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A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: reflexos na vida da população usuária INTRODUÇÃO Tendo em vista a presente inserção do assistente social no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), em uma cidade do Estado do Rio de Janeiro, investigamos de que maneira a instrumentalidade na atuação do profissional, neste setor, reflete na vida de seus usuários. Entendendo que este tema necessita de análises constantes. Pois, a reflexão sobre a ação profissional do Assistente Social se faz necessária em todos os âmbitos de atuação. De tal forma que, esta se baseia em princípios profissionais que devem ser seguidos pela categoria. Nesta pesquisa, procurou-se compreender de que forma a instrumentalidade no trabalho do Assistente Social, inserido na Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), interfere de maneira positiva na busca por favorecer o desenvolvimento da autonomia entre os usuários. A elaboração da Política de Assistência Social conseguiu superar a tradição da caridade e do clientelismo, embora estas práticas ainda permaneçam acontecendo um pouco nos dias de hoje. Uma grande evolução foi conceber a Assistência como direito de cidadania, política pública, prevendo ações de

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A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTEÇÃO SOCIAL

BÁSICA DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: reflexos na vida da

população usuária

INTRODUÇÃO

Tendo em vista a presente inserção do assistente social no Centro de Referência de

Assistência Social (CRAS), em uma cidade do Estado do Rio de Janeiro, investigamos de que

maneira a instrumentalidade na atuação do profissional, neste setor, reflete na vida de seus

usuários. Entendendo que este tema necessita de análises constantes. Pois, a reflexão sobre a

ação profissional do Assistente Social se faz necessária em todos os âmbitos de atuação. De

tal forma que, esta se baseia em princípios profissionais que devem ser seguidos pela

categoria.

Nesta pesquisa, procurou-se compreender de que forma a instrumentalidade no

trabalho do Assistente Social, inserido na Proteção Social Básica do Sistema Único de

Assistência Social (SUAS), interfere de maneira positiva na busca por favorecer o

desenvolvimento da autonomia entre os usuários. A elaboração da Política de Assistência

Social conseguiu superar a tradição da caridade e do clientelismo, embora estas práticas ainda

permaneçam acontecendo um pouco nos dias de hoje. Uma grande evolução foi conceber a

Assistência como direito de cidadania, política pública, prevendo ações de combate à pobreza

e promoção do bem-estar social, articulada às outras políticas, inclusive a econômica.

Esse entendimento constitucional é definido na Lei Orgânica de Assistência Social

(LOAS (Lei 8742/1993)) envolvendo ações destinadas à família, maternidade, infância,

adolescência, velhice e portadores de deficiências. Seus princípios são da universalização,

respeito à cidadania, igualdade de acesso aos serviços, transparência, descentralização,

participação de organizações da sociedade civil na formulação das políticas e no controle das

ações e a primazia da responsabilidade do Estado na condução das políticas.

Pois, faz-se possível perceber que a Assistência Social enquanto política social foi

criada para dar resposta aos inconvenientes originários da contradição capital versus trabalho.

Demonstrando com essa perspectiva que a construção e a configuração das políticas sociais

estão intrinsecamente ligadas ao modo de produção/reprodução capitalista. Não em sua fase

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inaugural, mas no momento em que se tem um reconhecimento da questão social1, e a classe

trabalhadora, passa a adotar um caráter político e revolucionário. (BEHRING, 2000). Dessa

maneira, as políticas sociais não tem que serem vistas como um favor do Estado, mas devem

ser consideradas numa concepção mais ampla, considerando-se a conjuntura de insuficiente

acesso ao trabalho, e fruto da luta da classe trabalhadora por alternativas de melhores

condições de vida.

Assim, esta pesquisa visou derrubar a visão assistencialista, caritativa e, também,

contribuir para um melhor entendimento sobre as potencialidades profissionais almejando

contribuir para o debate da categoria e a produção de conhecimento, peça essencial neste

estudo. Além disso, este estudo possui fundamental importância, por ter como foco

compreender as formas de atuação do Assistente Social na Política de Assistência Social,

trazendo maiores esclarecimentos a respeito.

O CRAS pode ser percebido como a porta de entrada da política de assistência social.

Sendo um local contraditório, pois pode favorecer o desenvolvimento de uma autonomia

conservadora ou a descoberta de uma consciência de classe direcionada para a busca de uma

sociedade justa, democrática e igualitária.

Nesse sentido, de que maneira a instrumentalidade no trabalho do assistente social

pode contribuir para uma atuação que fortaleça nos usuários o desenvolvimento da autonomia,

baseada nos princípios fundamentais do Código de Ética Profissional? Como sua atuação

pode beneficiar de maneira positiva a vida de seus usuários?

Em um primeiro momento tratamos uma explanação sobre a Política Nacional de

Assistência Social. Um ponto importante para podermos compreender a legislação em que

nossa forma de atuação é pautada.

Depois, tratamos de discorrer sobre a Proteção Social Básica e sobre a inserção do

CRAS nesse espaço. Posteriormente, abordaremos sobre a atuação do assistente social no

CRAS e a instrumentalidade que acompanha o seu fazer profissional.

Por fim, analisamos de que maneira a instrumentalidade na atuação do profissional,

neste setor, reflete na vida de seus usuários.

1 A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada da própria atividade humana – o trabalho – das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos. [...] expressa portanto disparidades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal” (IAMAMOTO, 2001, p. 16-17).

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A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

A Assistência Social passou a ser entendida como direito social e reconhecida a esse

nível a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, com sua inserção no âmbito

da Seguridade Social. Dessa maneira a assistência social no Brasil veio a ser estabelecida

enquanto dever do Estado e direito do cidadão, pois se constitui como política social pública,

a partir do estabelecido pela legislação. No entanto, até alcançar o patamar de lei, a assistência

vinha sendo realizada de forma desfragmentada, desorganizada e benevolente

(MARTINELLI, 2011; IAMAMOTO, 2005).

A partir de 1993, com a publicação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, a

assistência social passou a ser definida como Política de Seguridade Social, compondo o tripé

da Seguridade Social, em conjunto com a Saúde e a Previdência Social. Possuindo um caráter

de Política Social articulada a outras políticas públicas do campo social.

Todavia, a Assistência Social, diferentemente da previdência social, não tem um

caráter contributivo, ou seja, deve atender a todos os cidadãos que dela necessitarem. Estando

responsável por prover os mínimos sociais àqueles que dela precisar, independente de

contribuição. Sendo também participativa (Controle Social) e descentralizada (comando único

das ações em cada esfera de governo). A LOAS define ainda benefícios, serviços, programas e

projetos.

Considera-se que o englobamento está além do “tripé”, pois a mesma revela o sistema

de proteção social brasileiro. Visto que a seguridade social é “entendida como um padrão de

proteção social de qualidade, com cobertura universal para as situações de risco,

vulnerabilidade ou danos dos cidadãos brasileiros”. Porém, pode-se entender a existência de

uma contradição entre seu caráter universal, declarado constitucionalmente, e o acesso a

mesma, que apesar de “assegurada num plano legal, tem sido atropelada pelas reformas

neoliberais que atentam contra o aprofundamento da democracia e da cidadania na sociedade

brasileira.”.2 (CFESS, 2000, p. 1).

O acesso de modo universal é uma luta incluída na agenda profissional, que durante o

XXIX Encontro Nacional CFESS/CRESS, na cidade de Maceió (AL), registrou na Carta de

Maceió (2000, p. 2) algumas orientações:

2 Para melhor compreensão do documento: A Carta de Maceió, que foi pactuada pelos profissionais assistentes sociais brasileiros presentes no XXIX Encontro Nacional CFESS/CRESS, na cidade de Maceió (AL), entre os dias 3 e 6 de setembro do ano 2000, pode-se acessá-lo pelo link: <http://www.cfess.org.br/arquivos/CARTADEMACEIO.pdf>.

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[...] para tornar a Seguridade Social pública possível no Brasil, superando essa condição ambígua de possuir uma existência legal/formal, mas que pouco se realiza na prática, apesar de alguns avanços pontuais, tendo em vista garantir melhores condições de vida para a população, bem como avançar num processo de profunda democratização do Estado e da sociedade brasileira.

Esse documento foi um marco na importância da luta em defesa da Seguridade Social

pública no país. Defendendo historicamente uma concepção ampliada de seguridade social.

O surgimento da Assistência Social é apresentado como grande avanço na qualidade

de direito dos cidadãos e responsabilidade do Estado como garantidor do direito e principal

executor e financiador da política. Porém, tais conquistas não impediram a mudança de

diretriz que o Estado redemocratizado vivenciava já no início dos anos de 1990,

caracterizando-se, a partir das reformas neoliberais, como um Estado forte para o mercado e

mínimo para as áreas sociais.

É verdade que essa política neoliberal chegou unida ao restringimento das políticas

sociais, persuadindo no cidadão a ideia de que ele tinha a responsabilidade sobre uma

atribuição que deveria ser o dever do Estado. Behring e Boschetti (2009) articulam sobre essa

circunstância que se desenvolveu no Brasil a partir da década de 1990:

[...] Os anos de 1990 até os dias de hoje tem sido de contra reforma do Estado e de obstaculização e/ ou redirecionamento das conquistas de 1988, num contexto em que foram destruídas até mesmo aquelas condições políticas por meio da expansão do desemprego e da violência [...] (BEHRING; BOSCHETTI, 2009 p. 147).

Conforme essa política de orientação neoliberal permanecia em ascensão, segundo os

avanços conquistados anteriormente pela Constituição Federal de 1988, o Estado passa a

exercer um papel de regulador social. Para garantir a reprodução da acumulação capitalista,

nessa atual conjuntura, o Estado funciona como um regulador das relações sociais, para

amenizar os impactos do enfrentamento da questão social no capitalismo. Ele age em alto

grau no argumento do Estado mínimo que oculta as verdadeiras atribuições do Estado nesta

fase.

Outras legislações também foram sendo criadas, como a Norma Operacional Básica

(NOB/SUAS) de 2005; a Política Nacional de Assistência Social – PNAS3 -(após 11 anos da

LOAS) que institui o Sistema Único de Assistência Social, provedor da Proteção Social como

conjunto de ações socioassistenciais integradas (PEREIRA, 2009);a NOB/RH; a Tipificação 3 A PNAS apresenta a assistência social organizada pelas referências da Proteção Social, da Vigilância Socioassitencial e Defesa Social e Institucional.

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Nacional dos Serviços Socioassistenciais/2009, a NOB/SUAS de 2012 e a própria atualização

da LOAS concretizada pela lei 12.435/2011, também chamada: Lei do SUAS, sendo

responsável por lapidar os conceitos e dar forma ao Sistema Único de Assistência Social.

Em 2005, foi instituído o Sistema Único de Assistência Social – SUAS,

descentralizado e participativo, tendo por função a gestão do conteúdo específico da

Assistência Social no campo da proteção social brasileira. Em virtude disso ocorreu a

consolidação do modo de gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica

entre os três entes federativos que, de modo articulado e complementar, operam a proteção

social não contributiva de seguridade social no campo da assistência social no Brasil.

No ano de 2011, a Lei 12.435 é sancionada, garantindo a continuidade do SUAS. Esta

integração nas prerrogativas da constituição vigente4 é a resposta de um grande processo de

luta dos diversos sujeitos sociais brasileiros. Precedentemente a Assistência Social não se

constituía como uma política, mas, pelo contrário, se resumia a uma gama de ações pontuais e

fragmentadas, sendo corrente o estabelecimento de fortes ligações com as noções de caridade

e de assistencialismo.

O Sistema Único da Assistência Social organiza as ações da assistência social em dois

tipos de proteção social. A primeira é a Proteção Social Básica, destinada à prevenção de

riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a

indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social. A segunda é a Proteção Social

Especial, destinada a famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco e que

tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono, maus-tratos, abuso sexual, uso de

drogas, entre outros aspectos.

O SUAS engloba também a oferta de Benefícios Assistenciais, prestados a públicos

específicos de forma articulada aos serviços, contribuindo para a superação de situações de

vulnerabilidade. Também gerencia a vinculação de entidades e organizações de assistência

social ao Sistema, mantendo atualizado o Cadastro Nacional de Entidades e Organizações de

Assistência Social e concedendo certificação a entidades beneficentes, quando é o caso.

Nota-se que esse processo disponibiliza uma nova roupagem para a Assistência Social,

considerada durante muitas décadas como favor, o que se relaciona com o viés da cultura

política brasileira enraizada pelo coronelismo, clientelismo e patrimonialismo que impõe as

decisões de cima para baixo sem a participação da sociedade.

Pode-se afirmar também, que a inserção da Assistência Social na Seguridade Social,

possui aspectos positivos e negativos, pois antes mesmo da assistência alcançar a

4 Conforme o capítulo II da Constituição Federal de 1988, artigos de 194 a 204.

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consolidação no campo dos direitos sociais, ela enfrentou alguns retrocessos devido às

imposições do projeto neoliberal, que contribui para a inviabilização de boa parte desses.

Por esse ângulo, a PNAS se alicerça em pilares totalmente contraditórios, que se

contrapõem aos seus objetivos iniciais, acarretando diversas restrições no campo dos direitos.

Por outro lado, percebe-se o enfraquecimento do debate em torno da citada política, o que em

parte é justificado, quando se toma por base as particularidades brasileiras.

Portanto, a Assistência Social apresenta suas particularidades, ao ser moldada

historicamente a margem do direito, tendo que ficar subordinada ao viés cultural que envolve

a estruturação das políticas sociais brasileiras.

No que se refere a PNAS, resolução n° 145 de 15 de outubro de 2004, publicada no

Diário Oficial da União em 28 de outubro de 2004, decorreu sua instituição tendo em vista a

luta de sujeitos sociais organizados a favor da sua efetivação enquanto uma política pública de

Estado definida pela legislação. Possuindo como palco para sua elaboração a IV Conferência

Nacional de Assistência Social, realizada em 2003, que foi considerada um marco histórico e

legal para a sua configuração.

Entende-se a PNAS como fruto de uma longa luta histórica para romper com as raízes

conservadoras que cercam a sociedade brasileira, contudo, cabe destacar que este é um

movimento permanente, pois ainda são fortes os laços de ajuda e proveito que cercam esta

política, constituindo assim, inúmeros desafios para a sua concepção enquanto direito.

Sendo assim, a PNAS torna material os princípios e diretrizes da LOAS que é

mecanismo importante para respaldar legalmente a política, responsável por conceder o

caráter de direito não contributivo, estabelecendo os princípios da Assistência Social,

ofertando o atendimento aos mínimos sociais e a supremacia do atendimento as necessidades

sociais de acordo com a rentabilidade econômica, na ótica da universalização dos direitos

sociais, em respeito à dignidade e a igualdades de direitos no acesso.

A LOAS delineia ainda os usuários da Assistência Social, sendo garantidos a todos,

que dela necessitem e sem contribuição prévia, a provisão dessa proteção aos indivíduos que

estão à margem da proteção social pública (trabalho, serviços sociais públicos, redes

sociorrelacionais).

A Assistência Social enquanto política pública nos termos já referenciados, se constitui

como um grande espaço sócio ocupacional para o profissional de Serviço Social, neste âmbito

emprega um número significativo de assistentes sociais. A esse respeito serão

contextualizadas algumas considerações mais adiante.

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A PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA E O CRAS

Como já pontuamos, um pouco mais acima, a Proteção Social prevista pelo SUAS, em

âmbito nacional, divide-se em níveis de complexidade como Proteção Social Básica e

Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade5, trataremos agora com maior

atenção sobre a Proteção Social Básica, onde se insere o Centro de Referência de Assistência

Social (CRAS).

O CRAS é uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência

social sendo responsável pela organização e oferta dos serviços socioassistenciais da Proteção

Social Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). É conhecido como a porta de

entrada da assistência social. Localizado nas áreas de maior vulnerabilidade e risco social dos

municípios. Desempenhando papel central no território onde se localiza, possuindo a função

exclusiva da oferta pública do trabalho social com famílias. Tem como público-alvo, pessoas

que vivem em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação ou ausência

de renda, acesso precário ou nulo aos serviços públicos, com vínculos familiares,

comunitários e de pertencimentos fragilizados e vivenciam situações de discriminação etária,

étnica, de gênero ou por deficiências, entre outros. (TIPIFICAÇÃO, 2009).

O CRAS é o órgão responsável por organizar e oferecer serviços da Proteção Social

Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social. Mas o que quer dizer esses conceitos?

Podemos compreender que a vulnerabilidade geralmente envolve, além da

precariedade da renda por um longo período de tempo, características do território,

fragilidades ou carências das famílias, grupos ou indivíduos e deficiências da oferta e do

acesso a políticas públicas. Em resumo, a deficiência no acesso a bens e serviços colabora

para o crescimento da situação de vulnerabilidade social.

Já o conceito de risco está relacionado ao perigo, probabilidade ou possibilidade de

perigo, e, ainda, a qualquer situação que aumente a “previsibilidade de perda ou de

responsabilidade pelo dano, compreendidos os eventos incertos e futuros inesperados, mas,

temidos ou receados que possa trazer perdas ou danos”. (WOLKOFF, 2010, p.5).

O CRAS possui um conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios de

assistência social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e

5 No presente artigo daremos maior atenção para a Proteção Social Básica, pois é o foco de nossa experiência. Para maior aprofundamento sugerimos consultar as normatizações mencionadas.

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comunitários, voltado também para a garantia de direitos. Assim, o CRAS, se torna uma

referência para a população local e para os serviços setoriais.

No CRAS também são viabilizados benefícios da Política de Assistência Social, de

caráter suplementar e provisório, prestados aos cidadãos e às famílias em virtude de

nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública. Os

Benefícios Eventuais são garantidos pelo art. 22 da Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993,

Lei Orgânica de Assistência Social - LOAS, alterada pela Lei nº 12.435, de 06 de julho de

2011, e integram organicamente as garantias do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

Os serviços da Proteção Social Básica são executados de forma direta no Centro de

Referência de Assistência Social (CRAS)- unidade pública estatal de base territorial-, onde

são executados o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) e o Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos 6 (SCFV)7.

O serviço do PAIF é realizado através do referenciamento e acompanhamento a

famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade através da equipe técnica qualificada,

disponibilizando benefícios, programas e projetos por meio da articulação em rede

socioassistencial e intersetorial. O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

(SCFV) é realizado em grupos com a finalidade de promover o fortalecimento de vínculos

comunitários e de pertencimento, de acordo com os ciclos de vida.

O ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS

Nos últimos anos, houve um aumento do espaço sócio ocupacional de atuação do

assistente social. E com a implementação do SUAS percebemos que é na Política de

Assistência Social que grande parte dos assistentes sociais então inseridos. Mais

especificamente, no CRAS.

A atuação do assistente social no CRAS se faz por meio de orientações e informações

às famílias em situação de risco e vulnerabilidade social, tendo um olhar diferenciado para

intervir nas expressões das questões sociais. Conforme a Lei de Regulamentação da Profissão 6 Também temos o Serviço de Proteção Social no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosas, para maiores informações consultar a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS nº109/2009).

7 No ano de 2013, com o objetivo de equalizar a oferta do SCFV, o MDS realizou a adesão do Reordenamento do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

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do Assistente Social, (Lei nº 8.662, de 7 de Junho de 1993), é de competência deste

profissional inserido na política de Assistência Social, identificar, analisar e compreender as

demandas presentes na sociedade e seus significados, e formular respostas às mesmas, para

enfrentar as diversas expressões da questão social.

Realizando o acompanhamento das famílias inseridas no Serviço de Proteção e

Atendimento Integral à Família (PAIF) e no Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos (SCFV). No PAIF o assistente social realiza o acompanhamento sistemático das

famílias, baseado ao que foi pactuado na elaboração do Plano Individual de Atendimento. E

no SCFV o profissional realiza intervenções, regularmente, trazendo um tema de relevância

para o grupo, de forma a estimular o pensar e fortalecer a consciência cidadã.

Também acontece a realização de busca ativa, com visitas domiciliares, no território

de abrangência do CRAS. Tendo como objetivo levar informação, referenciamento e acesso

dos serviços ofertados aos usuários.

Além disso, realizam atendimentos individuais e em grupos, desenvolvem e

implementam projetos que visam prevenir o aumento de incidência de situação de risco;

articulam cotidianamente com as demais unidades e serviços socioassistenciais; participam na

elaboração dos mapeamentos da área de vigilância socioassistencial; realizam

encaminhamentos (para o Sistema Nacional de Emprego (SINE), para acesso à documentação

civil, para o Rio Card-Vale Social, para o Programa Bolsa Família, para o Benefício de

Prestação Continuada (BPC) entre outros encaminhamentos para a rede socioassistencial) e

realizam a elaboração de relatórios sociais, laudos e pareces.

Sendo seus atendimentos sempre pautados por sistematizações, visando o melhor para

a vida do usuário do serviço. Pois a sistematização da prática é fundamental no seu fazer

profissional. De acordo com Ney Luiz Teixeira de Almeida (2006, p. 4), a sistematização é:

[…] um processo que envolve a produção, organização e análise dos mesmos a partir de uma postura crítico-investigativa. Trata-se, na verdade, de um esforço crítico, de natureza teórica, sobre a condução da atividade profissional, constituindo-se como um esforço problematizador sobre suas diferentes dimensões em relação às expressões cotidianas da realidade social, mediatizadas pelas políticas sociais, pelos movimentos sociais, pela forma de organização do trabalho coletivo nas instituições e, sobretudo, pelas disputas societárias. A sistematização no trabalho do assistente social é antes de tudo uma estratégia que lhe recobra sua dimensão intelectual, posto que põe em marcha uma reflexão teórica, ou seja, revitaliza e atualiza o estatuto teórico da profissão, condição social e institucionalmente reconhecida para a formação de quadros nesta profissão.

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Dessa maneira, podemos perceber que a sistematização dos atendimentos é intrínseco

ao exercício profissional do assistente social. Sendo necessário separar um tempo para a

sistematização dos dados coletados.

É fundamental, também, destacar que se faz necessário ao profissional estar sempre

participando das capacitações continuadas direcionadas ao serviço e aos programas

relacionados ao serviço social. Pois é imprescindível estar sempre por dentro das atualizações.

De acordo com Iamamoto (2009, p. 3) o assistente social deve ser “[…] um profissional

culturalmente versado e politicamente atento ao tempo histórico; atento para decifrar o não-

dito, os dilemas implícitos no ordenamento epidérmico do discurso autorizado pelo poder

[…]” para poder dar respostas em forma de ação profissional.

De acordo com Perez (2013) a implementação dos serviços, benefícios, programas e

projetos com qualidade, requer um do fator condicionante que é a capacitação dos

profissionais que trabalham na execução ou formulação dos serviços socioassistenciais. Logo,

a oferta do atendimento está especificamente vinculada a disponibilidade de encontrar uma

equipe efetivamente capacitada e em quantidade adequada, com qualidade de vida e

segurança garantidas conforme prevê a NOB/RH-2006.

A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL

As demandas apresentadas pelos usuários do CRAS, apresentam-se de forma

imediatas, atribuindo aos profissionais analisar um conjunto de mediações possíveis e

disponíveis para dar respostas concretas às questões expostas pelos usuários e para as

instituições ligadas à rede socioassistencial que solicitaram nosso parecer.

É fundamental destacar que a instrumentalidade é definida como “[...] uma

determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no

processo sócio-histórico.” (GUERRA, 2007, p. 1). Ao se tratar de uma capacidade, a

instrumentalidade não é palpável, mecânica ou pragmática e não se resume aos instrumentos

em si, devendo ser pensada na sua totalidade em relação com as dimensões que compõe o

Serviço Social, configurando-se uma unidade em meio à diversidade. Além de caracterizar-se

como um construto histórico da profissão. (GUERRA, 2007).

Podemos constatar que na visão de Guerra (2007) a instrumentalidade é entendida

como uma condição necessária e de categoria constitutiva do Serviço Social em seu exercício

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profissional, pois permitem que os assistentes sociais modifiquem as condições objetivas e

subjetivas das relações sociais presentes no cotidiano.

Sendo que o cotidiano é ineliminável e insuprimível e possui como características a

heterogeneidade, referente à diversidade de demandas; a espontaneidade, das respostas

acríticas e irrefletidas; a imediaticidade, expressando o utilitarismo das respostas; e a

superficialidade extensiva, que obscurece a possibilidade de mediação. (GUERRA, 2007).

Dessa maneira, a vida cotidiana, enquanto espaço de construção e reconstrução do exercício

profissional é fundamentado em fornecer respostas imediatas que respondem as premissas da

racionalidade capitalista, que resume os acontecimentos a fatos isolados, sem preocupar-se

com a articulação dos mesmos com outros fenômenos inerentes a realidade social, bem como

sua constituição.

Entretanto, o cotidiano também se constitui em um âmbito de possibilidades, pois é

nele que “[...] o indivíduo se socializa, aprende a responder às necessidades práticas

imediatas, assimila hábitos, costumes e normas de comportamento.” (BARROCO, 2010, p.

37). É nesse processo contraditório e complexo da vida cotidiana que os assistentes sociais

estão inseridos, com a finalidade de intervir

[...] nas diferentes manifestações da questão social com vistas a contribuir com a redução das desigualdades e injustiças sociais, como também fortalecer os processos de resistências dos sujeitos [...] na perspectiva da democratização, autonomia dos sujeitos e do seu acesso a direitos. (FRAGA, 2010, p. 45).

Faz-se necessário, nesse sentido, estabelecer uma finalidade para o instrumento

utilizado, de forma a potencializar a intervenção profissional, à medida que se pensa o sentido

e o objetivo dessa intervenção, orientada pelo referencial teórico. Para isso, é imprescindível a

apreensão da realidade social em sua completude, sem reducionismos e especificidades,

surgindo a compreensão do universal para posteriormente apreender o particular.

Percebemos ser é um papel da instrumentalidade o profissional atuar na construção do

projeto societário em favor da coletividade e rumo a mudança de sociabilidade. Sendo sua

atuação profissional permeada por intencionalidade, tendo compromisso com valores e

princípios que apontam para um cenário a ser alcançado, revelando seu caráter político. Para

isso [...] é fundamental, além da clareza do projeto ético-político construído coletivamente pela categoria, o domínio teórico-metodológico e técnico-operativo, alicerçados pelo conjunto de conhecimentos, habilidades, atribuições, competências e compromissos necessários à realização dos processos de trabalho, em qualquer espaço ou âmbito de atuação onde o assistente social realize. (FRAGA, 2010, p. 46).

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A prática mostra que os instrumentos mais utilizados pelo assistente social no CRAS

são: a elaboração de relatórios sociais, laudos e pareceres, para dar respostas às solicitações de

instituições que estão articulados na rede socioassistencial; realização de visitas domiciliares e

institucionais; as reuniões de equipe, onde são discutidos os casos entre a equipe visando

garantir a integralidade da atenção; o Prontuário SUAS que agrega informações das famílias

inseridas no PAIF e as reuniões socioeducativas.

Mas não podemos esquecer que a utilização desses instrumentais não se reduz a um

padrão específico, cabe a cada profissional a sua utilização embasando-se no conjunto de

pressupostos que norteiam o seu fazer profissional, seus valores éticos e o referencial teórico,

que gerarão significados e uma finalidade para o uso do instrumento em uma determinada

intervenção. Pois os instrumentos conferem materialidade ao trabalho do assistente social e os

legitimam.

OS IMPACTOS NA VIDA DA POPULAÇÃO USUÁRIA

Após explicitarmos como está relacionado o trabalho do assistente social inserido da

politica de assistência social no CRAS, sendo sua atuação baseada na instrumentalidade.

Traremos alguns casos concretos para analisarmos e percebermos como a população usuária

dos serviços se torna beneficiada. Para preservar a identidade das usuárias envolvidas

utilizaremos nomes fictícios: Rosa, Magnólia, Margarida e Jasmim.

Rosa, inserida no SCFV, comparecia sempre acompanhada de seu parceiro para uma

de nossas oficinas ofertadas no CRAS. Em um primeiro momento achamos estranho a

companhia de seu companheiro sendo que ele não quis se inserir, mas comparecia sempre

junto com Rosa. Em um dia que seu companheiro não foi, Rosa pediu para falar com a

assistente social. Em atendimento relatou não conseguir viver, pois sofre com esse

relacionamento abusivo onde é privada de fazer qualquer coisa, tendo que dar satisfação a

todo momento de onde está indo. Além disso, as brigas entre eles são constantes e seu filho,

de 12 anos, presencia as violências. Ela nos contou que veio residir nesta cidade em busca de

melhores oportunidades de trabalho. Percebemos ser uma situação delicada que necessitava

de atenção. Realizamos encaminhamento ao CREAS e fizemos contato com o mesmo, já

adiantando um pouco da situação. Nesse primeiro momento achamos ser inviável a realização

de denúncia na delegacia pois ela não contava com nenhuma rede de apoio, pois sua família

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE€¦  · Web viewNão em sua fase inaugural, mas no momento em que se tem um reconhecimento da questão social, e a classe trabalhadora, passa a adotar

estava a quilômetros de distância. Orientamos a usuária a realizar o IDJovem, documento que

garante vaga gratuita em ônibus, pois ela tinha o objetivo de retornar para sua terra natal.

Um tempo depois a equipe do CREAS entrou em contato contando que Rosa

conseguiu se mudar para outro estado, junto com seu filho, abandonando o companheiro. Foi

necessário um pouco de tempo para a usuária poder ter condições de se mudar.

Esse caso nos mostra que o contato com a rede é de fundamental importância e como

o conhecimento dos serviços é necessário. Como também podemos ver neste outro exemplo.

Magnólia compareceu e participou de uma Reunião Socioeducativa, que é um dos

serviços oferecidos pelo CRAS. Nesta foi abordada a temática dos serviços da assistência

social. Na semana seguinte Magnólia retornou para atendimento social e tomou coragem para

denunciar seu marido que a vinha ameaçando e lhe agredindo tanto psicologicamente quanto

fisicamente. Magnólia residia em uma casa própria há vários anos neste município com seu

marido e sua filha, de seis anos. Nesse primeiro contato orientamos a usuária a realizar o

Boletim de Ocorrência na Delegacia a fim de entrar em medida protetiva respaldada pela Lei

Maria da Penha (Lei 11.340/2006) e acionamos o CREAS para assumir o caso.

Segundo o CREAS, a usuária seguiu para acolhimento institucional junto com sua

filha e permaneceu até que pudesse voltar para seu lar. Tendo voltado na semana seguinte.

Magnólia retornou ao CRAS para relatar que estava muito feliz, pois seu marido não pode se

aproximar dela. Após audiência foi estipulado o valor da pensão a qual ele vem pagando.

Também foi estipulado o direto de estar com sua filha uma vez por semana.

Nos atendimentos de Rosa e Magnólia foi necessário o uso de um instrumento: o

encaminhamento. Também se fez necessário orientar em relação aos seus direitos para sair de

uma situação onde os mesmos estavam sendo violados. A partir de uma demanda de

atendimento com o uso de nossa sistematização vai surgindo outras orientações e

encaminhamentos. Como no caso de Margarida e Jasmim.

Margarida que recebeu orientações em relação a direitos e benefícios. Um deles sobre

o BPC por doença, já que a filha de Margarida, com um ano e dez meses, é portadora de uma

doença crônica. Margarida, foi orientada e encaminhada, deu entrada no benefício junto ao

INSS e passou a ser beneficiaria. Durante as visitas domiciliares a família também passou a

conhecer direitos que antes eram desconhecidos por ela e sua família.

Jasmim compareceu ao CRAS para atendimento visando a inscrição de seu filho no

SCFV. Percebemos que sua família estava em uma situação de vulnerabilidade, pois a renda

familiar provinha do Programa Bolsa Família e das atividades informais de seu marido.

Orientamos realizar a inscrição no curso profissionalizante gratuito de pedreira, sendo

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considerado uma forma de acesso a inclusão produtiva. Algum tempo depois a usuária

retornou ao CRAS e relatou que estava cursando e adorando o curso.

Dessa maneira, podemos ver como se faz necessária a atuação do assistente social no

CRAS e como sua atuação reflete positivamente na vida dos usuários. Sempre com o objetivo

de garantir os direitos e elevar a autonomia em suas vidas.

No entanto, possuímos alguns desafios para colocar em prática nossa atuação da

melhor maneira possível. Elencamos a baixa qualidade dos serviços dispostos nos

equipamentos, como a falta de estrutura física adequada, recursos materiais (computador e

impressora) e comunicacionais (telefone e internet8) escassos ou inexistentes e de

insuficientes meios de locomoção (carros) para execução adequada dos serviços

socioassistenciais. Essa escassez favorece para que o próprio poder público viole o direito do

usuário de ter acesso e ser assistido pelas políticas públicas. Pois se houvesse mais recursos

mais acesso seria oferecido e com melhor qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo levou a compreender que a profissão do assistente social se faz de maneira

interventiva, repleta de determinações históricas, culturais e socioeconômicas. Baseada de

forma hegemônica pelo método materialista histórico dialético e guiada por ideais

emancipatórios, igualitários e de justiça social. Na busca por mudanças da realidade através

da efetivação de direitos com o uso de um arcabouço técnico instrumental articulado com as

múltiplas dimensões profissionais, levando a sua atuação a refletir positivamente na vida dos

usuários.

De um modo geral, percebemos que por meio dos instrumentos e técnicas do perfil

profissional caracterizado pela postura crítica, propositiva, investigativa, interventiva, o qual

lhe cabe valores, princípios e atribuições que são pautados em seu Código de Ética

profissional, sua atuação ocorre em um cenário composto por elementos contraditórios. Fruto

de determinações das relações de dominação e exploração do sistema vigente que exige

conhecimentos da totalidade e uma ação qualificada que interfiram nesse movimento. Sendo

sua intervenção composta pelas dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico

8 Conforme podemos constatar ser uma realidade, em vários locais, de acordo com o Censo SUAS – 2018. Pode-se acessá-lo pelo link: <https://aplicacoes.mds.gov.br/snas/vigilancia/index2.php>.

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operativa, sem esquecer-se das dimensões investigativa e interventiva, que fundamentam e

direcionam as ações do profissional, ou seja, produzindo reflexos de maneira construtiva em

seus atendimentos.

Entretanto, percebemos que os desafios estão ao longo do processo de trabalho, em

sua grande maioria advindos da fragilidade nas condições objetivas para o exercício

profissional do assistente social. Além de ser necessário ter melhores condições para a

execução do trabalho profissional nas instituições que efetivam a política. Pois dessa forma

seria possível ampliar com qualidade a abrangência da política nos territórios e expandir a

acesso dos direitos à população.

Não podemos negar que pela ótica da legislação avançamos significativamente com a

PNAS e o SUAS. Apesar disso, percebemos que na prática muitos dos equipamentos não

funcionam de forma a garantir o que está previsto nos dispositivos legais, esse processo ainda

é permeado por contradições. Dessa forma, dada a importância do tema, faz-se necessário

estar sempre atualizando esse debate com a participação de todos os atores envolvidos nesse

contexto da política de assistência.

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