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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO UMA ANÁLISE DOS CÂNTICOS ENTOADOS PELA COMUNIDADE CARISMA E SUAS INFLUÊNCIAS, NO INDIVIDUAL E NO COLETIVO, DIANTE DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL Por Susana Wills Dr. Prof. James Reaves Farris São Bernardo do Campo, 25 de junho de 2008

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

UMA ANÁLISE DOS CÂNTICOS ENTOADOS

PELA COMUNIDADE CARISMA E SUAS INFLUÊNCIAS,

NO INDIVIDUAL E NO COLETIVO,

DIANTE DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Por

Susana Wills

Dr. Prof. James Reaves Farris

São Bernardo do Campo, 25 de junho de 2008

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

UMA ANÁLISE DOS CÂNTICOS ENTOADOS

PELA COMUNIDADE CARISMA E SUAS INFLUÊNCIAS,

NO INDIVIDUAL E NO COLETIVO,

DIANTE DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Por

Susana Wills Dr. Prof. James Reaves Farris

Dissertação de Mestrado apresentada em cumprimento às exigências do

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção

do grau de Mestre.

São Bernardo do Campo, 25 de junho de 2008

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BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr. James Reaves Farris (Presidente) Universidade Metodista de São Paulo - UMESP __________________________________________ Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva (Titular) Universidade Metodista de São Paulo - UMESP _________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Ribeiro Caldas Filho (Titular) Universidade Mackenzie – São Paulo

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AGRADECIMENTOS

À minha amada mãe, Carmen, sempre participante de tudo. Aos meus filhos, Tatiana e genro, Henrique.

Ricardo e nora Verônica, que são parte de minha vida. À minha neta Alanna e os outros que ainda virão.

À Comunidade Carisma que abriu suas portas para que eu pudesse fazer esta pesquisa.

e seus Pastores, sempre tão atenciosos e solícitos.

Aos grandes amigos Angela e Denilson Fomin, meus maiores motivadores e companheiros de muitos momentos.

A todos que me apoiaram: Rute Pontuschka e outros.

Ao meu professor e orientador, sempre tão atencioso e estimulador, James Reavis. Farris.

Ao investimento, conselhos e amizade do Prof. Jung Mo Sung

Ao apoio do IEPG dispondo de recursos para meu estudo.

À Ana Maria Fonseca, sempre tão atenciosa e solidária.

A Jesus Cristo que tanto amo.

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WILLS, Susana. An analysis of the lyrics from the songs by the Charisma Community and their influence, individual and collective, in terms of social transformation. Master Dissertation. The Graduate School of Religion, the Methodist University of São Paulo, São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 2008.

ABSTRACT What generated this research was curiosity regarding the songs sung by the Charisma Community, and the manner in which these impact persons at individual and collectives levels. The focus of the work is the association of the meaning of the words of the songs in terms of their relation to social transformation, and the work and urban social mission of the Charisma Community. It is well known that music has immense power in terms of emotions and human experience, and that this influence is both individual and collective. As such, to what point music is not alienating, but an instrument to awaken, at individual and collective levels, transformation and social evolvement in the context of the Charisma Community? The theological beliefs, worship structure and liturgy were studied, with specific attention paid to songs composed by members of the community, and their impact on individual and collective, in terms of social transformation, within and beyond the Community. Key-Words: Community, praise, social transformation, liturgy, songs

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WILLS, Susana. Uma análise das letras dos cânticos da Comunidade Carisma e suas influências, no individual e no coletivo, diante da transformação social. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Universidade Metodista de São Paulo São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 2008.

SINOPSE

A curiosidade do que acontece com os cânticos entoados pela comunidade carisma e a maneira com que toca as pessoas, no âmbito individual e no coletivo foi o que gerou essa pesquisa. A associação do significado das letras dos cânticos relacionado à transformação social que acontece dentro do trabalho e missão social urbana da Comunidade Carisma acabou sendo o foco desse trabalho. Sabe-se que a música tem um poder imenso de atuar na área emocional e nas experiências do ser humano, atuando tanto no individual, quanto no coletivo da pessoa. Então, até que ponto, música não é uma alienação, mas sim um instrumento de despertar – individual e coletivamente - para a transformação e a aplicabilidade de todo este envolvimento social que a Comunidade Carisma vive? Dentro do que é a base teológica da comunidade, a ordem do culto e toda a sua liturgia, foi feito um levantamento de toda estrutura da mesma. E como se processa o louvor e o significado das letras dos cânticos compostos por membros deste ministério, com a ação que começa no individual, reporta-se ao coletivo e que gera transformação social dentro e fora da comunidade. Palavras chave: Comunidade, louvor, transformação social, liturgia, cânticos.

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SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO 01

CAPÍTULO 1: A Comunidade Carisma

1.1 – Um breve histórico da Comunidade Carisma 03

1.2 - Descrição geral de quem é a Comunidade Carisma 05

1.3 – História das atividades Sociais da Comunidade Carisma 13

1.4 - O Ministério de Louvor 15

1.5 - A Teologia da Comunidade Carisma 19

CAÍTULO 2: Os cânticos e seus aspectos

2.1 - Os referenciais teóricos 23

2.2 – Análise das letras dos cânticos e do significado teológico – individual ou coletivo

(social) 31

Cânticos:

I – Salvação........................................................................................................... 32

II – Ação de Deus................................................................................................. 34

III – Adoração....................................................................................................... 35

IV – Atos 2............................................................................................................ 37

V – Atrai-me......................................................................................................... 39

VI – Expressão de Amor....................................................................................... 40

VII – Hoje Ele vive............................................................................................... 42

VIII – Pastor.......................................................................................................... 43

IX – Viver teus Sonhos......................................................................................... 45

X – Novo Mandamento......................................................................................... 46

2.3 - Quais os aspectos mais valorizados pelas letras das músicas:

individual ou coletivo? 47

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Capítulo 3: Diálogo entre a teoria e prática

3.1 - Diálogo entre a teoria e a prática presente na letra da música

Até que ponto a letra da música comunica ou reflete fielmente a teologia

e a história da Comunidade? 52

3.2 - Resultado a análise dos cânticos entoados na Comunidade Carisma 60

3.3 - Liturgia e teologia da Comunidade Carisma e envolvimento com a missão social

e urbana 66

3.4 - Considerações finais 73

3.4.1. – Gráfico estimativo da atuação dos membros da Comunidade Carisma_____ 76

4. Referência Bibliográfica_____________________________________________ 77

5. Sites 81

6. Anexos___________________________________________________________82

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INTRODUÇÃO

Fui conhecer a Comunidade Carisma e gostei muito do que pude experimentar, ver e

ouvir através dos cânticos, da abordagem teológica e toda a ação social com que ela está

envolvida.

Como já fui participante de alguns ministérios de louvor e por entender que igreja

deve existir como instrumento de penetração e transformação social, escolhi a Comunidade

Carisma para ser meu objeto de pesquisa, mesmo não fazendo parte do rol de membros da

mesma.

Pude contar, inicialmente, com a colaboração dos pastores e líderes da mesma, que me

receberam em seus gabinetes passando um bom tempo em conversa informal, sem nenhuma

gravação e me forneceram materiais, tais como folhetos, boletins, impressos e endereços de

“sítios” para que esta pesquisa fosse bem sucedida. (Este material impresso poderá ser lido

no anexo).

A metodologia da pesquisa foi aplicada de duas maneiras: por bibliografia e por

observação, sendo que neste segundo momento, aconteceram as conversas informais com

pastores e outros líderes relacionados à comunidade. O objetivo geral desta pesquisa foi o

estudo da Comunidade Carisma como um todo: sua liturgia, seus cânticos, suas áreas de

atuação e até que ponto estes ministérios se inter-relacionam com a ordem do culto e a base

teológica da mesma a ponto de promoverem a transformação social. O objetivo específico de

toda esta pesquisa está diretamente relacionado às letras dos cânticos. É a análise do conteúdo

das letras, no sentido de descobrirmos quais são os valores e os elementos que a letra enfoca:

o individual ou o coletivo. Para isso, um dos referenciais teóricos utilizados foi a classificação

de quais são os movimentos atuantes no sentido de cada letra, conforme Antonio Gouveia de

Mendonça. Denise Cordeiro de Souza Frederico foi outro referencial teórico importante no

sentido de situar significados e tendências das letras e sua atuação junto às comunidades e

cultos cristãos.

No capítulo 1 do trabalho, está exposto todo um levantamento descritivo de como a

Comunidade Carisma funciona em seus diversos setores e departamentos e onde estes se co-

relacionam ou interagem entre si. Estão também explicadas as funções de cada um dos

pastores e líderes envolvidos nos mais diversos projetos setorizados. Assim sendo,

conseguimos entender quem é a Comunidade Carisma e como ela é estruturada. Este também

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aborda um levantamento específico de como são as atividades sociais e o Ministério de

Louvor correlacionado à base teológica da comunidade. Ou seja, como a base teológica

apruma os diversos setores e áreas da mesma.

No capítulo 2, que contém o tema central de nossa pesquisa, focamos nas letras e

análise de dez cânticos que a Comunidade Carisma costuma entoar. Nota-se que todos eles

foram compostos por pessoas diretamente envolvidas com a comunidade e Ministério de

louvor da mesma. Foi tomado o cuidado de analisar cada um dos cânticos apresentados,

buscando o significado teológico de cada letra e quais os aspectos mais valorizados por elas:

se foram os aspectos individuais ou os coletivos. O caminho de nossa análise foi sob a base

teológica da comunidade.

Já no capítulo 3 foram procurados os referenciais teóricos de Frederico e, agora

também, Jorge Henrique Barro, que trata especificamente de missão urbana. Neste capítulo

foi feito um diálogo entre o que observamos no decorrer de toda a pesquisa, o que concluímos

na análise das letras dos cânticos. E como esta conclusão reflete em toda a obra e

transformação social que a Comunidade Carisma promove e tem planejado com as missões

consideradas urbanas, por acontecerem fora do espaço físico da mesma. Baseada à teologia da

Comunidade, que é amar a Deus e ao próximo, sempre o valorizando, a práxis amorosa de

Jesus também sempre foi vivida enfocando o amor prático, que é impossível de se separar da

missão urbana. A escolha dos referencias teóricos foi permeada em estudos diretamente

relacionados à classificação de hinos, como é o caso do Celeste Porvir, de Antonio Gouveia

de Mendonça. Denise Cordeiro de Souza Frederico foi um importante referencial teórico no

sentido de unir a liturgia e os cânticos juntamente como povo, a igreja e/ou comunidade. Ela

buscou situar o quanto e o que faz um cântico se tornar importante diante da linguagem do

povo. E em Jorge Henrique Barro encontra-se parâmetros fortes que sustentaram a pesquisa

na área da transformação social. É um trabalho que reflete as ações pastorais da igreja na

cidade.

E, nas considerações finais foram colocadas todas as constatações concluídas no

decorrer da pesquisa, com relação aos referenciais teóricos e toda a observação feita pela

pesquisadora.

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CAPÍTULO 1

1. A Comunidade Carisma

1.1. Um breve histórico da Comunidade Carisma

Para se levantar o histórico da Comunidade Carisma foram necessárias buscas no site da

mesma e, também, momentos de conversas informais com alguns dos seus pastores da

mesma, segundo a área de atuação de cada um deles. Segue relato de conversa informal1com

o pastor Silas de Oliveira e complementação através do portal net2 da mesma:

Situada no bairro de Quitaúna, em Osasco / SP, à Rua São Bento, 240, a Comunidade

Carisma intitula-se igreja como organismo, porque veio a existir por ter sido gerada e não

organizada ou montada, “com a aparência de ser ‘um bom negócio’”. Conforme citação do

pastor Silas de Oliveira, foi a Palavra de Deus que gerou esta obra, fecundando primeiramente

o coração de um grupo de “irmãos”, dando-lhes a visão do que o Pai pretendia realizar através

de suas vidas. Interessante que os integrantes deste grupo vieram de lugares completamente

diferentes de dentro do Brasil3. Todos estavam insatisfeitos com o que experimentavam em

1 Conversa informal com o Pr. Silas de Oliveira, dia 26 de março de 2008, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco, S.P. 2 www.comunidadecarisma.net – Consulta em 30 de março de 2008. 3 Conforme conversa informal com o Pr. Silas de Oliveira, o trabalho da Comunidade Carisma teve seu início com o Pr. Anésio Rodrigues de Souza, no ano de 1994. Em agosto de 1994, o Pr. Paulo Tarasiuk começou a participar das reuniões ministradas pelo Pr. Anésio, mesmo sem ainda existir um presbitério formado. (Ele e sua esposa atuam na área da família). Eles têm um curso que é uma releitura do “Casados para sempre”. São quatro os cursos que existem nesta área: 1. Curso para namorados; 2.Curso para Noivos; 3; Cursos para Casais e 4. Cursos para Educação de Filhos. Logo depois, Pr. Silas de Oliveira (Pequenos grupos, intercessão e aconselhamento) teve seu primeiro encontro e conversa com o Pr. Anésio e, juntos, começaram descobrir afinidades, tanto relacionadas às intenções de se estabelecer um ministério Neo-testamentário, quanto as afinidades nas “feridas e marcas” deixadas por outros ministérios antes freqüentados. Dessa forma, decidiram se pastorearem, com a intenção de um ajudar ao outro. Esse primeiro encontro ocorreu em dezembro de 1994. Então, já eram três pastores a começarem a elaborar uma nova dinâmica de atuação contextualizada para a época atual. Interessante é que descobriram que cada um deles tinha um “dom” diferente, mas que completava a dinâmica do ministério. (Governo Pluralista). O Pr. Gernando Costa (Ministério de Música) fazia parte de um outro ministério, mas insatisfeito com ele, decidiu vir conversar

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suas vidas, como cristãos. Buscavam um evangelho contextualizado à cultura de hoje. Esta

visão os motivou a uma busca mais intensa do estudo da Palavra, não somente dentro do

contexto judaico, mas relacionando-o com o tempo histórico e correlacionando com a história

e cultura atual. Muitos dos escritos da Bíblia referem-se à tradição cultural dos judeus, aos

costumes e hábitos que viviam na época. Hoje, os costumes mudaram. Os hábitos são outros.

A igreja, como a Comunidade Carisma, tem tido o cuidado de estudar e trazer os princípios

bíblicos para a atualidade, falando a linguagem de hoje.

A partir do conteúdo do portal net da comunidade4 obtém-se a complementação do relato

do pastor:

O Senhor foi acrescentando sua unção, manifestada nas “ministrações” da Palavra relacionada ao que o estudo da mesma respondia diante da cultura moderna. O resultado dessas ministrações foi que os ouvintes começaram a ser tocados por esta nova experiência e, consequentemente, sendo transformados. As reuniões de adoração, como chamam os cultos, passaram a acontecer com grande liberdade, alegria e senso de reverência. Ao mesmo tempo, o tradicionalismo que não traz mais respostas foi sendo apresentado como princípios e bases de um viver cristão diante da cultura atual. Isto demonstra uma característica neo-pentecostal à comunidade. A comunhão entre irmãos não deixa de traduzir a expressão do corpo de Cristo. Os princípios praticados por Jesus desde o início da igreja ainda acontecem e são vividos pela comunhão, relacionamento, oração, generosidade, amizade e amor, apesar de contextualizados à cultura de hoje. Dessa forma, a Comunidade Carisma quer que a sociedade perceba que fazer parte da igreja de Jesus é algo maravilhoso e traz verdadeira transformação na vida de seus membros, sem ser um peso e impor regras sobre regras a serem cumpridas. Pessoas foram sendo acrescentadas ao convívio da Comunida.de. Tanto bebês em Cristo como irmãos vindos de outras congregações, sempre movidos por uma visão clara no sentido de integrarem suas vidas nessa obra. Este fato determinou o crescimento da congregação que, dos 35 membros iniciais em agosto de 1994, passaram a congregar, dominicalmente, cerca de 2.600 adoradores.

Atualmente, ainda conforme o portal net5 nos apresenta, a Comunidade Carisma é uma

expressão local do corpo de Cristo na cidade de Osasco. É uma comunidade relativamente com o Pr. Anésio, apesar de não “sendo visto com bons olhos” por eles. Mesmo assim ele arriscou e veio. A conversa acabou tendo o mesmo significado e as mesmas afinidades que as dos outros pastores. (Tanto é que, até hoje, eles brincam que “bateu o código genético”). Em data bem próxima a chegada do Pr.Gernando Costa, os Prs. Anésio e Silas foram almoçar com o Pr. Rui Luis Rodrigues, (Coordena a área de ensino, Escola e Faculdade Teológica) ,que na ocasião trabalhava num banco no centro de São Paulo. E, mais uma vez “bateu o código genético”. Logo após esse almoço, Rui veio para a Comunidade e juntou-se ao pastoreio. O Pr. Luciano Saramello, (Coordenando a área tecnológica), também nesta ocasião já freqüentava as reuniões ministradas pelo Pr. Anésio e, por trás dos bastidores, fazia um trabalho dentro da área da informática. Esta comunidade foi a pioneira em página na internet, desde 1995. Segundo relato do Pr. Silas, eles acreditam que foi uma ferramenta que Deus deu a eles nesta ocasião e que muito colaborou para a expansão das atividades da comunidade. E, finalmente, chamado pelo Pr. Anésio chegou o Pr. Aguinaldo Esteves, que até hoje atua na área administrativa da comunidade 4 www.comunidadecarisma.net – Consulta em 30 de março de 2008. 5 www.comunidadecarisma.net – consulta feita em 30 de março de 2008

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jovem, com faixa etária média de 30 anos, mesmo que contando com muitas pessoas de idade

mais madura. Vivem uma comunhão vívida e “colorida”, num mesmo sentir e agir, através da

experiência da ação do Espírito Santo6, porém através de um culto racional. A comunidade

também tem a marca da presença maciça e promissora de muitos casais novos. Ao mesmo

tempo em que muitos novos membros têm chegado e se convertido, os mais maduros e bem

fundamentados no Senhor, consequentemente, dividem e repartem as funções dos ministérios

contribuindo com seus dons para o aperfeiçoamento do corpo.

1.2. Descrição geral de quem é a Comunidade Carisma

Ainda, segundo documento apresentado no portal net7 da Comunidade Carisma e, com a

complementação lida no folheto8 produzido pela mesma, lê-se os seguintes esclarecimentos

sobre a forma de atuação da mesma, em cada área específica. Além do site e do folheto,

explicações e informações eram complementadas - durante conversa informal com um dos

líderes da Comunidade e profissional de Marketing, Anderson Carobressi9 - frente ao

pensamento que a comunidade tem sobre a contextualização do evangelho com a cultura

atual:

6 SOBRE A EXPERIÊNCIA DA AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO: Conforme explicação dada pelo pastor Rui Luis Rodrigues, na Comunidade Carisma a ação do Espírito Santo não é impedida, nem limitada. A questão, apenas é: sobre em qual ambiente esta experiência se torna mais propícia? Em que ambiente essa manifestação deve acontecer? Num culto, onde 1.600 pessoas se reúnem ao mesmo tempo, esta manifestação não é apropriada. Qualquer manifestação de experiência com o Espírito Santo, deve acontecer dentro da base de respeito e maneira de ser da própria comunidade. Primeiramente, é muito importante ter o respeito aos diferentes dons que se manifestam em diferentes pessoas. Segundo, a forma de canalização desses dons pode ser diferente, dependendo da característica de cada pessoal. Nada é padronizado, pois pessoas têm diferentes maneiras de se expressarem e manifestarem suas emoções, por onde é canalizada a experiência da ação do Espírito Santo. O local mais propício para estas experiências, são nas reuniões de “Pequenos Grupos”, cuja freqüência de pessoas é bem menor do que num ambiente de culto, dentro da comunidade. 7 www.comunidadecarisma.net – pesquisa realizada em 29 de março de 2008 8 FOLHETO PROCUZIDO PELA COMUNIDADE CARISMA – vide em anexo. p 9 Conversa informal com o Anderson Carobressi , dia 26 de março de 2008, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco, S.P.

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Mais do que qualquer outro tempo na história, 10 tempos atuais representam dias de

decisão para o Reino de Deus.11 E o foco principal, como comunidade, é ser uma igreja

extrovertida, que não vive fechada dentro de si mesma, mas que sirva à sua geração

cumprindo o propósito pelo qual veio a existir. “A Comunidade Carisma é uma organização

religiosa com fins não econômicos, com prazo indeterminado, constituída com ilimitado

número de membros, independente de sexo, cor, raça, nacionalidade e posição social” 12.

Neste sentido, alguns alvos específicos foram criados para darem o formato correto à

Comunidade Carisma:

- Ser uma igreja na cidade de Osasco, com a finalidade de tocar a mesma com o evangelho

integral, no sentido de contribuir para que este evangelho seja expandido dentro dos limites do

possível. Isso inclui, primeiramente, a edificação de uma congregação forte e comprometida

com Deus, também englobando outras áreas e setores, tal como a implantação de uma escola

de educação infantil (a Carisma Kids). Isso significa formar homens e mulheres com

princípios sólidos da Palavra e, ao mesmo tempo, prepará-los para a competição do mercado

secular. Outros segmentos são a atuação por meio de obras sociais de grande envergadura,

trabalhos de recuperação e a colaboração em desenvolver o chamamento de homens que têm

talentos para atuarem nos respectivos setores.

- Ser uma igreja que tenha famílias fortes e bem equilibradas. Isto tem sido uma ênfase

constante no meio da comunidade. Famílias bem estruturadas com a base da “doutrina

bíblica”, onde maridos, esposas e filhos entendem e cumprem seus papéis.

10 OUTRO TEMPO NA HISTÓRIA, segundo relato do pastor Rui Luis Rodrigues, esta frase significa “o mais importante tempo presente que vivemos como comunidade”. Não é possível viver o passado, mas o futuro pode ser excelente se o presente for vivido corretamente e dentro das bases teológicas da comunidade. As bases teológicas serão apresentadas mais à frente. 11 VIDE SOBRE O REINO DE DEUS no capítulo1, item 1.5 sub-ítem 2, p. 21 12 Vide Estatuto Social da Comunidade Carisma, em anexo. Capítulo 1. Art. 1.º, pg. 34

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- Ser uma igreja que ajuda a formar homens que sejam líderes de seus lares, sem qualquer

menosprezo às mulheres. A comunidade crê que Deus deseja homens fortes que saibam amar

suas mulheres, governar suas casas e, ao mesmo tempo, se humilhar diante de Deus.

- Uma igreja que seja instrumento de bênçãos, através de uma inserção na mídia. Através

disso, pessoas estão sendo edificadas e alimentadas pelas expressões musicais, literárias, por

gravações dos cultos e dos cânticos em CDs e, também, pela implantação do sistema on-line,

onde quem não pode estar presente ao culto, tem a possibilidade de acompanhá-lo pela

internet – ao vivo – ou, em outro momento.

- Uma igreja que consiga tocar outros locais em nosso País com a mensagem do Senhor Jesus.

Em muitos locais do Brasil ainda é fraca a potencialidade de ajuda, apesar da grande

necessidade. A Comunidade crê que Deus também a levantou para um propósito de expansão

através de equipes de trabalho apostólico, mediante publicações e através da formação de

líderes em suas Escolas de Ministérios.

A Comunidade Carisma, enquanto organização, funciona na seguinte estrutura: são 7

(sete) pastores e cada um cuida de uma área específica que esteja ligada ao seu dom e

ministério. Baseados nestes ministérios que têm a ver com os dons naturais e espirituais

desses pastores, é que outros ministérios foram surgindo porque pessoas que freqüentam a

comunidade acabaram se aproximando desses pastores de acordo com seu estilo e pelo que

sabem fazer, exercendo funções em áreas subordinadas e similares. Desta forma, a

Comunidade Carisma cresceu e multiplicou seus ministérios em áreas e sub-áreas.

A. Ministério de Pastores.13

I - Diretoria Estatuária

1. Presidente - Pr. Anésio Rodrigues de Souza 13 Vide Organograma em anexo na pg.34

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“Líder e guia espiritual dentro das especificações do Novo testamento (...) deve

exercer o seu ministério com fidelidade doutrinária e ser sustentado pela Comunidade, com

base nos princípios bíblicos. Deve dedicar tempo adequado à oração e ao preparo, de forma a

ser transmitida a sua mensagem biblicamente fundamentada, teologicamente correta e

claramente transmitida”.14

2. Vice-Presidente - Pr. Rogério Oliveira

3. Secretário – Pr. Lourival Andrade de Souza

4. Direção Executiva - Aguinaldo Esteves

5. Conselho Gestor

6. Assembléia

II – Pastoral

7. Integração de Novos - Pr. João Gilberto

8. Intercessão e atendimento - Pr. Silas de Oliveira

9. Grupo de fortalecimento e oração – Pr. Lourival Andrade de Souza

10. Pequenos Grupos – Pr. Silas de Oliveira

Pequenos Grupos são a maneira de as pessoas serem reconhecidas, aceitas e

pastoreadas na Comunidade Carisma. “Não queremos que você se sinta ‘mais um na

multidão’”. Baseados em ambiente familiar e descontraído, os Pequenos Grupos promovem

uma relação de amizade e cristianismo que fará você experimentar um nível mais profundo de

relacionamento com Deus e com os demais irmãos.15

III. Instituto Educacional

As Escolas da Comunidade Carisma têm o objetivo de promover o maior acesso

possível a um ensino de excelente qualidade com preços acessíveis. Todas as escolas têm seu

corpo docente e diretivo formado por profissionais experientes e capacitados para o ensino

14 Vide Estatuto Social da Comunidade Carisma, em anexo. Capítulo VI. Art. 22.º, § 1.º2.º, pg.31 15 Conversa informal com o Pr. Silas de Oliveira, dia 26 de março de 2008, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco, S.P.

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aliado à uma infra-estrutura compatível que oferece todas as condições para que o aluno

aprenda e se desenvolva. Além de ter visão e um enfoque social.16

11. Escola Família – Pr. Paulo Tarasiuk

Orienta desde os jovens casais a iniciarem de maneira correta a vida a dois, até os

casais mais experientes, com filhos e netos, que buscam auxílio para as novas situações que a

vida lhes apresenta. Cursos regulares sobre Namoro, Noivado, Relacionamento Conjugal e

Educação de Filhos. É uma escola mais voltada para os relacionamentos em seus diversos

degraus.17

12. Escola de Ministérios - Pr. Rui Luis Rodrigues

Curso com quatro módulos, onde o aluno passa a conhecer melhor a Bíblia, aprende os

princípios fundamentais da vida cristã, o papel da igreja em nossa sociedade, além de outras

matérias relevantes. Esta escola é um ministério de estudo mais profundo da Bíblia, para que

as pessoas possam entender melhor o que não fica muito claro na leitura comum da Palavra de

Deus.18

13. Faculdade de Teologia - Pr. Rui Luis Rodrigues

Bacharelado em Teologia que, além do ministério pastoral, habilita o aluno a atuar em

diversas atividades profissionais. Um curso atual e contextualizado à nossa época.

14. Centro Cultural

Curso de inglês e espanhol, nos módulos Básico, Intermediário e Avançado. A escola

é voltada somente para idiomas

15. Cursinho

16 FOLHETO PROCUZIDO PELA COMUNIDADE CARISMA – vide em anexo. ps. 6 e 7 Portal Net: www.comunidadecarisma.net – Consulta em 30-03-08 17 FOLHETO PROCUZIDO PELA COMUNIDADE CARISMA – vide em anexo. os. 6 e 7 Portal Net: www.comunidadecarisma.net – Consulta em 30-03-08 18 FOLHETO PROCUZIDO PELA COMUNIDADE CARISMA – em anexo: total de 20 pgs. Portal Net: www.comunidadecarisma.net – Consulta em 30-03-08

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Preparatório para o vestibular e reforço escolar. É um cursinho como outro qualquer,

onde o aluno vai se preparar para os vestibulares da USP, a UNESP e outras faculdades,

porém com o diferencial de preço. Todos os professores são formados em faculdades de

primeira linha e se dedicam a este ministério de ensino, sem fins lucrativos, para que pessoas

menos favorecidas possam adquirir mais conhecimento. Tem apoio do Sistema Ético de

Ensino, que hoje é muito forte e eficiente, garantindo, assim, a qualidade desse cursinho.

16. Secretarias Escolas

17. Educação e Ética

IV – Escritório

18. Administrador - Aguinaldo Esteves

19. Central de Relacionamento - Luciano Saramello

19.1. Atendimento telefônico

20. Financeiro

20.1. Comunidade Carisma

20.2. Associação Carisma

20.3 Contratação e Vendas

21. Comunicação – Anderson do Carmo Carobressi

Conforme explanação de Anderson do Carmo Carobressi, numa sociedade tão

influenciada pela mídia, a igreja tem sido levada a utilizar tais recursos para alcançar o

homem de hoje. A comunidade tem a visão clara de que a televisão, o rádio, a internet e

outros veículos de comunicação são ferramentas a serviço da igreja e, não um fim em si

mesmo. Nenhuma delas pode substituir o poder transformador do evangelho. Dentro desta

visão, a Comunidade Carisma tem uma equipe de comunicação formada em TV, rádio,

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jornalismo, design e internet, que com muito amor e paixão servem a Deus nessa área. A

Comunidade Carisma mantém regularmente programas em rádio; já produziu alguns

programas para TV; investe também em anúncios em revistas especializadas no seu segmento,

além de ter participado de feiras voltadas para o público cristão. Tudo isso serve para

apresentarmos às pessoas um pouco do nosso jeito de servir a Deus, e também para

potencializarmos o chamado da igreja de levar a mensagem de Jesus a todos.19

22. Informática/Tecnologia

23. Livraria

24. Vendas Externas

25. Patrimônio

26. Portaria e Limpeza

27. Processos de trabalho

V – Social

28. Assistente Social – Elizete Saramello

VI – Ensino Cristão

29. Ministério com Mulheres

19 Conversa informal com o Anderson do Carmo Carobressi, dia 26 de março de 2008, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco, S.P. e consulta no Folheto da Comunidade, em anexo. p. 14

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Grupo de voluntárias que visitam casas e oram juntas, além de realizarem eventos com

temas específicos para mulheres, conforme explicação do folheto da comunidade20.

30. Moçada

Conhecido como “Espaço Moçada”, cuja proposta é a de proporcionar um tempo para

os jovens se desenvolverem social e ministerialmente, segundo o folheto da comunidade21.

Com uma linguagem contextualizada, muita música e interatividade, que são as ferramentas

para envolver todo esse pessoal que traz de dentro de si, por natureza, a semente da

transformação. Tudo isso, é claro, baseado na Palavra de Deus. O alvo principal do “Espaço

Moçada” é o de influenciar os jovens a levarem uma vida cristã de qualidade pela cultura do

Reino, o que só uma vida de relacionamento com Deus pode trazer. Por isso, dão instrução e

direção aos jovens de como andarem corretamente, como serem bons cristãos em casa, no

trabalho, na escola e onde estiverem. Num mundo cheio de referenciais é importante que a

igreja assuma seu compromisso de orientar e incentivar essa moçada a viver o cristianismo da

época.

31. Adolescentes

32. Pré-adolescentes

33. Ministério Infantil

34. Cegonha

Orientação às gestantes e mães de bebês que necessitem de apoio durante a gestação e

criação dos filhos, segundo nos explica o folheto da comunidade22.

VII – Suporte

20 FOLHETO DA COMUNIDADE, em anexo, p 15. 21 Idem. p. 11 22 FOLHETO DA COMUNIDADE, em anexo, p.15.

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Registro fotográfico dos eventos da Comunidade Carisma e a promoção e criação dos

eventos em si.

35. Eventos / Amigos da Carisma

Grupo de voluntários que oferecem algum tipo de melhoria física à estrutura da

Comunidade, seja em forma de material ou mão-de-obra23.

36. Fotografia

37. Esportes

Que hoje contam com as modalidades de futsal, volley, basquete e xadrez.

VIII – Suporte ao Culto

38. Cooperadores

Serviço de informação e apoio durante as reuniões (coletas de ofertas, distribuição de

ceias, etc.)

39. Projeção Telão

40. Música - Gernando Costa

41. Técnico de som

1.3. História das atividades Sociais da Comunidade

Ainda através do folheto produzido pela comunidade24, lê-se a seguinte explicação:

Juntamente com o nascimento da Comunidade Carisma foi criada a Associação Cristã de

23 Idem. P.15 24 FOLHETO DA COMUNIDADE. Vide em anexo. pg.12 e 13.

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Osasco, uma entidade com o objetivo de colaborar para a diminuição dos problemas sociais

da cidade. Por meio dessas ações sociais, mais de 2.300 pessoas foram beneficiadas:

- 150 moradores de rua, com atendimento e alimentação;

- 80 famílias carentes da área de Vila Yolanda-Osasco receberam auxílio, alimentação e

palestras para melhor orientação;

- 1.800 crianças carentes, através da campanha “Natal Solidário”, recebem presentes

anualmente;

- 90 gestantes com palestras educativas e orientação;

- 65 pessoas em curso de geração de renda;

- 150 pessoas em cursos técnicos de venda e telemarketing.

Em 2003 foi lançado o projeto “Abraçando o Social”, com objetivo de apoiar e

assumir diversos projetos sociais inteiramente gratuitos dirigidos à população de baixa renda.

Esse projeto transformou-se no Centro Social Comunidade Carisma, uma iniciativa que

envolve diversos voluntários membros da comunidade e pessoas da região.

Hoje o Centro Social Comunidade carisma desenvolve um projeto de apoio e educação

infantil a diversas crianças de 7 a 13 anos. Criado em março de 2005, começou com 35

crianças, rapidamente cresceu para 50 e, agora, tem a participação de 80 crianças. Sustentado

pelas doações espontâneas de mantenedores e o suporte da própria comunidade, esse projeto

presta assistência e atendimento à diversas crianças, através de com atividades sócio-

educativas, incluindo as oficinas de brinquedoteca, videoteca, esporte, reciclagem, arte,

xadrez, informática e capoeira. Somado a essas atividades, as crianças recebem três refeições

diárias: café da manhã, almoço e lanche da tarde. Dentro deste ambiente é possível

proporcionar um espaço seguro, longe da ociosidade e da propensão à evasão escolar,

diminuindo a fragilidade de risco social e pessoal dessas crianças. Através do atendimento

familiar e do contato com as escolas da região, é possível identificar a melhora no

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desempenho dessas crianças na escola e na família. Outro projeto importante, chamado de

“Educando Jovens para a Vida”, tem parceria com o SENAC, e assiste a 17 adolescentes entre

14 e 17 anos. Desta parceria nasceu o “Programa de Educação para o Trabalho”, que envolve

30 moradores do bairro 25.

O segundo projeto chama-se “Feito à Mão”, iniciado em junho de 2005 com o objetivo

de confeccionar objetos de artesanato que são comercializados e têm sua receita revertida para

auxiliar no custeio de despesas de todo o Centro Social. 26 Além disso, o projeto visa

fortalecer ações e cooperar com o desenvolvimento da cidade, através de atividades divididas

em oficinas de trabalho que disseminam essas técnicas entre mulheres de diversas áreas de

Osasco.

O próximo projeto que está sendo formatado é o de “Inclusão Digital”, que irá

cooperar para que todos tenham acesso ao conhecimento da tecnologia de informática. Esse

projeto, além de atender às crianças do Centro Social Comunidade Carisma, também irá

oferecer cursos de baixo custo para a comunidade local.

Além de tudo isso, o Centro Cultural de Idiomas e o Cursinho Pré-vestibular apoiam

as famílias atendidas pelo Centro Social Comunidade Carisma, oferecendo bolsas de estudo

para crianças e adultos.

1.4. O Ministério de Louvor

O Ministério de Louvor da Comunidade Carisma sempre se destacou por apresentar

um projeto que retrata a realidade da igreja.27 Louvores que, ao serem ouvidos, transmitem o

25 Vide Portal Net: http://www.comunidadecarisma.net/portal/centrosocial/jornal09.htm - consulta em 05 de abril de 2008 26Idem:http://www.comunidadecarisma.net/portal/centrosocial/revistadestaque.htm http://www.comunidadecarisma.net/portal/centrosocial/jornal02.htm - consulta em 05 de abril de 2008 27 Várias conversas informais com o Pr. Gernando Costa e comunicação via –email pessoal, entre dias 26-03-08 a 18-04-08

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sentimento de se estar participando de um culto de celebração. Este ministério tem sido

dirigido durante 13 anos pelo Pr. Gernando Costa, um homem que começou desde a sua

juventude nesta área, mesmo antes de ir para a Comunidade Carisma. No princípio, ele

operava equipamentos, carregava caixas de som e amplificadores. Como estudava eletrônica,

os integrantes deste ministério achavam que era a pessoa certa para cuidar da área técnica do

louvor, mas não imaginavam que ele nada conhecia sobre som. Por causa disso, foi se

achegando mais ao grupo de louvor, foi participando de ensaios e escutando os estudos

bíblicos. Por um tempo de sua vida, participou e foi parceiro do cantor e ministro de Deus,

Adhemar de Campos, quando teve sua primeira experiência com gravações em estúdio.

Hoje, é ele quem dirige toda a área de música da Comunidade Carisma, com bastante

critério – conforme normas da própria comunidade - em relação às músicas que serão

cantadas em cada culto, ou gravadas em cada CD. Sua pergunta 28diante de cada nova música

que escuta é: está difícil de entender, de captar seu tema?29 A Comunidade conseguirá

entender e aceitar bem a música? “Quando uma canção me leva mais para perto do Senhor ou

desperta em mim o desejo de estar cada vez mais apaixonado por Ele, já é uma boa

candidata”.30

Conforme relato do Pr. Gernando Costa, quando um repertório para gravação de um

CD precisa ser preparado, o mesmo critério mencionado acima é usado para escolha das

músicas. Muitas vezes, acontece de alguém dar alguma sugestão de outras músicas, também.

E o critério é o mesmo: escuta-se a música e avalia-se o conteúdo da letra, a mensagem e a

teologia que a mesma pode passar para a comunidade. Outro fator muito importante é que o

Ministério de Louvor trabalha lado a lado com pastores que têm o ministério de trazer e

pregar a palavra durante os cultos. Antes de cada pregação, eles conversam entre si e

28 Comentário pessoal do Pr. Gernando Costa. 29 Conversa informal com o Pr. Gernando Costa dia 23 de março de 2008, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco, S.P 30 Palavras do próprio Pr. Gernando Costa, em entrevista divulgada no portal Net: www.comunidadecarisma.net, http://br.f559.mail.yahoo.com/ym/ShowLetter?box=Inbox&Msgld=12_27412365 – consulta em 27-02-08

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escolhem, juntos, o repertório para condizer com a palavra e o teor da mensagem. É como se

música e palavra pregada se completassem no decorrer da liturgia.31

Nos últimos 3 (três) anos o Ministério de Louvor cresceu muito dentro da comunidade

e, por causa disso, conta também com uma estrutura muito bem organizada: Música vocal,

coral, produção de gravações de Cds, produção de eventos, Dança, Moçada e Galerinha.

Nesta área, além dos músicos, dançarinos, produtores e técnicos, existe a colaboração de mais

de 120 pessoas voluntárias, (4,8%).32 Nota-se, claramente, que este ministério está

estritamente interligado com a ação social, onde crianças, adolescentes e jovens acabam se

engajando numa destas modalidades e, portanto, encontrando sentido e direção para suas

vidas.

O estilo “Louvor e Adoração”, comenta Pr. Gernando33 Costa, vem ganhando cada vez

mais adeptos e muitos acabam desejando estar participar mais de perto deste “mover” dentro

de grupos ou ministérios de louvor nas igrejas e comunidades. Conforme palavras do Pr.

Gernando Costa34:

Infelizmente o termo “Louvor e Adoração” virou um estilo musical, quando deveria ser prática pessoal intensa. O que eu vejo é que às vezes, a falta de maturidade de alguns grupos, faz com que a essência de movimentos inspirados por uma razão genuína do Espírito Santo, se perca em meio a modismos e esquisitices. Vamos a algumas reuniões onde vemos alguma coisa que não é rotineiro acontecer e queremos que, imediatamente, aquilo aconteça em nossas reuniões. Isso causa uma distorção na forma de ministração. Os princípios por trás disso devem ser aplicados sim, e é bom. Mas os métodos devem ser customizados para a realidade do grupo em que vai ser aplicado. Seria coerente pegarmos uma forma de ministração de louvor que é comum e condizente com a cultura de, vejamos, Londres, e aplicarmos em uma igreja na cidade de Timburi (interior de São Paulo)? (....) Mas quando aplicamos os princípios juntamente com a contextualização cultural, isso pode trazer bons resultados.

Na Comunidade Carisma, o critério para fazer parte do Ministério do Louvor é bem

seletivo e rigoroso, na proporção do temor e da seriedade com o que se vive e pratica no

31 Conversa informal, por telefone, com por. Gernando Costa, em março de 2008. 32 Portal Net: www.comunidadecarisma.net – Consulta em 23-03-2008 33 Portal Net: www.comunidadecarisma.net – Consulta em 23-03-2008 34 Conversa informal com o Pr. Gernando Costa dia 23 de março de 2008, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco, S.P Pg. 3

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exercício do mesmo, segundo Pr. Gernando Costa.35 Sendo assim, um novo integrante precisa

estar ligado a um grupo caseiro (Pequeno Grupo), por um ano no mínimo. Depois disso, é

submetido a um processo de avaliação ou teste de seus conhecimentos musicais. Sendo

aprovado no teste, este novo integrante passa por um período de adaptação no grupo,

participando dos ensaios e das saídas para apresentações em outros lugares, porém, sem

ministrar.

Nesta mesma área de atuação chamada de Ministério de Louvor, o líder Lucas

Marcelino Popielysrko36 fez o seguinte resumo detalhado de como tudo funciona:

1. Como é a Equipe:

Temos uma equipe de aproximadamente 120 pessoas (4,8%) divididas em várias áreas, como:

instrumental, vocal e coral. Dividimos a estrutura do Ministério de Louvor em líderes de

naipe, onde cada naipe tem uma pessoa responsável, sendo todos liderados pelo nosso pastor

Gernando Costa.

2. Quais instrumentos:

Temos os seguintes instrumentos: bateria, instrumentos de percussão, baixo, violão, guitarra,

teclado oboé, flauta e violino.

3. Quem canta:

Temos cantores divididos em 3 naipes: Soprano, contralto e tenor. Nos cultos, temos um “lead

vocal” e mais 3 backs (3 sopranos, 3 contraltos e 3 tenores). No coral temos 4 naipes:

soprano, contralto, tenor e baixo.

4. Como é feita a seleção das músicas e quem as seleciona:

As músicas para as reuniões são escolhidas, geralmente, pelos “leads vocais”. Eles escolhem

as músicas que acham adequadas para as reuniões, de acordo ou não com um tema específico 35 Portal Net: www.comunidadecarisma.net – Consulta em 23-03-2008 36 Lucas Popielysrko enviou um e-mail, pessoal, em 17-04-08, apresentado todo o resumo do da Comunidade Carisma.

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(amor, fé, relacionamento com Deus, oração, ações de graças e etc.), ou de acordo com o tema

da série de mensagens do pastor.

5. Como são feitos os ensaios:

Os ensaios são feitos aos sábados, da seguinte forma:

Manhã – coral, dirigido por uma regente, das 9:00hrs. às 12:00hrs.

Tarde – Moçada (grupo formado pelo próprio pessoal do Ministério de Música, só que com

repertório específico para o pessoal do Espaço Moçada, evento que ocorre no último sábado

do mês para o pessoal de 16 a 30 anos). Este ensaio ocorre das 13:00hrs. às 15:00hrs.

Vocal – acontece em nosso estúdio das 14:00 às 15:00hrs., “sob a minha regência” (de Lucas

Marcelino), especificamente para o Back Vocal.

Geral – Acontece das 15:00hrs. às 17:00hrs. com o pessoal do Instrumental e Vocal juntos,

ensaiando para as ministrações de domingo (10:00hrs. e 18:00hrs), ou esporadicamente para

eventos, tais como: Fim de Ano, Páscoa e etc.

6. Critérios para se fazer parte deste ministério:

A pessoa que deseja ingressar no Ministério da Comunidade Carisma deve freqüentar a

Comunidade há no mínimo seis meses, ser batizado e pertencer a um Grupo Pequeno. A

pessoa que se encaixar nestes padrões será submetida a um teste pelos líderes de naipe e, caso

seja aprovada, deverá comparecer assiduamente aos ensaios para que possa participar das

escalas.

7. Como é a inter-relação com seus pastores:

“Nós temos acesso fácil aos pastores, principalmente o Anésio Rodrigues. A nossa maior

preocupação é cantar músicas que estejam ligadas com o que ele vai pregar, facilitando e

ajudando com que a mensagem seja passada ao povo”.

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1.5. Teologia da Comunidade Carisma37

Entre o evangelho e a cultura existe uma ponte, a qual podemos chamar de “um

plano”. A teologia da Comunidade Carisma é a base que faz a ligação deste evangelho com a

cultura, explica-nos o Pr. Rui Luis Rodrigues.38 A comunidade Carisma está baseando sua

teologia não numa leitura fundamentalista da Bíblia, onde acaba se tornando absoluta em si

mesma, mas sim, no contexto histórico e cultural. A abordagem para não basearem a teologia

na leitura fundamentalista é que o próprio processo de revelação se dá pela história. A

revelação é construída historicamente através do ser humano e do momento cultural que ele

vive. Deus tem um profundo respeito pelo ser humano, a ponto de se revelar a ele, na pessoa

de Jesus Cristo. E esta revelação acontece ao ser humano em cada momento e no processo

histórico-cultural da existência.

A Comunidade Carisma toma como referência bíblica para a base de sua teologia os

seguintes versículos:

O primeiro:

“E Jesus lhes disse: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e

de todo o teu pensamento. Este é o primeiro grande mandamento. E o segundo, semelhante a

este é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.39

O segundo:

“Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus a

quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu

irmão”.40

37 Todo o conteúdo da “Teologia da Comunidade Carisma” foi apresentado em conversa informal com o Pr. Rui Luis Rodrigues, em 23-04-08, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco. São Paulo, SP 38 Conversa Informal com o Pr. Rui Luis Rodrigues, em 23-04-08, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco. São Paulo, SP 39 Bíblia Sagrada. - Tradução de João Ferreira de Almeida. Revista e corrigida. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2007.p. 865. Mateus, Capítulo 22, versos 37 e 38.

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Conforme explicação do Pr. Rui Luis Rodrigues, a aplicação de toda a teologia da

Comunidade Carisma começa com:

1. Um profundo respeito e valorização para com o ser humano.

2. Todas as pessoas que se sentem discriminadas podem encontrar seu lugar dentro da

Comunidade Carisma, por se sentirem à vontade em seu meio, o que espelha um

evangelho atrativo.

O respeito e a valorização para com o ser humano acontecem ao se amar a Deus em primeiro

lugar e ao próximo, como a si mesmo. Por isso, a base teológica da comunidade é viver pelo

respeito e valorização: aquele que nunca se sentiu respeitado ou valorizado, começa a se

sentir. Esta é a “visão” que a Comunidade Carisma tem sobre o Reino de Deus, que foi

apresentado no primeiro capítulo:

O Reino de Deus está relacionado com o Evangelho Integral. A comunidade não vive

fechada em si mesma, mas estende suas portas para a cidade de Osasco. Evangelho Integral

fala do todo: cura emocional, assistência social, integração do ser humano, altruísmo, amor e

valorização do homem. O Reino de Deus é integral e tipifica a ação de Deus mediante a qual

Ele pretende colocar as coisas no “formato original”, através da transformação. O homem,

com a queda, teve uma perda original. Reino de Deus é buscar colocar o ser humano no ponto

que Deus planejou para ele. Com a queda, o principal problema do homem passou a ser o

egoísmo. “Este é o problema básico do ser humano: viver pelo egoísmo”, explica Pr. Rui Luis

Rodrigues.

Todo o trabalho social da Comunidade Carisma é o resultado da perspectiva da base

teológica da mesma: a valorização do ser humano. Para a comunidade, um processo de

conversão, na verdade ocorre quando alguém consegue encontrar seu valor. Sendo assim, a

40 Idem. p. 1120. I João, Capítulo 4, versos 20 e 21

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obra social que existe nesta comunidade não começou como uma justificativa de fé por obras,

mas como resultado da base teológica da mesma: a igreja precisa servir o mundo e as pessoas.

E, finalmente, falando da base teológica voltada à escatologia, o Pr. Rui Luis relata o

seguinte: “Deus está mais preocupado com o presente do que com o futuro”. Ele quer

transformar o presente para que possamos colher um bom futuro. O Novo Testamento fala dos

“últimos dias” e não do “fim”, ou seja, a ênfase bíblica não dá resposta para o fim, mas para a

busca de uma vida bem semeada no presente.

Até o presente momento, fizemos uma apresentação estrutural da Comunidade

Carisma: como é seu funcionamento em seus diversos setores, quem são as pessoas

responsáveis e como os departamentos se dividem e se relacionam entre si.

Também apresentamos toda a base teológica da comunidade. Sem esta base, com

certeza, a comunidade não teria diretrizes e um caminho certeiro a seguir. É pela base

teológica que toda a sua liturgia se estabelece e caminha, juntamente com os resultados nas

áreas de ação social e missão urbana.

Nossa próxima etapa é fazermos a apresentação dos referenciais teóricos, onde

embasaremos o nosso projeto e todo o resultado de como é o funcionamento da Comunidade

Carisma. No referencial teórico, utilizaremos trabalhos e escritos de autores já consagrados no

meio científico, tais como: Antonio Gouveia de Mendonça, Jorge Henrique Barro, Denise

Cordeiro de Souza Frederico, Magali do Nascimento Cunha, Caril F. Schalk entre outros que

serão mencionados no decorrer desta dissertação.

Como o objetivo desta pesquisa é a análise do conteúdo das letras dos cânticos da

Comunidade Carisma, no sentido de descobrirmos quais são os valores e os elementos que a

letra enfoca, o individual ou o coletivo, fez-se necessário a classificação de quais são os

movimentos atuantes no sentido de cada letra, conforme classificação de Antonio Gouveia de

Mendonça e outros que serão citados no decorrer do tema.

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CAPÍTULO 2

2. Os cânticos e seus aspectos

2.1. Os Referenciais Teóricos

Muito já se pesquisou sobre a história e fases da hinologia e nem é nossa intenção

discorrer sobre esse assunto, pois não estamos tratando da história em si. Por nos reportar até

o momento atual, a história acaba sendo nossa companheira neste processo de trabalho.

Sendo assim, faremos uma breve exposição do desenvolvimento e transformações das fases

da hinologia. O foco será sobre os critérios de avaliação das letras e sua teologia, conforme as

influências dos movimentos religiosos e seus respectivos enfoques. Como cada denominação

protestante histórica lidou com a música é uma determinante de como os hinários – hinos -

passaram a ser editados e colocados em prática.

Nas igrejas protestantes entende-se por música sacra tradicional aquela que vem sendo

cantada pelo menos por duas gerações, tendo um estilo aceito pelos mais “velhos”, sem

grandes embaraços. Antonio Gouveia Mendonça classifica o canto protestante em quatro

características básicas: 41

1. Linguagem acentuadamente individualista: que é o protestantismo pietista, onde há o

enfoque de uma busca individual no cultivo e na leitura da Bíblia no decorrer da vida

religiosa. A consciência dói por causa do pecado, “precedendo assim, um sentimento vívido

do sofrimento substitutivo de Jesus, seu sangue, seus ferimentos, sua morte”. 42 Por causa de

41 MENDONÇA, Antonio Gouveia de. O Celeste Porvir. São Paulo, SP, IMS, 1995. pp. 225 -240 42 Idem. p. 225

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todo este sofrimento, as letras dos hinos são poéticas, sofridas e permeadas de um grande

emocionalismo. Mendonça reforça este aspecto com as seguintes palavras: 43

“O enclausuramento do crente com a sua Bíblia e a busca e cultivo incessantes da experiência e da comunhão com Jesus levam-no à negação do mundo e ao desprezo dos prazeres da vida. Essa atitude se caracteriza positivamente pela afirmação de um valor maior, o cultivo de sua devoção, e negativamente pela consciência de que os prazeres mundanos são antagônicos aos prazeres e gozos espirituais. São numerosos os cânticos que exaltam essa vida superior”.

Em suma, o pietismo é bem caracterizado e direcionado para a busca, crescimento e vida

dentro de um sistema individual de crenças.

2. Sentido provisório do caminhar cristão na terra (a peregrinação): É o protestantismo

peregrino. O enfoque é o mundo que virá, o porvir. Um mundo fora da terra, o mundo

celestial que, indubitavelmente, é muito melhor que este mundo aqui. O mundo onde estamos

é uma “passagem”; estamos aqui como peregrinos. Mas, como diz Mendonça: 44

Sua ética de negação do mundo conduz à constante expectação do porvir, do mundo a-

histórico do além, muito melhor do que o presente. Se essa expectação o leva a cantar as glórias e os prazeres de sua futura e verdadeira pátria, leva-o, em contrapartida, a recusar os valores do presente.

Portanto, o protestantismo peregrino caracteriza seus cânticos com letras que falam do

efêmero, do celestial, do transitório. E estes são os prediletos dos seus cantores: o efêmero,

que por um lado oferece um mundo melhor, mas de outro justifica os sofrimentos presentes de

um mundo hostil, difícil e incompreensível.

3. Expectação pelo porvir (ênfase na escatologia): O protestantismo milenarista. Comenta

Mendonça: 45

43 MENDONÇA, Antonio Gouveia de. O Celeste Porvir. São Paulo, SP, IMS. 1995 p.. 226 44 Idem. O Celeste Porvir. São Paulo, SP, IMS. 1995 p. 228 45 Idem p. 235

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Os estudiosos desses movimentos concordam, regra geral, que eles surgem em populações rurais subalternas, em situações anônimas ou de mudanças social, em que os modos de vida tradicionais são ameaçados. Quando a esses fatores somam-se a falta de assistência religiosa, como ocorreu durante todo o desenvolvimento da sociedade brasileira “rústica”, as condições para a emergência de messianismos são bastante favoráveis.

O protestantismo é entendido como o movimento que ofereceu espaço para uma “nova

religião”. A mentalidade messiânica está ligada à longa história que começa em Portugal com

o “sebastianismo” 46, com o sonho do solo fértil, na terra dos indígenas. O mito da “terra sem

males”. 47 Conforme interpretação de Mendonça: 48

As longas migrações de milhares de indígenas, anotadas desde o século XVI, em

busca de imortalidade e descanso eternos, podem ter alimentado ou oferecido solo propício para diversos movimentos sebastianistas no século XIX, quase todos eles com desenlaces trágicos.(...) Creio ser válida a hipótese de que a junção das crenças indígenas sobre a “terra sem males” com as crenças sebastianas formou na “civilização rústica” brasileira uma mentalidade messiânica. (...) Em outros lugares foi dito que o pré-milenismo foi, nas fontes protestantes brasileiras, uma reação contra o liberalismo, assim como um sinal de cansaço das lutas teológicas. O liberalismo teológico cria nas virtudes humanas, a possibilidade da consciência individual transformar-se em consciência social. Enfatiza o papel do homem cristão na sociedade como fundamental para a formação de uma sociedade justa e feliz. O Reino de Deus era tido como um ideal genuíno para o mundo contemporâneo.

Segundo Antonio Gouveia de Mendonça, no liberalismo o problema de vida após

morte não é uma preocupação, porque a atenção principal se dá na vida aqui e agora. A vida 46 SEBASTIANISMO: Movimento místico-secular que ocorreu em Portugal na segunda metade do séc. XVI como conseqüência da morte do rei Dom Sebatião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Por falta de herdeiros, o trono terminou nas mãos do rei Felipe II da rama espanhola da casa de Habsburgo. Basicamente é um messianismo adaptado às condições lusas e à cultura nordestina do Brasil. Traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre. Fonte: http://pt..wikipedia.org/Wiki/sebastianismo. Consulta em 09-04-2008 47 “TERRA SEM MALES”: Quando Nhandevuruçu (nosso grande Pai) resolveu acabar com a terra, devido à maldade dos homens, avisou antecipadamente Guiraypoty, o grande pajé, e mandou que dançasse. Este obedeceu-lhe passando toda a noite em danças rituais. Quando terminou sua dança, Nhandevuruçu retirou os esteios que sustentavam a terra, provocando um incêndio devastador. Guiraypoty fugiu para o Leste, com sua família, em direção ao mar. Tão rápida foi a fuga que não teve tempo de plantar, nem colher mandioca. Todos teriam morrido de fome se não fosse seu grande poder que fez com que o alimento surgisse durante a viagem. Chegando ao litoral, seu primeiro cuidado foi o de construir casa de madeira para quando viesse o mar, ela resistisse. Terminada a construção, fizeram novo ritual de dança e canto. O perigo tornava-se cada vez maior, pois o mar, com a iminência de apagar o incêndio, ia engolindo toda a terra. Quanto mais subiam as águas, mais Guiraypoty e sua família dançavam. Para não serem tragados pelas águas do mar, subiram no telhado da casa. Guirypoty teve medo e chorou. Mas sua mulher lhe falou: - Se tens medo, abre seus braços para que os pássaros que estão passando possam pousar. Se eles sentarem em seu corpo, pede para nos levar para o alto. E, mesmo em cima do telhado, a mulher continuou batendo a taquara ritmadamente contra o esteio da casa, enquanto as águas subiam.Guiraypoty entoou, então, o nheengaraí, o canto solene do guarani. Quando iam ser tragados pelas águas, a casa se moveu, girou, flutuou, subiu....até chegar à porta do céu, onde ficaram morando. FONTE: http://www.prime.org.br/missaojovem/mjhstmesmito.htm. Consulta em 09-04-2008 48 MENDONÇA, Antonio Gouveia de. O Celeste Porvir. São Paulo, SP, IMS. p 234, 235

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futura está relacionada ao fato do espírito ser platônico, o que condiciona o pré-milenista ao

espiritualismo, projetando-o para uma história imortal e para a ressurreição do corpo, após a

vinda de Jesus. Então, como diz Mendonça, 49 “o que compete ao homem não é edificar o

Reino, mas estar pronto para a sua vinda sobrenatural mediante o arrependimento e a fé,

diante de uma sociedade impotente e de desesperança”. Os hinos pré-milenistas são muitos.

Ele tem sido o motivo de intensas emoções, somado à ausência de sofrimento e velhice,

incitando o transcendentalismo, relata Mendonça. 50

4. Textos que se referem ao povo de Deus como o “exército”, usando termos militares: O

protestantismo guerreiro. Como o próprio nome diz, os hinos guerreiros refletem o espírito de

guerra, exatamente por coincidir com um tempo onde as denominações protestantes começam

a experimentar e sentir resultados de suas próprias semeaduras. É como se respostas

estivessem chegando. E o motivo dessa euforia, relata Mendonça, 51 “tem seu ápice no

expansionismo do colonialismo anglo-saxão”. Provavelmente, os cânticos de guerra tenham

começado debaixo da influência do Exército da Salvação (Salvation Army) fundado em 1878,

na Inglaterra, em plena ebulição missionária. Mendonça continua seu relato: 52

A ideologia guerreira é transportada para o espiritual: o inimigo a ser combatido é o

mal, e o chefe guerreiro é Jesus. O triunfo final sobre o mal será assinalado pela vinda pessoal de Jesus que, vitorioso, inaugura o milênio. A convicção é que a vinda do milênio será abreviada na medida em que o mal for sendo suplantado pelo bem.(...) O protestantismo guerreiro não se constitui uma guerra santa contra os infiéis, como no catolicismo guerreiro, mas numa guerra contra poderes metafísicos nos espaços espirituais.

Os cânticos de guerras não foram tão cantados neste período, mas como relata

Mendonça, aumentaram consideravelmente nos primeiros anos do século XX. 53

49 MENDONÇA, Antonio Gouveia de. Celeste Porvir. São Paulo, SP, IMS. 1995.p. 236 50 Idem. p.239 51 Idem. p. 231 52 Idem, p.231 53 Idem p.233

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Em torno da coroa e da cruz, o estandarte e divisa do Rei, reúnem-se os soldados para combater as forças do mal e guardar o forte do bem. É uma batalha permanente enquanto não se der a irrupção do sobrenatural na história para inaugurar um novo tempo. Mas a batalha se dá no plano espiritual; o protestantismo guerreiro é uma espiritualização da guerra.

Denise Frederico54 acrescentou a esta classificação uma quinta característica:

5. Hinos que chamam o não convertido ao arrependimento de pecados e à “conversão”. Como

o próprio nome o diz: são os hinos que chamam as pessoas ao arrependimento.

Como o objetivo desta pesquisa é a análise do conteúdo das letras dos cânticos da

Comunidade Carisma, no sentido de descobrirmos quais são os valores e os elementos que a

letra enfoca, o individual, ou o coletivo, faz-se necessária a classificação de quais são os

movimentos atuantes no sentido de cada letra, conforme classificação de Mendonça e outros

que serão citados no decorrer do tema.

Ramos,55 descrevendo a classificação dos hinos feita por alguns autores, escreve sobre

cada um deles:

História do culto protestante no Brasil de Carl Joseph Hahn56, publicado pela Aste, faz

uma análise do desenvolvimento do culto protestante no Brasil procurando explicitar quão distante a experiência brasileira está das origens européias em sua teologia do culto que chega ao Brasil via Estados Unidos da América. Para Hahn, em lugar de apontar para a graça – uma autêntica resposta gratuita ao favor divino -, o culto brasileiro caracterizou-se como trabalho, obrigação.

Neste sentido torna-se bem difícil o estudo das letras dos cânticos que se cantam nas

comunidades com características pentecostais ou neo-pentecostais. Nelas a graça, o poder e a

experiência formam a identidade destes movimentos, que possuem uma forma diferente,

portanto, mística e sobrenatural, de encarar a religiosidade. A ênfase do pentecostal é a de

buscar a revelação diretamente de Deus. Operam curas milagrosas e vivem intensa batalha

espiritual.

54 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto Cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001.p.236 55 RAMOS, Luiz Carlos. Os Corinhos. Uma abordagem pastoral da hinologia preferida dos protestantes carismáticos brasileiros. São Bernando do Campo, SP: UMESP, 1996. p. 24 56 HAHN, Carl Joseph. História do culto protestante no Brasil. São Paulo, SP: ASTE, 1989. p. 403

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Citando Monteiro57, em Cânticos da Vida, Ramos58 faz a seguinte análise, que já

começa a se aproximar um pouco mais das características do movimento pós-moderno, “onde

os cantos, cuja forma musical, ainda são do passado, só serão considerados contemporâneos

se as suas letras expressarem conteúdos dos problemas atuais (como os da Teologia da

Libertação) ou se, mesmo contemplando assuntos pertinentes ao acervo cristão, sua

linguagem passa a ser comprometida com o modernismo literário”: 59

Este é um trabalho crítico. A autora se propõe a iniciar a tarefa (...) na compreensão da

mentalidade protestante. Adotando o Credo Apostólico como roteiro temático, e a teologia da libertação como referencial teórico, procura classificar os hinos em três perspectivas: (1) Conservadora; (2) renovadora e (3) libertadora. Esta análise a autora desenvolve a partir da comparação dos hinos de hinários adotados pelas principais denominações evangélicas no Brasil, utilizando, também, cancioneiros alternativos afinados com a teologia latino-americana como O Novo Canto da Terra60, Cantar a Esperança61, Nova Canção62, Jesus Cristo Vida do Mundo63, entre outros.

Frederico64 relata:

Na década de 30 do vigente século, existe um registro que acusa o descontentamento com a superficialidade da vida religiosa na igreja evangélica. Alguns fizeram ouvir suas vozes reclamando a necessidade de uma forma diferente de culto que viesse modificar o estado das coisas. (...) Somando-se à influência dos leigos e das escolas dominicais, outro legado que influenciou o estilo de culto protestante no Brasil, veio da tradição avivalista trazida pelos missionários norte-americanos. Antonio Mendonça também viu que nos cultos os missionários protestantes americanos legaram aos brasileiros fortes traços da teologia e dos conceitos eclesiásticos que transplantavam dos revivals, características que o tornaram distintos. (...) Paralelamente a essa tradição, muito contribuiu para a consolidação no Brasil de um culto não-litúrgico a influência do hábito norte-americano dos camp-meeting, que eram reuniões informais realizadas ao ar livre durante dias.

57 MONTEIRO, Simei de Barros. Cânticos da Vida – análise de conceitos fundamentais expressos nos cânticos das igrejas evangélicas no Brasil. São Bernardo do Campo, SP: ASTE, 1991. p. 11 58 RAMOS, Luiz Carlos. Os Corinhos. Uma abordagem pastoral da hinologia preferida dos protestantes carismáticos brasileiros. São Bernando do Campo, SP: UMESP, 1996. p.25 59 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.237 . 60 MARASCHIN, Jaci Correia, ed. O novo canto da terra. São Paulo: IAET, 1987, 624 p. 61 CANTAR A ESPERANÇA. São Paulo, Conselho Latino-Americano de Igrejas (Clai): METODISTA, 1988. 62 JESUS CRISTO VIDA DO MUNDO. São Paulo, Programa Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, IMS: METODISTA, 1986. p.127 63 OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro de; BOFF, Leonardo; LIBÂNIO, João Batista; BITTENCOURT, Estevão. A renovação Carismática Católica: uma análise sociológica interpretações teológicas. Petrópolis, RJ: VOZES/INP/CERIS, 1978, p.215. 64 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.277

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A cultura atual não vive apenas um evangelho de tradições e doutrinas, mas, conforme relata

Ramos65, citando Tarcísio Justino Loro: 66

Tal práxis, como sugere Loro, não permite, portanto, que a celebração ignore o situacional histórico das comunidades em que vive a assembléia. Nela celebramos os acontecimentos da comunidade, suas lutas e esperanças, suas mortes e nascimentos, suas vitórias e desenganos. A assembléia traz para a celebração toda sua história, sua cultura, seu emprego-desemprego, sua doença, sua casa ou despejo, seu salário ou poupança, sua política ou alienação, seu sindicato ou clube.

É neste momento que a teologia da letra cantada na comunidade indica e aponta para

uma contemporaneidade, mesmo tendo sua base na tradição protestante, onde o órgão ou

piano passam a ser substituídos por outro instrumento (como o violão e instrumentos de sopro

e de percussão).

As igrejas pentecostais passam a ter um espaço maior de improvisações individuais durante os

cultos, conforme conta Frederico. 67

Nessas igrejas e em outras protestantes sem um padrão rígido na liturgia, a forma de apresentação da música sacra contemporânea mais usual é a que imita os grupos musicais denominados seculares (de fora do âmbito da igreja), os quais colocam no palco à frente da platéia um líder para o canto. (...) o fato de se usar cantos não pertencentes ao hinário oficial já é um marco suficientemente explícito de que ali os cantos não são tradicionais. (...) Uma nova característica: nova concepção rítmica, com tendência para abraçar os ritmos autóctones (no Brasil; o samba, o baião, o sertanejo, a bossa-nova entre os mais usuais) e reforço na pulsação através do uso da percussão; aceleração do andamento musical. (...) Quanto ao verso, foge das rimas antigas mais usuais (como a abab ou aabb ou abba), preferindo a rima livre. O texto dá destaque a temas relacionados com os interesses da atualidade. (...) Os cantos falam de luta em favor dos pobres e oprimidos e convocam os cristãos a se engajarem na luta contra a opressão dos mais fortes. (...) Os cantos, cuja forma musical se identifica com a do passado, só serão considerados contemporâneos se a sua letra expressar conteúdo de problemas atuais ou se, mesmo contemplando assuntos pertinentes ao acervo cristão, sua linguagem está comprometida com o modernismo literário.

Neste momento, conseguimos destacar a importância do estudo da teologia da letra,

que é o objetivo central de nosso trabalho, tanto no âmbito individual quanto no coletivo. Por

65 RAMOS, Luiz Carlos. Os Corinhos. Uma abordagem pastoral da hinologia preferida dos protestantes carismáticos brasileiros. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1996. p. 19 66 LORO, Tarcísio Justino. Ruídos na comunicação litúrgica. Revista Litúrgica nº 91. São Paulo: PAULINAS, ano XVI, janeiro/fevereiro, 1898. p. 20 67 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p 237 – Grifo da pesquisadora.

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outro lado, conforme citação de Frederico, o critério da escolha da letra do cântico é

importante no sentido de que cumpra seu papel. Para levantar o critério de seleção de cantos

da comunidade faz-se necessário relacioná-lo com a teologia e a cultura, como diz Frederico:

“O canto sacro deveria ser expresso numa língua compreensível (...) para que haja uma

chamada a uma participação mais efetiva”. 68

Recorrendo a alguns estudos de teólogos, Frederico69 alista alguns critérios

importantes para a seleção dos cantos:

1. A seleção deve orientar-se pelo povo, atendendo às suas necessidades. Paralelamente,

é mister pesquisar uma linguagem que seja significativa para a cultura circundante: o

cristianismo precisa ser relevante para a sociedade atual.

2. A teologia do culto. É necessário que as pessoas responsáveis pela escolha dos hinos,

quer por hinários, quer pela liturgia do culto, firmem primeiro a teologia do culto.

3. É necessário determinar o que se quer reter da história, dos valores passados, que

outras gerações utilizaram e que ainda hoje podem ter significado para as gerações

futuras.

4. O critério “ensino” aparece nos primórdios do cristianismo, quando a religião cristã

era proibida e os cristãos sofriam perseguição. (...) Através da palavra (querigma) e do

canto, os novos conteúdos sobre a morte e ressurreição de Jesus Cristo eram

vinculados.

5. O critério “o canto deve adequar-se à liturgia” foi Martinho Lutero quem resgatou com

a participação popular no culto cristão. Através dessas adequações litúrgicas é que se

pode entender o melhor critério de escolha dos hinos e suas letras: a participação do

povo.

68 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p 237 69 Idem. p. 308

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6. Estética e emoção vêm complementar a visão humana que decide ver o mundo com os

olhos postos na beleza e naquilo que pode causar bem à alma.

Jambeiro70, complementando o pensamento sobre critérios para seleção dos cânticos, fala

o seguinte: “Conhecer os hinos preferidos dos paroquianos é conhecer suas convicções, suas

preferências ideológicas e suas aspirações culturais”.

Se uma comunidade que tem sua base teológica fundamentada no contexto histórico-

cultural, então, sua hinologia deverá condizer e acompanhar sua teologia. Para chegarmos a

este pensamento teremos que fazer uma análise das letras dos cânticos, comparando-as ou

associando-as com a base e a prática teológica da comunidade.

2.2. Análise das letras dos cânticos71 e do significado teológico – individual ou

coletivo/social.

A escolha das letras dos cânticos foi feita com o seguinte critério: esta comunidade tem

sua particular identidade e é pautada sob uma teologia voltada ao amor, respeito e valorização

do próximo. É uma comunidade que se atém aos relacionamentos, valorizando o homem tanto

individualmente, quanto no coletivo. Por isso, os cânticos escolhidos foram os compostos

pelos músicos da própria comunidade.

A intenção é de se fazer uma análise mais de acordo com o seu perfil teológico e base da

prática de vida.

A freqüência com que os cânticos são cantados é variável. Depende muito do conteúdo

que será pregado durante as ministrações em cultos, o que é previamente decidido entre pastor

e líder do louvor.

70 JAMBEIRO, Othon. Canção de Massa: as condições da produção. São Paulo, SP: Pioneira, 1975. p. 13 71 Todas as Letras dos Cânticos forma fornecidas pelo Pr. Gernando Costa, líder da Comunidade Carisma. Fornecidas em 30 de abril de 2008.

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I – SALVAÇÃO

Autor: Mateus de Oliveira

Distante, perdido eu estava antes de ouvir falar

De um homem capaz de entregar sua vida em meu lugar

Cansado, ferido, incapaz de sentir tamanho amor

Daquele que um dia morreu pra levar a minha dor

Precisava de libertação

De uma luz na minha escuridão

De um amor perfeito que pudesse me salvar

Jesus em ti está a salvação

Não há outro caminho, outra direção

Por tua graça encontrei perdão

Teu amor transformou para sempre meu coração

Lavado, remido

O teu sangue me comprou na cruz

Pra sempre liberto das trevas para Sua luz

Teu amor me resgatou

Minha vida transformou

Livre sou pra te adorar

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Jesus em ti está a salvação

Não há outro caminho, outra direção

Por tua graça encontrei perdão

Teu amor transformou para sempre meu coração

Como o próprio título informa, este cântico fala da salvação, em primeiro lugar,

sempre mostrando a condição humana, caída e perdida e apontando para um homem que

foi capaz de morrer por todos.

O primeiro aspecto humano que a letra aponta é que, individualmente, o homem está

só, perdido, necessitando de respeito e valorização, como está escrito: “Distante, perdido,

(...) cansado, ferido, incapaz de sentir amor. Precisava de libertação”.

A letra apontando para uma necessidade individual, denota que o processo de

conversão também é uma experiência individual. Esta indicação aponta para um Salvador

que olha cada ser humano individualmente.

No segundo aspecto do cântico é demonstrado que, após a conscientização, o homem,

individualmente, precisa se sentir amado e liberto. No momento que o cântico diz: “Jesus

em ti está a salvação. Não há outro caminho, outra direção. Por tua graça encontrei

perdão. Teu amor transformou para sempre o meu coração”, o homem está admitindo a

necessidade de um libertador. No caso, Jesus Cristo.

O terceiro aspecto do cântico mostra o resultado, individual, na vida da pessoa:

“Lavado, remido. O teu sangue me comprou na cruz. Pra sempre liberto das trevas para

Sua luz”.

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O quarto aspecto demonstra qual a conseqüência do processo demonstrado acima:

“Teu amor me resgatou. Minha vida transformou. Livre sou para te adorar”. O homem

passa a ser livre para a busca de Deus.

II – AÇÃO DE DEUS

Autor: Daniel dos Anjos – Versão

Porque nós vivemos um tempo precioso

Renovados na graça de Deus

Através do seu filho Jesus

Somos cheios da sua alegria

E repletos

Do seu amor

Porque a colheita grande é

Temos aprendido a viver em fé

Experimentando o melhor do Senhor

Vida nova, vida de comunhão

Há uma grande ação de Deus

Transbordando este lugar

Eu não posso me calar

Sua presença posso sentir

Deus está agindo aqui

Então deixe-se inundar

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Este cântico fala bem do aspecto coletivo. Dá a impressão de que é a própria

comunidade falando do resultado que a ação de Deus está promovendo em seu ambiente: “o

aprendizado de se viver por fé, o experimentar o melhor do Senhor, ter uma vida nova, vida

de comunhão”.

Por outro lado, percebe-se que o resultado de todo este desejo de movimentação se

manifesta em decorrência de uma experiência com o sagrado, advinda da AÇÃO DE DEUS:

“Porque nós vivemos um tempo precioso. Renovados na graça de Deus, através do seu filho

Jesus. Somos cheios de alegria e repletos do seu amor”.

Interessante notar que no final do cântico a “ação de Deus” tem uma conotação de

transbordamento, a ponto de as pessoas que estão presentes nesta experiência não poderem

mais se calar. E o apelo final é: “Então, deixe-se inundar”.

III – ADORAÇÃO

Autor: Daniel dos Anjos – Versão

Porque és fiel a mim Senhor

Quero adorar-te e te servir

Porque a tua fidelidade vai além das nuvens

E a tua misericórdia é para sempre

Eu te louvarei oh Deus

Com todo o meu ser

Um novo canto a ti eu cantarei

Eu te louvarei oh Deus

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Com todo o meu ser

Ante os povos te engradecerei

Pra te adorar, pra te servir

Pra te amar foi que eu nasci

Pra te exaltar, te engradecer

Te proclamar Senhor, o Rei dos Reis

Cunha72 apresenta descrição sobre “Adoradores” descrita por Marcos Witt, um cantor gospel

mexicano, ganhador do Prêmio Grammy Latino 2003, na categoria “Música Cristã”, também

teólogo do movimento. Ele escreve: 73

Adorar a Deus não é apenas cantar hinos afirmando que Cristo precisa

assumir o trono da nossa vida. É isso, sim, permitir que ele realmente o faça na prática e na vida diária. Poderíamos dizer, como já o dissemos em várias ocasiões, que a adoração é um modo de viver.

Neste cântico é facilmente identificável que os “adoradores”, motivados pela

fidelidade do Senhor, buscam um novo modo de viver.

A letra deste cântico expressa uma experiência individual, onde a pessoa está

buscando, gradativamente, uma transformação do estilo de vida: “Eu te louvarei oh Deus,

com todo o meu ser. Um novo canto a ti eu cantarei”.

Por outro lado, apesar de a letra do canto ser uma experiência individual, percebe-se

que existe um direcionamento, um movimento voltado para o social e o coletivo: “(...) ante os

povos te engrandecerei”. Quando se fala em engrandecer a Deus, provavelmente, este

engrandecimento será demonstrado num sentido horizontal: de homem para homem.

72 CUNHA, Magali do Nascimento. A explosão Gospel. Rio de Janeiro, RJ: MAUAD, 2007. p.107 73 WITT, Marcos. Adoremos. Belo Horizonte, MG: BETÂNIA, 2001. p.91

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E a letra fecha “categoricamente” mostrando o resultado da motivação dada por Deus:

Adorar, servir, amar, engrandecer e proclamar o nome do Senhor. Este resultado é individual,

mas a prática e a manifestação dele são coletivas e sociais.

IV – ATOS 2

Autor: Daniel dos Anjos e Silas de Oliveira – Versão

E permanecendo na doutrina dos apóstolos

Na comunhão, nas orações e no partir do pão

Tendo tudo em comum

Em cada alma o temor de Deus

Maravilhas e milagres feitos por apóstolos

Não havendo falta ou necessidade

Por ser um o coração

Dia-a-dia a multidão

Como igreja em união

Partindo o pão de casa em casa

Com sinceridade e alegria

Louvando a Deus de coração

E caindo na graça do povo

O Senhor acrescenta à igreja

Os que chama para si

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Tornando-os parte do seu corpo

Para tocar as gerações

A letra deste cântico está baseada no Livro dos Atos dos Apóstolos, que tinham a vida e tudo

em comum. Viviam de casa em casa, repartindo o pão. “E perseveravam na doutrina dos

apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. (Atos dos Apóstolos, Capítulo 2,

versículo 42)74

Este cântico passa a “idéia” de estar se expressando o coletivo e o social. Fala de um

modo de vida em comum, onde, por causa deste tipo de relacionamento, dificuldade alguma

havia entre as pessoas.

O cântico apresenta uma seqüência de relacionamentos:

1. Permanência na doutrina dos apóstolos, ou seja, estudo da Palavra.

2. Na comunhão, o que envolve toda uma troca social.

3. Nas orações. Coletivamente buscando o Sagrado.

4. No partir do pão. Um alimentando o outro e, consecutivamente, levantando o memorial da

crucificação de Jesus Cristo.

5. Tendo tudo em comum. O comum pode expressar o dia-a-dia. Uma vida em comunidade.

“Maravilhas e milagres feitos por apóstolos, não havendo falta ou necessidade. Por ser um o

coração, dia-a-dia a multidão, como igreja em união”.

O resultado desta coletividade, desta vida em comum é o crescimento “horizontal”:

“Louvando a Deus de coração e caindo na graça do povo, o Senhor acrescenta à igreja os que

chama para Si, tornando-os parte do seu corpo para tocar as gerações”.

74 BIBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Revista e corrigida. São Paulo, SP: MUNDO CRISTÃO, 2007 Livro: Atos dos Apóstolos, Capítulo 2, versículo 42. p. 966

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V – ATRAI-ME

Autor: Thatiana Ribeiro

Como é bom desfrutar do teu amor

Como é bom conhecer o teu cuidado por mim

A cada dia Senhor eu tenho conhecido

As tuas misericórdias que não têm fim

Pai eu quero andar debaixo dos teus sonhos

E realizar somente o teu querer

Contemplar a tua face, viver a tua vida

Vida de intimidade e comunhão

Atrai-me Senhor

Para os teus braços

Leva-me a conhecer a tua vontade

Eu quero estar

No centro dos teus sonhos para mim

A tua santidade me constrange Senhor

Mas o teu amor me leva

Para um lugar mais alto

Onde eu possa te tocar

Atrai-me Senhor.....

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Um cântico apelativo e, simultaneamente, aconchegante, porque demonstra o que

acontece quando alguém busca o “Pai”: “Como é bom desfrutar do teu amor. Como é bom

conhecer o teu cuidado por mim. A cada dia Senhor eu tenho conhecido as tuas misericórdias

que não têm fim”.

A letra deste cântico demonstra um diálogo individual com Deus, quando a pessoa

recorre o que está em seu interior: “Pai, eu quero andar debaixo dos teus sonhos e realizar

somente o teu querer. Contemplar a tua face, viver a tua vida. Vida de intimidade e

comunhão. Atrai-me Senhor para os teus braços. Leva-me a conhecer a tua vontade. Eu quero

estar no centro dos teus sonhos para mim”.

No próximo momento, a letra do canto mostra o resultado da experiência individual

com o sagrado: “A tua santidade me constrange Senhor, mas o teu amor me leva para um

lugar mais alto onde eu possa te tocar”.

É um cântico bem pessoal e individual que expressa a experiência particular, no caso,

do autor, mas que reflete um profundo desejo de “repartir” com a comunidade. Apesar de ser

uma experiência individual, a intenção de cantá-lo junto à comunidade reflete um desejo

social e coletivo: que todos possam experimentar o mesmo que estou experimentando.

VI – EXPRESSÃO DE AMOR

Autor: Daniel dos Anjos

Abrigado nos teus braços

Sinto tua proteção

Teu amor me enche a alma

E transborda o coração

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Dia-a-dia em tua presença

Tua mão posso sentir

Me guiando no caminho

Me atraindo para ti

Quero expressar o meu amor

Oferecendo a Deus o meu louvor

Do Seu filho a vida deu

Pra tornar-me filho seu

Quero expressar o meu amor

Estou apaixonado pelo Senhor

Um milagre fez em mim

Por isso hoje estou aqui

Amor assim nunca encontrei

Transformou o meu viver

Ao mundo todo quero cantar e dizer

Este cântico expressa uma experiência individual e particular mas que resulta no

desejo de compartilhá-la coletivamente.

No primeiro momento a experiência é demonstrada pela sensação de proteção: “Sinto

tua proteção. Teu amor enche a minha alma e transborda meu coração”. Uma experiência

individual e pessoal.

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No segundo momento vem a descrição de uma vida diária com Deus que resulta num

caminho dirigido para ser atraído para Deus: Dia-a-dia, (...) tua mão posso sentir me guiando

no caminho, me atraindo para Ti”. Também, uma experiência individual, mas que é vivida

com a coletividade ao se cantar durante um culto.

O resultado de toda esta experiência é direcionado ao oferecimento do “louvor a

Deus”, à “expressão do amor por Ele” e “ao cantar e falar sobre isso para todo o mundo. E

experiência individual, mas vivida dentro da coletividade, tem um resultado do coletivo para o

coletivo.

VII – HOJE ELE VIVE

Autor: André de Oliveira, André Savino, Douglas Apolinário, Éwerton Oliveira e

Mateus de Oliveira

Morreu por mim

Morreu por nós

E levou nosso pecados sobre a cruz

Pra nos salvar, pra nos salvar.

E nos amou, se entregou

Pra que pudéssemos viver os seus sonhos

Os seus planos

A tua vontade

O teu amor nos libertou, nos conquistou

E nele há toda vitória, força e paz

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Hoje Ele vive

Acima de todas as coisas

A minha vida entrego

No controle de tuas mãos.

A letra deste cântico expressa a idéia de que é uma pessoa falando em nome de toda

uma coletividade. Fala por ela e por aqueles que estão cantando.

“Morreu por mim. Morreu por nós e levou nossos pecados sobre a cruz, pra nos salvar.

Nos amou e se entregou, pra que pudéssemos viver os seus sonhos, os seus planos, a tua

vontade. Teu amor nos libertou, nos conquistou. E nele há toda vitória, força e paz”. Fala de

um resultado que está sendo vivido pelo coletivo, mesmo que seja uma só pessoa narrando-o.

Mas o desfecho do cântico é expresso na primeira pessoa, ou seja, individualmente.

Conclui-se, então, que aparentemente é uma pessoa fazendo uma reflexão individual,

projetando o resultado no coletivo. Porém, a decisão final de “entregar-se a Deus”, continua

sendo um ato pessoal e individual.

VIII – PASTOR

Autor: Mateus de Oliveira

O Senhor é o meu pastor

Aquele que me guia

Nada vai me faltar

Nada vai me faltar

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O Senhor é o meu pastor

Aquele em quem há segurança

Em ti eu tenho paz

Em ti eu tenho paz

Guia a minha vida nos teus caminhos

Leva-me a conhecer os teus propósitos

Tua vontade

Pois eu quero estar

Onde tu estás meu Senhor

Este cântico fala do Salmo 2375 de uma maneira bem individual e pessoal. O Senhor é

o pastor. O Senhor é o que guia. E nada vai faltar. O Senhor é quem dá segurança. Nele existe

paz.

É um cântico que expressa o cuidado e a direção de Deus para todos os momentos da

vida da pessoa, mostrando que o alvo é cumprir os propósitos e a vontade Dele e chegar até

Sua presença. Uma experiência individual que aponta para o final na presença Dele.

Por um lado, é notório que o Senhor é quem guia, mas por outro a pessoa terá que se

permitir ser guiada a fim de conhecer os propósitos e vontade Dele, pois o seu desejo é estar

onde Ele está. Uma experiência que acontece no presente, ao mesmo tempo em que, também,

aponta para um fim.

75 Salmo 23: O Senhor é o meu pastor e nada me faltará (...) Certamente que a bondade e o teu amor ficarão comigo enquanto eu viver: E na tua casa, ó Senhor, morarei todos os dias da minha vida. SAGRADA DESPERTAR. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo, SP: SBB, 2006. p. 620

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IX – VIVER OS TEUS SONHOS

Autor: Mateus de Oliveira

Que o meu louvor

Seja como aroma suave

Que o meu viver

Seja sempre adoração diante de Ti

Quero viver os teus sonhos

E cumprir o teu querer

Quero te servir

Pois Tu és o meu Senhor

A cada dia mais e mais

Em Tua presença eu quero estar

E em todo tempo te adorar

Pois só tu és digno

De todo o meu louvor

Meu maior desejo é

Alegrar o Teu coração

A cada dia mais e mais

Em tua presença eu quero estar

E em todo o tempo te adorar

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Cântico que expressa um desejo individual: “Que o meu louvor seja como aroma

suave. Que o meu viver seja sempre adoração diante de Ti. Quero viver os teus sonhos, e

cumprir o teu querer. Quero te servir, pois Tu és meu Senhor”. O fato de se ter uma vida de

adoração diante de Deus faz com que a pessoa sinta-se em posse de Deus.

No segundo momento da análise entendemos que a letra expressa, ainda

individualmente, o desejo de um relacionamento diário com Deus. Isso seria a adoração,

conforme esse cântico.

O terceiro momento expressa que somente Deus é digno de receber toda a adoração e

louvor. Esta experiência que se manifesta individualmente reporta um profundo desejo de

agradar a Deus.

X – NOVO MANDAMENTO

Autor: Lucas Popielysrko

O amor de Deus é tão grande

Que o seu Filho deu para nos salvar

E Jesus viveu nesta terra

Para demonstrar esse imenso amor

Ele sempre fez o bem, libertando os cativos,

Curando os enfermos e doentes

E nos deu novo mandamento, resumindo toda a lei

Para que O conheçam através de nós.

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“Ame a Deus de todo o coração

E ame aos outros como a si, como eu vos amei

Sejam um como eu sou com o Pai

Para que o mundo venha a crer

Neste amor que é dado hoje a vocês”.

Cântico que fala de um resultado coletivo do que o amor de Deus fez ao dar Seu filho como

Salvador. Fala do poder curativo e libertador de Jesus Cristo não só individualmente, mas

para uma coletividade.

Para o coletivo é dado um novo mandamento, mas o cumprimento dele é medido

individualmente: “Sejam um como eu sou com o Pai, para que o mundo venha a crer neste

amor que é dado a vocês”. Neste cântico o individual passa a ter um sentido de unidade, ou

seja, todos serem um. O coletivo vivendo uma única pessoa.

2.3. Quais os aspectos mais valorizados pelas letras das músicas: individual ou

coletivo/social?

Segundo informações colhidas e registradas nos tópicos anteriores, durante o culto

dentro da Comunidade Carisma o louvor tem a finalidade de preparar as pessoas para receber

o que o pastor pretende pregar. Conforme Floristan76 “A assembléia litúrgica faz a Bíblia.(...)

Uma vez convocada, a assembléia litúrgica evoca a palavra de Deus e invoca a petição e a

ação de graça”.

76 FLORISTAN, Casiano.Para compreender a Evangelização. Coimbra, Portugal: COIMBRA, p. 145

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Sabemos que a base teológica da mesma é voltada para a valorização do ser humano.

Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Normalmente, a

prédica da Comunidade Carisma está voltada ao amor de Deus para com o homem, ao valor

que Deus dá ao seu relacionamento com o homem. Se não é diretamente neste sentido, a fala

passa a trazer temas atuais relacionados às dificuldades do cotidiano, às lutas individuais e

coletivas, sempre apontando para a obra de Cristo e o suporte que esta obra pode ter sobre

cada vida, individual e, também sobre a coletividade. Em sua carta a Ludwig Senfl, Lutero

reiterou o entendimento de que a música deveria ser tida como ímpar entre as artes para a

proclamação do evangelho: 77

Esta é a razão pela qual os profetas não fizeram uso de nenhuma arte com exceção da música; quando estabeleceram sua teologia não o fizeram como geometria, nem como aritmética tampouco como astronomia, mas como música, de forma que consideraram teologia e música em estrita união e proclamaram a verdade por meio de Salmos e cânticos.

Sabemos que o valor da música e da adoração é importante no sentido de conectar o

homem com Deus. “Os cristãos buscam a comunicação com Deus, comunicação de Deus para

com eles, comunicação entre eles e comunicação entre eles e os incrédulos”, comenta

Cunha.78 Falando de música, facilmente conseguimos relacioná-la com as sensações e a

energia que ela emana, principalmente no lugar de proeminência que ela tem durante os cultos

religiosos. Tame muito acertadamente escreve sobre esta proeminência: 79

A música libera, no mundo material, uma energia fundamental, superfísica, que vem de fora, do mundo da experiência cotidiana (...)capaz de manter a civilização em consonância com os céus. (...) A música desempenha um papel de mediação entre o céu e a terra – como um canal de comunicação entre o homem e Deus, entre Deus e o homem.

77 SCHALK, Carl F. Lutero e a música. Paradigmas de louvor. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2006. p. 48 78 CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel. Rio de Janeiro, RJ: MAUAD e MYSTERIUM, 2007. p.88 79 TAME,David. O poder oculto da música. São Paulo: CULTRIX, 1984. p.25.

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Neste sentido, os aspectos mais valorizados pelos cânticos compostos por integrantes

da própria comunidade têm expressões individuais e coletivas concomitantemente. Se a

música tem o poder de exercer uma forte influência na experiência cotidiana e é capaz de

manter uma civilização em conecção com os céus, imagine o poder que tem quando cantada

dentro de uma comunidade formada por pessoas que buscam os mesmos ideais. Reforçam o

poder de Deus e o que acontece quando uma pessoa ou uma comunidade age através desses

valores fortemente endossados pelo momento “energético” da coletividade cantando, todos a

uma só voz em um único momento. Braga80 complementa:

Reverência, adoração, teologia ainda que através de palavras simples e singelas, mas nobres e elevadas em sua singeleza, foi a nota dos cânticos mais ao jeito do povo comum que LUTERO e os irmãos WESLEY – aquele que na vivacidade dos “cantos de júbilo” que compôs para as crianças, e este no intimismo e naturalidade de expressões individuais do adorador – introduziram na propagação da Reforma e nos movimentos avivacionistas de seu tempo. Cantando diante de Deus para adorar a Deus.

Mesmo que expressões de adoração a Deus se manifestem individualmente, elas são

cantadas dentro da coletividade.

Se a teologia da comunidade parte do princípio da valorização do ser humano, esta

valorização passa a ser, em primeiro plano, individual. Mas dentro de um culto, a experiência

passa a ser coletiva, mesmo que a letra fale do individual. A música dentro deste contexto

vivido e pregado pela Comunidade Carisma passa a ser a expressão de um estilo de vida

religioso, individual ou coletivo.

Realçando o aspecto social da música dentro de uma comunidade, podemos citar o que

Cunha escreveu: 81

80 BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes Braga. Salmos e hinos. Sua origem e desenvolvimento. São José dos Campos, SP: CLC, 1983. p.72 81 CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel. Rio de Janeiro, RJ: MAUAD e MYSTERIUM, 2007.p.88

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A função social da música no cristianismo foi objeto de estudos de Hegel, que concluiu que ela “atua sobre” a sensibilidade da congregação reunida, não para liberar os espíritos para sentimentos, mas para produzir uma emoção coletiva uniforme. A música religiosa cristã visa a criação de um estado de espírito definido, para que os adeptos atuem em consonância em esse estado de espírito. Nesse caso, ela procura produzir sentimentos e não expressá-los. Aqui é possível afirmar que o “conteúdo” desse tipo de música está não apenas nela própria, mas fora: é a síntese dos sons que se movem com os ouvintes/cantantes que se movem. Igual sentido pode ser encontrado na música composta para estimular a dança e as marchas militares. A natureza de cada uma delas é socialmente determinada.

Quando, na comunidade se fala sobre valorização do ser humano e o amar a Deus e ao

próximo, a função social da música aqui passa a ser a de estimular e levar a comunidade à não

somente a pensar, mas a tomar uma atitude diante do que a letra do cântico está transmitindo.

É uma incitação a não-alienação. A letra do cântico é realçada e reafirmada, posteriormente,

pela palavra pregada. Cunha reafirma este pensamento ao escrever: 82

Estudos no campo da sociologia e da psicologia indicam que a música tem influência sobre indivíduos e seus corpos, no plano físico e das emoções, e no grupo social. Acordes, ritmos, tonalidades, intensidades têm efeito direto sobre células e órgãos e indireto sobre as emoções, que, por sua vez, influem em numerosos processos corporais. As pessoas se interessam em ouvir música, em primeiro lugar, porque ela as faz sentir alguma coisa. Este sentir está diretamente relacionado não só ao ouvir, mas também ao compor e ao executar obra musical. A natureza de uma música está vinculada ao estado mental e emocional do compositor e/ou executante. A essência deste estado nos penetra, tendendo a moldar e aperfeiçoar nossa consciência em harmonia consigo mesma. No plano coletivo, dos grupos sociais, “ao codificar esta ou aquela visão do mundo, a música, até certo ponto, deve estar meramente reagindo à cultura dentro da qual já se encontra”. De acordo com essa corrente de pensamento, deve-se, portanto, afirmar que a música é um fenômeno de natureza social.

Se a música tem influência sobre indivíduos, certamente, o que se canta na

comunidade também tem a mesma força influenciadora, tanto individual quanto

coletivamente. A comunidade canta a sua forma de louvar e adorar a Deus, dentro de sua

teologia. Quando a natureza da música é adicionada a uma letra que tráz sentido, a sua

essência penetra no ser humano, levantando um novo pensar e uma reflexão. Schalk83 enfatiza

que, Lutero, ao desenvolver seus estudos e comentários sobre o louvor, na verdade ele estava

abrindo caminho para que, nos tempos de hoje, as igrejas e comunidades tivessem a liberdade

de expressarem sua própria teologia e, conseqüentemente, reportarem-se a uma prática social. 82 CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel. Rio de Janeiro, RJ: MAUAD e MYSTERIUM, 2007.p.88 – Grifo da pesquisadora. 83 SCHAL. Carl F. Lutero e a música. Paradigmas de louvor. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2006. p.47

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Ao enfatizar a música como criação divina, e não como criação humana, e como dádiva de Deus às pessoas para que a usem em seu louvor e adoração, Lutero preparou o cenário para que compositores, comunidades, coros e instrumentistas fossem livres para desenvolver seus talentos e habilidades até o mais alto grau possível. A música que se desenvolveu na tradição luterana é evidencia eloqüente de que a igreja, juntamente com seus músicos, reconheceu o paradigma de Lutero, ou seja, a música como criação e dádiva de Deus, um elemento preponderante para alicerçar o desenvolvimento de uma rica cultura musical na qual podem viver, trabalhar, tocar e louvar o seu Deus.

Neste sentido, a liberdade para o desenvolvimento de talentos e habilidades pode estar

restringida aos aspectos da música em si, como as composições, arranjos e performances. Mas

por outro lado, por que não poderia estar sendo direcionada aos talentos e habilidades para

com a obra social?

Até o momento, falamos e comentamos toda uma análise dos cânticos entoados pela

Comunidade Carisma, fazendo uma associação com a obra social que acontece dentro do

espaço da própria comunidade. Realçamos também até que ponto estes cânticos falam e

expressam uma experiência e busca individual e coletiva.

Entrando mais a fundo dentro da base teológica da Comunidade Carisma, sabe-se que o

objetivo é que, gradativamente, a obra social seja estendida para uma missão urbana, no

sentido de conquistar e atuar na vizinhança da comunidade. Quando falamos em obra social,

na verdade, ela já poderia estar sendo entendida como missão urbana, pois seres humanos

estão sendo beneficiados com o trabalho que já acontece dentro da comunidade.

Nesta outra etapa ainda estaremos trabalhando com os mesmos referenciais teóricos:

Barro e Frederico, apenas adicionando alguns comentários feitos por outros autores, tais

como: Kirst, Kivitz e outros.

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CAPÍTULO 3

3. Diálogo entre a teoria e a prática.

3.1. Diálogo entre a teologia e a prática presentes na letra da música. Até que ponto a

letra da música comunica ou reflete fielmente a teologia e a história da

Comunidade Carisma?

Falar da teologia e da prática presentes nas letras dos cânticos requer, em primeiro

lugar, uma breve análise sobre como é o olhar para uma ação social e de como ela é

vivenciada através da comunidade, começando pelo culto. Primeiramente, é importante citar

Senn84 nas palavras de Frederico85, ao referir-se ao culto como um acontecimento com

características sociais, experimentais, simbólicas e celebrativas:

Estudando a antropologia do culto, Senn encontrou quatro características relevantes acerca dele: o culto é social, experimental, simbólico e celebrativo.A primeira dessas características é a mais pertinente para o que se tem abordado aqui. Senn afirma ser o culto um acontecimento social e não individualista. Lembra que, mesmo orando a sós, o cristão ora o “Pai Nosso”. O padre ou o pastor que atende a uma necessidade pastoral particular o faz em nome da comunidade. Sem sombra de dúvida, é no culto que esse caráter social e público mais se evidencia. Para que esse culto se torne compreensível e racional, conforme a sugestão paulina86, são imprescindíveis os ajustes e as adaptações culturais.

Kirst87 relata o seguinte:

84 SENN, Frank C. Christian Worship and its Cultutal Setting. Philadelphia: FORTRESS, 1983 85 FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.320 86 Rm 12.1 87 KIRST, Nelson. Liturgia. P. 119s In: SCHNEIDER-HARPPREECHT, Christoph (Org). Teologia Prática no Contexto da América Latina. São Leopoldo, RS: SINODAL, 1998. P. 119-142 – Grifo da pesquisadora

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(...) a liturgia é sem dúvida uma ação humana executada por uma comunidade humana para a glorificação de Deus e a edificação de seus membros. Como ato humano, a liturgia deveria ser humana: ou seja, as pessoas deveriam ser capazes de serem elas mesmas no culto. Isso significa que as formas e os estilos de celebração deveriam expressar a cultura nativa. Levar à sério a assembléia litúrgica significa relacionar o estilo de celebração à natureza da congregação presente.

Os cânticos tocados e cantados pela comunidade, na verdade, devem estar de acordo

com o que as pessoas mais prezam ou se preocupam: amor, valorização, trabalho e morte.

Cantar a realidade das pessoas que estão presentes no momento do culto, na verdade, trará um

significado mais palpável e prático. Será o mesmo que falar sobre os problemas sociais,

políticos e econômicos que preocupam o povo no seu viver cotidiano. Maraschin88 completa

dizendo: “A igreja precisa sair dessa alienação, mostrando, na liturgia, expressões paralelas às

utilizadas pelo povo no seu dia-a-dia. Tanto a forma quanto o conteúdo do culto devem falar a

linguagem da pessoa comum. É por isso que existe a sugestão de se reformular o canto, se se

deseja renovar o culto, através da empatia popular”.

Se no passado a ênfase do culto foi colocada na instituição, hoje em dia a tendência é

de supervalorizar a pessoa/indivíduo. “Isso significa que estamos frente a uma mudança de

paradigma do ‘impessoal para o pessoa’”.89 A teologia da Comunidade Carisma é baseada no

mandamento de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Conforme estudo de Barro90 esta base teológica pode ser explicada em quatro maneiras de

colocá-la na prática:

1. Ame seus inimigos (Mateus 5:44)

2. Ame seu vizinho (Mateus 19:19)

3. Ame o Senhor seu Deus (Mateus 22:37)

4. Amem uns aos outros (João 12:24)

88 MARASCHIN, Jaci. A beleza da santidade. Ensaio de Liturgia. São Paulo: ASTE, 1996 P.47 89 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja com a cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.17 90 Idem. p.19

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A práxis de Jesus é a práxis do amor. Floristan91 acrescenta: “A opção de Jesus pelos

pobres observa-se nas passagens em o Senhor define a Sua missão, segundo as suas palavras e

a Sua prática. (...) resumido por Marcos, Mateus e Lucas. (Mc. 1, 14-15)” O amor é a

revelação de vida prática que pode ser traduzida na obra social que a Comunidade Carisma

tem implantado e implementado. Quando falamos em base teológica da Comunidade Carisma

associada ao serviço social, não se faz possível separar sua missão do contexto da realidade da

comunidade. Sendo que este contexto está relacionado à cultura – valores, idéias e

sentimentos – da mesma. Conforme Barro, 92 quando Jesus vivia sua missão, ele percorria as

cidades e povoados (contexto cultural) fazendo três coisas:

1. Pregando, que é o querigma.

2. Ensinando – didaquê.

3. Servindo - diaconia;

Essas três ações dentro de uma comunidade não podem acontecer isoladamente. Ao

mesmo tempo em que há a proclamação da palavra, há o ensino. E o ensino gera o servir. E,

ainda no contexto da ação social da Comunidade Carisma, vê-se a clara intenção e a prática de

reintegração e valorização do ser humano diante de situações tão conturbadas e estressantes

ao homem. Barro acrescenta: 93

Hoje, pessoas estão aflitas por causa da falta de trabalho, insegurança quanto ao amanhã, com medo de assaltos e crimes, sem acesso às universidades, ao ensino e, conseqüentemente, com o mal do milênio, que é a depressão. (...) As pessoas estão exaustas. Exaustão é traduzida hoje por stress, canseira, fadiga, excesso de trabalho, não ter tempo de lazer, trabalho pesado. (...) As pessoas também estão desorientadas. São pessoas sem liderança e sem rumo na vida. Não sabem por onde andar. São pessoas em profundas crises existenciais, emocionais e espirituais.

91 FLORISTAN, Casiano. Para compreender a Evangelização. Coimbra, Portugal: COIMBRA. P.107 92 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja com a cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000., pp.25-28 93 Idem. pp. 25-28

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Voltando ao conteúdo da letra dos cânticos e inserindo-o ao que se fala das

necessidades existenciais do homem, podemos fazer uma representatividade destes,

classificando-os em significados individuais e/ou coletivos:

CONTEÚDO INDIVIDUAL CONTEÚDO COLETIVO

Valorização do ser humano/

reconhecimento

- No cântico SALVAÇÃO aparece o homem só,

necessitando de respeito e valorização:

“Distante, perdido eu estava antes de ouvir falar

De um homem capaz de entregar sua vida em meu

lugar. Cansado, ferido, incapaz de sentir tamanho

amor daquele que um dia morreu pra levar a minha

dor. Precisava de libertação, de uma luz na minha

escuridão, de um amor perfeito que pudesse me

salvar”.

Vida de comunhão/ sociabilização/ integração à

sociedade

- O cântico A AÇÃO DE DEUS passa a impressão de ser a

própria comunidade falando do resultado e ação de Deus

promovendo uma nova vida de comunhão:

“...porque a colheita grande é, temos aprendido a viver em fé

experimentando o melhor do Senhor. Vida nova, nova

comunhão. Há uma grande ação de Deus transbordando este

lugar”.

- No cântico ATOS 2 a vida acontece dentro da interação social:

“E permanecendo na doutrina dos apóstolos, na comunhão, nas

orações e no partir do pão. Tendo em comum, em cada alma o

temor de Deus. (...) Partindo o pão de casa em casa com

sinceridade e alegria. (...) O Senhor acrescenta à igreja os que

chama para si, tornando-os parte do seu corpo para tocar as

gerações”.

- No cântico NOVO MANDAMENTO é o coletivo vivendo

uma perfeita unidade:

“...Para que o conheçam através de nós. ‘Ame a Deus de todo o

coração e ame aos outros como a si, como eu vos amei’. Sejam

um como eu sou com o Pai neste amor que é dado hoje a vocês”.

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Suprimento da necessidade de ser amado

- No cântico SALVAÇÃO o homem precisa sentir-se

amado:

“Teu amor me resgatou, minha vida transformou.

Livre sou pra te adorar (...) Cansado, ferido, incapaz

de sentir tamanho amor daquele que um dia morreu

pra levar a minha dor”.

Participação comunitária das alegrias e vitórias

- O cântico A AÇÃO DE DEUS passa a conotação de renovação

na graça, de modo que as pessoas tornam-se cheias de alegria e

repletas de amor.

“Porque vivemos um tempo precioso renovados na graça de

Deus, através do seu filho Jesus. Somos cheios da sua alegria e

repletos do seu amor”.

- No cântico HOJE ELE VIVE a comunidade está

experimentando libertação, conquista, vitória, força e paz:

“...E nos amou, se entregou pra que pudéssemos viver os seus

sonhos, os seus planos, a tua vontade. O teu amor nos libertou,

nos conquistou e nele há toda vitória, força , paz”.

Suprimento da necessidade de um

libertador

- No cântico SALVAÇÃO o homem precisa sentir-se

liberto:

“...Precisava de libertação, de uma luz na minha

escuridão. De um amor perfeito que pudesse me

salvar. Jesus em ti está a salvação. Não há outro

caminho, outra direção. Por tua graça encontrei

perdão. Teu amor transformou para sempre meu

coração”.

- O cântico ATRAI-ME mostra a busca individual de

um libertador para que possa usufruir do cuidado e do

amor de Deus:

“Como é bom desfrutar do teu amor. Como é bom

conhecer o teu cuidado por mim. A cada dia Senhor

eu tenho conhecido as tuas misericórdias que não têm

fim.(...) Atrai-me Senhor para os teus braços. Leva-

Segurança dentro da sociedade, dentro do grupo.

- No cântico ATOS 2 expressa a segurança de uma vida em

comunidade. A sensação de pertencer:

“E permanecendo na doutrina dos apóstolos, na comunhão, nas

orações e no partir do pão, tendo tudo em comum. Em cada

alma o temor de Deus.(...)Partindo o pão de casa em casa com

sinceridade e alegria. Louvando a Deus de coração e caindo na

graça do povo. O Senhor acrescenta à igreja os que chama para

si, tornando-os parte do seu corpo para tocar as gerações”.

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me a conhecer a tua vontade. Eu quero estar no

centro dos teus sonhos para mim”.

Novo estilo de vida

- O cântico SALVAÇÃO diz que o homem pode ter a

vida transformada com liberdade para adorar e buscar

a Deus:

“...por tua graça encontrei perdão. Teu amor

transformou para sempre meu coração. Lavado,

remido o teu sangue me comprou na cruz. Pra sempre

liberto das trevas para Sua luz. Teu amor me

resgatou, minha vida transformou. Livre sou pra te

adorar”.

- No cântico ADORAÇÃO percebe-se que os

adoradores, motivados pela fidelidade do Senhor,

buscam um novo modo de viver:

“Porque és fiel a mim Senhor, quero adorar-te e te

servir. Porque a tua fidelidade vai além das nuvens e

a tua misericórdia é para sempre.(...) Pra te adorar,

pra te servir, pra te amar foi que eu nasci. Pra te

exaltar, te engrandecer, te proclamar Senhor, o Rei

dos Reis”.

- No cântico EXPRESSÃO DO AMOR mostra que a

vida individual passa a ser guiada e dirigida por

Deus:

“.... Dia-a-dia em tua presença tua mão posso sentir,

me guiando no caminho, me atraindo para ti”.

- No cântico HOJE ELE VIVE percebe-se a decisão

individual de “entregar-se” a Deus.

Vida em comum, com tudo em comum.

- O cântico ATOS 2 diz que tinham tudo em comum; uma vida

em comunidade, não havendo falta ou necessidade alguma:

“Maravilhas e milagres feitos por apóstolos. Não havendo falta

ou necessidade por ser um só coração. Dia-a-dia a multidão,

como igreja em união.(...)tendo tudo em comum. Em cada alma

o temor de Deus.(...)Partindo o pão de casa em casa com

sinceridade e alegria”.

-O cântico AÇÃO DE DEUS relata a preciosidade de uma vida

renovada, onde todos experimentam o melhor do Senhor. O

coletivo colhendo do melhor:

“ Porque nós vivemos um tempo precioso renovados na graça de

Deus. Através do seu filho Jesus, somos cheios da sua alegria e

repletos do seu amor. Porque a colheita grande é, temos

aprendido a viver em fé. Experimentando o melhor do Senhor.

Vida nova, vida de comunhão”.

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- O cântico VIVER OS TEUS SONHOS demonstra o

desejo de se ter uma vida para adorar a Deus; viver os

sonhos de Deus, cumprindo o Seu querer.

Servindo, repartindo

- O cântico ADORAÇÃO trás a motivação para

servir, adorar, amar e engrandecer:

“...Pra te adorar, pra te servir, pra te amar foi que eu

nasci. Pra te exaltar, te engrandecer, te proclamar

Senhor, Rei dos Reis”.

- O cântico AÇÃO DE DEUS reflete o desejo de

“repartir” a experiência individual junto à

comunidade:

“...Há uma grande ação de Deus transbordando este

lugar. Eu não posso me calar. Sua presença posso

sentir. Deus está agindo aqui. Então, deixe-se

inundar”.

- No cântico EXPRESSÃO DO AMOR o resultado

da experiência direciona a pessoa a expressar o amor

e oferecer louvores diante da comunidade. Apesar de

individual, a experiência passa para o coletivo:

“...Quero expressar o meu amor, estou apaixonado

pelo Senhor. Um milagre fez por mim. Por isso hoje

estou aqui. Amor assim nunca encontrei.

Transformou o meu viver. Ao mundo todo quero

cantar e dizer”.

- No cântico VIVER OS TEUS SONHOS se

demonstra o querer cumprir a vontade de Deus,

servindo-o em todos os sentidos:

“...Quero viver os teu sonhos e cumprir o teu querer.

Quero te servir, pois tu és o meu Senhor”.

Sendo servido

- No cântico ADORAÇÃO subentende-se que o coletivo se

deixa ser servido:

“...Eu te louvarei oh Deus com todo o meu ser. Ante os povos te

engrandecerei”.

- No cântico NOVO MANDAMENTO a comunidade é

recebedora do resultado da experiência individual, quando a

pessoa expressa o amor e o louvor no seu convívio:

“....E nos deu um mandamento, resumindo toda a lei, para que o

conheçam através de nós. ‘Ame a Deus de todo o coração. E

ame aos outros como a si, como eu vos amei. Para que o mundo

venha a crer neste amor que é dado hoje à vocês’”.

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Sentido de vida

- No cântico HOJE ELE VIVE nota-se uma

experiência individual, buscando um novo estilo de

vida:

“...E nos amou, se entregou pra que pudéssemos viver

seus sonhos, os seus planos, a Tua vontade. O teu

amor nos libertou, nos conquistou e nele há toda

vitória, força e paz. Hoje ele vive acima de todas as

coisas. A minha vida entrego no controle de suas

mãos”.

- O cântico ATRAI-ME mostra o resultado da

experiência individual com o sagrado; o

constrangimento ao se deparar com a santidade de

Deus:

“...A tua santidade me constrange Senhor. Mas o teu

amor me leva para um lugar mais alto, onde posso te

tocar”.

- O cântico VIVER OS TEUS SONHOS reporta um

profundo desejo de se ter uma vida para agradar a

Deus; um novo padrão de viver:

“....A cada dia mais e mais em tua presença eu quero

estar, em todo o tempo te adorar”.

Adoração a Deus. Experiência com o sagrado.

No cântico ADORAÇÃO percebe-se que a experiência

individual aponta para o coletivo, no sentido de engrandecer a

Deus diante de outras pessoas:

“ Eu te louvarei oh Deus com todo o meu ser. Um novo canto a

ti eu cantarei. Eu te louvarei oh Deus com todo o meu ser. Ante

os povos te engrandecerei”.

- No cântico ATOS 2, a comunidade mantinha-se em oração.

Buscava o sagrado coletivamente:

“E permanecendo na doutrina dos apóstolos, na comunhão, nas

orações e no partir do pão. Tendo tudo em comum. Em cada

alma o temor de Deus”.

Segurança

- No cântico EXPRESSÃO DO AMOR a experiência

é demonstrada pela sensação individual de se estar

sendo protegido.

- No cântico PASTOR, Deus é a segurança em todos

os sentidos, para todos os momentos da vida: Ele

guia; nada faltará; é segurança e paz.

Crescimento horizontal. Sensação de pertencer a

um grupo

Segundo o cântico ATOS 2 o resultado de uma vida comunitária

é o crescimento horizontal:

“...O Senhor acrescenta à igreja os que chama para si. Tornando-

os parte do seu corpo para tocar as gerações”.

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Como em toda igreja e comunidade, a base teológica da Comunidade Carisma também

está no amor e valorização do ser humano, obviamente dentro dos parâmetros de sua doutrina

e conhecimento bíblico. Nesta visão, os cânticos têm trazido, sim, palavras no sentido de

reafirmar e chamar o povo a uma conscientização da importância dessa teologia. Já que a

comunidade tem como finalidade tocar a cidade de Osasco através da atuação de uma missão

urbana, os seus cânticos, então, falam sobre o novo viver, segurança, sobre sentido de vida e

participação ativa não só dentro da comunidade, como na sociedade e circunvizinhança.

3.2. Resultado da análise dos cânticos entoados na Comunidade Carisma.

Segundo estudo e comentário de Frederico,94 quando Martinho Lutero aparece, como o

pioneiro na caminhada de revalorização da participação popular no culto, “o canto sacro

deveria ser expresso em uma linguagem compreensível para aqueles fiéis que não podiam

entender a língua latina nem eram chamados a uma participação efetiva nas missas”. Ou seja,

a linguagem musical deveria ser a mais adequada possível à comunidade, retratando as

experiências cotidianas vividas pelo povo. Watts95 diz que os “hinos deveriam falar de

assuntos rotineiros da vida humana, como o amor, a alegria, o medo, a tristeza, as paixões”.

Quis, portanto, trazer para a sua realidade algo extremamente valorizado por inúmeras gerações de cristãos, mas com novo significado acessível ao povo: Tenho estado há muito tempo convencido de que uma grande ocasião desse mal surge do assunto, das palavras aos quais confinamos nossos cantos. Alguns deles são quase opostos ao Espírito do evangelho; muitos são estranhos ao estado no Novo Testamento e consideravelmente diferentes das circunstâncias atuais dos cristãos.

94 FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.310 95 WATTS, Isaac. The Preface. p. 147 In: Id. The Works of the Late Reverend and Learned Issac Watts, D.D. [s.1.:s,n.], 1753. p. 147- 150, In: FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.311

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Para alcançar esse objetivo, Watts96 lançou mão dos seguintes critérios:

- Os hinos deveriam reproduzir o evangelho tal qual o Novo Testamento

apregoa;

- Deveriam ser compostos livremente, sem a rigidez da Reforma;

- Deveriam expressar os pensamentos e sentimentos das pessoas que fossem

cantá-los;

- Ter versos e métrica da poesia comum, com a qual a população estava

familiarizada.

Fazer uma análise conclusiva entre a letra dos cânticos e a atividade prática da

comunidade requer uma breve recapitulação de como é a comunidade e o seu cantar. Para

isso, alistaremos as atividades isoladamente, comparando-as com o teor das letras dos

cânticos.

1. Na comunidade existem as reuniões de “Pequenos Grupos”, que são a maneira de as

pessoas serem reconhecidas, aceitas e pastoreadas, sem se sentirem “mais um na

multidão”. Quando os cânticos falam do sentido de vida, de um novo modo de viver e

de segurança, na verdade estão indo ao encontro da base dessas reuniões caseiras.

2. A comunidade criou e desenvolveu o Instituto Educacional com o objetivo de

promover maior acesso ao ensino e, conseqüentemente, melhor oportunidade de vida

futura. Esta estrutura social está de acordo com o que os cânticos falam sobre o

libertador, salvação, o ser servido e a celebração de vitórias.

3. Quando a comunidade desenvolve a orientação aos novos casais, o resultado é uma

família feliz, mais centrada, mais segura, com sentido de vida, sabendo servir e,

portanto, que experimenta a vida em comum, a celebração a Deus e a experiência com

o sagrado. Todos estes aspectos são mencionados nas letras dos cânticos. 96 WATTS, Isaac. The Preface. p. 147 In: Id. The Works of the Late Reverend and Learned Issac Watts, D.D. [s.1.:s,n.], 1753. p. 147- 150, In: FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001 p.311

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4. Os trabalhos sociais dentro da comunidade com famílias carentes, dão aos jovens a

oportunidade de praticar alguma modalidade de esporte, de aprender trabalhos

manuais, culinária, cursos técnicos e de receber orientação nos diversos segmentos,

tais como: prevenção da AIDS, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e afins.

Quando a comunidade canta sobre o Reino de Deus, um libertador, um novo tempo e

a alegria, na verdade, está se cantando sobre a cura de um segmento da sociedade em

sua linguagem característica e atual. Na linguagem contextualizada, muita música e

interatividade são as ferramentas para envolver todo o pessoal jovem na busca e no

despertar de uma transformação de vida. Das ruas, da falta de caráter, da malandragem

e da criminalidade para uma vida em sociedade, com sentido, perspectivas e esperança

de um futuro seguro: o evangelho do Reino. Amorese97 completa este pensamento

com o seguinte questionamento:

Até que ponto esses hinos podem ajudar-nos a celebrar a vitória do Senhor Jesus Cristo sobre as drogas, a opressão do metrô lotado, a tentação do sexo livre, o descompromisso da amizade colorida, a facilidade do “trem da alegria”, a naturalidade do vídeo-cassete pornográfico ou a enganosa solução da clínica de abortos?

James Spann98 oferece resposta com critérios de como as pessoas podem lidar com a

música popular dentro da igreja. São eles:

- não ter medo de mudanças;

- examinar sempre as motivações;

- não emitir juízo sobre um determinado estilo antes de ter tido a experiência

com ele;

- procurar saber se a música tem uma função legítima no culto cristão;

97 AMORESE, Rubem Martins. Celebração do Evangelho: compreendendo culto e liturgia. 2.ed. Viçosa, MG: ULTIMATO, 1995 p. 87, In: FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.324 98 SPANN, James. A Influência da música popular na música sacra contemporânea. Revista Teológica da ASTE. São Paulo, v.10 n.16, p.12-13, dez. 1977 In: FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.313

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- o sucesso com a música popular depende de uma liderança dinâmica;

- ser criativo.

Neste sentido todos os cânticos aqui analisados são coerentes com esses critérios e,

segundo conclusões de Frederico, 99 os cânticos “falam pelas pessoas”. A autora quer

expressar que os hinos falam poeticamente de assuntos de interesse das pessoas que vão aos

cultos, com as palavras que talvez as pessoas dificilmente conseguissem dizer:

Hinos bons é que devem ser cantados, independentemente se são antigos ou novos. Hinos bons são os que têm conteúdo teologicamente correto, de fácil compreensão e com palavras conhecidas e que a linha melódica e a estrutura harmônica natural do hino sejam agradáveis, adequadas ao gosto musical das pessoas. (...) Quando o hino é difícil de ser cantado, então ele não é bom.

Segundo Routley100 “os hinos são porta-vozes dos cristãos, porque, como as canções

populares, dizem respeito a assuntos que mais interessam ao povo e falam por ele”:

(...) quando um hino num culto de adoração acena ao participante do culto em sua melhor forma e leva a esse participante a sentir e a dizer: “isso é o que eu queria dizer, mas estou grato a quem quer que seja que colocou as palavras na minha boca”, então ele [o hino] cumpriu seu papel.

“Uma igreja que não aborda temas da atualidade nos seus cantos está fadada a falar

uma linguagem distante e diferente daquela que o povo entende”, diz Reutley.101

Um importante documento The Miwaukee Symposia for Church Composers: a Ten

Year Report (MSCC), de 1992,102 relata o seguinte:

99 FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.315 100 ROUTLEY, Eric. Christian Hymns Observed. New Jersey; PRESTIGE, 1983. p. 107. In: FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.316 101 ROUTLEY, Eric. Christian Hymns Observed. New Jersey; PRESTIGE, 1983. p. 107. In: FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.316 102 Artigo 10 do MSCC, In: ROUTLEY, Eric. Christian Hymns Observed. New Jersey; PRESTIGE, 1983. p. 107. In: FREDERICO. Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o Culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p.331 – Grifo da pesquisadora.

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Uma teologia da música do ritual cristão é necessária se desejamos adaptar as formas musicais da música tradicional à liturgia renovada, [se desejamos] forjar novas formas e modelar nossa música ritual de maneira que ela fique apropriadamente ligada à liturgia. Tal teologia é fundamentada na convicção pastoral de que a música molda o relacionamento dos crentes com Deus e com o próximo. Esses relacionamentos mais estimados serão fortalecidos quando nós entendermos de que forma a música serve como uma linguagem singular de fé.

Desta forma, conhecer os motivos pelos quais o povo congrega e avaliar suas

necessidades; definir o perfil da comunidade e traçar a base teológica de acordo com o

objetivo da comunidade; fundamentar os cânticos na teologia, podem ser considerados

critérios que amoldam o relacionamento dos crentes com Deus e com o próximo. Se assim

for, a Comunidade Carisma tem sido coerente com o que vive no âmbito pessoal, social e

espiritual.

Missão urbana é um dos alvos da base teológica da Comunidade Carisma. Quando se

fala de contexto urbano, estamos nos referindo à cultura – valores, idéias e sentimentos de um

determinado povo. Barro103 diz que a cultura de um contexto urbano também “refere-se às

classes sociais, à religião ou religiões. O contexto revela quais são as características que são

próprias de uma determinada cidade”. A partir do momento que os cânticos atuam nas

pessoas de forma individual e coletiva, levando-as a um resultado prático dentro da ação

social, poderemos também pensar no contexto urbano. Alguns dos cânticos mencionados no

capítulo 2 falam de áreas onde o coletivo é reforçado.

Sabe-se que um dos principais focos da base teológica da Comunidade Carisma é ser

uma igreja extrovertida que não vive fechada dentro de si mesma, mas que serve à sua

geração cumprindo o propósito pelo qual veio a existir. E o trabalho social da comunidade é o

resultado da perspectiva teológica e está dentro do parâmetro doutrinário da mesma: a

valorização do ser humano. Para a comunidade, um processo de conversão, na verdade, ocorre

quando alguém consegue encontrar seu valor. Sendo assim, a obra social que existe nesta

comunidade não começou como uma justificativa de fé por obras, mas como resultado da base 103 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.24

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teológica da mesma: a igreja precisa servir o mundo e as pessoas, conforme relato do Pr. Rui

Luis104. Quando se fala em alguém que encontrou seu valor, podemos, novamente, citar o

cântico, ‘Salvação’, que mostra a condição humana caída e perdida, sentindo necessidade de

respeito e valorização. “Distante, perdido, (...), cansado, ferido, incapaz de sentir amor.

Precisava de libertação”. Portanto, a Comunidade Carisma, sendo uma igreja extrovertida,

pode-se destacar por sua responsabilidade para com a missão urbana a partir da influência da

sua teologia, as letras de seus cânticos e sua prática na ação social. Barro105 comenta que:

Uma comunidade relevante, no contexto urbano, é aquela cuja adoração expressa seu compromisso com Deus não apenas no culto, mas essencialmente na vida. É também relevante porque possui algo a oferecer e compartilhar: a verdade do evangelho do reino. Esta comunidade entende que a verificabilidade da verdade está em sua práxis, sendo uma comunidade para o próximo e para o seu contexto. Por isso, é conclamada a se envolver na sua vizinhança, através de pessoas que exercem seu sacerdócio como servas de Deus ao povo ao seu redor. Esta responsabilidade de servir é uma responsabilidade mútua e não apenas de uma pessoa, geralmente o pastor. É responsabilidade de todos, debaixo de uma liderança pastoral bíblica, visionária e facilitadora.

A expressão de adoração da Comunidade Carisma tem sido bastante relevante e,

consequentemente, refletido na vida das pessoas, individual e coletivamente, de forma que

muitos de seus membros têm exercido responsabilidades sociais. Através da valorização da

pessoa como ser humano, o respeito demonstrado a ela e o conteúdo das letras dos cânticos,

“a comunidade é a comunidade dos salvos e da esperança”, comenta Barro.106 É uma

comunidade que leva uma parcela de esperança a um determinado grupo de pessoas que se

sente desvalorizado perante a sociedade, sem muita esperança e sentido de vida. “É neste

contexto que somos desafiados a ser uma comunidade da esperança, da possibilidade, da

transformação, da vida, da graça e misericórdia, da compaixão e restauração”. É o que

demonstram os cânticos: ‘Ação de Deus’, ‘Adoração’, ‘Atos 2’, ‘Atrai-me’, quando falam em

104 Todo o conteúdo da “Teologia da Comunidade Carisma” foi apresentado em conversa Informal com o Pr. Rui Luis Rodrigues, em 23-04-08, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco. São Paulo, SP – Capítulo 1.5 p.20. 105 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. 106 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.56

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transformação de vida, em resgate, em aprendizado por fé e uma nova vida. São cânticos que

demonstram as alegrias de se estar vivendo um novo sentido de vida. Vida com propósito.

Interessante é que este desafio sai de dentro da comunidade ao encontro do urbano,

do mundo. Percebe-se claramente que quando processo de valorização do ser humano começa

dentro da própria comunidade e mais pessoas vão sendo atingidas pela sua teologia, liturgia e

expressão de adoração, mais o envolvimento com a prática da ação social poderá vir a tornar-

se abrangente.

3.3 Liturgia e teologia da Comunidade Carisma e envolvimento com a missão

urbana.

Em todo trabalho que se idealiza, independente da área, sempre existirão pontos a

favor, que poderiam ser denominados de “pontes” e também existirão os empecilhos, que

chamaremos de “barreiras”. Existem barreiras que limitam a ação da igreja em um contexto

urbano e existem pontes que facilitam esta ação. Vamos fazer um breve comentário sobre

estas barreiras e como a Comunidade trabalha diante delas.

A primeira barreira que podemos encontrar na ação da igreja no contexto urbano é a

“base teológica voltada a um evangelho simplista e inapropriado para atingir as necessidades

da comunidade e da vizinhança”, comenta Barro. 107 Falando-se das letras dos cânticos que

têm uma base teológica simplista, podemos concluir que as mesmas limitam-se a um aspecto

escatológico e, portanto alienante. Como a Comunidade Carisma tem sua base teológica

voltada principalmente à valorização do ser humano, certamente, seus cânticos levam o povo

a uma reflexão tanto no âmbito individual, quanto no coletivo. A reflexão acontece quando,

nos cânticos, se fala de novo estilo de vida, de possibilidade de restauração, de sentir-se

amado e na busca de um novo modo de viver. Através deste despertar, pessoas são movidas e

107 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.75

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envolvidas na ação social e nas outras atividades da comunidade. E, assim, a comunidade vai

se estruturando e incentivando seus membros a uma participação ativa e relevante tanto na

comunidade, como também na sociedade urbana. Frederico108 comenta: “Não é exagero dizer

que muitos cristãos aprendem sua teologia dos hinos que cantam. Os hinos moldam, ratificam

e proclamam a experiência de Deus que um participante do culto tem”.

Uma segunda barreira encontrada na atuação com a missão urbana é a fé

individualista, que é herança do protestantismo. Barro109 mostra que, através de:

...uma velha música ensinada às crianças: Tu no teu cantinho e eu no meu. A dimensão social da fé, no protestantismo de algumas denominações, teve problemas para ser manifesta no coletivo. Vimos, por muitos anos, a presença da teologia privada em contradições com a teologia pública. Isso gerou uma igreja de imaturos voltada para si mesma, sem expressão pública. A meu ver, uns dos maiores desafios da igreja hoje é ser igreja também fora dos portões. É necessário lembrar que Jesus morreu fora da porta, inaugurando um novo lugar da salvação. Jesus não morreu para a igreja, mas para todos. Ele é sal da terra e luz do mundo – este é o desafio público da igreja.

A Comunidade Carisma tem buscado justamente ser uma igreja que é voltada para a

missão urbana, ou seja, de dentro para fora. Missão urbana começa-se de dentro da

comunidade, pela forma com que a liturgia se desenvolve no decorrer dos cultos e o enfoque

tanto individual quanto coletivo que as letras dos cânticos dão. Enfoques tais como: estava

perdido e vazio, buscando um libertador. Como, por exemplo: o cântico ‘Novo Mandamento’

fala: “o amor de Deus é tão grande, que o seu Filho deu para nos salvar. E Jesus viveu nesta

terra para demonstrar esse imenso amor”. A música usada nos cultos transmite uma clareza,

aproximando-se ao nível de compreensão das pessoas que a ouvem e cantam. Seus cânticos

são relevantes por atuarem no mesmo nível da ação social da comunidade, tratando da

valorização e das necessidades do ser humano e da sociedade. Tal como conta o cântico:

‘Hoje Ele Vive’. “Morreu por mim. Morreu por nós. E levou nosso pecado na cruz. Pra nos

108 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p. 332 109 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.76, 77

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salvar. Pra nos salvar. E nos amou, se entregou, para que pudéssemos viver seus sonhos, os

seus planos a tua vontade. O teu amor nos libertou, nos conquistou. E Nele há toda vitória,

força e paz”. Isto nos reporta a uma terceira e última barreira: as liturgias que não expressam a

vida urbana.

A vida urbana é movimentada e dinâmica. Não é estática. Por isso, a liturgia precisa

andar junto com toda esta dinâmica. Ela não pode parar no tempo, na história e na tradição.

Ela precisa se contextualizar com o que acontece ao seu redor. Barro110 diz: “A liturgia nunca

deve ter um fim em si mesma, mas deve ser uma ponte, um meio muito eficaz que facilita a

relação entre Deus e o ser humano. Liturgia também não deve ser um instrumento de

preservação da tradição, mas um instrumento da missão”. E, na Comunidade Carisma, ela tem

sido um instrumento de renovação e dinamismo, pois suas letras evocam a valorização do ser

humano e o serviço social. O cântico ‘Atos 2’ diz: “E permanecendo na doutrina dos

apóstolos, na comunhão, nas orações e no partir do pão. Tendo tudo em comum, em cada

alma o temor de Deus. Maravilhas e milagres feitos por apóstolos, não havendo falta ou

necessidade. Por ser um coração, dia-a-dia a multidão, como igreja em união. Partindo o

pão de casa em casa, (...) e caindo na graça do povo. O Senhor acrescenta à igreja os que

chama para si”.111 Aqui o dinamismo é demonstrado pela comunhão diária, pelos feitos dos

“apóstolos”, no caso, os membros da comunidade que atuam na área social e a demonstração

de que à comunidade novas vidas são acrescentadas.

Uma quarta barreira se levanta para impedir que a ação social seja ativa no âmbito

urbano é quando a igreja não prepara seus membros para tal chamado, ou ainda quando a atua

muito dentro de si mesma. Barro112 mostra-nos o seguinte:

110 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.76, 77 111 Grifo da pesquisadora 112BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.78

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(...) A melhor e mais eficaz ponte de contato que a igreja tem com sua vizinhança são os membros. Quanto mais ativos forem seus membros na igreja, tanto mais serão também na sociedade. (...) A igreja urbana necessita de estruturas flexíveis e que incentivem a participação ativa de seus membros na vida da igreja e da sociedade. Quanto mais clericais somos, menos participação temos na vida da sociedade.

Sabe-se que a Comunidade Carisma tem aberto seu espaço tanto aos membros quanto

à vizinhança para estarem envolvidos em vários de seus projetos: ensino de trabalhos

manuais, artes, educação, cursinho, curso de línguas, faculdade de teologia, esportes,

prevenção às doenças, chás para as mulheres que acontecem durante a semana, encontro de

jovens e também com casais e tantos outros. Isso nos mostra que sua atuação tem sido

bastante eficaz e tem alcançado a área urbana. No cântico ‘A Expressão do Amor’, o autor

comunica a força da atuação de uma pessoa que é tocada pela presença e proteção do Pai. E o

resultado é esse: “Quero expressar o meu amor, oferecendo a Deus o meu louvor. Do seu filho

a vida deu, pra tornar-me filho seu. Quero expressar o meu amor. Estou apaixonado pelo

Senhor. Um milagre fez por mim, por isso hoje estou aqui. Amor assim nunca encontrei.

Transformou o meu viver. Ao mundo todo quero cantar e dizer”.113 Esta visão da

Comunidade Carisma nos reporta às pontes no envolvimento da igreja com a cidade,

conforme visão de Barro114.

A primeira ponte é a da sensibilidade. O autor explica que mais que ter um programa ou

promover atividades, o grande desafio neste momento é “construir na igreja uma sensibilidade

ativa em relação às pessoas que estão ao nosso redor. Essa é a ponte da consciência para com

as necessidades específicas da cidade”. E, relacionando este pensamento com os cânticos da

Comunidade Carisma percebe-se que a mesma, como já citamos anteriormente, tem suas

letras que levam o povo a uma reflexão maior em relação ao amor ao próximo e às

necessidades das pessoas115. Frederico116 expressa esse pensamento da seguinte forma:

113 Grifo da pesquisadora 114 114 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.80 115 Grifo da pesquisadora

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Uma das razões por que a música contribui para o culto consiste no fato de ela ser um meio mais expressivo do que a fala ordinária. A música nos permite expressar uma intensidade de sentimento. (...) Assim quem canta dispõe de uma gama mais ampla de expressão do que quem fala. A música pode e muitas vezes efetivamente transmite uma intensidade de sentimento maior do que se expressaria sem ela. A música funciona como um “agente catalisador” da emoção de duas maneiras: subjetiva e objetivamente. O estado emocional é muito mais sutil e subjetivo, sendo, por esta razão, difícil de ser verbalizado.

Em outras palavras: uma das grandes contribuições dos cânticos da Comunidade

Carisma é que, além de falarem da valorização do ser humano como pessoa, além de

falarem sobre o amor, eles conferem muito maior expressividade e sensibilidade às

palavras. 117 Seria o mesmo que dizer que suas melodias, somadas às letras, tocam e entram

nas emoções das pessoas de uma forma mais relevantemente expressiva, produzindo um

resultado prático. Agostinho118 falou dos cantos que “destilam as verdades em seu coração”.

E, Frederico119 completa este comentário de Agostinho dizendo:

Nessa consideração, destaca-se uma qualidade do canto que “fala à alma”: ele tem bom conteúdo. Ter bom conteúdo significa estar teologicamente correto e ser pertinente para as pessoas, ou seja, falar dos assuntos do interesse delas. No caso de Agostinho, esse conteúdo era tão importante, que as palavras cantadas iam sendo incutidas no seu interior, ajudadas pela expressividade que a música conferia ao texto. Outra característica também ligada com a qualidade do texto: se ouvir-se Calvino, percebe-se que suas palavras ressaltam que o bom texto é aquele que leva as pessoas a se “direcionarem a Deus”. Sabedor da falta de concentração da mente humana, Calvino reconheceu que a música ajudava a reter a atenção da mente na mensagem. O canto que “fala à alma” fala de Deus, dos seus grandiosos feitos, principalmente do seu maior feito de ter enviado o seu próprio Filho à terra para ser o Redentor do mundo.

As pessoas dentro da comunidade, primeiramente através dos cânticos, começam a ser

tocadas no profundo de seu ser e, após a reflexão, passam a se sensibilizarem com os

significados das letras. As letras começam a tomar forma dentro de “seus corações”. E, este

resultado abre uma segunda ponte: a ponte da cooperação.

116 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p. 369 117 Grifo da pesquisadora. 118 Santo AGOSTINHO. As confissões. p. 256. In: FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p. 371 119 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo, RS: SINODAL, 2001. p. 371, 372 – Grifo da pesquisadora.

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Barro120 falando sobre a cooperação, comenta o seguinte:

A igreja, como comunidade local, não possui todos os recursos, estruturas, estratégias e conhecimento para lidar com os problemas da cidade. Além das ações isoladas, particulares e pessoais, a igreja também precisa trabalhar com outras igrejas, agências e ministérios, formando uma rede de cooperação ministerial, unindo forças, sendo cobeligerante contra a fome, pobreza, criminalidade. Triste é ver a duplicação de esforços para a mesma ação e ministério. Uma igreja, por exemplo, começa uma creche, e outra faz o mesmo. Por que não unir os esforços? Talvez uma igreja tenha recursos humanos para a creche, a outra recursos financeiros, a outra recursos estruturais, e assim, a partir de um esforço comum, teríamos uma creche modelo, suprindo necessidades de muitas famílias da cidade, em vez de termos três creches, que todas lutam com muita dificuldade para sobreviver. O mesmo acontece com casas de recuperação. Outra forma de cooperação é a utilização das estruturas físicas.(...) Nossas igrejas devem ser centros de vida. Podemos cooperar com nossas estruturas com grupos afins que lutam contra alcoolismo, drogas, analfabetismo. Que cedam suas estruturas para atividades para a terceira idade, adolescentes grávidas, portadores de necessidades específicas. A maneira como nós tratamos nossas estruturas físicas e nossos recursos demonstra o que entendemos por missão.

Fazendo a leitura acima, é possível vislumbrar quase que um modelo perfeito de

cooperação entre igrejas e comunidades. De uma forma um pouco mais simplista, é esse o

pensamento e visão da Comunidade Carisma ao apresentar sua base teológica e visão da ação

social. Obviamente, nem tudo acontece de um dia para o outro. É preciso todo um trabalho de

implementação de toda a visão. Isso nos leva a uma outra ponte: A ponte do treinamento

urbano. Ou seja, como diz Barro121, esta é uma ponte que a igreja deve construir:

Formar um povo capaz e preparado para a realidade urbana. (...) Um sistema educacional propício e com capacitação técnica para a missão, (...) a idealização e capacidade de se elaborar um projeto prático de evangelização urbana. (...) Para fazer missão urbana é necessário treinamento específico, e para tal deveria servir o ensino da igreja. Caso contrário, corremos o risco de ser uma igreja que ensina, mas nunca forma, que tem classes mas nunca prepara. Qual é a finalidade, então?

Vê-se na Comunidade Carisma que o ensino, começando pelas letras dos cânticos,

tem a finalidade de responder aos anseios e necessidades humanas,122 projetando-o para a

120 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.82, 83 121 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.84 122 Grifo da pesquisadora.

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ação social e, consequentemente para a missão urbana. Como diz Barro:123 “A igreja deve

participar ativamente e se envolve com a vida da cidade, não como espectadora, mas como

protagonista e vanguardista”. Isso nos reporta à ponte da participação ativa. É aí que a

comunidade tem espaço para promover suas ações concretas que irão repercutir e demonstrar

os valores do Reino de Deus, citado pelo Pr. Rui Luiz124, quando falava sobre a base teológica

da Igreja: “A igreja precisa servir o mundo e as pessoas”. No cântico ‘Novo Mandamento’

nota-se claramente esta idéia: “O amor de Deus é tão grande, (...) e Jesus viveu nesta terra

para demonstrar esse imenso amor. Ele sempre faz o bem, libertando os cativos, curando os

enfermos e doentes. E nos deu novo mandamento resumindo toda a lei. Para que o

conheçam através de nós. Ame a Deus de todo o coração e ame aos outros como a si

mesmo (...) para que o mundo venha a crer neste amor que é dado hoje a vocês”. 125

Segundo Barro,126 servir o mundo e as pessoas faz-se necessário, bem como promover ações

concretas. A Comunidade Carisma, começando pelo momento litúrgico tem ensinado e

preparado seu povo para s ações concretas dentro do espaço que se chama missão urbana.

123 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.85 124 Conversa Informal com o Pr. Rui Luis Rodrigues, em 23-04-08, na sede da Comunidade Carisma, sito à Rua São Bento, 240. Quitaúna, Osasco. São Paulo, SP Observação: BASE TEOLÓGICA: Todo o trabalho social da Comunidade Carisma é o resultado da perspectiva da base teológica da mesma: a valorização do ser humano. Para a comunidade, um processo de conversão, na verdade é quando alguém consegue encontrar seu valor. Sendo assim, a obra social que existe nesta comunidade não começou como uma justificativa de fé por obras, mas como resultado da base teológica da mesma: a igreja precisa servir o mundo e as pessoas.

E, finalmente, falando da base teológica voltada à escatologia, o Pr. Rui Luis relata o seguinte: “Deus está mais preocupado com o presente do que com o futuro”. Ele quer transformar o presente para que possamos colher um bom futuro. O Novo Testamente fala dos “últimos dias” e não do “fim”, ou seja, a ênfase bíblica não dá resposta para o fim, mas para a busca de uma vida bem semeada no presente. 125 Grifo da pesquisadora 126 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.87

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3.4 Considerações Finais

É constatado que a Comunidade Carisma faz parte de um momento em que o

movimento neo-pentecostal tem sido um representante de uma nova construção cultural no

cenário religioso do Brasil. Ela tem tido a real intenção de ser um agente transformador dentro

da própria sociedade onde está inserida, como uma expressão formadora de uma nova cultura

do significado da igreja. Seus cânticos, sua liturgia, sua base teológica tem sido permeados

pelo dinamismo e os processos de mudanças que ocorrem tão rapidamente nesta época.

Segundo Kivitz,127 as mudanças que estão ocorrendo hoje nada mais são do que a volta aos

moldes de vida de Jesus Cristo, que tinha uma atuação visando o Reino de Deus através de

um resgate social e de uma missão urbana.

Considero ‘senso comum’ uma forma simples de me referir ao fato de que, apesar da enorme diversidade a respeito das características que identificam o ser evangélico, há um núcleo que resume este segmento religioso da sociedade que articula sua crença e seu modus vivendi. Ao escolher o ‘senso comum’ (...) busco não uma novidade, mas um resgate dos aspectos essenciais à fé cristã conforme se estabeleceram nestes mais de dois mil anos de história.

Em outras palavras, a igreja existe para a missão, ou seja, imitar a Cristo, conforme

comenta Barro:128

A essência da igreja está na missão. Cristo que é a nossa missão. Imitar a Cristo é andar na práxis do amor, do serviço e da compaixão. Para isso, devemos ser sérios com o contexto no qual Deus nos colocou como igreja. Devemos amar a cidade e ser agentes transformadores de Deus. Na cidade nós proclamamos, ensinamos e servimos. (...) Essa visão positiva e crítica da cidade implica uma nova espiritualidade, que sai das portas, nos bancos, nas casas...onde estão as pessoas. Também uma nova atitude para com a cidade, que se encarna e demonstra o amor de Deus pela cidade. (...) A única forma de se tornar uma igreja voltada para a cidade é se tornar uma igreja contextualizada. Para isso, vimos que devemos ser uma comunidade de adoração, com vida no culto e culto na vida. (...) Uma comunidade

127 KIVITZ, Ed René. Outra espiritualidade. São Paulo, SP: MUNDO CRISTÃO, 2006 p. 128 BARRO, Jorge Henrique. Ações pastorais da igreja como Cidade. Londrina, PR: DESCOBERTA, 2000. p.89-91

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profundamente envolvida com as preocupações do seu contexto. Uma comunidade onde homens e mulheres são preparados para desenvolver seus ministérios não somente na igreja, mas também no mundo. (...) Uma comunidade da esperança em meio ao caos e ao desespero. (...) Que nossas liturgias não se transformem em barreiras na comunicação do evangelho ao povo da cidade, e que não sejamos igrejas clericalistas, onde o povo não possa participar ativamente da vida da igreja na cidade. Somos desafiados a ser uma igreja sensível às necessidades das pessoas, que coopera com outras igrejas e agências, que treina e prepara o seu povo para exercer o ministério urbano, e que participa ativamente na promoção da vida através dos valores de Deus.

No começo desse trabalho foi feita uma análise de todas as atividades da Comunidade

Carisma, quais os departamentos e suas respectivas formas e áreas de atuação. Depois, uma

breve análise de como funciona o Ministério do Louvor, como ministério e também com a

forma de culto e liturgia da comunidade. Após isso, entendeu-se como é a base teológica e

todo o trabalho social que a comunidade vem trabalhando, desenvolvendo e atuando.

Essa tem sido uma comunidade voltada para fora, mas seu ensinamento e treinamento

começam em seu interior. Sua liturgia e seus cânticos têm atuado como agentes de ensino e

reflexão, na tentativa de levar as pessoas a somente uma experiência emocional de busca do

Sagrado, mas também a uma reflexão que vai ao encontro das necessidades essenciais do

homem: o desejo de ser valioso e amado. “Amar a Deus em primeiro lugar e ao próximo

como a si mesmo”. Os dez cânticos analisados foram os compostos pelos próprios integrantes

da comunidade, onde a verdadeira intenção de seus líderes é refletida com coerência através

das letras dos mesmos e dos trabalhos sociais que a comunidade atua. Eles retratam a

realidade que esta comunidade deseja atingir. Porém, apenas uma meta, um idealismo a ser

atingida, porque, porcentualmente, a atuação de todo o rol de membros da comunidade ainda

é pequena em proporção à necessidades de atuação e envolvimento nas obras sociais e missão

urbana. Mas, existem muitos outros cânticos entoados pela comunidade que não foram

compostos por seus integrantes. Estes não foram analisados e, portanto, fica impossível

chegar a um resultado completo. Contudo, dentro do que foi analisado, percebe-se e o

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vínculo sólido e verdadeiro entre a teologia da comunidade, que é a base e intenção

articulada pelos seus líderes.129

Fica claro que o processo de vida desta comunidade, nos limites do que foi analisado,

tem sido importante e coerente, influenciando, primeiramente aos seus membros que,

gradativamente, são transformados pela base teológica da mesma, instrumentalizados pelos

cânticos e pela liturgia. Em uma segunda etapa, estes membros, já com entendimento de seus

valores, partem para a ação social que tem gerado mudança de vida e nova perspectiva de

futuro para aqueles que não tinham acesso a estas possibilidades. Estes, por sua vez, vão

sendo transformados e, consequentemente, se associam e se envolvem com a vizinhança e

com seus mais próximos. Não existe um dado estatístico completo, apenas uma estimativa: a

Comunidade Carisma conta com 2.500 membros. Os que trabalham na ação social

assiduamente são por volta de 12 membros (0.48%). Os voluntários somam um número de

200 membros (8%), mas nem todos assíduos, apenas em momentos importantes e específicos.

Ou seja, somente na obra social, contamos com 8, 48% de membros atuantes. Obviamente,

todo processo de formação e preparo de uma visão tal qual desta comunidade leva tempo.

Mesmo assim, seria de grande valia o crescimento e investimento no preparo de maiores

membros para atuarem no campo social e missão urbana, ou seja, com um número cada vez

mais crescente dos envolvidos na responsabilidade social.

Concluímos, assim, que os cânticos são expressões coerentes e equilibradas com o que

a Comunidade Carisma tem buscado como identidade de igreja. Os cânticos, a liturgia e

cultos têm falado ao coração do povo aquilo que o mesmo consegue escutar, aquilo que está

dentro do seu contexto cultural e social. A Comunidade Carisma tem cumprido o seu

propósito de ser um lugar que busca uma melhor maneira de transformação de vida, que

129 Grifo da Pesquisadora

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começa de dentro para fora, servindo, amando e valorizando os seus e aprendendo a servir,

amar e valorizar a missão social e urbana.

3.4.1 – Gráfico estimativo da atuação dos membros da Comunidade Carisma

GRÁFICO ESTIMATIVO DA ATUAÇÃO DOS MEMBROS DA COMUNIDADE CARISMA

0

500

1000

1500

2000

2500

TOTAL PORCENTAGEM

Membros

Pastores

Músicas

Estimativa deFuncionários fixosAção Social

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6. Anexos

1. A Comunidade Carisma______________________________________________ 01

1.1. Foi assim que tudo começou_______________________________________ 02

1.2. Grupos Pequenos. Para uma grande igreja______________________________ 04

1.3. Escolas Carisma___________________________________________________ 06

1.3.1. Escola de Ministérios_____________________________________________ 07

1.3.2. Escola de Família________________________________________________ 07

1.3.3. Centro Cultural de Idiomas________________________________________ 07

1.3.4. Escola de Esportes_______________________________________________ 07

1.3.5. Cursinho Pré-Vestibular___________________________________________ 07

1.3.6. Faculdade de Teologia____________________________________________ 07

1.4. Nossas Reuniões__________________________________________________ 08

1.5. Crianças_________________________________________________________09

1.6. Música__________________________________________________________10

1.7. Espaço Moçada___________________________________________________ 11

1.8. Responsabilidade Social____________________________________________ 12

1.8. Comunicação_____________________________________________________ 14

1.9. Outros Ministérios_________________________________________________ 15

1.10. www.comunidadecarisma.net_______________________________________ 16

1.11. Como posso fazer parte?___________________________________________ 17

1.12. Equipe Ministerial________________________________________________ 18

Page 91: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULOtede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/474/1/Susana Wills.pdf · em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da

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2. Estatuto da Comunidade Carisma______________________________________ 21

3.. Organograma do nível estratégico – 2007_______________________________ 34 3.1. Organograma Tático / Supervisão Pastoral______________________________35 3.2. Organograma Tático / Supervisão Educação_____________________________36 3.3. Organograma Tático Executivo_______________________________________ 37 3.4. Organograma Tática / Supervisão Social________________________________38 3.5. Organograma Tática Ensino Cristão___________________________________ 39 3.6. Organograma Tático / Supervisão Suporte______________________________ 40 3.7. Organograma Tático / Supervisão de Suporte ao Culto____________________ 41 3.8. Níveis de decisão__________________________________________________ 42 1.16. Cânticos:_______________________________________________________ 43 1. Salvação_____________________________________________________ 44 2. Ação de Deus_________________________________________________ 45 3. Adoração_____________________________________________________ 46 4. Atos 2_______________________________________________________ 47 5. Atrai-me_____________________________________________________ 48 6. Hoje Ele vive_________________________________________________ 49 7. Expressão de amor_____________________________________________ 50 8. Pastor________________________________________________________ 51 9.Viver os teus sonhos____________________________________________ 52 10. Novo Mandamento_____________________________________________ 53