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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO CAMPUS ANGICOS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS,TECNOLÓGICAS E HUMANAS - DCETH CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA FAYRUZY COSTA PAIVA RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE RESERVATÓRIOS: APLICAÇÃO DE TENSOATIVOS ANGICOS-RN 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

CAMPUS ANGICOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS,TECNOLÓGICAS E

HUMANAS - DCETH

CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

FAYRUZY COSTA PAIVA

RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE RESERVATÓRIOS: APLICAÇÃO DE

TENSOATIVOS

ANGICOS-RN

2013

1

FAYRUZY COSTA PAIVA

RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE RESERVATÓRIOS: APLICAÇÃO DE

TENSOATIVOS

Monografia apresentada a Universidade

Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA,

Campus Angicos para a obtenção do título de

Bacharel em Ciência e Tecnologia.

Orientadora: Profa. Ma. Núbia Alves de Souza

Nogueira – UFERSA

Co-orientadora: Profa. Ma. Andréa Galindo

Carneiro Rosal- UFRPE

ANGICOS-RN

2013

2

3

Ao meu pai Vércio de Oliveira Paiva (in

memorian), pois foi alguém que me deu um

grande exemplo de força, coragem, trabalho e

dedicação, me ensinado a correr sempre atrás

dos meus sonhos, não me deixando abater

diante dos obstáculos. Sou grata a Deus por ter

me concedido a graça de ser sua filha.

A Antônio Elenilson da Silvameu noivo,

alguém que me deu todo o seu apoio durante

essa jornada. Pessoa de coração gigantesco o

qual admiro demais, símbolo de caráter e

honestidade. Sou grata a Deus por ter me

concedido a graça de ser sua companheira.

A Thayany Costa Paiva, minha irmã, minha

melhor amiga, uma menina enviada por Deus,

que carrega junto de si muita sinceridade,

amor e humildade em seu coração, e por isso

sou grata a Deus por ter o privilégio de ser sua

irmã.

A SumayaLuna de Aguiar, minha melhor

amiga, companheira de todas as horas, pessoa

que me deu mais força no caminhar dessa

minha vida acadêmica e a ela hoje sou grata

por essa conquista, sendo ela uma fonte de

exemplo e inspiração.

4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, aquele que me concedeu o maior dos presentes, “Viver”. Por

ser tão presente em minha vida me dando força sempre e me encorajando em todas as

situações. Obrigada, senhor, por ter sido meu melhor e maior amigo nesta caminhada, por ter

segurado a minha mão nos momentos em que achei que fraquejaria, por ter provido todas as

coisas nas horas mais assertivas, e principalmente por ter colocado anjos amigos em minha

vida que foram a ferramenta principal de sua ação em minha vida. Obrigada não apenas por

ter estado presente nas etapas desta graduação, mas em cada momento da minha vida.

Aos meus pais, Vércio de Oliveira Paiva (In memoriam)e Silvana Costa Paiva, que foram os

escolhidos por Deus para me conceder a vida, por terem me dado exemplos de trabalho,

dedicação e honestidade, e principalmente por terem me ensinado a amar a Deus acima de

todas as coisas, pois foi através deste ensinamento que consegui ultrapassar todos os

obstáculos que encontrei nesta caminhada para chegar até aqui. Por eles tenho amor

incondicional e agradeço a Deus por tê-los como meus pais.

Em especial a minha irmã Thayany Costa Paiva, por simplesmente ser a melhor irmã do

mundo, um presente de Deus em minha vida. Obrigada, amiga, por me dar a segurança de

saber que posso contar com você em todos os momentos, tanto bons quanto ruins. Agradeço

também por sempre ter me dado força, carinho, amor e apoio, para que assim eu conseguisse

ultrapassar os obstáculos que surgiam durante esta minha caminhada. Obrigada por ter

sonhado com a realização deste sonho junto comigo, por suas orações, e por toda a

preocupação. Irmã ao qual devo muito carinho e gratidão, e a quem ofereço a conquista desta

minha graduação.

A minha Titia, Valnizia de Oliveira Paiva, por sempre ter sido bem mais que uma tia, muitas

vezes ocupando o lugar de mãe, tanto em minha vida quanto de minhas irmãs, sendo

simplesmente a melhor tia, revestindo sempre minha vida de amor, carinho, cuidado e

dedicação, obrigada por todo o afeto que dedicou a mim. Você sempre foi minha melhor

professora, me dando exemplos pra que eu me tornasse quem sou hoje. Obrigada, titia, por

sempre acreditar em mim e em meu sonho, dando total confiança a ele. Por todas as orações a

Deus, e saiba sempre que esta vitória também é sua.

5

Ao meu noivo, Antônio Elenilson da Silva, por ser um companheiro. Por ter estado ao meu

lado quando eu mais precisei, por ter enfrentando tantas dificuldades comigo, me encorajando

e me dando sempre razões pra que pudesse continuar, por toda sua compreensão, paciência e

ativa participação durante o processo de elaboração deste trabalho. Além de namorado é meu

melhor amigo, alguém que me percebe, me ampara, me protege e me escuta. A você dedico à

conquista desta minha graduação, pois você foi um dos maiores colaboradores para a

realização deste sonho. Obrigada por todo o cuidado que tens por mim.

A minha grande amiga, Sumaya Luna de Aguiar. A esta não existe palavras que possam

descrever o amor, o carinho e a admiração que sinto. Amiga que há muito tempo deixou de

ocupar esse lugar, pois tornou-se uma irmã. A você dedico à conquista dessa minha

graduação, pois foi você amiga que sonhou com essa realização junto comigo, muitas vezes

chorou ao meu lado, e viveu as minhas dores, se doou de forma incansável para que nada me

faltasse, como uma mãe que se preocupa com o filho. Com você conheci a força de uma

verdadeira amizade, e posso dizer com toda sinceridade que sem você, não teria sido possível.

A minha querida orientadora, professora Ma. Núbia Alves de Souza Nogueira, por sua

orientação e comprometimento durante o caminhar deste trabalho, por toda sua paciência,

compreensão, dedicação, incentivo e afeto. Sempre assumindo o papel de orientadora e

amiga, sendo uma pessoa fonte de admiração e modelo de inspiração pessoal e profissional a

seguir. Obrigada professora Núbia, por todo o conhecimento transmitido, todas as palavras de

força que me destes e por tantas vezes ter se preocupado e acreditado em mim quando fui sua

aluna. Você é alguém que ao passar conhecimento, transmite o verdadeiro significado da

palavra “professor”, pois cada gesto seu em sala de aula, mostra o amor que tem a cada um de

seus alunos e principalmente a sua profissão. És também uma mãe capaz, pois apesar das

dificuldades consegue conciliar todas as coisas estando sempre presente no seio do teu lar. A

você meus agradecimentos e infinda admiração.

A Andréa Galindo Carneiro Rosal pelo seu comprometimento, e dedicação no decorrer deste

trabalho, por demonstrar sempre tanta preocupação com seus alunos, sendo uma professora

alvo de grande admiração, e modelo a ser seguido.

6

Ao meu querido e admirável professor da banca, Joselito Medeiros Freitas Cavalcante

por ter aceitado dar a sua contribuição para aperfeiçoamento deste trabalho. É um professores

pelo qual tenho grande admiração, por ser uma pessoa espetacular, amiga e verdadeira. Sendo

alguém de difícil descrição por possuir infinitas virtudes.

Ao professor da banca, Leonardo Magalhães Xavier Silva, por sua disposição em aceitar

participar da banca, e assim poder dar a sua contribuição para o aperfeiçoamento deste

trabalho.

A todos os professores da UFERSA que contribuíram na minha formação acadêmica, por

estarem sempre dispostos e comprometidos a nos transmitir seus conhecimentos de forma

incansável. Reconheço que a minha formação é resultado de seus esforços, e que sem vocês a

realização deste sonho não se concretizaria. A vocês a minha gratidão e eternos

agradecimentos, pois vocês são a base desta conquista.

Aos meus grandes amigos, Marcela Alencar, Rossana Sampayo, Aline Oliveira, Diego

Dantas, Mariele Lopes, Maílla Lopes, Izaac Braga, Aldy Nestor. Durante o caminhar desses

três anos, encontrei verdadeiros amigos com os quais compartilhei alegrias, conhecimentos,

tristezas, experiências e finalmente pude aprender com cada um deles o significado de uma

verdadeira amizade. Pois cada um deles puderam dar a sua contribuição para que eu

conseguisse ter essa conquista em minha vida. Amigos, não tenho palavras para expressar a

gratidão que sinto por ter vocês como amigos, tenho muita sorte, pois amigos assim são raros.

Vocês muitas vezes choraram comigo, e me ajudaram quando precisei. Cada um de vocês

foram anjos enviados por Deus para me dar o apoio de que precisei. Cada um de uma forma

diferente, porém não menos importante. Agradeço ainda pela enorme paciência que tiveram

comigo, e por todo o companheirismo. A vocês os meus sinceros agradecimentos.

A todos os meus amigos (as), que de uma forma ou de outra me apoiaram e desejaram o meu

sucesso, agradeço muito por acreditarem nesta realização.

A todos sou imensamente grata.

7

“Pode faltar tudo na minha vida, só não pode

faltar Deus, porquê se faltar Deus eu não serei

capaz de correr atrás daquilo que me falta.

(Fábio de Melo)

8

RESUMO

As propriedades físico-químicas do petróleo se modificam com o passar do tempo,

causando uma redução na produção dos reservatórios, visando manter a capacidade de

produção são aplicados métodos de recuperação. Os métodos de recuperação consistem na

injeção de fluidos na rocha-reservatório visando deslocar o óleo para fora dos poros da rocha.

Petróleo com alta viscosidade, elevadas tensões interfaciais fluido/óleo não são extraídos com

aplicação dos métodos convencionais de recuperação, o que justifica o uso de métodos

específicos. Esse trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre o comportamento do

petróleo nas rochas reservatório e as propriedades que influenciam na extração desse óleo.

Outro fator estudado foram os métodos não convencionais utilizados na recuperação do

petróleo, com ênfase no método químico que utiliza tensoativos no processo de extração, o

qual possibilita a redução das tensões interfaciais água/óleo, ampliando a eficiência de

deslocamento. Estes resultados foram obtidos a partir da análise de experimentos com

aplicações de tensoativos realizados por diferentes autores que classificaram o uso do método

como boa alternativa para deslocamento de óleos em rocha reservatório.

Palavras-chave: Reservatórios. Petróleo. Recuperação Avançada. Tensoativos.

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Processo de formação do petróleo ........................................................................... 19

Figura 2 - Estrutura de um reservatório de petróleo ................................................................ 20

Figura 3 - Disposição dos poros isolados e interconectados em rocha ................................... 21

Figura 4 – Relações entre porosidade e permeabilidade ......................................................... 24

Figura 5 – Rocha molhada por água ......................................................................................... 26

Figura 6 - Molhabilidade do sistema óleo-água- rocha ............................................................ 27

Figura 7 –Estrutura da molécula anfifílica ............................................................................... 28

Figura 8- Diversas estruturas dos tensoativos .......................................................................... 31

Figura 9 – Tensão superficial da água ...................................................................................... 32

Figura 10 – Forças atuantes nas moléculas de um fluido ......................................................... 32

Figura 11 – Tubo capilar utilizado para mostrar um método de medida da tensão superficial.

.................................................................................................................................................. 34

Figura 12 – Processo de formação de micelas .......................................................................... 35

Figura 13 - Ilustração da ocorrência do ponto de Kraft. ........................................................... 35

Figura 14 - Reservatório com mecanismo de gás em solução .................................................. 37

Figura 15 – Formação da capa de gás em reservatórios de petróleo ........................................ 38

Figura 16 - Reservatório com aqüífero subjacente com mecanismo de influxo de água. ........ 40

Figura 17 - Reservatório com aqüífero e capa de gás ............................................................... 41

Figura 18 - Sistema de injeção de microemulsão.......................................................................46

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Análise elementar do óleo cru típico (% em massa) .............................................. 16

Tabela 2 – Composição química de um petróleo típico .......................................................... 17

Tabela 3 – Frações típicas do petróleo .................................................................................... 18

11

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1- Porosidade ............................................................................................................ 22

Equação 2- Volume total da rocha .......................................................................................... 22

Equação 3- Saturação de um fluido ......................................................................................... 23

Equação 4- Percentual da saturação do fluido ......................................................................... 23

Equação 5- Saturação de óleo .................................................................................................. 23

Equação 6- Saturação de água ................................................................................................. 23

Equação 7- Saturação de gás ................................................................................................... 23

Equação 8- Saturação total ...................................................................................................... 24

Equação 9- Permeabilidade relativa ao óleo............................................................................ 25

Equação 10- Permeabilidade relativa ao gás ........................................................................... 25

Equação 11- Permeabilidade a água ........................................................................................ 25

12

LISTA DE SIMBOLOS

Porosidade

Volume poroso ou de vazios

Volume total da rocha

Volume de materiais sólidos (grãos, matriz, cimento)

Saturação do fluido

Volume do fluido

Saturação de óleo

Saturação de água

Saturações de gás

K Permeabilidade Absoluta

Permeabilidade Relativa ao Óleo

Permeabilidade Relativa ao Gás

Permeabilidade Relativa à Água

Tensão interfacial entre o sólido e a fase oleosa

Tensão interfacial entre o sólido e a fase aquosa

Tensão interfacial entre as fases oleosa e aquosa

Θ Ângulo de contato

13

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14

2 ASPECTOS TEÓRICOS ................................................................................................... 16

2.1 PETRÓLEO: DEFINIÇÃO E COMPOSIÇÃO ................................................................ 16

2.1.1 Origem do petróleo .......................................................................................................... 18

2.2 PROPRIEDADES DAS ROCHAS E FLUIDOS ............................................................... 20

2.2.1Porosidade ..................................................................................................................... 20

2.2.2 Saturação .................................................................................................................... 22

2.2.3 Permeabilidade (K) .................................................................................................... 23

2.2.4 Molhabilidade .................................................................................................................. 25

2.3 TENSOATIVO ................................................................................................................... 27

2.3.1 Classificação química dos tensoativos ............................................................................ 28

2.3.2 Principais propriedades dos tensoativos .......................................................................... 30

2.4 MECANISMOS DE PRODUÇÃO DE RESERVATÓRIOS ............................................ 34

2.4.1 Mecanismo de gás em solução ........................................................................................ 35

2.4.2 Mecanismo de capa de gás .............................................................................................. 36

2.4.3 Mecanismo de Influxo de água ........................................................................................ 37

2.4.4Mecanismo combinado ..................................................................................................... 38

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 40

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 41

4.1 MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO DE RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO ................ 41

4.1.1 Métodos convencionais de recuperação .......................................................................... 42

4.1.2 Métodos de recuperação avançada de reservatórios de petróleo ............................... 42

4.2 APLICAÇÃO DE TENSOATIVOS NA RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE

RESERVATÓRIOS ................................................................................................................. 45

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 49

14

1. INTRODUÇÃO

Segundo Voltatoni (2012) o petróleo é uma das principais matérias-primas

energéticasdo planeta, sendo uma importante fonte de recursos em muitos países. É um

recurso não renovável e com o progressivo aumento da demanda energética mundial faz-se

necessário o aprimoramento das técnicas de produção, pois a maior parte do petróleo existente

nas jazidas do planeta não pode ser extraída de maneira economicamente viável.

As tecnologias existentes atualmente não permitem a extração completa do óleo

presente no subsolo; por isso Voltatoni (2012) afirma que a indústria petrolífera tem se

preocupado bastante com o desenvolvimento de técnicas que viabilizem a captação desse

óleo, de forma eficiente e sem onerar o processo.

Ao longo do tempo, a produção de petróleo em um reservatório decai; isso ocorre

devido às mudanças das propriedades físico-químicas do óleo, quedas de pressão, ou até

mesmo pela redução do volume de óleo no reservatório. Essas alterações dificultam o

escoamento do óleo do reservatório até o poço, tornando a produção cada vez mais escassa e

de alto custo. Por isto, o reservatório pode ser considerado inviável, mesmo que ainda

contenha 70% de seu óleo original. Por isso são desenvolvidas, tecnologias que permitam

melhorar o escoamento e reduzir os custos de operação a fim de obter um melhor

aproveitamento do óleo existente no reservatório (SANTOS, 2007).

De um modo geral, os métodos de recuperação existentes são os métodos

convencionais e os métodos especiais, e estes ultimos são os métodos químicos, os métodos

miscíveis, os métodos térmicos, entre outros (CURBELO, 2006).

É importante salientar que os métodos convencionais de recuperação se

tornamdesvantajosos, fornecendo baixas eficiências de deslocamento, quando o fluido

injetado não consegue retirar o óleo para fora dos poros da rocha devido às altas tensões

interfaciais. Para estes casos os métodos químicos, como a injeção de solução de tensoativos,

tornam-se muito vantajosos, visto que os tensoativos devido as suas propriedadesreduzem as

tensõesinterfaciais entre a água e o óleo, ampliando a eficiência de deslocamento e,

consequentemente, aumentando o fator de recuperação depetróleo (CURBELO, 2006).

Esse trabalho tem como objetivo apresentar os métodos não convencionais de

recuperação de petróleo, enfatizando os métodos químicos que utilizam tensoativos como

agentes de extração do óleo. Para essa análise foi desenvolvido uma revisão da literatura sobre

o comportamento do petróleo nas rochas reservatórias e as propriedades que influenciam o

15

processo de obtenção desse material, estudo e classificação dos tensoativos e as principais

propriedades para fundamentar a análise.

16

2 ASPECTOS TEÓRICOS

2.1 PETRÓLEO: DEFINIÇÃO E COMPOSIÇÃO

O petróleo é uma fonte de energia não renovável, que em seu estado líquido pode ser

definido como sendo uma substância oleosa, inflamável e menos densa que a água, com

cheiro específico e cor variando entre negro e castanho-claro (THOMAS, 2001). Também

chamado de óleo “cru” é constituído basicamente por uma mistura de compostos orgânicos,

os hidrocarbonetos, que apresentam em sua estrutura alta porcentagem de carbono e

hidrogênio. Embora a maioria dos constituintes do petróleo sejam os hidrocarbonetos, existem

outros componentes, tidos como impurezas, os mais encontrados são oxigênio, nitrogênio,

enxofre e metais, esses últimos são encontrados em pequenas quantidades na forma de sais de

ácidos orgânicos (VIEIRA, 2010). A Tabela 1 apresenta a análise elementar de um óleo cru.

Tabela 1- Análise elementar do óleo cru típico (% em massa)

Componente % em massa

Hidrogênio 11,00 - 14,00%

Carbono 83,00 – 87,00%

Enxofre 0,06 – 8,00%

Nitrogênio 0,11 – 1,70%

Oxigênio 0,10 – 2,00%

Metais Até 0,30%

Fonte: Thomas (2001, p.5).

O petróleo pode ser encontrado nos estados gasoso, líquido ou sólido a depender das

condições de pressão e temperatura a que esteja submetido e do tamanho das moléculas que o

compõe. Quando este apresenta uma maior quantidade de moléculas pequenas, seu estado

físico é gasoso sendo encontrado sob a forma de gás natural, quando a mistura contém

moléculas maiores seu estado físico é líquido, encontrado sob a forma de óleo cru, e quando

em seu estado sólido, é encontrado sob a forma de betume, porém este é mais raro (ROCHA,

2005).

A composição do petróleo está relacionada com as características do local de formação

e o processo natural ali desenvolvido, por isso os óleos obtidos de diferentes reservatórios

divergem em suas características, quanto à cor, viscosidade, podendo liberar pouco ou

17

nenhum gás, outros podem liberar grandes quantidades de gás ou até mesmo produzir

somente gás, no entanto, o que há em comum entre cada tipo de petróleo é o fato de todos

apresentarem análises elementares semelhantes (THOMAS, 2001).

O principal constituinte dos óleos são os hidrocarbonetos, estes podem ser saturados,

aromáticos, resinas e asfaltenos, porém quase não existem hidrocarbonetos aromáticos. Sendo

o maior grupo constituído por hidrocarbonetos saturados, formado por alcanos normais ou n-

parafinas, isoalcanos (isoparafinas) e cicloalcanos (naftenos). As parafinas podem ser do tipo

normal e ramificada que vão do metano até 45 átomos de carbono; as parafinas normais

podem variar de 3 a 35% da composição do petróleo, sendo o mais usual de 15% a 20%

(THOMAS, 2001). A Tabela 2 apresenta a composição química de um petróleo típico.

Tabela 2- Composição química de um petróleo típico

Componente

Fração

Parafinas normais

14%

Parafinas ramificadas 16%

Parafinas cíclicas (naftenicas)

30%

Aromáticos 30%

Resinas e asfaltenos 10%

Fonte: Thomas (2001, p.11).

De acordo com Thomas (2001) o petróleo possui grande quantidade de derivados

(Tabela 3), que são separados em frações segundo a faixa de temperatura de ebulição de seus

componentes.

18

Tabela 3- Frações típicas do petróleo.

Fração Temperatura de

ebulição (°C)

Composição

aproximada Usos

Gás residualGás

liquefeito de

petróleo – GLP

___

Até 40

Gás combustível

Gás combustível

engarrafado, uso doméstico e

industrial

Gasolina 40 -175 Combustível de automóvel,

solvente

Querosene 175-235 Iluminação, combustível de

avião a jato

Gasóleo leve 235-305 Diesel, fornos

Gasóleo pesado 305-400 Combustível, matéria prima

para lubrificantes

Lubrificantes 400-510 Óleos lubrificantes

Resíduo Acima de 510 Asfalto, piche e

impermeabilizantes

Fonte: Thomas (2001, p. 5).

É necessário que o petróleo seja classificado de acordo com seus constituintes para

que se conheça a quantidade das diversas frações que podem ser obtidas, assim como sua

composição e propriedades físicas.

2.1.1 Origem do petróleo

Conforme Voltatoni (2012), o petróleo, que é um combustível fóssil, é formado a

partir da decomposição de matéria orgânica morta produzida pelo mar, tais como: restos

vegetais, algas, restos de animais marinhos e alguns tipos de plâncton, estes ao longo dos

anos, devido a fatores erosivos e movimentos da crosta terrestre, se acumulam no fundo de

mares e lagos e são recobertos por camadas sedimentares onde há pouco ou nenhum oxigênio,

a partir daí surgem às bacias sedimentares, resultantes do acúmulo destes sedimentos,

dependendo da forma como esse processo ocorre, há um acréscimo de pressão e de

temperatura dando ao ambiente condição apropriada para a formação do petróleo, Figura 1.

19

Figura 1- Processo de formação do petróleo

Fonte: Teixeira (2001 apud VOLTATONI, 2012, p. 5).

2.1.1.1 Migração do Petróleo

O petróleo não permanece nas rochas sedimentares onde foi formado, também

conhecida como rocha matriz ou rocha-mãe. A rocha matriz possui característica argilosa e

impermeável, que determina a migração do petróleo para as rochas reservatório, que são

muito porosas, e oferecem vacâncias para a acomodação do óleo, a este processo dá-se o

nome de migração primária. O petróleo possui densidade menor que a água existente nos

poros da rocha reservatório, o que favorece à migração do petróleo em direção à superfície.

Quando nesse percurso existe uma armadilha geológica, que é uma rocha impermeável

também conhecida como rocha capeadora, ali será gerado um reservatório de petróleo, a este

tipo de migração dá-se o nome de migração secundária. Caso isso não ocorra o petróleo irá

continuar migrando até a superfície em busca de zonas de menor pressão onde será oxidado

ou degradado por microorganismos (GOMES; ALVES, 2007 apud VOLTATONI, 2012). A

Figura 2 apresenta a estrutura de um reservatório de petróleo.

Figura 2- Estrutura de um reservatório de petróleo

Fonte: Teixeira (et al. 2000 apud CASTRO 2012).

20

2.1.1.2 Rocha Reservatório

Rocha (2005) afirma que após ter sido gerado o petróleo migra, e ocupa os espaços

vazios de uma rocha denominada rocha reservatório, esta rocha pode ser de qualquer origem

ou natureza, no entanto para que seja caracterizada como uma rocha reservatório deve

apresentar alta porosidade.

Rocha (2005) afirma ainda que os poros da rocha devam estar ligados entre si de modo

que permita a troca de fluidos ao longo do reservatório e conduto de migração conferindo-lhe

uma maior permeabilidade. Uma rocha reservatório é formada de grãos minerais com poros

entre estes grãos, onde o petróleo fica alojado, estes grãos estão conectados uns aos outros por

um material denominado cimento, existe ainda um material fino presente entre esses grãos,

denominado matriz. Sendo assim, uma rocha reservatório deve ser permeável e apresentar

poros que devem acomodar em seu interior gás, óleo e água.

Alguns exemplos de rochas reservatório são os arenitos, os calcarenitos e todas as

rochas sedimentares que apresentem porosidade intergranular e que sejam permeáveis. Porém

algumas rochas argilosas (folhelhos) e alguns carbonatos podem formar reservatórios caso

estejam naturalmente fraturados (THOMAS, 2001).

2.2 PROPRIEDADES DAS ROCHAS E FLUIDOS

É fundamental que se estude e conheça as propriedades das rochas que formam o

reservatório de petróleo, visto que estas podem determinar quanto de fluido existe no meio

poroso, sua distribuição e capacidade de movimentação, escoamento e conseqüentemente a

quantidade de fluido que poderá ser deslocado do reservatório (DAKE, 2001 apud

BARILLAS, 2005).

2.2.1Porosidade

De acordo com Barillas (2005) a condição fundamental para que uma rocha contenha

óleo, gás ou qualquer outro fluido é que ela disponha de vacâncias para acomodação desses

fluidos. Daí surge o conceito de porosidade, que é a capacidade que a rocha tem apresentar

vazios, poros ou fissuras, onde são acumulados óleo e água. Logo, quanto mais porosa for

uma rocha maior será a sua capacidade de armazenamento de fluidos, no entanto, a

porosidade irá depender da forma de organização e variação de tamanho dos grãos, além do

grau de cimentação, observado na Figura 3 (QUEIROZ, 2006).

21

Figura 3 – Efeito da cimentação nos poros

Fonte: Oliveira (2012)

Segundo Queiroz (2006) normalmente os poros de uma rocha estão interligados,

porém alguns poros poderão ficar totalmente isolados devido à cimentação, então a

porosidade poderá classificar-se conforme:

Porosidade Absoluta: Trata-se da razão entre o volume de todos os poros, estando eles

interligados ou não, e o volume total da rocha;

Porosidade Efetiva: Razão entre o volume dos poros interligados e o volume total da

rocha;

Porosidade Primária ou Original: É aquela desenvolvida devido à transformação de

material sedimentar em rocha. Exemplos: Porosidade intergranular dos arenitos, porosidade

intercristalina de calvários;

Porosidade Secundária ou Induzida: Ocorre devido aos processos geológicos sofridos

pela rocha desde a sua formação. Exemplo: Fissuras, como as encontradas em arenitos e

calcários, e pelas cavidades devidas à dissolução de parte da rocha.

Segundo Rocha (2005) poros isolados não estão suscetíveis à produção de fluidos,

sendo assim a porosidade efetiva é considerada a mais importante para a engenharia de

reservatórios, uma vez que esse parâmetro possibilita conhecer o máximo volume de fluidos

que pode ser extraído da rocha.

A porosidade pode ser calculada percentualmente como o volume de espaços vazios

encontrados na rocha divididos pelo volume total da mesma, como mostra a Equação (1).

(QUEIROZ, 2006).

22

O volume total da rocha é dado pela soma do volume poroso com o volume de

materiais sólidos (grãos, matriz, cimento), como descreve a Equação (2).

A porosidade representa 20 a 25% do volume total da rocha, sendo que nem todo este

volume poroso será ocupado por óleo, certa quantidade de água denominada água conata ou

água irredutível irá ocupar parte desse espaço (BARILLAS, 2005).

2.2.2 Saturação

A quantidade de óleo e/ou gás contido nas jazidas não se deve apenas a porosidade.

Rocha (2005) afirma que para estimar essa quantidade é necessário saber quanto do volume

poroso é ocupado por cada fluido, pois as quantidades dos diferentes fluidos definem o valor

econômico de um reservatório. Esses percentuais recebem o nome de saturação.

Segundo Rosa (2006) a saturação de um fluido em meio poroso é determinada

através da Equação (3).

Reescrevendo a Equação (3) tem-se: em termos percentuais.

V

Se um único fluido estiver ocupando o meio poroso, então a sua saturação será 100%.

Entretanto, inicialmente uma rocha-reservatório contém apenas água, que não é totalmente

deslocada pelo óleo ou pelo gás durante a fase de migração, então o meio poroso será ocupado

por dois ou mais fluidos (ROSA et al., 2006 apud VALE, 2009).

(1)

(2)

(3)

(4)

23

De acordo com Curbelo (2006) as saturações de óleo ( ), água ( ) e gás ( )

podem ser obtidas nas Equações (5), (6) e (7), respectivamente.

A saturação total (Equação 8) é resultado do somatório das saturações que é sempre

igual a 1 (100%).

2.2.3 Permeabilidade (K)

De acordo com Barillas (2005) uma rocha pode conter uma grande quantidade de

poros, e estes podem conter valores elevados de hidrocarbonetos, porém estas condições não

garantem que estes hidrocarbonetos possam ser extraídos. É necessário que a rocha possua

outra propriedade denominada permeabilidade, que é a capacidade que uma rocha tem de

permitir o fluxo de fluidos através dela.

Para Rocha (2005) uma rocha pode apresentar uma permeabilidade baixa ou elevada a

depender do grau de estrangulamentos existente nela, quando são estreitos ou tortuosos os

canais de passagem desses fluidos, são denominados “canais porosos” ou “gargantas”. Sendo

assim quanto maior for o número de estrangulamentos e mais estreitos e tortuosos forem os

canais, menor será a permeabilidade da rocha. Por outro lado quanto maiores e mais

conectadas forem estas gargantas, maior será a permeabilidade obtida da rocha como mostra a

Figura 4.

(5)

(6)

(7)

(8)

24

Figura4- Relações entre porosidade e permeabilidade

Fonte: Pereira (2010)

Queiroz (2006) classifica a permebilidade em:

Permeabilidade Absoluta (K)

Aquela existente quando há apenas um fluido saturando o meio.

Permeabilidade Efetiva

A permeabilidade absoluta não é suficiente para determinar a facilidade de

escoamento do óleo em meio poroso, quando a rocha-reservatório apresentar dois ou mais

fluidos, a facilidade com que um deles se deslocarelativo ao outro é chamada permeabilidade

efetiva. Se em um meio poroso deslocam-se óleo e água,é possível obter a permeabilidade

efetiva do óleo em relação à água, e vice-versa. Assim obter as permeabilidades efetivas aos

fluidos significa obter cada valor de saturação do fluido correspondente, visto que as

permeabilidades efetivas dependem das saturações de cada um dos fluidos no meio poroso

(SOUZA, 2005).

Permeabilidade Relativa

Para Barillas (2005) a permeabilidade relativa consiste da permeabilidade efetiva

normalizada. Essa normalização é feita dividindo os valores de permeabilidade efetiva por um

referencial, Equações (9), (10) e (11) sendo comumente usado o de permeabilidade absoluta.

25

2.2.4 Molhabilidade

As propriedades que são determinantes para o bom escoamento de fluidos no interior

dos poros das rochas reservatório, dependem das características morfológicas da rocha, como

tamanho e conectividade entre os poros, e da distribuição de fluidos no espaço poroso, sendo

essa distribuição controlada pela molhabilidade da rocha. Amolhabilidade é determinada pela

tendência de adesão de um fluido a superfície do reservatório, considerando a necessidade de

imiscibilidade desses fluidos (JADHUNANDAN, 1995 apud VOLTATONI, 2012). Isso

significa que quando dois fluidos não miscíveis entram em contato com uma superfície sólida,

uma das fases será mais atraída pelo sólido do que a outra. Curbelo (2006) afirma que a fase

mais atraída é definida como fase molhante. Quando da aderência na rocha ocorre a formação

de um filme ao redor da rocha, o que favorece o escoamento da fase menos atraída (não

molhante).

A molhabilidade do conjunto água/óleo nas rochas reservatório pode configurar como

fortemente molhável pela água ou pelo óleo Figura (5). Reservatórios molháveis por óleo

apresentam baixos fatores de recuperação, uma vez que o óleo adere as paredes do

reservatório não permitindo a extração,reduzindo a rentabilidade desse reservatório.

(ABDALLAH,2007; FAERSTEIN, 2010 apud VOLTATONI, 2012).

(9)

(10)

(11)

26

Figura 5- Rocha molhada por água

Fonte: Barillas (2005, p. 13).

De acordo com Barillas (2005) existem vários métodos de determinação da

molhabilidade, sendo um deles a medida do ângulo de contato formado entre o fluido e a sua

superfície de contato, assim pode-se dizer que o ângulo de contato é uma medida quantitativa

do processo de molhabilidade.

Um balanço de forças entre dois fluidos (ex: água e óleo) e o sólido determina a

medida do ângulo de contato ( ) entre os líquidos e a superfície, consequentemente a

molhabilidade. Quanto menor o ângulo de contato ( ) mais a água irá aderirà

superfície, e quanto maior o ângulo de contato ( ) mais o óleo irá aderir a superfície

(QUEIROZ, 2006).

A Figura 6 mostra a relação do ângulo de contato com a capacidade de adesão do

fluido à superfície sólida (molhabilidade), em um sistema rocha-água-óleo (BARILLAS,

2005).

Figura 6- Molhabilidade do sistema óleo-água- rocha

Fonte: Willhite (1986 apud BARILLAS, 2005, p. 13).

27

Há três forças presentes na linha de contato, que indicam a tensão interfacial entre

cada fluido e o sólido (CURBELO, 2006). São elas:

- Tensão interfacial entre o sólido e a fase oleosa,

- Tensão interfacial entre o sólido e a fase aquosa,

-Tensão interfacial entre as fases oleosa e aquosa.

O ângulo de contato, θ, é determinado pela tangente da interface, na linha de contato,

através da fase aquosa por (CURBELO, 2006). No equilíbrio a soma dessas forças é

nula.

A molhabilidade é função da interação sólido-fluido, logo uma gota de água irá

apresentar um formato distinto para cada superfície que esteja em contato a depender das

interações entre a água e a superfície. Modificações químicas na superfície podem aumentar

ou diminuir o ângulo de contato, influenciando na molhabilidade do sistema (OGEDA, [199-

?]).

2.3 TENSOATIVO

Segundo Vale (2009) os tensoativos também chamados de surfactantes são compostos

orgânicos que se adsorvem na superfície dos fluidos ou na interface entre dois fluidos

imiscíveis, sejam eles: líquido-líquido, líquido-gás e sólido-líquido, de modo a reduzir as

tensões superficiais e interfaciais destes.

Vale (2009) afirma que os tensoativos fazem parte das moléculas anfifílicas, que são

aquelas constituídas com longa cadeia carbônica e duas regiões solubilizantes diferentes

interligadas, mas que se comportam de maneira independente. Tal região possui um

grupamento polar (hidrofílico), solúvel em água e um grupo apolar (hidrofóbico) solúvel em

óleos e gorduras, denominado muitas vezes de grupamento lipofílico, a Figura (7) apresenta a

estrutura da molécula.

28

Figura 7- Estrutura da molécula anfifílica

Fonte: Souza (2005, p. 12).

Os tensoativos apresentam propriedades diferentes, em relação a outros solutos não

tensoativos. Em geral agem na superfície do líquido reduzindo a tensões interfaciais destes,

são também agentes emulsificantes, ou seja, como conciliador de compostos sem qualquer

afinidade. Em presença de água e óleo as moléculas tensoativas adsorvem-se na interface

organizando-se de forma que a parte polar da molécula fique orientada para fase aquosa e a

parte apolar para a fase oleosa, formando um filme molecular ordenado nas interfaces, que

reduz a tensão interfacial e superficial (ROSSI et al., 2006)

Devido à estrutura e propriedades dos tensoativos, naturais ou sintetizados, muitas são

as aplicações em processos industriais, estando presentes em uma grande variedade de

produtos como detergente, sabões, amaciantes de roupa, shampoo, entre outros.

2.3.1 Classificação química dos tensoativos

Segundo Vale (2009) os tensoativos são classificados quanto a presença ou ausência

de carga na parte polar da molécula, e por sua estrutura.

Classificação quanto à carga da superfície ativa (ROSSI et al., 2006).

Tensoativos iônicos - São aqueles que apresentam cargas elétricas na parte polar da

molécula. E estes podem ser aniônicos e catiônicos.

Tensoativos aniônicos - Os tensoativos aniônicos ao se dissociarem em água formam

íons negativamente carregados na superfície ativa, parte polar da molécula. Os mais

conhecidos são os alquilacanoatos comumente denominados de sabões, estes derivam de

gorduras animais, ou óleos vegetais, por reações de saponificação, atualmente são os mais

estudados e compreendidos devido a sua estrutura e função.

29

Tensoativos catiônicos - Estes quando dissociados em água formam íons

negativamente carregados na parte polar da molécula, dentre os principais representantes

dessa classe de tensoativos, destacam-se os sais de amônio quaternários e as aminas

(CURBELO, 2006).

Tensoativos não- iônicos - Esta classe de tensoativos não dissocia em meio aquoso,

sua solubilidade em água se deve à presença, em suas moléculas, de grupos hidróxi ou

polioxietilênicos que apresentam forte afinidade pela água. Como exemplo o

nonilfenoletoxilado, álcoois graxos etoxilados e o propilenoglicoletoxilado.

Para Vale (2009) os tensoativos não-iônicos, apresentam características bem

específicas, uma vez que são compatíveis com todos os outros tipos de tensoativos e suas

propriedades são pouco afetadas pelo pH. Tais características dão a esta classe de tensoativos

uma diversidade de aplicações industriais (CURBELO, 2006).

Tensoativos anfóteros - Os tensoativos anfóteros possuem caráter aniônico em valores

de Ph entre 9 e 10, e possuem caráter catiônico em valores de pH entre 4 e 9. Portanto pode-se

dizer que os tensoativos anfóteros possuem duplo caráter iônico, podendo ser ácido ou

básicos. Os principais representantes desta classe são os aminoácidos e as betaínas.

Classificação dos tensoativos quanto a sua estrutura (VALE, 2009).

Tensoativo monocatenário clássico - Este tipo de tensoativo possui em sua estrutura

apenas uma cadeia hidrocarbonada simples.

Tensoativo bicatenário clássico - Este tipo de tensoativo possui em sua estrutura duas

cadeias hidrocarbonadas simples ligadas à cabeça polar.

Tensoativo tricatenário clássico - Este tipo de tensoativo possui em sua estrutura três

cadeias hidrocarbonadas simples ligadas à cabeça polar.

30

Tensoativo geminado -Este tipo de tensoativo apresenta em sua estrutura duas cabeças

polares interligadas, sendo cada uma delas constituída de uma cadeia alquilada.

Tensoativo bolaforme - Este tipo de tensoativo apresenta em sua estrutura duas

cabeças polares interligadas por uma ou duas cadeias hidrocarbonadas (VALE, 2009).

Tensoativo assimétrico - Este tipo de tensoativo apresenta em sua estrututa uma

cabeça polar constituída de um ou mais centros quirais.

As diversas estruturas citadas acima serão ilustradas na Figura 8.

Figura 8- Diversas estruturas dos tensoativos

Fonte: Vale (2009, p. 8).

2.3.2 Principais propriedades dos tensoativos

2.3.2.1 Tensão superficial

É a tensão que existe na superfície de líquidos, que é proporcional a força de coesão de

suas moléculas. Essa propriedade confere um revestimento a superfície de líquidos, causando

uma resistência a penetração como ilustra a Figura 9, (ROSAL, 2012).

31

Figura 9 – Tensão superficial da água

Fonte: Anghinoni (2011).

Um objeto só poderá penetrar no líquido se romper a resistência existente na superfície

do fluido, essa resistência é chamada de tensão superficial. Um fluido é constituído por

moléculas (Figura 10), as moléculas situadas no interior do líquido são atraídas em todas as

direções pelas moléculas vizinhas, em virtude da existência de forças de coesão; o que

significa que a força resultante na molécula é nula (GALVÃO, 2008).

Figura 10 – Forças atuantes nas moléculas de um fluido

Fonte: QGS (2013)

As moléculas situadas na interface líquido-ar (superfície do líquido) são atraídas para

o interior do fluido, isso ocorre porque as moléculas do ar são bastante separadas, de modo

que o efeito dessas moléculas na superfície líquida pode ser desconsiderado (GALVÂO,

2008).

As moléculas da superfície do líquido possuem maior energia potencial que as

moléculas do interior do líquido, sendo assim todas as moléculas do líquido tendem a se

condensar na direção do centro de massa, pois a resultante das forças atuante nas moléculas

aponta para o centro, de modo que se cria uma superfície externa de menor área possível, uma

vez que o sistema tende a adotar um estado de menor energia potencial. Este conceito e

32

fundamental para a compreensão da forma arredondada das gotas e de fenômenos como a

ascensão e a depressão capilar (GALVÃO, 2008).

Para transportar moléculas do interior para a superfície do líquido há o dispêndio de

energia, o que origina uma nova área superficial (ROSAL, 2012).

O termo tensão superficial é comumente usado quando a superfície está entre um

líquido e o ar. Caso a superfície esteja entre líquidos distintos ou entre um líquido e um

sólido, o termo usado será tensão interfacial.

Sabendo que a tensão superficial é resultado da ação das forças de adesão e coesão,

pode-se entender a tendência que os líquidos têm de elevar-se por um tubo capilar como

sendo devido à tensão superficial. Portanto, uma maneira simples de medir a tensão

superficial de um líquido é usando um tubo capilar como mostra a Figura 11 (GALVÃO,

2008).

Figura 11 – Tubo capilar utilizado para mostrar um método de medida da tensão superficial.

Fonte: Galvão (2008).

A Figura 11, apresenta um tubo capilar de raio „r‟ submerso em água. O fluido adere

as paredes do tubo capilar, e a medida que sobe no interior do tubo até uma certa altura „h‟ a

superfície do líquido dentro do tubo irá curvar-se, de modo que a tangente da superfície do

líquido forma um ângulo que representa o ângulo de contato entre a água e o tubo capilar,

sendo que a medida criteriosa de através do líquido poderá determinar a tensão superficial

da água (GALVÃO, 2008).

33

2.3.2.2 Concentração Micelar Crítica

Concentração micelar crítica (cmc) é a concentração de um tensoativo que possibilita a

formação de micelas, este processo de formação é conhecido como miscelização.

Concentrações inferiores a cmc não há formação de micelas e as moléculas de tensoativos

estão presentes sob a forma de monômeros dispersos, concentrações superiores a cmc todo

surfactante adicionado à solução aquosa organiza-se sob a forma de micelas(Figura 12). As

micelas são aglomerados de moléculas tensoativas em solução responsáveis pela solubilização

de gorduras (ROSSI et al., 2006).

Figura 12 – Processo de formação de micelas

Fonte: Rossi et al. (2006, p. 76)

2.3.2.3 Ponto de Kraft

Para tensoativos iônicos, quando a temperatura atinge um certo valor conhecido como

ponto de Kraft, a curva de solubilidade cresce exponencialmente, e se inicia o processo de

miscelização (CURBELO, 2006). Pode-se observar na Figura 13 o ponto em que a curva de

solubilidade intercepta a curva de concentração micelar crítica, corresponde ao ponto de Kraft

(VALE, 2009).

34

Figura 13 – Ilustração da ocorrência do ponto de Kraft

Fonte: Vale (2009)

Abaixo do ponto de Kraft, em baixas concentrações de tensoativos, há formação

apenas de uma solução de monômeros, já em concentrações maiores o tensoativo precipita

sob a forma de cristais hidratados, sem que ocorra a formação de micelas. Acima do ponto de

Kraft em baixas concentrações de tensoativo forma-se apenas uma solução de monômeros e

em concentrações mais elevadas ocorrerá formação de micelas (VALE,2009).

2.3.2.4 Ponto de turbidêz

Os tensoativos não iônicos não apresentam o fenômeno de Kraft, pois diferente dos

tensoativos iônicos, a solubilidade deste tipo de tensoativo diminui com o aumento da

temperatura. Os tensoativos não iônicos podem perder as propriedades tensoativas acima da

temperatura de turbidez ou ponto de turbidez. Isto ocorre porque, acima deste ponto, formam-

se duas fases acompanhadas de um aumento do ponto de turbidez, uma com alta concentração

de tensoativos chamada de coacervato, e outra com baixa concentração de tensoativos,

chamada de diluída (SCHRAMM, 2000 apud CURBELO, 2006).

2.4 MECANISMOS DE PRODUÇÃO DE RESERVATÓRIOS

Queiroz (2006) afirma que toda rocha-reservatório dispõe de certa quantidade de

energia denominada energia natural ou primária. Essa energia deriva de alterações geológicas

sofridas pelas jazidas, e é a principal responsável pela produção dos fluidos presentes nos

35

reservatórios. O fluido formado migra e em seguida outro fluido ocupa a vacância da rocha-

reservatório. Os efeitos que originam esse processo, são:

Descompressão: Processo em que ocorre a expansão dos fluidos existentes no

reservatório e o volume poroso se contrai.

Deslocamento de um fluido por outro: Neste caso um fluido migra enquanto que outro

ocupa seu lugar.

O conjunto de fatores que pode desencadear uma descompressão e o deslocamento dos

fluidos são os mecanismos de produção. Os cinco principais mecanismos de produção capazes

de fornecer energia aos reservatórios são (BARILLAS, 2005):

Mecanismo de gás em solução.

Mecanismo de capa de gás.

Mecanismo de influxo de água

Mecanismo combinado.

É fundamental saber qual dos mecanismos de produção apresentados é predominante

no reservatório para encontrar a melhor forma de produzir os fluidos contidos na jazida. Há

casos em que não existe apenas um mecanismo predominante, denominado mecanismo

combinado (BARILLAS, 2005).

2.4.1 Mecanismo de gás em solução

De acordo com Barillas (2005) este tipo de mecanismo só poderá ser utilizado em

reservatórios isolados que contenham certa quantidade de óleo armazenado como mostrado na

Figura 14, e que as fronteiras do reservatório não permitam o fluxo de qualquer fluido que

possa facilitar a migração desse óleo para fora da jazida. Sendo assim a energia disponível

para a elevação é encontrada na própria zona do óleo

36

Figura 14- Reservatório com mecanismo de gás em solução

Fonte: Mendes (2007).

Nesse processo o óleo é produzido no interior do reservatório, a pressão interna deste

decai até que atinja a pressão de saturação do óleo, e então ocorre uma vaporização dos

hidrocarbonetos de menor densidade que formam bolhas de gás. É neste ponto do processo

que se utiliza o mecanismo de gás em solução, sabendo que o gás se expande mais rápido que

o líquido, é esta expansão irá expulsar os fluidos dos poros da rocha, devido a pressão gerada

pelo gás (BARILLAS, 2005).

No entanto, esse método não se mostra muito eficiente, visto que a pressão diminui

rapidamente e de forma contínua, isso ocorre devido à grande produção de gás que acontece

desde o início da produção do reservatório, mas com a produção do óleo esse gás começa a

fluir juntamente com o óleo, levando consigo parte da energia do reservatório. Por este

motivo os reservatórios que produzem através do mecanismo de gás em solução apresentam

baixo fator de recuperação, menor que 20% (VOLTATONI, 2012 apud THOMAS, 2001).

2.4.2 Mecanismo de capa de gás

Um reservatório de hidrocarbonetos pode apresentar as fases líquida e vapor em

equilíbrio. Sabendo que a fase vapor apresenta densidade menor que a fase líquida, então este

formará uma “capa de gás” que ficara disposta nas partes superiores do reservatório como

ilustrado na Figura 15 (VOLTATONI, 2012)

37

Figura 15- Formação da capa de gás em reservatórios de petróleo

Fonte: Mendes (2007).

Neste tipo de reservatório a zona de óleo deverá ser produzida e a capa de gás

preservada por ser a principal fonte de energia do reservatório. O mecanismo de capa de gás

funciona da seguinte forma:

A zona de óleo é colocada para produzir, e à medida que a produção ocorre a pressão

do reservatório diminui em conseqüência da retirada de fluidos, à medida que o óleo é

expulso a capa de gás se expande ocupando a vacância deixada pelo óleo. Visto que o gás

possui um alto fator de compressibilidade este processo ocorre sem provocar uma elevada

queda de pressão (THOMAS, 2001).

O tamanho da capa de gás é de grande relevância para a eficiência do mecanismo. Isso

significa que quando o volume de gás da capa é comparado com o volume de óleo, ambos

medidos sob as condições do reservatório é possível observar que a atuação da capa é bem

maior, sendo assim a pressão poderá ser mantida em níveis elevados por mais tempo. A

pressão cai continuamente, porém de forma mais lenta no mecanismo de gás em solução

(THOMAS, 2001).Os fatores de recuperação de óleo esperados com esse tipo de mecanismo

estão entre 20 e 30% do óleo da formação (BARILLAS, 2005).

2.4.3 Mecanismo de Influxo de água

O mecanismo de influxo de água necessita da existência de um reservatório portador

de hidrocarbonetos em contato direto com uma grande concentração de água, denominada

aqüífero, estes podem estar muito próximos ao reservatório ou até mesmo ligados

lateralmente ao mesmo (VOLTATONI, 2012). Nesse processo qualquer alteração que ocorra

38

nas condições do reservatório também deve ocorrer no aqüífero e vice-versa, no entanto, isso

só irá ocorrer se o reservatório e o aqüífero estiverem intimamente ligados como observado na

Figura 16 (VOLTATONI, 2012).

Figura 16 – Reservatório com aqüífero subjacente com mecanismo de influxo

de água

Fonte: Rosa (2005 apud VOLTATONI 2012)

No mecanismo de influxo de água, conforme o óleo é retirado, a pressão do

reservatório sofre uma redução, gerando expansão no aqüífero, e redução do volume poroso,

de modo que o espaço poroso não conseguirá manter toda a água contida inicialmente, então

esta água passará a ocupar também a zona de óleo, fazendo com que este se desloque até os

poços de produção mantendo a pressão do reservatório elevada. (THOMAS, 2001; ROSA,

2006 apud VOLTATONI, 2012). O fator de recuperação obtido por este mecanismo pode

oscilar entre 30 e 40% podendo chegar aos 75% (THOMAS, 2001 apud VOLTATONI,

2012).

2.4.4 Mecanismo combinado

Denomina-se produção de mecanismo combinado, todo aquele reservatório que

produz usando mais de um tipo de mecanismo de produção. Um exemplo desse tipo de

produção se dá quando a estrutura do reservatório constitui tanto uma capa de gás quanto um

39

aquífero (Figura 17). Daí é possível combinar o mecanismo de capa em gás com o mecanismo

de influxo de água, e aumentar o fator de recuperação (VOLTATONI, 2012).

Figura 17- Reservatório com aquífero e capa de gás

Fonte: Rosa (2005 apud VOLTATONI, 2012)

40

3 METODOLOGIA

A metodologia adotada no presente trabalho foi caracterizada por uma pesquisa

bibliográfica exploratória, descritiva e explicativa, uma vez que foi realizado um

levantamento da literatura referente às diferentes tecnologias usadas na recuperação avançada

de reservatórios de petróleo, sendo destacado o uso de tensoativos como um método químico

de recuperação. Para esta análise foram descritas as principais propriedades das rochas e

fluidos, e como estes podem afetar na recuperação do óleo. Foram explanadas algumas das

características e propriedades dos tensoativos importantes para sua aplicação nas rochas-

reservatório, a forma de interação com os fluidos contidos no reservatório de petróleo, e qual

a recuperação média obtida nos métodos estudados.

41

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção, serão apresentadas informações obtidas a partir da análise dos principais

métodos utilizados para a recuperação de reservatórios, destacando a aplicação dos

tensoativos como método químico de recuperação.

4.1 MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO DE RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO

Segundo Barillas (2005), é possível recuperar naturalmente apenas uma parte do

petróleo existente nos reservatórios, ficando a maior parte retida na jazida. A partir daí

tornou-se imprescindível o estudo e o desenvolvimento dos processos de recuperação que

permitem extrair o óleo residual, tornando maior a rentabilidade dos campos petrolíferos e

estendendo sua vida útil.

De acordo Voltatoni (2012), quando a energia natural do reservatório já não é

suficiente para a elevação do petróleo, consequentemente os mecanismos de produção, que

são métodos primários de recuperação, também não serão mais eficientes.

São empregados vários processos que visam uma recuperação adicional, tais processos

denominam-se métodos de recuperação de reservatórios. De acordo com Voltatoni (2012) os

métodos de recuperação de reservatórios subdividem-se em métodos secundários, que são os

métodos convencionais de recuperação, e os terciários que são os métodos de recuperação

avançada, que também podem ser denominados, como métodos especiais de recuperação. A

quantidade de óleo extraído depende do método empregado, mas todos proporcionam um

acréscimo na quantidade produzida quando comparada com os métodos convencionais, que

utilizam apenas a energia natural do reservatório (CURBELO, 2006).

Thomas (2001), recomenda que injeção de fluidos seja iniciada mesmo quando ainda

existe produção com recuperação primária, o que favorece a permanência de uma elevada

pressão no reservatório, preservando as características dos fluidos e do fluxo.

Curbelo (2006), afirma que os primeiros métodos de recuperação utilizados tinham

como principal objetivo fornecer pressão ao reservatório por meio da injeção de fluidos, pois

acreditava-se que os baixos níveis de pressão eram o principal motivo para as reduzidas

recuperações de óleo. No entanto, a simples injeção de fluidos nem sempre resultava em

sucesso, a partir daí observou-se que a produção de petróleo em um reservatório vai

minimizando não apenas pela redução de pressão ou do volume do óleo no reservatório, mais

42

também por fatores intrínsecos as propriedades do óleo, como a mudança de suas

propriedades físico-químicas, tais como viscosidade e densidade).

Como resultado destas observações bem como da análise do comportamento do meio

poroso quando sujeito a injeção de fluidos, surgiram os diversos processos (VALE, 2009).

Alguns deles serão descritos a seguir:

4.1.1 Métodos convencionais de recuperação

Quando se injeta um fluido em um reservatório com o objetivo único de deslocar o

óleo para fora dos poros da rocha, isto é, objetivando-se um comportamento puramente

mecânico, tem-se um processo denominado, método convencional de recuperação

(THOMAS, 2001). Neste método não é esperada a miscibilidade dos fluidos, nem que estes

interfiram na rocha reservatório, em outras palavras, não há qualquer interação química entre

os fluidos ou entre os fluidos e a rocha (CURBELO, 2006). Esse comportamento puramente

mecânico é obtido ao se injetar água ou ao se submeter o reservatório a um processo não

miscível de injeção de gás (QUEIROZ, 2006).

Neste processo, o fluido injetado (fluido deslocante) vai expulsar o óleo para fora dos

poros da rocha, e à medida que é expulso o óleo deixa uma vacância que rapidamente será

ocupada pelo fluido deslocante, no entanto nem todo o óleo lá contido é expulso, pois uma

parte fica retida junto a água devido o efeito da capilaridade, este é denominado óleo residual

(CURBELO, 2006).

De acordo com Queiroz (2006), são classificados como recuperação convencional, os

processos de injeção de fluidos mencionados anteriormente, e as recuperações obtidas devido

à energia primária do reservatório.

4.1.2 Métodos de recuperação avançada de reservatórios de petróleo

Os métodos de recuperação avançada, também denominados métodos especiais de

recuperação são necessários quando o processo convencional torna-se limitado, não atingindo

as taxas de recuperação desejadas. As baixas recuperações obtidas em um processo

convencional de injeção de fluidos resultam de três aspectos principais: geologia da formação,

alta viscosidade do óleo do reservatório e elevadas tensões interfaciais entre fluido injetado

eóleo(CURBELO, 2006).

43

Quando a viscosidade do fluido deslocante é muito menor que a do fluido a ser

deslocado, o fluido injetado irá se movimentar com mais facilidade no meio poroso,

encontrando caminhos preferenciais e se direcionando rapidamente para os poços de

produção. Isso faz com que o óleo fique aprisionado porque o fluido injetado deixa de

penetrar em muitos dos poros com óleo, o que resulta em uma extração ineficiente.

As altas tensões interfaciais reduzem a capacidade do fluido injetado de expulsar o

óleo, deixando saturações residuais elevadas de óleo nas regiões já contatadas pelo fluido

injetado (QUEIROZ, 2006).

Os métodos de recuperação avançadas podem ser divididos em três categorias que são

(BARILLAS, 2005):

Métodos térmicos;

Métodos miscíveis;

Métodos químicos.

A utilização de cada método depende das propriedades acima descritas, das

características do reservatório e da viabilidade econômica do processo. Antes da aplicação de

algum dos métodos, é recomendado que seja realizado um projeto minucioso incluindo

simulações numéricas e a análise econômica (BARILLAS, 2005).

4.1.2.1 Métodos térmicos

Barillas (2005) afirma que em reservatórios com óleos pesados ou extra pesados que

apresentam alta viscosidade, não será conveniente a utilização de métodos convencionais de

recuperação, visto que a alta viscosidade do óleo pode dificultar sua locomoção dentro do

meio poroso deixando passar apenas o fluido injetado, resultando em recuperações muito

baixas. O método térmico baseia-se na redução da viscosidade do óleo quando de seu

aquecimento.

De acordo Curbelo (2006) há duas formas de aquecimento do fluido no reservatório:

Na primeira delas o aquecimento é realizado na superfície, aplicado no fluido que na

sequencia é injetado no poço, este método é denominado injeção de fluidos aquecidos; nesse

sistema tem-se a injeção de água sob a forma de vapor e a injeção de água líquida em

temperaturas elevadas. Neste processo a água é o meio principal para transportar o calor da

superfície até o reservatório.

44

Na segunda forma o aquecimento é realizado no interior do próprio reservatório, a

partir da combustão de parte do óleo ali existente, este processo é chamado de combustão in

situ. Esse processo se inicia por meio de uma injeção de ar aquecido no interior do

reservatório, que oxida o óleo e gera calor. A oxidação irá se intensificar até que alcance uma

determinada temperatura, chamada “ponto de ignição”, a partir do qual é estabelecida a

combustão. Nessa etapa do processo é necessária a injeção de ar frio para que o sistema se

restabeleça e tenha continuidade, resultando no aumento do fator de recuperação.

Barillas (2005) afirma que os métodos de recuperação térmica de óleo são, na maioria

das vezes, bem sucedidos, uma vez que a viscosidade é diminuída em grandes proporções.

4.1.2.2 Métodos Miscíveis

Quando o método convencional de recuperação resulta em baixas eficiências de

deslocamento devido as elevadas tensões interfaciais, é indicado o uso dos métodos miscíveis.

Os métodos miscíveis de recuperação são processos que procuram reduzir e, se possível,

eliminar as tensões interfaciais (CURBELO, 2006).

O mesmo autor afirma que quando dois fluidos não miscíveis entram em contato, entre

eles se estabelece tensões interfaciais. Caso o fluido injetado e o óleo sejam miscíveis não

existirão interfaces nem tensões interfaciais entre eles. Nesse contexto, os métodos miscíveis

injetam fluidos que apresentem miscibilidade com o óleo do reservatório, visando a

eliminação das tensões interfaciais do sistema, favorecendo assim o deslocamento do óleo. Os

fluidos comumente utilizados para o deslocamento miscível são o dióxido de carbono, o gás

natural e o nitrogênio.

4.1.2.3 Métodos químicos

Os métodos químicos compreendem a injeção de polímeros, de solução alcalina, de

tensoativos, entre outros. Considerando o foco desse trabalho que é a aplicação dos

tensoativos na recuperação avançada de petróleo, será feita uma descrição dessa aplicação

durante essa etapa.

A injeção de solução de tensoativos envolve processos que favorecem a interação

química entre o fluido injetado e os fluidos do reservatório, esse método se torna vantajoso

devido à elevada eficiência de recuperação.

45

A seguir serão descritos alguns experimentos realizados por diferentes autores, com o

objetivo de obter o fator de recuperação de um método químico com o uso de tensoativo.

4.2 APLICAÇÃO DE TENSOATIVOS NA RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE

RESERVATÓRIOS

Santos et al. (2007) determinaram experimentalmente propriedades de alguns

tensoativos com cadeia linear e de anel aromático, os quais apresentaram diferentes graus de

etoxilação. As propriedades determinadas foram concentração micelar crítica (c.m.c),

temperatura de turbidez; tensão interfacial; viscosidades das soluções tensoativas nas

temperaturas de 30ºC, 50ºC e 70ºC. Os pesquisadores concluíram que o aumento da

etoxilação proporciona baixíssimos valores de concetração micelar crítica, garantindo

economia no custo do fluido de injeção. Em contrapartida a redução da etoxilação diminuiu a

tensão interfacial, fato bastante interessante no processo de recuperação avançada, pois

tensões interfaciais próximas de zero garantem o rompimento quase total das forças resistivas

do escoamento do petróleo no meio poroso. Diante disto, os autores sugerem o uso de

tensoativos com graus de etoxilação intermediários no processo de recuperação avançada de

petróleo.

Albuquerque et al. (2007), realizaram ensaios de deslocamento de petróleo em rocha-

reservatório formadas no município de Assu, situada no semi-árido Potiguar. Na referida

pesquisa foram utilizados dois métodos de recuperação, o convencional e um com aplicação

de microemulsão, que é uma solução mais viscosa que a solução de tensoativos, ou seja, uma

alta concentração de tensoativos para formar micelas que podem solubilizar ou dissolver o

óleo do reservatório ocasionando a miscibilidade do sistema. Estes ensaios foram realizados

durante um período de 18h, a uma temperatura de 1000°C, objetivando eliminar a umidade

presente e aumentar a permeabilidade. E Os reagentes utilizados para preparar as

microemulsões foram: dois tensoativos aniônicos, sendo um (sabão) derivado de ácidos

graxos e outro denominado de R95.

Os ensaios de injeção foram realizados em um sistema que se constituiu, basicamente,

da injeção de fluidos em testemunhos de arenito da Formação Assu, conforme mostra a Figura

18.

46

Figura 18- Sistema de injeção de microemulsão

Fonte: Albuquerque (et al. 2007)

Objetivando obter as quantidades de óleo recuperado pelo método convencional, foi

injetada salmoura composta de solução de cloreto de potássio (KCl) a 2% em peso, em

seguida, com o plug resinado saturado com salmoura foi injetado óleo. Para determinar a

recuperação pelo método especial, foi injetada microemulsão no plug, à vazão constante.

Os resultados obtidos mostraram que o sistema recuperado convencionalmente

apresentou um fator de recuperação total de 79,1%, já o sistema recuperado pelo método

especial apresentou um fator de recuperação total de 81,3%. Os autores concluíram que o

tensoativo pode atuar de forma eficiente na recuperação do óleo, uma vez que reduz a tensão

interfacial entre a salmoura e o óleo cru; desloca o óleo sem perdas significantes de

concentração, ocorridas por adsorção na rocha reservatório e são quimicamente estáveis.

Apesar da eficiência das microemulsões na recuperação de óleo, uma possível desvantagem

dessa aplicação é o elevado custo de processo e retenção de tensoativo na rocha reservatório.

Porém com estudos mais detalhados pode-se encontrar tensoativos mais viáveis

economicamente.

Santos et al. (2007) afirmaram que a determinação da Concentração Micelar Crítica é

um fator imprescindível para quaisquer processos que façam uso de tensoativos, pois quanto

maior a quantidade de micelas presentes mais eficientes esses compostos serão. Além disso, a

perda por adsorção na rocha-reservatório é menor em concentrações acima da c.m.c. Com

base nessa assertiva, os autores realizaram ensaios de recuperação e adsorção na rocha-

47

reservatório, sendo assim, as concentrações micelares criticas foram determinadas com e sem

salinidade sendo que os valores obtidos com a presença do sal (solução KCl 2 %) foram

utilizados para os ensaios de recuperação e adsorção, e os valores obtidos com água destilada

foram usados no cálculo da área da parte polar (cabeça) do tensoativo.

Os autores determinaram a c.m.c. dos tensoativos através de mudanças na tensão

superficial para várias concentrações de tensoativos. O método utilizado foi o da máxima

pressão da bolha, que trabalha com dois capilares de diâmetros diferentes onde foi bombeado

um gás inerte (nitrogênio). Foram utilizados tensoativos iônicos saponificados a partir de

óleos vegetais, devido a sua viabilidade econômica; são eles: óleo de coco saponificado

(OCS), óleo de mamona saponificado (OMS), óleo de girassol saponificado (OGS), óleo de

soja saponificado (OSS) e sabão base (SB)- sebo de boi. Os resultados obtidos mostraram que

os tensoativos iônicos apresentaram valores elevados de c.m.c, se comparados com os valores

de c.m.c de tensaotivos não iônicos. Este fator se deve a existência do trabalho eletrostático

que ocorre devido à polaridade iônica dessas moléculas. O efeito da salinidade reduziu o valor

de c.m.c. devido à competição dos íons do sal com a parte polar do tensoativo. O OMS obteve

menor c.m.c, pois cerca de 89,5 % do óleo de mamona é composto pelo ácido ricinoléico, e a

presença do (OH) no 12º carbono da estrutura molecular deste composto explica o efeito

causado pelo íon Cl-, presente na solução de KCl, que aumentou a solubilidade do tensoativo

e conseqüentemente reduziu o valor da c.m.c em 70 % em relação à água destilada.

Através destas análises os autores puderam concluir que tensoativos iônicos, além de

apresentarem baixo custo e alta interação com a rocha-reservatório, propiciam tensões

interfaciais bem inferiores a tensoativos não-iônicos, favorecendo maiores interações com o

óleo residual e assim favorecendo um aumento na recuperação de petróleo.

48

5 CONCLUSÃO

Este trabalho apresentou uma síntese da formação de petróleo nas rochas-

reservatórios, os métodos de extração e recuperação desse óleo, bem como as principais

propriedades dos elementos que influenciam nesse processo. Os métodos apresentados foram

os térmicos, miscíveis e químicos, esse último contemplou o foco do trabalho, especialmente

no tocante a aplicação de tensoativos como agente de recuperação de petróleo. Com base no

estudo elaborado ficou constatado que o uso de tensoativos nessa extração de petróleo é

bastante promissor, pesquisas estão sendo desenvolvidas com intuito de estudar o

comportamento desses elementos no processo de recuperação em poços de petróleo; a maioria

dos estudos indicam como bom ou excelente o resultado dessa aplicação, entretanto apontam

o elevado custo de investimento como sendo o maior entrave na disseminação desse método

de recuperação.

49

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