universidade federal do rio grande do sul · tanta ajuda e sugestões à presente monografia. ......

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA ESPECIALIZAÇÃO EM ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS HIPERADRENOCORTICISMO EM CÃES: PRINCIPAIS SINAIS CLÍNICOS, ALTERAÇÕES NA PATOLOGIA CLÍNICA E DOENÇAS CONCOMITANTES MAIS COMUNS – ESTUDO RETROSPECTIVO YULIANA ZARABANDA PINZON PORTO ALEGRE 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE VETERINÁRIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS

HIPERADRENOCORTICISMO EM CÃES: PRINCIPAIS SINAIS CLÍNICOS,

ALTERAÇÕES NA PATOLOGIA CLÍNICA E DOENÇAS CONCOMITANTES MAIS

COMUNS – ESTUDO RETROSPECTIVO

YULIANA ZARABANDA PINZON

PORTO ALEGRE

2009

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE VETERINÁRIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS

HIPERADRENOCORTICISMO EM CÃES: PRINCIPAIS SINAIS CLÍNICOS,

ALTERAÇÕES NA PATOLOGIA CLÍNICA E DOENÇAS CONCOMITANTES MAIS

COMUNS – ESTUDO RETROSPECTIVO

Autor: M.V.Z. Yuliana Zarabanda Pinzon

Monografía apresentada à Faculdade de Veterinária como requisito parcial no curso de Especialização em Análises Clínicas Veterinárias

Orientador: M.V MSc. Álan Gomes Pöppl

PORTO ALEGRE 2009

DEDICATORIA

Este trabalho embora que pareça “simples” por ser um estudo retrospectivo foi realizado

com muito esforço não só da autora, mas de toda a sua família, a qual com muito amor e carinho

fez possível o fato de estudar no país dos “fortes abraços” e dos “três beijinhos”.

A essas pessoas que desde que nasci estiveram presentes para me ajudar, proteger,

compreender e mais do que isso para me amar, a esses dois amores eu quero dedicar meu

trabalho, a esses dois amores que confiaram em mim e me deram sua boa educação.

Especialmente dedico esta monografia a meus pais Orlando e Eliza, e a toda a minha

família que com muito amor sempre estiveram para me aconselhar e para me apoiar quando eu

fraquejava, seja pela distância ou pelas mudanças da minha vida.

Tampouco posso esquecer o meu namorado, a quem também quero dedicar este trabalho,

agradeço a você por ser a pessoa que me ajudou com tanto amor e firmeza na realização deste

trabalho, quase um orientador mais, obrigada “enano de mi amor”. E Mayis, minha irmã, menina

de Deus, obrigada por seus conselhos e por seu amor, quero agradecer a você por ser uma força

mais para continuar e seguir adiante nos meus projetos.

Muito obrigada família, para vocês e por vocês é este trabalho.

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Rio Grande do Sul por aceitar-me e permitir-me ser parte de sua

família de pós-graduação na especialização em análises clínicas veterinárias.

Ao meu orientador Alan, muito obrigada por acolher-me como sua aluna, e por aportar

tanta ajuda e sugestões à presente monografia.

Ao meu amigo e professor Felix, muito obrigada por sua amizade sincera, e por ser como

um pai na minha estadia no Brasil.

Agradeço de maneira especial à pessoa que considero minha amiga em Porto Alegre, Rê,

muito obrigada por sua amizade.

Meninas do LACVET, agradeço a vocês toda a paciência com que ensinaram e partilharam

seus conhecimentos.

RESUMO

O hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing, HAC) canino é a segunda doença endócrina mais comum em cães. A origem do distúrbio pode ser endógena, devida a um tumor hipofisiário que sintetiza e secreta um excesso de hormônio adrenocorticotrófico ACTH (pituitário-dependente, HPD) ou à presença de um tumor adrenal cortical que secreta exessiva quantidade de cortisol (adreno-dependente, HAD), ou exógena, devida a erros em tratamentos farmacológicos e que afeta a cães adultos com mais de 6 anos de idade. Algumas raças são mais afetadas, como Poodle, Dachshund, Terriers, Beagle e Boxer. O presente trabalho é um estudo retrospectivo de casos de HAC entre janeiro de 2005 a março de 2008, atendidos no Hospital de Clinicas Veterinarias da UFRGS, confirmados com base em uma combinação de teste de supressão por baixa dose de dexametasona, sinais clínicos e patologia clínica compatíveis, com o objetivo de obter um perfil do cão com HAC que possa servir ao clínico como uma ferramenta para um melhor diagnóstico. A análise dos dados permitiu concluir que a origem da maioria dos casos foi pituitário-dependente (77,77 %), sendo as fêmeas e as raças pequenas como Poodle e Dachshund as mais afetadas tanto nos casos de HPD quanto de HAD. A idade média dos animais afetados foi de 9,2 anos ± 2,35 e o peso médio de 12,22 kg ± 7,73, Foram encontrados sinais clínicos como poliúria e polidipsia em 88,9% dos casos, polifagia em 86,1%, intolerância ao exercício em 63,8%, obesidade em 52,7%, dos pacientes com diagnóstico positivo de HAC. Os marcadores cutâneos do HAC estiveram presentes em elevados percentagens dos pacientes com HAC, encontrando-se telangiectasia em 38,8% dos pacientes, alopecia em 36,1%, atrofia cutânea em 52,8%, comedões em 30,5%, hiperpigmentaçao em 36,1% e infecção na pele em 33,3%. Outros sinais observados foram: atrofia muscular (42,8% dos pacientes), abdômen distendido (58,3%), taquipnéia (47,2%) e hepatomegalia (52,8%). As modificações mais comuns nos valores das análises laboratoriais foram: neutrofilia, eosinopenia e linfopenia, aumento da atividade das enzimas hepáticas, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, hiperglicemia, densidade urinária baixa (< 1015-1020) e glicosúria nos pacientes com diabetes associada. Neste estudo foram encontradas doenças concomitantes como pioderma, infecção do trato urinário, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus e periodontite.

Palavras chaves: hiperadrenocorticismo canino, patologia clínica, doenças concomitantes.

ABSTRACT

The canine hyperadrenocorticism (Cushing's syndrome, HCA) is the second most common endocrine disease in dogs. The origin of the disorder may be endogenous, due to a tumor that synthesizes and secret an excess of adrenocorticotropic hormone ACTH (pituitary-dependent, PDH) or the presence of an adrenal cortical tumor that secrets excessive amount of cortisol (adrenal-dependent, ADH ), or exogenous, due to errors in drug treatment and usually affects adult dogs older than 6 years of age. Some breeds are more affected, as Poodle, Dachshund, Terriers, Beagle and Boxer. This study is a retrospective study of patients with HCA from January 2005 to March 2008, referred to the Veterinary Hospital, UFRGS, confirmed on the basis of a combination of test suppression by low dose of dexamethasone, clinical pathology and clinical signs compatible with the objective to obtain a profile of dogs with HCA which can serve as a clinical tool for better diagnosis. Data analysis indicated that the origin of most cases was pituitary-dependent (77.77%), with females and small breeds like Dachshund Poodle and the most affected in both cases of PDH on the ADH. The average age of affected animals was 9.2 ± 2.35 years and average weight of 7.73 kg ± 12:22. Clinical signs were found such as polyuria and polydipsia in 88.9% of the cases, polyphagia in 86.1%, exercise intolerance in 63.8%, obesity in 52.7% of the patients with positive HCA. The skin markers of HCA were present in high percentages of patients with HCA, while telangiectasia in 38.8% of the cases, alopecia in 36.1%, cutaneous atrophy in 52.8%, hyperpigmentation in 36.1%, infection skin in 33.3%. Other signs observed were: muscle atrophy in 42.8%, distended abdomen in 58.3%, tachypnea in 47.2% and hepatomegaly in 52.8% of the patients with HCA. The most common changes in the values of laboratory tests were: neutrophilia, lymphopenia, eosinopenia, increased activity of liver enzymes, hypercholesterolemia, hypertriglyceridemia, hyperglycemia, low urinary density (< 1015-1020) and glycosuria in patients with diabetes associated. This study found concomitant diseases such as pyoderma, urinary tract infection, heart failure, diabetes mellitus and periodontitis.

Key-words: canine hyperadrenocorticism, clinical pathology, concomitant diseases.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Localização das glândulas adrenais............................................................... 13

Figura 2 Distribuição das zonas do córtex e medula adrenal....................................... 14

Figura 3 Ressonância magnética (IRM) do córtex sagital do cérebro, verificando o

tamanho da pituitária (11,7 mm), em um macho da raça Beagle com

síndrome de Cushing......................................................................................

16

Figura 4 Etiologia do HAC........................................................................................... 18

Figura 5 Alopecia bilateral e simétrica, hiperpigmentação o de tronco e pescoço em

cão com hiperadrenocorticismo dependente da glândula adrenal..................

21

Gráfico 1 Prevalência de HPD e HAD na população estudada...................................... 33

Tabela 1 Distribuição por raça dos cães com HPD e HAD.......................................... 34

Tabela 2 Distribuição por idade dos cães com HPD e HAD........................................ 34

Tabela 3 Distribuição por peso dos cães com HPD e HAD.......................................... 35

Gráfico 2 Porte dos cães acometidos com HAC no estudo retrospectivo...................... 35

Tabela 4 Sinais clínicos dos animais afetados por HPD e HAD.................................. 36

Tabela 5 Resultados do hemograma............................................................................. 37

Tabela 6 Resultados dos exames bioquímicos.............................................................. 37

Tabela 7 Modificações laboratoriais no HPD e HAD.................................................. 38

Gráfico 4 Principais doenças concomitantes encontradas nos pacientes com HAC...... 39

Tabela 8 Prevalência das doenças concomitantes no HPD e HAD.............................. 39

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 11

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 13

2.1 Glândulas adrenais................................................................................................. 13

2.1.1 Córtex adrenal........................................................................................................... 13

2.1.2 Zona reticular............................................................................................................ 14

2.1.3 Zona fasciculada....................................................................................................... 14

2.1.4 Zona glomerular........................................................................................................ 14

2.1.5 Glicocorticóides........................................................................................................ 15

2.1.6 Mineralocorticóides.................................................................................................. 15

2.2 Hiperadrenocorticismo canino.............................................................................. 16

2.2.1 Hiperadrenocorticismo pituitário-dependente HPD................................................. 16

2.2.2 Hiperadrenocorticismo adreno-dependente HAD.................................................... 17

2.2.3 Hiperadrencorticismo iatrogênico............................................................................. 18

2.2.4 Síndrome do ACTH ectópico.................................................................................... 18

2.3 Características clínica............................................................................................. 19

2.3.1 Resenha..................................................................................................................... 19

2.3.2 Sinais clínicos........................................................................................................... 19

2.4 Diagnóstico............................................................................................................... 23

2.4.1 Alterações no hemograma......................................................................................... 23

2.4.2 Glicemia.................................................................................................................... 24

2.4.3 Alanina aminotransferase (ALT).............................................................................. 24

2.4.4 Fosfatase alcalina (FA)............................................................................................. 24

2.4.5 Colesterol.................................................................................................................. 25

2.4.6 Eletrólitos séricos...................................................................................................... 25

2.4.7 Enzimas pancreáticas................................................................................................ 25

2.4.8 Alterações no urinálise.............................................................................................. 26

2.5 Diagnóstico por imagem......................................................................................... 27

2.5.1 Ultra-sonografia abdominal..................................................................................... 28

2.5.2 Radiografia................................................................................................................ 28

2.5.3 Tomografia computadorizada (TC).......................................................................... 28

2.5.4 Ressonância magnética (IRM).................................................................................. 29

2.5.6 Outros diagnósticos.................................................................................................. 29

2.6 Testes endócrinos.................................................................................................... 30

2.6.1 Teste de estimulação do ACTH................................................................................ 30

2.6.2 Teste de supressão com dexametasona na dose baixa.............................................. 30

2.6.3 Teste de concentração de ACTH endógeno.............................................................. 31

2.6.4 Teste de supressão com dexametasona em dose alta................................................ 32

3 MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................. 33

3.1 Delineamento experimental e origem dos dados.................................................. 33

3.2 Protocolo de coleta e avaliação dos dados............................................................. 33

3.3 Análise dos dados.................................................................................................... 34

4 RESULTADOS....................................................................................................... 35

5 DISCUSSÃO............................................................................................................ 44

6 CONCLUSÃO......................................................................................................... 52

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 53

11

1. INTRODUÇÃO

O hiperadrenocorticismo canino (HACC) é a segunda doença endócrina mais comum

(COUTO; NELSON, 2005). Produz alterações nas análises hematológicas, bioquímicas e

urinálise e sinais clínicos próprios desta enfermidade, que são o resultado da ação do excesso de

cortisol circulante nos tecidos alvos e vias metabólicas (MARQUEZ et al. 2000). Cerca de 85%

dos casos de HAC podem ter como causa hiperadrenocorticismo pituitário-dependente (HPD),

também chamado de síndrome de Cushing com a presença de tumores como o adenoma produtor

de corticotropina, ou a hiperplasia da hipófise leva à secreção excessiva de corticotropina ou

hormônio estumulador do cortex adrenal (ACTH) (RIJNBERK, 2002). Tal evento ocasiona a

hiperplasia adrenocortical bilateral e o excesso da secreção de cortisol, desaparecendo o efeito de

feedback negativo do cortisol sobre o eixo hipotálamo-hipofisiário-adrenal, que segue secretando

ACTH independentemente do nível de cortisol (PETERSON, 1998).

O HAC de origem adrenal representa 15% dos casos, caracterizados pela presença de

carcinomas ou adenomas adrenais. Os tumores adrenocorticais induzem a produção excessiva de

cortisol, mesmo na ausência do ACTH, que inibe a produção do hormônio liberador de

corticotropina no hipotálamo, inibindo normalmente a produção de ACTH na adeno-hipófise. Na

ausência do ACTH, a glândula adrenal normal cessa a produção de cortisol e o córtex ipsilateral

não afetado pelo tumor também atrofia (PETERSON, 1998).

O HAC iatrogênico é o resultado da excessiva administração de glicocorticóides, resultando

em uma hipoplasia bilateral adrenal. O cortisol exógeno vai inibir a produção de ACTH e

posterior síntese de cortisol endógeno (FELDMAN; NELSON, 1996; NICHOLS, 1997).

Qualquer que seja a origem da patologia, apresentará os mesmos sinais clínicos básicos,

porque todas as formas de HAC são parecidas, embora um tumor na pituitária possa causar sinais

neurológicos como estupor, desorientação, alterações no comportamento, convulsões, ataxia e

cegueira (FELDMAN; NELSON, 1996). Contudo, qualquer que seja a origem desta alteração, é

necessário um diagnóstico exato e preciso porque apesar de que ocorram os mesmos sinais

clínicos e alterações em análises clínicas, o tratamento será diferente.

12

Normalmente se realiza uma bateria de determinações, que devem ser feitas repetidas vezes

não só para o diagnóstico, mas também para quando, uma vez estabelecida a causa das alterações

físicas, avaliar a resposta ao tratamento e seu prognóstico. Muitas dessas determinações têm

custos que estão longe das possibilidades de alguns proprietários de cães com HAC. As dosagens

hormonais, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são ajudas diagnósticas

importantes. Embora seu alto custo e difícil disponibilidade na prática devido a que são técnicas

“novas” na medicina de animais, podem ser úteis em algumas faculdades de medicina veterinária,

laboratórios de endocrinologia e nas clínicas que tem a oportunidade de ter este tipo de

equipamentos, especialmente em países desenvolvidos.

Os objetivos deste trabalho foram avaliar os principais achados clínicos, hematológicos,

bioquímicos e urinários no HACC, identificar os principais sinais clínicos segundo a etiologia

assim como as principais diferenças entre cada tipo e avaliar as principais doenças que acometem

concomitantemente os cães.

13

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Glândulas adrenais

As glândulas adrenais são dois órgãos endócrinos de cor clara que se encontram na porção

cranial de cada rim, formados pelo córtex e medula (Figura 1). O tronco comum da veia cava e

veias abdominais craniais cruzam ventrais as glândulas, deixando um sulco na sua face ventral. A

glândula adrenal direita é encontrada entre a veia cava caudal e o lobo caudal do fígado e os

músculos lombares ficam em sua face dorsal, enquanto que glândula adrenal esquerda está entre a

aorta e o rim esquerdo (DE LA HUNTA; EVANS, 1996).

Figura 1. Localização das glândulas adrenais (adaptado de Newton, 2009).

2.1.1 Córtex adrenal

O córtex adrenal é de origem mesodérmica e subdividido em três zonas concêntricas,

conforme a disposição e aspecto de suas células em zonas reticular, fasciculada e glomerular. Os

hormônios do córtex adrenal são sintetizados a partir do mesmo precursor, o colesterol.

(SPÖRRI; STÜNZI, 1977).

2.1.2 Zona reticular

É a zona adjacente à medula e a menos espessa (DRAZNER, 1987) (Figura 2) e

corresponde a 15% do córtex produzindo principalmente andrógenos e uma pequena quantidade

14

de glicocorticóide. Contem células epiteliais pequenas com abundantes grânulos pigmentares de

lipofucsina. (SPÖRRI; STÜNZI, 1977).

2.1.3 Zona fasciculada

É a zona intermediária (DRAZNER, 1987) (Figura 2), e mais espessa das três camadas

adrenocorticais, correspondendo a 60% do córtex. Produz glicocorticóides, principalmente

cortisol. As células têm núcleo grande e são ricas em lipóides, colesterol e ésteres de colesterol.

(SPÖRRI; STÜNZI, 1977).

2.1.4 Zona glomerular

É a zona mais externa e corresponde a 25% do córtex. Produz mineralocorticóides,

principalmente aldosterona que é regulada primariamente pelo sistema renina-angiotensina-

aldosterona e concentrações séricas de potássio (DRAZNER, 1987) (Figura 2). Tem pequenas

células redondas com núcleo escuro e rico em cromatina, seu citoplasma é espesso e só

debilmente granulado, com pouco conteúdo de gotas de lipóides. (SPÖRRI; STÜNZI, 1977).

Figura 2. Distribuição das zonas do córtex e medula adrenal. (Adaptado de Newton, 2009).

2.1.5 Glicocorticóides

Possuem efeitos sobre o corpo, envolvendo a estimulação da gliconeogênese e glicogênese

pelo fígado (SPÖRRI; STÜNZI, 1977), supressão da absorção celular e utilização periférica da

glicose plasmática, promoção do catabolismo protéico e das gorduras, estimulação da

eritrocitose, supressão das respostas inflamatórias e do tecido linfóide, manutenção da pressão

15

sanguínea normal (FELDMAN; NELSON, 1996). Além dos efeitos sistêmicos, os

glicocorticóides inibem a função pituitária e hipotalâmica normal, afetando a liberação do

hormônio estimulante da tireóide (TSH) ou tireotropina, hormônio do crescimento (GH) e

gonadotrofinas (hormônio luteinizante LH) e hormônio foliculo-estimulante (FSH). A inibição da

secreção destes hormônios tróficos resulta em hipotireoidismo secundário reversível (TSH), falta

de cio ciclo nas cadelas ou atrofia testicular (FSH e LH) e baixa estatura nos filhotes em

crescimento (GH) (FELDMAN, 2002).

Sua secreção é controlada pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, onde o hipotálamo exerce

controle sobre a secreção do ACTH (peptídeo de 39 aminoácidos), produzido a partir da pró-

opiomelanocortina (POMC) pela pituitária anterior mediante o hormônio liberador de

corticotropina (CRH), um polipeptídeo que contem 41 resíduos de aminoácidos. O ACTH

estimula a secreção de glicocorticóides nas zonas fasciculada e reticular do córtex adrenal

(FELDMAN, 2002). Por sua vez, o cortisol regula a função do eixo por meio de uma

retroalimentação negativa simples (HERRTAGE, 1990).

2.1.6 Mineralocorticóides

A aldosterona e a desoxicorticosterona são os representantes dos mineralocorticóides. A

aldosterona promove a reabsorção de sódio, cloreto e água, bem como a excreção de potássio em

muitos tecidos epiteliais, inclusive a mucosa intestinal, glândulas salivares, glândulas sudoríparas

e rins. Seu principal ponto de ação é o túbulo renal onde promove a reabsorção de sódio (Na) e

cloro (Cl) pelo túbulo contorcido proximal e a reabsorção de Na, trocando pelo potássio (K), no

túbulo contorcido distal (SPÖRRI; STÜNZI, 1977). A principal função da aldosterona é regular a

reabsorção de sódio e excreção do potássio e evitar a hipotensão e a intoxicação por potássio

(HERRTAGE, 1990).

2.2 Hiperadrenocorticismo canino

O Dr. Harvey Cushing descreveu 12 pessoas, em 1932, com transtorno dos níveis de

cortisol. O termo síndrome de Cushing é utilizado para referir-se às anormalidades clínicas e

bioquímicas que resultam da exposição crônica às concentrações excessivas de glicocorticóides

(FELDMAN, 2002). Existem três tipos principais de hiperadrenocortismo nos caninos:

16

hiperadrenocorticismo pituitário-dependente (HPD): um tumor hipofisiário (micro ou

macroadenoma) sintetiza e secreta um excesso de ACTH, que por sua vez, estimula a secreção de

cortisol pelas glândulas adrenais e eventualmente resulta em hiperplasia adrenocortical

secundária, o hiperadrenocorticismo adreno-dependente, onde ocorre excessiva secreção do

cortisol por um carcinoma ou adenoma adrenocortical que atua independentemente do estímulo

pelo ACTH, suprimindo a secreção de CRH e ACTH; e por último o hiperadrenocorticismo

iatrogênico, produzido pela administração excessiva de ACTH (pouco comum), desmedida

medicação com glicocorticóides (comum), geralmente usados no controle de doenças alérgicas

ou imunomediadas (FELDMAN, 2002).

2.2.1 Hiperadrenocorticismo pituitário-dependente (HPD)

O HPD representa 80-85% dos casos de HACC. Os tumores pituitários são achados em

85% das necropsias de cães com HPD, sendo que 40-45% dos cães têm tumores pituitários com

menos de 3 mm de diâmetro, e 55-60% dos cães com HPD sem sinais clínicos do sistema

nervoso central tiveram tumores de 3-12 mm de diâmetro. Próximo de 15-20% têm neoplasias

pituitárias que no momento da necropsia são maiores de 1 cm (Figura 3). Geralmente estas

massas comprimem ou invadem as estruturas adjacentes e produzem sinais neurológicos na

medida em que estão sendo expandidos no hipotálamo e tálamo (COUTO; NELSON, 2005).

Figura 3. Ressonância magnética (IRM) do córtex sagital do cérebro, verificando o tamanho da pituitária

(11,7 mm), em um macho da raça Beagle com síndrome de Cushing. Adaptado de Teshima, et al. 2007.

17

Quando o HPD não esta sendo causada pelo tumor, uma estimulação excessiva da pituitária

anterior pelo hormônio liberador de corticotropina (CRH) provoca a hiperplasia difusa das

células corticotróficas, embora seja desconhecida a etiologia desta hiperplasia, mas acredita-se

que é o resultado de um distúrbio hipotalâmico ou outras alterações no SNC (FELDMAN;

NELSON, 1996). A anormalidade primaria é a excessiva secreção de ACTH induzindo

hiperplasia adrenocortical bilateral e hipersecreção do cortisol. O mecanismo fisiológico da

inibição normal da secreção de ACTH pelos níveis fisiológicos de glicocorticóides falha e a

secreção adrenocortical de cortisol continua junto com a secreção de ACTH (Figura 4-B)

(FELDMAN, 2002). Os sinais clínicos são similares nas diferentes etiologias, segundo Boari e

Aste (2003), podem se diferenciar as etiologias se o paciente padece de sinais nervosos como

estupor, desorientação, caminhar em círculos, ataxia e cegueira indicando obviamente a presença

de um grande tumor na pituitária.

2.2.2 Hiperadrenocorticismo adreno-dependente (HAD)

O hiperadrenocorticismo adreno-dependente ou HAD representa 15-20% dos cães com

HAC. Os tumores de maior frequência são os adenomas e o carcinoma adrenocortical. Os

carcinomas são maiores que os adenomas nos estudos ultra-sonográficos do abdômen. Os

carcinomas adrenocorticais podem invadir estruturas locais como, por exemplo, o rim, fígado e

veia cava ou fazer metástase hematógena no fígado e pulmão (FELDMAN, 2002). Um tumor

adrenal não funcional (incidentaloma adrenal) e feocromocitoma na glândula contralateral são as

causas mais comuns das massas adrenais bilaterais nos cães. Os tumores adrenais são autônomos

e funcionais, com secreção aleatória de grandes quantidades de cortisol independente do controle

pituitário. (COUTO; NELSON, 2005).

O cortisol suprime o CRH hipotalâmico e o ACTH plasmático, causando a atrofia cortical

da adrenal não afetada e a atrofia de todas as células normais na glândula afetada. Esta atrofia vai

ser manifestada na assimetria no tamanho das glândulas adrenais, que é reconhecida no ultra-som

abdominal (COUTO; NELSON, 2005). Alguns tumores mantêm receptores de ACTH, pelo que

respondem à administração do hormônio exógeno. Os tumores adrenocorticais podem estar

insensíveis à manipulação do eixo hipotálamo-hipofisiário com fármacos como a dexametasona

(Figura 4-C) (FELDMAN, 2002).

18

2.2.3 Hiperadrencorticismo iatrogênico

Medicação a base de glicocorticóides é dada a cães com doenças alérgicas ou

imunomediadas, mas também estão presentes em produtos óticos e oculares (MULLER et al.

1985). O eixo hipotálamo-hipofisiário está em condições normais nos cães que serão tratados

com glicocorticóides, e a excessiva administração destes ocasionam a supressão do CRH

hipotalâmico e concentração plasmática de ACTH, causando a atrofia adrenocortical bilateral

(MULLER et al. 1985).

2.2.4 Síndrome do ACTH ectópico

Conforme Feldman e Nelson (1996), a síndrome não tem sido diagnosticada em cães e

gatos, embora Muller et al. 1985 descreveram a síndrome em conjunto com linfossarcoma em um

cão e, posteriormente, linfossarcoma e carcinoma bronquial em outros dois animais, já que a

síndrome do ACTH ectópico é uma expressão empregada na descrição de estados em que o HAC

está associado com neoplasias não hipofisárias e não adrenocorticais (MULLER et al. 1985).

Figura 4. Etiologia do HAC. A. Eixo pituitário adrenal no cão sadio; B. Cão com HPD; C. Cão com tumor

adrenocortical funcional. a:adrenal; P: pituitária; CRH: fator liberador de corticotrofina. Fonte: FELDMAN, 2002

2.3 Características clínicas

2.3.1 Resenha

As raças de maior predisposição são Poodle, Dachshund, Terriers, Beagle, Boston Terrier,

Boxer, Labrador Retriever, e Pastor Alemão. Cães com mais de 6 anos têm maior predisposição a

desenvolver HAC, embora já tenha sido observado em animais de menos de 1 ano, ainda não se

19

tem estudos que indiquem a predisposição sexual embora há mais reportes de casos nas fêmeas

(COUTO; NELSON, 2005).

A classificação dos cães segundo o tamanho é: para cães de raças pequenas até 25,40 cm ou

até 10 polegadas; raças médias variam de 27,90 a 50,80 cm ou 11 a 20 polegadas; raças grandes,

de 53,30 a 73,60 cm ou 21 a 29 polegadas e as raças gigantes têm tamanhos maiores que 76,20

cm ou maior de 30 polegadas. (PALMER, 1998).

2.3.2 Sinais clínicos

O hiperadrenocorticismo é um transtorno clínico que se refere ao conjunto de

anormalidades clínicas e bioquímicas, resultado da exposição crônica a altas concentrações do

cortisol, os sinais que produz são as sequelas dos efeitos combinados hiperglicemiantes,

imunossupressores, antiinflamatórios, catabólicos protéicos e lipolíticos dos glicocorticóides em

vários sistemas orgânicos (FELDMAN, 2002). O exame físico de um cão com HAC demonstra

um estado saudável, estável, e hidratado e boa coloração das mucosas entre outros. As

manifestações são progressivas e quase sempre são apresentadas poliúria, polidipsia (PU/PD) e

polifagia em 80 a 85% dos cães com HAC (FELDMAN; NELSON, 1996).

As causas da PU/PD estão associadas à interferência do cortisol na secreção do hormônio

antidiurético (ADH), como uma forma de diabetes insípida central, na ação do ADH nos túbulos

renais (uma forma de diabetes insípida nefrogênica), além da maior taxa de filtração glomerular

secundária ao hipercortisolismo. Os proprietários reportam que o animal tem uma ingestão de

água 2 a 10 vezes maior que o normal, sendo que o normal seria 40-60 mL/kg (FELDMAN;

NELSON, 1996).

Por outro lado os glicocorticóides e a insulina estimulam a síntese do neuropeptídeo Y, que

estimula o consumo de alimento especialmente de alto conteúdo energético, a secreção da

insulina e a atividade lipoproteina-lipase do tecido adiposo, facilitando o anabolismo dos

depósitos energéticos como o glicogênio hepático e muscular e triglicerídeos no tecido adiposo

(RIVAS, 2009).O excesso de neuropeptídeo Y, produz a polifagia, hiperinsulinemia, resistência

do tecido muscular à insulina, diminuição do gasto energético, e portanto o desenvolvimento da

obesidade (RIVAS, 2009) que pode ser vista com abdômen pendular devido à soma das grandes

dimensões e o peso do fígado (secundariamente ao efeito do cortisol), à bexiga cronicamente

repleta e dilatada pelo acúmulo da urina, e à depleção muscular (FELDMAN; NELSON, 1996).

20

A obesidade está presente em 90 a 95% dos cães afetados. A polifagia é observada pelos

proprietários em 80 a 90% dos caninos com hiperadrenocorticismo. Os cães começam a comer

mais alimento do que o normal, roubar comida, lixo, e ainda ficam com fome (FELDMAN;

NELSON, 1996). O fígado grande é típico no HAC e contribui para a distenção abdominal, sendo

geralmente tumefato, pálido e friável (FELDMAN, 2002). A hepatopatia induzida por esteróide é

o estado patológico do fígado afetado pela ação dos glicocorticóides o qual produz um aumento

do volume e decoloração do fígado devido ao aumento de tamanho dos hepatócitos

(HUXTABLE, 1993). Os hepatócitos não contêm muitos lipídeos e o incremento do volume

deve-se mais ao acúmulo de água e glicogênio no retículo endoplasmático que à gordura

(HUXTABLE, 1993). A hepatomegalia é detectada sem dificuldade, devido a debilidade dos

músculos abdominais. Algumas vezes o veterinário tem suspeita de ascite ou de uma massa

abdominal de grande volume (FELDMAN, 2002)

Os sinais reprodutivos são devido ao fato que o hipercortisolismo produz hiposecreção da

gonadotropina pituitária, causando atrofia testicular redução da libido e hipotestosteronemia em

machos. Nas cadelas os efeitos são anestro prolongado e hipertrofia do clitóris; este sinal decorre

da hipersecreção de andrógenos adrenais e a hipertrofia deste órgão não é vista no

hiperadrenocorticismo iatrogênico (MULLER, 1985; SCOTT et al., 1996; FELDMAN, 2002).

Quando as anormalidades músculo-esqueléticas estão nos pacientes com hiperadrenocorticismo

canino é factível observar atrofia dos músculos esqueléticos e fraqueza na cabeça, os ombros, as

coxas e pelve. (MULLER et al. 1985).

Os animais demonstram a fraqueza muscular em 75 a 85% dos quando não podem pular

sobre móveis ou subir escadas. Cães de maior idade também podem ter doença articular

degenerativa, artrite, claudicação; e quando os animais têm predisposição a sofrer ruptura do

ligamento cruzado anterior e luxação de patela o HAC exacerba muito mais o problema.

(SCOTT et al. 1996; FELMAN; NELSON, 1996). Os animais ficam preguiçosos e mudam seu

comportamento, por exemplo, deixam de sair ao parque, subir escadas, pular sobre móveis, ou

pular para dentro do carro e a tolerância ao exercício está reduzida.

Os sinais cutâneos são identificados durante a inspeção da pele e pelagem detectando-se

perda do brilho e mudança na cor da pelagem, onde os pêlos pretos tornam-se castanho-claros e

os pêlos marrons clareiam para marrom-claro, hipotricose, alopecia simétrica e bilateral que

envolve o tronco ou apenas a região do flanco também são comuns (SCOTT et al. 1996). Estes

21

sinais são devido ao desequilíbrio do hormônio sexual gonadal ou de neoplasia adrenal,

especialmente adenocarcinomas (SCOTT et al. 1996).

Figura 5. Alopecia bilateral e simétrica, hiperpigmentação da pele do tronco e pescoço de um cão com

hiperadrenocorticismo adreno-dependente. Fonte: Lee et al. (2005).

As lesões cutâneas nos cães com HAC são: flebectasias cutâneas vistas em até 40% dos

cães com HAC, lesões vasculares que são maculares, papulares e eritematosas, com até 6 mm de

diâmetro, escaras de pressão, pele fina e hipotônica, petéquias e equimoses, folículos pilosos

preenchidos com queratina, cicatrização deficiente de feridas. Os cães com Cushing não

costumam ter prurido, só se são acompanhados de sinais de infecção na pele, como a piodermite

bacteriana, demodiciodose e malasseziose. (SCOTT et al. 1996). A hiperpigmentação cutânea

pode ser difusa ou focal e pode ser encontrada em ambos HPD e HAD (FELDMAN; NELSON,

1996). A histologia reporta que há aumento dos melanócitos do estrato córneo, epiderme basal e

derme; também pode ser vista a calcinose cutânea embora não seja muito comum, sua incidência

é de 1,7 e 8%, apresentando-se sobre a parte dorsal do pescoço, nos gluteos ou na região axilar e

inguinal. (SCOTT et al. 1996).

As anormalidades respiratórias do HAC são: respiração ofegante, broncopneumonia,

mineralização e fibrose distrófica, e como grave complicação está o tromboembolismo pulmonar

(TEP) (SCOTT et al. 1996). O TEP é a complicação mais preocupante e mais comum nos cães

com tratamento de HPD o na adrenalectomia para o HAD e sua manifestação clínica comum

compreende aflição respiratória, ortopnéia e pulso jugular (COUTO; NELSON, 2005).

22

As manifestações neurológicas são desenvolvidas aos 6 meses ou mais depois que é

diagnosticado o HPD e é iniciada a terapia médica apropriada, embora aproximadamente 10-20%

dos pacientes com HPD apresentam sinais neurológicos que são manifestados no momento ou

depois de estabelecer o diagnóstico e podem representar a alteração clínica primária desta

doença. Os sinais neurológicos mais comuns são: estupor, inapetência, compressão da cabeça,

marcha lenta, andar em círculos, alterações de comportamento, convulsões, ataxia e adipsia e

podem aparecer nos pacientes com HPD como resultado da massa pituitária em crescimento ou

expansão dentro do hipotálamo e tálamo (COUTO; NELSON, 2005).

2.4 Diagnóstico

Para o diagnóstico do paciente com suspeita de Cushing deve se fazer uma avaliação

detalhada e incluir hemograma completo, bioquímica sérica, análises de urina com cultura

microbiana e ultra-sonografia, entre outros exames. Os resultados destes estudos ajudam a

aumentar ou diminuir o índice de suspeita, identificar problemas como infecção urinária, além da

ultra-sonografia fornecer informações importantes sobre a etiologia do distúrbio (HDP-TA)

(COUTO; NELSON, 2005).

2.4.1 Alterações no hemograma

A produção desmedida de cortisol leva à neutrofilia e monocitose induzida pela saída

destas células de regiões capilares marginais até a circulação central em resposta a os esteróides e

o posterior bloqueio do egresso normal desde o sistema vascular. A linfopenia é o resultado da

linfólise esteróide e a eosinopenia é devido ao sequestro medular dos eosinófilos. Este quadro é

denominado resposta ao estresse. Em torno de 80% dos cães com HAC têm valores de linfócitos

e eosinófilos reduzidos e de 20 a 25% têm elevado o valor dos glóbulos brancos. O eritrograma

pode ser normal, porém em algumas cadelas está elevado denotando uma policitemia leve

(FELDMAN, 2002).

2.4.2 Glicemia

Os glicocorticóides aumentam a gliconeogênese e diminuem a utilização periférica da

glicose por antagonizar os efeitos da insulina. A glicosúria pode se manifestar se o limiar renal de

23

absorção de glicose (180 a 220 mg/dL) for ultrapassado. A concentração média de insulina sérica

em cães normais é de 12 U/mL, enquanto que em cães com HAC espontâneo esta média passa

para 38 U/mL. A concentração de glicose média em cães normais é de 85 mg/dL e de 111 mg/dL

em cães com HAC (FELDMAN; NELSON, 1996). Os cães e gatos às vezes apresentam glicemia

basal aumentada e diabetes mellitus. A PU é comum e é produzida por uma forma reversível de

diabetes insípida central (FELDMAN, 2002). No entanto, a mensuração da concentração de

insulina em jejum não tem muito valor diagnóstico, pois alguns cães com HAC não têm aumento

anormal da concentração sérica de insulina (FELDMAN; NELSON, 1996).

2.4.3 Alanina aminotransferase (ALT)

Nos cães com HAC sua atividade esta elevada pelo dano hepático, causando tumefação dos

hepatócitos, acúmulo de glicogênio e interferências com a perfusão hepática. A necrose

hepatocelular é uma característica da hepatopatia esteróide e pode ser a responsável pela elevação

leve da ALT (HUXTABLE, 1993; FELDMAN, 2002).

2.4.4 Fosfatase alcalina (FA)

Fisiologicamente a atividade da FA esta aumentada no crescimento ósseo em cães jovens e

patologicamente em diversas etiologias como, hepatopatias primárias que causam colestase,

pancreatite, diabetes mellitus, atividade osteolítica anormal do osso e hiperadrenocorticismo. A

elevada atividade da FA é a anormalidade mais comum no HAC. Cerca de 85% dos cães têm

atividades maiores que 150 UI/L e os valores acima de 1000 UI/L são comuns e de acordo com a

severidade do HAC.

No entanto, não existe correlação entre este valor e resposta ao tratamento ou prognóstico

do caso (FELDMAN; NELSON, 1996). Solter et al. (1993) afirmam que FA-corticóide-induzida

é a única enzima que aparece tanto nos cães que recebem administração exógena de

glicocorticóides quanto nos cães que apresentam excessiva liberação endógena de

glicocorticóide. Feldman et al. (1997) concordam que a taxa de produção de FA aumenta como

resultado do depósito de glicogênio hepático e vacuolização do trato biliar em cães hiperadrenais.

24

2.4.5 Colesterol

O estimulo dos glicocorticóides ao organismo induzindo à lipólise causa incremento nas

concentrações sanguíneas de lipídeos e colesterol. Cerca de 10% dos cães com HAC têm

concentrações séricas de colesterol menores de 250 mg/dL (normal), 15% têm níveis de 250-300

mg/dL e 75% dos cães posuem valores maiores de 300 mg/dL. A lipemia é frequente,

entretanto de menor importância clínica e diagnóstica (FELDMAN, 2002).

2.4.6 Eletrólitos séricos

A avaliação dos eletrólitos séricos torna-se importante se o cão com HAC exibe anorexia,

vômito ou diarréia, porque as exacerbações destas alterações podem ser um indicador de ameaça

para a vida do paciente (FELDMAN, 2002). Um terço da população dos cães com HAC têm

hipofosfatemia devido ao aumento da excreção urinária de fosfato induzida por glicocorticóides

(FELDMAN; NELSON, 1996).

2.4.7 Enzimas pancreáticas

A pancreatite é pouco comum nos cães com HAC; quando esta se apresenta pode ser

secundária à lipemia ou ao fato de que estes pacientes são polifágicos e podem ingerir grandes

quantidades de lixo ou gordura; assim as concentrações séricas da lipase e amilase podem estar

elevadas. Estes parâmetros não são analisados como rotina, e a medição é recomendável quando

os animais apresentem sinais de pancreatite (FELDMAN, 2002).

2.4.8 Alterações no urinálise

A anormalidade mais frequente é a diluição urinária (< 1,015-1,020), presente em 85% dos

casos. As amostras para avaliar a densidade devem ser coletadas em casa, já que alguns cães no

hospital diminuem a produção urinária (FELDMAN, 2002). É importante determinar a existência

de glicosúria, achado visto em 5-10% dos casos em que o Cushing estava sendo acompanhado

por diabetes (FELDMAN, 2002).

Geralmente a proteinúria não causa hipoproteinemia ou hipoalbuminemia, mas pode estar

associada à hipertensão, que está presente em 50% dos casos com HAC. Aparentemente esta

hipertensão é causada pela hiperprodução da renina, hipersensibilidade vascular às catecolaminas

e agonistas adrenérgicos, redução das prostaglandinas vasodilatadoras e hipersecreção de

25

mineralocorticóides. Esta consequência, que é solucionada com o tratamento, pode deixar

sequelas como a cegueira, devido à hemorragia intra-ocular ou desprendimento da retina

(FELDMAN, 2002). Cerca de 75% dos cães com HAC têm proporções de proteína: creatinina na

urina maiores de 1 (normal < 1), podendo se perder proteínas importantes na hemostasia como a

antitrombina III e, como já citado anteriormente, pode predispor à ocorrência de TEP

(FELDMAN, 2002).

A infecção urinária é uma sequela do estado nos cães hiperadrenais, que ocorre em

aproximadamente 50% dos cães afetados. Quando a urina esta hipostenúrica (muito diluída, com

densidade menor ou igual a 1,007) prejudica a identificação de bactérias ou células inflamatórias.

Sempre que exista suspeita de hiperadrenocorticismo, é recomendável a cistocentese para

urocultura e prova de sensibilidade (COUTO; NELSON, 2005). Na presença de um excesso de

glicocorticóides ocorre imunossupressão, levando a um elevado risco de infecção, que junto com

a poliúria que origina um notável volume de urina e a flacidez da musculatura, típica do HAC

causam uma distensão crônica da bexiga, resultando em retenção urinária, predispondo estas

infecções. Outra causa seria a urina diluída, aumentando a susceptibilidade a infecções do trato

urinário inferior (COUTO; NELSON, 2005).

2.5 Diagnóstico por imagem

2.5.1 Ultra-sonografia abdominal

Utilizada para avaliar o tamanho e forma das adrenais e determinar qualquer outra

anormalidade no abdômen. Um cão com as adrenais > 0,75 cm de espessura é um paciente com

uma evidente hiperplasia adrenal ocasionada por HDP (COUTO; NELSON, 2005). As adrenais

nos cães com HPD são similares, mas não exatamente iguais no tamanho e forma, devem ter

bordos lisos não irregulares, podendo ter um comprimento superior a 2 cm. Podem ter um pólo

cranial ou caudal bulboso e não invadem órgãos ou vasos sanguíneos circundantes (COUTO;

NELSON, 2005).

O comprimento e a espessura máximos normais da adrenal esquerda são de 33 e 7,5 mm,

respectivamente; 31 e 7 mm representam o comprimento e espessura máximos normais da

adrenal direita (BARTHEZ; NYLAND, 1995). Se as duas adrenais são vistas e têm um tamanho

relativamente igual no cão ou gato com diagnóstico de Cushing, isto é considerada uma firme

26

evidência de Cushing HPD. Uma massa adrenal unilateral de forma e tamanho anormais, com a

adrenal contralateral pequena ou invisível, é evidência de um tumor adrenal cortical funcional

(FELDMAN, 2002).

A largura da adrenal esquerda é um parâmetro que teve sensibilidade de 81% e

especificidade de 100% na detecção de adrenomegalia nos cães com HAC (BARTHEZ;

NYLAND, 1995). Frente a isto, a ultra-sonografia adrenal é uma ferramenta que ajuda na

discriminação entre HPD e HAD, mas não deve ser utilizada como único método diagnóstico

para a síndrome de Cushing, (FELDMAN, 2002). Existem outros diagnósticos diferenciais

quando é achada uma massa adrenal, descritos a seguir; cistos adrenais, mielolipomas,

hemorragia, tumor pituitário não produtor de hormônio, feocromocitoma, tumor metastático e

granuloma (FELDMAN, 2002).

2.5.2 Radiografia

Os achados radiográficos mais compatíveis com hiperadrenocorticismo são o aumento do

contraste abdominal em virtude de maior distribuição de gordura no abdômen, a hepatomegalia

provocada pela hepatopatia por esteróides, a bexiga aumentada pelo estado poliúrico e

calcificação distrófica da traquéia, brônquios e pele em alguns casos. A identificação positiva de

uma massa adrenal ocorre raramente porque apenas 10 a 20% dos cães com HAC de ocorrência

natural se apresentam com HAD, e somente 50% destes tumores podem ser visualizados

radiograficamente devido à calcificação (FELDMAN; NELSON, 1996).

Pode ser também observada a calcificação de tecido mole na região da glândula adrenal, a

calcificação ectópica observada envolvendo os anéis traqueais e brônquios principais, mas a

calcificação destas estruturas é normal em cães velhos (FELDMAN; NELSON, 1996).

Osteoporose ocorre devido aos efeitos catabólicos dos glicocorticóides sobre a matriz óssea,

aumentando a excreção urinária de cálcio, além de inibirem a absorção gastrintestinal de cálcio,

pela interferência com a ação de vitamina D. Assim, a depleção da matriz, acompanhada pela

perda de mineral, pode ser a causa da osteoporose (FELDMAN; NELSON, 1996) e osteomalacia

das vértebras, costelas e ossos planos, com ou sem fraturas patológicas; mineralização distrófica

de tecidos moles e de neoplasias adrenocorticais (SCOTT et al. 1996).

27

2.5.3 Tomografia computadorizada (TC)

A TC é parte de uma revolução de alta tecnologia na medicina veterinária moderna.

Ferramenta disponível no Brasil só nas escolas e para alguns profissionais que trabalham nos

hospitais locais do Rio de Janeiro e São Paulo. O procedimento requer de 30 minutos a 2 horas de

anestesia para se completar (FELDMAN, 2002) e de um meio de contraste iodado ou DTPA

gadolínio administrado por aplicação intravenosa segundo o recomendado por COUTO e

NELSON (2005). Nos cães e gatos a TC abdominal é eficiente na identificação das adrenais

normais vs. uma adrenal grande ou adrenomegalia bilateral e da mesma forma que a TC, a ultra-

sonografia tem a mesma sensibilidade para detectar e localizar tumores adreconocorticais

(BARTHEZ; NYLAND, 1995).

Aproximadamente 50% dos tumores pituitários são relativamente diminutos e podem não

ser detectados pela TC; cerca de 40% dos cães com HDP sem sinais do SNC têm um tumor

pituitário visível na TC (FELDMAN, 2002). Especificamente a TC avalia o tamanho e simetria

das glândulas adrenais e determina a presença de um macroadenoma hipofisário (COUTO;

NELSON, 2005). O diagnóstico por imagem como radiografia, tomografia computadorizada e

ultra-sonografia podem ser usadas para determinar o tamanho e o formato da glândula adrenal

(BARTHEZ; NYLAND, 1995)

2.5.4 Ressonância magnética (IRM)

Em cerca de 50% dos pacientes com HDP não tratado e sem sinais sugestivos de uma

massa endocraniana, são visualizados, sem dificuldade, tumores hipofisiários com medidas de 3 a

13 mm de diâmetro. Segundo Feldman (2002) depois de um ano 80% desses tumores são

maiores, sem importar o êxito do tratamento médico, e 15-20% dos cães com HPD estão em risco

de apresentar sinais neurológicas devido ao crescimento do tumor. Os sinais neurológicos estão

associados a tumores de 10 mm de diâmetro ou mais, a irradiação com cobalto teria que ser

considerada para todo cão com HPD e tumor pituitário de 8 mm ou mais, a IRM e TC da

pituitária nos cães com HPD são de utilidade para predizer que casos desenvolveram problemas

devido a uma neoplasia hipofisiária expansiva (FELDMAN, 2002).

28

2.5.5 Outros diagnósticos

A histopatologia é uma ferramenta muito útil também no caso dos pacientes com HAC. Os

achados mais importantes nesta endocrinopatia são hiperqueratose ortoqueratótica, atrofia

folicular, predominância de folículos pilosos telogênicos mineralização distrófica, derme

adelgaçada e ausência de músculos eretores de pêlo, piodermite secundária e granuloma de corpo

estranho, que estão associados com mineralização distrófica (MULLER et al., 1985).

2.6 Testes endócrinos

2.6.1 Teste de estimulação do ACTH

A precisão da estimulação com ACTH para identificar hiperadrenocorticismo é de 80% e

significa que 20% dos animais com HAC podem obter resultados normais. A prova de

estimulação com ACTH não diferencia HPD de HAD e não discrimina entre pacientes com

adenoma ou carcinoma adrenal (COUTO; NELSON, 2005). Para o diagnóstico de

hiperadrenocorticismo iatrogênico é recomendável realizar a estimulação com ACTH segundo

FELDMAN (2002), considerando que os valores a serem encontrados num cão normal são de 6-

17 µg/dL, e que valores de 5 µg/dL ou menores são sugestivos de hiperadrenocorticismo

iatrogênico, enquanto que valores maiores de 24 µg/dL são compatíveis com

hiperadrenocorticismo espontâneo (COUTO; NELSON, 2005).

2.6.2 Teste de supressão com dexametasona na dose baixa

Para a realização do teste deve administrar-se 0,01 mg/kg de peso corporal de

dexametasona por via intravenosa e coletar-se duas amostras para a dosagem do cortisol a 4 e 8

horas após. A precisão do procedimento é de 85%, e é confiável na hora de diferenciar entre cães

normais e com HAC. Os resultados do teste podem estar afetados pela administração de fármacos

anticonvulsivantes, estresse, glicocorticóides exógenos e doença extra-adrenal. Os cães com

tumores adrenais funcionais secretam cortisol na forma autônoma, o qual suprime a secreção de

ACTH endógena. Nestes casos, a dexametasona não afeta a concentração plasmática do cortisol

nos cães com hiperadrenocorticismo adreno-dependente porque a corticotrofina pituitária já está

suprimida e a concentração sanguínea de ACTH é indetectável (COUTO; NELSON, 2005).

29

Assim, nos cães com tumor adrenococortical, a administração de baixa dose de

dexametasona não afeta a concentração plasmática do cortisol, enquanto que no HPD a supressão

é variável em 4 horas; e em 8 horas esta acima do limite normal de > 1,4 µg/dL (COUTO;

NELSON, 2005). Quando é realizado este teste é importante que o paciente esteja livre de todos

os fatores estressantes, e não devem se realizar outros procedimentos até completar o estudo. Para

o protocolo deste teste pode se usar fosfato sódico de dexametasona ou dexametasona em glicol

de polietileno. A concentração plasmática do cortisol 8 horas pós-supressão com a dexametasona

permite confirmar o HAC (FELDMAN, 2002).

Os cães normais tem valores de cortisol plasmático menores de 1 µg/dL, os pacientes com

HPD e HAD têm valores de 1,4 µg/dL ou mais 8 horas depois da administração de

dexametasona. Os resultados entre 1 e 1,4 não são diagnósticos e não afirmam que tenha ou não a

doença, quando o valor às 8 horas pós-supressão com dexametasona confirma o diagnóstico. Os

níveis de cortisol às 4 horas pós-dexametasona podem ser de valor para distinguir entre HPD e

HAD. Próximo de 60% dos cães com HPD durante as 2-6 horas iniciais do estudo mostram uma

concentração plasmática de cortisol reduzida porque a baixa dose de dexametasona suprime a

secreção de ACTH pituitária, supressão que não é verificada nos cães com HAD e em 40% dos

cães com HPD (COUTO; NELSON, 2005).

2.6.3 Teste de concentração do ACTH endógeno

A determinação da concentração plasmática de ACTH basal não é usada para o diagnóstico

do hiperadrenocorticismo, porque muitas das concentrações nos cães com HAC estão na faixa

normal (10-110 pg/mL). No entanto, a determinação da concentração plasmática de ACTH basal

pode ajudar a diferenciar entre cães com HAD e HPD, depois de estabelecer o diagnóstico de

HAC. O HAD e o hiperadrenocorticismo iatrogênico deveriam suprimir a secreção de ACTH, e o

HPD é o resultado da secreção excessiva de ACTH. Próximo de 60% dos cães com HAD tem

concentrações plasmáticas de ACTH indetectáveis, e 85-90% dos cães com HPD têm níveis

plasmáticos de ACTH maiores que 45 pg/mL e 35% possuem valores que superam os 100 pg/mL

(GOULD et al. 2001). As concentrações de ACTH entre 10 e 45 pg/mL não são diagnósticas na

diferenciação das formas de HAC, e para ter um plano diagnóstico completo deve se ter achados

na ultra-sonografia abdominal, cortisol às 4 horas pós-supressão com dexametasona na dose

baixa e, se necessário, a concentração plasmática de cortisol pós-dexametasona em dose alta

30

(COUTO; NELSON, 2005). Os resultados devem ser interpretados na função da faixa de

referência estabelecido pelo laboratório de endocrinologia veterinária.

2.6.4 Teste de supressão com dexametasona na dose alta

Este teste é usado para diferenciar a causa do HAC. Após obter-se a amostra sanguínea

para dosagem do cortisol basal, administra-se por via intravenosa 0,1 mg/kg de peso corporal de

dexametasona e coletam-se duas amostras para dosagem do cortisol a 4 ou 8 horas após

(FELDMAN, 2002). O tumor adrenal funciona independente do ACTH pituitário, de forma que,

sem importar a dose, a dexametasona nunca deveria suprimir a concentração plasmática de

cortisol se a fonte do cortisol é um tumor adrenal. Contudo, a administração em dose alta de

dexametasona deve suprimir a secreção de ACTH pituitária na maioria dos cães com HPD

(COUTO; NELSON, 2005). O HPD é a consequência da supersecreção crônica de ACTH de um

tumor hipofisiário, assim o ACTH pode ser suprimido pela dexametasona. A supressão está

definida como uma concentração plasmática de cortisol menor que 50% da concentração basal 4

ou 8 horas pós-supressão com dexametasona menor de 1,4 µg/dL; 25 % dos cães com HPD e

quase 100% dos que têm HAD não apresentam tal supressão (FELDMAN, 2002).

31

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Delineamento experimental e origem dos dados

Este trabalho se baseou em um levantamento retrospectivo de 47 fichas de pacientes

caninos com diagnóstico de HAC atendidos no HCV/UFRGS ou na rotina de atendimentos de um

serviço particular em endocrinologia veterinária na cidade de Porto Alegre e região

metropolitana, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2008. Para a inclusão dos pacientes

com diagnóstico de HAC foi considerada a anamnese, achados físicos, teste das análises

hematológicas, bioquímica clínica e teste de supressão por baixa dose de dexametasona, com

resultado de cortisol após 8 horas acima de 1,4 ng/mL.

3.2 Protocolo de coleta e avaliação dos dados

As fichas dos pacientes foram avaliadas individualmente e foram coletados dados

relacionados com a resenha (raça, idade, sexo, porte); quanto aos sinais clínicos, foi examinado

sua presença ou ausência (polifagia, poliúria/polidipsia, abdomem pendular, fraqueza/atrofia

muscular, exoftalmia, atrofia cutânea, telangiectasia, alopecia/rarefação pilosa, comedões,

infecções secundárias na pele, dispnéia/taquipnéia, hepatomegalia, anestro persistente, atrofia

testicular, calcinose cutânea, sinais neurológicos).

Em relacao as alterações laboratoriais, foram considerados o hemograma (valores

individuais de eritrograma e de leucograma) e bioquímica sanguínea. Também foi computado o

valor de cortisol pós-dexametasona de cada paciente, bem como as alterações observadas na

urinálise (valores individuais de cada componente do exame físico, químico e do sedimento). As

doenças concomitantes que co-afetaram os pacientes com diagnóstico de hiperadrenocorticismo

também foram identificadas.

3.3 Análise dos dados

Todos os dados foram organizados em tabelas, a fim de compreender como se comporta a

população de dados estudada e de se obter o perfil do animal com HAC. Os dados de resenha

foram expressos como percentual de raças acometidas, percentual de animais acometidos por

32

sexo, idade média e porte médio dos animais. Os dados referentes aos sinais clínicos foram

expressos como percentual de pacientes que apresentaram cada um dos sinais acima descritos.

Os exames laboratoriais foram expressos como média ± desvio padrão, comparando estes

com os valores mínimos e máximos (faixa) de referências, bem como percentual de valores acima

ou abaixo do limite de referência também foram informados. As doenças concomitantes

verificadas na população foram descritas em percentual. Os animais que tinham tumor nas

glândulas adrenais foram classificados como hiperadrenocorticismo adreno-dependente, e os

animais que tinham hiperplasia das glândulas adrenais foram identificados como

hiperadrenocorticismo pituitário-dependente.

33

4. RESULTADOS

HPD e HAD na população estudada

Analisando a prevalência de cada etiologia do HAC, foi encontrado que 77,77% dos cães

apresentaram HPD e 22,23% tumores adrenocorticais ou hiperadrenocorticismo adreno-

dependente HAD (Grafico 1). Da mesma forma que foi relatado por Feldman e Nelson (1996), os

casos de hiperadrenocorticismo dependente da pituitária estiveram mais presentes na população

estudada. Nosso estudo não obteve nenhum caso de hiperadrenocorticismo iatrogênico.

Gráfico 1. Prevalência de HPD e HAD na população canina estudada

Depois de avaliados e analisados os dados obtidos na resenha, sinais clínicos, alterações

laboratoriais, e doenças concomitantes nos animais com HAC se obtiveram os seguintes

resultados.

Resenha

A raça de maior predisposição foi o Poodle (38,8% do total de animais afetados), seguido

por cães sem raça definida com 16,6% e Dachshund com 13,9%. A raça Rotweiller foi

representada por somente 5,5% dos casos. Além destas, foram vistas raças que, segundo a

literatura, têm uma maior predisposição a desenvolver HAC, tais como: Beagle, Boston Terrier e

Cocker. De acordo à predisposição racial, o Poodle esteve presente em 42,8% nos casos de HDP

e só 25% dos animais afeitados pelo HAD foram desta raça, enquanto que nos animais SRD foi

34

observado que 37,5% destes estavam no grupo de HAD e 10,7% faziam parte do outro grupo. As

demais raças não tiveram nenhum tipo de predisposição etiológica (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição por raça dos cães com HPD e HAD

HPD HAD Raças N° de casos % total de cães N° de casos % total de cães

Beagle 2 7 1 12,5 Bichon frise 1 3,5 - - Boston terrier 1 3,5 - - Boxer - - 1 12,5 Cocker - - 1 12,5 Dachshund 5 18 - - Maltes 1 3,5 - - Poodle 12 43 2 25 Pinscher 1 3,5 - - Rottweiler 2 7 - - SRD 3 10 3 37,5 Total 28 100 8 100

Idade e peso

A distribuição por idade encontra-se na tabela 2, sendo que a idade média foi de 9,2 anos (±

2,35). Os animais afetados no presente estudo tinham um peso médio de 12,22 kg (± 7,73), não

existindo diferenciação para as médias de peso entre cães com HDP e HAD. A média dos pesos

dos animais com HDP foi de 11,23 kg e dos cães com tumor adrenal 9,17 kg.

Tabela 2. Distribuição por idade dos cães com HPD e HAD

Idade (anos) HPD HAD

N° de casos % total de cães N° de casos % total de cães

4-6 5 17,9

7-9 10 35,71 3 37,5

10-12 11 39,3 4 50

13-15 2 7,2 1 12,5

35

Tabela 3. Distribuição por peso dos cães com HPD e HAD

Peso (kg) HPD HAD

N° de casos % total de cães N° de casos % total de cães

3-5 4 17 1 14,28

6-8 6 25

9-11 6 25 1 14,28

12-14 3 12 1 14,28

15-17 2 9 2 28,57

>17 3 12 2 28,57

Sexo

Dos animais afetados 69,4% foram fêmeas e 30,6% machos, da mesma forma como já foi

mencionado por Feldman (2002); as fêmeas são mais afetadas tanto no hiperadrenocorticismo

pituitário dependente como no hiperadrenocorticismo adrenal dependente.

Porte

As raças de porte pequeno foram as mais presentes dentre as afetadas, com 63,89 % dos

casos, as raças de porte médio representaram 25% e as raças de porte grande 11,11% dos animais

afetados.

Gráfico 2. Porte dos cães acometidos com HAC no estudo retrospectivo

36

Sinais clínicos da população estudada

Os sinais clínicos incluídos no estudo foram aqueles que estavam mais presentes nos

pacientes com a doença. A poliúria e polidipsia (PU/PD) com 88,89% e a polifagia 86,11% foram

os sinais clínicos próprios do hiperadrencorticismo canino de maior presença no estudo. Os

demais dados também de muita importância na enfermidade são representados no gráfico 3.

Vômitos, espirros, diarréia, prurido, incontinência urinaria e anestro persistente foram

sinais pouco frequentes. Contudo o anestro persistente esteve presente em 16,66% das fêmeas.

Tem sido observado que existe prevalência dos sinais clínicos relacionados ao

hiperadrenocorticismo pituitário dependente e outros que estariam presentes no hipercortisolismo

adrenal primário ou tumor adrenal (CASTILLO, et al.,2005). Na tabela 4 estão os dados obtidos

de acordo a esta classificação.

Tabela 4. Sinais clínicos dos animais afetados por HPD e HAD no presente estudo

Sinais clínicos HPD (%)

HAD (%)

Poliúria/Polidipsia 85,71 100,00 Polifagia 89,28 75,00 Telangiectasia 45,85 25,00 Alopecia 35,71 37,50 Atrofia Cutânea 50,00 62,50 Comedões 35,14 25,00 Infecção na pele 35,14 50,00 Obesidade 57,14 37,50 Hiperpigmentação 35,14 50,00 Atrofia muscular 45,85 37,50 Intolerância ao exercício 71,42 37,50 Abdômen distendido 67,85 25,00 Taquipnéia 50,00 37,50

Hepatomegalia 57,14 62,50

37

Modificações laboratoriais da população estudada

As tabelas 5 e 6 apresentam os resultados obtidos do hemograma e bioquímica sanguínea

dos animais estudados. Os valores fora do intervalo de referência (VR) considerados para cães

normais normal para a especie canina estão informados nas últimas duas colunas.

Tabela 5. Resultados do hemograma

Parâmetro N Valor de referencia (VR)* Média Desvio

padrão Valor

acima do VR (%)

Valor abaixo do VR (%)

Eritrócitos 27 5,5-8,5 6,04 0,9726 0 29,6 Hemoglobina 27 12-18 14,84 2,38 0 0 Hematócrito 27 37-55 43,67 6,74 0 3,7 VGM 27 60-70 72,57 5,92 59,25 0 CHGM 27 32-36 34,277 2,15 7,4 7,4 Leucócitos totais 27 6000-17000 12660 5387,5 18,5 0 Metamielocito 27 0 0 0 0 0 Melanocito 27 0 0,037 0,1925 3,7 0 Basófilos 27 raros 0,5556 1,3107 22,22 0 Segmentados 27 60-77 81,185 10,98 70,4 7,4 Eosinófilos 27 2-10 1,555 1,987 0 62,96 Linfócitos 27 12-30 10,333 8,4124 3,7 70,4 Monócitos 27 3-10 5,92 3,39 7,4 14,8 Plaquetas 9 200.000-500.000 440.333 175.621 22,22 0

* Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Rio Grande do Sul

Tabela 6. Resultados dos exames bioquímicos

Parâmetro N Valor de referencia (VR)*

Média Desvio padrão

Valor acima do VR (%)

ALT (U/L) 29 <102 175,47 173,48 68,96 AST (U/L) 9 <66 59,85 54,28 44,44 Fosfatase alcalina (U/L) 28 <156 897,57 968,89 74 Uréia (mg/dL) 16 21-60 44,55 43,46 18,75 Creatinina (mg/dL) 26 0,5-1,5 0,89 0,5414 3,85 Colesterol (g/dL) 26 135-270 338,59 125,9 34,6 Triglicerídeos (mg/dL) 19 32-138 264,52 307,49 84,21 Fructosamina (µmol/L) 10 170-338 321,66 99,547 40 Glicose (mg/dL) 14 65-118 223,97 170,23 42,85

* Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Nota: Não foram encontrados valores abaixo do valor de referência. Nem todos os 36 animais fizeram os exames de sangue, por diferentes motivos.

38

Na tabela 7 são apresentadas as modificações laboratoriais mais frequentes em animais com

HDP ou HAD do presente estudo.

Tabela 7. Modificações laboratoriais mais frequentes no HDP e HAD

Exame Anormalidade HPD (%) HAD (%)

Neutrofilia 80,00 71,42 Eosinopenia 45,45 42,85 Linfopenia 75,00 57,14 Hemograma

Aumento de ALT 59,09 85,71 Aumento de AST 85,00 0 Aumento de FA 70,00 100,00 Hipercolesterolemia 45,00 33,33 Aumento de triglicerídeos 80,00 100,00

Bioquímica

Aumento de glicose 53,84 0 Densidade urinária < 1015-1020 47,36 75,00 Infecção de vias urinárias 63,15 75,00 Urinalise Glicosúria 40,00 10,00

Principais doenças concomitantes encontradas na população em estudo

Neste estudo foi encontrado que 63% dos animais tiveram piodermatite e 41,66% infecção

do trato urinário, além de 25% dos pacientes com insuficiência cardíaca, 23,4% com diabetes

mellitus e 19,4% com doença oral (periodontite) (Gráfico 4).

Outras doenças encontradas também foram: conjuntivites, tumor de mama, tumor testicular,

tumores de pele, artroses, cataratas, uveíte, e tumores hepáticos. Não ignorando que estas doenças

podem estar relacionadas à síndrome de Cushing, não se observaram em um número significativo

da população estudada. Na tabela 8 se encontram as enfermidades em animais discriminada pela

etiología (HPD ou HAD).

39

Gráfico 4. Principais doenças concomitantes encontradas nos pacientes com HAC

Tabela 8. Prevalência das doenças concomitantes no HPD e HAD

Doenças concomitantes HPD (%)

HAD (%)

Diabetes mellitus 23,4 0

Infecção do trato urinário 63,15 75,00

Periodontite 53,57 62,50

Insuficiência cardíaca 25,00 25,00

Piodermatite 50,00 87,5

Urinálise

A urinalise foi feita em aproximadamente 63,88% dos pacientes, , portanto os resultados se

referem a uma parte do total dos cães.

Exame físico: o aspecto da urina o presente estudo foi encontrada discretamente turva e a

cor estave amarela clara. A densidade urinaria dos cães com HAC é baixa (< 1015-1020), neste

40

estudo desenvolvido com os pacientes de HACC do HCV foi vista em 1020 em 45% dos

pacientes.

Exame químico: este estudo não pode dar uma conclusão respeito do pH dos pacientes com

HACC, pois só 5 análises de urina tinham valor de pH, estando normal. Em condições normais a

quantidade de proteína na urina é pouca, na urinálise realizada aos nossos pacientes com HACC

foi observado que 68,42% destes tinham proteinúria. A glicosúria esteve presente em 40% dos

pacientes com HPD e 10% dos cães com HAD.

Exame do sedimento: neste estudo foi observado 45,45% dos exames da urinálise com 5

leucócitos por campo. Os demais elementos do exame do sedimento encontravam-se dentro da

faixa normal.

41

5 DISCUSSÃO

O diagnóstico da síndrome de Cushing ou hiperadrenocorticismo canino é realizado

mediante a integração dos resultados do exame físico, dados de laboratório que incluem o perfil

bioquímico podendo ser no soro ou no plasma excepto a medição da fosfatase alcalina, perfil

hemático e urinálise, mas também os resultados de determinados testes de função endócrina. O

HAC é classificado em pituitário dependente, adrenal dependente, iatrogênico ou

hiperadrenocorticismo ectópico segundo Feldman (2002) e Galac et al. (2005). Nosso trabalho

observou uma prevalência de HPD de 78%, nos 36 cães estudados, valor aproximado dos 85%

citados por autores como Feldman (2002) e Couto e Nelson (2005). O HPD espontâneo é visto

em 85-90% dos cães sendo resultado de um tumor pituitário funcional (AXLUND, 2003), sendo

o hiperadrenocorticismo dependente da pituitária a causa mais comum do hiperadrenocorticismo

espontâneo. (COUTO; NELSON, 2005).

Sendo que etiologicamente o HPD é a causa mais comum do HAC, é muito importante seu

diagnóstico precoce, por isso é importante saber a raça do paciente. Neste estudo foi visto que as

raças de porte pequeno estão mais predispostas a sofrer de HPD, embora as raças grandes não

estejam isentas de sofrer de esta afecção. Galac et al. (2004) e Hernandes e Alzate (2006)

publicaram estudos onde os pacientes com HPD foram Golden Retriever e Pastor Alemão, e no

estudo de Hanson et al. (2008) foi encontrada diversidade de raças como: Beagle, Border Collie,

Montanha de Berna, Boxer, Dachshund, Dogo Argentino, Howawart, Jack Russell Terrier,

Vizsla, Poodle e Cocker Spaniel com o diagnostico de HPD.

A distribuição das raças grandes é um pouco maior no HAD, contudo, Dewe-Mathews,

(2002); Lee et al. (2005) publicaram casos de cães da raça pequena como Yorkshire Terrier e

Papillon, respectivamente. Feldman e Nelson (1996) concluem que as raças de maior

predisposição de sofrer HPD são o Beagle, Poodle, Dachshund e alguns Terriers, mas também as

raças que estão como predisponentes no HPD podem estar predispostas a sofrer HAD tais como

Poodle, Dachshund, Terrier, Pastor Alemão e Labrador.

As raças grandes e pequenas também estão presentes nos outros tipos de

hiperadrenocorticismo, Galac et al. (2008) determinaram hiperadrenocorticismo dependente de

alimentação num macho da raça Vizsla e Lima, et al. (2009) relataram um caso de HAC

iatrogênico num cão de raça Poodle, embora o HAC deste tipo de etiologia pode ocorrer em

qualquer raça. Feldman e Nelson (1996) e Mooney (2008) concluíram que o

42

hiperadrenocorticismo pituitário dependente é uma enfermidade de maior predisposição nas raças

pequenas, e as raças grandes estão mais propensas a desenvolver um tumor adrenal, concordando

com o encontrado no presente trabalho onde foram os cães de menor peso os de maior presença

no HPD e os de maior peso os encontrados no HAD.

A idade é um dado importante, tendo em conta que o risco de desenvolver

hiperadrenocorticismo é aumentado com esta, sendo a idade média de apresentação de 10 anos

(BOARI; ASTE, 2003; COUTO; NELSON, 2005). Neste estudo foi observado que a maioria dos

casos do HPD esteve entre 7-12 anos de idade no momento do diagnóstico, o que condiz com os

achados de Feldman (2002) onde os animais com HPD em geral são maiores de 6 anos, sendo

que 75% destes superam os 9 anos de idade. Na literatura não foram encontrados dados a respeito

da idade dos pacientes caninos com HAD, enquanto nosso trabalho revelou que a maioria dos

casos de HAD estava entre os 10-12 anos quando foram diagnosticados.

Não há predisposição sexual aparente, embora os tumores adrenais pareçam ser mais comuns nas

fêmeas que nos machos (COUTO; NELSON, 2005). Nosso trabalho encontrou que tanto nos

casos de HPD como nos de HAD as fêmeas sempre apresentaram maior predisposição, o que

condiz com Martiarena et al. (2007). Birchard e Sherding (1998) afirmaram que o 70% dos

pacientes caninos com tumor adrenal eram fêmeas, e Feldman (2002) indicou que no HAD o 55-

60% dos pacientes são fêmeas. Como esta foi uma amostra pequena, pode ser que este resultado

esteja relacionado com as características da amostra e não possam ser extrapolados à população.

É importante compreender que aproximadamente 90% dos animais apresentaram PU/PD e

80% apresentaram PF, o que já havia sido relatado por Feldman e Nelson (1996) e sem nenhuma

predileção em HPD quanto no HAD. Não obstante o estudo achou que 57,14% dos cães

apresentaram obesidade enquanto 85,71% destes apresentaram PU/PD. Castillo et al. (2006)

identificaram que os animais que tinham adenoma dependente da pituitária eram mais

predisponentes a apresentar sinais clínicos tais como PU/PD e peso normal, e segundo este

mesmo autor aqueles com carcinoma, quer dizer, HAD eram animais com obesidade e

piodermatite. Foi encontrado que pacientes com HAD apresentaram maior presença de

piodermatite, embora não houve predileção da obesidade.

Zerbe (2000) assinala que a PU/PD é observada em 85% dos casos de

hiperadrenocorticismo canino de ocorrência espontânea. Os casos reportados por Lee et al.

(2005); Hernandes e Alzate (2006); Galac et al. (2008); Teshima et al. (2008); Apellanis et al.

43

(2008); Lima e Costa (2009) concordam com o presente estudo, indicando a importância destes

para o diagnóstico desta doença. Galac et al. (2008) observou sinais de telangiectasia, obesidade,

intolerância ao exercício, abdômen distendido no hiperadrenocorticismo dependente de alimento

e Hernandes e Alzate (2006) observaram os mesmos sinais, junto à taquipnéia no HPD. Neste

estudo foi encontrada maior presença de pioderma em HAD que no HPD, o que condiz com

Castillo et al. (2006).

Segundo Zerbe (2000) o abdômen pendular, hepatomegalia, alopecia, polifagia e, atrofia

muscular são sinais clínicos com presença em 60-70 % nos animais com HACC, o que condiz

com alguns achados no presente trabalho, a exceção da atrofia muscular e alopecia que estiveram

representadas em menor número tanto no HPD como no HAD. Segundo Bond (2009) o

hiperadrenocorticismo espontâneo de etiologia adrenal ou pituitária apresenta os mesmos sinais

clínicos como abdômen pendular, atrofia testicular, atrofia muscular, hepatomegalia e problemas

na pele.

Bond (2009) afirmou que a hiperpigmentação na pele é própria de certas raças como o

Pomerania, Poodle, Samoieda, Chow Chow e Keeshond, embora Robinson e Shaw (1993)

indicam que na maioria dos casos existem efeitos adicionais dos altos níveis de ACTH y β-

lipoproteínas, já que as duas são análogas a melanotropina (MSH). A hiperpigmentação é

apresentada só quando a enfermidade é devida a um adenoma adrenal funcional e não há efeito

de ACTH.

Cerundolo et al. (2001) reportam que a hiperpigmentação é uma condição dos animais com

hiperadrenocorticismo pituitária dependente o que não concorda com o encontrado no presente

trabalho onde a hiperpigmentação esteve mais presente no HAD em 50% dos animais. Mooney

(2008) afirma que somado aos sinais anteriores se encontram PU/PD, polifagia e problemas de

pele e ainda mais afirma que todos estes são sinais patognomônicos do hiperadrenocorticismo

canino.

Quando analisados os hemogramas, foi observado que muitos dos valores saiam dos

parâmetros normais, sendo o perfil comum destes o leucograma de estresse, próprio dos pacientes

com Cushing, o que condiz com os achados de Feldman (2002). Por outro lado, Boari e Aste

(2003) e Lee et al. (2005), afirmaram que os cães com hiperadrenocorticismo apresentam

eritrocitose média a leve, o que não concorda com os resultados do presente estudo.

44

O perfil bioquímico comum da população canina com hiperadrenocorticismo canino

coincide com os achados no presente trabalho. As enzimas hepáticas (ALT, AST, FA) foram

encontradas elevadas por causa secundária ao dano hepático causado pelos hepatócitos

tumefeitos, acumulação de glicogênio ou interferências com a perfusão hepática. Assim, se tem

reconhecido que a “hepatopatia por esteróides” é suficiente como para causar a elevação da ALT

(FELDMAN, 2002). De acordo com as modificações segundo o tipo de etiologia as únicas

alterações relacionadas com as enzimas hepáticas são que ALT e FA estiveram mais elevadas nos

pacientes com HAD, discordando com os achados de Marques et al. (2000) onde foi visto que

tanto ALT quanto AST estiveram mais elevadas no HPD e FA permaneceu invariável.

Sendo que a elevação da fosfatase alcalina é a anormalidade encontrada mais

frequentemente na rotina laboratorial dos pacientes caninos com hiperadrenocorticismo, esta foi a

anormalidade também mais observada, neste estudo, com 74% dos casos com atividade da FA

acima do valor de referência, o que condiz com Feldman (2002) que relatou que

aproximadamente 85% dos cães hiperadrenais têm atividades de FA superiores a 150 U/L, e que

é muito comum encontrar valores acima de 1000 U/L. Esta magnitude depende dos valores de

referência que tenha cada laboratório. Mesmo assim, no presente trabalho, foram encontrados

muitos exames acima de 150 U/L. No cão, o excesso de corticosteróides resulta na indução de

uma isoenzima da fosfatase alcalina. Esta forma de fosfatase alcalina induzida por corticosteróide

não foi encontrada até o momento em outras espécies.

A elevação do colesterol é devido à estimulação da lipólise pelos glicocorticóides, que

também causaria o aumento dos triglicerídeos. Aproximadamente 10% dos cães com

hiperadrenocorticismo têm concentrações séricas de colesterol menores de 250 mg/dL, 75% dos

casos podem atingir valores maiores de 300 mg/dL; (FELDMAN, 2002). Foi visto que a média

achada do colesterol foi de 339 mg/dL, e 35% do total dos exames analisados estavam acima do

valor normal. A hiperglicemia é causada pelo aumento da secreção de insulina, na bioquímica

sanguínea pode haver aumento discreto da glicemia em jejum, porem à diabete mellitus associada

não é comum (FELDMAN, 2002; COUTO; NELSON, 2005). Em nosso trabalho 43% dos

valores de glicose estiveram acima do valor normal, contudo a diabetes foi uma das doenças de

maior apresentação.

A determinação da densidade urinária é muito importante porque em cães com

hiperadrenocorticismo os glicocorticóides reduzem a reabsorção tubular de água através do

45

aumento da taxa de filtração glomerular e do fluxo sanguíneo renal e através da inibição do

hormônio antidiurético (NICHOLS et al., 1998). É visto que 85% dos cães que tem livre acesso à

água com HAC apresentam densidades urinarias <1.015-1.020 (FELDMAN, 2002) (COUTO;

NELSON, 2005). No presente trabalho foi observado que os pacientes com HPD e os pacientes

com HAD apresentaram valores de densidade urinarias baixas, porém o grupo de tumor adrenal

foi mais intenso com 75% urinas hipostenúricas entanto só 50% da população com HPD

manifestando densidade urinária baixa.

Marques et al. (2000) observaram que os cães com HPD apresentam densidades de 1.010 e

que cães com HAD podem ter até 1.018, de forma que os pacientes com HAD têm mais

oportunidade de ter níveis normais de densidade urinaria, embora não foram encontrados mais

estudos que respaldem este argumento. A glicosúria é uma anormalidade presente em 5-10% dos

casos indicando diabetes mellitus (FELDMAN, 2002). Na urinalise foi revelado que a glicosúria

esteve mais presente no HPD (40%) que em animais com HAD (10%), assim pode se sugerir que

os pacientes com HPD padecem mais de diabetes mellitus ou podem ter certa predisposição que

aqueles com HAD, contudo não pode se afirmar qual das duas doenças aparece primeiro.

Em aproximadamente 45% das análises de urina de pacientes com hiperadrenocorticismo é

identificada proteinúria (COUTO; NELSON, 2005). Nosso trabalho revelou nos exames do

urinálise que aproximadamente 68,42% dos cães apresentaram proteinúria. Uma das causas da

proteinúria patológica pós-renal são as infecções do trato urinário inferior, foi visto um 78,94%

da população total estudada tinha infecção urinaria. O excesso de glicocorticóides seja endógeno

ou exógeno no nível renal ocasiona um aumento transitório da taxa de filtração glomerular, da

permeabilidade da membrana e lesão dos glomérulos renais (HURLEY; VADEN, 1998).

Segundo Martiarena et al. (2007), 50% dos cães com diagnóstico de HAC têm dano renal com

compromisso glomerular e tubular.

O hiperadrenocorticismo canino espontâneo é uma doença caracterizada pela presença de

grande variedade de sinais clínicos e alterações bioquímicas que são o resultado da exposição a

elevadas concentrações de glicocorticóides (FELDMAN; NELSON, 1996). A presença de PU/PD

pode ocultar outras causas produtoras desta síndrome, como pielonefrite ou diabetes mellitus.

(MARTIARENA et al., 2007). Várias complicações médicas podem surgir pelo excesso

prolongado dos esteróides, entre estas complicações ou doenças concomitantes podem se

observar hipertensão, falha congestiva aguda, pancreatite, glomerulonefrite, tromboembolismo

46

pulmonar, cálculos vesicais, síndrome de macrotumor pituitário, infecção do trato urinário,

osteoporose, metástase pulmonar de um carcinoma adrenal, calcificação distrófica, calcificação

da traquéia (COUTO; NELSON, 2005; TESHIMA et al., 2008).

A pioderma esteve presente no HAC nas duas etiologias, contudo esteve mais presente no

HAD (85%). Os quadros de pioderma em cães com alopecia simétrica bilateral são caracterizados

pela presença de vesículas, lesões em pápulas amarelas ou brancas. Estes sinais podem estar

presentes em doenças endócrinas como o HAC (BOND, 2009). A pioderma é decorrente da

imunosupressão promovida pelos glicocorticóides que afetam a função dos neutrófilos e

linfócitos. Uma secreção diária levemente aumentada de cortisol pode ser suficiente para

provocar uma deficiente resposta imune. (CASTILLO et al., 2006).

A periodontite e sua relação com as variáveis psiconeuroimunologicas, como o cortisol e o

estresse psicológico, têm sido pouco estudados. Não foram encontrados estudos feitos em cães ou

outros animais, porém Hilgert et al. (2006) e Ishisaka et al. (2007) estudaram pacientes com

periodontite e determinaram que os níveis de cortisol estavam mais elevados naqueles pacientes

com periodontite crônica. Contudo, Carrijo et al. 2009 não encontraram relação entre os níveis de

cortisol sanguíneo com periodontite. No presente estudo foi encontrado que a periodontite é uma

das doenças associada ao HPD.

Têm se observado a presença de diabetes mellitus e aumento da glicose em jejum em 10%

dos cães e gatos com hiperadrenocorticismo (FELDMAN, 2002). Este trabalho não pode

discriminar a presença da diabetes mellitus porque a medição da glicose em jejum só foi feita em

14 cães do grupo de HPD, destes 42,85% tiveram a glicose acima do valor de referência e

encontrou-se que 23,4% dos cães apresentaram diabetes mellitus.

A presença ou não de diabetes mellitus junto ao hiperadrenocorticismo canino é descartada

pelos sinais clínicos, mas algumas vezes a suspeita pode se dar quando há uma resistência à

insulina durante o tratamento da DM quando ambas enfermidades ocorrem concomitantemente.

Nestes casos, recomenda-se tratar primeiro a DM (COUTO; NELSON, 2005) e diagnosticar

HAC depois porque a suspeita de HAC pode se eliminar, desta forma pode se evitar os testes

diagnósticos endócrinos para HAC que podem ser falso-positivos durante o estado diabético não

compensado.

Nos cães com HPD foi visto que 63,15% destes tinham infecções do trato urinário e foi

observada em 75% dos caninos com HAD, assim os caninos com HAC, não apresentaram

47

nenhuma predisposição etiológica, porém se observa que perto de 40-50% dos cães hiperadrenais

têm infecção urinaria. A infecção do trato urinário é ocasionada pelo excesso de glicocorticóides

que predispõe à imunossupressão. (FELDMAN, 2002). De qualquer forma, nos pacientes com

HAC também ocorre poliúria que junto à flacidez da musculatura causa uma distensão crônica da

bexiga, o que resulta em retenção urinária. A urina diluída aumenta a susceptibilidade para

infecção do trato urinário (FELDMAN; NELSON, 1996)

Nos cães com hiperadrenocorticismo, os glicocorticóides produzem retenção do sódio o que

ocasiona a retenção da água, aumento do volume circulante e finalmente a hipertensão

(ROBINSON; SHAW, 1993). Nosso trabalho observou uma prevalência de insuficiência cardíaca

congestiva concomitante de 25% tanto no HPD como no HAD. Segundo Feldman, (2002) perto

de 50% dos cães com síndrome de Cushing são hipertensos, sendo esta uma das principais causas

da insuficiência cardíaca. O estado hipertensivo pode também ter múltiplos fatores como:

hipersensibilidade vascular às catecolaminas e agonistas adrenérgicos, redução de

prostaglandinas vasodilatadoras e hipersecreção de mineralocorticóides da zona glomerular,

embora a hipertensão não seja um problema grave sendo resolvido depois do tratamento do HAC

(FELDMAN, 2002).

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6. CONCLUSÕES O hiperadrenocorticismo canino é uma doença comum na população canina. Embora, não se têm

encontrado trabalhos que indiquem o mecanismo específico da predisposição sexual desta

enfermidade, este estudo sinala que as fêmeas têm certa afinidade nas duas etiologias observadas.

O hiperadrenocorticismo pituitário-dependente é o tipo mais comum de apresentação do HACC.

Este trabalho revelou que são poucos os casos onde a causa seja exógena, não aparecendo

nenhum caso de hiperadrenocorticismo iatrogênico.

Os testes endócrinos são uma ajuda específica para o hiperadrenocorticismo, embora muito caros

para aqueles proprietários de baixo poder aquisitivo, mas que podem ser substituídos pelos

achados clínicos principais, hematológicos, bioquímicos e urinários, e uma boa base de dados do

hospital veterinário, que tenham dados da prevalência da doença para que sejam ayuda ao

clinico.

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REFERÊNCIAS

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