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I Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências da Saúde Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas Caracterização molecular do Trypanosoma cruzi isolado de pacientes chagásicos, triatomíneos e reservatórios silvestres procedentes do semiárido do Estado do Rio Grande do Norte Kiev Martins Natal, RN Maio/2014

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Page 1: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de ... · Figuhra 1 Mapa do Estado do Rio Grande do Norte com os limites das mesorregiões leste, agreste, central e oeste. 24 Figura

I

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências da Saúde

Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas

Caracterização molecular do Trypanosoma cruzi isolado de pacientes

chagásicos, triatomíneos e reservatórios silvestres procedentes do semiárido

do Estado do Rio Grande do Norte

Kiev Martins

Natal, RN

Maio/2014

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II

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências da Saúde

Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas

Caracterização molecular do Trypanosoma cruzi isolado de pacientes

chagásicos, triatomíneos e reservatórios silvestres procedentes do semiárido

do Estado do Rio Grande do Norte

Orientadora: Profª. Dra. Antonia Cláudia Jácome da Câmara

Coorientadora: Profa. Dra. Lúcia Maria da Cunha Galvão

Natal, RN

Maio/2014

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do

grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas/Parasitologia.

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III

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IV

Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Martins, Kiev.

Caracterização molecular do Trypanosoma cruzi isolado de pacientes chagásicos, triatomíneos e reservatórios silvestres procedentes do semiárido do Estado do Rio Grande do Norte / Kiev Martins. - Natal, 2014. 55f: il. Coorientadora: Profª. Drª. Lúcia Maria da Cunha Galvão. Orientadora: Profª. Drª. Antonia Cláudia Jácome da Câmara. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 1. Diversidade genética - Dissertação. 2. Doença de Chagas - Dissertação. 3. Trypanosoma cruzi - Dissertação. I. Câmara, Antonia Cláudia Jácome da. II. Título.

RN/UF/BSA01 CDU 616.937

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V

Dedico esta dissertação aos meus pais,

Ronaldo e Francilene, que investiram parte

de suas vidas no meu aprendizado sem

nunca perder a paciência ou a ternura

perante minhas dificuldades.

Aos meus irmãos Igor e Reno, que caminham

comigo nesse mundo desde o meu primeiro

dia, cujas pegadas sigo sem medo.

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VI

AGRADECIMENTOS

À Profa. Antônia Cláudia, pela oportunidade de trabalhar com algo construtivo e pelos

anos de treinamento e orientação, que me tornaram capaz de cumprir minhas tarefas;

À Profa. Lúcia Galvão, pela confiança e orientação, sempre visando formar pessoas

críticas e competentes;

Ao Prof. Egler Chiari, por ter sido mentor e orientador desse e de tantos outros projetos

em sua carreira, sem nunca perder a humildade, o bom humor e a visão além do momento

presente;

Ao Prof. Paulo Guedes, pelos conselhos, conversas e entusiasmo científico, que são para

mim fonte de inspiração e ânimo;

Ao Prof. Guilherme por presidir minha banca de qualificação e me aconselhar sempre

com sinceridade e zelo quanto a minha postura profissional;

Ao Prof. Adalberto Varela Freire, in memorian;

À Andressa Noronha, pela amizade e apoio em todas as etapas até aqui;

À Daniela Nunes por mostrar que a culpa pode ser minha, mesmo quando eu não percebo

ou não estou presente;

Aos amigos Rafael, Andreya, Kley, Vicente, Victor, Pedro Igor, Vinicius, Anderson,

Pamela, Carlinhos e Sidney, pelo companheirismo;

Aos Professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Ciências

Farmacêuticas e aos colegas de laboratório que dividiram a experiência dessa jornada;

Aos demais colaboradores em diversos municípios do Rio Grande do Norte, que

emprestaram parte de seu tempo para que esse trabalho fosse realizado;

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VII

INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS

Laboratório de Biologia de Parasitos e Doença de Chagas, Departamento de

Análises Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Farmácia 2º Andar, Rua Gal.

Gustavo Cordeiro de Farias, s/n, Petrópolis 59012-570 Natal, RN, Telefone: 84

3342-9827

Laboratório de Biologia do Trypanosoma cruzi e doença de Chagas,

Departamento de Parasitologia, Av. Antonio Carlos, 6627, Bloco L4,

Sala 179, Campus Pampulha, 31270-901, Belo Horizonte, MG,

Telefone: 31 3409-2847.

APOIO FINANCEIRO

Edital MCT/CNPq Universal No 472251/2010-4

Programa de Incentivo a Parasitologia Básica Proc. Nº 23038.005288/2011-48

Chamada MCTI/CNPq/MS-SCTIE-Decit 40/2012 Pesquisa em Doenças

Negligenciadas N° 404056/2012-1

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VIII

RESUMO

Trypanosoma cruzi, o agente etiológico da doença de Chagas, é subdividido em seis unidades de

tipagem distintas (DTUs) e a DTU II é a mais comum em indivíduos infectados no Brasil. Este

trabalho teve como objetivo a caracterização genética de populações do T. cruzi que circulam em

diferentes hospedeiros procedentes de vários municípios do semiárido do Estado do Rio Grande

do Norte e verificar a sua associação aos ciclos de transmissão do parasito e as formas clínicas

dos pacientes infectados. Dezeseis isolados do T. cruzi foram obtidos por hemocultura de

pacientes chagásicos com diferentes formas clínicas; dois isolados de Panstrongylus lutzi, um de

Galea spixii e um de Euphractus sexcinctus obtidos por xenocultura. Estes isolados foram

caracterizados usando os marcadores genéticos: domínio divergente D7 do gene 24S do DNA

ribosomal (rRNA), a subunidade 2 do gene mitocondrial citocromo oxidase (COII), e a região do

espaçador intergênico (SL-IRac). As DTU I e III do T. cruzi foram identificadas

respectivamente, em 37,5% (6/16) e 18,7% (3/16) dos pacientes e a DTU II em 43,8% (7/16)

deles. No total, 40,0% (2/5) dos pacientes infectados por TcI apresentaram forma clínica

indeterminada, 40,0% (2/5) cardíaca, e 20,0% (1/5) digestiva. Dos pacientes infectados por TcII,

66,6% (4/6) são portadores da forma clínica cardíaca, 16,7% (1/6) digestiva e 16,7% (1/6)

indeterminada. Todos os pacientes infectados por TcIII apresentaram forma clínica

indeterminada. A DTU III também foi identificada em P. lutzi, G. spixii e E. sexcinctus. TcI e

TcII foram isolados de pacientes com formas clínicas cardíaca, digestiva e indeterminada,

enquanto o TcIII foi identificado apenas em pacientes com a forma clínica indeterminada. A

identificação do TcIII em P. lutzi, animais silvestres humanos indica a sobreposição dos ciclos

de transmissão peridomiciliar e silvestre do parasito no Estado. A ocorrência dessas DTUs

revelou notável diversidade filogenética entre os isolados do T. cruzi e o TcIII foi identificado

em humanos pela primeira vez no nordeste brasileiro.

Palavras-chave: Trypanosoma cruzi I, II e III, doença de Chagas crônica, formas clínicas,

diversidade genética

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IX

ABSTRACT

Trypanosoma cruzi, the causative agent of Chagas disease, is subdivided into six distinct units

typing (DTUs) and DTU II is the most common infected individuals in Brazil. This study aimed

to characterize the genetic populations of T. cruzi circulating in different hosts from the several

municipalities in the semiarid of Rio Grande do Norte and verify their association with the

transmission cycles of the parasite and the clinical forms of infected patients . Sixteen isolates of

T. cruzi were obtained by blood cultures from chagasic patients with different clinical forms; two

isolates of Panstrongylus lutzi, one of Galea spixii and one of Euphractus sexcinctus were

obtained by xenoculture. These isolates were characterized using genetic markers: D7divergent

domain 24S ribosomal DNA gene (rRNA), mitochondrial cytochrome oxidase subunit 2 gene

(COII) gene and spliced leader intergenic region (SL-IRac) gene. The DTU I and III of T. cruzi

were identified respectively in 37.5% (6/16) and 18.7% (3/16) of patients and the DTU II in

43.8% (7/16) of them . In total, 40.0% (2/5) of infected patients with TcI presented clinical

indeterminate form, 40.0% (2/5) cardiac and 20.0% (1/5) digestive form. Of patients infected

with TcII, 66.6% (4/6) presented cardiac clinical form, 16.7% (1/6) digestive and 16.7% (1/6)

indeterminate. All infected patients with TcIII presented indeterminate clinical form. The DTU

III was also identified in P. lutzi, G. spixii and E. sexcinctus. TcI and TcII were isolated from

patients with cardiac, digestive and indeterminate clinical form, while the TcIII was identified

only in patients with indeterminate clinical form. The identification of TcIII in P. lutzi, wild

animals and human beings indicates overlapping of the peridomestic and sylvatic transmission

cycles of the parasite in the state. The occurrence of these DTUs revealed remarkable

phylogenetic diversity among isolates of T. cruzi and the TcIII was identified in human beings

for the first time in the Brazilian northeast.

Keywords: Trypanosoma cruzi I, II e III, chronic Chagas disease, clinical forms, genetic

diversity

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X

LISTA DE FIGURAS

Figuhra 1 Mapa do Estado do Rio Grande do Norte com os limites das

mesorregiões leste, agreste, central e oeste. 24

Figura 2 Captura de triatomíneos em ambiente domiciliar, peridomiciliar e

silvestre nos diferentes municípios.

26

Figura 3 Animais capturados nos diferentes municípios. Galea spixii (A) e

Euphractus sexcinctus (B) anestesiados, (C) Xenodiagnóstico em E.

sexcinctus e (D) frascos com ninfas de T. brasiliensis.

27

Figura 4 Gel representativo da amplificação do gene rDNA 24Sα de isolados

do T. cruzi obtidos de pacientes chagásicos e animais silvestres. 35

Figura 5

Gel representativo da amplificação dos fragmentos do gene

mitocondrial COII do T. cruzi obtidos de pacientes chagásicos e

animais silvestres, após a digestão com a enzima Alu I (RFLP -

Restriction Fragment Lenght Polymorphism)

38

Figura 6 Gel representativo da amplificação da amplificação do espaçador

intergênico dos genes de miniexon dos isolados do T. cruzi obtidos

de pacientes chagásicos e animais silvestres.

39

Figura 7

Mapa do Estado do Rio Grande do Norte mostrando a distribuição

das DTUs do T. cruzi nos municípios estudados das mesorregiões

Oeste e Central.

41

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XI

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Características das cepas e clones de referência do Trypanosoma cruzi

e dos marcadores genéticos 30

Tabela 2 Características e referências dos iniciadores utilizados nas reações da

PCR para caracterização molecular do T. cruzi 33

Tabela 3 Infecção natural de mamíferos pelo T. cruzi detectado por

xenodiagnóstico e xenocultura 34

Tabela 4 Origem, localidade, características epidemiológicas e genotipagem de

isolados do T. cruzi obtidos de pacientes chagásicos, Panstrongylus

lutzi, Euphractus sexcinctus e Galea spixii.

36

Tabela 5 Discrete typing units (DTU) do T. cruzi isoladas de pacientes

chagásicos com diferentes formas clínicas

40

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XII

LISTA DE ABREVIATURAS

dNTP - Deoxinucleotídeos trifosfato

DTU - Unidades discretas de tipagem

EDTA - Ácido Etilenodiamino Tetracético

ESEC - Estação Ecológica do Seridó

FNS/FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

HCl - Ácido clorídrico

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

IDEMA-RN - Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do

Norte

KCl - Cloreto de Potássio

kDNA - DNA do cinetoplasto

Km – Kilometro

Km2 - Kilometro quadrado

LIT - Liver Infusion Tryptose

m – metro

M – Molar

MgCl2 - Cloreto de magnésio

mL – Mililitro

mg - Miligrama

Kg – Quilograma

mM – Milimolar

NaOH - Hidróxido de sódio

pb - Pares de bases

pH - Potencial hidrogeniônico

rpm - Rotação por minuto

SUCAM – Superintendência de Campanhas de Saúde Pública

v/v - Volume por volume

U – Unidade

µg – Micrograma

µL – Microlitros

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XIII

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÂO

1.1 Aspectos gerais da infecção por T. cruzi 15

1.2 Revisão bibliográfica

1.2.1 O gênero Trypanosoma e a espécie Trypanosoma cruzi 16

1.2.2 Triatomíneos 17

1.2.3 Mamíferos silvestres 17

1.2.4 Ciclos de transmissão do T. cruzi 19

1.2.5 Caracterização genética do T. cruzi 20

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral 22

2.2 Objetivos específicos 22

3 METODOLOGIA

3.1 Delineamento experimental 23

3.2 Área de estudo 24

3.3 Amostras do Trypanosoma cruzi 25

3.4 Captura de triatomíneos 25

3.5 Captura de mamíferos 26

3.6 Métodos de detecção do T. cruzi 27

3.6.1 Xenodiagnóstico 27

3.6.2 Exame do conteúdo intestinal e xenocultura 28

3.6.3 Hemocultura 28

3.7 Cultura acelular e obtenção de massa úmida do T. cruzi 29

3.8 Extração e preparação do DNA genômico do T. cruzi 29

3.9 Caracterização molecular do T. cruzi 29

3.9.1 PCR do domínio divergente do gene 24S do DNA ribosomal 31

3.9.2 PCR da subunidade II do citocromo oxidase-gene mitocondrial 31

3.9.3 Amplificação do espaçador intergênico dos genes miniexon 31

4 RESULTADOS

4.1 Infecção natural de mamíferos pelo T. cruzi 34

4.2 Infecção natural dos triatomíneos pelo T. cruzi 34

4.3 Genotipagem dos isolados do Trypanosoma cruzi 35

4.4 Distribuição geográfica das DTUs 40

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XIV

5 DISCUSSÃO 41

6 CONCLUSÕES 45

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46

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15

1 INTRODUÇÃO

1.1 Aspectos gerais da infecção por Trypanosoma cruzi

A infecção humana por Trypanosoma cruzi está atualmente estimada entre 7 e 8 milhões

de indivíduos em 21 países endêmicos da América Latina, com altos custos anuais investidos em

tratamento e prevenção (WHO, 2014), incluindo o Brasil com cerca de 2 milhões de infectados

(SALVATELLA, 2007). Entretanto, como enzootia, a tripanossomíase americana é mais

amplamente distribuída do que a infecção humana, ocorrendo em diversos biomas, desde regiões

semiáridas até florestas úmidas. Esse ciclo enzoótico, de natureza silvestre, estende-se do Sul dos

Estados Unidos ao Sul da Argentina (MILES et al., 2003; COURA et al., 2002; AGUILAR et

al., 2007; COURA, 2007). A relação atual do T. cruzi com os hospedeiros silvestres parece ser

um estado de equilíbrio desenvolvido por meio de longa adaptação caracterizada pela baixíssima

ou nenhuma ação patogênica do protozoário sobre esses animais (BARRETO, 1979;

FORATTINI, 1980; SCHOFIELD, 2000). Com a ancestralidade dessa relação, o T. cruzi vem se

adaptando a novos hospedeiros a medida que estes chegaram à América do Sul, inicialmente os

roedores e primatas, depois os morcegos e carnívoros e, por último, o homem. Assim, o T. cruzi

foi e ainda é mantido há milhões de anos no ciclo silvestre, de modo que a infecção no homem

sendo considerada recente na história evolutiva do T. cruzi (GUHL et al., 2000). Essa

diversidade de hospedeiros fez com que esse táxon sofresse diferentes pressões seletivas que

resultaram na grande diversidade genética observada hoje (MACEDO et al., 2004, FREITAS et

al., 2006). A heterogeneidade do T. cruzi foi notada desde sua descoberta (CHAGAS, 1909) e,

desde então, várias ferramentas metodológicas tem sido empregadas para determinar marcadores

bioquímicos, biológicos e moleculares que possam auxiliar na compreensão da epidemiologia da

doença de Chagas (ZINGALES et al., 2009). O advento de técnicas moleculares mais precisas

permitiu também o mapeamento geográfico das diferentes subpopulações do T. cruzi, associando

cada grupo com os ciclos silvestre e doméstico, compreendendo como esses ciclos interagem

(revisado por ZINGALES et al., 2012).

O uso de abordagens moleculares também pode elucidar o papel da variabilidade genética

do parasito no decorrer da infecção chagásica, cujas consequências podem variar desde quadros

sub-clínicos até síndromes cardíacas e digestivas ou morte prematura (MACEDO et al., 2002,

2004; CAMPBELL et al., 2004). Até hoje permanece inexplicável porque alguns pacientes

desenvolvem as formas clínicas determinadas da doença e outros não. Essas formas clínicas são

características da fase crônica e são categorizadas como: forma indeterminada, cardíaca,

digestiva e cardiodigestiva. A forma indeterminada surge no início da fase crônica, onde apesar

da sorologia reativa e/ou demonstração do parasito no sangue, não há sintomatologia,

comprovada por resultados normais de eletrocardiogama e RX do tórax, esôfago e cólon. Estima-

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16

se que metade dos indivíduos infectados encontra-se nessa forma da doença, podendo

permanecer durante toda a vida (PRATA, 2001). No entanto, cerca de 2 a 5% dos indivíduos, em

um período de 10 a 30 anos, passam a apresentar alterações sistêmicas típicas das formas

determinadas (RIBEIRO & ROCHA, 1998). Dados epidemiológicos mostram que no Brasil 20 a

30% dos indivíduos desenvolvem a forma cardíaca, 5 a 8% a forma esofagiana e 4 a 6% a forma

intestinal (REZENDE, 1956; ROCHA et al., 2003). Além da variabilidade genética do parasito

envolvida nessa variedade de formas clínicas, não se pode descartar, dentro deste panorama, um

possível papel dos aspectos ambientais, nutricionais e imunológicos do hospedeiro (revisado por

MACEDO et al., 2004).

Um inquérito realizado em moradores da zona rural na mesorregião Oeste do Estado do

Rio Grande do Norte estimou a soroprevalência em 6,5% e 14.151 pessoas infectadas (BRITO et

al., 2012) e, a presença de DTUs do T. cruzi tem sido recentemente demonstrada circulando

entre humanos e triatomíneos (CÂMARA et al., 2010, 2013) No entanto, para a compreensão do

ciclo silvestre na região ainda é necessário a investigação dos reservatórios silvestres e os

mecanismos que levam as populações silvestres do T. cruzi a alcançarem o ambiente domiciliar.

Nesse contexto, o presente trabalho foi proposto para estudar a epidemiologia da tripanossomíase

americana no semiárido do Estado, utilizando marcadores genéticos para determinar a DTU do

parasito isolado de diferentes hospedeiros tais como, pacientes na fase crônica da doença de

Chagas, mamíferos e triatomíneos silvestres.

1.2 Revisão bibliográfica

1.2.1 O gênero Trypanosoma e a espécie Trypanosoma cruzi

O gênero Trypanosoma possui espécies capazes de infectar animais vertebrados de todas as

classes, incluindo peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. A transmissão geralmente ocorre

por intermédio de insetos hematófagos ou pela via oral, inerente à cadeia alimentar. No ciclo

biológico dos tripanossomatídeos são encontradas as formas evolutivas amastigota, epimastigota

ou tripomastigota. A identificação correta dessas formas se dá pela observação da posição do

cinetoplasto em relação ao núcleo e da presença ou ausência do flagelo livre e membrana

ondulante (HOARE, 1972).

O ciclo evolutivo do T. cruzi é heteroxênico, necessitando de passagem em hospedeiros

invertebrados e vertebrados. Os hospedeiros invertebrados são insetos triatomíneos enquanto os

hospedeiros vertebrados são mamíferos que geralmente entram em contato com os insetos. O

clado T. cruzi compreende populações altamente heterogêneas que diferem em características

morfológicas, biológicas, patológicas, clínicas, imunológicas e bioquímicas (BRENER, 1973;

1992; MILES et al., 2003; GAUNT et al., 2003; TIBAYRENC, 2003; TEIXEIRA et al., 2006;

COURA et al., 2007).

Page 17: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de ... · Figuhra 1 Mapa do Estado do Rio Grande do Norte com os limites das mesorregiões leste, agreste, central e oeste. 24 Figura

17

1.2.2 Triatomíneos

A subfamília Triatominae é atualmente composta por 140 espécies, porém, apenas algumas

estão adaptadas às moradias humanas, apresentando importância epidemiológica (CARANHA et

al., 2006). No Brasil, os triatomíneos são conhecidos como barbeiros, fincões, chupões, bicudos

e procotós. Em condições normais esses insetos apresentam hábitos noturnos, fotofobia,

termotropismo positivo e asas na fase adulta, características que favorecem a entrada sorrateira

em domicílios. A presença de anticoagulante e anestésico na saliva os torna capazes de se

alimentar com eficiência sem chamar a atenção pelo tato (SCHOFIELD, 1979). A dispersão

ativa durante o voo dos adultos é de grande importância epidemiológica, pois está relacionada à

invasão das casas a partir de exemplares procedentes do ciclo silvestre. Obedecendo a um ritmo

natural para cada espécie, existe uma tendência de migração dos adultos para o ambiente

artificial, ou seja, a casa e os esconderijos peridomiciliares, resultando na formação de colônias

identificadas pela presença de ninfas próximas ao homem (FORATTINI et al., 1979;

FORATTINI, 1980; DIOTAIUTI & PINTO, 1991).

As espécies mais importantes relacionadas à transmissão do parasito ao homem são

Triatoma brasiliensis, Triatoma infestans, Triatoma dimidiata, Triatoma sordida, Rhodnius

prolixus e Panstrongylus megistus (LENT H. & WYGODZINSKY, 1979), na região Nordeste

predominam as espécies autóctones T. brasiliensis e Triatoma pseudomaculata, ambas capazes

de colonizar o peridomicílio (SILVEIRA & VINHAES, 1998). Nos estados do Ceará, da Paraíba

e do Rio Grande do Norte, essas espécies estão associadas aos municípios não litorâneos,

demonstrando a afinidade das mesmas pelo bioma caatinga (LUCENA & COSTA, 1954;

ALENCAR, 1965; CASTRO-FILHO & SILVEIRA, 1979; CÂMARA et al., 2003). No Estado

do Rio Grande do Norte (RN), a fauna triatomínica é bastante variada, tendo sido encontradas as

seguintes espécies: P. megistus, Panstrongylus lutzi, Rhodnius nasutus, T. brasiliensis, T.

pseudomaculata e Triatoma petrochiae (CASTRO-FILHO & SILVEIRA, 1979; SILVEIRA &

VINHAES, 1998; DIAS et al., 2000; SILVEIRA, 2011). Especificamente no semiárido, foram

examinadas mais de 800 espécimes de triatomíneos distribuídos entre T. brasiliensis, T.

pseudomaculata, P. lutzi e R. nasutus. A detecção do parasito foi positiva em 9,1% desses

insetos pelo exame direto, destacando-se a elevada infecção observada em P. lutzi (25,3%),

seguidas pelo T. brasiliensis (4,9%) e R.nasutus (0,6%), atestando o papel importante que essas

espécies endêmicas têm desempenhado nos ciclos de transmissão do T. cruzi (BARBOSA-

SILVA, 2013).

1.2.3 Mamíferos silvestres

Mais de 200 espécies de mamíferos silvestres já foram relatadas como hospedeiros do T.

cruzi. Entre as ordens mais importantes estão os artiodátilos, carnívoros, marsupiais, primatas,

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18

quirópteros, rodentia e xenarthros (GALVÃO, 2003; SIQUEIRA-BATISTA, 2007). Em geral,

marsupiais do gênero Didelphis e os tatus do gênero Dasypus são considerados hospedeiros

ancestrais (COURA & BORGES, 2010; TEIXEIRA, 2006), podendo se afirmar que o habitat

natural desses gêneros se sobrepõe a distribuição geográfica da doença de Chagas (DIAS, 2000).

A importância de cada mamífero silvestre como hospedeiro do T. cruzi pode variar muito

de espécie para espécie, do espaço geográfico ocupado, do tempo e da interação com os vetores

(ASHFORD, 1997). Os mamíferos que conseguem se locomover por áreas maiores, as dietas são

mais variadas, capacidade de manter a infecção aguda por mais tempo e uma população mais

numerosa, provavelmente estão mais capacitados a cumprir o papel de reservatório, ou seja, de

hospedeiros que são mais relevantes na dinâmica populacional do T. cruzi. Nesse contexto,

animais que incluem insetos na sua dieta apresentam infecção por T. cruzi com mais frequência

do que aqueles estritamente carnívoros, fazendo com que esses ocupem uma posição diferencial

como hospedeiros do T. cruzi (ROCHA et al., 2013).

Dentro do bioma caatinga, Herrera et al., (2005), observaram que mamíferos na reserva

ecológica Serra da Capivara, Estado do Piauí, demonstraram 12% de positividade para T. cruzi

em animais de dentro da reserva e seus arredores. A infecção pelo T. cruzi foi detectada em D.

albiventris, Monodelphis domestica, Gracilinanus agilis, Galea spixii, Trichomis apereoides e

Rhiphidomys macrurus. A positividade da espécie Didelphis albiventris foi 41%, enquanto o

Trichomys apereoides foi de 4%, todavia, esta espécie foi encontrada mais dispersa e mais

capturada (HERRERA et al., 2005). Com o uso de mapas para geovisualização tem sido

verificado que o Thrichomys laurentius estava mais disperso e infectado, considerada a espécie

mais eclética e competente como reservatório, enquanto o D. albiventris um importante

reservatório em áreas com presença humana (XAVIER et al., 2007).

No Estado do Ceará, 217 exemplares de Didelphis paraguayensis foram capturados e

28,6% deles apresentaram infecção pelo T. cruzi, demonstrando o potencial desse mamífero

como reservatório na caatinga (DEANE & DEANE, 1957). A infecção do T. aperoides, Bolomys

lasiurus, Rattus rattus frugivorus (rato doméstico), Rattus rattus alexandrinus (rato doméstico) e

D. paraguayensis (cossaca) revelaram que esses animais estariam envolvidos na manutenção do

ciclo domiciliar e peridomiciliar de transmissão do T. cruzi (ALENCAR, 1965). Os achados

desses autores servem de base para se compreender a variedade do ciclo silvestre no semiárido

nordestino, envolvendo grande número de espécies de mamíferos de médio e pequeno porte. Os

animais citados anteriormente podem ser encontrados no Rio Grande do Norte, não tendo sido

registrado, contudo, trabalhos sobre o papel de mamíferos como reservatórios do T. cruzi no

Estado até o momento.

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19

1.2.4 Ciclos de transmissão do T. cruzi

Os principais mecanismos de transmissão do T. cruzi no ambiente doméstico são o

vetorial, a transfusional e a congênita. A transmissão vetorial é a que apresenta elevada

importância epidemiológica para o ser humano e ocorre no momento da hematofagia do

triatomíneo pela penetração das formas tripomastigotas nas fezes dos triatomíneos na mucosa

íntegra ou pele lesada. A transmissão transfusional é acidental e controlada pela triagem

sorológica nos bancos de sangue, podendo ser um mecanismo importante em países sem essa

prática. A transmissão congênita tem causado maior interesse na Argentina e Bolívia pela

constatação de neonatais infectados (SILVEIRA, 2000; SILVEIRA et al., 2002; COURA, 2007;

DIAS et al., 2008). Já no ambiente silvestre, a via oral é a mais antiga e provavelmente a mais

eficiente na transmissão do T. cruzi (NOIREAU et al., 2009). A infecção de mamíferos por esta

via pode ocorrer de diversas maneiras, envolvendo a ingestão de fezes contaminadas de

triatomíneos depositadas na pele ou no alimento, pela excreção da glândula de cheiro de

Didelphis spp., que pode eliminar formas infectantes do parasito (DEANE et al., 1984), pela

ingestão de triatomíneos infectados ou por interações predatórias com mamíferos infectados

(JANSEN & ROQUE, 2010).

Esses mecanismos, juntos, formam dois ciclos epidemiológicos do T. cruzi na natureza: o

silvestre e o domiciliar. O ciclo domiciliar envolve o ser humano, animais domésticos e poucas

espécies de triatomíneos que são capazes de colonizar as habitações. Esse ciclo está associado às

moradias rurais e de baixa qualidade que favorecem a colonização. No Brasil, o ciclo domiciliar

passou a ser combatido inicialmente por “Campanhas contra a doença de Chagas” pelo Serviço

Nacional de Malária, na década de 50, e posteriormente pelo Programa Nacional de Controle da

Doença de Chagas (PCDCh) iniciado em 1975, tornando as ações sistematizadas para o controle

vetorial e transfusional em todo o país. No início do programa a prevalência da infecção no Rio

Grande do Norte foi verificada no primeiro inquérito sorológico realizado entre 1975-1980 o

qual revelou 1,8% de infectados com estimativa de 34.164 de indivíduos sororreativos

(CAMARGO et al., 1984). Posteriormente a eficiência do PCDCh pôde ser avaliada no segundo

inquérito realizado em crianças entre sete e quatorze anos de idade, no período de 1989-1997 que

mostrou reatividade sorológica de 0,20% no total de 12.583 amostras examinadas em 116

municípios do Estado (SILVEIRA & VINHAES, 1999). O terceiro inquérito nacional foi

realizado entre 2001 e 2008, examinando 1750 crianças até os cinco anos de idade em 65

municípios do RN. Esse inquérito revelou 0,01% de infecção, correspondendo apenas uma

criança infectada (LUQUETTI et al., 2011).

O ciclo silvestre envolve o intercâmbio do parasito entre vetores e mamíferos silvestres de

pequeno e médio porte no continente americano (BARRETO, 1979; FORATTINI, 1980). Nesse

Page 20: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de ... · Figuhra 1 Mapa do Estado do Rio Grande do Norte com os limites das mesorregiões leste, agreste, central e oeste. 24 Figura

20

ciclo, o parasito pode ser transmitido oralmente quando os animais susceptíveis são predadores

de reservatórios infectados ou por transmissão clássica, contaminação com fezes e/ou urina do

vetor com formas tripomastigotas. O período que o mamífero silvestre alberga o T. cruzi

influencia muito a manutenção do ciclo, pois animais que convivem por longos períodos com o

parasito possibilitam um elevado número de vetores infectados e, também aumentam as chances

dos predadores adquirirem o parasito. A descoberta de um animal infectado, contudo, não é o

suficiente para considerá-lo reservatório, isto esta relacionada à habilidade do parasito em

persistir nesse hospedeiro e às interrelações do hospedeiro na comunidade que favoreçam a

transmissão do parasito (JANSEN & ROQUE, 2010).

1.2.5 Caracterização genética do T. cruzi

O T. cruzi é uma espécie heterogênea, composta de várias sub-populações que circulam

entre os ciclos silvestre e domiciliar (ANDRADE, 1974; ANDRADE 1985). A variabilidade das

características biológicas e comportamentais do T. cruzi tem sido observada desde os relatos de

Chagas (1909), assinalando as diferenças marcantes na morfologia das formas tripomastigotas

sanguíneas do parasito. Nas décadas seguintes a descoberta da doença, estudos utilizando

animais infectados com diferentes cepas do T. cruzi revelaram a presença de formas

tripomastigotas delgadas, largas e muito largas (PEREIRA DA SILVA, 1959; BRENER &

CHIARI, 1963; BRENER, 1965), além de tropismos preferenciais de cepas por determinados

tecidos (GALLIARD, 1965; ANDRADE, 1974), por células do sistema fagocitário ou por

células musculares (MELO & BRENER, 1978). Existem evidências que durante a fase aguda de

pacientes chagásicos, as populações do T. cruzi parecem ser geneticamente mais complexas do

que aquelas isoladas durante a fase crônica, sugerindo uma seleção de populações com

especificidade diferenciada para a invasão tecidual (ANDRADE, 1985; MARQUES DE

ARAÚJO & CHIARI, 1988). Esta variabilidade pode ser resultante tanto da heterogeneidade

entre isolados do T. cruzi como da resposta imune do hospedeiro (MILES et al., 1981;

TIBAYRENC & AYALA, 1999).

As cepas do T. cruzi isoladas de vários hospedeiros (humanos, animais domésticos e

silvestres e vetores) foram inicialmente agrupadas de acordo com as diferenças e semelhanças

dos diversos perfis eletroforéticos de isoenzimas, e classificadas em três zimodemas (Z1, Z2, Z3)

(MILES et al., 1977). O Z2 estaria associado ao ciclo domiciliar, enquanto o Z1 seria encontrado

principalmente em animais e vetores do ciclo silvestre e em chagásicos na fase aguda da

infecção. Um terceiro zimodema (Z3) foi demonstrado e também associado ao ambiente silvestre

(MILES et al., 1977, 1980). Em 1999, uma nova divisão do T. cruzi foi sugerida em dois grupos

denominados de T. cruzi I (cepas e clones classificados como zimodema Z1, rRNA e mini-exon

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21

da Linhagem 2) e T. cruzi II (cepas e clones classificados como zimodema Z2, rRNA e mini-

exon da Linhagem 1) associados com os ciclos de transmissão silvestre e doméstico,

respectivamente (ANONYMOUS, 1999). Trabalhos sub-sequentes sugeriram que as populações

do T. cruzi II eram mais complexas e usando isoenzimas, RAPD e rDNA permitiram a

subdivisão dessas populações em cinco subgrupos denominados de unidades discretas de

tipagem DTU IIa, IIb, IIc, IId e IIe. As cepas do T. cruzi I permaneceram como linhagem única

ou DTU I. Os aspectos epidemiológicos desta classificação revelam que o T. cruzi IIb, IId e IIe

estão mais relacionados aos ambientes antrópicos e indivíduos infectados, os subgrupos IIa and

IIc com ambiente silvestre e o DTU I com ambos (BARNABÉ et al., 2000; BRISSE et al., 2000,

2001; YEO et al., 2005).

Uma terceira linhagem ancestral denominada de T. cruzi III foi demonstrada e revelou que

esta é constituída por cepas pertencentes ao zimodema 3 (FREITAS et al., 2006), as quais são

correspondentes a subgrupos IIa e IIc (BRISSE et al., 2000, 2001). O parasito passou a ser

classificado então em três linhagens: T. cruzi I, II e III. Por meio da análise da constituição

genética, propuseram ainda que, no mínimo, dois eventos de hibridização entre as linhagens

parentais T. cruzi II e T. cruzi III ocorreram e produziram progênies viáveis evolucionariamente,

levando a formação das cepas híbridas. Em ambos os eventos, o doador citoplasmático para a

geração resultante foi o T. cruzi III (FREITAS et al., 2006). Entretanto, os avanços na

compreensão da estrutura da população do T. cruzi indicaram nova revisão na nomenclatura. Na

recente reunião satélite, um novo consenso foi reconhecido para que nomenclatura das cepas do

T. cruzi fosse adaptada usando a equivalência com as diferentes metodologias estudadas e

classificadas em seis DTUs, T. cruzi I-VI (ZINGALES et al., 2009).

A caracterização molecular de isolados do parasito obtidos de diferentes hospedeiros dos

ciclos domiciliar e silvestre no Brasil tem demonstrado que estes ciclos podem ocorrer de

maneira independente, podendo algumas vezes se sobrepor (MILES et al., 1977; SOUTO et al.,

1996; ZINGALES et al., 1998; MILES et al., 2003). Os marsupiais da família Didelphidae são

animais bem adaptados ao novo mundo e já foram identificados infectados com o TcI (LISBOA

et al., 2004). O TcII tem sido observado em Cingulata, Rodentia e Primata, distribuídos em

vários territórios americanos, ocasionalmente apresentando também o TcIII (LISBOA et al.,

2004; ZINGALES et al., 2009).

No semiárido do Rio Grande do Norte foi demonstrada uma grande diversidade natural na

população do T. cruzi envolvendo TcI e TcII em humanos e TcI, TcII e TcIII em T. brasiliensis e

P. lutzi sugerindo a introdução de DTUs silvestres no ambiente domiciliar com implicações

clínicas desconhecidas (MARCILI et al., 2009; CÂMARA et al., 2010, 2013).

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22

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Caracterizar geneticamente as populações do Trypanosoma cruzi isoladas de pacientes

chagásicos, triatomíneos e mamíferos silvestres naturalmente infectados do semiárido do Estado

do Rio Grande do Norte, associando os grupos encontrados aos ciclos de transmissão do parasito

e as diferentes formas clínicas dos pacientes.

2.2 Objetivos específicos

Isolar as populações do Trypanosoma cruzi de diferentes hospedeiros por métodos

parasitológicos e cultivo em meio acelular;

Identificar a frequência das DTUs (discrete typing units) do Trypanosoma cruzi em

indivíduos e vetores naturalmente infectados e animais de ambiente silvestre;

Avaliar a importância de mamíferos capturados como reservatórios do Trypanosoma cruzi;

Determinar a frequência das DTUs em pacientes chagásicos associando-as com as diferentes

formas clínicas;

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23

3 METODOLOGIA

3.1 Delineamento Experimental

Identificação

taxonômica

Captura dos

triatomíneos

Marcadores genéticos

gene 24S do DNA ribosomal (rRNA)

gene mitocondrial citocromo oxidase

subunidade II (CO II)

espaçador intergênico dos genes miniexon

do T. cruzi (SL-IRac)

Exame direto e xenocultura

Captura dos mamíferos

silvestres

Xenodiagnóstico e xenocultura

Esfregaço corado - Giemsa

Positivo

Cultura acelular e obtenção de massa úmida do

T. cruzi

Extração do DNA e quantificação

Pacientes chagásicos

Exames clínicos e

complementares

Hemocultura

Área endêmica

Mesoregiões Central e

Oeste

M Exames sorológicos

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24

3.2 Área de estudo

O Estado do Rio Grande do Norte (RN), localizado na parte oriental do nordeste brasileiro,

possui 53.077,3km2 e aproximadamente três milhões de habitantes distribuídos em 167

municípios. O clima semiárido, árido ou subúmido seco ocupa aproximadamente 90% do

território estadual, abrangendo a partir da mesorregião Agreste até o litoral setentrional com

chuvas concentradas nos meses de março e abril (IDEMA, 2010). O Estado é dividido em quatro

mesorregiões: Oeste, Central, Agreste e Leste potiguar (Figura 1). Neste trabalho, os diferentes

isolados do T. cruzi foram obtidos de seres humanos, animais e triatomíneos naturalmente

infectados. A mesorregião Oeste, segunda mais populosa do Estado, apresenta 62 municípios

tendo sido estudados 14 municípios: Alexandria, Assú, Apodi, Caraúbas, Governador Dix Sept

Rosado, Lucrécia, Mossoró, Pendências, Riacho de Santana, Rodolfo Fernandes, São Miguel,

Severiano Melo, Serra do Mel e Upanema. A mesorregião Central, a menos populosa, apresenta

32 municípios e três foram incluídos: Acarí, Caicó e Serra Negra do Norte. Em todos os

municípios citados existem áreas rurais com atividade pecuária, animais silvestres, registros de

casos da doença de Chagas e a presença de triatomíneos nos ambientes domiciliar e silvestre. No

ambiente silvestre, a Estação Ecológica do Seridó (ESEC–Seridó), unidade de preservação criada

pelo Decreto 87.222 (31/05/1982), localizada no município de Serra Negra do Norte, foram

realizadas capturas de triatomíneos e do Thrichomys apereoides.

Figura 1 - Mapa do Estado do Rio Grande do Norte destacando as mesorregiões Leste,

Agreste, Central e Oeste. Em verde, os municípios investigados.

Fonte: Modificado pelo autor a partir da base cartográfica do IBGE Disponível em

<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/ufs/download/mapa_e_municipios.php?uf=rn> Acesso em jun de 2012.

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25

3.3 Amostras do Trypanosoma cruzi

As amostras do T. cruzi foram isoladas de triatomíneos e animais naturalmente infectados e

de pacientes com diferentes formas clínicas da doença de Chagas procedentes das mesorregiões

oeste e central. Esses pacientes foram examinados e acompanhados clinicamente pelos médicos

cardiologistas membros do grupo de pesquisa. O termo de consentimento livre e esclarecido

(TCLE) foi obtido individualmente e o protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética

da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (COEP/UERN) sob o Nº 027.2011 e de

acordo com a Resolução 196/96-CNS/MS. A amostragem dos pacientes foi obtida por

conveniência, utilizando três métodos sorológicos para identificar os pacientes infectados por T.

cruzi: ELISA (Chagatest® recombinant ELISA v. 3.0 kit); HAI – Hemaglutinação Indireta

(Chagatest® hemmaglutination inhibition, A-V kit, Wiener Lab®, Rosário, Argentina); e a RIFI

- Reação de Imunofluorescência Indireta, usando como antígeno formas epimastigotas de T.

cruzi Y mantidas em cultura e fixadas com 20% de formolaldeído. Imunoglobulina IgG Anti-

humana marcadas com Isotiocianato de fluoresceína (Sigma Chemical Company®, Missouri,

USA) foi usada como conjugado. O resultado foi considerado positivo para a infecção por T.

cruzi quando dois métodos com diferentes princípios foram reativos (BRASIL, 2005; WHO,

2014). Após a confirmação sorológica, todos os pacientes foram submetidos à coleta sangue para

hemocultura conforme item 3.6.3.

3.4 Captura de triatomíneos

As capturas dos triatomíneos foram realizadas manualmente com auxílio de pinça nas duas

mesorregiões endêmicas em ambientes intradomiciliar, peridomiciliar e silvestre (Figura 2). O

ambiente intradomiciliar é definido como a área interna das residências, comumente frequentada

pelos moradores em suas diversas dependências. O ambiente peridomiciliar foi considerado

como espaço adjacente às casas incluindo abrigos de animais sinantrópicos, telhas, tijolos,

madeira seca, depósitos e cercas até 100m do domicílio (OLIVEIRA et al., 2000). O ambiente

silvestre foi considerado como a área além dos cem metros do peridomicílio, tipicamente não

habitada, com vegetação original da região e animais silvestres em livre movimentação.

No peridomicílio foram pesquisados criadouros animais tais como, chiqueiros, currais,

galinheiros e outros abrigos de animais domésticos. Nos ecótopos naturais foram pesquisados

afloramentos metamórficos, tocas de roedores, tocas de Dasypodidae, ninhos de aves e outros

locais que poderiam servir de abrigo para animais silvestres.

Os triatomíneos coletados foram colocados em frascos etiquetados e a identificação foi

realizada de acordo com os parâmetros da chave de identificação (CARCAVALLO et al., 1998).

Todos os procedimentos de identificação e exame do conteúdo intestinal foram realizados no

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26

Laboratório de Biologia de Parasitos e doença de Chagas, Departamento de Análises Clínicas e

Toxicológicas–DACT/CCS/UFRN.

Figura 2 – Captura de triatomíneos em diferentes ambientes dos municípios investigados. A:

domiciliar; B: peridomiciliar e C: silvestre.

Fonte: Martins, K.

3.5 Captura de mamíferos

A captura de mamíferos foi realizada usando armadilhas tipo “gaiola” de capacidade

variando entre 25cm×8cm×9cm para pequenos animais e 45cm×17,5cm×15cm para animais de

médio porte. As armadilhas foram colocadas no ambiente silvestre entre o anoitecer e o

amanhecer, em ecótopos variados tais como, afloramentos rochosos, troncos de árvores, buracos

cavados por animais, matas ciliares de riachos, trilhas naturais ou artificiais, extensões de cerca

de pedra, depósitos de madeira ou ferramentas, zonas com excesso de alimento disponível ou

proximidades de resquícios de mata virgem, visando minimizar a captura de animais domésticos.

As armadilhas colocadas na ESEC-Seridó seguiram precauções adicionais como, a vigília a

cada duas horas e a ausência de iscas que pudessem perturbar o habitat natural, segundo

orientações dadas pela instituição. Após a captura, os animais foram imobilizados com o auxilio

de luvas de couro, fotografados, identificados taxonomicamente e anestesiados com 60 a 80mg

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27

de ketamina (Cloridrato de cetamina, Vetnil) + 8 a 15mg de xilazina (Dopaser, Vetnil) por kg de

massa corporal do animal (Figura 3). Em cada animal, o xenodignóstico foi realizado segundo

Bronfen et al. (1989) e o sangue coletado preferencialmente da artéria femoral para a confecção

do esfregaço em camada delgada e corado pelo Giemsa.

Figura 3 – Animais capturados nos diferentes municípios. Galea spixii (A) e Euphractus

sexcinctus (B) anestesiados, (C) Xenodiagnóstico em E. sexcinctus e (D) frascos com ninfas de

T. brasiliensis. Fonte: Martins, K.

3.6 Métodos de detecção do T. cruzi

3.6.1 Xenodiagnóstico

O xenodiagnóstico foi inicialmente descrito por Brumpt (1914) e modificado por Dias

(1940) que consiste no uso de ninfas de triatomíneos a partir do 3º estádio. As ninfas foram

colocadas em um recipiente de plástico protegido por uma tela de filó e aplicadas sobre o animal

anestesiado por aproximadamente 30min. Para cada animal foram utilizadas cinco ou seis ninfas

de T. brasiliensis ou T. pseudomaculata. Cada caixa contendo as ninfas foi etiquetada com a

data, local de captura e dados do animal. Em seguida, os recipientes foram mantidos em biotério

e após 15 dias, alimentadas com camundongos (Mus musculus) livres de tripanossomastídeos

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28

sanguíneos. Aos 30 dias, as ninfas foram submetidas ao exame direto do conteúdo intestinal por

dissecação e xenocultura (BRONFEN et al., 1989).

3.6.2 Exame do conteúdo intestinal e xenocultura

Os insetos foram colocados em solução White por 30min, para esterilização externa dos

insetos, e lavados rapidamente em água destilada estéril. Em seguida, em ambiente asséptico,

foram removidas as asas e a cutícula em torno do abdome do inseto com o auxílio de pinça e

tesoura sobre gaze. O conteúdo intestinal de cada triatomíneo foi colocado em um poço de placa

plástica de 24 poços (Corning Incorporated, NY, USA) contendo 500µL de solução salina estéril.

O material foi macerado e dessa mistura uma pequena alíquota foi colocada entre lâmina e

lamínula, seguindo-se o exame ao microscópio óptico com aumento de 100 e 400× para

observação de formas móveis ou imóveis do parasito (BRONFEN et al., 1989) Após o exame

direto do conteúdo intestinal, 200-300µL da mistura foram semeados em um tubo de ensaio com

meio McNeal Novy e Niccole (NNN) ou Agar sangue + 2,5mL de Liver Infusion Tryptose-LIT

(CAMARGO, 1964), incubada a 28ºC e examinados após 30, 60 e 90 dias. As culturas positivas

foram semeadas em meio LIT para o cultivo do parasito por um período curto e criopreservadas

em Nitrogênio líquido (N2) a −196ºC.

3.6.3 Hemocultura

A hemocultura foi realizada conforme descrita por Chiari et al. (1989) coletando de cada

paciente 30mL de sangue venoso utilizando tubos a vácuo heparinizado (Brasmed, Brasil) e

transportados em banho de gelo para o Laboratório de Biologia de Parasitos e doença de

Chagas/CCS/UFRN. A seguir, o sangue foi transferido para um tubo plástico cônico de 50mL

(Falcon®, USA) e centrifugado a 300 × g por 10min à temperatura ambiente, seguido da

remoção do sobrenadante (plasma). Ao sedimento de hemácia foram adicionados 10mL de meio

LIT e centrifugado a 900 × g por 20min a 4°C. Descartado o sobrenadante, ao sedimento de

hemácias foram adicionados 6mL de meio LIT, homogeneizado e 3mL distribuídos em seis

tubos de 15mL, cada um deles contendo 3mL de LIT. Todos os tubos foram incubados a 28°C,

sendo agitados levemente duas vezes por semana e alíquotas de 10µL da suspensão de cada tubo

foram examinadas ao microscópio entre lâmina e lamínula, com aumento de 400×, mensalmente

até 120 dias. A partir das hemoculturas positivas foram realizados cultivos em meio LIT para o

isolamento do parasito, criopreservação das amostras em nitrogênio líquido (N2) a -196º C e

obtenção de massa úmida ou sedimento do parasito. No total, foram realizadas 266 hemoculturas

e a positividade foi 7,52% (20/266). Dessas 266 hemoculturas, 100 foram obtidas de pacientes

residentes na cidade de Caraúbas, 47 na cidade de Caicó e as restantes distribuídas entre as

cidades de Acarí (1/266), Alexandria (1/266), Apodi (16/266), Assú (2/266), Gov. Dix. Sept

Rosado (12/266), Lucrécia (3/266), Mossoró (17/266), Pendências (1/266), Riacho de Santana

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29

(9/266), Rodolfo Fernandes (1/266), São Miguel (5/266), Serra do Mel (2/266), Serra Negra do

Norte (20/266), Severiano Melo (27/266) e Upanema (2/266).

3.7 Cultura acelular e obtenção de massa úmida do T. cruzi

Os isolados do T. cruzi foram cultivados em meio LIT o tempo mínimo necessário para a

obtenção de 107/mL de epimastigotas. As culturas foram lavadas três vezes em tampão KRT

(Krebs-Ringer-Tris) pH 7,2 e concentradas por centrifugação a 2.500rpm (Eppendorf 5450R

Hamburg, Germany) durante 15min a 4oC. O sedimento (massa úmida) de cada isolado foi

armazenado em triplicata a temperatura de ­20oC até o momento da extração do DNA.

3.8 Extração e preparação do DNA genômico do T. cruzi

O sedimento de cada isolado do T. cruzi foi resuspendido em 1mL de tampão de lise

contendo 0,1mg/mL de proteinase K (Promega, Madison, WI, USA) e incubado a 37oC durante

12h. A extração do DNA foi realizada por desproteinização com fenol (v/v), a fase aquosa

recuperada e submetida a extrações com igual volume (v/v), fenol:clorofórmio:álcool isoamílico

(25:24:1) seguida de agitação e centrifugação. Após esta etapa foi adicionado clorofórmio:álcool

isoamílico na proporção de 24:1 e a precipitação do DNA foi realizada com dois volumes de

etanol absoluto a 4ºC adicionado de 0,3M de acetato de sódio a -70oC por 2h. Após

centrifugação e volatilização do etanol, o precipitado foi tratado em 1mL de tampão da

ribonuclease A (Promega) (NaCl 80mM/ EDTA 5mM, pH 8,0, 10U de ribonuclease) e incubado

a 37ºC por 2h, seguida de nova extração e precipitação do DNA. O DNA foi resuspendido em

300µL de tampão Low TE (10mM Tris-HCl e 0,1mM EDTA pH 8,0) e armazenado a 4oC

(MACEDO et al., 1992). As amostras de DNA foram quantificadas em um fluorômetro (Qubit®

2.0 Fluorometer - Life Technologies) e a concentração final de cada amostra de DNA ajustada

para 3ng/L, sendo novamente estocadas a 4ºC até o momento do uso.

3.9 Caracterização molecular do T. cruzi

A caracterização molecular foi realizada usando diferentes marcadores genéticos descritos

que têm como alvos genes que apresentam taxas de evolução lenta e estão relacionados com o

DNA genômico e, como controles foram utilizados cepas e clones do parasito como referência

(Tabela 1).

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30

Tabela 1- Características das cepas e clones de referência do Trypanosoma cruzi e dos marcadores genéticos

aSouto and Zingales (1993); bFreitas et al. (2006); bD’Ávila et al. (2009); cBurgos et al. (2007); pb: pares de bases; DTU: discrete

typing units

Cepas e clones

referência do T.

cruzi

Marcadores genéticos

DTU do

T. cruzi

Referência

24Sα rRNAa

(pb)

COIIb

(haplotype/pb)

SL-IRacc

(pb)

Col1.7G2 110 A/30, 81, 264 150 TcI Frederici et al. (1964)

JG 125 C/81, 212 150 TcII Lages-Silva et al. (2001)

RN19 110 B/81, 294 200 TcIII Câmara et al. (2010)

AM64 117/119 B/81, 294 200 TcIV Monteiro et al. (2010)

3253 110 + 125 B/81, 294 150 TcV Lages-Silva et al. (dados

não publicados)

CL-Brener 125 B/81, 294 150 TcVI Zingales et al. (1997)

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31

3.9.1 PCR do domínio divergente do gene 24S do DNA ribosomal (rRNA)

A amplificação deste gene foi realizada com 2μL do DNA total de cada amostra (na

concentração de 3ng/L) em um volume final de 12,5μL da reação, contendo 0,625 unidades de

Taq DNA polimerase, 3,5mM MgCl2, 10mM Tris-HCl pH 9,0, 50mM KCl, 0,1% Triton C-100

Buffer B 200μM de cada dNTP (Promega), e 0,25μM dos iniciadores D71 e D72 (Tabela 3). Os

30 ciclos de amplificação variaram entre as temperaturas de 94°C, 60°C e 72°C (SOUTO &

ZINGALES, 1993; SOUTO et al., 1996). Os produtos da amplificação foram revelados por

eletroforese em géis de poliacrilamida a 6% corados pela prata (SANTOS et al., 1993) e a

visualização de fragmentos de 110pb, 117/119 e 125 ou de ambos foram comparados com os

controles. Como controles das amplificações, foram utilizados DNA de cepas e clones que

representam as DTUs do T. cruzi na visualização dos fragmentos de ~110pb, 117/119 e/ou

~125pb (Tabela 1).

3.9.2 PCR da subunidade II do citocromo oxidase-gene mitocondrial (CO II)

A amplificação da região gênica que compreende a subunidade II da enzima mitoncondrial

citocromo oxidase do T. cruzi foi realizada usando 1-10ng de DNA de cada amostra em um

volume final de 20µL da reação, contendo 2,5 U de Taq DNA polimerase, 1,5mM MgCl2, 2,0µL

tampão I0 10 (Phoneutria, Minas Gerais, Brasil) 50mM KCl e 10nM TrisHCl, 0,25µ de cada

dNTP (Sigma Chemical Company, Missouri, USA) e 0,25µM de cada iniciador (Tabela 3). As

condições da PCR foram de 30 ciclos: 30 segundos de desnaturação a 94°C, anelamento a 48°C

por 2min e uma extensão a 72C durante 2min. Após amplificação pela PCR, os produtos foram

digeridos com a enzima de restrição AluI (16h) e os fragmentos gerados analisados em gel de

poliacrilamida a 6% (SANTOS et al., 1993). Os fragmentos amplificados foram comparados

com o DNA de cepas e clones correspondentes as DTUs do T. cruzi usados como referência

(Tabela 1). A interpretação do gel foi realizada de acordo com os haplótipos encontrados A, B ou

C. Este marcador não diferencia as cepas TcIII das TcIV e TcVI já que apresentam o mesmo

perfil de restrição para o gene COII (fragmentos: 81 e 294pb) haplótipo B (FREITAS et al.,

2006).

3.9.3 Amplificação do espaçador intergênico dos genes miniexon do T. cruzi (SL-

IRac)

A amplificação da região intergênica dos genes miniexon foi realizada com o DNA das

amostras do T. cruzi submetido a uma PCR contendo 20mM Tris-HCl pH 8,4; 50mM KCl; 3mM

MgCl2; 250mM de cada dNTP e 3µM de cada iniciador TcIII e UTCC (IDT, San Diego, CA,

USA) descritos na tabela 3, 1U de Platinum Taq DNA polimerase (Invitrogen, Carlsbad,CA,

USA); 1,0µL de DNA total (na concentração de 3ng/L) e quantidade de H2O Milli-Q estéril

suficiente para 15L. Estes iniciadores reconhecem as posições entre 368-386pb e 546-570pb da

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32

unidade repetitiva do miniexon do T. cruzi (BURGOS et al., 2007). Os ciclos de amplificação da

PCR consistiram de uma etapa inicial de desnaturação (94ºC, 3min), anelamento (68ºC, 1 min),

extensão dos iniciadores (72ºC, 1 min) e desnaturação (94ºC, 1 min). A cada três ciclos, a

temperatura de anelamento foi diminuída para 66, 64, 62 e 60ºC. Na última temperatura o

número de ciclos foi aumentado para 35, seguida de uma extensão final (72ºC, 10 min). Os

produtos amplificados foram revelados em gel de poliacrilamida 6% corado pela prata

(SANTOS et al., 1993) que permitiu distinguir TcIII e TcVI (que amplificam um fragmento de

~200pb) das cepas pertencentes ao TcI, TcII, TcV e TcVI que amplificam um fragmento de

~150pb (BURGOS et al., 2007). O DNA de cepas e/ou clones do T. cruzi referência foram

usados como padrão de comparação (Tabela 2).

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33

Tabela 2 - Características e referências dos iniciadores utilizados nas reações da PCR para caracterização molecular do T. cruzi

PCR DNA alvo Iniciador Sequência (5’ - 3’) Referência Fragmento

amplificado

(pares de base)

DTUs

24Sα rDNA

Domínio D7

D71

AAGGTGCGTCGACAGTGTGG

Souto & Zingales

(1993)

110

TcI, TcIII, TcV

D72

TTTTCAGAATGGCCGAACAGT

125

117/119

TcII, TcVI, TcV

TcIV

CO II (RFLP)

Mitocondrial

TcMit-21

TTGTAATAGGAGTCATGTT*

Freitas et al.

(2006)

30, 81 e 264** TcI

TcMit-10

CCATATATTGTTGCATTATT*

81 e 294** TcIII, TcIV, TcV,

TcVI

81 e 212** TcII

SL-IRac

Miniexon

UTCC

CGTACCAATATAGTACAGAAACTG

Burgos et al.

(2007)

~150-157

TcI, TcII, TcV,

TcVI

TcIII

CTCCCCAGTGTGGCCTGGG

200

TcIII, TcIV

*Amplifica um fragmento de 375pb com três sítios de restrição para a enzima AluI; **Fragmentos obtidos após a digestão com a enzima AluI.

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34

4 RESULTADOS

4.1 Infecção natural pelo T. cruzi em mamíferos

Do total de 42 mamíferos capturados, o índice de infecção por T. cruzi foi 9,5% (4/42)

detectado por xenodiagnóstico e/ou xenocultura. O índice de infecção de Galea spixii foi 25%

(1/4), Euphractus sexcinctus 8,5% (3/35) e entre as espécies Oryctolagus cuniculus e

Trichomys apereoides, nenhum animal foi encontrado infectado. A espécie O. cuniculus foi

capturada em criadouros peridomiciliares e T. apereoides em ambiente silvestre (Tabela 3).

Tabela 3 – Origem e infecção natural pelo T. cruzi em mamíferos por xenodiagnóstico e

xenocultura

Espécie Número de

animais

Origem XD

P/T

XC

P/T

%

(P/T)

Galea spixii 4 Caraúbas 0/4 1/4 25,0% (1/4)

Euphractus sexcinctus 35 Caraúbas

Caicó

S. Melo

3/35 2/35 8,6% (3/35)

Oryctolagus cuniculus 2 Caraúbas 0/2 0/2 0,0% (0/2)

Thrichomys apereoides 1 S. Melo 0/1 0/1 0,0 (0/1)

S. Melo: Severiano Melo; XD: xenodiganostico; XC: xenocultura; P: positivo; T:total; %: Percentagem de

amostras positivas

4.2 Infecção natural dos triatomíneos pelo T. cruzi

As capturas dos triatomíneos foram realizadas em seis municípios, com 160 espécimes

capturados e identificados, sendo 141 da espécie T. brasiliensis, dez da T. pseudomaculata e

nove da P. lutzi. O exame do conteúdo intestinal foi realizado por dissecção do abdome

seguido de exame direto e xenocultura. Apenas dois exemplares da espécie P. lutzi (Pl0812 e

Pl0213) foram encontrados infectados pelo T. cruzi, e o parasito foi cultivado para a

caracterização molecular. As espécies T. brasiliensis e T. pseudomaculata foram capturadas

em ambientes peridomiciliares e silvestres, principalmente em telhas e tijolos amontoados

(peridoméstico) e afloramentos rochosos (silvestre), e todos não infectados.

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35

4.3 Genotipagem dos isolados do Trypanosoma cruzi

O T. cruzi foi isolado de 16 pacientes chagásicos, de dois exemplares do P. lutzi e de

dois mamíferos das espécies G. spixii e E. sexcinctus, totalizando 20 amostras (Tabela 4). O

T. cruzi foi isolado por hemocultura de 16 indivíduos e cultivado para caracterização

molecular. Desses, oito foram classificados como portadores da forma indeterminada (1150,

1317, 1816, 2549, 2934, 105, CBS 195, SM76); seis da forma clínica cardíaca (2137, 240,

3973a, CBS202, RN79 e SM73) e dois da forma digestiva (3188 e RN26). A análise do perfil

genético utilizando o marcador rDNA 24Sα identificou o fragmento de 125pb correspondente

ao rDNA 1 em 43,8% (7/16) das amostras obtidas de humanos e o fragmento de 110pb

correspondente ao rDNA 2 em 56,2% (9/16). As amostras do parasito isoladas de mamíferos

silvestres e P. lutzi mostraram o perfil de rDNA 2 em 100,0% (4/4) delas (Figura 4).

Figura 4 – Gel de poliacrilamida a 6%, revelado pela prata, representativo da amplificação do gene

rDNA 24Sα de isolados do T. cruzi obtidos de pacientes chagásicos e animais silvestres. Canaleta 1:

PM, peso molecular (Ladder 100 pares de bases-pb); Canaletas 2 a 7: TcI-VI (controles

correspondentes às diferentes DTUs do T. cruzi); Canaletas 8 a 10: DNA de amostras obtidas dos

pacientes 105, CBS 195 e SM76; Canaletas 11 a 14: DNA de amostras obtidas de Panstrongylus

lutzi (Pl0812 e Pl0213), Euphractus sexcinctus (Es18) e Galea spixii (Gs3); CN: mistura de

reagentes sem DNA.

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36

Tabela 4 – Origem, localidade, características epidemiológicas e genotipagem de isolados do T. cruzi obtidos de pacientes chagásicos, Panstrongylus

lutzi, Euphractus sexcinctus e Galea spixii. (continua)

Isolados

do T.

cruzi

Hospedeiro Forma clínica

Município Idade Sexo 24Sα

rDNAa

(pb)

COIIb

(haplótipo/pb)

SL-IRc

(pb) DTU

1150 Humano Indeterminada Caicó 44 Masculino 110 A/30, 81, 264 150 TcI

1816 Humano Indeterminada Caicó 45 Feminino 110 A/30, 81, 264 150 TcI

2137 Humano Cardíaca S. Melo 32 Feminino 110 A/30, 81, 264 150 TcI

2549 Humano Indeterminada Apodi 27 Feminino 110 A/30, 81, 264 150 TcI

3188 Humano Digestiva Assú 62 Masculino 110 A/30, 81, 264 150 TcI

CBS 202 Humano Cardíaca Caraúbas 88 Masculino 110 A/30, 81, 264 150 TcI

240 Humano Cardíaca Caicó 29 Masculino 125 C/81, 212 150 TcII

1317 Humano Indeterminada DSR 58 Masculino 125 C/81, 212 150 TcII

2934 Humano Indeterminada Caicó 44 Masculino 125 C/81, 212 150 TcII

3973a Humano Cardíaca Acari 72 Masculino 125 C/81, 212 150 TcII

RN26 Humano Digestiva SNN 56 Masculino 125 C/81, 212 150 TcII

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37

Tabela 4 – Origem, localidade, características epidemiológicas e genotipagem de 20 isolados do T. cruzi obtidos de pacientes chagásicos, Panstrongylus

lutzi, Euphractus sexcinctus e Galea spixii. (conclusão)

Isolado

s do T.

cruzi

Hospedeiro Forma clínica

Município Idade Sexo 24Sα

rDNAa

(pb)

COIIb

(haplótipo/pb)

SL-IRc

(pb) DTU

RN79 Humano Cardíaca SNN 43 Feminino 125 C/81, 212 150 TcII

SM73 Humano Cardíaca S. Melo 64 Feminino 125 C/81, 212 150 TcII

105 Humano Indeterminada Caicó 39 Feminino 110 B/81, 294 200 TcIII

CBS195 Humano Indeterminada Caraúbas 40 Feminino 110 B/81, 294 200 TcIII

SM76 Humano Indeterminada S. Melo 67 Feminino 110 B/81, 294 200 TcIII

Gs3 G. spixii - Caraúbas Adulto Macho 110 B/81, 294 200 TcIII

Es18 E. sexcinctus - Caraúbas Adulto Macho 110 B/81, 294 200 TcIII

Pl0213 P. lutzi - SNN Adulto Macho 110 B/81, 294 200 TcIII

Pl0812 P. lutzi - SNN Adulto Fêmea 110 B/81, 294 200 TcIII

DSP: Dix Sept Rosado; S. Melo: Severiano Melo; SNN: Serra Negra do Norte; Pl082 e Pl0213: Panstrongylus lutzi; Es18: E. sexcinctus; Gs3: Galea

spixii

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38

A análise do perfil genético utilizando o marcador COII revelou os três haplótipos em

seres humanos e apenas o haplótipo B em animais silvestres (Figura 5). Das 16 amostras

isoladas de humanos, 37,5% (6/16) mostraram fragmentos de 31, 81 e 264pb correspondentes

ao haplótipo A; 18,7% (3/16) fragmentos de 81 e 294pb correspondentes ao haplótipo B e

43,8% (7/16) fragmentos de 81/82 e 212pb que correspondem ao haplótipo C. Os isolados

obtidos de hospedeiros silvestres apresentaram perfis correspondentes ao háplotipo B em

100,0% (4/4) das amostras. Comparando-os com as cepas controle, todos os isolados com

perfil de rDNA 2 e haplótipo A correspondem a DTU I (TcI) e os isolados rDNA 1 e

haplótipo C a DTU II (TcII). Das amostras isoladas de pacientes chagásicos 37,5% (6/16)

correspondem ao TcI e 43,8% (7/16) ao TcII.

Figura 5 – Gel de poliacrilamida a 6% revelado pela prata, representativo da amplificação dos

fragmentos do gene mitocondrial COII do T. cruzi obtidos de pacientes chagásicos e animais

silvestres, após a digestão com a enzima Alu I (RFLP-Restriction Fragment Lenght

Polymorphism). Canaleta 1: PM, peso molecular (Ladder 100 pares de bases-pb); Canaletas 2 a

7: Controles correspondentes às diferentes DTUs do T. cruzi (Col1.7G2, amplificação dos

fragmentos de 81 e 264pb, perfil correspondente ao haplótipo A; JG, fragmentos de 81 e 212pb,

referentes ao haplótipo C; RN19, AM64, 3253 e CL-Brener, amplificação dos fragmentos de 81

e 294pb, correspondentes ao haplótipo B); Canaletas 8 a 10: DNA de amostras obtidas dos

pacientes 105, CBS 195 e SM76; Canaletas 11 a 14: DNA de amostras obtidas de Panstrongylus

lutzi, (Pl0812 e Pl0213), Euphractus sexcinctus (Es18) e Galea spixii (Gs3); CN: mistura de

reagentes sem DNA.

Page 39: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de ... · Figuhra 1 Mapa do Estado do Rio Grande do Norte com os limites das mesorregiões leste, agreste, central e oeste. 24 Figura

39

Os isolados correspondentes ao haplótipo B foram diferenciados entre T. cruzi III

(TcIII) e TcIV-TcVI usando como marcador o espaçador intergênico dos genes de miniexon

(Figura 6). As três amostras obtidas de humanos e as quatro amostras de animais silvestres

que mostraram um perfil de rDNA 2, haplótipo B e SL-IRac de ~150pb correspondem a DTU

III (TcIII). Essas amostras totalizam 18,7% (3/16) das amostras humanas e 100% (4/4) das

amostras animais (Tabela 4).

A infecção por TcI foi detectada em 37,5% (6/16) dos pacientes e 50,0% (3/6) deles são

portadores da forma clínica indeterminada, 33,3% (2/6) da forma cardíaca, e 16,6% (1/6) da

forma digestiva. O TcII foi isolado de 43,8% (6/16) dos pacientes e 57,0% (4/7) desses são

portadores da forma clínica cardíaca, 14,5% (1/7) da forma digestiva e 28,5% (2/7) da forma

indeterminada. O TcIII foi identificado em 18,7% (3/14) dos pacientes e todos com a forma

clínica indeterminada (Tabela 5).

Figura 6 – Gel de poliacrilamida a 6%, revelado pela prata, representativo da amplificação

da amplificação do espaçador intergênico dos genes de miniexon dos isolados do T. cruzi

obtidos de pacientes chagásicos e animais silvestres. Canaleta 1: PM, peso molecular

(Ladder 100 pares de bases-pb); Canaletas 2 a 7: Controles correspondentes às diferentes

DTUs do T. cruzi (Col 1.7G2, JG, RN19, AM64, 3253 e CL-Brener); Canaletas 8 a 10:

DNA de amostras obtidas dos pacientes 105, CBS 195 e SM76; Canaletas 11 a 14: DNA

de amostras obtidas de Panstrongylus lutzi (Pl0812 e Pl0213), Euphractus sexcinctus

(Es18) e Galea spixii (Gs3); CN: mistura de reagentes sem DNA.

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40

Tabela 5 – Discrete typing units (DTU) do T. cruzi isoladas de pacientes chagásicos com

diferentes formas clínicas

DTU: discrete typing units; %: percentage

4.4 Distribuição geográfica das DTUs

A distribuição das DTUs dos pacientes chagásicos mostrou diversidade nos municípios

de Caicó e Severiano Melo, onde foram isoladas as DTUs I, II e III, enquanto em outras

localidades foram identificadas apenas uma ou duas DTUs diferentes. No município de

Caraúbas, as DTUs I e III foram isoladas de seres humanos e, apenas a DTU III foi

identificada nos mamíferos G. spixii e E. sexcinctus. No município de Serra Negra do Norte,

as DTUs II e III correspondem aos pacientes chagásicos e P. lutzi, respectivamente (Figura 7).

DTU do

T. cruzi

Formas clínicas dos pacientes

Indeterminada (%) Cardíaca (%) Digestiva (%) %

TcI 50,0 (3/6) 33,3 (2/6) 16,6 (1/6) 37,5 (6/16)

TcII 28,5 (2/7) 57,0 (4/7) 14,5 (1/7) 43,8 (6/16)

TcIII 100,0 0,0 0,0 18,7 (3/14)

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41

Figura 7 – Mapa do Estado do Rio Grande do Norte mostrando a distribuição das

DTUs do T. cruzi nos municípios estudados das mesorregiões Oeste e Central.

5 Discussão

A caracterização molecular de isolados do T. cruzi obtidos de pacientes crônicos,

mamíferos silvestres e P. lutzi procedentes da zona rural do semiárido do Rio Grande do

Norte revelou uma marcante diversidade genética do parasito. A análise dos isolados do T.

cruzi usando marcadores do polimorfimo do gene 24S do DNA ribosomal (SOUTO &

ZINGALES, 1993), do gene mitocondrial citocromo oxidase subunidade II (FREITAS et al.,

2006) e do espaçador intergênico dos genes miniexon (BURGOS et al., 2007) demonstrou

que foi possível identificar as DTUs I, II e III (ZINGALES et al., 2009) em humanos e TcIII

em insetos e animais silvestres.

O T. cruzi I (TcI) foi identificado em quatro municípios da mesorregião oeste e um da

central, sugerindo uma ampla distribuição desta DTU pelo semiárido do Estado. No Brasil,

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42

essa DTU tem sido associada às infecções em áreas rurais e a maioria dos casos agudos na

Amazônia (COURA et al., 2002; AGUILAR et al., 2007), sendo que no Rio Grande do Norte

e na Paraíba, têm sido relatados casos de infecção crônica humana sem associação com a

forma clínica (BARNABÉ et al., 2005; TEIXEIRA et al., 2006; CÂMARA et al., 2010). A

notificação de complicações graves associadas à DTU I é considerada rara no país (MILES et

al., 1981; ZINGALES et al., 1999; COURA et al., 2002; BUSCAGLIA & DI NOIA, 2003),

todavia neste trabalho foi identificada em pacientes com formas clínicas cardíaca, digestiva e

indeterminada. Uma possível explicação para essa diversidade de formas clínicas seria a

existência de variabilidade das populações do TcI nesta área endêmica. Algumas

características genéticas dessa DTU foram estudadas usando os genes do miniexon

(HERRERA et al., 2007; O’CONNOR et al., 2007; FALLA et al., 2009; CURA et al., 2010)

e a análise do citocromo b (RAMIREZ et al., 2011), mostrando heterogeneidade entre

isolados de regiões diferentes,correlacionando com estudos que sugerem que a DTU I pode

sofrer seleção dependendo dos hospedeiros, vetores e ambiente (FERNANDES et al., 1999).

Se for esse o caso, testes adicionais entre os isolados do TcI poderão ajudar a associar clones

específicos dessa DTU com as manifestações clínicas cardíaca, digestiva e indeterminada.

O T. cruzi II (TcII) foi identificado em dois municípios da mesorregião oeste e três

municípios da central, corroborando com dados de que a DTU II foi expressiva no semiárido

potiguar (CÂMARA et al., 2010, 2013). Existem evidências de que as populações do TcII são

mais patogênicas do que TcI (TOLEDO et al., 2003) e que é a principal DTU associada as

complicações cardíacas e digestivas no Brasil (FREITAS et al., 2005; YEO et al., 2005;

LAGES-SILVA et al., 2006). Estudos anteriores no Rio Grande do Norte mostraram que essa

DTU possui elevada homologia pela análise de microssatélites e RAPD entre os isolados

obtidos de seres humanos e vetores de diferentes localidades (CÂMARA et al., 2010, 2013).

Neste trabalho, a DTU II foi isolada de pacientes com formas clínicas cardíaca, digestiva e

indeterminada, sugerindo que mesmo com grande homologia genética, essa DTU pode causar

diferentes manifestações clínicas.

O T. cruzi III (TcIII) foi isolado de três pacientes na fase crônica da doença em dois

municípios da mesorregião oeste e um da central. Esta é a primeira vez que essa DTU é

isolada de seres humanos do Estado do Rio Grande do Norte. A DTU III tem sido considerada

como predominante em ambientes silvestres, associada a algumas espécies de tatus e poucos

relatos em humanos (LLEWELLYN et al., 2009; MARCILI et al., 2009; MILES et al., 2009;

Page 43: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de ... · Figuhra 1 Mapa do Estado do Rio Grande do Norte com os limites das mesorregiões leste, agreste, central e oeste. 24 Figura

43

ZINGALES et al., 2012). Os três pacientes infectados por TcIII com a forma clínica

indeterminada, a faixa etária está de 39 e 67 anos de idade, e mesmo identificada em baixo

número, esse dado sugere que essa DTU seja menos nociva do que as DTUs I e II.

O TcIII também foi identificado em E. sexcinctus (Linnaeus, 1758), conhecido como

peba, e G. spixii (WAGLER, 1831), conhecido como preá, e no vetor silvestre P. lutzi. As

espécies G. spixii e E. sexcinctus foram capturadas em Caraubas, Caicó e Severiano Melo e

próximas às residências, confirmando o hábito sinantrópico desses animais. A infecção pelo

T. cruzi nesses mamíferos foi evidenciada a parasitemia pelo xenodiagnóstico e, a

possibilidade de ocorrer infecção humana devido à prática da caça com risco mais elevado

para aqueles indivíduos que manejam e preparam os animais para o consumo. A identificação

do TcIII em humanos, mamíferos silvestres e P. lutzi, chama a atenção para a possibilidade de

as DTUs silvestres poderão alcançar os ambientes peridomiciliar e domiciliar na área

endêmica estudada.

O papel dos mamíferos silvestres como hospedeiros do T. cruzi cruzi tem sido relatado

em algumas regiões das Américas. No semiárido do Chaco paraguaio, o E. sexcinctus foi

identificado em quatro de 23 animais investigados, ressaltando sua importância como

reservatório por ser animal apreciado na culinária (YEO et al., 2005). Essa espécie também

tem sido relatada como hospedeira na região úmida do Chaco argentino (OROZCO et al.,

2013) e em amostras de sangue desses animais no semiárido do Rio Grande do Norte

(MARCILI et al., 2009). A espécie G. spixii foi estudada na Serra da Capivara, reserva que

possui biomas do tipo caatinga e floresta tropical, mostrando soroprevalência e parasitemia

baixa, sendo considerada nesse ambiente como hospedeiro acidental (HERRERA et al.,

2005). As grandes áreas de dispersão geográfica dessas espécies na América do Sul sugerem

que esses animais possam funcionar como transporte do parasito entre o ambiente silvestre e

peridomiciliar ou entre biomas adjacentes, visto que ambas as espécies podem viver por

alguns anos e que possuem grande capacidade locomotora.

No entanto, outros reservatórios e vetores podem estar associados com a manutenção do

ciclo, uma vez que o TcIII tem sido relatado em outras espécies de tatus, carnívoros,

marsupiais, roedores e animais domésticos de diferentes regiões (BRISSE et al., 2003; YEO

et al., 2005; FREITAS et al., 2006; LLEWELLYN et al., 2009; MARCILI et al., 2009;

MONTEIRO et al., 2010). Entretanto, outros fatores parecem contribuir para que estes

animais desempenhem papel importante na epidemiologia do parasito como, o hábito dos

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44

moradores rurais em manter esses animais em cativeiro por longos períodos de engorda,

oferecendo oportunidade de alimentação para os triatomíneos e, possível infecção com as

DTUs silvestres. Além disso, a sazonalidade climática do semiárido com severo período de

seca torna o peridomicílio local atrativo para a busca de alimentos como, legumes, raízes,

tubérculos e restos alimentares, atraindo os animais silvestres para o peridomicilio. A espécie

G. spixii foi encontrada com facilidade nos anexos do peridomícílio como, armazéns para

ferramentas, lavanderias abandonadas, garagens e amontoados de madeira ou construção civil,

e nesses locais também foram encontrados T. brasiliensis e T. pseudomaculata sugerindo que

esse mamífero pode ser um reservatório mais importante para estabelecer o ciclo domiciliar

de transmissão do que o E. sexcinctus.

A dispersão das DTUs I, II e III nas duas mesorregiões cobre uma área equivalente a

mais de 50% do Estado, sugerindo que não existe predominância geográfica de determinada

DTU em alguns muncípios. As três DTUs podem ser encontradas em seres humanos das duas

mesorregiões ou mesmo em cidades distantes mais de 150km como no caso dos municípios

de Caicó e Severiano Melo. A distribuição geográfica e a diversidade das DTUs estudadas

aqui sugerem uma sobreposição dos ciclos silvestre e peridomiciliar, uma vez que a DTU III,

considerada silvestre, foi encontrada em seres humanos de diferentes municípios, sem

qualquer evidência epidemiológica de transmissão oral ou transfusional. Essa sobreposição

seria caracterizada pela proximidade do peridomicílio e o ambiente silvestre, pois as

residências rurais se encontram literalmente inseridas no bioma caatinga e expostas a presença

de vetores e reservatórios silvestres. O risco da exposição humana as DTUs silvestres se

associa com o uso da vegetação como recurso natural para o pasto de caprinos, como fonte de

madeira para construção civil e como combustível, visto que a destruição do ambiente natural

pode forçar a proximidade de triatomíneos às moradias humanas (MILES et al., 1981;

COURA et al., 2002) reduzindo assim a eficácia dos programas de vigilância entomológica.

Estudos com as DTUs I e II do T. cruzi isoladas especificamente de pacientes com

diferentes formas clínicas poderão contribuir na identificação de genes ou clones dentro

desses grupos que podem estar envolvidos no desenvolvimento das manifestações cardíacas

ou digestivas. As amostras de TcIII obtidas de seres humanos também poderão ser

comparadas com as de animais silvestres e vetores de uma mesma região, permitindo observar

se existe algum tipo de seleção de clones mais adaptados a cada um desses hospedeiros. Além

disso, a identificação de E. sexcinctus e G. spixii como reservatórios do parasito será

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45

notificada aos órgãos de vigilância em saúde do Estado, ajudando as equipes municipais a

identificar áreas de risco mais elevado e informar a população sobre o risco em lidar com

essas espécies de mamíferos.

6 Conclusões

As DTUs I, II e III foram detectadas em pacientes na fase crônica da doença de

Chagas procedentes das mesorregiões central e oeste potiguar;

A DTU III foi identificada pela primeira vez em pacientes na fase crônica da doença

de Chagas no semiárido brasileiro e associada à forma clínica indeterminada;

As DTUs I e II foram isoladas de pacientes portadores das diferentes formas clínicas,

sem associação evidente entre DTUs e manifestações clínicas específicas;

A DTU III foi isolada dos mamíferos E. sexcinctus e G. spixii procedentes das

mesorregiões central e oeste potiguar e do vetor P. lutzi na mesorregião central;

A distribuição geográfica das DTUs do T. cruzi em diferentes localidades e

hospedeiros sugere um novo cenário epidemiológico no semiárido do Estado Rio

Grande do Norte mostrando a sobreposição dos ciclos silvestre e peridomiciliar.

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