universidade federal do rio grande do norte … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar...

38
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA ILUSTRAÇÃO: A INTERFACE ENTRE IMAGEM E PALAVRA NA FORMAÇÃO LEITORA ANDRESSA FERREIRA BARBOSA NATAL 2015

Upload: truongmien

Post on 15-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

ILUSTRAÇÃO: A INTERFACE ENTRE IMAGEM E PALAVRA NA FORMAÇÃO

LEITORA

ANDRESSA FERREIRA BARBOSA

NATAL

2015

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

2

ANDRESSA FERREIRA BARBOSA

ILUSTRAÇÃO: A INTERFACE ENTRE IMAGEM E PALAVRA NA FORMAÇÃO

LEITORA

Monografia apresentada ao Centro de

Educação da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito parcial para

a obtenção do título de licenciatura plena em

Pedagogia.

Orientadora: Profª. Drª. Marly Amarilha.

NATAL

2015

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

3

ANDRESSA FERREIRA BARBOSA

ILUSTRAÇÃO: A INTERFACE ENTRE IMAGEM E PALAVRA NA FORMAÇÃO

LEITORA

Monografia apresentada ao Centro de

Educação da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito parcial para

a obtenção do título de licenciatura plena em

Pedagogia.

Monografia aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Dr. Marly Amarilha (UFRN – Orientadora)

___________________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Diva Sueli Tavares da Silva (UNIFACEX)

___________________________________________________________________

Profª Ms. Sayonara Fernandes da Silva (SME-Natal-RN)

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

4

Até aqui me ajudou o Senhor.

1 Samuel 7:12b

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço incialmente ao Senhor da minha vida, aquele que me sustentou até aqui e

quem sem Ele nada seria possível. A Ele, toda a glória.

Aos meus familiares, em especial, ao meus pais, Almir Barbosa e Maria de Lourdes

que me deram suporte durante esse tempo e que me apoiaram e me amaram diante

de qualquer situação, assim contribuindo para que esse sonho se tornasse

realidade.

A minha sempre amada vovó Elza por todas as conversas nas tardes dos sábados e

que fizeram ser menos árdua a caminhada.

Ao meu eterno namorado Fernando Oliveira, eu agradeço o companheirismo, a

paciência e todo amor a mim concedido todo esse tempo.

A Jéssica Cabral e Sânzia Marília que construíram comigo uma amizade na época

de escola que se perpetuará para sempre.

Às professoras Marly Amarilha e Alessandra Cardozo, pelos inestimáveis

ensinamentos acadêmicos e para a vida.

Aos colegas e pesquisadores do grupo de pesquisa Ensino e Linguagem, em

especial a Sayonara Fernandes que esteve presente desde o início da minha

trajetória e permaneceu até aqui.

As minhas amigas de iniciação científica Francimara Marcolino, Rayonnara Késia,

Danúbia Moura por todo conhecimento que construímos juntas.

As amigas que o curso de pedagogia me presenteou e que, com toda certeza,

ficarão para a vida toda Helen Mayara, Thyfany Thaynary, Sara Caroline, Mirucha

Mikelle.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte por ter me recebido e acolhido de

braços abertos.

Ao CNPq pelo Programa de Bolsa de Iniciação Científica.

A vocês que contribuíram significantemente para chegar até aqui, meu eterno

agradecimento.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

6

ILUSTRAÇÃO: A INTERFACE ENTRE IMAGEM E PALAVRA NA FORMAÇÃO

LEITORA

Resumo

O trabalho corresponde a uma pesquisa bibliográfica, em que são abordadas as

contribuições da ilustração em obras literárias destinadas ao público infantil. Objetiva

conhecer a interface entre a palavra e a imagem na produção do livro de poesia com

vistas à formação do leitor de literatura. Elege como referencial teórico os estudos

sobre literatura, ilustração e poesia, principalmente os desenvolvidos por Nakamura

(2003); Luiz Camargo (1991); Amarilha (2009); Pound (1990) e Kirinus (2011).

Toma, para análise, os livros “Quando chove a cântaros/Cuando llueve a cantaros”,

de autoria de Kirinus (2005); “Minha ilha maravilha” de Colasanti (2007) e “Lampião

e Lancelote” de Vilela (2006). Discute a presença do diálogo entre a palavra e a

imagem na composição desse livro de poesia e o seu uso em situação escolar.

Palavras-chaves: Ilustração – Literatura - Formação do leitor

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

7

Convite

Poesia é... brincar com as palavras

como se brinca com bola,

papagaio, pião.

Só que bola, papagaio, pião

de tanto brincar se gastam.

As palavras não:

Quanto mais se brinca com elas,

mais novas ficam.

Como a água do rio

que é água sempre nova.

Como cada dia que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

José Paulo Paes

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.......................................................................................................25

Figura 2.......................................................................................................25

Figura 3.......................................................................................................26

Figura 4.......................................................................................................27

Figura 5.......................................................................................................28

Figura 6.......................................................................................................29

Figura 7.......................................................................................................29

Figura 8.......................................................................................................30

Figura 9.......................................................................................................31

Figura 10.....................................................................................................32

Figura 11.....................................................................................................32

Figura 12.....................................................................................................34

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10

1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 10

1.2 OBJETIVOS .................................................................................................... 11

1.3 APORTE TEÓRICO ......................................................................................... 11

1.4 GUIA DOS CAPÍTULOS .................................................................................. 12

2. AS IMAGENS QUE FALAM ................................................................................. 13

2.1 A HISTÓRIA DA ILUSTRAÇÃO ..................................................................... 13

2.2 RELAÇÃO IMAGEM X PALAVRA ..................................................................15

2.3 FORMAÇÃO LEITORA ................................................................................... 19

3. ILUSTRANDO A TRAJETÓRIA ........................................................................... 23

3.1 DESCRIÇÃO DA PESQUISA ......................................................................... 23

3.2 INTERVENÇÃO ............................................................................................. 24

4. PINTANDO O SETE ............................................................................................. 25

4.1 CONHECENDO OS LIVROS DA PESQUISA ..............................................25

4.2 ANÁLISE DO LIVRO QUANDO CHOVE A CANTAROS .............................26

4.3 ANÁLISE DO LIVRO LAMPIÃO E LANCELOTE ..........................................30

4.4 ANÁLISE DO LIVRO MINHA ILHA MARAVILHA..........................................33

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 36

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

10

INTRODUÇÃO

Este estudo monográfico é recorte da pesquisa “A multimodalidade na leitura do

poema e do livro de poesia em aprendizes da escola fundamental – estudo

longitudinal”. (AMARILHA - CNPq/UFRN, 2010 – 2014). Esta foi executada pelo

Grupo de Pesquisa Ensino e Linguagem, do Programa de Pós-graduação em

Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, coordenado pela Profª

Marly Amarilha e possui natureza qualitativa e interventiva. A pesquisa ocorreu em

uma escola estadual de Natal-RN, em turma do 4° ano do ensino fundamental,

sendo acompanhada até o 5° ano, em virtude de sua natureza longitudinal.

A pesquisa consistiu na realização de sessões de leitura de livros de poesia

executada por um pesquisador do grupo. Ao fim de cada sessão, foi solicitado aos

sujeitos que realizassem uma postagem em forma de comentário em um fórum

eletrônico, criado para essa finalidade. As sessões foram registradas através de

gravações em vídeo, entrevistas, postagens no fórum, transcrições de falas dos

sujeitos registradas in loco e no fórum.

Este trabalho tem como foco o estudo das ilustrações dos livros utilizados nas

sessões de leitura da pesquisa.

1.1 JUSTIFICATIVA

O interesse por este tema teve origem a partir dos estudos como bolsista de

iniciação científica no grupo de pesquisa, sob a orientação da professora Amarilha.

Nessa condição, tive a oportunidade de estudar a ilustração conforme previsto no

plano de trabalho intitulado “Como as imagens colaboram para a leitura dos

sujeitos”.

Estudar os efeitos das ilustrações na formação leitora despertou em nós um

olhar diferenciado acerca das contribuições das imagens e sua importante

colaboração na formação do jovem leitor para a compreensão dos textos lidos. Ao

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

11

fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura

inferencial, conforme explicam Souza e Girotto:

Visualizar é, sobretudo, inferir significados, por isso visualização é uma forma de inferência, justificando a razão dessas duas estratégias, serem abordadas mais proximamente. Quando os leitores visualizam, estão elaborando significados ao criar imagens mentais, isso porque criam cenários e figuras em suas mentes enquanto leem, fazendo com que eleve o nível de interesse e, assim, a atenção seja mantida. (SOUZA; GIROTTO, 2010, p. 85).

Isso posto, percebemos a imagem como elemento primordial na etapa da

leitura, sobretudo para os sujeitos que ainda estão se apropriando dos códigos

linguísticos, visto que ao efetuarem inferências através da visualização das imagens,

constroem significados que não alcançariam somente com o texto escrito. Sendo

assim, acreditamos que a interdependência entre imagem e palavra poderá

promover uma melhor compreensão do texto lido, além de estimular a imaginação

do leitor.

1.2 OBJETIVOS

Investigar o potencial cognitivo, semântico e estético na formação leitora

desencadeada pelas ilustrações presentes no livro de poesia destinado a infância.

o Identificar as diferentes funções da ilustração nos livros destinados ao

público infantil.

o Compreender como se dá a articulação entre imagem e palavra em livros

destinados às crianças.

o Identificar aspectos da ilustração que colaboram para a compreensão de

textos para jovens leitores.

1.3 APORTE TEÓRICO

Para desenvolver esta monografia, foram realizados estudos sobre mediação

de leitura (andaimagem) de Graves e Graves (1995); Brunner “Realidade

Mental”; sobre leitura de literatura e de poesia Amarilha (2009; 2013), Pound

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

12

(2006); Kirinus (2011); sobre ilustração Camargo (1995), Nakamura (2000), Faria

(2004).

1.4 GUIA DOS CAPÍTULOS

Este trabalho está organizado em 4 capítulos, a saber:

Na introdução, apresentaremos nosso objeto de pesquisa, objetivos,

motivação, fundamentação, justificativa e demarcação situacional da nossa

pesquisa, estabelecendo a organização estrutural do trabalho.

Em seguida, apresentamos o capítulo Imagens que falam, em que

apresentamos a história da ilustração do livro para a infância em uma perspectiva

histórico-social, a relação de interdependência entre imagem e palavra; aspectos da

formação leitora na infância.

No terceiro capítulo, chamado Ilustrando a trajetória, fazemos a

contextualização de como foram realizados os estudos da pesquisa e os recursos

metodológicos utilizados na intervenção na escola.

O quarto capítulo, Pintando o sete, traz as análises realizadas com os livros

utilizados na pesquisa.

Por fim, nas Considerações finais, apresentaremos os resultados obtidos, de

modo a provocar reflexões acerca da importância da ilustração e da literatura na

formação do jovem leitor e da importância da temática para o professor-mediador.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

13

2. IMAGENS QUE FALAM

Não tenho bens de acontecimentos. O que não sei fazer desconto nas palavras.

Entesouro frases. Por exemplo: — Imagens são palavras que nos faltaram.

— Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem. — Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.

[...] Poetas e tontos se compõem com palavras.

Manoel de Barros

2.1 A HISTÓRIA DA ILUSTRAÇÃO PARA LIVROS INFANTIS

Desde o início dos tempos, a linguagem se faz presente em nosso meio, e a

apropriação da mesma se dá de forma contínua em nosso cotidiano. Segundo

Feldman, (apud NAKAMURA, 2003, p. 263), o ato das crianças escreverem em

paredes parte do mesmo impulso no homem das cavernas, em que sente a

necessidade de deixar a sua marca. Acreditava-se, inicialmente, que tais pinturas

eram formas mitológicas de informações, logo após as imagens passam a ser

registradas em tamanhos menores, para que pudessem relatar mais fatos. As

imagens foram gradualmente substituídas por símbolos e passaram a receber

valores sonoros, o que resultou na separação da linguagem oral e visual. Passaram-

se então, a usar as duas formas de linguagem em um mesmo texto.

Por muito tempo, não houve registros de literatura voltada para o público

infantil, então as crianças precisavam selecionar suas leituras de acordo com o

acervo adulto, existiam também cartilhas pedagógicas e livros religiosos com

ensinamentos morais.

Segunda Nakamura (2003), somente no séc. XV aparece na Espanha as

primeiras fábulas de Esopo que são destinadas tanto a adultos quanto as crianças.

A literatura infantil, semelhante à atual, surge apenas no séc. XVII e com um intuito

educativo, assim vem incorporada ao livro didático. Nesse período, Comenius (1658)

produziu uma enciclopédia composta por 175 imagens, visto que o pensador

defendia que o conhecimento deve se expandir a todas as pessoas, sejam elas

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

14

letradas ou não, por isso acreditava na necessidade do livro ser ilustrado para tornar

acessível os conceitos.

Com o advento da industrialização, no século XVII, fez-se necessária a

criação de novos produtos destinados à infância que iam de brinquedos a livros,

começa-se então a pensar em metodologias que possibilitem o ensinar de forma

prazerosa. Para Amarilha (2009), como os livros passaram ser mais populares e a

leitura se tornou mais individualizada, a voz do narrador vai perdendo seu espaço

para dar lugar às gravuras e os textos diminuem para que as imagens se

sobreponham.

Powers (2008), afirma que antes do séc. XIX, os livros eram comumente

publicados com uma capa de material menos resistente, para que o próprio

comprador pudesse confeccioná-la e ilustrá-la assim como bem entendesse,

normalmente o faziam com uma capa de couro e com informações sobre o autor e o

título do livro. Logo após esse período, surgiram os chapbooks, que eram formados

por uma única folha dobrada até 16 vezes, a capa era composta de modo formal e,

por vezes, continha uma imagem ilustrativa. Apesar de nem todos os chapbooks

serem feitos exclusivamente para crianças, muitos deles traziam contos folclóricos e

místicos que as atraiam.

Apenas no século XVIII, surge a literatura infantil no Brasil, que tinha um

objetivo moralizante e pedagógico. No século XIX, mais especificamente no ano de

1865, a casa Endrizzi Editora, em São Paulo, lançou uma coleção de livros infantis

ilustrados. Em 1897, foi publicado O livro das crianças, escrito por Zalina Rolim

(1869 - 1961), em que todos os poemas nele escritos foram inspirados em uma

imagem que é trazida anteriormente e faz relação com cada poema. Somente após

Monteiro Lobato (1882-1948) que houve motivação para escrever para crianças

sobre variados assuntos. Como Lobato não estava satisfeito com a edição dos livros

brasileiros, decidiu então montar a sua própria editora, contratou ilustradores e

passou a produzir seus muito bem elaborados livros. Lobato foi o primeiro escritor

brasileiro a olhar as crianças como indivíduos pensantes e capazes de desenvolver

raciocínios e opiniões próprias.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

15

2.1 RELAÇÃO IMAGEM X PALAVRA

Para Camargo (1995), a ilustração é qualquer imagem que acompanha um

texto. As imagens estão mais comumente presentes em livros destinados ao público

infantil, e atualmente é praticamente impossível fazer a dissociação de texto e

imagens em livros infantis, com exceção dos livros que são somente de imagens,

visto que ambos contribuem para uma melhor assimilação da história. Faria (2004),

afirma haver nesses livros uma “dupla narração”, através da qual o ilustrador

assumiria o papel de uma espécie de segundo narrador e contaria outra história

através das ilustrações.

A dinâmica para a leitura do texto escrito se dá pela trajetória do olhar, na

qual o olho percorre a linha na direção horizontal, no sentido esquerda para direita, e

de forma gradual, linha a linha, de cima para baixo, diferente da leitura que ocorre na

leitura de imagens que, por sua vez, ocorre de modo global, em que olho percorre

várias direções e é orientado pelas particularidades da própria ilustração. Para Faria

(2004), na leitura de imagens o leitor é guiado conforme a intenção do ilustrador que

gera uma hierarquização nos componentes das imagens. “Um dos dois elementos

pode ter a faculdade de dizer o que o outro, por causa de sua própria constituição,

não poderia dizer” (DURAND & BERTAND, apud FARIA, 2004, p. 40).

As articulações entre palavra e imagem podem ser pedagógicas ou de

complementaridade. Na primeira, texto e imagem trarão as mesmas informações, as

crianças serão motivadas a identificar nas imagens o que foi relatado no texto escrito

de modo literal. Já, relacionado à articulação de complementaridade, a ilustração e o

texto escrito irão juntos narrar história de modo a se completarem, tornando-se

indissociáveis ao enredo.

O texto escrito possui características próprias que contribuem

significantemente para o desenvolvimento da narrativa. Faria (2004) aponta como

indispensáveis algumas dessas características: articuladores temporais, que são os

responsáveis por descreverem o instante que ocorre a ação; elementos de causa e

efeito, que tem por objetivo explicar os motivos pelos quais ocorreram tais situações.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

16

O texto escrito também é o responsável por efetuar revelações, fazendo as

descrições dos personagens, ações e locais onde a história ocorre.

A ilustração, por sua vez, tende a propiciar uma espécie de apoio ao leitor,

visto que em sua estrutura traz detalhes minuciosos que, se descritos no texto,

tornar-no-iam cansativo e enfadonho, posto que na imagem o leitor pode fazer uma

leitura global da imagem como um todo e realizar uma percepção instantânea do

que se propõe informar. Faria (2004) afirma que as imagens devem trazer elementos

de hipersignificação: elementos estáticos, que objetivam realizar descrições, através

de propostas em que se sugere o espaço em que as ações ocorrem e

características das personagens; e os elementos dinâmicos, que são responsáveis

por ilustrarem expressões e sentimentos das personagens. Amarilha (2011)

reconhece a importância das imagens para a formação do jovem leitor quando

afirma que:

[...] Nos primeiros estágios de leitura as imagens são tão importantes quanto as palavras. A ilustração, além de deter o enredo da história, também sinaliza sobre o significado das palavras. Assim sendo, a ilustração é instrumento do processo de ler, ainda que a escola tenha a esse respeito pouca clareza. (AMARILHA, 2009, pág. 41).

Em seu livro Ilustração do livro infantil, Camargo (1995) endossa a formação

das muitas funções das ilustrações em livros infantis: “Seja no livro ilustrado, em que

a ilustração dialoga com o texto, seja no livro de imagem, em que a ilustração é a

única linguagem, a ilustração pode ter várias funções” (CAMARGO, 1995, p. 33). O

autor destaca as funções de: pontuar; descrever; narrar; simbolizar;

expressividade/ética; estética; função lúdica e a função metalinguística.

Desse modo, a ilustração deve ser entendida também como forma de

comunicação tornando-se, assim como a linguagem escrita, capaz de transmitir

informações essenciais no texto. Lima (1985) afirma que o relacionamento entre

imagem e palavra

É bem mais amplo e complexo a uma interação entre palavra escrita e a imagem visual é, antes de mais nada, circunstancial e tanto cada uma pode atuar como expressão autônoma e suficiente, como num momento seguinte ambas poderão se tornar dependentes e indispensáveis uma à outra. (LIMA,1985, p. 107).

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

17

Sipe (1998) sustenta da mesma forma a importância da relação texto-imagem

ao afirmar os inúmeros papeis assumidos por ambos, constando muitas vezes

serem inseparáveis e fundamentais para a compreensão eficiente da narrativa.

Várias vezes se complementam, acrescentam ou se descrevem. Para exemplificar

tais papeis, dentre seu aporte teórico, Sipe (1998) traz um estudo que divide a

relação palavra-imagem em duas vertentes, denominadas de “congruência” e

“desvio”. A primeira delas caracteriza essa relação em forma de complementaridade,

em que a imagem antecederá o que virá no texto escrito e ambos irão narrar a

história alternadamente. Já no desvio, a ilustração se contrapõe ao texto escrito.

O autor defende o conceito de Sinergia em que afirma que palavra e imagem

são indissociáveis, acrescenta ainda que para haver eficácia na compreensão é

preciso ocorrer interações e troca entre ambos. Ele utiliza os estudos de outro

estudioso para justificar a participação efetiva do leitor como co-criador de

significação, em que o leitor fará uso de suas significações para dar sentido ao texto,

preenchendo os espaços que estão vazios, ou seja, o que não está escrito. Assim,

em virtude das inúmeras possíveis significações de incontáveis leitores, o texto terá

também, incalculáveis significados.

O professor Sipe (1998) faz uso da teoria de Noldeman e Lessing (1988) para

ilustrar a potencialidade de transferência de informações da imagem e da palavra. A

imagem daria de forma mais clara informações espaciais, enquanto que o texto,

informações temporais. Porém, esta classificação não os limita (imagem/texto) a

passarem somente tais informações, pois, em nossa mente estão se formando, o

que o autor chama de “fluxos temporais”. Segundo Sipe (1998), ao olharmos a

imagem tendemos a observar os mais variados detalhes e a procurá-los, diferente

do que acontece na leitura do texto verbal, em que a sua estrutura nos condiciona a

irmos adiante.

Dessa forma, percebe-se a relação de interdependência entre imagem e

palavra em que ao nos depararmos com a imagem, somos levados a observar

detalhes que o texto escrito não nos permite enxergar. O texto escrito por sua vez

nos traz informações que não seriam percebidas na imagem.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

18

A teoria da transmediação, conceituada por Charles Suhor (1984), também é

citada por Sipe (1998) e se define pelo processo que realizamos ao relacionar

texto/imagem. O autor afirma que ao lermos livros ilustrados, alternamos do sistema

de signos da ilustração para o sistema de signo do texto escrito e vice-versa, desta

forma construímos a cada alternância, novos significados.

Para exemplificar essa alternância, Sipe (1998) utiliza estudos realizados por

Peirce (1955) que divide esse processo em três partes: representação, interpretação

e objeto, formando um triângulo em que cada uma dessas partes representa um dos

ângulos e a interpretação se encontra no topo e seria, justamente, a construção de

significado efetuada pelo leitor, através do objeto e da representação, que se

localizam nos dois ângulos restantes.

Esse processo ocorre em leitura de livros ilustrados ou não. Porém, o autor

destaca que ao realizarmos a leitura de imagens, automaticamente as

transformamos em texto e o texto em imagens. Este processo torna-se, então,

interminável em virtude das muitas interpretações e relações que podem ser

efetuadas através da singularidade de cada leitor.

2.2 FORMAÇÃO LEITORA EM LITERATURA

O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.

Mario Quintana

O processo de aquisição da leitura depende de modo indissociável da

decodificação e da compreensão para se efetivar. Desta forma, é possível atrelar o

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

19

ato de ler ao prazer pela leitura, visto que o indivíduo poderá aferir significados

inerentes a sua realidade. Gomes (2003) afirma que

Se a compreensão é uma habilidade cognitiva, sem a qual não há aprendizado, então o ensino e aprendizagem de leitura literária serão favoráveis se o fenômeno da compreensão estiver imbricado às contingências do prazer. Compreender é promover significados a um determinado texto. (GOMES, 2003, p. 43).

Gomes (2003, p. 42) afirma ainda que no ato da leitura o leitor passa a

pertencer aos dois mundos: do imaginário e do real. Tal trajetória permite que o leitor

atribua novos significados à sua própria constituição humana e ao meio em que vive,

possibilitando uma visão crítica do mundo.

Para Yunes (1995)

ler significa descortinar, mudar de horizontes, interagir com o real, interpretá-lo, compreendê-lo e decidir sobre ele. Desde o início a leitura deve contar com o leitor, sua contribuição ao texto, sua observação ao contexto, sua percepção do entorno (YUNES, 1995, p. 186).

Dessa forma, a leitura não pode ser vista somente como um processo

mecânico e sistemático, já que para que se efetive o ato de ler se faz necessária a

atribuição de significação e ressignificação do texto, exigindo do leitor uma atividade

de reflexão; além de propiciar prazer através da identificação com o mundo ficcional

e relação com a realidade em que vive. Assim, a leitura ultrapassa o âmbito da

decodificação e o sujeito leitor passa a atribuir sentido e significado ao que lê.

A formação do leitor começa a partir do momento em que o indivíduo inicia a

sua trajetória no mundo antes mesmo de seu ingresso na vida escolar, isto é,

quando imerge nos mais diversos gêneros textuais. Este processo dá continuidade

ao seu processo inserção na cultura da lecto-escrita, qualificando a sua formação

leitora, a qual se estenderá por toda a vida. Segundo Yunes (2009, p.9):

[o leitor precisa sentir-se] sujeito histórico para interagir no ato de ler. E não apenas livros, mas imagens e outras linguagens com o repertório de sua vivência e com acervo cultural que lhe sustenta uma visão de mundo.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

20

Sendo assim, ao adentrar na escola espera-se que a mesma sirva de ponte e

oriente o jovem leitor, iniciando-o no processo de alfabetização. Para tanto, a escola

deve, assim como sustentado por Yunes (2009), fazer uso da realidade do aluno

para que desta forma possa haver sentido para o educando, resultando assim que o

indivíduo possa sentir-se sujeito integrante e participante da sociedade e do meio

em que vive.

Nesse sentido, Nakamura (2000) afirma que o ambiente escolar apresenta ao

educando um ambiente mais regrado e baseado em rotinas, diferente de seu mundo

habitual, antes repleto de ludicidade. Assim, o aluno trará essas vivências para a

escola, visto que através da brincadeira e do faz-de-conta a criança consegue

estabelecer relações com o mundo.

Em uma pesquisa realizada por Sampaio (2003), na qual analisou qual a

interferência do livro didático quanto à leitura, a pesquisadora pode perceber que

escrita e leitura sempre estão ligados intrinsecamente e o papel do leitor é somente

decodificar as palavras no atual sistema escolar.

O estudo mostra ainda que pouca ou nenhuma relação se faz entre os

conteúdos propostos no livro ou em sala de aula e a realidade dos sujeitos

aprendizes. Isso transforma o ambiente escolar em um lugar enfadonho e o ato de

aprender pouco relevante por meio de exercícios que enfocam unicamente os

aspectos gramaticais do texto, não permitindo a produção de novas ideias,

autorizando somente a encontrar as que estão explicitadas no texto. Esta

metodologia resulta em desinteresse pela leitura por parte dos alunos, já que não

conseguem encontrar sentido em realizar leituras e atividades que possuem pouca

ou nenhuma semelhança com a sua realidade. Isso gera o efeito contrário ao

esperado, visto que os alunos entenderão que a leitura se limita ao estudo da

gramática.

Amarilha (2012) reconhece que é possível trabalhar a estrutura da língua e ao

mesmo tempo estimular o prazer pelo gênero literário, quando afirma que:

Ao ter contato com a literatura, a criança familiariza-se com estruturas linguísticas mais elaboradas porque é o resultado de um

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

21

escritor – alguém que se especializou em propor desafios, inteligentes, lúdicos através da língua. Ainda que não leitora, a criança pode e deve participar da literatura através da audição de poemas, relatos de histórias ou da leitura de livros de imagens. (AMARILHA, 2012, p. 56).

Nakamura (2000) sugere que a Instituição apresente a literatura infantil desde

os primeiros anos da vida escolar, em que a criança irá encontrar elementos do

lúdico e do imaginário presentes na narrativa, permitindo assim a construção da

relação com a sua realidade.

Assim como Nakamura (2000), Abramovich (1991) defende que a leitura

suscita o imaginário e, por vezes, responde a curiosidades, em outras horas a

aguça. Abramovich destaca o caráter lúdico da leitura, conforme se lê:

um lazer que pode ser saboreado a qualquer hora e que até dispensa companhia... É um dos poucos brinquedos com que se pode brincar sozinho (ou junto com as personagens...). (ABRAMOVICH, 1991, p. 152).

Ao falar acerca da formação do jovem leitor, Amarilha (2013) ressalta a

importância de a escola estar qualificada às novas demandas de linguagem e

recepção de informações da atual sociedade que gera diferentes modos de leitura.

Destacando também o papel significativo do mediador, o professor, sendo ele

aquele que irá apoiar e incentivar o aluno a ser protagonista de sua própria formação, ser um par mais experiente e solidário ao acompanhá-lo a se adentrar no mundo literário. (AMARILHA, 2013, p. 130).

A autora ressalta a importância de o mediador de leitura ser também um

leitor, para que assim possa instigar seus alunos para o universo literário.

É difícil falar de prazer para quem nunca o experimentou. No entanto, entendo que mais difícil ainda é ensinar a encontrar prazer no texto quando nós mesmos não nos deparamos com esse momento (...) de onde se conclui que professores sem prazer não podem formar leitores desejantes. (AMARILHA, 2012, p. 25).

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

22

Amarilha também aponta as tecnologias de informação disponíveis na

instituição escolar que, apesar de existirem, não são utilizadas para promovem a

leitura de literatura. A autora contesta a formação acadêmica proporcionada aos

professores em exercício atualmente, questionando se tal formação os possibilita

realizar uma mediação para a formação de leitores, haja vista que ter a disposição

uma avançada tecnologia de informação, não garante a efetivação de um trabalho

pedagógico de qualidade. Visto que, para tanto se faz necessário a competência de

refletir acerca do que se objetiva alcançar e como fazê-lo, unindo assim teoria e

prática.

Desse modo, o professor deve além de ter ciência da teoria e domínio das

novas tecnologias da informação, possuir a sensibilidade de pensar nas demandas e

peculiaridades presentes em sua turma e, sobretudo ser um leitor ativo, inclusive de

imagens.

Essa prática exige que o docente busque novas fontes de informação e

permita que seus alunos reflitam em seu fazer em sala de aula, fazendo-os sujeitos

pensantes e reflexivos. Se faz necessária uma maior atenção na seleção do material

didático, mas principalmente, em seu uso em sala de aula.

A formação de leitores deve ultrapassar os muros da escola, capacitando os

sujeitos para ler o mundo onde vivem. Ao ler são ativados os conhecimentos já

estabelecidos pelo leitor, tendo para cada indivíduo um grau de significância

diferente.

Ao colocar em prática a formação de leitores, é necessário que a escola

esteja preparada, pois para gerar resultados profícuos, requer um árduo trabalho.

Para Bettelheim (2006) “a tarefa mais importante e também a mais difícil na criação

de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida.” (BETTELHEIM, 2006,

p.11).

Os resultados desse esforço serão indivíduos pensantes que refletem sobre

sua existência, em que a leitura e o livro de literatura podem ocupar importante

função.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

23

3. ILUSTRANDO A TRAJETÓRIA

3.1 DESCRIÇÃO DA PESQUISA

Este estudo focaliza o estudo das ilustrações dos livros utilizados durante a

pesquisa realizada em escola pública de Natal-RN.

O projeto “A multimodalidade na leitura do poema e do livro de poesia em

aprendizes da escola fundamental – estudo longitudinal” (AMARILHA, 2010-2014)

dispôs de várias etapas desde a seleção das obras, planejamento das seções, bem

como estudos teóricos realizados por todos os participantes do grupo de pesquisa,

juntamente com a criação do fórum eletrônico intitulado Pesquisa e Poesia no qual

os sujeitos deveriam realizar suas postagens.

A escola selecionada precisava atender aos seguintes critérios: ser pública,

possuir uma equipe de gestores, ter laboratório de informática e ter localização de

fácil acesso. Ao ser escolhida, foi realizado um pré-teste que consistiu na exploração

do local, onde foi observada a relação e interação entre os sujeitos do 4° ano e o

computador. Através dos dados do pré-teste, observou-se que poucos deles

possuíam uma boa interação com esse instrumento eletrônico, então foram

disponibilizados alguns teclados para que pudessem se familiarizar com o objeto e

foram ministradas aulas de informática para se alcançar o mínimo de domínio digital.

Entretanto, não foi possível dar continuidade a pesquisa na referida escola,

tendo em vista a insuficiente manutenção no laboratório de informática, bem como

na inconstância da internet que não foi assegurada por parte da escola.

A pesquisa prosseguiu em uma escola pública estadual de Natal-RN. A

referida escola foi selecionada pelo fato da gestão e corpo docente terem aderido ao

projeto, por possuir boa estrutura, dispor de um laboratório de informática e por se

situar nas proximidades do campus universitário da UFRN.

Os sujeitos foram acompanhados do 4° ao 5° ano, e inicialmente era

composta por 30 alunos, porém em decorrência da pesquisa ser longitudinal o

estudo continuou somente com os que permaneceram. Desta forma, o corpus da

pesquisa se constitui por 16 sujeitos entre 9 a 11 anos.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

24

3.2 INTERVENÇÃO

Foram realizadas 15 sessões de leitura, que ocorriam quinzenalmente. No

momento das sessões, todos os sujeitos tinham em mãos o livro de poesia a ser lido

pela professora/mediadora.

Ao fim de cada sessão de leitura, os estudantes eram orientados a realizarem

uma postagem no fórum eletrônico, utilizado como um instrumento de registro dos

comentários e como atividade de andaimagem, na etapa de pós-leitura. No

momento da postagem no fórum, o aluno dispunha do livro em mãos, para que

pudesse ser utilizado como apoio e mediação no momento de escrita.

No decorrer deste trabalho, iremos analisar os livros que foram lidos na

pesquisa: “Minha ilha Maravilha” de Marina Colasanti (2007) “Quando Chove a

Cântaros/Cuando llueve a cantaros” da autora Gloria Kirinus (2005), e “Lampião e

Lancelote” de Fernando Vilela (2011) que foram selecionados levando-se em conta

a qualidade da linguagem literária,de suas ilustrações e a facilidade de acesso.

4. PINTANDO O SETE

4.1 CONHECENDO OS LIVROS DA PESQUISA

Figura 1 – Capa do livro Quando chove a Cântaros

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

25

O livro “Quando chove a cântaros” (2005) de Gloria Kirinus foi selecionado

para ser utilizado na pesquisa pela qualidade literária do seu texto, de suas

ilustrações e por se tratar de uma obra bilíngue apresentando-se em português e em

espanhol. Ao ser selecionada, esperava-se observar a sensibilidade e a recepção

melódica de outra língua por parte dos sujeitos.

O livro trata da história da cidade de Lima, capital do Peru, onde chove

raramente e quando este acontecimento ocorre o povo, os astros e o céu celembram

o evento. A obra possui um projeto gráfico bem colorido e apresenta aspectos

culturais do povo do Peru, como suas vestimentas, aparência física e cor de pele.

Figura 2 – Capa do livro Minha ilha maravilha

O livro “Minha Ilha Maravilha” (2007) é de autoria de Marina Colasanti e foi

por ela também ilustrado. A obra foi selecionada em virtude da qualidade de sua

expressão verbal, gráfica e semântica, tendo em vista que nem sempre as imagens

irão expressar diretamente o que está expresso no texto escrito, classificando-se

como imagens de “desvio”, conforme concepção de Sipe (1998).

O livro traz poemas articulados que objetivam realizar a apresentação de uma

ilha maravilhosa.

Figura 3 – Capa do livro Lampião e Lancelote

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

26

O livro “Lampião e Lancelote” (2006) foi escrito e ilustrado por Fernado Vilela

e recebeu diversos prêmios como menção honrosa do Prêmio Bolonha Ragazzi

(Itália), em 2007. Foi escolhido devido às suas particularidades verbais, ilustrativas e

ao seu projeto gráfico.

A obra relata a briga entre Lancelote, o cavaleiro da Távola Redonda, e

Lampião, cangaceiro nordestino. Tudo começa quando uma feiticeira envia

Lancelote ao início do século XX, no sertão nordestino. Ao chegar ao referido tempo,

encontra Lampião e seu bando. Este encontro desencadeia então uma disputa.

4.2 ANÁLISE DO LIVRO “QUANDO CHOVE A CÂNTAROS”

Para efetuar a análise do livro “Quando Chove a Cântaros” elegemos as

funções das imagens descritas por Camargo (1995).

A primeira função por nós destacada é a função descritiva, que descreve os

elementos presentes no texto escrito; esse tipo de função está comumente presente

em livros didáticos e formativos. No livro “Quando chove a cântaros”,conforme

mostra a figura 3, essa função se faz presente quando o texto escrito descreve

quem são os ocupantes do barco.

“Quando chove a cântaros,

muito a contragosto,

quem menos quer

muda logo de ofício,

e também de função...

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

27

o bombeiro planta

bananeira na calçada.

O padeiro rema contra a corrente

e o funcionário público

navega numa canoa

virada.”

A imagem os traz descritos e enriquecidos em detalhes, o padeiro, por

exemplo, vem ilustrado próximo ao cesto de pães, em que se pode perceber as

dimensões do cesto, do pão, aspectos não revelados pelo texto verbal.

Figura 4 – Livro Quando chove a cântaros

Páginas 22 e 23

A segunda função destacada é a função narrativa, que ocorre quando a

ilustração mostra uma ação que está explícita no texto. Na figura 5, abaixo,

percebem-se movimentos das lavadeiras, assim como foi descrito no texto que o

antecede. O movimento dos lençóis sugere atividade festiva, agregando ao texto

verbal o aspecto visual de um bailado de esperança, que subverte o conceito de

lavar roupa como um trabalho cansativo. Diante do contexto, as imagens enfatizam

a festa em que se torna toda atividade cotidiana, quando há chuva em Lima.

Figura 5 – Quando chove a cântaros

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

28

Páginas 26 e 27

A terceira função que pode ser atribuída à ilustração é a função simbólica

que faz a representação metafórica da ideia do texto escrito. A função simbólica se

faz presente na figura 6, nas páginas 24-25, quando a ilustradora Graça Lima sugere

a personificação do rio, podendo-se entendê-lo como a mãe natureza, conforme se

pode ler: “As ruas viram rios, e os rios carregam raios de bicicleta sem rumo e sem

destino. As rodas fazem o papel de boias e os fios de telefone se enroscam nelas,

com jeito de jiboias...” (KIRINUS,p.24-25). Desta forma, o rio a tudo toma e a figura

da mulher é dominante na ilustração, sugerindo a sua presença onipotente sobre o

evento e a vida das pessoas.

Figura 6 – Quando chove a cântaros

Páginas 24 e 25

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

29

A próxima é a função expressiva/ética, que expressa sentimentos e

emoções através da caracterização dos personagens. Pode-se perceber a função

expressiva, na imagem abaixo (figura 7), ao voltarmos o olhar para as expressões

dos personagens, pois mesmo enfrentando os tormentos da chuva, os traços e

curvas e a expressão dos rostos mostram que estão felizes, agradecidos pela chuva

tão rara em sua cidade.

Figura 7 – Quando chove a cântaros

Páginas 10 e 11

A quinta e última função é a função lúdica, apresenta-se quando o jogo

lúdico está presente na própria ilustração ou na disposição da imagem na página do

livro. No caso em análise, ao virar o livro de cabeça para baixo, nas páginas 4-5,

pode-se perceber a presença de vários seres mitológicos no céu da cidade.

Entendemos, então, que a ilustradora brinca com a percepção do leitor,

incentivando-o a buscar compreender a imagem mudando seu olhar da perspectiva

usual, de uma página de livro. Com o movimento da página, a ilustração se torna

mais explícita e esse jogo lúdico agrega interesse e significação ao texto.

Figura 8 – Quando chove a cântaros

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

30

Páginas 4 e 5

4.3 ANÁLISE DO LIVRO “LAMPIÃO E LANCELOTE”

Faria (2004) destaca um recurso técnico denominado por ela por

simultaneidade, que objetiva fazer a reunião dos elementos principais da narrativa

em uma única cena. Para exemplificar de forma clara, faremos a análise de algumas

imagens de “Lampião e Lancelote”, destacando três desses elementos pertencentes

à simultaneidade.

O primeiro deles é vários ambientes em um só plano. Aqui, a ilustração traz

inúmeros elementos que não estão presentes no texto escrito. Segue o texto:

“[...] De velho contos e lendas Lá da Távola-Redonda Invoco aqui este herói Que venha como onda E se espraie neste livro De rosto sereno e altivo

Sem nada que o esconda. ”

O leitor pode ser desafiado a encontrar os detalhes que não estão presentes

no texto. Como exemplo da imagem utilizada, o texto descreve a vinda do cavaleiro

e a imagem retrata a sua aparência.

Figura 9 – Lampião e Lancelote

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

31

Páginas 06 e 07

O segundo elemento destacado é chamado de várias ações num só plano,

em que uma mesma cena comporta as ações de diversos personagens ao mesmo

tempo. Pode-se associar com as relações de tempo e espaço. O leitor será

questionado a respeito das diversas cenas e ações presentes na ilustração. Na

imagem abaixo, pode-se perceber no texto escrito e nas imagens o bando de

cangaceiros, a fogueira e a movimentação. No texto escrito, lê-se o seguinte:

“A poucas léguas dali, o bando de Lampião descansava de longa e árdua viagem, escondido no Raso da Catarina, ao fim de uma tensa batalha com os macacos, a polícia, nas proximidades da cidade de Mossoró. O sol apeava de sua rotina diária e descia no horizonte devastado e seco. Os cangaceiros preparavam o acampamento e juntavam gravetos para a fogueira, pois a noite prometia muita cantoria com viola e sanfona para comemorar a vitória.” (VILELA, 2006, p. 19)

Em paralelo, na ilustração podemos imaginar que o bando era numeroso pela

imagem compacta de pernas e botas. A ilustração é também redundante e enfática

quando mostra os instrumentos musicais citados no texto, entretanto, agrega outra

possível significação, pois tanto quanto as armas, os cangaceiros também carregam

consigo os instrumentos de lazer: a sanfona e a viola, sugerindo que a vida no

bando não era só luta, mas também diversão.

Figura 10 – Lampião e Lancelote

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

32

Páginas 18 e 19

O terceiro e último elemento é denominado por várias ações em

perspectiva, que traz as personagens e demais elementos gráficos em perspectivas

e planos diferentes visualmente, de modo a dar a entender o quão distante estão.

Esse elemento discute a variação proporcional dos objetos e trabalha a observação

e possíveis relações semânticas com o texto verbal, conforme imagens abaixo:

Figura 11 – Lampião e Lancelote

Páginas 20 e 21

Nessa passagem, o texto escrito mostra a solidão do líder do bando,

conforme se lê: “Lampião, cansado e com sede, montou num jegue e se desgarrou

do bando para buscar água” (VILELA, p. 21), acompanhando essa condição, a

imagem acentua a solidão do personagem e o seu cuidado como chefe pelo bem

estar do bando. Ele se afasta para buscar água, também porque “Queria ficar só”.

Com a imagem em perspectiva, evidenciam-se a aridez da paisagem, com uma

árvore de galhos desfolhados, a intensidade do sol, já no final do dia, e a sombra

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

33

alongada mostra a figura pequena e solitária do guerreiro frente a imensidão do

ambiente. O impacto imagético do painel em página dupla convida o leitor a longa

observação e a busca de inferências sobre a condição de vida do personagem e o

momento em que se encontra. Essa reflexão só é possível porque a ilustração em

sua exuberância chama a atenção sobre si mesma e convida o leitor a parar para

pensar.

4.4 ANÁLISE DO LIVRO “MINHA ILHA MARAVILHA”

O livro “Minha ilha maravilha” apresenta particularidade no que se refere à

ilustração, visto que suas imagens nem sempre se relacionam explicitamente com o

texto. A abordagem utilizada por Colasanti (2007) pode ser classificada como

ilustrações de “desvio” conforme Sipe (1998), em que o leitor deve empreender

esforço relacional mais profundo para compreender a relação entre palavras e

imagens. É o que ocorre com o poema “Avião não é ave”, na página 22. Segue o

poema:

Avião Não é Ave

Um avião no céu

Não é pássaro

Que vai à caça

Não é nuvem

Que vem e passa

É máquina

Que por mais que eu faça

Nunca voa ao léu.

Isto posto, pode-se perceber que a ilustração que acompanha o poema, uma

borboleta, não se relaciona diretamente, de maneira óbvia, aos elementos descritos

no texto escrito. O poema requer que o leitor realize inferências que o possibilitem

estabelecer relações entre imagem e palavra, neste caso sobre o ato de voar que é

desempenhado tanto pela borboleta quanto pelo avião. Desta forma, ocorre o desvio

que demanda o leitor um maior esforço.

Essa homologia, requer do leitor a busca por um campo semântico mais

amplo, de maneira a responder de forma compreensiva à provocação feita por

ambos texto e imagem. Nesse sentido, a ilustração de “desvio” atua como sugestão

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

34

para o leitor explorar outras relações de sentido, em que se toma como referência

algo que voa, isto é, assim como avião voa, mas não é ave, também a borboleta voa

e não é ave.

Outra ilustração da obra de Colasanti, que elegemos para análise é a que

acompanha o poema: Vou, voo e volto que foi lido na segunda sessão da pesquisa.

“Vou, voo e volto Cavalo de vento

Cavalo de ar Salto na sela E vou galopar

Galopo na praia Galopo no mar

A crina é uma vela Que faz navegar

Navega na onda Navega no sal

A vela abre asa Me leva a voar

Voando no alto

Começo a cansar Ao ver minha casa Já quero voltar. ”

Figura 12 – Minha Ilha Maravilha

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

35

Página 23

Este poema narrativo trata de uma viagem nos ares realizada pelo narrador

em que se encontra cavalgando um cavalo no alto. A ilustração que o acompanha

provoca o leitor a realizar, ele também, uma viagem pelos seus pensamentos

criativos e imagéticos. A imagem que ilustra a página do poema (p.23) é de uma

região, um bairro talvez, de uma cidade montanhosa; essa leitura é possível pela

densidade do aglomerado de casas que projetos em terrenos montanhosos

promovem. Essa percepção sobre a condição geográfica do local é reforçada por um

ângulo em que o leitor se depara com uma visão ampla, quase panorâmica, como

de alguém que esteja aterrissando no nível do chão, de volta de uma viagem,

conforme está expresso no poema “Ao ver minha casa/Já quero voltar”.

A relação entre imagem e palavras, nesse caso, mais uma vez, exige do leitor

percurso de articulação entre possíveis sentidos, acompanhando a criação verbal do

texto que provoca uma viagem imaginária.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela observação dos aspectos analisados no decorrer do trabalho acerca das

diferentes funções da ilustração nas obras literárias estudadas, percebemos a

significante participação das imagens no diálogo do leitor como o texto, que pode ser

de reafirmar o que já está explícito no texto escrito ou de provocar novas relações de

sentido, expandindo, acrescentando detalhes, localizando no tempo e no espaço os

eventos apresentados pela obra.

Entendemos que a ilustração pelo apelo visual das cores, das dimensões,

dos traços do desenho permite que o livro de literatura para a infância seja

beneficiado pela linguagem imagética. Assim sendo, não há limites às possibilidades

de leitura que as imagens poderão desencadear no processo de leitura do texto

escrito, visto que o leitor se vê desafiado não só a ver e observar imagens, mas

também a imaginar possíveis relações com o texto verbal apresentado. Esse

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

36

processo de “transmediação” torna a formação do leitor mais habilitado a explorar a

potência semântica de obras com as quais interage.

As obras “Quando chove a cântaros”, “Lampião e Lancelote” e “Minha ilha

Maravilha” e suas ilustrações são ricas em oportunidades significativas de

percepção visual, observação e relações semânticas, permitindo ao leitor

aprofundamento em diferentes perspectivas de leitura, seja verbal, seja visual, seja

na articulação de ambas.

Diante dessa constatação, pensamos que seja relevante ao professor que

realiza atividades de leitura com livros de literatura infantil, em sua função de

mediador de leitura, saber utilizar os recursos oferecidos pelas imagens em sala de

aula. Conforme evidenciamos, as imagens propiciam aos leitores um espaço de

interação, aberto a questionamentos, resultando assim na formação de um leitor

sensível a perceber as significações que são construídas a partir das imagens em

articulação com o texto, descobrindo os novos sentidos que as ilustrações sugerem,

enriquecem e agregam à leitura do texto de literatura.

REFERÊNCIAS

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

37

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil, gostosuras e bobices. São Paulo:

Scipione, 1991.

AMARILHA, Marly; FREITAS, Alessandra Cardozo de. Os caminhos da poesia na

escola: som, imagem, pensamento. In: Educação e Leitura: criatividade e desafios.

Campinas, SP: Mercado das Letras, 2015 (prelo).

AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? – Literatura Infantil e prática

pedagógica. 8. edição .Petrópolis: Vozes, 2009.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Trad.: Arlene Caetano.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

CAMARGO, Luís. Ilustração do livro infantil. Rio de Janeiro, 1995.

COLASANTI, Marina. Minha Ilha Maravilha. São Paulo: Ática, 2007.

FARIA, Maria Alice. Articulação do texto com a ilustração. In: Como usar literatura

Infantil em sala de aula – São Paulo: Contexto, 2004.

GOMES, Adriano. O contador de histórias na formação do leitor de literatura. In:

AMARILHA, Marly (Org.). Educação e leitura: trajetória de sentidos. João Pessoa:

Ed. Da UFPB- PPGED/UFRN 2003. P. 213-227.

GRAVES, M. F.; GRAVES, B.B. The scaffolding reading experience: a flexible

framework for helping students get the most out of text. In: Reading. April.1995. (

KIRINUS, Glória. Quando chove a cântaros – Cuando llueve a cântaros. São

Paulo: Paulinas, 2005.

LIMA, Ione Soares de. A ilustração na produção literária. São Paulo: USO/IEB,

1985.

NAKAMURA, Helenita Assunção. A imagem na formação do leitor: um processo

dialógico ilustração-texto na literatura infantil no contexto escolar. In: AMARILHA,

Marly (Org.). Educação e leitura: trajetória de sentidos. João Pessoa: Ed. Da UFPB-

PPGED/UFRN 2003.

POWERS, Alan. Era uma vez uma capa: História ilustrada da educação infantil.

Tradução de: Otacílio Nunes. São Paulo: Cosac Nainf, 2008. 144 p.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · fazer relação entre texto e palavra e elaborar seus significados o leitor realiza leitura inferencial, conforme explicam Souza

38

POUND, EZRA. ABC da literatura. São Paulo: Cultrix, 2006.

SIPE, Lawrence R. How Picture Books work: a semiotically framed theory of text-

picture relationship. Children’s Literature in Education, vol. 29, n° 2. Human

Sciences Press, inc: 1998. Disponível em:

<http://link.springer.com/article/10.1023%2FA%3A1022459009182>. Acessado em:

04 de Novembro de 2014.

SOUZA, R. J.; GIROTTO, C. G. G. S. Estratégia de Leitura: para ensinar alunos a

compreender o que leem. In: SOUZA, R, J. (Org.). Ler e compreender: estratégias

de leitura. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010. p. 45-114.

VILELA, Fernando. Lampião e Lancelote. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

YUNES, Eliana. Prefácio – Da leitura à prática: ler pode ser a saída. In: AMARILHA,

Marly. Estão mortas as fadas? Literatura infantil e prática pedagógica. Petrópolis:

Vozes, 1997. p. 9-11.

YUNES, Eliana. Pelo avesso: a leitura e o leitor. Letras, Curitiba, v. 44, p.185-196,

1995. Disponível em:

<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/letras/article/view/19078/12383>. Acesso em: 17

jun. 2015.