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115
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS (UFT) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL INTERDISCIPLINAR EM PRESTAÇÃO JURISDICIONAL E DIREITOS HUMANOS (MPIPJDH) ZILMÁRIA AIRES DOS SANTOS DIAGNÓSTICO DA APLICAÇÃO DE CRITÉRIOS PARA O ALCANCE DE PRODUTIVIDADE E CELERIDADE NA DISTRIBUIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES DENTRO DAS SERVENTIAS JUDICIAIS: O ESTUDO DO CASO DA COMARCA DE DIANÓPOLIS-TO. PALMAS-TO 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS (UFT)

PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU CURSO DE

MESTRADO PROFISSIONAL INTERDISCIPLINAR EM PRESTAO

JURISDICIONAL E DIREITOS HUMANOS (MPIPJDH)

ZILMRIA AIRES DOS SANTOS

DIAGNSTICO DA APLICAO DE CRITRIOS PARA O ALCANCE DE

PRODUTIVIDADE E CELERIDADE NA DISTRIBUIO DE ATRIBUIES

DENTRO DAS SERVENTIAS JUDICIAIS: O ESTUDO DO CASO DA COMARCA

DE DIANPOLIS-TO.

PALMAS-TO

2017

ZILMRIA AIRES DOS SANTOS

DIAGNSTICO DA APLICAO DE CRITRIOS PARA O ALCANCE DE

PRODUTIVIDADE E CELERIDADE NA DISTRIBUIO DE ATRIBUIES DENTRO

DAS SERVENTIAS JUDICIAIS: O ESTUDO DO CASO DA COMARCA DE

DIANPOLIS-TO.

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao

Stricto Sensu Mestrado em Prestao Jurisdicional e

Direitos Humanos, como requisito parcial obteno do

grau de Mestre.

Orientadora: Prof. Dr. Renata Rodrigues de Castro

Rocha

PALMAS-TO

2017

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Tocantins

S237d Santos, Zilmria Aires dos.Diagnstico da aplicao de critrios para o alcance de produtividade e

celeridade na distribuio de atribuies dentro das serventias judiciais:: Oestudo do caso da Comarca de Dianpolis/TO . / Zilmria Aires dos Santos. Palmas, TO, 2017.

113 f.

Dissertao (Mestrado Profissional) - Universidade Federal do Tocantins Cmpus Universitrio de Palmas - Curso de Ps-Graduao (Mestrado) emPrestao Jurisdicional em Direitos Humanos, 2017.

Orientador: Renata Rodrigues de Castro Rocha

1. Celeridade . 2. Eficincia. 3. Produtividade. 4. Gesto AdministrativaJudicial. I. Ttulo

CDD 342

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A reproduo total ou parcial, de qualquerforma ou por qualquer meio deste documento autorizado desde que citada a fonte.A violao dos direitos do autor (Lei n 9.610/98) crime estabelecido pelo artigo 184do Cdigo Penal.Elaborado pelo sistema de gerao automtica de ficha catalogrfica da UFT com osdados fornecidos pelo(a) autor(a).

Dedico este trabalho a todos os servidores da

justia do Estado do Tocantins, que exercem

suas atividades funcionais eficazmente, na

busca de uma prestao jurisdicional mais

clere e efetiva.

AGRADECIMENTOS

A Deus pelo milagre da vida.

Ao meu esposo Atila de Oliveira Venncio pelo amor, companhia e pacincia

constantes.

A minha amada me pelas oraes e minhas queridas irms Zulmira e Zenaide, pelo

acolhimento e cuidado eternamente grata.

A minha orientadora, professora Doutora Renata Rodrigues de Castro Rocha, pela

disponibilidade e orientaes indispensveis para a concretizao deste trabalho.

Ao Tribunal de Justia do Estado do Tocantins, em especial ESMAT (Escola

Superior da Magistratura Tocantinense), pela oportunidade singular de crescimento

acadmico e profissional.

A todos os colegas (Turma IV) pela convivncia e amizade, ficaro guardados pra

sempre no meu corao.

A todos os professores pela sapincia e carinho, fazendo com que a jornada ficasse

mais leve.

A secretria do mestrado, Marcela, pelo atendimento cuidadoso e cordial.

Ao Juiz Diretor do Foro da Comarca de Dianpolis/TO, Dr. Jossanner Nery Nogueira

Luna, pelo incentivo.

Aos meus colegas de trabalho Petrnio Jarbas Martins da Luz, Jurceles de Melo,

Remo Costa e Rosa e Nortzon Pereira Moura, por entender minhas ausncias no perodo das

aulas e por to gentilmente possibilitar trocas de plantes e em algumas ocasies substituir-

me.

A Maria Joelma, secretria do Foro da Comarca de Dianpolis/TO, pelo costumeiro e

prestativo atendimento.

A todos vocs, OBRIGADA.

(...) o carter holstico fundamental uma

unidade to densa e intensa que s pode ser

mais do que a soma de suas partes; uma

unidade que no s comunica uma estrutura

ou uma conformao particular s partes,

mais ainda as coloca em relao e as

determina na sua sntese, de tal forma que

suas funes ficam por isso mesmo

modificadas; a sntese afeta e determina as

partes, de tal modo que estas funcionam para

o todo; por isso mesmo, o todo e suas partes

se influenciam e se determinam

reciprocamente e seus caracteres individuais

aparecem de certa forma fundidos: o todo est

nas partes e as partes esto no todo, e essa

sntese entre o todo e as partes se reflete no

carter holstico das funes tanto das partes,

quanto do todo.

Smuts

RESUMO

Com o objetivo de conferir efetividade ao princpio da razovel durao do processo, previsto

pelo texto Constitucional de 1988, os Tribunais de Justia do Pas e o Conselho Nacional de

Justia tm traado estratgias, lanado metas e alterado o modo operacional e gerencial do

sistema administrativo judicial. Na atualidade um instrumento eficaz na promoo da

celeridade da prestao jurisdicional processo eletrnico, institudo pela Lei 11.419 de 2006,

que tem demonstrado xito, vez que funciona de forma ininterrupta e de qualquer lugar do

mundo por meio do acesso internet, encurtando as barreiras impostas pelas distncias

territoriais, melhorando o acesso justia e reduzindo o tempo de tramitao dos processos. O

Poder Judicirio Tocantinense encontra totalmente digitalizado, por meio do sistema e-Proc e

conta com uma srie de iniciativas visando uma prestao jurisdicional clere e efetiva,

contudo ainda registra alto ndice na taxa de congestionamento. Nesse cenrio, e com o

objetivo de encontrar alternativas para o melhor atendimento da celeridade e eficincia da

prestao jurisdicional no mbito Estadual, a presente pesquisa pautou-se no estudo do caso

da Comarca de Dianpolis-TO, por meio do diagnstico dos critrios de distribuio de

atribuies dentro das serventias judiciais e da viabilidade da adoo de um plano de gesto

da qualidade das unidades judiciais, como mtodo para sistematizar os atos judiciais,

equalizando a fora e o volume de trabalho, no sentido de produzir uma prestao

jurisdicional mais tempestiva e til. A metodologia utilizada para consecuo da pesquisa foi

o mtodo dedutivo, a partir da anlise sociolgica interna sobre a produtividade e celeridade

relativa a dois perodos correcionais, ou seja, de maio de 2015 a maio de 2017, aliada

anlise de literatura, levantamento e organizao de dados estatsticos obtidos junto ao

Tribunal de Justia e Corregedoria Geral de Justia do Estado do Tocantins, cuja anlise

sinalizou para a necessidade de um planejamento quanto operacionalizao dos servios

realizados junto s unidades judiciais locais, a fim de que os objetivos e metas concebidos no

planejamento estratgico do TJTO, concernente a celeridade e utilidade da prestao

jurisdicional, sejam alcanadas.

Palavras-chave: Celeridade, Eficincia, Produtividade, Gesto Administrativa Judicial.

ABSTRACT

With the objective of giving effect to the principle of reasonable length of provided for in the

1988 Constitutional text, the country's Courts of Justice and the National Justice Council have

drawn up strategies, set targets and changed the operational and managerial mode of the

judicial administrative system. Nowadays, an effective instrument in promoting the speed of

judicial provision is an electronic process, instituted by Law 11.419 of 2006, which has

proved successful, since it operates uninterruptedly and from anywhere in the world through

internet access, shortening the barriers imposed by territorial distances, improving access to

justice and reducing the processing time of processes. The Tocantinense Judiciary Branch is

fully digitized through the E-proc system and has a series of initiatives aimed at a speedy and

effective judicial provision, yet it still has a high rate of congestion. In this scenario, and with

the objective of finding alternatives for the best attendance of the speed and efficiency of the

jurisdictional provision in the State scope, the present research will carry out the study of the

case of the District of Dianpolis - TO, by means of the analysis of the criteria of distribution

of attributions within the judicial services and the feasibility of adopting a quality

management plan for judicial units, as a method to systematize judicial acts, equalizing force

and workload, in order to produce a more timely and useful judicial service. The methodology

used to achieve the research was the deductive method, based on the internal sociological

analysis, on the productivity and celerity relative to two correctional periods, that is, from

May of 2015 to May of 2017, combined with the compilation of literature, collection and

organization of statistical data obtained from the Court of Justice and the General Department

of Justice of the State of Tocantins, whose analysis, signaled the need for a plan for the

operationalization of services performed with local judicial units, so that the objectives and

goals conceived in the strategic planning of the TJTO regarding the speed and usefulness of

the judicial service are achieved.

Keywords: Celerity, Efficiency, Productivity, Judicial Administrative Management.

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 Evoluo da movimentao processual no Pas ................................................ 27

Figura 2 ndice de produtividade e carga de trabalho dos servidores da rea judiciria do

Poder Judicirio ........................................................................................................... 28

Figura 3 Pirmide das necessidades de Maslow ............................................................ 57

Figura 4 Fachada do prdio do frum da Comarca ........................................................ 68

Figura 5 Principais dependncias do prdio do frum da Comarca .................................. 68

Figura 6 Painel de localizador de processo no e-Proc .................................................... 82

Figura 7 Macrodesafios efetividade na prestao jurisdicional 2015/2020 ..................... 96

Figura 8 Modelo de organograma para planejamento estratgico organizacional .............. 97

Figura 9 Situao da unidade/ndice de criticidade ......................................................... 98

LISTA TABELAS

Tabela 1 Litigiosidade no Poder Judicirio Brasileiro/Assuntos recorrentes ..................... 26

Tabela 2 Progresso do volume de trabalho nos ltimos anos/processos em andamento .... 70

Tabela 3 Distribuio da fora, volume, especialidade e congestionamento na

Comarca/2016 ............................................................................................................. 71

Tabela 4 Distribuio da fora, volume, especialidade e congestionamento na

Comarca/2017. ............................................................................................................ 72

Tabela 5 Quantitativo de servidores por cartrio/serventia/2016 ..................................... 73

Tabela 6 Quantitativo de servidores por cartrio/serventia/2017 ..................................... 74

Tabela 7 Produo jurisdicional - maio/2015 a maio/2016 ............................................. 75

Tabela 8 Produo jurisdicional - junho/2016 a maio/2017 ............................................ 75

Tabela 9 Participao dos servidores em cursos/eventos ................................................ 81

Tabela 10 Panorama da comarca quanto ao cumprimento da Meta 1/CNJ ........................ 84

Tabela 11 Panorama da comarca quanto ao cumprimento da Meta 2/CNJ ........................ 85

Tabela 12 Panorama da comarca quanto ao cumprimento da Meta 3/CNJ ........................ 86

Tabela 13 Fluxo processual Julho/2017 Comarca de Taguatinga/TO ............................ 86

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Evoluo das teorias motivacionais ............................................................... 55

Quadro 2 Diviso das teorias motivacionais ................................................................. 56

Quadro 3 Fatores de motivao e higiene (Herzberg, 1959) ........................................... 58

Quadro 4 Diviso das Comarcas do Estado .................................................................. 64

Quadro 5 Distribuio quantitativa dos servidores ........................................................ 69

LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

ADI Ao Direta de Inconstitucionalidade

CF Constituio Federal

CEJUSC Centros Judiciais de Soluo de Conflitos

CNJ Conselho Nacional de Justia

ESMAT Escola Superior da Magistratura Tocantinense

FONAMEC Frum Nacional de Mediao e Conciliao

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

ISO International Organization for Standardization ou Organizao Internacional de

Padronizao

NACOM Ncleo de Apoio s Comarcas

NUPEMEC Ncleo Permanente de Mtodos Consensuais de Soluo de Conflitos

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

PAI Programa Aposentadoria Incentivada

PCCR Plano de Carreira, Cargos e Remunerao

PGQJ Plano de Gesto da Qualidade do Judicirio

SIESPJ Sistema de Estatstica do Poder Judicirio

TJTO Tribunal de Justia do Estado do Tocantins

SUMRIO

1 INTRODUO .............................................................................................................. 13

2 DO ACESSO JUSTIA, FENMENO DA LITIGIOSIDADE E MOROSIDADE

DA JUSTIA. ......................................................................................................................... 17

2.1 DA GARANTIA CONSTITUCIONAL RESPOSTA JURISDICIONAL CLERE

E TIL E FATORES QUE CONCORREM PARA A DEMORA DA PRESTAO

JURISDICIONAL .................................................................................................................... 21

2.2 DOS PRINCPIOS DA ADMINISTRAAO PBLICA E DO DEVER DE

EFICINCIA.... ........................................................................................................................ 30

2.2.1 Da celeridade e da eficincia na Administrao da Justia ................................ 32

2.2.2 O Processo Eletrnico como ferramenta para agilizar a prestao jurisdicional 41

3. GESTO ADMINISTRATIVA BUROCRTICA E SISTEMA GERENCIAL ..... 44

3.1 GESTO ADMINISTRATIVA ESTRATGICA E GESTO DE PESSOAS ....... 52

3.2 GESTO DE METAS NO SERVIO PBLICO: TEORIA EXPLICATIVA ........ 60

4 DO PODER JUDICIRIO TOCANTINENSE ........................................................... 64

4.1 CONGESTIONAMENTO DO PODER JUDICIRIO TOCANTINENSE ............. 65

4.2 DIAGNSTICO DA COMRCA DE DIANPOLIS-TO ...................................... 67

4.2.1 Da distribuio da fora, volume e especialidade do trabalho e indicadores de

produtividade...........................................................................................................................70

4.2.2 Relao entre os critrios adotados e o atendimento da celeridade e eficincia 83

4.3 DO CUMPRIMENTO DAS METAS LANADAS PELO CNJ .............................. 83

4.4 COMPARATIVO ENTRE COMARCAS DE 3 ENTRNCIA .............................. 86

4.5 GESTO DE QUALIDADE CARTORRIA .......................................................... 87

4.5.1 Da capacitao por meio do ensino distncia ................................................ 100

5 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 102

REFERNCIAS....................................................................................................................105

13

1 INTRODUO

Na atualidade, a grande busca do homem no propriamente o reconhecimento formal

de direitos, o desafio hodierno encontrar solues ou alternativas viveis para efetivao dos

direitos materiais, fundamentais e humanos j consagrados, haja vista a existncia de vrios

fatores que dificultam ou impem obstculos ao pleno exerccio desses direitos.

No mbito jurdico, a morosidade da justia assunto recorrente, motivo de

inquietaes, estudos, pesquisas, como tambm de manchetes que denunciam a sobrecarga

dos Tribunais de Justia em todo Pas. O problema da morosidade da prestao jurisdicional

envolve diversos fatores que vo desde o exacerbado nmero de recursos, prazos

procedimentais, cultura do litgio que contribui para o maior nmero de demandas ajuizadas,

mau aparelhamento fsico estrutural, financeiro e humano dos Tribunais, aliado muitas vezes

a uma gesto deficitria pautada pela lentido em razo do atendimento aos rigores dos

procedimentos herdados da gesto burocrata.

A Constituio da Repblica Federativa do Brasil (1988) destacou entre os princpios

da Administrao Pblica a eficincia, que se traduz no dever de desenvolver a atividade

administrativa pblica com o menor dispndio de tempo e recursos, de modo clere e eficaz.

Dessa forma, a prestao jurisdicional efetiva conjuga celeridade e utilidade, nos exatos

termos e exegese do princpio fundamental da razovel durao do processo, inserto no texto

constitucional por meio da emenda 45 que reformou o Poder Judicirio e criou o CNJ -

Conselho Nacional de Justia, rgo mximo de gesto e controle judicial do Brasil.

Com a criao do CNJ, o Poder Judicirio passou a trilhar o modelo de gesto

gerencial a partir da concepo do Planejamento Estratgico do Judicirio Nacional, que

estabelecem objetivos e metas aos Tribunais de todo Pas.

O avano tecnolgico virtual fez surgir a ideia do processo eletrnico como forma de

imprimir velocidade a produo jurisdicional, tendo tornado realidade com a edio da Lei

11.419 de 2006. O Poder Judicirio Tocantinense se encontra totalmente digitalizado e conta

com uma plataforma moderna, inclusive com possibilidade de realizar conciliaes e

mediaes de forma virtual, contudo as pesquisas realizadas pelo CNJ, materializadas nos

relatrios justia em nmeros, do conta que ainda existe alto ndice da taxa de

congestionamento no Poder Judicirio Estadual, o que aponta para a existncia de morosidade

da prestao jurisdicional no Estado.

14

O presente estudo objetivou encontrar alternativas para melhorar a produtividade dos

serventurios da justia, notadamente na Comarca de Dianpolis/TO, a partir do estudo do

caso da Comarca de Dianpolis/TO. Assim, o objetivo geral desta pesquisa partiu do

diagnstico dos critrios de distribuio de atribuies dentro das serventias judiciais, com

vistas a identificar a adequao dos critrios utilizados e o atendimento da celeridade

processual e eficincia.

Os objetivos especficos situaram na investigao de como so distribudas a fora,

especialidade e volume de trabalho e a identificao da relao entre os critrios adotados e o

atendimento da celeridade e eficincia. Buscou ainda, apresentar a teoria de determinao de

metas como mtodo de motivao e operacionalizao dos servios dentro dos cartrios

judiciais, visando reduzir a taxa de congestionamento e o prazo de tramitao dos processos

judiciais.

Nesse sentido realizou-se anlise quantitativa e qualitativa dos dados colhidos junto ao

Tribunal de Justia, Corregedoria Geral de Justia do Estado e na Comarca em estudo, a fim

de mensurar o desempenho atual, face ao ndice de produtividade mnima proposto pelo CNJ

para primeira entrncia.

A motivao para a escolha do tema se deu em razo da sua relevncia no contexto

social, jurdico, e ainda por que, o problema da morosidade da justia e alto ndice da taxa de

congestionamento ser uma realidade no meio jurdico estadual, conforme registram os

relatrios Justia em nmeros do CNJ nos ltimos anos e sendo a resposta jurisdicional clere

e efetiva um direito humano fundamental, o problema merece ateno e estudos no sentido de

encontrar solues viveis.

Diante das circunstancias, o estudo se mostra pleno de desafios uma vez que busca o

aprimoramento da prestao jurisdicional estadual, visando conferir maior efetividade ao

princpio fundamental da razovel durao do processo, que se constitui clusula ptrea

conforme previso do artigo 60, inciso IV da CF/88, portanto, no poder ser objeto de

disponibilidade ou qualquer tipo de violao.

A anlise da produtividade dos servidores da justia no mbito da Comarca de

Dianpolis/TO traduz-se num importante instrumento capaz de refletir a melhora da

prestao jurisdicional em todo o Estado do Tocantins, alm de permitir o aperfeioamento

da matria, fomentar o debate, fornecer maior conhecimento da realidade ftica local e

promover avaliao sobre o modelo atualmente aplicado no que tange a execuo da

atividade funcional, alm de ser oportunidade para apontar sugestes adoo de outras

prticas de gesto, que visem o aprimoramento dos mecanismos de gesto e

15

operacionalizao dos servios no sentido de organizar ou sistematizar a prtica funcional

para alavancar a produtividade dos servidores da justia tocantinense, e, sobretudo,

proporcionar maior satisfao ao jurisdicionado que receber uma resposta jurdica clere e

til nos moldes previsto na Constituio Brasileira de 1988 em seu art.5, LXXVIII, posto

que o fundamento da tutela jurisdicional que prev o direito de ao, acesso justia e a

garantia da inafastabilidade da jurisdio, assegura tambm o resultado formal do acesso

justia, que a resposta e deve proporcionar resultado prtico, com a efetiva preservao do

direito e do bem da vida, num menor tempo possvel.

Portanto, trata-se de pesquisa que objetiva proporcionar uma viso detalhada sobre a

produtividade dos servidores da Comarca de Dianpolis/TO, quanto aos critrios adotados na

distribuio das atribuies funcionais e o alcance de produtividade, celeridade e eficincia e

ainda buscar solues visando a melhora na prestao jurisdicional com a finalidade de obter

a reduo do prazo de tramitao dos processos judiciais e percentual da taxa de

congestionamento.

A metodologia utilizada foi a anlise sociolgica interna, utilizando o mtodo

dedutivo, lanando mos da compilao de literatura, levantamento e organizao de dados

estatsticos obtidos junto ao Conselho Nacional de Justia, Tribunal de Justia e Corregedoria

Geral de Justia do Estado do Tocantins e na prpria comarca, cuja anlise, sinalizou para a

necessidade de um planejamento quanto gesto e operacionalizao dos servios realizados

dentro das unidades judiciais locais, que sistematize e alinhe as aes dirias aos objetivos

lanados pelo Planejamento Estratgico do Poder Judicirio Tocantinense para os prximos

anos, concernente a celeridade e utilidade da prestao jurisdicional.

Por conseguinte, e como resposta pergunta problema, buscou-se apresentar a teoria

de terminao de metas, como mtodo para reduzir a taxa de congestionamento e o prazo de

tramitao dos processos judiciais e ainda props a adoo de um plano de gesto estratgica

de unidade judicial, a partir das anlises empreendidas e experincias bem sucedidas de outros

Estados da Federao, a exemplo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, vez que a

efetividade do princpio da razovel durao do processo pressupe eficincia que deve ter

por base boa gesto administrativa cartorria, afim de que a atividade funcional acontea da

melhor forma, tempestiva e com utilidade aos jurisdicionados, sem desperdcios de tempo e

dinheiro pblico, afastando erros, falhas, exageros ou formalidades desnecessrias, sem

olvidar que para o alcance de bons resultados na produo dos servios funcionais, os

servidores devem estar motivados, engajados e se sentirem prestigiados, com o

reconhecimento da importncia e relevncia dos servios que executa, sendo necessria boa

16

equalizao entre volume, complexidade e da fora de trabalho, a fim de evitar desnimos,

estresse, desmotivao, desenvolvimento de doenas ocupacionais e baixa produo funcional

e, sobretudo, resguardando a credibilidade do Poder Judicirio e a dignidade dos seus

servidores e daqueles que buscam proteo a direitos violados ou ameaados.

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira concluda em dezoito meses e

consistiram na leitura de material bibliogrfico, levantamento, tratamento e organizao dos

dados que viabilizaram os primeiros esboos do produto final. A segunda etapa foi executada

em seis meses, com a escrita e elaborao do texto da dissertao.

17

2 DO ACESSO JUSTIA, FENMENO DA LITIGIOSIDADE E MOROSIDADE

DA JUSTIA.

A proibio legal de se fazer justia com as prprias mos1 conduz necessidade

inarredvel de todos os cidados utilizarem-se do sistema de justia para o pleno exerccio do

direito subjetivo pblico de ao, pois somente o Estado, por meio do Poder Judicirio, detm

competncia (Poder) para realizar justia e dizer o direito das partes em conflito de forma

justa, concreta e imutvel, isto porque o Brasil filiou-se tripartio dos Poderes do Estado.

Desse modo, verifica-se a preponderncia e inafastabilidade da jurisdio, pois o interesse na

composio dos litgios no somente dos litigantes, mais tambm do Estado.

Para que os cidados utilizem-se do sistema de justia, necessrio se faz a existncia

de meios, instrumentos ou mecanismos, ou seja, que haja amplo e fcil acesso. Ter acesso

justia pode ser entendido como sendo a possibilidade e viabilidade dos cidados exercerem o

direito fundamental de petio em igualdade de condies, perante todo e qualquer tribunal ou

corte de justia. Essa igualdade se configura como direito fundamental expressamente

previsto em Pactos Internacionais e na Constituio da Repblica Federativa do Brasil (1988),

que no artigo 5 ao abrir o captulo I do Ttulo II, que trata dos Direitos e deveres individuais

e coletivos, grafou Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito

vida, liberdade, igualdade, segurana e a propriedade....

O Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos de 16 de dezembro de 1966, que

prev a garantia do acesso justia, foi ratificado no Brasil por meio do Decreto 592 de 06 de

julho de 1992 e em seu artigo 14, item 1, dispe sobre esse importante direito humano,

destacando que o direito de acesso justia deve acontecer em condies de igualdade:

Todas as pessoas so iguais perante os tribunais e as cortes de justia. Toda pessoa

ter o direito de ser ouvida publicamente e com devidas garantias por um tribunal

competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apurao de qualquer

acusao de carter penal formulada contra ela ou na determinao de seus direitos e

obrigaes de carter civil. A imprensa e o pblico podero ser excludos de parte da

totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pblica, de ordem pblica

ou de segurana nacional em uma sociedade democrtica, quer quando o interesse da

vida privada das Partes o exija, que na medida em que isso seja estritamente

necessrio na opinio da justia, em circunstncias especficas, nas quais a

publicidade venha a prejudicar os interesses da justia; entretanto, qualquer sentena

proferida em matria penal ou civil dever torna-se pblica, a menos que o interesse

1CP. Art. 345 - Fazer justia pelas prprias mos, para satisfazer pretenso, embora legtima, salvo quando a lei

o permite: Pena - deteno, de quinze dias a um ms, ou multa, alm da pena correspondente violncia.

18

de menores exija procedimento oposto, ou processo diga respeito controvrsias

matrimoniais ou tutela de menores.

Bonavides (2016, p. 385), ao lecionar sobre a importncia e evoluo da concepo do

direito de igualdade ensina que a igualdade deixou de ser a igualdade jurdica do liberalismo

para se converter na igualdade material da nova forma de Estado. Sustenta que tem tamanha

fora na doutrina constitucional vigente que vincula o legislador, tanto que o fez na lei

ordinria nos Estados-membros e na rbita federal como aquele que no crculo das

autonomias estaduais emenda Constituio ou formula o prprio estatuto bsico da unidade

federativa e arremata utilizando a expresso de Leibholz2 que diz: na presente fase da

doutrina, j no se trata em rigor de uma igualdade perante a lei, mais de uma igualdade

feita pela lei, uma igualdade atravs da lei.

A Constituio da Repblica Federativa do Brasil (1988), antes da ratificao do

referido Pacto Internacional, j havia consagrado a garantia do acesso justia no seu artigo

5, XXXV que diz: a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa de

direito. Essa garantia constitucional tambm conhecida como princpio da inafastabilidade

do controle jurisdicional ou princpio do direito de ao. Desta forma os direitos individuais,

difusos e coletivos, encontram amparo na tutela jurisdicional tanto nos casos de leso quanto

nas hipteses de ameaa, cuja providncia jurdica pode se consubstanciar em uma tutela

reparatria como preventiva.

A expresso acesso justia no possui um conceito determinado, contudo este pode

ser aferido em razo de seu sentido e finalidade, tendo em perspectiva que deve ser entendido

como um direito que vai alm da garantia formal, cabendo ao Estado promover meios ou

instrumentos hbeis para sua efetivao.

Cappelletti e Garth sobre a definio do acesso justia ensina:

A expresso acesso justia reconhecidamente de difcil definio, mas serve

para determinar duas finalidades bsicas do sistema jurdico o sistema pelo qual as

pessoas podem reivindicar seus direitos e ou resolver seus litgios sob os auspcios

do Estado que, primeiro deve ser realmente acessvel a todos; segundo, ele deve

produzir resultados que sejam individual e socialmente justos (CAPPELLETTI;

GARTH, 1988, p. 08).

Nas sociedades modernas, onde impera o Estado Democrtico de direito, a ideia do

acesso justia, alm da garantia formal de promover amparo jurdico aos litgios perante

Tribunais e Cortes de Justia, est ligada tambm a sua efetividade, ou seja, completa

2Gerhard Leibholz, Das Wesen der Representation und Gewaltwandel der Demokratie in 20. Jahrhundert, p.220.

19

igualdade de meios, condies, possibilidades e soluo, que deve ser tempestiva e til, posto

que o fundamento da tutela jurisdicional que prev o direito de ao assegura tambm o

resultado formal do acesso justia, que a resposta, a qual deve proporcionar resultado

prtico, com a efetiva preservao do direito e do bem da vida, num menor tempo possvel,

conferindo assim dignidade humana e justia social, pois o provimento jurisdicional final

extemporneo ou tardio por vezes pode redundar em injustia.

Sobre a evoluo do conceito de acesso justia, Piovesan leciona:

Habitualmente a expresso acesso justia utilizada como a possibilidade de

acesso ao rgo judicial. O conceito, entretanto vem evoluindo-se e se ampliando,

incorporando aspectos de justia social, expressando-o desta forma a possibilidade

de viver em uma ordem social que garanta a cada pessoa um mnimo necessrio a

sua dignidade (PIOVESAN, 2015, p. 491).

Noutro ngulo, no se pode perder de vista a existncia de fatores que dificultam o

acesso justia. Entre eles, em que pese ser o advogado indispensvel administrao da

justia (CF/88, art. 133) e a exigibilidade de capacidade postulatria jus postulandi,

conferida aos advogados inscritos na OAB - Ordem dos Advogados do Brasil (Art.103 c/art.

1, inciso I, c/c, art. 3 do Estatuto da OAB), muitas pessoas so hipossuficientes e no

possuem condies para arcar com as despesas processuais, como custas judiciais e

pagamentos de honorrios advocatcios.

Sobre os entraves ao acesso justia, Piovesan (2015, p.492/493) destaca o alto custo

das custas judiciais, despesas processuais, demora do provimento judicial que desmotiva o

jurisdicionado e causa descrdito justia, possibilidades individuais dos litigantes e o

sentimento de intimidao que os cidados mais humildes tm diante do Poder Judicirio,

asseverando que as dificuldades para as pessoas com deficincia so ainda maiores, tendo em

vista as dificuldades de acesso fsico e a recorrente necessidade de representantes ou

intrpretes. Tendo apontado tambm os problemas especiais da proteo dos direitos difusos.

Entre os fatores que dificultam ou obstruem o acesso justia esto as dificuldades ou

impossibilidades de locomoo do jurisdicionado, tanto nos casos de impossibilidade fsica

por razes decorrentes da sade, como em relao s grandes distncias que muitos cidados

devem percorrer at o Poder Judicirio existente na Comarca, o que merece ateno,

principalmente num pas com dimenses gigantescas como o Brasil, onde os meios de

transporte pblico so escassos ou inexistentes e, em se tratando de cidados residentes em

pequenos povoados ou zona rural, a situao se torna ainda mais gravada e muitas vezes

impossibilitado o acesso justia.

20

Objetivando resolver o problema quanto capacidade postulatria, o acesso Justia

no Brasil se encontra relativamente facilitado haja vista a existncia e atuao da Defensoria

Pblica da Unio e das Defensorias Pblicas dos Estados e Distrito Federal, que de acordo

com o art. 4 da lei complementar n80 de 12 de janeiro de 1994 e redao dada pela lei

complementar n132 de 2009, possuem competncia para dentro de seu mbito jurdico

prestar assistncia jurdica integral e gratuita, tanto judicial e extrajudicial aos cidados

socialmente em situao de vulnerabilidade ou hipossuficincia.

Entretanto, de acordo com o IV Diagnstico da Defensoria Pblica no Brasil (2015,

p.14/16), o nmero de defensores pblicos ativos nos Estados de apenas 5.512 e de

defensores pblicos federais e de 550, incluindo o defensor pblico geral, respectivamente. O

mesmo diagnstico informa que esse nmero no suficiente em razo da ausncia de

defensores em algumas comarcas espalhadas em todo Brasil, o que gera acumulao de

atribuies e demandas. Esse quadro, fatalmente, pode implicar em reflexos negativos na

qualidade dos trabalhos prestados pela instituio.

No Estado do Tocantins, a Defensoria Pblica foi implantada no ano de 1989 e vem

desenvolvendo um trabalho de enorme relevncia em todo o Estado. Contudo, e segundo o

mesmo diagnstico realizado no perodo de 2008 e 2014 (2015, p.44/45), o Estado do

Tocantins conta com 110 defensores pblicos ativos, para um pblico alvo (assistidos) de

604.171 pessoas, perfazendo o total de 5.492 pessoas por defensor pblico, o que denota

impossibilidade ftica e humana para atender a todo o pblico eficazmente.

No que se refere s custas judiciais, no h no Brasil uma norma de aplicao geral e

assim cada Estado legisla quanto cobrana das custas judiciais e processuais o que gera uma

multiplicidade de normas estaduais, cada uma atribuindo ndices e valores diferentes na

cobrana de taxas ou emolumentos para a prtica dos seus atos, utilizando como fator de

clculo a atribuio de um percentual sobre o valor da causa, gerando confuses, distores e

dificuldade aos jurisdicionados. Esse modelo de cobrana j foi, inclusive, motivo de

discusso em sede da Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3886, ajuizada pelo

Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil contra a Lei Complementar n 261, de

18/12/2006 que alterou percentuais aplicveis s despesas ou custas judiciais no Estado de

Mato Grosso.

E o que falar da demora da prestao jurisdicional, salta aos olhos a situao de

engessamento e lentido, o que tem sido razes de preocupaes dos rgos de controle do

Poder Judicirio em todo Pas e de muitos estudos na busca de um caminho capaz de apontar

uma direo plausvel rumo soluo ou ao menos a melhora de tal impasse.

21

Todavia, mesmo diante dos diversos fatores que obstruem o acesso justia, o Poder

Judicirio Brasileiro, se encontra sobrecarregado, congestionado e via de consequncia,

moroso, isto porque, anualmente so ajuizadas diversas demandas, situao agravada pela

cultura do litgio fenmeno da litigiosidade, ao passo que o sistema de justia no tem

conseguido julgar de forma a esvaziar o estoque de processos, pois de acordo com o relatrio

Justia em nmeros do CNJ Conselho Nacional de Justia (2016), ano base 2015, a cada

ano existe um aumento significativo de novas demandas ajuizadas, ocasionando alto ndice da

taxa de congestionamento, tendo em vista o baixo percentual de processos arquivados.

2.1 DA GARANTIA CONSTITUCIONAL RESPOSTA JURISDICIONAL

CLERE E TIL E FATORES QUE CONCORREM PARA A DEMORA DA

PRESTAO JURISDICIONAL

O direito fundamental a uma resposta jurisdicional clere foi consagrado no plano

internacional na Conveno Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San Jos da Costa

Rica em 22 de novembro de 1969. Referido pacto foi ratificado pelo Brasil em 1992 por meio

do Decreto n. 678 de 06 de novembro de 1992, que ao tratar das garantias judiciais, disps no

seu artigo 8, 1:

Toda pessoa tem direito a ser ouvida com as devidas garantias e dentro de um prazo

razovel, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido

anteriormente por lei, na apurao de qualquer acusao penal formulada contra ela,

ou para que se determinem os direitos ou obrigaes de natureza civil, trabalhista,

fiscal ou de qualquer outra natureza.

Vislumbra-se que o direito demora razovel na soluo dos conflitos um direito

que adquiriu eficcia no plano internacional e a Repblica Federativa do Brasil, reconhecendo

sua importncia ratificou os termos do pacto, incorporando-o ao ordenamento jurdico com

status de princpio fundamental, vez que a Emenda Constitucional 45 que reformou

constitucionalmente o Poder Judicirio, incluiu o inciso LXXVIII no artigo 5 da Constituio

Federal de 1988, lecionando que: a todos no mbito judicial e administrativo so assegurados

a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao.

Embora o direito a uma tutela jurisdicional clere, no seja propriamente uma

novidade, posto que contido implicitamente na clusula do devido processo legal, a previso

expressa reforou sua importncia, notadamente porque o fez dentro das garantias

22

fundamentais, conferindo status de clusula ptrea3, conforme se v do artigo 60, 4, inciso

da IV da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988.

Alm de ser um direito fundamental tambm anseio natural de todos aqueles que se

socorrem perante o Poder Judicirio na busca da efetivao ou preservao de um direito,

contudo, na atualidade vive-se um dos grandes problemas enfrentados tanto pelos

jurisdicionados como pelo prprio Poder Judicirio, que a morosidade da justia.

A demora no pronunciamento jurisdicional desencadeia mltiplos efeitos,

notadamente a perda do objeto demandado, posto que em muitas situaes, em razo da

morosidade, o que se verifica a inutilidade do provimento jurisdicional final, reverberando

em flagrante injustia, vez que nessas hipteses mesmo que a parte saa vitoriosa no lhe ser

til uma deciso judicial tardia ou extempornea.

Muitos fatores do causa ao grande nmero de processos ajuizados, entre eles, tem-se

o fenmeno da judicializao e ativismo judicial4, fazendo com que muitas pessoas, antes

mesmo de buscar solucionar uma demanda de forma particular extrajudicialmente, utilizando-

se dos meios alternativos de soluo de litgios, como a transao, acordo ou arbitragem,

preferem ajuizar o processo judicial. Esses fatores ganharam destaque no s por fomentar a

cultura do litgio, mais tambm por sobrecarregar os tribunais com mais e mais processos,

ocasionando morosidade na prestao jurisdicional, bem como altos custos para a prpria

manuteno do sistema de justia que em razo do grande fluxo de demandas necessita de

maior aparelhamento fsico estrutural, humano e financeiro.

De acordo com Barroso (2009, p.6/7) o fenmeno da judicializao e o ativismo

judicial no se confundem. O autor sustenta que na judicializao ocorre a transferncia de

poder poltico para o Judicirio, principalmente, para o Supremo Tribunal Federal, tendo

destacado trs causas, quais sejam: a redemocratizao do pas evidenciada pela Constituio

de 1988, que levou as pessoas a procurarem mais o Judicirio; a constitucionalizao, que fez

com que a Constituio de 1988 tratasse de inmeros assuntos e ainda o sistema de controle

3NOBRGA, Guilherme Pupe da: CLUSULAS PTREAS: breves consideraes sobre amplitude da proteo,

ncleo essencial e dupla emenda. Surgiram como instrumentos de preservao dos ideais e valores do poder

Constituinte originrio, por constiturem verdadeiro cerne essencial do sistema constitucional. Essas vedaes

funcionam como garantia de conservao da identidade e dos princpios fundamentais, atravs de verdadeiras

limitaes materiais ao Constituinte derivado, resguardando-a enquanto pacto fundante. Disponvel em:

file:///C:/Users/User/Downloads/203-1170-1-PB.pdf. 4BARROSO, Lus Roberto: Judicializao, Ativismo e legitimidade democrtica. Significa que algumas

questes de larga repercusso poltica ou social esto sendo decididas por rgos do poder judicirio e no pelas

instncias polticas tradicionais. J o ativismo judicial uma atitude, a escolha de um modo especfico e proativo

de interpretar a Constituio, expandindo o seu sentido e alcance. Disponvel em:

http://www.direitofranca.br/direitonovo/FKCEimagens/file/ArtigoBarroso_para_Selecao.pdf.

file:///C:/Users/User/Downloads/203-1170-1-PB.pdfhttp://www.direitofranca.br/direitonovo/FKCEimagens/file/ArtigoBarroso_para_Selecao.pdf

23

de constitucionalidade e o fato de inmeros rgos, entidades pblicas e privadas as

sociedades de classe de mbito nacional e as confederaes sindicais poderem ajuizar aes

diretas, o que permite que atualmente quase qualquer questo poltica ou moralmente

relevante chegue ao STF. Frisa que na judicializao temos um fato, ao passo que o ativismo

judicial se configura em uma atitude, ou seja, a escolha de um modo especfico e proativo de

interpretar a Constituio, expandindo o seu sentido e alcance.

Ainda segundo Barroso (2009, p.6/7) a postura ativista sustenta-se por meio de

diferentes condutas, tendo destacado a aplicao direta da Constituio a situaes no

expressamente contempladas em seu texto e independentemente de manifestao do

legislador ordinrio; a declarao de inconstitucionalidade de atos normativos emanados do

legislador, com base em critrios menos rgidos que os de patente, ostensiva violao da

Constituio e a imposio de condutas ou de abstenes ao Poder Pblico, notadamente em

matria de polticas pblicas.

Morais (2013, p.39) afirma que a expresso ativismo judicial foi utilizada pela

primeira vez no ano de 1947 por Arthur Schlesinger Jr, asseverando que, no direito Brasileiro,

tornou-se tema relevante, no s quanto sua possibilidade, mais principalmente, em relao

aos seus limites, haja vista a existncia de polmica sobre a prtica do fenmeno e sua

conceituao. O referido, autor conceituando o fenmeno, afirma que ativismo judicial seria

uma filosofia quanto deciso judicial mediante a qual os juzes permitem que suas decises

sejam guiadas por suas opinies pessoais sobre polticas pblicas, entre outros fatores.

A primeira impresso que o ativismo judicial e mesmo o fenmeno da judicializao

no constituem fatores conducentes morosidade da justia, mais importante atentar-se para

seus possveis efeitos internos e externos, em especial o pragmatismo, vez quede acordo com

Dworkin (2010) o ativismo judicial apresenta risco democracia, pois sua utilizao de forma

imoderada gera pragmatismo jurdico.

Noutro norte, tem-se que outros fatores concorrem para a demora da prestao

jurisdicional, como a complexidade da causa; a quantidade de processos por unidade

judiciria, comportamento das partes, falta de estrutura dos tribunais, falta de recursos

financeiros e humanos, m distribuio da fora e volume de trabalho, bem como falta de

especialidade dos servidores, cabendo aos tribunais melhorar sua organizao administrativa a

24

fim de diminuir o chamado tempo morto dos processos5, ou seja, o tempo em que ficam

aguardando a prtica de atos processuais nas serventias.

A efetividade do direito a um prazo razovel no deslinde do processo apresenta

dificuldades, notadamente no que tange ao estabelecimento de critrios para aferio ou

estabelecimento de um lapso temporal adequado ao que seria um prazo razovel de durao.

Paes ao escrever sobre o direito de ser ouvido em um prazo razovel e a morosidade da justia

segundo a tica do Tribunal Europeu de Direitos Humanos frisou:

Em resumo, no se pode sugerir um lapso preciso que constitua o limite entre a

durao razovel e o prolongamento indevido de um processo, necessrio

examinar as circunstncias particulares de cada caso e a complexidade do mesmo.

Mas a ausncia de uma regra matemtica, com relao durao do processo,

tampouco deve estimar-se que outorga uma faculdade discricionria ao tribunal, ou

legislao interna dos Estados, em relao a definir o que se razovel. H de se ter

critrios iguais no tratamento de assuntos de natureza distinta. (PAES, 1997, p.6/7)

A dificuldade de mensurar o que seria a razoabilidade do prazo de tramitao dos

processos escora principalmente na individualidade e particularidade de cada demanda.

Entretanto, a fim de reduzir o prazo de tramitao processual e melhorar a prestao

jurisdicional, a legislao infraconstitucional, civil e processual, prev uma srie de

instrumentos a ser utilizados pelas partes, como tambm pelo Poder Judicirio e nesse sentido

a Justia Brasileira tem implementado diversas aes, como o cumprimento de metas e a

semana nacional de conciliao, coordenadas pelo Conselho Nacional de Justia.

Ainda sobre os esforos para melhorar a atividade jurisdicional e obter uma prestao

jurisdicional mais clere e efetiva, anualmente o CNJ - Conselho Nacional de Justia analisa

as especificidades dos Tribunais em todo Pas e edita o Relatrio Justia em Nmeros, que

traa um diagnstico da situao da Justia Brasileira. Da anlise dos ltimos relatrios,

notadamente nos anos de 2014, 2015 e 2016, verifica-se que o Poder Judicirio, apesar de

empreender muitos esforos, ainda no se encontra bem aparelhado para receber e solucionar

o grande nmero de litgios levados anlise jurisdicional, principalmente no que diz respeito

estrutura fsica operacional, administrativa e financeira.

Depreende-se do relatrio Justia em Nmeros do Conselho Nacional de Justia

(2014) que o Poder Judicirio iniciou quele ano com o estoque de 70,8 milhes de processos,

5SALGADO, Gisele Mascarelli. Em linhas gerais pode-se dizer que o tempo morto no processo judicirio o

tempo em que o processo judicirio est em andamento, sem estar correndo o prazo dos atos processuais. O

tempo morto aquele em que no h efetivamente atos processuais que levem ao fim do processo, garantindo a

paz social com a resoluo dos conflitos. Disponvel em:

http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3837/Tempo-morto-no-processo-judicial-brasileiro.

http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3837/Tempo-morto-no-processo-judicial-brasileiro

25

que tendia a aumentar devido o total de processos baixados terem sido inferior ao de ingresso,

estimando um crescimento de 1,2 pontos percentuais de novos casos e de 4,2 pontos

percentuais de casos pendentes no estoque de processos no final de 2014, ultrapassando assim

71,2 milhes de processos pendentes.

Em 2014 a taxa de congestionamento foi de 71,4 pontos percentuais, com aumento de

0,8 pontos percentuais em relao ao ano anterior, ou seja, 2013. De acordo com o CNJ

Conselho Nacional de Justia, a taxa de congestionamento mede a efetividade do tribunal em

um perodo, levando-se em conta o total de casos novos que ingressaram, os casos baixados e

o estoque pendente ao final do perodo anterior ao perodo base. O indicador oriundo do

Relatrio Justia em Nmeros que j tem srie histrica de apurao nos tribunais. Para o

rgo, possui analogia direta com uma caixa dgua, que quando d vazo ao volume que

entra e mantm um nvel baixo, resulta numa baixa taxa de congestionamento. Ao contrrio,

quando no d vazo ao que entra e ainda mantm um estoque alto resulta numa alta taxa de

congestionamento.

Para medir a taxa de congestionamento o CNJ, utiliza a seguinte frmula: (TPJB/

(TCN + TCP), ou seja, mensura o TPJB Total de Processos judiciais baixados, o TCN

Total de casos novos e o TCP Total de casos pendentes, durante um perodo, ano/base.

Ainda conforme o relatrio Justia em Nmeros (2014), no que diz respeito aos

recursos humanos o Poder Judicirio em todo Pas, contaram no ano de 2014 com 16.927

magistrados, dos quais 11.631 atuam na Justia Estadual. Contou tambm, com 278.707

servidores, sendo 245.335 do quadro efetivo, excludos 4.306 requisitados ou cedidos para

outros rgos, resultando numa fora de trabalho de 241.029 servidores efetivos, somando-se

mais 22.679 requisitados e cedidos de outros rgos e 14.724 comissionados sem vnculo.

Informa ainda, a existncia de 40.248 cargos criados por lei e ainda no providos, que

representam 14 por cento dos cargos efetivos existentes, sendo que a justia estadual detm

64,5 por cento, do total dos servidores do Poder Judicirio, a Justia do Trabalho 14,8 por

cento e a Justia Federal 10,3 por cento.

Registrou ainda, no obstante os investimentos crescentes de 1,5 pontos percentuais

nos gastos totais, 1,8 pontos percentuais no quantitativo de magistrados e 2,0 pontos

percentuais no quantitativo de servidores, a taxa de congestionamento do Poder Judicirio

cresceu 0,8 pontos percentuais, significando que para cada 100 processos em tramitao em

2014, apenas 29 foram baixados no perodo, contudo o total de processos baixados

(arquivados) vem aumentando desde 2010, com um crescimento de 9,3 pontos percentuais no

quinqunio 2010-2014.

26

No ano seguinte, a edio do Relatrio Justia em Nmeros (2015 p.34/35) indica

altas taxas de congestionamento especificando ndices por tipo de justia, sendo que a justia

estadual tocantinense registrou o ndice de 74%. E pela primeira vez, apresentou informaes

sobre a estrutura do Poder Judicirio, com detalhamento das comarcas e varas instaladas por

unidade da Federao, alm de ressaltar a estrutura da Justia, detalhou a litigiosidade

identificando classes e assuntos.

Destacou que em todo Pas o nmero de cargos para magistratura cresceu, sendo

22.451 cargos, estando providos 17.558 e 4.893 vagos. Os cargos providos so distribudos

em 77 nos Tribunais Superiores; 2.332 no segundo grau de jurisdio e 14.518 no primeiro

grau, juizados e turmas recursais, sendo que 631 magistrados esto afastados da jurisdio.

Com relao ao quantitativo de servidores, o relatrio aponta aumento, contando no

perodo com 285.583 servidores, sendo 254.335 providos; 40.248 vagos e 14.724 sem

vnculo. O total de cargos providos est distribudo em 3.271 nos Tribunais Superiores;

32.257 no segundo grau de jurisdio e 182.632 no primeiro grau de jurisdio. Na rea

administrativa conta com 60.556. Os servidores cedidos somam um total de 4.306;

terceirizados 70.830; estagirios 60.241; conciliadores 6.427 e juzes leigos 1.800 cargos.

Sobre a litigiosidade, registrou um crescimento de 11 (onze) por cento de novas

demandas o que contribuiu para o crescimento da taxa de congestionamento, cujos assuntos

mais ajuizados encontram demonstrado abaixo:

Tabela 1 Litigiosidade no Poder Judicirio Brasileiro/Assuntos recorrentes

Aes/Assuntos Total de ajuizamento

Resciso/ contrato de trabalho/verbas rescisrias 5.281.353

Obrigaes/Contrato em espcie 2.827.291

Obrigaes civis/Ttulo de crdito 842.450

Obrigaes/Inadimplemento 714.364

Responsabilidade Civil: Dano moral 1.258.733

Direito de Famlia/Alimentos 1.023.112

Direito do Consumidor/Responsabilidade/Fornecedor 2.039.288

Direito Tributrio/Dvida ativa 1.642.997

Processo civil e Trabalhista/obrigaes de fazer e no fazer 784.756

Direito administrativo e outras matrias de direito pblico 761.444 Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados do Relatrio Justia em Nmero (2015, p.56)

O mesmo estudo traou tambm um perfil quanto movimentao processual do

Poder Judicirio, permitindo visualizar o aumento do acervo processual no perodo entre 2009

e 2014, sendo que o nmero de processos pendentes continuava a crescer e representava 70,8

27

milhes e equivaliam a 2,5 mais que os 28,9 milhes de novos casos e 28, 5 milhes de

processos baixados. A situao extrema, ao ponto do relatrio afirmar que mesmo que o

Poder Judicirio ficasse paralisado sem ingresso de novas demandas, com a produtividade de

magistrados e servidores, poca, seriam necessrios quase dois anos e meio de trabalho para

zerar o estoque, pois o ajuizamento de novas demandas superior sada, ou seja, baixo

quantitativo de arquivamentos.

Em 2017, o relatrio justia em nmeros (2016, p. 65) informa que a justia estadual

possui um estoque de processos pendentes equivalente a 3,2 vezes a demanda, contudo

merece destacar que o mesmo levantamento na p. 164, indicou a Justia estadual com

aproximadamente 67% do total de processos ingressados no Poder Judicirio com grande

diversificao de assuntos, sendo que o tema direito civil apareceu entre os cinco assuntos

com maiores quantitativos de processos em todas as instncias da justia estadual. Ressaltou

tambm o elevado nmero de processos de direito penal no segundo grau e direito tributrio e

do direito do consumidor nos juizados especiais e turmas recursais. O grfico abaixo ilustra

bem a crescente movimentao processual no Pas:

Figura 1 Evoluo da movimentao processual no Pas

Fonte: Relatrio Justia em nmeros 2017, p.66.

Importante frisar que do total de novas demandas a Justia Estadual detm 70% e

quase 81% do total de casos pendentes do Poder Judicirio, mas ao analisar apenas os

processos de conhecimento de varas e juizados especiais, tem-se que as taxas de

28

congestionamento das Justias Estaduais equivalem a 66%, enquanto a taxa de

congestionamento do Poder Judicirio na fase de execuo de quase 86%. Dessa forma,

verifica-se que o maior gargalo da litigiosidade do Poder Judicirio est na fase de execuo,

que abrange 51% do acervo, fazendo com que o jurisdicionado espere por mais tempo pela

resoluo definitiva de sua demanda com a satisfao integral do seu direito.

No que tange produtividade, a verso (2016, p.44), ano base 2015, indica que o

ndice de produtividade por magistrados e servidores da rea judiciria teve aumento,

comparado com o ano anterior (2015) de 3,7 por cento e 3, 9 por cento, respectivamente,

contudo a carga de trabalho, ndice que mede o nmero de procedimentos pendentes ou

resolvidos no ano, por magistrados e servidores, tambm aumentou proporcionalmente de 6, 5

por cento para 6, 7 por cento.

No ano seguinte a edio (2017, p.70 e 73), ano base 2016, os dados indicam que o

ndice de produtividade dos magistrados e o ndice de produtividade dos servidores, variaram

em -1,2% e 2%, respectivamente e as cargas de trabalho registraram decrscimo de -0,8%

para os magistrados e crescimento para os servidores na ordem de 2,5%, sendo que na justia

estadual o aumento da produtividade dos servidores foi de 3,5%.

Figura 2 ndice de produtividade e carga de trabalho dos servidores da rea judiciria do Poder Judicirio

Fonte: Relatrio Justia em nmero 2017, p.73.

A carga de trabalho bruta saltou de 490 no ano de 2009, para 533 em 2016. Esse

cenrio revela a existncia de um batalho de pessoas trabalhando em prol do bom andamento

29

jurisdicional e efetivao do princpio fundamental da razovel durao do processo e outro

buscando resposta jurisdicional para seus conflitos. Demonstra tambm que alm das causas

endoprocessuais, existem causas extraprocessuais, administrativas e sociais que concorrem

para a lentido da justia, contudo tem-se que o problema da morosidade da justia poder ser

melhor administrado e qui melhorado mediante a adoo de novas posturas sociais e

jurdicas por parte de todos os envolvidos, partes, operadores do direito e sociedade em geral,

os quais devero manter comportamento tico e atitudes proativas, visando pacificao social.

factvel que a morosidade processual aponta para um desequilbrio organizacional e

apresenta-se como uma das principais causas de desestmulo ao acesso justia e gera

descrdito do Poder Judicirio, vez que a respeitabilidade e confiabilidade no Poder Judicirio

esto intimamente ligadas a uma resposta rpida e eficaz das lides ajuizadas. Entretanto, no

se pode olvidar de oportunizar as partes o exerccio do direito ampla defesa e o

contraditrio, vez que o princpio da durao razovel do processo deve ser efetivado em

harmonia com outros princpios constitucionais e acontecer sem dilaes indevidas ou

desnecessrias dos prazos processuais previstos em lei.

Sobre a razoabilidade dos prazos processuais, Arajo pondera que:

A razoabilidade do prazo deve estar vinculada com a emergncia que toda pessoa

tem de uma imediata ou breve certeza sobre a situao jurdica. (...) o ideal seria

obedecer aos prazos previstos pela prpria lei, pois se o legislador os adotou j foi

de caso pensado e no aleatoriamente. Contudo, considerando determinados fatores

surgidos posteriormente edio da lei, possvel que venha dificultar um pouco

mais a entrega da prestao jurisdicional nos prazos fixados, nascendo, ento, certa

dificuldade para fixar o que seria um prazo razovel para cada caso concreto.

(ARAJO, 2005, s. p).

Assim, a busca de uma resposta jurisdicional clere e efetiva, deve respeitar as

caractersticas e peculiaridades individuais de cada demanda, aliada a boa operacionalizao

dos instrumentos processuais e respeito aos prazos legais. Contudo, dilaes desnecessrias

no podero ser aceitas, como tambm no deve ser entendido como normais a m gesto, o

engessamento e a baixa produtividade dos agentes e servidores pblicos, posto que detm o

dever de agir de forma eficiente a fim de atingir patamares indicadores de uma boa gesto

funcional e administrativa, visando sempre alcanar a excelncia na prestao dos servios

pblicos conforme se prope o princpio da boa administrao, o que somente ser possvel

por meio da utilizao de mecanismos que demonstrem hbeis a concretizao do provimento

jurisdicional final, cujos caminhos ou alternativas a serem trilhados na busca de tal finalidade

o que se pretende apontar ao final da pesquisa.

30

2.2 DOS PRINCPIOS DA ADMINISTRAAO PBLICA E DO DEVER DE

EFICINCIA

A Constituio da Repblica elenca vrios princpios que norteiam a atividade da

Administrao Pblica direita e indireta de quaisquer dos Poderes Pblicos, quais sejam: a

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia. Assim, todo gestor pblico

est diante do dever de nortear a atividade administrativa, com vistas ao cumprimento dos

princpios administrativos estabelecidos pelo artigo 37 da Constituio da Repblica

Federativa do Brasil, vez que o prprio Estado detm o dever cumprir a norma que produz,

desta forma a atividade administrativa deve acontecer dentro dos limites impostos pela lei e

atingir resultados positivos com mnima perda de recursos, fazendo melhor uso possvel do

dinheiro pblico, do tempo, materiais e pessoais, afastados dos favores pessoais e os sigilos

desnecessrios, pautado pela moralidade pblica, consagrando o princpio da eficincia,

consectrio lgico da boa administrao pblica.

Assim insta esclarecer: o que vem a ser princpio? Qual sua importncia no meio

jurdico e administrativo? Wambier e Talamini respondem tais indagaes e sustentam que

princpios:

So normas que fornecem coerncia e ordem a um conjunto de elementos,

sistematizando-os. Segundo a doutrina, so normas fundantes do sistema jurdico.

So os princpios que, a rigor, fazem com que exista um sistema. Os princpios

jurdicos so tambm normas jurdicas. Mesmo quando implcitos, no expressos, os

princpios so obrigatrios, vinculam, impe deveres, tanto quanto qualquer regra

jurdica. (WAMBIER; TALAMINI, 2015, p. 77).

No mesmo sentido Gasparini (2012, p. 60) ensina que constituem princpios um

conjunto de proposies que aliceram ou embasam um sistema e lhe garante validade, ensina

que os princpios so (i) onivalentes, isto valem para qualquer cincia, (ii) plurivalentes,

valem para um grupo de cincias naturais e (iii) monovalentes, que valem s para uma

cincia. Para o autor violar princpios muito mais grave que transgredir uma norma, pois a

desateno ao princpio implica ofensa no a um especfico mandamento obrigatrio, mas a

todo o sistema de comando.

Com muita propriedade Melo (2011, p.98) define princpio como mandamento nuclear

de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposio fundamental que irradia sobre diferentes

normas, compondo lhe o esprito e servindo de critrio para sua exata compreenso e

31

inteligncia, exatamente por definir a lgica e a racionalidade do sistema normativo, no que

lhe confere a tnica e lhe d sentido harmnico.

O ltimo princpio administrativo inserido no texto constitucional foi o da eficincia,

por meio da emenda constitucional 19, de 04 de junho de 1998 e veio com o objetivo de

atender as necessidades e prioridades do Estado, posto no ser mais suficiente prtica dos

atos administrativos pautado apenas pela legalidade, impessoalidade, moralidade e

publicidade, houve a necessidade de que os atos administrativos produzissem resultados

prticos e positivos. Assim, e a partir de ento, a produo administrativa eficiente deixou de

ser apenas postura tica a ser exalada das prticas dos atos e deveres funcionais, como

tambm princpio bsico, fundamental a ser observado por todos servidores pblicos no Pas.

O Cdigo de Defesa do Consumidor exige eficincia dos rgos pblicos, o artigo 22,

caput, proclama: Os rgos pblicos, por si ou suas empresas, concessionrias,

permissionrias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, so obrigados a fornecer

servios adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contnuos.

Sendo a eficincia um princpio expresso no texto da constituio e que submete toda

a Administrao Pblica, no mbito jurdico uma prestao jurisdicional clere e eficiente

dever que se impe ao Poder Judicirio, eis que primordial para conferir efetividade a outro

princpio tambm expresso no texto constitucional que a razovel durao do processo.

Assim, celeridade e eficincia devem perfilhar o mesmo caminho, pois de nada adiantaria

uma justia clere ineficiente.

Sobre celeridade e eficincia, importante a lio doutrinria de Theodoro, Jr (2005),

segundo o qual, a primeira grande conquista do Estado Democrtico de Direito justamente a

de oferecer a todos uma justia confivel, independente, imparcial e dotado de meios que a

faa respeitada e acatada pela sociedade e adverte que a lentido da resposta da justia quase

sempre torna inadequada para realizar a composio justa da controvrsia, pois mesmo que

o jurisdicionado seja vitorioso no pleito judicial se sentir, muitas vezes, injustiado,

asseverando que justia tardia no justia e sim denegao da justia.

Destarte, sendo os direitos fundamentais, aqueles direitos idealizados e especificados

na Constituio e que encerram valores supremos, considerados imprescritveis e

indisponveis, necessrios a realizao da pessoa humana, pois propiciam condies

indispensveis autodeterminao pessoal e sobrevivncia digna, conforme vasta e

majoritria doutrina inconcebvel qualquer que seja o grau de violao e por isso cabe aos

tribunais de todo Pas encontrar formas de cumprir a atividade judicial e entregar a tutela

jurisdicional dentro de um prazo considerado razovel o qual poder variar a depender da

32

especificidade de cada demanda, mais tendo em perspectiva que os princpios so normas

concretas que prescindem da criao de uma regra infraconstitucional, pois conforme

amplamente debatido pela doutrina, so dotados de eficcia plena, ou seja, imediata nos

termos do artigo 5 1 da CF/1988 que dispe: As normas definidoras dos direitos e

garantias fundamentais tm aplicao imediata.

2.2.1 Da celeridade e da eficincia na Administrao da Justia

A atividade da Administrao Pblica deve ser desenvolvida em ateno aos

princpios administrativos insculpidos na Constituio da Repblica Federativa do Brasil de

1988, contudo difcil implementar meios para efetuar, com tambm fiscalizar os atos

administrativos praticados no cotidiano dos diversos setores pblicos em todo Pas.

O direito a um provimento jurisdicional clere e til est diretamente subordinado a

eficincia da administrao da justia, todavia a morosidade da justia tem sido motivo de

reclamaes dos jurisdicionados e de manchetes amplamente alardeadas pelos meios de

comunicao de massa, o que tem sido motivo de preocupaes interna do Poder Judicirio,

como tambm decorrncia de mudana do modelo tradicional burocrtico de administrar,

objetivando, por conseguinte, uma justia clere e eficiente por meio do sistema gerencial

administrativo.

Melo (2015, p.129) ao tratar do princpio da boa administrao ensina que o princpio

da eficincia no parece ser mais do que uma faceta de um princpio mais amplo j

superiormente tratado, de h muito, no Direito italiano: o princpio da boa administrao. De

acordo com o autor, este ltimo princpio significa desenvolver a atividade administrativa do

modo mais congruente, mais oportuno e mais adequado aos fins a serem alcanados, graas

escolha dos meios e da ocasio de utiliz-los, concebveis como os mais idneos para tanto.

Acrescenta que tal dever no se impe simplesmente como um dever tico ou como mera

aspirao deontolgica, seno como um dever atual e estritamente jurdico.

Com muita propriedade Di Pietro (2015, p.117), esclarece que o princpio da

eficincia apresenta na realidade, dois aspectos: o primeiro pode ser considerado em relao

ao modo de atuao do agente pblico, do qual se espera o melhor desempenho possvel de

suas atribuies, para lograr os melhores resultados e o segundo, em relao ao modo de

organizar, estruturar, disciplinar a Administrao Pblica, tambm com o mesmo objetivo de

alcanar os melhores resultados na prestao do servio pblico.

33

Depreende-se que o princpio da eficincia impe aos agentes pblicos o dever de

realizar suas atribuies com rapidez, perfeio e bom aproveitamento, satisfazendo os

interesses administrativos e da sociedade em geral, no sendo razoveis atitudes

procrastinatrias, desnecessrias ou inteis, ao revs a ineficincia ou demora em realizar a

atividade administrativa pode ser entendido como desdia acarretando at mesmo a

responsabilidade do prprio Estado por eventuais danos ou prejuzos decorrente do atraso,

conforme proclama o artigo 37 6 As pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito

privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danos que seus agentes, nessa

qualidade, causarem a terceiros, assegurando o direito de regresso contra o responsvel nos

casos de dolo ou culpa, como tambm responsabilidade por falta funcional do agente

ineficiente.

O cdigo penal brasileiro em seu artigo 319 tipifica o crime funcional, praticado por

funcionrio pblico contra a Administrao Pblica, consubstanciado em retardar ou deixar

de praticar, indevidamente, ato de ofcio, ou pratic-lo contra disposio expressa de lei para

satisfazer interesse ou sentimento pessoal, punvel com pena de deteno, de trs meses a um

ano, e multa. Contudo, na prtica, esse tipo de crime muitas vezes prescreve, tendo em vista a

dificuldade de constituir provas e mesmo identificar a ocorrncia subjetiva do tipo

consubstanciado em satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Noutro prisma, vale ressaltar que se o ato administrativo funcional deixou de ser

praticado em razo da ausncia de meios ou instrumentos, no h que se falar em falta

funcional, vez que somente se verifica pratica criminosa no caso de dolo, ou seja, vontade

livre e consciente de retardar ou praticar ato de ofcio indevidamente e com o objetivo de

satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Carvalho Filho, ensinando sobre o princpio da eficincia, escreveu:

Includo em mandamento constitucional, o princpio pelo menos prev para o futuro

maior oportunidade para os indivduos exercerem sua real cidadania contra tantas

falhas e omisses do Estado. Acrescenta que trata-se, na verdade de um dever

constitucional da Administrao, que no poder desrespeit-lo, sob pena de serem

responsabilizados os agentes que derem causa violao. (CARVALHO FILHO,

2015, p. 31).

No mbito administrativo e em ateno ao princpio da legalidade, o legislador ao

tratar dos deveres dos servidores pblicos civil da unio editou a Lei 8.112/90 e previu em seu

artigo 116, dentre outros deveres, os seguintes: exercer com zelo e dedicao as atribuies do

cargo; observar as normas legais e regulamentares; zelar pela economia do material e a

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conservao do patrimnio pblico; manter conduta compatvel com a moralidade

administrativa. No mesmo sentido o que dispe a lei 1.818 de 23 de agosto de 2007 -

Estatuto dos servidores pblicos civis do Estado do Tocantins ao dispor sobre os deveres dos

servidores pblicos estaduais no artigo 133:

I - exercer com zelo e dedicao as atribuies do cargo;

II - ser leal s instituies a que servir;

III - observar as normas legais e regulamentares;

IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;

V - atender com presteza ao pblico em geral, prestando as informaes requeridas,

ressalvadas s protegidas por sigilo;

VI - levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver

cincia em razo do cardo:

VII - zelar pela economia do material e a conservao do patrimnio pblico;

VIII- guardar sigilo sobre assunto da repartio;

IX - manter conduta compatvel com a moralidade administrativa;

X - ser assduo e pontual ao servio;

XI - tratar com urbanidade os demais servidores e o pblico em geral;

XII - representar contra ilegalidade, omisso ou abuso de poder;

XIII- apresentar-se ao servio adequadamente vestido;

XIV respeitar quaisquer servidores, especialmente os subordinados.

Pargrafo nico. A representao de que trata o inciso XII deste artigo

encaminhada a autoridade superior ao representado, cabendo a ela sua apreciao e a

este ampla defesa. (Grifou)

Infere-se que a legislao constitucional e infraconstitucional no se descuidou e

tratou de forma ampla sobre o modo de atuao dos servidores pblicos perante a

administrao pblica e a partir de um perfil ideal norteia toda a atividade administrativa,

onde agir de acordo com a lei regra primordial e a discricionariedade exceo, sob pena de

incorrer o agente faltoso em responsabilidade civil, penal e administrativa, a depender do ato

ilcito praticado.

Em que pese o esforo legislativo, conferir efetividade ao princpio da eficincia no

tem sido tarefa fcil, posto que j se percorreu dezenove anos da sua positivao e ainda

enfrentamos deficincias e baixa produtividade funcional em diversos seguimentos do setor

pblico, o que tambm se verifica no mbito do Poder Judicirio.

No mbito jurdico e com relao prestao jurisdicional, o dever de eficincia deve

ficar evidenciado por meio da efetividade do princpio fundamental da razovel durao do

processo, sendo necessrio que o provimento jurisdicional ocorra num menor espao de

tempo e produzindo resultados teis, conjugando celeridade - rapidez na tramitao

processual e qualidade (eficincia) do provimento jurisdicional, mais tambm, respeitando

outros direitos fundamentais das partes, como o pleno exerccio da ampla defesa e do

contraditrio.

35

Sobre o princpio da eficincia Marinela, explica que:

A eficincia exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza,

perfeio e rendimento funcional. Consiste na busca de resultados prticos de

produtividade, de economicidade, com a consequente reduo de desperdcios do

dinheiro pblico e rendimentos tpicos da iniciativa privada, sendo que, nessa

situao, o lucro do povo; quem ganha o bem comum. (MARINELA, 2013,

p.44).

Vislumbra-se que a base nuclear do princpio da eficincia a busca simultnea de boa

produtividade, aliada economia, perfeio e desburocratizao, pois no se pode conceber

uma atividade administrativa eficaz, sem reduo dos desperdcios de dinheiro pblico,

improdutiva, imperfeita, engessada e morosa.

A administrao da justia quase sempre, ressalvadas as hipteses de transao

extrajudicial ou pr-processual, ocorre por meio do processo, aqui entendido como

instrumento para atuao do Estado tutelar o direito material, ou seja, instrumento de

composio dos litgios ordenado ou sistematizado por regras prprias, vinculando

necessariamente trs sujeitos, o autor, o juiz e o ru, compondo assim o que se denomina de

trilogia estrutural do direito processual jurisdio, ao e processo, este ltimo, como meio

pelo qual atua a jurisdio.

A doutrina consagrou vrios princpios informadores do processo e no que tange a

busca da celeridade destacam-se os princpios da economia processual, tambm conhecido

como simplificao ou princpio econmico; o princpio da instrumentalidade das formas,

cooperao ou lealdade processual, efetividade e razovel durao do processo, tambm

chamado de princpio da celeridade processual.

O princpio da economia processual prega que o processo deve obter o maior resultado

com o mnimo de tempo e esforo, Wambier e Talamini, sobre o tema assevera que:

O princpio econmico, por seu turno, deve inspirar tanto o legislador processual

quanto operador do Direito (juiz, advogado, promotor) a obter o mximo rendimento

com o mnimo de dispndio. Deve tambm o processo, segundo o princpio

econmico, ser acessvel a todos quantos dele necessitar, inclusive no que diz

respeito ao seu custo. (WAMBIER; TALAMINI, 2015, p. 79).

J o princpio da instrumentalidade das formas assenta-se na finalidade alcanada pelo

ato processual praticado, assim mesmo que o ato praticado utilizou-se de forma diversa da

estabelecida em lei, ser considerado vlido e somente ser declarada nulidade se ocorrer

substancial prejuzo para o direito das partes, j que o processo no um fim em si mesmo.

Nesse sentido adverte Donizetti (2014, p.104) que [...] o princpio da instrumentalidade

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buscar evitar o abuso do formalismo, o fetichismo das frmulas em detrimento da essncia

e finalidade dos atos processuais, quer dizer, da efetividade processual. Assim o referido

princpio contribui para a celeridade do processo, haja vista o aproveitamento dos atos

praticados.

Por seu turno, o princpio da lealdade proclama que todos os sujeitos do processo,

partes, advogados, juzes, promotores de justia e mesmo os auxiliares da justia, devem zelar

pela justa e correta soluo do litgio. H quem sustenta que o princpio da lealdade e o

princpio da cooperao so na verdade a mesma coisa, em razo de seu fundamento.

O princpio da cooperao est bem delineado no artigo 6 do Cdigo de Processo

Civil (2015) que dispe: Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se

obtenha, em tempo razovel, deciso de mrito justa e efetiva. Embora o dever de cooperar

seja consectrio lgico do dever de lealdade e boa-f, o legislador preferiu consignar de forma

expressa, a fim de evitar dvidas ou mesmo confuses interpretativas, vez que nem sempre as

atitudes decorrentes da boa-f possam converter em cooperativas.

O princpio da cooperao traduz-se na forma em que o processo civil deve pautar-

se, influenciando diretamente no modo de agir das partes e do juiz, pois que o sistema

cooperativo no Estado Democrtico de Direito e tendo em perspectiva a teoria procedimental

do direito, distingue-se dos paradigmas tradicionais prprios do Estado liberal, vez que busca

propiciar condies onde haja possibilidade dos cidados entenderem e encontrar a melhor

soluo para seus conflitos.

Didier Jr, Braga e Oliveira, escrevendo sobre os trs modelos de direito processual:

inquisitivo, dispositivo e cooperativo, ensina:

Os princpios do devido processo legal, da boa-f processual e do contraditrio,

juntos, servem de base para o surgimento de outro princpio do processo: o princpio

da cooperao. O princpio da cooperao define o modo como o processo civil deve

estruturar-se no direito brasileiro. Esse modelo caracteriza-se pelo

redimensionamento do princpio do contraditrio, com a incluso do rgo

jurisdicional no rol dos sujeitos do dilogo processual, e no mais como um mero

espectador do duelo das partes. O contraditrio volta a ser valorizado como

instrumento indispensvel ao aprimoramento da deciso judicial, e no apenas como

uma regra formal que deveria ser observada para que a deciso fosse vlida.

(DIDIER JR; BRAGA e OLIVEIRA, 2013, p. 125).

Os mesmos autores acrescentam aduzindo que:

A conduo do processo deixa de ser determinada pela vontade das partes (marca do

processo liberal dispositivo). Tambm no se pode afirmar que h uma conduo

inquisitorial do processo pelo rgo jurisdicional, em posio assimtrica em relao

s partes. Busca-se uma conduo cooperativa do processo, sem destaques a algum

dos sujeitos processuais. (DIDIER JR; BRAGA e OLIVEIRA, 2013, p. 125).

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Note que a cooperao processual vai muito alm de um princpio norteador dos atos

processuais, configurando como autntico modelo moderno de processo judicial onde todos

os sujeitos do processo so conclamados a participar e contribuir para o desfecho final do

processo assumindo posio de igualdade na justa e boa aplicao da justia.

Com grande destaque na busca da celeridade e eficincia da prestao jurisdicional,

tem-se o princpio da celeridade processual ou da durao razovel do processo que conforme

j anteriormente explicitado, alm de ser um princpio orientador do processo tambm

direito humano fundamental. O cdigo de processo civil (2015), atento a sua importncia j

no seu artigo 1 leciona que o processo civil ser ordenado, disciplinado e interpretado

conforme os valores e as normas estabelecidas na Constituio. Mais adiante no artigo 4

reproduziu os ditames do Pacto Internacional6 ao prescrever: as partes tem o direito de obter

em prazo razovel a soluo integral, includa a atividade satisfativa.

Ressalte-se que a mesma lei processual, no Ttulo IV, Captulo I, ao tratar dos poderes,

deveres e da responsabilidade do juiz, prev no artigo 139, inciso II, que o juiz dirigir o

processo velando pela durao razovel do processo. Vislumbra-se do referido dispositivo que

no se trata apenas da conduta pessoal e tica do juiz diante das partes e suas demandas, mas

tambm de ordenao, por meio da utilizao de mecanismos de gesto administrativa, que

lhe permitem conduzir eficazmente o processo de forma que a razovel durao do processo

seja alcanada.

A interpretao mais aprofundada e apurada do dispositivo inclui ainda aos

magistrados o dever de reprimir todas e quaisquer atitudes procrastinatrias, praticadas pelas

partes, representantes do Ministrio Pblicos ou por terceiros, atendendo ainda ao disposto no

artigo 5 quanto ao dever das partes comportarem-se de acordo com a boa-f.

Tem-se ainda, o princpio da efetividade que se traduz no direito do jurisdicionado de

ver assegurado por meio do processo o bem jurdico violado ou ameaado e cuja tutela

jurdica reivindica do Estado. Assim o princpio da efetividade configura-se justamente o

resultado, o provimento jurisdicional final til, prolatado dentro de um prazo considerado

razovel.

Quanto efetividade da tutela jurdica, Didier Jr sustenta:

6Decreto 678 de 6 de novembro de 1992. Promulga a Conveno Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de

So Jos da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.

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A tutela efetiva dos direitos fundamentais e, alm disso, ele prprio deve ser

estruturado de acordo com os direitos fundamentais. No primeiro caso, as regras

processuais devem ser criadas de maneira adequada tutela dos direitos

fundamentais. No segundo caso, o legislador deve criar regras processuais

adequadas aos direitos fundamentais, respeitando, por exemplo, a igualdade das

partes e o contraditrio. (DIDIER JR, 2008, p. 27).

Evidente o esforo legislativo e doutrinrio na buscado bom desempenho da prestao

jurisdicional ao criar normas e mecanismos visando celeridade e utilidade do provimento

jurdico, o qual deve restar evidenciado pela efetividade. Sobre o assunto, importante a

contribuio de Almeida, que muita propriedade explica:

A efetividade decorre do alcance de bons resultados angariados por meio do

emprego dos meios, mtodos e procedimentos adequados, significando que tais

normas no existem apenas para se quedar no plano abstrato ou programtico, mas

devem objetivar uma existncia real com implicncia direta na realidade, sempre de

forma a irradiar efeitos concretos. (ALMEIDA, 2016, p. 55).

Com esse fito o legislador no se quedou inerte, posto que alm dos princpios

processuais em referncia, o cdigo de processo civil (2015) prev alguns

mecanismos/procedimentos visando efetividade e celeridade da prestao jurisdicional e

consequente reduo dos prazos de tramitao dos processos, como o caso do julgamento

por ordem cronolgica de ajuizamento, conforme disposto no artigo 12, o que contribui para

rechaar favores e preteries na marcha processual.

Merece realce o fato do referido Cdigo de Processo Civil, incentivar conciliao e a

mediao, para cuja audincia a parte adversa apenas intimada para comparecer e no citada

para contestar, esse novo procedimento faz com que as partes compaream desarmadas de

argumentos de defesa e com animo brando, o que fatalmente, poder propiciar um ambiente

mais adequado para a realizao de acordo ou transao, sendo tambm, dever dos tribunais

criarem as denominadas CEJUSC - Centros Judiciais de Soluo de Conflitos.

Outro instrumento eficaz para conferir celeridade o incidente de resoluo de

demandas repetitivas, pois de acordo com artigo 976 e seguintes, do novo cdigo de processo

civil (2015), em caso de litgios repetitivos que contenham controvrsia sobre questo

unicamente de direito, material ou processual, os tribunais podem ser chamados a decidir um

incidente de resoluo de demandas repetitivas, o qual evitar longa tramitao processual e

evitar risco de ofensa isonomia, conferindo segurana jurdica e celeridade aos

julgamentos.

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Sobre a busca de melhorias da marcha processual, Cintra, Grinover e Dinamarco,

sustentam:

A doutrina distingue os princpios gerais do direito processual daquelas normas

ideais que representam uma aspirao de melhoria do aparelhamento processual; por

esse ngulo quatro regras foram apontadas, sob o nome de princpios

informadores do processo: a) o princpio lgico (seleo de meios mais eficazes e

rpidos de procurar e descobrir a verdade e de evitar o erro); b) princpio jurdico

(igualdade no processo e justia na deciso; c) princpio poltico (o mximo de

garantia social, com o mnimo de sacrifcio individual da liberdade); d) o princpio

econmico (processo acessvel a todos, com vista ao seu custo e sua durao).

(CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 1998, p. 35).

Ainda sobre os instrumentos previstos pela lei processual civil, na busca da rapidez da

resposta jurisdicional, est o princpio da primazia do mrito, segundo o qual os atos

processuais dedem ser aproveitados ao mximo, como so exemplo os artigos 76, 283 e 1007

7 do novel diploma processual civil.

Com o mesmo objetivo, dispe os artigos 926 e 927 da lei adjetiva processual sobre o

dever de respeito aos precedentes judiciais, assim, da mesma forma como os tribunais devem

uniformizar sua jurisprudncia e mant-la estvel, ntegra e coerente, tambm os juzes devem

seguir os precedentes judiciais, especialmente dos tribunais superiores, revestindo-se da ideia

de Estado Constitucional, onde os princpios da igualdade e isonomia revestem-se de vital

expresso, vez que os casos iguais recebem igual ou idntico tratamento por parte do Poder

Judicirio, o que contribuir para a rapidez da tramitao dos processos e garantia de

segurana jurdica, posto tratar de matria com entendimento sopesado e firmado.

A ateno de todos os princpios constitucionais e processuais, bem como dos

mecanismos ou instrumentos revelam como boa soluo para impulsionar a marcha

processual, contudo para o imple