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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DOS RECURSOS NATURAIS DA CAATINGA COMO FONTE DE ALIMENTO EM COMUNIDADES RURAIS DE REGIÕES SEMIÁRIDAS, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL ANIELE DA SILVA ARAÚJO NATAL - RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA

FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DOS RECURSOS NATURAIS DA CAATINGA

COMO FONTE DE ALIMENTO EM COMUNIDADES RURAIS DE REGIÕES

SEMIÁRIDAS, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

ANIELE DA SILVA ARAÚJO

NATAL - RN

2016

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ANIELE DA SILVA ARAÚJO

FATORES QUE INFLUENCIAM O USO DOS RECURSOS NATURAIS DA CAATINGA

COMO FONTE DE ALIMENTO EM COMUNIDADES RURAIS DE REGIÕES

SEMIÁRIDAS, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

Trabalho de conclusão de curso em Ecologia, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

apresentado à banca de avaliação como requisito

para obtenção do título de Bacharel em Ecologia.

Orientadora: Dra. Priscila F. M. Lopes

Coorientadora: MSc. Maria Clara B. T. Cavalcanti

Agradecimentos:

A todos que contribuíram direta ou indiretamente

para minha formação, o meu muito obrigado.

Agradecer em especial a minha coorientadora;

MSc. Maria Clara B. T. Cavalcanti, por não medir

esforços em ajudar desde a coleta de dados até os

últimos ajustes nesse trabalho, o meu muito

obrigado.

NATAL – RN

2016

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .................................................................................................... 3

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... 4

RESUMO ......................................................................................................................... 5

INTRODUÇÃO............................................................................................................... 6

MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 8

Área de estudo ................................................................................................................

Seleção das comunidades ...............................................................................................

Coleta de dados ..............................................................................................................

Análise de dados .............................................................................................................

8

10

11

12

RESULTADOS .............................................................................................................. 13

DISCUSSÃO................................................................................................................... 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 26

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Variáveis socioeconômicas utilizadas no Modelo Linear Generalizado

(GLM), binomial negativo, coletadas para cada informante nos cinco

polígonos estudados na Caatinga do estado do Rio Grande do Norte. Nas

colunas, está a caracterização das variáveis: dependente (Dep), independente

(Ind), contínua (Cont) e categórica (Cat).

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Tabela 2 Frequência de uso alimentício dos recursos naturais animais e vegetais da

Caatinga do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, com seus respectivos

nomes científico e popular, separados por polígono. Pol – Polígono; N -

Quantidade de vezes que a espécie foi utilizada; FU - Frequência de uso; NI

– Não Identificado.

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Tabela 3 Médias e desvio padrão do consumo de plantas e animais em cada polígono

estudado na Caatinga do estado do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil,

onde N é o número de recursos consumidos.

20

Tabela 4 Variáveis selecionadas pelo modelo GLM binomial negativo, com o valor do

teste, os graus de liberdade e nível de significância de P.

21

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa do estado do Rio Grande do Norte (RN), nordeste do Brasil,

apresentando a delimitação dos biomas Caatinga e Mata Atlântica. As áreas

marcadas em vermelho representam os polígonos escolhidos para o estudo:

polígono 1 – Coronel (Cel.) Ezequiel; polígono 2 – Lajes; polígono 3 – Cerro

Corá; polígono 4 – Luís Gomes; polígono 5 – Felipe Guerra.

9

Figura 2 Variáveis socioeconômicas (tempo na região, casa própria, moradores na

residência, pessoas que geram renda, anos de estudo e renda total) nos

polígonos estudados na Caatinga no estado do Rio Grande do Norte, Brasil.

14

Figura 3 Quantidade de recursos consumidos por polígono estudado na Caatinga do Rio

Grande do Norte, nordeste do Brasil. Os números representam os cinco

polígonos estudados. Os boxplot verdes representam o consumo de plantas e

os em vermelho o consumo de animais, as linhas mais escuras a mediana e os

bigodes o valor máximo e mínimo.

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RESUMO

A alimentação é um dos requisitos fundamentais para a manutenção da vida dos seres

humanos e os recursos naturais, muitas vezes, suprem essa necessidade, principalmente

daquelas famílias com os menores potenciais aquisitivos. Neste trabalho, verificarmos como as

variáveis sociais e econômicas podem influenciar o uso dos recursos naturais alimentícios no

semiárido, discutindo sua importância na manutenção tanto da segurança alimentar quanto dos

aspectos culturais relacionados a esta utilização. O estudo foi realizado no estado do Rio Grande

do Norte, em um total de 24 comunidades estudadas distribuídas em cinco áreas denominadas

polígonos, mediante sua importância para conservação. A coleta de dados ocorreu entre outubro

de 2014 e julho de 2015, por meio de questionários socioeconômicos e entrevistas

semiestruturadas. Entrevistamos um total de 254 pessoas, residentes nos cinco polígonos. Um

total de 52 espécies são consumidas pelos informantes, sendo 26 espécies de animais e 26 de

plantas. O Euphractus sexcinctus – peba apresentou uma maior frequência de uso no polígono

dois, para plantas o Spondias tuberosa Arruda – imbuzeiro foi mais frequente no polígono

cinco. Nossos resultados mostraram que houve diferença de consumo entre as áreas estudadas

e as variáveis, frequências de uso real e moradores na residência como variáveis correlacionadas

ao consumo dos recursos da Caatinga. Assim o uso dos recursos naturais alimentícios da

Caatinga pelas comunidades rurais do semiárido se torna uma fonte de subsistência alternativa,

bem como uma prática relacionada à cultura das comunidades.

Palavras chave: Centros urbanos, fatores socioeconômicos, recursos alimentícios, Segurança

alimentar, nordeste do Brasil

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Introdução

Os recursos naturais alimentícios têm tido um papel fundamental para comunidades

humanas em todo o mundo ao contribuir para a manutenção da subsistência das famílias

(Toledo & Barreira-Bassols 2010), especialmente daquelas que possuem menores poderes

aquisitivos. Assim, é necessário garantir o acesso das populações a uma alimentação de

qualidade, que supra sua demanda energética. Nesse sentido, alguns recursos naturais podem

servir como fontes de proteína animal (Alves et al. 2009) e vegetal (Cruz et al. 2013)

alternativas, garantindo uma estabilidade ou segurança alimentar para muitas pessoas.

Partindo deste princípio, a segurança alimentar é considerada o estado em que todas as

pessoas, em qualquer momento, têm acesso físico, social e econômico a uma quantidade de

alimentos suficientes, que sejam nutritivos e provenientes de uma fonte de produção segura, de

maneira a satisfazer suas necessidades e preferências alimentares diárias, garantindo uma vida

saudável (FAO, 2009). Essa definição de segurança alimentar leva em consideração a

disponibilidade e o acesso aos alimentos, além da estabilidade e dimensão nutricional desses

recursos alimentares no mundo (FAO, 2014). Isto implica dizer que os alimentos deveriam estar

disponíveis em quantidades e qualidades suficientes, a preços acessíveis e distribuídos para

todas a pessoas (Conselho Mundial da Alimentação, 1988).

Segundo Maluf (2001), alguns problemas sociais, como a pobreza, estão intimamente

relacionados à insegurança alimentar de muitos indivíduos e quanto mais pobre e desigual for

uma sociedade, menor será a sua capacidade de demandar e distribuir seus alimentos. Umas das

alternativas para amenizar essa insegurança alimentar nas populações humanas seria a

utilização de recursos com baixo ou nenhum custo de aquisição, como os recursos naturais

(Bortolotto et al., 2015). A utilização de plantas na dieta por comunidades humanas, por

exemplo, pode ser considerada uma estratégia interessante a ser adotada em períodos de

escassez de alimento (Shumsky et al., 2014), além de reduzir os gastos com produtos que

venham dos centros urbanos.

A região nordeste do Brasil concentra uma grande parte da pobreza nacional,

principalmente nas áreas rurais (Sobel et al., 2010). Nesta região, está localizado o bioma

Caatinga e a maior parte do semiárido brasileiro. Apesar disso, boa parte dos estudos de

subsistência realizados no país concentra-se ao longo da costa sudeste (Giraldi e Hanazaki

2014), embora diversos outros estudos venham sugerindo que o semiárido brasileiro seja um

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provedor importante de proteína animal (Alves et al. 2009), lenha (Lucena et al. 2007) e

remédios (Almeida et al. 2006) para as populações locais. Resta, no entanto, quantificar o papel

integrado do semiárido brasileiro como provedor de segurança alimentar.

Além da importância para a subsistência humana, o uso alimentício dos recursos

naturais, por vezes, relaciona-se à importância cultural que tais espécies possuem perante as

comunidades locais (Lozada et al. 2006). Por exemplo, há algum tempo vem sendo discutida a

verdadeira contribuição da caça para a subsistência de populações humanas, especialmente por

esta atividade ser considerada um tabu e apresentar uma base cultural bem expressiva em

ecossistemas semiáridos (Alves et al. 2009). Além do uso de espécies de animais, as

comunidades rurais ainda utilizam os recursos vegetais, muitas das espécies têm um valor

cultural forte sobre os seus usos como fontes alimento ou até mesmo medicinal (Lins Neto et

al. 2010).

Neste trabalho, partimos do princípio de que regiões semiáridas, especificamente a

Caatinga, não são ambientes homogêneos ambiental e socialmente, de forma que diferentes

locais devem contribuir de forma distinta para a segurança alimentar das comunidades rurais.

Além disso, a depender do local estudado, fatores sociais, econômicos e culturais podem

exercer diferentes pressões para incentivar a utilização dos recursos naturais alimentícios pelas

comunidades humanas. Assim, o presente trabalho tem como principal objetivo verificar como

as variáveis sociais e econômicas podem influenciar o uso dos recursos naturais alimentícios

no semiárido, discutindo sua importância na manutenção tanto da segurança alimentar quanto

dos aspectos culturais relacionados a esta utilização.

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Material e Métodos

Área de estudo

O bioma caatinga possui uma área de extensão de 844.453 km2 e está presente no

nordeste brasileiro, estendendo-se pelos estados do Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí,

Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe, além de ocupar pequenas porções de Minas Gerais e

do Maranhão (IBGE, 2004). Uma das características mais marcantes deste domínio são as fortes

irregularidades climáticas, apresentando valores meteorológicos extremos, destacando-se por

apresentar: forte insolação, baixa nebulosidade, altas médias térmicas (entre 25° e 30° C),

elevadas taxas de evaporação e, sobretudo, baixos índices pluviométricos, em torno de 500 a

700 mm anuais, com grande variabilidade espacial e temporal (Reddy, 1983; Sampaio, 2003).

A baixa pluviosidade associada à alta evapotranspiração potencial e à distribuição irregular das

chuvas tornam a Caatinga um ambiente marcado pela deficiência hídrica (Rodal et al., 1992;

Sampaio, 1995).

As características da vegetação são influenciadas pela heterogeneidade do relevo, clima

e solo. Dois tipos fisionômicos de vegetação dominam na área semiárida, as não florestais e as

florestais, que variam quanto à deciduidade foliar, de perenifólias, semidecíduas a decíduas

(Araújo et al., 2005), com presença ou ausência de folhas durante períodos do ano. A fauna da

Caatinga, apesar de ter sido originalmente descrita como contendo poucas espécies e baixo

endemismo (Vanzolini et al., 1980), hoje já comprova a existência de 167 espécies de répteis e

anfíbios (Rodrigues, 2003), 62 famílias e 510 espécies de aves (Silva el al., 2003) e 148 espécies

de mamíferos (Oliveira et al., 2003).

O presente estudo foi realizado em cinco áreas distintas no estado do Rio Grande do

Norte, o qual possui área de 53.077 km² (IDEMA 2010). Escolhemos este local porque 90% de

sua área está inserida dentro do domínio Caatinga (IDEMA 2010) e pela escassez local de

estudos sobre segurança alimentar derivada do uso de recursos naturais por comunidades

humanas.

As áreas onde a pesquisa foi realizada dentro do estado foram escolhidas no âmbito de

um projeto maior, denominado Projeto Caatinga Potiguar, mediante sua importância para a

conservação da biodiversidade da Caatinga. Essa seleção baseou-se: i) na escolha de fragmentos

que ainda detivessem potencial de conservação, segundo especialistas de vários grupos

taxonômicos animais e vegetais; e ii) na possibilidade de realização de estudos socioambientais

nessas áreas. Desta forma, cinco áreas prioritárias (aqui denominados polígonos) foram

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escolhidas para realização deste estudo. Estes polígonos foram nomeados como Coronel

Ezequiel (polígono 1), Lajes (polígono 2), Cerro Corá (polígono 3), Luís Gomes (polígono 4)

e Felipe Guerra (polígono 5), os quais incluem 16 municípios ao todo (Figura 1). Estes

municípios são: São Tomé, Currais novos, Cerro Corá, Coronel Ezequiel, São Bento do Trairi,

Campo Redondo, Santa Cruz, Felipe Guerra, Apodi, Governador Dix- Sept Rosado, Caraúbas,

Lajes, Caiçara do Rio dos Ventos, Luís Gomes, Major Sales e José da Penha.

Figura 1. Mapa do estado do Rio Grande do Norte (RN), nordeste do Brasil, apresentando a

delimitação dos biomas Caatinga e Mata Atlântica. As áreas marcadas em vermelho

representam os polígonos escolhidos para o estudo: polígono 1 – Coronel (Cel.) Ezequiel;

polígono 2 – Lajes; polígono 3 – Cerro Corá; polígono 4 – Luís Gomes; polígono 5 – Felipe

Guerra.

Os polígonos estudados ainda possuem um percentual relativamente alto de cobertura

vegetal da Caatinga quando comparados a outros municípios do estado. Coronel Ezequiel

(Polígono 1), está localizado no Planalto da Borborema na região denominada de Serra do

Doutor com uma área de domínio Caatinga em torno de 79,2%, existem porções significativas

de vegetação preservada, onde as pessoas têm difícil acesso. Por outro lado, por se tratar de

uma região de serra, onde pode ser encontrado um clima mais ameno do que nas baixas altitudes

do seu entorno, as porções de vegetação em relevo menos íngreme são excessivamente

exploradas e ocupadas, inclusive por assentamentos rurais que existem na região. Já Lajes

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(Polígono 2) caracteriza se por ser uma das áreas de Caatinga mais bem preservada e contínua

do Estado, abrigando em seus limites o maior fragmento de vegetação remanescente chegando

a 90,2%. As comunidades presentes estão afastadas entre si, maioria das propriedades são

fazendas, onde os residentes cuidam do local em troca de moradia. No polígono de Cerro Corá

(Polígono 3) ainda apresenta remanescentes bem preservados de Caatinga arbórea uma das

fisionomias vegetais mais ameaçadas do Bioma no entorno de 97,3%. Além disso, a área de

Cerro Corá abriga parte das cabeceiras do Rio Potengi, que desagua na cidade de Natal,

representando o rio mais importante do Estado. Em Cerro Corá, assim como em Lajes, existem

muitas áreas de fazenda, onde os moradores não são os donos das propriedades e as

comunidades são muito distantes entre si (Cartograma Projeto Caatinga Potiguar, 2016).

Em Luís Gomes (Polígono 4) esta área faz parte da cabeceira do rio Apodi-Mossoró, o

qual fornece água para importantes barragens, como a de Santa Cruz a segunda maior do estado

que fornece recursos hídricos para a manutenção da agricultura irrigada praticada na Chapada

do Apodi. A cobertura vegetal desta área, representada por uma caatinga arbórea densa

relativamente bem preservada em torno de 61,1%, e está conectada a outros a Paraíba e Ceará,

os quais parecem servir de fonte de indivíduos para a fauna encontrada na região de Luís

Gomes. Contudo, a ocupação desordenada associada à retirada de lenha e posterior queima do

restante da vegetação para a criação de roçados tem alterado significativamente os hábitats desta

região. As comunidades estão distribuídas muito próximas umas das outras e existe um rápido

acesso aos centros urbanos. A região de Felipe Guerra (Polígono 5) localiza se na chapada do

Apodi, a Caatinga nessa região são típicas de áreas mais baixas e abertas, com vegetação de

porte mais baixo, representada pela caatinga arbórea-arbustiva no entorno de 80,4%. A

agricultura, especialmente nas várzeas do rio Apodi-Mossoró, a exploração de petróleo,

pecuária e extração de lenha também figuram como importantes atividades econômicas. As

comunidades estudadas nessa área são maiores e localizam-se próximas às cidades (Cartograma

Projeto Caatinga Potiguar, 2016).

Seleção das comunidades

Foram selecionadas para participar da pesquisa as comunidades rurais distribuídas ao

longo dos polígonos mencionados acima, totalizando 24 comunidades estudadas. Procurou-se

amostrar todas as casas das comunidades selecionadas, de forma a abranger o maior número de

informantes possível. A seleção dos informantes obedeceu aos seguintes critérios: as pessoas

deveriam ser, preferencialmente, chefes de família e ter obrigatoriamente mais de 18 anos.

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Todas as pessoas foram solicitadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, observando-se as considerações éticas e legais de acordo com a Resolução nº 466

de 12 de dezembro de 2012 (Brasil, 2012). Esta pesquisa foi aprovada pelo CEP- Comitê de

ética em pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com número de aprovação:

CAAE 48378315.0.0000.5537.

Coleta de dados

A coleta de dados ocorreu entre outubro de 2014 e julho de 2015. Na primeira visita a

cada comunidade, aplicamos um questionário socioeconômico. Este questionário objetivou

definir o perfil dos entrevistados a partir de informações como: idade, ocupação, escolaridade,

fonte de renda, número de moradores na residência e tempo de moradia na comunidade.

Adicionalmente à estas perguntas os informantes foram questionados sobre a pose de moradia

própria e ocupação (atividades de geração de renda ou não). Estas atividades foram divididas

em duas categorias: aquelas relacionadas ao uso da biodiversidade da Caatinga e as atividades

alternativas que não estavam vinculadas à utilização de recursos naturais.

Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas para caracterizar o uso dos recursos

naturais animais e vegetais da Caatinga. Para obter o conjunto de espécies que são consumidas

pelos entrevistados foi utilizada a técnica de lista livre associada à técnica de nova leitura

(Albuquerque et al. 2010). Esta técnica consiste em pedir ao informante para listar todas as

espécies que são consumidas. Questionamos também qual a frequência de uso destas espécies,

a fim de identificar a importância do recurso consumido na dieta dos entrevistados.

Posteriormente, os informantes foram questionados sobre qual centro urbano era mais

frequentado e quais os itens alimentares mais importantes eram obtidos destes locais e/ou da

própria comunidade. Também questionamos: qual o meio de transporte utilizado e o tempo para

acessar os locais citados, a quantidade consumida de cada recurso e a frequência de consumo.

Estes questionamentos permitiram identificar todas as fontes de recursos alimentares dos

informantes, além dos recursos naturais da Caatinga, e como os centros urbanos contribuem

para a segurança alimentar nas comunidades rurais.

A identificação das espécies baseou-se em nome popular. Assim, apesar de não terem

sido coletadas, foram identificadas com o auxílio de pesquisadores especialistas nas diferentes

áreas de conhecimento (botânica e zoologia) com experiência no desenvolvimento de pesquisas

na Caatinga.

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Análise de Dados

Primeiramente, foram realizadas estatísticas descritivas para caracterizar o perfil

socioeconômico das comunidades e o uso dos recursos naturais e dos centros urbanos.

Calculamos a frequência de citação de uso para os polígonos somando o total de vezes em que

determinada espécie foi citada e dividindo pelo total de informantes de cada polígono. Após

essa etapa, para saber se havia diferença entre o número de plantas e animais consumidos por

cada informante nos diferentes polígonos, foi realizada uma análise com o Modelo Linear

Generalizado (GLM), com distribuição de Poisson, entre as variáveis “número de espécies

consumidas” e “polígono”. Com a utilização deste modelo, pudemos fazer uma melhor

caracterização do consumo dos recursos naturais da Caatinga e verificar a existência de

alterações no consumo das espécies entre as áreas.

Para saber quais são os fatores sociais e econômicos que influenciam no consumo dos

recursos naturais da Caatinga pelas comunidades, utilizamos novamente o Modelo Linear

Generalizado (GLM), binomial negativo (devido à overdispersion1), selecionado por stepwise

(backward e forward), realizado no programa estatístico R utilizando o pacote MASS, para as

variáveis presentes na Tabela 1.

Tabela 1. Variáveis socioeconômicas utilizadas no Modelo Linear Generalizado (GLM),

binomial negativo, coletadas para cada informante nos cinco polígonos estudados na Caatinga

do estado do Rio Grande do Norte. Nas colunas, está a caracterização das variáveis: dependente

(Dep), independente (Ind), contínua (Cont) e categórica (Cat).

Variável Dep Ind Cont Cat

Número de espécies consumidas X X

Possui casa própria X X

Tempo na região X X

Número de moradores na residência X X

Renda total da casa no mês X X

Número de pessoas que geram renda X X

Quantos anos estudou X X

Número de atividades relacionadas ao uso da Caatinga X X

Número de atividades alternativas ao uso da Caatinga X X

Tipo de meio de transporte X X

Média da frequência de uso dos recursos dos centros

urbanos X X

Frequência de uso real dos recursos da Caatinga X X

1 Overdispersion acontece quando a variância é maior do que a média.

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Para preencher as lacunas de informação relativas à variável “uso dos recursos dos

centros urbanos”, foi adotada a mediana dos valores correspondentes ao total de pessoas de

cada polígono, calculada por meio do programa BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007). Outra variável

que continha algumas lacunas de informação foi o tempo que o informante mora na

comunidade. Para preencher essas lacunas, adotamos a média das idades dos informantes da

referida comunidade. As frequências de uso real das espécies foram categorizadas em: não sabe,

não tem frequência, usa quando precisa, usou há mais de 10 anos, a cada 5 ou 10 anos, entre 2

e 5 anos, 1 a 2 anos, 1 a 4x/ano, 4 a 12x/ano, 2 a 9x/mês, 10 a 20x/mês e todo dia.

Posteriormente, essas categorias foram pontuadas com valores proporcionais, variando de zero

(0 – menor frequência de uso) a um (1 – maior frequência de uso). Por fim, categorizamos as

informações referentes ao meio de transporte utilizado da seguinte forma: vai a pé ou de

bicicleta (1 ponto); vai de carroça (2 pontos); e vai de carro, moto ou outro veículo motorizado

(3 pontos).

Resultados

Perfil socioeconômico das comunidades estudadas

No total foram entrevistados 254 informantes nos cinco polígonos, 33% dos informantes

em Luís Gomes, 25% em Felipe Guerra, 15% em Coronel Ezequiel, 14% a Lajes e 13% a Cerro

Corá.

Nossas variáveis socioeconômicas analisadas por polígonos nos mostram que, Luís

Gomes (polígono 4), destaca se por apresentar o maior tempo em que os moradores moram na

região em torno de 38 anos, já a variável casa própria, Coronel Ezequiel (polígono 1) mostra se

como o polígono que mais apresentou informantes com moradia própria. Lajes (polígono 2) se

destacou por apresentar a região com maior número de moradores na residência e pessoas que

geram renda. Para a variável anos de estudo Coronel Ezequiel (polígono 1) apresentou uma

maior média em torno de 6, mostrando que os informantes possuem apenas ensino fundamental.

A renda total foi maior em Luís Gomes (polígono 4) e em Felipe Guerra (polígono 5), (Figura

2).

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Figura 2. Variáveis socioeconômicas (tempo na região, casa própria, moradores na residência,

pessoas que geram renda, anos de estudo e renda total) nos polígonos estudados na Caatinga no

estado do Rio Grande do Norte, Brasil.

Dentre as atividades relacionadas ao uso dos recursos da Caatinga estão: agricultura

(observada para 75% dos entrevistados), criação de animais (10%), produção de carvão (1%) e

extrativismo (1%). Dentre as atividades alternativas foram identificadas: cuidar do lar

(desenvolvida por 39% dos entrevistados), prestação de serviços com contrato (1%), comércio

(4%), serviço público (9%), construção civil (1%) e trabalho autônimo (7%).

05

1015202530354045

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Consumo de recursos dos centros urbanos

Encontramos um total de 13 recursos provenientes dos centros urbanos, ou mesmo da

própria comunidade, que são utilizados pelos informantes: feijão, arroz, açúcar, café, farinha,

carne, verduras, macarrão, óleo, frango, farinha de milho, rapadura e leite.

Caracterização do consumo dos recursos da Caatinga

Cinquenta e duas espécies foram citadas pelos entrevistadas como utilizadas como fonte

de alimento nos cinco polígonos estudados. Destas, 26 são espécies de animais (oito aves, 14

mamíferos e quatro répteis) e 26 são espécies de plantas.

Dentre as espécies de aves mais consumidas podemos destacar o polígono dois com as

maiores frequências de uso: Leptotila sp. – juriti (0.09), Zenaida auriculata – ribaçã (0.18),

Columbina talpacoti – rolinha (0.21), e Crypturellus tataupa – inhambu (0.24). Para os

mamíferos, os mais utilizados para uso alimentício são: Galea spixii – preá (0.24), tatu

(identificação científica não confirmada) (0.41), Euphractus sexcinctus – peba (0.44), e

Tamandua tetradactyla – tamanduá mirim (0.21). Dos répteis, apenas uma espécie foi

considerada como mais consumida Salvator merianae – téju (0.24). As espécies de mamíferos

e répteis apresentam maiores frequências de uso no polígono dois (Tabela 2).

As plantas alimentícias mais usadas pelas comunidades nos cinco polígonos são:

Anacardium occidentale L – cajueiro (0,22) com maior frequência de uso no polígono cinco,

Spondias tuberosa Arruda – imbuzeiro (0,47) no polígono três e Ziziphus joazeiro Mart.–

juazeiro (0,09), mais utilizada no polígono dois (Tabela 2).

Dentre as espécies de aves que foram menos utilizadas podemos destacar a Cariama

cristata – siriema (0,03), no polígono um, e Aratinga cactorum - periquito (0,03), no polígono

3. Os mamíferos menos utilizados como alimento foram: o preá do mato (0,01), no polígono

quatro, Dasypus novemcinctus – tatu galinha (0,03) e Tolypeutes tricinctus – tatu bola (0,03), ambos

no polígono um, e Leopardus sp. – gato do mato maracajá (0,03) no polígono dois. As espécies

de répteis que são menos usados foram o jacaré (0,01), presente no polígono quatro, e a girita

(identificação científica não confirmada) (0,02), no polígono cinco (Tabela 2).

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As espécies de plantas que são utilizadas em menor frequência são: Mangifera indica

L.– magueira, Licania sp. – oitizeiro, Cucumis anguria L. – maxixe, Erythrina velutina Willd.

– mulungu, com frequência de uso (0,01), todas respectivamente no polígono quatro. Anona sp.

– araticum, Cocos nucifera L. – Coqueiro, Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore – carnaúba,

Tamarindus indica L. – tamarindo, presentes no polígono cinco, possuem frequência de uso de

0,02 (Tabela 2).

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Tabela 2. Frequência de uso alimentício dos recursos naturais animais e vegetais da Caatinga do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil, com

seus respectivos nomes científico e popular e sua origem, separados por polígono. Pol – Polígono; N - Quantidade de vezes que a espécie foi

utilizada; FU - Frequência de uso; NI – Não Identificado.

Grupo/ Família Nome científico Nome popular Origem Pol 1 Pol 2 Pol 3 Pol 4 Pol 5 Total

de

uso

Animais N FU N FU N FU N FU N FU

Aves

Columbidae Patagioenas picazuro

(Temminck, 1813)

asa branca Nativa 1 0.03 1 0.02 2

Leptotila sp. Juriti Nativa 3 0.08 3 0.09 2 0.06 2 0.02 2 0.03 12

Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Ribaçã Nativa 2 0.05 6 0.18 1 0.03 2 0.02 7 0.11 18

Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha Nativa 3 0.08 7 0.21 4 0.12 6 0.0

7

6 0.09 26

Cariamidae Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Siriema Nativa 1 0.03 1

Tinamidae Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) inhambu Nativa 4 0.11 8 0.24 2 0.06 6 0.0

7

3 0.05 23

Psitacidae Aratinga cactorum periquito Nativa 1 0.03 1

Tinamidae Nothura boraquira (Spix, 1825) corduniz Nativa 1 0.0

1

1 0.02 2

Mamíferos

Caviidae Galea spixii (Wagler, 1831) Preá Nativa 7 0.18 8 0.24 3 0.09 6 0.0

7

3 0.05 27

Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820) Mocó Nativa 3 0.08 6 0.18 1 0.03 10

NI preá do mato Nativa 1 0.0

1

1

Cervidae Mazama sp. Veado Nativa 2 0.05 9 0.26 3 0.09 7 0.0

8

21

Dasypodidae Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) tatu galinha Nativa 1 0.03 1

NI Tatu Nativa 4 0.11 14 0.41 3 0.09 9 0.1

1

2 0.03 32

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18

Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758) tatu bola Nativa 1 0.03 1

Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Peba Nativa 4 0.11 15 0.44 2 0.06 6 0.0

7

16 0.25 43

Echimyidae Thricomys laurentius (Thomas, 1904) Punaré Nativa 5 0.15 5

Felidae NI gato do mato Nativa 2 0.05 1 0.03 3

Puma yagouaroundi (É, Geoffroy Saint-Hilare,

1803)

gato do mato

vermelho

Nativa 1 0.03 1 0.03 2

Leopardus sp. gato do mato

maracajá

Nativa 1 0.03 1

Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) tamanduá mirim Nativa 4 0.11 7 0.21 1 0.03 1 0.02 13

NI NI Gambá Nativa 2 0.05 5 0.15 7

Répteis

Iguanidae Iguana iguana (Linnaeus, 1758) camaleão Nativa 2 0.05 4 0.12 6

Teiidae Salvator merianae (Duméril e Bibron, 1839) Téju Nativa 2 0.05 8 0.24 2 0.06 4 0.05 8 0.13 24

Alligatoridae NI Jacaré Nativa 1 0.01 1

Mephitidae Conepatus semistriatus Girita Nativa 1 0.02 1

Vegetais

Anacardiaceae Anacardium occidentale L. Cajueiro Nativa 2 0.05 1 0.03 1 0.03 7 0.08 14 0.22 25

Mangifera indica L. mangueira Exótica 1 0.01 1

Spondias mombin L. cajazeira Nativa 15 0.18 2 0.03 17

Spondias sp.1 Cajarana Nativa 6 0.07 14 0.22 20

Spondias mombin L. siriguela Exótica 4 0.05 2 0.03 6

Spondias tuberosa Arruda imbuzeiro Nativa 16 0.42 8 0.24 16 0.47 40

Annonaceae Anona sp. Araticum Nativa 1 0.02 1

Arecaceae Syagrus oleracea (Mart.) Becc coco catolé Nativa 1 0.03 1

Cocos nucifera L. coqueiro Exótica 1 0.02 1

Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore carnaúba Nativa 1 0.02 1

Cactaceae Cereus jamacaru DC. Cardeiro Nativa 1 0.03 1

Pilosocereus sp. Facheiro Nativa 1 0.03 1

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Chrysobalanaceae Licania sp. Oitizeiro Nativa 1 0.01 1

Curcubitaceae Cucumis anguria L. Maxixe Nativa 1 0.01 1

Euphorbiaceae Jatropha sp.1 Pinhão Nativa 1 0.01 2 0.03 1

Fabaceae Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. Jucá Nativa 1 0.03 1

Erythrina velutina Willd. mulungu Nativa 1 0.01 1

Tamarindus indica L. tamarindo Exótica 1 0.02 1

Linaceae Linum usitatissimum L. Linhaça Exótica 1 0.03 1

Myrtaceae Eugenia sp. Ubaia Nativa 1 0.03 1

Psidium guajava L. goiabeira Exótica 1 0.01 2 0.03 1

Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart. Juazeiro Nativa 3 0.09 2 0.06 1 0.01 6

Sapindaceae Talisia esculenta (Cambess.) Radlk. Pitombeira Nativa 1 0.03 4 0.05 5

Sapotaceae Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.)

T.D.Penn.

quixabeira Nativa 3 0.09 3

NI NI Incó Nativa 1 0.03 1

NI NI Sodoro Nativa 2 0.06 2

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O polígono dois foi o que apresentou a maior média de consumo de recursos naturais

(3,85±3,99), enquanto o polígono quatro apresentou a menor média (1,11±1,46) (Tabela

3). O mesmo padrão se mantém quando considerado apenas o consumo de espécies

animais, com a maior média observada no polígono dois (3,17±3,49), e a menor

(0,6±1,11) no polígono quatro. Já quando se analisa o consumo de plantas, o polígono

três apresenta a maior média (1,21±0,66), enquanto o polígono quatro a menor

(0,51±0,99) (Tabela 3).

Tabela 3. Médias e desvio padrão do número de plantas e animais em cada polígono

estudado na Caatinga do estado do Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil.

Média e Desvio Padrão do consumo dos recursos

Polígono 1 Polígono 2 Polígono 3 Polígono 4 Polígono 5

Espécies em geral 1,82 (±2,68) 3,85 (3,99) 1,2 (1,53) 1,11 (1,46) 1,48 (1,65)

Plantas 0,52 (0,71) 0,67 (1,22) 1,21 (0,66) 0,51 (0,99) 0,67 (1,18)

Animais 1,28 (2,76) 3,17 (3,49) 0,74 (1,36) 0,6 (1,11) 0,79 (1,25)

O resultado obtido no GLM para o número de recursos por polígono mostra uma

variação significativa (X² = 31,08; grau de liberdade = 4; P = 0,007) entre as áreas

estudadas. Os resultados também mostram um maior consumo de animais no polígono

dois em relação aos demais polígonos (Figura 3).

Figura 3. Quantidade de recursos consumidos por polígono estudado na Caatinga do Rio Grande

do Norte, nordeste do Brasil. Os números representam os cinco polígonos estudados. Os boxplots

de cor verde representam o consumo de plantas e os de cor vermelho mostram o consumo de

animais. As linhas mais escuras a mediana e os bigodes o valor máximo e mínimo.

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Fatores que influenciam no consumo dos recursos naturais da Caatinga

O modelo GLM binomial negativo selecionou as variáveis que explicaram melhor

o número de espécies da Caatinga consumidas pelas pessoas em cada polígono (R² = 0,44)

(Tabela 4). Dessa forma, observamos que quanto maior o número de membros na família

maior o consumo dos recursos da Caatinga. Da mesma forma, o modelo mostrou que

quanto maior a frequência de uso real das espécies, maior tende a ser também a

quantidade de espécies consumidas. As demais variáveis não apresentaram relação

significativa com o número de recursos da Caatinga consumidos pelos informantes.

Tabela 4. Variáveis selecionadas pelo modelo GLM binomial negativo, com o valor do

teste, os graus de liberdade e nível de significância de P.

Variáveis X² Gl P

Frequência de uso real 148,9 1 <0,001

Moradores na residência 8,7 1 0,003

Discussão

As comunidades estudadas ainda apresentam um perfil tipicamente rural, com

atividades relacionadas ao uso da Caatinga. A agricultura ainda permanece como uma

atividade econômica de subsistência no semiárido do nordeste do Brasil, principalmente

as monoculturas de milho e feijão (Lins Neto et al. 2010), mesmo em épocas de muita

seca.

O uso dos recursos alimentícios da Caatinga pelas populações locais ainda é uma

prática recorrente. Observamos neste estudo que em todos os polígonos há a utilização

tanto de espécies da fauna como da flora. Esse consumo de recursos naturais alimentícios

ocorre em comunidades por todo o mundo, como no sul da Etiópia, onde a refeição diária

da maioria das pessoas é composta por um elemento de alimentos selvagens (Dechassa e

Guinand 2000). Já no nordeste do Brasil, algumas espécies de plantas nativas que servem

de alimento fazem parte do convívio das comunidades na região (Cruz et al., 2013). No

nosso estudo, as comunidades do RN também se utilizam de espécies nativas para

complementar a alimentação, dando maior segurança alimentar para suas famílias.

Nesse trabalho encontramos uma grande quantidade de plantas usadas como

forma de alimento, um total de 26 espécies. Este número de espécies consumidas se

assemelha ao total de 21 espécies de plantas selvagens alimentícias que são usadas em

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comunidades tradicionais da Islândia (Serrasolses et al. 2016). Na Caatinga, as espécies

nativas são usadas por comunidades rurais que demonstram um conhecimento expressivo

da riqueza vegetal e reconhecem o valor utilitário das espécies vegetais, sendo um reflexo

da variedade de usos que possuem (Silva et al., 2014). Esses autores afirmam ainda que

os recursos utilizados atendem às necessidades locais da população, similarmente ao

observado no presente estudo.

Algumas das espécies de plantas mais utilizadas que observamos no nosso estudo,

Anacardium occidentale L (cajueiro) e Spondias tuberosa (imbuzeiro), se destacam por

serem plantas frutíferas. A relação das pessoas com o uso de espécies selvagens leva em

consideração, principalmente, o tamanho e o sabor dos frutos a serem apreciados pelas

comunidades (Lins Neto et al. 2013). Outros estudos têm chegado a conclusões

semelhantes, como Ruenes-Morales et al. (2010), por exemplo, verificaram que a doçura

da fruta, a espessura e quantidade de polpa são usados para definir a qualidade dos

alimentos pelas pessoas, o que pode justificar o cajueiro e o imbuzeiro serem

frequentemente utilizados pela população estudada neste trabalho. Além das espécies

frutíferas nativas, também são utilizadas espécies exóticas.

Aqui, não só observamos a utilização de plantas alimentícias, como também o uso

de recursos da fauna da Caatinga voltados para fins alimentícios. De acordo com Alves

et al. (2009), a persistência das atividades de utilização de animais silvestres na região

semiárida, mesmo sendo considerada uma atividade ilegal, certamente está associada a

questões culturais e também ao fato de que esse consumo tem uma importância

nutricional significativa. De forma mais ampla, a captura de animais selvagens contribui

tanto direta quanto indiretamente para a subsistência das comunidades humanas em todo

o mundo (Pattiselanno, 2004).

O uso de aves silvestres é uma prática enraizada na cultura dos sertanejos

(Fernandes-Ferreira et al. 2010). Nesse sentido, as espécies de aves são recursos

importantes para os entrevistados, como visto no presente estudo. Das espécies de aves

que foram menos utilizadas como fonte de alimento nesse estudo, destacamos a Cariama

cristata (siriema) que, segundo Bezerra et al. (2012), possui hábitos noturnos, tonando

assim sua captura mais difícil pois exige que seja procurada no seu habitat natural. A

Aratinga cactorum (periquito) também teve um baixo consumo alimentício, o que pode

ser explicado, possivelmente, devido a ser um animal bastante comum para criação em

gaiolas como animal de estimação (Perlo 2009).

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23

As espécies de mamíferos que encontramos com um maior uso alimentício, como

Galea spixii – preá, tatu (identificação científica não confirmada), Euphractus sexcinctus

– peba, Tamandua tetradactyla – tamanduá mirim, podem representar fontes alternativas

de proteína para as populações humanas locais (Barbosa et al 2011). Isto se deve ao fato

de que, em geral, os mamíferos são altamente valorizados devido a dois fatores principais:

a abundância relativa destes animais em comparação com os outros grupos e seu tamanho

médio a grande, o que implica em mais conteúdo de proteína (Barbosa et al. 2011). A

prática de consumo de mamíferos selvagens ainda é elevada principalmente em pessoas

mais idosas das comunidades onde a carne é o principal produto utilizado para

alimentação (Melo et al. 2014). O uso de espécies nativas de mamíferos acontece também

na Mata Atlântica com diferentes intensidades, e em alguns casos, é uma fonte

complementar de proteína animal para famílias caiçaras (Hanazaki et al.2009).

Dos répteis, apenas uma espécie foi considerada como mais consumida (Salvator

merianae – téju), possivelmente por possuir um alto potencial cinegético e ser

considerada a maior espécie de lagarto do semiárido (Vanzolini et al 1980). A importância

cinegética, ou seja, um maior valor nutricional das espécies do gênero é reconhecido em

diferentes localidades no Brasil e em outros países. Fitzgerald (1994) afirma que estes

lagartos são muito caçados para consumo na Argentina, Paraguai e partes da Bolívia.

Apesar de não termos avaliado este aspecto para o estado do Rio Grande do Norte, no

semiárido nordestino, o téju é considerado uma iguaria, tendo o sabor da sua carne

comparado ao da carne de frango (Alves et al. 2012).

Quando comparamos o uso de ambos os grupos de espécies (animais e vegetais)

da Caatinga pelas comunidades locais, nossos testes estatísticos mostraram um maior

consumo da fauna, especificamente no polígono dois. A persistência do consumo elevado

de animais silvestres, no nosso estudo, pode estar intimamente associada com aspectos

culturais, como a caça (Alves et al., 2009), principalmente para fins esportivos.

Apesar da clara contribuição nutricional de algumas espécies de animais para a

dieta de muitas comunidades humanas (Alves et al., 2009), ou de espécies de plantas, no

nosso estudo, vemos que a Caatinga não é a única provedora de recursos alimentares

básicos e que garantem a seguridade alimentar das famílias. O levantamento realizado

neste trabalho mostrou que existe ainda um leque de outros recursos, ou produtos,

provenientes dos centros urbanos e da própria comunidade que são utilizados pelas

famílias.

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No entanto, nossa análise estatística mostra que nem a distância (vista como meios

de transporte usados) para acessar os centros urbanos nem a frequência de consumo dos

produtos desses locais estão correlacionadas com o consumo das espécies da Caatinga.

Diferentemente do que encontramos em nosso estudo, em outras regiões semiáridas, na

África, há um aumento da utilização de recursos alimentares quando comunidades rurais

estão mais distantes de outros recursos de fácil acesso, de forma que as comunidades se

adaptam ao seu meio e incluem os recursos naturais nas suas rotinas alimentares

(Shackleton et al. 1998). Aqui, os recursos naturais fazem parte da dieta, mas não

podemos afirmar que isto se deve a um possível aumento da distância entre a comunidade

e o centro urbano, ou mesmo à facilidade/dificuldade de aquisição desses produtos nas

cidades, pois isso não foi avaliado no nosso trabalho

Observamos também que algumas das nossas variáveis socioeconômicas não

foram correlacionadas com o uso dos recursos da Caatinga, como a escolaridade dos

informantes. Isto nos mostra que o uso dos recursos ocorre independentemente do seu

grau de conhecimento escolar e pode estar refletindo, na verdade, o conhecimento popular

quando decide utilizar esses recursos. As atividades desenvolvidas, como atividades

alternativas e de uso da Caatinga não foram significativas com relação os usos dos

recursos naturais, porém a maioria dos informantes são agricultores e utilizam a Caatinga

também para plantar outros recursos alimentares que venha contribuir para segurança

alimentar das comunidades. Em regiões de Bali na Indonésia, comunidades estudadas

também apresenta um reflexo onde as variáveis socioeconômicas semelhantes às do nosso

estudo não têm influenciado o uso de recurso naturais pelas pessoas (Sujarwo et al. 2014).

Por outro lado, percebemos que um dos fatores principais que influenciam o

consumo dos recursos naturais da Caatinga estão relacionados ao número de moradores

nas residências, ou seja, quanto mais pessoas nas residências, maior será o consumo dos

recursos naturais. Lucena et al (2007) afirma que o consumo de recursos naturais cresce

em resposta ao número de unidades residentes nas comunidades como também ao número

de membros em uma unidade familiar.

Diferentemente do que poderia se imaginar, o consumo dos recursos da Caatinga

não necessariamente está atrelado às condições de renda das famílias. Em muitos casos,

a utilização dos recursos naturais é mais expressiva em comunidades mais pobres e de

menor poder aquisitivo (Balick & Cox 1996), o que difere do encontrado no presente

estudo. Este fato, atrelado a uma maior expressividade da caça em comparação ao uso de

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plantas, nos mostra que a utilização dos recursos alimentícios da Caatinga pode, de fato,

estar mais vinculada a fatores culturais do que de subsistência, propriamente dita.

Assim, acreditamos que a utilização das espécies animais e vegetais do

ecossistema estudado pode auxiliar na manutenção da segurança alimentar das famílias,

funcionando como recursos temporais extras. Isto porque a região da Caatinga apresenta

uma sazonalidade marcante que afeta a disponibilidade de recursos em toda a região e

que reduz as oportunidades de explorar as espécies que são úteis para população local

(Araújo et al., 2002; Reis et al. 2006) em determinadas épocas do ano.

Considerações finais

A utilização dos recursos naturais alimentícios da Caatinga pelas comunidades

rurais do semiárido se torna uma fonte de subsistência alternativa, bem como uma prática

relacionada à cultura das comunidades. Nossos resultados permitiram avaliar, localmente,

como algumas variáveis socioeconômicas, como o número de moradores nas residências,

anos de estudo, moradia própria, pessoas que geram renda, tempo na região e renda total

factíveis de serem coletadas em outras realidades, podem se relacionar e influenciar o

consumo de espécies por comunidades humanas em ambientes naturais.

No entanto, é válido ressaltar que alguns dos resultados encontrados aqui

diferiram de outros estudos realizados na mesma temática. De fato, a Caatinga é um

ambiente único, com uma sazonalidade marcante, e que, devido a isso, possui

características muito particulares. Isto reverbera no cotidiano das populações residentes

no semiárido, o que pode influenciar fortemente suas manifestações culturais e a forma

como elas lidam com os recursos alimentícios disponíveis.

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