONFLITOS E VIOLÊNCIAS.

Para finalizar esse trabalho preciso entrevistar alguns adolescentes dessa

conceituada Instituição de Ensino.

Diante do exposto, solicito dessa douta direção autorização para fazer um

questionário com os adolescentes sobre o tema acima proposto. Nesse

questionário peço o adolescente que ao responder as perguntas, faça-o com

sinceridade, pois muito me ajudará como pesquisador. Ajudará também às

famílias, educadores, escolas, líderes religiosos e outros atores sociais que se

esforçam para a prevenção, defesa e promoção dos adolescentes.

Atenciosamente.

Por ser verdade assino e dato a presente.

Responsável pela Escola: ______________________________. Data: / /

Nota: Não será informado na pesquisa o nome do adolescente nem o nome da

Escola, de acordo com a Lei Federal 8.069/90 – ECA.

Muitíssimo obrigado.

Pesquisador: Silas Paulo Procópio do Monte

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ANEXO 2 Autorização para responder questionário sócio-cultural e religioso.

Prezados pais ou responsável legal pelo adolescente abaixo mencionado

Nome:_________________________________________________________.

O questionário o qual peço autorização para que o seu filho ou filha

responda, faz parte da Dissertação de mestrado que será apresentado ao

Programa de Estudos de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, como exigência parcial à

obtenção do título de MESTRE. O tema é: RELIGIOSIDADE DOS

ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE CONFLITOS E VIOLÊNCIAS.

Nesse questionário peço o adolescente que ao responder as perguntas,

faça-o com sinceridade, pois muito me ajudará como pesquisador. Ajudará

também às famílias, educadores, escolas, líderes religiosos e outros atores

sociais que se esforçam para a prevenção, defesa e promoção dos

adolescentes.

Autorizo meu filho(a) a participar do questionário acima informado. Por

ser verdade assino a presente declaração.

Responsável:____________________________________________________.

Nota: Não será informado na pesquisa o nome do adolescente nem o seu, de

acordo com a Lei Federal 8.069/90 – ECA.

Muitíssimo obrigado.

Pesquisador: Silas Paulo Procópio do Monte

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ANEXO 3 Autorização Religiosa

À Direção dessa douta Instituição Religiosa Reformada

Assunto: Autorização para adolescentes responderem um questionário sócio-

cultural e religioso.

Sou mestrando em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, São Paulo. Estou realizando uma pesquisa sobre a

RELIGIOSIDADE DOS ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE

CONFLITOS E VIOLÊNCIAS.

Para finalizar esse trabalho preciso entrevistar alguns adolescentes dessa

conceituada Instituição Religiosa.

Diante do exposto, solicito dessa douta direção autorização para fazer um

questionário com os adolescentes sobre o tema acima proposto. Nesse

questionário peço o adolescente que ao responder as perguntas, faça-o com

sinceridade, pois muito me ajudará como pesquisador. Ajudará também às

famílias, educadores, escolas, líderes religiosos e outros atores sociais que se

esforçam para a prevenção, defesa e promoção dos adolescentes.

Atenciosamente.

Por ser verdade assino e dato a presente.

Responsável pela Instituição: ________________________. Data: / / .

Nota: Não será informado na pesquisa o nome do adolescente nem o nome da

Instituição, de acordo com a Lei Federal 8.069/90 – ECA.

Muitíssimo obrigado.

Pesquisador: Silas Paulo Procópio do Monte

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ANEXO 4 Questionário aos atores sociais

Excelentíssimos (a) Senhores (a)

( ) Conselheiro(a) Tutelar

( ) Educador

( ) Religioso

( ) Outro ator social: _____________________________________________.

O questionário abaixo faz parte da Dissertação de mestrado que será

apresentado ao Programa de Estudos de Pós-Graduação em Ciências da

Religião, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, como exigência

parcial à obtenção do título de MESTRE. O tema é: RELIGIOSIDADE DOS

ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE CONFLITOS E VIOLÊNCIAS.

Ao responder as perguntas abaixo listadas, muito me ajudará como

pesquisador. Ajudará também às famílias, educadores, escolas, líderes

religiosos e outros atores sociais que se esforçam para a prevenção, defesa e

promoção dos adolescentes.

Autorizo a publicação desse questionário para os fins acima mencionado.

Por ser verdade assino e dato o presente.

Nome: _________________________________________. Data: / / .

1. Direitos violados aos adolescentes existem. Em sua opinião,

considerando os atendimentos e ou convívio com eles, quais são os mais

recorrentes? Enumere de 01 a 07 por ordem de importância.

( ) Ter uma família que não lhes dão carinho, apoio e proteção.

( ) Não reconhecimento de paternidade.

( ) abandono do lar por parte do pai.

( ) abandono do lar por parte de mãe.

( ) Não ter uma educação de qualidade.

( ) Escassez de políticas públicas sociais básicas.

( ) Outro: _______________________________________________________.

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2. Você percebe que a falta de bons exemplos na família (amor, respeito,

verdade, honestidade, carinho, e a falta de práxis (prática) religiosa) contribui

para a falta de limites dos adolescentes? ( ) sim , ( ) não.

3. Você percebe que a falta de práxis (prática) religiosa dos adolescentes,

contribui para a falta de limites deles? ( ) sim , ( ) não.

4. Quais são as causas dos conflitos intrafamiliar dos adolescentes, em

sua opinião, considerando os atendimentos e ou convívio com eles. Coloque o

número 01 para a opção que você apontaria como a maior causa de conflito e

assim sucessivamente até o número 10, se necessário.

( ) Separação dos pais.

( ) Falta de suporte familiar.

( ) Falta de diálogo do pai.

( ) Falta de diálogo da mãe.

( ) Falta de diálogo com o padrasto ou madrasta.

( ) Falta de bons exemplos dos pais ou responsáveis.

( ) Discriminação na família.

( ) Falta de assistência e atenção ao adolescente do pai que abandonou a

família.

( ) Falta de assistência e atenção ao adolescente da mãe que

abandonou a família.

( ) Falta de oportunidade, por exemplo: primeiro emprego ou um bom

curso profissionalizante. ( ) Outro : _________________________________.

5. Quais são as maiores manifestações de conflitos dos adolescentes

que você percebe, considerando o seu atendimento ou convívio com eles?

(marque quantos itens você concordar). Enumere-os de 01 a 13. Coloque o

número 01 para a opção que você apontaria como a maior manifestação de

conflito e assim sucessivamente até o número 13, se necessário.

( ) Recusa de auxílio e orientação.

( ) Fuga do lar. ( ) Evasão escolar.

( ) Sexualidade indefinida. ( ) Envolvimento sexual precoce.

( ) Ser pai ou mãe na adolescência.

( ) Pensamento de auto-extermínio/suicida.

( ) Ameaça de morte.

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( ) Uso de drogas.

( ) Envolvimento com o tráfico de drogas.

( ) Revolta. ( ) Fuga da realidade.

( ) Envolvimento em furto, roubo, brigas, assassinato e estupro.

( ) Outro: _______________________________________________________.

6. Violências intrafamiliar sofridas pelos adolescentes existem.

Considerando os atendimentos ou convívio com eles, quais são as mais

recorrentes.

( ) Violências físicas pelo pai.

( ) Violências físicas pela mãe.

( ) Violências físicas pelo padrasto.

( ) Violências físicas pela madrasta.

( ) Violências físicas pelos irmãos.

( ) Violências físicas pelos meios- irmãos.

( ) Violência ou abuso sexual sofrido pelo padrasto

( ) Violência ou abuso sexual sofrido por outro membro familiar.

( ) Violências psicológicas. ( ) Outra: _______________________________.

7. De acordo com sua prática de atendimento e convívio com o

adolescente, que ato infracional, ou tipo de violência que o adolescente mais

pratica?

( ) Participação em furto.

( ) Participação em roubo.

( ) Bulling escolar.

( ) Participação no tráfico de drogas.

( ) Latrocínio. ( ) Estupro.

( ) Pichação. ( ) Brigas.

( ) Outro: _______________________________________________________.

Comente sobre o assunto. __________________________________________

_______________________________________________________________.

Muitíssimo obrigado.

Pesquisador: Silas Paulo Procópio do Monte

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ANEXO 5 Questionário aos adolescentes

Questionário aplicado aos adolescentes, considerando o gênero e faixas

etárias: ( ) 12 e 13 anos; ( ) 14 e 15 anos; ( ) 16 e17 anos.

O questionário abaixo faz parte da Dissertação de mestrado que será

apresentado ao Programa de Estudos de Pós-Graduação em Ciências da

Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como exigência parcial à

obtenção do título de MESTRE. O tema é: RELIGIOSIDADE DOS

ADOLESCENTES DE PERIFERIA EM FACE DE CONFLITOS E VIOLÊNCIAS

Ao ser atencioso a responder esse questionário, muito me ajudará como

pesquisador, compreender a sua religiosidade diante de conflitos, violências

sofridas e cometidas mais recorrentes. Ajudará também às famílias,

educadores, escolas, líderes religiosos e outros atores sociais que se esforçam

para a prevenção, defesa e promoção de cada adolescente.

Esse questionário subdivide-se em três subitens. 1 Conflitos. 2. Violências

sofridas. 3 Violências cometidas.

Gênero: ( ) masculino. ( ) feminino. Idade: ( ) anos.

1 Conflitos

1. O que você mais gosta de fazer na vida? Gosto de: ___________________.

2. A que grupo religioso você pertence: ( ) Igrejas Históricas. (Presbiteriana

Congregacional. Luterana, Batista, Metodista)

( ) Igreja Católica. ( ) Espírita. ( ) A nenhum grupo religioso.

( ) Igrejas neo pentecostais. (Universal, Quadrangular, Deus é Amor.

( ) Assembléia de Deus, ( ) Outra: __________________________________.

3. Você já passou por uma situação difícil que gerou conflito?( ) sim , ( ) não.

4. O que te causa medo, preocupação, pavor? ( marcar mais de uma opção).

( ) Deus. ( ) Diabo. ( ) morte. ( ) De se envolver com drogas. ( ) De morrer

muito jovem. ( ) De perder a mãe. ( ) De perder o pai. ( ) De ter uma

enfermidade que não tem cura. ( ) Não ter o que comer. ( ) Não ter onde

morar. ( ) Não tenho noção de medo ou perigo.

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5. Você já pensou em sair de sua casa? ( ) sim, ( ) não. Já pensou em

suicídio? sim ( ), não ( ). Você mora com quem? ( ) com os pais, ( ) mãe,

( ) pai, ( ) avó.

6. Quais são suas maiores dificuldades? Você pode marcar mais de uma opção.

( ) Relacionar bem com a minha família. ( ) Obedecer à mãe.

( ) Obedecer ao pai. ( ) Relacionar na escola com os colegas.

( ) Relacionar com a direção escolar. ( ) Relacionar com os professores.

( ) Controlar impulsos de raiva, ira, ódio das pessoas. ( ) Timidez,

( ) Revoltado com a vida. ( ) Confiar nas pessoas. ( ) Ciúmes. ( ) Mentira.

( ) Uso e envolvimento com drogas. ( ) Com o furto. ( ) Com o roubo.

7. Você acredita que após a morte, haverá: ( ) Céu. ( ) Inferno.

( ) Reencarnação. ( ) Nada. Morreu, acabou.

8. Você crê que Deus existe e que Ele criou todas as coisas? Sim ( ), não ( ).

9. Você acha que religião, igreja é coisa importante? ( ) sim, ( ) não.

10. Com que frequência você vai ao grupo religioso, igreja? ( ) Uma vez por

semana. ( ) Uma vez ao mês. ( ) Uma vez ao ano. ( ) não vou à igreja.

11. O que você pensa da religião? Marque quantas respostas quiser.

( ) Ela é de Deus. ( ) Ela é invenção do homem. ( ) Ela faz falta para você.

( ) Ela não faz falta para você. ( ) Ela engana as pessoas.

12. Em sua opinião, qual é a melhor religião? ( ) Católica. ( ) Espírita.

( ) Crente /Evangélica histórica.(Presbiteriana, Congregacional, Luterana ,

Batista. Metodista).

( ) Igreja neo pentecostal. ( ) Igreja Assembléia de Deus. ( ) Nenhuma.

( ) Todas. ( ) Outra: ______________________________________________.

13. Sua mãe vai à igreja? ( ) sim, ( ) não. Seu pai vai à igreja?( ) sim,( ) não.

2 Violências sofridas pelos adolescentes.

1. Seus pais moram juntos?( ) sim, ( ) não. Eles são casados? ( ) sim, ( ) não.

2. Quem sustenta a sua casa? ( ) Sua mãe. ( ) Seu pai. ( ) Outro membro da

família. ( ) Você ajuda. ( ) Padrasto. ( ) Avó. ( ) Tio.

3. Você tem quantos irmãos? ( ).Tem irmãos de pais diferentes? ( ) sim, ( )

não. Tem padrasto ou madrasta? ( ) sim, ( ) não.

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4. Você relaciona bem com sua mãe? ( ) sim, ( ) não, ( ).

5. Você relaciona bem com o seu pai? ( ) sim, ( ) não, ( ).

6. Você se relaciona bem com seus irmãos? ( ) sim, ( ) não,

7. Você se relaciona bem com o seu padrasto ou madrasta? ( ) sim, ( ) não.

8. Você já foi espancado ou agredido pela sua mãe? ( ) sim, ( ) não.

9. Você já foi espancado ou agredido pelo seu pai? ( ) sim, ( ) não.

10. Você já foi espancado ou agredido pelo seu padrasto ou madrasta?

( ) sim, ( ) não.

11. Você já presenciou alguma violência física em sua família? ( ) sim, ( ) não.

12. Que tipo de violência você presenciou? ( ) Agressão física. ( ) Assassinato.

( ) Xingamentos (violência psicológica).

13. Você já foi abusado/a sexualmente por algum membro de sua família?

( ) sim, ( ) não. Se foi abusado/a, quem foi: ( ) pai, ( ) padrasto, tio ( ),

( ) primo.

14. Você já foi abusado sexualmente por alguém fora da família?( ) sim,

( ) não.

15. Você já é pai ou mãe? ( ) sim, ( ) não. Se sua resposta for sim, isso

aconteceu, com quantos anos? ( ).

16. Você considera definido sexualmente? ( ) sim, ( ) não.

3 Violências praticadas pelos adolescentes.

1. Você já participou de algum furto? (extrair algo de outrem sem violência

aparente). ( ) sim, ( ) não.

2. Você já participou de algum roubo? (extrair algo de outrem com uso de

violência). ( ) sim, ( ) não.

3. Você já se envolveu com brigas, confusões na escola? ( ) sim, ( ) não.

4. Você já usou drogas ilícitas? ( ) sim, ( ) não. ( ) Você faz ou fez uso de

bebidas alcoólicas?( ) sim, ( ) não. ( ) Você fuma ou já fumou?( ) sim, (

) não.

5. Você já se envolveu com algum tipo de latrocínio? (matar para roubar).

( ) sim, ( ) não.

6. Você já matou alguém por causa de brigas de gangue? ( ) sim, ( ) não.

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7. Você já agrediu alguém de sua família? ( ) sim, ( ) não.

8. Você já agrediu algum professor/a? ( ) sim, ( ) não.

9. Você já forçou alguém para ter relação sexual? ( ) sim, ( ) não.

10. Você já participou de pichação? ( ) sim, ( ) não.

11. Enfim, essa pesquisa o ajudou a repensar a vida, a família, a religião, as

oportunidades? ( ) sim, ( ) não.

12. Muitíssimo obrigado. Pesquisador: Silas Paulo Procópio do Monte.