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OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA LETAL INTENCIONAL NO RIO GRANDE DO NORTE ED 07 - FEVEREIRO/2017 NESTA EDIÇÃO: SISTEMA PENITENCIÁRIO: O PRIMEIRO PROPULSOR DA VIOLÊNCIA HOMICIDA EM 2017 O IMPACTO DOS HOMICÍDIOS DE ALCAÇUZ ALCAÇUZ: ANÁLISE DE UMA CRISE ANUNCIADA ALCAÇUZ: ÚNICA CULPADA? O AGONIZANTE ELEFANTE POTIGUAR BOLETIM MENSAL DE JANEIRO DE 2017 COMPARADO A 2015 E 2016.

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OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA LETAL INTENCIONAL NO RIO GRANDE DO NORTE ED 07 - FEVEREIRO/2017 NESTA EDIÇÃO: SISTEMA PENITENCIÁRIO: O PRIMEIRO PROPULSOR DA VIOLÊNCIA HOMICIDA EM 2017 O IMPACTO DOS HOMICÍDIOS DE ALCAÇUZ ALCAÇUZ: ANÁLISE DE UMA CRISE ANUNCIADA ALCAÇUZ: ÚNICA CULPADA? O AGONIZANTE ELEFANTE POTIGUAR BOLETIM MENSAL DE JANEIRO DE 2017 COMPARADO A 2015 E 2016.

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SUMÁRIO Expediente ................................................................................................................................. 5

Méritos, conquistas e recompensas. .................................................................................................. 5

Sistema Penitenciário: o primeiro propulsor da violência homicida em 2017 ................................................. 6

Alcaçuz: Análise de uma crise anunciada ............................................................................................. 7

Alcaçuz: única culpada? ............................................................................................................... 11

O Agonizante Elefante Potiguar ...................................................................................................... 15

Boletim analítico mensal comparado ............................................................................................... 16

1. Dinâmica espacial da violência ............................................................................................... 16

a. Mesorregiões Potiguares e Região Metropolitana de Natal .............................................................. 16

b. Municípios Motores ............................................................................................................. 17

i. Natal ............................................................................................................................... 18

ii. Parnamirim ........................................................................................................................ 20

iii. Mossoró ........................................................................................................................... 23

2. Ação e instrumentação dos crimes .......................................................................................... 26

a. Ação Letal ......................................................................................................................... 26

b. Meio e/ou instrumento empregado ........................................................................................... 27

3. Perfis das Vítimas ............................................................................................................... 28

a. Gênero ............................................................................................................................. 28

b. Etnia ............................................................................................................................... 29

c. Faixa Etária ....................................................................................................................... 30

4. Variação Criminal ................................................................................................................ 31

a. Variação Mensal ................................................................................................................. 31

b. Outras aferições de variação .................................................................................................. 32

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5. Resumo Final ..................................................................................................................... 34

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EXPEDIENTE

OBVIO - OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA LETAL

INTENCIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE

FICHA INSTITUCIONAL

PRESIDENTE DE HONRA

MARCOS DIONISIO MEDEIROS CALDAS

COORDENADORES

CEZAR ALVES DE LIMA IVENIO HERMES THADEU DE SOUSA BRANDÃO

EQUIPE TÉCNICA E COLABORADORES

ABRAÃO DE OLIVEIRA JUNIOR ELMA GOMES PEREIRA JOSEMARIO ALVES LEYSSON CARLOS MANUEL SABINO PONTES MARCELINO NETO DANIEL OLIVEIRA BARBALHO SÁSKIA SANDRINELLI HERMES SIDNEY SILVA

CONSELHO EDITORIAL

RAFAEL IGOR ALVES BARBOSA SÁSKIA SANDRINELLI HERMES SHEYLA PAIVA PEDROSA BRANDÃO

EQUIPE DO LABORATÓRIO DE PESQUISA DO OBVIO - OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA DO RIO

GRANDE DO NORTE

COORDENADOR ACADÊMICO

THADEU DE SOUSA BRANDÃO

COORDENADOR DE PESQUISA

IVENIO HERMES

COORDENADOR DE IMPRENSA

CEZAR ALVES DE LIMA

COORDENADOR DE ESTATÍSTICAS

SANCLAI VASCONCELOS SILVA

LABORATÓRIO DE PESQUISA UFERSA E UNP

ANA LOUISE SILVA ANNA KARINA MOTA MORAES MAIA FILLIPE AZEVEDO RODRIGUES FLÁVIO FÉLIX DE FREITAS HANNA CAROLINE MACÁRIO DIAS ROCHA KÉCIA SAIONARA FERREIRA DE OLIVEIRA MOEMA MARCELI OLIVEIRA DE MOURA NIEDERLAND TAVARES LEMOS RAFAEL ANDREW GOMES DANTAS REBECA STEPHANIE COSTA DOS SANTOS

SISTEMATIZAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO

METODOLOGIA METADADOS COLETA, INTERPOLAÇÃO E CONCATENAÇÃO

NATAL/RN FEVEREIRO, 2017 A METODOLOGIA METADADOS E OS MEIO DE CONSOLIDAÇÃO DE

DADOS E OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES UTILIZADO PELO OBVIO, SÃO DE PROPRIEDADE SOCIAL E PERTENCEM AO POVO DO RIO

GRANDE, SENDO VEDADA SUA UTILIZAÇÃO COMERCIAL OU PARA

FINS DE PROPAGANDA GOVERNAMENTAL.

MÉRITOS, CONQUISTAS E RECOMPENSAS.

O final do primeiro mês de 2017 não parece anunciar um bom ano para a segurança da população potiguar, tudo porque o mote técnico inicial de 2015, mesmo com suas falhas, foi substituído pelo empirismo de gestores inábeis para lidar com o complexo universo da segurança pública.

Enquanto a gestão administrativa recebe o impacto da perda da credibilidade porque, primeiro, as instituições que atuam diretamente no combate à criminalidade não conseguem se entender, segundo porque os projetos motores da gestão de segurança como o Ronda Cidadã e as Áreas Integradas de Segurança Pública não estão sendo aferidos quanto à sua eficácia e não possuem controles de conhecimento público acerca de sua qualidade.

O OBVIO tem publicado inúmeras análises e artigos que poderiam no mínimo serem considerados como colaborações para uma análise criteriosa do que vem acontecendo no estado e como essa criminalidade pode ser detida. Aliás, nunca é tarde para relembrar que enquanto a equipe do OBVIO, por meio de sua metodologia, colaborava com o Governo do Estado, tínhamos mais transparência, relatórios críveis e que ajudaram a reduzir em 5,4% a violência homicida no Rio Grande do Norte inteiro. Feito inédito e pelo qual nunca lhe foi atribuído o menor crédito e nem sequer um agradecimento.

Mas continuamos nossa contribuição pro bono para a sociedade potiguar, afinal, somos partidários da paz, da construção de conhecimento gerador de soluções para toda a população nascida ou residente no Grande do Norte. A seriedade com a qual tratamos os dados públicos nos deu credibilidade o suficiente para sermos consultados por grandes jornais como O Globo, El País, UOL, Folha de São Paulo, Estadão, The Times, além dos veículos de comunicação locais que nem citaremos para não sermos cansativos em citar uma lista bem robusta.

Assim chegamos à nossa 7ª edição do Boletim do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional do RN, Grupo de Pesquisa da Universidade Federal Rural do Semi-Àrido (UFERSA), cadastrado no CNPQ, com um Laboratório de Pesquisa com Núcleo na Universidade Potiguar (UnP). Muito obrigado a todos que contribuem conosco, nos incentivam e nos emprestam força para continuar esse trabalho.

Ivenio Hermes

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SISTEMA PENITENCIÁRIO: O PRIMEIRO PROPULSOR DA VIOLÊNCIA HOMICIDA EM 2017

O ano de 2017 começou com um grande propulsor da violência homicida, algo anunciado e que já vinha sido previsto há tempos: a mortandade originada no sistema de privação de liberdade, oriunda de rixas entre facções rivais do crime organizado.

Mas o fato mais alarmante é que esse recorte das macrocausas da violência não foi reconhecido pela Administração Estadual do RN, e o poder e capacidade de articulação das facções criminosas foi subestimado ou ignorado, fazendo-os desfilar seu controle em cenas que evidenciaram uma imagem negativa do Rio Grande do Norte para todo o mundo. Que prejuízos enormes: para a atração de investimentos no estado, para o turismo, para a imagem da segurança pública estadual e para a segurança de todos: estejam dentro dos muros das prisões ou fora nas ruas das cidades potiguares.

A ausência de planejamento estratégico causa um prejuízo enorme para o Estado, que o sistema reativo das políticas de segurança pública mais uma vez demostrou suas falhas. Para debelar a crise de março de 2015, cujo índice de periculosidade foi bem menor, foram necessários 10 dias e ações e um GGI – Gabinete de Gestão de Integrada que parece não ouvir seus membros e já chega para a reunião como um procedimento pré-estabelecido. Na crise do final de julho e início de agosto de 2016, em decorrência da instalação dos

bloqueadores de sinal de celular, foi gasto mais tempo para no final recorrer às forças armadas. E nesse evento de Alcaçuz, que poderia ser debelado no dia seguinte, ao amanhecer, mas foram gastos quinze dias, onde novamente decisões controversas foram tomadas e outra vez a solução foi recorrer às Forças Armadas.

A conclusão a que se chega é que a gestão executiva está tão mal assessorada, que leva ao público mensagens equivocadas de retomada de controle da situação de Alcaçuz, propala ideias de pessoas sem capacidade técnica como a do “paredão humano” enquanto um muro seria construído, além de lidar com sugestões conflitantes oriundas dos gestores das principais pastas responsáveis por gerir a crise: A Secretaria de Justiça e Cidadania e a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social.

O resultado foi a perda do protagonismo da segurança pública pela SESED, restando pequenos focos isolados de esforços pessoais de alguns gestores das polícias e dos próprios agentes encarregados de aplicar a lei. A violência que partia de dentro dos presídios não foi tratada com a devida seriedade, provocando e retroalimentando a violência do lado de fora.

Assim como a sociedade potiguar parece não acreditar mais na administração estadual para prover sua segurança, os criminosos percebem isso, e agem com mais audácia, sem respeitar nem as bases, delegacias e viaturas de polícia. Alcaçuz expôs toda a fragilidade das políticas de segurança pública, a morte se alastra em atinge um número outra vez inédito: 206 homicídios somente em janeiro de 2017! Uma locomotiva sem controle, sem freio, sem ordem, ficando cada vez mais difícil de ser freada.

Não parece existir perspectivas de melhorias nesse cenário e 2017 mal começou, impulsionado com 40,1% de elevação no número de homicídios comparados ao mesmo período de 2016.

1 Foto: Os corpos de Alcaçuz (Imagem cedida)

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ALCAÇUZ: ANÁLISE DE UMA CRISE ANUNCIADA Por Ivenio Hermes1

Indícios de uma futura crise No dia 11 de março de 2015, uma rebelião teve como palco os pavilhões 1 e 4 de Alcaçuz, e a falta de controle do Estado sobre uma penitenciária que se afirmava ser de segurança máxima, resultou em estragos destruidores de parte da Penitenciária de Alcaçuz.

Não restou uma só cela inteira, as grades foram arrancadas e as paredes colocadas abaixo, numa visível demonstração de poder dos detentos sobre o Estado. E embora Alcaçuz tenha passado por uma vistoria minuciosa pelos agentes penitenciários apoiados pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar e homens da Força Nacional, e mesmo tendo sido encontrados celulares, mais de uma centena de facas artesanais e carregadores de celulares, a situação foi considerada tranquila, segundo afirmou a própria SESED na época.

A destruição em Alcaçuz nunca foi desfeita, os apenados ficaram apenas contidos dentro dos muros da penitenciária, mas com trânsito livre e sem a menor condição de controle.

Após esses eventos houve troca de direção, e a nova equipe de administradores identificaram imediatamente que estavam lidando com uma situação muito séria e cuja solução seria a reconstrução dos pavilhões, e a tomada do controle sobre a população carcerária, mas como fazer isso com apenas seis agentes por plantão para cuidar de uma penitenciária parcialmente destruída, cuja capacidade era de 620 vagas e cuja lotação era de 1.240? Somente se o Estado resolvesse investir urgentemente em reconstrução e contratação de mais agentes penitenciários.

Primórdios Fugindo do projeto original, nem área construída, nem locação adequada, nem processo construtivo foi obedecido, e o resultado foi a criação de um presídio sobre dunas sujeitas a constantes mudanças de formato devido a movimentação de terras que as removeu para dar lugar ao sítio de locação da construção.

Sem piso de concreto nas especificações devidas e paredes frágeis, a penitenciária se tornou conhecida como 'queijo suíço' pelos inúmeros túneis cavados pelos detentos em tentativas de fuga.

Erros de segurança como guaritas sem condições de uso e sem comunicação umas com as outras, ângulos de posicionamento que em alguns casos tornam imensas áreas invisíveis aos olhos dos guariteiros, proximidade perigosa com a comunidade local, em certos lugares, a proximidade do quintal das casas do muro é tão pequena que arremessar “materiais” para dentro do presídio é a coisa mais fácil do mundo, podendo ser feito até à mão livre.

1 Ivenio Hermes – Escritor e Pesquisador, vencedor do Prêmio Literário Tancredo Neves. Consultor em políticas públicas de segurança e políticas de segurança pública, possuindo em sua bibliografia com 16 livros publicados e atualmente exerce as funções de Coordenador do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Àrido), Consultor do Conselho Especial de Segurança Pública e Políticas Carcerárias da OAB-RN, Pesquisador do COEDHUCI - Conselho Estadual dos Direitos Humanos e da Cidadania, Membro Sênior do FBSP - Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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As dunas do lado de fora foram se movendo e crescendo, permitindo uma visibilidade perigosa de dentro do presídio.

Destarte, mesmo respeitando técnicas modernas de arquitetura e engenharia, a execução não seguiu o projeto.

Suscetibilidade Adicional A massa carcerária contida, porém, não controlada de Alcaçuz é composta principalmente por duas facções rivais, o Primeiro Comando da Capital e o Sindicato do RN, ambos inimigos declarados que vivem em constante ameaça, além de um grupo neutro que se autodenomina de “Massa”, que vive no meio desse conflito.

O poder dessas principais facções nunca foi subestimado pelos agentes penitenciários nem pelos diretores do presídio, mas como criar informação crível se eles não possuíam e não possuem até hoje um mapeamento censitário com alta capacidade de captação e filtragem de dados para elaborar relatórios de inteligência? E ainda, não existe um sistema de inteligência ativa no sistema penitenciário do Rio Grande do Norte e a falta de integração, e, portanto, de colaboração, entre os grupos de inteligência subordinados à SESED para subsidiar a SEJUC.

Sem integração, o cenário só tenderia a piorar.

Julho de 2016 Uma nova crise de desenvolve no sistema quando da retaliação de facções criminosas às ações de instalação de bloqueadores de celular nas penitenciárias do RN. Foi nessa ocasião que, mesmo sem um serviço de inteligência integrado, não mais se podia ignorar a capacidade do crime organizado e sua rede de articulação entre o interior e o exterior dos ambientes prisionais.

Reativo como sempre, a SESED só percebeu que tinha que agir quando diversos ataques à segurança da população foram cometidos. Ônibus e outros veículos queimados, prédios públicos atacados e o direito de ir e vir cerceado pela insegurança instalada nas ruas de Natal e diversos municípios do Rio Grande do Norte.

A solução reativa na época foi a solicitação de tropas das Forças Armadas para agirem como força de segurança e restaurar a ordem no caos que a falta de antecipação e planejamento da gestão estadual tinha causado.

Agora Com os eventos ocorridos nas penitenciárias de Amazonas e Roraima, e o RN sendo inserido numa lista de estados onde possíveis retaliações poderiam acontecer, haja vista as ligações das facções do estado com comandos espalhados pelo Brasil, era necessário que minimamente a gestão estadual se preparasse para eventuais ocorrências e se antecipasse em verificar quais as penitenciárias onde haveria mais representatividade do PCC, que tencionava se vingar pelas mortes ocorridas em Manaus.

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A gestão estadual não aprendeu com suas próprias falhas e continuou subestimando o poder do crime organizado, ou por falta de informação fornecida pelos organismos de inteligência do estado, ou pela tentativa de gerar uma falsa sensação de segurança.

O crime organizado, por meio de suas conexões e capacidade de articulação se preparou para agir, identificou os prontos fracos da polícia e dominou Alcaçuz:

1. Se preparou com antecipação e lançou um ataque estratégico poucas horas antes de escurecer, cortando a iluminação e promovendo uma barbárie assassina no interior de um prédio, usando a escuridão como proteção pois no mínimo desconfiavam que não seria um procedimento seguro adotado pela polícia o adentramento do presídio nas horas noturnas;

2. Ao amanhecer a PM entra nas instalações, mas mantém apenas o controle suficiente para a retirada dos corpos das vítimas da guerra entre as facções;

3. A PM se retira em seguida da área já ocupada e se limita, juntamente com a Força Nacional, a fazer segurança do perímetro externo. Essa ordem dada à PM causou um fortalecimento dos detentos que veem nesse tipo de atitude um sinal de fraqueza, afinal, uma vez ocupado o espaço interno, recuar aparentava isso;

4. A retirada de supostos líderes causa estranheza, e sem um canal direto com o Ministério da Justiça, o Governador se vê obrigado a viajar para Brasília em meio à crise para conseguir apenas a permanência da Força Nacional por mais tempo;

5. Enquanto isso, os detentos têm tempo para se rearticularem, e começam a erguer barrocadas em claras demonstrações de que um novo embate se sucederia;

6. O desencontro de informações, a ausência de um discurso único na ação, deixa polícias militares, civis e agentes penitenciários em expectativa, sem saber qual o próximo passo que deveriam dar;

7. Instala-se um clima de desconfiança de uma possível negociação entre governo e facções criminosas, resultando numa operação para permutar ou transferir presos, contudo sem ser antes articulada com o Judiciário. Uma grande operação é preparada movimentando até a Polícia Rodoviária Federal, mas que no último instante precisou ser desfeita, pois não havia autorização judicial e nem condições para o procedimento;

8. Surgem ideias de contratação temporária de agentes, algo temerário, pois agentes de segurança pública requerem altos investimentos em treinamento e tem acesso a informações e procedimentos que não podem simplesmente no futuro serem descartados, algo suscetibilizaria mais ainda o sistema prisional;

9. A instabilidade nos escalões do governo dá sinais de existência enquanto dentro do presídio, os detentos se armam e ocorre o segundo confronto com imagens de disparos de arma de fogo e além das 26 mortes do primeiro dia, agora se considera mais mortes, e feridos são retirados para serem socorridos;

10. O governo surge com a ideia de fazer um paredão humano enquanto se constrói um muro para separar as facções, essa atitude não leva em consideração a exposição dos policiais, o fator tempo para se construir tal muro, as condições de terreno, e para justificar esse erro, o Comandante Geral da PM admite na TV e para um jornal local que o governador ouviu esse conselho de pessoas não técnicas e que jamais deveriam estar na área de influência de decisões altamente sensíveis que envolvem a segurança da sociedade potiguar;

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11. Em esforço sobre-humano, o ITEP identifica 21 dos 26 detentos assassinados sem deixar de atender suas demandas em outras áreas;

12. O presídio de Alcaçuz, no sétimo dia de controle total dos detentos, está praticamente totalmente destruído...

13. Tropas das Forças Armadas chegam ao estado, um retorno às mesmas soluções de uma gestão que se diz técnica, mas não se prepara para solucionar problemas, tendo que enfrentar crises que poderiam ter sido evitadas.

O dano de pequena monta que se tinha no amanhecer de domingo, se transformou na já considerada perda total de uma unidade prisional de vital importância para o estado.

O Futuro O que podemos esperar da atual gestão face aos desencontros e ausências de planejamentos estratégicos, falta de plano de segurança pública e onde duas secretarias de vital importância não se comunicam colaborativamente?

Não podemos saber ao certo, mas sabemos que o futuro se constrói no presente e o passado deve ser um grande professor, ensinando por meio da história, a parar de adotar soluções imediatistas e restritas a políticas de governo que sofrem com a descontinuidade.

É preciso investir na contratação de agentes penitenciários fazendo esse número de contratados ter relação com a criação de vagas, baseado em estudos técnicos que gerem o equilibro necessário para permitir que o estado adquira o controle da massa carcerária. Criar vagas e construir presídios é muito importante, desde que nesses novos estabelecimentos prisionais não se repita o descontrole existente nos que já estão construídos.

Inclua-se nesse raciocínio uma capacitação continuada e permanente dos agentes penitenciários, fortalecendo grupos táticos de pronto emprego para intervenção em situações de crise. Isso promoveria a volta do respeito dos detentos aos agentes penitenciários.

O poder executivo, responsável pela segurança dos cidadãos, deve assumir o protagonismo da busca de soluções exequíveis. Nesse contexto, conclamar o Ministério Público, o Judiciário e a Defensoria Pública, para realizar mutirões para esvaziar os presídios daqueles presos que não representem periculosidade para a sociedade.

Convocar técnicos e especialistas em todas as áreas para criar soluções construtivas mais rápidas, gerando um projeto exequível que venha a transformar realmente presídios em locais para se pagar uma pena por ter desobedecido o pacto social com a sociedade, e não um lugar abjeto onde se propicia o aliciamento, a desumanização e o fortalecimento de práticas que se constituirão no fortalecimento do crime organizado e do surgimento de novas facções criminosas.

_________ REFERÊNCIA

HERMES, Ivenio. Alcaçuz: Análise de uma crise anunciada. 2016. Publicado originalmente no Portal Luís Nassif em: < http://bit.ly/2jl3GuN >. Publicado em: 22 jan. 2016

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ALCAÇUZ: ÚNICA CULPADA? Por Thiago Cortez2

Memorian

O mês de janeiro do ano de 2017 entrará negativamente para a história do Rio Grande do Norte como um dos mais violentos dos últimos anos. Segundo os dados do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional do RN, foram 208 homicídios no RN, dentre os quais 26 dentro da Penitenciária Doutor Francisco Nogueira Fernandes, conhecida popularmente como Alcaçuz, estando fora desses números as cabeças e partes de corpos retiradas de lá nos dias subsequentes à rebelião iniciada em 14 de janeiro de 2017, caso sejam identificadas como pertencendo a algum apenado tido como foragido.

As cenas da barbárie, dignas de batalhas da época do Império Romano, vistas por muitos somente em filmes, chocaram e correram o mundo através dos órgãos de imprensa, redes sociais e aplicativos de trocas de mensagens.

O mais decepcionante nesses fatos é saber que nada mais são do que ciclos de brutalidade, que ocorrem há décadas no sistema prisional e quando explodem emergem debates, diagnósticos e soluções para um problema que precisa ser permanentemente tratado e solucionado.

No Rio Grande do Norte a SEJUC - Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania é responsável pela administração do sistema prisional, acumulando, ainda, responsabilidades quanto à juventude, proteção ao consumidor, políticas de promoção da igualdade racial, políticas para as mulheres, direitos humanos e defesa das minorias e pessoas portadoras de necessidades especiais.

O sistema prisional no Brasil e no Estado do Rio Grande do Norte de forma mais acentuada, tem um déficit histórico, porém injustificável, de investimento em construção e reforma de estabelecimentos penais, na capacitação dos seus servidores, na aquisição de material permanente, equipamento e veículos especializados imprescindíveis ao funcionamento das unidades, na implantação de medidas pedagógicas relacionadas ao trabalho profissionalizante do preso, dentre tantas outras previstas na Lei de Execução Penal (LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984).

Peccatum

No entanto, esse fato vem sendo utilizado por todos os governantes para tentar justificar as rebeliões, assassinatos entre apenados, ataques às instituições de segurança pública e tantas outras barbaridades, cada vez mais chocantes.

O caminho não deve ser também o de colocar a culpa somente no fato de que Alcaçuz foi construída numa área de dunas, pois não parece viável. O pavilhão 5, inaugurado desde o ano de 2011, está na mesma área e

2 Advogado, formado em Direito no ano de 2001; Especialista em Direito Público pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP (2003); Membro da Comissão de Transição do Governo do Estado do Rio Grande do Norte no período de 15 de novembro a 31 de dezembro de 2010; Ex-Secretário de Estado da Justiça e da Cidadania do Rio Grande do Norte; Conselheiro Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte, triênio 2016/2018; Membro da Comissão de Segurança e Sistema Prisional da OAB/RN.

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até o momento nunca foi registrada fuga por túnel. Frise-se, ainda, que nenhum presídio do mundo é feito para suportar marteladas e talhadeiras que chegam facilmente aos presos pelos mais diversos meios, principalmente a corrupção.

A escolha de Alcaçuz se deu por ser talvez a unidade prisional mais vulnerável do país, vez que sequer possuía grades nas celas desde março de 2015, quando uma rebelião destruiu quatro dos cinco pavilhões e o Estado demorou mais de 7 dias para intervir. A partir dessa data, os agentes penitenciários não mais entraram nos pavilhões, formando o cenário perfeito para a vingança de presos ligados a uma facção, em resposta à rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (COMPAJ), em Manaus, no dia 1º de janeiro de 2017.

Mundialmente, fomos assistidos como um Estado sem autoridade para controlar a matança entre presos, sem poder imediato de intervenção e cometendo erros básicos para solucionar o problema, o que culminou com 26 mortes e 56 fugas, segundo os números oficiais.

O pior deles, sem sombra de dúvidas, foi não ouvir o Secretário da SEJUC e os agentes penitenciários, que são os operadores de segurança pública diretamente ligados ao sistema prisional, tendo apresentado soluções a curto, médio e longo prazo.

A opção foi dar ouvidos à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, cujos principais resultados de suas ações, infelizmente, tem sido o aumento constante dos índices de criminalidade no Estado do Rio Grande do Norte, sendo, ainda, amplamente divulgada pela imprensa uma inaceitável negociação com determinada facção criminosa.

Passado o ápice da permanente crise no sistema prisional, foram anunciadas medidas pelo Governo Estadual que podem ajudar, mas também atrapalhar ainda mais o rumo dos fatos.

Mensurae

Dentre as boas medidas estão o investimento em construção de presídios modulares, com o dinheiro repassado pelo Governo Federal diretamente do Fundo Penitenciário Nacional para o Fundo Penitenciário Estadual.

É possível, pelo método construtivo pré-moldado, fazer uma média de 1.000 vagas a cada 5 meses. Atualmente existem 19 Centros de Detenções Provisórias (antigas delegacias) que abrigam aproximadamente 1.213 presos, custodiados por cerca de 178 agentes penitenciários.

Construindo-se, inicialmente, duas unidades prisionais com capacidade para 600 presos cada uma (1.200 vagas), daria para colocar os presos desses CDP’s e os agentes penitenciários que hoje os integram sem necessidade imediata de novas contratações de pessoal.

A unidade (Ceará-Mirim) que já está sendo construída pode ter suas obras aceleradas e, após concluída, inicialmente ser utilizada para remoção dos presos que estão em pavilhões destruídos, com a reforma destes sem nenhum detento.

A medida que mais chamou atenção e que pode ser um fiasco é a contratação temporária de 700 agentes penitenciários. Treinar pessoas que tenham vínculo precário com o Estado para conhecer e integrar o sistema de segurança pública parece um risco muito grande e não seria a melhor solução.

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A decisão de fechar Alcaçuz também não parece ser razoável, pois as expectativas de construção das novas vagas sequer eliminam o déficit atualmente existente. Ademais, gastar R$ 800 mil reais para construção de um muro numa unidade prisional que será desativada soa como desperdício inconcebível de dinheiro público.

Diagnosis

Na verdade, o Sistema Penitenciário do Estado do Rio Grande do Norte não necessita mais de um diagnóstico, mas sim de soluções para os diversos problemas existentes, através de investimentos financeiros e de pessoal na área.

Para alcançar esse objetivo basta buscar seguir o PLANO DIRETOR DO SISTEMA PENITENCIÁRIO/RIO GRANDE DO NORTE elaborado pelo DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL – DEPEN do Ministério da Justiça que apontou as seguintes metas para o Estado:

SECREATÁRIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA: criação de uma secretaria autônoma e responsável unicamente

pela administração da execução penal;

PATRONATOS: criação de patronatos ou órgãos equivalentes em quantidade e disposição geográfica suficiente ao atendimento de toda a população egressa do sistema;

CONSELHOS DE COMUNIDADE: fomento à criação e implantação de conselhos de comunidade em todas as comarcas do estado que tenham sob jurisdição um estabelecimento penal, atendendo assim suas funções educativa, assistencial e integrativa;

CONSELHOS DISCIPLINARES: implantação de conselhos disciplinares nos estabelecimentos penais, garantindo-se a observância da legalidade na apuração de faltas e na correta aplicação das sanções aos internos;

ASSISTÊNCIA JURÍDICA: criação, em cada estabelecimento penal, de setores responsáveis pela prestação de assistência jurídica aos encarcerados;

DEFENSORIA PÚBLICA: fomento à ampliação das defensorias públicas visando propiciar o pleno atendimento jurídico na área de execução penal aos presos;

PENAS ALTERNATIVAS: fomento à aplicação de penas e medidas alternativas à prisão, colaborando para a diminuição da superlotação dos presídios, amenizando a reincidência criminal, bem como impedindo a entrada de cidadãos que cometeram crimes leves no cárcere;

AGENTES, TÉCNICOS E PESSOAL ADMINISTRATIVO: criação e instituição de carreiras próprias de agentes penitenciários, técnicos e pessoal administrativo, bem como a elaboração e implantação de um plano de carreira;

QUADRO FUNCIONAL: ampliação do quadro funcional, através de concursos públicos e contratações, em quantitativo adequado ao bom funcionamento dos estabelecimentos prisionais;

ASSISTÊNCIA À SAÚDE: adesão a projetos ou convênios visando a plena assistência à saúde dos encarcerados: plano nacional de saúde no sistema penitenciário;

ASSISTÊNCIA LABORAL: implantação de estruturas laborais nos estabelecimentos penais de caráter educativo e produtivo, bem como a adesão a projetos visando sua qualificação e inserção no mundo do trabalho: escola de fábrica, pintando a liberdade;

ASSISTÊNCIA À FAMÍLIA DO PRESO: adesão ou desenvolvimento de projetos focados na orientação, amparo e assistência às famílias dos presos, colaborando para a compreensão da importância do papel familiar no processo de reinserção social;

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AMPLIAÇÃO DO NÚMERO DE VAGAS: elaboração de projetos visando à construção, ampliação ou reforma de estabelecimentos penais, ocasionando por consequência a elevação do número de vagas disponíveis aos encarcerados;

APARELHAMENTO E REAPARELHAMENTO: elaboração de projeto visando o aparelhamento e reaparelhamento das estruturas de serviços essenciais dos estabelecimentos penais: aquisição de equipamentos de segurança - aquisição de veículos para transporte de presos - aquisição de equipamentos de apoio à atividade de inteligência penitenciária, respeitadas as restrições legais - dentre outros;

MULHER PRESA E EGRESSA: adesão a projetos direcionados à geração de oportunidades, para mulheres encarceradas e egressas, de reintegração à sociedade, ao mercado de trabalho e ao convívio familiar;

Cogitatio

Obviamente, para a concretização de todas as metas acima traçadas há necessidade de um plano de investimento plurianual, bem como de fomentar as fontes de receita do FUNDO PENITENCIÁRIO ESTADUAL, através de convênios e parcerias com entidades públicas e privadas buscando a plenitude da Execução Penal prevista na Lei 7.210/84.

Como visto, são muitos os caminhos a serem percorridos para a tentativa de normalização do sistema prisional que vive em ebulição, prestes a explodir uma rebelião a cada momento, mas é preciso vontade real, principalmente da classe política, dos chefes dos poderes e da sociedade.

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O AGONIZANTE ELEFANTE POTIGUAR Kécia Saionara3 e Ivenio Hermes4

Nosso elefante não corre pela savana africana, mas é caçado... Não o perseguem para tirar-lhe o marfim, mas o roubam de seus órgãos e o vendem como notícia barata de jornal.

Ganesha5 não perdeu a cabeça, nem tão pouco a tromba, está tendo o juízo roubado, por quem o deveria venerar, cuidar, zelar.

O que fizeram de ti RN? O que fizeram com teus filhos? Cambaleando segues seu rumo, vendo seu sangue esvair-se pelas veias... O que fazem contigo, meu chão?

Dizem que já está tudo bem, dizem que a solução logo vem, mas dizem inverdades, e metem goela abaixo esse discurso sem sentido.

Eu sangro com você, contorço-me com a tua dor... Eu, esse mero espectador que deseja contribuir e não acredita no que vê, lê e ouve.

Força meu animal com limites geográficos... Força! Levantar-me-ei para clamar por ti, levantar-me-ei para fazer da minha voz, teu grito.

Prosa poética, pesquisa, edição de arte e adaptação de imagem. Kécia Saionara e Ivenio Hermes

3 Kécia Saionara é graduanda em Direito, colaboradora palestrante do Projeto Social Educajus, Assistente de Pesquisa do Dr. Ivenio Hermes, como também Assistente de Pesquisa do OBVIO - Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA. 4 Ivenio Hermes – Escritor e Pesquisador, vencedor do Prêmio Literário Tancredo Neves. Consultor em políticas públicas de segurança e políticas de segurança pública, possuindo em sua bibliografia com 16 livros publicados e atualmente exerce as funções de Coordenador do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Àrido), Consultor do Conselho Especial de Segurança Pública e Políticas Carcerárias da OAB-RN, Pesquisador do COEDHUCI - Conselho Estadual dos Direitos Humanos e da Cidadania, Membro Sênior do FBSP - Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 5 Ganesha ou Ganesh é o deus do intelecto, da sabedoria e da fortuna para a tradição religiosa do hinduísmo e védica. Ele possui uma enorme cabeça de elefante, desproporcional para um corpo que é de um menino, mas que indicando sua capacidade intelectual e a firme dedicação ao estudo das escrituras.

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BOLETIM ANALÍTICO MENSAL COMPARADO Thadeu Brandão6 e Ivenio Hermes7

1. DINÂMICA ESPACIAL DA VIOLÊNCIA A ausência da criação de um Plano Estadual de Segurança Pública, com projetos sustentáveis e de aferição pública, vem recriando a dinâmica geral da violência homicida no estado, e a partir destes anos poderemos perceber a propagação e distribuição de CVLIs apenas nos anos da atual gestão administrativa, pois doravante estudaremos proporcionalmente os anos 2015, 2016 e 2017. O primeiro com uma ligeira mostra de êxito, o segundo uma catástrofe de gestão e o terceiro que não inicia bem. No primeiro mês desses anos, 2015 apresentou 154 CVLIs, 2016 reduziu para 147 CVLIs e 2017, com aumento de 40,1% em relação a 2016, bate recordes com 206 CVLIs.

a. MESORREGIÕES POTIGUARES E REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL

6 Thadeu Brandão - Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor Adjunto de Sociologia da UFERSA e do Mestrado em "Cognição, Tecnologias e Instituições" (CCSAH/UFERSA). Líder do grupo de Pesquisa "Observatório da Violência do RN". Coapresentador do Observador Político na TV Mossoró e 93 FM. Colunista do Jornal O Mossoroense. Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional" e coautor de "Rastros de Pólvora: Metadados 2015" atualmente exerce a função de Coordenador do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Àrido), 7 Ivenio Hermes – Escritor e Pesquisador, vencedor do Prêmio Literário Tancredo Neves. Consultor em políticas públicas de segurança e políticas de segurança pública, possuindo em sua bibliografia com 16 livros publicados e atualmente exerce as funções de Coordenador do OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Àrido), Consultor do Conselho Especial de Segurança Pública e Políticas Carcerárias da OAB-RN, Pesquisador do COEDHUCI - Conselho Estadual dos Direitos Humanos e da Cidadania, Membro Sênior do FBSP - Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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A Região Metropolitana de Natal (RMN), suscetibilizada pela priorização de Natal, que impulsiona sua violência para os municípios limítrofes, e em janeiro já atingiu 56,3% de aumento. Com seus municípios na maioria fazendo parte do Leste Potiguar, servindo como polo atrativo da criminalidade, que se movimenta num circuito migratório constante, apresentou 49,5% de aumento.

Na RMN, composta por 12 municípios, sendo 2 deles da Região Agreste e 10 da Região Leste, o rankiamento se deu da seguinte forma: Natal registrou 35,0% de aumento em relação ao mesmo período do ano anterior (53 CVLIs), Parnamirim obteve substancial redução de 30,0% (14 CVLIs), Nísia Floresta, por causa das mortes de Alcaçuz elevou seu índice para 766,7% (26 CVLIs).

Outro município que reduziu foi São Gonçalo do Amarante, 41,7% (7 CVLIs), Ceará-Mirim recebeu o impacto da violência migratória com 160% de aumento (13 CVLIs), Macaíba aumentou 80,0% (9 CVLIs), São José de Mipibu com aumento de 100% (4 CVLIs), Extremoz, Monte Alegre, Maxaranguape e Vera Cruz com ligeiro aumento e Ielmo Marinho se manteve sem CVLIs no período.

O Oeste Potiguar apresentou aumento 20,5% (47 CVLIs), o Agreste aumentou 100,0% (14 CVLIs) e a Central se manteve estável apresentando o mesmo número de CVLIs que no ano anterior no mesmo período

b. MUNICÍPIOS MOTORES Os três motores da violência, ou seja, os maiores municípios do RN, seguem apresentando, aumento significativo de CVLIs, inclusive em relação a 2014, que foi considerado o ano mais violento até então. Como mostraremos a seguir, a dinâmica persiste em outras variáveis.

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i. NATAL

Em Natal, a dinâmica dos CVLIs também apresentou seu contínuo crescimento, perfazendo aumento de 14,8% nesses 12 meses. Não houve redução em nenhuma das zonas, resultado da ineficácia das ações de combate à criminalidade homicida, que apenas aumenta o fenômeno migratório circular já visto no boletim do mês de setembro. Vejamos.

A Zona de maior crescimento foi Zona Oeste, com 72,7%. Seguida pela Zona Norte, com aumento de 50,0%, e depois a Zona Sul com 40,0%. A Zona Leste foi a única que apresentou redução, 40,0%, e ainda tivemos uma ocorrência registrada em hospitais sem rastreio do local da ocorrência, que poderá ser modificado no futuro quando conseguirmos mais dados.

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Analisando os dados absolutos de Natal em 2017, podemos perceber que a Zona Norte lidera com 38,89% (21 CVLIs do total), seguida pela Zona Oeste com 35,19% (19 CVLIs do total), depois a Zona Sul com 12,96% (7 CVLIs do total) e finalmente vem a Zona Leste com 11,11% (6 CVLIs do total), mais a ocorrência do hospital que corresponde a 1,85% (1 CVLI do total). É importante notar que as zonas Oeste e Norte, que são menos policiadas sofrem maior agressão homicida.

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O bairro de Natal, na análise de números absolutos em 2017, tem a mesma tendência de sempre, aqueles com mais aglomerados subnormais apresentam maior índice de CVLIs. Nossa Senhora da Apresentação e Quintas registram 7 CVLIs em cada, depois, com 5 CVLIs em cada surgem Felipe Camarão, Planalto e Lagoa Azul. Pajuçara e Ponta Negra aparecem com 4 CVLIs em cada, Mãe Luíza com 3, Potengi, Igapó, Lagoa Nova e Praia do Meio com 2 cada e com apenas 1 vem Dix-Sept Rosado, Redinha, Tirol, Nordeste, Capim Macio e um no hospital.

O número de vítimas cujo local do crime não foi determinado por fatores burocráticos, como pela própria natureza dos dados coletados atingiram apenas 1 caso. Essas vítimas foram encontradas em hospitais sem nenhum registro da origem do fato criminoso, e para esses números não serem alocados equivocadamente nos bairros onde se localizam as unidades de saúde, se mantém o registro de local indeterminado. Alertamos: as metodologias de registro de CVLIs não estarem (aventamos a possibilidade) sendo utilizadas corretamente.

ii. PARNAMIRIM

Parnamirim é a terceira maior cidade do Rio Grande do Norte, município conurbado com Natal, onde a dinâmica de CVLIs segue geralmente a mesma linha e apresenta um dos maiores crescimentos, contudo, nesse primeiro mês do ano, talvez aliviada pela concentração de eventos de Alcaçuz (Nísia Floresta) apresentou uma redução de 20 para 14 CVLIs, o que representa uma queda de -30,0%, o que não se espera que se mantenha. A iniciativa das Áreas Integradas de Segurança Pública – AISPs, assim como em Natal, também foram empregadas nesse município adotando simplesmente o critério de dividi-la em duas áreas tomando como marco a BR101: os bairros localizados na margem esquerda, Zona Oeste, pertencem a uma AISP e os bairros da margem direita, a Zona Leste, outra AISP.

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Sem a preocupação de enxergar que uma concentra a maior área geográfica, com alto índice de criminalidade, onde estão as praias do litoral sul e imensas áreas não mapeadas e ainda em expansão urbana. Isso torna essa região suscetível à migração criminal de Natal, como ocorre nos outros municípios limítrofes.

Para que nosso estudo fosse mais abrangente, separamos o Litoral Sul e pela incidência constante de pessoas que morrem nos hospitais também não apresentarem origem do fato criminoso, os hospitais seguem a mesma linha de raciocínio adotada para Natal.

A maior redução neste município foi na Zona Leste, com -66,7%, seguida pela Zona Oeste com -46,2%. Nos Hospitais houve um aumento de 200,0% e o Litoral Sul saiu de 0(zero) ocorrência em janeiro de 2016 para 2(duas) em 2017.

Na análise dos dados absolutos de Parnamirim em 2017, a Zona Oeste lidera com 50,0% dos casos (7 CVLIs do total), seguida pelas ocorrências registradas em Hospitais com 21,43% (3 CVLIs do total) e as Zonas Leste e Litoral Sul empataram com 14,29% (2 CVLIs do total em cada).

Os bairros de Parnamirim, sofrem com uma demarcação de limites imprecisa, sendo confundidos em nomes e municípios com outros da Região Metropolitana.

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Nessa análise de números absolutos em 2017, os Hospitais, com 3 CVLIs, aparecem na frente, numa conotação de que não há preocupação em se determinar a origem da ocorrência, depois temos os bairros de Bela Parnamirim, Nova Parnamirim, Pium e Japecanga com 2 CVLIs (Japecanga aparece no gráfico com as letras PNM, para não ser confundido com outro bairro de um município limítrofe. E com 1 CVLI em cada, temos Passagem de Areia, Monte Castelo e Rosa dos Ventos.

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iii. MOSSORÓ

Na Terra da Resistência, Mossoró, depois da explosão homicida de 2016, e agora trabalhando com mais gestores preocupados em usar as análises criminais como gerador de ações, houve uma redução de -22,2%. Talvez esse esforço individualizado naquele município mantenha a continuidade no estancamento da sangria de 2016.

Contudo, aventamos a possibilidade de que essa tarefa seja difícil, primeiro pela falta de efetivo cada vez menor nos dois batalhões de Polícia Militar responsáveis pelo policiamento urbano, que agora se direcionará para o modelo de Áreas Integrada de Segurança Pública cujo seccionamento não levou em consideração as peculiaridades regionais que dificultam o acesso a certas áreas, nem buscou integrar ações com a Guarda Municipal, que até 2016 fora bem atuante.

Mossoró, pelas suas proximidades com municípios de outros estados, grande zona rural não mapeada e ser polo produtor de petróleo, se torna um polo atrativo da violência. Suas delegacias de Repressão ao Narcotráfico e de Homicídios mal tem tempo e um plantel de agentes necessários para investigar todos os casos e/ou denúncias que lhes chegam ao conhecimento.

Outro problema que se avizinha de Mossoró é o descontrole e a falência do sistema penitenciário estadual. Com a quase total destruição da Penitenciária de Alcaçuz e do Presídio Rogério Madruga Coutinho, o Governador já anunciou que intenciona desativar o Complexo de Alcaçuz e construir novas penitenciárias, incluindo Mossoró com uma possível localização. Essa atitude é temerária, pois certamente não virá com o suporte logístico de um Estudo de Impacto de Vizinhança, que deverá observar se o Plano Diretor do Município, imposto pelo ordenamento jurídico municipal, será levado em consideração. O impacto urbanístico, o afastamento de investidores e a redução da qualidade de vida dos moradores das cercanias onde um presídio é construído é notório.

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O Estatuto das Cidades (Lei Nº 10.257 de 2001) menciona expressamente o Estudo de Impacto de Vizinhança como necessário para aferição desse impacto. Nascimento (2016) nos recorda o que diz a Lei:

O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: I – adensamento populacional; II – equipamentos urbanos e comunitários; III – uso e ocupação do solo; IV – valorização imobiliária; V – geração de tráfego e demanda por transporte público; VI – ventilação e iluminação; VII – paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. Parágrafo único. Dar-se-á publicidade aos documentos integrantes do EIV, que ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente do Poder Público municipal, por qualquer interessado.

Concomitantemente, não é suficiente apenas construir novas instalações carcerárias e criação de novas vagas, é mandatório que se abram vagas para admissão de novos agentes penitenciários em número adequado para manter o controle dos apenados, para não se repetir o erro que vem ocorrendo em todo estado, impactando na segurança de moradores, na perda da atração de empreendedores para investir e gerar empregos e oportunidades de trabalho. Mossoró já é suscetível demais às ações da criminalidade, aumentar essa suscetibilidade é o mesmo que oportunizar à criminalidade novas chances de ação e a possibilidade de seu fortalecimento em grupos criminosos que logo estarão nas ruas disputando espaço entre si e submetendo a população a uma maior insegurança.

Enquanto isso, todas formas de integração dos serviços de segurança pública devem atentar para a distribuição espacial das ocorrências nas Zonas de Mossoró, que como Parnamirim, sofrem com uma

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demarcação de limites e servem com referência de estudo para setorização de áreas geográficas dentro do município. Assim, na análise de números absolutos em 2017, temos a seguinte distribuição da violência homicida: Zona Norte na frente com 42,86% (9 CVLIs do total), seguida da Zona Leste com 33,33% (7 CVLIs do total). Na sequência, com 9,52% em cada, temos a Zona Rural e a Zona Sul (2 CVLIs do total em cada uma), depois a Zona Oeste com 4,76% (1 CVLI do total) e a Zona Central que não apresentou ocorrências de CVLI no período.

Os primeiros bairros a apresentarem violência homicida em 2017, foram Barrocas, na frente com 5 CVLIs e em segundo lugar Santo Antonio com 4 CVLIs. Em terceiro lugar surgem a Zona Rural, Santa Delmira Presidente Costa e Silva e Nova Vida (Malvinas) com 2 CVLIs em cada, e por último, Dom Jaime Câmara, Aeroporto, Nova Betânia e Belo Horizonte com 1 CVLI em cada.

Mossoró, diferente de Natal, não dispersa sua violência para as cidades vizinhas, pelo contrário, ela concentra, devendo isso ser urgente levado em consideração pelos gestores estaduais no intuito de darem suporte de efetivo e outros meios aos gestores locais, para poderem obter êxito no enfrentamento da violência letal intencional já tão endemizada naquele município. _____________ REFERÊNCIAS

COORDENAÇÃO DE ESTUDOS LEGISLATIVOS - CEDI. Congresso. Câmara dos Deputados. Constituição (2001). Lei nº 10.257, de 19 de julho de 2001. Diretrizes Gerais da Política Urbana: e dá outras providências.. 1. ed. Brasília, DF: Diário Oficial, 19 jul. 2001.

NASCIMENTO, Raul Victor Rodrigues do. ESTUDOS DE IMPACTO DE VIZINHANÇA E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS ESTABELECIMENTOS PENAIS: DELINEANDO UMA RELAÇÃO. Revista Transgressões: Ciências Criminais em Debate, Natal, v. 4, n. 1, p.150-172, 14 maio 2016. Semestral.

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2. AÇÃO E INSTRUMENTAÇÃO DOS CRIMES Os paradigmas da ação criminosa vêm se diversificando e subdivide as condutas violentas letais intencionais em vários tipos. No Rio Grande do Norte tratamos as mortes oriundas dos embates policiais, como ações típicas de Estado, que é o detentor absoluto do monopólio do uso da força, assim evitamos atribuir, mesmo que inadvertidamente, culpa ou dolo aos agentes encarregados de aplicar a lei, e meramente mensuramos essa violência para fins de estudos e orientação na adoção de políticas de controle.

a. AÇÃO LETAL As ações criminais, de acordo com seu tipo de ação letal empregado nas CVLIs, trazem informações que precisam ser tratados com maior consideração. Importa mostrar que nossa preocupação com o Feminicídio é contínua e nesse primeiro mês, embora sem apresentar aumento, já aconteceram dois casos. O Homicídio, recebeu uma propulsão inicial desencadeada pelos eventos de dentro e de fora de Alcaçuz, tendo um aumento de 43,9%. A Lesão Corporal Seguida de Morte teve aumento de 200,0%, e o Latrocínio, Feminicídio e a Ação Típica de Estado se mantiveram estáveis com números iguais ao ocorridos no mesmo período do ano de 2016. Não houve ocorrência de outras modalidades de CVLIs.

Acerca da Ação Típica de Estado, no Rio Grande do Norte há uma percepção de que ela aumenta pela falta de capacitação continuada das forças de segurança e à medida que gradualmente o efetivo policial vai sendo reduzido, em decorrência de muitos anos sem novos ingressos e a aposentadorias cada vez mais frequentes. No estado é como se um batalhão de Polícia Militar se aposentasse por ano, além dos grupos da Polícia Civil mais suscetíveis a confrontos, trabalham com o mínimo do mínimo já que há um déficit de 72% entre agentes, escrivães e delegados.

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b. MEIO E/OU INSTRUMENTO EMPREGADO Quanto ao meio ou instrumento empregado, as CVLIs do RN, as mortes de Alcaçuz deram um súbito aumento na taxa de Armas Brancas, que foi de 218,2% em relação a 2015, mas isso não exclui que muitos casos praticados com esse instrumento tenham se apresentado fora dos eventos ocorridos no cárcere. A Arma de fogo, como sempre, é o meio preferido, mas seu crescimento foi menor, 32,5%, mas certamente voltarão a se destacar seguindo a dinâmica homicida dos padrões nacionais, majoritariamente praticados com revólveres e pistolas, na maioria de fabricação nacional ou caseiras.

O uso de Objeto Contundente aumentou 100,0% e as demais instrumentações apresentaram redução: Espancamento reduziu 25,0%, a Asfixia Mecânica Provocada reduziu 100,0%, e outras modalidades não classificadas reduziram 33.3%.

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3. PERFIS DAS VÍTIMAS

Os três principais perfis das vítimas de CVLIs seguem, como esperado, o padrão nacional de vitimização, o que sugere que sem surpresas nesses seguimentos, está havendo falhas nas políticas públicas de segurança em estabelecer estratégias para suas reduções.

a. GÊNERO

Como esperado, CVLIs contra a população masculina aumentou em 46,3% e, embora contra a população feminina tenha reduzido em 30,0%, importa apontar que, dois corpos carbonizados encontrados no porta malas de um veículo numa estrada carroçável, ainda não foram identificados quanto ao gênero, aumentando em 100,0%, o número de vítimas de gênero ignorado.

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b. ETNIA

O perfil da vítima quantos às etnias. também (e, infelizmente) segue o padrão nacional onde as etnias parda e negra juntas constituem maior parte das mortes por conduta violenta letal intencional. A etnia parda apresentou o maior aumento: 78,9%, seguida pela branca que aumentou 57,9%. A negra apresentou redução de 12,5% e as duas pessoas carbonizadas já citadas anteriormente elevaram em 100,0% as etnias ignoradas. Ainda assim, lembramos que pardas e negras juntas representam 84,61% de todas as vítimas de CVLIs.

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c. FAIXA ETÁRIA

A vitimização por faixa etária continua apontando para a jovens e adolescentes como mais suscetíveis. Nesse início de ano jovens entre 12 e 17 anos sofreram mais nesse morticínio, das 11 vítimas nesse período em 2016, houve um salto para 20 em 2017, significando um aumento de 81,8%. Logo em seguida vem a juventude entre 18 e 24 anos, das 40 vítimas nesse período em 2016, elevou-se para 56 em 2017, representando um aumento de 40,0%. Ainda no segmento jovem, a faixa de 25 a 29 saiu de 26 em 2016 para 31 em 2017, ou seja, 19,2% de aumento.

Houve aumento também na faixa entre 30 a 34 (28,6%). Houve redução nas faixas 0 a 11 (100,0%), 35 a 64 (28,2%), e 65 ou mais (80,0%).

A quantidade de vítimas cuja idade não foi identificada foi a maior ênfase nesse primeiro mês. De 2 em 2016 subiu para 45 em 2017, uma elevação impressionante de 2.150,0%. Isso demonstra a falta de acesso adequado a dados públicos.

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4. VARIAÇÃO CRIMINAL A variação de CVLIs mensal desse início de ano foi vertiginosa. Em 2016 janeiro registrou 147 CVLIs saltando para 208 CVLIs em 2017, significando 41,5% de aumento.

a. VARIAÇÃO MENSAL

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b. OUTRAS AFERIÇÕES DE VARIAÇÃO

Os períodos de maior incidência de CVLIs foram as tardes e as noites. O sábado foi o dia de maior evidência de ocorrências, mas as quintas-feiras se destacaram também, ainda mais por se tratar de um meio de semana.

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O quadro esboçado pelo gráfico acima, representa dados que podem ser usados para verificar quais dias do mês e da semana apresentam maior suscetibilidade para eventos homicidas no mês de janeiro.

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5. RESUMO FINAL Como apontado no início desta análise e apresentação dos dados, além dos relatórios do ano de 2016, o RN vem apresentado crescimento contínuo e significativo em sua dinâmica de CVLIs, e inicia 2017, provando a sequencialidade desse crescimento.

Não se pode atribuir aos eventos de Alcaçuz a responsabilidade exclusiva pelos altos índices de aumento. Foram 208 CVLIs em janeiro, 52 vítimas de homicídio por semana. Em 2016 foram 147 CVLIs em janeiro, numa aritmética simples, se subtrairmos os 208 casos de 2017 dos 147 de 2016 (208 - 147 = 61), obteremos 61 CVLIs a mais que em 2016. Nesse raciocínio, subtraiamos dos 61 casos as vítimas de Alcaçuz, que foram 26, (61 - 26 = 35), obteremos 35 CVLIs a mais que em 2016. Ou seja, seriam 173 CVLIs em 2017 que representariam 17,7% de um aumento inegável.

A taxa de homicídios por 100 mil habitantes já começa com 6,04 CVLIs, uma série inicial muito alta para um começo de ano. Em termos absolutos, são 208 mortes por CVLIs até 31 de janeiro. A letalidade sem freios no pequeno estado elefante não para, e iniciar o ano com 41,5% não é uma informação fácil de justificar.

Já começamos com 61 vidas perdidas a mais, comparando 2017 com 2016. São 6 homicídios por dia, uma vítima de CVLI a cada 4 horas... Infelizmente são estes os números, devidamente auditados e assinados por quem trabalha com isso há quase uma década. Este é nosso relatório.

IVENIO HERMES E THADEU DE SOUSA BRANDÃO COORDENADORES DO OBVIO

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