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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ANDESSON AMARO CAVALCANTI OS PROGRAMAS DE INCENTIVO À CULTURA E O PROCESSO DE FOMENTO ÀS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS NO RIO GRANDE DO NORTE: O CASO DA CASA DA RIBEIRA EM NATAL NATAL / RN 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

ANDESSON AMARO CAVALCANTI

OS PROGRAMAS DE INCENTIVO À CULTURA E O PROCESSO DE FOMENTO

ÀS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS NO RIO GRANDE DO NORTE: O CASO DA

CASA DA RIBEIRA EM NATAL

NATAL / RN

2012

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ANDESSON AMARO CAVALCANTI

OS PROGRAMAS DE INCENTIVO À CULTURA E O PROCESSO DE FOMENTO ÀS

ORGANIZAÇÕES CULTURAIS NO RIO GRANDE DO NORTE: O CASO DA CASA DA

RIBEIRA EM NATAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Administração da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Área de Concentração:

Políticas e Gestão Pública.

Linha de Pesquisa:

Políticas Públicas e Governança.

Orientador: Antonio Sergio Araujo Fernandes

NATAL / RN

2012

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CAVALCANTI, A. A. Os programas de incentivo à cultura e o processo de fomento às

organizações culturais no Rio Grande do Norte: o caso da Casa da Ribeira em Natal. Dissertação

apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte para obtenção do título de Mestre em Administração.

Avaliado em: ___/___/______

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Prof. Dr. Antônio Sérgio Araújo Fernandes (PPGA / UFRN)

(Presidente)

___________________________________________________

Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Teixeira (CEAPG / FGV)

(Membro Convidado)

___________________________________________________

Prof. Dr. Washington José de Souza (PPGA / UFRN)

(Membro Convidado)

___________________________________________________

Prof. Dr. Juliana Vieira de Almeida (PPGTUR / UFRN)

(Membro Convidado)

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À Rodrigo Silva de Sena

e Maria Amaro. Ao

tudo que brilha

e surpreende

à rotina.

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AGRADECIMENTOS

Ao biênio de mudanças, que, na verdade, trata-se de um triênio, de fatos, da nostalgia

sempre presente e, sobretudo da força do trabalho e do empenho, talvez, as únicas fontes

presentes que justificam os resultados, os meios e as extremidades. Às algumas horas de

remorsos, nunca de arrependimento; às madrugadas de diversão e de trabalho, às amizades, às

confessas, às experiências, novas e velhas; às novidades, às talvez decepções e ao despertar

dos rumos da vida.

De leste a sul da minha terra (n)Natal, a recordação das tardes e das manhãs

ensolaradas na varanda do meu novo lar, a garagem do meu carro e o jardim do meu

condomínio, de grama verde e um pinheiro o qual estende-se em um campo coberto por

roseiras, a maresia que entra pela janela do quarto e as horas de congestionamento traduzem

rapidamente uma rotina em sua pequeneza em insistir em ser grande.

Alguém aqui preza por seu tamanho e não o faz por acaso. À Deus (a fé explica). A

Ele, devemos agradecer pela vida e pedir somente forças para viver.

Ao maior exemplo vivo de superação e trabalho, Maria Amaro Segunda (Maria Amaro

Cavalcanti, no meu documento de identidade), proteção, apoio, conselho, visão de mundo,

experiência, obstinação, compreensão e outros “ãos” os quais somente o dom da maternidade

explica. E ao maior produto vivo que saiu do mesmo ventre de onde saiu o autor, uma quase

paternidade, das melhores orientações profissionais aos pequenos conselhos de rotina, Alisson

Amaro Cavalcanti, de vida, dia a dia; dos hobbies compartilhados (quase iguais). Relação de

irmão para irmão é algo que também não se explica...

Tem um dito chinês que diz “Ninguém que em 360 dias do ano acorde antes do

amanhecer deixa de enriquecer a família”, no livro Outliers, de Malcom Gladwell. Esta peça

nada mais traduz do que o maior dos agradecimentos acadêmicos o qual coloco (e faço toda

questão) neste trabalho, ao Doutor (de fato e direito), Professor, Orientador e Amigo Antonio

Sérgio, peça fundamental não somente na realização deste estudo, mas na formação e

percepção acerca dos fatos do mundo acadêmico, da vida pessoal e do despertar para a vida

em um mundo nada fácil de viver.

À Brilhante turma composta por pessoas maravilhosas, a Turma 32! O “arraiá da 32”,

os jogos da Copa de 2010, os aniversários, barzinhos, festinhas na casa da Almog, os papos de

corredor antes das aulas e nos intervalos, enfim, uma nostalgia que se faz presente desde

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quando tudo começou. Porém, em especial, Aos GRANDES Alex Bruno (Popov), Abdon

Ribeiro (Abdão), Luiz Carlos (Cajú), Anna Cecília e Fábio Resende (Fabinho, para as

meninas), pelo apoio, pelos ouvidos, pela presença e onipresença, pela preocupação em saber

como tudo está e, sobretudo, por aquele frio que se sente na barriga logo que as palavras

“acabando” e “terminando” vêm à tona. A vida nos presenteia com irmãos de sangue e irmãos

de peito e alma e eu usufruo da sorte de ter os dois!

Aos professores do PPGA, Anatália Ramos, Mauro Lemuel, Arlete Araújo, Dinah

Tinôco, Hironobu Sano, Jomária Aloufa, Miguel Añez e, em especial, o Prof. Djalma Borges,

por cada reflexão, momentos de contribuição, de construção e desconstrução e pela

reconstrução dos meus pontos de vista, conceitos e formas de ir à busca do conhecimento e do

crescimento (sobretudo pessoal). Por cada um, estou fechando mais este ciclo da minha vida.

Aos membros das instituições que entrevistei e que me permitiram fazer uso do seu

discurso no meu trabalho, em especial a Henrique Fontes, da Casa da Ribeira, Rodrigo César

(Bico), do TECESOL e Marcelo Veni (produtor cultural). Vocês fazem parte desta obra.

Aos colegas de CAIC TIC (empresa para qual trabalhei antes de ingressar no

Mestrado), em especial, os ex-colegas e amigos Antônio Costa (meu ex-chefe), Herberte e

Erick Reis (ex-colegas de trabalho), pelo apoio e horas de contribuição e influência. A

compreensão de vocês fez toda a diferença.

Aos alunos e colegas do curso de graduação EAD em Administração Pública do polo

de Extremoz, em especial Olavo Rolim, Felipe Barbosa, Jadian Bezerra, Gildásio Teixeira,

Elymara Santos, João Guilherme, Ernesto Tacconi, Ricardo Valentim e ao colega de tutoria

Marcelo Barbosa! Muito além de alunos, estou falando de Amigos! E, mais que

especialmente, à Profª Matilde Medeiros, pelo apoio e oportunidade dados para fazer parte

desta instituição e por, simplesmente, poder estar no presente momento redigindo esta nota de

agradecimento.

Aos meus GRANDES, em especial, Kesiane Santana, Rennan Cunha (o Lepra),

Adriano Lencio (Drico), João Totas (Cruz), Anna Clarice (Maguinha), Apaia Morato, Roberth

Fontes, Pabllo Anaximenes (McGayver), Freddie Simplício, Diogo Souto (Diogão), Paulo

Richardson, Larissa Damasceno, Fábio Rodrigo, Tiago Medeiros, Grace Henrique, Anderson

Muniz, Allen Gardel, Felipo Bellini, Simone Gabriel, Bruna Miyuki, Franklin Galvão,

Lenildo Medeiros e Laudecir (Deda); a cada um dos meus familiares, em especial Abi,

Hadassa, João Paulo (Piquininin), Asaf (Magão), Pedro Victor (Bibito Carroça), Ana Paula,

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João Felipe (Pimpim), Tio Newton, Tio João, Tia Edileuza, Tia Iracema, Tio Gilenildo, Zezé,

Tia Maria, Tia Iranice, Joaozinho, Weslley, Ailton e Ary. Cada um aqui presente, pessoas

mais que especiais, contribuiu de alguma forma, como de muitas formas, com o meu sucesso

nesta empreitada.

À minha companheira, pelas horas de apoio e compreensão e pelas palavras de afago e

consolo. Quanto ao resto, que fique por nossa conta, já que não devemos nada a ninguém!

E, sobretudo, a Rodrigo Silva de Sena, na certeza de sua presença e no apoio em luz e

espírito. Pelo Músico e Estatístico, presente sempre nas horas fáceis e difíceis, sem distinção,

sem justificativas. Simplesmente, pela história escrita de uma vida cheia de brilho e pelos dias

inesquecíveis. Pela vida, que deve ser aprendida a ser vivida. Pois, tal qual muito bem o

mesmo à verdade refletia, “Saber perder o que fingiu conquistar é enganar-se de graça...”.

Muito mais que primo, que amigo, irmão, companheiro de dança, trabalho, música, poesia e

travessia, o elo se estende para além da vida. Obrigado, cara!

O Mundo, apesar de difícil, tem tantas coisas boas a compartilhar quanto pensa a

sabedoria popular a respeito das coisas ruins que nele existem.

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Seu sucesso não é excepcional nem misterioso. Baseia-se numa rede de vantagens

e heranças, algumas merecidas; outras, não; algumas conquistadas,

outras obtidas por pura sorte – todas, porém, cruciais...

Malcolm Gladwell

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RESUMO

CAVALCANTI, A. A. Os programas de incentivo à cultura e o processo de fomento às

organizações culturais no Rio Grande do Norte: o caso da Casa da Ribeira em Natal,

2012. 151f. Dissertação – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

Com o surgimento das primeiras demandas por ações que visassem dar maior atenção à

Cultura no Brasil, vieram as primeiras discussões as quais diziam respeito ao modo como o

Estado brasileiro poderia interferir positivamente no âmbito do incentivo à Cultura, tal qual a

sua interação com os atores interessados e envolvidos com a causa. Durante a Ditadura

Militar, surgiram programas os quais contavam com a participação direta do Estado na

garantia desse direito, na ótica do seu apoio e na aplicação de recursos públicos na elaborar do

“produto cultural” a ser levado à sociedade nas suas diversas formas de expressão – isto tudo,

financiado pelo próprio governo. É o exemplo da “EMBRAFILMES” e do “Projeto Seis e

Meia”, continuado até os dias de hoje em algumas regiões do país, ainda que mantido por

entidades não vinculadas à administração direta ou ao poder público. Todavia, foi a partir do

período da redemocratização e do fim da ditadura que o Estado brasileiro passou a olhar para

a Cultura diferente, no âmbito de sua garantia junto à sociedade. Surgiram as primeiras leis de

incentivo, encabeçadas pela “Lei Sarney”, Nº 7.505/86, na qual tratava a Cultura como um

segmento o qual poderia receber ajuda externa, de modo a auxiliar a administração pública no

cumprimento do seu dever público. Após a era Collor e o fim do embargo ao incentivo à

Cultura através das Leis de Incentivo, consolidou-se o modelo de incentivo à Cultura de

antemão proposto na “Lei Sarney” e as Leis federais, estaduais e municipais como

regimentares junto à essa ação. É o caso da Lei Rouanet, Lei Câmara Cascudo e Lei de

Incentivo à Cultura Djalma Maranhão, vigentes em Natal e no Rio Grande do Norte. A partir

de então, entidades empresariais poderiam auxiliar grupos e organizações culturais a manter o

seu trabalho a partir das políticas de patrocínio, sob intermédio e controle regimentar do

Estado brasileiro na forma de suas Leis de Incentivo à Cultura. Este marco contribuiu com o

fortalecimento das Organizações Não Governamentais e com a consolidação dessas

instituições como o eixo central da garantia do direito republicano ao acesso à cultura, mas, a

Responsabilidade Social foi quem deu impulso no segmento aqui tratado, através das ações de

Responsabilidade Cultural oriundo das empresas junto às Organizações Culturais. Logo, em

face deste discurso, este trabalho tem o objetivo de averiguar o processo de incentivo à cultura

no Rio Grande do Norte a partir da Análise Deviant Case junto à Casa da Ribeira,

Organização Cultural que atua no Município do Natal, a fim de verificar as relações

estabelecidas entre a mesma entidade e as instituições as quais fazem jus à manutenção do

processo de incentivo tratado neste estudo – Empresas, na ótica do patrocínio empresarial e da

Responsabilidade Cultural, e Estado, na forma das Leis de Incentivo e dos Fundos Públicos de

Incentivo à Cultura.

Palavras-Chave: Incentivo à Cultura. Organização Cultural. Responsabilidade Cultural.

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ABSTRACT

CAVALCANTI, A. A. Os programas de incentivo à cultura e o processo de fomento às

organizações culturais no Rio Grande do Norte: o caso da Casa da Ribeira em Natal,

2012. 151f. Dissertação – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2012.

Since the emergence of the first demands for actions that were intended to give greater

attention to culture in Brazil, came the first discussions which concerned the way the

Brazilian government could have a positive influence in encouraging the culture, as is its

interaction with the actors interested and involved with the cause. During the military

dictatorship, there were programs which relied on the direct participation of the State to

ensure that right, from the viewpoint of its support and implementation of public resources in

developing the "cultural product" to be brought to society in its various forms of expression -

all this, funded by the government. It is an example of "EMBRAFILMES" and "Projeto Seis e

Meia", continued until the present day in some regions of the country, though maintained by

entities not directly connected with the administration or the government. However, it was

from the period of democratization and the end of the dictatorship that the Brazilian

government began to look at the different culture, under its guarantee to the society. Came the

first incentive laws, led by "Lei Sarney" Nº 7.505/86, which was culture as a segment which

could receive foreign assistance in order to assist the government in fulfilling its public duty.

After Collor era and the end of the embargo through the encouragement of culture incentive

laws, consolidated the incentive model proposed in advance of Culture "Lei Sarney" and the

federal laws, state and local regimentares as close to this action. This applies to the Rouanet

Law (Lei Rouanet), Câmara Cascudo Law (Lei Câmara Cascudo) and Djalma Maranhão

Cultural Incentive Law (Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão), existing in Natal and

Rio Grande do Norte. Since then, business entities could help groups and cultural

organizations to keep their work from the political sponsorship under control and regiment

through the Brazilian state in the form of their Cultural Incentive Law. This framework has

contributed to the strengthening of NGOs and with the consolidation of these institutions as

the linchpin of Republican guaranteeing the right to access to culture, but corporate social

responsibility was the one who took off in the segment treated here, through the actions of

Responsibility Cultural enterprises arising from the Cultural Organizations. Therefore, in the

face of this discourse, this study ascertains the process of encouraging the Culture in Rio

Grande do Norte from the Deviant Case Analysis at the Casa da Ribeira, the main Cultural

Organization that operates, focused action in Natal in order to assess the relationships

established between the same entity and the institutions which are entitled to maintain the

process of encouraging treated in this study - Enterprise, from the viewpoint of corporate

sponsorship and Cultural Responsibility and State in the form of the Laws Incentive Funds

and Public Culture Incentive.

Keywords: Cultural Incentive. Cultural Organization. Cultural Responsability.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12

2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................................ 17

3 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 27

4 OBJETIVOS .................................................................................................................. 30

4.1 Objetivo Geral ................................................................................................................. 30

4.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 30

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO CONCEITUAL ................................................... 31

5.1 Responsabilidade Social e Empresarial – origem e conceito .......................................... 31

5.2 Responsabilidade cultural – a responsabilidade social da cultura ................................... 45

5.3 O Estado brasileiro na promoção da cultura .................................................................... 53

5.4 A responsabilização no incentivo à cultura ..................................................................... 60

6 A PESQUISA ..................................................................................................................... 75

6.1 Procedimentos Metodológicos ........................................................................................ 75

6.2 As Análises dos Dados Coletados ................................................................................... 85

6.2.1 Categoria (C1) – O Estado no processo de incentivo à Cultura ...................................... 85

6.2.2 Categoria (C2) – As Organizações Culturais no processo de incentivo à Cultura ........ 106

6.3.3 Categoria (C3) – As empresas e sua responsabilidade no processo de incentivo ......... 123

6.3.4 Categoria (C4) – Controle social e transparência .......................................................... 135

7 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 143

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 148

APÊNDICES ................................................................................................................ 154

APÊNDICE A – INSTITUIÇÕES DO ESTADO ........................................................ 154

APÊNDICE B – INSTITUIÇÕES ECONÔMICAS ..................................................... 157

APÊNDICE C – CASAS / ENTIDADES CULTURAIS ............................................. 160

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INTRODUÇÃO

Esta seção apresentará a contextualização da temática e do objeto de análise, a

apresentação dos elementos científicos do trabalho, como problemática e problema, assim

como os objetivos, a justificativa e a estrutura da dissertação. Este projeto propõe um estudo

acerca do fomento e incentivo a atividades culturais em instituições promotoras de ações no

âmbito da Cultura, as Organizações Culturais, buscando compreender o modo como as

corporações empresariais que incentivam e fomentam a atividade cultural no estado do Rio

Grande do Norte – identificado, também, pela siga “RN” – desenvolvem esse trabalho junto a

elas.

Trata-se de um estudo de caso sobre o modelo de promoção cultural adotado por

Organizações Não Governamentais – tomando como base as ações providenciadas pela Casa

da Ribeira, entidade vinculada à promoção de ações no âmbito da Cultura no estado do Rio

Grande do Norte – e sua relação fundamental com as leis de incentivo ao referido segmento, a

partir das empresas e do processo de controle e regimentar do governo.

O tema das Leis de Incentivo à Cultura tem sido observado no Brasil sendo tratado

junto ao discurso acerca da Responsabilidade Social na contrapartida de as organizações

tomarem ações com fins de promover trabalhos no âmbito da própria Cultura – trabalhos estes

escassos de recursos próprios e, consequentemente, demandantes de fontes exógenas de

financiamento –, a prática do Marketing Social como medida mercadológica de construção de

imagem e posicionamento junto à sociedade (no que se refere aos públicos interessados e

inerentemente ativos na cobrança de maior responsabilidade das empresas junto ao bem-estar

social) e a consequente elaboração dos conceitos de Responsabilidade Cultural e Marketing

Cultural, fundamentada na prática empresarial dos dois primeiros fenômenos e conceitos.

Demandaram-se fontes documentais dos governos que tratam de medidas e ações

tomadas no âmbito da Cultura, periódicos científicos em Administração Pública e Reforma do

Estado e regras, também de caráter documental, institucionais que tratam do controle sobre a

atividade empresarial por entidades não ligadas ao mercado, a exemplo da Certificação ISO.

Observa-se que iniciativas de cunho cultural, não inseridas no contexto do mercado e

da atividade econômica, ou Mainstream, como colocado por Smiers (2006), não dispunham

de capital próprio capaz de sanar suas necessidades operacionais imediatas, estando as

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mesmas carentes de capital circulante para o custeio de suas ações e medidas outras que, do

ponto de vista organizacional, consolidariam sua autonomia e virilidade econômica.

Foi então que se percebeu o fenômeno da demanda desses trabalhos por fontes

exógenas de financiamento, dentre elas, doações, obtidas junto à sociedade civil, patrocínios

e, sobretudo, incentivos. O Estado e as empresas acabam por corroborar e consolidar esta

ultima fonte. A Figura 01 mostra como são procedidas as relações entre os entes envolvidos

na consolidação dos programas de incentivo à cultura em vigor no Rio Grande do Norte.

Figura 01 – Relação entre entidades e esferas, segundo os Programas de

Incentivo à Cultura do RN

Programas

de Incentivo à

Cultura

Programas de

Gestão Social

Empresarial

Programas de

Responsabilidade

Social

Projetos Sociais e

Organizações

Não

Governamentais

Fonte: O autor, 2012.

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Conforme se verifica na Figura 01, as empresas possuem seus próprios programas de

gestão social, ou Responsabilidade Socioempresarial, segundo Tenório (2004), os quais atuam

proativamente na contrapartida da conjuntura social vigente no meio em que ela está inserida

– ou seja, as próprias empresas desenvolvem, neste contexto, atividades próprias de

Responsabilidade social, fazendo uso de seus próprios recursos, sem requerer viés ou

incentivo do Estado; coexistem os programas de Responsabilidade Social, cuja finalidade é a

de atender as demandas da sociedade de uma forma reativa, ou as ações sociais buscam o

patrocínio empresarial; os projetos sociais não necessariamente têm sua origem nas

Organizações Governamentais, todavia, ambos são oriundos da sociedade, sem fins lucrativos

ou de capital, e têm como objetivo central promover ações sociais para a própria sociedade,

dentro de suas necessidades e do direito republicano à Cultura e Patrimônio Histórico e

Cultural, conforme colocado por Abrúcio (2002).

No eixo central, encontram-se os programas de incentivo a cultura, geridos e

controlados pelo Estado em suas esferas executivas, as quais atuam com o fim de regulação e

intermediação entre as demais entidades envolvidas da sociedade civil, institucionalizando as

relações, a oferta e a demanda por recursos, incentivos, patrocínio e parcerias, incrementadas

com o viés da política de incentivo.

É importante observar que, do ponto de vista mercadológico, as ações de cunho

cultural, abordando-se grupos teatrais, musicais, cinematográficos, educacionais e

promocionais, atingem sua autonomia financeira logo que estas conseguem definir ações

similares às práticas empresariais de medidas de mercado – definição de público,

estabelecimento de demanda, administração de capital, gerenciamento de pessoal, inovação,

elaboração e consolidação de procedimentos, estruturação organizacional, expansão de

mercado, concorrência e demais preceitos similares da área em questão.

Em tese, a autonomia dessas ações, de suas instituições e dos projetos ali vigentes,

entretanto, somente é atingida quando da mercantilização do seu cunho de atuação e do modo

como passam a ser administradas frente a sociedade; geralmente, tais instituições e suas ações

e projetos adentram neste ramo com o seu caráter e finalidade pré-definidos (com fins de

mercado, social, lucrativo ou não).

Antes disto, é verificado que projetos e entidades culturais que não vislumbram

práticas de mercado acabam por caírem no “ciclo vicioso” de estarem à mercê de ações

públicas voltadas para a área de Cultura ou, simplesmente, por se situarem em uma condição

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de dependência constante de fontes externas de receita, sobretudo do próprio Estado, isto

quando não se verifica o consequente desaparecimento dessas entidades e seus trabalhos – tal

qual um processo de falência.

Alguns questionamentos deram impulso à continuidade deste estudo, dentre eles:

como se interagem as instituições, com suas devidas atribuições e papeis no meio social, com

o objetivo de promover ações no âmbito da Cultura? Como se dá o processo de incentivo à

cultura e suas respectivas ações? Quais as condições institucionais propostas pelos governos e

suas instituições, empresas e demais entidades envolvidas com as demandas por incentivos e

patrocínio culturais? Como se interagem as instituições que se situam no eixo da demanda por

oferta de incentivos e patrocínio culturais? E quanto às entidades fornecedoras dos recursos?

De que forma se dá o controle social na responsabilização do emprego de recursos públicos

no fomento dessas ações, de modo que não incorra em prejuízo para a sociedade? De que

forma os devidos entes envolvidos se interagem com esta causa? E como o Estado disciplina

essas ações e relações interinstitucionais?

A finalidade de se investigar a ação dessas instituições partiu da leitura de materiais

bibliográficos que afirmavam que, ao longo da história recente brasileira, apesar da ação

governamental e da participação de entidades diversas da esfera civil da sociedade, várias

ações de incentivo e promoção à Cultura o eram (e ainda o são) colocadas em prática e

geridas, não diretamente, por entidades tipicamente inseridas no contexto da Administração

Pública, mas por organismos da sociedade civil, institucionalmente reconhecidos e atribuídos

a tal pelo próprio Estado, com aceite da própria sociedade, dos agentes culturais e dos grupos

empresariais. Dessa forma, tem-se articulado a tal as medidas tomadas pelas corporações

empresariais e pelo Estado, impulsionados pela demanda social por incentivos.

É possível encontrar várias discussões a respeito do tema tratado neste estudo, porém,

boa parte deles, a exemplo dos sítios de Internet, com pouco embasamento científico ou

reconhecimento da academia, este trabalho, todavia, não desconsidera os fatos até então

abordados pelos diversos grupos em suas discussões ou mesmo na medida de suas ações. Ao

contrário, propõe oferecer embasamento científico como medida complementar.

O capítulo com o título Justificativa trata dos porquês consignados teoricamente

acerca da abordagem deste estudo, decorrências no plano esférico em que se aplicará as

buscas empíricas para a formação dos resultados deste trabalho – ações e medidas práticas em

cultura no estado do Rio Grande do Norte, complementando a pretensão de pesquisa colocada

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no parágrafo anterior –, ao passo em que o item Procedimentos Metodológicos, do capítulo A

Pesquisa, confere as metodologias a serem empregadas na realização da pesquisa de campo,

corroborando com os objetivos deste trabalho, colocados no capítulo Objetivos.

A Análise dos Dados confere o discurso embasado no referencial teórico deste

trabalho com o obtido com a pesquisa de campo, junto aos entes envolvidos com as ações de

cultura verificadas no raio de ação proposto, colocado como realidade, social e histórica,

presente, e encontra-se situada no capítulo A Pesquisa. E o capítulo Conclusões discute as

contribuições obtidas com o desenvolvimento e realização por completo deste trabalho,

reflexões a respeito do tema, limitações da pesquisa e sugestões de continuidade e de

desenvolvimento de novos trabalhos os quais possam dar completude ao tema proposto neste

estudo de caso junto à academia.

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2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Apesar das restritas referências e contribuições acadêmicas que se tem até o presente e

que propõem tratar das políticas públicas de incentivo à cultura no Brasil, é possível constatar

contribuições-chave no que tange ao mapeamento histórico das ações em prol do fomento e

apoio sobre atividades culturais, tanto advindas do próprio Estado, como propostas pela

sociedade civil, de forma independente de governos.

A princípio, tomando como base o período da Ditadura Militar da história brasileira

recente, as ações culturais enfrentavam um momento no qual apenas o próprio Estado é que

tomava as ações com fins de incentivo e promoção. Albuquerque (2009), coloca esta questão

ao discutir que “O governo não tinha interesse em transferir do Estado para a sociedade civil

parte do poder de decidir o que vai ser feito em cultura”.

As primeiras discussões em prol da criação de ações no caráter de incentivos à

atividades culturais datam de meados da década de 1970, mais precisamente, do ano de 1972,

momento em que o Senador José Sarney, na figura de propositor, apresentou o Projeto de Lei

Nº 54, que propunha, segundo Brasil (apud Albuquerque, 2009), “conceder a dedução do

imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas toda operação de caráter cultural ou artístico a

partir do exercício de 1973, ano base 1972”.

Tratava-se de um marco inicial para o modelo que viria a ser implantado 14 anos após

o evento tratado no parágrafo anterior, modelo este o qual se baseava no princípio de que o

Estado passa a atuar como agente incentivador de terceiros potenciais, capazes de “lançar-à-

mão” de recursos financeiros próprios pra estimular ações culturais, na promoção de

atividades inerentes a este ramo e dos atores envolvidos (seja na imagem dos artistas, seja na

imagem de produtores, promotores e líderes de grupos das mais diversas atividades de cunho

cultural).

Essas instituições, de acordo com a Lei Nº 7.505/86, tanto poderiam ser empresas

como instituições capitalizadas e até pessoas físicas, desde que, da parte destes

(incentivadores) houvesse o reconhecimento de um responsável com experiência inerente à

realização de ações artístico-culturais, na forma de eventos, sem interessar a sua origem,

pública ou privada.

Foi, então, em 1986, que o fora dado o passo inicial para a consolidação, em regra, das

políticas de incentivo à cultura no Brasil. O marco se estabelece com a aprovação da Lei

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Sarney, a Lei Nº 7.505, de 02 de julho de 1986 – momento que sucede a redemocratização e o

fim do período de Ditadura Militar – em que, a priori, a proposta de financiamento das

políticas de incentivo em questão partia da dedução do Importo de Renda das pessoas físicas e

jurídicas.

O Ministério da Cultura, ou MinC, em sua sigla representativa, apresenta-se como

instância máxima do controle e de julgamentos a respeito das fontes propositoras do fomento

à Cultura. Desvinculado do antigo Ministério da Educação e Cultura, MEC, o MinC é criado

por projeto de lei, também apresentado pelo mesmo Senador José Sarney, na qual o é

apresentado em 14 de março de 1985, obtendo sua aprovação já no dia seguinte, 15 de março

de 1985, consolidando-se como a data de sua criação e fundação (ALBUQUERQUE, 2009).

A estratégia adotada pelo projeto de Lei de Incentivo à Cultura proposta por Sarney, a

partir daquele momento, versava na ocasião de se oportunizar a expansão de uma cadeia

produtiva capaz de gerar mais renda e arrecadação ao governo. Tinha-se, com o

estabelecimento deste eixo, movimentos econômicos gerados capazes de alimentar uma

determinada demanda proveniente da esfera produtiva (empresas e instituições produtivas

capitalizadas), o fluxo de capital econômico originado destas ultimas instituições para as

atividades de ação em Cultura e, a partir deste ponto, a alimentação de toda uma nova cadeia

composta por profissionais, artistas e consumidores, agora capazes de gerar fisco

governamental.

Em outras palavras, mesmo com o incentivo fiscal dado pelo governo aos atores

proativos na ação de incentivo e fomento financeiro à cultura, o Estado poderia incidir

tributos na arrecadação proveniente da atividade cultural (na produção cultural, na promoção

de eventos e no apoio técnico prestado a artistas), a exemplo do Imposto de Renda, a ser

cobrado por serviços prestados “à Cultura”, Imposto Sobre Serviços, ISS, Imposto Sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços, ICMS, e outras demais incidências que, sobretudo,

culminam na melhor arrecadação governamental e na distribuição desta com as unidades

federativas e municípios.

Entre os anos de 1986 e 1988, o MinC beneficiou-se de iniciativas que vieram a dar

pulso à pasta das atividades de cultura do governo brasileiro, dentre eles Projetos como “Seis

e Meia”, que contemplou o intercâmbio de artistas renomados e locais nas várias áreas do país

que adotaram este formato de promoção cultural, além do esvaziamento da divisão de

segurança e informação, DSI, em sua sigla, estabelecido durante a ditadura militar por

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organismos responsáveis pela segurança em todos os ministérios e empresas estatais – em

suma, com a finalidade de obter informações confidenciais da vida pessoal de entes

envolvidos em tais órgãos. Acerca desta ultima, trata-se de uma medida que visava a inibição

da censura nos meios e veículos de promoção (Barbalho, 1999).

O autor ainda coloca que nesta mesma época, durante a gestão do então ministro Celso

Furtado, o MinC assim sentiu-se acolhido por uma infinidade de artistas e intelectuais, atores

na inclusão de novas propostas para a pasta cultural nacional e na visualização de ações que

visassem abrilhantar os cenários culturais regionais e locais, como forma de melhor valorizar

o que estaria distante da grande escala de distribuição e promoção. Isto, sobretudo, acalentaria

ações que vislumbrassem diversas esferas da sociedade, comunidades carentes, ações

comunitárias, projetos sociais e trabalhos de inclusão que tomassem como ponto de partida a

Cultura.

Albuquerque acrescenta que esta Lei estabeleceu o período de Mecenato no Brasil.

Tratando melhor acerca da referida expressão – “Mecenato” –, Coelho (2007) coloca que

“apesar de o vocábulo mecenas ser o benfeitor das Artes, no Brasil se consignou que a

empresa ou pessoa física que transfere parte do tributo federal, neste caso o imposto de renda

a ser recolhido, para a realização de um determinado projeto cultural aprovado pela lei de

incentivo recebe a classificação de mecenas”.

Este o fora o marco de abertura e de entrada da iniciativa privada e da sociedade civil

na capacidade nacional de gerir e promover cultura. Ações que antes estavam restritas à esfera

administrativa do Estado, agora, pode-se examinar que as ações em prol da promoção e oferta

de Cultura tendem ao fortalecimento e crescimento, ao passo em que as portas se abrem para a

diversificação, assim como para o aumento do número de atores participando com o fim do

fortalecimento da cadeia produtiva em cultura.

Logo, é observado o discurso o qual define Responsabilidade Social (ANDRADE et

al., 2002): ações de caráter social fomentadas e ou financiadas por organizações da iniciativa

privada com o fim de suprir as necessidades dos agentes sociais prejudicados ou pouco

atendidos pelas ofertas de serviços e soluções propostas pelo Estado. A Responsabilidade

Social toma como ponto de partida a contrapartida dos Governos de abrirem mão de parte de

seus direitos fiscais junto a entes econômicos, desde que estes últimos relacionem-se, de

forma proativa, com ações, agentes e projetos de caráter público os quais dependem de uma

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fonte de incentivos para operacionalizarem suas atividades; geralmente, em virtude do caráter

e dos objetivos dessas ações, o Estado, em tese, seria o ente mais capacitado pra tal.

Todavia, tomando como base as ações públicas no ramo de cultura, o Estado passa a

adotar a estratégia do incentivo fiscal junto a entes potencialmente capazes de atender a esta

demanda, em que a implementação de políticas, na forma de leis de incentivo, torna-se a ação

prática do governo de dar aval à operacionalidade de tais ações no seu cunho e objetivos

sociais.

A então Lei Sarney, de acordo com a Lei Nº 7.505/86 (apud Albuquerque, 2009) deixa

às claras este marco histórico ao afirmar que, portanto, “foi a primeira a estabelecer relações

entre o Estado e a iniciativa privada usando o mecanismo de renúncia fiscal para investimento

em cultura, servindo de base para todas as iniciativas que viriam depois. Mas a lei não exigia

muita burocracia, bastando o simples cadastramento como entidade cultural junto ao MinC”.

Caldeira (2009) coloca que as despesas apresentadas por intermédio de uma nota fiscal

de qualquer entidade, desde que cadastrada no próprio MinC, poderia ser usada pelo

financiador da devida ação em prol da Cultura com o fim de obter abatimento sobre seu

imposto de renda, a pagar, mesmo que a mesma não se tratasse de uma despesa proveniente

de um projeto cultural.

Caldeira afirma que o Produtor Cultural, na exatidão deste momento em discurso, era

a “peça-chave” ou agente central de todo o processo aplicativo de projetos de qualquer ordem,

desde que visassem atender a demandas caracterizadas como culturais, visto que toda a

atividade de gerenciamento, controle e aplicação de recursos1 estava sob sua tutela e

responsabilidade. É possível neste momento em exato elevar a grau o discurso relativo à

transparência no serviço público. A questão que vem à tona diz respeito até onde vale à pena

para a sociedade o Estado abrir mão de sua arrecadação em prol da estimulação de uma

determinada atividade, ramo e ou grupo de interesse.

A princípio, o Estado objetiva gerar resultados sociais e proporcionar mecanismos

inovadores de gestão pública os quais permeiem na abrangência de uma amplitude maior da

própria sociedade, no que tange à oferta de seus benefícios e incentivos. Para isto, é salutar

que existam transparência e responsabilização, a partir da participação e inteiração dos entes

1 É salientado que os recursos provenientes das instituições para fora da esfera pública eram definidos como

obtenção a título de doação ou patrocínio – Carta de Incentivo, documento o qual comprova a verocímil

relação entre o ente cultural e o Estado, no que se refere a relação a ser estabelecida, a fim de consumar o

propósito da política de incentivo.

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envolvidos com as políticas e os modelos propostos pelas ações que visam dar incentivo à

Cultura. Responsabilização dos recursos públicos aplicados, seja na forma de política

incentivo por via de isenção fiscal, seja pela aplicação de recursos públicos oriundos dos

cofres dos governos, dos procedimentos adotados, do respeito aos princípios regimentares do

serviço e da atividade pública no Brasil, da veracidade quanto à aplicação desses recursos,

tanto pelas empresas quanto pela administração direta do Estado, e pela consumação da oferta

da proposta cultural colocada pelas entidades sociais junto à sociedade.

Abrúcio (2005) em ensaio sobre o dilema do modelo pós-burocrático, propõe maior

responsabilização do governo no que se refere à transparência na gestão e alocação dos

recursos públicos, coerência com a finalidade do interesse público e bônus social. O‟Donell

(1998) coloca a responsabilidade na aplicação dos recursos públicos como peça fundamental

na formação de uma unidade consistente de gestão, na esfera de uma gestão pública gerencial

e pós-burocrática, com ferramentas de controle mais efetivos sobre os recursos públicos

interessados por terceiros, ao mesmo tempo em que conta com a participação de agentes da

própria sociedade na fiscalização e na cobrança por resultados, referentes às ações de

interesse público. Ambos os autores, em seus ensaios teóricos, concordam que suas

colocações tomam como base os conceitos acerca de Accountability, ou Responsabilização e

Controle Social.

A exigibilidade na responsabilização sobre os recursos públicos destinados, para

alimentação de programas governamentais de incentivo, objetiva à melhor racionalidade no

uso desses recursos, no destino dos mesmos e na tangibilidade dos resultados a serem

alcançados. Em tese, resultados sociais, para a sociedade civil e seus grupos de interesse, na

questão das políticas em prol de incentivos à cultura.

Atualmente, a Lei Rouanet tem sofrido alterações importantes no que se refere à

tangibilidade de sua política de controle sobre a ação dos incentivos fiscais e da comprovação

dos mesmos para com o julgamento e justificação junto ao governo. Para tal, como

estabelecido na Instrução Normativa Nº 3, de 30 de dezembro de 2010, estabelece-se

necessário o julgamento de “procedimentos para apresentação, recebimento, análise,

aprovação, execução, acompanhamento e prestação de contas de propostas culturais, relativos

ao mecanismo de Incentivos Fiscais do Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC, e

dá outras providências”.

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Segundo a Lei Nº 8.313/91, esta medida visa aprimorar o controle no que diz respeito

à finalidade da verba a ser destinada, verificar a veracidade da solicitação do agente o qual

demanda recursos de incentivo e a ação dos membros envolvidos – tanto no que diz respeito

às instituições apoiadoras quanto na angariação de verba própria ou de uso do evento em

questão para fins privados.

A ausência de mecanismos de controle dos recursos originados das empresas, através

de incentivos fiscais dados pelo Estado às mesmas, com o fim de gerar, a partir deste ponto, já

fazendo uso desta expressão, Resultados Culturais, pode, dessa forma, culminar na

depredação qualitativa dos resultados propostos a que se espera com essa política. Isto, porque

qualquer ação pública deve deflagrar resultados que versem sobre a ótica dos interesses da

sociedade como um todo e não dos interesses particulares de um grupo em restrito.

As ações e medidas tomadas a partir da proposta de lei Nº 7.505 visam propor a

inclusão da sociedade civil no fomento e na execução de atividades em prol dela mesma,

conferindo que cultura é um segmento de interesse público e da própria sociedade, é

construída por membros que dela fazem parte, a fim de ser ofertada para todos os outros

segmentos que se inserem nas mais distintas esferas e grupos de interesse, como mesmo

discute Santos (1996).

A inserção desses grupos estabelece um ambiente aberto e transparente, em que, atores

das diversas esferas envolvidas, passam a ter acesso à informações, procedimentos tomados,

providências e ações para períodos futuros; além do mais, estabelece uma relação de

prestação de contas referente à exercícios anteriores, com o fim de justificar à sociedade e

seus membros as ações tomadas e os resultados alcançados.

Conforme a Orientação Para Serviço Público, como coloca Bresser-Pereira (1996), a

gestão de políticas públicas em cultura passa a ter seu caráter mais responsabilizado e

orientado para os interesses da sociedade, representada pelos agentes interessados envolvidos

– artistas, produtores culturais e comunidade. Em suma, trata-se da prestação de contas,

responsabilização das ações, inclusão de atores interessados dos grupos envolvidos e

transparência – como coloca Abrúcio (2005).

O Estado discute as ações com entes interessados; é estabelecido o eixo das ações,

apura-se os resultados alcançados e as ações tomadas; avalia-se os resultados e as ações, antes

das medidas serem operadas no período seguinte, como coloca Bourgon (2010) sobre a

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questão da autoridade pública como entidade operacional da ação pública frente à grupos e

atores interessados em uma determinada política.

Meny et. Thoenig (1992) colocam a fase de avaliação de determinada política pública

como essencial para corroborar com a discussão referente à inclusão, na agenda

governamental, das políticas públicas, em questão; a avaliação não corrobora necessariamente

com a saída ou exclusão da ação pública em discussão, porém, propõe rever lacunas que,

durante a operacionalização das ações, possam gerar conflitos, choques de interesse,

ineficiência ou mesmo inatividade.

Entre 1986 e 1990, momento em que o eixo da gestão de políticas culturais migra da

esfera Estatal para a empresarial e a sociedade civil, tornam-se, estes últimos, os principais

agentes de ação. Para Albuquerque (2009), “sua aplicação, no entanto, possuía muitas

fragilidades, em especial, quanto à inexistência de comprovações adequadas da utilização das

verbas recebidas pelos produtores culturais e do mérito do produto gerado pela sua

realização”.

A Lei, como mostra Albuquerque, não estava a tomar partido com fins de regulação

das ações em questão visando o interesse público, o que culminava em brechas para desvios

de conduta e para o atendimento de ações as quais visassem interesses privados. Foram

deflagradas, por exemplo, irregularidades fiscais, assim como outros tipos de posturas que

corroíam com a veracidade e objetivo da proposta (COELHO, 2007).

Em 12 de abril de 1990, com a gestão do então empossado Presidente Fernando Collor

de Melo, segundo a Lei Nº 8.028/90 (apud Albuquerque, 2009):

O MinC foi transformado em Secretaria da Cultura, órgão diretamente vinculado à

Presidência da República e, no dia seguinte, foi estabelecida a suspensão dos

benefícios da primeira lei de fomento à cultura, assim como outros incentivos fiscais

dos demais segmentos da economia em vigor na época. Estava logo no artigo 1°,

decretada a suspensão da Lei Sarney.

A Lei Nº 8.028/90 (apud Albuquerque, 2009) ainda agrega que:

A Secretaria de Cultura da Presidência da República ficou encarregada, na época, de

restabelecer os princípios da Lei Sarney, propondo uma nova forma de política de

financiamento público para o setor. Seu titular, embaixador Sérgio Paulo Rouanet,

apresentou o Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC), através do Projeto

de Lei n°1.448/1. E em 23 de dezembro de 1991 é publicada a Lei nº. 8.313,

denominada Lei Rouanet.

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Após o Impeachment de Collor de Melo, o então Presidente Itamar Franco, tornou

reversível a extinção do MinC, tomando, dessa forma, uma serie de ações que viriam a

“prerrogar” e, ao mesmo tempo, estabelecer propostas as quais viriam moldar o sistema de

incentivos e de fomento à Cultura no país.

A Lei Rouanet2, Lei Nº 8.313/91, entrou em cenário com o objetivo de regular as

relações entre as várias partes relacionadas ao processo de produção e consumo de bens

culturais. Surge ela para viabilizar a parceria entre artistas e ou produtor com a iniciativa

privada. E inova com a exigibilidade de aprovação prévia de projetos, por parte de uma

comissão com representantes do governo e de entidades culturais, criando, desde então, três

mecanismos de financiamento: o Fundo Nacional de Cultura (FNC), os Fundos de

Investimento Cultural e Artístico (FICART) e o Incentivo Fiscal a Projetos Culturais –

Mecenato3.

Instituições estratégicas para o desenvolvimento econômico e social do país ingressaram

no portfólio de organizações que contribuem e colaboram com o Fundo Nacional de Cultura,

mencionado no parágrafo anterior, dentre elas a Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRAS –,

Banco do Brasil S.A., Banco Bradesco S.A. e Companhia Vale do Rio Doce S.A., no âmbito

nacional, e, sobretudo, companhias energéticas e de telefonia, no âmbito regional, além da

força exercida pela própria Lei Rouanet.

Em se tratando do âmbito regional, diante do espaço do estado do Rio Grande do

Norte, a Lei Rouanet foi modelo para a concessão de projetos de lei e iniciativas em prol da

promoção cultural, em que se permitiram inovações e mudanças significativas nos resultados

conferidos aos agentes culturais do espaço em questão.

Através da Fundação José Augusto – representada pela sigla FJA –, instituição que

atua representativamente como a Secretaria Estadual de Cultura – ou Secretaria Extraordinária

de Cultura, SECULTRN –, projetos como agremiações para ações independentes, a exemplo

do Prêmio Núbia Lafayette, Festival de Música do Beco da Lama, Amostra de Curtas do RN e

festivais locais de música alternativa, conferem-se como ações de iniciativa da Sociedade

Civil de interesse público, que contam com o apoio financeiro de leis de incentivo local, como

a Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão, sob ordem regimentar da Fundação Capitania

2 A Lei Rouanet é constitucionalmente reconhecida como Lei Federal de Incentivo à Cultura, em sua

nomenclatura oficial.

3 O conceito de Mecenato, traduzido por Albuquerque (2009), diz respeito às instituições e agentes os quais

destinam parte de seus recursos próprios para o financiamento de atividades e ações em prol da Cultura no

país.

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das Artes – FUNCARTE –, a atual Secretaria Municipal de Cultura do Natal, e Lei Câmara

Cascudo, por sua vez regimentada pela SECULTRN, que contempla todo o estado do Rio

Grande do Norte; quanto às fontes de financiamento (a visualizar as duas leis de incentivo à

Cultura, em discussão), estão elas atreladas aos recursos doados por organizações da iniciativa

privada, estando como principais financiadores a Companhia Energética do Rio Grande do

Norte – COSERN –, concessionária que gere a distribuição de energia elétrica no referido

estado, Petróleo Brasileiro S.A., assim como instituições de pequeno porte, como Importadora

Comercial de Madeiras LTDA, ADS Segurança Privada LTDA e Serviço Social da Indústria,

SESI, integrando o “Sistema S” ao processo de fomento e oferta cultura de ações culturais

para a comunidade.

Contudo, é possível verificar, junto a determinados grupos, deficiências sistemáticas

no recebimento de recursos financeiros, por parte dos organismos governamentais de controle

e da atividade cultural, a fim de promover o financiamento de suas ações – deficiências como

atrasos e inadimplências; verifica-se também que organizações privadas estratégicas agregam

seus incentivos à eventos e promoções culturais, em “exclusividade”, de grande porte,

voltados para grandes massas ou com características similares; verifica-se que o repasse dos

recursos oriundos da esfera pública para os agentes culturais contemplados é de inteira

autonomia de suas instituições responsáveis, não havendo preocupação com a devida

transparência no que diz respeito à seleção e direcionamento dos projetos e propostas a serem

contemplados com esses recursos; verifica-se homogeneidade quanto aos projetos e ações

contemplados, quando a real proposta da promoção cultural é atender à diversidade e

heterogeneidade da demanda (SANTOS, 1996).

Porém, apesar das constatações discorridas no parágrafo anterior, é conferido um

maior impulso na quantidade de projetos e propostas lançadas à sociedade do que em

momentos anteriores à aplicação prática da Lei Rouanet, a tratar a partir de 1996, ou logo dos

quatro primeiros anos do início de sua aplicação. É devido salientar que a confecção de oferta

a fim de atender às demandas em questão tomam impulso e operacionalização com as ações

de Responsabilidade Social, por parte dos entes privados da sociedade civil, sobretudo

empresas estratégicas para a atividade econômica do contexto em vigência. Para Friedman

(1984), são justamente esses entes os mais capacitados para promover a operacionalização das

ações atendidas pelas demandas de Responsabilidade Social, em virtude do seu poderio

econômico e de sua melhor capacidade de atender demandas economicamente maiores.

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Para o próprio Friedman (1984), o Estado sabe que as organizações da atividade

econômica podem suprir suas ações no contexto do fomento e da operacionalização de ações

de demanda social, gerando o mínimo de ônus para ambas as partes.

Dessa forma, diante do que foi colocado, propõe-se o seguinte problema para este

trabalho: Como as organizações culturais do Rio Grande do Norte são apoiadas no

incentivo e fomento à cultura através dos instrumentos legais e investimentos privados?

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3 JUSTIFICATIVA

É sabido que uma das fontes de alimentação de recursos das políticas de incentivo à

cultura do Estado brasileiro é o incentivo fiscal, descontado nas ações em finanças das

corporações do mercado, desde que estas colaborem diretamente com o financiamento das

ações culturais vigentes, desde então.

A esta ordem de ação dá-se a definição de Responsabilidade Social, ou, ações de

cunho privado, oriundas de empresas de capital, que objetivem incentivar, auxiliar e promover

atividades de caráter social, desde que os resultados das mesmas estejam de acordo com o

desenvolvimento e inclusão social (ANDRADE et al., 2002). Ainda nesta perspectiva, as

referidas atividades sociais devem atender normas e pré-requisitos estabelecidos pelas leis de

incentivo propostas em território nacional. Nos dias atuais, o modo mais claro e consistente de

assegurar a qualidade de sua classificação, como projeto de objetivos publicizados

(ABRÚCIO, 2005), como colocado pela Lei Nº 5.323/01, é a inclusão oficial dessas

atividades, de caráter sociais, em catálogo, previamente cadastrado em banco de dados do

MinC e ou das leis de incentivo à Cultura, no âmbito regional local.

Tal medida aperfeiçoa a comunicação entre os entes incentivadores e demandantes de

recursos, por assim referi-los como incentivados, desde a facilidade de localização dos

mesmos projetos – visto que as corporações não mais deverão atuar como uma espécie de

“caçadores de projetos sociais”, haja vista a situação deles em um determinado banco de

dados de instituição habilitada para efetuar o devido controle – a ampliação da capacidade de

oferta de recursos, por parte das corporações e empresas interessadas em tal, e de mais ações,

por parte dos projetos sociais.

Como se pode observar, o que até então se discutiu nesta justificativa pode ser

considerado resultado do crescimento da demanda por incentivos a ações sociais.

Consequentemente, o governo propõe, dando sua contrapartida, a institucionalização da oferta

por parte dos atores envolvidos na rede de interessados em incentivar e obter incentivos. Ao

que se observa, ainda, a questão em discussão neste parágrafo se aplica a todo o âmbito do

que se define em Responsabilidade Social – ações voltadas ao meio ambiente, filantropia

(Neofilantropia), esporte, cultura e assistência social básica.

No âmbito da cultura, foco de estudo deste trabalho, observam-se instituições de

âmbito nacional e com atuação restrita a determinada localidade, com foco em projetos

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angariados dentro de determinado município ou estado da federação. A aplicabilidade das

ações é similar e obedece a determinada ordem e sequencia de ações, sejam elas

administrativas, na priorização relativa à tipologia do projeto – quando se trata de ação ligada

ao meio ambiente, à cultura, filantropia, etc. Ademais, é possível constatar que, no geral, as

ações tomam como base os princípios da Lei Rouanet.

É o que se observa na Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão, Lei Nº 4.838/97,

com foco regional voltado para ações culturais as quais estejam enquadradas no território do

Município do Natal, seu princípio legislativo condiciona ações caracteristicamente do ponto

de vista da administração direta natalense – em outras palavras, ações cujas quais sejam de

origem do mesmo município, a fim de serem aplicadas em seu território e com fins de se gerar

resultados sociais.

Visualizando-se o condicionamento da Lei Rouanet, é possível observar os mesmos

objetivos e caráter legislativo sobre obras e projetos a serem beneficiados observados na Lei

Djalma Maranhão, contudo, com campo maior de atuação, não se estendendo para além das

fronteiras do país – referindo-se ao fato de não serem observados obras e projetos externos ou

que objetivem visibilidade internacional. Em ambos os projetos de Lei – Rouanet e Djalma

Maranhão –, é possível observar determinada abertura no que diz respeito à origem dos

recursos. Em outras palavras, não necessariamente os beneficiadores devem estar situados ou

vinculados ao território de atuação dessas leis; empresas e pessoas físicas de qualquer origem

podem declarar doação na forma de incentivo à tais projetos, sendo salientado que a

contrapartida, ou ganhos a serem obtidos com tal iniciativa, dar-se-ão no ato da declaração do

Imposto de Renda, dentro do território brasileiro, na forma de incentivos fiscais devidos ao

governo brasileiro. O mesmo se aplica à Lei Câmara Cascudo, que contempla todo e qualquer

trabalho cultural nos limites geopolíticos do estado do Rio Grande do Norte.

De acordo com Friedman (1984), as empresas vêm adotando a prática da

Responsabilidade Social como ferramenta estratégica de melhor gestão de seus recursos

econômicos, no que diz respeito, sobretudo, aos deveres a pagar junto ao Estado, da sua

gestão de marca e da sua responsabilidade pró-organizacional. No caso brasileiro, em se

tratando de mercado com alta interferência tributária e atividade produtiva controlada,

incentivos relacionados a deveres tributários tornam a organização mais competitiva e suas

estratégias de crescimento tão bem quistas.

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A contrapartida a esta tese é refletida no crescimento da demanda empresarial por

financiamento de ações culturais, filantrópicas e ambientais cujas quais sejam reconhecidas

como ações de Responsabilidade Social junto ao Estado brasileiro. A tal evento soma-se a

estratégia governamental de associar ações de caráter social, legalmente, a medidas de

interesse público, em que o Estado tem papel fundamental em sua manutenção e oferta para a

sociedade.

Dessa forma, alicerçado sobre os fatos decorrentes e descritos nesta justificativa e à

minimização do Estado perante seus objetivos primordiais, a justificativa deste estudo se

condiciona no surgimento de uma nova discussão acerca do papel estratégico do Estado no

fomento das ações sociais com fins publicizados, estando a Cultura no foco das discussões

aqui presentes, assim como, os resultados observados no que se refere às ações de

Responsabilidade Social alicerçadas pelos Governos junto às empresas e praticadas pelos

agentes incentivadores – pessoais físicas, jurídicas e demais atores da esfera econômica em

potencial –, tal qual se tangencia com a atuação das Organizações Sociais como formadores

do “produto cultural fim” para a sociedade.

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4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

Compreender como as organizações culturais utilizam instrumentos públicos e

investimentos privados na promoção da cultura no Rio Grande do Norte.

4.2 Objetivos específicos

Verificar os instrumentos utilizados pela Casa da Ribeira para obter investimentos

privados;

Identificar as condições colocadas pelas empresas privadas no sentido de atender às

demandas por patrocínio cultural;

Averiguar a participação do Estado na promoção da cultura.

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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO CONCEITUAL

5.1 Responsabilidade Social e Empresarial – origem e conceito

A Responsabilidade Social surge em meados da década de 1950 com o intuito de rever

a ação das empresas e seu papel perante a sociedade – questionando o seu papel para além dos

objetivos puramente econômicos e de mercado; porém, foi a partir da década de 1970 que o

discurso acerca da Responsabilidade Social toma força, fundamentando-se nas novas medidas

tomadas pelos governos e contrapartidas adotadas a partir de eventos decorrentes à mudança

do foco administrativo do Estado, de seu caráter social emergente para o gerencial – na ótica

da melhor gestão de seus recursos.

A ideia em discussão é incrementada por Andrade et al. (2002), em que o mesmo

coloca que:

Historicamente, o conceito de Responsabilidade social se desenvolve a partir da

década de 50, quando começa a ser questionado o papel das empresas no

desenvolvimento da sociedade, em oposição ao domínio do Estado em relação à

vida econômica e social da sociedade civil pós-guerra. A discussão é ampliada e

aprofundada a partir de 1970 quando, a partir da necessidade de aumento de

impostos, a fim de manter o bem-estar social, proprietários de grandes empresas

começaram a questionar o sistema, já que pagavam impostos por serviços que não

recebiam pessoalmente. Os cidadãos, por sua vez, também questionavam o sistema e

começaram a formar movimentos para pedir às empresas para compensar o bem-

estar social que faltava ao Estado.

Em outras palavras, a Responsabilidade Social se consolida a partir do momento em

que o welfare state expõe à sociedade a sua fragilização e os governos não mais “se sentem”

capazes de abarcar as demandas da população por serviços públicos e de direito garantido.

Ashley et al. (2002) discute que:

Responsabilidade social é o compromisso que uma organização deve ter para com a

sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que afetem positivamente, de modo

amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e

coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e sua prestação de

contas para com ela. A organização, nesse sentido, assume obrigações de caráter

moral, além das estabelecidas em lei, mesmo que não diretamente vinculadas a suas

atividades, mas que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável dos

povos. Assim, numa visão expandida, responsabilidade social é toda e qualquer ação

que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade.

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A questão da Responsabilidade Social empresarial é tema recente, polêmico e

dinâmico, envolvendo desde a geração de lucros pelos empresários, em visão bastante

simplificada, até a implementação de ações sociais no plano de negócios das companhias, em

contexto abrangente e complexo (TENÓRIO, 2004, p. 13).

Para Passador (2012, p. 2):

Desde o início do século XX, registram-se manifestações a favor da

Responsabilidade Social Corporativa. Na verdade, a responsabilidade social

corporativa era aceita como doutrina nos EUA e na Europa até o século XIX,

quando o direito de conduzir negócios de forma corporativa era uma questão de

prerrogativa do Estado e da Monarquia e não interesse econômico privado. Contudo,

só nos anos 60, nos Estados Unidos da América, e também no início da década de

60, na Europa – especialmente França, Alemanha e Inglaterra – é que a sociedade

iniciou uma cobrança por maior responsabilidade Social das empresas e consolidou-

se a própria necessidade de divulgação dos chamados balanços e relatórios sociais.

Segundo Tenório (2004, p. 13):

A abordagem da atuação empresarial surgiu no início do século XX, com o

filantropismo. Em seguida, com o esgotamento do modelo industrial e o

desenvolvimento da sociedade pós-industrial, o conceito evoluiu, passando a

incorporar os anseios dos agentes sociais no plano de negócios das corporações.

Assim, além do filantropismo, desenvolveram-se conceitos como voluntariado

empresarial, cidadania corporativa, responsabilidade social corporativa e, por

ultimo, desenvolvimento sustentável.

Enquanto que, ainda na primeira metade do século XX, a ideologia que predominava

no ambiente econômico e industrial era aquela baseada nos pressupostos liberais propostos

por Adam Smith e David Ricardo, Malthus e Mill, segundo Tenório (2004), baseado no

princípio da propriedade e da iniciativa privada, em que o Estado não haveria de interferir na

economia e na atividade produtiva, para o mesmo autor, nesta época consolidavam-se os

primeiros conceitos clássicos de responsabilidade social, incorporando “os princípios liberais,

influenciando a forma de atuação social das empresas e definindo as principais

responsabilidades da companhia em relação aos agentes sociais na época” (TENÓRIO, 2004,

p. 14).

Para Tenório (2004, p. 14):

[…] a interferência do Estado na economia seria um obstáculo à concorrência,

elemento essencial ao desenvolvimento econômico e cujos benefícios seriam

repartidos por toda a sociedade. O Estado seria o responsável pelas ações sociais,

pela promoção da concorrência e pela proteção da propriedade. Já as empresas

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deveriam buscar a maximização do lucro, a geração de empregos e o pagamento de

impostos. Atuando dessa forma, as companhias exerceriam sua função social.

Friedman (1985 apud Tenório, 2004, p. 15) discute que:

Ultimamente um ponto de vista específico tem obtido cada vez maior aceitação – o

de que os altos funcionários das grandes empresas e os líderes trabalhistas têm uma

responsabilidade social além dos serviços que devem prestar aos interesses de seus

acionistas ou de seus membros. Este ponto de vista mostra uma concepção

fundamentalmente errada do caráter e da natureza de uma economia livre. Em tal

economia, só há uma responsabilidade social do capital – usar seus recursos e

dedicar-se a atividades destinadas a aumentar seus lucros até onde permaneça dentro

das regras do jogo, o que significa participar de uma competição livre e aberta.

Ainda nos primórdios da ainda então fase de formação das concepções acerca da

responsabilidade social, o conceito fundamental de organização girava em torno do seu

funcionamento com vistas nos lucros e na melhor remuneração de seus sócios e acionistas.

Galbraith (1982) coloca que a responsabilidade social, neste período, época a qual as

empresas possuíam baixo poder de influência e de formação de monopólio no mercado

vigente, o patrimônio da companhia confundia-se com o de seus proprietários e sua

contribuição social central era a de maximizar os lucros e dividendos de seus acionistas.

O mercado não se preocupava com questões de cunho social e coletivo, lançados à

mão do interesse do Estado e das políticas de bem-estar social. Na verdade, como se verifica

em Andrade (2002), os primeiros resquícios de Estado de Bem-Estar Social – Welfare State –

só puderam ser visto no mundo pós-segunda guerra, com as ações de reconstrução da Europa

destruída e com suas economias esfaceladas, altas taxas de desemprego, baixa demanda

agregada (em Macedo e Silva, 2004) e emergência de outros grandes centros com vistas às

políticas de protecionismo econômico e da indústria nacional.

A maior participação do Estado na economia e nas políticas de reparação dessas

economias estagnadas fez emergir a percepção a respeito da necessidade de se configurar

ações com o interesse coletivo e social, a proteção social, a seguridade e a capacidade das

instituições de Estado atender às demandas de seus cidadãos no que confere à Saúde,

Educação e Segurança, todos de interesse público. Além de configurar a capacidade de uma

sociedade atender aos anseios sociais de maior proteção e qualidade de vida por parte de seus

cidadãos, o mesmo também configura a capacidade de suas instituições proporcionarem

demanda e o pleno emprego, já que para que elas funcionem faz-se necessário a absorção de

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pessoal – modelo comum aplicado proposto Keynesianismo a fim de se gerar demanda

agregada, pleno emprego e instituições propulsoras de oferta.

Tenório (2004, p. 15) diz que:

A alteração do processo produtivo, ocasionada pela evolução tecnológica e pela

aplicação da ciência na organização do trabalho, foi outro fator que contribuiu para

ampliar a discussão do conceito de responsabilidade social empresarial. Suas

consequências afetaram as relações de trabalho existentes na época, gerando debates

a respeito das obrigações empresariais em relação a seus empregados.

Nonaka e Takeuchi (1997 apud Tenório, 2004, p. 16) complementa que:

A administração científica tentou eliminar o “tempo ocioso” dos trabalhadores e

substituir os métodos empíricos pela ciência, aumentando assim a eficiência de

produção. Impôs métodos e procedimentos “científicos” para a organização e

operação do trabalho, dos quais o mais importante foi o estudo de tempo e

movimento, a fim de encontrar “o melhor método” de implementar uma tarefa. A

“administração científica” foi uma tentativa de formalizar as experiências e as

habilidades tácitas dos trabalhadores em conhecimento científico e objetivo. No

entanto, não encarava as experiências e o julgamento dos trabalhadores como uma

fonte de novos conhecimentos.

Tenório (2004, p. 16) acrescenta que:

[…] o liberalismo não estimulava a prática de ações pelas empresas e até as

condenava, pois entendia que a caridade não contribuía para o desenvolvimento da

sociedade nem era de responsabilidade das companhias. Dessa forma, no início do

século XX, a responsabilidade social limitava-se apenas ao ato filantrópico, que

inicialmente assumia caráter pessoal, representado pelas doações efetuadas por

empresários ou pela criação de fundações, como a Ford, a Rockfeller e a

Guggenheim. Posteriormente, com as pressões da sociedade, a ação filantrópica

passou a ser promovida pela própria empresa, simbolizando o início da incorporação

da temática social na gestão empresarial. […] Contudo, apesar de a administração

científica e o liberalismo econômico terem contribuído para o crescimento da

população e a acumulação do capital, inicialmente a industrialização ocasionou a

degradação da qualidade de vida, a intensificação de problemas ambientais e a

precariedade das relações de trabalho.

A partir desse momento, a sociedade começou a se mobilizar, pressionando governo e

empresas a solucionarem os problemas gerados pela industrialização. Verificou-se, assim,

maior controle social da atividade empresarial (TENÓRIO, 2004, p. 17).

O mesmo autor ainda acrescenta que:

[…] o conceito de responsabilidade social empresarial passou a incorporar alguns

anseios dos principais agentes e a ser entendido não apenas como a geração de

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empregos, o pagamento de impostos e a geração de lucro, mas também como o

cumprimento de obrigações legais referentes a questões trabalhistas e ambientais.

[...] Os problemas trabalhistas referiam-se às longas jornadas de trabalho- que

chegavam a durar até 12 horas diárias –, aos baixos salários e à ausência de

legislação trabalhista e previdenciária e à mecanização do ser humano […] com os

problemas decorrentes da industrialização, o entendimento das obrigações da

empresa em relação aos agentes sociais começou a se modificar. Ford foi um dos

primeiros a entender a natureza dessas transformações, tano que instituiu salário

mínimo e jornada de trabalho máxima de oito horas diárias para seus empregados

(TENÓRIO, 2004, p. 17).

Logo, até a década de 1950, a responsabilidade social empresarial assume dimensão

estritamente econômica e é entendida como a capacidade empresarial de geração de lucros,

criação de empregos, pagamento de impostos e cumprimento das obrigações legais

(TENÓRIO, 2004, p. 18).

OLIVEIRA (2008, p. 10) afirma que:

O estudo da responsabilidade social não é uma ciência. É uma área de interesse inter

e multidisciplinar, transitando pelos campos de várias ciências sociais e humanas,

até mesmo filosofia. Em administração, foi onde o debate conceitual e prático sobre

responsabilidades social tomou corpo, talvez por ser a empresa um dos principais

objetos de estudo das ciências da administração. […] Na década de 1950, surgiram

alguns trabalhos questionando as funções puramente econômicas da empresa na

sociedade, como a maximização de lucros e a remuneração dos acionistas, defendida

pelos economistas liberais (Bowen, 1953). Os liberais, como Milton Friedman

(1970), contra-atacam, argumentando que a responsabilidade social de empresas era

um movimento a caminho do socialismo, e reforçando os objetivos econômicos da

empresa dentro da lei. Com isso, a partir da década de 1970, o debate acadêmico e

prático ganhou fôlego, com várias abordagens sobre o conceito de responsabilidade

social aparecendo.

Segundo Tenório (2004, p. 18):

Depois que Roosevelt implementou o New Deal, em 1933, como forma de superar a

depressão econômica dos Estados Unidos, limitando as práticas liberais, a economia

americana passou por um processo de crescimento e de acumulação de capital. Esse

período é marcado pelo pensamento Keynesiano, pela intervenção do Estado na

economia, estendendo-se até a década de 1970. Seus efeitos contribuem para a

consolidação do modelo industrial e para a sua superação na década de 1950, com o

desenvolvimento da sociedade pós-industrial. Esses acontecimentos geraram

questionamentos da sociedade quanto ao objetivo de maximização de lucros das

empresas e do papel das companhias nessa nova sociedade, além de ampliar o

conceito de responsabilidade social empresarial.

Toffler (1995 apud Tenório, 2004, p. 19) afirma que:

[…] a sociedade industrial buscava, basicamente, o sucesso econômico; já a

sociedade pós industrial busca: o aumento da qualidade de vida; a valorização do ser

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humano; o respeito ao meio ambiente; a organização empresarial de múltiplos; e a

valorização das ações sociais, tanto das empresas quanto dos indivíduos.

Tenório (2004, p. 20) coloca que:

[…] a base conceitual contemporânea da responsabilidade social empresarial está

associada aos valores requeridos pela sociedade pós-industrial. Nessa nova

concepção do conceito, há o entendimento de que as companhias estão inseridas em

ambiente complexo, onde suas atividades influenciam ou têm impacto sobre

diversos agentes sociais, comunidade e sociedade. Consequentemente, a orientação

do negócio visando atender apenas aos interesses dos acionistas torna-se

insuficiente, sendo necessária a incorporação de objetivos sociais no plano de

negócios, como forma de integrar as companhias à sociedade.

A responsabilidade social consolida-se, desta forma, não somente como uma ação

estratégica oriunda das empresas, mas, como ação complementar a qual visa atender ás

demandas sociais, crescentes sob a ótica do Estado de Bem-Estar Social, e o mundo pós-

guerra, tomando força na década de 1950.

Todavia, é nas décadas de 1970 e 1980 que a responsabilidade social se consolida,

com a implantação dos programas de reforma de Estado, tornando-o plausível do ponto de

vista gerencial, assim como menos assistencialista e menos oneroso, do ponto de vista

orçamentário; as ações sociais oriundas de organismos não governamentais e da própria

sociedade organizada em cada um de seus nichos dão impulso ao crescimento dessas

demandas.

O discurso referente às práticas de Responsabilidade Social, no Brasil, tem seu início

nos pressupostos do que vinha sendo discutido nas regiões pioneiras do planeta, sobretudo nos

Estados Unidos e na Europa Ocidental, quanto à suas concepções e no que diz respeito às

primeiras ações e à percepção indústria e do mercado, no que se refere ao consumar de suas

ações.

Segundo Oliveira (2008, p. 65):

O interesse em Responsabilidade Social de Empresas (RSE), ou os termos similares

Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e Cidadania Corporativa (CC), vem

aumentando significativamente nos últimos anos no Brasil e no mundo. Muitas

empresas estão ávidas para atuar e mostrar o quanto são socialmente responsáveis.

Na mídia e academia tem crescido o número de reportagens, artigos e livros sobre o

tema RSC. Os governos são em geral simpatizantes do comportamento socialmente

responsável, e muitos tendem inclusive a passar algumas de suas responsabilidades

para as empresas. […] ainda existem muitos debates sobre o que exatamente é

responsabilidade social de empresas, como surgiu e como se aplica esse conceito.

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Oliveira (2008, p. 48) coloca que:

A conferência de Estocolmo, em 1972, foi um marco nos debates ambientais.

Independente da exatidão dos diagnósticos e soluções, pela primeira vez, foram

discutidas na ONU por líderes de várias nações a gravidade dos problemas

ambientais e a necessidade de se tomar uma atitude para controlá-los e preveni-los.

Até o momento, poucos países, somente 18, tinham algum órgão relacionado a

questões ambientais em nível federal. Depois da Conferência, de Estocolmo, vários

países criaram agencias para tratar das questões ambientais, e muitos adotaram

mecanismos para seu controle. Mesmo o Brasil, que foi com uma atitude cética para

Estocolmo, criou a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) para assessorar a

Presidência da República em assuntos ambientais.

O surgimento da Responsabilidade Social no Brasil, como em várias nações do globo,

sobretudo as emergentes, tem o seu marco na discussão levantada sobre temas ligados ao

Meio Ambiente e à preocupação dos Estados quanto às questões relacionadas ao clima e a

qualidade de vida nos grandes centros urbanos em virtude da poluição e da degradação do

próprio Meio Ambiente.

Passador (2012, p. 2) discute que:

No Brasil, como em toda a parte, cresce o entendimento de que uma política de

desenvolvimento social precisa da participação de novos atores. Trata-se, portanto,

de buscar parceiros fora do Estado, isto é, na sociedade ou, mais especificamente,

nas empresas privadas e no terceiro setor. O evento desta mudança de mentalidade

empresarial já pôde ser notado na “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de

Empresas”, em 1965; mas só foi mesmo em 1990 que as empresas passaram a se

preocupar com ações sociais em relação à comunidade, ao meio ambiente e ao seu

próprio corpo de funcionários, principalmente por ocasião da Conferência RIO-

1992.

Segudo Freire e Silva (2001), os primeiros indícios de ações no cunho da

responsabilidade social no Brasil são verificados, mais precisamente, no ano de 1965, com a

publicação da “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”, a qual, já nesta época,

fazia uso da expressão “responsabilidade social das empresas”, mas, foi somente na década de

1980 que uma pequena parcela das empresas que atuavam no país passou a intensificar e a

institucionalizar suas ações em defesa das questões sociais, realizando em escalas adversas

ações sociais concretas – ações estas na forma de estímulo aos seus colaboradores, para que

os mesmos se interagissem com tal, fundando suas próprias instituições sociais e fomentando

parcerias com organizações sociais (que tomou intensidade, de fato, na década de 1990).

Com a reforma e implantação do Estado gerencial, em que a otimização de recursos

assume o discurso central da administração na esfera pública (BRESSER-PEREIRA, 1996),

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ações antes observadas como de caráter público e que se encontravam alienadas nas mãos do

próprio Estado mudam de esfera e de modelo de gerenciamento – apesar do seu caráter

publicizado, passam, por direito, a ser ofertados, também, por entes privados

institucionalmente capazes de suprir às demandas dos atores sociais (Ashley et al., 2002).

Em outras palavras, mesmo que o Estado delegue para terceiros o papel de ofertar

serviços essenciais, suas responsabilidades orçamentárias para com este mesmo tipo de

serviço caem, passando o mesmo a gastar menos com áreas essenciais da sociedade, ao passo

em que, em tese, aumenta a sua capacidade de oferta, o numero de atores envolvidos e sua

eficiência gerencial.

Passador (2012, p. 3) acrescenta que:

As parcerias também constituem uma área em expansão. É o mais novo modelo de

investimentos no Terceiro Setor, que congrega recursos e esforços do governo,

empresas privadas, comunidade, ONG‟s e demais entidades do setor. Atualmente no

Brasil, os movimentos filantrópicos e de defesa da cidadania tem motivado o

desenvolvimento do Terceiro Setor. Em 1991 existiam mais de 200 mil organizações

sem fins lucrativos, empregando mais de 1 milhão de pessoas, o que coloca o setor

como o terceiro maior segmento na geração de emprego e renda no país.

Segundo Freire e Silva (2001), a consolidação da responsabilidade social no Brasil

deu-se dentro de um processo mais lento – se comparado aos Estados Unidos e Europa. Mas,

foi com o fim do regime militar e da repressão política que o se verificou no país uma

explosão de organizações sociais oriundas da sociedade civil organizada.

Para o mesmo autor, o exercício da cidadania, a qual, até então, era reprimido pelo

governo militar, toma impulso com a mesma sociedade civil organizada, em que, naquele

momento, passa a atuar de forma ativa na promoção de ações dentro do âmbito social. O

movimento de apoio à responsabilidade social, no país, ganha impulso maior na década de

1990, como consequência do surgimento de uma vasta quantidade de organizações não

governamentais e entidades sociais, corroborado nas desigualdades sociais e regionais

predominantes na sociedade brasileira, entidades e organizações estas dispostas a cumprir o

papel social, até então, aparentemente, denegrido pelo próprio Estado brasileiro.

Frente à deficiência e ineficiência da administração direta, em atender às demandas

sociais em todas as suas escalas, as empresas passam a assumir um papel proativo e

estratégico, no sentido de incorporar um discurso social pela justiça social. São por estas

razões que, em face de uma crescente cobrança por responsabilização e transparência, que se

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verifica não bastar somente atuar “responsavelmente”; há de se mostrar resultados –

resultados, sobretudo, sociais. Desta forma, desde as ultimas duas décadas passadas que se

tornou comum empresas demonstrarem sua “desempenho social” em relatórios corporativos e

na prestação de contas junto à sociedade, às comunidades e aos governos.

Ampliando a compreensão acerca da Responsabilidade Social e sua importância para

o contexto das políticas de incentivo à cultura, é observado que, de um modo dedicado e

particularizado, os conceitos contidos no que se discute sobre Responsabilidade Social nas

empresas, Filantropia e Neofilantropia e vertentes difundidas no mercado que intencionam

convergir com a ideal proposta do que seria e do que deve ser Responsabilidade Social.

Ao se discutir os conceitos inerentes à responsabilidade social, atrela-se,

automaticamente, ao discurso proposto o conceito de sustentabilidade e desenvolvimento

sustentável, haja visto que as primeiras práticas, datadas da década de 1970, de

Responsabilidade Social tomaram como ponto de partida ações no plano da sustentabilidade

ambiental, configurando, mais tarde, os conceitos abordados pela Gestão Ambiental

(ANDRADE et al., 2002).

Para Souza (2000):

O desenvolvimento sustentável como um novo modelo de gestão aponta para um

desenvolvimento contínuo, que satisfaça as necessidades sociais, econômicas e

ecológicas das presentes gerações, sem comprometer as futuras, interligando o

avanço tecnológico e econômico com desenvolvimento, e a consciência política com

a sociedade. Chama-se, então, a atenção para uma postura ética caracterizada pelo

desenvolvimento responsável.

A Responsabilidade Social tem se tornado um tema acentuadamente debatido no

âmbito das ciências empresariais, sobretudo nas ultimas décadas. A prática em questão entra

em cena, como coloca Beghin (2005), a partir do momento em que se verificam pressões

insurgentes da sociedade civil sobre as empresas e corporações com o fim de obter respostas e

soluções para com danos, assim considerados por agentes desta esfera social, ocasionados ao

meio ambiente – em virtude de ações observadas nas práticas produtivas industriais – e à

própria sociedade, como contrapartida da pressão concebida por estes entes aos governos,

vislumbrando a redução do tamanho do Estado, das obrigações das organizações para com a

esfera pública e de sua responsabilidade para com os agentes inteirados na colaboração com a

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atividade econômica – colocando-se neste discurso a flexibilização de diversos direitos

garantidos ao trabalhador, por exemplo.

O tema “Sustentabilidade” encontra-se mais associada aos conceitos de Economia

Verde do que Economia Solidária ou Social, na qual tomam pulso maior as questões ligadas à

preservação da natureza, ao desmatamento e ao crescimento sustentável do que a redução das

desigualdades, o respeito aos direitos humanos, civis e republicanos e a manutenção de uma

estrutura social que dê acesso a todos os indivíduos da comunidade aberta às oportunidades

que a sociedade oferece e que, ao mesmo tempo, parece restringir a uma determinada esfera

social.

No âmbito da cultura não se observam ações e resultados distintos. Albuquerque

(2009) coloca que ações antes tomadas e geridas pelo próprio Estado o são, agora, concebidas

por entes da sociedade civil; o mesmo Estado, como ente incentivador, age com o fim de

propiciar a melhor relação entre os atores envolvidos e os resultados o são medidos

verificando a quantidade de ações tomadas e observadas junto a estes entes. Bernhoeft (1987)

discute que para cada ação, há uma verificação e uma decisão de ordem financeira que visa à

alimentação destas ações com recursos financeiros oriundos do próprio governo.

A contrapartida racional na qual se aplica a responsabilidade cultural está na

averiguação sobre o destino desses recursos nas ações e nos resultados sociais que se obtêm

com sua prática, por via de observação da continuidade de projetos na área cultural. Quanto

mais recursos canalizados, em ordem, mais projetos acontecem, ou devem acontecer, maiores

também o são as fontes de incentivo, os recursos transitados da esfera privada para

publicizada e, em consequência, para os cofres públicos, na forma de tributação paga ao

governo, em virtude de novas ações privadas originadas (CALDEIRA, 2009).

Ao contrário do que propõe Beghin (2005), em que afirma que as ações de incentivo

do Estado vislumbram sua redução e, consequentemente, a responsabilização do mesmo para

com os anseios sociais de proteção e de um Estado de direito forte e protetor, os governos, ao

tomar tal medida, de fato, corroboram com suas ações em definitivo para agentes da

sociedade civil tecnicamente capazes de suprir as ações antes garantidas pelas instituições da

esfera pública.

Contudo, Caldeira (2009) expõe que o Estado pode se tornar mais pujante, do ponto de

vista orçamentário, menos oneroso e mais eficiente. Consequentemente, isto o torna mais

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capaz de suprir escassez de recursos, mais ativo nas ações de controle dos resultados sociais;

mais alicerçado em suas instituições e mais fortalecido junto aos organismos inteirados de

verificar o funcionamento dos programas ligados às ações de caráter publicizado (REZENDE,

1998).

O Instituto Ethos de Responsabilidade Social (2011) coloca que:

Responsabilidade Social é a forma de gestão que se define pela relação ética e

transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo

estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento

sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as

gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das

desigualdades sociais.

A definição proposta pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social, acima

proferida, toma como base a definição proposta pelo ISO 26.000, que propõe verificar as

ações de responsabilidade social, avaliá-las e normalizá-las frente às práticas ideais de

administração nas empresas e organismos da sociedade civil. Segundo ISO 26.000 (2010):

A Responsabilidade Social se expressa pelo desejo e pelo propósito das

organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos

decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na

sociedade e no meio ambiente. Isso implica um comportamento ético e transparente

que contribua para o desenvolvimento sustentável, que esteja em conformidade com

as leis aplicáveis e seja consistente com as normas internacionais de comportamento.

Também implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a

organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes

interessadas.

A institucionalização e legalização das práticas de responsabilidade social nas

empresas vislumbram a implantação de medidas de controle tais quais certifiquem a

veracidade das ações em questão junto aos organismos proponentes, agentes demandantes e a

sociedade como um todo, como exposto pela filosofia da ISO (ISO 26.000, 2010). É possível

observar que as medidas e ações a serem tomadas por este órgão vislumbrem suas ações tanto

no âmbito das normas ISO 14.000 e ISO 9.000; contudo, ao invés do enfoque nas práticas

ambientais politicamente corretas ou de Gestão da Qualidade em procedimentos e processos,

a ISO 26.000 aplica a mesma filosofia às ações em responsabilidade social.

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Em outras considerações, além de instituições dos Governos e da sociedade civil,

incluindo ONGs e comunidades dedicadas, se insere no contexto da fiscalização sobre o

comportamento ético das empresas e interessados uma instituição independente, destas esferas

e, ao mesmo tempo, dedicada à prestação de contas à sociedade, práticas de responsabilização

e transparência.

Alicerçando-se no discurso de Abrúcio (2005) acerca de Responsabilização e

Transparência (no discurso acerca de Accountability), de Albuquerque (2009) referente aos

questionamentos tangentes às ações ultimas dos Governos com fins de mobilizar recursos em

prol de ações e políticas culturais – na busca por incentivos – e Caldeira (2009), referente às

estratégias governamentais para o melhor gerenciamento dos recursos públicos e o fomento à

criação de novas redes fontes geradoras de receita para os cofres públicos, é observável que a

Responsabilidade Social insurge como preceito diferencial para a consolidação das políticas

em prol do incentivo à cultura no Brasil, sobretudo, porque os agentes potenciais inteirados

com o mercado, ou seja, empresas de grande porte capitalizadas e competitivas,

fundamentadas no interesse de obter incentivos ficais, ingressam no ramo das ações em

questão como potenciais fornecedores de recursos financeiros, nos moldes os quais o Estado

agia imperativamente, gerando o mínimo de ônus ou custos a este último.

Dessa forma, como coloca Tenório (2004), as organizações ampliam a sua posição

estratégica, ao passo em que as mesmas se interagem diretamente com os processos de

desenvolvimento e das ações de fins sociais.

Em outras palavras, a responsabilidade social, no caso brasileiro, abarca a concepção

de que, em ação conjunta com os atores da sociedade civil capazes e interessados em financiar

e incentivar ações de cunho publicizado, o Estado e os atores diretamente ligados com

projetos que, na concepção da responsabilidade pública de prestar serviço à sociedade com

fins não econômicos, podem agremiar maiores razões que fundamentem o discurso com vistas

à justificar a delegação e criação de forças externas, “não-públicas”, capazes de atender às

demandas da sociedade.

No caso das políticas de incentivo à cultura, a Responsabilidade Social se insere

como ação estratégica que permite a entes capacitados e interessados sua inserção na rede de

cooperadores com esta ação de cunho público. Cultura é de interesse público, publicizado e

instrumento capaz de conceber mudanças significativas na sociedade.

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A sociedade civil organizada, em estado comum com organismos independentes tais

quais a ISO, agem com o fim de pressionar o poder público a tomar medidas cabíveis ao

controle e regulamentação das atividades empresariais e de veracidade das ações de

responsabilidade social das organizações capitalizadas. Cabe à ISO, com suas normas

avaliativas, verificar, aprovar ou reprovar e informar à sociedade civil o estado de

cumprimento e coerência, com suas obrigações perante o contexto, o qual vem sendo

observado nas práticas gerenciais de determinadas empresas ou grupos de empresas.

É importante, entretanto, salientar que, apesar de se tratar de normas e ações

oriundas de instituição internacional não integrada a grupos governamentais ou de interesse

de mercado, a ISO, no Brasil, é representada em suas ações pelo INMETRO – Instituto

Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial –, organismo de verificação,

controle e implantação de normas e boas práticas industriais, vinculado ao governo federal.

Contrariando o discurso inerente ao modo como vem se canalizando as ações no

caráter da responsabilidade social e Neofilantropia, Friedman (1984) argumenta que se os

gestores agregam valor às ações das empresas com vias de crescimento das margens de lucro

e receita, até este momento estão eles agindo respeitosamente para com os direitos de

propriedade das mesmas empresas, de seus proprietários, acionistas e sociedade participativa.

Contudo, agregando ainda o discurso do mesmo autor, considerando que esta mesma

esfera da sociedade, independente do seu caráter de agente financeiro e capitalista das

atividade produtiva, tem-se que os resultados financeiros alcançados, em virtude das medidas

gerenciais tomadas, por parte dos administradores, gera bem-estar social, haja visto essas

mesmas ações interferirem diretamente, de um modo positivo, no respeito ao direito de

propriedade, cujo qual o é de interesse destes.

Ainda segundo Friedman (1984), o respeito ao direito de propriedade, discutido no

parágrafo anterior, vislumbra à prática do respeito ao direito de propriedade na sociedade

como um todo. O respeito ao direito de propriedade se insere no contexto do bem-estar social,

considerando que os indivíduos de uma sociedade têm direto ao acesso à propriedade privada,

desde que haja reciprocidade no respeito ao direito de propriedade de todos os indivíduos.

Abordando o conceito de Neofilantropia, Beghin (2005) discute que:

[...] para desenvolver um modelo alternativo de regulação de pobreza, qual seja, que

supere o assistencialismo puro dos filantropos tradicionais e que evite o socialismo

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dos “distributivista”, os empresários instrumentalizam e apropriam-se de valores

circulantes na sociedade como, por exemplo, ética, cooperação, solidariedade,

participação e parceria, para legitimar, de um lado, uma ação tutelar, e, de outro, seu

silêncio quanto às verdadeiras causas de produção da exclusão social.

Beghin ainda acrescenta que a Neofilantropia empresarial é:

A racionalidade econômica dos interesses privados que comanda o ativismo social e

empresarial, referindo-se ao grande bem que ela faz a empresa, reforçando junto à

sociedade sua imagem institucional e melhorando seus negócios, que é justamente o

propósito do Marketing Social.

Assim, a Neofilantropia não se trata de uma ação necessariamente filantrópica, em sua

essência, mas um novo conceito que discute formas de combate à exclusão social, valorização

da ética ambiental – angariada por empresas e atores da esfera produtiva – e demais ações

que, comumente a ótica de se gerar resultados sociais, agreguem valor mercadológico.

De acordo com os estudos de Nogueira (2002):

A relevância da Responsabilidade Social Empresarial tem se tornado cada vez maior

na área de Administração, buscando a conciliação de objetivos econômicos,

ambientais e sociais nas estratégias de negócios das empresas. No Brasil, esse

movimento ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades não

governamentais, de institutos de pesquisa e de empresas que se sensibilizaram frente

a essa questão, em especial a Ação pela Cidadania, o Instituto Brasileiro de Análises

Sociais e Econômicas (Ibase), o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e

o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Todos contribuíram para

esse movimento, congregando os esforços de empresas interessadas em colocar em

prática e disseminar a idéia da responsabilidade social.

A absorção das práticas de Responsabilidade Social por parte das empresas e demais

instituições da sociedade civil levou os Governos a repensarem suas relações com estas

entidades e a conciliação de seu posicionamento frente à sociedade. O Estado passa a observar

nas organizações de mercado não apenas um ente social, mas um parceiro social capaz de

suprir sua necessidade de poder e oferta e de atender às demandas sociais.

Dessa forma, a prestação de serviços de caráter público e social deixa de se

caracterizar como uma ação monopolista do Estado e busca sua conciliação como ação

compartilhada entre diversos entes de contexto. O Estado, dependendo da esfera em

discussão, passa a ser um dos entes de oferta de serviços básicos e ou agente fomentador de

tal oferta.

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É o caso da ação cultural, em que tanto os Governos, em suas esferas, como empresas,

pessoas físicas e instituições sociais independentes ofertam, financiam e incentivam ações

neste ramo, atendendo aos mesmos objetivos e canalizando ações que vislumbrem similares

ou equivalentes entre si. A Responsabilidade Social se insere como um conceito que abarca o

trâmite das interações entre os diversos atores envolvidos nesta causa.

5.2 Responsabilidade cultural – a responsabilidade social da cultura

A Responsabilidade Cultural se insere no contexto da responsabilidade pública das

instituições da sociedade de manter vigente a oferta de cultura e manutenção do patrimônio

histórico e cultural o qual, republicanamente, tornou-se de direito para qualquer cidadão de

uma sociedade contemporânea e democrática, o acesso, o conhecimento e o aprecio de obra.

A discussão referente aos conceitos de Responsabilidade Social encontra-se na

abordagem a que faz referência às ações de incentivo a Cultura e às propostas de fomento

cultural oriundos de agentes sociais, do mercado e dos próprios governos.

A princípio a Responsabilidade Social dá de encontro com o interesse de as

organizações angariarem imagem junto ao seu público, de modo que, com a melhor

conscientização de uma parcela significativa dos consumidores, empresas e instituições

econômicas visualizaram a existência de uma demanda potencial, que exigia maior

responsabilidade das mesmas empresas com o meio ambiente, com o bem-estar social e com

interesses não econômicos. A este discurso, Reis (2007) faz relação ao que se conhece por

Marketing Social.

É lembrado que a Responsabilidade Social aborda o Marketing Social, de acordo com

Vaz (1995), que se trata da “modalidade de ação, mercadológica, institucional, que tem por

objetivo atenuar ou eliminar problemas sociais, carências da própria sociedade, relacionadas,

sobretudo, com questões de higiene, saúde pública, trabalho, educação, habitação, transportes

e nutrição”. Kotler (1992) acrescenta que o Marketing Social pode ser definido como “gestão

de procedimentos inovadores, de cunho social, a partir da adoção de atitudes,

comportamentos, práticas individuais e coletivas desde que orientadas de acordo com

preceitos éticos fundamentados nos direitos humanos”.

Kotler (1992) coloca que o objetivo do Marketing Social é o de “gerar mudanças para

a melhoria da qualidade de vida das pessoas”. Dessa forma, embasando-se nos discursos até

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aqui propostos, as ações empresariais fundamentadas em ações sociais, caracterizadas como

Marketing Social, devem contemplar prioritariamente o bem-estar de entes envolvidos com as

causas adjacentes, independentemente de interesses ou rendimentos econômicos.

As organizações, mesmo que em consequência de suas ações sociais, para Andrade (et

al., 2002), não devem vincular processualmente seus resultados econômicos, oriundos das

mesmas ações sociais, ao crescimento em suas vendas em consequência da melhor

aceitabilidade de sua imagem no mercado. Ações de Responsabilidade Social devem

prioritariamente atender demandas sociais, estar de acordo com objetivos sociais e nunca

econômicos.

Mesmo que não exista uma legislação determinada que discipline a ação empresarial

dentro do Marketing Social, a instituição do Estado atua como agente incentivador da ação

social por parte das empresas logo que o mesmo oferta incentivos fiscais à estas, desde que

elas apliquem o montante financeiro resultante do incentivo governamental em ações e

projetos sociais. Dessa forma, conforme discute Andrade (et al., 2002), o Estado deixa de

gerar receita essencial para o custeio de atividades intrínsecas de seu portfólio de ação

governamental e social, ao passo que, tecnicamente, não incorre em ônus para o custeio da

oferta dessas ações para a sociedade.

Reis (2007) coloca que o Marketing Social é o ato de as corporações divulgarem suas

ações de fomento e patrocínio junto a uma determinada atividade social. Quando uma

corporação atua no sentido de levar ao conhecimento da sociedade as suas ações junto à

projetos e organizações culturais, tem-se aí o mesmo conceito de Marketing Social aplicado à

cultura. Marketing Cultural é o Marketing Social da cultura.

A Responsabilidade Cultural estaria, conceitualmente, de acordo com o que se propõe

ao discurso acerca da Responsabilidade Social, todavia, com foco nos dilemas referentes às

ações em Cultura. A Responsabilidade Cultural “propõe o cuidado e preservação do

patrimônio histórico e cultural” (Reis, 2003, p. 19). Antes, contudo, o mesmo autor trabalha

suas afirmações partindo do discurso acerca da cultura e seu contexto: “A menção à cultura

como o que singulariza as pessoas e os grupos, uns com relação aos outros, é comumente

definida e cobre praticamente todas as criações de um determinado povo, além de seus valores

e formas de comportamento”.

Segundo o Art. 216 da Constituição Federal de 1988, o patrimônio cultural brasileiro

pode ser definido como:

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Constituem o patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,

tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à

ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais

se incluem:

I – as formas de expressão;

II – os modos de criar, fazer e viver;

III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às

manifestações artístico-culturais;

V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

A Responsabilidade Cultural considera a preservação do patrimônio, da

expressividade popular, da história, dos registros e dos costumes, como bem coloca o Art. 216

da Constituição. Dessa forma, discutem-se as ações de incentivo à cultura, oriundas de

instituições e entidades interessadas, como medidas tomadas com o fim da manutenção da

responsabilidade social de se preservar o patrimônio cultural, que condiz com o interesse

popular de ter acesso à sua cultura e história, direito o qual garantido em Constituição.

Barbalho (2005) coloca que a Responsabilidade Cultural trata da preservação de ações, fatos e

patrimônios históricos condizentes com a colonização territorial, formação do povo,

constituição das esferas sociais e modelagem do caráter cívico do indivíduo formado naquela

sociedade.

Fazendo-se relação ao discurso referente à Responsabilidade Cultural com Marketing

Social, Kotler (1992) coloca que, efetivamente, “a atividade de instituições tão distintas como

as instituições de utilidade pública, a exemplo das ONGs, fundações, empresas comerciais e

similares, com uma determinada política de responsabilidade social e organizações sem fins

lucrativos, é tão complexa quanto a de instituições singularmente voltadas para atividades

ligadas à economia social”. Vaz (1995) complementa que Marketing Social “consiste-se nos

princípios e nas técnicas de marketing assinaladas a persuadir determinados públicos-alvo,

para que, de forma deliberativa, aceitem, rejeitem, alterem ou abandonem seu

comportamento, a fim de alinharem-se com as preferências propostas, persuadindo

indivíduos, grupos ou sociedade em geral”.

Dessa forma, o Marketing Social entra em cena como ação estratégica com finalidade

de construir e manter a boa imagem mercadológica, sobretudo, para aqueles consumidores

mais exigentes para com a responsabilidade das empresas frente à sociedade, ao meio

ambiente e ao bem-estar social.

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O conceito de Marketing Social surge ainda na década de 1970, sob o discurso de

Kotler e Zaltman, em Kotler (1996), acerca do que seria do que seria “a participação das

empresas no contexto da responsabilidade social e qual o papel das organizações econômicas

na manutenção do bem-estar social”. Marketing Social pode ser definido como “a gestão

estratégica do processo de introdução de inovações sociais, a partir da adoção de

comportamentos, atitudes e práticas, individuais e coletivas. Estas inovações sociais são

orientadas por preceitos éticos e fundamentadas nos direitos humanos, na equidade social”

(Fontes, 2008, p. 78).

O mesmo autor ainda discute que Marketing Social refere-se à gestão estratégica da

transformação e da mudança social, guiadas por preceitos éticos, equidade social e cidadania.

Logo, a função in loco do Marketing Social é viabilizar a adoção de atitudes e práticas sociais,

adeptas ao conhecimento de cidadania e comportamento cívico de um indivíduo dentro de

uma sociedade. Desde atitudes relacionadas ao respeito do espaço do próximo, ao senso

cooperativo e comunitário, à manutenção de bens históricos e culturais, a não depredação do

patrimônio Histórico e Cultural e à valorização de costumes e valores intrínsecos daquela

sociedade.

É possível verificar a existente relação entre Responsabilidade Social e

Responsabilidade Cultural e a importância do Marketing Social na eficácia das ações

propostas a tomar partido do que se propõe em ações com fins do bem-estar e preservação do

patrimônio cultural. A isto, é possível corroborar a ligação existente entre a ação empresarial,

mesmo que com fins mercadológicos, e a ação de entes da sociedade comprometidos e

interessados nas causas que envolvem a Cultura e sua disseminação na sociedade como um

todo.

Passos que envolvem a valorização, visibilidade, importância e demanda, da mesma

sociedade, à ofertas oriundas de trabalhos culturais, de fato, têm na Responsabilidade Social,

agregado ao papel desempenhado pelo Marketing Social, sua fonte potencial não apenas para

a manutenção do seu eixo operacional, mas para que agentes da sociedade civil possam ter

acesso às propostas desses trabalhos (culturais). Smiers (2006) agrega que com a revolução

nas políticas de incentivo às ações sociais, no papel da cultura, em se tratando de a

exigibilidade institucional dos governos, para com as empresas, no que tange à

responsabilidade social, tratar-se de uma revolução, foi possível garantir capacidades de se

oferecer à sociedade aquilo que haveria de mais moderno e mais obscuro em cultura.

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O fora desta forma que, para o mesmo autor, pôde-se verificar a produção cultural

tomar bases sólidas para si e tornar-se capaz de não apenas manter suas atividades, mas

incorporar inovações e técnicas de profusão ainda mais modernas.

Reis (2003, p. 22) ainda coloca que “Por fim, é flagrante o maior envolvimento da

comunidade empresarial no setor cultural, de forma cada vez mais marcante através do

patrocínio a projetos culturais que se integram à sua própria estratégia de comunicação”.

As organizações econômicas, ao promoverem a comunicação à sociedade, por

intermédio da relação de sua marca às ações em vigência na sociedade – Marketing Social,

em Fontes (2008) –, seja no financiamento a ações relacionadas a projetos culturais ligados à

música, ao patrimônio cultural, histórico ou dos costumes locais – Responsabilidade Cultural,

em Reis (2003) –, ou na participação indireta em ações de cunho social que visem à

manutenção do bem-estar social, dentre elas casas de saúde, reabilitação social e ou ações

ligadas ao Meio Ambiente – Responsabilidade Social, em Andrade et al. (2002) –, mesmo que

com cunho mercadológico, acabam por promoverem estas determinadas ações, não

econômicas, de forma que entes da sociedade civil passam a tomar conhecimento dela.

E mesmo que o comportamento do consumidor acabe por promover as condições

dessa mesma organização que abarca tais razões de cunho social, projetos sociais e culturais

acabam, também, por terem à sua oferta demandas adicionais que farão de suas ações algo

mais vigente e apreciativo dentro da própria sociedade.

Marketing Cultural está diretamente ligado à qualidade das ações tomadas no âmbito

dos projetos Culturais e do cenário a que se verifica e a inteiração destas ações com os

principais agentes fornecedores de recursos para o custeio de sua atividade. Em suma, trata-se

da relação Projetos Culturais – Organizações econômicas; deste modo, o Estado adentra a esta

relação como ente intermediador, ora disciplinando as relações entre ambas as partes, ora

institucionalizando acordos e benefícios – também, para ambas as partes.

Inicialmente, Reis (2003, p. 23) aborda a definição geral de Marketing garimpando

suas várias modalidades, conceitos e aplicações de acordo com as esferas sociais e

organizacionais, em que diz que:

Apesar de inúmeras vezes o termo marketing ser utilizado de forma depreciativa,

como vilão pernicioso para a sociedade e mola propulsora de um consumismo

infrene, essa é uma visão deturpada e distante do que o marketing apregoa. Em sua

essência, Marketing é a defesa de um melhor relacionamento entre quem oferece

uma proposta e quem a recebe, através do profundo entendimento das necessidades,

aspirações e valores de um consumidor e do que a empresa em seu mercado, com

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suas potencialidades e limitações, pode fazer para suprir essas necessidades e

aspirações. Tendo suas origens nas relações entre produtor e consumidor (marketing

de produtos e serviços), o conceito do marketing passou também a ser aplicado a

ampla gama de esferas, como entre apresentador e audiência (marketing de

entretenimento), entre governo e sociedade (marketing político), até mesmo entre

uma pessoa e a sociedade (marketing pessoal). Não é surpreendente, então, que a

definição de marketing tenha sido revista ao longo das décadas.

O mesmo autor complementa, corroborando ao discurso referente ao que é Marketing

Cultural, que “É nesse contexto que se enquadra o Marketing Cultural, usando a cultura como

base e instrumento para transmitir determinada mensagem (e, em longo prazo, desenvolver

um relacionamento) a um público específico, sem que a cultura seja uma atividade-fim da

empresa”. Reis ainda acrescenta que, dessa forma, a atividade cultural “não se confunde com

os programas e ações desenvolvidos por organizações culturais (museus, teatros, centros

culturais), intermediários culturais (promotores de artistas, curadores, produtores culturais) ou

criadores culturais, que têm na cultura seu campo de ação”.

Assim como Reis (2003), Smiers (2006) relaciona Marketing Cultura e Cultura com

ações na esfera da Responsabilidade Social, mecenato, filantropia, patrocínio e apoio.

Albuquerque (2009) coloca que Cultura é uma atividade tão capaz de se tornar autônoma,

financeiramente, quanto de se relacionar com o mercado de modo similar às ações de caráter

econômico, a exemplo de uma indústria de produção em escala ou de oferta de serviços

privados.

Brant (2004, p. 39) coloca que:

Alguns argumentos a favor do comportamento de mercado em relação à atividade

cultural podem ser arriscados. O primeiro deles é a inexorável realidade: vivemos

num país capitalista, num mundo globalizado, voltado para as relações da economia

de mercado, no qual o entretenimento se satisfaz com o consumo. Entender o

funcionamento dessas regras de mercado é questão de sobrevivência hoje, e serve

também como instrumento de repertório para os profissionais que, por questões

éticas e históricas, têm de oferecer visão crítica da sociedade ao seu público.

O mesmo autor complementa o discurso acerca do Marketing na sociedade,

corroborando com as ideias relativas à Marketing Cultural, apontadas neste trabalho,

afirmando que:

O marketing é o mais comemorado e praticado instrumento de trabalho da economia

de mercado. Dir-se-ia até que é a própria condução prática dessa economia. O olho

fixo no cliente, em suas necessidades, suas tensões, seus anseios. A consciência da

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competição e da luta pela sobrevivência, pela criação de novos nichos

consumidores, de necessidades, de oportunidades de mercado. Tudo no marketing se

diz para satisfazer o consumidor, como se ele fosse o verdadeiro “senhor”. Mas, na

verdade, tudo tem sido feito para construir esse consumidor, que é próprio objeto

das relações de produção, sendo forjado por escalas de valores que lhe impõem

quem deve ser e fazendo que precise de novos produtos criados para satisfazer esse

status quo. Enfim, tudo que uma empresa de serviços e bens de consumo tem a fazer

é criar e suprir as necessidades do seu público, entender sua cabeça, conformar seu

comportamento e oferecer produtos e serviços adequados às suas expectativas,

porém, acima de tudo, rentáveis (2004, p. 39).

A Cultura é uma atividade que envolve toda uma cadeia produtiva, da logística à ações

terceirizadas; transportes, segurança, comunicação e divulgação, merchandising, vendas,

negociação, gestão financeira e Relações Públicas são alguns dos exemplos que se inserem no

contexto da cultura como atividade econômica ou de mercado. Referente ao caso brasileiro,

em que propõe este trabalho, Reis (2007, p. 31) afirma que:

O Brasil ainda tem enorme carência de estatísticas e fontes sistematizadas de dados

relativos à área cultural, tanto dos que revelam os números do setor (riqueza

produzida, número de empregados, diretos e indiretos e seu perfil, consumo de bens

e serviços culturais), quanto dos que os explicam (estudos de tendências do

consumidor de produtos e serviços culturais, do frequentador de espaços culturais e

do praticante de atividades e cursos, por lazer).

Reis (2007, p. 31) ainda acrescenta que:

Na primeira categoria, a maior e mais detalhada pesquisa nacional de avaliação do

impacto econômico da cultura foi realizada por encomenda do MinC à Fundação

João Pinheiro, com dados do período 1985-1995. Dentre outras conclusões, o

levantamento revelou que a cultura respondia por 0,8% do PIB de 1997. Dada a

envergadura das mudanças ocorridas ou consolidadas no decênio estudado, tanto no

setor cultural (criação das leis de incentivo, realização crescente de projetos

culturais, maior parceria entre empresas e terceiro setor), quanto no campo

econômico (abertura da economia, mudança do perfil de investimentos,

globalização), a conclusão da representatividade da cultura no PIB de 1997 é, hoje,

meramente histórica e pouco reveladora da situação atual.

A inexistência de um sistema de contas, do próprio governo e ou de organismos

interligados com o mesmo, a fim de realizar o controle desses dados, fizeram, por uma

demanda considerável de tempo, levantar crenças distintas acerca da Cultura no país, como

atividade econômica e mercadológica e conferindo hipóteses distantes da realidade em que,

possivelmente, encontrava-se a realidade cultural nacional naqueles tempos e nos dias de

hoje.

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Embasado nessa quebra de conexão entre a realidade e o achismo, é possível

identificar rupturas nas relações da Cultura com entes do mercado; em outras palavras, em

virtude de estes conferirem, a partir dos registros mantidos, até então, acerca do histórico da

atividade cultural no Brasil, uma realidade nada animadora como atividade mercadológica,

entes econômicos e mercadores puderam não ter enxergado oportunidades economicamente

interessantes junto a ações culturais. Isto pode ter corroborado em reflexos negativos, do

ponto de vista da entrada de recursos na atividade em questão (Cultural), o que possivelmente

culminou em interferências negativas no que se refere ao seu crescimento – como atividade

econômica consistente.

Brant (2004, p. 39) coloca que “Encarar uma manifestação cultural como produto faz

sentido quando ela é vista, dentro de seu amplo e complexo espectro sociocultural, com foco

em seu potencial econômico direto”.

Nesse contexto, as políticas de incentivo à cultura, sobretudo propostas pelo Estado

com o fim de proporcionar melhor operacionalidade das ações no âmbito da atividade cultural

(REIS, 2003), inserem-se nesta discussão como ponto de partida para a transformação da

cultura, antes de tudo, em ação de mercado, adequando-a a realidade proposta no sistema

capitalista (BRANT, 2004), para que, então, faça-se uso do discurso da sustentabilidade da

atividade cultural a partir de políticas de fomento e incentivo.

Necessariamente, o ponto de partida dessas estratégias de sustentabilidade começa na

ação governamental, estando inserido na esfera produtiva como ente de maior capacidade para

tornar viável uma determinada atividade. Além de detentor de consideráveis fontes de

recursos, o Estado é propulsor institucional; pode sancionar leis, implantar programas de

incentivo – através de aditivos institucionais que atraiam atores econômicos e sociais para que

os mesmos se interajam com os mesmo programas – e impulsionar as relações entre os vários

entes, em questão, através de programas de bonificação e regalias – como discute Silva (1999)

em seu discurso sobre “cadeia produtiva”.

Traduzindo-se o discurso anterior, trata-se de políticas de incentivo que visam

fomentar determinada atividade. Neste caso, aqui tratado, a atividade cultural. O Estado

brasileiro enxergou que durante muito tempo as ações na área de cultura necessitavam de

impulso maior do que o que vinha sendo dado antes do período da pós-redemocratização.

Contudo, em determinados segmentos da própria Cultura, o resultado o fora inverso.

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5.3 O Estado brasileiro na promoção da cultura

Os governos da era da ditadura militar demonstraram maior interesse, no que diz

respeito à promoção cultural, junto às produções cinematográficas. Em 1969, o decreto de Lei

Nº 862 instituiu a criação e fundação da EMBRAFILME – Empresa Brasileira de Filmes

Sociedade Anônima –, uma empresa estatal que tinha como principal objetivo a produção,

edição e distribuição de obras cinematográficas em território nacional.

Segundo o Art. 2 da Lei Nº 862/69, a EMBRAFILME “tem por objetivo a distribuição

de filmes no exterior, sua promoção, realização de mostras e apresentações em festivais,

visando à difusão do filme brasileiro em seus aspectos culturais artísticos e científicos, como

órgão de cooperação com o INC, podendo exercer atividades comerciais ou industriais

relacionadas com o objeto principal de sua atividade”.

É importante observar que a atuação dos governos da Ditadura Militar em prol da

Cultura, no que concerne a obra artística teatral, musical e expositiva consentia o rígido

controle da expressão. Em parte, segundo Barbalho (1999), o mercado, durante praticamente

todo o período ditatorial, foi quem cuidou da produção e distribuição de obras musicais, na

imagem das gravadoras e redes televisivas; aos cineclubes e grupos teatrais, o Estado conferia

o rígido controle, com a justificativa de estas iniciativas irem de encontro com os interesses da

União e das propostas de governo. Quanto às ações de produção e distribuição de mercadorias

culturais, a exemplo do comércio de artesanato, não se verificam registros relativos à ações

governamentais neste cerne, no período em questão.

A composição do Capital Social da EMBRAFILME, segundo o mesmo autor, seria de:

“70% (setenta por cento) subscritas pela União, representada pelo Ministério da Educação e

Cultura, e as restantes por outras entidades de direito público ou privado”. A Lei Nº 862/69

ainda acrescenta que “Nos aumentos de capital, a participação da União nunca poderá ser

interior a 70% de sua totalidade”.

Tratava-se de uma empresa prioritariamente estatal, submetida a rígido controle

processual de suas atividades, produção e distribuição. O Estado participaria, interinamente,

das ações de veiculação, formatação e distribuição das películas, como o é colocado no Art.

10, V, prevendo “Subvenções ou auxílios da União ou dos Estados”, assim como no Art. 12,

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confirmando que “A Organização e o funcionamento da empresa obedecerão ao que for

disposto em estatuto”.

Segundo Gatti (2007, p. 14):

De acordo com a sistemática da liberação de recursos, disciplinados pela Res. INC

nº 1/67, revogada pela Res. INC nº 22/68, para a produção de filmes nacionais de

longa metragem na conformidade do disposto no art. 28 do Decreto-Lei nº 43/66,

eram exigidos do produtor nacional 50% do orçamento do filme a ser produzido,

enquanto do produtor beneficiário do favor fiscal – importador ou distribuidor de

filmes estrangeiros no Brasil – nada se exigia, já que a integralização do capital era

feita com recursos pertinentes ao Erário, pois se tratava de imposto de renda retido

na fonte e não recolhido aos cofres da União, mas nem por isso passível de ser

utilizado a bel-prazer do seu depositante. O então conselho deliberativo daquela

autarquia, ao regulamentar a aplicação do referido, ao invés de levar em conta os

interesses do produtor brasileiro, baixou a Res. INC nº 22/68, que é um instrumento

voltado exclusivamente para a defesa da economia dos importadores e distribuidores

de filmes estrangeiros no Brasil. Ao contrário de mandar dividir igualmente os

lucros obtidos com o empreendimento, podia aquele conselho optar por fórmula

mais consentânea com os interesses brasileiros, distribuindo, por exemplo, a

arrecadação da seguinte maneira:

a) 30% para a firma representante no Brasil, de interesses estrangeiros; b) 20% para

o Instituto Nacional do Cinema destinados a formar um fundo de financiamento de

filmes nacionais; e c) 50% para a firma brasileira associada. Outra fórmula poderia

ser a seguinte: a) 50% para o INC; b) 50% para a firma brasileira; e c) direito da

firma, representante de interesses estrangeiros no Brasil, explorar livremente o filme

no exterior. Adotada que fosse esta última fórmula, evitar-seia o que ocorreu com

quase todos os filmes distribuídos no exterior e produzidos à época sob esse regime:

o produtor nacional raramente se beneficiou com as arrecadações decorrentes da

exibição do filme fora do país.

Em 16 de março de 1990, a EMBRAFILME foi extinta pelo PND, Programa Nacional

de Desestatização, do então presidente Fernando Collor de Melo, conforme coloca Saurin e

Pereira (1998), como medida de enxugamento do Estado e desvinculação de organismos

autônomos da esfera pública. Contudo, com a EMBRAFILME o programa de Desestatização

contemplou o fechamento de suas portas e o encerramento total de suas atividades, ao invés

de um ato mero de desestatização. Dessa forma, desde o ano em questão até meados de 2001,

o país ficara à mercê de uma política nacional de incentivo às ações cinematográficas.

É possível destacar a EMBRAFILME como o símbolo das ações de incentivo à cultura

durante os governos da Ditadura Militar, sobretudo na década de 1970 e primeira metade da

década de 1980. Garcia (apud Gatti, 2007, p. 12) discutia a promoção de um mecanismo:

[...] para a exportação de filmes nacionais, a fim de recuperar um atraso de 20 anos

em relação a outros países possuidores de indústria cinematográfica [...] não haverá

qualquer espécie de limitação à liberdade dos produtores porque os serviços da

empresa serão opcionais.

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Segundo o Art. 2 da Lei Nº 862/69:

A Embrafilme tem por objetivo a distribuição de filmes no exterior, sua promoção,

realização de mostras e apresentações em festivais visando à difusão do filme

brasileiro em seus aspectos culturais, artísticos e científicos, como órgão de

cooperação com o INC, podendo exercer atividades comerciais ou industriais

relacionadas com o objeto principal de sua atividade.

Gatti (2007, p. 13) coloca que:

O Estado se esforçava para romper o anacronismo em que se encontrava a indústria

cinematográfica brasileira em relação às indústrias estabelecidas nos países centrais,

o que hoje pode parecer uma utopia, no entanto, naquele momento, era um fato

bastante crível.

Acrescentando à discussão o proposto no Art. 6 da Lei Nº 862/69:

As empresas titulares ou beneficiárias dos depósitos feitos na forma do art. 28 do

Decreto-Lei nº 43, de 18 de novembro de 1966, terão o prazo de 60 dias, a partir da

vigência deste decreto-lei, para apresentar ao INC o projeto destinado à realização

de filmes, acompanhado da documentação indispensável ao exame do mesmo. Findo

esse prazo, o valor registrado no Banco do Brasil S/A passará a crédito à Empresa

Brasileira de Filmes S/A para a constituição de seu capital e sua receita.

Durante primeira metade da década de 1990, boa parte dos trabalhos voltados para o

fomento e incentivo à cultura concentraram-se bem mais no levantamento de informações e

na averiguação de ações e medidas tomadas pelos diversos grupos envolvidos com a atividade

do que, meramente, no apoio e como ações de incentivo. A Lei Rouanet veio tomar curso em

sua proposta apenas em meados da segunda metade da mesma década, como coloca

Albuquerque (2009), obedecendo, os agentes inteirados com a promoção cultural, eventos e

outras ações no mesmo campo, aos critérios estabelecidos para com as relações entre estes

entes e agentes interessados em financiar as mesmas atividades – com as políticas de

incentivo fiscal.

Segundo Gatti (2005), em 6 de setembro de 2001, o governo brasileiro estabelece a

medida provisória Nº 2228-1, criando, com isto, a ANCINE, Agência Nacional de Cinema,

que tem como atribuição a regulação, fiscalização e fomento das ações de mercado do cinema

e da atividade audiovisual no país. Trata-se de uma autarquia, em caráter especial, com

autonomia administrativa e financeira, vinculada ao MinC, desde 2003. Desde este período, a

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produção cinematográfica no Brasil passou a tomar pulso significativo, tornando-se mercado

ativo e esfera cultural também beneficiada pelas Leis de Incentivo à Cultura e por entes da

sociedade interessados.

A proposta é a de que toda ação de cultura oriundas de ação de incentivo esteja

vinculada ao MinC, sem propostas ou emendas especiais, como ocorreu a exemplo da

ANCINE. Isto, além de viabilizar a comunicação das partes envolvidas – empresas, Estado e

agentes culturais –, permite o melhor controle das ações e incentivo, da identificação das

ações de cultura, das ações que vislumbram demanda por incentivo e incrementos financeiros,

e, sobretudo, categoriza essas mesmas ações de modo a tornar institucional projetos culturais

no país.

Albuquerque (2009) acrescenta que a Cultura, no Brasil, tem estado mais disciplina e

tem obtido maior atenção das entidades capacitadas a oferecê-la recursos. Fala-se de empresas

e dos próprios governos. De antemão, a gama de projetos culturais oriundos da sociedade civil

tem sido maior do que nos períodos em que a atenção do Estado tem sido mais pomposa. E

isto, apesar dos fatores exógenos, que se visualiza na tecnologia, na economia e no acesso, por

parte de entes sociais às técnicas de produção e distribuição de produtos culturais, segundo

Smiers (2006), a força do Estado tem sido essencial para motivar ações no segmento de

cultura advindo de outras esferas, que não as grandes produções, fortalecendo, sobretudo, o

caráter regional e local da oferta de Cultura.

A oferta de produtos culturais tem se fortalecido no que se relaciona ao Mainstream;

porém, agentes culturais regionais, alternativos e menos favorecidos, do ponto de vista

econômico e mercadológico, têm conseguido auferir espaço para seus trabalhos. Ambos,

segundo Smiers (2006), conseguem atualmente almejar estes resultados com o auxílio de

agentes capazes de suprir suas necessidades de recursos – empresas, governos e

patrocinadores. Em outras palavras, as políticas de incentivo à cultura têm colaborado com a

construção desse cenário.

As políticas de incentivo à cultura vêm, sobretudo, para fortalecer raízes e ações de

propostas culturais em seu âmbito regional; atender àqueles agentes que, por em virtude das

forças de mercado e da expansão dos meios de comunicação os quais, devido o seu alto poder

de penetração, acabam por inibir os mecanismos e agentes proponentes locais de

comunicação, o se sobrepõem a uma determinada proposta ou ação cultural em relação a

outra, conforme discute Kanter (1996).

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Kanter (1996, p. 31) coloca que “As mudanças políticas em direção à democracia e

aos sistemas de livre mercado no mundo inteiro podem ser compreendidas como revoluções

lideradas pelo poder de escolha em uma busca dos melhores produtos e serviços”. Um

exemplo a ser corroborado nesta discussão é o relativo aos meios de comunicação em massa.

As grandes corporações televisivas têm o poder, como coloca Kanter (1996), de moldar a

atenção e as preferências dos telespectadores com relação à determinado produto ou serviço.

O mesmo pode ser aplicado no âmbito da Cultura.

Kanter (1996, p. 34) ainda coloca que “As ideias também se movimentam rapidamente

pelo mundo através de meios de comunicação globais mais abrangentes”. O mesmo autor

ainda acrescenta que:

O processo de globalização significa uma disponibilidade cada vez maior de bens e

serviços em muitos lugares ao mesmo tempo. O intervalo de tempo entre o

lançamento de um produto ou serviço em um lugar e sua adoção em outros lugares

está caindo vertiginosamente, em especial no que se refere às novas tecnologias. A

demora entre as fases de teste local, lançamento no país de origem e disponibilidade

em países adjacentes é cada vez menos comum (1996, p. 35).

A este discurso, pode-se estabelecer um elo com a discussão referente ao tratamento

dos meios e agentes culturais no Brasil. Durante anos, inclusive após a revolução da Televisão

no país, boa parte da oferta de cultura e agentes culturais propostos pelos principais meios de

comunicação advinha das regiões mais ricas do país, sobretudo, aquelas em que estavam

instaladas as grandes redes corporativas de televisão e da indústria cultural. Com o advento da

Internet e da revolução da tecnologia e dos meios de comunicação, não que os agentes de

cultura dos grandes centros perderam força, porém, os artistas e agentes locais passaram a

dividir e competir de uma forma menos desigual por espaço em seu território – no que

concernem suas ações no plano regional e local.

Kanter (1996, p. 37) ainda coloca que “A globalização também é ajudada pela

competição além das fronteiras apoiada por um trânsito internacional mais fácil [...]”. Smiers

(2006) discute que o advento da tecnologia corroborou para com a ascensão de artistas e

grupos antes não contemplados pela indústria cultural. Reis (2003) coloca que ações exógenas

corroboraram para o mérito da ascensão de agentes culturais até então engolidos pelo mercado

e pelos grandes agentes deste meio; estas ações, sobretudo, oriundas de estratégias públicas

para a melhor promoção cultural de agentes desfavorecidos mercadologicamente.

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Kanter, diferentemente de Reis e Smiers, não faz relação ao Estado como propulsor de

mudanças ou agente fomentador de tal. Contudo, coloca ações exógenas como eixo central no

que se refere à mudança de eixos e paradigmas, sobretudo, as revoluções nas relações

colaborativas entre comunidades e na globalização.

Barbalho (1999) coloca que, no caso brasileiro, a mão do Estado vem para amenizar as

desigualdades regionais no que tange à distribuição das produções culturais e seu acesso aos

meios de comunicação, até que elas atinjam o grande público. A mão do Estado, como coloca

o mesmo autor, refere-se às ações e políticas de incentivo às instituições capacitadas a

financiar e patrocinar ações e projetos de cunho social.

Como esses mesmos projetos, em virtude de razões mercadológicas e logísticas, não

contabilizam receita suficiente para custear o próprio eixo operacional, tornando-se elas, em

boa parte, ações de cunho filantrópico e ou não econômico, faz-se necessário que as mesmas

angariem fontes de receita oriundas de doação, patrocínio e ou incentivo.

No caso da Lei Rouanet, de acordo com a Lei Nº 8.313/91, além de empresas e

doadores oriundos da sociedade civil, podendo esses doadores ser pessoas físicas ou jurídicas,

o próprio governo brasileiro oferece incentivos oriundos de seu próprio caixa, o qual é

estabelecido por um percentual arredondado entre dois e cinco por cento do total de sua

arrecadação em Imposto de Renda em todo o território nacional anualmente.

Com base nesse mesmo montante de reserva, segundo o mesmo autor, o governo

administra suas ações de incentivo através de mecanismos de Fundos de Financiamento a

projetos de cultura. São eles: “FNC – Fundo Nacional de Cultura; FICART – Fundos de

Investimento Cultural e Artístico; Políticas de Incentivo à Cultura”. Segundo o Art. 2 da Lei

Nº 8.313/91:

Os incentivos criados pela presente Leis, somente serão concedidos a projetos

culturais que visem a exibição, utilização e circulação públicas dos bens culturais

deles resultantes, vedada a concessão de incentivo a obras, produtos, eventos ou

outros decorrentes, destinados ou circunscritos a círculos privados ou a coleções

particulares.

No que se refere ao terceiro item, colocado anteriormente – “Políticas de Incentivo à

Cultura” –, como coloca o mesmo autor, é conferida autonomia a cada unidade federativa da

união para propor e operacionalizar suas ações de incentivo à cultura de forma institucional e

independente do cerne do governo federal. Contudo, o modelo a ser seguido deve obedecer à

proposta escoltada pela proposta central, conduzida pelas amarras da Lei Rouanet. Cada

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estado, assim como cada município pode conceber sua proposta de lei de incentivo à cultura,

com autonomia gerencial e orçamentária.

É possível verificar esta medida prática na Lei Câmara Cascuda e Lei de Incentivo à

Cultura Djalma Maranhão, o primeiro sendo aplicado em todo o território do estado do Rio

Grande do Norte, contemplando ações e propostas de demanda oriundas de quaisquer dos 167

municípios deste mesmo estado, e o segundo sendo aplicado ao território da sua capital, Natal.

Todas estas ações de incentivo contam com montantes financeiros oriundos de doação

de organismos privados e de caráter econômico, a exemplo de empresas, instituições, pessoas

físicas e jurídicas, como preveem as leis, segundo a Lei Nº 4.838/97, que regimenta a Lei de

Incentivo à Cultura Djalma Maranhão, do Município do Natal, sobretudo, a Lei Câmara

Cascudo (Lei Nº 7.799/99), que conta com o apoio e colaboração dos principais grupos

econômicos com atuação em seu território: Petróleo Brasileiro S.A. e Companhia Energética

do Rio Grande do Norte. Segundo o Art. 17 da Lei Nº 7.799/99:

De posse do Título de Incentivo, o Patrocinador deverá:

I - escriturar no livro de Registro de Apuração do ICMS, na coluna relativa ao

imposto devido, o valor do abatimento utilizado no período de apuração do imposto,

fazendo consignar o seguinte: “Incentivo Cultural Lei n.° 7.799, de 30 dezembro de

1999 [...];

II - preencher o Documento de Arrecadação Estadual (DARE), contendo o valor

líquido do ICMS a recolher, fazendo menção, no campo ”Observações”, à inscrição

prevista no inciso anterior.

Visualizando-se os dispositivos corroborados no Art. 17 da Lei Câmara Cascudo e do

disposto em seu texto, com relação ao propositivo de lei da mesma, constata-se a confluência

na proposta em questão com ações de Responsabilidade Social, no ato em que organizações

de cunho econômico corroborem a prestação do incentivo junto à atividade almejada. O Art.

17 orienta claramente como o agente econômico deve proceder no ato da prestação do

incentivo e sua declaração junto às autoridades competentes.

O Art. 18 da Lei Nº 7.799/99 acrescenta que:

É vedado o deferimento da habilitação quando o Patrocinador se encontra em

situação irregular perante o fisco estadual.

Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, considera-se em situação irregular o

Patrocinador quando:

I - constar indicação, no Cadastro de Contribuinte do ICMS, da existência de sócio

irregular, na forma do Regulamento do ICMS, aprovado pelo Dec. 13.640, de 13 de

novembro de 1997;

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II - constar, em seu nome ou em nome de empresas coligadas ou controladas,

registro de débitos inscrito na Dívida Ativa do Estado, ajuizado ou não, salvo se

houver sido dada garantia do crédito na forma da lei;

III - constar parcelamento de débitos com interrupção de pagamento de sua

responsabilidade ou de empresas controladas ou coligadas;

IV - haver cometido ilícitos fiscais capitulados na legislação própria do ICMS, ou ter

atentado contra a orem econômica e tributária.

O mesmo autor ainda acrescenta que:

É vedada a utilização do incentivo de que trata este Regulamento:

I - a Patrocinadores de Projetos que tenham como Proponente ele próprio, empresas

por ele controladas ou a ele coligadas;

II - a Proponente que for titular ou sócio do Patrocinador, suas coligadas ou

controladas;

III - a Projetos realizados nas instalações do próprio Patrocinador (1999, Art. 19).

O Art. 23 da Lei Nº 7.799/99 coloca que:

Caso a análise da prestação de contas final resulte na glosa de despesas do Projeto,

tornando o total de débitos efetuados inferior aos recursos transferidos pelo

Patrocinador, o saldo deverá ser devolvido ao Governo do Estado do Rio Grande do

Norte e ao Patrocinador, de acordo com os percentuais de participação de renúncia

fiscal e recursos próprios, definidos na aprovação do projeto.

Tecnicamente, verifica-se como se estabelece a relação de responsabilidade e

incentivo, por parte dos apoiadores, aos entes a serem contemplados; dessa forma, pode-se

contemplar o discurso referente à Responsabilidade Cultural, no ato do incentivo às ações

culturais com fins de preservação de patrimônio e disseminação de seus trabalhos propostos,

segundo Ansarah (1993); Responsabilidade Social, logo que se verifica a ação de determinado

ente, creditado a ações não publicizadas, promovendo propostas de cunho social e que

promovem o bem-estar à sociedade, além da promoção do respeito e da acessibilidade de tal

ação junto ao público, conforme Andrade (et al., 2002); incentivo à cultura, logo que se

institucionaliza a relação entre incentivador e beneficiário, intermediada pela ação do Estado

em conceber o controle da parte fornecedora à parte recebedora do recurso a ser contemplado,

obedecendo critérios legais e processuais, de forma disciplinada, de acordo com Reis (2003).

5.4 A responsabilização no incentivo à cultura

É sabido que é papel do Estado cuidar do bem-estar da sociedade e de seus cidadãos.

As ações de um Estado de Direito, como coloca a Constituição Federal de 1988, é de prezar

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pela equidade e isonomia na oferta de serviços de qualidade a seus cidadãos; é de direito de

todo e qualquer cidadão reivindicar junto às autoridades a prestação e garantia de serviços e

proteção social, conforme estabelecido em lei e defendido, institucionalmente, por organismos

de direito, controladoria e fiscalização da atividade pública.

De acordo com Reis (2007), a Responsabilidade Cultural está na garantia da oferta de

cultura ao cidadão, na garantia da defesa do patrimônio histórico e cultural e na manutenção

da sincronia histórica dos fatos que corroboraram com a formação da sociedade e do modo

como os indivíduos se interagem entre si, como lidam com as instituições e com o patrimônio

público.

Não se trata, somente, da oferta de cultura expositiva, como tem sido discutido nos

capítulos anteriores, a exemplo de apresentações teatrais, expressivas, musicais, folclóricas e

similares, mas da preservação e manutenção de acervos históricos, bibliotecas, bancos de

dados, patrimônios e espaços abertos ao público, a exemplo de museus e praças.

Antes do processo de redemocratização do Brasil, a instituição pública que cuidava da

manutenção do patrimônio cultural e demais outras responsabilidades com este segmento era

o Ministério da Educação e Cultura, entidade dedicada aos dois segmentos, haja visto, como

coloca Albuquerque (1999), que educação e cultura, segundo interpretações, são dois

segmentos públicos, de interesse da sociedade como um todo que se encontram e que se

relacionam diretamente. Do mesmo modo, como coloca Barbosa (1988), como um depende

do outro, a formação do cidadão, através da educação, estabelece seu ciclo cultural, suas

preferências, sua visão de mundo e sua percepção com relação aos cuidados com o patrimônio

público (logo, cultural).

Para Reis (2003, p. 149):

O setor cultural é financiado por uma variedade de fontes, entre públicas (federal,

estadual e municipal) e privadas (pessoas físicas, empresas, fundações, organizações

sem fins lucrativos). A compreensão dos entrelaçamentos entre as esferas pública e

privada e a forma como se complementam é primordial para formar o quadro maior

do financiamento da cultura.

Reis coloca que existem diversos fatores a serem tratados no âmbito das contrapartidas

a serem dadas para incentivo à atividade cultural, a tratar:

a clareza e a complexidade da política cultural;

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o grau de desenvolvimento do mercado cultural (maturidade dos produtores

culturais, meios de distribuição da produção cultural, levantamentos claros e

precisos do tamanho e das características da produção cultural no país e de sua

distribuição);

a conscientização popular do direito à sua própria cultura e a força de

demanda social;

as formas de facilitação da atuação da iniciativa privada no campo cultural

(existência de mecanismos de complementação ao financiamento público, uso de

leis de incentivo mais ou menos complexas, burocráticas e eficazes etc.);

a definição de gargalos entre produção, distribuição e mercado culturais

(2003, p. 149).

É estratégico que o Estado conte com o apoio de organizações da esfera privada como

forma de complementar seu apoio às ações no segmento de Cultura haja visto que, antes de

qualquer discurso, trata-se de uma esfera em que seus entes envolvidos são capazes de

multiplicarem recursos e divisas e estão diretamente envolvidos com a multiplicação de

capital e com a atividade produtiva. Trata-se de entes que cuidam da economia, que usufruem

de crescimento econômico, porém, que também colaboram com o crescimento da própria

economia.

Os setores público e privado apresentam diferentes motivações, públicos, objetivos e

articulações, que caracterizam participações distintas no setor cultural (REIS, 2003, p. 150). O

setor público abarca uma série de responsabilidades, atividades e setores, em suas instituições,

e demanda um esforço muito grande para fazer seu controle e seu gerenciamento.

A distribuição dos gastos governamentais é mais complexa do que em entidades mais

dedicadas e menos complexas, a exemplo de empresas – além do quê, o Estado é quem

disciplina a atividade produtiva das próprias empresas, têm o dever de regular as relações

institucionais das mesmas com a sociedade e com os cidadãos, além de promover a

jurisprudência com fins de preservar direitos e deveres – julgar cada ente social de acordo

com suas ações em julgo frente à mesma sociedade.

É possível também observar uma intersecção fundamental das práticas de

responsabilidade social das empresas com o conceito de responsabilização e Accountbility

proposto por Abrúcio (2005). Do mesmo modo como os governos, em seu estado de ação

moldado às práticas de Orientação ao Serviço Público (Public Service Orientation – PSO), as

empresas se inserem em um contexto em que tomam para si o papel de prestar contas à

sociedade e de dialogar abertamente com a mesma no que diz respeito às ações a serem

tomadas e que confluirão com impactos a ultima.

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É concebível a tese de que se torna mais viável e gerenciável, para o próprio Estado,

dividir suas ações sociais no âmbito do incentivo à cultura do que arcar com tudo isto

sozinho. Reis (2003, p. 150) agrega à discussão que as motivações diversas que incluem a

cada um envolver-se na ação de incentivo à cultura corroboram com:

O envolvimento da empresa em projetos culturais sob uma perspectiva de patrocínio

ou investimento (e não mecenato) é essencialmente motivado por um fundo

comercial. Ao patrocinar determinado projeto cultural, o setor privado busca ser

reconhecido por isso e tem por fim distribuí-lo unicamente nas praças de seu

interesse. Já o Estado tem por mote preservar e desenvolver a cultura de uma

comunidade, sem direcionamento comercial nenhum e pô-la ao alcance da maior

parcela possível da população. Embora o governo possa ser reconhecido por seu

envolvimento em determinados projetos culturais, a visibilidade não é (ou não

deveria ser) o critério básico da decisão pública. O Estado apresenta papel

primordial na promoção cultural, assegurando a diversidade estética, o acesso

público às artes, a preservação da identidade nacional, enquanto o setor privado

(salvo a parcela direcionada ao mecenato puro) tem objetivos de mercado e, em

ultima instância, necessita de uma justificativa comercial para investir em

determinado projeto e implementá-lo em uma região específica.

Com a irrevogável inteiração da iniciativa privada com as ações de incentivo à cultura,

haja visto que, sobretudo, o Estado oferta contrapartidas que incentivam às suas instituições a

participarem diretamente do eixo de incentivo à cultura no Brasil e em suas Unidades

Federativas, faz-se necessário que a institucionalização dessa relação – Estado - empresas –,

logo que, como papel de interesse público, o próprio Estado deve prezar pela equidade e

isonomia nas relações estabelecidas entre seus entes e com seus entes. Trata-se da prestação

de contas à sociedade, da abertura à participação da sociedade e agentes interessados nestas

ações, em defesa dos interesses de seus grupos de engajamento, assim como de cidadãos

comuns interessados no uso racional dos recursos públicos – por sua vez oriundos de fontes as

quais a origem está no pagamento de tributos.

Isto se fez (faz) possível com reformas e readequações institucionais no aparelho do

Estado, sobretudo no caso brasileiro, em que, antes da redemocratização em 1985, o Estado

unilateralmente decidia e julgava as ações no âmbito da cultura, desde as propostas a serem

contempladas aos entes interessados que se envolveriam com as determinadas causas, de

acordo com sua demanda em todo o processo.

Bourgon (2010) coloca que “futuras reformas precisarão continuar empurrando o

governo para além de seu papel tradicional. Irão explorar o modo como os governos podem

trabalhar com os cidadãos para produzir valor público elevado”. É imprescindível o impulso

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do Estado, em sua esfera organizacional, na efetivação de reformas cujas quais visem

melhorar o funcionamento de suas instituições, assim como permitam conceber melhorias.

Wilson (2005, p. 358) discute que:

A reforma do serviço público não é, assim, senão uma preparação de espírito para o

que se deve seguir. Ela está limpando a atmosfera moral da vida oficial pelo

estabelecimento da santidade do Serviço Público como uma responsabilidade cívica,

e tornando o serviço sem faccionismo político, está abrindo caminho à assemelhação

com os serviços de iniciativa privada. Serenando os seus estímulos, torna-o capaz de

aperfeiçoar seus métodos de trabalho.

Hambleton (1992 apud Abrúcio, 2005, p. 190) agrega que “A justificativa central para

defender o governo local não é que ele é um bom meio para prover os serviços [públicos]

necessários, o que de fato ele é, mas que ele [o governo local] capacita os cidadãos a

participar das decisões que afetam suas vidas e as de suas comunidades”.

Para Bresser-Pereira (2005), desde o momento de ruptura com o modelo burocrático,

há uma tendência à diminuição da participação ativa do Estado nas atividades de interesse

público. Isso se deve à nova orientação, do modelo gerencial, para a redução dos gastos

governamentais e para o aumento da eficiência, voltado a resultados.

Para Castells (1999 apud Lima e Moura, 2005, p. 110):

[…] a globalização do capital e a interdependência dos mercados financeiros exigem

estabilidade monetária e conversibilidade das moedas. Isto implica uma tendência

para condicionar a integração global à harmonização de políticas macroeconômicas

e convertibilidade de moedas, o que resulta numa dependência dessas políticas de

critérios orçamentários e numa política monetária dependente dos mercados

financeiros. O controle dos gastos públicos passa a ser prioritário frente aos

investimentos, limitando a intervenção estatal na economia e imprimindo novo

formato às políticas públicas.

Lima e Moura (2005, p. 110) acrescenta que:

O Estado passaria, então, a coordenar "nós de uma rede" através das diferentes

instâncias políticas, nas quais governos locais e regionais teriam maior flexibilidade

de adaptação aos fluxos globais. Também por estarem mais próximas dos cidadãos,

essas instâncias possibilitariam à população maior controle das políticas estatais e do

uso das verbas públicas. A descentralização ampliaria o espectro democrático ao

possibilitar a inserção direta dos cidadãos no debate sobre formulação e

implementação de políticas públicas, ampliando seu poder de intervenção e de

acesso a direitos.

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O mesmo autor ainda coloca que “A descentralização seria uma proposta de ação e até

mesmo uma opção político-administrativa de aproximar o local do global, estabelecendo

novas regras de relações entre o federal, o estadual e o municipal, transferindo competências e

atribuições de outras esferas para os municípios, fortalecendo e aumentando suas

potencialidades” (2005, p. 111).

Moura e Lima (2005, p. 111) afirma que:

A descentralização possibilitaria a substituição do Estado pela sociedade em

diversas situações, dando a este maior direcionamento e flexibilidade em sua

organização e atuação, assumindo um caráter negociador e interventor em situações

que demandem uma atuação mais efetiva. O Estado teria um papel de coordenador

dos vários níveis de governo, articulado a organizações da sociedade civil. A

reforma pressuporia, igualmente, a modernização tecnológica e a transparência

administrativa com o fim do funcionalismo público, tal como se apresenta na

atualidade, e sua transformação em agentes de administração.

É importante, dessa forma, deflagrar com conceitos que, de antemão, abordem as

reformas as quais os governos, sobretudo o brasileiro, em virtude do foco deste estudo, haja

visto que para o próprio Estado é estratégico abrir mão de uma parcela de sua arrecadação,

desde que os recursos desde já não presumidos o sejam ainda direcionados ações de interesse

e de responsabilidade do próprio governo. É o caso de ações em Saúde, reabilitação social,

cuidado à pessoas com autonomia debilitada, cultura, arte, políticas para a juventude e

segurança comunitária, como faz menção Bernhoefet (1987).

Pardini (et al., 2007, p. 46) afirma que:

Diante de um cenário que alinha uma constante competitividade empresarial com

uma diminuição cada vez maior da presençado Estado no setor privado da

economia, os estudos sobre os conceitos de responsabilidade social ressurgem de

forma abundante nos meios de comunicação e publicações científicas. As mudanças

ocorridas no ambiente de negócios nos últimos dez anos sinalizam que, mais do que

em qualquer outro momento da história do capitalismo ocidental, as empresas

parecem agora assumir um posicionamento proativo frente às demandas sociais que

emergem no seu entorno geográfico. É no vão entre a impossibilidade de o Estado

investir em áreas vitais para o desenvolvimento social e as pressões da sociedade por

uma atuação efetiva das organizações em favor das comunidades que emerge o

debate sobre o papel desses dois atores.

Ainda no mesmo contexto, o mesmo autor coloca que, historicamente:

Outros fatores contribuíram para a ascensão do tema da responsabilidade social

corporativa, como, por exemplo, os avanços tecnológicos e de gestão, o desemprego,

a exclusão social, os impactos negativos sobre o meio ambiente e as demandas de

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um mercado consumidor mais exigente e participativo. Esses novos elementos da

agenda organizacional desenharam um novo panorama mundial voltado para as

questões sociais. No caso brasileiro, a enorme desigualdade social ressalta ainda

mais a necessidade de inserção do tema, fazendo com que a responsabilidade social

surja como uma forma de repensar as transformações que as organizações podem

realizar nas comunidades, unindo diferentes atores sociais em torno de uma única

questão: o bem-estar da sociedade” (2007, p. 47).

A necessidade de maior competitividade das empresas, aliada à ascensão da força do

Estado no incentivo à atividade empresarial, no crescimento das corporações e na participação

das corporações nacionais no mercado internacional, o próprio mercado passa a exigir dos

governos menor intervenção no cenário econômico; diretamente, o Estado colabora com a

redução tributária incidida sobre a atividade produtiva e ou com o advento dos incentivos

fiscais.

Na ocasião da Responsabilidade Social, segundo Caldeira (2009), o Estado oferece

seus incentivos tributários às organizações que, institucionalmente, financiem e apoiem, na

forma de patrocínio, ações de caráter social, desde que sejam de interesse público e cabível à

cobertura social governamental.

Pardini (et al., 2007, p. 48) acrescenta que “Uma outra vertente de autores mostrou

certo ceticismo no tocante à noção de empresa social, negando tanto a possibilidade prática

quanto a intenção de atribuir quaisquer funções sociais específicas às organizações”. A

exemplo de Friedman (1977 apud Pardini et al., 2007, p. 48):

[...] a responsabilidade social da empresa está associada à utilização dos recursos

para maximizar o lucro dos acionistas. Mantendo-se fiel ao que caracteriza como as

“regras do jogo”, [...] as regras visam a limitar as ações daqueles que tendem a

fraudar os acionistas e os credores das organizações. Elas asseguram o respeito à

dinâmica competitiva que rege a concorrência no mercado.

Já Hayek (1967, apud Pardini et al., 2007, p. 48) discute que “o discurso da

incorporação de papéis sociais pelas empresas se traduziria em modismos de ocasião, uma

„doutrina da moda‟ (fashionable doctrine). Essas tendências, levadas às últimas

conseqüências, teriam como resultado o aumento do poder das organizações, com efeitos

imprevisíveis e indesejáveis, sobretudo se as grandes corporações passarem a determinar as

prioridades sociais, econômicas e políticas da sociedade”.

Segundo Soutello (2001, apud Pardini et al., 2007, p. 48):

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[…] as concepções de empresa surgidas recentemente têm pouca relação com os

conceitos de empresa social das décadas de 1960 e 1970. Segundo o autor, a

organização moderna mantém o caráter essencial de geração de riqueza, porém

começa a exercê-lo de forma socialmente responsável. O gradual reconhecimento

desses papéis pelas empresas constitui, do ponto de vista sociológico, um dos

aspectos fundamentais da recente evolução dos métodos de gestão organizacional.

As organizações que atuam com essa nova roupagem são denominadas de empresas

cidadãs, uma nomenclatura que ganha um número cada vez maior de adeptos nos

países industrializados e, em especial, nos países de economias emergentes.

Pardini (et al. 2007, p. 48) coloca que “Foi nas décadas de 1960 e 1970 que surgiu a

concepção de empresa social, aquela comprometida com objetivos que transcendem a simples

busca do lucro organizacional. Essa nova maneira de visualizar os papéis da organização foi

conduzida por correntes de pensamento e movimentos reivindicatórios que propunham

modelos críticos e alternativos ao capitalismo emergente”.

Deste momento em diante, o mundo corporativo e a sociedade passaram a lidar com

uma modalidade a mais de organização e de modo de se fazer mercado. O mercado

consumidor assumiria uma nova modalidade de consumidores, orientado para a concepção do

bem-estar social e do papel das organizações na manutenção deste cenário; em Andrade (et

al., 2002), organizações mais preocupadas com o meio ambiente, com ações que envolveriam

inclusão social e, sobretudo, que preenchessem as lacunas deixadas pela nova ordem

governamental, com a redução da participação do Estado nas ações sociais e no tripé básico

da manutenção do bem-estar do indivíduo (saúde, educação e seguridade), se sobressairiam na

expansão de seus mercados e na consolidação de uma emergente modalidade organizacional

de processo e direção.

Pardini (et al., 2007, p. 49) acrescenta que:

[...] é possível deduzir que esses grandes centros de poder econômico e político

interferem diretamente na dinâmica social de qualquer país. Assim, quando as

empresas assumem causas sociais, devolvem indiretamente à sociedade parte dos

recursos humanos, naturais e financeiros que consumiram para a alavancagem do

lucro de suas atividades. Essa idéia tem levado diversos pesquisadores a legitimarem

a responsabilidade social corporativa e as práticas de ações sociais exercidas pelas

organizações. São conceitos que podem ser mais bem compreendidos por meio do

entendimento do contexto social e econômico inerente à trajetória organizacional.

É concebível colocar que não necessariamente as organizações visam a manutenção do

bem-estar social e a responsabilidade para com a sociedade, meio ambiente e demais variáveis

inseridas neste contexto. Como coloca Ramos (1981), o objetivo central das organizações

econômicas é o lucro e a manutenção do bem-estar financeiro de suas finanças, do seu

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mercado e do seu crescimento. É como romper uma barreira sem fundamento visualizar as

organizações econômicas como entes interessados na sociedade e nos agentes não envolvidos

com suas atividades e com o seu crescimento.

É a partir deste ponto que se visualiza a necessidade de se identificar pontos e roteiros

a serem analisados, no que concerne a responsabilização das empresas para com o fim público

e a efetividade da ação do Estado na orientação das organizações econômicas como principais

agentes fornecedores de recurso para o funcionamento das ações sociais e inseridas no

contexto da responsabilidade social.

Quando o Estado abre mão de sua arrecadação com fins de proporcionar a agentes

econômicos capacidade para financiar ações de cunho social, automaticamente, o mesmo

Estado fragiliza suas relações como propulsores e da oferta de garantias de bem-estar para a

sociedade, colocando um agente intermediário entre ambos os lados. O Estado torna-se ente

indireto, na administração dessas relações (entre empresas e instituições operacionais de

oferta de serviços sociais para a população).

Nesse contexto, é necessário que existam equidade e responsabilização na garantia de

que o papel de ambos os lados seja cumprido, sem gerar ônus para o cidadão. Deve haver

procedimentos que garantam, por parte das empresas, o cumprimento de sua responsabilidade

junto às ações sociais.

Abrúcio (2005) coloca que a fim de atender aos interesses dos grupos envolvidos com

ações de responsabilização de medidas publicizadas, a aproximação dos grupos com a

discussão no que concernem as medidas a serem tomadas com respeito às origens dos

recursos, montantes proporcionais e modalidade de transação entre as partes envolvidas é um

dos caminhos que permeará na efetividade e eficácia dessas relações e no cumprimento das

propostas a que foram julgadas. Isto, haja visto que entes inseridos no contexto dos grupos

interessados nessas ações e na manutenção de suas atividades estarão diretamente ligados com

as discussões referentes aos procedimentos a serem adotados, junto às organizações

promotoras das ações de incentivo e junto ao próprio Estado.

Institucionalmente, estarão estes entes aptos a reivindicarem e a tornarem real a

transigência das medidas de incentivo. Ter-se-á, desta forma, uma ação pública

definitivamente efetiva e eficaz.

Segundo Bresser-Pereira e Grau (1999, apud Lima e Moura, 2005, p. 112), o “chamam

de renovação da institucionalidade política, que teria a dimensão de accountabilitty (a

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demanda frente às instituições políticas e à cidadania como sujeito político direto) e o controle

social através da participação social na formulação e/ou controle de políticas setoriais”.

Andrade (2002, apud Lima e Moura, 2005, p. 112) acrescenta que “a reforma das instituições

de representação política deveria ser complementada por formas de participação direta dos

cidadãos que extrapolariam o ato de simplesmente votar”.

Lima e Moura (2005, p. 112) coloca que “O controle social seria definido como a

forma pela qual a sociedade controla o Estado, para além das formas clássicas de

representação política, garantindo regulações sociais através de organismos e instituições não

estatais como movimentos sociais organizados, organizações não governamentais,

associações e conselhos comunitários. O fundamento do controle social seria a recriação do

espaço público com a proteção do direito à coisa pública”. O mesmo autor ainda coloca que

“Para a efetivação desse controle, a participação da comunidade é considerada fundamental.

As tentativas para fomentar essa participação não são recentes” (2005, p. 112).

Abrucio e Loureiro (2002, p. 9) coloca que:

É fácil perceber porque, historicamente, as mudanças no desenho organizacional

estão associadas a alterações nas práticas administrativas. O desenvolvimento de

burocracias profissionais foi um fator crucial na expansão e aumento da

complexidade do aparelho estatal e está fortemente associado à formação de grandes

estruturas hierárquicas, constituídas por ministérios e departamentos. As reformas

gerenciais, por sua vez, estão ligadas a um modelo organizacional caracterizado pela

redução dos níveis hierárquicos e compactação dos órgãos centrais, além da

autonomização das entidades responsáveis pela implementação de políticas e a

contratualização das suas relações com os órgãos centrais.

Abrucio e Loureiro (2002, p. 26) discute que “o problema histórico da administração

pública no Brasil não é o excesso de controle e centralização administrativa, mas, ao

contrário, a incapacidade do governo central em coordenar de forma contínua e consistente as

ações de uma burocracia fragmentada e heterogênea”.

O mesmo autor ainda coloca que não necessariamente as ações do Estado, pós-

reforma, devem visar à correta aplicação de recursos, o melhor destino dos fundos e ou o

cumprimento dos objetivos institucionais estabelecidos. Uma ação responsabilizada e

transparente do Estado moderno conta com relações horizontais entre os agentes inseridos na

instituição pública, em que a plenitude de poderes e direitos não se concentram em uma

restrita parcela de pessoas ali inseridas. A horizontalização obedece ao preceito de que todos

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cobram, fiscalizam e verificam as ações de todos, como também se tornam capazes de

colaborar com a tramitação de processos.

A isto é válido no cerne das relações intrainstitucionais e interinstitucionais, em que,

nesta ultima, verifica-se a participação, na ótica da fiscalização e da participatividade, dos

entes que se encontram no final de todo o processo – no caso deste trabalho, beneficiários e

contemplados com os recursos oriundos da esfera privada para a esfera social. Abrúcio e

Loureiro (2002, p. 58) coloca que:

Em várias ocasiões, as reformas econômicas e os programas de ajuste fiscal podem

comprometer princípios democráticos, em especial os de accountability, pois, para

se obter governabilidade, certos processos de gestão macroeconômica acabam

enfraquecendo os mecanismos de responsabilização dos governantes. Isso se dá com

a criação de agências insuladas e protegidas das pressões do restante do sistema

político, para as quais são indicados agentes não eleitos (burocratas de carreira,

acadêmicos ou profissionais do mercado) que são pouco ou nada constrangidos a

prestar contas de seus atos ou omissões ante os cidadãos.

A definição de Accountability discutida pelo mesmo autor é a de que se trata de

“responsabilização um processo institucionalizado de controle político estendido no tempo

(eleição e mandato) e no qual devem participar de um modo ou de outro, os cidadãos organizados

politicamente” (2002, p. 59). Ainda acrescenta-se que “são necessárias regras e arenas nas quais a

accountability é exercida, além de práticas de negociação ampliadas entre os atores, para tornar

mais públicas e legítimas as decisões” (2002, p. 59).

Segundo Lima e Moura (2005, p. 112):

Desde os anos 70, organismos internacionais de financiamento já recomendavam a

participação comunitária para comprometer a sociedade com o governo e criar novas

parcerias. Desde essa época, o governo brasileiro utilizava esse discurso, embora

sem grande ressonância, principalmente no meio rural, através de cooperativas de

produtores e outros programas nos quais o associativismo era incentivado de forma

intermitente e desvinculado das diversas “culturas locais”, com programas pontuais

que rapidamente eram abandonados. É desse período a recuperação do discurso

sobre a importância dos laços comunitários que poderiam ser instrumentalizados na

implementação de políticas públicas.

Em uma situação em que se verificam ações no segmento da responsabilidade social,

ações estas tomadas por parte das empresas em comum acordo com o próprio Estado, a fim de

garantir oferta de serviços básicos e sociais à população, na tangente das relações entre essas

mesmas empresas e organismos operacionalizadores da ação social, cabe ao Estado verificar a

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veracidade das transações e o cumprimento dos acordos, estabelecidos institucionalmente,

como colocam os projetos de lei; conforme o Art. 1 da Lei Nº 8.313/91:

[…] está limitada a 3% do imposto devido, tanto para pessoas físicas como para

pessoas jurídicas. O limite máximo para o aporte de recursos objeto dos incentivos

por projeto é de 3 milhões de reais. As pessoas jurídicas tributadas com base no

lucro real poderão, ainda, abater o total dos investimentos efetuados como despesa

operacional, com resultados positivos na redução do imposto devido.

O Art. 3 da Lei Nº 8.313/91 ainda acrescenta que se pode deduzir “o abatimento de

70% do imposto incidente na remessa de lucros e dividendos decorrentes da exploração de

obras audiovisuais estrangeiras no território nacional, desde que os recursos sejam investidos

na coprodução de obras audiovisuais cinematográficas brasileiras de produção independente,

em projetos previamente aprovados pelo Ministério da Cultura”.

O Art. 2 da Lei Nº 8.313/91 coloca que “Os incentivos criados pela presente Lei

somente serão concedidos a projetos culturais que visem à exibição, utilização e circulação

pública dos bens culturais deles resultantes, vedada a concessão de incentivo a obras,

produtos, eventos ou outros decorrentes, destinados ou circunscritos a circuitos privados ou a

coleções particulares”.

O mesmo artigo de lei coloca que:

Para cumprimento das finalidades expressas no artigo 1º desta Lei, os projetos

culturais em cujo favor serão captados e canalizados os recursos do PRONAC

atenderão, pelo menos, a um dos seguintes objetivos: I - Incentivo à formação

artística e cultural, mediante: a) concessão de bolsas de estudo, pesquisa e trabalho,

no Brasil ou no exterior, a autores, artistas e técnicos brasileiros ou estrangeiros

residentes no Brasil; b) concessão de prêmios a criadores, autores, artistas, técnicos

e suas obras, filmes, espetáculos musicais e de artes cênicas em concursos e festivais

realizados no Brasil; c) instalação e manutenção de cursos de caráter cultural ou

artístico, destinados à formação, especialização e aperfeiçoamento de pessoal da

área da cultura, em estabelecimentos de ensino sem fins lucrativos (2010, Art. 2º).

No próprio projeto de lei, como verificado logo anteriormente, é possível verificar

ações institucionais que colocam a participação dos entes interessados de uma forma

transparente para a sociedade, assim como de modo que a canalização dos recursos propostos

se dê dentro dos critérios estabelecidos em regimento, ao passo em que contempla medidas

que criam canais de acesso à população às obras e ofertas de cultura, desde já, fomentadas

pelo próprio Estado.

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Trata-se do item “b” do Art. 2º da Lei Rouanet, em que fala da “concessão de prêmios

a criadores, autores, artistas, técnicos e suas obras, filmes, espetáculos musicais e de artes

cênicas em concursos e festivais […]”.

Durante a consolidação do projeto de Lei de Incentivo à Cultura, ainda no Governo

Sarney, ficou estabelecido que o então denominado Fundo de Promoção Cultural atuaria

como coloca o Art. 4 da Lei Nº 8.313/91:

[…] com o objetivo de captar e destinar recursos para projetos culturais compatíveis

com as finalidades do PRONAC e de: I - estimular a distribuição regional eqüitativa

dos recursos a serem aplicados na execução de projetos culturais e artísticos; II -

favorecer a visão interestadual, estimulando projetos que explorem propostas

culturais conjuntas, de enfoque regional; III - apoiar projetos dotados de conteúdo

cultural que enfatizem o aperfeiçoamento profissional e artístico dos recursos

humanos na área da cultura, a criatividade e a diversidade cultural brasileira; IV -

contribuir para a preservação e proteção do patrimônio cultural e histórico brasileiro;

V - favorecer projetos que atendam às necessidades da produção cultural e aos

interesses da coletividade, aí considerados os níveis qualitativos e quantitativos de

atendimentos às demandas culturais existentes, o caráter multiplicador dos projetos

através de seus aspectos sócio-culturais e a priorização de projetos em áreas

artísticas e culturais com menos possibilidade de desenvolvimento com recursos

próprios.

O Art. 4 da mesma Lei acrescenta que:

§ 2º Os recursos do FNC serão aplicados em projetos culturais submetidos com

parecer da entidade supervisionada competente na área do projeto, ao Comitê

Assessor, na forma que dispuser o regulamento.

§ 3º Os projetos aprovados serão acompanhados e avaliados tecnicamente pelas

entidades supervisionadas, cabendo a execução financeira à SEC/PR.

§ 4º Sempre que necessário, as entidades supervisionadas utilizarão peritos para

análise e parecer sobre os projetos, permitida a indenização de despesas com o

deslocamento, quando houver, e respectivos "pró labore" e ajuda de custos,

conforme ficar definido no regulamento. [...]

§ 6º Os recursos do FNC não poderão ser utilizados para despesas de manutenção

administrativa da SEC/PR.

§ 7º Ao término do projeto, a SEC/PR efetuará uma avaliação final de forma a

verificar a fiel aplicação dos recursos, observando as normas e procedimentos a

serem definidos no regulamento desta Lei, bem como a legislação em vigor.

§ 8º As instituições públicas ou privadas recebedoras de recursos do FNC e

executoras de projetos culturais, cuja avaliação final não for aprovada pela SEC/PR,

nos termos do parágrafo anterior, ficarão inabilitadas pelo prazo de três anos ao

recebimento de novos recursos, ou enquanto a SEC/PR não proceder a reavaliação

do parecer inicial.

As colocações propostas pelos artigos e incisos, discutidos logo anteriormente, pela

Lei Rouanet, corroboram com o discurso de O‟Donnell (1998) acerca de Accoutability

horizontal, em que tratam da participação dos vários entes envolvidos nas distintas esferas,

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interessados em uma determinada causa de interesse técnico do governo, na fiscalização e

discussão acerca dos destinos dados a recursos oriundos do governo para ações públicas e das

medidas e decisões tomadas, por parte dos gestores, com fins de canalização desses mesmos

recursos e do saneamento das necessidades desses grupos envolvidos.

É importante acrescentar que, sempre, a participação de entes da sociedade integrantes

de outros conselhos ou grupos é aberto, mesmo que, diretamente, os interesses ali em questão

não condigam com os propostos por seu grupo.

Há a discussão referente à Accountability vertical, porém, esta mesma discussão

abarca a esfera da administração direta do executivo, interessando ao discurso a verificação da

gestão em si, e não de ações políticas e públicas, confiadas a projetos de lei e políticas

públicas, no cerne da questão, conferidas pelas instituições e organismos do Estado.

Em vistas do discurso referente à reforma do Estado e à maior participação da

sociedade nas decisões de cunho público, no que se refere à ação pública direcionada a

determinado interesse de mesmo caráter, verifica-se que as relações existentes entre

Responsabilidade Social (e suas vertentes ligadas aos conceitos de Responsabilidade Cultural,

Marketing Cultural e Social), tecnicamente, podem acrescer mais às demandas da sociedade

no que diz respeito às esferas de seu interesse.

Mesmo que o Estado diminua sua participação efetiva na oferta de serviços à

comunidade, e que ao mesmo tempo estão de acordo com o seu dever de garantir o bem-estar

à população, seguridade e proteção social, como também as garantias de acesso ao patrimônio

histórico e cultural, em virtude de se articular junto a instituições privadas e capitalizadas com

o fim de garantir recursos para a oferta destas garantias, deve o mesmo Estado prezar pela

equidade na satisfação dos entes envolvidos (sociedade, agentes promotores de ações sociais e

organizações), de forma que se gere o mínimo de ônus para a comunidade – em virtude das

reformas contundentes no plano governamental.

Desde as reformas as quais os governos no Mundo inteiro vêm passando, com ênfase

na redução de gastos do governo, na capacitação de agentes não governamentais a preencher

as lacunas deixadas pela redução da participação estatal na oferta de serviços à população,

tem-se muito ouvido falar em Responsabilidade Social e Responsabilização dos Recursos

Públicos.

Por hora, o Estado abre mão de sua arrecadação junto às empresas com o intuito de

estimulá-las a financiar ações que estão no cunho de sua oferta; a sociedade fica à mercê da

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responsabilidade de grupos de ação social, das organizações econômicas no financiamento

das ações do primeiro e dos próprios governos na fiscalização e institucionalização das

relações entre os dois primeiros e comunidade.

Mesmo que existam estratégias institucionais e mercadológicas, a exemplo das

políticas de incentivos fiscais, que vêm estimular o comprometimento das organizações com o

fim público e com os nichos da sociedade de consumo, as instituições do Estado e os grupos

interessados na oferta de ações sociais devem estar alinhados com a responsabilidade na

aplicação desses recursos e no retorno disto tudo para a sociedade como um todo. As três

esferas (empresas, Estado e grupos da sociedade civil) encontram-se com o fim de gerar

bônus para a população.

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6 A PESQUISA

6.1 Procedimentos Metodológicos

O presente estudo propõe verificar o incentivo à cultura no estado do Rio Grande do

Norte, a partir dos instrumentos públicos presentes nas leis de incentivo, da participação das

empresas privadas como entidades patrocinadoras e do papel exercido pelas entidades sociais

sem fins lucrativos, oriundas da sociedade civil, na oferta de cultura para a sociedade; tomam-

se como base os preceitos teóricos os quais concernem a Fenomenologia, em que se busca a

compreensão do fenômeno contundente ao processo de incentivo à cultura no mesmo estado.

Serão verificadas, como fonte de coleta de dados primários, entidades inseridas no

contexto operacional da cultura regional as quais são contempladas com recursos oriundos das

políticas de incentivo (Organizações Culturais, na imagem jurídica de Organizações Não

Governamentais, com o propósito de atuar na formação do “Produto Cultural Fim” e deliberá-

lo para a sociedade, sem fins lucrativos e com o apoio de empresas, em relação regimentada

juridicamente pelo Estado, através das leis de incentivo); organizações inseridas no contexto

da oferta de recursos, na contrapartida da obtenção de incentivos fiscais junto ao Estado

(empresas, destacando a entidade com maior participação no contexto regional regimentado

pela administração direta estadual e municipal, Rio Grande do Norte e Natal,

respectivamente); instituições do poder executivo local e regional que têm a atribuição de

administrar e representar a atividade Cultural em ambos os contextos da Administração

Pública (Secretarias de Cultura, Fundações e órgãos do governo incumbidos de absorver a

atribuições constituintes).

Coloca-se que serão abordadas referências bibliográficas e registros documentais dos

governos na área de Cultura – constituição, regimentos, projetos de lei, aditivos e emendas

constitucionais –, como da participação de entidades adjacentes – a exemplo de empresas e

instituições da sociedade civil.

Este estudo é caracterizado como uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório e

descritivo, em que, em verificação à especificidade do objeto de pesquisa proposto neste

trabalho, trata-se de um estudo de caso – conforme discutido por Flick (2002), em que o

mesmo agrega que, em pesquisa qualitativa, um trabalho se submete a diversas e constantes

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fases de remodelamento, abrindo espaço para novas contrapartidas de análise e interpretação

de dados.

Acrescentando-se ao discurso referente ao conceito de pesquisa qualitativa, Triviños

(1995) coloca que o pesquisador se insere em um contexto contínuo de reflexão, pensamento

e ação, em que as teorias em discussão no estudo proposto agregam o caráter científico ao

trabalho. Quanto à roupagem exploratória, Vergara (1997) afirma que uma pesquisa de tal

tipologia permite conceber uma visão geral, ao leitor, acerca do tema tratado, a fim de que ele

possa compreender as características e ações presentes e que qualificam um determinado

fenômeno.

A busca por um espectro de visão e entendimento ampliados acerca do tema,

considerando que estudos relativos a políticas públicas na área de cultura ainda o são escassos

em Administração e na área de Ciências Sociais Aplicadas, ascende o caráter exploratório

desta pesquisa; a descrição e o detalhamento do fenômeno proposto ascendem o seu caráter

descritivo.

Ao universo deste trabalho, fez-se um estudo de caso acerca da atuação das

Organizações Sociais, na imagem da Casa da Ribeira – instituição com maior

representatividade no eixo operacional da ação cultural com o apoio de empresas, sob a ótica

das políticas de incentivo à Cultura – no que se refere à relação de parceria e apoio

estabelecida entre ela e os grupos Petróleo Brasileiro S.A. e Companhia Energética do Rio

Grande do Norte, de acordo com os dispositivos previstos na Lei Rouanet, Lei Câmara

Cascudo e Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão. A relação de patrocínio e de

incentivo entre a mesma, A Casa da Ribeira, como Organização Cultural, e as empresas cujas

quais a ela dedicaram apoio e patrocínio deu-se nos moldes propostos pelos dispositivos

legais previstos pelas Leis de Incentivo à Cultura – sobretudo, estadual, na Lei Câmara

Cascudo.

As Organizações Culturais são instituições de iniciativa da sociedade civil, ou

Organizações Sociais, com interesse público de prestar serviço à sociedade, com autonomia

financeira e administrativa, em que mantém relações diretas com as instituições

representativas do Estado na consolidação de suas ações, com empresas e instituições

capacitadas a ofertar recursos para patrocínio e com grupos da sociedade civil – artistas,

grupos culturais, músicos e atores sociais inseridos nesta condição.

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Fez-se uso da Entrevista, como instrumento de coleta de dados primários. Foram

realizadas entrevistas junto aos responsáveis-chave, ou representantes gestores, das ações de

Cultura em suas esferas contextuais envolvidas, tratadas neste trabalho: Empresas privadas

que patrocinam ações no âmbito da cultura (Empresas); instituições das esferas municipal e

estadual da administração direta incumbidas de gerir a cultura e as leis de incentivo (Estado);

organizações sociais oriundas da sociedade civil que ofertam cultura para a sociedade fazendo

uso dos instrumentos legais presentes nas leis de incentivo e do patrocínio oriundo das

empresas privadas (Organizações Culturais). De acordo com o que fora discriminado

anteriormente e conferidos nos Apêndices “A”, “B” e “C”, constados neste trabalho, nos

Apêndices.

Considerando que os objetivos da pesquisa propõem vislumbrar o processo de

incentivo à cultura conferida no Rio Grande do Norte, não cabe à importância deste trabalho

colocar em questão as ações condizentes com a promoção de eventos artísticos não locais,

integrados a outro contexto ou apoiados por redes de negócios baseados em esferas

econômicas e mercadológicas, inseridas no discurso conceitual relativo à Mainstream4.

Assim, as percepções a respeito do processo de incentivo à Cultura no Rio Grande do

Norte, tratadas neste trabalho, tomam como base o funcionamento da Casa da Ribeira, como

Organização Cultural e instituição social, e sua ação junto à comunidade; são averiguadas as

relações da referida instituição com as empresas as quais a direcionam apoio e ofertam os

recursos necessários para o seu funcionamento e sua relação com as instituições de Estado.

Em outras palavras, as percepções relativas ao funcionamento de uma Organização

Cultural no Rio Grande do Norte, segundo as Leis de Incentivo à Cultura e o patrocínio

empresarial, tal qual o processo de fomento e incentivo à Cultura, tomarão como base a Casa

da Ribeira – Organização Cultural que se beneficia das políticas de responsabilidade social

das empresas e que atua dentro dos dispositivos legais colocados pelas Leis de Incentivo à

Cultura (Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão, Lei Câmara Cascudo e Lei Rouanet) –,

percepções estas obtidas a partir do estudo de caso particular desenvolvido na mesma

instituição, segundo o conceito de Deviant Case (traduzido para o português como “Caso

Desviante” ou “Estudo de Caso Desviante”) proposto por Molnar (2007, p. 1):

4 Smiers (2006) discute que o termo Mainstream se insere no discurso relativo à promoção de ações e atores de

cultura a fim de definir a tipologia dessa promoção como sendo de caráter mercadológico, voltado para

grandes massas, apoiado por uma infraestrutura diferenciada e capaz de romper barreiras geográficas,

culturais e moldais das características comportamentais de público, grupo, indivíduo e região.

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A Análise Deviant Case é o estudo de casos particulares, casos estes anómalos, com

respeito a uma determinada hipótese. Tal estudo pode, de acordo com Paul

Lazarsfeld, “refinar a estrutura teórica dos estudos empíricos, aumentar o valor

preditivo de seus achados”. Também, nos é dito que "a análise Deviant Case pode e

deve desempenhar um papel positivo na pesquisa empírica, em vez de ser apenas a

arrumação do “processo através do qual as exceções à regra empírica são dadas a

partir de alguma plausibilidade e, portanto, eliminadas”. Este breve conceito aplica-

se aos casos de investigação minimamente desviantes e está longe de ser inédito:

fora das ciências sociais o valor obtido com o estudo das exceções aparentes nos

propostos teóricos têm sido apreciados. Charles Darwin, por exemplo, infinitamente

defendeu este método. O que está faltando na literatura até o momento é um relato

razoavelmente claro e moderadamente sofisticado da lógica da análise Deviant Case.

A experiência conferida junto à Casa da Ribeira corrobora com o discurso formado

acerca do funcionamento e do processo de incentivo à Cultura no Rio Grande do Norte;

apesar de esta instituição ter o município do Natal como sua área de atuação, suas relações

com a oferta de cultura para a comunidade conferem com os dispositivos legais previstos nas

leis de incentivo à Cultura os quais disciplinam as relações entre as Organizações Culturais, as

empresas e a comunidade.

Ou seja, toda e qualquer Organização Cultural que se propõe a ofertar produto cultural

para a sociedade, obter recursos na forma de patrocínio empresarial e até os recursos oriundos

dos cofres públicos – como proposto pela criação dos fundos públicos de incentivo à Cultura

(Fundo Nacional de Cultura, a nível Brasil, Fundo Estadual de Cultura, a nível Rio Grande do

Norte, e Fundo de Incentivo à Cultura, a nível Natal) – seja em território nacional ou nas

unidades federativas, devem obedecer aos critérios colocados nas Leis de Incentivo à Cultura.

Molnar (2007, p. 1) acrescenta que:

O mais completo modelo de Análise Deviant Case de que se tem conhecimento é o

proposto por Lipset, Trow e Coleman em seu ensaio sobre exame a “I.T.U.”5. O

estímulo inicial para este estudo foi fornecido pelo contraste entre a experiência

prática observada de um sindicato democraticamente aceito e as expectativas

geradas pela lei de ferro da oligarquia, como observou Michaels. Este interesse na

“I.T.U.”, como uma exceção à lei da oligarquia, é auto-conscientemente sustentada

por toda a extensão do projeto de pesquisa. A abundância de material é, assim,

sugerida para qualquer pessoa interessada em aspectos metodológicos de Análise

Deviant Case.

5 I.T.U., ou Política Interna da União Internacional da Tipografia (do inglês, “Internal Politics of the

International Typographical Union”), publicação original de Seymour Martin Lipset, Martin Trow e James

S. Coleman, originalmente do “New York Free Press”, em 1956, segundo Molnar (2007), trata dos fatores

que influenciam a estrutura de poder e tomada de decisão nas organizações, com foco específico sobre os

sistemas políticos da democracia e da oligarquia.

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Desta forma, foram pesquisadas as instituições as quais mantinham relações diretas

com a Organização Cultural proposta neste trabalho, empresas e entidades governamentais,

estruturando o modelo de estudo Deviant Case, tal qual presente nesta pesquisa.

Assim, estão colocadas as instituições, com suas devidas informações referentes, em

suas esferas de atuação ou categoria institucional, que atuam de modo a formar o processo de

incentivo à Cultura junto à Casa da Ribeira, na imagem de Organização Cultural, conforme o

Quadro 01.

Quadro 01 – Codificação dos atores da pesquisa

Fonte: O autor, 2012.

A escolha dos atores propostos no Quadro 01 se justifica na relação desempenhada por

eles junto à Casa da Ribeira, instituição esta vislumbrada como Organização Social a ser

investigada conforme o modelo de Análise Deviant Case, ou seja, trata-se de instituições que

participam do processo de incentivo à Cultura, a partir da relação estabelecida entre

Organizações Sociais como promotoras e agentes ofertantes junto à sociedade, empresas, na

imagem de entidades patrocinadoras das ações das organizações sociais, e Estado, como

agente regulador das relações entre empresas e organizações sociais através de seus

dispositivos legais encontrados nas Leis de Incentivo à Cultura (REIS, 2007).

Esta fase do discurso levará em consideração o proposto documental conferido nas leis

de incentivo à cultura tanto abordada na Lei Nacional de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet –

como nas leis regionais de incentivo (Cultural) – Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão

(na esfera municipal da cidade do Natal) e Lei Câmara Cascudo (na esfera regional do estado

do Rio Grande do Norte).

Esfera Código Sujeito

Estado Est.1 Ministério da Cultura do Brasil

Estado Est.2 Secretaria Extraordinária de Cultura do Rio Grande do Norte

Estado Est.3 Secretaria Municipal de Cultura do Natal

Empresa Emp.1 Petróleo Brasileiro S.A.

Empresa Emp.2 Companhia Energética do Rio Grande do Norte

Empresa Emp.3 SGS Soluções Empresariais LTDA

Organização Cultural Org.1 Casa da Ribeira

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Os dados aqui apresentados são resultado da investigação realizada em sete entidades

inseridas no contexto das ações de incentivo e oferta de cultura no estado do Rio Grande do

Norte, sendo seis delas fontes de coleta de dados realizada através de pesquisa de campo com

Roteiro de Pesquisa, aplicado junto aos membros responsáveis pela manutenção das relações

estabelecidas entre sua instituição e o processo de incentivo à cultura, em cada entidade, uma

como fonte de coleta de dados oriundos somente de fontes documentais oficiais e três como

fonte de coleta de dados em ambas as modalidades (documental e campo).

Tomando como referência Reis (2007) e seu discurso sobre as entidades que dão luz

aos conceitos de Responsabilidade Cultural, as entidades pesquisadas teriam que atender aos

requisitos de estarem envolvidas, de alguma forma, com a atividade cultural, como:

instituições do Estado responsáveis pela manutenção das políticas públicas voltadas para a

Cultura; instituições de mercado com ações voltadas à Responsabilidade Social com foco na

Responsabilidade Cultura; instituições da Sociedade Civil aptas a fazerem uso dos

mecanismos de Estado para atender às demandas da comunidade aberta por cultura.

Com base em Tenório (2004), Reis (2007) e Albuquerque (2009), foram definidas três

categorias tomando como ponto de partida o discurso teórico que define os atores sociais

como entidades que dão luz à Responsabilidade Social e Responsabilidade Cultural, a partir

das seguintes categorias de análise:

Categoria C1 – O Estado no processo de incentivo à Cultura;

Categoria C2 – As Organizações Culturais no processo de incentivo à Cultura;

Categoria C3 – As empresas e sua responsabilidade junto ao processo de incentivo;

Categoria C4 – Controle Social e Transparência.

Na Categoria C1 foi verificada a participação do Estado e das entidades

governamentais no processo de incentivo à Cultura, segundo Reis (2007) e a participação do

Estado como entidade disciplinar no processo de incentivo à Cultura e nas relações entre as

empresas e as entidades culturais, quanto à: elaboração de critérios (alíneas 1, 2 e 3, do

Apêndice A); procedimentos adotados quanto à gestão dos recursos (alíneas 4, 5 e 7, do

Apêndice A); procedimentos exigidos da parte das organizações interessadas – empresas e

Organizações Culturais (alínea 6, subitens 6.1 e 6.2, do Apêndice A); sua relação com as

entidades proponentes a receber recursos e propostos no que confere à oferta dos mesmos

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(alíneas 9, 10, 11, 12, 13 e 14, do Apêndice A); conhecimento de causa quanto às outras

instituições envolvidas e as medidas de controle e de prestação de contas adotadas junto à

sociedade (alíneas 8, 15 e 16, do Apêndice A).

Na Categoria C2, foi averiguada a participação das organizações culturais e sua

importância para a consolidação do processo de incentivo e oferta de cultura para a sociedade,

em Reis (2007), acerca do surgimento de entidades sociais voltadas à promoção e manutenção

do direito à cultura por parte da sociedade, a partir das relações estabelecidas entre elas e as

empresas no âmbito da Responsabilidade Social, no conceito de Responsabilidade Cultural,

quanto à: relações entre organizações culturais, Estado, empresas e sociedade (alíneas 1, 2, 3,

4 e 5 do Apêndice C); conhecimento de causa quanto à participação das demais esferas

envolvidas (alíneas 6, 7, 8, 9, 10 e 11, do Apêndice C); procedimentos adotados quanto à

demanda por incentivos e recursos oriundos das fontes patrocinadoras (alíneas 12, 13 e 15, do

Apêndice C); origem dos recursos no processo de incentivo à Cultura (alíneas 16, 17 e 18, do

Apêndice C); conhecimento de causa quanto às outras instituições envolvidas e as medidas de

controle e de prestação de contas adotadas junto à sociedade (alíneas 14, 19, 20 e 21, do

Apêndice C).

Na Categoria C3 foi levantada a participação das empresas no processo de incentivo à

Cultura e sua importância como entidades de fomento e de propulsão das ações vivenciadas

pelas Organizações Culturais, como acrescenta Albuquerque (2009) com a essencialidade das

empresas no fator prático da atividade cultural junto à sociedade, a fim de que se propaguem

as opções e os canais levam a Cultura até o seu destino, a comunidade, a tratar: relação entre

empresa e demais esferas envolvidas (alíneas 1, 2, 3 e 4, do Apêndice B); conceito da

instituição quanto à Cultura e à responsabilidade social (alíneas 5, 11 e 14, do Apêndice B);

práticas adotadas quanto a sua política de responsabilidade social / responsabilidade cultural

(alíneas 6, 7, 8, 9, 12, 13 e 16, do Apêndice B); conhecimento de causa quanto às outras

instituições envolvidas e as medidas de controle e de prestação de contas adotadas junto à

sociedade (alíneas 10, 15 e 17, do Apêndice B).

Na Categoria C4 foi discutida a transparência, a responsabilidade na aplicação dos

recursos e o conhecimento mútuo quanto à participação de cada uma no processo de incentivo

à cultura e Responsabilidade Cultural, o grau de entendimento de cada entidade quanto à sua

responsabilidade e a responsabilidade das demais instituições, o conhecimento acerca de

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procedimentos e objetivos e o respeito aos preceitos legais garantidos na forma legal para a

sociedade.

Nos Roteiros de Pesquisa, as alíneas 15 e 16, do Apêndice A, alíneas 10 e 17, do

Apêndice B, e alíneas 14 e 21, do Apêndice C, identificam o discurso do ente entrevistado

quanto a esta categoria (Categoria C4).

Desta forma, pôde-se verificar o Grau de Interação das Entidades Envolvidas com o

processo de incentivo à Cultura, averiguando o modo como às instituições estudadas neste

trabalho estabelecem conexão com as políticas culturais, com as ações de incentivo e com a

promoção, tanto do produto cultural final, quanto de seus entes – Organizações Culturais – os

quais trabalham diretamente com a oferta para a comunidade aberta, como coloca

Albuquerque (2009, p. 24):

O acesso aos bens e serviços culturais é uma estratégia de democratização dos

valores, hábitos e conhecimentos utilizados nos processos de sociabilidade das

pessoas e grupos. Portanto, a cultura compõe uma agenda de responsabilidade social

em que o Estado, empresas e organizações da sociedade civil, comprometidas com a

mitigação das consequências da crise social e com o estabelecimento do sujeito

cidadão, contribuem com a democratização do acesso aos bens e serviços culturais,

preservação do patrimônio histórico e cultural, reforço da memória como processo

de constituição do presente e valorização dos diversos modos de vida que se

constituem nas localidades e regiões do Brasil.

Ferreira (1998) coloca que:

Há também uma crescente demanda [...] pela implantação de mecanismos de

accountability, ou seja, mecanismos que possibilitem a responsabilização daquelas

pessoas que ocupam cargos públicos, sejam eleitos ou não, por seus atos à frente das

instituições do Estado. Podendo ser entendida como a prestação de contas dessas

mesmas pessoas perante a sociedade, sendo de dois tipos: vertical, quando essa

prestação de contas se dá por meio das eleições e das reivindicações sociais através

da liberdade de opinião e de associação, bem como pelo livre acesso às informações,

sendo para isso necessária a existência de uma mídia livre. Portanto, se há uma

accountability vertical, há democracia. E a horizontal, que é mais difícil de ser

obtida, pois envolve “a existência de agências estatais que têm autoridade legal e

estão realmente dispostas e capacitadas para empreender ações que vão desde o

controle rotineiro até sanções legais ou inclusive impeachment, em relação a atos

e/ou omissões de outros agentes ou agências do Estado que podem, em princípio ou

presumidamente ser qualificadas como ilícitas” (O‟Donnell, 2000:01).

As entidades investigadas foram categorizadas de acordo com a esfera a qual ela se

insere no contexto – “Estado”, “Empresas” e “Organizações Culturais”, a fim de distribuir as

análises de acordo com as atribuições conjunturais referentes a cada uma das sete entidades

pesquisadas, conforme sua participação no meio e sua importância para a manutenção do

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ambiente favorável ao incentivo à Cultura, estando essas instituições agrupadas, identificadas

e caracterizadas, a seguir:

Estado: duas entidades governamentais com foco na atuação cultural – Fundação José

Augusto, ou FJA, instituição que atua como Secretaria Estadual de Cultura ou

Secretaria Extraordinária de Cultura (SECULTRN); e Fundação Cultural Capitania

das Artes, ou FUNCARTE, entidade a qual atua como a Secretaria Municipal de

Cultura do Natal;

Organizações Culturais: uma entidade cultural, tratando-se de um organismo de cunho

social, que têm atua na oferta e promoção de ações culturais para a população sem fins

lucrativos – Casa da Ribeira, organização não governamental que funciona como elo

entre artistas independentes locais e a sociedade, promovendo ações de entidades e

grupos (atores, cantores, escritores, produtores culturais e grupos musicais), assim

como a sua divulgação;

Empresas: duas organizações da iniciativa privada que atuam como entidades

patrocinadoras de trabalhos culturais, de acordo com os dispositivos previstos nas Leis

de Incentivo à Cultura, e que desempenham papel fundamental junto às organizações

culturais na oferta de recursos – Petróleo Brasileiro S.A. e Companhia Energética do

Rio Grande do Norte – e uma organização prestadora de serviços na área de

consultoria empresarial em responsabilidade social – SGS Soluções Empresariais

LTDA;

O Quadro 02 ilustra a distribuição dessas organizações por categoria institucional, de

acordo com suas esferas as quais corroboram, conjunturalmente, com a promoção e com o

incentivo à Cultura.

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Quadro 02 – Entidades investigadas para a Análise dos Dados

* Produto de investigação verificado na forma do discurso colocado por entidades pesquisadas e fontes

documentais oficiais de Estado.

Fonte: O autor, 2012.

As instituições de Estado ambientam as relações entre as entidades envolvidas com o

incentivo e com a promoção de Cultura para a Sociedade, através de mecanismos

institucionais; as Empresas participam da ação cultural na doação de recursos para instituições

promotoras de Cultura para a sociedade, participação esta corroborada e definida pelos

organismos governamentais; os organismos da Sociedade Civil promovem Cultura, na forma

dos autos colocados Legalmente, e atendem às demandas oriundas da comunidade aberta.

O levantamento das informações foi realizado com o auxílio de Roteiro de Pesquisa,

no qual tratava de questões relacionadas à: Relações interinstitucionais no âmbito das três

esferas – Estado, Empresas Privadas e Organizações Sociais –; Relações com a sociedade;

Procedimentos no âmbito do incentivo à cultura; Procedimentos no âmbito da

Responsabilidade Social; Procedimentos no âmbito da Operacionalização da atividade

cultural; Controle Social; Agenda; Transparência. Além disto, foram levantados documentos

que tratavam das informações inerentes à sua inserção no processo de incentivo à cultura.

Foram elaborados três Roteiros de Pesquisa, sendo, cada um, dedicado ao

levantamento das informações de cada grupo, especificamente, e abordando questionamentos

interdisciplinares, quanto a sua relação com as entidades das demais esferas, junto aos

membros integrantes de cada instituição em questão os quais lidam diretamente com o

processo de incentivo à Cultura e com a participação de sua entidade com o meio.

Estado Mecanismos de Estado Empresas Organizações Culturais Lei Câmara Cascudo

Fundo Estadual de Cultura – FEC

Lei de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão

Fundo de Incentivo à Cultura – FIC

Lei Rouanet*

Fundo Nacional de Cultura – FNC*

SECULTRN

Casa da RibeiraFUNCARTE

MinC

Companhia Energética do

Rio Grande do Norte

SGS Soluções Empresariais

LTDA

Petróleo Brasileiro S.A.

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6.2 As Análises dos Dados Coletados

6.2.1 Categoria (C1) – O Estado no processo de incentivo à Cultura

No Rio Grande do Norte, os dados relativos ao incentivo à cultura apontam que 48

milhões de reais, exatamente, foram investidos na Cultura ao longo de 11 anos, entre os anos

de 2000 e 2011. Os dados ainda apontam a substancial manutenção no aporte de recursos

renunciados pelo governo estadual com fins de direcionamento para a atividade cultural no

estado em questão no valor de quatro milhões de reais, anualmente, entre os anos de 2001 e

2010; ou seja, ainda antes da transição de governo entre os anos de 2002 e 2003, a

administração direta da referida esfera ampliou em dois milhões de reais sua renúncia fiscal –

com base nos programas de incentivo à cultura.

Segundo o Serviço Federal de Processamento de Dados (2012), no ano de 2011, todas

as somas relativas à vazão de recursos no sentido de financiar a Cultura no país, por meio da

Lei Rouanet, equivaleram a um bilhão de reais, ou seja, montante o qual o Estado abriu mão

de arrecadar e alimentar sua receita, com o fim de que o mesmo o fosse direcionado para o

patrocínio de atividades, trabalhos, projetos e entidades em atividade no meio cultural.

Esse valor o fora mantido durante a gestão que se seguiu entre os anos de 2003 e 2006

e 2007 e 2010. Com a mudança do governo, entre os anos de 2010 e 2011, a nova

administração estadual ampliou sua renúncia fiscal em mais dois milhões, totalizando seis

milhões de reais reservados à renúncia fiscal com fins de atender às demandas culturais de

dentro do estado oriundas de ações e projetos culturais de cunho social.

A Tabela 01 aponta a variação de recursos destinados à cultura, com viés na renúncia

fiscal, oriundos do governo estadual do Rio Grande do Norte, seu montante total ao longo de

10 anos, quantidade de projetos analisados (demanda real), quantidade de projetos aprovados

(demanda efetiva) e o montante de recursos (em R$) investidos anualmente em projetos

culturais de cunho social.

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Tabela 01 – Quadro Geral da Comissão Estadual de Cultura

* PROJETOS EM ANÁLISE.

Fonte: Secretaria Extraordinária de Cultura/Fundação José Augusto, 2012.

A Lei Estadual de Incentivo à Cultura, ou Lei Câmara Cascudo, como se verifica,

também, na Tabela 01, entrou em vigor em 2000, ainda na gestão do ex-governador Garibaldi

Alves Filho, e tinha como eixo central, segundo Rio Grande do Norte (2000) o estímulo ao

patrocínio civil a toda e qualquer ação ou iniciativa de natureza cultural, em todas as suas

esferas e vertentes, fosse estabelecida na forma de realização de eventos, fosse à demanda de

grupos com proposta de oferta cultural à sociedade.

Se comparado o montante referente ao ano de 2011 o qual o governo federal abriu

mão para que organizações privadas patrocinassem trabalhos no âmbito da cultura e o mesmo

montante em referência ao governo do estado do Rio Grande do Norte, seis milhões de reais

correspondem a aproximadamente 0,6 por cento do total isentado pela União junto às

empresas. Quanto à Prefeitura do Natal, não existem dados ou registros relativos à isenção

fiscal municipal para empresas que patrocinaram trabalhos culturais no mesmo ano.

A Tabela 02 ilustra os montantes destinados para a formação dos fundos públicos de

incentivo à cultura, em cada esfera de Estado, assim como o montante equivalente o qual cada

esfera de governo abriu mão de arrecadar com fins de isenção fiscal às empresas que

EXERCICIO

2000 R$ 2.000.000,00 107 9 R$ 862.945,00

2001 R$ 4.000.000,00 124 23 R$ 1.902.424,00

2002 R$ 4.000.000,00 108 23 R$ 3.166.928,10

2003 R$ 4.000.000,00 174 33 R$ 3.590.363,23

2004 R$ 4.000.000,00 114 11 R$ 2.075.860,05

2005 R$ 4.000.000,00 134 29 R$ 3.999.740,69

2006 R$ 4.000.000,00 165 34 R$ 3.989.014,43

2007 R$ 4.000.000,00 - 37 R$ 3.998.264,84

2008 R$ 4.000.000,00 23 97 (2007) 22 R$ 3.610.976,80

2009 R$ 4.000.000,00 80 26 R$ 2.974.517,46

2010 R$ 4.000.000,00 71 24 R$ 2.239.726,14

2011 R$ 6.000.000,00 90* 20 R$ 3.362.971,02

TOTAL R$ 48.000.000,00 1287 291 R$ 35.672.233,74

VALOR DA

RENÚNCIA

PROJETOS

ANALISADOS

p. APROVADOS

E FINANCIADOS

VALOR DO ICMS

(GOVERNO)

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financiaram projetos e ações no âmbito da cultura. Salienta-se que os dados correspondem ao

ano de 2011, de acordo com o SERPRO (2012), SECULTRN (2012) e FUNCARTE (2012):

Tabela 02 – Recursos destinados à Cultura (em R$) e relação percentual, em 2011

Fonte: O autor, 2012.

Observa-se que o item “TOTAL”, ilustrado na Tabela 02, o é colocado com o fim de

orientar a soma de recursos das três esferas, haja visto que o que se investe em cultura no

Brasil corresponde à soma de todos os recursos investidos pelos Governo Federal, por todas

as unidades federativas e todos os municípios cujos quais têm políticas e ações de incentivo.

A ausência de informações, quanto ao montante destinado para Incentivos Fiscais

oriundos da Prefeitura do Natal e dos Fundos de Incentivo de origem do governo do estado do

Rio Grande do Norte, deve-se ao fato de, em ambos os casos, as devidas esferas não terem

dado ação aos repasses em discussão, segundo justificativa: “o Governo do Rio Grande do

Norte estaria na fase de discussão da política de formação de Fundo Estadual de Cultura com

recursos do próprio governo do estado”, como colocado por Est.2; Est.3 alegou que não

houve demandas aos dispositivos os quais proporcionam incentivos a empresas e entidades

financiadoras.

Tomando como base a Tabela 02, se levado como referência o montante investido pelo

Governo Federal na Cultura, tanto através da Lei Rouanet como por via do seu Fundo de

Incentivo, a Tabela 03 ilustra, comparativamente, o investimento efetuado pelas esferas

estadual e municipal, discutidas neste trabalho, e a relação percentual entre estas duas ultimas

esferas e a ação da União.

Esfera de Estado Incentivo fiscal Fundos de incentivo Total %

Federal R$ 1.000.000.000,00 R$ 310.000.000,00 R$ 1.310.000.000,00 99,51%

Estadual R$ 6.000.000,00 R$ 6.000.000,00 0,46%

Municipal R$ 400.000,00 R$ 400.000,00 0,03%

Total R$ 1.006.000.000,00 R$ 310.400.000,00 R$ 1.316.400.000,00 100,00%

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Tabela 03 – Relação entre investimento Federal, Estadual e Municipal na Cultura

em 2011 (em R$)

Fonte: O autor, 2012.

Como ilustrado nas Tabela 02 e Tabela 03, os investimentos efetuados pelo Governo

do estado do Rio Grande do Norte e pela Prefeitura Municipal do Natal, no ano de 2011,

equivalem a menos do que meio por cento do que a União destina de recursos e arrecadação

para serem alocados para a Cultura.

Ainda que, em 2011, o governo do referido estado tenha expandido em dois milhões

de reais os recursos a serem destinados à Cultura, e que o Fundo Estadual de Incentivo

estivesse em fase de discussão, os recursos destinados, além da consolidação de um Fundo

Municipal de Incentivo, em vigor ainda no mesmo ano, a soma de ambos os valores

equivalem a menos de um por cento do investido pelo Governo Federal.

Como colocado por Est.2, “serão destinados 15 milhões de reais para a cultura, tudo

saindo do caixa do próprio governo do estado, para ser investido anualmente. O projeto de lei

sofreu algumas mudanças, que estão colocadas em três emendas: terá que ter quatro

representantes da classe artística no Conselho Gestor de Política Cultural; aprovadas as

propostas daqui enviadas para o Sistema Nacional de Cultura, teremos até 180 dias para que

nos adequemos; meio por cento dos recursos destinados à cultura previstos pela Constituição

Federal poderão corresponder a até um e meio por cento. A renúncia fiscal continuará a ser

direcionada à Lei Câmara Cascudo, falo isto porque, em discussão na câmara dos deputados, a

emenda três pôs nos trouxe a possibilidade de empresas obterem isenção fiscal, caso elas

depositassem recursos no Fundo, mas, aconteceu de essa proposta não ter vingado”.

Segundo a Lei Complementar Nº 460, de 29 de dezembro de 2011, 50% do total dos

recursos do Fundo Estadual de Cultura, FEC, será destinado às demandas oriundas da Região

Metropolitana do Natal; os outros 50% serão direcionados aos demais municípios do interior.

Esfera de Estado Incentivo Fiscal Fundos de incentivo Total %

Municipal R$ 400.000,00 R$ 400.000,00 0,03%

Estadual R$ 6.000.000,00 R$ 6.000.000,00 0,46%

Federal R$ 1.000.000.000,00 R$ 310.000.000,00 R$ 1.310.000.000,00 100,00%

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Quanto à distribuição dos recursos por segmento cultural, 15% será destinado ao “Patrimônio

Arquitetônico Tombado”, 05% para o “Sistema Estadual de Bandas de Música”, 05% para o

“Sistema Estadual de Bibliotecas”, 05% para o “Sistema Estadual de Museus”, 40% para

ações de interesse do estado e possíveis ações de interesse dos municípios norte rio-

grandenses e 30% para outras demandas oriundas da própria classe artística, corroboradas

através de editais.

A Tabela 04 ilustra a distribuição desses recursos, de acordo com a relação percentual

destinada a cada demanda discriminada no parágrafo anterior do patrimônio cultural a ser

beneficiado pelos recursos do FEC.

Tabela 04 – Distribuição dos Recursos do FEC por demanda cultural

Fonte: O autor, 2012.

O FEC, como se observa, fará parte da agenda de Estado do Governo do Rio Grande

do Norte, ainda que iniciado e implantado na atual gestão estadual. Trata-se de uma política

de Estado, a qual coexistirá com a Política de Incentivo à Cultura com o mecanismo da

isenção fiscal e a participação de várias entidades envolvidas no contexto – empresas e

Organizações Não Governamentais, na imagem de instituições apoiadoras e operacionais,

junto com o próprio Estado, na identidade de agente regimentador, e artistas, na imagem de

promotores de cultura para a sociedade.

Dessa forma, considerando que os investimentos em Cultura realizados pela esfera de

governo, através do FEC, oriundos de sua receita, somem-se às aplicações efetuadas por

entidades patrocinadoras na forma de incentivo fiscal, através de empresas e entidades de

Demanda % Interior Total

Patrimônio Arquitetônico Tombado 15,00% R$ 1.125.000,00 R$ 1.125.000,00 R$ 2.250.000,00

Sistema Estadual de Bandas de Música 5,00% R$ 375.000,00 R$ 375.000,00 R$ 750.000,00

Sistema Estadual de Bibliotecas 5,00% R$ 375.000,00 R$ 375.000,00 R$ 750.000,00

Sistema Estadual de Museus 5,00% R$ 375.000,00 R$ 375.000,00 R$ 750.000,00

Ações de Interesse da Administração Direta 40,00% R$ 3.000.000,00 R$ 3.000.000,00 R$ 6.000.000,00

Outras Demandas da Classe Artística 30,00% R$ 2.250.000,00 R$ 2.250.000,00 R$ 4.500.000,00

Total 100,00% R$ 7.500.000,00 R$ 7.500.000,00 R$ 15.000.000,00

Região

Metropolitana

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cunho econômico, no âmbito das três esferas, federal, estadual e municipal, haja visto que a

criação e implantação dos Fundos de Incentivo à Cultura não extinguirão os mecanismos

propostos pelas Leis de Incentivo, verifica-se um crescimento de um por cento sobre a reserva

de recursos públicos que era destinada à ação cultural, conforme exposto na Tabela 05, até o

ano de 2011.

Tabela 05 – Reserva de Recursos públicos que serão destinados à Cultura

(variação anual estimada para 2012)

Fonte: O autor, 2012.

Apesar do crescimento estimado de mais de um e meio por cento entre os períodos de

2011 e 2012, no total de recursos a serem investidos na Cultura, o crescimento percentual

logo que se leva em conta a criação do FEC no Rio Grande do Norte está estimado em

aproximadamente cinco por cento, como se verifica a aplicação de 15 milhões de reais,

somado ao total, em 2011, de 310 milhões e 400 mil reais, conforme ilustrado na Tabela 06.

Tabela 06 – Crescimento relativo do investimento público em Cultura

(estimado para 2012)

Fonte: O autor, 2012.

Esfera de Estado Incentivo Fiscal Fundo de Incentivo Total %

Municipal R$ 400.000,00 R$ 400.000,00 0,03%

Estadual R$ 6.000.000,00 R$ 15.000.000,00 R$ 21.000.000,00 1,60%

Federal R$ 1.000.000.000,00 R$ 310.000.000,00 R$ 1.310.000.000,00 100,00%

Variação Bruta R$ 1.006.000.000,00 R$ 325.400.000,00 R$ 1.331.400.000,00 101,63%

Período Incentivo Fiscal Fundos de Incentivo Total

2011 R$ 1.006.000.000,00 R$ 310.400.000,00 R$ 1.316.400.000,00

2012 R$ 1.006.000.000,00 R$ 325.310.400,00 R$ 1.331.310.400,00

Variação Bruta R$ 14.910.400,00 R$ 14.910.400,00

Crescimento relativo (em %) - 4,80% 1,13%

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Os dados ilustrados na Tabela 06 toma como referência o estado do Rio Grande do

Norte, considerando o Fundo Estadual de Cultura com reservas orçamentárias de 15 milhões

de reais em verba pública, os 310 milhões de reais oriundos do Fundo Nacional de Cultural,

do governo federal, e o Fundo de Incentivo à Cultura, FIC, da Prefeitura do Natal. Desta

forma, o crescimento relativo de aproximadamente cinco por cento, conforme ilustrado, e de

um por cento, dizem respeito ao montante disponível pelo Estado brasileiro para serem

captados pelas entidades e pelas ações no âmbito da Cultura dentro da unidade federativa em

questão.

Se considerados apenas os Fundos de Incentivo e as políticas de isenção fiscal locais,

esse crescimento corresponderá a mais do que 234%, sendo este corroborado pelos 3.750% de

crescimento a ser alçado, somente, pela implantação do Fundo Estadual de Cultura, conforme

ilustrado na Tabela 07.

Tabela 07 – Crescimento relativo do investimento público em Cultura no estado

do Rio Grande do Norte (estimado para 2012)

Fonte: O autor, 2012.

Coloca Est.2 que “a criação do FEC não atingirá a Lei Câmara Cascudo; a manutenção

da lei pelo governo apenas serviria de medida para fortalecer o fundo, como falamos

anteriormente, sobre a proposta colocada pela câmara dos deputados”. Em nenhuma das duas

esferas pesquisadas, quando colocadas em questão a continuidade das políticas de incentivo

através da isenção fiscal, verificou-se ser considerada a extinção das leis de incentivo em

substituição dos Fundos de Incentivo à Cultura. O próprio MinC, de acordo com Brasil

(2012), considera em seu balancete os recursos oriundos da política de isenção fiscal como

parte do montante a ser investido na Cultura em 2012.

Período Incentivo Fiscal Fundos de incentivo Total

2011 R$ 6.000.000,00 R$ 400.000,00 R$ 6.400.000,00

2012 R$ 6.000.000,00 R$ 15.400.000,00 R$ 21.400.000,00

Variação bruta - R$ 15.000.000,00 R$ 15.000.000,00

Crescimento relativo (em %) - 3750,00% 234,38%

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A Tabela 07 ilustra também o crescimento auferido pelas ações de incentivo à cultura

no Rio Grande do Norte oriundas de sua administração direta, como reflexo das medidas

tomadas pelo governo federal, desde a criação do Fundo Nacional de Cultura às medidas

expansionistas no que dizem respeito à reserva de verbas públicas para serem aplicadas na

atividade cultural. Isto pode significar não somente um marco divisor de águas no que diz

respeito à participação do Estado como maior fomentador da ação cultural em toda a

sociedade norte rio-grandense, todavia e, sobretudo, um fato inédito na manutenção de um

ambiente progressivamente favorável para a melhor interação de todas as entidades

envolvidas na atividade cultural presente nesta unidade federativa – a contar da

disponibilidade de dois mecanismos institucionais, sendo os Fundos Públicos e as Leis de

Incentivo.

A Lei Câmara Cascudo, como é possível verificar, apresenta-se como um espelho

norte rio-grandense da Lei Rouanet, abordando da mesma forma as condições as quais dão

impulso ao incentivo à cultura proposto pela Lei Nº. 8.313/91, em que o Estado dá a

contrapartida para que seus agentes sociais interajam-se de forma proativa, a fim de dar

impulso às ações sociais de cunho cultural. O Estado brasileiro, a partir deste projeto de lei,

transfere suas atribuições republicanas, os quais lhes resguardavam o dever de garantir à

sociedade o direito ao acesso à Cultura, para a sociedade civil (Pessoas Físicas, empresas e

organizações não governamentais), dando a contrapartida de abrir mão de parte de sua

arrecadação cuja qual, em tese, serviria de bônus para a atuação do próprio Estado em prol de

sua Responsabilidade em prol da Cultura e do Patrimônio Histórico.

No Rio Grande do Norte, esta realidade não se dá de forma diferente. O mesmo estado

como ente federativo, atua no âmbito de sua autonomia administrativa de forma a

institucionalizar suas ações direcionadas à garantia do direito ao acesso à cultura local e

regional por parte da sociedade norte rio-grandense. Assim como na Lei Rouanet, a Lei

Câmara Cascudo garante a renúncia fiscal cobrada na forma de ICMS – Imposto Sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços –, que compõe as fontes de receita do governo estadual

e que se procede na declaração de Imposto de Renda dos entes inteirados, de alguma forma,

com a atividade econômica beirada no território do Rio Grande do Norte.

Desta forma, o Estado isenta-se do dever de garantir promoção e acesso à Cultura, por

parte da sociedade, porém, estabelece condições para que as entidades em seu território

instaladas o façam, sob a condição de prestar contas e de tornar verossímil a interatividade

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entre agentes propositores e proponentes; o Estado garante a oferta e o acesso à Cultura, ao

patrimônio histórico e cultural, e institucionaliza a veracidade de sua promoção, oferta e

acesso.

Na esfera municipal não é diferente. A Fundação Cultural Capitania das Artes, ou

FUNCARTE, em sua sigla institucional, em suas atribuições de Secretaria Municipal de

Cultura, atua de acordo com as normas e artigos estabelecidos na Lei Nº 4.838/97, do Fundo

de Incentivo à Cultura – também identificado pela sigla FIC –, que regulamenta as ações

inerentes à Lei Municipal de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão, e que tem como objetivo

“[…] fomentar a produção de bens culturais públicos ou a viabilização de projetos culturais

de interesses coletivos no âmbito municipal. Poderão se beneficiar pessoas físicas ou

jurídicas, cadastradas no Cadastro Municipal de Entidades Culturais (CMEC)” (NATAL,

1997).

Apesar de sua atuação estar focada nos limites geográficos do Município do Natal,

capital do Rio Grande do Norte, sua proposta converge com o propósito colocado pela Lei

Câmara Cascudo, que por sua vez se coloca em conformidade com a Lei Rouanet. O FIC

atende às seguintes modalidades, no âmbito da promoção de ações culturais e preservação de

patrimônio no mesmo âmbito, a fim de atender às demandas da sociedade, de acordo com o

colocado no Decreto Nº 9.432/11:

I – PATRIMÔNIO IMATERIAL: poderão ser inscritos projetos que visem à

preservação e difusão da memória, da história, das tradições, usos e costumes

coletivos característicos da cidade de Natal, em todas as áreas artístico-culturais. II –

ORGANIZAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ACERVOS: bancos de dados e

pesquisas de natureza cultural: poderão ser inscritos projetos que visem à

sistematização e à recuperação de acervos artísticos e documentais de cunho

cultural, à elaboração e à manutenção de bancos de dados na área de cultura e ao

desenvolvimento e publicação de pesquisas de natureza cultural. III – INCENTIVO

ÀS ARTES CÊNICAS E DANÇA: projetos de montagem e/ou temporada de

encenação de peças teatrais, espetáculos circenses ou de bonecos; projetos relativos

a dança em suas diversas modalidades, igualmente de grupos folclóricos originais

e/ou tradicionais. IV - FOMENTO À PRODUÇÃO DE NOVAS LINGUAGENS

ARTISTICAS: poderão serem inscritos projetos de produção e circulação de

segmentos de artes visuais, design, música, performances, arte eletrônica e literatura,

voltados para experimentação e investigação de novas possibilidades expressivas no

campo artístico. V - PRODUÇÃO AUDIOVISUAL: projetos de realização de

roteiros de documentário ou de ficção e de animação […] (NATAL, 2011).

Ainda segundo o mesmo decreto de lei:

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Compete à Fundação Cultural Capitania das Artes – FUNCARTE: I – planejar,

executar e acompanhar a política cultural da Cidade do Natal; II – mapear, difundir e

reforçar a identidade cultural da Cidade; III – desenvolver atividades de preservação

do patrimônio histórico cultural e artístico no âmbito do Município; IV – promover a

realização de eventos e festejos populares culturalmente significativos; V – realizar

atividades de incentivo ao folclore e todas as formas de cultura popular; VI –

desempenhar ações de apoio às artes nos estágios de formação, fomento e fruição;

VII – implantar a política de qualificação profissional na área artístico-cultural; VIII

– desenvolver estudos, projetos, propostas de trabalho que reforcem o turismo

cultural no Município; IX – implantar a política de incentivos fiscais para

financiamento de projetos culturais no Município, atendendo à demanda dos artistas,

empreendedores e produtores culturais; X – atender e orientar, com cordialidade, a

todos quantos busquem informações referentes às intervenções a cargo da Fundação

Cultural Capitania das Artes – FUNCARTE; XI – exercer outras atividades previstas

em lei específica ou Regulamento (NATAL, 2011).

Verifica-se que, apesar de instituída em 1997, o FIC foi regulamentado apenas em

maio de 2010, com o fim de obedecer a mesma proposta institucional observada nas Leis

Câmara Cascudo e Lei Rouanet. Coloca Est.3: “tanto aos projetos colocados na lei de

incentivo como no Fundo municipal de incentivo à cultura, os proponentes precisam,

primeiro, estar cadastrados no CMEC; a gente pede documentação, uma comprovação de que

ele já atua na área cultural, que ele é domiciliado no município, para poder obter entrada com

o seu projeto. Sem ser cadastrado, ele não vai poder angariar esses benefícios”.

O CMEC atua no controle cadastral de proponentes (entes e entidades demandantes

por patrocínios, verbas e recursos destinados à Cultura, a exemplo de artistas, produtores

culturais e organizações não governamentais que atuam na área cultural) e propostos

(empresas e entidades doadoras desses recursos voltados à atividade cultural). A FUNCARTE

tem total autonomia administrativa no que diz respeito à sua ação no segmento cultural

municipal, atuando como entidade gestora, promotora e controladora de todas as ações de

incentivo e fomento à cultura junto ao município ou que faça uso de suas atribuições

republicanas de garantir acesso à cultura e ao patrimônio histórico e cultural; o CMEC auxilia

a FUNCARTE no respaldo operacional de suas ações de incentivo – corroborando com os

critérios colocados nos processos seletivos de projetos, entes e trabalhos a serem

contemplados com os benefícios propostos pelo FIC, emitindo pareceres, quanto as ações de

incentivo à cultura no âmbito municipal, e fazendo a manutenção do registro a das

informações a respeito das entidades propostas e proponentes, projetos e valores

orçamentários.

Coloca Est.3: “na Lei Djalma Maranhão, o proponente precisa preencher um

formulário próprio de projetos, que é o nosso formulário padrão, acompanhá-lo de toda a

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documentação dele, novamente, a mesma documentação que ele incluiu no cadastro lá junto

ao CMEC, porque é uma forma da comissão”, julgadora dos projetos propostos para se

inserirem na Lei Municipal de Incentivo à Cultura, “analisar o currículo dele proponente e,

trazer, também, propostas de orçamento e patrocínio das empresas, já que ele vai preencher o

formulário e nele colocar o orçamento necessário para a execução do seu projeto e

informações financeiras, como consta e é exigido no mesmo; ele precisa discriminar todos os

custos necessários, aqui neste formulário, para ele realizar o projeto, além de objetivos,

justificativa, metodologia, cronograma de atividades. A comissão vai verificar os itens mais

relevantes do orçamento de seu projeto e, para isso, ele precisa trazer as propostas dadas pelas

empresas, que é para a comissão poder comparar como é que ele está trabalhando o preço

dele, se optou por mais baixo, ou se pelo intermediário ou pelo mais caro, o porquê de ter

escolhido estes preços, o mais caro ou o mais barato. Trata-se de uma preocupação da

comissão”.

A comissão de que trata Est.3 faz parte do organograma da FUNCARTE para

aprovação e designação dos projetos a serem contemplados pela Lei Djalma Maranhão e

enquadra-se nos procedimentos operacionais diretos colocados em prática por esta mesma

instituição. A autonomia administrativa da FUNCARTE aplica-se à averiguação, aprovação e

verificação dos montantes orçamentários a serem ofertados aos proponentes pela lei de

incentivo à cultura municipal.

Coloca Est.3: “a Lei Djalma Maranhão disponibiliza para os interessados duas

modalidades de incentivo e patrocínio: o Fundo de Incentivo à Cultura, que faz uso de verba

pública para atender às propostas colocadas por artistas e qualquer interessado em promover

alguma atividade artística, cultural, etc., e a isenção fiscal, em que o próprio artista obtêm

patrocínio financeiro de empresas e entidades dispostas a doar dinheiro para o seu projeto ou

trabalho”.

Como agrega Est.3, “a isenção fiscal acertada junto à empresa ou proposto que oferece

patrocínio a um projeto cultural ocorre através de incentivos graduais sobre o ISS”, ou

Imposto Sobre Serviços, de ordem municipal, que visa formar a receita do próprio município

e que o é cobrada na Declaração Anual de Imposto de Renda junto a entidades, pessoas físicas

ou jurídicas, envolvidas com alguma atividade ou movimentação de cunho econômico dentro

dos limites geográficos do mesmo. “É bom salientar que quando se fala em isenção fiscal não

se fala em não pagamento do imposto, porque essa isenção é proporcional ao valor bruto dado

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ao projeto cultural como patrocínio, ou seja, a empresa que incentiva obterá isenção de igual

valor ao doado ao projeto; o percentual de isenção é calculado depois, sobre o total que ele

paga à prefeitura, de acordo com a sua receita bruta”.

Supondo-se que uma determinada empresa de grande porte instalada no Município do

Natal doe “X” reais a uma entidade cultural, que sua receita é “Y” reais, gerada anualmente, e

que ela paga “Z” reais de imposto na forma de ISS à Prefeitura do Natal, também anualmente,

no ato da declaração anual do Imposto de Renda, o montante, em reais, obtido na forma de

isenção fiscal sobre o mesmo ISS cobrado corresponderá exatamente ao mesmo montante

doado àquela entidade proponente; o percentual relativo à sua doação, em conformidade com

sua Receita Anual e o montante total pago na forma de tributo à prefeitura será mensurado

após a apuração desses valores brutos, conforme ilustrado no Quadro 03.

Quadro 03 – Composição bruta e percentual dos montantes pagos e arrecadados

para reconhecimento de ação de incentivo

Unidade Bruta (em R$) Estimativa Percentual sobre Unidade Bruta (em %)

Receita Anual Y Y / 1

ISS arrecadado Z Z / Y

Doação X X / Y

Fonte: Fundação Cultural Capitania das Artes, 2012.

A Figura 02 apresenta os procedimentos correntes os quais são submetidos os projetos

colocados a fim de obter aprovação para enquadramento no programa municipal de incentivo

à cultura do Natal.

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Figura 02 – Procedimento para inclusão e aprovação de projeto cultural em

programa de incentivo

Projeto Cultural

(Demanda por Incentivos)

FUNCARTE

CMEC

Cadastro e Respaldo

Entidade / Ente

Patrocinador

Entidade / Ente

Beneficiário

Comissão

Julgadora

Fonte: O autor, 2012.

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Verifica-se que, como coloca Est.3, a CMEC está integrado à estrutura organizacional

da SEMEC; a Figura 02 ilustra uma relação em termos de unidade orçamentária, na qual a

aprovação dos projetos a serem contemplados pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura ou

do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura é de inteira responsabilidade da FUNCARTE,

atribuição a qual depende do controle das informações quanto ao cadastro de instituições e

entidades, repasse de recursos, oriundos de verba pública, ou institucionalização de patrocínio

originado da sociedade civil para um determinado projeto cultural (a exemplo do patrocínio

empresarial, neste contexto) com fins garantidos por lei de incentivo, tudo isto sob

manutenção e respaldo da CMEC.

As entidades beneficiárias, ou seja, artistas e ou proponentes de projetos na área

cultural e organizações culturais, demandam as empresas ou entidades patrocinadoras, com o

fim de obter recursos para financiarem suas atividades e projetos; seus projetos o são

submetidos à avaliação por parte da Comissão Julgadora da FUNCARTE, que, verificará se

todos os requisitos colocados pelo proponente obedecem às exigências outorgadas por ela

como instituição (através de formulário o qual deve conter informações de cunho operacional,

orçamentário e metodológico), de acordo com o proposto pela própria FUNCARTE; a mesma

FUNCARTE dá o seu respaldo à entidade patrocinadora, quanto à institucionalização do

montante doado ao proponente, assim como o registro do referido montante para desconto na

forma de isenção fiscal sobre o ISS, cobrado através da declaração anual de Imposto de

Renda.

Na esfera estadual, no que corresponde ao proposto pela Lei Câmara Cascudo, não se

verificam fundos de reserva de verba pública para serem direcionados à Cultura (atender a

demanda de projetos culturais e proponentes artísticos). A Tabela 01 ilustra os montantes

anuais os quais o governo do estado se dispôs a abrir mão em prol da manutenção de seus

programas de incentivo à cultura na contrapartida da isenção fiscal junto às entidades

pagadoras de ICMS.

Diferente do que se verifica junto à administração Municipal e a Fundação Cultural

Capitania das Artes, na esfera da administração direta do governo do estado do RN, como

coloca Est.2, “existe uma instituição, lograda como fundação, que assumiu a atribuição de

operacionalizar as atividades inerentes à atividade cultural no estado similarmente a uma

Secretaria Estadual de Cultura e essa instituição é a Fundação José Augusto. O governo

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estadual do Rio Grande do Norte não possui secretaria de cultura; desde o ano 2011, ele

instituiu a Secretaria Extraordinária de Cultura do Rio Grande do Norte”, identificada,

também, pela sigla SECULTRN, ou SECULTRN/FJA, “que tem como objetivo dar aval a

todas os trabalhos culturais com o auxílio do governo do estado”.

A Fundação José Augusto foi criada em abril de 1963, dia 08 daquele mês, mais

precisamente, e é mantida, nos dias atuais, pelo governo do estado do Rio Grande do Norte,

assumindo os atributos de, segundo o Decreto nº 4.068 (1963):

Estimular, desenvolver, difundir e documentar as atividades culturais do estado, bem

como as manifestações de cultura popular; desenvolver um plano editorial visando a

promoção do autor potiguar e nordestino; desenvolver pesquisa sócio-econômico-

cultural visando ao conhecimento da realidade estadual; promover ações voltadas

para a preservação do patrimônio arqueológico, histórico e artístico do Estado

(restauração, conservação e manutenção de bens móveis e imóveis); coordenar e

apoiar tecnicamente as atividades do Sistema Estadual de Bibliotecas e dos museus

ligados à instituição; planejar, coordenar e supervisionar as atividades do Teatro

Alberto Maranhão, Instituto de Música Waldemar de Almeida, Orquestra Sinfônica

do Rio Grande do Norte e Cidade da Criança; defender o patrimônio histórico

arqueológico, científico, cultural e artístico do Estado; sediar e presidir o Conselho

que administra a Lei Estadual de Cultura – a Lei Câmara Cascudo (RIO GRANDE

DO NORTE, 1963).

Ainda segundo o mesmo decreto:

A FJA foi criada em 8 de abril de 1963 no Governo Aluízio Alves através da Lei n

2.885 de 08/04/1963 e regulamentada pelo Decreto n 4.068 de 29/05/1963 que a

instituiu como Fundação e definiu os Estatutos. De suas atribuições iniciais além de

se constituir um centro de estudos e documentação com uma estrutura que abrangia

o Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais, o Museu de Arte e História e a

Biblioteca Pública de Estado, destacava-se o aspecto de formação superior, com a

responsabilidade de gestão da Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, da Faculdade

de Filosofia, Ciências e Letras de Natal, e, em 1968, da Faculdade de Sociologia e

Política e da Escola Superior de Administração (RIO GRANDE DO NORTE, 1963).

A FJA assume a atribuição de, também, manter instituições de propriedade pública,

desde que caracterizadas como instituições de preservação do patrimônio cultural e ou de

promoção de ações e eventos culturais para a sociedade norte rio-grandense, a exemplo de

museus, bibliotecas públicas e teatros públicos estaduais. A FUNCARTE, contudo, cuida do

patrimônio municipal na realização de avaliações e de contratação de serviço, via licitação,

para manutenção, reparação de infraestrutura, avaliação, diagnóstico estrutural e obras de

expansão.

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Contudo, segundo coloca Org.1, “a própria sede da FUNCARTE não é contemplada

com obras de manutenção de sua estrutura, a começar que o edifício dela é um patrimônio

histórico da cidade. Há mais de ano que o prédio da FUNCARTE não recebe uma obra de

reforma, cheio de fios de eletricidade pendurados, rebocos das paredes caindo e até salas sem

funcionar. O Teatro Sandoval Wanderley”, teatro de propriedade municipal, “esta fechado há

mais de cinco anos, por interdição judicial”, interdição efetuada pelo Corpo de Bombeiros do

Rio Grande do Norte em 26 de março de 2010, após um ano e meio de fechamento para

reformas e justo no presente dia de sua reabertura, “por causa da precariedade na

infraestrutura do mesmo, o que mostra a total falta de ação da gestão municipal até na

realização competente de uma obra de reforma, que visava atender, inclusive, uma

necessidade de proteção e de segurança das pessoas que o frequentassem, uma determinação

colocada por uma entidade competente na área,”, no caso, o mesmo Corpo de Bombeiros,

“que nem mesmo foi atendida. Eles tiveram um ano e meio para fazer isso e não fizeram... E,

agora, o teatro está fechado”.

Verifica-se, desta forma, ineficiências operacionais na execução de procedimentos

instituídos no texto da Lei Municipal de Incentivo à Cultura; observa-se que o dever da esfera

executiva da administração direta municipal não tem sido cumprido quanto aos critérios legais

os quais garantem a integridade do patrimônio cultural nos limites geográficos do município

em questão. “A preservação e manutenção da integridade física, das instalações, da

infraestrutura e das mínimas condições que propiciem o funcionamento dos estabelecimentos

em posse da prefeitura e que, de alguma forma, viabilizem a promoção de algum evento

cultural é de responsabilidade da gestão municipal”, como coloca Est.3.

Coloca Est.3: “a prefeitura deve averiguar essas condições e, para isso, tem à

disposição da FUNCARTE uma equipe que faz esse trabalho; se as instalações se encontram

em condições precárias ou que exijam algum reparo, essa equipe comunica à FUNCARTE

para que as providências cabíveis sejam tomadas. Geralmente, contratamos uma empresa

privada especializada na área de construção civil e que faz reparos na parte estrutural, elétrica,

hidráulica, para que essas providências sejam tomadas; quem se responsabiliza por tomar

essas medidas somos nós do Setor de Contratos e Convênios, que, de posse de todos esses

laudos levantados por essa equipe que faz a averiguação da estrutura desses estabelecimentos,

teatros, casas e outros prédios”, em condições de realização de quaisquer ações no âmbito

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cultural, “que abre concorrência, na forma de licitação, para contratar a empresa que

apresentar a melhor oferta de serviço, o melhor preço, o melhor tempo de execução”.

No que diz respeito aos Fundos Públicos destinados à Cultura, é verificado que os

mesmos não se tratam de uma política inserida no contexto das leis de incentivo; trata-se de

medidas que convivem e que atuam de forma paralela uma à outra, sem se agregarem. “Na

verdade”, coloca Org.1, “os Fundos Públicos destinados à Cultura em nada têm a ver com as

Leis de Incentivo à Cultura ou as renúncias que os governos fazem, na cobrança de imposto

das empresas para que elas patrocinem trabalhos culturais, artistas, produtores e instituições,

como a Casa da Ribeira, o Circo da Luz ou o TECESOL, ou seja, projetos sociais nisto que

estamos conversando; os Fundos de Incentivo à Cultural, tal qual temos na prefeitura e,

recentemente, no governo do estado”, do Rio Grande do Norte, neste caso, “assim como no

governo federal, o FNC”, Fundo Nacional de Cultura, “são recursos destinados pelo próprio

governo a fim de atender às demandas oriundas da sociedade civil, sejam de artistas, sejam de

nós, produtores culturais, etc., ainda que existam as Leis de Incentivo. Podemos ver que os

Fundos de Incentivo à Cultura não colocarão em xeque a política de isenção fiscal do

governo, muito pelo contrário. Isto só tem a fortalecer a capacidade da própria sociedade de

fazer cultura e de ela mesma ter acesso à cultura, a eventos culturais, ao seu patrimônio

cultural, que lhes é de direito”.

Coloca Est.2: “o Fundo Estadual de Incentivo à Cultura não vem como medida

protelar que visa erradicar o projeto do governo de dar isenção fiscal às empresas para que

elas patrocinem trabalhos artísticos e artistas. Na verdade, é uma medida complementar, que

já vem sendo discutida há um bom tempo, tanto na esfera estadual como na esfera federal, e

que visa garantir uma quantidade „X‟ de recursos do próprio governo para ser investido na

cultura, seja em obras, seja no trabalho de artistas, na reparação do patrimônio e até na

realização de eventos. Trata-se de um valor na ordem de dois por cento do PIB, por ano, que o

governo federal pretende investir, somadas a atuação das três esferas da administração direta”,

municípios, estados e união, “mais o que cada governo abre mão de sua arrecadação fiscal

para que empresas e outras entidades patrocinem trabalhos artísticos, culturais, etc”.

As entidades continuarão a interagirem-se entre si, seja no intuito de captar recursos,

como se verifica na relação despendida entre empresas fornecedoras de recursos e entidades

captadoras as quais buscam patrocínio para as suas atividades, seja entre estas e o Estado, com

o fim de institucionalizar a relação que caracteriza a complacência que denomina a ordem de

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incentivo e patrocínio – isenção fiscal equivalente ao montante doado na forma de patrocínio,

emissão de carta de incentivo e reconhecimento das entidades envolvidas.

O Estado atuará, também, de forma proativa e não somente regulatória, como proposto

nas Leis de Incentivo, destinando um percentual de sua receita para o segmento e

direcionando-o tanto para as entidades proponentes como para a manutenção do Ambiente

Cultural – seja na ampliação e na reforma do patrimônio cultural, seja na manutenção e no

controle do mesmo, conforme a Figura 03.

Figura 03 – O Eixo do Incentivo à Cultura, os Fundos Públicos de Incentivo e as

Leis

(ESTADO)

Fundos públicos

De Incentivo à

Cultura

(EMPRESAS)

Leis de Incentivo

à Cultura

(ONGs)

Entidades

Sociais

Produtores

Culturais

Artistas

Fonte: O autor, 2012.

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Uma das estratégias protelares dos Fundos Públicos de Incentivo à Cultura está na

manutenção e na melhor oferta de infraestrutura para que entidades promotoras de eventos,

sejam elas as organizações da sociedade civil, sejam empresas, sejam produtores culturais, ou

mesmo o próprio Estado, possam dar execução às suas atividades. Geralmente, elas fazem uso

de Centros Históricos ou de áreas de convívio (a exemplo de praças públicas), além de ruas,

avenidas e, em alguns casos, quadras de esporte e até centros comunitários.

Como exemplos latentes, tem-se o Centro Histórico do Bairro da Ribeira, na zona leste

de Natal, o Beco da Lama (travessa residencial onde estão instalados estabelecimentos

comerciais e pequenos bares), também na Zona Leste da mesma cidade, a Praça Cívica, no

centro, os calçadões e orlas das praias urbanas da Redinha, Praia do Forte e Ponta Negra,

Ginásio Poliesportivo Palácio dos Esportes, também no centro, e a Área de Lazer do Bairro

Panatis, na zona norte da referida capital.

A própria Prefeitura do Natal, na imagem da FUNACRTE, discrimina e torna pública

uma agenda reservada para uso social dos referidos espaços públicos, de forma que entidades

sociais e até empresas interessadas possam fazer uso deles. Estas ultimas entidades, contudo,

devem acompanhar a Agenda de Gestão Vigente e submeter suas propostas, para serem

inclusas no cronograma previsto para o período (ano de gestão) seguinte.

Os espaços públicos culturais do Município do Natal podem também ser demandados

para reserva ainda no período vigente, mesmo depois de iniciado o ano de gestão e de sua

agenda estar definida; para isto, a proposta a ser submetida deve contemplar as datas cujas

quais não estejam reservadas para outra proposta, já prevista na agenda em vigência. Isto

ocorre com menor frequência do que as ocasiões em que as demandas de promoção são

submetidas contemplando a agenda do período seguinte.

Coloca Est.3: “os proponentes incluírem suas propostas para serem incluídas na

agenda do ano seguinte não atrapalha o planejamento da prefeitura, mas, ajuda para que a

prefeitura melhor planeje o uso de seus espaços. Aliás, ajudaria a eles mesmos”, proponentes,

“a se organizarem melhor, planejarem suas atividades e até divulgarem para que o público

tomasse melhor conhecimento”.

A Figura 04 ilustra essa relação, considerando que as propostas partem de instituições

inseridas no contexto da sociedade, tomando como base o seu conhecimento de demanda e

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fazendo uso dos mecanismos de Estado os quais permitem a consolidação dos procedimentos,

no contexto das Políticas de Estado voltadas para a Cultura.

Figura 04 – Formação da agenda cultural

AGENDA

GOVERNAMENTAL

Propostas das

Entidades

Promotoras

Escalonamento

do Governo

SOCIEDADE

Demandas das

Entidades

Promotoras

Fonte: O autor, 2012.

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As entidades sociais de promoção também têm agenda própria, em que estas não

necessariamente consideram as agendas de governo no planejamento de sua formação. Como

é possível verificar, as agendas de promoção cultural das entidades sociais vislumbram a

agenda de gestão do Estado como parte integrante e não como integrada, ou seja, os eventos

previstos em planejamento realizado junto à esfera governamental inserem-se nas agendas

dessas entidades, diferentemente dos eventos a serem realizados sem planejamento junto ao

Estado ou fazendo uso de seus mecanismos – dentre eles o Patrimônio Cultural em posse dos

Governos, as Leis de Incentivo e os Fundos Públicos de Incentivo.

Coloca Org.1: “até poderíamos promover nossos trabalhos sem ter que precisar do

governo e do patrocínio de empresas, é o ideal. Mas, para isso, teríamos que gerar lucro,

cobrar um determinado preço nas entradas que pagassem os custos com energia elétrica,

manutenção do espaço, pagamento de salários, custo com material, papel, isso sem considerar

o fato de que nem sempre somos remunerados ou remunerados como devemos... E ainda tem

que ter aquela sobra para ser investida no próprio espaço, na compra de equipamentos, para

que possamos ter o mínimo de condições para poder funcionar e dar qualidade ao trabalho

aqui desenvolvido. Gostaríamos de ter condições de formar a nossa própria agenda

integralmente, onde não se precisasse do governo para atender o público, mas, Cultura não

gera lucro e as pessoas não se dispõem pagar pelo preço justo que deveria ser cobrado por um

artista por seu trabalho... Por isso que os governos, as secretarias de cultura, exercem papel

fundamental nisso, para que possam tornar possível ou mais viável para instituições, como „A

Casa‟ e até para artistas, grupos de teatro, bandas de música, a coisa de levarem os seus

trabalhos até o público, para que a sociedade, de fato, tenha acesso à Cultura como deve”.

Coloca Org.1: “disseminou-se aquela cultura no Brasil do achar injusto pagar para ir

ao teatro ou sair de casa e ter que pagar para assistir a uma apresentação de um artista que não

está na mídia. As pessoas não valorizam o teatro como em momentos áureos da história,

muito menos o vê como fonte de educação, de conhecimento e de desenvolvimento social; e

se o tomar conhecimento que é ali no teatro que o artista tira a sua fonte de sustento, aí é que

elas vão achar injusto, vão julgar o artista como um oportunista, ainda que, na verdade, ele

não esteja fazendo mais do que expor o seu trabalho e cobrar, às vezes, nem um preço justo,

mas o mínimo que pague os custos ali embutidos por ele estar ali. Se as pessoas pensam dessa

forma, o que fará elas terem a consciência de que o produto artístico ali apresentado no palco

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tem valor, tem um preço justo que tem que cobrir custos, o deslocamento, o figurino, o

próprio aluguel do espaço, isso, sem falar do sustento do próprio artista? Talvez, isto se deva

ao fato de terem retirado das escolas a obrigatoriedade do ensino da arte e terem dado ao

professor de português a missão de ensinar „Educação Artística‟ ou qualquer matéria que não

desenvolva o senso crítico a respeito da importância da arte e da cultura ao aluno... Isso, mais

tarde, vai interferir no conceito dele do que é arte e a importância da cultura na vida dele”.

Isto reflete o paradoxo o qual se configura sobre o discurso que coloca como

necessárias as leis de incentivo como mecanismos chaves capazes de desenvolver a

autonomia da promoção cultural para a sociedade sem a interferência do Estado. As entidades

mais capitalizadas são as que têm maiores condições de promoverem eventos culturais sem a

interferência da Gestão Pública, ainda que existam relações entre ela e as empresas; aliás, dar

autonomia a uma entidade cultural com o fim de que ela sustente sua capacidade sem o viés

das Leis de Incentivo ou quaisquer ações oriundas do próprio Estado rompem com os

princípios republicanos, que garantem o acesso à Cultura e ao patrimônio histórico e cultural

ao cidadão sem ônus de qualquer natureza para este ultimo.

Isto, porque o mesmo cidadão haveria de incorrer com o ônus de ter que tirar do

próprio bolso qualquer valor para usufruir do seu direito à Cultura; significa que o Estado

ausentar-se-ia desse dever de garantia, atribuindo-o a instituições oriundas da sociedade civil,

as quais passariam a atuar de forma a constituir lucro, a ater-se a objetivos financeiros

suficientes à sua sobrevivência.

6.2.2 Categoria (C2) – As Organizações Culturais no processo de incentivo à Cultura

A entidade averiguada neste trabalho, A Casa da Ribeira, conforme verificado,

necessita não somente da contrapartida da gestão pública para a manutenção de suas

atividades, mas das políticas de responsabilidade social das empresas, essenciais para a

vigência do caráter social de sua iniciativa, que considera o direito republicano. Ainda que

cobrem taxas simbólicas na realização de alguns de seus eventos e espetáculos, estas não

mostram semelhanças com as médias praticadas no mercado local e regional de eventos na

área da cultura – entre cinco e 10 por cento dessas médias.

“Enquanto existem espetáculos a preços de cinquenta reais para o público, nós

cobramos cinco... Isso, quando a nossa entrada não é franca”, coloca Org.1. “[...] Ainda que a

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gente cobre uma taxa simbólica, as pessoas optam por pagar mais para irem ver um show de

stand up comedy6 que está andando pelo país, maior, mais caro e mais produzido. Isso, porque

o caráter daquele trabalho lá é outro, se comparado com o caráter do nosso trabalho. Damos

mais atenção ao social do que o que está na moda; enquanto que o que está no mercado é o

que faz sucesso, desenvolvemos nosso trabalho para a comunidade sem considerar as

possibilidades de lucra com isso”.

Existem ações culturais no estado do Rio Grande do Norte contemplados pelos mais

diversificados meios de incentivo à cultura, desde os instrumentos legais presentes nas leis de

incentivo, com o apoio de patrocínio empresarial, aos fundos públicos de incentivo à cultura,

dos governos, nas esferas da administração direta. São eles:

Ações sociais organizadas pela sociedade civil com o fim de contemplar atividades

culturais no aspecto sócio econômico – o ato da cultura como instrumento de inclusão

social e educação escolar no âmbito da música e do teatro, voltado para crianças e

adolescentes, sendo constatada a ação de dois projetos na Área Metropolitana da

Grande Natal;

Ação para formação de atores de teatro na Zona Sul de Natal – sendo uma medida

tomada por agentes artísticos locais, incialmente, com o intuito de reunir artistas e

atores que trabalham com teatro e arte cênica no município do Natal, contando com

espaço físico reservado para tal, doado pela própria Prefeitura Municipal da mesma

cidade – esta inciativa corroborou com a evolução de uma escola de teatro e

preparação para palcos a partir do apoio dado pelos próprios idealizadores desta

iniciativa;

Programas de cineclubes – existindo dois em atividade em todo o estado do Rio

Grande do Norte, sendo um na zona sul de Natal (Território de Educação, Cultura e

Economia Solidária) e outro no município de Caicó, na região do Seridó do mesmo

estado;

Escolas de música vinculadas à trabalhos sociais religiosos – para a instrução teórica e

manuseio de instrumentos musicais, geralmente, essas escolas encontram-se instaladas

no interior de paróquias de igrejas católicas, evangélicas e protestantes da cidade,

6 Traduzido do Inglês, “Comédia em pé”, trata-se de um espetáculo de humor apresentado por apenas um

comediante. Geralmente, este tipo de espetáculo é apresentado em teatros e casas noturnas e, comumente,

têm fins lucrativos.

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sendo duas localizadas fora de ambiente paroquial, uma localizada no centro do

Município do Natal e outra na Zona Oeste da mesma cidade;

Ações sociais de mostras de filmes – trabalhos desenvolvidos por grupos de teatro e

professores da rede pública do ensino básico, com o fim de realizar atividade similar a

de um cineclube nas escolas públicas.

Todos estes trabalhos até então mencionados o são desenvolvidos fora do eixo de

atuação da Casa da Ribeira, apesar de estar sob seu alcance e conhecimento. A Casa da

Ribeira atua como uma instituição social sem fins lucrativos, enfocada na oferta de cultura

para a sociedade visando cumprir o papel social de tornar público a cultura nas suas diversas

expressões: teatro, cinema, música, literatura e folclore.

A instituição em questão dispõe de infraestrutura dedicada à realização de eventos,

sendo um auditório tecnologicamente equipado com estrutura para apresentação de obras

musicais, peças expositivas teatrais, workshops e cinematografias, ambiente superior

reservado para leitura e convívio social, contando com área de convívio e um pequeno

restaurante, sala de reuniões para a realização de encontros com agentes interessados em

promoção cultural e ambiente reservado para as atividades administrativas da própria casa.

A Casa da Ribeira promove seus próprios eventos e os torna público através de suas

vias de comunicação (mecanismos de autopromoção e publicidade e comunicação com

agentes envolvidos e parceiros, dentre eles artistas, governos, empresas parceiras e produtores

culturais, além de ações de publicidade convencional, desenvolvidas junto ao seu público-

alvo), torna público para os nichos interessados editais e programas de incentivo à cultura

(programas oriundos do governo e de empresas privadas), faz reconhecimento de ações de

âmbito cultural no sentido de dar apoio e ou de alimentar o seu banco de registros, realiza

trabalhos de divulgação e promoção de ações de parceiros e artistas locais e agiliza, através da

ação de seus colaboradores, ações de cunho social, voltadas para públicos específicos e com

especificidades logísticas, a exemplo de ações em escolas, bairros e comunidades ou em

centros consolidados voltados para o interesse de tornar público a cultura.

Todas estas ações, mencionadas no parágrafo anterior, contam com a infraestrutura

disponibilizada pela Casa da Ribeira, seja no uso delas no próprio ambiente da instituição,

situado no bairro da Ribeira, zona leste da cidade do Natal, seja fazendo uso do seu viés

institucional.

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A Figura 05, a seguir, apresenta o modo como se estabelece a comunicação e a relação

da Casa da Ribeira com as instituições da sociedade que compõem o aspecto da ação cultural

no RN.

Figura 05 – A relação estabelecida entre a Instituição Casa da Ribeira e a

sociedade civil

Casa da Ribeira

Artistas e Agentes de cultura

Financiadores e Empresas

Instituições da Sociedade

Estado e Governos

Produto Cultural

Sociedade e Público-Alvo

Fonte: O autor, 2012.

É possível verificar que as instituições e agentes da sociedade demandam a Casa da

Ribeira tal qual a mesma fizesse parte do portfólio institucional dos organismos de Estado,

atribuídos a tratar da responsabilidade cultural e sua oferta para a sociedade, conforme garante

a constituição em seus incisos e em que fundamentam os projetos de Lei de incentivo à

cultura vigentes no país.

As ações no âmbito da esfera de governo estão de acordo com a oferta de recursos e o

controle de sua circulação entre os entes da sociedade que se inserem no contexto da cultura.

Qualquer ente social, seja representado por seu CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas

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Jurídicas) ou CPF (Cadastro de Pessoas Físicas), pode incentivar a cultura e obter benefícios

na contrapartida desta ação; sendo esta contrapartida os incentivos fiscais dados pelos

governos nas suas esferas administrativas diretas, na ótica do incentivo sobre abatimento em

Imposto de Renda (IR), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),

Imposto Sobre Serviços (ISS) ou Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), considerando

que pessoas físicas e jurídicas declaram suas movimentações financeiras e orçamentárias,

assim como bens e serviços, ao Estado brasileiro anualmente, a declaração do montante

destinado a uma determinada ação cultural reconhecida pelo mesmo garante ao incentivador

seus benefícios de contrapartida (a serem abatidos no tributo de destino da declaração).

Além disto, o Estado faz o reconhecimento da ação cultural, assim como da instituição

ou entidade que se propõe a promover cultura para a comunidade, dentro de seus decretos

legais que regulamentam a cultura e a ação social civil. A Casa da Ribeira é reconhecida

legalmente como Organização Não Governamental, de acordo com a Lei Nº 9.637/98, que

qualifica uma determinada entidade oriunda da sociedade civil como organização social de

utilidade pública (segundo o Decreto 50.517/61), sem fins lucrativos, assumindo o papel de

organismo social com finalidade de atender demanda pública social. No caso da entidade em

questão, as demandas sociais a serem atendidas estão diretamente ligadas ao interesse

cultural, sem fins de gerar lucro ou prover atividade de cunho mercadológico.

Tal qual em princípios da atividade da Casa da Ribeira, iniciado em 06 de março de

2001, sob apoio e patrocínio de empresas como a Companhia Energética do Rio Grande do

Norte, Importadora Comercial de Madeiras LTDA e, na ocasião, Telemar Norte Leste S.A.,

consumando seu apoio no oferecimento de material para reformas, recursos financeiros e

serviços sem custo ao grupo, a entidade social em questão iniciou suas atividades no ano de

1997, quando o Grupo de Teatro “Clowns de Shakespeare” decidiu ocupar o edifício, hoje

sede da mesma entidade, ainda em condições precárias das suas instalações físicas, com quase

uma década de desocupação e ausência de quaisquer manutenção ou reparos. A ideia inicial

dos membros do grupo era a de, além de contar com um espaço no qual pudessem dar

continuidade às suas atividades artísticas e cênicas, consolidar uma área capaz de abrigar

espetáculos culturais em todas as suas formas de expressão – na música, literatura, teatro ou

exposição –, assim como de servir de ponto de oferta cultural para as demandas da cidade.

O projeto o qual se consolidaria, anos mais tarde, como sede física da Casa da Ribeira,

antes de sua inauguração oficial e na fase de reparação de suas instalações físicas, contou com

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a ajuda financeira de empresas privadas e com o apoio institucional das leis de incentivo à

cultura, desde então vigentes na época em questão. Ainda durante esta fase, já contava com a

realização de eventos (“Na Rua da Casa”, em frente ao edifício ainda sem condições

estruturais para servir-se de sede), idealizados pelo mesmo grupo que tomou à frente de sua

instituição, e com o apoio de artistas atuantes da cidade, músicos, atores, jornalistas,

publicitários e até emissoras locais de televisão. O objetivo desses eventos e do apoio

demandado era tornar público o projeto da Casa da Ribeira e arrecadar fundos para dar início

à fase de recuperação do edifício (ainda em ruínas).

A parceria estabelecida entre a Casa da Ribeira e os grupos empresariais – como a

Companhia Energética do Rio Grande do Norte e o Petróleo Brasileiro S.A. – datam do

período de idealização do projeto. Qualquer organização, seja no seu caráter de entidade

autônoma independente ou com forte ancoragem de mercado, a exemplo de grandes

multinacionais que atuam no Rio Grande do Norte, podem se inserir no contexto dos agentes

que incentivam à cultura, conforme vislumbra a proposta da Casa da Ribeira. Os maiores

parceiros da Casa da Ribeira, nos dias atuais, quanto às empresas privadas, são a Companhia

Energética do Rio Grande do Norte e Petróleo Brasileiro S.A.

Os parceiros da Casa da Ribeira podem interagir-se diretamente com as ações da

instituição, seja na colocação de propostas isoladas em eventos de grande porte, seja na

manutenção de um espaço com o objetivo de promover uma ação isolada, porém, com apoio

mútuo. É o caso do “Espaço COSERN” e “Espaço PETROBRAS”, ambos de iniciativa de

ambas as empresas, com o apoio mútuo estabelecido entre elas e a Casa da Ribeira.

A Figura 06 apresenta a relação existente entre a Casa da Ribeira e seus grupos

parceiros no que se refere à concessão do produto cultural para a Sociedade (designado neste

mesmo esquema como “Público-Alvo”).

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Figura 06 – A Instituição Casa da Ribeira e apoiadores

Agentes artísticos

Parceiros Casa da Ribeira

Produto Cultural

Produto Cultural

Fonte: O autor, 2012.

O Produto Cultural está no centro das relações entre os devidos agentes a que se faz

menção na Figura em questão, porém, o principal executor das ações que leva à promoção

deste produto são os Agentes Artísticos (artistas que se beneficiam da promoção e do

incentivo cultural proporcionado pela Casa da Ribeira e por seus financiadores). O Estado,

entretanto, não se interage de modo a interferir nesta relação de parceria e mutualidade, mas

somente de acordo com o que está regimentado nas leis de incentivo e nas que

institucionalizam os fundos públicos de incentivo à cultura.

A Casa da Ribeira se insere neste contexto como promotor destas ações e agente

colaborador na realização destes eventos (a exemplo do Circuito Cultural Ribeira, evento de

grande porte que conta com a participação de grupos locais, regionais e nacionais e com a

colaboração de outras entidades culturais, como empresas de evento e até empresas

patrocinadoras). A mesma instituição (a Casa da Ribeira) insere-se como uma das unidades

promotoras, capacitada a ofertar determinada gama de eventos a fim de atender às demandas

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presentes no evento. Não se insere, contudo, como maculador central, apesar da sua

importância estratégica na oferta de Cultura local.

Existem vários organismos, de esferas distintas, interagindo-se na organização e

promoção dos referidos eventos. Das sete instituições promotoras, apenas duas se

caracterizam como instituições com fins não econômicos: A Casa da Ribeira e Projeto Buraco

da Catita (isto o fora verificado na realização do Circuito Cultural Ribeira do ano de 2011).

De acordo com Org.1, “o Circuito Cultural Ribeira foi realizado de acordo com o que está

defendido em lei, para eventos de mesmo porte, com a participação de ações sociais sem fins

econômicos, atendendo aos requisitos preeminentes que caracterizam essa realização como

tal”. A Figura 07 apresenta o modo como as instituições, artistas e sociedade se interagem

com o fim de ofertar e demandar o produto cultural, conforme discutido anteriormente.

Figura 07 – A formação do produto cultural

Agentes artísticos

Parceiros Instituições Sociais

Produto Cultural

Sociedade

Instituições Culturais com fins econômicos Ações externas da

autônomas

Fonte: O autor, 2012.

A atuação da Casa da Ribeira, como agente promotor de Cultura, ocorre de três

formas: auto promotor, incentivador e apoiador. Na primeira, podem-se colocar os eventos os

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quais o são promovidos e realizados em sua própria iniciativa, sob sua gestão e em que as

parcerias e incentivos se concebem de modo exógeno (de instituições e agentes externos para

o loco do seu evento). Ainda nesta mesma ótica, verifica-se a ocasião de a instituição

promover artistas e trabalhos artísticos.

Na segunda forma de atuação, a Casa da Ribeira oferece o aparato estrutural,

tecnológico e técnico, a exemplo das instalações de sua sede, equipamentos e assessoria na

produção de eventos. Geralmente, a Casa privilegia ações sem fins econômicos, contudo,

condiciona critérios seletivos para o tipo de projeto a ser contemplado. Um exemplo

ilustrativo a ser contemplado nesta discussão é a Seletiva Cena Aberta, programa de seleção

de projetos e propostas culturais com o fim de serem abertas para a sociedade sem fins

econômicos.

O proponente deve discriminar sua proposta em formulário, atendendo aos requisitos

propostos pela mesma instituição, descrevendo etapas, modalidade do projeto, objetivos,

finalidade e cronograma de realização, além de relacionar todas as necessidades ligadas à

infraestrutura e tecnologia. Para isto, a Casa da Ribeira abre processo seletivo junto à

comunidade, em que qualquer cidadão comum pode dar entrada com sua proposta ou projeto;

na ocasião de ser aprovada nesta seletiva, a mesma será incluída no cronograma de eventos e

realizações da Casa durante o decorrer do período seguinte (ano seguinte após o devido em

que se realizou esta seletiva).

Na terceira, a Casa da Ribeira insere-se no contexto como apoiador de eventos, em

que, independente da origem da instituição proponente e da finalidade do evento a ser

realizada (com fins lucrativos ou não), a instituição em questão oferece suas instalações

físicas para ambientação e realização de apresentações e mostras agregadas ao espetáculo o

qual se concebe. Neste cenário, a Casa da Ribeira concebe seus próprios eventos como uma

“orientação a mais para a demanda cultural na ocasião”, como coloca Org.1.

Não se verifica a ocorrência de intercâmbio de mão-de-obra, haja vista que suas

forças-tarefa e de trabalho atuam de forma dedicada às próprias demandas da entidade, assim

como não se constata a preeminência de elementos exógenos corroborando com sua atuação

neste fenômeno – ou seja, a colaboração ou interferência de entidades externas junto à sua

força-tarefa. Por ocasião, tal qual na primeira etapa aqui descrita, os projetos classificados

nesta terceira etapa também têm que estar e em conformidade com a seletiva proposta pela

Casa da Ribeira para os trabalhos a serem integrados ao seu leque de ofertas culturais.

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A Casa da Ribeira conta com aparato institucional que a torna legalmente reconhecida

no sentido de locar equipamentos e infraestrutura de terceiros para a realização de eventos em

instâncias fora de sua sede física. A Casa da Ribeira, pode, sobretudo, fomentar apoio à

propostas culturais as quais não vislumbrem o uso de seu espaço físico; pode a mesma

entidade estabelecer uma relação de mutualidade e parceria com outra entidade social, seja ela

escola, seja organização cultural, ou organização não governamental que atenda à uma

determinada demanda social oriunda de outra esfera que não a cultural, conforme a Lei Nº

9.637/98.

Além da Casa da Ribeira, tem-se o exemplo do TECESOL, organização cultural que,

além de fazer uso de seu espaço para a realização de suas atividades (promoção de trabalhos

culturais para a comunidade, como cine clube e escolas de música e teatro), fazem-se

presentes, também, em escolas públicas e do ensino básico, realizando oficinas e trabalhos

comunitários.

O Presépio de Natal e o Parque da Cidade, apesar de desativados, são duas áreas

construídas e inauguradas pela administração municipal do Natal no ano de 2008, com o fim

de servir-se de ambientes de convívio social e de promoção de atividades culturais e de lazer

gratuito para a população natalense. Ambas as obras contaram com a colaboração de uma

empresa especializada na área de arquitetura e urbanismo, contratada pela própria prefeitura,

através de concorrência pública, na forma de licitação, conforme descrito no parágrafo

anterior, para dar execução e forma ao objetivo público da administração pública municipal

de levantar duas áreas com as finalidades publicizadas em questão.

Para que uma entidade possa fazer uso dos espaços públicos municipais para a

realização de ações e eventos culturais nos mesmos, deve ela submeter, no caso do Município

do Natal, à FUNCARTE proposta de atividade justificando o uso desses espaços, discriminar

custos, atividades operacionais, metodologias de trabalho, parcerias e tempo de realização do

evento (ou espetáculo), cabendo, sobretudo, definir os limites desta entre horas e dias – as

datas, a serem definidas por “Dia / Mês / Ano”, em vigência ou posterior.

O Estado passaria a assumir, também, o papel de promover e ofertar cultura fazendo

uso de seu espaço, mas, como coloca Est.3, “esses espaços também podem funcionar com

atividades promovidas por entidades privadas. Se uma empresa ou um produtor cultural

quiser realizar eventos neles, bastam apenas entrar em contato conosco”, ou seja, entrar em

contato com a FUNCARTE, “apresentar um projeto, valores, objetivos e metodologia, para,

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então, ser submetido para nossa aprovação. Se aprovado, o espetáculo será realizado; caso

contrário, de qualquer forma, emitiremos parecer explicando os porquês de a proposta ter sido

recusada”. Esta mesma metodologia dá norte às Organizações Culturais, na abertura de seus

editais e processos de seleção de trabalhos culturais oriundos da sociedade civil, tal qual na

reivindicação de apoio junto ao poder público.

A semelhança entre uma organização cultural, a Casa da Ribeira, como na presente

pesquisa, e uma organização que promove trabalho da natureza de mercado e que visa a

prática do lucro é a de que todos eles podem ser patrocinados por empresas privadas e este

patrocínio inteirar-se na responsabilidade social das empresas, sobretudo, conferindo

benefícios fiscais e boa imagem nas práticas de Marketing Social delas (das empresas).

Independente do caráter e do objeto do trabalho a receber patrocínio de empresas,

todavia, o Estado, através de suas leis de incentivo, apresenta-se isento de mecanismo capaz

de mensurar o valor social a ser agregado pelas promoções culturais atendidas pelas empresas

para a sociedade – sobretudo, quando do apoio dado a uma organização cultural; não existem

critérios, como verificado no texto das leis de incentivo, os quais distingam o cunho do

trabalho desenvolvido por entidades sociais ao das propostas de grupos com características de

mainstream.

Em outras palavras, institucionalmente, o Estado não distingue o caráter social do

caráter mercadológico de uma proposta cultural, ainda que suas origens partam de uma

entidade com fins lucrativos e ou sem fins lucrativos. Coloca Org.1: “para a lei de incentivo, o

valor social de um trabalho artístico feito por uma entidade social é o mesmo de se esse

mesmo trabalho fosse colocado com fim lucrativo para o público... É como se o interesse da

lei fosse aumentar a demanda, sem se interessar pelo caráter da coisa”.

Quanto à efetividade da origem dos recursos das Organizações Culturais, é necessário

que as empresas estabeleçam relação de parceria formalizada com as mesmas, alicerçando-se

a eficácia do processo de incentivo na prestação de contas junto às entidades governamentais;

as empresas apenas doam seus recursos e obtém isenção fiscal referente ao valor a ser

arrecadado junto ao Estado – seja na forma de ICMS, seja na forma de ISS ou Imposto de

Renda. Dependendo do projeto a ser desenvolvida, a SECULTRN – que infere isenção fiscal

na contribuição sobre ICMS – exige o repasse de uma determinada porcentagem do material

produzido para divulgação, distribuição e vendagem – estando entre um e 30% do total.

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Coloca Org.1: “isso pode funcionar como medida de controle, como também até

ajudar com a formação de um acervo patrimonial da cultura do estado com trabalhos

artísticos, como forma de divulgação, também, já que nós como cidadãos, podemos ir a

qualquer instante lá na FJA”, ou SECULTRN, “e pedir uma cópia do CD de um cantor local,

gravado com recursos doados pelo governo do estado”, através do FEC, “ou pelas empresas

como forma de incentivo”. Além disto, o artista tem que discriminar na metodologia de

trabalho do seu projeto, os mecanismos de divulgação, de apresentação e de registro autoral.

Por exemplo, no caso do Prêmio Nubia Lafayette, política de patrocínio do governo do

estado do Rio Grande do Norte, realizada no ano de 2009, através de abertura de edital de

seleção de propostas de trabalhos de músicos e bandas de música, tendo injetado, no total, 140

mil reais do próprio caixa com o intuito de formar o montante o qual revestiria o caráter da

premiação – deixando claro que isto não se tratava de ação do Fundo Estadual de Cultura,

FEC –, a própria SECULTRN, à época, como medida de controle e de responsabilização da

aplicação dos recursos por parte dos próprios entes artísticos, exigia emissão de notas fiscais

nas ocasiões de contratação de serviços de terceiros, como o caso de aluguel de estúdio para

gravação de música, impressão, gravação de CD ou outra modalidade de mídia física,

distribuição, feitura e impressão de encartes, panfletos e banner, trabalho de divulgação,

produção e assessoria.

Além da emissão de notas fiscais, a SECULTRN exigiu de cada ente artístico a

reserva de cinco por cento do total de discos gravados, encartes impressos, folhetos, panfletos

e de documentação, registrada em cartório, que formalizava a contratação de um produtor ou

de um assessor, além da cessão de direito autoral por obra, na ocasião de parcerias. Depois de

prestadas estas contas, a entidade artística teria que promover uma apresentação nas

instalações do Teatro Alberto Maranhão7, aberta ao público, gratuita ou cobrando o valor

simbólico pela entrada.

Outro exemplo a servir de ilustração é o Festival de Música do Beco da Lama,

MPBECO, organizado por entidades oriundos da esfera social, que conta com o apoio de

empresas, através das leis de incentivo locais, e com a participação de artistas na organização,

como convidados e promotores do evento em questão. Trata-se de um evento, promovido em

dois finais de semana, que visa premiar, com recursos financeiros, artistas do ramo da música;

esses artistas submetem seus trabalhos para avaliação, que se dá no tempo de um trimestre,

7 Também conhecido como TAM, como sua sigla, faz parte do patrimônio cultural do estado do Rio Grande do

Norte, sob posse e responsabilidade de manutenção da gestão pública estadual, através da SECULTRN.

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avaliação esta concebida por uma banca de artistas convidados, músicos, com atuação

regional, na qual constituirão um ranking para ser exposto no dia da primeira realização

pública.

Os artistas com os trabalhos selecionados, e inseridos nesse ranking, são comunicados

e convocados para se apresentarem no evento, que é realizado de forma aberta e com entrada

franca para a comunidade. Ao todo, são selecionados 20 trabalhos, os quais se apresentam no

primeiro fim de semana. Destes 20, 10 serão selecionados, através de julgamento de um júri,

composto, também, por artistas ou pessoas públicas convidadas, e do voto popular dos

cidadãos da comunidade ali presentes. Esses 10 contemplados são convocados para

submeterem-se ao mesmo procedimento, a ser adotado na promoção a qual contemplará o fim

de semana seguinte.

Destes 10 trabalhos, três são escolhidos para receberem premiação, sendo eleitos o

primeiro, o segundo e o terceiro melhor trabalho do evento e atribuídos valores distintos para

cada um dos colocados.

A SECULTRN exige da organização do evento um percentual relativo ao total de

folders impressos, panfletos distribuídos e até cédulas de votação. Exige, também, as notas

fiscais relativas à contratação de serviços de terceiros, aluguel de equipamentos e até

pagamento de cachês. E um relatório detalhando os gastos incorridos com a realização do

evento, já que as cartas de incentivo, emitidas pela própria SECULTRN, ficam em posse das

empresas patrocinadoras, para posterior solicitação de isenção fiscal, na próxima declaração

de imposto de renda. Os mesmos procedimentos o são adotados pelas organizações culturais,

quando da promoção de seus trabalhos com o apoio da política de patrocínio cultural do

governo estadual – hoje, em fase de consolidação com Fundo Estadual de Cultura.

Já quanto ao Marketing Social, fica a cargo das instituições interessadas de fazerem o

controle e a averiguação da promoção de sua marca no evento ou no trabalho dos artistas

contemplados com suas doações. As empresas geralmente solicitam um percentual do

material produzido, como o fazem as instituições do Estado neste sentido, de acordo com a

metodologia de trabalho abordada pelo artista proponente, podendo variar em até 20% sobre

esse total, mas, podem também enviar uma equipe para averiguar a procedência do evento, se

o mesmo o fora realizado, se sua marca está presente nos holofotes de divulgação, assim

como cobrar um relatório de prestação de contas. Dentre estas medidas de controle abordadas,

a mais comum é a primeira, “já que se o artista realmente não cumpriu nada do que se

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comprometeu, ele não terá material para remeter nem para a FJA, nem para a empresa que

lhes cobrar isso”, como coloca o Org.1.

Coloca ainda Org.1 que “as empresas acabam nem fazendo isso, porque acabam

adquirindo a confiança de que o trabalho será realizado e que o próprio artista não faltará com

nenhum combinado. Não há por que alguém propor um trabalho e não promovê-lo, até por

que, quem realmente é da área é quem lida com isso. Não é do interesse do artista ou de quem

for, de um produtor, de nós mesmos, descumprir os tratos, porque deixar de estampar a marca

da empresa ou de expô-las em nosso site, deixar de realizar o evento que se propõe ou não

fazê-lo como se deve, como está no planejado, é o mesmo que pedir para não ter mais apoio

na próxima vez”.

O Marketing Social, como se pode verificar, trata-se mais de uma medida plausível de

responsabilidade mútua entre beneficiadores e beneficiados do que de responsabilização, na

qual se exija comprovação de prática efetiva. Ou seja, um fator que gera credibilidade e

harmonia entre os entes envolvidos.

A Figura 08 ilustra os procedimentos os quais conferem à prestação de contas ou

controle sobre a aplicação efetiva dos recursos doados nas ações de incentivo à Cultura,

conforme verificado.

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Figura 08 – Destino dos recursos de promoção que conferem à prestação de

contas na realização do trabalho proposto pela entidade cultural

ENTIDADES

SOCIAIS

Material produzido

Para PROMOÇÃO

Secretarias de

Cultura

Empresas

patrocinadoras

Promoção junto à

COMUNIDADE

EVENTO

Fonte: O autor, 2012.

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A Figura 09 ilustra o ciclo que se estabelece na interação entre as entidades

envolvidas, consolidando o Marketing Social como pratica inerente ao âmbito da promoção

dos trabalhos culturais concebidos pelas entidades sociais, verificando a ação de

responsabilidade social na ótica das políticas de incentivo.

Figura 09 – A influência da promoção da atividade social no Marketing Social

das empresas

PROMOÇÃO DO TRABALHO SOCIAL

MarcaEmpresarial

Público

MercadoConsumidor

MercadoMarketing

Social

Fonte: O autor, 2012.

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A imagem da empresa é associada ao público como entidade que dá apoio à promoção

do trabalho social; no ato da promoção, essa relação é levada ao público como ação de

parceria, que associa à referida entidade empresarial o fato social em consonância; essa

relação de parceria se estabelece como uma atitude de responsabilidade e preocupação da

empresa com o cunho social, despertando simpatia entre o público que assiste ao fato,

levando-o a despertar interesse por seus produtos.

A quebra deste ciclo ou quaisquer interferências sobre sua formação poderá influenciar

diretamente na relação que se estabelece entre as entidades social e empresarial; “uma

empresa pode deixar de dar apoio a um trabalho social por que seus idealizadores

simplesmente não transmitiram ao público que ali existe uma parceria entre eles e uma

empresa que patrocina. Não adianta obtermos incentivos do governo, se quem deve fazer o

trabalho social não faz a sua parte ou sequer diz à sociedade que aquilo foi possível porque

existiu uma relação mútua de apoio, patrocínio e o interesse de que o social saísse ganhando

com aquilo”, coloca Emp.2.

Ou seja, tais interferências, ocasionadas por quaisquer decisões oriundas da entidade

social parceira, poderá culminar em influências sobre a imagem da empresa frente à

sociedade, como, sobretudo, na continuidade da relação de parceria entre ambas as entidades.

Dependendo da instituição, manifestos sociais negativos contra a sua imagem, sejam eles

refletidos nos resultados obtidos nas vendas, sejam na imagem da própria empresa frente à

sociedade, e isto é plausível de constatação quando se verificam as opiniões de marca junto ao

público ou até a sua associação com a responsabilidade social e com a manutenção do bem-

estar comum – na forma de notas públicas, manifestos da imprensa e até protestos contra a

imagem da própria empresa –, caem como fatores cruciais na continuidade da relação de

apoio entre as instituições empresariais e as entidades sociais.

“Esse fato não somente abala a relação entre nós e essa entidade, mas entre ela e todo

o conjunto, ou melhor, com as outras empresas”, coloca Org.1, sobre o fato de as instituições

sociais não cumprirem a sua parte na divulgação da marca da empresa patrocinadora como

entidade que deu apoio na realização do seu trabalho social. Ela ainda acrescenta que “em

nada disso o governo pode interferir, senão, reconhecer o apoio dado pela empresa àquela

entidade social naquele ano e fazer a sua parte dando a isenção fiscal. Ele”, o governo, “não

pode penalizar uma entidade social por que ela não colocou a nossa marca lá no evento dela

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ou penalizar uma empresa por que ela decidiu não apoiar um trabalho de uma entidade; ele

apenas entende que se nós, como empresa, demos o nosso apoio a um trabalho social, ele”, no

papel de Estado, “fará a sua parte dando a isenção fiscal, reconhecendo a nossa relação de

apoiadores e patrocinador”.

Como se verifica, o Estado participa do processo de incentivo à Cultura como ator

coadjuvante, na sua contrapartida de intermediar as relações entre os agentes que dão

incentivos e os que buscam incentivos. Isto tudo, para atender a uma demanda inerentemente

social, cabível às suas obrigações na qualidade de Estado Republicano. Em outras palavras, as

políticas de incentivo à cultura as quais se verificam no Brasil e que deram sentido aos

resultados deste trabalho, tomando como base a proposta de isenção fiscal para atores sociais

envolvidos com este meio na forma de patrocinadores ou fornecedores de recursos para

trabalhos no contexto da cultura, tratam-se de uma ferramenta adotada pelo Estado brasileiro

que tem o fim de garantir o acesso ao patrimônio cultural, por parte da sociedade, com a

mínima interferência do Estado.

O Estado deixa de arrecadar, ao passo em que aprova a isenção fiscal dos atores

empresariais; contudo, como foi possível verificar nas Tabela 01, Tabela 02, Tabela 03 e

Tabela 04, o investimento remetido para a Cultura, na forma de isenção fiscal, o é

significativamente menor do que coloca a proposta de criação dos Fundos de Públicos

Incentivo à Cultura. Como tomado como base os dados levantados no estado do Rio Grande

do Norte, esta diferença corresponde a 300 por cento. O RN, como unidade federativa,

destinava menos recursos de seu caixa para a Cultura na forma de incentivos fiscais, através

da Lei Câmara Cascudo, do que com a proposta do Fundo Estadual de Cultura.

Mas, ainda assim, essa transferência de atribuição, no sentido de garantir um direito

previsto em constituição, do eixo governamental para o social, junto às relações estabelecidas

entre as Organizações Culturais e as empresas, mostrou que ainda se faz necessária a

intervenção do Estado, tanto como entidade intermediadora como parte integrante ativa que

auxilia no processo.

6.3.3 Categoria (C3) – As empresas e sua responsabilidade no processo de incentivo

Verificou-se, até a presente elaboração dos resultados desta pesquisa, que

aproximadamente duas mil empresas compõem o banco de dados do MinC como

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organizações que financiam projetos culturais e obtêm benefícios fiscais, como contrapartida

do Estado, em virtude de sua colaboração com este ato. O universo de comparação toma como

base os 80 mil grupos empresarias com potencial de usufruir da Lei Federal de Incentivo à

Cultura, Lei Rouanet, e que atuam no território nacional.

Estes dados, contudo, dizem respeito aos números relativos à Lei Rouanet, ressaltando

que cada unidade federativa e município da federação podem implantar suas próprias políticas

de incentivo à Cultura, seja através de benefícios fiscais, seja na formação de um fundo com

verba pública a ser destinada para tal.

Em 1993, conforme coloca o relatório referente ao ano de 2011, elaborado pelo

Serviço Federal de Processamento de Dados, SERPRO, o número de grupos empresariais que

colaboravam com a Lei Federal era de apenas dois cadastrados, uma evolução a qual, se

comparada tomando como base o ano em questão e o de 2011, corresponde a um crescimento

aproximado de quatro milhões de por cento na participação de entes privados como entidades

patrocinadoras da ação cultural no país.

Ainda que existam as leis de incentivo, demandas por patrocínio, entidades sociais

dispostas a tomar de conta da parte prática – no sentido de levar a cultura até a sociedade – e a

própria sociedade, no sentido de demandar pelo que lhes é de direito, verifica-se que estes

fatores, por si, não o são suficientes para que as entidades empresariais e fornecedoras de

recursos tomem partido de sua participação e inserção no contexto. Há a contrapartida da

construção de uma imagem pública saudável.

Qualquer organização da iniciativa privada pode financiar trabalhos e projetos

culturais e usufruir das políticas de isenção fiscal colocadas pelo Estado brasileiro – podendo

a isenção obtida englobar 100 por cento do valor em questão, a ser abatido no Imposto de

Renda declarado, a depender da esfera de governo a ser tratada.

Coloca Org.1 que “qualquer pessoa ou projeto, na sua forma de entidade artista, pode

solicitar de qualquer empresa privada, empresário, empregador, recursos para financiar o seu

trabalho, através da Carta de Incentivo, que é um documento que o artista ou entidade obtém

junto ao governo, estadual, municipal ou federal, para dar respaldo ao dinheiro solicitado

junto ao empresário. Esse documento fica em posse do empresário, com o valor doado

descrito, para que, na Declaração do Imposto de Renda do próximo período, ele possa colocá-

lo com o fim de abater esse valor nas suas obrigações com o governo. Qualquer empresa pode

tornar-se doadora de recursos para um trabalho artístico, basta que o artista se dirija a uma e

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convença o seu representante da importância de fazê-lo, seja para a sua imagem, já que sua

marca pode ser divulgada como apoiadora do projeto, seja na responsabilidade de deixar de

pagar algum imposto para apoiar um trabalho artístico”.

Segundo Emp.3, “não basta somente que empresas e pessoas estejam dispostas a

mudar o cenário da sustentabilidade do nosso país; não adianta as empresas traçarem

estratégias e se organizarem com esse fim, que as pessoas se mobilizem para oferecerem um

serviço que o governo não oferece da forma como deveria oferecer, e isso a gente vê na

qualidade da saúde pública e da educação, nas redes de saneamento e nas ações de

sustentabilidade, que é o nosso foco, o nosso ramo de atuação, ainda que o próprio governo

não dê condições que tornem viável a prática das ações de sustentabilidade das empresas.

Aqui em Natal, a prefeitura obriga as concessionárias a plantar uma árvore para cada dois

carros vendidos, como forma de atender ao discurso de que, na contrapartida do crescimento

do comércio de veículos, que cresce abundantemente, como é possível ver, a maior circulação

de veículos automotivos, poluentes, é ruim para o meio ambiente. Mas, e quanto ao

tratamento de resíduos deixados pelos carros, como óleo, pneu usado e outros

biodegradantes? Será que são pensadas as alternativas para a melhoria do fluxo urbano nas

grandes cidades ou, melhor, medidas que façam o motorista deixar seu veículo em casa e usar

o transporte coletivo, bicicletas e outros meios? Nós cuidamos de pôr em prática essas

exigências do governo local sobre as revendedoras de veículos, fazemos o plantio e a

manutenção de árvores, tudo direitinho e de acordo com as normas; mas, será que do ponto de

vista do interesse público, isto é suficiente?”.

As empresas inserem-se no contexto sociocultural através de suas ações em âmbito de

Responsabilidade Social; a Responsabilidade Social aplicada ao contexto cultural, como

coloca Reis (2007), define-se como Responsabilidade Cultural, na qual as entidades sociais de

promoção da atividade cultural têm atendidas as suas demandas por empresas ou instituições

capitalistas dispostas a dar fé a estes atos. São as Organizações Culturais o eixo central do

processo de incentivo à Cultura.

Faz-se imprescindível a existência de mecanismos que criem incentivos às mesmas

instituições, capitalistas, para que elas façam jus à sua participação e inserção no meio em

questão. Além do Marketing Social e das Políticas de Incentivos Fiscais, as condições

estruturais influenciam no aumento da participação das empresas, influenciado pelo aumento

das demandas sociais pelo direito ao acesso à sua cultura, cujo qual exerce força sobre a oferta

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oriunda das entidades de promoção, influenciada, por sua vez, pelos investimentos dos

governos em infraestrutura.

É possível verificar o interesse empresarial nas políticas de Marketing Social ainda

que, como coloca Emp.2: “temos o interesse pelo social, em nos empenhar em ações que

agreguem algum tipo de valor a essas instituições e que elas possam dar continuidade ao seu

trabalho, ainda que seja importante, ou que isso se dê como consequência, colocar a marca da

nossa empresa lá na divulgação desse trabalho. A sociedade também precisa saber que temos

interesse no social, que temos uma política voltada para o social e que ali nos fazemos

presente, toda empresa é adepta desse princípio. Já temos os nossos parceiros”, instituições

que desenvolvem trabalhos sociais com o patrocínio da Companhia Energética do Rio Grande

do Norte, através de sua política de Responsabilidade Social, “mas, às vezes, o governo

parece não entender a importância dessa parceria e ataca a nossa política de benefícios. Todo

ano, os responsáveis por essas entidades têm que ir até o governo para obter aval de

funcionamento e de entidade apta a desenvolver trabalho social; eles têm que apresentar

relatório mostrando os resultados do seu trabalho, as parcerias feitas, tudo discriminado, os

trabalhos que serão desenvolvidos no ano seguinte, até valores, e solicitar expedição de

documento oficial que dê a eles a possibilidade de solicitar apoio das empresas. Elas vêm aqui

e nos dá esse documento, que é entregue à esfera de governo na declaração de imposto de

renda para obter isenção sobre exatamente o valor doado; só que se o governo não der

abatimento sobre o valor colocado, fica difícil de dar atenção a todo mundo que vem aqui

querendo apoio e recurso para o seu trabalho, por isso, a importância do poder público

reconhecer tanto os trabalhos sociais das entidades como o papel das empresas em dar apoio a

elas”.

No caso do Serviço Social da Indústria do Rio Grande do Norte, em se tratando de

uma organização do “Sistema S” e do objetivo central da instituição de atender às demandas

sociais oriundas da Indústria, o mesmo insere-se como instituição de responsabilização das

ações sociais que, geralmente, estão sob tutela do estado, a exemplo dos serviços de saúde e

educação; além de atender às demandas oriundas da atividade industrial, a mesma instituição

atua no sentido de atender demandas, também, oriundas da comunidade. O que difere a

comunidade aberta do público industrial é o fato de que este ultimo tem maiores benefícios e

incentivos, que tornam mais acessível os serviços prestados pela instituição.

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Em se tratando de empresas com foco de mercado, agente potenciais de incentivo às

Organizações Culturais, como coloca Org.1: “se você for às empresas que patrocinam

trabalhos culturais, você verá que elas demonstraram ter conhecimento de causa no sentido de

usar o Marketing Social ao seu favor, isso, em virtude do apoio dado a nós, artistas”, como no

caso tratado neste trabalho, a Casa da Ribeira, “e sabem do direito que têm de exigir quanto a

ter sua marca associada a qualquer trabalho social. Elas como empresas, podem colocar em

anúncios televisivos, distribuir cartazes nas ruas, na sede delas mesmas, aqui na nossa sede,

no outdoor de um evento e, nisso, a gente não interfere, porque se trata de um acordo”.

“A gente sabe dos benefícios que isso”, o apoio dado a trabalhos sociais, “pode gerar

para uma empresa, sobretudo, aquelas que lidam diretamente com o consumidor; isso, sem

dúvida, afeta nas vendas, positivamente, e para quem dá a sua importância, a quem se

preocupa com isso. Estamos em um mundo que emergiu uma nova classe de consumidores,

mais responsáveis e que acabam exigindo isso das empresas”, coloca Emp.2.

Uma política de apoio que vai da arrecadação de fundos para doação a uma entidade

social junto aos clientes e consumidores, a iniciativa de desenvolver por conta própria uma

ação de cunho social ou inteirar-se com uma organização social que necessita de fundos de

terceiros para poder manter-se ativa não somente se caracteriza como uma ação de

responsabilidade social; agregado a isto, a empresa usufrui do marketing social de alguma

forma, visto que, de alguma forma, a sua marca acaba atrelando-se à imagem pública daquela

ação. Para isto, entretanto, ela não pode se desvencilhar do seu papel crucial para o processo

de incentivo á Cultura, o patrocínio junto aos trabalhos de caráter cultural e às Organizações

Culturais.

Geralmente, o Marketing Social não incorre em custos diretos para a empresa. No ato

da doação de fundos, as instituições sociais que o recebem ficam encarregadas de vincular a

marca da empresa doadora ao seu trabalho, quando da exposição deste para o público. Na

impressão de um banner ou folder a ser estampado no cenário de exposição do evento em

realização, na colocação da marca no site da Internet ou em panfletos a serem distribuídos nas

vias públicas, como ações de divulgação em qualquer meio de comunicação, diretamente, a

empresa patrocinadora não paga para ter sua marca estampada ou divulgada nesses

mecanismos de propaganda. Isto fica a cargo da instituição social beneficiada.

Corroborado no impacto gerado à sua marca pela promoção feita junto a ambas as

entidades, as empresas tendem a decidir pela promoção com maior impacto de público, com

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maior demanda e, consequentemente, com cunho mais mercadológico do que social. Isto quer

dizer que as empresas mantêm seu grau de interação com o meio cultural, respondendo por

sua responsabilidade junto ao social, todavia, o valor social gerado nisto é menor do que se

sua ação de responsabilidade social desse foco aos trabalhos com maior cunho social – ou

seja, junto ás Organizações Culturais.

Emp.3 acrescenta que “Não se observam ações concretas que tratam a cultura como

algo de importância para o governo. O que se tem visto na política de governo das ultimas

gestões não passa de ações superficiais. Não falo do ultimo Auto de Natal, que não

aconteceu”, evento realizado com o fim de celebrar, publicamente, as comemorações cristãs

de fim de ano promovidas pela Prefeitura Municipal do Natal, de forma pública, colocada na

agenda de governo do Município, anualmente, e que conta com o patrocínio de empresas e

participação de grupos e entidades culturais da cidade, a convite do próprio poder público

municipal, relação esta regida por contrato remunerado e institucionalizado, “quero falar de

ações que envolvam mais as empresas e a participação da sociedade civil nesse meio. Tem

empresas que nem sequer têm conhecimento de que podem patrocinar trabalhos culturais e

obter incentivos fiscais por isto e, quando tomam conhecimento disso, tomam porque um

artista ou um idealizador de um projeto, um produtor, vai até ela com um documento,

solicitando dinheiro para financiar seu trabalho e mostrando que ela poderá abater o dinheiro

doado no pagamento do tributo ao estado ou a prefeitura. Existe pelo menos alguma

campanha para estimular esses empresários a despertarem para este tipo de responsabilidade?

As coisas acontecem porque a própria sociedade civil, à revelia de interessados, toma partido

dessa situação”.

Coloca Emp.2: “não existem campanhas governamentais as quais estimulem as

empresas a patrocinarem trabalhos no âmbito da cultura [...] apesar de depender de cada

empresa a qualidade e a existência de suas ações [...]”; o mesmo pôde ser verificado junto aos

Programas de Responsabilidade Social da Petróleo Brasileiro S.A. (desenvolvido no Rio

Grande do Norte) e do Consórcio Cultural Solar Bela Vista / Serviço Social da Indústria do

Rio Grande do Norte – não no sentido da política de responsabilidade social em si, mas, no

apelo ao interesse da própria instituição em temas sociais.

Coloca Org.1: “Se nem os governos estimulam o empresariado a participar

patrocinando grupos que querem lucrar com isso, qual a preocupação dos gestores em olhar

para a cultura como instrumento de transformação social?”. O Estado, como se verifica,

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inclui-se, atualmente, na relação em discussão, como uma instituição passiva e reativa, na

qual atua como entidade provedora de incentivos apenas quando acionado pelos mecanismos

gerenciais que se originam na relação entre entes da sociedade civil e das empresas.

Como observa Org.1, “seria interessante se o Estado elaborasse uma campanha de

conscientização junto aos empresários, mostrando os benefícios sociais gerados, que, aí, se

daria a responsabilidade social deles, a oportunidade de mostrar sua marca e aparecer para

uma nova tendência de consumidores, que vemos aí nos dias de hoje, exigentes com relação

ao nível de responsabilidade das empresas e comprometimento delas com a sociedade. Não

falo disso somente sobre aquelas empresas que colocam em suas embalagens a importância de

colocar no lixo aquela embalagem reciclável ou as que não se envolvem de alguma forma

com crimes ambientais. Quando uma empresa estampa a sua marca em um banner de um

evento, seja ele cultural ou não, desde que seja social, com certeza, ela ganha imagem junto às

pessoas ali presentes, que são consumidores e que passarão a dar atenção ao seu produto”.

Coloca ainda Org.1 que “ainda tem a questão do incentivo fiscal para aquelas que

patrocinam trabalhos culturais. Enquanto uma medida de responsabilidade de qualquer

natureza social atende aos anseios dos consumidores mais exigentes e da própria sociedade

como um todo, uma ação voltada para a cultura, como patrocinar trabalhos e projetos

culturais, pode atender aos próprios anseios dela, deixando de pagar imposto para o governo

para ceder esse dinheiro para um trabalho social. Ou seja, ela não ganha somente na

associação de sua marca ao social, o que chama a atenção da sociedade organizada; o valor ali

investido vira fruto de isenção fiscal”. Acontece, todavia, que as próprias empresas sentem a

necessidade de expor a sua ação de responsabilidade social (responsabilidade cultural) ao

público, o quão maior ele o for.

Verificando o texto disposto nas leis de incentivo, Lei de Incentivo à Cultura Djalma

Maranhão, Lei Câmara Cascudo e Lei Rouanet, medidas em prol de financiamento de

trabalhos culturais ou doações orçamentárias para o custeio de projetos neste cunho não se

fazem obrigatórias junto às empresas ou entidades potencialmente financiadoras; também, não

o são verificadas quaisquer medidas oriundas da própria esfera governamental no sentido de

tornar responsabilizável a interação entre agentes de mercado e agentes sociais produtores e

idealizadores de ações culturais – de acordo com o que ocorre no âmbito da Responsabilidade

Socioambiental das concessionárias de comércio de veículos de passeio atuantes no município

do Natal, em que a própria prefeitura, do referido município, como colocado por Emp.4,

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130

sancionou medida protelar a fim de responsabilizar a venda de veículos automotores frente ao

discurso da sustentabilidade ambiental no município em questão (“para cada dois veículos

vendidos, uma árvore plantada”).

Coloca Emp.1 que “a responsabilidade social está no foco das discussões da nossa

empresa quanto aos seus objetivos e não somente a rentabilidade em nossa atividade.

Buscamos desenvolver parcerias consistentes, que não somente estampem a nossa marca nos

cartazes de divulgação deles, mas, que a iniciativa deles como empresa social dê certo. Não

adianta investir por investir, doar por doar recursos para um organismo social, para que ele

coloque em prática as suas ações e elas não deem certo, nem ela como instituição, nem suas

ações surtam efeito para a comunidade. Por isso, não apoiamos qualquer projeto e somos

rigorosos na seleção. Antes de ser um trabalho social, quem pensou o projeto têm que mostrar

que ela vai dar certo, que atenderá à comunidade como deve e nos convencer a comprar a

ideia deles”.

Já Org.1 coloca que “não estamos excluídos de sermos contemplados pelos benefícios

da Lei Rouanet por estarmos aqui no Rio Grande do Norte. É fato que a maioria dos projetos

atendidos pela Lei Rouanet estão concentrados no eixo Sul-Sudeste, mais precisamente, no

eixo Rio-São Paulo, porque é lá que se encontram os maiores projetos, as maiores demandas,

as maiores fontes de recursos e as maiores promoções. Isso não impede da gente ser atendido

aqui, mas os recursos para a lei federal têm limite e boa parte deles é destinada a atender as

propostas que lá estão. Nem queira comparar as condições de lá com as de cá, o público, os

projetos, o mercado, tudo o que colocam eles em condições privilegiadas”.

Para Emp.1, “cada unidade instalada no estado onde ela atua tem autonomia no

sentido de atender aos trabalhos sociais que buscam pelo nosso patrocínio. Mas, temos que

prestar contas do que fazemos e esses recursos vêm da matriz, lá no Rio de Janeiro; os

trabalhos sociais atendidos por nós aqui no Rio Grande do Norte, até aqui, estão listados no

banco de instituições sociais atendidas pelo programa de responsabilidade social em todo o

Brasil. Daí, a Lei de Incentivo que eles fazem parte não cabe a nós averiguar ou levar em

conta. Não faz sentido buscar saber se o trabalho faz parte da lei de incentivo estadual,

nacional, etc. O que é para ser feito é averiguar a qualidade do trabalho e isso independe de

que lei aquele trabalho está vinculando o seu incentivo”.

Para Org.1, “é possível ver a importância das leis regionais de incentivo”, Lei estadual

e municipal, como tratado neste trabalho, “Lei Câmara Cascudo e Djalma Maranhão, que

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estão aí para dar o seu apoio aqui no nosso estado e na nossa cidade”. Em se tratando de

instituições que lidam com demandas oriundas de esferas distintas do poder executivo, as leis

se complementam de modo alternativo, na ótica da política de incentivo. “Fazer uso da Lei

Rouanet ou da Câmara Cascudo, ambas trazem o seu apoio necessário ao segmento e a toda

classe”.

Em outras palavras, isto aproxima as entidades empresarias do eixo cultural vigente

em sua área ou unidade de atuação no território nacional, ainda que se trate de uma filial, com

matriz localizada em outra região, subjugada a ordens centralizadas. Como se verifica, as

empresas entrevistadas neste trabalho, e agentes potenciais de fomento da atividade cultural

no Rio Grande do Norte, tratam-se de unidades descentralizadas, ainda que no caráter de

filiais produtivas, com matriz instalada em outra unidade federativa do país, capazes de

fomentar uma demanda cultural junto aos dispositivos legais previstos nas leis de incentivo à

Cultura local e regional – e não necessariamente nacional.

A Figura 10 ilustra a distância entre a sociedade e as esferas da gestão pública no

sentido de demandar e ter sua demanda atendida, no que concerne ao incentivo à cultura na

forma das leis de incentivo – federal, estadual e municipal.

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Figura 10 – Acesso estabelecido entre a sociedade e as esferas da gestão pública,

nos seus três níveis

Lei Rouanet

Nível Federal

Lei Câmara Cascudo

Nível Estadual

Lei Djalma Maranhão

Nível Municipal

COMUNIDADE

Fonte: O autor, 2012.

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Acontece que para as demandas locais, torna-se mais eficiente buscar os mecanismos

locais e regionais, ao invés de decidir por fazer uso dos benefícios destinados a atender uma

demanda muito maior, em um contexto mais complexo e concorrido. Enquanto a Lei Rouanet

compete a todas as entidades situadas em qualquer território da federação, a Lei Câmara

Cascudo coloca-se exclusivamente para atender às demandas da sociedade Norte Rio-

grandense, enquanto que a lei Djalma Maranhão beneficia àquelas oriundas do Município do

Natal.

A Figura 11 ilustra com precisão as colocações feitas anteriormente e ilustradas na

Figura 07, tomando como base o preceito de que as comunidades localizam-se dentro dos

municípios, que por sua vez estão inseridos no contexto dos estados, Unidades Federativas,

englobados, estes, por um contexto ainda maior e abrangedor da “sociedade-nação” 8, a

Federação.

8 Segundo o discurso de Abrúcio (2012, p. 6), que diz que “[...] a Constituição Federal de 1988 fez com que o

Brasil se tornasse um caso peculiar de Federação com três entes considerados pactuantes originários: União,

estados e municípios – somente a Bélgica e a Índia dão ao poder local um status semelhante. De fato, pode-se

observar uma maior autonomia política, administrativa e financeira dos municípios em relação ao período

anterior, acompanhada de uma descentralização de recursos e atribuições”.

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Figura 11 – A Comunidade no contexto das esferas social e política

Lei Rouanet

Nível Federal

Lei Câmara Cascudo

Nível Estadual

Lei Djalma Maranhão

Nível Municipal

FEDERAÇÃO

UNIDADE

FEDERATIVA

MUNICÍPIO

COMUNIDADE

Fonte: O autor, 2012.

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Tão maior é o grau de proximidade do Estado junto às Organizações Culturais e junto

aos objetivos traçados por estas e as metas esperadas pela comunidade, como assim o será

para as mesmas se a elas forem dispostos mecanismos os quais tornem o processo mais

eficiente e efetivo; tal qual, para as empresas, no que corresponde à sua parcela de inserção

neste processo, corroborando na maior visibilidade de sua responsabilidade social junto à

sociedade.

Essa “distância legal”, entre a comunidade e as leis de incentivo, como ilustrado na

Figura 08, dá foco às entidades empresariais para que elas façam uso dos dispositivos legais

mais próximos, o que permite dirimir a burocracia quanto à sua inserção no processo de

incentivo à cultura e acelerar a interação entre elas e as Organizações Culturais. Quanto maior

a participação empresarial, maior o fomento e o incentivo à Cultura, mesmo que o Estado, na

instância de sua administração direta em suas devidas esferas, disponha de mecanismos os

quais deem viabilidade para a formação de um fundo público de incentivo à cultura e tornem

os recursos públicos acessíveis à sociedade para que ela promova cultura – na imagem das

organizações sociais.

6.3.4 Categoria (C4) – Controle social e transparência

A descentralização do processo de incentivo à Cultura, sendo delegada a autonomia

para os estados e os municípios promulgarem suas próprias leis e modelos, foi importante

para aproximar o Estado brasileiro das demandas sociais, seja através das propostas colocadas

pelas Organizações Culturais, seja em concordância com a própria sociedade, no sentido de

fazer jus do seu direito republicano de acesso ao patrimônio cultural.

Isto também permite que as entidades empresariais envolvam-se com o contexto social

local, o que corrobora em maior eficiência no processo e efetividade na aplicação das políticas

públicas voltadas à área.

Se levado em conta o montante de recursos na esfera federal destinados ao incentivo à

Cultura e as demandas oriundas em todo o território nacional considerando o tamanho de cada

unidade federativa e a importância dela para o contexto geral da Cultura, representado na

forma de dados estatísticos e matemáticos, além das variáveis macroeconômicas as quais

definem o grau de participação e de importância de cada região e unidade para a União,

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conforme se espera, em Meny et. Thoenig (1992), as políticas públicas, apesar de implantadas

com o fim de atender às demandas de toda a esfera, quando implantadas, devem atender aos

anseios e às demandas da maioria. Desta forma, demandas menores podem ficar desassistidas,

caso elas representem a minoria no contexto.

Bresser-Pereira (1998 apud Araújo, 2010, p. 132) complementa que:

As dimensões do controle por resultados, do controle por competição administrada e

do controle social estão contidas nas orientações técnica (mudança de controle de

procedimentos para controle de resultados), econômica (controle por quase

mercados) e política (controle social) da reforma do Estado, e que, combinadas às

formas de controle já existentes, criem condições efetivas para uma transformação

no padrão de atuação do Estado, que deve atuar em conformidade às demandas da

cidadania. […] Os mecanismos burocráticos de controle existentes têm se mostrado

insuficientes para dar respostas aos cidadãos, especialmente quando os parâmetros

de avaliação pública levam em conta aspectos como equidade, qualidade, justiça e

adequação dos serviços às necessidades dos cidadãos.

Em termos de políticas públicas, mais do que nunca a descentralização do processo de

incentivo à cultura o tornou mais eficiente e efetivo, ou seja, também, mais próximo dos

cidadãos, das instituições e das entidades integradas no processo. A isto, tem-se como crédito

a responsabilização sobre os procedimentos, sobre a participação e interação dos agentes

envolvidos, sobre a influência dos agentes sociais nas decisões do Estado – empresas,

entidades sociais e a própria comunidade –, e no melhor conhecimento de demanda deste

ultimo quanto às necessidades em suas diversas esferas da ação pública.

É comum verificar a ocorrência de reuniões e encontros entre os distintos grupos

culturais com o fim de discutir as propostas colocadas pelos governos; os últimos encontros

trataram da criação do Fundo Estadual de Cultura, sobretudo, no que concerne à transparência

quanto aos procedimentos relativos à proximidade e à inserção dos agentes sociais nos

benefícios proporcionados pelo Fundo, a democratização do acesso e as divisões nas

distribuições dos recursos quanto ás categorias de “eventos culturais” 9 a serem contemplados

pelo mesmo.

Como coloca Araújo (2010, p. 133):

9 Eventos culturais, diga-se de passagem, trata-se das modalidades de no âmbito da cultura que serão

contemplados pelo FEC, no Rio Grande do Norte. Como tratado no início deste capítulo, trata-se da

distribuição dos recursos por categorias, denominadas como “Bandas de Música”, “Grupos de Teatro” e até

“Decisões de Interesse dos Governos”.

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A questão da responsabilização é, portanto, por diferentes razões, um tema central

da agenda pública, dando visibilidade à discussão sobre desempenho dos gestores

públicos, o controle do uso e da aplicação dos recursos públicos, mecanismos de

responsabilização dos gestores públicos, adoção de novos procedimentos

administrativos que conduzam a uma gestão por resultados, eficiência dos gastos

públicos, eficácia das políticas públicas, o combate à corrupção e ao desvio de

recursos públicos, insuficiência dos mecanismos de controle social.

Araújo (2010, p. 133) ainda acrescenta que:

[…] a necessidade de estreitamento das relações Estado/sociedade é decorrente da

própria natureza das sociedades contemporâneas, cada vez mais complexa, em que a

multiplicidade de problemas a atender e de atores envolvidos constituem poderosas

forças de pressão sobre a forma de gerência pública, criando a necessidade de

compartilhar tarefas e responsabilidades entre diferentes atores. Esse movimento

pressupõe um novo modelo de accountability (a obrigação de prestar contas e

assumir responsabilidades dos gestores públicos perante os cidadãos) e uma

ampliação do espectro de atores, anteriormente restrito aos políticos e burocratas.

Essa também é a opinião de Caiden e Caiden (1998), ao afirmarem que a prestação

de contas não pode ficar restrita aos controles burocráticos, que somente asseguram

o cumprimento de procedimentos legais, diante das múltiplas ações que os governos

devem implementar – operar agências, fazer contratos, construir acordos, coordenar

programas, regular atividades – em um mundo de incertezas e de demandas

crescentes.

Ainda que os gestores públicos tomem a atitude, de certa forma, de desconsiderar o

cenário decorrente no meio social e na comunidade, é possível verificar que em sua

magnitude, destes dois últimos, há uma articulação no sentido de fomentar movimentos

organizados, capazes de fazer pressão sobre o Estado, formar opinião, junto à própria opinião

pública, e até contar com o apoio de determinados organizações empresariais.

Isto não culminou somente em reflexos os quais se limitam ao cerne eleitoral; a

própria gestão pública passa, a partir deste evento, a considerar a postura dos entes e das

entidades situadas fora do contexto da administração direta e dos seus interesses desalinhados

com os interesses coletivos.

Como se verifica, somente no Rio Grande do Norte são 30 cidades com casas de

cultura cadastradas e reconhecidas pela SECULTRN como entidades culturais as quais

representam a sociedade civil no contexto da cultura regional; a SECULTRN também

reconhece sete grupos culturais, dentre os quais recebem benefícios diretos da esfera estadual

da gestão pública; mais de 10 organizações não governamentais interagem com as políticas de

incentivo à cultura no estado, além de produtores culturais que, ainda que na essência de sua

atuação exista o lucro como eixo central, haja visto tratarem-se de entidades com fins mais

mercadológicos do que sociais, é possível verificar a preocupação com a articulação

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organizada da sociedade para que os anseios dela e da comunidade sejam atendidos, sem

prevalecer interesses particulares.

Araújo (2010, p. 134) acrescenta que:

A necessidade de ampliar as formas de responsabilização do governante em um

sistema democrático e defender as formas de controle social sobre as ações dos

governos é assim um imperativo do sistema democrático moderno. Dada a

insuficiência dos processos eleitorais e dos controles tradicionais da administração

pública – controles de procedimentos e parlamentar, associados aos processos de

insulamento burocrático ou de debilidade burocrática do aparato administrativo

público para produzir um sistema efetivo de prestação de contas do governante aos

eleitores – começou-se a produzir uma crescente insatisfação por parte dos cidadãos

diante da incapacidade do Estado em dar respostas às suas necessidades e a emergir

a necessidade de institucionalizar novas formas de controle.

O mesmo autor (2010, p. 135) ainda complementa que:

[…] os cidadãos passam a assumir um papel mais decisivo no controle dos

governantes, não apenas em períodos eleitorais, mas durante todo o mandato, de

forma a acentuar a relação de compromisso firmada entre governante e cidadãos.

Daí porque há uma vinculação estreita entre responsabilização e democracia […]. A

crescente demanda dos cidadãos por participação somente encontra espaço em

sociedades democráticas em que prevalece a liberdade de expressão, a pluralidade

de opiniões, o direito de associação e inúmeros canais de organização e

representação social. […] Nessa perspectiva, o conceito de responsabilização

significa precisamente que o governo tem não só a obrigação de prestar contas, mas

de apresentar um desempenho que seja satisfatório à luz das necessidades da

sociedade. Logo, a ideia de responsabilização está fortemente amparada na ideia de

uma atuação efetiva do poder público, para responder às inúmeras demandas dos

cidadãos. Vai, portanto, além da prestação de contas, que tradicionalmente tem

ficado restrita às questões formais. O gestor público é responsável pelos resultados

de sua gestão. E, assim sendo, a responsabilização estimula a realização de uma

gestão mais eficiente e eficaz.

Teatros, ambientes públicos para a realização de eventos de mesma metodologia,

museus e anfiteatros públicos, como verificado, não têm sido contemplados pelas políticas de

investimento em cultura efetuadas pela prefeitura do Natal, nos últimos dois anos. No ultimo

ano, a prefeitura destinou um montante de 400.000 mil reais para serem investidos na Cultura

local, através de se Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, segundo a Lei Nº 4.838/97,

montante este dirigido a entes proponentes que submeteram à FUNCARTE suas propostas

para avaliação ou à concessão de reserva financeira para este fundo.

O montante de 400 mil reais é equivalente ao investimento necessário para a

realização de um evento, tal qual o “Prêmio Hangar”, o qual tem por finalidade promover

publicamente músicos e atribuir premiações para estes últimos como forma de incentivo, que

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conta com o apoio de empresas, com ajudas de custo conseguidas junto à FUNCARTE ou e

ou FJA e com a participação de outras entidades da sociedade civil. O Prêmio Hangar é

realizado em espaços públicos, como o TAM e o largo do TAM, e, diferentemente das

propostas colocadas pela Casa da Ribeira, o mesmo é idealizado pelo Produtor Cultural

Marcelo Veni, cujo qual atua como entidade com fins lucrativos e de mercado.

Na promoção de outras ações culturais não necessariamente oriundas da iniciativa de

organizações culturais, como é o caso de da Casa da Ribeira, por hora, verifica-se o defronte

com problemas relacionados à perturbação do silêncio, à indisponibilidade de infraestrutura

essencial e à oferta de condições básicas adequadas para a concretização de uma proposta

cultural, independente do seu cunho (social ou mercadológico). Como questiona Org.1,

“como fazer um evento para a população nas condições em que falta segurança, controle que

possa inibir fatos indesejados, brigas, alguém armado, ou até sanitário adequado? Veja aí a

diferença de ter espaços adequados para promover as atividades. Se houvesse maior interesse

do poder público em investir na estrutura que seria fundamental para a realização de atrações

culturais, que permitissem promover melhor trabalhos com artistas locais, não há dúvidas de

que quem sairia ganhando com isso seria a comunidade”.

A sustentabilidade oriunda das forças governamentais, segundo Harvey (2008), está na

manutenção da ordem pública em favor de tornar plausível o acesso, por parte de seus

cidadãos, ao que é de direito, garantido por lei e por sua constituição. Trata-se do Direito

Republicano, que garante o acesso ao Patrimônio Histórico e Cultural a toda e qualquer

entidade da sociedade. Os Fundos Públicos de Incentivo à Cultura vêm com o intuito de

atender a esta demanda social e a manutenção do patrimônio e da infraestrutura usual às

entidades promotoras de cultura viabiliza o acesso por parte das unidades sociais ao que lhes é

de direito (e de dever, no sentido de dar garantias, da parte do próprio Estado).

Coloca Org.1 que “quando o Estado deixa de investir no patrimônio cultural, deixa,

como consequência disso, também, de permitir a participação das empresas no processo de

incentivo à cultura”. Isto pode ser verificado na Figura 12.

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Figura 12 – Relação entre os investimentos do Estado com Cultura e a relação

entre os atores sociais e a Responsabilidade Social

+ Investimento do

Estado

+ Infraestrutura

Disponível

+ Ações

+ Propostas

+ Eventos

+ Responsabilidade

Cultural (Empresas)

Responsabilidade

Social

Fonte: O autor, 2012.

A Figura 13 mostra como a relação estabelecida entre o Estado brasileiro e a sociedade

se estabelece na medida em os Fundos Públicos de Incentivo servirão de mecanismo de oferta

e de garantia de acesso à cultura – como instrumento legal.

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Figura 13 – A Relação do Estado garantidor e a demanda social

Fundos Públicos de

Incentivo à Cultura

Sociedade

Produto Cultural Leis e Garantias Republicanas

Fonte: O autor, 2012.

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O Teatro Sandoval Wanderley encontra-se desativado, o Presépio de Natal e o Parque

da Cidade, áreas públicas construídas com verba municipal para atender às demandas públicas

locais, oriundas da comunidade, por convívio social, lazer e cultura, interditados e fechados

para o acesso da mesma comunidade. Para Org.1, “de que adianta tanto dinheiro público

investido, tantos recursos oriundos de nossos impostos colocados na construção de duas obras

de tamanho porte, a exemplo do Presépio de Natal, do Parque da Cidade e de muitas outras

encostadas em nossa cidade, se as mesmas estão aí paradas, sem funcionar e até servindo de

abrigo para usuários de drogas e outros mais? O que existe em política pública na área

cultural, na cidade e nos estado, são políticas de governo e não de Estado. É preciso instituir

uma política de Estado. A maior prova disso é que enquanto a ultima gestão municipal

levantou essas duas obras para atender às necessidades de lazer e cultura”, o Presépio de Natal

e o Parque da Cidade, “sejam elas públicas ou privadas, a atual gestão ou não deu a devida

atenção a esses espaços ou, simplesmente, os interditou”.

Corroborando com as colocações concebidas pelos entes entrevistados, esses espaços

estariam nos mecanismos públicos municipais de propulsão da ação cultural, seja pelo viés

das leis de incentivo – cujas quais estimulam o fluxo de recursos de entidades patrocinadoras

para as entidades promotoras da ação social, ou seja, as Organizações Sociais –, seja na ordem

que coloca à disposição destas ultimas entidades, artistas e atores da sociedade civil

(interessados na promoção de alternativas culturais para a população), os recursos de origem

pública através do Fundo Municipal de Cultura.

E as Organizações Culturais, como as instituições sociais e os cidadãos cobram do

poder público ações que lhes garantam o respeito ao seu direito ao patrimônio cultural e às

manifestações culturais diversas, em todas as suas vertentes. Trata-se de um direito

republicano o qual não somente há de garantir que os entes da sociedade civil estejam em dia

com a instituição maior responsável por prover isto tudo, o Estado, porém, que este ultima

cumpra com o seu papel de compensá-los com a garantia e preservação de seus direitos.

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7 CONCLUSÕES

A compreensão de como as empresas atuam no processo de incentivo à Cultura pôde

ser compreendida a partir da ótica de como as Organizações Sociais, ou entidades sociais que

atuam sem fins lucrativos na promoção e oferta de Cultura para a sociedade, se relacionam

com as empresas e como a legislação vigora sobre o controle dessa relação, de modo a

proporcionar incentivos e estabelecer a melhor conduta entre ambos os agentes através da

intervenção do Estado.

Tomando-se como base o processo deflagrado no estado do Rio Grande do Norte, foi

possível compreender como as leis de incentivo tornam capazes as empresas de atuarem como

atores importantes e imprescindíveis no incentivo à Cultura, com vistas à sua conduta de

agente patrocinador. As leis de incentivo à Cultura tornam a ação das empresas

imprescindível na operacionalização da ação das Organizações Culturais, ao passo que

medidas tomadas com o fim de incentivá-las a integrarem-se ao processo de incentivo à

Cultura tornam cada vez mais forte as políticas de incentivo à Cultura e no acesso à Cultura e

ao patrimônio cultural por parte da sociedade.

A existência das Organizações Culturais no processo de incentivo à Cultura torna-se

imprescindível para que a sociedade tenha garantido o seu direito ao patrimônio cultural.

Estabelecidas as relações entre empresas e aquelas organizações e o produto obtido como

fruto desta interação, é possível visualizar a importância do mecanismo da Responsabilidade

Social no processo de incentivo aqui tratado. Ainda que o Estado negligencie-se em seu dever

institucional de manter e preservar o patrimônio cultural e viabilizar o acesso da sociedade a

ele, as políticas de responsabilidade social das empresas e o seu reconhecimento, por parte das

entidades governamentais, amenizam os efeitos ocasionados pela conduta tomada pelo Estado

– no ato de sua negligência quanto ao seu dever de garantir acesso à Cultura para a sociedade

–, tornando possível reverter esta situação através da ação das entidades sociais.

Do mesmo modo como se verifica nos casos de Neofilantropismo – ou Filantropia

empresarial –, as Organizações Culturais “tapam um buraco” deixado pela gestão pública em

suas esferas da administração direta no que diz respeito à atenção dada ao segmento cultural.

Ou seja, as mesmas organizações atuam como promotores de evento e de ações culturais para

a sociedade – incluindo-se nesta hipótese a oferta de eventos, ações educacionais, formação

de sujeitos artísticos, manutenção e recuperação do patrimônio arquitetônico e histórico,

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resgate das origens históricas e culturais e apoio a entidades que atuam no meio, a exemplo de

atores, teatrólogos e músicos.

Para que isto se faça possível, é necessária a intervenção de uma entidade maior

convergida a dar apoios necessários para que os objetivos das entidades que promovem e

levam cultura para a comunidade sejam alcançados com sucesso. As empresas assumem esta

atribuição ao passo que o Estado intervém na relação entre este ultimo e aquelas entidades. As

leis de incentivo à Cultura angariam um grau de importância ainda maior, haja visto que

constitucionaliza todo esse processo e o modo como devem ser procedidas as relações as

esferas envolvidas nesse contexto.

Tão importante quanto o processo de incentivo à Cultura é o entendimento ao seu

respeito, como ele funciona – ou deve funcionar –, como as entidades devem se interagir entre

si e proporcionar o principal enfoque da conduta social nesta reflexão e como cada entidade

participa e se insere no meio. Muito além dos preceitos e das contribuições acadêmicas, a

serem obtidas com isto, estão as possibilidades de tornar público para a sociedade a formação

desse elo existencial – o maior interessado e beneficiado com tal. A mesma sociedade, além

do direto ao acesso à Cultura e ao patrimônio cultural, tem o total direito de saber e entender

minuciosamente como funciona o processo que torna acessível a própria Cultura a ela.

A relação estabelecida entre as Organizações Sociais, as empresas e o Estado tem a

sua importância, sobretudo, maior na concessão do “produto cultural fim” para a sociedade,

incorrendo-lhes no mínimo de ônus e na positividade de contar com mais de um segmento

garantindo-lhes um direito previsto em constituição e intrínseco dos valores de uma sociedade

republicana e democrática.

Considerando que o incentivo à Cultura atende a interesses privados das empresas,

haja visto as mesmas beneficiam-se com incentivos fiscais dados pelo Estado na conduta da

administração direta, através das leis e dos mecanismos de incentivo, elas exercem papel

crucial na manutenção do processo de incentivo à cultura e na oferta corroborada de cultura

para a sociedade. As entidades empresariais inserem-se neste contexto como organismos

patrocinadores e fornecedores de recursos os quais o são aplicados nas atividades das

organizações culturais. Sua ausência fragilizaria o processo, tornando-o ineficaz e de baixa

efetividade, do ponto de vista da conduta prática e operacional.

Muito além do mecenato, a participação das empresas no processo de incentivo à

Cultura colabora, também, com a transparência e com o melhor controle da própria sociedade

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sobre a aplicação dos recursos públicos os quais o são destinados para a cultura. Além de

prestarem contas junto ao Estado, na arrecadação de fisco incidente, as empresas cobram das

Organizações Culturais resultados de que o valor para tal doado o fora claramente aplicado,

conforme acordo. As empresas também garantem que, ainda que de contrapartida, o Estado

está aplicando seus recursos na Cultura, mesmo que ele deixe de arrecadar em função de um

repasse terceiro de recursos para uma entidade social.

As próprias Organizações Culturais, na forma de entidades sociais as quais terminam

por representarem o interesse da sociedade, fortalecem-se, do ponto de vista gerencial e

político. Além dos benefícios obtidos com as políticas de incentivo à Cultura, assim como o

fora percebido, as entidades sociais articulam-se em conjunto com o objetivo de cobrar

equidade, isonomia e gerenciabilidade junto ao Estado e transparência junto às empresas.

Com efeito, o maior resultado obtido com o fenômeno das políticas de incentivo à Cultura foi

a melhor articulação dos entes sociais e a maior participação e interesse da sociedade frente a

esta questão.

O Rio Grande do Norte, como a Casa da Ribeira e as demais organizações averiguadas

neste trabalho refletem a realidade que se aplica e se justifica no âmbito do fenômeno. Isto se

justifica no modo como devem proceder as relações entre as entidades, para que se observe o

caráter do processo de incentivo à Cultura, relações estas disciplinadas por leis mútuas, as

quais se tratam de reflexos e projeções umas sobre as outras, tornando legal e isônomo a

modalidade de fomento e de incentivo à ação cultural com interesse público.

Entretanto, cabe ainda investigar o modo como as leis de incentivo encaram as origens

das propostas de promoção da atividade cultural e o valor social intrínseco em sua proposta.

Os dispositivos previstos nas leis de incentivo não identificam ou distinguem as ações de

cunho mercadológico, as quais visam o lucro, das ações com fins sociais, sem fins lucrativos.

Isto pode subjugar todo o processo de incentivo à Cultura ao viés da homogeneidade e da

singularidade, culminando na depreciação de outros segmentos culturais cujos quais merecem

atenção.

O cunho mercadológico nas origens das propostas culturais que buscam incentivos

pode podar o acesso aos mecanismos de apoio da parte de outras propostas e grupos menos

mercadológicos – ou até massificados. O Marketing Cultural, Marketing Social praticado por

empresas que atuam dando apoio às organizações culturais e seus entes, serve de manobra

para que as próprias empresas busquem vincular sua marca às propostas com maior

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146

visibilidade e com maior cunho promocional. É o caso dos “mega eventos” e do mainstream,

ambos os quais se beneficiam, da mesma forma, junto ao processo de incentivo, que se

verifica na prática junto às organizações sociais e entidades culturais menores. As Leis de

Incentivo à Cultura dão brecha a este tipo de desvio, por sua vez lógico, tratando sem

distinções propostas oriundas de Organizações Culturais e as colocadas por grandes redes,

conluios e entidades maiores e com maior poder de barganha.

Além disto, faz-se necessária a realização de uma investigação junto à sociedade, a fim

de que se possa apurar o seu grau de envolvimento com as organizações culturais e com seus

trabalhos, assim como com as produções lançadas pelos proponentes de maior porte;

prescrever seus conceitos acerca da cultura, a fim de identificar seus interesses reais junto a

tal – e nisto, estão inseridas as propostas colocadas pelas entidades promotoras, segmentos

dentro da cultura e os motivos pelos quais levariam um cidadão comum a interagir-se com

uma organização cultural ou não; e identificar o seu grau de envolvimento e conhecimento no

que concerne às relações estabelecidas entre as Organizações Culturais, as empresas e o

Estado, seu interesse na veracidade das propostas e das contrapartidas concebidas nessas

relações e o interesse em participar de modo a contribuir com os preceitos de uma

administração burocrática de fato e que atenda, incorruptivelmente, aos seus interesses, como

sociedade.

As limitações encontradas estão no acesso às informações e dados operacionais,

sobretudo, financeiros, o principal correspondente que dá sentido e ação ao processo de

incentivo à cultura. As Organizações Culturais não buscam apoio das empresas fora da ótica

do auxílio financeiro; vislumbram a capacidade de inserir-se no contexto de forma

estruturada, respeitando os preceitos de uma sociedade moldada ao mercado e aviesada no

interesse das relações capitalistas, como coloca Harvey (2008).

Além do mais, existe o conhecimento de causa da classe artística, ou seja, a mão-de-

obra que faz palpável o produto cultural junto à sociedade. Desta forma, como sugestão, a

posteriori, para novas contribuições acadêmicas no âmbito da cultura, além da ação legal

limitada e pouco madura do Estado com suas Leis e políticas de incentivo, sobretudo, da

inexistência de um filtro o qual permita medir e distinguir a capacidade de geração de valor

social do trabalho cultural plausível de apoio e fomento, faz-se necessário o estudo de causa

do comportamento da própria sociedade como maior beneficiário e interessado do processo de

incentivo à Cultura, entender seus comportamentos, sua visão contextual sobre a Cultura e as

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justificativas de suas escolhas, além do entendimento do papel do artista e dos grupos que

produzem a Cultura in loco para a sociedade como produto final.

Existem os Fundos Públicos de Incentivo à Cultura, ainda em fase de formação e

amadurecimento. Ainda que algumas destas propostas encontrem-se “no papel”, verificaram-

se situações práticas, plausíveis, desde já, de averiguações e análises. Em algumas condições,

a exemplo do que se constatou no Rio Grande do Norte, os Fundos Públicos de Incentivo, a

exemplo do Fundo Estadual de Cultura do mesmo estado, apresentam-se não somente com

tamanho e poder significativo frente ao processo de incentivo à Cultura, como destaca-se com

maior corpo.

No Rio Grande do Norte, como discutido no capítulo Análise dos dados coletados, a

soma dos recursos destinados à Cultura através do Fundo Estadual de Cultura corresponde a

aproximadamente 300 por cento do que se destina à Lei Câmara Cascudo. No entanto, há de

se considerar que as distribuições quanto às finalidades a serem atendidas carecem de maior

discussão junto à sociedade e aos entes envolvidos com a promoção da Cultura. Além do

mais, o futuro das leis de incentivo faz-se incerto no processo de incentivo à Cultura pós vigor

dos Fundos Públicos de Incentivo à Cultura como ferramentas de apoio.

É possível considerar que o fenômeno do processo de incentivo à Cultura é algo o qual

não somente carece de estudos mais aprofundados como o é plausível de atenção em demasia.

Há muito que se investigar neste segmento da sociedade que se encontra em estágio constante

de mudança e reforma. A Cultura não somente sofre com a desatenção da sociedade como

necessita do apoio consolidado da academia.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – INSTITUIÇÕES DO ESTADO

Perfil institucional

Identificação funcional do agente pesquisado

Identificação departamental

Importância

Organização

Esfera contextual na pesquisa

Informações processuais institucionais

1. Como instituição ligada à esfera da administração pública, quais os critérios

procedimentais (Processos) adotados para verificar a veracidade das ações de

incentivo, com fins de abatimento fiscal, requisitado pelas empresas?

2. Quais os critérios institucionais os quais os projetos culturais e grupos de mesma

designação têm que atender para obter a classificação de agente de cultural

reconhecida a receber incentivos e patrocínio institucional das empresas e governo?

3. Quais procedimentos são adotados para que uma entidade obtenha o reconhecimento

institucional, junto ao governo, de organização de fomento e ou representativa da ação

cultural e possa atuar como tal, como a Casa da Ribeira?

4. Quais medidas burocráticas são propostas para que um grupo possa obter o

reconhecimento institucional de Centro de Cultura (a exemplo da Casa da Ribeira)?

5. Com relação a entidades não regionais, como devem essas instituições proceder para

obter o reconhecimento ou direito de operar suas atividades no Rio Grande do Norte /

Natal (como a Casa da Ribeira)?

6. É realizada alguma medida de verificação, controle, avaliação ou averiguação das

atividades operacionais destas instituições (conforme os itens “2” e “3”)?

Em caso AFIRMATIVO, fale a respeito / descreva os procedimentos.

6.1 Disciplinarmente / Periodicamente?

Em caso AFIRMATIVO, fale a respeito / descreva os procedimentos.

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6.2 Há frequência ou periodicidade acerca dessas verificações?

Em caso AFIRMATIVO, fale a respeito / descreva os procedimentos.

7. Como as instituições do Estado poderiam atuar de modo que as organizações de

cultura viessem tomar maior eficiência e efetividade em suas atribuições?

8. Como o Estado poderia melhor colaborar com a melhor oferta de Cultura para a

comunidade? E quanto às entidades culturais? E quanto ás empresas? E quanto à

sociedade? E quanto aos agentes culturais?

Estado:

Entidades:

Empresas:

Sociedade:

Agentes:

9. Como se articulam os entes públicos das esferas três esferas público administrativas?

(municípios, estado, união)

10. Quais os procedimentos a serem adotados por empresas e produtores culturais que se

interessam em articular um projeto de cunho social no âmbito da Cultura?

11. Como se darão as relações de medida fiscal junto a essas organizações, na ocasião de

ela proceder com uma possível instituição de própria iniciativa? E quanto aos

produtores culturais e ou grupos com tais características de atuação? Discrimine

procedimentos e medidas de ação.

12. Como deve proceder um agente artístico ou grupo independente para obter incentivo /

patrocínio fiscal e ou financeiro por parte do Fundo Público Destinado à Cultura? E

quanto aos produtores culturais? Discrimine procedimentos e medidas de ação.

13. Como é formada a receita governamental destinada a este fundo (tratado no item

“12”)? Como se dá a articulação entre os entes em questão?

14. Como é formada a agenda governamental no que diz respeito às ações voltadas a

cultura? Discrimine ações / procedimentos.

15. Como o Estado lida com o controle social na prestação de contas e na arguição pública

das ações tomadas no que diz respeito aos recursos destinados à cultura, aos incentivos

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fiscais ofertados, à consolidação de regras no reconhecimento de grupos, casas de

cultura e ações de mesmo cunho e no contemplar de propostas e projetos oriundos da

sociedade civil?

16. Qual a importância técnica das entidades culturais, do Estado e das empresas na

formação da agenda e na operacionalização das ações em Cultura? Discrimine sua

atuação, apoio técnico e o papel das empresas e do Estado na formação da agenda e na

operacionalização dessas ações.

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APÊNDICE B – INSTITUIÇÕES ECONÔMICAS

Perfil institucional

Identificação funcional do agente pesquisado

Identificação departamental

Importância

Organização

Esfera contextual na pesquisa

Informações processuais institucionais

1. Como instituição ligada à esfera de mercado, como se estabelece as relações Empresa-

Governo e Empresa-entidades culturais (artistas, grupos artísticos e similares)?

2. Quais critérios endógenos e exógenos corroboram com a decisão de contemplar (ou

não) um determinado projeto cultural?

Endógenos:

Exógenos:

3. Fale dos fatores internos e externos que condicionam as ações empresariais tocantes à

Responsabilidade Social / Cultural.

Internos:

Externos:

4. Como se dão as relações institucionais empresariais junto à burocracia

governamental? Descreva procedimentos.

5. O grupo desenvolve ações de Responsabilidade Cultural próprias? Em caso

AFIRMATIVO, fale a respeito.

6. Como se dá a articulação organizacional junto a produtores culturais e instituições

dedicadas a tal atividade? Discrimine procedimentos e ações tomadas.

7. É possível descrever procedimentos e métodos incorporados pelo grupo em suas

relações com os trabalhos próprios de Responsabilidade Cultural?

8. Fale das práticas de Marketing Social / Cultural condicionada pelo grupo. Onde estas

práticas se inserem na operacionalização das ações junto aos trabalhos culturais? Se

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possível, fale dos resultados obtidos com o impacto das ações tomadas em Marketing

Cultural.

9. Como se dão as relações colaborativas do Grupo com as ações de cunho Social /

Cultural? Na existência dessas relações, descreva procedimentos.

Palavras-chave: Responsabilidade sócio empresarial. Responsabilidade Cultural.

10. O grupo participa do controle social na prestação de contas do governo no que se

refere à suas ações sociais / culturais? Em caso AFIRMATIVO, fale a respeito.

Palavras-chave: Ganhos para a organização. Ganhos para entes culturais. Ganhos para o

Estado. Ganhos para a sociedade. Ganhos para os atores culturais.

11. Como as organizações podem colaborar com a melhoria do cenário cultural e da oferta

de cultura? E quanto ao Estado? E quanto à sociedade? E quanto às entidades

culturais? E quanto aos agentes de cultura?

Empresas:

Estado:

Sociedade:

Entidades:

Agentes:

Discrimine ações e procedimentos.

12. Existe articulação estratégica do grupo com o Estado a fim de apoiar uma ação

cultural? Em caso AFIRMATIVO, comente. Em caso NEGATIVO, discuta uma

alternativa.

13. Existe disciplina (burocrática) nas ações de Responsabilidade Social / Cultural do

grupo? Em caso AFIRMATIVO, comente. Em caso NEGATIVO, discuta uma

alternativa.

14. Quais os ganhos do grupo com as práticas de Responsabilidade Social / Cultural?

(Sociais, financeiros, organizacionais, sistemáticos)

15. Como deve proceder a um agente artístico ou grupo independente para obter incentivo

/ patrocínio financeiro junto ao grupo?

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16. Como é formada a agenda empresarial no que diz respeito às ações de

Responsabilidade Social / Cultural? Discrimine ações / procedimentos.

17. Qual a importância técnica das entidades culturais, do Estado e das empresas na

formação da agenda e na operacionalização das ações em Cultura? Discrimine sua

atuação, apoio técnico e o papel das empresas e do Estado na formação da agenda e na

operacionalização dessas ações.

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APÊNDICE C – CASAS / ENTIDADES CULTURAIS

Perfil institucional

Identificação funcional do agente pesquisado

Identificação departamental

Importância

Organização

Esfera contextual na pesquisa

Informações processuais institucionais

1. Como instituição competida a intermediar as relações entre agentes culturais e Estado,

como se dão as relações entre a entidade e as instituições do governo? Discrimine

procedimentos.

2. E quanto às relações com agentes de produção cultural? (Com base no item “1”)

Discrimine procedimentos.

3. E quanto às relações com empresas? (Com base no item “1”) Discrimine

procedimentos.

4. Quais procedimentos e medidas burocráticas (legais) são adotados a serem atendidos

junto ao Estado para que uma entidade obtenha o reconhecimento institucional de

organização de fomento e ou representativa da ação cultural e possa atuar como tal?

5. É realizada alguma medida de verificação, controle, avaliação ou averiguação das

atividades operacionais da entidade por parte do Estado / instituições da sociedade?

6. Como o Estado poderia melhor colaborar com a melhor oferta de Cultura para a

comunidade?

7. E quanto às casas de cultura (com base no item “6”)?

8. E quanto às empresas (com base no item “6”)?

9. E quanto aos agentes culturais (com base no item “6”)?

10. E quanto à sociedade (com base no item “6”)?

11. Com relação aos questionamentos dos itens entre “6” e “10”, discrimine ações e

procedimentos.

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12. Há demandas por articulação conjugada, oriundas das demais esferas (sociedade,

Estado, empresas e agentes de cultura) no que concerne à realização de ações

culturais? Em caso AFIRMATIVO, discrimine ações / procedimentos.

13. Quais os procedimentos a serem adotados por empresas / agentes culturais que se

interessam em articular um projeto de cunho social no âmbito da Cultura?

Empresas:

Agentes culturais:

14. Como se dá o controle social na prestação de contas dos governos e das empresas no

que concerne suas ações de incentivo à cultura? Averigue a participação de entes das

demais esferas e a prática desta ação por parte do Estado e das empresas.

15. Como deve proceder a um agente artístico ou grupo independente para obter incentivo

/ patrocínio fiscal e ou financeiro por parte do Fundo Público Destinado Á Cultura?

16. Como é formada a receita governamental destinada a este fundo (tratado no item

“15”)?

17. Como é formada a agenda governamental orientada para a Cultura, junto à entidade?

Discrimine procedimentos.

18. Com base no item “17”, e com relação à agenda da entidade? Discrimine

procedimentos.

19. A entidade tem conhecimento / acesso aos procedimentos adotados pelas empresas no

que concerne suas ações de Responsabilidade Social / Cultural? Em caso

AFIRMATIVO, discrimine.

20. A entidade tem conhecimento / acesso aos procedimentos adotados pelo Estado no

que concerne suas ações de controle sobre a prática de Responsabilidade Social /

Cultural por parte das empresas? Em caso AFIRMATIVO, discrimine.

21. Comente a importância da entidade para os agentes culturais e para a oferta de cultura

como um todo. Discrimine sua atuação, apoio técnico e o papel das empresas e do

Estado na formação da agenda e na operacionalização das ações em Cultura.