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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas Estratégias de Aprendizagem Utilizadas por Gerentes no Desenvolvimento de suas Competências em Instituições Financeiras Pública e Privada Sergio Santoro São Paulo 2016

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas

Estratégias de Aprendizagem Utilizadas por Gerentes no Desenvolvimento

de suas Competências em Instituições Financeiras Pública e Privada

Sergio Santoro

São Paulo

2016

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Sergio Santoro

Estratégias de Aprendizagem Utilizadas por Gerentes no Desenvolvimento

de suas Competências em Instituições Financeiras Pública e Privada

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Administração de Empresas da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para

a obtenção do título de Mestre em

Administração de Empresas.

Orientador: Prof. Dr. Diógenes de Souza Bido

São Paulo

2016

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S237e Santoro, Sergio

Estratégias de Aprendizagem Utilizadas por Gerentes no

Desenvolvimento de suas Competências em Instituições

Financeiras Pública e Privada / Sergio Santoro - 2016.

165 f.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.

Orientação: Prof. Dr. Diógenes de Souza Bido

Bibliografia: f. 146-153

1. Estratégias de aprendizagem no trabalho. 2.

Desenvolvimento de competências gerenciais. 3. Instituições

financeiras pública e privada. I. Título.

CDD 658.4012

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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação

Professora Dra. Helena Bonito Couto Pereira

Coordenadora Geral da Pós-Graduação Stricto Sensu

Professora Dra. Angélica Tanus Benatti Alvim

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Professor Dr. Adilson Aderito da Silva

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração de

Empresas

Professor Dr. Walter Bataglia

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Dedico este trabalho ao meu pai, Carmelo Santoro (in

memoriam), verdadeiramente o maior mestre que tive.

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Agradecimentos

Agradeço a Deus por ter me dado saúde, força de vontade e luz para vivenciar esta

jornada.

À minha companheira, Vanessa Martarello, pelo apoio e incentivo desde quando tomei

a decisão de encarar este desafio e, principalmente, nos períodos mais difíceis desta

experiência, demonstrando seu amor incondicional.

Aos meus familiares e amigos que compreenderam minha ausência no período do

mestrado e me ofereceram palavras de carinho e estímulo.

Ao meu orientador, Professor Diógenes de Souza Bido, que me inspirou, por meio da

disciplina de Aprendizagem Individual e Organizacional, a chegar aqui. Obrigado pelo apoio,

confiança e dedicação irrestritos e pelas orientações objetivas, precisas e competentes.

Aos Professores que participaram de minha banca de qualificação, Professor Arnaldo

Turuo Ono e Professor Almir Martins Vieira. Obrigado pelas observações cuidadosas e

valiosas. A vocês, minha admiração e carinho.

Aos Professores das disciplinas do Programa de Pós-Graduação em Administração de

Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Aos meus colegas de pós-graduação: Carlos Jonathan, Juscely, Marcos, Guilherme, Ji,

Daniel, Nonato, Carlos Sanda, Carlos Eduardo, Carlos Laurentys, Marcela, José Carlos,

Vergílio e Sandro pelas experiências, alegrias, angústias e conhecimentos compartilhados.

Ao meu irmão, Silvio Santoro, que, com sua generosidade e presteza, tornou possível

a pesquisa com os gerentes da instituição financeira pública.

Ao meu colega de graduação, Erick Ledesma, que, gentilmente, me colocou em

contato com os gerentes da instituição financeira privada pesquisada.

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Aos gerentes participantes desta pesquisa, pois, sem a ajuda deles, ela não teria se

concretizado.

E, finalmente, ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico) pelo apoio financeiro para o desenvolvimento desta pesquisa.

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Resumo

Esta pesquisa tem como objetivo geral identificar as estratégias de aprendizagem no trabalho

utilizadas por gerentes no desenvolvimento de suas competências em instituições financeiras

pública e privada. Consequentemente, dois objetivos específicos foram definidos: a) analisar

as estratégias de aprendizagem no trabalho utilizadas por gerentes de diferentes áreas de

instituições financeiras pública e privada; b) relacionar tais estratégias de aprendizagem no

trabalho com o desenvolvimento de competências gerenciais, comparando gerentes de

instituições financeiras pública e privada. O tipo de metodologia utilizado foi a pesquisa

qualitativa interpretativa básica, tendo como participantes da pesquisa cinco gerentes da

instituição financeira pública e cinco gerentes da instituição financeira privada. A coleta de

dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas, que enfatizaram as estratégias de

aprendizagem informal no trabalho, procurando relacioná-las com competências gerenciais.

Os resultados obtidos indicam que, tanto para os gerentes entrevistados pertencentes à

instituição financeira pública quanto para os gerentes entrevistados oriundos do banco

privado, há uma preferência natural pela utilização da estratégia de aprendizagem interação e

colaboração/busca por ajuda interpessoal. As estratégias de aprendizagem no trabalho

identificadas por Antonello (2011) podem ser utilizadas pelos gerentes das instituições

financeiras pública e privada para o desenvolvimento das competências definidas por

Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005). A maioria dos gerentes entrevistados admite que as

competências pessoais ou comportamentais são aquelas que ainda precisam de mais

aprimoramento, quando comparadas com as demais competências profissionais.

Palavras-chave: Estratégias de aprendizagem no trabalho. Desenvolvimento de competências

gerenciais. Instituições financeiras pública e privada.

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Abstract

This research has established as the general objective: to identify the learning strategies at

work used by managers in the development of their skills in public and private financial

institutions. Therefore, two specific objectives have been defined: a) to analyze the learning

strategies at work used by managers from different areas of public and private financial

institutions; b) to relate the learning strategies at work with the development of managerial

skills, comparing managers from public and private financial institutions. The type of

methodology used has been the basic interpretative qualitative research, having five managers

from the public financial institution and five managers from the private financial institution as

the research participants. The data collection was carried out through semi-structured

interviews that emphasized the informal learning strategies at work, trying to relate them with

managerial skills. The results have indicated that both for the managers interviewed belonging

to the public financial institution as for the managers from the private bank, there is a natural

preference for the use of the learning strategy interaction and collaboration/search for

interpersonal assistance. Learning strategies at work identified by Antonello (2011) can be

used by the managers from the public and private financial institutions for the development of

the competencies defined by Cheetham and Chivers (1996, 1998, 2005). Most managers

interviewed admit that personal or behavioral skills are those which still need more

improvement when compared with other professional skills.

Keywords: Learning strategies in the workplace. Development of managerial competences.

Public and private financial institutions.

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Aprender é mudar posturas.

Platão

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Lista de Quadros

Quadro 1: Aspectos referentes às aprendizagens formal e informal ........................................ 26

Quadro 2: Tipologia de aprendizagem informal....................................................................... 27

Quadro 3: Estratégias de aprendizagem ................................................................................... 37

Quadro 4: Estratégias de aprendizagem ................................................................................... 39

Quadro 5: Definições de competências .................................................................................... 43

Quadro 6: Competências gerenciais ......................................................................................... 54

Quadro 7: Denominação dos gerentes participantes da pesquisa ............................................. 70

Quadro 8: Perfil demográfico dos participantes da pesquisa ................................................... 77

Quadro 9: Comunalidades e especificidades das estratégias de aprendizagem entre banco

público e banco privado .......................................................................................................... 111

Quadro 10: Estratégias de aprendizagem para o desenvolvimento de competências gerenciais -

banco público e banco privado ............................................................................................... 134

Quadro 11: Quadro comparativo - apêndices A e B ............................................................... 159

Quadro 12: Matriz de amarração ............................................................................................ 160

Quadro 13: Templates iniciais de categorização dos dados da pesquisa ................................ 162

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Lista de Figuras

Figura 1: Modelo de aprendizagem informal e incidental ........................................................ 24

Figura 2: Modelo de aprendizagem dos empregados ............................................................... 31

Figura 3: Aprendizagem na vida profissional .......................................................................... 32

Figura 4: Modelo revisado de competência profissional de Cheetham e Chivers ................... 46

Figura 5: Estrutura hierárquica e gerentes participantes – banco público ................................ 71

Figura 6: Estrutura hierárquica e gerentes participantes – banco privado ................................ 72

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Sumário

1 Introdução ........................................................................................................................ 15

2 Referencial teórico........................................................................................................... 19

2.1 Aprendizagem ................................................................................................................. 19

2.2 Aprendizagem de adultos ................................................................................................ 21

2.3 Aprendizagem formal e informal .................................................................................... 23

2.4 Aprendizagem no local de trabalho ................................................................................ 30

2.5 Estratégias de aprendizagem no local de trabalho .......................................................... 36

2.6 Competência profissional ............................................................................................... 41

2.7 Os modelos de competências propostos por Cheetham e Chivers .................................. 44

2.8 Dimensões da competência e competências gerenciais .................................................. 50

2.9 O desenvolvimento de competências como um processo contínuo de aprendizagem.... 56

2.10 O processo de aprendizagem e suas relações com a competência ................................ 59

2.11 As instituições financeiras no Brasil e os bancos pesquisados ..................................... 63

2.12 Contexto da aprendizagem e do desenvolvimento das competências gerenciais: banco

público versus banco privado................................................................................................ 66

3 Metodologia...................................................................................................................... 68

3.1 Características das organizações pesquisadas ................................................................. 68

3.2 Características dos participantes da pesquisa ................................................................. 69

3.3 Instrumento de coleta de dados ....................................................................................... 73

3.4 Análise dos dados ........................................................................................................... 74

3.5 Entrevista-piloto .............................................................................................................. 74

4 Apresentação e análise dos resultados ........................................................................... 76

4.1 Perfil demográfico .......................................................................................................... 76

4.2 Trajetória profissional gerencial ..................................................................................... 78

4.3 Cargo gerencial atual ...................................................................................................... 80

4.4 Estratégias de aprendizagem ........................................................................................... 83

4.4.1 Banco público ........................................................................................................... 83

4.4.2 Banco privado .......................................................................................................... 96

4.4.3 Banco público versus banco privado: comunalidades e especificidades ............... 111

4.5 Desenvolvimento de competências gerenciais ............................................................. 113

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4.5.1 Banco público ......................................................................................................... 113

4.5.2 Banco privado ........................................................................................................ 124

4.5.3 Banco público e banco privado: estratégias de aprendizagem e desenvolvimento de

competências gerenciais .................................................................................................. 133

4.6 Visão sobre o significado de ser gerente ...................................................................... 137

4.6.1 Banco público ......................................................................................................... 137

4.6.2 Banco privado ........................................................................................................ 139

5 Considerações finais ...................................................................................................... 142

Referências ............................................................................................................................ 146

Apêndice A – Roteiro para entrevista-piloto semiestruturada ........................................ 154

Apêndice B – Roteiro final para entrevista semiestruturada ........................................... 156

Apêndice C – Quadro comparativo – apêndices A e B ..................................................... 159

Apêndice D – Matriz de amarração .................................................................................... 160

Apêndice E – Templates iniciais de categorização dos dados da pesquisa ....................... 162

Apêndice F – Carta informativa e termo de consentimento livre e esclarecido ............. 164

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1 Introdução

As organizações têm buscado, continuamente, melhorias em sua competitividade para

atuar de forma eficiente e eficaz em um mercado cada vez mais dinâmico. O contexto

organizacional atual implica em formas diversificadas de aprendizagem que são consideradas

como uma ferramenta fundamental na busca por um diferencial competitivo.

De uma maneira geral, as organizações empregam maior atenção e recursos aos meios

formais de aprendizagem, que são constituídos por cursos de qualificação, treinamentos,

programas de desenvolvimento, entre outros. Os conteúdos englobam uma vasta diversidade

de temas, desde assuntos técnicos relacionados às atividades operacionais até o

desenvolvimento de competências comportamentais e gerenciais.

Embora a aprendizagem nas organizações seja frequentemente associada a processos

de treinamento e desenvolvimento, existem outros mecanismos que promovem o

desenvolvimento de competências, que não são ações formais de aprendizagem (FREITAS;

BRANDÃO, 2006; LE BOTERF, 1999). As estratégias informais de aprendizagem no

trabalho podem ser compreendidas como práticas que as pessoas utilizam para auxiliar na

aquisição de conhecimentos em determinado contexto profissional (HOLMAN et al., 2001).

As estratégias formais, de um modo geral, são planejadas pela empresa, enquanto as

estratégias informais são utilizadas pelas pessoas como uma forma de resolverem algum

problema mais imediato, assim, buscam ajuda interpessoal, ajuda em material escrito, agem

por tentativa e erro (aplicação prática) ou reproduzem a forma com que os colegas agem em

um processo ou situação (WARR; DOWNING, 2000).

No Brasil, já foram realizadas algumas pesquisas, predominantemente quantitativas,

sobre a intensidade de uso e a sequência de uso dessas estratégias, em funções como:

operários da indústria automotiva (USHIRO; BIDO, 2014); enfermeiros e técnicos em

enfermagem (CONTE; BIDO; GODOY, 2011); Pantoja e Borges-Andrade (2009) estudaram

dezesseis ocupações profissionais (programador, pesquisador, frentista de posto de gasolina,

garçom, etc.), assim, a presente pesquisa complementa as anteriores porque busca um

entendimento mais profundo destas estratégias ao analisá-las de modo qualitativo, além de ter

um enfoque no nível gerencial.

O desenvolvimento de competências, por sua vez, acontece por meio da

aprendizagem, quer seja de forma natural, formal ou informal (SONNENTAG; NIESSEN;

OHLY, 2004). Durand (2000) relaciona a aprendizagem com a aquisição de conhecimentos,

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habilidades e atitudes. De acordo com essa compreensão, Brandão e Borges-Andrade (2007)

argumentam que esses elementos podem ser considerados propriedades do indivíduo, ou seja,

fatores que influenciam o comportamento no trabalho.

Mais especificamente, a função gerencial e suas competências têm sido alvo de muita

reflexão em virtude das constantes mudanças impostas às organizações. Motta et al. (2004)

salientam que, no contexto atual, um dos papéis do gerente é administrar o confronto existente

entre grupos, indivíduos e organização, e isso envolve incentivar um ambiente de

aprendizagem individual, reforçando a capacidade do indivíduo de exercer influência sobre a

coletividade organizacional, sem afetar, porém, o equilíbrio do ambiente.

Dos gerentes são exigidos, além de conhecimentos técnicos e do ambiente, habilidades

e atitudes que lhes permitam agilidade e flexibilidade para agir de maneira diferenciada em

relação a cada problema (RUAS, 2003b). É esperado que possuam competências que lhes

possibilitem lidar com a complexidade do meio empresarial, como por exemplo: comunicação

e colaboração, criatividade, capacidade de resolver problemas, aprendizado tecnológico,

atualização constante e autodesenvolvimento, o que implica em uma forte predisposição a

aprender (ULRICH, 2000).

Sendo assim, esta pesquisa visa contribuir para o conhecimento acadêmico e também

para o mundo corporativo, a partir do questionamento: Quais as estratégias de aprendizagem

no trabalho usadas por gerentes no desenvolvimento de suas competências em instituições

financeiras pública e privada?

A escolha por comparar as estratégias de aprendizagem usadas por gerentes de banco

público com as de gerentes de banco privado no desenvolvimento de suas competências se

deu pelo fato de que os gerentes de bancos públicos ingressam neste tipo de instituição por

meio de concurso público, como por exemplo na Caixa Econômica Federal, onde os gerentes

iniciam a carreira administrativa com o cargo efetivo denominado Técnico Bancário,

ascendendo na hierarquia por meio de promoções por tempo de serviço e merecimento

profissional; enquanto que os gerentes de bancos privados são recrutados e selecionados já

como gerentes advindos do mercado profissional, como foi encontrado por Hito (2011).

Dessa maneira, os gerentes de bancos públicos possuem relativa estabilidade de

emprego, diferentemente do que acontece com os gerentes de bancos privados, que são

continuamente avaliados por desempenho para que permaneçam empregados nestas

instituições.

A seguir, são apresentados os objetivos geral e específicos desta pesquisa:

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Objetivo Geral

Identificar as estratégias de aprendizagem no trabalho usadas por gerentes no

desenvolvimento de suas competências em instituições financeiras pública e privada.

Objetivos Específicos

A partir do objetivo geral, foram definidos os seguintes objetivos específicos:

Analisar as estratégias de aprendizagem no trabalho utilizadas por gerentes de

diferentes áreas de instituições financeiras pública e privada;

Relacionar tais estratégias de aprendizagem no trabalho com o desenvolvimento de

competências gerenciais, comparando gerentes de instituições financeiras pública e

privada.

O referencial teórico (seção 2) para conceituação e suporte à pesquisa baseia-se em

três pontos-chave: a aprendizagem; as competências gerenciais; e o contexto da aprendizagem

e do desenvolvimento dessas competências nas instituições financeiras pesquisadas.

Em relação à aprendizagem, o referencial teórico está baseado nas seguintes

subseções: a aprendizagem e sua conceituação; a aprendizagem de adultos e a conceituação de

andragogia; a conceituação de aprendizagem formal e informal e a identificação dos meios

formais e informais para a aprendizagem; a aprendizagem no local de trabalho, a

caracterização do ambiente e dos processos que compõem o local de trabalho e proporcionam

o aprendizado; e as estratégias de aprendizagem informal no trabalho, as práticas dos

indivíduos no processo de aprendizagem a fim de adquirir conhecimento e promover o seu

desenvolvimento.

Quanto às competências gerenciais, as subseções do referencial teórico são: a

conceituação do termo competência profissional; as dimensões da competência, ou seja, os

conhecimentos, as habilidades e atitudes e as competências gerenciais (aspectos técnicos

versus humanos/comportamentais); os modelos de competências de Cheetham e Chivers

(1996, 1998, 2005); o desenvolvimento de competências como um processo contínuo de

aprendizagem; e o processo de aprendizagem e suas relações com a competência.

E, no que tange ao contexto da aprendizagem e do desenvolvimento de competências

gerenciais nas instituições financeiras pública e privada, o referencial teórico está

fundamentado nas seguintes subseções: as instituições financeiras e os bancos pesquisados; e

o contexto da aprendizagem e do desenvolvimento das competências gerenciais quando se

compara banco público com banco privado.

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Os procedimentos metodológicos (seção 3) utilizados na condução deste estudo são

descritos de maneira a fundamentar a opção pelo paradigma qualitativo interpretativista e o

uso da pesquisa qualitativa básica (GODOY, 2006), tendo a entrevista semiestruturada como

estratégia fundamental para a coleta de dados.

A seção 4 é destinada a apresentação e análise dos resultados e, por fim, as

considerações finais fazem o fechamento do presente estudo na seção 5.

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2 Referencial teórico

2.1 Aprendizagem

A percepção do que é aprendizagem talvez tenha se desenvolvido de muitas maneiras.

Tradicionalmente, a aprendizagem é definida como o processo pelo qual um indivíduo

adquire conhecimento, habilidades e, possivelmente, também atitudes e opiniões. A

aprendizagem é considerada como pertencente ao campo da psicologia cognitiva, juntamente

com áreas como os sentidos, o raciocínio e a memória. Entretanto, muitos estudiosos têm

questionado esta visão (ILLERIS, 2004).

Para Lave e Wenger (1991), a aprendizagem é vista como um processo social que

acontece na interação entre pessoas, por exemplo, em várias comunidades de prática. Para

Gergen (1994) e Burr (1995), é a chamada visão construcionista-social que a define.

Segundo Gergen (1994), a história do construcionismo social está inserida no contexto

do desenvolvimento da ciência, pautada por três críticas ao fazer científico que contribuíram

para a construção de uma concepção alternativa ao pressuposto do conhecimento como posse

do indivíduo: a crítica social, a ideológica e a retórico-literária.

A crítica social é a gênese social do pensamento científico, ou seja, de como o

conhecimento é cultural e historicamente situado. Já a crítica ideológica busca explicitar os

vieses presentes na construção de determinadas teorias, decorrentes de seu compromisso com

grupos sociais específicos. A crítica retórico-literária busca mostrar como as descrições e

explicações científicas são determinadas pelas regras de apresentação literária, as quais

absorvem o objeto de tais descrições, fazendo-o perder seu status ontológico, sua

independência do processo descritivo (GERGEN, 1994).

Segundo o construcionismo social, o conhecimento é relativo e depende do tempo e da

cultura, ou seja, não é só específico a culturas particulares e períodos da história, como

também é produto dessa cultura e história e dependente dos arranjos prevalecentes, sejam

econômicos ou sociais. O conhecimento do mundo não provém da natureza dele próprio,

provém das construções das pessoas acerca dele. Por isso, todo o tipo de interação social e,

particularmente, a linguagem é de grande interesse para os construcionistas sociais. Os

acontecimentos entre as pessoas no decurso de suas vidas são encarados como práticas

durante as quais as versões partilhadas de conhecimento são construídas (BURR, 1995).

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A questão é se a habilidade de aprender é uma capacidade exclusivamente individual

ou se é possível afirmar que grupos, corporações, organizações e talvez até nações possam ter

essa habilidade (ILLERIS, 2004).

Segundo Illeris (2002), a aprendizagem humana envolve todos esses elementos

simultaneamente, através da interação social entre o indivíduo e seu ambiente – o indivíduo

recebe várias influências ou impulsos que ele absorve pela interpretação psicológica interna e

pelos processos de aquisição. Somente se ambos os processos interagirem e se os processos

de aquisição estiverem ativos é que a aprendizagem ocorrerá.

Isso significa que sempre há uma forma de interação direta ou indireta, sociabilidade,

camaradagem ou coletividade envolvida nos processos de aprendizagem – mesmo quando um

indivíduo está sozinho em uma situação atual, as influências recebidas a partir do ambiente

são socialmente codeterminadas, e se a influência for mediada pela leitura, mídia eletrônica,

imagens, arquitetura etc., uma ou mais influências específicas também estarão indiretamente

presentes (ILLERIS, 2004).

Consequentemente, pode-se afirmar, de acordo com Lave e Wenger (1991), que toda a

aprendizagem é situada, ou seja, acontece em uma situação ou contexto específico, que é

codeterminante para o processo de aprendizagem como também para seu resultado, fazendo

sentido imediato para se referir à aprendizagem social ou à dimensão social de aprendizagem.

Já para Argyris e Schön (1996), a aprendizagem pode significar um produto (alguma

coisa aprendida) ou um processo que produz tal produto. No primeiro sentido, pode-se

perguntar: “o que aprendemos?”, referindo-se a um acúmulo de informação na forma de

conhecimento ou habilidade; no segundo sentido, “como aprendemos?”, referindo-se a uma

atividade de aprendizagem que pode ser bem ou mal desempenhada.

Contrariamente, Smith (1999) critica as definições de aprendizagem como produto (ou

resultado) e as definições que veem a aprendizagem como processo, mas que ignoram suas

extensões. Como produto, segundo o autor, a aprendizagem tem sido definida como uma

mudança no comportamento do indivíduo. Para Smith (1999), a crítica a definições que

defendem esta linha está baseada no fato de que nem todas as mudanças no comportamento

resultam de experiências que englobam a aprendizagem. Segundo o autor, a aprendizagem é

um processo que deve produzir resultados que levem a mudanças de comportamento.

Na próxima subseção, discute-se a aprendizagem de adultos, conceituando-se a

andragogia e suas principais características.

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2.2 Aprendizagem de adultos

Todos os indivíduos participantes desta pesquisa são adultos, fato que justifica

conceituar a aprendizagem de adultos e quais suas principais características.

A aprendizagem acompanha o ser humano ao longo de sua existência. Segundo Pinto

(1982, p. 39), “o homem é, por essência, um ser inacabado, pois se constitui a si mesmo ao

longo de sua existência social”.

A noção de um homem “inacabado” suscita uma reflexão sobre as experiências de

aprendizagem a que o indivíduo é submetido ao longo de sua vida, em seu processo de

constituição enquanto sujeito e, consequentemente, remete ao fato de que o desenvolvimento

humano obedece a um ciclo. Para Neugarten (1980, p. 165), “o indivíduo passa por um ciclo

socialmente regulado do nascimento à morte tão inexoravelmente como passa pelo ciclo

biológico”. Atrelada à ideia de ciclo está a reflexão sobre as diferentes necessidades a que o

indivíduo é submetido nos seus processos de aprendizagem.

Da mesma forma, Freire (1980) relata que a educação crítica considera os homens

como seres em desenvolvimento, como seres inacabados, incompletos em uma realidade

igualmente inacabada.

Os homens têm consciência de que são incompletos, e, assim, nesse estar

inacabados e na consciência que disso têm, encontram-se as raízes da

educação como fenômeno puramente humano. O caráter inacabado dos

homens e o caráter evolutivo da realidade exigem que a educação seja uma

atividade contínua (FREIRE, 1980, p. 81).

Para Knowles et al. (2005, p. 10), educação e aprendizagem são conceitos

diferenciados, de modo que, a educação refere-se às “atividades realizadas ou iniciadas por

um ou mais agentes destinados a resultar em mudanças no conhecimento, habilidades ou

atitudes de um indivíduo, grupo ou comunidade”. Por outro lado, o termo aprendizagem

refere-se à “pessoa na qual tais mudanças ocorrem ou que são esperadas que ocorram”.

Knowles et al. (2005, p. 61) conceituam a andragogia como “a arte e a ciência de

ajudar adultos a aprenderem”. Os autores consideram que a educação de adultos está presente

em todas as situações de aprendizagem a que estes indivíduos estão submetidos, podendo ser

no desenvolvimento de trabalhadores, nas atividades relacionadas à educação continuada, e

em quaisquer outras situações de aprendizagem que dizem respeito ao adulto. A andragogia

fundamenta-se no “aprender fazendo”.

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Sabe-se que à medida que as pessoas amadurecem, sofrem transformações como:

passam de dependentes para indivíduos independentes (autodirecionados); acumulam

experiências de vida que vão fundamentar o substrato de seu aprendizado; direcionam seus

interesses para o desenvolvimento das habilidades que utilizam em seu papel social; esperam

uma imediata aplicação prática do que aprendem; preferem aprender para resolver problemas

e desafios e passam a apresentar motivações internas mais intensas do que motivações

externas (KNOWLES et al., 2005).

Knowles et al. (2005) afirmam, ainda, que o comportamento do aprendiz varia de

acordo com a aprendizagem e que situações da vida afetam também o estilo andragógico de

aprendizagem. Experiências passadas e atuais também ajudam a formatar a aprendizagem,

sendo que adultos aprendem mais no contexto da vida real, sendo motivados em aprender para

solucionar problemas.

A experiência ganha um papel tão relevante que, para Knowles et al. (2005), os

adultos são o que eles acumularam ao longo de suas vidas, por meio de suas experiências. Os

adultos são impulsionados por motivações internas ligadas a seu próprio desejo de

crescimento, de mudança e de transformação. Eles se empenham em aprendizagens que se

constituem em respostas a pressões relacionadas às suas situações de vida. Os adultos buscam

o vínculo entre a realidade vivida e os significados que a eles são apresentados por meio de

suas aprendizagens. A não existência deste vínculo faz com que eles deixem de acreditar nos

processos aos quais estão submetidos.

A questão de como os adultos aprendem também está presente no mundo corporativo,

em todos os níveis hierárquicos, pois grande parte dos esforços na melhoria dos resultados das

organizações decorre da capacitação de sua força de trabalho. Conhecer os princípios da

aprendizagem de adultos e suas principais características fornecerá uma importante base

conceitual na análise dos resultados desta pesquisa.

Visto o conceito de aprendizagem de adultos, será realizada a abordagem de questões

relacionadas à aprendizagem formal e à aprendizagem informal.

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2.3 Aprendizagem formal e informal

Marsick e Watkins (1990) definem as aprendizagens informal e incidental através de

seu contraste com a aprendizagem formal:

A aprendizagem formal é tipicamente patrocinada institucionalmente,

baseada em sala de aula e altamente estruturada. A aprendizagem informal,

uma categoria que inclui a aprendizagem incidental, pode ocorrer em

instituições, mas não é tipicamente baseada em sala de aula ou altamente

estruturada e o controle de aprendizagem dá-se principalmente pelas mãos

do aprendiz. A aprendizagem incidental é definida como um subproduto de

alguma outra atividade, tais como a realização de tarefas, interação

interpessoal, sensoriamento da cultura organizacional, experimentação de

tentativa e erro ou até mesmo a aprendizagem formal. A aprendizagem

informal pode ser deliberadamente incentivada por uma organização ou pode

ocorrer mesmo dentro de um ambiente não muito propício à aprendizagem.

A aprendizagem incidental, por outro lado, quase sempre ocorre, embora as

pessoas nem sempre estejam conscientes disso (MARSICK; WATKINS,

1990, p. 12).

Segundo as autoras, a aprendizagem informal é geralmente intencional, porém não

altamente estruturada. Marsick e Watkins (2001) citam exemplos que podem incluir a

aprendizagem autodirigida, networking, coaching, mentoring e o planejamento de

desempenho, que inclui oportunidades para revisar as necessidades de aprendizagem. Quando

as pessoas aprendem incidentalmente, sua aprendizagem pode ser dada como certa, de forma

tácita ou inconsciente. Entretanto, uma visão transitória pode então ser sondada e explorada

intencionalmente. Os exemplos oferecidos pelas autoras são a agenda oculta de uma cultura

organizacional ou uma aula de um professor, a aprendizagem através do erro ou ainda o

processo assistemático de tentativa e erro.

As autoras apresentam um modelo que representa o processo de aprendizagem

informal, modificado em colaboração com Cseh (Cseh, Watkins e Marsick, 1999) e está

enraizado no pensamento de John Dewey (1938), Argyris e Schön (1974, 1978) e Mezirow

(1991). O modelo de Marsick e Watkins (2001) representa o que as autoras consideram um

processo incidental de aprendizagem, uma vez que pode ocorrer com ou sem a consciência do

indivíduo (Figura 3).

O círculo central (contexto) representa a crença de que a aprendizagem se desenvolve

além dos encontros do dia a dia durante o trabalho e a vida em um dado contexto. Uma nova

experiência de vida pode oferecer um desafio, um problema a ser resolvido ou uma visão de

um estado futuro. O círculo externo representa o contexto dentro do qual a experiência ocorre

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– os contextos pessoal, social, profissional e cultural para a aprendizagem desempenham um

papel-chave para influenciar o modo pelo qual as pessoas interpretam a situação, suas

escolhas, as ações que elas tomam e como a aprendizagem é efetivamente realizada

(MARSICK; WATKINS, 2001).

Figura 1: Modelo de aprendizagem informal e incidental

Fonte: Marsick e Watkins (2001, p. 29).

Nesta versão mais nova do modelo de Marsick e Watkins (2001), as autoras integram

o processo de aprendizagem incidental, uma vez que é claro para elas que o processo está

sempre acontecendo, com ou sem a consciência do indivíduo.

Marsick e Watkins (2001) notam que a aprendizagem começa com algum tipo de

gatilho, que é um estímulo interno ou externo que sinaliza insatisfação com os modos de ser e

pensar atuais. Esse gatilho ou experiência é geralmente uma surpresa, e representa o ponto de

partida do modelo. O modelo mostra que as pessoas diagnosticam ou enquadram uma nova

experiência que encontram, avaliando se o caso é problemático ou desafiador sobre a

experiência. A seguir, comparam uma nova situação com experiências anteriores, identificam

similaridades ou diferenças e usam sua interpretação para dar sentido ao novo desafio.

As pessoas aperfeiçoam seus diagnósticos interpretando o contexto. Elas prestam

atenção aos diferentes fatores no contexto que influenciam sua interpretação. Interpretar o

contexto é um desafio maior quando as normas e expectativas estão em um estado de fluxo ou

quando a própria pessoa está aprendendo algo novo. A interpretação do contexto leva a

escolhas sobre ações alternativas. Essas escolhas são guiadas por lembranças de soluções

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passadas e por uma procura por outros modelos potenciais para a ação. O sucesso na

implementação depende de desenhar capacidades que são adequadas para a tarefa. Se a

solução pede por novas habilidades, a pessoa precisa adquiri-las (MARSICK; WATKINS,

2001).

Vários fatores contextuais – tempo, dinheiro, pessoas diversas, conhecimento,

motivação, assim como capacidade emocional – influenciam a habilidade para aprender bem

o suficiente para implementar com sucesso a solução desejada. Uma vez que a ação é tomada

(uma solução produzida), uma pessoa pode avaliar os resultados e decidir se eles

correspondem aos seus objetivos, resultados esperados, ou não. Essa etapa de julgar as

consequências permite então que a pessoa tire lições aprendidas e as use para planejar ações

futuras (MARSICK; WATKINS, 2001).

Apesar de o modelo ter um formato circular, as etapas não são, necessariamente,

sempre lineares, nem sequenciais. Os pensamentos conclusivos representam um novo

entendimento que o indivíduo carrega quando se depara com uma nova situação, fazendo com

que o círculo completo se reinicie.

Embora as organizações possuam formas de promover os processos de aprendizagem

informal e admitam seus benefícios, a maioria dos indivíduos ainda associa a proposta de uma

iniciativa para a aprendizagem com modelos estruturados de ensino.

Malcolm, Hodkinson e Colley (2003) comparam a definição de aprendizagem formal e

aprendizagem informal a partir de duas dimensões. A primeira é focada nas questões teóricas

e empíricas, e a segunda, no discurso político. Para a primeira dimensão, o conceito de

aprendizagem formal e aprendizagem informal parte dos termos horizontal e vertical

propostos por Bernstein (2000), em que o aprendizado diário é definido como conhecimento

horizontal, enquanto o acadêmico consiste no conhecimento vertical (BERNSTEIN, 2000

apud MALCOLM; HODKINSON; COLLEY, 2003).

Malcolm et al. (2003) entendem, assim, que a aprendizagem informal é o aprendizado

que ocorre por meio de práticas incorporadas no dia a dia e sem estrutura educacional. Por

outro lado, a aprendizagem formal é o aprendizado que ocorre individualmente, possuindo

caráter aquisitivo e em instituições educacionais.

A segunda dimensão apresentada por Malcolm et al. (2003), focada no discurso

político, utiliza o termo educação não formal e aprendizagem não formal para levar as pessoas

ao avanço do capitalismo e ao desenvolvimento do país. Os autores entendem que as

aprendizagens formal e informal não podem ser entendidas como totalmente distintas, pois

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são interrelacionadas. Com isso, listam, conforme quadro 1, quatro atributos para tentar

identificar as características dessas aprendizagens:

Quadro 1: Aspectos referentes às aprendizagens formal e informal

Atributos Aprendizagem Formal Aprendizagem Informal

Processos

- Engajamento em tarefas estruturadas

por outra pessoa;

- Abordagem didática e controlada;

- Mediada por um treinador, professor

ou instrutor.

- Processo incidental em atividades do dia a

dia;

- Abordagem mais negociável, democrática

e conduzida pelo aprendiz;

- Mediada por um amigo ou colega de

trabalho.

Local e

Configuração

- Locais estruturados como escolas e

universidades.

- Locais não estruturados para esse fim,

como no local de trabalho, em comunidades

ou até mesmo em casa junto à família.

Propósito

- A atividade tem como propósito a

aprendizagem em si, ou seja, está no

foco, sendo o resultado esperado da

ação.

- A aprendizagem é consequência da

realização de atividades que possuem

outros propósitos, surgindo como um

subproduto.

Conteúdo - A aprendizagem representa a aquisição

de novos conhecimentos.

- A aprendizagem representa o

desenvolvimento de algo novo.

Fonte: Malcolm, Hodkinson e Colley (2003, p. 317), adaptado pelo autor.

A partir dos conceitos propostos, Malcolm et al. (2003) concluem que as situações de

aprendizagem apresentam características de formalidade e informalidade, modificadas em

diferentes situações e interrelacionadas de maneiras distintas, influenciando a natureza e a

efetividade da aprendizagem. As interrelações e seus efeitos podem ser compreendidos

apropriadamente somente se a aprendizagem for analisada em um amplo contexto.

Ainda em relação às diferenças entre as aprendizagens formal e informal, Kock e

Ellström (2011) definem a aprendizagem formal como aquela que é planejada, organizada e,

na maioria das vezes, financiada pelo empregador e que acontece durante o horário de

trabalho do empregado. Para os autores, a distinção entre a aprendizagem formal e a

aprendizagem informal reside no fato de que a primeira é por aquisição, enquanto que a

segunda se dá por participação.

Sob a perspectiva formal ou por aquisição, a aprendizagem é vista como um resultado

observável, frequentemente acompanhado por um certificado. Sob a perspectiva informal ou

por participação, a aprendizagem é um processo no qual as pessoas melhoram seu

desempenho realizando atividades através da interação com outras pessoas, materiais,

ferramentas etc., fazendo com que o aprendizado surja naturalmente como parte do processo

(KOCK; ELLSTRÖM, 2011).

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Já Eraut (2004) prefere definir a aprendizagem informal como aquela que se aproxima

mais de um fim informal do que formal – a aprendizagem informal ocorre quando os

objetivos finais da aprendizagem são informais. Isso quer dizer que a aprendizagem informal,

então, é implícita, intencional, situacional, não estruturada e sem instrutor. Além disso, Eraut

(2004) classifica a aprendizagem informal em três níveis, a saber: aprendizagem implícita,

reativa e determinada, conforme quadro a seguir:

Quadro 2: Tipologia de aprendizagem informal

Tempo de Foco Aprendizagem

Implícita Aprendizagem Reativa

Aprendizagem

Determinada

Episódios

Passados

- Conexão implícita de

memórias passadas com

experiências presentes.

- Reflexão breve e

espontânea sobre episódios,

eventos, incidentes e

experiências passadas.

- Discussão e revisão de

ações passadas,

comunicações, eventos e

experiências.

Experiência

Atual

- Seleção de

experiências entra na

memória episódica.

- Anotação de ideias,

opiniões, impressões;

- Questionamentos;

- Observação dos efeitos das

ações.

- Compromisso na tomada

de decisão, resolução de

problemas, aprendizagem

informal planejada.

Comportamento

Futuro

- Expectativas

inconscientes.

- Reconhecimento da

oportunidade de

aprendizagens futuras.

- Oportunidades de

aprendizagem planejada;

- Ensaio para eventos

futuros.

Fonte: Eraut (2004, p. 250).

Os tipos de aprendizagem informal definidos por Eraut (2004) consideram como

variáveis os níveis de intenção (colunas) e as relações temporais das experiências de

aprendizagem (linhas). A aprendizagem implícita é aquela cujo grau de consciência sobre o

aprendizado é mínimo. A aprendizagem reativa acontece durante a ação, quando não se tem

muito tempo para pensar. E, finalmente, a aprendizagem determinada é aquela que acontece

como resultado de uma atividade e possui objetivos pré-determinados a serem alcançados. No

que tange às relações temporais, a aprendizagem sempre acontece no tempo presente,

entretanto, o foco pode estar no passado, presente ou futuro.

Outro autor que procura distinguir a aprendizagem formal da informal é Gerber

(2006). De acordo com o estudioso, a aprendizagem formal é planejada por professores e

instrutores, que entregam e avaliam a aprendizagem em instituições ou no local de trabalho.

Esse tipo de aprendizagem é previsível e prescrito em currículos, competências necessárias e

resultados. Espera-se que o indivíduo seja capaz de expressar o que aprendeu ao responder a

uma prova, aos questionamentos orais ou às atividades programadas. Os conceitos abordados

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são gerais e aplicáveis a qualquer ambiente. A aprendizagem formal acontece na dinâmica

individual de adquirir conhecimento e aplicá-lo, e o conhecimento é maior à medida que mais

teoria se armazena e se aplica.

Por outro lado, segundo Gerber (2006), na aprendizagem informal o indivíduo está no

controle daquilo que vai aprender, dependendo das circunstâncias e conveniência de como os

eventos acontecem no ambiente. Esse tipo de aprendizagem emerge de diversos tipos de

eventos inesperados no local de trabalho ou na vida; muitas vezes o aprendiz não tem

consciência da extensão do seu próprio aprendizado. O foco está na aprendizagem e não no

ensino – quem aprende e como aprende são os fatores mais importantes – é o aprendizado

colaborativo do grupo que traz resultados. Na aprendizagem informal, segundo Gerber

(2006), os conceitos vistos consideram as especificidades de cada ambiente, o que auxilia nas

características de imprevisibilidade e necessidades citadas. A aplicação da aprendizagem é

mais holística, pois o foco está no desenvolvimento humano.

Antonello (2005) afirma, porém, que os limites entre a aprendizagem formal e a

informal não são fáceis de demarcar, pois situações informais também acontecem dentro de

processos formais de aprendizagem:

O conhecimento é um contexto específico porque é algo inseparável, estando

encrustado nos seres humanos, na interação entre indivíduos, nos recursos

físicos, nos bancos de dados, na cultura etc. Isso significa que não é mais

possível entender a aprendizagem somente como uma construção do

conhecimento formal. Novos modos de conceber e praticar a formação

revelam o potencial formativo das situações de trabalho e da aprendizagem

experiencial na ação. É preciso destacar a pluralidade de situações de

aprendizagem que o ambiente de trabalho proporciona, sugerindo uma

unidade de tempo e de lugar entre a formação e o exercício do trabalho.

Refere-se ao tipo de formação que se alicerça nas experiências e nas

vivências dos indivíduos e coletivos que uma estratégia formativa pode

transformar em aprendizagem por via simbólica, formalizando o informal,

ou de promover um ciclo (recursivo) de construção de novos saberes a partir

de saberes em utilização (ANTONELLO, 2005, p. 28).

Considerando a aprendizagem gerencial, tradicionalmente ela sempre foi vista como

produto da educação e do desenvolvimento gerencial formal. Nesta perspectiva, a

aprendizagem é concebida como um processo formal, que ocorre em ocasiões isoladas e

alheias ao dia a dia do executivo (FOX, 1997).

Na área organizacional, os modelos de aprendizagem e ação originados com a ciência

da administração são deficientes em explicar como os gerentes lidam com os desafios diários

do seu trabalho. A racionalidade técnica que deu base a estes modelos não considera as

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habilidades reflexivas necessárias para que os gerentes tomem decisões sob a incerteza e em

confronto com ambientes turbulentos (SCHÖN, 1983; MARSICK, 1988).

Embora, segundo Fox (1997), o modelo tradicional de aprendizagem gerencial

valorize apenas a educação e o desenvolvimento gerencial formal, aumenta a crença de que os

maiores ganhos profissionais e organizacionais surjam da aprendizagem que acontece no

próprio ambiente de trabalho, de acordo com Carnevale (1986) e Marsick e Watkins (1997).

Com base no exposto acima, a próxima subseção deste referencial teórico aborda a

aprendizagem no local de trabalho.

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2.4 Aprendizagem no local de trabalho

Os estudos sobre a aprendizagem no local de trabalho abordam, de forma ampliada, a

vida profissional do indivíduo, portanto, configuram-se como um termo aberto às diversas

formas de aprendizado que possam ser vivenciadas ou adquiridas.

Pode-se afirmar que a aprendizagem no local de trabalho trata da aprendizagem

individual no trabalho, abrangendo a aprendizagem formal, informal e incidental

(MATTHEWS, 1999). O autor propõe uma reflexão mais ampla que entende o local de

trabalho como um espaço que inclui a posição física, significados compartilhados, ideias,

comportamentos e atitudes que determinam o ambiente de trabalho e suas relações. Um

indivíduo pode, fisicamente, trabalhar em outra posição física, como em casa, mas ainda ser e

ver-se como uma parte integrante do local de trabalho.

Da mesma maneira, Illeris (2004) salienta que o termo “vida profissional” pode ser

usado para destacar o fato de que a aprendizagem não acontece apenas no ambiente de

trabalho, mas também, por exemplo, em cursos em geral, programas de intercâmbio, em

contatos com clientes, usuários e fornecedores, nos sindicatos, em organizações industriais e

em contextos profissionais mais particulares ou específicos.

O ponto de partida no modelo para aprendizagem no local de trabalho é desenvolvido

por Jorgensen e Warring (2001 apud ILLERIS, 2004). Este modelo opera basicamente com os

conceitos de ambiente de aprendizagem e processos de aprendizagem – a aprendizagem

acontece quando há o encontro entre os ambientes de aprendizagem e os processos de

aprendizagem dos empregados. Segundo Jorgensen e Warring (2001 apud ILLERIS, 2004), o

ambiente de aprendizagem são as oportunidades para aprendizagem contidas nos meios

materiais e sociais; enquanto que os processos de aprendizagem são entendidos como

processos contínuos de aprendizagem na vida de um indivíduo (experiências vividas e

perspectivas futuras).

Conforme Illeris (2004), a aprendizagem acontece em uma relação dinâmica: os

processos de aprendizagem dos empregados, as comunidades no ambiente de trabalho e o

sistema técnico-organizacional da empresa. Este modelo triangular é composto, então, pelos

três componentes principais na aprendizagem profissional: o ambiente de aprendizagem

técnico-organizacional (condições de mercado e tecnológicas que determinam as condições

para a aprendizagem), o ambiente de aprendizagem social (características sociais, políticas e

culturais que facilitam a aprendizagem) e os processos de trabalho dos empregados

(estimulam a criação de novos comportamentos e valorizam as experiências dos empregados).

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Entretanto, o ambiente de aprendizagem somente acontece quando há interação entre o

empregado individual e o ambiente de aprendizagem. Por isso, é importante analisar o

conhecimento prévio do empregado e suas perspectivas futuras para entender o dinamismo

entre o ambiente de aprendizagem e seus processos (ILLERIS, 2004). A seguir, a figura 1

apresenta o modelo de aprendizagem dos empregados, segundo Illeris (2004):

Figura 2: Modelo de aprendizagem dos empregados

Fonte: Illeris (2004, p. 432).

É importante observar não somente que os três elementos estão em constante

interação, mas também que há dois tipos diferentes de interação: no ambiente ou nível social

– na linha de base do modelo – existe uma mescla de dois tipos de ambiente. E na dimensão

vertical do modelo há uma interação constante dessa mescla com os processos de

aprendizagem individual (ILLERIS, 2004).

Ainda segundo Illeris (2004), o processo de aprendizagem do empregado individual

está intimamente ligado com o desenvolvimento no ambiente de aprendizagem social. O

ambiente de aprendizagem social e o técnico-organizacional devem ser compreendidos em

conexão com assuntos externos ao ambiente de trabalho individual, por exemplo, o mercado,

a política institucional e as condições culturais e sociais da sociedade. Para o empregado, o

local de trabalho é apenas mais um de muitos outros ambientes para a vida e aprendizado.

Assim, Illeris (2004) propõe um modelo holístico para o entendimento do processo de

aprendizagem no trabalho. O modelo captura a dialética entre questões sociais e as esferas

individuais da aprendizagem. É necessário diferenciar e conectar o nível social e individual da

aprendizagem no ambiente organizacional. É precisamente na sobreposição entre a “prática

do trabalho” e a “identidade do trabalho” que a interação acontece.

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O modelo holístico de Illeris (2004) precisa ser entendido como um modo simplificado

e sistematizado de oferecer uma visão daquilo que o autor considera como os elementos

principais, áreas e processos que estão em conexão com a aprendizagem na vida profissional e

suas mútuas conexões. Tal modelo pode ser empregado para ajudar a percepção no sentido de

planejar, implementar e avaliar processos de aprendizagem. A seguir, a figura 2 ilustra o

modelo holístico de Illeris (2004):

Figura 3: Aprendizagem na vida profissional

Fonte: Illeris (2004, p. 438).

Friedman (2001) relata que a aprendizagem no local de trabalho também está

relacionada com o compartilhamento de experiências que os empregados desenvolvem entre

si, baseadas em seu background de conhecimentos e experiências profissionais. Segundo

Friedman (2001), para que a aprendizagem seja efetivada, é necessária a existência de

estruturas organizacionais que possibilitem essa troca de experiências e promovam contato

com novas formas de conhecimento, em um ambiente social e cultural que fomente e facilite

o processo de aprendizagem.

Para este autor, tal ambiente social e cultural pode ser conceituado como um “mundo

comportamental”, em que estariam contempladas questões psicológicas, comportamentais e

fatores contextuais. As questões psicológicas estariam relacionadas a elementos cognitivos e

emocionais; as questões comportamentais, às ações observáveis, suscetíveis de promover a

aprendizagem; e os fatores contextuais estariam relacionados às normas da organização ou

culturas passíveis de favorecer e reforçar as condições psicológicas.

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Dessa forma, pode-se afirmar que a aprendizagem no local de trabalho está

diretamente relacionada ao ambiente em que ela estiver inserida, porém sem perder o foco de

que a aprendizagem é um processo individual – é o sujeito que aprende por suas ações,

experiências, reflexões, capacitando-se para suas atividades profissionais. O local de trabalho

é o ambiente onde se dá a aprendizagem individual, cabendo às organizações criarem

ambientes favoráveis à aprendizagem.

Kock et al. (2011) destacam o crescente interesse que existe no local de trabalho como

um espaço para educação e treinamento. A aprendizagem que acontece no local de trabalho é

vista como um fator chave para questões de produtividade, inovação e competitividade. Kock

et al. (2011) enfatizam que o ambiente de aprendizagem que se forma em uma organização

não somente afeta o nível de aprendizagem em determinadas dimensões, mas também a

própria qualidade da aprendizagem. As condições passíveis de serem criadas para caracterizar

um contexto organizacional podem possibilitar ou restringir a aprendizagem. Segundo os

autores, um dos maiores desafios para as organizações é utilizar estratégias integradas e

desenvolver um ambiente de aprendizagem que ofereça tarefas estimulantes e oportunidades

para o aprendizado no dia a dia.

Para Hager (2012), a aprendizagem no local de trabalho:

[...] é algo situado no contexto particular do trabalho. A aprendizagem no

local de trabalho pode ser influenciada pelo ambiente no qual o trabalho

acontece e por aspectos como: os conceitos que os trabalhadores dão à

aprendizagem; suas formas de aprender no local de trabalho e pela forma

que eles atuam como membros de equipes.

Quando se trata de como as pessoas aprendem no trabalho, admite-se que, em

situações diversas e em diferentes tipos de trabalho, as pessoas têm o potencial de aprender

diferentemente umas das outras. A aprendizagem informal sugere que são os trabalhadores e

não os que treinam que deveriam ter o controle das maneiras pelas quais eles aprendem no

trabalho (HAGER, 2012).

Jacobs e Park (2013) propõem uma estrutura conceitual para a aprendizagem no local

de trabalho que envolve a interação de três variáveis: a) o local de aprendizagem; b) o grau de

planejamento das experiências de aprendizagem; c) o papel do instrutor, facilitador ou

professor durante o processo de aprendizagem.

O local de aprendizagem, de acordo com Jacobs e Park (2013), pode acontecer longe

do cenário de trabalho ou no cenário de trabalho. O grau de planejamento pode ser estruturado

(quando há evidência de que uma abordagem sistemática foi usada) ou não estruturado

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(quando há pouca ou nenhuma evidência de que uma abordagem sistemática foi usada). E,

finalmente, o papel do instrutor/facilitador/professor pode ser passivo (quando o facilitador

tem um papel limitado durante o processo de aprendizagem, deixando que o indivíduo peça

auxílio ao instrutor quando necessário) ou ativo (quando o instrutor tem um papel atuante

durante todo o processo de aprendizagem).

Em relação à aprendizagem gerencial no local de trabalho, pode-se afirmar que o papel

do gerente vem ganhando importância na medida em que as organizações valorizam cada vez

mais seus recursos humanos. As pessoas são os protagonistas essenciais para o

desenvolvimento organizacional, e o gerente assume o papel de mediador indispensável nesse

processo. Conforme Antonello (2005), quando se pretende projetar e implementar um

programa para aprendizagem gerencial no local de trabalho, seria importante considerar os

seguintes pontos:

Como são definidos os papéis dos participantes (escopo, tarefas, responsabilidades,

relacionamentos), como escolhem seus papéis (coleta de informação, tomada de

decisões e ação) e que melhorias gostariam os participantes de obter para si, para o seu

grupo de trabalho e a organização?

Quais são as variáveis externas que afetam o trabalho gerencial (por exemplo,

descontinuidade, incerteza, ambiguidade, complexidade)?

Como o programa pode estimular os participantes a aumentarem suas capacidades

para aprender no trabalho usando uma variedade de formas de analisar experiências,

de maneira que a aprendizagem se torne autossustentada?

Quais formas de apoio ao empregado deveriam ser usadas para ajudar as pessoas a

aprender, ampliando e fortalecendo a participação organizacional e desenvolvendo

uma cultura de aprendizagem?

Quais são as competências individuais e grupais necessárias?

Como os esforços dos participantes serão reconhecidos (por exemplo, remuneração,

premiação, apoiando tempo para estudar, aumentando perspectivas de carreira)?

Como o programa pode encorajar as pessoas a assumirem a responsabilidade de

reconhecer e responder às suas próprias necessidades de desenvolvimento?

Como os benefícios da aprendizagem no local de trabalho podem ser identificados

prontamente e apresentados aos participantes, gestores e sua equipe?

Como pode o “retorno do investimento” (por exemplo, tempo, recursos, indivíduo e

esforço organizacional) ser mensurado e monitorado?

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As organizações estão tentando estabelecer uma cultura de aprendizagem que valorize

mais o conhecimento dos empregados gerados da aprendizagem do que eles realizam

efetivamente no local de trabalho; porém, uma iniciativa organizacional para aprender mais e

fazer melhor provavelmente não frutificará se for imposta. É necessário encorajar e motivar

os indivíduos para que aprendam e tomem a iniciativa na identificação de suas próprias

necessidades de aprendizagem (ANTONELLO, 2005).

Apontar as características e contribuições teóricas sobre a aprendizagem no local de

trabalho contribuirá para a presente pesquisa pelo fato de a mesma ser realizada em um

ambiente de contínua interação social, com identidade e práticas de trabalho compartilhadas

entre todos os indivíduos.

Dessa forma, compreender quais estratégias de aprendizagem no trabalho são mais

eficazes, a fim de promover práticas e ambientes que fomentem essa aprendizagem, parece ser

de fundamental importância para organizações que almejam potencializar o desenvolvimento

de competências de seus empregados. Dentro deste contexto, o presente estudo investigará as

estratégias de aprendizagem utilizadas por gerentes no desenvolvimento de suas competências

em instituições financeiras pública e privada.

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2.5 Estratégias de aprendizagem no local de trabalho

As estratégias de aprendizagem foram definidas por Rigney (1978) como operações e

procedimentos cognitivos utilizados para adquirir, reter e recuperar diferentes tipos de

conhecimento e desempenho.

Gagné (1980) descreve as estratégias de aprendizagem como capacidades

internamente organizadas que orientam a aprendizagem e, quando aprimoradas, qualificam o

indivíduo como autoaprendiz. Ambos os autores restringiram o seu conceito a estratégias

cognitivas e relativas a atividades internas.

De acordo com Warr e Bunce (1995), estratégias de aprendizagem são atividades de

processamento de informações, usadas pelos aprendizes no momento da codificação, com o

propósito de facilitar a aquisição, armazenagem e consequente recuperação da informação

aprendida. Pozo (1999) define as estratégias de aprendizagem como procedimentos que se

aplicam, de maneira controlada, dentro de um plano projetado deliberadamente, com o

objetivo de alcançar uma meta fixada.

As estratégias de aprendizagem no trabalho podem ser compreendidas como práticas

que as pessoas utilizam para auxiliar a aquisição de conhecimento em determinado contexto

profissional (HOLMAN et al., 2001).

Warr e Downing (2000) incluem na definição de estratégias de aprendizagem

atividades manifestas (processos comportamentais) e não observáveis (processos cognitivos e

afetivos), que apresentam variação entre indivíduos e ambientes de aprendizagem e que são

relevantes para aperfeiçoar os processos de aprendizagem humana no trabalho.

Warr e Downing (2000) utilizaram categorias previamente desenvolvidas por Warr e

Allan (1998) em um estudo conceitual e empírico, que apontou nove estratégias de

aprendizagem distribuídas em três grandes categorias: cognitiva, comportamental e

autorregulatórias.

Segundo Warr e Downing (2000), as estratégias de aprendizagem cognitivas foram

divididas em três tipos: reprodução, organização e elaboração, que representam,

respectivamente, procedimentos executados através da repetição contínua sem reflexão;

procedimentos que criam estruturas mentais e interrelacionam elementos para a

aprendizagem; e procedimentos que fazem conexões mentais entre o conteúdo a ser aprendido

e o conhecimento já existente.

No que tange às estratégias de aprendizagem comportamentais, Warr e Downing

(2000) as classificaram em: busca por ajuda interpessoal, busca por ajuda em material escrito

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e aplicação prática. Já as estratégias de aprendizagem autorregulatórias foram classificadas

em: controle emocional, controle da motivação e monitoramento da compreensão.

Quadro 3: Estratégias de aprendizagem

Categorias de

aprendizagem Estratégias Características

Cognitivas

Ensaio - Repetição mental do conteúdo aprendido; sem reflexão,

alteração ou adaptação.

Organização - Envolve pontos-chave que criam modelos mentais e

interrelacionam elementos a serem aprendidos.

Elaboração

- Examina conexões entre o conteúdo aprendido e o

conhecimento existente. Procura um melhor entendimento

através da mudança do conteúdo em outro contexto.

Comportamentais

Busca de ajuda

interpessoal

- Busca assistência de outras pessoas por meio de

comportamento proativo. Pede ajuda e informações, ao invés

de recebê-las passivamente.

Consulta a material

escrito

- Obtém informações de documentos, manuais ou sistemas,

ao invés de pessoas.

Aplicação prática

- Aumento do conhecimento através da realização prática de

uma atividade, ao invés de meramente cognitiva, interpessoal

ou de fonte escrita.

Autorregulatórias

Controle emocional - Procedimentos para reduzir a ansiedade e evitar falhas de

concentração.

Controle da

motivação - Procedimentos para manter a motivação e a atenção.

Monitoramento da

compreensão

- Procedimentos para avaliar se as metas de aprendizagem

estão sendo atingidas e modificar comportamento, se

necessário.

Fonte: Warr e Downing (2000, p. 312 e 313), adaptado pelo autor.

Mais recentemente, de acordo com Pantoja (2005), não obstante a existência de

diferentes definições, as estratégias de aprendizagem envolvem três importantes aspectos: a)

compreendem atividades de processamento de informações facilitadoras à aquisição, retenção,

recuperação e uso posterior de novas informações; b) englobam ainda comportamentos

empreendidos pelo indivíduo direcionados à aprendizagem e utilização de novos

conhecimentos e habilidades; e c) o uso das estratégias de aprendizagem pode contribuir tanto

para a aquisição, retenção e recuperação das novas informações como também para sua

aplicação em diferentes contextos.

Segundo Pantoja (2005), as pessoas podem aprender no próprio ambiente de trabalho,

por meio de orientações recebidas de superiores e colegas, de observações que fazem acerca

do comportamento dos outros no trabalho e da reflexão sobre as consequências do seu próprio

comportamento. Em decorrência, parecem úteis e oportunas as proposições teóricas e

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investigações empíricas sobre as relações existentes entre as características da organização e

as estratégias adotadas por seus empregados para aprender em seu dia a dia de trabalho.

Holman et al. (2001) validaram uma escala de estratégias de aprendizagem em um

contexto de trabalho, junto a funcionários do call center de um banco britânico. Seus

resultados encontraram as categorias relacionadas a seguir, sendo que as três primeiras

constituem estratégias de aprendizagem cognitivas, enquanto as três últimas estão

relacionadas às estratégias comportamentais – a) reprodução: repetição mental da informação,

sem reflexão sobre seu significado; b) reflexão intrínseca: reflexão sobre as relações

existentes entre as partes componentes do trabalho; c) reflexão extrínseca: reflexão sobre as

relações entre o trabalho e diferentes aspectos da organização; d) procura de ajuda

interpessoal: busca ativa do auxílio de outras pessoas; e) procura de ajuda em material escrito:

pesquisa e localização em documentos, manuais, livros e outras fontes não sociais; e f)

aplicação prática: tentativa de colocar em prática os próprios conhecimentos enquanto

aprende.

Pantoja (2004) validou no Brasil uma escala de trinta itens sobre estratégias de

aprendizagem, em uma amostra de profissionais de diversas ocupações. A autora encontrou

cinco categorias distintas de estratégias, agrupando em um único fator os itens relativos às

estratégias aplicação prática e reflexão intrínseca. Os demais fatores mantiveram semelhança

com aqueles originalmente encontrados por Holman et al. (2001).

Os resultados obtidos por Pantoja (2004) forneceram evidências de que existem

diferenças, em termos da configuração das estratégias de aprendizagem, em cada uma das

categorias profissionais consideradas no seu estudo. Além disso, mostraram o papel central

das estratégias comportamentais, mais especificamente da estratégia aplicação prática, nos

processos de aprendizagem informal, em ambientes organizacionais. Entre as principais

contribuições de seu estudo está o fato de as estratégias de aprendizagem no trabalho,

mapeadas em diferentes ocupações brasileiras, darem suporte à classificação de Warr e Allan

(1998) e aos resultados empíricos de Holman et al. (2001 apud PANTOJA, 2004).

Já Antonello (2011) apresenta doze categorias de aprendizagem utilizadas por gestores

no desenvolvimento de competências, conforme quadro 4:

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Quadro 4: Estratégias de aprendizagem

Categorias de

Aprendizagem Definição

Experiência anterior e

transferência

extraprofissional

- Transferência de aprendizagem de ocupação/cargo anterior e

aprendizagem fora do trabalho, por exemplo, trabalho voluntário.

Experenciar

- Experiências amplas (requerem múltiplas habilidades e compreensão

global) e experiências multifacetadas (requerem conexão entre diversas

áreas de conhecimento), atividades pioneiras e de inovação, experiências

traumáticas advindas de situações difíceis e processos de mudança

organizacional, por exemplo, reestruturação ou fusão.

Reflexão

- Reflexão sobre a ação (após atividade ou evento), reflexão na ação

(durante uma atividade ou evento), reflexão em grupo/coletiva,

questionamento e aprendizagem oriunda do fracasso.

Autoanálise - Referindo-se à autoanálise e à autoavaliação.

Observação-modelo

- Observação estruturada e crítica dos outros, observação informal/casual

dos outros, modelo de papel positivo, ou seja, tentar fazer algo como

alguém faz, modelo negativo de papel, isto é, esforço para não fazer como

alguém faz.

Feedback

- Feedback oriundo de sua equipe de trabalho, crítica de pares de trabalho,

avaliação de desempenho formal por pares/colegas/superiores, escuta

eficiente para o que é dito sobre o desempenho, feedback oriundo de

clientes e de outros profissionais e leitura da linguagem do corpo (como as

pessoas reagem a você).

Mudança de perspectiva

- Mudança de papel, transferência/troca de trabalho, trabalhar com pessoas

de áreas diferentes, trabalhar com diferenças culturais e inspiração súbita ou

insight.

Mentoria (mentoring) e

tutoria (coaching)

- Ser assistido por um mentor/tutor – mentor (orientador/conselheiro) e tutor

(treinador, que instrui e demonstra).

Interação e colaboração

- Trabalho em grupo/equipe, colaboração em projetos, aprendizagem

oriunda de outros profissionais da mesma área, aprendizagem a partir de

clientes, trabalho em equipes multidisciplinares e rede (networking) com

outros profissionais da mesma área.

Cursos e treinamentos

- Treinamento no trabalho (on the job), rotação de funções (job rotation) e

programa trainee, intensa aprendizagem/intenso treinamento (muito além do

mínimo para um desempenho competente), multiplicação de

treinamentos/cursos.

Informal

- Informal no trabalho (baseada na prática – aprendizagem informal e

comunidade de prática) e informal (em cursos de mestrado e

especialização).

Aprendizagem pela

articulação entre teoria

e prática

- Escrever artigos/relatórios, apresentar conferências,

justificar/defender/explanar ações, trabalhos do curso, simulação durante

curso, trabalho final e dissertação e especialização/mestrado articulados à

aprendizagem baseada no trabalho.

Fonte: Antonello (2011), adaptado pelo autor.

Conforme pôde-se observar nesta subseção, Warr e Downing (2000) classificaram as

estratégias de aprendizagem em três grandes categorias: cognitivas, comportamentais e

autorregulatórias. Holman et al. (2001), por sua vez, validaram uma escala de estratégias de

aprendizagem composta por seis categorias: reprodução, reflexão intrínseca, reflexão

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extrínseca, procura de ajuda interpessoal, procura de ajuda em material escrito e aplicação

prática. Já Pantoja (2004) identificou cinco categorias distintas de estratégias, agrupando em

um único fator os itens relativos às estratégias aplicação prática e reflexão intrínseca. Os

demais fatores mantiveram semelhança com aqueles originalmente encontrados por Holman

et al. (2001). E, finalmente, Antonello (2011) chegou a doze categorias de estratégias de

aprendizagem utilizadas por gerentes, com base nos trabalhos anteriores aqui citados:

experiência anterior e transferência extraprofissional, experenciar, reflexão, autoanálise,

observação-modelo, feedback, mudança de perspectiva, mentoria e tutoria, interação e

colaboração, cursos e treinamentos, aprendizagem informal, aprendizagem pela articulação

entre teoria e prática.

Para o presente estudo, as classificações das estratégias de aprendizagem informal no

trabalho desenvolvidas por Antonello (2011) serão utilizadas para fazer a relação com o

desenvolvimento de competências gerenciais que são listadas neste trabalho, pois, em seu

estudo, Antonello (2011) é a referência teórica mais atual neste campo do conhecimento.

Apesar das investigações empíricas citadas anteriormente, parecem ser necessários

mais estudos sobre estratégias de aprendizagem, sobretudo em contextos de trabalho,

conforme sugerem Warr e Downing (2000).

Examinados os conceitos referentes à aprendizagem, nas próximas subseções serão

abordados os temas relacionados à competência profissional.

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2.6 Competência profissional

O conceito de competência não é recente. Na verdade, constitui uma ideia

consideravelmente antiga, porém (re)conceituada e (re)valorizada no presente em decorrência

de fatores como os processos de reestruturação produtiva em curso, a intensificação das

descontinuidades e imprevisibilidades das situações econômicas, organizacionais e de

mercado e as sensíveis mudanças nas características do mercado de trabalho, resultantes, em

especial, dos processos de globalização (FLEURY; FLEURY, 2001).

Segundo Sandberg (2000) e Garavan e McGuire (2001), as definições de competências

indicam três abordagens específicas: orientada para o indivíduo; orientada para o

cargo/função; multidimensional. Já, conforme Civelli (1997), a abordagem de competência

baseada no desenvolvimento de recursos humanos não está circunscrita a uma definição,

identificação ou classificação. Segundo Garavan e McGuire (2001, p.74), também não está

vinculada a conhecimento, mas é “uma combinação de saber e poder fazer”. Segundo Civelli

(1997), existem, no mínimo, três grandes abordagens com grau alto de generalização que

podem ser categorizadas como correntes norte-americana, francesa e inglesa.

No que tange à literatura norte-americana, autores como McClelland e Dailey (1972) e

Boyatzis (1982) sublinham que competência significa o conjunto de qualificações que um

indivíduo detém para executar trabalho com nível superior de desempenho. De acordo com

Dutra et al. (1998), após a década de 1980, outros autores, predominantemente europeus,

como por exemplo, Le Boterf (1999) e Zarifian (2001), contestaram esse conceito de

competência, associando-o às realizações das pessoas, àquilo que elas proveem, produzem ou

entregam. Este segundo grupo percebe que o fato de uma pessoa possuir as qualificações

necessárias para determinado trabalho não garante que elas sejam realmente utilizadas e,

consequentemente, que se realize tal atividade produtiva.

Le Boterf (1999), um dos principais pesquisadores da corrente francesa, afirma que a

competência é constituída pela integração do saber (savoir), saber fazer (savoir-faire) e saber

agir (savoir-agir), ou seja:

A competência é a capacidade de integrar os saberes diversos e heterogêneos

para finalizá-los sobre a realização das atividades [...] não são transferíveis,

mas sim temos de criar condições favoráveis para a construção pessoal de

competências. A definição abrange um saber combinatório, em que o sujeito

é o centro da competência. [...] em que ele faz por meio da combinação e

mobilização de um duplo conjunto de recursos: os incorporados

(conhecimentos, experiências, qualidades pessoais, vivência etc.) e a rede de

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recursos de seu ambiente (redes profissionais, redes documentais, banco de

dados etc.) (LE BOTERF, 1999, p. 21).

No Brasil, seguindo o modelo francês, Fleury e Fleury (2001, p. 21) definem

competência como:

[...] um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar,

integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor

econômico à organização e valor social ao indivíduo.

Fleury e Fleury (2001, p. 24), propõem três grandes blocos de competências. Num

deles, denominado competências de negócio, estão presentes aquelas “[...] relacionadas à

compreensão do negócio [...]” em função de seus objetivos, do mercado, da clientela, dos

competidores, assim como do contexto político e social mais amplo. No segundo bloco,

aparecem as competências técnico-profissionais características de determinada ocupação,

atividade ou operação. No terceiro são colocadas as competências sociais entendidas como

aquelas necessárias “[...] para interagir com as pessoas [...]”.

Zarifian (2001), outro expoente da corrente francesa, ao discutir a relação das

competências com os sistemas de formação, classifica as competências adquiridas no

processo educativo em “competências de fundo” ou “competências recursos”. Considera que

o termo competências utilizado nos sistemas formativos não tem exatamente o mesmo sentido

quando de seu emprego pela área empresarial, pois as ações de formação não são marcadas

pela relação salarial nem podem se comprometer em garantir uma preparação que esteja

pautada em responsabilidades, controles e sanções que caracterizam os sistemas produtivos.

Em relação à corrente inglesa, é possível identificar um modelo que a princípio parece

reunir uma série de elementos importantes quando se quer refletir sobre a noção de

competências no âmbito da educação superior. Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005)

procuram integrar várias abordagens, que privilegiam conhecimento tácito e sua aplicação,

conhecimento acadêmico-profissional, padrões profissionais, atributos pessoais, controle,

desenvolvimento e mediação de outras competências.

Segundo esses autores, tal modelo leva em consideração aspectos processuais e

dinâmicos, assim como individuais, coletivos e sociais, além de atentar para macrorresultados

(da atividade profissional), microrresultados (de atividades específicas) e resultados parciais

(de uma atividade específica). O núcleo do modelo é constituído por quatro competências

centrais (cognitiva, funcional, comportamental ou pessoal, ética) compostas por grupos de

habilidades. Sobre essas competências estariam as metacompetências e, permeando todas elas,

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as transcompetências, que poderiam ser assim exemplificadas: comunicação, criatividade,

solução de problemas, aprendizagem e autodesenvolvimento, agilidade mental, análise e

reflexão.

O quadro 5 apresenta as definições de competências, comparando as três grandes

abordagens da literatura: a corrente norte-americana, a corrente francesa e a corrente inglesa,

a partir de Civelli (1997):

Quadro 5: Definições de competências

Correntes Principais

Autores Definição

Norte-

americana

McClelland e

Dailey (1972) e

Boyatzis (1982)

Competência é o conjunto de qualificações que um indivíduo detém

para executar trabalho com nível superior de desempenho.

Francesa

Le Boterf (1999)

e Zarifian

(2001)

Competência é constituída pela integração do saber, saber fazer e

saber agir. As ações de formação não são marcadas pela relação

salarial nem podem se comprometer em garantir uma preparação

que esteja pautada em responsabilidades, controles e sanções que

caracterizam os sistemas produtivos.

Inglesa

Cheetham e

Chivers (1996,

1998, 2005)

Competência é conhecimento tácito e sua aplicação, conhecimento

acadêmico-profissional, padrões profissionais, atributos pessoais,

controle, desenvolvimento e mediação de outras competências.

Leva em consideração aspectos processuais e dinâmicos, assim

como individuais, coletivos e sociais, além de atentar para

macrorresultados (da atividade profissional), microrresultados (de

atividades específicas) e resultados parciais (de uma atividade

específica).

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Civelli (1997).

A próxima subseção é reservada para o aprofundamento dos modelos de competências

propostos por Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), uma vez que tais modelos serão

utilizados neste estudo.

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2.7 Os modelos de competências propostos por Cheetham e Chivers

Os modelos de competências gerenciais propostos por Cheetham e Chivers (1996,

1998, 2005) serão abordados e aprofundados nesta subseção, por serem metodologicamente

úteis para fins da pesquisa proposta nesta dissertação.

Desde 1994, Cheetham e Chivers investigam como profissionais, de diferentes áreas

do conhecimento, aprendem e aprimoram suas competências profissionais. Cheetham e

Chivers (1996, 1998, 2005) apresentaram, então, um modelo de competências. Para sua

elaboração, utilizaram ampla gama de modelos existentes, protocolos para descrição de

competências, extensa literatura sobre educação e desenvolvimento profissional e um estudo

empírico que envolveu 80 pessoas de 20 diferentes profissões.

Segundo Cheetham e Chivers (1996), as visões existentes, isoladamente, não

forneciam a base para a explicação do significado de competência com a abrangência

requerida. Dessa maneira, integraram em seu modelo várias concepções, sendo as principais:

a abordagem técnico-racional; a abordagem profissional-reflexiva; a abordagem de

competência funcional; a abordagem de competência pessoal; as abordagens de ética;

metacompetência; e transcompetências.

A abordagem técnico-racional considera que o profissional atua com base nos

conhecimentos especializados ou técnicos, adquiridos pela aprendizagem formal. A

fundamentação para a prática profissional está em sólidos conhecimentos teóricos, que dão

origem à competência prática. A abordagem técnico-racional concede pouca ênfase às

habilidades práticas, à aprendizagem baseada na experiência ou àquela obtida após a

formação educacional ou acadêmica, não considerando a aprendizagem informal no processo

de desenvolvimento.

A abordagem profissional-reflexiva sofreu influências fundamentais do trabalho

seminal de Schön (1983, 1987) ao assumir que a competência crucial para todas as profissões

é a reflexão. Ela é importante para o desenvolvimento inicial, para a prática do dia a dia e para

a melhoria contínua. Os tipos de reflexão incluem a reflexão em ação (durante uma atividade)

e reflexão sobre ação (após uma atividade). A abordagem profissional-reflexiva substituiu a

visão tradicional de que os profissionais resolvem problemas usando o conhecimento técnico

especializado e adquirido pela aprendizagem formal.

A abordagem funcional refere-se ao modelo de competência baseado nos padrões

profissionais definidos pelo governo da Grã-Bretanha para todos os tipos de ocupações,

inclusive as gerenciais, que são usados no sistema de Qualificações Vocacionais Nacionais

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(NVQs). A abordagem de padrões profissionais está fortemente baseada na noção de

competência (JESSUP, 1991). A competência é identificada nos resultados do trabalho e seu

foco está nas tarefas a serem executadas, no aprimoramento de habilidades genéricas

fundamentais e habilidades específicas do trabalho.

A abordagem comportamental sofreu influência do trabalho sobre competência

comportamental desenvolvido por pesquisadores norte-americanos, incluindo Boyatzis

(1982), Klemp (1980) e Schroder (1989). Diferentemente da abordagem de competência

funcional, vários pesquisadores dos Estados Unidos, particularmente no campo da

Administração, focalizam nas competências pessoais ou comportamentais, tais como: a

autoconfiança, o controle emocional e as habilidades interpessoais.

Outras dimensões foram identificadas como integrantes da competência profissional.

A abordagem de ética e valores é defendida por vários autores que apoiam sua contribuição na

competência profissional, sendo os principais Ozar (1993) e Eraut et al. (1994). Eraut et al.

(1994 apud CHEETHAM; CHIVERS, 1996) identificaram quatro níveis de valores que

fundamentam as questões éticas encontradas no trabalho, dando respaldo às decisões sobre

cursos de ação apropriados, à resolução de conflitos e ao comportamento antiético de outros

indivíduos: valores legais (operam dentro da lei e de outros sistemas obrigatórios); valores

profissionais (relações com clientes e outros profissionais); valores organizacionais (relações

com colegas, pessoal, clientes e público em geral) e valores pessoais (convicções individuais e

comportamentos).

As metacompetências (metaqualidades ou meta-habilidades) podem ampliar e reforçar

outras competências ou podem ser importantes para a sua aquisição. São exemplos: a

capacidade analítica, a criatividade e a habilidade de aprendizagem equilibrada (aprender a

aprender). Da mesma maneira, as transcompetências perpassam outras competências por

serem genéricas e comuns, tais como a comunicação e a agilidade mental. As

transcompetências correspondem a um tipo de competência que se integra a outras, mediando

sua expressão, podendo ser determinantes no seu desenvolvimento ou aprendizagem.

O modelo de Cheetham e Chivers, apresentado em 1996 e revisto em 1998, incorpora

os componentes advindos das várias abordagens relatadas, como pode ser visto na figura 4:

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Figura 4: Modelo revisado de competência profissional de Cheetham e Chivers

Fonte: Cheetham e Chivers (1998, p. 275), adaptado pelo autor.

O modelo gerado por Cheetham e Chivers (1998) apresenta uma estrutura de quatro

componentes essenciais: competência de conhecimento ou cognitiva; competência funcional;

competência pessoal ou comportamental e competência de valores/ética.

Cada componente, por sua vez, é composto por subcomponentes. Para o componente

competência de conhecimento ou cognitiva, o subcomponente técnico/teórico especializado

diz respeito aos conhecimentos fundamentais da profissão. O conhecimento tácito-prático

refere-se às habilidades ou competências profissionais que caracterizam a atuação de uma

pessoa. O conhecimento procedimental compreende o “o que”, “quando”, “como” e “onde”.

Já o subcomponente contextual é o conhecimento da organização, do setor de atuação, entre

outros.

Em relação ao componente competência funcional, as funções específicas são as

múltiplas tarefas relacionadas a uma profissão particular. O subcomponente

organizacional/processo/gerenciamento refere-se às tarefas de natureza genérica, como por

exemplo: planejamento, delegação e avaliação. O mental, às habilidades que envolvem

atividades primariamente mentais, como escrita, leitura ou aritmética. E o subcomponente

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psicomotor refere-se às habilidades de natureza física, como por exemplo: destreza manual,

teclado, entre outras.

Para o componente competência pessoal ou comportamental, o subcomponente social

ou vocacional diz respeito aos comportamentos que se relacionam ao desempenho do corpo

principal de tarefas profissionais, por exemplo, autoconfiança, centralização em tarefas, força.

Por outro lado, o subcomponente intraprofissional está ligado aos comportamentos referentes

à interação com outros profissionais, à aderência às normas profissionais, entre outros

aspectos.

E, por fim, o componente competência de valores/ética está dividido em dois

subcomponentes: o pessoal e o profissional. O subcomponente pessoal está ligado a aspectos

morais e preceitos religiosos, enquanto que o subcomponente profissional diz respeito à

aderência a códigos profissionais, à atenção aos direitos dos clientes, ao meio-ambiente, entre

outros.

Permeando essas competências centrais estão as metacompetências e

transcompetências propostas pelos autores: comunicação, autodesenvolvimento, agilidade

mental, capacidade de análise, criatividade e solução de problemas. Como visto

anteriormente, as metacompetências influenciam o monitoramento e desenvolvimento de

outras competências e as transcompetências são capazes de incrementar ou mediar a

competência em qualquer ou todas as categorias de componente.

A dinâmica do modelo, a partir da identificação das metacompetências, juntamente

com os quatro componentes centrais e seus subcomponentes, interage para produzir uma

gama de resultados: macrorresultados (os resultados abrangentes e globais da atividade

profissional); microrresultados (os resultados de atividades mais específicas); e resultados

parciais (os resultados de uma atividade parcialmente concluída).

É possível observar e testar a competência profissional por parte de um indivíduo

através desses resultados. A autopercepção da competência foi considerada como sendo

alimentada por feedback de outras pessoas. A reflexão é considerada por Cheetham e Chivers

a “super-metacompetência”. A reflexão pode alimentar quaisquer dos componentes centrais,

seus vários subcomponentes e as metacompetências, completando assim o ciclo de melhoria

contínua.

Segundo Cheetham e Chivers (2005), além de refletir sobre a ação depois de sua

ocorrência, um profissional também pode refletir durante a atividade (reflexão em ação).

Porém, a reflexão pode ocorrer antes de um evento, desencadeando assim o modelo até (ou

antes de) o ponto de reflexão. A reflexão sobre a ação passada ou em andamento pode

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conduzir a alguma modificação do comportamento desejável para a melhoria da competência

profissional.

Os quatros componentes centrais podem ser separados conceitualmente, mas na

prática estão relacionados em vários aspectos. Também há interrelações entre diferentes

competências dentro do mesmo componente central. Por exemplo, para realizar uma

competência funcional particular, podem ser necessárias certas competências pessoais.

Relevância similar pode ser estabelecida para cada um dos quatro componentes centrais, mas

estes podem variar na importância de acordo com as profissões, assim como as

metacompetências.

Cheetham e Chivers (2005) destacam ainda a importância da personalidade e da

motivação no processo de aquisição das competências. Diferentes características de

personalidade podem ajudar ou impedir o desempenho de papéis particulares do profissional.

A motivação pode afetar ambos, o desempenho no papel de trabalho e a vontade de

desenvolver ou melhorar suas competências.

Embora o modelo de competências profissionais proposto por Cheetham e Chivers

(1998) não tenha sido desenvolvido especificamente para as competências gerenciais, tal

modelo será usado como um dos norteadores na identificação das competências desenvolvidas

pelos gerentes das instituições financeiras pública e privada através da utilização de

determinadas estratégias de aprendizagem, que também serão identificadas no presente

estudo.

A classificação das competências centrais do modelo é extensiva ao exercício do

gerenciamento, pois a atividade gerencial pode ser verificada nas dimensões organizacional,

autogestão e social/comportamental.

Na dimensão organizacional estão as questões referentes ao aprimoramento de

negócios, que exigem as competências relativas a conhecimento, segundo o modelo de

Cheetham e Chivers (1998). A dimensão organizacional também se consolida por meio das

competências funcionais, como por exemplo, definição de estratégias, processos de gestão,

mudança organizacional e transferência de tecnologia. As competências funcionais abrangem

a essência da gestão, pois elas possibilitam a realização de planejamento de atividades,

alocação de recursos, análise de custos e tomadas de decisão.

Na dimensão autogestão, o gerente deve possuir competências que lhe possibilitem a

compreensão e o desenvolvimento do gerente na relação consigo mesmo, com seus

subordinados, com outros gerentes, com fornecedores e outros integrantes do seu meio

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profissional. Os componentes de competência pessoal ou comportamental do modelo de

Cheetham e Chivers (1998) estão, dessa forma, aderentes à dimensão autogestão.

E, por fim, na dimensão social/comportamental estão as competências éticas do

modelo, sob a ótica pessoal e profissional, que são fundamentais nas práticas dos gestores. A

figura do gerente é central, pois é o principal ator organizacional responsável pelas ações

realizadas nas empresas e, principalmente, por sua capacidade de imprimir ao ambiente

organizacional novo posicionamento ético.

A partir da revisão da literatura sobre competências, identifica-se um ponto comum

entre os autores, que é a derivação das competências com base no conjunto de conhecimentos,

habilidades e atitudes esperadas das pessoas. Esse tripé será tratado com mais profundidade

na próxima subseção.

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50

2.8 Dimensões da competência e competências gerenciais

Diversos autores (BRUNO-FARIA; BRANDÃO, 2003; CARBONE et al., 2005;

DURAND, 2000; FLEURY; FLEURY, 2001; GONCZI, 1999; entre outros) consideram

conhecimentos, habilidades e atitudes (CHAs) como dimensões ou elementos constitutivos da

competência.

Segundo Durand (2000), o conhecimento corresponde a uma série de informações

assimiladas e estruturadas pelo indivíduo, as quais lhe permitem “entender o mundo”, é o

saber que o indivíduo acumulou ao longo da vida. Para autores de teorias instrucionais, como

por exemplo, Bloom, Engelhart, Furst, Hill e Krathwohl (1979) e Gagné, Briggs e Wager

(1988), o conhecimento representa algo relacionado à lembrança de ideias ou fenômenos, ou

seja, algo armazenado na memória do indivíduo por meio de processos psicológicos de

aquisição e interpretação de informações.

A habilidade trata sobre o saber como fazer algo (GAGNÉ et al., 1988). É a

capacidade da pessoa de fazer uso produtivo do conhecimento que detém, de instaurar

conhecimentos armazenados em sua memória e utilizá-los em uma ação (DURAND, 2000).

De acordo com Bloom et al. (1979), uma definição comum de habilidade é a de que o

indivíduo pode buscar, em suas experiências anteriores, conhecimentos e técnicas apropriadas

para examinar e solucionar um problema qualquer. Durand (2000) explica que a habilidade

refere-se ao saber como fazer algo em determinado processo (know-how), enquanto o

conhecimento diz respeito ao saber fazer o que e por que fazer (know-what e know-why), ou

seja, à compreensão do princípio teórico que rege esse processo e seu propósito.

A atitude pode ser definida como uma predisposição do indivíduo para reagir –

positiva ou negativamente – a um estímulo (BOWDITCH; BUONO, 1992). A atitude passou

a ser valiosa para a organização, pois reflete a disposição do indivíduo em assumir

responsabilidades diante de situações complexas e refletir sistematicamente sobre o trabalho

(ZARIFIAN, 1996) ou adaptar-se rapidamente em ambientes instáveis, mantendo senso de

orientação e de aprendizagem contínua (SPARROW; BOGNANNO, 1994).

Durand (2000) chamou de “querer fazer”, isto é, constitui uma propriedade

relacionada ao desejo, à disposição, à intenção, que influencia a tendência de a pessoa adotar

determinado comportamento. Essas dimensões convergem no sentido de que, falar em

competências é se referir ao conjunto dos conhecimentos, habilidades e atitudes aplicados ou

demonstrados pelos indivíduos na execução de atividades ou tarefas de interesses da

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organização, contribuindo com a definição de competência por Durand (2000) e Bruno-Faria

e Brandão (2003).

Segundo Bitencourt (2005), os elementos que se destacam no desenvolvimento de

competências podem ser resumidos por meio da verificação dos seguintes fatores: as

competências estão associadas ao desenvolvimento de conceitos, habilidades e atitudes;

demandam capacitação e se traduzem na capacidade de mobilizar recursos em práticas de

trabalho; implicam em articular recursos e servem de pilar para a busca de melhores

desempenhos; produzem questionamento constante e desencadeiam um processo de

aprendizagem individual, na qual a responsabilidade maior deve ser atribuída ao próprio

indivíduo (autodesenvolvimento); são transferidas e consolidadas por meio do relacionamento

com outras pessoas (interação). Cada um desses fatores pode estar combinado com os demais.

Determinadas práticas organizacionais podem incentivar o desenvolvimento de

competências, abrangendo todos esses aspectos ou privilegiando alguns deles sobre os

restantes. O fato de a organização estar imersa em uma lógica por competências sugere que:

missão, visão, valores e cultura são dinâmicos e refletem um posicionamento da empresa no

mercado; a competitividade da organização depende do potencial de desenvolvimento de

processos e pessoas; os conhecimentos, habilidades e capacidades constituem-se requisitos

para que a empresa tenha a sua vantagem competitiva; a aprendizagem coletiva e

organizacional alavancam os processos de mudança (BITENCOURT; MOURA, 2006).

As competências gerenciais são uma categoria importante para o presente estudo,

principalmente por causa do pressuposto de que o desempenho do gerente exerce influência

sobre as competências ou o desempenho de seus subordinados e, consequentemente, sobre os

resultados organizacionais. Esta categoria de competências tem despertado interesse por parte

de teóricos, organizações e pesquisadores (BITENCOURT, 2004; ODERICH, 2005;

SPENCER; SPENCER, 1993; SANTOS, 2001, entre outros). Nonaka e Takeuchi (1997)

tratam o conhecimento baseado em aspectos tácitos e explícitos, ou seja, destacam a

necessidade de se equilibrar práticas formais e informais para o desenvolvimento da

organização e de competências gerenciais.

Maximiano (2002) classifica as habilidades necessárias a um profissional de gestão em

três grupos principais. Para ele, um profissional que atua com as funções de gerenciamento

deve desenvolver a habilidade conceitual, caracterizada como a capacidade cognitiva de

entender e visualizar a organização como um sistema e as interrelações existentes entre as

suas partes.

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Outro aspecto apresentado por Maximiano (2002) refere-se à habilidade humana, ou

seja, à capacidade do profissional de trabalhar com e entre as outras pessoas de maneira

eficaz, como membros de um grupo. Essa habilidade trata, dentre outras coisas, da capacidade

de comunicação, liderança, motivação e de trabalho em equipe (ou times) por parte dos

gestores organizacionais.

E, por fim, a habilidade técnica, que se refere ao entendimento e proficiência no

desempenho de tarefas específicas. Ela normalmente inclui o domínio dos métodos, das

técnicas e dos equipamentos que envolvem funções específicas realizadas pela empresa e os

conhecimentos especializados, capacidade analítica e o uso competente de instrumentos e

técnicas de resolução de problemas em determinada área (MAXIMIANO, 2002).

Para Le Boterf (1999), as competências gerenciais necessárias para administrar uma

situação profissional complexa são: a) saber agir com pertinência: o profissional deve saber ir

além do prescrito, agir em situações imprevistas, tomar iniciativas e decisões, negociar, fazer

escolhas, aceitar riscos, reagir às eventualidades e aos problemas, inovar o cotidiano e assumir

responsabilidades, saber agir e antecipar incidentes; b) saber mobilizar em um contexto: a

competência requer saber agir em situação, ou seja, dominar uma técnica e colocá-la em

prática num contexto, que pode ser familiar ou de competitividade e de estresse; c) saber

combinar: diante de um problema para resolver ou de um projeto para realizar, deve-se

construir uma arquitetura cognitiva, particular da competência, em uma combinação de

múltiplos ingredientes; d) saber transpor: o profissional não se limita a repetir, ele sabe

transpor, ou seja, utiliza novos conhecimentos e habilidades e coloca em prática em contextos

distintos. Aprendendo a reconhecer problemas de acordo com o contexto, o profissional será

capaz de aprender e de aprender a aprender, isto é, ele saberá não somente resolver um

problema em particular, mas várias categorias de problemas e de indicadores de contexto; e)

saber aprender e saber aprender a aprender: o profissional faz de sua prática profissional uma

oportunidade de criação do saber.

Le Boterf (1999) refere-se ao aprendizado de circuito duplo (double loop learning) em

que o indivíduo corrige não só a ação, mas a teoria, a lógica subjacente e as premissas que

estão na base de suas estratégias de ação; f) saber se engajar: o profissional engajado é capaz

de tomar iniciativas e fazer propostas, ele avaliará diferentemente cada situação em função da

coragem que tem para enfrentá-las e, consequentemente, os recursos que está pronto a

investir.

Os modelos de competências gerenciais são propostas que apresentam um amplo

escopo de reflexões acerca das necessidades de planejamento, desenvolvimento e

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acompanhamento do perfil e formação gerencial a partir da realidade individual e estratégia

competitiva de cada empresa, fato esse que caracteriza uma visão processual

(desenvolvimento de competência), diferenciando-se de construtos que priorizam a listagem

de atributos que por si só não agregam valor à organização ou às pessoas. A aprendizagem

organizacional apresenta-se como uma estratégia que busca aproximar e integrar a

competência essencial (core competence) e gerencial (BITENCOURT, 2004).

A abordagem das competências gerenciais centrada exclusivamente em atributos

privilegia um modelo genérico, que pode ser aplicado a qualquer organização, apesar das

diferenças culturais. A mensuração de atributos é priorizada em detrimento de alternativas

para o desenvolvimento por competências (BITENCOURT; MOURA, 2006).

Em uma pesquisa desenvolvida por Sant’anna, Moraes e Kilimnik (2002) foram

selecionadas as quinze competências gerenciais mais mencionadas em trabalhos acadêmicos.

São elas: domínio de novos conhecimentos técnicos associados ao exercício do cargo ou

função ocupada; capacidade de aprender rapidamente novos conceitos e tecnologia;

criatividade; capacidade de inovação; capacidade de comunicação; capacidade de

relacionamento interpessoal; capacidade de trabalhar em equipes; autocontrole emocional;

visão de mundo ampla e global; capacidade de lidar com situações novas e inusitadas;

capacidade de lidar com incertezas e ambiguidades; iniciativa de ação e decisão; capacidade

de comprometer-se com os objetivos da organização; capacidade de gerar resultados efetivos;

e capacidade empreendedora. Essa seleção consegue englobar as principais exigências para a

função gerencial nas organizações, independentemente da área de atuação da empresa.

Para Ruas (2001, p. 48), “as competências gerenciais são importantes na mobilização

das competências organizacionais essenciais, das competências funcionais dos grupos e das

competências individuais dos empregados”. Segundo Ruas (2001), as competências gerenciais

são responsáveis por colocar as propostas e projetos organizacionais e funcionais em ação.

O quadro 6 apresenta as competências gerenciais descritas pelos autores citados neste

trabalho:

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Quadro 6: Competências gerenciais C

om

pet

ênci

as

Ger

enci

ais

Autores

Le Boterf

(1999) Ruas (2001)

Maximiano

(2002)

Sant’anna; Moraes;

Kilimnik (2002)

Bitencourt

(2004)

- Saber agir

com

pertinência;

- Saber

mobilizar em

um contexto;

- Saber

combinar;

- Saber

transpor;

- Saber

aprender e

aprender a

aprender;

- Saber se

engajar.

- As competências

gerenciais

mobilizam as

competências

organizacionais

essenciais,

funcionais dos

grupos e

individuais dos

empregados;

- As competências

gerenciais são

responsáveis por

colocar as

propostas e

projetos

organizacionais e

funcionais em

ação.

- Habilidade

conceitual;

- Habilidade

humana;

- Habilidade

técnica.

- Domínio de novos

conhecimentos

técnicos;

- Capacidade de

aprender;

- Criatividade;

- Capacidade de

inovação;

- Capacidade de

comunicação;

- Capacidade de

relacionamento

interpessoal;

- Capacidade de

trabalhar em equipes;

- Autocontrole

emocional;

- Visão de mundo

ampla e global;

- Capacidade de lidar

com situações novas e

inusitadas;

- Capacidade de lidar

com incertezas e

ambiguidades;

- Iniciativa de ação e

decisão;

- Capacidade de

comprometer-se com

os objetivos da

organização;

- Capacidade de gerar

resultados efetivos;

- Capacidade

empreendedora.

- Planejamento,

desenvolvimento

e

acompanhamento

do perfil e

formação

gerencial a partir

da realidade

individual e

estratégia

competitiva de

cada empresa;

- Visão

processual,

diferenciando-se

de construtos que

priorizam a

listagem de

atributos que por

si só não agregam

valor à

organização ou às

pessoas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

De acordo com o quadro 6, é possível observar algumas semelhanças conceituais entre

os autores citados, como por exemplo a competência de entender e visualizar a organização

como um sistema e as interrelações existentes entre as suas partes, mobilizando competências

organizacionais essenciais e contribuindo para a estratégia competitiva da empresa.

Além disso, a competência técnica, que é o entendimento e proficiência no

desempenho de tarefas particulares, é citada por todos os autores: Le Boterf (1999) enfatiza o

saber agir com pertinência; Ruas (2001) observa as competências organizacionais como

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mobilizadoras das competências funcionais; Maximiano (2002) usa o termo habilidade

técnica; Sant’anna, Moraes e Kilimnik (2002) citam o domínio de novos conhecimentos

técnicos; e, finalmente, Bitencourt (2004) afirma que a formação gerencial deve levar em

conta a realidade individual e organizacional. A habilidade humana, que é a capacidade de um

profissional trabalhar em equipe, é também considerada uma competência gerencial

fundamental para os autores citados.

Considerando que a literatura revisada sugere as relações entre características

individuais, o uso de estratégias de aprendizagem e a expressão de competências no trabalho,

confirma-se a importância deste estudo.

Nas próximas duas subseções deste trabalho serão abordadas as relações existentes

entre os processos de aprendizagem e o desenvolvimento de competências profissionais.

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2.9 O desenvolvimento de competências como um processo contínuo de aprendizagem

Freitas e Brandão (2006), Gonczi (1999), Sonnentag et al. (2004), entre outros autores,

afirmam que a competência está associada à noção de aprendizagem, pois ela resulta da

aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes em processos de aprendizagem. Freitas e

Brandão (2006) comentam que o desempenho do indivíduo no trabalho representa uma

expressão de suas competências, ou seja, uma manifestação daquilo que o indivíduo aprendeu

ao longo de sua vida. Portanto, o processo de aquisição de competências pode ser

compreendido à luz da aprendizagem.

Como a aprendizagem implica em mudar conhecimentos, habilidades e atitudes, pode,

consequentemente, promover o desenvolvimento de competências profissionais. Uma nova

competência revela, inexoravelmente, que o indivíduo aprendeu algo novo porque alterou sua

forma de atuar (FREITAS; BRANDÃO, 2006). Os conteúdos aprendidos pelo indivíduo

(conhecimentos, habilidades e atitudes) são elementos constitutivos da sua competência.

O desenvolvimento de competências é, portanto, um processo contínuo de

aprendizagem, realizado a cada nova ação, conhecimento empregado ou qualquer outro

elemento que o indivíduo faz uso na resolução de problemas. Para Zarifian (2001), esse

processo propicia a aprendizagem contínua dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes

necessárias à resolução de problemas.

Segundo Ruas (2001), para que o desenvolvimento de competências aconteça, é

necessário colocar em ação um repertório de recursos (conhecimentos, capacidades

cognitivas, capacidades relacionais etc.) que são colocados à prova em situações

desconhecidas ou desafiadoras, de problemas mais complexos, incidentes etc. Ruas (2001)

também afirma que os programas de treinamento/formação utilizados pelas organizações

desenvolvem o potencial para a construção das novas competências, mas não as competências

em si.

Le Boterf (2003) ressalta que a competência não é algo concluído – ela pressupõe a

construção. Dessa forma, o desenvolvimento de competências é um processo permanente de

construção e reconstrução de conhecimentos e habilidades, não se tratando de mera repetição

de soluções passadas, mas de adequação da competência de acordo com a situação

momentânea. Consequentemente, é na ação que o indivíduo adquire novos saberes a

aperfeiçoa seu saber fazer em uma nova circunstância.

De acordo com Cheetham e Chivers (2001), a noção de aprendizagem interage com a

noção de competência individual. Para os autores, a aprendizagem é a forma como as pessoas

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absorvem informações do ambiente e as ordenam mentalmente, aplicando tais informações às

atividades cotidianas. Cheetham e Chivers (2001) afirmam que a aprendizagem de

competências pode acontecer através de métodos formais ou informais, ressaltando a

importância da aprendizagem informal para a maturação profissional.

De acordo com uma pesquisa realizada por Paloniemi (2006), na qual profissionais de

diferentes áreas foram entrevistados, o desenvolvimento de competências foi relacionado,

fundamentalmente, com a aprendizagem no trabalho, através do compartilhamento de

competências com o grupo, treinamentos formais e on-the-job e conhecimentos e habilidades

desenvolvidos externamente ao trabalho. Para Paloniemi (2006), a participação social no

trabalho como elemento-chave para o aprendizado pela experiência corrobora o

desenvolvimento de competências profissionais.

Para Bitencourt (2005, p. 134), “o desenvolvimento de competências gerenciais

possibilita que as práticas organizacionais sejam direcionadas para uma gestão mais efetiva e

compatível à estratégia competitiva da empresa”. Ainda segundo Bitencourt (2005, p. 137):

O desenvolvimento de competências é um processo contínuo e articulado de

formação e desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes no

qual o indivíduo é responsável pela construção e consolidação de suas

competências (autodesenvolvimento) a partir da interação com outras

pessoas no ambiente de trabalho, familiar e/ou em grupos sociais (escopo

ampliado), tendo em vista o aprimoramento de sua capacitação, podendo,

dessa forma, adicionar valor às atividades da organização e da sociedade e a

si próprio (autorrealização).

Para Casey (1999 apud Brandão, 2009), como o desenvolvimento de competências

ocorre por meio da aprendizagem, criar novas formas de prover oportunidades e experiências

de aprendizagem constitui grande desafio paras as organizações. A complexidade do ambiente

organizacional faz surgir diversificadas demandas de competências, aumentando a distância

entre o que as pessoas sabem e o que elas precisam aprender (POZO, 1999 apud BRANDÃO,

2009).

É relevante para as organizações, então, que o desenvolvimento de sistemas

educacionais não esteja apenas alinhado à sua estratégia, mas também adequado às

necessidades de aprendizagem de seus empregados, o que constitui, de acordo com Le Boterf

(1999 apud BRANDÃO, 2007), elemento fundamental para garantir efetividade ao processo

de desenvolvimento de competências.

Em resumo, na presente subseção foi abordado um aspecto fundamental ao estudo da

competência: o processo de aquisição de competências profissionais pode ser compreendido à

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luz da aprendizagem. Espera-se que tal discussão contribua para a compreensão de como

ocorrem processos de desenvolvimento de competências gerenciais.

Na próxima subseção, as relações entre aprendizagem e competência são aprofundadas

através das várias teorias que procuram interpretar e explicar como a aprendizagem ocorre,

revelando sua finalidade primordial: desenvolver competências importantes para a resolução

de problemas imediatos e aprimorá-las para desafios futuros.

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2.10 O processo de aprendizagem e suas relações com a competência

Recentemente, as relações entre aprendizagem e competências foram pesquisadas no

contexto de trabalho brasileiro. Por exemplo, Brandão (2009), em um estudo multinível,

investigou as relações entre as estratégias de aprendizagem, competências e desempenho de

agências de um banco nacional. Com base em sua observação, pressupõe-se que a

aprendizagem é o processo por meio do qual o indivíduo adquire ou aperfeiçoa competências,

relação essa que obriga as organizações buscarem alternativas para reduzir a distância “entre o

que as pessoas sabem e o que elas precisam saber” (BRANDÃO, 2009, p. 62-63).

Estudos empíricos estrangeiros investigaram as relações entre aprendizagem informal

e competências no trabalho. Na Austrália, por exemplo, em pesquisa realizada com gerentes

de empresas no ramo da construção civil, Murray (2003) classificou as competências em

cinco categorias de aprendizagem: a) aprendizagem não estruturada: baseada na experiência e

resulta na aquisição gradual e não planejada de competências; b) aprendizagem estruturada:

prescreve a forma como as tarefas devem ser realizadas; c) aprendizagem eficiente: melhoria

de desempenho por meio da aprendizagem dirigida; d) aprendizagem e agregação de valor:

dirigida de acordo com necessidades de inovação, criação de novas práticas como resultado

de críticas a procedimentos e crenças anteriores; e) aprendizagem dinâmica: reflexão e

inovação norteiam o desenvolvimento de competências de forma dinâmica e integrada.

Pozo (1999) afirma que os indivíduos possuem basicamente dois mecanismos para

adaptação ao meio em que vivem: a programação genética (formada por respostas específicas

em relação a determinados estímulos e ambientes); e a aprendizagem (possibilidade de o

indivíduo modificar seu comportamento em relação a mudanças no ambiente). Segundo Pozo

(1999), a aprendizagem, dessa forma, é fundamental para que o indivíduo possa adaptar-se ao

meio.

Vários modelos e teorias procuram interpretar e explicar como a aprendizagem ocorre

(ROCHA; LOIOLA, 2001). Pozo (1999) ressalta dois enfoques muito utilizados: o

comportamentalismo e o cognitivismo. Em relação ao comportamentalismo, o comportamento

de qualquer organismo pode ser explicado pelas associações entre estímulos e respostas em

que foi gerado tal comportamento. Esta concepção está fundamentada no “movimento S-R”,

que afirma que a compreensão do comportamento deve estar atrelada basicamente à

investigação das relações estabelecidas entre estímulos (S) e respostas (R) (ABBAD;

BORGES-ANDRADE, 2004; BRANDÃO; BORGES-ANDRADE, 2007).

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Por outro lado, para a abordagem cognitivista, o “movimento S-O-R” constitui a sua

premissa. A abordagem cognitivista parte do princípio de que as relações entre estímulos (S) e

respostas (R), para serem compreendidas em sua totalidade, precisam considerar o que

acontece no organismo (O), que mediaria tais relações (ABBAD; BORGES-ANDRADE,

2004; BRANDÃO; BORGES-ANDRADE, 2007). Considerando essa perspectiva, Loiola e

Rocha (2002) e Pozo (1999) afirmam que a interação do indivíduo com o ambiente resulta em

processos cognitivos, ou seja, na aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes, o que

caracterizaria a aprendizagem. Esses processos cognitivos, por sua vez, seriam influenciados

pelas relações estabelecidas entre as novas informações apresentadas pelo ambiente ao

indivíduo e aquilo que ele já sabia.

De acordo com a perspectiva cognitivista, Illeris (2004) ressalta que a aprendizagem

tem sido compreendida como o processo psicológico pelo qual o indivíduo adquire

conhecimentos, habilidades e atitudes. Com o advento da visão socioconstrutivista, esse

fenômeno tem sido descrito também como um processo social, que acontece basicamente pela

interação entre as pessoas. Segundo Illeris (2004), a aprendizagem envolve dois processos

distintos: o social e o psicológico. Através da interação social entre as pessoas e seu ambiente,

o indivíduo recebe influências. O processo psicológico pessoal de aquisição e interpretação de

informações absorve essas influências. Illeris (2004) ressalta ainda que a aprendizagem é

situada, ocorrendo em um contexto específico, que condiciona esse processo e seus

resultados.

Conforme visto anteriormente neste trabalho, Illeris (2004) afirma que o processo de

aprendizagem envolve dois tipos de interação: uma horizontal, entre o conteúdo

(conhecimentos, habilidades e atitudes) e a dinâmica da aprendizagem (motivação,

consciência, atenção do aprendiz, entre outros processos psicológicos); e outra vertical, entre

o aprendiz e seu ambiente, que simultaneamente influencia e é influenciado pelo que o

indivíduo aprende. Para Illeris (2004), as relações entre esses elementos geram um fluxo

contínuo de estímulos através dos quais acontece a aprendizagem.

Para Abbad e Borges-Andrade (2004), Durand (2000) e Sonnentag et al. (2004), o

processo de aprendizagem tem como propósito promover mudanças nos domínios cognitivos,

psicomotor e atitudinal. Abbad e Borges-Andrade (2004) afirmam que o processo de

aprendizagem pode ocorrer tanto para responder a necessidades correntes de trabalho como

para desenvolver competências relevantes para atividades futuras.

Sob essa perspectiva, os conteúdos aprendidos pelo indivíduo (conhecimentos,

habilidades e atitudes) são elementos formadores da sua competência. Quando tais elementos

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são comparados com proposições de autores de teorias instrucionais e educacionais, é possível

entender melhor as relações conceituais entre aprendizagem e competência (BRANDÃO,

2009).

Bloom et al. (1973, 1979 apud BRANDÃO, 2009) desenvolveram uma classificação

de objetivos educacionais baseada em três domínios: o cognitivo (objetivos relacionados à

memória e ao desenvolvimento de capacidades intelectuais); o psicomotor (objetivos

vinculados ao desenvolvimento de habilidades motoras ou manipulativas); e o afetivo

(objetivos que descrevem alterações de interesses e de atitudes).

Pestalozzi, educador que lançou as bases da educação moderna ao conceber um

sistema de ensino prático e flexível, desenvolveu um processo educativo que deveria englobar

três dimensões humanas, identificadas com a cabeça (parte intelectual), a mão (parte física) e

o coração (parte afetiva ou moral). O objetivo final do aprendizado deveria ser uma formação

também tripla: intelectual, física e moral (LARROYO, 1974 apud BRANDÃO, 2009).

É possível, dessa maneira, fazer uma analogia entre as chaves da aprendizagem

individual (LARROYO, 1974 apud BRANDÃO, 2009), os domínios dos objetivos

educacionais (BLOOM et al., 1973, 1979 apud BRANDÃO, 2009) e as dimensões da

competência humana (DURAND, 2000 apud BRANDÃO, 2009).

O processo de aprendizagem gerencial, por sua vez, refere-se a um tipo de

aprendizagem que ocorre no nível do indivíduo e está relacionado à obtenção de

conhecimentos de práticas de gestão organizacionais que caracterizam as funções gerenciais.

A aprendizagem dos gerentes pode ser considerada estratégica para as organizações, uma vez

que os mesmos são vistos como promotores da mudança e difusores do conhecimento,

facilitando o compartilhamento da aprendizagem por toda a organização.

O caráter situado, vivencial e relacional do desenvolvimento gerencial contribui para a

formação das competências mais importantes para atender às demandas funcionais (LAVE;

WENGER, 1991; ELKJAER, 2000). Nesse sentido, tais competências seriam resultantes de

uma trajetória de aprendizagem, caracterizada pelo exercício cotidiano das atividades de

gestão não rotineiras, que impõem ao gerente a necessidade de decidir rapidamente e de

participar ativamente da escolha de caminhos que considere importantes para o cumprimento

das metas.

Beckett (1999) ressalta que os gerentes aprendem por meio de experiências práticas de

tomadas de decisão em circunstâncias bastante dinâmicas. Além disso, eles são levados a

interagir com profissionais de diferentes áreas do conhecimento, reforçando a ideia de que

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resultados são alcançados pelas trocas multidisciplinares e pela observação da experiência de

outros.

Ruas (2001) afirma que a apropriação das práticas gerenciais é obtida por tentativa e

erro, num processo de experimentação de procedimentos, definição e redefinição de regras a

todo instante. Internalizar estratégias eficazes de gestão significa, muitas vezes, considerar

que o domínio da aprendizagem destes métodos pode, em muitos casos, ser implícito e não

sistemático.

A aprendizagem gerencial é concretizada na solução de problemas cotidianos e na

aplicação prática do trabalho. Neste sentido, Ruas (2005) destaca que ainda existem lacunas

entre as competências desenvolvidas nos treinamentos, os processos formais de aprendizagem

e as competências que são realmente importantes para a organização. Isso ocorre pelo fato de

as organizações privilegiarem processos sistemáticos de aprendizagem, não valorizando vias

informais do próprio contexto gerencial, que podem contribuir mais eficazmente para a

formação das competências gerenciais estratégicas.

Assim como Ruas (2001, 2005), Bitencourt (2005) afirma que as competências

gerenciais são adquiridas através de tentativa e erro e através do relacionamento com colegas

de trabalho mais experientes, colocando em destaque o papel da aprendizagem informal na

formação gerencial, sobretudo sua contribuição para o desenvolvimento de competências que

estejam condizentes com as reais necessidades do negócio.

A aprendizagem, então, é um fator inerente à realização do trabalho e ocorre através

da prática e de tentativas de ajustamentos constantes aos novos contextos de trabalho. Dessa

maneira, a aprendizagem informal, por meio da interação com os colegas e pares de trabalho e

compartilhamento de experiências, tem sido destacada como relevante recurso de

aprendizagem. Os gerentes veem nessas fontes de aprendizagem informais uma referência de

como agir quando novas situações se apresentam no cotidiano do gerenciamento, fazendo uso

de estratégias de aprendizagem para aprimorar suas competências profissionais.

As duas subseções subsequentes apresentam um panorama das instituições financeiras

no Brasil e dos bancos pesquisados nesta dissertação, contextualizando a aprendizagem no

local de trabalho e o desenvolvimento das competências gerenciais.

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63

2.11 As instituições financeiras no Brasil e os bancos pesquisados

As instituições financeiras nacionais são classificadas como monetárias e não-

monetárias. A classe de uma instituição financeira é definida pelos seguintes parâmetros: a)

mercado no qual as instituições financeiras atuam; b) operações que estão aptas a exercer; c)

regulamentos aplicados sobre suas atividades; e d) riscos incidentes em suas operações

(VIEIRA et al., 2012).

Segundo Vieira et al. (2012), o equilíbrio do sistema financeiro repousa sobre a

transferência de recursos entre os agentes superavitários e os agentes deficitários, constituindo

fluxos de recursos denominados relações financeiras. As instituições com a capacidade de

multiplicar moeda, captando depósitos à vista e os reintroduzindo na forma de oferta de

crédito, são denominadas Instituições Financeiras Monetárias, classificadas assim:

Bancos Comerciais: atuam na intermediação entre poupadores e tomadores de crédito

em operações de curto e médio prazos. Os bancos comerciais praticam basicamente a

captação de depósitos à vista, possibilitando o desconto de títulos, operações de

abertura de crédito em conta corrente e prestação de serviços em geral. Podem

também captar depósitos a prazo fixo, obter recursos de instituições oficiais e no

exterior para repasse a clientes e realizar operações especiais de crédito rural, cambial

e comércio internacional. Os bancos comerciais aplicam seus recursos no

financiamento das necessidades de capital de giro de empresas comerciais e

industriais.

Caixas Econômicas: atuam basicamente em programas dirigidos às pessoas físicas,

focadas no âmbito social, concedendo empréstimos para projetos nas áreas de

habitação, assistência social, saúde, educação, trabalho, transportes urbanos e esporte.

As caixas econômicas assemelham-se aos bancos comerciais por captar depósitos à

vista, realizar operações de crédito e prestar serviços.

Bancos Cooperativos: através da Resolução 2.193, de 31/08/95, o Banco Central

permitiu que cooperativas de crédito e centrais de cooperativas abrissem seus próprios

bancos comerciais, através da constituição de sociedade anônima fechada, oferecendo

os mesmos produtos e serviços. Não lhes são permitidos realizar operações de swap

(troca de riscos entre duas partes, ou seja, acordo para duas partes trocarem o risco de

uma posição ativa/credora ou passiva/devedora, em data futura, conforme critérios

preestabelecidos) para terceiros e participar do capital social de instituições financeiras

sob gestão do Banco Central.

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64

Cooperativas de Crédito: são semelhantes aos bancos comerciais, porém exercem a

atividade econômica sem objetivo de lucro. As cooperativas de crédito captam

depósitos à vista, sem emissão de certificados, em comunidades restritas, como de

funcionários de uma determinada empresa, de pequenos empresários,

microempreendedores, profissionais liberais de um mesmo ramo de atuação etc.

Vieira et al. (2012) afirmam, por outro lado, que as Instituições Financeiras Não-

Monetárias operam apenas com a captação de recursos através da emissão de títulos,

possibilitando a concessão de crédito. São consideradas não-monetárias as seguintes

organizações:

Bancos de Desenvolvimento: atuam nas operações de médio e longo prazos para os

setores primário, secundário e terciário.

Bancos de Investimento: realizam operações de médio e longo prazos para suprir as

necessidades de capital de giro das empresas. Os bancos de investimento captam

recursos através da emissão de CDB e RDB, aquisição de ações, obrigações, quaisquer

títulos ou valores mobiliários para investimento ou revenda no mercado de capitais.

Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento (Financeiras): captam recursos

por meio da oferta de papéis próprios ou letras de câmbio, possibilitando a concessão

de financiamento de bens de consumo duráveis para consumidores, crédito direto ao

consumidor e oferta de crédito para capital de giro das empresas.

Sociedades de Crédito ao Microempreendedor: buscam facilitar o acesso ao crédito da

população com acesso restrito ao sistema bancário tradicional. São constituídas na

forma de companhia fechada, conforme a lei 6.404, de 15/12/76. Essas sociedades

podem conceder empréstimos e prestar garantias a pessoas físicas ou microempresas

para investimentos de pequeno porte, de natureza profissional, comercial ou industrial.

Companhias Hipotecárias: o Banco Central autorizou o funcionamento dessas

companhias através da resolução 2.122, de 30/11/94. As companhias hipotecárias

podem captar recursos através da emissão de letras e cédulas hipotecárias, debêntures

e outras formas de captação devidamente autorizada pelo Banco Central. As

companhias hipotecárias podem obter empréstimos e financiamentos no país e no

exterior, cujo objetivo básico é oferecer crédito para a produção, reforma ou

comercialização de imóveis e lotes urbanos.

Sociedades de Crédito Imobiliário: sob a forma de sociedade anônima, essas

sociedades realizam operações de financiamento imobiliário. As sociedades de crédito

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65

imobiliário podem captar recursos através de letras hipotecárias ou imobiliárias,

depósitos de poupança, depósitos interfinanceiros, repasses e outras formas de

captação de recursos autorizadas pelo Banco Central do Brasil.

Associações de Poupança e Empréstimo: são semelhantes às sociedades de crédito

imobiliário, porém operam como sociedades civis, propriedades de seus associados.

As associações de poupança e empréstimo atuam nas operações de financiamentos

imobiliários, basicamente captando recursos na forma de caderneta de poupança.

Existem, ainda, as Instituições Auxiliares do Mercado Financeiro, que se limitam à

operacionalização da transferência de recursos entre tomadores e poupadores, entre elas: as

Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários; as Sociedades Distribuidoras de

Títulos e Valores Mobiliários; as Sociedades de Arrendamento Mercantil (Leasing); Agências

de Fomento ou Desenvolvimento; Investidores Institucionais; e Bancos Múltiplos (VIEIRA et

al., 2012).

As instituições financeiras pesquisadas neste trabalho são classificadas como Bancos

Comerciais, pois atuam na intermediação entre poupadores e tomadores de crédito em

operações de curto e médio prazos. Segundo Fortuna (2005), os Bancos Comerciais são os

mais popularmente conhecidos, uma vez que eles são responsáveis por múltiplas funções,

sendo considerados a base do sistema financeiro no Brasil. Os Bancos Comerciais têm como

objetivo principal suprir recursos necessários para o financiamento a curto e a médio prazos

para o comércio, para a indústria, para as empresas de prestação de serviços e para as pessoas

físicas.

Para que os Bancos Comerciais atendam aos seus objetivos principais, eles podem

realizar uma vasta gama de serviços, como por exemplo: descontar títulos; abrir crédito

simples ou em conta corrente; abrir créditos especiais, como os rurais; oferecer serviços de

câmbio e de comércio internacional; captar depósitos; obter recursos juntos a outras

instituições para repassar a seus clientes; e efetuar prestação de serviços mediante convênio

com outras instituições (FORTUNA, 2005).

Na próxima subseção, a aprendizagem e o desenvolvimento das competências

gerenciais são contextualizados em relação às instituições financeiras pesquisadas nesta

dissertação.

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66

2.12 Contexto da aprendizagem e do desenvolvimento das competências gerenciais:

banco público versus banco privado

Como citado na introdução deste trabalho, a escolha por comparar as estratégias de

aprendizagem usadas por gerentes de banco público com as de gerentes de banco privado no

desenvolvimento de suas competências se deu pelo fato de que os gerentes de bancos públicos

ingressam neste tipo de instituição por meio de concurso público; enquanto que os gerentes de

bancos privados são recrutados e selecionados já como gerentes advindos do mercado

profissional.

Em relação à instituição financeira pública, a admissão de empregados acontece para

cargos efetivos por meio de concurso público, conforme determina a Constituição Federal do

Brasil e o Estatuto do banco. Os concursos são divulgados em editais publicados no Diário

Oficial e no site da empresa e têm o objetivo de preencher as vagas disponíveis ou formar

cadastro de reserva, observando a ordem de classificação e o prazo de validade.

A carreira administrativa inicia-se com o cargo efetivo denominado Técnico Bancário.

A ascensão nos níveis salariais do cargo efetivo ocorre por meio das promoções por

antiguidade e merecimento. Além dos cargos efetivos, a empresa possui estrutura de funções

gratificadas para o exercício de atividades que extrapolam aquelas previstas para o seu cargo

efetivo, e o acesso às funções gratificadas ocorre conforme regras definidas pela empresa,

considerando o seu poder para designação e dispensa.

A política de ascensão nas funções gratificadas prevê a realização de processos

seletivos internos, de forma a propiciar maior transparência e oferecer ao quadro funcional o

acesso às oportunidades de crescimento profissional. Em suma, para que um empregado possa

assumir uma função gerencial, necessariamente terá de iniciar sua carreira administrativa

como técnico bancário, ascendendo na hierarquia por meio de promoções por tempo de

serviço e merecimento profissional.

Diferentemente do que acontece no banco público, a instituição financeira privada, por

sua vez, procura atrair e reter profissionais oriundos do mercado de trabalho, tendo em vista

suas competências, por meio de processos abertos de recrutamento e seleção,

independentemente do cargo a ser preenchido. Outra forma de recrutar e selecionar é através

de Programas de Trainee e de Programas de Estágio, que oferecem aos candidatos

selecionados uma formação profissional completa, imersão na cultura do banco, treinamento e

orientação de carreira.

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67

Assim como no banco público, a instituição financeira privada pesquisada investe

internamente em uma estrutura de trabalho baseada na meritocracia, que garante o

desenvolvimento contínuo dos empregados, fazendo com que os mesmos procurem maneiras

alternativas para solucionar problemas do cotidiano profissional. A política de ascensão

profissional no banco privado enfatiza a premiação, oferecendo, assim, oportunidades de

crescimento a todos os empregados da organização.

O referencial teórico, portanto, foi baseado em três pontos fundamentais: a

aprendizagem; as competências gerenciais; e o contexto da aprendizagem e do

desenvolvimento dessas competências nas instituições financeiras pesquisadas.

Na próxima seção, os procedimentos metodológicos, baseados no paradigma

qualitativo interpretativista, de natureza básica, conforme Godoy (2006), serão apresentados

para embasar a coleta e análise dos dados.

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68

3 Metodologia

A presente investigação foi fundamentada em uma metodologia de natureza qualitativa

básica (GODOY, 2006), realizada em instituições financeiras pública e privada, na cidade de

São Paulo.

De acordo com Merriam (2002), a pesquisa qualitativa é um conceito amplo que

abrange várias formas de pesquisa: a interpretativa básica, a fenomenologia, a grounded

theory, o estudo de caso, a etnografia, a análise de narrativas, a crítica, a pós-moderna e a pós-

estrutural.

Este trabalho teve como base a pesquisa interpretativa básica (GODOY, 2006). O

pesquisador, através dos meios coletados nas entrevistas e segundo o referencial teórico,

procurou compreender como os gerentes participantes da pesquisa aprendem sua função e

desenvolvem suas competências profissionais, tendo sido o responsável em mediar os

significados e descrever os resultados.

Considera-se que, para identificar as estratégias de aprendizagem informal no trabalho

utilizadas por gerentes para o desenvolvimento de suas competências, o método qualitativo

oferece subsídios para melhor compreender esses fenômenos, por permitir aprofundar

reflexões relevantes e inspirar articulações entre esses construtos.

Além disso, a necessidade de avaliar a perspectiva dos entrevistados, inseridos em

uma circunstância específica, reforça a ideia de que a pesquisa qualitativa seja a mais

apropriada para o presente estudo.

3.1 Características das organizações pesquisadas

O banco público participante desta pesquisa é uma instituição financeira 100%

pública. A empresa exerce um papel relevante na promoção do desenvolvimento urbano e da

justiça social do país, uma vez que prioriza setores como habitação, saneamento básico,

infraestrutura e prestação de serviços, contribuindo para melhorar a vida das pessoas,

principalmente as de baixa renda. Além disso, esta instituição financeira pública apoia

inúmeras atividades artísticas, culturais, educacionais e desportivas (FORTUNA, 2005).

De acordo com Fortuna (2005), ao longo de sua trajetória, este banco público vem

estabelecendo estreitas relações com a população ao atender às suas necessidades imediatas,

como poupança, empréstimos, crédito educativo, financiamento habitacional e transferência

de benefícios sociais. Esta instituição financeira tem hoje uma posição consolidada no

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69

mercado como um banco de grande porte, sólido e moderno e, como principal agente das

políticas públicas do governo federal, está presente em todo o país.

Por outro lado, o banco privado participante desta pesquisa é uma instituição

financeira privada brasileira, porém com atuação em outros países. O banco figura na lista dos

dez maiores bancos do mundo, contando com mais de 100 mil empregados no Brasil e em

outros países, mais de 4000 agências brasileiras de serviços, 900 postos de atendimento

bancário e mais de 28 mil caixas eletrônicos espalhados pelo país.

O banco privado pesquisado desenvolve ações voltadas especialmente para pessoas

jurídicas, como uma rede social corporativa, em que empresários com negócios de vários

portes podem trocar experiências e aumentar sua rede de relacionamentos; e o microcrédito,

que busca incentivar pequenos negócios de microempreendedores em comunidades carentes.

Esta instituição financeira possui ainda fundações e institutos sociais, que desenvolvem

programas para melhorar a qualidade do ensino público, influenciando políticas públicas do

Ministério da Educação.

3.2 Características dos participantes da pesquisa

O objetivo principal desta pesquisa é identificar as estratégias de aprendizagem no

trabalho usadas por gerentes no desenvolvimento de suas competências em instituições

financeiras pública e privada. Para o atingimento de tal objetivo, foram entrevistados cinco

Gerentes de Pessoa Física e/ou Jurídica da instituição financeira pública e cinco Gerentes de

Pessoa Física e/ou Jurídica da instituição financeira privada. O princípio de “saturação” ou de

“redundância” (GODOY; MATOS, 2006) foi utilizado nesta pesquisa para determinação do

número de entrevistas realizadas.

A escolha por Gerentes de Pessoa Física e de Pessoa Jurídica se deu porque os

mesmos têm atribuições funcionais muito semelhantes, o que possibilita comparações.

De maneira geral, o gerente de uma instituição financeira é o profissional responsável

por trabalhar com o gerenciamento de contas bancárias (de pessoas físicas ou jurídicas). Ele

gerencia informações sigilosas sobre o detentor da conta, confirmando operações de alto

valor, realizando eventuais estornos, concedendo empréstimos bancários etc. (FEBRABAN,

2015).

Está sob as responsabilidades de um gerente de uma instituição financeira – quer seja

pública ou privada – abrir contas de pessoas físicas e/ou jurídicas, atender seus clientes em

caso de problemas ou dúvidas sobre a conta, esclarecer dúvidas sobre saldos e extratos,

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70

explicar e esclarecer dúvidas sobre planos de investimentos e taxas, realizar investimentos

orientados pelo detentor da conta, resolver problemas referentes a cartões de crédito ou

cheques, realizar operações bancárias de grande porte (como grandes transferências de

recursos), explicar as condições e oferecer empréstimos bancários, organizar os documentos

jurídicos necessários a cada operação, oferecer novos planos de pacotes bancários que possam

interessar seus clientes, supervisionar o trabalho de seus subordinados diretos, entre outras

atividades, sempre visando trabalhar com o objetivo de satisfazer as necessidades de seus

clientes (FEBRABAN, 2015).

Para que um gerente de uma instituição financeira tenha um bom desempenho

profissional, é necessário, além de ter graduação completa, possuir domínio em áreas como

Administração de Empresas, Economia, Ciências Contábeis ou Direito. O gerente de uma

instituição financeira, sendo o profissional responsável por trabalhar com o gerenciamento de

contas bancárias, relaciona-se com as diversas áreas da organização, como a contábil,

financeira e marketing/vendas, por exemplo (FEBRABAN, 2015).

Além de uma formação acadêmica consistente, um gerente de uma instituição

financeira precisa ter habilidades para lidar com pessoas, capacidade de observação e visão

sistêmica da organização (FEBRABAN, 2015).

O quadro 7 apresenta as denominações dos participantes da instituição financeira

pública (Pública_1 – Pública_5) e da instituição financeira privada (Privada_1 – Privada_5):

Quadro 7: Denominação dos gerentes participantes da pesquisa

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os critérios para participação dos gerentes na presente pesquisa foram os seguintes:

pertencer a um dos dois bancos estabelecidos previamente pelo pesquisador; ocupar o cargo

de “Gerente de Pessoa Física e/ou Jurídica” e atuar neste cargo há, pelo menos, um ano; e

trabalhar na cidade de São Paulo. Os gerentes participantes da pesquisa não precisam

trabalhar, necessariamente, na mesma agência das instituições financeiras pesquisadas. O

contato com os gerentes participantes da pesquisa ocorreu pela indicação de pessoas do grupo

social e profissional do pesquisador.

Pública_1 Pública_2 Pública_3 Pública_4 Pública_5

Privada_1 Privada_2 Privada_3 Privada_4 Privada_5

Gerentes Pessoa Física/Jurídica – Instituição Financeira Pública

Gerentes Pessoa Física/Jurídica – Instituição Financeira Privada

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71

As figuras 5 e 6 apresentam as estruturas hierárquicas das instituições financeiras

pesquisadas, destacando os gerentes participantes desta pesquisa nos organogramas funcionais

de suas agências:

Figura 5: Estrutura hierárquica e gerentes participantes – banco público

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados de um dos gerentes participantes da pesquisa (entrevista-

piloto explicada na p. 74).

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Figura 6: Estrutura hierárquica e gerentes participantes – banco privado

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados de um dos gerentes participantes da pesquisa.

De acordo com as figuras 5 e 6, pode-se observar que na instituição financeira pública,

os Gerentes de Pessoa Física e Jurídica têm como superior imediato um Gerente Geral, que,

por sua vez, têm como superior imediato um Superintendente Geral; assim como acontece na

instituição financeira privada. Dessa forma, é possível afirmar que os gerentes participantes

desta pesquisa fazem parte de uma gerência média dentro da estrutura hierárquica das

agências bancárias.

No banco público pesquisado, além dos Gerentes de Pessoa Física e Jurídica, há um

Gerente de Atendimento, que é responsável fundamentalmente pelo primeiro atendimento aos

clientes do banco, orientando e prestando informações referentes a todos os serviços bancários

oferecidos. Assim como os Gerentes de Pessoa Física e Jurídica, o Gerente de Atendimento

tem como superior hierárquico imediato o Gerente Geral da agência.

Já no banco privado, há também um Gerente Operacional, que é encarregado por uma

determinada região geográfica; entretanto, o Gerente Operacional tem como superior

hierárquico imediato um Gerente de Supervisão Operacional, que trabalha em uma

Superintendência Regional.

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73

A próxima subseção abordará – de maneira detalhada – o instrumento de coleta de

dados desta pesquisa.

3.3 Instrumento de coleta de dados

Nesta pesquisa, os principais dados foram obtidos por meio de entrevistas, entretanto o

uso da observação informal não estruturada (pesquisador atuando como mero expectador) das

empresas pesquisadas e a consulta de documentos, como por exemplo o site das empresas e os

relatórios obtidos em instituições de apoio ao setor bancário, contribuíram para o processo de

análise dos dados.

A coleta de dados se deu, então, por meio de entrevistas semiestruturadas. Segundo

Godoy (2006), a entrevista semiestruturada é utilizada para coletar dados descritivos na

linguagem dos sujeitos, podendo, assim, compreender os significados, opiniões e crenças que

eles atribuem às questões e situações relativas ao tema de interesse. O foco das entrevistas

estava centrado em identificar as estratégias de aprendizagem informal no local de trabalho

utilizadas no desenvolvimento de competências gerenciais.

Um roteiro de perguntas com linhas-mestras ou guias de tópicos foi construído para

um direcionamento na elaboração das perguntas (GODOY, 2006). Este roteiro foi elaborado a

partir das teorias estudadas e da observação de pesquisas anteriores com objetivos

semelhantes. O teste do roteiro foi realizado com um gerente participante da instituição

financeira pública e as melhorias podem ser observadas no Apêndice B deste trabalho. Este

último roteiro foi elaborado a partir de uma matriz de amarração (Apêndice D) que buscou

elaborar questões com base nas estratégias de aprendizagem no trabalho de Antonello (2011)

e no modelo de competências de Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005).

Os temas tratados nas entrevistas, conforme o roteiro desta pesquisa (Apêndices A e

B), são: o perfil demográfico, a trajetória educacional/acadêmica e profissional, as tarefas e

responsabilidades dos gerentes, as estratégias de aprendizagem da função gerencial dentro das

instituições financeiras pesquisadas e fora delas e o desenvolvimento de competências

relativas à função gerencial.

As entrevistas foram registradas pelo pesquisador através de gravação direta com

autorização dos entrevistados. Godoy (2006) afirma que esse recurso permite que todas as

expressões orais sejam arquivadas, existindo a possibilidade de examiná-las novamente, se

necessário.

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74

Para atingir aquilo que foi proposto nos objetivos do trabalho, foi necessário, além do

contato direto com os profissionais, uma busca vigilante e cuidadosa visando descobrir em

suas falas quais os significados atribuídos por eles às suas estratégias de aprendizagem,

procurando entender e interpretar os momentos mais significativos e a contribuição desses

momentos para a evolução de cada um deles dentro da empresa da qual fazem parte.

3.4 Análise dos dados

O conteúdo das entrevistas foi transcrito fidedignamente, tornando-se, assim, uma

importante massa constituinte do corpo de dados utilizados para a realização deste trabalho.

Neste estudo, os dados obtidos nas entrevistas foram analisados por meio da técnica de

templates, de King (2004). O termo “análise de template” não se refere apenas a um método

único e claramente delineado, porém se trata de um grupo de técnicas para tematicamente

organizar e analisar dados textuais. A essência da análise de template é que o pesquisador

produz uma lista de códigos (templates) representando temas identificados nos seus dados

textuais. Os templates são organizados de um modo que representam as relações entre os

temas, assim definidos pelo pesquisador, envolvendo uma estrutura hierárquica (KING,

2004).

Segundo King (2004), o melhor ponto de partida para a construção de um template

inicial são os guias de tópicos do roteiro para a entrevista. As principais questões do roteiro

para a entrevista podem servir como códigos de ordem superior, e questões subsidiárias como

códigos potenciais de ordem inferior.

Conforme King (2004), a análise dos dados foi feita a partir de uma lista com temas

abrangentes, estabelecidos à luz dos objetivos definidos para o estudo e da visão global obtida

na leitura e reaudição de cada entrevista. Foram analisados e identificados nas entrevistas os

trechos correspondentes aos templates com os respectivos códigos numéricos. Na sequência, a

descrição e a análise dos dados serão feitas com base no referencial teórico.

3.5 Entrevista-piloto

O teste do roteiro de perguntas foi realizado com um gerente participante da

instituição financeira pública, na cidade de São Paulo, em outubro de 2015.

A entrevista-piloto teve como objetivo verificar se o vocabulário apresenta-se

acessível e se está claro o significado de cada questão, se o entendimento está facilitado, se há

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75

perguntas muito parecidas, se há algum tipo de indução na pergunta direcionando para

determinada resposta, como também obter informações referentes à postura do próprio

pesquisador (GIL, 2002).

Após a realização da entrevista-piloto, observou-se a necessidade de melhorias no

roteiro de perguntas, conforme apontado no quadro 11 deste trabalho (Apêndices A e B –

Quadro Comparativo).

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76

4 Apresentação e análise dos resultados

Os dados obtidos na pesquisa realizada foram examinados de acordo com os

templates, que são devidamente apresentados no Apêndice E deste trabalho, a fim de garantir

maior clareza ao texto:

Perfil demográfico (sexo, idade, estado civil, cargo gerencial, tempo na empresa,

tempo no cargo gerencial e formação acadêmica);

Trajetória profissional gerencial (histórico profissional e experiência anterior como

gerente);

Cargo gerencial (cargo atual, responsabilidades relacionadas ao cargo gerencial e

estrutura hierárquica dos bancos pesquisados);

Estratégias de aprendizagem (experiência anterior e transferência extraprofissional;

experenciar; reflexão; autoanálise; observação-modelo/reprodução; feedback;

mudança de perspectiva; mentoria e tutoria; interação e colaboração/busca por ajuda

interpessoal; cursos e treinamentos; aprendizagem informal; aprendizagem pela

articulação entre teoria e prática);

Desenvolvimento de competências gerenciais (razões que levaram à promoção para o

exercício da função gerencial, responsabilidades antes e depois do exercício da função

gerencial, competências cognitivas, competências funcionais, competências pessoais,

competências de valores, metacompetências/transcompetências);

Visão sobre o significado de ser gerente (visão atual em relação à visão inicial da

carreira gerencial e competências a serem ainda aprimoradas).

Para isso, nesta seção são apresentadas as falas mais relevantes dos gerentes

participantes coletadas durante as entrevistas. Posteriormente, elas são interpretadas de acordo

com o autor da pesquisa, tendo como base a literatura utilizada na fundamentação teórica.

Para que haja um melhor entendimento das informações, a apresentação e a análise dos

resultados desta pesquisa são apresentadas separadamente, de acordo com o banco para o qual

os gerentes trabalham (público ou privado).

4.1 Perfil demográfico

A seguir, o quadro 8 apresenta o perfil dos dez gerentes pertencentes às instituições

financeiras pública e privada que foram entrevistados neste estudo:

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77

Quadro 8: Perfil demográfico dos participantes da pesquisa

Fonte: Elaborado pelo autor.

Entrevistados Sexo IdadeEstado

Civil

Cargo

Gerencial

Tempo na Empresa

(anos)

Tempo como

Gerente na

Empresa Atual

(anos)

Formação Acadêmica

Pública_1 F 48 C

Gerente

Pessoa

Jurídica

26 15

Graduação em

Administração de

Empresas. Pós-

graduação em Gestão

Financeira

Pública_2 M 49 S

Gerente

Pessoa

Jurídica

17 8Graduação em

Engenharia Agronômica

Pública_3 M 41 C

Gerente

Pessoa

Jurídica

17 2

Graduação em

Administração de

Empresas. Pós-

graduação em

Controladoria

Pública_4 F 39 S

Gerente

Pessoa Física

e Pessoa

Jurídica

17 5

Graduação em

Pedagogia. Pós-

graduação em Docência

do Ensino Superior

Pública_5 F 32 S

Gerente

Pessoa Física

e Pessoa

Jurídica

13 1

Graduação em

Administração de

Empresas. Pós-

graduação em Língua

Inglesa

Privada_1 M 38 CGerente

Pessoa Física5 5

Graduação em

Administração de

Empresas. Pós-

graduação em Gestão de

Pessoas

Privada_2 M 29 CGerente

Pessoa Física8 1

Graduação em Recursos

Humanos. Pós-

graduação (cursando)

em Mercado de Capitais

Privada_3 F 37 CGerente

Pessoa Física1 1

Graduação em

Administração de

Empresas

Privada_4 F 29 DGerente

Pessoa Física1 1

Graduação em

Administração de

Empresas. Pós-

graduação (cursando)

em Gestão de Pessoas

Privada_5 M 31 C

Gerente

Pessoa Física

e Pessoa

Jurídica

11 5

Graduação em

Publicidade e

Propaganda

Legenda:

M = Masculino / F = Feminino

C = Casado(a) / S = Solteiro(a) / D = Divorciado(a)

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Conforme visualizado no quadro 8, os gerentes participantes da pesquisa possuem

idade variando entre 29 e 49 anos de idade, sendo que a média de idade é de 37,3 anos. Dentre

os dez participantes da pesquisa, cinco são do sexo masculino e cinco são do sexo feminino.

Em relação ao estado civil, seis participantes são casados, três são solteiros e um é divorciado.

No que tange ao tempo na empresa, é nítida a diferença entre a instituição financeira

pública e a privada. Enquanto que a média de permanência no banco público, entre os

gerentes participantes, é de 18 anos, no banco privado a média é de 5,2 anos. E, finalmente, o

tempo médio no cargo gerencial na instituição financeira pública, entre os participantes da

pesquisa, é de 6,2 anos; já, na instituição financeira privada, o tempo médio no cargo

gerencial, entre os participantes da pesquisa, é de 2,6 anos.

Todos os dez gerentes participantes da pesquisa têm nível superior completo, sendo

que sete deles têm pós-graduação completa ou em andamento. Na próxima subseção, a

experiência profissional dos gerentes participantes da pesquisa é revelada, com base nos

principais relatos coletados durante as entrevistas.

4.2 Trajetória profissional gerencial

Nesta categoria, as informações relacionadas ao histórico profissional dos gerentes

participantes desta pesquisa são consideradas, pois tais informações são essenciais para

entender o processo de aprendizagem e de desenvolvimento de competências gerenciais. De

acordo com Le Boterf (1999), as competências de um profissional são decorrentes de sua

biografia e socialização, de sua formação educacional e/ou acadêmica e experiência

profissional.

Conforme transcrições a seguir, é possível observar a trajetória profissional de alguns

dos gerentes participantes desta pesquisa:

[...] Entrei no banco aos 24 anos de idade, quando passei no concurso

público. Antes de entrar no banco, não tinha trabalhado de maneira formal,

com registro em carteira... Entrei como técnico bancário, como todo mundo

lá, depois fui assumindo diferentes funções até assumir uma função gerencial

de verdade [...] (Pública_3)

Eu prestei o concurso do banco com 18 anos de idade, porém, antes, eu fazia

os estágios da faculdade, cheguei a fazer estágio em algumas outras

empresas, tipo num site de busca de automóveis, cheguei a fazer estágio na

área de reservas de uma companhia aérea e numa área igual aqui, só que em

outro banco, mas só estágio, emprego mesmo foi aqui. Estou no banco há 13

anos, e nessa função agora, um ano mais ou menos [...] (Pública_5)

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Para os gerentes Pública_3 e Pública_5, a instituição financeira pública pesquisada foi

a primeira e única experiência profissional formal de suas carreiras. Ambos assumiram o

cargo de técnico bancário (função meramente operacional), quando da admissão em concurso

público, e, gradativamente, foram ascendendo na estrutura hierárquica de suas agências. Já, a

gerente Pública_4 teve experiências profissionais diversas antes de sua admissão no banco,

porém, assim como os demais gerentes participantes da instituição pública, teve de iniciar a

carreira no banco como técnico bancário até chegar a uma posição gerencial, conforme

transcrição a seguir:

[...] Trabalhei, começo de carreira mesmo, recepcionista, prestadora de

serviço, trabalhei na parte administrativa de algumas empresas privadas

antes de entrar aqui no banco, como prestadora. Aí trabalhei cinco anos

como prestadora de serviços e depois passei no concurso, aí fiquei uns três

anos como técnico bancário e comecei a ascensão na carreira técnica até a

gerência. Faz cinco anos que estou na gerência. (Pública_4)

Em relação à instituição financeira privada, é possível observar gerentes que iniciaram

a carreira profissional no próprio banco pesquisado ou em outros bancos concorrentes,

assumindo diferentes cargos e funções antes de serem promovidos a gerentes, como revelam

as transcrições a seguir:

Meu primeiro emprego foi aqui no banco. A princípio, eu tenho oito anos de

banco, era de uma área operacional do banco, fui pra área comercial há uns

três anos, era um assistente comercial e, a partir daí, acho que em um ano,

um ano e meio já fui pro programa de gerente, então saí de assistente, fiz o

programa de gerente e aí já fui engajado aí na função de gerência.

(Privada_2)

Eu era de outro banco do grupo. Na verdade, entrei no call center há um

tempo atrás. Tenho 11 anos de banco já, foi meu primeiro emprego. Como

gerente, cinco anos, virei com 26 anos de idade, mais ou menos. Eu entrei no

sistema de call center convencional mesmo, de lá eu passei pra uma agência

do banco, onde eu fui trabalhar como caixa, aí eu fui encarreirando: de caixa

eu virei assistente, gerente, aí depois eu acabei virando gerente de contas de

um tipo de renda do banco que a gente chamava de exclusivo, que é uma

renda de menor valor, depois virei gerente de um segmento do banco, aí

virou o banco que é hoje. Neste banco eu virei gerente. (Privada_5)

Entretanto, como já mencionado na introdução deste trabalho, uma diferença

importante entre bancos públicos e privados é a possibilidade de profissionais oriundos de

bancos privados serem recrutados e selecionados já como gerentes em instituições financeiras

privadas concorrentes. As três transcrições a seguir confirmam esta discrepância:

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[...] Antes deste banco, eu trabalhei em outro banco também, três anos na

gerência... Quando eu iniciei no outro banco, eu iniciei como escriturário

mesmo, fiquei quatro anos nessa função, e depois eu iniciei no atendimento

que existia lá dentro do banco, que é um atendimento receptivo, atendimento

de contas, cartão de crédito... Aí, depois disso, eu fui pra rede de agências,

física mesmo, e aí foi quando eu comecei a exercer a função de caixa.

Trabalhei como caixa mais um ano e meio aproximadamente. Aí fui

promovido pra assistente, virei assistente do gerente, e aí fiquei mais um

período como assistente até me tornar gerente... Pra trabalhar aqui, foi um

convite mesmo que eu recebi de um amigo que trabalhou comigo no outro

banco... Ele marcou comigo, eu vim fazer uma entrevista e eles me

ofereceram uma proposta, e eu acabei aceitando e pedi as contas lá no outro

banco. (Privada_1)

[...] Iniciei a carreira profissional em outro banco privado, como estagiária.

Fui efetivada e fiquei lá durante 15 anos: 14 anos na área operacional e um

ano na área gerencial. Depois vim pra cá já como gerente e estou aqui há um

ano mais ou menos, trabalhando no segmento premium do banco [...]

(Privada_3)

[...] Na verdade, eu comecei a carreira em outro banco. Então eu fiquei dois

anos como atendente, um ano e meio atendendo, então recepcionava ligação,

atendia o cliente, também ofertava produtos e serviços, né, que a gente tinha,

depois eu fui pra análise de segurança do banco, trabalhar, detectar fraude,

acompanhar o fraudador, tentar impedir isso... Trabalhei também uma parte

na questão de ouvidoria do banco e, com dois anos e meio, eu fui pra

agência, aí fui pra uma agência de alta renda, que já é um tipo de agência

diferenciado, e eu fui como caixa, fiquei três meses como caixa, virei

assistente, aí fiquei quase dois anos como assistente, virei gerente lá, aí

trabalhei na agência, trabalhei em posto de atendimento... E aí este banco me

convidou pra ser gerente aqui, já vir pro segmento de alta renda. Neste banco

estou há um ano e três meses como gerente [...] (Privada_4)

A trajetória profissional do grupo pesquisado, de maneira geral, é bastante focada no

setor financeiro. A grande maioria dos gerentes participantes desta pesquisa (8 de 10)

construiu a carreira profissional dentro de instituições financeiras. A experiência gerencial,

por exemplo, foi adquirida e exercida somente em bancos.

4.3 Cargo gerencial atual

Conforme anteriormente visto neste trabalho, o gerente de uma instituição financeira,

pública ou privada, é responsável, de maneira geral, pelas seguintes atividades: abertura de

contas de pessoas físicas e/ou jurídicas, atendimento de seus clientes em caso de problemas ou

dúvidas sobre a conta, esclarecimento de dúvidas sobre saldos e extratos, explicação sobre

planos de investimentos e taxas, realização de investimentos orientados pelo detentor da

conta, solução de problemas referentes a cartões de crédito ou cheques, realização de

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operações bancárias de grande porte, explicação das condições e oferecimento de

empréstimos bancários, organização de documentos jurídicos necessários a cada operação,

supervisão do trabalho de seus subordinados diretos etc. (FEBRABAN, 2015).

As transcrições a seguir de alguns dos gerentes participantes deste estudo confirmam

tais atribuições funcionais:

As minhas responsabilidades são elaborar pareceres referentes à área de

risco de crédito, né, elaborar ratings pra uma empresa. Na minha área, eu

trabalho com empresas corporate, com empresas que têm um faturamento

acima de 1 milhão de reais, além de dar o rating, baseado em capacidade,

caráter, lado econômico-financeiro, além de dar o rating baseado nos

aspectos de mercado também, a gente aprova ou inviabiliza operações

comerciais, operações comerciais e projetos de investimento, né, eu trabalho

muito com empresas de saneamento, empresas de... concessionárias de

rodovias, empresas de eletricidade, eu trabalho muito com isso... Além de

atender o cliente da melhor forma possível, você tem que responder aos seus

colegas que estão abaixo de você, né, você tem que dar suporte a eles, e você

tem que responder aos gerentes gerais e superintendentes de área, que estão

lá te cobrando as metas de poupança, de empréstimos, né, e de produtos do

varejo, como capitalização, previdência e seguro [...] (Pública_3)

[...] Gestão de pessoas e gestão de processos. Gestão de pessoas: organização

das atividades, organização dos horários, quem vai fazer o que, distribuição

dos serviços; e os processos: eu tenho na minha gerência quatro processos,

eu tenho que acompanhar esses processos, se estão atingindo as metas

diárias, se as condições que o pessoal tem pra conseguir efetivar as tarefas

estão adequadas, acompanhamento e gestão dos processos mesmo, que ponto

que eu preciso atuar pra um processo funcionar naquele dia [...] (Pública_4)

[...] Então, aqui, na função que eu exerço hoje aqui no banco, basicamente, é

fazer a gestão da carteira dos clientes, né, então desde fazer um

planejamento financeiro da carteira do cliente em si, fazer a gestão dos

recursos que ele recebe também, passar as melhores recomendações de

aplicações, basicamente, é acompanhar o dia a dia, mas também fazer essa

assessoria financeira, né, então, procurar entender o dia a dia do cliente, qual

que é a demanda de movimentação dele, e fazer recomendações de

aplicações, e também de outros serviços do banco também, serviços de

seguros, proteção, serviços de viagem, venda de moeda em espécie também,

euro, dólar, então, basicamente, é fazer a gestão financeira, né, e fazer um

planejamento pro futuro também dele, recomendações a médio e longo prazo

também pra ele. (Privada_1)

[...] Aqui a gente trabalha muito com investimentos, né, então, além, lógico,

de novas conquistas, que é o carro-chefe de qualquer instituição, que é onde

traz mais negócio, as principais funções aqui são administrar todos os

investimentos dos clientes, né, trazer rentabilidade pro cliente e, óbvio, pro

banco também, então, quanto mais rentabilidade pro cliente, pro banco

também vem, e conquista de novos negócios, tudo tá bem baseado com

relação a investimento e conquista, né, essa conquista seria abertura de

conta, né, falando a grosso modo, com essa conquista a gente consegue

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trazer um leque de produtos aí, lógico, também, direcionado muito mais pra

investimento [...] (Privada_2)

[...] Então, a principal é gerir a carteira, né, porque assim, o que o banco tá

muito preocupado, lógico, receita, que é o principal, né, que ninguém

trabalha de graça, todo mundo tem que receber, né, os acionistas cobram isso

de nós também, mesmo porque o banco dá todo o suporte pra gente, toda a

ferramenta pra nós podermos entregar isso pro banco. Então, assim, receita é

o principal, e eles focam muito na parte de qualidade e satisfação do cliente,

né, então, além de toda a produção, né, financeira que nós temos, as nossas

metas mensais, a gente tem que fazer esse gerenciamento da carteira, esse

contato com o cliente, entrega de assessoria financeira, então quer dizer, a

minha responsabilidade, cuidar da minha casinha, como se eu tivesse uma

mini franquia do banco e eu fosse responsável por esses clientes, então eu

tenho que cuidar de toda a parte de satisfação do cliente, de produtos, de

serviços [...] (Privada_3)

Em relação à estrutura hierárquica, há pequenas diferenças entre a instituição

financeira pública e a instituição financeira privada pesquisadas. No banco público

pesquisado, os Gerentes de Pessoa Física e Jurídica têm como superior hierárquico imediato o

Gerente Geral da agência, assim como acontece no banco privado. A diferença reside no fato

de o banco privado ter, além de um Gerente Geral da agência, um Gerente Operacional, que é

responsável por uma determinada região geográfica.

Quanto ao número de pares (gerentes com a mesma função dos gerentes

entrevistados), há variação nas instituições financeiras pesquisadas (pública e privada),

dependendo do porte de cada agência bancária, conforme transcrições a seguir:

[...] Depende do porte de cada agência. Na agência onde eu trabalho tem

outros Gerentes Pessoa Física também, como há um outro gerente Pessoa

Jurídica, cuida do atendimento a empresas. (Pública_3)

[...] Como essa agência é uma agência de pequeno porte, né, então a gente

tem um número bem pequeno, bem reduzido de funcionários, mas... dentro

do quadro aqui são três gerentes com a mesma função [...] (Privada_1)

[...] Pares, sim. Temos duas classificações de gerentes: é Gerente de Pessoa

Física 1 e 2. Diferenças? Primeiro: conhecimento, o G2 já tem uma

“bagagem” maior, né, um tempo maior, mais experiente, e o G2, ele já é um

cargo que ele tem as mesmas responsabilidades de um G1 de gerir a carteira;

porém, ele tem uma segunda responsabilidade, que é aprender a ser backup

do gerente geral, que, na verdade, ele está sendo treinado pra assumir um

cargo de gerência geral [...] (Privada_3)

O mesmo tipo de variação acontece no que se refere ao número de subordinados

diretos dos gerentes entrevistados, que são os Assistentes de Gerência de Pessoa Física e

Pessoa Jurídica. É importante ressaltar que os gerentes participantes deste trabalho fazem

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parte de uma gerência média dentro da estrutura hierárquica das agências bancárias

pesquisadas. Os gerentes Pública_3 e Privada_4 foram selecionados pelo autor desta pesquisa

para exemplificar a pergunta sobre o número de subordinados diretos:

[...] Como gerente Pessoa Física, você tem um ou dois, depende, depende da

demanda. Às vezes um funcionário do atendimento vai pra Pessoa Física

quando a coisa tá, tem muita demanda, né, tem muita gente pra atender.

(Pública_3)

[...] A única pessoa que responde pra nós é a nossa assistente, né, ela

responde pra nós, o pessoal do operacional acaba se reportando aos gerentes

[...] (Privada_4)

Na próxima subseção, as transcrições referentes às estratégias de aprendizagem

informal no trabalho são apresentadas e analisadas, de acordo com o referencial teórico da

pesquisa.

4.4 Estratégias de aprendizagem

Para que os objetivos propostos neste estudo possam ser alcançados, procurou-se

identificar nas entrevistas com os participantes da pesquisa as diferentes estratégias de

aprendizagem utilizadas por gestores no desenvolvimento de competências, segundo

Antonello (2011), por se tratar da literatura mais atual neste campo do conhecimento.

Vale lembrar que, de acordo com Antonello (2011), as estratégias de aprendizagem

são classificadas em: experiência anterior e transferência extraprofissional, experenciar,

reflexão extrínseca e intrínseca, autoanálise, observação-modelo (reprodução), feedback,

mudança de perspectiva, mentoria e tutoria, interação e colaboração (busca por ajuda

interpessoal), consulta a material escrito, aprendizagem pela articulação entre teoria e prática

(aplicação prática), cursos e treinamentos.

Para que haja uma melhor compreensão das informações, a apresentação e a análise

desta subseção são apresentadas separadamente, de acordo com o banco para o qual os

gerentes trabalham (público ou privado).

4.4.1 Banco público

Conforme as transcrições a seguir, é possível afirmar que dos cinco gerentes

entrevistados na instituição financeira pública, três deles (Pública_1, Pública_3 e Pública_5)

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utilizam a estratégia de aprendizagem informal no trabalho Experiência anterior e

transferência extraprofissional, que, de acordo com Antonello (2011), é a transferência de

aprendizagem de ocupação ou cargo anterior e a aprendizagem fora do trabalho, como o

trabalho voluntário:

[...] Procuro fazer as tarefas do dia a dia com base nas minhas experiências

anteriores que tive aqui no banco, afinal de contas, são 25 anos de

experiência. Comecei aqui como todo mundo, como técnico bancário e fui

encarreirando no banco ao longo dos anos. Acho que toda essa experiência é

fundamental pro meu cargo atual [...] (Pública_1)

[...] No departamento que eu tô agora, pra você ser gerente, você precisa ler

o trabalho do relatório que o assistente sênior, o assistente pleno ou o

assistente júnior faz, então você tem que saber o que que ele tá fazendo lá,

né, o conhecimento técnico da coisa. Tem gente que consegue ser gerente

sem passar por esses graus, mas eu, minha opinião é contrária a isso, eu não

sou a favor disso, não. Eu acho que a pessoa tem que ter a mão na massa lá,

de saber o operacional antes de virar gerente [...] (Pública_3)

[...] Tem muita coisa que eu passei antes, algumas experiências que eu passei

que eu acabo utilizando, como coisas que eu observei lá nos antigos gestores

antes que, hoje em dia, também, eu acabo aplicando... Eu sempre acabo

mudando alguma coisinha, dando um toque especial meu lá, mas tem um

quê daquele gestor que eu vi lá atrás. (Pública_5)

A gerente Pública_1 ressalta a importância de sua vasta experiência na instituição

financeira para o desempenho de suas tarefas diárias. O entrevistado Pública_3, por sua vez,

destaca a necessidade de o profissional assumir funções mais operacionais antes de ser

promovido ao cargo gerencial, a fim de conhecer as atividades executadas, hoje, por seus

assistentes. Já, a gerente Pública_5 afirma que observou o comportamento de seus líderes

anteriores para moldar a sua forma de gerenciar atualmente. Aqui, a estratégia de

aprendizagem experiência anterior está intimamente ligada à estratégia de aprendizagem

observação-modelo/reprodução, ainda a ser apresentada e analisada nesta subseção.

A estratégia de aprendizagem Experenciar, que, segundo Antonello (2011), pode ser

definida como aquela que se refere a experiências amplas, multifacetadas, atividades pioneiras

e de inovação, experiências traumáticas advindas de situações difíceis e processos de

mudança organizacional, como por exemplo reestruturação ou fusão, no entanto, não é

observada nas falas dos gerentes pertencentes à instituição financeira pública, uma vez que

nenhum deles vivenciou tais experiências em suas carreiras profissionais.

Já, a estratégia de aprendizagem, conforme Antonello (2011), Reflexão extrínseca

(reflexão sobre as relações entre o trabalho e diferentes aspectos da organização) e intrínseca

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(reflexão sobre as relações existentes entre as partes componentes do trabalho) é revelada nas

transcrições a seguir.

A gerente Pública_1 admite que uma das responsabilidades inerentes ao cargo

gerencial é fazer uma reflexão sobre como o trabalho é executado; além disso, ela procura

incentivar, sempre que possível, seus subordinados a exercitarem a mesma estratégia de

aprendizagem:

[...] Acho importantíssimo pensar no que se está fazendo. Nós, gestores,

temos que dedicar parte do nosso trabalho para o desenvolvimento de novas

formas de execução do trabalho, né? É uma de nossas atribuições. Muitas

pessoas aqui executam o seu trabalho de maneira automática, sem nenhuma

análise sobre aquilo que elas estão fazendo. Isso é muito ruim! Nas minhas

reuniões com a equipe, procuro sempre enaltecer esse aspecto com todos,

todos... E estou aberta a sugestões e críticas sobre a forma como as pessoas

devem executar o seu trabalho. (Pública_1)

O gerente Pública_2, no entanto, reconhece a dificuldade de dedicar parte do dia para

pensar sobre novas formas de execução de seu trabalho; ainda assim, o entrevistado busca

relacionar suas tarefas diárias às estratégias da organização, fazendo, dessa maneira, uma

reflexão crítica a respeito de como a instituição financeira se relaciona com seus diferentes

clientes:

[...] É difícil parar por alguns instantes e fazer uma reflexão sobre as formas

de execução do trabalho. Porém, quando faço o meu trabalho, penso em

como ele está relacionado ao negócio e às estratégias do banco... Como

Gerente Pessoa Jurídica, meu trabalho é fechar parcerias com empresas

oferecendo toda a gama de serviços bancários a elas. Toda empresa precisa

de um banco. Uma pessoa pode ou não precisar de um serviço bancário, mas

uma empresa constituída formalmente precisa de um banco. Uma das

estratégias da organização é fomentar parcerias com o maior número

possível de empresas, independentemente de seu tamanho ou faturamento...

Acho que poderíamos tratar empresas diferentes de formas diferentes, mas

hoje o banco dispensa a mesma atenção para uma empresa pequena que

fatura R$ 5 mil/mês e para uma multinacional que fatura R$ 50 milhões/mês.

(Pública_2)

Por sua vez, o gerente Pública_3, curiosamente, afirma que a reflexão excessiva pode

até ser prejudicial à carreira gerencial, uma vez que o banco é muito pautado pela

padronização de processos operacionais:

[...] O banco é muito padronizado, né, o operacional, né, tudo você vê em

manual, né... Eu acho que não fui mais adiante por ter muita análise crítica

das coisas e não concordar com algumas, sabe? Eu posso te falar, por

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exemplo, na área que eu tô agora. Por exemplo, eu faço uma análise de risco,

né, essa análise passa por várias pessoas diferentes. Às vezes, eu faço, às

vezes, eu faço ajuste pra cada um que lê aquilo, olha, mexe nessa frase que

não tá legal, fala mais do índice de liquidez, explica melhor o que que você

tá falando aqui do EBIT (lucro antes juros e tributos – imposto de renda e

contribuição social sobre o lucro líquido), esse tipo de coisa. Na minha

opinião, acho que não seria necessário passar por tanta gente, tá [...]

(Pública_3)

A gerente Pública_4 destaca, por um lado, a importância da estratégia de

aprendizagem reflexão, exemplificando uma situação-problema (limitação de recurso humano

em relação à quantidade demandada de trabalho). Por outro lado, a entrevistada cita, como um

dos entraves para a reflexão, as diretrizes impostas pela matriz da instituição financeira a

todos os empregados:

[...] Na minha atribuição eu tenho que pensar o tempo todo, né, porque eu

tenho um recurso limitado, meu recurso humano pra fazer o universo de

coisas que eu tenho pra fazer é limitado em comparação ao resultado que eu

preciso chegar, né, então, eu tenho que o tempo todo estar pensando nisso:

como eu vou fazer mais com menos, né, dentro da rotina operacional interna,

né... Algumas diretrizes são impostas pela Matriz, o que dificulta uma

tentativa de mudança na forma de fazer as coisas. Existem canais onde você

pode sugerir melhorias, só que elas demoram muito pra serem

implementadas porque são percepções individuais, assim, são percepções de

realidades diferentes [...] (Pública_4)

Assim como o gerente Pública_3, a gerente Pública_5 vê a estratégia de aprendizagem

reflexão com ressalvas. Segundo a entrevistada e, tendo como referência as orientações

recebidas de seus gerentes anteriores, é mais prudente, quando do início das atividades

gerenciais, controlar o pensamento crítico-reflexivo, a fim de evitar desgastes interpessoais

desnecessários. Entretanto, a gerente Pública_5 afirma que é fundamental para um gerente

exercitar a reflexão acerca de suas tarefas e da estratégia da organização como um todo:

[...] É uma característica minha, eu sou muito crítica, tanto que, quando eu

vim pra cá, o meu gestor anterior falou até pra eu tomar cuidado com isso,

que eu sou tão crítica que eu não posso chegar e já sair pontuando tudo ali

que eu penso ali na hora, que, num primeiro momento, é melhor eu guardar

pra mim e, aos poucos, fazer com que as pessoas aceitem as minhas ideias

porque eu sou crítica demais, tanto que eu acabei até fazendo alguns cursos

na área de linguagem de programação, de macro e tudo mais pra poder

automatizar, assim, várias tarefas, várias atividades. Isso economiza tempo,

de repente, a gente tá fazendo alguma coisa ali que nem era necessário, mas

tá fazendo por fazer, só tá gastando tempo mesmo.... Acho que, assim, não

tem como você ser gestora de uma empresa sem estar pensando ali na

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estratégia, na missão, na visão, nos valores lá da empresa, não existe isso [...]

(Pública_5)

Por meio das falas dos gerentes entrevistados, é possível observar, de maneira geral, a

importância da reflexão extrínseca e intrínseca no desempenho da atividade gerencial para o

desenvolvimento de competências, mesmo quando as pressões e limitações do ambiente de

trabalho não favorecem tais estratégias de aprendizagem.

A estratégia de aprendizagem Autoanálise, que se refere à autoanálise e à

autoavaliação dos entrevistados (ANTONELLO, 2011), é indicada pelos gerentes Pública_3 e

Pública_5 a seguir:

[...] No banco tem muito a questão da pressão, né, você, como gerente, é

cobrado assim, de uma forma absurda até, se você não tiver foco na coisa,

não delegar tarefas, não estiver focado no principal, que é o resultado que é

esperado na forma de números, né, você não sobrevive como gerente. Eu sou

uma pessoa muito centralizadora por natureza e, se você fica voltado só pro

seu eu, você não sobrevive como gerente, né, você tem que estar sempre

delegando pra todos, né, da sua equipe... A parte teórica eu domino, né, o

principal é a prática, né, porque cada pessoa é uma pessoa, né... As pessoas

não reagem de acordo com o que você espera. A gente tem um padrão de

como que é a vida e as outras pessoas tem outro [...] (Pública_3)

[...] Acho que eu tenho uma visão muito voltada pra inovação. Bom, sou

muito crítica, o que tem a ver com a visão voltada pra inovação, não tem

como fugir disso, aí tem outras coisas que eu ainda tô desenvolvendo, que eu

tô aprendendo [...] (Pública_5)

A estratégia de aprendizagem autoanálise se revela, também, com mais profundidade,

nas perguntas relacionadas às competências gerenciais, dessa forma, tal estratégia pode ser

vista e analisada mais uma vez na subseção que trata sobre o desenvolvimento de

competências gerenciais deste trabalho.

Em relação à estratégia de aprendizagem Observação-modelo/reprodução, que, de

acordo com Antonello (2011), é a observação estruturada e crítica dos outros, seja por meio

de um papel positivo (tentar fazer algo como alguém faz), seja por meio de um papel negativo

(não fazer como alguém faz) também foi identificada nas falas das gerentes participantes da

pesquisa Pública_4 e Pública_5:

[...] Eu tinha muito, assim, claro na minha mente o que eu não podia fazer,

que era o que o grupo tinha como negativo vendo dos outros, então, na

minha cabeça, eu tinha muito claro o que... Se eu fizesse, não ia dar certo,

não ia ficar bem, não ia conseguir o retorno da equipe como eu precisava,

então eu utilizei mesmo o que eu vi dos outros fazendo gestão, dando certo

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ou dando errado, eu tive ajuda de muitas pessoas, assim, que sentavam e

conversavam mesmo, então eu procurei aqueles, que a gente chama aqui de

coaches internos, né, são os colegas que já têm aquela vivência, já passaram

e se dispõem a conversar com você sobre aquele conflito, sobre como você

conduzir aquela situação, então eu procurei muito esse tipo de ajuda. A gente

consegue aqui bons colegas que têm experiências de muito tempo na

empresa ou novos (colegas) mesmos, que já possuem carreiras gerenciais,

que se dispõem a conversar com você sobre esses dilemas, e eu tive essa

sorte de encontrar pessoas assim que são meus apoios até hoje. (Pública_4)

[...] Por exemplo, a antiga gerente que estava aqui no cargo que eu estou

hoje, era muito minha amiga. Às vezes, ela contava algumas situações, e eu:

“ah, então é assim que eu vou ter que agir depois, mas é só quando eu estiver

também num cargo mais de gestão e tal...”, e a própria gerente Pública_4 que

você acabou de entrevistar, eu acabo também me espelhando muito nela, eu

acabo me espelhando bastante nela (risos), nem sei se ela sabe disso (risos).

Se tá dando certo, assim, claro, né, que, de repente, a pessoa conduziu

determinada situação dessa maneira, talvez eu não conduziria exatamente da

mesma maneira, mudaria, assim, alguma coisinha, mas eu procuro me

espelhar, se tá dando certo (o trabalho), com certeza. (Pública_5)

Como é possível observar na fala da gerente Pública_4, a estratégia de aprendizagem

observação-modelo/reprodução pode levar à adoção de uma outra estratégia de aprendizagem:

Mentoria e tutoria, que é ser assistido por um mentor ou tutor no processo de

desenvolvimento de competências gerenciais (ANTONELLO, 2011). Sobre esta última

estratégia, a gerente Pública_4 comenta o fato de o banco tentar institucionalizar tal prática de

aprendizagem informal:

[...] Até houve um tempo em que se tentou colocar aqui o “líder coach”,

você registrar uma pessoa como seu coach, ele ficar à sua disposição, mas

não “pegou”, acho que aqui não tem muito essa divulgação, acho que, se não

me engano, no ano passado fizeram um treinamento pra gestores-chefes, né,

gerentes, específico pra coaching, e veio até uma empresa externa ministrar

esse treinamento especializado em coaching, mas acho que não “pegou”.

Aqui, em São Paulo, os gerentes são os mesmos há muito tempo, então eles

têm já essa parceria entre eles, né, talvez por isso não tenha dado muito certo

pegar uma outra pessoa de referência, não sei, em termos de estrutura

formal, não “pegou”, existe de uma maneira informal, acho que, talvez, a

pessoa nem qualifique isso como coaching, né, mas é, eu uso nesse termo

mesmo. (Pública_4)

Uma outra estratégia de aprendizagem citada pelos gerentes Pública_3, Pública_4 e

Pública_5 é o Feedback. O feedback, segundo Antonello (2011), é oriundo de sua equipe de

trabalho (crítica de pares de trabalho, avaliação de desempenho formal por

pares/colegas/superiores) ou ainda oriundo de clientes e de outros profissionais (como as

pessoas reagem a você).

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Por um lado, o gerente Pública_3 aponta para o feedback recebido de seus

subordinados em contraposição ao feedback recebido de seus superiores diretos. O

entrevistado demonstra, assim, insatisfação por não ser devidamente criticado ou avaliado

formalmente como gerente por seus superiores na hierarquia organizacional:

Eu me lembro mais de críticas do que elogios, assim, sabe... Recebo

feedback mais de subordinados do que de superiores. Isso é uma das minhas

maiores decepções também, como gerente. Olha, cara, acho que não chegou

nem a ter crítica e nem, nem elogio, assim, de superiores, fiquei sabendo

mais de subordinados mesmo, e, dos subordinados, era sempre na forma de

elogios. (Pública_3)

Por outro lado, a gerente Pública_4 afirma que, constantemente, recebe feedback e que

considera esta estratégia de aprendizagem como uma ferramenta para o seu desenvolvimento

como gerente:

[...] Então, todas as situações, as conversas, feedbacks que você tem, recebe

são muito aproveitados no dia a dia... Eu recebo sempre feedback... No

começo a gente fazia, eu recebia de três em três meses na avaliação de

desempenho. Hoje, a cada ano é feita uma avaliação de desempenho e você

acaba aprendendo a se desenvolver também através desses feedbacks [...]

(Pública_4)

A gerente Pública_5 lista os diferentes tipos de avaliação (dos pares, dos superiores e

subordinados hierárquicos e a autoavaliação) como ferramentas para dar e receber feedback.

A necessidade de um feedback formal motivou a gerente Pública_5 a adotar tal prática como

meio de ação educacional presencial em seu ambiente de trabalho:

[...] Tem a avaliação dos pares, um colega avalia o outro, tem a própria

avaliação, a autoavaliação, e a avaliação do gestor para os subordinados.

Então, essa questão de feedback é, na verdade, é até uma coisa que eu

questionei quando eu cheguei aqui na unidade, que não se tinha essa questão

do feedback formal, o que tinha era o feedback pontual: acontece uma coisa,

você chega na pessoa, assim, olha, você fez assim, você não acha que seria

melhor fazer assado por conta disso, daquilo e daquilo outro... aí, eu até que

acabei levantando isso, aí, por conta disso agora, a unidade inteira vai passar

por uma ação educacional de feedback, como ferramenta de

desenvolvimento, né, pros empregados terem isso também em mente,

porque, de repente, você fica nisso, assim, feedback é só uma crítica, e não é

isso, é ferramenta de desenvolvimento mesmo, então, assim, essa ação

educacional presencial vai ser pra fomentar essa ideia e, a cada seis meses

agora, a gente vai fazer o feedback estruturado com a equipe, isso vai ser

implementado, eu até que acabei trazendo essa ideia aqui pra unidade, mas,

por enquanto, ainda não, por enquanto ainda não tem, vai ser implementado

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a partir de junho. Foi uma das coisas que eu apresentei até na minha

entrevista, lá no meu plano de ação, e aí vai ser implementado. (Pública_5)

É possível concluir, com base nas falas dos gerentes pertencentes à instituição

financeira pública, que a estratégia de aprendizagem no trabalho feedback é considerada como

uma importante ferramenta para o desenvolvimento de competências gerenciais, porém,

ainda, deve ser melhor explorada por todos os empregados envolvidos.

A próxima estratégia de aprendizagem é a Mudança de perspectiva, que é a mudança

de papel, a transferência ou troca de trabalho, é trabalhar com pessoas diferentes, com

diferenças culturais e inspiração súbita ou insight (ANTONELLO, 2011). As transcrições a

seguir mostram o uso de tal estratégia pelos gerentes Pública_1, Pública_3, Pública_4 e

Pública_5.

A entrevistada Pública_1, por ser a gerente mais experiente entre todos os demais

participantes desta pesquisa, enaltece as inúmeras mudanças de papel ou trocas de trabalho

que teve ao longo de sua carreira no banco público, contribuindo para sua aprendizagem e

desenvolvimento gerencial:

[...] Bom, eu tenho quase 30 anos de banco, então você deve imaginar por

quantos departamentos eu já passei aqui, com quantas pessoas eu já

trabalhei, pessoas muito diferentes, com experiências profissionais e

pessoais muito distintas umas das outras... Isso tudo, claro, gera um

aprendizado: você aprende um pouquinho com cada uma delas e acaba

influenciando e sendo influenciado por todas essas pessoas também [...]

(Pública_1)

O gerente Pública_3, por sua vez, também acredita que a mudança de papel ou a

transferência ou troca de trabalho possa, de alguma maneira, contribuir para o exercício do

cargo gerencial, pois proporciona uma mudança de perspectiva em seu sentido mais amplo:

[...] Eu trabalhava com... que eu trabalhei em várias áreas, além de gerente

PF (Pessoa Física), eu trabalhei como gerente substituto, né, de gerente de

atendimento até ser gerente PJ (Pessoa Jurídica)... Essa troca de função é

muito importante pra sua formação como gerente, você acaba mudando a

forma de pensar, agir [...] (Pública_3)

Para a gerente Pública_4, conforme o profissional troca de trabalho, novas

competências são requeridas:

[...] No meu caso, eu era... você entra no banco como técnico bancário, e aí,

depois, o meu primeiro cargo foi assistente júnior, fiquei dois anos como

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assistente júnior, e aí essas carreiras técnicas já vão exigindo um nível de

preparo maior, né, então, aí você passa de júnior, pleno e sênior, eu fiquei

júnior e pleno, e aí, depois, eu participei de um processo seletivo e assumi a

gerência, (via) recrutamento interno. Quando você passa pra essa etapa, já se

pressupõe que você tem algumas habilidades de gestão. (Pública_4)

A gerente Pública_5, por fim, destaca o aprimoramento de aspectos comportamentais

devido às mudanças de papel que sofreu ao longo de sua carreira profissional. A entrevistada

conclui que, para sua surpresa, as competências pessoais ou comportamentais requerem um

esforço maior para serem adquiridas do que as competências técnicas e funcionais:

[...] Em 13 anos acho que deu pra desenvolver bastante coisa (risos)... Sim, a

parte comportamental mudou muito. A parte técnica eu também fui

aprendendo, mas é mais fácil, não é um bicho de sete cabeças, eu achava que

fosse, mas não é, eu achava que fosse até assumir a função de gerente.

Assumi a função de gerente, aí caiu a real (risos)... É muito mais difícil

aprender a ser gerente! (Pública_5)

Pode-se verificar que os participantes desta pesquisa confirmam a afirmação de

Pantoja (2009) de que a aprendizagem no trabalho possibilita a modificação de novos

comportamentos diante de mudanças que se processam no contexto social em que está

inserida.

As estratégias de aprendizagem Interação e colaboração/busca por ajuda

interpessoal e Consulta a material escrito são as mais utilizadas pelos gerentes da

instituição financeira pública, pois foram citadas várias vezes pelos gerentes participantes

desta pesquisa durante as entrevistas. A primeira estratégia é definida como aquela

aprendizagem oriunda de outros profissionais da mesma área (trabalho em grupo/equipe,

colaboração em projetos) ou a partir de clientes, trabalho em equipes multidisciplinares e rede

(networking) com outros profissionais da mesma área. A segunda é a informação obtida

através de documentos, manuais ou sistemas, ao invés de pessoas (WARR; DOWNING,

2000; ANTONELLO, 2011). Os participantes contam suas experiências em relação à

utilização dessas estratégias nas transcrições seguintes.

A gerente Pública_1 demonstra recorrer à estratégia de aprendizagem consulta a

material escrito, pois, segundo ela, é uma maneira de se manter atualizada sobre os informes

do banco:

[...] Procuro fazer as coisas com base nas minhas experiências anteriores que

tive aqui no banco, afinal de contas, são mais de 25 anos de experiência... Há

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também muita coisa pra ler: informativos, normas, leis novas... tenho que ler

tudo pra me manter atualizada. (Pública_1)

Já, o gerente Pública_2 utiliza a estratégia de aprendizagem interação e

colaboração/busca por ajuda interpessoal. O entrevistado, basicamente, recorre a pares quando

necessita de informações para a correta execução de seu trabalho:

[...] Basicamente, eu procuro ajuda de outros gerentes da mesma área, de

colegas de trabalho com o mesmo nível hierárquico. Aqui, na agência, temos

um “mensageiro”, que serve pra gente trocar mensagens em tempo real com

qualquer funcionário do banco. Assim que eu preciso de uma informação

mais detalhada, eu procuro me comunicar (através do mensageiro) com

outros gerentes que já tenham resolvido problemas similares. Às vezes, essa

comunicação entre gerentes de mesma função é feita por telefone ou e-mail

[...] (Pública_2)

O gerente Pública_3, em um primeiro momento, admite buscar ajuda interpessoal,

principalmente, por meio de colegas de trabalho com o mesmo nível hierárquico; porém,

quando os pares não conseguem atendê-lo para a solução de algum problema, o gerente

afirma consultar material escrito, apesar de reconhecer que esta estratégia de aprendizagem,

além de mais burocrática, demanda mais tempo e trabalho:

[...] Quando você tem alguma dúvida, você recorre aos pares, né, e, às vezes,

eles não podem te ajudar no momento e a situação requer uma atitude

imediata, né, nesse caso você vai um pouco com o seu jogo de cintura, às

vezes você vai... olha, nesse momento eu não posso ajudar, eu vou verificar,

e aí você recorre aos manuais, normativos, né, quando os seus colegas não

podem te ajudar. Sim, porque a consulta de normativos é uma coisa mais

burocrática, requer mais tempo, trabalho e, às vezes, isso, na hora, ali, você

não... às vezes tem dez pessoas esperando serem atendidas ali, você pra

consultar o manual pode levar minutos importantes e isso vai afetar no

atendimento geral, né. (Pública_3)

Assim como o gerente Pública_3, a gerente Pública_4 prefere buscar ajuda de colegas

ou pares para solucionar problemas referentes à execução de seu trabalho a consultar material

escrito. Segundo a entrevistada, a estratégia de aprendizagem interação e colaboração/busca

por ajuda interpessoal é mais prática e confiável, pois a ajuda advinda dos colegas de trabalho,

além de ser mais ágil, é mais consistente, na medida em que os pares conseguem compreender

situações-problema que não podem ser resolvidas por meio da leitura de normativos apenas:

[...] Então, um primeiro recurso são esses colegas das outras unidades, e aí,

depois, tem normativos, chamados, né, que são as áreas de suporte do banco,

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e aí, se nenhuma dessas áreas atende, aí as áreas gestoras mesmo, os

desenvolvedores dos produtos, nesse caso... Os normativos, em geral, eles

são focados nos produtos, não no desenvolvimento operacional, então eu

acho que é uma dificuldade que a gente tem, é difícil você pegar uma norma

que diga o que você tem que fazer pra cada caso, você tem que pegar o

sistema, uma norma e juntar aquilo pra construir um operacional (atividade).

Então, em geral, os outros colegas entendem melhor aquilo que você tá

perguntando porque é mais prático, dependendo da demanda, é mais prático.

Se for uma coisa pontual, o primeiro recurso é sempre a norma, agora, se for

algo, por exemplo, uma rotina operacional que você não tá conseguindo

fazer, o meu primeiro recurso é buscar alguém que já tenha experimentado

aquilo, que, de repente, já viu aquela solução, que dificilmente eu vou

encontrar em uma norma. (Pública_4)

A gerente Pública_5, por sua vez, quando necessita de informações para a correta

execução de seu trabalho, consulta o que no banco é chamado de “manual-normativo”, que é

um tipo de documento que apresenta uma visão geral das normas e procedimentos de

operações da instituição financeira pública. Embora a gerente Pública_5 também recorra a

colegas de trabalho devido à praticidade desta estratégia de aprendizagem, a entrevistada

admite evitar tal prática por considerá-la inconveniente, se utilizada por diversas vezes:

[...] Se é uma dúvida, por exemplo, mais voltada pro âmbito técnico, tem

algumas ferramentas que eu posso estar consultando, por exemplo, no banco

a gente tem o que é chamado de “manual normativo”, aí eu consigo... acho

que seria, assim, uma biblioteca de referências, tal, dependendo do assunto,

eu consulto determinado manual, como que funciona determinada rotina, eu

tenho contatos com vários colegas espalhados em diversas áreas do banco,

depende lá da especificidade de cada caso, não tem assim um padrão, claro

que é muito mais rápido você perguntar pra alguém, mas ficar toda hora

perguntando pra alguém também é chato, né, não “pega muito bem” também

(risos), apesar de que os colegas de outras áreas também acabam recorrendo

a mim, então, assim, é uma troca de informações, né, tem vez que eu

descubro alguma coisa e já compartilho com alguém que já trabalhou

comigo, então, assim, a gente acaba se ajudando muito... Eu acabo

recorrendo a várias coisas, depende do que a situação pede no momento.

(Pública_5)

Pode-se verificar que os participantes reconhecem a importância do material escrito

(normativos e instruções editados pela organização), porém, devido às pressões do ambiente

profissional e à falta de tempo para uma leitura adequada nas agências bancárias investigadas,

a maior parte deles, então, procura ajuda interpessoal/interação e colaboração, através do

auxílio de colegas de trabalho com o mesmo nível hierárquico.

Em relação à aprendizagem do uso de novos sistemas e aplicativos de informática,

todos os gerentes entrevistados compartilham experiências e estratégias de aprendizagem

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muito similares: busca por ajuda interpessoal, essencialmente. Assim sendo, as passagens a

seguir descrevem este aspecto:

Não temos um treinamento formal quando um novo sistema é implementado

no banco, infelizmente. Aprendemos conversando um com o outro. Aquele

que sabe mais acaba transmitindo o conhecimento para os demais colegas...

Acho que o departamento de TI (Tecnologia da Informação) deveria ser mais

presente, sabe, estar mais perto dos clientes internos. A gente precisa rever

isso [...] (Pública_1)

Os novos sistemas e programas de informática são aprendidos por todos de

maneira informal... O departamento de TI é distante das demais áreas do

banco, embora haja um Help Desk ativo pra eventuais dúvidas relacionadas à

área de tecnologia... Não há nenhum treinamento formal... Há muito

retrabalho por puro desconhecimento de novas tecnologias, pois muito do

que é aprendido nessa área acontece por meio de tentativa e erro do usuário.

Eu procuro, então, consultar colegas de trabalho que estejam mais

familiarizados com esses novos sistemas de informática. (Pública_2)

[...] Então, cada sistema tem uma, tem uma aprendizagem diferente aí, né. E,

às vezes, é “na raça” mesmo, é chegar lá... às vezes você não consegue, você

vai lá, pergunta pro colega que às vezes já se deparou com essa situação [...]

(Pública_3)

[...] Agora, como aqui no banco são muitas unidades de matriz, muitas

unidades gestoras e produtos diferentes e, em alguns casos, eles se

conversam, então é difícil você ter um treinamento específico... Na grande

maioria (das vezes), você tem que ir “na raça” mesmo, testando, vendo o que

mudou, se ajustando. (Pública_4)

Finalmente, as estratégias Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática

(escrever artigos/relatórios, apresentar conferências, justificar/defender/explanar ações,

trabalhos do curso articulados à aprendizagem baseada no trabalho) e Cursos e treinamentos

(treinamentos no trabalho, rotação de funções e multiplicação de treinamentos/cursos),

conforme Antonello (2011), são citadas pelos gerentes da instituição financeira pública nas

transcrições selecionadas a seguir.

O entrevistado Pública_3, por exemplo, relata que participou de um programa de

capacitação para desenvolver habilidades gerenciais antes de assumir o cargo de gerente:

[...] Eu fui convidado pra ficar 15 dias num hotel, com mais uma centena de

jovens gerentes, né, do Brasil inteiro, e lá a gente dividiu experiências, né,

foram 15 dias intensivos, assim, né, de manhã a gente tinha palestra com

professores renomados aí de universidades... Cada dia era um assunto

diferente, né, a gente falava de Economia, Geopolítica, Finanças,

Investimentos, né, assuntos que a gente ia lidar no dia a dia da agência e fora

dela, e a gente fazia atividades paralelas a esses cursos, e como a gente tava

num hotel, né, afastado de tudo, a gente conhecia um pouco mais dos

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colegas, né, de outras regiões, a gente “pega” a cultura de cada um, né, e

tinha muito essa troca de experiências com outras pessoas aí. (Pública_3)

A gerente Pública_4 afirma que o banco institucionalizou um programa de capacitação

de líderes apoiado pela sua universidade corporativa para o desenvolvimento de competências

gerenciais há um ano. De acordo com este programa, cada gestor tem uma trilha de

aprendizagem a ser percorrida, que é um agrupamento de todos os conhecimentos básicos

necessários ao exercício do cargo:

[...] No ano passado é que mudou, o banco criou um sistema que é de...

capacitação de líderes, então tem um sistema que eles (o banco)

desenvolveram pra você ser avaliado, algumas metas que foram colocadas

pra cada empregado, ponderando aí pelos níveis de gerenciamento que cada

um tem, e aí, a partir dessa análise, eles vão definir se você precisa fazer

mais alguma ação de reforço ou se você pode ir seguindo a linha proposta

padrão. A gente tem um plano da empresa pra seguir, então todo gestor tem

algo que a gente chama na Universidade Corporativa de trilha do líder. Essa

trilha do líder, ela tem algumas ações que você tem que fazer

presencialmente que são focadas especificamente no desenvolvimento de

competências de gestão. Em dois desses cursos você fica uma semana lá na

Universidade Corporativa, aqui em São Paulo, com dinâmicas,

apresentações, dinâmicas, palestras, tem foco no desenvolvimento... Já se

tentou fazer plano de carreira, mas não deu muito certo, então a trilha de

aprendizagem é um apanhado de todos os conhecimentos básicos que um

empregado tem que ter pro exercício das atividades, né, independente de

você trabalhar em agência ou área meio, são cursos sobre comunicação e

linguagem, conduzindo reuniões, como fazer uma apresentação,

conhecimentos de alguns produtos que são referência pro banco [...]

(Pública_4)

Entretanto, a gerente Pública_4 revela que não teve nenhum treinamento formal antes

de exercer a função gerencial, conforme transcrição a seguir:

Não, não tive um treinamento formal antes de virar gerente... Eu participei

de um processo seletivo e assumi a gerência, recrutamento interno. Quando

você passa pra essa etapa, já se pressupõe que você tem algumas habilidades

de gestão. (Pública_4)

Já, a gerente Pública_5 afirma que, logo quando foi promovida à função gerencial, fez

um curso voltado ao desenvolvimento de competências gerenciais, mesmo não sendo

obrigatório fazê-lo imediatamente após a promoção, e destaca o conteúdo aprendido no

programa:

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[...] Eu assumi em agosto, em setembro eu já fui fazer um curso chamado

DHG, que é Desenvolvendo Habilidades Gerenciais. Não que era obrigatório

fazer logo, mas, enfim, acabei fazendo logo. Achei ótimo porque dá uma

visão muito legal, eles falam em 13 competências, tanto a negociação,

trabalho em equipe, enfim, tipo, diversas competências, e essa questão de

gestão de pessoas é o que mais “pega”, engraçado porque antes, quando eu

tava no cargo técnico, eu achava que era difícil você aprender tudo e tal...

Hoje em dia, assim, eu vejo o conhecimento técnico como “fichinha”, assim,

uma coisa que eu não sei é muito fácil eu ir lá e aprender, mais difícil mesmo

é você saber lidar com pessoas, eu não tinha tanta noção de que fosse ser

assim, tanto que, assim, apesar dos cursos que o banco oferece, eu estou

sentindo necessidade de buscar algo mais fora do banco, de repente, fazer

uma segunda pós-graduação nessa área [...] (Pública_5)

A gerente Pública_5 ainda ressalta a importância dos cursos presenciais realizados

pela própria instituição financeira, uma vez que eles possibilitam a interação e colaboração

entre os demais empregados, sendo uma importante estratégia de aprendizagem no trabalho:

[...] Quando tem esses cursos presenciais no próprio banco você acaba tendo

contato com muitos outros colegas de outras áreas, as pessoas acabam: “ah,

na minha unidade aconteceu isso, a gente conduziu dessa forma”, isso acaba

sendo muito legal, essa troca de experiências com outros colegas. Assim, no

dia a dia, fica limitado aos colegas que estão aqui na unidade, durante essas

ações educacionais presenciais a gente acaba trocando muita informação

com colegas de outras unidades, isso acaba sendo muito legal, isso enriquece

bastante mesmo, aliás, assim, é tão legal tanto o conteúdo do próprio curso

quanto essa troca de informações com colegas, eu não sei nem te dizer o que

ajuda mais, se é um ou se é o outro, e tanto que isso de fazer curso fora, tipo,

online é mais, de repente, seria legal por conta da falta de tempo, mas você

perde essa interação, então não sei se é tão legal, com a distância você perde

um pouco isso e, nos cursos do banco, uma das melhores partes é justamente

a interação [...] (Pública_5)

4.4.2 Banco privado

Em relação à instituição financeira privada, o autor da pesquisa optou por listar as

estratégias de aprendizagem no trabalho seguindo a mesma ordem de apresentação

estabelecida para a instituição financeira pública, facilitando, assim, o acompanhamento e a

compreensão do leitor.

Dessa forma, a estratégia de aprendizagem Experiência anterior e transferência

extraprofissional é revelada pelos gerentes participantes Privada_1, Privada_2, Privada_3 e

Privada_4, conforme transcrições a seguir.

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O entrevistado Privada_1 afirma que fez uso de sua experiência anterior como gerente

quando foi contratado pela instituição financeira privada pesquisada, facilitando, assim, sua

adaptação ao novo ambiente de trabalho:

[...] Vindo do banco anterior, né, eu já tava muito mais familiarizado com a

rotina do dia a dia em situações que, eventualmente, o gerente não estava e

eu acabava conduzindo um atendimento, fazendo uma negociação, um

contrato com o cliente, então, além da parte operacional que eu já sabia

executar, eu fui, gradativamente, já me adaptando também com algumas

rotinas gerenciais, então, já tava um pouquinho mais familiarizado.

(Privada_1)

Diferentemente do gerente Privada_1, o gerente Privada_2 iniciou sua trajetória

profissional no banco pesquisado, passando por diversos cargos operacionais até chegar à área

comercial da instituição financeira, quando, então, teve de passar por um programa de

formação antes de assumir as funções gerenciais. De qualquer maneira, o gerente Privada_2

demonstra ter utilizado suas diferentes experiências anteriores como estratégias de

aprendizagem para o desenvolvimento de novas competências:

[...] Na área operacional, eu tive outros cargos, mas, no comercial do banco,

eu entrei como assistente, que já dá uma boa bagagem pra você virar gerente

do banco, e, a partir daí, tem um programa de formação de gerente que o

banco institui aqui... Antes você atendia o cliente como um assistente, então

você resolvia muitos problemas e, hoje, você faz negócio, né, desenvolve

mais, bastante, alguns clientes viram amigos, então é um relacionamento

legal e isso, no início, não tem até por falta de afinidade, né, mas, depois de

um tempo, você já tem muito mais “bagagem” de relacionamento e isso te

ajuda muito aqui [...] (Privada_2)

A gerente Privada_3, assim como o gerente Privada_1, foi contratada pela instituição

financeira pesquisada já para exercer o cargo gerencial. De acordo com a entrevistada, todo o

conhecimento técnico e operacional que ela detém hoje é fruto das experiências adquiridas no

banco anterior para o qual ela trabalhou:

[...] Então, eu, assim, tinha, detinha todo o conhecimento da área operacional

do banco anterior, quando eu fui pra gerência do banco anterior, eu resolvia

muito problema operacional na gerência porque eu sabia o processo, então

era muito fácil, depois já tava atendendo cliente e, assim, talvez eu não tenha

tido tanto sucesso na área gerencial do banco anterior porque eu era ainda

muito operacional... Quando eu vim pra este banco, o que que acontece, eu

não conheço nada da área operacional do banco aqui, nada, o que eu sei hoje

é bagagem que eu trouxe do banco anterior, mas nem o sistema da área

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operacional eu sei, nem operar no caixa eu sei. Aqui eu faço o que é pra um

gerente fazer. O meu foco agora é comercial, entendeu? (Privada_3)

Para a gerente Privada_4, por exemplo, a experiência que ela adquiriu na instituição

financeira anterior também contribuiu, de certo modo, para que ela pudesse desenvolver as

competências necessárias a um gerente. A profissional refere-se ao banco anterior como uma

escola, porém ressalta que aprendeu a gerenciar na instituição financeira atual:

[...] A minha primeira experiência lá no outro banco, eu tive que montar uma

carteira... Depois, eu fui ganhando experiência, aí eu mudei pra uma carteira

já pronta... Então, não precisava buscar mais (clientes), eu pude gerenciar, e

aí eu fui pegando ainda mais gosto pelo negócio, né... Quando eu vim pra cá,

eu tive uma surpresa porque você fica nessa insegurança: vou, não vou, mas

aí eu cheguei, decidida e não me arrependo. Não que o outro banco não seja

bom, não é isso, muito pelo contrário, foi uma escola, mas aqui eu aprendi a

gerenciar... Então, a gente tem sempre o que aprender, principalmente no

mundo dos bancos [...] (Privada_4)

Diferentemente dos gerentes pertencentes à instituição financeira pública, os gerentes

participantes desta pesquisa pertencentes ao banco privado, com exceção do gerente

Privada_2, que construiu sua carreira profissional apenas no banco pesquisado, são oriundos

de instituições financeiras privadas concorrentes e, como se pode observar nas transcrições,

alguns participantes já foram admitidos pelo banco pesquisado para exercer diretamente o

cargo gerencial. Consequentemente, as estratégias de aprendizagem utilizadas por tais

gerentes são diretamente influenciadas por suas experiências anteriores.

A estratégia de aprendizagem Experenciar é apenas identificada na fala do

participante Privada_5, pois este gerente, em particular, vivenciou experiências advindas de

situações difíceis e processos de mudança organizacional, pois o banco onde ele trabalhava

fora adquirido por outra instituição financeira privada, em um processo de fusão.

A transcrição a seguir revela as diferenças entre os dois bancos pelos quais o

participante Privada_5 passou e sua habilidade para se ajustar a uma nova cultura

organizacional:

[...] Eu era de outro banco do grupo, né, o banco anterior era um pouquinho

diferenciado com relação à cultura, então era, a cultura era diferente. O

banco atual, a gente fala muito isso, que é um “sistema de batida”, aquela

questão de quantidade, não importa o que eu estou vendendo, como eu estou

vendendo, o que importa é quanto eu estou vendendo. No banco anterior, já

era uma questão de qualidade, então, assim, trabalhava com clientes com

uma renda maior, com perfil diferenciado, não era qualquer cliente que podia

abrir uma conta no banco anterior, então, assim, automaticamente, você já

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tinha que ser um pouco melhor preparado pra conseguir atender esses

“caras” (clientes)... Aqui é uma postura mais agressiva... Isso eu tive que

aprender quando cheguei aqui [...] (Privada_5)

Em relação à estratégia de aprendizagem Reflexão extrínseca e intrínseca, o gerente

participante deste estudo Privada_2 demonstra refletir sobre as relações entre o seu trabalho e

os diferentes aspectos da organização (reflexão extrínseca); entretanto, o mesmo gerente

parece não refletir sobre as relações existentes entre as partes componentes do seu trabalho

(reflexão intrínseca), desenvolvendo suas atividades cotidianas de maneira mecânica e

padronizada, conforme transcrições a seguir:

[...] A gente sabe que a gente é uma engrenagem de uma máquina, então,

assim, se uma engrenagem parar, as outras não funcionam, a gente sabe da

importância que tem aqui, tem que saber da responsabilidade que a gente

assume aqui... Todas essas informações (volume de vendas da agência em

relação à empresa como um todo) a gente tem... O meu resultado, um

exemplo, ah, se eu tiver um resultado de um certo produto aqui que esteja

abaixo da média, eu começo a prejudicar o resultado da agência e dos outros

(gerentes) também, então isso aparece [...] (Privada_2)

[...] Do jeito que tá aí, basta seguir exatamente as diretrizes do banco e,

assim, a gente nunca teve problema com isso... A gente tem tudo na mão,

entendeu, tudo na mão... Você entrou (no sistema), você acha, dissecado o

produto, com todas as informações, então, assim, e não é uma coisa difícil de

se achar, em três cliques você acha o produto, entendeu? Não precisa pensar

muito, é só ler as informações do produto, seguir o script e pronto [...]

(Privada_2)

Os gerentes participantes Privada_3, Privada_4 e Privada_5 demonstram utilizar a

reflexão extrínseca e/ou intrínseca como estratégias de aprendizagem.

A gerente Privada_3, por exemplo, aponta para a reflexão intrínseca, ou seja, aquela

voltada sobre as relações existentes entre as partes componentes do trabalho. A entrevistada

afirma que o banco disponibiliza um roteiro de atividades e procedimentos para que seus

gerentes possam segui-lo, a fim de padronizar o modus operandi das tarefas; entretanto, como

o cumprimento das funções gerenciais está diretamente ligado ao atendimento ao público, a

gerente, então, procura fazer um planejamento autônomo, refletindo sobre as ações

prioritárias do seu dia:

[...] Existem formas e formas de você fazer o trabalho, e isso que se chama

equipe, né. Então, assim, nós, seres humanos, não nascemos pra trabalhar

individualmente, pra sermos isolados, a gente tem que interagir, né,

principalmente nesse nosso trabalho, nós lidamos diretamente com o

público, né, então nós trocamos várias experiências, às vezes porque, assim,

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o banco, ele dá um script pra você seguir, só que assim, quando você

trabalha com o atendimento ao público, é muito difícil você seguir o script

porque você não sabe, uma ligação com um problema que, de repente, vai

demandar o dia inteiro, e aí tudo que você planejou vai por água abaixo... O

banco te dá um script, então, às vezes, eu falo, eu prefiro fazer minha agenda

de manhã, que é sobre a agenda de relacionamentos, em torno de 15 a 18

nomes que a gente tem que entrar em contato com o cliente... Há um tempo

atrás, o que eu fazia: eu fazia tudo, agenda de relacionamento eu deixava pro

período da tarde, só que eu vi que eu não conseguia fazer essa agenda, eu

tinha uma grande dificuldade, e aí eu comecei a observar outros gerentes [...]

(Privada_3)

A gerente Privada_4, por sua vez, busca, na medida do possível, seguir as orientações

sobre as atividades e procedimentos que a instituição financeira determina como padrão. No

entanto, a reflexão intrínseca emerge quando a gerente percebe que, para satisfazer às

necessidades de seus clientes e atingir as metas estipuladas pelo banco, precisa pensar sobre

formas alternativas para a realização de seu trabalho:

[...] Eu sigo muito as orientações do banco, então, se o banco pede pra gente

usar uma ferramenta, eu tento usar o máximo que eu posso. Quando eu vejo

que aquilo não tá fazendo sentido pro meu cliente naquele momento, eu já

mudo o meu discurso... Eu não uso as palavras que o banco talvez dê como

recomendação, mas o que o banco prega, isso daí a gente tem que usar, é

padrão. A gente tem uma ferramenta, que é um planejamento que o banco

desenvolveu, então eu colho informações do meu cliente e, através da

resposta que aquele sistema me dá, eu tenho que apresentar algum tipo de

produto ou serviço pro cliente. Pra mim, é uma ferramenta muito morosa,

então demora muito pra gente fazer, e aí o cliente vai ficando cansado, o

cliente começa a perceber que a gente tá querendo vender alguma coisa,

então a gente já sente isso do cliente. Então, o que eu faço: eu tento usar

porque a gente é medido, né, por isso... só que eu vejo que não funciona, aí

eu entro, tem uma outra sugestão que eu acho que é mais apropriada,

apresento pro cliente e ele, geralmente, escolhe aquilo que realmente faz

mais sentido pra ele. Se eu acho que o cliente não vai aderir ao que o banco

tá dando, eu recomendo uma coisa que eu acho que vai aderir, eu saio da

regra. (Privada_4)

E, por fim, o gerente Privada_5 revela a reflexão extrínseca (aquela voltada sobre as

relações entre o trabalho e diferentes aspectos da organização) como estratégia de

aprendizagem no trabalho. O entrevistado questiona a forma pela qual a instituição financeira

oferece seus produtos e serviços e a necessidade de uma segmentação de mercado, definindo

uma política de marketing para cada segmento selecionado:

[...] A gente poderia mudar bastante coisa, na verdade. É, eu acho que a

gente vende muito, como eu te falei, por uma questão de quantidade, e não

por qualidade, esse é um ponto muito forte: vender o produto certo pro

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cliente certo, sabe, o banco fala muito disso, até nas nossas reuniões a gente

tem muito esse ponto, mas não é o que acontece porque as metas não

condizem com isso. A gente tem uma dificuldade muito grande de vender o

produto certo pro cliente certo devido à quantidade de meta que eu tenho.

Então, a gente poderia sim, de uma outra forma, tentar, sei lá, criar um

produto novo, alguma coisa que atendesse hoje os nichos diferenciados que a

gente tem, de cada cliente. Hoje, eu tenho um produto específico pra, sei lá,

de uma classe A à classe D, entendeu, não tem um público alvo específico, a

gente tem segmentos com públicos específicos, mas os produtos,

teoricamente, eles são direcionados quase iguais, eles são meio que

padronizados... Isso poderia ser diferente, poderia mudar [...] (Privada_5)

Já, no que tange à estratégia de aprendizagem Autoanálise, é possível observá-la nas

falas dos gerentes participantes Privada_1, Privada_3, Privada_4 e Privada_5, segundo as

transcrições a seguir. Estes gerentes demonstram que são capazes de fazer uma autoavaliação,

principalmente, em relação às competências pessoais ou comportamentais, indicando pontos

que ainda precisam ser desenvolvidos:

[...] Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa em saber buscar um pouco

mais de informação, né, de atender, aprender um pouco mais e também, às

vezes, a própria necessidade ali em situações que, às vezes, não tinha o

gerente e você tinha que prestar um atendimento, então eu me colocava ali à

disposição pra poder auxiliar e a experiência veio ocorrendo dessa forma, né,

de forma natural, você ia buscando a informação, ligando em centrais de

atendimento ao gerente pra poder levantar determinado procedimento que

você não sabia, então, foi um pouco meio que na prática também essa

atividade. (Privada_1)

[...] Eu sou uma pessoa que eu sou muito enrolada. Como eu posso explicar?

Eu não sou muito prática. Às vezes, eu “sento” com o cliente e vou

divagando, a gente vai batendo papo e vai conversando... eu não sou muito

ágil nas minhas tarefas... Eu acho que eu me enrolo nos processos. Eu quero

fazer uma entrega de tão boa qualidade pro cliente que, às vezes, eu vou

muito no detalhe e, assim, é uma coisa que não tem necessidade pra aquela

situação, em alguns momentos, sim, em alguns momentos, não, e eu perco o

timing. Então, assim, é uma coisa que eu tô melhorando, a minha gestora

sabe dessa minha deficiência, não é segredo pra ninguém aqui na agência, só

que... ela tá trabalhando isso em mim, né... Eu preciso aprender a ser mais

rápida [...] (Privada_3)

[...] Eu preciso ser um pouco mais firme, acho que sou muito boazinha

(risos)... Eu fico sempre buscando uma solução porque eu me coloco muito

no lugar da pessoa, né, e ser mais firme, às vezes, o cliente, ele abusa um

pouquinho, né, do gerente, e aí a gente acaba fazendo tudo por eles [...]

(Privada_4)

[...] Eu sou visto como meio que bonzinho, sabe, porque, assim, eu sou

muito ligado a metas, eu sou muito rápido, eu sou muito, como que eu posso

te falar, competitivo nesse ponto, então eu “puxo” eles (os subordinados)

demais, mas eu tenho também um “coração meio mole”, eu não consigo ser

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duro o suficiente como eu deveria ser em determinados momentos, esse é um

problema que eu tenho que tentar, de alguma forma, consertar. Eu falo, só

que eu falo com palavras pensadas, palavras que eu tento não magoar, sabe,

de uma certa forma, fazer com que o funcionário não se perca [...]

(Privada_5)

A estratégia de aprendizagem autoanálise é relevante para o desenvolvimento de

competências gerenciais, na medida em que proporciona ao gerente uma autoavaliação sobre

suas principais virtudes, que podem ser exploradas e potencializadas, mas, ao mesmo tempo,

uma reflexão sobre as ações e comportamentos que precisam ainda ser adquiridos ou

aprimorados.

A próxima estratégia de aprendizagem observada nas falas dos gerentes participantes

Privada_1, Privada_3 e Privada_4 é a Observação-modelo/reprodução. A seguir, as

principais transcrições a respeito desta estratégia.

O gerente Privada_1 afirma que utiliza a estratégia de aprendizagem reprodução; em

um primeiro momento, observando o comportamento de colegas de trabalho com mais

experiência no exercício do cargo gerencial; em seguida, colocando em prática aquilo que,

previamente, fora examinado:

Já fiz e, normalmente, faço também (aprender por reprodução). Eu,

dependendo da informação, é claro, se eu verificar que é algo... também... tá

muito diferente do que eu acredito do que seja a forma correta, eu vou buscar

outras informações, ou na própria Intranet, mas, basicamente, dentre as

pessoas que eu busco as informações, que são pessoas um pouco mais

experientes, ou até mesmo já com uma larga experiência da função que tá

sendo exercida, eu observo, primeiro, e faço de acordo com o que ela me

passou também, meio que já reproduzo. (Privada_1)

A gerente Privada_3, por sua vez, aponta que o profissional precisa ter simplicidade

para que a estratégia de aprendizagem observação-modelo/reprodução possa ser, de fato,

utilizada. A entrevistada sugere que a competição existente entre os gerentes pode ser uma

barreira para que tal estratégia de aprendizagem se concretize. No entanto, a gerente em

questão admite não ser competitiva, incorporando e reproduzindo as melhores práticas e

atitudes de colegas de trabalho considerados por ela como modelos de gerentes a serem

seguidos:

[...] Nós temos que ter humildade pra isso (aprender por reprodução) porque

têm pessoas que são meio orgulhosas, que não querem: eu tenho mais

experiência, eu tenho mais tempo de banco, eu faço do meu jeito, sempre

deu certo. Eu já sou bem flexível, né, porque eu já passei por várias

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situações... Porque eu não tô competindo com ninguém, e aí fica mais fácil

de você aceitar pessoas, de repente, que têm menos idade que você. Eu tenho

37 anos, minha gerente geral tem 28, né, então, quer dizer, tá sendo treinada

outra gerente que trabalha aqui conosco, ela entrou depois de mim no banco,

ela tem menos tempo de banco que eu, tem uma “bagagem” bem menor que

a minha, mas ela é dez anos mais nova que eu também e ela já tá sendo

treinada pra ser gerente geral, e eu falei pra ela: “você é meu benchmarking”,

porque ela é muito ligeira, muito acelerada, e, assim, ela é muito “antenada”

também, dez anos fazem muita diferença... Eu não me importo em hipótese

alguma, não, se ela tá dando resultado, eu também quero seguir [...]

(Privada_3)

É interessante observar na transcrição a seguir a distinção que a gerente Privada_4 faz

em relação à estratégia de aprendizagem observação-modelo/reprodução: ela afirma não

utilizar tal estratégia quando tem como referência seus colegas de trabalho, por acreditar que

cada cliente demanda um atendimento personalizado, ou seja, o cliente é quem molda o

comportamento do seu gerente; entretanto, a gerente em questão admite utilizar a estratégia de

aprendizagem observação-modelo/reprodução tendo como base seus superiores hierárquicos

(modelos de liderança a serem seguidos), uma vez que almeja um cargo gerencial de maior

importância na estrutura hierárquica do banco pesquisado:

Olha, eu já tentei fazer isso (aprender por reprodução), mas não consigo

porque acho que cada um desenvolve um jeito, então, por mais que funcione

pra aquela pessoa, talvez pra mim não funcione, porque, muitas vezes, a

colocação, o cliente, porque a gente sente o cliente, né, então a gente tá

sentindo o cliente pra gente poder oferecer alguma coisa ou apresentar

alguma solução, então eu acho que cada caso vai ser diferente... Então, já

tentei porque ah, deu certo, puxa, esse mês a pessoa conseguiu, eu não tô

conseguindo, vou fazer igual, não funciona, eu tenho que identificar uma

forma minha própria pra eu conseguir atingir aquele objetivo... Espelhar a

gente se espelha em cargo... que nem, eu busco um cargo de liderança maior,

então eu busco os líderes em destaque, então são pessoas que eu olho [...]

(Privada_4)

No que tange à estratégia de aprendizagem Feedback, alguns trechos das falas dos

gerentes participantes deste trabalho foram selecionados para exemplificá-la.

O gerente Privada_1, por um lado, enfatiza a importância de receber feedbacks de seus

superiores hierárquicos, através de uma avaliação de desempenho, para o seu plano de carreira

no banco. Os gerentes Privada_2, Privada_3, Privada_4 e Privada_5, por outro lado, citam a

avaliação de desempenho 360º (avaliação de desempenho formal feita por

pares/colegas/superiores) e outros exemplos de avaliação como formas de receber feedback

sobre sua atuação gerencial para que, assim, possam promover o desempenho de

competências necessárias:

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[...] A gente tem feedbacks também pra poder tá fazendo esse plano de

carreira, alinhando mesmo se você tá na condução do caminho correto, né,

depende do seu desempenho, não tem um tempo mínimo de carreira, vai

depender das metas, do perfil como pessoa, acadêmico também, então tudo é

alinhado, acadêmico com... os resultados, e chegam num... a gente chama de

“n”, né, que é um resultado final e, baseado naquele “n”, que a gente vai

ficar enquadrado num quadrante que a gente... pode ser promovido, ou até

mesmo um aumento de salário, então, isso é medido anualmente, então, você

tem um feedback sobre isso também, tem uma avaliação de desempenho

com seu gerente geral direto. (Privada_1)

[...] A gente tem dois eixos aqui – que um é de resultado e o outro é de

relacionamento pessoal, então nós somos julgados pelos nossos pares

também, e esse resultado, ele também influencia bastante na escolha do

líder, é uma avaliação 360º... O feedback é constante [...] (Privada_2)

[...] Somos avaliados, inicialmente, que a gente fala que é eixo “x” e “y”: o

eixo “x” é produção, né, então, aí eles fazem um gráfico que eles veem em

qual quadrante você está, então o eixo “x” é produção, né, é o seu trabalho.

O eixo “y” são pessoas, então, quem te avalia, os meus pares, parceiros: os

pares seriam da área gerencial, os parceiros seriam da área operacional, né,

que a gente já não trabalha diretamente, e eu me autoavalio, e eu recebo

avaliação da minha gestora. E aí o banco vê em qual quadrante você está e,

dependendo, se você for “super” gerente na produção, mas na parte de

pessoas você for péssima, o banco vai trabalhar esse quadrante em você... O

gerente geral que faz o acompanhamento, né, então ele trabalha o ano inteiro

comigo, me dá feedbacks pra eu melhorar essa condição que tá no meu

resultado. (Privada_3)

[...] O tempo todo a gente recebe feedback, desenvolvimento a gente vê o

tempo inteiro, né, o de performance comercial, o tempo todo, e a cada seis

meses a gente tem a avaliação da qualidade, então a gente é medido também

pela qualidade: ligou, quanto tempo demorou pra retornar, tudo isso, essa

tensão, né [...] (Privada_4)

[...] Sempre recebo (feedback) e, normalmente, são positivos, mas é

justamente por aquilo que eu te falei: 80% é meta, focado em meta. A parte

comportamental, basicamente, não pesa muito [...] (Privada_5)

A gerente Privada_4 lembra, ainda, o feedback oriundo de seus clientes, quando

trabalhava na instituição financeira concorrente, conforme transcrição a seguir:

[...] Quando eu saí do outro banco, muitos clientes quiseram saber pra onde

eu fui, o que aconteceu, por que você não me leva, continua gerenciando,

então, assim, aí que você tem um feedback, né, do seu trabalho em si, e hoje

eu tô desenvolvendo, o que eu quero desenvolver são pessoas, né, então é a

liderança que é o meu foco, gerente da agência, né, a princípio, o próximo

cargo é ser gerente geral [...] (Privada_4)

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A estratégia de aprendizagem Mentoria e tutoria, que é ser assistido por um mentor

ou tutor no processo de desenvolvimento de competências gerenciais (ANTONELLO, 2011),

não é observada nas falas dos gerentes pertencentes à instituição financeira privada.

Já, a estratégia de aprendizagem Mudança de perspectiva é revelada nas transcrições

dos gerentes participantes Privada_1, Privada_2 e Privada_4. Aqui, os gerentes entrevistados

comentam sobre sua mudança de papel, transferência ou troca de trabalho, proporcionando,

consequentemente, uma mudança de perspectiva e o desenvolvimento de novas competências,

agora, gerenciais.

O gerente Privada_1 comenta que, quando assumiu as funções gerenciais, as tarefas

operacionais passaram a ser executadas por seu assistente; e, como consequência, as

atividades comerciais e gerenciais ficaram sob sua responsabilidade, contribuindo para uma

mudança de perspectiva:

[...] Quando você assume o cargo de gerência, surge um universo de outras

atribuições que você não... por mais que você acompanhe muito próximo o

gerente a quem você se reportava e, muitas vezes, eu exercia já a função na

ausência do gerente titular também, mas surge uma série de atribuições que,

até então, você não tinha vivenciado... E aí aprendi muita coisa também, né...

As atividades eram, basicamente, mais operacionais e eu passei a ter um

assistente agora, que poderia fazer a parte operacional pra mim e as minhas

atribuições eram muito mais comerciais e de gestão mesmo. Então, a parte,

principalmente, comercial do banco eu incorporei. (Privada_1)

Para o gerente Privada_2, a ênfase da mudança de perspectiva está no relacionamento

que se estabelece com os clientes da instituição financeira. O entrevistado ressalta o

estreitamento da relação com seus clientes quando passou a atuar como gerente. Ainda

segundo o gerente Privada_2, esta aproximação pode favorecer, de alguma maneira, sua

atuação gerencial no banco:

[...] Muda bastante, principalmente, no tato com o cliente, lógico que o

produto tá tudo na cabeça, né, só que a gente começa a direcionar e ter

algumas situações aqui que a gente aprende na marra ou lembra na marra,

né, mas tá tudo guardado, mas o tato com o cliente, ele muda bastante, né,

você... antes você atendia o cliente como um assistente, então você resolvia

muitos problemas e, hoje, você faz negócio, né, desenvolve mais, bastante,

alguns clientes viram amigos, então é um relacionamento legal e isso, no

início, não tem até por falta de afinidade, né, mas, depois de um tempo, você

já tem muito mais “bagagem” de relacionamento e isso te ajuda muito aqui

[...] (Privada_2)

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A gerente Privada_4, por sua vez, aponta para o desenvolvimento de novas

competências que a mudança de perspectiva proporcionou: quando assumiu as funções

gerenciais do banco, teve de aprender a delegar tarefas e a desenvolver autoconfiança e

confiança nas pessoas de sua equipe:

[...] No começo (da atuação como gerente), você se sente... eu era assistente,

eu fazia tudo, então quando eu peguei minha carteira, eu achei uma

dificuldade muito grande em mim, que eu tive que desenvolver, que é o

delegar, então eu não conseguia delegar porque eu não confiava que a pessoa

ia fazer do jeito que eu fazia, ou então no prazo que eu precisava que fizesse,

então eu não conseguia delegar, então eu tive que trabalhar isso, o banco me

ajudou também, e aí eu fui desenvolvendo e criando a confiança de passar o

meu cliente, um problema pra uma outra pessoa, minha assistente resolver,

que foi um pouco difícil, mas, hoje, eu já tenho isso já trabalhado, já delego,

mas ainda algumas coisas eu seguro pra mim porque eu preciso encantar o

meu cliente, de alguma forma [...] (Privada_4)

Em relação às estratégias de aprendizagem Interação e colaboração/busca por ajuda

interpessoal e Consulta a material escrito, é possível observá-las nas transcrições a seguir:

Num primeiro momento, eu vou buscar os meus pares que, porventura,

possam ter alguma informação já mais recente, ou até mesmo maior

experiência pra poderem me auxiliar. É mais rápido, mais fácil. A busca... eu

sempre vou no meu par. (Privada_1)

Tá, vamos lá, além de consultar pares, lógico que ajuda muito, cada um tem

sua experiência de vida e profissional também, a gente recebe e-mail de

atualização, de produtos... Nessas informações são atualização de produtos,

recomendações, como tá o mercado, painel econômico e, além disso, a gente

tem todo um material de apoio pra qualquer informação que a gente possa

passar pro cliente, seja de produto, de investimento, de conquista, a gente

tem um material nosso de apoio, como se fosse uma Intranet mesmo, tá,

nesse material de apoio a gente tem um leque de opções que a gente

consegue consultar tudo que precisa dentro de todos os produtos do banco...

O par, a gente consulta mais por experiência, né... A gente tem, troca

bastante essa conversa dentro da agência praticamente o dia inteiro [...]

(Privada_2)

Então, inicialmente, quando a dúvida tem que ser resolvida de imediato,

porque, às vezes, o cliente precisa daquela resposta urgente, urgentíssimo, eu

tento buscar informações com os meus pares, é mais prático, porém, quando

a gente já tem esse relacionamento, essa forma de trabalho aqui na agência,

quando o gerente geral fala: “eu não tenho certeza”, aí a gente tem que

buscar algo mais concreto, que tá numa Intranet, ou que não tá aqui, tá na

nossa central, que a gente tem uma central de atendimento gerencial, né, um

número de atendimento pra gerentes, e aí, quando alguma coisa foge da

nossa alçada completamente, aí nós temos outra ferramenta, que é a abertura

de ocorrência, que é tratada diretamente com a área, entendeu? E isso a gente

também tem metas, tem um prazo de respostas pro cliente, né, porque, assim,

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a preocupação maior do banco é o SAC (Setor de Atendimento ao Cliente),

SAC geral e, principalmente, o SAC de atendimento, então a gente tem todo

esse prazo pra dar pro cliente, mas a gente, geralmente, busca informações

com os pares. (Privada_3)

[...] Nós temos um aplicativo, né, vamos dizer assim, um sistema no banco

que é o “Clique”, que é um sistema, como se fosse um Google, então, tudo

que a gente precisa, a gente joga uma palavra-chave e ele vai “puxar” pra

você aquele assunto. Então, ali tem orientações, né, se aquilo não me atender

de imediato, a gente tem a central pros gerentes, então a gente liga nessa

central, fala aquilo que a gente precisa e ela direciona pra um atendente, e aí

essa pessoa vai passar toda a orientação também pra nós e, quando é muito

urgente que a gente não tem tempo de fazer nenhum dos dois, a gente corre

atrás aqui do pessoal, mas as orientações, as que eu busco, pelo menos, é

sempre o que o banco traz aqui no “Clique”. Telefone, acho que eu ligo

mais. Quando o cliente tá na minha frente, eu busco (a informação) aqui,

mas se o cliente me dá um tempo, ele me liga e fala: “olha, já retorno”, aí eu

já ligo lá, acho que é mais rápido, acho bem mais rápido. (Privada_4)

A gente conversa, às vezes, tá, principalmente com o pessoal que é mais

antigo de banco, que já tem uma malícia um pouquinho maior, a gente tenta

conversar sim, mas nem sempre é... de certa forma, somos atendidos, até

porque muda muito, e esse pessoal, que é um pouquinho mais antigo, tem

essa dificuldade pra se adaptar à mudança, então o negócio começa a ser um

pouquinho mais rápido e eles acabam ficando sem acesso também. Quando

eu preciso de alguma coisa, usualmente, eu busco na internet, no Google, ou,

se é dentro do banco mesmo, a gente tem um sistema que atende diretamente

os gerentes, então eles têm uma cartilha lá, com todas as informações de

produtos, é uma central de atendimentos só pra gerentes, a gente entra em

contato lá quando é alguma coisa mais específica, que tá fora do cotidiano e,

automaticamente, eles dão as informações lá pra gente. (Privada_5)

Analisando as falas dos gerentes participantes da instituição financeira privada

referentes às estratégias de aprendizagem interação e colaboração/busca por ajuda

interpessoal e consulta a material escrito, é possível afirmar que, assim como verificado nas

falas dos gerentes participantes do banco público, há uma preferência natural pela utilização

da estratégia de aprendizagem interação e busca por ajuda interpessoal, uma vez que recorrer

a pares ou a superiores hierárquicos, quando se tem a necessidade de informações mais

detalhadas para a execução do trabalho, é mais prático e rápido, principalmente em um

ambiente de trabalho onde há falta de tempo para uma leitura adequada de normativos e

manuais editados pela organização devido às pressões e demandas do dia a dia.

Vale destacar que os gerentes pertencentes à instituição financeira privada pesquisada,

diferentemente dos gerentes pertencentes ao banco público pesquisado, dispõem de uma

central de atendimento ao gerente, ou seja, um número telefônico de atendimento para

gerentes sempre que houver a necessidade de uma orientação sobre algum produto/serviço ou

procedimento do banco.

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Além disso, é possível afirmar, com base nas falas dos participantes, que os gerentes

do banco privado contam com um sistema de busca semelhante ao Google, no qual os

usuários podem pesquisar informações relativas ao universo financeiro, facilitando, dessa

forma, a aprendizagem e o desenvolvimento de competências gerenciais.

Em relação à aprendizagem do uso de novos sistemas e aplicativos de informática, é

possível observar mais uma diferença entre os gerentes entrevistados pertencentes ao banco

público e os gerentes entrevistados pertencentes ao banco privado. Todos os gerentes

entrevistados da instituição financeira pública compartilham experiências e estratégias de

aprendizagem muito similares que são, principalmente, a busca por ajuda interpessoal.

Entretanto, na instituição financeira privada, os gerentes entrevistados contam com

treinamentos formais, presenciais ou não, para novos sistemas e aplicativos de informática.

Segundo a gerente Privada_4, há, ainda, a figura de um “gerente modelo”, que é responsável

pelo treinamento e disseminação dessas informações na rede de agências do banco. As

transcrições selecionadas a seguir exemplificam esta constatação:

[...] Nós temos, além dos treinamentos que são os presenciais, que são em

determinadas datas, a gente vai até a matriz do banco pra poder ter aquela

carga horária do curso... a gente também tem os cursos a distância, né, que a

gente faz aqui, e a gente disponibiliza durante o decorrer do dia aqui do

banco um horário, uma hora, ou que seja um período específico pra poder

fazer esses treinamentos de novas ferramentas. Vídeos, né, que eles (o

banco) disponibilizam, também, institucionais... tem um EAD, a gente tem a

senha de acesso, acessa, e eu tenho todos os cursos que eu já realizei e os

que eu tenho a realizar ainda pra minha formação também ou atualização de

sistemas. (Privada_1)

[...] Aqui no banco tem bastante isso (treinamento para novos sistemas de

informática e cursos em geral). A gente tem um “sisteminha” nosso de

treinamento aí que se chama “Meu Foco”, né. É um sistema que

praticamente, não posso dizer diariamente, mas, pelo menos, umas duas

vezes por semana, vem um treinamento, seja de atualização de sistema, seja

de produto... Eles (o banco) enviam e a gente tem um certo tempo pra

concluir esse treinamento, então a nossa atualização aqui é contínua, né,

principalmente porque, como trabalha muito com investimento, o produto

muda muito, então tem produtos novos que entram na grade, a gente faz um

conference, né, com a área de investimentos e, a partir desse conference, eles

disponibilizam o curso... A gente mesmo faz a própria conferência porque a

gente entra no sistema e aparece aqui quantos cursos têm pendentes pra

gente fazer... tem relatório pro nosso líder aqui, e relatório também pra

regional, pro superintendente, então, assim, se ele quiser saber hoje se eu fiz

o curso que tá disponível, ele consegue. (Privada_2)

A gente tem o treinamento, não é em sala, tá, mas a gente tem vídeos, então

tudo que o banco lança de novidade, ele traz pra nós um vídeo explicando

até onde clica, como se fosse um EAD, mas é uma gravação. Ele (o banco)

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distribui pra todas as agências, e a gente tem treinamentos também, que são

treinamentos do nosso gerente modelo, que a gente tem um gerente modelo,

então a pessoa vem com a informação nova e faz um curso conosco, então

ela passa o dia com a gente apresentando a nova ferramenta... Esse gerente

fica na rede de agências, então, a cada dia, ele é designado pra um local,

então ele não tem um lugar fixo, ele treina a gente se há uma ferramenta

nova no banco, né, entendeu? Agora, se é alguma informação nova, algum

produto novo que foi lançado de investimento, é tudo mediante vídeo, e

conference também que nós temos... A gente tem, também, muita reunião,

né, por telefone [...] (Privada_4)

Finalmente, as estratégias Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática e

Cursos e treinamentos são citadas pelos gerentes da instituição financeira privada nas

transcrições selecionadas a seguir.

O gerente Privada_1, por exemplo, relata que teve de fazer um treinamento formal,

antes de assumir o cargo de gerente no banco pesquisado, apenas para adquirir a cultura do

novo banco, uma vez que ele já havia ocupado o cargo de gerente em uma instituição

financeira concorrente:

[...] O treinamento foi comportamental, foi mais a questão de ajuste de

algumas partes técnicas também, né, até mesmo pra alinhar dentro do que eu

aprendi com os pares e... os procedimentos corretos que devem ser feitos, né.

Então, isso foi mesmo uma questão só de alinhamento do que eu já fazia

com o que deve ser feito mesmo dentro de uma função de um gerente, e o

restante foi mais parte comportamental, né, grande parte mais de ajuste

comportamental, mas a parte técnica em si foi mais só pra alinhar o que eu já

fazia e com o alinhamento do banco mesmo do que ele pedia. Tive um

treinamento logo no início também... demorou um mês apenas, foi rápido, e

aí aprendi muita coisa também, né, então, primeiro, a cultura do banco, da

instituição, procedimentos, embora parecidos também com os da outra

instituição, mas era mais questão de alinhar mesmo com a instituição atual

[...] (Privada_1)

O gerente Privada_2, por sua vez, iniciou sua carreira profissional no banco

pesquisado como assistente comercial; porém, antes de ser promovido, ele teve de passar por

um treinamento formal, a fim de desenvolver as competências técnicas e comportamentais

necessárias para o exercício do cargo gerencial, conforme relatado na transcrição a seguir:

[...] Você inicia um treinamento, aí você sai da tua agência, você inicia um

treinamento de uns 30 dias em sala, o banco investe muito nesse

treinamento, assim, o assistente já tem uma boa “bagagem” do que ele

precisa pra ser um gerente. Lá, ele vai desenvolver algumas competências

pessoais e entrar fundo em todos os produtos, então, assim, fundos de

investimento, fundos DI, renda fixa, então lá eles dão todo esse treinamento

de todos os produtos e, sabendo que, quando você entrar aqui, ainda você vai

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ter todo esse material, né, então, eles fazem uma cartilha, como se fosse um

fichário, você leva tudo isso pra tua casa, e você pode trazer... Tudo é

fornecido no treinamento, a gente não tem custo nenhum... Então, o banco

investe bastante nas competências, ele não simplesmente promove o

assistente e coloca ele na cadeira do gerente, ele promove o assistente,

prepara e, a partir daí, ele coloca você na cadeira como gerente, e você ainda

tem dois meses com todas suas metas reduzidas a 50% pra desenvolver e se

assentar no lugar e saber realmente o que você tá fazendo. O banco tem

muito isso de processo, não gosta de pular etapas, então, se você vai fazer,

vai fazer da forma certa. Então, foi promovido, faz o treinamento, depois

senta na cadeira [...] (Privada_2)

A gerente Privada_4 também menciona o treinamento pelo qual teve de passar antes

de assumir as responsabilidades de um cargo gerencial, de acordo com a transcrição a seguir:

A gente teve um treinamento de, se eu não me engano, um mês, que aborda

assuntos em geral: investimentos... Primeiro, assim, eu recebo a função, né,

já recebo a carteira e já vou me apresentando, aí, nesse um mês, eu fiz o

curso, fico duas semanas em sala de aula. O treinamento é sobre tudo:

produtos, serviços, sobre onde eu vou achar, buscar informações, relatórios

que antes a gente não via, né, relatórios do que o cliente tem, deixou de ter,

se ele tem na concorrência, se não tem, então mostrava as ferramentas do

banco pra gerência, mostrava e falava sobre o comportamental também, era

bem dividido, foi um curso bastante... assim, que deu pra gente sugar muito,

deu pra dar uma luz do que é ser um gerente. São quatro semanas completas,

é um curso fechado [...] (Privada_4)

Os gerentes Privada_1, Privada_2 e Privada_3 ressaltam, ainda, os cursos oferecidos

dentro da própria instituição financeira, através de uma Intranet, e as bolsas de estudo para

cursos de graduação ou pós-graduação condicionadas à avaliação de desempenho:

[...] Uma das formas de se fazer um curso aqui é através da Intranet. A gente

tem um portal de desenvolvimento. Então, ali, tem vários cursos que você

pode desenvolver: parte comercial, operacional, então você tem autonomia

de você mesmo realizar. Tem também os que são recomendados, os cursos

novos, o banco recomenda, né, a gente recebe e-mail recomendando pra

poder fazer... Fora isso, têm bolsas também, mas a bolsa em si, o curso de

pós-graduação, ele é direcionado através do desempenho que você tem nas

suas metas, tá atrelado a essa avaliação, então, se você tem uma boa

avaliação, você é bem avaliado, no final desse período você pode ter uma

bolsa pra fazer uma pós-graduação ou determinado curso. Então você tem

esse incentivo nesse ponto, mas depende da sua avaliação. O curso é

recomendado pelo superior imediato, por exemplo, se eu tivesse apenas a

graduação, seria recomendado pra mim o curso de pós-graduação, pra eu

melhorar como gerente. (Privada_1)

[...] A que eu estou fazendo (pós-graduação), Mercado de Capitais porque

trabalho muito com investimentos, né... Na verdade, ela não é paga pelo

banco, ela é uma pós in-company que o banco paga parte dessa pós-

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graduação, um percentual e, além desse percentual, ainda tem o bolsa-

auxílio, então, assim, para o bolsa-auxílio todos os funcionários podem

concorrer, mas nem todos conseguem... Então, assim, lógico, tem alguns pré-

requisitos e algumas premissas que devem ser seguidas pra conseguir, tá... É

pra todos os funcionários do banco: primeira faculdade, segunda faculdade e

primeira pós-graduação. Então o banco, além de ter essas parcerias com

faculdade que tem o desconto, né, ele ainda disponibiliza o bolsa-auxílio,

que é como forma de reembolso. Ele (o banco) incentiva bastante [...]

(Privada_2)

[...] Nós temos vários cursos online, né, e, às vezes, pra várias coisas, tudo

que você imaginar tem curso online no banco, tudo, pra tudo... Nós temos

uma meta de cursos a fazer no mês, né, então, o que que nós determinamos

aqui na agência: toda sexta-feira, entre 4h00 e 5h00 da tarde, nós desligamos

os telefones, gerentes não atendem mais, e aí nós paramos só pra fazer curso,

todo mundo... Em relação a cursos de graduação ou pós, tem alguns critérios,

né, pra você ser elegível a esse benefício, né, se eu não me engano é um ano

de casa, né, e você tem que ter, aí que vem a sua avaliação... tem que estar

entregando o objetivo do banco e tem que ter mais de um ano de casa, aí

você é elegível a ter a bolsa do banco, né, ele paga um percentual [...]

(Privada_3)

4.4.3 Banco público versus banco privado: comunalidades e especificidades

O quadro 9 apresenta as estratégias de aprendizagem no trabalho comuns e

particulares utilizadas pelos gerentes participantes desta pesquisa pertencentes às instituições

financeiras pública e privada:

Quadro 9: Comunalidades e especificidades das estratégias de aprendizagem entre

banco público e banco privado

Fonte: Elaborado pelo autor com base nas entrevistas.

Instituição Financeira

Pública/Instituição

Financeira Privada

Estratégias de Aprendizagem

Experiência anterior e transferência extraprofissional

Reflexão Extrínseca e Intrínseca

Autoanálise

Observação-modelo/reprodução

Feedback

Mudança de perspectiva

Interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal

Consulta a material escrito

Cursos e treinamentos

Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática

Experenciar - observada apenas no banco privado

Mentoria (mentoring ) e tutoria (coaching ) - observada apenas no banco público

Comunalidades

Especificidades

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Conforme é possível observar no quadro 9, e, de acordo com as estratégias de

aprendizagem definidas por Antonello (2011), não há, de maneira geral, diferenças

significativas na utilização dessas estratégias pelos gerentes entrevistados das instituições

financeiras pública e privada.

Quanto às comunalidades (pontos em comum), vale destacar, mais uma vez, com base

nas falas dos gerentes entrevistados dos bancos público e privado, uma preferência natural

pela utilização da estratégia de aprendizagem Interação e colaboração/busca por ajuda

interpessoal, que, conforme Antonello (2011), é a aprendizagem oriunda de outros

profissionais da mesma área ou a partir de clientes, trabalho em equipes multidisciplinares e

rede com outros profissionais da mesma área. Tal predileção pode ser explicada pela escassez

de tempo para uma leitura apropriada de normativos e manuais editados pela organização em

um ambiente de trabalho dominado pelas pressões e demandas do dia a dia.

Considerando-se as especificidades (diferenças) entre os bancos público e privado, por

um lado, a estratégia de aprendizagem Experenciar, que, segundo Antonello (2011), é aquela

que se refere a experiências amplas, multifacetadas, atividades pioneiras e de inovação,

experiências traumáticas advindas de situações difíceis e processos de mudança

organizacional, como por exemplo reestruturação ou fusão, não é observada nas falas dos

gerentes oriundos da instituição financeira pública, pois nenhum deles vivenciou tais

situações ao longo de suas carreiras profissionais.

Por outro lado, na instituição financeira privada, a estratégia de aprendizagem

Experenciar é revelada na fala de um dos gerentes participantes desta pesquisa (Privada_5),

uma vez que o banco onde ele trabalhava fora adquirido por outro banco privado, em um

processo de fusão, possibilitando ao gerente em questão aprender por meio de experiências

advindas de situações difíceis e processos de mudança organizacional.

Outra especificidade entre os bancos público e privado, é a estratégia de aprendizagem

Mentoria e tutoria, que é ser assistido por um mentor ou tutor no processo de

desenvolvimento de competências gerenciais (ANTONELLO, 2011). É possível observá-la na

fala de um dos gerentes pertencentes à instituição financeira pública (Pública_4). Segundo

esta gerente, o banco já tentou institucionalizar tal prática de aprendizagem informal, porém

sem muito sucesso.

Como já visto neste trabalho, a estratégia de aprendizagem Observação-

modelo/reprodução, que é a observação estruturada e crítica dos outros, de acordo com

Antonello (2011), pôde favorecer o surgimento da estratégia de aprendizagem Mentoria e

tutoria na instituição financeira pública.

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Em relação ao banco privado, a estratégia de aprendizagem Mentoria e tutoria não é

observada nas falas de nenhum dos gerentes entrevistados.

A próxima subseção deste trabalho apresenta e analisa o desenvolvimento de

competências dos gerentes entrevistados pertencentes às instituições financeiras pública e

privada.

4.5 Desenvolvimento de competências gerenciais

A fim de atingir os objetivos propostos neste trabalho, procurou-se, também,

identificar nas entrevistas com os participantes da pesquisa as diferentes competências

gerenciais, segundo o modelo de Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), por ser

metodologicamente útil para a finalidade do presente estudo.

Como já visto aqui, de acordo com Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), o modelo

de competências profissionais apresenta uma estrutura de quatro componentes fundamentais:

competência de conhecimento ou cognitiva, competência funcional, competência pessoal ou

comportamental e competência de valores/ética. Permeando essas competências centrais estão

as metacompetências e transcompetências, como comunicação, autodesenvolvimento,

agilidade mental, capacidade de análise, criatividade e solução de problemas.

Dessa forma, esta subseção apresenta e analisa o desenvolvimento de competências

gerenciais seguindo os templates iniciais de categorização dos dados da pesquisa (Apêndice

E). Para que haja uma melhor compreensão das informações, a apresentação e a análise desta

subseção são apresentadas separadamente, de acordo com o banco para o qual os gerentes

trabalham (público ou privado).

4.5.1 Banco público

Em primeiro lugar, as razões que levaram o participante da pesquisa, segundo ele

mesmo, a ser indicado para exercer a função gerencial são apresentadas, conforme

transcrições selecionadas a seguir.

O gerente Pública_2, por exemplo, afirma que, como assistente, já executava tarefas

inerentes a um gerente e, sempre quando havia necessidade, ele era requisitado para substituir

seu gerente temporariamente. Como na instituição financeira pública há um processo de

recrutamento interno para que o assistente seja promovido ao cargo gerencial, o entrevistado

teve de fazê-lo obrigatoriamente e, como ele mesmo afirma, contou com a recomendação de

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seu gerente anterior para que pudesse ser promovido, creditando, também, a sua ascensão

hierárquica a fatores políticos ou de influência pessoal:

[...] Acredito que as competências necessárias a um gerente pesaram bastante

pra que eu pudesse ser promovido aqui no banco. Como assistente, eu já

procurava desempenhar tarefas de um gerente e, quando o gerente tinha que

ser substituído por algum motivo, por exemplo, férias, licença, eu era o

escolhido pra ficar no lugar. Isso aconteceu algumas vezes. Daí, quando

abriu o processo (de recrutamento interno), eu resolvi me candidatar. Fiz a

prova, a entrevista e passei. Eu já tinha sido recomendado pelo meu gerente

na época pra ser promovido, então, de certa forma, tem um pouco de política

também, de influência, com certeza [...] (Pública_2)

Já, o gerente Pública_3 cita algumas competências que, segundo ele, são exigidas pelo

banco para que um assistente possa ser promovido para exercer as funções gerenciais. De

acordo com o entrevistado, a competência mais complexa para um gerente é saber lidar com

pessoas, habilidade esta que ainda precisa ser aprimorada por ele. Assim como o gerente

Pública_2, o gerente Pública_3 questiona a condução do processo de recrutamento interno que

seleciona candidatos ao cargo gerencial do banco:

Competência...Seriedade, fazer aquilo que tava se esperando de mim, né, que

sabia levar os aspectos, sabia lidar com os aspectos operacionais que o cargo

exigia, né... Acho que o mais difícil de ser gerente... é lidar com pessoas. Eu

acho que o pessoal confiava muito em mim, né, mas, assim, fazendo uma

autoanálise, eu acho que isso é o que eu mais preciso desenvolver, né, é lidar

com pessoas, que é o mais difícil do trabalho... Teve um processo de seleção

também, que é sempre muito questionável, porque tem uma etapa que é uma

entrevista com o gerente geral da agência e quem já tem indicação do seu

gerente ou de outra pessoa do banco acaba se saindo melhor [...] (Pública_3)

Para a gerente Pública_4, o principal motivo que a levou a ser promovida foi o fato de

que ela exercia um papel de gestão quando ainda era assistente, situação semelhante

observada com o gerente Pública_2. A gerente Pública_4 ainda faz comentários sobre o

processo de recrutamento interno para a seleção de gerentes da instituição financeira; além

disso, diz ter havido um feedback para explicar os motivos pelos quais foi escolhida pelo

banco para exercer o cargo gerencial:

[...] Era um momento de reestruturação, e eu tava desempenhando um papel

de gestão involuntariamente, não era o que era atribuído especificamente pro

meu cargo, mas eu tinha algumas situações-problema que só tinha a figura

daquela função que eu tava pra resolver, então, quando eu participei do

processo, já tinha uma identificação de que eu possuía algumas das

habilidades que eram necessárias pra esse cargo... Você faz uma entrevista e

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tem que ter uma classificação e algumas condições, né, no caso, ali, eu tinha

que ter o superior completo e uma pós-graduação em andamento... Esse

processo seletivo foi feito num ambiente interno, eu tinha pontuação pra

participar dele, e fui pra rodada de entrevistas, aí eu concorri com mais cinco

pessoas, e aí eu fui escolhida. Daí, você recebe um feedback do porquê você

foi escolhida, aí eles vão falando, né, dessas competências que você já vinha

apresentando na função que você tava antes, e aí o que tava sendo esperado

da minha atuação pra aquele momento... Tinha a exigência, ali, de você fazer

uma junção de grupos diferentes, tinha que ter uma habilidade com pessoas

significativa, você tinha que unir três grupos distintos de pessoas que

estavam vindo de unidades diferentes, reajustar os processos àquela nova

estrutura, na época, foi o que foi dito com relação às habilidades que eu tinha

apresentado já pra estar naquele cargo. (Pública_4)

A gerente Pública_5, por fim, declara ter ficado surpresa com a sua promoção, pois

esperava que outro candidato fosse ser escolhido para o cargo gerencial. A entrevistada faz

menção ao processo de recrutamento interno para a seleção de gerentes do banco, do qual

também participou, e, semelhantemente à gerente Pública_4, a gerente Pública_5 diz ter

recebido feedback em relação à promoção que recebeu:

Pra mim, na verdade, foi uma surpresa porque, quando eu vim pra cá, já

tinha uma pessoa que estava exatamente em um cargo abaixo do cargo de

gerência que hoje continua aqui, e eu estava três cargos abaixo em outra

unidade, então, assim, eu esperava que ele (outro candidato) fosse passar, é

claro. Bom... teve uma seleção interna, a gente teve que fazer uma produção

temática, elaborar um plano de trabalho, já pensando em ter assumido essa

posição e, no dia da entrevista, tinha que apresentar esse plano de trabalho...

Bom, me falaram que era uma questão estratégica também [...] (Pública_5)

É possível afirmar, com base nas falas dos participantes, que, para ser promovido ao

cargo gerencial na instituição financeira pública, além de ter as competências necessárias à

função, o gerente precisa passar por um recrutamento interno. Há um tipo de prova escrita,

que é a elaboração de um plano de trabalho, além de uma entrevista com o gerente geral da

agência requisitante da vaga. Como observado nas transcrições, a entrevista é um critério de

seleção questionado por alguns gerentes entrevistados, uma vez que um candidato pode ser

promovido ao cargo de gerente beneficiado por sua influência no banco, e não por fatores

meramente relacionados à meritocracia.

A seguir, as transcrições selecionadas revelam se as tarefas ou responsabilidades dos

participantes da pesquisa mudaram em função da promoção ao exercício do cargo gerencial.

Em primeiro lugar, a gerente Pública_1 afirma que as tarefas operacionais e as tarefas

gerenciais estão relacionadas entre si, embora as técnicas estejam muito mais sob

responsabilidade do assistente do gerente. De qualquer maneira, a entrevistada conclui que o

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gerente precisa ter domínio das atividades operacionais a fim de supervisioná-las, além, é

claro, de gerenciar sua equipe de trabalho:

[...] As tarefas são relacionadas. Logicamente, a parte operacional, a parte

mais técnica do trabalho está sob responsabilidade do seu assistente, mas

você já foi um assistente antes de ser um gerente, quer dizer, você conhece o

trabalho operacional muito bem, senão você não viraria gerente... Então, na

verdade, você tem que supervisionar o trabalho mais técnico, mais

operacional, além de gerenciar pessoas, delegar tarefas, zelar pelo trabalho

em equipe... É só mais trabalho, eu acho [...] (Pública_1)

Em seguida, o gerente Pública_2, apesar de dizer que o escopo de trabalho sofreu

alterações quando ele passou a exercer o cargo gerencial, afirma que ainda está atrelado a

atividades meramente operacionais, resultando, assim, em um acúmulo de tarefas:

[...] O escopo de trabalho muda, mas, de certa forma, tudo está relacionado.

O meu trabalho continua tendo uma boa dose de “mão na massa”, de tarefas

rotineiras, técnicas, operacionais mesmo... Além disso, tem ainda toda a

parte gerencial, que é a mais complicada porque eu tenho que lidar com

pessoas, liderar pessoas... isso requer competências não somente técnicas,

né, mas, principalmente, comportamentais [...] (Pública_2)

O gerente Pública_3 caminha na mesma direção, ao destacar que foram incorporadas

novas atividades a serem desempenhadas quando da sua promoção:

É acúmulo de tarefas, é isso... Também é acúmulo de tarefas, mas são outras

tarefas. Eu sou gerente de técnicos bancários, que chamam, né, que é o

atendente de agência... É acúmulo de tarefas... A descrição de cargo pro

gerente contempla mais atividades, não houve redução de atividades [...]

(Pública_3)

A gerente Pública_4 diz que continua executando atividades operacionais, porém de

forma pontual, pois houve apenas uma mudança parcial do seu escopo de trabalho:

Mudou o escopo, mas não totalmente. Eu continuei gerenciando processos

que eu já conhecia. Eu incorporei novas atividades, não continuei fazendo as

atividades anteriores tão pontualmente, tão efetivamente como eu fazia na

carreira técnica. Na carreira técnica, eu tinha que executar aquilo todo dia,

era mais operacional, e na gerência era, inicialmente, mais suporte até

conseguir reestruturar, reorganizar as atividades com a saída... porque eu

assumi a gerência e o meu cargo técnico não foi recomposto naquela equipe,

foi pra outra equipe, então eu somei aquelas atividades, então eu tive que

reajustar o grupo pra absorver o que eu fazia [...] (Pública_4)

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Por último, a gerente Pública_5 admite não ter conhecimento técnico pleno das

atividades realizadas pelos membros de sua equipe, porém a entrevistada reconhece a

importância desse entendimento e procura prestar suporte para seus assistentes sempre que

possível:

[...] Eu incorporei novas tarefas. Na verdade, assim, agora eu estou como

gerente de uma equipe que faz as mesmas tarefas que eu fazia antes mais

algumas (outras tarefas), então, assim, eu tenho também, assim, um certo

conhecimento técnico, não total de tudo aquilo que faz, mas, mesmo não

tendo isso, eu sei onde buscar a informação pra conseguir, que é o que eu

tenho feito também porque, mesmo não sendo atribuição minha essa questão

de dominar o conhecimento técnico, eu acho importante eu ter, então, assim,

mesmo não sendo atribuição, eu procuro ir atrás, dar suporte pra equipe e

também, assim, é conduzir todo mundo de maneira a chegar ao resultado que

a gente tem que chegar. (Pública_5)

Todos os gerentes entrevistados do banco público afirmam que houve um acúmulo de

tarefas e responsabilidades quando foram promovidos ao exercício do cargo gerencial. Além

de continuarem a desempenhar as atividades técnicas ou operacionais relacionadas às suas

funções, os gerentes tiveram de desenvolver competências comportamentais para liderar

equipes de trabalho e gerenciar conflitos de interesse.

A seguir, as competências cognitivas ou de conhecimento são apresentadas e

analisadas, conforme as transcrições selecionadas a seguir. As competências cognitivas ou de

conhecimento, segundo Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), dizem respeito aos

conhecimentos fundamentais da profissão. São classificadas em: conhecimento tácito-prático

(competências profissionais que caracterizam a atuação de uma pessoa), conhecimento

procedimental (“o que”, “quando”, “como” e “onde”) e conhecimento contextual

(conhecimento da organização, do setor de atuação).

A gerente Pública_1 sustenta que, para ser gerente da instituição financeira

pesquisada, é obrigatório ter graduação, preferencialmente em cursos como Administração de

Empresas, Economia, Ciências Contábeis ou Direito. Um curso de pós-graduação pode ser

considerado como um diferencial no processo de recrutamento interno que seleciona gerentes

para o banco. Segundo a entrevistada, uma formação acadêmica consistente contribui para

uma melhor compreensão das atividades de um gerente:

[...] É obrigatório ter um curso superior, pode ser em qualquer área, de

preferência, em áreas relacionadas, por exemplo, Administração, Economia,

Contabilidade, Direito. Um curso de pós-graduação também é muito

importante, pode ser um diferencial pra você ser promovido. Eu sou formada

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em Administração e tenho uma pós em Gestão Financeira, que me ajudou

muito a entender todo o meu trabalho [...] (Pública_1)

Já, o gerente Pública_2 atenta para o fato de que há uma certificação obrigatória para

que um profissional atue como gerente bancário: a CPA-10. Esta certificação é destinada a

profissionais que atuam na prospecção ou venda de produtos de investimento (títulos, valores

mobiliários, incluindo os derivativos, disponíveis no mercado financeiro e de capitais

brasileiro) junto ao público investidor, inclusive em agências bancárias ou plataformas de

atendimento (meio eletrônico e telefônico) (ANBIMA, 2016):

[...] Pra você ser gerente de contas, você precisa de uma certificação

chamada CPA-10, que é obrigatória agora. Sem essa certificação, você não

consegue mais trabalhar como gerente em agência... É uma certificação que

te habilita a trabalhar com produtos financeiros [...] (Pública_2)

A gerente Pública_5, por sua vez, demonstra ter consciência da necessidade do

conhecimento contextual para um gerente, ou seja, conhecimento da organização como um

todo:

[...] Eu acho que você tem que ter visão do todo, não só do específico que

você tá fazendo, mas saber a importância daquilo para a empresa como um

todo, é uma coisa que eu procuro fazer [...] (Pública_5)

Tomando como base aqui a definição de competências advinda da corrente norte-

americana, representada principalmente por McClelland e Dailey (1972) e Boyatzis (1982), e

a definição e classificação de Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), as competências

cognitivas ou de conhecimento podem ser analisadas sob dois aspectos.

Primeiro, se considerarmos que as competências cognitivas ou de conhecimento

referem-se aos conhecimentos fundamentais para que uma determinada profissão possa ser

exercida, então sua aquisição pode acontecer por meio da aprendizagem formal, baseada em

sala de aula e altamente estruturada (MARSICK; WATKINS, 2001). Para a corrente norte-

americana, competência significa o conjunto de qualificações que um indivíduo detém para

executar seu trabalho com nível superior de desempenho, ou seja, McClelland e Dailey (1972)

e Boyatzis (1982) ressaltam que alcançar certificação é necessário para que um indivíduo

possa adquirir competências profissionais fundamentais. Para os gerentes pertencentes à

instituição financeira pública, por exemplo, ter graduação completa é requisito fundamental

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para o exercício do cargo gerencial, portanto, neste caso, a aprendizagem formal prevalece

sobre a informal.

Segundo, se levarmos em conta que as competências cognitivas ou de conhecimento

são divididas, segundo Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), em conhecimento tácito-

prático, conhecimento procedimental e conhecimento contextual, pode-se afirmar que a

aquisição de tais competências se dá por meio da aprendizagem informal, pois o local de

trabalho, agora, fomenta essas capacidades.

Quando as competências cognitivas ou de conhecimento são analisadas com base no

segundo aspecto, e por se tratarem de conhecimentos fundamentais ao exercício de uma

profissão, toda e qualquer estratégia de aprendizagem definida por Antonello (2011) pode ser

um meio para adquirir, armazenar ou recuperar essas informações básicas.

As competências funcionais são as próximas a serem abordadas nesta subseção. Tais

capacidades são aquelas relacionadas às múltiplas tarefas de uma profissão particular. São

classificadas em: organizacional/processo/gerenciamento (atividades genéricas como

planejamento, delegação e avaliação), mental (escrita, leitura ou aritmética) e psicomotor

(destreza manual) (CHEETHAM; CHIVERS, 1996, 1998, 2005).

É possível observar, com base nas falas dos participantes Pública_2, Pública_3 e

Pública_4, as habilidades de planejamento, delegação e acompanhamento ou avaliação das

diferentes tarefas inerentes ao cargo gerencial.

O gerente Pública_2, por exemplo, admite a necessidade de fazer um planejamento de

suas atividades de acordo com sua importância. Além disso, ele destaca a capacidade de saber

delegar tarefas e supervisioná-las quando o volume de trabalho aumenta:

[...] Eu preciso planejar as atividades diárias, semanais, mensais... tem coisas

que são mais urgentes que outras, por exemplo, é preciso ter essa noção. É

importante saber delegar tarefas quando a carga de trabalho aumenta, daí a

importância da sua equipe, dos assistentes... e não é só delegar, tem que

fazer um follow-up (acompanhamento) de tudo isso [...] (Pública_2)

O gerente Pública_3 reconhece que ainda precisa aprimorar a capacidade de saber

delegar tarefas. Segundo o entrevistado, essa competência é vital para a carreira gerencial:

[...] Eu sou uma pessoa muito centralizadora por natureza e, se você fica

voltado só pro seu eu, você não sobrevive como gerente, né, você tem que tá

sempre delegando pra todos, né, da sua equipe... Estou desenvolvendo essa

competência agora [...] (Pública_3)

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As competências funcionais podem ser facilmente identificadas na fala da gerente

Pública_4. A profissional, sabendo que detém um número reduzido de assistentes para ajudá-

la na execução das tarefas, precisa sempre pensar sobre formas alternativas para cumprir as

exigências impostas pelo cargo gerencial e, consequentemente, atingir seus resultados:

[...] Na minha atribuição, eu tenho que pensar o tempo todo... Eu tenho um

recurso limitado, meu recurso humano pra fazer o universo de coisas que eu

tenho pra fazer é limitado em comparação ao resultado que eu preciso

chegar, né, então, eu tenho que o tempo todo estar pensando nisso, como eu

vou fazer mais com menos, né, dentro da rotina operacional interna [...]

(Pública_4)

As competências funcionais podem ser adquiridas por meio de determinadas

estratégias de aprendizagem, como por exemplo a reflexão. Quando uma situação-problema

emerge, os gerentes procuram identificar maneiras para solucioná-la.

À medida em que os gerentes utilizam tal estratégia de aprendizagem, estão

automaticamente favorecendo o surgimento de competências funcionais, como planejamento

operacional, delegação de tarefas e avaliação de condições críticas.

Outra estratégia de aprendizagem que contribui para a obtenção de competências

funcionais é a autoanálise. Sabendo avaliar características pessoais, os gerentes conseguem

identificar habilidades que ainda precisam ser aprimoradas para atender às múltiplas tarefas

que o cargo gerencial exige, alcançando, dessa maneira, as competências funcionais.

Já, as competências pessoais ou comportamentais, segundo Cheetham e Chivers

(1996, 1998, 2005), podem ser analisadas sob dois ângulos: o do social ou vocacional

(autoconfiança, centralização em tarefas, força) e o do intraprofissional (interação com outros

profissionais, aderência às normas profissionais). As transcrições a seguir ressaltam a

importância e a necessidade de um contínuo aprimoramento destas competências para o cargo

gerencial.

O gerente Pública_3 reitera que a interação com outros profissionais é a parte mais

complexa de seu trabalho como gerente, admitindo que ainda precisa desenvolver

competências pessoais ou comportamentais:

[...] Acho que o mais difícil de ser gerente é lidar com pessoas. Eu acho que

o pessoal confia muito em mim, né, mas, assim, fazendo uma autoanálise, eu

acho que isso é o que eu mais preciso desenvolver, né, é lidar com pessoas,

que é o mais difícil do trabalho [...] (Pública_3)

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Assim como o gerente Pública_3, a gerente Pública_4 confirma que gerir pessoas não

é tarefa simples. A entrevistada cita uma situação na qual sua capacidade intraprofissional

(interação com outros profissionais) foi colocada à prova:

[...] A gestão de pessoas é a que mais exige de você... Eu saí pra liderar um

grupo em que eu atuava, então tinha uma expectativa muito grande em

relação a que figura eu ia ser... Então, foi muito difícil conquistar essas

pessoas porque era um trabalho que eu não dominava tecnicamente, então

foi muito tenso. O relacionamento interpessoal foi muito exigido porque eu

tinha que mostrar pra aquelas pessoas que eu merecia estar ali, e isso todos

os dias durante um bom tempo, foi muito difícil [...] (Pública_4)

E, por fim, a gerente Pública_5 também reconhece a necessidade de aperfeiçoar suas

competências pessoais ou comportamentais, uma vez que as considera imprescindíveis para

um profissional que exerça liderança:

[...] Saber lidar com pessoas é fundamental, não tem como você ser líder sem

saber lidar com pessoas, é uma coisa que eu ainda tô desenvolvendo, eu tô

sentindo, inclusive, necessidade de buscar conhecimento fora (do banco) [...]

(Pública_5)

As estratégias de aprendizagem no trabalho que podem favorecer as competências

pessoais ou comportamentais são a interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal e

cursos e treinamentos.

A aprendizagem oriunda de outros profissionais, como pares e colegas de trabalho,

pode aprimorar habilidades como comunicação, negociação, liderança, motivação e trabalho

em equipe, assim como a participação em cursos e treinamentos patrocinados pela instituição

financeira pesquisada.

As competências de valores ou de ética, de acordo com Cheetham e Chivers (1996,

1998, 2005), podem ser classificadas em dois tipos: o pessoal (aspectos morais e preceitos

religiosos) e o profissional (aderência a códigos profissionais, atenção aos direitos dos clientes

e ao meio-ambiente). Este último, é identificado na transcrição a seguir.

O gerente Pública_3 confessa que pode haver punição, como a perda do cargo

gerencial ou até a demissão por justa causa, caso o empregado da instituição financeira não

trabalhe de acordo com os preceitos éticos que norteiam a organização:

[...] Os valores da organização passam pelo resultado, né, das metas

operacionais, né, e valores éticos, né. Se você não tá trabalhando de acordo

com os valores éticos e morais, você pode ser punido por isso, primeira coisa

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é isso. Segundo, você pode mexer no atendimento com o cliente também. O

cliente pode achar que você não está trabalhando de uma forma limpa, né,

justa e pode preferir outro banco... A gente recebe avisos de funcionários que

foram punidos, até com demissão por justa causa, por não seguirem os

valores e, às vezes, são aspectos operacionais mesmo, o “cara” tá

trabalhando de uma forma errada que lesou o patrimônio da empresa e aí

pode acontecer de ele perder o cargo, primeiramente, depois de uma análise,

pode acontecer de ele perder o emprego [...] (Pública_3)

O gerente Pública_3 cita, ainda, campanhas institucionais patrocinadas pela instituição

financeira pública com o objetivo de disseminar o código de conduta da organização para seus

empregados:

[...] Tem campanhas, né, internas, né, falando (sobre os valores da

organização). Uma pessoa foi contratada pelo banco pra dar vídeos sobre...

São clientes que dão presentes pra funcionários... ele transmite de uma forma

lúdica que você não pode falar, né, às vezes, você tem informações

privilegiadas que você não pode levar, por exemplo, pra parentes, olha, tipo

assim, eu sei que amanhã vai aumentar o empréstimo pessoa física, daí você

vai pra um tio, pra um primo e fala: “olha, vai hoje na agência se você tá

querendo empréstimo, vai hoje que amanhã vai aumentar...”, você não pode

falar isso porque você está... passando pra fora uma informação privilegiada.

Então, o banco transmite por meio dessas charges que só o público interno

tem acesso [...] (Pública_3)

Como é possível observar na fala do gerente Pública_3, a estratégia de aprendizagem

cursos e treinamentos pode ser utilizada para divulgar o código de conduta do banco público,

incentivando, assim, as competências de valores ou de ética sob o prisma profissional.

Finalmente, pode-se observar as metacompetências ou transcompetências, que são

definidas por Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005) como aquelas que permeiam todas as

demais competências. São elas: comunicação, autodesenvolvimento, agilidade mental,

capacidade de análise, criatividade e solução de problemas.

O gerente Pública_3, por exemplo, demonstra capacidade de análise ao reconhecer

que, no início da carreira gerencial, não tinha plena consciência daquilo que era esperado dele,

conforme transcrição a seguir:

[...] No banco tem muito a questão da pressão, né, você, como gerente, é

cobrado assim, de uma forma absurda até, se você não tiver foco na coisa,

não delegar tarefas, não estiver focado no principal, que são as... o resultado

que é esperado na forma de números, né, você não sobrevive como gerente.

E, talvez, isso no começo, (da carreira gerencial) não tava muito claro na

minha cabeça [...] (Pública_3)

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A gerente Pública_4, por sua vez, relata uma passagem na qual teve de solucionar um

problema referente à gestão do tempo, de acordo com a transcrição a seguir:

[...] Eu tenho uma filha de três anos, e uma competência que é muito exigida

agora é a gestão do tempo. Eu tinha tempo pra fazer tudo, então tudo o que

eu não conseguia fazer aqui, eu fazia em casa, agora não, eu tive que...

nesses últimos três anos, eu tive que organizar o meu trabalho e o trabalho de

todo mundo de maneira que todo mundo fosse independente de mim.

(Pública_4)

A gerente Pública_5 aponta para a necessidade de autodesenvolvimento. Como já

identificado aqui, a entrevistada reconhece que as competências pessoais ou comportamentais

são fundamentais para um líder, admitindo, porém, que ainda precisa aperfeiçoar essas

habilidades:

[...] Saber lidar com pessoas é fundamental, não tem como você ser líder sem

saber lidar com pessoas, é uma coisa que eu ainda tô desenvolvendo, eu tô

sentindo, inclusive, necessidade de buscar conhecimento fora, assim, o

banco é uma empresa, assim, é muito legal porque ele te dá bastante suporte

nesse sentido... Eu já fui fazer um curso chamado DHG, que é

Desenvolvendo Habilidades Gerenciais. Não que era obrigatório fazer logo,

mas, enfim, acabei fazendo logo, achei ótimo porque dá uma visão muito

legal... Apesar dos cursos que o banco oferece, eu estou sentindo

necessidade de buscar algo mais fora do banco, de repente, fazer uma

segunda pós-graduação [...] (Pública_5)

As metacompetências ou transcompetências podem ser adquiridas por meio de várias

estratégias de aprendizagem no trabalho, uma vez que permeiam todas as demais

competências.

A estratégia de aprendizagem autoanálise, por exemplo, que se refere à capacidade de

autoavaliação, pode levar um indivíduo a identificar as competências profissionais que ainda

precisam ser adquiridas ou aperfeiçoadas, contribuindo para seu autodesenvolvimento,

capacidade essa intitulada de metacompetência ou transcompetência.

Outra estratégia de aprendizagem que favorece o surgimento de metacompetências ou

transcompetências é a interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal. A comunicação é

uma capacidade considerada como metacompetência ou transcompetência. À medida que um

indivíduo trabalha em equipe, aprendendo a partir de outros profissionais da área, exerce e

desenvolve habilidades comunicativas, confirmando a obtenção das chamadas

metacompetências ou transcompetências.

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É possível, ainda, concluir que a estratégia de aprendizagem reflexão contribui para a

manifestação de metacompetências ou transcompetências. A reflexão está ligada a

capacidades como: agilidade mental, capacidade de análise, criatividade e solução de

problemas. Além disso, Cheetham e Chivers consideram a reflexão como sendo uma “super-

metacompetência”, pois pode alimentar quaisquer componentes centrais (competências

cognitivas ou de conhecimento, competências funcionais, competências pessoais ou

comportamentais e competências de valores ou de ética), completando, dessa forma, o ciclo

de melhoria contínua.

4.5.2 Banco privado

Em relação à instituição financeira privada, o autor da pesquisa preferiu listar as

competências gerenciais seguindo a mesma ordem de apresentação estabelecida para a

instituição financeira pública, facilitando, assim, o acompanhamento e a compreensão do

leitor.

Em primeiro lugar, as razões que levaram o participante da pesquisa, segundo ele

mesmo, a ser indicado para exercer a função gerencial são apresentadas, conforme

transcrições a seguir.

O gerente Privada_1 acredita que a sua promoção ao cargo gerencial pode estar ligada

ao fato de ele ser uma pessoa curiosa e interessada em adquirir novos conhecimentos.

Enquanto seus pares se limitavam a desempenhar as atividades pertinentes a um assistente, o

entrevistado procurava se colocar à disposição de seu superior hierárquico, assumindo,

eventualmente, funções gerenciais:

[...] Primeiro, curiosidade, eu sempre fui uma pessoa muito curiosa em saber

buscar um pouco mais de informação, né, de atender, aprender um pouco

mais e, também, às vezes, a própria necessidade ali em situações que, às

vezes, não tinha o gerente e você tinha que prestar um atendimento, então eu

me colocava ali à disposição pra poder auxiliar e a experiência veio

ocorrendo dessa forma, né, de forma natural, você ia buscando a informação,

ligando em centrais de atendimento ao gerente pra poder levantar

determinado procedimento que você não sabia, então foi um pouco meio que

na prática também essa atividade... Ajudou (a ser promovido), sim, ajudou,

com certeza, porque eu já tive pares, também na função de assistente, que se

mantiveram na mesma função em razão mesmo de não buscarem crescer

profissionalmente até, obviamente, por entenderem que isso acarretaria uma

demanda maior de responsabilidade [...] (Privada_1)

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Para o gerente Privada_2, é importante ter um perfil gerencial. Para isso, algumas

competências pessoais ou comportamentais, como por exemplo a comunicação e a

autoconfiança, são essenciais para a ascensão ao cargo gerencial. Segundo o entrevistado, já

para ser assistente de gerente, essas características são requeridas pela instituição financeira:

[...] Primeiro de tudo, pra entrar como assistente, você já tem que ter um

pouco de perfil de gerente, né, principalmente aqui no banco. Perfil de

gerente é ser totalmente comunicativo, é ter muita confiança no que você

fala, principalmente quando você vai falar de investimento, então, assim,

isso é direcionado, e as pessoas observam nas entrevistas a sua segurança na

hora da fala... Às vezes, você pode ter até um certo erro aí no que você tá

falando, que talvez não agrida ninguém ou nenhum produto, mas tem que tá

muito certo do que você tá falando, né, então, assim, as principais

competências aqui são ser muito comunicativo, ter muita atenção no que

você faz... pra ser um ótimo assistente ou um gerente, você tem que ter

firmeza em toda a fala que você tem com o cliente, seja na administração das

pessoas ou na hora de falar de um produto, de um investimento, qualquer

coisa com um cliente [...] (Privada_2)

A gerente Privada_3, por sua vez, diz que, para ser promovido, o aspirante a gerente

deve possuir habilidades técnicas, como o conhecimento dos produtos e serviços oferecidos

pelo banco, além de habilidades humanas, como saber estabelecer relacionamento

interpessoal com seus clientes. Ainda de acordo com ela, para ser e se manter como gerente, o

profissional precisa passar uma imagem de principal provedor de soluções para seus clientes

dentro da instituição financeira:

[...] Você tem que conhecer o produto, conhecer as normas pra você

vender... Eu acho que é primordial conhecer pra poder passar pro cliente,

passar segurança no que você tá falando, que isso é muito importante... Você

tem que ouvir o cliente, quando você ouve o cliente, o cliente sabe que você

tá prestando um bom atendimento, ele tem confiança no seu trabalho... Nós

criamos um relacionamento com o cliente, ele tem que ter a visão que nós

somos, assim, o canal de solução dele na instituição, isso é importante pra

você ser promovido e se manter no cargo de gerente [...] (Privada_3)

Na opinião da gerente Privada_4, é preciso criar oportunidades para ascender na

hierarquia organizacional. Mesmo quando atuava em cargos mais operacionais ou técnicos, a

entrevistada, por iniciativa própria, buscava conhecimentos para exceder seus limites

funcionais, desempenhando não apenas atividades que estavam sob sua responsabilidade,

gerando, consequentemente, resultados acima daqueles esperados pela instituição financeira:

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[...] Na minha opinião, acho que a oportunidade que eu enxergava, então,

mesmo no caixa, que é o dia inteiro ali atendendo, se eu via uma

oportunidade de fechar um negócio, eu apresentava e fechava no caixa.

Então, eu criava a oportunidade, às vezes, tinha alguma coisa que eu não

tinha conhecimento, né, ainda, investimentos, era difícil eu falar sobre

investimentos da forma como a gente fala hoje, né... Não tinha essa

responsabilidade de vender, era só atendimento, eu fazia isso porque eu

achava que... eu enxergava, eu sempre enxerguei a agência como um todo,

não é assim o meu departamento, eu cuido do meu e os outros que se viram,

então eu enxergava já como dono... E eu tinha habilidade em venda, eu

sempre tive [...] (Privada_4)

O gerente Privada_5, assim como os gerentes Privada_1, Privada_2 e Privada_3,

destaca as competências que o levaram a ser promovido ao cargo gerencial. Além disso, o

gerente Privada_5 comenta sobre uma classificação que é usada pelo banco privado para

determinar e escolher os melhores profissionais por cargo e região, a fim de promovê-los:

[...] Teoricamente, foi uma questão de comunicação mesmo, a forma como

eu tinha os clientes da carteira, realmente, nas minhas mãos, como eu

conseguia lidar com eles, com uma forma segura, a forma como o banco

pedia, os meus resultados em si. Então, a gente tem um ranking, são

avaliados por cargo, por agência, então você consegue saber quem são os

melhores de cada cargo naquela região, quem são as melhores agências

daquela região, então a gente tem todas essas informações que ajudam a

escolher realmente que tá “performando” melhor. (Privada_5)

Na instituição financeira privada, o que se observa, com base nas falas dos

participantes desta pesquisa, é que os critérios utilizados para a escolha dos candidatos a um

cargo gerencial estão basicamente ligados a um modelo meritocrático. Espera-se que um

modelo de gestão meritocrático seja apoiado no estabelecimento de metas individuais e as

tenha como pré-requisito básico para seu correto funcionamento. Estas metas, por sua vez,

devem ser adequadamente definidas e expressar exatamente o que a empresa espera de cada

um.

Os gerentes entrevistados pertencentes ao banco privado creditam sua ascensão

hierárquica a fatores como: curiosidade para aprender novos conhecimentos, iniciativa própria

para realizar tarefas mais desafiadoras e de maior responsabilidade, habilidades de

comunicação (segurança para oferecer produtos e serviços financeiros e desenvolver

relacionamento com os clientes), criação de oportunidades de negócios, atitude

empreendedora e avaliação de desempenho satisfatória.

Assim como acontece na instituição financeira pública, no banco privado os

candidatos a um cargo gerencial precisam passar por um recrutamento interno formal e

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atender a determinadas exigências para serem promovidos. A diferença em relação à

instituição financeira pública é que, no banco privado, os gerentes entrevistados não

questionam os critérios de seleção, pois não creditam a escolha feita pela organização a

fatores políticos ou de influência pessoal. O gerente Privada_2 explica como este processo

funciona:

[...] Primeiro, pra ser gerente do banco, é obrigatório CPA-10, uma

certificação de investimentos pra poder trabalhar, uma certificação, precisa

ter. Quem não tem e foi indicado pra fazer esse programa de gerente, se

passar na entrevista com o superintendente e todo o processo, dinâmica,

redação, provas, precisa... o banco paga o curso pra você fazer, estudar, pra

tirar a certificação, o banco também disponibiliza... isso eu fiz por conta,

então, quando eu fui fazer a entrevista, eu já tinha, então eu mesmo fiz o

curso antes de ser gerente, já visando ser gerente... (risos), às vezes, eu quero

pular etapas, mas tranquilo (risos). E, a partir daí, primeiro de tudo, o líder

da agência tem que indicar o assistente, então ele tem que ter ótimos

resultados... Nós somos julgados pelos nossos pares também, e esse

resultado também influencia bastante na escolha do líder, é uma avaliação

360º... Além da avaliação de resultado, né. Isso é pessoal, então a pessoa

julga seu comportamento dentro do banco, teu par, teu chefe, teu

subordinado, então, acontece... E, a partir daí, se o teu líder achar que você tá

preparado, ele te indica... ele achar que você tá preparado não quer dizer que

você vai passar, porque a entrevista não é com ele, você vai pra um

superintendente do banco... e ele faz essa entrevista... Você ainda faz prova

de português, matemática, algumas coisas de investimento também e faz

uma redação. A partir daí, você recebe o resultado depois de uma ou duas

semanas, se você passou nesse processo [...] (Privada_2)

A seguir, as transcrições selecionadas revelam as tarefas e responsabilidades antes e

depois de os entrevistados Privada_1, Privada_3 e Privada_4 exercerem as funções gerenciais.

O gerente Privada_1 afirma que, quando da sua promoção, as atividades passaram a

ser mais voltadas à área comercial do banco, ficando, então, sob responsabilidade de seu

assistente as tarefas mais operacionais:

No meu caso, mudou o escopo de trabalho, mudou bastante. As atividades

eram, basicamente, mais operacionais e eu passei a ter um assistente agora,

que pode fazer a parte operacional pra mim, e as minhas atribuições são

muito mais comerciais e de gestão mesmo. Então, a parte, principalmente,

comercial do banco, eu incorporei. (Privada_1)

Por sua vez, a gerente Privada_3 declara que não tem acesso a atividades operacionais,

cabendo a ela desempenhar apenas as tarefas comerciais inerentes a um gerente bancário:

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[...] Eu, assim, detinha todo o conhecimento da área operacional do outro

banco. Quando eu vim pra este banco, eu não conhecia nada da área

operacional do banco, nada, o que eu sei hoje é “bagagem” que eu trouxe do

banco anterior... Primeiro, eu não tenho acesso pra abertura de caixa, não

tenho senha, não tenho nada... Aqui, eu faço o que é pra um gerente fazer. O

meu foco agora é comercial, entendeu? (Privada_3)

Por fim, a gerente Privada_4 assume que teve de aprender a delegar as tarefas

operacionais a seus assistentes, dedicando-se, exclusivamente, às atividades comerciais:

[...] Na verdade, o correto é isso, né, que você faça negócios como gerente,

só que no começo você se sente... eu era assistente, eu fazia tudo, então,

quando eu peguei minha carteira, eu achei uma dificuldade muito grande em

mim, que eu tive que desenvolver, que é o delegar, então eu não conseguia

delegar porque eu não confiava que a pessoa ia fazer do jeito que eu fazia,

ou então no prazo que eu precisava que fizesse... Hoje, acho que desenvolvi

essa competência e consigo delegar as tarefas mais operacionais para os

assistentes, assim consigo focar muito mais na parte comercial, até porque eu

sou cobrada, medida, avaliada em termos de vendas [...] (Privada_4)

Diferentemente do que acontece com os gerentes entrevistados pertencentes à

instituição financeira pública, os gerentes participantes desta pesquisa oriundos do banco

privado afirmam que as atividades mais técnicas ou operacionais foram deixadas em segundo

plano, sob responsabilidade de seus assistentes, para que, então, pudessem estar inteiramente

voltados às tarefas comerciais do banco.

Quanto às competências cognitivas ou de conhecimento, é possível observá-las nas

transcrições a seguir:

[...] Pra ser gerente do banco, é obrigatório CPA-10, uma certificação de

investimentos pra poder trabalhar, uma certificação, precisa ter...

Antigamente, a certificação era um diferencial, hoje é obrigatória. Hoje, um

diferencial no banco é uma certificação chamada CFP, que é a próxima que

eu vou tentar tirar depois da pós-graduação. Esse ainda é um diferencial no

banco, então, assim, só superintendente tem, alguns gerentes de agência

também, gerente de relacionamento quase nenhum tem, né, então, quando se

tira a certificação, o mercado (de trabalho) já fica meio alvoroçado em cima

(risos), acontece bastante [...] (Privada_2)

[...] Fiquei 45 dias em treinamento antes de atuar aqui como gerente... eu não

sabia nem a agência que eu iria atuar, não sabia, aí, nesse curso, eles (o

banco) deram treinamento pra tirar a certificação CPA-10, na verdade, é

assim, hoje todos os bancos exigem, por lei, né, que pra você trabalhar com

produtos financeiros que você tenha a CPA-10: é o mínimo pra você

ingressar (como gerente), você tem que ter. A CPA-20 não é obrigatória,

mas é um diferencial [...] (Privada_3)

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[...] No banco você tem que ter um curso ligado, principalmente, a

investimentos. A gente tem. Eu tenho esse curso, foi feito por fora, enfim, a

gente chama de CPA-10, não sei se você já ouviu... O banco é focado pra

investimentos... e, claro, também é focado pra venda, então é produto:

capitalização, seguro... e você precisa saber qual é a característica do

produto, mas isso você lê e pronto, já tá treinado, não precisa de um

treinamento prévio, e venda é algo que já tá meio que no sangue mesmo, né,

ou você sabe vender ou você não sabe vender, então aí realmente não é

necessário um treinamento tão forte, tão específico [...] (Privada_5)

Os gerentes Privada_2, Privada_3 e Privada_5 destacam a obrigatoriedade da

certificação CPA-10 para o exercício da profissão de gerente bancário. Em relação às

competências cognitivas ou de conhecimento, os gerentes pertencentes à instituição financeira

privada, assim como os gerentes oriundos do banco público, ressaltam a necessidade dessa

certificação para que possam comercializar produtos e serviços financeiros.

Como já visto, este é um conhecimento fundamental para a profissão, que é adquirido

por meio da aprendizagem formal, baseada em sala de aula e altamente estruturada. Cheetham

e Chivers (1996, 1998, 2005) não relacionam a aquisição de certificados e/ou títulos com as

competências cognitivas ou de conhecimento; os autores mencionam, no entanto, que essas

competências representam os conhecimentos fundamentais para o exercício de uma profissão.

São os autores pertencentes à corrente norte-americana, como McClelland e Dailey (1972) e

Boyatzis (1982), que explicam a importância de um conjunto de qualificações para a

execução de um trabalho com nível superior de desempenho, ligando, consequentemente, a

aprendizagem formal (que é aquela que possibilita a obtenção de certificados e/ou títulos) às

competências profissionais fundamentais de uma profissão.

Já, as competências funcionais se revelam nas falas dos gerentes Privada_1,

Privada_4 e Privada_5, conforme transcrições a seguir.

O gerente Privada_1 afirma que teve de aprender a gerenciar, pois, quando ocupava o

cargo de assistente, as tarefas eram, essencialmente, operacionais e executadas de acordo com

a demanda de seu gerente à época. É possível observar, com base na fala do entrevistado, que

o gerente Privada_1, quando da mudança de papel, teve de incorporar novas competências

funcionais:

[...] A gestão é uma capacidade que eu desenvolvi porque, na verdade, o que

acontece é... no cargo anterior, eu, basicamente, o que eu fazia era sob a

demanda que o meu gerente me atribuía, e na função de gerente, eu tenho

que gerir uma carteira, né, eu tenho que buscar alcançar determinados

resultados pra carteira também, que o banco exige, ou seja, a gestão é muito

maior, então, desde produtos, serviços, clientes, né, que são as informações,

então, a gente tem que gerir um universo muito maior de serviços, tem que

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saber de tudo um pouco, né, desde investimentos, produtos de seguro,

previdência, então, tem que ter todo esse leque de serviços a sua mão, né,

tem que conhecer um pouquinho de cada coisa... e, na parte operacional,

basicamente, era só sob a demanda, né, então o que me passava, eu

executava. (Privada_1)

A gerente Privada_4, por exemplo, cita a capacidade de saber delegar tarefas e de

planejar as atividades diárias em ordem de importância, revelando mais um aspecto das

competências funcionais:

[...] Primeiro, aprendi a delegar, que era uma coisa que eu não sabia fazer,

tirar um pouco a responsabilidade das minhas costas e passar pra uma outra

pessoa, dividir tarefas... Foco, acho que é o principal, tem que desenvolver,

saber o que é realmente importante, aquilo que vai fazer você perder tempo,

priorizar... Faço uma lista de atividades antes de começar o dia e coloco tudo

em ordem de prioridade, procuro planejar o meu dia de trabalho [...]

(Privada_4)

E, para o gerente Privada_5, gerenciar pessoas é uma das competências mais

importantes e difíceis para ele, que reconhece a necessidade de aprimorá-la:

[...] Você precisa saber de pessoas, gestão de pessoas é extremamente

importante, é difícil pra mim. Atualmente, tirando a meta, que é o nosso

foco, fazer gestão de pessoas é muito complicado, é difícil, mas faz parte do

nosso trabalho e você precisa desenvolver essa competência [...] (Privada_5)

Os gerentes entrevistados pertencentes ao banco privado revelam, basicamente, as

seguintes competências funcionais: planejamento, delegação de tarefas e gerenciamento de

processos e pessoas.

No que tange às competências pessoais ou comportamentais, vale notar as falas dos

participantes Privada_1, Privada_2, Privada_4 e Privada_5, de acordo com as transcrições a

seguir.

Com base na fala do gerente Privada_1, observa-se que o subcomponente

intraprofissional, aquele ligado aos comportamentos referentes à interação com outros

profissionais ou clientes, de acordo com Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), é uma

competência pessoal ou comportamental aqui identificada e que, segundo o entrevistado, o

gerente precisa ter desenvoltura, principalmente em situações críticas com seus clientes, para

a resolução de problemas:

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[...] Essa questão de relacionamento com o cliente, ter esse jogo de cintura,

né, na parte comercial, exige bastante porque, ao mesmo tempo que surgem

situações adversas com o cliente, você precisa ter um jogo de cintura pra

poder lidar com aquela situação [...] (Privada_1)

Já, o gerente Privada_2, por sua vez, destaca a autoconfiança como uma capacidade

para a excelência gerencial. A autoconfiança é um subcomponente social ou vocacional das

competências pessoais ou comportamentais, que diz respeito aos comportamentos que se

relacionam ao desempenho do corpo principal de tarefas profissionais (CHEETHAM;

CHIVERS, 1996, 1998, 2005):

[...] Pra ser um ótimo assistente ou um gerente, você tem que ter firmeza em

toda a fala que você tem com o cliente, seja na administração das pessoas, ou

na hora de falar de um produto, de um investimento, qualquer coisa com um

cliente... É uma habilidade comportamental fundamental pra ser um bom

gerente de relacionamento... Eu acho que me destaco pela maneira como me

relaciono com os meus clientes e com os meus colegas também, claro [...]

(Privada_2)

A gerente Privada_4 cita o equilíbrio emocional, a paciência e a segurança ao falar

como capacidades pessoais ou comportamentais que ela teve de desenvolver como gerente:

[...] Aprendi muito a entender, né, assim, o cliente, se colocar no lugar do

cliente também, ter um equilíbrio porque, no começo, a gente quer tanto,

tanto aquilo e a gente se dedica, se dedica e a gente acaba perdendo a outra

ponta, a família, amigos, então, aprendi a ter equilíbrio emocional, muita

paciência, nossa, como tive que desenvolver a paciência... e segurança, né,

desenvolvi muito a segurança porque, quando você fala, você tá falando de

um patrimônio de uma outra pessoa, então você tem que fazer com que essa

pessoa se sinta segura em seguir suas recomendações, então eu tenho que me

aprofundar, eu preciso estudar, me atualizar pra passar segurança pros meus

clientes também. (Privada_4)

Para o gerente Privada_5, as competências pessoais ou comportamentais em destaque

são a comunicação e a capacidade de saber ouvir as necessidades do cliente: Segundo o

entrevistado, é mais importante, em um primeiro momento, prestar atenção àquilo que o

cliente demanda para, somente então, poder oferecer a ele a solução correta:

[...] Comunicação, você tem que ser extremamente comunicativo pra você

saber “vender seu peixe”, pra você entender o que o “cara” (o cliente) quer

primeiro. A gente tinha uma dificuldade muito grande nisso, de não saber

ouvir, sabe, a questão da meta é tão pesada que ela entra em você, o “cara”

(o cliente) senta na sua mesa e você já não consegue ouvir o que ele precisa

primeiro, você já vai tentando “socar” produto, então isso é um grande

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problema hoje, a gente aprende a ouvir primeiro, é o que eu sempre falo pra

eles (subordinados): “primeiro, resolve o problema dele (cliente), ele vai

ficar do teu lado, aí sim, você consegue o que quiser com ele”, entendeu,

esse é o primeiro ponto. (Privada_5)

Para a competência de valores ou de ética, a única fala que cita tal capacidade entre

os entrevistados da instituição financeira privada é a do gerente Privada_1.

Para o gerente Privada_1, a transparência é um valor a ser considerado na relação que

se estabelece entre gerente e cliente. Segundo Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), o

subcomponente profissional do componente competência de valores ou de ética trata,

também, sobre a atenção aos direitos dos clientes, e é aqui enfatizado pelo entrevistado:

[...] Eu, particularmente, eu prezo muito a ética, né, muito a transparência,

então, eu procuro ser muito transparente com o cliente, quando realmente dá

pra fazer algo, eu vou me empenhar, me colocar à disposição, quando não

der, simplesmente vou falar: “olha, realmente, nós fizemos o possível, mas,

infelizmente, eu tenho que me reportar à hierarquia, a um departamento, e a

decisão, muitas vezes, vem de cima e a gente não tem autonomia nesse

sentido”. Então, eu procuro ser transparente... Se você não consegue

executar, mas, se você der um retorno pro cliente falando: “olha, eu tentei,

mas o banco não realiza isso”, ele vai entender que você teve essa disposição

de tá auxiliando, então acredito que seja um dos pontos que eu acho

relevantes. (Privada_1)

Finalmente, as metacompetências ou transcompetências são observadas nas falas de

alguns gerentes pertencentes à instituição financeira privada.

Os gerentes Privada_2 e Privada_4, por exemplo, comentam sobre o significado de ser

gerente, revelando uma capacidade de análise sobre o seu papel profissional:

Eu vou dar uma opinião do que é ser gerente de relacionamento: é cuidar do

cliente, é exatamente isso, é cuidar da vida financeira dele, cuidar do

relacionamento que ele tem com o banco. Eu já tive clientes que entram aqui

reclamando do banco e saem daqui me abraçando, então, acontece bastante,

né, então, você mostrar pro cliente que problema todo mundo tem, só que

tentar fazer, diminuir esse problema dele e deixar ele sair daqui satisfeito, né,

acho que cuidar do cliente é a frase aí que se encaixa bem no dia a dia do

gerente de relacionamento [...] (Privada_2)

[...] Você não tá aqui brincando com uma carteira de um cliente, uma conta

de um cliente, você não tá aqui simplesmente pra cumprir os seus objetivos;

você tá aqui pra ajudar uma pessoa, prestar um serviço, então, você tem que

fazer tudo muito bem feito, então se você quer ser um gerente, você tem que

fazer o possível pra ser esse melhor gerente [...] (Privada_4)

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133

Na subseção 4.6 (Visão sobre o significado de ser gerente), os gerentes participantes

desta pesquisa procuram identificar as competências já adquiridas e aquelas que ainda

precisam ser aprimoradas, revelando uma capacidade de análise acerca de suas próprias

competências, caracterizando também aspectos de metacompetências ou transcompetências.

Para finalizar a apresentação e análise das competências dos gerentes pertencentes à

instituição financeira privada, é importante destacar que as estratégias de aprendizagem no

trabalho identificadas por Antonello (2011) podem ser utilizadas pelos gerentes das

instituições financeiras pública e privada para o desenvolvimento das competências definidas

por Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005).

4.5.3 Banco público e banco privado: estratégias de aprendizagem e desenvolvimento de

competências gerenciais

A seguir, no quadro 10, são apresentadas as estratégias de aprendizagem, definidas por

Antonello (2011), que podem ser utilizadas pelos gerentes oriundos das instituições

financeiras pública e privada para o desenvolvimento de competências, seguindo o modelo de

competências apresentado por Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), com base nos

resultados da pesquisa. Todas as competências classificadas e definidas por Cheetham e

Chivers puderam ser identificadas por meio das entrevistas dos gerentes participantes desta

pesquisa:

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Quadro 10: Estratégias de aprendizagem para o desenvolvimento de competências

gerenciais - banco público e banco privado

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos resultados da pesquisa.

Competências Estratégias de Aprendizagem

Experiência anterior e transferência extraprofissional

Experenciar

Reflexão Extrínseca e Intrínseca

Autoanálise

Observação-modelo/reprodução

Feedback

Mudança de perspectiva

Mentoria (mentoring ) e tutoria (coaching )

Interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal

Consulta a material escrito

Cursos e treinamentos

Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática

Experiência anterior e transferência extraprofissional

Experenciar

Reflexão Extrínseca e Intrínseca

Autoanálise

Observação-modelo/reprodução

Feedback

Mudança de perspectiva

Mentoria (mentoring ) e tutoria (coaching )

Interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal

Consulta a material escrito

Cursos e treinamentos

Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática

Feedback

Mentoria (mentoring ) e tutoria (coaching )

Interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal

Cursos e treinamentos

Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática

Autoanálise

Mentoria (mentoring ) e tutoria (coaching )

Cursos e treinamentos

Experiência anterior e transferência extraprofissional

Experenciar

Reflexão Extrínseca e Intrínseca

Autoanálise

Observação-modelo/reprodução

Feedback

Mudança de perspectiva

Mentoria (mentoring ) e tutoria (coaching )

Interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal

Consulta a material escrito

Cursos e treinamentos

Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática

Estratégias de Aprendizagem para o Desenvolvimento de Competências Gerenciais

Cognitivas ou de conhecimento

Pessoais ou comportamentais

Funcionais

Valores ou de ética

Metacompetências ou

transcompetências

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Conforme é possível observar no quadro 10, as competências cognitivas ou de

conhecimento podem ser adquiridas por meio de todas as estratégias de aprendizagem

listadas por Antonello (2011).

Como já visto neste trabalho, as competências cognitivas ou de conhecimento podem

ser analisadas sob dois aspectos. O aspecto técnico/teórico diz respeito aos conhecimentos

fundamentais da profissão (CHEETHAM; CHIVERS, 1996, 1998, 2005). De acordo com os

gerentes entrevistados das instituições financeiras pública e privada, para que um profissional

possa exercer o cargo gerencial, é obrigatório ter graduação completa e ser devidamente

certificado, ou seja, a aprendizagem formal que, para Marsick e Watkins (2001) é aquela

baseada em sala de aula e altamente estruturada, é o modo pelo qual as competências

cognitivas ou de conhecimento se concretizam, consequentemente as estratégias de

aprendizagem aqui estudadas não são aplicáveis para a obtenção do conhecimento

técnico/teórico, pois tratam exclusivamente sobre a aprendizagem informal.

Entretanto, o conhecimento tácito-prático, que se refere às habilidades ou

competências profissionais que caracterizam a atuação de uma pessoa; o conhecimento

procedimental, que compreende o “o que”, “quando”, “como” e “onde”; e o contextual, que é

o conhecimento da organização, do setor de atuação, entre outros, segundo Cheetham e

Chivers (1996, 1998, 2005), acontecem por meio da aprendizagem informal, uma vez que é o

ambiente de trabalho que propicia as condições necessárias para que a aprendizagem ocorra.

E, sob este aspecto, é possível afirmar que as competências cognitivas ou de conhecimento

podem ser atingidas ou aperfeiçoadas com base na utilização de toda e qualquer estratégia de

aprendizagem, pois cada uma delas pode favorecer o desenvolvimento dessas competências.

Assim como as competências cognitivas ou de conhecimento, as competências

funcionais podem ser adquiridas ou aprimoradas por meio de toda e qualquer estratégia de

aprendizagem. Segundo Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005), as competências funcionais

referem-se às funções específicas que são as múltiplas tarefas relacionadas a uma profissão

particular. De acordo com os autores, há um subcomponente chamado de

organizacional/processo/gerenciamento, que diz respeito às tarefas de natureza genérica,

como por exemplo planejamento, delegação e avaliação, que são elementos inerentes às

atividades gerenciais.

As estratégias de aprendizagem reflexão e autoanálise, por exemplo, podem contribuir

para o desenvolvimento de competências funcionais. Tais estratégias de aprendizagem

propiciam um questionamento sobre as atividades desempenhadas por um profissional,

especialmente àqueles que são empenhados para pensar, como ocupantes de funções

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136

gerenciais, favorecendo, assim, a execução de atividades como planejamento operacional,

delegação de tarefas entre membros de uma equipe e avaliação pessoal e situacional.

Outro subcomponente das competências funcionais descrito por Cheetham e Chivers

(1996, 1998, 2005), o mental, que se refere às habilidades primariamente mentais, como a

escrita, a leitura ou a aritmética, pode ser desenvolvido por meio das estratégias de

aprendizagem cursos e treinamentos, aprendizagem pela articulação entre teoria e prática,

consulta a material escrito entre outras, pois todas elas estão diretamente ligadas ao exercício

do pensamento.

As competências pessoais ou comportamentais têm dois subcomponentes, conforme

Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005): o social ou vocacional (autoconfiança, centralização

em tarefas, força) e o intraprofissional (interação com outros profissionais, aderência às

normas profissionais, entre outros aspectos). Portanto, as estratégias de aprendizagem que

podem contribuir para o desenvolvimento dessas capacidades são: feedback, mentoria e

tutoria, interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal, cursos e treinamentos e

aprendizagem pela articulação entre teoria e prática, dado que essas estratégias buscam

assistência de outros profissionais por meio de comportamento proativo, por conseguinte,

fortalecendo capacidades pessoais ou comportamentais.

Em relação às competências de valores ou de ética, que, segundo Cheetham e

Chivers (1996, 1998, 2005), são divididas em dois subcomponentes (o pessoal, ligado a

aspectos morais e preceitos religiosos; e o profissional, ligado à aderência a códigos

profissionais), pode-se afirmar que as estratégias de aprendizagem que fomentam tais

capacidades são: autoanálise, mentoria e tutoria e cursos e treinamentos.

As estratégias de aprendizagem autoanálise e mentoria e tutoria podem oferecer as

condições necessárias para que os gerentes façam uma autoavaliação sobre seus preceitos

morais e se há concordância com o código de conduta de seus bancos, por exemplo. Já, a

estratégia de aprendizagem cursos e treinamentos pode, então, disseminar esse código de

conduta da organização, reforçando, assim, as competências de valores ou de ética.

Finalmente, as metacompetências ou transcompetências, conforme Cheetham e

Chivers (1996, 1998, 2005), são aquelas que permeiam as demais competências, sendo assim,

toda e qualquer estratégia de aprendizagem pode favorecer seu aparecimento ou

aprimoramento.

É importante considerar que os gerentes entrevistados não conseguem identificar quais

estratégias de aprendizagem são utilizadas, de fato, para adquirir ou aprimorar cada

competência, e que a competência não é desenvolvida em apenas um momento ou evento.

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Por isso, as estratégias de aprendizagem que podem ser utilizadas (infere-se que talvez

tenham sido utilizadas) foram definidas a partir do referencial teórico deste trabalho.

Na próxima subseção deste trabalho são apresentadas e analisadas a visão atual versus

a inicial da carreira gerencial dos entrevistados das instituições financeiras pública e privada.

4.6 Visão sobre o significado de ser gerente

Nesta subseção, é apresentada e analisada a forma pela qual os gerentes participantes

deste estudo se veem comparativamente ao início da carreira gerencial, destacando, também,

as competências a serem ainda aprimoradas, seguindo os templates iniciais de categorização

dos dados da pesquisa (Apêndice E). Para que haja uma melhor compreensão das

informações, os resultados são apresentados separadamente, de acordo com o banco para o

qual os gerentes trabalham (público ou privado).

4.6.1 Banco público

Em primeiro lugar, a visão atual em relação à inicial da carreira gerencial é

apresentada, conforme transcrições selecionadas a seguir.

A gerente Pública_4 atenta para o fato de que, quando foi promovida ao cargo

gerencial, não havia um programa específico voltado à formação de gerentes como hoje existe

na instituição financeira pública, lamentando ter vivido experiências negativas desnecessárias

no início da carreira por não ter sido devidamente formada à época. A entrevistada comenta,

ainda, que se sente mais preparada hoje em termos técnicos/operacionais e psicológicos do

que no começo da profissão:

[...] Na época em que eu assumi, não tinha nenhum caminho específico

como tem agora essa trilha do líder, então, aí eu achei esse curso, nossa, eu

ia lendo o curso... até chorei porque (risos) todos aqueles conflitos que eu

estava vivendo naquele início de nova carreira, estava tudo escrito ali, falei:

“poxa, se me dessem esse curso pra ler antes, eu teria passado com menos

sofrimento pelas coisas que eu passei”, eu fui achar esse curso, acho que uns

seis meses depois... Pro meu próprio nível de exigência, talvez, agora, não

seja o momento certo pra uma promoção, mas eu já me sinto preparada pra

avançar, diferente de lá atrás, quando eu comecei, que eu achava que nunca

eu ia querer ser gerente... E até uma coisa legal que aconteceu: eu recebia um

feedback e eu sofria muito, e as pessoas próximas viam que eu sofria demais,

e aí um colega falando assim pra mim: “você sofre demais, tenta entender

que o que é trabalho, é trabalho, o que é pessoal, é pessoal, se eu brigar com

você no trabalho, eu vou almoçar com você do mesmo jeito” (risos), isso

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138

foi... eu sentia muito isso. Agora não, agora eu me sinto preparada, mais

estruturada psicologicamente e mais preparada em termos técnicos também.

(Pública_4)

A gerente Pública_5 afirma que, comparativamente ao início da carreira gerencial,

adquiriu diversas competências: pessoal ou comportamental (relacionamento interpessoal), de

conhecimento ou cognitiva (conhecimento da organização como um todo) e funcional

(gerenciamento da equipe de trabalho):

[...] Mudou totalmente, eu entrei em agência, eu não tinha o menor jeito lá de

atender cliente, lidar com o público, acabei tendo que desenvolver isso...

Hoje em dia, eu continuo nisso, mas, assim, de um outro ângulo, estando

como líder de uma equipe, claro que, de vez em quando, eu vou lá e ajudo

alguma coisa, acho muito legal, mas mudou, assim, muita coisa, bom, isso

que eu falei mesmo, a questão de atendimento, lidar com o público, visão do

todo, que antes eu ficava muito limitada só na minha atividade, não tinha

visão do impacto daquilo que eu estava fazendo, tanto pra agência quanto

pro banco como um todo... Que mais? Sim, a parte comportamental mudou

muito. A parte técnica eu também fui aprendendo, mas é mais fácil, não é

um bicho de sete cabeças, eu achava que fosse, mas não é, eu achava que

fosse até assumir a função de gerente. Assumi a função de gerente, aí caiu a

real (risos) [...] (Pública_5)

E, em segundo lugar, os gerentes entrevistados do banco público listam as

competências a serem aprimoradas, de acordo com as seguintes transcrições.

O gerente Pública_3 menciona as competências pessoais ou comportamentais, por

exemplo a interação com outros profissionais, como sendo as capacidades que ainda precisam

de aperfeiçoamento, pois, segundo ele, as competências de conhecimento ou cognitivas e

funcionais já estão sedimentadas:

[...] Ser gerente é estar preparado pro que der e vier! Preciso desenvolver

ainda... acho que é lidar com pessoas, é o mais difícil. Eu acho que é mais

prática mesmo. E fiz pós-graduação em Controladoria, mas eu tenho um

MBA em Recursos Humanos também. A parte teórica, eu domino, né, o

principal é a prática, né, porque cada pessoa é uma pessoa, né. Eu sou muito

“dois mais dois igual a quatro”. E as pessoas não reagem de acordo com o

que você espera. A gente tem um padrão de como que é a vida e as outras

pessoas têm outro completamente diferente [...] (Pública_3)

A gerente Pública_5, assim como o gerente Pública_3, cita as competências pessoais

ou comportamentais como as principais capacidades a desenvolver como gerente. De acordo

com a entrevistada, gerenciar conflitos na equipe de trabalho e saber dar feedback aos seus

liderados são pontos que ainda requerem desenvolvimento:

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[...] Nossa, tem tanto (para desenvolver): gerenciar conflito, a equipe daqui é

muito boa mesmo pra trabalhar, acho que é mais essa questão de gerenciar

conflitos, é complicado... É claro que tem outras, e a questão de dar feedback

também porque eu nunca tinha dado feedback de maneira formal antes, e eu

tive que dar, tem cerca de um mês, mais ou menos... Enfim, eu nunca tinha

passado por isso. O ponto é: você não foi treinada formalmente pra lidar com

isso [...] (Pública_5)

4.6.2 Banco privado

A seguir, as principais transcrições que comparam a visão atual e a visão inicial da

carreira gerencial dos entrevistados oriundos da instituição financeira privada.

Para a gerente Privada_3, a experiência é o principal fator que leva ao

desenvolvimento de competências gerenciais. A entrevistada compara o início da carreira

gerencial com o seu momento atual, faz uma autoanálise e afirma que se sente uma gerente

completa e que seus clientes a veem da mesma forma:

[...] Olha, eu vou dizer o seguinte: hoje eu me vejo uma gerente. Antes eu

era, assim, era assim... uma palavra bem engraçada, eu era meio “tabajara”

(risos) e isso a gente encontra um monte no mercado, um monte, e, assim, eu

vivo o banco, eu respiro o banco, é a minha profissão, é o que eu sei fazer,

tenho quase 20 anos de banco, então quer dizer, se eu for fazer outra coisa

hoje no mercado, vou ficar meio perdida, eu não sei fazer outra coisa a não

ser trabalhar numa rede bancária... Todo o conhecimento, toda a “bagagem”

vem com o tempo, não adianta você querer cortar caminho, é experiência,

então, hoje, eu me vejo uma gerente completa, lógico, existem muitas coisas

ainda a melhorar porque a gente está num aprendizado constante, a gente

aprende a cada dia... A experiência faz toda a diferença, o você gostar do que

faz, faz muita diferença... Gostar do que você faz, eu acho que essa é a chave

do sucesso, gostar do que você faz, então eu me sinto hoje uma gerente

completa, eu vejo isso nos meus clientes, que eles me enxergam como uma

gerente completa [...] (Privada_3)

A gerente Privada_4 afirma que as competências de conhecimento ou cognitivas e as

competências funcionais foram aprimoradas ao longo do tempo; além disso, a entrevistada

ressalta a necessidade de uma aprendizagem contínua para aqueles que trabalham no mercado

financeiro. A gerente destaca, ainda, que se sente mais preparada hoje para o exercício do

cargo, citando competências pessoais ou comportamentais, como por exemplo a

autoconfiança:

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[...] Mudou, acho que totalmente. Olha, eu acho que conhecimento porque

você não chega como gerente, você tem conhecimentos operacionais do

banco, normas, regras, agora conhecimento de consultor de investimento, um

consultor financeiro você adquire conforme o tempo... Aqui eu aprendi a

gerenciar, então você aprende a cuidar de uma carteira, a passar para o

cliente aquilo que é realmente válido, então você se sente, poxa, eu fiz um

bem pra aquele cliente... Então, a gente tem sempre o que aprender,

principalmente, no mundo dos bancos. Eu acho que esse clima de se manter

informada, de gostar de economia, essas coisas todas eu fui desenvolvendo.

Hoje, eu me sinto muito mais preparada para o cargo, então eu não tenho

medo de desafios, não tenho medo de atender, seja o cliente que for, não

importa quem seja, eu me sinto segura, firme pra poder atender o cliente [...]

(Privada_4)

Por fim, as competências ainda a serem aprimoradas pelos gerentes entrevistados do

banco privado, segundo as transcrições selecionadas a seguir.

O gerente Privada_2, por exemplo, menciona aspectos pessoais ou comportamentais

que precisam de controle e aperfeiçoamento:

[...] Eu preciso desenvolver bastante, acho que isso é problema de bancário,

preciso desenvolver bastante aí, preciso diminuir minha ansiedade, gerente é

bem ansioso, e eu sou um pouco fora do normal... é porque isso me atrapalha

um pouco, às vezes, de querer fazer tudo ao mesmo tempo... Com relação a

competências pessoais e conhecimento de produto, é tranquilo [...]

(Privada_2)

A gerente Privada_3, por sua vez, cita não somente competências pessoais ou

comportamentais que precisam ser aprimoradas ainda, mas também competências funcionais,

como por exemplo a capacidade de gerenciar processos de uma forma mais rápida e

proveitosa. De acordo com a entrevistada, sua gerente tem consciência dessa incapacidade e

está procurando ajudá-la nesse sentido:

[...] Eu sou uma pessoa que eu sou muito enrolada. Como eu posso explicar?

Eu não sou muito prática. Às vezes, eu “sento” com o cliente e vou

divagando, a gente vai batendo papo e vai conversando. Eu não sou muito

ágil nas minhas tarefas... Eu acho que eu me enrolo nos processos, eu quero

fazer uma entrega de tão boa qualidade pro cliente que, às vezes, eu vou

muito no detalhe e, assim, é uma coisa que não tem necessidade pra aquela

situação, em alguns momentos, sim, em alguns momentos, não, e eu perco o

timing. Então, assim, é uma coisa que eu tô melhorando, a minha gestora

sabe dessa minha deficiência, não é segredo pra ninguém aqui na agência, só

que... ela tá trabalhando isso em mim, né... [...] (Privada_3)

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Já, a gerente Privada_4 destaca que precisa agir com mais firmeza na relação com seus

clientes, evidenciando a necessidade de desenvolver uma competência pessoal ou

comportamental:

[...] Eu preciso ser um pouco mais firme, acho que sou muito boazinha

(risos). É chegar pro cliente e falar assim: “olha, não vou conseguir fazer,

não vai dar...” Eu fico sempre buscando uma solução porque eu me coloco

muito no lugar da pessoa, né; e ser mais firme, às vezes, o cliente, ele abusa

um pouquinho, né, do gerente, e aí a gente acaba fazendo tudo por eles, e

não, eu tenho que falar: “olha, tudo tem seu limite, isso não é da minha

competência, não é pra mim, eu vou te dar a solução, mas é um outro canal”,

então direcionar, entendeu? (Privada_4)

Por fim, o gerente Privada_5, assim como os demais gerentes da instituição financeira

privada, atenta para uma capacidade pessoal ou comportamental que deve ser aprimorada

ainda para o pleno exercício do cargo gerencial:

Eu acho que é mais essa questão de saber ouvir, que nem eu te falei, porque

você precisa realmente, a gente fala muito da questão de relacionamento,

você precisa saber fazer relacionamento com o cliente, se você não se

relaciona com ele, se você não sabe se ele tem filho, se ele tá casado, se ele

tem carro, se ele tem casa, você não consegue, de certa forma, ofertar

alguma coisa pra ele porque você não conhece com quem você tá

conversando, é como se você não conhecesse a tua matéria-prima, que é o

cliente. Então, no meu ponto, a melhor competência, a mais necessária é o

conhecimento, conhecimento daquilo que você tá fazendo, com quem você

está conversando e pra quem você tá vendendo, esse é o principal ponto [...]

(Privada_5)

É possível concluir, de uma maneira geral, que os gerentes entrevistados, tanto do

banco público quanto do banco privado, reconhecem a aquisição de novas competências,

principalmente, de conhecimento ou cognitivas, funcionais e pessoais ou comportamentais em

relação ao início de suas carreiras.

Além disso, a maioria dos gerentes entrevistados admite que as competências pessoais

ou comportamentais são aquelas que ainda precisam de mais aprimoramento, quando

comparadas com as demais competências profissionais.

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5 Considerações finais

O presente estudo buscou identificar as estratégias de aprendizagem informal no

trabalho utilizadas por gerentes no desenvolvimento de suas competências em instituições

financeiras pública e privada.

Como visto na introdução deste trabalho, a escolha por comparar as estratégias de

aprendizagem utilizadas por gerentes de banco público com as de gerentes de banco privado

no desenvolvimento de suas competências se deu por dois motivos principais: primeiro, o

ingresso dos gerentes nessas instituições (no banco público, via concurso público; e no banco

privado, via mercado profissional); e segundo, a permanência no cargo gerencial (no banco

público, a relativa estabilidade de emprego; e no banco privado, as incertezas inerentes ao

mercado das empresas privadas).

E, devido a essas diferenças, o autor da pesquisa esperava encontrar uma discrepância

mais acentuada entre as estratégias de aprendizagem utilizadas pelos gerentes das instituições

financeiras pesquisadas, resultando em competências profissionais igualmente distintas, fato

que não se concretizou, conforme resultados a seguir:

Resultados:

Os resultados indicam que a grande maioria dos gerentes participantes desta pesquisa

(8 de 10) construiu a carreira profissional dentro de instituições financeiras. A experiência

gerencial, por exemplo, foi adquirida e exercida somente em bancos.

Em relação às estratégias de aprendizagem, tanto para os gerentes entrevistados

pertencentes à instituição financeira pública quanto para os gerentes entrevistados oriundos do

banco privado, houve uma preferência natural pela utilização da estratégia de aprendizagem

Interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal, uma vez que recorrer a pares ou a

superiores hierárquicos, quando se tem a necessidade de informações mais detalhadas para a

execução do trabalho, é mais prático e rápido, principalmente em um ambiente de trabalho

onde há falta de tempo para uma leitura adequada de normativos e manuais editados pela

organização devido às pressões e demandas do dia a dia.

Considerando-se as especificidades entre os bancos público e privado, a estratégia de

aprendizagem Experenciar não foi observada nas falas dos gerentes oriundos da instituição

financeira pública. Na instituição financeira privada, a estratégia de aprendizagem

Experenciar foi revelada na fala de um dos gerentes participantes desta pesquisa (Privada_5).

Outra especificidade entre os bancos público e privado, é a estratégia de aprendizagem

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Mentoria e tutoria, que foi observada na fala de um dos gerentes pertencentes à instituição

financeira pública (Pública_4). Em relação ao banco privado, a estratégia de aprendizagem

Mentoria e tutoria não foi observada nas falas de nenhum dos gerentes entrevistados.

Quanto à aprendizagem de novos sistemas e aplicativos de informática, foi possível

observar uma diferença entre os participantes da pesquisa: todos os gerentes entrevistados da

instituição financeira pública compartilham experiências e estratégias de aprendizagem muito

similares que são, principalmente, a Interação e colaboração/busca por ajuda interpessoal.

Entretanto, na instituição financeira privada, os gerentes entrevistados contam com

Treinamentos formais, presenciais ou não, para novos sistemas e aplicativos de informática.

Já, em relação ao desenvolvimento de competências gerenciais, quando as razões que

levaram o participante a ser indicado para exercer a função gerencial foram analisadas, foi

possível notar que, assim como acontece na instituição financeira pública, no banco privado

os candidatos a um cargo gerencial precisam passar por um recrutamento interno formal e

atender a determinadas exigências para serem promovidos. A diferença em relação à

instituição financeira pública é que, no banco privado, os gerentes entrevistados não

questionam os critérios de seleção, pois não creditam a escolha feita pela organização a

fatores políticos ou de influência pessoal.

No que se refere às tarefas ou responsabilidades antes e depois de exercer a função

gerencial, pôde-se observar que todos os gerentes entrevistados do banco público afirmam que

houve um acúmulo de tarefas e responsabilidades quando foram promovidos ao exercício do

cargo gerencial. Os gerentes participantes desta pesquisa oriundos do banco privado afirmam

que as atividades mais técnicas ou operacionais foram deixadas em segundo plano, sob

responsabilidade de seus assistentes, para que, então, pudessem estar inteiramente voltados às

tarefas comerciais do banco.

As estratégias de aprendizagem no trabalho identificadas por Antonello (2011) podem

ser utilizadas pelos gerentes das instituições financeiras pública e privada para o

desenvolvimento das competências definidas por Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2005).

A maioria dos gerentes entrevistados (8 de 10) admite que as competências pessoais

ou comportamentais são aquelas que ainda precisam de mais aprimoramento, quando

comparadas com as demais competências profissionais.

Tomando como referência este trabalho, uma implicação prática pode resultar na

elaboração de uma proposta para a implantação de um Programa de Aprendizagem Gerencial

(processo que envolve atividades de aprendizagem formal e ações de desenvolvimento

focadas na ação), com o objetivo de fomentar o conhecimento de teorias, métodos e técnicas

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para o desenvolvimento e a operacionalização dos processos gerenciais, além de favorecer o

desenvolvimento da visão sistêmica e a reflexão sobre as atitudes, os comportamentos no

contexto gerencial e também o autoconhecimento.

Hoje, fala-se muito que o indivíduo é o responsável pelo próprio desenvolvimento,

mas a organização também tem sua parcela de responsabilidade, uma vez que não se aprende

apenas em um curso de formação ou aperfeiçoamento profissional, mas também na prática

gerencial – e isso indica que a empresa deve criar um ambiente propício para que as pessoas

aprendam (SILVA, 2009).

Já, para a academia, uma implicação teórica pode ser o caráter complementar deste

estudo. No Brasil, já foram realizadas algumas pesquisas, principalmente quantitativas, sobre

a intensidade de uso e a sequência de uso das estratégias de aprendizagem informal, em

funções como: operários da indústria automotiva (USHIRO; BIDO, 2014); enfermeiros e

técnicos em enfermagem (CONTE; BIDO; GODOY, 2011); Pantoja e Borges-Andrade

(2009) estudaram dezesseis ocupações profissionais (programador, pesquisador, frentista de

posto de gasolina, garçom, etc.); e Hito (2011) estudou a função da aprendizagem gerencial

em bancos, para citar alguns trabalhos.

Dessa forma, a presente pesquisa complementa as anteriores porque busca um

entendimento mais profundo destas estratégias ao analisá-las de modo qualitativo, além de ter

um enfoque no nível gerencial e relacionar as estratégias de aprendizagem no trabalho

identificadas por Antonello (2011) com o modelo de competências proposto por Cheetham e

Chivers (1996, 1998, 2005).

Por fim, é importante enfatizar que a aprendizagem ocorre de várias maneiras e em

diferentes níveis, mas sempre de forma complexa (STACEY, 1998 apud SILVA, 2009). À

medida que um gerente desempenha sua função e sistematiza suas práticas na organização,

não limita seu aprendizado à aquisição de competências, mas aprende a pensar, a sentir e a se

avaliar como gerente (HILL, 1993 apud SILVA, 2009). Uma competência é adquirida ou

potencializada quando o gerente amplia as suas experiências, à medida que aumenta a sua

vivência de situações profissionais, utilizando não só os conhecimentos adquiridos na sua

formação educacional, mas também as experiências vividas no trabalho e na vida pessoal

(SILVA, 2009).

Limitações:

Por ser um estudo qualitativo, a generalização dos resultados fica impossibilitada, pois

não há margem de segurança estatística em relação às inferências obtidas. É importante

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145

lembrar que o método qualitativo não tem a intenção de garantir a validade externa (GODOY,

2006).

Como a coleta de dados se baseou em entrevistas, algumas limitações podem ser

mencionadas sobre este aspecto: os resultados estão limitados àquilo que os entrevistados

conseguiram lembrar no decorrer das entrevistas; e aquilo que os gerentes entrevistados

lembraram pode ser diferente daquilo que realmente aconteceu na época do evento relatado,

por motivo de esquecimento ou pelo fato de o relato ser mais uma interpretação deles sobre o

que aconteceu do que realmente uma “fotografia” dos acontecimentos.

Sugestões:

Indica-se uma pesquisa quantitativa para complementar este estudo. A pesquisa

quantitativa possibilita uma análise passível de generalização para outros contextos (GIL,

2002).

Além disso, recomenda-se que, em pesquisas futuras, sejam contemplados gerentes de

outras áreas profissionais e/ou de diferentes segmentos de atividade da organização.

Contribuições:

Os objetivos propostos para o presente trabalho foram atingidos, enquanto pesquisa

qualitativa interpretativa básica, com base em Godoy (2006). Espera-se que os resultados

apresentados possam contribuir, de alguma forma, para um maior embasamento conceitual da

área temática, seja pela utilização de uma abordagem inovadora, ou ainda, pela questão da

complementaridade de estudos realizados nesta área.

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Apêndice A – Roteiro para entrevista-piloto semiestruturada

Perfil Demográfico

Sexo

Idade

Estado civil

Cargo gerencial atual

Tempo na empresa

Tempo no cargo gerencial

Formação educacional/acadêmica

Trajetória Profissional Gerencial

História profissional

Experiência anterior como gerente

Cargo Gerencial Atual

Cargo gerencial atual

Responsabilidades/tarefas pertinentes ao cargo gerencial

Estrutura hierárquica (número de subordinados, pares e superiores hierárquicos)

Estratégias de Aprendizagem

1. Quando você necessita de informações mais detalhadas sobre o seu trabalho, como

você procura agir? Você busca ajuda de seus colegas e/ou de colegas de outras áreas

da empresa? Dê exemplos.

2. Quando você tem dúvida sobre algo no trabalho, como você se comporta? Você

consulta normativos e instruções editados pela organização? Há informações

disponíveis na Intranet da organização? Dê exemplos.

3. Como você aprende a utilizar novos sistemas e aplicativos de informática? Dê

exemplos.

4. Para melhor execução do seu trabalho, de que forma você busca aprender novas

práticas ou tarefas? Dê exemplos.

5. Como você aprende novas formas de executar o seu trabalho? Dê exemplos.

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155

Desenvolvimento de Competências Gerenciais

1. Como foi sua primeira experiência em uma função gerencial? Descreva-a.

2. Em sua opinião, quais aspectos foram levados em consideração quando você foi

indicado/selecionado/contratado para ocupar o cargo de gerente? Por que você acha

que foi indicado para ser gerente?

3. O que mudou quando você passou a ser gerente? Você continuou com suas tarefas

anteriores? Incorporou novas atividades? Dê exemplos.

4. Quais capacidades (competências) você desenvolveu para o desempenho da função

gerencial? Dê exemplos.

5. Para colocar em prática essas capacidades (competências), você tem utilizado suas

experiências anteriores? Dê exemplos.

6. Para pôr em prática tais capacidades (competências), você aproveita o que adquiriu

através da sua formação profissional? Dê exemplos.

7. Que capacidades (competências) você julga relevantes para que um gerente (em geral)

possa desempenhar sua função com eficiência?

8. Quais são as duas ou três capacidades (competências) que você possui e que são as

mais significativas na sua atuação gerencial? De que forma?

9. Houve ou há algum tipo de planejamento para seu desenvolvimento enquanto gerente?

Por exemplo, cursos de pós-graduação, treinamento/desenvolvimento oferecido pela

empresa para você desenvolver as capacidades (competências) gerenciais? O que

aprendeu e o que pôde aplicar no trabalho?

10. Quais foram suas dificuldades no processo de desenvolvimento de suas capacidades

(competências) gerenciais? Dê exemplos.

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156

Apêndice B – Roteiro final para entrevista semiestruturada

Perfil Demográfico

Sexo

Idade

Estado civil

Cargo gerencial atual

Tempo na empresa

Tempo no cargo gerencial

Formação educacional/acadêmica

Trajetória Profissional Gerencial

História profissional

Experiência anterior como gerente

Cargo Gerencial Atual

Cargo gerencial atual

Responsabilidades/tarefas pertinentes ao cargo gerencial

Estrutura hierárquica (número de subordinados, pares e superiores hierárquicos)

Estratégias de Aprendizagem

1. Quando você necessita de informações mais detalhadas sobre o seu trabalho, como

você procura agir? Você busca ajuda de seus colegas e/ou de colegas de outras áreas

da empresa? Dê exemplos.

2. Quando você tem dúvida sobre algo no trabalho, como você se comporta? Você

consulta normativos e instruções editados pela organização? Há informações

disponíveis na Intranet da organização? Dê exemplos.

3. Como você aprende a utilizar novos sistemas e aplicativos de informática? Dê

exemplos.

4. Para melhor execução do seu trabalho, de que forma você busca aprender novas

práticas ou tarefas? Dê exemplos.

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157

5. Você busca relacionar a execução do seu trabalho aos valores adotados na

organização? Quando você executa o seu trabalho, você pensa em como ele está

relacionado ao negócio e à estratégia da organização?

6. Através da análise crítica da execução do seu trabalho, você consegue entendê-lo

melhor? Como? Dê exemplos.

7. Você alguma vez executou o seu trabalho usando o mesmo procedimento aplicado por

outras pessoas?

8. Você executa as tarefas conforme o padrão vigente?

9. Você participa de programas de capacitação e formação para desenvolver novas

habilidades?

10. A empresa disponibiliza um mentor (orientador) ou tutor (treinador) para que você

seja assistido no desempenho de suas atividades?

Desenvolvimento de Competências Gerenciais

1. Como foi sua primeira experiência em uma função gerencial? Descreva-a.

2. Em sua opinião, quais aspectos foram levados em consideração quando você foi

indicado/selecionado/contratado para ocupar o cargo de gerente? Por que você acha

que foi indicado para ser gerente?

3. O que mudou quando você passou a ser gerente? Você continuou com suas tarefas

anteriores? Incorporou novas atividades? Dê exemplos.

4. Quais capacidades (competências) você desenvolveu para o desempenho da função

gerencial? Dê exemplos.

5. Para colocar em prática essas capacidades (competências), você tem utilizado suas

experiências anteriores? Dê exemplos.

6. Para pôr em prática tais capacidades (competências), você aproveita o que adquiriu

através da sua formação profissional? Dê exemplos.

7. Que capacidades (competências) você julga relevantes para que um gerente (em geral)

possa desempenhar sua função com eficiência?

8. Quais são as duas ou três capacidades (competências) que você possui e que são as

mais significativas na sua atuação gerencial? De que forma?

9. Houve ou há algum tipo de planejamento para seu desenvolvimento enquanto gerente?

Por exemplo, cursos de pós-graduação, treinamento/desenvolvimento oferecido pela

empresa para você desenvolver as capacidades (competências) gerenciais? O que

aprendeu e o que pôde aplicar no trabalho?

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10. Quais foram suas dificuldades no processo de desenvolvimento de suas capacidades

(competências) gerenciais? Dê exemplos.

11. Como você acha que os outros o veem como gerente? Considere pessoas do trabalho e

de fora dele. Você recebe feedback acerca de sua atuação gerencial e sobre a sua

forma de ser?

12. Como você se vê enquanto gerente hoje, comparativamente ao que era no início da

carreira gerencial? Hoje, qual o significado de ser gerente? E o que ainda você precisa

desenvolver em termos de capacidades (competências) gerenciais?

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Apêndice C – Quadro comparativo – apêndices A e B

Quadro 11: Quadro comparativo - apêndices A e B

Questão Apêndice A – roteiro para

entrevista-piloto

Apêndice B – roteiro final para

entrevista semiestruturada Comentários

Estratégias de Aprendizagem

4

Para melhor execução do seu

trabalho, de que forma você busca

aprender novas práticas ou tarefas?

Dê exemplos.

Para melhor execução do seu

trabalho, de que forma você busca

aprender novas práticas ou

tarefas? Dê exemplos.

A questão 4 foi mantida no

roteiro final para a entrevista

semiestruturada.

5

Como você aprende novas formas

de executar o seu trabalho? Dê

exemplos.

A questão 5, por sua vez, foi

excluída, uma vez que seu

sentido é semelhante à

questão 4.

5

Você busca relacionar a execução

do seu trabalho aos valores

adotados na organização? Quando

você executa o seu trabalho, você

pensa em como ele está

relacionado ao negócio e à

estratégia da organização?

A questão 5 foi substituída

para que a estratégia de

aprendizagem “reflexão

extrínseca” possa ser

identificada.

6

Através da análise crítica da

execução do seu trabalho, você

consegue entendê-lo melhor?

Como? Dê exemplos.

A questão 6 foi incluída para

que a estratégia de

aprendizagem “reflexão

intrínseca” possa ser

identificada.

7

Você alguma vez executou o seu

trabalho usando o mesmo

procedimento aplicado por outras

pessoas?

A questão 7 foi incluída para

que a estratégia de

aprendizagem “reprodução”

possa ser identificada.

8 Você executa as tarefas conforme

o padrão vigente?

A questão 8 foi incluída para

que a estratégia de

aprendizagem “reprodução”

possa ser identificada.

9

Você participa de programas de

capacitação e formação para

desenvolver novas habilidades?

A questão 9 foi incluída para

que a estratégia de

aprendizagem “participação

em cursos” possa ser

identificada.

10

A empresa disponibiliza um

mentor (orientador) ou tutor

(treinador) para que você seja

assistido no desempenho de suas

atividades?

A questão 10 foi incluída

para que a estratégia de

aprendizagem “mentoria e

tutoria” possa ser

identificada.

Desenvolvimento de Competências

11

Como você acha que os outros o

veem como gerente? Considere

pessoas do trabalho e de fora dele.

Você recebe feedback acerca de

sua atuação gerencial e sobre a

sua forma de ser?

A questão 11 foi incluída

para que o participante possa

comentar a visão de outras

pessoas a respeito de sua

função gerencial. Para o

pesquisador, a questão ajuda

a confrontar a visão do

participante com a de outros.

12

Como você se vê enquanto

gerente hoje, comparativamente

ao que era no início da carreira

gerencial? Hoje, qual o

significado de ser gerente? E o

que ainda você precisa

desenvolver em termos de

capacidades (competências)

gerenciais?

A questão 12 foi incluída

para suscitar uma perspectiva

atual e futura sobre a carreira

gerencial.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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Apêndice D – Matriz de amarração

Quadro 12: Matriz de amarração

Problema da pesquisa: Quais as estratégias de aprendizagem no trabalho usadas por gerentes no desenvolvimento de suas competências em

instituições financeiras pública e privada?

Objetivo geral: Identificar as estratégias de aprendizagem no trabalho usadas por gerentes no desenvolvimento de suas competências em

instituições financeiras pública e privada.

Objetivos específicos: Analisar as estratégias de aprendizagem no trabalho utilizadas por gerentes de diferentes áreas de instituições financeiras

pública e privada; relacionar tais estratégias de aprendizagem no trabalho com o desenvolvimento de competências gerenciais, comparando

gerentes de instituições financeiras pública e privada.

(Continua na página seguinte.)

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Fonte: Elaborado pelo autor.

Pontos-chave Referencial teórico Pontos de investigação Perguntas do roteiro de entrevistas Perguntas do roteiro de entrevistas Técnica de coleta dos dados Técnica de análise dos dados Resultado esperado

Aprendizagem

1. Quando você necessita de informações mais

detalhadas sobre o seu trabalho, como você

procura agir? Você busca ajuda de seus

colegas e/ou de colegas de outras áreas da

empresa? Dê exemplos.

6. Através da análise crítica da execução do

seu trabalho, você consegue entendê-lo

melhor? Como? Dê exemplos.

Aprendizagem de

adultos

2. Quando você tem dúvida sobre algo no

trabalho, como você se comporta? Você

consulta normativos e instruções editados pela

organização? Há informações disponíveis na

Intranet da organização? Dê exemplos.

7. Você alguma vez executou o seu trabalho

usando o mesmo procedimento aplicado por

outras pessoas?

Aprendizagem formal

e informal

3. Como você aprende a utilizar novos sistemas

e aplicativos de informática? Dê exemplos.

8. Você executa as tarefas conforme o padrão

vigente?

Aprendizagem no

local de trabalho

4. Para melhor execução do seu trabalho, de

que forma você busca aprender novas práticas

ou tarefas? Dê exemplos.

9. Você participa de programas de capacitação

e formação para desenvolver novas

habilidades?

Estratégias de

aprendizagem no

local de trabalho

5. Você busca relacionar a execução do seu

trabalho aos valores adotados na organização?

Quando você executa o seu trabalho, você

pensa em como ele está relacionado ao negócio

e à estratégia da organização?

10. A empresa disponibiliza um mentor

(orientador) ou tutor (treinador) para que você

seja assistido no desempenho de suas

atividades?

Competência

profissional

1. Como foi sua primeira experiência em uma

função gerencial? Descreva-a.

6. Para pôr em prática tais capacidades

(competências), você aproveita o que adquiriu

através da sua formação profissional? Dê

exemplos.

Os modelos de

competências

propostos por

Cheetham e Chivers

2. Em sua opinião, quais aspectos foram

levados em consideração quando você foi

indicado/selecionado/contratado para ocupar o

cargo de gerente? Por que você acha que foi

indicado para ser gerente?

7. Que capacidades (competências) você julga

relevantes para que um gerente (em geral)

possa desempenhar sua função com eficiência?

Dimensões da

competência e

competências

gerenciais

3. O que mudou quando você passou a ser

gerente? Você continuou com suas tarefas

anteriores? Incorporou novas atividades? Dê

exemplos.

8. Quais são as duas ou três capacidades

(competências) que você possui e que são as

mais significativas na sua atuação gerencial?

De que forma?

O desenvolvimento

de competências

como um processo

contínuo de

aprendizagem

4. Quais capacidades (competências) você

desenvolveu para o desempenho da função

gerencial? Dê exemplos.

9. Houve ou há algum tipo de planejamento

para seu desenvolvimento enquanto gerente?

Por exemplo, cursos de pós-graduação,

treinamento/desenvolvimento oferecido pela

empresa para você desenvolver as capacidades

(competências) gerenciais? O que aprendeu e o

que pôde aplicar no trabalho?

O processo de

aprendizagem e suas

relações com a

competência

5. Para colocar em prática essas capacidades

(competências), você tem utilizado suas

experiências anteriores? Dê exemplos.

10. Quais foram suas dificuldades no processo

de desenvolvimento de suas capacidades

(competências) gerenciais? Dê exemplos.

As instituições

financeiras no Brasil

e os bancos

pesquisados

11. Como você acha que os outros o veem

como gerente? Considere pessoas do trabalho e

de fora dele. Você recebe feedback acerca de

sua atuação gerencial e sobre a sua forma de

ser?

Contexto da

aprendizagem e do

desenvolvimento das

competências

gerenciais: banco

público versus banco

privado

12. Como você se vê enquanto gerente hoje,

comparativamente ao que era no início da

carreira gerencial? Hoje, qual o significado de

ser gerente? E o que ainda você precisa

desenvolver em termos de capacidades

(competências) gerenciais?

A coleta de dados se deu por meio

de entrevistas semiestruturadas.

Segundo Godoy (2006), a entrevista

semiestruturada é utilizada para

coletar dados descritivos na

linguagem dos sujeitos, podendo,

assim, compreender os significados,

opiniões e crenças que eles

atribuem às questões e situações

relativas ao tema de interesse. O

foco das entrevistas estava

centrado em identificar as

estratégias de aprendizagem

informal no local de trabalho

utilizadas no desenvolvimento de

Neste estudo, os dados obtidos nas

entrevistas foram analisados por

meio da técnica de templates , de

King (2004). O termo “análise de

template ” não se refere apenas a

um método único e claramente

delineado, porém se trata de um

grupo de técnicas para

tematicamente organizar e analisar

dados textuais. A essência da

análise de template é que o

pesquisador produz uma lista de

códigos (templates ) representando

temas identificados nos seus dados

textuais. Os templates são

organizados de um modo que

representam as relações entre os

temas, assim definidos pelo

pesquisador, envolvendo uma

estrutura hierárquica (KING,

2004).

A escolha por comparar as

estratégias de aprendizagem

utilizadas por gerentes de banco

público com as de gerentes de

banco privado no desenvolvimento

de suas competências se deu por

dois motivos principais: primeiro, o

ingresso dos gerentes nessas

instituições (no banco público, via

concurso público; e no banco

privado, via mercado profissional);

e segundo, a permanência no cargo

gerencial (no banco público, a

relativa estabilidade de emprego; e

no banco privado, as incertezas

inerentes ao mercado das empresas

privadas).

E, devido a essas diferenças, o

autor da pesquisa esperava

encontrar uma discrepância mais

acentuada entre as estratégias de

aprendizagem utilizadas pelos

gerentes das instituições financeiras

pesquisadas, resultando em

competências profissionais

igualmente distintas, fato que não

se concretizou.

Aprendizagem

Competência

Contexto

Estratégias de

aprendizagem - Antonello

(2011)

Desenvolvimento de

competências - Cheetham

e Chivers (1996, 1998,

2005)

Vieira et al. (2012);

Fortuna (2005)

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Apêndice E – Templates iniciais de categorização dos dados da pesquisa

Quadro 13: Templates iniciais de categorização dos dados da pesquisa

Código Template Denominação

1 Perfil Demográfico

1.1 Sexo

1.2 Idade

1.3 Estado civil

1.4 Cargo gerencial atual

1.5 Tempo na empresa

1.6 Tempo no cargo gerencial

1.7 Formação acadêmica

2 Trajetória Profissional Gerencial

2.1 História profissional

2.2 Experiência anterior como gerente

3 Cargo Gerencial Atual

3.1 Cargo atual

3.2 Responsabilidades/tarefas pertinentes ao cargo gerencial

3.3 Estrutura hierárquica (nº de subordinados, pares e superiores)

4 Estratégias de Aprendizagem

4.1 Experiência anterior e transferência extraprofissional

4.2 Experenciar

4.3 Reflexão extrínseca e intrínseca

4.4 Autoanálise

4.5 Observação-modelo/reprodução

4.6 Feedback

4.7 Mudança de perspectiva

4.8 Mentoria e tutoria

4.9 Interação e colaboração (busca por ajuda interpessoal)

4.10 Consulta a material escrito

4.11 Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática (aplicação prática)

4.12 Cursos e treinamentos

5 Desenvolvimento de Competências Gerenciais

5.1 Razões que o levaram a ser indicado para exercer a função gerencial

5.2 Tarefas/responsabilidades antes e depois de exercer a função gerencial

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163

5.3 Competências cognitivas/conhecimento

5.4 Competências funcionais/técnicas

5.5 Competências pessoais/comportamentais

5.6 Competências de valores/éticas

5.7 Metacompetências/transcompetências

6 Visão sobre o Significado de ser Gerente

6.1 Visão atual versus visão inicial da carreira gerencial

6.2 Competências a serem ainda aprimoradas

Fonte: Elaborado pelo autor.

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164

Apêndice F – Carta informativa e termo de consentimento livre e esclarecido

Carta de informação aos responsáveis

A pesquisa “Estratégias de Aprendizagem Utilizadas por Gerentes no

Desenvolvimento de suas Competências em Instituições Financeiras Pública e Privada” se

propõe a estudar como ocorrem os processos de aprendizagem de gerentes que trabalham em

agências bancárias de dois bancos: um público e um privado, na cidade de São Paulo/SP,

resultando no desenvolvimento de suas capacidades enquanto gerentes. Os dados para este

estudo serão coletados através da realização de entrevistas juntos aos que trabalham neste tipo

de organização. As entrevistas serão conduzidas pelo pesquisador e o contato interpessoal daí

decorrente não oferece nenhum risco aos participantes.

Em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao pesquisador para o esclarecimento de

eventuais dúvidas. Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos

da pesquisa, entre em contato com o orientador do estudo, que é professor-pesquisador do

Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie – Rua da

Consolação, 930 – São Paulo/SP.

Aos participantes cabe o direito de retirar-se do estudo a qualquer momento, sem

prejuízo algum. As informações coletadas serão analisadas em conjunto com a de outros

participantes e será garantido sigilo absoluto sobre as questões respondidas, sendo

resguardado o nome dos participantes, assim como a identificação do local da coleta de dados.

Desde já agradecemos a sua colaboração.

_________________________

Sergio Santoro

Mestrando em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

_________________________

Diógenes De Souza Bido

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas – Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Termo de consentimento livre e esclarecido

Pelo presente instrumento, que atende às exigências legais, o(a) senhor(a)

___________________________________, sujeito da pesquisa “Estratégias de

Aprendizagem Utilizadas por Gerentes no Desenvolvimento de suas Competências em

Instituições Financeiras Pública e Privada”, após a leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO

AOS RESPONSÁVEIS, ciente dos procedimentos a serem realizados, seus desconfortos,

riscos e garantias de confidencialidade e, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e

do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância em

participar da pesquisa proposta.

Fica claro que o responsável pode, a qualquer momento, retirar seu

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar da pesquisa, e fica

ciente de que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por força do

sigilo profissional.

São Paulo, xx de xxxxx de xxxx.

_______________________________

Assinatura do participante da pesquisa