pacientes - por marília luna

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O livro digital e o ensaio fotográfico "Pacientes" foi elaborado como produção final do curso de Comunicação Social - Jornalismo, da Universidade Federal da Paraíba. Orientação: Profª Ma. Agda Aquino

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“No fundo a fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa.”

Roland Barthes

Agradecimentos

Aos meus pais, Lourdes Luna e João Alves, por todos os esforços e as renúncias, pelo eterno incentivo e apoio incondicional. A Gian Orsini, meu companhei-ro de aventuras, que também participou desta estando presente em todas as etapas deste trabalho, opinando, questionando e exigindo o melhor de mim. A Lorena Gil, Jéssica Henrique, Priscila Cavalcante, Israel Luna, ao TS, e todos os amigos que compreenderam a ausên-cia, ou a presença conturbada, e aguentaram todas as reclamações e o turbilhão de emoções que se apossa-ram de mim. A Priscila Berbert, Natália Luna, Ingrid Heckler e Carolina Orsini pela gentileza em ler este trabalho antecipadamente. A Beto Pessoa, Flávia Lopes, Jacyara Araújo, minhas flores do cacto, e Jéssica Ma-gliano, por serem as melhores companhias em dias de

estresse, o melhor grupo para seminários e trabalhos, e por terem participado das melhores memórias que levarei da universidade. A minha orientadora, Agda Aquino, por aceitar esta função, pelos direcionamen-tos, correções, livros emprestados e pela paciência. A diretora do CAPS, Rochelle Caramuru, por abrir as portas da instituição para este projeto. A equipe do CAPS pela colaboração, em especial a psicóloga Viviane Queiroz, pela companhia e pelas caronas até Caaporã. E claro, a todos os usuários do serviço, e seus respon-sáveis, por acreditarem no meu trabalho e viabilizar a sua execução dentro daquilo que eu havia imaginado.

Muito obrigada!

Sobre ser paciente

O título deste livro poderia se referir apenas a eles; aqueles a quem decidi apontar uma câmera, aos meus mode-los. Entretanto, sinto que esta coleção de imagens diz muito não só sobre os usuários do Centro de Atenção Psicossocial, mas da minha escolha de mergulhar em seu cotidiano, co-nhecer sua rotina, ouvir seus problemas ou suas novidades, e todo este processo também fez com que eu fosse paciente. De acordo com o Aurélio, paciente é aquele que espera sere-namente um resultado, aquele que persevera na continuação de uma tarefa lenta e difícil. Talvez sejamos todos pacientes.

Sobre ser paciente

Este livro fotográfico poderia ser apenas so-bre eles; aqueles a quem decidi apontar uma câmera, os meus modelos. Entretanto, esta coleção de ima-gens diz muito não só sobre os usuários do Centro de Atenção Psicossocial, mas da minha escolha de mer-gulhar em seu cotidiano, conhecer sua rotina e par-ticipar de suas vidas. Todo este processo também fez com que eu fosse paciente. De acordo com o Aurélio, paciente é todo aquele que espera serenamente um re-sultado, aquele que persevera na continuação de uma tarefa lenta e difícil. Talvez sejamos todos pacientes.

Sobre o retrato, a posee a fotografia documental

Conforme a tecnologia avança, uma revolução acontece sem que percebamos. Em um século e meio de existência, a fotografia, assim como a comunicação no geral, passou por transformações que a tornam quase irreconhecível. Quando surgiu, desviou a atenção que antes era destinada aos retratos pictóricos, devido ao menor gasto de tempo e à maior fidelidade do retrato fo-tográfico. Ou seja, esta foi uma de suas primeiras funções. Atualmente, o que vemos é a valorização das imagens instantâneas, e as máquinas cada vez mais são aprimoradas neste sentido. Câmeras minúsculas, disparadores silenciosos e ágeis, assim como os cartões de memória que facilitam o armazenamento e acele-ram a publicação, entre outras novidades do mercado.

A fotografia documental, que está dentro do fotojornalismo, teve destaque durante anos em re-vistas especializadas no tema, mas atualmente pa-rece ter perdido um pouco do seu espaço. A fotogra-fia jornalística, que propaga a ideia de ser “traço de um real”, o faz dando ênfase aos registros imediatos. Mesmo sabendo que a imagem sempre apresenta-rá apenas um fragmento da totalidade, a mídia faz questão, inclusive por motivos mercadológicos, de que o público realmente acredite na veracidade da foto por esta estética instantânea e entrega uma par-cela ainda menor da compreensão total, algo que po-deria ser diferente por meio do fotodocumentarismo. A importância dos registros imediatos é

indiscutível, mas a fotografia documental, que exi-ge tempo e dedicação do fotógrafo, que procu-ra mergulhar e entregar uma história com pro-priedade ao espectador, precisa de seu espaço. Na década de 60, Diane Arbus foi uma das fotógrafas que conseguiu chamar atenção para este gênero, especialmente pelos temas que insistiu em re-gistrar e pela estética de suas imagens. Arbus fotogra-fou com domínio e originalidade uma parte da socie-dade, a minoria, os excluídos. Seres marginalizados, aqueles que eram classificados como “bizarros” dentro a população padrão. A fotógrafa se aprofundou em seus universos, registrou personagens circenses, de show de horrores, assim como nudistas, travestis, de-ficientes, doentes mentais e outros. O interessante a se destacar no trabalho de Arbus é que ela fotografa-va para si mesma e ainda assim parecia estar nunca satisfeita com suas imagens, chegava a dedicar anos até sentir que captou a foto ideal. Esta dedicação era o diferencial de suas fotografias, onde ficava visível a sintonia com seus personagens. Ela optava por parti-cipar do universo daqueles seres tão peculiares e a in-timidade que ela alcançava, muitas vezes se tornando amiga de seus objetos, era transmitida em suas fotos. Diane Arbus não tinha interesse em dramati-zar ou despertar o sentimento de compaixão de seus espectadores. Fazendo com que os sujeitos posassem, ela garantia o desconforto de seus personagens dian-

te de suas lentes, tornando-os ainda mais estranhos e acabando por intimidar o espectador. Suas imagens buscam transmitir outra mensagem, diferente do que se está acostumado, o que Arbus diz é que a humani-dade é destoante, não há intenção de criar empatia. O retrato, gênero que Arbus optou por foto-grafar, é ainda menos utilizado na mídia convencio-nal. Se resume a fotos ilustrativas, de notícias pouco importantes em que apenas é necessário evidenciar o personagem da história. É quase impossível visua-lizar imagens como as suas sendo veiculadas em mí-dias acessíveis, apesar delas trazerem o retrato sin-cero de uma parte da sociedade pouco explorada. A reputação imbatível que o registro ins-tantâneo conquistou com o público em geral, é um dos motivos da mídia explorar este tipo de imagem, enquanto as fotografias posadas, em te-oria, vão diretamente no sentido contrário. Foi inspirado na obra de Diane Arbus e na ideia de trazer para o público novas formas de re-gistros fotográficos que surgiu o ensaio fotográfi-co “Pacientes”, convidando a todos a se depararem com uma realidade fora do padrão e do contexto midiático. As fotos são resultado da convivência du-rante cinco meses junto aos usuários do serviço CAPS - Centro de Atenção Psicossocial, de Caaporã.

Boa “leitura”!

O livro digital e o ensaio fotográfico “Pacientes” foi elaborado como produção final do curso de Comunicação Social - Jornalismo,

da Universidade Federal da Paraíba.Orientação: Profª Ma. Agda Aquino