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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal Demerson Luiz de Almeida Barbosa QUANTIFICAÇÃO DE DANOS E CRESCIMENTO DE EUCALIPTO EM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA Diamantina 2017

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

    Programa de Pós-Graduação em Ciência Florestal

    Demerson Luiz de Almeida Barbosa

    QUANTIFICAÇÃO DE DANOS E CRESCIMENTO DE EUCALIPTO

    EM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA

    Diamantina

    2017

  • 1

    Demerson Luiz de Almeida Barbosa

    QUANTIFICAÇÃO DE DANOS E CRESCIMENTO DE EUCALIPTO

    EM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA

    Dissertação apresentada ao programa de Pós-

    Graduação em Ciência Florestal da Universidade

    Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como

    requisito para obtenção do título de Mestre.

    Orientador: Prof. Dr. Ângelo Márcio Pinto Leite

    Coorientador: Prof. Dr. Marcio Leles Romarco de

    Oliveira

    Diamantina

    2017

  • 2

  • Demerson Luiz de Almeida Barbosa

    QUANTIFICAÇÃO DE DANOS E CRESCIMENTO DE EUCALIPTO

    EM SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA

    Dissertação apresentada ao programa de Pós-

    Graduação em Ciência Florestal da Universidade

    Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como

    requisito para obtenção do título de Mestre.

    Orientador: Prof. Dr. Ângelo Márcio Pinto Leite

    Coorientador: Prof. Dr. Marcio Leles R. de Oliveira

    Data de aprovação 17/03/2017

    ______________________________________________

    Prof. Dr. Edy Eime Pereira Baraúna

    Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

    ______________________________________________

    Prof. Dr. Marcio Leles Romarco de Oliveira

    Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM

    ______________________________________________

    Prof. Dr. Ângelo Márcio Pinto Leite

    Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM

    Diamantina 2017

  • 3

    Dedico ao meu querido irmão mais novo Armandinho,

    que me ensinou que a partir do choro verdadeiro

    percebemos o real significado do amor.

  • 4

    In memoriam

    Ao meu tio Zilico, Cândido Cesário dos Reis

    Que me ensinou a beleza da vida

    Contemplar animais e plantas

    A importância das histórias

    O respeito às crianças

    A força da leveza

    O carinho e

    o Amor...

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    A Mãe Luziete, pela vida;

    Aos Irmãos, pela alegria;

    A Leidivan, pelo amor;

    A Família, por permanecer;

    Aos Amigos, pela amizade;

    A Equipe iLPF, por realizar;

    Ao Álvaro, por acreditar;

    Aos Orientadores, pela confiança;

    Ao Sítio do Cadin, pela convivência;

    A UFVJM, pela perspectiva;

    Ao PPGCF, pela oportunidade;

    A FAPEMIG, pelos recursos;

    A Engenharia Florestal, pelo trabalho;

    A Pedagogia, pelos conceitos;

    Por fim, a todos... por existirem.

  • 6

    Sejamos simples e calmos

    Como os regatos e as árvores,

    E Deus amar-nos-á fazendo de nós

    Belos como as árvores e os regatos,

    E dar-nos-á verdor na sua primavera,

    E um rio aonde ir ter quando acabemos!

    (Alberto Caeiro)

    Saber que devo respeito à autonomia e à identidade do educando

    exige de mim uma prática em tudo coerente com esse saber.

    (Paulo Freire em “A Pedagogia da Autonomia”).

    “Aí de nós se por nossa culpa ou responsabilidade

    a semente morrer semente” (Provérbio).

  • 7

    RESUMO

    Os sistemas integrados de produção são uma possibilidade para otimização do cultivo

    sustentável no semiárido mineiro, principalmente em relação às áreas de pastagens

    degradadas. Objetivou-se com esse trabalho analisar quantitativamente e qualitativamente o

    crescimento, a produção e o estoque de carbono (C) de dois genótipos de eucalipto em

    sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) implantado no norte de Minas Gerais.

    Essa pesquisa foi realizada na Fazenda da Barra, município de Francisco Sá, entre dezembro

    de 2012 e novembro de 2016. Foi conduzida em área experimental de 3,2 ha subdividida em

    dois tratamentos com Eucalyptus cloeziana e o híbrido urograndis. O sistema foi consorciado

    com sorgo e capim-marandu, com espaçamentos em renques duplos (2 x 3m) x 14 metros. Em

    cada tratamento foram estabelecidas 12 parcelas de 336 m2 distribuídas aleatoriamente, com

    inclusão de 24 árvores/parcela. Foram avaliadas taxas de sobrevivência, diâmetro na altura do

    solo, diâmetro na altura do peito e altura total das árvores, além de danos e debilidades.

    Também foram analisados volume, biomassa, fixação de C e sequestro de dióxido de C

    (CO2). Os dados foram submetidos à análise de variância e de matriz de correlação. Os

    resultados indicaram que a abelha arapuã e o cupim foram os principais fatores bióticos

    causadores dos danos e debilidades nos eucaliptos cloeziana e urograndis, respectivamente. O

    crescimento e volume dos genótipos foram estatisticamente diferentes para os 450, 630, 1.020

    e 1.320 dias após o transplantio. O urograndis, embora tenha apresentado menor taxa de

    sobrevivência (66,7%), obteve maior volume (23,4920 m3 ha

    -1) e resistência ao período de

    seca. No entanto, o E. cloeziana apresentou maior taxa de sobrevivência (80,6%) e menor

    volume (9,2974 m3 ha

    -1). Os incrementos correntes anuais para biomassa foram maiores no

    urograndis (5.673,36 kg ha-1

    ) em relação ao cloeziana (3.166,04 kg ha-1

    ). Dessa maneira, o

    eucalipto urograndis foi o genótipo que apresentou maior fixação de C (5,53 t ha-1

    ) e

    sequestro de CO2 (20,30 t ha-1

    ) no sistema de integração lavoura-pecuária-floresta avaliado.

    Palavras-chave: Sistema agrossilvipastoril, biomassa florestal e fixação de carbono.

  • 8

    ASTRACT

    Integrated production systems are cited as a possibility for optimization of sustainable

    cultivation in the semi-arid region of Minas Gerais, especially in relation to degraded pasture

    areas. The objective of this work was to analyze quantitatively and qualitatively the growth,

    production and carbon stocks of two eucalyptus genotypes cultivated in an integrated crop-

    livestock-forest (ICLF) system in the north of Minas Gerais State, Brazil. This research was

    carried out at Fazenda da Barra, municipality of Francisco Sá, between December 2012 and

    November 2016. It was conducted in a 3.2 ha experimental area subdivided into two

    treatments with Eucalyptus cloeziana and the urograndis hybrid. The system was

    intercropped with sorghum and marandu grass, with spacing in double rows (2 x 3m) x 14 m.

    In each treatment, 12 plots of 336 m2 were randomly distributed, including 24 trees/plot.

    Survival rates, diameter at soil height, diameter at breast height and total height of trees, as

    well as damage and weakness, were evaluated. Volumetric and biomass production, carbon

    (C) fixation and C dioxide sequestration (CO2) were also analyzed. Data were submitted to

    analysis of variance and correlation matrix. The results indicate that the “arapuã” (Trigona

    spinipes) bee and the termite were the main biotic factors to the damages and weaknesses in

    eucalyptus cloeziana and urograndis, respectively. The growth and volumetric production of

    the genotypes were statistically different for the 450, 630, 1020 and 1,320 days after

    transplanting. Urograndis, although reaching the higher mortality rate (66.7%), had the higher

    volumetry production (23.4920 m3 ha

    -1) and resistance to the dry seasons. However, E.

    cloeziana had a higher survival rate (80.6%) and lower volumetric production (9.2974 m3 ha

    -

    1). The mean annual increment for biomass were higher in urograndis (5,673.36 kg ha

    -1) than

    in cloeziana (3,166.04 kg ha-1

    ). Thus, eucalyptus urograndis was the genotype that presented

    higher C fixation (5.53 t ha-1

    ) and CO2 sequestration (20.30 t ha-1

    ) in the ICLF system

    evaluated.

    Keywords: Agrosilvopastoral system, forest biomass and carbon fixation.

  • 9

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10

    2. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................................... 11

    2.1 MUDANÇA CLIMÁTICA GLOBAL E O SETOR FLORESTAL .............................................................. 11

    2.2 SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUÇÃO ....................................................................................... 13

    2.3 POTENCIAL DOS SISTEMAS DE ILPF NO BIOMA CERRADO .......................................................... 16

    2.4 COMPONENTE ARBÓREO NO SISTEMA DE ILPF............................................................................ 17

    2.5 EUCALIPTO EM ILPF .................................................................................................................... 19

    2.6 CRESCIMENTO INICIAL DO EUCALIPTO EM ILPF.......................................................................... 21

    2.7 SOBREVIVÊNCIA, DANOS E INJÚRIAS EM EUCALIPTO EM ILPF ................................................... 21

    2.8 FIXAÇÃO DE CARBONO PELO EUCALIPTO EM SISTEMA DE ILPF .................................................. 24

    3. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................................. 26

    3.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO ................................................................................. 26

    3.2 ESCOLHA DOS COMPONENTES E ARRANJO PARA IMPLANTAÇÃO DOS SISTEMAS DE ILPF ........... 28

    3.3 IMPLANTAÇÃO E CONDUÇÃO DO SISTEMA DE ILPF .................................................................... 29

    3.4 COLETA DE DADOS ...................................................................................................................... 31

    3.4.1 Avaliação do crescimento inicial do eucalipto .................................................................... 31

    3.4.2 Cubagem rigorosa ................................................................................................................ 33

    3.4.3 Inventário florestal ............................................................................................................... 33

    3.4.4 Densidade básica ................................................................................................................. 34

    3.4.5 Biomassa, estoque de carbono e sequestro de CO2 ............................................................. 35

    3.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ............................................................................................................. 35

    4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................................... 36

    4.1 CRESCIMENTO INICIAL ................................................................................................................ 36

    4.1.1 Analise de Dados Qualitativos ............................................................................................. 36

    4.1.2 Analise de Dados Quantitativos ........................................................................................... 45

    4.2. CRESCIMENTO E PRODUÇÃO ...................................................................................................... 48

    4.2.1. Determinação do volume e biomassa florestal ................................................................... 48

    4.2.2 Fixação de carbono pelo eucalipto em sistema agrossilvipastoril ...................................... 55

    5. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 58

    6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 58

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 60

    APÊNDICE ........................................................................................................................................... 70

  • 10

    1. INTRODUÇÃO

    Vive-se em uma crise energética mundial, principalmente a partir de meados do

    Século XX. Os meios e as relações de produção são insustentáveis, ou seja, gasta-se mais

    energia na geração do que se verifica no produto. Existe nesse início do Século XXI aumento

    de produção, porém com balanço energético negativo contribuindo, sobremaneira, com o

    aquecimento global. Nesse contexto, são necessárias mudanças tanto teóricas quanto práticas

    que possibilitem maior sustentabilidade ecológica e econômica na agrossilvicultura. Tal

    necessidade é recorrente, porém cada vez mais atual, especialmente em função das mudanças

    climáticas, do aumento da população mundial, da demanda por alimentos e por produtos

    florestais diversificados.

    Dentro dessa avaliação mais ampla verifica-se a necessidade da otimização das áreas,

    dos meios e das relações de produção. Assim, sistemas integrados de produção constituem

    uma possibilidade que busca melhor equilíbrio no balanço energético, com viabilidade

    econômica (BALBINO et al., 2011b). No contexto do norte de Minas Gerais, tais sistemas se

    apresentam estrategicamente, dado as delicadas condições edafoclimáticas, como a

    distribuição pluviométrica, os problemas com erosão do solo e as inúmeras áreas de pastagens

    degradadas.

    A demanda mundial de madeira é crescente para diversos fins, principalmente para

    celulose, carvão, móveis e construção civil (IBA, 2015). Assim, serão necessários aumentos

    significativos na produção de madeira de florestas plantadas, com equilíbrio energético e

    viabilidade econômica. Essa demanda poderá ser atendida em parte, com a introdução de

    árvores em sistemas de produção integrados, como os consorciados com lavoura-pecuária-

    floresta - iLPF (MACEDO; DO VALE; VENTURIN, 2010).

    A variação genética e fenotípica das espécies florestais é elevada e o gênero

    Eucalyptus possui centenas de espécies com diferença intraespecífica decorrente dos centros

    de origem e, também, em virtude do melhoramento genético. Essa variação é pouco explorada

    nos cultivos com fins madeireiros no Brasil e, nesse sentido, são necessárias pesquisas e o

    desenvolvimento de tecnologias para obtenção de respostas sobre seus usos, tanto em

    monocultivos quanto em sistemas integrados de produção, com potencial de comercialização

    de créditos de carbono.

    Para essas avaliações alguns parâmetros como a dinâmica de crescimento, a fixação de

    carbono (C) e o sequestro de dióxido de carbono (CO2) pelo componente arbóreo em sistemas

  • 11

    integrados de produção são essenciais. No entanto, as informações sobre o crescimento,

    produção e estoque de C do eucalipto em sistema de iLPF para certas condições

    edafoclimáticas ainda são escassas, principalmente, em áreas de transição para o semiárido,

    como no norte de Minas Gerais.

    Dessa maneira, o acompanhamento da dinâmica de crescimento e fixação de C se

    apresenta como metodologia pertinente, em função de sua praticidade, confiabilidade e custo

    relativamente reduzido para empreendimentos florestais.

    Diante do exposto, o objetivo geral dessa pesquisa foi analisar quantitativamente e

    qualitativamente o crescimento, a produção e o estoque de carbono de dois genótipos de

    eucalipto em sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, implantado em Francisco Sá, no

    norte de Minas Gerais.

    Já os objetivos específicos foram verificar o crescimento e a produtividade da espécie

    E. cloeziana e do híbrido E. urophylla x E. grandis; analisar as taxas de sobrevivência;

    quantificar danos e debilidades; correlacionar as variáveis quantitativas e qualitativas com

    informações edafoclimáticas; analisar a densidade básica da madeira, o volume, a biomassa, o

    carbono estocado na madeira e o sequestro de CO2, além de comparar as curvas do

    incremento corrente e médio anual.

    2. REVISÃO DE LITERATURA

    2.1 Mudança climática global e o setor florestal

    Em meados do Século XX e, principalmente, no decorrer do XXI têm-se evidências de

    que o clima do planeta Terra está ficando não apenas mais quente, como cada vez mais

    instável. Atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e a destruição e

    incêndios de ecossistemas estão resultando no aumento de gases do efeito estufa (GEE) na

    atmosfera, levando ao aquecimento global do planeta (IPCC, 2014).

    A primeira tentativa de lidar com as questões climáticas internacionalmente ocorreu

    em 1988, quando foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Painel

    Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPPC). Já em 1990 o IPPC lançou o primeiro

    relatório, concluindo que as mudanças climáticas são prementes e afirmando a necessidade de

    criação de uma Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (CNUMC) para

    subsidiar a cooperação internacional frente ao aquecimento global, surgindo assim as

    chamadas Conferências das Partes (COP's) (SANTILLI, et al., 2002).

  • 12

    Segundo os pesquisadores do IPCC, os efeitos esperados são: a desregulação

    climática, o descongelamento das geleiras, a perda e a migração da biodiversidade, o

    encurtamento dos ciclos das culturas, a antecipação dos períodos de semeadura e colheita, a

    maior incidência de doenças tropicais, casos elevados de pragas e plantas daninhas e o

    aumento do risco de salinização dos solos (TSUKAMOTO FILHO, 2004).

    Entre as conferências já realizadas, destaca-se a COP 3, ocorrida no Japão em 1997,

    com a elaboração conjunta do Protocolo de Kyoto. Dos mecanismos para se obter créditos a

    partir da redução dos GEE, para os Países em desenvolvimento, como o Brasil, destaca-se o

    Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) como forma de promover tecnologias limpas

    e o desenvolvimento sustentável através de créditos que reduzam ou evitem emissões em tais

    países (CEBDS, 2002; YU, 2002).

    No contexto do MDL, tem se levado cada vez mais em consideração o potencial e a

    importância das Florestas como medida compensatória no controle da emissão e redução dos

    GEE (HOUGHTON, 1994).

    No Brasil, a agropecuária contribui com cerca de 22% das emissões antrópicas de

    GEE, entretanto, se forem somadas as emissões provenientes do setor “mudança no uso da

    terra e florestas”, esse percentual sobe para cerca de 80% (Brasil, 2009) e o país passa a ser o

    quinto maior emissor de GEEs do mundo, sendo um desafio para o desenvolvimento de

    mecanismos de mitigação.

    O setor florestal no Brasil é o que mais gera negócios dentro do MDL, principalmente

    com projetos e atividades de reflorestamento e florestamento que devem atender alguns

    princípios básicos para serem aceitas no âmbito do Protocolo de Kyoto. A categoria que trata

    das potenciais fontes, reservatórios e sumidouros nas atividades florestais e agropecuárias é

    chamada de: uso da terra, mudança no uso da terra e florestas (UTMUTF) (JACOVINE et al.,

    2008).

    O aumento dos teores dos GEE no Brasil e, consequentemente, sua contribuição para o

    aquecimento global é provocado, principalmente, pelo UTMUTF, com 75% das emissões. A

    conversão de ecossistemas florestais em agrícolas são os principais responsáveis por essa

    emissão, especialmente, as queimadas. Dessa maneira, torna-se fundamental a elaboração e

    implementação de projetos e atividades nos setores florestais e agropecuários que contribuam

    com o efetivo balanço positivo nos estoque de carbono, assim como, modelos agrícolas e

    florestais de produção sustentáveis e de baixos teores de carbono (ALVES, LAURA,

    ALMEIDA; 2015).

  • 13

    2.2 Sistemas integrados de produção

    Os sistemas integrados de produção podem ser subdivididos em quatro modalidades

    que são: iLP (integração lavoura-pecuária) ou agropastoril – componentes agrícola e pecuário

    em rotação, consórcio ou sucessão em uma mesma área em ano agrícola ou anos múltiplos;

    iPF (integração pecuária-floresta) ou silvipastoril – componentes pecuário e florestal

    consorciados; iLF (integração lavoura-floresta) ou silviagrícola – componentes florestal e

    agrícola por consórcio entre espécies arbóreas e cultivos agrícolas; e iLPF (integração

    lavoura-pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril – componentes agrícola, pecuário e florestal

    em rotação, consórcio ou sucessão em uma mesma área (BALBINO et al., 2011a).

    O iLPF pode ser entendido como um modelo de produção sustentável que integra

    atividades agrícolas, pecuárias e florestais realizadas na mesma área, buscando os efeitos

    sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, considerando a adaptação ambiental, a

    valorização do ser humano e a viabilidade econômica (CORDEIRO et al., 2015).

    O consórcio de tais culturas representa uma biodiversidade, principalmente, na

    interação de espécies animais e vegetais que interagem dentro dos sistemas, aprimorando os

    ciclos ecológicos (SCHROTH; FONSECA; HARVEY, 2004), bem como de insumos e seus

    respectivos resíduos (BEHLING et al., 2013).

    Tal sistema pode trazer grandes benefícios em termos da recuperação de pastagens

    degradadas, manutenção e reconstituição da cobertura florestal, promoção e geração de

    emprego e renda, adoção de boas práticas agropecuárias, melhoria das condições sociais,

    adequação da propriedade rural à legislação ambiental e a valoração de serviços ambientais

    (ABRAF 2012), tanto dentro como fora da propriedade, com o sequestro de carbono e da

    mitigação das emissões de gases do efeito estufa (GEE) (NAIR et al., 2010).

    Porém Scolforo (1998) ressalta algumas desvantagens do iLPF, como a grande

    intensidade de intervenções na área acarretando uma maior compactação do solo e o difícil

    controle e condução das inúmeras ações de maneira compatibilizada.

    Castro et al. (1999) afirmaram que o sucesso dos silvipastoris depende de forrageiras

    tolerantes ao sombreamento, de práticas de manejo que possibilitem a produtividade, de

    persistência no sub-bosque, de conhecimento técnico, mão de obra especializada e de

    disponibilidade de terra. Schroeder (1994) salienta que se trata de uma tecnologia bastante

    versátil que se adapta às diferentes condições edafoclimáticas.

  • 14

    Na busca pela sustentabilidade, o modelo de iLPF deve ser implantado visando ser

    tecnicamente eficiente, economicamente viável, socialmente aceitável e ambientalmente

    correto (BALBINO et al., 2013).

    Os serviços prestados pelos sistemas integrados podem ser classificados em duas

    categorias, sendo que na primeira estão os serviços que beneficiam diretamente o produtor,

    tais como produção de alimento, de matéria-prima e geração de renda; na segunda,

    encontram-se os serviços que podem não ser de interesse direto do produtor, mas são as

    funções essenciais para manutenção dos ecossistemas, como a fixação de C e o sequestro de

    CO2 (IZAC; SANCHES, 2001).

    Dessa maneira e reafirmando os benefícios diretos ao produtor, Santos (2004) ressalta

    que os modelos agrossilvipastoris permitem realizar o manejo sustentável da propriedade

    rural, além de fornecerem renda adicional no início do crescimento florestal, com o aumento

    da oferta de alimentos como a cultura do sorgo, milho, feijão, mandioca etc., e aumentar o

    estoque de forragens para os animais ao longo do ano por meio da conservação de forragens

    tolerantes à seca, que servirão como banco de proteínas para os animais.

    Duboc et al. (2007) apresentaram que a iLPF pode minimizar os impactos das

    produções agropecuárias em ecossistemas antropizados, como o Cerrado no Brasil, com

    eficaz recuperação de solos degradados e diminuição da exploração agrícola de novas áreas

    nativas. Nessa mesma linha de raciocínio Assis et al. (2015), apresenta que o sistema de

    plantio em iLPF é um modelo bastante inovador, com possibilidade de auxiliar na redução

    do desmatamento de novas áreas para práticas agropecuárias a partir da recuperação de

    áreas degradadas.

    Baggio (1998) apresenta ainda uma utilização em relação à pecuária, especificamente,

    quando afirma que a utilização de espécies florestais e herbáceas adequadas contribui com o

    aumento da produção e da qualidade das forrageiras melhorando o desempenho dos animais

    em ganho de peso, lactação, sanidade e reprodução. Isso se deve à melhoria do microclima

    oferecido aos animais domésticos e silvestres, e para as plantas, além da maior ciclagem de

    nutrientes pelas árvores, incrementando a produtividade da pecuária extensiva de maneira

    ambiental e econômica.

    Entretanto, Dantas (1994) considera que os componentes (arbóreo, agrícola, forrageiro

    e animal) devem ser considerados integrantes do ecossistema desde o planejamento do

    empreendimento, requerendo mudanças de postura e novas ações, alterando costumes e

    tradições.

  • 15

    Sobre os benefícios indiretos ao produtor, Nair et al. (2010) afirmam que os sistemas

    integrados de produção também ganharam importância como estratégias de mitigação e

    adaptação às mudanças climáticas, em função do enorme potencial que apresentam para o

    armazenamento de carbono. Izac e Sanchez (2001), Barcelos et al. (2008) e Oliveira et al.,

    (2013) também apontam esses benefícios indiretos por meio da mitigação de gases de efeito

    estufa (GEE), onde os sistemas apresentam capacidade de fixação/sequestro de carbono no

    solo e nas árvores e de redução das emissões de gás metano pelos animais.

    Não obstante, o sistema de iLPF é um dos modelos tecnológicos apontados pelo

    Brasil na Conferência das Partes (COP-15) como forma de diminuir as emissões de GEE

    projetadas para 2020. No Bioma Cerrado, este modelo possui grande potencial para ser

    adotado, porém ainda é pouco difundido (BALBINO; CORDEIRO; MARTINEZ, 2011).

    Porém, Schroeder (1994) ressalta que o objetivo desses sistemas é a produção

    sustentável de alimento e que o armazenamento de carbono é apenas uma consequência

    positiva do aumento da fotossíntese pelas árvores introduzidas e pela redução da pressão por

    novos desmatamentos. Assim, a adoção pode tornar áreas degradadas produtivas, melhorar

    sua função social e ecológica, e ainda apresentam-se como uma forma alternativa de manejo

    do solo (BALBINO et al.; 2011a).

    Estes sistemas têm se mostrado promissores para o aumento da produtividade em

    diversas regiões do planeta, ao promoverem a incorporação de nutrientes, evitarem perdas e

    melhorarem as condições químico-físicas do solo (ISSAC et al., 2005). Esta maneira de

    incrementar a fertilidade do solo é altamente desejável, pois as reservas de minerais utilizados

    na fertilização são limitadas. De acordo com Fearnside (1998), se o consumo de fósforo (P)

    persistir nos mesmos níveis após a segunda guerra mundial estimam-se que as reservas deste

    elemento se esgotarão até meados do século XXI.

    Já em relação às propriedades físicas do solo, Carvalho et al. (2004), destacaram que o

    solo em sistemas integrados apresentou menor densidade aparente, maior porosidade, menor

    resistência à penetração e maior estabilidade de agregados, sendo de qualidade superior ao

    comparar com mesmo solo em plantio convencional. De acordo com Oliveira et al. (2013), o

    modelo de iLPF promove melhorias em todas as características químicas e físicas do solo,

    podendo ser maximizado pela adição de gramíneas (gênero Brachiaria) no sistema.

    Diante do exposto, pode-se destacar que dentre as principais vantagens do iLPF está o

    aumento na geração de renda com redução de gastos, o restabelecimento dos serviços

    ambientais, a proposição de modelos de produção associados às práticas conservacionistas e

  • 16

    o incremento da produção agropecuária (ALVARENGA et al., 2010; MORAES; AMÂNCIO;

    RESENDE, 2011), além da mitigação dos GEE (BALBINO et al., 2013).

    2.3 Potencial dos sistemas de iLPF no bioma Cerrado

    O Cerrado, característico no contexto norte mineiro é o segundo maior bioma

    brasileiro, sendo considerado uma das últimas fronteiras agrícolas do planeta (BORLAUG,

    2002). Com uma área de mais de 200 milhões de hectares ocupa aproximadamente 22% do

    território nacional, localizando-se na área central do Brasil, no qual cerca de 57% do território

    de Minas Gerais se insere nesse bioma (IBGE, 2004; KLINK; MACHADO, 2005). Andrade

    (2002) ressalta que a vegetação típica deste bioma é classificada mundialmente como savana,

    destacando-se pela grande heterogeneidade vegetal.

    O desmatamento indiscriminado, como demonstrado por Mantovani e Pereira (1998),

    tem causado sérios problemas como a perda de solos por erosão, poluição hídrica e

    atmosférica e perda de biodiversidade. Em 1999, as estimativas indicaram que a área

    queimada neste bioma foi de 19,76 milhões de hectares, quase 10% da área total. Machado et

    al. (2009) por sua vez, descreveram em estudo utilizando imagens do satélite MODIS do ano

    de 2002, que cerca de 55% do Cerrado já havia sido desmatado ou sofrido alguma

    transformação antrópica.

    Em 2001 haviam, aproximadamente, 49,6 milhões de hectares de pastagens cultivadas

    em áreas de Cerrado, formadas principalmente por gramíneas do gênero Brachiaria

    (MARTHA JÚNIOR; VILELA, 2002). Entretanto, cerca de 80% destas pastagens encontra-se

    em algum estágio de degradação, como apresenta Peron e Evangelista (2004), refletindo em

    baixa produtividade.

    Apesar da baixa produtividade, as áreas de pastagens do Cerrado comportavam em

    2001 em torno de 41% do rebanho bovino nacional, responsável pela produção de mais da

    metade da carne bovina do país correspondente a aproximadamente 10,5% da receita bruta

    agropecuária nacional (MARTHA JÚNIOR; VILELA, 2002).

    Nesse bioma, afirmam Delitti, Pausas e Burger (2003) que a biomassa presente nos

    solos pode igualar ou até superar a biomassa aérea, o que é uma estratégia adaptativa diante

    das secas e incêndios, comuns no inverno. Diante do grande potencial de armazenar carbono

    no solo e da extensão da área este bioma, lembram os autores, ganha importância dentro do

    contexto das mudanças climáticas, pois é o ecossistema brasileiro mais afetado pela expansão

  • 17

    da agropecuária, perdendo anualmente, aproximadamente, 3,4 milhões de hectares.

    O aumento da produtividade, tanto na agricultura quanto na pecuária, pode reduzir a

    emissão de GEE originados do desmatamento e da degradação das pastagens (STEINFELD et

    al., 2006). Os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta apresentam grande relevância

    para o Cerrado, área em que há necessidade de conciliação entre produção e preservação dos

    recursos naturais, por causa da capacidade apresentada pelas árvores em crescimento para

    sequestro de carbono e consequente mitigação da emissão dos GEE, oferecendo alternativas

    às questões ecológicas, econômicas e sociais (BALBINO et al., 2002; BALBINO et al.,

    2011b).

    O norte de Minas Gerais se destaca por sua forte vocação para a pecuária

    predominantemente a pasto, porém apresenta terras exploradas abaixo do seu potencial

    produtivo. A taxa de lotação média estimada por hectare na região é de 0,8 unidade

    animal/hectare/ano (UA/ha/ano) (MACHADO et al., 2009). A região tem rebanho bovino já

    estabelecido, mercado consumidor consolidado, indústria frigorífica moderna, disponibilidade

    de mão de obra, boa infraestrutura de transportes, energia e comunicação. Constituída por

    área de 128.454 km² e 89 municípios, abrigava o segundo maior rebanho bovino do Estado,

    estimado em 2.950 mil de cabeças (SEAPA, 2009).

    Contudo, Balbino et al. (2011b) salientam que novas pesquisas são necessárias para

    permitir a avaliação dos impactos ambientais gerados pela atividade agropecuária e de

    possíveis alternativas para reduzi-los, visando tornar a produção animal sustentável e

    reafirmam a necessidade de estudos para avaliações socioeconômicas e ambientais em iLPF.

    Mantendo essa mesma perspectiva de necessidades de estudos em iLPF, Balbino et al.

    (2011a) apresentam que os componentes arbóreos atribui sustentabilidade, pois estes têm a

    capacidade de capturar nutrientes de camadas mais profundas do solo, reciclando com uma

    maior eficiência e uma cobertura maior da terra. Destacam que as árvores em iLPF tem um

    papel fundamental no sequestro de carbono e, dessa forma, em mitigar a emissão de GEE,

    sendo considerados importantes para a região do Cerrado.

    2.4 Componente arbóreo no sistema de iLPF

    A espécie arbórea ideal para a iLPF, segundo Dias-Filho (2006), deve apresentar

    crescimento inicial rápido, para facilitar o estabelecimento; copa reduzida ou pouco densa, e

    fuste longo, o que diminui o sombreamento na cultura consorciada; viabilidade econômica,

  • 18

    oferecendo produtos com alto potencial de comercialização e baixo ou nenhum potencial

    invasivo, para evitar a propagação excessiva.

    Nesse sentido, a árvore utilizada em sistemas integrados deve possuir adaptação ao

    solo e ao clima da região (SILVA et al., 2010); não deve causar alelopatia ou depositar

    excessiva quantidade de serrapilheira (BUNGENSTAB; LAURA; MELOTTO, 2011) e; não

    deve apresentar toxidade aos animais (PORFÍRIO-DA-SILVA; MORAES, 2010).

    Já as principais contribuições das árvores em iLPF se fazem pelo aporte de matéria

    orgânica, em razão da queda de folhas e galhos (COSTA, 2004); ciclagem de nutrientes

    (VITAL et al., 2004); fixação de nitrogênio (COELHO et al., 2007); proteção do solo do

    impacto das chuvas e das mudanças bruscas de temperatura (YOUNG, 1989); controle de

    plantas daninhas e enriquecimento da interface entre solo e serrapilheira (BERNARDINO;

    GARCIA, 2009); conservação de umidade do solo, formação de microclima mais favorável

    pela redução da intensidade de luz, aumento da atividade microbiana, estruturação do solo,

    ação das raízes e melhores índices de infiltração de água e trocas gasosas, indispensáveis aos

    processos químicos e microbiológicos de decomposição e respiração (PALM; SANCHEZ;

    SZOTT, 1991; NDAYIZIGIYE; ROOSE, 1997).

    Porém, segundo Bernardino e Garcia (2009), tal sistema, por exigir metodologia mais

    complexa, também demanda planejamentos específicos e bastante rigorosos. As principais

    espécies arbóreas que compõe o modelo de iLPF são: o eucalipto com 80% das áreas; a teca,

    o cedro australiano e o mogno com 15% e; outras espécies com 5% (BALBINO et al., 2013).

    Além dos efeitos acima apresentados, o solo sob influência de árvores, devido aos

    maiores conteúdos de matéria orgânica, possui maior capacidade de armazenar água

    (DOUGLAS et al., 2006). Segundo os autores, mesmo na época de chuvas, há maiores teores

    de água nas camadas superficiais de solo na área sob influência de árvores em relação àquelas

    fora dessa interferência.

    Com a utilização de espécies florestais e herbáceas adequadas, conforme Baggio

    (1998), a arborização das pastagens pode aumentar a produção e a qualidade das forrageiras e

    melhorar o desempenho dos animais em ganho de peso, lactação, sanidade e reprodução. Isso

    se deve, segundo o autor, entre outros, pela melhoria do microclima oferecido aos animais

    domésticos e nativos e para as plantas, além da maior ciclagem de nutrientes pelas árvores,

    incrementando a produtividade da pecuária extensiva de forma ambiental e econômica.

  • 19

    No entanto, ressalta Abel et al. (1997), o componente florestal é um investimento de

    médio a longo prazo, e pode ser utilizado no manejo do risco econômico, no planejamento da

    aposentadoria e como forma de transferir riqueza entre as gerações.

    A proposta de criação da Política Nacional de Florestas Plantadas pelo Governo

    Federal, também se apresenta como outro incentivo para o plantio de árvores, e que tem por

    objetivo permitir aos produtores de florestas plantadas e trabalhadores rurais alcançarem

    posição de liderança no mercado interno e externo de madeira e derivados (ABRAF, 2012).

    Estima-se que até 2030 a demanda por madeira em toras para a indústria no mundo

    crescerá até 45%, passando dos 1,68 bilhão de metros cúbicos consumidos em 2005 para o

    consumo de 2,44 bilhões de metros cúbicos (FAO, 2009).

    No entanto, Anjos et al. (2015) destacam que poucos produtores têm investido nesse

    modelo silvipastoril em função, principalmente, do alto grau de investimento inicial, da

    própria complexidade dos tratos culturais e do baixo fluxo de informação e de divulgação das

    vantagens e desafios desse sistema. Nesse sentido, os autores ressaltam a importância de

    acompanhamentos para gerarem informações técnicas de produção da atividade florestal,

    através de diversas avaliações, prioritariamente, em relação ao produto de destaque

    econômico, a saber: a madeira.

    Nesse sentido, vale ressaltar que existem poucos trabalhos sobre o crescimento e a

    adaptação de espécies arbóreas inseridas no sistema de integração lavoura-pecuária-floresta

    (PULROLNIK et al., 2010). Esse dado reafirma a importância de estudos dos componentes

    agrossilviculturais, suas características, possibilidades e desafios.

    2.5 Eucalipto em iLPF

    Macedo (2008) trata a escolha da espécie arbórea que irá compor a iLPF como

    requisito fundamental, já que ela é baseada na sinergia que há entre as culturas

    implantadas. A escolha de um modelo ou das espécies que mais se adaptem a região, ou

    com o próprio sistema, pode minimizar os custos de implantação e condução, aumentar a

    produção e a lucratividade (SANTOS & SANTOS, 2012).

    Originário da Austrália e da Indonésia, o Eucalyptus tem sido amplamente utilizado

    em sistemas integrados de produção por apresentar adaptação às diferentes condições

    edafoclimáticas, rápido crescimento, potencial para produção de madeira para usos múltiplos,

  • 20

    disponibilidade de mudas, copas estreitas, conhecimento silvicultural e existência de material

    genético melhorado (OLIVEIRA NETO; PAIVA, 2010).

    O uso de eucalipto nos Sistemas Integrados, segundo Galzerano e Morgado (2008),

    promove melhor aproveitamento da área, maior geração da renda com a madeira, melhorias

    nas condições de crescimento das pastagens com aumento na fertilidade dos solos e,

    consequentemente, aumento da produtividade, maior retenção da umidade e ainda, permite

    sombra e conforto térmico aos animais em pastejo proporcionando maior ganho de peso.

    Entretanto, os autores ressaltam a necessidade de cuidados em relação ao espaçamento

    adequado do eucalipto para não ocorrer sombreamento excessivo das forrageiras depreciando

    a produção e a qualidade.

    De acordo com Monte et al. (2009) no iLPF realiza-se a técnica de desrama manual

    e/ou artificial para eliminar os nós e, com isso, agregar valor ao produto florestal

    (diversificação e agregação de renda na propriedade) além de proporcionar aumento de luz

    para o pasto. Polli et al. (2006) enfatizam que defeitos na madeira influenciam na aparência

    das peças e em suas propriedades mecânicas e, embora a desrama seja considerada uma

    técnica de elevado custo, faz-se necessário adotá-la, pois suscita melhoria na qualidade do

    lenho de eucalipto produzindo madeira livre de nós e com valor agregado.

    Dentre os genótipos indicados para as condições edafoclimáticas no norte de Minas

    Gerais estão o eucalipto urograndis, híbrido do E. urophylla x E. grandis, e o E. cloeziana

    (Carvalho 2003, 2006). Ambos apresentam potencial de produção de madeira de qualidade

    para diversos fins (QUAD. 1).

    Quadro 1 - Características constituintes dos componentes arbóreos eucalipto urograndis, e do E.

    cloeziana.

    Nome

    popular

    Nome

    científico Família

    Grupo

    Sucessional Procedência

    Densidade

    (g/cm3) Principais usos

    Eucalipto

    cloeziana E. cloeziana Myrtaceae

    Pioneira

    exótica Austrália 0,67

    Serraria, construção

    civil, energia,

    postes e mourões.

    Eucalipto

    urograndis

    E. urophilla

    x

    E. grandis

    Myrtaceae Pioneira

    exótica Austrália 0,52

    Serraria, construção

    civil e energia.

    Fonte: Carvalho (2003; 2006).

  • 21

    2.6 Crescimento inicial do eucalipto em iLPF

    De acordo com Gomes (2001), em razão da facilidade de medição tanto da altura

    quanto do diâmetro e por ser um método não destrutivo, a relação entre esses parâmetros pode

    ser considerada e aplicada a muitas das espécies florestais, constituindo-se num dos mais

    importantes parâmetros morfológicos para estimar o crescimento das mudas após o plantio

    definitivo no campo.

    Segundo Botelho (1998), o ritmo de crescimento de uma espécie, normalmente

    associado ao seu grupo ecológico, influenciará no tempo necessário para o início da

    competição, podendo levá-la a mortalidade dependendo de suas características adaptativas. A

    autora argumenta que espécies mais tolerantes apresentam menores taxas de mortalidade e

    características dominantes, visto que apresentam maior capacidade para suportar a menor

    intensidade de luz e a alta competição radicular por água e nutrientes.

    Esses autores afirmam ainda que se um inventário contínuo é implementado já nos

    anos iniciais de vida do povoamento é possível gerar modelos de produção que possibilitam

    gerar prognose, obtendo dessa maneira, os incrementos correntes (ICA) e médios anuais

    (IMA) gerando, dessa maneira, curvas de produção.

    Assim, é possível constatar que povoamentos em regiões pouco produtivas, como no

    norte de Minas Gerais, apresentam estagnação da produção mais cedo, já aos quatro anos e,

    perda de árvore por morte em função da competição (BOTELHO, 1998).

    2.7 Sobrevivência, danos e injurias em eucalipto em iLPF

    Conhecer a probabilidade de sobrevivência de cada árvore ou espécie, a partir de

    análises de mortalidade, é essencial para representar a progressão da floresta, e do ponto de

    vista experimental, fundamental na análise do desempenho de diferentes materiais

    genéticos (BUCHMAN et al., 1983).

    Poucos são os dados relativos ao processo de mortalidade em povoamentos florestais,

    uma das maneiras de se obter tal informação é a partir do acompanhamento de parcelas

    permanentes e em pesquisas de longos períodos (CAREY et al.,1994).

    A mortalidade é então tratada, em inúmeros casos, de forma supositiva ou subjetiva,

    na ausência de dados confiáveis e contínuos para análises adequadas (HAMILTON JR.,

    1986). Por tais fatores, segundo o autor, a mortalidade permanece então como um dos

  • 22

    componentes das estimativas de crescimento e produção florestal menos compreendido nas

    análises.

    De acordo com Carvalho (1997), a ocorrência dos complexos processos fisiológicos

    abarcados na mortalidade de árvores é conferida, principalmente, pelos seguintes fatores:

    parasitas e herbívoros; ataque de patógenos; condições edafoclimáticas adversas; solos muito

    ácidos ou pedregosos e idade.

    Em relação ao crescimento inicial, associam-se aos fatores anteriormente apresentados

    o fator competição, que nesta fase do crescimento deve ser incluído como potencial a causar

    mortes. A necessidade por luz, nutrientes e espaço físico é contínua e qualquer redução

    abaixo das necessidades mínimas irá eventualmente levar a morte da árvore (VANCLAY,

    1983, 1994a).

    O fator abiótico de destaque é o déficit hídrico, podendo levar a seca das folhas nas

    extremidades para o centro e da ponta para o pecíolo, até a secagem completa das folhas

    causando amarelecimento das plantas, alterações no lenho e, ainda, escaldadura no caule

    (ALFENAS et al., 2009).

    Ainda segundo esses autores, até os três anos de idade, as plantas podem apresentar

    sintomas de déficit hídrico através de lesões foliares em forma de "V" invertido,

    encarquilhamento foliar e seca de ponteiros em parte dos galhos e da haste principal no terço

    superior, ou em toda sua extensão. Ressaltam também que plantas com déficit hídrico

    moderado, porém contínuo, podem apresentar crescimento reduzido, com arroxeamento e

    queima foliar em face da deficiência de nutrientes, principalmente, macronutrientes.

    Outro fator característico na região do Cerrado que pode causar danos e injúrias em

    eucaliptos são os cupins, podendo levar até a 80% de mortalidade das mudas plantadas em

    campo (WARDELL, 1987; NAIR e VARMA,1985). E apesar de na maioria dos casos o

    cupim atacar plantas com até dois anos de idade, pode também causar danos a plantas mais

    velhas (WILCKEN e RAETANO, 1995). Eles destroem o sistema radicular e, ou, anelam o

    caule na região do coleto, gerando uma injúria característica que pode levar a morte das

    plantas (BERTI FILHO, 1993).

    Outro fator biótico de destaque são as formigas cortadeiras, dos gêneros Atta e

    Acromyrmex, principalmente na implantação e reformas das áreas de cultivo de eucalipto,

    sendo considerada a principal praga do reflorestamento no Brasil (OLIVEIRA et al., 1993).

    Também é comum na região norte de Minas Gerais a presença e ataque da abelha-

    arapuã, também conhecida por irapuã, irapuá ou arapuá (Trigona spinipes) pertencente à

  • 23

    ordem Hymenoptera, família Apidae (FALESI, 2011). Sua distribuição no Brasil ocorre desde

    o Ceará até o Rio Grande do Sul, sendo um inseto conhecido em culturas arbóreas como o

    mogno africano (Khaya sp.), pinus (Pinus sp.) e a bracatinga (Mimosa scrabrella) porém,

    para o gênero Eucalyptus ainda não há registros do seu ataque no Brasil (Camargo & Pedro,

    2003).

    A abelha retira das árvores filamentos fibrosos e exsudados resinosos, os quais

    constituem matérias-primas para a construção do seu ninho e sua alimentação. Esse ataque

    causado em plantas com 2 e 3 anos de idade pode levar a atrofia e brotação, podendo provocar

    de duas a três ramificações depreciando o tronco, principalmente se ocorrer abaixo dos 4 m de

    altura (PINHEIRO et al., 2011). A forma de controle, segundo tais autores, se daria aos partir

    da eliminação das colméias localizadas próximo ao plantio silvicultural. Segundo Piza Júnior

    (1993), esta abelha ataca preferencialmente espécies com alta concentração de substâncias

    resinosas, e seu ataque se concentra na gema apical, caule e ramos, sendo a resina extraída e

    utilizada para confecção dos ninhos.

    O matocompetição causado pela presença de plantas invasoras em povoamentos

    florestais é um grande problema na implantação e manutenção de florestas de eucalipto,

    podendo levar prejuízos ao crescimento e produtividade, devido à competição por luz,

    nutrientes, água e espaço (PITELLI, 1987; PITELLI e MARCHI, 1991). Na silvicultura

    com eucalipto, o grau de interferência pode ser ligado à fatores tais como: espécie, densidade

    de plantio e espaçamento; à comunidade infestante (composição específica, densidade e

    distribuição); à época e extensão do período de convivência; condições edafoclimáticas e

    tratos culturais (PITELLI e KARAN, 1988).

    As lianas, também chamadas de trepadeiras ou plantas parasitas, também causam

    danos ao crescimento inicial arbóreo, pois afetam a arquitetura da planta hospedeira, além de

    impedir a atividade cambial das árvores ao se lignificarem no caule, causar o estrangulamento

    e diminuição do valor comercial da madeira (WALTER, 1971).

    Além dos fatores destacados anteriormente, em sistemas integrados de produção, o

    crescimento do eucalipto pode ser influenciado pelos componentes agrícolas e forrageiros.

    Estudando o efeito da densidade de Panicum maximum e Brachiaria decumbens sobre o

    crescimento inicial de Eucalyptus grandis, Dinardo et al., (2003) e Toledo et al., (2001)

    verificaram que estas espécies, interferem negativamente no crescimento do eucalipto a partir

    da densidade de 4 plantas/m².

  • 24

    2.8 Fixação de carbono pelo eucalipto em sistema de iLPF

    Existem duas premissas em que se baseiam o sequestro de carbono através das

    atividades florestais. A primeira: o gás carbônico é um gás atmosférico que circula no mundo

    inteiro, assim as tentativas para diminuição dos GEE pelos ecossistemas florestais terão igual

    feito, sejam aplicados próximos a fonte emissora ou do outro lado do planeta. A segunda:

    através da fotossíntese a vegetação retira o gás carbônico da atmosfera, utilizado nos

    processos de metabolismo e crescimento vegetal. Dessa maneira, as plantas lenhosas fixam

    carbono na madeira e outros tecidos até sua morte e decomposição, quando o C poderá ser

    liberado na forma de gases ou ser incorporado como material orgânico no solo (COSTA et al.,

    1997).

    A partir dessas premissas abre-se a possibilidade do setor florestal se destacar no

    mercado de créditos de carbono, com agregação de valor em seus recursos e produtos

    (JACOVINE, et al., 2008). Dessa maneira, o Brasil poderá se beneficiar em relação aos

    projetos de sequestro de carbono, pois já possui tecnologias e potencialidades que o difere dos

    demais (ROCHA, 2002).

    Em culturas tradicionalmente implantadas no Brasil como o eucalipto, a fixação de

    carbono durante os ciclos de crescimento e produção florestal são representados pelo aumento

    da biomassa (LUGO; BROW, 1984). As florestas acumulam carbono através da remoção de

    CO2 da atmosfera dinamicamente e, diferentemente de plantas de ciclos curtos que morrem e

    decompõem-se rapidamente, as árvores possuem ciclo de vida longo, acumulando carbono em

    sua biomassa (SEDJO et al., 1998)

    Segundo Odum (1986), a biomassa pode ser definida com a massa orgânica produzida

    por unidade de área. Sua medição é importante na avaliação de ecossistemas, em função de

    análises como de absorção e armazenamento de energia solar, produtividade, ciclagem de

    nutrientes, conversão de energia, dentre outros (CAMPOS, 1991; CARBONERA PEREIRA,

    et al., 1997).

    Florestas plantadas apresentam crescimento rápido, com enorme potencialidade de

    remover CO2 da atmosfera, em função disso tem aumentado o interesse para a fixação de

    carbono nesses sistemas. O gênero Eucalyptus, de maneira geral, possui rápido crescimento e

    elevada taxa fotossintética, sendo bastante eficiente na dinâmica de C (TSUKAMOTO

    FILHO, 2004).

    As dinâmicas nos estoques líquidos de carbono determinam se um ecossistema

    florestal, por exemplo, será um sumidouro ou fonte do carbono atmosférico (SEDJO, 2001).

  • 25

    O mesmo autor salienta, no entanto, que uma floresta jovem, que está crescendo

    aceleradamente, sequestra mais carbono do que uma floresta madura, porém esta atua como

    um reservatório, estocando carbono, mesmo que não esteja passando por um crescimento

    líquido.

    O sistema agrossilvipastoril com eucalipto, no bioma Cerrado, em Minas Gerais, é

    uma alternativa de uso racional da terra, promovendo o incremento no estoque de carbono do

    sistema, em detrimento das pastagens extensivas, sendo mais eficientes que os tradicionais

    monocultivos florestais e agrícolas, pelo fato de ser formado por diferentes componentes e se

    beneficiar das interações entre eles (TSUKAMOTO FILHO et al., 2004).

    Segundo Paixão (2004), em Minas Gerais, em diversos trabalhos desenvolvidos foram

    encontrados teores médios de carbono no tronco de, aproximadamente, 46,8% em árvores de

    Eucaliptus, em monocultivo. O mesmo autor verificou, estudando a quantificação de estoque

    de carbono em um povoamento de eucalipto, com 6 anos de idade, que a maior parte estocada

    de C, em toneladas por hectare, está na parte aérea (67%) e que o fuste é o que mais contribui,

    em média, com o carbono da parte aérea (82%).

    Tsukamato Filho (2004), também apresentou em estudo com Eucalipto, com 11 anos

    de idade, em sistema agrossilvipastoril, que a maior quantidade de C estocado encontra-se na

    parte aérea das árvores (73%) e que o fuste é o que mais contribui com o C da parte aérea

    (81%), excluindo o litter. Para o mesmo estudo, porém com eucalipto com 4 anos de idade,

    foi verificado a fixação de C de 22 t/ha na madeira, o que significou o sequestro de 81 t/ha de

    CO2 (1 t. de C = 3,66 t. CO2).

    A determinação técnica e científica da dinâmica de crescimento, da biomassa florestal,

    além do sequestro e da fixação de carbono são metodologias centrais para estimativas precisas

    que nortearão os projetos e acordos no mercado de créditos de carbono. Porém, como destaca

    Jacovine et al. (2008) evidenciar essa adicionalidade não é tarefa fácil, em função dos

    desafios em relação ao monitoramento do carbono. Soma-se a isso o problema em relação à

    baixa participação de pequenos produtores no mercado de carbono, em razão da burocracia e

    dos altos custos de transação. Porém, salientam os mesmos autores, o mercado ainda é

    incipiente e com o tempo espera-se que tais processos burocráticos e custos sejam

    minimizados efetivando, dessa maneira, o potencial do Brasil nesse mercado em função de

    suas terras, tecnologia e clima favorável ao plantio de eucalipto e, consequentemente, a venda

    de créditos de carbono.

  • 26

    3. MATERIAL E MÉTODOS

    3.1 Caracterização das áreas de estudo

    O experimento foi implantado na Fazenda da Barra (16º38’44,02” S e 43º42’43,77”

    O), localizada no município de Francisco Sá, norte de Minas Gerais, em área de transição

    entre os Biomas Cerrado e Floresta Estacional Semidecidual (FIG. 1). A altitude média da

    área é de 590 metros e de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o

    índice pluviométrico anual assemelha-se ao da cidade de Montes Claros (situada a 15 km da

    área experimental) que varia entre 1.000 e 1.200 mm (GRAF. 1 e 2). O clima, segundo

    classificação de Köppen, é Aw, ou seja, clima tropical com estação seca de inverno, também

    chamado de clima tropical semiúmido ou de savana, com temperatura média anual entre 20 e

    28o C.

    Figura 1 - Localização da Fazenda da Barra, município de Francisco Sá, MG.

  • 27

    Gráfico 1 - Precipitação pluvial mensal entre os meses de dezembro de 2012 a dezembro de 2016,

    no município de Montes Claros, MG.

    Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

    Gráfico 2 - Precipitação média mensal entre 2013 e 2016 no município de Montes Claros, MG.

    Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

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    500

    dez

    -12

    fev-1

    3

    abr-

    13

    jun-1

    3

    ago

    out-

    13

    dez

    -13

    fev-1

    4

    abr-

    14

    jun-1

    4

    ago

    out-

    14

    dez

    -14

    fev-1

    5

    abr-

    15

    jun-1

    5

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    15

    dez

    -15

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    6

    abr-

    16

    jun-1

    6

    ago

    out-

    16

    dez

    -16

    Pre

    cip

    ita

    ção

    (m

    m)

    0

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    100

    150

    200

    250

    Pre

    cip

    ita

    ção

    (m

    m)

  • 28

    De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013), o

    solo da área em estudo é classificado como Cambissolo Háplico eutrófico, predominante

    argiloso, o que confere características de maior retenção de umidade, pouco espaço poroso e

    facilidade de compactação. As características químicas do solo na época do plantio são

    apresentadas na tabela 1.

    Tabela 1 - Características químicas do solo nas camadas de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm de

    profundidade na área experimental de iLPF na Fazenda da Barra - MG.

    Camada pH P K Al Ca Mg H+Al T V M.O.

    (cm) (H2O) mg/dm3 mg/dm

    3 --------------cmol/dm

    3--------------- % dag/kg

    0 - 20 6,1 0,80 200 0 4,3 1,6 2,32 8,22 72 4,98

    20 - 40 6,2 0,31 200 0 3,4 1,4 1,99 6,79 71 3,23

    3.2 Escolha dos componentes e arranjo para implantação dos sistemas de iLPF

    Os genótipos escolhidos para representarem o componente arbóreo foram: eucalipto

    urograndis, híbrido do E. urophylla x E. grandis (clone 3335) e, a espécie E. cloeziana, de

    forma que tal escolha foi realizada em função do rápido crescimento, da adaptação a períodos

    secos e do potencial de produção de madeira de qualidade para diversos fins. As mudas

    seminais do eucalipto urograndis e as mudas clonais do E. cloeziana foram adquiridas por

    viveiros particulares.

    As culturas anuais utilizadas foram o sorgo (Soughum bicolor) e a Brachiaria

    brizantha cv. Marandu, ambas escolhidas em função do potencial produtivo e da capacidade

    de adaptação às condições edafoclimáticas da área de estudo.

    O arranjo dos dois sistemas de iLPF foram definidos por meio de renques duplos de

    eucalipto com espaçamentos de 2 x 3m entre linhas e 14 metros nas aléias, com plantio

    realizado na orientação Leste-Oeste (FIG. 2).

  • 29

    Figura 2 - Arranjo espacial das áreas de aléias e dos renques duplos de eucalipto, em área de

    integração lavoura- pecuária-floresta na Fazenda da Barra - MG.

    3.3 Implantação e condução do Sistema de iLPF

    O manejo da área experimental teve inicio em novembro de 2012 quando foi realizada

    a dessecação da pastagem de braquiária com 17 anos de idade com glifosato. Após a análise

    de solo houve aplicação de 190 g/cova de fosfato natural reativo. A adubação de arranque

    consistiu de aplicação de 120 g/planta de NPK (formulado 6-30-6) com micronutrientes (boro,

    zinco e cobre). As adubações de cobertura no primeiro e segundo ano foram também

    realizadas com NPK + micronutrientes nas mesmas dosagens citadas anteriormente.

    O controle de formigas na área foi realizado antes da implantação do experimento com

    isca granulada e rondas periódicas após o plantio. O controle de cupim foi realizado com

    imersão das mudas de eucaliptos e das sementes de sorgo em solução do princípio Fipronil® e,

    quando necessário, por meio de irrigações direcionadas nas mudas transplantadas de

    eucalipto.

    O plantio das mudas de eucalipto ocorreu em dezembro de 2012 em covas com 60 cm

    de diâmetro e 80 cm de profundidade. No total foram plantadas 833 mudas de E. cloeziana e

    995 mudas de eucalipto urograndis. Neste mesmo mês houve o plantio direto do sorgo para

    ensilagem nas aléias dos eucaliptos, com adubação de NPK e ureia. No segundo ano, em

    14 metros

    3 metros

  • 30

    novembro de 2013, juntamente com o sorgo foi semeada a Braquiaria brizanta cv. Marandu

    e, após a segunda colheita do sorgo o sistema foi conduzido como silvipastoril (QUAD. 2).

    Quadro 2 - Composição dos sistemas de iLPF implantados na Fazenda da Barra - MG.

    Tratamentos Total de mudas Composição dos sistemas

    ano 1 ano 2 anos 3 e 4

    E. cloeziana 833 Ls + E.c Ls + P + E.c P + E.c

    Eucalipto urograndis 995 Ls + E.u Ls + P + E.u P + E.u

    Ls = lavoura de sorgo; E.c = Eucalyptus cloeziana; E.u = eucalipto urograndis e P = pastagem.

    Em função das baixas precipitações no norte de Minas Gerais foram realizadas três

    irrigações nos tratamentos em fevereiro e início de março de 2013 aplicando,

    aproximadamente, 4 L de água/planta. O controle de plantas daninhas foi realizado com

    roçadeira frontal entre as plantas e, nas entrelinhas em abril de 2013, novembro de 2013,

    agosto de 2014, setembro de 2015 e outubro de 2016.

    Após a primeira colheita mecanizada do sorgo, em maio de 2013, ocorreu um ataque

    severo de cupins nos renques do eucalipto urograndis, resultando no roletamento do caule a

    altura do coleto, na diminuição da área radicular e na mortalidade de plantas. O combate ao

    cupim foi efetivado nos tratamentos utilizando o princípio ativo Fipronil®

    diluído em água de

    acordo com a recomendação do fabricante, nas covas próximas às raízes das plantas no

    campo.

    Ataques de abelha arapuã (Trigona spinipes) foram severos no E. cloeziana, causando

    danos como escarificação do caule e quebra na gema apical, culminando em bifurcações,

    ramificações e, em casos graves, na morte da planta. O controle mais efetivo foi realizado em

    outubro de 2014 com a queima dos ninhos encontrados.

    A atividade de desrama nos dois tratamentos da área experimental foi realizada no mês

    de novembro de 2014, quando as plantas de eucalipto estavam com 23 meses de idade. Após

    verificação de intenso crescimento de galhos e ramificações foi realizado o trabalho de

    desrama com diâmetro mínimo de entrada, sendo de 5 cm de diâmetro na altura do peito

    (DAP) para o eucalipto urograndis e 3 cm (DAP) para o E. cloeziana. A altura máxima de

    poda foi de até 1/3 da altura total da planta, sendo as ferramentas usadas podões e serrotes.

  • 31

    3.4 Coleta de dados

    Conforme descrito anteriormente, a área foi implantada em dezembro de 2012,

    compondo 3,2 ha de área total de iLPF. A área específica do componente florestal foi de 0,58

    ha, onde foram transplantados os genótipos de urograndis e E. cloeziana. Foram estabelecidas

    para os dois tratamentos 24 parcelas retangulares de 336 m2 distribuídas casualmente para

    medições periódicas, com inclusão de 24 árvores/parcela, totalizando 288

    indivíduos/tratamento.

    Os dados foram coletados aos 90 dias após o transplantio (DAT) (abril de 2013); aos

    450 DAT (abril de 2014); aos 630 DAT (outubro de 2014), aos 1.020 DAT (novembro de

    2015), aos 1.320 DAT (setembro de 2016) e aos 1.380 DAT (novembro de 2016). As

    variáveis foram avaliadas até os 46 meses de idade (QUAD. 3).

    Quadro 3 - Cronograma das idas ao campo para coleta de dados na Fazenda da Barra - MG.

    Discriminação Dias após o

    transplantio Data Observações feitas

    1a Medição 90 DAT Abril de 2013 DAS; Ht; DSD

    2a Medição 450 DAT Abril de 2014 DAS; DAP; Ht; DSD

    3a Medição 630 DAT Outubro de 2014 DAP; Ht; DSD

    4a Medição 1.020 DAT Novembro de 2015 DAP; Ht; DSD

    5a Medição 1.320 DAT Setembro de 2016 DAP; Ht; DSD

    6a Medição 1.380 DAT Novembro de 2016 Cubagem Rigorosa

    DAS = Diâmetro na altura do solo (cm); DAP = diâmetro na altura do peito (cm); Ht = altura

    total (m); DSD = danos, sintomas e debilidades.

    3.4.1 Avaliação do crescimento inicial do eucalipto

    As variáveis para as análises de crescimento inicial obtidas em campo consistiram em

    dados quantitativos, tais como: i) taxa de sobrevivência (S); ii) altura total (Ht), iii) diâmetro

    na altura do solo (DAS); iv) diâmetro na altura do peito (DAP) e; dados qualitativos, como

  • 32

    sintomas de ocorrência ou ataque de: a) formiga cortadeira; b) cupim; c) outros insetos; d)

    abelha; e) danos no fuste; f) doenças; g) déficit nutricional; h) estresse hídrico; i)

    matocompetição; j) planta bifurcada; l) planta ramificada; m) planta quebrada; n) trepadeira;

    o) seca de ponteiros; p) mudas mortas; e outras observações quando necessárias, seguindo a

    metodologia (EMBRAPA, 2014).

    Apresenta-se a seguir uma breve caracterização das variáveis qualitativas analisadas:

    i. Formiga cortadeira (gêneros Atta e Acromyrmes): foram anotados quando

    observados a presença de indivíduos desse inseto em plantas de eucalipto ou na

    área da parcela;

    ii. Cupim: foram constatados e anotados ataques de cupins quando as plantas

    apresentaram: roletamento do caule a altura do coleto; e/ou observação da presença de

    cupins através de retirada e visualização das raízes de plantas mortas atacadas;

    iii. Abelha Arapuã (Trigona spinipes): foram anotados quando observados a presença

    de indivíduos ou grupos desse inseto em plantas de eucalipto;

    iv. Danos no fuste: esta observação foi anotada em plantas com presença do ataque d a

    a b e l h a a r a p u ã , ou seja, plantas em que haviam ocorrido a cicatrização ou a

    presença da ferida característica causada pelo ataque;

    v. Doença: foram consideradas plantas doentes aquelas que apresentavam em época de

    coleta sintomas comuns a qualquer doença relatada na revisão de literatura;

    vi. Déficit nutricional: foram consideradas plantas com esse sintoma as que apresentaram

    especificidades foliares típicas e encontradas na literatura que configuram tais

    características fisiológicas;

    vii. Estresse hídrico: esta característica foi atribuída às plantas com as folhas de

    forma geral em tom amarelado e/ou avermelhado característico e/ou murchas, e em

    alguns casos com algumas folhas já secas e/ou pela presença de escaldadura no caule;

    viii. Matocompetição: foram consideradas pela presença de outras plantas nativas ou a

    própria forrageira, em um raio inicial de 50 centímetros no entorno do coleto ou base

    das plantas de eucalipto;

    ix. Bifurcação: foram consideradas aquelas que apresentavam a partir de algum ponto,

    a divisão do fuste, de forma que ambos se encontravam com altura semelhante e

    grau de importância para toda a planta;

  • 33

    x. Ramificação: foram consideradas ramificadas as plantas que apresentavam pelo

    menos um galho destoante, fora do padrão dos demais galhos;

    xi. Planta quebrada: foram consideradas plantas quebradas aquelas em que o fuste

    principal se rompeu, quebrou ou tombou, não sendo consideradas plantas que

    apresentavam apenas galhos quebrados;

    xii. Trepadeira: foram consideradas nesta variável, plantas nativas que na época da

    coleta de dados estavam vivas e enroladas nos fustes dos eucaliptos, podendo causar

    defeitos nos mesmos, sendo também catalogadas como matocompetição;

    xiii. Seca de ponteiro: plantas com folhas no ápice da copa de forma geral em tom

    amarelado e/ou avermelhado característico, e/ou murchas, e em alguns casos com

    algumas folhas já secas.

    A altura considerada foi a total (base da árvore até o topo da copa). Esta informação

    foi mensurada por meio de réguas dendrométricas e/ou hipsômetros. As variáveis DAS e DAP

    foram tomadas a 5 cm do solo e a 1,30 m, respectivamente, sendo obtidos por meio de

    paquímetro digital ou fita métrica. Foram consideradas como mortas falhas observadas (sem

    plantas) e as plantas totalmente secas e inviáveis.

    3.4.2 Cubagem rigorosa

    Para a realização da cubagem rigorosa pelo método destrutivo de Smalian (HUCH,

    1993) foram selecionadas árvores amostras por classes de diâmetro previamente definidas no

    último inventário (4ª ocasião). Foram ainda coletados discos para posterior análises de

    densidade básica e espessura de casca. As cinco classes de diâmetro selecionadas para cada

    tratamento compreendiam todos os diâmetros, numa amplitude de 2,6 cm.

    Após a identificação das árvores no campo selecionou-se 13 árvores por tratamento,

    de forma que as mesmas foram abatidas com o uso de motosserra a 10 cm do solo. Os

    diâmetros alvos foram: 10 cm, 30 cm, 50 cm, 70 cm, 1 m, 1,30 m, 2 m e, em seguida a cada

    metro, além das medidas de altura total e altura comercial no diâmetro até 4 cm.

    3.4.3 Inventário florestal

    Com os dados dos inventários florestais através de amostragem casual simples (ACS)

    para cada uma das quatro medições, com 15, 21, 34 e 46 meses de idade das plantas, foram

  • 34

    determinados os intervalos de confiança, principalmente, para volume (m³/ha), biomassa

    (t/ha), estoque de carbono (t/ha) e sequestro de CO2 (t/ha) (EMBRAPA, 2014). A partir desses

    dados foram criadas as curvas de produção, de incremento corrente anual volumétrico (ICA) e

    incremento médio anual volumétrico (IMA) (SCOLFORO; MELLO, 2006).

    Os volumes reais com casca foram obtidos por meio de cubagem rigorosa pelo método

    destrutivo e, posteriormente, foi realizado o ajuste de equação volumétrica pelo método de

    Shumacher e Hall (1933), para os dois tratamentos, sendo então definido o modelo

    logaritimizado:

    Ln V = βo + β1 Ln DAP + β2 Ln Ht +

    Em que:

    Ln = logaritmo neperiano;

    V = volume, em m3;

    βo; β1 e β2 = parâmetros do modelo;

    DAP = diâmetro a altura do peito, em cm; e

    Ht = altura total, em m;

    = erro aleatório.

    3.4.4 Densidade básica

    Para obtenção da densidade básica, seguiu-se a metodologia da NBR ISO 11941,

    proposta pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (2003). Com os valores de

    massa úmida e seca, realizou-se o cálculo de densidade para as peças segundo a fórmula

    descrita abaixo:

    Em que:

    Db = densidade básica, em g/cm3;

    M3 = massa da amostra seca em estufa, em gramas;

    M2 = massa do recipiente com água e amostra imersa, em gramas;

    M1 = massa do recipiente com água, em gramas.

    http://www.abnt.org.br/

  • 35

    3.4.5 - Biomassa, estoque de carbono e sequestro de CO2

    Para obtenção da biomassa e do estoque de carbono nas árvores, primeiramente

    calculou-se a densidade e o volume total da árvore, representando a quantidade de biomassa

    por unidade de volume (EMBRAPA, 2014). A fórmula para cálculo da biomassa (kg) foi:

    Em que:

    B seca = Biomassa seca, em kg;

    V = Volume da árvore, em m3;

    Db = Densidade básica, em kg/m3.

    A partir do valor de biomassa pode-se converter em carbono presente, onde se

    multiplicou o valor obtido por 0,5, que significa 50% da biomassa seca de lenho naquele

    indivíduo (IPCC, 1996).

    Já em relação ao sequestro do dióxido de carbono (CO2), este foi obtido através da

    multiplicação do valor de estoque de carbono presente por 3,66, pois, sabe-se que um átomo

    de C tem peso atômico de 12 e o oxigênio de 16, assim 1 tonelada de C corresponde a 3,66 t

    de CO2 (NUTTO et al., 2002).

    3.5 Análises Estatísticas

    As variáveis qualitativas, como as referentes aos sintomas, ocorrências e,ou ataques de

    pragas que causam danos e debilidades foram analisadas por intermédio da Matriz de

    Correlação de Pearson. Já as variáveis quantitativas como a altura e o diâmetro foram

    submetidas a análise de variância (ANOVA) sendo as médias dos tratamentos comparadas

    pelo teste F (p

  • 36

    4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    4.1 Crescimento Inicial

    4.1.1 Analise de Dados Qualitativos

    Os fatores bióticos e abióticos que interferiram na sobrevivência, crescimento e

    produção estão apresentados na Tabela 2. Considerando todos os indivíduos avaliados (288

    plantas/tratamento) as observações de outros insetos, doenças e plantas quebradas foram

    inferiores a 3% em cada época de avaliação, nos dois genótipos avaliados e estão apresentadas

    na tabela 14 (Apêndice).

    No E. cloeziana verificou-se aos 450 dias após o transplantio (DAT) (abril de 2014) a

    ocorrência de abelha arapuã em 31,9% das árvores, seguido de dano no fuste (20,5%),

    bifurcação (21,9%) e ramificação (10,1%). A abelha arapuã pode causar dano no fuste,

    ramificação e bifurcação em função do seu comportamento e do estresse provocado na planta.

    Neste genótipo também foi verificada a ocorrência de matocompetição (42,4%) e de plantas

    trepadeiras (39,6%) (TAB. 2).

    Já no eucalipto urograndis houve ataque de cupim em 9% das plantas, além de

    ocorrência de matocompetição (24,7%) e de plantas trepadeiras (20,1%) (TAB. 2). O cupim é

    praga florestal e seu controle é fundamental, pois causa danos nos sistema radicular e no

    coleto do caule, podendo levar a déficits nutricional e hídrico, ou mesmo a morte. Este

    período de observação (abril de 2014) compreendeu o final do período chuvoso, com baixos

    índices pluviométricos e distribuição irregular de chuvas, com veranico nos meses de janeiro

    e fevereiro 2014 (GRAF. 1 e 2). Tais fatos justificam os danos e injurias provocadas,

    principalmente, pela presença de insetos, como a abelha e o cupim, além do matocompetição

    e do elevado índice de plantas trepadeiras observado nos dois tratamentos.

  • 37

    Tabela 2 - Ocorrência de danos e injurias (%), em diferentes épocas de avaliação, nos genótipos de E. cloeziana e urograndis cultivados em sistemas

    de integração lavoura-pecuária-floresta, na Fazenda da Barra - MG.

    Época Tratamento FO *² CP AB DF DN EH MC BI RA TR SP

    450 DAT *¹

    (abril 2014)

    E. cloeziana 0,0% 0,0% 31,9% 20,5% 0,0% 0,7% 42,4% 21,9% 10,1% 39,6% 0,0%

    urograndis 0,0% 9,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 24,7% 1,4% 5,2% 20,1% 0,0%

    630 DAT

    (out. 2014)

    E. cloeziana 0,0% 0,0% 39,2% 39,2% 0,0% 17,0% 42,4% 21,9% 30,6% 42,4% 0,0%

    urograndis 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 7,3% 5,6% 2,1% 7,6% 5,2% 0,0%

    1.020 DAT

    (nov. 2015)

    E. cloeziana 0,0% 0,0% 0,0% 39,2% 0,0% 13,2% 3,8% 19,4% 25,7% 2,4% 9,0%

    urograndis 3,1% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,4% 13,9% 5,2% 3,8% 0,3% 3,5%

    1.320 DAT

    (set. 2016)

    E. cloeziana 2,4% 3,5% 0,0% 55,9% 0,0% 24,0% 42,4% 31,9% 64,6% 15,3% 0,0%

    urograndis 1,0% 5,6% 0,0% 0,0% 25,3% 0,7% 39,9% 27,4% 32,6% 2,8% 0,0%

    *¹ DAT = dias após o transplantio. *² FO = formiga; CP = cupim; AB = abelha arapuã; DF = dano no fuste; DN = déficit nutricional; EH = estresse

    hídrico; MC = matocompetição; BI = bifurcação; RA = ramificação; TR = trepadeiras; SP = seca de ponteiro.

  • 38

    Nesse mesmo período de observação (450 DAT) verificou-se, através da matriz de

    correlação, a relação entre o ataque de abelha arapuã, a ramificação e o dano no fuste no E.

    cloeziana. Da mesma forma, existiu correlação entre matocompetição e as trepadeiras nos dois

    genótipos avaliados (TAB. 3).

    Tabela 3 - Matriz de correlação de dados (danos e injurias) coletados aos 450 DAT nos genótipos de

    E. cloeziana e urograndis cultivados em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta na

    Fazenda da Barra - MG.

    Observações Tratamento Ramificação Dano no Fuste Trepadeira

    Abelha Arapuã E. cloeziana 0,68 * 0,87 * 0,36 ns

    Urograndis - - -

    Matocompetição E. cloeziana 0,23 ns 0,53 ns 0,92 *

    Urograndis - 0,51 ns - 0,84 *

    * = Significativo pelo teste t (p < 0,05); ns = não significativo pelo teste t (p < 0,05).

    Camargo & Pedro (2003) relataram a presença de abelha arapuã em cultivos arbóreos

    como o mogno africano, pinus e a bracatinga. Porém, assim como relatado nesse estudo para a

    espécie E. cloeziana, Pinheiro et al. (2011) observam ataques desta abelha na espécie Khaya

    ivorensis. De acordo com esses autores, a abelha retira filamentos fibrosos e exsudados resinosos

    das árvores para a construção do seu ninho e sua alimentação (FIG. 3 e 4). Esse ataque, quando

    causado em plantas com 2 e 3 anos de idade, pode levar a atrofia e brotação, provocando entre

    duas e três ramificações, depreciando o tronco, principalmente, se ocorrer abaixo dos 4 m de

    altura.

    Figura 3- Ataque de Trigona spinipes em plantas de E. cloeziana, cultivado em sistema de

    integração lavoura-pecuária-floresta na Fazenda da Barra - MG.

    Fonte: Do autor.

    A B

  • 39

    Piza Júnior (1993) ressalta que a abelha arapuã ataca preferencialmente espécies com alta

    concentração de substâncias resinosas, e seu ataque se concentra na gema apical, caule e ramos,

    sendo a resina extraída e utilizada para confecção dos ninhos. Este fato pode ser explicado pela

    concentração elevada de substância resinosa no caule das plantas de E.cloeziana (FIG. 4), o

    que não é observado no híbrido urograndis.

    Figura 4 - Cicatriz e liberação de exsudados resinosos provocados por ataque de abelha arapuã em

    caule de E. cloeziana, cultivado em sistema de integração lavoura-pecuária-floresta na Fazenda da

    Barra - MG.

    Fonte: Do autor.

    Tais fatos contribuíram para a ramificação das plantas de E. cloeziana, conforme pode ser

    observado na Figura 5.

    Figura 5 - Plantas ramificadas de E. cloeziana em área de integração lavoura-pecuária-floresta na

    Fazenda da Barra - MG.

    Fonte: Do autor.

    A B

    A B

  • 40

    O matocompetição (FIG. 6), causado pela presença de plantas invasoras em povoamentos

    florestais, é um grande problema na implantação e manutenção de florestas de eucalipto,

    podendo levar prejuízos ao crescimento e produtividade, devido à competição por luz, nutrientes,

    água e espaço (PITELLI, 1987; PITELLI e MARCHI, 1991). Estudando o efeito da densidade

    de Brachiaria decumbens sobre o crescimento inicial de Eucalyptus grandis, Dinardo et al.,

    (2003) e Toledo et al., (2001) verificaram que estas espécies, interferem negativamente no

    crescimento do eucalipto a partir da densidade de quatro plantas/m².

    Figura 6 - Plantas de eucalipto em competição com forrageiras e plantas nativas em área de

    integração lavoura-pecuária-floresta na Fazenda da Barra - MG.

    Fonte: Do autor.

    As trepadeiras, também chamadas de lianas ou plantas parasitas, causam danos ao

    crescimento inicial arbóreo, pois afetam a arquitetura da planta hospedeira, além de impedir a

    atividade cambial das árvores ao se lignificarem no caule, causar o estrangulamento e

    diminuição do valor comercial da madeira (WALTER, 1971). Tais fatos foram observados nos

    dois genótipos de eucalipto avaliados (FIG. 7).

    A B

  • 41

    Figura 7 - Caule com cicatriz (A) e trepadeira envolvendo o dossel de plantas de eucalipto (B) em

    área de integração lavoura-pecuária-floresta na Fazenda da Barra - MG.

    Fonte: Do autor.

    A segunda avaliação foi realizada em outubro de 2014 (630 DAT), final do período seco,

    época caracterizada por baixos índices pluviométricos na região de estudo (GRAF. 1). No

    genótipo E. cloeziana verificou-se a ocorrência da abelha arapuã em 39,2% das árvores, além de

    danos no fuste (39,2%), bifurcação (21,9%) e ramificação (30,6%). Também foi observada a

    ocorrência de estresse hídrico (17%), matocompetição (42,4%) e trepadeiras (42,4%). Já para o

    eucalipto urograndis observou-se sintomas de estresse hídrico em 7,3% das plantas, além de

    matocompetição (5,6%) e ramificação (7,6%) (TAB. 2).

    Nesse mesmo período de observação (630 DAT) verificou-se através da matriz de

    correlação, a relação entre o estresse hídrico e a bifurcação no urograndis. Da mesma forma,

    existiu correlação entre matocompetição e as trepadeiras nos dois genótipos (TAB. 4).

    Tabela 4 - Matriz de correlação de dados (danos e injurias) coletados aos 630 DAT nos genótipos de

    E. cloeziana e urograndis cultivados em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta na

    Fazenda da Barra - MG.

    Observações Tratamento Trepadeira Bifurcação

    Matocompetição E. cloeziana 1,0 * 0,54 ns

    urograndis 0,98 * - 0,33 ns

    Estresse hídrico E. cloeziana - 0,65 * - 0,38 ns

    urograndis - 0,06 ns 0,60 *

    * = Significativo pelo teste t (p < 0,05); ns = não significativo pelo teste t (p < 0,05).

    B A

  • 42

    Aos 1.020 DAT (novembro de 2015) verificou-se a ocorrência de dano no fuste em

    39,2% das árvores de E. cloeziana, além de bifurcação (19,4%), ramificação (25,7%) e seca de

    ponteiro (9%). Já no urograndis foi observada a ocorrência de matocompetição em 13,9% das

    árvores avaliadas (TAB. 2). Vale ressaltar que os cinco meses que antecederam a análise (entre

    junho e novembro 2015) houve baixos índices de precipitações, abaixo de 2 mm (GRAF. 1), fato

    que justifica o matocompetição e, principalmente, a ocorrência de seca de ponteiro.

    A matriz de correlação de dados gerada aos 1.020 DAT mostra relação entre a ocorrência

    de estresse hídrico e a seca de ponteiro nos dois tratamentos avaliados (TAB. 5). Para o

    urograndis houve correlação entre a ocorrência de trepadeiras e estresse hídrico e ramificação,

    enquanto para o E. cloeziana houve correlação entre a ocorrência de trepadeiras e

    matocompetição.

    Tabela 5 - Matriz de correlação de dados (danos e injurias) coletados aos 1.020 DAT nos genótipos

    de E. cloeziana e urograndis cultivados em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta na

    Fazenda da Barra - MG.

    Observações Tratamento Trepadeira Ramificação Seca

    Ponteiro

    Mato

    Competição

    Estresse hídrico E. cloeziana - 0,10 ns - 0,24 ns 0,84 * - 0,42 ns

    urograndis 0,81 * 0,47 ns 0,63 * 0,14 ns

    Trepadeira E. cloeziana - 0,29 ns - 0,05 ns 0,79 *

    urograndis - 0,66 * 0,36 ns - 0,10 ns

    * = Significativo pelo teste t (p < 0,05); ns = não significativo pelo teste t (p < 0,05).

    Nas regiões de Cerrado, o fator abiótico de destaque é o déficit hídrico, podendo levar a

    seca das folhas nas extremidades para o centro e da ponta para o pecíolo, até a secagem completa

    das folhas, causando amarelecimento das plantas, alterações no lenho, seca de ponteiro e, ainda,

    escaldadura no caule (ALFENAS et al., 2007).

    Nesse estudo, aos 1.020 DAT verificou-se a correlação entre o estresse hídrico, em

    ambos os genótipos analisados e a seca de ponteiro. Tal correlação é comum no gênero eucalipto

    em função do déficit nutricional ocorrer, principalmente, em período de seca, ou de baixa

    precipitação, mesmo com disponibilidade de macro e micronutrientes no solo (FIG. 8).

  • 43

    Figura 8 - Planta de E. cloeziana com sintoma de estresse hídrico (A) e escaldadura do caule (B),

    em área de integração lavoura-pecuária-floresta na Fazenda da Barra - MG.

    Fonte: Do autor.

    Até os três anos de idade, as plantas podem apresentar sintomas de déficit hídrico através

    de lesões foliares em forma de "V" invertido, encarquilhamento foliar e seca de ponteiros em

    parte dos galhos e da haste principal no terço superior, ou em toda sua extensão (ALFENAS et

    al., 2009). Os mesmos autores ressaltam que plantas com déficit hídrico moderado, porém

    contínuo, podem apresentar crescimento reduzido, com arroxeamento e queima foliar em face da

    deficiência de nutrientes, principalmente, macronutrientes.

    Aos 1.320 DAT (setembro de 2016) verificou-se aumento na ocorrência de dano no fuste

    no E. cloeziana, atingindo 55,9% das plantas avaliadas. Além disso, houve aumento do número

    de plantas bifurcadas (31,9%) e ramificadas (64,6%). Foram também observados

    matocompetição (42,4%), trepadeira (15,3%) e estresse hídrico (24%). Já para o urograndis

    foram verificados a ocorrência de cupim (5,6%), déficit nutricional (25,3%), matocompetição

    (39,9%), bifurcação (27,4%) e ramificação (32,6%). Os sete meses que antecederam a avaliação

    de campo, entre fevereiro e setembro de 2016, todos os registros de precipitações foram abaixo

    de 7 mm (TAB. 2). Tais fatos justificam as observações nos genótipos avalia