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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA COMISSÃO DE ESTÁGIO CURRICULAR ENZIMOLOGIA CLÍNICA EM MEDICINA VETERINÁRIA Autor: Jean Francisco de los Santos Scheffer Orientador: Prof. Félix H. D. González Supervisor: Prof. Francisco Fuchs Monografia apresentada à Faculdade de Veterinária como requisito parcial para obtenção da Graduação em Medicina Veterinária PORTO ALEGRE 2002/2

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

COMISSÃO DE ESTÁGIO CURRICULAR

ENZIMOLOGIA CLÍNICA EM MEDICINA VETERINÁRIA

Autor: Jean Francisco de los Santos Scheffer

Orientador: Prof. Félix H. D. González

Supervisor: Prof. Francisco Fuchs

Monografia apresentada à Faculdade de

Veterinária como requisito parcial para

obtenção da Graduação em Medicina

Veterinária

PORTO ALEGRE

2002/2

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RESUMO

Os médicos veterinários têm procurado meios auxiliares para avaliação e diagnóstico

que ofereçam informações cada vez mais precisas com o menor transtorno ao animal e seu

proprietário. A enzimologia tem se apresentado como uma boa alternativa quando usada em

conjunto com outros exames, ou mesmo isoladamente. Pelo menos 12 enzimas são

rotineiramente utilizadas na avaliação nutricional e no diagnóstico e prognóstico de doenças.

Além delas, outras tantas têm sido estudadas e vão sendo incorporadas aos poucos no dia a dia

do médico veterinário, constituindo-se ferramentas valiosas no exercício da profissão. O

presente trabalho revisou o conhecimento a cerca do tema com suas aplicações na clínica, na

nutrição animal e na pesquisa científica, avaliando as possibilidades e limitações de uso em

algumas espécies de interesse veterinário.

Palavras-chave: análises clínicas, enzima, enzimologia veterinária.

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ABSTRACT

Veterinarians have been seeking for auxiliary assessment and diagnostic means

able to offer more accurate information and to cause the least disturbance to the animal

and its owner. Enzymology has proven to be a good alternative when applied with other

exams or even alone. At least 12 enzymes are currently used in the nutritional assessment,

diagnosis and prognosis. Others have been studied and included in the veterinarians’

daily practice, helping to reach a fast and accurate diagnosis. The present paper

reviewed the knowledge on the subject with its use in clinical practice, in animal

nutrition, and scientific research, assessing the use and limitations with some species of

veterinary interest.

Key words: clinical analysis, enzyme, veterinary enzymology.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelo sonho que tiveram de me ver formado e pelo apoio que deram para

concretizá-lo;

Às minhas irmãs pelo incentivo e pelo carinho que sempre me deram;

À minha namorada pela compreensão e pelo amor que me dedicou durante todo o

curso de Veterinária;

Ao Professor Félix H. D. González pela orientação, pelas oportunidades oferecidas e

pela amizade;

Ao Professor Francisco Fuchs pela supervisão do estágio;

Ao Veterinário Rômulo Campos pelas idéias que deu para tornarem este trabalho

melhor e pela amizade.

A todos estes, meus sinceros agradecimentos.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AcP : Fosfatase ácida

ALP : Fosfatase alcalina

ALT : Alanina aminotransferase

Amyl : Amilase

Arg : Arginase

AST : Aspartato aminotransferase

ButChE: Butiril colinesterase

AChE : Acetil colinesterase

CK : Creatina quinase

CK-BB : Creatina quinase isoenzima cerebral

CK-Mt : Creatina quinase isoenzima mitocondrial

CK-MB : Creatina quinase isoenzima híbrida

CK-MM : Creatina quinase isoenzima muscular

GGT : Gama glutamiltransferase

GLDH : Glutamato desidrogenase

GSH-Px : Glutation Peroxidase

IUB : União Internacional de Bioquímica

IUPAC : União Internacional de Química Pura e Aplicada

Kat : katal

LDH : Lactato desidrogenase

LDH1 : Lactato desidrogenase isoenzima 1

LDH2 : Lactato desidrogenase isoenzima 2

LDH4 : Lactato desidrogenase isoenzima 4

LDH5 : Lactato desidrogenase isoenzima 5

Lip : Lipase

OCT : Ornitina carbamiltransferase

PK : Piruvato quinase

SDH : Sorbitol desidrogenase

TGI : Trato gastrointestinal

TGP : Transaminase glutâmico pirúvica

TGO : Transaminase glutâmico oxaloacética

TLI : Imunorreatividade semelhante à tripsina (Trypsin-Like Immunoreactivity)

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1 INTRODUÇÃO

Seguindo uma tendência da medicina humana, também a medicina veterinária tem

optado por desenvolver e utilizar exames clínicos que ofereçam o máximo de informação com

um mínimo de invasibilidade. A enzimologia clínica surge como uma destas possibilidades,

auxiliando no diagnóstico de doenças, no prognóstico de quadros clínicos diversos e na

avaliação do estado nutricional dos pacientes.

A história da enzimologia é muito recente, tendo seus primeiros passos a partir de

trabalhos publicados por Vitor Henri em 1901, e por Leonor Michaelis entre 1910 e 1914.

Estas pesquisas ofereceram subsídio teórico para que em 1927, King e Armstrong utilizassem

pela primeira vez uma enzima para o diagnóstico clínico: a fosfatase alcalina.

Estas décadas iniciais serviram para gerar o conhecimento e consolidar aquele já

existente, dando margem para que a partir de meados da década de 1960 as enzimas séricas

pudessem ser utilizadas como meio auxiliar de diagnóstico na medicina humana. Na medicina

veterinária, o seu uso começou a ganhar importância a partir da década de 1980 e continua a

crescer em importância até os dias de hoje.

Atualmente a enzimologia apresenta uma gama muito grande de possibilidades,

podendo ser mensurada em praticamente todos os fluidos corporais. No entanto, o presente

trabalho tratará somente das enzimas de uso clínico que possam ser medidas no sangue,

plasma ou soro das diversas espécies de animais domésticos.

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2 BIOQUÍMICA BÁSICA

2.1 Classificação e Nomenclatura

As enzimas podem ser identificadas por dois nomes e por um número de classificação.

O primeiro, é o nome recomendado, que é mais curto e geralmente indica o substrato da

reação ou a descrição de uma ação realizada, acrescida ao sufixo ‘ase’. O outro, é o nome

sistemático, que consiste de uma descrição razoavelmente completa da reação química

catalisada, unida ao sufixo ‘ase’. Além disso, a União Internacional de Bioquímica e Biologia

Molecular (IUB) recomenda um número de classificação para ser usado em trabalhos

científicos, quando se torna necessária uma identificação exata e sem ambigüidades da enzima

estudada (LEHNINGER, 1976; CHAMPE; HARVEY, 1996).

O número de classificação não só identifica a enzima, como também indica o tipo de

reação que cataliza através de uma série numérica convencionada. A classificação é feita a

partir de seis classes principais, relacionadas na tabela 1. Os números subseqüentes indicam

subclasses de enzimas dentro destas primeiras classes, e assim por diante.

TABELA 1 – Classes de Enzimas Segundo a Classificação da IUB, e Atividade que

Catalizam

Classe Nome da Classe Atividade

EC 1 Oxidorredutases Catalisam reações de oxi-redução

EC 2 Transferases Catalisam a transferência de grupos funcionais

EC 3 Hidrolases Catalisam reações de hidrólise

EC 4 Liases Adicionam grupos a ligações duplas

EC5 Isomerases Catalisam reações de isomerização

EC 6 Ligases Formação de ligações acoplados à hidrólise de ATP

Fonte: Adaptado de LEHNINGER, 1976

O uso dos nomes recomendados evita algumas confusões comuns entre os veterinários.

Por exemplo, a Transaminase Glutâmico-Pirúvica (TGP) na verdade deveria ser chamada de

Alanina Aminotransferase, segundo as recomendações da IUB. Da mesma forma, várias

outras enzimas são conhecidas por mais de um nome, ou em outros casos, um mesmo nome

pode designar duas ou mais enzimas.

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2.2 Cinética Química

Para compreender como são realizados os exames que avaliam a quantidade de enzima

presente no sangue, é importante ter uma idéia de alguns conceitos básicos de cinética

química.

De acordo com Lehninger (1976), uma reação química ocorre quando as moléculas de

reagentes, em um instante qualquer, possuem energia suficiente para atingir o estado transição,

quando então existe energia suficiente para que uma ligação química se forme ou se rompa

formando um produto final. A velocidade da reação é dada pela concentração de moléculas

neste estado de transição. Pode-se aumentar a velocidade da reação elevando a temperatura

dos reagentes, ou adicionando um catalisador. Os catalisadores exigem uma menor energia de

ativação para que a reação ocorra (Figura 1).

Figura 1- Efeito da ação de um catalisador sobre a energia de ativação de uma reação

Para que a reação química ocorra, a enzima precisa se ligar ao substrato, formando o

complexo “enzima-substrato”. Este complexo é convertido em um complexo “enzima-

produto” que logo se dissocia em enzima e produto. O sítio ativo da enzima têm uma estrutura

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complementar à do substrato (figura 2).

Figura 2 - Reação catalisada por enzima

Durante a reação, a quantidade de enzima livre diminui na mesma proporção que a

quantidade do complexo enzima-substrato aumenta. Da mesma forma, a quantidade de

substrato diminui, enquanto a quantidade de produto, que está sendo formado, aumenta. A

Figura 3 demonstra esquematicamente como isto ocorre.

Figura 3 - Concentração de enzima, substrato, produto e complexo enzima-substrato durante

a reação

2.3 Fatores que influenciam a velocidade da reação

As enzimas são catalisadores que ocorrem nos sistemas biológicos, com uma eficiência

catalítica muito maior que os catalisadores sintéticos (LEHNINGER; NELSON; COX, 1995).

Desta forma, as reações que catalisam estão sujeitas a características distintas daquelas

reações não catalisadas. A principal diferença é o efeito de saturação com o substrato. Se em

uma reação, a quantidade de enzima é mantida constante, enquanto se adiciona mais substrato,

verifica-se que, num primeiro momento a velocidade da reação aumenta de forma

proporcional à concentração de substrato. Aumentando-se, ainda mais, a concentração de

substrato, a velocidade da reação vai diminuindo enquanto se aproxima assintoticamente de

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uma velocidade constante, tornando-se independente da quantidade de substrato que é

acrescido (Figura 4).

O pH também tem uma influência importante sobre a atividade enzimática. A maioria

das enzimas tem um pH característico e distinto, em que sua atividade é máxima. O pH ótimo

não é necessariamente aquele encontrado no meio intracelular, indicando que este pode ser

um controle intracelular sobre a atividade enzimática (LEHNINGER, 1976). Extremos de pH

podem causar a desnaturação das enzimas.

Figura 4 - Efeito da concentração e saturação de substrato sobre a velocidade de uma reação

catalisada por enzima

Como foi citado anteriormente, a temperatura pode aumentar a velocidade da reação

pelo aumento do número de moléculas com energia suficiente para passar para o estado de

transição. No entanto, em reações catalisadas por enzimas, um aumento muito grande pode

causar a desnaturação das enzimas, com conseqüente perda de função.

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3 PRINCÍPIOS DE ENZIMOLOGIA

O conhecimento teórico sobre a cinética enzimática permitiu o desenvolvimento de

ensaios quantitativos da atividade enzimática. Utilizando métodos analíticos relativamente

simples, como a fotocolorimetria, analisa-se a quantidade de produto formado pela adição da

enzima em uma solução com concentração conhecida de substrato. A reação ocorre em um

tempo fixo, em condições determinadas de temperatura e pH. Pode ser necessária a adição de

cofatores, como coenzimas ou íons metálicos. Para o uso na rotina de um laboratório de

análises clínicas existem kits comerciais que oferecem os reagentes e o protocolo.

3.1 Unidades de Medida

Normalmente, as enzimas são medidas de forma indireta. Em outras palavras, não se

mede a enzima pela sua concentração molar ou massa total, mas pela sua atividade catalítica.

A IUB definiu como unidade internacional de atividade enzimática (U), a quantidade

de enzima que catalisa a conversão de um mol de substrato por minuto. Além disso, IUB e

IUPAC recomendam uma nova unidade, o katal (kat). O katal equivale a um mol por segundo,

seguindo as recomendações do Sistema Internacional de Unidades (SI).

O problema é que o katal é uma unidade muito grande, de forma que na rotina da

clínica os valores deveriam ser expressos em nanokatal (nkat). Para ter uma idéia 1 U é igual

a 16,62 x 10-9 kat, ou 16,62 nkat. Desta forma, a maioria dos clínicos e laboratórios ainda

utilizam a Unidade Internacional (U).

3.2 Cuidados com a Amostra

O uso de enzimas como meio auxiliar de diagnóstico requer alguns cuidados adicionais

àqueles já tomados para outros exames. Como em todos exames colorimétricos, cores

estranhas presentes em grande quantidade no plasma podem interferir nos resultados. Portanto

é importante tomar cuidados para evitar a hemólise das amostras. Da mesma forma, deve-se

ter cuidado ao interpretar resultados de amostras muito ictéricas. Normalmente os kits

comerciais fornecem parâmetros que indicam valores, dentro dos quais, a hemólise e a

icterícia não interferem nos resultados. A turbidez devido a lipemia excessiva também pode

interferir nos resultados.

Outro cuidado a ser tomado é evitar congelar e descongelar muitas vezes a mesma

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amostra, pois este processo pode causar a desnaturação de algumas enzimas. Quando for

necessário analisar uma amostra em dias diferentes, recomenda-se dividir em pequenas

alíquotas, descongelando só o que for analisado logo em seguida.

3.3 Isoenzimas

Muitas enzimas são específicas de determinado órgão, portanto o surgimento desta

enzima no plasma facilita a definição do local lesionado. Em outros tantos casos, as enzimas,

estão presentes em vários tecidos diferentes, dificultando a interpretação clínica do exame.

Quando existe esta dificuldade para definir o órgão lesionado, pode ser útil fazer uso das

isoenzimas.

Enzimas que, mesmo catalisando uma mesma reação e em uma mesma espécie animal,

difiram entre si por suas características moleculares ou cinéticas, são chamadas de isoenzimas.

Estas diferenças podem ser de origem genética ou pós traducionais (GELLA, 1994).

A diferenciação das isoenzimas pode ser feita por eletroforese, por técnicas

imunológicas ou pelo uso de diferentes substratos, ativadores ou inibidores enzimáticos

(KRAMER; HOFFMANN, 1997).

Dentre as enzimas normalmente utilizadas na clínica veterinária, aquelas que possuem

isoenzimas são a aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (ALP), creatina quinase

(CK), amilase (Amyl), lactato desidrogenase (LDH), gama glutamiltransferase (GGT) e

fosfatase ácida (ACP) (BUSH, 1991).

3.4 Presença de Enzimas no Sangue

As enzimas de interesse diagnóstico são constituintes celulares de alguns tecidos

específicos. Elas podem fazer parte tanto da membrana celular, como de organelas ou do

conteúdo citossólico. Constantemente estas enzimas estão sendo liberadas na corrente

sangüínea e, da mesma forma, são retiradas do sangue. Em condições normais, existe um

equilíbrio entre a velocidade de liberação dos tecidos e de sua eliminação ou catabolismo.

A simples detecção de atividade enzimática não é suficiente para o diagnóstico, uma

vez que a presença de enzimas no sangue é considerada normal. A atividade catalítica

sangüínea só tem significado clínico quando os valores encontrados ficam fora dos valores

normais de referência, descartadas as causas clínicas de interferência.

O incremento da atividade enzimática tecidual normalmente está associado ao aumento

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da síntese da enzima no tecido de origem, à diminuição do catabolismo ou à proliferação

celular, enquanto o decréscimo ocorre pelos fatores inversos (diminuição da síntese, aumento

da degradação), pela inativação enzimática ou carência de cofatores (GELLA, 1994). Isto

pode ocorrer por causas fisiológicas, patológicas ou terapêuticas.

O incremento da liberação de enzimas à corrente sangüínea pode ocorrer por morte

celular, aumento de permeabilidade da membrana ou pela proliferação celular. Alguns fatores

interferem no tempo necessário para que a enzima seja liberada no sangue, entre eles o

tamanho da enzima e outros fatores ligados ao órgão, como proximidade dos capilares e

permeabilidade capilar do tecido.

A eliminação das enzimas presentes na corrente sangüínea ocorre por excreção renal e

pelo catabolismo mediado por células fagocíticas do sangue e do sistema retículo endotelial.

A Figura 5 ilustra as inter-relações entre os fatores que influenciam a concentração de

enzimas nos tecidos, sua liberação na corrente sangüínea e eliminação.

Figura 5 - Fatores que afetam a concentração de enzimas no sangue.

3.5 Localização do Dano

Embora algumas enzimas sejam específicas de determinados órgãos, na maioria das

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vezes pode ser necessário usar outros recursos que ajudem na identificação do tecido afetado.

Kerr (1989) cita que tanto a determinação de isoenzimas, quanto o uso concomitante de outras

enzimas, podem auxiliar no diagnóstico. Bush (1991) acrescenta que outros achados

laboratoriais podem indicar ou descartar o envolvimento de determinado órgão, quando

avaliados conjuntamente.

As técnicas de determinação de isoenzimas podem ajudar muito no diagnóstico, mas

muitas vezes elas não estão disponíveis, ou seus custos são proibitivos para uso na rotina da

clínica veterinária. Desta forma, resta ao médico veterinário avaliar a atividade de duas ou

mais enzimas. Este procedimento aumenta a especificidade do resultado encontrado,

fornecendo ao veterinário subsídios importantes para definir a conduta terapêutica.

3.6 Interpretação

Além dos cuidados, já citados, com a coleta e armazenamento da amostra, é importante

que o clínico tenha também um cuidado especial com a anamnese do paciente. Alguns fatos

podem passar desapercebidos e levar a uma interpretação equivocada dos resultados, como

por exemplo:

• A aplicação de uma injeção por via intramuscular pode causar uma irritação tecidual

no músculo suficiente para elevar a concentração de CK, AST ou LDH no sangue;

• A hemólise pode interferir não somente pela variação na absorbância da amostra como

também pela liberação de enzimas presentes nos eritrócitos;

• A CK pode elevar-se devido uma crise convulsiva em que o animal se debata e

traumatize os músculos esqueléticos;

• O animal pode ter sofrido algum acidente que não foi percebido ou relatado pelos

proprietários. Caso em que se deve procurar por outras evidências pois além do traumatismo

muscular, pode ter ocorrido alguma lesão visceral;

• Verificar a possibilidade de indução enzimática por uso de drogas;

• Levar em conta fatores como caquexia, prenhez, idade, dieta e outros que possam

interferir nos resultados;

• Animais e raças com taxas de crescimento maiores apresentam maior atividade

enzimática de AST, ALT e ALP (PASTOROVÁ et al., 2000).

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4 ENZIMAS

4.1 Alanina Aminotransferase (ALT)

Também conhecida como transaminase glutâmico-pirúvica (TGP), a alanina

aminotransferase está presente em tecidos com metabolismo ativo de aminoácidos como o

fígado, rins e músculos esquelético e cardíaco. Esta enzima requer fosfato de piridoxal como

cofator. Gella (1994) cita que gestação, nutrição inadequada e falha renal podem levar a uma

atividade da ALT diminuída pela deficiência desta vitamina. Cães e ratos tratados com

cefalosporina também podem apresentar esta diminuição da atividade enzimática (KRAMER;

HOFFMANN, 1997). Não existem isoenzimas.

De forma geral, em primatas, cães, gatos, coelhos e ratos, a ALT pode ser considerada

uma enzima indicadora de dano hepático. Já em suínos, equinos, bovinos, ovinos e caprinos, a

ALT tem pouco valor diagnóstico, uma vez que esta enzima é encontrada em concentrações

muito baixas no fígado destas espécies.

Jeschke e colaboradores (2001) demonstraram que, em ratos com 40% do corpo

queimado, houve um aumento da concentração de ALT no soro. Ele concluiu que este

aumento está relacionado à indução de apoptose (morte celular programada) nas células

hepáticas. Portanto, em outros animais, também é provável que ocorra um aumento desta

enzima quando houverem queimaduras extensas pelo corpo.

Para cães e gatos a ALT é uma das enzimas de escolha para avaliar o

comprometimento hepático. Segundo Bush (1991) é o melhor teste para detectar dano

hepático em pequenos animais. Embora presente no coração, nos rins, músculos e eritrócitos,

a enzima oriunda destes órgãos não é capaz de fazer a ALT aumentar muito mais do que 3

vezes (WILLARD; TVEDTEN; TURNWALD, 1993).

O aumento da ALT está relacionado com o número de células envolvidas, ou seja, com

a extensão, e não com a gravidade da lesão. Na realidade, mesmo uma lesão que não cause

morte celular, pode ser suficiente para que ocorra a liberação de ALT na corrente sangüínea.

Diversas drogas podem induzir um incremento da atividade sérica da ALT. Em

pequenos animais são relevantes para o clínico o conhecimento dos seguintes princípios

ativos: acetaminofeno, barbitúricos, glicocorticóides, cetoconazol, mebendazol, fenobarbital,

fenilbutazona, primidona e tetraciclina (WILLARD; TVEDTEN; TURNWALD, 1993;

SPINOSA; GORNIAK; BERNARDI, 1999). Inúmeras substâncias químicas (fenóis, alcatrão

e outros), plantas hepatotóxicas e aflatoxina podem causar o mesmo efeito (OSWEILER,

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1998).

Ikatsu e colaboradores (1998) trabalhando com ratos, demonstraram o efeito

cumulativo da intoxicação hepática, utilizando tetracloreto de carbono e clorofórmio. O

tetracloreto de carbono é metabolizado no fígado, produzindo um radical livre que causa

peroxidação de membrana (MACLACHLAN et al., 1998) com conseqüente extravasamento

da ALT.

Na análise dos resultados deve-se levar em conta que a ALT tem um pico de liberação

no sangue cerca de 3 ou 4 dias após a lesão, mas retorna aos valores basais cerca de 2

semanas após. A persistência de valores elevados por um período maior que este pode indicar

o estabelecimento de uma patologia crônica como neoplasia ou hepatite.

Outras causas possíveis de aumento da ALT são shunts portossistêmicos, lipidose

hepática, pancreatite aguda (aumento moderado), hepatites tóxicas ou infecciosas

(leptospirose, peritonite infecciosa felina, e outras), hipóxia e febre (pequena variação)

(SHAW; IHLE, 1999). Dimsk (1999) cita que em cães e gatos, a degeneração muscular é

uma causa rara de elevação da ALT.

4.2 Amilase (Amyl)

A alfa-amilase está presente em vários tecidos (glândulas salivares, cérebro, pulmão),

mas em maior quantidade no pâncreas e duodeno. O cão não possui alfa-amilase nas

glândulas salivares, embora outras espécies a possuam (KRAMER; HOFFMANN, 1997).

Kerr (1989) cita que o principal uso desta enzima é para diagnóstico de pancreatite aguda.

Grande parte da amilase sanguínea é removida do organismo pela filtração renal e

eliminada na urina. Portanto, uma das causas prováveis de hiperamilasemia é a diminuição da

filtração glomerular. No entanto, se esta causa for eliminada, a amilase tem uma alta

especificidade para lesão pancreática. Em casos mais raros pode ocorrer aumento da amilase

sangüínea por trauma cerebral.

Willard, Tvedten e Turnwald (1993) sugere que algumas drogas podem causar

pancreatite e por conseqüência hiperamilasemia. No entanto, não foram encontrados relatos

de indução da produção enzimática pelo uso de drogas. Yazar e colaboradores (2002)

demonstraram que o uso de fenobarbital não afetou a quantidade de amilase tecidual no

cérebro e no rim.

Brobst (1997) cita que em cães vários tecidos como intestino, rins e útero apresentam

atividade de amilase, e por isso, vários pesquisadores preferem considerar que o diagnóstico

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de pancreatite em cães seja dado só quando o valor ultrapassar 3 ou 4 vezes os valores de

referência.

4.3 Arginase (Arg)

Esta enzima apresenta aumento de atividade após uma injúria aguda do fígado,

retornando aos valores normais mais rapidamente que a ALT e AST. Em hepatites necróticas

crônicas pode manter níveis elevados, com um mal prognóstico para o animal. A arginase já

foi demonstrada em várias espécies, mas pode ter valor diagnóstico em eqüinos, bovinos,

ovinos, caprinos e cães (TENNANT, 1997).

4.4 Aspartato Aminotransferase (AST)

Conhecida também pelo nome de transaminase oxaloacética (TGO). É encontrada

principalmente no fígado, nos eritrócitos e nos músculos esquelético e cardíaco. Normalmente

é utilizada para avaliar lesão muscular em conjunto com a creatina quinase e lactato

desidrogenase. Nos grandes animais é usada também para investigar doenças hepáticas

(KERR, 1989).

Méndez (2001) cita que a enzima pode estar elevada na intoxicação crônica pelo cobre

nos ovinos. Plantas hepatotóxicas que causem necrose hepática, como Cestrum parqui e

Xanthium cavalinesii são causas possíveis de aumento da AST (MÉNDEZ; RIET-CORREA,

2001a). Senna ocidentalis e outras que causam extensa necrose muscular podem ter o mesmo

efeito (MÉNDEZ; RIET-CORREA, 2001b).

A deficiência de vitamina E e selênio pode causar necrose segmentar dos músculos

esqueléticos (doença dos músculos brancos), incrementando a atividade de AST no plasma

(BARROS, 2001). Nestes casos pode ser interessante avaliar conjuntamente a creatina

quinase, que é mais específica para lesão muscular, e a glutation peroxidase, para avaliar a

carência de selênio.

A AST pode ser usada para avaliar lesão hepática em pequenos animais da mesma

forma que a ALT, porém com uma especificidade muito menor.

Na avaliação de lesão muscular, ela produz aumentos menores do que a creatina

quinase, mas que se estendem por um período de tempo maior. Perez e colaboradores (2000)

sugerem que AST deva ser incluída na monitoração de problemas musculares. A utilização

desta enzima em conjunto com CK pode oferecer informações mais precisas sobre o período

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em que se encontra a lesão (TADICH et al., 2000). A AST por ser uma enzima mitocondrial e

citossólica, necessita uma lesão maior para ser liberada na corrente sangüínea. Por outro lado

CK e LDH, por serem citossólicas e de tamanho pequeno, conseguem ultrapassar a membrana

celular mesmo que não exista um dano tecidual muito grande. Na realidade, um simples

aumento de permeabilidade de membrana é suficiente para que ocorra o extravasamento da

enzima (PEREZ et al., 2000).

Lesões no músculo cardíaco também são demonstradas pelo aumento da AST.

Cardiomiopatias diversas podem causar este efeito, assim como endocardites bacterianas,

dirofilariose, trombose aórtica e infarto do miocárdio. Quando estiver presente congestão

hepática por problema cardíaco, a enzima provavelmente estará elevada devido ao fígado

congesto (BUSH, 1991).

O aumento da AST sérica pode ocorrer em patologias de localização no sistema

nervoso central. Quando isto ocorrer, sugere uma grande lesão do parênquima e um

prognóstico ruim (BURTIS; ASHWOOD* apud NAZIFI et al., 1997).

4.5 Colinesterase

Existem na verdade duas enzimas conhecidas por este nome, a acetilcolinesterase

(AChE) ou colinesterase verdadeira, e a butirilcolinesterase (ButChE), ou pseudocolinesterase.

As duas apresentam os mesmos ativadores e inibidores, diferenciando-se principalmente pelo

local onde são produzidas. A acetilcolinesterase é uma enzima integrante da junção mioneural,

da substância cinzenta do cérebro e dos eritrócitos. A butirilcolinesterase é encontrada no

plasma, substância branca do cérebro, fígado, pâncreas e mucosa intestinal. O aumento da

atividade destas enzimas no sangue pode estar relacionado à lesão no sistema nervoso central.

No entanto, a acetilcolinesterase normalmente é solicitada pelo veterinário quando

existe a suspeita de intoxicação por organofosforados ou carbamatos. Neste caso, o

significado clínico será dado pela diminuição da atividade enzimática no sangue e não pelo

seu aumento. A intoxicação por organofosforados causa uma inibição relativamente estável da

enzima, enquanto que aquela causada por carbamatos é muito lábil. A acetilcolinesterase

serve para fazer o diagnóstico diferencial entre as substâncias tóxicas, uma vez que não tem

uma relação muito grande com a gravidade dos sinais clínicos (OSWEILER, 1998).

*BURTIS, C. A.; ASHWOOD, E.R. Tietz Textbook of Clinical Chemistry. 2.ed. Philadelphia: W. B. Saunders,

1994.

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Gava (2001) acrescenta que a avaliação da atividade da acetilcolinesterase varia muito

com o tempo e quantidade do produto ingerido. Como a AChE é encontrada em quantidades

muito pequenas no plasma, normalmente avalia-se a atividade enzimática da ButChE como

indicador da atividade enzimática da AChE na junção mioneural. (KRAMER; HOFFMANN,

1997). Bogin (1994), cita que a diminuição da atividade enzimática das colinesterases pode

ocorrer por má nutrição, anemia ou doenças hepáticas.

4.6 Creatina quinase (CK)

Também é conhecida pelo nome de creatina fosfoquinase (CPK). A creatina quinase

possui quatro isoenzimas. A CK-MM está presente nos músculos esquelético e cardíaco, a

CK-BB está presente no cérebro, e a CK-MB que é uma isoenzima encontrada principalmente

no coração. A quarta isoenzima é a CK-Mt que é uma enzima mitocondrial que responde por

até 15% da atividade da CK cardíaca (KRAMER; HOFFMANN, 1997). Em medicina

veterinária, a determinação das isoenzimas de CK ainda não tem utilidade prática, embora

seja comum na medicina humana.

A CK é a enzima mais sensível para indicar lesão muscular. Pode ocorrer um

incremento na atividade plasmática desta enzima por injeção intramuscular, decúbito

prolongado (PEEK et al., 2001), convulsões, esforço prolongado e outras lesões musculares.

Thompson (1997) cita que a CK pode ser útil na avaliação de pacientes com lúpus eritematoso

sistêmico.

Em trabalho recente, no Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias da UFRGS, foi

verificado que cães com leptospirose apresentavam a atividade sérica da CK aumentada. De

fato, em medicina humana, este é um dos primeiros testes a serem realizados quando existe

suspeita desta enfermidade. Este achado sugere uma extensa degeneração muscular, que

explica as dores pelo corpo relatados em humanos e observados na clínica veterinária.

Tadich, Gallo e Alvarado (2000) demonstraram o incremento de CK que ocorre em

bovinos transportados por longos períodos. Este aumento ocorre pelo esforço físico que são

submetidos os animais. O esforço do parto também é um fator de aumento da CK (MORAIS

et al., 2000), assim como o exercício de cavalos de pentatlon (BALOGH et al., 2001).

Wyatt, Labuc, e Wyatt (1998) concluíram que o uso da isoenzima CK-MB não é um

indicador confiável de lesão cardíaca em cães, diferente do que ocorre com humanos. Isto

ocorre devido a meia vida da CK-MB ser muito curta e, desta forma, raramente a isoenzima

pode ser avaliada a tempo.

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4.7 Fosfatase Alcalina (ALP)

A fosfatase alcalina está presente no intestino, nos rins, no fígado e nos ossos. Kramer

e Hoffmann (1997) citam duas isoenzimas, uma de origem intestinal e outra inespecífica.

Além delas, existe uma isoenzima induzida por corticosteróide. Já Syakalima e colaboradores

(1997) citam que no soro de cães podem ser encontradas isoenzimas de origem óssea,

hepática e induzida por corticosteróide. Citam que existe ainda uma isoenzima de origem

placentária mas que, assim como a isoenzima renal, não é comumente encontrada no soro.

A isoenzima induzida por corticosteróide pode estar presente nos cães com

hiperadrenocorticismo, cães em tratamento, ou secundário a doenças prolongadas pelo efeito

do stress (CORNELIUS, 1996). Merchant (1999), assim como Chastain (1999), consideram o

aumento da fosfatase alcalina um dos achados mais comuns no hiperadrenocorticismo canino.

Além dos corticosteróides, outras drogas induzem ao aumento da fosfatase alcalina. Willard,

Tvedten e Turnwald (1993) citam, como drogas que podem causar hiperatividade da fosfatase

alcalina, os esteróides, barbitúricos, cefalosporinas, fenobarbital, fenotiazinas, fenilbutazona,

tetraciclinas, tiabendazol e halotano.

A Fosfatase Alcalina de origem óssea pode estar aumentada em animais jovens, em

consolidação de fraturas, hiperparatireoidismo, osteossarcoma, osteomalácia ou na deficiência

de vitamina D. Lorenz (1996) cita a deficiência de cálcio como um fator de elevação da ALP.

Serakides e colaboradores (2000) relatam que, em ratas, foi observada uma relação negativa

entre progesterona e estradiol com a atividade da fosfatase alcalina. Os animais castrados

apresentaram uma maior atividade da enzima que os inteiros.

Os felinos possuem uma menor quantidade hepatocelular de fosfatase alcalina, e que é

rapidamente eliminada pelos rins. Além disso, nem toda hepatopatia significativa causa um

aumento significativo da enzima. Em cães, a hepatopatia que causa aumento da fosfatase

alcalina, cursa com colestase. A obstrução biliar extra-hepática, assim como a indução por

corticosteróides, pode aumentá-la em até 10 vezes. Necrose hepatocelular geralmente cursa

com aumento transitório da fosfatase alcalina (WILLARD; TVEDTEN; TURNWALD, 1993).

4.8 Gama Glutamiltransferase (GGT)

Também é conhecida como gama glutamil transpeptidase (GTP). Presente em todas as

células com exceção do músculo. Apresenta grande atividade nos rins e no fígado, mas

somente aquela de origem hepática é normalmente encontrada no plasma, pois a de origem

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renal é excretada na urina. O aumento da atividade da enzima ocorre, em todas as espécies

examinadas, após colestase.

Em felinos, mas não em cães, pode ser utilizada no lugar da fosfatase alcalina, com

maior sensibilidade e especificidade para o fígado. Por isso é mais utilizada em gatos do que

em cães. Em cães pode ser induzida pelo tratamento com prednisolona, sem causar colestase.

Em filhotes de cão, a GGT pode atingir valores de até 25 vezes o valor normal para cães

adultos. Aparentemente os cães também absorvem a GGT a partir do colostro (CENTER;

HORNBUCKLE; HOSKINS, 1997).

Em bovinos e ovinos, a GGT é transferida para os filhotes pelo colostro (KRAMER;

HOFFMANN, 1997). Desta forma, é possível usar a GGT como forma de monitorar a

ingestão de colostro pelos terneiros, embora com menor eficiência que a imunoglobulina G

(HADORN; BLUM, 1997). Egli e Blum (1998) demonstram que a GGT é rapidamente

absorvida pelos filhotes, mas que após algum tempo ela não é mais absorvida. Os níveis de

GGT começam a diminuir no soro, e aos 21 dias estabilizam. Feitosa e Birgel (2002) não

encontraram diferenças entre os níveis de GGT de vacas holandesas no periparto,

confirmando que esta enzima não sofre alteração pelos efeitos do parto ou da colostrogênese.

Peek e colaboradores (2001) citam elevação da atividade da GGT em vacas leiteiras

com lipidose hepática. Müller (2001) descreve que animais infestados com Fasciola hepatica

têm os níveis de GGT aumentados cerca de 6 semanas após a infecção.

4.9 Glutamato Desidrogenase (GLDH)

É uma enzima utilizada para avaliar necrose hepática em ovinos, caprinos e bovinos.

Pode aumentar também no parto e associado a obstrução de ducto biliar (TENNANT, 1997).

Normalmente a GLDH tem uma resposta mais rápida do que a GGT, mas também volta aos

níveis normais mais rapidamente. Müller (2001) descreve que animais infestados com

Fasciola hepatica têm os níveis de GLDH aumentados até cerca de 2 semanas após a

infecção, enquanto a GGT aumenta só a partir da sexta semana.

4.10 Glutation Peroxidase (GSH-Px)

É uma enzima intracelular presente nos eritrócitos, que contém 4 átomos de selênio por

molécula. A GSH-Px representa mais de 75% do selênio sangüíneo (ALONSO, 1997). O fato

de existir uma boa correlação entre a atividade enzimática nos eritrócitos e a concentração de

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selênio, faz com que a GSH-Px seja usada para avaliar a deficiência deste mineral. Como a

enzima é intracelular, normalmente ela é avaliada como unidades por miligrama de

hemoglobina (U/mg de Hb) ou unidades por decilitro de hemácias (U/dL de hemácias).

A deficiência de selênio é conhecida por estar relacionada a uma maior incidência de

mastite, degeneração testicular, imunossupressão, aborto, retenção de placenta, miopatia

cardíaca, doença dos músculos brancos entre outras. A GSH-Px pode ser usada para avaliar a

melhor forma de suplementar o mineral e sua resposta frente a doenças e correlação com

ganho de peso (OBLITAS et al., 2000).

Pavlata e colaboradores (2001) perceberam que animais deficientes em selênio, quando

submetidos a esforços físicos intensos, têm uma maior lesão tecidual e por conseqüência um

nível mais elevado de outras enzimas como a AST, CK e LDH.

4.11 Lactato Desidrogenase (LDH)

É uma enzima presente em vários tecidos, em particular no músculo esquelético,

músculo cardíaco, fígado e eritrócitos, mas também nos rins, ossos e pulmões. Existem cinco

isoenzimas conhecidas, que não são comumente analisadas nos laboratórios veterinários.

Isoladamente a enzima não é específica para nenhum órgão. Qualquer intensidade de

hemólise é prejudicial, pois o extravasamento de enzimas eritrocitárias incrementa a atividade

total da LDH no plasma.

Lesões musculares de etiologias variadas podem estar relacionadas ao aumento da

LDH. Cardinet (1997) cita que a deficiência de vitamina E e selênio e a mioglobinúria são

causas de aumento de LDH. Balogh (2001) demonstrou que, em cavalos de salto, a LDH

aumentou imediatamente após o exercício e se manteve elevada após 24 horas, diferente da

CK que teve um pico após o exercício, mas voltou aos valores basais após um dia. Por se

apresentar como um bom indicador de lesão muscular. Garcia et al.(2000) utilizaram a LDH

em conjunto com CK e AST para monitorar a intensidade de exercício de cavalos crioulos.

A LDH pode ser utilizada para avaliar cardiomiopatias diversas (isquemia, endocardite

bacteriana, dirofilariose, trombose aórtica e infarto do miocárdio). Normalmente a LDH

aumenta menos rapidamente que a CK, mas também mantém os valores elevados por mais

tempo. Após o infarto agudo do miocárdio, em humanos, a LDH atinge valores acima da

referência após 16 horas, atingindo valores máximos em 40 horas e mantendo a atividade

elevada por até 8 dias.

Em medicina humana é comum analisar a isoenzima LDH1, e comparar com os

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valores de outras isoenzimas para avaliar o infarto do miocárdio. LDH1, que normalmente

não ultrapassa 40% da atividade total, após o infarto pode atingir a proporção de 50 a 60% da

atividade total. Além disso, ela costuma estar em menor quantidade que a LDH2, situação que

se inverte após o infarto (CHAPELLE, 1994).

A LDH também pode ser utilizada em casos de meningite bacteriana. Nestes casos,

ocorre um incremento da isoenzima LDH5 e um pequeno aumento da LDH4. (NAZIFI;

REZAKHANI; BADRAN, 1997).

Smith (1993) considera comum o aumento de LDH, em grandes animais, por

problemas hepáticos como colelitíase, fasciolose e insufuciência hepática.

4.12 Lipase (Lip)

Esta enzima normalmente é medida em conjunto com a amilase para diagnosticar

pancreatite. Brobst (1997) cita que a lipase pode aumentar por doenças hepáticas e renais.

Alem disso, a manipulação de vísceras durante cirurgia (estômago, fígado, intestino) pode ter

o mesmo efeito. Também existe evidência de aumento da concentração de lipase pela

administração de dexametasona. Quigley, Jackson e Haines (2001) demonstram a evidência

de neoplasias hepáticas e pancreáticas produtoras de lipase.

4.13 Ornitina Carbamiltransferase (OCT)

esta enzima ocorre em quantidades significativas somente no fígado, por isso sua

especificidade para detectar problemas neste órgão. Tennant (1997) cita que a OCT tem uma

sensibilidade semelhante à da ALT para o diagnóstico de necrose hepática no cão. Esta

enzima pode estar relacionada também com a fasciolose nos bovinos.

4.14 Sorbitol Desidrogenase (SDH)

É uma enzima com uma meia vida muito curta, de no máximo 24 a 48 horas e

apresenta um pico logo após a lesão retornando aos valores normais em cerca de três dias. Por

este motivo deve ser analisada rapidamente (MEYER; COLES; RICH, 1995). É

particularmente utilizada em eqüinos para diagnosticar lesão hepatocelular aguda, mas

também pode ser utilizada em ruminantes, substituindo a GLDH.

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4.15 Tripsina

Esta enzima é produzida inicialmente pelo pâncreas na forma de tripsinogênio, sendo

convertido em tripsina pela enteroquinase intestinal ou pela própria tripsina. No plasma, ela

pode ocorrer na forma de tripsina, tripsinogênio ou do complexo antitripsina. Um tipo de

imunoensaio específico é capaz de detectar as três formas de tripsina, e é chamado de TLI

(trypsin-like immunoreactivity ou imunorreatividade semelhante à tripsina). O aumento da

TLI pode ocorrer nos casos de pancreatite aguda (KRAMER; HOFFMANN, 1997). Archer

(1997) confirmou que a TLI apresentou valores significativamente maiores em cães com

pancreatite. Em alguns casos os valores encontrados não apresentaram uma magnitude

suficiente para um diagnóstico conclusivo (Dimski, 1999).

4.16 Outras Enzimas

Algumas outras enzimas podem ser utilizadas na medicina veterinária. No entanto,

devido aos custos elevados, dificuldade de realizar os testes ou à baixa especificidade que

oferecem, acabam substituídas por outras enzimas.

É o caso da aldolase. Esta enzima tem uma boa especificidade por lesões no fígado e

nos músculos esquelético e cardíaco. A sua atividade sérica pode estar aumentada em

hepatites virais, tumores hepáticos, infarto do miocárdio e lesões dos músculos esqueléticos.

A dificuldade de realizar o ensaio de determinação da atividade da aldolase, faz com que seja

substituída por outros testes mais fáceis e rápidos, como a AST, ALT, CK e LDH (BOGIN,

1994).

A piruvato quinase (PK) pode ser utilizada para avaliar lesões musculares. Cardinet

(1997) cita que a enzima pode auxiliar na identificação de suínos homozigotos para

hipertermia maligna.

Embora seja bastante utilizada na medicina humana, a fosfatase ácida (AcP) não é

comumente avaliada na clínica veterinária. Em humanos, a enzima tem sua atividade sérica

aumentada em doenças prostáticas (hipertrofia, prostatite e carcinoma), além de algumas

doenças ósseas e hematológicas (GELLA, 1994). Em medicina veterinária ainda não existem

resultados conclusivos a respeito de doenças prostáticas e a atividade sérica da AcP.

A transcetolase é uma enzima intra-eritrocitária que pode estar aumentada em casos de

necrose cerebrocortical ou na acidose lática nos bovinos (DIRKSEN; GRÜNDER; STÖBER,

1993).

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5 CONCLUSÃO:

A enzimologia tem uso corrente e garantido na medicina humana, infelizmente na

medicina veterinária ainda não é utilizada na mesma proporção. A presença de alterações na

atividade sérica pode dar informações muito úteis ao clínico de forma rápida e precisa.

Sabe-se que muitas vezes o proprietário não dispõe de recursos financeiros para a

realização de muitos exames. Esta talvez seja a principal limitação do uso de enzimas séricas

como meio auxiliar de diagnóstico, uma vez que o ideal é que duas ou mais enzimas sejam

avaliadas conjuntamente para aumentar a especificidade do teste.

Por outro lado, a enzimologia pode oferecer informações suficientes para a conclusão

de um diagnóstico de forma rápida e pouco traumática para o animal. Igualmente,é possível

avaliar a extensão ou gravidade da lesão e fornecer um prognóstico mais preciso a partir de

dados obtidos pela avaliação enzimática.

Este trabalho teve o objetivo de demonstrar com mais clareza as limitações e

possibilidades de uso das enzimas séricas, fornecendo ao clínico uma ferramenta a mais na

difícil tarefa de construir o diagnóstico.

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APÊNDICE A – Interpretação e valores de referência das enzimas séricas de interesse

diagnóstico, no cão e no gato

ENZIMA VALORES DE

REFERÊNCIA (U/L)

INTERPRETAÇÃO DO AUMENTO

AChE

270 (cão)*

540 (gato)*

Lesão no sistema nervoso central. (Diminuição da

atividade sérica na intoxicação por organofosforados)

ALP 20 - 156 (cão)*

25 - 93 (gato)*

Colestase, dano hepático, indução por esteróides,

animais em crescimento, neoplasia, inanição, doenças

ósseas (tumores, consolidação de fraturas,

osteomalácia), prenhez, deficiência de vitamina D, e

doenças endócrinas (hiperadrenocorticismo, diabetes

mellitus, hiperparatireoidismo, hipertireoidismo).

ALT 21 - 102 (cão)*

6 - 83 (gato)*

Dano hepático (hepatites tóxicas ou infecciosas,

trauma, neoplasia, hipóxia, amiloidose), indução por

drogas e miocardite.

Amyl 185 - 700(cão)* Pancreatite aguda, insuficiência renal e distúrbios do

TGI (obstrução ou torção intestinal,úlcera duodenal).

Arg 0 - 14 (cão e gato)* Lesão hepática.

AST 23 - 66 (cão)*

26 - 43 (gato)*

Dano hepático, lesão de músculos esqueléticos,

esforço excessivo e doenças cardíacas (isquemia,

endocardite, dirofilariose, trombose aórtica, infarto de

miocárdio).

ButChE 1210 - 3020 (cão)*

640 - 1400 (gato)*

(Diminuição da atividade sérica na intoxicação por

organofosforados).

CK 1,15 - 28,4 (cão)*

7,5 - 28,2 (gato)*

Lesão de músculos esqueléticos, lesões do miocárdio

(infarto, isquemia), esforço excessivo,

hipotireoidismo, Lúpus eritematoso sistêmico.

GGT 1,2 - 6,4 (cão)*

1,3 - 5,1 (gato)*

Lesões hepáticas e obstrução do trato biliar.

GSH-Px 8921 ± 237 (cão)*

12135 ± 616 (gato)*

(diminuição da atividade sérica sugere deficiência de

selênio)

LDH 45 - 233 (cão)*

63 - 273 (gato)*

Lesão de músculos esqueléticos, lesão do músculo

cardíaco e doenças hepáticas.

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(cont.) ENZIMA VALORES DE

REFERÊNCIA (U/L)

INTERPRETAÇÃO DO AUMENTO

Lip 13 - 200 (cão)*

0 - 83 (gato)*

Pancreatite aguda, insuficiência renal.

SDH 2,9 - 8,2 (cão)*

3,9 - 7,7 (gato)*

Lesão hepática.

TLI 5 – 35 µg/L (cão)† Pancreatite aguda.

Fonte: † Meyer; Coles; Rich (1995) * Kaneko, Harvey, Bruss (1997)

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APÊNDICE B – Interpretação e valores de referência das enzimas séricas de interesse

diagnóstico, no eqüino

ENZIMA VALORES DE

REFERÊNCIA (U/L)

INTERPRETAÇÃO DO AUMENTO

AChE

450 - 790* Lesão no sistema nervoso central. (Diminuição da

atividade sérica na intoxicação por organofosforados)

ALP 143 - 395* Doenças ósseas (tumores, consolidação de fraturas,

osteomalácia), prenhez e deficiência de vitamina D.

ALT 3 - 23* Lesão hepática, lesão de músculo esquelético ou

cardíaco.

Amyl 75 - 150* Doenças hepáticas (esteatose e cirrose), insuficiência

renal, pancreatite, obstrução de glândula salivar.

AST 226 - 366* Lesão de músculo esquelético ou cardíaco,

rabdomiólise, puerpério, gestação avançada, anemia

hemolítica.

ButChE 2000 - 3100* (Diminuição da atividade sérica na intoxicação por

organofosforados).

CK 2,4 - 23,4* Lesões musculares por estresse ou trauma,

rabdomiólise, e deficiência de vitamina E e selênio.

GGT 4,3 - 13,4* Lesões hepáticas, colestase.

GLDH 0-11,8* Lesões hepáticas.

GSH-Px 7931 ± 1620* (diminuição da atividade sérica sugere deficiência de

selênio)

LDH 162 - 412* Lesão de músculo esquelético, lesão hepática,

rabdomiólise, prenhez.

OCT - Lesão hepática aguda.

Fonte: * Kaneko, Harvey, Bruss (1997)

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APÊNDICE C – Interpretação e valores de referência das enzimas séricas de interesse

diagnóstico, nos bovinos

ENZIMA VALORES DE

REFERÊNCIA (U/L)

INTERPRETAÇÃO DO AUMENTO

AChE

1270 - 2430* Lesão no sistema nervoso central. (Diminuição da

atividade sérica na intoxicação por organofosforados)

Aldolase 10 – 30 ∆ Lesão hepática.

ALP 0 - 488* Doenças ósseas (tumores, consolidação de fraturas,

osteomalácia), prenhez e deficiência de vitamina D.

ALT 11 - 40* Lesão hepática, de músculo esquelético ou cardíaco.

Amyl 800 – 1200 ∆ Insuficiência renal, cetose, pancreatite.

Arginase 1 - 30* Lesão hepática, intoxicação crônica pelo cobre (em

ovinos)

AST 78 - 132* Lesão de músculo esquelético ou cardíaco, puerpério

e gestação, intoxicação crônica pelo cobre (ovinos).

ButChE 70* (Diminuição da atividade sérica na intoxicação por

organofosforados).

CK 4,8 - 12,1* Lesões musculares por decúbito prolongado, estresse

ou trauma, e deficiência de vitamina E e selênio.

GGT 6,1 - 17,4* Colestase, fasciolose crônica.

GLDH 31* Lesão hepática , intoxicação crônica pelo cobre

(ovinos).

GSH-Px 100 – 200 U/g Hb ∆ (diminuição da atividade sérica sugere deficiência de

selênio)

LDH 692 - 1445* Lesão de músculo esquelético, lesão hepática,

prenhez, leucose.

Lipase 2 – 8 ∆ Doenças hepáticas (esteatose e cirrose), insuficiência

renal, cetose, pancreatite.

OCT 1 – 20 ∆ Lesão hepática aguda.

SDH 4,3 - 15,3* Lesão hepática , intoxicação crônica pelo cobre

(ovinos)

Fonte: ∆ Dirksen; Gründer; Stöber (1993) * Kaneko, Harvey, Bruss (1997)