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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
LILIAN RUDOLF
A INTERCULTURALIDADE E OS PROGRAMAS DE MOBILIDADE ESTUDANTIL:
UMA AMOSTRAGEM COM PARTICIPANTES DO
AFS INTERCULTURAL PROGRAMS
São Paulo
2014
LILIAN RUDOLF
A INTERCULTURALIDADE E OS PROGRAMAS DE MOBILIDADE ESTUDANTIL:
UMA AMOSTRAGEM COM PARTICIPANTES DO
AFS INTERCULTURAL PROGRAMS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Letras
Orientadora: Profa. Dra. Vera Lucia Harabagi Hanna
São Paulo
2014
LILIAN RUDOLF
A INTERCULTURALIDADE E OS PROGRAMAS DE MOBILIDADE ESTUDANTIL:
UMA AMOSTRAGEM COM PARTICIPANTES DO
AFS INTERCULTURAL PROGRAMS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em Letras.
Aprovado em
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Vera Lucia Harabagi Hanna
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Huady
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Nancy dos Santos Casagrande
R917i Rudolf, Lilian.
A interculturalidade e os Programas de Mobilidade Estudantil : uma amostragem com
participantes do AFS Intercultural Programs / Lilian Rudolf. – 2014.
144 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo,
2015.
Referências bibliográficas: f. 140-144.
1. Interculturalidade. 2. Língua. 3. Cultura. 4. Comunicação intercultural. 5.
Competência intercultural. 6. Mobilidade estudantil. I. Título.
CDD 370.116
R917i Rudolf, Lilian.
A interculturalidade e os Programas de Mobilidade Estudantil : uma amostragem
com participantes do AFS Intercultural Programs / Lilian Rudolf. – 2014.
144 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
Paulo, 2015.
Referências bibliográficas: f. 140-144.
1. Interculturalidade. 2. Língua. 3. Cultura. 4. Comunicação intercultural. 5.
Competência intercultural. 6. Mobilidade estudantil. I. Título.
CDD 370.116
“A gargalhada é o sol que varre o inverno do rosto humano.”
Victor Hugo
Dedico esse trabalho aos meus pais que sempre me apoiaram e
Estiveram ao meu lado em todos os momentos que mais precisei...
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado à oportunidade de fazer
esse trabalho, de ter cursado essa universidade, de ter tido tantas pessoas
maravilhosas ao meu lado que me ajudaram e incentivaram.
Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Vera Lúcia Harabagi Hanna que foi
muito mais do que uma orientadora, foi uma mãe, por ter compreendido os meus
problemas pessoais e nunca ter desistido de mim. Sempre esteve pronta para me
ajudar, demonstrando ser muito competente e detentora de um conhecimento vasto,
além, de uma profissional que realmente sente paixão pela sua profissão. Uma
pessoa que eu admiro.
Agradeço ao Prof. Dr. Alexandre Huady e a Profa. Dra. Nancy dos Santos
Casagrande pelas contribuições que deram para o meu trabalho, por todas as
sugestões, pela transmissão de seus conhecimentos que foram muito importantes e
necessários para a conclusão do meu trabalho. Obrigada por terem participado das
minhas bancas.
Agradeço a toda a minha família, meus pais Carlos e Odilia, meus irmãos
Marcel e Carla, minha cunhada Sarah, dona Ione, minha avó Mercedes e minha
sobrinha Hannah que me trouxe muita alegria nos momentos de tensão durante a
jornada.
Agradeço a alguém muito especial na minha vida, que eu amo muito, meu
amor, Fernando Piplovic, por toda a ajuda tecnológica, incentivo, dedicação,
paciência, amor e carinho que teve durante o trabalho e sempre tem comigo.
Agradeço a amiga Ana pela ajuda com o preenchimento dos questionários,
por ter enviado o link para alguns de seus amigos pessoais que são AFSERS e que
foram para os Estados Unidos.
Agradeço as minhas amigas que sempre torceram por mim: Juliana, Marinah,
Vivian, Tamara e Kátia.
Agradeço a Luciana Chiardia por ter me ajudado a me entender melhor.
Também agradeço a Ana Beatriz, Gerente de Marketing do AFS e a sua
diretora por terem contribuído imensamente com o meu trabalho, pela sugestão do
uso da ferramenta Google Forms que foi de grande utilidade, pelo envio dos
questionários aos participantes e por terem autorizado o uso do nome AFS na
pesquisa. Muito obrigada.
Finalmente e não menos importante agradeço imensamente a todos os
estudantes que participaram do meu estudo respondendo ao meu questionário.
Muito obrigada pela contribuição de cada um. Sem vocês o trabalho não seria
concluído.
RESUMO
O presente trabalho se filia à linha de pesquisa de aprendizado de línguas
estrangeiras, com foco na língua inglesa e no papel da interculturalidade nos
programas de mobilidade estudantil, destacando o programa de High School (Ensino
Médio) oferecido pela Organização sem fins lucrativos AFS Intercultural Programs
(antigo American Fields Service) sediada nos Estados Unidos da América.
O objetivo principal do estudo é o de compreendermos a experiência da
interculturalidade adquirida num programa de intercâmbio, no país receptor, em que
o intercambista conviverá com uma família nativa, frequentará uma escola da
comunidade, estudará disciplinas relacionadas ao Ensino Médio; destacamos
naquele contexto o convívio com uma nova cultura por intermédio da escola, do
clube, da família que irá hospedá-lo e das novas amizades que fará. Abordaremos
além dos conceitos de interculturalidade, o binômio língua-cultura, a relação entre
língua, cultura e identidade, comunicação intercultural e competência intercultural.
Pretendemos examinar o impacto que o programa de intercâmbio exerce na vida
dos participantes ao regressar ao país de origem, o Brasil, na escolha da profissão,
no mercado de trabalho, no que se refere a questões pessoais, acadêmicas e
profissionais tanto quanto em itens como amadurecimento, tolerância, liderança,
respeito, independência, organização, bagagem cultural e desenvolvimento da
competência intercultural.
O referencial teórico que dá suporte ao estudo concentra-se em conceitos
essenciais para o trabalho relacionados à língua, cultura, identidade, comunicação
intercultural e competência intercultural além de mobilidade estudantil. Estudiosos
como: Kramsch, Hall, Byram, Fleming, Valdes, Signorini, Laraia, Hertsgaard, Nye
Júnior, Hanna, Chauí, entre outros. Para atingirmos nossos resultados faremos uma
pesquisa que será elaborada a partir de um questionário aplicado a um grupo de
estudantes do AFS Intercultural Programs de diversas regiões do Brasil que realizou
o intercâmbio nos Estados Unidos em diferentes épocas. O questionário será
respondido por meio de e-mails contendo questões de múltipla escolha, com
exceção das três últimas questões abertas.
Palavras-chave: Interculturalidade, língua, cultura, comunicação intercultural,
competência intercultural, mobilidade estudantil.
ABSTRACT
This work joins the learning line of research of foreign languages, focusing on
English language and the role of interculturalism in the student mobility programs,
highlighting the high school program (High School) offered by non-profit organization
AFS Intercultural Programs (formerly American Fields Service) based in the United
States of America .
The main objective of the study is to understand the experience of intercultural
acquired an exchange program in the host country, in which the exchange student
will live with a native family, will attend a community school, study subjects related to
High School; highlight that context living with a new culture for school through, club,
family that will host him and new friendships that he will make. Discuss beyond
intercultural concepts, the binomial language - culture, the relationship between
language, culture and identity, intercultural communication and intercultural
competence.
The authors examine the impact that the exchange program has on lives of the
participants to return to their country of origin, Brazil, in the choice of occupation, in
the labor market, in relation to personal, academic and professional issues as well as
on items such as maturity, tolerance, leadership, respect, independence,
organization, cultural background and development of intercultural competence.
The theoretical framework that supports the study focuses on key concepts for
language -related work, culture, identity, intercultural communication and intercultural
competence as well as student mobility. Scholars such as: Kramsch, Hall, Byram,
Fleming, Valdes, Signorini, Laraia, Hertsgaard, Nye Junior, Hanna, Chauí , among
others. To achieve our results we'll search to be drawn from a questionnaire
administered to a group of AFS Intercultural Programs of students from different
regions of Brazil that made the exchange in the United States at different times. The
questionnaire will be answered by e-mail containing multiple choice questions , with
the exception of the last three open questions.
Keywords: Intercultural, language, culture, intercultural communication, intercultural
competence, student mobility.
SUMÁRIO
Considerações iniciais.............................................................................................15
1. A relação entre língua e cultura..........................................................................19
1.1 Língua...................................................................................................................20
1.2 Cultura..................................................................................................................26
1.3 Língua, Cultura e Identidade................................................................................31
2. Mobilidade estudantil...........................................................................................38
2. 1 A influência Norte-americana.............................................................................41
2.2 O lugar da interculturalidade num aprendizado de uma língua
estrangeira..................................................................................................................45
2.3 A Competência Intercultural.................................................................................53
2.4 O modelo de Sinergia Cultural..........................................................................59 2.5 AFS Intercultural Programs..................................................................................61
3. Metodologia e análise do corpus........................................................................64
3.1 Motivação e pressupostos....................................................................................64
3.2 Instrumento de pesquisa – questionário...............................................................64
3.3 Elaboração do questionário..................................................................................64
3.4 Análise dos resultados.........................................................................................67
Considerações finais.............................................................................................101
ANEXOS..................................................................................................................105
ANEXO I...................................................................................................................106
E-mail enviado para Sra. Ana Beatriz Cavalcanti apresentando a pesquisadora e o
objetivo do trabalho..................................................................................................106
ANEXO II..................................................................................................................109
E-mail enviado pela Ana Beatriz Cavalcanti (Gerente de Marketing do AFS) “dando
consentimento à realização da pesquisa” solicitada pela pesquisadora..................109
ANEXO III.................................................................................................................110
E-mail enviado ao AFS pela pesquisadora conforme solicitado no Anexo
II................................................................................................................................110
ANEXO IV................................................................................................................112
Questionário enviado aos intercambistas.................................................................112
ANEXO V.................................................................................................................118
Resumo das respostas do questionário enviado aos participantes.........................118
Referências Bibliográficas....................................................................................140
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Diante de um mundo cada vez mais globalizado, com crescente fluxos
comunicacionais podemos perceber um aumento no número de intercâmbios
realizados por jovens estudantes não só no Brasil, mas em todo mundo, e que
oferecem ao participante vivência internacional, seja numa escola do Ensino Médio,
numa Universidade ou numa empresa multinacional. É importante que estudemos,
dentro do contexto do intercâmbio cultural, a língua, a cultura, a relação entre elas, a
tríplice aliança que ocorre entre língua, cultura e identidade, o interculturalismo, a
mobilidade estudantil, e a competência Intercultural. Focaremos esse horizonte, em
nossa pesquisa, no universo do Ensino Médio – o High School.
O presente trabalho visa a investigar o conceito de interculturalismo no
processo de aprendizado de uma segunda língua, o Inglês, no universo de
intercambistas brasileiros que cursaram um ano do Ensino Médio, denominado High
School, nos Estados Unidos. Ao se inserir numa outra cultura, a norte-americana, o
indivíduo que está aprendendo a língua passará a aprender e a vivenciar essa nova
cultura.
Optamos por investigar um grupo com experiência de intercâmbio nos EUA
por ser o país que recebe o maior número de estudantes brasileiros vindos do AFS
Intercultural Programs que no Brasil denomina-se AFS Intercultura Brasil. O AFS
Intercultural Programs é uma organização não governamental, sem fins lucrativos
que oferece oportunidades de aprendizado intercultural por intermédio dos
programas de Intercâmbio Cultural.
Abordaremos questões relacionadas à maioria dos candidatos escolherem
como primeira opção os Estados Unidos ao preencherem o formulário de opções de
países, durante a seleção do programa oferecido pelo AFS. Outro ponto de interesse
é o quanto o “American way of life” tem influenciado não só a cultura brasileira, mas
as outras culturas espalhadas pelo globo, além das decorrências advindas dessas
experiências na vida dos participantes. Para tanto, apresentaremos a Instituição
AFS, sua origem, seu papel, seu desenvolvimento e sua função na sociedade.
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O objetivo principal da pesquisa é o da observação de alunos brasileiros
participantes do programa na volta ao país de origem e as possíveis implicações do
ponto de vista cultural e intercultural.
Os dados serão coletados por meio de um questionário com intercambistas
pertencentes a este grupo. A partir desses dados, pretendemos verificar o perfil dos
participantes, às razões que os levaram a participar de um programa de intercâmbio,
em que medida o fato de terem participado da experiência os trouxe competência
intercultural e os despertou consciência de cidadania, experiências de
interculturalidade, as competências adquiridas como liderança, independência,
tolerância, a influência que o intercâmbio teve em suas decisões em relação à
escolha da profissão, entre outros aspectos.
Apesar do destaque do desenvolvimento de outros países no mundo como
China, Coréia, entre outros países emergentes, além da crise econômico-financeira
enfrentada pelos norte-americanos, os Estados Unidos ainda são a primeira opção
na escolha como destino número um para a experiência de Intercâmbio Cultural –
High School. Segundo Adele Ruppe, conselheira para assuntos de educação e
cultura da embaixada dos Estados Unidos no Brasil:
“Os Estados Unidos continuam sendo um dos destinos preferidos pelos estudantes do Brasil, por causa da qualidade e prestígio associados a um diploma americano”. “Os rankings internacionais confirmam esse reconhecimento. Segundo a lista do Times Higher Education Supplement de 2012, 44 das 100 melhores universidades do mundo são estadunidenses e, dentre as dez primeiras, sete estão nos EUA.” 1
A escolha do objeto de análise desta dissertação está relacionada à
experiência pessoal desta pesquisadora, por ter participado de um programa de
intercâmbio entre os anos de 1996 e 1997. Embora não tenha viajado para os
Estados Unidos, participei de uma seleção pela Instituição AFS Intercultural
Programs para fazer o programa de High School. Na seleção não podíamos
escolher o país em que seria realizado o intercâmbio, tampouco região ou distrito,
1 Fonte: http://educacao.uol.com.br/intercambio/estados-unidos/.Acessado em 06/05/2014.
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preenchíamos um formulário com opções de países e a organização recebia as
vagas e as direcionava aos dez finalistas da seleção. Como se trata de um programa
em que escola e a família hospedeira são voluntárias, os organizadores distribuem
as vagas de acordo com os perfis dos estudantes e os que os recebem. Fiquei entre
os dez finalistas e a minha vaga foi destinada para a Noruega.
É preciso destacar que ao participar da seleção do AFS, o estudante passa
por um teste de conhecimentos gerais, dinâmicas de grupos, leitura de textos e
discussões, trabalhos voluntários e apresentações de trabalhos. Geralmente, são
trabalhos relacionados à apresentação de algum país, ilustrando sua história, sua
cultura, seu idioma, seus costumes, etc.. Além disso, o estudante preenche um
formulário, como já havíamos mencionado, com algumas opções de países e ele
sendo aprovado na seleção, irá receber uma vaga, que poderá ser sua primeira,
segunda, terceira, última, ou nenhuma das opções que havia colocado, ou seja,
havendo a chance de surgir uma vaga para um país que não havia sequer pensado.
O vínculo criado com a família hospedeira norueguesa permanece até hoje e
o mesmo ocorreu com a intercambista norueguesa que residiu no Brasil com a
família da pesquisadora. Tivemos uma experiência muito positiva a qual serviu como
fonte de inspiração para que tivéssemos novamente experiências com o Programa
de Intercâmbio Cultural do AFS.
Transferindo para o exemplo pessoal, aprendermos o norueguês foi possível
vivenciando a cultura norueguesa, frequentando uma escola do Ensino Médio e
morando com uma família norueguesa em Oslo. No início, a barreira da língua foi
um dos obstáculos a vencer; apesar de a Noruega ser um país bilíngue, pois a
grande maioria fala inglês, além do norueguês, porém, o objetivo principal do
programa era vivenciar outra cultura, ter uma experiência internacional e a língua foi
uma “ferramenta” imprescindível.
Esta pesquisa divide-se em três capítulos: no Capítulo 1, apresentaremos a
relação entre língua e cultura, conceitos básicos sobre cultura e a relação entre
língua, cultura e identidade.
No capítulo 2, falaremos sobre programas de mobilidade estudantil, a
influência norte-americana e os motivos que levam muitos estudantes a escolherem
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os Estados Unidos como opção para a experiência de intercâmbio cultural. Além
disso, abordaremos a importância da interculturalidade num programa de mobilidade
estudantil, especificamente o programa de High School nos Estados Unidos,
conceitos sobre a Competência Intercultural e sua relação com a experiência do
intercâmbio cultural assim como uma apresentação sobre a Instituição AFS
Intercultural Programs.
O Capítulo 3 se refere ao processo da escolha metodológica e do instrumento
de pesquisa, além da descrição dos procedimentos da coleta de dados.
Posteriormente serão apresentados os dados e os mesmos serão analisados de
acordo com as teorias estudadas.
Nas considerações finais apresentaremos as conclusões embasadas nos
resultados adquiridos com os questionários.
19
CAPÍTULO 1 - A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E CULTURA
O Capítulo 1 apresenta as diferentes maneiras de como a língua pode estar
conectada à cultura, como podemos aprender uma nova língua vivenciando
imersamente numa nova cultura.
O estudo da relação entre língua e cultura ganha cada vez mais espaço e
acarreta um maior interesse por uma educação intercultural que contribui para um
entendimento mais apurado em relação às culturas, a um novo olhar sobre o outro,
A indissociabilidade entre língua e cultura é cada vez mais visível no mundo globalizado, acarretando uma educação intercultural cada vez maior, na qual língua e cultura caminham lado a lado atuando como fatores fundamentais na promoção de uma convivência compartilhada no planeta. (Dourado, M., Poshar, H., 2010, p. 34).
Língua e cultura estão absolutamente interligadas. Porém, muitas vezes não
percebemos ou não nos atentamos para este fato. Ao estudarmos a nossa própria
língua ou uma segunda língua, percebemos que a cultura se manifesta na
gramática, numa gíria, nas expressões, sendo possível identificarmos questões
regionais, dialetos, variações da língua inglesa, de outros idiomas, entre outros.
Se entendermos a cultura como o complexo de valores, costumes, crenças e práticas que constituem o modo de vida de um grupo específico, um modo de vida que é regido pela língua, e se compreendermos que, ao longo da vida, o indivíduo passa por constantes processos de identificação e desindentificação com aquilo que o interpela, então, percebemos que a língua, cultura e identidade são conceitos intrinsicamente ligados, uma vez que é por meio da língua que a cultura se constitui e é difundida e é também por meio dela que ocorrem os processos de identificação. (Coelho, L.; Mesquita, D. P. C., 2013, p. 25 apud Eagleton, 2005, p. 55).
A língua tem um papel fundamental na difusão da cultura por intermédio do
idioma de um povo, de sua música, de sua literatura e que por meio dela há também
20
a identificação de uma nação, seja por meio do sotaque, da gramática, dos
vocábulos, em fim, é impossível pensamos em cultura sem mencionarmos a língua.
A habilidade que possuímos de nos comunicarmos numa língua inclui a
incorporação dos sentidos culturais que criaram o esteio invisível de sustentação de
tudo o que se diz ou ouve nessa língua. (Filho Almeida, J., 2010, p. 14).
1.1 Língua
Iniciemos pelas considerações de Signorini (2006, p. 30) a respeito da língua, “A
língua é inteiramente específica da espécie homem. Do ponto de vista evolucionário,
portanto, a língua foi adquirida, por assim dizer, instantaneamente”.
Desde a antiguidade havia a necessidade de o homem expressar seus
sentimentos, seus desejos. Por intermédio da língua, um sistema de símbolos, uma
ferramenta capaz de fazer o homem interagir dentro de um grupo, de uma
sociedade, exteriorizando suas opiniões, sentimentos, expressando por meio da
língua falada, escrita ou outras formas de linguagens o seu modo de vida e as suas
experiências.
Para Signorini, I. (2006 p. 76), a língua se relaciona com a sociedade porque é a
expressão das necessidades humanas de se congregar socialmente, de construir e
desenvolver o mundo, de se comunicar. “A língua não é somente a expressão da
“alma” ou do “íntimo”, ou do que quer que seja do indivíduo; é, acima de tudo, a
maneira pela qual a sociedade se expressa como se seus membros fossem a sua
boca.”.
Hanna (2012) explica que a língua é um sistema para expressar significado, cuja
função original é a interação e a comunicação. Em seu livro ela cita o antropólogo
Dell Hymes (1972) que fala sobre a etnografia da comunicação com a proposta de
observar a “língua como comunicação” aliada à proposição “cultura é comunicação,
comunicação é cultura”, de seu par Edward T. Hall (1959), ambas as teorias
tornaram-se as precursoras da comunicação intercultural.
21
Podemos pensar na língua como uma vestimenta, pois há vários tipos de usos
para determinados contextos, assim é uma roupa que usamos. Não seria adequado
ir a um casamento com traje de praia ou ir à praia com um vestido longo. Dentro da
língua encontramos funções e objetivos. É necessário conhecer a língua para
usufruirmos dela adequadamente. Segundo Hanna,
Aprender uma língua requer não apenas a interiorização de um sistema de regras formais e estruturais, mas inclui a interpretação de códigos e a negociação social de significados em contextos variados, refere-se à habilidade de se comunicar através de fronteiras culturais” (2013, p. 1).
Por intermédio da língua é que nos relacionamos com as outras pessoas, ela
faz parte do nosso cotidiano seja a língua escrita, a falada, a de sinais. É a
responsável pela nossa comunicação, sem ela não haveria interação, viveríamos no
isolamento. “Língua é o principal meio pelo qual conduzimos nossa vida social.
Quando é usada no contexto da comunicação estabelece um vínculo com a cultura
em diferentes aspectos” (Kramsch, 1998, p. 3). 2
Ao falarmos de língua, estamos falando de comunicação, de interação, de
uma espécie de ferramenta capaz de aproximar pessoas de valores e tradições
diferentes. Ao aprendê-la, seja num contexto de intercâmbio, numa aula de
aquisição de segunda língua, conseguimos a interação com diferentes povos, com
diferentes culturas. Ao aprender uma nova língua estamos aptos a nos comunicar
com outra cultura, com outra civilização. De acordo com Chauí:
A língua é um código (conjunto de regras que permitem produzir informação e comunicação) e se realiza por meio de mensagens, isto é, pela fala/palavra dos sujeitos que veiculam informações e se comunicam de modo específico e particular (a mensagem possui um emissor, aquele que emite ou envia a mensagem, e um receptor, aquele que recebe e decodifica a mensagem, isto é, entende o que foi emitido. (2006 p. 154).
2 Nossa tradução para: Language is the principal means whereby we conduct our social lives. When it is used in contexts of communication, it is bound up with culture in multiple and complex ways.
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A língua é um dos veículos mais importantes que faz com que pertençamos a
uma sociedade, a uma civilização, a uma cultura, pois por meio das palavras nós
refletimos crenças, atitudes, opiniões, experiências as quais trocamos com outros
indivíduos.
A língua é o principal meio pelo qual conduzimos nossas vidas sociais. Para começar, as palavras se referem a experiências comuns, expressam fatos, ideias ou eventos que são transmissíveis porque se referem a um estoque de conhecimento sobre o mundo que outras pessoas partilham.3 (Kramsch, 1998, p. 3).
Para que haja uma comunicação eficaz é necessário colocar as palavras em
um contexto situacional e cultural. Ao pensarmos no contexto situacional estamos
usando as normas da língua para uma determinada situação, podendo ser uma
situação formal como uma entrevista de emprego ou uma situação informal como
numa festa. O contexto cultural se refere às crenças, os estereótipos, os valores, os
comportamentos de uma determinada população, portanto para que nos
comunicamos bem, precisamos levar em consideração esses fatores, conforme as
palavras abaixo:
Pensar somente nas palavras sem agregá-las a um contexto é algo pouco produtivo, pois para se construir o significado e a interpretação das ocorrências, é necessário compreender o contexto situacional e o contexto cultural, ao mesmo tempo. Ambas as noções, a de contexto situacional e a de contexto cultural, foram introduzidas pelo antropólogo Bonislaw Malinowski, em 1923, e revistas pelos lingüistas Halliday e Hasan, em 1991, como contexto de uso e relidas por Claire Kramsch, em 1998, no âmbito de ensino de língua estrangeira. (Hanna, 2012. p.47).
Um indivíduo, ao se afastar de sua cultura para aprender e vivenciar uma
nova cultura, só conseguirá a partir do momento que tem como ferramenta a língua
3 Nossa tradução para: “Language is the principal means whereby we conduct our social lives. To begin with, the words people utter refer to common experience, they express facts, ideas or events that are communicable because they refer to a stock of knowledge about the world that other people share”.
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desse novo povo, sendo assim “a língua expressa à realidade cultural”. (Kramsch,
1988, p. 3).
Para entendermos a língua a que estamos aprendendo, é necessário que
entendamos a cultura que essa língua transmite,
A língua é uma manifestação direta da cultura de determinado povo que somente será entendida juntamente com o conhecimento dela. A compreensão da designação de cultura, em sentido amplo, implica conhecer seus dois componentes básicos - um antropológico (as atitudes, os costumes, o cotidiano, e todas as maneiras de sentir, pensar e agir, seus valores e referências) e outro histórico, que forma uma espécie de moldura para o primeiro por representar a herança de um povo. (Hanna, 2013, p.1).
A cultura aparece a todo instante no cotidiano do intercambista durante a sua
experiência de intercâmbio cultural, mesmo sem ele perceber, ela está inserida na
língua e é refletida numa piada, numa gíria, numa expressão idiomática, falantes de
uma cultura se reconhecem por meio da língua, pois ela é um conjunto de sinais, de
símbolos que significam uma determinada cultura. Segundo Kramsch afirma que:
A língua é um sistema de signos que é visto como tendo em si um valor cultural. Oradores e outros se identificam através do uso da linguagem; eles veem a sua língua como um símbolo de sua identidade social. A proibição de seu uso é muitas vezes percebida por seus falantes como uma rejeição do seu grupo social e sua cultura. Assim, podemos dizer que a linguagem simboliza a realidade cultural. (1998, p.3).4
A cultura de um povo pode ser representada e transmitida de gerações a
gerações por diferentes veículos como a literatura, a música, os museus, os
monumentos, as obras de arte e também através da língua seja ela manifestada
4 Nossa tradução para: Language is a system of signs that is seen as having itself a cultural value. Speakers identify themselves and others through their use of language; they view their language as a symbol of their social identity. The prohibition of its use is often perceived by its speakers as a rejection of their social group and their culture. Thus we can say that language symbolizes cultural reality.
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verbalmente, seja pela escrita. Segundo Kramsch, (1998 p. 8), “A língua não é um
código livre de cultura, distinta da forma como as pessoas pensam e se comportam,
mas, ao contrário, ela desempenha um papel importante na perpetuação da cultura,
particularmente em sua forma impressa”.5
Segundo Byram e Fleming (1998, p.I), a partir do momento em que um
indivíduo começa a estudar uma segunda língua, está exposto a essa realidade, se
torna inevitável aprender sobre os falantes nativos daquela língua, sobre a sua
sociedade, sobre os seus hábitos.6
Ao aprendermos nossa língua materna de forma natural, falamos sem ter
consciência de suas funções e regras, da cultura que ela expressa, porém, ao
aprendermos uma segunda língua, passamos a conhecê-la com mais detalhes, com
mais riqueza e muitas vezes o aprendiz da segunda língua chega a conhecer essa
segunda língua muito melhor do que o nativo dela.
A língua é praticada por nós de maneira não consciente, isto é, nós a falamos sem ter consciência de sua estrutura, de suas regras e seus princípios, de suas funções e diferenças internas; vivemos nela e a empregamos sem necessidade de conhecê-la cientificamente. (CHAUÍ, M. 2006, p. 154).
A identidade é construída por meio da língua e cultura, não há cultura sem
língua, uma depende da outra, elas se completam. Destacamos aqui, no caso
pessoal, o aprendizado das primeiras palavras norueguesas relacionadas a fazer
algo não apropriado dentro da cultura como, por exemplo, não tirar o calçado para
entrar em casa.
Ao escutar a frase “Beklager, men du må ta av deg skoene for å gå inn”7, que
significa que é proibido entrar na casa de um norueguês de calçados, para nós, na
5 Nossa tradução para: Language is not a culture-free code, distinct from the way people thinks and behave, but, rather, it plays a major role in the perpetuation of culture, particularly in its printed form.
6 Nossa tradução para: In learning another language students are exposed to, and inevitably learn something about, one or more other societies and their cultural practices.
7 Desculpa, mas você deve tirar os sapatos ao entrar numa residência norueguesa.
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cultura brasileira não é algo comum, que faz parte do nosso cotidiano, mas no
entanto, para o povo norueguês é uma forma de se demonstrar respeito e educação.
Ao aprender essas palavras norueguesas, o indivíduo começa a perceber que com
uma simples frase é possível aprender comportamentos e valores de uma nova
realidade, de uma nova cultura.
Ao aprender um vocábulo novo, uma gíria, uma regra gramatical o indivíduo
está experimentando uma nova experiência, pois está aprendendo algo novo dentro
de um determinado contexto, inserido numa outra cultura que não seja a sua de
origem. Tal contexto pode ser jogando futebol, assistindo a um filme, numa conversa
informal, etc.. De acordo com Kramsch, (1998, p. 3 1998), “membros de uma
comunidade, de uma cultura não só expressam experiência, mas, também criam
experiência através da língua.” 8
Para Amaral, apud Humboldt, (1990 p.2) “aprender uma nova língua não é
colocar novas etiquetas em coisas já conhecidas, é adquirir um novo ponto de vista,
é adquirir uma nova visão de mundo, é dar novos sentidos a coisas já conhecidas”.
Ao adquirirmos novos pontos de vista, novas visões de mundo e novos sentidos,
estamos adquirindo mais cultura também, ao adquirir mais cultura, de alguma forma
estamos adquirindo mais conhecimento.
Aprender uma nova língua vai além do conhecimento de palavras diferentes
relacionadas à língua materna, traz ao indivíduo que está aprendendo
particularidades de um grupo de pessoas que carregam consigo pontos de vistas,
tradições, costumes diferentes do nosso, ou seja, diferente da cultura brasileira.
Reconhecer novas possibilidades no processo de adquirir uma nova língua para o uso dela de fato é uma libertação para voos em novas dimensões do processo adquiridor de outros idiomas, dimensões essas linguísticos-sistêmicas, identidário-ideológicas e culturo-comunicativas. (Almeida Filho, J. 2010, p. 11).
A liberdade alcançada ao adquirirmos uma nova língua principalmente o inglês é
conseguirmos transitar em diferentes mundos, diferentes ideologias, agregarmos
outros valores, hábitos a nossa identidade. 8 Nossa tradução para: But members of a community or social group do not only Express experience; they also create experience through language.
26
1.2 Cultura
O termo cultura traz sua significância em diferentes contextos, evocando
significados múltiplos e complexos. “De inata à adquirida, de conjuntos de
realizações artísticas a saberes acumulados.” (Dourado, M. Poshar, H., 2010, p. 33).
“De origem latina, o termo cultura até o século XVI, era associado ao cultivo da
terra, porém, da segunda metade do século XVI em diante assumi o significado de
cultivo do espírito e desenvolvimento da mente.” (Dourado, M., Poshar, H., 2010, p.
35).
Para (Paiva, M., Inocente N., e Oliveira, A.) apud Hofstede (1991) a cultura
provém do ambiente social do indivíduo, não dos genes. Srour (2005) concorda com
os autores acima e afirma que a cultura é aprendida, transmitida e partilhada. É
resultante de uma aprendizagem socialmente e não de uma herança biológica. Já
Morgan (1996) diz que a cultura é refletida nos sistemas sociais de conhecimento,
ideologia, valores, leis e rituais do cotidiano. A cultura varia conforma a sociedade.
Geertz (1989) defende o conceito de cultura essencialmente semiótico, uma teia de
significados que o homem teceu e a ela está amarrado. Cultura é uma ciência
interpretativa à procura do significado, e não uma ciência experimental em busca de
leis. Já para Trompenaars (1994), a cultura apresenta-se em camadas, como uma
cebola. No nível externo encontram-se os produtos da cultura, e nos níveis mais
profundos os valores e normas. Porém o termo germânico Kultur, desde o final do
século XVIII, referia-se aos aspectos espirituais de uma comunidade. A palavra
civilização, dizia respeito ás realizações materiais de um povo.
O antropólogo Edward Tylor (1832-1917) sintetizou tais termos no vocábulo
cultura. Desta forma o conceito de cultura passou a abranger em uma só palavra
todas as possibilidades de realização humana, além de marcar fortemente o caráter
de aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata transmitida por
mecanismos biológicos. (Damázio apud Laraia, 1986 p. 25).
27
Damázio (2008, p. 66) apud Santos e Nunes, (2003, p. 27) defende a ideia de
duas concepções de cultura, conforme a citação abaixo:
A primeira está associada aos saberes institucionalizados pelo Ocidente e definida como o melhor que a humanidade produziu, baseia-se “em critérios de valor, estéticos, morais ou cognitivos que, definindo-se a si próprios como universais, suprimem a diferença cultural ou a especificidade histórica dos objetos que classificam”. A segunda concepção, citada pelos autores, define a cultura como totalidades complexas. Esta definição proporciona o estabelecimento de distinções entre diversas culturas que podem ser consideradas seja como diferentes e incomensuráveis, julgadas segundo padrões relativistas, seja como exemplares de estágios numa escala evolutiva que conduz do elementar ou simples ao complexo e do primitivo ao civilizado.
A cultura é algo que está sempre em transformação, pois resulta da interação
social entre os indivíduos e estes estão sempre se transformando, se adaptando, se
reinventando, além de sempre estarem disseminando suas tradições, seus hábitos,
suas tradições. A língua é uma importante ferramenta, pois faz com que a cultura
seja transmitida.
O homem é um ser cultural, pois carrega consigo valores, crenças, tradições
e com isso consegue viver dentro de um grupo social.
A cultura pode ser entendida como um conjunto de valores, crenças, costumes e práticas que caracterizam o modo de vida de determinado grupo social. Esse conjunto possibilita ao indivíduo inserir-se e interagir em seu grupo social, pois lhe permite negociar “maneiras apropriadas de agir em contextos específicos.” (Eagleton, 2005, p. 184).
O termo cultura vem sendo cada vez mais discutido, sendo atual,
contemporâneo, reflete-se nas relações humanas, nos hábitos, costumes e tradições
de um povo. Mas vai além dessas tradições e convenções. Também falamos de
cultura quando pensamos em experiências adquiridas ao longo da vida. Entendemos
cultura como o conhecimento de qualquer área que um indivíduo possa ter:
28
Cultura é uma preocupação contemporânea, bem viva nos tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la. (Santos, 2011, p. 7).
A palavra cultura nos remete também à educação, a conhecimento e à
sofisticação que um indivíduo possui, indiferente se ele adquiriu determinado
conhecimento na escola ou em suas experiências pessoais. Podemos pensar na
palavra cultura como um sinônimo de sofisticação pessoal, elegância, refinamento,
educação, ao conhecimento que uma pessoa detém.
Cultura também é um conjunto de conhecimentos e práticas sociais que se
acumulam em um processo contínuo e esse processo resultará na interação social.
Conforme Mesquita Coelho (2014) é mediada pela língua, e assim permite que a
cultura seja transmitida ao longo das gerações, daí podemos entender que a cultura
de um povo tem como peça importante na sua construção cada indivíduo, sendo
uma peça importante na sua disseminação e criação. O homem é um ser cultural e é
a cultura que faz com ele se adapte a novas situações, novos ambientes.
De acordo com o antropólogo americano Clifford Geertz, a cultura é um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento em relação à vida. (1989, p. 103).
Para o antropólogo Da Matta (1986, p. 123), “Cultura é a maneira de viver
total de um grupo, sociedade, país ou pessoa.” [...] Um mapa, um receituário, um
código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam
e modificam o mundo e a si mesmos.” É justamente porque compartilham parcelas
importantes deste código (o da cultura) que um conjunto de indivíduos com
29
interesses e capacidades distintas e até mesmo opostas transforma-se num grupo
em que podem viver juntos, sentindo-se parte da mesma totalidade.
Quando observamos o modo de vida de diferentes grupos, diferentes povos,
estamos analisando a sua cultura. O que é aceitável ou não dentro de uma
sociedade está relacionado à cultura daquele povo local. A língua escrita ou falada
também se socializa por meio da cultura:
Etiqueta, expressões de cortesia, o que é aceitável ou não é capaz de moldar o comportamento das pessoas por meio de educação infantil, educação comportamental, a escola, formação profissional. O uso da linguagem escrita também é moldada e socializada por meio da cultura. Estas formas com a linguagem, ou normas de interação e interpretação, fazem parte do ritual invisível imposta pela cultura em usuários da língua. (Kramsch, 1998, p. 6)9
Cada cultura possui a sua lógica interna, a sua realidade e por isso devemos
conhecer primeiramente essa lógica antes de fazermos qualquer tipo de julgamento
ou análise. Ao discutirmos sobre cultura começamos a pensar sobre a nossa própria
cultura, nossos hábitos, nossa sociedade. Segundo Santos, (2001, p. 9):
A riqueza de formas das culturas e suas relações falam bem de perto a cada um de nós, já que convidam a que nos vejamos como seres sociais, nos fazem pensar na natureza dos todos sociais de que fazemos parte, nos fazem indagar sobre as razões da realidade social de que partilhamos e das forças que as mantêm e as transformam.
Para Moran (1994), cultura é um artifício que cada sociedade usa para tomar
as suas decisões diárias e entender o mundo com que se confronta. Outra questão
referente à cultura é que as diferenças genéticas não determinam as diferenças
9 Nossa tradução para: “Etiquette, expressions of politeness, social dos and don’t´s shape people´s behavior through child rearing, behavioral upbringing, schooling, professional training. The use of written language is also shaped and socialized through culture. These ways with language, or norms of interaction and interpretation, form part of the invisible ritual imposed by culture on language users”.
30
culturais. Qualquer criança pode ser educada em qualquer cultura, como qualquer
adolescente, adulto e idoso. É o que afirma Laraia, (2006, p. 17).
Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. Em outras palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente em nada de seus irmãos de criação.
A cultura não é estática, mas sim dinâmica, pois sofre transformações com o
tempo. Há culturas que respeitam a tradição e outras que vão se repaginando de
acordo com as mudanças do tempo. “As culturas humanas são dinâmicas. De fato, a
principal vantagem de estudá-las é por contribuírem para o entendimento dos
processos de transformação por que passam as sociedades contemporâneas”.
(Santos, 2011, p. 26).
O mundo está em constante transformação, e compreender o que é diferente
daquilo que sempre vivemos (como por exemplo, vivenciar uma cultura diferente), é
um grande passo para nos libertarmos de preconceitos, do egoísmo, da intolerância
em relação ao outro, ao diferente, como afirma Laraia,
Cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do porvir. (2006, p. 101).
31
1.3 Língua, cultura e Identidade
A relação entre língua, identidade e cultura é imanente, uma vez que não há
cultura sem língua e que a identidade é construída por meio desta e da cultura,
segundo Coelho e Mesquita, 2013 (apud Chauí, 2006, p. 156) conforme esclarece a
citação abaixo:
Há um vaivém contínuo entre as palavras e as coisas, entre elas e as significações, de tal modo que a realidade (as coisas, os fatos, as pessoas, as instituições sociais, políticas, culturais), o pensamento (as ideias ou conceitos como significações) e a linguagem (as palavras, os significantes) são inseparáveis, suscitam uns aos outros, referem-se uns aos outros e interpretam-se uns aos outros.
A língua existe antes de nós e, certamente, continuará existindo depois de
nós. Nós a encontramos formada e em funcionamento, pronta para ser usada,
portanto o seu caráter social. Ela se figura como produto cultural e histórico, e é
utilizada para representar, de forma oral ou escrita, nossos pensamentos,
sentimentos, sensações, emoções, percepções. Ela é, portanto, fundamental para
compreendermos a identidade de um povo num determinado contexto social.
(Coelho e Mesquita 2012, p. 31).
Aprender uma língua é um processo complexo que envolve não só aprender o
alfabeto, o significado e o arranjo das palavras, as regras da gramática e
compreensão da literatura, mas também aprender a nova linguagem do corpo,
comportamento e costumes culturais. A língua é um produto do pensamento e do
comportamento de uma sociedade. A eficácia da comunicação de um falante de
uma língua estrangeira está diretamente relacionada à sua compreensão da cultura
daquela língua. (Gao, 2006, p. 61 apud Taylor, 1979, p. 51).10
10 Nossa tradução para: earning a language is a complex process that involves not only learning the alphabet, the meaning and arrangement of words, rules of grammar and understanding of literature, but also learn new body language, behavior and cultural mores. Language is a product of thought and
32
A ideia de língua como fator fundamental para a compreensão da identidade
de um povo em um determinado contexto, no caso, do intercâmbio cultural, é um
dos objetivos do programa oferecido pelo AFS. A Instituição AFS Intercultural
Programs por intermédio de seus comitês no Brasil (Intercultural Brasil) e no mundo
visa o aprendizado de uma segunda língua justamente para que o participante possa
por intermédio desse idioma, entender, compreender a identidade de um povo num
determinado contexto e ir além desse aprendizado, tendo também com o objetivo o
aprendizado cultural, a educação intercultural, ou seja, a vivência de outra cultura, a
vivência internacional, a vivência com outra família que possui outras regras, outros
hábitos, em outra escola, em fim em outra sociedade. Ao compreender esse povo, o
indivíduo cria laços com outras culturas trazendo para a sua vida mais tolerância,
flexibilidade, menos preconceito e mais maturidade em relação aos outros e a si
próprio.
Segundo Santos, P., Alvarez, M. (2010, p. 17), o aprendizado de uma língua estrangeira (LE) concorre para o desenvolvimento social do aprendiz, através do contato com a língua e cultura estrangeiras, o que amplia a sua visão de cidadania, os valores culturais de seu país e de sua própria língua. Ela é um instrumento vivo e constantemente em desenvolvimento que sofre influência da cultura. O desenvolvimento cultural se dá através do contraste entre o conhecido e o novo representado pela cultura do aprendiz e pela cultura onde está inserida a LE estudada. É partir daí desse contraste que o pensamento crítico se desenvolve, permitindo-lhe avaliar a sua cultura e a estrangeira, nascendo daí o respeito às diferenças culturais e a valorização da própria cultura naquilo que lhe é peculiar. (Santos, P., Alvarez, M. 2010, p. 17).
Por meio da língua, conseguimos identificar um povo, unir pessoas, segundo
(Signorini, 2006, p. 81 apud Halladorson, 1994) “A língua nos fortalece, ela nos torna
um povo de muitos milhões – somados através dos séculos”. Ela faz parte da cultura
de um povo, haja vista pertencer a este povo. O indivíduo não cria a língua, ele
apenas faz uso de um bem que é social, segundo Coelho e Mesquita, 2012, p. 31:
É uma relação de imbricação, haja vista que a língua é a manifestação de uma cultura e, ao mesmo tempo, precisa de uma
behavior of a society. Effective communication of a speaker of a foreign language is directly related to their understanding of the culture of that language.
33
cultura que lhe dê suporte, sendo, também suporte para uma cultura. Ela é, portanto, a expressão da cultura, uma vez que se constitui instrumento decisivo para a assimilação e difusão de uma cultura, afinal, as experiências sociais só são transmitidas por meio da língua.
Podemos fazer uma analogia, entre cultura e óculos. “Homens de culturas diferentes
usam lentes diversas, portanto, têm visões desencontradas das coisas” E não para
por aí, poderíamos pensar (LARAIA, 2006, p.72), na questão fisiológica, como todos
os homens são iguais sob o aspecto anatômico, deveriam ter maneiras, gestos,
tradições e hábitos mais semelhantes, mas isso os diferencia muito se pensarmos
na cultura.
“Todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente (todas as formigas de uma dada espécie usam os seus membros uniformemente), depende de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo. (Laraia, 2006, p. 71).”
A cultura também poderia ser comparada a um iceberg. Essa comparação foi
apresentada durante o processo de preparação para o intercâmbio que o AFS
Intercultural Programs proporciona em conjunto com os comitês locais. Os
orientadores apresentam aos estudantes a ideia de que a cultura é um grande
iceberg, que muitas vezes conseguimos ver somente uma parte dela, como o
iceberg. Ao fazermos parte de uma nova sociedade de uma nova cultura, (como por
exemplo, vivenciando a experiência do intercâmbio cultural), torna-se possível
aprendê-la e analisá-la profundamente, é como se mergulhássemos no mar para
vermos o restante do iceberg que ao olhar superficialmente não dá para imaginar a
sua magnitude.
A identidade e a língua estão inseridas nas diversas culturas. A relação entre
língua e cultura se iniciou com os estudos dos antropólogos Franz Boas, Edward
Sapir e Claude Lévi—Strauss, no começo do século XX (Kramsch, 1998). A
identidade de uma civilização, de uma nação é formada pela língua e pela a cultura,
segundo Hall (2004 p. 50-51):
34
As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos [...] As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades.
O estudante de High School no programa de intercâmbio além de agregar
novos valores a sua pessoa, a sua identidade por estar conhecendo uma nova
cultura, retoma a sua cultura de origem, a sua identidade original, ou seja, que foi
construída vivenciada no país de origem ao se tornar um propagador de sua cultura
nativa no ambiente estrangeiro quando fala de seu país, de seus costumes, ao
mostrar o seu vestuário, a sua moda, ao preparar um prato típico de sua culinária,
ao mostrar as músicas, os ritmos ouvidos em seu país, entre outras demonstrações.
Aprender uma língua estrangeira implica um grau de aprendizagem intercultural: os alunos podem ser levados a se tornarem mais conscientes de sua própria cultura no processo de aprendizagem sobre o outro e, portanto, pode estar em uma posição melhor para desenvolver competências interculturais.” (Byram, e Fleming,1998, p.98).11
Assim como tudo se transforma, a língua, a cultura, a identidade do indivíduo se
transforma com o passar do tempo. A pessoa que tem a oportunidade de vivenciar o
cotidiano no exterior e se relacionar com a sociedade atuando como um norte-
americano, norueguês, francês, provavelmente desenvolverá a competência
intercultural pois estará vivendo a interculturalidade na prática e não somente na
teoria.
“A língua, assim como a identidade e a cultura, também sofre transformações,
por inserir-se na teia das relações sociais. Frente às mudanças que atingem
11 Nossa tradução para: Learning a foreign language implies a degree of intercultural learning: students may be led to become more aware of their own culture in the process of learning about another and hence may be in a better position to develop intercultural skills.
35
vertiginosamente a sociedade em todos os setores, ela não poderia isentar-se desse
movimento.” (Coelho e Mesquita, 2012, p. 31).
Como a língua é passiva de transformação e a identidade de um indivíduo se
constrói na língua e através dela, essas identidades estão sempre se modificando.
A identidade de um indivíduo se constrói na língua e através dela. Isso significa que o indivíduo não tem uma identidade fixa anterior e fora da língua. Além disso, a construção da identidade de um indivíduo na língua e através dela depende do fato de a própria língua em si ser uma atividade em evolução e vice-versa. Em outras palavras, as identidades da língua e do indivíduo têm implicações mútuas. (Signorini, 2006, p. 41).
A identidade está tão fortemente relacionada à cultura que muitas vezes as
práticas culturais são tomadas como referências de identidade social, porém, o
indivíduo possa acrescentar a sua identidade novas práticas sociais ao deslocar-se
para fora de seu país de origem, criando assim uma nova identidade.
“Muitas vezes as práticas culturais são tomadas como indicativas da identidade social. A identidade é considerada como decorrente do modo de vida e dos bens simbólicos que o indivíduo consome ou produz. Mas as práticas culturais não dependem tão diretamente da permanência na terra natal, uma vez que podem ser preservadas em outros espaços, recuperadas pela memória ou recriadas.” (Signorini, I. 2006 p. 98).
Ao estudar uma nova língua o aluno fica exposto à cultura dessa língua, pois
língua e cultura estão relacionadas. Pensando nessa relação aparece uma
identidade: o falante intercultural.
O falante intercultural é alguém que tem um conhecimento de um ou, de preferência, mais culturas e identidades sociais e tem uma capacidade de descobrir e relacionar com novas pessoas de outros
36
contextos para os quais não foram preparados diretamente. (Byram, e Fleming, 1998, p. 9).12“.
Segundo Coelho e Mesquita apud Bakhtin, (1998, p.45), se dotarmos a
palavra de tudo o que é próprio à cultura, as significações culturais cognitivas, éticas
e estéticas, observaremos que “não existe absolutamente nada na cultura além da
palavra, que toda a cultura não é nada mais que um fenômeno da língua”.
Conforme Bakhtin (1998, p.46). “Não há enunciados neutros, nem pode haver
afinal, a palavra é o fenômeno ideológico por excelência. Ela é o modo mais puro e
sensível da relação social. A palavra é mediadora de toda a relação social”.
Como já havíamos mencionado, a língua faz parte da nossa comunicação e
está em todas as culturas, faz parte de todas as nações, de todos os povos, por
meio dela expomos nossas opiniões, nossa ideologia e por meio dela nos colocamos
em contato com culturas diferentes, quando lemos algo em francês, falamos inglês,
escrevemos italiano, ouvimos espanhol, ou seja, há uma relação intrínseca com a
língua, a cultura e a identificação de um determinado povo. Segundo Coelho e
Mesquita (2012, p. 33) apud Bakhtin, (1997, p. 41):
[...] a palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas relações de colaboração, na base ideológica, nos encontros fortuitos da vida cotidiana, nas relações de caráter político, etc. As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos os domínios. É, portanto claro que a palavra será sempre o indicador mais sensível de todas as transformações sociais, mesmo daquelas que apenas despontam que ainda não tomaram forma, que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos estruturados e bem formados.
12 Nossa tradução para: The “intercultural speaker” is someone who has a knowledge of one or, preferably, more cultures and social identities and has a capacity to discover and relate to new people from other contexts for which they have not been prepared directly.
37
Segundo Hanna (2012) é de grande importância distinguir a língua como discurso
verdadeiro da comunidade, diretamente associado à identidade cultural daquele
mesmo grupo. Os falantes se identificam e são identificados como membros desta
ou daquela comunidade discursiva pela seleção do léxico, pelo modo característico
de um indivíduo ou de uma região de articular os sons, as palavras ou as frases,
pelos modelos de alocução que utilizam. A língua preserva a história, os costumes e
tradições da coletividade por meio do entendimento dos significados mais comuns
que as pessoas demonstram em relação às palavras, às expressões, ao texto; à
maneira como externam desejos, desafetos, informações pessoais – elementos
reveladores de uma narrativa particular.
38
CAPÍTULO 2 – MOBILIDADE ESTUDANTIL
O Capítulo 2 apresenta uma nova forma de estudo para os parâmetros
brasileiros, a mobilidade estudantil. O programa “Ciências sem Fronteiras” cuja
iniciativa é fruto de esforço conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas
instituições de fomento – CNPq e Capes – e, Secretarias de Ensino Superior e de
Ensino Tecnológico do Mec.(http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-
programa).
O programa de mobilidade estudantil tem por objetivo proporcionar ao aluno
de Ensino Superior a oportunidade de cursar um período da Universidade em outro
país. Podemos considerar o Programa de Intercâmbio Cultural no Ensino Médio, o
High School, também como um programa de mobilidade estudantil. Por essa razão
buscamos em vários pesquisadores o entendimento do significado de tais
programas.
De acordo com Cabral, Silva, Saito, (2011 p. 2), apud Teichler (2004), desde
o século XVII, na Europa, estudantes realizavam intercâmbios de estudo. O autor
ainda ressalta que o nível de mobilidade de estudantes dentro da Europa, agora de
aproximadamente 3%, foi aproximadamente 10% no século XVII. Analisando a
nossa situação brasileira em relação à mobilidade estudantil por intermédio do
intercâmbio cultural,
O Brasil tem se utilizado da experiência europeia para desenvolver seus modelos internacionais de educação, podendo este fato ser considerado um avanço. Contudo, ainda não atingiu o mesmo patamar do sistema europeu, uma vez que não possui tradição no ensino superior, uma experiência de aproximadamente cem anos, comparada aos quase mil anos de universidades europeias. (Cabral, Silva e Saito (2011 p. 3) apud Lucchesi, 2010).
39
Para Dalcin, (2011, p.30), as políticas educativas da União Europeia
incentivam a cooperação inter-universitária com o objetivo de melhorar a qualidade
de ensino, em prol dos estudantes das instituições de Ensino Superior.
A autora afirma que a cooperação promovida pela União Europeia no Ensino
Superior, e em particular as ações de fomento da mobilidade estudantil, fazem parte
de uma política e de uma estratégia comunitária global. Nessa perspectiva, a
mobilidade proporciona uma crescente qualificação dos recursos humanos, a
transferência de tecnologia e resultados de investigação científica. Deste modo,
Freitas (2009, p. 251), afirma que:
A convivência com a diversidade plural (diferença dentro das diferenças) gera necessidade de uma melhor compreensão do outro, de resolver problemas e criar novas oportunidades juntos, além de favorecer a mobilidade interna e externa dos cidadãos da comunidade.
Diante do atual contexto de um mundo em transformação e sem fronteiras, a
tendência de estudantes irem estudar fora de seus países de origem cresce cada
vez mais, não somente o programa de High School como também os programas nas
universidades chamados também internacionalmente de “study abroad programs”.
Sobre esses programas seja nas universidades ou no Ensino Médico (High School),
James A. Coleman apud (Byram e Fleming, 1998, p.45) afirma que:
Os programas tipicamente se enquadram em três domínios: maturidade pessoal e independência, a introspecção cultural, e melhora na proficiência língua estrangeira. A ligação estreita deve ser assumida entre competência linguística reforçada e competência cultural reforçada.·.
No Brasil esses “study abroad programs” são chamados de programas de
mobilidade estudantil. Refletindo sobre a citação acima, os programas de mobilidade
estudantil são cada vez mais necessários em consequência da globalização em que
vivemos. Eles contribuem na construção da maturidade pessoal, independência do
40
indivíduo, em sua bagagem cultural e no aprendizado/desenvolvimento de um novo
idioma seja feito na Universidade ou no Ensino Médio.
Os programas de mobilidade estudantil não visam somente o aprendizado ou
desenvolvimento de um segundo idioma ou o aprendizado de algumas matérias da
área de estudo do estudante, o programa também quer que o aluno tenha o contato
com a interculturalidade, com a comunicação intercultural.
De acordo com Dalcin, V. (2011, p.45) apud Baumgratz-Grangl (1993), cit. por
Melo (2008, p. 75), “houve uma mudança de paradigma nas relações entre língua e
cultura, moldando um novo conceito, o de comunicação intercultural estreitamente
ligada à mobilidade”
Para a autora (Dalcin, 2011), a comunicação intercultural é como se fosse
uma marca da personalidade dos indivíduos e da qualidade das instituições de
ensino que se adaptam ao espaço político, econômico e cultural. Ela afirma que a
“mobilidade acadêmica também contribui para a transformação do “social como
socied ade” em “o social como mobilidade”“. A mobilidade estudantil confere também
a capacidade de integração cultural das instituições e das organizações, tornando os
indivíduos capazes de viver e de agir em contextos multiculturais. (V. 2011, p. 45
apud (Urry, cit. por Darvin, 2001, p. 1)).
Krupnik e Krzaklewska (2007) categorizam as motivações dos estudantes em
participar de um programa de mobilidade estudantil em dois grupos, os guiados pela
experiência e os de orientação profissional. Os primeiros o fazem por aprender
sobre novas culturas, conhecer outras pessoas, ser independente e viver em outro
país. Os seguintes buscam maximizar as oportunidades de trabalho.
Vieira (2007) afirma que o que parece orientar os estudantes a candidatar-se
a programas de mobilidade internacional é, além da construção da carreira, a prática
da língua estrangeira.
41
Segundo Hanna (2014, p. 6) aprendizes interculturais são aqueles capazes de
lidar com a complexidade de identidades múltiplas, logo, reconhecidos como
mediadores culturais que evitarão a estereotipagem, característica de avaliações
empreendidas por meio de perspectivas de padrão fixo, muitas vezes estimulada
pelos próprios livros didáticos, em modelos formados a partir de lugares-comuns,
encontrados em textos literários, ilustrações, cartoons, filmes, na mídia em geral. De
aprendiz intercultural, o estudante passará a ser um “falante intercultural” que
decidirá suas próprias identificações e representações culturais, sociais e políticas
com aqueles com quem se relacionará.
2.1 A influência norte-americana
Optamos por elaborar o item “A influência norte-americana” nesse estudo
primeiramente porque a pesquisa foi realizada com intercâmbistas brasileiros que
foram fazer o programa de intercâmbio cultural nos Estados Unidos e quais
prováveis razões levaram esses estudantes escolherem como primeira opção os
Estados Unidos. Fizemos um panorama geral histórico da influência americana no
mundo, assim, o leitor poderá compreender o porquê e como os Estados Unidos da
América se tornou um país tão influente.
Os Estados Unidos garantiram a segurança das democracias europeias e
ajudaram a reconstruir as economias do Japão e da Alemanha Ocidental,
devastadas pela guerra. Diante de sua política de “contenção”, estabeleceram as
fronteiras de seu próprio império informal (particularmente na Ásia) ao mesmo tempo
em que comprometiam deter seu inimigo, o Império Soviético. (Harvey, D. 2005, p.
41).
Segundo o autor, os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra Mundial
como a potência mais dominante, eram os líderes na tecnologia e na produção. O
dólar reinava e o aparato militar do país era bem superior a qualquer outro.
O Brasil começou a sofrer forte influência da cultura americana na década de
30, a partir da Segunda Guerra Mundial, aos poucos os ingleses começaram a dar
espaço para os norte-americanos. Segundo Alves, (1997, p. 20), durante o período
42
da política getulista de desenvolvimento industrial, o capital norte-americano foi se
infiltrando em nossa economia sob a forma de empréstimos e equipamentos,
estabelecimento de subsidiárias (filiais), assistência técnica, etc..
A partir desse momento o Brasil abriu suas portas para as multinacionais (a
partir de uma empresa matriz, atual em diferentes países), empresas com um vasto
número de funcionários e que alavancavam nosso capitalismo em diferentes áreas
como nos setores automobilístico, farmacêutico, têxtil, entre outros. Conforme Alves,
(1997, p. 21), “a grande maioria dessas empresas multinacionais tinham sede,
sobretudo nos Estados Unidos e foi sob a tutela do capitalismo internacional,
sobretudo yankee.”
Com a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, os Estados Unidos
percebendo nossa fraca economia e nossa dependência econômica garantiu nossa
aliança primeiramente contra as nações do Eixo (Itália, Alemanha e Japão) e depois
contra a União Soviética. Eis a palavra da autora:
Não foi, entretanto só nossas indústrias de bens de consumo materiais que surgiram ligadas ao capital norte-americano. Os setores de comunicação de massa se constituíram da mesma forma, ou com investimentos diretos de multinacionais ou com a associação de empresários yankees aos brasileiros, ou ainda, quando de capital nacional, utilizando tecnologia e modelos de produção oriundos dos Estados Unidos. (Alves, 1997, p. 21).
Para Alves, (1997, p. 21), sem que os norte-americanos se apropriassem das
terras brasileiras como os portugueses, passamos a sofrer quase o mesmo processo
de invasão, dominação e colonialismo cultural experimentado pelos índios após
1500.
Outro grande fator que muito contribuiu para a influência norte-americana
segundo Harvey, D. (2005, p. 50-51) é de no âmbito externo, os Estados Unidos se
apresentaram como o país da liberdade e dos direitos à propriedade privada. O país
proporcionava proteção econômica e militar às classes proprietárias onde quer que
elas estivessem, em troca, essas classes e elites se centravam tipicamente numa
política a favor do país. Na verdade, Os Estados Unidos estimularam a criação e a
43
ascensão ao poder dessas elites e classes por todo o mundo: o país se tornou o
principal protagonista da projeção do poder burguês por todo o globo.
A cultura americana muito fortemente disseminada também por Hollywood,
assim como os atletas de ponta das olimpíadas e os parques temáticos do complexo
Disneyworld influenciam e muito na decisão do jovem escolher os Estados Unidos
da América o destino para o seu programa de Intercâmbio Cultural. Ao refletirmos
sobre o grande número de jovens brasileiros que escolhem os Estados Unidos
observamos que nossa cultura sofre uma grande influência da cultura americana.
O imperialismo cultural tornou-se importante arma na luta para afirmar a hegemonia geral. Hollywood, a música popular, formas culturais e até movimentos políticos inteiros, como o dos direitos civis, foram mobilizados para promover o desejo de emular o modo americano de ser. Os Estados Unidos foram concebidos como um farol da liberdade dotado do poder exclusivo de engajar o resto do mundo numa civilização duradoura caracterizada pela paz e pela prosperidade. (Harvey, D., 2005, p. 53).
Os Estados Unidos também são considerados um grande celeiro para quem
busca o desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da indústria, da ciência nas
diferentes áreas em que atua, sua influência vai além dos filmes de Hollywood, dos
Outlets, da música pop, entre outros. O American way of life é o estilo de vida
exportado que possui uma alta receptividade em vários países, eis as palavras do
teórico:
Filmes americanos, televisão, música, moda e alimentos cativaram especialmente os jovens em todo o mundo, mesmo quando eles espalharam a exportação mais importante da América: o seu estilo de vida do consumidor e do individualismo que promove. A Internet, computadores e outros aparelhos de alta tecnologia revolucionam a vida diária em todo o planeta, quer se originando nos Estados Unidos ou tendo seu pleno desenvolvimento lá. (Hertsgaard, 2003, p. 7).13
13 Nossa tradução para: American movies, television, music, fashion, and food have captivated especially young people throughout the world even as they spread America´s most important export: its consumer lifestyle and the individualism it promotes. The Internet, computers, and other high-tech gadgets revolutionizing daily life all over the planet either originated in the United States or find their fullest development there.
44
Outra questão relevante em relação à influência que os Estados Unidos
exercem sobre os demais países é devido a grande e presente contribuição que a
mídia faz ao transmitir para as outras nações o que está acontecendo no país.
Segundo Hertsgaard (2003, p. 7), “a América recebe uma quantidade
desproporcional de cobertura da mídia ao redor do mundo, reforçando a sombra da
Águia sobre os estrangeiros.” 14
Além dessas influências citadas, os Estados Unidos difundi fortemente sua
cultura por intermédio dos seriados difundidos por TVs a cabo em todo o mundo,
sendo o país também sede de grandes empresas do ramo da tecnologia, das redes
sociais e do vídeo game, atraindo muitos estudantes que buscam desenvolvem uma
carreira acadêmica e profissional nesses setores.
Atualmente o cenário das escolhas como destino feito pelos intercambistas do AFS
continua sendo os Estados Unidos.
14 Nossa tradução para: America receives a disproportionate amount of coverage from news media around the world, reinforcing foreigners’ sense of living always in the Eagle´s shadow.
45
2.2 O lugar da interculturalidade no contexto de mobilidade estudantil
Os intercâmbios culturais estão em diversas ocasiões, transitam em
diferentes espaços como numa reunião de negócios entre dois países, numa
conversa informal com um estrangeiro, nas migrações, nas viagens, no comércio,
surgindo questionamentos relacionados às diferenças culturais, aos diferentes
pontos de vistas, costumes, que surgem teorias que visam analisar a
interculturalidade.
Ao longo da história da humanidade, diferentes nações passaram por
transformações culturais, ocorridas pela dominação, conflitos e até mesmo pelo
intercâmbio recíproco entre os seus indivíduos. Essas relações foram intensificadas
após o desenvolvimento e evolução tecnológica dos meios e veículos de
comunicação, a ampliação do mercado global e as relações políticas e sociais entre
grupos e organizações do mundo todo. A partir desse contexto internacional,
antropólogos, sociólogos e comunicólogos intensificaram seus estudos na
diversidade cultural, com foco na interculturalidade. (Pierobon, 2006, p. 57).
Segundo (Gabriel, 2007) o surgimento da interculturalidade advém de um
movimento social, que apoia a diversidade cultural e suas relações e é contra os
processos de exclusão social.
O termo diversidade é a palavra chave para a questão da interculturalidade,
pois se trata de duas ou maios culturas conectadas, relacionadas, se comunicando.
O indivíduo intercultural aceita a diversidade e respeita as diferenças.
Já para o teórico Oatey, (2000, p. 4), “o termo intercultural se refere à interação
entre pessoas de dois grupos culturais distintos”.
A interculturalidade conforme o teórico acima se refere a interação entre
pessoas de culturas diferentes, e o indivíduo, o falante intercultural tem a
competência de saber se relacionar com pessoas com diferentes aspectos na
aparência física, na vestimenta, nas atitudes, aspectos que são somente diferentes,
nem piores e nem melhores.
46
O termo intercultural sugere, antes de tudo, a noção de comparação, uma cultura particular é vista através do panorama de outra cultura - similaridades e diferenças são reveladas ao se adotar o aprendizado de línguas estrangeiras centrado na Abordagem Comunicativa lembre-se, mais uma vez, que estará implícito o conceito holístico de ensino, que estabelece como corolários metodológicos não somente os elementos gramaticais e do discurso, mas também as características sociais, culturais e pragmáticas da língua. Logo, a compreensão da interculturalidade torna-se uma asserção básica desse aprendizado. Hanna, (2013, p.5).
A palavra intercultural traz a ideia de duas culturas conectadas, com suas
semelhanças e diferenças, proporcionando a conscientização do respeito à
individualidade sem a criação de estereótipos, julgamentos, críticas aos outros, à
sua cultura, despertando o propósito do relacionamento entre diversas identidades
com o respeito à individualidade.
A base do entendimento intercultural envolve o reconhecimento das similitudes e das dessemelhanças entre duas ou mais culturas, do mesmo modo que pondera a respeito de como se relacionar com múltiplas identidades e desenvolver respeito à individualidade com vistas a evitar generalizações, estereótipos, uma única visão do ‘outro’. Agir como um falante intercultural implica o aprendiz ter consciência, também, de sua própria identidade e cultura, e de como é percebido pelos outros com quem está interagindo. Hanna, (2013, p.1).
Poderíamos associar Interculturalidade à palavra “Multiculturalismo”, mas há
uma grande diferença, segundo Damázio, 2008, p.69 apud Walzer 1999, p. 144,
O Multiculturalismo como ideologia é um programa social que visa a uma igualdade econômica e social. Em relação à Europa, a partir dos anos 80, surge o debate acadêmico do multiculturalismo, importado dos Estados Unidos e que teve sua origem no Canadá. Este alcançou grande espaço na Alemanha, vinculados às temáticas da nacionalidade, cidadania e políticas de imigração. (apud Vallescar Palanca, 2000, p. 125).
47
“A proposta intercultural surge, principalmente, a partir do vazio deixado pelo
multiculturalismo. Visa à superação do horizonte da tolerância e das diferenças
culturais e a transformação das culturas por processos de interação.” (Damázio,
2008, p. 15).
O Multiculturalismo apresenta uma proposta diferente da interculturalidade, à
medida que se preocupa em seguir modelos adotados por outros países
anteriormente e suas políticas econômicas e sociais, sendo assim, não há igualdade
entre as culturas, uma se destaca em relação à outra. Já a interculturalidade
defende uma educação intercultural, o reconhecimento e a compreensão das
diferenças culturais, ou seja, não há uma cultura superior a outra.
Para Panikkar (apud Vallescar Palanca, 2000, p. 266) multiculturalismo e
interculturalidade são propostas diferentes, já que o Multiculturalismo se refere à
síndrome ocidental que consiste em acreditar que existe uma supercultura, superior
a todas e capaz de resolver os problemas supostamente universais. “Já
interculturalidade questiona quais são estes problemas universais. Caracteriza-se
pela exigência de abertura ao “outro”, uma vez que a problematicidade das
perguntas é algo que não se pode resolver solitariamente.” (Damázio, 2008, p. 16).
Damázio afirma que na Europa o interculturalismo está relacionado aos imigrantes
do terceiro mundo. A proposta de assunção do interculturalismo pela sociedade se
dá na forma de “comunicação intercultural”, como uma nova aprendizagem
democrática entre os diversos grupos culturais apud (Godenzzi, 2005, p. 4-10).
Damázio (apud Godenzzi), afirma que na América Latina o interculturalismo
diz respeito aos distintos povos e comunidades que são partes constitutivas de cada
nação. Para Godenzzi (p. 6-7), a interculturalidade, surgida das reivindicações dos
povos indígenas, foi uma resposta crítica diante dos problemas e conflitos do mundo
atual.
Rozenfeld, Viana, (2011 p. 270), apud Mota et al. (2004), afirma que no Brasil,
importantes estudos foram descobertos com foco no ensino de Língua Estrangeira
com base intercultural,
48
As autoras reuniram trabalhos do campo da interculturalidade que abordam questões relativas à promoção de consciência cultural crítica em relação à construção de uma identidade fortalecida ao desenvolvimento de uma competência multicultural e à formação intercultural humanizadora de professores de Língua Estrangeiras. Elas se opõem à rigidez pré-fixada dos roteiros didáticos de sala de aula, ao silenciamento da voz do aluno, à imposição de padrões interculturais estereotipados e à ausência de uma política pedagógica que promova a construção de um espírito de cidadania mais humana. Dessa forma, as autoras buscam situar a língua em um contexto sociocultural historicamente constituído, considerar os componentes identitários de alunos e integrar os conteúdos linguísticos em cenários pluriculturais, mediadores de uma conscientização intercultural crítica, a partir do conhecimento da cultura de origem.
A interculturalidade alude a um tipo de sociedade em que as comunidades étnicas, os grupos sociais se reconhecem em suas diferenças e buscam uma mútua compreensão e valorização. O prefixo “inter” expressaria uma interação positiva que concretamente se expressa na busca da supressão das barreiras entre os povos, às comunidades étnicas e os grupos humanos. Damázio (apud Astrain, 2003, p.327).
A Instituição AFS Intercultural Programs por intermédio do Intercultura Brasil
visa a propagar com o seu programa de intercâmbio cultural, a interculturalidade, a
educação intercultural por intermédio da vivência em diversos países, enviando
estudantes brasileiros não somente aos Estados Unidos ou países mais tradicionais
como Inglaterra e França, mas também países com culturas mais exóticas como
Finlândia, Eslováquia, Letônia, Rússia, Tailândia, entre outras nações, inclusive o
Brasil, trazendo a vivência da interculturalidade já mesmo no processo seletivo para
a realização do intercâmbio incentivando a troca de experiências entre os indivíduos
que estão participando da seleção, os estrangeiros que estão morando no Brasil, os
que retornaram de suas viagens e os próprios voluntários responsáveis pela seleção
dos participantes à vaga de intercâmbio.
Dessa forma, a Instituição possibilita que não somente os selecionados
tenham essa consciência, mas também todos os indivíduos que passaram pelo
processo de seleção para as vagas de intercâmbio, como também seus familiares,
49
seus amigos e as comunidades em que vivem, pois a seleção exige como parte da
avaliação o desenvolvimento de trabalhos sociais realizados voluntariamente.
No contexto da organização AFS Intercultural Programs, os candidatos à vaga
de intercâmbio passam por um processo seletivo que tem o objetivo de selecionar os
jovens que estão bem mais preparados segundo os avaliadores da Instituição,
jovens que estão mais envolvidos com os conceitos de interculturalidade. Além
disso, os participantes da seleção tem a oportunidade de discutir questões que
envolvam preconceito, cidadania, respeito ao próximo, tolerância a diversidade
cultural e igualdade entre os povos. É nessa questão que o interculturalismo
aparece,
A interculturalidade orienta processos que têm por base o reconhecimento do direito à diferença e a luta contra todas as formas de discriminação e desigualdade social. Tenta promover relações dialógicas e igualitárias entre pessoas e grupos que pertencem a universos culturais diferentes, trabalhando os conflitos inerentes a esta realidade. (Candau, 2003), PUC-Rio/Novamétrica.
Os conceitos ensinados sobre interculturalidade se limitaram à experiência do
programa de Intercâmbio, além do processo de preparação para tal experiência
efetuada pela organização, pois essa temática é abordada muito raramente nas
escolas,
No Brasil, a reflexão sobre esta temática vai penetrando na vida acadêmica. Nas diferentes práticas educativas ainda está muito pouco presente. Nos anos que levamos aprofundando nesta temática, identificar propostas educativas concretas que tenham uma referência explícita a questões que podem ser situadas no âmbito das preocupações interculturais não tem sido fácil. (Candau, 2003).
Byram e Fleming (1998, p. 121 apud WRINGE) dizem que “conhecimento de
mundo é crucial em todos os aspectos da vida, incluindo o vocacional”
Conhecimento de mundo é relevante tanto para alguém viver a sua vida quanto para fazer o seu trabalho... Em nosso trabalho nós
50
usamos um conhecimento específico de alguma parte do mundo para tomar decisões de um modo particular (Wringe, 1991, p. 42).15
Damázio, p. 17, apud Candau, (2005, p.19) diz que a interculturalidade orienta
processos que têm por base o reconhecimento do direito à diferença e à luta contra
todas as formas de discriminação e de desigualdade social. Tenta promover
relações dialógicas e igualitárias entre pessoas e grupos que pertencem a universos
culturais diferentes, trabalhando os conflitos inerentes a esta realidade. Não ignora
as relações de poder presentes nas relações sociais e interpessoais. Reconhece e
assume os conflitos, procurando as estratégias mais adequadas para enfrentá-los.
Ao morar em outro país você vive o interculturalismo no cotidiano.
Destacamos o contexto desta pesquisadora, ter sido exposta a um processo de
seleção e depois de preparação para vivenciar a experiência de intercâmbio, foi
possível vivenciar a interculturalidade na prática, mesmo sem saber que esse termo
existia, mesmo sem ter essa percepção enquanto morava na Noruega.
O intercultural não pode ser considerado apenas como um conceito exclusivo
do domínio pedagógico. O intercultural ou a interculturalidade acaba por ser uma
opção sociológica global. Nessa perspectiva o intercultural é uma “forma esclarecida
de ver e entender o mundo, uma forma de estar antropológica porque legitima as
heterogeneidades dentro das identidades.” (Vieira 1995, p. 142).
Um indivíduo intercultural se constrói por intermédio dos diálogos com
diferentes grupos, com a experiência de novos hábitos e o mais importante, muda o
seu jeito de enxergar e de pensar o mundo. Há uma relação de interação com o
novo contexto o qual está inserido, tornando-se mais observador, flexível, tolerante,
curioso, respeitoso e solidário a vida alheia.
A interculturalidade requer um projeto educativo. Não chega a ter uma atitude multicultural de tolerância em relação aos outros, trata-se de pensar uma educação para o plural, onde as diferentes culturas possam comunicar-se, respeitar-se e enriquecer-se
15 Nossa tradução para: Knowledge of the world is relevant to both the way one lives one´s life and the way one does one´s job… in our work we use knowledge of a specific part of the world to make decisions of a particular kind.
51
mutuamente através de uma participação conjunta. (Gabriel, 2007, p. 58).
Além das duas culturas Brasil/Noruega (nosso caso) ou Brasil/Estados
Unidos, temos também as outras culturas inseridas no contexto de intercâmbio, pois
há os outros intercambistas de outras nacionalidades, sendo assim, surgindo já uma
globalização.
Outra questão dentro da interculturalidade é o relativismo cultural. Há atitudes em
nossa cultura brasileira que não são “apropriadas” ou “incorretas” em outras
culturas. Como por exemplo, chegar um amigo em casa que você não está
esperando, e a família hospedeira na Noruega começar a jantar e não convidar esse
amigo. A primeira vista podemos pensar em falta de educação, egoísmo, mas na
verdade é somente um hábito dos noruegueses, faz parte da cultura deles. Isso é
relativismo.
Uma dificuldade da abordagem cultural é o relativismo. Com efeito, o culturalismo, considerando o homem quase exclusivamente como o produto da sua cultura, conduz ao relativismo cultural, ou seja, à avaliação de cada cultura no seu próprio contexto. O relativismo cultural supõe que cada elemento do comportamento cultural seja considerado em relação com a cultura da qual faz parte, e que, neste conjunto sistemático, cada detalhe tenha um significado e um valor positivo ou negativo. Limita-se à descrição, à observação, isolam-se as culturas e considera-se cada uma como um sistema fechado e coerente. (Gabriel, F. 2007, p. 59).
A partir das análises acima, ressaltamos a importância da interculturalidade. A
perspectiva intercultural se compromete com a busca de alternativas e práticas de
convivência entre culturas. Defende a ideia de que o ponto de vista ocidental não é o
único correto.
A interculturalidade traz ao indivíduo a noção de que a sua cultura não é nem melhor
e nem pior, apenas diferente daquela que está vivenciando durante o intercâmbio, a
partir das experiências adquiridas no processo de mobilidade estudantil, o estudante
começa a deixar o preconceito, os estereótipos e começa a abrir a mente para
52
vivências que até aquele momento não faziam nenhum sentido antes de começar o
intercâmbio.
A base do entendimento intercultural envolve o reconhecimento das similitudes e das semelhanças entre duas ou mais culturas, do mesmo modo que pondera a respeito de como se relacionar com múltiplas identidades e desenvolver respeito à individualidade com vistas a evitar generalizações, estereótipos, uma única visão do “outro” Agir com um falante intercultural implica o aprendiz ter consciência, também, de sua própria identidade e cultura, e de como é percebido pelos outros com quem está interagindo. (Hanna, 2013, p.2).
O falante intercultural é o indivíduo que reconhece a sua cultura nativa e
consegue identificar que possui novos valores, ou seja, novas posições, novos
pontos de vista que foram agregados a sua identidade devido a vivência no exterior.
Ele é capaz de relacionar ambas as culturas, no caso desse estudo, a brasileira e a
norte americana, identificar suas semelhanças e diferenças sem dizer que uma é
superior a outra, porém, respeitando suas particularidades.
2.3 Competência Intercultural
Ao longo dos anos, valores, sociedades, tecnologias, conhecimentos
passaram por muitas transformações e continuam se transformando. Com o mundo
globalizado, com as nações conectadas, há cada vez mais troca de informações
entre os indivíduos de diferentes culturas seja por intermédio das viagens, dos
negócios, da internet, ou seja, cada vez mais diferentes culturas passam a se
encontrar e a conviver no mesmo espaço, portanto a comunicação desempenha um
papel fundamental em nosso cotidiano.
O atual momento do planeta aponta para um processo dinâmico de tendências para a globalização da economia, dos mercados e dos negócios; principalmente, para a propagação das particularidades
53
culturais de toda a sociedade. Essas mudanças têm gerado um crescente número de contextos internacionalizados dentro de empresas nacionais, que exigem do trabalhador a competência necessária para lidar com equipes de pessoas de diferentes nacionalidades. Tais pessoas trazem consigo não só uma língua diferente, mas acima de tudo costumes, valores e concepções de mundo que podem alavancar conflitos nos relacionamentos e nas tomadas de decisão. (Rovai, E.; Pompeu, S. p. 1:2).
Com a crescente internacionalização ao fato de o mundo estar se tornando
cada vez mais globalizado surge frequentemente a demanda por indivíduos que
além de terem a habilidade de se comunicarem numa segunda língua, tenham
competências que os ajudam a se comunicar dentro desse contexto globalizado,
transitando por diferentes culturas.
Existe um conceito entre estudiosos contemporâneos da área de
ensino de Língua Estrangeira quanto à indissolubilidade das noções
de língua e de cultura, principalmente tomando-se a vertente
antropológica e simbólica de cultura. (Rozenfeld, C.; Viana, N. (2011,
p. 265).
A partir de década de 70, observamos no campo da Linguística Aplicada uma
maior preocupação com o papel da cultura e com as diferenças culturais para a
comunicação em Língua Estrangeira. Autores como Hymes (1972), Canalee Swan
(1980), Widdowson (1978), Kramsch (1993) e no Brasil, Almeida filho (2008), são
alguns exemplos de estudiosos que contribuíram fortemente para o paradigma
comunicativo vigente até a atualidade, o qual evidencia a relevância de aspectos
culturais da língua no ensino de Língua Estrangeira.
“Todavia, ainda há poucas pesquisas que focalizem a relação língua/cultura
na comunicação/interação”. (apud Viana, 2003, p. 86).
É com a relação entre língua e cultura, que a Competência Intercultural surge
nos mais variados campos,
54
O Conceito de Competência Intercultural (CI) surge a partir dos pilares da relação entre língua e cultura na interação, bem como das concepções de interculturalidade, comunicação intercultural, Interkulturelle Germanistik, todos com base teórica (e aplicação) também nos campos da antropologia, da sociologia, da psicologia e da comunicação. Tais conceitos adquirem expressividade no contexto contemporâneo, marcado pela globalização, pela rápida troca de informações e intercâmbio cultural e evidenciam desafios das/nas interações culturais. (Rozenfeld, C.; Viana, N. 2011, p. 266).
Segundo Jin, L., Cortazzi, M. (1999 p. 198) o conceito de competência
intercultural foi amplamente utilizado em psicologia social e nos estudos de
comunicação. Nesses campos, a competência intercultural é vista a afetividade
social (como por exemplo, a habilidade de alcançar objetivos sociais) e adequações
(como por exemplo, uma comunicação apropriada dentro de um aprendizado de
uma língua estrangeira).16 (apud Dinges, 1883; Hammer, 1989; Martin, 1989; Kim,
1991; Wiseman & Koester, 1993).
Já o teórico Rodrigues G. (2012) aponta que o conceito de competência
intercultural é vinculado a uma variedade de conceitos ligados à literatura das áreas
de psicologia intercultural, gestão intercultural, gestão de diversidade e de negócios
internacionais, entre outras. Alguns desses conceitos comumente encontrados são:
“mentalidade multinacional”, “cosmopolitismo”, “inteligência cultural” e “mentalidade
global”. Assim os autores acreditam que existem lógicas potencialmente diferentes
sobre as quais se desenvolve o raciocínio a respeito do desenvolvimento da
competência intercultural ao longo do tempo. (apud Morley e Cerdin 2010).
Para Rozenfeld, C.; Viana, N. (2011, p. 266) apud (Volkmann et al. 2002, p.7),
“a Comunicação Intercultural vai além da aquisição dos conhecimentos puramente
factíveis sobre a geografia, costumes e produção linguística, englobando também o
conhecimento sobre modelos de comunicação e comportamento de pessoas de
outras culturas.”
16 Nossa tradução para: This concept has been widely used in social psychology and studies of communication (Dinges, 1983; Hammer, 1989; Martin, 1989; Kim, 1991; Wiseman & Koester, 1993). In these fields, intercultural competence is seen in social effectiveness (i. e., the ability to achieve instrumental and social goals) and appropriateness (i. e., suitable communication in a given situation in a particular culture).
55
Segundo Rozenfeld, C.; Viana, N., 2011, p. 266 “se Competência Intercultural
(CI) não significa o simples conhecimento, mas também reflexão sobre o outro, é
necessário que se teçam comparações com a própria cultura”. Isso é muito
importante para que não tenhamos a formação de estereótipos e para que a cultura
que está em foco possa transmitir uma impressão realística. (Vollmuth, 2002, p. 49).
Também para as estudiosas Rozenfeld, C.; Viana, N. 2011, p. 267 apud
Stierstofer 2002, p. 119 ambas enfatizam que há uma dimensão dinâmica da
Competência Intercultural que visa, por meio de desdobramento processual,
transpor o vazio entre Língua Materna e a Língua Estrangeira e entre a própria
cultura e a cultura-alvo. O processo é representado pela Figura 1.
Figura 1 – Representação da região de mediação da Competência Intercultural. (ROSENFELD, C, VIANA, N. 2011, p. 268)
Ainda Rozenfeld, C.; Viana, N. (2011, p. 267) apud (Weier, 2002, p.166)
apontam para a dificuldade de definição do termo e atribui tal dificuldade às
diferentes implicações relacionadas a ele. As autoras caracterizam a Competência
Intercultural como a competência baseada em capacidades humanas gerais como a
56
de empatia, de tolerância frente a ambiguidades e de manejo de conflitos e postula
que a Competência Intercultural deve servir a situações em que está envolvida a
compreensão entre os povos e a política de paz. Elas propõem diferentes elementos
envolvidos na Competência Intercultural, os quais se encontram representados na
Figura 2.
Figura 2 – Representação dos diferentes elementos envolvidos na Competência Intercultural. (ROSENFELD, C, VIANA, N. 2011, p. 268)
57
Ao adquirirmos a Competência Intercultural nos tornamos indivíduos mais
críticos e analíticos em relação a nossa cultura e a dos outros.
“Uma pessoa com algum grau de Competência Intercultural é aquela capaz de ver relações entre diferentes culturas – tanto internas quanto externas – e de mediar, ou seja, interpretar cada uma a partir da perspectiva do outro, para os outros ou para si mesma”. Além disso, essa pessoa se caracteriza por apresentar facilidade para ter uma compreensão crítica e analítica da própria cultura e de outras, bem como consciência de que sua perspectiva pessoal, sua forma de pensar, não são naturais, mas determinadas culturalmente. Rozenfeld, C.; Viana, N. (2011, p. 268-269), apud (Byram, 200, s/p).
Outro conceito sobre Competência Intercultural segundo Hanna (2015, p. 6)
afirma que é a habilidade de se escolher um comportamento comunicacional-
interacional efetiva em determinada circunstâncias de compartilhamento entre
múltiplas identidades sociais. Segundo a autora apud Byram (2010) há cinco
aptidões que o indivíduo desenvolve ao ter a Competência Intercultural:
- Atitudes: curiosidade e prontidão para eliminar para eliminar o ceticismo em
relação a outras culturas e de ter convicção sobre a própria;
- Conhecimento: conhecer grupos sociais, seus produtos culturais e práticas,
e os processos gerais e individuais de interação, incluindo os próprios e dos
interlocutores;
- Capacidade de interpretação: habilidade de interpretar eventos da cultura-
alvo e relacioná-los com a própria;
- Capacidade de ação e interação: habilidade em adquirir novos
conhecimentos a respeito de uma cultura e de práticas culturais e de operar o
conhecimento e adequar as atitudes sob pressão em tempo real de comunicação e
interação.
58
- Consciência crítica cultural/aprendizado político: habilidade de avaliar
criticamente sob perspectivas explícitas de critérios, práticas e produtos de sua
própria cultura e de outros.
Também para Hanna (2015, p 7-8), os encontros interculturais envolvem
interação entre as múltiplas identidades sociais dos participantes e das percepções
que têm sobre as identidades de cada um, especialmente, o reconhecimento que
algumas são dominantes em determinadas circunstâncias. Segunda a autora apud
Byram 2005, p. 20, há a teoria do “terceiro espaço da enunciação” de Homi K.
Bhabha, na qual a interação é vista com mais do que a soma das partes, os
encontros interculturais ampliam as identidades culturais envolvidas. Hanna (2015,
p. 7-8) afirma que Bhabha elucida o conceito de terceiro espaço como o lugar em
que a cultura é disseminada, e abre espaço para o aparecimento de uma identidade
híbrida em que os dois lados consideram compartilhar uma identidade comum em
relação a espaços e diálogos comuns.
De acordo com Hanna (2015 p. 7-8), habilidade em encontrar o “terceiro
espaço” está na essência da competência intercultural, aquele que participa da
interação não é apenas um observador, ele vive a experiência – a interação cultural
não é uma questão de manter a moldura da própria cultura ou, muito menos, de
assimilar a daquele com quem interage. Trata-se de encontrar um lugar
intermediário entre as duas posições, demandas, na verdade, “adotar um terceiro
espaço” (Crozet, 1999, apud Kumaravadivelu, 2008, p. 134).
O sucesso da Comunicação Intercultural implica que uma mensagem
produzida numa determinada cultura possa ser processada com sucesso em outra.
Nesse sentido, uma integração entre o ensino de línguas e da cultura pode contribuir
para o conhecimento do homem em geral, e ao devolver a habilidade linguística e a
sensibilidade cultural pode, assim, desempenhar um papel de extrema importância
na compreensão das diferenças culturais. (Santos, P., Alvarez, M. 2010, p. 18).
59
2.4 O modelo de sinergia cultural
Outro conceito dentro da área de Competência Comunicativa é o que propôs
Jin, L.; Cortazzi, M. (1998, p. 114) que é o modelo de sinergia cultural. “Este modelo
sugere a necessidade de compreensão mútua das diferentes culturas, estilos de
comunicação e culturas acadêmicas.” 17
Isso não significa que a diversidade e variedade serão fundidas em um só,
mas que existem divisões naturais e culturais. Praticantes acadêmicos devem ter a
mente aberta para estar ciente da operação de outros estilos e apreciar a sua
ênfase. Sinergia cultural aqui implica que existe um benefício adicional de
colaboração, que é maior do que o benefício único para cada um dos lados, no
contexto intercultural. (Jin, L.; Cortazzi, M. 1998, p. 114) 18
De acordo com Jin, L.; Cortazzi, M. (1998, p. 118), comunicação intercultural,
em termos de sinergia, é provável que estabilize a auto-identidade dos alunos
(Meyer I99I: I37). “Modelo de sinergia, porque ele é visto em termos de relações
chinesas de oferecer benefícios mútuos e exigindo responsabilidade mútua para a
compreensão intercultural.”19
Para Jin, L.; Cortazzi, M. 1998, p. 117 apud Martin 1993; Meyer, 1991, O
modelo de sinergia Cultural visa promover a competência intercultural, tornando os
participantes sociáveis - e educacionalmente - eficazes entre culturas, não só se
comunicando adequadamente em contextos interculturais, mas, ainda mais, tendo a
compreensão dos padrões de comunicação, das expectativas e das interpretações
dos outros.20
17 Nossa tradução para: This model suggests the need for mutual understanding of different cultures, communication styles and academic cultures. 18 Nossa tradução para:This does not mean that diversity and variety will be merged into one, but that natural divisions exist and academic cultural practitioners should have a open mind to be aware of the operation of other styles and appreciate their emphasis. 19 Nossa tradução para:Intercultural Communication, in terms of synergy, is likely to stabilise learners´self-identity (Meyer 1991, p. 137). The synergy model, because it is seen in Chinese relation terms of offering mutual benefit and requiring mutual responsibility for intercultural understanding. 20 Nossa tradução para: The cultural synergy model is aimed at fostering intercultural competence, in the sense that participants will be socially - and educationally - effective across cultures, not only
60
Figura 3 – O modelo de sinergia cultural da aquisição de segunda língua (Jin 1992).
communicating appropriately in intercultural contexts but, further, understanding the communication patterns, expectations an interpretations of others.
SLA
ALU
SOCIAL DISTANCE PSYCHOLOGICAL DISTANCE
ACADEMIC DISTANCE
Congruence Similar/Discimilar
Social familiarity/Isolation
Character atributs of source/target cultures
Steriotyte/Realistic Positive/Negative
Academic language use Listening, speaking, intonation ,writing,
vocabulary,discourse, Pattern, pausing,note-
taking,turn-taking quoting,referencing Cultural
Individual/Collective Asking for help/Expecting
offer of help Respect for
privacy/offering help
Culture Shock
Tutor-student relationships Personal, social, academic
Knowledge of target/source
Socieles and cultures
Finance Anxiety
Social consequences Academic cultural
orientation Active involvement/passive
participation Alternatives/single solution Critical evaluation/uncritical
acceptance Individual/collective
Independence/dependence Speaker/writer´s
Responsibility/listener & Reader´s respectability
Racism Superiority/Inferiority
Inverted racism
Academic culture shock Academic expectations Academic presentations Knowledge of education
system Motivation for study Research process Research methods Teaching-learning
strategies Reverse culture shock
Languge Shock Attitudes towards language learning
Balance of language competence/acculturation
Confidence/Lack of confidence Language
Social-emotional Interaction/cognitive
processing
61
2. 5 AFS Intercultural Programs
A AFS Intercultural Programs (AFS, antigo American Field Service, no Brasil é
uma organização não governamental internacional, sem fins lucrativos, fundada em
1915 por Abram Andrew (1983-1936), antigo professor na Universidade Harvard. A
organização, com sede em Nova Iorque, pretende ajudar a construir um mundo
solidário por meio do intercâmbio cultural entre os povos. É a maior e mais antiga
organização de intercâmbios para jovens do mundo.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/AFS_Intercultural_Programs. 21
Atuando em mais de 88 países, o AFS Intercultural Programs realiza o seu
trabalho por intermédio de voluntários que acreditam na missão do programa:
promover a paz mundial e fazer com que os seres humanos se tornem mais
solidários. Entretanto o programa oferecido aos estudantes do Ensino Médio dá a
oportunidade dos participantes de vivenciarem uma experiência no exterior, não
apenas com o foco turístico, mas também acadêmico e cultural.
Durante o período de um ano, período do programa que pode ser iniciado em
janeiro ou julho dependendo do destino, o estudante viverá com uma família
hospedeira nativa do país o qual estará vivendo e passará a frequentar uma escola
do Ensino Médio estudando as matérias obrigatórias solicitadas pelo Ministério da
Educação (MEC).
Ao regressar para o país de origem o estudante poderá fazer a convalidação
das notas, processo realizado pelo estudante em parceira com a escola no exterior e
o MEC para que o ano que estudou no exterior possa ser válido e sendo assim dar a
continuidade de seu Ensino Médio numa escola brasileira. Em relação aos
estudantes que participarem do programa saindo do Brasil no terceiro ano do Ensino
Médio, não terão que regressar a Instituição Brasileira o qual estudavam
anteriormente, será necessário somente fazer o processo da convalidação. O
processo de convalidação só é feito mediante aprovação das matérias estudadas no
21 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/AFS_Intercultural_Programs>. Acesso em 06 mai 2014)
62
exterior como inglês, educação física, matemática, uma matéria relacionada a
ciências (física, química e biologia) e outra a estudos sociais (história ou geografia).
Segundo site da Organização (www.afs.org.br) segue a lista dos países participantes
do programa de acordo com os cinco continentes:
África – Egito.
Ásia/Pacífico – China, Filipinas, Hong Kong, Indonésia, Japão, Tailândia e Índia.
Europa – Alemanha, Bélgica Flandres, Bélgica Francesa, Bósnia e Herzegovina,
Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Hungria, Irlanda,
Islândia, Itália, Letônia, Noruega, República Tcheca, Reino Unido, Rússia, Suécia,
Suíça, Sérvia, Turquia, Áustria.
América Latina – Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador,
Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Brasil.
América do Norte – Canadá e Estados Unidos.
Oceania – Austrália e Nova Zelândia.
O programa oferecido pela AFS Intercultural Programs visa também à
conscientização dos jovens participantes em relação à cidadania, à política, à
promoção da paz mundial, a tolerância, o não ao preconceito, ao racismo, a
homofobia, entre outros. Para isso a organização através de seus comitês locais
trabalha voluntariamente na preparação dos estudantes para o ano de intercâmbio,
com viagens, reuniões em que discutem as culturas que irão encontrar na
experiência de intercâmbio, o choque cultural que terão, além de discutirem sobre as
etapas do intercâmbio cultural, além de promoverem o trabalho voluntário durante a
seleção.
Segundo o site da Organização, no Programa Escolar, o participante ficará
hospedado em casa de família, onde frequentemente estabelece uma relação típica
entre filhos, pais e irmãos. O AFS tem a preocupação de selecionar cuidadosamente
estas famílias e, sempre que possível, busca “encaixar” os perfis destas com a do
63
estudante. O participante deverá se adequar a rotina desta família, se tornando um
membro dela e realmente vivenciando a cultura local.
64
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA E ANÁLISE DO CORPUS
O Capítulo 3 trata do processo de definição da escolha metodológica e do
instrumento de pesquisa, além de descrever os procedimentos de coleta de dados.
Serão apresentados os dados para serem analisados de acordo com as teorias
mencionadas nos capítulos anteriores.
3.1 Motivação e pressupostos
Por ter participado do programa do AFS Intercultural Programs, pelo motivo
de ter recebido, em nossa casa, em São Paulo, pelo mesmo programa, uma
intercambista norueguesa, pela experiência desta pesquisadora ter vivenciado as
propostas do interculturalismo e as experiências de interculturalidade num programa
de intercâmbio cultural, e, acreditamos ter tido a oportunidade de desenvolver a
competência cultural, entre outras experiências, o tema tornou-se o objetivo dessa
pesquisa.
Obedecendo à ordem dos objetivos específicos elencados na Introdução, iniciamos
com a elaboração do questionário, seguido do envio à Gerência de Marketing do
AFS que se encarregou de remetê-los aos participantes para que posteriormente os
resultados fossem coletados e então a análise desses dados fosse concluída.
3.2 Instrumentos de pesquisa - questionário
Conhecer ou adquirir conhecimento é um bem que ninguém consegue tirar de nós. É
possível aprendermos em qualquer lugar, em diversas circunstâncias. Desde os
primórdios até os tempos modernos, a informação, o conhecimento, a sabedoria
continua tendo o seu valor.
Desde a história mais remota o homem primitivo, possui a ânsia do conhecimento, a busca insana pela sabedoria, fazendo com que o homem começasse a pensar com base nas usas observações evoluindo seus conhecimentos desde as concepções astrológicas evoluindo até registros em papiros a fim de realmente tornar o conhecimento explícito. É possível dizer cientificamente que o
65
conhecimento sofreu várias fases, na qual se fundou em vários tipos. Dalfovo, Lana e Silveira (2008, apud Fachin et al., 2005).
De acordo com os estudiosos acima o mais estudado e difundido é o
conhecimento científico (apud Fachin, 2003) que se apresenta como o resultado de
uma investigação que segue uma metodologia, baseada na realidade de fatos e
fenômenos capaz de analisar, descobrir, criar e resolver novos e antigos problemas.
Além disso, o autor afirma que é necessária uma análise documental e textual, de
como é realizada a metodologia para verificar os resultados da pesquisa realizada.
Com base nos autores citados, utilizaremos como metodologia de pesquisa
um questionário cujo objetivo é comprovar a hipótese aventada. Apresentaremos os
processos da elaboração do questionário, da coleta de dados e da análise dos
resultados.
3.3. Elaboração do questionário
O questionário foi elaborado cuidadosamente com questões
cujas respostas pudessem demonstrar nossos objetivos. Houve uma preocupação
em relação a sua divisão para que a análise dos resultados fosse facilitada,
oferecendo ao leitor um texto mais organizado, seguindo as premissas a seguir,
O processo de construção de um questionário implica, entre outras coisas, “que se saiba exatamente o que se procura que todos os aspectos do assunto em estudo tenham sido bem abordados e que as questões sejam formuladas de modo a terem o mesmo significado para todos os elementos da amostra” (Hill & Hill, 2000).
Considerando as particularidades do estudo elaboramos um questionário
misto, estruturado da forma que se entendeu melhor servir os objetivos a que se
propunha. Assim o questionário foi construído por questões fechadas (a maioria) que
incidem, sobre fatos, e três questões abertas, totalizando dezoito questões.
66
As questões que constituem os questionários podem ser classificadas de acordo com o seu conteúdo ou com a sua forma. No que se refere ao conteúdo, podem ser divididas em duas grandes categorias de questões: as que são relacionadas a fatos e as que são relacionadas a opiniões, atitudes, preferências, etc. Já em relação à forma, as questões podem ser abertas (o inquirido responde como entender melhor) ou fechadas (ao inquirido é apresentada uma lista de respostas possíveis da qual ele indica a que melhor corresponde à resposta que deseja dar). Ghiglione e Matalon (2005).
O questionário foi enviado por e-mail a Sra. Ana Beatriz Cavalcanti, Gerente
de Marketing do AFS, que ficou responsável por remetê-lo aos intercambistas que
estavam dentro do perfil pretendido, ou seja, brasileiros que estudaram um ano do
Ensino Médio nos Estados Unidos nas décadas de 1990 a 1999 ou 2000 a 2010.
O e-mail enviado para Sra. Ana Beatriz apresentou a pesquisadora e o
objetivo do trabalho. A pesquisadora solicitou ajuda ao AFS para contatar os
participantes do programa. No Anexo I a primeira resposta da Sra. Ana Beatriz
Cavalcanti enviada à pesquisadora. Posteriormente o primeiro e-mail da
pesquisadora enviado a Instituição AFS Intercultura Brasil com apresentação do
trabalho e da própria pesquisadora. Posteriormente temos o e-mail enviado por Ana
Beatriz (gerente de Marketing do AFS) respondendo que iria atender a solicitação da
pesquisadora e que sua diretora estava de acordo. A Gerente do AFS solicitou à
pesquisadora que fosse enviado um texto apresentando o trabalho para que ela
finalmente pudesse enviar o link aos participantes com o questionário, todas essas
informações estão no Anexo II. O texto solicitado e elaborado pela pesquisadora
está no Anexo III.
Foi utilizada a ferramenta tecnológica “Google Forms” um formulário online
que permitiu que a coleta e a organização das respostas fossem automatizadas para
a concretização da pesquisa.
Existem diversos sites que permitem a criação de formulários online. Um bom exemplo oferecido gratuitamente é o Google Forms. Esse aplicativo encontra-se no Google Docs, um serviço do Google que permite a edição colaborativa de documentos. Destacamos como vantagens desse formulário a sua apresentação, facilidade de uso e
67
a forma organizada e simples com que são apresentadas as respostas. (Mozart, A., Heidemann, L., 2009, p.1),
A ferramenta “Google Forms” nos proporcionou o envio aos participantes de
um link no qual os participantes apenas precisavam clicar para responder as
perguntas do questionário. Ao terminar de respondê-las, nós já recebíamos
automaticamente as respostas de cada participante no item Resumo das Respostas
que consta no anexo IV, desta pesquisa. No Resumo das Respostas é apresentado
além dos gráficos dos resultados a demonstração em números e porcentagem em
relação ao total dos 44 entrevistados. O “Google Forms” garante agilidade e
segurança.
3.4 Análises dos resultados
Para a realização de um estudo, pesquisa é necessário que o pesquisador se
baseie em uma hipótese, que o objetivo desse estudo seja a comprovação dessa
hipótese, que na pesquisa contenha os resultados, como foram obtidos e por quem,
ou seja, se quem participou do estudou.
A população utilizada como objeto desse estudo foram os Intercambistas que
viajaram aos Estados Unidos, de ambos os sexos e que realizaram seus
intercâmbios nas décadas de 1990 a 2000 ou 2001 a 2010.
De maneira geral, autores classificam como partes de uma pesquisa a população como o conjunto a que se pretende estudar, e indivíduo uma peça deste conjunto. Apesar ainda de alguns autores classificarem amostra também como população, a amostra tem como corpo uma fração da população delineada na pesquisa. Segundo Dalfovo, M., Lana, R., Silveira, A. (2004, p. 8)
Para conseguimos desenvolver melhor análise dos resultados, dividimos o
questionário em a saber:
68
Parte I – dados primários (três questões);
Parte II – regresso ao país de origem (quatro questões);
Parte III – intercâmbio e vida profissional (três questões);
Parte IV – língua e cultura finalizando (sete questões)
As perguntas foram analisadas individualmente de acordo com os resultados
obtidos do “Google Forms”, dados que poderão ser consultados no anexo IV.
É importante destacarmos que alguns intercambistas que responderam ao
questionário (4) não foram aos Estados Unidos, viajaram para outros países.
Decidimos não editar as respostas dos questionários, pois esses participantes
também tiveram experiências de interculturalidade, processos de identificação,
aquisição da competência cultural, ou seja, as decorrências, as experiências, de um
modo geral foram bem semelhantes ao programa de intercâmbio cultural nos
Estados Unidos. Praticamente o que alterou foi o idioma do local. Todas as
respostas dos participantes, os dados originais estão no Anexo IV intitulado Resumo
das Respostas.
PARTE I - DADOS PRIMÁRIOS
1) Assinale a década em que fez o intercâmbio:
Como podemos observar pela figura 1, tivemos a grande maioria dos
questionários respondidos pelos intercambistas que viajaram na década de 2000.
Houve um maior interesse em responder os questionários o público mais jovem, na
faixa etária de 30 anos. Somente quatro estudantes, o que corresponde a 9% do
universo de 44 intercambistas entrevistados responderam que viajaram na década
de 1990.
69
Década de 1990 a 1999 – 4 estudantes – 10%
Década de 2000 a 2010 – 38 estudantes – 90%
É importante ressaltar que esses números não se referem a todos os
intercambistas brasileiros que fizeram intercâmbio nos Estados Unidos pelo AFS no
período delimitado na pesquisa já que nem todos os participantes estavam com os
cadastros atualizados, no banco de dados do AFS Intercultural Brasil, sede matriz do
AFS no Brasil, localizada no Rio de Janeiro.
2) Sexo:
A figura 2, que se refere à questão dois, abordamos a porcentagem em
relação ao sexo dos candidatos, 57% do sexo masculino em relação a 41% do sexo
feminino. Constatou-se um número maior de participantes do sexo masculino que
participaram do programa, ainda que as oportunidades de estudos e o mercado de
trabalho estejam em ascensão para a população feminina.
70
Masculino – 25 homens – 58%
Feminino – 18 mulheres – 42%
3) Idade:
A pergunta três apresenta a idade atual dos participantes, lembrando que o período pesquisado foi de 1990 a 2010. Como demonstram os resultados abaixo, tivemos idades variadas, mas as maiorias dos participantes estão na faixa dos 27, 28 anos.
34 anos – 1 participante
40 anos – 1 participante
22 – 1 participante
24 – 1 participante
25 – 1 participante
26 – 1 participante
27 – 1 participante
28 – 1 participante
29 – 1 participante
30 – 1 participante
32 – 1 participante
31 – 1 participante
18 – 1 participante
16 – 1 participante
71
20 – 1 participante
17 anos – 1 participante
27 anos – 1 participante
27 anos – 1 participante
63 anos – 1 participante
4) Comitê do AFS que realizou o Intercâmbio:
A questão quatro finaliza a Parte I – Dados Primários. Os dados obtidos com
a questão quatro apresentam um recorte dos comitês que mais responderam aos
questionários. Isso sugere os comitês mais ativos no AFS Intercultural Programs.
Entende-se por ativos aqueles comitês que enviam um grande número de
estudantes para o exterior e recebem estudantes em seus comitês também, que
estão engajados com a filosofia/missão da Instituição, que desenvolvem trabalhos
voluntários e são comprometidos com a seleção dos estudantes. Segue a lista com
os comitês que participaram da pesquisa:
Rio de Janeiro – Rio De janeiro
Assis – São Paulo
Belo Horizonte – Minas Gerais
Americana – São Paulo
Ribeirão Preto – São Paulo
Ribeirão Preto – São Paulo
Joinville – Santa Catarina
Americana – São Paulo
Vale dos Sinos – Rio Grande do Sul
São Paulo Alfa – São Paulo
Mocóca – São Paulo
72
Rio Grande – Rio Grande do Sul
Americana – São Paulo
São Paulo – São Paulo
ABC – São Paulo
Americana – São Paulo
Lages – Santa Catarina
São Paulo – Alfa – São Paulo
Americana – São Paulo
Natal – Rio Grande do Norte
Ouro Branco – Minas Gerais
Vale dos Sinos – Rio Grande do Sul
Macaé – Rio de Janeiro
Salvador – Bahia
Vitória – Espírito Santo
João Pessoa – Paraíba
Chapecó – Santa Catarina
Mocóca – São Paulo
Salvador – Bahia
Joinville – Santa Catarina
São Paulo – São Paulo
Macaé – Rio de Janeiro
Porto Alegre – Rio Grande do Sul
PARTE ll - REGRESSO AO PAÍS DE ORIGEM
5) Retornou alguma vez ao local de intercâmbio?
73
A questão cinco examina se o intercambista retornou alguma vez ao local de
intercâmbio, ou seja, não ao país, os Estados Unidos, mas ao local em que
vivenciou a experiência de Intercâmbio Cultural, a cidade que morou.
Com a figura abaixo podemos constatar que a maioria dos intercambistas
ainda possui algum tipo de vínculo que fez com que retornassem ao local onde
realizou o intercâmbio. O motivo pelo retorno pode ser uma visita à família
hospedeira, ou simplesmente uma visita ao local, não necessariamente sendo
obrigatória a visita à família hospedeira. Dos 44 entrevistados, 26 intercambistas
voltaram ao local de intercâmbio.
Sim – 26 participantes – 60%
Não – 17 participantes – 40%
6) Continua com algum contato com a família hospedeira?
Foi elaborada com o objetivo de demonstrar que esse programa de
intercâmbio cultural, o High School, que também foi apresentado como um programa
de mobilidade estudantil proporciona na grande maioria das vezes, um vínculo
relevante com o país e com a família que hospedou o intercambista, como podemos
observar na figura baixo:
74
Sim – 40 participantes – 93%
Não – 3 participantes – 7%
A grande maioria dos participantes, ou seja, 91% dos entrevistados
confirmam que mantêm vínculo com a família hospedeira atualmente. Isso significa,
primeiramente, que o resultado da experiência foi positivo, caso contrário,
provavelmente não existiria mais o vínculo. Segundo, os estudantes continuam
mantendo contato efetivo com a cultura adquirida, já que se comunicam com a
família hospedeira.
7) Qual(is) fator(es) o levou(aram) a fazer o programa de intercâmbio nos
Estados Unidos?
A questão sete foi dividida em dois grupos, o Grupo I e o Grupo II. O Gráfico
referente ao Grupo I nos revela primeiramente fatores que levaram os estudantes a
fazer o programa de Intercâmbio Cultural, quais os motivos, de maneira geral,
levaram os participantes a deixar seus pais, amigos, escola, suas rotinas para
mudarem completamente de vida num país estrangeiro por um ano.
Como podemos obervar segundo a figura abaixo a alternativa mais
assinalada foi à letra C que corresponde a experimentar vivência internacional. Em
segundo lugar aparecem às letras A e D. Os dados demonstram que o motivo
principal é ter vivência internacional, ou seja, conhecer outro país, outros povos,
outras culturas. Quando falamos em vivência internacional estamos nos referindo à
experimentação do cotidiano em um país estrangeiro por um determinado tempo. O
75
segundo objetivo ou motivo desses intercambistas de acordo com os resultados foi
aprender/aprimorar a língua (o inglês) e tornar-se uma pessoa mais madura,
independente e flexível.
a) Aprender e/ou aprimorar a Língua Inglesa – 28 participantes – 21%
b) Melhorar o curriculum profissional no futuro – 15 participantes – 11%
c) Experimentar vivência internacional – 30 participantes – 22%
d) Torna-se uma pessoa mais madura, independente e flexível
28 participantes. – 21%
e) Ter conhecido alguém que já tivesse feito algum tipo de intercâmbio
15 participantes – 11%
f) Gostar de viajar – 19 participantes – 14%
Já o segundo gráfico aponta motivos mais específicos para estudantes
escolherem fazer o programa de intercâmbio, especificamente nos Estados Unidos.
Como podemos notar, na figura abaixo, a opção mais votada é a letra C, “melhor
qualidade de vida comparada ao Brasil”.
76
a) Aspecto econômico do país – 15 participantes – 28%
b) Desenvolvimento e performance acadêmica – 11 participantes – 21%
c) Melhor qualidade de vida comparado ao Brasil - 16 participantes – 30%
d) Influência adquirida por intermédio de filmes de Hollywood, música,
alimentos, consumismo, o chamado “American way of life” – 8
participantes – 15%
e) Lugar visto como “Lugar de oportunidades” – 3 participantes – 6%
8) O que sentiu imediatamente ao voltar ao seu país de origem?
A questão oito foi dividida em quatro grupos (I, II, III e IV) de respostas. Os
gráficos foram analisados individualmente.
O gráfico que representa o Grupo I apresenta sentimentos que o
intercambista viveu assim que retornou ao Brasil. Nesse primeiro gráfico
observamos que a grande maioria dos intercambistas vivenciou sentimentos
positivos como alegria e realização. A palavra com a maior porcentagem é
“realização”. A realização vem do sonho concretizado, do objetivo alcançado e da
persistência do desafio de ficar um ano longe de casa, longe dos pais, da família,
dos amigos, da vida que tinha no país de origem. Já o sentimento da alegria reflete
nos participantes por estarem revendo a família, os amigos, os lugares que
costumavam frequentar, as atividades que costumavam fazer, etc. O curioso é a
77
palavra “depressão”, 27% responderam depressão; muitos intercambistas ficam
deprimidos ao voltarem para seus países de origem, pois sentem saudade da família
hospedeira, dos amigos que fizeram, da vida que tinham lá, das atividades que
faziam, da escola, do país, como podemos perceber pelos dados dos seguintes
gráficos:
a) Alívio – 3 participantes – 5%
b) Alegria – 21 participantes – 35%
c) Depressão – 12 participantes – 20%
d) Realização – 24 estudantes – 40%
É importante ressaltarmos que é de grande valia que as organizações de
intercâmbio prestem um serviço de preparação para a experiência que esses
adolescentes irão enfrentar, assim como o acompanhamento desses intercambistas
no seu programa de intercâmbio e o retorno, a adaptação em seus países de
origem. Assim como há o “choque cultural” ao chegar aos Estados Unidos, há
também o “choque cultural” ao voltar para o Brasil.
Os dados do Gráfico 2 demonstram que 64% dos participantes assinalaram
que sentiram falta da família hospedeira e 55% das amizades que fizeram durante a
experiência do intercâmbio. Também assinalaram em menor proporção perda de
algumas amizades que deixaram no Brasil (23%) e falta do ambiente escolar (20%).
78
A letra C do gráfico abaixo corresponde à perda de amizades deixadas no
Brasil como, por exemplo, o estudante retornou ao país de origem o amigo (a) já não
se encontrava mais no Brasil e a distância provocou um afastamento natural, ou não
havia mais tantas afinidades numa determinada relação de amizade, entre outras
possibilidades. É importante destacarmos que o estudante sai do Brasil uma pessoa
“X” e volta uma pessoa “Y”, ou seja, não deixando de ser a pessoa que era, porém,
com uma nova identidade, uma identidade que agrega novos valores, novas
perspectivas, novos conhecimentos, novas opiniões, fatores que são relevantes para
alterarem certas relações.
a) Falta das amizades que fez no país do intercâmbio – 24 participantes – 34%
b) Falta da família hospedeira – 28 estudantes – 39%
c) Perda de algumas amizades que deixou aqui no Brasil – 10 participantes – 14%
d) Falta do ambiente escolar – 9 participantes – 13%
O terceiro gráfico aponta dados mais recorrentes do cotidiano desses
intercambistas no Brasil, novamente. Nesse momento de retorno ao seu país de
origem o estudante terá que reaprender a conviver em sua casa, com sua família,
com seus pais, com as novas regras dessa casa brasileira, do país Brasil, da
sociedade brasileira.
79
De acordo com a figura abaixo houve equilíbrio no que diz respeito à
dificuldade e facilidade de readaptação, ambos com 41% dos resultados, ou seja,
metade dos entrevistados encontrou dificuldade para se readaptar enquanto que
exatamente 41% encontraram facilidade de readaptação.
Esse pode ser um dado que revela o quanto o estudante assimilou, vivenciou
o seu cotidiano, o seu ano de intercâmbio, a sua experiência internacional, já a
dificuldade de readaptação nos mostra que o intercambista estava muito bem
adaptado em solo americano.
Já em relação à família de origem somente 1% dos entrevistados assinalaram
que tiveram uma pior convivência com os pais ao retornar para o país de origem.
a) Dificuldade de readaptação – 18 estudantes – 30,5%
b) Facilidade de readaptação – 18 estudantes – 30,5%
c) Melhor convivência com os pais – 18 estudantes – 30,5%
d) Pior convivência com os pais – 5 estudantes – 8,5%
O Gráfico IV apresenta dados referentes ao ambiente escolar brasileiro,
quando o intercambista volta para a sua antiga escola, poderíamos perguntar, “será
que o jovem volta diferente como aluno?”.
80
Segundo a figura abaixo 48% dos participantes concluíram que ao voltar para
a escola antiga houve uma melhora na convivência com os colegas da escola em
relação a 16% dos entrevistados que opinaram que a convivência com os demais no
ambiente escolar piorou. Outro dado positivo é que 36% dos participantes afirmaram
que tiveram melhor desempenho acadêmico após a experiência do intercâmbio
cultural.
a) Melhor desempenho acadêmico – 16 participantes – 30%
b) Pior desempenho acadêmico – 9 participantes – 17%
c) Melhor convivência com os colegas de escola – 21 participantes – 40%
d) Pior convivência com os colegas de escola – 7 participantes – 13%
PARTE III - INTERCÂMBIO E VIDA PROFISSIONAL
9) Em relação à vida profissional, ter participado do programa de Intercâmbio
Cultural, proporciona-me:
A questão de número nove foi elaborada com o propósito de identificarmos a
relação entre a experiência de intercâmbio cultural vivenciada e a aquisição de
competências como: intercultural, de liderança, de comunicação na língua inglesa e
de vivência internacional. Pretendíamos descobrir se o intercâmbio contribuiu para a
aquisição das competências.
81
De acordo com o gráfico abaixo retirado do anexo IV, a competência mais
mencionada é a vivência internacional com 86% seguida da comunicação na língua
Inglesa e da Competência Intercultural, ambas com 80% dos participantes.
a) Comunicação na Língua Inglesa (inglês avançado-fluente)
35 participantes – 27%
b) Vivência internacional – 38 participantes – 32%
c) Liderança – 23 participantes – 14%
d) Competência Intercultural, ao conseguir compreender e interessar-me mais
pela cultura de outros povos e colo lidar com diferentes tipos de culturas
35 participantes – 27%
O segundo gráfico apresentou outros tipos de competências, mais voltadas
para as relações interpessoais e pessoais, quanto uma experiência de intercambio
cultural, High School, pode contribuir para que o indivíduo possa desenvolver mais a
sua segurança, tolerância, independência, maturidade?
De acordo com as respostas dos intercambistas demonstradas no gráfico
abaixo, todas as competências apresentadas no gráfico foram assinaladas pelos
intercambistas. Algumas com maior número de participantes como, por exemplo,
maturidade e flexibilidade. Dos 44 entrevistados, 38 assinalaram essa opção. Outro
82
aspecto considerável é a independência que aparece em segundo lugar como a
mais assinalada.
a) Maturidade e flexibilidade – 38 participantes – 29%¨
b) Maior segurança ao tomar decisões – 28 participantes – 21%
c) Tolerância – 29 participantes – 22%
d) Independência – 37 participantes – 28%
10) Por ter participado do programa de Intercâmbio Cultural, tornei-me uma
pessoa:
A questão dez foi elaborada com o objetivo de buscar saber a respeito das
decorrências advindas da experiência de intercambio referentes à questão pessoal,
modo de se comportar, de tratar as pessoas, modo se ser. Os dados revelaram que
a experiência modificou os intercambistas, grande parte assinalou que voltou
diferente de quando foram para os Estados Unidos. Dividimos em três grupos de
respostas que foram analisadas individualmente.
De acordo com a figura abaixo, 80% deles voltaram mais comunicativos e
nenhum assinalou a opção de ter voltado menos comunicativo. Além disso, 91% dos
entrevistados assinalaram que voltaram mais independentes sendo que 0% menos
independente.
83
a) Mais comunicativa – 35 participantes – 47%
b) Menos comunicativa – 0 participante – 0%
c) Mais independente – 40 participantes – 53%
d) Menos independente – 0 participante – 0%
O segundo gráfico apresenta que 86% dos entrevistados voltaram mais
flexíveis e 0% menos flexível. Em contrapartida, 14% assinalarem que voltaram mais
individualistas em relação a 39% dos participantes que disseram que retornaram ao
Brasil menos individualistas.
a) Mais flexível – 38 participantes – 62%
b) Menos flexível – 0 participante – 0%
c) Mais individualista – 6 participantes – 10%
84
d) Menos individualista – 17 participantes – 28%
O terceiro gráfico como podemos observar abaixo aponta que 80% dos
participantes voltaram mais compreensivos em relação a 0% estudante menos
compreensível. Porém, em relação à tolerância 75% assinalaram que retornaram
mais tolerantes sendo que 2% retornaram ao Brasil menos tolerante. Como
podemos observar na figura baixo:
Quando abordamos o termo “tolerância”, estamos nos referindo à palavra de
forma geral, ou seja, tolerância às pessoas, ao país, ao modo de vida nos lugares
seja nos Estados Unidos ou no Brasil, ao convívio familiar, aos amigos, ao trânsito, á
sociedade, etc.
a) Mais compreensível – 35 participantes – 51%
b) Menos compreensível – 0 participante – 0%
c) Mais tolerante – 33 participantes – 48%
d) Menos tolerante – 1 participante – 1%
11) A experiência de intercâmbio influenciou de alguma maneira na escolha da
profissão?
A questão 11 foi elaborada com o propósito de verificarmos o quanto a
experiência de intercâmbio cultural foi relevante na vida dos estudantes, dos
intercambistas o quanto influenciou em suas decisões. Uma decisão importante na
85
vida do jovem, do indivíduo, é a escolha da profissão. Decidimos questionar os
participantes se a experiência havia influenciado nessa decisão.
Como aponta a figura 11, um pouco mais da metade dos entrevistados
disseram que sim.
a) Sim – 22 participantes – 51%
b) Não – 21 participantes – 49%
PARTE IV - LÍNGUA E CULTURA
12) Você conseguiu de alguma maneira assimilar a cultura norte-americana?
Nessa fase do questionário abordamos questões direcionadas à
interculturalidade, ao binômio língua-cultura e identidade. Dos entrevistados, 75%
responderam que de alguma maneira conseguiram assimilar a cultura norte-
americana, conforme a figura abaixo:
86
a) Sim – 33 participantes – 89%
b) Não 4 participantes – 11%
Ao falarmos de “assimilar a cultura” estamos nos referindo à nova identidade
do intercambista, ou seja, uma identidade mista com valores da cultura americana
somados a valores da cultura brasileira.
13) Você adquiriu hábitos ou costumes da cultura americana quando fazia
intercâmbio e os mantém até os dias de hoje, morando no Brasil?
A questão treze demonstra que a grande maioria dos intercambistas
realmente assimilou a cultura norte americana e construiu uma nova identidade. De
acordo com os dados abaixo, 66% dos entrevistados adquiriram hábitos e costumes
da cultura americana e os mantém, atualmente, residindo no Brasil.
a) Sim – 29 participantes – 81%
b) Não – 7 participantes – 19%
14) Você se identifica com a cultura norte-americana de um modo geral?
87
A questão catorze refere-se à identidade. Viajar, conhecer outros lugares,
outras pessoas, acarretam experiências novas que servem para a construção de
uma nova identidade para o indivíduo. Vivenciar em um país, com costumes
diferentes, tradições, leis, idioma por um ano, traz muitas experiências que servirão
para a construção de uma nova identidade.
Segundo a Figura 14 a grande maioria dos entrevistados disse que se
identificam com a cultura norte-americana de um modo geral. Ou seja, conseguiram
experimentar novas vivências e gostaram se identificaram. Somente seis estudantes
responderam que não.
a) Sim – 30 estudantes – 83%
b) Não – 6 estudantes – 17%
15) A experiência do Intercâmbio Cultural, de vivenciar uma nova cultura
ajudou-me a despertar a consciência da cidadania e de cidadão do mundo?
O objetivo da questão de número quinze foi verificarmos se a experiência do
intercâmbio cultural despertaria nos intercambistas a consciência da cidadania, já
que infelizmente esse tema não é discutido frequentemente nos colégios brasileiros
e muitas vezes o jovem nem tem conhecimento do que se trata. Desenvolver
cidadania significa desenvolver o respeito pelo lugar que você vive e pelas pessoas
que você convive, significa prestar solidariedade seja por intermédio de um trabalho
88
voluntário ou ajudando um deficiente visual a atravessar a rua, significa você saber
dos seus direitos e deveres como brasileiros significa você cuidar do meio ambiente
entre outras ações.
De acordo com a figura abaixo, 84% dos entrevistados responderam que sim,
que o intercâmbio cultural ajudou na cidadania.
a) Sim – 37 participantes – 95%
b) Não – 2 participantes – 5%
16) Por favor cite quatro experiências mais marcantes da sua experiência de
Intercâmbio.
A questão 16 por ser uma questão aberta será feita uma análise de forma
geral, porém, com exemplos de trechos de respostas dos intercambistas retirados do
Anexo V. Nosso objetivo é o de verificarmos exemplos de experiências vividas pelos
intercambistas no programa de Intercâmbio que foram relevantes em suas vidas,
que modificaram seus modos de agir, de pensar, que trouxeram novas descobertas
que foram relevantes para a construção de um novo indivíduo. É importante
ressaltar que o jovem continua sendo ele mesmo, porém, com valores agregados ao
seu repertório de mundo, ou seja, o seu repertório de conhecimento.
89
De um modo geral os resultados mostraram que os eventos mais marcantes
foram relacionados à família hospedeira, ou seja, a experiência de conviver com
uma nova família e se tornar um membro dessa família com deveres e direitos
dentro da casa. Outras experiências citadas foram a novas amizades feitas tanto no
ambiente escolar quanto por intermédio dos comitês do AFS, novas amizades que
proporcionaram misturas de culturas, conhecimento de diferentes modos de se
vestir, de se alimentar, já que os intercambistas tiveram a oportunidade de conhecer
outros intercambistas através dos comitês locais do AFS em cada cidade ou região
nos Estados Unidos. Abaixo seguem algumas respostas dos estudantes que foram
retiradas do Anexo V:
“A chegada à família. Ciúmes da minha família em relação a outra
intercambista. Dificuldade de adaptação nos primeiros três meses. A
despedida”.
“Viver com pessoas de outra nacionalidade (talvez mais difícil que viver com
norte-americanos).”
“Família americana Inverno Escola Língua.”
“Momento de encontro com a família hospedeira e conhecer a nova casa -
primeira semana na escola - participar dos esportes - formatura e o prom.”
“Viagem com a banda de Jazz da escola, família hospedeira foi fantástica,
Organização da escola e da sociedade como um todo. Como tudo nos EUA
funciona melhor que no Brasil.”
“Ter contato diário com crianças (irmãos hospedeiros). Aprender uma nova
língua em menos de seis meses Ter mergulhado na cultura geral do país.”
“Convivência na escola, adaptação com costumes da família, adaptação
com outra intercambista que morou na mesma casa.”
“Integração com intercambistas de outros países - Excelente convívio com a
família hospedeira, já voltei para visita-los oito vezes e eles já vieram me
visitar duas vezes. Falamo-nos quase que diariamente e possuo total
90
integração familiar com eles mesmo após 12 anos do programa de
intercâmbio. - Troca cultural - Aprendizado de outra língua.”
Com a demonstração desses primeiros resultados, constatamos que a
relação com a família hospedeira teve muita importância, foi de fato uma experiência
marcante para os intercambistas, seja pelo vínculo afetivo criado, pela experiência
positiva da adaptação, pelo acolhimento por parte dessa família que o estudante
recebeu, pela integração com os novos “pais e irmãos”, entre outras possibilidades.
O aprendizado de um novo idioma foi mencionado por alguns intercambistas e a
relação com a imersão numa nova cultura.
É importante destacarmos a relação dos participantes brasileiros com outras
intercambistas, desses encontros nasceram algumas amizades duradouras. Há
também a valorização do país de origem principalmente quando o intercambista
brasileiro sofre o choque cultural, sente saudades da cultura brasileira ou tem certa
dificuldade em se adaptar a cultura norte-americana. Vejamos alguns exemplos:
Conhecer pessoas do Japão e da Turquia; Perceber-me como cidadã do
mundo; Receber o amor da família hospedeira; Sonhar em inglês.
Perceber que não importa o quão bem você é recebido em outro país, o seu
país de origem sempre será o lugar de conforto. Que viver longe de família e
amigos não é tão simples quanto parece; Ter minha "Mom" hospedeira
presente na minha formatura no Brasil e posteriormente no meu intercambio
é algo que significa muito para mim; Conhecer pessoas do mundo inteiro e
aprender que as diferenças são boas e agregam muito na nossa vida; Ter
viajado e conhecido lugares que não conheceria em uma viagem de turismo
Snowboard e neve; Viagens com a família; Domínio da língua; Capacidade
crítica; visão de mundo.
91
Participar do time de tênis da escola; Viajar por diversos estados americanos
com outros intercambistas; Viajar com a família hospedeira para esquiar;
Participar do baile de formatura da escola.
Convivência com nova família hospedeira; Atividades extracurriculares na
escola; Amigos intercambistas de diferentes partes do mundo; Viver em uma
cidade de 1.200 habitantes na parte central dos Estados Unidos.
Ter tido um irmão 11 anos mais novo foi uma experiência muito legal.
Sempre soube que tinha jeito com crianças, mas o amor fraterno que se
criou superou qualquer expectativa minha, de quando eu cheguei e de
quando fui embora. Numa certa vez, durante meu ano de intercambio, fui
convidado por um amigo da escola para ir à casa de campo de sua tia no
estado de Maryland. Era uma propriedade fascinante, que escondia vários
segredos. Um deles era aquele lugar ter sido o refúgio do menino cubano
Elián Gonçalves de cinco anos que foi protagonista de uma briga judicial
pela guarda do garoto, mas que tinha um cheiro de briga política nos anos
1999 e 2000. Lembro-me daquela fazenda de flores à beira de um lago
salgado como se fosse hoje. Uma das melhores experiências da minha vida.
Sair de uma cidade super grande e fui para uma fazenda; Dificuldade em se
comunicar sem saber o idioma; Aprender a rotina de uma família
completamente diferente da minha; Me comunicava com os meus pais
nativos, a cada 01 mês.
Morar com outra família (extraordinária); Vivenciar o 11 de setembro; ser
reconhecida academicamente por notas boas; Fazer novos amigos.
Participei do time de futebol americano da escola como "kicker". Em um jogo
importante, faltando 3 segundos para acabar o jogo, tive a chance de
desempatar o jogo e dar a primeira vitória do time na temporada... mas errei!
Quando cheguei nos EUA ainda não sabia quem seria minha família
hospedeira. Quando os vi pela primeira vez e meu "novo irmão" de 2 anos
correu para me abraçar. Participei do time de basquete, e, apesar de não ser
muito bom, no último jogo da temporada, o técnico fez um discurso
emocionante, falou que apesar de ter chegado lá sem nem saber todas as
92
regras do jogo, tinha ganho um lugar com muito treino e simpatia. Pela
primeira vez, joguei pelo time principal da escola como titular. O último dia
na minha cidade, foi num 4 de julho. Minha festa de despedida foi com fogos
de artifício e celebração pela liberdade.
Vivência escolar; Descobrimento de novos hábitos e cultura; Percepção de
crescimento pessoal e na língua; Amor e carinho infinitos pelos que convivi.
Quando vi uma mãe voltar ao caixa para pagar uma cartela de adesivos que
o filho pequeno tinha levado do supermercado sem pagar (por engano), a
cartela valia US$0,50. O envolvimento da comunidade com a
conscientização dos novos estudantes universitários, no começo do ano
letivo. Preservação das coisas públicas, por parte de população.
Independência que os filhos atingem ao saírem de casa para estudar na
universidade.
Compreensão de novas culturas; Amizades que levo comigo até hoje;
Amadurecimento e a vontade de compreender mais o mundo e suas
diferenças.
17) Ao participar do programa de Intercâmbio Cultural você vivencia em seu
cotidiano a interculturalidade, ou seja, quando duas ou mais culturas entram
em interação. Por gentileza cite 4 exemplos que considera uma experiência
intercultural.
O objetivo da questão 17 é apresentar exemplos de experiências do cotidiano
dos intercambistas em seu ano de intercâmbio que envolveu interculturalidade. O
termo interculturalidade, já apresentado anteriormente nesse estudo, propõe que
não há uma cultura que seja superior em relação à outra, as culturas são diferentes
e o indivíduo cultural desenvolve a competência intercultural, ou seja, consegue
reconhecer as similaridades e diferenças entre a sua cultura e a cultura do outro,
num convívio harmonioso, que resulta da troca de experiências culturais em que
ambos assimilam um pouco das duas culturas, assim evitando o reconhecimento de
estereótipos, julgamentos, preconceitos, entre outros comportamentos nocivos a
sociedade.
93
O programa de intercâmbio cultural permite ao jovem experimentar essa
interculturalidade no dia a dia, nas atividades mais simples como ir à escola,
cozinhar, ir ao supermercado... Essas vivências vão transformando o intercambista
em um indivíduo cultural, sendo capaz de reconhecer as diferenças por intermédio
da vivência com as diferentes culturas.
Abaixo apresentamos resultados da pesquisa, frases citadas pelos
entrevistados que, acreditamos, constatam exemplos de interculturalidade. A grande
maioria dos entrevistados respondeu com exemplos que sustentam a teoria
apresentada nesse estudo. Todos os resultados podem ser consultados no Anexo V.
“Diferentes valores para educação e disciplina - frequentar semanalmente
uma religião diferente da sua - festejos e comemorações de feriados e festas
religiosas diferentes da sua - hábitos alimentares diferentes.”
“O choque ao conhecer a história segregacionista americana. A forma como
outras culturas interagem com os americanos. São, de certa forma isoladas,
criando mini núcleos de convivência. Os vizinhos mal se comunicam. Grande
incentivo que dão ao estudo e ao esporte.”
“Fui morar em uma pequena cidade que havia uma comunidade Amish - A
experiência de viver em uma pequena cidade do interior foi fabulosa e me
fez ver a vida de uma forma diferente (Sempre morei no Rio de Janeiro) -
Meu melhor amigo durante o intercambio além da minha família foi um
intercambista Groenlandês onde foi possível uma excelente troca cultura e
de costumes na forma de viver e pensar na vida. - Minha mãe hospedeira
trabalhava em uma escola para deficientes mentais na qual foi possível
conviver com pessoas maravilhosas na qual nunca imaginaria ter convivido.”
Com os três exemplos acima podemos observar exemplos diferentes de
interculturalidade, relacionados a temas diferentes como religião, história, amizade,
e altruísmo.
“Certa vez na aula de álgebra, o meu professor me chamou na frente para
que eu explicasse como nós, brasileiros, fazíamos uma conta de dividir. Não
94
me lembro muito bem, mas os americanos fazem a conta de uma outra
forma. Lembro-me que todos ficaram encantados com algo tão simples. -
Ainda na escola, fui apresentada a um menino que não conhecia, e quando
fui falar meu nome, ele não entendeu direito e colocou a cabeça pra frente
para me escutar melhor, mas eu acostumada com o "beijinho" que damos ao
ser apresentados a alguém, lasquei um beijo na bochecha do menino. Só
depois fui perceber que ele não tinha me escutado, tive que explicar nossa
cultura, minha mãe americana “mom” me fazia levar brigadeiro para todas as
festas que íamos, como sobremesa.”
“A amizade com outros intercambistas me fez conhecer um pouco da cultura
de cada um deles (comidas típicas, costumes, as diferenças culturais em
como lhe dar com diferentes situações do cotidiano e a até mesmo como se
vestir.”
“1) Trabalho com um Libio. Ele é mulçumano e fala português com bastante
sotaque. 2 - Recebo muitos americanos, indianos e argentinos no trabalho. 3
- No clube de vela que frequento na represa Guarapiranga em São Paulo
capital costuma ter pessoas de países distintos da Europa. Talvez não
falamos a mesma língua mas amamos o mesmo esporte! 4 -
Interculturalidade é simplesmente dividir os mesmos motivos de estar em
certo local. Dividir experiências!”
“1) Cumprimentar pessoas de uma forma diferente porque eu estava no país
delas e não no meu; 2) Comer comidas comuns para os americanos e
extremamente diferentes para mim e fazer um pouco de comida brasileira
para eles; 3) Vestir-me do meu jeito, mas adaptando-me ao clima e um
pouco ao estilo deles; 4) Explicar para os americanos a visão de uma
brasileira sobre os Estados Unidos.”
“A própria língua e como temos que nos desenvolver para entendermos e
sermos compreendidos - A percepção de sermos (brasileiros) muito
extrovertidos e termos que nos conter perto dos tão comedidos americanos -
A dificuldade em fazer amizades, mas, depois conseguir mantê-las e passar
um pouco de cultura de nosso país que muitas vezes parece soar como um
95
país com macacos nas ruas e sem telefone - Namorar estrangeiros pode ser
muito mais difícil do que imagina-se.”
“Patriotismo americano. O jeito brasileiro de abraçar todo mundo, o que não
é nem um pouco comum nos EUA. A comida. A escola.”
“Conhecer e aceitar hábitos diários muito diferentes dos nossos, se dispor a
se integrar à nova cultura que estamos adotando, mostrar e explicar nossos
hábitos também e demonstrar e ver que ser diferente é algo muito
importante e agradável.”
“1) Divergências políticas e ideológicas. No Kansas, a grande maioria das
pessoas são republicanas e conservadoras. Já no início, percebi que não
poderia divergir frontalmente das posições de toda a sociedade. E com o
tempo, percebi que realmente era muito difícil alguém daquela sociedade
pensar de outra forma, pois estava inserido em um ambiente extremamente
propício para repetir o mesmo discurso (e fortemente influenciada pela
televisão). Com o tempo, passei a compreender as razões para pensarem
daquela forma e até a defendê-la quando debatia com amigos e familiares
que estavam no Brasil. 2) Tentar divergir dos pais americanos, mesmo que
de forma educada, pode ser considerado um desrespeito ("backtalking"). 3)
As pessoas pareciam ser mais diretas para fazer críticas ou elogios. Se não
gostasse de uma comida, por exemplo, não havia constrangimentos e falar.
Assim como assoar o nariz com todo fôlego que você tiver. Se era
necessário, então era só fazer.”
“Formas de comunicação; - visões de mundo/política/economia; - hábitos
cotidianos.”
“1- Ajudar estrangeiros na rua com informações 2- Ajudar estrangeiros mais
próximos que vivem no mesmo meio a resolver questões relacionadas à
língua ou a problemas culturais. 3-Ser mais tolerante a diferenças culturais
entre eu e as pessoas com quem convivo, pois apesar de muitos serem
brasileiros há diferenças culturais claras entre os estados brasileiros (resido
no Rio de Janeiro , mas sou de São Paulo) 4- A mais importante é ver que
na verdade os limites entre nações não existem. Somos todos seres
96
humanos com questões muito similares, apesar de estarmos em contextos
diferentes.”
“Observar as diferenças na minha família americana ao mesmo tempo que
via que eles se surpreendiam comigo.”
“Falar de sotaques, adquirir hábitos alimentares do outro país, aceitar a
cultura e costumes do país que esteve. Cultivar hábitos até hoje do que
aprendi durante o intercâmbio.”
“Alimentação e demais hábitos alimentares (provar das diferentes comidas e
cozinhar comidas típicas brasileiras para eles) - estudar em uma classe só
de americanos e compartilhar estudos e experiências - participar do
programa de esportes da escola e todos pensarem que você deve jogar
futebol por ser brasileiro - se adaptar a regras antes não existentes na minha
casa/ cidade como horário certo para dormir ou mesmo um certo toque de
recolher.”
18) Cite quatro exemplos de como a língua o ajudou a compreender a
cultura/identidade do povo norte-americano ao vivenciar o intercâmbio nos
Estados Unidos.
A questão 18 foi elaborada com o objetivo de mostrar ao leitor o quanto a
língua está relacionada à cultura, a relação que existe entre língua, cultura e
identidade, que a língua desempenha um papel de “ferramenta” na assimilação,
entendimento, vivência em outra cultura. Sem essa “ferramenta” não há
comunicação e sem comunicação não há a transmissão e o compartilhamento de
informações, conhecimentos, experiências remetidas à nova cultura.
A partir do momento que os intercambistas começam a se sentir mais
confortáveis e confiantes com o idioma, começam a querer participar cada vez mais
das atividades da casa, da escola, do clube, entre outras. Conseguir entender a
língua de uma sociedade é entender seus valores, suas atitudes, sua história, sua
política, é entender a sua cultura.
97
Quando o jovem tem a oportunidade de ter experiência intercultural ele tem
acesso a interculturalidade, competência intercultural, conhecimentos, informações
que contribuem para a formação, para a visão de mundo desse indivíduo. É
relevante destacarmos que essa educação encaminha o jovem a compreender mais
os outros, as diferenças e julgar menos, criticar menos o outro, ou seja, se
colocando no lugar do outro indivíduo, evitando muitas vezes a criação de
estereótipos, preconceitos e valores absolutos. Vejamos algumas respostas:
“O convívio na escola me fez entender a essência do povo americano -
Consegui criar amizades com pessoas em todo o mundo - Se tive uma boa
integração com minha família hospedeira foi graças ao meu
desenvolvimento com a língua inglesa”.
“Muitos americanos me diziam para ser bem vindo à América. De início,
ficava bastante incomodado, mas com o tempo fui percebendo que não se
achavam 'donos da América' como muitos supõem, mas uma forma de
abreviação à United States of America com a vivência e melhor
compreensão da língua (consequentemente da cultura) percebi que não era
algo pejorativo quanto ao resto dos países das Américas e não se
intitulavam donos do continente etc. - uma tia de intercâmbio que havia
morado no Brasil me disse certa vez sentir falta da palavra ‘saudades’ no
vocabulário inglês, eu disse que para mim 'miss' traduzia bem, mas ela disse
que o sentimento era outro, ainda hoje penso que 'miss' traduz bem o
sentimento da saudade, mas para ela não... Talvez seja a percepção dela
com a cultura brasileira, mais quente/próxima... - a língua culta e a falada se
aproximam bastante, norte-americanos abreviam bastante às coisas,
chegando até mesmo a falar errado algumas coisas, mas no português
temos um abismo muito maior entra a língua culta/acadêmica e o português
falado, sendo que neste último as diferenças são gritantes. Nos EUA o inglês
falado das pessoas muda muito pouco, não importando a classe social ou o
nível de escolaridade, isso mostra o nível de desenvolvimento deles, embora
exista desigualdade e ela seja acentuada, é muito menor que no Brasil. Esse
98
fato, além de evidenciar quão mais simples é a língua inglesa, demonstra a
cultura e até mesmo a identidade deles”.
“Apesar de ter feito o IBEU por cinco anos antes de viajar, tive dificuldade
com a fala inicialmente. Após seis meses é que a comunicação tornou-se
mais fácil e prazerosa.”
“Sem comunicação não conseguiria me virar bem. Ajudou-me a fazer
amizades, inclusive melhorou a convivência com minha família estrangeira.”
“Aprender gírias das regiões, estudar literatura americana, acompanhar os
programas de TV e me comunicar de forma independente em qualquer
lugar.”
“Conversando com amigos e família - escutando as aulas e programas de
TV - lendo o jornal local e acompanhando as notícias importantes para os
locais - falando sobre o Brasil e nossos costumes comparando com os
deles.”
“1) Entender as piadas, que são parte da cultura de um povo; 2) Entender a
poesia; 3) Entender as letras das músicas; 4) Entender as expressões dos
sentimentos.”
“A língua me ajudou a entender melhor o pensamento político dos
americanos, isto é, a divisão entre os democratas e republicanos. Ajudou
também a pensar de uma forma distinta a política externa norte-americana.
Além disso, a língua auxilia muito em aspectos simples, como na culinária e
em momentos de lazer (seja praticando esportes ou em festas).”
“1) Percepção das diferentes formas de povos dentro do mesmo país. 2)
Aprendi que algumas palavras são proibidas pela sociedade, por causa da
época segregacionista. 3) O humor americano é diferente. 4) A melhor
experiência que tive foi quando presenciei uma aula da universidade em que
tinham alunos de 10 nacionalidades diferentes, todos eles falando o ponto
de vista deles sobre o EUA.”
99
Compreensão das situações de vivencia, oportunidade de manifestação de
ideias e vontades pessoais.
1 - Falar inglês é como ter um super poder. 2 - A partir do momento em que
se sonha na nova língua, você se sente parte daquela cultura. 3 - A língua
me ajudou a poder explorar sozinho, realmente vivendo os Estados Unidos.
4 - A língua me fez ler a parede do Capitólio, com a constituição norte-
americana, me fazendo compreender o porquê as coisas são como são.
1) Interagir com as crianças. Fazia isso diariamente, por ter irmãos
hospedeiros de dois e 8 anos. 2) Na sala de aula, entender tudo o que se
passava foi importantíssimo para compreender a dinâmica da escola. Por
estar em uma escola pequena, existia uma relação de amizade com os
professores, mas um respeito muito grande até mesmo na forma de
tratamento (Mr. Sobrenome). 3) Mesmo em uma cidade pequena, entender a
forma super-protetora dos pais em relação aos filhos.
“A língua foi importante, mas não foi essencial para eu vivenciar a minha
experiência de intercambio. Eu acredito que até mesmo quando eu cheguei
aos Estados Unidos e quase não falava inglês, eu já estava vivenciando e
aprendendo muitas coisas que foram importantes na minha experiência. O
intercambio foi muito mais do que aprender uma nova língua, esta foi uma
experiência que me ajudou a aprender muito mais sobre minha pessoa, o
mundo, as diferentes culturas e tantas outras coisas.”
É bem interessante essa citação acima quando o intercambista diz que a
língua é importante, mas não foi essencial para a vivência no exterior. Como ele
mesmo nos fala mesmo sem saber falar muito inglês ele já estava aprendendo e
vivenciando a cultura, por mais que ele não falasse muito a língua, ele sempre
esteve em contato com ela, ouvindo em casa, na escola, no rádio, na televisão, e ao
ouvi-la e ao tentar se expressar o processo de aprendizagem foi ocorrendo
naturalmente. É por esse motivo que o AFS não solicita este do idioma norueguês
para os intercambistas que vão para a Noruega, ou japonês, tampouco o idioma
inglês, pois a Organização acredita que a língua é uma ferramenta utilizada no
100
processo da interculturalidade, ela será aprendida espontaneamente, como
decorrência do programa. É relevante destacar que o foco, o objetivo principal do
programa de intercâmbio cultural oferecido pelo AFS é o de proporcionar ao jovem
educação intercultural.
101
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, analisamos 44 questionários de participantes de diversas
regiões do Brasil que realizaram o programa de intercâmbio cultural nos Estados
Unidos por intermédio da Organização AFS Intercultural Programs nas décadas de
1990 a 1999 e 2000 a 2010.
O objetivo principal do estudo é “o de demonstrar como o fator
interculturalidade pode ser entendido” num programa de mobilidade estudantil, ou
seja, como as experiências de interculturalidade vividas pelos intercambistas em
situações do cotidiano num programa de intercâmbio cultural e as decorrências que
essas experiências trazem contribuições para os estudantes seja nas relações
interpessoais, no ambiente acadêmico ou corporativo.
Os dados obtidos apresentaram que muitos estudantes ao terem a
experiência do intercâmbio cultural conseguem adquirir a competência intercultural,
um novo olhar em relação ao outro, uma nova visão de mundo, um maior interesse
pela cultura alheia. Além do objetivo principal, queríamos demonstrar o quanto o
programa de intercâmbio havia influenciado a vida dos intercambistas, o que a
experiência agregou de forma positiva à vida dos estudantes e para as suas
famílias.
O objeto da pesquisa, o resultado de um questionário de 18 questões e que
para um melhor entendimento, pode ser consultado no Anexo III, foi elaborado
criteriosamente com questões que visavam demonstrar com suas respectivas
respostas os objetivos pretendidos. Os dados foram satisfatórios e coerentes com o
referencial teórico mencionado e os objetivos foram alcançados.
Na parte I do questionário com dados primários, os resultados serviram para
apresentarmos um perfil geral dos intercambistas que estavam participando
da pesquisa. A maioria que respondeu viajou na década de 2000, estudantes
de diversas regiões do Brasil, houve equilíbrio em relação ao sexo e
percebemos que apesar de vários estudantes de diversas regiões do Brasil
terem respondido o questionário, há comitês que mais enviaram respostas
como São Paulo Alfa (São Paulo), Macaé (Rio de Janeiro), Joinville (Santa
102
Catarina), Vale dos Sinos (Rio Grande do Sul) e Americana (São Paulo), entre
outros. Esses comitês são comitês que se destacam mais na organização por
enviarem mais intercambistas brasileiros, pois recebem mais intercambistas
de várias nacionalidades para viverem um ano no Brasil, comitês com maior
número de voluntários e de famílias hospedeiras que também são voluntárias.
O programa de intercâmbio cultural, o High School, geralmente traz ao
intercambista uma experiência muito positiva e enriquecedora. A Instituição AFS por
intermédio de seus comitês em cidades em vários países conta com a ajuda de
muitos voluntários que realizam um trabalho de preparação do estudante para
enfrentar o desafio da experiência de morar um ano fora. Essa preparação é feita
com discussões sobre temas, países, culturas, dinâmicas, eventos, festas que a
organização faz para todos que estão envolvidos com a organização possam se
conhecer, ou seja, quem vai viajar quem já voltou faz tempo, quem acabou de voltar,
os estrangeiros que estão vivendo no Brasil, ou seja, os estudantes já começam a
ter suas primeiras vivências de interculturalidade aqui mesmo no Brasil.
Com a parte II, do questionário, intitulada “Regresso ao país de origem”
abordamos questões sobre a readaptação do estudante no Brasil, o que ele sentiu
ao retornar ao país de origem, se continua com algum contato com a família
hospedeira e os motivos que o levaram a querer vivenciar a experiência do
intercâmbio. Os dados obtidos sugerem que a princípio a grande maioria havia
decidido vivenciar a experiência de intercâmbio pelo motivo de gostar de viajar, ter
uma experiência internacional, melhorar ou aprender a língua inglesa, porém, eles
mesmos perceberam que o desafio da experiência traria outros benefícios. Os
intercambistas tiveram uma experiência positiva não só pelos motivos citados acima,
principalmente por terem criado vínculo com uma nova família, com uma nova
cultura, com novos amigos americanos ou de diferentes nacionalidades. Essas
considerações ficaram bem evidentes com as respostas que obtivemos dos
estudantes, a grande maioria retornou ao país de origem e mais do que isso
continua mantendo contato coma família hospedeira e com a cultura norte-
americana, pois ainda mantém hábitos e costumes adquiridos na experiência.
Os resultados da parte III do questionário – intercâmbio e vida profissional - l
demonstraram que a experiência de intercâmbio cultural modifica o intercambista, à
103
medida que ele convive com outra cultura, com outra família, outro ambiente escolar,
outra sociedade, outros amigos. Ele tem a oportunidade de conhecer ponto de
vistas diferentes, modos de viver à vida tornando geralmente um indivíduo mais
tolerante às diferenças, menos preconceituoso e mais compreensível perante o
outro.
Os dados da pesquisa apontaram que a grande maioria dos intercambistas
regressaram ao Brasil mais tolerantes, mais compreensivos, mais maduros, menos
individualistas, mais flexíveis e mais independentes, ou seja, melhoraram ou até
adquiriram competências que o mercado de trabalho prestigia. Essas competências
estão associadas à Competência Intercultural, adquirida, o jovem consegue
compreender e se interessar mais pela cultura de outros povos, além de ter a
habilidade de lidar com as diferenças de um modo geral.
Além disso, a pesquisa apontou Liderança, Comunicação Língua Inglesa e
Vivência Internacional, decorrências que o intercâmbio trouxe para a vida dos
estudantes. Contudo, a experiência de intercâmbio para muitos teve grande
influência na escolha da profissão.
Finalizamos o questionário com a quarta parte intitulada Língua e Cultura. A
relação entre língua e cultura, interculturalidade, identidade, evidenciou-se na parte
IV do instrumento de pesquisa. Os dados obtidos apontaram que a maioria dos
entrevistados conseguiu de alguma maneira assimilar a cultura e até se identifica
com essa nova cultura, já que mantém costumes, hábitos adquiridos até hoje
residindo no Brasil, além de manter contato com a família hospedeira.
Com as respostas das questões abertas foram apresentadas as experiências
mais marcantes que os jovens tiveram no programa de intercâmbio, exemplos de
interculturalidade e como a Língua os ajudou a compreender a cultura e a identidade
do povo norte-americano. A Língua é a principal ferramenta para participarmos,
vivenciarmos, aprendermos sobre uma determinada cultura, porque sem ela não há
comunicação e sem comunicação não há transmissão do conhecimento.
As pessoas estão cada vez mais próximas, migrando de um lugar para o
outro e o espaço geográfico se torna frequentemente mais reduzido, defendemos
104
uma aprendizagem cultural para que a humanidade possa conviver em paz (Bennet,
2011),
A primeira atitude é convertermos a pessoa que é diferente para nós, porém, se a tentativa falha, a história mostra que o ser humano opta pela saída mais imediata que é a eliminação do povo diferente culturalmente falando.22
Concordamos com o interculturalista Milton Bennet (2011) que é necessário
investirmos em educação intercultural principalmente por intermédio de Instituições,
Organizações, ONGS que ofereçam programas de Intercâmbio Cultural, programas
que preparam o estudante para a experiência, acompanham o desenvolvimento dele
durante toda a experiência e o ajuda a se readaptar em seu país de origem ao
regressar.
É importante destacarmos que a experiência do programa de intercâmbio
cultural pode não ser uma experiência agradável para alguns intercambistas, pois
acidentes, imprevistos acontecem. Há fases, meses, momentos que a experiência
terá seus dias bons e ruins, provavelmente a experiência terá essas fases,
momentos agradáveis mesmo para aqueles estudantes que retornam ao país de
origem dizendo que tiveram uma experiência negativa. De qualquer forma, o
programa de intercâmbio cultural traz relações de interculturalidade, visões
diferentes de mundo, opiniões, convivência com diferentes culturas, convívio e
aprendizado da cultura local, autoconhecimento, novos desafios, novas amizades,
aquisição de novas competências seja o programa de intercâmbio realizado nos
Estados Unidos ou na Noruega.
22Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI250960-15228,00-INTERCULTURALIDADE+VOCE+SABE+O+QUE+E.html
105
ANEXOS
106
ANEXO I
Fwd: AJUDA PARA A AFSer LILIAN RUDOLF (COMITÊ ABC)
Ana Beatriz Cavalcanti BRA ([email protected])
22/10/2014
Para: [email protected]
Boa tarde Lilian, tudo bom?
Ficamos muito felizes em ver que sua experiência teve um impacto tão positivo em
sua vida e mais ainda e vermos sua dedicação num trabalho sobre
Interculturalidade. Vimos também que o seu prazo está bem apertado para
conseguir as respostas, tabular as perguntas e ainda concluir seu trabalho. Teremos
grande prazer em ajudá-la, mas para isso, precisaríamos entender um pouco melhor
o foco do seu trabalho e como o AFS está posicionado/citado no mesmo.
Você poderia nos passar mais de informações?
Obrigada!
Ana Beatriz Cavalcanti
Gerente de Marketing & Desenvolvimento / Marketing & Development Manager
AFS Intercultura Brasil
Em Terça-feira, 21 de Outubro de 2014 19:10, Lilian Rudolf <[email protected]>
escreveu:
Olá voluntários do AFS, tudo bem?
Eu sou uma AFSer, fui do comitê ABC. Meu nome é Lilian Rudolf eu viajei para a
Noruega (Oslo) em 1996 e retornei em 1997. Nesse mesmo período minha família
107
aqui no Brasil foi uma família hospedeira voluntária em Santo André. Nós
hospedamos a intercâmbista norueguesa também do AFS, a Siri Anna Warwick.
Depois minha irmã também foi intercâmbista pelo AFS para Alemanha, o nome dela
é Carla Rudolf e o meu irmão foi para a França (só que não pelo AFS), o nome dele
é Marcel Rudolf.
O AFS mudou a minha vida, a vida dos meus irmãos e da minha família no geral.
Sou professora e estou finalizando meu mestrado na Universidade Presbiteriana
Mackenzie em São Paulo na área de Letras. O Título do meu trabalho é:
A INTERCULTURALIDADE E OS PROGRAMAS DE MOBILIDADE ESTUDANTIL:
UMA AMOSTRAGEM COM PARTICIPANTES DO
AFS INTERCULTURAL PROGRAMS
Nesse trabalho eu falo de língua, cultura, identidade, interculturalidade, competência
intercultural, apresento o AFS, entre outros, o meu recorte, o foco do trabalho é com
a organização AFS porque eu a conheço muito bem, fui voluntária, minha família foi
voluntária, nós nunca perdemos o contato com a minha família norueguesa e nem
com a norueguesa que ficou em casa, já voltei para a Noruega cinco vezes, minha
família já veio para o Brasil, assim como meus irmãos já foram para a Noruega e o
mesmo acontece com o pessoal da França e Alemanha.
Tive que escolher um grupo para focar o trabalho e decidir trabalhar com o grupo
que foi fazer intercâmbio nos Estados Unidos nas décadas de 1990 a 1999 e 2000 a
2010.
Anexado está o questionário que eu preparei como coleta de dados para o meu
estudo. Preciso muito da ajuda de vocês. Preciso que vocês o envie para os
estudantes do comitê de vocês que fizeram o intercâmbio nos Estados Unidos nesse
período. Eles não precisam se identificar. É um questionário curto e super fácil de
responder. É só preencher e me enviar por e-mail.
Também preciso do e-mail ou do telefone para eu verificar como fica a questão de
eu estar usando/divulgando o nome do AFS em meu trabalho de mestrado. Posso
enviar a essa pessoa o que foi escrito até agora.
108
Caso vocês prefiram me enviar o contato dos estudantes para que eu possa enviar o
questionário desde já agradeço.
Quero que o meu trabalho seja lido por muitas pessoas da área de letras ou não e
que possam ter a noção de o quanto o AFS mudou a minha vida, de quanto a
experiência de intercâmbio é válida. Conto com a ajuda de vocês.
MUUUUUUUUUUUUUUITO OBRIGADA!!!!!!
Grande abraço!
Lilian Rudolf
109
ANEXO II
From: [email protected]
Date: Mon, 27 Oct 2014 13:00:07 -0200
Subject: Re: AJUDA PARA A AFSer LILIAN RUDOLF (COMITÊ ABC)
Oi Lilian,
Conversei com minha diretora e ela também concordou em ajudá-la na pesquisa!
Boa notícia, né?
Vou mandar um e-mail para todos os participantes desta época com o link. Não é
certo que você tenha uma resposta muito alta, pois muitos não atualizaram o
cadastro, mas é uma tentativa válida!
Só te peço um favor: me ajude no texto :) Gostaria de fazer um texto bem curto, te
apresentando com Ex-AFSer, explicando seu trabalho e pedindo a colaboração
deles. Você pode me mandar um esboço?
Obrigada e vamos torcer para ter um bom retorno!
Ana Beatriz Cavalcanti
Gerente de Marketing & Desenvolvimento / Marketing & Development Manager
AFS Intercultura Brasil
110
ANEXO III
Em 28 de outubro de 2014 11:03, Lilian Rudolf <[email protected]> escreveu:
Bom dia Ana Beatriz,
Segue o meu texto:
Olá, meu nome é Lilian Rudolf, sou ex-AFSer, fiz intercâmbio em Oslo, Noruega nos
anos de 1996 e 1997 pelo comitê ABC. Na mesma época do meu intercâmbio minha
família foi uma família hospedeira voluntária do AFS e nós hospedamos uma
norueguesa. Trabalhei como voluntária depois no comitê ABC durante alguns anos e
a experiência do intercâmbio e com o AFS foi tão positiva para mim e para toda a
minha família que depois o meu irmão e a minha irmã também fizeram intercâmbio
para França e Alemanha respectivamente.
Faço mestrado em Letras na Universidade Mackenzie e o meu trabalho é sobre a
Interculturalidade e os programas de mobilidade estudantil: uma amostragem com
participantes do AFS Intercultural Programs. Nesse trabalho eu falo sobre língua,
cultura, a relação entre língua, cultura e identidade, os programas de mobilidade
estudantil e nesse caso eu falo sobre o AFS, explico sobre o programa de
intercâmbio, sobre a interculturalidade adquirida e vivida nesses programas, também
abordamos a competência intercultural, entre outros. O foco da pesquisa é com os
participantes que fizeram intercâmbio para os Estados Unidos. Optamos por esse
público para a pesquisa pois os Estados Unidos ainda ser o país mais procurado
para o programa de intercâmbio cultural. Essa questão também será abordada.
Nossa pesquisa de campo, a coleta de dados será feita por um questionário. Peço
gentilmente a ajuda de vocês para que eu consiga finalizar essa pesquisa utilizando
os dados apresentados nos questionários. Não é preciso colocar nome, se
111
identificar. O questionário é curto, simples e fácil de responder. As questões são
para assinalar com exceção das três últimas questões.
Conto com a ajuda de vocês para a finalização da minha pesquisa, da minha
dissertação. Será mais que responder a um simples questionário, vocês irão estar
contribuindo para a realização de um sonho meu. Sempre quis fazer esse mestrado
e só tive a oportunidade agora. Muito obrigada por toda a ajuda.
Mais uma vez, muito obrigada!
Abraços.
Lilian Rudolf
112
ANEXO IV – QUESTIONÁRIO AOS INTERCÂMBISTAS
PARTE I – DADOS PRIMÁRIOS
1) Assinale a década em que fez o intercâmbio:
· Década de 1990 a 1999
· Década de 2000 a 2010
2) Sexo:
· Masculino
· Feminino
3) Idade:
4) Comitê do AFS em que realizou o intercâmbio:
PARTE ll - REGRESSO AO PAÍS DE ORIGEM
5) Retornou alguma vez ao local de intercâmbio?
· Sim
· Não
113
6) Continua com algum contato com a família hospedeira?
· Sim
· Não
7) Qual(is) fator(es) o levou(aram) a fazer o programa de intercâmbio nos
Estados Unidos?
Grupo I
· a) Aprender e/ou aprimorar a Língua Inglesa
· b) Melhorar o curriculum profissional no futuro
· c) Experimentar vivência internacional
· d) Torna-se uma pessoa mais madura, independente e flexível
· d) Ter conhecido alguém que já tivesse feito algum tipo de intercâmbio
cultural
· f) Gostar de viajar
Grupo II
· a) Aspecto econômico do país
· b) Desenvolvimento e performance acadêmica
· c) Melhor qualidade de vida comparado ao Brasil
· d) Influência adquirida por intermédio de filmes de Hollywood, música,
alimentos, o consumismo, o chamado "American way of life".
· e) Lugar visto como "lugar de oportunidades".
114
8) O que sentiu imediatamente ao voltar ao seu país de origem?
Grupo I
· a) Alívio
· b) Alegria
· c) Depressão
· d) Realização
Grupo II
· a) Falta das amizades que fez no país de intercâmbio
· b) Falta da família hospedeira
· c) Perda de algumas amizades que deixou aqui no Brasil
· d) Falta do ambiente escolar
Grupo III
· a) Dificuldade de readaptação
· b) Facilidade de readaptação
· c) Melhor convivência com os pais
· d) Pior convivência com os pais
Grupo IV
· a) Melhor desempenho acadêmico
· b) Pior desempenho acadêmico
115
· c) Melhor convivência com os colegas de escola
· d) Pior convivência com os colegas de escola
PARTE III – INTERCÂMBIO E VIDA PROFISSIONAL
9) Em relação à vida profissional, ter participado do programa de
Intercâmbio Cultural, proporciona-me:
Grupo I
· a) Comunicação na Língua Inglesa (inglês avançado-fluente)
· b) Vivência internacional
· c) Liderança
· d) Competência Intercultural, ao conseguir compreender e interessar-me
mais pela cultura de outros povos e como lidar com diferentes tipos de
culturas.
Grupo II
· a) Maturidade e flexibilidade
· b) Maior segurança ao tomar decisões
· c) Tolerância
· d) Independência
10) Por ter participado do programa de Intercâmbio Cultural, tornei-me uma
pessoa:
Grupo I
· a) Mais comunicativa
116
· b) Menos comunicativa
· c) Mais independente
· d) Menos independente
Grupo II
· a) Mais flexível
· b) Menos flexível
· c) Mais individualista
· d) Menos individualista
Grupo III
· a) Mais compreensível
· b) Menos compreensível
· c) Mais tolerante
· d) Menos tolerante
11) A experiência de intercâmbio influenciou de alguma maneira na escolha
da profissão?
· a) Sim
· b) Não
PARTE IV – LÍNGUA E CULTURA
12) Você conseguiu de alguma maneira assimilar a cultura norte-americana?
· Sim
117
· Não
·
13) Você adquiriu hábitos ou costumes da cultura americana quando fazia
intercâmbio e os mantém até os dias de hoje, morando no Brasil?
· Sim
· Não
14) Você se identifica com a cultura norte-americana de um modo geral?
· Sim
· Não
15) A experiência do Intercâmbio Cultural, de vivenciar uma nova cultura
ajudou-me a despertar a consciência da cidadania e de cidadão do
mundo?
· Sim
· Não
16) Por favor, cite quatro experiências mais marcantes da sua experiência
de Intercâmbio.
17) Ao participar do programa de Intercâmbio Cultural você vivencia em seu
cotidiano a interculturalidade, ou seja, quando duas ou mais culturas
entram em interação. Por gentileza cite 4 exemplos que considera uma
experiência intercultural.
18) Cite quatro exemplos de como a língua o ajudou a compreender a
cultura/identidade do povo norte-americano ao vivenciar o intercâmbio
nos Estados Unidos.
118
ANEXO V – RESUMO DAS RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO
PARTE I - DADOS PRIMÁRIOS
1) Assinale a década em que fez o intercâmbio:
Década de 1990 a 1999 4 10%
Década de 2000 a 2010 38 90%
2) Sexo:
Masculino 25 58%
Feminino 18 42%
119
3) Idade:
34
40
22
24
25
26
27
28
29
30
32
31
18
16
20
17 anos
Hoje 27, 16 à época.
Hoje tenho 27 mas quando fui tinha 16 anos
63 anos
4) Comitê do AFS em que realizou o intercâmbio:
Rio de Janeiro
Assis
Belo Horizonte
Americana/São Paulo
Ribeirão Preto
Ribeirão preto
120
Joinville
Americana (Brasil) /Seattle (EUA)
Vale dos sinos
São Paulo alfa
Mococa - tite
Rio Grande - RS
Americana
São Paulo
ABC
Americana-SP
Lages - SC
SP ALFA
Americana
Natal-RN
Ouro branco
Vale dos Sinos
Macaé, RJ
Axé (Salvador)
Vitória
João Pessoa
Chapecó
Mococa
Salvador
Joinville
São Paulo
Macaé
Porto Alegre
121
PARTE ll - REGRESSO AO PAÍS DE ORIGEM
5) Retornou alguma vez ao local de intercâmbio?
Sim 26 60%
Não 17 40%
6) Continua com algum contato com a família hospedeira?
Sim 40 93%
Não 3 7%
7) Qual(is) fator(es) o levou(aram) a fazer o programa de intercâmbio nos
Estados Unidos?
122
a) Aprender e/ou aprimorar a Língua Inglesa 28 21%
b) Melhorar o curriculum profissional no futuro 15 11%
c) Experimentar vivência internacional 30 22%
d) Torna-se uma pessoa mais madura, independente e flexível 28 21%
d) Ter conhecido alguém que já tivesse feito algum tipo de intercâmbio
cultural 15 11%
f) Gostar de viajar 19 07%
a) Aspecto econômico do país 15 28%
b) Desenvolvimento e performance acadêmica 11 21%
c) Melhor qualidade de vida comparado ao Brasil 16 30%
123
d) Influência adquirida por intermédio de filmes de Hollywood, música,
alimentos, o consumismo, o chamado "American way of life". 8 15%
e) Lugar visto como "lugar de oportunidades". 3 6%
8) O que sentiu imediatamente ao voltar ao seu país de origem?
a) Alívio 3 5%
b) Alegria 21 35%
c) Depressão 12 20%
d) Realização 24 40%
a) Falta das amizades que fez no país de intercâmbio 24 34%
b) Falta da família hospedeira 28 39%
c) Perda de algumas amizades que deixou aqui no Brasil 10 14%
124
d) Falta do ambiente escolar 9 13%
a) Dificuldade de readaptação 18 30,5%
b) Facilidade de readaptação 18 30,5%
c) Melhor convivência com os pais 18 30,5%
d) Pior convivência com os pais 5 8,5%
PARTE III - INTERCÂMBIO E VIDA PROFISSIONAL
9) Em relação à vida profissional, ter participado do programa de Intercâmbio
Cultural, proporciona-me:
a) Comunicação na Língua Inglesa (inglês avançado-fluente) 35 27%
125
b) Vivência internacional 38 32%
c) Liderança 23 14%
d) Competência Intercultural, ao conseguir compreender e interessar-me
mais pela cultura de outros povos e como lidar com diferentes tipos de
culturas.
35
27%
a) Maturidade e flexibilidade 38 86%
b) Maior segurança ao tomar decisões 28 64%
c) Tolerância 29 66%
d) Independência 37 84%
10) Por ter participado do programa de Intercâmbio Cultural, tornei-me uma
pessoa:
126
a) Mais comunicativa 35 47%
b) Menos comunicativa 0 0%
c) Mais independente 40 53%
d) Menos independente 0 0%
a) Mais flexível 38 62%
b) Menos flexível 0 0%
c) Mais individualista 6 10%
d) Menos individualista 17 28%
a) Mais compreensível 35 51%
b) Menos compreensível 0 0%
c) Mais tolerante 33 48%
127
d) Menos tolerante 1 1%
11) A experiência de intercâmbio influenciou de alguma maneira na escolha da profissão?
a) Sim
22
51%
b) Não 21 49%
PARTE IV - LÍNGUA E CULTURA
12) Você conseguiu de alguma maneira assimilar a cultura norte-americana?
Sim 33 89%
Não 4 11%
128
13) Você adquiriu hábitos ou costumes da cultura americana quando fazia intercâmbio e os mantém até os dias de hoje, morando no Brasil?
Sim 29 81%
Não 7 19%
14) Você se identifica com a cultura norte-americana de um modo geral?
Sim 30 83%
Não 6 19%
15) A experiência do Intercâmbio Cultural, de vivenciar uma nova cultura ajudou-me a despertar a consciência da cidadania e de cidadão do mundo?
129
Sim 37 95%
Não 2 5%
16) Por favor cite quatro experiências mais marcantes da sua experiência de
Intercâmbio
A chegada na família. Ciúmes da minha família em relação a outra intercambista.
Dificuldade de adaptação nos primeiros 3 meses. A despedida.
Aaprender novos esportes (esquiar e escalada (rock climbing)); viver com pessoas
de outra nacionalidade (talvez mais difícil que viver com norte-americanos; fiz
intercâmbio nos EUA); adaptação a novos hábitos alimentares; focar mais a vida
acadêmica.
Experimentar o Frio e a neve em Michigan; o medo e o nervosismo de ter que falar
perante o Auditório de toda a Escola High School; a primeira experiência com a
maconha; Sexo mais liberado.
Família americana, Inverno, Escola e Língua.
Momento de encontro com a família hospedeira e conhecer a nova casa; primeira
semana na escola; participar dos esportes; formatura e o prom.
Segurança; maturidade, aprendizagem; cultura / liderança.
Viagem com a banda de Jazz da escola; a família hospedeira foi fantástica; a
organização da escola e da sociedade como um todo e como tudo nos EUA funciona
melhor que no Brasil.
Não fiz intercambio nos EUA, mas sim na Áustria e em Liechtenstein. Respondi a
tudo baseando-me na minha experiência na Áustria e em Liechtenstein. Os
acampamentos organizados pelo AFS; mudança de família hospedeira; mudança de
país hospedeiro (da Áustria para Liechtenstein); viajar pela Europa.
130
Ver neve pela primeira vez, ter contato diário com crianças (irmãos hospedeiros),
aprender uma nova língua em menos de 6 meses e ter mergulhado na cultura geral
do país.
Convivência na escola, adaptação com costumes da família, adaptação com outra
intercambista que morou na mesma casa.
Integração com intercambistas de outros países; excelente convívio com a família
hospedeira, já voltei para visita-los 8 vezes e eles já vieram me visitar 2 vezes, nos
falamos quase que diariamente e possuo total integração familiar com eles mesmo
após 12 anos do programa de intercâmbio. Troca cultural; aprendizado de uma outra
língua.
Conhecer pessoas do Japão e da Turquia; perceber-me como cidadã do mundo;
receber o amor da família hospedeira; sonhar em inglês.
Perceber que não importa o quão bem você é recebido em outro país, o seu país de
origem sempre será o lugar de conforto. Que viver longe de família e amigos não é
tão simples quanto parece. Ter minha "Mom" hospedeira presente na minha
formatura no Brasil e posteriormente no meu intercambio é algo que significa muito
para mim. Conhecer pessoas do mundo inteiro e aprender que as diferenças são
boas e agregam muito na nossa vida. Ter viajado e conhecido lugares que não
conheceria em uma viagem de turismo.
Snowboard e neve; viagens com a família; domínio da língua; capacidade, critica e
visão de mundo.
Participar do time de tênis da escola. Viajar por diversos estados americanos com
outros intercambistas. Viajar com a família hospedeira para esquiar. Participar do
baile de formatura da escola.
Convivência com nova família hospedeira Atividades extracurriculares na escola
Amigos intercambistas de diferentes partes do mundo. Viver em uma cidade de
1.200 habitantes na parte central dos Estados Unidos.
Eu não fui aos EUA, fui a Holanda.
Respeito, aprendizado, autoconhecimento e saber a controlar os seus sentimentos.
131
Ter tido um irmão 11 anos mais novo foi uma experiência muito legal. Sempre soube
que tinha jeito com crianças mas o amor fraterno que se criou superou qualquer
expectativa minha, de quando eu cheguei e de quando fui embora. Numa certa vez,
durante meu ano de intercambio, fui convidado por um amigo da escola para ir à
casa de campo de sua tia no estado de Maryland. Era uma propriedade fascinante,
que escondia vários segredos. Um deles era aquele lugar ter sido o refúgio do
menino cubano Elián Gonsalves de 5 anos que foi protagonista de uma briga judicial
pela guarda do garoto, mas que tinha um cheiro de briga política nos anos 1999 e
2000. Lembro-me daquela fazenda de flores a beira de um lago salgado como se
fosse hoje. Uma das melhores experiências da minha vida.
1- O primeiro jantar em família. Sentar à mesa com 3 estranhos. Comendo uma
comida que nunca comera na minha casa. Todos mudos. Com conversas gentis.
Muito claramente e com nada em comum. Uma situação bizarra. 2-Minha primeira
festa na Bélgica. No meio de uma floresta a noite, voltamos de bicicleta eu e uma
amiga as 3 da manhã, riamos muito, não nos sentia-os inseguras. Foi um ano sem
medo de roubo, sequestro, estupro e todos esses medos que existem aqui no Brasil.
Sair de uma cidade super grande e fui para uma fazenda. - Dificuldade em se
comunicar sem saber o idioma - Aprender a rotina de uma família completamente
diferente da minha. - Me comunicava com os meus pais nativos, a cada 01 mês.
Morar com outra família (extraordinária) - vivenciar o 11 de setembro - ser
reconhecida academicamente por notas boas - novos amigos
1) Participei do time de futebol americano da escola como "kicker". Em um jogo
importante, faltando 3 segundos para acabar o jogo, tive a chance de desempatar o
jogo e dar a primeira vitória do time na temporada... mas errei! 2) Quando cheguei
nos EUA ainda não sabia quem seria minha família hospedeira. Quando os vi pela
primeira vez e meu "novo irmão" de 2 anos correu para me abraçar. 3) Participei do
time de basquete, e, apesar de não ser muito bom, no último jogo da temporada, o
técnico fez um discurso emocionante, falou que apesar de ter chegado lá sem nem
saber todas as regras do jogo, tinha ganho um lugar com muito treino e simpatia.
Pela primeira vez, joguei pelo time principal da escola como titular. 4) O último dia na
132
minha cidade, foi num 4 de julho. Minha festa de despedida foi com fogos de artifício
e celebração pela liberdade.
- Vivência escolar - Descobrimento de novos hábitos e cultura - Percepção de
crescimento pessoal e na língua - Amor e carinho infinitos pelos que convivi.
Preconceito, alimentação, consumismo, assedio sexual.
- Quando vi uma mãe voltar ao caixa para pagar uma cartela de adesivos que o filho
pequeno tinha levado do supermercado sem pagar (por engano), a cartela valia
US$0,50. - O envolvimento da comunidade com a conscientização dos novos
estudantes universitários, no começo do ano letivo. - Preservação das coisas
públicas, por parte de população. - Independência que os filhos atingem ao saírem
de casa para estudar na universidade.
Fui intercambista na Tailândia, marcante para mim foi ficar num templo budista por
30 dias.
Compreensão de novas culturas, amizades que levo comigo até hoje,
amadurecimento e a vontade de compreender mais o mundo e suas diferenças.
17) Ao participar do programa de Intercâmbio Cultural você vivencia em seu
cotidiano a interculturalidade, ou seja, quando duas ou mais culturas
entram em interação. Por gentileza cite 4 exemplos que considera uma
experiência intercultural
Cozinhar; praticar; esportes; aprender e ensinar História do meu país e os
Encontros do AFS.
Língua; escola; segurança e qualidade de vida
Atividades domésticas em geral. As festas, como por exemplo o baile de formatura.
A relação com os animais domésticos. O modo como os familiares se relacionam.
Imersão em uma escola estrangeira Menos contato com o país natural Dificuldades
de comunicação Choque cultural, quando valores locais são diferentes dos meus
133
Diferentes valores para educação e disciplina; frequentar semanalmente uma
religião diferente da sua; festejos e comemorações de feriados e festas religiosas
diferentes da sua e hábitos alimentares diferentes.
O choque ao conhecer a história segregacionista americana. A forma como outras
culturas interagem com os americanos. São, de certa forma isoladas, criando mini
núcleos de convivência. Os vizinhos mal se comunicam. Grande incentivo que dão
ao estudo e ao esporte.
Fui morar em uma pequena cidade que havia uma comunidade Amish - A
experiência de viver em uma pequena cidade do interior foi fabulosa e me fez ver a
vida de uma forma diferente (Sempre morei no Rio de Janeiro) - Meu melhor amigo
durante o intercambio além da minha família foi um intercambista Groelandez onde
foi possível uma excelente troca cultura e de costumes na forma de viver e pensar
na vida. - Minha mãe hospedeira trabalhava em uma escola para deficientes mentais
na qual foi possível conviver com pessoas maravilhosas na qual nunca imaginaria
ter convivido.
Certa vez na aula de álgebra, o meu professor me chamou na frente para que eu
explicasse como nós, brasileiros, fazíamos uma conta de dividir. Não me lembro
muito bem, mas os americanos fazem a conta de uma outra forma. Me lembro que
todos ficaram encantados com algo tão simples. Ainda na escola, fui apresentada a
um menino que não conhecia, e quando fui falar meu nome, ele não entendeu direito
e colocou a cabeça pra frente para me escutar melhor, mas eu acostumada com o
"beijinho" que damos ao ser apresentados a alguém, lasquei um beijo na bochecha
do menino. Só depois fui perceber que ele não tinha me escutado, Tive que explicar
nossa cultura, minha mãe hospedeira me fazia levar brigadeiro para todas as festas
que íamos, como sobremesa.
Pontualidade; honestidade; educação; frieza por parte dos americanos.
Não fiz intercambio nos EUA, mas sim na Áustria e em Liechtenstein. Respondi a
tudo baseando-me na minha experiência na Áustria e em Liechtenstein. Estudar
conteúdos didáticos na escola hospedeira que já haviam sido estudados na escola
de origem, e ver que o enfoque e os objetivos são fundamentalmente diferentes,
apesar de o assunto estudado ser o aproximadamente o mesmo. Ser motivo de
134
novidade e de curiosidade para familiares, conhecidos e amigos da família
hospedeira, "simplesmente" por vir de um país diferente. Sentir frio abaixo de zero e
ver a neve pela primeira vez, estando na companhia de colegas de aula que ficaram
surpresos ao ver meu entusiasmo, apesar de uma boa interação e integração geral,
em eventos do AFS, quando uma nacionalidade era mais numerosa que outras,
seus membros costumavam ficar mais entre si, num grupo um pouco mais fechado,
em vez de ficarem igualmente abertos à formação de um grupo totalmente
internacional.
Convivência com outra família/cultura; Convivência com outros intercambistas de
diversos países e choque cultural.
Alimentação hábitos diários flexibilidade cotidiano familiar
A amizade com outros intercambistas me fez conhecer um pouco da cultura de cada
um deles (comidas típicas, costumes, as diferenças culturais em como lhe dar com
diferentes situações do cotidiano e a até mesmo como se vestir).
Trabalho com um Líbio. Ele é mulçumano e fala português com bastante sotaque.
Recebo muitos americanos, indianos e argentinos no trabalho. No clube de vela que
frequento na represa Guarapiranga em São Paulo capital costuma ter pessoas de
países distintos da Europa. Talvez não falamos a mesma língua mas amamos o
mesmo esporte. Interculturalidade é simplesmente dividir os mesmos motivos de
estar em certo local. Dividir experiências!
Cumprimentar pessoas de uma forma diferente porque eu estava no país delas e
não no meu. Comer comidas comuns para os americanos e extremamente
diferentes para mim e fazer um pouco de comida brasileira para eles. Vestir-me do
meu jeito, mas adaptando-me ao clima e um pouco ao estilo deles. Explicar para os
americanos a visão de uma brasileira sobre os Estados Unidos.
A própria língua e como temos que nos desenvolver para entendermos e sermos
compreendidos. A percepção de sermos (brasileiros) muito extrovertidos e termos
que nos conter perto dos tão comedidos americanos. A dificuldade em fazer
amizades mas depois conseguir mantê-las e passar um pouco de cultura de nosso
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país que muitas vezes parece soar como um país com macacos nas ruas e sem
telefone. Namorar estrangeiros pode ser muito mais difícil do que imagina-se.
Patriotismo americano. O jeito brasileiro de abraçar todo mundo, o que não é nem
um pouco comum nos EUA. A comida. A escola.
Conhecer e aceitar hábitos diários muito diferentes dos nossos, se dispor a se
integrar à nova cultura que estamos adotando, mostrar e explicar nossos hábitos
também e demonstrar e ver que ser diferente é algo muito importante e agradável.
Divergências políticas e ideológicas. No Kansas, a grande maioria das pessoas são
republicanas e conservadoras. Já no início, percebi que não poderia divergir
frontalmente das posições de toda a sociedade. E com o tempo, percebi que
realmente era muito difícil alguém daquela sociedade pensar de outra forma, pois
estava inserido em um ambiente extremamente propício para repetir o mesmo
discurso (e fortemente influenciada pela televisão). Com o tempo, passei a
compreender as razões para pensarem daquela forma e até a defendê-la quando
debatia com amigos e familiares que estavam no Brasil. Tentar divergir dos pais
americanos, mesmo que de forma educada, pode ser considerado um desrespeito
("backtalking"). 3) As pessoas pareciam ser mais diretas para fazer críticas ou
elogios. Se não gostasse de uma comida, por exemplo, não havia constrangimentos
e falar. Assim como assoar o nariz com todo fôlego que você tiver. Se era
necessário, então era só fazer.
Formas de comunicação; Visões de mundo/política/economia; Hábitos do cotidiano.
Ajudar estrangeiros na rua com informações. Ajudar estrangeiros mais próximos que
vivem no mesmo meio a resolver questões relacionadas a língua ou a problemas
culturais. Ser mais tolerante a diferenças culturais entre eu e as pessoas com quem
convivo, pois apesar de muitos serem brasileiros há diferenças culturais claras entre
os estados brasileiros. A mais importante é ver que na verdade os limites entre
nações não existem. Somos todos seres humanos com questões muito similares,
apesar de estarmos em contextos diferentes.
Latinidade; língua, relacionamentos interpessoais; tecnologia.
136
Observar às diferenças na minha família americana e ao mesmo tempo notar que se
surpreendiam comigo.
Falar de sotaques; adquirir hábitos alimentares de outros países; aceitar a cultura e
os costumes do país que morou; cultivar hábitos até hoje os quais aprendi durante o
intercâmbio.
Alimentação e demais hábitos alimentares (provar das diferentes comidas e cozinhar
comidas típicas brasileiras para eles); estudar em uma classe só de americanos e
compartilhar estudos e experiências; participar do programa de esportes da escola e
todos pensarem que você deve jogar futebol por ser brasileiro; Adapatar-se a regras
antes não existentes na minha casa/ cidade como “toque de recolher, horário para
dormir, chamado por eles de "curfew".
18) Cite quatro exemplos de como a língua o ajudou a compreender a
cultura/identidade do povo norte-americano ao vivenciar o intercâmbio
nos Estados Unidos
Não acredito que a língua teve contribuição.
O convívio na escola me fez entender a essência do povo americano - Consegui
criar amizades com pessoas em todo o mundo - Se tive uma boa integração com
minha família hospedeira foi graças ao meu desenvolvimento com a língua inglesa
Muitos americanos me diziam para ser bem vindo na América. De início, ficava
bastante incomodado, mas com o tempo fui percebendo que não se achavam 'donos
da América' como muitos supõe, mas uma forma de abreviação à United States of
America com a vivência e melhor compreensão da língua (consequentemente da
cultura) percebi que não era algo pejorativo quanto ao resto dos países das
Américas e não se intitulavam donos do continente etc; uma tia de intercâmbio que
havia morado no Brasil me disse certa vez sentir falta da palavra 'saudades' no
vocabulário inglês, eu disse que para mim 'miss' traduzia bem, mas ele disse que o
sentimento era outro, ainda hoje penso que 'miss' traduz bem o sentimento da
saudade, mas para ela não...talvez seja a percepção dela com a cultura brasileira,
mais quente/próxima... - a língua culta e a falada se aproximam bastante, norte-
americanos abreviam bastante as coisas, chegando até mesmo a falar errado
algumas coisas, mas no português temos um abismo muito maior entra a língua
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culta/acadêmica e o português falado, sendo que neste último as diferenças são
gritantes. Nos EUA o inglês falado das pessoas muda muito pouco, não importando
a classe social ou o nível de escolaridade, isso mostra o nível de desenvolvimento
deles, embora exista desigualdade e ela seja acentuada, é muito menor que no
Brasil. Esse fato, além de evidenciar quão mais simples é a língua inglesa,
demonstra a cultura e até mesmo a identidade deles.
Meu intercâmbio na verdade foi para a Bélgica e quando comecei a prender o idioma
local percebi que fui integrada mais facilmente ao grupo com um todo, além de os
belgas gostarem de ver que estava disposta a aprender seu idioma e assim se
oferecerem para me ajudar.
Economia; política; piadas; cotidiano.
Quando cheguei lá, não falava nada de inglês. Perdi muitas coisas pela dificuldade
com a língua no começo, mas em pouco tempo já estava fluente.
A língua é muito importante para a comunicação e ajuda a entender as expressões,
o comportamento de um outro povo.
Apesar de ter feito o IBEU por 5 anos antes de viajar, tive dificuldade com a fala
inicialmente. Após 6 meses é que a comunicação tornou-se mais fácil e prazerosa.
Sem comunicação não conseguiria me virar bem, o intercâmbio me ajudou a fazer
amizades, inclusive melhorou a convivência com minha família estrangeira.
Meu intercâmbio foi na Dinamarca.
Aprender gírias das regiões; estudar literatura americana; acompanhar os
programas de TV; me comunicar de forma independente em qualquer lugar.
Conversando com amigos e família; escutando as aulas e programas de TV; lendo o
jornal local e acompanhando as notícias importantes referente a outros locais;
retratando o Brasil e nossos costumes comparando com os deles.
Entender as piadas, que são parte da cultura de um povo; Entender a poesia;
Entender as letras das músicas; Entender as expressões dos sentimentos.
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A língua me ajudou a entender melhor o pensamento político dos americanos, isto é,
a divisão entre os democratas e republicanos. Ajudou também a pensar de uma
forma distinta a política externas norte-americana. Além disso, a língua auxilia muito
em aspectos simples, como na culinária e em momentos de lazer (seja praticando
esportes ou em festas).
Cinema, TV, esportes, conversas com amigos / família, festas e confraternização.
1) Percepção das diferentes formas de povos dentro do mesmo país. Aprendi que
algumas palavras são proibidas pela sociedade, por causa da época
segregacionista. O humor americano é diferente. A melhor experiência que tive foi
quando presenciei uma aula da universidade em que tinham alunos de 10
nacionalidades diferentes, todos eles falando o ponto de vista deles sobre o EUA.
Não fiz intercambio nos EUA, mas sim na Áustria e em Liechtenstein. Respondi a
tudo baseando-me na minha experiência na Áustria e em Liechtenstein. - pessoas
mais velhas (incluindo avos hospedeiros) só falavam alemão e, porque eu os
entendia e podia me comunicar com eles, eles me contavam sobre os tempos
vividos durante a Segunda Guerra Mundial (inclusive como combatentes) e os duros
tempos do pós-guerra - ao verem que eu falava alemão fluentemente, as pessoas se
dispunham a ter conversas mais profundas, longas e diversas comigo; se não fosse
por isso, eu dificilmente teria um relacionamento não-superficial, e não poderia
observar como eles realmente são, do que falam, o que pensam, como pensam -
convivi com muitas crianças pequenas (menos de 10 anos, e acima de 2 anos), que
só falavam alemão. Por eu falar alemão, eu podia brincar com eles (brincadeiras
diferentes do Brasil), ver seus livros, cantar cantigas locais - por falar alemão padrão,
e por não falar dialeto local, mas entendê-lo, sentia-me um pouco excluído em
ambientes que se comunicavam exclusivamente em dialeto, sensação que era bem
menos presente quando se comunicavam em alemão padrão.
Compreensão das situações de vivencia, oportunidade de manifestação de ideias e
vontades pessoais.
Falar inglês é como ter um super poder. A partir do momento em que se sonha na
nova língua, você se sente parte daquela cultura. A língua me ajudou a poder
explorar sozinho, realmente vivendo os Estados Unidos. A língua me fez ler a
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parede do Capitólio, com a constituição norte-americana, me fazendo compreender
o porquê as coisas são como são.
Não fiz intercambio nos EUA.
Não fiz intercambio nos estados unidos. Como fiz na Bélgica falarei sobre esses
pais. A língua me ajudou a entender que eles não aceitam improvisação. Ninguém
brinca com as palavras ou entende brincadeiras. Existem poucas exceções. A regra
está muito clara. Se você aprende a regra você aprende o idioma. Assim como para
conviver com eles você tem que aprender as regras, ninguém iria fazer uma exceção
para você. Existe pouca criatividade no vocabulário. O que me mostrou um povo
pouco criativo.
A língua foi importante mas não foi essencial para eu vivenciar a minha experiência
de intercambio. Eu acredito que até mesmo quando eu cheguei nos Estados Unidos
e quase não falava inglês e já estava vivenciando e aprendendo muitas coisas que
foram importantes na minha experiência. O intercambio foi muito mais do que
aprender uma nova língua, esta foi uma experiência que me ajudou a aprender
muito mais sobre minha pessoa, o mundo, as diferentes culturas e tantas outras
coisas.
1) Interagir com as crianças. Fazia isso diariamente, por ter irmãos hospedeiros de 2
e 8 anos. 2) Na sala de aula, entender tudo o que se passava foi importantíssimo
para compreender a dinâmica da escola. Por estar em uma escola pequena, existia
uma relação de amizade com os professores, mas um respeito muito grande até
mesmo na forma de tratamento (Mr. Sobrenome). 3) Mesmo em uma cidade
pequena, entender a forma super-protetora dos pais em relação aos filhos.
Meu intercâmbio foi para Austrália.
Número de respostas diárias
140
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