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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DOS RECURSOS NATURAIS DA CAATINGA
COMO FONTE DE ALIMENTO EM COMUNIDADES RURAIS DE REGIÕES
SEMIÁRIDAS, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL
ANIELE DA SILVA ARAÚJO
NATAL - RN
2016
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ANIELE DA SILVA ARAÚJO
FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DOS RECURSOS NATURAIS DA CAATINGA
COMO FONTE DE ALIMENTO EM COMUNIDADES RURAIS DE REGIÕES
SEMIÁRIDAS, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL
Trabalho de conclusão de curso em Ecologia, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
apresentado à banca de avaliação como requisito
para obtenção do título de Bacharel em Ecologia.
Orientadora: Dra. Priscila F. M. Lopes
Coorientadora: MSc. Maria Clara B. T. Cavalcanti
Agradecimentos:
A todos que contribuíram direta ou indiretamente
para minha formação, o meu muito obrigado.
Agradecer em especial a minha coorientadora;
MSc. Maria Clara B. T. Cavalcanti, por não medir
esforços em ajudar desde a coleta de dados até os
últimos ajustes nesse trabalho, o meu muito
obrigado.
NATAL – RN
2016
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SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS .................................................................................................... 3
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... 4
RESUMO ......................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 6
MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 8
Área de estudo ................................................................................................................
Seleção das comunidades ...............................................................................................
Coleta de dados ..............................................................................................................
Análise de dados .............................................................................................................
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RESULTADOS .............................................................................................................. 13
DISCUSSÃO................................................................................................................... 21
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 26
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Variáveis socioeconômicas utilizadas no Modelo Linear Generalizado
(GLM), binomial negativo, coletadas para cada informante nos cinco
polígonos estudados na Caatinga do estado do Rio Grande do Norte. Nas
colunas, está a caracterização das variáveis: dependente (Dep), independente
(Ind), contínua (Cont) e categórica (Cat).
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Tabela 2 Frequência de uso alimentício dos recursos naturais animais e vegetais da
Caatinga do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, com seus respectivos
nomes científico e popular, separados por polígono. Pol – Polígono; N -
Quantidade de vezes que a espécie foi utilizada; FU - Frequência de uso; NI
– Não Identificado.
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Tabela 3 Médias e desvio padrão do consumo de plantas e animais em cada polígono
estudado na Caatinga do estado do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil,
onde N é o número de recursos consumidos.
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Tabela 4 Variáveis selecionadas pelo modelo GLM binomial negativo, com o valor do
teste, os graus de liberdade e nível de significância de P.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa do estado do Rio Grande do Norte (RN), nordeste do Brasil,
apresentando a delimitação dos biomas Caatinga e Mata Atlântica. As áreas
marcadas em vermelho representam os polígonos escolhidos para o estudo:
polígono 1 – Coronel (Cel.) Ezequiel; polígono 2 – Lajes; polígono 3 – Cerro
Corá; polígono 4 – Luís Gomes; polígono 5 – Felipe Guerra.
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Figura 2 Variáveis socioeconômicas (tempo na região, casa própria, moradores na
residência, pessoas que geram renda, anos de estudo e renda total) nos
polígonos estudados na Caatinga no estado do Rio Grande do Norte, Brasil.
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Figura 3 Quantidade de recursos consumidos por polígono estudado na Caatinga do Rio
Grande do Norte, nordeste do Brasil. Os números representam os cinco
polígonos estudados. Os boxplot verdes representam o consumo de plantas e
os em vermelho o consumo de animais, as linhas mais escuras a mediana e os
bigodes o valor máximo e mínimo.
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RESUMO
A alimentação é um dos requisitos fundamentais para a manutenção da vida dos seres
humanos e os recursos naturais, muitas vezes, suprem essa necessidade, principalmente
daquelas famílias com os menores potenciais aquisitivos. Neste trabalho, verificarmos como as
variáveis sociais e econômicas podem influenciar o uso dos recursos naturais alimentícios no
semiárido, discutindo sua importância na manutenção tanto da segurança alimentar quanto dos
aspectos culturais relacionados a esta utilização. O estudo foi realizado no estado do Rio Grande
do Norte, em um total de 24 comunidades estudadas distribuídas em cinco áreas denominadas
polígonos, mediante sua importância para conservação. A coleta de dados ocorreu entre outubro
de 2014 e julho de 2015, por meio de questionários socioeconômicos e entrevistas
semiestruturadas. Entrevistamos um total de 254 pessoas, residentes nos cinco polígonos. Um
total de 52 espécies são consumidas pelos informantes, sendo 26 espécies de animais e 26 de
plantas. O Euphractus sexcinctus – peba apresentou uma maior frequência de uso no polígono
dois, para plantas o Spondias tuberosa Arruda – imbuzeiro foi mais frequente no polígono
cinco. Nossos resultados mostraram que houve diferença de consumo entre as áreas estudadas
e as variáveis, frequências de uso real e moradores na residência como variáveis correlacionadas
ao consumo dos recursos da Caatinga. Assim o uso dos recursos naturais alimentícios da
Caatinga pelas comunidades rurais do semiárido se torna uma fonte de subsistência alternativa,
bem como uma prática relacionada à cultura das comunidades.
Palavras chave: Centros urbanos, fatores socioeconômicos, recursos alimentícios, Segurança
alimentar, nordeste do Brasil
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Introdução
Os recursos naturais alimentícios têm tido um papel fundamental para comunidades
humanas em todo o mundo ao contribuir para a manutenção da subsistência das famílias
(Toledo & Barreira-Bassols 2010), especialmente daquelas que possuem menores poderes
aquisitivos. Assim, é necessário garantir o acesso das populações a uma alimentação de
qualidade, que supra sua demanda energética. Nesse sentido, alguns recursos naturais podem
servir como fontes de proteína animal (Alves et al. 2009) e vegetal (Cruz et al. 2013)
alternativas, garantindo uma estabilidade ou segurança alimentar para muitas pessoas.
Partindo deste princípio, a segurança alimentar é considerada o estado em que todas as
pessoas, em qualquer momento, têm acesso físico, social e econômico a uma quantidade de
alimentos suficientes, que sejam nutritivos e provenientes de uma fonte de produção segura, de
maneira a satisfazer suas necessidades e preferências alimentares diárias, garantindo uma vida
saudável (FAO, 2009). Essa definição de segurança alimentar leva em consideração a
disponibilidade e o acesso aos alimentos, além da estabilidade e dimensão nutricional desses
recursos alimentares no mundo (FAO, 2014). Isto implica dizer que os alimentos deveriam estar
disponíveis em quantidades e qualidades suficientes, a preços acessíveis e distribuídos para
todas a pessoas (Conselho Mundial da Alimentação, 1988).
Segundo Maluf (2001), alguns problemas sociais, como a pobreza, estão intimamente
relacionados à insegurança alimentar de muitos indivíduos e quanto mais pobre e desigual for
uma sociedade, menor será a sua capacidade de demandar e distribuir seus alimentos. Umas das
alternativas para amenizar essa insegurança alimentar nas populações humanas seria a
utilização de recursos com baixo ou nenhum custo de aquisição, como os recursos naturais
(Bortolotto et al., 2015). A utilização de plantas na dieta por comunidades humanas, por
exemplo, pode ser considerada uma estratégia interessante a ser adotada em períodos de
escassez de alimento (Shumsky et al., 2014), além de reduzir os gastos com produtos que
venham dos centros urbanos.
A região nordeste do Brasil concentra uma grande parte da pobreza nacional,
principalmente nas áreas rurais (Sobel et al., 2010). Nesta região, está localizado o bioma
Caatinga e a maior parte do semiárido brasileiro. Apesar disso, boa parte dos estudos de
subsistência realizados no país concentra-se ao longo da costa sudeste (Giraldi e Hanazaki
2014), embora diversos outros estudos venham sugerindo que o semiárido brasileiro seja um
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provedor importante de proteína animal (Alves et al. 2009), lenha (Lucena et al. 2007) e
remédios (Almeida et al. 2006) para as populações locais. Resta, no entanto, quantificar o papel
integrado do semiárido brasileiro como provedor de segurança alimentar.
Além da importância para a subsistência humana, o uso alimentício dos recursos
naturais, por vezes, relaciona-se à importância cultural que tais espécies possuem perante as
comunidades locais (Lozada et al. 2006). Por exemplo, há algum tempo vem sendo discutida a
verdadeira contribuição da caça para a subsistência de populações humanas, especialmente por
esta atividade ser considerada um tabu e apresentar uma base cultural bem expressiva em
ecossistemas semiáridos (Alves et al. 2009). Além do uso de espécies de animais, as
comunidades rurais ainda utilizam os recursos vegetais, muitas das espécies têm um valor
cultural forte sobre os seus usos como fontes alimento ou até mesmo medicinal (Lins Neto et
al. 2010).
Neste trabalho, partimos do princípio de que regiões semiáridas, especificamente a
Caatinga, não são ambientes homogêneos ambiental e socialmente, de forma que diferentes
locais devem contribuir de forma distinta para a segurança alimentar das comunidades rurais.
Além disso, a depender do local estudado, fatores sociais, econômicos e culturais podem
exercer diferentes pressões para incentivar a utilização dos recursos naturais alimentícios pelas
comunidades humanas. Assim, o presente trabalho tem como principal objetivo verificar como
as variáveis sociais e econômicas podem influenciar o uso dos recursos naturais alimentícios
no semiárido, discutindo sua importância na manutenção tanto da segurança alimentar quanto
dos aspectos culturais relacionados a esta utilização.
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Material e Métodos
Área de estudo
O bioma caatinga possui uma área de extensão de 844.453 km2 e está presente no
nordeste brasileiro, estendendo-se pelos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí,
Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe, além de ocupar pequenas porções de Minas Gerais e
do Maranhão (IBGE, 2004). Uma das características mais marcantes deste domínio são as fortes
irregularidades climáticas, apresentando valores meteorológicos extremos, destacando-se por
apresentar: forte insolação, baixa nebulosidade, altas médias térmicas (entre 25° e 30° C),
elevadas taxas de evaporação e, sobretudo, baixos índices pluviométricos, em torno de 500 a
700 mm anuais, com grande variabilidade espacial e temporal (Reddy, 1983; Sampaio, 2003).
A baixa pluviosidade associada à alta evapotranspiração potencial e à distribuição irregular das
chuvas tornam a Caatinga um ambiente marcado pela deficiência hídrica (Rodal et al., 1992;
Sampaio, 1995).
As características da vegetação são influenciadas pela heterogeneidade do relevo, clima
e solo. Dois tipos fisionômicos de vegetação dominam na área semiárida, as não florestais e as
florestais, que variam quanto à deciduidade foliar, de perenifólias, semidecíduas a decíduas
(Araújo et al., 2005), com presença ou ausência de folhas durante períodos do ano. A fauna da
Caatinga, apesar de ter sido originalmente descrita como contendo poucas espécies e baixo
endemismo (Vanzolini et al., 1980), hoje já comprova a existência de 167 espécies de répteis e
anfíbios (Rodrigues, 2003), 62 famílias e 510 espécies de aves (Silva el al., 2003) e 148 espécies
de mamíferos (Oliveira et al., 2003).
O presente estudo foi realizado em cinco áreas distintas no estado do Rio Grande do
Norte, o qual possui área de 53.077 km² (IDEMA 2010). Escolhemos este local porque 90% de
sua área está inserida dentro do domínio Caatinga (IDEMA 2010) e pela escassez local de
estudos sobre segurança alimentar derivada do uso de recursos naturais por comunidades
humanas.
As áreas onde a pesquisa foi realizada dentro do estado foram escolhidas no âmbito de
um projeto maior, denominado Projeto Caatinga Potiguar, mediante sua importância para a
conservação da biodiversidade da Caatinga. Essa seleção baseou-se: i) na escolha de fragmentos
que ainda detivessem potencial de conservação, segundo especialistas de vários grupos
taxonômicos animais e vegetais; e ii) na possibilidade de realização de estudos socioambientais
nessas áreas. Desta forma, cinco áreas prioritárias (aqui denominados polígonos) foram
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escolhidas para realização deste estudo. Estes polígonos foram nomeados como Coronel
Ezequiel (polígono 1), Lajes (polígono 2), Cerro Corá (polígono 3), Luís Gomes (polígono 4)
e Felipe Guerra (polígono 5), os quais incluem 16 municípios ao todo (Figura 1). Estes
municípios são: São Tomé, Currais novos, Cerro Corá, Coronel Ezequiel, São Bento do Trairi,
Campo Redondo, Santa Cruz, Felipe Guerra, Apodi, Governador Dix- Sept Rosado, Caraúbas,
Lajes, Caiçara do Rio dos Ventos, Luís Gomes, Major Sales e José da Penha.
Figura 1. Mapa do estado do Rio Grande do Norte (RN), nordeste do Brasil, apresentando a
delimitação dos biomas Caatinga e Mata Atlântica. As áreas marcadas em vermelho
representam os polígonos escolhidos para o estudo: polígono 1 – Coronel (Cel.) Ezequiel;
polígono 2 – Lajes; polígono 3 – Cerro Corá; polígono 4 – Luís Gomes; polígono 5 – Felipe
Guerra.
Os polígonos estudados ainda possuem um percentual relativamente alto de cobertura
vegetal da Caatinga quando comparados a outros municípios do estado. Coronel Ezequiel
(Polígono 1), está localizado no Planalto da Borborema na região denominada de Serra do
Doutor com uma área de domínio Caatinga em torno de 79,2%, existem porções significativas
de vegetação preservada, onde as pessoas têm difícil acesso. Por outro lado, por se tratar de
uma região de serra, onde pode ser encontrado um clima mais ameno do que nas baixas altitudes
do seu entorno, as porções de vegetação em relevo menos íngreme são excessivamente
exploradas e ocupadas, inclusive por assentamentos rurais que existem na região. Já Lajes
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(Polígono 2) caracteriza se por ser uma das áreas de Caatinga mais bem preservada e contínua
do Estado, abrigando em seus limites o maior fragmento de vegetação remanescente chegando
a 90,2%. As comunidades presentes estão afastadas entre si, maioria das propriedades são
fazendas, onde os residentes cuidam do local em troca de moradia. No polígono de Cerro Corá
(Polígono 3) ainda apresenta remanescentes bem preservados de Caatinga arbórea uma das
fisionomias vegetais mais ameaçadas do Bioma no entorno de 97,3%. Além disso, a área de
Cerro Corá abriga parte das cabeceiras do Rio Potengi, que desagua na cidade de Natal,
representando o rio mais importante do Estado. Em Cerro Corá, assim como em Lajes, existem
muitas áreas de fazenda, onde os moradores não são os donos das propriedades e as
comunidades são muito distantes entre si (Cartograma Projeto Caatinga Potiguar, 2016).
Em Luís Gomes (Polígono 4) esta área faz parte da cabeceira do rio Apodi-Mossoró, o
qual fornece água para importantes barragens, como a de Santa Cruz a segunda maior do estado
que fornece recursos hídricos para a manutenção da agricultura irrigada praticada na Chapada
do Apodi. A cobertura vegetal desta área, representada por uma caatinga arbórea densa
relativamente bem preservada em torno de 61,1%, e está conectada a outros a Paraíba e Ceará,
os quais parecem servir de fonte de indivíduos para a fauna encontrada na região de Luís
Gomes. Contudo, a ocupação desordenada associada à retirada de lenha e posterior queima do
restante da vegetação para a criação de roçados tem alterado significativamente os hábitats desta
região. As comunidades estão distribuídas muito próximas umas das outras e existe um rápido
acesso aos centros urbanos. A região de Felipe Guerra (Polígono 5) localiza se na chapada do
Apodi, a Caatinga nessa região são típicas de áreas mais baixas e abertas, com vegetação de
porte mais baixo, representada pela caatinga arbórea-arbustiva no entorno de 80,4%. A
agricultura, especialmente nas várzeas do rio Apodi-Mossoró, a exploração de petróleo,
pecuária e extração de lenha também figuram como importantes atividades econômicas. As
comunidades estudadas nessa área são maiores e localizam-se próximas às cidades (Cartograma
Projeto Caatinga Potiguar, 2016).
Seleção das comunidades
Foram selecionadas para participar da pesquisa as comunidades rurais distribuídas ao
longo dos polígonos mencionados acima, totalizando 24 comunidades estudadas. Procurou-se
amostrar todas as casas das comunidades selecionadas, de forma a abranger o maior número de
informantes possível. A seleção dos informantes obedeceu aos seguintes critérios: as pessoas
deveriam ser, preferencialmente, chefes de família e ter obrigatoriamente mais de 18 anos.
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Todas as pessoas foram solicitadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, observando-se as considerações éticas e legais de acordo com a Resolução nº 466
de 12 de dezembro de 2012 (Brasil, 2012). Esta pesquisa foi aprovada pelo CEP- Comitê de
ética em pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com número de aprovação:
CAAE 48378315.0.0000.5537.
Coleta de dados
A coleta de dados ocorreu entre outubro de 2014 e julho de 2015. Na primeira visita a
cada comunidade, aplicamos um questionário socioeconômico. Este questionário objetivou
definir o perfil dos entrevistados a partir de informações como: idade, ocupação, escolaridade,
fonte de renda, número de moradores na residência e tempo de moradia na comunidade.
Adicionalmente à estas perguntas os informantes foram questionados sobre a pose de moradia
própria e ocupação (atividades de geração de renda ou não). Estas atividades foram divididas
em duas categorias: aquelas relacionadas ao uso da biodiversidade da Caatinga e as atividades
alternativas que não estavam vinculadas à utilização de recursos naturais.
Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas para caracterizar o uso dos recursos
naturais animais e vegetais da Caatinga. Para obter o conjunto de espécies que são consumidas
pelos entrevistados foi utilizada a técnica de lista livre associada à técnica de nova leitura
(Albuquerque et al. 2010). Esta técnica consiste em pedir ao informante para listar todas as
espécies que são consumidas. Questionamos também qual a frequência de uso destas espécies,
a fim de identificar a importância do recurso consumido na dieta dos entrevistados.
Posteriormente, os informantes foram questionados sobre qual centro urbano era mais
frequentado e quais os itens alimentares mais importantes eram obtidos destes locais e/ou da
própria comunidade. Também questionamos: qual o meio de transporte utilizado e o tempo para
acessar os locais citados, a quantidade consumida de cada recurso e a frequência de consumo.
Estes questionamentos permitiram identificar todas as fontes de recursos alimentares dos
informantes, além dos recursos naturais da Caatinga, e como os centros urbanos contribuem
para a segurança alimentar nas comunidades rurais.
A identificação das espécies baseou-se em nome popular. Assim, apesar de não terem
sido coletadas, foram identificadas com o auxílio de pesquisadores especialistas nas diferentes
áreas de conhecimento (botânica e zoologia) com experiência no desenvolvimento de pesquisas
na Caatinga.
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Análise de Dados
Primeiramente, foram realizadas estatísticas descritivas para caracterizar o perfil
socioeconômico das comunidades e o uso dos recursos naturais e dos centros urbanos.
Calculamos a frequência de citação de uso para os polígonos somando o total de vezes em que
determinada espécie foi citada e dividindo pelo total de informantes de cada polígono. Após
essa etapa, para saber se havia diferença entre o número de plantas e animais consumidos por
cada informante nos diferentes polígonos, foi realizada uma análise com o Modelo Linear
Generalizado (GLM), com distribuição de Poisson, entre as variáveis “número de espécies
consumidas” e “polígono”. Com a utilização deste modelo, pudemos fazer uma melhor
caracterização do consumo dos recursos naturais da Caatinga e verificar a existência de
alterações no consumo das espécies entre as áreas.
Para saber quais são os fatores sociais e econômicos que influenciam no consumo dos
recursos naturais da Caatinga pelas comunidades, utilizamos novamente o Modelo Linear
Generalizado (GLM), binomial negativo (devido à overdispersion1), selecionado por stepwise
(backward e forward), realizado no programa estatístico R utilizando o pacote MASS, para as
variáveis presentes na Tabela 1.
Tabela 1. Variáveis socioeconômicas utilizadas no Modelo Linear Generalizado (GLM),
binomial negativo, coletadas para cada informante nos cinco polígonos estudados na Caatinga
do estado do Rio Grande do Norte. Nas colunas, está a caracterização das variáveis: dependente
(Dep), independente (Ind), contínua (Cont) e categórica (Cat).
Variável Dep Ind Cont Cat
Número de espécies consumidas X X
Possui casa própria X X
Tempo na região X X
Número de moradores na residência X X
Renda total da casa no mês X X
Número de pessoas que geram renda X X
Quantos anos estudou X X
Número de atividades relacionadas ao uso da Caatinga X X
Número de atividades alternativas ao uso da Caatinga X X
Tipo de meio de transporte X X
Média da frequência de uso dos recursos dos centros
urbanos X X
Frequência de uso real dos recursos da Caatinga X X
1 Overdispersion acontece quando a variância é maior do que a média.
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Para preencher as lacunas de informação relativas à variável “uso dos recursos dos
centros urbanos”, foi adotada a mediana dos valores correspondentes ao total de pessoas de
cada polígono, calculada por meio do programa BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007). Outra variável
que continha algumas lacunas de informação foi o tempo que o informante mora na
comunidade. Para preencher essas lacunas, adotamos a média das idades dos informantes da
referida comunidade. As frequências de uso real das espécies foram categorizadas em: não sabe,
não tem frequência, usa quando precisa, usou há mais de 10 anos, a cada 5 ou 10 anos, entre 2
e 5 anos, 1 a 2 anos, 1 a 4x/ano, 4 a 12x/ano, 2 a 9x/mês, 10 a 20x/mês e todo dia.
Posteriormente, essas categorias foram pontuadas com valores proporcionais, variando de zero
(0 – menor frequência de uso) a um (1 – maior frequência de uso). Por fim, categorizamos as
informações referentes ao meio de transporte utilizado da seguinte forma: vai a pé ou de
bicicleta (1 ponto); vai de carroça (2 pontos); e vai de carro, moto ou outro veículo motorizado
(3 pontos).
Resultados
Perfil socioeconômico das comunidades estudadas
No total foram entrevistados 254 informantes nos cinco polígonos, 33% dos informantes
em Luís Gomes, 25% em Felipe Guerra, 15% em Coronel Ezequiel, 14% a Lajes e 13% a Cerro
Corá.
Nossas variáveis socioeconômicas analisadas por polígonos nos mostram que, Luís
Gomes (polígono 4), destaca se por apresentar o maior tempo em que os moradores moram na
região em torno de 38 anos, já a variável casa própria, Coronel Ezequiel (polígono 1) mostra se
como o polígono que mais apresentou informantes com moradia própria. Lajes (polígono 2) se
destacou por apresentar a região com maior número de moradores na residência e pessoas que
geram renda. Para a variável anos de estudo Coronel Ezequiel (polígono 1) apresentou uma
maior média em torno de 6, mostrando que os informantes possuem apenas ensino fundamental.
A renda total foi maior em Luís Gomes (polígono 4) e em Felipe Guerra (polígono 5), (Figura
2).
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Figura 2. Variáveis socioeconômicas (tempo na região, casa própria, moradores na residência,
pessoas que geram renda, anos de estudo e renda total) nos polígonos estudados na Caatinga no
estado do Rio Grande do Norte, Brasil.
Dentre as atividades relacionadas ao uso dos recursos da Caatinga estão: agricultura
(observada para 75% dos entrevistados), criação de animais (10%), produção de carvão (1%) e
extrativismo (1%). Dentre as atividades alternativas foram identificadas: cuidar do lar
(desenvolvida por 39% dos entrevistados), prestação de serviços com contrato (1%), comércio
(4%), serviço público (9%), construção civil (1%) e trabalho autônimo (7%).
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Consumo de recursos dos centros urbanos
Encontramos um total de 13 recursos provenientes dos centros urbanos, ou mesmo da
própria comunidade, que são utilizados pelos informantes: feijão, arroz, açúcar, café, farinha,
carne, verduras, macarrão, óleo, frango, farinha de milho, rapadura e leite.
Caracterização do consumo dos recursos da Caatinga
Cinquenta e duas espécies foram citadas pelos entrevistadas como utilizadas como fonte
de alimento nos cinco polígonos estudados. Destas, 26 são espécies de animais (oito aves, 14
mamíferos e quatro répteis) e 26 são espécies de plantas.
Dentre as espécies de aves mais consumidas podemos destacar o polígono dois com as
maiores frequências de uso: Leptotila sp. – juriti (0.09), Zenaida auriculata – ribaçã (0.18),
Columbina talpacoti – rolinha (0.21), e Crypturellus tataupa – inhambu (0.24). Para os
mamíferos, os mais utilizados para uso alimentício são: Galea spixii – preá (0.24), tatu
(identificação científica não confirmada) (0.41), Euphractus sexcinctus – peba (0.44), e
Tamandua tetradactyla – tamanduá mirim (0.21). Dos répteis, apenas uma espécie foi
considerada como mais consumida Salvator merianae – téju (0.24). As espécies de mamíferos
e répteis apresentam maiores frequências de uso no polígono dois (Tabela 2).
As plantas alimentícias mais usadas pelas comunidades nos cinco polígonos são:
Anacardium occidentale L – cajueiro (0,22) com maior frequência de uso no polígono cinco,
Spondias tuberosa Arruda – imbuzeiro (0,47) no polígono três e Ziziphus joazeiro Mart.–
juazeiro (0,09), mais utilizada no polígono dois (Tabela 2).
Dentre as espécies de aves que foram menos utilizadas podemos destacar a Cariama
cristata – siriema (0,03), no polígono um, e Aratinga cactorum - periquito (0,03), no polígono
3. Os mamíferos menos utilizados como alimento foram: o preá do mato (0,01), no polígono
quatro, Dasypus novemcinctus – tatu galinha (0,03) e Tolypeutes tricinctus – tatu bola (0,03), ambos
no polígono um, e Leopardus sp. – gato do mato maracajá (0,03) no polígono dois. As espécies
de répteis que são menos usados foram o jacaré (0,01), presente no polígono quatro, e a girita
(identificação científica não confirmada) (0,02), no polígono cinco (Tabela 2).
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As espécies de plantas que são utilizadas em menor frequência são: Mangifera indica
L.– magueira, Licania sp. – oitizeiro, Cucumis anguria L. – maxixe, Erythrina velutina Willd.
– mulungu, com frequência de uso (0,01), todas respectivamente no polígono quatro. Anona sp.
– araticum, Cocos nucifera L. – Coqueiro, Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore – carnaúba,
Tamarindus indica L. – tamarindo, presentes no polígono cinco, possuem frequência de uso de
0,02 (Tabela 2).
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Tabela 2. Frequência de uso alimentício dos recursos naturais animais e vegetais da Caatinga do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, com
seus respectivos nomes científico e popular e sua origem, separados por polígono. Pol – Polígono; N - Quantidade de vezes que a espécie foi
utilizada; FU - Frequência de uso; NI – Não Identificado.
Grupo/ Família Nome científico Nome popular Origem Pol 1 Pol 2 Pol 3 Pol 4 Pol 5 Total
de
uso
Animais N FU N FU N FU N FU N FU
Aves
Columbidae Patagioenas picazuro
(Temminck, 1813)
asa branca Nativa 1 0.03 1 0.02 2
Leptotila sp. Juriti Nativa 3 0.08 3 0.09 2 0.06 2 0.02 2 0.03 12
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Ribaçã Nativa 2 0.05 6 0.18 1 0.03 2 0.02 7 0.11 18
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha Nativa 3 0.08 7 0.21 4 0.12 6 0.0
7
6 0.09 26
Cariamidae Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Siriema Nativa 1 0.03 1
Tinamidae Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) inhambu Nativa 4 0.11 8 0.24 2 0.06 6 0.0
7
3 0.05 23
Psitacidae Aratinga cactorum periquito Nativa 1 0.03 1
Tinamidae Nothura boraquira (Spix, 1825) corduniz Nativa 1 0.0
1
1 0.02 2
Mamíferos
Caviidae Galea spixii (Wagler, 1831) Preá Nativa 7 0.18 8 0.24 3 0.09 6 0.0
7
3 0.05 27
Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820) Mocó Nativa 3 0.08 6 0.18 1 0.03 10
NI preá do mato Nativa 1 0.0
1
1
Cervidae Mazama sp. Veado Nativa 2 0.05 9 0.26 3 0.09 7 0.0
8
21
Dasypodidae Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) tatu galinha Nativa 1 0.03 1
NI Tatu Nativa 4 0.11 14 0.41 3 0.09 9 0.1
1
2 0.03 32
18
Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758) tatu bola Nativa 1 0.03 1
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Peba Nativa 4 0.11 15 0.44 2 0.06 6 0.0
7
16 0.25 43
Echimyidae Thricomys laurentius (Thomas, 1904) Punaré Nativa 5 0.15 5
Felidae NI gato do mato Nativa 2 0.05 1 0.03 3
Puma yagouaroundi (É, Geoffroy Saint-Hilare,
1803)
gato do mato
vermelho
Nativa 1 0.03 1 0.03 2
Leopardus sp. gato do mato
maracajá
Nativa 1 0.03 1
Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) tamanduá mirim Nativa 4 0.11 7 0.21 1 0.03 1 0.02 13
NI NI Gambá Nativa 2 0.05 5 0.15 7
Répteis
Iguanidae Iguana iguana (Linnaeus, 1758) camaleão Nativa 2 0.05 4 0.12 6
Teiidae Salvator merianae (Duméril e Bibron, 1839) Téju Nativa 2 0.05 8 0.24 2 0.06 4 0.05 8 0.13 24
Alligatoridae NI Jacaré Nativa 1 0.01 1
Mephitidae Conepatus semistriatus Girita Nativa 1 0.02 1
Vegetais
Anacardiaceae Anacardium occidentale L. Cajueiro Nativa 2 0.05 1 0.03 1 0.03 7 0.08 14 0.22 25
Mangifera indica L. mangueira Exótica 1 0.01 1
Spondias mombin L. cajazeira Nativa 15 0.18 2 0.03 17
Spondias sp.1 Cajarana Nativa 6 0.07 14 0.22 20
Spondias mombin L. siriguela Exótica 4 0.05 2 0.03 6
Spondias tuberosa Arruda imbuzeiro Nativa 16 0.42 8 0.24 16 0.47 40
Annonaceae Anona sp. Araticum Nativa 1 0.02 1
Arecaceae Syagrus oleracea (Mart.) Becc coco catolé Nativa 1 0.03 1
Cocos nucifera L. coqueiro Exótica 1 0.02 1
Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore carnaúba Nativa 1 0.02 1
Cactaceae Cereus jamacaru DC. Cardeiro Nativa 1 0.03 1
Pilosocereus sp. Facheiro Nativa 1 0.03 1
19
Chrysobalanaceae Licania sp. Oitizeiro Nativa 1 0.01 1
Curcubitaceae Cucumis anguria L. Maxixe Nativa 1 0.01 1
Euphorbiaceae Jatropha sp.1 Pinhão Nativa 1 0.01 2 0.03 1
Fabaceae Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. Jucá Nativa 1 0.03 1
Erythrina velutina Willd. mulungu Nativa 1 0.01 1
Tamarindus indica L. tamarindo Exótica 1 0.02 1
Linaceae Linum usitatissimum L. Linhaça Exótica 1 0.03 1
Myrtaceae Eugenia sp. Ubaia Nativa 1 0.03 1
Psidium guajava L. goiabeira Exótica 1 0.01 2 0.03 1
Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart. Juazeiro Nativa 3 0.09 2 0.06 1 0.01 6
Sapindaceae Talisia esculenta (Cambess.) Radlk. Pitombeira Nativa 1 0.03 4 0.05 5
Sapotaceae Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.)
T.D.Penn.
quixabeira Nativa 3 0.09 3
NI NI Incó Nativa 1 0.03 1
NI NI Sodoro Nativa 2 0.06 2
20
O polígono dois foi o que apresentou a maior média de consumo de recursos naturais
(3,85±3,99), enquanto o polígono quatro apresentou a menor média (1,11±1,46) (Tabela
3). O mesmo padrão se mantém quando considerado apenas o consumo de espécies
animais, com a maior média observada no polígono dois (3,17±3,49), e a menor
(0,6±1,11) no polígono quatro. Já quando se analisa o consumo de plantas, o polígono
três apresenta a maior média (1,21±0,66), enquanto o polígono quatro a menor
(0,51±0,99) (Tabela 3).
Tabela 3. Médias e desvio padrão do número de plantas e animais em cada polígono
estudado na Caatinga do estado do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil.
Média e Desvio Padrão do consumo dos recursos
Polígono 1 Polígono 2 Polígono 3 Polígono 4 Polígono 5
Espécies em geral 1,82 (±2,68) 3,85 (3,99) 1,2 (1,53) 1,11 (1,46) 1,48 (1,65)
Plantas 0,52 (0,71) 0,67 (1,22) 1,21 (0,66) 0,51 (0,99) 0,67 (1,18)
Animais 1,28 (2,76) 3,17 (3,49) 0,74 (1,36) 0,6 (1,11) 0,79 (1,25)
O resultado obtido no GLM para o número de recursos por polígono mostra uma
variação significativa (X² = 31,08; grau de liberdade = 4; P = 0,007) entre as áreas
estudadas. Os resultados também mostram um maior consumo de animais no polígono
dois em relação aos demais polígonos (Figura 3).
Figura 3. Quantidade de recursos consumidos por polígono estudado na Caatinga do Rio Grande
do Norte, nordeste do Brasil. Os números representam os cinco polígonos estudados. Os boxplots
de cor verde representam o consumo de plantas e os de cor vermelho mostram o consumo de
animais. As linhas mais escuras a mediana e os bigodes o valor máximo e mínimo.
21
Fatores que influenciam no consumo dos recursos naturais da Caatinga
O modelo GLM binomial negativo selecionou as variáveis que explicaram melhor
o número de espécies da Caatinga consumidas pelas pessoas em cada polígono (R² = 0,44)
(Tabela 4). Dessa forma, observamos que quanto maior o número de membros na família
maior o consumo dos recursos da Caatinga. Da mesma forma, o modelo mostrou que
quanto maior a frequência de uso real das espécies, maior tende a ser também a
quantidade de espécies consumidas. As demais variáveis não apresentaram relação
significativa com o número de recursos da Caatinga consumidos pelos informantes.
Tabela 4. Variáveis selecionadas pelo modelo GLM binomial negativo, com o valor do
teste, os graus de liberdade e nível de significância de P.
Variáveis X² Gl P
Frequência de uso real 148,9 1 <0,001
Moradores na residência 8,7 1 0,003
Discussão
As comunidades estudadas ainda apresentam um perfil tipicamente rural, com
atividades relacionadas ao uso da Caatinga. A agricultura ainda permanece como uma
atividade econômica de subsistência no semiárido do nordeste do Brasil, principalmente
as monoculturas de milho e feijão (Lins Neto et al. 2010), mesmo em épocas de muita
seca.
O uso dos recursos alimentícios da Caatinga pelas populações locais ainda é uma
prática recorrente. Observamos neste estudo que em todos os polígonos há a utilização
tanto de espécies da fauna como da flora. Esse consumo de recursos naturais alimentícios
ocorre em comunidades por todo o mundo, como no sul da Etiópia, onde a refeição diária
da maioria das pessoas é composta por um elemento de alimentos selvagens (Dechassa e
Guinand 2000). Já no nordeste do Brasil, algumas espécies de plantas nativas que servem
de alimento fazem parte do convívio das comunidades na região (Cruz et al., 2013). No
nosso estudo, as comunidades do RN também se utilizam de espécies nativas para
complementar a alimentação, dando maior segurança alimentar para suas famílias.
Nesse trabalho encontramos uma grande quantidade de plantas usadas como
forma de alimento, um total de 26 espécies. Este número de espécies consumidas se
assemelha ao total de 21 espécies de plantas selvagens alimentícias que são usadas em
22
comunidades tradicionais da Islândia (Serrasolses et al. 2016). Na Caatinga, as espécies
nativas são usadas por comunidades rurais que demonstram um conhecimento expressivo
da riqueza vegetal e reconhecem o valor utilitário das espécies vegetais, sendo um reflexo
da variedade de usos que possuem (Silva et al., 2014). Esses autores afirmam ainda que
os recursos utilizados atendem às necessidades locais da população, similarmente ao
observado no presente estudo.
Algumas das espécies de plantas mais utilizadas que observamos no nosso estudo,
Anacardium occidentale L (cajueiro) e Spondias tuberosa (imbuzeiro), se destacam por
serem plantas frutíferas. A relação das pessoas com o uso de espécies selvagens leva em
consideração, principalmente, o tamanho e o sabor dos frutos a serem apreciados pelas
comunidades (Lins Neto et al. 2013). Outros estudos têm chegado a conclusões
semelhantes, como Ruenes-Morales et al. (2010), por exemplo, verificaram que a doçura
da fruta, a espessura e quantidade de polpa são usados para definir a qualidade dos
alimentos pelas pessoas, o que pode justificar o cajueiro e o imbuzeiro serem
frequentemente utilizados pela população estudada neste trabalho. Além das espécies
frutíferas nativas, também são utilizadas espécies exóticas.
Aqui, não só observamos a utilização de plantas alimentícias, como também o uso
de recursos da fauna da Caatinga voltados para fins alimentícios. De acordo com Alves
et al. (2009), a persistência das atividades de utilização de animais silvestres na região
semiárida, mesmo sendo considerada uma atividade ilegal, certamente está associada a
questões culturais e também ao fato de que esse consumo tem uma importância
nutricional significativa. De forma mais ampla, a captura de animais selvagens contribui
tanto direta quanto indiretamente para a subsistência das comunidades humanas em todo
o mundo (Pattiselanno, 2004).
O uso de aves silvestres é uma prática enraizada na cultura dos sertanejos
(Fernandes-Ferreira et al. 2010). Nesse sentido, as espécies de aves são recursos
importantes para os entrevistados, como visto no presente estudo. Das espécies de aves
que foram menos utilizadas como fonte de alimento nesse estudo, destacamos a Cariama
cristata (siriema) que, segundo Bezerra et al. (2012), possui hábitos noturnos, tonando
assim sua captura mais difícil pois exige que seja procurada no seu habitat natural. A
Aratinga cactorum (periquito) também teve um baixo consumo alimentício, o que pode
ser explicado, possivelmente, devido a ser um animal bastante comum para criação em
gaiolas como animal de estimação (Perlo 2009).
23
As espécies de mamíferos que encontramos com um maior uso alimentício, como
Galea spixii – preá, tatu (identificação científica não confirmada), Euphractus sexcinctus
– peba, Tamandua tetradactyla – tamanduá mirim, podem representar fontes alternativas
de proteína para as populações humanas locais (Barbosa et al 2011). Isto se deve ao fato
de que, em geral, os mamíferos são altamente valorizados devido a dois fatores principais:
a abundância relativa destes animais em comparação com os outros grupos e seu tamanho
médio a grande, o que implica em mais conteúdo de proteína (Barbosa et al. 2011). A
prática de consumo de mamíferos selvagens ainda é elevada principalmente em pessoas
mais idosas das comunidades onde a carne é o principal produto utilizado para
alimentação (Melo et al. 2014). O uso de espécies nativas de mamíferos acontece também
na Mata Atlântica com diferentes intensidades, e em alguns casos, é uma fonte
complementar de proteína animal para famílias caiçaras (Hanazaki et al.2009).
Dos répteis, apenas uma espécie foi considerada como mais consumida (Salvator
merianae – téju), possivelmente por possuir um alto potencial cinegético e ser
considerada a maior espécie de lagarto do semiárido (Vanzolini et al 1980). A importância
cinegética, ou seja, um maior valor nutricional das espécies do gênero é reconhecido em
diferentes localidades no Brasil e em outros países. Fitzgerald (1994) afirma que estes
lagartos são muito caçados para consumo na Argentina, Paraguai e partes da Bolívia.
Apesar de não termos avaliado este aspecto para o estado do Rio Grande do Norte, no
semiárido nordestino, o téju é considerado uma iguaria, tendo o sabor da sua carne
comparado ao da carne de frango (Alves et al. 2012).
Quando comparamos o uso de ambos os grupos de espécies (animais e vegetais)
da Caatinga pelas comunidades locais, nossos testes estatísticos mostraram um maior
consumo da fauna, especificamente no polígono dois. A persistência do consumo elevado
de animais silvestres, no nosso estudo, pode estar intimamente associada com aspectos
culturais, como a caça (Alves et al., 2009), principalmente para fins esportivos.
Apesar da clara contribuição nutricional de algumas espécies de animais para a
dieta de muitas comunidades humanas (Alves et al., 2009), ou de espécies de plantas, no
nosso estudo, vemos que a Caatinga não é a única provedora de recursos alimentares
básicos e que garantem a seguridade alimentar das famílias. O levantamento realizado
neste trabalho mostrou que existe ainda um leque de outros recursos, ou produtos,
provenientes dos centros urbanos e da própria comunidade que são utilizados pelas
famílias.
24
No entanto, nossa análise estatística mostra que nem a distância (vista como meios
de transporte usados) para acessar os centros urbanos nem a frequência de consumo dos
produtos desses locais estão correlacionadas com o consumo das espécies da Caatinga.
Diferentemente do que encontramos em nosso estudo, em outras regiões semiáridas, na
África, há um aumento da utilização de recursos alimentares quando comunidades rurais
estão mais distantes de outros recursos de fácil acesso, de forma que as comunidades se
adaptam ao seu meio e incluem os recursos naturais nas suas rotinas alimentares
(Shackleton et al. 1998). Aqui, os recursos naturais fazem parte da dieta, mas não
podemos afirmar que isto se deve a um possível aumento da distância entre a comunidade
e o centro urbano, ou mesmo à facilidade/dificuldade de aquisição desses produtos nas
cidades, pois isso não foi avaliado no nosso trabalho
Observamos também que algumas das nossas variáveis socioeconômicas não
foram correlacionadas com o uso dos recursos da Caatinga, como a escolaridade dos
informantes. Isto nos mostra que o uso dos recursos ocorre independentemente do seu
grau de conhecimento escolar e pode estar refletindo, na verdade, o conhecimento popular
quando decide utilizar esses recursos. As atividades desenvolvidas, como atividades
alternativas e de uso da Caatinga não foram significativas com relação os usos dos
recursos naturais, porém a maioria dos informantes são agricultores e utilizam a Caatinga
também para plantar outros recursos alimentares que venha contribuir para segurança
alimentar das comunidades. Em regiões de Bali na Indonésia, comunidades estudadas
também apresenta um reflexo onde as variáveis socioeconômicas semelhantes às do nosso
estudo não têm influenciado o uso de recurso naturais pelas pessoas (Sujarwo et al. 2014).
Por outro lado, percebemos que um dos fatores principais que influenciam o
consumo dos recursos naturais da Caatinga estão relacionados ao número de moradores
nas residências, ou seja, quanto mais pessoas nas residências, maior será o consumo dos
recursos naturais. Lucena et al (2007) afirma que o consumo de recursos naturais cresce
em resposta ao número de unidades residentes nas comunidades como também ao número
de membros em uma unidade familiar.
Diferentemente do que poderia se imaginar, o consumo dos recursos da Caatinga
não necessariamente está atrelado às condições de renda das famílias. Em muitos casos,
a utilização dos recursos naturais é mais expressiva em comunidades mais pobres e de
menor poder aquisitivo (Balick & Cox 1996), o que difere do encontrado no presente
estudo. Este fato, atrelado a uma maior expressividade da caça em comparação ao uso de
25
plantas, nos mostra que a utilização dos recursos alimentícios da Caatinga pode, de fato,
estar mais vinculada a fatores culturais do que de subsistência, propriamente dita.
Assim, acreditamos que a utilização das espécies animais e vegetais do
ecossistema estudado pode auxiliar na manutenção da segurança alimentar das famílias,
funcionando como recursos temporais extras. Isto porque a região da Caatinga apresenta
uma sazonalidade marcante que afeta a disponibilidade de recursos em toda a região e
que reduz as oportunidades de explorar as espécies que são úteis para população local
(Araújo et al., 2002; Reis et al. 2006) em determinadas épocas do ano.
Considerações finais
A utilização dos recursos naturais alimentícios da Caatinga pelas comunidades
rurais do semiárido se torna uma fonte de subsistência alternativa, bem como uma prática
relacionada à cultura das comunidades. Nossos resultados permitiram avaliar, localmente,
como algumas variáveis socioeconômicas, como o número de moradores nas residências,
anos de estudo, moradia própria, pessoas que geram renda, tempo na região e renda total
factíveis de serem coletadas em outras realidades, podem se relacionar e influenciar o
consumo de espécies por comunidades humanas em ambientes naturais.
No entanto, é válido ressaltar que alguns dos resultados encontrados aqui
diferiram de outros estudos realizados na mesma temática. De fato, a Caatinga é um
ambiente único, com uma sazonalidade marcante, e que, devido a isso, possui
características muito particulares. Isto reverbera no cotidiano das populações residentes
no semiárido, o que pode influenciar fortemente suas manifestações culturais e a forma
como elas lidam com os recursos alimentícios disponíveis.
26
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