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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO RISSIA CAROLINE XAVIER DE ARAUJO COMPREENDER AS EXPERIÊNCIAS E MOTIVAÇÕES DE ANFITRIÕES SOBRE A HOSPEDAGEM DE INTERCAMBISTAS DO PROGRAMA LAR GLOBAL DA AIESEC-NATAL NA ÓTICA DA TEORIA DA DÁDIVA Natal 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

RISSIA CAROLINE XAVIER DE ARAUJO

COMPREENDER AS EXPERIÊNCIAS E MOTIVAÇÕES DE ANFITRIÕES SOBRE

A HOSPEDAGEM DE INTERCAMBISTAS DO PROGRAMA LAR GLOBAL DA

AIESEC-NATAL NA ÓTICA DA TEORIA DA DÁDIVA

Natal

2018

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RISSIA CAROLINE XAVIER DE ARAUJO

COMPREENDER AS EXPERIÊNCIAS E MOTIVAÇÕES DE ANFITRIÕES SOBRE

A HOSPEDAGEM DE INTERCAMBISTAS DO PROGRAMA LAR GLOBAL DA

AIESEC-NATAL NA ÓTICA DA TEORIA DA DÁDIVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Coordenação do curso de graduação em Administração da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com

requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em

Administração.

Orientador(a): Professora Anatália Saraiva Martins Ramos,

Dra.

Natal

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Araújo, Rissia Caroline Xavier de.

Compreender as experiências e motivações de anfitriões sobre a hospedagem de intercambistas do Programa Lar Global da AIESEC-

Natal na ótica da teoria da dádiva / Rissia Caroline Xavier de

Araújo. - 2018. 55f.: il.

Monografia (Graduação em Administração) – Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas,

Departamento de Ciências Administrativas. Natal, RN, 2018.

Orientadora: Profa. Dra. Anatália Saraiva Martins Ramos.

1. Administração - Monografia. 2. Motivação - Monografia. 3. Voluntariado - Intercambistas - Monografia. 4. AIESEC -

Monografia. I. Ramos, Anatália Saraiva Martins. II. Título.

RN/UF/CCSA CDU 339.14(81)

Elaborado por Shirley Carvalho - CRB-15/404

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RISSIA CAROLINE XAVIER DE ARAUJO

COMPREENDER AS EXPERIÊNCIAS E MOTIVAÇÕES DE ANFITRIÕES SOBRE

A HOSPEDAGEM DE INTERCAMBISTAS DO PROGRAMA LAR GLOBAL DA

AIESEC-NATAL NA ÓTICA DA TEORIA DA DÁDIVA

Monografia apresentada e aprovada em ____/____/____ pela Banca Examinadora composta

pelos seguintes membros:

_____________________________________________

Anatália Saraiva Martins Ramos, Dra.

Orientadora

_____________________________________________

Examinador UFRN

_____________________________________________

Examinador UFRN

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Dedico este trabalho a minha família por todo

o incentivo e ajuda para que isso fosse possível,

todos os momentos que pensei em desistir eles

estavam ao meu redor para me dar forças para

continuar, ademais a todos que estiveram

comigo nesta caminhada até aqui.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus primeiramente pela graça da vida, e tudo o que me foi concedido até o

presente momento, para conseguir ultrapassar os obstáculos que surgiram antes e durante todo

o período de graduação.

Agradeço aos meus pais Rosa Catarina e Cosme Xavier, por sempre estarem comigo não

importa o que acontecesse, eles sempre estiveram me apoiando em tudo.

Agradeço também à minha orientadora Anatália por sua compreensão e por não desistir de

mim até nos momentos mais difíceis e árduos.

A todos os meus amigos da AIESEC que estiveram me ajudando com o apoio emocional e me

dando suporte também ao que eu precisasse. Em especial a Matheus, Rafael Amir, Rafael

Albuquerque, Adriane, Érico, Amanda, Lara, Letice e Aline.

Agradecer também a todos os outros amigos que estiveram comigo nesse ponto tão decisivo

da minha vida e de minha carreira acadêmica.

Agradeço também à coordenadora de curso profª Thelma, por ter me auxiliado nos últimos

momentos da minha graduação na questão burocrática para minha conclusão.

E agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte por todos os ensinamentos e

momentos passados nesta magnifica instituição, e os conhecimentos advindos desta e de seu

corpo docente.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo descrever as experiências e motivações de hospedagem

de anfitriões do Programa Lar Global da AIESEC-Natal na perspectiva de anfitriões (hosts)

desse programa. A AIESEC é uma organização do terceiro setor que tem três produtos como

base, o Voluntário, Empreendedor e Talento Global, o qual no voluntário e no empreendedor

há o programa lar global, que tem a vertente totalmente voluntária e que é o enfoque neste

trabalho. O marco teórico utilizado é o da Teoria da Dádiva (MAUSS, 2003). A pesquisa é de

natureza qualitativa, tendo a narrativa como abordagem metodológica. Na coleta de dados,

utilizou-se o método de entrevista semiestruturada junto a dez anfitriões. A análise das

entrevistas foi feita por meio da técnica de análise de conteúdo, além disso, ocorreu a separação

do conteúdo bruto para o conteúdo mais refinado, facilitando a análise deste. Como um dos

resultados deste trabalho, foi possível perceber que a teoria da dádiva se amolda ao universo

das experiências dos hosts, visto que o “dar, receber e retribuir” que este programa proporciona

para os participantes é um componente principal para as motivações destes hospedarem de

forma totalmente gratuita. Além disso, evidenciou-se que a troca cultural é o fator primordial

para que essas experiências sejam de fato transformadas em satisfatórias e recomendáveis.

Palavras-chave: Experiências e motivações de anfitriões, Intercâmbio de hospitalidade,

AIESEC, Voluntariado, Lar Global.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12

1.1 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO ............................................................................. 144

1.2 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 14

1.2.1 Objetivos Específicos ....................................................................................... 15

2. REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................... 166

2.1 MOTIVAÇÕES EM VOLUNTARIAR ................................................................... 166

2.2 MOTIVAÇÕES EM HOSPEDAR VOLUNTARIAMENTE (OUTRAS

ORGANIZAÇÕES) ....................................................................................................... 188

2.3 TEORIA DA DÁDIVA ........................................................................................... 199

2.4 REFERENCIAL TEÓRICO EMPÍRICO ................................................................... 20

2.4.1 Programas e objetivos .................................................................................... 222

2.4.2 Caracterização do lar global ........................................................................... 244

3. METODOLOGIA ........................................................................................................ 277

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ................................................................... 277

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA ......................................................................... 277

3.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ........................................................ 288

3.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE ............................................................................ 29

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................... 271

4.1 CARACTERIZAÇÃO DE ENTREVISTADOS ...................................................... 311

4.2 TEMÁTICAS ABORDADAS ................................................................................. 322

4.3 PRIMEIRO CONTATO COM O PROGRAMA ...................................................... 322

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4.4 MOTIVAÇÕES, EXPECTATIVAS E REALIDADE .............................................. 344

4.5 CHOQUE E TROCA CULTURAL ......................................................................... 366

4.6 VÍNCULO DE AMIZADE E A IMPORTÂNCIA DO VOLUNTARIADO ............. 377

4.7 MELHORIA NO PROGRAMA E RECOMENDAÇÃO DA EXPERIÊNCIA ........... 39

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 422

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 433

APÊNDICE A – APRESENTAÇÃO AO ESTUDO ....................................................... 477

APÊNDICE B – MODELO DE INTRUMENTO DE PESQUISA APLICADO COM OS

HOSTS DA AIESEC EM NATAL – ROTEIRO DE ENTREVISTA .............................. 48

APÊNDICE C – MATERIAL REFINADO DA COLETA DOS DADOS ....................... 49

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 .............................................................................................................................. 31

Quadro 2 .............................................................................................................................. 37

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1 INTRODUÇÃO

O voluntariado é algo que está presente no dia a dia de cada um, seja a partir de uma

ação que se faz para outrem em um transporte coletivo, ou até mesmo uma ação que se faz para

diversas pessoas em um mesmo período de tempo juntamente com uma ONG (Organização

Não Governamental). Muitos não percebem como o voluntariado está presente no cotidiano, e

isso é algo positivo para o fomento de uma sociedade moderna, tendo em vista os diversos

fatores que geram desigualdades refletidas nas comunidades de cada país, cada estado e cada

cidade.

Algumas pessoas gostam de dedicar seu tempo ao voluntariado e a ajudar o próximo.

Como uma forma de troca de favores, - dar, receber e retribuir - estas pessoas que dedicam seu

tempo a realizar um voluntariado encontram nesta um jeito de satisfazer sua necessidade de

ajudar ao próximo, dando, quem é ajudado sente-se agradecido e recebe, e sente-se na obrigação

de retribuir, seja com alguma troca de bens físicos ou de conhecimentos. Estes são chamados a

participar de voluntariados devido à realidade que se encontram e que outras pessoas afetadas

pelo poder econômico também enfrentam, além e alguns outros fatores debatidos por outros

estudiosos. A esse respeito, Souza e Medeiros (2012, p. 94) afirmam:

Surgem, assim, novos desafios aos processos da intervenção social que visam à

amenização dos efeitos trazidos pela desigualdade, pelo desemprego e exclusão social

crescentes. Dessa forma, em uma situação de economia de mercado com problemas

estruturais, o setor social torna-se alternativa de resposta à dinâmica da acumulação

do capital, tanto quando responde às ausências do Estado, quanto no instante em que

oportuniza espaços sociais de ocupação e de geração de renda.

As organizações voluntárias surgem para resolver algum problema da sociedade, e

diminuir toda esta realidade que as pessoas enfrentem no dia a dia, e para que pessoas sejam

ajudadas. Seguindo essa missão, a AIESEC1 é uma organização sem fins lucrativos que desde

1948 está presente em diversos países e continentes, que tem como principais objetivos

“desenvolver as potencialidades do ser humano e buscar a paz mundial.” (CHAGAS, 2014, p.

9). De modo organizado, empreende programas direcionados para mudar a realidade social

trazendo um diferencial para a vida dos envolvidos por meio de intercâmbios voluntários e

profissionais com o intuito de proporcionar ao jovem intercambista uma intervenção social,

1 AIESEC, blog oficial (Brasil). Disponível em: <http://aiesec.blog.br/quem-somos/>. Acesso em: 22 de out de

2018.

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tanto na localidade do país em que se hospedam como no seu próprio país, quanto ao final da

experiência internacional.

A AIESEC é movida pelas metas globais da ONU, as quais tem a visão de até 2020

diminuir diversos fatores adversos à sobrevivência humana de todo o globo terrestre. Para

auxiliar esta visão, a AIESEC é seu maior provedor de suporte, realizando intercâmbios

voluntários e profissionais, como o Voluntário Global (global volunteer) o Empreendedor

Global (global enterpreneur) e o Talento Global (global talent). O Voluntariado Global

desenvolve projetos baseados em uma ou mais das metas globais da ONU, com o intuito de que

o jovem, que se propuser a fazer o intercâmbio, desenvolva sua liderança e ative o

desenvolvimento das potencialidades humanas. No Empreendedor Global, há os intercâmbios

profissionais de cunho voluntário que visam desenvolver as potencialidades humanas através

de um ambiente de startups, fazendo com que esses jovens tenham uma visão mais atual e de

liderança quando voltar para sua localidade e aplique tudo aquilo que aprendeu em seu

intercâmbio. De acordo com o site da AIESEC, o Talento Global é similar ao segundo, porém

é voltado ao âmbito de grandes empresas e marcas mundiais, mas tem a diferença de que seu

trabalho é remunerado, ou seja, o intercambista vai realizar sua viagem pela organização e a

empresa paga a este por seus serviços, sendo a AIESEC apenas uma ponte entre a empresa e o

candidato.

E para os intercâmbios que não possuem nenhum tipo de remuneração, o que é o caso

do Voluntário e Empreendedor Global, há o fornecimento da acomodação, o qual são

moradores locais, que dispõem inteiramente de seu tempo e espaço em sua casa a estar

recebendo esses intercambistas, de forma a obter uma troca cultural e aprender um pouco mais

acerca do outro, que de acordo com a teoria de Mauss, é o “dar, receber e retribuir”, que será

debatido mais a frente no próximo capítulo.

Por meio de seus valores organizacionais, a AIESEC acredita que chegará no

desenvolvimento da liderança e das potencialidades humanas, pois “é essa liderança jovem, a

resposta para alcançarmos nossa missão de paz de preenchimento das potencialidades

humanas” (AIESEC, 2018). Esta liderança pode impactar tanto as pessoas do país em que os

intercambistas forem, quanto o local que este é oriundo, fazendo com que milhares de pessoas

sejam impactadas e tenham suas vidas modificadas a partir desta experiência de intercâmbio.

A AIESEC no Brasil é composta por AIESECs locais, são mais de 50 entidades em todo

o Brasil, contando expansões e comitês locais. Em Natal, existe um comitê próprio que trabalha

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em prol do Brasil. Esta possui sede em sua universidade parceira a Universidade Potiguar

(UNP), e realiza diversos intercâmbios todos os anos. Na sede local, há duas modalidades, o

GV (global volunteer) e o GE (global enterpreneur), que possuem benefícios para os

intercambistas que viajam. Como principal benefício, a organização providencia uma família

que receba estes viajantes durante o período de seu intercâmbio, os denominados hosts

(anfitriões)2.

Dentro deste contexto, o estudo partiu da seguinte problemática de pesquisa: Quais fatores

motivam as pessoas a serem hosts do programa lar global, e essa experiencia foi de fato

satisfatória?

1.1 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

O programa voluntário e empreendedor global possuem uma vertente totalmente

voluntária, mesmo com perspectivas distintas, porém, os intercambistas que se propõem a

realizar estas modalidades de intercâmbios, não recebem nenhuma quantia financeira no seu

período de trabalho, e para isto necessitava-se de um outro programa que tivesse a vertente de

auxiliá-los nesta experiência.

Diante desta perspectiva, houve a criação do programa Lar Global, que possui principal

característica a troca cultural dos hosts (anfitriões) com os intercambistas que desenvolvem seus

voluntariados em Natal, fazendo com que anfitrião e voluntário tenham impactos e propaguem

impacto a outras pessoas também, ambos de forma voluntária na comunidade, o intercambista,

onde ele se propor a estar, no caso do estudo na cidade do Natal, e o anfitrião, impactando e

sendo impactado acerca dessa troca cultural e desenvolvimento de um novo idioma, e mudança

de sua rotina com alguém de um local diferente e ao mesmo tempo tão similar ao que vive.

Para isto, a AIESEC está sempre em contato com estes anfitriões que recebem os

intercambistas em suas casas e de braços abertos, e com isto, precisa-se saber como essa

experiência acrescentou em algo de seu dia a dia, seu nível de satisfação com o programa, além

disto, saber quais foram os primórdios de suas motivações a hospedar, o que levou estas pessoas

a abrir as portas de suas casas, a se abrirem a uma experiência totalmente nova, e que muitos,

2 AIESEC, site oficial (Internacional). Disponível em: <https://hub.aiesec.org.br/aiesec-basics/>. Acesso em: 30

de nov de 2018.

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nunca haviam nem ouvido falar da organização, e como suas experiências foram na prática,

fazendo-se assim uma análise desta atrelada à teoria mencionada nos próximos capítulos.

A dádiva da experiência está presente em algumas dimensões - entre a AIESEC, intercambista

e anfitrião - no presente trabalho percebe-se a presença da relação do dar, receber e retribuir

com a cidade e população, pois são os principais pontos de impacto para os intercambistas

quando vem realizar o trabalho voluntario na cidade, trazendo ensinamentos, troca cultural e

ensinar a quem entrar em contato e a este anfitrião que recebe este intercambista de bom grado

em sua casa também.

O tema é foi abordado devido a sua participação na realidade de alguns moradores de Natal

durante o período de tempo de 6 semanas (período do voluntariado), e houve-se a curiosidade

de realizar uma pesquisa pautada nas motivações e experiências dos anfitriões, para que esta

sirva de base para estudos futuros e para um melhor entendimento do programa pela ótica

externa à organização.

1.2 OBJETIVO GERAL

Conectar as motivações e experiências dos anfitriões do programa Lar Global com a teoria da

dádiva.

1.2.1 Objetivos específicos

a) Traçar o perfil do anfitrião que participa do programa Lar Global;

b) Identificar os elementos de troca do programa entre anfitrião e intercambista;

c) Apontar e propor aspectos na visão do anfitrião de melhorias para o programa.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este tópico trata do referencial teórico, parte a qual está pautado no desenvolvimento do

tema, que está dividido na seção 2.1 Que aborda as motivações em voluntariar. Após a seção

2.2 Debate-se as motivações em hospedar voluntariamente. Posteriormente 2.3 A teoria da

dádiva é exposta. Depois, a seção 2.4 Referencial empírico.

2.1 MOTIVAÇÕES EM VOLUNTARIAR

A necessidade de se desafiar em um ambiente diferente, ajudando outras pessoas e

sentindo-se dessa forma um autor de sua própria história é algo que muitas pessoas sentem

desde que nasceram. Historicamente, as organizações de terceiro setor eram caracterizadas por

cunho não apenas social, porém com alguma filiação, seja política ou religiosa

(ALBUQUERQUE, 2006). Dessa forma, algumas pessoas voluntariavam-se pensando no que

sua religião ou político pregava, porém, essa visão foi sendo modificada com o passar do tempo

com a criação de associações diversas que desvincularam esse pensamento de muitas pessoas,

entretanto ainda há um nicho que pensa de tal forma.

Na mesma vertente, alguns autores afirmam que os exercícios sociais começaram há

muito tempo atrás, desde os primórdios da humanidade, nessa vertente, afirma-se que

desde os tempos mais remotos era o grupo familiar que cuidava dos membros pequenos, enfermos, deficientes, velhos, viúvos e órfãos. Surgem, a partir de então,

ações filantrópicas realizadas pelos religiosos a fim de igualar direitos a partir de uma

série de deveres que deveriam ser cumpridos pelos mais ricos. (BICHUETTE, 2015,

p. 3)

Um outro viés para realizar um voluntariado é de que “as pessoas se fazem voluntárias

e se mantém como tais por distintas razões que satisfazem funções psicológicas diversas”.

(CHACÓN et al., 2010). Dessa forma pode-se perceber, que as motivações para realizar um

voluntariado também podem originar-se do viés psicológico, com sentimentos pautados em

uma realização própria de ajudar outras pessoas a ter uma melhor condição de vida e prospecção

de futuro.

De qualquer modo, o voluntariado é algo que está cada vez mais presente no cotidiano,

decerto, as pessoas conhecem alguém que foi voluntário em algum local, ou que é voluntário.

Muitas organizações na hodierneidade veem com bons olhos o desenvolvimento do trabalho

voluntário, pois acredita que torna a visão do seu colaborador e seus atos mais humanísticos,

tornando-o um colaborador ativo, que não será apenas mais um que não vê e não entende o

labor que está desprendendo tempo e esforço para fazer.

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Nessa visão, diversas pessoas realizam voluntariados, afim de ver um progresso em suas

ações, e ver um desenvolvimento filantrópico de seu próprio ser, e nesse âmbito, encontram-se

os intercâmbios, que de acordo com Bichuette (apud. Morales, 1978) “é uma realização humana

que consiste na relação natural entre pessoas a fim de obterem-se benefícios entre as partes

envolvidas, em outros termos, uma ação interessada.” E para isso, os intercâmbios voluntários

são uma boa alternativa para quem busca uma mudança em sua realização como humano, e

quer obter benefícios - juízo de valor.

Diferentes visões serão encontradas analisando este tema, tanto a visão do homem

moderno, que está mais voltado para a estabilidade financeira, quanto o homem pós-moderno,

que encontra-se mais voltado à sua liberdade, a qual é mais importante que sua estabilidade,

dessa forma, “a dificuldade já não é descobrir, inventar, construir, convocar, ou mesmo comprar

uma identidade, mas como impedi-la de ser demasiadamente firme e de aderir depressa demais

ao corpo.” (STERN apud. BAUMAN, 1997). Assim, o homem pós-moderno não encontra-se

tanto em um dilema de construir, e pensa mais na reconstrução contínua do seu futuro.

Porém mais do que isto, o voluntariado geralmente possui uma troca, o tempo que o

voluntario desprende para a organização, infere em um retorno de conhecimento e sentimentos,

trazendo assim benefícios a si e a terceiros. Observa-se também que o voluntário está

susceptível a sua desmotivação em seu trabalho em alguns momentos, tudo vai depender muito

de seu empenho, e como desprende energia para tal, e qual a prioridade que se coloca nessa

determinada ação a qual se comprometeu a estar desenvolvendo em prol de outrem e com outras

pessoas lhe auxiliando a alcançar o objetivo proposto.

E quando entra-se no assunto de motivação, não se pode parar de pensar em fatores, o

que leva as pessoas a saírem de seus países para realizar um voluntariado. De acordo com um

estudo feito,

68,29% diz que ela interfere em algum propósito de vida, dentre eles:

autoconhecimento, conhecimento cultural, futuro profissional, continuidade do

voluntariado, visão global etc. Além disso, ao responderem sobre motivações, 85%

citou crescimento pessoal, enquanto 15% citou o compromisso com questões cívicas

e apenas 2% citou religião. (Bichuette, 2015, p. 9)

As pessoas, e principalmente a maioria dos jovens, estão se tornando muito inconstantes,

sem um local fixo para permanecer por muito tempo, sempre querendo desenvolver mais seus

conhecimentos e capacidades, que pode ser explicado por uma cultura híbrida global, pela ânsia

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por conhecimento (MIRANDA, 2011), e isso levaria os jovens motivarem-se em desenvolver

um voluntariado, pois estão sempre em reinvenção e constante mudança.

2.2 MOTIVAÇÕES EM HOSPEDAR VOLUNTARIAMENTE (OUTRAS

ORGANIZAÇÕES)

Dentre os pontos citados no tópico anterior, entra-se numa temática que não é tão

debatida, a questão das hospedagens voluntárias. Para entender-se um pouco da hospedagem

voluntária, deve-se entender um pouco mais do próprio intercâmbio voluntário, ao qual é

realizado por tantas e tantas pessoas no mundo.

Há plataformas como o couchsurfing (site e aplicativo de viagens e hospedagens),

worldpackers (faz a troca de acomodação por trabalho voluntário ou em hostels), entre outros.

O que todos tem em comum é notório, os intercâmbios com essas organizações são de forma

não remunerada, e outro ponto é que a hospedagem é grátis, tornando dessa forma o intercâmbio

dos interessados não somente com um bom custo benefício, quanto uma troca cultural certa.

Tratando-se do couchsurfing, este foi idealizado e criado

pelo americano Casey Fenton, a partir de uma viagem feita por este a Islândia, quando

sem hospedagem e em busca de uma experiência distinta do perfil de turista padrão,

mandou e-mails para mais de 1500 estudantes locais, atingindo a hospitalidade de

diversos grupos dispostos a apresentar a Reykjavik deles. (Stern, 2009, p. 15)

Dessa forma, o site trabalha com hospedagens gratuitas de curta duração, com seus

membros viajando e passando alguns dias na casa do anfitrião, podendo chegar a 1 mês, porém

o usual é menos que essa quantidade de tempo, e seus hosts possuem uma curta experiência

com os viajantes, e seu tempo é demasiado flexível.

De acordo com seu site, o worldpackers tem uma historicidade de que

nasceu através das experiencias de vida de dois amigos, Riq Lima e Eric Faria. Riq, é

um economista que deixou seu trabalho como banqueiro de investimento para viajar

pelo mundo por 4 anos com pouco dinheiro, mas uma mente criativa. Eric, um

contador certificado, viajou inicialmente para os EUA para aprender inglês, mas

acabou ficando por quase quarto anos [...] Worldpackers é uma plataforma para

viajantes e anfitriões, feita por aqueles que vivem e amam viajar!

Através dessa visão pode-se comparar ao couchsurfing, obtendo o público alvo similar,

pessoas que possuem vontade e desejo por viajar, e receber viajantes, provendo esse

intercâmbio de cultura (Worldpackers). Porém seu diferencial, é a flexibilidade de datas, que

pode ser o mesmo tempo que a outra organização, porém com um tempo pré-estabelecido para

ficar no anfitrião.

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Hospedar um intercambista possui um viés muito positivo e que vai além da

remuneração, como a troca cultural e desenvolvimento de habilidades, que podem ser em

contato com esses intercambistas que entram na rotina diária do morador local que decide ser

host. “o intercâmbio de hospitalidade baseia-se em receber outro membro como convidado em

sua casa, de forma que o anfitrião pode funcionar como guia local do hóspede – embora não

seja algo obrigatório – sem que haja qualquer remuneração por esta hospedagem.” (STERN,

2009, p. 11), com essa visão, pode-se perceber algumas variantes que são interessantes a se

abordar, a questão de como o anfitrião pode se conectar com esse intercambista, como pode ser

alguém que mesmo vindo de um país completamente diferente, se torne alguém do convívio

diário, e que esse público só perceba o laço, quando passarem-se algumas semanas.

2.3 TEORIA DA DÁDIVA

A teoria da dádiva pode explicar o comportamento do tópico anterior, a qual é pautada

no dar, receber e retribuir, “as mais diferentes civilizações revelam que trocar é mesclar almas,

permitindo a comunicação entre os homens, a intersubjetividade, a sociabilidade” (PIMENTEL,

2009, p. 217, apud Mauss). A teoria da dádiva traz um pensamento voltado mais para

reciprocidade, trazendo o dar e receber para um viés mais simples e lógico de se compreender,

quando uma pessoa dá algo, ela está doando de alguma coisa que é de sua posse, seja material

ou não, e quando alguém recebe, está disposta a aceitar o que o outro está dando de bom grado,

isso faz parte de um sistema reciproco, quando ambos dão e recebem na mesma proporção e

intensidade, independente do que se trata. “...essas dádivas podem ser obrigatórias,

permanentes, sem outra contraprestação que não seja o estado de direito que as abrange.”

(MAUSS, p. 60, 1950)

A dádiva é algo que não é envolvido apenas um dos lados, há uma participação de dois

lados de um determinado relacionamento, para Pimentel (2009) em sua passagem no livro

turismo de base comunitária afirma que “A dádiva, como a relação que esta estabelece, não é

unilateral. Afinal, uma relação de sentido único não seria uma relação — o equilíbrio da dádiva

está na tensão da dívida recíproca” isso relata o patamar da dádiva, não sendo algo centralizado

em apenas uma pessoa, podendo chegar a ser compartilhado com uma outra, ou mais pessoas.

A teoria da dádiva também aponta que as ações devem ser de forma não monetária, pois

é pautado no dar, receber e retribuir, o qual tem uma vertente pautada no não remunerado, a

tese de Mauss traz uma visão de como a dádiva é baseada em alianças, e em um sistema de

confiança, de tal forma, “A dádiva serve, portanto, antes de mais nada, para estabelecer

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relações” (Pimentel, apud Lanna, 2000), não apenas matrimoniais, ou religiosas, mas também

de voluntariado. Como todos os voluntariados e relacionamentos, essas ações não envolvem

valores financeiros, tendo como enfoque primordial a relação e contato humano nos

acontecimentos baseados no dar, receber e retribuir.

Além dos vieses da reciprocidade e da gratuidade, há um outro que é a espontaneidade,

encontrados alguns aspectos na teoria de Mauss, pois, quando se dá, recebe e retribui algo é

porque houve somente a obrigação de realiza-lo na visão de Mauss, mas também pelo fato de

ambas as partes estarem compactuando de algo espontâneo, como quando alguém dá um sorriso

a uma criança, e esta sorri de volta, é algo totalmente espontâneo, sem pressão, e que ambos

encontram-se satisfeito com tal ato, fazendo-se assim, ambos terem bons sentimentos, seja esse

primeiro contato como conhecidos, ou até mesmo criando uma relação amigável, porém o

sentimento da obrigação de devolver o sorriso a esta criança encontra-se presente nesse

momento.

Tal teoria da dádiva menciona também que na hospitalidade é possível produzir um

sentimento de amizade entre as duas pessoas envolvidas (MAUSS apud SALLES e SALES,

2003, p. 211), ou seja, que essas pessoas que estejam compartilhando esse tempo tornem-se

amigas, independentemente do tempo em que passarem juntas. Assim, a teoria da dádiva serve

para se ligar, para se conectar à vida, para fazer circular as coisas num sistema vivo,

para romper a solidão, sentir que não se está só e que se pertence a algo mais vasto,

particularmente a humanidade, cada vez que se dá algo a um desconhecido, um

estranho que vive do outro lado do planeta, que jamais se verá. Salles e Sales (apud

GODBOUT, 1998)

Na perspectiva da teoria da dádiva, “os seres humanos tendem a reinventar e a escapar

continuamente daquilo que se fixa, que se normatiza, fugindo-se das equivalências mecânicas,

calculáveis” (SALLES E SALES, 2012, p. 22). Essa filosofia amolda-se com o caso da

AIESEC. Isso implica que os indivíduos que se arriscam em um intercâmbio querem fazer uma

mudança em suas vidas, sair da sua normatização, assim como quem hospeda também, saindo

de sua rotina para receber alguém que está disposto a fazer uma diferença na vida de outrem.

2.4 REFERÊNCIAL TEÓRICO EMPÍRICO

O mundo encontrou-se em um dilema com tantos conflitos ocorrendo no mundo, a paz

já não havia mais espaço, principalmente no decorrer da Segunda Guerra Mundial, que matou

tantos milhões de pessoas, não havia mais esperança naquela conjuntura, as pessoas sentiam-se

desprotegidas, o que de fato, era verdade. A respeito deste assunto, Albuquerque (2006) afirma:

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21

A partir da Segunda Guerra Mundial, profundas mudanças políticas, sociais e

econômicas geraram mudanças nos centros de poder, revolução nos sistemas de

comunicação e aumento da produtividade agrícola e industrial. Essa nova situação

também propiciou aumento da pobreza, da violência, de doenças, da poluição

ambiental e de conflitos religiosos, étnicos, sociais e políticos. O mundo se viu diante

de problemas locais, regionais, nacionais e mundiais que dependiam da articulação de

um amplo espectro de agentes sociais.

Com o passar dos anos, a Guerra se dissipou, porém as pessoas já encontravam-se

esgotadas com os resquícios desta, não queriam essa conjuntura para viver. Até que em 1948,

um jovem chamado Niels Maurice Caszo criou a Association Internationale des Etudiants em

Sciences Economiques et Commerciales (AIESEC) com sua sede em Roterdã na Holanda, com

o intuito de modificar toda essa realidade, o criador da AIESEC acreditava que a partir do

intercâmbio cultural e de ambientes desafiadores, os jovens iriam conseguir desenvolver a

liderança e evitar outros conflitos como os que o mundo havia acabado de presenciar.3

De acordo com (FURLAN apud ZEMOR, 2015) A AIESEC “atua como facilitadora da

formação de agentes de mudança, ou seja, jovens líderes conscientes de sua responsabilidade

frente ao mundo e a sociedade em que vivem”. Esse é o intuito da organização existir, acredita-

se que através de líderes jovens, pode-se alcançar a paz mundial e preenchimento das

potencialidades humanas. Todos os seus voluntários acreditam neste viés, e acreditam que

através dos produtos oferecidos (Voluntário Global, Empreendedor Global e Talento Global)

haverá o alcance do desenvolvimento de novos líderes, os quais o mundo tanto necessita.

Assim, “Com esses três programas a AIESEC tenta proporcionar aos jovens um ambiente em

que possa haver um desenvolvimento tanto profissional quanto pessoal.”.

Ademais, é importante salientar que “a AIESEC é uma organização não governamental

e é reconhecida pela UNESCO como a maior organização de jovens universitários do mundo.

A ONG está presente em mais de 126 países e territórios e tem mais de 70.000 voluntários

espalhados no mundo” Vieira (AIESEC, 2016). Nota-se o impacto dessa organização quando

as pessoas entram em contato com esta, pelo desenvolvimento humano que possui.

O desenvolvimento de liderança é o primordial para a organização, e liderança é

caracterizada por alguns autores “como um processo de interação que envolve trocas sociais.”

(BERGAMINI, 1994, p. 104) Além dessa visão, em uma outra abordagem, “Liderança

estratégica é a capacidade de influenciar outras pessoas a tomar, de forma voluntária e rotineira,

3 AIESEC, blog oficial (Brasil). Disponível em: <http://aiesec.blog.br/quem-somos/>. Acesso em: 22 de out de

2018.

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decisões que aumentem a viabilidade em longo prazo da organização, ao mesmo tempo em que

mantêm a estabilidade financeira em curto prazo.” (ROWE, 2002, p. 8) Todos os

desenvolvimentos que a AIESEC visa entregar às pessoas que entrem em contato com esta é

para a melhor tomada de decisão onde quer que este líder esteja.

A AIESEC possui pilares básicos fundamentais para o desenvolvimento dessa liderança,

que todos seus voluntários acreditam que um líder deve ter, que são: O líder que é voltado para

a solução e não fica focalizando tão somente no problema, e sim em sua solução (solution

oriented). O líder que se conhece tão bem que sabe de seus pontos fortes e seus pontos de

melhoria, e está em constante transformação para ser sua melhor versão (self aware). O líder

que empodera outras pessoas, dessa forma fazendo eles também serem sua melhor versão e

trabalhando para o melhor do que estes se proponham a fazer (empowering others). E o líder

que tem consciência de seu entorno, sabendo que suas ações vão refletir em consequências para

outras pessoas, seja onde ele resida ou em outro local no mundo (world citizen).4

Com o desenvolvimento da liderança jovem, o impacto e mudança em cada parte do

mundo será possível, os voluntários da organização acreditam nesse viés, no site da AIESEC

encontramos a afirmação de que “Acreditamos em liderança como a solução fundamental para

os problemas do mundo e confiamos na juventude para liderar essa mudança.”5 A modalidade

do intercambio não é algo que modifique esta visão, a organização surgiu com este propósito,

e permanece até a atualidade desta forma, com evoluções em suas operações, métodos e

produtos, com sua caracterização global.

A nível Brasil, ZEMOR afirma que a AIESEC no Brasil “contando com cerca de 3.000

membros em todo o país, divididos em 52 entidades locais, a AIESEC no Brasil é considerada

uma organização de grande porte.”. E uma dessas 52 entidades é a AIESEC em Natal, que será

estudada através da presente pesquisa.

2.4.1 Programas e objetivos

A AIESEC possui seus programas que são o voluntário global, empreendedor global,

talento global, e lar global, estes possuem suas particularidades. Sendo o voluntário global

(global volunteer) o mais conhecido, realizando intercâmbios sociais e voluntários de curta

4 No site da organização há passagens acerca da temática que expressam os pilares da organização e como estes

são reconhecidos nos intercâmbios. 5 AIESEC, site oficial (Internacional). Disponível em: <https://hub.aiesec.org.br/aiesec-basics/>. Acesso em: 30

de nov de 2018.

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duração (6 semanas no mínimo) e baixo custo, o empreendedor global, por sua vez, trata acerca

do intercambio profissional, para aqueles que desejam atrelar a teoria com a pratica em um

ambiente totalmente diferente do encontrado em seu país. Já o talento global, “proporciona ao

jovem uma empresa internacional, vivenciando diferentes culturas, ao mesmo tempo que

desenvolve habilidades essenciais de liderança e trabalho em equipe a partir de experiências

práticas.” (CARVALHO, 2017, p. 28), já o programa lar global, engloba a questão da

hospedagem a esses intercambistas que saem de seu país natal para outro, e necessitam de um

local para estar durante sua estadia.

Todos esses programas possuem o desenvolvimento do why (Motivo da organização

existir e premissas básicas para seus programas), que de acordo com a AIESEC Internacional,

Acreditamos que a liderança sustentável, informada e com mentalidade global pode

nos ajudar a resolver muitos dos desafios atuais. Nós fornecemos aos jovens uma

plataforma global onde eles crescem em confiança, ganham experiência e talvez

possam falhar, mas aprendam rápido. Eles descobrem o que realmente importa para

eles enquanto criam um impacto social positivo. (AIESEC Internacional, 2018)

Nessa mesma lógica, as áreas da organização são desenvolvidas, sempre visando as

premissas básicas da organização, é algo padronizado para que todas as AIESECs do mundo

estejam alinhadas com tal perspectiva. Para Dindorf (2014, p. 34)

Os valores humanos influenciam diretamente no cotidiano de uma empresa que, por

sua vez, pode ser compreendida por meio de seus valores organizacionais, os quais são fundamentais para a construção de uma imagem da organização na mente dos

indivíduos, desencadeando um tipo de comportamento em relação à organização.

Com uma linha de raciocínio similar, para Alvaro (2003, p. 171) “Os valores formam

parte tanto da construção da identidade individual como da formação de normas culturais que

afetam os comportamentos individuais e grupais.” Ambos os autores informam que a influência

dos valores tanto na forma individual de cada um quanto no profissional define muita coisa, e

de fato, esses valores podem ser moldados por intercâmbios, pois este modifica a visão estrita

para uma visão macro numa tomada de decisão, e isso influencia o dia a dia deste indivíduo.

Nessa vertente a AIESEC desenvolve os valores de cada indivíduo através de um dos

programas, seja se desafiando em outro país, ou recebendo um intercambista em casa. Dessa

forma sendo positivo tanto para a organização que atinge o seu objetivo, quanto os anfitriões e

intercambistas. Tais valores são pautados em características que a organização acredita que

cada líder deve ter, os quais, internacionalmente são buscar a excelência, demonstrar

integridade, ativar a liderança, aproveitar a participação, viver a diversidade e agir

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sustentavelmente. Esses são valores que todos os voluntários da organização acreditam e

buscam desenvolver em todos.

De acordo com Bichuette (2017, p. 36)

Ativar Liderança: liderar pelo exemplo e inspirar liderança através da ação e de

resultados. assumir responsabilidade pela função de desenvolver o potencial de

pessoas; demonstrar Integridade: ser consistente e transparente nas decisões e ações.

Atender ao comprometimento e trabalhar de forma coerente com a identidade da

organização; viver a Diversidade: procurar aprender através dos diferentes modos de

vida e opiniões representados no ambiente multicultural da organização. Respeitar e

encorajar a contribuição de todo e qualquer indivíduo; desfrutar da Participação: criar

ambiente dinâmico pela participação ativa e entusiástica. Desfrutar da participação na

AIESEC; buscar a Excelência: procurar atingir o mais alto nível de qualidade em tudo

que fizer. Através da criatividade e inovação tentar sempre melhorar; e agir Sustentavelmente: agir de uma forma que seja sustentável para a organização e para a

sociedade. As decisões tomadas devem levar em conta as necessidades das gerações

futuras.

No ano de 2017 a organização deu seus passos para a ascensão, passando da marca de

400 intercâmbios no programa voluntário global, o que até então era uma marca inimaginável

para uma organização tão nova, enquanto outras organizações possuíam mais de 20 anos de

existência, a AIESEC em Natal com apenas 4 anos conseguiu fazer um feito gigantesco, a marca

de intercâmbios supracitada anteriormente. No ano de 2018, a organização superou esta marca

atingindo 500 intercâmbios até o presente momento, igualando-se a outros grandes comitês no

Brasil, chegando a ser uma das AIESECs globais que mais entrega intercâmbios completos do

mundo.

2.4.2 Caracterização do lar global

O que se debate neste tópico é acerca do lar global, como citado anteriormente, a

AIESEC em Natal está crescendo, e em seus produtos há benefícios, um desses benefícios é

que o intercambista deve ser provido de local para acomodar-se, a qual é uma premissa básica

do produto. E com isto existe o programa lar global, anteriormente denominado de famílias

globais, para abrigar estes jovens intercambistas que vem impactar a cidade do Natal, e voltar

para suas realidades em seus países como os líderes que a organização tanto acredita, com os

valores pautados no desenvolvimento de sua experiência. Assim sendo, a “pessoa que tiver o

interesse em participar terá que hospedar um jovem que esteja vindo para a cidade de Natal

desenvolver um dos 3 projetos citados anteriormente tendo de uma duração que variam de 6

semanas até o período de 1 ano em sua casa.” (CARVALHO, 2017, p. 29) O usual é a duração

de 6 semanas, abrangendo o programa voluntário global, o qual é o foco da cidade, já o

empreendedor global possui um período maior de tempo.

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O programa existe para proporcionar “um contato mais próximo com a cultura de outro

país, fazendo com que o intercambista que veio desenvolver um projeto na cidade faça parte de

sua rotina, possibilitando uma experiência multicultural sem um custo muito alto se comparado

ao de uma viagem ao exterior.” (CARVALHO, 2017, p. 29) essa troca cultural entre

intercambistas, e nativos da cidade, proporcionam uma experiência completa, de realizar um

voluntariado também, pois para ser host do programa, basta apenas ter vontade em conhecer

uma nova cultura, a disponibilidade de tempo necessária para a duração do intercâmbio, prover

uma alimentação, e estar disposto a usufruir desse intercâmbio de experiências.

O programa surgiu com tal intuito, de que

Hospedar um intercambista é muito mais do que recebê-lo em sua casa, é viver a

diversidade, aprender novas línguas, costumes e valores. Os intercambistas que

chegam ao Brasil por meio da AIESEC realizam trabalhos em ONGs, empresas e

Startups a fim de desenvolver o ambiente em que se inserem. (AIESEC no Brasil,

2018)

Tal visão, entra em consonância com o tópico 2.2, de que hospedar é muito mais do que

apenas receber alguém em casa, é criar um relacionamento amigável com aquela pessoa, da

forma que a teoria da dádiva menciona. E não se faz diferente em Natal, nesta cidade os hosts

procuram ser verdadeiros amigos para os intercambistas, tratando-os da melhor forma possível

para estes.

Essa inserção de intercambistas na cultura da cidade pode vir a ser ou não de acordo

com as expectativas, tanto do intercambista quanto do seu anfitrião, é normal

haver uma expectativa não correspondida ou até mesmo a troca total da imagem criada

por marketing, propagandas, contato com amigos e familiares, dentre outros que já

tenham passado pela mesma experiência não só de fazer um projeto social, mas

também de conhecer a cidade de Natal. (CARVALHO, 2017, p. 29)

Pois nem todas as experiências são similares, algumas podem ser completamente

diferentes das outras, e isso é o que a organização quer, que nenhuma experiência seja similar

a outra. Para que a liderança a qual tanto fala-se seja desenvolvida, é necessário que essas

pessoas passem por questões que tirem-nas da sua zona de conforto, e é isso que a organização

visa desenvolver através dos intercâmbios voluntários e seus programas vinculados ao trabalho

voluntário, para que todos desenvolvam suas habilidades de liderança, no modelo que a

AIESEC tanto busca.

Essa zona de conforto é deixada a partir do momento em que começam os preparativos

para que esse intercambista chegue, dessa forma fazendo com que os membros da casa anfitriã

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saibam que a partir daquele momento, não será mais a mesma rotina que antes, devendo

adaptar-se a nova rotina, que durará 6 semanas ou mais. E para isto, a família conta com o apoio

da AIESEC, que de acordo com seu site, “AIESEC tem a responsabilidade de orientar e

acompanhar as famílias que hospedam os intercambistas com o propósito de garantir a

segurança e bem-estar tanto da família que será host quanto do intercambista.” Fazendo com

que os seus hosts tenham todo o apoio e suporte possível para combater qualquer problema que

venha a ocorrer em sua experiência.

Ademais, quem está disposto a viver uma experiência como a do lar global, está disposto

a ganhar em muitos aspectos, um deles é o cultural e intelectual, desenvolvendo um idioma e

conhecendo a cultura do intercambista que está em seu país. Para isto, BICHUETTE (2017, p.

39) acredita que

Quem recebe um intercambista em casa também recebe sua bagagem cultural. Por

meio de experiências compartilhadas no dia a dia, você e sua família aprenderão o

idioma do país de seu visitante, os hábitos e valores daquele local, a maneira de

solucionar problemas e ainda estarão contribuindo com a mudança da realidade da sua

comunidade.

E tal visão é algo que não são todas as pessoas que possuem, há ainda muito a

desenvolver para que seja possível realizar a mudança que a organização tanto quer no Brasil e

no mundo, e isso não se difere na cidade do Natal. Porém também há muitas pessoas que estão

dispostas a essa troca cultural, e que se encontram em um impasse e receio em investir nesta

experiência, e é sobre estas pessoas que o trabalho enfoca, em suas experiências e em suas

motivações para participar de tal programa.

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3. METODOLOGIA

Neste capítulo serão abordados os procedimentos de cunho metodológico para a

realização da pesquisa do presente trabalho.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O método do presente trabalho foi o qualitativo, que caracteriza-se, de acordo com

Minayo e Sanches (1993, p. 244) por “realiza uma aproximação fundamental e de intimidade

entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza” visando possuir as

informações que sejam o mais interligadas do sujeito com o objeto da pesquisa, que neste caso

é o Programa Lar Global, e o que este pensa e reflete, a aproximação foi feita a partir da

organização, que facilitou o contato com esses anfitriões para a pesquisa. O método qualitativo

foi utilizado neste caso, devido ao trabalho estar pautado no que diz respeito às experiências e

motivações destes anfitriões, o que leva o trabalho a necessitar de uma abordagem com mais

informações qualitativa que quantitativa para suas conclusões acerca do que se passa.

A pesquisa tem cunho totalmente exploratório, para saber o que os anfitriões do

programa Lar Global sentem, e como eles estão com suas experiências e motivações, além

disso, suas informações muitas vezes não saem da forma com que espera-se, podem haver

algumas surpresas em sua coleta, além do mais, de acordo com Godoy, a pesquisa é de cunho

qualitativo básico.

Para o trabalho, as pessoas escolhidas foram baseadas em suas experiências e no período

que os anfitriões receberam, que foi no ano de 2018 do programa Lar Global, pessoas que não

possuíram uma boa experiência e pessoas que possuíram boas experiências afim de ser

imparcial e saber o que este nicho conclui acerca do programa, e o quanto estavam motivados

a receber, e o que os leva a isto.

3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Foi realizado um levantamento das experiências dos hosts do programa, os quais dos

convidados, 10 responderam positivamente ao convite, informando que poderia contribuir para

o presente trabalho, no período de 15 de outubro a 01 de novembro.

Estes 10 hosts foram escolhidos em meio aos mais de 100 que possuíram suas

experiências satisfatórias ou não com o programa da organização, estes perfis foram escolhidos

de acordo com a disponibilidade de participação da pesquisa, aos quais participaram do

programa no ano de 2018.

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3.3 ELEMENTOS DE COLETA DE DADOS

No decorrer do trabalho, foram utilizadas algumas técnicas para a coleta das

informações a fim de respostas para os objetivos que a pesquisa visa desenvolver.

As principais técnicas utilizada no trabalho foram a entrevista e observação estruturada

prioritariamente, as quais basearam-se em um pré-teste realizado para obter mensuráveis de

tempo, e informações a serem utilizadas no estudo, após isso, os hosts do programa foram

consultados para saber mais acerca da estrutura pré-estabelecida para a entrevista, afim de obter

um melhor entendimento do assunto e das perspectivas em questão, as quais “o pesquisador vai

a campo buscando ‘captar’ o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele

envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes” (GODOY, 1995, p. 21)

Primeiramente há esse contato com os dados obtidos através da entrevista, e posteriormente

esta observação de pontos a serem levados em consideração na pesquisa, fazendo-se um filtro

das informações fornecidas por estes anfitriões.

As entrevistas foram pautadas nas questões formuladas do presente trabalho (Apêndice

B) visando obter mais informações acerca do objetivo da pesquisa, através de uma abordagem

mais dinâmica para os respondentes, e mais simplificada para estes, que responderam suas

questões de acordo com o perguntado (Apêndice C). Sua formulação foi a partir de perguntas

usuais para o recolhimento dessas informações, questões estas que sanam o objetivo principal

do presente trabalho.

Após isto, houve a apresentação ao estudo, para poder introduzir as questões aos

respondentes, informando todos os procedimentos que ocorreria, para o melhor conhecimento

da entrevista e da pesquisa também.

A entrevista consistiu em perguntas abertas, nenhuma destas possuía a opção de o

entrevistado responder com um “sim” ou “não”, fazendo com que este respondesse de acordo

com sua realidade e experiência. As questões tinham o intuito de saber um pouco mais da

experiência deste anfitrião, e também acerca dos pontos de melhoria do programa, afim de saber

também como estes poderiam estar auxiliando a melhorar cada vez mais.

O contato foi realizado através do whatsapp, com os 17 hosts, houve um total de 10

respostas dessas pessoas contatadas, as quais, 6 possuíram a disponibilidade para encontrar-se

presencialmente e responder as perguntas, consentindo a gravação de toda a entrevista, e as

outras 4 foram via áudios do whatsapp, devido a rotina e não possuírem disponibilidade para o

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encontro presencial, aos quais também consentiram com a utilização destes áudios no corpo do

trabalho.

Após estes dados estarem todos concluídos, passou-se para a fase de transcrição destes.

Passou-se todos os dados para um quadro, a qual possuíam todas as respostas dos participantes,

e em seguida, houve o procedimento da extração das informações que encontravam-se neste

primeiro material, tornando um novo material mais refinado, como encontra-se no apêndice C.

O material refinado possui partes do que foi introduzido no material anterior, desta

forma, originando um outro com tópicos mais estruturados à realidade do presente estudo, tendo

base em assuntos abordado no referencial teórico do trabalho, e tendo como base a teoria da

dádiva, a qual foi citada neste, fazendo-se analisar alguns aspectos como o de dar, receber e

retribuir, os quais são aspectos fundamentais da teoria e tema base para os tópicos dos

resultados.

3.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE

A classificação dos dados foram a partir do perfil de cada participante e do que ele estava

explanando com relação às perguntas que foram feitas a eles, como mostra no apêndice B e C,

e no quadro 1 do presente trabalho, dessa forma organizando as informações para uma melhor

extração do conteúdo colhido na fase da coleta de dados, e sendo primordial para a fase da

análise. Para Gibbs (2009, p. 18) “A análise de dados qualitativos costuma demandar que se

lide com grandes volumes de dados (transcrições, gravações, notas, etc.).” Mesmo não

possuindo uma grande quantidade de dados, o trabalho visou obter uma melhor visualização do

parâmetro dos dados em questão.

Para isso, a análise dos dados deu-se a partir das informações coletados e dos

pensamentos traçados a partir do referencial teórico, dessa forma, analisando o que foi dito por

cada participante da entrevista, atrelando à teoria descrita no presente trabalho. Para tal,

codificou-se os dados dos áudios, sendo estes a codificação aberta, a qual é oriunda do material

bruto, e a codificação teórica, que possui a vertente da teoria, observando-se fragmentos de

textos que possuem ligação com o sentido dos pensamentos que os autores no referencial

trouxeram.

Após isto, descreve os momentos em que a teoria está informando determinado

pensamento, que há muitas coisas em comum com o material refinado dos resultados, e faz-se

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breves citações do que os anfitriões do programa informaram acerca do determinado tópico,

fazendo-se assim com que as suposições e respostas sejam respaldadas através da teoria.

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4. ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os dados analisados foram realizados a partir de codificação dos áudios realizados na

entrevista que suas questões encontram-se no Apêndice B, visando a coleta e dados para o

presente estudo, com os dados estudados dos Apêndice C, trazendo assim, uma análise de

intracaso (análise de cada caso) na seleção das temáticas a serem abordadas no estudo, e

intercaso (análise de todos os casos, e comparativos) acerca dos tópicos abordados, sendo este

o mais explorado neste estudo, procurando abordar uma comparação das motivações, e saber

acerca de suas experiências, trazendo os temas abordados na teoria para a prática desse nicho

em questão.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DE ENTREVISTADOS

O quadro 1 mostra a caracterização desses participantes, e seus perfis, os quais foram

escolhidos por seu contato com a organização – uns tendo mais contato que outros –, afim de

conhecer um pouco mais acerca do programa de uma forma geral.

Quadro 1 – Caracterização dos participantes

Nome Fictício Faixa Etária Sexo Escolaridade Profissão/curso

Lucy 56 anos Feminino Ens. Médio

incompleto

Auxiliar doméstica

Álvaro 22 anos Masculino Ens. Superior

incompleto

Estudante de C&T

Valquíria 24 anos Feminino Ens. Superior

incompleto

Estudante de eng. da

produção

Gilberto 25 anos Masculino Ens. Superior

completo

Administrador

Tales 22 anos Masculino Ens. Superior

incompleto

Estudante de comunicação

Lucia 23 anos Feminino Ens. Superior

incompleto

Estudante de moda

Breno 22 anos Masculino Ens. Superior

incompleto

Estudante de farmácia

Marina 23 anos Feminino Ens. Superior

incompleto

Estudante de biologia

Cintia 22 anos Feminino Ens. Superior incompleto

Estudante de administração

Talita 19 anos Feminino Ens. Superior

incompleto

Estudante de relações

internacionais

Fonte: Elaboração própria (2018)

Os entrevistados possuíram sua identidade totalmente privada, pois o estudo visa

preservar a imagem dos colaboradores, os quais foram compostos por 10 pessoas, que dentre

as 100 que hospedaram, concordaram em estar contribuindo para o estudo e auxiliar na coleta

dessas informações.

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Pode-se perceber a partir deste, que a maioria dos entrevistados são os estudantes do ensino

superior, compondo um total de 8 entrevistados dos 10 em questão. Em contato com a

organização, tomou-se como base a questão do público alvo deste programa, que são os jovens

estudantes universitários, aos quais compõem mais de 50% do público que hospeda atualmente

na AIESEC em Natal. Estes dados foram fornecidos pelos líderes da área de recebimento dos

intercambistas. Além do mais, percebe-se também que a maior parte dessas pessoas que

aceitaram participar da pesquisa é do sexo feminino, o que pode vir a ser um fator decisivo para

saber que tipo de pessoas costumam estar mais susceptíveis a hospedar voluntariamente esses

intercambistas.

Percebe-se também que um outro dado relevante para se levar em consideração, que é a

faixa etária destes participantes, aos quais encontram-se, em sua maioria, entre os 20 e 29 anos,

o que pode tornar esta ótica diferenciada, devido a estas pessoas possuírem a mesma faixa etária

dos intercambistas que realizam os intercâmbios pela AIESEC, e consequentemente, decerto,

compartilhar um pouco da mentalidade que possuem, além do mais, a profissão/curso destes

entrevistados são distintas, fazendo-se assim o público alvo não apenas de um curso, porém

todos os estudantes de nível superior.

4.2 TEMÁTICAS ABORDADAS

O tópico aborda um pouco mais do que foi expressado pelos hosts no decorrer da

pesquisa e de suas entrevistas, esclarecendo um pouco mais de como é a experiência, e como é

na ótica de alguém externo à organização, que está colaborando com esta experiência de

desenvolvimento dos intercambistas como é o programa, e seus pontos de atenção a serem

melhorados.

4.3 PRIMEIRO CONTATO COM O PROGRAMA

Muitos, quando entram em contato pela primeira vez com algum produto ou serviço

costumam ficar receosos com o que vão se deparar, isto é normal nessa fase do consumo, e no

caso do programa também há esta temática. Alguns dos entrevistados informaram um certo

receio com relação ao programa, justamente pelo medo do incerto, como pode-se perceber na

fala de Lucy, a qual foi a primeira entrevistada, que “eu tinha medo de acolher elas aqui, porque

eu achava que não era o meu mundo, eram outras pessoas de outros países diferentes que tinham

outra cultura, outros costumes.”

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O medo do desconhecido é muito comum, principalmente quando se trata de um serviço

que nunca houve um contato antes, e principalmente em se tratando de um programa ao qual é

focado em convencê-los a abrir as portas da casa desses hosts para receber alguém que estes

nunca haviam visto na vida. “Eu tinha medo na verdade, com certeza, porque eu achava que

não era do jeito que eu pensava (...) eu tinha medo de acolher elas aqui, porque eu achava que

não era meu mundo, eram outras pessoas de outros países diferentes, que tinham outra cultura,

outros costumes.” (Lucy)

Quando essa primeira impressão se dissipa, pode-se perceber a partir de quais fontes

foram conhecidas para chegar ao programa Lar Global, ao qual 30% dos 10 entrevistados

conheceram a organização através de indicações de terceiros, o que torna o serviço mais

confiável, tendo em vista que alguém do ciclo social deste, está indicando. Estes anfitriões

relataram que sua experiência foi indicada por amigos, e que a partir de então, se interessaram

em tentar receber um intercambista em sua casa. “Foi através de uma amiga, a qual ela estava

hospedando uma argentina, e ela publicou em seu perfil do whatsapp que quem pudesse

hospedar um voluntário, que se interessasse e falasse.” (Lucia)

Os outros 70% que obtiveram indicação da própria organização, obtiveram um primeiro

contato, em sua maioria, previamente, sendo membro da organização, ou estando em um

intercâmbio proporcionado pela própria organização, tendo o contato direto e usufruindo do

programa no país destino. De acordo com a entrevistado Álvaro, seu sentimento foi de “retribuir

a experiência que eu tive com o meu host, lá no Perú”. Tal ponto é observado na teoria da

dádiva, pois baseado nesta, afirma-se que “ao receber alguém estou me fazendo anfitrião, mas

também crio, teórica e conceptualmente, a possibilidade de vir a ser hóspede deste que hoje é

meu hóspede. A mesma troca que me faz anfitrião, faz-me também um hóspede potencial.”

(LANNA, 2000, p. 176), fazendo-se assim uma conexão com a questão do retribuir da teoria

da dádiva. Percebe-se que algumas pessoas podem levar a vertente do programa como um tipo

de troca, decerto, positivamente, fazendo assim outras pessoas utilizarem dessa retribuição,

assim sendo, podendo gerar uma outra retribuição na volta para o país de origem.

Uma outra vertente é a da troca não somente das questões materiais, mas também da

troca espiritual, uma comunicação entre almas (...) a dádiva aproxima-os, torna-os

semelhantes (...) Por mais que estas variem, elas sempre reiteram que, para dar algo

adequadamente, devo colocar-me um pouco no lugar do outro (por exemplo, de meu hóspede), entender, em maior ou menor grau, como este, recebendo algo de mim,

recebe a mim mesmo (como seu anfitrião). (LANNA, 2000, p. 176)

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Tal teoria encaixa-se perfeitamente no que a entrevistada Talita relatou acerca de sua

retribuição para o programa, informando que gostaria de fazer com que “As pessoas que

viessem pra cá, fazer o mesmo que eu ia fazer lá fora se sentissem bem, se sentissem acolhidas,

do mesmo jeito que eu me senti realmente na minha experiência, me senti muito bem.” Esse

sentimento usualmente é muito comum entre as pessoas que já realizaram algum tipo de

intercambio em sua vida, podendo vir a ser um fator considerável para a organização abordar

no programa, como uma forma de estas pessoas poderem dar e receber essa experiência.

Além desse sentimento, também tem o da hospitalidade, de o anfitrião estar abrindo as

portas de sua casa, e querer transparecer uma boa imagem para este intercambista, alguns

entrevistados também informaram este tópico, o qual é muito importante de ser discutido, pois

ele demonstra um pouco de como os hosts lidam com o intercambista em casa, e como gostam

de fazê-lo. “A gente é muito hospitaleiro, então a gente se preocupa muito em deixar a pessoa

realmente se sentindo em casa e confortável não só com a casa mas com a cidade.” (Álvaro) O

qual estes hosts possuem noção do quão importante ser hospitaleiro é para uma experiência

como esta. Para Perez (2007, p.23) “Ser hospitaleiro significa hospedar bem àquele que não é

da nossa família. Uma lógica de amabilidade parece permear no sentido do termo.” Com essa

mesma ótica, três entrevistadas trouxeram uma visão semelhante relacionado ao mesmo

assunto, em suas diferentes experiências,

Eu acredito que a gente, eu e minha família a gente contribuiu deixando um lugar pras

pessoas que vieram aqui, quando quiserem voltar ter esse lugar sabe, a gente deixou

uma casa para eles sabe, uma família. (Talita)

Dar uma experiencia tão maravilhosa quanto a minha para essas pessoas que estariam vindo

para nossa cidade. (Cintia)

Faz total diferença quando um intercambista é bem recebido na sua casa, né, na sua família,

porque muito do que se diz questão de receptividade, ou até mesmo de a gente dar um primeiro aporte pra aquele intercambista conta muito. (Valquíria)

4.4 MOTIVAÇÕES, EXPECTATIVAS E REALIDADE

Das motivações que levam a participar do programa, estão diversos aspectos que

envolvem a motivação de uma pessoa. A literatura afirma que “Os motivos são fenômenos

psicossociais entendidos por relações requeridas entre o ambiente e o sujeito.” desta maneira,

as motivações possuem características psicológicas, a qual irá variar de acordo com o ambiente

e o sujeito motivado.

Para participar do programa, os interessados já possuem uma motivação de conhecer

mais acerca do outro, alguém desconhecido, de outro local do mundo, que irá estar durante um

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certo tempo na casa desta pessoa. Alguns veem o trabalho que esses intercambistas vem realizar

na cidade, e já trata-os como alguém da família, e para integrar essas pessoas à sua família

também, assim como a Lucy informou que “o que me motivou foi assim, tipo acolher elas aqui

como filhas.” Mas além de ser a motivação de somente acolher como um ente da família, é de

fato saber se essas motivações serão correspondidas com a realidade, o que foi o caso de

Gilberto – um outro entrevistado – em sua experiência, que relatou que “Ela era como uma

pessoa de casa, e ela saia, ela chegava a hora que ela queria, e ela comia quando ela queria, e

ela tinha as coisas dela e eu as minhas pra fazer, quando dava pra fazer coisas juntos, de boa, a

gente fazia, mas normalmente era muito independente”.

É muito difícil prever quando suas motivações irão corresponder com a realidade

encontrada, tornando-se assim uma expectativa naquela pessoa, a qual muitas vezes alguns não

obtiveram um contato de imediato com seus guests, ou que se teve e criou-se muitas

expectativas acerca daquela pessoa, como foi o caso da Marina, que teve uma alta expectativa

e “a realidade que eu encontrei, é que deu essa quebra de primeira.”

Pode ser difícil para alguns anfitriões não criar uma grande expectativa, pois elas estão

correlacionadas diretamente com suas motivações em participar do programa. Porém nem

sempre essas quebras de expectativas são na via negativa, muitas vezes, os hosts encontram

uma via totalmente positiva, modificando o mindset que ele havia criado anteriormente,

negativa ou positivamente, como foi o caso de Gilberto, que tinha o pensamento de que o

intercambista iria ser muito dependente dele, porém “A realidade foi totalmente diferente, eu

pude ver que as pessoas que vem, já vem com esse pensamento de independência.”.

Já um fator motivacional para Breno foi justamente “a partir disso quebrar os tabus que

a gente tem em relação a outras culturas.” De acordo com ele sua família não sentia-se muito

confortável com uma outra cultura estando no dia a dia de sua casa, porém quando a

intercambista chegou, essa visão foi totalmente modificada. Isso ocorre muito pelo choque

cultural que o programa proporciona, e esse intercambio cultural entre anfitrião e intercambista.

Muitas dessas motivações estão totalmente conectadas com a troca cultural, o qual é o

principal foco do programa, além de estar ajudando a organização com as experiências desses

intercambistas, de acordo com o site AIESEC Blue Book, encontrado no AIESEC HUB, “Lar

global é um engajamento com os produtos da AIESEC que dão para famílias locais a

oportunidade de hospedar um participante do voluntário global ou um empreendedor global em

suas próprias casas durante suas experiências com a AIESEC.” (2018, p. 35).

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4.5 CHOQUE E TROCA CULTURAL

Quando há a mudança numa rotina, usualmente as pessoas tendem a acostumar-se com

essa nova rotina, e da mesma forma é quando se hospeda um intercambista. Porém, nem sempre

é como espera-se, nesses casos há muito choque de cultura, que se pode perceber nitidamente

em algumas passagens das entrevistas no apêndice C, mas além desse choque, há a troca cultural

também, que é uma premissa básica do programa, promover esse intercambio cultural entre

hosts e guests.

Para uma melhor compreensão dos pontos de vista dos entrevistados, a caracterização

de cultura pode ser algo bastante variado, e de acordo com alguns estudiosos, como Sampaio

(apud. GEERTZ, 1989, p. 66) “... um padrão de significados transmitidos historicamente,

incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas

por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas

atividades em relação à vida.”

Todos os entrevistados informaram que essa troca cultural ocorreu em algum momento

de suas experiências, algumas não sendo tão positivas quanto outras, para Cintia e Lucia, houve

uma troca cultural muito válida, pois,

São culturas muito diferentes, apesar de por exemplo o colombiano ser muito parecido

em alguns aspectos, eu encontrei dificuldades de vivencia mesmo, de rotina, então, um deles comia muita fruta no café da manhã, era um café da manhã bem fitness

mesmo, e o outro, era fritura atrás de fritura, e assim, as duas comidas que eles

preparavam muito gostosas, de diferentes maneiras (...) por mais que tenhamos nossas

diferenças não somos tão diferentes assim, e essas diferenças são incríveis e podem

se completar de várias maneiras, então eu acho que eu contribui muito em dar esse

cambio cultural mesmo, essa troca. (Cintia)

Para Lucia, a qual aceitou ser host,

Foi em buscar o conhecimento sobre culturas distintas, línguas, que é bastante interessante (...) vivenciar toda a cultura da pessoa, e poder trocarmos experiências

distintas de culturas, de como ela vive lá em seu determinado país, como eu vivo aqui,

e assim podermos ter uma troca de experiência sem eu sair do meu próprio país, ou

até mesmo da minha própria residência. (...) conviver com pessoas de outro país, você

compartilhar ideias, compartilhar culturas, e poder mostrar pra pessoa o quanto,

quantas riquezas nossas culturas oferecem, a nossa cidade oferece, e entre outros.

No ponto de vista dos demais anfitriões – pode ser observado no apêndice C – a troca

de cultura de acordo com o programa é muito interessante pelo fato de não ser necessário sair

de casa é uma “troca cultural em sua própria casa” ou outras afirmações de que “é um

intercambio sem sair de casa”. De todas as formas, há essa questão da troca cultural, a partir do

momento em que anfitrião e intercambista entram em contato, há esse intercâmbio cultural.

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Ademais o intercambista em muitos momentos estará motivado a mostrar não somente

sua cultura, mas também ensinar muitas coisas para o anfitrião, como foi no caso de Lucy, a

qual em uma parte de sua entrevista afirma que “Apesar de eu não falar a língua delas, mas eu

me diverti muito, aprendi muito com elas, do lado delas.”. Isso é algo muito interessante a ser

abordado, como o intercambista do programa está – mesmo que inconscientemente – ensinando

novas coisas diariamente a seu anfitrião, e como este está assimilando tudo o que lhe é passado

durante esse intercambio cultural, e essa troca linguística e cultural também.

Quadro 2 – Caracterização de coisas dadas e recebidas

Principais coisas dadas Principais coisas recebidas

Acomodação Troca cultural

Hospitalidade Novos idiomas

Amizade Contato no exterior

Disponibilidade Gratidão do intercambista

Fonte: Elaboração própria (2018).

4.6 VÍNCULO DE AMIZADE E A IMPORTÂNCIA DO VOLUNTARIADO

O programa, além de trazer toda essa parte das motivações para hospedar, o qual leva

um interessado a conhecer mais o programa a ser anfitrião, que também tem a questão da troca

cultural tão presente em seu dia a dia, relaciona-se com um sentimento que se desenvolve no

decorrer do programa, que é vínculo de amizade host – guest. Muitos vínculos de amizades são

criados de diversas situações, e o programa é um deles, na fala de alguns entrevistados.

fui uma amiga, sou braço amigo no sentido de que tipo, ela veio num período frágil

da vida dela, onde ela tinha acabado de terminar o namoro de 5 anos e ela conversa

comigo, eu to fazendo parte na vida dela nesse período de mudança, sabe, de

empoderamento, então, eu acho que, eu contribuo muito nisso. (Marina)

Esse vínculo é algo que é nutrido, e vai depender muito de como o anfitrião recebe o

intercambista e mantém sua relação com este, de acordo com o tópico 4.3, que exemplifica com

os casos de alguns hosts e como eles veem tal questão, e por mais que o intercambista deva

estar em uma tentativa de criar um laço afetivo de amizade com esse anfitrião, ele também

deverá estar mais aberto isso, pois é uma via de mão dupla, o que o programa visa entregar é

essa interação entre ambos, devendo o anfitrião também tomar tal atitude, um bom exemplo

disso é uma parte da entrevista com a Lucia, que aponta que “Eu sempre tento manter uma boa

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convivência, e uma parceria para que nossos gostos e ideias possam ser elaborados numa

mesma etapa.” Alguns outros anfitriões obtiveram respostas similares com estas, de suas

experiências e de como elas foram importantes para criar um vínculo amistoso com aquela

pessoa.

Quando esse laço de amizade é criado, todo o resto flui de uma forma mais natural, e

por consequência, os demais intercambistas do programa também estão inseridos nesse meio,

pois é o mesmo que o guest estará inserido diariamente, e o host também irá querer participar

um pouco do meio social do intercambista, nem que seja em uma parcela de tempo, assim como

o Gilberto falou em uma parte de sua entrevista, que em sua experiência o contato “Com os

outros intercambistas que não estavam na minha casa a gente normalmente se via em festas,

essas coisas assim, tinha uma integração bem bacana.”. Mas além da interação nesse meio

social, também há as indagações, dos motivos pelos quais esses intercambistas motivam-se a

realizar um intercambio voluntário “Bom, eu, sempre procuro sair muito com eles pra conhecer

realmente eles, é, conversar de tudo, saber porque realmente eles vieram, como que ta o projeto,

mesmo que não seja a pessoa que ta na minha casa, é realmente tentar conhece.” (Álvaro)

Mas mais que esse vínculo amistoso, é saber como isso tudo se conecta com o verdadeiro

propósito da ida desse intercambista ao seu local de destino – neste caso Natal – e também,

como o intercambista se conecta com o propósito de realizar um voluntariado pela organização.

Mas não apenas o intercambista e membros da organização devem saber desse tópico em

específico, os anfitriões também, e eles observam a necessidade desse entendimento, de acordo

com 50% dos entrevistados, houve sim um vínculo de amizade entre eles e os intercambistas

que ficaram em suas casas para o desenvolvimento de seus projetos.

Muitos desses anfitriões também se sentem tristes por não haver comparecido a, pelo

menos, um dia no trabalho deste guest, fazendo ver o impacto que esses jovens realizam nas

cidades e no meio em que estão inseridos nesse momento de intercambio. 30% dos

entrevistados afirmaram essa importância em conhecer um pouco melhor o desenvolvimento

desse voluntariado, e que muitos também tem o sentimento de estar auxiliando este momento,

mas além disso, o interesse em saber um pouco mais acerca dos intercâmbios realizados por

estes intercambistas.

De acordo com Gilberto, o desenvolvimento do trabalho voluntário desses

intercambistas foi um motivador para que ele hospedasse e visse que esse intercambista estaria

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realizando, em suas palavras, “Um projeto legal que pudesse fazer na cidade, que tivesse algo

interessante pra fazer, coisas que normalmente eu não faria, isso me motivou”.

Para Lucia, o desenvolvimento do trabalho é algo que a deixa muito encantada, pois

“Um bom desempenho em locais onde precisam realmente da nossa atenção, como de escolas

públicas, e assim, puder levar um pouco de ensinamento para eles, para aquelas crianças que

não tem aquele acesso à línguas estrangeiras como em escolas privadas.”. Dessa forma, a host

vê um proposito claro, e uma grande importância de que os intercambistas saem de seus países

para realizar o intercambio social pela AIESEC, e realizam o impacto que a organização tanto

defende e propõe.

Porém mais que apenas estar em contato diariamente com o desenvolvimento do projeto

desses intercambistas, é ver a importância e satisfação que esse voluntariado gera no guest, a

tal ponto que muitos falam a respeito de seu voluntariado com muita propriedade e ânimo,

mostrando o quão impactante essa experiência foi, não apenas para ele, mas para todos que

tiveram um mínimo de contato com o impacto desses intercambistas. Para Cintia foi o mesmo

do descrito, em suas palavras, “Eu pude ver nos olhos de cada um deles de formas diferentes

brilhos diferentes, todas as atividades que eles estavam realizando aqui, tudo vivenciando, foi

incrível participar disso com eles.”. Isso demonstra um pouco do impacto que a organização

vem gerando para a comunidade ao redor do local impactado, e também para a sociedade

daquela cidade, pois os intercambistas estarão em contato com diversas pessoas, e essas

pessoas, geralmente, estão interessadas em saber um pouco acerca do que os motivou a realizar

um intercambio voluntário, e do motivo de estar na cidade.

4.7 MELHORIA NO PROGRAMA E RECOMENDAÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Muitos anfitriões sentem-se satisfeitos com a experiência, porém, 60% dos entrevistados

informaram a falta de uma maior interação da organização com o anfitrião, para saber melhor

de como está a experiência deste, e como eles estão antes de recebimer desse intercambista

também. Ademais, a troca de experiências de host para host pode vir a ser enriquecedora, como

afirma Álvaro em sua entrevista “Eu acho que a interação entre os anfitriões poderia ser melhor,

assim, em relação a anfitrião e anfitrião (...) trocar um pouquinho as experiências de host que

cada um tá tendo.”, para Valquíria “um contato mais direto, estaria melhorando a experiência

do consumidor.”, para Tales

Acho que faltou um pouco de track maior sobre a minha experiência de host na época.

(...) ter um contato maior com o host, pra ver realmente como que está a experiência

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dele, as vezes a gente foca muito na experiência do intercambista (...) encontros

semanais ou mensais em que fosse possível de juntar todos os hosts interessados para

se falar como está a experiência, trazer coisas nesse encontro sobre a cultura dos

intercambistas que eles estão hospedando, fazer com que os hosts também tivesse

algum tipo de participação.

Para Lucia, a questão da estadia dos intercambistas na residência devem ser melhor

monitoradas, tendo em vista que estes estão durante 6 semanas realizando um intercambio e

estando hospedados nas casas desses anfitriões. Na mesma vertente de raciocínio que Breno e

Cintia informam que sentiram falta de um contato maior dos responsáveis do programa no

momento em que hospedaram, para poder relatar o decorrer de sua experiência, e como esta

estava sendo desenvolvida.

Além desse descontento, houve um outro ponto abordado por Gilberto, o qual foi a

questão da melhoria da logística, que este afirma que “Primeira coisa que acho que deveria ser

pensado, eu acho que deveria haver visitas às casas que vão receber os intercambistas (...) outro

ponto é justamente esse da localização.”. A logística é um ponto muito importante, pois é como

os intercambistas e anfitriões podem entrar em um descontentamento, devido ao fato de o guest

ter que pagar um valor muito alto em sua locomoção até seu local de trabalho, causando assim

um descontentamento deste.

Porém, uma grande maioria dos entrevistados, sentem-se satisfeitos com o programa, e

isto é o que toda a organização visa atingir, a satisfação do seu público-alvo, no caso os

anfitriões, a qual esta irá delinear como será a visão dos próximos a usufruir do programa, para

muitos hosts sua experiência foi muito boa, porém, para outros nem tanto, devido a conflitos

de interesse, e alguns descontentamentos com o intercambista que foi para sua casa.

Para Lucy,

A experiência é maravilhosa, fica a critério de cada um se quer ou não, mas que as

pessoas que vieram pra aqui, eu não tenho nada a dizer que foram ruins, foram

maravilhosa (...) me trataram muito bem, fui pra uma reunião, foi maravilhosa lá, todo

mundo me tratou muito bem, ótimo o nível.

Para Álvaro e Valquíria, muito mais do que a experiência ter sido boa, há também a

conexão de o anfitrião estar aberto a essa nova cultura que estaria em sua casa, para ele, quem

é anfitrião, deve estar mais aberto ao novo, mesmo embora a organização tendo atendido suas

expectativas, e Álvaro relatou também que “nunca tive problema com eles, mas sei que se eu

tivesse, o problema seria resolvido.”. Isso demonstra a confiança que esses anfitriões possuem

na organização também, e é algo extremamente importante para garantir que novas pessoas

sejam hosts também.

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Na mesma vertente de recomendação, alguns anfitriões deram seu relato de

contentamento e recomendação com o programa. Os quais foram bem indicados, como mostram

os trechos das entrevistas citadas por estes.

Quanto a minha intercambista eu achei que foi tudo muito bom, foi tudo muito bem

assistido, do início até o fim (...) muito bacana, você conviver um pouco com a pessoa

que tem cultura diferente, tem uma língua diferente, você estando na sua casa, no seu

país, na sua cidade, então eu super indico e acho que vale a pena. (Gilberto)

As circunstâncias que levaram a ter essa experiência que foram um pouco infelizes,

mas acho que é uma experiência muito válida, uma troca muito válida, que realmente

se a pessoa tiver interessada, ela procure, porque é uma troca cultural tanto pra ela

quanto pra pessoa que ela está recebendo, e é uma ajuda também (Tales)

Para Lucia, Breno, Marina e Cintia, todos informaram o quão bom e compensador é

você poder hospedar um intercambista dentro de casa, é um amigo que está compartilhando

momentos com o host que está ali para todos os momentos, e que só tem coisas boas a relatar

da experiência, e do programa também, devido ao fato de estar proporcionando com que essas

pessoas pudessem estar compartilhando momentos com os anfitriões, e que esses anfitriões

obtivessem o conhecimento do programa através das divulgações de terceiros, e até mesmo da

organização.

Decerto, a organização não tem como prever quais destes intercambistas estarão sendo

mais difíceis de lidar que outros, e isto é um desafio que a organização deve levar em

consideração para melhorar a interação com o anfitrião, e estar cada vez mais presente em sua

realidade.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho visou trazer uma ótica de como a experiência do anfitrião do programa lar

global da AIESEC em Natal se conecta com as motivações destas pessoas que dispõem de sua

habitação para hospedar um intercambista pelo programa, o qual o estudo percebeu que estão

conectadas com um dos principais motivos dos citados: a troca cultural.

Também foi discutida a questão do dar, receber e retribuir, da teoria de Mauss, a qual

foi debatida no tópico 2, que informa o quão gratificante é poder retribuir o que lhe foi

proporcionado, e fazendo assim obter uma troca de culturas no caso do trabalho, e também um

outro olhar para outras culturas diferentes, além de ter um laço familiar e de amizade com essas

pessoas que serão hospedadas nesses hosts, fazendo com que ela seja parte não apenas daquele

período que estará na casa do anfitrião, mas de sua vida também. Para tal, foram analisados os

pontos de vista desses anfitriões acerca de diversos assuntos neles correlacionados no tópico 4,

o qual consta todas as análises e trechos das entrevistas primordiais para concluir as motivações

que levam esses interessados a serem hosts.

O estudo possui aplicabilidade voltada à satisfação e motivação dos anfitriões, o qual

serve como viés positivo para a organização, devido a seus resultados adquiridos, que em sua

maioria foram satisfatórios, de tal forma mostrando o que ocorre no dia a dia da hospedagem

desses intercambistas, podendo ser utilizado como transparência do programa, e de como é a

organização e como esta age no presente momento com seus stakeholders, dessa forma fazendo

com que mais pessoas sintam segurança em hospedar os intercambistas da organização, devido

a efetuação de um estudo baseado nessas motivações e experiências.

O estudo não é totalmente amplo para todos os anfitriões, o que se torna uma limitação,

sendo utilizada apenas uma parcela desses hosts voluntários. Porém, ai encontra-se uma

oportunidade de pesquisa futura, pois pode-se analisar e comparar não apenas as motivações e

experiências dos anfitriões na Cidade do Natal, porém sendo expandida pelo Brasil, e até

mesmo pelo mundo, com outras unidades da organização, podendo fazer-se esse comparativo

entre os diferentes países, e como eles lidam com essa temática, se a população é mais

susceptível à hospedagem voluntária, e se suas experiências possuíram o mesmo nível de

satisfação que os utilizados no presente estudo, e até mesmo dos brasileiros (em uma

perspectiva futura de estudo), além disso, podendo fazer uma análise de perfil desses anfitriões

em diversos locais, para saber se a experiência irá estar atrelado à proporção que o anfitrião e

intercambistas dão e recebem em tal temática.

Além dos pontos abordados, futuramente, pode-se haver importância para o marketing,

que pode ser estudado e desenvolvido em uma pesquisa futura.

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47

APÊNDICE A – APRESENTAÇÃO AO ESTUDO

Olá, meu nome é Rissia, sou estudante do curso de Administração na UFRN (Universidade

Federal do Rio Grande do Norte), e estou realizando uma pesquisa que possui objetivo

principal identificar as motivações que levam as pessoas a tornarem-se anfitriões (hosts) do

programa Lar Global da AESEC em Natal, orientado pela professora Anatália Saraiva Martins

Ramos.

Para tal, gostaria de realizar uma breve entrevista acerca de sua experiência e motivação para

tal, solicito a vossa colaboração para alcançar o objetivo final da minha pesquisa, dessa forma,

de antemão informo que seu nome não será registrado, é totalmente anônimo, e suas respostas

serão para título de informação e registro no trabalho.

Em caso de dúvida, disponibilizo-me para sanar qualquer dúvida que venha a ter através do

meu telefone celular, ou do email: [email protected].

Agradeço vossa participação desde já!

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APÊNDICE B – MODELO DE INTRUMENTO DE PESQUISA APLICADO COM OS

HOSTS DA AIESEC EM NATAL – ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Como você conheceu o programa lar global da AIESEC?

2. O que motivou você a ser host do programa?

3. Qual era a sua expectativa em relação à função de host antes de participar do

programa?

4. Qual foi a realidade que você encontrou?

5. Enquanto host, como você acredita que tem contribuído para a experiência do

intercambista?

6. Como você tem atuado com os intercambistas enquanto host do programa?

7. Supondo que alguém estivesse interessado em ser host do programa e te procurasse

para saber a sua opinião da experiência, o que você diria para essa pessoa?

8. Qual o seu nível de satisfação com o programa Lar Global?

9. O que você acredita que pode ser melhorado no programa?

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APÊNDICE C – MATERIAL REFINADO DA COLETA DOS DADOS

Entrevistado Lucy

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Conheci através de minha filha, que trabalha na AIESEC e trouxe a primeira

intercambista pra cá que foi Aldana.

Primeiro contato através de terceiros

Conheci o lado bom, muitas coisas boas com elas, foram minhas amigas, fui

amiga delas, me senti muito bem, gostei muito dela

Vínculo Amistoso

o que me motivou foi assim, tipo acolher elas aqui como filha. Sentimento de família

Eu tinha medo na verdade, com certeza, porque eu achava que, sei lá, não era do

jeito que eu pensava (...) eu tinha medo de acolher elas aqui, porque eu achava que

era, não era o meu mundo, eram outras pessoas de outros países diferentes que

tinham outra cultura, outros costumes.

Troca cultural

saem pra fazer o trabalho delas voluntário, voltam, continuam educada, dão

uma aula de vida pra gente.

Desenvolvimento do voluntariado

Apesar de eu não falar a língua delas, mas eu me diverti muito, aprendi muito

com elas, do lado delas.

Aprendizagem

A experiência é maravilhosa, fica a critério de cada um se quer ou não, mas que

as pessoas que vieram pra aqui, eu não tenho nada a dizer que foram ruins, foram

maravilhosa (...) me trataram muito bem, fui pra uma reunião, foi maravilhosa lá,

todo mundo me tratou muito bem, ótimo o nível.

Experiência recomendada

Entrevistado Álvaro

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Eu conheci o programa lar global no meu intercambio, que quando eu fiz

intercambio eu tive uma acomodação que em natal também trabalhava assim.

Primeiro contato através da

organização

na primeira vez tava com muita muita expectativa de, meu Deus, vou mostrar a

cidade, vou saber da vida dela, vou falar da minha vida, vou ser melhor amigo

da pessoa (...)eu sai pra mostrar a cidade, viajei muito, fui muito pra praia junto,

e a pessoa participou muito da nossa vida.

Vínculo Amistoso

O que me motivou foi realmente ter mais contato com os intercambistas, e o que

motivou a minha família foi retribuir a experiência que eu tive com o meu

host, lá no Peru.

Retribuição

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50

pra mim é muito bom, e como sempre atende as expectativas (...) muito

satisfatório as experiencias que na minha casa teve até agora, e acredito que por

causa do nosso modo de tratar o intercambista (...) nunca tive problema com

eles, mas sei que se eu tivesse, o problema seria resolvido.

Experiência recomendada

a gente é muito hospitaleiro, então a gente se preocupa muito em deixar a

pessoa realmente se sentindo em casa e confortável não só com a casa mas com

a cidade.

Hospitalidade

Bom, eu, sempre procuro sair muito com eles pra conhecer realmente eles, é,

conversar de tudo, saber porque realmente eles vieram, como que ta o projeto,

mesmo que não seja a pessoa que ta na minha casa, é realmente tentar conhece.

Relacionamento com os demais

intercambistas

Eu diria que é uma experiencia muito boa que você realmente, se você

realmente se abrir, se você ajudar, você vai ter uma amizade.

Abertura a novas experiências

Eu acho que a interação entre os anfitriões poderia ser melhor, assim, em

relação a anfitrião e anfitrião (...) trocar um pouquinho as experiências de host

que cada um tá tendo.

Melhorar interação com os hosts

Entrevistado Valquíria

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Quando eu comecei a trabalhar na AIESEC, eu percebi né fui assimilando os

produtos que tinham, e por meio disso, consequentemente a gente viu a grande

importância do lar global.

Primeiro contato através da

organização

então ela também serviu como companhia, ela era uma pessoa bem tranquila

então a gente se deu super bem (...) eu tenho uma conexão maior com minha

primeira intercambista, tanto é que a família dela é muito agradecida, a gente tem

uma conexão de amizade, e assim mesmo eu tenho com a segunda.

Vínculo amistoso

um bom momento tanto pra eu aprender um pouco da cultura dela, quanto

para eu poder ajudar e assimilar um pouco mais da cultura dela (...) eu tinha

muito da expectativa de aprender uma cultura nova e também tá estimulando o

idioma.

Troca cultural

faz total diferença quando um intercambista é bem recebido na sua casa, né, na

sua família, porque muito do que se diz questão de receptividade, ou até mesmo

de a gente dar um primeiro aporte pra aquele intercambista conta muito.

Hospitalidade

que não é sempre que a gente tem essa imersão cultural dentro da sua casa, e

tivesse disposta realmente a tá recebendo alguém de coração aberto, de

mente aberta, e tá tendo essa experiência da melhor forma possível.

Abertura a novas experiências

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51

isso pode ser melhorado a partir do momento que isso se torna mais humano (...)

um contato mais direto, estaria melhorando a experiência do consumidor.

Melhorar a interação com os hosts

Entrevistado Gilberto

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Eu conheci o programa da AIESEC através de uma amiga minha da

faculdade, ela era voluntária lá na AIESEC, me apresentou e eu fiquei

interessado.

Primeiro contato através de terceiros

Ela era como uma pessoa de casa, e ela saia, ela chegava a hora que ela queria,

e ela comia quando ela queria, e ela tinha as coisas dela e eu as minhas pra fazer,

quando dava pra fazer coisas juntos, de boa, a gente fazia, mas normalmente era

muito independente

Sentimento de família

Viver um pouco mais dessa experiência, de conhecer uma pessoa de um outro

país, e estar na minha casa.

Troca cultural

Assim, quanto a minha intercambista eu achei que foi tudo muito bom, foi tudo

muito bem assistido, do início até o fim (...) muito bacana, você conviver um

pouco com a pessoa que tem cultura diferente, tem uma língua diferente, você

estando na sua casa, no seu país, na sua cidade, então eu super indico e acho que

vale a pena.

Experiência recomendada

Com os outros intercambistas que não estavam na minha casa a gente

normalmente se via em festas, essas coisas assim, tinha uma integração bem

bacana.

Relacionamento com os demais

intercambistas

Um projeto legal que pudesse fazer na cidade, que tivesse algo interessante pra

fazer, coisas que normalmente eu não faria, isso me motivou (...) entender o

trabalho que ela tá fazendo aqui na cidade, e fazer parte disso.

Desenvolvimento do voluntariado

A realidade foi totalmente diferente, eu pude ver que as pessoas que vem já

vem com esse pensamento de independência

Quebra de expectativas

Primeira coisa que acho que deveria ser pensado, eu acho que deveria haver

visitas às casas que vão receber os intercambistas (...) outro ponto é justamente

esse da localização.

Melhora da logística

Entrevistado Tales

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

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52

Primeiramente eu já era membro da instituição, então foi justamente por já estar

dentro da AIESEC que eu tive a oportunidade de conhecer o programa lar

global

Primeiro contato através da

organização

Acho que muito porque esse é o contato mais próximo que ele vai ter da nossa

cultura (...) essa troca cultural que isso proporciona pra ele, inclusive pro host

também. (...) consegui ter uma troca cultural com outras pessoas por causa

disso também.

Troca cultural

As circunstâncias que levaram a ter essa experiência que foram um pouco

infelizes, mas acho que é uma experiência muito válida, uma troca muito

válida, que realmente se a pessoa tiver interessada, ela procure, porque é uma

troca cultural tanto pra ela quanto pra pessoa que ela está recebendo, e é uma

ajuda também

Experiência recomendada

Acho que faltou um pouco de track maior sobre a minha experiência de host na

época. (...) ter um contato maior com o host, pra ver realmente como que está

a experiência dele, as vezes a gente foca muito na experiência do

intercambista (...) encontros semanais ou mensais em que fosse possível de

juntar todos os hosts interessados para se falar como está a experiência, trazer

coisas nesse encontro sobre a cultura dos intercambistas que eles estão

hospedando, fazer com que os hosts também tivesse algum tipo de participação

Melhorar interação com hosts

Entrevistado Lucia

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Foi através de uma amiga, a qual ela estava hospedando uma argentina, e ela

publicou em seu perfil do whatsapp que quem pudesse hospedar um voluntário,

que se interessasse e falasse.

Primeiro contato através de terceiros

Eu sempre tento manter uma boa convivência, e uma parceria para que nossos

gostos e ideias possam ser elaborados numa mesma etapa.

Vínculo amistoso

Foi em buscar o conhecimento sobre culturas distintas, línguas, que é bastante

interessante (...) vivenciar toda a cultura da pessoa, e poder trocarmos

experiências distintas de culturas, de como ela vive lá em seu determinado

país, como eu vivo aqui, e assim podermos ter uma troca de experiência sem

eu sair do meu próprio país, ou até mesmo da minha própria residência. (...)

conviver com pessoas de outro país, você compartilhar ideias, compartilhar

culturas, e poder mostrar pra pessoa o quanto, quantas riquezas nossas culturas

oferecem, a nossa cidade oferece, e entre outros.

Troca cultural

É uma experiência incrível, o qual todos gostariam de passar (...) Eu tenho a

satisfação enorme, e sou muito grata ao programa lar global por terem

Experiência recomendada

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53

criado esse método de eles virem pra cá tanto quanto nós irmos para lá, para

podermos melhorar a cidade.

Um bom desempenho em locais onde precisam realmente da nossa atenção, como

de escolas públicas, e assim, puder levar um pouco de ensinamento para eles,

para aquelas crianças que não tem aquele acesso à línguas estrangeiras como em

escolas privadas.

Desenvolvimento do voluntariado

Em relação à comunicação com os hosts durante a estadia dos intercambistas

na residência (...) a comunicação entre os hosts.

Melhorar interação com hosts

Entrevistado Breno

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Eu conheci o programa lar global da AIESEC em Natal porque eu era membro

do grupo famílias globais, que agora é o lar global

Primeiro contato através da

organização

Saber como é ter uma cultura diferente na minha casa (...) conhecer outra

cultura, conhecer uma pessoa totalmente diferente que eu nunca vi na minha

vida, e poder mudar o mindset da minha família em relação a outras culturas (...)

ela ter uma imersão na cultura brasileira, na cultura nordestina, que seria a

cultura potiguar, da nossa cidade, e eu pude mostrar no dia a dia com comidas

diferentes, com lugares diferentes que a gente tentava ir, e a partir da nossa forma

calorosa de receber ela (...) acredito que eu atuei de uma forma positiva, que seria

para incluir a cultura brasileira na experiência deles aqui em Natal.

Troca cultural

Eu acredito que a experiência ela é válida de toda forma, porque por mais que

a gente ache que é muito tempo, você hospedar um intercambista na sua casa,

basicamente passa muito rápido

Experiência recomendada

Primeiro eu acho que a conexão mais da AIESEC com o host, em relação a

como que está a experiência deles com o passar das semanas

Melhorar interação com hosts

A partir disso quebrar os tabus que a gente tem em relação a outras culturas. Quebra de tabus

Entrevistado Marina

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Eu sempre ia num local que tinham muitas pessoas da AIESEC, todas as pessoas

que eu conhecia eram da AIESEC, e foi com eles que eu conheci.

Primeiro contato através da

organização

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54

Que aquela pessoa seja minha melhor amiga, que a gente faça exatamente tudo

juntos, que eu possa mostrar mais minha cidade, que eu possa conhecer mais

minha cidade através dessa pessoa (...) fui uma amiga, sou braço amigo no

sentido de que tipo, ela veio num período frágil da vida dela, onde ela tinha

acabado de terminar o namoro de 5 anos e ela conversa comigo, é, eu to fazendo

parte na vida dela nesse período de mudança, sabe, de empoderamento, então, eu

acho que, eu contribuo muito nisso.

Vínculo amistoso

Pra mim foi uma quebra de estereótipo muito grande sabe, e foi difícil o dia a dia

com ela, por causa disso, pela falta de comunicação, ela não gostava de se

entrosar, e eu acho que parte disso era pela cultura europeia.

Troca cultural

É uma experiência incrível, no sentido de que você muda muito o seu estereótipo

(...) eu só tenho coisas boas a dizer, porque é como a gente sempre fala, é você

viver um intercambio dentro de casa.

Experiência recomendada

Acho que estou contribuindo muito na experiência da minha intercambista,

porque eu sou uma pessoa que ela conversa todos os dias, eu dei todo o

suporte de uma casa.

Hospitalidade

Acredito que um pouco da minha decepção de primeira, foi que eu fui com uma

expectativa muito alta, e a realidade que eu encontrei, é que deu essa quebra

de primeira.

Quebra das expectativas

Eu acho que precisa crescer esse programa como um todo, porque é um

negócio que, porque é uma via de mão dupla, porque tanto nos ajuda quanto pode

ajudar muitas e muitas pessoas e eu me pergunto a isso, porque não tem uma

maior aceitação.

Visibilidade do programa

Entrevistado Cintia

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Eu conheci o lar global da AIESEC porque eu já fazia parte da organização,

eu já tinha feito uma experiência, de voluntario em outro país, e tinha tido um

host maravilhoso

Primeiro contato através da

organização

São culturas muito diferentes, apesar de por exemplo o colombiano ser muito

parecido em alguns aspectos, eu encontrei dificuldades de vivencia mesmo, de

rotina, então, um deles comia muita fruta no café da manhã, era um café da

manhã bem fitness mesmo, e o outro, era fritura atrás de fritura, e assim, as duas

comidas que eles preparavam muito gostosas, de diferentes maneiras (...) por

mais que tenhamos nossas diferenças não somos tão diferentes assim, e essas

diferenças são incríveis e podem se completar de várias maneiras, então eu acho

que eu contribui muito em dar esse cambio cultural mesmo, essa troca.

Troca cultural

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Esteja aberto para essa experiência, e que pode ser difícil em alguns momentos,

mas que são momentos necessários e que vão te fazer crescer em diversas formas

como pessoa, enfim, e vale muito a pena, vale muito a pena mesmo. (...) Se eu

fosse falar do meu nível de satisfação seria 10 da minha experiência, porque

minha experiência foi incrível.

Experiência recomendada

Dar uma experiencia tão maravilhosa quanto a minha para essas pessoas que

estariam vindo para nossa cidade

Hospitalidade

Eu pude ver nos olhos de cada um deles de formas diferentes brilhos diferentes,

todas as atividades que eles estavam realizando aqui, tudo vivenciando, foi

incrível participar disso com eles.

Desenvolvimento do voluntariado

Um contato maior antes do intercambista chegar, antes dessas famílias serem

alocadas na verdade, com essas famílias pra ver como é a rotina deles.

Melhorar interação com hosts

Entrevistado Talita

TRECHOS DA ENTREVISTA CODIFICADOR

Eu conheci o lar global da AIESEC quando eu fui fechar meu intercambio

pra ir pro Peru, e eles me apresentaram a possibilidade de hospedar alguém de

fora do país na minha casa

Primeiro contato através da

organização

As pessoas que viessem pra cá, fazer o mesmo que eu ia fazer lá fora se sentissem

bem, se sentissem acolhidas, do mesmo jeito que eu me senti realmente na

minha experiência, me senti muito bem.

Retribuição

De pouquinho em pouquinho, vivendo a cada dia, a gente foi superando todos os

desafios e no final resultou numa coisa muito muito boa, sabe.

Troca cultural

Eu falaria pra pessoa que ta procurando que hospede, que realmente é um

mundo dentro da sua casa, um pedacinho do mundo dentro da sua casa, e que

realmente só quem vive pode saber.

Experiência recomendada

Eu acredito que a gente, eu e minha família a gente contribuiu deixando um lugar

pras pessoas que vieram aqui, quando quiserem voltar ter esse lugar sabe, a gente

deixou uma casa para eles sabe, uma família.

Hospitalidade