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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO Projeto Conceitual de um Robô SCARA Disciplina de Projetos I (CCA 99002) Prof.Dr. Rafael Antônio Comparsi Laranja Guilherme de Mello Kich (193411) Ramon Schmitt (181600) Porto Alegre, Julho de 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA

ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO

Projeto Conceitual de um Robô SCARA

Disciplina de Projetos I (CCA 99002)

Prof.Dr. Rafael Antônio Comparsi Laranja

Guilherme de Mello Kich (193411)

Ramon Schmitt (181600)

Porto Alegre, Julho de 2012

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RESUMO

Este trabalho se trata da elaboração de um projeto conceitual sobre um braço

robótico do tipo SCARA. Essa parte do projeto é a segunda após o projeto

informacional e visou à obtenção de um conceito sobre o dispositivo, ou seja, se

desejou encontrar uma idéia clara sobre a estrutura geral e com certo grau de

detalhamento do robô. Para chegar a essa situação se utilizou de revisão bibliográfica

a respeito do assunto. Com ela, foi possível entender o que existe de forma a atender

as especificações do projeto informacional. Juntamente, foi utilizada a metodologia do

projeto conceitual para elaborar o conceito em si, com o auxílio do mapa conceitual e

da elaboração da estrutura funcional do dispositivo.

Palavras-chave: Projeto conceitual, robô SCARA, projeto acadêmico, braço robótico,

robótica, metodologia projeto

3

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.01 : Elos e juntas............................................................................................. 7

Figura 2.02 : Juntas deslizantes. ................................................................................... 8

Figura 2.03 : Juntas de rotação. .................................................................................... 8

Figura 2.04 : Robô com articulação horizontal. ............................................................. 9

Figura 2.05 : Estrutura padrão da configuração SCARA. ............................................ 10

Figura 2.06 : (a) Estrutura do robô SCARA mais compacto da KUKA. (b) Estrutura

típica de SCARA da EPSON e ADEPT ....................................................................... 11

Figura 2.07 : Robô SCARA da TOSHIBA MACHINE para manuseio de peças pesadas

................................................................................................................................... 12

Figura 2.08 : (a) Garra de dedos paralelos com engrenagem e cremalheira. (b) Garra

acionada por came. (c) Garra acionada por parafuso. (d) Garra acionado por sem fim.

(e) Garra de dedos paralelos movimentada por motor. ............................................... 16

Figura 2.09 : (a) Garra movimentada por pistão pneumático de efeito simples. (b)

Garra de dedos paralelos movimentados por um pistão de duplo efeito. .................... 17

Figura 2.10 : Robô SCARA da KUKA Robotics equipado com garra pneumática. ...... 10

Figura 2.11 : Robô SCARA da Stäubli equipado com ventosa. ................................... 18

Figura 2.12: Garra magnética com imãs permanentes e pistões separadores. .......... 19

Figura 2.13: Estrutura do controlador. ........................................................................ 26

Figura 2.14: Controlador TS3100 dos robôs SCARA da TOSHIBA MACHINE........... 27

Figura 2.15: Painel de controle do robô SCARA IBM 7535. ....................................... 27

Figura 3.01: Mapa conceitual do braço robótico SCARA............................................ 31

Figura 3.02: Diagrama da estrutura funcional do braço robótico SCARA. .................. 32

Figura 3.03 : Protótipo braço articulado com efetuador do robô SCARA. .................... 33

Figura 3.04 : Protótipo do robô SCARA... .................................................................... 34

4

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5

1.1 Objetivos ............................................................................................................. 6

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 7

2.1 Estrutura .............................................................................................................. 7

2.2 Sistemas de Transmissão Mecânica ................................................................. 12

2.3 Efetuadores ....................................................................................................... 13

2.3.1 Garras .................................................................................................... 13

2.3.2 Ferramentas ........................................................................................... 20

2.4 Acionamentos e Medição .................................................................................. 21

2.3.1 Sistema hidráulico .................................................................................. 21

2.3.2 Sistema pneumático ............................................................................... 21

2.3.3 Motores elétricos de corrente contínua ................................................... 22

2.3.4 Motor de passo ....................................................................................... 22

2.3.5 Servomotores ......................................................................................... 23

2.3.5 Atuadores linear ...................................................................................... 23

2.5 Controle e Interface ........................................................................................... 25

3. METODOLOGIA ..................................................................................................... 29

3.1 Análise .............................................................................................................. 29

3.1.1 Escopo do projeto ................................................................................... 29

3.1.2 Estrutura funcional .................................................................................. 31

3.2 Síntese .............................................................................................................. 32

4. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 35

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 36

5

1. INTRODUÇÃO

A automação possibilita grandes incrementos na produtividade do trabalho,

além de aumentar a produção. Os equipamentos automatizados permitem uma

melhora na qualidade do produto, uniformizando a produção, eliminando perdas e

refugos. O uso de robôs contribui para a automação em processos de média e

pequena escala, sendo que nesta última, basta alterar o programa e a ferramenta do

robô para produzir um novo modelo e, desta forma, se consegue grandes incrementos

na produtividade e, consequentemente, na produção. [Moura, 2004]

Neste contexto, as disciplinas de Projetos do Curso de Engenharia de Controle

e Automação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) têm como

objetivo integrar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso e suas aplicações,

fornecendo alguns conceitos de desenvolvimento de projetos de máquinas em controle

e automação. Para tanto, é proposto ao aluno realizar o processo de desenvolvimento

de um produto com suas macrofases (planejamento, processo de projeto do produto e

implementação) e suas, respectivas, fases. Neste momento, será desenvolvido o

projeto conceitual do produto, que representa uma fase associada ao processo de

projeto do produto.

Tendo em vista que o Engenheiro de Controle e Automação é um profissional

que deve ter uma formação multidisciplinar nas áreas de eletro-eletrônica, mecânica e

informática, será realizado o processo de desenvolvimento de um robô industrial do

tipo SCARA. A robótica abrange tecnologia da áreas citadas anteriormente bem como,

em menor grau, teoria de controle, microeletrônica, inteligência artificial e teoria de

produção.

O estudo sobre robôs tem sua origem na ficção científica. O termo “robótica”

refere-se ao estudo e ao uso de robôs e foi popularizado pelo escritor Isaac Asimov. A

palavra “robô” está ligada ao dramaturgo checo Karel Capek, sendo obtida da palavra

checa “robota” que significa trabalho forçado ou servo, termo introduzido na década de

20 em uma peça de teatro. De acordo com a ISO 8373, de 1994, que trata sobre

manipuladores industriais, robô é um "Manipulador controlado automaticamente,

reprogramável, multifunção e programável em 3 ou mais eixos, podendo ser fixo ou

móvel, para uso em aplicações industriais automatizadas”. Deve ser um equipamento,

cujos movimentos ou funções auxiliares podem ser modificadas sem alterações físicas

e capaz de ser adaptado a diferentes aplicações. [Moura, 2004]

6

O conceito de braço Robótico SCARA foi desenvolvido em 1979 pelo professor

Hiroshi Makino da Universidade de Yamanashi do Japão. O seu intuito era obter robôs

com baixos graus de liberdade, mas que fossem muito eficientes na manipulações de

produtos em indústrias. Entre as apoiadoras do projeto, estava a empresa Sankio

Seiki, a qual veio a se tornar a primeira fabricante do Robô SCARA em 1981,

juntamente com a NEC e Pentel. [Carrara, 2011]

O nome SCARA é uma sigla em inglês que significa: Selective Compliant

Assembly Robot Arm, em português: braço robótico seletivo compatível com linhas de

montagem. Dessa forma, o nome já demonstra o objetivo do projeto desde o início, ou

seja, criar um dispositivo compatível com linhas de manufaturas com espaços

reduzidos.

1.1. Objetivos

O projeto conceitual apresentado aqui tem como objetivo especificar as

características construtivas e técnicas de um robô SCARA em acordo com as

especificações do produto provenientes do projeto informacional. Esse trabalho,

portanto, visa a encontrar soluções e alternativas físicas de construção que satisfaçam

os requisitos através de pesquisa e análise de outras soluções existentes bem como a

proposição de novas ideias. Dessa forma, a meta é possuir, com a conclusão do

projeto conceitual, conceitos reais e de possível realização quando da construção do

produto.

7

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica foi realizada a partir da análise de modelos industriais do

robô SCARA, destacando os aspectos importantes de sua estrutura, de seus

efetuadores, dos sistema de transmissão mecânicos, dos acionamentos envolvido, do

material, do controle e interface com usuário associados ao mesmo.

2.1. Estrutura

Todo braço de robô é composto por uma série de elos e juntas, onde a junta

conecta dois elos permitindo o movimento relativo entre eles. Comparando com a

anatomia da perna humana, elo pode ser comparado à canela ou coxa, e junta ao

joelho, desta forma entre dois elos há uma junta de movimentação (Figura 2.01).

Figura 2.01 : Elos e juntas (adaptado de Moura, 2004).

A grande maioria dos robôs SCARA é acionada por meio de servomotores

elétricos. O acionamento elétrico, ao contrário do pneumático ou hidráulico, é mais

facilmente controlável e oferece maior precisão de posicionamento (esta discussão

será mais detalhada posteriormente). Os robôs podem apresentar vários movimentos,

sendo que cada um é realizado por meio de um servomotor elétrico.

O número de articulações em um braço do robô é também referenciado como

grau de liberdade, sendo que a maioria dos robôs SCARA no mercado tem entre 3 a 5

graus de liberdade. Quando o movimento relativo ocorre em um único eixo, a

articulação tem um grau de liberdade, quando o movimento é por mais de um eixo, a

articulação tem dois graus de liberdade.

8

A mobilidade dos robôs depende do número de elos e articulações que o

mesmo possui. Os braços de robôs podem ser formados por juntas deslizantes, juntas

de rotação ou juntas de bola e encaixe, sendo que as mais usadas são a junta de

rotação e a deslizante.

As juntas deslizantes permitem o movimento linear entre dois elos, que é

composto de dois elos alinhados um dentro do outro, onde um elo interno escorrega

pelo externo, dando origem ao movimento linear (Figura 2.02). [Moura, 2004]

Figura 2.0 2: Juntas deslizantes (adaptado de Moura, 2004).

As juntas de rotação permitem movimentos de rotação entre dois elos, sendo

que estes são unidos, permitindo o movimento de rotação entre eles, como acontece

nas dobradiças das portas e janelas (Figura 2.03). [Moura, 2004]

Figura 2.0 3: Juntas de rotação (adaptado de Moura, 2004).

O conjunto de pontos que podem ser alcançados pelo órgão terminal do braço

manipulador forma o espaço ou o volume de trabalho do robô. Os robôs são

9

classificados de acordo com o volume de trabalho, existindo os robôs cartesianos,

cilíndricos, esféricos ou polares, e os articulados ou angulares. Essas configurações

são chamadas de clássicas ou básicas, e podem ser combinadas de modo a formar

novas configurações. A classificação do robô, de acordo com o tipo de juntas, consiste

em letras, uma para cada eixo, na ordem em que ocorrem, começando da junta mais

próxima à base, sendo R para junta de revolução e P para junta deslizante (vem do

inglês prismatic).

Os robôs com articulação horizontal (Figura 2.04), na qual o robô SCARA é

classificado, caracterizam-se por possuir duas juntas de revolução e uma deslizante,

sendo codificados RRP. Os robôs SCARA são apropriados para operações de

montagem, devido ao movimento linear vertical do terceiro eixo. [Moura, 2004]

Figura 2.0 4: Robô com articulação horizontal (adaptado de Moura, 2004).

A Figura 2.05 ilustra a estrutura padrão de um robô de configuração SCARA,

que possui quatro graus de liberdade, sendo três deles para posicionar o punho (eixos

�, � e �) e um para orientar a garra (ou ferramenta). A Figura 2.05 também mostra o

sistema de coordenadas global, representado pelos eixos ��, �� e ��.

10

Figura 2.0 5: Estrutura padrão da configuração SCARA (adaptado de Gorgulho, 2003).

O elo (link) representado na cor laranja é a base do robô e é fixada ao local de

trabalho. O elo roxo é ligado à base por uma junta rotacional centrada no eixo ��. O

elo vermelho é ligado ao elo roxo por uma outra junta rotacional. Estas duas primeiras

juntas permitem o posicionamento do punho no plano ��. O último elo possui em sua

parte inferior o punho, e está representado em amarelo. A junta entre os elos vermelho

e amarelo é, na realidade, dupla. O elo amarelo desliza verticalmente em relação ao

elo vermelho, permitindo o posicionamento do punho no eixo �, e também gira em seu

próprio eixo possibilitando a orientação do dispositivo que será fixado ao punho (esse

movimento é denominado de roll). A configuração descrita é a mais usual, mas há

variantes. Há modelos onde o movimento vertical (eixo �) é realizado pelo primeiro elo

e não pelo último. [Gorgulho, 2003]

As características dos robôs SCARA industriais foram avaliadas a partir de

modelos de robôs de grandes fabricantes, conforme lista a seguir:

• EPSON ROBOTS <www.robots.epson.com >

• KUKA ROBOTICS <www.kuka-robotics.com>

• ADEPT <www.adept.com >

• TOSHIBA MACHINE <http://www.toshiba-machine.co.jp>

• SÄUBLI <http://www.staubli.com>

Praticamente todos os braços robóticos SCARA de grandes fabricantes

analisados possuem dois braços articulados, destoam algumas poucas exceções

como versões da MITSUBISHI. Essa constatação é verdadeira para protótipos sem

11

fins de venda. O uso de dois braços resulta da necessidade de o robô ocupar pouco

espaço e possuir baixo momento de inércia com o intuito de otimizar a eficiência, sem,

contudo, reduzir sua área de atuação. Em versões acadêmicas, ainda há a vantagem

da redução de complicações com o controle do dispositivo.

A dimensão de cada braço pode varia bastante entre cada fabricante. O

primeiro braço, que sai da base, pode ir de 120 mm, para o E2C251 da EPSON, até

500 mm para o E2L85, também da EPSON. Em relação ao segundo braço a variação

de comprimento também é expressiva, indo de 125 mm para o E2C251 até 375 mm

para o Cobra s800 da ADEPT.

Robôs SCARA industriais de grandes fabricantes como a EPSON, KUKA e

ADEPT possuem uma estrutura metálica com superfície externa de plástico rígido. A

base do robô é um cilindro rígido e engastado ao solo. Porém, é possível encontrar

modelos da EPSON que podem ser fixos tanto no teto como na parede o que facilita

linhas de montagem com muitos dispositivos. Tanto a EPSON como a ADEPT fabricam

modelos com cabos de controle que passam por cima dos braços do robô para se

comunicar com o efetuador. Já a KUKA faz o cabeamento por dentro das juntas de

rotação o que economiza espaço e reduz chance de enroscamento com outros

componentes em linhas de montagem, por exemplo.

(a) (b)

Figura 2.06 : (a) Estrutura do robô SCARA mais compacto da KUKA (disponível em

<www.kuka-robotics.com>). (b) Estrutura típica de SCARA da EPSON e ADEPT

(disponível em <www.robots.epson.com>).

12

A estrutura dos robôs SCARA usualmente pesa de 900N até 6000N, conforme

sua capacidade de carga. Para aplicações específicas, encontra-se robôs SCARA que

possuem massa de 500kg, conforme Figura 2.07:

Figura 2.07 : Robô SCARA da TOSHIBA MACHINE para manuseio de peças pesadas

(disponível em <http://www.toshiba-machine.co.jp>).

2.2. Sistemas de transmissão mecânica

Há dois tipos de transmissão de forças e momentos nos atuadores para os elos

ou as juntas, são elas:

• Transmissão por acionamento direto: a transmissão é feita diretamente do

atuador para as juntas e/ou elos sem a presença de mecanismos. Neste tipo

de transmissão o atuador fornece alto valor de força e velocidade igual à de

trabalho.

• Transmissão por acionamento indireto: a transmissão é feita através de

mecanismos redutores de movimento. É muito usado em motores elétricos pois

a característica dos mesmo é possuir rotação elevada e torque baixo.

Nos robôs SCARA industriais usualmente são utilizados sistemas de

transmissão por acionamento direto. Contudo, os dois tipos de transmissão citados

podem ser aplicados, conforme a capacidade de carga do robô: nos modelos

pesquisados os robôs SCARA são capazes de manipular de cargas de 2kg até 20kg.

Há robôs para aplicações especiais que podem operar com objetos de até 100 kg

(robô da TOSHIBA MACHINE da Figura 2.07) .

13

2.3. Efetuadores

O efetuador é o encarregado, do manuseio concreto da peça a manipular,

estando o restante da estrutura do robô manipulador destinado a posicioná-lo e

orientá-lo da maneira adequada.

Nos robôs, o efetuador é fixado no extremo do último elo, na parte do

manipulador conhecida com o nome de punho. O punho possui, em geral, três juntas

de rotação, conhecidas pelos nomes de yaw, pitch e roll, respectivamente, que

permitem orientar o efetuador numa direção qualquer. O robô SCARA utiliza a junta de

rotação roll em seu punho. Em quase todos os robôs manipuladores SCARA

comerciais, o punho está projetado para a fácil remoção e troca do dispositivo

efetuador de maneira tal que para efetuar tarefas similares, que possam ser realizadas

pelo mesmo manipulador, possa ser colocado o efetuador apropriado segundo as

características da peça a ser manuseada. [Prazos, 2002]

Geralmente, os efetuadores dos robôs SCARA são projetados para uma

aplicação específica, embora também existam órgãos terminais universais, úteis para

uma diversidade de tarefas. Independentemente da forma de acionamento e dos

sensores presentes nos diferentes tipos de efetuadores, é possível estabelecer uma

classificação segundo as diversas funções para as quais os efetuadores são

projetados. Assim, os vários tipos podem ser classificados em duas categorias

principais: garras e ferramentas. A seguir serão abordados ambos os tipos de

efetuadores. [Prazos, 2002]

2.3.1. Garras

As garras são efetuadores destinados a pegar e segurar objetos para seu

deslocamento dentro do espaço de trabalho do manipulador. Esses objetos podem ser

pequenos e frágeis, como é o caso de componentes eletrônicos que são montados

numa placa de circuito impresso pelo robô, ou ainda pesados e robustos como os

carros que são deslocados de uma parte a outra da linha de produção de uma

montadora. Em outros casos, os manipuladores podem visar ao deslocamento de

objetos tais como caixas de papelão, garrafas, matérias primas e inclusive

ferramentas. [Prazos, 2002] Cabe destacar que o fato da garra deslocar uma

ferramenta com a qual trabalhará sobre uma peça determinada, não converte o

efetuador em uma ferramenta em si, mas continua sendo uma garra que segura uma

ferramenta; a vantagem de utilizar garras em vez de usar ferramentas como

efetuadores (caso que será tratado na seção seguinte) se evidencia quando o serviço

14

exige que várias ferramentas sejam manipuladas pelo robô durante o ciclo de trabalho.

Obviamente, esta solução é melhor do que empregar vários robôs com várias

ferramentas diferentes como efetuadores. Há diversos princípios físicos nos quais se

baseiam as garras para a operação de pegada do objeto. O mais conhecido, mas não

o único, é o mecânico, onde alguns “dedos” se fecham para segurar o objeto a ser

deslocado. Mas existem outros princípios que são utilizados. Em seguida será

apresentada uma classificação dos diferentes tipos de garras segundo o princípio de

trabalho utilizado, e independentemente do sistema de acionamento do efetuador.

[Prazos, 2002]

2.3.1.1. Dedos acionados mecanicamente

As garras mais comuns possuem em geral dois ou três dedos, os quais se

abrem e fecham mecanicamente. Os dedos são os apêndices da garra que fazem, de

fato, contato com o objeto a manipular. Em alguns casos as garras são projetadas

para ter dedos substituíveis de maneira tal a facilitar sua troca, adequando-os ao

formato e tamanho da peça a ser segurada [Prazos, 2002].

Existem basicamente duas maneiras de segurar a peça na garra. A primeira é

por constrição física da peça entre os dedos. Nessa abordagem os dedos envolvem a

peça de forma tal a abarcar a maior superfície possível, impedindo assim o seu

movimento ou queda. Para isso, deve-se projetar a superfície de contato dos dedos

em forma aproximada segundo a geometria da peça. A outra maneira de segurar a

peça é por atrito entre os dedos e a mesma. Nesta abordagem, bem mais comum do

que a primeira, os dedos aplicam uma força suficiente para reter a peça contra a

gravidade, aceleração, ou qualquer outra força que ela possa sofrer durante a

aplicação. A pressão no contato deve ser suficiente para provocar um atrito que anule

a gravidade e as outras forças atuantes, mas não demasiada de modo a provocar

danos na peça. Para isso, os dedos ou as almofadas presas nos seus extremos são

fabricados, em geral, de um material relativamente macio para não quebrar nem

arranhar a peça, o qual tende a aumentar o atrito entre ela e a superfície de contato do

dedo [Prazos, 2002].

Dependendo do projeto da garra, existem diversas formas de movimentar os

dedos. Assim, podem-se classificar as garras com dedos segundo o movimento

realizado na abertura e fechamento. Há dedos que se deslocam linearmente,

aproximando-se e afastando-se em forma paralela, e também dedos que se abrem e

fecham girando ao redor de um pivô, que pode ser comum para todos os dedos ou

não [Prazos, 2002]. Além disso, como será mencionado na próxima seção, o

15

acionamento da garra para ela abrir e fechar os dedos pode ser fornecido por diversos

tipos de atuadores. Dependendo do atuador utilizado, podem se classificar as garras

com dedos como mecânicas, hidráulicas ou pneumáticas.

As garras mecânicas são aquelas movimentadas por um motor elétrico. Em

geral, são utilizados pequenos motores D.C. ou motores de passo com algum tipo de

sistema de transmissão que transforme o movimento de rotação do eixo no movimento

dos dedos. Os sistemas de transmissão que unem o eixo do motor com os dedos

podem ser constituídos por correias e polias, correntes e engrenagens, parafusos de

acionamento e cames. Com algum sensor de posição, que pode ser um encoder ótico

incremental, pode-se medir o ângulo do eixo do motor, sendo assim possível controlar

esse ângulo e, portanto, o nível de abertura dos dedos, em ângulo ou distância.

Também podem ser colocados nas extremidades dos dedos sensores de força, células

de carga, por exemplo, permitindo assim controlar a pressão exercida sobre o objeto a

ser manipulado, possibilitando o manuseio de peças frágeis sem risco de serem

quebradas. Esses sensores costumam ser colocados em pequenas almofadas coladas

nas extremidades dos dedos. [Prazos, 2002]

Na Figura 2.08 são mostradas algumas garras de dedos, típicas,

movimentadas por motores:

(a) (b) (c)

16

(d) (e)

Figura 2.08: (a) Garra de dedos paralelos com engrenagem e cremalheira. (b) Garra

acionada por came. (c) Garra acionada por parafuso. (d) Garra acionado por sem fim.

(e) Garra de dedos paralelos movimentada por motor. (Adaptado de Prazos, 2002).

Como já mencionado, existem garras acionadas pneumaticamente. Nesses

casos, o mais comum é utilizar pistões de efeito simples. Uma eletroválvula que

controla a passagem de ar comprimido permite que a haste do pistão seja empurrada

ou puxada caso seja permitida ou não a passagem de ar. Sendo extremamente difícil

controlar a posição da haste em pistões pneumáticos.

(a) (b)

Figura 2.09: (a) Garra movimentada por pistão pneumático de efeito simples. (b) Garra

de dedos paralelos movimentados por um pistão de duplo efeito. (Adaptado de Prazos,

2002).

Na figura 2.10 é apresentado um robô SCARA da KUKA Robotics com uma

garra pneumática fixada no punho:

17

Figura 2. 10: Robô SCARA da KUKA Robotics equipado com garra pneumática

(disponível em <www.kuka-robotics.com>).

Como atuadores hidráulicos utilizam-se, em geral, pistões hidráulicos de duplo

efeito. Eles são utilizados da mesma maneira que os pistões pneumáticos, com a

diferença que essas garras possuem um tamanho, uma velocidade de resposta e uma

força muito maiores, sendo portanto empregadas apenas para o manuseio de objetos

pesados.

2.3.1.2. Garras a vácuo

As garras a vácuo estão conformadas por copos de sucção ou ventosas,

conectadas a uma bomba de vácuo através de uma eletroválvula. Quando a

eletroválvula é acionada, o ar é puxado pela bomba, criando um vazio na ventosa que,

dessa maneira, adere à peça em contato. Os requisitos usuais que devem observar os

objetos a serem manuseados é que devem ser planos, lisos e limpos, condição

necessária para formar um vácuo satisfatório entre o objeto e as ventosas. [Prazos,

2002]

O peso que a garra a vácuo pode transportar depende da pressão exercida

pela bomba de vácuo e da superfície da ventosa. Em certos casos, por exemplo

quando grandes pranchas precisam ser transportadas, é comum que o efetuador

esteja conformado por uma garra de várias ventosas, aumentando assim a área de

contato. [Prazos, 2002]

18

Entre as vantagens apresentadas pelas garras a vácuo, podem ser

mencionadas que exigem apenas uma superfície para pegar a peça, fazendo-as

adequadas para pegar lâminas de vidro ou metal, por exemplo; seu peso

relativamente reduzido, pelo menos se as comparado com as garras mecânicas com

dedos; e finalmente, pode-se apontar que são aplicáveis a uma grande quantidade de

materiais. A desvantagem óbvia é que só podem ser utilizadas em objetos que

apresentem uma superfície plana, além de terem uma área maior que a área das

ventosas, o que provoca que as garras a vácuo sejam inadequadas para a

manipulação de objetos muito pequenos ou com formas irregulares. [Prazos, 2002]

A Figura 2.11 apresenta exemplo de garra a vácuo:

Figura 2. 11: Robô SCARA da Stäubli equipado com ventosa (disponível em

<http://www.staubli.com>).

2.3.1.3. Eletroímãs e garras magnéticas

As garras magnéticas têm um formato similar às garras a vácuo, com a

diferença óbvia que no lugar de ventosas possuem eletroímãs ou ainda ímãs

permanentes. As garras magnéticas representam um meio muito razoável de

manipulação de materiais ferromagnéticos. Inclusive, dependendo da potência do

manipulador, é possível carregar objetos tão pesados como carros. Os objetos a

serem transportados, também neste caso, devem apresentar pelo menos uma

superfície plana onde o ímã poderá fazer contato físico. [Prazos, 2002]

Algumas vantagens apresentadas pelo uso de eletroímãs são [Prazos, 2002]:

� o tempo de atuação é muito pequeno;

19

� pequenas variações no tamanho da peça geralmente são perfeitamente

toleradas;

� estas garras são, em geral, projetadas para diversos tipos de peças, sendo,

portanto, mais universais do que as garras a vácuo;

� elas têm capacidade de manusear peças metálicas com furos (o que não é

possível fazer com garras a vácuo);

� e com relação às garras de dedos, também têm a vantagem que precisam

apenas uma superfície de contato para pegar peça.

A grande desvantagem, naturalmente, é que só servem para manipular objetos

de material ferromagnético. Algumas garras magnéticas são fabricadas com ímãs

permanentes. Quando é necessário soltar a peça, um pistão pneumático a empurra

até afastá-la da zona de atração do campo magnético. Este método só é utilizado para

o manuseio de objetos relativamente pequenos e duros, por exemplo placas de aço

(Figura 2.12).

Figura 2.12: Garra magnética com imãs permanentes e pistões separadores

(adaptado de Prazos, 2002).

2.3.1.4. Ganchos

Em muitas aplicações onde é preciso transportar volumes pesados, tais como

grandes pacotes, móveis, máquinas e outros tipos de cargas pesadas em geral, as

garras estudadas até agora podem mostrar-se inadequadas. Em alguns casos pode

ser devido à forma irregular da peça, o que elimina a possibilidade de usar garras a

vácuo. Em outros casos, o material da peça pode não ser ferromagnético, o que

elimina as garras magnéticas. O peso dela pode inviabilizar o uso de delicadas garras

de dedos mecânicas, entre outros motivos possíveis. Um gancho semelhante aos

utilizados nos guindastes, sempre assumindo que a estrutura restante do manipulador

possui a força suficiente, resolve a situação. [Prazos, 2002]

20

A vantagem deste sistema é a sua versatilidade, devido ao fato de não ser

preciso trocar o efetuador ao se mudar a peça a ser transportada. Uma desvantagem

evidente é que a peça precisa ter algum ponto onde o gancho possa pegá-la, por

exemplo uma amarra. Outra grande desvantagem deste sistema é que só serve para

transporte, mas não para o manuseio da peça de um jeito mais complicado, por

exemplo, orientando-a de maneira adequada para ser depositada no destino numa

posição determinada. [Prazos, 2002]

2.3.1.5. Garras adesivas:

As garras adesivas utilizam como princípio de pegada do objeto uma

substância adesiva. Sua aplicação principal é na manipulação de tecidos e outros

materiais leves que dificilmente poderiam ser carregados utilizando outros tipos de

garras, seja por não apresentarem uma superfície lisa o suficiente para serem pegas

por garras a vácuo, ou por não serem feitas de materiais ferromagnéticos, entre outras

razões possíveis. Uma das limitações do emprego das garras adesivas é que elas

perdem sua adesividade pelo uso repetido, diminuindo sua confiabilidade como

dispositivo de pega com cada ciclo sucessivo de operação. Para contornar esta

limitação, em geral projetam-se essas garras como uma fita contínua sobre a qual é

depositado o material adesivo. Essa fita vai sendo enrolada a cada operação,

exatamente como acontece com as fitas de tinta das máquinas de escrever. O

dispositivo que sustenta essa fita e o mecanismo para enrolar ficam presos no punho

do manipulador. [Prazos, 2002]

2.3.2. Ferramentas

Como já mencionado, em algumas aplicações existe a necessidade de operar

sobre uma determinada peça, aumentando o valor agregado dela. Nesses casos,

podem ser utilizadas ferramentas de trabalho como dispositivos efetuadores, onde o

manipulador desloca tal ferramenta no lugar da peça a ser trabalhada, agora presa em

um local fixo. Em alguns casos utiliza-se algum tipo de garra para as operações de

pega e manipulação da ferramenta, com a conseqüente vantagem de permitir a

utilização de mais de uma ferramenta específica durante o ciclo de trabalho. A

utilização de uma garra possibilita a troca das ferramentas, o que facilita o manuseio e

a troca rápida de várias delas. [Prazos, 2002]

Na maioria das aplicações dos robôs SCARA nas quais se utiliza uma

ferramenta como efetuador, ela é presa diretamente no punho do manipulador. Nesses

casos a ferramenta é o próprio efetuador, o órgão terminal destinado a trabalhar sobre

21

a peça. Contudo, usualmente o robô SCARA não é utilizado com ferramenta, mas sim

com uma garra para manipular objetos. [Prazos, 2002]

2.4. Acionamentos e medição

O movimento em cada junta é realizado por atuadores. Existem diversas

opções de acionamentos que visam dotar um mecanismo de movimento. Podem ser

usados motores, solenóides, sistemas hidráulicos ou pneumáticos. [Braga, 2009] Cada

tipo de acionamento de um robô possui características específicas, que podem

significar vantagens e também desvantagens nas aplicações.

Para compreender que tipo de solução deve ser adotada em um projeto é

necessário estar atento justamente a estas propriedades, que serão analisadas na

sequência. No que se refere aos tipos comuns de soluções adotadas para se prover

um mecanismo de movimento, são apresentados nos casos a seguir.

2.4.1. Sistema hidráulico

Para os sistemas hidráulicos, pode-se citar:

� Vantagens: obtém-se a maior potência de todos os sistemas descritos em

relação ao tamanho. Através de alta pressão, consegue-se operação do

dispositivo com alta velocidade de resposta. [Braga, 2009]

� Desvantagens: as válvulas usadas são caras, e qualquer pequeno vazamento

pode causar problemas de funcionamento. A vedação do sistema pode ser

crítica, dependendo da aplicação. Da mesma forma, acionadores pequenos

são difíceis de se obter e de se trabalhar. O sistema para pressurizar o fluido é

complexo e caro em alguns casos. [Braga, 2009]

O acionamento hidráulico é geralmente associado a manipuladores de maior

porte, pois eles propiciam ao robô maior velocidade e força. Em contrapartida, ele se

soma ao espaço útil requerido pelo robô, o que o aumenta consideravelmente, além

de sofrer de outros inconvenientes tal como a possibilidade de vazar óleo. Os robôs

com acionamento hidráulico podem ter juntas prismáticas, movimentadas por meio de

pistões, ou de revolução, através de motores hidráulicos. [Prazos, 2002]

2.4.2. Sistema pneumático

Para os sistemas pneumáticos, pode-se citar:

22

� Vantagens: pode-se obter uma boa potência em relação ao tamanho, e se alta

pressão for disponível, tem-se uma resposta muito rápida aos comandos.

[Braga, 2009]

� Desvantagens: devido ao fato dos gases poderem ser comprimidos, há certa

instabilidade de funcionamento. Exige-se um compressor ou então um sistema

que armazene o gás pressurizado, a qual não pode estar disponível por muito

tempo. Do mesmo modo que nos sistemas hidráulicos, o sistema é sensível ao

escape (fugas), tornando-se crítica sua montagem. [Braga, 2009]

O acionamento pneumático é empregado em robôs manipuladores de pequeno

porte e com poucos graus de liberdade, geralmente não mais de dois. Por não terem

os pistões pneumáticos uma grande precisão, devido à compressibilidade do ar, esses

robôs assim acionados são utilizados em operações de “pega e põe” (conhecidos

como pick & place), onde os elos se deslocam bruscamente entre dois extremos

possíveis, dados pelos limites mecânicos dos pistões no modo de bang-bang, sem

possibilidade de controle sobre a trajetória intermédia do efetuador. [Prazos, 2002]

2.4.3. Motores elétricos de corrente contínua

Para os motores elétricos de corrente contínua, pode-se citar:

� Vantagens: não precisam de nenhum recurso mecânico adicional como

válvulas ou tubulações. São simples de usar, pois basta ter um circuito de

controle apropriado. Podem ser interfaceados diretamente com

microcontroladores. São encontrados numa grande variedade de tamanhos,

tensões de alimentação e potências. [Braga, 2009]

� Desvantagens: são pesados em relação a outros sistemas de propulsão e

precisam de uma potência elevada para funcionar. Apresentam problemas de

aquecimento e necessitam de sistemas de redução com engrenagens e outros

recursos. Os sistemas de redução são igualmente pesados e em alguns casos

caros. Dependendo da potência, podem também gerar calor. [Braga, 2009]

2.4.4. Motor de passo

Para os motores de passo, pode-se citar:

� Vantagens: são relativamente pequenos, precisos e não necessitam de

elementos adicionais. Podem ser interfaceados diretamente com os circuitos

de controle como, por exemplo, computadores. Seu uso é relativamente

23

simples quando não se exigem movimentos complexos. Podem ser obtidos em

uma grande variedade de tamanhos e potências. [Braga, 2009]

� Desvantagens: possuem uma potência muito baixa. Para se obter maior

potência precisam ser acoplados a caixas de redução. Requerem circuitos de

controle que, em alguns casos, podem ser bastante complexos em função do

movimento desejado. [Braga, 2009]

2.4.5. Servomotores

Para os servomotores, pode-se citar:

� Vantagens: são pequenos e têm um custo mais expressivo. Em alguns casos,

os controladores também são simples e baratos. Não necessitam de recursos

especiais como reduções. [Braga, 2009]

� Desvantagens: possuem uma potência muito baixa e são lentos, quando

comparados aos motores de passo ou sistemas pneumáticos. [Braga, 2009]

2.4.6. Atuadores lineares

Para os atuadores lineares, pode-se citar:

� Vantagens: são muito fortes, podendo realizar esforços grandes. São simples

de usar, pois basta ter a alimentação elétrica apropriada. Podem facilmente ser

acoplados a controles por microprocessadores ou mesmo computadores.

[Braga, 2009]

� Desvantagens: na maioria dos casos são grandes demais para utilização em

sistemas que exigem dispositivos pequenos como, por exemplo, robôs móveis.

Não são simples de se obter e custam caro. Em alguns casos devem ser

fabricados pelo próprio montador. [Braga, 2009]

A grande maioria dos braços articulados robôs SCARA é acionada por meio de

servomotores elétricos, conforme pesquisa realizada nos maiores fabricantes de robôs

industriais. O acionamento elétrico, ao contrário do pneumático ou hidráulico, é mais

facilmente controlável e oferece maior precisão de posicionamento. Os robôs podem

apresentar vários movimentos, sendo que cada um é realizado por meio de um

servomotor elétrico.

24

O princípio de acionamento do efetuador pode ser diferente do tipo de

acionamento dos braços articulados, pois o mesmo é implementado para o manuseio

adequado da peça a manipular. Por exemplo, um efetuador pode consistir de uma

garra de três dedos que se fecham sobre o objeto. Nesse caso, o movimento dos

dedos pode ser originado através de um motor elétrico, onde são utilizados, em geral,

pequenos motores D.C. de ímã permanente ou motores de passo. A rotação do eixo

do motor é transmitida e convertida em deslocamentos dos dedos através de

mecanismos que podem ser parafusos de acionamento, sistemas de polias ou trens

de engrenagens. Nesses casos é possível controlar a abertura dos dedos de maneira

tal a poder segurar objetos de diferentes dimensões e formas eficientemente, dentro

dos limites lógicos dados pelo tamanho do efetuador.

Em outros casos, o deslocamento dos dedos é implementado por meio de

pistões pneumáticos. Em geral, é muito difícil controlar a posição da haste nesses

dispositivos devido a que, por ser o ar compressível, não existe a possibilidade de um

controle simples e eficiente da posição da haste do pistão. [Prazos, 2002] Por tal

motivo, esses efetuadores funcionam à maneira de bang-bang, isto é, possuem

apenas duas posições dos dedos, abertos e fechados, determinadas pelos limites

mecânicos da haste do pistão. [Prazos, 2002] Outros princípios de acionamento para

efetuadores incluem eletroímãs, ventosas a vácuo, pistões hidráulicos, entre outros.

Conforme pesquisa realizada nos maiores fabricantes de robôs industriais, O

posicionamento dos robôs SCARA é medido através de encoders acoplados ao

servomotor que por sua vez está acoplado ao sistema de transmissão. O encoder é

um sensor que converte um movimento angular ou linear em uma série de pulsos

digitais elétricos, fornecendo para o controlador dados suficientes para transformá-los

em posição, velocidade ou rotação. [Matias, 2003] A resolução do encoder varia de

modelo a modelo do robô SCARA e é um fator determinante para a precisão e

repetilidade do robô.

A conversão desses movimentos em pulsos elétricos é feita através da

detecção fotoelétrica, onde uma série de pulsos são gerados pela passagem da luz

em um disco opaco, com várias aberturas transparentes. O receptor detecta a luz

enviada pelo emissor e também a falta de luz, gerando assim os pulsos digitais (0 e 1).

Existem dois tipos de encoders chamados de encoders incrementais e absolutos

[Matias, 2003], sendo que o último é mais utilizado nos robôs SCARA industriais.

Em diversas aplicações o controlador precisa conhecer algumas grandezas

físicas que dizem respeito ao ambiente ou ao objeto a ser manipulado. Por exemplo,

25

para o manuseio de objetos frágeis, é necessário controlar não apenas a abertura dos

dedos da garra como também a força que eles exercem sobre o objeto segurado.

Nesses casos, os efetuadores possuem algum tipo de sensores de força, em geral

strain gauges, nas extremidades dos seus dedos, e algum sensor de posição, em

geral encoders óticos incrementais, solidários com o eixo do motor de acionamento.

Em outras situações é necessário medir a força exercida sobre algum objeto do

ambiente. Em tais situações a força a ser medida é a que o último elo imprime sobre a

superfície onde se apoia o objeto ou ferramenta, e para isso são utilizados strain

gauges no punho do manipulador, que informam ao controlador não apenas sobre a

intensidade da força exercida, mas também sobre sua orientação de maneira tal a

poder orientar o efetuador perpendicularmente à superfície e exercendo a força

adequada. Outros sensores utilizados em efetuadores podem ser sistemas de visão

digitais inseridos neles, que permitirão ao controlador posicioná-lo e orientá-lo de

maneira adequada segundo a orientação do objeto a ser manipulado, analisando a

imagem fornecida pela câmera. [Prazos, 2002]

2.5. Controle e Interface

O controlador é composto de circuitos eletrônicos utilizados para controlar o

manipulador e equipamentos periféricos, como motores elétricos, circuitos de

sinalização, etc. Cada controlador é fornecido juntamente com o manipulador, não

podendo ser usado com outro tipo. Não deve ser colocado ou operado em ambientes

explosivos e obedece aos padrões de proteção IEC-529, sendo o circuito controlador

IP54 aquele que tem proteção contra poeiras e pequenas quantidades de água. A

temperatura ambiente de trabalho é entre +5°C e +70 °C e a fonte de alimentação com

tensão de rede típica entre 200 e 600 ���, com condutor de aterramento. [Moura,

2004]

O controle é feito por uma unidade de controle principal e duas unidades

secundárias: o controlador dos eixos e o controlador de entradas e saídas (Figura

2.13). O controlador dos eixos, obedecendo ao programa que roda no computador

principal, calcula os movimentos de cada eixo para executar o movimento

programado, ajustando a velocidade, tipo de movimento e coordenadas dos pontos. O

cálculo dos movimentos é feito comparando os dados dos resolvers de cada eixo às

coordenadas do ponto programado. [Moura, 2004]

26

Figura 2.13 Estrutura do controlador (adaptado de Moura, 2004)

A placa de monitoramento de posição possui alimentação de reserva através

de uma bateria para que as informações de voltas não sejam perdidas durante uma

falha de energia [Moura, 2004]. No caso de falta de energia, quando esta for

restabelecida, o computador dos eixos consulta estes dados.

O computador de entradas e saídas tem uma função parecida com um CLP, ele

lê as entradas de sensores analógicos ou digitais e atua as saídas, quando ordenado

pelo programa. Desta forma, permite comunicação com equipamentos externos

através de entradas e saídas digitais e sinais analógicos. Também são encontrados

opcionais para comunicação em redes industriais tipo ASI ou Profibus, por exemplo,

que também são controladas pelo computador de entradas e saídas. [Moura, 2004]

Os controladores possuem dois tipos de memória, uma memória RAM utilizada

como memória de trabalho e uma memória de disco rígido, usada como memória de

massa para armazenar o sistema operacional e programas de usuário. Também há a

possibilidade de armazenar programas e configurações do robô em discos rígidos

portáteis.

A memória RAM é empregada na execução do software de sistema e dos

programas do usuário. No disco rígido estão os dados de inicialização (boot), uma

área de dados específicos do sistema, uma área de memória do usuário que pode ser

usada para armazenamento de programas, dados, registros, etc. [Moura, 2004]

Como já visto anteriormente, o controlador “cuida”, através do programa de

controle, para que o manipulador realize a tarefa programada com a maior precisão

possível dentro das especificações técnicas. Em caso do robô ser movimentado por

motores de passo, ele pode ser controlado em malha aberta, por possuírem esses

dispositivos precisão na rotação. Mas se for acionado por motores de corrente

contínua, é necessário fechar a malha através de sensores, porque o controlador

precisa conhecer a resposta do manipulador a fim de imprimir nos motores os sinais

de excitação necessários para executar a trajetória com precisão. Os sensores

27

utilizados são sensores de posição, um para cada junta. Os mais comuns são os

encoders óticos incrementais, onde o controlador vai contando os pulsos entregues

pelo sensor ótico para conhecer a posição da junta. Às vezes são empregados

potenciômetros rotativos também, onde o sinal analógico entregue é proporcional ao

ângulo de rotação da junta. Na hipótese da junta ser prismática, uma engrenagem

pode converter o movimento linear para uma rotação e assim entregar a informação

para um encoder. Também podem ser usados sistemas de visão digitais, pois

analisando a imagem fornecida, o controlador pode conhecer a posição de todas as

juntas do braço. [Prazos, 2002] A Figura 2.14 ilustra um controlador de robô SCARA

industrial:

Figura 2.14: Controlador TS3100 dos robôs SCARA da TOSHIBA MACHINE

(disponível em <http://www.toshiba-machine.co.jp>)

A interface com o usuário ocorre de duas maneiras: localmente, ou seja,

próximo ao controlador ou remotamente através de protocolos indústrias interligando o

controlador a um sistema de supervisão de controle em um PC. A Figura 2.15

apresenta o painel de controle local do robô SCARA IBM 7535:

Figura 2.15 : Painel de controle do robô SCARA IBM 7535 (adaptado de Gorgulho, 2003).

28

Os grandes fabricantes de robôs SCARA não oferecem informações precisas a

respeito do controlador e da interface de seus robôs. Apenas informações genéricas

que forma colocadas anteriormente no texto. Isso acontece pois o controlador e a

interface geralmente são os diferenciais de cada fabricante, sendo um dos fatores

determinantes para, por exemplo, a velocidade de atuação e precisão do robô.

Portanto, o controlador e a interface são equipamentos dedicados a cada robô, sendo

uma verdadeira “caixa-preta”.

29

3. METODOLOGIA

A Metodologia empregada no Projeto Conceitual implica realizar uma avaliação

sobre as alternativas existentes que satisfaçam as especificações do produto. Essas

especificações foram geradas com a metodologia do projeto informacional, anterior ao

apresentado nesse momento. As alternativas existentes são o resultado da pesquisa

sobre projetos, produtos e soluções já criados e analisados na revisão bibliográfica.

Com a avaliação dessas opções, será possível ter um conceito sobre como deve ser o

braço robótico SCARA a ser projetado. Assim, o projeto conceitual envolve duas fases

de trabalho metódicas principais: análise, decomposição do projeto do robô SCARA

que determina o estabelecimento de estruturas funcionais e síntese, composição de

funções através dos princípios de solução que realizem a estrutura funcional.

3.1. Análise

Nesta seção serão analisadas as especificações e identificadas as restrições

do projeto, a partir do projeto informacional. Além disso, será elaborada a estrutura

funcional do robô SCARA considerando sua função global.

3.1.1. Escopo do projeto

A elaboração do conceito passa por uma elaboração do mapa conceitual do braço

robótico. Com isso, é possível estabelecer estruturas de funções de dispositivos. Para

isso, se estuda a rede semântica de conceitos associados ao projeto informacional.

Dessa forma, é feita uma análise do escopo do projeto de acordo especificações

vindas do projeto informacional. Finalmente, se estabelece o mapa conceitual do robô

SCARA.

No projeto informacional, realizado, estudou-se o problema de projetar um robô

SCARA com fins didáticos. Para tanto, detalhou-se o problema e criaram-se

especificações técnicas sobre a estrutura geral do robô. Após, obteviram-se as

especificações do projeto. Naquela fase, foram utilizados conceitos como interface,

controlador, efetuadores, juntas, acionadores, transmissão, entre outros.

Resumidamente, o robô deverá ser de pequeno porte, para transporte de cargas

pequenas, utilizar atuadores com motores elétricos de pouca potência e precisos. Sua

estrutura deve ser composta por um material leve, rígido, durável e de fácil acesso e

operação. Seu modo de controle é aconselhado a ser de fácil interface com unidade

30

de controle e flexível para novas instruções e modos de operação futuros. Exemplos

numéricos das grandezas, são apresentados na tabela a seguir (Tabela 3.01):

Especificações do produto

Requisitos do projeto Valor (aproximado)

Dimensões 500x150x500 mm (CxLxA)

Raio de alcance 350 mm

Posição de montagem Bancada

Grau de liberdade 3 graus de liberdade

Movimentos Translação e rotação

Direções Horizontal e vertical

Velocidade 5 cm/s de translação e 120 º/s de rotação

Carga 0,2 kgf

Fonte de alimentação 24 Vcc/4 A

Potência dos motores 100 W

Materiais Polímero rígido

Sinais Digitais e analógicos com modulação PWM

Automação CLP compacto

Controle Malha aberta

Tabela 3.01: Especificações do produto

Com isso, é possível gerar o mapa apresentado na figura 3.01:

31

Figura 3.01 : Mapa conceitual do braço robótico SCARA

3.1.2. Estrutura funcional

É um fato que a solução de problemas técnicos é satisfeita com o auxílio de

estruturas técnicas. A idéia da criação de uma estrutura funcional é entender objetos

ou estruturas como sistemas em contato com a circunvizinhança por meio de variáveis

de entrada e de saída, que podem ser sinais, energia, materiais, etc. Quem aponta

para essas relações é o mapa conceitual, realizado na etapa anterior.

Para o projeto conceitual do braço robótico tipo SCARA, o diagrama da

estrutura funcional fica como apresentado na figura a seguir (Figura 3.02). Como

pode-se perceber, deverá haver uma entrada de sinal que possibilite ao dispositivo

saber para qual posição levar a garra. A unidade de controle deverá escolher qual a

32

trajatória a ser seguida com essa ordem. Em seguida, haverá a interface do sinal de

controle com o movimento propriamente dito, o que será feito por meio de motores

elétricos, os quais geram movimento em juntas. Após um tempo conhecido pelo

controle, suficiente para que o garra chegue a um objeto, a CPU deverá acionar a

garra com o intuito de tomar alguma ação sobre o objeto. Para transportá-lo, o controle

deve, na sequencia informar novas ordens de controle para os atuadores de juntas.

Finalmente, após certo tempo a garra deve ser liberada, no intuito de concluir a

missão, ou seja, atingir a posição final com o objeto

Figura 3.02 : Diagrama da estrutura funcional do braço robótico SCARA

3.2. Síntese

A partir da pesquisa bibliográfica realizada e análise de técnicas existentes, é

possível selecionar as soluções para a confecção do robô SCARA. O material primário

da estrutura (base e elos) será o alumínio, tendo em vista sua baixa densidade,

acabamento satisfatório e facilidade de acesso. Para juntas será utilizado o próprio

eixo do acionador.

Os acionadores que utilizam energia elétrica como fonte de energia são de fácil

acesso nos laboratórios da UFRGS. Portanto, os motores de passo serão utilizados

como acionadores do robô SCARA, pois são mais baratos que o servo motor e

possuem uma precisão satisfatória para a aplicação. O custo é o fator fundamental

que define a escolha entre motores de passo e servomotor.

Novamente levando em consideração o custo, a fonte de energia do efetuador

será a mesma utilizada pelos acionadores, ou seja, energia elétrica. Desta maneira,

será utilizada a garra magnética já que não há restrição quanto a tipo de material que

será transportado, bem como o robô será utilizado para transportar cargas leves (0,2

kgf.).

33

A partir destas definições, é possível elaborar um protótipo do braço articulado

e com efetuador do robô SCARA, conforme é mostrado na Figura 3.03:

Figura 3.0 3: Protótipo braço articulado com efetuador do robô SCARA.

Quanto ao controlador, será utilizado um Controlador Lógico Programável que

é um equipamento conhecido pelos estudantes do curso de Engenharia de Controle e

Automação da UFRGS e tem recursos para realizar o controle do robô SCARA. Já a

interface, será utilizado através de um computador equipado com algum software

SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition), tal como o Elipse SCADA,

fabricado pela Elipse Softwares.

A Figura 3.04 ilustra o robô SCARA formado pelo braço articulado com

efetuador, o controlador lógico programável e a interface:

34

Figura 3.04 : Protótipo do robô SCARA.

35

4. CONCLUSÕES

O projeto conceitual apresentado especifica as características construtivas

gerais do robô SCARA em acordo com as especificações do produto provenientes do

projeto informacional. Desta maneira, criou-se uma concepção do produto a ser

desenvolvido atendendo da melhor maneira possível às necessidades detectadas e

esclarecidas no projeto informacional.

As soluções e alternativas de construção do robô SCARA, selecionadas

através de pesquisa e análise de outras soluções existentes bem como a proposição

de novas ideias, estabelecem mais precisamente as limitações e as restrições do

produto. Além disso, definiram-se os recursos que serão utilizados para a confecção

do robô SCARA.

O projeto ainda apresenta alguns desafios, tais como: acoplar as juntas

deslizantes e rotacionais aos elos do braço articulado do robô e estabelecer o

protocolo e comunicação entre o controlador e a interface. Estas e outras questões

serão analisadas de maneira mais profunda nas próximas etapas de projeto. A partir

do projeto conceitual, é possível iniciar a fase do projeto preliminar seguida pela fase

de projeto detalhado concluindo, assim, a macrofase de projeto do processo de

desenvolvimento do produto.

36

5. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

[01] GROOVER, M. P., ZIMMERS, E. W. CAD/CAM: computer -aided design

and manufacturing , Prentice-Hall, 1984.

[02] RIVIN, E. Mechanical Design of Robots , 1.ª Edição., McGraw-Hill Inc.,

New York, 1988.

[03] GROOVER, M. P., Automation, production system and computer

integrated manufacturing , Prentice-Hall, 1987.

[04] CARRARA, Valdemir. Apostila de Robótica, 2011.

[05] MOURA, José Luiz de. Robôs cartesianos. Mecatrônica Atual , São Paulo,

edição 15, abr. 2004.

[06] GORGULHO, José Hamilton Chaves Júnior. Conhecendo o robô SCARA.

Mecatrônica Atual , São Paulo, edição 13, dez. 2003.

[07] PRAZOS, Fernando A. Robôs Manipuladores - Parte 1. Mecatrônica Atual ,

São Paulo, edição 02, fev. 2002.

[08] PRAZOS, Fernando A. Efetuadores. Mecatrônica Atual , São Paulo, edição

04, jun. 2002.

[09] BRAGA, Newton C. Escolhendo músculos de robôs. Mecatrônica Atual , São

Paulo, edição 47, jun. 2009.

[10] MATIAS, Juliano. Encoders. Mecatrônica Atual , São Paulo, edição 03, dez.

2003.

[11] MOURA, José Luiz de. Robôs Articulados. Mecatrônica Atual , São Paulo,

edição 16, jul. 2004.

[12] Site da EPSON ROBOTS <www.robots.epson.com > acessado em Junho de

2012.

[13] Site da KUKA ROBOTICS <www.kuka-robotics.com>, acessado em Junho de

2012.

[14] Site da ADEPT <www.adept.com >, acessado em Junho de 2012.

[15] Site da TOSHIBA MACHINE <http://www.toshiba-machine.co.jp>, acessado

em Junho de 2012.

[16] Site da SÄUBLI <http://www.staubli.com>, acessado em Julho de 2012.