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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTOS PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ-MÚSICA ONDAS MUSICAIS: O PAPEL INTEGRADOR DA BANDA DE MÚSICA Natal/RN 2017

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

    CURSO DE LICENCIATURA

    JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTOS

    PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ-MÚSICA – ONDAS MUSICAIS: O PAPEL INTEGRADOR DA BANDA DE MÚSICA

    Natal/RN 2017

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

    CURSO DE LICENCIATURA

    JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTOS

    PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ-MÚSICA – ONDAS MUSICAIS: O PAPEL INTEGRADOR DA BANDA DE MÚSICA

    Orientadora: Profa. Dra. Tamar Genz Gaulke

    Natal/RN

    2017

    Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Música.

  • JOSÉ CARLOS DA SILVA SANTOS

    PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ-MÚSICA – ONDAS MUSICAIS: O PAPEL INTEGRADOR DA BANDA DE MÚSICA

    Aprovado em: 20 de Novembro de 2017.

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________________________ Profa. Dra. TAMAR GENZ GAULKE

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ORIENTADORA

    _______________________________________________ Profa. Dra. ELIANE LEÃO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE MEMBRO DA BANCA

    _______________________________________________ Profa. Esp. CAMILA LARISSA FIRMINO DE LUNA PREFEITURA MUNICIPAL DE NÍSIA FLORESTA

    MEMBRO DA BANCA

    Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Música.

  • Dedico este trabalho, especialmente, ao Senhor José Lourenço dos Santos Filho, meu pai, que graças a sua forma de enxergar a vida me proporcionou todos os meios para as conquistas que tive, incentivou-me e me apoiou. Infelizmente, em abril recente, Deus, achou por bem que ele ao seu lado passasse a morar, e nos deixou, e hoje o sinto todos os dias em meu coração, ainda me iluminando e guardando meu caminho. Obrigado Pai! De seus gestos de atenção para comigo jamais esquecerei, sempre o honrarei.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço, primeiramente, a Deus por sua infinita misericórdia e que muito tem

    me guardado, dando-me saúde, paz e força para ter suportado tantas adversidades que

    a vida tem me colocado.

    Também à minha família, em especial a meu saudoso pai, que infelizmente quis

    Deus que ao seu lado fosse descansar, mas que enquanto esteve ao meu lado nunca

    mediu esforços para que atingisse meus objetivos, exigindo-me sempre a dedicação

    integral aos estudos, algo que todo bom pai deve buscar. Nada pode expressar o

    quanto sou grato a ti, saiba que nunca esquecerei o quão importante foi para minha

    vida. E minha mãe e irmã, que sempre estiveram comigo, nos bons e maus momentos,

    amo demais vocês duas. Minha esposa, pela paciência, e claro, por cuidar de nosso

    mais valioso bem, nossa filha Melissa, que amo tanto, muito obrigado.

    A professora Tamar, por ter dispensado especial atenção em me ajudar neste

    trabalho.

    Aos amigos e companheiros de trabalho e colegas de turma pela grandiosa,

    honrosa e maravilhosa companhia de curso. Desejo a todos vocês todas as bênçãos de

    Deus em suas vidas.

    Muito Obrigado.

  • “Nenhum de nós é tão bom, quanto todos nós juntos”.

    (Ray Kroc)

  • RESUMO Com este trabalho se pretende compreender a importância do ensino de música para a formação integral dos jovens participantes da Banda Ondas Musicais, oriunda do Projeto de Musicalização Pró-música - Ondas Musicais, assim também, evidenciar a importância da prática musical no âmbito de programas ou projetos sociais, em específico, aqueles apoiados por agências de financiamento, segundo a definição de Freitas e Weiland (2014). Quanto a metodologia, optou-se pelo estudo de caso, empregando-se a pesquisa exploratória com questionários em formato de formulário, entrevistas semiestruturadas e também a observação participante como meio de obtenção de dados. Serão explicitados os principais aspectos do Projeto de Musicalização Pró-Música Ondas Musicais, que muito embora tenha pouco tempo em atividade, vêm desempenhando significativas alterações na vida de seus participantes. Baseando-se em trabalhos como Kleber (2006, 2014) e Penna (2006); Maciel (2011, 2014); Campos (2008); Cislaghi (2011) que tratam tanto das práticas musicais em projetos sociais, quanto do emprego da Banda de Música como ferramenta do processo pedagógico-musical. A partir das entrevistas e questionário foi possível avaliar que houve mudança de nível de autoestima, sociabilidade, aprendizagem musical e alterações comportamentais e o quão relevante é, para os jovens participantes do projeto, o aprendizado de um instrumento musical, assim como, a integração social proporcionada pela participação naquela banda de música. Palavras-chave: Programas Sociais; Educação Musical; Musicalização; Banda de Música.

  • ABSTRACT This work intends to understand the importance of music teaching for the integral formation of the young participants of the Band Musical Waves, coming from the Project of Music Music Pro-music - Musical Waves, as well, to highlight the importance of the musical practice in the scope of programs or social projects, specifically, those supported by funding agencies, as defined by Freitas and Weiland (2014). As for the methodology, we chose the case study, using the exploratory research with questionnaires in form of form, semi-structured interviews and also the participant observation as a means of obtaining data. It will be explained the main aspects of the Music Music Pro Project Music Waves, that although it has little time in activity, have been making significant changes in the life of its participants. Based on works such as Kleber (2006, 2014) and Penna (2006); Maciel (2011, 2014); Campos (2008); Cislaghi (2011) who deal with both the musical practices in social projects and the use of the Music Band as a tool of the pedagogical-musical process. From the interviews and questionnaire it was possible to evaluate that there was a change in the level of self-esteem, sociability, musical learning and behavioral changes and how relevant it is for the young participants of the project, learning a musical instrument, as well as social integration provided by the participation in that band of music. Keywords: Social Programs; Music education; Musicalization; Music Band.

  • LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    FIGURA 1 - NAVIO HOSPITAL DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA...................26

    FIGURA 2 - BANDA ONDAS MUSICAIS EM APRESENTAÇÃO REALIZADA EM

    SANTA CRUZ - RN............................................................................................34

    FIGURA 3 - ORQUESTRA ONDAS MUSICAIS EM APRESENTAÇÃO EM

    ESCOLA PRIVADA...........................................................................................35

    FIGURA 4 - A ORQUESTRA FILARMÔNICA ONDAS MUSICAIS EM SUA

    PRIMEIRA APRESENTAÇÃO PÚBLICA COM INSTRUMENTAL DE

    CORDAS............................................................................................................36

    FIGURA 5 - SEDE DA ASSOCIAÇÃO DE VETERANOS DO CFN, LOCALIZADO

    NO BAIRRO DAS QUINTAS..............................................................................37

    FIGURA 6 - SALÃO ONDE SÃO REALIZADOS OS ENSAIOS E AULAS

    INDIVIDUAIS......................................................................................................38

    FIGURA 7 - BANDA ONDAS MUSICAIS EM ENSAIO REALIZADO NO DIA

    18/10/2017.........................................................................................................39

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACISO Ação Cívico-Social CF Constituição Federal FA Forças Armadas GptFNNa Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal LC Lei Complementar MB Marinha do Brasil MD Ministério da Defesa PROFESP Projeto Força no Esporte

  • SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13

    2. APORTES TEÓRICOS .............................................................................................. 15

    2.1 Música e projetos sociais ...................................................................................... 15

    2.2 Música como fator de integração social ................................................................ 18

    2.3 Metodologia adotada na pesquisa ........................................................................ 21

    3. AS AÇÕES SUBSIDIÁRIAS E OS PROGRAMAS SOCIAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA ......................................................................................................................... 25

    3.1 As Bandas Militares .............................................................................................. 27

    4. O PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ MÚSICA - ONDAS MUSICAIS - IDEALIZAÇÃO ............................................................................................................... 31

    4.1 Banda Ondas Musicais ......................................................................................... 33

    4.2 Ensaios e aulas individuais ................................................................................... 36

    4.3 Sobre o Professor ................................................................................................. 40

    5. O PAPEL INTEGRADOR DE UMA BANDA DE MÚSICA ......................................... 42

    5.1 O nível de autoestima apresentado pelos participantes ....................................... 45

    5.2 Sociabilidade ........................................................................................................ 47

    5.3 A aprendizagem musical ....................................................................................... 47

    5.4 Alterações comportamentais ................................................................................ 48

    CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 50

    REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 52

    APÊNDICE ..................................................................................................................... 55

  • 13

    1. INTRODUÇÃO

    Torna-se cada vez mais evidente que a prática educativo-musical tornou-se uma

    praxe bastante difundida no âmbito dos projetos sociais. Kleber (2006) aponta nesse

    sentido, ao dizer que existe “uma significativa quantidade de projetos sociais ligados à

    educação, arte e cultura”. Além das ações realizadas pelas Organizações Não

    Governamentais (ONG`s1), também os programas ou projetos sociais, apoiados, direta

    ou indiretamente, por instituições do Estado, de alguma maneira se utilizam do

    processo pedagógico-musical em seus trabalhos. Foram vários os motivos, de cunho

    social e também cultural das práticas assistencialistas, que culminaram, a partir da

    década de 90, em uma expansão do número de práticas de ações sociais em todo

    país, essas em sua maioria relacionadas à ideia de assistência social e educacional

    ofertadas por movimentos organizados: associações, fundações, igrejas (KLEBER

    2014, p. 26).

    Com este trabalho se pretende compreender a importância do ensino de música

    para a formação integral dos jovens participantes da Banda Ondas Musicais, oriunda

    do Projeto de Musicalização Pró-música - Ondas Musicais, assim também, evidenciar a

    importância da prática musical no âmbito de programas ou projetos sociais, apoiados

    ou não por instituição de governo. Proposto, no ano de 2015, pela associação

    Voluntárias Cisne Branco, seccional Natal, a qual é um departamento da Casa do

    Marinheiro, instituição vinculada à Marinha do Brasil e ofertando a possibilidade de uma

    formação musical para dependentes de militares e de servidores civis da Marinha,

    residentes em Natal-RN, o Pró-Música tem alcançado excelentes resultados no tocante

    ao seu papel de agente integrador dos adolescentes participantes. Além de atingir

    outros objetivos que serão explanados com mais detalhes.

    A escolha por este projeto se deu pela proximidade que há entre a profissão

    deste autor, que atua como músico integrante da Banda de Música do Corpo de

    Fuzileiros Navais (CFN), e o referido projeto, vinculado à Marinha do Brasil (MB) e que

    tem como Coordenador/Regente um Suboficial (FN) Músico, também integrante

    1 “O conceito de ONG foi utilizado pela primeira vez em 1950 na Organização das Nações Unidas para referir-se a

    organizações internacionais de caráter permanente e constituídas por suas características e finalidades específicas, em diferentes países, sem fins lucrativos” (KLEBER, 2006, p. 20).

  • 14

    daquela Banda de Música. Tendo atuado como professor monitor em aulas práticas de

    trombone e já realizado apresentações públicas com a banda dos alunos em conjunto

    com a Banda do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal (GptFNNa).

    Este trabalho está estruturado em 5 capítulos, logo após esta introdução, são

    indicados os aportes teóricos, que alicerçaram este trabalho, destacando-se alguns

    autores que são referências na área da música em projetos sociais, como Kleber

    (2006, 2014), Penna (2006); A música como fator de integração social, Maciel (2011,

    2014), Severo (2015); e a importância das bandas de música no contexto do ensino e

    aprendizagem musical, Campos (2008); Cislaghi (2011) e Ferreira (2015).

    O terceiro capítulo busca contextualizar o trabalho sob a perspectiva dos

    programas sociais oferecidos no âmbito do Ministério da Defesa (MD), pois são parte

    das atividades subsidiárias das Forças Armadas (FA). Para tanto, a pesquisa apoiou-se

    no trabalho de Lourenço (2012). Também neste capítulo foi realizado um pequeno

    esboço do papel das Bandas Militares junto à sociedade onde se tratam as várias

    perspectivas abordadas nos trabalhos de Binder (2006) e Passos (2017).

    O quarto capítulo trata do Projeto de Musicalização Pró-Música Ondas Musicais

    em si, descrevendo os principais pontos relacionados a sua criação, aos ensaios e a

    perspectiva que tem o seu Coordenador no tocante ao projeto. Já no quinto capítulo

    apontam-se os resultados obtidos a partir das entrevistas, do questionário e das

    observações realizadas em campo, com vistas a que se busque afirmar o papel

    integrador que tem a banda de música como instrumento da prática educativo-musical.

    Por fim, realizar-se-ão as considerações finais, tecendo alguns comentários

    concernentes aos resultados da pesquisa.

  • 15

    2. APORTES TEÓRICOS

    2.1 Música e projetos sociais

    O fato de a música estabelecer-se como um elemento de grande relevância para

    a transformação de realidades sociais faz com que as práticas educativo-musicais se

    pautem com este sentido transformador, quando postas no âmbito dos projetos sociais.

    Segundo Bezerra (2011, p.16), “os projetos que envolvem música têm o interesse em

    oferecer alternativas às realidades de carência e de violência”. Carência esta que se

    refere tanto a fatores afetivos, quanto ao de lazer ou ao financeiro. Nesse sentido, é

    que se observa um grande número de projetos sociais no país, envolvendo o ensino

    musical em suas muitas possibilidades, bandas de música, canto coral ou mesmo aulas

    especializadas de instrumento.

    Em relação às práticas musicais em projetos sociais e seus mantenedores,

    torna-se importante salientar o trabalho de Freitas e Weiland (2014) que ao realizarem

    um levantamento da produção bibliográfica voltada para as práticas musicais no

    contexto dos projetos sociais identificam e definem as “agências de financiamento de

    projetos sociais” como sendo:

    a) Universidades que promovem projetos de extensão e estágios supervisionados; b) Órgãos públicos com vários programas de fomento e incentivo às artes e cultura; c) Instituições que financiam pesquisas de mestrado/doutorado; d) Escolas que fazem parcerias com profissionais da área da música (FREITAS E WEILAND, 2014 p. 69).

    Em sua pesquisa, as autoras categorizam a relação projeto social e seus

    financiadores em: interação universidade e comunidade; Derivado de projetos de

    mestrado e doutorado; Parcerias com escolas e Financiamento de órgãos públicos

    (Ibid., 2014 p. 69). É nesta última categoria, a do financiamento por órgãos públicos,

    em que se insere o projeto objeto desta pesquisa. O Pró-Música Ondas Musicais foi

    criado e é mantido por uma associação, sem fins lucrativos, contudo, vinculada a

    Marinha do Brasil.

    De acordo com o Código Civil Brasileiro, em seu art. 53, uma associação é a

    “união de pessoas que se organizam para fins não econômicos” (BRASIL, 2008). As

    associações ou fundações são a expressão jurídica do que se conhece por

  • 16

    Organizações Não Governamentais (ONGs), as quais estão inseridas no âmbito do

    Terceiro Setor. Segundo Kleber (2006) o Terceiro Setor é um segmento:

    Caracterizado como um conjunto de iniciativas privadas com fins públicos e sociais, não lucrativos, que buscam formas de enfrentamento das questões sociais vividas por uma grande parcela da sociedade privada, tanto de bens materiais como simbólicos (KLEBER, 2006 p. 20).

    Portanto, o Terceiro Setor é a parcela da sociedade civil que executa funções

    típicas, mas não exclusivas do Estado, e ao qual não se confunde, entretanto, presta

    auxílios diversos como o de proteção à natureza, trabalhos de cunho sociais e públicos,

    atendimento médico, campanhas educacionais, eventos culturais e outras que visem à

    qualidade de vida de determinada parcela da população.

    O fato dos projetos sociais surgirem de forma bastante considerável, acarreta

    em que, obviamente, sejam objetos demasiadamente estudados pelos pesquisadores

    da área da educação musical, a saber: Kleber (2006, 2014); Penna (2006), Gaulke

    (2010), Maciel (2011), entre outros. Isto se deve a demanda de profissionais que esta

    área passa a necessitar, dos quais, espera-se que sejam capazes de atender as

    expectativas e atingir as metas estabelecidas na proposta de cada projeto social.

    Gaulke (2010, p. 10) ao citar Penna (2006), remete a discussão sobre os

    conteúdos musicais e didáticos, os quais poderiam ser propostos pelas academias de

    formação dos profissionais da educação musical. Com vistas a que tenham os meios

    necessários e adequados para o exercício de suas atividades naqueles ambientes. Isto

    vai ao encontro do pensamento de Penna (2006), quando, ao destacar que os

    conteúdos musicais são sim importantes para a formação pretendida nesses projetos,

    porém, que deve haver a consciência de que não basta que se tenha apenas o seu

    domínio. (Ibid., 2006 p.40).

    Obter a adequada formação obviamente é interessante, mas de nada adianta se

    o profissional não atentar para as especificidades que esses espaços podem vir a

    revelar. E ao observar que projetos sociais vêm se estruturando em paralelo com

    aquilo que é realizado nas academias, Kleber (2014) elucida que:

    O foco de interesse dos projetos sociais cujo público-alvo são jovens adolescentes tem revelado uma grande incidência de atividade voltadas para a

  • 17

    prática musical. Torna-se visível, ainda, o envolvimento de segmentos da sociedade civil na busca da redução dos problemas sociais, afim de que se garantam as condições mínimas para o que podemos chamar de dignidade humana (KLEBER, 2014 p. 28).

    Por conseguinte, a preocupação com o real papel da música nos espaços de

    projetos sociais, torna-se objeto de vastas reflexões, e, nesse pensamento, Penna

    (2006) acrescenta que os projetos sociais “colocam [...] em pauta a reflexão sobre o

    papel da música na formação global, sobre a diversidade cultural e a

    interdisciplinaridade” (Ibid., 2006 p. 36). A autora indica que se busque, para as

    atividades praticadas em projetos extraescolares, propostas pedagógicas com objetivos

    contextualistas – que proporcionem o aumento da capacidade reflexiva do indivíduo, de

    maneira que, a partir deles, obtenha-se mais eficazmente a formação plena dos jovens,

    como, também, seu comprometimento social e o diálogo com as diferentes culturas

    (Ibid., 2006 p. 40). Em contrapartida aos aspectos da concepção essencialistas, os

    objetivos contextualistas colocam em primeiro plano a formação global do indivíduo

    (ALMEIDA 2001 apud PENNA, 2006, p. 37).

    É por serem os projetos sociais ambientes tão ricos em diversidades de

    experiências sociais e musicais que se justifica o grande número de autores e trabalhos

    cujo objetivo é trazer diferentes propostas de atuação pedagógica musical à obtenção

    da plena formação dos envolvidos. E ao tratar desta perspectiva, Gaulke (2010)

    esclarece que:

    São ações fora do contexto escolar, onde os adolescentes e crianças têm acesso a espaços com objetivos de promover o ser humano, direcionar suas potencialidades, melhorar a qualidade de vida e facilitar a convivência social. A cultura, o lazer e a música aparecem como atividades muito presentes nestes contextos. O educador musical está cada vez mais atuante, dando mais ênfase ao acesso democrático à música (GAULKE, 2010 p. 11).

    Outro aspecto sob o qual se fundamentam os projetos sociais, e evidentemente,

    o Pró-Música Ondas Musicais, é a garantia de mais um instrumento ocupacional para

    seus alunos, de maneira que não fiquem a mercê de desprazeres oriundos desta vida

    contemporânea. Mas que, ao contrário, tenham em seus horários opostos ao dos

    estudos em escolas regulares, uma ferramenta a mais de formação. Quando se opta

  • 18

    pelo emprego da música nos projetos sociais, vislumbra-se a ascensão social e

    profissional desses jovens, conforme afirma Severo (2015):

    [...] a música é uma possibilidade de atuação nesse contexto que vem sendo praticada. Essa prática ao longo dos anos vem ganhando espaço na nossa sociedade, causando impacto positivo e interagindo diretamente com ela, contribuindo para a formação cultural e até mesmo profissional de crianças e jovens e adultos de baixa renda ou em situação de risco social (SEVERO, 2015 p. 14).

    Apoiado nessa concepção, Severo (2015) assinala que projetos sociais “surgem

    pensando no futuro dessas pessoas e propõem medidas a serem tomadas para intervir

    no processo de socialização dessas crianças, adolescentes e jovens”. Porém, aspectos

    específicos do projeto é que definirão seu sucesso ou não, e entre eles, pode-se citar:

    o nível de comprometimento de seus participantes, a infraestrutura disponível, o apoio

    financeiro, dentre outros. Gaulke (2010) atenta que

    [...] a ação vai muito além da troca de experiências, ensino-aprendizagem e abordagem de conteúdos e técnicas, [...] a instituição, junto com seus parceiros e professores deve estar atenta aos objetivos, metas, demandas e necessidades a serem cumpridas (Ibid., 2010 p 13).

    Isto posto, o fato de um programa receber apoio direto de uma instituição do

    Estado parece, em princípio, colocá-lo um passo a frente de eventuais problemas que

    possam surgir e dificultar o andamento de suas atividades.

    2.2 Música como fator de integração social

    A presença da música em projetos sociais é um valiosíssimo instrumento

    formativo à disposição do público ao qual se destinam. Partindo desta premissa, esta

    pesquisa se propõe, além de outras análises, através das observações e entrevistas

    realizadas, a avaliar o quão importante é para os integrantes do Pró-Música o

    aprendizado musical e se, de fato, participar de uma banda de música trouxe-lhes

    modificações consideráveis em seus aspectos comportamentais e consequentemente

    em suas relações interpessoais.

  • 19

    No entanto, Maciel (2011) ao falar da importância que tem a educação musical

    nos projetos sociais deixa claro que esta prática não é suficiente para explicar as

    alterações nas vidas de seus participantes, mas, pelo contrário:

    [...] os resultados positivos das ações desenvolvidas pelos projetos sociais não se explicam pelo uso da música em si, mas pelas oportunidades de convivência, de novas experiências, novos espaços de troca, crescimento e aprendizagem (MACIEL, 2011 p.18).

    Para o autor, ao refletirmos sobre as funções da música, para a sociedade e

    para a educação, temos que considerar aspectos específicos desta relação entre o

    objeto (o som) e o sujeito (o homem):

    Se queremos determinar o valor da música na sociedade e na cultura, ele deve ser definido considerando as atitudes e os processos cognitivos presentes na sua criação e as funções e efeitos do produto musical na sociedade (MACIEL, 2011 p. 22).

    Nesse pensamento, (BLACKING, 2000 apud MACIEL, 2011) trata de duas

    funções genéricas que a música poderia apresentar, uma de caráter utilitária e outra de

    cunho eminentemente artístico. “As utilitárias são aquelas nas quais os efeitos da

    música provocam um impacto na situação social, e as artísticas, aquelas em que o

    aspecto crucial da experiência musical é a música em si” (Ibid., 2011 p. 23). Ao realizar

    um paralelo entre os trabalhos de Blacking (2000) e Swanwick (2003), Maciel (2011),

    esclarece a existência de pelo menos dez funções específicas que a música teria

    perante a sociedade, e uma delas é a preservação da integração social que, assim

    como a diversão e a resposta física, faz parte do grupo das músicas com função de

    signo ou utilitárias. Nessa análise, Maciel (2011) afirma que:

    [...] as funções de diversão, resposta física, reforço da conformidade a normas sociais, validação de instituições sociais e rituais religiosos, contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura, e preservação da integração social. Podem ser vistas, então, como as funções que Blacking considera funções utilitárias (Ibid., 2011 p. 24).

    A função utilitária da música é que seria a mais bem difundida entre os grupos

    sociais, por apresentar um caráter menos metafórico, e pelo fato de não precisar de

    uma maior dose de reflexão para sua experimentação (Ibid., 2011 p 23).

  • 20

    Já em relação às funções simbólicas ou artísticas da música, seriam elas as que

    apresentam peculiaridades menos objetivas de definição, ou seja, mais metafóricas, e,

    por consequência, dariam ensejo a uma relação mais aprofundada entre o sujeito e o

    objeto (o homem e som). Como exemplos desta função, teríamos a expressão

    emocional e o prazer estético. Logo, faz-se necessária uma representação maior do

    objeto para o indivíduo. Como indica (SWANWICK, 2003 apud Maciel, 2011):

    Estas funções [simbólicas] podem envolver elementos do que Piaget chama representação interna, a manipulação de imagens, a produção de relações entre essas imagens, a criação e desenvolvimento de vocabulários compartilhados e a negociação e troca de ideias com outros (SWANWICK, 2003 apud MACIEL, 2011, p. 24).

    Pois então, sendo o fator da integração social uma função utilitária da música,

    não obstante, os projetos sociais, intencionalmente ou não, contribuem para essa

    finalidade. Pois, muito embora, não seja esse um objetivo único e imediato da música

    na perspectiva dos projetos, a ideia de integrar os seus participantes é, evidentemente,

    uma das primeiras funções musicais com a qual se deparam os alunos. Dessa forma,

    as atividades musicais além da busca pela melhora da percepção artística, ou

    performance em si, almejam, antes de mais nada, proporcionar a convivência desses

    jovens e adolescentes, ou seja, integrá-los.

    As práticas musicais em suas variadas formas: banda de música, práticas de

    violão, canto coral, entre outras buscam indubitavelmente enfatizar a função da

    integração social. No entanto, é preciso atentar para alguns pormenores que existem

    nesse processo e, nesse sentido, abrir espaços para indagações a cerca da eficácia

    desta ferramenta.

    Maciel (2014), refletindo sobre aspectos vantajosos e desvantajosos do ensino

    coletivo de instrumento, afirma que uma das vantagens é a interação entre os alunos,

    mas que a heterogeneidade dos grupos que decorre das “diferenças de

    desenvolvimento de cada aluno” determina um “ensino individualizado” (CRUVINEL,

    2005 apud MACIEL, 2014, p. 98). Também sob a análise dessas possíveis

    desvantagens o autor aponta:

  • 21

    Não se pode negar a importância de projetos dessa natureza, dentro da atual configuração social, como instrumentos para redução das desigualdades, como espaços que possibilitem a inserção social através da construção da cidadania, da emancipação e dignificação do ser humano. Mas é importante destacar que, em determinadas circunstâncias, tais ações podem reforçar o processo de exclusão, ao invés de minimizá-lo (MACIEL, 2014 p. 106).

    É fundamental, portanto, refletir sobre esse entendimento de Maciel (2011), no

    qual em certas circunstâncias os projetos sociais são ao mesmo tempo instrumentos de

    integração e exclusão social. Já que a música é percebida como peça fundamental

    para a congregação da sociedade, por seu caráter de integração e coletivo. Maciel

    (2011) afirma que:

    A presença da música como elemento de integração e formação nos diferentes projetos sociais parte do pressuposto que ela constitui-se fator que favorece a transformação dos grupos e indivíduos participantes. Busca assim causar impactos na sociedade através da interação social, da construção e exercício da cidadania, da promoção da dignidade humana, entre outros fatores (MACIEL, 2011 p. 12).

    Por tudo isto, busca-se então, neste trabalho, através dos pressupostos teóricos

    até aqui abordados, verificar como se desenvolve este processo de plena formação dos

    indivíduos na Banda Ondas Musicais. Os jovens apresentam alterações

    comportamentais significativas? Ao ingressarem na banda de música se sentem mais

    valorizados? O que os motiva a participarem do projeto? A Participação no projeto é

    vista como um mecanismo de mudança de formação e vida?

    Questões como essas decorrem não apenas do fator integração, mas sim, do

    contexto geral da proposta pedagógica, e, como será esclarecido, o Pró-Música

    vislumbra oferecer um suporte para uma possível profissionalização musical destes

    jovens e adolescentes.

    2.3 Metodologia adotada na pesquisa

    A presente pesquisa, sob a base de seu objetivo geral, trata-se de uma pesquisa

    exploratória e que assume como metodologia a forma de estudo de caso. Empregando-

    se como instrumentos de coleta de dados as observações de campo, questionários e

    entrevista semiestruturada baseada em roteiro definido segundo os objetivos.

  • 22

    Por seu caráter eminentemente qualitativo, faz-se importante salientar que em

    uma pesquisa com essa característica “o objetivo é construir uma memória experiencial

    mais clara e também ajudar as pessoas a obterem um sentido mais sofisticado das

    coisas” (BRESLER, 2007 apud BEZERRA, 2011 p. 13).

    Maciel (2011, p. 15) afirma que “a análise qualitativa permite a exploração de

    novas direções, aprofundando as questões em educação musical em sua variedade de

    contextos culturais, institucionais e pessoais”. Para (GIL, 2002), a pesquisa

    exploratória:

    tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições (GIL, 2002, p.41)

    Em relação ao estudo de caso, o autor afirma ser esta:

    [...] uma modalidade de pesquisa amplamente utilizada nas ciências biomédicas e sociais. Consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos [...] (GIL, 2002, p. 54).

    Pelo fato deste método de pesquisa apresentar grande tendência qualitativa,

    garante-se aos entrevistados certa liberdade para as respostas acerca dos temas ou

    dos objetos propostos.

    No que concerne a coleta dos dados, Segundo Gil (2002):

    o estudo de caso é o mais completo de todos os delineamentos, pois vale-se tanto de dados de gente quanto de dados de papel. Com efeito, nos estudos de caso os dados podem ser obtidos mediante análise de documentos, entrevistas, depoimentos pessoais, observação espontânea, observação participante e análise de artefatos físicos. (Ibid., 2002 p. 141)

    Gil (2002, p. 140) sustenta que o processo de obtenção de dados no estudo de

    caso é sempre mais complexo que o de outras modalidades visto que se exige dele a

    utilização de mais de uma técnica, princípio este que não pode ser dispensado.

    Assim sendo, para obtenção dos dados, esta pesquisa utilizou-se de entrevistas

    semiestruturadas, de questionário e das observações dos ensaios da banda e das

  • 23

    aulas aplicadas aos alunos de trombone do projeto. O período em que se deu a coleta

    foi de setembro a outubro de 2017.

    As entrevistas semiestruturadas foram realizadas, no dia 11 de setembro de

    2017, seguindo um roteiro, (APÊNDICE A) com 10 perguntas abertas. É importante

    ressaltar que esse roteiro não restringiu as respostas dos alunos, inclusive havendo

    possibilidade de acréscimo e subtração de perguntas durante a entrevista. Segundo

    (VERGARA, 2009 apud BEZERRA, 2011 p. 14) “pode-se dizer que entrevista é uma

    interação verbal, uma conversa, um diálogo uma troca de significados, um recurso para

    se produzir conhecimento sobre algo”.

    Nessa perspectiva, as questões levantadas nas entrevistas buscavam a

    compreensão dos sentimentos dos alunos sobre o projeto em si, visto que nem sempre

    o preenchimento de um questionário apenas com questões fechadas oferece uma

    transmissão clara daquilo que cada aluno vem experimentando em suas práticas. Fato

    observado quando da aplicação do questionário com todos os presentes, em que

    alguns alunos respondiam as perguntas com o sim e o não ao mesmo tempo.

    Foram escolhidos 05 alunos, já atuantes na banda de música, tomando como

    critério de escolha a indicação, pelo coordenador, de alunos veteranos e calouros do

    projeto, com intuito de que pudéssemos realizar um paralelo entre as visões dos alunos

    antigos e dos novos em relação ao projeto, sobretudo no que se refere a seus

    comportamentos, opiniões e críticas de modo geral. Proporcionando um

    aprofundamento e possível elucidação de grande parte das questões levantadas nesta

    pesquisa.

    As entrevistas com as crianças foram realizadas no dia 11/09/2017 e em formato

    de áudio, e por se tratar de menores de idade optou-se por identificá-los a partir do

    instrumento que tocavam, nesse caso, foram entrevistados os alunos: TROMPA,

    FLAUTIM, CLARINETA, VIOLINO E TROMBONE. Além disso, foi solicitada aos pais

    dos entrevistados a devida autorização (APÊNDICE C) para a coleta dos dados. Já a

    entrevista com o coordenador do projeto, o Suboficial ROMERO, foi realizada de forma

    menos formal, no dia 18/10/2017, com ausência de roteiro e deixando-o mais à vontade

    para tratar dos principais aspectos do projeto, sendo que ao longo de sua fala eram

    realizadas perguntas mais pontuais, como em relação a compra do instrumental, dias

  • 24

    de ensaios, pedagogia adotada nas aulas, por exemplo. Como houve autorização

    verbal para a identificação com seu nome real, no caso do Suboficial ROMERO, a

    pesquisa não se utilizou de nome fictício.

    O questionário (APÊNDICE B), que “é um conjunto de questões que são

    respondidas por escrito pelo pesquisado” (GIL, 2002, p. 114), foi aplicado como uma

    das técnicas de interrogação. Todos os integrantes da banda de música presentes ao

    ensaio do dia 11 de outubro de 2017 (15 do total de 45 integrantes do projeto)

    responderam a 11 perguntas elaboradas com o intuito de avaliar e compreender como

    de fato o ensino musical do projeto tem contribuído para as transformações

    socioculturais dos alunos envolvidos.

    Por fim, as observações, as quais se realizaram no período de 11/09/2017 a

    08/11/2017 sendo um total de 7 (sete) observações participantes que serviram de base

    para a análise das características físicas do projeto como o salão de ensaio, materiais

    disponíveis para estudos individuais, a reação de cada um dos jovens diante do

    repertório trabalhado e também o comportamento dos alunos durante os ensaios da

    banda de música, onde se realizaram as práticas pedagógicos com os alunos de

    trombone.

  • 25

    3. AS AÇÕES SUBSIDIÁRIAS E OS PROGRAMAS SOCIAIS DO MINISTÉRIO DA DEFESA

    Conforme o art. 142 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

    as Forças Armadas (FA) destinam-se “à defesa da pátria, a garantia dos poderes

    constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem” (BRASIL, 1988).

    No entanto, há previsão, também neste mesmo artigo, de que por meio de Lei

    Complementar2 (LC) sejam estabelecidas outras formas de atuação e emprego destas

    instituições, assim sendo, constata-se neste dispositivo a base Constitucional das

    chamadas Ações Subsidiárias. (LOURENÇO, 2012), em estudo realizado em diversas

    universidades brasileiras, constatou que apesar do grande nível e facilidade de acesso

    a informação que a vida contemporânea nos proporciona, muitas dúvidas pairam entre

    os jovens universitários brasileiros no que se refere ao conhecimento destes em

    relação às atividades principais das FA atualmente. Entre outras constatações,

    considerou-se que o fato destas instituições serem empregadas de forma constante em

    ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) faz com que, para muitas pessoas, a

    prática da atividade de segurança pública seja também uma atribuição principal a cargo

    das FA, no entanto, essa não é uma realidade. Segundo (LOURENÇO, 2012):

    Estima-se que estes mesmos cidadãos, ao preverem o seu bem-estar pessoal, naturalmente esquecem-se do real papel constitucional que devem desempenhar as Força Armadas do Brasil, como previsto na Constituição Federal de 1988. Aliando os bons resultados obtidos à sensação de segurança advinda destes, a sociedade brasileira pode ser influenciada a pensar que o emprego em GLO, ou combate ao crime organizado, seja a principal tarefa das Forças Armadas na atualidade. (Ibid., 2012 p. 10)

    Também nesta pesquisa o autor cita um trabalho realizado pelo Instituto de

    Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que dentre outras conclusões, aponta que para

    grande parte da sociedade brasileira, as FA, em que pese não ser essa uma atividade

    atribuída pela constituição (CF), deva também atuar no papel de combate a

    criminalidade (LOURENÇO, 2012 p. 34). Nesse sentido, é possível inferir que, para a

    sociedade brasileira, a missão das FA prevista na nossa Lei Maior não deveria ser

    2 Segundo o art. 69 da CF, Lei Complementar é a lei que necessita da aprovação da maioria absoluta da Casa Legislativa na qual está sendo realizada a votação. (BRASIL,

    1988)

  • 26

    apenas aquela estabelecida de maneira explícita no art. 142 da CF. Todavia, realmente

    não é, uma vez que a LC 97/993, que trata das Atribuições Subsidiárias Gerais, em seu

    art. 16 prevê que as FA devem “cooperar com o desenvolvimento nacional e defesa

    civil”, e ainda, incluído pela LC 117/2004, seu parágrafo único estabelece a

    “participação em campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse social”

    (Ibid., 2012 p. 23).

    Assim sendo, observa-se que é também papel dessas instituições contribuir com

    o desenvolvimento nacional e a defesa civil, atuando de maneira direta a diversos

    segmentos da sociedade, apoiando eventos comunitários, ações cívico-sociais

    (ACISOS), socorro a desastres naturais e campanhas de saúde pública em lugares

    remotos do país, como o exemplo da Figura 1. Todas essas ações estão dentro das

    chamadas Ações Subsidiárias 4 das FA.

    FIGURA 1. Navio Hospital da Força Aérea Brasileira.

    Fonte: Ministério da Defesa

    3 Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas.

    4 Disponível em: acesso em 03/09/2017

    http://www.defesa.gov.br/programas-sociais/acoes-subsidiarias

  • 27

    É no contexto dessas ações que surgem os Programas Sociais apoiados pelo

    Ministério da Defesa (MD), os quais buscam, dentre outras finalidades, o estreitamento

    e a harmonia das relações existentes entre a Defesa Nacional e a Sociedade.

    Entre os principais programas sociais desenvolvidos pelo MD, encontra-se o

    Programa Força no Esporte (PROFESP)5, uma vertente do Programa Segundo Tempo6

    do Governo Federal e que tem o apoio de outros Ministérios, como o do Esporte, o de

    Desenvolvimento Social e o Agrário. Tendo como uma de suas finalidades a

    democratização do acesso à prática e à cultura do esporte e a busca pelo

    desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. São mais de 90 cidades em todo

    país em que o programa se desenvolve, tendo as crianças assistidas, de acordo com o

    divulgado no site do MD, faixa etária entre 6 a 18 anos.

    Como apontado por Freitas e Weiland (2014), as instituições públicas são

    consideradas uma das diferentes formas de “agências de financiamento de projetos

    sociais” e é desta relação que surgem programas sociais como este, e outros ofertados

    nas diferentes esferas de Governo (Federal, Estadual e Municipal) em as quais a

    música é, ou pode ser, utilizada como meio de socialização, profissionalização e

    integração dos indivíduos. Desta maneira, conforme aqui tratado, os programas sociais

    oriundos do Ministério da Defesa são, então, objetos desta relação, onde órgãos

    públicos são agentes propiciadores de práticas sociais voltadas às variadas demandas

    da sociedade.

    3.1 As Bandas Militares

    Desde o Brasil colônia até o início do sec. XVII quando do desembarque de

    família real portuguesa na cidade do Rio de Janeiro - RJ, em 1808, verifica-se que as

    bandas de música, ao longo de sua história, exerceram importantes papeis junto a

    sociedade. Segundo Campos (2008):

    5 Disponível em: acesso em: 03/09/2017

    6 “O Segundo Tempo como Programa Estratégico do Governo Federal tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do Esporte de forma a promover o

    desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em áreas de

    vulnerabilidade social”. Disponível em: Acesso em 03/09/2017.

    http://www.defesa.gov.br/programas-sociais/programa-forcas-no-esportehttp://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempohttp://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo

  • 28

    […] com as bandas organizadas pelas irmandades religiosas e pelos senhores de engenho […] os músicos tocavam em troca do aprendizado de leitura e escrita, e especificamente em busca do aprendizado musical (CAMPOS, 2008 p. 105).

    Posteriormente vem a se tornar fonte de renda e também instrumento de

    socialização de muitas cidades. De acordo com Almeida (2011) “As Bandas de música

    são manifestações musicais que representam a camada mais popular da sociedade”

    (ALMEIDA, 2011 p. 12) e nessa análise nada melhor do que a promoção de algo que é

    tão representativo para a população, quanto é o trabalho realizado pelas bandas de

    música das instituições militares.

    Dessa característica pode-se depreender um dos motivos para a criação das

    bandas militares, uma vez que, por meio do papel integrador da música, as instituições

    militares buscam uma genuína aproximação com a sociedade da qual pertencem. Além

    disso, as bandas militares serviram de modelo para as demais bandas que surgiram ao

    longo do tempo, “a Banda da Brigada Real que, embora arcaica, serviria de modelo

    para as bandas que seriam formadas no novo império” (Ibid., 2011 p. 13).

    Assim como a atuação das FA junto aos diversos segmentos da sociedade,

    apoiando os eventos comunitários, ações cívico-sociais, campanhas de saúde pública

    e socorro aos brasileiros residentes em lugares atingidos por desastres naturais, essas

    instituições, por meio de suas bandas de música, prestam-lhes um importantíssimo e

    valoroso papel que se materializa em concertos e representações em ações cívico-

    sociais. Além disso, as bandas desempenham um grandioso papel interno, que é o de

    elevar o moral da tropa através dos hinos pátrios, dobrados e canções populares. Para

    Lima (1958 apud PASSOS, 2017 p. 2) "as bandas de música são excelentes fatores de

    cultura artística e concorrem poderosamente para o desenvolvimento do bom gosto do

    povo". Passos (2017) afirma:

    É sabido que a atuação da banda de música influencia, espontaneamente, todo o efetivo de uma unidade militar e, quando levada para além dos muros da caserna, causa admiração, provocando aplausos. Isto gera, nos bons patriotas, intenso desejo de ingresso na vida castrense. Quem de nós poderá afirmar que nunca se emocionou ao ver e ouvir uma banda de música executar hinos pátrios ou desfilar garbosa, despertando uma irresistível vontade de marchar ou cantar? É pura magia em forma de convite para avançar, como Napoleão Bonaparte afirmou: "Ponha uma banda de música na praça e o povo a seguirá para a festa ou para a guerra". (PASSOS, 2017 p.1)

  • 29

    De maneira genérica, banda é um conjunto musical formado por instrumentos de

    sopro e percussão (BINDER, 2006, p. 8). As bandas de música foram, a partir do Séc.

    XIX, uma das instituições que mais contribuíram para a formação dos músicos das

    orquestras, além de terem sido uma das mais presentes e populares daquele período

    (SALLES, 1985 apud BINDER, 2006, p. 08).

    Binder (2006) afirma que são predominantes na historiografia musical brasileira

    os termos banda civil e banda militar, tendo este se popularizado no séc. XIX em

    referência a bandas que “tinham funções militares específicas e eram mantidas por

    instituições ou oficiais militares ou um conjunto com certa formação instrumental sem

    vínculos ou tarefas militares” (POLK, 2001 apud BINDER, 2006 p. 14-15).

    Observa-se que existia ambiguidade de conceito, uma vez que grupos sem

    caráter militar, por vezes também assim eram designados, o que veio a ser criticado e,

    posteriormente, ensejou a recomendação de que se usasse o termo bandas de sopros

    mistas para se referir a estes conjuntos sem “tarefas militares” e banda militar para

    aqueles especificamente mantidos por instituições militares (POLK, 2001 apud

    BINDER, 2006 p. 15).

    O autor ainda aponta algumas funções da música dentro das forças armadas,

    que seriam: “desenvolver o espírito de corpo e o moral da tropa, prover com música as

    cerimônias militares e prover com atividades sociais e recreativas” (CAMUS, 1976 apud

    BINDER, 2006 p. 15). Sendo um importante elemento na representação da monarquia,

    é provável que a banda militar tenha se favorecido dessa exposição decorrente das

    várias formas de atuação junto à família real e ao estado.

    As bandas militares inicialmente atuam como fator simbólico e instrumento

    divulgador da instituição à qual está vinculada, contudo, cada vez mais, tem assumido

    o papel de resguardo profissional e estabilidade para grande parte dos músicos

    oriundos das bandas existentes no país. (PASSOS, 2017 p. 1) aponta que no passado

    comumente os integrantes das bandas de música militares eram autodidatas no

    tocante a sua formação musical. Porém, hoje já existem cursos de formação de

    músicos militares, tanto no âmbito das FA (Marinha do Brasil, Exército Brasileiro e

    Força Aérea Brasileira), quanto nas forças auxiliares (Polícias e Bombeiros militares),

    se não em todos, mas em grande parte dos estados brasileiros.

  • 30

    Desta forma, Para Almeida (2011), as bandas, além de sua função de

    divulgação da cultura musical, “assumiram a função e a responsabilidade educativo-

    musical junto a uma grande parte dos jovens que dificilmente teriam acesso a escolas

    formais de música” (ALMEIDA, 2011. p. 12).

  • 31

    4. O PROJETO DE MUSICALIZAÇÃO PRÓ MÚSICA - ONDAS MUSICAIS - IDEALIZAÇÃO

    Em 2015, por iniciativa das Voluntárias Cisne Branco de Natal-RN, e tendo o

    Suboficial (FN-MU) José Romero Gomes Rodrigues, músico da Banda do Grupamento

    de Fuzileiros Navais de Natal, como coordenador, foi criado o Pró-Música Ondas

    Musicais, o qual se destinou ao ensino da música e de oportunizar aos jovens e

    adolescentes que fossem dependentes de servidores militares e civis da Marinha em

    Natal-RN, o aprendizado de um instrumento musical e de participar de um grupo

    demasiadamente rico em relações sociais como uma banda de música. Nas palavras

    de seu coordenador, o Pró-Música destina-se a

    [...] dar a oportunidade aos jovens e adolescentes para aprenderem música; ampliar o conhecimento musical e cultural dos participantes, por intermédio de aulas teóricas e práticas; integrar socioculturalmente [...]; e desenvolver competências cognitivas e também despertando o interesse pela profissionalização musical (RODRIGUES, 18/10/2017).

    Assim como os programas sociais mencionados (o PROFESP, por exemplo), O

    Pró-Música vislumbra a formação plena dos jovens e adolescentes por meio da música.

    No entanto, mesmo com o caráter social de suas práticas educativo musicais, o projeto

    possui características que o diferencia de alguns modelos de projetos sociais, a

    exemplo daqueles abordados por Kleber (2006). Diferencia-se dos demais,

    principalmente, pelo fato de seus alunos não estarem em situação de risco social.

    Nessa análise, segundo a perspectiva de (NASCIMENTO, 2014):

    Os projetos sociais destinam-se às pessoas – sobretudo às crianças e jovens – que vivem em situação de risco social, ou seja, em situação de extrema vulnerabilidade social, caracterizada por diversas circunstâncias, tais como extrema pobreza, reduzido acesso aos benefícios sociais disponibilizados pelo Estado, vivência em situação de rua. (NASCIMENTO, 2014 p. 53)

    É certo que as crianças do Pró-Música não são jovens em situação de risco

    social, todavia, a preocupação dos pais em lhes oferecer uma oportunidade de

    socialização e de plena formação fez com que o projeto fosse colocado em prática.

    Preocupavam-se com que os jovens e adolescentes não apenas recebessem aulas de

    um instrumento especificamente (como o violão), pois essa, antes de mais nada, era

  • 32

    uma das propostas iniciais da associação quando da viabilização do projeto, mas que

    dispusessem de um mecanismo completo de formação. Em entrevista com o

    coordenador, ele esclarece:

    Quando soube que as voluntárias desejavam criar um projeto que ofertasse aulas específicas de instrumento, que no caso seria de violão, sax alto, etc logo, resolvi procurar a associação e sugeri que ao invés dessa proposta, pensassem na criação de um projeto que ofertasse muito mais e propus que fosse criada uma banda de música [...] (RODRIGUES, 18/10/2017).

    Houve o interesse em que o projeto se tornasse um arcabouço para a

    profissionalização musical destes jovens, tanto no âmbito musical civil, quanto militar,

    ingressando nas diversas bandas militares espalhadas Brasil a fora. Atualmente, em

    diversos estados da federação é possível encontrar corporações militares nas quais as

    bandas estão presentes, tanto no âmbito das Forças Armadas, quanto nas Forças

    Auxiliares (Polícias Militares, Corpos de Bombeiros e também em algumas Guardas

    Municipais). Dessa maneira, integrar sócio-culturalmente estes jovens e adolescentes,

    assim como desenvolver suas competências cognitivas e dar-lhes meios necessários

    ao interesse pela profissionalização musical são vistos como objetivos primeiros do

    projeto.

    Das características ora apontadas, é possível concluir que apesar de predominar

    a pedagogia tradicional, pois o projeto “Atua no preparo intelectual e moral dos alunos

    para assumir suas posições dentro da sociedade [...]” (LIBÂNEO, 1994 apud

    CISLAGHI, 2011 p. 65), existe obviamente na proposta do Pró-Música Ondas Musicais

    traços da pedagogia tecnicista, uma vez que ele também “Busca a aquisição de

    habilidades e conhecimentos específicos, úteis e necessários de forma que os

    indivíduos se integrem ao sistema global [...]” (LIBÂNEO, 1994 apud CISLAGHI, 2011

    p. 66).

    O Departamento Voluntárias Cisne Branco (VCB) é um segmento do Abrigo do

    Marinheiro7, organização civil sem fins lucrativos, que tem o propósito de contribuir

    7 O Abrigo do Marinheiro é uma associação civil, sem fins lucrativos que se destina a promover qualidade de vida à Família Naval. Com sede na cidade do Rio

    de Janeiro. As demais unidades estão em Distritos Navais e Comandos fora da área Rio, e são constituídas por Departamentos Regionais do AMN (DRAMN).

    Fonte < http://www.abrigo.org.br/> acesso em: 07/10/2017

    http://www.abrigo.org.br/

  • 33

    para o bem-estar dos militares e servidores civis da Marinha, por meio de atividades

    sociais complementares àquelas já realizadas pela MB. Tendo sido implantado no dia

    20 de dezembro de 2008, a partir da iniciativa das esposas dos oficiais da Marinha, o

    Departamento Voluntárias Cisne Branco (VCB) conta com o apoio de patrocinadores,

    parceiros e voluntários para promover projetos e ações sociais de apoio à Família

    Naval. Segundo o supervisor, o Pró-Música “atualmente beneficia 45 crianças e

    adolescentes, sendo 35 já atuantes na banda de música e os demais estão nas aulas

    iniciais de teoria musical” (RODRIGUES, 18/10/2017).

    4.1 Banda Ondas Musicais

    Os alunos participantes do projeto são crianças e adolescentes, sendo que o

    critério para a participação na banda, ou fazer as aulas de teoria musical, é ter a idade

    mínima de 7 e máxima de 24 anos e, obrigatoriamente, ser dependente de servidor

    militar ou civil da Marinha. No tocante a estes requisitos, vale salientar que existe uma

    expectativa de ampliação do acesso ao projeto, mesmo que remota, mas apenas por

    parte dos próprios alunos, visto que alguns conhecem outros adolescentes

    interessados em participar da banda de música, mas que não possuem o vínculo com a

    instituição, impossibilitando assim o acesso. Porém, para o coordenador do projeto,

    essa possibilidade ainda não tem previsão de implementação, mesmo ele afirmando

    receber inopinadamente algumas mães de adolescentes da região do bairro das

    quintas interessadas em saber sobre o funcionamento e ingresso no projeto.

    Com o apoio da Banda de Música do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal,

    a Banda Ondas Musicais tem realizado apresentações tanto para o público interno da

    Marinha, quanto para públicos externos. A apresentação realizada na abertura da

    “Semana de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte”, na cidade

    de Santa Cruz, Rio Grande do Norte, é uma das várias atividades realizadas pelo

    projeto.

  • 34

    FIGURA 2. Banda Ondas Musicais em apresentação realizada em Santa Cruz - RN.

    Fonte: Com 3º DN.

    Todo o instrumental de sopros e percussão da Banda Ondas musicais foi

    adquirido com recursos da iniciativa privada, através de doações. Segundo o

    coordenador:

    Os instrumentos foram comprados através de doações da iniciativa privada, quando a diretora das voluntárias cisne branco, por ocasião da sua idealização conseguiu viabilizar a aquisição de vários instrumentos de sopro e percussão e assim conseguimos dar início às aulas (RODRIGUES, 18/10/2017).

    Recentemente, o projeto adquiriu mais instrumentos, viabilizando assim a

    proposta de que se transformasse a banda numa orquestra filarmônica. Foram

    comprados violinos, violas, violoncelos e contrabaixos, com o intuito de que se

    concretizasse aquele objetivo. Como já mencionado, o projeto é mantido por uma

    associação sem fins lucrativos, porém apoiada por uma instituição de Estado,

    entretanto, em relação aos instrumentos musicais obtidos para a Banda, é preciso

    ressaltar que foram todos adquiridos por meio de doações privadas.

  • 35

    FIGURA 3: Orquestra Ondas musicais em apresentação em escola privada.

    Fonte: Voluntárias Cisne Branco

    Já a Marinha, além de pessoal e instalações, apoia com a manutenção dos

    instrumentos musicais através da oficina de reparos de instrumentos musicais e

    também com professores especializados em instrumentos, músicos da Banda de

    Música do GtpFNNa.

  • 36

    FIGURA 4: A orquestra Filarmônica Ondas Musicais em sua primeira apresentação pública com instrumentos de cordas.

    Fonte: Com 3º DN

    Importante dar destaque ao fato de haver certa instabilidade no quantitativo dos

    componentes da Banda, sendo um dos principais motivos para esse fato as

    movimentações ou transferências relativas ao interesse do serviço às quais os pais dos

    alunos estão sujeitos, demandando do coordenador maior desenvoltura para lidar com

    as mudanças que ocorrem no grupo. Mesmo assim, há entre os que ficam um grande

    nível de valorização da oportunidade que possuem, para o coordenador “o

    envolvimento dos jovens nas atividades da banda é muito bom” (RODRIGUES,

    18/10/2017).

    4.2 Ensaios e aulas individuais

    Os ensaios são realizados, geralmente, duas ou três vezes por semana na sede

    da associação dos Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais, seccional Natal-RN,

  • 37

    entidade também vinculada à Marinha e que apoia o projeto cedendo o espaço para a

    realização dos ensaios e apresentações. Além disso, o projeto dispõe de uma sala de

    aula que se destina às aulas de teoria musical e também para estudos individuais dos

    alunos.

    FIGURA 5: Sede da Associação de Veteranos do CFN, localizado no bairro das Quintas.

    Fonte: O autor

  • 38

    FIGURA 6: Salão onde são realizados os ensaios e aulas individuais.

    Fonte: O autor

    Ao menos uma vez por semana os alunos novatos recebem aulas individuais de

    instrumento com o supervisor ou com um professor músico da Banda do GptFNNa, a

    depender de seu instrumento. Também recebem essas aulas os alunos mais antigos,

    pois em alguns momentos de mudanças de repertório podem existir dúvidas que

    apenas podem ser sanadas eficazmente com a percepção de um músico mais

    experiente no instrumento.

  • 39

    FIGURA 7: Banda Ondas Musicais em ensaio realizado no dia 18/10/2017.

    Fonte: O autor

    Durante as observações realizadas nos ensaios percebe-se o grande nível de

    disciplina dos alunos, logicamente, em alguns momentos, um ou outro se dispersa,

    mas nada que fuja do controle do maestro. É possível que este fato se deva a

    consciência dos jovens de que participam de um projeto social, que não é

    necessariamente militar, mas que possui, mesmo que implicitamente, a ideia da

    hierarquia e da disciplina, base institucional das FA. Como já esclarecido, vários

    professores do projeto, inclusive o próprio coordenador são músicos militares.

    Essa perspectiva é abordada por Cislaghi (2011) ao dizer que se encontram

    presentes nas bandas características militares, que se evidenciam nos aspectos da

    marcialidade, hierarquia entre os integrantes, vestimenta e outros (CISLAGHI, 2011 p.

    64).

    No que se refere às aulas iniciais de teoria musical o professor afirma que:

    Quando o aluno conclui aulas iniciais de teoria musical, e já consegue ler as partituras, é preciso que ele atinja um número pré-determinado de lições do método para que então receba um instrumento musical de seu interesse. Geralmente eles são quem escolhem qual

  • 40

    instrumento desejam tocar, aí vai depender da disponibilidade para que recebam ou não o que pediram (RODRIGUES, 18/10/2017).

    Observa-se aqui a característica tradicional no processo pedagógico adotado,

    pois são “enfatizados exercícios sistematizados, e repetidos conceitos e fórmulas na

    memorização” (LIBÂNEO, 1994 apud CISLAGHI, 2011 p. 65). No entanto, é

    compreensível esse procedimento, uma vez que ao se iniciar um projeto como este

    espera-se dele resultados rápidos e objetivos, como apresentações públicas, um

    número razoável de alunos já estudando os instrumentos. Diante disso, a proposta

    tradicional parece ser uma das melhores opções. Evidentemente, não se trata aqui de

    uma afirmação, mas apenas de uma proposição.

    Nesse sentido, quando da realização das entrevistas com os 05 alunos

    selecionados, todos indicaram que a maneira como as aulas eram ofertadas atendia

    eficazmente a suas demandas. Os alunos aprovam a proposta de ensino, pois nas

    entrevistas as respostas foram unânimes nesse sentido. A aluna Trompa (2017), por

    exemplo, que é uma das mais novas do projeto, afirma:

    Consigo compreender, [...] o que o professor ensina ajuda na hora de você tocar qualquer outra coisa. Por exemplo, nota branca eu sei que é uma coisa chata, mas que ajuda, porque [...] na hora o professor passa uma música e ele tem que ficar passando e fala que o problema é a nota branca que ajuda em tal coisa, aí quando você faz você percebe que é verdade, que você precisa mesmo (TROMPA, 11/09/2017).

    Já a aluna Flautim (2017) cita a diferença do ensino musical que existe entre as

    aulas do projeto e as aulas que recebe em sua escola regular, na qual também há

    aulas de música: “[...] na minha escola as vezes eu não consigo [aprender], entendeu,

    porque o professor ensina de forma diferente, já aqui não, aqui é de uma forma que eu

    compreendo” (FLAUTIM, 11/09/2017).

    4.3 Sobre o Professor

    O Suboficial (FN-MU) José Romero Gomes Rodrigues é trombonista e integrante

    da Banda de Música do Grupamento de Fuzileiros Navais de Natal. Em 2015, a convite

    da diretora da associação voluntárias Cisne Branco, seccional Natal-RN, aceitou o

  • 41

    desafio de levar em frente a proposta de dar aos jovens a chance de aprenderem

    música e participarem de uma banda de música.

    Dos diálogos realizados com o supervisor do projeto fica bastante nítida sua

    satisfação em estar compartilhando o seu conhecimento e, mais ainda, proporcionando

    a oportunidade destes jovens a almejarem para além da prática de instrumento, uma

    carreira profissional. Evidenciando a característica tradicional e ao mesmo tempo

    tecnicista da proposta pedagógica do projeto, apontados por Libâneo (1994).

    Quando perguntado sobre a visão geral que tem em relação ao projeto,

    Rodrigues (2017) afirma:

    Esta iniciativa foi muito boa, pois por meio da banda conseguimos evitar que nossos filhos fiquem ociosos e, com certeza, fazer com que eles possam estar aqui se socializando e, mais do que isso, aproveitando uma oportunidade que nem todos podem usufruir; é satisfatório pra mim. Eu vejo o projeto como qualquer outro projeto social, buscamos aqui fazer com que não vejam a atividade musical como simplesmente aprender um instrumento e ficar por isso mesmo, queremos que possam almejar a profissionalização, que pensem em talvez futuramente prestar o vestibular para a licenciatura em música, ou mesmo tentem o ingresso na carreira militar. Acredito que isso é importante e é isso que o projeto busca (RODRIGUES, 18/10/2017).

    Como o Pró-música apresenta detalhes que o diferencia de outros projetos

    sociais, buscou-se durante a entrevista com o coordenador entender se ele enxerga

    esta diferença ou não. Resta claro em sua resposta que não, e assim é possível

    entender que a perspectiva adotada tem sim o foco nos alunos, em seus

    desenvolvimentos, e não apenas na pura prática musical.

  • 42

    5. O PAPEL INTEGRADOR DE UMA BANDA DE MÚSICA

    Como tratado até aqui, os jovens alunos do Projeto de Musicalização Pró-Música

    Ondas Musicais não são oriundos de famílias carentes ou em situação de risco social.

    No entanto, a integração social também lhes é indispensável. Campos (2008) aponta

    para o seguinte:

    O fator da inclusão social é de suma importância se for considerada a falta de oportunidade que determinados alunos, especialmente de escolas públicas, possuem fora do ambiente escolar. Em sua maioria, os alunos vêm de uma família que não tem condições de comprar um instrumento ou de investir financeiramente em aulas de música. (CAMPOS, 2008 p. 107)

    A partir desta afirmação de Campos (2008), lembro que, em 2004, na cidade de

    São Miguel dos Campos – AL, quando do meu ingresso na banda Maestro Bráulio

    Pimentel, que pertencia a prefeitura daquela cidade, percebi o quão importante foi para

    meu desenvolvimento estar inserido em uma banda de música. Cursava, naquele

    momento, o 2º ano do ensino médio, no qual não havia aulas específicas de música e

    nem minha família dispunha de meios suficientes para que eu realizasse aulas

    particulares, muito menos que comprasse um instrumento musical próprio. E mesmo já

    atuando em uma banda de música na igreja evangélica Assembleia de Deus, eu não

    possuía naquele momento recursos, nem oportunidade de um estudo musical mais

    aprofundado. Mas, a recém-criada banda da escola de música da cidade, trouxe-me

    essa possibilidade.

    E assim, consegui iniciar os estudos musicais e fui percebendo logo como era

    diferente participar de uma instituição cujo objetivo era a promoção de algo tão valioso

    para a população daquela cidade, quanto é a manutenção da expressão cultural e dos

    valores sociais tradicionais inerentes à cada região,

    o ensino de música por meio de bandas têm contribuído positivamente para o processo de reconstrução da identidade sócio cultural em diversas comunidades, promovendo crescimento pessoal e integração entre os envolvidos (SEVERO, 2015 p. 15).

  • 43

    E também “as atividades desenvolvidas pelas bandas contribuem tanto para a

    aquisição de valores e incorporação de comportamentos quanto para a ampliação de

    experiências musicais” (CAMPOS, 2008 apud CISLAGHI 2011, p. 65).

    Pelo exposto, entendo que consegui ampliar e melhorar minhas experiências de

    uma maneira geral com as pessoas, e por vezes me sentindo diferenciado entre meus

    amigos, pelo simples fato de ser o único entre eles que tocava na banda de música da

    cidade.

    Os ambientes das bandas de música são, sem dúvidas, espaços onde o

    aprendizado musical ocorre em meio a diversas outras práticas sociais, nesse sentido

    “É importante considerar não apenas os aspectos ligados à prática musical, mas aos

    conhecimentos resultantes das relações de socialização [...]” (CAMPOS, 2008 p. 107).

    Ao conviver no ambiente de uma banda de música pude extrair ensinamentos

    valiosíssimos tanto para minha vida pessoal, quanto profissional. De maneira que

    considero ser esta, a experiência na banda de música, um divisor de águas em minha

    vida, pois foi a partir dela que, definitivamente, tracei o caminho, ao qual decidi seguir,

    que foi o da carreira musical profissional. A banda de música exerce uma função

    integradora e “possibilita uma melhora na qualidade de vida das crianças e jovens

    atendidos, além de possibilitar uma possível profissionalização” (CISLAGHI, 2009 apud

    SEVERO 2015 p. 16).

    Ao refletir sobre os diferentes aprendizados que a banda de música pode

    proporcionar, (CAMPOS, 2008, p. 107) esclarece que “Vínculos são formados a partir

    da relação que os participantes estabelecem uns com os outros e com a música –

    vínculos baseados na amizade, no reconhecimento, na disciplina e no prazer

    proporcionado pela prática musical”. Enfatizando assim, que não basta que se faça a

    música como fim em si mesma, mas que dela se busque atingir várias outras metas

    pessoais e sociais também.

    Percebe-se assim as bandas de música, em suas múltiplas perspectivas, mas

    principalmente, como sendo um instrumento fundamental de promoção da função

    integradora que possui a música. E nesse sentido, (SEVERO, 2015) aponta que,

    o papel social das bandas de música torna-se bastante perceptível, visto que por meio delas, busca-se perpetuar os valores tradicionais de uma determinada

  • 44

    região, preocupando-se com a manutenção de uma tradição, baseada na construção pessoal e coletiva de seus membros. Faz-se desse modo, um movimento transformador da realidade de muitos jovens, que poderiam estar às margens da criminalidade ou mesmo sem perspectiva de atuação profissional. (SEVERO, 2015 p. 16)

    Ao buscar essa participação na banda Bráulio Pimentel, buscava me inserir em

    um grupo que pudesse me proporcionar este sentimento de pertencimento social, ou

    seja, de exercício efetivo de meu papel como cidadão. O que converge ao pensamento

    assinalado em Bezerra (2011), quando o mesmo remete a perspectiva apontada por

    Bréscia (2003):

    Além de favorecer momentos de intimidade, interação, integração, cantar ou tocar algum instrumento em grupo promove um vínculo especial entre as pessoas envolvidas e uma sensação de pertencer que é primordial para o bem-estar do ser humano (BRÉSCIA, 2003, apud BEZERRA 2011 p. 19).

    E nesta análise destaco o que diz Maciel (2011):

    A presença da música como elemento de integração e formação nos diferentes projetos sociais parte do pressuposto que ela constitui-se fator que favorece a transformação dos grupos e indivíduos participantes. Busca assim causar impactos na sociedade através da interação social, da construção e exercício da cidadania, da promoção da dignidade humana, entre outros fatores (MACIEL, 2011 p. 12)

    A vivência que tive numa banda de música favoreceu sem dúvidas não apenas a

    minha construção como cidadão, como também minha tomada de decisão quanto a

    uma formação profissional, até aquele momento da vida, ainda adolescente, pois não

    vislumbrava nenhum tipo de carreira. Porém ao se aproximar dos 18 anos comecei a

    perceber que ainda não me sentia seguro, nem focado numa possível profissão. E o

    que é pior, as condições financeiras de minha família me impulsionavam a ter que

    trabalhar o quanto antes.

    Neste pensamento, Severo (2015) esclarece que:

    Através desta transformação por meio da tradição, em um contexto sociocultural diferenciado, as bandas de música, percebe-se que há como objetivo, não só a formação musical, mas também a formação pessoal de seus jovens músicos, possibilitando assim, a construção de projetos de vida através do fazer musical (SEVERO, 2015, p.16)

  • 45

    Os dilemas aqui citados são bastante comuns, é claro, não apenas no âmbito de

    projetos sociais ou bandas de música. Mas, assim como minha experiência na Banda

    Maestro Bráulio Pimentel, os alunos do Pró-Música podem em determinado momento

    se defrontarem com este tipo de situação. Pois é justamente isto que a prática

    pedagógico-musical através da banda de música busca evitar, oferecendo de antemão

    a estes adolescentes uma possibilidade profissional.

    A partir destas perspectivas, ao se realizar a análise das entrevistas com uma

    porcentagem do grupo pesquisado, infere-se que existe entre alunos um interesse pela

    continuidade dos estudos musicais, o que evidencia a eficiência do projeto. Os alunos

    não buscam a prática musical tão somente, mas enxergam nela uma excelente

    oportunidade de profissão.

    Por exemplo, a aluna Clarineta, em resposta a pergunta sobre os motivos que a

    levaram ingressar no projeto e estudar música, afirmou o seguinte:

    [...] eu sempre fui apaixonada pela música, [...], e também meu instrumento, porque eu já conhecia este instrumento antes, aí eu fui ver uma apresentação da banda né, por que eu não era do projeto ainda, então eu vi este instrumento, daí falei, eu quero tocar esse instrumento (CLARINETA, 11/09/2017).

    A aluna Clarineta (2017) ao tratar sobre sua participação no projeto aponta para

    a visão de que “continuaria pra sempre [no projeto] tanto é que eu quero me formar em

    música”. (CLARINETA, 11/09/2017).

    Interessante notar que este é um dos objetivos do projeto, e que vem sendo bem

    assimilado pelos alunos de forma satisfatória. A partir do questionário aplicado a todos

    os componentes da banda, constata-se que apenas 20% do total de alunos presentes

    que responderam ao questionário afirmaram que não tinham a carreira profissional na

    música como uma opção para suas vidas. Ou seja, para a grande maioria (80% dos

    presentes) seguir a carreira é uma opção, o que aponta a efetividade das propostas

    estabelecidas pelo Pró-Música, neste caso, no que concerne a possível

    profissionalização na área musical.

    5.1 O nível de autoestima apresentado pelos participantes

  • 46

    Ao assistirem a apresentações de outros grupos musicais os jovens afirmam que

    passaram a sentir o desejo de participar de algo semelhante e que a oportunidade

    oferecida pelo Projeto foi de grande importância nesse sentido. A aluna FLAUTIM, ao

    dizer da motivação para estudar música, afirma:

    Meu interesse mesmo de vir pra uma banda foi quando eu vi uma apresentação da orquestra do IFRN, eu fui à apresentação do colégio também aí eu achei muito lindo e fiquei muito interessada em participar da banda do projeto (FLAUTIM, 11/09/2017).

    No entanto não basta tão somente que o aluno queira participar, existe diversos

    fatores que influenciam no processo de construção da autoestima. Nessa visão

    Schultheisz e Aprile (2013) trazem uma análise interessante ao dizerem que:

    As condições sociais e culturais possibilitam e estabelecem limites para que o indivíduo se desenvolva e se "torne pessoa". Por meio de processos educativos, o indivíduo assimila valores, regras e princípios que começam a fazer parte de si e identificam o seu “eu” como um ser único e individual, que se diferencia dos outros. O processo de individuação e de constituição do "eu" requer anos de vivência e de experiência. Também sofre a influência das produções dos "outros", tais como, a música, a literatura, a pintura, o cinema, o

    teatro, entre outras. (SCHULTHEISZ e APRILE, 2013, p. 38)

    As apresentações da banda de música se revelam como excelente fator de

    melhora da autoestima dos alunos, isto se evidencia a partir da aplicação do

    questionário, onde todos os alunos responderam “sim” às questões de número 3 e 7,

    as quais indagavam se tanto eles quanto seus familiares (pais) gostavam de sua

    participação no projeto. A aluna VIOLINO, sobre participar do projeto, afirma que seus

    pais “apoiam, acham muito legal e meu irmão também, até de vez em quando quer

    tocar” (VIOLINO, 11/09/2017). Para Schultheisz e Aprile (2013, p. 37),

    Os relacionamentos familiares exercem papel fundamental na visão e/ou aceitação que o indivíduo tem de si [...]. Uma criança cuja mãe é superprotetora, que não lhe permite sair, brincar com amigos, vivenciar costumes diferentes, adquirir outros referenciais de relacionamento e, ainda, recebe críticas por tudo que realiza, é bem provável que não acreditará em seu potencial, não se sentirá segura para executar quaisquer atividades e certamente apresentará baixa autoestima (SCHULTHEISZ e APRILE, 2013, p. 37)

    Essa visão positiva dos alunos em relação a participação na banda de música

    reflete um sentimento de importância que eles sentem junto a seus familiares, ao

  • 47

    mesmo tempo que lhes garante um sentido de competência pessoal e de gostar

    daquilo que está fazendo.

    5.2 Sociabilidade

    Ao ser indagada sobre as possíveis dificuldades para se relacionar com outras

    pessoas antes do ingresso no projeto, a aluna CLARINETA esclarece:

    No projeto foram tantas pessoas ao mesmo tempo tive que me relacionar, que eu de alguma forma acabei aprendendo , antes eu não sabia como [...]. Eu fui falando com todos os colegas, conhecendo e ai eu peguei o jeito, digamos assim (CLARINETA, 11/09/2017).

    Isto indica que a aluna CLARINETA apresentava certo nível de dificuldade de

    relacionamento antes de seu ingresso no projeto. Possivelmente podendo estar

    relacionada com o fator idade. Já a aluna TROMPA afirma que achava difícil o

    relacionamento com crianças mais velhas:

    Com as crianças da minha idade era normal, mas com as crianças mais velhas era mais difícil, eles falavam algumas coisas que eu não entendia, o pessoal adolescente fala coisas que crianças não conseguem entender e isso dificultava. Antes eu achava mais difícil, mas agora depois de entrar na banda eu já estou mais acostumada (TROMPA, 11/09/2017).

    O aluno TROMBONE sobre sua forma de socializar antes da banda diz:

    Eu era muito vergonhoso e não gostava de fazer amizade com ninguém, só gostava de ficar na minha mesmo, sabe? Escutando a minha música e ficava lá sozinho e através das apresentações que aconteceram e eu perdi a vergonha de me relacionar com outras pessoas e fazer outras amizades (TROMBONE, 11/09/2017).

    Para alguns alunos a participação em um grupo como este pode ser o primeiro

    elemento de criação de laços afetivos fora do âmbito familiar, muito embora para a

    grande maioria o projeto não é a única prática da qual participam, muitos fazem

    natação, por exemplo. A questão de número 4 do questionário tratou sobre a relação

    existente entre os integrantes da banda e apenas 13% não considera bom o

    relacionamento existente.

    5.3 A aprendizagem musical

  • 48

    Como estabelecido nos objetivos do projeto, a profissionalização musical é um

    fator a ser levado em consideração e sobre isso a maneira como as aulas são

    ministradas fará grande diferença para o crescimento musical dos alunos. Nas

    entrevistas todos os 5 alunos indicam que a pedagogia aplicada nas aulas é bastante

    eficiente. Todos consideram boa a forma como os professores ministram as aulas,

    apontando, entretanto, algumas dificuldades relacionadas a questões individuais.

    Exemplo disso está na resposta da aluna CLARINETA, que analisa as aulas afirmando:

    “no geral, as aulas como são passadas são boas, o negócio é prestar atenção, a forma

    como são passadas são ótimas, eu particularmente tenho mais dificuldade quando

    estudo o compasso 6/8 por que é uma coisa muito difícil”. (CLARINETA, 11/09/2017).

    Ao perguntar sobre o nível de aprendizado diante das aulas assistidas, a aluna

    FLAUTIM diz que “a maneira como são aplicadas as aulas é boa, eu consigo aprender,

    apesar de que eu tenho mais dificuldade com a teoria, eu prefiro a prática, eu tenho

    mais facilidade com a prática” (FLAUTIM, 11/09/2017).

    Em relação ao repertório trabalhado, baseando-se no questionário aplicado, foi

    possível observar que nem todos os jovens se identificam com as músicas tocadas, o

    que é normal até certo ponto, mas isso não significa que o repertório seja inadequado.

    As questões de número 5 e 6 trataram da perspectiva acerca do repertório, e as

    respostas apontam que 20% dos alunos “não gostam” das músicas tocadas. Nesse

    ponto se evidencia certa ausência das vivências dos jovens, seus gostos musicais,

    canções que sejam características de sua geração ou meio social, o que poderia ser

    explorado de maneira mais efetiva pelo regente.

    Durante as observações dos ensaios, percebi que as músicas são escolhidas

    pelo regente de acordo com o nível adequado aos alunos. Mesmo sendo uma banda

    formada exclusivamente por alunos considerados iniciantes o nível de aprendizado

    musical apresentado por eles é bastante satisfatório, fato disto é que é que já

    realizaram inclusive apresentações em conjunto com a banda de música do GptFNNa.

    5.4 Alterações comportamentais

  • 49

    A Participação no grupo também se revela influenciar no comportamento dos

    jovens alunos, mesmo sendo alunos com um nível de disciplina alto, os mesmos

    apontam diferenças em seus comportamentos antes e depois do ingresso no projeto.

    Para a aluna CLARINETA:

    É muito gratificante, é muito bom, você faz novos amigos, e isso [participar do projeto] influencia muito porque no início você vai mudando sua disciplina, seu comportamento nos lugares, porque músico não pode ser uma pessoa mal-educada (CLARINETA, 11/09/2017).

    A questão de número 9 buscou avaliar a porcentagem de alunos que

    consideram a participação na banda de música como fator de transformação de

    comportamento. Para 80% dos alunos, ao ingressarem no Pró-Música passaram a se

    comportar de maneira diferente. A entrevista com a aluna CLARINETA também

    aponta nesse sentido quando ela afirma que mudou a sua interação com seus

    colegas: “Eu aprendi a lidar com as pessoas e aceitar como elas são, antes eu queria

    que elas fossem como eu queria e ao entrar no projeto eu mudei essa minha maneira

    de enxergar a vida” (CLARINETA, 11/09/2017).

    Já o aluno TROMBONE aponta que “as atividades do projeto me ajudaram

    demais nas matérias das escolas, pois eu tinha muita dificuldade com a matemática,

    por exemplo e os estudos aqui me ajudaram também” (TROMBONE, 11/09/2017).

    Isso demonstra que as atividades musicais ultrapassam os aspectos artísticos,

    mas também influenciam na visão geral dos alunos acerca da plenitude de sua

    formação. Aspectos como a ética, postura comportamental e a noção de

    comprometimento com o grupo estão sempre inseridos em todas as atividades da

    banda de música o que leva a alterações pessoais significativas nos alunos.

  • 50

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O processo pedagógico musical através do instrumento banda de música, sem

    dúvidas, revela-se fator de transformações sociais significativas para seus envolvidos.

    A análise das entrevistas realizadas com parcela do grupo, assim como, do

    questionário aplicado aos adolescentes e das observações aponta para o fato de que o

    papel da banda de música vai muito além de ser simplesmente um espaço para a

    socialização dos alunos. Estar inserido em grupo como esse lhes proporciona

    verdadeiro sentimento de valorização perante seus pares, mas principalmente dentro

    do âmbito familiar.

    A capacidade de impulsionar o desenvolvimento da autoestima dos seus

    integrantes também ficou bastante evidente quando da apreciação dos dados da

    pesquisa, pois, para a grande maioria dos alunos, apresentar-se com a banda e

    mostrar o desenvolvimento musical adquirido acrescenta-lhes sentimentos positivos

    sobre si, instigando, em cada um, o autoconhecimento tão necessário ao

    desenvolvimento como ser humano. Alterações comportamentais e sentimentais e das

    relações interpessoais, como também, em suas atividades escolares estão dentre as

    mudanças mais notórias que decorrem da função integradora da música.

    Por apresentar em seus objetivos a perspectiva da profissionalização, o Pró-

    Música tem s