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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA ECOLOGIA HUMANA E MANEJO PARTICIPATIVO DA PESCA DO BÚZIO Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791)(Bivalvia: Veneridae) NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO (RN) LIGIA MOREIRA DA ROCHA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

“ECOLOGIA HUMANA E MANEJO PARTICIPATIVO DA PESCA DO BÚZ IO Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791)(Bivalvia:

Veneridae) NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO (RN)”

LIGIA MOREIRA DA ROCHA

2013

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LIGIA MOREIRA DA ROCHA

“ECOLOGIA HUMANA E MANEJO PARTICIPATIVO DA PESCA DO BÚZ IO Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791)(Bivalvia:

Veneridae) NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO (RN)”

ORIENTADORA:

Profa. Dra. ALPINA BEGOSSI – UNICAMP/Unisanta/UFRN CO-ORIENTADORA: Profa. Dra. PRISCILA FABIANA MACEDO LOPES - UFRN

Tese de Doutorado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ecologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como um dos requisitos à obtenção do título de Doutora em Ecologia.

NATAL

2013

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de Biociências

Rocha, Lígia Moreira da.

Ecologia humana e manejo participativo da pesca do búzio Anomalocardia brasiliana (Gmelin,

1791) (Bivalvia: Veneridae) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão

(RN) / Lígia Moreira da Rocha. – Natal, RN, 2013.

139 f.: il.

Orientadora: Profa. Dra. Alpina Begossi.

Coorientadora: Profa. Dra. Priscila Fabiana Macedo Lopes.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa

de Pós-Graduação em Ecologia.

1. Ecologia humana – Tese. 2. Manejo participativo – Tese. 3. Áreas protegidas – Tese. I. Begossi,

Alpina. II. Lopes, Priscila Fabiana Macedo. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV.

Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 574

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“ECOLOGIA HUMANA E MANEJO PARTICIPATIVO DA PESCA

DO BÚZ IO Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791)(Bivalvia:

Veneridae) NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO (RN)”

LIGIA MOREIRA DA ROCHA

Esta versão da tese, apresentada pela aluna LIGIA MOREIRA DA ROCHA ao

Programa de Pós-Graduação em Ecologia do Centro de Biociências, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi julgada adequada e

aprovada, pelos Membros da Banca Examinadora para a conclusão do Curso e

obtenção do título de Doutora em Ecologia.

MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________ Profª Drª. Alpina Begossi / UNICAMP/Unisanta/UFRN – Orientadora

____________________________________________________

Profª Drª. Adriana Rosa Carvalho / CB – UFRN – Membro Interno

___________________________________________ Profª. Drª. Tatiana S. Leite / CB – UFRN – Membro Interno

___________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo S. da Costa / UFERSA - Membro Externo

_____________________________________

Prof. Dr. Renato A. M. Silvano / UFRGS - Membro Externo

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As mulheres da reserva Como todos podem ver

Aprenderam a catar búzio, Isto não foi por prazer E sim por necessidade

É dura a realidade Mas eu tenho que dizer

Aqui quem vive da pesca Tem muita dificuldade De sustentar a família

Essa é a mais pura verdade As marisqueiras são danadas

Seguem de cabeça erguida Para suas atividades E por sinal bem unidas

Enfrentam chuva e calor Alguém já se deslocou Com bebê na barriga

As coisas estão melhorando Não percebe quem não quer

Porque chegou o projeto Gente da Maré E por sinal muito forte

Construindo todos o norte Com toda bela mulher

E vamos sim ajudá-los Na medida do possível Informando, orientando

Para que elas sejam felizes E possam se orgulhar E viver a mariscar

Na reserva que ela vive Esperamos certamente

Delas o nosso compromisso E elas se orgulhando De poder catar marisco

Está dando tudo certo Esse é o melhor projeto Aqui já desenvolvido

Silvio Sardinha 12-03-2009

(In memoriam, Si lvio M. M. da Si lva, out 2012)

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AGRADECIMENTOS GERAIS

A proposta desta pesquisa surgiu após quatro anos de trabalho na implantação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, apoiando seu Conselho Gestor e construindo participativamente a proposta de

Zoneamento e Gestão da reserva. Neste processo, ficou claro que não havia informação suficiente sobre a intensidade e a forma de uso da região estuarina do “Rio Tubarão” para se discutir e detalhar seu ordenamento. E mais, apesar de várias famílias viverem da mariscagem de búzio (Anomalocardia brasiliana),

não se conheciam quem eram, quanto extraiam, como realizavam sua atividade e quais necessidades e opiniões tinham, todos elementos cruciais no

ordenamento da pesca. O desafio então foi lançado e lideranças locais como Itá, Silvio, Elinho e Valfran, assim como o IDEMA e o Conselho Gestor da Reserva, apoiaram desde o início a proposta de um trabalho específico com as

marisqueiras. Como cada liderança local conhecia algumas marisqueira, o primeiro passo foi marcar reuniões iniciais em cada comunidade e assim começou o trabalho que ora se apresenta. Sem este apoio e a participação

ativa das famílias marisqueiras dificilmente teríamos caminhado. As famílias nos receberam de braços abertos em suas casas, na maré, em

suas vidas. Marisqueiras e marisqueiros tiveram a paciência de explicar como faziam, quanto tiravam e o que pensavam da mariscagem. Tiveram a força de varejar a canoa e transportar pesquisadores, mesmo que ela estivesse pesada

com as conchas. Aceitaram o desafio de registrar sua própria produção, quando papel e lápis não eram ferramentas que soubessem usar com precisão. Permitiram que registrássemos a mariscagem em fotos e vídeos, mesmo que

não estivessem arrumadas e fazendo pose (como todos nós preferimos aparecer nas fotos). E mais do que tudo, nos ensinaram uma imensidão de força, garra, determinação e superação, que a realidade da maré vai forjando

em quem com ela convive. Para minha feliz surpresa, no mesmo período do doutorado começaram as

atividades do projeto Gente da Maré (GdM), voltado para o uso de moluscos na

pesca artesanal. Sem esta parceria internacional entre Brasil e Canadá, não

teriam sido possíveis as viagens de campo à RDSEPT, o intercâmbio

envolvendo instituições, técnicos e marisqueiras de outros estados (Paraíba,

Pernambuco, Bahia, Santa Catarina, o Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA

e o Word Fisheries Trust - WFT). Através do GdM foi ainda possível participar

da capacitação em cadeia produtiva com a CAPINA e apresentar nosso

trabalho no IIFET 2010 na França, com apoio do CIDA-Canadá.

Esta pesquisa contou com o apoio financeiro dado pela CAPES através da

bolsa de doutorado e bolsa sanduiche por cinco meses no Canadá, para

trabalhar em colaboração com a Prof. Evelyn Pinkerton (Simon Fraser

University). Através do apoio da pró-reitoria de extensão da UFRN, financiando

o componente de extensão desta pesquisa, foi possível implantar o

monitoramento participativo, publicar o livreto e ter duas bolsas de iniciação

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científica para os então alunos da graduação em Ecologia: Marcio Rato e

Carolina Lira.

O trabalho na maré não é fácil. Demora em média 4 a 5 horas no sol

escaldante para acompanhar e registrar a mariscagem, com alguns dias

durando até 10 horas ininterruptas de trabalho. Nestas horas sempre foi bom

poder contar com o Marcio Rato para compartilhar as dificuldades, as

descobertas e o cansaço. Mesmo como aluno de iniciação científica, ele

demonstrou maturidade e tenacidade para realizar a pesquisa, muitas vezes

sozinho em campo, enquanto eu ainda não havia chegado na reserva ou

depois que eu já havia saído.

E por fim, esta história não teria acontecido sem que a família toda fizesse um

esforço conjugado de acreditar num doutorado, mesmo que tardio. Márcio,

Isabela e a Cris (de Natal) se organizaram para que eu pudesse ficar fora de

casa pelo menos uma semana por mês por quase dois anos. E a família maior,

nos bastidores e espalhada por Santos, São Paulo, Piracicaba, Curitiba,

Austrália e Santa Catarina, formou as bases em que o caminho pudesse ser

construído.

Agradeço ainda aos amigos Elinho, Itá e Valfran, que estão sempre prontos

para tentar melhorar a vida comunitária na reserva. Ao Silvio Sardinha, in

memoriam, pescador, poeta, cozinheiro e amigo, que me apresentou as

marisqueiras e organizou as primeiras reuniões.

Ao Jim, que me apresentou o “Jump” e ajudou a pensar no design das

planilhas (sem cores!), nos números...

A Priscila que ajudou a construir o caminho…

A Alpina que aceitou o desafio de se credenciar na Pós no Nordeste, quando o

programa ainda engatinhava...

Aos amigos, professores e colegas que acompanharam esta trajetória de

“búzios, marisqueiras e RDS” e formam nossa família em terras potiguares e

canadenses.

Ao Coca que acreditou e assumiu “o ponta pé” oficial inicial.

Ao Vicente que apoiou toda parte de georreferenciamento.

A Alison, John e Yogi do WFT que ativamente apoiaram minha participação no

GdM, e se tornaram bons amigos.

Ao Márcio que acreditou que casar, fazer família, estudar, trabalhar e ser feliz

são possíveis...

A todos, meu sincero e profundo agradecimento.

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SUMÁRIO

“ECOLOGIA HUMANA E MANEJO PARTICIPATIVO DA PESCA DO BÚZIO

Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791)(Bivalvia: Veneridae) NA RESERVA DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO (RN)” ........... 1

“ECOLOGIA HUMANA E MANEJO PARTICIPATIVO DA PESCA DO BÚZIO

Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791)(Bivalvia: Veneridae) NA RESERVA DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO (RN)” ........... 3

AGRADECIMENTOS GERAIS ............................................................................................................. 7

SUMÁRIO .................................................................................................................................................. 9

LISTA DE ABREVIATURAS...............................................................................................................11

LISTA TABELAS ...................................................................................................................................12

LISTA FIGURAS ....................................................................................................................................13

RESUMO..................................................................................................................................................14

ABSTRACT .............................................................................................................................................15

APRESENTAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DESTE TRABALHO .....................................................16

INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................................................19

Áreas Protegidas, Pesca, Pobreza, A. brasiliana e Ecologia Humana: integrando

abordagens na RDS Estadual Ponta do Tubarão (RN). ..........................................................19

A Dimensão Humana na Pesca ......................................................................................................21

A extração de Anomalocardia brasiliana (Veneridae) (Gmelin, 1791)...................................24

A mariscagem na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão

(RN) .......................................................................................................................................................26

Objetivos da Pesquisa ......................................................................................................................28

Referências bibliográficas ................................................................................................................29

Capítulo 1: “ECOLOGIA HUMANA E MARISCAGEM DE Anomalocardia brasiliana NO

NORDESTE BRASILEIRO” ................................................................................................................37

1.1. Ecologia Humana e Manejo de Recursos Naturais ......................................................38

1.2. A Mariscagem de A. brasiliana no Nordeste Brasileiro................................................39

1.3. O Manejo Participativo de A. brasiliana no Nordeste Brasileiro ................................49

1.4. Considerações Finais ..........................................................................................................50

1.5 Referências Bibliográficas ..................................................................................................51

Capítulo 2: “POVERTY TRAP IN SMALL SCALE FISHERIES OF CLAMS IN BRAZIL” .55

2.1. Introduction .............................................................................................................................55

2.2 Material and Methods ..........................................................................................................58

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2.3 Results.....................................................................................................................................63

2.4 Discussion ..............................................................................................................................69

2.5 Suggestions for clam fishery improvement and poverty alleviation ..........................72

2.6. Conclusions ............................................................................................................................75

2.7 Literature Cited ......................................................................................................................77

Capítulo 3: Attempts of clam co-management “CO-MANAGEMENT OF CLAMS IN

BRAZIL: A FRAMEWORK TO ADVANCE COMPARISON ......................................................84

3.1. Introduction: A Context in Search of a Theory ...............................................................85

3.2. Methods ..................................................................................................................................87

3.3 Comparative Analysis of Brazilian Clam Co-Management Initiatives .......................90

3.4. Clam Co-Management in Brazil: Steps Achieved and Barriers Still to Overcome.96

3.5. Conclusion ..............................................................................................................................99

3.6. Acknowledgments...............................................................................................................111

3.7. Literature Cited ....................................................................................................................100

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A MARISCAGEM DE A. brasiliana E

RECOMENDAÇÕES ...........................................................................................................................111

Recomendações...............................................................................................................................117

Referências Bibliográficas ..............................................................................................................125

ANEXOS ................................................................................................................................................128

A. Roteiro de entrevista ..............................................................................................................129

B. Formulário do Monitoramento participativo .......................................................................130

C. Livreto “As Famílias Marisqueiras da RDS Ponta do Tubarão (RN)” .........................134

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LISTA DE ABREVIATURAS

CAPINA Cooperação e Apoio a Projetos de Inspiração Alternativa

CIDA Agência Canadense de Desenvolvimento International

FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e

Agricultura

GdM Projeto Gente da Maré

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IDEMA Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente

do Rio Grande do Norte

IIFET The International Institute of Fisheries Economics and Trade

IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais

MER Marine Extractive Reserve

MPA Ministério de Pesca e Aquacultura

NGO Non Governmental Organization

ONG Organização Não Governamental

PoT “People of the Tides” (projeto “Gente da Maré”)

RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável

RDSEPT Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão

SDR Sustainable Development Reserve

UNDP Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

WFT World Fisheries Trust

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LISTA TABELAS

Capítulo 2 página

Tabela 1

Extração de Anomalocardia brasiliana em três

comunidades pesqueiras da RDS Ponta do Tubarão (RN) entre fevereiro de 2010 a maio de 2011.

63

Tabela 2

Produção anual de Anomalocardia brasiliana pelas

famílias marisqueiras da RDS Ponta do Tubarão (RN), considerando as produções brutas média, mínima e máxima registradas entre fevereiro de 2010 a maio de 2011.

65

Tabela 3 Renda bruta mensal de marisqueira(o)s da RDS

Ponta do Tubarão (RN) baseada na extração de Anomalocardia brasiliana.

67

Tabela 4

Produção bruta de Anomalocardia brasiliana,

frequência de mariscagens e preço de venda do quilo da carne de “búzio” em relação ao salário mínimo.

67

Capítulo 3

Tabela 1

Comparação dos arranjos institucionais nas

iniciativas brasileiras de co-manejo envolvendo Anomalocardia brasiliana: Reserva Extrativista

Marinha do Pirajubaé e Projeto Gente da Maré.

106

Tabela 2 Perfil das marisqueiras e marisqueiros envolvidos em Pirajubaé e no Projeto Gente da Maré

109

Anexos

Tabela 1 Balanço por comunidade de formulários do

monitoramento participativo da pesca entregue pelas famílias voluntárias

131

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13

LISTA FIGURAS

Introdução página

Figura 1. Localização da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RN) no nordeste Brasileiro.

26

Capítulo 1

Figura 1 Fatores que podem estar associados à decisão de quando mariscar Anomalocardia brasiliana, onde ir e

quanto extrair.

41

Figura 2 Formas de extração e transporte de Anomalocardia brasiliana

43

Capítulo 2

Figura 1. Localização da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RN) no

nordeste Brasileiro.

57

Figura 2 Ciclo de extração de Anomalocardia brasiliana no

nordeste brasileiro. 59

Figura 3 Opinião da(o)s marisqueira(o)s sobre (A) os “búzios” (quantidade e tamanho) e (B) o risco de

contaminação do estuário e da carne dos “búzios”

68

Capítulo 3

Figura 1.

Localização das iniciativas de co-manejo envolvendo Anomalocardia brasiliana no litoral Brasileiro: Projeto

Gente da Maré (PE, BA, RN e PB) e Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé (SC).

88

Considerações finais sobre a mariscagem e Recomendações

Figura 1. Fatores que acompanharam a tomada de decisão no

processo de mariscagem na RDS Ponta do Tubarão 113

Anexos

Figura 1. Roteiro de entrevistas 128

Figura 2 Formulário do monitoramento participativo 129

Figura 3 Processo de análise dos dados do monitoramento 132

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RESUMO

Áreas Protegidas costeiras e marinhas são criadas para conservar a

biodiversidade e manter os recursos pesqueiros. No entanto, muitas vezes

envolvem comunidades litorâneas em situação de pobreza e que têm a pesca

(e a mariscagem) como principal fonte de alimento e renda. Assim, objetivos

econômicos, sociais e de conservação se sobrepõem. Neste processo,

entender o comportamento dos pescadores é essencial, já que são usuários

diretos dos recursos marinhos e seu comportamento afeta o sistema pesqueiro.

Apesar da pesca de invertebrados fazer parte da historia de ocupação humana

das áreas costeiras e ser importante fonte de alimento e renda na America

Latina, faltam pesquisas para o manejo destes recursos. Esta pesquisa teve

como objetivo entender a pesca artesanal do búzio Anomalocardia brasiliana

(Gmelin, 1791) (Bivalvia: Veneridae), molusco bivalve com alto valor social no

nordeste brasileiro, e propor estratégias de manejo participativo para o mesmo.

A pesquisa foi realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual

Ponta do Tubarão (RDSEPT, RN), onde pouco se conhecia sobre a forma de

exploração desta espécie e seus usuários, seguindo o padrão nacional de

invisibilidade que a atividade tem no Brasil. Através de entrevistas,

monitoramento participativo e acompanhamento da pesca no período de

janeiro/2010 a maio/2011, foi possível: a) identificar quem mariscava (perfil e

frequência na maré), b) registrar a pesca (os locais e formas de extração, as

quantidades extraídas, as formas de beneficiamento e o tempo gasto na

atividade), c) discutir a sustentabilidade socio econômica da atividade, e d)

envolver as famílias no levantamento e análise de dados. Com o conhecimento

gerado recomenda-se um arranjo institucional participativo para a mariscagem,

envolvendo co-manejo, acordo de pesca, defeso diferenciado e melhorias para

a cadeia produtiva do búzio (como preço mínimo para a carne, fortalecimento

de redes de produtores e campanhas de valorização do produto). A partir do

envolvimento com outras comunidades marisqueiras, foi também possível fazer

uma descrição detalhada sobre como a mariscagem acontece no Nordeste

brasileiro. Por fim, comparando-se a experiência do Projeto Gente da Maré,

envolvendo comunidades marisqueiras no Nordeste brasileiro, e a da

implantação da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé (SC), analisou-se os

avanços e as dificuldades existentes nas iniciativas que envolveram co-manejo

de A. brasiliana no Brasil.

Palavras chave: Manejo participativo, áreas protegidas, pesca, Anomalocardia

brasiliana, Ecologia Humana, pescadoras, marisqueiras

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ABSTRACT Coastal and marine protected areas are created to protect habitat, avoid

biodiversity loss, and to help maintain viable fisheries. However, most of these

areas in tropical countries occurs in impoverished regions and directly affect the

livelihood and survival of coastal communities which directly depend on

fisheries and shellfisheries. Therefore, socioeconomic and conservation goals

overlap. In this context, fishers should have a central place in resource

management. They are critical resource users and their behavior directly affects

the system. Shellfish resources are important sources of food, employment and

income to fishing communities in Latin America. But despite its widespread use

for food and income, there is an urgent need of more research on shellfish

management. This research discusses the artisanal fisheries of Venus clam

(Anomalocardia brasiliana) (Gmelin, 1791) (Bivalvia: Veneridae) in Brazil, and

points out strategies to improve the system. Venus clam is a small and

commonly exploited species for food and income on the Brazilian coast. This

research was carried out at Ponta do Tubarão Sustainable Development

Reserve (Brazilian Northeast coast), where there was no information available

about who harvest, where or how much Venus clam has been harvested,

despite this resource being exploited for generations. Clam fishery follows the

pattern of socio-economic invisibility that general clam exploitation has in Brazil.

Methods used were interviews, participatory monitoring and focal follow

observation from January 2010 to May 2011. Results include: (a) the

identification of shell fishers, (b) how harvest and meat processing are

performed (mollusk beds, time spent, gross and net production), (c) the analisis

of shell fisher income and their economic sustentability, and (d) the involvement

of shell fisher families in data gathering and analyses for the first time. Based on

the acquired knowledge, we propose a new institutional arrangement for clam

fishery including co-management, fisheries agreement, compensatory

arrangements and improvements for the Venus clam value chain such as the

establishment of a minimum price for clam meat. This research also includes

two other results: a general description for Venus clam harvesting in the

Brazilian Northeast coast and a specific discussion about co-management of

Venus clam in Brazil. The first one was possible through the meeting of several

shell fisherwomen from other states during activities promoted by “People of the

Tides” (PoT) project. PoT was an international initiative aiming to develop

coastal communities that depend on mollusk for their livelihood. The second

one is a comparison between “PoT” and Venus clam management at Pirajubaé

Marine Extractive Reserve (Santa Catarina). It evaluates the success and

failures of these only two initiatives involving co-management of A. brasiliana in

Brazil.

Key words: Participatory manegement, shell fisheries, protected areas,

Anomalocardia brasiliana, Human Ecology, fisher women

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APRESENTAÇÃO E ORGANIZ AÇÃO DESTE TRABALHO

Este documento está organizado em seções gerais e capítulos, cada um

contendo ao seu final as referências bibliográficas citadas. Por ser um trabalho

realizado numa área protegida costeira, a Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT), com extração de moluscos

por famílias marisqueiras, a “Introdução” apresenta como conservação, pesca,

comportamento humano e pobreza estão interligados. A Introdução traz

também duas breves descrições, uma sobre a RDSEPT e outra sobre a

espécie foco da mariscagem na reserva, o “búzio” Anomalocardia brasiliana

(Gmellin, 1791) (Mollusca: Veneridae). Por sua ampla distribuição na costa

Brasileira, esta espécie é conhecida por vários nomes como “berbigão”,

“marisco”, “chumbinho”, “marisco pedra” e “vôngole”. A proposta nesta seção

não foi exaurir o assunto, mas sim contextualizar esta pesquisa em relação às

diretrizes para as áreas protegidas costeiras, ao reconhecimento da dimensão

humana no manejo da pesca e ao uso de moluscos por comunidades costeiras.

Ao final da introdução são apresentados os objetivos gerais da pesquisa.

Os capítulos fazem parte dos resultados da pesquisa e estão escritos em

formato de publicação. O primeiro fará parte do livro “Gente da Maré: Aspectos

Ecológicos e Socioeconômicos da Mariscagem no Nordeste Brasileiro”, que a

Universidade Federal do Semiárido (UFERSA) em conjunto com o Word

Fisheries Trust (WFT) e o Ministério da Pesca (MPA) lançarão ainda em 2013,

com o término do Projeto “Gente da Maré” (GdM). Este capítulo traz uma

revisão geral sobre como a extração de A. brasiliana acontece no nordeste

brasileiro, e não apenas na RDS Ponta do Tubarão. Pretendeu-se fazer uma

descrição detalhada da extração e do processamento das conchas, além da

jornada de trabalho, como estratégia de sistematização do conhecimento,

valorização da atividade e promoção de sua visibilidade. Neste capítulo uniu-se

os trabalhos já existentes sobre a mariscagem nos diversos estados

nordestinos (BA, AL, PB, PE, RN, CE, MA) com a experiência adquirida com as

famílias marisqueiras, tanto na RDSEPT, quanto nos intercâmbios com

marisqueira(o)s de Grossos (RN) e dos Estados da Paraíba, Pernambuco e

Bahia, proporcionados pelo GdM. Aliada a esta caracterização, discutiu-se

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como a abordagem em Ecologia Humana pode auxiliar na compreensão do uso

dos recursos e, portanto, no processo de gestão da atividade.

O segundo capítulo traz os resultados da pesquisa sobre a mariscagem

na RDS Ponta do Tubarão. Até então a mariscagem existia mas era “invisível”,

não se sabia efetivamente quem explorava, quando e como o fazia, quanto se

produzia, com qual esforço de pesca e quais eram os rendimentos associados.

Neste capítulo está descrita a metodologia utilizada para levantar as

informações sobre o perfil da(o)s marisqueira(o)s e a mariscagem em si. Está

escrito na forma de artigo a ser submetido para publicação na Ecological

Economics. O capítulo além de trazer as informações geradas ainda trata

sobre: 1) como iniciativas de conservação da natureza se sobrepõem a

contextos de pobreza nas áreas costeiras de países tropicais, 2) a importância

de se conhecer quem são os usuários de recursos naturais e de tê-los como

aliados nas estratégias de manejo e 3) estratégias para melhoria do sistema

socioecológico da mariscagem e da cadeia produtiva do búzio em busca da

sustentabilidade. Vinculado a este capitulo encontram-se três anexos: dois

formulários (um para entrevista da(o)s marisqueira(o)s e outro para o

monitoramento participativo da pesca) e um livreto que retrata a mariscagem

na Reserva. Fotos de todo processo de mariscagem na RDSEPT podem ser

encontradas no livreto. Os anexos trazem ainda o detalhamento de como o

registro fotográfico, o formulário do monitoramento participativo e o livreto

foram construídos com as famílias marisqueiras durante esta pesquisa.

O terceiro capítulo trata de uma análise sobre as duas experiências em

co-manejo de A. brasiliana no Brasil: o GdM e a implantação da Reserva

Extrativista Marinha do Pirajubaé. O GdM foi uma parceria Brasil-Canadá

voltada para o desenvolvimento das comunidades litorâneas, no Nordeste

brasileiro, que dependem da exploração de moluscos como fonte de

subsistência e renda. Aconteceu em quatro estados nordestinos no período de

2009 a 2011; e financiou parte do trabalho de campo desta pesquisa. A

Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé foi criada em 1992 em Santa

Catarina para viabilizar o co-manejo da espécie com as famílias marisqueiras.

Neste artigo utilizou-se o arcabouço teórico proposto pela Dra. Evelyn

Pinkerton (Simon Fraser University-SFU/Canadá) para analisar as duas

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experiências e discutir os avanços e desafios ainda existentes para o co-

manejo de A. brasiliana no Brasil. Está escrito na forma de artigo já submetido

para avaliação na revista Ecology & Society e, se aprovado, será publicado em

um volume especial sobre sistemas socioecológicos e cooperação na pesca da

América Latina. Este capítulo foi fruto da bolsa sanduiche da CAPES

(programa Ciência sem Fronteira), realizado na SFU sob orientação da Dra.

Pinkerton.

Após estes três capítulos seguem outras duas seções gerais. A primeira

“Considerações finais sobre a mariscagem de A. brasiliana e Recomendações”

traz uma síntese dos resultados e recomendações gerais ao manejo. Seguem

então os “Anexos”.

Uma cópia integral da versão final deste documento e um relatório em

linguagem mais simplificada serão ainda entregues ao Conselho Gestor da

RDSEPT e ao IDEMA ( órgão ambiental estadual criador da reserva), de

maneira que os envolvidos com a reserva tenham acesso ao conjunto de

informações geradas de maneira sucinta e rápida, para auxiliar o processo de

gestão da reserva.

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INTRODUÇÃO GERAL

Áreas Protegidas, Pesca, Pobreza, Mariscagem e Ecologia

Humana: integrando abordagens na RDS Estadual Ponta do

Tubarão (RN).

Conservação e Áreas Protegidas

Em todo mundo as áreas costeiras e marinhas estão sendo submetidas

às pressões cada vez maiores por usos como a pesca, o turismo e o

desenvolvimento urbano. A alteração de habitats e invasão de espécies

exóticas, somadas à degradação ambiental em geral, tornam áreas de

significativa importância ecológica cada vez mais vulneráveis ao não

receberem atenção e gestão adequados. Especificamente no caso da pesca, é

conhecida a crise global em que a atividade se encontra. Muitos estoques

envolvendo recursos naturais potencialmente renováveis ficaram

comprometidos devido à sobre-exploração humana, dentre outros fatores

(Pauly et al. 2002, Hilborn et al. 2005, Berkes et al. 2006, Hilborn 2007).

A criação de áreas protegidas na zona costeira surge no cenário

internacional como prioridade e estratégia para ajudar a manter os recursos e

aumentar a produtividade de pesca, conservar a biodiversidade, além de criar

oportunidades educacionais e de lazer (Kelleher 1999). Apesar de haver um

consistente arcabouço científico para as áreas protegidas terrestres, o mesmo

não acontece com as costeiras e marinhas (Gerber et al. 2003). De uma

maneira geral estas áreas apresentam algum tipo de restrição de uso num

mosaico variado de arranjos institucionais (World Bank 2006). Sua implantação

envolve um redesenho territorial que pode alterar o regime de propriedade de

livre acesso total, já que proíbe o uso dos recursos, como as áreas de exclusão

de pesca (Kalikoski 2007).

Frequentemente áreas de alta concentração de biodiversidade coincidem

geograficamente com áreas de pobreza, onde a subsistência humana depende

fortemente de recursos naturais (como peixes e mariscos), apesar desta

relação ainda ser pouco compreendida (Barrett et al. 2011). Devido à condição

de pobreza, muitas famílias não conseguem pagar por bens que poderiam

melhorar sua condição de vida, caracterizando um ciclo vicioso. O uso de lenha

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e carvão para cozinhar, por exemplo, é comum em situações de pobreza (Duflo

et al. 2008), colaborando com a perda de biodiversidade pelo desmatamento e

contribuindo com as mudanças climáticas globais (Dey et al. 2012).

Assim, a implantação de áreas protegidas pode interferir diretamente na

segurança alimentar de inúmeras populações costeiras que se utilizam dos

recursos naturais envolvidos. Sua gestão enfrenta o desafio de balancear as

necessidades de uma gama variada de atores sociais, fomentando acordos

entre atores com interesses muitas vezes conflitantes como conservação,

incremento da pesca, turismo, entre outros (Carr 2000). Criar e gerir uma área

protegida costeira ou marinha implica em desafios científicos, sociais,

econômicos, institucionais, e legais. Envolve, portanto, uma complexa rede de

instituições (governamentais e não governamentais relacionadas à pesca, meio

ambiente, desenvolvimento, etc.) em diferentes níveis de jurisdição com

potenciais relações também conflitantes (CEDMMRPA 2001).

A necessidade de uma gestão mais participativa nas áreas protegidas

vem sendo cada vez mais ressaltada nesta última década. Por exemplo, no “II

Congresso Latino Americano de Parques Nacionais e outras Áreas Protegidas”

(2007) definiu-se como prioridades: a) inclusão de diferentes atores sociais em

todas as etapas do processo, b) integração de conhecimentos tradicionais e

científicos, c) ampliação dos processos de planejamento participativo, d) boa

governança com transparência, equidade, prestação de contas e estratégias de

manejo de conflitos, e) priorização de pesquisas (ecológica, social e

econômica) que integrem os conhecimentos e subsidiem a tomada de decisão

e f) reconhecimento das áreas protegidas como instrumentos que permitem

serviços ambientais, econômicos e sociais essenciais para a sociedade.

Ao longo da costa brasileira, inúmeras comunidades de pequenos

pescadores e agricultores nas regiões litorâneas vivem tradicionalmente da

exploração dos recursos ali existentes. Estas comunidades pesqueiras têm

existência sociocultural distinta e apresentam sistemas tradicionais de manejo

pesqueiro (mesmo que não formalizados ou incipientes) por meio de

apropriações sociais de espaços costeiros/marítimos (Diegues 1995). Nestes

casos as relações pessoais de amizade e parentesco regulam o acesso ao

recurso (Begossi 2006, 2010). Apesar desta íntima relação com os recursos

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pesqueiros, o arranjo convencional da pesca com visão desenvolvimentista,

centralizadora, estatal e voltada para a industrialização, afastou e marginalizou

as comunidades de pesca em pequena escala (Kalikoski 2007). Neste

contexto, as unidades de conservação de uso sustentável previstas no Sistema

Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)1 e voltadas para as

comunidades tradicionais - Reservas Extrativistas (RESEX) e Reservas de

Desenvolvimento Sustentável (RDS) - têm o papel de resgatar a participação

destas comunidades na conservação e gestão dos recursos naturais.

Atualmente na região litorânea Brasileira existem 21 Reservas Extrativistas

federais (PA, MA, CE, PE, PB, BA, AL, RJ, SP, PI e SC), e cinco RDSs (ES,

RN, SP) estaduais e municipais (MMA, 2013).

As RDSs são experiências novas no Brasil (MMA 2013)2. De acordo com

Vianna e Sales (2006), até a elaboração do plano de manejo de uma RDS,

considera-se que as atividades devem se restringir àquelas já desenvolvidas

historicamente pelos beneficiários, adequadas por um plano emergencial de

uso sustentável de recursos e aprimoradas em relação à: a) sustentabilidade

ambiental, b) aumento de produtividade, c) agregação de valor à produção, e d)

maior rentabilidade na comercialização da produção e prestação de serviços.

A Dimensão Humana na Pesca

Há mais de quarenta anos, o clássico trabalho conhecido como “A

Tragédia dos Comuns” (Hardin 1968) indicava que o acesso não regulado a

recursos levava à sobre-exploração dos mesmos, uma vez que cada indivíduo

tenderia a aproveitar o recurso ao máximo, antes que outros o fizessem. No

entanto, “propriedade comum” é diferente de “livre acesso” e as populações

locais e grupos de usuários podem se organizar e regular o uso dos recursos

(Feeny et al. 1990). Por “propriedade comum” entende-se como direito e regras

de uso de um determinado recurso por um grupo específico de usuários

(excluindo outros), enquanto “livre acesso” envolve a ausência de direitos de

uso relacionado ao mesmo (Ostrom et al. 1999). Por traz da lógica da “tragédia

1 O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000) definiu as

Reservas Extrativistas (Resex) e Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) como unidades de

conservação de uso sustentável dos recursos voltadas às comunidades tradicionais. 2 Das 32 RDS existentes, 88% foi criada no período de 2002-2010.

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dos comuns” estão fatores relacionados à motivação humana (interesses

pessoais ou voltados ao grupo), às regras de uso dos recursos (restrições de

acesso e uso) e ao tipo de recurso em questão (Dietz et al. 2002). Assim, a

situação em que os recursos de uso comum se encontram depende

diretamente das habilidades e aspectos culturais dos grupos locais que o

utilizam, do contexto legal e institucional onde os mesmos estão incluídos, e da

escala de percepção tratada (Ostrom et al. 1999, Adams et al. 2003).

Entender a motivação humana e as regras de uso diz respeito ao

comportamento dos usuários dos recursos e como o processo de exploração

acontece. Na pesca, o crescente interesse na relação entre a exploração dos

estoques e o comportamento do pescador (Begossi 2001, Guest 2003, Salas

and Gaertner 2004) ocorre, em parte, devido aos insucessos das tentativas de

se manejar os recursos sem as informações adequadas sobre o sistema de

pesca e seus usuários (Pauly et al. 2002, Hilborn 2007). Conforme ressaltam

Béné e Tewfik (2001), manejo da pesca não diz respeito apenas ao estoque,

mas também ao manejo das interações entre os estoques e as atividades

humanas que dependem desta exploração. Segundo Begossi (2008), quatro

aspectos devem ser compreendidos para se considerar o manejo na pesca: a)

o uso dos recursos pesqueiros e dos outros recursos naturais pelos indivíduos

da comunidade, b) o uso do espaço aquático, c) o comportamento decisório

dos pescadores e d) o conhecimento local dos pescadores. Estudar o

comportamento do pescador, entendendo suas estratégias de pesca e

decisões permite identificar o modelo de exploração existente e avaliar sua

adequação ao manejo da espécie explorada (Lopes e Begossi 2011), além de

identificar os incentivos adequados à participação dos pescadores na gestão

da pesca (Parma et al. 2003, Hilborn et al. 2005, Orensanz et al. 2005).

Uma das formas de se entender o comportamento e o processo de

tomada de decisão dos usuários de recursos é através de modelos ecológicos

baseados em custos e benefícios, tais como os modelos de forrageamento

ótimo (Stephens and Krebs 1986, Begossi 1992). Estes modelos ajudam a

compreender mecanismos de decisão que envolvem sistemas predador-presa,

típicos na pesca ou mariscagem. Tais modelos levam em conta custos

temporais, por exemplo tempo gasto em diferentes etapas do processo, e os

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benefícios ou retorno decorrentes da exploração (calorias, produção ou valores

monetários). Na pesca, estes modelos têm sido usados para entender o

comportamento dos pescadores em termos de locais de pesca, o que pescar e

quanto tempo permanecer em um determinado pesqueiro ou local de extração

(Begossi 1992, Bird e Bird 1997, Aswani 1998, Begossi et al. 2005, Thomas

2007).

Mas além de se compreender o comportamento do pescador, arranjos

participativos na pesca, tais como co-manejo, têm sido identificados como

estruturantes em situações de manejo eficiente (Castilla e Defeo 2001,

Pomeroy et al. 2001, Hilborn et al. 2005, McClanahan et al. 2009). Um sistema

de co-manejo é aquele no qual representantes de grupos de usuários, agências

governamentais e instituições de pesquisa participam da tomada de decisão

sobre as medidas a serem adotadas para a melhor gestão do recurso ou área

em questão (Jentoft 2003, Carlsson e Berkes 2005). No entanto os processos

de co-manejo ainda encontram-se distantes de se tornarem efetivos em termos

organizacionais e de viabilidade (Ruddle e Hickey 2008). A participação local

efetiva na tomada de decisão e o desenvolvimento de alternativas econômicas

para as comunidades, por exemplo, são ainda desafios a serem enfrentados

(Lopes et al. 2011).

No Brasil iniciativas de co-manejo envolvendo recursos naturais iniciaram

a partir da década de 90 em variadas formas de arranjos institucionais, desde

parcerias entre organizações não governamentais e governamentais para

manejo de unidades de conservação (Rocha e Jacobson 1998) até iniciativas

de co-manejo na pesca (Castro e McGrath 2003, Kalikoski et al. 2009, Oviedo e

Bursztyn 2004, Seixas e Kalikoski 2009). A idéia de se envolver a população

local nas decisões a serem adotadas para o melhor uso dos recursos naturais

tem ganhado força, especialmente em reservas de desenvolvimento

sustentável e extrativistas, onde se permite às pessoas permanecer na área

em que já viviam (Castello et al. 2009). Mas em geral iniciativas de manejo e

co-manejo na pesca têm sido voltadas para espécies de peixes de alto valor

comercial, sobreexplotadas ou em risco de extinção (Vasconcellos et al. 2007,

Dias Neto 2011) ignorando espécies de valor social relevante como

Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia: Veneridae).

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A extração de Anomalocardia brasiliana (Veneridae) (Gmelin, 1791)

A utilização de recursos marinhos como alimento remonta aos primórdios

da humanidade (Yesner, 1980). Ocupações humanas no Brasil

tradicionalmente concentraram-se nas zonas costeiras em função de

características ambientais, históricas, sociais e econômicas destas regiões.

Inúmeras comunidades costeiras vivem da exploração dos recursos existentes

nas regiões litorâneas, algumas delas vivendo exclusivamente dos recursos

renováveis do mangue (Diegues, 1995).

Entre os recursos marinhos costeiros no Brasil, destaca-se a espécie

Anomalocardia brasiliana (Veneridae) (Gmelin, 1791), cuja utilização remete à

história de ocupação da costa brasileira por ser uma das espécies mais

frequentes nos sambaquis ao longo do litoral (Gaspar et al. 2008). Este bivalve

ocorre do Caribe ao Uruguai (Rios 1994) e, dada sua ampla distribuição, é

conhecido por vários nomes como “búzio” (Rio Grande do Norte), “berbigão”

(Santa Catarina), “vôngole” (São Paulo), “marisco” (Paraíba), “marisco-pedra”

(Pernambuco) e “chumbinho” (Bahia). Pode ser encontrada enterrada

superficialmente na zona entre-marés, em banco areno-lodosos localizados em

águas calmas (Monti et al. 1991, Moueza et al. 1999, Pezzuto e Echternacht

1999, Boehs et al. 2008). É relativamente fácil de capturar e fonte expressiva

de proteína e minerais com baixos teores lipídicos e calóricos (Pedrosa e

Cozzolino, 2001). Vários estudos citam sua importância socioeconômica para

populações litorâneas da Bahia (Bispo et al. 2004, Martins e Souto 2006, Souto

e Martins 2009), de Alagoas (Botelho e Santos 2005), de Pernambuco (Lima et

al. 2007, Barletta e Costa 2009, Silva-Cavalcanti e Costa 2009, Oliveira 2010),

da Paraíba (Nishida et al. 2004, 2006b, 2008), do Rio Grande do Norte (Dias et

al. 2007, Rodrigues et al. 2010, Silva e Costa 2010, Silva et al. 2010), do Ceará

(Araújo e Rocha-Barreira 2004, Rocha-Barreira e Araújo 2005), do Piauí

(Freitas 2011) e do Maranhão (Moreira 2007).

A. brasiliana caracteriza-se por ter concha triangular, grossa e pequena

(comprimento geralmente variando entre 15 - 30 mm). É um recurso bêntico

sedentário, com fertilização externa e ciclo de reprodução contínuo (Moueza et

al. 1999, Rocha-Barreira and Araújo 2005, Rodrigues 2009). Na região Sul

pode apresentar picos de maior intensidade reprodutiva (Boehs et al. 2008) ou

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até mesmo uma estação definida de reprodução (Pezzuto e Echternacht 1999).

Após 24 horas da fecundação a larva véliger está formada, mas o estágio

planctônico é relativamente curto e as larvas tornam-se bentônicas

plantígradas após cerca de 10 dias (Moueza et al. 1999). No Rio Grande do

Norte o recrutamento de indivíduos jovens (1 a 3 mm de comprimento) é

contínuo ao longo do ano (Rodrigues et al. 2010). O ciclo de vida de A.

Brasiliana também é curto sendo menor que cinco anos (Rodrigues 2009).

A espécie apresenta grande variação na flutuação populacional ao longo

do tempo e vigorosa competição intra-específica, o que afeta o recrutamento

(Monti et al. 1991) e promove distribuição espacial distinta para juvenis e

adultos (Boehs et al. 2004). Condições ambientais como circulação da água e

sedimentação também influenciam na distribuição dos indivíduos (Araújo e

Rocha-Barreira 2004). Chuvas fortes e frequentes aumentam a mortalidade

decorrente do estresse causado pela diminuição severa da salinidade (Monti et

al 2001, Araujo e Rocha-Barreira 2004, Boehs 2008) e aumento de sedimentos

(Rodrigues 2009).

Geralmente a coleta do molusco é artesanal, preferencialmente feminina

no Nordeste, realizada durante o ano todo e não há no Brasil ordenamento da

extração (Macnaughton et al 2010, Nishida et al. 2004). Dados de produção

são raros e realizadas em diferentes contextos. Na Reserva Extrativista de

Pirajubaé (SC) a produção anual entre 1989 e 1995 variou entre 43 e 185

toneladas, alcançando 947t em 2005 (Souza 2007). Já no estuário de Goania

(PE) a produção no mesmo ano foi de 3.000t (Barletta and Costa 2009). Santa

Catarina é o único estado brasileiro onde há algum tipo de regulamentação da

extração desta espécie, mas envolve apenas a área da Reserva Extrativista

Marinha do Pirajubaé, cuja implantação nunca foi efetiva. Em geral deve-se

adotar o limite mínimo de extração como sendo 20 mm para assegurar que a

maturidade sexual tenha sido alcançada (Arruda Soares et al. 1982).

Embora esta espécie seja abundante, trata-se de um recurso com baixa

capacidade de estocagem. Uma vez coletados, os indivíduos sobrevivem até

24 horas em condições anóxicas em laboratório (Hiroki 1971, apud Araújo e

Rocha Barreira 2004). As famílias marisqueiras aproveitam esta característica

para manter os sacos de conchas no quintal, quando não conseguem

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processá-los no mesmo dia de extração. No entanto, cobrem a produção para

evitar que a chuva ou água doce acelerem a morte e comprometam a

qualidade da carne produzida.

O impacto humano nos recursos costeiros acompanha a própria história

da humanidade. Muito antes da existência de registros históricos da pesca, a

diminuição do tamanho de conchas encontradas em sambaquis demonstra a

influência humana na estrutura de espécies marinhas costeiras (Rick e

Erlandson 2009, Erlandson et al. 2008). No caso de A. brasiliana o impacto

humano decorrente da degradação ambiental costeira, exploração contínua e

mudança de pesca de subsistência para a comercial já compromete alguns

estoques no litoral brasileiro (Pezzuto e Echternacht 1999, Nishida et al. 2004),

diminuindo, por exemplo, a abundância e tamanho das conchas (Souza 2007,

Vizinho and Tognella-de-Rosa 2010). Por outro lado, a extração de adultos na

mariscagem pode favorecer o recrutamento, dada a interação negativa

dependente de densidade que os juvenis têm com os adultos. Assim, o manejo

desta espécie tanto deve levar em consideração a estrutura de subpopulações

(bancos) em graus variados de conectividade numa metapopulação, quanto

sua exploração em determinados bancos e a definição de áreas protegidas, de

maneira que os estoques se mantenham.

A mariscagem na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RN)

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão-

RDSEPT localiza-se no litoral setentrional do Rio Grande do Norte, entre os

municípios de Macau e Guamaré (36°48’22” e 36°50’20” W , e 5°06’75” e

5°14’49” S) (Figura 1). Após tentativas de exploração irregular da área costeira

para a construção de um resort em 1995, e de ocupação do mangue para

carcinicultura em 2000, as comunidades litorâneas que vivem da pesca

artesanal perceberam a necessidade do apoio institucional e legal para

proteção dos mangues e de sua própria existência (Rocha et al. 2007). Desta

maneira, realizaram intensa campanha popular que culminou na criação da

reserva em 2003, com os objetivos de: (1) disciplinar os procedimentos e

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utilização da pesca artesanal ecologicamente correta; procurando arranjos

produtivos que melhorem as condições socioeconômicas locais; (2) incentivar a

realização de pesquisas científicas para o conhecimento dos ecossistemas

existentes visando o uso sustentável da área; (3) compatibilizar as atividades

econômicas instaladas na Reserva com a sustentabilidade ambiental,

econômica e social local, disciplinando os novos usos a serem implantados.

Figura 1. Localização da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual

Ponta do Tubarão (RN) no nordeste Brasileiro. Fonte do Mapa: IDEMA 2008.

A RDSEPT ocupa 12.946ha de área costeira formada por dunas (32%),

mar (27%), estuário do Rio Tubarão (19%), tabuleiro coberto por vegetação de

caatinga (21%) e área urbanizada (1%). A formação estuarina ocupa

aproximadamente 2.500 ha, tem cerca de 9,5 km de extensão e é formada por

vários canais (de 1 a 8 m de profundidade) que circundam as “croas”, bancos

areno-lodosos que ficam parcialmente expostos na maré baixa e onde se

localizam os bancos de moluscos. A maioria dos 7.000 habitantes da reserva

mora nas comunidades litorâneas de Diogo Lopes, Barreiras e Sertãozinho,

onde a pesca é a principal atividade econômica (IDEMA 2008).

A mariscagem praticada no estuário da RDSEPT representa importante

fonte de renda e segurança alimentar para as comunidades litorâneas,

especialmente através da exploração de A. brasiliana (Dias et al. 2007). No

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entanto, apesar da importância socioeconômica desta espécie, não há uma

estimativa clara da localização e dimensão dos bancos naturais, nem dos

fatores que influenciam a pesca. As estimativas realizadas por Dias e colegas

(2007) foram iniciais, com um restrito grupo de marisqueiras, por curto período

de tempo, sem envolver todas as comunidades. Por ser uma reserva que tem

como objetivo o desenvolvimento sustentável, ações voltadas ao ordenamento

tanto da ocupação humana quanto do uso dos recursos são prioritárias, sendo,

portanto, fundamental a geração de dados (tanto sobre os recursos como seus

usuários) para fundamentar a tomada de decisão no processo de gestão.

Objetivos da Pesquisa

Neste cenário de priorização de áreas protegidas costeiras e marinhas,

ausência de marco regulatório tanto para extração de A. brasiliana quanto para

a implantação de RDSs, ordenamento do uso dos recursos, resgate da

participação das comunidades pesqueiras tanto no manejo dos estoques como

na governança das unidades de conservação, e necessidade de garantia de

sustentabilidade às comunidades tradicionais, a RDS Ponta do Tubarão

apresenta um contexto propício para se discutir o ordenamento da extração de

A. brasiliana e a participação local, inclusive feminina, no manejo e

conservação marinha.

Conforme ressalta Begossi (2010), para se entender a realidade da pesca

artesanal, deve-se levar em consideração o contexto local das comunidades

pesqueiras como usuários de recursos, sua dispersão geográfica, as regras

locais sobre uso e compartilhamento dos recursos, as informações sobre os

recursos aquáticos, o conhecimento local e os níveis de pobreza e

necessidades sociais. Assim, esta pesquisa teve como objetivo entender o

sistema social, econômico e ecológico relacionado à mariscagem de A.

brasiliana na RDSEPT e indicar recomendações ao manejo. Em específico,

procurou-se caracterizar a mariscagem a partir da identificação do perfil das

famílias marisqueiras, do uso espacial dos bancos de molusco, das formas e

volume de extração, e avaliar a sustentabilidade socio-econômica da atividade.

Partindo de uma abordagem participativa, este estudo teve também como

objetivo envolver as famílias marisqueiras no levantamento das informações

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sobre a pesca, discutir a possibilidade de co-manejo de A. brasiliana e indicar

os arranjos institucionais e melhorias na cadeia produtiva do búzio necessários

para melhorar o sistema em busca da sustentabilidade.

Referências bibliográficas

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Capítulo 1: “ECOLOGIA HUMANA E MARISCAGEM DE

Anomalocardia brasil iana NO NORDESTE BRASILEIRO”

ROCHA, Ligia Moreira da & LOPES. Priscila F. M.

Capítulo do livro “Gente da Maré: Aspectos Ecológicos e Socioeconômicos da Mariscagem no

Nordeste Brasileiro” (Henry-Silva e Carolsfeld (ed.), no prelo).

RESUMO

Recursos pesqueiros são tradicionais fontes de alimento e renda para

populações costeiras. No entanto, a importância da dimensão humana na

gestão da pesca e na conservação dos recursos marinhos vem sendo

ressaltada somente nas últimas décadas. Entender quem são os usuários dos

recursos pesqueiros, como os utilizam e quais fatores interferem nas decisões

sobre este uso é condição essencial ao manejo sustentável dos recursos. No

caso de Anomalocardia brasiliana, um bivalve da região entre-marés, a

extração é uma atividade preferencialmente feminina, baseada na unidade

familiar, que requer pouca estrutura, mas com significativa importância

socioeconômica para populações litorâneas no nordeste. Pode tanto ser a

principal fonte de renda familiar, como complemento de outra, geralmente a

pesca. O processo de extração ocorre na maré vazante e baixa (ou “seca”), e

pode ser individual ou em grupo, com partilha ou não da produção. A extração

é geralmente realizada com as mãos ou apetrechos simples como pás, redes e

colheres. A frequência de extração no mês depende do número de dias com

maré favorável, da necessidade de cada família, da certeza da venda do

produto e da ausência de doença ou obrigações familiares que impeçam a ida

à maré. O beneficiamento de A. brasiliana é geralmente realizado em casa, sob

comando da marisqueira, em conjunto com os afazeres domésticos, mas pode

acontecer em ranchos improvisados, onde as famílias acampam durante as

épocas de veraneio e pico na produção; raramente acontece em unidades de

beneficiamento criadas para tal fim. A jornada de trabalho diária é de 8 a 12

horas. A degradação dos ecossistemas litorâneos e a exploração contínua,

sem regulamentação, são fatores que comprometem este recurso. Processos

de co-manejo deste recurso ainda encontram-se distantes de se tornarem

efetivos e iniciativas na costa brasileira ainda são recentes. Mas deve-se

ressaltar que ações voltadas ao manejo de A. brasiliana nas comunidades

litorâneas do Nordeste brasileiro devem reconhecer que a extração é um

sistema complexo, no qual há variados comportamentos na extração e no

beneficiamento e que é uma atividade em que as mulheres têm um papel

central.

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1.1. Ecologia Humana e Manejo de Recursos Naturais

Recursos pesqueiros são tradicionais fontes de alimento e renda para

populações costeiras, estando diretamente relacionados à existência das

mesmas. No entanto, somente nas últimas décadas a importância da dimensão

humana na gestão da pesca e na conservação dos recursos marinhos vem

sendo ressaltada. Historicamente a tomada de decisão no manejo dos recursos

naturais na America Latina teve uma abordagem “de cima para baixo”,

envolvendo apenas instituições governamentais (Begossi and Brown 2003),

sem levar em consideração as atitudes, percepções, valores e conhecimentos

das pessoas envolvidas com o uso destes mesmos recursos.

Na pesca, há um crescente interesse na relação entre a exploração dos

estoques e o comportamento do pescador (Begossi, 1996; Cetra & Petrere,

2001; Guest, 2003). De certo modo, esta atenção ao comportamento dos

pescadores ocorre devido aos recentes e contínuos insucessos das tentativas

de se manejar os recursos. A falta de informação sobre os pescadores ou

usuários de recursos marinhos envolvidos e as características dos respectivos

sistemas de pesca são indicados como as causas dos insucessos (Hilborn,

1985; Jentoft & McCay, 1995; Pauly et al., 2002). Fatores como pobreza e

ocupação não planejada do habitat aumentam a vulnerabilidade da exploração

pesqueira, o que é ainda agravado pela natureza normalmente de acesso livre

(“open access”) dos recursos marinhos (Feeny et al. 1990). O uso de métodos

destrutivos, como dinamites (Jiddawi & Öhman 2002), ou até mesmo métodos

simples como anzol e linha (de Boer et al. 2001, Ruttenberg 2001) têm

contribuído para a redução de estoques pesqueiros, alterando a estrutura da

pesca local e das comunidades de invertebrados.

Entender quem são os usuários dos recursos pesqueiros, como utilizam

os recursos em escalas temporais e espaciais, e quais fatores interferem na

tomada de decisão sobre o uso (ou “não uso” dos recursos) tornou-se,

portanto, condição essencial ao manejo sustentável da pesca. Esta condição

chave do elemento humano no manejo deve ser considerada tanto em termos

individuais como comunitário e extra-comunitário (Pomeroy et al, 2001).

Na costa brasileira, destaca-se a exploração em pequena escala de

diversas espécies de moluscos, especialmente bivalves, entre eles

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Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Verenidae), também conhecido como

“búzio”, “marisco”, “chumbinho”, “marisco-pedra” ou “berbigão”. Apesar de sua

importância para as comunidades litorâneas, não há registro abrangente da

localização e dimensão dos bancos naturais da espécie. As estimativas de

extração são raras e, quando existentes, são sub-dimensionadas. Pouco se

conhece sobre os mecanismos ambientais, sociais e culturais que influenciam

o comportamento humano na procura, obtenção e escolha deste recurso.

Entender a extração de A. brasiliana numa abordagem dada pela ecologia

humana pode auxiliar na integração de conceitos ecológicos, sociais ou

antropológicos e econômicos necessários ao manejo desta atividade

pesqueira.

1.2. A Mariscagem de A. brasiliana no Nordeste Brasileiro

A mariscagem é uma atividade artesanal e extrativista de importância

econômica e social para populações litorâneas no nordeste (Silva, 2001; Bispo

et al, 2004; Botelho & Santos, 2005; Martins & Souto, 2006; Rocha, 2009;

Araújo & Rocha-Barreira, 2004; Silva et al, 2007; Silva-Cavalcanti & Costa,

2009; Souto e Martins, 2009). Acontece ao longo de toda a costa brasileira, em

bancos areno-lodosos3 que afloram na maré baixa, localizados em frente ou

próximos às comunidades pesqueiras. A atividade corre na maré vazante e

baixa (“seca”) e requer pouca infraestrutura de extração e beneficiamento. A

mariscagem geralmente é baseada na unidade familiar e apresenta baixa

organização para a sua comercialização (Nishida et al, 2004 e 2006).

As marisqueiras como principais extrativistas

A extração de A. brasiliana é uma atividade preferencialmente feminina

(Oliveira, 2010; Barletta & Costa, 2009; Moreira, 2007; Dias, 2007; Martins &

Souto, 2006; Nishida, 2004; Pedroza-Junior et al 2002; Rocha-Barreira &

Araújo, 2005; Silva, 2004). Muitas marisqueiras aprenderam seu ofício na

maré, com as mulheres da própria família (Rocha, 2009; Gomes, 2009; Silva-

Cavalcanti & Costa, 2009). Não há uma idade específica para se começar a

extrair e beneficiar o molusco: as crianças pequenas geralmente acompanham

3 Também chamadas de “croas”.

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as mães dependendo da necessidade de cada família e por volta dos sete anos

passam a também ajudar na comercialização do produto.

Por ser uma atividade que depende dos horários da maré e muitas vezes

é a única fonte de renda familiar, nem sempre é possível conciliar a

mariscagem com os estudos. Mesmo que os horários de maré e escola não

sejam conflitantes, o desgaste físico após a mariscagem (atividade que dura de

quatro a seis horas debaixo de sol e que culmina com o transporte de sacos de

até 45 kg) certamente compromete a aprendizagem, desestimulando ainda

mais as iniciativas de educação formal. Como resultado, as marisqueiras no

nordeste apresentam baixa escolaridade (Silva-Cavalcanti & Costa 2009;

Nishida et al 2008; Botelho & Santos 2005; Silva 2001; Silva 2004).

A participação masculina na extração de A. brasiliana também acontece,

mas em graus variados no nordeste (Silva 2001; Rocha, 2009; Gomes 2009).

Geralmente esta participação ocorre em épocas de baixa produtividade na

pesca de peixes ou devido à diminuição de oportunidade em outras atividades

econômicas, ou ainda como atividade complementar, acompanhando a

companheira quando não se está pescando. Mas há também as famílias nas

quais homens e mulheres dependem diretamente da mariscagem. Quando os

companheiros acompanham as marisqueiras, pode haver revezamento nas

atividades ou divisão do trabalho, assim o homem extrai e transporta maiores

volumes (devido à maior força) e a marisqueira “limpa” a produção, isto é, retira

o material indesejado (como conchas soltas, ostras, algas, lama, etc.), o que

inclui indivíduos de A. brasiliana de tamanho reduzido. A presença masculina

na mariscagem, muitas vezes, também garante às marisqueiras o acesso a

embarcação e a bancos mais distantes, uma vez que muitas marisqueiras não

sabem nadar, varejar4 ou usar o motor nas canoas.

A mariscagem realizada nas comunidades litorâneas do Nordeste

apresenta três graus básicos de uso de A. brasiliana: 1) sobrevivência

dependente da extração e venda, 2) uso regular, porém como complemento

alimentar e de renda, 3) uso apenas para consumo com baixa frequência no

mês ou ano (Rocha, 2009; Souto & Martins, 2009). A intensidade da prática da

mariscagem não é estática: quem hoje está numa condição melhor de vida,

4 Usar a vara para deslocamento da canoa.

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pode ter sido uma marisqueira de frequência assídua na maré por mais de uma

década, assim como quem nunca precisou mariscar pode vir a exercer a

atividade, se esta for a única oportunidade de renda em determinada época.

O processo de extração de A. brasiliana

De uma maneira geral, marisqueiras e marisqueiros saem de casa para a

maré uma a duas horas antes do pico máximo de maré seca, dependendo da

distância da casa ao local escolhido para extrair o molusco e da necessidade

ou não de embarcação para alcançá-lo. A extração ocorre preferencialmente

nas marés da manhã; marés mais tardias aumentam a exposição ao sol e ao

calor, além de diminuírem as horas de luminosidade disponíveis para o

beneficiamento naquele mesmo dia comprometendo, portanto, a extração do

dia seguinte.

A frequência de vezes na semana que as mulheres vão à maré varia

(Rocha, 2009; Moreira, 2007). Depende diretamente do número de dias com

maré favorável, da necessidade de cada família, da existência de encomendas

do produto, do acesso à embarcação (no caso onde não é possível ir a pé aos

bancos de molusco) e da ausência de doença ou obrigações familiares que as

impeçam de ir. Marés de vazante na lua cheia ou nova são preferenciais por

expor os bancos por mais tempo (Rocha, 2009; Pedroza-Junior et al 2002). A

frequência de idas à maré pode variar de sete vezes por semana nos “claros”

ou períodos de lua cheia, até nenhum dia na semana, quando a maré é

totalmente desfavorável. Alguns fatores associados à decisão de mariscar

estão indicados na Figura 1.

O processo de extração pode ser individual ou em grupo, dependendo de

cada unidade familiar. Quando realizado individualmente, a marisqueira ou

marisqueiro transporta seus apetrechos, localiza os bancos, limpa ou agua5 os

locais de extração para exposição das conchas, extrai, lava e acondiciona as

conchas em baldes, sacos ou contêineres plásticos e finalmente transporta a

produção para casa ou local de beneficiamento. Quando a extração é feita em

grupo, o número de pessoas é variável e pode haver partilha da produção ou

5 Jogar água com balde para limpar os detritos e retirar a camada superficial de lama e areia para

expor as conchas a serem coletadas.

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não. Geralmente a partilha acontece em grupos familiares como casais, mães e

filhos, e irmãos. Grupos sem partilha da produção são formados geralmente

entre amigos e vizinhos que vão aos bancos juntos e extraem os moluscos em

áreas próximas, conversando ou trocando informações enquanto realizam a

atividade. Neste caso, apesar de irem e extraírem juntos, e dos sacos e baldes

de conchas serem transportados também juntos, cada qual reconhece sua

produção individual e esta é separada no final da extração. Grupos sem

associação familiar também podem partilhar a produção, no entanto o grau de

confiança e cooperação entre os membros deve ser grande, o que nem sempre

acontece.

Figura 1. Fatores que podem estar associados à decisão de quando mariscar A. brasiliana, onde ir e quanto extrair.

Independente do tipo de grupo, as crianças quando vão à maré exercem

papel diferenciado, seja ajudando no transporte de apetrechos, na extração

propriamente dita ou no acondicionamento das conchas A intensidade da

participação infantil na mariscagem, de uma maneira geral irá depender da

idade, da inexistência de atividade escolar no dia e do número de crianças no

grupo. Quanto mais velhas, maior a participação das crianças na extração; no

entanto, quanto maior o número de crianças, maior a chance de que elas

fiquem apenas brincando na maré. Há casos ainda em que os meninos podem

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exercer dois papéis distintos: extração de siris (Callinectes sp.) e auxílio na

condução da embarcação, quando aptos.

As técnicas de captura dos moluscos são variadas, desde o simples uso

das mãos ao uso de ferramentas simples, adaptadas ou criadas para a

extração (Figura 2). A extração feita com as mãos pode acontecer dentro da

água, ou com a maré seca. Quando acontece dentro da água, o banco de

moluscos é localizado de maneira táctil, tanto pelos pés ao andar quanto pelas

mãos em prospecções ao longo da caminhada nos bancos de lama e areia.

Uma vez localizada a mancha de mariscos, as marisqueiras (e marisqueiros

em menor número) sentam e iniciam a extração, colocando as conchas

selecionadas em algum contêiner. Elas localizam os mariscos com os dedos,

lavam e selecionam os tamanhos de conchas que serão coletadas. Quando a

extração manual acontece nas áreas já expostas, usa-se um balde para aguar

a mancha, limpar o local e então expor os moluscos. Neste caso, a localização

das manchas também pode ser feita com os pés e por tentativas com as mãos,

mas a decisão de explorar a mancha é também visual e depende da

quantidade de conchas expostas nas sucessivas aguadas. A mancha a ser

explorada deve preferencialmente estar próxima a água para limpar a área

quando necessário (retirar a “sujeira”, formada por pedaços de conchas, ostras

ou qualquer material depositado pela maré), para amolecer a areia e facilitar a

retirada dos moluscos.

As ferramentas, quando utilizadas na exploração, são variadas. Pode-se

utilizar desde uma simples colher (e o processo é semelhante ao uso das mãos

em locais secos), passando por casca de côco (“quenga”), ou qualquer objeto

duro que ajude a retirar e cavar as conchas. Pá de pedreiro, pás, ciscador

(ancinho ou gadanho), redinhas (jererês adaptados), e carrinhos também

podem ser usados (Nishida, 2006; Rocha, 2009; Silva-Cavalcanti & Costa,

2009; Martins & Souto, 2006; Moreira, 2007).

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Figura 2. Formas de extração e transporte de A. brasiliana: dentro ou fora da água, com uso de ferramentas e embarcações.

Com colher de pedreiro e pá usa-se o mesmo princípio básico de

acumular uma grande quantidade de lama e moluscos em algum contêiner,

lavar o bolo de lama e recolher as conchas. Novamente neste caso a

localização dos bancos de moluscos pode ser feita pelos pés ao caminhar ou

em movimentos de “ciscar” para desenterrar as conchas, com auxílio de

prospecções com as mãos, apoiado por um mapa mental das áreas boas para

coleta nos bancos de lama, criado a partir da experiência na maré. Uma vez

localizada a mancha, o ciclo de extração é iniciado com a limpeza da área

quando necessário. No caso de uso de colher de pedreiro, a marisqueira pode

ficar ao centro de onde será extraído o molusco. A pá de pedreiro é deitada na

lama, distante do corpo e puxada em direção à marisqueira, arrastando os

sedimentos de uma camada de cerca de cinco centímetros de altura, em

direção ao pé. Repetindo este movimento de maneira constante e sempre um

pouco deslocado de cada vez, recolhe-se lama e búzio de toda a área ao redor

de si, com um raio de aproximadamente 1m. O monte de lama é então

colocado com as mãos em um contêiner vazado (que permite escoamento da

água) e carregado até água da maré para ser lavado, isto é, fazer movimentos

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de vai e vem de maneira que a lama, areia e conchas pequenas saiam. As

conchas retidas então podem ainda passar por uma cata manual para retirar as

conchas vazias, os detritos que não saíram no passo anterior e as conchas

ainda consideradas pequenas. Realizar esta escolha manual depende da

“qualidade” do material retido no contêiner, da preocupação de cada

marisqueira e marisqueiro com o tamanho das conchas extraídas e do tempo

disponível de maré.

Quando a extração é realizada por pás, a área de extração localiza-se na

frente da marisqueira ou marisqueiro e o mesmo procedimento de recolher um

bolo de lama, lavar e escolher acontece. A área de extração, no entanto, é

bastante variada e, se a mancha for considerada “boa” (com muitas conchas e

de tamanho “adequado”), pode originar vários ciclos de extração. Quem utiliza

pá na extração geralmente tem uma produção maior do que a manual. Na

extração com pá ou colher de pedreiro, se houver mais de um marisqueiro ou

marisqueira no grupo com partilha da produção, um deles assume o papel de

extrair (escolher os locais e fazer os bolos de lama) e o outro de lavar e

escolher manualmente. Este papel pode ser revezado, de acordo com o

cansaço dos participantes. Em atividades individuais ou grupos sem partilha, a

marisqueira ou marisqueiro realiza todo o processo sozinho

No caso do ciscador (gadanho ou ancinho) e redinha, os movimentos são

semelhantes àqueles realizados com a pá. No entanto, estes métodos

funcionam como seletores na medida em que a distância entre os dentes no

cisco ou a malha na redinha aprisionam apenas uma faixa de tamanho de

conchas e não todas, como nas ferramentas anteriores. Há ainda a

possibilidade do uso de ciscador ser conjugado com a pá: o primeiro revolve o

substrato exposto na maré seca e a pá coleta a lama com búzios para ser

colocado no contêiner e lavado.

Independente da ferramenta utilizada, a cada ciclo de extração

(localização, coleta e lavagem das conchas) os moluscos coletados vão

diretamente para o fundo da canoa ou são mantidos em contêineres ou sacos

de nylon (reaproveitados do transporte de cebolas ou farelo nos mercados, por

exemplo). O volume de conchas na canoa ou a quantidade de contêineres

cheios indicam quando a mariscagem realizada atingiu a quantidade esperada

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de extração. A combinação do volume extraído, com a posição da maré (ainda

seca ou já subindo), as obrigações familiares (horário de almoço, escola, etc.) e

o cansaço físico na atividade determinam a hora de parar a mariscagem e

voltar.

O modo de extração e a ferramenta a ser usada dependem da decisão

pessoal de cada marisqueiro ou marisqueira, mas não necessariamente são

mutuamente excludentes. Dependendo do nível da maré a mesma marisqueira

pode utilizar diferentes estratégias no mesmo dia. Assim, aquelas que

preferencialmente extraem o búzio com pá ou colher de pedreiro nas croas

totalmente expostas, podem extrair com as mãos, se chegaram muito cedo e a

maré ainda não baixou o suficiente para expor os bancos de moluscos. A

extração com as mãos também é utilizada em momentos de descanso (do uso

de outras ferramentas), em momentos de prospecção de novas manchas, ou

esperando outro membro do grupo finalizar sua atividade (fazer o bolo de lama,

lavar as conchas, etc.). Neste caso, a pessoa que está esperando geralmente

senta na água e fica procurando os búzios com as mãos.

O transporte das conchas até o local de beneficiamento também interfere

na decisão sobre a quantidade de conchas a serem coletadas. Transportar

vários baldes e sacos pesados (média de 15 e 40 kg, respectivamente) até o

local de beneficiamento das conchas, não é uma atividade fácil. Neste caso, ter

carrinhos de mão, bicicletas, animais, canoas ou até mesmo carros ou ônibus

para transportar a produção facilitam a atividade e diminuem o tempo e o

desgaste físico na jornada de trabalho. Quando não há opção, a produção é

transportada no ombro ou na cabeça.

Considerando que em cada unidade familiar há grande variação no

número de dias de ida para a maré, na quantidade de pessoas envolvidas na

extração, no método utilizado e no acesso ou não à embarcação (que tanto

permitem o acesso a bancos de moluscos distantes, como facilitam o

transporte das conchas), a produção mensal das famílias também é variável.

Pode haver também uma significativa variação na produção dependendo da

época do ano. Em locais tradicionais de veraneio, com aumento de

frequentadores locais e de turistas na orla marítima, pode haver picos de

produção no verão, já evidenciados em Pernambuco (Silva-Cavalcanti & Costa

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2009) e na Paraíba (Nishida 2004). As quedas na produção, por sua vez, são

relacionadas geralmente aos períodos de chuva e baixa demanda.

Com relação à jornada de trabalho na mariscagem, praticamente não há

registros. Em geral o processo de coleta das conchas é cerca de 3-4 horas

(Moreira 2007; Rocha, 2009; Barletta & Costa, 2009, Silva, Costa & Lopes,

2010), mas pode ser maior devido ao deslocamento da casa até os bancos de

moluscos ou “croas”. Geralmente a volta é mais demorada que a ida, devido ao

transporte das conchas a serem beneficiadas. No beneficiamento, a jornada de

trabalho envolve desde a obtenção de lenha e manutenção do fogo, até o

beneficiamento propriamente dito. Neste último, a separação da carne feita

manualmente, concha a concha, é a atividade que mais demanda tempo. Em

geral o processo demora outras quatro horas, caracterizando então a

mariscagem como uma intensa atividade de 8 a 12 horas de trabalho (Souza &

Andrade, 2010; Gomes, 2009; Brasil, 2011).

O beneficiamento de A. brasiliana

O beneficiamento de A. brasiliana é geralmente realizado em casa, sob

comando da marisqueira, em conjunto com os afazeres domésticos e o cuidado

com os filhos. Pode ainda acontecer em ranchos improvisados, onde as

famílias acampam durante as épocas de veraneio e pico na produção (Silva-

Cavalcanti & Costa, 2009), ou em unidades de beneficiamento criadas para tal

fim, como na Associação de Marisqueiras e Artesãs, em Grossos (RN). A

atividade é iniciada logo após a chegada no local de beneficiamento, se a maré

foi muito cedo, ou à tarde, depois do almoço. O beneficiamento pode se

estender para o dia seguinte6 quando a chegada da maré for muito tardia ou a

quantidade extraída for muito grande.

6 De acordo com as marisqueiras os moluscos mantém sua qualidade de um dia para outro (desde

que não tenham contato com água doce), o que é corroborado por Schaeffer-Noveli (1976) e Hiroki

(1971) apud Araújo e Rocha-Barreira (2004), ao indicarem respectivamente que A. brasiliana

apresenta grande resistência à deficiência de oxigênio e permanece vivo por até 24 h em condições

de anoxia.

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O beneficiamento geralmente se inicia lavando e fervendo as conchas em

caldeirão, panelas ou latões por cerca de 20-30 minutos em fogão à lenha ou

fogueiras improvisadas (Rocha, 2009; Silva, Costa & Lopes, 2010; Gomes,

2009, Lima, Barbosa & Correia, 2007). Depois, a carne é retirada das conchas,

lavada e acondicionada na forma de venda, seja em saquinhos de 1kg ou em

pratos, com quantidades variadas (0,6 a 1kg). A retirada da carne é o processo

mais demorado. Pode ser manual, retirando-se a carne de cada concha, uma

após a outra, ou utilizando-se artefatos construídos em casa para “bater e

peneirar” as conchas recém fervidas. Neste caso colocam-se as conchas

fervidas e abertas dentro de um contêiner com uma tela em seu fundo e

chacoalha-se em cima de um aparato para que a carne se solte das conchas e

caia. Esta carne é lavada novamente e acondicionada. As conchas vão para

inspeção e retirada manual, caso alguma carne tenha ficado.

O combustível geralmente utilizado para o cozimento dos moluscos é

lenha (Rocha, 2009; Barletta & Costa, 2009), devido ao alto custo de gás de

cozinha. A lenha geralmente vem do manguezal, mas podem ser usados

também restos de madeira de construção encontrados nas comunidades ou da

vegetação de caatinga, quando disponível e próxima às casas.

As conchas que sobraram ficam espalhadas no quintal ou em áreas

próximas da casa quando o beneficiamento é realizado em casa (Rocha, 2009,

Gomes, 2009). Podem também ser vendidas em grande quantidade para

formação de pisos em casas em construção na comunidade. Quando o

beneficiamento é realizado em locais próximos a extração as conchas são

deixadas no local de beneficiamento em montanhas que se sobrepõem (Lima,

Barbosa & Correa, 2007).

Assim como a extração, o beneficiamento também pode ser realizado

individualmente ou em grupo. Extração individual não necessariamente implica

em beneficiamento também individual. As crianças, por exemplo, podem

participar do beneficiamento, separando a carne das conchas, mas acabam

também a consumindo durante a atividade. Este uso é tolerado pelas mães

marisqueiras, não sem algumas repreensões. A participação de outros adultos

no beneficiamento (parentes, vizinhos ou amigos) irá depender do grau de

relacionamento da marisqueira e da disponibilidade de seus “ajudantes”

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naquele dia. O grupo que extraiu sem partilha pode ainda, por exemplo, se

reunir novamente para o beneficiamento, no entanto ainda mantendo suas

produções separadas. Geralmente, neste caso, começa-se a beneficiar pelos

sacos ou contêineres de conchas da dona da casa, e depois passam para a

produção dos ajudantes.

1.3. O Manejo Participativo de A. brasiliana no Nordeste Brasileiro

Apesar da abundância de A. brasiliana ao longo da costa brasileira, a

exploração contínua ao longo do ano associado à falta de regulamentação e a

degradação ambiental litorânea crescente têm sido apontadas como fatores

que podem comprometr seus estoques (Nishida et al 2004). Neste sentido são

fundamentais ações voltadas ao manejo da espécie. O conhecimento sobre a

pesca e a coleta de mariscos nas comunidades litorâneas deve embasar as

estratégias de manejo, já que estas devem ser baseadas num conhecimento

sólido sobre os sistemas locais de exploração (Berkes, 1985). Usar o

conhecimento local permite ainda legitimar ações de co-manejo na pesca, que

devem necessariamente envolver o sistema de regras e instituições locais

(Begossi, 2006; Hens & Begossi, 2008). Um sistema de co-manejo é aquele no

qual a população local decide conjuntamente com os órgãos gestores as

medidas a serem adotadas para o melhor manejo da área ou do recurso

(Carlsson & Berkes 2005).

Iniciativas de co-manejo ainda são recentes e têm ganhado força,

especialmente em reservas de desenvolvimento sustentável e extrativistas

(Castello et al. 2009). A Reserva Extrativista de Pirajubaé (SC) é um exemplo

único no Brasil, já que foi criada em 1992 com o objetivo específico de

ordenamento da extração de A. brasiliana pelas famílias de pescadores

artesanais. No entanto, a implantação da reserva é deficiente e, de uma

maneira geral, os processos de co-manejo ainda encontram-se distantes de se

tornarem efetivos em termos organizacionais e de viabilidade (Ruddle &

Hickey, 2008).

A extração de A. brasiliana no Nordeste brasileiro segue uma tradição de

ausência de estatísticas de extração confiáveis. A desigualdade de gênero

associada a este tipo de pesca tem deixado na invisibilidade o papel que as

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marisqueiras ou pescadoras tem desempenhado na pesca artesanal e no

desenvolvimento das comunidades litorâneas (Macnaughton et al, 2010).

Propostas de manejo devem necessariamente reconhecer estas condições e

propor estratégias de superação das mesmas. Uma das ferramentas possíveis

de serem usadas é o monitoramento participativo, no qual os próprios usuários

ou agentes da comunidade treinados passam a registrar a produção diária da

mariscagem. Dados de pesca coletados por agentes locais podem ser

confiáveis e contribuir de maneira significativa nas decisões relativas ao

manejo pesqueiro (Carvalho et al. 2009, Rocha et al, 2011). Neste caso os

formulários de registro devem ser criados com os usuários, assegurando que

os ícones utilizados e informações a serem geradas sejam relevantes e

compreendidos por todos. A análise dos dados gerados, por sua vez, também

deve ser realizada em conjunto para que os participantes aprendam como

analisar os dados, compreendam a dinâmica biológica do marisco e da

atividade por eles exercida e se apropriem das informações geradas para

utilizá-las na tomada de decisão.

Cabe ainda ressaltar que as experiências locais de manejo de A.

brasiliana devem ser compartilhadas regionalmente tanto para serem

fortalecidas nas suas semelhanças e dificuldades, quanto para ampliarem o

conhecimento regional e nacional a respeito do manejo da espécie.

1.4. Considerações Finais

O uso de A. brasiliana nas comunidades litorâneas do Nordeste

brasileiro é um sistema que envolve múltiplos atores, institucionais ou não, que

têm interesses próprios e um papel a desempenhar no arranjo institucional do

manejo deste recurso. Considerando o caráter eminentemente feminino de

extração de A. brasiliana no Brasil, seu manejo deve ser construído a partir de

uma perspectiva de gênero. Na busca do manejo do recurso é fundamental

reconhecer que há variados comportamentos na extração e no beneficiamento,

assim como diferentes fatores que compõem a tomada de decisão no processo

de mariscagem. Desta maneira, no sistema de produção, venda e

monitoramento do búzio, a participação das marisqueiras e grupos associados

à pesca devem ser integrados e voltados ao manejo sustentável do recurso.

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Capítulo 2: “POVERTY TRAP IN ARTISANAL FISHERIES OF CLAMS IN BRAZ IL”

Artigo a ser submetido para “Ecological Economics” (IF= 2.713)

2.1. Introduction

Coastal and marine areas over the world are under threat due to

unsustainable fisheries, misplanned tourism and urban development. Resource

overexploitation, habitat loss and general environmental damage increase the

vulnerability of already sensitive areas with high biodiversity and ecological

relevance such as mangroves, estuaries and coral reefs (Ronnback 1999,

World Bank 2006). Therefore, the establishment of protected areas have

become an international priority, mostly as a strategy to protect habitats and the

biodiversity, and to help maintain viable fisheries (Kelleher 1999). Most of these

protected areas in tropical countries are located on coastal areas directly

affecting the livelihood, culture and survival of artisanal fishing coastal

communities (Diegues 2008, Lopes et al. 2013). In addition, poverty and

biodiversity hot spots, including the coastal ones, are geographically coincident,

and as expected, livelihoods in such areas strongly depend on natural

resources (mostly fish and seafood resources), although this connection still

need to be better understood (Barrett et al. 2011). The interactions between

social and ecological feedbacks may create “social-ecological traps”, leading

the system towards an undesirable state (Cinner 2011). For example, when

herbivorous fishes become overfished on coral reefs, the system may collapses

due to algae overgrow on reefs (Steneck et al. 2009).

Around the world the fish sector plays an important role in employment,

income generation and food security. According to FAO (2010), small-scale

fisheries specifically contribute to more than half of the world’s fish catch and

employ more than 90% of the world’s fishers – 95% of them live in developing

countries; women correspond to half of the people employed when considering

primary and secondary sectors. Among fisheries resources, shell fishing

catches deserve specific attention: they corresponded to 25% of the 16.5 kg of

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fish per capita available for consumption in 2003 (FAO 2007) and showed

geographic and depth expansion in the past 50 years (Pauly et al. 2003).

Considering the differences between benthic resources and classical

fisheries, Parma and colleagues (2003) proposed an approach for managing

what they defined as “S-Fisheries”, or the small-scale fisheries of spatially-

structured and sedentary resources. The concept of S-Fisheries involves three

basic characteristics: (1) small-scale units of fishing force (from coastal hand

gatherers to boats smaller than 10 m long); (2) sedentarism of target stocks,

structured as “metapopulations” (or subpopulations of adults connected with

each other by larval or juvenile dispersal); and (3) highly spatially structured

stocks. These are characteristics that make statistics difficult and enforcement

unlikely to occur (Parma et al. 2003). These authors argue that the S-Fisheries

sustainability is possible only through fishers’ cooperation by providing them the

right incentives to participate in the management. In order to define which

incentives are appropriate to effectively manage the system, it is necessary to

understand who these fishers are and how they behave and make their

decisions when fishing (Salas and Gaertner 2004). Besides pointing out the

need to understand fishers’ behavior, Begossi (2008) also highlights the need

to understand: 1) the environment where such fisheries take place and how

local resources are used; 2) how space use is distributed, and 3) fishers’

knowledge on species biology and ecology.

In Latin America, the small-scale fishing of benthic invertebrates

constitutes an important source of direct income, high quality food and

employment to artisanal fishing communities (Castilla and Defeo 2001). In fact,

shell fish harvest has been a critical resource for coastal human populations

since prehistory (Yesner 1980). Despite such historical and widespread use,

there is an urgent need of more research on shellfish management (Defeo and

Castilla 2005). Most of what is known about shellfish fisheries in Latin American

comes from Chile and Argentina (Castilla and Defeo 2001, Parma et al. 2003,

Orensanz et al. 2005, Defeo and Castilla 2005, McClanahan et al. 2009,

Gelcich et al. 2010). However, there is enough evidence that countries such as

Brazil rely on shellfish as an important component for food security for poor

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people (Nishida et al. 2006b, Boehs et al. 2008, Silva-Cavalcanti and Costa

2009, Vasconcellos et al. 2011).

Clam harvesting in Brazil fits the “S-Fisheries” concept, i.e. it involves

artisanal fisheries of sedentary stocks with dispersed landing sites along the

more than 8000 km of coast. But it also happens in areas declared as priorities

for conservation by environmental agencies. With the deterioration of coastal

areas and unregulated harvest some clam stocks have been already going

down (Pezzuto and Echternacht 1999, Nishida et al. 2004, Silva-Cavalcanti and

Costa 2009), following a pattern of stock depletion recognized by Moueza et al.

(1999) in Guadalupe or by Castilla and Defeo (2001) for general benthic

shellfish stocks in Latin America. In the past decade priority areas for

conservation on the Brazilian coast increased by 350%, in a clear effort to

improve biodiversity conservation (MMA 2007). When protected areas

encompass spots traditionally harvested by fishers and shell fishers it generates

conflicts or simply non-compliance by the fishers (Lopes et al. 2013), which is

expected, as they were not involved in the choice of most of these areas or did

not have a say in the management decisions.

This study discusses the artisanal fisheries of the Venus clam

(Anomalocardia brasiliana) (Gmelin, 1791) (Bivalvia: Veneridae) in managed

resource protected areas (IUCN category type VI) in Brazil. Venus clam is a

small clam (from 15 to 30 mm) commonly exploited for food and income by poor

fishers, mostly women (Rocha and Lopes in press, Nishida et al. 2008).

Although recognized as relevant for economic and food security (Macnaughton

et al. 2010), this species has not gotten the necessary recognition in terms of

management and research. Understanding the fishers profile and their interests

or priorities can indicate the right incentives for them to participate in the

management, whereas assessing their harvest patterns can generate

information on the spatial use of estuaries, the fisheries sustainability, potential

bottlenecks in the clam value chain and needed interventions to improve the

social and ecological context of clam fisheries. Having a baseline constitutes a

crucial condition to monitor the impacts of interventions in the poverty-small

scale fisheries relationship (Pittaluga et al. 2004). As such, this study intends to

understand the system (i.e. who the fishers are, how they harvest, how much

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clam meat they exploit), discuss the economic sustainability of clam fisheries at

protected areas that allow sustainable use of resources, and suggest

management alternatives to improve the system.

2.2 Material and Methods

This study was carried out at Ponta do Tubarão Sustainable Development Reserve

(from here on, Ponta do Tubarão SDR), located on the Brazilian northeast coast, Rio

Grande do Norte state (36°48’22” and 36°50’20” W and 5°06’75” and 5°14’49” S) (Figure

1). It occupies a coastal area of 12,946 ha, involving inland area covered by

seasonally tropical dry forest – caatinga (21 %), dunes (32 %), the estuary (19

%), a portion of the sea (27 %) and an urbanized area (1 %), where most of

people live. The estuary at the reserve occupies an area of approximately 2,500

ha, is about 9.5 km long and has several channels across mudflats, varying

from 1 to 8 m in depth (IDEMA 2008).

Figure 1. Location of Ponta do Tubarão Sustainable Development Reserve,

Brazilian northeastern coast.

The Brazilian SDR category corresponds to a Managed Resource

Protected Area (subset of IUCN Protected Areas Category VI) primarily

designated for single or multiple sustainable extractive activities (World Bank

2006). Ponta do Tubarão SDR was created in 2003 to protect the Tubarão

estuary and to support small-scale fishers who live in three coastal

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communities: Diogo Lopes, Barreiras and Sertãozinho. Communities’ social

economic profile at the reserve include: (a) low literacy (12,1% illiterate and

60,4% with less then 4 years of formal education), (b) strong dependence on

fisheries (coastal communities) and cattle raising (inland communities), (c) low

income (62,5% receive up to 1 Braziliam minimum monthly wage (Bmmw) and

21,0% received from one to two Bmmw), (d) strong dependence on

governmental programs for poverty eradication (51,4% of families), (d) total lack

of sewage management (Petit 2004).

Venus clams occurs from Caribean to Uruguai (Rios 1994). It lives

shallowly burrowed in sandy mud flats in calm waters (Monti et al. 1991,

Moueza et al. 1999, Pezzuto e Echternacht 1999, Boehs et al. 2008).

Fertilization is external, planktonic larval phase is short (around 10 days)

(Moueza et al. 1999) and life span is less than five years (Monti et al. 1991).

Recruitment in the Brazilian Northeast coast is yearly basis (Rodrigues et al.

2010). Mollusk beds reach high densities accompanied by high fluctuation in

abundance.

Venus clam harvesting covers basically three steps: extraction in the

mudflats, processing at home, and selling them in the community to locals and

middlemen (Figure 2). Once shell fishers learn the clam beds, they basically

have to dig the mudflat surface with fingers or simple tools (e.g.: spoons,

shovels) to collect shells, wash and storage them in a container. Fisher families

prefer to harvest these shells in spring tides because they fully expose deeper

areas of clam’s beds, making larger individuals available (Boehs et al. 2004).

During spring tides clams also present a higher ratio of meat production per

shell, measured through the mollusk condition index curve (Nishida et al.

2006a). Although simple, harvesting is a physically demanding activity, as shell

fishers have to stay under the sun heat, bending down, doing repetitive

movements, and risking having an oyster cut or an accident with a venomous

toad fish (Thalassophryne sp).

From February 2010 to May 2011, the clam fishery was assessed in the

three communities, mostly during full moon weeks (16 weeks). In order to

identify fishers’ profile, the active shell fishers at the reserve were interviewed

(n=40). First informants were chosen based on local leaders’ information, and

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new ones were added following the snowball system in which each informant

name others to be included (Bailey 1978). Shell fishers not previously

mentioned but met during harvesting activity were also included. Questions

included demographic issues and fisheries patterns (e.g.: tools used, frequency,

time, clam production). For those fishers with more than 10 years of experience

(n=34), their opinion about clam stocks (abundance and size of shells available

in the past ten years) and level of sanitation (the risk of contamination of the

Ponta do Tubarão estuary as well as clams) were asked. A perceived decrease

in abundance and size could suggest that clam stocks are under too much

pressure (Huitric 2005). The recognition of estuary contamination would indicate

shell fishers’ concerns about the health of the environment, considering that

human population has increased in the past years without implementation of

waste and sewage management infrastructure. The recognition of clam meat

contamination could be related to the contamination on the estuary as well as

the lack of sanitary infrastructure to process and sell the meat.

Figure 2. Venus clam (Anomalocardia brasiliana) harvest cycle in

the Brazilian northeast: (a) Venus clam, (b) hand picking during

low tide, (c) harvesting with a shovel, (d) and (e) transporting the bags home, and (f) taking the meat from boiled shells.

f) d) e)

b) c) c)

a)

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61

A combination of data gathering methods was used to register clam

harvesting. Through Focal Follow method (Altmann 1974), two researchers

followed shell fishers during three days a month, completing 458 hours of

observation of 43 fishers harvesting during 16 months. The fisher to be followed

was defined in the previous day depending on: (a) confirmation to harvest next

day, (b) the number of times that fisher had already been followed, and, (c) seat

availability in the canoe, if used (space and weight are limiting factors in the

small canoes, which generally return full of clam bags after harvesting). The

shell fisher (sometimes with her/his family) was followed from home to tide,

registering the time s/he left and came back home, the number of gatherers in

the group, weather condition, the use of tools and canoe, and the amount of

extracted clams in weight (kg) and containers (bags, buckets or other).

Furthermore, 39 samples of shells were collected from 13 different mollusk

beds to weight shells (nshells = 1680).

The second method consisted on fishers’ families recording daily

household harvest through a participatory monitoring pilot project. In order to

assure that shell fishers with low literacy would be able to register basic

information on their harvest day, a set of three workshops was held, in which

shell fishers collectively decided which information should be registered and

which images would better represent each piece of information. Images varied

from basic drawings to pictures from the extraction process. A simple map of

the estuary based on fishers drawing helped to record the mollusk bed visited.

Once the form was defined, there were training meetings to practice how to use

the monitoring kit (a container with forms, a pencil, an eraser, scissors, a watch,

a plastic cup, 1 liter of bleach and plastic bags to store shell samples). Fifteen

out of a total of 40 shell fishers volunteered to record up to 10 extraction days

per month, as higher frequencies could overload fishers and potentially

compromise the results. Records involved harvest from 32 different fishers.

Every month researchers collected the forms, asked clam meat selling prices,

and solved any questions families had. There were also two participatory

workshops to discuss and analyze the first round of data collected by them.

The combined data from focal follow (n=92) and participatory monitoring

(n=381) resulted in 473 harvest records. In order to standardize the clam gross

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production a simple rule learned from fishers and tested during the focal follow

method was used: one shell bag equals one box container or two big, four

medium or eight small buckets. It was assumed that size variation in bags,

buckets, and containers would increase data standard deviation without

affecting average results. The relation between shell weight (kg) measured by

the researchers and the number of bags produced followed the equation:

GPkg of shells = -1.45 + 41.72 * SB, where GP is gross production (kg) and

SB is shell bag (nfocal follow=79, Rsq=0.95, Fratio=1449.46, p<0.0001). In other

words a shell bag can be estimated as 40.27kg of shells.

Net production also had to be standardized, as fishers sell clam meat by

weight (kilos) or plates. We assumed a standard plate contained 0.800kg of

clam meat and the variations in plate sizes or weight (the amount of clam meat

they contain) from household to household would increase range but not

jeopardize data. The relation between net production (clam meat) (kg) and the

number of bags produced (gross production) followed the equation:

NPkg of meat = 0.6 + 2.4 * SB, where NP is net production (kg) and SB is

shell bag (n=417, Rsq=0.82, Fratio=1939.14, p<0.0001).

Daily and monthly production varied widely depending on the fisher, the

number of people from each household that would take part in the activity and

the frequency of harvests in a month. Therefore, annual total catches was

calculated using the recorded mean, min and max extraction for the shell

fishers, considering the household as the sample unit and the harvest frequency

they answered in interviews.

Monthly income for shell fisher families was estimated based on the net

production, harvest frequency and sale price of Venus clams (no costs were

included). Fisher’s monthly income was compared to the Brazilian monthly

minimum wage (Bmmw), which corresponded to US$ 295.00 in 2010 (US$ rate

of 1.73 R$ in January 4th, when the Bmmw annual value was established). The

Bmmw limit of 220 working hours per month is equivalent to 23 harvesting days,

adopting the working hour’s average per harvest cycle at Ponta do Tubarão

SDR (9 hours and 33 minutes, SD=4h05min). Yet, no shell fisher attained this

amount of harvest per month in interviews; 90% of them fall bellow 19 days.

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2.3 Results

Fisher’s profile and clam harvesting

Two thirds of active clam gatherers were women (n=26), who performed

81% of the clam harvest activity registered. Fishermen also harvested, but they

rarely depend on clams. In general they harvest to (a) help their wives while not

fishing, (b) increase income when fin fisheries are less productive or (c) have

income while unemployed. Shell fishers were about 40 years old (SD=13), had

been harvesting Venus clam for an average of 23 years (SD=13) and learned

their activity from another woman in their family (46% with mother or

grandmother) or from their spouse’s (21% with mother-in-law). Most of

shellfishers have only the very basic cycle of education (57% have up to four

years and 31% completed the eight years), and only 9% completed the

expected 12 years of formal education in Brazil. Mean family size is five

members (SD=2). Clams can be the main source of income (48%) or

complement it (50%), but it is rarely the fisher’s sole source, as 93% of active

shellfishers reported having one to four alternative sources besides clam.

Shellfishers also rely on fin fisheries (63%), “Bolsa Família” (the Brazilian

conditional cash transfer program for poverty alleviation7) (53%), and elderly

retirement stipend (20%) for income. Other sources included informal jobs,

animal husbandry and small commerce, each less than 13%.

Transportation of shells was an issue to be considered when harvesting.

Venus clam has a low rate of meat per shell weight (mean = 6.7%, SD=2.4): to

produce 1 kg of clam meat, fishers have to harvest around 15 kg of shells,

almost half a shell bag or one big bucket. Therefore, fishers had to carry heavy

loads in order to have enough clam meat to sell. When there were no mules,

the extracted clams were transported on wheelbarrows and bikes, or carried on

heads and shoulders, with likely high health costs.

The collected clams were boiled at home, on the backyard floor, in

traditional stoves such as three-stone fires. All families at the SDR use wood

from the mangrove or wood and charcoal from the seasonally tropical dry forest

7 Bolsa Família values vary depending on family poverty level and number of youth members. In

2010 values varied from US$ 13.00 to US$ 116.00. For specific information on conditional cash

transfer programs and “Bolsa Família”, see Soares et al. (2007).

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as fuel for processing the shells. Therefore, searching or paying for fuel wood

was also part of the fisher families’ routine.

Shell extraction, transportation and processing took on average 9 hours

and 33 minutes per day (n=473 harvest days, SD=4h05min). As the main clam

harvesters were women, the clam harvest cycle was always performed together

with household chores, such as taking care of children.

Although close to each other, the studied communities showed different

peculiarities, such as the use of different tools, access to specific mollusk beds

and different levels of gross and net production (Table 1). Diogo Lopes is the

most populous community and had more shell fishers, who harvested more

(frequency and median values per harvest event), visited a wider variety of

mollusk beds and extracted more clams in total than the other communities.

Barreiras had fewer harvesters and less access to mollusk beds, as all of them

needed canoes to cross the estuary channels. Harvesters from Sertãozinho, as

from Diogo Lopes, had one mollusk bed in front of the community, which they

could easily reach on foot.

Table 1. Venus clam harvesting in three fishing communities at Ponta do Tubarão Sustainable Development Reserve (Northeast coast of Brazil).

Communities

Number of active shell fishers and harvests (n)

Tools Most harvested mollusk beds

Median gross and net production (SD)

Type (%) Name (%) Shell bag Meat (kg)

Barreiras 8

(73) Hand picking

100 Boia Fogo Rancho C.

80 19 01

1.5 (0.17) 4.8 (0.46)

Diogo Lopes 21

(318)

Shovel Hand picking

83

15

Porto Fede Lancha Rancho C. Others (5)

39 31 18 12

3.0 (0.11) 6.5 (0.26)

Sertãozinho 11

(82)

Trowel Hand picking

56

44

Morro B. Canal Salina Others (3)

50 35 07 08

2.2 (0.14) 4.8 (0.47)

Total 40

(473) Shovel Trowel

8 main areas (from 13)

2.3 (0.09) 6.0 (0.21)

Tools

(2=449.64, DF=4, p<0.0001

Gross Production KW=29.98, DF=2,

p<0.0001

Net Production KW=12.57, DF=2, p=0.0019

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65

Harvesting Venus clams could be an individual activity or a collective one,

with couples, families or friends fishing together. Groups of fishers could share

the company of other groups during harvesting, access to mollusk beds on

shared canoes, on the way back when bringing shell bags, or even during the

cooking process. For the purpose of this study, a group was defined as such

unit only when the production was shared. During the studied period individual

(49 %) and group harvests (51%) happened in similar proportion, but when in

groups, a pair of fishers was more common (36 %) than three fishers (12 %) or

more (3%).

The mean harvesting frequency reported in interviews was 11 days per

month (SD=6) with a minimum of one and a maximum of 22 days. Those who

reported one harvest per month was a fisherwoman who processed at home the

clams collected by her husband and a fisher who declared himself as “a fin

fisher helping his wife once a month”, although he harvested more frequently in

the last months of field work. The high variance in harvesting frequency

happened among families as well as in the same family. It was related to

prearrangements with middlemen, canoe availability to access mollusk beds

and to transport shell bags, personal or family illness, late pregnancy or having

a newborn at home.

Gross and net production also showed high variance among and within

the families. For instance, an older fisherwoman (51yo) harvested a median of

0.5 shell bags with min=0.5 and max=2.0 bags (n=43 records), while a young

fisherman (28yo) harvested a median of 10 shell bags with min=5.0 and

max=13.0 (n=11 records). From the total records (n=473), a median of 2.3 shell

bags (SD=0.09) were collected per harvest, which produced a median of 6.0 kg

of clam meat (SD=0.21) (Table 1). Considering that each bag weights

approximately 40.3 kg, the median of 2.3 bags per harvest in fact corresponded

to 93 kg of shells extracted from the estuary per fishing trip. In general, each kg

of extracted shells corresponds to a mean of 260 individuals (SD=50). Annual

total catches of A. brasiliana at the reserve were estimated to range from

around 293 to 623 t (Table 2).

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66

Table 2. Annual clam production of fisher families at Ponta do Tubarão SDR

(northeastern coast, Brazil) based on families mean, min and max gross production

(kg) recorded in 2010-11. The annual estimates were based on average weight of a

shell bag (40.27kg) considering 11 harvesting months, discounting a month due to the

unpredictable rains in the region.

Shell Fisher Family

Mean Shell bag harvest

-1

Min Shell bag

harvest-1

Max Shell bag

harvest-1

Monthly Harvest

Frequency (day)

Annual Gross Prod (mean) (kg)

Annual Gross Prod (min) (kg)

Annual Gross Prod (max) (kg)

1 3.4 1.5 6.3 17 25,660.2 11,295.7 47,065.6

2 5.2 1.5 5.4 16 36,914.2 10,631.3 38,272.6

3 3.8 3.0 5.0 18 30,454.2 23,920.4 39,867.3

4 4.1 0.3 4.0 07 12,853.1 775.2 12,403.2

5 5.6 5.3 6.0 15 37,375.6 34,883.9 39,867.3

6 2.8 2.0 3.5 08 9,745.3 7,087.5 12,403.2

7 5.5 4.0 8.0 22 54,005.4 38,981.4 77,962.7

8 1.9 1.0 3.5 15 12,624.6 6,644.6 23,255.9

9 9.4 5.0 13.0 14 58,472.0 31,007.9 80,620.5

10 0.6 0.5 2.0 20 5,607.4 4,429.7 17,718.8

11 1.3 1.0 4.0 15 8,947.6 6,644.6 26,578.2

12 2.2 1.0 3.0 09 8,689.8 3,986.7 11,960.2

13 0.8 0.3 1.6 06 2,168.3 664.5 4,332.2

14 4.9 3.0 6.5 15 32,392.2 19,933.7 43,189.6

15 5.7 5.5 6.0 14 35,349.0 34,108.7 37,209.5

16 1.9 0.5 4.0 12 10,013.3 2,657.8 21,262.6

17 1.1 1.0 1.5 04 1,994.8 1,771.9 2,657.8

18 3.7 0.3 6.5 03 4,955.4 398.7 8,637.9

19 5.1 2.0 9.0 08 18,098.5 7,087.5 31,893.8

20 7.0 7.0 7.0 15 46,511.9 46,511.9 46,511.9

Total 452,832.8 293,423.3 623,670.8

Gross Income

Clam meat prices varied from US$ 1.7 to US$ 4.0 kg-1 during the studied

period. Variation depended basically on product quality, availability and the kind

of trade (wholesale or retail). Although rains are unpredictable in this part of the

semiarid coastal region, the rainy season interferes in the clam meat production

(it is harder to harvest and boil shells in the rain) and in the demand (less

tourists and lower demand by restaurants). The local production chain depends

on two to three middlemen, although direct sale to local consumers also

happens.

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67

Shell fishers stated a mean of 11 harvests per month which seldom

generates an income equivalent to the Brazilian monthly minimum wage

(Bmmw, US$ 295.00 in January 2010) (Table 3, scenario 1). Only shell fishers

at Diogo Lopes could reach Bmmw, if keeping their mean production of three

shell bags per harvest and selling the meat at the highest price (US$ 4.00). On

the contrary, shell fishers at Barreiras and Sertãozinho would have to harvest

23 days (and also sell their production at highest price) in order to reach an

income equivalent to Bmmw (Table 3, scenario 2). The highest harvest

frequency in interviews was 22 days, which is difficult to achieve due to the

limited tide hours available to harvest per month and the exhaustion from the

activity along the month. Considering that half of harvest records were

performed in groups, an income equivalent to two Bmmw (one for each fisher)

could be achieved only at Diogo Lopes, if they harvest 23 days (Table 3,

scenario 3). Once fishers frequently worked in groups sharing benefits, have no

control of the price, and our analyses did not consider associated costs (to

harvest, process and sell the product), the real income was frequently lower

than the Brazilian monthly minimum wage.

Increasing the selling price for clam meat would allow fishers to harvest

less, for fewer days with higher income. Table 4 shows the impact clam price

has in gross production and total annual catch in order to achieve minimum

wage. At US$ 4.0 Kg-1 fishers could maintain their mean gross production and

harvest from 10 to 15 days, taking advantage solely of the best tides on month

to harvest. If prices went up to US$ 7.00 Kg-1 (the final price for consumers in

grocery stores in 2010), fishers could decrease catches (communities of Diogo

Lopes and Sertãozinho) and harvest frequency (all communities) to lower levels

than current means. Keeping the current pattern of gross production per

harvest, harvest frequency and number of fishers, this new price could

represent an annual decrease of 24,588.7 kg or 6,393,062 of mollusks being

extracted from the estuary.

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68

Table 3. Expected monthly income for Venus clam fishers in three communities at Ponta do Tubarão SDR (northeastern coast, Brazil), based on registered gross production, harvest frequencies per month and local prices (min and max) for clam meat.

Community

Mean gross

production

(SB)

Harvest Frequency & Meat price (US$/kg)

Mean interviews

220 hours month-1 (1 Brazilian monthly

minimun wage - Bmmw)

11 days 11 days 23 days 23 days

US$ 1.7 US$ 4.0 US$ 1.7 US$ 4.0

B 1.9 94.81 223.08 198.24 466.44

DL 3 142.12 334.40 297.16 699.20

S 2.2 107.71 253.44 225.22 529.92

Scenario 1: Income < 1 Bmmw for one fisher

harvesting Venus clam

Scenario 2: Income of 1 Bmmw for one fisher, but not enough for two

fishers, if they are harvesting together

Scenario 3: Income > 2 Bmmw, enough for two fishers, if they are harvesting together.

1 Bmmw = R$ 510.00 or US$ 295.00, considering 1US$ = 1.73 R$ in Jan/2010

Table 4. Comparison of number of shell bags of Anomalocardia brasiliana and harvest frequency shell fishers should follow in order to reach the Brazilian Minimum Wage (US$ 295.00 in Jan 2010) for different prices of clam meat.

Venus clam meat

price

US$*kg-1

Shell bags per harvest

Monthly harvest days to achieve

min wage

Total US$

Total

annual catch (kg of

shells)

Monthly

Income

1.7 3.5 20 297.50 31,803.50 297,50

4 1.9* 15 304.20 12,839.41 304,20

2.2* 13 299.52 12,917.13 299,52

3* 10 304.00 13,607.33 304,00

7 2 8 296.80 7,214.79 296,80

* Communities’ mean gross production

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69

High Medium Low NO

Risk of contamination

Estuary

Clam meat

0

10

20

30

40

50

60

70

Decreasing Equal Increasing

% F

ish

ers

Clam availability

Quantity

Size

Fishers’ perceptions about clam population trends and risk of contamination

The majority of the shell fishers said to believe that clam stocks decreased

in quantity (2 = 7.47, DF = 2, p = 0.024), although not perceiving decrease in

clam size (2 = 5.35, DF = 2, p = 0.069) (Figure 3). Shell fishers also considered

as “low” both the risk of estuary contamination (2 = 22.13, DF = 2, p < 0.0001)

or clam meat (2 = 22.4, DF = 2, p < 0.0001), not recognizing the lack of

sewage disposal and sanitation as harmful for their activity (Figure 3).

.

Figure3. Interviewed shell fisher’s opinion on Venus clam trends and the

associated risk of contamination (n= 34). “NO” is for no opinion.

2.4 Discussion

Clam fisheries at the Ponta do Tubarão SDR is an example of

interrelationship between biodiversity conservation efforts and poverty traps in

areas of endemic poverty, such as the Brazilian Northeast region8. Local

communities at Ponta do Tubarão demanded the state government to create a

protected area to protect the Ponta do Tubarão estuary against mass tourism

and shrimp farm business, two common threats for traditional fishing

communities on the Northeast coast (Vasconcellos et al. 2011). Nonetheless,

8 The Northeast region has the lowest Human Development Index in Brazil, from 1991 to 2005 it

varied from 0,575 to 0,787 (CEPAL et al. 2008).

A

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70

after almost a decade of poor and slow implementation, the reserve still lacks

effective management actions to achieve conservation as well as human

improvement goals. On the other hand, clam fisheries exist for generations, but

involve self-reinforcing mechanisms that keep shell fishers families in poverty.

The studied social ecological context of clam fisheries involves the four

mechanisms Barrett and colleagues (2011) defined as interlinkages between

biodiversity and poverty: (a) shell fishers have strong dependence on natural

resources, (b) fisher families and the estuary share vulnerabilities (such as

coastal water contamination), (c) there is a strong failure of social institutions

(failures at Ponta do Tubarão include education, health, sewage management)

and (d) lack of informed adaptive management (for the whole protected area).

In a more detailed approach, the poverty context of clam fishery involves

mainly women performing an exhausting activity that usually does not produce

enough income (compared to Braziliam minimum monthly wage), nor meet

sanitary standards. Fishers have low educational level, in part because it is

difficult to keep up with formal education after harvesting for hours, sometimes

in the mornings others in the afternoons along the month. Clam fishery lasts on

average almost 10 hours between collecting and processing heavy bags of

shells (around 40 kg) to produce a small amount of clam meat (around 6 kg), to

be sold at low prices (up to US$ 4,00). Shell fisher families’ livelihood strongly

depends on local fuel wood to process shells, middlemen to access the market,

and governmental programs to complement their basic income.

Although not officially recognized, annual clam extraction involves

hundreds of tons of shells, but estimation should be considered with caution

because: (1) the maximum production is not frequent, (2) production showed

high variance and (3) fishers may have overestimated their harvesting

frequency in interviews. According to Lunn and Dearden (2006), fisheries

culture may encourage over-estimation in interviews, when comparing to direct

observation. In terms of income generation, monthly catches may achieve the

Brazilian minimum monthly wage (Bmmw) only if fishers frequently harvest

alone and sell the clam meat at “top prices” of US$ 4.00. However, shell fishers

neither have any control on sale price nor can count on local organization to

support and improve their trade.

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71

Fishers’ perceptions about clam trends indicate decrease in clam stocks

over the years. Clam biological data are not available to determine whether

these perceptions are consistent with clam population trends. In such conditions

fishers’ knowledge is an important source of information to better understand

the status of exploited marine species (Sáenz-Arroyo et al. 2005). Despite their

perception that stocks are decreasing over the years, shell fishers did not show

leadership or organization to collectively improve their activity. Sanitation is still

a problem for clam meat production as communities do not have adequate

infrastructure for sewage management and water quality control. In general

inadequate sewage dispose has negative consequences to the environment,

but such effects are exacerbated when it involves human consumption of filter

feeders, such as bivalves (Rehnstam-Holm and Hernroth 2005, Maalouf et al.

2010).

Due to generalized poverty, shell fisher families cannot afford to pay for

goods that could improve safety, efficiency and market opportunities (safety

equipment to harvest, suitable household infrastructure for sanitation, cleaner

fuel technologies), which in turn could improve their livelihood. Poverty, as in

this case, can halt the role of small-scale fisheries as providers of sustainable

livelihoods, food security, and economic development (Jentoft and Midré, 2011).

The socio-economic context described for clam fishery is observed in

other states of the Brazilian northeastern coast (Silva et al. 2000, Botelho and

Santos 2005, Moreira 2007, Nishida et al. 2008, Silva-Cavalcanti and Costa

2009, Freitas 2011) and it is also similar to the low social standards for general

artisanal fishers in Brazil (Vasconcellos et al., 2007, 2011). Some

characteristics observed in Ponta do Tubarão are similar to the cockle fisheries

in Spain (Frangoudes et al. 2008) and Ecuador (Ocampo-Thomason 2006),

such as being an activity traditionally developed by women, through

generations, in a regime similar to an open access. But contrary to shell fishers

in Spain, clam harvesters in Brazilian Northeastern coast are generally not

organized and do not participate in management activities (Nishida et al. 2004).

Also, contrary to shell fisheries in the Mangrove reserve in Ecuador, shell fisher

at Ponta do Tubarão still depend on fuel wood to process shells.

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72

The use of wood and charcoal as fuel for cooking is common in

households with low income and development levels around the world (Duflo et

al. 2008). It also contributes to deforestation and global climate change (Dey et

al. 2012). Although the mangrove cut in Brazil is forbidden by law (Forest Act,

1965) its use as fuel wood for cooking is frequent on the Northeast coast

(Barletta and Costa 2009, Gomes 2009, Silva-Cavalcanti and Costa 2009). This

traditional cooking system involves cheap and locally available fuel wood, but it

is very inefficient at transforming wood into heat, burdening shell fisher families

as they will need more fuel and time and strength to acquire it. Fisherwomen

also complain about this system because it causes health problems such as hot

water burns, banded posture and eye irritation. Boiling shells in such stoves

also implies in a low level of sanitation in the food production.

2.5 Suggestions for clam fishery improvement and poverty alleviation

Information on artisanal fisheries is generally scarce (Begossi 2010, Salas

et al. 2011) making fisheries management difficult to succeed. In data-poor

fisheries, Parma and colleagues (2003) propose a qualitatively different

approach for fisheries: (a) using empirical information for developing

management plans, (b) having fishers collecting data, (c) working in association

with fishers and other stakeholders, (d) using the experience from similar

systems elsewhere, (e) and implementing the right incentives to management

systems. Begossi and colleagues (2011, 2012) proposed a combination of

institutional arrangements to co-manage artisanal fisheries in Brazil, including

Fishing Agreements, economic compensatory arrangements, and the

establishment of protected areas. This study produced the longest and most

detailed information on clam fisheries in Brazil, with active participation of shell

fisher families in the research. Based on the knowledge acquired for clams and

the arrangements already in use or proposed for fisheries, we suggest new

institutional arrangements and incentives to improve the clam system.

Improvement in shell fisheries around the world relates to the adoption of

co-management strategies (Aiken et al. 1999, Parma et al. 2003, Aswani and

Weiant 2004, Defeo and Castilla 2005, Ocampo-Thomason 2006, Frangoudes

et al. 2008, McClanahan et al. 2009, Gutiérrez et al. 2011). In a co-

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73

management approach, representatives of user groups, government agencies,

research institutions and other stakeholders participate in the decision-making

process (Jentoft 2003). The new institutional arrangements for clam fishery

should include shell fishers’ active participation in a co-management approach.

Thus, shell fisher families should occupy a central position in the new

arrangements for fisheries and livelihood development, following Castilla and

Defeo (2001); Parma et al. (2003) and FAO (2010).

Shell fisher families and government (both the environmental and fisheries

agencies) should negotiate the arrangements for clam fishery and state them in

a Fishing Agreement. Fishing Agreement in Brazil generally refers to a well-

established arrangement for fisheries used in the Amazon; it guarantees access

to resources to ensure local livelihoods, combining management strategies with

active participation of the fishers in the monitoring and enforcement of the

regulations, besides market integration (Begossi et al. 2011). As co-

management should not be created in an institutional vacuum (Jentoft 2003),

the agreement should officially recognize the traditional use of coastal areas by

shell fisher families, including the distinct patterns of use and informal division of

fishing spots communities may have, as did the three communities at Ponta do

Tubarão.

Another institutional arrangement for fisheries in Brazil is a compensatory

arrangement called “defeso”, which refers to a payment of monthly minimum

wages by the government to the fishers during a closed season (species’

reproductive period) to compensate fishers for their economic losses (Begossi

et al. 2012). “Defeso” is for fishers who harvest species in risk and with high

market value. Differently from target species in “defeso”, Venus clam in the

Northeast coast reproduces over the year (Rocha-Barreira and Araújo 2005).

Rain, however, negatively impacts clam populations and the fishery, by

increasing the clam mortality (Monti et al. 1991), affecting meat production

(more difficult to harvest and cook shells in the rain) and the sale process (lower

demand in rainy season). Shell fisherwomen suggested that any closure for

clam fisheries would have more compliance during the rainy season. Therefore

a different “defeso” should be envisioned, based on the rain and not species

reproduction. As economic attributes are strong incentives to motivate fishers to

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74

engage in management (Sethi et al. 2010), this compensatory arrangement,

called payments for environmental services, could provide shell fisher families a

wage during the one or two rainy months (officially closed fisheries). Thus,

mollusk beds could recover from harvest. Nevertheless, the period and duration

of the closures should be negotiated with shell fishers and based on specific

research to better understand local clam stocks dynamics and the impact rain

and harvest have on them. Although funds are always a constraint, this

arrangement could be included as a management strategy for costal protected

areas. Monitoring the production, the effort, stocks and families’ improvement

should also be included to better evaluate the interventions.

Besides the official recognition of their activity through a Fishing

Agreement and the compensatory arrangement already described, other

improvements in the value chain are necessary, such as the establishment of a

minimum fair price, better infrastructure and access to markets. The increase of

US$ 5.3 in sale price could contribute not only to a better life quality for fisher

families (more income with less heavy work), but also to the maintenance of

mollusk beds as it may represent 77% less biomass exploitation from the

estuary for the same income. Creating more remunerative strategies (as a

minimum price) with less impact on their host ecological system, helps

households to escape from low-return livelihoods that depend on common pool

resources (Barrett et al. 2011). A more complete market-based approach (Lewis

et al., 2011), which in this case would include the development of infrastructure

for sewage treatment to assure product quality, product transportation, adding

value to products, packing and access to high-value markets in a long term,

may encourage sustainable practices that should in turn lead to better human

wellbeing as well as biodiversity conservation.

Nevertheless, just because a resource is economically valuable, its

conservation cannot be taken for granted. There is always the possibility that,

without clear limits on entrance and catches, better prices and improvement on

the value chain lead to more fishers harvesting more. There are examples in

Latin America and Spain where shell fisheries already suffered the market

impact on benthic resources (Castilla and Defeo 2001, Orensanz et al. 2005,

Frangoudes et al. 2008, Huitric 2005, McClanahan et al. 2009). The increase in

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75

total catches, fishing areas, number of fishers and effort leaded to stocks

overexploitation. Only with the creation of rules defining access, closures (in

space), minimum size and total catches it became possible to face the crises.

These arrangements should also be expected for Venus clam fisheries. In this

process, special attention to community organization is necessary in order to

have the expected coesion and cooperation to carry out the planned collective

action (Jentoft 2000).

The establishment of such strategies could in the future lead to eco-

labeling, increasing the product price even more, as clams are indeed extracted

from a protected area. This kind of certification could yet promote more

sustainable extraction, as places that do not abide to the certification rules can

be excluded from the program (Peterman 2002). Certification also follows the

consumers’ increasing demand for fisheries products that not only have high

quality but also derive from sustainable fisheries (FAO 2010).

2.6. Conclusions

Although Venus clam may have decreased in quantity in some areas, it is

still abundant on the Brazilian coast. Also, due to its low value market, Venus

clam is not under governmental priorities for fisheries management. This study

provided the first detailed baseline production for Venus clam harvesting in

Brazil, showing the intertwined connections between extraction, conservation

and poverty. Fishing communities historically lack governmental support and

clam fisheries did not help shell fisher families to escape poverty. In this

context, efforts to improve both clam fisheries and fishers’ livelihood are

needed. Having a baseline, like this study, is a preliminary condition for

monitoring the impacts these interventions may have.

Attempts to improve the social ecological context involving clam fisheries

should be formulated within a framework that accounts for fisheries

management and poverty reduction. Nine basic conditions should also be

pursued: (1) power sharing, or having a co-management approach with fisher

families as main stakeholders that can control access and limit extraction, (2)

strong gender approach, as most harvesters are women, (3) recognition of

differences among communities and families within communities, (4) recognition

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76

of informal division of fishing spots (5), adoption of adaptive management, as

there is not a single solution, (6) establishment of clear economic benefits for

families, improving the value chain for clams along with compensatory

mechanisms, (7) cleaner technologies, especially for processing the shells, (8)

capacity building and (9) promotion of cooperation among families and

communities in order to collectively decide the most suitable rules to improve

the system.

Economic benefits are the most expected incentives shell fisher families

want. As such, the strategies for the clam fishery proposed in this study involve

agreements, economic compensations and improvements in the value chain.

The suggestions include establishing a minimum price for their product,

associated to a limited entry of fishers to the system, better access to market

(capacity building to better negotiate their product or development of methods to

decrease the middlemen’s dependency) and general improvements to produce,

process and sell clam meat. Compensatory arrangements during closed fishing

season should also be discussed in a Fishing Agreement between shell fisher

families and government. Finally, all the measures proposed above should be

integrated to promote sustainability for clam fisheries, improve families’

livelihood and also achieve the conservation goals expected for high

biodiversity ecosystems, such as estuaries in general or protected areas.

Acknowledgment

The first author would like to thank the members of People of the Tides

Project, especially the World Fisheries Trust coordination who supported part of

fieldwork. Thanks also to the shell fisher families, the Graduate Program in

Ecology at the Federal University of Rio Grande do Norte, and the Brazilian

Federal Agency for Support and Evaluation of Graduate Education (CAPES) for

a PhD grant to the first author.

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84

Capítulo 3: “CO-MANAGEMENT OF CLAMS IN BRAZ IL: A

FRAMEWORK TO ADVANCE COMPARISON ”

Ligia Moreira da RochaA Evelyn PinkertonB

A Graduate Program in Ecology, Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN)/Brazil. B School of Resource and Environmental Management, Simon Fraser University (SFU)/Canada.

Art igo submetido em nov. 2012 - Ecology & Society, IF= 2.713

ABSTRACT

Marine benthic invertebrates are a source of food and income to artisanal

fishers in Latin America. However, there is little research on shellfish

management. In Brazil, the recognition that fisheries encompass both natural

ecosystems and human well-being has increased, but initiatives focused largely

on high-valued species ignoring socially relevant resources such as Venus clam

(Anomalocardia brasiliana). This article investigated two initiatives involving co-

management of Venus clam in the past two decades: the Marine Extractive

Reserve “Pirajubaé” and the “People of the Tides” project. The analysis focused

on the institutional arrangements, the involved groups (fishing communities,

government and the resource), and the developed steps towards the

partnerships. Our results show that, as stationary resource, clams may favor co-

management, however achieving success is complex. Fisherwomen got

visibility and clam harvesters became the center of activities but their rights in

management will be “de facto” when protected areas are fully implemented,

government has greater willingness to share power, harvest and non-harvest

activities are included and fisher families achieve tangible benefits. Only then

such cooperation will promote sustainability for Venus clams and fisher families.

Key words: shell fisheries; co-management; fisherwomen; clams; marine

protected areas; artisanal fisheries.

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3.1. Introduction: A Context in Search of a Theory

The marine benthic invertebrates are a source of food, employment and

income to artisanal fishers in Latin America (Castilla and Defeo 2001). Women

have collected shellfish, especially clams (Faustino 2008), as important food

and source of low but reliable income (FAO 2007). Despite such widespread

use, however, there is still relatively little research on shellfish management

(Defeo and Castilla 2005). Experiences in Chile, Argentina, Canada and Spain

show that innovative co-operation between governments and shellfish users is

key to better management and improvement of fisher livelihoods (Castilla and

Defeo 2001, Pinkerton and John 2008, Frangoudes et al. 2008). Through

understanding past initiatives it is possible to identify conditions and situations

which favor successful initiatives of co-managing natural resources (Pinkerton

1989, 2009a, Ostrom 2009) and challenges to be addressed (Nielsen et al.

2004). In order to face the challenges, it is also necessary to learn with the

experience and to evolve in a changing governance context (Ratner et al.

2012).

In Brazil, the recognition that fisheries encompass both natural

ecosystems and human well-being has increased in the past decade and

participatory initiatives have taken place in the Amazon and along the coast

(Seixas et al. 2011). These management initiatives have focused largely on

high-valued species (Vasconcellos et al. 2007), ignoring socially relevant

mollusks such as the tiny Venus clam (Anomalocardia brasiliana) (Gmelin,

1791) (Bivalvia: Veneridae), a common but important source of food and

income to fishing communities on the Northeastern coast (Nishida et al. 2006b).

Landing statistics for Venus clam are rare and total annual catch may vary from

hundreds of tones (Rocha 2013) to thousands (Barletta and Costa 2009).

Moreover, some stocks are declining due to coastal environmental deterioration

and unregulated harvest (Pezzuto and Echternacht 1999, Nishida et al. 2004,

Silva-Cavalcanti and Costa 2009), following a pattern of stock depletion

recognized in Guadalupe (Moueza et al. 1999) and in Latin America for general

benthic shellfish stocks (Castilla and Defeo 2001).

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Echoing a global concern regarding marine resources conservation,

Brazil has expanded its protected areas system. Marine Protected Areas

ranging from “no-take zones” to multiple use have precipitated many conflicts

between artisanal fishers and protected areas managers due to their impact on

the livelihood, culture and survival of artisanal fishing coastal communities

(Diegues 2008, Lopes et al 2013).

Despite the importance of Venus clams and protected areas, only two

experiences involving clam co-management have occurred in Brazil: (1) the first

Marine Extractive Reserve (MER) “Pirajubaé” in the 1990s, and (2) the “People

of the Tides” project (PoT), implemented from 2008 to 2011. In the two decades

between these initiatives, major changes occurred in Brazil: the national

protected area system was established, and the legal framework for fisheries

was improved with a Fisheries Act and a new federal agency (the Ministry for

Fisheries and Aquaculture - MPA). Participatory management initiatives also

flourished, from partnerships between government and NGOs to manage

protected areas (Rocha and Jacobson 1998) to co-management initiatives in

fisheries (Castro and McGrath 2003, Oviedo and Bursztyn 2004, Kalikoski et al.

2009, Seixas and Kalikoski 2009).

Considering the (a) need to manage an important resource for fishing

communities, (b) the institutional enhancements achieved in Brazilian fisheries,

and the (c) experience acquired from clam management initiatives, an improved

scenario for clam management can be envisioned. Here we analyze the

measures Brazil has already taken towards clam management and discuss the

steps needed to further advance co-management. This analysis also

contributes to the international discussion of participatory resource

management and calls attention to: clams (a resource seldom well managed),

shell fisherwomen (traditionally marginal actors in fisheries), harvesting and

non-harvesting actions (as complementary strategies) and different

arrangements to better manage clams and improve fishers’ quality of life.

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87

3.2. Methods

To analyze the two co-management initiatives we used three dimensions:

(1) the institutional arrangements; (2) favorable conditions in the nature of

clams, communities, and government agencies, and (3) the appropriate steps to

implement partnerships. The analysis of institutional arrangements includes the

scope, scale, management activities and rights. The analysis of steps focuses

on the process of establishing a relationship among partners, as they progress

from negotiation to the institutionalization of an agreement. These dimensions

illuminate the complex nature of co-management (Pinkerton and Weinstein

1995, Pinkerton 1989, 1992, 2003, 2009a, 2009b, Agrawal 2002, Pinkerton and

John 2008) and also fit what Jentoft and Chuenpagdee (2009) call as

“governing system”, the “system-to-be-governed” and “system of a governing

interaction”. Under these three dimensions the variables and properties of co-

management initiatives are better understood, as co-management is a dynamic

process in time, enabling us to identify priorities for clam fisheries.

Data from MER Pirajubaé was extracted from literature (Behr 1995,

IBAMA 1996, 2003, 2004, 2005, Pezzuto and Echternacht 1999, Souza 2007,

Pezzuto et al. 2010, Vizinho and Tognella-de-Rosa 2010, Spínola 2011).

Spínola (2011) was a particularly important source because she discusses in

detail fisher participation in Pirajubaé. Information about the “People of the

Tides” project was based on project reports (Brasil 2007, WFT and MPA 2011),

and the first author’s firsthand experience. The first author became a local

partner of PoT when project implementation in the State of Rio Grande do Norte

involved a reserve (Ponta do Tubarão) where she was conducting research with

clam harvesters. During PoT implementation she paid monthly visits to the

reserve (fieldwork was partially funded by PoT), started a participatory

monitoring for the clam fisheries, and attended most local and regional PoT

events. She also acted as: (a) a witness to PoT development, (b) a bridge

between PoT coordination and shell fisher families, and (c) an advocate for PoT

and fisher families. Before working as PoT local partner, she helped to

implement the Reserve Management Council. Her eight years in the area

allowed the first author to establish rapport and trust with fisher families, local

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88

leaders, and the state agency, which resulted in a high level of confidence in the

findings.

Case study 1: Pirajubaé: Brazil’s first Marine Extractive Reserve (MER)

The Brazilian Extractive Reserve is a type of protected area that allows

people to live and keep their traditional livelihoods within the area, as long as it

is considered sustainable. Such reserves are designed to be managed

collaboratively by both government and local people (Fearnside 1989, Lopes et

al., 2011). Although the success of extractive reserves is ambiguous (Goeschl

and Igliori, 2004), MER has become the most frequent type of protected area

addressing coastal artisanal fisheries in Brazil.

MER Pirajubaé was created in 1992 in the State of Santa Catarina

(Figure 1) to manage the harvest of A. brasiliana by traditional fisher families.

After the introduction of hand dredges to increase production up to a

commercial scale, the federal government implemented a pilot project for clam

management in 1988. Following initial success, fisher families and the regional

office of the Brazilian Institute for Environment and Renewable Natural

Resources (IBAMA) pushed the national office to create a MER and regulate

clam extraction. Fishers created their own association (1995) and won legal

support to harvest (1996), when the jointly-developed Use Plan was released.

However, in the same year IBAMA allowed a road construction to improve

access to the regional airport, with the condition to monitor clam stocks in order

to access its potential impact.

The road impact damaged 41% of MER’s mollusk beds. Fish stocks

plummeted, and Venus clam became overexploited. The fishers’ association

denounced the damage to no avail and in 1997 IBAMA banned clam harvesting,

turning traditional fishing into an illegal activity in a reserve created for such

fisheries. Weak enforcement and low legitimacy kept fisheries exploited as

open-access resource. After five years, the Federal Public Prosecutor launched

a public civil action against IBAMA and the state government over the road

construction. In 2004 and 2005 IBAMA published new sets of rules for clam

harvest with limited fisher participation; two years later there were signs of clam

overexploitation.

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Figure 1. Location of Brazil’s two experiences in co-management of Venus clam (Anomalocardia brasiliana): “People of the Tides”

project (PoT), in the states of Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia and Paraíba, and the “Pirajubaé” Marine Extractive Reserve

(MER) in the state of Santa Catarina.

A new phase for participation started in 2008 with two partnerships and

MER improvement. Researchers at UNIVALI started a program of participatory

governance to develop capacity building for those involved in Pirajubaé and the

UN Development Program supported a participatory management planning.

Improvements of MER included a better skilled manager, new employees and

better work logistics. The manager, fishers and researchers started a working

group to discuss MER governance which ended up rebuilding fisher

organization. As a result, a multiparty Management Council with a fishers’

majority and biannual elections was created in 2011 to collectively deliberate on

MER. Harvest at Pirajubaé is still not sustainable, although additional

agreements on clam management are likely to be negotiated and enacted in

future.

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90

Case study 2: “People of the Tides” project (PoT)

During “People of the Tides” (PoT) project implementation (2009) the

fisheries portfolio moved from IBAMA to the Brazilian Fishery and Aquaculture

Ministry (MPA). PoT was an international partnership among the Canadian

International Development Agency (CIDA), MPA and the World Fisheries Trust

(WFT). It built on two previous international partnerships funded by CIDA

(“Shellfish Technology Transfer” and “Brazilian Mariculture Linkage” Programs).

PoT’s main objective was to promote capacity building and inter-institutional

linkages among organizations engaged in projects to improve the quality of life

in communities that directly depend on mollusks harvest. It provided tools,

training and networking opportunities to build capacity and engagement among

existing projects working with shell fisher families, especially fisherwomen in the

states of Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte and Paraíba (Figure 1).

Bureaucratic processes from both countries limited PoT’s implementation

to two and a half years (from 2008 to 2011) instead of four. With this time

constraint PoT’s positive results were: (a) the recognition of fisher women’s’ role

in clam fisheries, (b) capacity building for partners, (c) a better understanding of

existing value chains, (c) the creation of two networks involving shell fisher

families (states of Bahia and Rio Grande do Norte), (d) clam seed production in

labs, (e) governmental recognition of work-related injury and illness due to clam

harvest, and (f) peer-to-peer learning and knowledge transfer through

exchanges of fishers and researchers.

3.3 Comparative Analysis of Brazilian Clam Co-Management Initiatives

The nature of institutional arrangements

The institutional arrangements at Pirajubaé and PoT are detailed in Table

1. The scope at MER Pirajubaé specifically focused on harvest sustainability of

Venus clam by one artisanal fishing community at local level. Thus it operated

in a very small geographic scale with few parties. In contrast, PoT was

conceived at a national scale and involved a broad scope with multiparty

arrangements. In PoT, fisher women also demanded to include occupational

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health issues, better access to social security rights, and improvements to the

value chain to the scope.

Management activities varied according to place and time. At Pirajubaé

the initial phase focused on institutional building (MER creation). This was

followed by conflicts and discredit. Fisheries collapsed, and rules were created

with low participation and legitimacy. After 2008 a more participatory phase

started including new partnerships, capacity building in governance and the

creation of a Management Council with fisher majority (see Table 1 for details).

With a focus on community development and faster implementation (less than

three years), PoT included several activities promoting equity, capacity building,

and networks, among others (Table 1). Positive results in seed production were

achieved, building the path of replenishing mollusk beds in overexploited clam

areas.

Regarding community rights and duties in Brazilian fisheries, sharing

power is not common, but fishers at Pirajubaé actively participated in policy

making in the initial phase. By contrast, PoT was planned at national level, as

an international partnership. However during implementation this condition

switched: participation became uncommon at Pirajubaé, while at PoT fishers

could identify the project’s strengths and weaknesses and participate in two

levels of decision making.

Considering MER’s legal framework, artisanal fishers are co-managers:

they have the right to participate in decision making as long as their practices

are sustainable and follow conservation objectives. Nevertheless, the protected

areas involved in both cases were not fully implemented (due to lack of

infrastructure, human and financial resources, etc.) and the rights were not

enforced. In Pirajubaé the government kept a centralized approach for 15 years,

but a new scenario is expected after the creation of the Management Council to

rule the MER. PoT’s activities fulfilled in part fishers’ right to capacity

development. Participating in harvest monitoring (only available at the reserve

“Ponta do Tubarão”, Rio Grande do Norte) also allowed fishers the right to

collect their own information. In PoT and Pirajubaé, though, there is no clear

information if benefits to fisher families were maximized providing an increase in

product quality or diversity. The recent capacity building at Pirajubaé and PoT

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initiatives probably needed more time to allow changes and fishers needed

more organizational skills to collectively solve problems.

The nature of the resource

The nature of the resource plays a significant role in the institutional

sustainability of common pool resources (Agrawal 2002) and in the success of

co-management initiatives (Pinkerton 2009a). These authors argue that

mobility, riskiness of flow, boundary clarity, visibility, spoilability, scarcity and

value, cultural salience, and resource size are characteristics that influence the

success of a sustainable management initiative.

Shellfish harvesting occurs along all of Brazil’s 8,000 km coastline and is

one of the most accessible food sources for coastal communities in the

Northeast (Macnaughton et al. 2010). Venus clam is a bivalve mollusk

traditionally used by fisher families. It has small shell (15 - 30 mm), reduced

mobility and patchy distribution. Boundaries are especially defined inside

estuaries, where tide level defines sandy mudflats available for harvest.

Visibility depends on flats location: when fronting fishing communities, clear

visibility of mollusk beds helps management enforcement; more distant flats

may be “invisible” (due to mangrove mosaic inside estuaries) and more difficult

to patrol. Clams are culturally salient, in their importance for food and income

generation, and the size of their habitat is not so vast as to make it impossible

to monitor. Venus clams also have characteristics less favorable to

management: low market value (up to US$ 3.5/kg clam meat), low storage

capacity and high fluctuation in abundance (Monti et al. 1991). Overall, the

above characteristics favor co-management.

The nature of fishing communities

It is estimated that at least 50,000 people live exclusively from local

resources of clams and oyster mangrove (Brasil 2007). Despite such social

importance, there is no reliable socio-economic information for coastal artisanal

fisheries in Brazil (Vasconcellos et al. 2011). Statistics are especially weak for

fisherwomen whose fisheries may be considered as household duties. This is

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particularly significant for clam management in Northeast coast, as harvesters

are mainly women.

Specific studies in Pirajubaé and communities involved in PoT are

presented in Table 2. Shell fishers are old and present low educational level

(Table 2), a profile similar to general artisanal fisheries in Brazil (Vasconcellos

et al. 2011). Total annual catches varies in hundreds of tones, but with low

market value and strong dependence on middlemen, families have low income

(generally less than one Brazilian monthly minimum wage). Families depend on

fuel wood to process clams, middlemen to access market and social

governmental programs to complement income. Frequent strategies to deal with

decreasing stock and low income are searching for new mollusk beds,

diversification of activities, enrollment on social programs or leaving the activity

(Souza 2007, Nishida et al. 2008, Rocha 2013).

In general, fishing communities show low levels of organization as they

have suffered political and socioeconomic marginalization for decades. A top-

down policy for national security after World War I, imposed a system of fisher

organization (“colônia”) in order to register and control fishers and vessels along

the coast (Silva 1988). Colônias in general became quite often controlled by

local elites that frequently do not represent artisanal fishers’ interests (Seixas

2006), and certainly not those of fisherwomen, who have historically struggled

for their recognition as fishers (Articulação Nacional de Pescadoras 2006).

Despite this context, Catholic organizations, NGOs and governmental programs

have supported community organization and women participation in the past

decades (Vasconcellos et al. 2011). PoT, for example, included three colônias

in northern Pernambuco led by women involved with clam harvesting, who were

strong political leaders (A. Macnaughton, PoT coordinator, personal

communication).

Along the coast, fishing communities are internally diverse: they show

different cultural backgrounds and livelihoods (Vasconcellos et al. 2007).

However, shell fisher women are generally concerned about community

infrastructure. They cannot harvest if they have to stay home caring for

someone who is sick, or if there is no school for children (Rocha 2013).

Therefore, fisherwomen’s interests tend to be more place oriented than

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resource oriented, and they may not have time to fight for both, given that it

takes 8-14 hours a day to harvest the shells and process the meat in addition to

household activities. Furthermore, fishing communities present poor

infrastructure such as sewage and waste management (Nishida et al. 2008,

Barletta and Costa 2009), putting in risk the coastal environments and filter

feeders such as clams (Rehnstam-Holm and Hernroth 2005).

The heterogeneity in fishing communities and fisher’s levels of

organization, literacy, and interest to participate in management creates a site-

specific mosaic of pros and cons towards co-management. Lack of

infrastructure increases its complexity.

The nature of government agencies

In Brazil, fisheries occur within a complex regulatory framework involving

environment, coastal governance, protected areas, traditional communities and

aquatic resources. From 1989 to 2007 IBAMA was in charge of forests, wildlife,

fisheries and protected areas management, including monitoring and law

enforcement. After 2007 the protected area system moved to a new agency

(ICMBio – Chico Mendes Institute for Biodiversity), and two years later the

Ministry for Fisheries and Aquaculture (MPA) was created to plan and

implement fisheries public policies. Presently IBAMA is still involved in fisheries

monitoring and law enforcement as a partner.

IBAMA implemented the Pirajubaé MER very slowly: it took four years to

legalize the first Use Plan, eight years to improve it and six more years to

readapt it. Top-down decisions and conflicting policies also allowed major

estuary destruction and closed its fisheries, resulting in long-term public

discrediting. Over fifteen years, IBAMA negotiated only three sets of harvesting

rules for Pirajubaé, despite the clear need for faster adaptation to changes at

the local level. This slow response shows not just bureaucratic complexity but

also how unimportant clams are considered to be. PoT, on the other hand, was

implemented in the transition period when the MPA was created. There were

major delays in approval and implementation due to political and staff changes.

Although difficulties were partially overcome by PoT coordination (showing

openness to accommodate changes and local demands), a shortened

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implementation period jeopardized project results. Lack of commitment from

local government was not overcome, allowing decisions to be made at higher

levels. After PoT ended, key players engaged with co-management in the

federal government changed, making continuity more difficult.

Although stakeholders’ participation in co-management initiatives is

possible under the Brazilian legal framework and initiatives are increasing,

agencies generally lack the capacity to successfully promote co-management

arrangements and share decisions.

Steps toward co-management

Establishing a co-management arrangement is a process that involves

parties under specific rules at different levels of power sharing in a particular

time frame. With such complexity, co-management should be conceived as an

evolving relationship (Pinkerton 1992), a process of mutual adaptation between

government policies and local institutions (Hara and Nielsen 2003), and a

continuous “problem-solving in progress” (Carlsson and Berkes 2005).

Pinkerton (1992) conceptualizes this process as pertaining five main steps: (1)

adopting a negotiating posture, (2) conducting negotiations, (3) producing an

agreement, (4) fully implementing the agreement, and (5) institutionalizing

procedures.

At Pirajubaé, IBAMA performed the first two steps towards the MER

creation and clam harvest regulation, but took several years to finalize the third

step, and failed in fully implementing the protected area as well as clam co-

management. Government inefficiency compromised the legitimacy of harvest

regulation and fishers followed the rules minimally. At PoT, the three first steps

were in part developed through creating issue networks (fishers, governmental

agencies, research organizations and NGOs)(Pinkerton 1992) which brought

parties together to discuss improvements in clam harvesting as well as fisher’s

well-being. CIDA, MPA, WFT and governmental agencies formally agreed to

implement PoT, and the project also promoted mobilization (state and national

levels) for the recognition of illnesses due to clam harvesting labor. But there

was insufficient time to consolidate the learning or institutionalize attitude

changes.

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96

3.4. Clam Co-Management in Brazil: Steps Achieved and Barriers Still

to Overcome

Pirajubaé and PoT involve clam management experiences developed in

different conditions. The learning process at Pirajubaé started with a mollusk

management project, magnified with the creation of the MER. By contrast, PoT

was a product of a learning process after a decade of international partnerships,

built upon the experience acquired from other participatory initiatives.

A clear enhancement was achieved in scope, scale and number of

parties from Pirajubaé to PoT. The Pirajubaé experience focused more on

mollusk management, and it is still the only place in Brazil with clam regulation.

But PoT went beyond harvest management, as fishing communities’ needs and

priorities are more complex than harvesting. Indeed, rights and duties related to

both harvest and non-harvest management activities build the path to

successful co-management (Pinkerton 2003). Furthermore, the scope should

reflect the reality and not the requirements by donors or powerful organizations,

in order to avoid goal displacement as it happened in Africa (Hara and Nielsen

2003). PoT coordinators and funders were flexible enough to adjust the scope

and include fisherwomen’s social priorities. They also supported new initiatives

and negotiated unexpected outcomes, showing flexibility and inclusiveness, two

required qualities of governing systems (Jentoft 2007). Scope enlargement,

flexibility and inclusiveness are recently implemented at Pirajubaé. These

qualities allowed fishers not only to get more visibility, but also to influence

decisions: health issues for fisherwomen and majority chairs in Pirajubaé MER

council.

The ideal scale for co-management initiatives should be large enough for

meaningful planning and small enough for meaningful human interactions and

consensus building (Pinkerton 2009b). However, co-managing on a larger scale

than community is a problem to be addressed (Nielsen et al. 2004). PoT was

planned at national scale. Although projects covering regional scale may enable

cooperation and combine multiple sources of data to create a better

understanding of the system (Pinkerton 2009b), such projects also increase the

costs and the complexity of logistics. PoT covered some fisher’s costs

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especially in activities beyond their community, because families could not

afford them. The process of self-organization involves costs in time and loss of

short-term economic gains (Ostrom 2009), which families that depend on daily

harvest for income cannot pay for. In PoT participation of fisherwomen beyond

their communities was also challenging due to family duties, a worldwide

limitation (Weeratunge et al. 2010), and husbands restrictions.

Moreover, increasing the scope and geographic scale will likely increase

the number of parties. It is necessary to include a range of partners and

networks to satisfy the variety of needs when integrating local communities’

livelihoods into biodiversity conservation (Berkes 2007). More institutions also

bring the potential for complementary funding (Pinkerton 2009b). The new

participatory phase in Pirajubaé became possible after new investments

brought new partners (aiming for participatory governance) and staff to MER.

PoT encompassed multiple parties, but this also brought problems. The main

difficulties were: (a) to reconcile agendas and negotiate conflicts, (b) to build

stakeholders' capacity for knowledge sharing, and (c) to communicate

effectively with multiparty public audiences.

Fishing communities along the coast have a range of levels of

organization, literacy and willingness to participate. Such heterogeneity can

have multiple effects on building institutional sustainability for common pool

resources (Agrawal 2002). Recognizing this is crucial for creating collective

action in co-management. In general clam fishers are poorly educated and

organized, characteristics described as barriers in fisheries co-management in

Brazil (Diegues 2008, Kalikoski et al. 2009, Seixas et al. 2011). Under such

conditions, it is necessary to begin with institutional building, which is a costly

and long-term process (Pomeroy and Berkes 1997). In the studied initiatives

harvesters were recognized as important stakeholders, and fisherwomen got

visibility as main clam harvester in Northeast. PoT had a strong approach to

build local capacity, but not enough time to foster fishers’ empowerment, while

in Pirajubaé such approach was fairly recent. Future initiatives on clam co-

management still need to place significant effort on these issues, as

improvement in social capital at local level is needed before cooperative

agreements and actions emerge (Innes and Booher 1999).

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Regarding community rights and duties related to fisheries management,

fishers’ rights existed de jure but several have not been implemented de facto.

Beaches in Brazil are public areas under common use with free access, rights

of exclusion in clam fisheries may happen if the mollusk beds are located in

protected areas. However, the Brazilian protected area system presents middle

(36%) to low (51%) effectiveness due to lack of human and financial resources,

research and monitoring (IBAMA 2007). Therefore, although extractive reserves

give traditional communities the rights to exclude others, these rights do not

apply when the protected area is not fully implemented, weakening the co-

management initiatives.

In terms of governmental action, bureaucracy caused later and shorter

implementation for PoT, while meant a very slow and unsatisfactory MER

implementation. Other problems were discontinuity, lack of technical and/or

ambivalent support, difficulties in sharing power, conflicting agendas among

agencies and lack of rule enforcement, all issues reflected in reviews discussing

co-management and marine protected areas in Brazil (Oviedo and Bursztyn

2004, Seixas 2006, Diegues 2008, Kalikoski et al. 2009, Seixas et al. 2011).

According to Plummer and Fennell (2007), such difficulties relate to the

temporary nature of political regimes, shifting policies and transient human

resources: strong disrupting forces halting success in co-management systems

in general.

Pinkerton (1989) and Pomeroy and Berkes (1997) note that the benefits

of co-management become possible when there is one or a combination of

three main goals: (a) community economic and social development, (b)

decentralization of resource management decisions, or (c) conflict reduction

through participation. In Pirajubaé, decentralization, conflict reduction and

participation became effective through the MER Management Council. PoT

supported decentralization of decision making, economic feasibility studies for

clam value chains and the creation of fisher networks. However there is no

evidence that the cases provided real economic development for fisher families.

Clam harvesting involves largely informal artisanal production (Macnaughton et

al. 2010), and co-management initiatives still have to pursue strategies to

increase family income and improve the clam value chains.

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3.5. Conclusion

Although stationary resources such as clams may favor co-management

initiatives, achieving success is complex. In co-management arrangements,

partners should understand each other and comprehend the system in which

clam harvest happens. They should share power, decide actions, adapt and

learn in an evolving process (Ratner et al. 2012). Yet governing systems are

often as diverse, complex and dynamic as the system-to-be governed (Kooiman

and Bavink 2005).

The experiences encompassing Venus clam co-management in Brazil

cover a period of two decades. Starting from a clear focus on harvesting rules at

Pirajubaé, there has been an increase in the scope, scale, number of parties,

management activities and decision making in PoT, a project with community

development and equity as its main objectives. Institutional learning, flexibility

and institutional network were fundamental in this process.

Strong barriers to co-management in PoT and Pirajubaé were

bureaucracy, discontinuity, lack of shell fisher organization and government

inability to fully implement arrangements. It is noteworthy, however, that both

initiatives started the process of recognizing clam harvesters, especially women

in the Northeast coast, as important stakeholders. For the first time shell

fisherwomen got visibility and influenced decisions on clam initiatives. Under

their demand, a network to improve fisherwomen health was set up, recognizing

that fisheries go beyond managing stocks. However, making room for co-

management initiatives in shell fisherwomen’s lives is challenging. Clam harvest

and household duties are overlapping full-time jobs, and power relationships

within households also interfere. Positive results in seed production were also

achieved, building the potential path of replenishing mollusk beds in

overexploited clam areas. Major challenges are building local capacity for

fishers and government, better implementation for protected areas, and

improvement in families’ income and the clam value chains.

We may be far from successful co-management of clams in Brazil,

considering the difficulties already discussed, but this achievement is only

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possible if we review past initiatives, share the experience, and have a vision for

the future. We hope future clam co-management initiatives take advantage of

past Brazilian efforts discussed here. MERs favor co-management, but their

creation does not imply real participation unless they are fully implemented.

Arrangements such as PoT are also feasible and promote participation, but they

risk discontinuity. In this process, greater government involvement and

willingness to share power, having fisher families as core parties (considering

fisherwomen as centerpiece), inclusion of harvest and non-harvest activities

and tangible benefits for fisher families are critical to the long-term success of

clam co-management. Only then such arrangements will promote sustainability

for Venus clams as well as shell fisher families.

3.6. Literature Cited

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Table 1. Comparison of institutional arrangements of clam co-management initiatives in Marine Extractive Reserve Pirajubaé and

“People of the Tides” project in Brazil. MER Pirajubaé “People of the Tides” (PoT) project

Scope

(A) Initial: To promote sustainable harvest of Venus clams and other natural resources by artisanal fishing community. (B) Recent: Implement the participatory governance and promote conservation and sustainable use of natural resources.

To promote equity and poverty reduction through inter-institutional cooperation and capacity building. (A) Initial: equity (better income generation and opportunities), community organization for sustainable production of mollusks, knowledge transfer, mollusk cultivation and depuration systems. (B) Enlarged scope: better recognition of labor-related illnesses, access to social security rights and better access to a more organized value chain.

Scale

Small: one state, one protected area, one coastal community (100 families), two mollusk beds in a shoreline of 6 km.

Large: 4 states in the northeast coast, 5 Protected Areas (including another federal MER and four state areas for sustainable use), several communities and mollusk beds, 1646 km of shoreline.

Part

ies

Few: IBAMA, fishers and their association, UNIVALI University and UNDP. With the Management Council (2011) parties became: fishers & their association (10 shell fishers and 4 others), government agencies (7), traditional people other than fishers (6), university (1), and resident associations (2).

Many: several government organizations and NGOs from national to local levels, artisanal fishing communities (>20), international funding agency (CIDA), universities, fisherwomen (1,300) and aquaculture company.

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Managem

ent A

ctivitie

s

(A) Phase 1 (1992-1996): “Institutional building”. Fisher association creation, co-definition of a Use Plan with specific harvest rules (fishing effort, gears, minimum size, and rotational system in time and space). (B) Phase 2 (1996-2008): “conflicts and discredit”. Imposed fishing ban due to stock depletion (without surveillance). Very low participation on harvest rules. (C) Phase 3 (2008-actual): “participatory governance”. Inclusion of new partners (university and UNDP), local capacity building (on participatory governance for fishers, MER manager and researchers), MER improvement (more experienced manager and employees with better logistics to work), creation of working group (fisher, manager and researchers) to discuss governance, resource users identification, and creation of a Management Council .

(A) Equity: activities involved fisher families with specific focus on women (1,300 women and 680 men from local communities, governmental and NGOs). (B) Capacity building through workshops (on co-management, gender, occupational health, biology & production of mollusk, value chain), technical visiting and exchange program (including international technical exchanges and regional peer-to-peer learning exchanges between community associations). (C) Recognition of occupational health problems due to harvesting: publishing a booklet and developing the “Interstate Coalition Initiative for addressing occupational health and social rights of fisherwomen”. (D) Support to fisheries research and clam seed production. (E) Support to democratic governance and economic feasibility studies for artisanal mollusk fisheries (30 people, 50% women) and creation of fisher networks.

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Managem

ent

Rig

hts

and D

uties

(A) By law: At MERs fishers are co-managers: have the right to participate in decision making (i.e. to define priorities, to create and enforce rules, to limit access of nonmembers of their community and to manage harvest timing for optimum product value) if practices are sustainable, they follow conservation objectives and activities are approved by the environmental governmental agency.

(B) In Pirajubaé: Rights enforcement varied along time: - fishers participated in the beginning, but the open access context after the road impact favored free riders, damaging rules acceptance and fishers’ organization. - Government ruled the MER most of the time. - Management Council (2010) with fishers’ majority reassured fishers’ rights.

(C) There is no information whether MER maximized benefits to fishermen (increase in product price, productivity or supply management).

(A) Initial planning with key players (with long experience working with fishers).

(B) Fishers participated more actively during PoT implementation, most of the time through involvement in workshops and exchange activities, fulfilling their right to capacity development. In general fishers gave their input about their reality (needs and priorities) and opinion about adequacy of previous planned activities.

(C) Local actors also identified projects’ strengths and weaknesses, helped to monitor project development and participated in two levels of decision making: the working groups and the national council.

(D) In Rio Grande do Norte fisher families monitored their harvest (at “Ponta do Tubarão” Sustainable Development Reserve”) and in Bahia they also started attempts to get special license for oyster production (exclusive access).

(E) The right to exclude others existed inside the protected areas (PAs), but was not de facto.

(F) The right to coordinate own activities, solve problems and manage harvest timing for optimum product value was not implemented.

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Table 2. Clam fisher characteristics at MER Pirajubaé and some communities involved in PoT, based on Souza (2007)1, Nishida et al. (2008) 2, Barletta and Costa (2009)3, Silva-Cavalcanti and Costa (2009)4, Vizinho and Tognella-de-

Rosa (2010)5, Rocha (2013)6.

Clam

Fisheries MER Pirajubaé

“People of the Tides” (PoT)

Project

Gender Mainly men1,5 Mainly women2,3,4,6

Fisher’s age 41 to 51 yo5 32 to 38 yo4

Formal

education

illiterate5: 4% up to 4 years: 53%

up to 8 years: 35%

illiterate2, 4 - 25% to 37% up to 4 years: 41% to 61%

up to 8 years: 02% to 09%

Family

members 3 to 45 52,3

Annual catch 947 t (2005) 1

440t (2010) Ponta do Tubarão Estuary, Rio Grande do

Norte6; 3000t (2005) Goiania Estuary,

Pernambuco3

Clam stock status

Decreasing abundance1,5 and size1

Decreasing abundance2,6

Clam meat price US$ / kg (year)

2.3 (2005) 1 0.4 to 1.5 (2009)4 2.0 to 3.5 (2010)6

Income Not available < 1 Brazilian monthly

minimum wage2, 6

Fuel Wood from mangrove

or community5

Wood from mangrove or

community4,6 1 Souza (2007), 2 Nishida et al. (2008), 3 Barletta and Costa (2009), 4 Silva-

Cavalcanti and Costa (2009), 5 Vizinho and Tognella-de-Rosa (2010), 6 Rocha (2013).

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3.6. Acknowledgments

We would like to thank WFT coordinators Joachim Carolsfeld and Alison

Macnaughton for their support and for reviewing the manuscript. LMR also

thanks shell fisher families at PoT, Prof. Paulo Pezzuto for providing key

references, the Federal University of Rio Grande do Norte and the Ministry of

Education (CAPES) for doctoral fellowships. Part of this paper was developed

while LMR was a visiting researcher at Simon Fraser University (CAPES-BEX

9018/11-5).

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A MARISCAGEM DE A.

brasiliana E RECOMENDAÇÕES

A mariscagem na RDS de Ponta do Tubarão é uma atividade que

acontece há gerações e pode ser descrita através das seguintes

características:

Geralmente feminina As pessoas que extraem búzio na reserva são

preferencialmente mulheres, mas há também a participação de homens. Em

sua maioria quem vai para a maré (a) tem entre 30 e 50 anos e de 10 a 30

anos de experiência, (b) aprendeu o ofício com as mulheres da própria

família (mães ou avós) ou da família do cônjuge, (c) tem poucos anos de

educação formal, (d) aprendeu o ofício acompanhando a família na extração

e ajudando no beneficiamento do búzio em casa e (e) por volta dos sete

anos passou a ajudar também na comercialização do produto.

Atividade manual ou com ferramentas simples Atualmente é realizada

manualmente ou com uso de ferramentas como pá e colher de pedreiro,

porém as estratégias são distintas em cada comunidade. Em Barreiras usa-

se apenas as mãos. Em Diogo Lopes usa-se a pá e mãos em alguns poucos

casos. Em Sertãozinho usa-se as mãos e colher de pedreiro.

Individual ou em grupos. A mariscagem tanto pode ser realizada

individualmente como em grupo, com ou sem partilha da produção. Os

grupos geralmente são familiares, mas há também os de afinidade, onde

grupos de marisqueira(o)s amiga(o)s se reúnem na maré. Há distinções

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claras entre os grupos em cada uma das comunidades e não

necessariamente marisqueira(o)s de grupos distintos conversam e interagem

com os outros, o que dificulta a tomada de decisão em arranjos participativos

para a gestão da mariscagem. Como ressalta Agrawal (2002), novas

propostas ou ações devem levar em consideração as interações internas

dos grupos de usuários de recursos.

Espacialmente localizada em cada comunidade. A mariscagem é

localizada espacialmente no estuário em croas distintas para cada

comunidade. As principais croas são Porto Fede, Lancha e “croa entre os

ranchos” na costa, para os marisqueiros de Diogo Lopes; Boia e Fogo para

Barreiras, e Morro Branco, Salina e canal próximo a capela para as famílias

de Sertãozinho. Como este é o primeiro levantamento feito na reserva torna-

se difícil medir alteração no uso do espaço marinho, o que poderia indicar

aumento do esforço de captura (Huitric 2005, Berkes et al. 2006). No

entanto, a chegada de canoas doadas pela PETROBRAS em 2012 (após

esta pesquisa) pode alterar o uso distinto das croas, uma vez que permite o

acesso a croas diferentes (para quem não tinha canoa) e mais distantes

(para quem varejava ida e volta, além de extrair). Inovações tecnológicas

são fatores importantes na pesca (Berkes et al. 2001), sendo necessário seu

acompanhamento para verificar mudanças no padrão de exploração do

recurso. A exploração sequencial de estoques, pesqueiros e artes de pesca

podem mascarar o declínio da atividade por sobreexplotação e devem ser

reconhecidos como importantes indicadores em seu manejo (Huitric 2005).

Ocorre o ano todo. A mariscagem é uma atividade que acontece ao longo

do ano. Geralmente no inverno a frequência de mariscagem diminui por

vários razões: a) dificuldade de produção (4 horas de chuva e frio durante

extração); b) dificuldade de beneficiamento (como fazer fogo e cozinhar na

chuva); c) qualidade da carne (espécie hipersalina sensível à diminuição de

salinidade decorrente das chuvas, aumenta risco de deterioração da carne

durante a extração); e d) diminuição da demanda (menos turistas e queda

dos pedidos locais, já que o búzio “fica choco”).

Graus de exploração. Existem três tipos graus de uso do búzio: 1) aqueles

que dependem diretamente da extração e venda do búzio para

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sobrevivência, 2) aqueles que utilizam regularmente o recurso como

complemento alimentar e 3) aqueles que tiram o búzio apenas algumas

vezes ao ano para consumo. O limite entre os grupos não é fixo e quem hoje

está numa condição melhor de vida pode ter dependido da mariscagem por

mais de uma década, assim como quem nunca precisou anteriormente pode

passar a mariscar por necessidade.

A produção é variada. A extração de búzio na reserva é variada,

dependendo da habilidade de extração, da existência de transporte (acesso

às croas e deslocamento das conchas) e possibilidade de venda do produto.

Geralmente a extração acontece em sacos de cebola (SC), monoblocos (M)

ou baldes (B). De uma maneira geral 1 SC corresponde a 1M ou 2B grandes

ou 4 B médios ou 8B pequenos. Em geral a produção diária na mariscagem

é de 2,3 SC, porém algumas famílias extraem sistematicamente mais ou

menos que outras. Um saco de cebola cheio de búzio corresponde a 40,27

kg e gera por volta de 2,5 kg de carne. A carne é vendida em pratos (com

peso variado) ou sacos de 1kg, mas poucas famílias têm balança para pesar

seu produto.

Tomada de decisão. O acompanhamento da mariscagem por um ano e

meio sugere que a decisão de ir para a maré e produzir carne de búzio

envolve inúmeros fatores ambientais, sociais e econômicos (Figura 7.1). As

condições ideais para ir até uma croa, procurar a mancha de búzio e então

explorá-la dependem de: se já há comprador certo com um preço possível

de ser vendido (não tão baixo a ponto dos pescadores desistirem do búzio e

migrarem para o siri, por exemplo), se os apetrechos estão disponíveis

(monobloco, pás ou colher de pedreiro e baldes em condições de uso), se há

canoa e quem saiba conduzi-la, se a maré é favorável (fase da lua e horário

da maré baixa), se as crianças estão na escola ou com outro adulto para

tomar conta, se não tem alguém doente (a própria marisqueira ou alguém na

família que necessite acompanhamento) e se não está faltando água há dias

(a água ficaria restrita ao consumo humano e alimentação).

A croa, por sua vez, deve ter uma quantidade de lama, conchas mortas

e ostras que não interfiram na produção. Os búzios devem ter quantidade e

tamanho adequados para a produção de carne. Caso contrário a mancha

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inicial na croa será abandonada e nova mancha procurada para reiniciar o

ciclo. Raramente há mudança de croa, uma vez iniciada a extração. Apesar

de não terem sido quantificados durante o trabalho de campo, os fatores

indicados na Figura 7.1 estiveram presentes nas decisões das famílias

marisqueiras envolvendo a mariscagem no período estudado. O conjunto de

variações nestes fatores pode alterar a decisão de ir ou não mariscar, qual

croa visitar, com quem ir, quanto extrair e quantas vezes na semana

mariscar.

Figura 1. Fatores que acompanharam a tomada de decisão no processo de mariscagem na RDS Estadual Ponta do Tubarão.

Acesso ao mercado. O acesso ao mercado é dependente de poucos

atravessadores que frequentam a reserva semanal ou quinzenalmente. Os

atravessadores definem o preço do kg da carne de búzio e a frequência de

venda no mês. As famílias desconhecem onde e por qual preço seu produto

é comercializado, depois que entregam ao atravessador.

Papel das crianças. A participação infantil na mariscagem ocorre

geralmente quando não há aulas no horário da maré ou quando as famílias

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não dispõem de alternativas como deixar as crianças com parentes ou

vizinhos. Durante a mariscagem as crianças participam ajudando os adultos

em diversas maneiras, desde atividades simples como transportar os

apetrechos de uma mancha a outra e levar água para os adultos, até

mariscar ativamente, isto é, extrair as conchas ou escolhê-las, uma vez

coletadas e lavadas. Os meninos que sabem varejar nas canoas auxiliam no

transporte e os que não sabem, apenas auxiliam posicionando a canoa

durante a extração na medida em que a maré “seca” ou “enche”, assim vão

aprendendo sobre a maré e o comando da embarcação. Geralmente os

meninos de 11 a 16 anos coletam com a pá, enquanto as meninas coletam

apenas com as mãos ou ficam limpando o cascalho das conchas já

coletadas. Em um único caso registrou-se duas meninas coletando com pá.

As crianças pequenas, que não têm força suficiente para mariscar ou a

concentração necessária para escolher as conchas, ficam na maior parte do

tempo brincando na maré, brincando inclusive de mariscar, aprendendo de

maneira lúdica o ofício dos pais. Ir para a maré pode ser uma grande

diversão, que inclui brincar na água, caçar siri, ganhar um dinheiro tirando os

próprios búzios. Mas a tolerância de brincadeira fica apenas para os mais

novos, a partir de 10-11 anos geralmente já é exigida seriedade na extração,

principalmente para os meninos.

Búzio, desmatamento, emissão de CO2 e saúde. O processamento do

búzio em todas as famílias marisqueiras da reserva depende do uso de

lenha ou carvão retirados do mangue ou da caatinga para cozinhar as

conchas e extrair a carne. O cozimento é realizado em fogueiras

improvisadas no chão no quintal da casa. Assim o processamento atual da

carne de búzio é uma atividade com várias implicações ambientais, sociais e

sanitárias: contribui para a redução da vegetação (de mangue e caatinga),

para as emissões de CO2, gera uma série de problemas de saúde (posição

inadequada da coluna, esforço repetitivo, acidentes com água fervendo,

inalação de fumaça), além de não atender aos requisitos de qualidade

sanitária.

Condição sanitária. As condições sanitárias de produção da carne de búzio

não são adequadas. A falta de água constante nas três comunidades (e

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cronicamente nas casas no final da estrada de Sertãozinho e nas casas do

“morro” em Diogo Lopes) dificulta a vida das famílias, chegando a alguns

casos a impedir a produção. A ausência de saneamento básico na RDSEPT

permite que haja contaminação das águas do estuário e alto risco de

acumulação na carne do búzio, já que são organismos filtradores que podem

ser utilizados como indicadores de qualidade ambiental (Pereira 2003). O

beneficiamento das conchas em casa é também realizado com poucas

condições de higiene para a produção de produtos alimentícios.

Condição de pobreza. As famílias marisqueiras vivem em situação de

pobreza onde a mariscagem dificilmente permite que as mesmas alcancem

padrões mínimos de remuneração como o salário mínimo, com os atuais

preços de venda da carne de búzio. Geralmente as famílias lançam mão de

múltiplas rendas, principalmente de programas assistenciais como Bolsa

Família e aposentadoria dos idosos. Comércio e prestação de serviços

também ocorrem.

Desorganização. Não há nas comunidades ou entre as comunidades da

RDSEPT algum tipo de organização que facilite a comunicação e

cooperação entre as famílias marisqueiras. O Projeto Gente da Maré, que

era voltado às famílias marisqueiras do Nordeste brasileiro, terminou no

início de 2011 sem que fosse possível construir uma organização entre as

marisqueiras. Os conflitos entre as famílias (principalmente em Diogo

Lopes), as dificuldades de comunicação e deslocamento na reserva (inter

comunidades), a falta de representatividade da Colônia como órgão

representativo e a “espera pelo governo” (historicamente quem “cria as

regras”) dificultam a colaboração entre as famílias marisqueiras.

Dificuldades mais citadas pelas marisqueiras Em termos da produção, os

principais problemas citados para a mariscagem foram a dificuldade de

acesso aos bancos de moluscos, a ausência de comprador certo, o baixo

valor de venda e o desgaste físico associado à pesca. Havendo garantia no

escoamento da produção e melhoria no preço alcançado, por exemplo, há o

interesse local por parte de alguns usuários do búzio como complemento

alimentar em se dedicar à atividade econômica. Do ponto de vista de

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117

Gênero9, as principais dificuldades envolvem: a) a invisibilidade das

mulheres que exercem a atividade (falta de informação sobre quem exerce

em cada comunidade, falta de organização e representatividade no Grupo

de Trabalho da Pesca, no Conselho Gestor, e nos eventos em geral

realizados), b) dificuldade de acesso às informações, direitos e benefícios

sociais, c) dificuldade de aquisição da documentação básica (p. ex. carteira

de pescadora e INSS), d) dificuldade de manutenção das taxas de

contribuição, tanto da Colônia quanto do INSS, quando inscritas.

Opinião da(o)s marisqueira(o)s. A maioria das marisqueira(o)s indicou que

a abundância de A. brasiliana tem diminuído ao longo do tempo, mas tal

concordância não aconteceu com relação ao tamanho das conchas

disponíveis. A maioria também considerou baixo o risco de contaminação do

estuário, assim como do marisco, não reconhecendo a falta de saneamento

básico adequado nas comunidades

Segurança na mariscagem. A extração acontece sem equipamentos de

segurança individuais (EPIs) para as marisqueira(o)s. Raramente vão com

chapéu e manga comprida para evitar o sol, ou calçados, para evitar cortes e

perfurações do peixe venenoso Aniquim (Thalassophryne sp.).

Recomendações

A falta de informações básicas sobre a pesca artesanal dificulta o manejo

da atividade (Begossi 2010, Salas et al. 2011). Nestas condições, Parma e

colegas (2003) propõem para o manejo: 1) o uso das informações existentes,

incluindo informações sobre a pesca em outros sistemas semelhantes, 2) a

coleta de dados pelos pescadores, 3) o trabalho em conjunto com pescadores

e outros agentes envolvidos na pesca, e 4) adoção de incentivos adequados.

McClanahan et al. (2009) propõem três grandes diretrizes para se manejar a

pesca de pequena escala de maneira a alcançar benefícios socioecológicos:

abordagens participativas que envolvam co-manejo, manejo que se adapte às

condições socio-ecológicas locais e o uso de incentivos econômicos e sociais.

9 Gênero refere-se aos papéis e relações entre homens e mulheres que são determinados por um

contexto social, político e econômico. Não se refere às diferenças biológicas entre os sexos.

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Como arranjos institucionais, Begossi e colegas (2011, 2012) propõem uma

combinação de arranjos de co-manejo envolvendo acordos de pesca, defeso e

áreas protegidas. Para todos estes autores, o foco principal volta-se a entender

e organizar o sistema e não simplesmente em criar novas tecnologias e

produzir mais, abordagem questionada desde a década de 90 por Bailey e

Jentoft (1990). Este estudo produziu o mais longo, detalhado e participativo

conjunto de informações sobre a mariscagem de A. brasiliana no Brasil, já de

acordo com algumas das estratégias acima citadas. Com os conhecimentos

adquiridos e os arranjos já em uso ou propostos para a pesca artesanal,

sugere-se a criação de novos arranjos institucionais específicos para o sistema

sócio ecológico presente na mariscagem, incluindo co-manejo, acordo de

pesca, implantação de incentivos econômicos como defeso, e melhorias

específicas para a cadeia produtiva de A. brasiliana. Cada uma destas

estratégias será detalhada a seguir.

Num contexto de co-manejo, espera-se que os usuários dos recursos

estejam direta e formalmente envolvidos no processo de tomada de decisão,

de forma central e ao mesmo tempo coletiva, com relação ao manejo destes

recursos (Jentoft 2000). O que se espera é que a condição de co-manejo

fomente a cooperação entre usuários, crie atitudes responsáveis com relação

ao recurso e promova tanto aprendizagem quanto a anuência às regras

criadas. Adotando uma abordagem participativa as famílias marisqueiras

deverão ter papel de destaque nas decisões. Para tanto deve-se:

1) reconhecer quem são as marisqueiras que dependem diretamente da

mariscagem, inclusive aquelas mais “invisíveis”, isto é, que não são

cadastradas na colônia ou que não têm o costume de participar de reuniões ou

eventos comunitários;

2) fomentar a organização das famílias marisqueiras, uma vez que as

comunidades pesqueiras não necessariamente estão prontas para o co-

manejo, mas a organização comunitária melhora a coesão, cooperação e a

integração necessárias para que o planejamento e as ações coletivas previstas

no manejo sejam viabilizadas (Jentoft 2000);

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3) fomentar fóruns de discussão a fim de se criar condições de

compartilhamento de conhecimento, negociação e tomada de decisão

(McClanahan et al. 2009);

4) ter claramente identificados e registrados quem tomou as decisões,

porque e como, a fim de fomentar transparência nas ações e aumentar sua

anuência (Medley 2008); e

5) profissionalizar as famílias marisqueiras para melhor compreenderem o

sistema socioecológico em que estão envolvidos e atuarem no manejo e no

acesso ao mercado, uma vez que a profissionalização é um fator chave e

estratégico em melhorias de longa duração na pesca (McClanahan et al. 2009).

O Acordo de Pesca deverá ser negociados entre as famílias marisqueiras

e os órgãos governamentais (tanto de pesca como ambientais, no caso das

áreas protegidas), levando em consideração as diferenças entre comunidades

e padrões de uso dos recursos, além de adotar uma abordagem adaptativa.

Deverão ainda privilegiar mecanismos flexíveis de ajuste das regras, pois estes

favorecem a gestão compartilhada de recursos pesqueiros (Seixas et al 2011).

Dentre as estratégias de manejo a serem negociadas, sugere-se:

Cadastramento das famílias marisqueiras. Uma vez conhecidas as

famílias envolvidas na mariscagem da RDSEPT através desta pesquisa, seu

cadastramento junto ao Conselho Gestor da Reserva será importante para

facilitar o conhecimento dos usuários de A. brasiliana, assim como acesso

às famílias na organização dos fóruns de discussão para melhorias na

mariscagem. No entanto, deve-se criar um contexto sem burocracia onde os

grupos de marisqueiras e a Colônia participem e colaborem neste processo.

Definição e rotação dos bancos de molusco a serem explorados. Deve-

se levar em consideração o padrão de uso existente nas comunidades, mas

discutindo localmente estratégias de rotação entre os bancos e a

possibilidade de áreas permanentes de proteção, uma vez que são

instrumentos eficientes no manejo para espécies bentônicas (Parma et al.

2003, Aswani and Weiant 2004), mas nem sempre aceitos facilmente

(McClanahan et al. 2009). Como na RDSEPT já há variação no uso dos

bancos por algumas famílias, mas de maneira informal e individual, a

negociação deverá centrar também na importância de ações coletivas, além

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dos benefícios do rodízio propriamente dito. A definição das áreas de uso

poderiam ficar restritas às áreas já identificadas neste estudo (Porto Fede,

Lancha, Boia, “entre ranchos” na costa, Morro branco, Rato, canal em frente

a capela de Sertãozinho, Farol, Fogo, Salina, Bidinha, Meio e Derradeira),

tornando as outras áreas do estuário fechadas para proteção dos bancos e

reprodução de A. brasiliana, até que nova avaliação seja necessária.

Cotas de extração por família. Apesar da definição de cotas de extração

fazer parte do rol de estratégias gerais de manejo, esta pesquisa não

envolveu análise de estoque de A. brasiliana na RDSEPT, que poderia

embasar tal decisão. No entanto algumas marisqueiras demonstraram

preocupação com exploração de mais de 6-7 sacos de conchas realizada

por uma única pessoa por mariscagem, quantidade considerada “exagerada”

e “que faz acabar os búzios” (compromete os estoques). Assim, caso

decidam negociar um limite máximo de extração por mariscagem, deve-se

também decidir como esta regra será fiscalizada e quais as sanções que

serão implantadas para quem infringi-la. Parma e colegas (2003) ressaltam

que o controle de extração ou de esforço em pesca de pequena escala

envolvendo recursos sedentários e espacialmente estruturados (“S-

Fisheries”), como o búzio, nem sempre gera resultados eficientes e tais

medidas “de cima para baixo” são difíceis de serem implantadas.

Tamanho mínimo. A definição de tamanhos mínimos de coleta é importante

para que os indivíduos explorados sejam adultos com capacidade de

reprodução, de maneira a assegurar a manutenção dos estoques. Como A.

brasiliana apresenta dimensões reduzidas, variações em milímetros podem

ter efeito biológico significativo, mas em termos de coleta tem efeito

funcional reduzido devido à dificuldade de acuidade visual ou seletiva em

apetrechos. Sugere-se a manutenção da recomendação de 20mm como

tamanho mínimo para extração de A. brasiliana segundo o princípio de

precaução proposto por Arruda Soares et al. (1982) e estudos específicos

para definição de aberturas em apetrechos de extração de maneira a

salvaguardar a exploração de indivíduos adultos.

Estratégias de monitoramento. Implantando estratégias de monitoramento,

pode-se avaliar a eficácia das regras de pesca. Neste caso, as famílias

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marisqueiras podem colaborar tanto na aquisição dos dados como devem

participar da análise dos mesmos, para que possam tomar as decisões de

maneira fundamentada. A experiência do monitoramento participativo

proposto nesta pesquisa indicou a necessidade de objetivos e benefícios

claros para a famílias marisqueiras, além de instrumentos simples baseados

em ícones para serem preenchidos. Um protocolo de monitoramento da

mariscagem simplificado deverá ser negociado, envolvendo tanto a pesca

(monitoramento já realizado) quanto os bancos de moluscos. Mais frequente

do que se esperaria, usuários de recursos comuns não percebem que seu

sistema caminha em direção ao colapso (Moxnes 2000). Assim, monitorar os

bancos de moluscos pode esclarecer sobre a abundância do estoque e o

resultado do fechamento de determinadas áreas para a pesca ao longo do

tempo.

Fóruns de decisão. A partir das opiniões da(o)s marisqueira(o)s e das

informações geradas sobre a pesca e os bancos de moluscos, sugere-se a

implantação de espaços de discussão e tomada de decisão. A existência de

espaços de negociação favorece a gestão compartilhada do uso de recursos

pesqueiros (Seixas et al. 2011). Nestes espaços deverão ser revistas as

estratégias e propostas melhorias para o período seguinte. Diante da

sobrecarga de atividade das marisqueiras sugere-se inicialmente eventos

semestrais para implantar o sistema e revisões anuais posteriormente. No

entanto o calendário e as pautas destes fóruns devem ser flexíveis para se

ajustar às demandas das famílias sem sobrecarregá-las. Deve-se lembrar

ainda que o uso do “búzio” tanto pode ser a base econômica como

complemento para as famílias, e estes diferentes graus de interesse devem

ser reconhecidos e negociados.

Implantação de novas tecnologias de extração e beneficiamento. Novas

tecnologias devem ser acompanhadas para se entender seu impacto tanto

nos custos como nos resultados na produção, assim como na mudança de

comportamento das famílias marisqueiras na tomada de decisão sobre a

mariscagem. O impacto de canoas novas motorizadas, como as doadas pela

Petrobras, possivelmente alterará os padrões de exploração existentes até

então.

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Ao longo do trabalho várias famílias marisqueiras indicaram que

incentivos de ordem econômica que efetivamente criem condições de melhor

produção, comercialização e distribuição tendem a ter melhor receptividade do

que estratégias que restringem à mariscagem ou que não parecem produzir

resultados “concretos”. Com relação aos incentivos de ordem econômica

envolvendo a mariscagem de A. brasiliana, propõem-se uma nova categoria de

“defeso” para a região. Neste caso o defeso seria baseado no período de

chuvas e não de reprodução, uma vez que esta espécie reproduz o ano todo,

mas tem mortalidade aumentada (Monti et al. 1991) e a pesca comprometida

durante este período. No entanto os recursos financeiros e os mecanismos

para implantá-lo deverão ainda ser criados.

Com relação às melhorias previstas para a cadeia produtiva da

mariscagem a serem negociadas localmente sugere-se:

Definição de preço mínimo. O aumento de valor e estabelecimento de

preço mínimo do kg da carne do búzio possibilita melhor remuneração para

as famílias e menor extração de conchas para se alcançar o mesmo valor

remunerado. Porém sua negociação tanto deve envolver os atravessadores

quanto as famílias, para se assegurar uniformidade entre as famílias da

RDSEPT.

Aquisição de equipamentos pessoais de segurança Durante o trabalho

de campo, os pesquisadores sempre utilizaram itens como chapéus, botas

de neoprene e camisetas de manga comprida como medida de segurança.

Em várias ocasiões a(o)s marisqueira(o)s comentaram que usariam tais

itens, se os mesmos estivessem disponíveis, já que haviam comprovado sua

eficiência. Assim acredita-se que não haverá dificuldade no uso, uma vez

adquiridos os equipamentos.

Aquisição de equipamentos para beneficiamento da carne. Os utensílios

utilizados pelas marisqueiras são aqueles disponíveis na casa, geralmente

de plástico e pouquíssimas famílias têm balança para pesar sua produção.

Assim a aquisição de equipamentos em inox (facilitar a higiene) e balanças

poderá melhorar o beneficiamento da carne.

Estudo de alternativas tecnológicas para o cozimento das conchas.

Fogões solares podem ser boas opções na RDSEPT, no entanto Duflo e

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colegas (2008) alertam para o fato que, mesmo eficientes em laboratório, as

novas tecnologias em fogões rurais não necessariamente são eficientes ou

melhoram as condições de saúde e de consumo de combustível das famílias

ao longo do tempo. Entre as razões estão: baixo valor dado pelas famílias,

mal uso, não manutenção e decréscimo gradual do uso do equipamento. As

estratégias alternativas na RDSEPT, portanto, devem atender ao volume de

conchas geralmente cozido pelas famílias e serem implantadas de maneira

piloto nas três comunidades, para verificar sua real eficiência e qualidade no

dia a dia, considerando o comportamento das famílias por longa duração.

Melhor compreensão sobre os atravessadores e as oportunidades de

mercado. Atravessadores podem ser elos críticos nos sistemas

socioecológicos da pesca em comunidades costeiras (Crona et al. 2010). No

caso da RDSEPT, os atravessadores conectam as famílias marisqueiras ao

mercado consumido. Diminuir os elos entre os produtores e os

consumidores finais pode ser estratégia a ser alcançada, mas que não

necessariamente implique em eliminar os atravessadores. No entanto, a

relação de poder entre ambos deve ser mais equitativa de maneira que as

famílias possam melhor compreender o sistema e negociar seu produto.

Fomento à cooperação. Diante do quadro de desorganização entre

comunidades e entre famílias na mesma comunidade, faz-se necessário

haver espaços de reflexão sobre como as medidas a serem implantadas na

área econômica e de manejo dos recursos poderiam ser mais eficientes em

situações de cooperação entre as famílias, potencializando os ganhos. O

fomento à organização e capacitação das comunidades e instituições

favorece a gestão compartilhada do uso de recursos pesqueiros (Seixas et

al. 2011). Diante do nível de conflitos identificados, sugere-se iniciar as

ações, mesmo que com número reduzido de participantes, de maneira que

os benefícios possam ser verificados por aqueles mais reticentes, para então

serem compartilhados posteriormente.

Fortalecimento de redes de produtores. Ao final do GdM vários encontros

foram realizados entre produtores e pescadores da costa potiguar. Esta rede

deverá ser fomentada de maneira que possa haver troca de experiências,

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124

capacitação e melhores oportunidades de negociação dos produtos a serem

vendidos.

Campanha de valorização da carne de A. brasiliana. Apesar de ter baixo

valor comercial local, a carne de A. brasiliana pode alcançar valores muito

superiores em mercados na região sudeste brasileira, por exemplo em

restaurantes italianos onde cardápios envolvendo massas e frutos do mar

são valorizados. Numa estratégia de valorização do produto pode-se pensar

em criar receitas especiais por “Chefes” renomados e promover situações de

degustação envolvendo empresários do setor turístico. Assim o produto é

apresentado de maneira valorizada e pode integrar os cardápios dos

restaurantes locais.

Apesar de todas as melhorias sugeridas, a falta de infraestrutura de

saneamento básico na RDSEPT e a condição de pobreza das comunidades

não permitem que a produção de carne de A. brasiliana aconteça em

condições sanitárias esperadas. A irregularidade do abastecimento de água

dificulta a produção e compromete a economia das famílias, uma vez que as

contas sempre chegam ao final do mês, mesmo que o serviço não tenha

acontecido adequadamente. A falta de tratamento de esgoto doméstico coloca

em risco a qualidade dos produtos estuarinos, principalmente de bivalves, que

são filtradores. Assim, exigir a implantação de saneamento básico extrapola a

pesca, pois diz respeito a assegurar qualidade de vida à população e manter a

integridade dos ecossistemas costeiros. Na RDSEPT é prioridade número um

já que, justamente por ser uma reserva, deveria servir como modelo de gestão

integrada entre desenvolvimento e meio ambiente. A capacitação e

implantação de melhores práticas de manipulação de produtos alimentícios

serão também necessárias. A implantação de unidades de beneficiamento da

pesca em condições estruturais e de higiene adequadas também deverão ser

discutidas, porém seu funcionamento requer um nível de cooperação e

organização familiar (mulheres trabalhando na unidade e não em casa), setorial

(marisqueiras organizadas no trabalho coletivo) e comunitário (comunidade

com creches e escolas funcionando em período expandido com as crianças)

ainda inexistentes na RDSEPT. Alcançando a estruturação e capacitação

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necessárias à produção de frutos do mar com qualidade, pode-se implantar

uma marca “ecológica” associada, criando destaque e agregando valor aos

produtos da RDSEPT.

Para finalizar, o projeto Gente da Maré e esta pesquisa realizados na

RDSEPT iniciaram o processo de reconhecimento da mariscagem, das famílias

envolvidas, e da situação de pobreza em que as mesmas se encontram. Mas

tiveram duração “pontual” diante do processo histórico de invisibilidade deste

sistema. As sugestões aqui indicadas, antes de serem imediatas, devem ser

consideradas dentro de um processo, uma nova etapa a ser construída e

negociada, envolvendo diretamente as famílias marisqueiras, o Conselho

Gestor da RDSPET, a colônia, as ONGs locais relacionadas à pesca, o IDEMA

e a gestão municipal. Reconhece-se a ausência dos órgãos governamentais na

RDSEPT e suas falhas em implantar condições básicas de educação, saúde,

transporte, segurança. Reconhece-se também as dificuldades das famílias

marisqueiras em se organizar. No entanto estas famílias merecem ser

valorizadas, já que se superam dia após dia, na lida com a maré, os búzios e

as dificuldades que enfrentam. Somente promovendo a participação das

famílias, o envolvimento governamental e a negociação das estratégias que

envolvem tanto manejo quanto desenvolvimento da comunidade pode-se

almejar alcançar a sustentabilidade tanto para a mariscagem quanto para as

famílias marisqueiras da RDSEPT. Este trabalho propõe um conjunto de

pedras fundamentais na construção deste caminho.

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128

ANEXOS

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129

A. Roteiro de entrevista

DATA: Marisq: Ano Nascim: Municipio: Qto tempo mora

na RDS

Algum outro

benefício

( ) maternidade ( ) doença

( ) outro ________________

Estado Civil

( ) Solteir@,( ) Companh., (

) Viúv@, ( ) Separad@

Frequência de

tirar búzio?

de dias/semana____ ou Nº

de dias/mês____

Documentos

( ) Identid. ( ) CPF, ( ) INSS

( ) T. Eleitor, ( ) Cart.pescad.

( ) afil Colonia em dia?_____

Produção

bruta/líquida

média

( )sacos ( ) Cebol

( ) Farin

( ) Monob. ( ) balde

( ) prato ( ) Kg

Pq não tem doc.? $ Venda ( ) prato ( ) Kg R$

Raça ( ) branca, ( ) preta, ( ) parda,

( ) indígena, ( ) s/ declaração Renda

Búzio:

Total:

Idade começ.

tirar Buzio

Quem +

conhece búzio

Aprendeu com

quem?

Sabe

( ) Nadar ( ) varejar

( ) usar motor

Casa (tipo)

( ) alvenaria, ( ) taipa,

( ) projeto, ( ) outro_____

Acidente com

Niquim

( ) Nº de vezes Croa:

Corpo: Data:

Casa (ppdd)

( ) própria, ( ) alugada,

( ) mora com parentes Onde beneficia

( ) quintal, ( ) outro

quintal, ( ) rancho,

( ) não beneficia

Nº Pessoas na

casa

( ) Comp. ( ) Filhos, ( ) Neto

( ) Idosos, ( ) outros

Como conserva ( ) não conserva, ( ) freezer

( ) geladeira

Escolaridade das

pessoas

___ Marisqueira ___ F_

___ Compan ____F_

___ Neto ____F_

___Neto ____F_

Vende para

( ) morador, ( ) restaurante

( ) visitante ( ) turista

( ) atravessador Quem?

Terreno

( ) próprio, ( ) cedido,

( ) marinha, ( ) não sabe Quem vende?

( ) Marisqueira ( ) Filha (

) Filho ( ) neto ( ) Compan.

Rede Elétrica ( ) sim ( ) não Período marisc Melhor: Pior:

Abastecimento

de água

( ) rede pública ( ) poço

artesiano ( ) poço simples

( ) olheiro outros _________

Alguma

restrição de ir

para maré?

Semana:

Época:

Outro:

Tratamento da

água

( )filtrada ( ) fervida, ( ) cloro

( )outros ( )nenhum ( )não

sabe

Quantidade

extração de

búzio

( ) igual, ( ) aument.

( ) dimin. Porque

Águas servidas

( ) rua, ( ) canal/Rio, ( ) F.

negra, ( ) F. séptica, ( ) não

sabe

Tamanho

extração de

búzio

( ) igual, ( ) aument.

( ) dimin. Porque

_________

Coleta de lixo

( ) sim ( ) não Nº vezes na

semana: ____________

Risco de

Poluição Canal

( ) Alto, ( )Médio, ( )Fraco,

Porque:

Búzio sustento?

( ) principal fonte de renda, (

) fonte complementar, ( )

apenas fonte de alimento, ( ) outro interesse ________

Risco de

Poluição Búzio

( ) Alto, ( )Médio,

( ) Fraco,

Porque:

Atividade d@ companheir@?

Croas que + usa mariscar

Fontes de renda

na casa

( ) Pesca, ( ) Bolsa Família, (

) Aposentad.Quem_______ ( )

L. Roupa, ( ) Domestica

( ) animais, ( ) Comércio,

Consumo de

Búzio: ( ) não

consome na

família,

( ) Nº dias/seman. ( ) Nº

/mês. ( ) Não gosta, mas

família consome. Período: (

) manhã ( ) tarde ( ) noite

Tamanho de búzio a partir do qual extrai: ____________

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B. Formulário do Monitoramento participativo

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De acordo com Maine, Cam, & Davis-Case10, (1996, p.41), monitoramento

participativo é o registro sistemático e análise periódica das informações

escolhidas, que são coletadas por quem está diretamente relacionado ao

processo monitorado, com ajuda de pessoas de fora dele. Nesta pesquisa, o

registro das atividades de mariscagem no monitoramento foi realizado pelas

próprias famílias marisqueiras. O formulário padrão foi construído junto com as

marisqueiras em duas oficinas participativas (Diogo Lopes e Barreiras), nas

quais imagens do registro fotográfico da mariscagem e desenhos foram

escolhidos para “contar” as principais informações a serem registradas em uma

mariscagem. Foi importante utilizar imagens em todo formulário para facilitar

sua compreensão, dado o baixo nível de escolaridade existente nas famílias

marisqueiras. Assim, na maioria das informações a serem registradas, bastava

fazer um “x” nas opção escolhida. Foram registradas informações sobre a croa

visitada (data, local), os coletores no grupo (nomes e número total), as

condições ambientais, a produção (quantidade e espécies catadas) e o tempo

gasto na atividade. A parte inferior do formulário foi usada como etiqueta para

as amostras de conchas da extração do dia, recolhidas pelas marisqueiras.

Uma vez que o formulário foi definido, foram realizadas oficinas (Diogo

Lopes e Barreiras) de treinamento para uso do kit de monitoramento. Ao final

de um dia de mariscagem, a(o) marisqueira(o) deveria registrar sua atividade

no formulário e coletar uma pequena amostra de conchas aleatoriamente para

deixá-las por uma noite em água sanitária. No dia seguinte, depois de seca ao

sol, as conchas deveriam ser guardadas em saco plástico com a etiqueta

preenchida, cortada do formulário. Os saquinhos eram acondicionados na caixa

do kit do monitoramento. Todo mês os pesquisadores recolhiam as amostras

de conchas, repunham os materiais necessários e tiravam as dúvidas relativas

ao monitoramento. O kit de monitoramento era formado por um contêiner

plástico com: a) folhas do formulário padrão, lápis e borracha para registro das

informações, b) mostrador padrão e sacos plásticos para coletar e guardar sub-

amostras das conchas para fins de biometria dos indivíduos catados, c) tesoura

10 Maine, R. A., B. Cam, and D. Davis-Case. 1996. Participatory analisys, monitoring and evaluation for fishing communities. . FAO - Fisheries Technical Paper, 364, Rome.

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para cortar as etiquetas das sub-amostras presentes no formulário, d) relógio

de punho para registro dos horários de mariscagem (saída para a maré e

retorno à casa) e beneficiamento (início do fogo para cozimento e final do

processo de embalar para venda).

Considerando que mensalmente existem cerca de 15 melhores dias para

mariscar, definiu-se que fossem registrados até 10 mariscagens/mês/família,

evitando assim sobrecarregar de trabalho as famílias. Em média foi possível ter

23 registros de mariscagem ao mês, elaborados pelas próprias famílias

marisqueiras, conforme tabela abaixo.

Comunidade Nº total de formulários

entregues Média de formulários entregues

por mês

Barreiras 55 3

Diogo Lopes 261 16

Sertãozinho 65 4

Total 381 23

Tabela 1. Balanço por comunidade de formulários do monitoramento da pesca

entregue pelas famílias voluntárias que participaram do monitoramento da

mariscagem na RDSEPT no período de abril de 2010 a maio de 2011.

A análise dos dados ficou sob responsabilidade dos pesquisadores, mas

em julho de 2010 foi realizada uma oficina na sede da reserva (Diogo Lopes)

para que as próprias marisqueiras pudessem analisar os dados coletados

durante o mês de abril de 2010. Para este mês, as mulheres calcularam os

locais de extração mais visitados, as principais ferramentas de extração

utilizadas, a jornada de trabalho, a extração de marisco bruta e líquida, e o

número de pessoas que visitaram a maré. A figura abaixo ilustra o processo de

contagem e análise das informações do formulário de abril de 2010 feitas por

dois grupos de marisqueiras: um analisou as croas visitadas e o outro as

ferramentas utilizadas. Cada quadradinho de papel colorido corresponde a um

registro feito por uma marisqueira no mês de abril. No primeiro exemplo a croa

da Lancha teve 14 visitas, já na Boia foram 5, 3 no canal de Sertãozinho, e

assim por diante. Na indicação das ferramentas mais utilizadas no mesmo mês,

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12 registros indicaram apenas coleta manual, outros 12 a pá, enquanto que a

colher de pedreiro ficou restrita a 3 formulários. Dos 28 registros neste mês, a

canoa foi utilizada em 24, evidenciando sua importância na mariscagem. Esta

foi a primeira vez que as marisqueiras puderam discutir sua atividade, tempo

gasto, ferramentas e locais de extração. Em Setembro de 2011 três reuniões

foram realizadas (uma em cada comunidade) para apresentar e discutir os

dados finais.

Figura 3. Processo de análise dos dados do monitoramento da pesca no mês

de abril de 2010, feitas por dois grupos de marisqueiras em oficina participativa.

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C. Livreto “As Famílias Marisqueiras da RDS Ponta do Tubarão (RN)”

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O processo de mariscagem (extração e processamento da carne de

búzio) foi também registrado através de fotos e vídeos, desde que autorizadas

pela(o)s marisqueira(o)s. Este registro fotográfico teve com objetivo inicial

apoiar a pesquisa, mas como os marisqueiros raramente tiveram chance de ter

fotos suas ou se seus familiares, as fotos acabaram tornando-se um importante

registro sobre a atividade e estímulo para conversas sobre a mariscagem com

os pesquisadores e entre as famílias. Cada família recebeu uma quantidade

variada de fotos, dependendo da quantidade membros que exercem a

mariscagem, do número de vezes que foram acompanhados na maré, ou que

participaram das reuniões ou encontros realizados. Famílias com maior número

de membros marisqueiros, por exemplo, acabaram ganhando mais fotos, de

maneira que cada um tivesse seu registro próprio. As fotos tiveram assim

importante papel na autoestima das marisqueiras e de suas famílias, muitas

delas sem qualquer registro iconográfico prévio.

A elaboração do livreto das marisqueiras com o registro de sua atividade

não era uma atividade prevista na proposta de pesquisa. No entanto ficou claro

que o mosaico de fotos das famílias, se agrupados numa publicação, poderia

se tornar uma estratégia de valorização da atividade e um instrumento para

torná-la “visível”. Cada marisqueira(o) poderia mostrar aos compradores as

diversas etapas de produção e as dificuldades envolvidas no processo,

valorizando seu produto. Assim a elaboração do livro manteve os princípios da

participação e de direito à tomada de decisão adotados durante a pesquisa. O

processo de construção do livreto ocorreu em diferentes etapas: a) conversas

informais com as famílias para saber se haveria o interesse em apoiar a

iniciativa e o que gostariam que aparecesse no livro, b) oficinas para discutir

como deveria ser o livreto, c) definição das fotos que melhor representavam a

atividade e d) assinatura das autorizações de uso das imagens para a

publicação. Uma vez definido o conteúdo, foi possível conseguir o recurso para

a publicação através de edital da pró-reitoria de extensão da UFRN. A ideia

inicial foi de todos serem co-autores. No entanto, para obtenção do número

ISBN e registro oficial do livreto não era possível o editor ser também co-autor.

Assim a autoria ficou reduzida, com a indicação que a publicação não teria sido

possível sem a participação direta de todos os envolvidos.