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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE- UFRN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA - PPGSCol MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE COLETIVA EVA EMANUELA LOPES CAVALCANTE FEITOSA CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE: A VOZ DOS GESTORES NATAL/RN 2017

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE- UFRN … · Mário Sérgio Cortella. RESUMO A Vigilância em Saúde faz parte do arcabouço das propostas do Sistema Único de Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE- UFRN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA - PPGSCol

MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE COLETIVA

EVA EMANUELA LOPES CAVALCANTE FEITOSA

CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE: A VOZ DOS

GESTORES

NATAL/RN

2017

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EVA EMANUELA LOPES CAVALCANTE FEITOSA

CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE: A VOZ DOS

GESTORES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN objetivando a obtenção do título de mestre em Saúde Coletiva. Área de Concentração: Saúde Coletiva Orientação: Maísa Paulino Rodrigues

NATAL/RN

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos -

­Departamento de Odontologia

Feitosa, Eva Emanuela Lopes Cavalcante.

Concepções e práticas da vigilância em saúde: a voz dos gestores / Eva

Emanuela Lopes Cavalcante Feitosa. - Natal, 2017.

98f.: il.

Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Saúde

Coletiva.

Orientador: Maísa Paulino Rodrigues.

1. Vigilância em saúde pública - Dissertação. 2. Gestores de saúde -

Dissertação. 3. Promoção da saúde - Dissertação. I. Rodrigues, Maísa Paulino. II.

Título.

RN/UF/BSO BLACK 585

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EVA EMANUELA LOPES CAVALCANTE FEITOSA

CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE: A VOZ DOS

GESTORES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN objetivando a obtenção do título de mestre em Saúde Coletiva.

Aprovada em: ____/____/____.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Prof. Dra. Maísa Paulino Rodrigues

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________

Prof. Dra. Soraya Maria de Medeiros

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________

Profa. Dra. Gisetti Corina Gomes Brandão

Universidade Federal de Campina Grande

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida, inspiração e força nas incansáveis lutas e conquistas. Esta é mais

uma delas!

Aos meus pais, João e Fátima, por todo amor e dedicação em cada fase da minha

vida. Espero ser digna de retribuir!

Ao meu esposo Márcio, por todo apoio, pelos ouvidos e colo quando mais precisei.

De tão presente, foi quase um mestrando em Saúde Coletiva também e, por isso,

merece todas as honras!

Aos meus irmãos Sara, Noé e Esdras, por vibrarem com cada vitória minha. Vocês

são essenciais!

Aos amigos que acreditaram que este sonho seria possível. Se fosse para citar

todos, não caberiam aqui, nem nos dedos da mão. Entretanto, destaco Isabelle,

Yanna e Adailton, pelo apoio de sempre e por serem verdadeiros amigos para uma

vida inteira. Estão guardados do lado esquerdo do peito!

Ao município de Natal, pela acolhida e graciosidade ao receber os novos moradores.

Sou natalense de coração!

À minha terra, Pau dos Ferros, por toda experiência lá adquirida (pessoal e

profissional) e por ser conterrânea de um povo tão lutador e determinado.

Ao PPGSCOL/UFRN, pela oportunidade, seriedade e compromisso com os alunos.

Muito me orgulho de ser uma a mais para somar junto à Saúde Coletiva.

À minha orientadora, professora Maísa Paulino, por aceitar guiar um projeto

idealizado por mim e por tê-lo feito com tanta maestria.

Aos professores e funcionários do PPGSCOL, pelo zelo e sabedoria ao conduzir

nosso aprendizado.

Às professoras que aceitaram participar das minhas bancas de qualificação e de

defesa, Soraya Medeiros e Gisetti Brandão. Minha gratidão pela disponibilidade e

pelas incontáveis contribuições!

Aos meus colegas e amigos conquistados no PPGSCOL, com destaque para

aqueles com quem realmente dividi os melhores e mais tensos momentos, nas

angústias diárias do aprendizado, nas disciplinas, nas coletas de dados, nas

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conversas e nos cafés: Héllyda, Tatiana, Mariana, Lídia, Layanne, Brunna e Adriano.

A parceria não acaba aqui!

Aos participantes da pesquisa, por tornarem possível minha idealização e por

acreditarem que a Saúde Pública também é ciência.

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“Liderar não é um dom, é virtude, e qualquer um pode liderar alguma coisa, embora

ninguém seja capaz de liderar qualquer coisa. Liderança é circunstancial, não adianta saber

cantar se não tiver a oportunidade de fazê-lo”.

“O líder precisa ser inspirador e sair do óbvio”.

Mário Sérgio Cortella

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RESUMO

A Vigilância em Saúde faz parte do arcabouço das propostas do Sistema

Único de Saúde (SUS), contemplando as ações da Vigilância Epidemiológica,

Vigilância Sanitária, Vigilância Ambiental e Vigilância em Saúde do Trabalhador,

com foco na prevenção de doenças e na promoção da saúde. Nesse sentido, esta

pesquisa teve como objetivo analisar as concepções e as práticas da Vigilância em

Saúde, sob a ótica dos gestores. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa,

realizado junto a 11 gestores, por meio de entrevistas com roteiro semiestruturado,

no período de outubro a dezembro de 2016. A partir do material coletado, foram

constituídos dois corpus para análise. O primeiro foi submetido ao programa

Iramuteq e gerou três classes. O segundo corpus foi submetido à análise de

conteúdo de Laurence Bardin e originou duas categorias temáticas: “Concepções

sobre Vigilância em Saúde” e “Práticas da Vigilância em Saúde”, discutidas à luz do

referencial teórico adotado. Os resultados demonstram que os gestores

compreendem Vigilância em Saúde como um modelo indispensável para o SUS,

além de apontar para a realização de planejamento coletivo. Contudo, verificam-se

contradições ao mencionarem que as ações desenvolvidas são desarticuladas entre

os setores e, portanto, necessitam da implantação de estratégias capazes de

impactar sobre a efetividade da articulação. Há, também, relatos de precariedade

das condições de trabalho, de número insuficiente de recursos humanos e de

fragilidade no setor da saúde do trabalhador. Com vistas a superar tais limitações,

sugere-se o engajamento de apoiadores, gestores, profissionais e controle social em

torno de um amplo debate, na perspectiva de promover novos saberes e fazeres

capazes de transformar o atual modelo de atenção no tocante à Vigilância em

Saúde.

Palavras-chave: Vigilância em saúde pública. Gestores de Saúde. Promoção da

Saúde.

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ABSTRACT

The Health Surveillance is part of the proposals framework of the Health Unique

System (Sistema Único de Saúde, SUS), contemplating the actions of the

Epidemiological Surveillance, Sanitary Surveillance, Environmental Surveillance,

Occupational Health Surveillance, focusing in disease prevention and the health

promotion. This research aims to analyze conceptions and practices of the Health

Surveillance, from the conceptions of the managers. For the study, we used a

qualitative approach, carried out with 11 managers, from the interviews with semi-

structured script, carried out during October and December 2016. From the material

collected, two corpus were constituted to analysis. The first was submitted to the

program Iramuteq and was generated three categories. The second corpus was

submitted the analysis of the Laurence Bardin's content and was originated two

thematic categories: “Conceptions about the Health Surveillance” and “Practices of

the health in Surveillance”, discussed from the theoretical framework. The results

demonstrate that the managers understand Health Surveillance as an indispensable

model to SUS, in addition pointing to the realization of the collective planning.

However, there are contradictions when the managers mentioning that the developed

actions are disarticulated between the sectors and, thus, they need the

implementation of strategies capable of the impacts about the effectiveness of the

articulation. There are also, reports of precarious working conditions, insufficient

human resources and fragility in the worker health sector. From this reality, it’s

necessary the support of the supporters, managers, professionals and social control

around a broad debate, with the perspective of promoting new knowledge and

actions capable of transforming the current model of care in relation to Health

Surveillance.

Keywords: Health Surveillance. Health Managers. Health Promotion.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Participantes da pesquisa, Natal, 2016 …………………………………… 45

Figura 2 – Ilustração das fases, classes e categorias, Natal, 2016 ...........…...…… 48

Figura 3 – Dendograma Classificação Hierárquica Descendente, Natal, 2016 …... 50

Figura 4 – Dendograma obtido a partir da CHD, Natal, 2016 ………………….…… 56

Figura 5 – Árvore máxima de palavras obtida através da análise similitude, Natal,

2016 ……………………………………………………………………………………...… 58

Figura 6 – Nuvem de palavras, Natal, 2016 …………………………………………… 59

Figura 7 – Concepções sobre Vigilância em Saúde, Natal, 2016 …………...…....... 61

Figura 8 – Práticas da Vigilância em Saúde, Natal, 2016 ………………………..….. 64

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Seleção das palavras, frequência e x² de acordo com as classes,

Natal, 2016 ……..........................……………………......................... 50

Quadro 2 Divisão do corpus em categorias e subcategorias, Natal, 2016 ...... 52

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12

2 OBJETIVOS .............................................................................................. 16

2.1 OBJETIVO GERAL..................................................................................... 16

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................... 16

3 MARCO TEÓRICO .................................................................................... 17

3.1 POLÍTICA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE EM FOCO:

CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS...............................................................

17

3.2 DA VOZ À VEZ: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO GESTOR EM

SAÚDE E SOBRE A GESTÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE....................

32

4 METODOLOGIA........................................................................................ 43

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO............................................................ 43

4.2 CAMPO DO ESTUDO................................................................................ 43

4.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA.............................................................. 44

4.4 INSTRUMENTOS DA PESQUISA E COLETA DE DADOS....................... 46

4.5 ESTAPAS DA PESQUISA E ANÁLISE DO MATERIAL ............................ 47

4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS...................................................................... 53

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................... 54

5.1 PERFIL DOS GESTORES......................................................................... 54

5.2 ANÁLISE DO CORPUS COM O AUXÍLIO DO IRAMUTEQ ...................... 56

5.3 A VOZ DOS GESTORES DOS SETORES DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE,

CATEGORIZADA EM ANÁLISE ................................................................

60

5.3.1

5.3.1.1

5.3.1.2

Concepções sobre Vigilância em Saúde ...................................................

Ações de promoção da saúde e prevenção de doenças...........................

Campo da saúde coletiva ..........................................................................

60

61

62

5.3.2

5.3.2.1

5.3.2.2

5.3.2.3

Práticas da Vigilância em Saúde ...............................................................

Planejamento coletivo e ações desarticuladas ..........................................

Localizações físicas dos setores................................................................

Insuficiência de Recursos Humanos e precarização das condições de

trabalho.......................................................................................................

63

64

70

71

5.3.2.4

5.3.2.5

Fragilidade no setor da saúde do trabalhador ...........................................

Satisfação com a qualificação da equipe ..................................................

73

74

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 76

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 78

APÊNDICES............................................................................................... 86

ANEXOS ................................................................................................... 94

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1 INTRODUÇÃO

A gestão na área de saúde exerce função fulcral em um país, considerando

que, se somada às ações de promoção à saúde e prevenção de doenças, ela

impacta diretamente a qualidade dos serviços ofertados à população, isto é, incidir

em uma saúde pública resolutiva.

“O campo da Saúde Coletiva abrange então o estudo das condições de

saúde, a formulação de políticas públicas, a reorganização do processo de trabalho,

como a avaliação das práticas e serviços de saúde” (ARREAZA; MORAES, 2010, p.

2222).

Desde a Constituição Federal de 1988, pode-se perceber um cenário de

iniciativas para inserção de políticas de saúde que vislumbram a promoção da saúde

e prevenção de doenças. Alguns marcos foram significativos como, por exemplo, o

Pacto pela Saúde em 2006 para a consolidação da portaria 1378/GM/MS, a qual

define compromissos significativos para a construção do Sistema Nacional de

Vigilância em Saúde.

De acordo com o Ministério da Saúde, “os gestores estaduais e municipais,

ao definirem a aplicação dos recursos, devem considerar as ações relacionadas à

Vigilância em Saúde que estão destacadas como prioridades no Pacto pela Saúde”

(BRASIL, 2010, p.15).

Nesse universo, surgiu a Vigilância em Saúde como proposta do Ministério

da Saúde de nortear ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.

Embora seja uma estratégia relativamente recente, ela tem base em diretrizes

históricas do SUS e, especialmente, fundamenta-se na integralidade, na prevenção

de agravos e nas condições de vida da sociedade, as quais são transformações

estruturantes que vêm desde os ideais da Reforma Sanitária da década de 70.

A vigilância em saúde objetiva a análise permanente da situação de saúde

da população e, consequentemente, a organização e execução de ações, medidas e

procedimentos oportunos e pertinentes ao controle de determinantes, riscos e danos

à saúde da população, incluindo abordagens individuais e coletivas dos problemas

identificados (BRASIL, 2011a).

Ela faz parte do arcabouço das políticas do Sistema Único de Saúde e

engloba ações da Vigilância Epidemiológica, Vigilância Sanitária, Vigilância

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Ambiental e Vigilância em Saúde do Trabalhador. É um setor que abrange várias

vertentes no tocante à prevenção de doenças e promoção da saúde por meio da

análise da situação de saúde da população. A compreensão do campo da vigilância

em saúde perpassa pela reflexão do conceito ampliado de implementação de ações

no escopo da atenção primária em saúde, possibilitando planejamento e execução

de ações de acordo com as necessidades da população.

As informações produzidas oferecem subsídios importantes para estimar a

magnitude dos problemas de saúde, prognosticar a evolução do estado de saúde

presente na coletividade e, oportunamente, propor ações de saúde apropriadas

(ARREAZA; MORAES, 2010, p. 2219).

É fundamental que haja uma boa articulação entre os setores da Vigilância

em Saúde para subsidiar todas as intervenções e fortalecer essa política diante das

ações e serviços no SUS. Nessa linha de raciocínio, Oliveira e Cruz (2015) reforçam

que a proposta de cada uma das vigilâncias emerge no sentido de compartilhar

atribuições e responsabilidades, sem abandonar a especificação técnica de cada

uma das áreas, e implica em novos papéis, bem como em relações e práticas

inovadoras em todos os níveis do sistema, o que denota o quanto a implementação

é desafiadora e complexa, tanto no âmbito político quanto no técnico-operacional.

Para respaldar a efetivação de tal sistema, os municípios foram valorizados,

assim como todos os serviços municipais direcionados para a saúde da

comunidade, entre eles, os de Vigilância em Saúde, representantes da “inteligência

sanitária” desse complexo contexto. Essas propostas inovadoras desenham novos

caminhos para os modelos de gestão aplicáveis ao setor, os quais pretendem

redundar, em última análise, em menos desperdício e maior agilidade nas decisões

e respostas para melhoria da qualidade dos serviços oferecidos aos munícipes

(BOCCATTO, 2012).

Nesse sentido, torna-se relevante a contribuição do gestor da vigilância em

saúde na compreensão do seu papel diante da condução do sistema. Para Costa et

al. (2013, p.1212), “a Vigilância em Saúde pode ser entendida como um subsistema

do Sistema Nacional de Saúde e, como tal, as preocupações em torno da

qualificação dos processos de gestão se fazem presentes”. Nesse contexto,

conhecer a percepção dos gestores se constitui como caminho fundamental para o

entendimento dos problemas (LORENZETTI et al., 2014).

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Um gestor precisa conhecer o escopo de sua gestão com domínio técnico,

operacional, mas, principalmente, com atributos de liderança, articulação e

capacidade de administração de recursos financeiros, de logística/infraestrutura e da

condução de uma equipe técnica/humana.

Martins e Waclawovsky (2015) corroboram essa assertiva ao afirmarem que

o setor público precisa de gestores ágeis, flexíveis, que consigam organizar,

estruturar, planejar e avaliar, bem como reconhecer os problemas que carecem de

ser resolvidos. Os autores discorrem ainda sobre a necessidade de os gestores

conhecerem e terem acesso a informações de natureza técnico-científica e político-

institucional, a fim de agregarem conhecimentos e formularem programas e projetos

capazes de intervir no estado de saúde da população.

A publicação da Portaria nº 3252 do Ministério da Saúde, de 22 de

dezembro de 2009, embasou ainda mais a articulação entre as vigilâncias. Ela

aprovou as diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em

Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios e apresentou outras

providências. Através dela, ficou mais evidente a indissociabilidade das ações das

vigilâncias: epidemiológica; sanitária; ambiental; saúde do trabalhador; situação de

saúde e promoção da saúde. O principal foco é o controle de riscos e danos à saúde

de populações nos seus respectivos territórios, assim como priorizar os

determinantes sociais de forma a garantir a integralidade da atenção, perpassando

pela abordagem individual e coletiva das necessidades de saúde da população.

Como parte estruturante desse processo legal e histórico, tem-se a portaria

nº 1.378, de 9 de julho de 2013, que regulamentou as responsabilidades e definiu

diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela

União, Estados, Distrito Federal e Municípios, relativas ao Sistema Nacional de

Vigilância em Saúde e Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2013b).

Diante desse contexto, para se compreender o universo da vigilância em

saúde, faz-se necessário acessar os conhecimentos e as práticas que perpassam o

âmbito deste serviço de saúde. Ademais, é imprescindível considerar as concepções

dos gestores acerca deste modelo de atenção à saúde, tendo em vista que um

gestor público deve exercer a liderança e tomar decisões, o que incide diretamente

na execução e construção de políticas públicas.

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15

Nessa direção, este estudo partiu do seguinte questionamento: Como se

configuram, no âmbito da vigilância em saúde do estado do Rio Grande do Norte e

do município de Natal, as práticas dos seus gestores? Por meio do qual, buscou-se

investigar as concepções e as práticas dos gestores do setor de Vigilância em

Saúde.

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16

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar as concepções e as práticas da Vigilância em Saúde sob a ótica

dos gestores.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Discutir as concepções e as práticas dos gestores que atuam na

Vigilância em Saúde;

Identificar a articulação entre os serviços e as ações de Vigilância em

saúde;

Conhecer as dificuldades e facilidades da implementação da Vigilância

em Saúde.

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17

3 MARCO TEÓRICO

3.1 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE EM FOCO:

CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS

A Vigilância em Saúde engloba ações da Vigilância Epidemiológica,

Vigilância Sanitária, Vigilância Ambiental e Vigilância em Saúde do Trabalhador. É

um setor que abrange diversas vertentes no tocante à prevenção de doenças e

promoção da saúde, especialmente, no que concerne às ações a serem executadas

no âmbito municipal.

Acerca do conceito de Vigilância em saúde, Brasil (2010) destaca que inclui:

a vigilância e o controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e

agravos não transmissíveis; a vigilância da situação de saúde; vigilância ambiental

em saúde; vigilância da saúde do trabalhador e a vigilância sanitária.

Para adentrar no universo da Vigilância em Saúde, é fundamental o

reconhecimento do histórico que emerge essa política. Dessa forma, a Portaria nº

3252 do Ministério da Saúde, de 22 de dezembro de 2009, aprovou as diretrizes

para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela União,

Estados, Distrito Federal e Municípios.

Nessa perspectiva, destaca-se que, na Portaria em questão, a Vigilância em

Saúde (VS) se inseriu normativamente no Pacto pela Saúde, trazendo reflexões a

respeito da participação da VS no planejamento do Sistema Único de Saúde (SUS),

colocando-a como parte desse processo e integrando instrumentos e prazos;

definindo estratégias de integração com a atenção, em especial, com a atenção

primária à saúde (BRASIL, 2010).

Ainda sobre a portaria supracitada, em seu artigo 2º, dispõe que a Vigilância

em Saúde se constitui de ações de promoção, vigilância, proteção, prevenção e

controle das doenças e agravos à saúde da população, abrangendo:

I - vigilância epidemiológica: vigilância e controle das doenças transmissíveis, não transmissíveis e agravos, como um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças e agravos;

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18

I - promoção da saúde: conjunto de intervenções individuais, coletivas e ambientais responsáveis pela atuação sobre os determinantes sociais da saúde; I - vigilância da situação de saúde: desenvolve ações de monitoramento contínuo do País, Estado, Região, Município ou área de abrangência de equipes de atenção à saúde, por estudos e análises que identifiquem e expliquem problemas de saúde e o comportamento dos principais indicadores de saúde, contribuindo para um planejamento de saúde mais abrangente; IV - vigilância em saúde ambiental: conjunto de ações que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores ambientais de risco relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde; V - vigilância da saúde do trabalhador: visa à promoção da saúde e à redução da morbimortalidade da população trabalhadora por meio da integração de ações que intervenham nos agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processos produtivos; e VI - vigilância sanitária: conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços do interesse da saúde, abrangendo o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo, e o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde (BRASIL, 2009a).

Assim, é indispensável a compreensão de cada conceito supracitado, visto

que respaldam todo o processo inerente à vigilância em saúde. A partir deles, pode-

se perceber a amplitude da vigilância enquanto proposta inovadora. Somente de

posse desse conhecimento é que se tem noção do imenso escopo dessa estratégia

componente do Sistema Único de Saúde (SUS).

O Pacto pela Saúde foi uma importante ferramenta lançada pelo Ministério

da Saúde no ano de 2006, por meio da portaria nº 399, de 22 de fevereiro. Ela

divulgou o Pacto pela Saúde e aprovou as Diretrizes Operacionais do referido pacto,

estratégia determinante para os rumos das políticas do SUS, não sendo diferente

para a área da Vigilância em saúde. Esse grande pacto, composto pelo Pacto pela

Vida; Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão do SUS, apresenta diretrizes e

prioridades a serem efetivadas pelos gestores por meio do Termo de Compromisso

de Gestão.

Os Termos de Compromisso de Gestão estabelecem que compete aos

municípios a responsabilidade não compartilhada da atenção básica e das ações

básicas de vigilância em saúde e que as atividades compartilhadas devem ser

pactuadas na Comissão Intergestores Bipartite, entre os municípios e o Estado,

norteando-se pelo princípio da regionalização, da rede de serviços, das tecnologias

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disponíveis e do desenvolvimento racionalizado de ações mais complexas. Ainda,

propõe que os estados e a união devem apoiar os municípios para que eles

assumam o conjunto de responsabilidades (BRASIL, 2006).

Com o advento desse instrumento, ficou mais evidente o processo de

Regionalização, o qual se enraizou como um princípio doutrinário do SUS e tomou

por base o processo de territorialização, processo considerado fundamental na área

da vigilância em saúde e executado pela esfera municipal.

A territorialização é a base do trabalho das equipes de atenção básica para

a prática da vigilância em saúde, caracterizando-se por um conjunto de ações, no

âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a

prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção

da saúde (BRASIL, 2010).

Assim, é salutar destacar que, para o fortalecimento das ações em saúde

pública, faz-se indispensável a intersetorialidade, pois essa característica propicia a

articulação, possibilitando a garantia da integralidade das ações e serviços no

âmbito do SUS.

Já a portaria nº 1.378, de 9 de julho de 2013, do Ministério da Saúde,

regulamenta as responsabilidades e define diretrizes para execução e financiamento

das ações de Vigilância em Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, relativas ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e Sistema

Nacional de Vigilância Sanitária. Em seu artigo 3º, que trata dos princípios gerais,

afirma que “as ações de Vigilância em Saúde são coordenadas com as demais

ações e serviços desenvolvidos e ofertados no Sistema Único de Saúde (SUS) para

garantir a integralidade da atenção à saúde da população” (BRASIL, 2013b).

Essa portaria evidencia a competência de cada ente federado sob as ações

de vigilância em saúde. Atribui, em seu artigo 5º, através do Ministério da Saúde, a

gestão das ações de vigilância em saúde no âmbito da União, cabendo: I - à

Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS) a coordenação do Sistema Nacional

de Vigilância em Saúde; e II - à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a

coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Em seu artigo 9º, destaca

que compete às Secretarias Estaduais de Saúde a coordenação do componente

estadual dos Sistemas Nacionais de Vigilância em Saúde e de Vigilância Sanitária,

no âmbito de seus limites territoriais, de acordo com as políticas, diretrizes e

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prioridades estabelecidas. E, em seu artigo 11, afirma que compete às Secretarias

Municipais de Saúde a coordenação do componente municipal dos Sistemas

Nacionais de Vigilância em Saúde e de Vigilância Sanitária, no âmbito de seus

limites territoriais, de acordo com as políticas, diretrizes e prioridades estabelecidas.

É preciso destacar que a portaria supracitada contribuiu de forma

significativa com o Sistema de Vigilância em Saúde, visto que criou o Programa de

Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde - PQA-VS, regulamentado pelas

portarias nº 1.708/GM/MS, de 16 de agosto de 2013, nº 2.778/GM/MS, de 18 de

dezembro de 2014, e nº 328/GM/MS, de 07 de março de 2016. O programa definiu

compromissos e responsabilidades a serem assumidos pelas três esferas de

governo, expressos por meio de metas preestabelecidas: a federal, com

financiamento e apoio técnico; a estadual e a municipal, em busca da

implementação de ações que assegurem a efetivação dessas metas.

As diretrizes do PQA-VS englobam: I - o processo contínuo e progressivo de

melhoria das ações de vigilância em saúde que envolva a gestão, o processo de

trabalho e os resultados alcançados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios; II -

a gestão baseada em compromissos e resultados, expressos em metas de

indicadores pactuados, constantes do Anexo I a essa Portaria; e III – a adesão

voluntária de Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 2013a).

No processo de registro histórico da legislação da vigilância em saúde, é

pertinente compreendermos o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde (SNVS),

coordenado pela SVS/MS no âmbito nacional e integrado pelos seguintes

subsistemas: I) subsistema nacional de vigilância epidemiológica, de doenças

transmissíveis e de agravos e doenças não transmissíveis; e II) subsistema nacional

de vigilância em saúde ambiental, incluindo ambiente de trabalho.

Além disso, são integrantes do SNVS: o Sistema Nacional de Laboratórios

de Saúde Pública, nos aspectos pertinentes à vigilância epidemiológica e saúde

ambiental; os sistemas de informações de vigilância em saúde; programas de

prevenção e controle de doenças de relevância em saúde pública, incluindo o

Programa Nacional de Imunizações; e, ainda, a Política Nacional de Saúde do

Trabalhador e Política Nacional de Promoção da Saúde (Brasil, 2010).

A portaria nº 2.057, de 21 de outubro de 2016, atualiza os valores do Piso

Fixo de Vigilância em Saúde do Componente de Vigilância em Saúde do Bloco de

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Vigilância em Saúde, com base na Estimativa Populacional do IBGE para 2015,

definindo doravante os valores do Piso Fixo de Vigilância em Saúde das 27 (vinte e

sete) Unidades Federadas. Em seu artigo 2º, afirma que ficam definidos os valores

do Piso Fixo de Vigilância em Saúde, os quais serão transferidos em parcelas

mensais, correspondentes a 1/12 (um doze avos) dos valores pactuados para os

Fundos Estaduais de Saúde. E, em seu art. 3º, expõe que ficam definidos que os

valores anuais do Piso Fixo de Vigilância em Saúde, destinados aos Fundos Distrital

e Municipal de Saúde, serão transferidos em parcelas mensais (BRASIL, 2016).

Dessa forma, salienta-se que, remeter-se à historicidade, é significante para

o entendimento da conjuntura atual. Aqui, não se tratou da construção de uma linha

formativa histórica. Entretanto, considerou-se as raízes constituintes do setor de

Vigilância em Saúde, com fundamentos elencados como importantes para essa

estratégia, no sentido de permitir uma aproximação aos rumos contemporâneos da

elucidação de uma política.

Brasil (2010) aprofunda a reflexão conceitual sobre a Vigilância em Saúde e

defende que ela tem por objetivo a observação e análise permanentes da situação

de saúde da população, articulando ações destinadas a controlar determinantes,

riscos e danos à saúde de populações em seus territórios; garantindo-se a

integralidade da atenção, contemplando a abordagem individual e coletiva dos

problemas de saúde.

Os Determinantes Sociais em Saúde (DSS) permeiam os processos de

promoção da saúde e prevenção de doenças e são referenciados de forma relevante

no Brasil, especialmente, desde o final da década de 70, após a Conferência de

Alma-Ata. O modelo que ficou mundialmente reconhecido foi de Dahlgren e

Whitehead, o qual distribui os DSS dispostos em camadas distintas, nas quais os

indivíduos formam a base. A camada mais próxima foram os determinantes

individuais. Em seguida, apresenta-se a camada social e comunitária e, logo após,

uma camada mais distal, na qual se situam os macrodeterminantes e são incluídas

as condições socioeconômicas, culturais e ambientais.

Uma das preocupações centrais relativas à atuação sobre os determinantes

sociais em saúde é promover políticas intersetoriais que tenham na sua formulação

a preocupação com os impactos sobre a saúde e na redução das desigualdades

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sociais. Essa preocupação é frequentemente traduzida pelo lema “Saúde em todas

as políticas” (BARATA, 2013).

Assim sendo, a classificação dos Determinantes Sociais em Saúde deverá

ser considerada dentro da política de vigilância em saúde, visto que ela engloba

diversas vertentes da saúde dos indivíduos, acrescendo aporte teórico-operacional

ao setor.

Assim, faz-se necessário avançar na epistemologia dos conceitos

estruturantes da Vigilância em Saúde, a fim de embasar a análise dessa proposta do

SUS. A abordagem a seguir será permeada pelo aprofundamento dos setores da

vigilância epidemiológica, sanitária, ambiental e saúde do trabalhador; entendidos,

pois, como componentes estruturantes do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde

e, por esta razão, é indispensável uma abordagem mais detalhada.

Acerca da história da Vigilância em Saúde, Sevalho (2016) pontua que ela faz

parte de um cenário de consolidação de um modelo hegemônico marcado por

elementos consagrados internacionalmente e, como tal, insere-se no âmbito

epistemológico de uma ordem paradigmática dominante e representa marcas

simbólicas, tradições de determinado campo organizacional de prática e

conhecimento.

A lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições

para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o

funcionamento dos serviços correspondentes, além de dar outras providências,

conceitua a vigilância epidemiológica como sendo “um conjunto de ações que

proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos

fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a

finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle de doenças

ou agravos” (BRASIL, 1990).

Com o referido conceito ampliado pela Lei Orgânica da Saúde (8080/90), as

ações de vigilância epidemiológica imergiram no contexto de reorganização do

sistema de saúde brasileiro, no qual passaram a ser operacionalizadas por meio da

descentralização de responsabilidades, pela universalidade, integralidade e

equidade na prestação de serviços (BRASIL, 2009c).

Rouquayrol (1993) considera que a vigilância epidemiológica é uma ciência

que estuda o processo saúde-doença na sociedade, considerando a análise da

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distribuição populacional, os fatores determinantes, os danos à saúde e os eventos

associados à saúde coletiva, de forma a propor medidas específicas de prevenção,

controle ou erradicação de doenças, assim como fornecer indicadores que norteiem

o planejamento e a avaliação das ações de saúde.

O Ministério da Saúde afirma que a expressão vigilância epidemiológica

passou a ser aplicada ao controle das doenças transmissíveis na década de 1950,

inserida no processo de Campanha de Erradicação da Malária. Originalmente,

significava “a observação sistemática e ativa de casos suspeitos ou confirmados de

doenças transmissíveis e de seus contatos”. Portanto, era pautada na vigilância de

pessoas, com base em medidas de isolamento ou de quarentena, aplicadas

individualmente, e não de forma coletiva (BRASIL, 2009c).

Para enfrentar esses desafios, é fundamental a informação epidemiológica.

Sem uma vigilância epidemiológica moderna e adequada à nova dinâmica da

morbidade e da mortalidade no Brasil, será impossível encaminhar soluções

oportunas e adequadas aos graves problemas apontados (ARAÚJO, 2012).

Assim, é notória a percepção de que a vigilância epidemiológica foi

construída com bases sólidas e de que é reconhecida por ser um dos primeiros

campos de intervenção no processo saúde-doença de uma comunidade, em um

dado território.

A Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil – OPAS – (2010) aborda

dois modelos de causalidade universalizados em epidemiologia: a Tríade

Epidemiológica e o modelo de Causas Componentes. Ela ratifica que a Tríade

Epidemiológica é o modelo tradicional de causalidade das doenças transmissíveis,

no qual a doença é o resultado da interação entre o agente, o hospedeiro suscetível

e o ambiente. Já o Modelo de Componentes Causais entende que a doença se

produz por um conjunto mínimo de condições que agem em sintonia e incluem os

fatores do agente, hospedeiro e ambiente da tríade epidemiológica, assim como

também do modelo de determinantes da saúde.

Esses modelos de causalidades são potenciais influenciadores dos

processos de atuação da epidemiologia nos serviços de saúde. Nessa perspectiva, o

papel da epidemiologia é importante tanto na determinação dos nexos e

mecanismos causais subjacentes à proposta de intervenção quanto na avaliação

dos impactos alcançados. Tecnologias próprias das práticas epidemiológicas, como

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a vigilância e o monitoramento, podem ser úteis na implementação dessas ações

(BARATA, 2013).

Há que se atentar ainda para outra tríade reconhecida no ramo da Vigilância

Epidemiológica: “informação-decisão-ação”. Brasil (2009c) afirma que a informação

é o fator desencadeante dessa tríade que sintetiza a dinâmica de suas atividades, as

quais devem ser iniciadas a partir da informação de um indício ou suspeita de caso

de alguma doença ou agravo (BRASIL, 2009c).

Nesse sentido, o papel da vigilância epidemiológica perpassa por vários

setores da saúde, pois está atrelado à responsabilidade da dinâmica dos agravos e

doenças, bem como de sua prevenção e medidas de controle.

“Subsidiariamente, a vigilância epidemiológica constitui-se em importante

instrumento para o planejamento, a organização e a operacionalização dos serviços

de saúde, bem como para a normatização de atividades técnicas correlatas”

(BRASIL, 2009c, p. 18).

Assim, torna-se evidente o trabalho da epidemiologia nos serviços de saúde,

uma vez que apresenta histórico de um processo de trabalho que contribuiu para a

minimização dos danos à saúde da população e, gradativamente, firmou-se

enquanto área de conhecimento, atuação e pesquisa, com uma inenarrável

contribuição social.

Com o novo cenário mundial de industrialização e globalização, emergiram

os impactos ambientais e, com eles, o novo perfil de adoecimento que compreendia

a interação dos ambientes na vida dos cidadãos. A partir dessas novas demandas,

nasceu a Vigilância em Saúde Ambiental (VSA).

Historicamente, é um setor que vem conquistando espaços desde a

Constituição Federal de 1988 que, em seu artigo 225, afirmava que “todos têm

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. Somando-se a essa

conquista, adentrou a lei 8080/90, que incluiu o meio ambiente como um fator

determinante e condicionante da saúde, perpassando pela elaboração da Política

Nacional de Vigilância em Saúde, ainda na década de 90, até o decreto nº 3.450, de

9 de maio de 2000, que aprovou o estatuto da FUNASA (Fundação Nacional de

Saúde), estabelecendo como sua competência a gestão do Sistema Nacional de

Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde.

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Assim, a área de Saúde Ambiental foi incorporada ao Ministério da Saúde

para atuar de forma integrada com as vigilâncias sanitária e epidemiológica, no

âmbito da SVS (ROHLFS, 2011).

Além dessas importantes conquistas, a VSA contou com a lei 10.683/03, que

estabeleceu a competência ao Ministério da Saúde de manter a saúde ambiental e

as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde individual e coletiva,

inclusive a dos trabalhadores e dos índios; e, ainda, com a Instrução Normativa 01,

de 07 de março de 2005, que regulamentou a Portaria 1.172/2004/GM, referente às

competências da União, estados, municípios e Distrito Federal na área de vigilância

em saúde ambiental.

Silva Junior (2004, p. 84-85) considera que “o termo vigilância em saúde

representa melhor a prática atual e integra os mais recentes instrumentos

normativos”, e destaca o conceito de Sistema Nacional de Vigilância em Saúde

(SNVS), abrangendo as atividades descritas na Portaria n° 1.172: “I - a vigilância das

doenças transmissíveis, a vigilância das doenças e agravos não transmissíveis e

dos seus fatores de risco, a vigilância ambiental em saúde e a vigilância da situação

de saúde” (BRASIL, 2004).

Na Instrução Normativa 01/05 da SVS, em seu artigo 1º, define-se o

Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental – SINVSA como um

“conjunto de ações e serviços prestados por órgãos e entidades públicas e privadas,

relativos à vigilância em saúde ambiental”. Acrescenta ainda que a finalidade é de

“recomendar e adotar medidas de promoção da saúde ambiental, prevenção e

controle dos fatores de riscos relacionados às doenças e outros agravos à saúde,

em especial: I. água para consumo humano; II. ar; III. solo; IV. contaminantes

ambientais e substâncias químicas; V. desastres naturais; VI. acidentes com

produtos perigosos; VII. fatores físicos; e VIII. ambiente de trabalho” (BRASIL, 2005).

O decreto nº 7.336, de 19 de outubro de 2010, em seu artigo 41, refere as

competências do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do

Trabalhador: I - gerir o Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental,

incluindo ambiente de trabalho; II - coordenar a implementação da política e o

acompanhamento das ações de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do

Trabalhador; III - propor e desenvolver metodologias e instrumentos de análise e

comunicação de risco em vigilância ambiental; IV - planejar, coordenar e avaliar o

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processo de acompanhamento e supervisão das ações de vigilância em Saúde

Ambiental e Saúde do Trabalhador; e V - gerenciar o Sistema de Informação da

Vigilância Ambiental em Saúde (BRASIL, 2011b).

Brasil (2002) expõe um conceito ampliado sobre Vigilância Ambiental:

A Vigilância Ambiental em Saúde é um conjunto de ações que proporciona o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou outros agravos à saúde, em especial, as relativas a vetores, reservatórios e hospedeiros, animais peçonhentos, qualidade da água para consumo humano, contaminantes ambientais, desastres naturais, acidentes com produtos perigosos, saneamento básico, disposição de dejetos humanos e animais e condições habitacionais (BRASIL, 2002, p. 18-19).

A partir da compreensão desse conceito, é perceptível a contribuição desse

setor para a saúde pública contemporânea, visto que os riscos à saúde permeiam os

ambientes, requerendo reconhecimento, identificação e proteção dos sujeitos

envolvidos nesses ambientes.

Mesmo com a divisão operacional entre fatores de risco biológicos e não

biológicos, estabelecida pela Secretaria de Vigilância Ambiental, torna-se

imprescindível um compartilhamento teórico-metodológico por meio de um desenho

organizacional capaz de permitir que as ações ocorram articuladas e integradas com

os demais instrumentos das vigilâncias. Essa configuração poderá permitir uma

abordagem mais ampliada dos problemas ambientais que, na sua origem, possuem

múltiplos fatores que interagem e são interdependentes, para dar conta da

integralidade na proteção contra os riscos (OLIVEIRA; CASANOVA, 2009).

Rohlfs (2011) defende a missão da Vigilância Ambiental de consolidar o

SUS, pautando-se na intersetorialidade e na interdisciplinaridade. O autor ainda

discorre sobre a contribuição da Vigilância em Saúde Ambiental para a consolidação

da Vigilância em Saúde, enfatizando que a VSA, articulada com referenciais teóricos

que dialogam com modelos e sistemas complexos, vem possibilitando a construção

e interpretação de vulnerabilidades socioambientais enquanto evidência da

complexa trama de determinação da saúde.

Compreendendo com afinco o que Brasil (2002, p. 13) afirma: “os riscos

ambientais desconhecem fronteiras políticas e econômicas”, é necessário refletir

sobre a contribuição da Vigilância em Saúde Ambiental no tocante à linha de

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prevenção de doenças e promoção da saúde, adotada como uma estratégia

fundamental para a transformação do perfil de morbimortalidade no Brasil.

No capítulo referente aos objetivos e atribuições do SUS, a Lei 8080/90

discorre sobre a vigilância sanitária como sendo um conjunto de ações capazes de

eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários

decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de

serviços de interesse da saúde. Ainda, inclui o controle de bens de consumo que,

direta ou indiretamente, relacionam-se com a saúde, compreendidas todas as

etapas e processos, da produção ao consumo; e o controle da prestação de serviços

que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde (BRASIL, 1990).

“Em todas as épocas, ocorreram intervenções do Poder de Autoridade sobre

as práticas de cura, os medicamentos, os alimentos, a água e o ambiente” (COSTA,

2009).

A Vigilância Sanitária (VISA) no Brasil é regulada pela Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA). No art. 3o da Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999,

foi disposta a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA,

autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde, com sede e foro no

Distrito Federal, prazo de duração indeterminado e atuação em todo território

nacional (BRASIL, 1999).

O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) é responsável por

consolidar as ações da Vigilância Sanitária. Sempre cabe um exercício reflexivo,

crítico e criativo acerca das finalidades da vigilância sanitária, visando avançar na

organização do SNVS, na perspectiva da efetividade das ações de vigilância para a

produção da saúde coletiva e da participação social na construção desse sistema.

Principalmente, na melhoria dos processos de trabalho e do acesso à informação

(FONSECA, 2013).

Reconhecida pelo poder de polícia, a VISA atua na fiscalização dos bens de

consumo. Contudo, não pode ficar limitada à função de fiscalização, devendo

ampliar suas ações para que, respeitando os princípios da equidade, integralidade e

universalidade, possa atuar no processo de mudança, promovendo saúde e

prevenindo doenças (MOUTINHO et al., 2012).

Ainda sobre o exercício do poder de polícia, Costa (2009) corrobora

afirmando que o Estado atua por vários meios. Inicialmente, por atos normativos em

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geral, dentre os quais, menciona-se a lei. Ainda, destaca que, como pode implicar na

adoção de medidas restritivas ao exercício de direitos individuais, à repressão e à

aplicação de penalidades, o princípio da legalidade exige que todas essas atividades

sejam pautadas na lei.

Assim, percebe-se que a história da vigilância sanitária é permeada por

fundamentos legais, os quais permitem uma base sólida no tocante aos

procedimentos e serviços exercidos por esse setor.

A VISA se situa, portanto, no âmbito da intervenção nas relações sociais de

produção-consumo e tem sua dinâmica vinculada ao desenvolvimento científico e

tecnológico e a um conjunto de processos que perpassam o Estado, o mercado e a

sociedade (COSTA, 2009).

Outro componente da Vigilância em Saúde é a Vigilância em Saúde do

Trabalhador (VISAT) que, conforme a Portaria nº 3.120/1998, compreende uma

atuação contínua e sistemática, com o intuito de detectar, conhecer, pesquisar e

analisar os fatores determinantes e condicionantes dos agravos à saúde

relacionados aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico,

social, organizacional e epidemiológico, objetivando planejar, executar e avaliar

intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-los ou controlá-los. (BRASIL,

1998)

Entende-se por saúde do trabalhador, para fins da lei 8080/90 do Ministério

da Saúde, um conjunto de atividades que se destinam, através das ações de

vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos

trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos

trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.

A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, definida

pela Portaria nº 1823/2012, em seu art. 2º, tem por finalidade definir os princípios, as

diretrizes e as estratégias a serem observados nas três esferas de gestão do SUS –

federal, estadual e municipal, para o desenvolvimento das ações de atenção integral

à Saúde do Trabalhador, com ênfase na vigilância, visando à promoção e à proteção

da saúde dos trabalhadores, além da redução da morbimortalidade decorrente dos

modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos (BRASIL, 2012a).

Ainda, em seu art. 6º, essa política dispõe que, para fins de implementação,

dever-se considerar a articulação entre: as ações individuais de assistência e

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recuperação dos agravos, com ações coletivas de promoção, prevenção, vigilância

dos ambientes, processos e atividades de trabalho, e intervenção sobre os fatores

determinantes da saúde dos trabalhadores; as ações de planejamento e avaliação

com as práticas de saúde; e o conhecimento técnico e os saberes, experiências e

subjetividade dos trabalhadores, com as respectivas práticas institucionais.

Com a atuação da VISAT, voltada para a intervenção nos ambientes,

processos e formas de organização do trabalho geradoras de agravos à saúde,

passa-se a incorporar a dimensão preventiva da saúde do trabalhador. Ou seja,

somente com ações interventoras de vigilância é possível interromper o ciclo de

doença e morte no trabalho (VASCONCELLOS et al., 2014).

Acerca dos recursos para o financiamento das ações de promoção,

prevenção, reabilitação e vigilância em saúde do trabalhador, Brasil (2010) mostra

que são oriundos do Bloco de Atenção de Média e Alta Complexidade, o qual

repassa mensalmente R$ 40.000,00 para os Centros de Referência em Saúde do

Trabalhador (Cerest) estaduais e R$ 30.000,00 para os regionais (custeio de todas e

quaisquer ações). Para implantação, estão previstos recursos de R$ 50.000,00, em

parcela única, para todos os centros habilitados (Bloco de Gestão do SUS). E, por

considerar que o trabalhador está submetido a todas as circunstâncias do cidadão,

entende-se que a saúde do trabalhador também é financiada pelos demais blocos.

Faria e Bertollozi (2009) citam diversas lacunas para a implementação nas

práticas de saúde, com destaque para a carência de uma direção política, ideológica

e gerencial, nos níveis micro e macro do sistema de saúde, que permita a

reordenação dos processos de trabalho com a inclusão de novos atores e outros

instrumentos ou meios de trabalho.

Outros autores reforçam também a complexidade da consolidação, tanto do

ponto de vista político quanto técnico-sanitário, estimulando a necessidade de uma

discussão mais ampliada sobre os nós críticos que perpassam a configuração dos

meios de trabalho, os quais ainda se mantêm de forma normativa e centralizadora

(ARREAZA; MORAES, 2010; GONDIM, 2008).

Destarte, adentrar no universo da Vigilância em Saúde é compreender a sua

ampla atuação dentro do SUS. É perpassar pelas mais diversas áreas de

conhecimento, caracterizando os setores implicados nesse processo, somando

visões de linhas de conhecimentos que se complementam. Por isso, a conclusão

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intrínseca de que são setores indissociáveis. E, nesse ínterim, cada agente, cada

sujeito, cada função, cada secretaria e cada setor desempenham papéis relevantes,

com o olhar vigilante sob essa política.

Sobre a função das secretarias, Oliveira e Cruz (2015) afirmam que as

secretarias estaduais de saúde assumiram o papel de supervisão e de assessoria

aos municípios, estimulando o processo de descentralização e de qualificação das

ações de VS, porém ainda sob a forte coordenação da esfera federal, com base em

regulamentação e transferências financeiras. Já as secretarias municipais de saúde,

gradativamente, responsabilizaram-se pela gestão e execução das ações básicas

das vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária, abrangendo os recursos

humanos, com a perspectiva de contribuir para um novo modelo voltado à

consolidação da VS.

Para Aith, Minhoto e Costa (2009, p. 58), “muitas vezes, o interesse

econômico faz com que as atividades estatais de vigilância sejam realizadas de

forma inadequada, potencializando riscos à saúde da população”.

Acerca da temática da fragmentação e seus efeitos para a população,

Lorenzetti et al. (2014, p. 423) afirmam que ela “gera barreiras de acesso,

descontinuidade da atenção, atendimento em lugar não apropriado, com

consequente desorientação, baixa resolutividade e falta de protagonismo na

assistência às suas necessidades”.

Para a organização da vigilância em saúde no país, mostra-se conveniente a unificação dos diversos “sistemas de vigilância” existentes em um só sistema de vigilância em saúde, capaz de reunir todas as informações necessárias para a identificação de riscos em saúde, sejam eles riscos da “vigilância sanitária”, da “vigilância epidemiológica” ou da “vigilância ambiental”. É preciso ainda ampliar a percepção sobre a necessidade de integração dos serviços de vigilância em saúde com os serviços de atenção à saúde, já que os hospitais e postos de saúde são sentinelas importantes na detecção de riscos (AITH; DALLARI, 2009 p. 113).

O Ministério da Saúde destaca que a Vigilância em Saúde deve inserir-se na

construção das redes de atenção à saúde para garantir a integralidade do cuidado.

Ressalta ainda, a integração entre a Vigilância em Saúde e a Atenção Primária à

Saúde como condição obrigatória para o alcance dos resultados, com

desenvolvimento de um processo de trabalho coerente com a realidade local,

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preservando as especificidades dos setores e compartilhando suas tecnologias.

(BRASIL, 2010)

Oliveira e Cruz (2015, p. 264) complementam enfatizando que “o dispositivo

de articulação poderia ser a operacionalização de planos e projetos por áreas afins,

fomentando a produção de ações que potencializem os recursos e tecnologias

disponíveis, dentro de um processo permanente de planejamento, monitoramento e

avaliação”.

Diante desse aspecto, o Ministério da Saúde faz a pertinente indagação:

como enaltecer a Vigilância em saúde? E responde que uma das estratégias

indutoras é a incorporação do agente de combate às endemias (ACE), ou de outros

agentes, inseridos na atenção primária junto com as equipes de saúde da família,

somando-se ações como controle ambiental, endemias, zoonoses e controle de

riscos e danos à saúde. (BRASIL, 2010)

O art. 3º da portaria nº 3.189, de 18 de dezembro de 2009, que dispõe sobre

as diretrizes para a implementação do Programa de Formação de Profissionais de

Nível Médio para a Saúde (PROFAPS), demonstrou a Vigilância em Saúde como

uma das áreas técnicas estratégicas prioritárias para a educação profissional técnica

de nível médio na saúde. Posteriormente, esses profissionais foram formados com o

perfil de conclusão para compreender a complexidade do trabalho em saúde e a

especificidade do trabalho da vigilância em saúde:

compreender o trabalho da vigilância em saúde como atividade

multidisciplinar que se realiza a partir de articulações intra e intersetoriais; contextualizar o trabalho da vigilância como ação pública de responsabilidade do Estado; organizar, em equipe, o processo de trabalho na área da vigilância em saúde considerando a integralidade das ações do SUS; identificar fatores e situações de risco à saúde; utilizar conhecimentos e aportes científicos, técnicos e éticos como bases para o planejamento e a execução de ações e procedimentos específicos, complementares e compartilhados, que caracterizam a vigilância em saúde; compreender que as ações de vigilância em saúde implicam a mediação de interesses, direitos e deveres entre pessoas, grupos, processos e o acesso e consumo de bens e serviços (BRASIL, 2011a, p. 36).

Assim, é notório que esse profissional se tornou um agregador de

conhecimentos teórico-operacionais para a área da Vigilância em Saúde. Entretanto,

o grande desafio é o monitoramento dos egressos desse processo formativo: onde

estão? Como atuam? Mesmo não sendo objetivo deste estudo, deixo aqui a

provocação da necessidade de estudar os egressos do Curso Técnico de Vigilância

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em Saúde para analisar a real efetivação dessa formação profissional no Sistema de

Vigilância em Saúde e, especialmente, na rede e na Atenção Primária à Saúde.

Para Costa et al. (2013, p.1202), “as ações de vigilância em saúde (VS) vêm

passando por profunda reorganização normativa e operacional para adequar-se aos

princípios e diretrizes constitucionais do SUS de descentralização e integralidade”.

Por todas as considerações apontadas, é fundamental a compreensão da

Vigilância em Saúde como um processo, uma política, uma linha epistemológica-

operacional, a qual precisa levar em consideração a amplitude, a integralidade e

articulação entre os setores. Um modelo que deve ser compreendido em sua real

abrangência, não apenas dispondo de diferentes serviços, entretanto,

especialmente, articulando setores, entrelaçando vínculos, somando forças,

otimizando recursos financeiros, priorizando o trabalho coletivo e valorizando a

equipe.

3.2 DA VOZ À VEZ: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DO GESTOR EM SAÚDE

O gestor, em quaisquer linhas de atuação, é sujeito-chave na condução das

políticas públicas de um país, o que não é diferente no Sistema de Vigilância em

Saúde. Os rumos que enraízam uma política perpassam por diversas mãos que,

unidas, definem a qualidade, eficácia e efetivação. O setor da saúde, em especial,

merece destaque pela complexidade que abrange a área.

A área de gestão perpassou por diversos marcos e movimento, respaldados

pela Administração Científica. Diversos autores deixaram seus nomes destacados,

entre eles Frederick W. Taylor (1856-1915), dos Estados Unidos, que contribuiu para

a fundamentação científica dos processos administrativos e, depois dele, muitos

outros colaboraram para sistematização administrativa.

Para Chiavenato (2003), Taylor foi o precursor da moderna organização do

trabalho. O autor evidencia dois momentos de destaque nas contribuições

enraizadas por Taylor. No primeiro momento, foi verificado que o operário médio,

com o equipamento disponível, produzia muito menos do que era potencialmente

capaz e, assim, concluiu que, se o operário mais produtivo percebesse que obtinha

a mesma remuneração que o seu colega menos produtivo, acabaria se

acomodando, perdendo o interesse e não produzindo de acordo com sua

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capacidade. Já no segundo momento, ele concluiu que a racionalização do trabalho

operário deveria ser acompanhada de uma estruturação geral para tornar coerente a

aplicação dos seus princípios na empresa de modo geral.

A teoria administrativa preconizada pelo francês Henri Fayol se originou no

cenário da 2ª Revolução Industrial, com o objetivo de facilitar a gestão e aumentar a

eficiência das empresas através da organização e da aplicação de princípios gerais

da administração com bases científicas. (ARAÚJO et al, 2014)

Pode-se dizer que os princípios da administração científica ainda

permanecem vivos no processo de gestão. Isto é, percebe-se nos dias atuais a

influência dessas teorias na organização do trabalho na sociedade contemporânea,

impactando sobremaneira nos processos de trabalho em saúde, tanto nas tarefas

cotidianas quanto na divisão técnica do trabalho.

Soma-se a essa temática o debate acerca do poder, ou seja, o poder

daqueles que ocupam o cargo de gestores. A esse respeito, evidencia-se a dinâmica

do poder elaborada por Michel Foucault (2007, p. 221), ao sublinhar que “o poder é

mais complicado, muito mais denso e difuso do que um conjunto de leis ou um

aparelho de Estado”. Ao tecer considerações sobre as relações de poder e de saber,

o autor demonstra a conectividade entre essas relações ao afirmar que “não há

relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber, nem saber que

não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder” (FOUCAULT,

2013, p.30). Acrescenta ainda, que os processos constituintes do sujeito determinam

os campos possíveis do conhecimento.

Foucault (2007, p. 71), também discorre sobre os intelectuais e a

população, trazendo uma reflexão que, certamente, ainda permanece atual. Ele

afirma que os “intelectuais descobriram que as massas não necessitam deles para

saber, elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles”. Logo,

alerta-nos para o empoderamento do controle social. A percepção dos gestores e a

tomada de decisões precisam ser representativas dos interesses coletivos, pois a

população, melhor do que ninguém, conhece as próprias necessidades.

Dessa forma, o poder e o saber não devem ser compreendidos e

estabelecidos de forma verticalizada, numa relação de conformação de “superiores

versus subordinados”. Faz-se necessário ampliar o foco de visão, ou seja, perceber

que o conhecimento que permeia as relações é multidirecional (presente em todos

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os setores da sociedade). Torna-se relevante perceber a reciprocidade entre saber e

poder, sobretudo, configurada numa perspectiva relacional e dialógica.

Mendes-Gonçalves (1994), em seu legado sobre processo de trabalho,

discute acerca do saber com que operam os agentes de cura, compreendendo não

apenas como um processo meramente intelectual, mas que se desdobra em

tecnologias materiais (inscritas nas máquinas e instrumentos de trabalho) e em

tecnologias não materiais (conhecimento técnico). Acrescenta que os instrumentos

de trabalho devem ser percebidos como um conjunto da operação do saber a partir

do seu contexto.

Nessa linha de raciocínio, Merhy (1999) discute sobre o processo de

trabalho em saúde trazendo a categoria tecnologias, descrevendo-as como

tecnologias: leves, leve-duras e duras. Refere que o processo de trabalho que faz

uso das tecnologias duras utiliza ferramentas, equipamentos, máquinas e

instrumentos; as leve-duras consideram o saber-estruturado (conhecimento teórico e

modo de aplicação) e as tecnologias leves levam em conta as relações pessoais.

Dessa forma, o processo de trabalho em saúde deve considerar as três vertentes

tecnológicas para produzir qualidade no sistema.

Peduzzi et al (2011) corroboram a discussão com a afirmação de que o

processo de trabalho em saúde é composto pelos objetos de trabalho, resultados de

recortes técnico-sociais das necessidades de saúde, dando origem às ações de

diversos profissionais, mediadas por instrumentos materiais e não materiais. Assim,

nesse universo complexo e dinâmico, encontram-se os gestores de saúde, dos quais

se exige competência para o desenvolvimento efetivo de suas funções.

Silva e Roquete (2013) expõem que os componentes da competência do

gestor - habilidades, conhecimentos e comportamento - são fundamentais para que

se ofereça à população, aos fornecedores e demais profissionais um atendimento

com profissionalismo, por meio de uma gestão de pessoas eficaz. Fernandes,

Machado e Anschau (2009) corroboram ao considerarem a complexidade da gestão

em saúde e reiterarem que gestores dessa área são demandados como

articuladores e integrativos, e a ação gerencial é determinante no processo de

organização do serviço.

Assim, é pertinente abrir mais espaços para debates relativos ao processo

de gestão, uma vez que refletir sobre esse tema possibilita ressignificar e encontrar

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novos caminhos, fato que, para a área da saúde, é um diferencial e implicará em

transformações e melhorias diretas e indiretas para a população.

O Ministério da Saúde aconselha que as ações de Vigilância em Saúde,

incluindo-se a promoção da saúde, devem ser habituais nas equipes de Atenção

Primária – Saúde da Família, com atribuições e responsabilidades definidas no

território de atuação, unificando os processos de trabalho, planejamento,

monitoramento e avaliação dessas ações. (BRASIL, 2010)

Dessa forma, percebe-se que o escopo de funções de um gestor de

vigilância em saúde é amplo. Um Sistema Nacional de Vigilância em Saúde será

capaz de oferecer à população as garantias de proteção à saúde requeridas pela

Constituição Federal, desde que contemple instrumentos eficazes de gestão, como

um sistema de informações e análises estratégicas em saúde, os inquéritos de

vigilância em saúde, a notificação compulsória, dentre outros (AITH; DALLARI;

2009).

No Brasil, ainda é forte a cultura de que qualquer profissional sabe gerir e de

que os processos relativos à administração são aprendidos na prática. Por isso, são

raros os gestores que passaram por bons programas formativos para aquisição de

conhecimentos e habilidades próprias da gestão como, por exemplo, liderar grupos,

promover a motivação e contribuir para a eficácia e efetividade das organizações,

além do aprimoramento da qualidade de vida das pessoas no trabalho (AMARAL,

2011).

O fato supracitado parece provocador, pois não é difícil constatar essa

realidade. Alguns cargos de gestão são funções de confiança e perpassam por

questões políticas e/ou conhecimento/afinidade; quando, na verdade, deveriam ser

cargos eminentemente técnicos que valorizassem características profissionais e

competências inerentes ao processo de gestão. Entretanto, faz-se indispensável

refletir acerca da necessidade de mudança nas práticas políticas arcaicas existentes

no Brasil onde, não raro, observa-se gestores indicados politicamente para o cargo,

porém com pouca competência.

Foucault (2007, p. 175) adverte que “o poder não se dá, não se troca, nem

se retoma, mas se exerce, só existe em ação”. Daí a importância da compreensão

do exercício de uma função complexa como a de gestão, pois “apenas” atuando é

que se pratica e se transforma.

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Outro fator que merece destaque nesse processo diz respeito à formação

em saúde. A formação universitária pode se constituir como ferramenta essencial

para provocar uma mudança de paradigma no setor saúde, podendo ser o caminho

mais rápido para a transformação das práticas biomédicas em saúde: fragmentadas,

individualizadas, centrada nos profissionais, entre outros.

A educação deve permitir o acesso às informações de forma articulada e

organizada, de modo que os problemas sejam conhecidos e reconhecidos no mundo

e mediatizados por ele. Contudo, a educação tradicional disponibiliza acesso a

saberes estanques, divididos e compartimentados, não sendo capaz de despertar

uma compreensão do todo, da realidade em si e de suas determinações (MORIN,

2011).

Embora estejam presentes as reflexões sobre uma prática educativa

emancipadora, são notórias as relações verticalizadas entre educador-educando,

com relações norteadas por práticas narradoras e conteúdos abordados de forma

estática. “Narração ou dissertação que implica um sujeito – o narrador – e os objetos

pacientes, ouvintes – os educandos” (FREIRE, 2011a, p. 79). Dessa forma, com

esta abordagem, não se considera a singularidade dos educandos no processo de

formação.

Ceccim e Feuerwerker (2004, p. 47) oferecem grande contribuição para a

discussão dessa temática quando apresentam a proposta do Quadrilátero da

Formação: o ensino, a gestão, a atenção e o controle social, no qual “cada face

libera e controla fluxos específicos, dispõe de interlocutores específicos e configura

espaços-tempos com diferentes motivações”.

O processo de formação é decisivo e influencia nas concepções dos

profissionais acerca da atenção à saúde. Por essa razão, é imprescindível

considerar uma formação que perpasse pelo perfil estratégico exigido na atualidade:

o de promoção da saúde, sendo fundamental a integração do ensino, serviço e

comunidade:

Cresce a importância de que as práticas educativas configurem dispositivos para a análise da(s) experiência(s) locais; da organização de ações em rede/em cadeia; das possibilidades de integração entre formação, desenvolvimento docente, mudanças na gestão e nas práticas de atenção à

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saúde, fortalecimento da participação popular e valorização dos saberes locais. (CECCIM, 2005, p. 165)

Castro, Castro e Vilar (2017) acrescentam que o processo de formação atua

como agente norteador para que o profissional adquira o perfil esperado, além de

considerar relevante o conhecimento do perfil existente para identificar as

necessidades de capacitação, assim como de caracterizar os sujeitos no intuito de

direcionar os processos educativos no tocante aos objetivos e métodos.

De acordo com Lorenzetti et al. (2014), o trabalho em saúde é muito especial

e deve ser tratado no nível de expectativa, relevância e magnitude que a saúde

representa para as pessoas. Os autores ainda acrescentam que o desafio maior da

gestão em saúde está em construir ou reconstruir os serviços de saúde para que

venham a ser efetivamente centrados nas pessoas, grupos ou comunidades com

necessidades de saúde e, para tanto, faz-se necessária uma ampla renovação da

concepção e prática da gestão atual em saúde.

A logística utilizada na Vigilância em Saúde deve contar com a colaboração

e a coparticipação de todos os gestores, técnicos, trabalhadores de todos os níveis e

atores sociais, adaptando-se racional e dinamicamente aos inovadores modelos de

gestão dos serviços públicos e privados, principalmente, aqueles de cunho social,

sem perder suas características inerentes (BOCCATTO, 2012).

Não é difícil perceber que o Sistema de Vigilância em Saúde necessita de

gestores capacitados, não apenas para conduzir, mas para transformar condutas

que estejam travando o andamento do setor.

Acerca do saber do processo de trabalho, Mendes-Gonçalves (1994)

considera que o primeiro momento é constituído pela apreensão do seu objeto, que

consiste na identificação de suas características, permitindo a visualização do

produto final.

Assim, é possível compreender que o processo de formação de profissionais

na área da saúde é indispensável para a inserção de novas competências e

habilidades que contemplem a percepção do novo modelo/objeto proposto pelo

Ministério da Saúde: o de promoção da saúde. Essa nova visão vai ao encontro das

estratégias alinhadas pela vigilância em saúde, propondo-se a contemplar a saúde

em detrimento da doença.

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Na abordagem do processo de trabalho, é preciso acrescentar a relevância

do trabalho em equipe. Peduzzi et al (2011, p.631) expõem que “é um tema

relacionado à organização do trabalho e coloca em questão as ferramentas que

permitem sua construção e sustentação ao longo do tempo. ” Uma organização de

trabalho que permita o desenvolvimento de um trabalho em equipe pautado na

coletividade traz incontáveis contribuições para o planejamento e a efetivação dos

serviços implicados em cada setor.

Ademais, não há como discutir processo de trabalho em saúde e educação

em saúde sem mencionar o paradigma flexneriano. Em 1910, Abraham Flexner

elaborou um relatório sobre estudos acerca da situação das escolas médicas

americanas e canadenses, reforçando a luta pelo ideário da medicina científica e

trazendo implicações perversas para a formação em saúde a nível mundial. Frisou

ideários como biologismo, tecnificação, especialização, individualismo, entre outros,

os quais ficaram reconhecidos como Modelo Biomédico ou Flexneriano. Dessa

forma, são encontradas marcas profundas desse modelo na contemporaneidade,

visto que muitos profissionais que atuam nos serviços foram formados nessa

perspectiva e, conforme afirma Almeida Filho (2010):

Do ponto de vista conceitual, reiteradamente, identificam-se, no modelo flexneriano, diversos elementos (ou defeitos): perspectiva exclusivamente biologicista de doença, com negação da determinação social da saúde; formação laboratorial no Ciclo Básico; formação clínica em hospitais; estímulo à disciplinaridade, numa abordagem reducionista do conhecimento. Do ponto de vista pedagógico, o modelo de ensino preconizado por Flexner é considerado massificador, passivo, hospitalocêntrico, individualista e tendente à superespecialização, com efeitos nocivos (e até perversos) sobre a formação profissional em saúde. (ALMEIDA FILHO, 2010, p.2235)

Por isso, faz-se necessário focalizar o olhar para a educação permanente no

setor da saúde, objetivando atualização e qualificação dos profissionais que atuam

nos serviços, com vistas à desconstrução do paradigma biomédico. Silva e Peduzzi

(2011) discutem a educação e o trabalho como práticas sociais articuladas em que

reconfiguram um ao outro, destacando que a Educação Permanente em Saúde

(EPS) resgata a ação intersubjetiva nos espaços de trabalhos onde predomina a

ótica instrumental.

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A implementação efetiva da vigilância em saúde exige, além de profissionais

qualificados, a ampliação da percepção da área de atuação: a compreensão da

integralidade do cuidado e do escopo de atuação da saúde coletiva, objetivando a

reformulação da clínica, da reabilitação e dos sistemas de saúde em geral (Gastão,

2000). Nesse cenário, apresenta-se “um novo modo de intervenção voltado para a

articulação entre a assistência e as ações de Saúde Coletiva, buscando superar a

dissociação já cristalizada entre os serviços de saúde pública e de atenção primária

e médico-hospitalar”. (ARREAZA & MORAES, 2010, p. 2225)

A vigilância em saúde, assim, surge como uma nova concepção das práticas

em saúde. “Um Sistema Nacional de Vigilância em Saúde poderá organizar a forma

como o Estado do Brasil irá agir nos casos de emergência em saúde pública que

coloquem em risco a segurança sanitária nacional” (AITH; DALLARI, 2009, p. 124).

Brasil (2010) acrescenta que a vigilância em saúde detém conhecimentos e

metodologias fundamentais para a elaboração do planejamento, as quais direcionam

a gestão para o conhecimento do território, identificação de problemas,

estabelecimento de prioridades de atuação e otimização dos recursos, em busca de

resultados efetivos.

É assim que deve ser encarado o papel do gestor: ciente de todo o processo

inerente ao seu trabalho, pautado no planejamento participativo e nas necessidades

de saúde com foco no território, com ênfase na proatividade por meio de tomadas de

decisões significativas e sem esquecer-se de avaliar todo o processo

desencadeador dessas intervenções.

Nessa conjuntura, destaca-se o trabalho da gestão social, no qual são

considerados todos os atores sociais do processo organizacional. Para Bastos e

Ribeiro (2011), em gestão social, o trabalho é ‘com’, é de diagnóstico e tomada de

decisão coletiva. Os autores apontam que ainda há um grande afastamento entre a

teoria e a prática, fato que justifica a importância da formação e da viabilidade de se

aumentar o número de gestores sociais.

Um dispositivo legal que está sendo observado pelos gestores na

organização do SUS é o Decreto n° 7.508, publicado em 2011, que regulamenta

alguns aspectos da Lei nº 8.080/1990, dentre eles: a organização do SUS; o

planejamento da saúde; a assistência à saúde e a articulação interfederativa. No

capítulo V, ela discorre sobre as Comissões Intergestores no âmbito da União, do

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estado e da região, criadas no contexto do gerenciamento do processo de

descentralização no SUS, atendendo a alguns pressupostos: redistribuição de

poder; redefinição de papéis e estabelecimento de novas relações entre as três

esferas de governo; reorganização institucional e reformulação de práticas e

processos de trabalho (BRASIL, 2015).

Acerca das suas práticas, os gestores precisam conhecer os instrumentos

do planejamento, visto que norteiam as ações e são importantes aliados na tomada

de decisões. São instrumentos do planejamento: Plano de Saúde (PS);

Programação Anual de Saúde (PAS) e Relatório Anual de Gestão (RAG).

Os principais instrumentos de planejamento da regionalização, para Brasil

(2010), são: o Plano Diretor de Regionalização (PDR); o Plano Diretor de

Investimento (PDI); a Programação Pactuada e Integrada (PPI) da atenção à saúde

e a Programação das Ações de Vigilância em Saúde (PAVS). E, para o autor, o

processo de planejamento do SUS é pautado pela análise da situação de saúde na

identificação das condições; dos determinantes e dos condicionantes de saúde da

população; dos riscos sanitários na organização de serviços e na gestão em saúde;

além de estabelecer as condições para a integração entre vigilância, promoção e

assistência.

É salutar observar que a lei 8.080/1990 estabelece que o processo de

planejamento e orçamento do SUS será ascendente, do nível local ao federal,

considerando seus órgãos deliberativos, compatibilizando-se as necessidades da

política de saúde com a disponibilidade de recursos em planos de saúde dos

municípios, dos estados, do Distrito Federal e da União (BRASIL, 2015).

Com o exposto, é válido ressaltar que os instrumentos que agregam o

planejamento em saúde devem fazer parte da rotina dos gestores dos setores da

vigilância em saúde. Compreender cada instrumento desse é crucial para promover

estratégias de intervenções viáveis e compatíveis com a realidade.

O embasamento apresentado até aqui admite inúmeras inquietações que

possibilitam uma reflexão e motivam a buscar a compreensão das respostas, com a

certeza de que as proposições são enriquecedoras, embora, muitas vezes, não

sejam resolutivas.

As sugestões perpassam pela necessidade de fortalecimento do sistema de

vigilância em saúde, que implica em ter elementos fundamentais, tais como gestores

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capacitados, profissionais de qualidade (e em quantidade suficiente), participação do

controle social e otimização de recursos financeiros.

Acerca dos recursos financeiros, a Lei complementar nº 141, de 13 de

janeiro de 2012, regulamenta o § 3o do art. 198 da Constituição Federal para dispor

sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados,

Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde; estabelece os

critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de

fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de

governo; revoga dispositivos das Leis nos 8.080, de 19 de setembro de 1990, e

8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras providências. Ela institui os valores

mínimos a ser aplicados pelos entes federativos.

Em seu artigo 5º, dispõe que a União aplicará, anualmente, em ações e

serviços públicos de saúde, o montante correspondente ao valor empenhado no

exercício financeiro anterior, acrescido de, no mínimo, o percentual correspondente

à variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB) ocorrida no ano anterior ao da lei

orçamentária anual. No artigo 6º, expõe que os Estados e o Distrito Federal

aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, no mínimo, 12%

(doze por cento) da arrecadação dos impostos e dos recursos e, no art. 7º, os

Municípios e o Distrito Federal aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos

de saúde, no mínimo, 15% (BRASIL, 2012b).

Para Mendes e Bittar (2014, p. 35), “é fundamental ao gestor público o

conhecimento das tendências gerais de saúde da população que trazem impactos

para a atenção”. Já Ribeiro e bezerra (2013) afirmam que “o encantamento dos

gestores e da população pelo SUS é essencial para a sua subsistência. Essa

parceria é fundamental para garantir a alocação adequada de recursos com vistas a

atender às necessidades dos cidadãos brasileiros e à existência de modelos de

gestão eficazes.

A renovação da gestão em saúde no país é um anseio dos brasileiros e uma

missão para os gestores, sobretudo na perspectiva de uma agenda permanente de

construção de um sistema de saúde que responda às expectativas e necessidades

de saúde da população (LORENZETTI et al., 2014).

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Batista e Gonçalves (2011, p. 885) acrescentam que “todo investimento em

treinamento e qualificação de pessoal, quando bem planejado e desenvolvido, é

capaz de produzir mudanças positivas no desempenho das pessoas”.

Os desafios apontados não se resolvem tão somente com a implementação

de novos modelos conceituais, da mesma maneira que a reconfiguração das

práticas de saúde não se resolve somente com a informação e capacitação técnica

dos agentes envolvidos (ARREAZA; MORAES, 2010).

Cabe salientar que o SUS também não dispõe de recursos humanos qualificados para a gestão do sistema. Iniciativas de aperfeiçoamento e capacitação neste sentido têm sido feitas, mas insuficientes, tornando bastante improvável a melhoria da eficiência do sistema, na falta de técnicos que possam pensar, adaptar e executar as políticas de saúde nas diferentes regiões do país (MENDES; BITTAR, 2014, p. 38).

É preciso, por fim, compreender que o olhar vigilante não deve ser unilateral,

tendo em vista que a visão da gestão deve refletir os diversos olhares implicados no

processo. Destacar o papel do gestor, aqui, é compreendê-lo como a união de

forças e a representação dos mais variados setores e copartícipes desse sistema. O

entendimento de que gerir um setor, seja em nível municipal, estadual ou federal,

requer responsabilidade coletiva é fulcral para nortear ações desde o planejamento

até o processo de decisão.

Destarte, o gestor de Vigilância em Saúde, além da competência técnico-

científica, necessita da competência humana-operacional, visto que o campo dessa

política é amplo e abrange diversos setores. Inserida nessa amplitude, ainda merece

destaque a articulação intrínseca e indispensável para efetivação dessa política, pois

uma estratégia adotada por um setor público deve ser analisada sob diversos

olhares, contudo olhares que se somam, complementam-se.

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4 METODOLOGIA

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

Trata-se de uma pesquisa de campo, exploratória, com abordagem

qualitativa que, conforme Pope (2009, p.16), “examina a compreensão subjetiva das

pessoas a respeito de sua vida diária”. Para Bosi (2012, p. 584), ela “impõe amplo

acesso aos resultados e o direcionamento da investigação, aproximando academia,

serviços, gestão e comunidade”.

Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa consistem na escolha

adequada de métodos e teorias convenientes; no reconhecimento e na análise de

diferentes perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas

pesquisas como parte do processo de produção de conhecimento e na variedade de

abordagens e métodos (FLICK, 2009).

Flick (2009) ressalta que a pesquisa qualitativa não se baseia em um

conceito teórico e metodológico unificado, destacando que as diversas abordagens

teóricas e seus métodos caracterizam as discussões e a prática da pesquisa.

Nessa direção, esta pesquisa se traduz em estudo exploratório com

abordagem qualitativa, considerando que aprofunda o tema, além de considerar

aspectos humanos, sociais, políticos e culturais.

4.2 CAMPO DO ESTUDO

A investigação ocorreu na Secretaria do Estado da Saúde Pública do Rio

Grande do Norte ( SESAP) e na Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS), nos

respectivos setores de Vigilância em Saúde, mediante cartas de anuência

(APÊNDICE A e B), focando os gestores.

O estado do Rio Grande do Norte apresenta 167 municípios, uma população

estimada, para 2015, em 3.442.175 habitantes, distribuídos em uma área territorial

de 52.811.110 km2, tendo como capital o município de Natal (IBGE, 2016).

O Município de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, em 2014,

apresentava uma população estimada em 862.044 habitantes, distribuídos em uma

área territorial de 167.264 km2 (IBGE, 2015).

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Salienta-se que a inclusão do município de Natal para realização da

pesquisa, mesmo já estando contemplado pelo estado do Rio Grande do Norte, foi

para aproximar-se da efetivação do Sistema de Vigilância em Saúde em uma esfera

mais executiva, a municipal, haja visto que cabe aos municípios a execução das

políticas em saúde. Assim sendo, a escolha por Natal se deu em virtude de ser a

capital do estado, município de maior número de habitantes e espelho para os

demais municípios do estado. Não é foco do estudo discutir representatitvidade,

contudo a expressividade de uma pesquisa que foca na efetivação de uma política

pública realizada pela capital de um estado, certamente, trará reflexos significativos

para as demais regiões.

As principais redes de ações e serviços de saúde estão disponíveis nas

capitais dos estados brasileiros, contudo alguns serviços que exigem maior nível de

especialização profissional, equipamentos mais complexos e insumos mais caros

estão localizados apenas em algumas capitais (OUVERNEY; NORONHA, 2013).

Em pesquisa, os autores justificaram o recorte do estudo para a região

metropolitana destacando que “os grandes centros urbanos – isto é, municípios com

população acima de 100 mil habitantes – concentram os maiores obstáculos e

desafios para a melhoria das condições de acesso e diminuição das desigualdades

na oferta de serviços de saúde” (SENNA; COSTA; SILVA, 2010, p. 123)

Portanto, a constatação de que os grandes centros e/ou as capitais

concentram a maior parte do setor econômico, social e de saúde dos estados se

tornou crucial para a seleção do campo de pesquisa.

4.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Esta pesquisa foi composta por onze gestores de vigilância em saúde, sendo

cinco da SESAP e seis da SMS-Natal. Houve delimitação dos partícipes arrolados,

obedecendo aos seguintes critérios de inclusão: 1. Ser gestor ou substituto do setor

de vigilância em saúde; 2. Aceitar participar assinando o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido – TCLE. Dos 11 gestores, dois estavam como substitutos em

razão de um titular estar com problemas de saúde e o outro estar viajando a serviço,

conforme mostra a Figura 1:

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45

Figura 1: Participantes da pesquisa, Natal, 2016.

Fonte: Coleta de dados, 2016.

O estado do Rio Grande do Norte conta com um gestor na Coordenação de

Promoção à Saúde (CPS) que coordena a Política de Atenção Primária e de

Vigilância em saúde, distribuído pelos seguintes setores: Subcoordenadoria de

Vigilância Epidemiológica (SUVIGE); Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária

(SUVISA); Subcoordenadoria de Vigilância Ambiental (SUVAM); Subcoordenadoria

de Ações em Saúde (SUAS); Subcoordenadoria de Informação, Educação e

Comunicação (SIEC) e o Centro de Referência Estadual em Saúde do Trabalhador

(CEREST). Cada área descrita possui um subcoordenador responsável pelo setor.

Destaca-se que o gestor de vigilância em saúde do trabalhador também é gestor do

Centro de Referência em Saúde do Trabalhador-CEREST.

Assim, os cinco gestores da SESAP que compuseram a pesquisa foram: o

gestor de Promoção à Saúde, o gestor de Vigilância Epidemiológica; o gestor de

Vigilância Sanitária; o gestor de Vigilância Ambiental e o gestor de Vigilância em

Saúde do Trabalhador/CEREST.

O município de Natal conta com um Departamento de Vigilância em Saúde

que está vinculado à Secretaria Adjunta de Atenção Integral à Saúde, a qual está

organizada da seguinte forma: Departamento de Vigilância em Saúde;

Departamento da Avaliação da Regulação e Controle; Departamento de Ações

Especializadas e Departamento de Atenção Básica.

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O Departamento de Vigilância em Saúde conta com diversos núcleos:

vigilância sanitária; vigilância epidemiológica; setor de estatísticas vitais; vigilância

ambiental e em saúde do trabalhador; o centro de controle de zoonoses e o Centro

de Referência em Saúde do Trabalhador - CEREST. O gestor de Vigilância em

Saúde coordena os núcleos do Departamento de Vigilância em Saúde. Destaca-se

que cada área conta com um gestor responsável pelo setor, exceto o setor de Saúde

do Trabalhador, contemplado com dois gestores: um vinculado à Vigilância Sanitária

e outro, à Vigilância Ambiental.

Nesse sentido, no âmbito da SMS-Natal, os seis gestores contemplados

foram: o gestor de Vigilância em Saúde; o gestor de Vigilância Epidemiológica; o

Gestor de Vigilância Sanitária; o gestor de Vigilância Ambiental e os dois gestores

de Vigilância em Saúde do Trabalhador.

4.4 INSTRUMENTOS DA PESQUISA E COLETA DE DADOS

Para a coleta de dados, utilizou-se entrevistas com roteiros semiestruturados

contendo 10 questões norteadoras (APÊNCIDES D), gravadas em áudio, com prévia

autorização dos participantes. Utilizou-se um gravador de voz portátil, e as falas

foram transcritas, posteriormente, na íntegra.

De acordo com Pope (2009, p. 23), “as entrevistas constituem a técnica

qualitativa mais comumente utilizada nos estabelecimentos de atenção à saúde”.

A entrevista com roteiro semiestruturado, para Triviños (1987), parte de

certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à

pesquisa e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de

novas hipóteses que vão surgindo à medida em que se recebe respostas do

informante.

Assim, optou-se pela entrevista com roteiro semiestruturado, por ser

conduzida com base em uma estrutura flexível, constituindo-se por questões abertas

que definem a área a ser explorada e, a partir da qual, o entrevistador ou o

entrevistado pode prosseguir com uma resposta mais detalhada (POPE, 2009).

As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora, em data agendada

previamente, de acordo com a disponibilidade de cada participante. Ocorreram nos

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locais de trabalho, em salas reservadas, durante os meses de outubro a dezembro

de 2016. Ressalta-se que todas elas foram antecedidas pela exposição dos

objetivos da pesquisa e pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE). Todos os entrevistados mostraram-se receptivos, dispondo-se a

participar da pesquisa.

No intuito de preservar os nomes dos participantes, para a análise dos

dados, foram utilizados codinomes de pássaros para cada gestor. Essa associação

se deu pela percepção de que alguns pássaros migratórios, para andar em bandos,

usam a aerodinâmica do formato em “V” para poupar energia. Assim sendo, sempre

há um líder que vai à frente, bate as asas mais fortes e mais intensamente do que os

outros que estão atrás. E, ainda, há revezamento de quem está na liderança

(posição dianteira) para diminuir o esforço, de forma que em algum momento todos

ocupam a posição de liderança.

Os gestores, assim como pássaros, são líderes, gerenciam equipes e

precisam do trabalho em equipe para surtir o resultado positivo que almejam. Assim,

foram usados os seguintes codinomes para identificação das falas: para os gestores

estaduais, utilizou-se Cisne; Ganso-do-canadá; Grua; Pelicano e Íbis-eremita. Para

os municípios, Flamingo; Bobo-escuro; Biguá; Fuselo; Canário e Calopsita.

4.5 ETAPAS DA PESQUISA E ANÁLISE DO MATERIAL

A pesquisa foi constituída por três etapas que permitiram desenhar o estudo

de uma forma mais elucidativa: na primeira, caracterizou-se o perfil dos gestores; na

segunda, analisou-se o corpus constituído com o auxílio do Iramuteq; e, na terceira,

interpretou-se a voz dos gestores da Vigilância em Saúde, com base na análise de

conteúdo de Bardin.

A análise do material coletado foi interpretada à luz do referencial teórico

adotado, possibilitando a comparação das informações obtidas com teorias já

existentes e a formulação de novas proposições.

Inicialmente, foi feita a transcrição das 11 entrevistas, tal como faladas, o

que possibilitou a formação de dois corpus para análise do conteúdo verbalizado. O

primeiro, contendo a transcrição de todas as questões na integra, foi submetido ao

programa Iramuteq, gerando três classes. O outro corpus, direcionado a responder

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aos objetivos da pesquisa, foi submetido à análise de conteúdo de Laurence Bardin,

gerando duas categorias temáticas.

A Figura 2 a seguir mostra um resumo ilustrativo dos enunciados

supracitados:

Figura 2: Ilustração das fases, classes e categorias da pesquisa, Natal, 2016.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Para Camargo e Justo (2013), o software IRAMUTEQ (Interface de R pour

les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) pode trazer

importantes contribuições aos estudos que envolvam dados textuais. O

processamento de dados disponibilizado pelo software viabiliza o aprimoramento

das análises, inclusive em grandes volumes de texto. Com a utilização das análises

lexicais, é possível imprimir maior objetividade e avanço às interpretações dos dados

de texto. Para os autores, o programa pode ser muito útil se vier acompanhado de

um estudo sobre o significado das análises lexicais e de um bom domínio do tema

específico da pesquisa.

Marcondes (2013) afirma que os programas criados para auxiliar análises

qualitativas se baseiam, predominantemente, no processo de codificação do material

empírico, pois o código é parte integrante dos modelos operacionais de análise de

fontes, e defende que não há fórmula única para tal processo.

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49

Flick (2009) comenta acerca da expectativa do uso de computadores na

pesquisa qualitativa e elenca: a velocidade para manusear, controlar e expor os

dados; o aumento da qualidade na pesquisa qualitativa ou o fato de facilitar a

demonstração dessa qualidade; a ampliação da transparência do processo de

pesquisa; e, por fim, que o gerenciamento de dados se torne mais fácil com o uso

dos computadores.

Corroborando a temática, Gibbs (2009, p. 160) pondera que “o computador

nunca poderá fazer todo o trabalho por você. Sempre haverá exemplos de texto que

não se enquadrarão em qualquer padrão de busca e só serão descobertos por uma

leitura cuidadosa dos documentos”.

Para Bardin (2011, p.198), “a informática permite assim descrever, em

simultâneo, classes de respostas e subgrupos de pessoas e, sobretudo, navegar

entre um e outro desses objetivos”.

Nessa perspectiva, o corpus recebeu, inicialmente, o auxílio do programa

Iramuteq, visto que este se mostrou um facilitador para a análise do material

coletado.

A técnica Classificação Hierárquica Descendente (CHD) classifica os

segmentos de texto em função dos seus respectivos vocabulários, obtendo-se,

assim, classes de segmentos de texto que apresentam vocabulário semelhante

entre si e vocabulário diferente dos segmentos de texto das outras classes. A partir

dessas análises em matrizes, o software organiza as análises dos dados em uma

representação gráfica (dendograma da CHD), ilustrando as relações entre as

classes. O programa permite a descrição de cada uma das classes a partir do seu

vocabulário característico (léxico) e pelas variáveis características (CAMARGO;

JUSTO, 2013).

Após o processamento dos dados, o software dividiu, lexicalmente, o

corpus em 3 (três) classes. Isto é, a classe 1(um) foi subdividida em 2 (duas)

classes, perfazendo um total de três classes, conforme mostra o dendograma da

Figura 3.

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Figura 3: Dendograma Classificação Hierárquica Descendente Natal, 2016.

Fonte: coleta de dados, 2016.

Com a produção da CHD, as palavras elucidadas a seguir contemplaram o

qui-quadrado (x²) maior ou igual a 3,84 e p ≤0,05. As três classes foram ilustradas

pela frequência, porcentagem e pelo x² das palavras significativas, ou seja, quanto

maior o valor do x² registrado na fala, maior a sua associação com a classe,

conforme apresenta a Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 - Seleção das palavras, frequência, porcentagem e x² de acordo com as

classes, Natal, 2016.

Classes Palavras Frequência % x²

Classe 1

Conhecimento 4 100 6,43

Vigilância 48 48,48 5,77

Doença 15 100 24,96

Prevenção 16 88,89 20,28

Promoção 8 72,73 5,58

Saúde 38 57,58 12,46

Campo 4 100 6,43

Atenção 11 78,57 9,84

Público 6 100 9,71

Política 13 86,67 15,29

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Classe 2

Dificuldade 13 86,67 16,01

Satisfeito 7 100 11,8

Falta 5 100 8,38

Muito 28 65,12 15,76

Difícil 5 100 8,38

Trabalho 29 69,05 20,06

Articulação 8 80 7,84

Evoluir 4 100 6,68

Desempenhar 5 100 8,38

Capacitação 7 70 4,57

Classe 3

Planejamento 25 83,33 65,01

Participação 5 100 16,38

Programação 7 8,75 18,5

Junto/coletivo 10 71,43 18,47

Reunião 6 66,67 9,48

Oficina 3 100 16,38

Ação 45 44,12 34,06

Executar 3 100 9,77

Discutir 5 62,5 6,85

Definir 5 100 16,38

Fonte: coleta de dados, 2016.

Em seguida, é apresentada a análise de similitude, a qual expõe uma

interface em formato de árvore, permitindo que palavras centrais se comuniquem

com outras mais distais, mostrando conectividade e frequência lexicais no corpus.

Por fim, apresenta-se o recurso da nuvem de palavras que “as agrupa e as

organiza graficamente em função da sua frequência. É uma análise lexical mais

simples, porém graficamente bastante interessante, na medida em que possibilita

rápida identificação das palavras-chave de um corpus” (CAMARGO; JUSTO, 2013,

p. 516).

Após o auxílio do Iramuteq, o material produzido foi discutido à luz do

referencial teórico de Laurence Bardin (2011), por meio da Análise de Conteúdo,

conceituada como um conjunto de técnicas de análise das comunicações,

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52

destacando o trabalho com as falas, e que procura conhecer aquilo que está por trás

das palavras sobre as quais se debruça.

Seguindo a linha da autora, as técnicas da análise de conteúdo podem ser:

análise categorial; análise de avaliação; análise da enunciação; análise

proposicional do discurso; análise da expressão e análise das relações.

A organização da análise de conteúdo perpassou por três etapas

sequenciais: 1) a pré-analítica; 2) a exploração do material; e 3) o tratamento dos

resultados, a inferência e a interpretação (BARDIN, 2011).

As categorias são classes que reúnem um grupo de elementos sob um título

genérico, cujo agrupamento é efetuado em razão das características comuns desses

elementos. O critério de categorização pode ser semântico, sintático, léxico e

expressivo (BARDIN, 2011).

Neste estudo, utilizou-se a análise categorial-temática, auxiliada pelo

programa Iramuteq, permitindo corroborar as categorias projetadas sobre os

conteúdos, recortadas do conjunto das entrevistas (BARDIN, 2011). As duas

categorias temáticas elucidadas foram: 1.Concepções sobre Vigilância em Saúde e

2. Práticas da Vigilância em Saúde, conforme mostra a Quadro 2:

Quadro 2: Divisão do corpus em categorias e subcategorias, Natal, 2016.

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS Unidades de sentido

1. Concepções

sobre Vigilância

em Saúde

Ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças

47

Campo da Saúde Coletiva 05

2. Práticas da

Vigilância em

Saúde

Planejamento coletivo e ações desarticuladas

82

Localizações físicas dos setores 4

Insuficiência de Recursos Humanos e precarização das condições de

trabalho

82

Fragilidade no setor da saúde do trabalhador

12

Satisfação com a qualificação da equipe

42

Fonte: coleta de dados, 2016.

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53

4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O estudo foi realizado com base nos princípios da ética e bioética,

estabelecidos pela resolução 466/2012. Para tanto, foi submetido à análise do

Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que defende a integridade e

dignidade da pesquisa, favorecendo sua realização dentro dos padrões éticos e, por

estar diretamente vinculado à instituição proponente da pesquisa, com aprovação de

CAAE número: 59246616.5.0000.5292.

Foi solicitada a prévia permissão à SESAP/RN e SMS/Natal, com

encaminhamento do estudo em forma inicial de pré-projeto de pesquisa e, anexada

a ele, uma carta de anuência solicitando-lhes autorização (APÊNDICES A e B).

Foram respeitados os princípios de privacidade e confidencialidade, a partir

dos quais os participantes receberam informações sobre a pesquisa e de que

estariam livres para recusar-se a participar, retirar consentimento ou interromper a

participação a qualquer momento.

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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 PERFIL DOS GESTORES

No município, cinco foram participantes do sexo feminino e um do sexo

masculino. Já no estado, dos cinco entrevistados, todos eram do sexo feminino.

Percebe-se que o perfil de gestor da vigilância em saúde do município e estado é

majoritariamente feminino.

A presença feminina nesta posição deve ser utilizada com inteligência, pois o cuidado com os outros, característica apontada como praticamente inata da mulher, juntamente trabalhado com a inovação, a cooperação, o relacionamento participativo, são cada vez mais apontados como o perfil ideal para um líder (METZ, 2014, p. 174).

No que tange à escolaridade, os gestores possuem nível superior ou

hierarquicamente maior. No município, um apresentou nível superior completo e

cinco pós-graduados. No estado, os cinco são pós-graduados.

A composição desta força de trabalho mostra índices significativos de alta escolaridade e prevalência de uma faixa etária superior aos 25 anos, resultado do peso institucional das regulamentações das profissões que exigem maior nível de escolaridade. Entretanto, esta formalização nem sempre assegura relações de trabalho favoráveis, em virtude do crescimento de contratos flexíveis firmados com cooperativas de trabalho e/ou associações que, ao tempo que promovem elevação salarial, oferecem baixa proteção social (SOUZA, 2011, p.160).

Nessa linha, Silva e Roquete (2013) destacam a relevância das

competências de um gestor, destacando que elas são demandadas em diversas

situações de trabalho, exigindo deles mobilização de competências para a função ou

competências gerenciais.

No tocante à idade, o município apresentou uma média de 42 anos; já no

estado, a média foi de 39 anos, perfazendo uma média entre os dois grupos de 41

anos de idade. De acordo com Da Silveira (2015, p. 30), “considerar a contratação

ou promoção de pessoas com mais idade para novas posições poderá não apenas

ser uma necessidade, mas também uma boa prática social e de gestão”.

Acerca de cargo comissionado e efetivo, é rotineiro perceber que cargos de

chefia, normalmente, são de confiança e gratificados. Entretanto, verificou-se que,

no município, dois partícipes são comissionados, dois são efetivos e dois são

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efetivos e comissionados. Já no estado, dois partícipes são efetivos e três são

efetivos e comissionados. Nota-se, portanto, a predominância dos cargos efetivos,

fato considerado positivo no que toca ao processo de trabalho mais seguro, pois

Moura et al. (2016, p. 86) ressaltam que “os recursos humanos em serviços de

saúde que não têm vínculos fortalecidos atuam de forma insegura, pois estão

constantemente desmotivados e apreensivos, com o receio iminente das demissões

de cargos, ocasionando-lhes uma desordem psicológica”.

Em relação ao tempo de serviço no setor, o município apresentou média de

9 anos e, para o estado, a média foi de 8 anos no setor. Acredita-se que um maior

tempo de serviço no setor possibilita um maior empoderamento do processo de

trabalho. Esse ponto vai ao encontro da contextualização abordada por Fayol (1989,

p. 61), ao expor que “um agente precisa de tempo para iniciar-se numa nova função

e chegar a desempenhá-la bem”.

Castro, Castro e Vilar (2017, p.19) destacam que “caracterizar os gestores

municipais de saúde significa procurar identificar e compreender suas necessidades,

na perspectiva de proporcionar processos educativos mais adequados às suas

exigências”.

Em sua dissertação de mestrado, Sampaio (2014) estudou sobre o gestor

em unidade de saúde. A autora enfatiza que a área da saúde requer uma

complexidade organizacional extrema, que obriga o gestor a saber coordenar

prestações de serviços, perceber a alta tecnologia e conhecer os processos

puramente administrativos. Também, pondera que o fato exige do gestor uma

capacidade ímpar e um perfil próprio, tornando o universo da gestão em saúde uma

atividade muito complexa e multidisciplinar.

Assim, o perfil característico dos gestores da vigilância em saúde do estado

do Rio Grande do Norte e do município de Natal apresentou-se,

predominantemente, do sexo feminino, com faixa etária média de 41 anos, com

curso superior completo ou hierarquicamente maior e tempo de serviço médio de 8,5

anos no setor.

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5.2 ANÁLISE DO CORPUS COM O AUXÍLIO DO IRAMUTEQ

De acordo com as principais características para análise, o programa

reconheceu como número de textos iniciais as 11 entrevistas, as quais repartiu em

420 seguimentos de textos. O corpus apresentou um total de 2244 números de

formas distintas, 14701 ocorrências e, em seguida, foi separado em 3 classes. O

número de formas ativas foi de 922 e complementares, 409. O texto gerado pelo

software, com base na retenção de segmentos de texto, 334 seguimentos

classificados em 420, com um aproveitamento de 79,52% do material processado.

A Classificação Hierárquica Descendente foi composta por três classes e

suas possíveis relações de divergência e convergência entre si. Inicialmente, o

corpus foi divido em um grande grupo: a Classe 1. Depois, houve uma nova partição

em que o grupo foi dividido em mais dois subgrupos, resultando nas classes 2 e 3. O

dendograma a seguir evidencia a divisão das classes, assim como a representação

quantitativa de cada uma no texto do corpus e o conteúdo lexical de cada classe. A

Classe 1 representou 38,6%, a qual se desmembrou na Classe 2, com 37,7%, e na

classe 3, com 23,6% do registro das falas do corpus do texto.

Figura 4 – Dendograma obtido a partir da CHD, Natal, 2016.

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

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57

Observa-se que as classes foram evidenciadas de acordo com

hierarquia/quantitativa de frequência no corpus, no qual as classes elucidadas

permitem coerência com os objetivos deste estudo. Nesse sentido, as palavras da

Classe 1 remetem ao objetivo “discutir as concepções e as práticas dos gestores

que atuam na Vigilância em Saúde”; a Classe 2 elucida palavras que aproxima ao

objetivo “conhecer as dificuldades e facilidades da implementação da Vigilância em

Saúde” e a Classe 3 permite reportar ao objetivo “identificar a articulação entre os

serviços e as ações de Vigilância em saúde”.

Assim, ao atribuir sentido às palavras elucidadas pelo Iramuteq, pode-se

inferir o conceito da vigilância em saúde do Ministério da Saúde, o qual afirma ser

uma área que abrange as ações de vigilância, promoção, prevenção e controle de

doenças e agravos à saúde, constituindo-se em um espaço de articulação de

conhecimentos e técnicas que auxiliam a gestão para a elaboração do

planejamento, com foco no conhecimento da realidade/ identificação de problemas e

na utilização dos recursos (BRASIL, 2009b).

O segundo recurso utilizado foi a análise de similitude, a qual permite a

visualização sobre as coocorrências das palavras, possibilitando vislumbrar

indicações de conexidade entre as palavras, por meio de uma árvore de palavras. A

seguir, a Figura 5 mostra a análise de similitude do corpus da pesquisa.

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Figura 5 - Árvore máxima de palavras obtida através da análise de similitude, Natal,

2016.

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

A figura acima destaca quatro palavras e as ramificações que constituem

elos de ligação entre elas. A palavra de maior destaque é Vigilância e aparece

interligada com termos como política, conceito, processo, atenção, população,

qualidade, gestão, agravo, assistência, dentre outros. A segunda palavra destacada

é Ação, que conecta com conjunto, programação, planejamento, repasse, parceiro.

A terceira palavra com realce é Saúde, que se une a palavras como perspectiva,

interesse, humano, preventivo, público. Por fim, a quarta palavra com maior

destaque é Trabalho, a qual está vinculada a termos como satisfeito, articulação,

satisfação, dificuldade, ambiente, condição.

Salienta-se que as quatro palavras realçadas estão interligadas entre si,

refletindo a importância da conectividade entre elas, que estão interligadas a outras,

com ramificações mais próximas, e a outras mais distantes, evidenciando também a

relação de proximidade entre elas.

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59

Observando a árvore de palavras, pode-se dizer que ela traz uma

representação de que a VIGILÂNCIA EM SAÚDE se constitui em um campo de

AÇÕES que visam promover a SAÚDE da população por meio do TRABALHO dos

profissionais envolvidos no processo.

Acerca do trabalho da vigilância em saúde, o Ministério da Saúde destaca

que “cada sistema local/regional de saúde deverá, por intermédio do colegiado de

gestão, discutir estratégias integradas com as diversas áreas para o enfrentamento

de situações que exijam o compartilhamento da gestão” (BRASIL, 2009b, p. 26).

O terceiro recurso abordado foi a nuvem de palavras, demonstrada a seguir,

por meio da Figura 6. É uma interface do programa que permite apresentar um

parâmetro da frequência e intensidade com que as palavras são proferidas durante o

discurso. Tornou-se um recurso visual pertinente, visto que retrata as palavras mais

repetidas nas falas, ao passo que também vai ao encontro do tema do estudo. Para

tanto, foram excluídas do corpus algumas classes gramaticais, como conjunções,

advérbios e pronomes.

Figura 6 –Nuvem de Palavras, Natal, 2016.

Fonte: dados da pesquisa, 2016.

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60

Observa-se que as palavras encontradas ao centro e em destaque são as

mais faladas nos discursos dos entrevistados. Algumas dessas palavras merecem

ser enfatizadas por elucidarem as discussões que foram focos do tema do estudo

“Vigilância em Saúde”, tais como vigilância, ação, saúde, planejamento, gestão,

área, problema, promoção, doença desafio e atenção. Essas palavras,

contextualizadas, vão ao encontro dos conceitos enfatizados pelo Ministério da

Saúde, já abordados anteriormente.

Destarte, acerca da utilização do Iramuteq, Camargo e Justo (2013, p. 515)

enfatizam que “viabiliza diferentes tipos de análises de dados de textos, desde

aquelas bem simples, como a lexicografia básica (cálculo de frequência de

palavras), até análises multivariadas (classificação hierárquica descendente, análise

de similitude) ”.

Portanto, a partir da utilização desse software, que possibilitou uma análise

lexical objetiva sobre o tema, observou-se a coocorrência de palavras neste estudo,

assim como permitiu-se realizar contextualizações com a análise dos resultados à

luz de Laurence Bardin, as quais se constituíram na terceira etapa da análise dos

resultados, fase na qual optou-se por aprofundar a discussão desta pesquisa.

5.3 A VOZ DOS GESTORES DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE, CATEGORIZADAS EM

ANÁLISE

5.3.1 Concepções sobre Vigilância em Saúde

A primeira categoria mostra as concepções dos gestores acerca da

Vigilância em Saúde e contempla duas subcategorias, conforme ilustra a Figura 7:

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Figura 7 - Concepções sobre Vigilância em Saúde, Natal, 2016.

Fonte: coleta de dados, 2016.

5.3.1.1. Ações de promoção da saúde e prevenção de doenças

Esta subcategoria analisa a compreensão dos gestores acerca da Vigilância

em Saúde, referindo como um conjunto de ações de promoção da saúde, e a

prevenção de doenças. Senão vejamos:

“A vigilância em saúde abrange vários aspectos, desde o ponto de vista da promoção, que são as ações desencadeadas para que nós tenhamos um sistema que apoie as políticas públicas, no sentido de prevenir doenças, de promover a saúde das pessoas” (GRUA, 2016).

Pode-se dizer que o conceito compreendido pelos gestores está em

consonância com o conceito de vigilância em saúde contemplado pela portaria

1.378/2013, em seu Art. 2º, do Capítulo I, que discorre sobre como um processo

contínuo e sistemático de monitoramento de dados influencia eventos relacionados à

saúde, visando o planejamento e a implementação de medidas para a promoção,

proteção da saúde e prevenção de doenças (BRASIL, 2013a).

Vê-se que, através desse conceito, o Ministério da Saúde lança uma

estratégia para romper com o modelo hegemônico médico-assistencial vigente. Um

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novo olhar: o da promoção à saúde que, para tanto, deve incorporar um conjunto de

práticas coletivas e articuladas.

O termo vigilância em saúde também está presente no trabalho de

Albuquerque, Carvalho e Lima (2002). Os autores trazem reflexões sobre três

termos: vigilância à saúde; vigilância da saúde; vigilância em saúde. “Vigilância à

saúde” é caracterizada como um campo de práticas da vigilância epidemiológica e

sanitária, entretanto, com indefinições sobre sua especificidade. “Vigilância da

saúde” apresenta-se atrelando a incorporação de novos sujeitos além dos

profissionais da saúde, com envolvimento da população para tentar superar os

modelos vigentes (cultura sanitária). Por fim, a “Vigilância em saúde” vem no sentido

de superar a discrepância entre as práticas coletivas de vigilância epidemiológica e

sanitária e as práticas individuais da assistência, deixando de ter como eixo doenças

e privilegiando pessoas e territórios.

Aith e Dallari (2009, p. 124) acrescentam que o Sistema Nacional de

Vigilância em Saúde permitirá a adoção de medidas de saúde pública coordenadas

e eficazes, capazes de enfrentar com precisão e eficácia os riscos à saúde que

venham a ser encontrados (AITH; DALLARI; 2009, p. 124).

Assim, é notório que os gestores compreendem o escopo conceitual da

vigilância em saúde, o que é importante para disparar ações em cada área

específica desse setor. Acredita-se, portanto, que os gestores têm ciência da

amplitude do escopo da vigilância em saúde.

5.3.1.2. Campo da saúde coletiva

Esta subcategoria diz respeito à compreensão dos gestores acerca da

vigilância em saúde enquanto campo da saúde coletiva.

“É uma questão bem global, que engloba a parte preventiva, principalmente, a parte preventiva da saúde coletiva” (ÍBIS-EREMITA, 2016). “É aquele modelo de atenção baseado na prevenção dos agravos, na promoção da saúde, para que tenhamos um sistema de saúde e não um sistema de doenças” (FUSELO, 2016).

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Esse conceito demonstra uma ampliação da percepção conceitual sobre a

vigilância em saúde, visto que se apresenta contextualizada como um campo

inserido na saúde coletiva e um modelo de atenção que pode servir de orientação

para os gestores.

Gastão (2000) considera o campo da saúde como uma matriz, e a saúde

coletiva como uma parte dela, inserida como movimento intelectual e moral e como

um núcleo de saberes e práticas, coproduzido por relações com o campo e

coprodutor desse mesmo campo. O autor ainda afirma que não é possível destacar

limites precisos entre o núcleo e o campo da saúde coletiva, fazendo a seguinte

analogia: os núcleos seriam como os círculos que se formam quando se atiram um

objeto em água parada, e o campo seria a água e o seu contexto.

Quanto à abrangência do escopo da Vigilância em Saúde, Arreaza e Moraes

(2010) ressaltam que, em tese, pode-se argumentar que todo o arcabouço

conceitual-operacional se constitui como uma base política e sanitária para a

consolidação do paradigma da promoção da saúde no campo da Saúde Coletiva.

Nesse sentido, acredita-se que a evolução conceitual na compreensão sobre

a vigilância em saúde é um fator predisponente para pleitear as transformações dos

paradigmas enraizados nesse setor.

5.3.2 Práticas da Vigilância em Saúde

A segunda categoria demonstra as práticas da Vigilância em Saúde,

contemplando cinco subcategorias, conforme ilustra a figura 8:

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Figura 8 - Práticas da Vigilância em Saúde, Natal, 2016.

Fonte: coleta de dados, 2016.

5.3.2.1. Planejamento coletivo e ações desarticuladas

Esta subcategoria expressa que há um planejamento coletivo entre os

setores, registrado por meio de reuniões das equipes que compõem as vigilâncias.

Contudo, observa-se que as ações se apresentam desarticuladas.

Acerca do planejamento coletivo, segue o discurso de Ganso-do-Canadá

(2016):

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“Todos participam. Geralmente, o coordenador solicita que cada subcoordenadoria faça seu planejamento. Os técnicos de cada área fazem o planejamento do seu programa. Geralmente, tem um evento geral de 1 ou 2 dias, em que são apresentadas as ações do planejamento de todas as subcoordenadorias, exatamente para tentar melhorar essa articulação, ver o que pode ser feito em conjunto, ver se os outros setores têm sugestões para o planejamento do seu setor, né” (GANSO-DO-CANADÁ, 2016).

Os gestores sugerem, portanto, que o planejamento é realizado de forma

coletiva. Entretanto, cabe aqui refletir que o planejamento deve ser

participativo/coletivo desde os seus primeiros passos. Embora no discurso

supracitado, cite-se que todos participam do planejamento, percebe-se, em seguida,

uma contradição ao se dizer que o planejamento inicial é realizado setorialmente,

pelos técnicos das áreas que compõem a vigilância em saúde. Assim, as

contradições internas do discurso, deixam claro que, na prática, o planejamento não

está sendo realizado de forma coletiva, ou seja, com os técnicos de todas as áreas

de forma conjunta. Partindo do princípio de que o planejamento faz parte de um ciclo

fundamental, a análise da situação de saúde, vislumbra-se a necessidade de uma

compreensão ampliada acerca do planejamento participativo, visto que ele norteia

as ações e as decisões e, desse modo, quando realizado de forma participativa

permite a contribuição coletiva por meio dos mais diferentes olhares sobre as

demandas a serem realizadas.

Nesse contexto, o trabalho em equipe é fundamental para o crescimento do

setor, para promoção de vínculos e satisfação profissional e, especialmente, traz

incontáveis benefícios tanto para o profissional quanto para a população que deve

ser beneficiada por meio dos serviços executados. Sobre o trabalho em equipe,

Peduzzi (2011) ressalta que requer do gestor a composição de um conjunto de

instrumentos que remete à gestão comunicativa, tais como: construção de espaços

de troca entre os profissionais, estímulo às relações profissional-usuário e usuário-

serviço, estímulo à autonomia das equipes, além do compromisso de cada equipe e

da rede de equipes com o projeto institucional.

Parente (2011, p. 56) traz importante apontamento sobre o ato de planejar:

“não se planeja para deixar do jeito que está, mas para construir novas e

promissoras realidades”. Dessa forma, o planejamento configura-se como uma

estratégia salutar para identificação das necessidades de cada setor, no intuito de

ser um instrumento-guia para a realização de ações pertinentes e inovadoras.

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Ademais, evidencia-se o reconhecimento dos instrumentos de gestão do

SUS, conforme observa-se na fala a seguir:

“As ações são definidas primeiro na origem, na criação do setor. Ele

já tem a sua definição e suas atribuições propriamente ditas criadas por lei. E as ações anuais, nós temos alguns instrumentos de gestão. Nós temos a Programação Municipal de Saúde (PMS), que é elaborada no período de 4 anos e, anualmente, nós pegamos essas ações que são macros da PMS e criamos os instrumentos, que é a Programação Anual de Saúde (PAS) ” (BOBO-ESCURO, 2016).

Desse modo, os instrumentos de gestão norteiam as ações a serem

realizadas em cada setor. Logo, faz-se indispensável o conhecimento desses

instrumentos para um planejamento adequado.

A fim de corroborar a temática do planejamento das ações, os gestores

foram questionados acerca dos repasses dos recursos, visto que o conhecimento da

organização de todo e qualquer processo de trabalho em gestão perpassa pela

administração dos recursos financeiros. Assim sendo, os gestores demonstraram

conhecimento sobre a forma e aplicação dos repasses.

“O recurso é, atualmente, repassado fundo a fundo, do fundo nacional de saúde para o fundo estadual. São parcelas mensais que vem direto para a conta do fundo estadual de saúde e são utilizados de acordo com o planejamento” (PELICANO, 2016). “São aplicados em ações de custeio. Essa questão de capacitação, de material permanente, material de consumo, diárias a servidores, de passagem aérea, inscrições em congressos, refeição preparada nas capacitações, material gráfico para atividade educativas” (CISNE, 2016).

Diante do exposto, os recursos financeiros correspondentes às ações de

vigilância em saúde compõem o limite financeiro da vigilância em saúde nos

estados, municípios e Distrito Federal, e representam o conjunto das ações das

vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária, bem como as ações de promoção

da saúde (BRASIL, 2010).

Destarte, é indispensável para o gestor compreender o processo de trabalho

no qual está inserido. Esse entendimento é condicionante não tão somente para um

planejamento adequado, como também é um disparador de ações e um

influenciador no processo de decisão. O reconhecimento de que o planejamento em

equipe deverá ser realizado de forma articulada, perpassando pela sapiência acerca

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da aplicação dos recursos financeiros, poderá possibilitar ao gestor um domínio do

exercício de suas funções e, consequentemente, refletir na gestão de suas

competências, nas prioridades estabelecidas e na tomada de decisão. Tudo isso

impacta diretamente nos rumos que um setor público pode tomar, uma vez que a

gestão é o elemento condutor desses setores.

Aprofundando as reflexões sobre as falas dos gestores, observou-se as

contradições existentes nas práticas cotidianas. Há relatos explícitos da

desarticulação entre as ações das vigilâncias, enfatizando a necessidade de

melhoria nesse aspecto e colocando-se como um grande desafio.

“São muito ruins. Mas isso é a nível de Brasil, infelizmente. A gente tem um modelo que é a vigilância em saúde e é algo esquizofrênico, porque cada vigilância faz vigilância em saúde. Agora, integrar: isso é o grande desafio” (BIGUÁ, 2016). “É uma inter-relação: ela é necessária e deve ser vista dessa forma. Mas nem sempre a gente consegue, porque é àquela história: cada um na sua caixinha” (GRUA, 2016).

As discussões acerca da necessidade da soberania da articulação em

detrimento da fragmentação de ações no setor da vigilância são incontáveis.

Seguindo esse raciocínio, Oliveira e Cruz (2015, p. 257) ponderam: “Esse aspecto

aponta para a necessidade de uma base que permita o diálogo entre os

componentes da vigilância em saúde, fortalecendo a capacidade de gestão do

sistema de maneira mais equânime e integradora”. E acrescentam: “produzir um

espaço que agregue a conformação das práticas das vigilâncias epidemiológica,

ambiental e sanitária, respeitando a condição concreta de cada território”

(OLIVEIRA; CRUZ, 2015, p. 264).

Assim, nesses discursos, evidencia-se a necessidade de um salto de

qualidade no que toca ao desenvolvimento de ações articuladas, visto que os

gestores relataram a existência de um planejamento em equipe, isto é, articulado.

Entretanto, não conseguem colocar em prática tal articulação, sendo direcionados

pela égide do paradigma da flexineriano, talvez cristalizado em suas mentes e

refletido em suas ações cotidianas, conforme afirma Almeida Filho (2010):

Do ponto de vista pedagógico, o modelo de ensino preconizado por Flexner é considerado massificador, passivo, hospitalocêntrico, individualista e tendente à superespecialização, com efeitos nocivos (e até perversos) sobre a formação profissional em saúde (ALMEIDA FILHO, 2010, p. 2235).

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Para Silva e Peduzzi (2011, p. 1020), “no plano microssocial do cotidiano de

trabalho, a discussão sobre o processo de trabalho não pode ser reduzida à ação

instrumental”.

Acerca das evidências citadas, Ceccim e Feuerwerker (2004) referem que o

Brasil vem sendo submetido a um significativo processo de reforma de Estado desde

o movimento da reforma sanitária e que, por essa razão, as diversas instâncias do

SUS devem cumprir um papel indutor no sentido de provocar mudanças, tanto no

campo das práticas de saúde como no campo da formação profissional. Acrescenta

ainda, que a formação não pode tomar como referência apenas a doença, mas sim

buscar desenvolver condições de atendimento às necessidades de saúde das

pessoas e das populações, da gestão setorial e do controle social em saúde,

implicando na autonomia das pessoas na formulação de políticas do cuidado.

Além da reflexão acerca da formação dos novos profissionais, é pertinente

discutir a respeito do trabalho de educação permanente junto às equipes que estão

atuando nos serviços de saúde.

O livro de Ceccim e Feuerwerker (2004), “Saúde & Amazônia Educação e

Práticas de Saúde na Amazônia: tecendo redes de cuidado”, traz a discussão sobre

a educação e as práticas de cuidado realizadas nos Estados do Amazonas e do

Pará, por meio de textos de diferentes abordagens. Em uma das experiências

relatadas pelos autores sobre a prática da Educação Permanente em Saúde, no

trabalho com uma equipe multidisciplinar de Parintins-Amazonas, foi observado um

problema em relação ao acompanhamento dos pacientes com diabetes e o

agravamento da doença.

De acordo com o relato, os profissionais envolvidos no processo de

Educação Permanente foram motivados a participar com a equipe sobre os seus

achados metodológicos. Dessa forma, os profissionais e trabalhadores foram

envolvidos na problemática que foi iniciada a partir da própria dinâmica do trabalho

em equipe, culminando na qualidade da atenção à saúde do usuário. Dessa forma,

não ocorreu apenas uma ação isolada para lograr êxito na adesão e no tratamento

da diabetes, mas trouxe mudanças em todo o processo de trabalho e de cuidado,

sendo realizados encontros intitulados como Encontros Pedagógicos, a fim de traçar

mudanças no processo de trabalho, no cuidado e nas condições de vida dos

pacientes.

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Outro estudo, realizado por Silva e Peduzzi (2011), em duas unidades

básicas de saúde no município de São Paulo, com representantes de duas

categorias profissionais (segmento gerencial e de trabalhadores da saúde),

encontrou resultados diferentes daquele apresentado por Ceccim e Feuerwerker

(2004), ou seja, embora houvesse predomínio de concepções acerca da educação

no trabalho como uma construção coletiva do saber, com base na realidade, visando

instituir uma mudança de práticas e do modelo biomédico, muitos deles ainda

apresentaram uma concepção de educação instrumental, isto é, com ênfase em

ações técnicas e de atualização do saber. Concepções essas, certamente,

influenciadas por uma formação cartesiana, capitaneada pelo paradigma flexneriano.

Destarte, é nítida a contribuição da educação para os serviços de saúde,

especialmente, quando realizada de forma permanente. No trabalho educativo,

permite-se plantar semente que, quando regadas continuamente, traz frutos

incalculáveis para os serviços e para a comunidade.

Ouverney e Noronha (2013) expõem que, para superação desses

obstáculos, é imprescindível a formulação de estratégias e políticas capazes de

atuar de forma concomitante sobre os fatores de fragmentação. Eles enfatizam que

a ação governamental deve estar fundamentada em subsídios consistentes sobre a

dinâmica de organização da atenção à saúde no SUS.

Diante dessa discussão, é imprescindível a promoção de novas reflexões

das práticas entre os setores da vigilância em saúde, com vistas a implantação de

estratégias que possam promover, de fato, essa articulação. Esse fato aponta para

uma lacuna nessa área fulcral do SUS, que tem como norte a promoção da saúde e

que, necessariamente, precisa estar articulada para cumprir com o que se propõe.

Portanto, o reconhecimento de que precisa aprimorar a articulação desse

modelo de atenção à saúde é um importante passo. Entretanto, é fundamental a

abertura de novas discussões nesse campo a fim de quebrar o paradigma da

fragmentação. Para tanto, é fundamental abrir espaços para o debate acerca da

formação dos profissionais dentro da nova perspectiva: a integralidade do cuidado e

da promoção da saúde.

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5.3.2.2. Localizações físicas dos setores

Esta categoria expõe o argumento de alguns gestores sobre a articulação

entre os setores, demonstrando que a localização dos prédios poderia ser um fator

predisponente para a (des)articulação entre os setores, conforme mostra a seguir:

“Eu acho também que, pela conformação, o prédio da vigilância sanitária é separado do prédio da SESAP. Termina que a vigilância sanitária do estado do RN fica um pouco separada das outras” (ÍBIS-EREMITA). “Aqui acolá é que tem alguma ação que integração. Como a gente está no mesmo prédio, então, às vezes, quando surge alguma coisa lá, aí vem” (CANÁRO, 2016).

Dessa forma, o argumento da distância entre setores e/ou da distância entre

os prédios onde funcionam as vigilâncias foi vislumbrado para justificar a ausência

de uma maior articulação entre os setores. Entretanto, o argumento utilizado não

deve servir para justificar a falta de efetivação de ações conjuntas, uma vez que a

falta de articulação entre os setores não se deve à localização física destes. Assim,

considerando que somente a distância física entre os profissionais e os setores não

é suficiente para a existência dessa lacuna, faz-se necessária uma reflexão para um

olhar resolutivo e imediato, na perspectiva de reaproximar setores culturalmente

distanciados.

Acredita-se que tal fato ainda seja fruto do paradigma da

departamentalização abordada pela Teoria Clássica de Henri Fayol, que focalizava a

estrutura organizacional em departamentos para obtenção de uma eficiência

máxima. Matos e Pires (2006) destacam que a Teoria Clássica de Fayol propõe a

racionalização da estrutura administrativa, na qual a empresa passa a ser percebida

como uma síntese dos diversos órgãos que compõem a sua estrutura.

Dessa forma, faz-se relevante pontuar que as ações precisam ser/estar

articuladas, independentemente da divisão setorial. Esses achados também refletem

os achados da subcategoria anteriormente. Deixa clara a necessidade da indução

da educação permanente para os profissionais do serviço e do olhar apurado sobre

o processo de formação.

Os gestores, em tela, reconhecem a necessidade de uma melhor articulação

entre os setores da vigilância em saúde. Entretanto, faz-se necessário não apenas o

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discurso do reconhecimento, mas, sobretudo, uma transformação no modo de

conduzir todas as ações, desde o planejamento participativo até as decisões

compartilhadas e as intervenções articuladas.

A garantia e o fortalecimento da integralidade perpassam pela

ressignificação dessas estratégias e condutas. Assim, o processo de avaliação/

monitoramento e de formação/ educação permanente carecem de um olhar

diferenciado, visto que deles decorrem as análises de tudo o que foi realizado e,

especialmente, vislumbram novas necessidades e apontam para as transformações

cabíveis.

5.3.2.3 Insuficiência de Recursos Humanos e precarização das condições de

trabalho

Esta subcategoria discute sobre as dificuldades para implementação das

práticas da Vigilância em Saúde. Nesse sentido, o discurso presente nas falas dos

gestores foi de um número insuficiente de recursos humanos nos respectivos

setores.

“O pessoal está chegando próximo boa parte de aposentar, e os

quadros não são renovados. Então, esse é o grande desafio” (BIGUÁ, 2016). “A gente poderia avançar se tivesse RH. Minha grande dificuldade hoje é recursos humanos, então assim, até exigir da equipe é difícil” (FUSELO, 2016).

Acredita-se que o número insuficiente de recursos humanos perpassa pela

ausência de concurso público recente para a área da saúde no estado do RN e no

município. Todos os setores públicos necessitam de pessoas para planejar, gerir e

executar as ações. Um número restrito de servidores, certamente, impacta

diretamente no desenvolvimento das ações e do setor.

Conforme Gonçalves et al (2014), os recursos humanos são elementos

essenciais na atenção primária na perspectiva das RAS, visto que devem atuar

como protagonistas nos sistemas de governança e compreender o funcionamento

logístico do sistema.

Para Almeida Filho (2010), o modelo flexneriano traz implicações nos

serviços de saúde sob a ótica dos recursos humanos:

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Do ponto de vista da organização dos serviços de saúde, o Modelo Flexneriano tem sido responsabilizado pela crise de recursos humanos que, em parte, produz crônicos problemas de cobertura, qualidade e gestão do modelo assistencial, inviabilizando a vigência plena de um sistema nacional de saúde integrado, eficiente, justo e equânime em nosso país. (ALMEIDA FILHO, 2010, p.2235)

Nesse ínterim, para o adequado funcionamento de um setor, é necessário

investir nos profissionais, quanti e qualitativamente, pois são mola propulsora que

impulsionam os serviços de saúde.

Os gestores também relataram dificuldades no tocante às condições de

trabalho, tais como salários atrasados, infraestrutura inadequada, equipamentos

danificados e ausência de combustível para abastecer os carros e permitir a

realização de viagens a serviço.

“Não tem salário para pagar suas contas. Eu tenho que cobrar, mas

não dou condições de motivação hoje, porque também não está na minha alçada” (CALOPSITA, 2016). “A gente está aqui sem telefone há vários meses, nem recebe ligação, só liga para ramal; está sem ar condicionado, tem problema na energia e na água. Então, tudo isso acaba desviando você do seu trabalho, do seu foco” (GANSO-DO-CANADÁ, 2016).

A discussão acerca das condições de trabalhos insalubres é tema de

diversos trabalhos. Mascarello (2004) menciona a falta de água, o

comprometimento da rede elétrica, salários em atraso, falta de concursos públicos

para provisão de cargos e o consequente crescimento da contratação temporária. Já

Simões e Freitas (2016, p. 55) advertem que a “precariedade das condições de

trabalho, traduzida pela falta de materiais e pela infraestrutura inadequada, colabora

para o improviso das ações, sinalizando práticas de saúde sem planejamento prévio,

com pouca interlocução entre os sujeitos, trabalhadores e usuários do serviço”.

As reflexões pontuadas pelos autores supracitados dialogam com a vivência

do processo de trabalho relatada pelos gestores. A precarização revestida das

diversas faces, além de predispor o trabalhador ao adoecimento físico ou mental,

também impacta diretamente nas ações desenvolvidas. Essa associação não deve

ser encarada com naturalidade, pois incide diretamente na qualidade dos serviços

no âmbito da saúde. Um processo de trabalho salubre é determinante para alcançar

as metas estabelecidas e os planos pactuados.

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5.3.2.4. Fragilidade do setor da saúde do trabalhador

Essa subcategoria expõe outra dificuldade acerca das práticas da vigilância

em saúde: o setor da vigilância em saúde do trabalhador. Esse setor, sob o ponto de

vista dos gestores, apresenta lacunas no processo de organização e estruturação,

visto que, na SMS de Natal, não há um núcleo unificado em saúde do trabalhador e,

na SESAP/RN, o setor funciona em conjunto com o CEREST.

“Ainda é muito fragmentada no organograma do município. Precisaria ter uma revisão de organograma que unificasse essa equipe e trabalhasse uma coisa única” (CALOPSITA, 2016).

O fato de a vigilância de saúde do trabalhador se encontrar com indefinições

no tocante à estrutura e à organização deve ser considerado como um determinante

para o (não) desenvolvimento de suas ações e, especialmente, para a articulação

com os demais setores.

Acerca das fragilidades do setor da saúde do trabalhador, Silva et al. (2014)

concluíram que:

Esta dificuldade possui raízes históricas e reflete a falta de discussão mais direcionada sobre o tema nos cursos de graduação e nos processos de educação permanente. Além disso, é forte o conceito de que as questões de Saúde do Trabalhador são afeitas às especialidades, por exemplo, a Medicina do Trabalho e a Engenharia de Segurança, e objeto de atuação do Ministério do Trabalho e Emprego. Esta é uma barreira a ser vencida para se efetivar a organização das ações de saúde do trabalhador no SUS (SILVA et al., 2014).

É notório que a saúde do trabalhador ainda não é compreendida em sua

dimensão singular, visto que a ausência de estruturação do setor reflete na

implementação das ações. Alguns gestores e profissionais não reconhecem o seu

papel e, por isso, quiçá o fortaleçam. Entretanto, espera-se que estudos nessa linha

possam contribuir para sua efetivação.

Para Daldon e Lancman (2013), a VISAT necessita de indicadores para

avaliar o impacto de suas ações, o que pode contribuir para a invisibilidade e

insucesso de seu trabalho. Os autores concluem que o sofrimento, a desmotivação

e a ansiedade dos profissionais são motivados pelo vazio deixado pela incerteza

sobre os frutos do próprio trabalho e pela falta de reconhecimento institucional.

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Destaca-se que, quando interrogados sobre as sugestões para a melhoria

do setor de saúde do trabalhador, os gestores apontaram:

“A criação do núcleo em si, do setor em si, que seja realmente mais estruturado em um único setor, porque fica muito mais fácil trabalhar as ações” (FLAMINGO, 2016). “Que nos planos municipais de saúde sejam inseridas as ações em saúde do trabalhador, para que os instrumentos fiquem mais sólidos e a gente possa ter também como cobrar ” (CISNE, 2016).

As sugestões elencadas coadunam com as dificuldades vivenciadas no

setor. Considerar a estruturação e a organização de um setor se constitui em um

aspecto básico e indispensável para implementação qualificada das ações a serem

realizadas no dia a dia.

Assim, a vigilância em saúde do trabalhador precisa de um olhar mais

aprofundado, tanto por parte dos gestores e dos profissionais, quanto da população.

É uma área que necessita de direcionamentos para focar em suas ações prioritárias,

garantindo a integralidade e intersetorialidade da atenção e, principalmente, para o

fortalecimento de uma área tão estratégica do SUS.

5.3.2.5. Satisfação com a qualificação da equipe

Esta subcategoria expressa uma análise dos apontamentos positivos do

processo de trabalho na Vigilância em Saúde. Os gestores demonstraram satisfação

com o trabalho que realizam, apontando também, a qualificação e o compromisso da

equipe como facilidades para a prática da Vigilância em Saúde.

“A nossa satisfação é que nós temos uma equipe altamente qualificada” (GRUA, 2016). “Os técnicos são bem envolvidos, bem comprometidos” (GANSO, 2016).

Esse aspecto está consonante com o perfil encontrado entre os gestores da

Vigilância em Saúde do estado do RN: nível universitário e/ou pós-graduados, fato

que pode ser considerado positivo na medida em que, além de propiciar satisfação

no trabalho cotidiano, aponta também para a possibilidade de aprimoramento

educacional e continuidade na formação.

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Para Saboia et al. (2009), a qualificação profissional vai além dos diplomas e

das habilitações específicas e complexidade das tarefas, perpassa pelo grau de

autonomia, pela capacidade para tomar decisões e assumir responsabilidades. Para

os autores, essas características dependem também das habilidades gerais que

devem ser adquiridas em grande medida através da escolaridade básica de

conteúdos gerais, o que permite maior capacidade de intervenção do trabalhador no

processo de trabalho.

Poucos gestores demonstraram insatisfação com o trabalho realizado e,

quando o fizeram, foram motivados pelas dificuldades relatadas anteriormente:

Não estou satisfeita, queria muito mais (CISNE, 2016).

Esse resultado torna-se natural quando comparado às dificuldades relatadas

pelos gestores, pois podem causar insatisfações no tocante à realização das

atividades nos setores da vigilância. Entretanto, a maioria dos gestores enfatizaram

a satisfação com a qualificação da equipe.

Quanto ao trabalho em equipe, Navarro et al. (2013, p.68) destacam:

O trabalho desenvolvido em equipe não se estabelece de modo automático, sendo necessário um processo de desenvolvimento de habilidades e capacidades, que vão desde a inteligência emocional até os conhecimentos e vivências da dinâmica interpessoal e intergrupal. Uma equipe faz-se nas relações estabelecidas dos membros entre si e com o meio em que vivem, pela sua prática, pelo seu agir, seu pensar e seu sentir. (NAVARRO et al., 2013, p. 68).

Dessa forma, é relevante considerar a imperiosa contribuição do trabalho em

equipe para superação das dificuldades elencadas. Portanto, os significados que

submergem dessa subcategoria traduzem a disposição e o compromisso dos

gestores, fazendo crer que contribuem para elevar, sobremaneira, a sua autoestima

à medida que induzem sentimentos positivos, refletidos através da satisfação com a

qualificação da equipe e com o trabalho realizado.

Esse fato é bastante relevante, tendo em vista as dificuldades gerais

apresentadas. Assim, ao invés de os gestores se mostrarem desmotivados, eles

demonstraram satisfação com a realização do trabalho e com a equipe. Acredita-se,

então, que a satisfação com o trabalho e com o trabalho entre seus pares se

constitua em um elemento encorajador e promovedor de condutas proativas.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo buscam responder aos objetivos propostos,

perpassando pelas reflexões acerca das concepções e práticas da vigilância em

saúde. No que toca às concepções, pode-se dizer que os gestores compreendem

como um modelo de atenção indispensável para o SUS, que contemplam a

promoção da saúde e a prevenção de doenças. Suas concepções apontam para a

amplitude do escopo da Vigilância em Saúde, além da necessidade de mudança da

prática instituída, uma vez que se encontra desarticulada.

Nessa perspectiva, perceberam-se incoerências internas no discurso sobre

a efetivação do planejamento coletivo. Ademais, observam-se contradições entre o

dizer e o fazer à medida que o planejamento coletivo não se reflete em ações

articuladas entre as diversas vigilâncias. A desarticulação é justificada por alguns em

virtude da localização física dos setores. Já a insatisfação é justiçada por

dificuldades inerentes aos setores: precariedade nas condições de trabalho; número

insuficiente de recursos humanos e registro da vigilância em saúde do trabalhador,

que funciona de forma incipiente, seja pela estruturação ou organização.

A qualidade e o sucesso do setor gerencial podem estar nos frutos que se

colhem do processo. Nessa direção, cabe (re)pensar no contraditório: a

desfragmentação, uma vez que não há como falar apenas em articulação, quando já

se percebem processos de fragmentação das ações da Vigilância em Saúde. Faz-se

necessário debater de forma a encontrar caminhos para imprimir as mudanças,

desde o nível local até as instâncias superiores, responsáveis pela normatização e

fiscalização dos setores.

O quesito articulação se constitui em grande desafio do setor de vigilância

em saúde e, como tal, requer transformações que não se realizam de forma

imediata. É necessário repensar o processo de (trans)formação que pode ser

conduzido pela academia, em busca da indissociabilidade: atenção-prevenção-

assistência, reforçando a necessidade da interação ensino-serviço, especialmente,

no que toca ao ensino junto aos futuros profissionais de saúde, de forma a

(re)introduzir novas práticas nos serviços de saúde.

Realizar mudanças no perfil dos profissionais, certamente, é mais desafiador

quando se adentra aos serviços de saúde. Atualizar e capacitar parecem não

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produzir os efeitos esperados, sobretudo quando os vícios já estão cristalizados nas

práticas profissionais, dentro dos serviços. Entretanto, é essencial continuar

estimulando e sensibilizando gestores/setores com vistas a uma (trans)formação do

paradigma biomédico vigente e das práticas em curso. Nessa direção, aponta-se a

realização permanente de monitoramentos e avaliações das ações inerentes ao

Sistema de Vigilância em Saúde, concomitantemente, aos diálogos com apoiadores,

gestores, profissionais e o controle social.

Há sinais advindos dos gestores que devem ser considerados: melhor

articulação entre as ações; fortalecimento e valorização do sistema de vigilância em

saúde; valorização e aumento do número de profissionais; criação de um núcleo da

vigilância em saúde do trabalhador e de instrumentos mais sólidos para

fortalecimento desse setor. Tais ações poderão fortalecer a Vigilância em Saúde no

estado do Rio Grande do Norte e no município de Natal.

Como toda produção científica inicial, esta também apresenta limitações,

uma vez que as análises aqui realizadas partiram somente, do ponto de vista dos

gestores da Vigilância em Saúde, fazendo-se necessário o olhar de outros sujeitos

implicados no processo.

Diante do exposto, torna-se relevante refletir e buscar novos caminhos para

o setor de Vigilância em Saúde no Rio Grande do Norte. Nessa direção, sugere-se o

engajamento de apoiadores, gestores, profissionais e controle social em torno de um

amplo debate, objetivando promover novos saberes e fazeres com vistas à

transformação do atual modelo de atenção no âmbito da Vigilância em Saúde.

Com vistas a superar tais limitações sugere-se a implantação da Educação

Permanente em Saúde, uma vez que esta, se efetivada na sua essência, poderá

possibilitar a autonomia dos sujeitos, constituindo-se em um instrumento político e

ideológico.

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SOUZA, M. A. S. L. Trabalho em saúde: as (re)configurações do processo de desregulamentação do trabalho. In: DAVI, J.; MARTINIANO, C.; PATRIOTA, L. M. (Org.). Seguridade social e saúde: tendências e desafios. 2. ed. Campina Grande: EDUEPB, 2011. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. VASCONCELLOS, L. C. F. et al. Entre o definido e o por fazer na vigilância em saúde do trabalhador. Ciência e Saúde Coletiva, v. 19, n. 12, p. 4617-4626, 2014.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – CARTA DE ANUÊNCIA PARA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA DO RIO GRANDE DO NORTE

Solicitamos autorização institucional para realização da pesquisa intitulada

“Organização do processo de vigilância em saúde: efetivação da política sob a ótica

do gestor, dos trabalhadores de saúde e dos usuários” a ser realizada na Secretaria

de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte, pelas pesquisadoras Eva

Emanuela Lopes Cavalcante Feitosa e Layanne Cristini Martin Sousa, sob

orientação da professora Dra. Maísa Paulino Rodrigues, que utilizará a metodologia

desenvolvida adotando as seguintes fases: construção de referencial teórico; coleta

de dados com os gestores de vigilância em saúde; coleta de dados com os

trabalhadores responsáveis pela vigilância de saúde e coleta de dados com os

usuários das Unidades Básicas de Saúde. Os dados serão coletados através de um

roteiro de entrevista semi-estruturado com o objetivo principal de analisar a

efetivação da política de vigilância em saúde no estado do Rio Grande do Norte.

Ao mesmo tempo, pedimos autorização para que o nome desta Instituição

possa constar no relatório final, bem como, em futuras publicações na forma de

artigo científico.

Ressaltamos que os dados coletados serão mantidos em absoluto sigilo, de

acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) 466/12, que

trata da Pesquisa envolvendo Seres Humanos. Salientamos ainda que tais dados

serão utilizados tão somente para realização deste estudo.

Na certeza de contarmos com a colaboração e empenho desta Diretoria,

agradecemos antecipadamente a atenção, ficando à disposição para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessários.

Natal RN, ___/___/___

_______________________________________________

Maísa Paulino Rodrigues – Orientadora da Pesquisa

( ) Concordamos com a solicitação ( ) Não concordamos com a solicitação

_____________________________________________

Secretária do Estado de Saúde Pública/ Natal RN

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APÊNDICE B- CARTA DE ANUÊNCIA PARA A SECRETARIA MUNICIPAL DE

SAÚDE

Solicitamos autorização institucional para realização da pesquisa intitulada

“Organização do processo de vigilância em saúde: efetivação da política sob a ótica

do gestor, dos trabalhadores de saúde e dos usuários” a ser realizada na Secretaria

Municipal de Saúde do município de Natal, pelas pesquisadoras Eva Emanuela

Lopes Cavalcante Feitosa e Layanne Cristini Martin Sousa, sob orientação da

professora Dra. Maísa Paulino Rodrigues, que utilizará a metodologia desenvolvida

adotando as seguintes fases: construção de referencial teórico; coleta de dados com

os gestores de vigilância em saúde; coleta de dados com os trabalhadores

responsáveis pela vigilância de saúde e coleta de dados com os usuários das

Unidades Básicas de Saúde. Os dados serão coletados através de um roteiro de

entrevista semi-estruturado com o objetivo principal de analisar a efetivação da

política de vigilância em saúde no estado do Rio Grande do Norte.

Ao mesmo tempo, pedimos autorização para que o nome desta Instituição

possa constar no relatório final, bem como, em futuras publicações na forma de

artigo científico.

Ressaltamos que os dados coletados serão mantidos em absoluto sigilo, de

acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS/MS) 466/12, que

trata da Pesquisa envolvendo Seres Humanos. Salientamos ainda que tais dados

serão utilizados tão somente para realização deste estudo.

Na certeza de contarmos com a colaboração e empenho desta Diretoria,

agradecemos antecipadamente a atenção, ficando à disposição para quaisquer

esclarecimentos que se fizerem necessários.

Natal RN, ___/___/___

_______________________________________________

Maísa Paulino Rodrigues – Orientadora da Pesquisa

( ) Concordamos com a solicitação ( ) Não concordamos com a solicitação

_____________________________________________

Secretário do de Saúde do Município de Natal

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APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE PARA O GESTOR DE SAÚDE

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa “ORGANIZAÇÃO DO

PROCESSO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE: EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA SOB A

ÓTICA DO GESTOR, DOS TRABALHADORES DE SAÚDE E DOS USUÁRIOS”,

que tem como pesquisadoras responsáveis Eva Emanuela Lopes Cavalcante

Feitosa, Layanne Cristini Martin Sousa e Maísa Paulino Rodrigues.

Esta pesquisa pretende analisar a efetivação da política de vigilância em

saúde no estado do Rio Grande do Norte, sob a ótica dos gestores da vigilância, dos

trabalhadores da saúde e dos usuários do SUS.

O motivo que nos leva a fazer este estudo é a contínua necessidade de

conhecer os processos de organização que envolvem a saúde do Estado, neste

caso a vigilância em saúde, através da geração de informações que possam

contribuir e fortalecer seu desenvolvimento.

Caso você decida participar, você deverá responder uma entrevista com 10

perguntas, em que será utilizado o gravador de voz, caso você autorize a gravação.

Você permite a utilização do gravador de voz durante a entrevista? ( ) SIM ( ) NÃO

Durante a realização da entrevista, você responderá as perguntas que as

pesquisadoras irão fazer, que serão gravadas conforme sua autorização, e assinará

esse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A previsão de riscos é mínima, tal como sentir algum desconforto emocional,

incômodo ou constrangimento com relação às perguntas da pesquisa, no entanto,

caso isso ocorra poderá imediatamente interromper a entrevista ou recusar-se a

responder à pergunta.

Pode acontecer um desconforto físico (fadiga) pelo tempo decorrido para

entrevista, contudo será minimizado pelo pesquisador ao ser o mais breve possível,

sem prejudicar a pesquisa e minimizando o tempo disponibilizado à entrevista, e

você terá como benefício o conhecimento advindo pelo estudo com possibilidade de

refletir sobre as ações da vigilância em saúde do Estado do Rio Grande do Norte.

Em caso de algum problema que você possa ter, relacionado com a pesquisa,

você terá direito a assistência psicológica gratuita que será prestada pelo

Departamento de Psicologia da UFRN, através do Serviço de Psicologia Aplicada.

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Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas com

Maísa Paulino Rodrigues – Email: [email protected] - Telefone:999829974;

Eva Emanuela Lopes Cavalcante Feitosa - Email: [email protected] -

Telefone: 988482051 ou Layanne Cristini Martin Sousa – Email:

[email protected] – Telefone: 98865-5011.

Você tem o direito de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em

qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você irá nos fornecer serão confidenciais e serão divulgados

apenas em congressos ou publicações científicas, não havendo divulgação de

nenhum dado que possa lhe identificar.

Esses dados serão guardados pelo pesquisador responsável por essa

pesquisa em local seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será

assumido pelo pesquisador e reembolsado para você.

Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa,

você será indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o

Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, telefone:

3342-5003, E-mail: [email protected], Endereço: Av. Nilo Peçanha, 620 –

Petrópolis – CEP 59.012-300 Nata/RN.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra

com as pesquisadoras responsáveis Eva Emanuela Lopes Cavalcante Feitosa,

Layanne Cristini Martin Sousa e Maísa Paulino Rodrigues.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os

dados serão coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e

benefícios que ela trará para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos,

concordo em participar da pesquisa “Organização do processo de vigilância em

saúde: efetivação da política sob a ótica do gestor, dos trabalhadores de saúde e

dos usuários” e autorizo a divulgação das informações por mim fornecidas em

congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado possa me

identificar.

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Natal ___/___/___

______________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo “Organização do processo de

vigilância em saúde: efetivação da política sob a ótica do gestor, dos trabalhadores

de saúde e dos usuários”, declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir

fielmente os procedimentos metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e

assegurados ao participante desse estudo, assim como manter sigilo e

confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora

assumido estarei infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12

do Conselho Nacional de Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo

o ser humano.

Natal ___/___/___

___________________________ ____________________________

_______________________________

Assinatura dos pesquisadores responsáveis

Impressão datiloscópica do

participante

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APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PARA OS

GESTORES DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE

1- IDENTIFICAÇÃO

1.1 Nome:

1.2 Idade:

1.3 Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

1.4. Escolaridade:

( ) nível médio completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) pós-graduado

( ) outro, especificar _______________

2- DADOS REFERENTES ÀS ATIVIDADES EXERCIDAS

2.1. Função:

( ) efetiva ( ) comissionada ( ) efetiva e comissionada

2.2. Qual o setor da vigilânica em saúde que você atua?

( ) Vigilânica epidemiológica

( ) Vigilânica sanitária

( ) Vigilânica ambiental

( ) Vigilânica em saúde do trabalhador

2.3. Tempo de serviço neste setor:

( ) menos de 1 ano

( ) entre 1 e 5 anos

( ) entre 6 e 10

( ) maior que 10 anos

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3- DADOS REFERENTES À PERCEPÇÃO DOS GESTORES

3.1. O que é Vigilância em Saúde?

3.2.quais são as atividades de vigilância desenvolvidas sob sua responsabilidade?

3.3.como e quando ocorrem o repasse dos recursos para esta vigilância? Como eles

são aplicados?

3.4. Como se dá relação entre as 4 vigilâncias que permeiam a vigilância em saúde?

3.5. Como são definidas as ações da vigilância que você atua?

3.6. Quem participa do planejamento das ações da vigilância em que você atua?

3.7. Tem alguma instituição ou órgão que é parceiro do estado nas ações de

vigilância em saúde? Se sim, qual?

3.8. Você está satisfeito com o trabalho realizado na vigilância em que voce atua?

Por que?

3.9. Como você avaliaria o grau de empenho/ dedicação de sua equipe com relação

ao desenvolvimento de ações nessa vigilância?

3.10. Qual a contribuição desse setor para o sus? Você teria alguma sugestão?

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ANEXOS

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ANEXO 1- AUTORIZAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

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