universidade federal fluminense instituto de …...existe uma situação desfavorável à...

53
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DE CAMPOS GABRIEL FLORIANO LOURENÇO COTAS RACIAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL ENTRE 2004-2018: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRINCÍPIO DE CAUSAÇÃO CIRCULAR CUMULATIVA DE GUNNAR MYRDAL CAMPOS DOS GOYTACAZES 2019

Upload: others

Post on 26-Jun-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DE CAMPOS

GABRIEL FLORIANO LOURENÇO

COTAS RACIAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A POPULAÇÃO NEGRA NO

BRASIL ENTRE 2004-2018: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRINCÍPIO DE

CAUSAÇÃO CIRCULAR CUMULATIVA DE GUNNAR MYRDAL

CAMPOS DOS GOYTACAZES

2019

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

Ficha catalográfica automática - SDC/BUCGGerada com informações fornecidas pelo autor

Bibliotecária responsável: Juliana Farias Motta - CRB7/5880

L892c Lourenço, Gabriel Floriano COTAS RACIAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A POPULAÇÃO NEGRA NOBRASIL ENTRE 2004-2018: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRINCÍPIO DECAUSAÇÃO CIRCULAR CUMULATIVA DE GUNNAR MYRDAL / GabrielFloriano Lourenço ; Igor Kippe Rubinsztajn, orientador ;Vanuza Da Silva Pereira Ney, coorientadora. Campos dosGoytacazes, 2019. 52 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em CiênciasEconômicas)-Universidade Federal Fluminense, Instituto deCiências da Sociedade e Desenvolvimento Regional, Campos dosGoytacazes, 2019.

1. Política de Cotas raciais. 2. População Negra. 3.Princípio Causação Circular Cumulativa. 4. Democratizaçãodo ensino superior e público. 5. Produção intelectual. I.Kippe Rubinsztajn, Igor, orientador. II. Da Silva Pereira Ney,Vanuza, coorientadora. III. Universidade Federal Fluminense.Instituto de Ciências da Sociedade e DesenvolvimentoRegional. IV. Título.

CDD -

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

GABRIEL FLORIANO LOURENÇO

COTAS RACIAIS E SEUS EFEITOS SOBRE A POPULAÇÃO NEGRA NO

BRASIL ENTRE 2004-2018: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRINCÍPIO DE

CAUSAÇÃO CIRCULAR CUMULATIVA DE GUNNAR MYRDAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentando

ao curso de Bacharelado em ciências

econômicas, como requisito parcial para a

conclusão do curso.

Aprovada em 17 de dezembro de 2019.

Banca EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof. Dr. Igor Kippe Rubinsztajn - UFF

(Orientador)

_________________________________________________

Profª. Drª. Vanuza da Silva Pereira Ney- UFF

(Co-orientadora)

__________________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo Delpupo Monfardini - UFF

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a Universidade Federal e pública por me proporcionar o

acesso ao Ensino Superior e as experiências que a Universidade Federal me

proporcionou como ser humano.

Agradeço também aos professores e aos funcionários que contribuíram com

diversos ensinamentos e a perspectiva de poder me tornar um bom economista e poder

contribuir para a sociedade da melhor forma possível.

Agradeço o apoio incondicional da minha mãe Maria Rosângela Floriano dos

Santos e ao meu pai Paulo César Lourenço durante os cinco anos que estive na

Universidade Federal Fluminense. Sempre estiveram ao meu lado mesmo que nos

piores momentos. Além dos meus tios, José Paulo, Rita de Cássia, Maria Lúcia

Floriano, Maria de Fátima Floriano e aos meus avós, Maria de Lourdes, Paulo Floriano

e Maria Magdalena mesmo não estando entre nós, sei que estão me incentivando a

conquistar esse objetivo

Agradeço a minha namorada, minha amiga de todas as horas e momentos,

Priscila Soares, por estar comigo em todos os momentos importantes vividos por aqui.

Agradeço a todos os meus amigos que estiveram comigo nessa longa caminhada

e fazem parte de todo esse projeto. Obrigado a José Carlos, Rafael Abreu, Talles

Hermes, Christiana Rosa, Paulo André, Vivian Moura, Carlos Gabriel Fernandes, Ivens

Thomaz, Guilherme Gaudard, Alexandre Magno, João Vitor Ferreira, Rafael Simões e

Ledson Gomes e a tantos outros que fizeram parte dessa trajetória.

Por fim, mas não menos importante, a todos que compuseram a Atlética UFF

Campos comigo em todos os anos que fiz parte desse trabalho maravilhoso.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

Resumo

Historicamente marginalizada, a população negra tem dificuldade para ascender

socialmente e econômica no Brasil. O presente estudo pretende contribuir com o

importante debate que discute a disparidade econômica e social entre a população negra

e a população branca no Brasil. Com o objetivo de fazer uma análise nos períodos pré e

pós política de cotas, buscar-se-á analisar as desigualdades existentes entre essas duas

populações a partir do Princípio de Causação Circular Cumulativa proposta por Gunnar

Myrdal (1957). Os dados do IPEA, IBGE/PNAD e INEP serão utilizados nesta análise a

fim de se testar a hipótese da existência de um ciclo vicioso de desigualdade que assola

a população negra, bem como se um instrumento de política pública, como a política de

cotas, consegue suavizar este ciclo. Os resultados encontrados salientam que de um fato

existe um processo de ciclo vicioso durante o período analisado e que a população

negra, a partir das políticas de cotas, conseguiu ter maior acesso ao ensino superior, e

outros níveis educacionais também melhoraram com o passar dos anos.Contudo, ainda

existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população

branca no tocante aos âmbitos social e econômico, no Brasil. Portanto, conclui-se que

políticas públicas como as de cotas raciais auxiliam de fato na redução das

desigualdades no Brasil. Todavia, a manutenção delas e a implementação de outras

políticas de redução das discrepâncias sociais são importantes para a democratização

não só do acesso ao ensino superior, mas da sociedade em geral.

Palavras-chave:População negra, Princípio de Causação Circular Cumulativa, Política

de cotas.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

Lista de Figuras

Figura 1: Distribuição das populações negras e não negras por faixa de renda..............24

Figura 2: Canais que associam racismo a homicídios de negros no Brasil.................... 25

Figura 3: Distribuição dos estudantes de 18 a 24 anos de idade segundo a cor ou raça e o

nível de ensino frequentado.............................................................................................27

Figura 4: Renda média da população, segundo sexo e cor/raça. Brasil 2009................. 28

Figura 5: Divisão da Lei no 12.711/2012. Exemplo estado do Rio de Janeiro.............. 33

Figura 6: Resultados Descritivos. Geral-UFV................................................................ 35

Figura 7: Resultados descritivos. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde –

CCB.................................................................................................................................36

Figura 8: Resultados descritivos. Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia –

CCE.................................................................................................................................37

Figura 9: Taxa de analfabetismo funcional de pessoas de 15 ou mais idade, por raça/cor

– Brasil 2004 – 2014........................................................................................................38

Figura 10: Distribuição por cor ou raça.......................................................................... 41

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

Lista de Abreviaturas

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

PIB - Produto Interno Bruto

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

PNAD - Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

UENF - Universidade Estadual do Norte Fluminense

UNB - Universidade de Brasília

UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

SiSU – Sistema de Seleção Unificada

REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais

PROUNI –Programa Universidade para Todos

FIES – Fundo de Financiamento Estudantil

CCB – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

CCE – Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas

MEC – Ministério da Educação

PNE – Plano Nacional de Educação

UFV – Universidade Federal de Viçosa

UFF – Universidade Federal Fluminense

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

Sumário

INTRODUÇÃO.................................................................................................................9

CAPÍTULO 1: O Princípio de Causação Circular Cumulativa.......................................14

CAPÍTULO 2: : Implementação da política de cotas e o cenário da população negra no

Brasil............................................................................................................................. ...23

2.1. Uma breve leitura sobre a implementação das cotas raciais no Brasil.....................29

CAPÍTULO 3: Lei de Cotas e seus desdobramentos......................................................32

Considerações Finais.......................................................................................................43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................45

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e
Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

9

INTRODUÇÃO

Anteriormente visto apenas como crescimento econômico, o conceito de

desenvolvimento evoluiu ao longo do tempo e passou a considerar outras questões

importantes para além de um aumento da renda per capita. Autores como Seers (1969) e

Cardoso e Faletto (2004) se preocuparam em chamar a atenção para outras questões,

para além de um aumento da renda, que deveriam ser levadas em consideração ao se

falar em desenvolvimento econômico. Sen (1998; 2001) procurou impulsionar uma

forma de desenvolvimento que fosse capaz de combater a privação humana em todos os

seus aspectos, inovando a concepção ao introduzir o conceito de desenvolvimento

humano.

O Índice de Desenvolvimento Humano é uma das formas de medir o

desenvolvimento de um país. Esse índice foi criado nos anos 90 por Amartya Sen,

juntamente com o economista paquistanês Mahbub ul Haq, com o objetivo de oferecer

um contraponto à utilização do Produto Interno Bruto per capita como medidor de

desenvolvimento econômico. Enxergando o desenvolvimento de um país para além do

aumento de sua produção, este índice parte do pressuposto de que três fatores são

fundamentais para analisar a qualidade de vida: esperança de vida ao nascer ou

longevidade, nível de escolaridade e renda. (Torres, Ferreira e Dini 2003). Este trabalho,

portanto, irá se utilizar do IDH para ilustrar as diferenças sociais, econômicas e de

qualidade de vida existentes entre a população negra e a branca no Brasil.

Quando se trata de qualidade de vida, ainda, Campos (2008) analisa que não há

um consenso em seu conceito e que a definição engloba questões como saúde, domínio

do meio ambiente, recursos econômicos, relacionamentos, tempo para trabalho e lazer.

No contexto nacional, no entanto, essas variáveis se comportam de forma

bastante desigual entre as diferentes populações. Uma desigualdade constantemente

estudada no país e que se comporta de forma persistente é a desigualdade de renda.

Aparentemente inerte a mudanças de regimes políticos e conjunturas econômicas, foi

alvo de discussões até o final da década de 1990. Alguns importantes fatores sociais

como a desigualdade entre os sexos e entre cor também passaram a ser abordadas ao

longo da história.

Historicamente marginalizada, a população negra no Brasil enfrenta até hoje

dificuldades para se inserir sócio e economicamente no sistema. No que diz respeito à

disparidade de renda entre a população negra e a branca no país, um levantamento feito

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

10 pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas em 2011 intitulado “Retrato das

desigualdades de Gênero e Raça” mostrou que, em 2003, entre os 10% mais pobres da

população, 64,6% eram negros e entre os 10% mais ricos, o percentual caiu para 22,3%.

Além de mostrar também que a parcela branca da população brasileira tem acesso a

maiores níveis de renda do que a negra no Brasil, evidenciando a disparidade

socioeconômica do negro no Brasil.

Tendo como base alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(2016), há relatos de indicadores de educação, renda, alimentação, moradia e em todos

os indicadores, a condição da população negra no Brasil é pior do que a da população

branca, mesmo em um cenário onde ambas as populações se encontram em situações

semelhantes no que diz respeito ao acesso ao ensino superior e à moradia privada.

No que diz respeito à educação, entre os estudantes de ensino superior de

graduação da população negra de 18 a 24 anos, o Censo do IBGE de 2016 diz que o

acesso à educação em 2005 era muito inferior comparado à população branca. Em

relação à saúde, segundo um estudo do Ministério da Saúde em 2017, pretos e pardos

estavam 73,5% mais expostos a viver em domicílio com condições precárias do que

brancos.

Em uma análise a respeito dos domicílios com insegurança alimentar1, é possível

perceber que a população negra brasileira se encontra com mais problemas de acesso à

segurança alimentar do que a população branca. De acordo com o estudo do IBGE

(2016), são as crianças pretas e pardas que mais residem em domicílios com

insegurança alimentar, em todos os seus graus.

Falar de desigualdade racial no Brasil, portanto, é também falar de desigualdade

racial.No âmbito educacional, no intuito de democratizar o acesso à educação no ensino

superior e aumentar as condições de igualdade de oportunidades dentro do país para as

1 Segundo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA, os dados utilizados pelo IBGE no

Suplemento de Segurança Alimentar da PNAD 2013, classifica-se a situação de segurança alimentar de

acordo com a percepção das famílias em relação ao acesso aos alimentos: Segurança Alimentar - acesso

regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, e sequer se sentiam na

iminência de sofrer restrição no futuro próximo; Insegurança Alimentar Leve - preocupação ou incerteza

quanto à disponibilidade de alimentos no futuro em quantidade e qualidade adequadas; Insegurança

Alimentar Moderada – redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação

resultante da falta de alimentos entre os adultos; Insegurança Alimentar Grave - redução quantitativa de

alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre adultos e/ou

crianças; e/ou privação de alimentos; fome. [...] (IBGE, 2016, p.39)

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

11 camadas mais desfavorecidas da sociedade, o Governo Federal criou as Políticas de

Ações Afirmativas, e dentro dessas políticas está o objeto de estudo deste trabalho, as

cotas raciais.

Apesar de parte dos efeitos dessa política só poder ser inferido no longo prazo,

dados da pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, promovida pelo

IBGE (2019) já mostram que a população negra é, pela primeira vez, maioria nas

universidades brasileiras, com uma representação de 50,3% do total. Esse resultado

muito provavelmente é fruto da política de cotas raciais, no entanto, é preciso tomar

cuidado para que isso não reflita em um argumento em favor do fim dessa política, visto

que, apesar da população negra ser agora maioria no Ensino Superior, isso não significa

que será maioria com graduação completa, já que isso engloba condições de

permanência nos cursos e ainda um processo de longo prazo até as inequidades serem

exterminadas.

Diante do exposto, fica evidente a situação social da população negra no Brasil

de menor favorecimento em comparação com a da população branca em questões

básicas como saúde, segurança alimentar e acesso ao ensino superior, e essas questões

não serão resolvidas no curto prazo. No entanto, faz-se necessário analisar os efeitos

que a política de cotas já vem desempenhando na vida da população negra do Brasil a

fim de se demonstrar a importância da continuidade dessa política.

Assim sendo, este trabalho procurará fazer uma análise do período da

implementação das cotas raciais, entre 2004-2012 e outra análise entre o período de

2012-2018 e seus desdobramentos. Utilizando-se da teoria do Princípio de Causação

Circular Cumulativa de Gunnar Myrdal (1957), analisará a qualidade de vida da

população negra antes e após a adoção das cotas raciais como lei federal em 2012 e

como a democratização do acesso ao ensino superior pode ajudar a população negra a

melhorar seus índices de rendimento e de saúde.

A hipótese levantada no presente estudo assume que essa política vem

contribuindo para melhorar, juntamente com outras variáveis, não somente os

indicadores educacionais dos negros no Brasil, mas também, consequentemente, o

padrão de vida dessa parcela da população.

Conforme explicitado, esta pesquisa tratará do tema proposto a partir do

Princípio da Causação Circular Cumulativa proposta por Gunnar Myrdal (1957). Desta

forma, o presente trabalho possui um caráter inovador no que diz respeito à abordagem

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

12 utilizada para tratar do tema. Espera-se que este estudo possa contribuir na análise da

atual situação da população negra do Brasil, bem como para destacar a importância da

política de cotas para redução das desigualdades raciais.

No que diz respeito aos objetivos deste trabalho, o objetivo geral perpassa pela

análise das condições da população negra a partir do princípio de causação circular

cumulativa. Especificamente, os objetivos desse projeto têm a ideia de explicitar como o

racismo e o baixo padrão de vida da população negra no Brasil são determinantes para o

desenvolvimento de um círculo vicioso entre o período em que o sistema de cotas ainda

não era visto como lei federal e evidenciar a importância da política de cotas entre os

períodos de 2004 a 2012 e 2012 a 2018 e seus desdobramentos sociais e econômicos.

Metodologicamente, pode-se entender que a ideia central será um comparativo

do período pré-cotas raciais, neste caso, um cenário entre 2004-2012, período em que as

cotas raciais não eram propostas por lei e sim medidas facultativas e o período pós cotas

raciais, cenário este que constitui a alteração da lei de diretrizes básicas da educação,

após 2012, a partir do modelo de Causação Circular Cumulativa de Gunnar Myrdal.

Como apresentado no livro do IPEA chamado “As políticas públicas e a desigualdade

racial no Brasil, 120 anos após abolição” de novembro de 2008, há desigualdade racial

no Brasil e ela não é atribuída e relacionada com questões meritocráticas e sim como

resultado de discriminações passadas ou presentes vividas no país. Moreira (2017), em

seu artigo chamado “A questão do negro: uma análise da segregação racial a partir de

Gunnar Myrdal”, exprime a opinião de que o autor sueco apresenta que ideologias

racistas podem ter sido força motriz da marginalização da população negra e também, a

partir disso, subentende-se que a situação da população negra no Brasil evolui em um

ciclo vicioso, onde fatores como o racismo e a falta de acesso a determinadas áreas

fundamentais da sociedade que deveriam ser garantidas pelo estado brasileiro

influenciam diretamente na condição social, econômica, educacional e de saúde da

população negra. A fim de alcançar os objetivos propostos pelo presente estudo, este

trabalho se utilizará dos indicadores de renda, saúde e educação do IPEA para

comprovar a teoria de Causação Circular Cumulativa de Gunnar Myrdal. Os livros

utilizados nesse trabalho serão “Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas” de

Gunnar Myrdal escrito em 1957 e “Negro: o dilema americano” de Arnold Rose em

1968 baseado no estudo de Myrdal.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

13

Os dados estatísticos utilizados neste trabalho estão de acordo com o estudo do

IPEA de 2011 e 2013 dados do IBGE de 2010, 2013, 2015, 2016, 2019, dados do

Instituto Ethos, Inep de 2016 e 2018.

Os dados estatísticos relacionados à questão educacional foram:

Escolarização liquida no ensino superior

Média de anos de estudo

Acesso de crianças negras a escolas ou creches

Analfabetos funcionais

Proporção de estudantes de 18 a 24 anos de idade que cursam ensino

superior

Os dados estatísticos relacionados à saúde foram:

Dependência do SUS

Planos de saúde

Os dados estatísticos relacionados à renda:

Comparação de rendas médias entre a população negra e branca

Composição da porcentagem de pobreza no Brasil

Porcentagem de empregadores negros versus brancos

O trabalho está dividido em capítulos. Além da parte introdutória, no primeiro

capítulo será analisado o referencial teórico do trabalho, ou seja, o princípio de causação

circular cumulativa. No segundo capítulo, o cenário da população negra no período

entre 2004 e 2012, período este em que a política de cotas raciais não era ainda

institucionalizada como lei, apenas algumas universidades aderiram ao sistema. E no

terceiro capítulo, será analisado o cenário atual da população negra no Brasil, a partir do

momento em que a política de cotas foi datada como lei federal e alguns

desdobramentos a partir dessa medida federal. E logo após os capítulos, serão expostos

os comentários finais do projeto.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

14

Capítulo 1: O Princípio de Causação Circular Cumulativa

O objetivo deste capítulo é apresentar o princípio de causação circular

cumulativa tratado pelo autor Gunnar Myrdal em seu livro “Teorias Econômicas e

Regiões Subdesenvolvidas” de 1957. Em seu livro, Myrdal (1957) inicia o capítulo

dando uma ideia do conceito de círculo vicioso e de um processo circular e acumulativo

a partir do seu professor de Ciências Econômicas Winslow, nesta parte do livro, o

professor Winslow analisa que a pobreza e a doença formam um círculo vicioso, onde

ambos se retroalimentam e se potencializam, porque são causa e efeito de outros fatores

negativos. Myrdal também cita Ragnar Nurkse, quando o mesmo analisou um círculo

vicioso de pobreza onde conclui que “um país é pobre porque é pobre”. Na leitura de

Myrdal sobre a visão de Ragnar Nurkse “(...) existe uma constelação circular de forças,

que tendem a agir e a reagir interdependentemente, de sorte a manter um país pobre em

estado de pobreza” (MYRDAL, 1957, p.27).

Cardoso (2012) analisa que a teoria do Círculo Vicioso da Pobreza de Nurkse

apresenta os argumentos para garantir que um país é pobre porque é pobre. Na

construção da teoria, o autor, segundo Cardoso (2012), mostra que as mais importantes

das relações circulares que compõem o círculo vicioso são aquelas que dificultam a

formação de capital nos países atrasados, relacionadas tanto com o lado da oferta quanto

com o lado da demanda de capital. A partir disso, o ponto comum dessas relações de

oferta e demanda é a condição inicial dessas economias atrasadas, qual seja o baixo

nível de renda real, refletida na baixa produtividade.

É importante salientar que a obra de Gunnar Myrdal é clara em relação à teoria

do equilíbrio estável estudado pelos neoclássicos2.Mazzucchelli (2003) entende que a

construção de Walras no que diz respeito ao equilíbrio geral é demonstrar que a partir

da livre concorrência, a economia tende a uma posição de equilíbrio. O princípio de

causação circular cumulativa se difere em relação ao equilíbrio geral de Walras.

Cardoso (2012) na análise da teoria de Myrdal mostra que a noção de equilíbrio estável

traria implícita a ideia de que, em resposta a uma mudança em determinada direção,

2A dimensão liberal em Walras é notória: o “mundo dos interesses econômicos tende a se ordenar por si

próprio”, da mesma maneira que o “mundo dos movimentos astronômicos”. O equilíbrio é o estado

nocional para o qual, livre em seu funcionamento, converge o sistema econômico. As forças naturais do

mercado atraem o sistema à posição de equilíbrio, ainda que este nunca seja, de fato, alcançado.

(MAZZUCCHELLI, 2003,p.144)

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

15 surgiriam, automaticamente, mudanças secundárias em direção oposta à primeira, de

modo a neutralizá-la. Na noção de equilíbrio estável na visão de Myrdal estaria também

idéia de que seria suficiente analisar a realidade social baseando-se somente em fatores

econômicos. Myrdal analisa que os autores do equilíbrio estável omitem os fatores não

econômicos, importantíssimos no princípio de causação circular cumulativa e isso

representaria uma das principais deficiências da teoria econômica.

Myrdal, em seu livro, nega a teoria do equilíbrio estável, analisa-a como uma

“(...) falsa analogia que se estabelece quando se formula a teoria que visa a explicar a

mudança no sistema social” (MYRDAL, 1957, p.28). Logo em seguida, Myrdal

apresenta:

O que está errado, ao se aplicar a hipótese do equilíbrio estável à realidade

social, é a própria ideia de que o processo social tende a uma posição que

possa descrever como o estado de equilíbrio entre as forças. Por trás dessa

ideia, encontra-se outra hipótese, ainda mais fundamental, de que a mudança

tende a provocar reações que operam em sentido oposto ao da primeira

mudança. (MYRDAL, 1957, p.28)

Myrdal conclui a seção intitulada “Equilíbrio estável – falsa analogia” de que em

seu estudo não há uma tendência à autoestabilização automática do sistema social, a fim

de discutir que a inter-relação de forças faz com que o movimento vá em direção oposta

ao equilíbrio. “Em geral, uma transformação não provoca mudanças compensatórias,

mas, antes, as que sustentam e conduzem o sistema com mais intensidade, na mesma

direção da mudança original” (MYRDAL, 1957, p.28)

E ainda propõe no final desta seção que é possível atingir uma posição estável

mediante interferências políticas planejadas e aplicadas com a intenção de sustar o

movimento e ratifica que sua teoria contraria a ideia do equilíbrio estável.

Antes de falar propriamente sobre o princípio de causação circular cumulativa,

Myrdal, no capítulo 2 de seu livro, analisa a situação vivida pelo negro nos Estados

Unidos no período em que escreveu o mesmo, em 1957. Myrdal clareia seu argumento

no estudo quando exemplifica a discrepância entre a vida do negro americano em

relação à população branca. Nesta seção do livro, Myrdal, ao analisar a situação do

negro americano, entende que o problema social envolve um complexo de mudanças

interdependentes circulares e acumulativas. O autor sueco visualiza que a parte negra

norte americana está segregada do resto da população e que esse processo é fruto da

discriminação racial. Myrdal diz que a discriminação racial é relevante para entender as

desvantagens vividas pelo povo negro norte americano e por isso, os mesmos estão

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

16 concentrados nos estratos sociais mais baixos e compõem os níveis mais inferiores no

que diz respeito aos índices econômicos e sociais.

Na seção chamada “Causação Circular” Myrdal explica o princípio de causação

circular cumulativa aplicando-o à realidade do negro norte americano daquele período

em que vivia. Myrdal (1957) apresenta que o estudo se alimenta a partir de dois fatores:

o preconceito do branco e o baixo padrão de vida dos negros, e esses fatores se

relacionam mutuamente. Myrdal diz no livro:

(...) o baixo padrão de vida dos negros é mantido pela discriminação dos

brancos, enquanto, por outro lado, a pobreza, a ignorância, a superstição, as

más condições de habitação, as deficiências sanitárias, a sujeira, o mau cheiro, a indisciplina, a instabilidade das relações familiares e a criminalidade

dos negros estimulam e alimentam a antipatia dos brancos. (MYRDAL,

1957, p. 32)

O autor apresenta que o preconceito dos brancos e o baixo padrão de vida dos

negros são causa e efeito um do outro: o preconceito dos brancos e a sua discriminação

contra os negros restringem os esforços do povo negro que tentam elevar o seu baixo

padrão de vida e este faz com que o preconceito dos brancos induza o caráter

discriminatório. Logo, a partir desse caráter discriminatório, as desvantagens

decorrentes são em relação à população negra se concentrar em estratos sociais mais

delicados e também em níveis inferiores de todos os índices econômicos e sociais.

Myrdal (1957) aponta que, havendo uma mudança, em qualquer um dos fatores,

outra variável também se modificaria e assim aconteceria um processo acumulativo e de

interação mútua, e com isso o sistema se movimentaria de modo circular e cada vez

mais potencializado. Mesmo que o impulso original cessasse, depois de um tempo, os

fatores teriam se alterado para sempre e não teria possibilidade de neutralização

imediata. Também na visão de Myrdal (1957) os fatores são fenômenos multicausais. O

padrão de vida do negro que será potencializado a partir de alguns componentes “(...)

emprego, salários, habitação, alimentação, vestuário, saúde, educação, estabilidade nas

relações familiares, observância da lei, asseio, ordem, veracidade, lealdade etc. – que

estão inter-relacionados em processo de causação circular.” (MYRDAL, 1957, p.33)

Myrdal (1957) também mostra que a melhora de algum desses componentes

poderia ter relação e gerar uma reação de outros e assim influenciar na melhora do

padrão de vida do negro.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

17

Já o fator relacionado ao preconceito do branco também é multicausal, e remete

mais ao lado de juízo de valor, à questão moral, também instável, subjetivo e até

psicológico, assim como o padrão de vida dos negros.

Myrdal conclui essa seção explicando o fato de sua teoria não poder ser

relacionada com a do equilíbrio estável dos neoclássicos, visto que são problemas

sociais que por mais que em algum momento se mantenham estáveis, não há um

equilíbrio e as mudanças que ocorrem no princípio de causação circular cumulativa

provocam alterações em todo o sistema e fortificam as primeiras e outras variáveis ou

componentes que estão no modelo.

No terceiro capítulo de seu livro intitulado “Tendência para as desigualdades

econômicas regionais em um país” Myrdal (1957) recapitula a lógica do princípio de

causação circular cumulativa e a aplica no que diz respeito ao estudo do

subdesenvolvimento e do desenvolvimento econômico. Neste ponto do texto, Myrdal

cria um exemplo de uma determinada fábrica que foi incendiada e suas consequências

viciosas nas relações sociais, econômicas e políticas naquela região. No trecho abaixo

pode-se inferir as influências keynesianas3 de Myrdal:

O efeito imediato dessa mudança primária seria a firma proprietária deixar de

operar e os trabalhadores perderem o emprego. Esse resultado diminuiria as

rendas e a demanda. Por seu turno, a diminuição da demanda reduzirá as

rendas e causará desemprego em todos os outros negócios da comunidade,

cujos produtos e serviços eram vendidos à firma e seus empregados (Myrdal,

1957, p. 39)

Na continuação dessa citação, Myrdal (1957) diz que caso não ocorram

mudanças exógenas, a população da comunidade achará mais e mais razões para que

não continuem naquela região e irão procurar melhores condições de trabalho em outro

lugar.

Diante dessa situação, Myrdal (1957) abre uma nova seção no capítulo

explicando como o mercado opera no sentido da desigualdade a partir da sua teoria. A

partir disso, Myrdal apresenta a importância das políticas intervencionistas em situações

em que o mercado potencializa as desigualdades e a estagnação do país.

Myrdal apresenta, então, os backwash effects, que na sua concepção são os

efeitos regressivos. Esses efeitos são consequências de localidades e regiões onde a

3 “(...) Dessa forma, justificam-se ações governamentais, exógenas ao “livre mercado”, parar tirar a

economia do equilíbrio indesejado e levá-la ao equilíbrio de pleno emprego, ou também manter a

econômica próxima a esse estado. Ou seja, as políticas keynesianas são instrumentos que possuem como

objetivo evitar ou combater crises”. (DATHEIN, 2000, p.19)

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

18 atividade econômica está se expandindo em relação às outras comunidades e como a

migração é seletiva, algumas regiões ficariam mais favorecidas e outras mais

desfavorecidas em relação a essa migração. Exemplos citados pelo autor são a

migração, a movimentação de capital e o comércio. Segundo o autor:

É fácil ver como a expansão em uma localidade produz “efeitos regressivos”

(backwash effects) em outras, isto é, os movimentos de mão de obra, capital,

bens e serviços não impedem por si mesmos, a tendência natural à

desigualdade regional. Por si próprios, a migração, o movimento de capital e

comércio são, antes, os meios pelos quais o processo acumulativo se

desenvolve – para cima, nas regiões muito afortunadas e para baixo, nas

desafortunadas. Em geral, seus efeitos são positivos nas primeiras e negativos

nas últimas. (Myrdal, 1957, p. 44)

Com isso, Myrdal (1957) destrincha como a migração, os movimentos de capital

e o comércio podem favorecer as regiões que estão em crescimento e prejudicar as

regiões que estão perdendo neste movimento entre as duas comunidades ou regiões.

O autor sueco também analisa os efeitos propulsores, “spread effects” que se

propagam do centro de expansão econômica para outras regiões, são efeitos centrífugos.

Teoricamente, as comunidades que se localizarem em volta do centro dinâmico em

expansão se beneficiariam dessa expansão e seriam automaticamente estimuladas a

realizarem um processo de progresso técnico. Progresso este que será desencadeado

pela região em expansão. Myrdal (1957) analisa que quanto maior o nível de

desenvolvimento, maiores os efeitos propulsores, tendo em vista as condições sociais e

econômicas dos países desenvolvidos.

Oliveira e Strassburg (2016) ao falar sobre os efeitos propulsores de Myrdal

analisam que um alto nível de desenvolvimento é acompanhado por melhores

transportes e comunicação, níveis educacionais elevados e uma maior conexão de ideias

e valores. Essas características entrelaçadas são responsáveis por esse efeito centrífugo

da expansão econômica. A partir da conceituação de ambos os efeitos, Myrdal (1957)

correlaciona ambos para concluir como os spread effects e os backwash effects

influenciam no desenvolvimento regional. Logo, Myrdal revela que na sua concepção

“(...) quanto mais alto o nível do desenvolvimento que um país alcançar, tanto mais

fortes tenderão a ser os ‘“efeitos propulsores’”. (MYRDAL; 1957. p.51). Cita também

sobre o desenvolvimento de um país acarretar melhores níveis de transportes,

comunicação, educação e o processo de centrifugação da expansão econômica

conseguir remover os obstáculos à sua atuação.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

19 Myrdal também conclui que países com baixo nível de desenvolvimento, ou

seja, subdesenvolvidos, têm os efeitos regressivos maiores do que os propulsores, e o

jogo de forças do mercado atuaria de forma a aumentar as desigualdades regionais e

ampliar as existentes.

Outros autores que também discutem sobre princípio de causação circular

cumulativa são Nicholas Kaldor e Thorstein Veblen. Lamonica e Feijó (2011) analisam

que o processo de causação circular cumulativa na visão kaldoriana ocorre pela

existência dos retornos crescentes de escala dinâmicas do ambiente industrial, que

advém do progresso técnico, resultante da expansão produtiva. As economias de

escala4são importantes para a construção desse processo, as mesmas se originam da

geração de novos processos produtivos elevando o nível de produtividade industrial,

possibilitando maiores lucros e investimento. A capacidade industrial aumentaria e com

isso acelera um processo de melhor aproveitamento tecnológico de toda economia e

competitividade no mercado externo.

Outros autores também concordam com a visão de Lamonica e Feijó sobre o

princípio de causação circular cumulativa adotado por Kaldor. Segundo Oliveira e

Attílio (2016), a concepção do princípio cumulativo de Kaldor tem base na teoria de

Young (1928) e entende que a divisão do trabalho depende do tamanho do mercado e

vice-versa, logo, infere-se que a divisão do trabalho depende de si mesma, pelos efeitos

de retroalimentação do sistema econômico.

Oliveira e Attílio (2016) resumem a teoria de Kaldor a partir da relação entre o

crescimento do setor manufatureiro, retornos crescentes de escala, crescimento da

produtividade e a competitividade das exportações.

Veblen (1898 apud COSTA, 2013, p.5) analisa o Princípio de Causação Circular

Cumulativa no seu artigo “Why Economics is not na Evolucionary Science?” a partir de

uma perspectiva mais voltada a questões sociais, onde o mesmo tentava explicar as

mudanças na sociedade através de mecanismos institucionalistas.

A crítica vebleniana é em relação à ciência econômica não incorporar elementos

evolucionários às suas análises. Veblen (1898) se posicionava contra a visão da

economia clássica no que diz respeito à existência do ser humano. A análise clássica e

tradicional entendia que o ser humano tem uma existência passiva, já Veblen acredita na

4“Diz-se que há economias de escala quando o aumento do volume da produção de um bem por período

reduz os seus custos.” (POSSAS, 1993, p.70)

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

20 existência ativa do ser e diz que os indivíduos se modificam de acordo com mudanças

no ambiente socioeconômico.

Ainda analisando o artigo de Veblen (1898 apud COSTA, 2013, p.5) alterações

na organização social fariam os seres humanos mudarem seu padrão de comportamento

e o pensamento e com isso o individuo e as estruturas sociais estariam interligadas a um

processo de Causação Circular Cumulativa:

Changes in the material facts breed further change only through the human factor. It is in the human material that the continuity of development is to be

looked for; and it is here, therefore, that the motor forces of the process of

economic development must be studied if they are to be studied in action at

all. Economic action must be subject matter of the science if the science is to

fall into line as an evolutionary science (Veblen, 1898, p.10).

An evolutionary economics must be the theory of a process of cultural

growth as determined by the economic interest, a theory of a cumulative

sequence of economic institutions stated in terms of the process itself

(Veblen, 1898, p. 14).

Veblen em sua Teoria de Causação Circular Cumulativa se atenta mais as

questões sociais e como a complexidade delas vai de contrária a visão da Economia

Clássica, já Kaldor (1972) parte de um princípio mais econômico na sua Teoria de

Causação Circular Cumulativa.

Corroborando com a idéia de que a teoria do princípio de causação circular

cumulativa, Cavalcante (2008) contribui para a discussão sobre a teoria de Myrdal em

seu artigo “Produção Teórica em Economia Regional: Uma proposta de sistematização”

onde analisa que a teoria produzida por Myrdal (1957, p.39) tem validade em todo o

campo das relações sociais a partir do momento em que o modelo proposto pelo autor

sueco discute as forças de mercado executam o processo redirecionado para o

desequilíbrio, o que corrobora com as criticas a teoria neoclássica dominante na ciência

econômica. E ainda cita que Myrdal como um autor favorável ao intervencionismo

estatal para frear as forças do mercado, que tendem a intensificar os níveis de

desigualdade regional.

Lima e Simões (2001) em seu artigo “Teoria do Desenvolvimento Regional e

suas implicações de política econômica no pós-guerra: O caso do Brasil” vêem, baseado

no livro de Myrdal (1957), que a teoria econômica não possuía mecanismos congruentes

para lidar com questões problemáticas das disparidades regionais e que a hipótese do

equilíbrio estável não era suficiente para a análise do sistema econômico. Novamente

em consonância com o que foi dito no artigo de Cavalcante (2008), Lima e Simões

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

21 (2001) apresentam um argumento que Myrdal desenvolveu uma teoria que explica uma

dinâmica regional que se baseia num processo de causação circular acumulativa, onde o

sistema era instável e desequilibrado. Outro fator importante na análise de Lima e

Simões (2001) está na separação entre fatores econômicos e não econômicos por parte

da ciência econômica clássica.

Lima e Simões (2001) apresentam noções sobre como as relações acontecem no

Princípio de Causação Circular Cumulativa, onde Myrdal parte da idéia de um ciclo

vicioso que se não for contido, o processo acumulativo pode se intensificar e aumentar a

disparidade entre as regiões. Contudo, o processo pode ocorrer de forma positiva ou

negativa.

Oliveira e Assis (2016) em seu artigo detalham que Fujita (2004) analisa Myrdal

como um conciliador de ideias de Veblen (1898) e Kaldor (1972). Fujita (2004) além de

deixar claro em seu artigo que Myrdal (1957) não concorda com a tese de equilíbrio

estável descreve que ao analisar as forças de forma circular, há uma pequena colisão em

determinada variável que gera impacto em todo o sistema e essa variável que gerou a

colisão inicial pode sofrer efeitos vindos de outras variáveis. Fujita (2004) também

retoma o estudo de Myrdal sobre os negros americanos:

Por exemplo, uma das conclusões do estudo de Myrdal (1996 [1944]) sobre a

desigualdade racial nos Estados Unidos da América é de que a pobreza dos

negros é exacerbada pelo preconceito dos brancos ao mesmo tempo em que a

pobreza auxilia no enraizamento do preconceito. Em suma, a pobreza seria a

causa e consequência da situação desprivilegiada dos negros (OLIVEIRA;

ASSIS, p.37).

O processo de causação circular cumulativo é importante para analisara

formação dos países pobres e dos países ricos. O papel do estado na consolidação dos

efeitos propulsores e na neutralização dos efeitos regressivos também é importante para

construção de uma democracia forte no que diz respeito à igualdade.

A partir da literatura analisada neste capítulo, será analisada a sociedade negra

brasileira antes da alteração da lei de diretrizes básicas que institucionalizou a política

de cotas no Brasil como lei permanente. No que diz respeito a essa medida

governamental, o intuito desta política foi de reduzir a desigualdade social no Brasil

entre negros e negras, no acesso à educação e assim propor melhor desenvolvimento

dessa população no país em termos de educação, rendimentos e acesso à saúde. No

capítulo 2 será tratada situação em que a população negra brasileira estava em um

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

22 período no qual as cotas raciais ainda não tinham sido introduzidas por lei. As

universidades teriam o direito de escolha entre utilizá-las ou não.

.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

23

Capítulo 2: Implementação da política de cotas e o cenário da população negra no

Brasil

Neste capítulo será analisada a situação anterior da lei da política de cotas

raciais, ou seja, entre 2004-2012, no Brasil, a partir do princípio de causação circular

cumulativa de Gunnar Myrdal. Período este que constitui o cenário onde as cotas raciais

ainda não eram propostas por lei, mas já existiam no Brasil. De acordo com Myrdal

(1957), dois fatores são importantes para o processo desigual da população negra

americana, que são o preconceito dos brancos, que será tratado neste estudo como

racismo e o baixo padrão de vida da população negra americana, que será analisada

como qualidade de vida da população negra baseada nas variáveis citadas acima como

saúde, educação e nível de rendimento. Arnold Rose, responsável por criar uma versão

condensada de “An American Dilemma de Gunnar Myrdal” em 1968, analisa desde a

chegada dos negros aos Estados Unidos, como foi construído o processo de formação de

uma identidade desta população dentro do país e quais as mazelas que a população

negra vivia neste país naquele momento.

Levando em consideração, o trabalho, inicialmente será construído a partir do

ano de 2004, onde as primeiras universidades aderiram às cotas raciais, e como o

racismo e o baixo padrão de vida dos negros influenciaram e influenciam a sociedade

negra brasileira e como o processo de causação circular cumulativa desencadeia um

círculo vicioso para essa população no país.

Um estudo do Ministério da Saúde de 2017 analisa que essas disparidades entre

negros e brancos em relação a fatores como renda, questões sociais, como acesso à

educação, saneamento básico, entre outras variáveis, são consequência do processo de

racismo institucional. O mesmo órgão caracteriza o racismo institucional ou racismo

estrutural como qualquer forma de racismo que ocorre especificamente dentro de

instituições como órgãos governamentais, instituições públicas, empresas, corporações e

universidades, além de entender que essa prática social remete a atitudes especificas

intrínsecas às ações preconceituosas racialmente, à discriminação, aos estereótipos, à

omissão, ao desrespeito, à desconfiança, desvalorização e desumanização.

De acordo com um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas de

2013, baseado em dados de 2010 do Censo do IBGE, o racismo é um caso particular de

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

24 discriminação em que a pessoa, por conta de sua cor de pele, sofre preconceitos

diferenciados, no que diz respeito a ter bloqueadas oportunidades sociais e econômicas,

ou simplesmente de ser alvo de segregação. Este estudo também aponta que o negro se

encontra nos estratos sociais de mais baixa renda e que a escravidão é responsável por

este fato. A partir do fim da escravidão, a população afrodescendente viveu um processo

de dupla discriminação, pela pobreza e pela cor da pele. O estudo do IPEA (2013) diz:

(...) a discriminação econômica se deu pela transmissão intergeracional do baixo capital humano, em face de inexistentes políticas inclusivas (no sentido

de equidade), das preferências elitistas do Brasil colônia, que tornava a escola

um espaço para poucos e brancos. (IPEA, 2013, p.2)

Além da crença em que a cor negra é de uma raça inferior, teoria esta que

concedia escopo para a escravidão e que se perpetuou na perseguição a diversas formas

de cultura afrodescendente. Esta explicação do IPEA corrobora com a teoria de

causação circular cumulativa de Gunnar Myrdal, que entende que o baixo padrão de

vida dos negros e preconceito dos brancos se retroalimentam e geram diversos

problemas para a população afroamericana.

O estudo do IPEA de 2013 faz uma relação de como a situação dos negros

brasileiros, afetados pelo racismo e pelo baixo padrão de vida se materializa num

processo em que os estratos sociais da população negra são os menores da sociedade e

com isso há um acesso menor à educação e uma maior probabilidade de serem vítimas

de violência. De acordo com a figura 1, é revelado o baixo rendimento da população

negra brasileira.

Figura 1: Distribuição das populações negras e não negras por faixa de

renda

Fonte: Censo Demográfico do IBGE, 2010. Elaboração IPEA/DIEST. Extraído do IPEA.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

25

A partir da figura 1, pode-se entender que a população negra está relacionada

com a parcela da população mais pobre do Brasil. E a figura 2 se relaciona com a figura

1 a partir do processo de escravidão desencadeia a ideologia do racismo5e o baixo

padrão de vida dos negros brasileiros.

Figura 2: Canais que associam racismo ao homicídios de negros no Brasil

Fonte: IPEA (2013)

Logo, pode-se inferir que o estudo do IPEA faz uma referência à escravidão

como objeto propulsor para uma série de dificuldades para a população negra no Brasil.

O preconceito dos brancos, dito neste trabalho como racismo e o baixo padrão de vida

dos negros, que seria a dificuldade de acesso por parte da população negra a questões

básicas sociais e econômicas desencadeiam problemas como a figura acima. Falta de

acesso à educação, e a partir da figura, caracterizada como persistência do baixo capital

humano, ou melhor, em um baixo nível educacional resulta na discriminação

socioeconômica que também advém da baixa oferta e demanda de trabalho pelos

estereótipos negativos ligados à população negra, que tem como origem o racismo, este

5 “Por sua vez, a ideologia do racismo afeta a prevalência de homicídios de negros, possivelmente, por

dois canais. Indiretamente, a discriminação pela cor da pele pode afetar a demanda por trabalho de negros

para postos mais qualificados, ou bloquear oportunidades de crescimento profissional. Pelo lado da oferta

de trabalho, o racismo cria determinados estereótipos negativos que afetam a identidade e a autoestima

das crianças e jovens negros, conforme discutido por Silvério (2002). Em última instância, o racismo

reforçou, ao longo do tempo, o baixo status socioeconômico daquelas populações que foram largadas à

sua própria sorte após a abolição, com baixa dotação de capital humano. “(IPEA, 2013, p. 5)

Portanto, por um lado, a letalidade violenta de negros no Brasil associada à questão socioeconômica, em

parte, já decorre da própria ideologia racista. Por outro lado, a perpetuação de estereótipos sobre o papel

do negro na sociedade muitas vezes o associa a indivíduos perigosos ou criminosos, o que pode fazer

aumentar a probabilidade de vitimização destes indivíduos, além de fazer perpetuar determinados

estigmas.”

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

26 praticado de forma intensa na escravidão e isso desencadeia no homicídio de negros e

negras no Brasil.

Outro estudo do IPEA de 2011, intitulado “Retrato das Desigualdades”, recolheu

alguns dados dos anos entre 1999 e 2009 para uma análise comparativa das

desigualdades entre negros e brancos no Brasil. O estudo explica que houve uma

redução na desigualdade no que diz respeito ao acesso à educação, atribuída às políticas

afirmativas, as quais estão incluídas as cotas raciais, que é o objeto de estudo deste

trabalho, contudo ainda há uma discrepância nos dados quando se fala de educação.

Como o objetivo do trabalho se dá a partir das cotas raciais, entende-se que este trabalho

terá como foco o ensino superior. Dados relacionados à taxa de escolarização líquida no

ensino superior, responsável por medir a proporção de pessoas matriculadas no nível de

ensino adequado para sua idade, apresentam melhora em 2009, tanto para homens

negros quanto para mulheres negras, mas a discrepância ainda é grande. Neste estudo do

IPEA, a taxa de escolarização de mulheres brancas no ensino superior, em 2009, é de

23,8%, enquanto de mulheres negras é de 9,98%. As desigualdades também se mostram

alarmantes na média de anos de estudos da população com 15 ou mais anos de idade, na

qual a população negra tem 6,7 anos de estudos e a população branca 8,4. Mas o maior

desafio, segundo este estudo do IPEA, a educação básica na qual houve um aumento do

acesso de crianças negras a escolas ou creches, representado em um aumento de 7,6%

em 1995 para 18,4% em 2009, contudo, não conseguiu atingir a meta prevista no Plano

Nacional de Educação, que era de 50% em 2010.

Assim como o IPEA, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística realiza

sínteses de indicadores anualmente baseando-se nos dados da Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílio, a PNAD, e no estudo de 2010, analisou alguns indicadores de

renda, saúde, mercado de trabalho, entre outros.

No que diz respeito à educação, a pesquisa do IBGE (2010) mostra que a

população negra ainda compõe grande parcela dos analfabetos funcionais no país. No

ano de 2010, 2,7 milhões de pessoas negras que frequentaram escola, apresentaram

dificuldades para interpretar textos. Outro indicador importante neste trabalho do IBGE

de 2010 (p.227) é a “proporção de estudantes de 18 a 24 anos de idade que cursam o

ensino superior”. Este também corrobora para a análise do estudo do IPEA de 2013 que

mostra a falta de acesso à educação. Segundo o IBGE (2010) 28,2% dos negros no

Brasil têm acesso ao ensino superior, por mais que em comparação com o ano de 1999,

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

27 o acesso ao ensino superior tenha aumentado para a população negra brasileira, ainda

existe um problema de acesso ao ensino superior para a população negra no Brasil. A

figura 3 apresenta os dados relacionados aos estudantes de 18 a 24 anos:

Figura 3: Distribuição dos estudantes de 18 a 24 anos de idade segundo a

cor ou raça e o nível de ensino frequentado

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 1999/2019.

No que diz respeito à saúde, o Ministério da Saúde (2017) a partir dos dados do

IPEA (2011) mostra que a população negra apresenta também uma dificuldade no

acesso à saúde. Em 2008, a população negra se mostra dependente do Sistema Único de

Saúde, visto que 67% da população negra usufrui deste mecanismo de assistência à

saúde, enquanto a população branca, 47,2%. Pode-se inferir que a população negra não

tem rendimento suficiente para ter o acesso às unidades médicas privadas, o que fica

claro na obtenção de planos de saúde. Em 2008, 34,9% da população branca tinha

acesso a planos de saúde e 17,2% da população negra. Neste estudo do IPEA (2011), há

uma discussão atribuída ao sistema de saúde pública não significar melhor qualidade no

atendimento, diferentemente dos serviços de saúde privada.

O estudo dos rendimentos é importante para entendermos a situação discrepante

entre negros e brancos no Brasil. De acordo com figura 4, este trabalho apresentará

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

28 dados que ilustram a situação do rendimento médio da população negra brasileira e da

população branca em 2009.

Figura 4: Renda média da população, segundo sexo e cor/raça.

Fonte: Elaboração própria, 2019. Baseado nos dados do IPEA de 2009.

De acordo com a figura 4 pode-se perceber que a comparação entre a renda do

homem branco que é de R$1491,00 reais é de aproximadamente 2,74 vezes maior do

que a renda da mulher negra (R$544,40 reais) e que a renda da mulher branca

(R$957,00 reais) também é maior do que a do homem negro (R$833,50 reais). Este

gráfico analisa a renda dos negros e mostra que a renda dos negros em média é 55% da

renda recebida dos brancos. Diante disso, o estudo confirmou que a mulher negra

continua isolada na base da hierarquia social, por mais que a mulher tenha se inserido

mais no mercado de trabalho.

O IPEA (2011) também analisou o coeficiente de Gini6e verificou que houve

queda do índice em todas as regiões, independentemente de sexo ou raça. Contudo, a

desigualdade continua alarmante nas regiões Nordeste e Centro-Oeste que são maiores

6“Índice de Gini igual a zero representa o grau máximo de igualdade e só ocorrerá se todas as unidades

apresentarem o mesmo valor para a variável. Por outro lado, quando o Índice for igual a um, ele

representará o grau máximo de desigualdade”(...) (MATTOS, 2005, p.13)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

Homem Branco Homem Negro Mulher Branca Mulher Negra

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

29 que a média nacional, e a população rural e negra representam maior parte da população

que sofre essa desigualdade nessas regiões.

O estudo do IPEA (2011, p.35) conclui analisando que 5,2% da população era

extremamente pobre. E no início do século, a situação era vivenciada por 10% dos

brasileiros e neste grupo 7,2% são negros e 3% são brancos.

Retomando o estudo do IBGE de 2010 juntamente com a PNAD também

indicam que, além das diferenças educacionais, existem discrepâncias de renda entre a

população negra e branca no Brasil. De acordo com o este estudo, entende-se que o

valor da hora de trabalho dos negros e pardos são, pelo menos, 20% inferiores aos de

brancos.

Também nessa pesquisa do IBGE (2010) é interessante um dado que mostra a

relação de empregadores negros e brancos no Brasil, onde 1,7% dos empregadores no

Brasil são negros, enquanto 6,1% são brancos e 2,8% são pardos, além disso, essa

pesquisa também mostra que a população negra ocupa, em maior proporção empregos

sem carteira assinada e a maioria são empregados domésticos, o que retoma a literatura

relacionada ao racismo que impossibilita o acesso a camadas mais bem estruturadas na

sociedade para pessoas negras.

Isto mostra que a população negra, segundo os indicadores citados é uma parcela

da sociedade prejudicada por uma série de fatores, principalmente pela falta de

oportunidade em determinadas áreas como saúde e educação, reduzindo seu padrão de

vida pelo preconceito da população branca, configurado neste trabalho como racismo.

Com os dados citados acima, pode-se inferir que existe um ciclo vicioso que bloqueia a

população negra de alçar oportunidades maiores na sociedade.

Importante entender esse ciclo vicioso e como as políticas públicas

institucionalizadas são importantes para a mudança de panorama dessa população nos

últimos anos, principalmente a política de cotas raciais, objeto principal de estudo. Na

próxima seção, será abordado como a política de cotas raciais é uma alternativa

importante para o acesso da população negra ao ensino superior e como a influência da

mesma pode desencadear um ciclo virtuoso agregando fatores importantes como renda e

saúde.

Um dos objetivos desse trabalho é analisar o desenvolvimento social de uma

população a partir de uma política pública educacional, e acredita-se que o sistema de

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

30 cotas seja importante nessa mudança de paradigmas que vivem a população negra no

Brasil. Logo, se faz necessário entender a implementação delas.

2.1.Uma breve leitura sobre a implementação das cotas raciais no Brasil

Segundo a Cartilha do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

chamada “Cotas Raciais, Porque Sim?” publicada em 2006, o movimento negro

brasileiro, principalmente, a partir década de 1970 vem pressionando o Estado para a

implementação de políticas de combate à discriminação racial. E com a intensificação

desse processo, em 1995, o presidente da época, Fernando Henrique Cardoso admitiu

que o Brasil é um país racista. Partindo desse pressuposto, houve mais avanços no que

diz respeito à igualdade racial, mas só em 2001, na Terceira Conferência Mundial

contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de

Intolerância, promovida pela Organização das Nações Unidas, na África do Sul, que o

governo brasileiro passou a se comprometer publicamente com a luta contra a

discriminação racial. E com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, as políticas

afirmativas voltadas para a população negra se intensificaram.

Esta cartilha também aponta que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi à

primeira universidade brasileira a adotar leis de reserva de vagas: 50% para pessoas

vindas de escolas de rede pública e 40% para candidatos que se declaram pretos (as) ou

pardos (as). E até 2005, 15 universidades brasileiras – federais e estaduais – já tinham

adotado as políticas de ação afirmativa7: Universidade Estadual do Rio de Janeiro

(UERJ), Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Universidade do Estado

da Bahia (UNEB) e a Universidade de Brasília (UNB) foram as primeiras a adotar essas

políticas.

Os anos foram se passando e as faculdades continuaram a adotar a política de

cotas raciais nas instituições. Segundo o livro “O impacto das cotas nas universidades

brasileiras (2004-2012) escrito por Santos (2012) diz que em 2012, o Supremo Tribunal

Federal decidiu pela constitucionalidade da adoção do sistema de cotas nas

universidades públicas e logo em seguida, meses depois, o Congresso Nacional aprovou

7“Ações afirmativas são um conjunto de ações privadas e/ou políticas públicas que tem como objetivo

reparar os aspectos discriminatórios que impedem o acesso de pessoas pertencentes a diversos grupos

sociais às mais diferentes oportunidades.” (IBASE, 2006,p.7)

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

31 uma lei pelo estabelecimento de cotas em todas as universidades públicas federais. Em

29 de agosto de 2012, a então presidenta da República sancionou a Lei 12.711

estabelecendo cotas de no mínimo 50% das vagas nas instituições federais para

estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. E

que a partir de 2013, todas as instituições federais deveriam se adequar ao que foi

formulado pelo Ministério da Educação para os quatro anos seguintes.

No preenchimento dessas vagas, 50% foram reservadas aos estudantes de

famílias com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita. Os

candidatos aptos as vagas eram:

(...) negros, indígenas e pardos autodeclarados em proporção igual à sua

distribuição nas universidades da Federação onde estão localizadas as

instituições federais do ensino superior, e de acordo com o último sendo do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (SANTOS, 2013, p.9)

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

32

Capítulo 3: Lei de Cotas e seus desdobramentos

Neste capítulo será discutida a importância da política pública das cotas raciais,

no que diz respeito ao acesso da população negra ao ensino superior e como esses

desdobramentos a partir do princípio de causação circular cumulativa de Myrdal podem

ser importantes no que diz respeito à qualidade de vida dessa população. Um dos

objetivos desse capítulo é tentar comparar as variáveis estudadas no capítulo 2 para que

a análise seja mais concreta e com mais credibilidade, contudo, alguns estudos

apresentados serão importantes para construir o argumento sobre a importância do

sistema de cotas raciais no Brasil.

Como dito anteriormente neste trabalho, Myrdal, entre outros teóricos

keynesianos, entendem que políticas públicas incentivadas pelo estado podem ser

importantes para o desenvolvimento econômico de um país. Um dos objetivos

específicos desse trabalho passa pela ideia de que um maior nível educacional pode

fazer um determinado grupo social a conseguir maiores rendimentos e a partir disso

reduzir a discriminação social e racial que existe no país.

Corroborando com esta ideia, Amartya Sen, filósofo e economista indiano em

sua teoria das capacidades analisa que o desenvolvimento das capacidades humanas tem

total ligação com a superação das amarras da própria sociedade. Madeira (2016)

acredita que políticas que têm o objetivo de reduzir a pobreza, melhorar nível

educacional e inclusão de grupos marginalizados são focos primordiais no estudo da

teoria de Amartya Sen. Antes da análise das estatísticas descritivas, se faz necessário

entender sobre a política de cotas.

Recapitulando a parte sobre o entendimento das cotas raciais citados acima,

Segundo Vidigal (2016) em seu artigo intitulado “Racial and low-income quotas in

Brazilian universities: impact on academic performance” analisa a importância das

cotas raciais nas universidades brasileiras. A autora do artigo analisa que o intuito das

cotas era de diminuir as desigualdades de rendimento e a partir da melhora do acesso da

população negra isso seria possível. Vidigal (2016) entende que as primeiras ações

afirmativas brasileiras relacionadas à educação começaram em 1992 com programas

realizados por organizações não-governamentais que ofereciam cursos preparatórios

para entrada na faculdade de pessoas de baixa renda ou estudantes afro brasileiros. A

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

33 implementação de um sistema nacional de cotas ocorreu em 1999, quando o sistema

especial de cotas foi instituído em órgãos públicos federais.

A Lei Federal de Cotas de 2012 que mudou a Lei de Diretrizes Básicas da

Educação Brasileira surge como alternativa para o desenvolvimento e acesso ao ensino

superior para a população negra, a mais desfavorecida socialmente neste país.

Como supracitado, o objetivo do capítulo é analisar a política de cotas com papel

preponderante para impulsionar um ciclo virtuoso de desenvolvimento da população

negra no Brasil a partir do princípio de causação circular cumulativa, na tentativa de

neutralizar as variáveis racismo e baixo padrão de vida da população negra.

Segundo Brasil (2017), a Lei de Cotas nº 12.711/2012 tem o objetivo de

democratizar a educação nacional, principalmente no acesso ao ensino superior. A lei de

Cotas garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades e

38 institutos federais de educação, tecnologia, ciência para alunos que cursaram

integralmente o ensino médio em escolas públicas para cursos regulares ou da educação

de jovens e adultos. Os demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência. A

partir da Lei de Cotas, a estrutura das vagas reservadas de acordo com a figura 5:

Figura 5: Divisão da Lei no 12.711/2012. Exemplo estado do Rio de Janeiro

Fonte: Ministério da Educação.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

34 Algumas alterações foram feitas na Lei nº 13.409 de 2016, que também reserva

vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior em

instituições federais de ensino.

No que diz respeito à estrutura das cotas, já pode-se inferir que a população

menos favorecida que estudou em escolas públicas são as “beneficiadas” pela política

de cotas.

Para ilustrar a importância das cotas raciais no combate ao baixo padrão de vida

das pessoas a partir de uma perspectiva de acesso ao ensino superior, o trabalho de

Wagner, Rodrigues e Cardoso (2019) cria uma situação sobre como seria o acesso da

população negra nos centros na Universidade Federal de Viçosa, caso não existisse a

política de cotas. Os centros citados no trabalho são: Centro de Ciências Agrárias,

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas,

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, a partir do Sistema de Seleção Unificada

(SISU) 8 de 2017. Em relação à divisão e subdivisões das vagas reservadas

estabelecidas pela lei, Wagner, Rodrigues e Cardoso (2019) utilizaram abreviações:

O grupo um foi composto pelos alunos de ampla concorrência;

O grupo dois foi composto pelos candidatos que, independentemente da renda

(renda per capita superior a 1,5 salários mínimos) tenham cursado integralmente

o ensino médio em escolas públicas;

O grupo três foi composto pelos alunos autodeclarados pretos, pardos ou

indígenas que independentemente da renda (renda familiar per capita superior a

1,5 salários mínimos) tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas

públicas (cotistas)

O grupo quatro foi composto pelos candidatos com renda familiar bruta per

capita igual ou inferior a 1,5 salários mínimos e que tenha cursado integralmente

o ensino médio em escolas públicas

O grupo cinco foi composto por alunos autodeclarados pretos, pardos ou

indígenas, com renda familiar bruta per capital igual ou inferior a 1,5 salários

8 (...) “o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), por meio da Portaria Normativa nº 2, de janeiro de 2010,

sistema informatizado gerenciado pelo Ministério da Educação, para a seleção de candidatos a vagas em

cursos de graduação disponibilizadas pelas instituições federais de educação que aderiram ao sistema. O

modelo se apresenta com a intencionalidade de proporcionar a concorrência de vagas em qualquer IES

que aderisse ao Sistema de Seleção, possibilitando ao estudante realizar a prova no seu próprio estado e

cidade, sem a necessidade exigida pelo vestibular tradicional, no qual era necessário o deslocamento até a

cidade da instituição para realizar a prova. Com a mudança, criam-se oportunidades de concorrer a vagas,

em nível nacional, o que de fato é a questão central do SiSU, “a seleção nacional”.” (LUZ, 2014, p.70):

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

35

mínimos e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas

públicas.

Em resumo, os candidatos dos grupos 2 a 5 são os alunos cotistas e os do grupo

1 não cotistas. Os resultados encontrados na pesquisa de Wagner, Rodrigues e Cardoso

(2019) são determinantes para entender a importância das cotas raciais na Universidade

Federal de Viçosa em Minas Gerais.

Exemplificando alguns resultados, 1141 pessoas no total tiveram acesso às cotas,

caso não houve a possibilidade das cotas na UFV, 470 pessoas teriam entrado na

universidade, segundo a simulação feita pelos autores, quase 60% de redução. A Figura

6 irá ilustrar o que foi dito acima:

Figura 6: Resultados Descritivos. Geral-Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Fonte: Wagner (2019). Baseados nos dados do SiSU de 2017

Um dos resultados mais alarmantes nesta pesquisa foram os resultados do centro

de ciências exatas e tecnológicas e de ciências biológicas e da saúde, nos quais, o grupo

5 seria o mais desfavorecido se não houvesse o sistema de cotas. No grupo 5, conhecido

por abarcar pessoas autodeclarados pretos, pardos ou indígenas com renda familiar bruta

per capital igual ou inferior a 1,5 salários mínimos e que tenham cursado integralmente

o ensino médio em escolas públicas, no centro de ciências exatas e tecnológicas, foram

classificadas 112 pessoas com direito as cotas. Na simulação feita por Wagner,

Rodrigues e Cardoso (2019), caso não existisse o sistema de cotas, 9 pessoas teriam

passado para o centro de ciências exatas, uma redução de 92%. Em relação ao centro de

ciências biológicas e da saúde, o resultado também é de 92% no grupo 5, no qual 60

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

36 pessoas foram classificadas com as cotas, e caso não existisse o sistema 5 pessoas

seriam classificadas. A figura 7 refere-se ao centro de ciências biológicas e da saúde.

Figura 7: Resultados descritivos. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde -

CCB

Fonte: Wagner (2019). Baseado nos dados do SiSU de 2017.

E a figura 8 refere-se ao centro de ciências exatas e tecnológicas que também

apresenta resultados próximos ao centro de ciências biológicas no que diz respeito ao

grupo 5:

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

37

Figura 8: Resultados descritivos. Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia -

CCE

Fonte: Wagner (2019). Baseado nos dados do SiSU de 2017.

Os estudos feitos pelo IBGE conjuntamente com a PNAD contínua em 2019

ainda mostram algumas dificuldades da população negra em relação à população branca

no Brasil, contudo, alguns resultados foram reduzidos e isso já demonstra uma melhora

em alguns índices estudados. Segundo IBGE (2019), a taxa de analfabetismo entre 2016

e 2018 caiu de 9,8% para 9,1% entre as pessoas de 15 ou mais anos de idade.

Em relação à comparação dos índices feitos no capítulo anterior, segundo o

estudo do IBGE de 2013, levando em consideração os anos de 2012, a proporção dos

alunos entre 18 e 24 anos pretos ou pardos subiu para 37,4%, enquanto os alunos

brancos ainda têm maioria, com 66,6%. Ainda há uma discrepância grande no que diz

respeito ao acesso dos alunos pretos nessa idade em relação aos alunos brancos, contudo

já há um aumento de pessoas negras tentando se inserir no ensino superior a partir das

políticas inclusivas do governo, como o nosso objeto de estudo, o sistema de cotas.

De acordo com Brasil (2016, p231) que corresponde ao relatório do 1º ciclo de

monitoramento das metas do Plano Nacional de Educação no biênio de 2014-2016

utilizando os dados do IBGE, mostra que a comparação entre negros e brancos ainda

continua discrepante, apesar da taxa de analfabetismo funcional ter diminuído entre

negros e brancos. Em 2004, período onde a análise do relatório iniciou e

concomitantemente é o período analisado neste trabalho, mostra que 31,5% da

população negra era analfabeta funcional contra 18,2% da população branca. Em 2014,

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

38 ambas reduziram as suas respectivas taxas, a população negra diminuiu para 21,7% e a

branca, 12,9%. A figura 9 ilustrará a explicação.

Figura 9: Taxa de analfabetismo funcional de pessoas de 15 ou mais idade, por

raça/cor.

Fonte: Elaborado pela Dired/Inep com base em dados da Pnad/IBGE

Além da taxa de analfabetismo funcional analisado pela figura 9, o mesmo

estudo mostra que ainda existe desigualdade entre as taxas de alfabetização de negros

(90,7%) e brancos (96,%), embora essa diferença tenha se reduzido entre 2012-2017.

Brasil (2018, p.177).

O Relatório do primeiro ciclo de monitoria das políticas nacionais de educação

ainda analisa que as desigualdades de raça e de renda no acesso à educação superior

caíram em termos relativos, embora as desigualdades ainda persistam ainda mais do que

as desigualdades de gênero. A população negra teve um crescimento no que diz respeito

à taxa líquida de escolarização na graduação entre 2004- 2014, contudo ainda há uma

discrepância grande em relação a esse dado. Enquanto a população branca em 2014

apresentou 30,6%, a população negra, 14%, e a meta do plano nacional de educação é

de 33% em 2024, ou seja, a população negra está ainda muito longe da meta estipulada

pela PNE. Brasil (2016, p.285)

Este mesmo estudo do IBGE (2019) também analisou a frequência das crianças

de 0 a 5 anos de idade na creche ou escola e o índice também aumentou entre 2016 e

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

39 2018 de 49,1% para 53%, contra 55,8% das crianças brancas da mesma faixa etária que

frequentam creche ou escola.

As pessoas pretas ou pardas concluíram mais o ensino superior de 2016 a 2018,

segundo o IBGE (2019), além disso, por mais que a meta número 12 do Plano Nacional

de Educação9 não tenha sido alcançada, houve um crescimento das pessoas entre 18 e

24 que estão cursando o ensino superior. Os dados subiram de 50,5% para 55,6%. A

comparação com as pessoas brancas ainda é discrepante, pois os dados mostram que

78,8% da população branca na mesma faixa etária tem cursado o ensino superior. Esse

estudo de desigualdades sociais do IBGE (2019) deixa claro que a melhora em alguns

dados educacionais está relacionada com algumas intervenções estatais a nível

educacional que possibilitaram um processo de democratização do ensino superior. Na

rede pública, o trabalho cita as cotas raciais, assim como o Programa de Apoio a Planos

de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – Reuni10, SiSU e na rede

privada, o Fundo de Financiamento Estudantil – FIES11 e o Programa Universidade para

Todos – PROUNI12. No que diz respeito às considerações finais deste trabalho,

analisam que em relação à educação, as variáveis estudadas melhoraram, contudo, ainda

existem discrepâncias e que precisam ser reduzidas ainda mais.

Em relação à saúde, o dado analisado anteriormente, tem relação com a

importância dos planos de saúde e do Sistema Único de Saúde para a população negra,

9“A sanção presidencial da Lei n° 13.005, em 25 de junho de 2014, entregou à sociedade brasileira o

Plano Nacional de Educação (PNE), com vigência até o ano de 2024. O documento é fruto da construção

coletiva que remete à Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada em 2010, a qual ofereceu os

subsídios para o projeto de lei enviado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional, onde passou por

diversas alterações até sua aprovação como lei. Com o PNE, a sociedade e os entes federativos passaram

a contar com uma referência fundamental para as políticas educacionais. O Plano aglutinou um conjunto

de aspirações e finalidades para a educação brasileira, que são expressas em suas 10 diretrizes, 20 metas e

em um conjunto de 254 estratégias – dimensões específicas do documento que devem ser vistas de forma

absolutamente integrada. Enquanto as diretrizes congregam macro-objetivos voltados à melhoria da

educação brasileira, as metas delimitam patamares educacionais concretos que devem ser alcançados no

País. Por fim, as estratégias constituem os meios para o planejamento das políticas públicas, que visam, a

princípio, o alcance definitivo das metas e, como resultado final do Plano, a consolidação das

diretrizes.”(BRASIL, 2016, p.11) 10“O Programa estabelece uma série de metas que visam, prioritariamente, à ampliação do acesso ao

ensino de graduação, nas instituições federais de ensino superior (IFES), e à melhoria nos indicadores

privilegiados no Programa, a Taxa de Sucesso da Graduação e a Relação Aluno Professor (...)”

(ARAÚJO, 2011, p. 20) 11“O FIES foi criado em 1999 com o intuito de possibilitar que os estudantes sem condições financeiras

para custear a formação em instituições privadas de ensino pudessem ter a possibilidade de conseguir um

diploma de ensino superior, através do financiamento por parte do estado.”(MOURA, 2014, p.11) 12“O PROUNI é um programa do Ministério da Educação, criado pelo Governo Federal, que oferece

bolsas de ensino para estudantes em instituições de ensino privadas para cursos de graduação.” (MOURA,

2014, p.13)

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

40 um estudo do IBGE de 2015, com os dados de 2013 da Pesquisa Nacional de Saúde,

mostra que quanto mais instruída a pessoa é, maior a cobertura do plano de saúde e

levando em consideração as pessoas negras que têm acesso a planos de saúde, 21,6%

tem acesso aos planos de saúde, contudo a diferença para as pessoas brancas ainda é

grande, 37,9%.

No que diz respeito à relação de rendimentos provenientes do trabalho, os

brancos ganhavam, em média, 73,9% a mais do pretos e pardos, no ano de 2018 (IBGE,

2019). No mesmo ano, as pessoas de cor ou raça preta ou parda tiveram rendimento

médio de R$934 reais e as pessoas brancas, R$ 1846, quase o dobro do rendimento

médio. Em compensação, o rendimento médio das pessoas negras aumentou em 9,5%

contra 8,2% da população branca em 2018. Contudo, o estudo dos indicadores sociais

do IBGE de 2019 entende que as desigualdades históricas analisadas neste trabalho

ainda não foram superadas.

Ainda em relação à pesquisa do IBGE (2019), existe uma vantagem sobre os

homens brancos em relação a homens e mulheres negros e também às mulheres brancas.

O primeiro grupo é o de homens brancos, seguido por mulheres brancas, homens negros

e mulheres negras.

Por mais que as porcentagens tenham melhorado em relação ao período estudado

anteriormente, de 2004 a 2012, ainda não há uma proximidade na igualdade dessas

porcentagens de rendimento, visto que a ocupação de pessoas negras ainda é

desfavorecida, o IBGE (2019) também mostra que ainda grande parte da população

negra ainda carece de nível de instrução para alcançar maiores ocupações e

consequentemente maiores salários.

Uma pesquisa do Instituto Ethos (2016) analisa a distribuição por cor ou raça em

relação à ocupação de pessoas negras e brancas e a proporção de ocupação dessas

populações nas empresas. Uma pesquisa com 500 empresas teve como conclusão que as

pessoas negras ocupam setores de aprendizes e trainees, setores que são qualificados

como os mais baixos na pirâmide organizacional das empresas. A figura 10 ilustra a

explicação:

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

41

Figura 10: Distribuição por cor ou raça

Fonte: Instituto Ethos.

Distribuição do pessoal por cargo, de acordo com cor ou raça – Foto: Arte G1

Além da questão empresarial, a população negra tem melhorado alguns índices

também em concursos públicos para a área acadêmica, no que diz respeito a mestrados e

doutorados. Brasil (2018, p 233/234) mostra um acesso maior de pessoas negras como

professores de mestrado e doutorado no período entre 2012 e 2016, por mais que ainda

seja o grupo mais desfavorecido se comparado com brancos, amarelos e indígenas.

A título de apresentação e corroborar com o argumento de que as cotas raciais

são importantes para o desenvolvimento da população negra no Brasil a partir de uma

perspectiva educacional, recentemente, a Universidade Federal Fluminense (2019)

realizou um estudo analisando a entrada de estudantes cotistas na universidade. O

desempenho dos alunos cotistas que concluíram o curso no tempo esperado é de 93%,

contudo ainda há um problema no qual poucos alunos cotistas se formam em

comparação com os alunos de livre concorrência. O que mostra outro problema de que

deve ser superado.

Os resultados identificados apresentam sim um processo de melhora em alguns

indicadores importantes para a população negra brasileira como o acesso ao ensino

superior, aumento do rendimento médio da população negra, os planos de saúde sendo

mais utilizados pela população negra, o que indica um aumento da relação rendimentos-

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

42 saúde-instrução, contudo a melhora de alguns índices ainda não elimina ou neutraliza as

dificuldades passadas pela população negra brasileira.

Alguns outros desdobramentos relacionados ao estudo do IBGE (2019) indicam

que a população negra ainda se encontra abaixo das linhas de pobreza e residem em

domicílios com condições de moradia piores do que a população branca, além do acesso

a bens e serviços ainda defasado em relação aos brancos. As políticas de acesso à

educação, como citado acima neste trabalho, são importantes para melhorar a situação

de acesso ao ensino superior, contudo, as metas não foram atingidas e a população negra

ainda é desfavorecida no território brasileiro.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

43

Considerações Finais

Essa pesquisa teve como objetivos analisar a situação da população negra no

Brasil, além de entender a importância do sistema de cotas raciais no desenvolvimento

socioeconômico da população negra no Brasil a partir do princípio de causação circular

cumulativa de Gunnar Myrdal.

O que se pode concluir deste trabalho é que as variáveis analisadas no estudo

entre os períodos em destaque, o primeiro de 2004-2012, período este que foi onde as

primeiras universidades federais aderiram à política de cotas e o segundo período, de

2012-2018, no qual o sistema de cotas se tornou lei federal, apresentam concordância

com a hipótese de que as cotas raciais são importantes para o desenvolvimento

socioeconômico da população negra no Brasil. A parcela negra da população vive um

processo de melhora em alguns índices, principalmente, os educacionais. Contudo, as

metas protocoladas pelo Plano Nacional de Educação para o ano de 2024 ainda não

foram atingidas, tanto no que diz respeito à educação básica, quanto à educação superior

e ao acesso ao mercado de trabalho relacionado ao mestrado e ao doutorado. Ainda

existem problemas que devem ser estudados e políticas que devem ser adotadas para

que a discrepância seja ainda mais reduzida. Importante citar a relação interessante

sobre o fato dos planos de saúde estarem intimamente ligados ao nível educacional da

população. A partir disso, pode-se argumentar que quanto mais a população negra tiver

acesso aos ensinos básico e superior, mais entendimento sobre a importância da saúde

ela terá. Ademais, como a obtenção ou não de um plano de saúde está intimamente

relacionada à renda, a população negra, ao obter maiores níveis educacionais, e assim,

consequentemente, maiores rendimentos, conseguiria ter mais acesso a este tipo de

serviço. Diante disso, é possível perceber que a relação entre a renda média e o nível

educacional tem papel importante para a mudança no baixo padrão de vida dos negros

no Brasil.

A população negra ainda vive em um cenário onde o racismo estrutural ou

institucional perdura na sociedade brasileira, pelo fato do racismo ter o poder de ser

subjetivo, não só em relação direta de injúria racial, mas em situações onde a pessoa

negra não tem conhecimento de causa sobre determinadas circunstâncias. Esse fator

pode ser complicador no que diz respeito à população negra angariar postos mais altos

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

44 de trabalho, contudo, o melhor desempenho no nível educacional é importante para que

o baixo padrão de vida da população negra mude de paradigma, e as políticas de

democratização do ensino superior tenha um grande papel nessa mudança. Alcançar

níveis educacionais mais altos pode ser uma ferramenta importante no combate ao

racismo e o estado tem papel fundamental na geração dessa possibilidade.

Logo, o princípio de causação circular cumulativa pôde apresentar que o sistema

de cotas raciais possibilitou maior acesso da população negra ao ensino superior e que,

por mais que algumas políticas públicas ainda possam ser realizadas para melhorar

ainda mais a situação da população negra no Brasil, maiores investimentos em educação

por parte do Estado são necessários para o combate ao baixo padrão de vida dos negros

no Brasil. Importante também salientar a importância da continuidade desses projetos

estabelecidos pelo governo brasileiro e da manutenção da atenção dos gestores públicos

para a questão da desigualdade racial, formulando mais políticas públicas que visem à

redução das desigualdades, não só para o âmbito educacional, mas para possibilitar

melhores rendimentos, geração de cultura e outras formas de inclusão social para a

população negra no Brasil.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

45

Referências bibliográficas

ARAÚJO, R.S. A IMPLANTAÇÃO DO REUNI NA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO PARÁ: UM ESTUDO DE CASO DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE

ALTAMIRA. 2011. 277f. Dissertação (Mestrado em Educação)─Instituto de Ciências

da Educação, Universidade Federal do Pará. Belém (PA), 2011. Disponível em:

http://gepes.belemvirtual.com.br/arquivos/File/RHOB-

Dissertacao%20completa%203.pdf

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil:texto constitucional

promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações determinadas pelas Emendas

Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/94, pelas Emendas Constitucionais nos 1/92 a

91/2016 e pelo Decreto Legislativo no 186/2008. – Brasília : Senado Federal,

Coordenação de Edições Técnicas, 2016.

BRASIL. DECRETO nº 9.034, DE 20 DE ABRIL DE 2017. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9034.htm

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

Relatório do 1º ciclo de monitoramento das metas do PNE : biênio 2014- 2016. –

Brasília,DF : Inep, 2016. Disponível em:

http://portal.inep.gov.br/documents/186968/485745/RELAT%C3%93RIO+DO+PRIME

IRO+CICLO+DE+MONITORAMENTO+DAS+METAS+DO+PNE+-

+BI%C3%8ANIO+2014-2016/0dc50e21-3a60-444b-b7f6-1f16b8e5591f?version=1.1

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

Relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação

– 2018. – Brasília, DF : Inep, 2018. Disponível em:

https://www.observatoriodopne.org.br/_uploads/_posts/4.pdf?291302463

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.

Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social. Política Nacional

de Saúde Integral da População Negra: uma política para o SUS / Ministério da

Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à

Gestão Participativa e ao Controle Social. – 3. ed. – Brasília : Editora do Ministério da

Saúde, 2017. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_saude_integral_populacao_negra.pd

f

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

46 CAMPOS, M.O.;NETO, J.F.R. .Qualidade de vida: um instrumento para promoção de

saúde.Revista Baiana de Saúde Publica, v. 32, p. 232-240, 2008. Disponível em:

http://stoa.usp.br/lislaineaf/files/-1/19150/qualidade-vida-instrumento-promocao-

saude%3E.pdf

CARDOSO, F. G..O círculo vicioso da pobreza e a causação circular cumulativa:

retomando as contribuições de Nurkse e Myrdal 2012 (artigo publicado em Boletim

de Informações da Fipe, ago-2012). Disponível em:

https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/37433796/8_13-18-

fern.pdf?response-content-

disposition=inline%3B%20filename%3DO_Circulo_Vicioso_da_Pobreza_e_a_Causaca

.pdf&X-Amz-Algorithm=AWS4-HMAC-SHA256&X-Amz-

Credential=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A%2F20191108%2Fus-east-

1%2Fs3%2Faws4_request&X-Amz-Date=20191108T013247Z&X-Amz-

Expires=3600&X-Amz-SignedHeaders=host&X-Amz-

Signature=cdb0f648024499cebb218f71397cc6c73967da68e3ba600f4aff433694bf5806

CARDOSO, F. H.; FALETO, E. Dependência e desenvolvimento na América Latina:

ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

CAVALCANTE, L. R.. Produção Teórica em Economia Regional: Uma Proposta de

Sistematização.Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos, v. 02, p. 9-32,

2008. Disponível em: https://www.revistaaber.org.br/rberu/article/view/12/65

COORDENAÇÃO DE GESTÃO DE INFORMAÇÃO DA UNIVERSIDADE

FEDERAL FLUMINENSE. (2019), “Informativo: Cotistas da UFF tiveram melhor

desempenho que os ingressantes por livre concorrência.”Disponível

em:https://www.printfriendly.com/p/g/nJNrPz

COSTA, K. G. V.. Gunnar Myrdal e o princípio da causação circular cumulativa: uma

análise a partir dos trabalhos de Allyn Young, Nicholas Kaldor e Thorstein Veblen. In:

X Congresso brasileiro de história econômica e XI Conferência internacional de história

de empresas, 2013, Juiz de Fora - MG. X Congresso brasileiro de história econômica e

XI Conferência internacional de história de empresas, 2013. v. X.Disponível em:

http://www.abphe.org.br/arquivos/kaio-glauber-vital-da-costa.pdf

DA SILVA,L;DE FREITAS,R.P; HEBER,F.L; LINS,G; TERESA,M; A

IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE REESTRUTURAÇÃO E EXPANSÃO DAS

UNIVERSIDADES FEDERAIS/REUNI: UM ESTUDO DE CASO. Revista Gestão

Universitária na América Latina - GUAL, vol. 6, núm. 4, 2013, pp. 147-170

Universidade Federal de Santa Catarina Santa Catarina, Brasil. Disponível em :

https://www.redalyc.org/pdf/3193/319329765010.pdf

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

47 DATHEIN, Ricardo (2000). O Crescimento do Desemprego nos Países

Desenvolvidos e sua Interpretação pela Teoria Econômica: as abordagens

neoclássica, keynesiana e schumpeteriana. Campinas. Tese (Doutorado em

Economia) - Instituto de Economia, UNICAMP. Disponível em:

https://www.researchgate.net/profile/Ricardo_Dathein/publication/242214194_UNIVE

RSIDADE_FEDERAL_DO_RIO_GRANDE_DO_SUL_FACULDADE_DE_CIENCI

AS_ECONOMICAS_DEPARTAMENTO_DE_CIENCIAS_ECONOMICAS_Um_Esb

oco_da_Teoria_Keynesiana1/links/5584466f08aef58c039b3141.pdf

FUJITA, N. (2004) “Gunnar Myrdal’s theory of cumulative causation

revisited”.EconomicResearch Center, Discussion Paper n.147. Disponível em:

http://133.6.182.153/wp-content/uploads/2016/04/paper147.pdf

IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da

população brasileira: 2010/IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais –

Rio de Janeiro: IBGE 2010. Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45700.pdf

IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da

população brasileira: 2013/IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais –

Rio de Janeiro: IBGE 2013. Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv66777.pdf

IBGE. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016-2017. Educação 2017.

Disponível

em:https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101576_informativo.pdf

IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da

população brasileira: 2016 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. -

Rio de Janeiro: IBGE 2016 Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf.

IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da

população brasileira: 2018 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. -

Rio de Janeiro: IBGE 2018 Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101629.pdf

ÎBGE. Síntese de indicadores sociais : uma análise das condições de vida da

população brasileira: 2019 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. -

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

48 Rio de Janeiro : IBGE, 2019. 130 p. - (Estudos e pesquisas. Informação demográfica e

socioeconômica, ISSN 1516-3296 ; n. 40) Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101678.pdf

IBGE. Somos todos iguais? O que dizem as estatísticas?(2018). Retratos – A Revista

do IBGE, 1-26. Disponível em:

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/17eac9b7a875c68

c1b2d1a98c80414c9.pdf

IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde 2013: Estudos e Pesquisas • Informação

Demográfica e Socioeconômica • n.38. Estatísticas de Gênero Indicadores sociais

das mulheres no Brasil.(2018). Disponível:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf

INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS. Desigualdade Racial

no Brasil: Evolução das condições de vida na década de 90. Rio de Janeiro.

Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_0807.pdf

INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS. Vidas perdidas e

Racismo no Brasil. Nota técnica. Rio de Janeiro. 2013. Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/131119_notatecnicadie

st10.pdf

INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS. Retrato das

desigualdades de gênero e raça/ 1ª ed. - Brasília: Ipea, 2011. 39 p. : il. Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/igualdaderacial/images/stories/pdf/primeiraedicao.pdf

INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS APLICADAS. Retrato das

desigualdades de gênero e raça/ 4ª ed. - Brasília: Ipea, 2011. 39 p. : il. Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/retrato/pdf/revista.pdf

Instituto Ethos. Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil

e suas ações afirmativas / Instituto Ethos e Banco Interamericano de Desenvolvimento.

p. cm. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-

content/uploads/2016/04/Perfil_social_racial_genero_500empresas.pdf

KALDOR, N. (1966) Cases of the slow rate of economic growth of the United

Kingdom. Cambridge, Cambridge University Press.

KALDOR, N. (1972) “The irrelevance of equilibrium economics”. Economic Journal,

v. 82, n.328, pp.1237-1255. Disponível em:

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

49 https://econpapers.repec.org/article/ecjeconjl/v_3a82_3ay_3a1972_3ai_3a328_3ap_3a1

237-55.htm

LAMONICA, M. T.; FEIJO, C. A. . Crescimento e Industrialização no Brasil: uma

interpretação à luz das propostas de Kaldor. Revista de Economia Política (Impresso),

v. 31, p. 118-138, 2011.Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/rep/v31n1/a06v31n1.pdf

LEI Nº 13.409, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2016.Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13409.htm

LIMA, A. C. C.;SIMÕES, R. .Teorias do Desenvolvimento Regional e suas

Implicações de Políticas no Pós-Guerra: o caso do Brasil. Belo Horizonte:

CEDEPLAR/UFMG - TD nº 358, 2009 (Texto para Discussão). Disponível em:

http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/td/TD%20358.pdf

LOPES, C; Cotas raciais: Por que sim?/ uma publicação Ibase: [organização Cristina

Lopes].- 2. ed. - Rio de Janeiro :Ibase : Observatório da Cidadania, 2006 44p. : il.

Disponível em: http://www.ibase.br/userimages/ibase_cotas_raciais_2.pdf

LUZ, J.N.N.; VELOSO, T. C. M. A. . SISTEMA DE SELEÇÃO UNIFICADA (SiSU):

REFLETINDO SOBRE O PROCESSO DE SELEÇÃO. REVISTA EDUCAÇÃO E

FRONTEIRAS ON-LINE, v. 4, p. 68-83, 2014. Disponível em:

http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/educacao/article/view/3649/1956

MACHADO, J. G. R.; PAMPLONA, J. B.A ONU e o Desenvolvimento Econômico:

Uma Interpretação das Bases Teóricas do PNUD.Economia e Sociedade (UNICAMP.

Impresso), v. 17, p. 53-84, 2008. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/ecos/v17n1/a03v17n1.pdf

MADEIRA, T. d.. Políticas públicas a luz da teoria das capacidades de Amartya

Sen: Bolsa Família e Prouni. Monografia de bacharelado , p. 63.(Setembro de 2016)

Disponível em:

https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/5019/1/Monografia%20completaFINAL_Tatia

naMadeira.pdf

MAZZUCCHELLI, F. Senior, Jevons e Walras; a construção da ortodoxia econômica.

Economia e Sociedade p.10.(Janeiro/Junho de 2003) Disponível em:

https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643078/10630

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Boletim Epidemiológico. Indicadores de Vigilância em

Saúde descritos segundo a variável raça/ cor, Brasil. Brasília: Secretaria de

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

50 Vigilância em Saúde, v. 48, n. 4, 2017. Disponível em:

http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/fevereiro/17/Indicadores-de-

Vigilancia-em-Saude-descritos-segundo-ra--a-cor.pdf

MOREIRA, A.P.R.;GONÇALVES, M.T. . A Questão do Negro?:Uma análise da

segregação racial a partir de Gunnar Myrdal.2017. (Apresentação de

Trabalho/Outra). Disponível em: https://engpect.files.wordpress.com/2017/10/gt3-01-a-

questc3a3o-do-negro.pdf

MOURA, D. M..POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS PROUNI E FIES:

democratização do acesso ao ensino superior. Disponível em:

https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/article/view/11804/1647

MYRDAL, G. Teorias Econômicas e Regiões Subdesenvolvidas. Ministério da

Educação e da Cultura. Rio de Janeiro. 1957.

OLIVEIRA, T. D.; ATTÍLIO, L. A.;Causação Cumulativa em Myrdal e seus

Desdobramentos Enquanto Alternativas ao Conceito de Equilíbrio.In: XVII Seminário

sobre a economia mineira, 2016, Diamantina, 2016, Diamantina. XVII Seminário sobre

a economia mineira, 2016, Diamantina, 2016. Disponível em: Disponível

em:http://revistas.ufpr.br/economia/article/view/39584

PEREIRA,É.F; TEIXEIRA,C; STEFANI; Santos,A dos. Qualidade de vida:

abordagens, conceitos e avaliação. Rev. bras. educ. fís. esporte, Jun 2012, vol.26, no.2,

p.241-250.

PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE: 2013 : acesso e utilização dos serviços de

saúde, acidentes e violências : Brasil, grandes regiões e unidades da federação /

IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro : IBGE, 2015. 100 p.

Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf

PNAD. Desigualdade de cor ou raça no Brasil. Estudos e Pesquisas – Informação

demográfica e socioeconômica. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf

PNAD. Segurança Alimentar . Rio de Janeiro, 2014. Disponível em:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv91984.pdf

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

51 POSSAS, M.S. Concorrência e Competitividade: Notas Sobre Estratégia e

Dinâmica Seletiva na Economia Capitalista.Tese de doutorado. UNICAMP, 1993.

Disponível em:

http://www.ie.ufrj.br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/100820170336_Possas_Mari

aSilvia_1999.pdf

ROSE; A. Negro: O Dilema Americano. Uma versão condensada de “An American

Dilemma de Gunnar Myrdal. Instituição Brasileira de Difusão Cultual S.A. São Paulo.

1968.

SANTOS, J. T.. O impacto das cotas nas universidades brasileiras(2004-2012). 1. ed.

Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais, 2013. v. 1. 278p . Disponível em:

http://www.redeacaoafirmativa.ceao.ufba.br/uploads/ceao_livro_2013_JTSantos.pdf

SEERS, D. “The meaning of development”,International Development Review, 1969

SEN, A. Resources, values and development. Cambridge: Harvard University Press,

1998.

SEN, A. Desigualdade reexaminada. São Paulo: Editora Record, 2001.

THEODORO, M;JACCOUD,L; OSÓRIO,R; SOARES.S. As políticas públicas e a

desigualdade racial no Brasil : 120 anos após a abolição. – Brasília : Ipea, 2008. 176

p. :gráfs., tabs. Disponível em:

https://www.cairu.br/arquivos/biblioteca/politicas_publicas_desigualdades_racial.pdf

TORRES, H. G.; FERREIRA, M. P. ; DINI, N. . Indicadores sociais: porque construir

novos indicadores como o IPRS?.São Paulo em Perspectiva, São Paulo,v. 17, n.3-4, p.

80-90, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n3-4/a09v1734.pdf

VIDIGAL, C. (2018), "Racial and low-income quotas in Brazilian universities: impact

on academic performance", Journal of Economic Studies, Vol. 45 No. 1, pp. 156-176.

Disponível em:

https://poseidon01.ssrn.com/delivery.php?ID=011106009067118121100011119116106

0240380390000650030341030841040870950980851200710780101180050340100991

1306711101700808612312703903509300904611707712408802609109802508606904

6114071066087112097003027121087001087031006065122066072015123080104084

027099066&EXT=pdf

WAGNER, Y. G.; RODRIGUES, C. T. ; CARDOSO, L. C. B. . Política de Cotas: Uma

democratização para o acesso aos cursos do centro de ciências agrárias na Universidade

Federal de Viçosa.In: 57º CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE

ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL: AGRICULTURA,

ALIMENTAÇÃO E DESENVOLVIMENTO, 2019, Ilhéus. Anais Eletrônicos- ISBN:

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE …...existe uma situação desfavorável à população negra comparativamente à população branca no tocante aos âmbitos social e

52 978-85-98571-18-8, 2019. Disponível em: https://www.brsa.org.br/fotos/arquivo1-

2019-09-23-23-58-17.pdf

YOUNG, A. Increasing Returns and Economic Progress. The Economic Journal,

Vol.38, pp.527-542, 1928.