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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL A DESCENTRALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS E O ACESSO A ASSISTÊNCIA À SAÚDE: CONTRADIÇÕES E DESAFIOS BARBARA SOUZA SANTOS NATAL/RN 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

A DESCENTRALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS E O ACESSO A ASSISTÊNCIA À

SAÚDE: CONTRADIÇÕES E DESAFIOS

BARBARA SOUZA SANTOS

NATAL/RN 2012

1

BARBARA SOUZA SANTOS

A DESCENTRALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS E O ACESSO A ASSISTÊNCIA À

SAÚDE: CONTRADIÇÕES E DESAFIOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Coordenação de Serviço Social da UFRN, como requisito à obtenção do grau de assistente social.

ORIENTADOR (A): PROF. MESTRE TÁSSIA REJANE MONTE DOS SANTOS

NATAL/RN 2012

2

Catalogação da Publicação na Fonte UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Santos, Barbara Souza. A descentralização dos serviços e o acesso a assistência à saúde: contradições e desafios / Barbara Souza Santos. – Natal, RN, 2012. 86f. Orientadora: Prof.ª Tassia Rejane Monte dos Santos. Monografia: (Graduação em Serviço Social) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço Social.

1. Serviço Social - Monografia. 2. Direito à Saúde - Monografia. 3. Descentralização dos serviços - Monografia. 4. Política de Saúde - Monografia. I. Santos, Tássia Rejane Montes dos. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA CDU 364.2:61

3

BARBARA SOUZA SANTOS

A DESCENTRALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS E O ACESSO A ASSISTÊNCIA À

SAÚDE: CONTRADIÇÕES E DESAFIOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Coordenação de Serviço Social da UFRN, como requisito à obtenção do grau de assistente social.

BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Prof. Mestre TÁSSIA REJANE M. DOS SANTOS – UFRN ________________________________________________ Prof. JOSIVÂNIA ESTELITA G. DE SOUZA – UFRN _________________________________________________ Prof. Mestre CLÁUDIA GABRIELE DA S. DUARTE - UFRN

NATAL, ____/____/2012

CONCEITO: _________

4

Primeiramente a Deus, razão maior da minha vida. A Ele toda

honra e todo o louvor. Aos meus pais, pelo apoio constante,

sem os quais não seria possível a realização desta grande

conquista e a Prof. Tássia Santos por sua importante

colaboração na realização deste trabalho.

5

AGRADECIMENTOS

À Deus por sua infinita graça que tem me alcançado e me sustentado a cada dia,

dando-me força para vencer os obstáculos, e pelas grandes vitórias que me

concedeu ao longo deste curso.

À minha orientadora Tássia, por sua atenção e importante colaboração no

desenvolvimento deste trabalho.

Aos meus pais, Zito e Francisca, que estiveram sempre ao meu lado lutando

comigo, orando por mim, me ajudando em todos os momentos à superar as

dificuldades que surgiram no decorrer do curso, não deixando que eu desistisse de

meus objetivos. Louvo à Deus por suas vidas.

Às minhas irmãs, Débora e Rúbia, pelo apoio e por acreditarem em mim. Amo

vocês.

Às minhas colegas de turma que dividiram comigo suas angústias e ansiedade, me

dando força, se dispondo a ajudar quando precisei.

Aos meus demais amigos e amigas que estiveram na torcida por mim. Obrigada a

todo(a)s vocês.

6

Não passo pela vida... e você também não deveria passar! Viva! Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante.

Charlie Chaplin

7

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo proporcionar uma análise sobre o

processo de descentralização dos serviços de saúde no Brasil mais especificamente

no estado do Rio Grande do Norte, a oferta dos serviços nessa área como também o

processo de promoção do acesso dos usuários a esses serviços. Busca ainda a

compreensão do modelo político instaurado no Brasil e como as particularidades

desse modelo incidem na qualidade dos serviços de saúde e nas condições

objetivas do acesso aos mesmos. Para a realização desta análise foram realizadas

visitas a instituição da Secretaria de Estado de Estado da Saúde Pública, consulta à

documentos, normas, portarias e Leis que tratam do planejamento, execução e

financiamento da política de saúde. Também foi utilizada a pesquisa bibliográfica

onde foram analisadas as ideias de autores que tratam desta questão. No

desenvolvimento deste trabalho foi relacionado o processo de descentralização

inserido no contexto da prevalência dos interesses do capital, o qual não valoriza a

saúde preventiva, porém, dá prioridade a saúde curativa, visto que esta se

apresenta como campo lucrativo para o capitalismo. Assim, foi possível a

compreensão sobre como as questões políticas e econômicas exercem forte

influência na área social, como a desvinculação de recursos da saúde para questões

inteiramente econômicas implica nos princípios da universalização, da equidade e

integralidade defendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e Lei 8.080/90

privando o cidadão de seus direitos sociais por meio do limite do acesso, da má

qualidade dos serviços e pela influência e expansão da saúde privada.

Palavras-chave: Saúde. Direito. Descentralização dos serviços. Acesso. Privatização.

8

ABSTRACT

This paper aims to provide an analysis of the process of decentralization of

health services in Brazil, more specifically in the state of Rio Grande do Norte, the

supply of services in this area as well as the process of promoting the access of

users to these services. Searching further understanding of the political model

established in Brazil and how the particularities of this model focus on the quality of

health services and the objective conditions of access to them. To conduct this

analysis were visits to the institution of the State Secretariat of State for Public

Health, the consultation documents, regulations, ordinances and laws dealing with

the planning, implementation and financing of health policy. Also we used the

literature search were analyzed where the ideas of authors who deal with this issue.

In the development of this work was related to decentralization placed in the context

of the prevalence of the interests of capital, which does not value preventive health,

but gives priority to curative health, as it presents itself as lucrative field for

capitalism. Thus, it was possible to understand how the political and economic issues

have a strong influence in the social area, as untying of health care resources for

economic issues implies entirely on the principles of universal, fairness and integrity

upheld by the Unified Health System (SUS) and Law 8.080/90 depriving citizens of

their social rights through the limit of access, poor quality of services and the

influence and expansion of private health care.

Keywords: Health Law. Decentralization of services. Access. Privatization.

9

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Mapa das oito regiões de Saúde no Rio Grande do Norte 50

10

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Investimentos da União na área social previsto no Plano Mais Brasil (2012-2015)

37

11

LISTA DE TABELA

TABELA 1 Regiões de Saúde do Rio grande do Norte, serviços disponíveis, número de municípios e habitantes........................

55

12

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPs Caixa de Aposentadorias e Pensões

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CEO Centros de Especialidades Odontológicas

CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

CGR Colegiados de Gestão Regional

CIB Comissão Intergestores Bipartite

CIT Comissão Intergestores Tripartite

CPCS Coordenadoria de Planejamento e Controle do Sistema de Saúde

CONASEMS Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde

COSEMS Conselho de Secretários Municipais de Saúde

DIRES Diretorias Regionais

ETAM Escritórios Técnicos de Apoio à Municipalização

HPP Hospital de Pequeno Porte

IAPs Instituto de Aposentadorias e Pensões

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

LOS Lei Orgânica da Saúde

MDB Movimento Democrático Brasileiro

MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social

MS Ministério da Saúde

NESC Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva

NOAS Norma Operacional da Assistência a Saúde

NOB Norma Operacional Básica

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

OS Organizações Sociais

OSCIPs Organizações Filantrópicas e Organizações da Sociedade Civil de

Interesse Público

OSS Orçamento de Seguridade Social

PDI Plano diretor de Investimento

PDR Plano Diretor de Regionalização

PIB Produto Interno Bruto

13

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PNH Política Nacional de Humanização

PPA Plano Plurianual

PPI Programação Pactuada e Integrada

PSF Programa Saúde da Família

SES Secretaria Estadual de Saúde

SESAP Secretaria de Estado da Saúde Pública

SESP Serviço Especial de Saúde Pública

SUS Sistema Único de Saúde

UCT Unidade de Coleta e Transfusão

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL NO CONTEXTO

CONTEMPORÂNEO: CONQUISTAS E DESAFIOS DA

UNIVERSALIZAÇÃO..................................................................................

20

2.1 Introdução à Política de Saúde no Brasil: breve resgate histórico............. 20

2.2 A política de Saúde na perspectiva da universalização: a que será que

se destina?.................................................................................................

25

3 DESCENTRALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE SAÚDE COMO

ESTRATÉGIA DE DEMOCRATIZAÇÃO E UNIVERSALIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS.................................................................................................

31

3.1 A descentralização da saúde na perspectiva da universalização do

acesso aos direitos sociais........................................................................

31

3.2 Regionalização e municipalização da saúde no Rio Grande do Norte...... 38

4 CONSIDEREÇÕES FINAIS...................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 61

ANEXOS............................................................................................................. 65

ANEXO A – Regionalização Do Rio Grande Do Norte....................................... 66

ANEXO B – Lista de exames de alta complexidade oferecidos pela SESAP

no período de 01/01/2009 à 31/12/2009............................................................

67

ANEXO C – Lista de exames de alta complexidade oferecidos pela SESAP

no período de 01/01/2011 á 31/12/2011

72

ANEXO D – 1º Região de Saúde do RN............................................................ 77

ANEXO E – 2º Região de Saúde do RN............................................................ 78

15

ANEXO F – 3º Região de Saúde do RN............................................................. 79

ANEXO G – 4º Região de Saúde do RN............................................................ 80

ANEXO H – 5º Região de Saúde do RN............................................................ 81

ANEXO I – 6º Região de Saúde do RN.............................................................. 82

ANEXO J – 7º Região de Saúde do RN............................................................. 83

ANEXO K – 8º Região de Saúde do RN............................................................ 84

16

1. INTRODUÇÃO

O acesso dos usuários aos serviços de saúde muitas vezes tem sido alvo de

barganhas eleitorais e disputas de poder político, o que tem trazidos prejuízos para a

população que dependem dos serviços públicos como sua única via de acesso aos

direitos sociais que vêm sofrendo com as investidas da lógica privatista.

Um problema que tem sido constante em no Rio Grande do Norte e, em

especial, na capital do estado, é a existência de grande número de pacientes vindos

do interior do estado para serem atendidos nas unidades de saúde da Natal. Tal

problemática se estende à qualidade do acesso que estas pessoas se submetem

para poder receber atendimento.

No entanto, a acessibilidade ao atendimento médico tem sido uma questão à

ser analisada e discutida com maior empenho visto que tal acessibilidade deve ser

garantida a toda população conforme o art.7° da Lei 8.080/90, que regulamenta o

Sistema Único de Saúde (SUS), independente de seu domicílio, desde a detecção

da doença até seu tratamento, distribuição de medicamentos e contínuo

acompanhamento médico pós-tratamento, caso necessitar.

Vale lembrar que a política de saúde no Brasil tem sido alvo de interesses

individuais e privatistas constituindo um histórico de lutas da classe trabalhadora em

prol da conquista de seus direitos. No processo de redemocratização e na

elaboração da Constituição Federal de 1988 expressaram-se avanços significativos

na marcha pela universalização dos direitos sociais, inclusive o direito à saúde,

garantidos no SUS.

O SUS defende a intersetorialização, a universalização e a participação

social como princípios e diretrizes fundamentais para a implementação de uma

saúde de qualidade garantida a toda população independente de sua classe, etnia

ou gênero. Considerando que este sistema foi regulamentado em 1990, pela Lei

Orgânica da Saúde (LOS), Lei 8.080/90.

O SUS também é integrante do Projeto de Reforma Sanitária, que já vinha

sendo construído anterior ao regime militar, o qual que incidiu negativamente em seu

desenvolvimento. Este projeto foi construído coletivamente envolvendo profissionais

da Saúde, integrantes de movimentos sociais que visavam a universalização do

acesso aos direitos, como também com a participação da própria população usuária.

17

O projeto de Reforma Sanitária tem como base o Estado democrático de direito,

responsável pelas políticas sociais e, conseqüentemente, pela saúde. (CFESS,

2010).

Com a queda do regime ditatorial e com o processo de redemocratização, o

Projeto de Reforma Sanitária encontra mais uma vez a oportunidade de ser

implementado, resultando na institucionalização da Constituição Federal em 1988.

No entanto, com a instauração do projeto neoliberal no Brasil nos anos de 1990, há

um retrocesso no andamento das políticas públicas o que incide diretamente, e de

forma negativa, na saúde ocasionando numa série de privatizações e contra-

reformas trazendo uma nova concepção do sujeito que, de cidadão de direito, é visto

agora como cidadão consumidor.

A saúde instituída como direitos de todos e dever do Estado, passa a ser

tomada como área lucrativa para acúmulo de capital. Torna-se acirrada a disputa

entre o Projeto de Reforma Sanitária, que defende a universalização das políticas

sociais e a garantia dos direitos sociais, e a Política de Ajuste que está interessada

na contenção dos gastos com a racionalização da oferta e a descentralização com

isenção do poder central. E mais, a tarefa do Estado, nesse projeto, consiste em

garantir um mínimo aos que não podem pagar, ficando para o setor privado o

atendimento aos que têm acesso ao mercado. (CFESS, 2010). O caráter focalizado

do atendimento voltado para os mais pobres dos pobres implica no difícil acesso às

ações de saúde, na e redução dos serviços de saúde ferindo os princípios do SUS

tais como a integralidade, a equidade e a universalidade.

A afirmação do projeto voltado para o mercado é expressa na

desresponsabilização do Estado para com o social transferindo-a para a sociedade

através do apoio as práticas assistencialistas de entidades filantrópicas, colaborando

com estas por meio de isenção de impostos e financiando ações. Toda essa

dinâmica apresenta-se como resultado das transformações ocorridas no Estado, em

resposta à dinâmica do capital, banalizando a ideia de serviços sociais enquanto

direito.

Com a Reforma da Seguridade Social, ocorrida nos anos de 1990, sendo

reduzida à previdência, foi afirmada a regressão das conquistas obtidas na década

de 1980. Características como a descentralização das políticas sociais com

centralização do poder, a redução de custos na área social, a focalização das ações,

apresentam-se como responsáveis pela precarização dos serviços públicos. O

18

Governo atual, por sua vez, dá continuidade ao modelo neoliberal, no entanto com

uma postura mesclada entre os dois projetos, no intuito de atender a ambos os

interesses.

Ao assumir uma postura voltada para o atendimento das duas classes em

disputa (dominante e trabalhadora), o Estado passa a atender as necessidades

sociais na medida em que os interesses do capital não sejam “prejudicados”

adequando, assim, a Seguridade Social aos interesses da classe dominante.

Conforme Mota (2007), a proposta de Políticas de Saúde construída na década de

1980 tem sido desconstruída. Esta desresponsabilização do Estado implica em

grandes dificuldades para o andamento dos serviços previstos no Sistema Único de

Saúde na medida em que estes são impedidos constantemente pela lógica da

lucratividade.

Outro ponto que se apresenta como questão fundamental para o

desenvolvimento dos serviços de saúde e o acesso a estes é a descentralização,

que consiste na transferência de responsabilidades da União para as esferas

estaduais e municipais. O objetivo da descentralização é a atribuição de autonomia

jurídica, funcional e financeira ao estado ou município, contribuindo para um melhor

desempenho do trabalho voltado para as demandas da própria região. O processo

de descentralização pode contribuir positivamente para o andamento das ações

sociais – incluindo as ações da saúde – e interação dos órgãos municipais,

estaduais e federal na gestão das políticas sociais como também na sua

fiscalização.

A Programação Pactuada e Integrada, normatizada através da portaria GM/MS

n° 1.020/02, determina que deve ser efetuada a equidade de acesso às ações e

serviços de saúde em todos os níveis de complexidade, o que se estende ao acesso

dos moradores do interior do estado aos serviços de Saúde dos quais seu município

não dispõem. Portanto, é de responsabilidade do gestor municipal, a garantia desse

acesso através do encaminhamento do paciente para o município ao qual está

pactuado e que dispõe do eventual serviço.

No processo de descentralização, são estabelecidas estratégias como a

regionalização que colaboram para o desenvolvimento deste modo de operar as

políticas sociais, sendo orientadas pelas Normas Operacionais Básicas (NOB’s) e

Normas Operacionais da Assistência Social (NOAS), responsáveis pela

19

operacionalidade das ações referente a atribuição de competências e o

financiamento das ações.

No entanto, por questão de falta de financiamento aplicado no setor da saúde

por parte da União, e por questões voltadas à própria gestão desta política, o

município acaba não investindo de forma adequada na saúde da população a fim de

promover ações contra doenças que poderiam ser prevenidas ou tratadas no próprio

município, passando a utilizar de forma constante a medida do encaminhamento dos

usuários para os municípios que dispõem de serviços mais complexos. Um exemplo

disso é o grande número de usuários encaminhados à capital do estado de forma à

causar elevada demanda e a superlotação de hospitais que, em alguns casos,

deveriam tratar apenas de questões mais complexas. A ênfase ao modelo curativo

é preponderante, pois é necessário ao desenvolvimento do capital, sobretudo pelo

viés de privatização dos serviços de saúde e ou por via das demandas necessárias

aos setores das indústrias de medicamentos e equipamentos hospitalares.

Toda essa problemática deve ser analisada em suas variadas expressões que

se apresenta diariamente nas unidades de saúde do Rio Grande do Norte e no

Brasil, como também nas próprias condições em que se encontra a saúde da

população brasileira e nos serviços oferecidos pelo poder público a fim de lutar, a

partir da compreensão desta realidade, pela afirmação do compromisso do Estado

no cumprimento dos objetivos e diretrizes estabelecidos na Lei 8.080/90 e na

promoção de uma melhor qualidade de vida a partir da efetivação dos direitos

sociais.

Portanto, a análise à qual ora nos debruçamos, diz respeito às condições de

acesso dos pacientes oriundos do interior do estado do estado do Rio Grande do

Norte, aos serviços de saúde nas principais cidades do Estado, mais, precisamente,

na capital do Estado, na cidade do Natal. A delimitação desse estudo resulta da

compreensão sobre a importância de uma análise crítica das condições sobre as

quais os usuários da rede pública de saúde são submetidos para poder obter

respostas às suas necessidades de cuidados com a saúde.

Para a realização deste trabalho foram realizadas 02 (duas) visitas na

Secretaria de Saúde do Estado (SESAP), mais precisamente na Coordenadoria de

Planejamento e controle do Sistema de Saúde, onde foram fornecidas algumas

informações quanto à regionalização do estado do Rio Grande do Norte. Quanto às

ações oferecidas pela SESAP, houve dificuldades na coleta de dados devido

20

restrições do sistema e por questões de informática (modelo do arquivo), sendo

possível apenas a obtenção dos dados relacionados à exames de alta complexidade

oferecidos pela Secretaria nos anos de 2009 e 2011 constados no Anexo B e Anexo

C.

Foi realizada também no desenvolvimento desta análise a consulta a

documentos, normas, portarias e Leis que tratam do planejamento, execução e

financiamento da política de saúde como também a pesquisa bibliográfica de obras

de autores que trabalham com a questão da Saúde no Brasil, seus mecanismos de

desenvolvimento e os projetos políticos em disputa (Reforma Sanitária e Projeto

Privatista).

Sua importância também consiste na necessidade de se conhecer e discutir o

processo de descentralização dos serviços de saúde no Brasil mais especificamente

no estado do Rio Grande do Norte e a realidade de atendimentos à saúde da

população no estado a fim de compreender como os serviços são realizados, a

qualidade, a consolidação da saúde como política pública universal e o processo de

materialização da descentralização dos serviços como uma das diretrizes do

Sistema Único de Saúde. Busca ainda a compreensão do modelo político instaurado

no Brasil e como as particularidades desse modelo incidem na qualidade dos

serviços de saúde e nas condições objetivas do acesso aos mesmos

A motivação para a execução deste trabalho foi resultado de experiências

vividas em âmbito familiar, de situações em que a dificuldade do acesso ás ações de

saúde foi presenciada e de observações realizadas em campos de estágios1. A

relevância deste estudo também se dá pela necessidade da constante reflexão do

profissional na área da saúde em seu exercício – o qual lida diariamente com os

problemas ocasionados pela escassez da oferta de serviços de saúde e pelas

dificuldades provenientes desta questão, os quais serão abordados nos capítulos

seguintes – como também de seus gestores visto que a área da saúde tem se

apresentado como alvo de interesses privatistas e de mercantilização, o que incide

diretamente nos princípios que orientam sua atuação – principalmente o de

universalidade – implicando na realização dos resultados pretendidos (garantia do

1 Estágio extracurricular na Policlínica no período de agosto de 2011 à julho de 2012; e atual estágio

extracurricular no Hospital Universitário Onofre Lopes, que teve início no mês de março de 2012. Ambas as instituições são situadas em Natal/RN.

21

acesso e efetivação de direitos) e dos resultados alcançados, muitas vezes

expressos em respostas pontuais.

No desenvolvimento deste trabalho, será abordado no segundo capítulo um

breve discurso sobre a história da saúde no Brasil, tomando como ponto de partida a

década de 1920 e enfatizando o contexto sócio-histórico do período militar (1964-

1985), o período de redemocratização no país, os rebatimentos da onda neoliberal

na década de 1990 até os dias atuais, onde o Governo mantém uma posição

conciliatória entre os dois projetos em disputa: o Projeto de Reforma Sanitária (de

caráter transformador) e o Projeto Privatista (de caráter conservador), sendo

aprofundado no subitem 2.2.

No terceiro capítulo, serão tratadas questões como a descentralização da

saúde como diretriz do Sistema Único de Saúde (Lei 8.080/90), o processo de

regionalização no Rio Grande do Norte e a questão da municipalização, como

estratégias de promoção da universalização da saúde e da qualidade dos serviços,

analisando as condições em que estas ações estão sendo executadas e a influência

dos dois projetos (universalização x privatização) em seu desenvolvimento.

22

2. A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO:

CONQUISTAS E DESAFIOS DA UNIVERSALIZAÇÃO.

Nesse tópico será discutida a política de saúde implementada no Brasil, a

qual tem sua trajetória histórica marcada por avanços e retrocessos resultados da

luta entre classes sociais orientadas por projetos sociais distintos. Para a realização

desta abordagem será tomado como ponto de partida, o contexto dos anos 1980,

onde encontra-se o ápice dos movimentos sociais e a promulgação da Constituição

Federal que regulamenta o Sistema Único de Saúde (Lei 8.080/90) e Lei 8.142/902,

as quais destacam-se como marco fundamental da institucionalização da saúde

como direitos de todos e dever do Estado.

Serão tratados também os embates neoliberais que vão incidir nas políticas

sociais a partir dos anos 90 – e particularmente na área da saúde – como também o

surgimento de novos modelos de gestão das políticas sociais a partir de um novo

tipo de relação Estado/sociedade, através de medidas estratégicas, que passa a

submeter as políticas sociais aos interesses do mercado. Outras questões a serem

analisadas dizem respeito à operacionalização da gestão da saúde padronizada

pelas Normas Operacionais Básicas e Normas Operacionais de Assistência a

Saúde, criadas no intuito de firmar os princípios da universalidade, integralidade dos

serviços e as diretrizes defendidas no SUS, atribuindo destaque à descentralização.

2.1. INTRODUÇÃO À POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL: BREVE RESGATE

HISTÓRICO.

Para uma análise da Política de Saúde no Brasil será efetuado um resgate

histórico de sua trajetória, contextualizando-a a partir da década de 1920 até os dias

atuais. Assim, pode-se dizer que a saúde no Brasil só vem surgir como objeto de

intervenção do Estado apenas nos século XX, sendo efetivada na década de 30,

2 Leis responsáveis pela regulamentação, organização dos serviços de saúde, sua definição e

definição da participação popular na gestão do Sistema Único de Saúde, seu financiamento, entre outras questões.

23

pois anterior a intervenção estatal, a saúde era trabalhada por meio da filantropia e

de práticas liberais limitando-se a medidas curativas.

Durante o século XX, ocorrem várias mudanças no âmbito da saúde. A

implementação da reforma Carlos Chagas, de 1923, representou uma estratégia da

União para ampliar o poder nacional devido a crise que havia se instalado desde

1922. Surgem ainda, na década de 20, as Caixas de Aposentadorias e Pensões -

CAPs, também conhecidas como Lei Elói Chaves3. As CAPs eram organizadas por

empresa, o que significa que apenas os trabalhadores de uma determinada empresa

que havia aderido a este sistema, tinham acesso aos direitos por ele garantidos.

Em 1930, são criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs que

visavam abranger um maior número de trabalhadores assalariados urbanos dando

surgimento a medicina previdenciária. A lógica da previdência dos anos 1930 a 1945

era de caráter contencionista onde foi identificado um declínio nas conquistas

realizadas pelos trabalhadores no período anterior. A previdência, então, reduziu os

gastos com os serviços de saúde passando a priorizar a acumulação de reservas

financeiras (BRAVO, 2006).

Houve também, a separação entre previdência e a assistência social sendo

estabelecidos limites quanto ao financiamento com a assistência médico-hospitalar e

assistência farmacêutica. Entre 1945 e 1950, é consolidada a Política Nacional de

Saúde que já vinha em processo de desenvolvimento desde a década de 30. A partir

deste período foram criados o Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, durante a

2° Guerra Mundial, e o Plano Salte de 19484.

O período anterior ao golpe de 1964 foi marcado pela má condição da saúde

no país, onde apesar de maiores investimentos nesta área, não foram suficientes

para esbarrar o preocupante índice de doenças infecciosas, morbidade e

mortalidade infantil e a mortalidade geral. Na década de 1950 em diante surge no

cenário brasileiro o atendimento hospitalar privado. A saúde passa a ser

considerada uma fonte de lucro para o capital, porém, apesar da mobilização e do

3 Foi criada em 1923 em meio ao discurso que havia se estabelecido em relação à higiene e saúde do

trabalhador. 4 Plano de cunho econômico criado pelo Governo brasileiro durante a administração do presidente

Eurico Gaspar Dutra (1946-1950), voltado para as áreas da saúde, alimentação, transporte e energia, visando o desenvolvimento destas áreas a partir da aplicação de investimentos. No entanto, este plano não foi aplicado.

24

avanço do movimento privatista, este não é consolidado até o regime estabelecido

no país a partir de 1964.

Com a forte intervenção do Estado voltada para a regulação da sociedade, os

trabalhadores são retirados da participação na gestão da previdência, ficando

apenas responsáveis por seu financiamento. O avanço da Saúde de caráter público

sofreu um declínio considerável já que esta deveria moldar-se às transformações

tecnológicas e à lógica da lucratividade, o que resultou na reestruturação do setor

em 1966 impulsionando o crescimento da medicina previdenciária (BRAVO, 2006).

A Saúde previdenciária era restrita aos trabalhadores que tinham sua carteira de

trabalho assinada e, consequentemente contribuíam com a previdência social. Os

serviços públicos eram direcionados a grupos específicos da sociedade, como as

ações voltadas para mulheres, campanhas de vacinação de prevenção de doenças

infantis e etc. Quanto aos demais, que não se enquadravam nos perfis determinados

pelos programas focais e não eram empregados com sua carteira assinada, lhes

restavam as ações filantrópicas, ficando a ações de saúde oferecida pelas

instituições privados para os que podiam pagar.

A saúde durante este período se caracterizava pela negligência aos serviços de

caráter preventivo, pelo estímulo ao crescimento da mercantilização de

medicamentos por meio das indústrias farmacêuticas, influência da prática

mercantilista na atuação profissional médica, o que abriu espaços para a prática da

terceirização e convênios, tão presentes ainda nesta área nos dias atuais. A

priorização e incentivo do sistema privatizado da saúde ocasionaram no

enfraquecimento do setor público, consequência do baixo investimento financeiro

por parte do Estado – menos de 2% do PIB (ESCOREL, 2008), valor ainda maior

que o aplicado em 2011 que consistiu em apenas 1,72%5 – e ocasionando a

ineficiência dos serviços de saúde.

A partir da percepção do estado de precarização da saúde pública os

Departamentos de Medicina Preventiva passaram a questionar o modelo adotado no

Brasil, apontando a necessidade da aplicação da saúde preventiva, colocando-a

como requisito fundamental no tratamento da saúde da população. Essa concepção

de saúde preventiva impulsionou o surgimento do movimento sanitário que passou a

rebater o modelo adotado no país e a propor reformas no setor de saúde a partir da

5 Informação obtida em site: <http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-09-06/saude-executa-

apenas-50-orcamento-de-2012.html>, acessado em novembro/2012.

25

análise da realidade e da construção coletiva de medidas que deveriam ser

adotadas pelo Estado.

O movimento sanitário surge, primeiramente, no meio acadêmico no início dos

anos de 1970, rebatendo as posturas privatista e autoritária do regime militar,

propondo reformas no setor da saúde a partir do questionamento quanto a questões

relacionadas a determinação do social no processo saúde/doença, como também a

própria questão do processo de trabalho (ESCOREL, 2008). Não demorou pra esse

movimento ser apoiado por segmentos da sociedade civil, profissionais da área da

saúde e até mesmo por integrantes do partido político que se opunha ao regime, o

Movimento Democrático Brasileiro (MDB)6.

Paralelo ao enfraquecimento da ditadura militar, ocasionado pela crise

econômica7, o movimento de oposição vai ganhando força e absorvendo cada vez

mais segmentos que apoiavam a reforma da saúde e a democratização política no

país. Movimentos e projetos importantes foram fundamentais neste processo. Um

exemplo disso foi o II Plano Nacional de Desenvolvimento, construído no início da

década de 1970. Conforme afirma Escorel (2008),

[...] o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) [...] reconhecia que o desenvolvimento social deveria ocorrer de forma paralela e progressiva ao desenvolvimento econômico [...] o II PND estabelecia dois grandes campos institucionais ‐ o do MS, de caráter normativo, com ação executiva voltada para as medidas e os atendimentos de interesse coletivo, inclusive vigilância sanitária; e o do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), com atuação voltada

principalmente para o atendimento médico‐assistencial individualizado [...] o II PND possibilitou abrir espaços institucionais para o desenvolvimento de projetos que terminaram por absorver intelectuais e técnicos de oposição ao governo militar, formando uma rede de sustentação de projetos e pessoas, financiando pesquisas, contratando profissionais, promovendo a articulação com as secretarias estaduais de Saúde, elaborando propostas alternativas de organização dos serviços de saúde e de desenvolvimento de recursos humanos. Constituíram, portanto, as bases institucionais que estimularam o movimento sanitário em seu processo de articulação e crescimento.

6 Fundado em 1966, teve importante participação na extinção do bipartidarismo político no Brasil, e de

onde derivaram partidos também de oposição ao regime militar (1964-1985) como o Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Democrático Trabalhista (PDT), e em 1988 deu origem ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). 7 A crise desse período se caracteriza pelo esgarçamento do padrão fordista/taylorista no final dos

anos 1970, o que gerou uma crise de acumulação de capital.

26

Ainda, segundo a autora, no surgimento e desenvolvimento do movimento

sanitário, se destacaram três vertentes que apresentaram fundamental influência em

seu desenvolvimento: o movimento estudantil e o Centro Brasileiro de Estudos de

Saúde (Cebes), responsável pela difusão da teoria da medicina social; os

movimentos de Médicos Residentes e de Renovação Médica, que contribuíram na

luta política em prol de questões referentes ao campo do trabalho profissional; e os

profissionais das áreas de docência e pesquisa das universidades, responsável pela

construção do marco teórico que orientaria a posição assumida pelo movimento,

seus princípios, objetivos e posição política.

O Projeto de Reforma Sanitária objetiva a democratização da saúde no Brasil

através de uma idéia ampla de saúde, onde esta não é limitada a assistência

médica, porém, envolve o direito a moradia, a uma educação de qualidade, ao

emprego e salário dignos, entre outros direitos sociais necessários para uma boa

qualidade de vida do cidadão. Os princípios que fundamentam esse projeto

consistem na democratização do acesso aos serviços sociais, na universalização e

democratização das ações, melhoria da qualidade dos serviços, além das diretrizes

adotadas no Sistema Único de Saúde que são o controle social, a integralidade e a

descentralização dos serviços.

Com o fim do regime militar, há a tentativa de enfrentar a questão social

através da política social no intuito de atender as reivindicações da classe

trabalhadora. O movimento ligado à saúde pública volta a ganhar forças apesar da

resistência do movimento privatista. No processo de democratização iniciado no final

da década de 1970, surgem novos sujeitos sociais (partidos políticos, movimento

sanitário e etc.) ligados à luta por direitos. Com isto, a saúde ganha uma dimensão

política e é intensificado processo que exigia a ampliação da saúde como direito

universal.

Assim, a saúde é colocada como direito de todos e dever do Estado (Lei

8.080/90). Esse movimento em prol da universalização da saúde resultou na 8°

Conferência Nacional de Saúde realizada em 1986. Nesta conferência foram

discutidos alguns pontos principais, como: Saúde como Direito, Reformulação do

Sistema Nacional de Saúde e Financiamento Setorial. A estratégia utilizada para a

reestruturação deste setor consistia na implantação do Sistema Unificado de Saúde.

O SUS defende a intersetorialização, a universalização e a participação social como

princípios e diretrizes fundamentais para a implementação de uma saúde de

27

qualidade, garantida a toda população independente de sua classe, etnia ou gênero.

Considerando que este sistema foi regulamentado em 1990, pela Lei Orgânica da

Saúde - LOS.

A promulgação da Constituição Federal de 1988 significou uma grande

conquista para a classe trabalhadora, movimento sanitarista e sujeitos a eles

ligados. Estava assegurada a promessa da expansão dos direitos sociais. Porém, o

contexto político e econômico da década seguinte traz fortes rebatimentos sobre as

conquistas obtidas pelas classes populares. Ou seja, com a implementação do

neoliberalismo nos anos 90, há um retrocesso no andamento das políticas públicas o

que incide diretamente, e de forma negativa, na saúde ocasionando numa série de

privatizações e contrarreformas trazendo uma nova concepção do sujeito que, de

cidadão de direito, é visto agora como cidadão consumidor.

Todo esse contexto de perdas e conquistas determinou a maneira como a

Saúde no Brasil está implementada atualmente onde a privatização de seus serviços

tem sido cada vez mais uma ameaça ao princípio da universalização. Não obstante

a influência do movimento privatista, as ideias do movimento da Reforma Sanitária

têm sido executadas e trabalhadas na perspectiva da melhoria dos serviços de

saúde e ampliação do acesso aos mesmos. Como a questão da descentralização

das políticas sociais que tem trazidos resultados significativos para seu andamento

proporcionando uma visão mais adequada com a realidade local, questão essa que

será abordada com maior abrangência mais adiante.

2.2. A POLÍTICA DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DA UNIVERSALIZAÇÃO: A

QUE SERÁ QUE SE DESTINA?

A política de Saúde no Brasil tem sua trajetória histórica marcada por questões

de cunho político, econômico e social que determinaram o modelo de política hoje

implementada no país. O modelo da gestão, do financiamento, a forma de acesso

aos serviços de saúde, são resultados das contradições que permeiam a trajetória

da política de saúde no Brasil.

A saúde é instituída como direito universal e sua efetivação é colocada como

responsabilidade do Estado a partir da promulgação da Constituição Federal e do

28

Sistema Único de Saúde (Lei 8.080/90 e Lei 8.142/90) apresentando-se como uma

grande conquista para as classes populares, que ansiavam por um sistema de

saúde democrático e universal. A institucionalização do Sistema Único de Saúde

legalizou os princípios e diretrizes defendidos pelo movimento em prol da reforma

sanitária, consistindo na integralidade, universalidade e equidade que seriam

aplicadas através da participação popular, regionalização, hierarquização e

descentralização com comando único – único no sentido de ser desenvolvido em

todo o país em uma só direção, ou seja, orientado pelos princípios e diretrizes deste

sistema.

O projeto da Reforma Sanitária que têm sua construção paralela a dissolução da

Ditadura Militar implantada no país nos anos 1964-1985, e nele está contido o

ideário do movimento pela reforma da saúde brasileira.

O Projeto de Reforma Sanitária objetiva a democratização da saúde no Brasil

através de uma ideia ampla de saúde, onde esta não é limitada a assistência

médica, porém, envolve o direito a moradia, a uma educação de qualidade, ao

emprego e salário dignos, entre outros direitos sociais necessários para uma boa

qualidade de vida do cidadão. Ao Estado, cabe a promoção do atendimento de

caráter preventivo e curativo dos serviços de saúde, como também a elaboração de

meios que permitam a democratização do acesso aos serviços sociais e a melhoria

da qualidade dos serviços, além da aplicação das diretrizes adotadas no Sistema

Único de Saúde.

Anterior a esse contexto, o projeto de privatização da saúde já vinha tomando

corpo na gestão política rebatendo as propostas de universalização apresentado

pelo movimento sanitário. O resultado foi a promulgação da Constituição Federal de

1988 mesclada aos interesses da classe dominante uma vez que permitiu a

participação do setor privado nesta política ao instituí-lo como complementar à

Saúde pública. Ou seja, apesar de todo aparato legal na defesa da saúde pública de

qualidade, o setor privado, por sua vez, poderá oferecer seus serviços para quem

por eles optar.

Fica explicito, conforme afirma Borlini (2010), que a democratização no Brasil se

deu de maneira contraditória, uma vez que há o processo de democratização do

sistema no país por meio da afirmação dos direitos sociais e políticos sem, no

entanto, haver a quebra da aliança do Estado com a classe dominante burguesa que

havia se beneficiado durante o período ditatorial em relação a economia no país –

29

período em que houve uma grande concentração de riqueza, da qual poucos

usufruíram, o famoso “milagre econômico” – a qual se caracteriza pela defesa da

privatização, mercantilização e seletividade.

No período de 1970 a 1990, a política e a economia passavam por mudanças

determinantes em contexto mundial. Com a crise do Estado de Bem-Estar Social,

implantado na Europa, surge o ideário neoliberal como forma de salvar a economia.

O Estado de Bem-Estar Social, também conhecido como Welfare State havia

conseguido um equilíbrio entre a economia e a democratização dos serviços sociais,

onde o atendimento ao social seria visto como questão de direito e não estaria

subjugado a interesses econômicos. O neoliberalismo, por sua vez fundamenta-se

na lógica da mercantilização, a qual se estende também às políticas sociais.

No Brasil, a implantação do neoliberalismo nos anos 1990, incide diretamente na

área social, trazendo consequências negativas e retrocessos para os direitos sociais

conquistados na década anterior. A absorção desse mais novo ideário do capital

culminou na “Reforma” do Estado, o qual sofre alterações em sua própria

concepção, que passa a ser considerado incapaz de administrar as políticas sociais

e econômicas, sendo tirado de sua gestão. Conforme Silva (2006),

No Brasil, a reforma do Estado significou desestatização. Em nome da eficiência, da produtividade e da qualidade, a produção estatal de determinados bens e serviços é transferida para agentes do setor privado, inclusive na área das políticas sociais (...). Observa-se uma clara tendência de restringir ou modificar ação do Estado seja pela redução da aplicação de recursos públicos, seja pela transferência de responsabilidades para instituições privadas, consideradas de interesse público, embora não sejam estatais, mas com o aporte de recursos do orçamento público.

O neoliberalismo se fundamenta no livre mercado e na política de ajuste

econômico, defende a privatização dos serviços sociais, desviando a concepção de

direito social para a prática do assistencialismo e da filantropia. Segundo Borlini

(2010), nesse novo sistema, a atuação do Estado “deve restringir-se à manutenção

da ordem, da liberdade e da propriedade privada, bem como assegurar condições

para o livre mercado”. O Estado perde o posto de gestor das políticas sociais,

limitando-se apenas a sua formulação, financiamento e fiscalização, na qualidade de

estado mínimo, transferindo sua responsabilidade social para a sociedade civil, que

surge como nova protagonista dos serviços sociais através das Organizações

30

Sociais (OS), Organizações Filantrópicas e Organizações da Sociedade Civil de

Interesse Público (OSCIPs), também conhecido como terceiro setor.

Observa-se uma clara tendência de deslocamento das ações governamentais públicas – de abrangência universal – no trato das necessidades sociais em favor de sua privatização, instituindo critérios de seletividade no atendimento aos direitos sociais. Esse deslocamento da satisfação de necessidades da esfera pública para esfera privada ocorre em detrimento das lutas e de conquistas sociais e políticas extensivas a todos. É exatamente o legado de direitos conquistados nos últimos séculos, que está sendo desmontado nos governos de orientação neoliberal, em uma nítida regressão da cidadania que tende a ser reduzida às suas dimensões civil e política, erodindo a cidadania social. (BORLINI, 2010)

Com a minimização da atuação do Estado na área social, surgem as

organizações sociais e filantrópicas, as quais passam a assumir a responsabilidade

pela promoção de serviços sociais por meio da prestação da assistência à saúde, a

educação, a moradia e demais serviços onde se enquadram as grandes instituições

de ensino privadas (escolas, universidades etc.), as unidades privadas e

filantrópicas de saúde (casas de apoio). Taxadas como organizações filantrópicas,

prestadoras de ações beneficentes e sem fins lucrativos, essas instituições

encontram espaço para sua implementação e firmação com o apoio do Estado.

Apesar do caráter filantrópico dessas organizações, apresentadas como “sem

fins lucrativos”, são mantidas com o dinheiro público, financiadas pelo próprio

Estado, visto que segundo a Lei nº 9732 de 11 de dezembro de 19988, se enquadra

como instituição filantrópica aquela que oferecer a assistência social beneficente e

gratuita a quem dela necessitar, como exemplo as vagas gratuitas oferecidas em

instituições de educação, ou, aquela que atribuir pelo menos 60% de seus serviços

ao SUS, práticas realizadas pelas universidades privadas e por instituições de saúde

mistas9.

A partir dessas determinações realizadas no sistema brasileiro fica evidente que

a Reforma do Estado ocorrida na década de 1990, foi apenas mais uma face do

8 Altera a Lei nº 8.212/91, Lei, 8.213/91 que tratam da Seguridade e Previdência Social, e Lei

9.317/96 que regulamenta o regimento tributário das microempresas e empresas de pequeno porte, tratando dos pagamentos de impostos e contribuições ao Estado, dos quais as instituições filantrópicas são isentas. 9 Instituições de caráter filantrópico, conveniadas ao Sistema Único de Saúde, e que oferecem

serviços particulares pela própria instituição como também através de convênios com os planos de saúde.

31

capitalismo em seu desenvolvimento no país, fortalecendo o projeto privatista a

partir do ataque as políticas públicas, onde o usuário passa da concepção de sujeito

de direito para sujeito consumidor. A minimização do Estado, em favor do

fortalecimento do projeto voltado para o mercado, é evidente nos serviços

precarizados oferecidos pelas unidades de saúde – em condições também precárias

– à parcelas mínimas da população, ocasionados pela racionalização da oferta dos

serviços de saúde que se contrasta com a grande demanda da população

desprovida do devido atendimento.

As grandes empresas de serviços privados de saúde encontram espaço para

atuarem, com o apoio do Estado, no atendimento das necessidades sociais

utilizando-se de propagandas e serviços de marketing para disseminar a ideia de

único meio de acesso aos serviços de qualidade de saúde, atribuindo à saúde

pública a condição de ineficiente.

A ideia mercadológica defende o investimento do Estado nas empresas privadas

e nas instituições filantrópicas – que também são privadas visto que não são

estatais, apesar de serem consideradas de interesse público – o que desvirtua a

concepção de direito, deturpa a consciência de que, ter acesso aos serviços sociais

de forma gratuita e de qualidade é direito de qualquer cidadão e que é dever do

Estado a sua promoção. E ainda,

As conseqüências de transitar a atenção à pobreza da esfera pública dos direitos para a dimensão privada do dever moral são: a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamação judicial, a dissolução de continuidade da prestação dos serviços submetidos à decisão privada, tendentes a aprofundar o traço histórico assistencialista e a regressão dos direitos sociais. (IAMAMOTO, 2006)

A desresponsabilização do Estado na implementação das políticas sociais, no

investimento orçamentário necessário ao seu desenvolvimento poderá ocasionar na

desvalorização dos serviços públicos e na própria gestão da saúde se traduzindo na

forma que é implementada sua descentralização, a qual não pode ser confundida

como transferência de responsabilidade e isenção do poder central; resulta também

nos limites orçamentários destinados aos gestores locais; na focalização e ênfase da

saúde curativa no lugar da priorização à prevenção; no discurso sobre o caráter

ineficiente dos serviços públicos; no incentivo a solidariedade social a partir da ideia

32

do indivíduo responsável pelo bem estar da sociedade, como também nas condições

de trabalho dos próprios funcionários que atuam nessa área, caracterizadas pela

precarização, baixa remuneração salarial, e outras dificuldades típicas da

terceirização dos serviços.

A disputa entre o movimento sanitário e o movimento privatista, encontra-se

acirrada num contexto em que a política instaurada no governo vigente dá

continuidade ao atendimento ao duplo interesse (classe dominante e classe

trabalhadora), característica do Governo anterior, o Governo Lula (2002-2010)10.

Nesses dois governos, são atendidos ambos os interesses a partir da adaptação das

políticas sociais aos interesses do mercado e do atendimento mínimo as

necessidades sociais, em grande parte, por via indireta, tais como os trabalhos

realizados pelas organizações da sociedade civil – já citadas anteriormente – onde

os serviços oferecidos são voltados para questões imediatas que contribuem apenas

para a amenização de uma questão particular derivada de uma problemática de

caráter maior que permeia a esfera social, econômica e cultural do sujeito social.

Apesar da postura conciliatória de ambos os interesses do atual governo é

evidente a prevalência do projeto societário burguês e seus fortes rebatimentos, já

mencionados no decorrer deste tópico, na execução da política de saúde pública e

na oferta de seus serviços. No entanto, o movimento de Reforma Sanitária continua

persistente em sua luta em prol da universalização do acesso saúde e da promoção

de sua qualidade e eficiência, através dos movimentos sociais em defesa da saúde

pública e contra sua privatização. Sua luta se mantém através da constante

avaliação e construção de medidas que orientem a implementação do SUS

conforme estabelecido legalmente.

10

Ex representante sindical e ex-metalúrgico de nacionalidade brasileira, mais precisamente natural de Pernambuco (PE) teve papel importante na luta da classe trabalhadora na época de efervescência política durante o regime militar (1964-1985) atuando no movimento dos metalúrgicos do ABC paulista, chegando a ser presidente no ano 2003, sendo reeleito em 2006, entregando a presidência para a atual presidente, a qual apoiou, em 01 de janeiro de 2011, Dilma Rousseff, ainda em percurso de seu mandato.

33

3. DESCENTRALIZAÇÃO NA POLÍTICA DE SAÚDE COMO ESTRATÉGIA DE

DEMOCRATIZAÇÃO E UNIVERSALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS.

Neste tópico será abordado o processo de descentralização que vem sendo

colocada em questão desde os anos 1970 através do movimento de Reforma

Sanitária sendo intensificado depois de instituída como diretriz constitucional do

Sistema Único de Saúde no Brasil através da Lei 8.080/90. Desde então, o processo

de descentralização da saúde pública vem sendo trabalhada na direção à garantia

do acesso à Saúde como direito universal.

Serão discutidas também, as questões da regionalização e da municipalização,

estratégias fundamentais para a implementação e eficiência do processo

descentralizado desta política, apontando seus avanços, conquistas, como também

seus desafios e limites, usando como objeto de análise o sistema de saúde no

estado do Rio Grande do Norte, suas regiões de saúde e como é realizada a

assistência à saúde em face o modelo político e cultural da região Norte-

RioGrandense.

3.1. O DESENVOLVIMENTO DA DESCENTRALIZAÇÃO DA SAÚDE.

Para uma melhor compreensão da lógica da descentralização é, antes,

necessário compreender o significado do projeto de Reforma Sanitária da qual a

descentralização é integrante. O movimento sanitário surge paralelo ao

enfraquecimento da ditadura militar apresentando propostas de transformação do

sistema de saúde instaurado no país (1964-1985). Foi em 1979 que o movimento

publicou sua proposta de reorganização da saúde brasileira e da universalização do

direito a saúde.

As propostas colocadas na 8º Conferência Nacional de Saúde – que apresentou-

se como marco histórico do processo de democratização, realizada em 1986 nos

dias 17 a 21 de março – foram institucionalizadas e regulamentadas através das

Leis 8.080 e 8.142 em 1990, materializando as propostas colocadas pelo movimento

sanitarista.

34

Uma das conquistas obtidas através da Constituição Federal (Lei 8.080/90) foi a

implementação da descentralização dos serviços na saúde. A ideia seria oferecer

atribuições a cada esfera de governo a fim de proporcionar melhor desenvolvimento

das políticas sociais, o fortalecimento do poder local e o desenvolvimento dos

serviços de saúde de acordo com a realidade de cada região. Segundo Junior

(1993), a descentralização consiste na transferência de atribuições dos órgãos

centrais para os órgãos locais. No entanto, tal transferência não implica na isenção

de responsabilidade do poder estadual ou federal, mas consiste numa estratégia de

articulação entre os gestores, pautados pelos princípios constitucionais.

A partir da promulgação de um novo modelo da política de saúde, que defende

princípios e estabelece diretrizes que se distinguem do modelo anterior ao decreto

da Lei 8.080/90, houve a necessidade da construção de instrumentos que

orientassem a operacionalização do sistema, regulamentando questões como sua

gestão e seu financiamento. Esses instrumentos deveriam também definir as

atribuições de cada esfera de governo e o desenvolvimento dos serviços. Esses

instrumentos se traduziram nas normas operacionais que obtiveram, por meio de

experiências e identificação de necessidades, algumas alterações resultando em

novas normas.

A primeira norma foi criada em 1991 pelo Instituto Nacional de Assistência

Médica da Previdência Social – INAMPS11, apresentada como Norma Operacional

Básica – NOB/SUS 01/9 pela Nº 258, de 07 de janeiro, a qual foi responsável pela

criação dos Conselhos de Saúde estaduais e municipais. No entanto, a partir da

necessidade de clareza quanto às atribuições de cada esfera de governo e outras

dificuldades encontradas na implementação do Sistema Único de Saúde, conforme

seus princípios e diretrizes, a NOB/SUS 01/91, sendo revisada em 1992 pela

portaria nº 234, de 07 de fevereiro de 1992, responsável pela criação do Conselho

Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional de

Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS).

Em constante processo de aprimoramento do sistema descentralizado, é

estabelecida a NOB/93, regulamentada pela portaria nº 545, de 20 de maio, já

elaborada pelo Ministério da Saúde, trouxe contribuições através da formulação das

11

Organização governamental autônoma que tinha por objetivo a prestação de assistência médica aos trabalhadores segurados, ou seja, aos que possuíam carteira assinada, sendo extinta em 1993 através da Lei nº 8.689, de 27 de julho.

35

Comissões Intergestores (Bipartite e Tripartite) e trazendo modificações no processo

de financiamento da saúde nos municípios e contribuindo na orientação do processo

de descentralização da saúde. Já a NOB/96, regulamentada pela portaria nº. 2.203

de 6 de novembro, apresenta-se como um avanço significativo para a

operacionalização da gestão descentralizada da saúde, atribuindo, de fato, aos

municípios, a responsabilidade pela saúde da população local, instituindo dois tipos

de gestão para estes: a Gestão Plena da Atenção Básica e Gestão Plena do

Sistema Municipal.

A Norma Operacional da Assistência à Saúde criada em janeiro de 2001, portaria

95 de 26 de janeiro, formulada pelo Ministério da Saúde juntamente com as

instâncias intergestores Bipartite e Tripartite, trouxe avanços significativos para o

andamento dos serviços descentralizados de saúde, ampliando as

responsabilidades dos municípios quanto a Atenção Básica na saúde, definindo o

processo, de regionalização da assistência a esta política, como também cria

mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de

Saúde e procede à atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios,

conforme estabelecido no art. 01 da respectiva norma.

A NOAS 01/2001 põe como responsabilidade das Secretarias de Estado da

Saúde/SES, a criação dos planos de regionalização, os quais serão responsáveis

pela contemplação de “uma lógica de planejamento integrado, compreendendo as

noções de territorialidade na identificação de prioridades de intervenção e de

conformação de sistemas funcionais de saúde”.

Entretanto, diante de algumas dificuldades na implementação de determinados

itens da NOAS 01/2001, como “dificuldades para estabelecer o comando único

sobre os prestadores de serviços do SUS e assegurar a totalidade da gestão

municipal nas sedes dos módulos assistenciais, bem como da fragilidade para

explicitação dos mecanismos necessários à efetivação da gestão estadual para as

referências intermunicipais” (NOAS/SUS, 01/2002), é estabelecida a Norma

Operacional da Assistência a Saúde em fevereiro de 2002, portaria n.º 373, de 27 de

fevereiro, que propõe alternativas para a superação destes impasses. Esta nova

norma define processo de regionalização como “estratégia de hierarquização dos

serviços de saúde e de busca de maior equidade”, mantendo a defesa das diretrizes

defendidas na norma anterior.

36

Todo esse processo de busca de um sistema de saúde eficaz, bem estruturado e

universal tem como objetivo a implementação do SUS e concretização do Projeto de

Reforma Sanitária por meio da manutenção da integralidade da oferta destes

serviços. Tal integralidade deve ser implementada a partir da oferta de atendimento

em todos os níveis de complexidade e acompanhar toda a vida do indivíduo, desde

o seu nascimento até sua morte. É para garantir essa integralidade e realização de

ações que atendam as especificidades das necessidades dos usuários que a

descentralização é estabelecida.

.A NOAS-SUS 01/2002 é instituída pela portaria MS/GM nº 373, de 27 de

fevereiro de 2002. Seu conteúdo se estende a regionalização da saúde, como

também a regulamentação complementar que vem tratar da habilitação – que

envolve a Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada, Gestão Plena do Sistema

Municipal e Gestão Avançada ou Plena do sistema estadual – e desabilitação dos

municípios e estados.

Um ponto fundamental de que trata esta norma e que é indispensável para o

processo de descentralização diz respeito a regionalização. Segundo a mesma, a

regionalização deverá contemplar uma lógica de planejamento integrado,

compreendendo as noções de territorialidade, na identificação de prioridades de

intervenção e de conformação de sistemas funcionais de saúde.

É definida pelo Plano Diretor de Regionalização (PDR) como responsável pela

divisão territorial do estado em regiões, microrregiões e módulos assistenciais que

articulam entre si a operacionalidade da gestão da saúde e a oferta dos serviços

conforme estiverem habilitados, no objetivo de promover a ampliação do acesso aos

serviços de saúde, e evitando longos percursos de pacientes para outras cidades

que deles dispõem, como também objetiva proporcionar o atendimento conforme as

necessidades de saúde da população, dando prioridade a Atenção Básica como

alternativa fundamental para uma boa qualidade de vida a partir da distribuição dos

atendimentos básico, de média e alta complexidade conforme estabelecido no PDR.

No desenvolvimento da regionalização, são estabelecidas as regiões de saúde,

responsáveis pelo planejamento da atenção a saúde; macrorregiões que dispõem de

municípios-polo habilitados para oferecer serviços de todos os níveis de

complexidade e servem de referência para os municípios com os quais pactuou as

ações de média e alta complexidade, módulos assistenciais que compreendem um

conjunto de municípios dentre os quais há municípios-sede, que dispõem aos

37

demais municípios serviços referenciados de maior complexidade; e unidade

territorial de qualificação na assistência à saúde que representa a base territorial

mínima a ser submetida à aprovação do Ministério da Saúde e Comissão

Intergestores Tripartite para qualificação na assistência à saúde (NOAS-SUS

01/2002).

A Comissão Intergestores Tripartite (CIT), e a Comissão Intergestores Bipartite

(CIB), são instâncias colegiadas formadas por representantes do Ministério da

Saúde, do Conselho Nacional de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de

Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS) e por representação da Secretaria

Estadual de Saúde (SES) e do Conselho Estadual de Secretários Municipais de

Saúde, respectivamente, juntamente com as Conferências de Saúde (abrangendo a

esfera municipal, estadual e federal) e os Conselhos de Saúde (municipal, estadual

e federal), atuam como instâncias deliberativas, onde são discutidas as questões

sobre planejamento, gestão e financiamento da saúde, apoiando o processo de

descentralização e regionalização.

A relação entre União, estado e município é fundamental para um melhor

desempenho das políticas sociais no que diz respeito a sua gestão como também ao

seu financiamento. No intuito de trabalhar a questão do financiamento e

planejamento das ações de saúde no movimento da relação União/estado/município

foi estabelecido em 29 de outubro de 1998 o Plano Plurianual através do decreto nº

2.829, que tem como objetivo o planejamento e aplicação de metas, medidas à

serem aplicadas e orçamento à serem investidos em programas sociais pré-

estabelecidos sem, no entanto limitar o desenvolvimento dinâmico no decorrer do

período determinado que é de 04 (quatro) anos. Para que seja garantida a

transparência na gestão são elaborados relatórios que apresentam todas as ações

desenvolvidas e o orçamento aplicado neste processo.

O último relatório elaborado consiste no relatório do Plano Plurianual 2008-2011

(Lei nº 11.653, de 07 de abril de 2008 e Decreto o nº 6601 de 10 de outubro de

2008) que objetivou a elevação de investimentos públicos na área social a partir do

estabelecimento de valores financeiros e metas físicas de maneira estimativa para o

período de 2008-2012. O PPA apresenta-se como responsável pela implementação

dos programas específicos como também pela sua avaliação, monitoramento e

revisão, contando com a participação popular na elaboração, acompanhamento e

avaliação de suas ações, sendo fundamental a atuação da União neste processo.

38

O Ministério da Saúde lançou no presente ano (2012) o relatório anual referente

ao ano de 2011 sobre as ações desenvolvidas, os investimentos estipulados e as

metas que foram estabelecidas para o referido ano. Metas que, segundo dados

publicados, não foram alcançadas em alguns itens, e investimentos que não foram

efetuados em sua completitude. Segundo registrado no relatório, do total previsto

para o Ministério da Saúde, foi direcionado o valor de R$ 70.378.382.462,85 para

utilização dos programas e serviços sob sua responsabilidade.

A não aplicação do orçamento previsto em sua totalidade foi registrada também

no orçamento utilizado nos programas específicos integrantes do Plano Plurianual

(2008-2011), como no Programa da Atenção Básica em Saúde, onde foi prevista a

aplicação do valor de R$ 12.955.800.161,00, sendo realizado apenas R$

10.901.429.776,76, representando apenas 84,14% do orçamento previsto. Outro

programa fundamental no tratamento da saúde é o programa de Assistência

Ambulatorial e Hospitalar Especializada, para o qual foi previsto R$

37.612.299.204,00, sendo aplicado apenas R$ 33.331.991.612,76, representando

apenas 88,62%. Quanto ao programa Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças

e Agravos, o valor previsto foi de R$ 3.652.847.400,00, no entanto, foram aplicados

R$ 2.851.434.649,99, representando 78,06%.

Em 2012, a partir do cumprimento da construção de um novo Plano Plurianual

a cada 04 (quatro) anos, foi elaborado pelo governo de Dilma Rousseff, o plano

nomeado como o Plano Mais Brasil, o qual objetiva a adaptação e capacitação do

Plano Plurianual de acordo com a realidade em que o país se encontra em seu

plano econômico, social e político, a fim de promover maior acessibilidade do

cidadão aos seus direitos sociais.

Para a esfera da saúde, o Plano Mais Brasil tem como meta,

a expansão das portas de entrada do SUS (a atenção primária, a atenção de urgência e emergência, a atenção psicossocial e os serviços especiais de acesso aberto) às ações e serviços de saúde, a partir de metas, por exemplo, que especificam implantação e ampliação das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), a implantação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), a expansão de equipes de Saúde da Família e do número de transplantes de órgãos. (BRASIL, 2011)

Dos recursos destinados para a área social serão destinados R$ 316,7

bilhões para o aperfeiçoamento do SUS, representando 28% do valor total, conforme

39

informações concedidas em documento elaborado pelo Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão à respeito do Plano Plurianual (2012-2015),

Gráfico 1 – Investimentos da União na área social previsto no Plano Mais Brasil (2012-2015)

Fonte: BRASIL (2011).

As informações constadas no gráfico demonstram que o maior valor de

investimento financeiro está direcionado para a área da Saúde. No entanto, se

considerado a pequena parcela do valor total do Produto Interno Bruto (PIB)

destinada à área da saúde, será possível compreender que poderia ser investido

muito mais se não fosse o modelo vigente adotado no país, conforme abordado no

tópico 1.2. Segundo publicado na folha online do “Último Segundo” 12, no ano de

2011, o PIB atingiu o total de R$ 4,14 trilhões, foram destinados 78,5 bilhões para a

saúde, sendo utilizados somente 71,46 bilhões, representando 1,72% do PIB, o que

demonstra a não priorização da saúde por parte do Estado.

O apoio do Estado é fundamental no desenvolvimento das políticas sociais e

na implementação bem sucedida de sua descentralização, através da constante

articulação entre as três esferas de governo e do aprimoramento dos planos e

estratégias que as orientam, em especial, a política de saúde. É necessário

12

Matéria publicada por Nivaldo Souza no Jornal eletrônico disponível no site http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-09-06/saude-executa-apenas-50-orcamento-de-2012.html acessado em: 21/11/2012.

40

considerar que a insuficiência do financiamento na área social acarreta nas más

condições de seus serviços, na ineficácia de suas ações, na precarização das

condições de trabalho dos profissionais da área, e prejudica a saúde da população.

A estratégia da descentralização, os Planos Plurianuais, as Normas Operacionais,

devem ser consideradas e realizadas no intuito de promover melhor

desenvolvimento do setor da saúde.

Outra estratégia relevante no processo de descentralização é a municipalização,

a qual diz respeito a atribuição de competências aos gestores locais através do

processo de habilitação dos municípios, a qual será abordada no próximo item.

3.2. REGIONALIZAÇÃO E MUNICIPALIZAÇÃO DA SAÚDE NO RIO

GRANDE DO NORTE.

Após a Constituição Federal de 1988, foi necessário a criação de

regulamentações que subsidiassem a implementação das diretrizes do Sistema

Único de Saúde, resultando em normas, portarias e deliberações. Um método

fundamental para a execução destas diretrizes foi a criação do Pacto pela Saúde

através da Portaria nº 399/GM, no dia 22 de fevereiro de 2006.

Este pacto é formado por três elementos: Pacto pela Vida, que está relacionado

na formulação de ações voltadas para a realidade da saúde do estado, região ou

município, buscando atender a prioridades contextuais, ou seja, atender ás

demandas específicas de uma localidade em um determinado contexto; Pacto em

Defesa do SUS, que está voltado para a propagação do Sistema Único de Saúde,

seus princípios, sua interligação com o projeto de Reforma Sanitária, reforçando o

direito a Saúde como universal através da materialização das informações por meio

da mobilização social, formulação e distribuição de materiais informativos, como

também, está voltada para a questão do financiamento desta política, visando a

estabilidade orçamentária para a execução de seus serviços; e Pacto de Gestão do

SUS, que tem como objetivo especificar as responsabilidades de cada esfera de

governo nos níveis federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal por meio de

uma gestão compartilhada com incentivo a participação da população na gestão da

saúde.

41

O Pacto de Gestão do SUS tem ainda como diretrizes a descentralização, a

regionalização e a Programação Pactuada e Integrada (PPI). A Programação

Pactuada e Integrada apresenta-se como instrumento relevante para o acesso dos

serviços de saúde, pois garante a equidade da oferta destes serviços em todos os

níveis de complexidade, a partir da promoção da acessibilidade dos usuários ao

atendimento às suas necessidades. Segundo o art. 1º da portaria GM/MS nº

1.020/02, essa programação

é um processo instituído no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS para a alocação dos recursos da assistência à saúde nos estados e municípios brasileiros, resultante da definição, negociação e formalização dos pactos entre os gestores, das prioridades, metas, critérios, métodos e instrumentos, no sentido de definir de forma transparente os fluxos assistenciais no interior das redes regionalizadas e hierarquizadas de serviços bem como os limites financeiros destinados para cada município, explicitando a parcela destinada à assistência da própria população e das referências recebidas de outros municípios.

A pactuação integrada orienta a relação entre os municípios no sentido em que,

onde o município habilitado apenas na Gestão Plena de Atenção Básica deverá

encaminhar os usuários que necessitarem de atendimentos especializados, de

média ou alta complexidade, para outros que dispõem destes serviços e com os

quais está pactuado. O processo de pactuação, mediado pela Secretaria Estadual

de Saúde, está articulado ao Plano Diretor de Regionalização (PDR) que consiste na

divisão de regiões de saúde de um estado. Para essa divisão, são consideradas as

especificidades de cada localidade do estado, considerando também a questão

demográfica.

Na formação do Plano Diretor de Regionalização, foram criados elementos para

a organização e funcionamento dos serviços os quais consistem em: região de

saúde, módulo assistencial, município sede do módulo assistencial, município polo e

unidade territorial de qualificação na assistência a saúde. Esse modelo

administrativo da saúde permite o desempenho dos serviços de forma à promover

maior acessibilidade ao atendimento básico, de média e alta complexidade. O

financiamento das ações desenvolvidas nesse processo é determinado pelo Plano

diretor de Investimento (PDI).

42

No âmbito regional, este deve refletir as necessidades para se alcançar a suficiência na atenção básica e parte da média complexidade da assistência, conforme desenho regional e na macrorregião no que se refere à alta complexidade. (BRASIL, 2006)

Como uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde, a regionalização foi

estabelecida como condição fundamental para a organização do sistema

descentralizado de saúde no Brasil conforme determinado no artigo 198 da

Constituição Federal de 1988. A heterogeneidade das regiões no país no que diz

respeito à cultura, a economia e até mesmo as especificidades geográficas de cada

território, exigiu a formulação de políticas que pudessem atender as necessidades

da população de acordo com sua realidade local.

A regionalização busca a qualidade do acesso a partir da integralização do

atendimento que abrangerá desde a saúde básica até os serviços de média e alta

complexidade, priorizando a saúde preventiva e melhorando os atendimentos

curativos e de reabilitação.

Estes são os objetivos da regionalização:

a. Garantir o acesso, resolutividade e qualidade ás ações e serviços de saúde, cuja complexidade e contingente populacional transcenda a escala local/municipal; b. Garantir o direito à saúde, reduzir desigualdades sociais e territoriais e promover a equidade, ampliando a visão nacional dos problemas [...]; c. Garantir a integralidade na atenção á saúde [...]; d. Potencializar o processo e descentralização, fortalecendo estados e municípios para exercerem papel de gestores e para que as demandas dos diferentes interesses loco-regionais possam ser organizadas e expressadas na região; e. Racionalizar os gastos e otimizar os recursos, possibilitando ganho em escala nas ações e serviços de saúde de abrangência regional. (BRASIL, 2006).

Outro ponto fundamental da estratégia de descentralização e regionalização, diz

respeito à municipalização, a qual tem sido trabalhada nos últimos anos em direção

a promoção da qualidade dos serviços. A municipalização consiste na capacitação

política e financeira da gestão local a fim de oferecer os serviços de saúde à sua

população no objetivo de facilitar o acesso ao atendimento à saúde em seu próprio

município, evitando longos percursos dos usuários para outras localidades que

dispõem de determinados serviços de saúde. O modelo de estado federativo

envolve uma gama de requisitos que regulamentam a relação do município com a

43

esfera estadual, do município com a União e do estado com a União, formulando

uma rede hierarquizada e regionalizada.

Segundo Arreche (1999), para que o município assuma a gestão de uma

determinada política, pelo estado ou pela União, é necessário que o gestor municipal

esteja interessado em aderir a esse sistema, ou por disposição, ou por adesão a um

programa proposto por outro nível de governo mais abrangente, visto que, como

ente autônomo politicamente e por vivermos em democracia, o município não está

compelido a aderir ao processo de habilitação. Como também, os estados e União

devem utilizar estratégias de indução bem sucedidas que ofereça segurança para os

gestores locais em relação ao financiamento adequado a demanda e aos serviços a

serem por ele oferecidos.

Podemos ver como pontos positivos da municipalização, além da autonomia

atribuída ao poder local, a possibilidade de uma maior aproximação da população na

gestão das políticas públicas através da participação desta nas discussões em

Conselhos Municipais, colaborando para uma visão mais condizente com a

realidade local e construindo medidas que atendam as especificidades daquele

município.

A aplicação dos programas elaborados por meio da lógica da descentralização e

do atendimento no âmbito local também pode contribuir para a redução de

deslocamentos de pacientes para outras regiões que dispõem dos serviços

necessários ao seu tratamento, uma vez que o município esteja habilitado para

fornecer atendimento básico, no mínimo, o que, se aplicado de maneira eficaz,

contribuirá para a prevenção de demais doenças que encareçam de tratamento mais

especializados.

A Norma Operacional de Assistência a Saúde, NOAS-01/2001, estabelece dois

tipos de gestão para os municípios: Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada,

onde o município estará habilitado para promover ações básicas de saúde para sua

população; e Gestão Plena do Sistema Municipal, que inclui os serviços básicos, de

média e alta complexidade para população de seu município e dos municípios que

estão à ele pactuados. Conforme essa norma, os serviços de saúde nos municípios

que ainda não estiverem na condição de habilitados, serão administrados pela

Secretaria Estadual de Saúde, como também, um município habilitado na Gestão

Plena do Sistema Municipal, estará, necessariamente, habilitado também, na Gestão

Plena da Atenção Básica Ampliada.

44

No entanto, a partir da identificação de dificuldades em algumas unidades

federativas na aplicação de determinados itens estabelecidos pela NOAS 01/2001,

esta é substituída pela NOAS 01/2002. Esta problemática refere-se à

dificuldades para estabelecer o comando único sobre os prestadores de serviços ao SUS e assegurar a totalidade da gestão municipal nas sedes dos módulos assistenciais, bem como da fragilidade para explicitação dos mecanismos necessários à efetivação da gestão estadual para as referências intermunicipais. (NOAS 01/2002)

A NOAS 01/2002 traz modificações quanto aos requisitos para a habilitação e

gestão dos estados e municípios, como também oferece alternativas para a

implementação da descentralização trabalhando os pontos em que foram

identificadas dificuldades em sua execução.

Ainda, para o fortalecimento da municipalização foram criados programas

voltados para a saúde a fim de atender as necessidades mais comuns da

população, como o Programa Saúde da Família que compreende a Saúde Básica e

o Atendimento a Saúde Primária, bem como os programas mais específicos como os

voltados a saúde da criança, da mulher, do idoso e etc. A prioridade desses

programas consistem na prevenção de doenças e na melhor disposição do

atendimento de saúde a população, promovendo maior proximidade dos

funcionários da saúde com o usuário e, por conseguinte, o incentivo a participação

popular na gestão desta política.

O Programa Saúde da Família foi criado em 1994, na perspectiva de promover a

atenção integral à saúde, através de ações preventivas, de recuperação, reabilitação

e de promoção da saúde, tomando a família como objeto de intervenção. Sua

formulação foi resultado do questionamento de profissionais da área e outros atores

sociais sobre o modelo de saúde que vinha sendo executado desde o período

ditatorial, que se baseava na prática curativa, favorecendo o mercado por meio da

comercialização de medicamentos e crescimento de serviços privados na realização

de procedimentos como exames. O PSF é realizado através dos postos e unidades

de saúde. Suas ações estão voltadas para as comunidades, incluído campanhas

preventivas e visitas domiciliares, a fim de proporcionar maior proximidade das

equipes de saúde com o usuário e com sua realidade de vida, buscando contribuir

para o aperfeiçoamento dos trabalhos de saúde.

45

É importante a análise da composição de sua equipe, que é composta,

basicamente, por 1 (um) médico generalista ou especialista em Medicina de Família

e Comunidade, 1 (um) enfermeiro, 1 (um) auxiliar ou técnico de enfermagem e até

12 (doze) agentes comunitários de saúde, e do número populacional do município,

pois que, considerando a realidade local, sua demografia e as demandas impostas,

esta composição se torna ineficiente diante das necessidades de atendimento à

saúde da população.

Para que este programa ofereça resultados positivos é necessário além da

constituição de uma equipe competente, com número de profissionais compatível

com a demanda da região, é fundamental que as unidades de saúde estejam

distribuídas de acordo com a demografia do município e que estejam estruturadas

com os equipamentos necessários para a realização dos procedimentos. Sem deixar

de mencionar a relevância e imprescindibilidade do orçamento no desenvolvimento

dos programas e suas ações.

Trabalhar a saúde preventiva e integral no próprio município pode trazer grandes

diferenças na qualidade de vida da população, contribuindo para a promoção da

prevenção da saúde, fortalecendo o atendimento na própria cidade, evitando o

agravamento de doenças, diminuído as demandas para serviços de maiores

complexidades e evitando o fluxo de usuários para outras regiões, evitado, assim, as

grandes filas nos hospitais dos municípios de referência e a baixa qualidade do

atendimento.

No processo de municipalização, o município passa a ser o responsável pelo

gerenciamento e oferta das ações de saúde em âmbito local. No entanto, é

necessária a presença da União em sua gestão, colaborando constantemente na

elaboração e execução de políticas sociais, apoiando financeiramente de forma

constante e não somente em casos de calamidade pública13. A ausência da esfera

federal no processo de descentralização pode acarretar no enfraquecimento da

gestão municipal, ocasionando na desarticulação do planejamento, na precarização

do financiamento de serviços necessários na região e, consequentemente, no

13

A calamidade pública pode ser decretada em situações de grandes estragos (danos) nos serviços públicos, ocasionados por incidências naturais (enchente, terremoto ou no caso do Rio Grande do Norte, casos de seca ocasionada pela falta de chuva) ou mesmo questões políticas. Um exemplo disto foi o decreto nº 9.845 que determinou estado de calamidade na saúde na cidade de Natal/RN. Mais informações disponíveis nos sites <http://www.artigonal.com/cronicas-artigos/calamidade-publica-915268.html> e <http://www.diariodopotengi.com/2012/11/decretada-calamidade-publica-na-saude.html>, acessado em 05/12/2012.

46

desestímulo do gestor local. A desarticulação entre os gestores tem sido uma marca

na descentralização no Brasil, ocasionando na descentralização com aspecto

centralizado, uma vez que a União retém os recursos, racionalizando os gastos que

seriam destinados para a área social em prol de “necessidades” do setor econômico.

Salvador (2010) traz a discussão sobre o financiamento do fundo público no

Brasil e do orçamento das políticas de seguridade social (saúde, previdência e

assistência) e o desvio do orçamento público que deveriam ser utilizados na área

social para o atendimento de outras “necessidades” apontadas pelo Governo.

Segundo o autor, o Orçamento de Seguridade Social (OSS) previsto não foi

implementado tendo como estratégia para as transferências dos recursos, a

Desvinculação de Receitas da União (DRU).

Para compreender melhor a lógica da DRU, é necessário analisar a divisão do

orçamento público realizada pelo Governo Federal que dividiu em Orçamento Fiscal

e Orçamento da Seguridade Social. O Orçamento Da Seguridade Social deveria ser

direcionado às políticas de saúde, previdência e assistência social, tendo como fonte

de financiamento as contribuições sociais. O Orçamento Fiscal, por sua vez, ficaria

destinado às demais áreas, sendo sua fonte de financiamento firmada na

arrecadação de impostos “tradicionais”, ex: impostos sobre a renda14. Considerando

que o montante de impostos arrecadados deve ser distribuído com os estados e

municípios.

A DRU foi criada em 1994, contexto em que estava sendo implementado no

Brasil o Plano Real. O objetivo de sua criação consistia em flexibilizar a utilização do

orçamento público em outras áreas determinadas pela União a fim de equilibrar as

contas públicas do país. Esta medida foi formulada, de início, com caráter provisório,

surgindo primeiramente como Fundo Social de Emergência (FSE) instituído pela

Emenda Constitucional de Revisão nº 1, de 1994, sendo posteriormente renovada

passando a ser chamada de Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) por meio das

Emendas Constitucionais nº10, nº 17 e nº 27, dando origem a atual Desvinculação

de Receitas da União.

A DRU determina a desvinculação de 20% das receitas da União para

utilização de pagamentos da dívida pública e outros gastos que o Governo

considerar necessários. Assim, os impostos arrecadados não serão divididos em sua

14

Informações tiradas no site < http://www.brasil-economia-governo.org.br/2011/12/05/o-que-e-e-para-que-serve-a-desvinculacao-de-receitas-da-uniao-dru/> acessado no dia 07/12/2012.

47

totalidade com os estados e municípios e nem as contribuições sociais serão

aplicadas na Seguridade Social no total do valor arrecadado, apresentado perdas

orçamentárias significativas para o setor social.

Dando sequência à mesma política fiscal do governo anterior, a equipe econômica do governo Lula, sob alegação de que a “economia brasileira ainda requer cuidados”, manteve no âmbito da EC n. 42 (reforma tributária) a prorrogação da DRU até 2007. A EC n. 56, aprovada em 2007, voltou novamente a prorrogar a DRU, desta vez até 2011. Portanto, teremos 17 anos de usurpação de recursos de seguridade social pelo orçamento fiscal. (SALVADOR, 2010).

Ainda em 2011, foi determinada no Governo Dilma, a prorrogação da DRU até

o ano de 2015, por meio da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC

114/2011), alegando ser necessário ao país no enfrentamento da crise econômica

em que o país tava vivenciando, a crise da Europa.

A desvinculação do orçamento das políticas sociais para o atendimento aos

interesses econômicos acarreta na falta de investimento nos serviços sociais

condicionando o limite de sua oferta e comprometendo a sua qualidade. Ou seja, A

escassez do investimento na área social incide diretamente nos recursos destinados

aos estados e municípios, forçando a estes gestores racionalizarem a oferta de

serviços, diminuindo sua qualidade e eficiência, visto que sozinhos não contém

condições financeiras para suprir as necessidades que a gestão da política de saúde

requer. O que mostra a dependência dos gestores locais em relação à União.

À exemplo das dificuldades enfrentadas pelos municípios, Silva (2006) traz

quatro eixos que expressam os limites impostos pelo processo de descentralização

na sociedade capitalista neoliberal contemporânea e como o sucesso do processo

de municipalização depende inteiramente da União, de sua postura no tratamento

das políticas social e econômica,

No plano econômico, o município não pode equacionar, em seu âmbito local, o problema do desemprego atenuado ou agravado por medidas adotadas ou que se deixou de adotar em âmbito nacional. No plano das políticas sociais, o município é incapaz de conter os efeitos atrozes dos cortes, no Orçamento da União, e investimentos anteriormente previstos. No plano dos recursos, há estados e municípios cuja receita depende inteiramente das transferências federais o que, evidentemente não favorece a autonomia dos poderes estadual e municipal. No plano fiscal, não obstante o

48

princípio da responsabilidade – e não apenas fiscal – que deve reger a gestão pública, a Lei de Responsabilidade Fiscal, na forma em que foi sancionada, representa um “beco sem saída” para governantes locais. (SILVA, 2006)

A Lei de Responsabilidade Fiscal foi criada no Governo de Fernando Henrique

Cardoso, no período em que estava sendo implementado no país o Plano Real. A

elaboração desta Lei teve como objetivo orientador a racionalização dos gastos dos

estados e municípios alegando a necessidade do planejamento antes de efetuar

gastos orçamentários, como também impôs limites na utilização do Orçamento

Público. Para estes serem executados, deverá, antes, ser apresentados ao

respectivo Tribunal de Contas (município, estado ou União), podendo ser aprovados

ou não. A contenção dos gastos impostos pela União revela a descentralização das

atribuições e competências para estados e municípios seguida da centralização do

poder, uma vez que a União é responsável pelo estabelecimento das

regulamentações orçamentárias e administrativas quem regem as ações dos demais

entes federativos.

Portanto, fica explícito a necessidade da articulação entres as três esferas de

gestão no planejamento, elaboração e implementação de políticas sociais

abrangentes que atendam as necessidades de todos, independente de sua classe

social, incluindo a questão do financiamento, para que possam ser implementadas

de forma a garantir o atendimento da saúde em todos os níveis de complexidades a

partir de ações que compreendam cada fase da vida do sujeito.

É importante também a articulação entre as próprias políticas sociais, visto que a

partir da Constituição Federal de 1988, a saúde é instituída em sentido amplo,

abrangendo as demais políticas sociais como a política de educação, de habitação e

etc., considerando que a partir do momento em uma delas é negligenciada,

certamente implicará no desenvolvimento da outra, causando uma cadeia de

problemas que afetarão diretamente na saúde do usuário, seja por condições

precárias de moradia e precarização sanitária, seja na falta de informação, de

educação em saúde ou até mesmo questões voltadas às políticas de transporte e

lazer, onde a deficiência ou total ausência dos serviços sociais acarretará

consequências negativas para a saúde da população.

Anterior à promulgação da Constituição Federal de 1988, o movimento de

Reforma Sanitária já vinha trabalhando a concepção de saúde no Brasil pondo em

49

pauta a questão do acesso da população aos seus serviços e a concepção de saúde

como direito universal. Acompanhando esse processo que tomava espaço nas

unidades deliberativas em todo o país, o estado do Rio Grande do Norte também já

vinha aplicando o sistema de regionalização da política de saúde, resultando na

criação das 07 (sete) Diretorias Regionais de Saúde no final da década de 1970 e

início dos anos 1980 (RIO G. DO NORTE, 2010b). Neste contexto foram tomados

como municípios polo: Caicó, Pau dos Ferros, Santa Cruz, São Jose do Mipibú,

Mossoró, João Câmara e região metropolitana.

Após a constituição da Lei 8.80/90 foram instituídas a regionalização e a

municipalização como estratégias fundamentais para a aplicação do sistema

descentralizado de saúde incentivando a adesão dos estados e municípios a esse

processo.

Em 1991, com a criação da primeira Norma Operacional Básica (NOB 01/91) foi

reforçada a regulamentação da descentralização da política de saúde, vindo,

posteriormente, a ser revisada e refeita, resultando nas NOB’s 01/93, 01/96, NOAS

01/2001 e NOAS 01/200215 e aprovação do Plano Diretor de Regionalização (PDR)

no início dos anos 2000, responsáveis pela orientação da operacionalidade do

sistema.

O plano de regionalização consiste num

instrumento de ordenamento do processo de regionalização da assistência, estabelecendo com bases em prioridades de intervenção que atendam às necessidades de saúde da população e garantam o acesso dos cidadãos a todos os níveis de atenção. (RIO G. DO NORTE, 2004)

O PDR estabeleceu, inicialmente, 03 Macrorregiões, 15 Microrregiões e 25

Módulos Assistenciais. Os municípios pólos seriam 03: Natal, Caicó e Mossoró. Os

municípios polos se apresentavam como referência na oferta dos serviços mais

especializados. Com a continuidade do processo de discussão e busca pelo

aprimoramento da gestão foi aprovada a quarta Macrorregião do estado instituindo

Pau dos Ferros como município polo, em junho de 2002, e acrescentado o número

de módulos assistenciais para 28 módulos.

15

Estas normas trabalhavam os detalhes referentes à materialização e instrumentalização do planejamento, como também tratava da gestão e financiamento da saúde.

50

É o Plano Diretor de Regionalização que orienta o desenvolvimento da

Programação Pactuada e Integrada – regulamentada pela portaria GM/MS nº.

1.020/02 – que tem como finalidades: a promoção da equidade do acesso à saúde,

a aplicação de redes regionalizadas e hierarquizadas, orientação quanto à aplicação

dos recursos, entre outras.

No Rio Grande do Norte, os municípios deverão pactuarem apenas os serviços

de média e alta complexidade, visto que todos os municípios já estão habilitados na

condição de Gestão Plena da Atenção Básica (BRASIL, 2006). Este sistema

funciona da seguinte forma: se num determinado município, um paciente necessitar

de algum atendimento de média ou alta complexidade do qual não disponha, é dever

do gestor municipal juntamente com a equipe de saúde competente encaminhar tal

usuário para o município com o qual está pactuado para aquele procedimento.

Segundo o anexo B, referindo-se à exames de alta complexidade, a cidade de

Natal apresenta o maior número de exames autorizados, com o total de 67053 no

ano de 2009. Comparando com dados de 2011 (anexo C) podemos ver que foram

autorizados 58525 exames de alta complexidade16. A redução equivale ao total de

8528 exames, mais de 14%, o que demonstra o estado crítico em que a saúde no

Rio Grande do Norte se encontra17, onde a falta de leitos, falta de profissionais da

saúde, as condições precárias destes profissionais, a falta de medicamentos nas

unidades públicas cerceiam o acesso dos usuários no atendimento a sua saúde,

implicando no seu tratamento e acarretando o agravamento de doenças.

Foi notificado nos últimos 04 (quatro) anos um acréscimo do atendimento de

exames de alta complexidade no Hospital Luís Antônio, o qual se apresenta como

um dos hospitais que recebe as maiores demandas de pacientes vindos do interior

do estado diariamente para receberem o tratamento necessário à sua saúde. Em

2009, foram registrados 10169 exames de alta complexidade, no entanto, em 2011

foram registrados 18267. No entanto, é importante considerar que o Hospital Luís

Antônio não depende exclusivamente do financiamento do governo local, visto que é

16

São exames de alta complexidade: Ressonância Magnética, Cintilografia, Eletrocardiograma, Tomografia e etc. 17

Uma das matérias publicadas que tratam da saúde em Natal, RN, está disponível no jornal eletrônico UOL Notícias < http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/07/04/com-falta-de-leitos-remedios-e-greve-de-medicos-rio-grande-do-norte-decreta-calamidade-na-saude-publica.htm>.

51

uma instituição mista18. O Hospital Valfredo Gurgel, por sua vez, como instituição

estadual apresentou uma redução considerável na oferta de exames de alta

complexidade. Em 2009 o total foi de 1843 exames. Em 2011, foram registrados

apenas 419, apesar de que referente a tomografia houve um aumento de 100% (ver

anexo C).

Ao gestor estadual, compete o encaminhamento de recursos necessários ao

atendimento da população própria do município, somado aos recursos que serão

destinados ao atendimento dos usuários encaminhados por outros municípios

pactuados. O desenvolvimento da descentralização, inicialmente, era de

responsabilidade das sete Diretorias Regionais (Dires), criado em 1975, logo após

sua execução ficou à cargo dos Escritórios Técnicos de Apoio à Municipalização

(Etam), instituídos em 1995 (RIO G. DO NORTE, 2010b).

No estado do Rio Grande do Norte, a construção da regionalização tem se

realizado de forma progressiva conquistando avanços por meio da criação dos

Colegiados de Gestão Regional (CGR/ deliberação nº 366-CIB/RN, 18 de junho de

2008) e definição das oito regiões de saúde no estado, conforme a FIG. 1.

O Colegiado de Gestão Regional consiste num espaço de decisão através da

identificação, definição de prioridades e de pactuação de soluções para a

organização de uma rede regional de ações e serviços de atenção à saúde,

integrada e resolutiva (BRASIL, 2006), sendo deu dever,

instiuir processo de planejamento regional, que defina às prioridades, as responsabilidades de cada ente, as bases para a programação pactuada integrada da atenção à saúde, o desenho do processo regulatório, as estratégias de qualificação do controle social, as linhas de investimento e o apoio para o processo de planejamento local. (RIO G. DO NORTE, 2010b)

Cada região é composta por cinco representantes da Secretaria de Estado da

Saúde Pública (SESAP), totalizando 40 representantes. Essa divisão foi resultado da

articulação entre os setores da SESAP, da Organização Pan-Americana de Saúde

(Opas), Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems) e Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) por meio do Núcleo de Estudos em Saúde

18

pois tem caráter filantrópico, ao receber doações e promover ações beneficentes, como também se enquadra na categoria de instituição privado ao vender seus serviços por meio do atendimento particular através dos convênios com planos de saúde e parceria com o governo do estado

52

Coletiva – Nesc. As questões consideradas dizem respeito ao fluxo dos usuários,

procurando melhor acessibilidade, considerando a relação já existente entre os

municípios, a rede dos serviços entre outros pontos (RIO G. DO NORTE, 2010b) O

objetivo da regionalização da saúde consiste em trabalhar sua gestão de maneira

coletiva, incentivando a participação da população e de todos os que atuam na área

no planejamento e execução das ações a partir de um olhar voltado para as

questões específicas de cada localidade.

Figura 1 – Mapa das oito regiões de Saúde no Rio Grande do Norte

Fonte: RIO G. DO NORTE (2009).

Em 2009 foi instituído ainda, pela portaria nº 161/2009-GS/SESAP, o Grupo

de Trabalho para a implantação de redes regionalizadas de saúde, responsável pela

gestão do processo regionalizado, composto por um representante: da

Coordenadoria de Planejamento; da Coordenadoria de Promoção à Saúde; da

Coordenadoria de Hospitais e Unidades de Referência; Coordenadoria de Recursos

Humanos; Coordenadoria de Orçamento e Finanças; Coordenadoria de

Administração; do Núcleo de Humanização (PNH); da Subcoordenadoria da Atenção

Básica; e da Gerência da Urgência/Emergência. É de responsabilidade deste grupo,

a análise dos avanços e desafios da regionalização, levando à discussão nas

reuniões realizadas mensalmente pelo mesmo, onde será possível a construção de

53

meios e estratégias que contribuam para o avanço deste sistema e possam superar

as dificuldades impostas para o seu desenvolvimento.

Esse modelo de gestão pode contribuir de maneira significativa no andamento

da política de saúde no estado, pois orientado pelos princípios do SUS, busca a

promoção do acesso aos serviços de saúde a fim de garantir esse direito a todo

cidadão independente de seu domicílio. Outra contribuição da regionalização é a

promoção do fortalecimento da gestão local por meio do incentivo do estado aos

gestores municipais através de recursos destinados para a efetivação das ações.

No entanto, esse processo regionalizado tem encontrado alguns desafios

para sua efetivação, começando nas relações internas dos próprios órgãos gestores,

e outros desafios apontados pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (RIO G. DO

NORTE, 2010b), como garantir a continuidade do funcionamento dos Colegiados de

Gestão Regional (CGR), manter a agenda formativa dos 32 representantes da

SESAP como processo deliberativo e de troca de conhecimento a fim de promover a

relação entre os integrantes do grupo, fortalecer as parcerias institucionais com o

Ministério da Saúde, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva – Nesc/UFRN e

Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems), buscar a realização do

funcionamento do Grupo de Implementação da Regionalização apesar da

desarticulação estrutural e organizacional da própria SESAP, órgão responsável

pelo apoio, controle e avaliação dos serviços de saúde em todo o território estadual;

entre outros desafios.

A realidade presente no estado do Rio Grande do Norte envolve questões

políticas, sociais, econômicas e culturais que determinam as particularidades do

desenvolvimento da saúde nas regiões. É importante a análise das especificidades

de cada local, que se conheçam as condições de vida da respectiva população

considerando os aspectos demográficos, geográficos, sanitários e até mesmo os

agravos mais comuns na região, para que seja possível a elaboração de ações

condizentes com suas necessidades.

Apesar de todo o planejamento, elaboração de programas e projetos, é

notável o estado de precarização em que a saúde no Rio Grande do Norte se

encontra nos dias atuais. É claro que a condição apresentada hoje é resultado da

forma como o sistema brasileiro está historicamente estruturado. Questões políticas

e econômicas condicionadas à interesses individuais atacam cotidianamente a luta

pela universalização da saúde de qualidade. O social condicionado pela esfera

54

econômica, a racionalização do orçamento para o investimento na área social, o

desvio de verbas que seriam destinados aos serviços de saúde, a lógica do

favoritismo, do paternalismo19 são características comuns nas mais diversas regiões

do estado, acentuando-se nas cidades interioranas, onde a prática clientelista está

entranhada na cultura e na visão distorcida que a população adota sobre a política.

A questão partidária tem sido muito presente na oferta e no acesso dos

cidadãos aos serviços sociais, inclusive à saúde, usado como alvo de barganhas

políticas e de práticas clientelistas, atribuindo à ideia do favoritismo e mesclando a

ideia da saúde como direito universal. A imposição da prefeiturização em oposição a

municipalização revela-se na personalização das ações oferecidas a população local

e usuários encaminhados por municípios – conforme regulamentação da

Programação Pactuada e Integrada – onde os beneficiados são os que apoiam a

gestão do atual prefeito por meio dos “arrumadinhos” dentro da própria prefeitura em

prol de seus eleitores e de pessoas próximas. Este fato fere gravemente os

princípios da universalização e da equidade visto que estes princípios defendem a

igualdade de acesso o atendimento por grau de necessidade.

A demanda exacerbada por atendimento em detrimento à pouca oferta dos

serviços, o grande número de usuários encaminhados para municípios que dispõem

de serviços mais especializados, são resultados da precarização dos serviços

oferecidos nos municípios responsáveis pelo desenvolvimento da saúde básica. É

de responsabilidade do gestor local garantir a integralidade dos serviços em prol da

promoção de ações preventivas, como também

e. Assumir integralmente a gerência de toda a rede pública de serviços de atenção básica [...]; f. Com apoio dos estados, identificar as necessidades da população do seu território [...]; g. Desenvolver, a partir da identificação das necessidades, um processo de planejamento, regulação, programação pactuada e integrada da atenção à saúde, monitoramento e avaliação; h. Formular e implementar políticas para áreas prioritárias, conforme definido nas diferentes instância de pactuação; i. Organizar o acesso a serviços da saúde resolutivos e de qualidade na atenção básica [...]; j. Organizar e pactuar o acesso a ações e serviços de atenção especializada; k. Pactuar e fazer o acompanhamento da referência da atenção que ocorre fora do seu território, em cooperação com o

19

Na política, o paternalismo se expressa em práticas de proteção e favoritismo. Uma modalidade de autoritarismo através do exercício da pessoa que se encontra no poder consistir numa prática autoritária, ao mesmo tempo em que expressa características de benevolência ligadas à questões sentimentais. Mais informações disponíveis no site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paternalismo>

55

estado, Distrito Federal e com os demais municípios envolvidos no âmbito regional e estadual [...]; l. Garantir essas referencias de acordo com a programação pactuada e integrada da atenção à saúde [...]; m. Garantir a estrutura física necessária para a realização das ações de atenção básica [...]; n. Promover a estruturação da assistência farmacêutica e garantir em conjunto com as demais esferas do governo, o acesso da população aos medicamentos [...]; o. Assumir a gestão e execução das ações de vigilância em saúde realizadas no âmbito local, compreendendo as ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental [...]; p. Elaborar, pactuar e implantar a política de promoção da saúde, considerando as diretrizes estabelecidas no âmbito nacional. (BRASIL, 2006)

A partir da análise dos deveres atribuídos ao gestor municipal, é possível

compreender que a negligência dessas atribuições é um dos fundamentos dos

problemas enfrentados no estado em relação a saúde pública, visto que a partir do

momento em que o município não assiste sua população, promovendo a prevenção

da saúde desde a gravidez, período puerperal até os dias de velhice do usuário,

resulta no agravamento de doenças que, poderiam ser prevenidas ou até mesmo

tratadas a partir do diagnóstico precoce.

Como grande parte dos municípios não dispõe de estruturas equipadas e

necessárias para o atendimento de sua população, conforme os mapas 1, 2, 3, 4, 5,

6, 7 e 8, torna-se necessário o encaminhamento dos usuários para os municípios-

sede ou os municípios polos, ocasionando na superlotação nos hospitais de

complexidades mais elevadas, o que, por sua vez, implica no mau atendimento, pois

o número insuficiente de médicos torna-se responsável pelo atendimento do grande

número de pacientes em tempo limitado, o que também incide diretamente nas

condições de trabalho da equipe de saúde trazendo transtornos na relação

profissional/usuário.

A incompatibilidade do número de serviços em relação a população usuária é

evidente nas regiões de saúde do estado do Rio Grande do Norte. Se comparada a

disponibilidade de serviços com o número de municípios e o número de habitantes

de cada região, é possível perceber a insuficiência destes, perante a necessidade da

população, da prevenção de sua saúde, de tratamento de doenças a reabilitação do

paciente. Na tabela 1, estão as 08 (oito) regiões de saúde, apresentando os

municípios e as ações nelas disponíveis.

Os dados constados na tabela revelam a deficiência exorbitante de unidades

específicas de saúde no estado. Analisando o número de habitantes de cada região

56

e os serviços nelas oferecidos nos faz compreender que é impossível garantir o

acesso universal dos usuários à ações de qualidade, na situação em que a saúde se

encontra.

A região mais desfalcada de serviços de saúde consiste na 3º região (João

Câmara), a qual é composta por 25 (vinte e cinco) municípios e o total de 312.618

habitantes. Nesta região é verificada a falta de leitos de psiquiatria e tisiologia, falta

de Hospitais de Pequeno Porte (HPP), Hemocentro/ Hemorrede/ UCT/ Ag.

Transfusionais, CAPS e Policlínica. No entanto, é a 3º região com maior número de

Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). Ainda utilizando a 3º região como

exemplo, podemos verificar a incompatibilidade entre a necessidade da população

total de 25 (vinte e cinco) municípios e apenas 09 (nove) municípios com leitos

clínicos e 05 (cinco) com leitos cirúrgicos. Em contexto estadual, os serviços mais

desfalcados consistem em atendimento de psiquiatria, tisiologia e policlínica. Com

essa oferta mínima para a população geral norte-rio-grandense, como garantir a

democratização da saúde?

A necessidade da ampliação das unidades de saúde, a falta de investimento

necessário à execução desta política de forma eficiente, a insuficiência do número

de profissionais dessa área aliada às péssimas condições de trabalho20 à que estão

submetidos, incidem diretamente no andamento da saúde e nas condições de

acesso dos usuários.

São muitas as dificuldades dos moradores do interior do estado, começando

na falta de informação sobre seus próprios direitos e se estendendo às dificuldades

nas marcações de consultas e exames. A escassez de ações preventivas ocasiona

no adoecimento da população que, para conseguir o atendimento devido, é

submetido a esperar o “surgimento” de uma vaga. Espera que, muitas vezes, chega

a ser demasiadamente prolongada e prejudicial à saúde do paciente, visto que, com

o passar do tempo, o seu quadro de saúde pode agravar cada vez mais, implicando

nas possibilidades de sua reabilitação ou cura da doença.

20

Essas condições estão relacionadas a precarização da forma em que este profissional é contratato, relacionada a baixa remuneração, às péssimas condições do espaço de trabalho, aos instrumentos de trabalho necessários e a insuficiência de recursos humanos, o que leva à sobrecarga de trabalho entre outras dificuldades.

57

Tabela 1: Regiões de Saúde do Rio grande do Norte, serviços disponíveis, número de municípios e habitantes – RN – 2010

Regiões de

Saúde

Regiâo

Região

Região

Região

Região

Região

Região

Região

Nº de

municípios

27 15 25 25 21 36 5 12

Leito cirúrgico 09 07 05 10 05 09 05 02

Leito obstétrico 15 09 09 17 12 22 05 07

Leito clínico 13 13 09 19 13 29 05 07

Leito pediátrico 12 12 08 19 10 28 05 07

Leito/psiquiatria 0 01 0 01 0 0 01 0

Leito/tisiologia 0 01 0 0 0 0 01 0

HPP 01 04 0 01 01 15 0 0

Hemocentro/

Hemorrede/

UCT/ Ag.

Transfusionais

01 02 0 02 01 01 02 01

CAPS 01 04 0 04 01 02 04 01

CEO 04 02 3 01 01 0 04 1

Policlínica 01 0 0 0 0 0 0 0

Total de

habitantes

351.598 448.939 312.618 295.748 185.759 230.057 1.188.0

12

155.402

NOTAS: *Para elaboração da tabela foram consideradas as informações registradas em documento publicado pela Secretaria de Saúde Pública do RN (RIO G. DO NORTE, 2010b). **O número de habitantes está baseado em informações concedidas pela Coordenadoria de Planejamento e Controle do Sistema de Saúde (CPCS) da SESAP, constadas no anexo A. ***Apenas a 8º região contêm detalhes sobre seus serviços em documento utilizado, RIO G. DO NORTE (2010b), registrando o total de 246 leitos na região, sendo 23 leitos cirúrgicos, 60 leitos obstétricos, 107 leitos clínicos e 56 leitos pediátricos. E ainda, segundo a SESAP, todos os municípios estão integrados no Programa Saúde da Família.

58

As grandes filas nos hospitais e a espera pelo atendimento causam o cansaço

e desestímulo ao paciente que já percorreu quilômetros em busca de cuidados.

Muitas vezes em condições precárias, em transportes que não oferecem o conforto

necessário ou que não são adaptados para pacientes que sofrem de enfermidades

específicas, como no caso dos cadeirantes, os quais, por vezes, são submetidos a

serem transportados nas famosas “bestinhas”21 sem nenhuma adaptação e até

mesmo sem o apoio do próprio motorista no momento do paciente entrar e sair do

transporte.

Outra questão comum aos pacientes encaminhados do interior do estado está

relacionada à alimentação. Com a demora do atendimento, ou a demora do

transporte em buscá-los, vem a necessidade de alimentar-se. Essa é também uma

questão de administração hospitalar, onde na maioria, não oferecem qualquer

refeição para os usuários em atendimento ambulatorial. Em alguns casos, tratam-se

pacientes que se encontram desprovidos de dinheiro para comprar sua refeição,

implicando até mesmo em seu estado de saúde, como no caso de pacientes que

sofrem de determinadas enfermidades, como o Diabetes, que exige a alimentação

saudável e regular.

Outro problema enfrentado com bastante frequência por estes usuários

refere-se ao compromisso do motorista do transporte com o horário de levá-lo ao

hospital e de buscá-lo. No primeiro caso, acontece de haver o atraso e ocasionar na

perda da consulta ou exame. No segundo, o atraso é frequente, muitas vezes, de

forma prolongada resultando até mesmo em casos de abandono, quando o

motorista volta para o interior sem notificar ao paciente, deixando-o totalmente aos

cuidados do hospital.

Um ponto de apoio encontrado para essas situações são os albergues e as

próprias Casas de Apoio. Geralmente, o paciente procura o Serviço Social22 do

hospital, que entra em contato com essas instituições. No entanto, há também

21

Transporte comumente utilizado pelas prefeituras dos municípios do Rio Grande do Norte para transportarem os pacientes até a capital do estado. 22

Setor profissional responsável pelo atendimento às necessidades sociais do paciente, mediando a relação usuário/instituição e intervindo em questões que demandam orientações sociais e encaminhamentos desses usuários para outras instituições, de acordo com a necessidade e com a realidade de cada indivíduo. Os profissionais que nele atuam são respaldados pelo projeto ético-político e Código de Ética da profissão, a qual é regulamentada pela Lei 8662/93, legitimando a atuação do assistente social no enfrentamento das desigualdades sociais e questões que delas resultam.

59

dificuldades para o acolhimento de usuários nestas instituições relacionadas à

questões financeiras e até mesmo políticas.

A questão financeira está voltada mais às Casas de Apoio que, ao

funcionarem como instituições filantrópicas necessitam de recursos externos como

doações ou convênio com o Governo para sua manutenção, encontrando limites em

receber pacientes. Quanto aos albergues, é comum as prefeituras dos municípios do

interior instituírem albergues na capital do estado no intuito de assegurar a estadia

do paciente na cidade, caso seja necessária, lhe oferecendo serviços básicos para

garantir seu bem estar, como a dormida e a alimentação.

Esses tipos de ações são importantes e fundamentais para o atendimento

imediato das necessidades da população usuária, porém, não é e não será

suficiente se o problema do acesso à saúde não for trabalhado em sua base, ou

seja, se não for priorizada a promoção da prevenção da saúde possibilitando o

tratamento básico em seu próprio município sem que sejam necessárias maiores

intervenções. Os interesses políticos encontram nesse tipo de ação o terreno

necessário para sua firmação ao utilizar-se de sua posição política e de seu poder

como gestor, para granjear benefícios eleitorais, oferecendo serviços em troca de

votos, ou priorizando o atendimento à pessoas próximas.

Porém, a deficiência nos serviços da saúde pública é uma questão que vai

além de interesses de gestores locais ou de negligência do gestor municipal na

execução das políticas sociais. A problemática é algo histórico que têm raízes no

modo em que a sociedade brasileira está organizada. No modo de operar capitalista

onde são os interesses do mercado que prevalecem incentivando a dinâmica da

compra e venda de mercadorias e da geração de riquezas, necessárias à

continuidade do sistema do capital.

A desvalorização da saúde preventiva e a ênfase aplicada na saúde curativa

tem alimentado o capitalismo visto que a grande demanda por ações curativas

(realização de exames, tratamentos, utilização de medicamentos e etc.) impõem a

necessidade da ampliação de unidades especializadas e equipadas a fim de atender

a procura por estes serviços, estimulando, assim, a mercantilização de máquinas e

equipamentos necessários na realização de tratamentos de doenças e a produção

de medicamentos que, com o agravamento do estado da saúde da população,

tornam-se cada vez mais necessários. Dessa forma, há o incentivo ao crescimento

das grandes indústrias farmacêuticas e de equipamentos hospitalares.

60

Essa realidade revela o quanto o modo em que a economia está

implementada incide diretamente nas relações sociais, determinando todas as

esferas que permeiam a vida do sujeito – econômica, social, cultural, política,

espiritual – inclusive nas políticas sociais, onde a sua incidência ocorre de forma

negativa por meio do desvio de recursos destinados aos serviços sociais para o

atendimento aos interesses do mercado. A precarização dos serviços públicos

poderá ocasionar na descrença quanto a sua eficácia no atendimento à saúde,

abrindo espaço para o setor privado se expandir.

No caso da gestão política, a corrupção na capital e nas cidades do interior

tem exercido influência no desenvolvimento da saúde através dos desvios de verbas

que deveriam aplicadas nos serviços sociais para o custeio de benefícios individuais

dos prefeitos e de sua “equipe”, por meio dos famosos “empregos fantasmas” e

outros tipos de corrupção, alimentando a ignorância política e a ideia de que política

e corrupção são indissociáveis. Esta concepção pode causar ao comodismo,

trazendo resultados negativos para a manutenção da luta pelos direitos sociais e

inibindo a participação popular na elaboração e execução das políticas sociais, o

que fere a diretriz de controle social garantida pela Lei 8.080/90.

61

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Como todo processo que envolve questões econômicas, políticas e sociais

historicamente determinadas, a política de saúde está marcada por um campo de

tensões formado por interesses distintos entre os que apoiam o sistema vigente

defendendo sua manutenção e os que buscam a sua transformação.

A partir da análise realizada no decorrer deste trabalho, podemos perceber as

constantes investidas do sistema do capital na elaboração e no desenvolvimento das

políticas sociais buscando constantemente meios para que os seus interesses não

sejam prejudicados, expressos na privatização da saúde, estímulo a indústrias

farmacêuticas e de equipamentos hospitalares e da racionalização de gastos na

saúde pública.

O processo de descentralização das políticas sociais, principalmente da

política de saúde executado com a centralização do poder financeiro, ocasiona na

falta de recursos para o desenvolvimento das ações nas outras esferas

administrativas – estados e municípios – implicando no cumprimento das

regulamentações e das normas estabelecidas pela própria União. Apesar da

participação das demais instâncias federativas na elaboração das Normas

Operacionais da Saúde e outras regulamentações, a decisão do orçamento

destinado às ações e programas de saúde são orientados pelas receitas já

estabelecidas pelas instâncias competentes da União, limitando o desempenho dos

gestores locais.

A transformação do modelo da saúde no Brasil requer mais que a boa

vontade do prefeito ou do governador do estado. Porém, é fundamental o acréscimo

de recursos para a saúde necessários a real materialização dos princípios e

diretrizes do projeto de Reforma Sanitária, acompanhado da reavaliação das

Normas e Programas da saúde a fim de construí-los de forma que assegure a

eficiência dos serviços, como por exemplo, a equipe do Programa Saúde da Família

que torna-se insuficiente perante a demografia de um município, sua realidade e

suas necessidades.

É necessária a formulação de estratégias que contribuam para a expansão do

atendimento a saúde, que amplie o acesso, que priorizem as ações preventivas de

forma a garantir o direito à saúde em seu sentido amplo. A questão da informação

62

também é de muita importância, a fim de conscientizar os usuários a respeito de

seus direitos enquanto cidadãos, incentivando-os a participarem da gestão da saúde

e fazer valer a diretriz da participação popular no desenvolvimento das políticas

sociais.

Quanto aos municípios, estes se sentem limitados em relação ao

desenvolvimento de alguns serviços visto que necessitam do apoio do governo do

estado para a realização de ações que demandam verbas extras ao orçamento já

destinado aos municípios, o que envolve relações partidárias e clientelistas

implicando na autonomia do gestor local e muitas vezes, impedindo o

desenvolvimento de ações que promoveriam a concessão de serviços sociais para a

população.

A universalização dos direitos sociais só poderá ser efetivada a partir do

momento em que os princípios e objetivos da Reforma Sanitária forem efetivamente

acatados pelas autoridades políticas e instâncias deliberativas competentes em

direção a transformação do modelo político vigente no país, onde seja priorizada a

garantia dos direitos, por meio da ampliação do acesso e da promoção da igualdade

social, combatendo a corrupção política e lutando contra toda forma de violação ao

direito a saúde gratuita, universal e de qualidade.

63

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RIO G. DO NORTE, Governo do Estado do. Plano Diretor de Regionalização. Natal, 2004. Disponível em: <http://www.saude.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/sesap/servicos/planos_estruturantes/2005_plano_diretor_regionalizacao.pdf>. Acessado em: 17 de set. 2012.

RIO G. DO NORTE, Governo do Estado do. Relatório Anual de Gestão 2009. Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN. Natal, 2010a.

RIO G. DO NORTE, Governo do Estado do. Relatório de Gestão 2010. Secretaria

de Estado da Saúde Pública do RN. Natal, 2011.

RIO G. DO NORTE, Governo do Estado do. In: Seminário de Regionalização da Saúde do Rio Grande do Norte: Seguindo em frente... para fortalecer as Regiões de Saúde e qualificar o SUS, 2., Natal, 2010b.

SALVADOR, Evilasio. Fundo público e seguridade social no Brasil. São Paulo:

Cortez, 2010.

SILVA, Ademir Alves da. As relações entre Estado e sociedade: “novas” formas da gestão social no Brasil. In: A gestão da seguridade social brasileira: entre a política pública e o mercado. São Paulo: Cortez, 2006.

67

ANEXOS

68

ANEXO A - REGIONALIZAÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE

69

ANEXO B - LISTA DE EXAMES DE ALTA COMPLEXIDADE OFERECIDOS PELA

SESAP NO PERÍODO DE 01/01/2009 À 31/12/2009

196 REGISTRO(S) ENCONTRADO(S). IMPRIMIR Exames de alta complexidade

< MUNICÍPIO > 01/01/2009 à 31/12/2009 < QTDE >

ACARI 176

AÇU 2053

AFONSO BEZERRA 148

ÁGUA NOVA 24

ALEXANDRIA 377

ALMINO AFONSO 58

ALTO DO RODRIGUES 211

ANGICOS 298

ANTÔNIO MARTINS 143

APODI 1708

AREIA BRANCA 873

ARÊS 191

AUGUSTO SEVERO 170

BAÍA FORMOSA 94

BARAÚNA 110

BARCELONA 47

BENTO FERNANDES 72

BODÓ 58

BOM JESUS 146

BREJINHO 140

CAIÇARA DO NORTE 67

CAIÇARA DO RIO DO VENTO 67

CAICÓ 1829

CAMPO REDONDO 161

CANGUARETAMA 420

CARAÚBAS 483

CARNAÚBA DOS DANTAS 131

CARNAUBAIS 97

CEARÁ-MIRIM 1077

CERRO CORÁ 114

CORONEL EZEQUIEL 66

CORONEL JOÃO PESSOA 79

CRUZETA 205

CURRAIS NOVOS 1424

DOUTOR SEVERIANO 113

70

ENCANTO 34

EQUADOR 73

ESPÍRITO SANTO 59

EXTREMOZ 309

FELIPE GUERRA 99

FERNANDO PEDROZA 77

FLORÂNIA 131

FRANCISCO DANTAS 61

FRUTUOSO GOMES 53

GALINHOS 7

GOIANINHA 343

GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO 181

GROSSOS 120

GUAMARÉ 150

IELMO MARINHO 121

IPANGUAÇU 201

IPUEIRA 29

ITAJÁ 75

ITAÚ 72

JAÇANÃ 90

JANDAÍRA 24

JANDUÍS 90

JANUÁRIO CICCO 60

JAPI 47

JARDIM DE ANGICOS 14

JARDIM DE PIRANHAS 315

JARDIM DO SERIDÓ 205

JOÃO CÂMARA 389

JOÃO DIAS 13

JOSÉ DA PENHA 43

JUCURUTU 1044

JUNDIÁ 108

LAGOA D ANTA 63

LAGOA DE PEDRAS 64

LAGOA DE VELHOS 37

LAGOA NOVA 150

LAGOA SALGADA 81

LAJES 188

LAJES PINTADAS 106

LUCRÉCIA 79

LUÍS GOMES 188

71

MACAÍBA 1673

MACAU 363

MAJOR SALES 17

MARCELINO VIEIRA 165

MARTINS 95

MAXARANGUAPE 138

MESSIAS TARGINO 61

MONTANHAS 163

MONTE ALEGRE 333

MONTE DAS GAMELEIRAS 25

MOSSORÓ 5785

NATAL 67053

NÍSIA FLORESTA 294

NOVA CRUZ 455

OLHO-D ÁGUA DO BORGES 83

OURO BRANCO 74

PARANÁ 27

PARAÚ 61

PARAZINHO 55

PARELHAS 213

PARNAMIRIM 3931

PASSA E FICA 171

PASSAGEM 33

PATU 180

PAU DOS FERROS 6596

PEDRA GRANDE 22

PEDRA PRETA 33

PEDRO AVELINO 32

PEDRO VELHO 113

PENDÊNCIAS 190

PILÕES 75

POÇO BRANCO 116

PORTALEGRE 116

PORTO DO MANGUE 59

PRESIDENTE JUSCELINO 77

PUREZA 69

RAFAEL FERNANDES 101

RAFAEL GODEIRO 19

RIACHO DA CRUZ 28

RIACHO DE SANTANA 66

RIACHUELO 87

72

RIO DO FOGO 76

RN - CENTRO DE DIALISE DE MOSSORO 1702

RN - CENTRO DE ONCOLOGIA E HEMATOLOGIA 4660

RN - CLÍNICA DE DOENÇAS RENAIS E HEMODIÁLISE DE P. DOS

FERRO

932

RN - CLINICA DO RIM DE CAICO 1740

RN - HOSP. CEL. PEDRO GERMANO 228

RN - HOSP. GISELDA TRIGUEIRO 360

RN - HOSP. JOSÉ PEDRO BEZERRA 406

RN - HOSP. LUIS ANTONIO 10169

RN - HOSP. MARIA ALICE FERNANDES 33

RN - HOSP. REG. ALFREDO MESQUITA FILHO 42

RN - HOSP. REG. CLEODON CARLOS DE ANDRADE 114

RN - HOSP. REG. DE ANGICOS 39

RN - HOSP. REG. DE CURRAIS NOVOS 211

RN - HOSP. REG. DEOCLÉCIO MARQUES DE LUCENA 281

RN - HOSP. REG. HÉLIO MORAIS MARINHO 22

RN - HOSP. REG. LINDOLFO GOMES VIDAL 35

RN - HOSP. REG. NELSON INÁCIO DOS SANTOS 9

RN - HOSP. REG. ODILON GUEDES DE ANDRADE 16

RN - HOSP. REG. RAFAEL FERNANDES 9

RN - HOSP. REG. SÃO PAULO DO POTENGI 15

RN - HOSP. REG. TARCÍSIO MAIA 498

RN - HOSP. REGIONAL DE JOÃO CÂMARA 8

RN - HOSP. REGIONAL DO SERIDO 223

RN - HOSP. UNIVERSITARIO ONOFRE LOPES 455

RN - HOSP. WALFREDO GURGEL 1843

RN - HOSPITAL DR. JOAO MACHADO 14

RN - HOSPITAL WALFREDO GURGEL (TOMOGRAFIA) 1133

RN - IV URSAP 1

RN - MATERNIDADE JANUARIO CICCO 85

RODOLFO FERNANDES 95

RUY BARBOSA 62

SANTA CRUZ 1441

SANTA MARIA 72

SANTANA DO MATOS 188

SANTANA DO SERIDÓ 48

SANTO ANTÔNIO 506

SÃO BENTO DO NORTE 18

SÃO BENTO DO TRAIRÍ 53

SÃO FERNANDO 70

73

SÃO FRANCISCO DO OESTE 40

SÃO GONÇALO DO AMARANTE 1260

SÃO JOÃO DO SABUGI 100

SÃO JOSÉ DE MIPIBU 779

SÃO JOSÉ DO CAMPESTRE 203

SÃO JOSÉ DO SERIDÓ 128

SÃO MIGUEL 827

SÃO MIGUEL DE TOUROS 128

SÃO PAULO DO POTENGI 291

SÃO PEDRO 70

SÃO RAFAEL 136

SÃO TOMÉ 219

SÃO VICENTE 111

SENADOR ELÓI DE SOUZA 60

SENADOR GEORGINO AVELINO 6

SERRA DE SÃO BENTO 70

SERRA DO MEL 156

SERRA NEGRA DO NORTE 176

SERRINHA 130

SERRINHA DOS PINTOS 73

SEVERIANO MELO 58

SÍTIO NOVO 82

TABOLEIRO GRANDE 29

TAIPU 97

TANGARÁ 106

TENENTE ANANIAS 136

TENENTE LAURENTINO CRUZ 48

TIBAU 41

TIBAU DO SUL 106

TIMBAÚBA DOS BATISTAS 33

TOUROS 355

TRIUNFO POTIGUAR 50

UMARIZAL 168

UPANEMA 106

VÁRZEA 102

VENHA-VER 126

VERA CRUZ 123

VIÇOSA 20

VILA FLOR 23

TOTAL 142954

74

ANEXO C - LISTA DE EXAMES DE ALTA COMPLEXIDADE OFERECIDOS PELA

SESAP NO PERÍODO DE 01/01/2011 Á 31/12/2011

197 REGISTRO(S) ENCONTRADO(S). IMPRIMIR Exames de alta complexida

< MUNICÍPIO > 01/01/2011 á 31/12/2011 < QTDE >

ACARI 233

AÇU 2189

AFONSO BEZERRA 231

ÁGUA NOVA 38

ALEXANDRIA 197

ALMINO AFONSO 22

ALTO DO RODRIGUES 164

ANGICOS 254

ANTÔNIO MARTINS 85

APODI 1054

AREIA BRANCA 478

ARÊS 144

AUGUSTO SEVERO 177

BAÍA FORMOSA 116

BARAÚNA 251

BARCELONA 71

BENTO FERNANDES 72

BODÓ 55

BOM JESUS 129

BREJINHO 137

CAIÇARA DO NORTE 71

CAIÇARA DO RIO DO VENTO 79

CAICÓ 1998

CAMPO REDONDO 190

CANGUARETAMA 510

CARAÚBAS 530

CARNAÚBA DOS DANTAS 130

CARNAUBAIS 153

CEARÁ-MIRIM 1123

CERRO CORÁ 160

CORONEL EZEQUIEL 80

CORONEL JOÃO PESSOA 30

CRUZETA 222

CURRAIS NOVOS 1065

DOUTOR SEVERIANO 64

75

ENCANTO 76

EQUADOR 111

ESPÍRITO SANTO 50

EXTREMOZ 283

FELIPE GUERRA 149

FERNANDO PEDROZA 74

FLORÂNIA 184

FRANCISCO DANTAS 23

FRUTUOSO GOMES 36

GALINHOS 29

GOIANINHA 328

GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO 205

GROSSOS 171

GUAMARÉ 172

IELMO MARINHO 154

IPANGUAÇU 220

IPUEIRA 68

ITAJÁ 166

ITAÚ 46

JAÇANÃ 126

JANDAÍRA 86

JANDUÍS 95

JANUÁRIO CICCO 115

JAPI 51

JARDIM DE ANGICOS 27

JARDIM DE PIRANHAS 289

JARDIM DO SERIDÓ 303

JOÃO CÂMARA 494

JOÃO DIAS 19

JOSÉ DA PENHA 39

JUCURUTU 639

JUNDIÁ 77

LAGOA D ANTA 59

LAGOA DE PEDRAS 93

LAGOA DE VELHOS 47

LAGOA NOVA 197

LAGOA SALGADA 141

LAJES 198

LAJES PINTADAS 125

LUCRÉCIA 67

LUÍS GOMES 65

76

MACAÍBA 1421

MACAU 424

MAJOR SALES 30

MARCELINO VIEIRA 65

MARTINS 102

MAXARANGUAPE 242

MESSIAS TARGINO 71

MONTANHAS 187

MONTE ALEGRE 470

MONTE DAS GAMELEIRAS 38

MOSSORÓ 6845

NATAL 58525

NÍSIA FLORESTA 398

NOVA CRUZ 559

OLHO-D ÁGUA DO BORGES 63

OURO BRANCO 71

PARANÁ 23

PARAÚ 74

PARAZINHO 30

PARELHAS 357

PARNAMIRIM 5577

PASSA E FICA 187

PASSAGEM 29

PATU 220

PAU DOS FERROS 547

PEDRA GRANDE 32

PEDRA PRETA 21

PEDRO AVELINO 68

PEDRO VELHO 135

PENDÊNCIAS 268

PILÕES 52

POÇO BRANCO 213

PORTALEGRE 93

PORTO DO MANGUE 81

PRESIDENTE JUSCELINO 105

PUREZA 165

RAFAEL FERNANDES 49

RAFAEL GODEIRO 41

RIACHO DA CRUZ 15

RIACHO DE SANTANA 39

RIACHUELO 81

77

RIO DO FOGO 78

RN - CENTRO DE DIALISE DE MOSSORO 1991

RN - CENTRO DE ONCOLOGIA E HEMATOLOGIA 6077

RN - CLÍNICA DE DOENÇAS RENAIS E HEMODIÁLISE DE P. DOS

FERRO

960

RN - CLINICA DO RIM DE CAICO 1814

RN - HCE - DR RUY PEREIRA 44

RN - HOSP. CEL. PEDRO GERMANO 218

RN - HOSP. GISELDA TRIGUEIRO 471

RN - HOSP. JOÃO MACHADO 54

RN - HOSP. JOSÉ PEDRO BEZERRA 436

RN - HOSP. LUIS ANTONIO 18267

RN - HOSP. MARIA ALICE FERNANDES 74

RN - HOSP. REG. ALFREDO MESQUITA FILHO 46

RN - HOSP. REG. CLEODON CARLOS DE ANDRADE 92

RN - HOSP. REG. DE ANGICOS 49

RN - HOSP. REG. DE CURRAIS NOVOS 310

RN - HOSP. REG. DEOCLÉCIO MARQUES DE LUCENA 89

RN - HOSP. REG. HÉLIO MORAIS MARINHO 54

RN - HOSP. REG. LINDOLFO GOMES VIDAL 33

RN - HOSP. REG. NELSON INÁCIO DOS SANTOS 18

RN - HOSP. REG. ODILON GUEDES DE ANDRADE 8

RN - HOSP. REG. RAFAEL FERNANDES 4

RN - HOSP. REG. SÃO PAULO DO POTENGI 44

RN - HOSP. REG. TARCÍSIO MAIA 389

RN - HOSP. REGIONAL DO SERIDO 342

RN - HOSP. UNIVERSITARIO ONOFRE LOPES 779

RN - HOSP. WALFREDO GURGEL 419

RN - HOSPITAL UNIVERSITARIO ANA BEZERRA 1

RN - HOSPITAL WALFREDO GURGEL (TOMOGRAFIA) 3481

RN - MATERNIDADE JANUARIO CICCO 248

RODOLFO FERNANDES 66

RUY BARBOSA 56

SANTA CRUZ 1071

SANTA MARIA 88

SANTANA DO MATOS 280

SANTANA DO SERIDÓ 77

SANTO ANTÔNIO 527

SÃO BENTO DO NORTE 41

SÃO BENTO DO TRAIRÍ 68

SÃO FERNANDO 83

78

SÃO FRANCISCO DO OESTE 38

SÃO GONÇALO DO AMARANTE 1344

SÃO JOÃO DO SABUGI 128

SÃO JOSÉ DE MIPIBU 875

SÃO JOSÉ DO CAMPESTRE 230

SÃO JOSÉ DO SERIDÓ 86

SÃO MIGUEL 145

SÃO MIGUEL DE TOUROS 120

SÃO PAULO DO POTENGI 373

SÃO PEDRO 76

SÃO RAFAEL 155

SÃO TOMÉ 169

SÃO VICENTE 125

SENADOR ELÓI DE SOUZA 69

SENADOR GEORGINO AVELINO 72

SERRA DE SÃO BENTO 108

SERRA DO MEL 156

SERRA NEGRA DO NORTE 174

SERRINHA 147

SERRINHA DOS PINTOS 45

SESAP RN 225

SEVERIANO MELO 41

SÍTIO NOVO 102

TABOLEIRO GRANDE 28

TAIPU 137

TANGARÁ 159

TENENTE ANANIAS 90

TENENTE LAURENTINO CRUZ 99

TIBAU 53

TIBAU DO SUL 183

TIMBAÚBA DOS BATISTAS 54

TOUROS 390

TRIUNFO POTIGUAR 64

UMARIZAL 141

UPANEMA 151

VÁRZEA 117

VENHA-VER 23

VERA CRUZ 144

VIÇOSA 23

VILA FLOR 38

TOTAL 142556

79

ANEXO D – 1º REGIÃO DE SAÚDE DO RN

80

ANEXO E – 2º REGIÃO DO RN

81

ANEXO F – 3º REGIÃO DE SAÚDE DO RN

82

ANEXO G – 4º REGIÃO DE SAÚDE DO RN

83

ANEXO H – 5º REGIÃO DE SAÚDE DO RN

84

ANEXO I – 6º REGIÃO DE SAÚDE DO RN

85

ANEXO J – 7º REGIÃO DE SAÚDE DO RN

86

ANEXO K – 8º REGIÃO DE SAÚDE DO RN